Você está na página 1de 64

Processos Cognitivos

e Aprendizagem
Cláudia M. C. Dias

Aula 01

Introdução
aos processos
cognitivos
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
Autora
CLÁUDIA M. C. DIAS

Olá. Meu nome é Cláudia M. C. Dias. Sou formada em Pedagogia,


Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Alicante.
Experiência como psicopedagoga e docente a mais de 29 anos. Sou
apaixonada pelo que faço e adoro transmitir minha experiência de vida
àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso fui convidada
pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes.
Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e
trabalho. Conte comigo!
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro-
jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de
aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo,
ou detalhado; se forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Linguagem e cognição 10
Uma breve história da Psicologia Cognitiva 10
Conceito de Cognição 14
A psicologia Cognitiva 15
Processamento cognitivo e os sistemas de informação 17
Modelos de processamento da Informação: A memória 18
Linguagem e a fundamentação teórica sobre o desenvolvimento
cognitivo 22
O processo de aprendizagem sob o foco cognitivo 26
A educação como perspectiva cognitiva 27
Como se define a perspectiva cognitiva 30
Pressupostos básicos da perspectiva cognitiva 30
Educação, ciência cognitiva e aprendizagem 31
Conceitos de problemas de aprendizagem,
avaliação e intervenção 32
Dificuldades ou problemas de aprendizagem 33
Definição de problemas de aprendizagem 36
Definição de dificuldades de aprendizagem 38
Avaliação 42
Intervenção 44
Aspectos psicossociais e cognitivos 48
O conhecimento 49
Conhecimento declarativo 52
Conhecimento procedimental 52
Conhecimento condicional 55
A teoria dos esquemas 56
Pensamento 57
Interação social 59
Processos Cognitivos e Aprendizagem 7

01
UNIDADE

INTRODUÇÃO AOS PROCESSOS COGNITIVOS


8 Processos Cognitivos e Aprendizagem

INTRODUÇÃO
Você sabia que a Psicologia se definiu como ciência empírica
no final do século XIX? Sabia que muitos dos psicólogos neste período
eram psicólogos cognitivos? Isso mesmo, muitos psicólogos no final do
século XIX foram considerados psicólogos cognitivos porque queriam
estudar os processos mentais. Enquanto Wundt realizava estudos
sobre a consciência, Freud buscava estratégias para compreender o
inconsciente.
Nesta época, o método mais utilizado era o da introspecção ou
a auto-observação. William James (1842 -1910) determinou a psicologia
como “A Ciência da Vida Mental” (GAGNÉ, 1985, p.40). Assim, a psicologia
era vista como o estudo das experiências mentais, por exemplo: o
pensamento, os sentimentos, as sensações e tudo o que envolvia a
mente humana.
Depois disso, a psicologia mergulha em um período de afirmação
como ciência positivista e concentra seus estudos sobre a conduta
humana, utilizando de método empírico. Entendeu? Ao longo desta
unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Processos Cognitivos e Aprendizagem 9

OBJETIVOS
Olá! Seja bem-vindo à Unidade 1, o objetivo desta unidade é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até
o término desta etapa de estudos:
1. Compreender o contexto histórico dos processos da
linguagem e cognição, e em que período da história se configuram as
pesquisas sobre a psicologia cognitiva.
2. Aplicar os conhecimentos sobre a psicologia cognitiva e o
processo de aprendizagem, observando as perspectivas teóricas sobre
o desenvolvimento da mente humana.
3. Identificar os problemas de aprendizagem, avaliação e
intervenção para estabelecer propostas em um contexto profissional.
4. Compreender os aspectos do pensamento humano que
intervêm na dinâmica educacional.
Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?
Ao trabalho!
10 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Linguagem e cognição
INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de entender
como a psicologia cognitiva influenciou os estudos sobre
o pensamento e a linguagem. Isso será fundamental
para o exercício de sua profissão. E então? Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante!.

Uma breve história da Psicologia


Cognitiva
Primeiro, para estudar os processos cognitivos, uma de nossas
intenções é trazer uma revisão do contexto histórico da psicologia
cognitiva para você. Isso porque, antes de tudo, reconhecemos que a
psicologia, como ciência empírica, coloca seus primeiros tijolos a partir
dos estudos de William James (foto na figura 1). Este autor e cientista
tornou-se o mais influente na história da psicologia, com sua famosa obra
Princípios da Psicologia (1890).
Figura 1: William James (1842-1910).

Fonte: Wikipédia.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 11

Verificamos que, neste mesmo período, Wilhelm M. Wundt (figura


2) desenvolveu o primeiro laboratório de psicologia experimental, que
priorizava o estudo dos elementos da consciência. Por outro lado, Freud
(figura 3), dedicou-se a compreender como funcionava o inconsciente.
No entanto, John B. Watson (figura 4), contrário às ideias de William
James, defendeu que a psicologia é a ciência que deve estudar o
comportamento humano. Watson, afirmou que a psicologia e, por meio
dela, os psicólogos, devem se ocupar em demonstrar cientificamente os
dados que foram investigados, de modo objetivo, por se tratar de uma
ciência da conduta (GAGNÉ, 1985, p. 40).
Figura 2: Wilhelm Wundt (1832-1920),
Siegmund Freud (1856-1939) e John B. Watson (1878-1958)

Fonte: Wikipédia.

Você poderá comprovar que as ideias sobre a conduta humana


ganharam respaldo e força com um grupo de psicólogos americanos e,
como perspectiva teórica, predominou o pensamento do século XX. Esta
perspectiva teórica encontra sua fundamentação no associacionismo.

DEFINIÇÃO:
O associacionismo é uma corrente da psicologia,
que surgiu a partir do século XIX, com a proposta de
compreender determinados fenômenos psíquicos pela
forma como se associam para a formação da consciência
ou do comportamento.
12 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Seguindo as diretrizes do associacionismo, e para a compreensão


do comportamento humano, pesquisadores como Ivan Pavlov (figura 5)
desenvolveram pesquisas que foram denominadas de condutismo.

DEFINIÇÃO:
Condutismo é uma perspectiva teórica baseada na
conduta ou comportamento humano, possível de ser
estudado por meio da observação.

Figura 5: Ivan Pavlov (1849-1936).

Fonte: Wikipédia.

Na perspectiva do condutismo, J. B. Watson (1878-1958)


desenvolveu vários estudos empíricos sobre a conduta e a aprendizagem
humana, partindo de critérios de associação entre um estímulo e uma
resposta.
No século XX, durante a Segunda Guerra Mundial, alguns
psicólogos americanos realizaram estudos sobre a complexa conduta
entre os pilotos de avião, os quais resultaram em teorias sobre as
estruturas e processos mentais (GAGNÉ, 1985, p. 41). Enquanto isso,
renasciam na Alemanha, Grã- Bretanha, França e Canadá, outras
perspectivas centradas no cognitivismo (MANDLER, 2002a apud
BRUNING et al. p. 2).
Processos Cognitivos e Aprendizagem 13

DEFINIÇÃO:
Na psicologia, entende-se por cognitivismo uma abordagem
teórica para a compreensão da mente humana.

A psicologia cognitiva encontra caminhos e cresce timidamente,


mas as ideias condutistas permanecem, justificando práticas no contexto
educacional até os dias atuais. Paralelamente, você irá perceber que a
insatisfação de muitos pesquisadores cresceu no mesmo ritmo, porque
muitos não conseguiam estabelecer explicações coerentes sobre o
pensamento e a memória humana, a partir das teorias condutistas-
associacionistas. Na figura 6, observamos as condições em que J. B.
Watson realizou o famoso experimento sobre a conduta humana.
Figura 6: Experiência de Watson retratada em fotos.

Fonte: http://bit.ly/2Nxzug4

Na figura 6, pode-se observar que, com base no processo de


condicionamento descrito por Iván Pávlov (1849-1936), no qual ele
demonstra que, mesmo as reações orgânicas, como os reflexos, podem
ser controladas pelo ambiente, por meio da associação estímulo-
resposta. Como experimento dessa teoria, Watson utilizou um bebê para
demonstrar como os estímulos reforçavam questões de aprendizagem.
14 Processos Cognitivos e Aprendizagem

ACESSE:
Para entender melhor como se processou a experiência de
Watson, assista ao vídeo “Experimento Conductista: Watson
y el pequeño Albert (en español)”, disponível por meio do
link: <https://youtu.be/ teGZg2fWuY>.

SAIBA MAIS:
Quer saber mais sobre a história da psicologia cognitivista?
Recomendamos a leitura de VASCONCELLOS, J.; OLIVEIRA,
R. V. História da psicologia Cognitiva: Antecedentes da
Psicologia Cognitiva. Saúde Mental em Foco do CESUCA,
v.1, nº1, 2012. Disponível em: <http://bit.ly/2NEVHJh>.

Conceito de Cognição
Figura 7: Experiência de Watson retratada em fotos.

Fonte: http://bit.ly/2WHVE3J

DEFINIÇÃO:
“Cognição representa um conjunto de processos mediante
os quais a entrada (input) sensorial se transforma, resume,
elabora, armazena, recupera e utiliza” (NEISSER, 1967;
BEST, 2001, p. 5).
Processos Cognitivos e Aprendizagem 15

O autor, Ulric Neisser publicou, em 1967, um dos livros clássicos


em psicologia, Psicologia cognitiva. Neste sentido, o input sensorial e
os processos cognitivos se relacionam com algo que está fora de nosso
organismo e, por isso, os sentidos são os responsáveis por introduzir
novas energias em nosso sistema nervoso e cognitivo. Esta energia pode
ser reelaborada e transformada. Beck e Alford (2000) consideram que a
cognição é “a função que envolve deduções sobre nossas experiencias
e sobre a ocorrência e o controle de eventos futuros” (BECK e ALFORD,
2000 apud BALS E NAVOLAR, 2004, p. 4).
Fialho (2006) nos indica que o “fenômeno da cognição pode ser
explicado como sendo, primeiro, uma função biológica e filogenética,
segundo, como um processo pedagógico e ontogenético, e, por último,
por uma episteme” (FIALHO, 2006, p. 21).

A psicologia Cognitiva
Em virtude do descontentamento de muitos psicólogos com a falta
de explicação sobre as bases teóricas do pensamento humano, outros
profissionais, de áreas distintas da psicologia, se veem interessados
nas propostas metodológicas para estudar o processo mental e
suas manifestações. O binômio estímulo-resposta já não se mostra
interessante para explicar as condições específicas da mente humana.
As teorias condutistas não explicavam, claramente, o processamento
e desenvolvimento da linguagem, contrariando as expectativas e
investigações de linguistas da época.
Em meio a tudo isto, a psicologia cognitiva volta com força ao
cenário científico, oferecendo investigações em temas como:
„„ atenção;
„„ reconhecimento de padrões sensoriais;
„„ memória;
„„ linguagem;
„„ raciocínio;
„„ resolução de problemas; e a
„„ classificação, os conceitos e a categorização das ideias na
mente humana.
16 Processos Cognitivos e Aprendizagem

A figura 8 traz uma lista de autores (psicólogos) que estudaram


a psicologia cognitiva. Esta lista não para de crescer até hoje, dado o
crescente interesse da comunidade científica pelo tema:
Figura 8: Lista crescente de autores que vêm estudando a psicologia cognitiva.

Neste diagrama, destacamos apenas alguns dos muitos pesquisa-


dores que, no final da década de cinquenta, contribuíram com trabalhos e
estudos sobre uma renovação da psicologia cognitiva e seus fundamentos.
Hoje em dia, no que conhecemos por psicologia cognitiva contemporânea,
existem duas teorias sobre o processo de cognição, são elas:
„„ Processamento da informação: tem suas raízes no surgimento
da máquina de cálculo, o que enseja que a mente funciona como
um computador. Por exemplo: para buscar um dado retomamos às
informações armazenadas em nossa memória.
„„ Teoria conexionista: está dedicada a desenvolver modelos
computacionais, iniciando na teoria da informação, mas que se relaciona
diretamente com os processos neurológicos.
De modo geral, ambos estariam conectados com aspectos do
funcionamento computacional. Agora, você irá compreender a diferença
entre estas duas teorias defendidas por diversos autores.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 17

Processamento cognitivo e os sistemas de


informação
O telefone, a televisão, os computadores são alguns dos exemplos
de sistema de informação que sofrem transformação ao longo do tempo.
Analogamente, esses sistemas foram utilizados metaforicamente para
explicar os processos da cognição humana, especialmente os computadores.
Figura 9: Imagem meramente ilustrativa.

Fonte: Pixabay.

Os psicólogos cognitivos utilizavam, como exemplo, os sistemas


informáticos para explicar como funcionava o processo de informação
humana, sua complexidade e o processo de aprendizagem em si. Por isso,
considera-se que a ciência cognitiva é uma área de estudos interdisciplinares
que se inter-relaciona com a psicologia cognitiva, ciência da computação,
sistemas de informação, inteligência artificial,neurociências e linguística,
entre outras (LIMA, 2003 apud NEVES, 2006).
Gagné (1985), determina que:

a comparação das partes do sistema de processamento


do computador tem funções similares a do sistema de
processamento de informação do ser humano. Os seres
humanos, igualmente aos computadores, realizam um
trabalho em uma unidade central de armazenamento; logo
depois de tratarem as informações, os seres humanos
as armazenam em uma memória a largo prazo, e os
computadores, em um disco rígido” (GAGNÉ, 1985, p.49).
18 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Alguns profissionais estão de acordo com esta analogia,


enquanto outros são contrários a esta comparação. Assim, diante de
inúmeras discussões, Massaro e Cowan (1993) e Palmer e Kimchi (1986)
definiram uma linha de princípios sobre o processamento da informação
associado ao processo cognitivo. Veja, na tabela 1, as cinco qualidades
ou princípios e seu significado (MASSARO e COWAN, 1993; PALMER e
KIMCHI, 1986 apud BEST, 2001, p. 27).
Tabela 1: Figura 10: Relação entre processamento da informação e processos cognitivos.

Qualidade Significado

Descrição da Entorno pode ser categorizado em função da


informação quantidade e do tipo de informação que contém

Decomposição Os processos cognitivos são simples e aparecem


recursiva organizados de modo hierárquico

Continuidade A informação caminha sempre para frente como a


do fluxo linha do tempo

Dinâmica do Não se pode produzir vários processos neurais ao


fluxo mesmo tempo

Materialização Todos os processos cognitivos coexistem em um


física lugar físico

Modelos de processamento da Informação:


A memória
Você sabia que tudo começou com o estudo científico da
memória? Isso mesmo, a memória passou a ser objeto de estudo a
partir do trabalho de Hermann Ebbinghaus (foto na figura 10), o primeiro
investigador experimental.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 19

Figura 10: Hermann Ebbinghaus (1850-1909).

Fonte: Wikipédia.

Ebbinghaus (1885), que estava interessado no espaço da memória,


demonstrou que pessoas entre 18 e 20 anos conseguiam recordar mais
dados que os de 8 a 10 anos, e ainda comprovou que o sentido tinha um
papel importante para recordar um dado, determinando que as palavras
sem sentido tinham pouca influência no espaço da memória. Binet
também estudou as relações da memória com uma lista de palavras
curtas e sem sentido (NEUFELD E STEIN, 2001).
As pesquisas sobre a memória perpassam por duas linhas centrais:
„„ memória operativa; e
„„ memória a largo prazo.
Para o que se define como modelo de processamento da Informação,
verificaremos como se desenvolve a memória durante o processo de
aprendizagem. Assim, para aprender alguma coisa, nossa mente recebe
a informação e a organiza em série, atuando de modo sequencial. Assim,
poderíamos concluir que, para processar uma informação, nossos
processos cognitivos trabalham em uma sequência organizada e seriada,
como em uma sequência numérica do tipo (1, 2, 3, 4, 5, 6, ...).
Na figura 11, vemos uma nova revisão do modelo. Por este diagrama,
é possível observarmos como os componentes que processam a
informação no ser humano aparecem divididos e distintos uns dos outros.
20 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Figura 11: Modelo Modal.

De acordo com esta teoria, o primeiro componente é o sistema


sensorial, de onde se cria o código cognitivo. Aqui é onde detectamos
os aspectos de nosso ambiente, o entorno que nos rodeia. A partir
disso, selecionamos e organizamos um processo de entrada e saída de
informações para armazená- las na memória a curto prazo (MCP) e/ou
memória a largo prazo (MLP).
Após a recepção e seleção da informação, nosso primeiro bloco de
armazenamento se denomina memória a curto prazo (MCP). Aqui, o tempo
de retenção das informações é relativamente curto e sua capacidade
é limitada. Hoje, muitos acreditam na diferença entre memória a curto
prazo e memória operativa (MO) ou de trabalho, pois alguns estudiosos
defendem que, com a memória a curto prazo, enfatizamos a duração de
uma determinada informação. Dessa forma, a memória operativa se refere
à funcionalidade da informação de modo consciente.
Quando resolvemos, mentalmente, uma adição 33 + 24, o primeiro
e mais habitual procedimento é somar as unidades e guardar o resultado
na memória operativa, para então continuar a soma das dezenas até
obter o resultado. Vamos a um novo exemplo? Pense no que você
deseja fazer neste final de semana. Percebeu alguma coisa? Pois bem,
Processos Cognitivos e Aprendizagem 21

as imagens que foram produzidas em sua mente ao ouvir as palavras


“final de semana” são o retrato das ações que você deseja colocar em
prática. Estas imagens estão guardadas na memória operativa.
A memória operativa pode ser codificada e, por isso, pode ser
armazenada na memória a largo prazo (MLP). Aqui, existe uma integração
entre os conhecimentos anteriores e os novos conhecimentos. A
informação pode ser elaborada, alterada, transformada, recuperada e
reconstruída. A principal caraterística da MLP é armazenar informações
durante toda a nossa vida, para utilizá-las posteriormente.
O modelo Modal, anteriormente postulado por Atkinson e Shiffrin
(1968) e posteriormente revisado por (Baddeley e Hitch, 1974), demostra
que o processamento sensorial está interligado com a memória a MCP,
MLP e com os processos metacognitivos que interferem diretamente no
processo de cognição. Mas, o que vêm a ser processos meta-cognitivos?

DEFINIÇÃO:
O termo vem do conceito de metacognição, que representa
o acervo de conhecimentos preliminares sobre os próprios
conhecimentos que possuímos, além dos processos de
avaliação, percepção, organização e regulação desses
mesmos processos cognitivos.

Além disso, a MCP passa a diferenciar-se da memória operativa e


da MLP. Essa última traz as informações declarativas e procedimentais,
tais como as destrezas e atividades que possibilitam o movimento e a
linguagem.
Baddeley (1986, 1987) propõe uma estrutura de memória operativa
que compreende um sistema geral denominado executivo central e
dois subsistemas: o bucle fonoarticulatório e a agenda viso-espacial.

IMPORTANTE:
A memória de trabalho (ou operativa) é uma espécie de
processamento consciente dos códigos cognitivos, em
que os objetivos podem ser modificados e a memória
permanente fica encarregada de armazenar informações
para usá-las posteriormente ao longo de toda a vida.
22 Processos Cognitivos e Aprendizagem

A teoria de processamento da informação contemporânea refere-


se, especificamente, à memória sensorial e à memória a curto prazo,
sendo seus principais pressupostos: (BRUNING, SCHRAW e NORBY 2012):
1. Os sistemas de memória estão funcionalmente separados: todos
os estudos cognitivos do processamento da informação definem dois ou
mais sistemas de memória globais e que realizam funções específicas.
2. A atenção é limitada: a capacidade para realizar um esforço
mental está limitada de várias maneiras.
3. Os processos cognitivos são automáticos e controlados: um
processo cognitivo eficiente é o resultado do uso adequado dos recursos.
4. O significado é construído: o processo da informação é muito
mais amplo do que traduzir e representar estímulos.

Linguagem e a fundamentação teórica


sobre o desenvolvimento cognitivo
As alterações na linguagem, basicamente na língua oral, desper-
taram interesse em muitos pesquisadores e cientistas no mundo. No
último século, psicológicos, médicos, filósofos e linguistas se ocuparam
com investigações nas áreas de transtornos causados pela linguagem.
Destacamos isto na tabela 2, que mostra alguns dos nomes mais
relevantes que nos servem de base para estudos, e que fundamentaram
pesquisas sobre as alterações da língua oral.
Tabela 2: Autores relevantes e pesquisas sobre alterações da língua oral.

Autor Área de pesquisa

Francis J. Gall

Relacionou lesão cerebral e alteração da


linguagem.
Observou que as faculdades mentais são
funções fisiológicas.
Tentou especificar a localização cerebral com as
funções mentais.
Seus estudos derivam da frenologia.
(1758-1828)
Processos Cognitivos e Aprendizagem 23

Pierre Paul Broca

Impulsionou e reconheceu a limitação cognitiva


(afasia).
Área de Broca (1861), postulou que os
transtornos da linguagem se produziam devido
às lesões na 3ª circunvalação frontal esquerda
do cérebro.

(1824-1880)

Carl Wernicke

Continuou os estudos sobre a afasia.


Área de Wernicke (1908), sinalizou uma área do
lóbulo temporal como diretamente implicada na
compreensão verbal e na associação de sons.

(1848-1905)

Fonte: Imagens extraídas do Wikipédia.

A medicina e a neurologia contribuíram para o desenvolvimento


das pesquisas indicadas na tabela acima. Logo, surgiram alguns críticos
afirmando que o cérebro humano possuía mais atributos do que se
imaginava, e que não se podia caracterizar as funções cerebrais de modo
fracionado e independente.
Veremos que, simultaneamente, foram desenvolvidos estudos
sobre as alterações da linguagem escrita, fundamentalmente no que diz
respeito aos problemas apresentados com a leitura de texto. Aguilera
(2003) indica alguns autores que estudaram o fenômeno das alterações
na linguagem oral, como ilustrado na tabela 3.
24 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Tabela 3: Autores relevantes que pesquisaram sobre as alterações da linguagem.

Autor Área de pesquisa


James Hinshelwood
Amplia os estudos sobre a afasia em crianças com
problemas de leitura.
Marca os termos de “incapacidade específica para a
leitura”, “cegueira verbal adquirida” e “cegueira verbal
congênita”
Propôs uma teoria sobre a localização
cerebral das alterações da leitura em 1917.
(1805-1866)
Samuel Orton

Em 1925, considerou que as dificuldades de leitura


eram ocasionadas por um conflito
entre os hemisférios devido a uma dominância
cerebral.
Descreveu seis alterações: alexia evolutiva, agrafia
evolutiva, surdez verbal evolutiva, afasia motora
evolutiva, tartamudez infantil e apraxia evolutiva.
(1879-1848)

Autor Área de pesquisa


W.S.Gray

Destacaram o valor do diagnóstico das medidas


perceptuais e o movimento dos olhos.
Reconhecem múltiplas causas das
dificuldades leitoras.
Desenvolvem programas de intervenção.
(1885-1960), e C. T. Gray

Desenvolvem pesquisas baseadas nas teorias de


Orton e, a partir disso, elaboram um sistema que
Gilligham e Stillman
enfatiza a deficiência de associação, utilizando uma
aproximação auditiva, visual e cinestésico-tátil.
Em 1931, elaboram o Método cinestésico de ensino
Fernald e Keller da leitura, no qual a criança deverá utilizar o tato e o
movimento muscular.
Fonte: Adaptado de Aguilera, 2003, p. 4. Imagens extraídas do Wikipédia, Edublox, e
Academy of Orton-Gillingham Practitioners and Educators
Processos Cognitivos e Aprendizagem 25

As pesquisas no campo da medicina seguem e ganham novos


adeptos e novas considerações acerca das alterações e implicações
perceptivo-motoras que envolvem o campo da linguagem. Com o
florescimento das investigações nesta área, e com a chegada de Hitler
ao poder, muitos pesquisadores interrompem seus trabalhos para
continuar suas pesquisas nos Estados Unidos.
Nesta fase, os pesquisadores direcionam seus centros de estudo
para as pessoas não-deficientes e aquelas que, aparentemente, não
sofreram nenhuma lesão cerebral. Concomitante com tudo isto, as
investigações sobre o desenvolvimento cognitivo e a revolução na
psicologia cognitiva contribuem, de uma maneira ou outra, para que
novas pesquisas sobre a linguagem sejam realizadas a partir de um
enfoque psicológico e educativo.

SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos as
seguintes leituras:
ANDERSON, J. R. (2005) Cognitive Psychology and its
implications (6ª ed.). Nova Iorque: Worth.
EYSENCK, M. W.; KEANE, M. (2005). Cognitive Psychology: A
student’s handbook (5ª ed.). Nova Iorque: Psychology Press.

RESUMINDO:
E então? Você viu como a história da Psicologia Cognitiva
proporcionou diferenças na compreensão dos processos
de aprendizagem? Agora, só para termos certeza de que
você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos.
Primeiro: você observou que a psicologia cognitiva se
estabeleceu como o estudo científico dos processos
mentais, e que a psicologia experimental, iniciada em 1879,
passou a ser de orientação cognitiva.
Segundo: o condutismo acabou convertendo-se na
principal perspectiva das linhas de pesquisa entre os
psicólogos americanos. A psicologia condutista se
transformou em uma tendência para o mundo a partir
de inúmeros estudos de psicólogos americanos que são
referências até a atualidade.
26 Processos Cognitivos e Aprendizagem

É bom saber, que a partir do fim da segunda guerra mundial,


o interesse pela psicologia cognitiva começou a ter um
grande impulso entre outros investigadores que estavam
insatisfeitos com a perspectiva condutista.
Terceiro: as ciências da informação começaram a se
expandir e foram amplamente utilizadas como analogias
para entender os processos cognitivos.
Quarto: o processamento da informação é uma metáfora
defendida por muitos psicólogos, descrevendo os
fenômenos psicológicos para o processamento cognitivo
da informação pelos seres humanos e, nesse contexto, a
memória é vista como um dos elementos básicos para o
processamento da informação.
Quinto: foi possível entender os conceitos básicos da
psicologia cognitiva e a influência dos modelos de
processamento da informação.
Sexto: verificamos que as pesquisas sobre linguagem
marcaram a evolução do processo de desenvolvimento
cognitivo, e foram impulsionadas por várias áreas do
conhecimento.

O processo de aprendizagem sob o foco


cognitivo
INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender
as contribuições da psicologia cognitiva para o processo de
ensino e aprendizagem, além de como o processo cognitivo
contribui para entendermos a aquisição da aprendizagem
pelo indivíduo. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Avante!
Processos Cognitivos e Aprendizagem 27

Figura 12: Imagem meramente ilustrativa.

Fonte: Pixabay.

A partir dos anos sessenta, vive-se uma grande revolução no


âmbito acadêmico, em que os pressupostos teóricos sobre o sentido
e significado da ciência sofrem alterações em distintas áreas do
conhecimento, tais como a filosofia, a pedagogia, a psicologia, etc.
Nesse ponto, a educação é alvo de um processo de inovação no que diz
respeito aos estudos cognitivos, e é sobre isto que iremos discorrer ao
longo deste capítulo.

A educação como perspectiva cognitiva


Você já imaginou um mundo com novas perspectivas? Observe
que, com a revolução dos paradigmas científicos, sobretudo na psicologia
cognitiva, a educação passa a ser alvo de inúmeras investigações,
principalmente no que diz respeito às teorias e aos processos de
aprendizagem. Você vai perceber que a diversidade de perspectivas
científicas altera, consideravelmente, as formas de pensar sobre o
processo educativo e suas relações com a atividade cognitiva do ser
humano. Neste período, identificamos especialistas de distintas áreas,
contribuindo com pesquisas sobre o processo cognitivo, em especial,
aqueles cuja formação estivesse relacionada às áreas de medicina,
biologia e psicológica.
28 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Jean Piaget (foto na figura 13) foi um epistemólogo que contribuiu


com seus estudos sobre a infância, seu desenvolvimento e as habilidades
da inteligência e aprendizagem. O psicólogo Lev Vygotsky (figura
contribuiu com suas investigações no campo da psicologia histórico-
social, considerado um precursor da neuropsicologia soviética, com uma
proposta de não reduzir os processos psíquicos a funções fisiológicas, mas
considerá- los como processos constituídos nas interações sociais. Henri
Wallon (1879- 1962) trouxe relevantes contribuições para a educação,
psicologia e filosofia, principalmente sobre o contexto e origem do
pensamento e do desenvolvimento da afetividade na criança. As obras e
contribuições de Wallon são ricas em fontes de estudo sobre a psicologia
genética e a neuropsicologia, compreendendo a psicogenética como
o estudo da origem (gênese) dos processos psíquicos, não reduzidos à
condição de determinismo genético.
Figura 13: Jean Piaget (1896-1980);
Figura 14: Lev Vygotsky (1896-1934); Figura 15: Henri Wallon (1879- 1962).

Fonte: Wikipédia.

Por outro lado, devemos ter claro que o objeto de preocupação


da maioria das pesquisas no campo educacional estava direcionado à
concepção estática e unilateral do contexto do aprender. Não obstante,
houve uma grande produção científica que estabelecia relações entre os
processos de informação e a área educacional, para identificar como o ser
humano transformava, recuperava e armazenava a informação recebida e
o conhecimento que havia sido gerado.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 29

Nesse contexto, foi dado maior ênfase aos estudos sobre o conhe-
cimento, a informação e a comunicação. Neste século, paradoxalmente, a
supervalorização dos meios de informação e comunicação se transformou
em grande desafio para o nosso conhecimento. Observe a figura 16 e
imagine como será nosso futuro, daqui a alguns anos, com os avanços
da tecnologia. Descobriremos algo novo sobre o funcionamento de nosso
pensamento? Como será o processo de aprendizagem?
Figura 16: Cidade do futuro.

Fonte: Pixabay.

Nossa proposta, para este século, é ampliar o que já sabemos


sobre a aprendizagem, tendo como foco a psicologia cognitiva. O século
XXI será nossa oportunidade de produzir conhecimento que transforme
o que hoje conhecemos sobre como se aprende ou como se ensina.

REFLITA:
Face a tudo isto que expusemos até aqui, voltamos a uma
velha discussão: a educação é importante? Para quem a
educação realmente importa?
Reflita sobre estas questões e descobrirá que as
instituições educativas são muito importantes para a
sociedade do conhecimento e, por sua vez, admitirá que
todos reconhecerão sua importância. Agora sabemos
que, o urgente e necessário é indicar um caminho entre a
educação do passado e os saberes do futuro.
30 Processos Cognitivos e Aprendizagem

EXPLICANDO MELHOR:
Seoane (1995) cita, como exemplo, alguns trabalhos sobre o
contexto político que marcam as transformações no campo
da educação, da sociedade e da política para a perspectiva
cognitiva, a saber:
Stone (1981), que qualifica os anos 60 a partir
da preocupação pela eficácia e o compromisso
pessoal; White (1950), que considera que as novas
gerações e seus estudiosos estão preocupados
com o que são capazes de fazer; McClelland
(1961), que determina a realização social e Rotter
(1966), que estabelece o controle social; Campbell
e outros (1964), que determinam o sentimento de
impotência social e política. Dentro deste cenário,
o modelo tradicional de educação e os processos
clássicos de aprendizagem estariam com o tempo
contado, mesmo reconhecendo que, em educação,
as unidades temporais são mais extensas em sua
eficácia e realização social (SEOANE, 1995, p. 46).

Como se define a perspectiva cognitiva


DEFINIÇÃO:
Entendemos por perspectiva cognitiva, o momento em
que vários cientistas e estudiosos buscaram compreender
novas possibilidades de entender o conhecimento e o
saber humano.

A perspectiva cognitiva passa a ter maior validez a partir da segunda


guerra mundial, com uma diversidade de áreas de estudos, tais como:
Cibernética; Inteligência artificial; Ciências da Computação; Psicologia
Cognitiva; etc. Podemos considerar que, nos anos sessenta, estes
exemplos representam uma transformação científica e uma revolução na
perspectiva das ciências cognitivas, caracterizando um movimento.

Pressupostos básicos da perspectiva cognitiva


Seoane (1995) nos indica quais foram as propostas em que se
desenvolveram as metas da perspectiva cognitiva. Foram elas:
Processos Cognitivos e Aprendizagem 31

1. O sujeito ativo: o sujeito psicológico deve ser ativo, complexo no


seu processamento e em suas estratégias de comportamento (IBAÑEZ,
1989). Além disso, deve ser criativo e gerar planos orientados ao futuro.
2. Novos métodos: aqui, deve-se negar o rigor metodológico do
empirismo positivista, característica original da perspectiva cognitiva.
Devemos admitir uma multiplicidade de métodos de investigação.
3. Mente como informação: surge um novo conceito de mente.
Este novo conceito está relacionado ao sistema de processamento da
informação (SEOANE, 1995, p. 55).
Resumindo, a definição dos pressupostos de uma perspectiva
cognitiva foram: o sujeito ativo, os novos métodos de pesquisa e o
conceito de mente relacionado ao sistema de informação.

Educação, ciência cognitiva e aprendizagem


Mayer (1992) resume em três metáforas a aprendizagem e seus
protagonistas:
1. Aprendizagem como aquisição de respostas: esta foi a
concepção dominante no século XX, tanto em psicologia como na
prática educacional. Define o sujeito como um ser passivo e objeto
da aprendizagem. A aprendizagem é mecânica e está determinada
por recompensas. O professor deve valorizar as condutas do aluno
em detrimento das atividades. Além disso, deve esperar respostas
específicas a estímulos específicos.
2. Aprendizagem como aquisição do conhecimento: esta
concepção tem grande orientação cognitiva. A aprendizagem acontece
a partir da relação do sujeito com o seu conhecimento. Aqui, o aluno
aprende como um processador de informação, e o professor ensina
como um distribuidor de informação. De acordo com Mayer, o currículo
é a ferramenta básica da instrução. O conhecimento é avaliado a partir
da quantidade de conhecimentos adquiridos.
3. Aprendizagem como construção do conhecimento: a partir deste
enfoque, a aprendizagem passa a ter sentido para o sujeito que aprende.
O professor se transforma em um participante ativo do processo e junto ao
aluno. Ambos promovem a aprendizagem e a construção de conhecimentos
em um ambiente de cognição adequado para a dinâmica didática.
32 Processos Cognitivos e Aprendizagem

De modo geral, identificamos que estas definições de aprendiza-


gem estão relacionadas aos modelos de processamento de informação.
Não obstante, vivemos em constante transformação social, por isso,
entendemos que a educação é um elemento essencial para a promoção
e formação do indivíduo.

RESUMINDO:
Você compreendeu tudo acerca do que abordamos até
aqui? Agora, só para termos certeza de que você realmente
entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir
tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que as revoluções,
no âmbito acadêmico, contribuíram para o desenvolvimento
das teorias cognitivas. A educação, como uma das áreas de
interesse da psicologia cognitiva, passa a ter destaque no
ambiente acadêmico e a produção científica se multiplica,
principalmente no que diz respeito ao processo cognitivo.
Alguns pesquisadores, sobretudo da área de psicologia
e medicina, se destacam no contexto internacional e nos
servem de referência até os dias de hoje, como: Vygotsky,
Wallon ente outros. Com isso a preocupação de estudar a
perspectiva cognitiva sob o foco educacional ganhou adeptos
no mundo inteiro. É importante destacar as influências sociais
presentes nesta época. Por último, revisamos o pensamento
de Mayer sobre o contexto de aprendizagem.

Conceitos de problemas de aprendizagem,


avaliação e intervenção.

INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de analisar
os seguintes conceitos: problemas de aprendizagem,
dificuldades de aprendizagem, avaliação e intervenção.
Além disso, vai discernir sobre a importância do processo
de avaliação e intervenção no âmbito profissional. E então?
Preparado para mais uma viagem, sem volta, rumo ao
conhecimento? Então aperte o cinto e, boa viagem!
Processos Cognitivos e Aprendizagem 33

Dificuldades ou problemas de aprendizagem


A sociedade atual exige um maior nível de competitividade, de
preparação profissional e de desenvolvimento pessoal para afrontar os
desafios que o século XXI apresenta. Ao contrário, se um determinado
indivíduo manifesta um desenvolvimento insatisfatório, principalmente
na idade escolar, ou desenvolve dificuldades e problemas no percurso
de aprendizagem, enfrentará um caminho mais difícil no processo de
ensino e aprendizagem, bem como em sua integração social.
O que podemos fazer para reverter esse quadro? Como enfrentar
as queixas das famílias sobre o baixo rendimento escolar de seus
filhos? Que tipo de prática educacional é adequado para desenvolver o
potencial desses alunos?
As experiências desenvolvidas na prática com crianças e
adolescentes, a partir do enfoque neuropsicológico, estão se mostrando
atrativas e, ao mesmo tempo, efetivas. Além disso, aportam novos
conhecimentos profissionais para situações passadas. Se você observar
as pesquisas sobre boas práticas educativas e as dificuldades de
aprendizagem, poderá verificar como o enfoque sobre essas dificuldades
era percebido por diversos autores. Salvaterra (1995), analisa que:

Nossa experiência, de mais ou menos vinte e cinco anos


na atenção psicológica de crianças com problemas de
aprendizagem escolar motivados pela falta de concentração
(alto índice de distração), problemas na leitura, na escrita,
instabilidade emocional, impulsividade e explosividade
na conduta, na maioria das vezes está determinada por:
compromissos neurológicos que começam desde a imaturi-
dade neurológica até a lesão cerebral. Este compromisso
cerebral aparente nos problemas de aprendizagem muitas
vezes é percebido pelos pais e professores das crianças que
padecem, mas preferem silenciar-se ou ignorar o problema
como melhor forma de afrontá-lo” (SALVATERRA, B., 1995).
34 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Se observarmos esta perspectiva conceitual de Salvaterra (1995),


concluiremos que o conceito de “problemas de aprendizagem” modificou-
se com as pesquisas mais recentes. Por isso, a neurologia e a neurociência
aplicadas à educação contribuem com novos conhecimentos para a
compreensão dos processos de aprendizagem e seus problemas e
dificuldades, proporcionando instrumentos para uma avaliação mais
criteriosa. Desse modo, podemos conhecer melhor os pontos frágeis e
fortes de cada aluno e neles aplicar programas de intervenção capazes
de enriquecer seu desenvolvimento em contextos escolares e sociais.

IMPORTANTE:
Revisando a literatura acerca do tema, verificamos que alguns
autores apontam diferenças entre os termos: problemas
de aprendizagem e dificuldades de aprendizagem. Para
esclarecer este ponto, indicaremos o que se entende por
aprendizagem e, a partir disso, a influência que cada termo
exerce sobre o contexto de aprender, principalmente na
escola.

Sabemos que as concepções de aprendizagem surgem com o


legado das investigações empíricas, definindo que todo conhecimento
provém da experiência. Partindo desta premissa, a psicologia, enquanto
ciência do comportamento observável, passa a relacionar aprendizagem
e condicionamento. Com o desenvolvimento de novas perspectivas
de aprendizagem, surgem as ideias defendidas pelo fundamento
epistemológico do tipo racionalista, destacando que todo conhecimento
é anterior à experiência, resultado das estruturas mentais dos sujeitos.
(GIUSTA, 2013).
Assim, entender estas posturas, sobre as concepções da
aprendizagem, nos servirá como fio condutor para determinar o que
entendemos sobre aprendizagem. Nesse caminho, iremos ao encontro
dos pesquisadores Piaget e Wallon, que estudaram a gênese do
processo e evolução psicológica da criança.
No entanto, Pain (1989) descreve que “o processo de apren-
dizagem se inscreve na dinâmica de transmissão da cultura, que
constitui a definição mais amplia da palavra educação, com quatro
funções independentes” (PAIN, 1989, p. 11):
Processos Cognitivos e Aprendizagem 35

a. Função mantenedora da educação: ao reproduzir em cada


indivíduo o conjunto de normas que regem a ação possível – a educação
garante a continuidade da espécie humana.
b. Função socializadora da educação: a utilização de utensílios,
da linguagem e do habitat, transforma o indivíduo em sujeito e, para isto,
a educação ensina as modalidades destas ações que se percebe no
aprendizado e construção das normas sociais.
c. Função repressora da educação: permite conservar e
reproduzir os valores e poder de cada classe ou grupo social.
d. Função transformadora da educação: possibilita a tomada de
consciência para uma educação com e para a liberdade.
Tabela 4: Conceitos de aprendizagem.

Autor/ano Conceito

“A Aprendizagem pode ser definida como uma


(Campos, 1986, modificação sistemática do comportamento, por efeito
p. 30) da prática ou da experiência, com um sentido de
progressiva adaptação ou ajustamento”.

“A aprendizagem é inferida quando ocorre uma


(Gagné, 1980, mudança ou modificação no comportamento,
p. 6) mudança esta que permanece por períodos
relativamente longos durante a vida do indivíduo”.

“A aprendizagem pode ser definida como uma


(Kaplan, 1990,
mudança no comportamento, que resulta tanto da
p. 91)
prática quanto da experiências anteriores”.

“Aprender uma atividade que ocorre dentro de um


organismo, e que não pode ser diretamente
(Davidoff, 1983, observada; de forma não inteiramente compreendida,
p. 158) os sujeitos da aprendizagem são modificados: eles
adquirem novas associações, informações, insights,
aptidões, hábitos e semelhantes”.
Fonte: Adaptado de “Psicologia e Educação: o significado do aprender” (ZANELLE, 2003).
36 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Note que, no quadro da tabela 4, apresentamos alguns dos


conceitos sobre o que se entende por “aprendizagem”. Analisando cada
conceito, você identificará sua proximidade ou não da teoria de modelos
do processamento da informação.

EXPLICANDO MELHOR:
A memória é um dos fatores que determina o processo
de aprendizagem na vida e na escola. Por isso, muitos
estudiosos defendem a memória como um dos requisitos
básicos para a aprendizagem dos conhecimentos no âmbito
escolar. Também, inúmeras pesquisas justificam que um
déficit nas estruturas de organização do processamento
das informações pode acarretar em problemas de
aprendizagem simples e complexos.

Definição de problemas de aprendizagem


Figura 17: Foto ilustrativa em alusão a problemas de aprendizagem na escola.

Fonte: Pixabay.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 37

Você sabia que a definição de problemas de aprendizagem está


relacionada ao desenvolvimento e história da Psicologia Escolar? Isso
mesmo. A trajetória da psicologia escolar no Brasil acompanhou as
grandes transformações do século XIX, além das propostas de psicólogos
americanos e europeus. Nessa época, a psicologia se ocupava de tratar
os problemas e deficiências das pessoas para aprender em contextos
sociais normais. Por isso surgiram várias pesquisas, e o Brasil foi um dos
países preocupados em estudar, em seus laboratórios de aprendizagem,
os problemas de aprendizagem.
Os termos “problemas de aprendizagem” e “dificuldades de
aprendizagem” sempre estiveram relacionados com a história e o
desenvolvimento da psicologia escolar no Brasil e no Mundo. Um problema
de aprendizagem pode estar associado a uma patologia aparente nos
processos cognitivos, que impede ou dificulta a aprendizagem, para que
esta, por sua vez, possa ser identificada, investigada e decifrada.
Segundo Pain (1989) o termo “problemas de aprendizagem”
pode-se definir da seguinte maneira:

O “problema de aprendizagem é considerado como um


sintoma no sentido de que o não-aprender não configura
um quadro permanente, mas ingressa numa constelação
peculiar de comportamento, nos quais se destaca como sinal
de descompensação” (PAZ, 1971 apud PAIN, 1989, 28) .

No entanto, se revisarmos a literatura sobre o tema, descobriremos


que, em alguns casos, um “problema de aprendizagem” se relaciona,
muitas vezes, com o ambiente clínico, enquanto a expressão
“dificuldades de aprendizagem” passa por um viés educacional, mas
ambas têm a finalidade de explicar uma atividade cognitiva. Atualmente,
concebemos o termo “dificuldades de aprendizagem” em sentido
amplo, mas sem perder de vista as contribuições que são aportadas por
outros profissionais. Por isso, pesquisamos sobre as duas perspectivas,
considerando os diversos fatores que devem ser analisados ao
considerar esse fenômeno como escola, família, comunidade, práticas
pedagógicas, etc.
38 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Definição de dificuldades de aprendizagem


Figura 18: Foto ilustrativa em alusão a dificuldades de aprendizagem (causas neurais).

Fonte: Pixabay.

O conceito de “dificuldades de aprendizagem” surge com a


preocupação e estudos de profissionais da área de medicina, principalmente
neurólogos. Para realizar suas pesquisas, os cientistas estudavam indiví-
duos que padeciam de alguma deficiência, em sua maioria, aqueles que
não possuíam a capacidade de falar, ler, movimentar-se, etc. Por isso, é
fundamental entender o percurso histórico da expressão “dificuldades de
aprendizagem” e a evolução deste conceito até os dias atuais.
Assim, antes de definir as dificuldades de aprendizagem, levare-
mos em conta as definições universalmente aceitas na história da
medicina e da psicologia, e que fazem as seguintes referências:
„„ Alteração ou retraso no desenvolvimento: as funções cognitivas
que auxiliam o processo de aprendizagem aparecem mais tarde.
„„ Transtornos: desordem em um ou mais processos psicoló-
gicos básicos, envolvidos na compreensão da linguagem oral ou escrita,
que pode manifestar-se na falta de habilidade para ouvir, falar, ler,
escrever, pensar e operar com o cálculo.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 39

É interessante diferenciar alguns termos que se utilizam,


indistintamente, de termos para expressar déficits ou dificuldades de
aprendizagem e transtornos do desenvolvimento, como são os seguintes:
„„ deficiência;
„„ dificuldades de aprendizagem;
„„ transtorno de desenvolvimento;
„„ e invalidez.

DEFINIÇÃO:
Seguindo os critérios da Organização Mundial da
Saúde (OMS), desde ano de 1983, uma deficiência está
caracterizada pela anormalidade de uma estrutura ou
função fisiológica, psicológica ou anatômica. A partir deste
momento, visualizamos uma acentuada distinção entre
estas terminologias: deficiência, problemas e dificuldades
de aprendizagem.

Assim, podemos destacar alguns tipos de deficiências, como as


que se seguem:
„„ intelectuais;
„„ audição;
„„ musculoesqueléticas;
„„ desfigurador;
„„ de linguagem;
„„ da visão;
„„ viscerais;
„„ generalizadas;
„„ ou múltiplas.
Mas, como se configura a deficiência? A deficiência é a ausência da
capacidade de se realizar uma atividade, da forma que se considera normal
para o ser humano. Nesses termos, considera-se como deficiências as:
„„ da conduta;
„„ da comunicação;
„„ do cuidado pessoal;
„„ do movimento; etc.
40 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Então, podemos dizer que a expressão “dificuldades de


aprendizagem” ganha espaço entre pesquisadores de diferentes áreas
das ciências e, a partir disso, surge também a necessidade de se unificar
o que se entende por esta expressão. Desse modo, observamos o
desenvolvimento histórico antes de definirmos esta expressão, até os
dias de hoje.
Veja que, a primeira definição formal para “dificuldades de
aprendizagem” foi proposta em uma Conferência organizada pela
Association for Children with Learning Disabilities (ACLD), organizada por
esta associação de pais e educadores que lidam com alunos portadores
de dificuldades de aprendizagem no âmbito escolar. Esta definição foi
proposta por Samuel A. Kirk em 1962, esclarecia:

uma dificuldade de aprendizagem se refere a uma alteração


ou retraso no desenvolvimento em um ou mais dos processos
de linguagem, falar, soletrar, escrever ou aritmética que
se produz por uma disfunção cerebral e ou transtorno
emocional ou de conduta e não por um retraso mental, de
privação sensorial ou fatores culturais ou instrucionais” (Kirk,
1962, p.263 apud AGUILERA, 2003, p. 44).

H. Mycklebust (1963) faz referência aos aspetos neuropsicológicos


para definir as dificuldades de aprendizagem, e destaca que:

utilizamos o termo Transtorno Neuropsicológico da Apren-


dizagem para referir-se a deficiências na aprendizagem, em
qualquer idade, causadas por diferenciações no Sistema
Nervoso Central e que não se devem a deficiência mental,
alteração sensorial, ou causas psicogênicas. A etiologia pode
ser enfermidade ou acidente, ou fatores evolutivos (adaptada
de AGUILERA, 2003, p.45).
Processos Cognitivos e Aprendizagem 41

Continuando com a citação de Jesus (2015):

(...) devemos caminhar no sentido de superar as concepções


que culpabilizam e/ou patologizam os alunos isoladamente
pelo seu fracasso sem considerar o contexto social, político e
econômico no qual está inserido, passando a olhar com mais
atenção para seu cotidiano e para as interações que este
sujeito estabelece com seus pares. Tendo em vista esses
objetivos, a promoção da resiliência no ambiente escolar
constitui-se em um meio para a superação das adversidades
que surgem a partir dos erros cometidos pelos estudantes
visando o sucesso na escolarização. (JESUS, T. D. S., 2015)

Por outro lado, Hammill (1990) se refere a um grupo heterogêneo


de transtornos devidos a disfunções no Sistema Nervoso Central, seja
de forma identificável ou induzida.
Numerosos estudos e publicações analisam a origem e o
desenvolvimento histórico das dificuldades de aprendizagem, dos quais
destacamos: los de Romero (1993), García (1995, 1998, Molina (19997),
Gonzáles-Pienda y Nuñez (1998), Miranda (1986), Miranda, Soriano y
Jarque (2001, Ortiz (2004), entre outros.
Observe, no quadro da tabela 4, as sínteses sobre o desen-
volvimento histórico das dificuldades de aprendizagem.
Tabela 5: Desenvolvimento histórico das dificuldades de aprendizagem.

Fase Características Autores

„„Criação do campo de
trabalho.
„„Centrada em adultos com Gall, Brouillard,
Etapa de lesão cerebral. Broca, Head,
fundamentos „„Investigação médica clínica. Hinshelwood, Orton,
(1800-1940) „„Iniciação em linhas sobre Fernald, Goldstein,
a linguagem: fala e escrita, Strauss y Werner.

e transtornos perceptivos-
motores.
42 Processos Cognitivos e Aprendizagem

„„Desenho e aplicação de
tratamentos corretivos. Osgood, Wepman,
„„Atenção a criança. Fernald, Myklebust,
Etapa de
Kirk, Einsenson,
transição „„Investigação desde a
Meginnis,
(1940-1963) Psicologia e Educação. Kephart, Lehtinen,
„„Desenvolvimento de Cruickshank.
instrumentos de avaliação.

„„Aparição de Learning
disabilities. Kirk, Myklebust,
Etapa de Cruickshank,
„„Integração de tendências e
Integração Kephart, Delecato,
enfoques.
(1963 -1974) Frosting, Haring,
„„Primeiras associações de Lindsley, Lovitt
padres e profissionais.
Sínteses clássica de Wierderthold (1974), adaptado de García Vidal, I.,
Gonzáles Manjón, D. 2001, p. 15).

Avaliação
A avalição é um dos temas mais controversos em um processo
de ensino e aprendizagem. Isto posto, convido você a analisar algumas
questões sobre o processo de avaliação e buscar respostas de apoio que
colaborem com nossas necessidades profissionais.
Figura 19: Imagem meramente ilustrativa.

Fonte: Pixabay.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 43

A avaliação deverá garantir um conjunto de dados da situação-


problema, criando, rapidamente, condições que favoreçam uma análise
profunda dos dados e de suas variáveis para, a partir daí, estudar as
alternativas e oportunidades de aprendizagem.
Alchieree Cruz(2003) esclarecemqueodesenvolvimento da
Psicologia, enquanto ciência, deveu-se à sistematização dos processos
psíquicos básicos e ao uso experimental das formas de medidas
psicológicas que tinham como finalidade verificar os estágios de
desenvolvimento e aprendizagem humana (ALCHIERE E CRUZ, 2003
apud FACCI E SOUZA, 2014).
Lembre-se, para que o processo de avaliação seja efetivo, devemos
garantir alguns requisitos como: investigação, identificação, estratégia e
ferramenta de avaliação, como mostra o diagrama da figura 20:
Figura 20: Processo de avaliação.

O Conselho Federal de Psicologia define a avaliação, no contexto


da psicologia, como um processo técnico e científico realizado com
pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área do
conhecimento, requerem metodologias específicas. Sugere-se que
a avaliação seja dinâmica, e se constitua em fonte de informações de
caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com a finalidade de
subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo,
dentre eles: saúde, educação, trabalho e outros setores em que se fizer
necessária.
Disto, concluímos ser a avaliação um estudo que requer um
planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e com os
fins aos quais se destina.
44 Processos Cognitivos e Aprendizagem

IMPORTANTE:
Além disso, a Resolução CFP nº 07/2003 destaca que “os
resultados das avaliações devem considerar e analisar
os condicionantes históricos e sociais, e seus efeitos no
psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos
para atuar, não somente sobre o indivíduo, mas na
modificação desses condicionantes que operam desde a
formulação da demanda até a conclusão do processo de
avaliação psicológica”. (Conselho Federal de Psicologia,
junho, 2007, p. 8). Disponível em: http://bit.ly/34uSPpk

Sobre a avaliação, numa perspectiva interacionista do desen-


volvimento cognitivo, em situações de dificuldades de aprendizagem,
é importante considerar os fatores socioculturais, didáticos, familiares,
individuaisecomunitários entre as diferentes formas de avaliação existentes.
Podemos exemplificar com a avaliação assistida, proposta pela
teoria socio-histórica de Vygotsky, que consiste em distinguir o que o
indivíduo já sabe (desenvolvimento real) do que potencialmente pode
aprender (desenvolvimento proximal), e, tanto a avaliação quanto a
intervenção, acontecem nesse “espaço” entre o desenvolvimento real e
potencial, denominado zona de desenvolvimento proximal (LINHARES,
M. B. M. 1996)

Intervenção
Quando detectamos um potencial caso de problema ou dificuldade
de aprendizagem, aparecem muitas entre os profissionais, a família e,
principalmente, com respeito ao sujeito (adulto ou criança) e todo o seu
contexto educacional, familiar e comunitário.
Por outro lado, entre os profissionais, existe a necessidade de
compreender o problema a partir de uma perspectiva profissional, que
é produzida por resultados de um processo de avaliação motivado
anteriormente. Assim, a intervenção interfere na dinâmica da avaliação,
considerando os fatores e as causas de um problema no campo
específico das dificuldades de aprendizagem. Estes fatores podem ser:
Processos Cognitivos e Aprendizagem 45

„„ orgânicos; sociais;
„„ psicopedagógicos;
„„ culturais;
„„ e ambientais.
Então, o que significa Intervenção? Bem, se analisamos nossa
realidade social e política, encontraremos um sentido pejorativo, negativo
e, às vezes, repressivo da palavra. Mas, ainda bem que não é este tipo de
intervenção a qual nos referimos, não é verdade?

DEFINIÇÃO:
No campo dos problemas de aprendizagem, entendemos
por intervenção, um conjunto de técnicas, métodos e
procedimentos capazes de mitigar ou eliminar os efeitos
de tais problemas.

Aguilera e Rodrigues (2003), a partir dos estudos de Ellis (1993),


ressaltam como relevantes os três grandes momentos que dão
origem aos modelos de intervenção relacionados às dificuldades de
aprendizagem (AGUILERA E RODRIGUEZ, 2003 apud ELLIS, 1993b). Na
tabela 6, apresentamos estes períodos que marcam historicamente os
modelos de intervenção na prática de nossos profissionais.
Tabela 6: Etapas que marcam a história dos modelos intervenção.

Momento Características

Kirk (1963) apresenta esta expressão e desenvolve


Apresentação testes e programas de intervenção dirigidos aos
do termo processos psicológicos básicos (percepção, atenção,
Learning memoria, etc.) implicados na aprendizagem. Este
Disabilities autor define as dificuldades de aprendizagem como
resultado de possíveis alterações.

Hammil e As críticas ampliam e conduzem os profissionais


colaboradores para analisar questões centradas no contexto da
criticam os aprendizagem. O modelo médico-clínico passa a ser
modelos refutado.
anteriores
46 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Processamento A eficácia deste novo paradigma se faz notar por


da informação vários investigadores e profissionais.

Construtivismo Existe uma convergência entre o construtivismo e os


e Instrução paradigmas de instrução.
Fonte: Adaptado de Aguilera, 2003.

Gondim, Bastos e Peixoto (2010) observaram que, a partir de uma


pesquisa realizada sobre o trabalho dos psicólogos brasileiros, “indícios
apontam que o modelo de intervenção individual está sendo substituído
por outro modelo, mais fortemente focado na intervenção social”
GONDIN, BASTOS e PEIXOTO, 2010, p. 192 apud LOPES E NASCIMENTO,
2015). Mesmo que as atividades em clínica de avaliação psicológica
continuem como principais áreas de atuação da psicologia em nosso
país, a psicologia da educação, campo consolidado e extremamente
vasto em pesquisas, publicações e propostas de intervenção no Brasil,
tem uma discussão ampla e expressiva sobre avaliação e intervenção
em processos de aprendizagem.
Estamos de acordo com o questionamento de Facci e Souza (2014):

Se compreendemos as dificuldades escolares como


expressão de um conjunto de relações que se estabelecem
no processo de escolarização, constituídas por dimensões
pedagógicas, institucionais, políticas, culturais e sociais,
como construir métodos de avaliação que contemplem a
complexidade do fenômeno estudado? (Facci e Souza, 2005)

Assim, as autoras concluem que,

(...) o foco do trabalho do psicólogo, do psicanalista ou do


psicopedagogo está nas crianças e na forma como estes
pensam ou compreendem a aprendizagem, e a intervenção
deve ser feita a partir dela e/ou da de sua família. É sobre ela
que recai o acompanhamento, tanto clínico quanto cognitivo
(FACCI E SOUZA, 2014, p. 389).
Processos Cognitivos e Aprendizagem 47

Dessa forma, a avaliação e a intervenção são processos que se


complementam onde os profissionais devem buscar caminhos que
respeitem o sujeito e seu contexto histórico e social. Assim, entender a
intervenção como um processo contínuo e de constante aprendizado é,
portanto, um avanço na prática do profissional.

SAIBA MAIS:
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: “A pesquisa
intervenção em psicologia da educação e clínica: pesquisa
e prática psicológica” (SZYMANSKI e CURY, 2004) disponível
na Internet e acessível pelo link: http://bit.ly/36vd5c4

RESUMINDO:
Vamos resumir o que você aprendeu até aqui, neste
capítulo? Primeiramente, foi necessário definir um marco
conceitual das expressões “problemas de aprendizagem”
e “dificuldades de aprendizagem”. Partindo desta premissa,
você deve ter entendido o que significa aprendizagem e
como essa compreensão pode contribuir com os objetivos
e necessidades do campo profissional em que se pretende
atuar. A partir disso, foi proposta uma revisão da literatura
sobre os conceitos de “problemas de aprendizagem” e
“dificuldades de aprendizagem” em uma visão histórica, que
contribuiu, de modo geral, para o que hoje conhecemos
como psicologia cognitiva. Na sequência, nos referimos
ao conceito de avaliação, dentro de um marco global na
área de psicologia para compreender este processo e sua
representatividade no contexto da intervenção psicológica e
educacional. Isso porque consideramos como competência
fundamental à formação de qualquer profissional desta área.
Também reconhecemos o conceito de intervenção como
uma continuidade do processo de avaliação, defendido por
muitos autores como complementar.
48 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Aspectos psicossociais e cognitivos


INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo, você será capaz de entender
como os estudos dos aspectos psicossociais e cognitivos
influenciam os processos de ensino-aprendizagem. Isso
será fundamental para conceber a ideia sobre o pensamento
humano e as influências que este exerce sobre o contexto
social. Vamos lá!

Os estudos sobre aspectos cognitivos e aprendizagem se dividem


entre os que trabalham com uma maior ênfase no interacionismo e na
abordagem do processamento da informação. Neste sentido, cabe
destacar:
„„ Teoria psicogenética de Piaget:
Para Piaget (1983), a cognição humana é uma forma de adaptação
biológica, na qual o conhecimento é construído aos poucos a partir
do desenvolvimento das estruturas cognitivas que se organizam de
acordo com os estágios de desenvolvimento da inteligência. Assim,
desenvolvimento cognitivo está ligado aos processos de assimilação
e acomodação que promovem o equilíbrio, variando de acordo com a
idade (FLAVELL; MILLER, P.H.; MILLER, S.A., 1999; STERNBERG, 2000).
„„ Teoria sócio-histórica de Vygotsky:
Para Vygotsky (1998), o conhecimento é construído durante
as interações entre os indivíduos em sociedade, desencadeando o
aprendizado. Assim, o processo de mediação se estabelece quando
duas ou mais pessoas cooperam em uma atividade, possibilitando
uma reelaboração. Nesse sentido, os adultos que proporcionam
modelos de comportamento organizam e estruturam a participação
das crianças em atividades, sendo denominados “incentivadores
cognitivos” na “participação orientada” (FLAVELL, 1979; MILLER, P.H;
MILLER, S.A. (1999). Entretanto, as crianças não são passivas; assimilam
o conhecimento e o reelaboram, viabilizando novas atitudes e gerando
novos comportamentos, sucessivamente.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 49

A abordagem do processamento das informações compreende


que nosso cérebro está em pleno desenvolvimento desde que
nascemos. A adaptação e o processo de desenvolvimento cerebral
envolvem processos cognitivos básicos, que nos permitem avançar,
cultural e socialmente, para compartilharmos eventos com outros seres
humanos, promovendo, assim, sua integração ao meio ambiente.

IMPORTANTE:
Lembre-se que a cognição equivale à capacidade do ser
humano para processar a informação a partir da percepção,
da experiência e do indivíduo. Para que isto aconteça, será
necessário colocar em prática outros processos, como
a atenção, a memória, a aprendizagem, o pensamento,
entre outros. Baseando-se nas teorias do processamento
da informação, a percepção seria a base para que outros
processos cognitivos, tais como a linguagem, o pensamento
e a inteligência, que são considerados complexos, se
desenvolvam.

O conhecimento
Figura 21: Imagem meramente ilustrativa em alusão ao conhecimento humano.

Fonte: Pixabay
50 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Você sabe o que é o conhecimento? Como o conhecimento


pode configurar nossa percepção sobre o mundo? A partir de agora,
iremos estudar as relações que se estabelecem entre o conhecimento
(conteúdos), o pensamento (processos cognitivos) e a interação
social. Estas relações podem influenciar a maneira de compreender o
funcionamento da mente humana. Vejamos, primeiramente, o papel do
conhecimento nas atividades do ser humano.
Você sabe como o disco rígido de seu computador consegue
armazenar tantas informações?
Figura 22: Imagem meramente ilustrativa.

Fonte: Pixabay

Em um HD (hard disk, ou disco rígido), sabemos, precisamente,


quanto de informação somos capazes de armazenar em sua mídia.
Mas, no caso da mente humana, qual seria o espaço necessário para
armazenar todo o conhecimento de que dispomos, e iremos dispor até
o final de nossa vida? Podemos armazenar conteúdo sem considerar o
espaço que necessitamos?
O espaço que ocupa uma memória de computador não é o
mesmo espaço que ocupa a memória operativa do ser humano. Por isso,
em um computador, bem como em outros dispositivos, temos a opção
de expandir a memória para armazenar mais e mais conteúdo. Agora, veja
que interessante! O ser humano registra os conteúdos de forma diferente
para economizar este espaço físico de armazenamento. A nossa memória
operativa trabalha com um espaço reduzido e limitado. Por isso, nosso
conhecimento é dividido em conhecimento geral e específico.

DEFINIÇÃO:
O conhecimento geral é aquele relacionado ao domínio
do vocabulário e às habilidades de processamento da
informação implicados na realização de uma tarefa.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 51

Vejamos algumas situações em que lançamos mão de nosso


conhecimento geral:
1. Reconheço uma informação.
2. Interpreto esta informação.
3. Apresento esta informação ao mundo de diferentes maneiras.
Intuitivo, não? Vejamos, então, o que significa o conhecimento
específico:

DEFINIÇÃO:
Oconhecimento específico se refere a um determinado
tema que o ser humano deve dominar sobre uma tarefa
específica da ciência e da realidade que o rodeia.

Consegue imaginar situações em que utilizamos conhecimentos


específicos? Então, vejamos alguns exemplos:
1. Qual é o tipo de tarefa que temos para executar?
2. Em que consiste essa tarefa?
3. Como se forma ou qual é a estrutura desta tarefa?
4. Esta tarefa traz consequências para a vida do indivíduo ou grupo?
Por ser um tema que chama muita a nossa atenção, vamos
ampliar nossas considerações sobre o conhecimento específico. Pinto
(2001) nos indica que:

(...) as investigações realizadas no âmbito da psicologia


cognitiva, nas áreas de aprendizagem e memória humanas,
têm implicações importantes a nível escolar. Esclarece o autor
que, nesse contexto, a aprendizagem não é independente
dos outros processos mentais de atenção, percepção,
memória e raciocínio, sendo o conhecimento de que somos
portadores, oriundo do resultado da mediação, mais ou
menos coordenada, dos vários processos cognitivos. (PINTO,
2001, p. 1).
52 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Conhecimento declarativo

DEFINIÇÃO:
O tipo de conhecimento declarativo é aquele que identifica
um determinado objeto, por exemplo: um carro.
Este conhecimento é representado por meio de proposi-
ções. Você sabe o que uma proposição representa uma
unidade básica de informação no sistema de processamento
de informação. Corresponde a uma ideia (GAGNÉ, 1985).

Em outras palavras, esta ideia deve apresentar um significado


linguístico que possa afirmar ou negar um conceito. Também devemos
observar que, em uma proposição, coexistem dois elementos: uma
relação e um argumento.
Beltrán (1995) explica que o conhecimento declarativo abarca
ideias, generalizações e teorias que foram armazenadas ao longo da
vida, e está representado na memória em forma de redes de proposições
(BELTRÁN et al. 1987, 1995).
Vejamos o exemplo de Alicia: “Alicia é uma aluna inteligente e
atualmente está cursando o 3º ano da educação básica. Sua professora
solicitou que ela relatasse para seus companheiros os nomes de todos
os estados brasileiros e suas respectivas capitais. Como era de esperar,
Alicia recitou todos os nomes de estados e capitais sem titubear” (Autor,
2019). Este é um exemplo de conhecimento declarativo, pois agrupa as
informações por meio de dados anteriormente estudados.
Assim, as ideias que se constituem como argumentos representam
os nomes, os pronomes e, também, os verbos e os adjetivos. A relação
de uma proposição delimita a ideia e, por isso, identifica-se diretamente
com os verbos, adjetivos e advérbios.

Conhecimento procedimental
O conhecimento procedimental relaciona-se com o modo de se
fazer ou se colocar uma ideia em prática, ou seja, o de produzir algo. Mas,
como fazer ou executar uma tarefa?
Processos Cognitivos e Aprendizagem 53

Como construir uma casa, uma resenha ou um trabalho de fim de


curso? Analise e aprecie a figura 23. Como foi construída esta casa, que
hoje é o museu “Casa dos Contos”? Você pode reconhecer o estilo de
construção? E, o que pode dizer sobre o seu estilo arquitetônico?
Figura 23: Museu “Casa dos Contos”

Fonte: Foto por Luis Rizo - obra de domínio público. Wikimedia commons

Então, propomos as seguintes perguntas: Que estilo arquitetônico


foi empregado, e qual método de construção foi utilizado? Essas
perguntas podem ser respondidas a partir de duas variáveis. Primeira: se
o meu conhecimento é declarativo ou estático, posso indicar a resposta
se recordo as informações. Segunda: para essa, utilizo uma resposta
mais criteriosa, com outros argumentos fundamentados em pesquisa.
Isso pode indicar que conheço outros procedimentos para a construção
de uma casa, por exemplo. O conhecimento procedimental é dinâmico
e pode transformar a informação.
Vamos a outro exemplo de conhecimento procedimental? Alicia
necessita realizar a seguinte multiplicação: 919×3. Como ela realizará
esta multiplicação? Para realizar esta operação, Alicia deverá transformar
as informações iniciais em outra, para obter o resultado de 2.757.
Portanto, a regra para distinguir um conhecimento procedimental de
outro é verificar se eles podem ser representados por uma produção ou
relação de condição-ação.
54 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Observe a tabela 7. Ela oferece alguns questionamentos para


discernir entre os tipos de conhecimento declarativo e procedimental.
Tabela 7: Perguntas para avaliar o conhecimento declarativo, procedimental e ambos

CONHECIMENTO DECLARATIVO

1. Neste estado, a idade legal para beber álcool é a partir dos


18 anos. Verdadeiro ou falso?
2. Moby Dick foi escrito por .
a. Hawthorne
b. Thoreau
c. Melville
d. Hemingway
3. Escreva o conceito de círculo.
4. Descreva os fatos e acontecimentos que levaram à Primeira
Guerra Mundial.

CONHECIMENTO PROCEDIMENTAL

1. Qual das figuras representa um triangulo?


a.
b.
c.

COMBINAÇÃO DE CONHECIMENTOS
PROCEDIMENTAL E DECLARATIVO

1. Escreva uma redação sobre o tema: A principal causa da


Segunda Guerra Mundial. Seja convincente!

Gagné (1985) observa que a distinção entre o conhecimento


procedimental e o declarativo foi identificada pelo filósofo Ryle (1949), e
é um aspecto fundamental da teoria de aprendizagem de Gagné (1977).
A autora indica que esta distinção também aparece na teoria cognitiva
de J. R. Anderson (1976), e ainda esclarece que, muitos dos psicólogos
que realizam essa diferenciação, destacam que estes conhecimentos
são independentes um do outro. Já outros psicólogos não encontram
nenhuma diferença (Gagné, 1985). O que você pensa a respeito? São
Processos Cognitivos e Aprendizagem 55

diferentes? Um professor poderia notar esta diferença em sala de aula?


De modo geral, os conhecimentos declarativo e procedimental são
muito importantes na dinâmica da vida escolar e, por isso, são temas de
investigação da psicologia cognitiva.

Conhecimento condicional
O conhecimento condicional, ou melhor, o raciocínio condicional
envolve duas cláusulas: uma delas é denominada “Se” e a outra “Então”.
Este tipo de conhecimento postula o “quando” e o “porquê” devemos
aprender uma determinada ideia. A cláusula “Se” especifica uma ou mais
condições para produzir e executar uma tarefa. De outro modo, a cláusula
“Então” organiza estas ações de forma racional para que sejam executadas.
Beltrán (1995) define o conhecimento condicional como essencial,
porque sinaliza o campo de aplicação do conhecimento, evitando
conhecimentos estáticos e favorecendo a transformação de uma tarefa
primária em uma nova tarefa. Em linhas gerais, ele esclarece que, se
ensinamos uma pessoa o que é um resumo (conhecimento declarativo),
se ensinamos como produzir (conhecimento procedimental) e se
ensinamos para que serve (ou sua utilidade), estamos ensinando um
conhecimento condicional, discriminando a razão deste comportamento
(BELTRÁN, 1995, p. 133).
Você irá reconhecer isto, na prática, quando ouvir falar do conhe-
cimento específico no processo de aprendizagem ou compreensão de
conceitos, de modo significativo.

SAIBA MAIS:
A casa dos contos, hoje Museu, está localizada na cidade
de Ouro Preto, em Minas Gerais, e foi construída entre 1782
e 1787. Seu projeto está atribuído a José Pereira Arouca e se
classifica como um casarão. Este casarão é um dos vários
emblemas do turismo em Minas Gerias e foi construído
para ser a residência de João Rodrigues de Macedo,
cobrador de impostos da Capitania de Minas Gerais. Visite a
página da Cidade de Ouro Preto, acessível pelo link: http://
bit.ly/2C9eGq4
56 Processos Cognitivos e Aprendizagem

A teoria dos esquemas


DEFINIÇÃO:
A ideia de compreender o homem por sua mente e ações
se inicia com Sócrates. Ele inovou o pensamento metafisico
de tamanha maneira, que a filosofia passou a ser dividida
em filósofos pré e pós-socráticos! Mas afinal o que ele disse
de tão inovador?.

Bruning et al (2012) explica que “antes da década de 1970, o


conceito de esquema era uma noção escura da psicologia experimental,
aparecendo em uma perspectiva histórica na obra de Bartlett (1932) e
nos trabalhos do filósofo do século XVIII Inmanuel Kant, que se referia
às ‘regras da imaginação’, mediante às interpretações da experiência.”
(BRUNING et al., 2012, p. 52)
Vamos comprar uma casa? O que é necessário saber para comprar-
mos uma casa? Observe a figura 24. Ela ilustra o plano de uma casa.
Figura 24: Museu “Casa dos Contos”
Processos Cognitivos e Aprendizagem 57

A imagem retratada na figura 24 representa o que lembramos


quando desejamos comprar uma casa. Por exemplo, quais são as
primeiras informações que devemos saber sobre a casa? Quantos quartos
tem? Quantos banheiros? Para entender, quando vamos realizar uma
compra desta magnitude, é prático listar uma série de itens ou desejos
para efetivar a compra. No caso deste exemplo, a teoria dos esquemas
pressupõe que existe uma representação mental ou conceitual sobre a
“casa dos nossos sonhos”. Por isso, toda informação que organizamos
está repleta de novos conteúdos, que se relacionam entre si.
Mesmo assim, a teoria do esquema, apesar de ser criticada por
apresentar um caráter geral e impreciso sobre o conhecimento, continua
sendo utilizada por muitos pesquisadores cognitivos, que seguiram
ampliando suas investigações e desenvolvendo conceitos, com base nos
esquemas da percepção, da memória e da solução de problemas.

Pensamento
Você pensa? Pare e pense. Pense rápido! O que está pensando
agora? Qual é o modo que o ser humano utiliza para pensar? São tantas
perguntas e tão poucas respostas. Talvez nenhuma. Mas o simples
exercício de pensar sobre estas perguntas nos faz parar e revisar a
literatura sobre os estudos e investigações sobre o pensamento.
Figura 25: William Shakespeare (1564-1616).

Fonte: Wikipédia.

Biólogos, nutricionistas, psicólogos, pedagogos, médicos,


neurólogos, neurocientistas, educadores das atividades físicas e você
estão preocupados em descobrir os propósitos ou as bases do ato de
pensar ou de codificar uma informação ou mensagem.
58 Processos Cognitivos e Aprendizagem

Por isso, a maneira e as estratégias de pensamento se revitalizam


em distintos campos de pesquisa no Brasil e no mundo. Por que e para
que devemos ensinar a pensar? Como profissionais, que necessidade
possuímos de ensinar alguém a pensar? Encontramos algumas respostas:
Nickerson (1985) responde que:

os estudantes estariam bem equipados para competir


efetivamente pelas opções educativas, postos de trabalho,
reconhecimento social e gratificações no mundo social, isso
quer dizer que, teriam mais possibilidades de sucesso na vida”
(BELTRÁN, 1995, p. 144).

Glaser (1984) esclarece que “um pensamento crítico ajuda


o cidadão a formular julgamentos inteligentes em temas públicos,
contribuindo democraticamente para a resolução de problemas sociais”
(BELTRÁN, 1995, p. 144).
Pois bem, como profissionais, das respostas encontradas, e
seguindo nosso campo ético de formação, verificamos que seria
impossível negar a alguém nossa colaboração para aprender a pensar.
Isso porque acreditamos que todos os indivíduos devem estar preparados
para tomar sábias resoluções em suas vidas e poderem compartilhar
decisões em benefício de si mesmos, para viverem em sociedade.

IMPORTANTE:
Acreditamos que os profissionais devam ampliar sua prática
de ensino para que o indivíduo aprenda a pensar. Por outro
lado, apontam Bereiter e Scardamalia, “se os professores
se limitam a ser apenas transmissores de conhecimento,
o resultado pode ser que os estudantes adquiram um
conhecimento inerte, quer dizer, conhecimento inútil,
que não será utilizado porque não está representado na
memória a largo prazo, de um modo adequado que possa
facilitar a recuperação, ao não estar conectado com o
resto dos dados informativos na rede cognitiva do sujeito”
(BERIETER E SCARDAMALIA, apud BELTRÁN, 1995, p. 147).
Processos Cognitivos e Aprendizagem 59

Interação social
O que você pode dizer sobre as relações que estabelecemos uns
com os outros? Interagimos socialmente com facilidade? Aprendemos
com estas interações? Até que ponto podemos aprender e ensinar uma
tarefa para um companheiro de classe? Chegamos ao ponto em que o
pensamento humano e suas interações sociocognitivas passam a ser o
foco da atenção dos investigadores de diferentes áreas do conhecimento.
Assim, o social e cognitivo passam a representar um movimento
teórico com raízes nas ideias de Piaget e Vygotsky, que fundamentam o
desenvolvimento cognitivo relacionando às interações do indivíduo com
o ambiente. Piaget descreve a construção do conhecimento por meio
de estágios de desenvolvimento cognitivo, que se daria na relação do
indivíduo, suas condições orgânicas em cada fase do desenvolvimento
e do ambiente.
Vygotsky, embora interacionista, como Piaget, coloca em sua
pesquisa uma ênfase na importância dos aspectos sociais para a
compreensão do desenvolvimento cognitivo na relação socio-histórica,
ou seja, o homem como um ser social que, em uma relação dialética
com o meio, constrói sua condição humana e modifica historicamente a
humanidade (ontogênese) .
Na teoria sócio-histórica, as relações interpessoais, denominadas
de intersubjetividade, são a base para formação da subjetividade,
como, por exemplo, os aspectos cognitivos. Analisando um pouco dos
pressupostos teóricos de Piaget, notamos que ele considera a criança
como ser ativo e responsável pelo seu desenvolvimento, selecionando
os estímulos do meio e interagindo com estes. O indivíduo passa a ser o
maior protagonista na relação indivíduo-meio, buscando e controlando
seus estímulos com o meio para construir seu conhecimento. Piaget
completa sua ideia, alertando que esta busca de estímulos está
organizada por estruturas cognitivas que direcionam o sujeito em suas
escolhas.
Libâneo (2004) comenta que “o suporte teórico de partida é
o princípio vygotskiano de que a aprendizagem é uma articulação
de processos externos e internos, visando à internalização de signos
culturais pelo indivíduo, o que gera uma qualidade autorreguladora
60 Processos Cognitivos e Aprendizagem

às ações e ao comportamento dos indivíduos. Esta formulação realça


a atividade sócio-histórica e coletiva dos indivíduos na formação
das funções mentais superiores, do caráter de mediação cultural do
processo do conhecimento e, ao mesmo tempo, da atividade individual
de aprendizagem pela qual o indivíduo se apropria da experiência
sociocultural como ser ativo.” (LIBÀNEO, 2004, p. 6)
Por isso, devemos considerar que a relação de aprendizagem com
o indivíduo deverá proporcionar condições de ensino- aprendizagem que
fomentem capacidades e habilidades do pensar a partir das condições
internas do sujeito, relacionando- as com o contexto sociocultural.

EXPLICANDO MELHOR:
Biólogo de formação, Piaget considera que “não é
possível compreender o desenvolvimento psicológico
sem considerar suas bases orgânicas” (PIAGET, 1971 apud
RODRIGO, 1984, p. 692). Rodrigo (1984) esclarece que esta
frase de Piaget não indica um retorno a programas inatistas
que tratam de explicar o desenvolvimento cognitivo, levando
a variáveis biológicas, mas sim que buscam a existência de
uma continuidade entre mecanismos biológicos básicos
e desenvolvimento cognitivo. Assim, o desenvolvimento
da inteligência é um caso particular do desenvolvimento
biológico geral, e seu funcionamento é uma forma especial
da atividade biológica. Piaget, neste caso, refere- se ao
desenvolvimento cognitivo como uma embriologia mental”
(PIAGET, 1947, 1950 apud RODRIGO, 1984 p. 692).

SAIBA MAIS:
Se você deseja aprender mais coisas sobre as ferramentas
informáticas da ciência cognitiva, leia o capítulo de
Aitkenhead e Slack em Issues in cognitive modeling (1985),
ou, se prefere aprofundar-se na metodologia de pesquisa
sobre a cognição, leia Methods and tactics in cognitive
Science (1984), de Kintsch, Miller e Polson.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 61

RESUMINDO:
Chegou a hora de sintetizar tudo o que vimos neste
capítulo. Você deve ter compreendido a importância dos
estudos sobre os aspectos psicossociais e cognitivos.
Primeiro, analisamos que o conhecimento representa
as informações, mentalmente, seguindo as formas de:
preposições, reproduções e imagens. Segundo, você
entendeu que o conhecimento declarativo nos traz a ideia
de proposições. Uma proposição é a unidade básica de
informação e consiste em uma ideia. Quando identificamos
o conceito de algo, sabemos o que nos referimos ao
conhecimento declarativo. Terceiro, o conhecimento
procedimental é aquele que executa uma tarefa sobre
uma determinada informação, ou seja, o saber fazer
algo. Quarto, o conhecimento condicional responde ao
raciocínio sobre determinado objeto ou ideia. Em outras
palavras, ele responde para que serve ou qual a utilidade
de algo. Quinto, a teoria dos esquemas está representada
por estruturas mentais que organizam o conhecimento.
Sexto, atualmente existem inúmeras investigações sobre
o ato de pensar humano, com o objetivo de investigar e
melhorar as condições de aprendizagem para a vida. Por
último, verificamos que a interação com o meio é um
dos fatores que influenciam o conhecimento humano. A
partir disso, foram promovidas investigações situadas na
psicologia cognitiva.
62 Processos Cognitivos e Aprendizagem

REFERÊNCIAS
BECK e ALFORD, 2000 apud BALS E NAVOLAR, 2004, p. 4.
NEVES, D. A. Ciência da informação e cognição humana: uma
abordagem do processamento da informação. Ci. Inf. Brasília, v35, nº1,
p. 39-44., 2006.
FACCI, Marilda Gonçalves Dias; SOUZA, Marilene Proença Rebello
de. O processo de avaliação-intervenção psicológica e a apropriação do
conhecimento: uma discussão com pressupostos da escola de Vygotsky.
Rev. psicol. polít., São Paulo, v. 14, n. 30, p. 385-403, ago. 2014. Disponível
em: <http://bit.ly/32j1rxv>. Acesso em 17 abr. 2019.
PINTO, A. C. Memória, cognição e educação: Implicações mútuas.
In Educação, cognição e desenvolvimento: Textos de psicologia
educacional para a formação de professores (pp. 17-54). Universidade
do Porto, Lisboa.
JODELET, D., 1985. La representación social: Fenómenos,
concepto y teoria. In: Psicología Social (S. Moscovici, org.), pp. 469-494,
Barcelona: Paídos.
LIBANEO, J. C., A didática e a aprendizagem do pensar e do
aprender. IN Revista Brasileira de Educação, nº 27. 2004.
GAGNÉ, E. D. La psicología cognitiva del aprendizaje escolar. Ed.
Visor, 1991.
MAHERS, C.; ZINS, J. Intervención Psicopedagógica en los centros
educativos. Madrid, Narcea, 1989.
BRUNING, R. H; SCHRAW, G. J; NORBY, M. Psicología cognitiva y
de la instrucción. Madrid, Person Educación, 2012.
NIETO, J. (org). Psicología de la Instrucción. Barcelona: EUB, 1996.
BEST, J. B. Psicología Cognitiva, Madrid, Paraninfo, Thomson
Editores, 2001.
ROSELLÓ, C; LLERA, J. B; MARTINEZ, F. R. Psicología, de la
instrucción III. Nuevas perspectivas, Madrid, Síntesis psicología, 1995.
PALACIOS, J.; MARCHESI, A.; COLL, C.; O desarrollo psicológico y
educación. 1. Psicología cognitiva. Madrid, Alianza Editorial, 2001.
Processos Cognitivos e Aprendizagem 63

AGUILERA, A. (org). Introducción a las Dificultades del aprendizaje.


Madrid, McgrawHill, 2003.
PAIN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de
Aprendizagem. 1989.
LINHARES, M. B. Avaliação assistida em crianças com queixa de
Dificuldade de Aprendizagem, Temas em Psicologia, nº1, 1996.
JESUS, T. D. A produção do Fracasso Escolar: Apontamentos
acerca do erro e resiliência no contexto Educacional. XVII SEDU,
Universidade Estadual de Londrina, 2015.

Você também pode gostar