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Diretor Executivo

DAVID LIRA STEPHEN BARROS


Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoras
ROSIVANY GOMES
A AUTORA
Rosivany Gomes
Olá. Sou a professora Rosivany Gomes. Sou mestre em Biociência
e Pedagoga, com uma experiência técnico-profissional na área de
Segurança, Saúde e Meio Ambiente. Também atuo como consultora em
SMS para empresas que precisam se adequar às exigências legais na área
de Saúde, Segurança e Meio Ambiente. Ao longo da minha vida acadêmica
pude coordenar curso de MBA em Sistema de Gestão Integrado em
SMS e atuar em diferentes segmentos da Educação, desde educação
básica, cursos técnicos, cursos de graduação e pós-graduação. Durante
essa jornada, desenvolvi habilidades e competências como educadora,
aprimorando meus conhecimentos em Metodologia Ativa, Aprendizagem
Baseada em Projetos e Ensino a Distância e Educação em Ambientes
Virtuais com o projeto “Recomendação de materiais didáticos baseada
em estilos cognitivos de aprendizagem”. Destaco na minha sólida carreira
na área de Gestão Educacional os prêmios de coordenador inspirador e
prêmio educação inovação e desenvolvimento de projetos educacionais
pela implantação e coordenação de projetos educacionais baseados em
metodologias ativas e por desenvolver a cultura digital na minha equipe
e nos alunos de cursos presencial e nas plataformas de EAD. Atualmente
me dedico à formação técnica profissional e elaboração de materiais
educacionais, aplicando a aprendizagem, associando teoria à prática –
aprender fazendo.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
A engenharia de segurança no contexto capital-trabalho...........10
Capitalismo e desenvolvimento industrial.....................................................................10

A formação para o mundo do trabalho............................................................................ 14

O conflito capital-trabalho......................................................................................................... 15

Valores versus vida.......................................................................................................................... 17

Papel e as responsabilidades do engenheiro de segurança do


trabalho.................................................................................................................. 19
Perfil profissional .............................................................................................................................. 19

Quando surgiu o engenheiro de segurança do trabalho?................................. 21

Atribuições e responsabilidades...........................................................................................23

Mercado de trabalho.....................................................................................................................27

Ética profissional do engenheiro de segurança do trabalho.......30


Ética profissional.............................................................................................................................. 30

Código de ética da engenharia............................................................................................. 31

Direitos, deveres e vetos.............................................................................................................34

Infração ética e cancelamento do registro.................................................................. 36

Informática aplicada à engenharia de segurança do trabalho.. 39


Tecnologia aliada à segurança no trabalho................................................................. 39

Ferramentas tecnológicas para a segurança do trabalho................................. 41

Riscos na indústria 4.0..................................................................................................................43

Investimentos na segurança 4.0............................................................................................45


Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 7

02
UNIDADE
8 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

INTRODUÇÃO
A profissão do engenheiro de segurança do trabalho envolve
aspectos técnicos, científicos, econômicos, sociais e ambientais, pois
faz parte do cotidiano da gestão do trabalho. Para atuar no mercado de
trabalho, o profissional de engenharia ou arquitetura deve dar continuidade
à sua formação profissional realizando uma pós em engenharia de
segurança do trabalho que o habilita a atuar como um profissional
prevencionista. Mas, isso nem sempre foi possível por fatores econômicos
que tratavam a segurança do trabalho como um gasto desnecessário. O
engenheiro atuava nas indústrias desenvolvendo a função de engenheiro
mecânico, criando artefatos que diminuíssem o número de acidentes e
posteriormente como fiscais de segurança, garantindo que as exigências
legais fossem cumpridas pelos trabalhadores. Atualmente, o engenheiro
de segurança atua junto à gestão organizacional, planejando e mediando
ações prevencionistas através de um sistema de gestão integrada e
respeitando o código de ética profissional. Um dos grandes desafios
que o mercado de trabalho apresenta a esses profissionais é atender
a demanda de uma sociedade tecnológica em constante progresso
por meio de ferramentas acessíveis. Essa é uma cobrança constante
na atividade profissional do engenheiro de segurança do trabalho. Por
isso, a formação contínua desse profissional é um dever do profissional
prevencionista, que atua para garantir a saúde e a qualidade de vida dos
trabalhadores, o respeito à sociedade e ao meio ambiente.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Reconhecer as relações capitalistas com a segurança do trabalho.

2. Descrever o perfil do engenheiro de segurança, seu papel e suas


responsabilidades.

3. Reconhecer o código de ética profissional do sistema CONFEA/


CREA para o profissional da engenharia de segurança do trabalho.

4. Descrever a Revolução 4.0 e os avanços tecnológicos na gestão


de segurança.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

A engenharia de segurança no contexto


capital-trabalho
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você deverá ser capaz de analisar


qual a importância das relações capitalistas, a segurança
do trabalho e como os modelos econômicos sociais
estão envolvidos com as práticas prevencionistas e com a
consolidação do profissional em engenharia de segurança
do trabalho.

Capitalismo e desenvolvimento industrial


Querido(a) aluno(a), estamos prestes a iniciar nossa jornada rumo
à engenharia de segurança do trabalho. Vamos pensar juntos, refletir
sobre o contexto no qual a classe operária trava uma batalha contra as
condições de trabalho, buscando mais segurança e, principalmente,
contra a crueldade do homem em busca do lucro.
Figura 1 – A luta dos operários contra a crueldade do lucro

Fonte: pixabay
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 11

Como vimos no capítulo anterior, a Revolução Industrial foi um divisor


na história da segurança do trabalho. O número de acidentes e óbitos
por causas relacionadas ao trabalho aumentaram, devido a uma série
de fatores relacionados à falta de uma gestão prevencionista. Em 1831,
motivado pelo grande número de pessoas mutiladas, desempregadas e
vivendo em estado de miséria, uma comissão apresentou um relatório
com os dados coletados que apresentavam a devastação social gerada
pelo sistema capitalista.

SAIBA MAIS:

Capitalismo é o sistema econômico e social em que o


capital é gerido por empresas ou empresários do sistema
privado, que oferecem contratos de trabalho (mão de obra)
em troca de salário. Você pode aprender um pouco mais
clicando aqui.

Somente após a publicação do “FACTORY ACT”, primeira legislação


prevencionista, é que surgem medidas legislativas na Europa e
posteriormente nos Estados Unidos, onde o primeiro ato governamental
é marcado por, entre outras ações, a obrigatoriedade de um número
suficiente de saídas de emergência para a evacuação em caso de sinistros.

Mas, não podemos encontrar a importância da implementação de


ações prevencionistas no ambiente de trabalho apenas em função de
questões estruturais. Passou a existir também uma preocupação social
com as consequências geradas pelos acidentes e pelas doenças do
trabalho, que apresentavam números significativos.

Na década de 60, Frank Bird avaliou diferentes grupos de trabalho


nos Estados Unidos e quantificou o número de acidentes comunicados,
chegando à conclusão de que aconteceram 600 incidentes sem danos
pessoais e materiais antes de acontecer um acidente fatal ou que gerasse
incapacidade permanente. Este resultado é conhecido na segurança do
trabalho como Pirâmide de Frank Bird (BITENCOURT & QUELHAS, 1998).
12 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Figura 2 – Pirâmide de Frank Bird (BITENCOURT & QUELHAS, 1998),


dados da análise quantitativa de casos de acidentes

01. Acidentes com lesão séria ou incapacidade

10. Acidentes com lesões leves

30 acidentes com danos à propriedade

600 incidentes que não apresentam danos pessoais/materiais

Fonte: Elaborada pela autora (2020)

Agora sim!

Agora temos os fatores relacionados ao surgimento do


prevencionismo. A legislação prevencionista atrelada ao interesse dos
trabalhadores e as indenizações previstas em leis trabalhistas nos casos
de acidente de trabalho, fazem com que as indústrias comecem a investir
em programas de prevenção de acidentes mais eficazes, como a proteção
por meio dos serviços médicos na empresa, tendo o engenheiro um
papel de mecânico na construção de artefatos de proteção para correias
e engrenagens das máquinas. Ou seja, fatores psicossociais e fatores
econômicos são determinantes na história.

REFLITA:

Quem é o profissional responsável por planejar e organizar


os ambientes, desde o projeto até a construção? Se
você respondeu que é o engenheiro você mostra que
também consegue inserir a profissão de engenharia no
âmbito prevencionista. Mas, é o médico o profissional
que acompanha o efeito dos agentes presentes no meio
ocupacional.

A implementação do serviço de saúde dos trabalhadores era focada


nos serviços médicos que tinham como objetivo contribuir e proteger
a saúde e o bem-estar físico e mental dos trabalhadores, atendendo
a recomendação 112 da OIT. O serviço de saúde só vai ganhar novos
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 13

profissionais, porém ainda não com uma visão prevencionista, quando os


empresários resolveram que precisam de um fiscal dentro da empresa,
fiscalizando os trabalhadores. É assim que surge a figura do engenheiro
de segurança, apenas com o objetivo corretivo, ou seja, era muito mais
um fator de pressão social e econômica sobre os trabalhadores do que
uma figura prevencionista. O capitalismo está preocupado em atender as
pressões internacionais atendendo a OIT.

No Brasil, a engenharia de segurança ganha uma nova roupagem,


com a aprovação das Normas Regulamentadoras – NR que abordam
problemas relacionados ao ambiente de trabalho, fazendo com que as
empresas e os empresários observem esses fatores de forma a aplicar
medidas que previnam a ocorrência dos acidentes e das doenças
ocupacionais. Ou seja, ao sistema capitalista brasileiro, a legislação
prevencionista é uma imposição da economia e dos padrões internacionais.

Atualmente, influenciado por uma gestão globalizada, o


empregador é estimulado a inserir em sua gestão operacional, tanto as
ações quanto os profissionais para atuarem nos setores de segurança.
Muito mais devido aos custos diretos e indiretos representados pelo
acidente, do que por uma visão de qualidade de resultados. Isso porque
embora o capitalismo apresente uma visão focada em investimentos e
lucros, os empresários e acionistas acreditam que investir na qualidade
de produtos e serviços gera retorno financeiro. Muito desse conceito vem
parcialmente da exigência da sociedade, devido ao aumento da oferta de
produtos, ao escolher produtos de qualidade.

O sistema de gestão de qualidade se expandiu para um sistema de


gestão integrado, que engloba Qualidade, Segurança, Meio ambiente e
Responsabilidade Socioambiental (QSMSRS), trazendo para o capitalismo
o prevencionismo como um investimento e não mais um custo.

Investimento é qualquer gasto de recursos que produz um retorno


ou seja, a taxa de investimento é proporcional ao retorno, mantendo o
polo dinâmico da economia capitalista.

As forças dominantes, a classe empresária, que detêm o domínio


do capital industrial investe nos avanços tecnológicos operacionais e
também prevencionistas, para que a relação lucro versus custos não seja
desequilibrada pelos custos com acidentes, doenças ocupacionais e
perdas na produção.
14 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Figura 3 – Balança de investimentos prevencionistas


e custos com acidentes e doenças ocupacionais

Custos com
acidentes
e doenças
ocupacionais
Investimentos
prevencionistas

Fonte: Elaborada pela autora (2020)

A formação para o mundo do trabalho


O mundo globalizado, com fortalecimento do sistema capitalista,
focado no lucro e na livre concorrência chegam também ao mercado de
trabalho, trazendo o aumento da competitividade pelas oportunidades de
trabalho e exigindo formação e qualificação profissional. Os trabalhadores
vivenciam ou buscam a entrada em um ambiente que exija cada vez mais
o desenvolvimento de habilidades e competências multidisciplinares.

A competitividade pode ser evidenciada antes mesmo da entrada


dos profissionais no mercado de trabalho, por meio do conhecimento
tecnológico e científico, exigindo além da formação inicial, uma formação
continuada. Por isso, já se insere na grade do ensino fundamental, médio
e técnico opções de unidades curriculares como: empreendedorismo,
robótica e tecnologia da informação, além das já exigidas pela Lei de
Diretrizes e Bases – LDB, como a transversalidade das unidades que
abordam a temática ambiental, preparando nosso jovem para o mercado
de trabalho competitivo. O mesmo se vê na formação continuada.

Essa tendência, embora globalizada nem sempre é igualitária ou


proporciona igualdade de oportunidades de entrada e permanência no
mercado de trabalho. Devido às desigualdades da sociedade capitalista,
as diferenças de oportunidades acabam refletindo na vida dos jovens
que veem dificultada a sua inserção ao mercado de trabalho, forçando
a entrada precoce em atividades informais, sem garantias trabalhistas e
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 15

que comprometem ainda mais a formação dos jovens, por se dedicarem


menos ou mesmo abandonarem os estudos.

Todo esse cenário tem reflexo nas oportunidades futuras


desses jovens, que quando inseridos, estarão sujeitos às condições de
vulnerabilidade trabalhista, econômica e social, contribuindo com a
desigualdade social e a pobreza.

ACESSE:

Alguns países apresentam uma educação formal e


continuada diferenciada, trazendo as mudanças globalizadas
do mercado para o ambiente escolar desde da formação
inicial. Para saber mais, clique aqui.

As crises econômicas acabam sempre afetando os trabalhadores,


seja pela falta de conscientização ou pelo aumento da expectativa de
qualificação. Tais fatores contribuem para a entrada e permanência dos
trabalhadores no setor informal sem as garantias trabalhistas de saúde e
segurança, pois a existência do direito no emprego formal não garante o
acesso a ele.

Uma sociedade com desigualdade social e econômica contribui


para o processo de exclusão social e do mercado. Sem oportunidades, o
indivíduo encara como marginalizadas as oportunidades, se submetendo
às condições de trabalho degradantes e até mesmo abrindo mão de seus
direitos, de suas garantidas pela Constituição Federal, que em seu Artigo
6o garante educação e trabalho como direitos sociais, fundamentais
à dignidade da pessoa humana. Podemos contextualizar as ações do
prevencionismo como o cumprimento das leis que protegem os direitos
de igualdade e da dignidade humana.

O conflito capital-trabalho
O mundo gira e os seres humanos ainda se perguntam: o que gira
o mundo?
16 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Esse é o dilema dos profissionais da área de saúde e segurança do


trabalho. Manter vivos seus pilares prevencionistas diante das resistências
dos dois lados. De um lado os empresários capitalistas que estão a
todo tempo direcionando sua gestão à obtenção de lucro e do outro os
trabalhadores que resistem à aplicação de uma política prevencionista,
pois estão mais preocupados com os direitos que garantem um retorno
financeiro. Muitas vezes, o profissional de SST precisa se posicionar entre
os interesses capitalistas e a saúde, entre a produção e a segurança, entre
o salário e o emprego.
Figura 4 – A balança pende para os interesses dos detentores do capital

Capital:

Riquezas
adquiridas Trabalho:
Interesses dos Saúde e
empresários segurança do
trabalhador

Fonte: Elaborado pela autora (2020)

A arma do profissional de SST para lutar contra essa disputa é a


produção de conhecimento. Quando se produz conhecimento, sem
cooperação da gestão, a produtividade fica comprometida.

Por isso, a responsabilidade em orientar empregados e empregadores


em relação à existência de riscos ocupacionais responsáveis por doenças
e acidentes do trabalho e suas consequências para a vida do trabalhador
é tão importante para vencer o conflito entre capital e trabalho.

Além de orientar, a gestão de SST também trabalha para neutralizar


os riscos por meio de medidas de segurança prevencionistas, que acabam
sendo burladas por empregados e empregadores, como o respeito à
intrajornada, também conhecida como horário de almoço. A interjornada
tem como objetivo proporcionar aos trabalhadores um tempo de descanso,
para que eles recuperem suas energias e até para que eles passem mais
tempo ao lado de sua família e amigos, direitos garantidos ao trabalhador
pela CLT, que tem como finalidade evitar a fadiga física e mental.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 17

Uma boa forma da empresa não ter prejuízos pela falta de respeito
dos intervalos é o sistema de ponto eletrônico adotado pelas empresas,
que por vezes é vista pelo empregado como uma posição punitiva para
possíveis atrasos e não como um controle positivo das horas trabalhadas,
com o devido respeito ao descanso necessário à saúde do trabalhador.

ACESSE:

Descubra o que muda na jornada de trabalho após as


mudanças na reforma trabalhista (DANDERFER, 2020);
(NACARATO, 2020). Clique aqui.

Valores versus vida


Na economia da segurança é notável a separação entre o trabalho e
os meios de produção, que reproduz a submissão do trabalho ao capital.
Essa submissão pode ser vista principalmente quando a função de um
trabalhador não é igual ao do coletivo.

A relação do capitalismo com o trabalho é marcada pelos modelos


de produção Fordistas e Tayloristas, que baseavam a produção no
tempo de movimento dos trabalhadores. O modelo Taylorista adaptava o
trabalhador ao ritmo da máquina. Assim, menos interrupções aconteciam,
havia menos desperdício e mais produtividade. Esse modelo de produção
consolida o materialismo estruturado na produção capitalista, centralizada
na exploração do capital, com o trabalho mal remunerado.

O processo de globalização traz à tona a terceirização e outras


atividades produtivas mediante uma diversificação geral do modelo
capitalista baseado na exploração do assalariado, que com medo de
perder o emprego e de ser socialmente excluído, se submete às condições
impostas pelo modelo atual (VASAPOLLO, 2003).

O valor material ainda ganha força pelas inovações tecnológicas


que substituem o trabalho físico humano e contribuem para fortalecer a
classe empregadora que, visando o lucro e um aumento da valorização
da riqueza, aumenta o distanciamento entre os níveis sociais (ricos e
18 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

pobres) e dentro do processo de globalização, o distanciamento nacional


e internacional.

Podemos exemplificar essa relação desigual no ambiente de


trabalho por um entendimento do salário, que deveria ser constituído da
jornada trabalhada e uma renda social mínima que garantisse a qualidade
de vida independente da posição social.

O problema existe também para quem possui um trabalho com


condições cada vez mais precárias, sem proteção, com salário menor e
com altos níveis de mobilidade e intermitência, tratando o prevencionista
meramente como o atendimento da legislação vigente BAZZO & PEREIRA,
2006.

RESUMINDO:

E então, entendeu que em uma sociedade capitalista a


valorização da vida humana é calculada entre gastos e
receitas para o empregador e para o governo? Entendeu
o quanto o processo de industrialização e o sistema
capitalista influenciou a regulamentação prevencionista?
Pois bem, só para não ficar nenhuma dúvida, vamos
resumir rapidamente o que vimos. O capitalismo é hoje
o sistema econômico que reflete as relações sociais e
também as relações de trabalho. A certeza do lucro da
classe empregadora e o medo do desemprego e da
exclusão social fragilizam as relações trabalhistas, expondo
trabalhadores a salários indignos e condições de trabalho
prevencionistas apenas para atender a legislação e evitar
custos dos trâmites legais. O prevencionismo ainda é
sufocado pelos interesses capitalistas, dificultando a ação
dos profissionais de SST. Reduzir o número de acidentes e
doenças do trabalho era considerado um gasto sem retorno.
Entretanto, atualmente a gestão prevencionista, junto com
os gestores operacionais entendem que os investimentos
com ações que reduzem acidentes e doenças ocupacionais
aumentam o desempenho e a qualidade da empresa, além
de reduzirem os custos com o afastamento e pagamento
de benefícios aos trabalhadores lesados.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 19

Papel e as responsabilidades do
engenheiro de segurança do trabalho
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você terá conhecido o perfil


profissional do engenheiro de segurança do trabalho,
levando em consideração as atribuições e responsabilidades
que envolvem o dia a dia desses profissionais, a contribuição
do seu labor para a empresa, para os trabalhadores, para
a sociedade e ainda conhecer o mercado de trabalho em
que esse profissional está inserido.

Perfil profissional
Quando falamos em engenharia pensamos em projetos,
construções e edificações de cidades, prédios e estradas. E o engenheiro
de segurança do trabalho? O que ele planeja? O que ele constrói?

Para conceituar a profissão de engenheiro, Walter Bazzo e Luiz


Teixeira conceituam a profissão com relação à história da sociedade da
seguinte forma:

Se o trabalho dos engenheiros é importante no dia a dia de


uma sociedade, eles estão lá como elementos fundamentais
para a procura de soluções, para a concretização de ideias
ou mesmo para a administração dos serviços necessários à
execução dos produtos. (BAZZO & PEREIRA, 2006, p. 65)

Então, podemos destacar que de forma geral, o engenheiro


procura soluções, tanto para concretizar ideias quanto para administrar
a execução, podendo assim, desenhar as atribuições do engenheiro do
trabalho em procurar soluções para as situações de riscos encontradas
no ambiente de trabalho e concretizá-las.
20 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Figura 5 – engenheiro de segurança do trabalho –


planeja soluções para os ambientes ocupacionais

Fonte: pixabay (adaptado)

Na gestão de saúde e segurança é necessário traçar o perfil


ocupacional dos profissionais no qual devem estar contidas as atividades
desenvolvidas, local ou posto de trabalho, os riscos ambientais
encontrados e os respectivos agentes, incluindo a matéria-prima, as
medidas de controle aplicadas para eliminar, reduzir ou controlar a
exposição aos riscos.

VOCÊ SABIA?

Onde encontrar as informações do perfil profissional?


Essas informações são registradas no perfil profissional
previdenciário, documento elaborado e assinado
pelo engenheiro de segurança do trabalho que serve
para comprovar as condições de trabalho em que um
trabalhador está inserido durante a jornada de trabalho
e é uma exigência legal da Previdência Social a todas as
empresas na Lei n0 8.213/91. Clique aqui.

Sendo assim, você conseguiria traçar o perfil ocupacional de um


engenheiro de segurança do trabalho que atua na indústria de calçados?
Ou na construção civil? Ou ainda em um navio de transporte de produtos
perigosos? O perfil profissional do engenheiro não se confunde com outros
profissionais. Sua atuação está na descrita na promoção da segurança dos
trabalhadores, de forma ética, aplicando seus conhecimentos técnicos.

A prática do trabalho é de responsabilidade do operador, mas o


profissional prevencionista, como o engenheiro de segurança do trabalho,
tem como responsabilidade planejar e aplicar o suporte necessário para
que o operador desenvolva a atividade com saúde e segurança.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 21

A principal função de qualquer profissional da área de segurança


e não diferente do engenheiro de segurança do trabalho é proporcionar
aos demais trabalhadores um ambiente salubre, participando das ações
de promoção da saúde e segurança junto com os demais membros do
Serviço Especializado em Saúde e Medicina do Trabalho (SESMT) e da
Comissão Interna de Prevenção de Acidente (CIPA).

VOCÊ SABIA?

Consulte o link a seguir para descobrir como elaborar um


Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP). Clique aqui.

Quando surgiu o engenheiro de segurança


do trabalho?
As responsabilidades do engenheiro de segurança foram se
adequando às mudanças ocorridas no processo de produção.

Vimos na história da segurança prevencionista, que após a


implantação da produção em massa, com máquinas movidas a vapor
e com o crescimento do número de trabalhadores e de acidentes de
trabalho, o engenheiro era o profissional que criava artefatos de proteção,
sem um planejamento prevencionista.

Podemos apresentar um molde de profissional de segurança em


1834, na figura do inspetor de fábricas, que associou o prevencionista à
presença diária de um médico nas fábricas. A medicina do Trabalho ainda
ganha destaque na história prevencionista quando em 1959 a OIT define o
serviço de saúde ocupacional como um serviço médico.

Mas e o engenheiro? Esse ainda mantém o perfil mecânico,


responsável por peças e engrenagens.
22 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Figura 6 – O médico anjo protetor e o engenheiro Mecânico

Fonte: pixabay

Desde que surgiu a necessidade de um profissional que atuasse na


função prevencionista, ela foi desempenhada por profissionais de diferentes
segmentos e de níveis hierárquicos e responsabilidades diferentes.

As décadas de 70 e 80 foram marcantes para a história dos


profissionais prevencionistas, principalmente para o engenheiro de
segurança do trabalho e o técnico de segurança do trabalho, que na
década de 50 eram conhecidos como inspetores de segurança. A nova
fase acabava com o profissional espontâneo e entravam em cena os
profissionais legalmente constituídos.

Podemos afirmar que o divisor de águas na história da segurança


do trabalho foi a Portaria nº 3237 do MTE, criando o serviço de segurança,
higiene e medicina do trabalho nas empresas.

Com esta portaria foram criados cursos reconhecidos pelo Ministério


da Educação e Cultura (MEC) de preparação dos profissionais para
atuarem na área de segurança, higiene e medicina do trabalho. Em 1979,
em virtude da carência de profissionais para compor o SESMT, a Resolução
n° 262 regulamenta a criação de cursos em caráter prioritário para esses
profissionais. A Lei n° 7410 de 27/11/85 oficializou a especialização em
engenharia de segurança do trabalho. A lei também criou a categoria
profissional de técnico em segurança do trabalho, até então os únicos
profissionais prevencionistas não eram reconhecidos legalmente (BRASIL,
1985).
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 23

Hoje para atuar nesta função é necessária uma especialização que


os profissionais das engenharias e da arquitetura realizam, capacitando-
se como engenheiros de segurança do trabalho.

A segurança do trabalho nas empresas hoje se apresenta como uma


gestão integrada que envolve diversas áreas de trabalho e ainda é um
desafio, que envolve a mudança de paradigmas para todos os envolvidos,
uma modificação da realidade de acidentes e doenças relacionadas ao
espaço laboral.

Com as áreas de gestão unificadas pelo sistema de gestão


integrada (SGI), a atuação do engenheiro de segurança do trabalho e de
outros membros da equipe de segurança do trabalho é fundamental em
qualquer organização, que por meio do desenvolvimento de métodos,
procedimentos e programas de controle de acidentes ou de perdas,
bem como pela comunicação de acidentes, a medição e a avaliação
dos sistemas de controle de perdas e acidentes, oferecem suporte para
garantir a saúde de todos.

Ao conquistar o reconhecimento dos gestores da empresa, um dos


maiores desafios do engenheiro de segurança do trabalho é mobilizar
os funcionários, com o intuito de chegar aos melhores resultados na
prevenção de acidentes.

Atribuições e responsabilidades
A engenharia de segurança do trabalho deve ter como
responsabilidade primordial a gestão prevencionista voltada para o
controle de acidentes e doenças ocupacionais. Para a OIT, os aspectos
prevencionistas devem estar além da redução dos riscos, eles devem
estar atrelados à conservação da saúde atingindo o conceito de saúde
definido pela OMS. Sendo assim, a engenharia de segurança do trabalho
tem a responsabilidade pela vida dos trabalhadores, atendendo a três
componentes: Estado-Empresa-Trabalhador.
24 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

ACESSE:

Para conhecer um pouco mais sobre o conceito de saúde


clique aqui.

Então chegou a hora de definir as responsabilidades do engenheiro


de segurança do trabalho.

Legalmente, a figura do engenheiro de segurança surge no Brasil


apenas para garantir nas empresas o cumprimento das exigências legais
impostas pelas medidas governamentais, que tinham como objetivo principal
reduzir o número de acidentes no país e não assegurar a vida. A atribuição do
engenheiro de segurança era a de fiscal interno com postura corretiva.

Legalmente, suas atribuições estão atreladas ao Serviço Especializado


em Medicina do Trabalho (SESMT), atendendo aos dispositivos da NR4
(ENIT, 2016) em promover a saúde e proteger a integridade física do
trabalhador no local de trabalho. As principais atribuições do engenheiro
de segurança do trabalho no SESMT são:

• Elaborar projetos do âmbito da segurança e saúde do trabalho.

• Elaborar laudos.

• Realizar de perícias

• Confeccionar pareceres técnicos.

• Gerenciar o controle de riscos.

• Estudar as condições de segurança no ambiente de trabalho.

• Analisar os riscos de acidentes.

• Propor regulamentos internos para a prevenção de acidentes e


doenças ocupacionais.

• Acompanhar a execução de obras e serviços no sentido de


promover a segurança.

• Coordenar as comissões internas, como a CIPA.

• Atuar na área de higiene do trabalho.


Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 25

• Elaborar ou colaborar com os programas de segurança do


trabalho, como PPRA, PCMAT, PGR.

• Promover a realização de atividades de conscientização, educação


e orientação dos trabalhadores.

Nesse conceito legal, podemos então afirmar que engenheiro deixa de


ser um fiscal e ganha a responsabilidade de planejar e desenvolver a gestão
de risco nas empresas principalmente adequando às atualizações legais e
ao desenvolvimento tecnológico, passando de profissional fiscal para um
profissional prevencionista. Com as atualizações nos NRs, o engenheiro de
segurança do trabalho também ganha novas responsabilidades como a de
gerenciar o controle de riscos. Para a legislação trabalhista, são atribuições
do engenheiro de segurança do trabalho:

• Prevenção e antecipação de riscos potenciais.

• Elaboração do PPRA E PCMAT.

• Proteção do consumidor.

• Alterações de conceitos legais referentes a saúde e segurança.

• Controle ambiental objetivando a saúde e segurança do


trabalhador, no que tange à redução de acidentes e doenças
ocupacionais da sociedade e do meio ambiente.

ACESSE:

A lei que estabelece as atribuições previstas para o


engenheiro do trabalho pode ser encontrada clicando aqui.

A atuação do engenheiro ou arquiteto na especialização de


engenheiro de segurança do trabalho só será autorizada mediante registro
no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (CREA)
que define as atribuições do engenheiro de segurança do trabalho:

• Supervisionar, coordenar e orientar serviços da área

• Realizar estudos no ambiente de trabalho para identificar e


controlar os riscos.
26 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

• Implantar técnicas de gerenciamento e controle de risco

• Realizar perícias e emitir pareceres para controle sobre o grau de


exposição aos riscos físicos, químicos e biológicos etc.

• Propor medidas preventivas e corretivas e orientar trabalhos


estatísticos

• Propor normas e políticas de segurança do trabalho, fiscalizando


o seu cumprimento

• Elaborar projetos de sistema de segurança do trabalho e assessorar


a elaboração de projetos e obras para garantir a segurança

• Analisar instalações, máquinas e equipamentos, projetando


dispositivos de segurança

• Atuar em projetos de proteção contra incêndios.

• Delimitar as áreas de periculosidade.

• Fiscalizar os sistemas de proteção coletiva e os EPIs.

• Acompanhar a aquisição de substâncias e equipamentos que


ofereçam riscos.

• Elaborar planos para prevenir acidentes

• Realizar treinamentos.

• Emitir Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).

A responsabilidade do engenheiro de segurança do trabalho


está atrelada à melhoria dos resultados das empresas desenvolvendo
métodos, procedimentos e programas de controle de perdas e acidentes,
medição e acompanhamento dos resultados.

Para atuar desenvolvendo as atribuições que competem a


um engenheiro de segurança do trabalho, ele precisa desenvolver
competências que envolvem conhecimentos da legislação vigente, laudos
e perícias, conhecimentos acerca de saúde, máquina e equipamentos,
mas também conhecimentos que envolvam psicologia, sociologia e
meio ambiente, tanto em situações de sinistros quanto em medidas de
primeiros socorros.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 27

Desenvolver essas competências é importante para cumprir o


propósito da engenharia de segurança, que inclui estudar as causas e
modos de prevenção de acidentes com lesões e morte atuando tanto
na indústria, berço do prevencionismo, quanto nos demais setores de
trabalho, como produção e exploração de bens e serviços, podendo atuar
em médias e grandes empresas.

A segurança se expandiu, por isso o profissional deve também


desenvolver competências relacionadas ao controle de qualidade,
auditorias internas, externas e oficiais, respondendo aos requisitos legais
e de certificadoras do sistema SSO, como ISO 45001, no qual a empresa
precisa adequar o gerenciamento de risco e gerar valores para organização.

A OHSAS 18001 foi aplicada em mais cem mil empresas e juntamente


com as Diretrizes Internacionais do OIT, serviram de base para a nova
norma ISO 45001:2018, que facilita a integração com os demais sistemas
ISO (9001, 14001) e consequentemente o SGI.

ACESSE:

Confira a tabela de comparação entre a OHSAS 18001 e a


ISO 45001 (CICCO, 2018), clique aqui.
Escute o Podcast: Principais mudanças da OHSAS 18001
para ISO 45001-2018, produzido pelo Qualicast, clique aqui.

Mercado de trabalho
Após a conclusão da especialização de engenharia de segurança do
trabalho o profissional ganha espaço no mercado de trabalho na medida
em que o mercado percebe a importância política, social e principalmente
econômica de prevenir doenças, acidentes e incidentes no ambiente de
trabalho.

As indústrias, por concentrarem historicamente o maior número de


acidentes, são as que mais têm abertura ao profissional de engenharia de
segurança do trabalho, destacando o ramo da construção civil.
28 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Por concentrarem o maior número de indústrias, as regiões sul e


sudeste do país são as que apresentam o maior número de oportunidades,
mas existem oportunidades em aberto por todo país.

Como qualquer profissão, a carreira do profissional especializado


em engenharia de segurança do trabalho apresenta vantagens
e desvantagens. De um lado podemos destacar a progressiva
conscientização do mercado em investir em profissionais prevencionistas
e do outro a dificuldade de desenvolver suas atribuições de conscientizar
suas equipes em cumprir as normas regulamentadoras devido à falta de
conscientização da classe operária.
Figura 7 – Dificuldades encontradas no mercado de trabalho
pelos engenheiros de segurança do trabalho

↑ Aumento da conscientização da classe empresária

↓ Resistência da classe operária em cumprir os dispositivos legais


Fonte: Elaborada pela autora (2020).

Nesse cenário, o engenheiro de segurança do trabalho encontra


um mercado repleto de oportunidades, no setor privado ou público, com
empregados regidos pela CLT, pequenas ou grandes empresas, podendo
atuar como funcionário efetivo ou prestador de serviços. Como consultor,
o profissional presta serviço investigando as mudanças necessárias
para reduzir acidentes e doenças do trabalho e adequar a empresa às
exigências legais relacionadas à segurança e higiene do trabalho. Além
disso, o engenheiro de segurança pode trabalhar em um órgão público
de fiscalização do trabalho, realizando auditorias externas em empresas.

Portanto, além dos conhecimentos científicos adquiridos durante


o contínuo processo de formação, o engenheiro de segurança precisa
apresentar habilidades que o insira e mantenha no mercado de
trabalho como o aperfeiçoamento contínuo, principalmente no que se
refere às atualizações legais prevencionistas, boas relações humanas,
comunicação, trabalho em equipe e ética profissional, assuntos que
iremos abordar no próximo capítulo.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 29

RESUMINDO:

A Revolução Industrial é um divisor de águas na história


prevencionista. Também sabemos que por pressão
dos trabalhadores os empresários apresentaram como
profissional prevencionista, primeiramente o médico.
Então, só para não esquecer como surgiu o engenheiro de
segurança do trabalho, no Brasil a profissão do engenheiro
de segurança e técnico de segurança só foi regulamentada
após a criação das Normas Regulamentadoras que
exigiam a composição do SESMT em empresas privadas
e públicas com trabalhadores em regime de CLT. Sua
formação em forma de especialização é reconhecida pelo
órgão trabalhista e educacional e abrange as ações de
planejamento e gestão de prevencionista em empresas
de pequeno, médio e grande porte ou atuando como um
profissional liberal consultor, com os mesmos deveres e as
mesmas atribuições.
30 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Ética profissional do engenheiro de


segurança do trabalho
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você conhecerá os direitos e


deveres do profissional de engenharia de segurança do
trabalho baseado na conduta ética profissional segundo o
código de ética profissional do sistema CONFEA/CREA.

Ética profissional
Você certamente já ouviu definições de ética profissional, o que não
se afasta da definição de ética.

No capítulo anterior, vimos que o engenheiro de segurança do


trabalho responde no ambiente ocupacional por diferentes atribuições e
responsabilidades que devem ser exercidas com ética e responsabilidade
profissional.

Pode ser que o próprio engenheiro desconheça a importância de


conduzir a todo o momento suas responsabilidades que são capazes de
modificar o ambiente e a qualidade de vida das pessoas.

Por isso que as responsabilidades do engenheiro têm um grande


peso nas relações humanas entre si e com o meio e o mesmo deve estar
preocupado em planejar e implementar medidas apropriadas, mediante
uma postura profissional coerente e racional, baseada em conceitos
éticos e profissionais.

Você pode estar se perguntando, como seria a aplicação da ética


profissional nas atribuições do engenheiro de segurança do trabalho?
Vamos trazer alguns exemplos.

O profissional prevencionista estará se comunicando por meio


de uma linguagem técnica, na elaboração de relatórios, programas,
planilhas com dados e laudos técnicos. Esta comunicação deve ser
clara e principalmente precisa, preferencialmente sem metáforas, com
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 31

as palavras sendo empregadas com o sentido direto sem dar margens a


interpretações errôneas que comprometam a real intenção prevencionista.

O engenheiro de segurança do trabalho estará lidando diretamente


com o triângulo prevencionista (empregados, empregadores e governo)
ou seja, em suas decisões devem prevalecer os direitos e deveres
estabelecidos nas leis.

Ao avaliar os riscos e as probabilidades de danos em uma real


situação ou provável situação no ambiente ocupacional, o engenheiro de
segurança do trabalho deve, sobretudo, garantir o respeito ao trabalhador,
à empresa, à sociedade e aos seus concorrentes. Sendo assim, no
exercício da profissão, o engenheiro de segurança do trabalho não deve,
segundo o ponto de vista ético, buscar interesses e satisfação pessoal e
sim um serviço, uma contribuição à sociedade. Tudo isso só será possível
com uma sólida formação técnica, científica e profissional.

Outro ponto que devemos abordar é a sobreposição entre as


competências profissionais que o engenheiro por formação pode atuar.
A engenharia de segurança do trabalho é uma especialização autorizada
pelos órgãos de educação e trabalho a ser conferida aos profissionais
graduados em engenharia e arquitetura, aos quais são também atribuídas
outras especializações como a engenharia ambiental, engenharia
geotécnica, topografia e sensoriamento. Digo isso, pois pode acontecer
que ao engenheiro de segurança do trabalho sejam atribuídas decisões
em que se tornem dúbios os limites entre as especializações. Desta
forma, para resolver tais possíveis conflitos, o engenheiro deve exercer
suas atividades com ética e profissionalismo.

Código de ética da engenharia


Assim como toda profissão, o engenheiro de segurança do trabalho
exerce suas atribuições pautadas em um código de ética estabelecido
por um conselho de classe. O engenheiro de segurança do trabalho deve
seguir o código de ética do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia
– (CONFEA) podendo cada Conselho Regional (CREA) submeter à
aprovação do conselho federal e apresentar seu código de ética.
32 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

O código de ética preconiza o estabelecido em lei (Lei no 5.194/96),


que em sua atuação profissional, o engenheiro, em qualquer que seja
sua especialização, sobreponha o interesse social e humano por meio do
aproveitamento e da utilização dos recursos naturais, desenvolvimento
industrial entre outros. Esta lei ainda delibera ao sistema CONFEA/CREA,
o direito de julgar as infrações do Código de Ética.

Para o sistema CONFEA/CREA é inadmissível desenvolver a prática


profissional sem que se conheça e principalmente que se aplique, de
forma cotidiana e rotineira, os princípios estabelecidos pelo código
de ética. Essa exigência baseia-se principalmente pelo caráter social
apresentado pela profissão do engenheiro, que deve aplicar os princípios
éticos na elaboração, na fiscalização, na pesquisa e execução de projetos
de construção ou na prevenção de acidentes, ou seja, nas inúmeras
atividades desenvolvidas pelo engenheiro.

O sistema CONFEA/CREA ainda destaca o caráter individual


na aplicação do código destacando que o profissional inicia sua
responsabilidade com a sociedade ainda durante sua formação
acadêmica e continuada, trazendo os princípios éticos como um norte
para sua conduta profissional ao desempenhar seus deveres profissionais
e até mesmo contribuindo, quando julgar necessário, para renovar tais
princípios baseados em seus conhecimentos adquiridos. Isso posto,
entende-se que o profissional é, antes de tudo, um cidadão e como tal
deve estar atento às mudanças globais que impactam a sociedade.

O código de ética atual, após mudanças propostas pelo Colégio


de Entidades Nacionais (CDEN) atualiza e contempla demandas
acumuladas e atuais. Por isso é indispensável aos profissionais. Nele estão
estabelecidos os direitos, deveres e condutas vedadas aos profissionais
definindo, por exemplo, o que é uma infração ética:

Todo ato cometido pelo profissional que atente contra


os princípios éticos, descumpra os deveres do ofício,
pratique condutas expressamente vedadas ou lese direitos
reconhecidos de outrem. (CONFEA, 2019, p. 7)
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 33

A entidade entende que o código de ética aprovado na sua 11a


Edição, em vigor desde 2003, se apresenta aos profissionais a ela filiados
um pacto com as adequações exigidas por uma sociedade globalizada,
que possa atender as transformações técnicas, científicas, mas também
as transformações sociais e culturais.

Em seus catorze artigos divididos em oito capítulos, o código


fundamenta os preceitos e condutas orientadoras a respeito das práticas
profissionais, envolvendo direitos e deveres, respeitando e estimulando
a competitividade ética e inserção profissional. O código de ética deve
ser seguido de forma a alavancar a excelência na profissão, aplicando o
código de ética não como ideias abstratas, mas concretas e delimitadas
nos conhecimento técnicos e científicos.

O Artigo 2o estabelece que o código de ética tem alcance a todos


os profissionais:

Os preceitos deste Código de Ética Profissional têm alcance


sobre os profissionais em geral, quaisquer que sejam seus
níveis de formação, modalidades ou especializações.
(CONFEA, 2019, p. 28)

O que remete ao profissional especialista em engenharia de


segurança do trabalho a responsabilidade de seguir o código. Outra
garantia dada pelo código é a liberdade de criar. O Artigo 5o garante
aos profissionais a detenção do conhecimento: “Os profissionais são os
detentores do saber especializado de suas profissões e são sujeitos
proativos do desenvolvimento”. (CONFEA, 2019, p. 29)

O Artigo 6o define o objetivo da atuação do engenheiro e suas


especializações em prol do bem-estar da sociedade e do meio ambiente
em suas diversas dimensões:

O objetivo das profissões e a ação dos profissionais volta-se


para o bem-estar e o desenvolvimento do homem, em seu
ambiente e em suas diversas dimensões: como indivíduo,
família, comunidade, sociedade, nação e humanidade; nas
suas raízes históricas, nas gerações atuais e futuras. (CONFEA,
2019, p. 29)
34 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Podemos concluir que aos engenheiros de segurança cabe o


cumprimento da conduta ética que vai muito além dos muros e das salas
de um ambiente de trabalho e para isso são estabelecidos direitos e
deveres.

Direitos, deveres e vetos


O Artigo 8o do Código de Ética que fundamenta os seus princípios
éticos, pauta sua conduta em:

• Objetivo da profissão.

• Natureza da profissão: bem cultural da humanidade.

• Honradez da profissão: exige conduta honesta.

• Eficácia profissional: cumprimento responsável dos compromissos


profissionais.

• Relacionamento profissional: honesto, justo com igualdade de


tratamentos entre os profissionais.

• Intervenção profissional sobre o meio: Baseado nos preceitos de


desenvolvimento sustentável.

• Liberdade e segurança profissional: livre exercício dos habilitados


a desenvolver a função. (CONFEA, 2019, p. 31)

ACESSE:

Consulte a 11a edição de 2019 do código de ética profissional


da engenharia, agronomia, da geologia, da geografia e da
meteorologia e confira na íntegra os direitos e deveres da
conduta profissional. Clique aqui.

O código estabelece os direitos (Artigo 11o), deveres (Artigo 9o) e


vetos a condutas profissionais (Artigo 10o). Quanto aos direitos coletivos
estão estabelecidos no Artigo 11o dos quais podemos citar o direito ao
reconhecimento legal, enquanto que no Artigo 12o são estabelecidos os
direitos individuais universais, dos quais podemos citar:
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 35

• A liberdade de escolha de especialização.

• O direito de recusa quando julgar incompatível a titulação ou


dignidade.

• A liberdade de escolha de métodos e procedimentos.

Entre os deveres atribuídos eticamente podemos citar como


deveres:

• Ante ao ser humano e seus valores: harmonizar os interesses


pessoais aos coletivos.

• Ante a profissão: realizar sua função nos limites de suas atribuições


e de sua capacidade pessoal de realização.

• Ante o meio: orientar as atividades respeitando os princípios de


desenvolvimento sustentável.

• Nas relações com clientes, empregadores e colaboradores: atuar


com imparcialidade e impessoalidade.

• Nas relações com os demais profissionais: atuar com lealdade no


mercado. (CONFEA, 2019, p. 34)

Entre as condutas vedadas aos profissionais podemos citar

• Usar de privilégios profissionais de forma abusiva, para fins de


vantagens pessoais.

• Omitir ou ocultar fatos que transgridam a ética profissional;

• Descuidar com as medidas de segurança e saúde do trabalho sob


sua coordenação.

• Prestar de má-fé qualquer ato profissional que resulte em danos


ao meio ambiente a sociedade e a saúde humana. (CONFEA, 2019,
p. 37)
36 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Infração ética e cancelamento do registro


No exercício de sua profissão o engenheiro do trabalho deverá
sempre priorizar os cumprimentos dos direitos e deveres éticos definidos
para sua profissão. Em alguns casos, quando o profissional não conduz
suas atividades nesses princípios ele pode estar cometendo uma infração
ética que deverá ser julgada pelo conselho, que irá proceder de forma a
averiguar os fatos, estabelecendo se de fato houve a infração e se ela se
caracteriza como uma má conduta, imprudência, imperícia, negligência
ou ainda um crime.

A Resolução no 1004/2003 em seu anexo estabelece os


procedimentos para instauração e julgamento dos processos
administrativos, assim como a aplicação das penalidades relacionadas à
apuração da infração ao código de ética profissional. “Todo o processo deve
seguir os princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade,
proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência” (CONFEA, 2019, p. 47).

O profissional que comete infrações ao código de ética profissional


poderá ter seu registro profissional cancelado. Estarão sujeitos ao
cancelamento do registro por má conduta ou escândalo, os profissionais
que cometerem os seguintes atos ou comportamentos:

I. Incidir em erro técnico grave por negligência, imperícia ou


imprudência, causando danos.

II. Manter no exercício da profissão conduta incompatível com


a honra, a dignidade e a boa imagem da profissão.

III. Fazer falsa prova de qualquer dos requisitos para o registro


no Crea.

IV. Falsificar ou adulterar documento público emitido ou


registrado pelo Crea para obter vantagem indevida para si ou
para outrem.

V. Usar das prerrogativas de cargo, emprego ou função


pública ou privada para obter vantagens indevidas para si ou
para outrem.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 37

VI. Ter sido condenado por Tribunal de Contas ou pelo Poder


Judiciário por prática de ato de improbidade administrativa
enquanto no exercício de emprego, cargo ou função pública
ou privada, caso concorra para o ilícito praticado por agente
público ou, tendo conhecimento de sua origem ilícita, dele se
beneficie no exercício de atividades que exijam conhecimentos
de engenharia, de agronomia, de geologia, de geografia ou de
meteorologia.

VII. Ter sido penalizado com duas censuras públicas, em


processos transitados em julgado, nos últimos cinco anos.
(CONFEA, 2019, p. 82)

Para que a infração seja considerada crime do infante, deverá ser


feita a apresentação da decisão criminal julgada.

O cancelamento do registro por má conduta, escândalo ou crime,


não é representado pelo sistema CONFEA/CREA e não define que o
profissional nunca mais poderá atuar. Este tem o direito de requerer a
reabilitação do registro após o cumprimento do prazo mínimo de cinco
anos e apresentação dos documentos estabelecidos para o registro
profissional, certidão negativa de processos criminais e três declarações
de idoneidade e boa conduta.

Caso ao requerente seja concedida a reabilitação, o mesmo


receberá uma nova numeração que comprove o novo registro. Caso seja
indeferido, o requerente poderá requerer novamente após um ano da
data do trânsito julgado. (CONFEA, 2019, p. 86)
38 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

RESUMINDO:

E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo


tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos
resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que
para atender a demanda de uma sociedade tecnológica em
constante progresso por meio de ferramentas acessíveis,
o engenheiro de segurança do trabalho não poderá usar
seu título para proveito próprio e nem propor ações que
coloquem em risco os colegas de trabalho, a sociedade
e o meio ambiente. Existe uma cobrança constante na
atividade profissional do engenheiro de segurança do
trabalho. Por isso, nortear-se pela conduta ética profissional
é um dever do profissional prevencionista, que atua para
garantir a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores, o
respeito à sociedade e ao meio ambiente. Caso ele cometa
uma infração ao código de ética profissional ele poderá
perder a sua licença por má conduta, escândalo ou crime
contra infame. Neste caso ele só poderá requerer uma nova
licença cinco anos depois, podendo ter o seu pedido aceito
ou rejeitado pelo sistema CONFEA/CREA.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 39

Informática aplicada à engenharia de


segurança do trabalho
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você conhecerá como a


informática causou uma revolução na indústria, a que
chamamos de revolução 4.0 e como esses avanços
tecnológicos podem contribuir para a gestão de segurança.

Tecnologia aliada à segurança no trabalho


A indústria sempre foi um dos propulsores das relações humanas.
Primeiro, trouxe as máquinas e a energia a vapor o que também aumentou
os acidentes e doenças ocupacionais. Os movimentos seguintes
trouxeram novos desafios. Chegamos hoje aos desafios atrelados aos
avanços tecnológicos da indústria 4.0.

Agora, você sabe como a tecnologia influencia a engenharia de


segurança do trabalho? O que muda na segurança do trabalho como a
tecnologia? Quero te convidar a descobrir junto comigo.

O primeiro aspecto que iremos abordar será as vantagens que a


tecnologia traz para a sociedade e, certamente, para a segurança do
trabalho. Podemos observar no dia a dia do trabalhador que a sociedade
é diariamente beneficiada com os avanços tecnológicos.

Podemos até citar o fato do trabalhador poder direcionar-se ao


trabalho usando o GPS que irá lhe mostrar qual o caminho mais rápido ou
como evitar o engarrafamento, chegando no horário certo na empresa,
evitando atraso no início da jornada de trabalho e aumentando o bem-
estar do trabalhador que não chegará estressado para trabalhar.

Mas é preciso estar atento à rota indicada, qualquer descuido pode


levá-lo a um caminho mais perigoso, por isso é importante saber usar os
dispositivos tecnológicos para trazer benefícios.
40 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Conseguiram ver a vantagem de usar o GPS? Agora vamos usar


o mesmo exemplo para abordar a tecnologia na gestão de segurança
da empresa, pois claro que nem todos os trabalhadores vão de carro e
podem usar o GPS.

Vamos colocar esse GPS na frota de transporte de carga terrestre


de uma empresa que trabalha com carga de produtos in natura, ou seja,
perecíveis.

O caminhão dotado de ferramentas tecnológicas poderá


proporcionar a rota estabelecida reprogramada, ser monitorado via
satélite garantindo a segurança do trabalhador e também da carga e do
produto, o que irá proporcionar à empresa redução com gastos com a
carga roubada, extraviada e até mesmo multas contratuais em caso de
atraso na entrega ou ainda fazendo uma economia de combustível, pneus
e motor do veículo.

Vamos concordar que a tecnologia além de gerar segurança, garante


qualidade e reduz custos de forma geral na empresa, ajudando a gestão
integrada, valorizando qualidade, saúde, meio ambiente e segurança. Não
há dúvidas que a tecnologia trabalha a favor da segurança.

Não investir em segurança pode trazer perdas nos resultados das


empresas, por isso gestores e profissionais de segurança do trabalho
devem trabalhar juntos para investir em segurança, não de forma pontual,
mas como uma rotina nos processos de produção, pois quando a empresa
está em conformidade com as exigências de segurança, ela aumenta a
produtividade. Trabalhadores seguros, trabalham melhor.

Por outro lado, quando o ambiente em que os trabalhadores


exercem suas atividades não é seguro e saudável, causa mortes,
mutilações e doenças na força de trabalho.

A gestão dos processos de produção, atendendo as exigências de


segurança, requer uma rotina de monitoramento e avaliação. Se levarmos
em conta a diversidade de processos, o monitoramento feito com a
percepção humana pode ser otimizado com a tecnologia. A tecnologia
é um instrumento eficaz para reduzir os riscos e melhorar o desempenho
em segurança.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 41

Figura 8 – Os processos de produção tendem a se tornar


cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis

Fonte: pixabay

Questões culturais também podem, às vezes, se tornar um obstáculo


para a gestão tecnológica, principalmente nas mudanças requeridas
para a implantação de uma gestão de segurança com a utilização da
tecnologia. É necessária uma maturidade tanto por parte dos gestores
quanto dos trabalhadores para o sucesso das mudanças planejadas.

O primeiro passo para alcançar os resultados planejados, é


estabelecer uma cultura de segurança, pois o comportamento e as
atitudes dos trabalhadores em relação à segurança dependem de um
contexto de maturidade em relação à segurança e não de imposição e
aceitação à tecnologia.

Ferramentas tecnológicas para a


segurança do trabalho
Como podemos ver, a revolução 4.0 trouxe a tecnologia para o
processo de produção, as principais inovações tecnológicas dos campos
de automação, controle e tecnologia da informação, aplicadas aos
processos de manufatura.
42 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

Figura 9 – Fábricas inteligentes geram mudanças na forma em que os produtos


serão manufaturados, causando impacto direto no mercado

Fonte: pixabay

A implantação e o desenvolvimento da indústria 4.0 passam por seis


princípios básicos da produção inteligente. A capacidade de operação
em tempo real, que na segurança do trabalho gera a possibilidade de
aquisição e tratamento de dados em tempo real e consequente tomada
de decisão.

A virtualização e as cópias virtuais permitem o monitoramento


remoto e rastreabilidade em todo processo, garantindo a gestão de
segurança assertiva em possíveis alterações no processo.

A descentralização através de sistemas cyber-físico aprimora o


processo de produção, permitindo a gestão de riscos dentro do ciclo sem
interrupções.

Com a indústria 4.0 chegam também suas inovações tecnológicas


baseadas em novos pilares, baseados em recursos físicos e digitais
conectando máquinas e sistemas para alcançar resultados (LAVAGNOLI,
2018). Todos os noves pilares apresentam relevância para a indústria. Para
a segurança do trabalho podemos trazer sua relevância no sentido que os
riscos ocupacionais estão inseridos nesse processo sistematizado.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 43

A segurança pode se beneficiar com a realidade aumentada para


determinar os riscos durante a manutenção de um equipamento utilizando
óculos de realidade aumentada, junto com uma simulação computacional
eles aproximam o mundo físico do virtual, aumentando os resultados e
reduzindo custos.

Com a impressão 3D os engenheiros de segurança podem


projetar proteções de máquinas e equipamentos, assim como proteções
individuais em um modelo 3D, criando produtos personalizados.

Há a Internet das Coisas (IoT) instalada em veículos e máquinas que


permitem a coleta e análise de dados de desempenho.

A análise de dados e a integração dos sistemas aumentam o


desempenho da gestão e a automatização das cadeias de produção
auxiliando nas tomadas de decisão, para que o engenheiro de segurança
do trabalho possa garantir vidas.

ACESSE:

No link a seguir, você pode assistir o vídeo e descobrir que


a indústria 4.0 pode gerar mais segurança e qualidade de
vida. Clique aqui.

Para que os pilares gerem sucesso para os processos, sua


implantação deve ser feita de forma modular, oferecendo retorno e
incentivos. Além do treinamento dos profissionais é necessária uma
cultura prevencionista comprometida com a segurança.

Riscos na indústria 4.0


A tecnologia chegou e transformou à indústria, isso é um fato!

A tecnologia chegou e resolveu a exposição aos riscos ocupacionais?


Será?

Será que podemos afirmar que a indústria 4.0 é 100% segura?

É verdade que na automatização do sistema cyber-físicos os


processos se tornaram mais eficientes. O conceito de fábricas inteligentes
44 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

traz diversas transformações, mas causam mudanças nos processos de


produção desde sua organização até a integração de todo o processo. É
lógico que toda essa mudança provoca medo em relação à substituição
do homem pelas máquinas.

Embora a sociedade tenha o medo de serem substituídas por


máquinas, as empresas sempre precisarão de pessoas, independente do
desenvolvimento tecnológico.

Por isso, o profissional de segurança do trabalho precisa trabalhar


com o conceito de gestão de risco integrado no ambiente, usando as
tecnologias para tornar os ambientes inteligentes e seguros, capazes de
gerenciar as atividades humanas dentro desse ambiente inteligente e
responder na velocidade que a tecnologia demanda (GERMANO, 2019).

Exemplo:

• Os trabalhos com máquinas e equipamentos sempre foram fontes


geradoras de risco de acidentes. O uso de sensores em máquinas
pode ajudar na prevenção automática de acidentes em tempo real.

• O trabalho em altura gera uma grande demanda de ações que


garantam que o trabalhador possa exercê-lo em segurança,
como durante inspeções em superfícies acima do nível inferior ou
superior a dois metros que agora pode ser feita por drones, com
imagens de alta resolução, sendo operado remotamente.

• Em áreas com manipulação de agentes biológicos, químico


ou radioativos a exposição a esses agentes pode ocasionar o
aparecimento de doenças ocupacionais. O uso de dispositivos
conectados à internet das coisas possibilita o monitoramento
através do uso de biometria como forma de limitar o acesso de
funcionários ao setor e o monitoramento do tempo de exposição
dos funcionários autorizados.

Os riscos presentes nos ambientes de trabalho nem sempre


podem ser reduzidos com a tecnologia. Um exemplo negativo são os
danos causados pelo estresse em condições de isolamento, com reflexos
na vida pessoal, profissional e social do trabalhador. É claro que como
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 45

consequência, o trabalhador pode apresentar redução nos resultados em


seu trabalho, que impactam também a empresa, além de aumentar os
custos com os benefícios e seguros de saúde.

Os principais fatores de afastamento dos trabalhadores estão


ligados a traumas e doenças relacionadas aos agentes ergonômicos,
principalmente em função de um mercado globalizado e competitivo.

Para atender a esse novo cenário, o profissional da área de


segurança do trabalho precisa gerenciar suas equipes para a demanda
atual e para as futuras, ou seja, desenvolver habilidades e competências
presentes e as que serão necessárias no futuro. Investir na capacitação e
no treinamento das novas tecnologias é a melhor estratégia da gestão de
segurança, envolvendo trabalhadores e lideranças.

Investimentos na segurança 4.0


A indústria 4.0 exige profissionais cada vez mais qualificados, aptos
a atender as novas demandas. No Brasil, a tecnologia em alguns setores
ainda se apresenta distante. Há setores que, como o agronegócio, a
indústria de alimentos e bebidas investe cada vez mais na indústria 4.0.

A indústria de autopeças investe na tecnologia com o intuito


de minimizar os erros e aumentar a qualidade, produtividade e a
rastreabilidade do processo.

As vantagens para o Brasil na indústria 4.0 exigem investimentos


em longo prazo para reduzirem as principais causas de acidente, tais
como esforço repetitivo, manipulação de materiais perigosos, estresse,
trabalho em altura. A gestão deve procurar desenvolver planos de ações
em segurança do trabalho que envolvam a automatização do processo e
pesquisas em novas tecnologias para solucionar as causas de acidentes.

A verificação de uma área contaminada por agentes radioativos


pode exigir a geração de um volume de resíduos contaminados devido
à exigência de dispositivos de segurança individual (EPI) que garantam
a segurança do trabalhador exposto ao agente radioativo. Para evitar a
exposição do trabalhador e a produção de resíduos, a empresa pode
optar por usar robôs e drones para realizar a vistoria no ambiente.
46 Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho

O foco na segurança 4.0 inclui investimentos em sistemas


de inteligência com resultados positivos para a indústria mediante
monitoramento e identificação de falhas na produção que possam gerar
doenças ou acidentes ocupacionais.

Durante a produção, as máquinas começam a apresentar um


aquecimento no sistema que pode ocasionar um incêndio. Se a máquina
estiver ligada a um sistema de monitoramento por internet das coisas,
esse pode identificar o aquecimento de forma remota e emitir um alarme
que possibilite a interrupção das atividades e evacuação do local.

Durante o armazenamento de cargas de produtos perigosos


é possível haver vazamentos de substâncias tóxicas que criam uma
atmosfera perigosa que pode levar à intoxicação e até mesmo à morte
do trabalhador. Se no local houver um monitoramento da atmosfera que
indique alterações nos índices de salubridade, ele pode acionar o sistema
de segurança e a ventilação controlando a atmosfera e promovendo a
evacuação do local.

O sistema de monitoramento remoto, uma das tecnologias


proporcionadas pela indústria 4.0, gera um ambiente seguro possibilitando
aos trabalhadores desenvolverem suas atividades evitando o desgaste
físico, ergonômico, psicofisiológico e os acidentes de trabalho.

RESUMINDO:

Conseguiu acompanhar tanta evolução tecnológica?


Caso tenha ficado alguma dúvida, vamos fazer uma breve
revisão. A velocidade dos sistemas informatizados não
reduz o papel do ser humano na atividade industrial e,
por consequência, os cuidados com SST, serão reduzidos.
Mas, engana-se quem pensa que a segurança do trabalho
não pode se beneficiar com a tecnologia, pelo contrário:
é necessário desenvolver novas habilidades e formas de
prevenção. Teremos um novo cenário, em que as principais
causas de afastamento que conhecemos hoje diminuirão
sensivelmente.
Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho 47

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