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Produção de

Conteúdo para
EaD
Andréa César e Tatiane Kuckel

Unidade 2

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoras
ANDRÉA CÉSAR
TATIANE KUCKEL
AS AUTORAS
Andréa César
Olá. Meu nome é Andréa César. Minha trajetória profissional teve
início já na adolescência, com a formação técnica em Higiene e Segurança
do Trabalho, pelo IFPE (1993), seguida pela licenciatura em Administração
e Comércio, pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
do Cabo de Sto. Agostinho, Pernambuco (2003). Sou Especialista em
Educação a Distância pela Faculdade SENAC (2013) e mestranda em
Pedagogia do e-Learning pela Universidade Aberta de Portugal. Tenho
experiência em modelagem de projetos educacionais para Educação a
Distância e gestão de produção de conteúdo para EaD, com ênfase na
Modelagem de Objetos de Aprendizagem, Atuo como consultora para
implementação de projetos de Ensino a Distância e como professora
autora e executora de disciplinas nos eixos de Qualidade, Tecnologias
Educacionais e Segurança do Trabalho.

Tatiane Kuckel
Olá. Meu nome é Tatiane Kuckel. Sou Mestre em Educação e Novas
Tecnologias, possuo Licenciatura em Desenho pela Escola de Música
e Belas Artes do Paraná e graduação em Gestão da Informação pela
Universidade Federal do Paraná. Tenho mais de 15 anos de experiência
em processos e projetos para EAD, arte visuais, sistema de informação,
monitoramento informacional e game. Possuo trabalhos publicadas nas
linhas de Inteligência Artificial, Educação a distância, game e artes visuais.
Atualmente, atuo como Gerente de projetos e inovação na Onilearning.
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Infraestrutura para produção de conteúdo para EaD .................10
Infraestrutura humana................................................................................................................ 10

Infraestrutura tecnológica........................................................................................................17

Mídias .................................................................................................................................20

O papel do Designer Instrucional/Educacional na produção de


conteúdo para EaD...................................................................................... 24
Atribuições do Designer Instrucional/Educacional na produção de
conteúdo para EaD....................................................................................................................... 24

O Design Thinking no dia a dia do Designer Instrucional/Educacional .28

Fluxo de produção de conteúdo para EaD........................................33


Modelagem do processo de produção......................................................................... 33

Fluxo e equipe mobilizada na produção de Conteúdo para EaD............... 37

Custos e benefícios da produção interna e externa de conteúdos


para EaD........................................................................................................... 42
Produção Interna X Produção Externa............................................................................ 42

Comitês Editoriais e validação de produção terceirizada.................................46


Produção de Conteúdo para EaD 7

02
UNIDADE
8 Produção de Conteúdo para EaD

INTRODUÇÃO
Na segunda unidade de nossa trajetória de estudos daremos
andamento ao desenvolvimento das competências necessárias para uma
atuação de excelência nos processos de produção de conteúdo para
a Educação a Distância, a partir do entendimento de como se dá esse
processo, a infraestrutura necessária, o papel dos sujeitos envolvidos
e o entendimento dos fluxos de produção e respectivos impactos
econômicos, a fim de podermos indicar de forma assertiva entre a
produção interna ou a terceirização. O desenvolvimento de uma visão
sistêmica será fundamental para uma atuação assertiva, pois a produção
de conteúdo para EaD assemelha-se a uma engrenagem, que depende
do encaixe perfeito entre as partes, que devem estar bem lubrificadas.
Todas as peças são importantes e únicas, e a melhoria contínua está
intimamente relacionada com a interação entre elas. Vamos seguir com
nossos estudos!
Produção de Conteúdo para EaD 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso propósito é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Conhecer a infraestrutura tecnológica e humana necessária para a


produção de conteúdo para EaD;

2. O papel do designer instrucional ou educacional no processo de


produção de conteúdo para EaD;

3. Visualizar e compreender os fluxos de produção editorial de


conteúdo para EaD;

4. Avaliar a relação custo-benefício entre a produção interna e


externa de conteúdo para EaD.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Ao trabalho!
10 Produção de Conteúdo para EaD

Infraestrutura para produção de


conteúdo para EaD
INTRODUÇÃO:

Neste primeiro capítulo, nossa meta é conhecer a


infraestrutura humana e tecnológica necessária para a
produção de conteúdo para EaD, a partir da identificação
dos profissionais envolvidos e suas respectivas atribuições,
assim como as tecnologias que auxiliam nas diversas
tarefas. Essa competência possibilitará uma ação assertiva,
seja nas etapas operacionais ou na gestão dos processos
de produção.

Infraestrutura humana
A analogia feita na introdução entre o processo de produção de
material didático e uma engrenagem teve por objetivo unicamente
evidenciar a inter-relação entre as etapas inerentes a esse processo;
etapas essas que são conduzidas por profissionais com as expertises
necessárias para que aconteçam de forma eficiente e eficaz.

A infraestrutura humana é representada pelos talentos alocados


para cada etapa do processo de produção e correspondem à base
fundamental que determinará a qualidade do material produzido.

DEFINIÇÃO:

A palavra infraestrutura, na construção civil, corresponde


ao suporte invisível que sustenta uma construção: a
infraestrutura do prédio. (Fonte: https://bit.ly/36w6oZO).
Em nossa abordagem, corresponde aos elementos que
asseguram o desenvolvimento dos processos de produção
de conteúdo para EaD, a base sem a qual não seria possível
a produção.
Produção de Conteúdo para EaD 11

Figura 1: Atuação dos talentos humanos para o bom desenvolvimento de materiais didáticos
para EaD

Fonte: Freepik

Antes de conhecermos a equipe envolvida na produção de material


didático, convém refletirmos um pouco sobre a didática, que tem por
missão tornar os processos de ensino efetivos, fazendo com que os
objetivos pedagógicos sejam alcançados e os estudantes desenvolvam
as competências planejadas nos respectivos projetos. O material didático
é peça-chave nesse processo, pois serve de apoio à estratégia de
mediação do professor, no qual os significados são atribuídos, e também
ao estudante, pois norteia a construção do conhecimento.

Para Santos (2016), a importância do material didático na educação


não presencial está presente nas cinco principais funções desses recursos:

1. Proporcionar a transferência de conhecimentos;

2. Facilitar a comunicação formador-aluno;

3. Subsidiar a organização dos processos de ensino e aprendizagem;

4. Explicitar projeto comunicacional do formador;

5. Promover para a interatividade cognitiva.


12 Produção de Conteúdo para EaD

Moreira (2009) nos apresenta quatro enfoques para a organização


e gestão da elaboração de cursos para EaD, contextualizados com a
infraestrutura humana necessária à composição das equipes:

• Especialidades: uma equipe de produção deve ter uma composição


multidisciplinar com componentes que detenham as especialidades
necessárias para cada etapa do processo. Nesse enfoque é
apresentada uma associação simbólica com uma linha de montagem,
na qual cada especialista responsabiliza-se pela parte que lhe
compete.

• Cadeia de montagem: enfoque relacionado à interação entre os


especialistas, em seus respectivos campos de atuação. É fundamental
que as etapas se conectem de forma harmoniosa e produtiva.

• Equipes interdisciplinares: durante a elaboração e produção do


projeto, é fundamental que as equipes tenham integração com
enfoque interdisciplinar, auxiliando-se na tratativa dos problemas e
desenvolvendo estratégias para otimizar os processos.

• Equipes de especialistas sob a coordenação de um diretor do projeto:


consiste no enfoque na sua configuração macro, na qual todos os
profissionais atuam em conjunto em prol de um determinado projeto
institucional.

Basicamente, a infraestrutura humana envolvida na produção de


materiais didáticos para EaD é composta da seguinte forma:
Produção de Conteúdo para EaD 13

Quadro 1: Infraestrutura humana para produção de material didático para EaD

Equipe Atribuições
Definir, organizar e acompanhar
as atividades do projeto de
produção para EaD. Tem
composição multidisciplinar
e é responsável também por
selecionar as macroestratégias
Equipe gestora
que serão mobilizadas
para alcançar os objetivos
previamente planejados. A figura
do gerente de projetos está cada
dia mais presente nas produções
para EaD.
Responsável pela matéria-
prima que alimentará todo o
processo de produção, são
os profissionais responsáveis
pelo desenvolvimento dos
conteúdos e estratégias didáticas
para otimizar a experiência de
Equipe de autores ou
aprendizagem dos estudantes.
conteudistas
Os autores são geralmente
professores universitários,
necessitando de uma formação
mínima como especialistas e
podem também compor o time
de execução da disciplina ou
tutoria.
14 Produção de Conteúdo para EaD

Profissionais responsáveis
pela conformidade com a
proposta pedagógica dos
respectivos projetos, atuam na
coordenação dos processos
de ensino-aprendizagem,
pesquisas, avaliações, tutoria,
Equipe pedagógica interações nos ambientes
virtuais de aprendizagem,
suporte e validação dos recursos
produzidos etc.
Em algumas instituições, a
equipe de Design Instrucional/
Educacional e a equipe de tutoria
podem fazer parte desta equipe.
Atuam na modelagem
instrucional/educacional do
projeto, atuando desde a etapa
de concepção e planejamento,
passando pela execução e
avaliação, de forma a assegurar
que o realizado esteja em
Equipe de design instrucional/
conformidade com o planejado
educacional
e ajustando os aspectos que não
tenham funcionado bem durante
a implementação. Os DI/DE,
como são conhecidos, também
acompanham todo o processor
de produção de conteúdo para
a EaD.
Produção de Conteúdo para EaD 15

Participam de todas as etapas,


provendo os conteúdos
desenvolvidos de todos os
aspectos relacionados à
interface gráfica: identidade
visual, direção de arte, desenho
gráfico, animações, ilustrações,
Equipe de arte
tanto dos recursos digitais
como físicos. Contam com
diferentes perfis profissionais,
como web designers, designers
de interfaces, artistas gráficos,
programadores, desenhistas 3D,
ilustradores ou outros.
Criar situações de aprendizagem
e mediar o processo de
construção das competências
durante a oferta dos cursos
são as principais atribuições da
equipe de tutores ou professores
Equipe de tutores ou mediadores tutores, como também são
da aprendizagem chamados. No que concerne
à produção de conteúdos
propriamente dita, a equipe de
tutoria tem um papel valioso
na avaliação dos recursos,
pontuando para a equipe de
produção os pontos de melhoria.
16 Produção de Conteúdo para EaD

Os componentes desta equipe


têm como atribuição acompanhar
os participantes em suas dúvidas
ou dificuldades tecnológicas,
Equipe de suporte técnico provendo assistência
contínua aos alunos sobre o
funcionamento do ambiente
virtual de aprendizagem e
sistemas utilizados.
As principais atribuições desta
equipe estão relacionadas
à gestão, modelagem
e operacionalização do
AVA (Ambiente Virtual de
Aprendizagem). Nos processos
de produção também participam
Equipe tecnológica
ativamente no desenvolvimento
de estratégias tecnológicas
que atendam à modelagem
educacional proposta, criando
recursos digitais interativos e
dinâmicos, que otimizarão as
experiências de aprendizagem.
É para eles que todas as equipes
envolvidas nos processos de
produção trabalham, e são eles
que validarão os recursos e a
melhoria contínua dos materiais
Alunos
produzidos. Os alunos também
podem atuar como coautores
de alguns recursos previstos
no projeto, demandando a
intervenção das demais equipes.
Fonte: Adaptado de MOREIRA, 2009.
Produção de Conteúdo para EaD 17

VOCÊ SABIA?

Os marcos históricos que estudamos relacionados às


gerações da EaD estiveram relacionados ao formato dos
recursos didáticos e respectivos suporte tecnológicos,
com uma equipe multidisciplinar mobilizada, que, no caso
do Telecurso, contava também com atores famosos. Para
saber um pouco mais sobre sua história, acesse https://glo.
bo/33kKBSQ

Podemos considerar que os talentos humanos formam a base


sólida para que os conteúdos didáticos sejam produzidos, pois sem
eles esse feito não é possível. No próximo tópico vamos estudar sobre a
infraestrutura tecnológica, ferramenta que possibilita e disponibilização e
compartilhamentos dos conteúdos através da EaD. Vamos adiante?

Infraestrutura tecnológica
Antes de conhecermos a infraestrutura tecnológica presente no
processo de produção de conteúdo para EaD, é importante quebrarmos
um paradigma limitador que consiste em associar a tecnologia apenas
ao uso de computadores e dos recursos disponíveis através da Internet.

O termo tecnologia, segundo o dicionário , pode ter as seguintes


conotações:

1. Conjunto de processos, métodos, técnicas e ferramentas relativos à


arte, indústria, educação etc.,

2. Conhecimento técnico e científico e suas aplicações a um campo


particular;

3. Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral.

A partir desses conceitos, podemos deduzir que a tecnologia


sempre esteve presente ao longo do desenvolvimento humano, pois os
avanços científicos sempre foram aplicados para tornar a vida mais segura
e confortável para o ser humano, seja no campo da vida pessoal, em
comunidade ou profissional. Foi assim com a tecnologia advinda a partir
do controle do fogo, da invenção da roda, da melhoria das ferramentas,
18 Produção de Conteúdo para EaD

da invenção da escrita, do papel, das máquina de copiar, de escrever,


de calcular; e foi assim também com a invenção do rádio, da TV, do
computador e da Internet, que hoje representam as tecnologias mais
usadas nos processos educacionais na modalidade a distância.
Figura 2 – Ilustração dos recursos tecnológicos aplicados na educação online

Fonte: Freepik

Vejamos, a seguir, alguns recursos tecnológicos muito utilizados


pelo ensino a distância, apresentando uma análise de seus pontos forte e
fracos, a partir dos estudos de Moore e Kearsley (2013):
Quadro 2: Pontos fortes e pontos fracos das diversas tecnologias

Pontos Fortes Pontos Fracos


Pode parecer passivo
Confiável e fácil de
Pode precisar de
lidar
Texto impresso maior tempo de
Traz informação
produção e ter custo
densa
elevado
Produção de Conteúdo para EaD 19

Frequentemente de
Estimulantes baixa qualidade ou
Gravações em áudio/
Proporcionam tempo/custos de
vídeo (podcasts)
experiência indireta desenvolvimento
elevados
Interativa
Conferência por
Imediata Programação
computador
Participativa
Frequentemente de
Interativo
baixa qualidade ou
Assíncrono e síncrono
Aprendizado baseado tempo/custos de
Controlado pelo
na web desenvolvimento
aluno
elevados
Participativo
Custo da plataforma
Colaborativa Sobrecarga de
Mídia social Imediata informações
Participativa Desestruturada
Largura de banda
necessária
Ubíqua
Tecnologia móvel Custos de serviço
Imediata
Tamanho de tela
limitado
Fonte: Moore e Kearsley (2013, p. 121)

Temos à nossa disposição uma diversidade tão grande de recursos


tecnológicos que podem ser utilizados na produção de conteúdos
educacionais para a EaD, que é fundamental um estudo prévio, ainda na
etapa do planejamento, a fim de fazer a melhor escolha, em sintonia com
a proposta pedagógica e o público-alvo, pois não podemos incorrer no
erro de desenvolver um determinado recurso que demande o uso de
uma tecnologia que seja inacessível para nossos alunos.
20 Produção de Conteúdo para EaD

Mídias
Na produção de conteúdo para EaD, devemos ter um olhar
atento sobre as mídias, pois elas têm um importante valor na escolha da
tecnologia que será necessária.

A palavra mídia significa meio, e, segundo Bates (2016, p. 261),


“requer uma ação de criação de conteúdos e/ou comunicação, alguém
que receba e entenda a comunicação e as tecnologias que transportam
o meio”.

Na medida em que intermediam ideias e imagens que transmitem


significados, podemos considerar como canais de mídias, os textos,
imagens, áudio e vídeos.

IMPORTANTE:

A mídia depende da tecnologia, e uma mesma tecnologia


pode hospedar diversas mídias.

Bates (2016) também nos exemplifica algumas mídias que podem ser
adotadas com propósitos educacionais e seus respectivos subsistemas:

• Texto: livros didáticos, romances, poemas;

• Imagens: diagramas, fotografias, desenhos, pôsteres, grafites;

• Áudio: sons, músicas, fala;

• Vídeo: programas de TV, vídeos do YouTube;

• Computação: animações, simulações, fóruns de discussões, mundos


virtuais.

A diversidade no uso das mídias torna os recursos educacionais


mais ricos, potencializando as experiências de aprendizagem, sendo
fundamental conhecê-los para uma aplicação exitosa. Vejamos o que nos
diz Bates a respeito desse ponto:

A aprendizagem online pode incorporar uma gama de


diferentes mídias: texto, imagens, áudio, vídeo, animações e
Produção de Conteúdo para EaD 21

simulações. Precisamos entender melhor a potencialidade de


cada mídia na Internet e usá-las de formas diferentes, mas
integradas, para desenvolver um conhecimento mais profundo
e uma ampla gama de aprendizagem e habilidades. O uso
de diferentes mídias também permite mais individualização
e personalização da aprendizagem, atendendo melhor aos
alunos com diferentes estilos e necessidades de aprendizagem
(BATES, 2016, p. 267).

Conhecer as principais características das mídias nos ajudará


a identificar suas potencialidades e utilidades no processo de ensino
e aprendizagem, fundamentando a indicação do uso nos projetos de
produção de conteúdo. Destacamos três:

1. Transmissora ou comunicativa

Essa característica está associada à possibilidade de interação das


tecnologias utilizadas.

As transmissoras são conhecidas por serem de mão única, pois o


princípio de transmissão consiste de partir de um ponto, sendo direcionado
para inúmeros outros. A TV, o rádio e os jornais são um exemplo.

As comunicativas permitem interação e trocas, sendo de mão dupla,


e temos como representantes as redes sociais na Internet, o telefone, as
videoconferências, e-mails e fórum de discussão on-line.

2. Síncrona ou assíncrona

Essa característica está associada ao tempo no qual acontece


o acesso. Se for possível acesso simultâneo de vários participantes ao
mesmo tempo, a mídia tem característica síncrona. Um exemplo são os
eventos ao vivo, mediados por uma plataforma de webconferência.

Caso o acesso aconteça em tempos diversos, que podem


contemplar interações também, mas em tempos diferentes, teremos a
característica assíncrona.
22 Produção de Conteúdo para EaD

3. Singular ou rica

BATES (2016) relaciona as características de riqueza ou singularidade


nas mídias a partir dos sentidos e habilidades interpretativas que são
requeridas para processar a informação que está sendo mediada.

Assim, temos uma representação que ilustra essas características:


Figura 3 – O contínuo da riqueza das mídias

Fonte: Adaptado de Bates (2016, p. 281)

A partir dessa classificação, uma mídia é enriquecida partindo do


princípio de que apresente formatos variados de trabalhar os conteúdos,
demandando, assim, uma mobilização maior do usuário para interpretar
as informações.

ACESSE:

Para saber mais sobre as mídias e a educação, acesse o


vídeo do programa Mídia em Foco, da TV Brasil. Disponível
no link https://bit.ly/2HLlSi9

O papel da tecnologia e das mídias na EaD são de extrema


importância, mas não devemos supervalorizá-lo em detrimento do
projeto pedagógico e das metas de ensino planejadas, pois trata-se de
meios que atendem à única finalidade de proporcionar oportunidades de
aprendizagem para os estudantes envolvidos no processo, que sabemos
serem diversos e aprenderem de forma e em tempo próprios. Para não
correr o risco de supervalorizar a tecnologia, devemos modelar o processo
Produção de Conteúdo para EaD 23

de ensino de tal forma que ele se adapte a essa diversidade, e é sobre


essa modelagem que estudaremos no próximo capítulo.

RESUMINDO:

Estudamos neste capítulo infraestrutura humana e


tecnológica necessárias nos projetos de produção de
conteúdo para Educação a Distância, a importância da
organização dos talentos humanos respeitando-se as
especialidades necessárias para cada etapa de produção
e as tarefas de cada equipe envolvida no processo.
Compreendemos também o papel da tecnologia e das
mídias na modelagem e produção do material didático que
será ofertado na modalidade a distância, sendo fundamental
adequar os recursos e ferramentas às condições de
acesso do público-alvo para o qual o curso de destina,
garantindo a acessibilidade e um bom aproveitamento.
Vamos seguir com nossos estudos? Contamos com seu
comprometimento!
24 Produção de Conteúdo para EaD

O papel do Designer Instrucional/


Educacional na produção de conteúdo
para EaD
INTRODUÇÃO:

Nosso objetivo neste capítulo é contextualizar a atuação


do designer instrucional/educacional na produção
de conteúdo para EaD, partindo do entendimento do
papel dessa etapa no processo e das atribuições desses
especialistas tão importantes para a qualidade dos recursos
e conformidade com os projetos pedagógicos aos quais os
materiais servirão no processo de ensino-aprendizagem.

Atribuições do Designer Instrucional/


Educacional na produção de conteúdo
para EaD
Chegamos ao momento de conhecermos as atribuições dessa
equipe de especialistas que tem papel fundamental para assegurar
a conformidade da produção dos conteúdos com a modelagem
educacional proposta.

O time de Design Instrucional/Educacional tem atuação em toda


esteira de produção, mobilizando competências que permitem ter uma
visualização sistêmica de todo o processo.
Produção de Conteúdo para EaD 25

Figura 4 – Estudante satisfeito com a aprendizagem mediada pela tecnologia e todos os


recursos disponíveis

Fonte: Freepik

Em nossas lembranças da educação básica, realizada na modalidade


presencial, podemos recordar como era prazeroso estudar com um
material didático bem produzido, cujo texto prendia nossa atenção,
proporcionando uma leitura fluída, entrecortada de belas ilustrações,
tabelas ou gráficos bem produzidos e que nos ajudavam a compreender a
aplicação prática dos conteúdos estudados. Os melhores livros pareciam
conversar com a gente… Acredito que você tenha essa lembrança em
algum momento de seus estudos na modalidade presencial.

Na educação a distância o processo de ensino e aprendizagem


tem uma dinâmica diferente, pois a autonomia e o estudo autodirigido
substituem a dependência do professor presencial, tornando o material
didático um fator determinante para o aprendizado efetivo, ofertando,
além da base teórica, inúmeras possiblidades de interação com o
conteúdo que está sendo apresentado.

Um bom material didático na educação a distância, além de


proporcionar experiências de aprendizagem efetivas aos estudantes,
contribui também para a motivação e qualifica de forma positiva o
26 Produção de Conteúdo para EaD

suporte da tutoria, que poderá se dedicar na provocação de debates


e aprofundamento dos temas, no lugar de atuar no esclarecimento de
dúvidas originadas de um material confuso.

Já estudamos que o processo de produção é multidisciplinar, com


várias especialidades envolvidas, e que a matéria-prima dos conteúdos
educacionais é fornecida pelo professor, com sua expertise teórica e
prática sobre o tema que será desenvolvido, mas aí a nossa memória volta
para a educação presencial, e talvez você já tenha vivido a experiência
de ter um professor de renome, reconhecido pelo vasto conhecimento
e formação acadêmica na área, mas que, no momento de compartilhar,
tinha muita dificuldade e não conseguia se fazer entender com facilidade…

O mesmo pode acontecer com a produção teórica dos recursos:


termos um professor com muito conhecimento, mas com pouco domínio
da arte da escrita ou da expressão do seu conhecimento. O que fazer com
esse diamante bruto?

Entra em cena o designer educacional, que trabalhará de forma


a transformar essa preciosa matéria-prima em conteúdos que podem
assumir várias roupagens e que cumprirão sua missão de tornar o
processo de aprendizagem a distância prazeroso e eficaz.

Mas, antes de conhecermos como atua o DE/DI, vamos recordar a


definição de Design Educacional, que estudamos no glossário da unidade
passada:

DEFINIÇÃO:

É a ação intencional e sistemática de ensino que envolve o


planejamento, o desenvolvimento e aplicação de métodos,
técnicas, atividades, materiais, eventos e produtos
educacionais em situações didáticas específicas, a fim
de promover, a partir dos princípios de aprendizagem e
instruções conhecidos, a aprendizagem humana (FILATRO,
2008, p. 64–65).

Podemos observar pela definição que a atuação do designer


educacional perpassa todo o processo de aprendizagem, desde o
Produção de Conteúdo para EaD 27

planejamento até os processos de avaliação, mas vamos nos deter ao


fluxo de produção de material didático para EaD.

Tendo por base os estudos de Moreira (2009), podemos destacar as


seguintes atribuições para a função de Designer Instrucional/Educacional:

• Pesquisar e analisar as demandas de formação do público-alvo;

• Pesquisar e mapear o perfil dos alunos ou usuários;

• Atuar na concepção e planejamento do projeto educacional;

• Realizar a transposição ou adaptação dos conteúdos em materiais


digitais, adequando-os à mídia digital ou a outra mídia a ser utilizada;

• Atuar na definição de estratégias pedagógicas, junto com os demais


especialistas da equipe pedagógica, tais como a organização e
distribuição dos conteúdos;

• Atuar em conjunto com a equipe de artes no desenvolvimento do


guia de estilo juntamente com o web designer (imagens, áudio,
fontes, cores, personagens, metáforas, menus);

• Atuar de forma colaborativa com a autoria na programação de


estratégias de aprendizagem e avaliações;

• Desenvolver storyboard e propor estratégias de apresentação de


conteúdos de forma dinâmica e interativa.

Um aspecto que deve ser considerado e que impacta a atuação


do DI/DE é o uso massivo das TICs (Tecnologias da Informação e
Comunicação), pois demanda uma formação interdisciplinar, que, “[...]
lhe permita fazer a ponte entre os especialistas de diversas áreas, para
atingir a finalidade principal, que é promover a melhor instrução e a
aprendizagem mais significativa” (FILATRO, 2004, p. 141). Diante desse
cenário, os especialistas em Design Instrucional/Educacional devem
ter uma boa fluência digital, sendo capazes de identificar oportunidade
de aplicação de tecnologias que possam potencializar os processos de
ensino e aprendizagem.

Outro cenário que deve ser levado em consideração e tem


relação direta com o desempenho das funções do DE/DI é sua atuação
28 Produção de Conteúdo para EaD

situada apenas na etapa de execução. Nesse cenário a concepção da


modelagem já foi definida e ficará sob sua responsabilidade o atendimento
aos requisitos do projeto. Nessa situação podemos elencar algumas
atribuições:

• Capacitar os autores para que os parâmetros definidos no projeto


sejam atendidos (linguagem, recursos gráficos, iconografia, hiperlinks,
recursos interativos, gamificação, videoaulas, podcasts, dentre outros);

• Revisar o material produzido, propondo estratégias que facilitem a


aprendizagem do conteúdo;

• Acompanhar o processo de produção, a fim de assegurar o


cumprimento dos prazos, reportando à gestão do projeto as
intercorrências que possam comprometer a finalização do projeto;

• Identificar oportunidades de melhoria que possam agregar valor ao


projeto.

Independentemente da etapa em qual atue o DI/DE, a figura deste


especialista é indispensável em qualquer processo de produção de
conteúdo para EaD.

O Design Thinking no dia a dia do


Designer Instrucional/Educacional
Você já ouviu falar no mundo VUCA? É um termo que surgiu no
ambiente militar americano, na década de 90, baseado na gestão dos
riscos e nos cenários de conflitos. Esse termo passou a ser utilizado
em outros segmentos e organizações e representa basicamente a
complexidade da sociedade em que vivemos.
Produção de Conteúdo para EaD 29

Figura 5 – Mundo VUCA

Fonte: Ieep Educação

Fazendo uma ponte para o cenário educacional, mediado


por tecnologias que evoluem de forma exponencial, com impacto
significativo nos processos de ensino e aprendizagem, percebemos essa
complexidade quando estamos envolvidos em um projeto de produção
de conteúdo para EaD, por exemplo.

Usar as linguagens e meios que comuniquem de forma eficiente


e eficaz os objetivos educacionais para o nosso público-alvo não é uma
tarefa simples, não estamos falando apenas na eficácia dos processos
de compartilhamento do conhecimento e formação de competências,
mas também de modelar um fluxo que possibilite uma experiência de
aprendizagem efetiva e prazerosa para os estudantes.

SAIBA MAIS:

Para saber mais sobre o mundo VUCA, assista à animação


disponível no link https://bit.ly/3n7hYAp

De acordo com Adamson (2012, apud BATES, 2016, p. 195):

Os sistemas a partir dos quais o mundo funciona e as


maneiras pelas quais os negócios individuais operam são
vastos e complexos — interconectados até um ponto de
confusão e incerteza. O processo linear de causa e efeito se
torna progressivamente irrelevante, e é necessário que os
30 Produção de Conteúdo para EaD

trabalhadores do conhecimento comecem a refletir sobre


novos caminhos e explorar novas soluções.

No movimento de refletir sobre os novos caminhos e explorar


novas soluções, estudaremos, a seguir, uma metodologia que otimiza e
contribui para a qualidade das atividades desempenhadas pelo time de
especialistas em DI/DE: o Design Thinking.

Vamos começar compreendendo o conceito?

Design Thinking é uma abordagem que catalisa a colaboração, a


inovação e a busca por soluções mediante a observação e a cocriação,
a partir do conceito de prototipagem rápida e da análise de diferentes
realidades. (CAVALCANTI e FILATRO, 2016)

O cenário da educação tradicional era estável e os projetos de


produção eram bem mais simples, pois os objetivos estavam focados em
sedimentar e multiplicar os modelos existentes.

No cenário do mundo VUCA no qual nos encontramos, o Design


Thinking é uma poderosa estratégia para estimular a resolução de
problemas, a inovação e a adoção de estratégias de ensino-aprendizagem
centradas nos estudantes. (CAVALCANTI e FILATRO, 2016)

Partindo das principais abordagens sobre as etapas de aplicação do


DT, as autoras propõem as seguintes etapas para o campo educacional:
Figura 6 – Etapas do Design Thinking

Fonte: Adaptado de CAVALCANTI e FILATRO (2016, p. 119)


Produção de Conteúdo para EaD 31

Vamos expandir o entendimento sobre cada uma das etapas:

1. Compreender o problema

Nesta etapa será definido o desafio estratégico, a organização


dos conhecimentos prévios, aplicação de pesquisas, coleta de dados e
demais estratégias para ouvir as partes interessadas e sentir suas dores e
suas percepções, frustrações e dificuldades. A palavra-chave desta etapa
é a empatia.

2. Projetar soluções

Com base nos registros e documentações colhidas na etapa de


compreensão do problema, a equipe que está aplicando o DT refinará o
problema, efetuará um brainstorming (uma técnica de livre pensamento
que corresponde a uma tempestade de ideias) e, por fim, a avaliação das
ideias, escolhendo as melhores.

3. Prototipar

Protótipo é um exemplar único feito para ser experimental antes


da produção de outros exemplares. O ato de prototipar será a etapa
responsável por dar forma às ideias selecionadas. O protótipo possibilita a
experimentação prévia da solução.

Um momento importante desta etapa é que nela os testes podem


indicar a necessidade de retomar às fases anteriores, pois possivelmente
serão identificados erros e discordâncias. Mas tudo bem! Esse é um
momento em que os erros são importantes para propor uma solução
consistente e que não apresente problemas na sua execução.

4. Implementar a melhor opção

Nesta etapa as soluções precisam estar consolidadas e prontas


para a aplicação.

Também é um momento para fazer um estudo de viabilidade para


implementação.
32 Produção de Conteúdo para EaD

ACESSE:

Para conhecer mais sobre o Design Thinking, acesse o


vídeo produzido pela Fundação Telefônica, disponível em
https://bit.ly/3cMYuMA

O Design Thinking é uma abordagem que se configura em


estratégia preciosa nas atividades dos especialistas que compõem a
equipe de Design Instrucional/Educacional, especialmente na etapa de
planejamento de estruturação da modelagem educacional dos recursos
que serão produzidos.

É muito importante que a técnica de aplicação e desenvolvimento


do DT seja de conhecimento de todos, que todo o processo aconteça de
forma colaborativa e que o múltiplos olhares identifiquem oportunidades
de produzir conteúdo que atendam às demandas de nosso público-alvo,
que está imerso, assim como todos nós, em um mundo volátil, complexo,
incerto e ambíguo.

RESUMINDO:

Aprendemos neste capítulo que um material didático bem


produzido une os aspectos teóricos do tema que está
sendo tratado com uma produção que torne a experiência
do estudante prazerosa e interativa, e que o profissional que
ocupa uma posição estratégica para que isso aconteça é o
Designer Instrucional/Educacional, que, a partir da matéria-
prima elaborada pelo autor, realiza intervenções que têm
por objetivo facilitar os processos de ensino e aprendizagem.
Conhecemos também as atribuições dos DE/DI, em
cenários onde a atuação é contemplada desde o projeto, e
também quando está envolvido diretamente na execução
do projeto de produção do material didático. Em qualquer
cenário, a atuação desse profissional é indispensável. E
finalizamos com um mergulho na abordagem do Design
Thinking, que se configura como uma poderosa ferramenta
para resolver problemas e propor soluções criativas para
que os conteúdos produzidos atendam às demandas do
mundo moderno.
Produção de Conteúdo para EaD 33

Fluxo de produção de conteúdo para EaD


INTRODUÇÃO:

Visualizar e compreender os fluxos de produção editorial


de conteúdo para EaD é fundamental para atuar de
forma assertiva nesse processo, dimensionando de forma
adequada a equipe e estruturando em conformidade com
suas respectivas competências.

Modelagem do processo de produção


Os processos de produção de conteúdo para EaD envolvem
uma série de etapas, interdependentes entre si, com mobilização de
competências técnicas específicas em cada uma delas.

Filatro e Cairo (2015) representam graficamente uma visão geral do


processo de produção de conteúdos educacionais, que reproduzimos a
seguir:
34 Produção de Conteúdo para EaD

Figura 7 – Visão Geral da Produção de Conteúdos Educacionais

Fonte: Filatro e Cairo, 2015. p. 200

Como percebemos na figura que representa a visão global das


atividades desenvolvidas ao longo do processo de produção de conteúdo,
trata-se de uma tarefa complexa, que demanda a mobilização de uma
equipe multidisciplinar, com expertises específicas para atuar em cada
uma das etapas, quando aplicável. Essa condição de aplicabilidade está
Produção de Conteúdo para EaD 35

diretamente relacionada à modelagem dos recursos que podem ou não


mobilizar mídias diversas, como a audiovisual, por exemplo.

Vamos conhecer melhor cada uma dessas etapas:

1. Análise — Etapa responsável pelo direcionamento das abordagens,


metodologias, recursos e ações educacionais, pois a partir de uma
boa análise contextual os esforços de produção atendem de forma
assertiva às demandas de formação que devem ser identificadas.
Essa etapa é fundamental para a escolha dos recursos tecnológicos
que serão adotados, por exemplo. É formada pelas seguintes ações:

a. Mapear necessidades de aprendizagem;

b. Analisar público-alvo;

c. Identificar potencialidades e restrições de contexto;

d. Recomendar solução educacional.

2. Design — Após definido o público-alvo, as demandas e potencialidades,


a solução educacional será efetivamente modelada. Nesse momento
será definido o modelo pedagógico e todas as estratégias de ensino
e aprendizagem, estimulando a interação e processos colaborativos
para construção de competências. Nessa etapa são tomadas as
seguintes ações:

a. Elaborar matriz de planejamento;

b. Redigir guia de estudo.

3. Desenvolvimento — Nesta etapa está concentrado o maior volume


de tarefas para a produção do material didático, com atuação de
equipes de professores autores, revisores, DI, diagramadores,
desenvolvedores, roteiristas, gamers, produtores audiovisuais, editores
e respectiva gestão. As seguintes macroações são operacionalizadas
nesse momento:

a. Redigir texto-base (seguido das respectivas revisões, diagramação e


desenvolvimento de elementos visuais e sonoros);
36 Produção de Conteúdo para EaD

b. Definir projeto de mídia (desenvolver elementos visuais e/ou sonoros,


interativos e/ou gamificados, com respectivo empacotamento
para que possa ser operado em qualquer plataforma virtual de
aprendizagem).

4. Implementação — Neste momento os conteúdos produzidos são


disponibilizados nas respectivas mídias, a partir de um fluxo de
distribuição previamente definido.

a. Distribuir.

5. Avaliação — Com base nos critérios de qualidade, avaliar se os


recursos produzidos cumpriram com sua função de apoio eficaz no
processo de ensino-aprendizagem.

• Avaliar conforme critérios de qualidade.

As etapas de análise, design, desenvolvimento e implementação


serão tratadas nas unidades 3 e 4. Dessa forma, faremos um recorte da
última etapa, apresentando as dimensões cuja qualidade dos conteúdos
educacionais é avaliada, segundo Filatro e Cairo (2015):
Figura 8 – Perspectiva multidimensional para avaliação da qualidade dos conteúdos
educacionais

Fonte: Filatro e Cairo, 2015. p. 431


Produção de Conteúdo para EaD 37

• Dimensão técnico-científica — Essa dimensão sinaliza que os


conteúdos educacionais produzidos devem ser precisos e atualizados,
válidos e confiáveis e representativos, contribuindo de forma direta e
assertiva para a construção das competências requeridas.

• Dimensão pedagógica — Nesta dimensão os conteúdos devem


atender aos objetivos de aprendizagem, a partir de planejamento,
adequação, integração, reflexão crítica, coerência, eficácia,
aplicabilidade prática e valor real na vida do aluno.

• Dimensão comunicacional — Dimensão relacionada diretamente


com as mídias utilizadas, espera-se que sejam inter-relacionados,
diversificados e interativos.

• Dimensão tecnológica — Dimensão ligada à forma como os recursos


são distribuídos nas plataformas digitais e que devem apresentar
as características de acessibilidade, durabilidade e operação em
múltiplas plataformas.

• Dimensão Organizacional — A relação desta dimensão está atrelada


à sustentabilidade do projeto, a partir da aplicação dos recursos para
sua operacionalização: humanos, financeiro e materiais.

Fluxo e equipe mobilizada na produção de


Conteúdo para EaD
Tendo como base a modelagem da estrutura de produção e suas
respectivas etapas, estudadas no tópico anterior, vamos simular um fluxo
e equipes mobilizadas, partindo de um escopo que define o projeto e os
recursos que serão produzidos.

IMPORTANTE:

Cada processo de produção terá um fluxo próprio,


em função do escopo do projeto, recursos que serão
produzidos, valor investido, equipe mobilizada e outras
possíveis particularidades relacionadas à demanda de
produção.
38 Produção de Conteúdo para EaD

Quadro 3: Simulação de registro e mapeamento de um fluxo de produção de conteúdo para


EaD

DECLARAÇÃO DE ESCOPO
Título do Projeto Curso livre de empreendedorismo – 80 horas
Cliente ONG Empreenda
Gerente de projeto [[INSERIR NOME]]
Autor [[INSERIR NOME]]
Revisor Técnico [[INSERIR NOME]]
Designer Instrucional [[INSERIR NOME]]
Revisor Língua
[[INSERIR NOME]]
Portuguesa/ABNT
Design Gráfico [[INSERIR NOME]]
Equipe de Produção
Ilustrador [[INSERIR NOME]]
Game Design [[INSERIR NOME]]
Desenvolvedor WEB [[INSERIR NOME]]
Roteirista [[INSERIR NOME]]
Cinegrafista [[INSERIR NOME]]
Locutor [[INSERIR NOME]]
Editor [[INSERIR NOME]]
Microempreendedores individuais assistidos
Público-Alvo
pela ONG
Construir as competências para que
os cursistas tenham êxito em seus
Justificativa empreendimentos, aumentando o
rendimento e melhorando a qualidade de
vida
Livro didático (versão web e impressa)
Videoaula
Produtos Animação
Game
Podcast
Produção de Conteúdo para EaD 39

4 unidades – 20
Livro didático
páginas por unidade
3 videoaulas por
Videoaula unidade – Duração
de até 5 min cada
1 animação por
unidade – Síntese
Animação do conteúdo, com
duração de até 5
minutos
1 game educacional
abordando a jornada
Game do empreendedor,
consolidando todo o
conteúdo

Métricas de Produção

1 podcast por
unidade – Gerado a
Podcast partir de um debate
sobre o tema central
de cada unidade
40 Produção de Conteúdo para EaD

Fluxo de Produção

•A produção do Game será iniciada a partir da


liberação da versão final aprovada pelo DI/
DE.
•As etapas de revisão contemplam também
as devolutivas com respectivos ajustes,
quando necessário.

Capital mobilizado R$ 25.000,00


Início do projeto 01/09/2020
Marcos de entregas
Entrega final 01/02/2021
Fonte: Autora

Reiteramos que se trata de uma simulação a ser usada para


exemplificar o registro do fluxo de um processo de produção, com a
delimitação das etapas e respectivos responsáveis.

A partir do planejamento, envolvendo uma equipe multidisciplinar,


cada projeto terá um escopo específico, com recursos adequados ao
objetivo pedagógico que se deseja alcançar.
Produção de Conteúdo para EaD 41

RESUMINDO:

Vimos neste capítulo que o fluxo de produção de


conteúdos educacionais é complexo e engloba etapas
específicas, com especialistas de áreas distintas. As etapas
estão encadeadas e inter-relacionadas, demandando a
necessidade de que todos os envolvidos no processo
de produção tenham a visão sistêmica que assegure o
cumprimento do planejamento e a produção de recursos
que atendam aos critérios de qualidade.
42 Produção de Conteúdo para EaD

Custos e benefícios da produção interna


e externa de conteúdos para EaD
INTRODUÇÃO:

Nosso objetivo neste capítulo é avaliar a relação custo-


benefício entre a produção interna e externa de conteúdo
para EaD, a partir do conhecimento prévio dos capítulos
anteriores, que proporciona um embasamento acerca do
processo de produção e sua complexidade.

Produção Interna X Produção Externa


Figura 9 – Produzir internamente ou terceirizar a produção de material didático para EaD?

Fonte: Freepik

A escolha entre fazer ou pagar para que façam algo de que


precisamos é um dilema que costuma nos acompanhar no dia a dia, e
com as pessoas jurídicas, representadas pelas instituições de ensino, não
é diferente.

Assim como em decisões menos complexas, devemos avaliar os


prós e os contras para a tomada de decisão, levando-se em conta não
apenas os fatores econômicos e financeiros, mas também os técnicos e
operacionais.

Já vimos nos capítulos anteriores que o processo de produção é


complexo e multidisciplinar, e há que se ter bom senso para avaliar os
Produção de Conteúdo para EaD 43

investimentos necessários para a formação interna de uma equipe de


produção de conteúdo para EaD.

Rumble (2015, p. 199), afirma que:

A educação é, e sempre foi, uma atividade econômica. A oferta


da educação consome recursos — não apenas financeiros (o
custo de escolas e as instalações que elas abrigam), mas,
acima de tudo, na forma do trabalho envolvido na transmissão
de conhecimentos, habilidades e conceitos a cada geração
de alunos.

A partir dessa perspectiva, o autor reflete que a oferta de cursos a


distância possui um alto custo fixo, custos variáveis baixos e alcance muito
considerável para economia de escala decorrente da utilização em massa
de materiais de aprendizagem pré-preparados (grifo nosso), juntamente
com pouco ou nenhum apoio presencial.

Observamos que os materiais didáticos reutilizáveis e aplicados


em massa conferem um ganho expressivo de receita, que pode ser
positivo para que a instituição opte pela produção, que demanda um alto
investimento na composição e manutenção da equipe de produção.

A produção interna é indicada nas seguintes situações:

• Quando a instituição já é um núcleo de Educação a Distância


estruturado e com atuação sólida;

• Quando existe tempo mínimo para a oferta que possibilite a produção,


geralmente doze meses de antecedência;

• Quando existe limitação financeira, pois a produção interna, quando


bem articulada, é mais econômica que a terceirização.

A produção terceirizada é indicada nas seguintes situações:

• Quando a instituição não possui profissionais com expertise em EaD;

• Quando o prazo para a oferta é curto, pois algumas fábricas


de conteúdos já possuem produtos finalizados que podem ser
customizados em curto espaço de tempo;
44 Produção de Conteúdo para EaD

• Quando se deseja uma alta complexidade na produção de recursos


digitais, que demanda mobilização de uma equipe altamente
especializada.

Atualmente, no mercado editorial para Educação a Distância,


existem várias modalidades em parcerias para terceirização da produção
de conteúdo, das quais destacamos as seguintes:

Aquisição com exclusividade: é o maior investimento, haja visto que


a editora ganhará uma única vez, produzindo sob demanda um conteúdo
exclusivo;

Aquisição sem exclusividade: investimento menor que o anterior,


compreende a produção sob demanda em uma etapa inicial, porém
o conteúdo pode ser adaptado e customizado para outros clientes da
produtora;

Licenciamento: nesta modalidade o conteúdo é de propriedade


da produtora, que disponibiliza em um repositório próprio ou do cliente,
que paga por acessos dos alunos matriculados. É a modalidade de menor
investimento, porém sem autonomia para modificação e ajustes no
material produzido.

Vale também destacar que a instituição pode optar por mesclar a


produção de conteúdo para sua EaD, confeccionando parte internamente,
aproveitando os talentos humanos na produção dos conteúdos, montando
uma equipe mínima de Designers Educacionais e revisores, terceirizando
as etapas de demandam uma atuação mais especializada, como produção
audiovisual ou desenvolvimentos de programas, games, simuladores etc.

A produção interna também está associada a uma melhor


qualidade, que pode ser verificada no censo da ABED divulgado em 2019,
no Congresso Internacional ABED de Educação a Distância.
Produção de Conteúdo para EaD 45

Figura 10 – Práticas das instituições que oferecem cursos regulamentados com vistas à
garantia da qualidade

Fonte:Abed

Sobre esse indicador, a ABED tece a seguinte análise:

Fica bem evidente que nos cursos regulamentados se


reproduzem as práticas dos cursos presenciais de, por um
lado, assumir a responsabilidade pela produção dos conteúdos
internamente, e, por outro, responsabilizar os profissionais
titulados pela qualidade do conteúdo. No entanto, observa-se
que há pouca estratégia em termos de gestão e verificação da
qualidade e atualização dos conteúdos. A prática de comprar
conteúdos parece ser vista pelo mercado como uma estratégia
pouco relacionada à qualidade, visto que é uma opção menos
frequente. Além disso, as instituições demonstram não ter o
46 Produção de Conteúdo para EaD

hábito de verificar e exigir práticas garantidoras de qualidade


dos seus fornecedores; parecem acreditar no material que
estão recebendo ao adquirir certo conteúdo. (CENSO ABED
2018–2019, p. 69)

SAIBA MAIS:

Para aprofundar seus conhecimentos sobre os resultados


do Censo da EaD no Brasil divulgado pela ABED em 2019,
acesse https://bit.ly/33lgZF5

Comitês Editoriais e validação de


produção terceirizada
Partindo da escolha em terceirizar a produção dos conteúdos que
serão ofertados na modalidade a distância, é fundamental que a instituição
implemente uma estrutura que trabalhe na validação dos conteúdos, a
partir do documento de declaração de escopo (ou similar), assegurando
também a conformidade com o plano de ensino e respectiva ementa das
disciplina.

Essa estrutura, em algumas instituições, é conhecida como Comitê


Editorial, sendo formada por professores especialistas das respectivas
áreas de conhecimento.

Como registro das ações de validação dos especialistas


responsáveis, um checklist deve ser desenvolvido, contemplando todos
os requisitos de produção contratados.

Vejamos um exemplo:
Produção de Conteúdo para EaD 47

Quadro 4: Exemplo de checklist de validação para material didático com produção


terceirizada

CHECKLIST VALIDAÇÃO MATERIAL DIDÁTICO


Comitê Editorial
Disciplina: [[INSERIR NOME]]
Nome do Avaliador [[INSERIR NOME]]
Formação [[INSERIR]]
Data da revisão [[INSERIR]]
RECURSOS AVALIADOS
DESCRIÇÃO ITEM AVALIADO OBS
Adequação à ementa [[INSERIR]]
Nº páginas [[INSERIR]]
Iconografia [[INSERIR]]
Livro UN1 (repetir
Conteúdo [[INSERIR]]
para todas as
unidades) Linguagem [[INSERIR]]
Atividades [[INSERIR]]
Imagens/Gráficos/
[[INSERIR]]
Tabelas
Videoaula (essa Adequação à ementa [[INSERIR]]
etapa de validação Imagem [[INSERIR]]
pode ser aplicada ao
roteiro, previamente Som [[INSERIR]]
compartilhado)
Podcast (essa etapa Adequação à ementa [[INSERIR]]
de validação pode
ser aplicada ao
Som [[INSERIR]]
roteiro, previamente
compartilhado)
Game Adequação à ementa [[INSERIR]]
Animação Adequação à ementa [[INSERIR]]
Fonte: Autora
48 Produção de Conteúdo para EaD

Seja qual for a escolha, ela deve ser norteada pela melhor estratégia
para ofertar um produto educacional de qualidade. Mesmo havendo a
indicação de que a produção interna tem um maior esmero no que tange
à qualidade, uma boa curadoria de conteúdo e acompanhamento da
produção, quando terceirizada, possibilita também atender aos requisitos
de qualidade definidos na etapa de planejamento.

Em suma, o compromisso com uma oferta educacional de qualidade


deve balizar a escolha.

RESUMINDO:

Neste último capítulo da nossa segunda unidade de


estudos analisamos os custos e benefícios que envolvem
a escolha entre produzir internamente os conteúdos
para EaD ou terceirizar com as Fábricas de Conteúdo.
Observamos que a escolha deve ser cuidadosa e orientada
para assegurar a qualidade, que pode ser garantida em
ambos os formatos, com definição clara dos requisitos e
respectivo acompanhamento. Vamos, adiante, continuar
nosso mergulho nesse conteúdo tão fascinante! Nós nos
veremos na próxima unidade!
Produção de Conteúdo para EaD 49

REFERÊNCIAS
BATES, A. W. Educar na Era Digital – Design, ensino e aprendizagem.
São Paulo: Artesanato Educacional, 2016.

CAVALCANTI, C. C.; FILATRO, A. Design Thinking – Na educação


presencial, a distância e corporativa. São Paulo: Saraiva, 2016.

FILATRO, A. Design instrucional contextualizado: educação e


tecnologia. São Paulo: Senac, 2004.

FILATRO, A. Design Instrucional na Prática. São Paulo: Pearson, 2008.

FILATRO, A. CAIRO, S. Produção de Conteúdos Educacionais. São


Paulo: Saraiva, 2015.

MAIA, C.; MATTAR, J. ABC da EaD - A educação a distância hoje. 1.


ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

MOORE, M. G. KEARSLEY, G. Educação a Distância - Sistema de


Aprendizagem On-line. São Paulo: Cengage Learning, 2013.

MOREIRA, M. G. A composição e o funcionamento da equipe de


produção. In: LITTO, F. M.; FORMIGA, M. M. M. (orgs.). A História da EaD
no Brasil. Educação a distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson
Education do Brasil, 2009. Disponível em: http://www.abed.org.br/
arquivos/Estado_da_Arte_1.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020.

SANTOS, G. L. Funções dos materiais didáticos para situações de


educação a distância, mediadas por tecnologias digitais de informação,
comunicação e expressão. Anais do Simpósio Internacional de Educação
a Distância. 2016. Disponível em: https://bit.ly/34ioZpy Acesso em: 20 jul.
2020.

RUMBLE, G. Os Custos e a Economia da Educação a Distância


Online. In: RICHTER, O. Z; ANDERSON, T. (orgs.). Educação a Distância
Online - Construindo uma Agenda de Pesquisa. São Paulo: ABED, 2015.
Produção de Conteúdo para
EaD
Andréa César e Tatiane Kuckel

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