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U1

Metodologia
do Trabalho Acadêmico
Conhecimento e seus níveis Metodologia do Trabalho Acadêmico | UNISUAM

Apresentação
Olá, caro aluno!

Seja bem-vindo à disciplina Metodologia do Trabalho Acadêmico e Científico. Nela, você


descobrirá o quanto pesquisar é importante para a ciência, para as nossas vidas, para o
nosso trabalho. Perceberá que, a partir do momento em que ingressa no mundo acadêmico,
você irá se deparar com uma linguagem mais específica, uma linguagem científica.

Nesse sentido, é fundamental que tenha consciência de que "ler é preciso". Em outras palavras,
é preciso fazer da leitura um prazer, transformando a literatura, os livros e artigos científicos
nossos companheiros mais frequentes. Assim, ampliará seu vocabulário e se familiarizará
com as peculiaridades da linguagem.

Através desta disciplina, você refletirá sobre a construção do conhecimento e estabelecerá


relações entre os diferentes níveis de conhecimento: senso comum ou popular, científico,
filosófico e teológico ou religioso. Além disso, estudará cada uma das etapas que compõem
o processo de elaboração, execução e apresentação da pesquisa.

Tomará conhecimento, também, dos principais tipos de publicações acadêmicas: resumo,


resenha, fichamento, relatório. Verá que a construção desses textos possui algumas normas
que são regidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Serão apresentadas
aqui, especificamente, as normas de formatação, de citações e de referências, ou seja, o modo
correto de citar o discurso alheio e de indicar a referência de textos de diversas naturezas
que você consultará para a realização de suas produções textuais.

Esperamos que ao final desta disciplina você seja capaz de: refletir sobre as diferentes
formas de ver o mundo; perceber o papel da ciência para o seu ambiente social, acadêmico e
profissional; correlacionar ciência e conhecimento científico; reconhecer os fundamentos e os
métodos presentes na produção do conhecimento científico; elaborar trabalhos acadêmicos
usando as normas da ABNT.

Bom estudo!

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CONHECIMENTO
E SEUS NÍVEIS
introdução
Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre
um fato ou fenômeno qualquer. O conhecimento não nasce
do “nada”, mas sim das experiências que vivenciamos em
nosso dia a dia, através dos relacionamentos interpessoais,
das leituras que realizamos etc.

Objetivo do estudo Partindo do pressuposto de que todo conhecimento humano


- Definir o que é conhecimento. se refere a um ponto de vista e a um lugar social, entende-se
- Conceituar os diferentes tipos de conhecimento. que o homem desenvolveu tipos diferentes de conhecimento.

Nesta Unidade, refletiremos sobre o que é conhecimento e


estudaremos os diferentes tipos principais de conhecimento,
de acordo com a teoria tradicional: popular ou do senso
comum, filosófico, religioso ou teológico e científico.

Fonte: <http://tempestade12d.blogspot.
com.br/2013/12/o-que-distingue-o- Comecemos, então!
conhecimento.html> Onde existe vontade, há caminho!

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1 T1 Mas o que é Conhecimento?


O nosso conhecimento é construído diariamente, como se estivéssemos construindo uma
casa, tijolo a tijolo. Nesse processo, a leitura é de suma importância. Todos nós precisamos
ler! É através da leitura que aprendemos e aumentamos a nossa experiência. Quando
lemos uma revista, por exemplo, será que temos consciência de que estamos armazenando,
selecionando e agrupando informações?

Ler “é uma atividade interativa altamente complexa de produção de


sentidos.” (KOCH, 2011, p. 11).

O sentido de um texto está centrado no autor, basta somente sabermos captar a intenção que
esse autor quis dar ao seu texto. Imagine que você abra um jornal e encontre as manchetes:
“Morador do Rio leva 50 minutos até o trabalho”; “Aluguel leva mais de um terço da renda
em 25% dos imóveis locados no país”; “Hidrelétricas brasileiras contribuem para redução
de gases do efeito estufa”.

Para que você possa optar por uma das manchetes, levará em consideração sua intenção
e seus interesses. Ou seja, se você se interessa pelo tempo de deslocamento no Rio de
Janeiro, por economia, por ciência tecnologia, ou ainda por todos esses assuntos.

A leitura só terá validade se você conseguir entender o que foi lido e for capaz de comentar o
seu conteúdo. Em outras palavras, a leitura somente terá valor se você for capaz de explicar,
discutir, avaliar o que leu.

Veja, a seguir, uma proposta de roteiro de leitura.

1º Passo: Leitura de reconhecimento


Comece a leitura pelas “bordas” do texto: títulos, subtítulos,
introdução. Se for um livro, comece pelo título, sumário,

ler é uma
introdução, orelhas. Assim, você tem uma visão geral do
que é tratado pelo autor.

atividade
2º Passo: Leitura seletiva
Leia o texto (ou livro) todo e escolha os melhores trechos,
de acordo com seus objetivos. Procure a compreensão da
ideia geral do autor.

interativa 3º Passo: Leitura crítica ou reflexiva


Durante essa leitura, resolva as dúvidas e anote-as; registre
os trechos que julgar mais importantes. Assinale palavras ou

altamente frases que considerar mais relevantes. Lembre-se de anotar


também os dados referentes à obra: nome do autor, ano de
publicação e número da página da qual você retirou o trecho.

complexa de Mas, como relacionar tudo isso ao seu curso? A graduação


exige muita leitura. Esta é a base do seu desenvolvimento
acadêmico. Além disso, a Academia é o espaço de pesquisa

produção de e de produção científica. Por isso a importância da disciplina


Metodologia do Trabalho Acadêmico e Científico. Ela vai
auxiliá-lo e orientá-lo no processo de investigação para

sentidos.”
tomar decisões oportunas na busca do saber e na formação
do estado de espírito crítico e hábitos correspondentes
necessários ao processo de investigação científica.

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Para compreendermos o mundo a nossa volta, utilizamos todas as nossas capacidades


(sensibilidade, percepção, observação, senso crítico, criatividade).

O conhecimento é construído por meio de dois elementos: o sujeito que quer conhecer e o
objeto a ser conhecido. Esse conhecimento é influenciado pela nossa cultura, pelo nosso
saber. O que observamos acerca de um objeto pode ser diferente do que a outra pessoa
observa. Quer fazer um teste? O que você vê, na imagem a seguir, em primeiro lugar?

figura de rubin

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Alguns, à primeira vista, visualizarão um vaso branco com fundo preto; outros, dois rostos
pretos em um fundo branco. Qual é a correta? Ambas. Cada um vê a imagem de acordo
com sua percepção.

Nós, na posição de sujeitos, nos transformamos mediante o novo saber, e o objeto também
se transforma, pois o conhecimento lhe dá sentido. Podemos interpretar o objeto de várias
formas. Cada interpretação dependerá do enfoque que queremos dar ao conhecimento.

O conhecimento é a relação que se estabelece entre o sujeito que conhece ou deseja


conhecer e o objeto a ser conhecido ou que se dá a conhecer. O conhecimento é produto
de uma conjunção da atividade do sujeito com a manifestação de um objeto que de alguma
forma lhe interessa.

Na raiz de qualquer investigação sobre o conhecimento, está a questão da busca da explicação


dos fatos e fenômenos. Pelo conhecimento, o homem penetra nas diversas áreas da realidade
para delas tomar posse.

Santos afirma que:


Todo o conhecimento implica uma trajetória, uma progressão de um ponto ou estado
A, designado por ignorância, para um ponto ou estado B, designado por saber. As
formas de conhecimento distinguem-se pelo modo como caracterizam os dois pontos
e a trajetória que conduz de um ao outro. Não há, pois, nem ignorância em geral nem
saber em geral. (SANTOS, 2002, p. 78)

Usualmente categorizamos o conhecimento em:

Tipos de Conhecimento
CIENTÍFICO

FILOSÓFICO POPULAR

RELIGIOSO

É importante ressaltar, que não existe uma hierarquia de conhecimentos, todos têm igual
relevância e se complementam. Por isso, foram representados na imagem em círculos
sobrepostos. Esse pensamento é adotado a partir da crise paradigmática da ciência moderna.
Nela o conhecimento científico se constrói em oposição ao senso comum, pois entende que
este último é superficial, ilusório e falso (SANTOS, 2002).

Vamos conhecer cada um deles?

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T2 Conhecimento Popular ou do Senso Comum


Considere o seguinte exemplo. Você já deve ter ouvido falar que comer manga com leite
faz mal. Por isso, algumas pessoas evitam saborear um suco maravilhoso com esses dois
ingredientes, mesmo desconhecendo a causa (motivo ou razão) do fenômeno.

O conhecimento popular ou do senso comum é o modo comum de adquirir conhecimento


sem que haja reflexão. Nasce da experiência do dia a dia e está ao alcance de todos. Esse
conhecimento, também chamado de empírico, é obtido ao acaso, a partir da observação
dos acontecimentos e das relações do mundo material exterior. O homem toma consciência
das experiências alheias, incorporando, principalmente pela tradição, o legado das ideias
transmitidas de geração a geração.

Para Marconi e Lakatos (2003, p. 76):


O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se
distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto
conhecido: o que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do
“conhecer”. Saber que determinada planta necessita de uma quantidade “X” de água e
que, se não a receber de forma “natural”, deve ser irrigada pode ser um conhecimento
verdadeiro e comprovável, mas, nem por isso, científico. Para que isso ocorra, é
necessário ir mais além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu
ciclo de desenvolvimento e as particularidades que distinguem uma espécie de outra.
Ander-Egg (1978 apud MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 77)
complementa as características predominantes do conhecimento
popular. Ele é:
• superficial, isto é, conforma-se com a aparência, com aquilo
que se pode comprovar simplesmente estando junto das coisas;
• expressa-se por frases como “porque o vi”, “porque o senti”,
“porque o disseram”, “porque todo mundo o diz”;
• sensitivo, ou seja, referente às vivências, estados de ânimo e
emoções da vida diária;
• subjetivo, pois é o próprio sujeito que organiza suas experiências
e conhecimentos, tanto os que adquirem por vivência própria
quanto os “por ouvi dizer”;
• assistemático, pois esta “organização” das experiências não visa
a uma sistematização das ideias, nem na forma de adquiri-las
nem na tentativa de validá-las;
• acrítico, pois, verdadeiros ou não, a pretensão de que esses
conhecimentos o sejam não se manifesta sempre de uma
forma crítica.

Ao longo da vida utilizamos com frequência o conhecimento de senso


comum e não nos damos conta. Esse conhecimento se constitui
através das representações sociais, o que se estabelece do lugar
de onde falamos.
Saiba mAIS
Um dos grandes mitos que cercam o senso comum é associá-
empírico lo diretamente às camadas populares, como se fosse delas a
exclusividade da posse do senso comum. Ao contrário, o senso
Empírico significa o tipo de conhecimento comum, enquanto pensamento estruturante de uma visão de
baseado na experiência física e na observação.
mundo, permeia todas as classes sociais, diferenciando-se,
obviamente, em função do universo cultural que as distinguem.

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T3 Conhecimento Filosófico
Você já ter lido ou ouvido falar, nos últimos anos, sobre notícias envolvendo a corrupção no
Brasil. Você pode promover uma discussão sobre esse assunto, levando em consideração
dois pontos. Pode discuti-lo a partir do senso comum, reproduzindo ideias, como: nunca o
Brasil deixará de ser um país corrupto; todos os políticos são corruptos. Ou pode provocar uma
discussão mais crítica, lendo, debatendo, questionando, por exemplo: O que é corrupção? O
que é ética? Fazendo isso, você aprofunda o assunto e amplia os pontos de vista. Estamos
falando, aqui, do conhecimento filosófico.

Filosofar é interrogar. A interrogação parte da curiosidade. Essa é inata. Ela é


constantemente renovada, pois surge quando um fenômeno nos revela alguma coisa
de um objeto e ao mesmo tempo nos sugere o oculto, o mistério. Esse impulsiona o
ser humano a buscar o desvelamento do mistério. (CERVO; BERVIAN, 2002, p. 10).

O conhecimento filosófico parte da razão. Busca as verdades do mundo por meio da indagação
e do debate - do filosofar. Ele é imperceptível aos nossos sentidos. Sua base é a reflexão e
o questionamento do homem.

Marconi e Lakatos (2003, p. 78) destacam que o conhecimento filosófico não é verificável,
já que suas hipóteses não são confirmadas e nem refutadas. Entretanto, é composto por
um conjunto de enunciados, com lógica de organização, que se correlacionam. “Seus
postulados, assim como suas hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação
(experimentação)”. Dessa forma, caracteriza-se:

Pelo esforço da razão pura para questionar os problemas humanos


e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às
luzes da própria razão humana. (MARCONI; LAKATOS, 2003, p. 79)

Segundo Ferrari (1974, p. 72), “as hipóteses filosóficas baseiam-se na experiência, portanto,
este conhecimento emerge da experiência e não da experimentação”. Ruiz (2002) reforça
essa ideia, quando afirma que o método racional, exige apenas a coerência lógica e não é
preciso a confirmação experimental.

Saiba mAIS Em síntese, o conhecimento filosófico está ligado à construção


de ideias e conceitos. Ele emerge da experiência e também é
valorativo. Seus enunciados são logicamente correlacionados,
hipóteses pois é um conhecimento racional.

Hipóteses são construções mentais na busca Aristótiles


de explicação para determinado problema, é
como se fosse uma resposta antecipada para o
problema, eu imagino antes de comprovar pela
experiência qual seria a explicação.

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Conhecimento Teológico ou Religioso


Leia o texto seguinte:

1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver caridade,
sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

2 Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e


toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas,
se não tiver caridade, não sou nada.

3 Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!

4 A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é


orgulhosa. Não é arrogante.

5 Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não
guarda rancor.

6 Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.

7 Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

8 A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas


cessará, o dom da ciência findará. (BÍBLIA, Coríntios, cap. 13)

Este trecho é fruto de conhecimento religioso ou teológico. Este tipo de conhecimento é


adquirido nos livros sagrados e aceito (racionalmente) pelos homens depois de ter passado
pela crítica histórica mais exigente. A partir daí, o conteúdo da revelação, comprovado
pelos sinais que a acompanham, reveste-se de autenticidade, segundo os variados
critérios das religiões existentes.

O conhecimento religioso apoia-se em doutrinas que


contém posições sagradas (valorativas), por terem
sido reveladas pelo sobrenatural (inspiracional) e, por
esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis
e indiscutíveis. (LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 17)
Saiba mAIS Ruiz (2002, p. 102) destaca que a “doutrina da fé é mais
perfeita porque é mais semelhante ao conhecimento divino
Teológico
que se conhece a si mesmo e em si intui todas as coisas”.
Teologia é a reflexão sobre os dogmas de O autor destaca os passos para o conhecimento teológico/
fé. Esses dogmas são revelações divinas religioso:
que não podem ser descobertas pela
ciência, pela Filosofia, e tampouco pelo
conhecimento popular 1. Deus existe.

2. Deus tem ciência infinita.

3. Deus tem poder infinito e, portanto, tem o poder de se


comunicar com os homens, fazendo-se participantes de seus
próprios conhecimentos.

4. Entre as diversas maneiras de se comunicar com os


homens poderia escolher a revelação direta a cada um, ou
então, a revelação direta a alguns profetas e hagiógrafos
que se comunicariam depois com outros homens, falando e
escrevendo sob inspiração divina.

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5. Deus falou de fato aos profetas e, pelos profetas, a todo seu povo e pelo seu Filho Jesus
Cristo e toda Humanidade.

6. O que Deus falou, ou parte do que Deus falou, está escrito nos textos das escrituras
sagradas dos antigo e novo testamentos vulgarmente denominados Bíblia.

7. Os textos bíblicos são autênticos, não foram adulterados, e são suficientemente claros e
explícitos para que possamos entender hoje quanto foi escrito a dois, quatro ou mais milênios.

8. Se tudo o que está na Bíblia encerra a própria ciência divina comunicada por Deus aos
homens; se Deus merece todo crédito e exige que os homens recebam sua palavra e aceitem
como condição de salvação, é natural que não se procure a evidência dos conteúdos na
revelação divina, mas que se aceite o dogma “porque assim foi divinamente revelado”.
(RUIZ, 2002, p. 105)

Desta maneira o conhecimento religioso é uma “verdade incontestável” (ibid.) porque tudo
é explicado pela fé e pela ação divina.

porque
tudo é
explicado
pela fé
e pela
ação
divina

Santo Tomás de Aquino


- Bernardino Mei Luis Fernando Serna
Covarrubias

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T4 Conhecimento Científico
Antes de partirmos para conhecimento científico, vamos conversar um pouco sobre o que é ciência.

Analisando a literatura sobre o assunto, selecionamos a seguinte definição:


A ciência busca, essencialmente, desvendar e compreender a Natureza e seus
fenômenos, através de métodos sistemáticos e seguros. No entanto, face à
dinamicidade intrínseca à própria Natureza, seus resultados são sempre provisórios.
Isto é, esses sistemas explicativos não têm caráter permanente. Inserem-se num
processo ininterrupto de investigação, o que faz da ciência uma instituição social,
dinâmica, contínua, cumulativa. Em tal perspectiva, sem pretensões históricas, infere-
se que a ciência influencia há séculos a humanidade, criando e alterando convicções,
modificando hábitos, gerando leis, provocando acontecimentos, ampliando de forma
permanente e contínua as fronteiras do conhecimento (TARGINO, 2006).

O ser humano evoluiu para a busca de respostas através de caminhos que pudessem
ser comprovados, nos quais pudesse refletir sobre as experiências e transmitir a seus
descendentes a necessidade de saber o porquê dos acontecimentos. Isto foi o impulso para
a evolução do homem e o surgimento da ciência.

Agora que já conhecemos o que é ciência, vamos estudar o que é conhecimento científico.

pare e reflita
Quantos tipos diferentes de sujeitos podem estudar
a cabeça do homem, cada um partindo de um objeto
diferenciado e construindo um ramo específico
do saber? VÁRIOS: o psicólogo, o psiquiatra, o
neurologista, o psicanalista, o endocrinologista,
o anatomista, o dermatologista e o esteticista. E,
com certeza, além desta lista, poderemos citar
outros. Cada um destes recortes foi feito a partir dos
conceitos de uma teoria, isto é, a ciência acredita
que existem hormônios, e por isso existe um tipo
de estudo que isola este objeto. A ciência também
acredita que a pele tem uma existência particular
em relação ao corpo e é, por isso, que existe o
dermatologista. Um teórico descobriu as emoções e
seus efeitos e, então, criou-se um objeto de estudo
específico para o psicólogo. Depois que Freud
descobriu o inconsciente, nasceu a psicanálise.

Na realidade, a cabeça é uma unidade onde todos


esses recortes, e muitos outros, estão relacionados,
mas, para facilitar a análise, ela foi partida em
pedaços menores. Hoje, existem os terapeutas
humanistas, que tentam ver juntamente a cabeça,
o corpo e os sentimentos, buscando explicações
holísticas para os fenômenos humanos.

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Leia o fragmento a seguir.

Edward Jenner, um médico inglês, observou que um número expressivo de pessoas


mostrava-se imune à varíola. Todas eram ordenhadoras e tinham se contaminado com
cowpox, uma doença do gado semelhante à varíola, pela formação de pústulas, mas que
não causava a morte dos animais. Após uma série de experiências, constatou que estes
indivíduos mantinham-se refratários à varíola, mesmo quando infectados com o vírus. Em 14
de maio de 1796, Jenner contagiou James Phipps, um menino de 8 anos, com o pus retirado
de uma pústula de Sarah Nelmes, uma ordenhadora que sofria de cowpox. O garoto contraiu
uma infecção extremamente benigna e, dez dias depois, estava recuperado. Meses depois,
Jenner injetava em Phipps um pus varioloso. O menino não adoeceu. Era a descoberta
da vacina. A partir de então, Jenner começou a imunizar crianças, com material retirado
diretamente das pústulas dos animais e passado braço a braço. Em 1798, divulgava sua
descoberta no trabalho “Um Inquérito sobre as Causas e os Efeitos da Vacina da Varíola”.
Fonte: <http://www.ccms.saude.gov.br/revolta/pdf/M7.pdf>

Este é um exemplo de conhecimento científico. Edward Jenner utilizou o conhecimento


científico para conseguir, através da pesquisa, a descoberta da vacina. Para explicar um
conjunto de fenômenos, o médico formulou hipóteses, fundamentadas de algum modo no
saber adquirido. Testou as hipóteses de forma empírica, isto é, observacional e experimental.

O conhecimento científico parte de uma investigação, objetivando a aquisição de


conhecimentos para a sistematização de possíveis aplicações em diferentes espaços.

Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm a


sua veracidade ou falsidade conhecida através da experimentação e não apenas
da razão como ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de
um saber ordenado. Possui a característica da verificabilidade [...] Constitui-se em
conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final. (LAKATOS;
MARCONI, 1991, p. 17-18).

O conhecimento científico vai além do conhecimento empírico. Ao contrário do empírico,


procura explicar de modo racional aquilo que está sendo observado. Permite compreender
as causas e as leis que regem o fenômeno observado e procura explicá-lo de forma
sistematizada e racional. Está preocupado em analisar e sintetizar explicações e soluções
através de leis e sistemas. Não se contenta com explicações sem provas concretas; seus
alicerces estão em análises e síntese; em metodologia e racionalidade. É um conhecimento
apoiado na demonstração e na experimentação. A ciência só aceita o que foi provado.

Volpato (2010, p. 29) ressalta que o conhecimento científico deve cumprir alguns requisitos,
isso significa que deverá seguir um método, que seja aceito pela maior parte dos cientistas.
Entretanto, destaca que essa é uma questão que pode ser considerada temporal, visto que
“depende dos conceitos aceitos em um dado momento”. Exemplifica com a homeopatia e a
acupuntura, que foram negadas durante muito tempo e hoje fazem parte do nosso sistema
público de saúde.

Gil (2006, p. 26) complementa destacando que:


A ciência tem como objetivo fundamental chegar à veracidade dos fatos. Neste
sentido não se distingue de outras formas de conhecimento. O que torna, porém, o
conhecimento científico distinto dos outros é que tem como característica fundamental
a sua verificabilidade1.

1 Significa verificar a fonte do que é considerado verdadeiro.

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Veja, a seguir, as características do conhecimento científico.

• Racional: constitui-se de conceitos, juízos e raciocínios, não se valendo de sensações,


imagens e modelos de conduta.

• Objetivo: busca alcançar a verdade factual por intermédio dos meios de observação
e experimentação.

• Factual: parte dos fatos e interfere neles por ações claramente definidas e controláveis,
avaliando tal ação, de modo a não deturpá-los e induzir a um conhecimento falso.

• Transcende- os fatos: vai além dos fatos, demonstrando suas causas e consequências.

• Comunicável: deve estar formulado para que outros investigadores possam verificar
seus dados e hipóteses.

• Verificável: deve passar pela prova da experiência ou pela demonstração.

• Metódico: é planejado; os passos para sua (re)produção devem ser organizados


ordenadamente e inter-relacionados. Fundamenta-se em conhecimento anterior,
especialmente em hipóteses já confirmadas, em leis e princípios já constituídos.
Obedece a um método preestabelecido, que vem determinar, no processo investigativo,
a aplicação de normas e técnicas em etapas definidas com clareza.

• Falível: não é definitivo ou absoluto, ou seja, conhecimento novos revolucionam os


conhecimentos e teorias anteriores.

• Explicativo: além de buscar saber como são as coisas, procura responder o porquê.

A única diferença do conhecimento científico para os outros conhecimentos é que ele é


verificável, ou seja, é submetido a comprovações.

Conclusão
O conhecimento é a relação que se estabelece entre o
sujeito que conhece ou deseja conhecer e o objeto a ser
conhecido ou que se dá a conhecer. Existem quatro tipos de
conhecimento: o popular ou do senso comum, que é o modo
comum de adquirir conhecimento sem que haja reflexão;
o filosófico, que parte da razão, buscando as verdades do
mundo por meio da indagação e do debate – do filosofar; o
religioso ou teológico, que é adquirido nos livros sagrados e
aceito (racionalmente) pelos homens depois de ter passado
pela crítica histórica mais exigente; e o científico, que procura
explicar de modo racional aquilo que está sendo observado.

Saiba mAIS
Vamos assistir dois vídeos que resumem o que
estudamos até aqui?

https://www.youtube.com/
watch?v=zIrLyxjhY6s

https://www.youtube.com/watch?v=xED_
Tq5rJZQ

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