Você está na página 1de 40

Gestão de Riscos

em Investimentos

Pedro Libaldi Neto

Unidade 1

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
PEDRO LIBALDI NETO
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
O AUTOR
Pedro Libaldi Neto
Olá, Pessoal! Meu nome é Pedro Libaldi Neto, sou formado em
Gestão de Políticas Públicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência
e Tecnologia de Santa Catarina, também sou especialista em Gestão
Pública pela Universidade Federal de São João Del-Rei e também sou
formado em Administração de Empresas pela Universidade Anhanguera.
Atuo na área de fiscalização e auditoria de órgãos públicos há 12 anos, sou
professor há 11 anos e leciono em escolas e fundações governamentais,
além de ser conteudista de cursos preparatórios para concursos públicos.
Espero propiciar um curso agradável e de grande valia para a vida
profissional de todos vocês. Um forte abraço e bons Estudos!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova com- novo conceito;
petência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou
mento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Histórico da gestão de riscos 10
Gestão de risco em instituições financeiras 19
Basiléia II: Pilar I – Requerimento mínimo de capital 21

Basiléia II: Pilar II – Processo de supervisão 21

Basiléia II: Pilar III – Disciplina de mercado 22

Teoria de risco e retorno 23


Identificação e avaliação de riscos 28
Identificação de riscos 28

Avaliação de riscos 32
Gestão de Riscos em Investimentos 7

01
UNIDADE
8 Gestão de Riscos em Investimentos

INTRODUÇÃO
Você quer aprender sobre Gestão de Riscos? Para isso, é necessário
que haja um efetivo reconhecimento das técnicas e metodologias
utilizadas no âmbito das instituições financeiras, a começar do da
conceituação da evolução da gestão de riscos e da participação do
homem neste processo. Aprenderemos, também, as técnicas de análise
e de avaliação de riscos, utilizaremos ferramentas que nos possibilitarão
a identificação de eventos causadores de situações anômalas, bem como
a verificação do conceito de risco e retorno. Entendeu? Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Gestão de Riscos em Investimentos 9

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar
você no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o
término desta etapa de estudos:

1. Conhecer o histórico e a importância da Gestão de Riscos.

2. Conhecer a gestão de riscos em instituições financeiras.

3. Aprender sobre a teoria de risco e retorno.

4. Aprender a identificar e avaliar riscos.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conheci-


mento? Ao trabalho!
10 Gestão de Riscos em Investimentos

Histórico da gestão de riscos


INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você haverá compreendido
sobre a evolução histórica da gestão de riscos, entender a
participação do homem na relação risco/prevencionismo.
Aprender sobre a parcela de responsabilidade do erro
praticado pelo homem nos processos decisórios. Conhecer
os conceitos utilizados na gestão de riscos. E então?
Motivado para desenvolver esta competência? Então
vamos lá. Avante!

Todas as atividades, nos mais variados ramos, são passíveis de


riscos, independente da precaução, do nível de técnica, destreza e “know-
how”. E de certa forma o resultado pode culminar em lesões, perdas
físicas, financeiras de ativos e, inclusive, determinar o encerramento de
atividades econômicas e financeiras.

DEFINIÇÃO:
Know-how é um termo bastante utilizado em diversas
áreas do conhecimento. A tradução mais aplicada é a
de “saber como” ou “saber fazer”. Sua referência principal
está relacionada à tríade conhecimento, habilidades
e competência, ou seja, quando nos referimos ao
conhecimento, podemos elucidar todo o aprendizado
teórico adquirido em cursos, seminários e congressos.
No que tange às habilidades, podemos citar a própria
aptidão que cada um possui para aprender determinados
conteúdos. Por último, temos a competência que é a
destreza do indivíduo em colocar em prática os conhe-
cimentos aprendidos aliados à aptidão de saber fazer.

Desde os primórdios, a evolução trouxe consigo fatores inerentes


como risco, nesse contexto, tarefas realizadas a título de sobrevivência
do ser primitivo, eram passíveis de acidentes ocasionando a redução
das atividades realizadas e, mesmo que, de maneira incauta, o homem
apresentava necessidade de evolução. Com o passar dos tempos, os
Gestão de Riscos em Investimentos 11

metais auxiliaram a rotina dando forma à construção de ferramentas.


Ruppenthal (2013) ensina que, “dessa forma, surgiram as primeiras doenças
do trabalho, provocadas pelos materiais utilizados para confecção de
artefatos e ferramentas”.

No que concerne aos registros materiais de cuidados e riscos no


trabalho, Ruppenthal (2013, p.34) assevera que:

A informação mais antiga sobre a necessidade da segurança


no trabalho, alusiva a preservação da saúde e da vida do
trabalhador, está registrada num documento egípcio, o
papiro Anastácio V, quando descreve as condições de
trabalho de um pedreiro: “Se trabalhares sem vestimenta,
teus braços se gastam e tu te devoras a ti mesmo, pois,
não tens outro pão que os seus dedos”. Assim, o homem
evoluiu para a agricultura e o pastoreio, alcançou a fase do
artesanato e atingiu a era industrial, sempre acompanhado
de novos e diferentes riscos que afetam sua vida e saúde.

Para que houvesse um mínimo de segurança, era necessário que se


conhecessem os perigos decorrentes de ações e atividades. Era importante
trilhar caminhos para buscar uma forma de se controlar os riscos inerentes
e suas situações que implicassem em resultados negativos.

Neste sentido, a utilização de diversas áreas de conhecimento


tornava imperioso que, a evolução da humanidade fosse buscada através
de práticas já utilizadas em outras áreas:

A princípio, a necessidade de proteção dominava as preocupações


individuais. Só muito lentamente, em termos históricos, a noção
de proteção individual foi sendo substituída pela da proteção da
tribo, da nação, do país, do grupo étnico ou civilizacional e só muito
mais tarde pela proteção da espécie. (RUPPENTHAL, 2013, p.45)

Em se tratando de prevenção, temos que este conceito acompanhou


os eventos acontecidos na evolução histórica do ser humano. Sendo
assim, torna-se imprescindível a abordagem da prevenção quando do
estudo da gestão de riscos.
12 Gestão de Riscos em Investimentos

O médico italiano Bernardino Ramazzini, chamado de Pai da


medicina do trabalho, bem como outros nomes importantes na seara da
prevenção proporcionaram uma evolução muito grande para a literatura
que aborda o assunto.

EXPLICANDO MELHOR:
Dentro do estudo acerca de doenças ocupacionais,
destacamos o importante papel do médico Ramazzini, cuja
importante contribuição à medicina. Seu estudo relacionou
os riscos à saúde causados por agentes químicos, poeira,
metais e outros agentes. Sua principal contribuição foi a
utilização de um derivado do quinino no tratamento de
malária.

Ao falarmos da contribuição histórica para o alargamento do


conhecimento acerca da gestão de riscos, Ruppenthal (2013, p.58) agrega
que a Revolução Industrial também possui uma cota de participação:

O início da Revolução Industrial em 1780, a invenção da


máquina a vapor por James Watts em 1776 e do regulador
automático de velocidade em 1785, marcaram profundas
alterações tecnológicas no mundo. Foi esse avanço
tecnológico que permitiu a organização das primeiras
fabricas modernas, a extinção das fabricas artesanais e o
fim da escravatura, significando uma revolução econômica,
social e moral. Os acidentes de trabalho e as doenças eram
provocados por substâncias e ambientes inadequados devido
às condições em que as atividades fabris se desenvolviam.
Grande, também, era o número de doentes e mutilados.

À medida que houve um aperfeiçoamento do trabalho e da


capacidade da mão de obra, a melhoria das condições e a busca
pela diminuição dos acidentes se transformou em realidade. Foram
apresentadas técnicas e métodos que culminavam num trabalhador mais
experiente e apto a realizar as mais diversas tarefas.

A proteção ao trabalhador ganhou espaço e repercussão após a


1ª Guerra Mundial. Para Ruppenthal (2013), houve esforços voltados ao
Gestão de Riscos em Investimentos 13

estudo das doenças, das condições ambientais, do layout de máquinas,


equipamentos e instalações, bem como das proteções necessárias para
evitar a ocorrência de acidentes e incapacidades.

Neste período, podemos citar o trabalho de Mayo acerca dos


estudos sobre as condições dos trabalhadores das indústrias. Este trabalho
foi denominado experiência de Hawthorne. Esta experiência estudou a
fadiga, os acidentes, a rotatividade de pessoal, bem como o efeito das
condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados.

Mayo utilizou esta pesquisa, também, com o intuito de apresentar


outros fatores encontrados dentro das fábricas, mais precisamente a
temática voltada aos conflitos entre empregados e empregadores, apatia,
tédio, a alienação, o alcoolismo, dentre outros fatores que tornavam difícil
a convivência nas organizações.

Insertos na experiência de Mayo, os estudos pretendiam confirmar


a ação de fatores como a iluminação sobre o desempenho dos operários.
Contudo, por não apresentar resultados concretos, pôde ser descartada a
relação entre fatores no ambiente interno de trabalho.

Na sequência do trabalho de Mayo, este foi voltado às condições de


supervisão branda (sem temor ao supervisor, que passou a desempenhar o
papel de orientador), ambiente amistoso e sem pressões, proporcionando
um desenvolvimento social e a integração do grupo.

Num último entendimento, foi evidenciado a existência de padrões de


comportamento dos trabalhadores evidenciando uma cultura informal, isto é,
os segmentos de trabalhadores se agrupam de acordo com a classe e, este
tipo de comportamento demonstram o jeito de agir e pensar em comum.

Nos países da América Latina a preocupação com os acidentes do


trabalho e doenças ocupacionais ocorreu mais tardiamente. No Brasil,
os primeiros passos surgem no início da década de 1930 sem grandes
resultados. Na década de 1970, o Brasil foi apontado como o campeão em
acidentes do trabalho. A segurança do trabalho, para ser entendida como
prevenção de acidentes da indústria, deve preocupar-se com a preservação
da integridade física do trabalhador, mas também precisa ser considerada
como fator de produção.
14 Gestão de Riscos em Investimentos

Figura 1: Indústria no Brasil

Fonte: wikimedia commons

Os resultados negativos em função das mais diversas lesões


trabalhistas acarretam graves consequências como: diminuição da mão
de obra, déficits de produtividade, perdas de materiais, aumento dos
encargos securitários, gastos extraordinários com acompanhamento
médico e psiquiátrico dos trabalhadores, bem como redução da eficiência
e eventual readaptação de função laborativa.

Ruppenthal (2013, p.78) afirma que:

As cifras correspondentes aos acidentes do trabalho representam


um entrave ao plano de desenvolvimento socioeconômico
de qualquer país. Pois, aparecem sob a forma de gastos
com assistência médica e reabilitação dos trabalhadores
incapacitados, indenizações e pensões pagas aos acidentados
ou suas famílias, prejuízos financeiros decorrentes de paradas
na produção, danos materiais aos equipamentos, perdas de
materiais, atrasos na entrega de produtos e outros imprevistos
que prejudicam o andamento normal do processo produtivo.
Gestão de Riscos em Investimentos 15

Figura 2: Número de acidentes de trabalho que


resultaram em mortes no período de 2012 a 2018

Fonte: Ministério do Trabalho (2018)

Estudiosos da matéria passaram a analisar metodologias e práticas


que pudessem assegurar um desempenho melhor aos trabalhadores e
que tornassem as atividades menos desgastantes e mais seguras. A fim de
aumentar o grau de preservação da integridade física dos trabalhadores e
reduzir de maneira sistemática o índice de acidentes de trabalho.

Todas estas práticas apresentam o condão, paralelamente, de


redução das indenizações e, em contra partida, elevar os gastos com
medicina preventiva em ações em prol da saúde do trabalhador.

Dentre os nomes mais reconhecidos daqueles que apresentaram


colaboração ao estudo da prevenção de acidentes, podemos destacar
Herbert William Heinrich, cujos trabalhos resultaram no cálculo 1:29:300,
ou seja, para cada lesão incapacitante acontecem vinte e nove lesões
leves e trezentos acidentes sem lesões.
Figura 3: Pirâmide de Heinrich

Fonte: O autor adaptado de Ruppenthal, 2013


16 Gestão de Riscos em Investimentos

SAIBA MAIS:
Herbert William Heinrich era um Superintendente Adjunto
da Engenharia e Divisão de Inspeção de Travelers Insurance
Company, quando ele publicou seu livro Industrial Accident
Prevention, uma abordagem científica, em 1931. O seu
trabalho acabou sendo reconhecido como a Lei de Heinrich.
Cujo conceito aborda que num determinado ambiente de
trabalho, para cada acidente resultante num ferimento grave,
existem vinte e nove acidentes que causam ferimentos leves
e trezentos acidentes que não causam lesões. Conheça
um pouco mais sobre o pesquisador acessando: https://bit.
ly/38445Lo

Frank E. Bird Jr, engenheiro, nascido em Nova Jersey, utilizou


o trabalho de Heinrich como base e, diante dos estudos de acidentes
relatados em empresas, cujo número de operários abrangidos foi maior
do que mil setecentos e cinquenta.

Frank obteve a proporção de 1:10:30:600. Isto é, uma lesão


incapacitante para cada dez lesões leves, trinta acidentes com danos a
propriedade e seiscentos incidentes registrados. Tal estudo determinou
que o escopo das ações deveria ser direcionado à base da pirâmide,
isso devido as lesões mais importantes serem, “eventos raros e, dessa
forma, muitas oportunidades para uma aprendizagem sobre prevenção
estão disponíveis em eventos menos graves, principalmente incidentes,
primeiros socorros e atos inseguros” (RUPPENTHAL, 2013, p.65).

De acordo com Ruppenthal (2013, p.98), o fator humano pode


influenciar de maneira substancial a confiabilidade de um sistema da
seguinte forma:

O erro humano é um desvio anormal em relação a uma norma


ou padrão estabelecido. Dessa forma, a caracterização do erro
humano não é simples e direta, mas depende de uma definição
clara do comportamento ou do resultado esperado. Os processos
de percepção e aceitação do risco e de tomada de decisão,
caracterizam-se como os principais catalisadores do erro humano.
Gestão de Riscos em Investimentos 17

Observe na imagem a seguir os principais erros humanos por


ausência de aptidões físicas ou cognitivas.
Figura 4: Erro humano por ausência de aptidões físicas ou cognitivas

Fonte: O autor adaptado de Ruppenthal, 2013.

Observe na imagem a seguir os principais erros humanos causados


por falta de formação, informação, ou até mesmo informações errôneas
ou incompletas.
Figura 5: Erro humano por falta de formação ou informação

Fonte: O autor adaptado de Ruppenthal, 2013.

Observe na imagem a seguir as principais causas do erro humano


por fatores emocionais, motivacionais, especialmente.
18 Gestão de Riscos em Investimentos

Figura 6: Causas do erro humano por falta de motivação

Fonte: O autor adaptado de Ruppenthal, 2013.

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a evolução da gestão de riscos trouxe benefícios
para toadas as áreas de conhecimento e com isso muitas
práticas foram aprimoradas trazendo segurança e bem-
estar àqueles que lidam com as mais variadas atividades.
Gestão de Riscos em Investimentos 19

Gestão de risco em instituições financeiras


INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de entender
como funciona a gestão de riscos dentro das instituições
financeiras, bem como o comportamento dos gestores/
operadores diante das mais diversas situações encontradas
nas instituições. Isto será fundamental para o exercício
de sua profissão. As pessoas que tentaram realizar estas
variadas tarefas sem a devida instrução tiveram problemas
ao operar no mercado financeiro. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!

Conforme Davanzo (2004, p.15, apud Chorafas 1992, p. 21), eventos


de risco são aqueles episódios incertos, no sentido de não terem um
resultado bem definido: “risco refere-se a uma situação, posição ou
escolha envolvendo possíveis perdas, pois os resultados são incertos.
Neste sentido, ele argumenta que risco é, em síntese, o custo da incerteza”.
Figura 7: Risco financeiro

Fonte: .freepik
20 Gestão de Riscos em Investimentos

Ainda Davanzo (2004, p. 15, apud Bessis 2002, pag. 12), por sua vez,
define risco como sendo qualquer tipo de incerteza que pode levar a
perdas. Segundo ele, os riscos correntes de hoje são as perdas potenciais
de amanhã: “instituições financeiras são verdadeiras máquinas de riscos,
pois, os assumem, os transformam e ainda os agregam a vários tipos de
produtos e serviços bancários que oferecem a seus inúmeros clientes”.

Com as mudanças financeiras dentro do ambiente mundial, tornou-


se o ambiente financeiro e seus riscos cada vez mais complexos.

A integração entre os mercados por meio do processo de


globalização, o aumento da sofisticação tecnológicas e outros fatores
influenciaram para que houvesse uma preocupação com a gestão de
riscos por parte dos órgãos regulamentares e das instituições financeiras.

Assim, o Acordo de Basiléia I foi editado em 1975, tendo como


fundamento emitir orientações para uma adoção efetiva do controle
interno de das instituições do comitê do G10.
Figura 8: Acordo de Basiléia de 1988

Fonte: O autor, adaptado de Davanzo, 2004.

O Comitê de Basiléia apresentou vinte e cinco princípios orientadores


que tornariam o sistema bancário mais eficaz. Destes vinte e cinco, treze
são considerados como principais bases para uma adoção efetiva de
controle da atividade bancária.
Gestão de Riscos em Investimentos 21

Davanzo (2004, p.71) considera que:

Os supervisores bancários devem determinar que os


controles internos mantidos pelos bancos sejam adequados
para a natureza e para a escala de seus negócios. Os
instrumentos de controle devem incluir disposições claras
para a delegação de competência e responsabilidade;
a separação de funções que envolvem a assunção de
compromissos pelo banco, a utilização de seus recursos
financeiros e a responsabilidade por seus ativos e passivos;
a reconciliação de tais processos; a proteção de seus ativos;
e as funções apropriadas de auditoria e de conformidade
independentes, internas ou externas, para verificar a adesão
a tais controles, assim como às leis e regulamentos aplicáveis.

Mais tarde, em 2001, foi elaborado o acordo chamado de “Basiléia II”.


Com foco no fortalecimento da estabilidade do sistema financeiro global,
este foi arraigado em três grandes pilares, os quais veremos a seguir.

Basiléia II: Pilar I – Requerimento mínimo


de capital
A premissa do Pilar I é o fortalecimento da estrutura de capitais
das instituições, o que se dará a partir das exigências mínimas de capital.
Este primeiro pilar estabelece o requisito mínimo de capital que todas
as entidades devem manter diante dos riscos de mercado, de crédito e
operacional.

Basiléia II: Pilar II – Processo de


supervisão
A premissa do Pilar II é o estímulo à adoção das melhores práticas
de gestão de riscos, o que se dará a partir de boas práticas de supervisão
e governança. Haverá também avaliação constante acerca da adequação
das instituições financeiras frente às necessidades de capital nos riscos
incorridos.
22 Gestão de Riscos em Investimentos

Basiléia II: Pilar III – Disciplina de


mercado
A premissa do Pilar III é a redução da assimetria de informação e
favorecimento da disciplina de mercado. Entende-se que, dessa forma,
quanto maior for o nível de informação e transparência das informações e
práticas de gestão de risco, menor o risco em si.

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre os maiores desafios para a
implementação do Novo Acordo recomendamos o acesso
ao artigo: Desafios do Novo Acordo de Basiléia para o
Gerenciamento do Risco Operacional de Instituições
Financeiras, disponível em: https://bit.ly/373jytL

RESUMINDO:
E então? Como foi o aprendizado? Agora, só para termos
certeza de que você realmente entendeu o tema de
estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos.
Você deve ter aprendido que as instituições financeiras
possuem certas peculiaridades e que algumas precauções
precisam ser tomadas antes da realização das operações
financeiras, bem como algumas regras devem ser seguidas
para tornarem as operações mais seguras, tanto para os
tomadores como para os investidores.
Gestão de Riscos em Investimentos 23

Teoria de risco e retorno

INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de entender
como funciona a teoria do risco e retorno. Isto será
fundamental para o exercício de sua profissão e para a
aquisição de competências que, indubitavelmente, farão
a diferença no seu dia a dia de trabalho. As pessoas que
tentaram realizar as mais variadas operações com ativos
sem a devida instrução tiveram problemas ao executar
tais tarefas. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!

As decisões no ambiente das entidades financeiras não nem sempre


são respaldadas numa esfera de certeza total, haja vista as incertezas das
ações do mundo financeiro. Quase sempre, o desvio padrão é utilizado
para mensurar o risco, sendo aquele utilizado como valor médio para se
obter um índice estatístico.

Este conteúdo dedica-se à análise e dimensionamento do risco e


retorno de ativos aplicados às decisões tomadas no mercado financeiro.
Em particular, são estudados com maior ênfase a teoria do portfólio,
diversificação do risco, seleção de carteiras mais atraentes pela relação
risco-retorno, a teoria da diversificação e o modelo de Markowitz.

Em se tratando da teoria de risco e retorno, o modelo de Markowitz


que também é conhecido como Teoria Moderna do Portfólio, determina
que os investidores são adversos ao risco por natureza e, estes podem
apresentar seu portfólio para obter mais retorno a partir de um determinado
nível de risco de mercado.

SAIBA MAIS:
A estrutura básica desta teoria permite evidenciar que há um
maior nível de retorno para o nível de risco. Bem como há o
menor nível de risco para o nível de retorno. Para saber mais
sobre esse modelo acesse: https://bit.ly/31yktBo
24 Gestão de Riscos em Investimentos

Na hipótese de eficiência, o preço de um ativo qualquer é


formado a partir das diversas informações publicamente disponíveis aos
investidores, sendo as decisões de compra e venda tomadas com base
em suas interpretações dos fatos relevantes.

Um mercado eficiente é entendido como sendo aquele em que


os preços refletem as informações disponíveis e apresentam grande
sensibilidade a novos dados, ajustando-se rapidamente a outros ambientes.

Mercado eficiente pode ser apresentado como o preço de mercado


que apresente uma estimativa isenta de tendência determinada do valor
real adotado num investimento qualquer.

Um ponto importante da eficiência de mercado é a necessidade


de que os erros constatados nos preços de mercado não apresentem
tendências. Sendo assim, estes podem apresentar uma valoração ou
diminuição destes preços.

Diante da observação das variáveis envolvidas, as ações podem ser


avaliadas através de diferentes pontos de vista (sub ou superavaliados).

Em se tratando de mercado eficiente, ações com menores índices


não podem apresentar subvalorização maior do que ações com altos
índices.

Sobre o assunto, (Davanzo, 2007 apud DAMODARAN, 1996)


“coloca ainda que a eficiência de mercado não exige que haja sempre
uma coincidência entre o preço de mercado de um ativo e seu valor
real. Apresentando igual probabilidade de um ativo encontrar-se sub ou
supervalorizado em qualquer momento”.

As mais importantes hipóteses básicas do mercado eficiente são


explicadas a seguir.
Gestão de Riscos em Investimentos 25

Figura 9: Hipóteses básicas do mercado financeiro

Fonte: O autor, adaptado de Davanzo, 2007.

Davanzo apud DYCKMAN & MORSE (2007), a maior eficiência


demonstrada pelos mercados de ações é determinada, basicamente:

“Pela rapidez com que as ordens de ompra e venda são


executadas dentro do ambiente organizado desses mercados;

Pelo elevado número de participantes que se encontram


geralmente envolvidos com as ações: investidores individuais
e institucionais, corporações, instituições financeiras etc.;

Pela maior disseminação das informações das empresas,


muitas vezes analisadas e interpretadas por especialistas,
permitindo um ajuste mais rápido dos valores de mercado das
ações.”

Davanzo apud DYCKMAN & MORSE (2007) afirma que entre os


aspectos de imperfeição de mercado que os modelos financeiros
precisam ser testados, podem ser citados os seguintes:

“Não há uma homogeneidade nas estimativas dos investidores


com relação ao comportamento esperado do mercado e
26 Gestão de Riscos em Investimentos

de seus diversos instrumentos financeiros. É verificado na


realidade prática, ainda, que as informações muitas vezes não
estão igualmente dispostas a todos os investidores, conforme
preconizado pelo modelo de mercado eficiente, além de não
oferecerem acesso instantâneo;

Identicamente, o mercado não é composto unicamente de


investidores racionais. Há um grande número de participantes
com menor qualificação e habilidade de interpretar mais
acuradamente as informações relevantes. Esse grupo,
frequentemente, comete erros em suas decisões, refletindo
sobre o desempenho de todo o mercado. Como consequência,
é possível observar-se, algumas vezes, preços inadequados
para muitos ativos negociados, ou seja, um desequilíbrio entre
o valor real e o preço praticado pelos agentes;

O mercado não é necessariamente sempre eficiente para


valorar seus ativos negociados, sofrendo decisivas influências
de políticas econômicas adotadas pelo governo, oriundas
em grande parte de taxações das operações e restrições
monetárias adotadas”.

Em se tratando de modelos financeiros, o conceito de eficiência do


mercado também deve estar atento aos eventos situacionais e, também,
deverá dar destaque às falhas de estrutura econômica e financeiras.
Figura 10: Fronteira eficiente do risco e retorno

Fonte: https://bit.ly/2UU7ecb
Gestão de Riscos em Investimentos 27

Dentre os vários conceitos utilizados, damos destaque ao risco


total que pode ser aplicado a qualquer ativo. O Risco total apresenta duas
partes distintas, sendo parte sistemática não sistemática.

O risco sistemático pode ser adotado a qualquer tipo de ativo e é


representado por eventos variados. Como não há possibilidade de se evitar a
ocasião de riscos sistemáticos, faz-se necessário a utilização de uma abertura
a vários métodos de investimento. “O risco definido por não sistemático é
identificado nas características do próprio ativo, não se alastrando aos
demais ativos da carteira. É um risco intrínseco, próprio de cada investimento
realizado, e sua eliminação de uma carteira é possível pela inclusão de ativos
que não tenham correlação positiva entre si” Davanzo (2004).

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido
que a teoria de risco e retorno é de suma importância para
o planejamento e realização de operações com ativos.
Você também conseguiu identificar que antes de atuar no
mercado financeiro, faz-se necessário uma análise detida
das probabilidades de investimentos.
28 Gestão de Riscos em Investimentos

Identificação e avaliação de riscos

INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de entender
como funciona a sistemática de identificação e avaliação
dos riscos inerentes às operações com ativos. Isto será
fundamental para que você possa realizar um planejamento
detalhado das possibilidades de atuar no mercado de ativos.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá. Avante!

Identificação de riscos
A identificação de riscos faz parte de um seleto rol de
responsabilidades de uma administração. Tomamos por base que vários
eventos podem ocasionar desvios nas operações e tornar mais complexa
a atividade de uma instituição financeira.
Figura 11: Técnicas de gerenciamento de riscos e o controle de perdas

Fonte: O autor adaptado de COSO, 2007


Gestão de Riscos em Investimentos 29

Figura 12: Fatores determinantes do tipo de análise

Fonte: O autor adaptado de COSO, 2007

Segundo pronunciamento do COSO 2007, os fatores externos, com


os exemplos de eventos correlatos e as suas implicações, incluem o
seguinte:

“Econômicos – os eventos relacionados contemplam:


oscilações de preços, disponibilidade de capital, ou redução
nas barreiras à entrada da concorrência, cujo resultado se
traduz em um custo de capital mais elevado ou mais reduzido,
e em novos concorrentes;

Meio ambiente – refere-se aos seguintes eventos: incêndios,


inundações ou terremotos, que provocam danos a fábricas
ou edificações, restrição quanto ao uso de matérias-primas e
perda de capital humano;

Políticos – eleição de agentes do governo com novas agendas


políticas e novas leis e regulamentos, resultando, por exemplo,
na abertura ou na restrição ao acesso a mercados estrangeiros,
ou elevação ou redução na carga tributária;

Sociais – são alterações nas condições demográficas, nos


costumes sociais, nas estruturas da família, nas prioridades de
trabalho/vida e a atividade terrorista, que, por sua vez, podem
provocar mudanças na demanda de produtos e serviços,
30 Gestão de Riscos em Investimentos

novos locais de compra, demandas relacionadas a recursos


humanos e paralisações da produção;

Tecnológicos – são novas formas de comércio eletrônico,


que podem provocar aumento na disponibilidade de dados,
reduções de custos de infraestrutura e aumento da demanda
de serviços com base em tecnologia”.

As escolhas que a administração seleciona podem advir dos eventos


ocorridos e, para que isto ocorra, tanto as aptidões, como as habilidades
de gestão da organização irão buscar em exemplos passados as soluções
para uma identificação de riscos correta.

Da mesma forma, o COSO (2007) também utiliza os fatores externos


para implementarem as práticas de identificação de riscos tais quais as
descritas na tabela abaixo:
Tabela 1: Fatores externos que implicam na identificação de riscos

Trata-se da relação detalhada de eventos em potencial


comuns às organizações de um cenário industrial, ou para um
determinado tipo de processo, ou atividade, comum às indústrias.
Alguns softwares podem gerar listas de eventos relevantes
Inventário
originárias de uma base geral de potenciais eventos, que servirão
de eventos
como ponto de partida para se identificar eventos. Por exemplo,
uma organização envolvida em um projeto de desenvolvimento
de software utiliza-se de uma relação detalhada de possíveis
eventos referentes a projetos desse tipo.
Pode ser realizada como parte da rotina do ciclo de planejamento
de negócios, tipicamente por meio de reuniões dos responsáveis
pela unidade de negócios. A análise interna pode dispor das
informações de outras partes interessadas (clientes, fornecedores
e outras unidades de negócios) ou da consulta a um especialista
Análise
no assunto, e de fora da unidade (especialistas funcionais
interna
internos ou externos ou pessoal interno de auditoria). Por
exemplo, ao considerar o lançamento de um novo produto, uma
organização usa sua própria experiência histórica em conjunto
com a pesquisa de mercado para identificar eventos que tenham
afetado o grau de êxito dos produtos da concorrência.
Gestão de Riscos em Investimentos 31

Esses gatilhos servem para alertar a administração sobre áreas


de preocupação pela comparação de transações ou ocorrências
atuais com critérios predefinidos. Uma vez acionado o gatilho, um
evento poderá necessitar de nova avaliação ou de uma resposta
imediata. Por exemplo, a administração de uma organização
Alçadas e
monitora o volume de vendas nos mercados determinados
limites
para receber novos programas de marketing ou publicitários
e redireciona seus recursos com base nos resultados. Outra
organização pesquisa as estruturas de preços da concorrência
e considera a hipótese de alterar os seus próprios preços se um
limite específico for atingido.
Essa técnica reúne as entradas, as tarefas, as responsabilidades
e as saídas que se combinam para formar um processo.
Considerando-se os fatores internos e externos que afetam
Análise de
as entradas ou as atividades em um processo, a organização
fluxo de
identifica os eventos que podem afetar o cumprimento dos
processos
objetivos deste. Por exemplo, um laboratório médico mapeia
os seus processos de recebimento e a análise de amostras de
sangue.

Fonte: O autor.

A modelagem de análise de processos proporciona recursos


estratégicos às instituições no quesito gestão de riscos. Tal fato se deve à
visualização da organização ou, em específico, de um determinado setor
como uma sequência de eventos/procedimentos que possibilitam aos
gestores uma tomada de decisão mais assertiva.

Neste diapasão, evidenciamos que tais práticas podem ser


implementas nos mais variados setores, tal qual o exemplo abaixo do
Tribunal Regional do Trabalho da Quarta Região:
32 Gestão de Riscos em Investimentos

Figura 13: Modelo de análise de processos

Fonte: TRT4 (https://bit.ly/2UOYPqo)

Avaliação de riscos
Toda e qualquer organização está sujeita a fatores que podem
interferir os rumos e até impactar nas ações e nas tomadas de decisões.
Tais fatores podem ser considerados internos e externos.

Para avaliar os riscos, a administração utiliza a projeção de cenários


futuros, ou seja, “eventos em potencial pertinentes à organização e às
suas atividades no contexto das questões que dão forma ao perfil de
riscos, como tamanho da organização, complexidade das operações e
grau de regulamentação de suas atividades” (COSO, 2007).

Outra premissa bastante utilizada é a verificação de situações e


hipóteses previstas e imprevistas. Haja vista a atividade de uma organização
poder classificar acontecimentos como rotina, a administração também
é capaz de mensurar a abrangência do que pode ser afetado pela
Gestão de Riscos em Investimentos 33

previsibilidade ou imprevisibilidade. Isto porque, dependendo do impacto


na organização, algo previsto pode desencadear ações não previstas e
acarretar graves transtornos à administração.

Em razão das características das atividades da organização,


esta deve levar em consideração tudo aquilo que é intrinsecamente
relacionado com suas atividades, isto é, inerente. E, sendo assim, isolando
estes eventos e seus respectivos resultados, a organização acaba se
deparando com eventos que ocasionam situações decorrentes daquelas
também denominadas residuais e tratadas num segundo plano.

Em se tratando de possibilidades e eventos denominados incertos,


a incerteza pode ser revista a partir de duas perspectivas: probabilidade
e impacto: “a probabilidade representa a possibilidade de que um
determinado evento ocorrerá, enquanto o impacto representa o seu
efeito” (COSO, 2007, p.38).

Ao abordar os conceitos de probabilidade e impacto, as organizações


podem recorrer ao PMBOK, conjunto de práticas e ferramentas de gestão
voltados à análise de projetos e operações, elaborado pelo PMI Institute.

Uma grande colaboração do PMBOK (2008, p.22) como ferramenta


de avaliação de riscos, é a Matriz de Probabilidade e de Impacto, cuja
definição é a seguinte:

A Matriz de Riscos ou Matriz de Probabilidade e Impacto é uma


ferramenta de gerenciamento de riscos que permite de forma
visual identificar quais são os riscos que devem receber mais
atenção. Por se tratar de uma ferramenta para priorização de
riscos, ela pode ser aplicada na etapa de avaliação de riscos.
Dessa forma, a identificação dos riscos é uma etapa que deve
ser feita antes da aplicação da ferramenta. O grande diferencial
da Matriz de Riscos é a facilidade que ela proporciona para
visualizar informações sobre um determinado conjunto de
riscos. Por se tratar de uma ferramenta gráfica, se torna fácil
identificar quais riscos irão afetar menos ou mais a organização,
possibilitando a tomada de decisões e a realização de medidas
preventivas para tratar esses riscos. Além disso, por ser uma
34 Gestão de Riscos em Investimentos

ferramenta de fácil entendimento e por dispor informações de


forma clara e precisa, colabora com engajamento da equipe
no processo de gestão de riscos. A matriz de risco consiste
em uma matriz (tabela) orientada por duas dimensões:
probabilidade e impacto. Por meio dessas duas dimensões,
é possível calcular e visualizar a classificação do risco, que
consiste na avaliação do impacto versus a probabilidade.

O resultado da classificação do risco, indica em qual célula da


matriz o risco se encaixa. Como pode ser visto na figura abaixo,
há cores diferenciadas entre as células e essas cores indicam
o quão alta é a classificação do risco, ou seja, o quão crítico um
determinado risco é. Por exemplo, os riscos que resultaram em
uma classificação alta (cor vermelha na matriz) devem receber
maior atenção do que os riscos classificados como moderados
ou médios (cor amarela na matriz) e, consequentemente, os
riscos classificados como baixo (cor verde na matriz) podem
ter menor atenção que os moderados e altos.
Tabela 2: Matriz de probabilidade e impacto

Alta Média Alta Alta


Probabilidade Média Baixa Média Alta
Baixa Baixa Baixa Média
Insignificante Moderado Catastrófico
Impacto
Fonte: O autor

Conforme entendimento de Coso (2007, p.46), no que tange à


periodicidade da análise de cenários, a administração deve atuar da
seguinte forma:

Levar em conta os cenários de prazos mais longos para não


ignorar riscos que possam estar mais adiante. Por exemplo,
uma Companhia que atua na Califórnia poderá considerar o
risco de que um terremoto possa paralisar as suas operações
comerciais. Sem um horizonte de tempo especificado para
Gestão de Riscos em Investimentos 35

a avaliação de riscos, será elevada a probabilidade de um


terremoto cuja intensidade na escala Richter seja superior a
6.0, talvez essa probabilidade esteja praticamente certa. Por
outro lado, a probabilidade de que esse tipo de terremoto
ocorra dentro de dois anos é, substancialmente, mais baixa.
Ao estabelecer um horizonte de tempo, a organização adquire
mais informação em relação à importância relativa do risco e
uma maior habilidade para comparar diversos riscos.

Quando se utiliza a metodologia de probabilidade e avaliação de


grau de impacto de riscos, podemos, também, agregar informações
obtidas através de registros de situações ocorridas.

A utilização destes dados fornece uma gama de informações


mais precisas em relação à perspectiva de cenários criados através de
projeções. Quando usufruímos das informações geradas internamente
e embasadas em fatos ocorridos anteriormente, podemos proporcionar
resultados mais fidedignos que os indicadores externos.

A análise de perspectivas pode auxiliar a avaliação de riscos através


de constatações feitas junto aos administradores de corporações e,
diante desta pesquisa, os resultados mostraram que alguns daqueles não
adotaram o reconhecimento do quesito incerteza que é capaz de afetar
drasticamente o processo de tomada de decisão.

De acordo com o COSO (2007, p.93):

Os gestores sempre fazem julgamentos subjetivos sobre a


incerteza e ao julgar devem reconhecer as limitações inerentes.
Estudos demonstram um notável “viés de confiança excessiva,”
que leva a intervalos indevidamente estreitos para o impacto
e as probabilidades estimadas, por exemplo, as metodologias
de valor em risco. Essa tendência ao excesso de confiança ao
estimar a incerteza pode ser minimizada pela utilização eficaz
de dados empíricos obtidos externa ou internamente. Na falta
desses dados, uma consciência aguçada da penetrabilidade
do viés poderá ajudar a mitigar esses efeitos. As tendências
humanas relacionadas ao ato de decidir são apresentadas
36 Gestão de Riscos em Investimentos

de outra forma, na qual não é incomum que as pessoas


façam escolhas diferentes ao buscar ganhos a fim de evitar
perdas. Ao reconhecer essas tendências humanas, o gestor
pode destacar as informações para reforçar o apetite e o
comportamento perante risco em toda a organização. A forma
pela qual as informações são apresentadas ou “estruturadas”
podem afetar significativamente a sua interpretação e a forma
pela qual os riscos associados ou as oportunidades são vistos.

As técnicas qualitativas e quantitativas também são utilizadas


na avaliação de riscos de uma instituição. A metodologia qualitativa é
comumente mais utilizada em detrimento da quantitativa, haja vista a
impossibilidade de quantificação pelos motivos de: ausência de dados
fidedignos, riscos classificados com menor prejudicialidade, entre outros.

As técnicas quantitativas dependem sobremaneira da qualidade


dos dados e das premissas adotadas e são mais relevantes para
exposições que apresentem um histórico conhecido, uma frequência de
sua variabilidade e permitam uma previsão confiável (COSO, 2007).

Destarte, o benchmarking é, indubitavelmente, uma das melhores


ferramentas de avaliação de riscos, pois este enfoca ações ou operações
específicas, bem como pode ser utilizado para comparações de medições
e análise de metas e objetivos.

SAIBA MAIS:
O benchmarking é uma referência de ferramenta a ser
utilizada como condicionante de melhoria de eficiência.
Sua utilização é baseada em comparações e analogias
que possam retratar através de pesquisas cujos gestores
consideram diferenciais para a atuação no seu ramo.
O benchmarking pode ser utilizado tanto na análise
de comportamento, cultura organizacional, produtos e
serviços e até a sistemática de trabalho de uma organização
como um todo. Para saber mais sobre isso acesse: https://
bit.ly/2H0pxVT
Gestão de Riscos em Investimentos 37

Tabela 3: Tipos de benchmarking

Utilizado na comparação de setores internos de


Benchmarking
uma organização, podendo ser compreendido entre
interno
práticas adotadas na matriz e repassada às filiais.
Utilizado em ramos similares e que venham trazer
Benchmarking diferenciais na atuação dentro de um mesmo
competitivo mercado, pode ocasionar buscas por profissionais
que se destaquem no setor.
Pode ser utilizado em empresas de ramos
Benchmarking diferentes e tem o intuito principal na adoção de
funcional boas práticas de gestão, podendo ser utilizado rm
organizações de segmentos diferentes.
Bastante utilizado em organizações de atuação
Benchmarking similares, onde são compartilhadas experiências,
de cooperação boas práticas e, inclusive, profissionais que se
habilitam a treinar e capacitar outras equipes.
Fonte: O autor adaptado de https://bit.ly/2Ciq8TF

Dentre as inúmeras técnicas de avaliação, podemos destacar,


também, a utilização de modelos probabilísticos e não probabilísticos.

Você já ouviu falar sobre esses modelos? Veja a seguir mais


informações sobre eles.
38 Gestão de Riscos em Investimentos

Tabela 4: Técnicas de avaliação de investimentos

PROBABILÍSTICOS NÃO PROBABILÍSTICOS


Os modelos probabilísticos associam a
Os modelos não
uma gama de eventos e seu respectivo
probabilísticos empregam
impacto, a probabilidade de ocorrência
critérios subjetivos para
sob determinadas premissas. A
estimar o impacto de
probabilidade e o impacto são avaliados
eventos, sem quantificar
com base em dados históricos ou
uma probabilidade
resultados simulados que refletem
associada. A avaliação
hipóteses de comportamento futuro. Os
do impacto de eventos
exemplos de modelos probabilísticos
baseia-se em dados
incluem valor em risco (value-at-
históricos ou simulados a
risk), fluxo de caixa em risco, receitas
partir de hipóteses sobre o
em risco e distribuições de prejuízo
comportamento futuro.
operacional e de crédito. Os modelos
Os exemplos de modelos
probabilísticos podem ser utilizados
não probabilísticos incluem
com diferentes horizontes de tempo
medições de sensibilidade,
para estimar os seus resultados, como
testes de estresse e análises
a faixa de prazos dos instrumentos
de cenários.
financeiros disponíveis.

Fonte: O autor adaptado de COSO (2007).

RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você aprendeu que
diante das mais variadas situações, vale a pena realizer
um estudo pormenorizado dos riscos que possam afetar
os investimentos, bem como avaliar se tais riscos podem
comprometer a rentabilidade futura. Até a próxima!
Gestão de Riscos em Investimentos 39

BIBLIOGRAFIA
COSO, S. (2007). Internal Control-Integrated Framework. The
Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway Commission.

DAMODARAN, A. Seminário avançado em finanças corporativas:


advanced topics in valuation. Rio de Janeiro: Alliance Coporate Education,
2004.

DAVANZO, M. Q. Gestão de riscos em instituições financeiras: a


atuação da tesouraria I. Márcio Queiroz Davanzo. - 2004. Disponível em:
https://bit.ly/3fBSlTV

DE CICCO, F.; FANTAZZINI, M. L. Tecnologias consagradas de gestão


de riscos: riscos e probabilidades. São Paulo: Séries Risk Management,
2003.

PMI. A guide to the project management body of knowledge


(PMBOK Guide), Project Management Institute, 4th ed., Newton Square,
PA, 2008.

RUPPENTHAL, J. E. Gerenciamento de riscos. Universidade Federal


de Santa Maria, Colégio Técnico Industrial de Santa Maria; Rede e-Tec
Brasil, 2013.
Gestão de Riscos
em Investimentos
Pedro Libaldi Neto

Você também pode gostar