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Finanças

Corporativas
Fundamentos das Finanças
Empresariais
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ANDRÉ DE FARIA THOMÁZ
AUTORIA
André de Faria Thomáz
Sou bacharel em Ciências Contábeis pela Faculdade de Minas
(2006); e mestre (2011) e doutor (2018) em Administração pela Pontifícia
Universidade Católica do Paraná. Atuo como contabilista e como professor,
nas modalidades presencial e a distância, nas áreas de auditoria contábil
de departamentos, de finanças e de pessoal.

Durante minha atuação como contabilista, tenho vasta experiência


na área de Obrigações Acessórias e Obrigatórias. Por outro lado, ao longo
de minha experiência como docente, além de ter sido coordenador de
curso, lecionei, principalmente, as seguintes disciplinas: Contabilidade
Básica; Economia; Planejamento e Contabilidade Tributária; Contabilidade
de Custos e Análise de Custos; Gestão por Processos; Estrutura das
Demonstrações Contábeis; Análise das Demonstrações; Contabilidade
Gerencial; Teoria da Contabilidade; Contabilidade Intermediária;
Contabilidade Internacional; Auditoria; Contabilidade Empresarial; Controle
Interno; Matemática; Logística; Recursos Humanos; e Gestão de Risco.

Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência


de vida àqueles que se iniciam em suas profissões. Por isso, fui convidado
a integrar o elenco de autores independentes da editora TeleSapiens.
Estou muito feliz por poder ajudá-lo, aluno, nesta fase da vida de muito
estudo e de muito trabalho.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Evolução e Aspectos das Finanças Empresariais........................... 14
Sistemas de Avaliação de Investimentos e Financiamentos
Empresariais................................................................................................... 24
Breve Introdução à Administração Financeira............................................................24

Capital de Giro....................................................................................................................................28

Recursos Financeiros Empresariais...................................................... 32


Métodos de Avaliação de Investimentos........................................... 41
Viabilidade do Aporte de Financiamento de Terceiros........................................ 41

Financiamentos de Curto Prazo: Fontes.........................................................................44


Finanças Corporativas 9

01
UNIDADE
10 Finanças Corporativas

INTRODUÇÃO
Você, alguma vez, pensou em qual área foca as necessidades do
comércio e da indústria? Respondendo a esse possível questionamento,
trata da área de finanças. Atualmente, convivemos com a expectativa que,
em um período de dez anos, a área gere um número bastante relevante
de postos de trabalho.

Dentre as mencionadas necessidades do comércio e da indústria,


está um maior apoio da área conhecida como Finanças Corporativas,
que mantém estreita relação com as atividades financeiras e contábeis
das organizações. Lembra-se da criação, durante a próxima década de
um número bastante relevante de postos de trabalho? A responsável
por esse crescimento será a área Finanças Corporativas, cuja principal
incumbência é a compreensão de quais de seus processos influenciam a
administração financeira de determinada organização.

Nesse sentido, concordará conosco, aluno, se afirmarmos que


dominar os princípios das Finanças Corporativas é uma das habilidades mais
prementes de um gestor financeiro? Na medida em que tenha entendido
com o que, na prática, a área lida, certamente entraremos em concordância.

Devemos, juntos, ao longo deste material, verificar que, conforme as


tecnologias e o processo de globalização evoluíram, os diversos tipos de
transações financeiras existentes abandonaram as suas antigas posições
e ultrapassaram as barreiras das organizações. Sendo assim, atualmente,
defrontamos um mercado de proporções globais cujas empresas
experimentam, ao mesmo tempo, uma integração com a economia local,
com a economia nacional e com a economia mundial.

Considerando, portanto, que vige uma realidade em os atores


econômicos se relacionam de uma maneira muito próxima, influenciando-
se mutuamente, podemos definir, com uma clareza impressionante, o
objetivo que a área Finanças Corporativas pretende cumprir: estimular,
providenciando os meios adequados para que isso aconteça, que tanto os
profissionais quanto as organizações conheçam as informações estratégicas
do universo das transações econômicas.
Finanças Corporativas 11

Se esse objetivo não o convenceu, leitor, de que a área é crucial


para as organizações contemporâneas, encaremos a questão por outro
prisma. Não é verdadeiro que, como afirmei anteriormente, vivemos
em uma realidade globalizada e tecnológica? Por outro lado, não é
verdadeira, igualmente, a interação das organizações com os mercados
nacional e global? Aceitando que ambas as proposições são verdadeiras,
chegaremos à conclusão de que, para sobreviver em meio à acelerada
e acirrada competição dos diversos mercados, as empresas devem
conhecer seus procedimentos internos muito bem; e, a partir dessa
consciência, buscar estratégias para aprimorar os seus resultados.
Consegui, agora, convencê-lo, leitor?

Como as transformações que as transações financeiras sofreram as


tornaram mais complexas e, também, mais fluidas, as decisões tomadas
pelos gestores financeiros devem basear-se em dados fidedignos sobre
a situação das empresas e dos mercados. Com conhecimentos da área
de Finanças Corporativas, será possível, então, que os gestos financeiros
controlem melhor a forma como os recursos institucionais são aplicados,
agregando, como resultado, um maior valor às operações de seu negócio.
Explorar como isso se viabiliza é a meta desta disciplina.

Bons estudos!
12 Finanças Corporativas
Finanças Corporativas 13

OBJETIVOS
Olá, aluno! Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Quando finalizar esta
etapa de nossa disciplina, você terá desenvolvido, com o meu auxílio, as
seguintes competências:

1. Compreender a evolução e os principais fundamentos das finanças


empresariais.

2. Interpretar o funcionamento dos sistemas de avaliação de


investimentos e financiamentos das empresas.

3. Avaliar as necessidades de recursos financeiros para empresas.

4. Aplicar os métodos de avaliação de investimentos e o de valor


presente líquido.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
14 Finanças Corporativas

Evolução e Aspectos das Finanças


Empresariais

OBJETIVO:

Quando finalizar este capítulo, você terá compreendido


como devem ser desenvolvidas rotinas empresariais
consideradas boas. Dentre esse conjunto de rotinas
empresariais, você focará como a área de Finanças
Corporativas é aplicada, de maneira orgânica, às atividades
das organizações.

Não são raros os casos de profissionais de finanças que se lançam


ao mercado de trabalho sem dominar os conhecimentos necessário
para o exercício da sua função. Você conhece algum casso desse tipo,
certamente. Portanto, para evitar problemas futuros, preste atenção às
dicas e às explicações que darei ao longo desta unidade. Motive-se e
acompanhe meus passos bem de perto!

Aludindo à breve discussão que tivemos na “Introdução” deste


material, podemos, desde já, apontar com quais campos de conhecimento
a área Finanças Corporativas interage diretamente. Farei, a seguir, uma
listagem não exaustiva de tais campos de conhecimento:

•• Contabilidade.

•• Estatística.

•• Psicologia.

•• Economia.

•• Planejamento Estratégico.

•• Administração Financeira.
Finanças Corporativas 15

Apenas com base no que vimos até aqui e nas áreas de conhecimento
mencionadas, apontarei a seguinte definição (preliminar) de Finanças
Corporativas: área que, com base em uma relação harmônica com
campos de conhecimento, apropriando-se de saberes interdisciplinares,
visa a uma utilização eficaz e eficiente dos recursos financeiros das
organizações. Soou-lhe clara, aluno, essa primeira definição?

No decorrer deste capítulo, leitor, você terá outras oportunidades


de dominar o conceito de Finanças Corporativas, caso o do parágrafo
anterior não tenha sido, de todo, relevante para a sua aprendizagem. Além
disso, estudará o que é capital de giro e o que isso tem que ver com a área
Finanças Corporativas e com a administração financeira.

NOTA:

Embora já tenha apresentado essa ideia, não é demais


destacar que a área Finanças Corporativas se torna
relevante por viabilizar meios pelos quais as organizações
e os profissionais se tornam capazes de aprimorar os seus
processos, como é o caso das organizações; e as suas
habilidades, como é o caso dos profissionais. Obviamente,
tais processos e habilidades estão relacionados à gestão
de recursos financeiros.

Para que prossigamos com nossas reflexões, recorreremos a Kato


(2012), segundo quem, “em sentido amplo, Finanças busca estudar os
processos e os instrumentos envolvidos na transferência de recursos
financeiros entre pessoas, organizações e governo” (KATO, 2012, p. 26).
Aluno, adote essa citação como o contexto necessário para que revelemos
a interdependência dos agentes do universo das finanças, os quais são
subjacentes, por um lado, à operacionalidade das organizações; e, por
outro, à sua manutenção e aos posicionamentos futuros no competitivo
mercado econômico. Guarde essas informações na memória por um
momento e observe, a seguir, a Figura 1.
16 Finanças Corporativas

Figura 1– Agentes presentes no universo das finanças

$ PESSOAS
$

GOVERNO ORGANIZAÇÕES

Fonte: Kato (2012, p. 26.)

Você conseguiria citar o elemento mais importante para o


funcionamento de uma empresa, aluno? Se você pensou que essa
responsabilidade cabe ao fator humano – aos colaboradores da
organização –, saiba que está alinhado com o que estamos estudando.
Portanto, não é à toa que, na figura 1, “Pessoas” ocupa a posição superior
da tríade de agentes presentes no universo das finanças. Sem pessoas,
nem há clientes, de cujo consumo surge o lucro das empresas; nem
há colaboradores, de cujo trabalho provém os produtos ou serviços
fornecidos aos consumidores pelas empresas.

Retomando as informações que pedi que guardasse na memória,


poderemos, de fato, entender a dimensão da interdependência existente
entre os agentes presentes no universo das finanças. A operacionalidade
das empresas – a dinâmica dos seus processos e das suas relações
internas e externas – se deve ao fator humano. É possível que uma
Finanças Corporativas 17

empresa sobreviva a um longo período de crise financeira, mas é viável,


aluno, que progrida sem colaboradores para conduzir os seus processos?
Não, isso não é viável.

Na parte inferior direita da figura 1, as “Organizações” são indicadas


como agentes presentes no universo das finanças. Esse é, talvez, dos três,
o agente mais óbvio, visto que, quando se trata de operações financeiros,
identificamos, com facilidade, o papel que as empresas desempenham.

Na relação de interdependência com os demais agentes, as


organizações estão mais associadas à própria manutenção no mercado.
Para isso, devem-se garantir boas relações internas – com e entre
colaboradores – e externas – com clientes, com fornecedores, com
concorrentes e com intuições financeiras de porte variável. Nesse sentido,
a maior colaboração da área de Finanças Corporativas para as empresas
virá na forma de estratégias comerciais que possibilitem que se destaque
de seus concorrentes frente à resposta às demandas do mercado.

Se analisamos o que são e o que representam pessoas e


organizações no universo das finanças, você, aluno, é capaz de adivinhar
que a terceira relação que exploraremos será a que existe entre o governo
e os posicionamentos futuros das empresas no mercado. Não é novidade
que um governo, independentemente do nível em que opere (municipal,
estadual e federal), tem a prerrogativa de influenciar as decisões
econômicas que estão sob seu escopo. Por exemplo, no caso do governo
federal, sob cujo escopo está o país inteiro, existirá a prerrogativa de
modificar, de maneiras positivas e negativas, o posicionamento de suas
empresas e, em consequência, o de sua economia no cenário mundial.

Como acontecem as intervenções do governo nas empresas e nos


mercados interno e externo? Você saberia dizer, aluno? Há várias maneiras
de isso acontecer, mas as principais dizem respeito aos seguintes fatores:
taxas de juros; flutuação cambial; quantidade e aplicação de tributos; e
investimentos em áreas estratégicas.

Com o que estudamos até o momento, podemos atualizar a


nossa primeira definição de Finanças Corporativas. Recorde-se que a
consideramos, em um momento inicial, a área que, com base em uma
18 Finanças Corporativas

relação harmônica com campos de conhecimento, apropriando-se de


saberes interdisciplinares, visa a uma utilização eficaz e eficiente dos
recursos das organizações. Agora, somos capazes de especificar que,
em contrapartida à aplicação dos recursos financeiros, a área deve
determinar como funcionam as interações entre os agentes presentes
no universo das finanças. Se não o fizer, de nada adiantarão os saberes
interdisciplinares que mobiliza em função da aplicação eficiente e eficaz
dos recursos financeiros.

A mobilização dos saberes interdisciplinares, quando é associada


ao correto reconhecimento dos papéis e das decisões dos agentes
presentes no universo das finanças, é o que sustenta a atuação dos
gestores financeiros. Dessa forma, a correta utilização da área Finanças
Corporativas permite que os gestores financeiros tenham maior segurança
quanto a como as suas atitudes e as suas destinações de recursos
impactará o desenvolvimento da empresa no mercado. A esse respeito,
Assaf Neto e Lima (2010) afirmam que
Esse processo decisorial básico ao sucesso de toda
empresa vem assumindo complexidades e riscos cada
vez maiores na economia brasileira. Altas taxas de juros,
carga tributária elevada, baixo volume de crédito de longo
prazo, intervenções nas regras de mercado da economia,
comportamento nas taxas de inflação, desafios para o
crescimento de nossa economia, entre outros aspectos,
vêm exigindo uma capacidade mais questionadora e
analítica das unidades decisórias. (ASSEF NETO; LIMA,
2010, p. 2)

Portanto, conclui-se, com base em nossas reflexões e na dos


autores acionados, que a área propicia, ao mesmo tempo, a análise
situacional e a análise gerencial dos recursos financeiros. Como resultado
desse processo, oferece o suporte de que os gestores necessitam para
manter os seus negócios em uma rota positiva.

Como, em tal contexto, os gestores são capazes de aprimorar os


resultados institucionais e de, como consequência direta disso, aumentar
o patrimônio da sua organização? A resposta que buscamos está na
Administração Financeira, área que apontamos, no início desta unidade,
Finanças Corporativas 19

como umas das que se arrolam no conjunto de campos de conhecimentos


incorporados pela área Finanças Corporativas.

SAIBA MAIS:

A Administração Financeira é a ferramenta que decifra


as finanças corporativas e que regula a sua aplicação à
estrutura organizacional. Basicamente, a sua função é a de
apontar, adequadamente, em quais processos os recursos
financeiros devem ser investidos, com o intuito de garantir,
minimamente, a continuidade da saúde financeira das
empresas; e, idealmente, uma expansão exponencial dos
seus patrimônios e das suas influências sobre o mercado.
Como esse será o assunto de nossa próxima seção,
ficaremos, por enquanto, com as informações apresentadas
neste parágrafo.

Vimos, há pouco, que o fator recurso movimenta as organizações,


representando, na prática, a sua força física. Assumindo essa comparação,
enquanto as pessoas são o corpo de uma empresa, o capital é a sua
alma e centraliza em si as suas vontades. Não é exagero admitir que o
capital é a razão de as empresas existirem. Por ter essa condição, deve
ser administrado exemplarmente, com vistas a ser multiplicado, segundo
as demandas dos nichos mercadológicos em que as organizações estão
inseridas.

VOCÊ SABIA?

Todo gestor deve decidir, em momento, quais processos


financiar, seja para multiplicar o capital da sua organização,
seja para estancar sangrias internas. A isso, damos o nome
de decisão de financiamento, sobre a qual pesa a avaliação
dos benefícios e dos malefícios da destinação do capital.

Da atuação do gestor ou administrador financeiro, dependem o êxito


das aplicações financeiros e retornos, em forma de lucro, condizentes
20 Finanças Corporativas

com os investimentos. Em decorrência das habilidades que são inerentes


à sua função, habilidades essas que são transversais a múltiplos campos
de conhecimento, esse profissional tem recebido destaque no mundo
dos negócios. Observando as altas taxas de mortalidade empresarial
do Brasil, podemos supor o quanto o nosso mercado está carente de
planejamento financeiro.

De acordo com Bedê (2005), que analisa dados coletados pelo


Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo
(Sebrae-SP), cerca de 56% das micro e pequenas empresas encerram
as suas atividades antes de completarem cinco anos de existência, ao
passo que 29% sequer resistem ao primeiro ano de atividades. Portanto, a
realidade respalda a tendência que se verifica no mercado: a posição de
gestor financeiro tem sido mais demandada, com o objetivo de prolongar
a vida útil das empresas.

Exemplo: Atualmente, a oferta de profissionais capacitados no


mercado é menor do que a demanda das organizações. Por esse motivo,
é comum que as atividades relacionadas às finanças (dentre outras,
decisões de financiamentos, fiscalização da aplicação de recursos e
conhecimento das potencialidades de mercado) sejam centralizadas em
um único gestor financeiro. A responsabilidade de um gestor financeiro
sobre o qual tantos processos recaem é imensa; em compensação, a
remuneração pelo acúmulo de tantas funções, cada uma das quais com
a dependência de experiência e de saberes específicos, é proporcional à
carga de responsabilidades. Normalmente, gestores financeiros com perfil
centralizações recém altos salários e são valorizados por suas organizações.

Até aqui, tangenciamos as atividades dos gestores financeiros, sem,


no entanto, preocuparmo-nos com identificá-las de modo rígido. Então, a
seguir, prestaremos mais atenção a essas atividades. Em primeiro lugar,
é necessário destacar que gestor ou administrador financeiro não é uma
nomenclatura vigente em todas as organizações. A escolha do nome
associado ao cargo costuma variar de acordo com o porte da organização
e com as funções atribuídas aos profissionais. Em empresas de grande
porte, com indica o quadro 1, não é incomum que encontremos três
diferentes nomenclaturas: além do gestor financeiro, há o tesoureiro e
Finanças Corporativas 21

o controller. Cada designação, dentre as três, indica um perfil de gestor


financeiro específico.
Quadro 1 – Funções específicas dos cargos controller, gestor financeiro e tesoureiro

Controller Gestor financeiro Tesoureiro


Atua, mais Atua, mais Atua, mais
especificamente, com especificamente, especificamente,
custos e com preços. com o controle de com o controle
Dentre as suas riscos. de caixa (controle
atribuições, as Dentre as suas de recursos
principais são as atribuições, as financeiros).
seguintes: principais são as Dentre as suas
1. Análise de seguintes: atribuições, as
demonstrativos 1. Tomada de principais são as
contáveis e decisões de seguintes:
organização de investimento 1. Manutenção
auditorias; e de de um bom
2. Supervisão do financiamento; relacionamento
patrimônio da 2. Análise dos com bancos
organização, retornos de e com outras
em termos de investimentos instituições
crescimento e de e de financeiras;
retração; financiamentos; 2. Execução de
3. Controle de 3. Realização de cobranças;
orçamentos; planejamento 3. Cessão de
4. Produção financeiro, com créditos;
de relatórios consequente 4. Realização de
gerenciais; controle das pagamentos a
operações; credores.
5. Realização de
avaliações de 4. Administração
desempenho; e de câmbio;
6. Definição de 5. Contato com
planejamento acionistas e com
tributário. investidores.
Fonte: Elaborada pelo autor (2021).
22 Finanças Corporativas

REFLITA:

Aluno, você notou as diferenças entre os três cargos?


Pense, rapidamente, sobre esse questionamento. A seguir,
detalharemos essas diferenças, a fim de que nossas
conclusões se alinhem. Por fim, descobriremos o porquê
de o gestor financeiro ter sido retratado, no Quadro 1,
entre o controller e o tesoureiro. Antes de verificar o que
elaboramos, é importante que, de fato, você tente identificar
as características de cada cargo.

Em português, uma boa tradução para controller seria “controlador”.


O nome do cargo advém de sua responsabilidade pelo planejamento
de operações e pela supervisão dos resultados. Entre essas etapas, há
duas outras: o gerenciamento das operações, que foram planejadas
anteriormente; e a projeção dos resultados, que se concretizarão ou não
futuramente. Sendo assim, podemos, de uma maneira resumida, afirmar
que as funções do controller são inerentes à proposição e ao cumprimento
das metas das organizações, seja de maneira setorizada (metas de cada
setor), seja de maneira institucional (metas da organização como um todo).

Por lidar com a execução de dívidas, com o pagamento de credores


e com a manutenção dos vínculos com bancos e com outras instituições
financeiras, o caráter do tesoureiro envolve as tarefas mais práticas da
gestão financeiras das organizações. Com a caracterização “mais prática”,
destacamos que o profissional que ocupa o cargo de tesoureiro lida,
diretamente, com a movimentação do capital da empresa, no sentido de
que recebe e repassa todas as quantias que envolvem o caixa da empresa
(ROSS; WESTERFIELD; JORDAN, 2008).

Entre o controller, que planeja ações e prospecta resultados, e o


tesoureiro, que conduz o fluxo de caixa, há o gestor financeiro. Se você,
aluno, não notou que a sua posição está entre a um cargo com caráter mais
subjetivo (controller) e a um cargo com caráter mais prático, perceberá isso
neste momento. Com o planejamento financeiro em mãos, o qual receberá
do controller; e com o conhecimento do fluxo de caixa da empresa, que
Finanças Corporativas 23

obterá do tesoureiro, o gestor ou administrador sobrepesará, de acordo


com as suas análises de risco, as suas alternativas de financiamentos
e de investimentos. Quando as suas decisões de financiamento e de
investimento se concretizarem na forma de resultados – que chegarão, via
tesoureiro, nas formas de lucro e de prejuízo –, será sua a atribuição de
dividir os resultados, proporcionalmente, entre os acionistas.
A decisão de financiamento define qual é a estrutura ideal
de passivos (fontes de recursos), dada uma determinada
composição de investimentos (estrutura de ativos). A
decisão de investimento consiste num conjunto de
decisões visando dar à empresa a estrutura ideal em
termos de ativos – circulantes e permanentes – para que
os objetivos do negócio sejam atingidos. Já na decisão
operacional, as estratégias e as principais decisões devem
ter como foco a utilização efetiva dos capitais investidos
e seus respectivos custos e despesas. Lembrando que
todas as decisões tomadas pelo gestor financeiro devem
levar em conta a análise custo/benefício da operação.
(VITAL, 2010, p. 28)

RESUMINDO:

As decisões de financiamento e de investimento serão


tratadas, com maior grau de detalhamento, no segundo
capítulo desta disciplina e aparecerão, de algumas
maneiras, em nossos capítulos terceiro e quarto. Por sua
vez, a decisão organizacional, por intervir no uso de capital,
é assunto, em alguma medida, de todos os capítulos.

Com os conhecimentos que obtivemos no decorrer


desta seção, estamos preparamos para avançar para a
próxima, que focará na Administração Financeira, pela qual
passamos rapidamente.
24 Finanças Corporativas

Sistemas de Avaliação de Investimentos e


Financiamentos Empresariais

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de compreender


a evolução e os principais fundamentos das finanças
empresariais. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

Breve Introdução à Administração


Financeira
A Administração Financeira, de maneira semelhante às demais áreas
de conhecimento, apresenta diferentes e diversas teorias para explicar o
seu objeto de estudo, que é o controle eficiente e eficaz das operações
financeiras de determinada organização, visando ao lucro.

IMPORTANTE:

Se você estiver atento à leitura deste material, aluno, deve


ter percebido que existem semelhanças muito claras entre
as áreas Administração Financeira e Finanças Corporativas.
Separamos uma subseção desta unidade apenas para
comparar essas áreas. Então, guarde a sua curiosidade até
que cheguemos a essa parte do texto.

Na seção 1 desta unidade, igualamos o capital à alma de uma


empresa. Você se lembra disso, leitor? Para que o capital seja multiplicado,
é necessário que as operações institucionais sejam positivas – ou seja,
que resultem em lucro. No entanto, é necessário que o gestor financeiro,
ao realizar a divisão de lucros entre acionistas e investidores, reserve parte
desse capital para aumentar o patrimônio da organização.
Finanças Corporativas 25

Se não lhe pareceu lógico, leitor, que o gestor financeiro tenha esse
cuidado, preste atenção ao seguinte: como qualquer elemento que tem a
potencialidade de crescer, uma empresa deve ser alimentada com essa
finalidade. Nesse sentido, o alimento que nutrirá a empresa é o lucro, que
poderá ser convertido

•• Por um lado, em uma série de bens (dentre outros, imóveis,


veículos de carga, maquinário).

•• Por outro lado, em investimentos, dos mais rentáveis e arriscados


(compra de ações e incorporação de outras empresas) aos menos
rentáveis e mais seguros (a depender do tamanho da organização,
fundos bancários mais simples, como a poupança e outros
pequenos fundos de rendimento semelhante.

Portanto, caso o lucro da empresa seja revertido, totalmente, aos


seus acionistas e aos seus investidores, o seu patrimônio não crescerá, e
a sua riqueza permanecerá a mesma, o que, em tempos da globalização
dos mercados, não é desejável.

Nesse sentido, a visão integrada da Administração Financeira, que


considera os interesses da empresa e as demandas e os interesses do
mercado, é, podemos afirmar, recente. Segundo Vital (2010) relata, até
as primeiras décadas do século XX – de certo modo, até a Revolução
Industrial ter atingido certa maturação – a Administração Financeira não era
encarada, tanto pelos gestos quanto, principalmente, pelos acadêmicos
como uma área autônoma. Foi considerada um dos ramos da Economia,
até que, no início do século XX, nos Estados Unidos, percebeu-se que a
consolidação das empresas no mercado e que as fusões de empresas
de porte considerável eram fenômenos que se refletiam, de uma maneira
mais concreta, nas suas gestões financeiras.

Com o decorrer do tempo, na década de 1920, uma reforma na


legislação estadunidense determinou que o balanço financeiro das
empresas fosse tornado público, o que provocou mudanças na relação
do mercado com as empresas e exigiu que a relação dos empresários
com a gestão financeira se tornasse mais transparente e mais preocupada
com a composição ideal de seus passivos totais.
26 Finanças Corporativas

Nas décadas seguintes, outros marcos importantes vieram (VITAL, 2010):

•• 1930 – as preocupações, durante esse período, foram com a


liquidez das empresas em curto prazo e com investigações a
respeito de como as suas estruturas de capital podiam influenciar
o ambiente externo.

•• 1940 – mantiveram-se as preocupações com o curto prazo das


atividades de administração financeira, com um destaque maior
para o planejamento e para o financiamento de produtos, devido
às demandas estadunidenses durante a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945).

•• 1950 – o contexto da Guerra Fria, de incerteza global, preencheu


o mercado de capitais com apreensão, mas, por outro lado, houve
um exponencial crescimento das empresas. Os assuntos da época
foram orçamento de capital, desenvolvimento de métodos de
avaliação de rendimentos e políticas de dividendos.

•• 1960 – a década é marcada pela redução das oportunidades de


lucro, por trabalhos sobre o custo de capital e pelo aperfeiçoamento
das técnicas de planejamento e de controle de custos. Nesse
período, surge o controller.

•• 1970 e 1980 – são as décadas em que diferentes abordagens


da Administração Financeira se desenvolvem (Abordagem
Tradicional, Abordagem Administrativa e Abordagem Mista).

•• 1990 – atualmente – mais do que consolidada, a Administração


Financeira têm investigado o financiamento, o investimento
e as operações, com uma grande aposta de que ética e
responsabilidade, preocupação ambiental e participação do
empresário no cotidiano da empresa são caminhos que renderão
frutos futuros.

Na economia globalizada que experimentamos, os investidores


externos buscam, mediante análise patrimonial, identificar se a empresa é
geradora de riqueza antes de formalizar as suas decisões de investimento.
As ações das companhias de capital aberto são negociadas no mercado
Finanças Corporativas 27

e estão disponíveis para todos os que tenham capital para adquiri-las,


incluindo nós, as pessoas comuns. Para os investidores, a integração
contínua de valor ao patrimônio é um fator de atratividade para a compra
de ações e contribui para que a organização se destaque no cenário
mundial.

A globalização aproximou economias de perfis muito diferentes,


com os objetivos de ampliar a comercialização de produtos e de serviços
e de criar oportunidades de investimentos, como são os casos da
parceria comercial entre Brasil e China. Com essas medidas, a evolução
das empresas no mercado internacional acontece naturalmente, embora
os problemas quanto ao processamento de informações e quanto à
gestão financeira tenham se agravado. A razão para isso é, justamente,
a complexidade inerente à conquista de muitos e vastos mercados,
exigindo, do gestor financeiro, conhecimentos bastante específicos.

IMPORTANTE:

Quando as empresas ampliam as suas operações para o


mercado internacional, devem esperar problemas. Você já
pensou, aluno, que algum funcionário das empresas deve
conhecer as legislações de nosso país e as dos países
com os quais realizam transações? Isso parece exagerado,
mas, na verdade, conhecer as legislações é importante
para que verifiquemos se as atividades de importação e
de exportação são viáveis mediante os diferentes tributos
cobrados pelos países. Esse é um exemplo simples; outras
situações, como a dos processos de controle financeiro em
um contexto em que as fronteiras dos países em que as
empresas estão sediadas, podem dar muito mais dor de
cabeça ao gestor financeiro.
28 Finanças Corporativas

Como mencionamos anteriormente, a Administração Financeira


tem, mais recentemente, direcionado o seu foco para o meio ambiente.
Vários países exigem que as empresas que negociem em seu território se
adequem às suas leis de sustentabilidade. Há casos em que países inteiros
são ameaçados de embargo econômico por despeitarem essas leis. Para
sobreviver na terceira década do século XXI, não basta que as organizações
invistam em projetos que não provoquem impactos ambientais; mais do
que isso, é necessário que se posicionem, de uma maneira positiva, em
relação às importantes demandas sociais de nosso tempo.

Capital de Giro
Vimos, anteriormente, que o capital é o alimento que garante o
crescimento das empresas, uma vez que quaisquer tipos de operações
gerarão custos e tributos, para citar um mínimo de gastos. É natural,
portanto, que exista uma preocupação com a apuração do lucro, mas não
é nada natural, por outro lado, que os gestores financeiros se esqueçam
de que resultados positivos despendem recursos financeiros, que devem
ser aplicados na administração dos processos organizacionais.

Neste momento, à luz do parágrafo anterior, entra, em nossa


discussão, o capital de giro. Você sabe do que se trata, aluno? Uma boa
dica que podemos dar-lhe é a sua relação com a liquidez necessária para
as operações cotidianas das organizações. O capital de giro é, então, o
recurso financeiro de rápida renovação que as empresas devem ter em
caixa para suprir as suas despesas diárias e as possíveis emergências.
Nesse sentido, capital de giro é a ferramenta que possibilita a liquidez,
ao passo que a liquidez é a garantia de que a empresa se manterá em
funcionamento.

Considerando a importância que o capital de giro tem para as


empresas, é essencial que exista uma gestão eficiente e eficaz desse
recurso. Para que lidemos com um exemplo prático, pensemos no que
poderia acontecer se as obrigações de capital de determina empresa não
fosse adequada à sua capacidade de pagamento. Tornar-se inadimplente
será o menor de seus problemas; a depender do porte que tenha, a
empresa pode desencadear uma crise econômica.
Finanças Corporativas 29

Sendo assim, para que se conheça a situação do capital de giro


corretamente, sem correr riscos como o que mencionamos acima, os
gestores financeiros devem atentar-se a dois instrumentos: o balanço
patrimonial (BP) e a demonstração de fluxo de caixa (DFC). Caso criemos
o hábito de avaliar o balanço patrimonial, teremos ciência de todas as
obrigações de curto prazo que baterão à porta da empresa, porque,
nesse documento, encontramos a consolidação do ativo e do passivo
circulantes. Por sua vez, se nos acostumarmos à leitura da demonstração
do fluxo de caixa, conheceremos a movimentação diária da empresa.
Combinando a análise de ambos os documentos, saberemos o que entra
e o que sai do caixa e seremos capazes de averiguar se empresa será
capaz de arcar com as obrigações vincendas mais próximas.

Aluno, os valores que entram e o que saem são as únicas grandezas


que afetam o capital de giro? Se você pensou que não são, deve ter se
lembrado, também, que há outros elementos que compõem a riqueza da
empresa e que podem ser utilizados em situação de carência de liquidez.
Referimo-nos, por exemplo, aos produtos estocados e a bens com valor
agregado de que a instituição possa se desfazer, como imóveis. Porém,
a lista do que pode interferir no cálculo do capital de giro disponível não
terminou. Existem padrões que a empresa deve definir e respeitar, sempre
para que o seu capital de giro esteja à mão:

•• Controle e formação de estoques – nenhum produto sem previsão


de venda deve ser produzido, e a composição do estoque deve
ser conhecida.

•• Condições de créditos a receber – pagamentos a prazo não têm


o mesmo valor de pagamentos à vista, uma vez que podem não
chegar a tempo de resolver a emergência da empresa.

•• Definição de valores mínimos de caixa – deve-se ter a consciência


de quanto a empresa precisa ter no seu caixa para não precisar
paralisar as suas operações por falta de recursos financeiros.

•• Limitação de créditos a pagar – de acordo com a sua capacidade


de pagamento, a empresa pode contrair determinada quantidade
de créditos a pagar.
30 Finanças Corporativas

Quando delimitamos, com todos os detalhes, os ciclos operacional


e financeiro das empresas, tornaremos mais fácil a visualização das suas
necessidades de financiamento e de aumento do capital de giro. Isso
deve começar com um bom planejamento, atribuindo prazos adequados
tanto para fornecedores quanto para clientes. Em geral, não podemos
oferecer aos clientes prazos de pagamento maiores do que os que nos
são concedidos por fornecedores, a fim de evitar desencontros que
comprometam a liquidez da empresa.

Normalmente, investimentos em capital de giro significam que


a empresa passa por um momento ruim, mas há outras situações que
podem provocar esse acontecimento. Nos casos em que o aporte ao
capital de giro parte de terceiros, não será necessária a relação entre o
investimento e uma crise: existem várias razões pelas quais um terceiro
pode desejar investir em uma empresa, e crises são uma dessas razões,
mas não são, de forma alguma, a única. Outro bom exemplo é que,
em vários momentos de sua história, a empresa pode ampliar as suas
operações; sendo assim, o investimento no capital de giro será necessário,
mas deverá ser tomado como um indicador positivo, até que algo prove
o contrário.

É muito natural que, ao buscar aumentar o volume de suas


operações, a empresa planeje como expandirá o seu capital de giro. As
despesas com fornecedores e, possivelmente, com funcionários, que são
aquilo que tendemos a considerar, crescerão; por outro lado, podemos
esquecer que o fluxo das operações se expandirá em igual proporção,
exigindo projetos para novos produtos, prazos maiores para os clientes e
investimentos em áreas estratégicas, como o Marketing.

Até o momento, destacamos os processos de planejamento e de


supervisão do capital de giro. Existe, porém, outra condição essencial para
a saúde do capital de giro: a aplicação adequada. Para conferir se tem
sido bem aplicado, o gestor financeiro deve tomar, como ponto inicial de
sua análise, um período estável de produção e de venda. Se o capital de
giro for administrado de forma correta, a análise demonstrará que, após o
aporte de capital de giro, a receita das operações suprirá o financiamento
das atividades do ciclo financeiro seguinte.
Finanças Corporativas 31

Quando as empresas estão sediadas em países cujas economias


são inflacionárias, a frequência com que verificam a eficiência da aplicação
do seu capital deve maior. Nesse caso, o principal mercado da empresa é
oscilante, aspecto que, somado à inflação, pode fazer com que a receita
de um ciclo financeiro não cubra a despesa do ciclo posterior. Essas
empresas, constantemente, veem-se na posição de incrementar o seu
capital de giro para manter a sua capacidade produtiva.

IMPORTANTE:

Em um cenário como o anterior, em que a inflação vai às


alturas, podendo afetar a liquidez das organizações, as
propostas de financiamento de curto e de longo prazos
podem ter projeções bastante diferentes. Por isso, aluno,
em uma situação assim, devemos ter grande cuidado
com a relação risco-retorno associada ao investimento no
capital de giro. Se a nossa competência for suplantada pelo
cenário econômico, é nossa obrigação buscar o conselho
de outros profissionais. Informação também é uma moeda
valiosa no universo das Finanças Corporativas: guarde esse
conselho com você!

RESUMINDO:

Neste capítulo, estudamos que o retorno do capital de giro


pode ser ter prazos mais curtos e mais longos. Porém, o
nosso diálogo foi um pouco superficial, você não acha,
aluno? Tenha um pouco de calma! Guardamos toda uma
seção desta unidade para abordarmos o assunto com mais
detalhes.
32 Finanças Corporativas

Recursos Financeiros Empresariais

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de avaliar as


necessidades de recursos financeiros para empresas. E
então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Vimos, por mais de uma vez ao longo das seções anteriores, que
a globalização impeliu velocidade às relações como um todo; e, até
certo ponto, comentamos que isso pode afetar o funcionamento das
organizações. Interessará a nós, a partir de agora, compreender como
as mudanças internas e externas às empresas podem influenciar em seu
funcionamento.

Para começar, focaremos as políticas empresariais, que consistem


na base que cada instituição terá para si. Como acontece conosco,
que temos impressões digitais únicas, mesmo no caso de gêmeos
univitelinos, as políticas empresariais têm a medida da organização para
a qual foram criadas. Visto que consistem em um conjunto de normas e
de procedimentos que regulam, internamente, as operações da empresa,
tais podem devem dimensionar os objetivos, a visão e a imagem que
pretende impostar ao seu público-alvo. Nesse sentido, conforme o
contexto econômico se transformar, a opção mais acertada é moldar
as políticas empresariais aos novos ares. Roupa antiga não costuma nos
servir bem, concorda conosco?

O gestor financeiro – e os empresários, de um modo geral –, portanto,


não podem permitir que as suas organizações atravessem momentos de
crise e de fartura sem modificações em suas políticas. Encaixa-se bem,
aí, a lição que temos introjetado quanto à gestão de capital de giro: caso
não se verifiquem as situações de risco e as oportunidades que rondam
a empresa, tanto se pode perder um investimento que triplicaria as suas
operações e a sua influência no mercado; quanto se pode não notar
o momento exato em que o capital de giro ameaça escoar-se pelos
profundos ralos dos prazos concedidos aos clientes.
Finanças Corporativas 33

EXPLICANDO MELHOR:
Aluno, pareceu-lhe claro o que acabamos de dizer?
Tentaremos de outra forma. Sempre que tratarmos de
capital de giro, falaremos – ou deveríamos falar – dos riscos
que se apresentam às operações de nossas empresas.
Riscos são inerentes às atividades empresariais; então, se
não notarmos os que assombram a nossa organização, não
podemos pensar, jamais, que esses riscos não existem.
Na verdade, estão todos ao nosso redor, apesar de não os
percebermos. Logo, se os riscos operacionais relacionados
às nossas atividades se tornaram mais agudos devido a
qualquer oscilação do mercado, será nossa função reunir
os demais membros da equipe gestora e repensar as
políticas empresariais. No mundo dos negócios, fica parado
apenas aquelas cujas empresas faliram!

O reajuste das políticas e, a reboque, o das estratégias visa a


atingir uma meta transparente: minimizar o risco financeiro que espreita
o nosso capital de giro e o nosso patrimônio como um todo. Quando os
reajustes começam a ser positivos, perceberemos o fato imediatamente:
o capital de giro completará o seu ciclo e renderá o suficiente para custear
o próximo. Do contrário, caso os reajustes tendam a ser negativos, isso
será notado com maior velocidade, e mais ágeis do que a possível crise
deveremos ser.

É possível que o retorno do capital de giro de uma empresa seja


máximo, considerando a volatidade dos mercados? Isso é possível,
obviamente, mas depende, por um lado, de uma gestão financeira
competente e, por outro, de uma gestão de riscos eficiente. Esta é outra
valiosa lição que todo gestor financeiro deve aprender: se o capital de
giro é o elemento que determinará a distribuição de todos os demais
componentes organizacionais; e se os riscos são os atores que tentarão
fazer essa tarefa fracassar, os gestores, nesse tabuleiro, serão os vigias:
estarão atentos ao tempo entre a ingestão e o retorno do capital de giro,
para evitar um mal planejamento afunde as finanças das organizações;
e buscarão investir e supor a que riscos o processo de distribuição de
capital de giro pelos processos está sujeito.
34 Finanças Corporativas

Contra os riscos, a gestão financeira e a gestão de riscos têm


uma aliada poderosa: a gestão de caixa. Retomando a seção anterior,
um controle rígido dos balanços patrimoniais e das demonstrações de
fluxo de caixa é capaz de nos orientar, ao mesmo tempo, em relação às
obrigações pecuniárias que se aproximam no tempo e a como quitá-las
sem prejudicar a liquidez da organização. Acreditamos que você, aluno,
lembra bem disso. Proceder desse modo é, na realidade, gerir o caixa da
empresa, conduzindo-o em uma direção favorável ao seu crescimento.

Para que a gestão de caixa subsidie as funções da gestão financeira


e da gestão de riscos, o controle dos recursos financeiros, além de
ser rígido, deve ser sistemático. A definição de processos de controle
explícitos e bem delineados é um passo importante em direção à
sistematização da gestão financeira. Normalmente, o fluxo de caixa é o
método mais empregado pelas organizações, seja por sua eficiência, seja
por seu (relativo) baixo custo, seja por ambos os motivos.

SAIBA MAIS:
“O objetivo dessa ferramenta fluxo de caixa é apurar e
projetar o saldo disponível para que exista sempre capital
de giro acessível tanto para o custeio da operação da
empresa (folha de pagamento, impostos, fornecedores,
entre outros) quanto para o investimento em melhorias
(reforma da fachada, por exemplo)” (SEBRAE, 2013).

Para a Administração Financeira, o controle rígido e sistemático


do fluxo de caixa não pode dissociar-se de duas variáveis: o tempo
entre a detecção de uma demanda – como um risco, por exemplo– e a
tomada de decisão que a solucione; e as informações que descrevem a
atividade da empresa, em todos os seus níveis. A depender dos perfis do
gestor e da organização, diferentes possibilidades de controle podem
ser adotadas, desde a diária, que exigirá, provavelmente, cuidado com
essa tarefa em tempo integral; até a mensal, que dará maior liberdade ao
gestor e à sua equipe. Obviamente, a duração de cada ciclo de controle
é proporcional à incidência de riscos: se a execução do controle for muito
longa, pode não chegar a tempo de precaver o gestor da tempestade
que o mercado preparou para a empresa – portanto, prazos maiores
costumam ser sinônimos de decisões prematuras e falhas.
Finanças Corporativas 35

VOCÊ SABIA?

É possível que você não tenha se dado conta disso, aluno,


mas o controle do fluxo de caixa pode garantir a sobrevida
das empresas durante longos períodos de prejuízos. Sim,
prejuízos – por longos períodos! Como isso é possível?
Com o intermédio de uma gestão de fluxo de caixa eficaz
e eficiente, o gestor financeiro é acionado ao menor sinal
de comprometimento do capital de giro e pode, então,
sopesar as diversas medidas que se lhe apresentam e
adotar a mais apropriada.

Contudo, se o capital de giro, no fim das contas, não é comprometido,


por que dissemos que as empresas operam com prejuízo? Na verdade,
embora pareçam intrínsecos, os fatores capital de giro e lucro apresentam
fronteiras bastante nítidas. Por um lado, o do capital de giro, é possível que,
a partir de um retorno sistemático do investimento, financiem-se os ciclos
subsequentes de operações, sem que isso implique sobra de capital que
possa ser incorporada ao patrimônio da empresa – logo, nesse caso, não
há lucro.

Por outro lado, o do lucro, é comum que as empresas consigam


margens maiores de lucratividade se cederem aos prazos desejados
pelos clientes. Então, na hipótese de que as obrigações com fornecedores
e com as despesas fixas vençam durante o prazo cedido ao cliente, o
capital de giro será requisitado para quitá-las e pode não ser suficiente
para manter o processo produtivo em funcionamento pleno. Ao fim,
quando a empresar receber o seu pagamento, virá o almejado lucro, à
custa de ter tomado o capital de giro como combustível e prejudicando
a sustentabilidade do negócio, o que está longe de ser saudável. Sendo
assim, no segundo caso, se as despesas foram subtraídas das receitas,
haverá lucro; e haverá, igualmente, inúmeros problemas internos a serem
solucionados,
36 Finanças Corporativas

O que ambas as situações anteriores compartilham é a premência


do elemento tempo: na hipótese de se operar, constantemente, com o
capital de giro sem obter lucro, falta tempo, antes do reinício do ciclo,
para que a empresa negocie os seus produtos sob condições melhores;
no segundo caso, em que opera à vista do lucro e à custa do capital
de giro, sobra tempo entre o término do ciclo produtivo e o retorno do
investimento. Da comparação entre as duas, podemos aduzir que tempo
e capital de giro são intercambiáveis, a depender do contexto em que a
instituição se encontra.

Sendo assim, retomamos um ponto ao qual demos importância em


diferentes partes deste texto: a saúde do capital de giro e, extensivamente,
a da empresa dependem do equilíbrio entre o calendário de pagamentos
e o de recebimentos. Nesse ponto, emparelham-se as gestões financeira
e de fluxo de caixa, visto que, se tal equilíbrio fiscal for atingido, as
decisões financeiras de médio e de longo prazos serão mais assertivas.
Isso significa que todos os momentos de uma curva de fluxo de caixa
definem como a empresa se comportará durante longos e, às vezes,
longuíssimos períodos.

No conjunto de procedimentos capazes de tornar a gestão de fluxo


de caixa mais sistemática, estão, também, os métodos e as políticas de
cobrança. Agendar as diferentes receitas e programar-se para reivindicá-
las por meios menos gentis são passos fundamentais para equilibrar
os investimentos e as receitas. Nem todos os clientes lidarão conosco
honestamente, mas, não raramente, lidaremos com clientes que estão
preparados para saldar a sua vida e que não o fazem porque a empresa
não lhe dá as condições devidas. Em geral, questões como essa
envolvem prazos e parcelamentos; no entanto, sem imaginar, provocamos
o adiamento de uma receita, por não oferecermos um atendimento
adequado ao cliente, sonegando-lhe, por exemplo, os meios de saldar
a dívida – como acontece se houver atraso na emissão de notas fiscais e
de boletos.
Finanças Corporativas 37

A fim de que aprendamos a realizar um planejamento de fluxo de


caixa adequado, respeitando os prazos e atentando-nos às cobranças,
temos de dominar, pelo menos, o cálculo do ciclo de caixa.

O cálculo do ciclo de caixa (que se renova quando o investimento


aportado na cadeia produtiva retorna) considera o prazo médio de
renovação de estoques (PMRE), o prazo médio de recebimento de vendas
(PMRV) e o prazo médio de pagamentos de fornecedores (PMRF), que
estão relacionados pela seguinte fórmula.

PMRE e PMRV, somados, indicam o prazo que a receita demora


para entrar no caixa da empresa, enquanto PMPF aponta o tempo que se
leva para sanar as pendências com fornecedores.

O que devemos fazer, porém, para obter PMRE, PMRV e PMRF? Isso
é o que veremos a partir de agora, começando pelo PMRE. Para encontrá-
-lo, dependeremos de outra fórmula.

Como modo de compreender a dinâmica do cálculo, suponhamos


que sejamos donos de uma fábrica de automóveis e que focamos o nosso
produtivo em apenas um modelo, considerado a sensação do momento
pela imprensa especializada. Como margem de segurança, adotamos,
como saldo médio de nosso estoque, o valor de R$ 15.000,00, que nos
foi apontado, por nosso gestor financeiro, como suficiente para cobrir os
custos produtivos e manter o capital de giro sadio. Entretanto, surfando
na popularidade de nosso modelo de carro, pusemos R$ 90.000,00
como o seu valor de venda. Substituindo as variáveis pelos números que
determinamos, teremos o seguinte:

PMRE = 15.000,00 X 360

90.000,00

PMRE = 60 dias
38 Finanças Corporativas

Por sua vez, o cálculo do PMRV depende do valor total a ser


recebido de um cliente, cuja notação será VTC; do prazo concedido para o
pagamento, cuja notação será PP; e do valor da receita bruta da empresa,
cuja notação será VRB. A seguinte fórmula indica como as variáveis devem
ser relacionadas.

Retomando o nosso exemplo da fábrica de carros, imaginaremos,


desta vez, que um único cliente, que deseja montar uma frota de carros de
aluguel arrojada, adquiriu 120 de nossos carros da moda a R$ 90.000,00
por unidade, solicitando, em troca, um prazo de 180 dias para quitar a
dívida. Assim, consultamos nosso gestor financeiro e descobrimos que a
nossa renda bruta, no período de 180 dias, seria de R$ 10.800.000,00, que
equivale à venda de 120 carros. Substituindo as notações pelos números
que adotamos, teremos o seguinte.

PMRV = 10.800.000,00X 180

9.000.000

PMRV = 216

Se um prazo menor para pagamento é o que as empresas desejam


disponibilizar para os seus clientes, o que esperam receber dos sus
fornecedores é o oposto completo: prazos bastante longos. Portanto,
aprendendo a calcular o valor de PMPF, você, aluno, terá uma ferramenta
com a qual se munir nas suas futuras negociações. PMPF demandará que
conheçamos o valor a ser pago aos fornecedores, cuja notação será VPF;
o período compreendido pela análise (PA), que será igual ao concedido
ao cliente que comprou dez de nossos carros (180 dias); e o montante
de compras, cuja notação será MC. Resulta, da organização dessas
informações, a seguinte fórmula.
Finanças Corporativas 39

Começaremos a esmiuçar a fórmula por MC. Para isso, teremos de


descobrir o custo das mercadorias vendidas (CMV), o estoque inicial (EI)
e o estoque final (EF), visto que o cálculo de MC corresponde à fórmula
seguinte.

No início dos 180 dias, tínhamos um EI de 60 carros, gastando,


para produzir cada carro, R$ 12.000,00 com fornecedores. Sendo assim,
o nosso EI era estimado em 60 X 12.000, que equivale a R$ 720.000,00.

Porém, como acompanhávamos a demanda crescente por nosso


modelo de carro, compramos (C) R$ 960.000,00 em insumos, prevendo
que precisaríamos desses materiais à mão. Sendo assim, ao fim dos 180
dias, havíamos produzido – na verdade, convertemos R$ 960.000,00
em insumos em R$ 960.000,00 em carros – 80 carros, ao passo que
totalizamos 120 carros vendidos (R$ 1.440.000,00): tínhamos 60 em
estoque, produzimos 80 e vendemos 120, restando-nos 20 carros em
estoque (R$ 240.000,00). Organizando essas informações, conseguimos
construir a seguinte fórmula.

Substituindo as notações pelos números que adotamos, teremos


o seguinte:

CMV = (720.000 + 960.000) – 240.000

CMV = 1.440.000,00

Como o valor de CMV em mãos, podemos substitui-lo na fórmula de MC.

MC = (1.440.000,00 + 720.000) – 240.000

MC = 1.920.000
Agora, sabemos que MC equivale a R$ 1.920.000,00 e podemos
passar à fórmula de PMPF. Retomando o que vimos há pouco, PMPF
observará o valor a ser pago aos fornecedores (VPF = 960.000); o período
compreendido pela análise (PA = 180 dias); e o montante de compras (MC
= 1.920.000).
40 Finanças Corporativas

PMPF = 960.000 X 180

1.920.000

PMPF = 90

Aluno, você se lembra, ainda, de por que começamos a fazer todos


esses cálculos? Queríamos aprender a calcular o ciclo de caixa! Uma vez
que temos todas as informações necessárias em mãos (os valores de
PMRE, de PMVC e de PMPF), podemos calcular o fluxo de caixa de nossa
empresa fictícia.

CF = PMRE + PMRV – PMPF

CF = 60 +216 – 90

CF = 186

Como o prazo para o cliente quitar a sua dívida é mais de três o


tempo que temos de pagar nossos fornecedores, das duas, uma: ou
devemos cultivar um capital de giro enorme, como garantia de nossa
liquidez; ou devemos repensar se vender tantos em troca de um prazo
tão longo de pagamento é, de fato, o que nossa empresa precisa.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu


mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir algo do que vimos. Você deve ter
compreendido como avaliar as necessidades de recursos
financeiros para empresas.
Finanças Corporativas 41

Métodos de Avaliação de Investimentos

OBJETIVO:

Ao término deste capítulo você será capaz de entender


como aplicar os métodos de avaliação de investimentos
e o de valor presente líquido. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!.

Viabilidade do Aporte de Financiamento


de Terceiros
Uma de nossas preocupações, ao longo desta unidade inicial, tem
sido a de demonstrar porque o gestor financeiro deve estará atualizado
quanto às oscilações do mercado. Acreditamos ter esclarecido que isso se
deve à necessidade de fazer frente aos riscos que operar em um mercado
globalizado enseja, multiplicando o capital de giro e o patrimônio da sua
empresa.

Na área Finanças Corporativas, existe uma teoria que defende o


uso combinado de fontes de financiamento, para que se desenvolva uma
estrutura ótima de capital. Por detrás desse modo de pensar e de agir, no
entanto, está a preocupação de todas as organizações do mundo: reduzir
o custo das próprias operações e multiplicar os dividendos dos acionistas.

Em resumo, a teoria convencional compreende que os capitais de


terceiros podem produzir uma estrutura ótima, desde que sejam utilizados
até determinado ponto, resultando em um nível de endividamento
aceitável. Não se pode perder de vista, contudo, que aumentar o
endividamento gera o crescimento dos demais custos da empresa,
reduzindo, proporcionalmente, a rentabilidade e a geração de riqueza.
42 Finanças Corporativas

NOTA:
Parece que a teoria enfrenta um impasse, não é? Na verdade,
isso não acontecerá se houver ponderação e planejamento
no momento de contrair os capitais de terceiros. Até certo
ponto, um capital extra pode representar a diferença entre
manter a dimensão do último ciclo operação e dobrá-la.
Caso o endividamento seja feito com parcimônia e com as
estratégias mais adequadas para empresa, não há razão
para que, em pouco tempo, a sua dívida seja paga, e o seu
patrimônio frutifique.

Nesse sentido, é recomendável que nós, enquanto gestores


financeiros, estudemos as possibilidades de captação de recursos de
terceiros disponíveis no mercado. Durante esse exercício de reflexão,
precisamos determinar se as possibilidades existentes são compatíveis
com o porte da nossa organização; se os benefícios oferecidos
representam, para nós, de fato, benefícios; e se o capital a ser tomado
emprestado está sob algum regime tributário específico.

Lemes Júnior, Rigo e Cherobim (2010) nos auxiliam a ter uma


compreensão mais ampla da importância de se julgar a compatibilidade
do aporte de terceiros com o tamanho da nossa organização:
No caso de micro e pequenas empresas, as vantagens do
endividamento diminuem, em função do regime tributário
adotado, que permite recolher Imposto de Renda com
base no faturamento (lucro presumido, simples), e não no
lucro real. O resultado é que as despesas de juros, nesse
caso, não são dedutíveis para o pagamento do Imposto
de Renda, tornando o uso de capital de terceiros menos
atraente. (LEMES JÚNIOR; RIGO; CHEROBIM, 2010, p. 222)

Outra situação que podemos encontrar no Brasil é a diversificação


dos custos nas ofertas de capitais feitas por terceiros. Trata-se de uma
modalidade capciosa, visto que não há equilíbrio entre as partes. Em
certos casos, as taxas de juros do contrato serão reguladas pelo mercado
e, por isso, tenderão a ser elevadas. Em outros, por sua vez, existe subsídio
de políticas governamentais de incentivo setorial, como acontece com o
apoio à agricultura e à exportação realizada por microempreendedores e
por pequenas empresas.
Finanças Corporativas 43

Como resultado das diferentes políticas setoriais, cada ramo de


atividade apresentará empresas com uma estrutura de capital particular,
a qual visará, à sua maneira, os melhores resultados que forem possíveis a
respeito do retorno financeiro de suas operações mínimo e das aplicações
dos seus recursos. Dessa maneira, fugimos, de um modo bastante sadio,
de um patamar preestabelecido de índices de lucratividade e de retorno.

IMPORTANTE:

No mercado brasileiro, para que as empresas delimitem


projeções favoráveis das suas estruturas de capital, uma
boa opção é adotar prazos menores. Sendo assim, se
lançarmos mão de passivos onerosos via um incremento
de capital, teríamos a conveniência de lidar com um
período pequeno.

Para desenvolver a estrutura de capital mais compatível com o perfil


de nossas empresas, nós, na condição de gestores financeiros, temos o
dever de conhecer a operacionalidade da instituição de todas as suas
perspectivas, das quais destacamos a viabilidade da sua saúde financeira,
a visão sobre os seus futuros posicionamentos no mercado e os riscos
imanentes às atividades empresariais.
44 Finanças Corporativas

Financiamentos de Curto Prazo: Fontes


A busca por recursos de terceiros é constante no ambiente
empresarial. Espera-se que, ao mesmo tempo, as taxas de juros
contratuais sejam atrativas; e que o financiamento atenda, plenamente, às
necessidades de investimento da empresa.

A evolução dos métodos da Administração de Estoques exigiu que as


empresas se adequassem às demandas do mercado. Como as inovações
na qualidade e na função dos produtos são constantes, dependem de
estratégias de gerenciamento de estoques bastante eficientes, no intuito
de evitar desperdícios, acúmulo de unidades e obsoletismo. Assim, com
uma melhor aplicação dos recursos financeiros despendidos para a
estocagem, evitaram-se o risco da falta de capital e o risco de perda de
mercadorias e de matérias-primas.

Por ser muito reduzida, a oferta de créditos de longo prazo inibe o


crescimento e desestimula a competitividade das empresas brasileiras.
Disso, costuma resultar o financiamento das atividades empresariais com
recursos próprios, impedindo uma alavancagem financeira. Nesse caso,
o uso de recursos próprios é subsidiado pela reaplicação de parte dos
lucros do período nas atividades empresariais, fenômeno conhecido
como reaplicação de dividendos.

Por mais esquisito que soe, o custo da reaplicação de capital próprio


é maior do que o custo do capital de terceiros. Essa é mais uma razão –
talvez, a principal – que impele os gestores e os empresários a buscar, em
investimentos externos, a fonte de financiamento da expansão dos seus
negócios.

Groppelli e Nikbakht (2009, p. 300-301) listam as principais razões


para as empresas buscarem recursos na forma de financiamento em longo
prazo. Além de as ler aqui, consulte a obra original, se isso for possível,
para que você compreenda o contexto mercadológico que sustentou as
observações dos autores.
Finanças Corporativas 45

1. Os aumentos esperados nas vendas futuras requerem fundos para


a área de marketing e demais funções de apoio para manterem-se
competitivas.

2. Com o crescimento da empresa, suas capacidades operacionais


precisam aumentar.

3. Uma empresa deve continuar a se modernizar e a introduzir


equipamentos mais eficientes.

4. Mudanças na demanda forçam a empresa a abandonar suas


instalações obsoletas e a investir em uma nova capacidade de
produção.

5. O financiamento de longo prazo de projetos de pesquisa e


desenvolvimento promove um ciclo de vida saudável.

6. No longo prazo, grande parte do capital circulante torna-se


permanente e deve ser financiado como tal.

Os repasses de verbas públicas e a isenção de tributos são


caracterizados por atenderem aos interesses econômicos nacionais.
Portanto, a liberação de recursos públicos para a concessão de créditos
costumar visar ao atendimento das demandas de setores específicos:
agricultura, construção civil e atividades industriais e comerciais cujo foco
seja a exportação.

Em geral, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e


Social (BNDES), a Caixa Econômica Federal (CEF) e o Banco do Brasil (BB)
estão por detrás de tais repasses de verbas. Ao passo que o BB e a CF
privilegiam os financiamentos às áreas imobiliária e rural, respectivamente,
o BNDES engloba um universo maior de interesses e de favorecidos.
46 Finanças Corporativas

Atualmente, o BNDES conta com diversas linhas de financiamento,


das quais selecionamos as seguintes (BNDES, 2021):

a. Finem, cujo objetivo é investir em projetos de implantação, de


modernização e de expansão de empresas – com a aquisição de
máquinas de origem nacional –, sendo viável para os que buscam
valores superiores a R$ 10.000.000,00;

b. BNDES automático, cujo objetivo é compartilhado com o Finem,


limitando, porém, o repasse a R$ 10.000.000,00 por cliente a cada
período de 12 meses.

c. Cartão BNDES, cujo foco são as micro, as pequenas e as médias


empresas, oferecendo-lhes crédito pré-aprovado e limites de até
R$ 500.000,00;

d. Finame máquinas e equipamentos e Finame agrícola, cujo foco é


a aquisição de máquinas e de equipamentos de origem nacional
que sirvam como ferramentas para as áreas rural, industrial e
comercial;

e. Finame leasing, cujo objetivo é a compra de máquinas de


fabricação nacional para empresas arrendadoras, bens esses que
serão disponibilizados, mediante pagamento, para os interessados
(arrendatários);

f. Empréstimo-ponte, cujo objetivo é financiar projetos que tenham


sido selecionados de acordo com critérios próprios do BNDES,
oferecendo-lhes recursos no período de estruturação da atividade;

g. Project Finance, cujo objetivo é financiar Sociedade por Ações,


exigindo que os fluxos de caixa tenham condições de saldar
o financiamento e que as receitas futuras do projeto estejam
vinculadas aos financiadores.
A segunda modalidade de financiamentos de longo prazo
é composta pelos repasses de recursos que, por intermédio de
instituições financeiras nacionais, vêm de poupanças do exterior. A
principal condição para que o repasse se concretize é a participação
de três atores: o banco liberador do recurso, radicado no exterior; o
banco nacional receptor, por cujo sistema o recurso será integrado ao
país; e o banco nacional distribuidor, que delegará o recurso a quem
o contratou.
Finanças Corporativas 47

Nessa modalidade, o financiamento é fixado em dólares americanos


(US$), e as parcelas de pagamento são trimestrais. As taxas de juros que
recaem sobre o capital são anuais e se fixam de acordo com a taxa London
Interbank Offered Rate (Libor) e com título de risco (spread).

Aos interessados nessa modalidade, cabe estudar todas as


despesas cobradas antes de se decidir pelo financiamento, como são os
casos da comissão de repasse, da comissão de abertura de crédito e do
Imposto de Renda:

•• As comissões de repasse são devidas ao banco nacional


distribuidor.

•• As comissões de abertura de crédito são devidas ao banco.

•• O Imposto de Renda incide sobre os juros enviados ao exterior e é


de responsabilidade da empresa que contratou o recurso.

Outras despesas existentes estão relacionadas ao registro do


contrato de financiamento e às garantias hipotecárias.

Os empréstimos e os financiamentos diretos, que correspondem


à terceira modalidade de financiamento de longo prazo, advêm de
organizações que compõem o mercado de capitais. Os juros cobrados
tendem a ser altos, se forem comparados, por exemplo, com os das
linhas de crédito do BNDES, mas a sua contratação, por outro, é menos
burocrática.

A quarta modalidade é chamada de subscrição de debêntures, que


são títulos emitidos por uma sociedade anônima, mediante autorização da
Comissão de Valores Mobiliários, com o fito de angariar recursos externos.
Em geral, alguns dos maiores atrativos para a empresa que recorre às
debêntures são os valores mais baixos dos juros remuneratórios. Porém,
parece-nos que a principal vantagem associada à modalidade é o fato
de a empresa manter a autonomia de seu patrimônio, uma vez que as
debêntures não geram, para quem as comprar, direitos sobre o seu capital
social – embora seja esse o elemento que limita a emissão dos títulos.
48 Finanças Corporativas

Ademais, as garantias de pagamento que a empresa dá ao mercado


estão ligadas aos seus ativos, existindo a chance de que participações
nos lucros e outros prêmios sejam pagos aos investidores pela emissora
das debêntures.

As principais classificações de factoring, outra modalidade de


financiamento, adotadas no Brasil são as seguintes:

a. Adiantamento sobre títulos comprados pelo agente fator.

b. Adiantamento sobre títulos a serem emitidos.

c. Operações líquidas no vencimento.

d. Factoring contra a entrega de mercadorias e administração de


caixa.

No caso de ser contratado factoring contra a entrega de


mercadorias e administração de caixa, a casa factoring assume a gestão
do caixa da empresa, o implica, também, o reconhecimento de todos os
riscos associados às operações realizadas. Por isso, costuma consistir
em uma contratação bastante cara – mais cara, por exemplo, do que os
empréstimos tomados de instituições financeiras.

Por outro lado, existem certos benefícios:

a. Flexibilidade de financiamento, visto que a casa factoring pode


recusar títulos utilizados na operação, incentivando as empresas
a buscar de títulos de clientes com qualidades creditícias
reconhecidas para serem trocados pelo financiamento, o que
reduz as surpresas que a fiduciária pode ter.

b. Diminuição sensível dos custos financeiros disfarçados, tendo em


vista que as instituições financeiras tradicionais utilizam médias
e outras taxas para justificar os próprios serviços, mascarando o
custo real – na negociação com as factorings, os valores das taxas
são os determinados na negociação, sem adicionais e reajustes
posteriores.

c. Eliminação de riscos, que, como dissemos, são incorporados pela


casa (factoring).
Finanças Corporativas 49

Por último, abordaremos o financiamento de curto prazo por


microcréditos, que é uma linha que visa às demandas dos pequenos
empreendimentos, demonstrando a sua relevância para o país. Nesse
sentido, reconhece-se que os pequenos negócios são geradores de
emprego e de melhoria na qualidade de vida para as populações. Em
geral, complementa as etapas do ciclo operacional, desenvolvendo
estratégias capazes de tornar a empresa competitiva no seu nicho de
mercado.

SAIBA MAIS:

A indicação do microcrédito acontece quando as empresas


dependem da liberação de recursos em, no máximo,
cinco dias. Nesses casos, uma negociação direta com
a agência bancária costumará não ser viável, devido à
emergência com que o dinheiro é requisitado. Para aderir ao
microcrédito, a empresa deve ter uma situação financeira
sólida o suficiente para arcar com índices de juros, que
tendem a ser altos; e a, mesmo assim, não prejudicar o seu
fluxo financeiro de maneira substancial.

Chegando ao fim desta seção, podemos concluir, então, que a


cessão de recursos financeiros estará condicionada aos prazos, que
podem ser curtos e longos. Normalmente, a opção por uma operação de
crédito está ligada à manutenção do funcionamento e da competitividade
das empresas.

Como vimos, as oscilações das políticas monetárias podem


incapacitar as empresas de arcar, financeiramente, com algum
procedimento operacional. Por isso, diferentes agentes de crédito se
transformam em parceiros empresariais, visando a recuperar o prejuízo da
empresa que os contrata e a perseguir o lucro presumido anteriormente.
50 Finanças Corporativas

Pudemos notar, também, que os financiamentos de curto prazo


garantem mais operacionalidade às atividades empresariais do que
os de longo prazo, apesar de, por outro lado, engendrarem grandes
cuidados, para que os índices de endividamento empresarial não sejam
aumentados sem uma estrita necessidade. Idealmente, esses recursos
devem fomentar a liberação, em maior escala, de produtos e de serviços
no mercado; e, durante a vigência do financiamento, serem lucrativos e
terem os seus riscos reduzidos.

RESUMINDO:

A relação financeira entre empresas, governos e mercados


dever harmônica e incluir procedimentos benéficos para
todos os envolvidos. Se assim for, o resultado positivo de
uma parte beneficiará desencadeará o sucesso das demais.

Em um contexto como esse, cabe às empresas, na figura dos seus


gestores financeiros, conhecer as demandas do mercado e as exigências
e as facilidades governamentais. Com vistas a tornar esse propósito uma
prática nas instituições, a área Finanças Corporativas tem se demonstrado
uma importante aliada dos empresários, indicando-lhes alternativas em
caminhos que, em décadas passadas, parecem obrigatórios.

Ao longo desta unidade, tivemos diversas demonstrações de


como a área pode impulsionar o desenvolvimento de uma empresa,
mas aquela a que mais demos destaque é a gestão bem planejada dos
recursos financeiros, que, em conjunto com a gestão de riscos e com a
gestão de fluxo de caixa, pode garantir longevidade para todos os tipos
de empreendimentos.
Finanças Corporativas 51

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