Você está na página 1de 53

Parasitologia Geral

Unidade 1
Fundamentos da Parasitologia
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
RAFAELA CRISTINA DE SOUZA DUARTE
AUTORIA
Rafaela Cristina de Souza Duarte
Olá. Meu nome é Rafaela Cristina de Souza Duarte. Sou formada
em Ciências Biológicas, tenho mestrado em Ecologia e Conservação e
Doutorado em Ciências Biológicas com habilitação em Zoologia, com uma
experiência técnico-profissional na área de invertebrados marinhos de
mais de 10 anos. Passei por Instituições, como a Universidade Estadual da
Paraíba, Universidade Federal da Paraíba e Laboratório de Biologia marinha,
nas quais desenvolvi atividade de pesquisa, ensino e extensão nas áreas
de Zoologia e Ecologia de invertebrados. Sou apaixonado pelo que faço e
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em
suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar
seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Introdução a Parasitologia Humana.................................................... 12
Conceito de Parasitologia e termos aplicados ......................................................... 12

Tipos de parasitas e hospedeiros ....................................................................................... 15

Tipos de ciclo biológicos .......................................................................................................... 15

Interação Parasito-hospedeiro .............................................................................................. 17

Adaptações morfológicas....................................................................................... 18

Adaptações Biológicas ............................................................................................ 18

Ação dos parasitos sobre os hospedeiros ................................................ 19

Reações de defesa do hospedeiro humano a ações de


parasitas ............................................................................................................................ 20

Principais grupos de organismos de interesse parasitológico..... 25


Noções básicas de nomenclatura zoológica aplicada a parasitologia....25

Principais grupos de importância em parasitologia...............................................27

Estudo dos protozoários.........................................................................................28

Estudo dos Helmintos ............................................................................................32

Estudo do parasita Giardia lamblia - Aspectos morfológicos e


epidemiológicos........................................................................................... 34
Aspectos gerais do protozoário parasita........................................................................34

Ciclo de vida........................................................................................................................................35

Transmissão..........................................................................................................................................37

Mecanismos patogênicos e sintomatologia................................................................ 38

Diagnóstico.......................................................................................................................................... 38

Epidemiologia.................................................................................................................................... 40

Profilaxia ................................................................................................................................................. 41

Tratamento ........................................................................................................................................... 41
Estudo do parasita Trichomonas vaginalis - Aspectos
morfológicos e epidemiológicos ..........................................................43
Aspectos gerais do parasita Trichomonas vaginalis...............................................43

Ciclo de vida........................................................................................................................................44

Transmissão..........................................................................................................................................45

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Tricomoníase ..................... 46

Diagnóstico...........................................................................................................................................47

Epidemiologia.................................................................................................................................... 48

Profilaxia................................................................................................................................................. 49

Tratamento........................................................................................................................................... 49
Parasitologia Geral 9

01
UNIDADE
10 Parasitologia Geral

INTRODUÇÃO
Você sabia que um parasitologista é um cientista? Isso, mas não
daqueles cientistas malucos, que vemos representados em filmes na tv,
mas sim um estudioso, um pesquisador, que geralmente tem bacharelado
em Ciências Biológicas, e desenvolve estudos acerca da relação entre os
organismos parasitas e seus hospedeiros, além de meios para combater
possíveis doenças causadas por estes organismos. Gerando assim,
conhecimentos num ramo da ciência chamado de Parasitologia. Esta
ciência necessita de muitas outras disciplinas para se desenvolver, tais
como: microbiologia, imunologia, biologia celular e até a própria ecologia.
Ao longo da história da humanidade, os parasitologistas contribuíram
muito para impedir a disseminação de muitas doenças parasitárias.
Inclusive, o Brasil abriga um dos maiores e mais importantes centros de
pesquisa nesta área no mundo, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Os
parasitas podem representar as mais variadas formas de vida vegetal
ou animal, no entanto seu estudo está focado nos grupos zoológicos
dos protozoários e metazoários. Ao longo desta unidade letiva você vai
conhecer os organismos chamados de parasitas e como se dá a sua
relação com seus hospedeiros, além de uma gama de termos utilizados
na parasitologia que serão de fundamental importância ao longo do nosso
aprendizado. Além disso, identificaremos os mais variados aspectos de
dois protozoários parasitas causadores de doenças que acomete os
humanos: a espécie Giardia lamblia, causadora da Giardíase e a espécie
Trichomonas vaginalis, causador da tricomoníase. Então, vamos mergulhar
a fundo neste universo.
Parasitologia Geral 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 01. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Diferenciar os principais conceitos parasitológicos e tipos de ciclos


biológicos apresentados por organismos parasitas e os aspectos
principais da relação parasita-hospedeiro.

2. Reconhecer os diferentes grupos zoológicos de interesse


parasitológicos na saúde humana em seus aspectos morfológicos,
ecológicos e fisiológicos.

3. Identificar as características gerais do parasita Giardia lamblia


assim com aspectos da doença causada por esse organismo, a
Giardíase.

4. Descrever as características gerais do do protozoário parasita


Trichomonas vaginalis assim como da doença causada por ele, a
Tricomoníase.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento?


Vamos conhecer esse mundo microscópico e cheio de curiosidades dos
PARASITAS!!
12 Parasitologia Geral

Introdução a Parasitologia Humana


INTRODUÇÃO:

Olá caro aluno, vamos falar um pouco do que você


irá aprender ao término deste capítulo. Então, com as
informações contidas neste capítulo você será capaz de
diferenciar os aspectos gerais acerca da parasitologia, seus
principais termos e conceitos. Assim como, os tipos de
organismos parasitas existentes e as relações desenvolvidas
entre eles e seus hospedeiros e como ocorrem os ciclos
de vida destes parasitas no interior de seus hospedeiros.
E então? Motivado para desenvolver esta competência?
Então vamos lá!

Conceito de Parasitologia e termos


aplicados
Caro aluno para prosseguir nossa caminhada por esse mundo
biológico microscópico intrigante, precisamos compreender um conceito
bem importante, que é o da parasitologia.

Segundo Rocha (2013) a parasitologia consiste em uma ciência


que tem como base o estudo de organismos parasitas, que dependem
de outros para sobreviver, roubando-lhes nutrientes, além das relações
destes com seus referidos hospedeiros e o meio ambiente.

Essa referida ciência, no passado apresentava um viés altamente


descritivo, mas hoje torna-se cada vez mais prática e tecnológica,
principalmente com o advento de estratégias relacionadas a engenharia
genética e biologia molecular, que auxiliam no diagnóstico clínico e no
controle de diversa parasitoses (doenças causadas por parasitas) de
interesse médico. A parasitologia apresenta diversos ramos, a saber:
Parasitologia médica, parasitologia veterinária, parasitologia agrícola. No
entanto, o objetivo deste ebook será compreender diferentes aspectos
da parasitologia humana, assim como de doenças parasitárias de grande
importância médica.
Parasitologia Geral 13

Para prosseguir seus estudos você precisa entender uma relação


ecológica fundamental para a compreensão dos próximos temas, que é
o Parasitismo.

DEFINIÇÃO:

Segundo Ricklefs (1996) o parasitismo é uma relação


ecológica interespecífica, ou seja, que ocorre entre
diferentes indivíduos (Espécies), e que se configura como
desarmônica, uma vez que quebra o equilíbrio metabólico
de um dos organismos envolvidos (o hospedeiro), trazendo-
lhe prejuízo, enquanto o outro organismos envolvido
(parasita) se beneficia desta relação. Veremos mais adiante
todos os aspectos desta relação complexa entre parasita e
hospedeiro.

Existem alguns tipos de parasitismos, e é importante que você


entenda a diferença entre eles:

• Parasitismo obrigatório: Como o próprio nome já diz, o parasitismo


obrigatório compreende aqueles organismos que desenvolvem
um tipo de parasitismo obrigatório e não são capazes de
sobreviver fora de seus hospedeiros, estes podem até se manter
no ambiente em suas formas encistada (formas mais resistentes).
Porém, necessitam do hospedeiro para realizarem seu ciclo de
vida na sua totalidade.

• Parasitas facultativos: São aqueles que podem desenvolver


seus ciclos de vida livres no ambiente, porém eventualmente são
encontrados parasitando organismos vivos.

Segundo Neves (2002), a grande maioria dos parasitas conhecidos


e estudados estão englobados no grupo dos parasitas obrigatórios.

Antes de iniciarmos o estudo dos parasitas e seus hospedeiros


propriamente dito. Existem alguns termos parasitológicos básicos que
vocês precisam identificar:

• Hospedeiro: Organismo que abriga o parasita.

Exemplo: O homem é hospedeiro do Ascaris lumbricoides;


14 Parasitologia Geral

• Reservatório: Qualquer organismo vivo ou matéria orgânica


inanimada onde um parasita é capaz de viver e se multiplicar.

• Vetor: Veículo que transmite o parasita entre dois hospedeiros,


pode ser sinônimo de transmissor. Pode ser classificado de duas
formas:

a. Vetor Biológico: Quando é representado por um organismo vivo,


como por exemplo muitos insetos.

b. Vetor Mecânico: Quando representado por um veículo como água


ou alimentos, contaminados com os parasitas.

SAIBA MAIS:

Para entender melhor sobre vetores biológicos e mecânicos,


veja o artigo da revista ciência hoje intitulado: Alto risco do
açaí, esta matéria demonstra que o organismos causador
da doença de Chagas (Trypanosoma cruzi) pode ser
transmitido tanto por um vetor biológico (Inseto, conhecido
popularmente como Barbeiro) quanto pelo vetor físico,
neste caso o Açaí contaminado com este parasita, para ver
este artigo, Clique aqui.

Aproveite a leitura do artigo acima, e identifique que tipos de vetores


são utilizados para disseminação do parasita Trypanosoma cruzi no caso
citado acima.

• Infecção: Consiste na penetração e desenvolvimento, ou


multiplicação de agentes patógenos de caráter microscópico.
Que pode se dar de forma biológica, quando ocorre a presença
de agentes biológicos, ou por forma não biológica, quando se
dá por meio de elementos químicos ou físicos. Existem as mais
diversas vias de infecção, a saber: Oral, cutânea, mucosa, genital,
entre outras.

• Infestação: Alojamento, estabelecimento e multiplicação de agentes


patógenos na superfície do corpo ou nas vestes do ser humano.

• Profilaxia: Conjuntos de ações que visam a prevenção, erradicação


ou controle de parasitoses.
Parasitologia Geral 15

• Incidência: Número novos de casos de uma determinada doença


registrados em um determinado intervalo de tempo.

Tipos de parasitas e hospedeiros


De acordo com sua localização no organismo parasitado, os
parasitas existem podem ser classificados em:

• Ectoparasitas: Aqueles que ocupam a superfície externa dos


organismos, e, portanto, consegue realizar suas trocas gasosas
diretamente com o ar.

• Endoparasitas: Localizam-se internamente ao organismo


parasitado, geralmente alojados em cavidades ou tecidos.

Todos os seres de vida livre, apresentam o seu habitat específico,


que consiste no local adequado onde o mesmo encontra capacidade
de se desenvolver, reproduzir e sobreviver. Para os parasitas, isto não é
diferente. No entanto, o habitat deles consiste em um organismo vivo
(hospedeiro). Veremos que existem três tipos de hospedeiros, são eles:

• Hospedeiro definitivo: Aquele que abriga o parasita na sua fase


de maturidade ou atividade sexual;

• Hospedeiro intermediário: Aquele que apresenta o parasita em


sua fase larval ou assexuada (incapaz de reproduzir);

• Paratênico ou de transporte: Nele o parasita não se desenvolve,


permanece encostado (forma resistente do parasita). O hospedeiro
não é capaz de destruir o agente parasitário podendo transmiti-lo
para outros organismos.

Tipos de ciclo biológicos


Entende-se por ciclo biológico ou ciclo de vida dos parasitas todas
as fases necessárias para que o mesmo seja transmitido e se desenvolva.
Então, como vimos os parasitas, como todos os organismos apresentam
um ciclo de vida, que compreende suas atividades vitais.
16 Parasitologia Geral

Muitos deles alternam entre seus ciclos de vida e por isso podemos
classificar dois tipos de ciclos biológicos, de acordo com o número de
hospedeiros necessários para que o ciclo se complete. Podemos então
observar os seguintes ciclos de vida de parasitas:

• Ciclo Homoxeno ou Monóxeno: Neste tipo de ciclo todos as


etapas de vida do parasita necessitam apenas de um hospedeiro
para ocorrerem. Exemplo: Ascaris lumbricoides.

• Ciclo Heteroxeno: Para que o parasita desenvolve todas as suas


fases de vida são necessários mais de um hospedeiro. Quando são
necessários dois hospedeiros ele é chamado de Dixeno. Exemplo:
Gênero Taenia. Por outro lado, quando são necessários mais de
dois hospedeiros. Esse ciclo já passa a ser denominado Polixeno.
Exemplo: Diphyllobothrium (parasita de peixe).

Abaixo você verá na Figura 1 a demonstração desses dois tipos de


ciclos desenvolvidos por protozoários parasitas.
Figura 1: Dois tipos de ciclos de vida que os parasitas podem apresentar.
Parasitologia Geral 17

Fonte: Wikimedia Commons

Sendo (A) Ciclo Homóxeno ou Monóxeno de Ascaris lumbricoides,


o qual necessita de apenas um hospedeiro, o ser humano e (B) Ciclo
Heteróxeno presente em parasitas das espécies Taenia solium, que necessita
de um hospedeiro intermediário, o poco e um definitivo, o ser humano.

Interação Parasito-hospedeiro
Os seres vivos e a natureza apresentam uma enorme inter-relação
de dependência que envolvem eventos de cooperação ou competição. O
parasitismo consiste numa das relações que demonstra mais dependência
de outros organismos.

Ao longo do processo evolutivo estes organismos foram se


adaptando de diversas formas para desenvolverem seus papéis ecológicos
de parasitas, habitando diferentes hospedeiros através de diversos tipos
de adaptações morfológicas, fisiológicas e biológicas. Veremos, abaixo,
algumas destas adaptações.
18 Parasitologia Geral

Adaptações morfológicas
Ocorreram em partes do corpo ou até sistemas inteiros dos parasitas,
a fim de desenvolverem capacidade de se nutrirem dos hospedeiros.
Podem ser do tipo:

• Degenerações: Perda ou atrofia de órgãos ou aparelhos. Exemplo:


Pulgas e percevejos que perderam suas asas.

• Hipertrofia: Aumento de alguns órgãos como os de proteção,


resistência, fixação ou reprodução. Exemplo: Aumento de estruturas
alimentares de insetos hematófagos para auxiliar na sucção do
sangue do hospedeiro, aumento de estruturas reprodutivas em
alguns helmintos para gerar alta capacidade reprodutiva.

Adaptações Biológicas
a. Capacidade reprodutiva: Alta produção de ovos, cistos e outras
formas infectantes, na tentativa de sobreviverem e perpetuarem a
espécie buscando novos hospedeiros.

b. Diversificação reprodutiva: Desenvolvimentos de diferentes


estratégias reprodutivas, buscando tornar mais seguro e
fácil o processo reprodutivo. Algumas das estratégias são:
Hermafroditismo, partenogêneses e esquizogônica.

c. Resistência ao hospedeiro: Capacidade de resistir aos ataques


do sistema de defesa imunológica do hospedeiro. Exemplo:
Muitos Helmintos conseguem resistir e até neutralizar a ação
degenerativas dos sucos digestivos presentes no sistema
digestório de seus hospedeiros.

SAIBA MAIS:

Leia mais um pouco sobre capacidades que os parasitas


têm de criar resistência aos ataques dos hospedeiros nesta
reportagem intitulada: Parasita da leishmaniose ‘engana’ o
sistema imunológico, Clique aqui.
Parasitologia Geral 19

Para compreender melhor as adaptações morfológicas, veja na


Figura 2 alguns exemplos de organismos que possuem estes tipos de
adaptações.
Figura 2: Microscopia óptica e eletrônica de diferentes
parasitas e suas adaptações morfológicas:

A) B) C)

A - seta preta indica local da perda de asas das pulgas (ectoparasitas) pra melhor adaptação
a sua relação parasitária com seu hospedeiro;

B - desenvolvimento de modificações do aparelho bucal, com ventosas (seta vermelha), em


parasitas do gênero Taenia;

C - Modificação do aparelho bucal (seta vermelha) em insetos do gênero Triatoma.

Fonte: Wikimedia Commons

Ação dos parasitos sobre os hospedeiros


Vale destacar aqui que nem sempre a reação de parasitismos é
tão maléfica a ponto de causar a morte de seu hospedeiro. Bem, vamos
refletir um pouco. A morte do hospedeiro também representa a morte
do parasita, o que para este não é vantajoso. Pois bem, é por isso que na
maioria das vezes o parasita busca uma relação de equilíbrio (Hospedeiro-
parasito).

Apenas quando esse equilíbrio é rompido, por ações das mais


variadas fontes é que a doença parasitária se instá-la e o hospedeiro
manifesta seu quadro sintomático. Desse modo, percebe-se que as ações
patogênicas dos parasitas são muito variadas e vão desde ações mais leves,
que são imperceptíveis até ações mais prejudiciais. E os danos causados
podem ser diretos, quando provocados por substâncias produzidas pelo
parasita; ou indiretos, quando advindo das reações imunes do hospedeiro
ao processo parasitológico. Existem alguns mecanismos pelos quais os
parasitas agem em seus hospedeiros, são eles:
20 Parasitologia Geral

• Ação Irritativa: Quando ocorre irritações no local parasitado,


porém essas lesões não são graves. Exemplo: As ventosas de
alguns helmintos provocam essa reação;

• Ação enzimática: Ocorre quando o parasita produz algum tipo de


enzima, capaz de degradar partes de tecidos, para que depois ele
possa assimilar essas partículas como alimento. Exemplo: Ascaris
lumbricoides lesa a mucosa intestinal do ser humano através da
produção destas enzimas.

• Ação traumática: Ocorre quando os parasitas provocam lesões


consideráveis em órgãos ou tecidos do hospedeiro. Exemplo: Os
Parasitas do gênero plasmodium atacam as hemácias e causam
seu rompimento.

• Ação espoliativa: Quando ocorre a perda de substâncias nutritivas


por parte do hospedeiro, muitos parasitos absorvem sangue do
hospedeiro não para se nutrir dele propriamente, mas sim de
nutrientes presente nele, como o Ferro.

• Ação imunodepressora: Quando o parasita libera substâncias que


inibem a ação do sistema de defesa do hospedeiro.

• Ação Neoplásica: Ocorre quando o quadro de parasitose já pode


ser considerado crônico, e manifestações inflamatórias podem
levar a formação de tumores malignos.

Reações de defesa do hospedeiro humano a ações


de parasitas
Então, estamos bem até aqui no entendimento de que existe
uma relação de mão dupla entre o hospedeiro e seu parasita? Então,
agora vamos focar nas reações manifestadas pelo sistema imunológico
(responsável pela defesa do corpo) de hospedeiros humanos quando os
mesmos são infectados por parasitas.

O sistema imunológico humano, lança mão de um conjunto


de mecanismos, utilizados para se defender de agentes parasitários,
processo que se denomina resistência. Esta poderá ser total, quando o
Parasitologia Geral 21

parasita não consegue se instalar ou parcial quando o parasita consegue


se instalar, porém seu número se reduz bastante.

A resistência pode ser considerada inata, quando independe de


possíveis contatos anteriores com o agente infeccioso ou adquirida,
que ocorre na medida em que o hospedeiro teve contato com o agente
infeccioso e adquiriu uma memória imunológica que vai atuar no combate
posterior desse parasita, numa possível reinfecção por parte deste parasita.

Segundo Neves (2002) a resistência ocorre em vários níveis, que


se configuram como barreiras químicas ou mecânicas de defesa, e se dá
por meio de mecanismos morfológicos e fisiológicos do corpo humano,
tais como:

1. Tegumento cutâneo: a pele humana, atua como uma barreira


mecânica, principalmente com atuação dos pelos, que acabam
por dificultar a penetração de parasitas no organismo. Além disso,
o seu pH ácido também pode atuar na defesa contra estes agentes.

2. Cavidades revestidas por mucosas: Nestas cavidades são


depositadas uma grande quantidade de substâncias advindas de
outras partes do corpo, entres elas estão vários ácidos como o
HCL (proveniente do estômago), além de sais biliares que atuam
juntos na inativação e degradação de uma série de agentes
infecciosos, incluindo os parasitas. Nestas cavidades também
ocorre uma alta produção de uma proteína chamada mucina,
que tem uma elevada viscosidade e é capaz de manter estas
estruturas sempre úmidas, evitando assim a penetração destes
agentes. Determinadas mucosas, como as do trato respiratório
apresentam também especializações, chamadas de cílios, que
estão em constante movimento, atuando na remoção de agentes
físicos (poeira) e biológicos (bactérias, fungos, protozoários).

3. Fagócitos: Células de defesa que têm ação fagocitária (capacidade


de englobar e degradar os organismos invasores). Estes são
representados por células com alto potencial fagocitário, a saber:
a) Neutrófilos; b) Eosinófilos e c) Macrófagos.
22 Parasitologia Geral

4. Resposta inflamatória: É a resposta imunológica local, que


envolve um complexo processo, geralmente acionado devido a
injúrias provocadas por agentes infecciosos.

IMPORTANTE:

Quando esse processo inflamatório é intenso, ocorre


grande produção das células de defesa vistas na seção
anterior e grande ação fagocitária das mesmas. Além
disso, pode ocorre um processo de dor, rubor, calor e até
aumento do volume no local. Quando o agente infeccioso
é eliminado assim que o processo inflamatório começa,
chamamos esta inflamação de aguda. No entanto, se a
ação dos organismos ainda perdurar por um tempo ela
passa a ser chamada de inflamação crônica.

Na maioria dos casos os sintomas apresentados pelo hospedeiro


humano não são suficientes para o diagnóstico da parasitose, sendo por
isso empregadas algumas formas de detecção como:

1. Pesquisa visual: Pode ser de caráter macro (piolhos e pulgas)


ou microscópico (ovos de helmintos e cistos de protozoários):
estruturas que podem ser encontradas em materiais clínicos
como:

• Sangue: Através de exame direto ou a fresco, onde é colocada


uma gota de sangue entre lâmina e lamínula com anticoagulante
para ser examinado em microscópio; Outro métodos é o de Strout,
no qual a amostra de sangue é centrifugada e após esse processo,
colocada entre lâmina e lamínula e levada ao microscópio para
análise; Já no método de esfregaço a amostra deve ser colocada
em lâmina e lamínula e corada, para posterior análise em
microscópio;

• Fezes: Pode ser realizado por meio do exame direto, é


aconselhável que se colha pelo menos 10 gramas por amostra,
que precisam ser em número de três e colhidas em dias alternados.
Para o exame microscópico é feita a preparação de lâmina com o
material úmido, é comum que se utilize lugol (iodo) para facilitar
Parasitologia Geral 23

a visualização dos parasitas. A grande vantagem desse método é


a possibilidade de visualizar trofozoítos de alguns protozoários e
larvas de alguns helmintos. Quando a análise fresca não pode ser
realizada as amostras devem ser preservadas (Álcool polivinílico-
PVA; formalina a 10% ou líquido de Schaudimnn). Antes da análise,
as amostras conservadas terão que ser submetidas a um método
de concentração, a fim de separar os parasitos dos debris fecais.
Segundo Rocha (2013) essa separação pode se dar de três formas:

a. Método de Lutz: Nesse método a separação dos ovos é feita


por sedimentação espontânea, ideal para ovos “pesados” que
afundam facilmente, devido a sua densidade;

b. Método de Faust: nela ocorre a flutuação de ovos com baixa


densidade em uma solução de sulfato de zinco, é adequado
para detecção de cistos de protozoários. Este pode também
ser substituído pelo método de Willis, que utiliza uma solução
saturada de cloreto de sódio;

c. Baermann-Moraes: Este é empregado a fim de detectar larvas


vivas, estimuladas pelo calor brando.

Na maioria dos casos, o método de sedimentação espontânea é o


mais utilizado, por ser o mais simples e mais barato.

2. Pesquisa de antígenos parasitários: imunofluorescência direta


e ensaio de imunoabsorção enzimática (ELISA), em nível fecal ou
tecidual, a fim de detectar anticorpos específicos;

Veremos os métodos de diagnóstico mais detalhadamente nas


próximas unidades;
24 Parasitologia Geral

RESUMINDO:

E então? Gostou do que vimos até agora sobre esse


fantástico mundo microscópico dos parasitas? Que tal
relembrarmos um pouco do que vimos neste capítulo?
Vamos lá! A princípio, compreendemos que o parasitismo é
uma relação desarmônica para os envolvidos, em seguida,
vimos alguns conceitos fundamentais da parasitologia,
além dos tipos de parasitas e hospedeiros existentes, que
os parasitas apresentam ciclos de vida diferenciados e
por fim entendemos as relações que envolvem parasitas
e hospedeiros, desde o ato de infecção desses agentes
até as respostas imunológicas dadas pelos hospedeiros,
tomando como base o organismo humano.
Parasitologia Geral 25

Principais grupos de organismos de


interesse parasitológico
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer


termos básicos de nomenclatura aplicada à parasitologia,
além de ser capaz de reconhecer os principais grupos de
organismos de interesse na parasitologia humana, em seus
aspectos morfológicos, biológicos e ecológicos.

Noções básicas de nomenclatura zoológica


aplicada a parasitologia
Então, caro aluno, vamos prosseguir em nossos estudos. Nesse
capítulo vocês irão se deparar com termos bem diferentes e complexos.
Iremos aprender que cada grupo de parasitas tem seu nome, e que sua
escrita segue um padrão único em todo o mundo.

Lembre-se que o nome dado a determinada espécie é chamado de


nome científico e ele tem regras básicas de escrita que iremos aprender
mais adiante.

Vamos aprender que existe um código de nomenclatura, que


nomeia todos eles de acordo com regras de escrita específicas e que a
língua usada para escrevê-los é o latim.

SAIBA MAIS:

Entenda mais um pouco dessas regras de nomenclatura


para alguns grupos de seres vivos nesta página hospedada
no portal da EMBRAPA, lá você terá acesso a uma variedade
de termos taxonômicos dos mais variados grupos de
organismos, Clique aqui.

Você pode questionar, mas qual importância desse código de


nomenclatura e o porquê desses nomes científicos serem escritos em latim.
Bem, a principal importância dele, é tornar o nome de um parasita universal.
26 Parasitologia Geral

Vamos pensar numa situação prática então: imagine que uma pessoa está
infectada por um determinado parasita, independente da região geográfica
em que ela esteja o seu diagnóstico vai ser baseado no nome científico
desse parasita, que não se modificará, independente da língua que seja
utilizada nessa região. Em outras palavras, esse código evita confusões na
nomeação desses seres, por ser utilizado em todo o mundo.

Vamos explorar alguns conceitos básicos que você precisa entender


de nomenclatura. Primeiro você precisa entender que cada parasita
conhecido hoje pela ciência, foi nomeado por um cientista, ou seja, ele
foi visto pela primeira vez por algum pesquisador e este lhe atribui um
nome. Esse nome não pode ser qualquer um, e precisa ser baseado em
regras de nomenclatura e cada grupo de organismos tem suas regras
específicas. Temos então o código de nomenclatura zoológica, código
de nomenclatura botânica, código de nomenclatura parasitológica, entre
outros. Exemplo: Trypanosoma cruzi é o nome científico da espécie de
parasita causador da doença de chagas.

Você conseguiu perceber algumas diferenças na escrita do nome


científico desse parasita?? Pense um pouco...Agora vamos analisar o
esquema abaixo para que você possa se familiarizar com alguns termos
antes deles serem introduzidos nesta sessão:

Ao observar a figura acima, você perceberá que o nome da espécie


sempre é binomial (=dois nomes), sendo o primeiro o gênero e escrito
com letra maiúscula e o segundo o epíteto específico, sempre com
letra minúscula e este deve sempre vir destacado do texto em itálico ou
sublinhado.

SAIBA MAIS:

Veja neste catálogo presente no site da Fiocruz diversos


nomes científicos de variadas espécies de parasitas, e note
a normalização na escrita destes nomes. Clique aqui.
Parasitologia Geral 27

Principais grupos de importância em


parasitologia
De acordo com Rey (2008) os animais que parasitam humanos
estão reunidos em cinco grandes Filos, são eles:

a. Protozoa: Seres unicelulares, dotados de diversas organelas, que


desenvolvem suas funções vitais;

b. Platyhelminthes: Chamados também de vermes achatados, são


seres mais complexos;

c. Nematoda: Compreendem os vermes com morfológica cilíndrica,


ou vermes arredondados;

d. Acantocephala: Vermes também cilíndricos, porém, diferenciados


por apresentarem uma boca ou probóscide, repleta de pequenas
adaptações ou ganchos que prendem o animal ao hospedeiro;

e. Arthoropoda: representado pelos insetos e ácaros.

No entanto, no presente material iremos tratar apenas dos parasitas


representantes dos filos: Protozoa, Platyhelminthes e Nematoda.

De acordo com Neves (2005), os parasitas podem ser classificados


em grosso modo de acordo com sua forma de transmissão, visando
assim um entendimento global dos relacionamentos deles com os seres
humanos, ver quadro abaixo:
28 Parasitologia Geral

Quadro 1 - Classificação de alguns parasitas de importância médica


de acordo com sua forma de transmissão ao ser humano.

Fonte: Adaptado de Neves (2002).

Na maioria das vezes, os nomes das doenças causadas por parasitas


seguem um padrão de nomenclatura que consiste no acréscimo do sufixo
”ose” ao nome do gênero do agente causador da doença. Para exemplos
vide Quadro 1.

Estudo dos protozoários


Os representantes do reino protista são as algas unicelulares
e protozoários, sendo estes últimos os de interesse parasitológico. Os
protozoários são seres unicelulares microscópicos (0,01 mm a 0,05 mm
aproximadamente), podendo assim se abrigar no interior das células do
hospedeiro. Além disso, eles são heterotróficos, ou seja, não são capazes
de fabricar seu próprio alimento, necessitando se nutrir de outros seres.
Parasitologia Geral 29

Esses indivíduos apresentam formas diversificadas de nutrição, podendo


ser: Predadores ou filtradores, herbívoros ou carnívoros e parasitas. Está
última sendo o tipo de nutrição compreendida pelos organismos foco
deste estudo, os protozoários parasitas.

Estes organismos apresentam variações morfológicas, de acordo


com a fase do ciclo de vida ou meio em que eles vivem, podendo ser
esféricos, ovais ou alongados. Como são unicelulares, sua única célula
apresenta organelas com funções importantes e vitais. A digestão destes
organismos é intracelular (no interior de suas células), por meio de
organelas chamadas de vacúolos digestivos.

REFLITA:

Vamos pensar um pouco! Você acha que seres tão


pequenos são capazes de se locomover?

A resposta a essa pergunta é sim, esses organismos minúsculos, por


incrível que pareça apresentam um esqueleto, isso mesmo, o chamado
citoesqueleto, que consiste num sistema de organelas que sustentam a
forma do organismo, além de permitir sua locomoção através do auxílio
de estruturas locomotoras, chamadas de pseudópodes, flagelos ou cílios.
Inclusive, essa é uma das maneiras mais utilizadas para classificar estes
organismos, veja a Figura 3 e o Quadro 2 e entenda esta classificação.
Figura 3: Fotografias em microscopia óptica de representantes dos grupos
de protozoários, com classificação feita de acordo com seu sistema locomotor.

A) B) C) C)

A) Protozoário que se locomove por meio de pseudópodes- Entamoeba histolytica; B)


Protozoário que não apresentam estruturas locomotoras- Toxoplasma gondii; c) Protozoário
que se locomove por meio de flagelos-Trichomonas vaginalis; D) Protozoário que se
locomove por meio de cílios-Balantidium colli.

Fonte: Wikimedia Commons


30 Parasitologia Geral

Segundo Neves (2002), apresenta a seguinte classificação para os


agentes causadores de algumas doenças de acordo com sua locomoção
no quadro abaixo:
Quadro 2: Classificação de alguns protozoários que parasitam
humanos de acordo com suas estruturas locomotoras.

Fonte: Adaptado de Neves (2002).

Como vimos anteriormente os parasitas apresentam ciclos de


vida às vezes bem complexos, isso não é diferente para os protozoários.
Para Rey (2008), dependendo da atividade fisiológica desempenhadas
pelo parasita no atual momento de seu desenvolvimento, ele pode se
apresentar de várias formas corpóreas distintas:

1. Forma de trofozoíto: Quando estão nessa forma corpórea os


organismos desempenham todos as suas funções, geralmente
tendo em vista um ambiente favorável ao seu desenvolvimento e
reprodução;

2. Forma de cisto: Consiste em uma forma de resistência desenvolvida


pelo protozoário parasita, que é revestida por uma parede cística,
na qual eles se encontram em inatividade metabólica; até que o
ambiente se torne favorável ao seu desenvolvimento completo.
São geralmente encontrados em tecidos ou fezes de hospedeiros
intermediários ou definitivos;

3. Forma de oocisto: Formas provenientes da reprodução assexuada


de alguns protozoários parasitas, também apresentam um
revestimento de uma parede cística resistente, estão geralmente
presentes em fezes do hospedeiro;

4. Forma de gameta: É a forma sexuada de algumas espécies de


protozoários parasitas, sendo o gameta feminino chamado de
macrogameta e o masculino de microgameta;
Parasitologia Geral 31

Por fim, podemos ainda esclarecer que os protozoários apresentam


diferentes tipos de reprodução sexuadas e assexuadas. Dentre o tipo de
reprodução assexuada temos as seguintes: Divisão binária, brotamento,
endogamia, esquizogônica. Já para a reprodução do sexuada, temos dois
tipos: a sexuada por conjugação e por fecundação.
Figura 4 - Microscópio eletrônico demonstrando duas formas
distintas do protozoário parasita Giardia lamblia

Seta azul indica a forma de cisto

Seta amarela: indica a forma de trofozoíto.

Fonte: Wikimedia Commons

A seta azul destaca a forma de cisto do protozoário parasita Giardia


lamblia e a seta vermelha a forma de trofozoíto do protozoário parasita
Giardia lamblia.
32 Parasitologia Geral

Estudo dos Helmintos


Os helmintos constituem um grupo de animais muito numeroso,
incluindo organismos de vida livre e uma grande parcela de parasitas,
as espécies que parasitam seres humanos estão distribuídos entre os
Platyhelminthes e Nematodas. A ocorrência destes helmintos no homem,
é bem comum uma vez que cerca de 20% da população está parasitada
por algum tipo deles (SIQUEIRA ET AL., 2017)

• Platyhelminthes: São conhecidos como vermes achatados, podem


ser ecto ou endoparasitas, a maioria apresenta desenvolvimento
indireto e podem apresentar vários estágios larvais durante seu
ciclo de vida. De acordo com Rey (2008) existem duas classes de
Platyhelminthes de importância parasitológica:

• Trematódeos: Não apresentam corpo segmentado e possuem


duas ventosas, dentre estes os gêneros que mais se destacam
por parasitarem humanos são Shistosoma e Fasciola, que
compartilham moluscos como hospedeiros intermediários e
vertebrados como hospedeiros definitivos.

• Cestódeos: Apresentam o corpo dividido em “proglotes”, e


estruturas de ficção chamadas de “ventosas”, para esse grupo
temos os gêneros Taenia Echinococus e Hymenolepis, como os de
maior importância parasitológica. Todos estes gêneros apresentam
larvas capazes de formar cistos, permanecerem por um bom
tempo em seus hospedeiros intermediários e têm preferência
pelo intestino de seus hospedeiros definitivos.

• Nematódeos: Estes possuem o corpo cilíndrico, sem divisões.


Este grupo apresenta várias espécies de interesse médico, dentre
elas: Ascaris lumbricoides, Strongyloides stercoralis, Trichiurus
trichiura e Enterobius vermiculares;

Note que os Acanthocephala, apresentam interesse apenas


veterinário, por isso não serão vistos neste programa de estudos.
Parasitologia Geral 33

Figura 5 Fotografia em microscopia óptica de representação dos principais


Gêneros de grupos de Helmintos de interesse parasitológico.

A) B) C)

(A) verme do gênero Schistosoma; (B) verme do gênero Taenia e (C) verme do gênero Trichiurus.

Fonte: Wikimedia Commons

RESUMINDO:

Então, como está seu conhecimento até aqui? Aprendeu


tudo mesmo? Espero que esteja gostando de aprender
mais sobre esses minúsculos seres vivos. Vamos revisar
um pouco do que vimos neste capítulo. Bem, até aqui
conseguimos entender mais sobre os principais grupos de
parasitas e como eles estão classificados no reino animal.
Vimos também características básicas destes grupos, por
exemplo, sua morfologia, como eles obtêm seus alimentos
e se reproduzem. Ainda, entendemos que os protozoários
podem ser classificados de acordo com suas formas de
locomoção e que os vermes, em geral, são agentes de
parasitoses bem comuns nos seres humanos.
34 Parasitologia Geral

Estudo do parasita Giardia lamblia -


Aspectos morfológicos e epidemiológicos
INTRODUÇÃO:

Ao término desse capítulo você será capaz identificar as


características gerais de um parasita com importância
médica considerável, a Giardia lamblia, que acomete
uma boa parcela dos seres humanos, principalmente,
nos países em desenvolvimento. Dentre estes aspectos
iremos estudas: como se dá a sua infecção, como se
desenvolve seu ciclo de vida, a relação entre esse parasita
e seu hospedeiro. Com relação a doença causada por
ele, a Giardíase iremos identificar aspectos como: formas
de tratamento, transmissão, profilaxia e diagnostico,
além de aspectos epidemiológicos da doença, que
envolvem histórico da doença, conhecimento acerca do
comportamento dela ao longo do tempo, assim como sua
distribuição. Então, prontos para aprender mais sobre este
parasita e a doença que ele causa?? Então vamos lá.

Aspectos gerais do protozoário parasita


Estes organismos são protozoários flagelados, que parasitam
o intestino humano. Durante seu ciclo de vida, ele possui duas formas:
trofozoíto e de cisto. Sua forma de trofozoíto, tem um formato oval,
em forma de uma pêra tendo sua face dorsal lisa e convexa enquanto
que a face ventral é côncava e apresenta uma ventosa denominada
disco ventral, que é responsável pela adesão do parasita a mucosa do
hospedeiro. Ele possui ainda quatro pares de flagelos e dois núcleos em
seu interior. Já a forma de cisto é oval, com dois ou quatro núcleos em
seu interior, não apresenta flagelos nem disco ventral. Os cistos estão
presentes nas fezes do hospedeiro contaminado.

A reprodução destes parasitas ocorre assexuadamente por divisão


binária, na qual ocorre duplicação do organismo, gerando dois indivíduos
com o mesmo material genético.
Parasitologia Geral 35

A imagem abaixo, demonstra os tipos de formas corpóreas


apresentados pela espécie Giardia lamblia durante seu ciclo de vida.
Figura 6: Fotografia em microscopia óptica das formas corpóreas apresentadas pelo
parasita Giardia lamblia em seu ciclo de vida.

A) B)

A - indica a forma de cisto do protozoário Giardia lamblia e


B - a forma de trofozoíto do protozoário Giardia lamblia.

Fonte: Wikimedia Commons

Os trofozoítos desta espécie aderem-se a mucosa intestinal,


por meio de seu disco ventral e de movimentos flagelares, estando lá
aderido ele se alimenta de partículas diminutas ricas em amido através
do processo de endocitose.

SAIBA MAIS:

Entenda mais sobre os processos de endocitose, que


ocorre em diferentes tipos de microrganismos. Clique aqui.

Tanto as formas de trofozoíto como as de cistos estão adaptadas


ao meio em que vivem, os primeiros irão habitar os intestinos humano
e são formas mais sensíveis, já os cistos serão eliminados ao ambiente,
como forma de propagação da doença e, portanto, são mais resistentes
a fatores externos. A seguir vermos mais informações acerca do ciclo de
vida deste protozoário parasita.

Ciclo de vida
A G. Lamblia é um parasita monóxeno de ciclo biológico direto.
A infecção ocorre por via oral, por meio da ingestão do cisto por parte
do ser humano, após isto o desencistamento (transformação do cisto
36 Parasitologia Geral

em trofozoíto) tem início no meio ácido do estômago e se completa a


caminho do intestino delgado, onde ocorra de fato a transformação dele
no trofozoíto, uma vez nesse local os trofozoítos se reproduzem por divisão
binária longitudinal, o ciclo se completa pelo encistamento (formação do
cisto) e eliminação do cisto para o meio externo, através das fezes do
hospedeiro.
Figura 8: Desenho esquemático do ciclo de vida
do parasita Giardia lamblia nos seres humanos.

Fonte: Wikimedia Commons

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey


(2008) e Rocha (2013): O ciclo se inicia com a ingestão de alimentos ou
água contaminada, ou após contato com qualquer vetor que contenha
os cistos do parasita (Figura 7-1). Em seguida, ao chegar ao meio ácido
estômago ocorre o início do processo de desencistamento e ao chegar
no intestino o cisto completa seu desenvolvimento e se transformando
Parasitologia Geral 37

em trofozoíto (Figura 7-2). Dá-se então a partir desse momento o processo


de reprodução assexuada do trofozoíto, que ocorre por divisão binária
(Figura 7-3). Assim que ocorre uma ampla multiplicação das formas de
trofozoíto no intestino, são produzidos também cistos (Figura 7-4). Estes
cistos são então eliminados do hospedeiro por meio de suas fezes, até
encontrarem um novo hospedeiro para se desenvolverem reiniciando
assim o ciclo. Visualize na figura abaixo a demonstração do ciclo de vida
desse parasita no interior do corpo humano.

Esse é denominado ciclo direto ou monóxeno por se completar em


um único hospedeiro, o homem.

Transmissão
A infecção do hospedeiro por este parasita se dá por via oral através
da ingestão de cistos maduros. Estes cistos podem ser transmitidos
através de alguns mecanismos, tais como:

• Ingestão de águas sem tratamento, alguns estudos demonstram


inclusive que a adição apenas de flúor não é capaz de eliminar os
cistos;

• Alimentos contaminados por cistos. Alguns insetos como baratas


e moscas podem carregar esses cistos e contaminar alimentos;

• De pessoa pra pessoa por meio de mãos contaminadas;

• Através de sexo anal;

• Contágio com animais domésticos infectados com Giardia de


morfologia semelhante daquela que contamina humanos, este
tipo de infecção ainda está sendo amplamente estudada.

Por isso, é importante que você, caro estudante perceba que as


medidas citadas acima, podem ser de fundamental importância para
evitar a disseminação da giardíase.
38 Parasitologia Geral

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


Esses organismos têm uma capacidade incrível de se reproduzir
rapidamente. Eles se mantêm agregados, em alguns casos, formam um
verdadeiro tapete revestindo a mucosa intestinal, geralmente nas porções
intestinais do duodeno e no jejuno, áreas que possuem modificações
das paredes intestinais chamadas de microvilosidades, que podem ser
lesionadas ou atrofiadas em virtude da presença destes parasitas. Esse
fato, pode fazer com que a absorção de nutrientes por parte desta parte do
intestino seja prejudicada, em especial o de substâncias como gorduras
e vitaminas (A, D, E, K). A falta dessas vitaminas pode provocar manchas
brancas na pele, além do enfraquecimento de unhas e cabelo.

Muitos hospedeiros assintomáticos podem eliminar cistos nas suas


fezes por um período de tempo considerável, sendo por isso grandes
vetores da doença.

As manifestações clínicas variam desde pacientes assintomáticos


até aqueles com sintomas evidentes. Ainda, no caso de pacientes com
baixa imunidade a ingestão de um elevado número de cisto pode provocar
diarreia e dores abdominais, além de casos mais graves de diarreia aquosa
e rica em gases, conhecida como “diarreia explosiva”. Todo esse quadro
pode levar a grande perda de peso por parte da pessoa infectada.

Essa variabilidade de sintomas pode estar associada a características


do parasita, como números de cistos e também do hospedeiro, como pH
do suco gástrico, estado nutricional e resposta imune.

Diagnóstico
Para o diagnóstico clínico em crianças observam-se as
sintomatologias características, como: Diarreia, insônia, náuseas, vômitos,
dor abdominal. No entanto, para comprovação é indicado um diagnóstico
Laboratorial que poderá ser do tipo parasitológico ou imunológico.

Para os testes parasitológicos deve-se realizar o exame de fezes


do paciente, na tentativa de observar cistos ou trofozoítos. Geralmente
os cistos, por serem mais resistentes sempre são encontrados; já os
Parasitologia Geral 39

trofozoítos são mais raros de se observaram. Observa-se que a forma das


fezes pode ser um indicativo da forma evolutiva do parasita.

Nas fezes formadas, pode-se visualizar os cistos em preparação a


seco, pelo método direto, no qual as fezes são examinadas ao microscópio
entre lâmina e lamínula em preparações altamente diluídas. Porém,
devido ao período negativo da doença, é indicado ter amostras de pelos
menos três coletas em dias alternados (com intervalos de sete dias entre
cada um), estas amostras devem ser acondicionadas em solução de
conservante, para posterior análise, geralmente o método escolhido é
o de Faust: Neste método, aplica-se uma solução de sulfato de zinco,
que faz com que os ovos ou cistos flutuam na superfície. Esse método
é utilizado tanto para fezes frescas quanto as conservadas em formalina.

O período negativo consiste na liberação intermitente de cistos nas


fezes dos hospedeiros e ele pode durar em média dez dias.

Nas fezes diarreicas, podemos observar trofozoítos, como eles


são mais sensíveis do que os cistos, recomenda-se examinar o material
fresco imediatamente após a coleta, para preservação deste organismo.
O exame pode ser feito pelo método direto ou esfregaços corados pelo
método da Hematoxilina Férrica.

Ainda, em casos mais crônicos, os exames permanecem negativos,


apesar da presença do parasito no intestino. Então, nesse caso, faz-se
necessário o diagnóstico pelo exame do fluido duodenal seguindo de
biópsia jejunal, métodos muito invasivos e que, normalmente, requerem a
realização de endoscopia.

Com o intuito de aumentar a eficácia de detecção do parasita,


foram desenvolvidos métodos imunológicos de diagnóstico, para este
fim, os mais utilizados são a imunofluorescência indireta e o método de
ELISA. A detecção de antígenos nas fezes através do método de ELISA,
tem demonstrado resultado satisfatório (sensibilidade- 85%a 90%/
especificidade- 90% a 100%) e eles já têm sido comercializados.

Estes métodos imunológicos ainda necessitam de maior


padronização e por isso, são usados atualmente apenas para levantamentos
epidemiológicos, no intuito de conhecer o comportamento da doença ao
40 Parasitologia Geral

longo do tempo e documentar a sua distribuição, para assim permitir o


planejamento de potenciais ações de saúde pública.

Uma curiosidade quanto aos métodos de diagnósticos, é


o desenvolvimento de técnicas mais avançadas, baseadas no
reconhecimento do DNA da Giardia, como por exemplo a técnica de PCR,
que está sendo desenvolvida e padronizada para detecção de cistos de
parasitas em veículos (água e alimentos) e fezes contaminados.

Epidemiologia
A Doença giardíase é encontrado em todo o mundo, principalmente
entre crianças de oito meses a 10-12 anos. Essa alta prevalência pode ser
devido à falta de hábitos higiênicos nessa idade. Em pessoas adultas altas
prevalências são encontradas em regiões tropicais e subtropicais e entre
pessoas de baixo nível econômico.

No Brasil a prevalência desta doença é de 4% a 30% (REY,2008).

Alguns aspectos devem ser considerados na epidemiologia dessa


parasitose, como:

• Esta doença pode chegar a níveis epidêmicos em regiões onde o


tratamento de água é inexistente ou ineficiente;

• O encontro, de espécies de Giardia semelhantes à G. lamblia em


animais domésticos e a possibilidade de algumas dessas espécies
infectarem experimentalmente o homem, sugere a possibilidade
da existência de reservatórios de Giardia para o homem;

• O organismo causador dessa doença apresenta uma forma de


cisto, altamente resistente, que segundo estudos pode resistir por
até dois meses em locais de condições de temperatura e umidade
adequados, além de ser resistente a processos de cloração da água;

• A giardíase é frequente em ambientes coletivos como creches,


internatos e enfermarias;

• Alimentos consumidos crus que são mal higienizados podem ser


importantes veículos desta parasitose.
Parasitologia Geral 41

Vale aqui destacar, que estudos epidemiológicos são de


fundamental importância, para o melhor entendimento da doença, tendo
em vista que a partir deles os pesquisadores são capazes de desenvolver
estratégias de combate ou profilaxia.

Profilaxia
Consiste em medidas de prevenção para evitar a infecção por
essa doença parasitária, tendo em vista as formas de transmissão e a
epidemiologia da doença:

• Medidas de higiene pessoal básicas, como lavar as mãos


regularmente;

• Tratamento de água e esgoto e quando não houver tratamento de


água, deve-se fervê-la, uma vez que os cistos não são resistentes
a altas temperaturas;

• Identificar se animais domésticos como cães e gatos, apresentam


parasitas semelhantes a Giárdia e tratá-los;

• Tratamento precoce do doente e identificação da fonte de infecção.

Por isso, é importante que você caro estudante perceba que as


medidas profiláticas citadas acima, que são consideradas simples. Podem
ser de fundamental importância para evitar a disseminação da Giardíase.

Tratamento
Geralmente, o tratamento é feito com a administração de
furazolidona, entretanto, tem se observado com o passar do tempo, uma
certa resistência do parasita a este medicamento e então, novos produtos
têm sido indicados, como: metronidazol (Flagil), tinidazol (Fasigyn),
omidazol (Tiberal) e secnidazol (Secnidazol). Além disso, alguns anti-
helmínticos do grupo dos benzimidazóis também podem ser utilizados.

Pode ocorrer resistência do parasito aos protocolos de tratamento.


Quando isso ocorrer recomenda-se um intervalo de cinco a dez dias e
utilizar outro princípio ativo.
42 Parasitologia Geral

Utilização de laxantes, purgativos bem como outros medicamentos


que atacam a flora intestinal podem dificultar o reconhecimento de
possíveis parasitos ou tornam os exames convencionais temporariamente
negativos.

Segundo Neves (2005) os esquemas terapêuticos para giardíase


mais utilizados são:

• Metronidazol (Flagil): 15 a 20mgfkg durante sete a dez dias


consecutivos, para crianças, via oral. A dose para adultos e de
250mg, duas vezes ao dia;

• Tinidazol (Fasigyn): dose única de 2g para adultos e lg para


crianças, sob a forma líquida, este produto também é apresentado
sob a forma de supositórios, com bons resultados; deve-se repetir
a dose uma semana depois;

• Furazolidona (Giarlam): 8 a 10mg por kg de peso por dia (máximo


de 400mgldia) durante sete dias, para crianças. Para adultos, a
dose e de 400mg em 24 horas, em duas ou quatro vezes por dia,
durante sete dias;

• Secnidazol (Secnidazol): a dose para adultos é de 2g, em dose


única de quatro comprimidos, de preferência a noite, tomados em
uma das refeições. Crianças com menos de cinco anos: 125mg,
duas vezes em 24 horas, por cinco dias.

RESUMINDO:

Bem, querido aluno. Já aprendemos bastante coisa


até agora não acha? Que tal revisarmos um pouco do
aprendizado deste capítulo. Neste capítulo estudamos
mais a fundo uma doença parasitária que acomete uma
parte da população brasileira, entendemos um pouco da
morfologia e fisiologia do seu agente causador, além do
seu ciclo de vida, os principais meios de transmissão desse
parasita. Entendemos também acerca da epidemiologia
dessa doença e das principais formas de profilaxia e
tratamento.
Parasitologia Geral 43

Estudo do parasita Trichomonas vaginalis


- Aspectos morfológicos e epidemiológicos
INTRODUÇÃO:

Ao término desse capítulo você será capaz descrever as


características gerais do protozoário parasita Trichomonas
vaginalis assim como da doença causada por estes
organismos, a Tricomoníase. Essa descrição envolverá os
aspectos epidemiológicos, profiláticos, de diagnóstico e
de tratamento. Então, prontos para aprender mais?? Então
vamos lá.

Aspectos gerais do parasita Trichomonas


vaginalis
Este protozoário parasita é causador de uma doença chamada
Tricomoníase, que afeta grande parte da população mundial feminina em
idade de reprodutiva (de 16 a 35 anos de idade). No entanto, este pode
habitar tantos as vias urinárias femininas quanto as masculinas.

O Trichomonas vaginalis é apresentado apenas na forma de


trofozoíto, não possuindo formas de cistos em seu ciclo de vida. Seu
corpo consiste numa célula polimorfa de formato ovoide ou elipsoide,
seu formato se modifica facilmente devido à ausência de estruturas de
sustentação que lhe conferem rigidez. Estes indivíduos medem de 10
a 30 micrômetros de comprimento. São flagelados, sendo portadores
de quatro flagelos livres, que partem de uma região chamada de canal
periflagelar, além disso apresentam uma prega da membrana chamada
de membrana ondulante. Possuem um único núcleo grande e alongado
e inúmeros vacúolos em seu citoplasma, que armazenam diversos
tipos de substâncias, todos eles apresentam vesículas chamadas de
hidrogenossomos. Esse parasita vive habitualmente sobre a mucosa
vaginal assim como em outros órgãos do trato genitourinário do homem
e da mulher. No homem já foi encontrado do prepúcio, na uretra e na
próstata.
44 Parasitologia Geral

Sua nutrição ocorre por meio de partículas de glicose, frutose,


maltose e glicogênio que conseguem obter partir de carboidratos presentes
nos órgãos que eles estão parasitando. São anaeróbios facultativos,
se desenvolvendo muito bem na ausência de oxigênio, por isso, não
consegue viver muito tempo fora do hospedeiro, uma vez que também
não apresenta formas de cisto, que são mais resistentes. Assim como a
Giardia essa espécie se reproduz assexuadamente por divisão binária. Para
compreender melhor as estruturas morfológicas presentes no parasita
Trichomonas vaginalis observe a figura abaixo.
Figura 8: Fotográfica com microscopia eletrônica demonstrando
a morfologia do parasita Trichomonas vaginalis.

Fonte: Wikimedia Commons

As setas destacam estruturas morfológicas que atuam na


locomoção do parasita: flagelo e membrana ondulante.

Ciclo de vida
O ciclo de vida destes indivíduos é monóxeno, ou seja, se desenvolve
com apenas um hospedeiro. Ele só apresenta uma forma corporal, que é
a de trofozoíto. Tendo em vista o fato deste parasita não apresentar uma
forma de cisto resistente a fatores externos, para que o parasita chegue
Parasitologia Geral 45

até o seu hospedeiro definitivo, se faz necessário um contato direto com


a pessoa contaminada ou com líquidos produzidos por ela, uma vez que
fora do hospedeiro, o tempo de vida do T. vaginalis é bem reduzido.
Figura 9: Representação esquemática do ciclo de vida do parasita T. vaginalis,
que é do tio monóxeno, tendo como único hospedeiro o ser humano.

Fonte: Wikimedia Commons

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey (2008)


e Rocha (2013): A contaminação por contato direto com a pessoa portadora
do parasita adulto por meio de ato sexual (Figura 9-1). Em seguida, o
parasita se reproduz no trato urinário masculino ou feminino (Figura 9-2).
Alguns dos trofozoítos contidos nestes órgãos ou em secreções vaginais
ou prostáticas podem passar para outro hospedeiro por via direta de
contaminação (Figura 9-3) reiniciando assim o ciclo.

Transmissão
A doença parasitária tricomoníase pode ser classificada como
venérea, uma vez que uma das suas formas de transmissão pode ser a
relação sexual (Neves, 2002).
46 Parasitologia Geral

IMPORTANTE:

De acordo com literatura, existem registros de tricomoníase


neonatal em meninas, acredita-se que a mesma seja
adquirida durante o parto.

O homem pode funcionar como vetor desta doença, uma vez


que, durante o ato sexual, quando ocorre o processo de ejaculação, os
protozoários parasitas podem ser levados ao interior da vagina da mulher,
por meio do líquido espermático. Também pode ocorrer por fômites
(banho, roupas íntimas ou de cama, artigos de toalete, quando molhados
ou úmidos).

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Tricomoníase
Este parasita é considerado um dos principais patógenos do trato
urogenital humano e pode estar associado a uma série de complicações
na saúde dos indivíduos portadores do mesmo. Alguns estudos apontam
a associação dessa doença a partos de natureza prematura, além de
casos de endometrite pós-parto.

Mulheres acometidas por essa doença, podem apresentar um risco


de infertilizada mais elevado. Além disso, segundo estudo de Maciel et al.,
2004, indivíduos acometidos por tricomoníase apresentaram uma maior
suscetibilidade para o desenvolvimento da AIDS.

Para conseguir se nutrir do glicogênio que necessita, esta protozoário


parasita secreta no corpo do hospedeiro, mais especificamente no sistema
genital masculino e feminino, uma série de aminoácidos, provenientes
da metabolização dos seus hidrogenossomos. Estas substâncias
desencadeiam a produção de enzimas localmente, como forma de
reação a invasão do parasita. As enzimas tem o intuito de degradar os
aminoácidos, este processo de degradação altera o pH da vagina. Uma
vez que entendemos que o pH vaginal se mantém num limiar ideal, a
fim de proteger essa região de possíveis agentes patogênicos. A maior
acidez na mucosa vaginal, gerada pela reação citada anteriormente
Parasitologia Geral 47

aumenta a secreção de um muco abrasivo que leva a irritação tanto da


mucosa vaginal quanto da vulva, região externa da vagina, provocando
um processo inflamatório chamado de vaginite.

Toda esta alteração que o parasita causa na vagina, leva a formação


de um corrimento vaginal característico, chamado de leucorreia (formado
pelo conjunto de muco, células de defesa que são enviadas para atacar
o patógeno e parasitas), este corrimento apresenta uma coloração
amarelada e um forte odor.

A mulher também pode apresentar dores durante a relação sexual,


dor ao urinar além de frequência miccional (vontades de ir ao banheiro com
frequência). Em mulheres grávidas, esses sintomas podem se manifestar
de forma mais evidente. Durante o ciclo menstrual o número de parasitas
e reações sintomáticas na vagina da mulher, pode variar. Durante a
menstruação, por exemplo, os sintomas podem ser mais intensos do que
em outras fases do ciclo.

No homem essa doença tem caráter mais assintomático, porém


nos casos sintomáticos percebe-se algumas alterações como: pequenas
escoriações na glande que provocam sensação de ardor em contato
com a urina e durante o ato sexual, também pode se formar um tampão
mucoso na abertura da uretra durante a noite o que dificulta a eliminação
da primeira urina matinal. Em casos mais graves, pode ocorrer algumas
complicações como: prostatite, balanopostite e cistite. Todas consistindo
em inflamações no sistema urogenital masculino. No homem, esse
protozoário pode se localizar na bexiga e na vesícula seminal

Diagnóstico
O diagnóstico clínico não é suficiente, uma vez que essa doença
pode ser confundida com outras DSTs. Além do fato de que T. vaginalis
pode se auto revestir de proteínas plasmáticas do próprio hospedeiro,
este processo causa um tipo de camuflagem ao parasita, o que não
permite que o sistema imune o reconheça como estranho. Sendo, por
isso, seu diagnóstico laboratorial essencial. Alguns procedimentos devem
ser adotados para que o exame seja feito corretamente:
48 Parasitologia Geral

• Para os homens: O material deve ser coletado pela manhã, sem


que o homem tem urinado. Deve ser coletada uma amostra do
sêmen em um recipiente limpo e estéreo, para posterior análise.

• Para as mulheres: Para coleta de material das mulheres deve-


se seguir um protocolo: a região de coleta não pode ter sido
higienizada (mínimo de 18h antes da coleta), o material deve ser
coletado diretamente na vagina com um swab de algodão com
o auxílio de um espéculo não-lubrificado. Atualmente, grande
maioria das mulheres já realizam estes testes de maneira rotineira,
pois o teste preventivo de câncer de colo uterino, exame citológico
ou Papanicolau conseguem detectar o parasita. Se os parasitas
forem pouco abundantes deve-se colocar o material em meio de
cultura de Kupferberg.

As amostras de ambos devem ser preservadas em líquidos ou em


meios de transporte, que mantém os microrganismos por até 24h após
a coleta. Posteriormente é aplicado exame microscópico convencional
de preparações a fresco e de esfregaços fixados e corados, para o
diagnóstico da tricomoníase urogenital.

Epidemiologia
A tricomoníase é uma doença cosmopolita, ou seja, ocorre em
todas as partes do mundo. De acordo com as estatísticas suas taxas
chegam a variar entre 20 a 40% das pacientes examinadas. Apesar de nos
homens a prevalência parecer muito menor, talvez pela dificuldade de
diagnóstico. Esta doença é considerada uma DST não-viral. A incidência
da infecção nos hospedeiros depende de fatores como: idade, atividade
sexual, número de parceiros sexuais, outras DSTs pré-existentes, fase do
ciclo menstrual, técnicas de diagnóstico e condições socioeconômicas.

O T. vaginalis pode viver durante três horas na urina coletada e seis


horas no sêmen ejaculado.

Sua prevalência é elevada entre grupos de pessoas com baixo nível


socioeconômico. A perpetuação deste parasita depende da sobrevivência
do hospedeiro humano, tendo em vista sua baixa resistência fora do corpo
Parasitologia Geral 49

humano. Além disso, a taxa e prevalência da infecção no homem é bem


inferior do que a da mulher.

Profilaxia
Como qualquer DST o uso de preservativo masculino e feminino é
a melhor prevenção para esta doença. Além disso deve-se tomar outras
medidas preventivas tais como:

• Higienização adequada da genitália ou de qualquer objeto ou


utensílio que entre em contato com a vulva e ou com o pênis;

• Realização de exames de rotina por ambos os sexos;

• Abstinência de contatos sexuais com pessoas infectadas;

• Administração de um tratamento imediato e eficaz, tanto para os


casos sintomáticos como para os assintomáticos

É importante, por isso, perceber que as medidas profiláticas como


as citadas acima. Podem ser de fundamental importância para evitar a
disseminação da doença parasitaria chamada de Tricomoníase.

Tratamento
O parasita em questão não se mostra sensível a antibióticos. Os
fármacos usados são os derivados de nitroimidazólicos, que atuam na
formação de radicais tóxicos, são eles:

• Metronidazol (Flagyl): Por via oral (2g) em dose única ou 250g, 2 a


3 vezes por dia, durante 10 dias;

• Tinidazol (Fasigyn): Também em dose única via oral, sendo quatro


comprimidos de 500mg

• Nimorazol (Nagoxin): Comprimidos de 250mg duas vezes ao dia


durante 6 dias.

• Também podem ser usados o Omidazol (Tiberal), o Camidazol e o


Secnidazol.
50 Parasitologia Geral

Segundo Maciel et al. 2004 estes fármacos atuam em organelas


do T. vaginalis, chamadas de hidrogenossomas, local onde eles são
metabolizados e produzem um metabólito que parece afetar a síntese de
DNA comprometendo assim, o ciclo de vida do parasita.

O tratamento deve ocorrer de forma simultânea para parceiros


sexuais, mesmo que a doença tenha sido diagnosticada em apenas um
dos membros do casal. Em gestantes esses medicamentos não devem ser
usados via oral, somente pela aplicação local de cremes, geleias ou óvulos.

Dentro do gênero Trichomonas, temos uma espécie não patógena,


é importante que se tenha conhecimento dela para evitar diagnósticos
errados. A referida espécie é chamada de Trichomonas hominis é um
protozoário flagelado, com ampla distribuição geográfica, com maior
prevalência em regiões tropicais. Ele mede de 7 a 15 micrômetros e a
assim como T.vaginalis, não apresenta forma cística e habitam o intestino
da espécie humana. Eles apresentam seis flagelos e um deles está
disposto ao longo da membrana ondulante e chamado de axóstilo, como
você poderá notar na [[Figura 11]]. Sua reprodução também ocorre por
divisão binária.

Sua transmissão ocorre através de alimentos e água contaminada


com fezes (rota fecal-oral), ela depende, primariamente, dos costumes
de higiene e dos hábitos de alimentação dos hospedeiros humanos.
Por serem de difícil coração, estes organismos podem ser omitidos nas
colorações permanentes, seu diagnóstico deve ser realizado nas fezes
frescas por meio da observação da morfologia do parasita, principalmente,
utilizando como caracteres de diferenciação do T. vaginalis a membrana
ondulante e o axóstilo. Eles não habitam a vagina da mulher como o
Trichomonas vaginalis. Alguns autores afirmam que a maior prevalência é
entre crianças de 2 a 6 anos de idade.
Parasitologia Geral 51

Figura 10: Desenho esquemático e fotografia em microscopia


óptica do protozoário Trichomonas hominis.

A) B)

Fonte: Imagem A: Wikimedia Commons / Imagem B: Neves (2005, p.116)

A imagem (A) é uma fotografia em microscopia óptica da espécie


Trichomonas hominis e (B) um desenho esquemática da espécie
Trichomonas hominis.

RESUMINDO:

Caro aluno. Já aprendemos bastante coisas até agora.


Que tal revisarmos um pouco do aprendizado deste
capítulo? Neste capítulo estudamos mais a fundo uma
doença parasitária que acomete boa parte das mulheres
no mundo em idade reprodutiva, a Tricomoníase.
Caracterizamos a morfologia e fisiologia do seu agente
causador, além de descrevermos como ocorre o seu ciclo
de vida e os principais meios de transmissão desse parasita.
Também caracterizamos outras espécies de parasita
do gênero Trichomonas, o Trichomonas hominis, que é
morfologicamente semelhante ao Trichomonas vaginalis e
por isso, deve ser estudo a fim de que se evitem possíveis
diagnósticos errôneos. Por fim, Averiguamos aspectos
epidemiológicos da doença tricomoníase, assim como
suas formas de profilaxia, diagnóstico e tratamento.
52 Parasitologia Geral

REFERÊNCIAS
DE CARLI, G. A., Parasitologia Clínica. Seleção de Métodos e
Técnicas de Laboratório para Diagnóstico das Parasitoses Humanas, 810
pp..., Atheneu. Rio de Janeiro. Última edição.

HICKMAN, L. A. Princípios Integrados de Zoologia. 16ª Ed. 2016.

MACEDO, Jorge. Parasita da leishmaniose ‘engana’ o sistema


imunológico. Estado de Minas,2014. Disponível em: <https://bit.ly/3fLmza0>.
Acesso em: 14 de abr. 2020.

MACIEL, G. P.; TASCA, T.; DE CARLI, G. A. Aspectos clínicos,


patogênese e diagnóstico de Trichomonas vaginalis. J. Bras. Patol. Med.
Lab. [online]., v.40, n.3, p.152-160. 2004.

MARIA, Lucas da Silva. Reprodução por divisão binária. Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=bXEc2UYBD9o>. Acesso em: 14
de abr. 2020.

NEVES, D. P. Parasitologia humana. In: Parasitologia humana. 2002.

NUEPE. Fagocitose. Disponível em: <https://bit.ly/3wTvDiI> Acesso


em: 14 de abr. 2020.

PESSOA, S. B. Parasitologia Médica. Guanabara Koogan, Rio de


Janeiro, 1982. 872 pp.

REY, Luís. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem


nos trópicos ocidentais. In: Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias
do homem nos Trópicos Ocidentais. 2008. p. 883-883.

RICKLEFS, R.E. A economia da natureza. In: A economia da natureza.


1996. p.470.

ROCHA, A. Parasitologia. São Paulo: Ridieel. 2013. P. 448.

SIQUEIRA, M. S. et al. Internações por doenças relacionadas ao


saneamento ambiental inadequado na rede pública de saúde da região
metropolitana de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 2010-2014. Epidemiol.
Serv. Saude, Brasília, 26(4):795-806. 2017.

WIKIMEDIA. Live-Imaging-of-Mitosomes-and-Hydrogenosomes-
by-HaloTag-Technology-pone.0036314.s002.ogv. Disponível em:
<https://bit.ly/3uL5Urg>. Acesso em: 14 de abr. 2020.

Você também pode gostar