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Parasitologia Geral

Unidade 3
Estudo dos Parasitas Trypanosoma Cruzi,
Toxoplasma Gondii, Fasciola Hepatica e
Trichuris Trichiura
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
RAFAELA CRISTINA DE SOUZA DUARTE
AUTORIA
Rafaela Cristina de Souza Duarte
Olá. Meu nome é Rafaela Cristina de Souza Duarte. Sou formada
em Ciências Biológicas, tenho mestrado em Ecologia e Conservação e
Doutorado em Ciências Biológicas com habilitação em Zoologia, com uma
experiência técnico-profissional na área de invertebrados marinhos de
mais de 10 anos. Passei por Instituições, como a Universidade Estadual da
Paraíba, Universidade Federal da Paraíba e Laboratório de Biologia marinha,
nas quais desenvolvi atividade de pesquisa, ensino e extensão nas áreas
de Zoologia e Ecologia de invertebrados. Sou apaixonado pelo que faço e
adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão iniciando em
suas profissões. Por isso fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar
seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimento de de se apresentar um
uma nova compe- novo conceito;
tência;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram que
vações ou comple- ser priorizadas para
mentações para o você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamen- atenção sobre algo
to do seu conheci- a ser refletido ou dis-
mento; cutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das últi-
assistir vídeos, ler mas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando o desen-
atividade de au- volvimento de uma
toaprendizagem for competência for
aplicada; concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Estudo do parasita Trypanosoma cruzi............................................... 12
Aspectos gerais do Trypanosoma cruzi........................................................................... 12

Ciclo de vida........................................................................................................................................ 14

Transmissão.......................................................................................................................................... 16

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da doença de Chagas ......... 17

Diagnóstico........................................................................................................................................... 18

Epidemiologia..................................................................................................................................... 19

Profilaxia ................................................................................................................................................ 20

Tratamento........................................................................................................................................... 20

Estudo do parasita Toxoplasma gondii - Aspectos morfológicos


e epidemiológicos ...................................................................................... 22
Aspectos gerais do parasita Toxoplasma gondii........................................................ 22

Ciclo de vida........................................................................................................................................25

Transmissão..........................................................................................................................................27

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Toxoplasmose.....................27

Diagnóstico...........................................................................................................................................28

Epidemiologia.....................................................................................................................................29

Profilaxia..................................................................................................................................................29

Tratamento............................................................................................................................................29

Estudo do parasita Fasciola hepatica - Aspectos morfológicos e


epidemiológicos .......................................................................................... 31
Aspectos gerais do Fasciola hepatica.............................................................................. 31

Ciclo de vida........................................................................................................................................32

Transmissão..........................................................................................................................................35
Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Fasciolose .............................35

Diagnóstico...........................................................................................................................................37

Epidemiologia.....................................................................................................................................37

Profilaxia................................................................................................................................................. 38

Tratamento........................................................................................................................................... 39

Estudo do parasita da espécie Trichuris trichiura .........................40


Aspectos gerais do parasita Trichuris trichiura........................................................... 40

Ciclo de vida........................................................................................................................................44

Transmissão..........................................................................................................................................45

Mecanismos patogênicos e sintomatologia da Tricuríase .............................. 46

Diagnóstico.......................................................................................................................................... 46

Epidemiologia.....................................................................................................................................47

Profilaxia................................................................................................................................................. 48

Tratamento........................................................................................................................................... 48
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03
UNIDADE
10 Parasitologia Geral

INTRODUÇÃO
Olá, querido(a) estudante! Você está pronto para continuarmos
nossos estudos sobre as parasitoses que mais acometem os seres
humanos? Aqui, abordaremos mais algumas doenças causadas por
organismos parasitas do grupo dos protozoários e dos helmintos, de
importância médica considerável. Ao longo dos capítulos dessa unidade,
veremos as estratégias utilizadas pelos parasitas para desenvolverem
seus ciclos de vida no interior de seus hospedeiros e como suas atividades
podem gerar quadros clínicos diversificados. Além disso, identificaremos
também como essas doenças são disseminadas, seus fatores
epidemiológicos, possíveis quadros de endemia e os fatores ambientais
e sociais que podem provocar sua maior ou menor incidência. E por fim,
de um modo detalhado, iremos apresentar protocolos específicos de
diagnósticos e tratamentos dessas doenças.
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OBJETIVOS
Olá! Seja muito bem-vindo a Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:

1. Descrever aspectos gerais do parasita Trypanosoma cruzi e da


doença causada por este organismo, a Doença de Chagas.

2. Identificar aspectos gerais do parasita Toxoplasma gondii e da


doença causada por esse organismo, a Toxoplasmose.

3. Elencar gerais do parasita Fasciola hepática, além dos aspectos


epidemiológicos da doença causada por este parasita, a Fasciolose.

4. Reconhecer aspectos gerais, assim como, as formas de


transmissão, profilaxia, diagnóstico e tratamento e aspectos
epidemiológicos da doença causada por este parasita, a Tricuríase.

Então? Vamos compartilhar esses conhecimentos!


12 Parasitologia Geral

Estudo do parasita Trypanosoma cruzi


INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de descrever


aspectos gerais do protozoário parasita Trypanosoma
cruzi e sua importância médica considerável. Dentre estes
aspectos estão: morfologia, ciclo de vida do parasita nos
seus hospedeiros (homem e mosquito), relação entre
parasita e hospedeiros; Além de alguns aspectos da doença
causada por este organismo, a Doença de Chagas, dentre
estes aspectos, podemos citar: Transmissão, profilaxia,
diagnóstico, tratamento e epidemiologia. Então, prontos
para aprender mais sobre estes organismos e seus fatores
patogênicos? Então vamos lá!

Aspectos gerais do Trypanosoma cruzi


Dentre as espécies do grupo dos tripanossomos que ocorrem nas
américas, o Tripanosoma cruzi é o mais importante deles do ponto de
vista clínico, tendo em vista que ele é o causador da doença de chagas,
que pode acometer os sistemas cardíaco e gastrointestinal. De acordo
com Rocha (2013), no Brasil existem duas linhagens de Tripanosoma cruzi:

• Linhagem patogênica: Forma que é transmitida ao homem,


causadora da doença de Chagas é transmitida pelo inseto da
espécie Triatoma infestans.

• Não patogênica ou Trypanosoma cruzi do tipo I: Forma causadora


de zoonoses, raramente infecta o homem e quando isso ocorre,
o ser humano manifesta quadros benignos ou assintomáticos da
doença de Chagas.

O Trypanosoma cruzi é um parasita flagelado, ou seja, que possuem


flagelos como estruturas locomotoras. Segundo Neves (2002), em seu
ciclo de vida esse parasita exibe formas morfológicas diversas, tais como:

• Amastigotas: São formas ovóides, muito pequenas medindo em


média 4 micrometros de diâmetro. Não apresentam flagelos livres
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nem membrana ondulante. Seu sistema locomotor se restringe


ao segmento contínuo do bolso flagelar que desempenha um
movimento de rotação.

• Epimastigotas: Apresentam-se com dimensões e formas


bastantes variáveis. Na maioria das vezes são encurvados.
Possuem um citoplasma abundante, membrana ondulante curta
e flagelo bem desenvolvido. Esses são formas muito ativas que se
multiplicam por divisão binária muito.

• Tripomastigotas: Formas pequenas medindo no máximo 25


micrometros de diâmetro, com extremidades afiladas. Nelas a
membrana ondulante é estreita e pouco pregueada e o flagelo
muito curto, sua movimentação é rápida e direcional. Esses ainda
podem se apresentar sob duas formas morfológicas distintas:

a. Metacíclicas: apresentam formato mais estreito. Podem


invadir diferentes tipos de célula no hospedeiro humano,
preferencialmente as células do miocárdio e do trato digestório.

b. Sanguícolas: Possuem uma forma corporal mais larga, porém


dimensões menores. Essas formas diferenciam-se em formas
epimastigotas no tubo digestório do inseto vetor.

O ciclo tripomastigotas > amastigota > tripomastigotas assegura a


continuidade da infecção no hospedeiro vertebrado humano, bem como
a propagação do parasitismo para outros órgãos e tecidos do corpo.
Figura 1: Desenho esquemático e fotografias de lâmina contendo as formas morfológicas que
o parasita Tripanosoma cruzi apresenta durante o desenvolvimento de seu ciclo de vida.

A imagem (A) é a forma amastigota e (B) inclui as formas de tripomastigotas e epimastigota.

Fonte: Imagem (A): Neves (2005, p. 296) Imagem (B): Wikimedia Commons
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Com tudo isso, podemos verificar, portanto, que estes organismos


apresentam diversas formas morfológicas durante seu ciclo de
desenvolvimento, tanto no hospedeiro humano e no hospedeiro
invertebrado.

Ciclo de vida
O Trypanosoma cruzi é considerado um parasita eurixeno, pois
apresenta uma especificidade parasitária ampla, infectando diversas
espécies de vertebrados, como muitos mamíferos e até aves.

O ciclo de vida desses indivíduos é do tipo heteróxeno, e ocorre com


a presença de um hospedeiro intermediário, que, neste caso, é um inseto
da espécie Triatoma infestans, conhecido popularmente como barbeiro, o
qual se infecta ao sugar o sangue de humanos ou de animais parasitados e
um hospedeiro definitivo vertebrado. No hospedeiro humano encontram-
se as formas intracelulares e no inseto vetor as extracelulares (NEVES,
2002).

No inseto, o parasita encontra-se alojado no intestino e no reto nas


formas esferomastigota e epimastigota. No momento em que o inseto
está se alimentando do sangue humano, ele pode defecar, eliminando
os parasitas em sua forma infectante. Esses podem penetrar na pele do
hospedeiro por meio do orifício deixado pela picada do inseto.

No interior do hospedeiro humano, os parasitas na sua forma


amastigota invadem células de defesa chamadas de fagócitos, dentro
das quais se reproduzem e transformam-se em formas tripomastigotas,
que provocam a lise (rompimento das células), acarretando a liberação
dos mesmos na corrente sanguínea, sendo carreados então, para o resto
do corpo.
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Figura 2: Desenho esquemático do ciclo de vida do parasita Trypanosoma cruzi nos seres
humanos e no seu hospedeiro intermediário, o inseto Triatoma infestans.

Fonte: Wikimedia Commons

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey


(2008) e Rocha (2013): O ciclo infeccioso do Tripanosoma cruzi tem início
com a picada do inseto Triatoma infestans, ao se alimentar do sangue
ele acaba defecando e liberando as formas infectantes do parasita
(tripomastigotas-matacíclicas) na pele humana (Figura 2-1). Em seguida,
essas formas transformam-se em formas amastigotas (Figura 2-2). As
formas amastigotas reproduzem-se e invadem os tecidos do hospedeiro
(Figura 2-3). Os amastigotas então, transformam-se em tripomastigotas
sanguícolas e se disseminam pela corrente sanguínea (Figura 2-4). O
inseto triatomídeo suga o sangue humano e acaba absorvendo as formas
tripomastigotas (Figura 2-5). Que se multiplicam no seu trato digestório
e transformam-se em epimastigotas (Figura 2-6). As formas infectantes
metacíclicas atingem, então, o intestino grosso do inseto (Figura 2-7).
Quando o inseto se alimenta acaba eliminando essas formas na pele
humana por meio de suas fezes. (Figura 2-8) O ciclo é reiniciado assim
quando o inseto pica novamente um humano e libera suas fezes contendo
estas formas infectantes, na pele humana.
16 Parasitologia Geral

Transmissão
A doença de Chagas, causada pelo Trypanosoma cruzi, é transmitida
por intermédio do inseto vetor da espécie Triatoma infestans. Este inseto é
classificado como um hemíptero hematófago (que se alimenta de sangue)
de diversos grupos de vertebrados, incluindo o homem (Neves, 2002). O
inseto transmissor da doença pode apresentar diversos nomes populares
de acordo com a região em que se encontra, tais como: Barbeiro, bicho-
de-parede, chupão, entre outros. Estes indivíduos, ao se alimentar do
sangue do ser humano, acabam inoculando as formas infectantes do
parasita na sua corrente sanguínea.

A prevalência da doença de chagas está diretamente associada a


presença de seus vetores insetos triatomíneos hematófagos.

Segundo Rey (2008), a transmissão das formas infectantes do


parasita também pode ocorrer, de forma mais rara pelos seguintes meios:

• Transfusão sanguínea: Através da transfusão de sangue


contaminado com formas infectantes do parasita.

• Transmissão congênita: Acontece quando existem “ninhos” de


amastigotas na placenta, que podem liberar tripomastigotas que
chegaram à circulação fetal.

Diversos animais silvestres podem ser considerados potenciais


reservatórios do T. cruzi em diversas regiões do Brasil. Podemos citar
aqui alguns deles: tatus, gambás, roedores e alguns macacos. Por isso,
caçadores podem se infectar diretamente ao lidar com o sangue da caça
recém abatida (Rey, 2008).
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Figura 3: Fotografias do inseto transmissor da doença de Chagas, o Triatoma infestans e de


sua estrutura bucal adaptada a hábitos alimentares hematófagos.

A imagem (A) refere-se a uma fotografia mostrando a morfologia externa do inseto e a (B)
a uma fotografia em microscopia eletrônica mostrando o parelho bucal adaptado para a
sucção de sangue do hospedeiro

Fonte: Wikimedia Commons

Por tudo isso, é importante que você caro estudante, perceba


a transmissão da Doença de chagas se dá principalmente por meio da
picada do inseto hematófago Triatoma infestans

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da doença de Chagas
As infecções geradas por essa doença tendem a ser assintomáticas,
na maioria dos casos. Quando os sintomas aparecem, os mais
comuns são: febre, linfadenopatia (alterações nos nódulos linfáticos)
e hepatoesplenomegalia (aumento do tamanho do fígado e do baço),
provocando inchaço abdominal. De acordo com Neves (2002), essa
doença pode se apresentar em diversas fases no ser humano, são elas:

• Fase aguda: Esta pode ser sintomática ou assintomática, ambas


relacionadas com o sistema de defesa do hospedeiro humano.
Geralmente essa fase inicia-se por meio de manifestações locais
quando o T. cruzi penetra na conjuntiva (Sinal de Romanã) ou na
18 Parasitologia Geral

pele (Chagoma de inoculação), aparecendo 4-10 dias após a picada


do barbeiro, regredindo em um ou dois meses. Manifestações
comuns são: febre, edema localizado e generalizado, poliadenia
(hipertrofia de gânglios linfáticos), hepatomegalia, esplenomegalia
(aumento do volume do baço) e, às vezes, insuficiência cardíaca e
perturbações neurológicas.

• Fase crônica assintomática: Após a fase aguda, os sobreviventes


passam por um longo período assintomático (10 a 30 anos). Essa
fase é chamada de indeterminada ou latente e caracteriza-se pela
positividade em exames sorológicos e ou parasitológicos, ausência
de sinais e sintomas e normalidade no eletrocardiograma. Apesar
de assintomáticos e de apresentarem lesões muito discretas, tem
sido registrado morte súbita de pacientes com essa forma da
doença.

• Fase crônica sintomática: Algumas pessoas, após permanecerem


vários anos e estado assintomático podem apresentar sintomas
relacionados ao sistema cardiovascular (forma cardíaca), digestivo
(forma digestiva), ou ambos (Forma cardiodigestiva ou mista).
Nessa fase, a doença pode provocar uma mudança anatômica no
miocárdio e no tubo digestivo.

IMPORTANTE:

Ainda há casos em que uma forma neurológica da doença é


manifestada, esta provoca nos pacientes um quadro clínico
com manifestações neurológicas tais como: alterações
psicológicas, comportamentais e perda de memória.

Estas fases descritas acima, dependem de fatores como a carga


parasitária do hospedeiro e o estado do seu sistema imunológico.

Diagnóstico
Na fase aguda da doença, os parasitas podem ser detectados por
meio de exames de sangue a fresco, em gota espessa ou esfregaços,
corados por Giemsa ou Leishman.
Parasitologia Geral 19

Na fase crônica da doença também pode se empregar o


xenodiagnóstico, que consiste basicamente em analisar insetos
alimentados com sangue do paciente e posteriormente verificar a
presença de formas infectantes nas fezes dos mesmos.

SAIBA MAIS:

Entenda mais sobre os procedimentos utilizados na


técnica de xenodiagnóstico para tanto leia o artigo
intitulado: Técnica de xenodiagnóstico na moléstia de
Chagas. Clique aqui.

As técnicas de hemocultura ou a técnica de PCR, também podem


ser utilizadas, essa segunda com o intuito de identificar o DNA do parasita.
Uma vez instalada a fase crônica da doença, o método sorológico é o
mais indicado. As técnicas mais utilizadas são a imunofluorescência, a
hemaglutinação ou ELISA.

Epidemiologia
A organização mundial da saúde (OMS) estima que cerca de 6
milhões de pessoas no Brasil estejam acometidas pela doença de Chagas.
Apesar de existirem outras formas de transmissão da doença, as fezes do
inseto é a de maior importância epidemiológica.

IMPORTANTE:

Segundo Rocha (2013), no Brasil essa doença é encontrada


nos seguintes estados: Rio Grande do Sul, parte de Santa
Catarina e Paraná, São Paulo, Minas Gerais (exceto no sul
de Minas), Goiás Tocantins e estados do Nordeste. Na
Amazônia, a doença de Chagas humana é rara, mas muito
comum entre os animais silvestres.

Podemos dizer que essa doença era exclusiva de animais silvestres


e insetos triatomíneos, passando aos humanos na medida em que estes
modificavam o meio ambiente, desmatando extensas áreas de florestas e
construindo suas habitações. Dessa forma, o ciclo da doença, que antes
se dava apenas com animais silvestres, incluiu o homem como hospedeiro
20 Parasitologia Geral

invadiu as habitações humanas. Nas habitações rurais precárias, chamadas


de “casas de taipa”, a abundância dos insetos é considerável, o que torna
as zonas rurais, locais de disseminação da doença. O T. cruzi circula entre
humanos e animais, desde o sul dos EUA até a Argentina.

Profilaxia
O controle da doença de Chagas consiste, principalmente, no
combate ao vetor, o inseto hematófago da espécie Triatoma infestans,
chamado comumente de Barbeiro.

O tratamento da doença de Chagas por meio de vacinação, apesar


de ainda estarem em fase de estudos, apresentam resultados ainda se
mostram pouco promissores (NEVES, 2002).

Segundo Neves (2002) e Rey (2008), podem ser sugeridas medidas


profiláticas, tais como:

• Melhoria das habitações rurais, trocando as casas de taipa por


casas de alvenaria, feitas com tijolos e cimento. Além de melhoria
nas condições de higiene e limpeza nos arredores do domicílio;

• Combate ao barbeiro, vetor da doença, por meio de inseticidas


eficientes ou controle biológico;

• Controle do doador de sangue, realizando testes sorológicos a fim


de detectar as formas infectantes do parasita. Além de esterilização
do sangue pela violeta-de-genciana;

• Controle de transmissão congênita, a rigor, todo recém-nascido


de mãe com sorologia positiva para T. cruzi deveria ser examinado
imediatamente após o nascimento.

Tratamento
Apesar de não haver uma cura para a doença, deve-se diminuir
de forma precoce ou eliminar a infecção e seus efeitos, na fase aguda
da doença. DE acordo com protocolos indicados por Rocha (2013), os
fármacos sugeridos para tanto são:
Parasitologia Geral 21

• Benzonidazol: Age apenas contra as formas sanguíneas. Deve


ser empregado em comprimidos, por via oral, na dose de 8-10mg
em duas a três doses durantes 60 dias. Pode apresentar efeitos
colaterais como: anorexia, perda de peso, vertigens, dermatites
urticariformes, cefaleia, sonolência e dores abdominais.

• Nifurtimox: Age contra as formas sanguíneas e teciduais, também


é administrado via oral, na forma de comprimidos em dosagens
de 8-10mg em duas a três doses durantes 60 a 90 dias. Os efeitos
colaterais podem incluir: anorexia, emagrecimento, náuseas,
vômitos, alergia cutânea, parestesias irreversíveis e polineuropatia.

Na fase crônica da doença, as cardiopatias são medicadas e os


casos em que ocorrem deformidades no aparelho digestório representam
casos cirúrgicos.

RESUMINDO:

Bem, caro estudante. Já aprendemos bastante coisa até


agora, não é mesmo? Que tal revisarmos um pouco do
aprendizado deste capítulo. Neste capítulo, estudamos
mais a fundo uma doença parasitária que afeta o ser
humano, chamada de doença de Chagas, causada pelo
parasita Tripanosoma cruzi, que apresenta diversas formas
morfológicas em seu ciclo de vida, tanto no hospedeiro
intermediário, que é um inseto hematófago chamado
de Triatoma infestans, quanto no organismo humano.
Entendemos que a profilaxia dessa doença depende da
melhoria de moradias rurais e do combate ao inseto vetor,
e que apesar de não haver uma cura determinada para a
doença, seu controle é realizado por meio da utilização de
algumas drogas.
22 Parasitologia Geral

Estudo do parasita Toxoplasma gondii -


Aspectos morfológicos e epidemiológicos
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar


os aspectos gerais do parasita Toxoplasma gondii, tais
como: forma de infecção, ciclo de vida, relação entre o
parasita e seus hospedeiros. Além disso, diversos aspectos
da doença causada por este parasita, a Toxoplasmose,
como: Transmissão, sintomatologia, profilaxia, diagnóstico
e tratamento. Então, prontos para aprender mais?? Então
vamos lá!

Aspectos gerais do parasita Toxoplasma


gondii
O Toxoplasma gondii é um protozoário parasita pertencente ao filo
Apicomplexa, o qual abriga indivíduos que não apresentam estruturas
locomotoras e são, portanto, parasitas intracelulares obrigatórios
(NEVES, 2002). Sua estrutura corpórea apresenta o formato de um arco,
caracteriza-se pela presença de uma estrutura, chamada de complexo
apical (formado pelo conóide e o anel polar). Essa estrutura é responsável
pela penetração do parasita na célula hospedeira.

Vale destacar também a presença de uma organela característica


desse grupo, o apicoplasto, que aparentemente, é essencial para a
manutenção do parasita no interior da célula do hospedeiro. Segundo
Neves (2002), a penetração do parasita em seu hospedeiro se dá por
etapas, que envolvem:

• Reconhecimento e adesão à membrana celular da célula do


hospedeiro por estruturas da membrana plasmática do parasito.

• Reorientação do parasita para que o complexo apical fique contra


a superfície da célula hospedeira a fim de facilitar a penetração.

• Formação de junções móveis entre as células do hospedeiro e o


parasita.
Parasitologia Geral 23

• Descarga parcial de conteúdo parasitário que absorvido pela


célula hospedeiras por endocitose, e, por último, multiplicação
dos parasitas e abandono da célula hospedeira.
Figura 4: Desenho esquemático do protozoário Toxoplasma gondii,
indicando suas principais estruturas morfológicas.

Fonte: Rocha (2013, p.96).

O parasita T. gondii pode apresentar uma múltipla morfologia que irá


depender do habitat em que ele se encontra (meio externo, hospedeiros
intermediários ou hospedeiro definitivo) e do seu estágio evolutivo (Neves,
2002). Essas formas podem ser:

• Taquizoíto: chamada também de forma livre ou proliferativa.


Apresenta um formato de meia lua, com uma das extremidades
mais afiladas e a outra arredondada e núcleo em posição central.
Essas formas são pouco resistentes ao suco gástrico.

• Bradizóito: esta forma também pode ser chamada de cistozoíto. É


encontrada em tecidos e se multiplicam lentamente. São encontrados
dentro de vacúolos parasitólogos de uma célula hospedeira.
Apresentam uma membrana em forma de cápsula que forma um
cisto tecidual. Esses são mais resistentes do que os taquizoítos,
podendo permanecer viáveis nos tecidos por vários anos.

• Oocistos: São formas esféricas. Apresentam uma parede dupla


resistente às condições do meio externo. Geralmente, são
produzidos nas células intestinais de felídeos e eliminados
imaturos junto com as fezes dos mesmos. Após o processo de
esporulação no meio externo, ele contém dois esporocistos, com
quatro esporozoítos cada.
24 Parasitologia Geral

Figura 5: Fotos em microscopia óptica (parte superior) e desenhos esquemáticos (parte


inferior), demonstrando as três formas morfológicas da espécie Toxoplasma gondii.

A) Oocisto; B) Taquizoítos e C) Cisto tecidual contendo bradizóitos.

Fonte: Wikimedia Commons

A reprodução do parasita Toxoplasma gondii pode ocorrer de


forma assexuada ou sexuada. Eles podem se reproduzir assexuadamente
por endogenia ou endopoligenia, processos bem semelhantes em que
o protozoário duplica todo o seu material genético; assim como seus
conóides e em seguida ocorre a duplicação em duas células filhas, que
darão origem aos novos protozoários. A diferença entre os dois processos
é a formação de várias células filhas na endopoligenia.

Esse parasita também pode desenvolver outro tipo de reprodução


assexuada chamado de esquizogonia, que ocorre quando as diversas
formas morfológicas atingem os tecidos dos felinos e originam formas
denominadas esquizontes que se transforma em merozoítos, que, por sua
vez, através de um processo chamado gametogonia, originam gametas
femininos (macrogametócitos) e masculinos (microgametócitos). Após a
formação desses gametas os parasitas podem se reproduzir de forma
sexuada, quando o gameta masculino fecunda o feminino, originando
uma célula ovo (zigoto), que irá crescer até formar um cisto maduro.
Parasitologia Geral 25

Ciclo de vida
O parasita intracelular Toxoplasma gondii apresenta um ciclo de
vida do tipo heteróxeno, no qual, os gatos são considerados hospedeiros
definitivos, apresentando os ciclos de vida sexuado e assexuado e o
homem é o hospedeiro intermediário, uma vez que neles ocorrem apenas
o ciclo de vida assexuado.

SAIBA MAIS:

Assista esse pequeno vídeo e entenda mais sobre o ciclo


de vida desse parasita e os hospedeiros envolvidos no
processo. Para tanto, Clique aqui.

Ao ingerir oocistos maduros contendo esporozoítos, o homem


poderá adquirir o parasita e desenvolver a fase assexuada do ciclo de vida
dele, no qual, os taquizoítos invadirão diversos tipos celulares. No interior
dessas células, eles irão se multiplicar até que ela se rompa liberando
diversas formas de taquizoítos que irão invadir o sistema sanguíneo e
linfático e daí atingir novas células do corpo. Nestas células, eles irão se
reproduzir assexuadamente por endogenia ou endopoligenia.

No gato ocorre tanto a fase sexuada do ciclo chamada também


da gamogonia quanto a assexuada, chamada de esquizogonia. No gato
quando os oocistos infectantes, ao entrarem no organismo migrarão para
células intestinais e lá por um processo de esquizogonia irão se transformar
em merozoítos que originarão gametas masculinos e femininos que darão
origem a um ovo. Este, dando continuidade ao processo, se transformará
em um oocisto que estará pronto para ser eliminado ao meio externo nas
fezes no animal.
26 Parasitologia Geral

Figura 6: Representação esquemática do ciclo de vida do


parasita Toxoplasma gondii, no interior de seus hospedeiros.

Fonte: Widimedia Commons

A toxoplasmose, doença causada pelo Toxoplasma gondii quando


adquirida pela mulher grávida pode afetar de forma significativa o feto,
causando anomalias e má formação em diversos órgãos.

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey


(2008) e Rocha (2013): O ciclo tem início quando os oocistos são eliminados
nas fezes do gato (Figura 6-1). Esses oocistos podem ser consumidos por
outros animais como roedores e pássaros e nos tecidos destes formar
cistos teciduais (Figura 6-2). Em seguida, esses animais podem ser
consumidos novamente pelos gatos, causando sua reinfecção (Figura
6-3). Quando esses oocistos são consumidos por animais, como ovelhas e
porcos, as formas infectantes migram para as células desses hospedeiros,
também formando cistos teciduais (Figura 6-4). E, quando o homem
consome a carne deles crua ou malcozida pode adquirir o parasita (Figura
6-5). As pessoas também podem infectar-se se ingerirem alimentos ou
água contaminados com fezes de gato ou tocar em areia para gatos
domésticos e depois levar a mão à boca (Figura 6-6). Em casos mais raros,
as pessoas também podem ser contaminadas por transfusão sanguínea
Parasitologia Geral 27

(Figura 6-7). Ou de mãe para o feto (Figura 6-8). Nas pessoas, os parasitas
podem formar cistos teciduais nos músculos, coração, cérebro e olhos.
(Figura 6-9).

Transmissão
A toxoplasmose é uma das zoonoses mais difundidas em todo o
mundo, com alta incidência de animais silvestres e domésticos parasitados.
O ser humano pode adquirir essa doença das seguintes formas:

• Ingestão de oocistos presentes em alimento ou água contaminadas,


jardins, caixas de areia ou disseminados mecanicamente por
animais como moscas, baratas e minhocas;

• Por meio da ingestão de carne crua ou mal cozida de animais


(porco, carneiro e outros) contaminados com oocistos do parasita;

• De forma congênita ou transplacentária da mãe para o feto;

• Transfusões sanguíneas, quando o sangue do doador contém as


formas infectantes do parasita.

Por tudo isso, é importante que você caro estudante, perceba que
as medidas citadas acima, podem ser de fundamental importância para
evitar a disseminação da doença chamada de Toxoplasmose, que pode
representar um alto risco, inclusive para mulheres grávidas.

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Toxoplasmose
Apesar de ser uma doença bem difundida entre o ser humano,
a patogenicidade dessa doença depende de fatores relacionados a
agressividade do parasita e também a capacidade do sistema imunitário
humano de se defender desse agente parasitário. Observamos que,
com o aumento dos casos de síndrome da imunodeficiência adquirida
(AIDS) na população, a incidência de infecção oportunística por T. gondii
tem aumentado. Diversos pacientes apresentaram casos graves dessa
doença, especialmente atingindo o sistema nervoso central.
28 Parasitologia Geral

A toxoplasmose tem sido considerada uma das infecções oportunista


de maior incidência em pacientes com AIDS. Acredita-se até que muito
casos de câncer cerebral diagnosticados nesses pacientes podem ser na
verdade cistos teciduais de Toxoplasma gondii no seu sistema nervoso.

Uma forma grave da doença pode se manifestar em mulheres


grávidas, causando aborto, prematuridade e nascimento de bebês com
várias sequelas.

Sintomas em adultos podem incluir: Adenopatia, com inchaço dos


gânglios, retinocoroidite, com lesões na retina podendo levar a cegueira,
mal-estar, mialgia, cefaleia e anorexia.

Diagnóstico
Geralmente o diagnóstico clínico é difícil de ser realizado,
principalmente nos casos assintomáticos. O sinal clínico mais evidente
tanto em adultos quanto em crianças é a retinocoroidite. No caso das
mulheres grávidas, o exame de ultrassonografia pode revelar alterações
do diâmetro cefálico do feto, indicando algo errado. Devido à dificuldade
de diagnóstico clínico, a suspeita deve ser confirmada por meio de testes
laboratoriais como:

• Exames parasitológicos: realizado pela obtenção de taquizoítos


em líquidos orgânicos, como líquido amniótico e sangue, durante
a fase aguda da doença. Esse líquido deve ser centrifugado. Faz-
se, então, um esfregaço do material centrifugado e cora-se pelo
método de Giemsa.

• Testes sorológicos ou imunológicos: indicam o título (diluição do


soro sanguíneo) de anticorpos circulantes correspondentes a fase
da doença. Podem ser de vários tipos: Teste do corante ou reação
de Sabin Feldman (RSF), Reação de imunofluorescência indireta
(RIF), Hemaglutinação indireta (HA), Imunoensaio enzimático ou
teste ELISA ou Imunoblot.

• Testes moleculares: A técnica de PCR em tempo real é utilizada


para detectar e quantificar o DNA do parasita, a sensibilidade
desse teste varia em torno de 80%.
Parasitologia Geral 29

Epidemiologia
A epidemiologia da toxoplasmose é atualmente bem conhecida
no mundo. Sabe-se que tanto os gatos domésticos quanto os felinos
selvagens são os únicos hospedeiros no quais os parasitas podem realizar
a fase sexuada de seu ciclo de vida e que eles proliferam essa doença
através da eliminação de oocistos em suas fezes. Além disso, o consumo
de carne contendo taquizoítos ou Bradizóitos interfere na ampla incidência
dessa doença. Segundo Neves (2002), as seguintes questões devem ser
destacadas com relação a epidemiologia dessa doença:

• Pode ser encontrada em quase todos os países do mundo, nos


mais variados climas condições sociais:

• Nenhum artrópode transmissor é conhecido, porém, moscas e


baratas podem eventualmente veicular alguns oocistos nas patas.

Profilaxia
A profilaxia dessa doença passa pelos seguintes procedimentos:

• Não se alimentar de carne crua ou malcozida de qualquer animal


ou ingerir leite cru;

• Controlar a população de gatos em cidades e fazendas;

• Incinerar fezes de gatos e os criadores desses gatos deve manter


os animais dentro de casa e alimentá-los com carne cozida ou
secas ou com ração de boa qualidade;

• Recomendasse o exame pré-natal para toxoplasmose em todas


as gestantes.

Tratamento
Apesar da toxoplasmose ser amplamente difundida pelo mundo,
os estudos clínicos dela ainda não são suficientes para o estabelecimento
de uma conduta terapêutica eficiente. Segundo Rocha (2013), os únicos
fármacos que já se demonstraram eficazes contra a toxoplasmose aguda
que acomete adultos são:
30 Parasitologia Geral

• Sulfadiazina: A dosagem indica para adultos e crianças, é de


100 a 125mg/kg de peso do paciente por dia. Totalizando quatro
doses, por via oral. O tratamento deve continuar por duas a quatro
semanas.

• Pirimetamina: Deve ser administrada oralmente, para os adultos,


alguns especialistas recomendam a dose de 75 a 100 mg, durante
10 dias, reduzindo-se para 50 mg, uma a duas vezes por semana.
É necessário controlar os pacientes com exames de sangue
completos contendo: contagem de hemácias, de leucócitos
(leucograma) e de plaquetas, visto que a Pirimetamina é um
antifólico e pode deprimir a atividade da medula óssea.

A fim de reduzir o efeito tóxico da droga pirimetamina sobre a


medula óssea, o ácido folínico durante pelos menos seis semanas

• Clindamicina paromomicina: Administrado por via endovenosa:


900 a 1.200 mg a cada 6 ou 8 horas, durante seis semanas.

RESUMINDO:

Caro estudante. Chegamos ao fim de mais uma etapa da


nossa aprendizagem. Até aqui, você já deve estar bem
familiarizado com a doença chamada de Toxoplasmose e
seu agente parasitário o Toxoplasma gondii, entendendo
os aspectos gerais de sua patogenicidade. Que tal
revisarmos um pouco do aprendizado deste capítulo?
Neste capítulo, estudamos mais a fundo uma doença
parasitária considerada cosmopolita, por ser registrada
em diversas regiões do mundo. Vimos que o homem é
considerado um hospedeiro intermediário da doença e
os felinos, como o gato doméstico, são os hospedeiros
definitivos e grandes disseminadores da doença. Vimos
que os parasitas causadores dessa doença são parasitas
esporozoários, que não apresentam estruturas locomotoras.
Entendemos melhor o ciclo de vida desses parasitas, que
envolve o hospedeiro humano, animais silvestres e felinos
domésticos. Entendemos como se dá transmissão dessa
doença, assim como, seu diagnóstico e profilaxia além de
conhecer um pouco acerca de sua epidemiologia.
Parasitologia Geral 31

Estudo do parasita Fasciola hepatica -


Aspectos morfológicos e epidemiológicos
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo, você será capaz de elencar


os aspectos gerais do gênero de parasitas trematódeos
de mamíferos que eventualmente infectam humanos,
o Fasciola. Sendo o parasita de maior importância
parasitológica humana desse gênero e o principal foco do,
capitulo a espécie Fasciola hepatica. Dentre estes aspectos
estão: formas de infecção, ciclo de vida, relação entre
o parasita e hospedeiro. Além de aspectos específicos
da doença causada por esse verme, a Fasciolose como
profilaxia, transmissão, diagnóstico e tratamento. Então,
prontos para aprender mais sobre esta doença?? Então
vamos lá!

Aspectos gerais do Fasciola hepatica


Este parasita é um verme com dimensões que variam de 2 a 4 cm
de largura no verme adulto. Seu corpo é achatado dorsoventralmente e
apresenta uma coloração acinzentada. A superfície externa do parasita é
de aspecto liso ou enrugado e possui inúmeras escamas microscópicas.
Apresenta uma ventosa oral, localizada na extremidade anterior, da qual
se segue uma faringe curta, de onde partem ramos cecais, um de cada
lado, até a extremidade posterior. Abaixo da ventosa oral está a ventosa
ventral ou acetábulo (Rey, 2008).

Esses animais são hermafroditas e apresentam órgãos sexuais


masculinos: dois testículos, canal eferente, canal deferente e órgão
copulador (bolsa do cirro) e femininos: um ovário oótipo, útero e glândulas
vitelinas.
32 Parasitologia Geral

Figura 7: Desenhos esquemáticos, demonstrando a morfologia do verme parasita


Fasciola hepatica, destacando suas principais estruturas morfológicas.

Fonte: Adaptado de Rocha (2013, p.177)

A partir da descrição das características morfológicas gerais do


verme Fasciola hepatica, podemos perceber que sua morfologia, está em
grande parte adaptada para o desenvolvimento de sua estratégia de vida
endoparasitária.

Ciclo de vida
Nos hospedeiros definitivos, como o homem, esse verme é
encontrado nos ductos biliares e na vesícula biliar e esporadicamente
nos alvéolos pulmonares. Nos hospedeiros intermediários, que são os
caramujos do gênero Lymnaea, são encontradas formas imaturas do
parasita numa estrutura chamada de hepatopâncreas, que nos caramujos
possuem características semelhantes ao pâncreas e fígado dos humanos.
Nestes locais, eles se nutrem tanto de conteúdo biliar quanto de conteúdos
inflamatórios, podendo viver de 8 a 10 anos (REY, 2008).

O ciclo de vida desses indivíduos é do tipo heteróxeno, ou seja, se


desenvolve com a presença de mais de um hospedeiro. Sendo um deles,
caramujos das espécies Lymnaea columela e Lymnaea viatrix, que atuam
como hospedeiros intermediários.
Parasitologia Geral 33

O ciclo de vida desses indivíduos inicia-se no hospedeiro humano,


no momento em que os parasitas adultos, presentes na vesícula biliar
liberam por meio da estrutura chamada de acetábulo ovos operculados
(com uma estrutura rígida chamada de opérculo em uma das suas
extremidades). No líquido biliar, esses ovos passam para o intestino e de
lá são eliminados no ambiente, junto com as fezes humanas.

Quando os ovos chegam ao ambiente externo, encontram


condições favoráveis de umidade e temperatura, dando origem a uma
forma corpórea chamada de miracídio. Este apenas sai do ovo quando
entra em contato com a água. O miracídio apresenta um revestimento ciliar
capaz de promover sua locomoção na água em busca de seu hospedeiro
intermediário, os caramujos. No entanto, essas formas apresentam um
tempo de vida curo, em média seis horas e se não encontrarem um
hospedeiro intermediário não sobrevivem.
Figura 8: Formas morfológicas apresentadas pelo verme
parasita Fasciola hepatica durante seu ciclo de vida.

Ovo (A); Verme adulto (B); Esporocisto (C); Rédea (D); Miracídio (E); Cercária (F).

Fonte: Wikimedia Commons


34 Parasitologia Geral

Ao encontrar seu hospedeiro intermediário, o caramujo, e penetrar


em seu interior, a forma corpórea de miracídio do verme F. hepatica se
transforma em um esporocisto. Dentro desses formam-se cinco ou
seis rédeas, que, por sua vez, darão origem a cercárias, que são então
liberadas do corpo do molusco, logo que saem elas nadam um pouco e
em seguida perdem sua cauda e encista-se em forma de metacercária;
aderindo na vegetação aquática ou na superfície da água. Ao beber água
consumir alimentos contando as metacercária, o homem então infecta-
se. Ao chegar no intestino delgado do ser humano as metacercária
desencistam-se, perfuram a parede do mesmo e atingem a cavidade
peritoneal, perfuram a cápsula hepática e chegam até os ductos biliares,
no fígado, onde finalmente completam seu desenvolvimento tornando-
se formas adultas. Como vimos, este parasita apresenta um ciclo de
vida muito complexo e que envolve diversas formas corpóreas, que se
diferenciam em seus hospedeiros, o caramujo e o ser humano.

SAIBA MAIS:

Assiste esse vídeo e veja a saída das formas de miracídio do


parasita saindo de seus ovos. Para tanto, Clique aqui.

Figura 9: Representação do ciclo de vida do parasita Fasciola hepatica


que é do tipo heteróxeno, pois possui dois hospedeiros.

Fonte: Wikimedia Commons


Parasitologia Geral 35

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey(2008)


e Rocha (2013): O ciclo se inicia com a liberação dos ovos pelo parasita
adulto, que chegam ao intestino e acabam saindo junto com as vezes
humanas (Figura 9-1). Ao entrarem em contato com a água, os ovos
começam o seu desenvolvimento (Figura 9-2). Em seguida, os miracídios
eclodem dos ovos (Figura 9-3). Os miracídios infectam o molusco, no
interior do qual eles se transformam em esporocistos depois em rédeas
e então numa cercária (Figura 9-4) que é liberada do corpo do molusco
na água (Figura 9-5). A cercaria sofre um encistamento e se transforma
em metacercária, forma infectante que pode ser ingerida pelo ser
humano (Figura 9-6). Chegando aos ductos biliares do fígado humano a
metacercária originará um verme adulto (Figura 9-7).

Transmissão
A Transmissão dessa doença se dá por meio da ingestão de
água ou alimentos contaminados com a forma infectante do parasita, a
metacercária. Para tanto o parasita precisa ter passado pelo interior do
seu hospedeiro intermediário, os moluscos do Lymnaea para desenvolver
parte de seu ciclo de vida.

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Fasciolose
Os parasitas da espécie Fasciola hepática causam mais problema ao
homem nas suas formas jovens, enquanto estão migrando pelos tecidos
até atingirem o fígado. Essas migrações podem provocar inflamações,
necroses, fibroses e aderências, porém, as formas adultas também
podem ser prejudiciais. Assim, segundo Neves (2002), existem dois tipos
de lesões causadas pelo verme no ser humano:

• Lesões por formas imaturas: Ao se locomover por entre os tecidos


humanos, o verme libera uma enzima que provoca a liquefação
dos tecidos, que favorece a sua migração e sua nutrição durante
essa fase. Assim, à medida que ele migra em direção ao fígado,
vai deixando um rastro de tecido destruído que será substituído
36 Parasitologia Geral

por tecido conjuntivo fibroso, causando fibroses e aderências, que


podem causar sequelas para o resto da vida do hospedeiro, uma
vez que, pode prejudicar o funcionamento de vísceras e órgãos.
Geralmente, as formas imaturas alcançam o fígado cerca de sete
dias após a ingestão das metacercárias. O Processo patológico no
ser humano demora de semanas a meses para se manifestar.

• Lesões por formas adultas: Os vermes quando adultos chegam


ao fígado, mais especificamente nos ductos biliares. A cutícula
externa do verme é composta por escamas ou espinhos e
sua constante movimentação em busca de alimento nessas
estruturas provoca ulcerações e irritações, levando a um quadro
de hiperplasia epitelial, e, em seguida, um enrijecimento nas
paredes dos ductos e posteriormente deposição de cálcio. Todas
essas alterações prejudicam o funcionamento normal da vesícula
biliar, podendo levar até a quadros de icterícia, anemias, cirrose
e insuficiência hepática. Apesar de o fígado ser um órgão capaz
de se regenerar, se os danos causados pelo verme forem muitos,
partes desse órgão poderão perder totalmente sua função.

Os sintomas da Fasciolose envolvem:

• Cólicas hepáticas

• Febre

• Dificuldade digestória

• Cirrose

• Emagrecimento

• Icterícia

• Anemia

• Eosinofilia
Parasitologia Geral 37

Diagnóstico
O diagnóstico clínico é muito difícil de ser realizado, o quadro
clínico mais detectável é a eosinofilia (mais de 5.000 eosinófilos/mm³) e
febre que pode ser acompanhada de aumento do tamanho do fígado ou
de dor no hipocôndrio direito. Porém, quadros semelhantes podem ser
apresentados por outras doenças parasitárias.

Por isso, indica-se o diagnóstico laboratorial, que pode ser feito


através da pesquisa de ovos do parasita nas fezes humanas. Como os
ovos desse parasita são pesados, as técnicas mais utilizadas são a de
sedimentação simples ou de Hoffmam.

Uma vez que os ovos também são relativamente grandes, pode se


utilizar a técnica das quatro tamises. Esta consiste na utilização de quatro
peneiras com malhas cada vez menores, até que na última peneira de
malha muito fina fiquem retidos material diminuto. Em seguida, esse
material que ficou retido é levado até microscópio e investigado para
busca de ovos.

Outros métodos também podem ser utilizados: Ecografia,


tomografia axial, ensaio imunoenzimático, imunoeletroforese e fixação do
complemento.

Epidemiologia
A Fasciolose é considerada uma doença originária da Europa, mas
que hoje tornou-se cosmopolita. Além de afetar o ser humano, também
acomete outros animais como boi e carneiros, sendo esses reservatórios
naturais para o parasita.

Acredita-se que essa doença pode passar desapercebida devido


ao seu diagnóstico difícil e sua semelhança com outras parasitoses. O
conhecimento epidemiológico do agente causador da doença passa pelo
conhecimento do habitat de seu hospedeiro intermediário - os caramujos
do gênero Lymnaea que constituem a fonte de infecção para o homem.
Estes organismos habitam lagos, lagoas e riachos intermitentes. Acredita-
se que os fatores mais importantes na epidemiologia dessa doença sejam:
38 Parasitologia Geral

• Criação extensiva de ovinos e bovinos em pastos e áreas úmidas e


alagas, com a possível presença de caramujos do gênero Lymnaea.

• Tempo de vida da forma corpórea infectante do parasita de


metacercária, que pode ser de até um ano na vegetação aquática.

• Evitar plantação de vegetais que servem de alimento para


humanos em regiões com a presença do parasita.

Profilaxia
A profilaxia da Fasciolose humana depende em grande parte do
controle desses helmintos entre os animais domésticos, para tanto deve-
se tomar medidas como:

• Evitar disseminação da parasitose adotando políticas sérias,


em regiões que tenham casos da doença, a fim de evitar sua
propagação.

• Controle de caramujos, que são hospedeiros intermediários,


por meio da utilização de moluscocidas, como sulfato de cobre,
Frescon ou Bayluscide ou criação do molusco Solicitoides sp. que,
sendo predador de formas jovens do Lymnaea, poderá ser atuar
como controlador biológico.

• Tratamento de animais que podem servir como reservatórios


do parasita por meio de medicamentos como: rafoxanide,
clorzulon+ivermectina e albendazol ou triclabendazol.

• Proteção do homem por meio de medidas como: não beber água


proveniente de alagadiços ou córregos, sem tratamento; não
plantar vegetais em área que possam ser contaminadas por fezes
de ruminantes.

O desenvolvimento de uma vacina para os animais está em fase


adiantada de pesquisas. Testes feitos em camundongos e ovelhas com
o antígeno Sml4r (que é uma proteína que transporta ácidos graxos) têm
surtido efeitos positivos.
Parasitologia Geral 39

Tratamento
O tratamento nos humanos deve ser realizado com cautela, devido
a toxicidade das drogas e possíveis complicações. Os medicamentos em
uso atualmente são:

• Bithionol: Utilizado na dosagem de 50mg/kg/dia, durante 10 dias,


em dias alternados.

RESUMINDO:

Deidroemetina: Deve ser administrado oralmente (10mg) ou


injetável (30 e 60mg), na dose diária de 1mg/kg durante
10 dias. O Caro estudante. Chegamos ao fim de mais uma
etapa da nossa aprendizagem. Até aqui você já deve ter
aprendido bastante dobre doenças parasitárias humanas.
Que tal revisarmos um pouco do aprendizado deste
capítulo? Neste capítulo, estudamos mais a fundo uma
doença parasitária Fasciolose considerada cosmopolita.
Vimos que os parasitas causadores dessa doença são
vermes da espécie Fasciola hepatica. Aprendemos sobre o
ciclo de vida desses parasitas, que envolve um caramujo do
gênero Lymnaea como hospedeiro intermediário, presente
em pequenos lagos e córregos de água. Vimos também
que muitos animais como bovinos podem ser considerados
grandes reservatórios desse parasita. Entendemos também
como se dá transmissão dessa doença, assim como, seu
diagnóstico e profilaxia e seus aspectos epidemiológicos
dessa doença.
40 Parasitologia Geral

Estudo do parasita da espécie Trichuris


trichiura
INTRODUÇÃO:

Ao término deste capítulo você será capaz de reconhecer


os aspectos gerais de um gênero de vermes parasitas com
importância médica considerável, que é o Trichuris, mais
especificamente a espécie Trichuris trichiura, que parasita
o homem. Dentre os aspectos dos vermes desta espécie
estudadas neste capítulo teremos: formas de transmissão
das formas infectantes desse parasita ao ser humano, ciclo
de vida no interior do hospedeiro, relações patogênicas
geradas pelo parasita. Além de aspectos gerias da doença
causada por esta espécie de parasita, Tricuríase, tais como:
transmissão, profilaxia, diagnóstico e tratamento. Então,
prontos para aprender mais?? Então vamos lá.

Aspectos gerais do parasita Trichuris


trichiura
Diversos mamíferos, incluindo o homem, podem abrigar em seus
intestinos e órgãos anexos, vermes parasitas do gênero Trichuris. Nos
cães encontra-se a espécie Trichuris vulpis, nos bovinos Trichuris discolor,
nos suínos Trichuris suis e nos humanos Trichuris trichiura (ROCHA, 2013).

Esses últimos são parasitas nematódeos, conhecidos também


como tricuros ou tricocéfalos, e apresentam tamanho pequeno ou
médio, com corpo anteriormente filiforme e com a sua porção posterior
com formato fusiforme. Sua cutícula externa é lisa e eles não possuem
órgãos sensoriais chamados de fasmídeos, como outros nematódeos. Os
indivíduos dessa espécie também não possuem células excretoras.

Os órgãos bucais são bem rudimentares, com uma abertura bucal


localizada na extremidade anterior do parasita, é desprovida de lábios, a
cápsula bucal é muito reduzida ou ausente. O esôfago é desprovido de
elementos musculares. De acordo com Neves (2002), os vermes dessa
espécie apresentam duas formas corpóreas:
Parasitologia Geral 41

• Adultos: Esses medem de 3 a 5 centímetros de tamanho.


Geralmente, as fêmeas são maiores que os machos. Existem neles
uma estrutura semelhante a uma boca, localizada na extremidade
anterior do organismo. Essa é uma abertura simples e sem lábios,
seguida por um esôfago bastante longo e delgado que se estende
por todo o corpo do verme. Eles apresentam um sistema reprodutor
simples, localizado da porção final do verme e um intestino que
acaba no ânus, próximo a calda. Esses vermes dão dioicos e
apresentam dimorfismos sexual (macho e fêmea são bem distintos).
O macho possui tamanho corpóreo menor e extremidade posterior
fortemente curvada ventralmente. Os machos apresentam ainda um
testículo único seguido por um canal deferente e outro ejaculador
que termina num espículo recoberto por uma bainha com pequenos
espinhos, que ajudam na fixação durante a cópula. As fêmeas são
maiores e apresentam ovário e útero, que se abrem numa estrutura
chamada de vulva na porção mediana do corpo do verme, é por
meio desta estrutura que ocorre a cópula, a fecundidade dessa
espécie é muito alta (3 a 10 mil ovos por dia). Esses vermes adultos
podem viver de 6 a 9 anos.

ACESSE:

Veja esse pequeno vídeo, mostrando um verme adulto na


parede intestinal do hospedeiro. Para tanto, Clique aqui.

• Ovos: Apresentam um formato elíptico com cerca de 50


micrometros de tamanho, lembrando a forma de um barril
alongado. Em ambas as extremidades dos ovos existem poros
salientes e transparentes preenchidos por material lipídico. O
revestimento dos ovos é formado por três camadas distintas:

• 1º camada: É mais externa, de composição lipídica, de coloração


castanha devido a impregnação por pigmentos fecais.

• 2º camada: Camada intermediária de coloração hialina e


composição quitinosa.
42 Parasitologia Geral

• 3º camada: Camada mais interna, composta por um material


vitelínico nutritivo, que favorece a resistência dessas formas a
fatores ambientais externos e a sobrevivência da célula ovo, e,
posteriormente, da larva presentes no interior do ovo.
Figura 10: Desenho esquemático das formas corpóreas
do parasita Trichuris trichiura de adulto fêmea.

(A) macho (B) fêmea e (C) ovo.

Fonte: Neves (2002, p. 290).

Essa espécie de parasita habita o intestino grosso humano, nas


infecções mais intensas chegam a ocupar as porções finais do intestino
grosso como o reto e a porção distal do íleo. É considerado um parasita
tissular, pois sua porção esofagiana fica inserida na mucosa epitelial do
intestino do hospedeiro; onde alimenta-se de restos celulares degradados
por suas enzimas digestivas. A porção posterior, por sua vez, permanece
livre na luz intestinal, o que facilita a reprodução e a eliminação de seus
ovos no intestino humano.

Na figura abaixo, pode-se visualizar o ovo desse parasita, que tem


uma estrutura bem característica, com suas três camadas bem visíveis.
Além disso, podemos visualizar um caráter morfológico distintivo dos
machos dessa espécie, que consiste em um prolongamento da região
de sua cauda, mais especificamente, do revestimento de sua cloaca, que
forma uma espécie de espinho; fundamental na hora na cópula para que
o macho se agarre a fêmea e realizar a fecundação de seus ovos.
Parasitologia Geral 43

Figura 11: Foto em microscopia óptica demonstrando o ovo de T. trichiura

(A) com suas camadas de revestimento e a célula ovo em desenvolvimento. Na imagem


(B) é possível perceber o prolongamento posterior da cauda do verme macho, que atua no
processo reprodutivo dessa espécie de parasita intestinal.

Fonte: Wikimedia Commons

Além desses dois tipos morfológicos, a espécie Trichuris trichiura


apresenta ainda 4 estágios larvais, assim como outros vermes parasitas.
Os estágios larvais vão de L1 a L4, veja a representação esquemática
destes estágios na figura abaixo.
Figura 12: Desenho esquemático das fases de desenvolvimento da larva de Trichuris trichiura.

Envolvendo a fase em que a larva está dentro do ovo ainda no ambiente externo (A); Fases
de desenvolvimento no intestino humano L1(B), L2(C), L3(D) e L4(E) e a fase em que a larva
se transforma em adultos já no interior do intestino grosso, sendo (F) o macho e (G) a fêmea.

Fonte: Rey (2008, p.120).

Sendo assim, percebe-se que as fases de desenvolvimento


larval, que apresentam diferentes estágios. Necessitam de diferentes
hospedeiros para suas transformações morfológicas.
44 Parasitologia Geral

Ciclo de vida
O ciclo de vida Trichuris trichiura é do tipo monóxeno, e envolve
um único hospedeiro. Nele, as fêmeas e machos do parasita que habitam
o intestino reproduzem-se sexuadamente, realizando um processo de
cópula, no qual o macho fecunda os ovos da fêmea. Após a cópula, a
fêmea fecundada elimina de 3 a 10 mil ovos por dia, enquanto estão
no intestino humano esses ovos não se desenvolvem, apenas quando
atingem o meio externo. Em seguida, inicia-se o processo de segmentação
e desenvolvimento do embrião que leva a formação de uma larva ao final
de 2 meses. A larva, no entanto, permanece ainda no interior do ovo. Esta
passa agora a ser infectante para o homem, podendo ser ingerido por
meio de água ou alimentos contaminados.
Figura 13: Representação esquemática do ciclo de vida desse parasita Trichuris trichiura

Fonte: Wikimedia Commons

O ovo contendo a larva em seu interior, quando ingerido pelo ser


humano, segue para o tubo digestório. Ao chegar no intestino delgado os
opérculos, que lacram a abertura do ovo, são degradados juntamente com
sua camada mais externa por ação do suco gástrico. Porém, as larvas são
resistentes e conseguem eclodir dos ovos. No intestino delgado, as larvas
Parasitologia Geral 45

passam por quatro fases de desenvolvimento, até se transformarem no


verme adulto que emerge para a superfície mucosa do intestino grosso.
Decorridos em média dois meses, os vermes adultos começam a se
reproduzir e a fêmea a produzir ovos. A sobrevivência dos vermes adultos
no homem é estimada em cerca de dois a oito anos.

Descrição do ciclo baseado nos trabalhos de Neves (2002); Rey (2008)


e Rocha (2013): O ciclo inicia-se com a liberação de ovos não embrionados
localizados nas porções finais do intestino grosso por meio das fezes
humanas (Figura 13-1). Ao caírem no ambiente externo os ovos iniciam seu
desenvolvimento embrionário (Figura 13-2). A célula ovo inicia seu processo
de segmentação e divisão das células embrionárias (Figura 13-3). O embrião
se desenvolve em larva e o ovo torna-se infectante ao ser humano, que ao
ingeri por meio de alimentos ou água contaminada (Figura 13-4). O ovo é
degradado e a larva se desenvolve no intestino delgado (Figura 13-5). A
larva se transforma em um indivíduo adulto no intestino grosso e fica lá
até atingir a maturidade sexual. Após a cópula as fêmeas liberaram uma
quantidade considerável de ovos nas fezes humanas, quando esses são
liberados ao exterior o ciclo do parasita se reinicia.

Transmissão
A Transmissão da Tricuríase se dá por meio da disseminação de
seus ovos que são eliminados juntamente com as fezes do hospedeiro
humano. Por isso, podemos afirmar que a contaminação por essa doença
tem maior incidência em ambientes que apresentam condições precárias
ou ausência de saneamento básico.

Devido ao fato de os ovos do parasita causador dessa doença


serem muito resistentes as condições externas, eles têm um alto poder
de disseminação e podem ser carreados pelo vento ou pela água e
chegar a contaminar alimentos em distâncias geográficas consideráveis.
Além disso, os animais como moscas domésticas que costumam pousar
em fezes podem carregar esses ovos nas suas patas os em outras partes
de seu corpo, e, com isso, contaminar uma gama de alimentos.
46 Parasitologia Geral

Mecanismos patogênicos e sintomatologia


da Tricuríase
A gravidade da Tricuríase pode ser influenciada por fatores como
idade do hospedeiro, carga parasitária, idade nutricional e distribuição
dos vermes no corpo humano. Na maioria das vezes, a intensidade da
infecção está associada a sintomatologia da doença, uma vez que, na
maioria dos pacientes com infecções leves, seu quadro é assintomático
ou apresentar sintomas intestinais discretos. Casos sintomáticos podem
indicar, portanto, infecções mais graves.

Como vimos anteriormente, as larvas do T. trichiura se desenvolvem


apenas no intestino delgado, não ocorrendo, portanto, migração sistêmica
dessas larvas pelo corpo humano. Por este fato, as lesões causadas por
esse parasita estão concentradas na região dos intestinos.

Em casos raros, infecções intensas chegam a provocar obstrução


do cólon e até perfuração intestinal.

Os pacientes que apresentam infecção do tipo moderada podem


apresentar sintomas como: dores de cabeça, dores abdominais, diarreia,
náusea e vômitos. Nos casos mais graves, ocorrem infecções intensas
que podem desencadear uma crise disentérica crônica, com diarreias
intermitentes algumas vezes sanguinolentas, anemia, desnutrição e
algumas vezes prolapso retal, que consiste na exteriorização do reto
através do orifício anal.

Diagnóstico
O quadro clínico pode ser bem discreto e às vezes indefinido,
apresentando sintomas pouco característicos como: nervosismos, insônia,
perda de peso, perda de apetite e eosinofilia sanguínea, às vezes pode ser
caracterizado também por diarreia e dores abdominais.

Devido a semelhança dessa doença com outras parasitoses intestinais,


é fortemente aconselhado o diagnóstico laboratorial para um diagnóstico
correto. O exame laboratorial é realizado pela demonstração dos ovos do
parasita nas fezes, o que é facilitado pelo fato dos ovos possuírem uma
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morfologia bem específica e elevada liberação dos mesmos no intestino do


hospedeiro por meio das fêmeas dos parasitas. Para realizar o diagnóstico
laboratorial são utilizados métodos parasitológicos convencionais como
por exemplo, a técnica de flutuação de Faust.

NOTA:

Vermes adultos de T. trichiura podem ainda ser visualizados


por meio de exames de imagem como os de colonoscopia
ou anuscopia.

A fim de calcular a carga parasitária de um paciente pode-se


empregar a técnica de contagem de Stoll. Nesta, considera-se um
parasitismo leve aquele em que ocorre a eliminação de menos de 5.000
ovos por grama de fezes; uma infecção média aquela com liberação de
5.000 a 10.000 ovos por grama; e uma infecção mais grave aquela em que
ocorre a eliminação de mais de 10.000 ovos por grama de fezes.

Epidemiologia
Apesar de ser um parasita de distribuição cosmopolita, em países
em desenvolvimento ou subdesenvolvidos, as taxas de prevalência desse
nematódeo intestinal são elevadas, principalmente, devido às elevadas
taxas de crescimento populacional e precárias condições de saneamento
básico dessas regiões.

A prevalência dessa doença segue a do Ascaris lumbricoides


devido a semelhanças como: modo de transmissão, grande fertilidade
do parasita, resistência de ovos a condições externas. Considera-se ainda
que, crianças sofrem a carga parasitária mais elevada, assim como a
sintomatologia clínica mais evidente.

Dados arqueológicos sugerem que a associação parasitária entre


T. trichiura e humanos é bastante antiga. É bem provável, inclusive que
o parasita se adaptou a essa relação parasita-hospedeiro humana, ainda
no ancestral primata dos humanos. Existem ainda relatos da presença de
ovos no solo, em carpólitos (restos de fezes fossilizados), encontrados no
intestino de múmias do Egito antigo.
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SAIBA MAIS:

Leia mais um pouco sobre como os cientistas fazem


a relação entre parasitas e ancestrais humanos ao
longo da história evolutiva. Entenda um poco mais da
Paleoparasitologia e como ela utilizada os cropólitos para
entender as relações parasitárias ao longo da história da
humanidade. Para tanto, Clique aqui.

Sendo assim, vale aqui destacar, que estudos epidemiológicos são


de fundamental importância, para o melhor entendimento de importantes
aspectos das doenças, tendo em vista que a partir deles os pesquisadores
são capazes de desenvolver estratégias de combate ou profilaxia.

Profilaxia
Os seres humanos são a única fonte epidemiologicamente relevante
da Tricuríase. As medidas profiláticas visam evitar o contato com os ovos
larvados, que podem ter um tempo de vida muito elevado, podendo
permanecer no ambiente durante muito tempo.

Por isso, medidas de saneamento e higiene individual são importantes


na profilaxia da Tricuríase. Além disso, é necessário tomar cuidado com
a higienização correta de alimentos, assim como higienização das mãos
antes das refeições, e, também, o cuidado com animais como moscas
que podem ser carreadoras de ovos, pousando em alimentos expostos.

Tratamento
Vários anti-helmínticos mostram-se eficazes no tratamento da
Tricuríase. Atualmente, de acordo com Rocha (2013), os fármacos mais
utilizados são:

• Mebendazol: Recomenda-se na dose de 100 mg, duas vezes ao


dia durante três dias (isto é, 600 mg para um tratamento completo).
Também podem ser utilizados o albendazol ou oflubendazol.
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• Pamoato de Oxantel: Age contra os helmintos na luz intestinal.


Nas infecções mais brandas administram-se 10 mg de por quilo de
peso do paciente, em dose única, por via oral. Nos outros casos,
recomendam-se 10 mg/kg de peso, duas vezes ao dia, durante
três dias.

RESUMINDO:

Caro estudante. Chegamos ao fim de mais uma etapa


da nossa aprendizagem. Até aqui, você já deve estar
bem familiarizado com a doença que estudamos e
seu agente causador. Que tal revisarmos um pouco do
aprendizado deste capítulo? Neste capítulo, estudamos
mais a fundo uma doença parasitária causada por um
verme, características de regiões em desenvolvimento
ou subdesenvolvidas. Aprendemos como ocorre o
ciclo de vida do Trichuris trichiura, que é bem simples
e envolve apenas o hospedeiro humano. Entendemos
como se dá transmissão dessa doença, assim como seu
diagnóstico e profilaxia. Conhecemos também um pouco
da epidemiologia dessa doença.
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