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CONTABILIDADE

BÁSICA

Alexandre Sarameli
Estrutura da demonstração do
resultado do exercício
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Compreender a estrutura conceitual básica da demonstração do
resultado do exercício.
„„ Conhecer a estrutura legal da demonstração do resultado do
exercício.
„„ Distinguir os conceitos de cada rubrica.

Introdução
Este capítulo apresenta a você alguns conceitos relacionados à de-
monstração do resultado do exercício (DRE). Você vai conhecer a es-
trutura conceitual básica e a estrutura legal da DRE, além de estudar
os conceitos das rubricas relativas às orientações para a estrutura le-
gal das demonstrações contábeis.

Estrutura conceitual básica da demonstração


do resultado do exercício
O balanço patrimonial é uma importante demonstração contábil, mas há
usuários que dão preferência para outra demonstração, também relevante: a
demonstração do resultado do exercício (DRE). Esses usuários não se im-
portam se o patrimônio da empresa não é muito grande ou adequado, pois
seu interesse está em saber como está a operação da empresa, se ela consegue
obter lucro.
Para atender a essa necessidade de informação, a DRE demonstra o desem-
penho de uma entidade ao longo de um período de tempo restrito, normalmente
um mês, um trimestre ou um ano. Conforme Buffett e Clark (2008, p. 29):

Nos primórdios da análise de ações, os principais analistas como Ben-


jamim Graham, o mentor de Buffett, se concentravam simplesmente
no fato de a companhia gerar ou não lucro e davam pouca ou ne-
nhuma atenção à viabilidade de longo prazo de sua fonte de receita.
Graham não se importava se a companhia era um empreendimento
excepcional com condições econômicas a seu favor ou se era um
dos milhares de negócios medíocres que lutavam para sobreviver.
Ele compraria uma participação em uma empresa ruim num piscar
de olhos se achasse que poderia obter um preço suficientemente
baixo. A sacada de Buffett foi, em parte, dividir o mundo corporati-
vo em dois grupos diferentes: empresas excelentes que tinham uma
vantagem competitiva durável em relação às suas concorrentes – es-
sas organizações o tornariam rico se ele conseguisse comprar suas
ações a uma cotação justa e mantê-las por tempo suficiente – e em-
presas medíocres que se esforçavam para sobreviver, ano após ano,
em um mercado competitivo, o que as tornava investimentos ruins
a longo prazo. Em sua busca por uma dessas empresas incríveis, Buf-
fett percebeu que os componentes individuais da demonstração do
resultado do exercício podiam revelar se a empresa possuía a vanta-
gem competitiva durável de longo prazo geradora da riqueza extra-
ordinária que ele tanto cobiçava. Não apenas se ela ganhara dinhei-
ro, mas que tipo de margens tinha, se precisava gastar muito com
pesquisa e desenvolvimento para manter sua vantagem competitiva
e se era necessário usar muita alavancagem para ganhar dinheiro.
Esses fatores englobam o tipo de informação que Buffet garimpa nas
demonstrações de resultado a fim de conhecer a natureza do mo-
tor econômico de uma empresa. Para ele, a fonte do lucro é sempre
mais importante do que o próprio lucro.

Portanto, a DRE é uma demonstração contábil de grande interesse e é a dife-


rença entre as receitas e despesas, que, assim, como o balanço patrimonial,
segue esta fórmula matemática: receitas – despesas = resultado.
No decorrer do exercício social, a DRE acumula todas as receitas e des-
pesas e, depois, compara-as ou “confronta” para descobrir qual foi o resul-
tado. Observe que a fórmula matemática não é “receitas – despesas = lucro”
por um simples motivo: o resultado pode ser positivo (recebendo o nome de
“lucro”) ou negativo (recebendo o nome de “prejuízo”). Então:

Resultado =
Se receitas > despesas = lucro
Se receitas < despesas = prejuízo
Estrutura legal da demonstração do resultado do
exercício
De acordo com o CPC 00 Conceitual Básico (2014, parte 4.24), o resultado
é considerado uma medida de performance, ou seja, de desempenho empre-
sarial.

4.24. O resultado é frequentemente utilizado como medida de


performance ou como base para outras medidas, tais como o re-
torno do investimento ou o resultado por ação. Os elementos dire-
tamente relacionados com a mensuração do resultado são as recei-
tas e as despesas. O reconhecimento e a mensuração das receitas e
despesas e, consequentemente, do resultado, dependem em parte
dos conceitos de capital e de manutenção de capital adotados pela
entidade na elaboração de suas demonstrações contábeis.

Saiba Mais
A DRE já foi chamada de “Lucros e perdas”, (Gain and losses, em inglês) termo usado
até hoje.

Portanto, o International Accounting Standards Board (IASB) e o Comitê de


Pronunciamentos Contábeis (CPC) reconhecem o caráter avaliativo e a im-
portância dessa demonstração para os usuários da contabilidade. É neces-
sário fixar uma estrutura legal para que haja uniformidade nas demonstrações
contábeis. A Lei nº 6.404/1976, já devidamente ajustada e complementada
pela Lei nº 11.638/2007, ordenou a seguinte estrutura:

Disposições contidas na seção V, artigo 187 da Lei nº 6.404/76 Seção


V da Lei nº 6.404/76 Demonstração do Resultado do Exercício Art.
187. A demonstração do resultado do exercício discriminará:

I - a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os


abatimentos e os impostos;
II - a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e
serviços vendidos e o lucro bruto;

III - as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas


das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas
operacionais;

IV - o lucro ou prejuízo operacional, as receitas e despesas não ope-


racionais e o saldo da conta de correção monetária (artigo 185, § 3º);

IV - o lucro ou prejuízo operacional, as receitas e despesas não ope-


racionais; (Redação dada pela Lei nº 9.249, de 1995)

V - o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a pro-


visão para o imposto;

VI - as participações de debêntures, empregados, administradores e


partes beneficiárias, e as contribuições para instituições ou fundos
de assistência ou previdência de empregados;

VI – as participações de debêntures, de empregados e administrado-


res, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições
ou fundos de assistência ou previdência de empregados, que não
se caracterizem como despesa; (Redação dada pela Lei nº 11.638, de
2007)

VII - o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por


ação do capital social.

§ 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados:

a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independente-


mente da sua realização em moeda; e

b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, cor-


respondentes a essas receitas e rendimentos.

§ 2º O aumento do valor de elementos do ativo em virtude de no-


vas avaliações, registrados como reserva de reavaliação (artigo 182, §
3º), somente depois de realizado poderá ser computado como lucro
para efeito de distribuição.

Essa estrutura é descrita na Lei nº 6.404/76 com a forma apresentada no


Quadro 1.

Quadro 1. Vantagens e desvantagens da especialização.

Receita bruta de venda de bens e serviços

(-) Devoluções, abatimentos, descontos comerciais

(-) Impostos sobre venda

= Receita líquida

(-) Custo dos produtos e serviços vendidos

= Lucro bruto

(-) Despesas de vendas

(-) Despesas financeiras

(+) Receitas financeiras

(-) Despesas administrativas

(-) Outras despesas operacionais

(+) Outras receitas operacionais

= Lucro operacional

= Lucro antes do Imposto de Renda

(-) Provisão para Imposto de Renda

(-) Participações e contribuições

= Lucro líquido do exercício

Lucro por ação

Fonte: Fonte: Lei nº 6.404/1976.

O Pronunciamento CPC 26 – Apresentação das Demonstrações Contábeis


(2011, parte 82) emite as seguintes orientações:
A demonstração do resultado do período deve, no mínimo, incluir
as seguintes rubricas, obedecidas também as determinações legais:

(a) receitas;

(b) custo dos produtos, das mercadorias ou dos serviços vendi-


dos;

(c) lucro bruto;

(d) despesas com vendas, gerais, administrativas e outras despe-


sas e receitas operacionais;

(e) parcela dos resultados de empresas investidas reconhecida


por meio do método de equivalência patrimonial;

(f) resultado antes das receitas e despesas financeiras;

(g) despesas e receitas financeiras;

(h) resultado antes dos tributos sobre o lucro;

(i) despesa com tributos sobre o lucro;

(j) resultado líquido das operações continuadas;

(k) valor líquido dos seguintes itens:

(i) resultado líquido após tributos das operações descontinua-


das;

(ii) resultado após os tributos decorrente da mensuração ao va-


lor justo menos despesas de venda ou na baixa dos ativos ou do
grupo de ativos à disposição para venda que constituem a unidade
operacional descontinuada.

(l) resultado líquido do período.


Vamos analisar essas rubricas?

Conceituação das rubricas


As receitas são separadas em dois conceitos: receitas brutas e receitas lí-
quidas. Há, também, outras definições necessárias para a compreensão da
DRE. Dê continuidade à leitura para aprender mais!

Receitas brutas
A receita bruta é a soma de todas as vendas realizadas pela empresa em
determinado período.

Receitas líquidas
Descontam-se as deduções de vendas sobre a receita bruta, que são basica-
mente de três tipos:
1. Devolução e abatimento: devoluções ocorrem quando a empresa vende
um produto e envia; quando o produto é entregue ao cliente, este o rejeita. Isso
pode ocorrer porque o cliente verificou que o produto entregue não estava
com a qualidade esperada ou porque simplesmente mudou de ideia. O abati-
mento ocorre quando, ao invés da devolução, opta-se por conceder um valor a
menos para uma próxima venda de mercadorias.
2. Desconto comercial: há situações em que a empresa divulga uma lista
de preços que não pode ser modificada, seja por questões comerciais ou le-
gais. Quando a organização se vê na necessidade de cobrar menos de determi-
nado cliente, mantém o preço fixado, mas concede um desconto.
3. Impostos sobre venda: são os impostos que incidem diretamente sobre
as vendas.
Fique atento
No Brasil, o Código de Defesa do Consumidor entende que o consumidor tem o direito
de se arrepender após uma compra e fixa um prazo para que o indivíduo devolva a
mercadoria caso assim deseje.

Custos
Também são despesas, mas são as despesas relacionadas diretamente com o
esforço de produção da empresa, seja para prestar um serviço, comercializar
uma mercadoria já pronta ou transformar matéria-prima em outro produto.

Lucro bruto
É a diferença entre a receita líquida e o custo dos itens vendidos. Nesta ru-
brica, o usuário da contabilidade pode analisar o desempenho do esforço de
vendas da empresa.

Receitas e despesas
Apurado o lucro bruto, descontam-se as despesas e adicionam-se eventuais
receitas com a operação da empresa. Não são as receitas diretamente ligadas
com a produção, mas para dar apoio e vendas, ou o que se denomina em de
backoffice, isto é, aquilo “que está por trás” do negócio. “Estar por trás” não
significa que não tem importância, ao contrário, é muito comum empresas
terem excelentes vendas e excelentes custo de produção, mas não terem muito
sucesso com gastos de vendas, administrativos e financeiros. É justamente
isso que os usuários externos verificam com muita ênfase!
Quanto à definição de receitas e despesas, confira o que diz o CPC Con-
ceitual Básico (2011, parte 4.25):

4.25. Os elementos de receitas e despesas são definidos como se-


gue:
(a) receitas são aumentos nos benefícios econômicos durante o
período contábil, sob a forma da entrada de recursos ou do aumento
de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em aumentos do
patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com a contribui-
ção dos detentores dos instrumentos patrimoniais;

(b) despesas são decréscimos nos benefícios econômicos du-


rante o período contábil, sob a forma da saída de recursos ou da
redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decrés-
cimo do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com
distribuições aos detentores dos instrumentos patrimoniais.

Dentre despesas e receitas, são válidas as seguintes classificações:

„„ despesas de vendas;
„„ despesas financeiras;
„„ receitas financeiras;
„„ despesas gerais/administrativas.

Equivalência patrimonial
É o resultado obtido por meio das empresas investidas, situação muito
comum nos grupos empresariais. Teoricamente, os resultados dessas em-
presas não dependem do esforço dos sócios e/ou administradores, não é raro
que ocorram de forma independente.

Resultado antes do Imposto de Renda e da Contribuição


Social sobre o lucro líquido
Esta conta mostra o resultado que irá incidir sobre o Imposto de Renda e a
Contribuição Social sobre o lucro líquido, tributo devido ao Governo Federal
pelas empresas que estão sujeitas ao recolhimento do Imposto de Renda com
base no lucro real.
Fique atento
Na linha de deduções de vendas, demonstram-se apenas os impostos incidentes
diretamente sobre as vendas e, nesta linha, os impostos sobre a renda. A definição
de “renda” pode ser encontrada no artigo 43 do Código Tributário Nacional e na LC
104/2001.

Resultado líquido do exercício


Após todas as apurações e descontado o imposto sobre a renda e a contri-
buição social, esta é a conta contábil que representa aumento de patrimônio
para a empresa (caso seja lucro) ou diminuição do patrimônio (caso seja pre-
juízo). É esta conta que “se comunica” com o patrimônio líquido do balanço
patrimonial.
Referência
TEORIA DA CONTABILIDADE Autor: Sérgio de Iudícibus - Publicação: 24/08/2015
- Edição: 11|2015 - Selo Editorial: Atlas

Manual de Contabilidade Básica - Contabilidade Introdutória e Intermediária - Autor:

IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Manual de contabilidade societária. São Paulo: Atlas, v.


792, n. 3, 2010.

Clóvis Luís Padoveze - Publicação: 30/11/2016 - Edição: 10|2017 - Selo Edito-


rial: Atlas

Contabilidade Básica Fácil - 29ª Ed. 2013 - Ribeiro, Osni Moura - Saraiva

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