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Microbiologia

e Imunologia
Clínica
Natália Gindri Fiorenza
Maria Paula de Souza Sampaio

Unidade 1

Livro Didático
Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autoras
NATÁLIA GINDRI FIORENZA
MARIA PAULA DE SOUZA SAMPAIO
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
AS AUTORAS
NATÁLIA GINDRI FIORENZA

Olá. Meu nome é Natália Fiorenza. Sou formada em Ciências


Biológicas, com mestrado e doutorado na área de Ciências da Saúde.
Passei por diferentes laboratórios de pesquisa, publicando trabalhos
científicos e participando de muitos congressos e cursos em diferentes
áreas da saúde e educação. Fui professora universitária e tutora durante
4 anos do curso de medicina, onde me conectei com minha paixão pela
docência e por metodologias ativas de ensino. Sou ávida por aprender e
ensinar e por trocar conhecimentos quer na área científico-acadêmica, quer
na área de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Recebi com
muita alegria o convite da Editora Telesapiens para integrar seu elenco de
autores independentes, pois tenho como propósito transmitir aquilo que sei
e auxiliar outras pessoas no início de sua jornada profissional. Estarei com
você nessa caminhada de muito estudo e trabalho. Conte comigo!

MARIA PAULA DE SOUZA SAMPAIO

Meu nome é Maria Paula, sou graduada em Biomedicina, habilitada


em Citopatologia. Além da prática com a minha habilitação, pude realizar
um curso avançado em Citopatologia Cérvico-Vaginal. Atualmente,
sou voluntária em um projeto de pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ) sobre Patologia Mamária Comparada, onde fiz iniciação científica
por um ano. Em minha jornada de estudante pude participar ativamente de
congressos e projetos de estudo, e sempre tive uma paixão por ensinar.
Junto com a Natália, pretendo transmitir todo o ensinamento que obtive até
aqui, buscando sempre aprender mais. Estamos juntos nesse aprendizado!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo
projeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha
de aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do desen- houver necessida-
volvimento de uma de de se apresentar
nova competência; um novo conceito;

NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações es-
necessários obser- critas tiveram que ser
vações ou comple- priorizadas para você;
mentações para o
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo, se
ou detalhado; forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e links sidade de chamar a
para aprofundamento atenção sobre algo
do seu conhecimento; a ser refletido ou
discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoaprendi- volvimento de uma
zagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Aspectos citomorfológicos microbianos ...............................11

Histórico da Microbiologia.......................................................11

Morfologia bacteriana...............................................................12

Citologia e fisiologia.................................................................13

Ação bacteriana.......................................................................18

Controle microbiano.................................................................18

Agentes físicos.................................................................19

Agentes químicos............................................................19

Fatores de virulência.................................................................20

Resistência microbiana e mecanismos......................................21

Microbactérias patógenas......................................................26

Cocos Gram-positivos...............................................................26

Neisseria....................................................................................29

Enterobactérias..........................................................................30
Bacilos não fermentadores........................................................31

Bacilos espiralados ou curvos...................................................33

Bacilos Gram-positivos.............................................................34

Bactérias aneróbicas restritas....................................................37

Microbiota normal..................................................................40

Microbiota específica em cada região.......................................42


8 Microbiologia e Imunologia Clínica

01
UNIDADE
Microbiologia e Imunologia Clínica 9

INTRODUÇÃO
Você sabia que o tema Microbiologia estuda os organismos
microscópicos e suas atividades biológicas? Assim como sua importância
e influência nos seres vivos. Nessa unidade nós estudaremos as principais
características das bactérias, aprendendo a diferenciá-las e saber quais
as suas funções. A microbiologia médica estuda os microrganismos
causadores de doenças em humanos e animais, compreendendo cada
microrganismo e suas infecções. É muito importante saber que existem
bactérias que estão presentes normalmente em nosso organismo, sem
causar nenhum mal, e diferenciá-las de bactérias patogênicas. Entendeu?
Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
10 Microbiologia e Imunologia Clínica

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o
término desta etapa de estudos:
1. Aprender sobre a morfologia, citologia e fisiologia, além da
genética microbiana e suas aplicações.
2. Entender sobre o controle de microrganismos, fatores de virulência
e mecanismos de ação e resistência bacteriana.
3. Conhecer as principais bactérias e suas características, assim
como as infecções causadas por elas.
Compreender a microbiota normal do corpo humano e os
4.
mecanismos que ocorrem.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
Microbiologia e Imunologia Clínica 11

Aspectos citomorfológicos microbianos

OBJETIVOS
Durante o capítulo, você irá mergulhar no histórico
dos microrganismos, desvendando as suas principais
características. A compreensão dessa etapa inicial é
extremamente importante para o entendimento da
microbiologia. E então? Motivado para desenvolver essa
competência? Então vamos lá. Avante!

Histórico da Microbiologia
Os principais microrganismos estudados na microbiologia são:
bactérias, fungos, algas e protozoários, que podem provocar infecções,
e existem diversas formas de diagnóstico e identificação desses
microrganismos. Mas, para que seja possível identifica-los, é necessário
entender a sua estrutura, morfologia, fisiologia, reprodução e metabolismo.
Apesar da maioria serem vistos apenas microscopicamente, eles possuem
características comuns aos sistemas biológicos, possuem capacidade de
se reproduzirem, de ingerir substâncias, de excretar metabólitos, de reagir
a alterações no ambiente e são susceptíveis a mutações.

VOCÊ SABIA?
Os vírus, apesar de não serem considerados vivos, possuem
algumas características de células vivas e por isso são
estudados como microrganismos.

Roger Bacon, no século XIII, sugeriu que as doenças fossem


causadas por seres vivos “invisíveis” e, desde então, os estudos na
microbiologia têm avançado. Foram necessários muitos esforços
de químicos e biólogos para provar que as bactérias, como todos os
organismos vivos, surgiam de outros organismos semelhantes. Louis
12 Microbiologia e Imunologia Clínica

Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910) iniciaram a era da


Bacteriologia após estabelecerem esse fato. Durante os anos de 1880
e 1900 foram descobertas várias bactérias patogênicas, além de terem
sido desenvolvidas técnicas de coloração e fixação que são utilizadas
até hoje. Depois dos trabalhos de Pasteur, Friedrich Gustav Jacob Henle
(1809-1885) postulou suas ideias que mostravam condições básicas para
que um agente microscópico pudesse ser considerado causador de
alguma doença infecciosa ou contagiosa, são os “Postulados de Henle”.
Mais tarde esse postulados foram aperfeiçoados e correspondem a:
“um microrganismo pode sempre ser encontrado em associação com
uma dada doença”; “o organismo pode ser isolado e cultivado, em
cultura pura, no laboratório”; “a cultura pura produzirá a doença quando
inoculada em animal sensível”; “é possível recuperar o microrganismo,
em cultura pura, dos animais experimentalmente infectados”.

Morfologia bacteriana
A unidade de medida das bactérias é o mm (micrômetro), muitas
bactérias medem de 2 a 6 mm de comprimento e 1 a 2 mm de largura. As
bactérias podem se apresentar em três tipos morfológicos: bastonetes/
bacilos, cocos e espirilos. Os bastonetes podem ser curtos ou longos
com extremidade podendo ser reta, de ponta arredondada ou curva
(forma de vírgula). Os espirilos têm forma de hélice, espiralar. Os cocos
podem ser esféricos, com formato de ponta de lança, e podem formar
diferentes arranjos (vai depender da sua divisão celular, se foi em plano
único ou em mais planos).
Quando os cocos estão agrupados de dois em dois são chamados
de diplococos, quando vários cocos estão agrupados em cadeia (divisão
em único plano) são chamados estreptococos, quando os cocos estão
agrupados de forma aleatória semelhante a um cacho de uva são
chamados de estafilococos.
Microbiologia e Imunologia Clínica 13

NOTA
Os bastonetes não possuem tantos arranjos como os cocos
e, na maioria das vezes, estão isolados. Entretanto, podem
se apresentar aos pares (diplobacilos) ou em cadeias
(estreptobacilos).

Quando os bastonetes são muito curtos, são chamados


cocobacilos. Os espirilos estão, na maioria das vezes, isolados. Os tétrades
e sarcina são agrupamentos de quatro e oito cocos, respectivamente.

Citologia e fisiologia
As bactérias são seres procariotos, ou seja, não possuem carioteca
e são mais simples em relação a sua estrutura comparada aos seres
eucariotos. As células procariotas possuem estruturas fundamentais
à viabilidade da célula, que são o genoma, ribossomos, parede e
membrana celular, e estruturas acessórias, que conferem características
adicionais à célula, como flagelo, pili, cápsula, plasmídeo, endósporo ou
grânulo de inclusão.
A parede celular é responsável pela rigidez, divisão celular e
manutenção osmótica, também faz parte da proteção mecânica da célula
e é responsável pelas reações tintoriais. É formada, principalmente, por um
complexo macromolecular, conhecido como mucocomplexo (também
chamado de peptidoglicano, mureína, mucopeptídio ou glicopeptídio).
Nas bactérias Gram-negativas, a parede celular está composta por uma
camada de peptidoglicano e três outros componentes que a envolvem
externamente (lipoproteína, membrana externa e lipopolissacarídeo).
As bactérias Gram-positivas possuem como característica os ácidos
teicoicos e os lipídios estão em maior quantidade e muito ligados entre
si. Existem algumas bactérias chamadas micoplasmas que não possuem
parede celular nem peptidoglicano, ou seja, são incapazes de corar pelo
método de Gram.
14 Microbiologia e Imunologia Clínica

IMPORTANTE
O gênero da bactéria Mycobacterium possui uma
parede celular atípica e é o exemplo mais importante de
microrganismo que, devido ao caráter hidrofóbico de sua
parede, sua coloração pelo método de Gram é dificultada.

A parede celular das arqueobactérias também não possui a mesma


estrutura das bactérias comuns, podendo apresentar uma parede rígida
ou uma simples camada S (geralmente glicoproteínas).

NOTA
As bactérias Gram-negativas são constituídas por uma
endotoxina, o lipopolissacarídeo (LPS), que é responsável
pela propriedade de patogenicidade, enquanto nas
bactérias Gram-positivas a exotoxina, composta pelo ácido
lipoteicóico, tem como característica principal a aderência.
Essas bactérias, como fatores de ataque ou agressão,
caracterizam-se por graus diferentes de virulência.

O ribossomo é formado por duas subunidades e está disperso no


citoplasma e a sua função é a síntese proteica. A estrutura do seu genoma
é a fita de DNA circular e possui função de armazenar as informações
genéticas. Os flagelos são organelas responsáveis pela locomoção,
uma célula bacteriana pode possuir de um a vários flagelos de acordo
com a sua espécie. O pili ou pelos, são apêndices curtos e retilíneos,
comuns em bactérias Gram-negativas e possuem função de aderir à
locais específicos e de conjugação bacteriana. O pili sexual serve para
ligar duas bactérias e permitirem a troca de plasmídeo. O plasmídeo é
uma estrutura de DNA extracromossomial e confere várias vantagens
seletivas, como resistência à antibióticos. Os esporos formam-se quando
o meio se torna inadequado à sobrevivência da bactéria em sua forma
vegetativa fazendo com que se mantenha em forma esporulada/latente
por tempos, até que o meio se torne viável novamente para a sua forma
vegetativa.
Microbiologia e Imunologia Clínica 15

A constituição molecular da bactéria não é muito diferente de seres


eucariotos, sua arquitetura é formada por diferentes macromoléculas,
constituídas por distintas unidades. As células bacterianas são formadas a
partir de nutrientes, esses nutrientes são transformados nos constituintes
celulares e também podem ser utilizados para liberar energia para a célula.
Existem diversos macronutrientes, como oxigênio, carbono e cálcio, e
micronutrientes, como zinco e cobre, além dos fatores de crescimento,
que são compostos orgânicos requeridos em pequenas quantidades por
algumas bactérias que não podem sintetizá-los, e os três grupos principais
são aminoácidos, purinas/pirimidinas e vitaminas.

NOTA
Todos esses nutrientes e fatores quando são adquiridos
fazem a bactéria absorvê-los e transformá-los para que
exerçam suas funções importantes para o metabolismo
bacteriano.

O metabolismo é constituído pelo anabolismo e pelo catabolismo


e vai ser catalisado por sistemas integrados de enzimas que mediam
reações que necessitam de energia. As formas de obtenção de energia
das bactérias são através da respiração aeróbica e anaeróbica ou através
da fermentação.

VOCÊ SABIA?
As bactérias usam energia para transporte de nutrientes,
para movimentação dos seus flagelos e para realizar a
biossíntese.

O crescimento microbiano diz respeito ao aumento do número


de células, fazendo com que se acumulem em colônias e é possível a
sua visualização sem o uso do microscópio. Existem algumas condições
necessárias para o crescimento microbiano, como: água, macro e
micronutrientes, fatores de crescimento, temperatura, pH, pressão
osmótica e oxigênio.
16 Microbiologia e Imunologia Clínica

Figura 1 – Curva do crescimento bacteriano


Log da concentração de células

Fase Estacionária
Fase de
Decaimento

Fase Exponencial

Fase Lag

Tempo

Fonte: https://brainly.com.br/tarefa/13364102.

Existem fases no crescimento bacteriano, a fase Lag (latência)


corresponde à fase da adaptação da bactéria ao meio; a fase Log
(exponencial) corresponde ao crescimento exponencial bacteriano;
a fase estacionária corresponde à parada no crescimento bacteriano
devido a multiplicação de algumas bactérias e morte de outras por causa
da produção de toxinas; por fim, a fase de decaimento, que corresponde
à fase em que ocorre a morte de muitas bactérias devido à escassez de
nutrientes no meio.
O ciclo celular bacteriano ocorre por meio da reprodução
assexuada ou sexuada. A reprodução assexuada pode ser por fissão
binária (bipartição), onde ocorre a divisão da célula-mãe em duas
células idênticas; fragmentação, onde as bactérias filamentosas liberam
filamentos que dão origem a uma nova bactéria; por brotamento,
semelhante as leveduras, onde forma-se um broto que dá origem a uma
nova bactéria; ou por esporogonia, onde ocorre a formação de novas
bactérias através da formação de esporos. Já a reprodução sexuada
ocorre através da conjugação, que exige o contato entre as células e
transporte de material genético por plasmídeo (pili sexual).
Microbiologia e Imunologia Clínica 17

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Caderno:
“Técnico em Alimentos: Microbiologia Básica” (TEIXEIRA
DE CARVALHO), acessível pelo link http://proedu.rnp.br/
bitstream/handle/123456789/362/Microb_Basica%20(1).
pdf?sequence=1 (Acesso em 20/12/2019).

RESUMINDO
E então,gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo
tudinho? Agora, só para termos certeza de que você
realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo,
vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter visto que a
microbiologia é uma área extensa, que abrange diferentes
microrganismos e que cada um desses microrganismos
possui características únicas. Aprendeu primeiramente um
pouco sobre como tudo começou, os primeiros cientistas
que desvendaram os aspectos microbianos. Compreendeu
que as bactérias são microrganismos que possuem
características celulares diferentes as de seres eucariotos,
tanto em sua morfologia, citologia, fisiologia e reprodução.
Viu que as bactérias possuem diversos formatos que
podem ser visualizados através de técnicas de coloração,
como a coloração de Gram (que será abordada mais
detalhadamente em outro capítulo). Pôde aprender um
pouco sobre tudo isso, visto que alguns assuntos abordados
após essa unidade dependerão do entendimento desse
capítulo.
18 Microbiologia e Imunologia Clínica

Ação bacteriana

OBJETIVOS
Ao término deste capítulo você será capaz de entender
como ocorre o controle de microrganismos, conhecer
acerca dos fatores de virulência dos mesmos e os
mecanismos de ação e de resistência bacteriana. E então?
Motivado para conhecer sobre todas essas ações? Vamos
lá. Avante!

Compreender adequadamente os termos básicos e o contexto do


controle de microrganismos, seja por qual método for, é essencial para
evitar procedimentos equivocados ou insuficientes, que podem interferir
na qualidade dos procedimentos e dos produtos.

Controle microbiano
O controle microbiano ocorre quando há ações com o intuito
de: remover, matar, reduzir o número ou inibir o crescimento de
microrganismos. O controle pode ser feito através de métodos químicos
ou físicos e ao fazer a sua escolha deve-se levar em consideração o
agente microbiano a ser afetado e a forma em que ele pode interferir.

NOTA
O método de escolha depende do tipo de material que
contém o microrganismo.

Como sabemos, os microrganismos podem ser: bactérias,


fungos, protozoários ou vírus, e conseguem sobreviver e resistir a
diferentes temperaturas e ambientes e são, muitas vezes, patógenos.
O controle microbiano evita doenças infecciosas, atua na preservação
Microbiologia e Imunologia Clínica 19

de alimentos e também na preservação de outros produtos e materiais.


Existem alguns agentes antimicrobianos que vão atuar na prevenção
do crescimento desses microrganismos, que são: os antibacterianos,
antivirais, antifúngicos e antiprotozoários. Também existem os agentes
microbicidas que são utilizados para exterminar ou destruir todos os
microrganismos, que são os agentes bactericidas, fungicidas e viricidas.
Já os agentes microbiostáticos vão atuar inibindo o crescimento dos
microrganismos, que são os agentes fungistáticos e bacteriostáticos.

IMPORTANTE
Deve-se levar em consideração a natureza do microrganismo
presente, o efeito normalmente não é espontâneo e o
agente deve afetar diretamente o microrganismo.

Agentes físicos
Destacamos os principais agentes físicos utilizados no controle
microbiano. As baixas temperaturas atuam como bacteriostático e podem
ser utilizadas através de refrigeração, congelamento rápido profundo
(para conservação de culturas a 80ºC) ou liofilização. O calor úmido,
através da fervura e autoclave, mata células vegetativas (bactérias e
fungos), esporos e vírus; na pasteurização ocorre desnaturação proteica
e pode matar a maioria dos microrganismos patogênicos. O calor seco
também pode ser utilizado, através de chama direta, incineração ou
esterilização com ar quente. O ressecamento (remoção de água dos
microrganismos) possui um efeito bacteriostático. Também podem ser
utilizado diferentes tipos de radiação que podem causar mutações,
inibição de enzimas e alterações na célula.

Agentes químicos
Dentre os agentes químicos utilizados no controle microbiano, o
fenol e os agentes fenólicos atuam como antissépticos ou desinfetantes
através da ruptura da membrana plasmática e desnaturação proteica.
20 Microbiologia e Imunologia Clínica

As biguanidas possuem efeito bactericida, fungicida e não esporicida.


Agentes oxidantes, como iodo e cloro, são bactericidas e fungicidas.
Álcoois são antissépticos ou desinfetantes. Além desses, existem os
agentes de superfície, como sabões e detergentes, que podem remover
os microrganismos ou serem antimicrobianos. Os halogênios e metais
pesados também podem ser usados como: desinfetantes, fungicidas,
bactericidas ou bacteriostáticos.

NOTA
Existem variáveis que podem influenciar na atividade
antimicrobiana desses agentes, como o tamanho da
população microbiana (quanto maior a população,
mais tempo levará para ser destruída), a intensidade ou
concentração do agente (quanto menor, mais tempo levará
para destruir), o tempo de exposição ao agente (quanto
maior o tempo, maior o número de células mortas), a
temperatura de exposição (temperaturas mais altas matam
mais rapidamente a população), entre outras.

Fatores de virulência

DEFINIÇÃO
A patogenicidade é a capacidade de um microrganismo
causar qualquer dano em um hospedeiro e virulência é a
capacidade relativa de um microrganismo causar danos
em um hospedeiro.

A invasão de microrganismos pode ser facilitada por fatores


de virulência, pela aderência microbiana, pela resistência aos
antimicrobianos e pelos defeitos nos mecanismos de defesa do
hospedeiro. As principais estratégias de virulência em bactérias são:
aderência, invasão, evasão das defesas do hospedeiro, a produção de
toxinas e a captação de nutrientes.
Microbiologia e Imunologia Clínica 21

Os fatores de virulência ajudam os patógenos à invadirem e


resistirem as defesas do hospedeiro, podendo ser: cápsulas, enzimas
ou toxinas. Alguns microrganismos possuem uma cápsula que vai
bloquear a fagocitose, o que os tornam mais virulentos do que os
microrganismos não encapsulados. As enzimas são proteínas bacterianas
que atuam facilitando a disseminação no tecido local, fazendo com
que microrganismos invasivos possam penetrar e percorrer as células
eucariotas, facilitando a entrada por mucosas. Alguns microrganismos
podem liberar toxinas que são capazes de causar doença ou aumentar
a sua gravidade.
Exemplo: O botulismo, que é uma intoxicação alimentar, é
causado por uma toxina botulínica produzida pela bactéria Clostridium
botulinum.
Alguns microrganismos podem se tornar mais virulentos por
prejudicarem a produção de anticorpos, resistirem às etapas oxidativas
na fagocitose e por produzirem superantígenos. A aderência microbiana
ajuda os microrganismos à penetrar os tecidos e aderir a quase todas
as células humanas. O biofilme é uma estrutura fina que pode ser
formada ao redor de algumas bactérias, que faz com que elas resistam
a fagocitose e aos antibióticos.
Exemplo: Pode se desenvolver ao redor da bactéria Pseudomonas
aeruginosa em pacientes com fibrose cística e ao redor de bactérias
estafilococos coagulase-negativas em dispositivos médicos sintéticos
(cateteres, enxertos, materiais de sutura).

Resistência microbiana e mecanismos


Para entender como os microrganismos conseguem ser
resistentes aos processos de destruição dos mesmos, precisamos
entender um pouco sobre o mecanismo de ação dos antibióticos, que
são utilizados no combate às bactérias. Os antibióticos podem atuar
de diferentes formas, são responsáveis pela inibição da síntese do
peptideoglicano presente na parede celular da bactéria, também pode
lesionar a membrana plasmática, interferir na síntese de ácidos nucleicos
e proteínas ou agir em metabólitos.
22 Microbiologia e Imunologia Clínica

Exemplo: As bactérias Gram-positivas serão afetadas por


antibióticos tipo penicilina, que afetam a síntese do peptideoglicano.
Os microrganismos possuem uma variabilidade genética que não
dá para evitar. A escolha do antimicrobiano vai ser de acordo com as
cepas e sua capacidade de sobrevivência.

VOCÊ SABIA?
O primeiro antibacteriano descoberto por Alexander
Fleming, em 1928, foi a penicilina, que se mostrou muito
eficaz durante a segunda guerra mundial.

Em 1940 o uso de antibióticos curou muitas doenças e, naquela


época, não demonstrou nenhum risco às pessoas. Com o passar dos
tempos e com a crescente utilização desses medicamentos, surgiram
linhagens bacterianas resistentes ao tratamento. Os antibióticos são
compostos químicos produzidos por microrganismos que atuam inibindo
ou matando outros microrganismos. A atividade microbicida faz com que
haja diminuição na quantidade de células viáveis e inibe o crescimento
e a divisão do micro-organismo sensível. Já a atividade microbiostática
paralisa o metabolismo do microrganismo sensível, fazendo com que o
número de células viáveis fique constante durante horas.
Microbiologia e Imunologia Clínica 23

Figura 2 – Comparação entre os diferentes tipos de tratamento

1 dia

Antibacteriano

Bactericida

Bacteriostático

Fonte: Freepik (editado) | http://www.ufjf.br/microbiologia/files/2013/05/Controle-da-


popula%C3%A7%C3%A3o-microbiana-antibi%C3%B3ticos-e-resist%C3%AAncia-ENF.pdf.

Ao escolher o agente antimicrobiano, deve-se levar em


consideração a toxicidade seletiva, ou seja, a capacidade de destruir o
patógeno sem afetar o hospedeiro, não induzir resistência bacteriana,
alcançar níveis bactericidas por longos períodos, ser capaz de atingir o
sítio infectado e possuir um espectro de ação satisfatório (atingir bactérias
Gram-positivas, Gram-negativas e anaeróbicas). Os antimicrobianos
podem ser usados em combinação para aumentar o espectro e atingir
um efeito letal sinérgico no tratamento de infecções polimicrobianas.
A resistência aos antimicrobianos pode ser natural ou adquirida.
Quando o microrganismo possui capacidade de resistir à ação do
antibiótico por causa das características estruturais e funcionas, é
resistência natural. Quando o microrganismo foi anteriormente sensível
ao antibiótico e tornou-se resistente, é adquirida.
24 Microbiologia e Imunologia Clínica

NOTA
A resistência a drogas na maioria das vezes é carreada por
plasmídeos.

Figura 3 – Transferência de genes de resistência

Célula doadora de
plasmídeo

Gene de
resistência

Morte da Bactéria
Plasmídeo
Gene de
Resistência
Bacteriófago

Bactéria infectada
por vírus

Bactéria recebendo os
genes de resistência Gene de
Resistência

Fonte: Freepik (editado)

Quando as drogas antimicrobianas são utilizadas de forma


incorreta pode ocorrer interferência nos microrganismos presentes
na microbiota do hospedeiro, podendo interferir na homeostase da
microbiota normal (principalmente no intestino).

IMPORTANTE
Quando lançadas ou despejadas no meio ambiente
também podem interferir no equilíbrio ecológico dos
micro-organismos presentes.
Microbiologia e Imunologia Clínica 25

Devido à grande irresponsabilidade no uso dessas drogas, a


resistência microbiana tem se tornado um grande problema. Além das
bactérias resistentes, surgiram bactérias multirresistentes, que possuem
resistência a dois ou mais grupos de antimicrobianos. Pacientes
internados em UTI, com idade avançada, com infecções recorrentes,
com exposição hospitalar frequente ou imunodeficientes são os mais
susceptíveis às bactérias multirresistentes.

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Artigo:
“Desafios do cuidar em saúde frente à resistência bacteriana:
uma revisão” (OLIVEIRA & SILVA), acessível pelo link https://
www.revistas.ufg.br/fen/article/view/8011 (Acesso em
22/12/2019).

RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido que existem alguns métodos para eliminar ou
impedir o crescimento de microrganismos. Aprendeu que
existem diferenças entre esses métodos e a sua escolha
irá depender do tipo de microrganismo e do objetivo final,
podendo ser agentes físicos ou químicos. Viu que os micro-
organismos possuem fatores de virulência, que ajudam a
piorar os danos causados nos hospedeiros e a resistirem
aos antimicrobianos. Por falar em resistência, conheceu
os mecanismos que os microrganismos possuem para
resistir às drogas antimicrobianas e também conheceu
sobre as ações dos antimicrobianos e os tipos. Conseguiu
compreender a importância de ter responsabilidade ao
administrar os antibióticos corretamente, que podem tornar
as bactérias resistentes, seja de forma natural ou adquirida.
26 Microbiologia e Imunologia Clínica

Microbactérias patógenas

OBJETIVOS
O objetivo deste capítulo é apresentar as principais
bactérias patogênicas, de importância médica e as
infecções causadas por elas. No final desse capítulo,
terá compreendido sobre as características únicas e
o mecanismo de desenvolvimento das doenças nos
hospedeiros. Vamos lá?

Existem bactérias de importância médica presentes no meio


rural, nos alimentos e produtos, no ar e secreções e também podem ser
transmitidas por via sexual.

Cocos Gram-positivos
Existem algumas bactérias cocos gram-positivas que são de
importância médica, como Staphylococcus spp., Streptococcus spp.,
Enterococcus spp., e outras. Os estafilococos são as bactérias mais
resistentes ao meio ambiente, calor, e em amostras clínicas secas.
Apesar de existir antimicrobianos que combatam a essas bactérias,
elas são extremamente importantes para as pessoas. A Staphylococcus
aureus coloniza o homem na amamentação, podendo estar presente
também na nasofaringe e na pele. Infecções causadas por essa bactéria
algumas vezes se mostraram resistentes ao tratamento com antibiótico,
mesmo os mais potentes.

IMPORTANTE
Devido a essa capacidade de se tornar resistente aos
antibióticos, há a necessidade de um diagnóstico e
identificação rápidos para os casos dessa bactéria.
Microbiologia e Imunologia Clínica 27

A bactéria Streptococcus spp. é capaz de provocar doenças


graves, apesar de não ser mais uma causa importante em infecções
hospitalares, o que requere também uma rápida identificação. As
bactérias Enterococcus spp. São causadoras de infecções hospitalares
e tornam-se resistentes a quase todos os antibióticos utilizados no
tratamento da infecção.

VOCÊ SABIA?
As bactérias Streptococcus spp. foram as maiores
causadoras de infecção hospitalar na era pré-antibiótica,
causando surtos de infecção e morte.

A identificação dessas bactérias pode ser através da morfologia


que elas apresentam em meio líquido, através da forma em que se
apresentam na placa com o meio de cultura adequado (as colônias de
estafilococos são maiores, de coloração branca ao amarelo e convexas
e as de estreptococos são puntiformes, apresentando beta ou alfa
hemólise. Mas para diferenciar esses dois tipos de bactérias é necessário
realizar a prova da catalase como confirmação.

Figura 4 – Divisão dos cocos Gram-positivos pela prova da catalase

Catalase positivos Catalase negativose


Staphylococcus spp. Enterococcus spp.
Micrococcus spp. Streptococcus spp.
Planococcus spp. Aerococcus spp.
Stomatococcus spp. Gamella spp., Leuconostoc spp.
Lactococcus spp., Stomatococcus spp.

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_microbiologia_completo.pdf.
28 Microbiologia e Imunologia Clínica

NOTA
O meio de cultura ágar sangue não é indicado para essa
prova pois o sangue do meio contém catalase, podendo
gerar um resultado falso-positivo.

Figura 5 – Identificação simplificada dos cocos Gram-positivos

Gênero Catalase Motilidade NaCl 5% Oxidase Aeróbio Tétrade

estrito

Staphylococcus + neg + neg não variável

Planococcus + + + neg + variável

Micrococcus + neg + + variável variável

Enterococcus neg variável + neg não não

Streptococcus neg neg variável neg não não

Aerococcus neg neg + neg não +

Stomatococcus* variável neg neg neg não variável

*aderente ao meio

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_microbiologia_completo.pdf.

Existem aproximadamente trinta e uma espécies de estafilococos


coagulase negativa, sendo que as mais frequentes são Staphylococcus
epidermidis, responsável por causar infecções em próteses e cateteres,
Staphylococcus saprophyticus, responsável por causar infecção urinária
em mulheres jovens e Staphylococcus haemolyticus, que possui
uma grande resistência aos antimicrobianos. Também são realizados
outros testes, que serão melhor abordados em outra unidade, para
identificação bacteriana, como o teste da DNAse, da endonucleade,
do crescimento em meio Ágar manitol, entre outros. Os estreptococos
podem ser identificados através da cultura em meio Ágar sangue
podendo apresentar hemólise beta (total), alfa (parcial, cor verde)
ou gama (nenhuma). Testes de resistência a antibióticos também são
realizados, como teste da bacitracina, do sulfametoxazol trimetoprim,
de CAMP, entre outros.
Microbiologia e Imunologia Clínica 29

Neisseria
Existens diferentes espécies de neisseria, incluindo N. meningitidis
e N. gonorrhoeae, que são analisadas junto com a Moraxella catarrhalis,
Moraxella spp., Acinetobacter spp., Kingella spp e Alcaligenes spp. As N.
meningitidis e N. gonorrhoeae possuem uma grande importância médica
por causarem meningite e gonorreia. As suas espécies são, em sua
maioria, diplococos Gram-negativos.

NOTA
Com exceção da Neisseria elongata e Kingella denitrificans,
todas as neisserias são oxidase positivas e catalase positivas.

A N. gonorrhoeae é sempre considerada patogênica, podendo ser


transmitida por via sexual ou pelo parto. No homem causa uretrite e está
relacionada a complicações como epididimite, prostatite e estenose
uretral. Pode ser isolada também na mucosa oral e anal. A N. meningitidis
pode causar meningite e também causar em associação outras infecções
(conjuntivite, artrite, sinusite e pneumonia) e sua transmissão é através
das vias aéreas. A Moraxella catarrhalis é um patógeno potente das
vias aéreas, principalmente em crianças e adultos jovens. Causa com
maior frequencia otite, sinusite e pneumonia, e raramente pode causar
endocardite e meningite. A maioria de suas cepas são produtoras de
beta-lactamase, e são detectadas através do teste do Nitrocefin.
Para identificação de N. meningitidis e N. gonorrhoeae pode se fazer
o diagnóstico utilizando-se aspectos clínicos associados à bacterioscopia
positiva (Diplococos Gram-negativos intracelulares) em pacientes de risco,
onde a prevalência da gonorreia é significativa. Na ocorrência de surtos de
meningite meningocócica, o diagnóstico presuntivo para fins de tratamento
também pode se basear na clínica e na bacterioscopia do liquor ou de lesões.

NOTA
Deve-se sempre colher material para cultura, para que seja
possível confirmar e monitor a resistência destas bactérias.
30 Microbiologia e Imunologia Clínica

Figura 6 – Provas de rotina para diferenciação de Neisserias

Bactéria AC A. DNAse GLI MAL LAC SAC FRU

22ºC Nut.

35ºC

N. gonorrhoeae neg neg neg + neg neg neg neg

N. meningitidis neg v neg + + neg neg neg

Outras neisserias + + neg variável variável variável variável variável

M. catharralis + + + neg neg neg neg neg

Kingella spp. v + variável + neg neg neg neg

AC = crescimento em ágar a 22ºC A. Nut. = crescimento em ágar nutriente a 35ºC

GLI = glicose MAL = maltose LAC = lactose SAC = sacarose FRU = frutose

Fonte: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/mod_5_2004.pdf.

Enterobactérias
Constituem 27 gêneros/102 espécies/8 grupos indefinidos
da maior família e mais heterogênea de bactérias Gram-negativas
patogênicas. São bacilos não esporulados, com motilidade variável,
oxidase negativos, que crescem em diversos meios, são anaeróbios
facultativos, fermentam a glicose com ou sem produção de gás, são
catalase positivos, e reduzem nitrato à nitrito. A maioria dessas bactérias
são encontradas no trato gastrointestinal de humanos, mas também
podem ser encontradas em animais, na água, no solo e nos vegetais.
São responsáveis por uma grande parte das infecções urinárias e das
septicemias. As principais enterobactérias causadoras de infecções
hospitalares são Escherichia coli, Klebsiella spp., e Enterobacter spp e
as principais causadoras de infecções na comunidade são Escherichia
coli, Klebsiella spp., Proteus spp., Salmonella spp., e Shigella spp. As
principais provas a serem feitas para identificar as enterobactérias são
fermentação da glicose e da lactose, teste de motilidade, teste de
citrato, descarboxilação da lisina, produção de sulfeto de hidrogênio,
produção de gás (CO2), teste da oxidase, produção de indol, de uréase,
de fenilalanina desaminase ou opção triptofanase, de gelatinase ou
opção DNAse. Também pode ser feita a identificação sorológica, onde
Microbiologia e Imunologia Clínica 31

as amostras relacionadas bioquimicamente são divididas em subgrupos,


por critério sorológico, de acordo com a presença dos antígenos:
somático (O), flagelar (H) e de envoltório ou cápsula (K).

DEFINIÇÃO
Os sorotipos são divisões baseadas no relacionamento
antigênico, enquanto os biotipos são amostras do mesmo
sorotipo que diferem em características bioquímicas.

NOTA
Em atividades de rotina, a identificação sorológica é feita
apenas com germes comprovadamente patogênicos e de
importância epidemiológica como Salmonella spp., Shigella
spp., Escherichia coli ou Yersina enterocolitica.

Bacilos não fermentadores


Os bacilos Gram-negativos não fermentadores (BNFs) são não
esporulados, aeróbicos e incapazes de utilizar carboidratos como
fonte de energia através de fermentação. A sua incidência em hospitais
é menor quando comparada às outras bactérias, entretanto, elas
possuem grande resistência aos antibióticos e causam infecções graves,
principalmente em pacientes graves oriundos de terapia intensiva,
submetidos à procedimentos invasivos, em unidades de queimados ou
com infecções do trato respiratório com fibrose cística. São consideradas
bactérias oportunistas.
32 Microbiologia e Imunologia Clínica

Tabela 1 – BNFs de importância médica.

Bacilos não fermentadores de maior importância clínica

Acinetobacter spp. Burkholderia cepacia

Pseudomonas aeruginosa Pseudomanas pseudomallei

Stenotrophomonas spp. Alcaligenes spp.

Chryseobacterium Moraxella spp.


(Flavobacterium) spp.

Os testes para identificação dessas bactérias são teste de citrato,


disco de oxidase, disco de PYR, DNAse, Mac Conkey, tubo de caldo indol,
com arginina, com lisina, com gelatina, entre outros. A Pseudomonas
aeruginosa é a bactéria que mais infecta pacientes com fibrose cística, e
juntamente com a Acinetobacter baumannii estão entre as bactérias mais
isoladas em hemoculturas e amostras do trato respiratório de pacientes
internados em hospitais. Os outros BNFs representam um pequeno
percentual de isolados, porém alguns apresentam resistência alta a
diversos antimicrobianos, sendo capazes de causar infecções graves.

VOCÊ SABIA?
A prevalência de BNFs no trato respiratório de pacientes
portadores de fibrose cística, tais como Complexo Burkholderia
cepacia, Stenotrophomonas maltophilia e Achromobacter
xylosoxidans tem aumentado nos últimos anos.
Microbiologia e Imunologia Clínica 33

Figura 8 – Identificação e descrição dos BNFs

Fonte: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/boas_praticas/
modulo3/identificacao3.htm.

Bacilos espiralados ou curvos


Os bacilos espiralados ou curvos não são tão comuns, porém
representam uma grande importância médica. A tabela abaixo resume
algumas bactérias e as suas respectivas doenças, formas de transmissão
e o reservatório.

Tabela 2 – Principais bactérias curvas/espiraladas

Agente Doença Reservatório Transmissão

Arcobacter spp. Bacteremia Gado, humanos Alimentos


gastroenterite
Borrelia Doença de Lime Roedores Carrapatos
burgdoferi
Borrelia Febre recorrente Humanos Sarna
recurrentis epidêmica (P.humanus)
Campylobacter Gastroenterite Alimentos Alimentos
coli/ jejuni contaminados
Campylobacter Bacteremia, Humanos Fecal-oral
fetus infecção
extranegintestinal
34 Microbiologia e Imunologia Clínica

Helicobacter Gastrite, úlcera Humanos, Fecal-oral


pylori péptica macacos, gatos
Helicobacter spp. Gastroenterite, Animais Fecal-oral,
bacteremia, etc. domésticos alimentos
Leptospira spp. Leptospirose Cães, gatos, Alimentos-água
porcos, ratos
Treponema Sífilis Humanos Sexual
pallidum
Vibrio spp. Gastroenterite Alimentos, água Alimentos

A cólera, é causada pelo Vibrio cholerae produtor de toxina e é


responsável por diarreia secretória disseminada por via fecal-oral em
surtos e epidemias associadas à falta de condições sanitárias adequadas.
Algumas espécies de Vibrios necessitam de NaCl para crescimento. Os
testes realizados para identificação dos bacilos curvos ou espiralados
são prova da catalase, teste de meio Mac Conkey, teste de ácido
nalidixico, teste de cefalotina, entre outros.

Bacilos Gram-positivos
Dentre os bacilos gram-positivos (BGPs) podemos dividir em
bactérias corineformes, bacilos gram-positivos regulares, esporulados
e bacilos ramificados.
Microbiologia e Imunologia Clínica 35

Figura 9 - Principais doenças associadas aos BGPs

Fonte: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_microbiologia_completo.pdf.

Os testes iniciais a serem feitos com os BGPs são prova da catalase,


da hemólise, da resistência ao álcool-ácido, presença de esporos.

NOTA
Os corineformes são um grupo heterogêneo de bactérias
com poucas características em comum e também
morfologicamente muito diferentes. São exemplos as
bactérias Arcanobacterium spp., Corynebacterium spp.,
Gardnerella vaginalis, Oerskovia spp., Rhotia spp.
36 Microbiologia e Imunologia Clínica

O gênero Corynebacterium possui cerca de 50 espécies de


algum interesse médico, os testes de diferenciação que podem ser
utilizados são redução de nitrato, prova da catalase, reação de CAMP,
prova da uréase, resistência ao álcool-ácido, entre outros. As bactérias
de importância médica são as espécies de C. diphtheriae e C. ulcerans
que podem produzir a toxina diftérica. Outra espécie de importância em
infecções hospitalares e frequentemente isolada em material clínico é a
C. jeikeium. A difteria caracteriza-se por processo infeccioso localizado no
trato respiratório e manifestações tóxicas no coração e nervos periféricos.
Arcanobacterium haemolyticum e S. pyogenes são considerados
agentes patogênicos na orofaringe. Está associado com infecções
de partes moles, faringite em jovens e raros casos de septicemia,
endocardite e osteomielite. A Gardnerella spp. faz parte da microbiota
vaginal de muitas mulheres em idade reprodutiva, mas está associada à
vaginose bacteriana, quando predomina na flora vaginal substituindo o
Lactobacillus de Doderlein. Os Bacillus spp. encontram-se em diversos
lugares como solo, água, na matéria orgânica animal e vegetal, além
de estarem presentes em condições variadas de temperatura, umidade,
pH. As duas espécies mais importantes são o B. antrhacis e B. cereus. O
Bacillus cereus pode apresentar intoxicações caracterizadas por diarreia
e dor abdominal ou por náuseas e vômitos. O Bacillus antrhacis possui
três formas: antrhax cutâneo, intestinal ou pulmonar, sendo que a forma
cutânea não tratada pode ser fatal e as formas pulmonares e intestinais
são mais graves pela dificuldade de diagnóstico.

VOCÊ SABIA?
B. antrhacis foi a primeira bactéria associada a uma doença,
em 1877 por Robert Koch. O nome anthracis significa carvão,
referenciando às lesões que provoca na pele, quando a
infeção é cutânea. Essa bactéria possui um risco elevado
na comunidade quando é utilizada como arma biológica.
Microbiologia e Imunologia Clínica 37

Bactérias aneróbicas restritas


Esse grupo de bactérias é caracterizado por produzir patologia
no ser humano, sem conseguir se multiplicar na presença do oxigênio.
São diferentes das bactérias anaeróbicas facultativas, que possuem a
capacidade de se desenvolver e se multiplicar na presença ou ausência
de oxigênio. Existem algumas teorias que explicam essa ação deletéria
do oxigênio nelas, como o oxigênio ser tóxico para elas ou alterar
enzimas importantes no metabolismo, ou essas bactérias não possuírem
enzimas como catalase, que impede a formação de muitos peróxidos, e
superóxido dismutase.

VOCÊ SABIA?
As bactérias anaeróbicas restritas compõem normalmente
o nosso organismo, ultrapassando em número as bactérias
aeróbicas e anaeróbicas facultativas, estando na microbiota
normal do tubo digestivo, pele, trato respiratório superior e
genital feminino.

Essas bactérias podem provocar processos patológicos em


diferentes órgãos e sistemas e a maior parte das infecções provocadas
são infecções chamadas endógenas, que nada mais é que a própria
microbiota bacteriana do doente provocando o processo infeccioso
em determinado momento, sendo este tipo de infecção pouco ou
não contagioso. Já as infecções provocadas pelo gênero Clostridium
são adquiridas a partir do meio ambiente externo e por este motivo
são chamadas de infecções exógenas. A maior parte das infecções
por bactérias anaeróbicas restritas são infecções mistas, sendo
comuns as infecções conjuntas com Enterobactérias, Pseudomonas e
Staphylococcus aureus. Os aspectos clínicos bem característicos das
bactérias anaeróbicas são: produção de secreção fétida, infecção nas
proximidades de superfície mucosa, presença de gás em tecidos ou
secreções, coloração negra em secreção com sangue, tecido necrótico,
entre outros. Associados a estes aspectos clínicos, existem alguns outros,
que refutam ainda mais a suspeita de uma infecção por anaeróbicos
38 Microbiologia e Imunologia Clínica

restritos, como ocorrência de formas pleomórficas na coloração de


Gram, observação de bacilos gram-positivos esporulados que fazem
pensar em Clostridium, ou crescimento de bactérias somente na parte
inferior de tubos com meios de cultura líquido ou semis-sólido. Para
confirmar se a bactéria é anaeróbica restrita deve-se fazer as colorações
de Gram, de todos os diferentes tipos de colônias observadas nas placas
e comparar a morfologia bacteriana. Ao mesmo tempo, semeiam-se as
diversas bactérias obtidas, novamente em anaerobiose e aerobiose.

IMPORTANTE
A confirmação da bactéria anaeróbica restrita se dá quando,
após 24 a 48 horas da nova incubação, a bactéria tenha
crescido apenas na placa de anaerobiose.

O diagnóstico de gênero e espécie é feito através de provas


bioquímicas, produção de pigmentos, hemólise, aprofundamento no
ágar, susceptibilidade a antimicrobianos, formação de ácidos detectados
por cromatografia líquida, inoculação experimental ou sorologia.

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento: Tese:
“Principais Bactérias de Interesse Médico Encontrados
em Molhos e Condimentos de Lanchonetes Tipo Fast
Food” (CRISPIM & OLIVEIRA), acessível pelo link https://
www.redalyc.org/pdf/260/26042165001.pdf (Acesso em
26/12/2019).
Microbiologia e Imunologia Clínica 39

RESUMINDO
E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu
mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de
que você realmente entendeu o tema de estudo deste
capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter
aprendido que existem diversas bactérias patogênicas,
ou seja, que podem causar doenças e por isso possuem
uma importância clínica. Aprendeu que existe uma série de
testes e provas que são feitos em laboratório para identificar
essas bactérias, que podem ser positivas ou negativas para
eles. Conheceu um pouco sobre as principais bactérias
patogênicas e sobre as suas doenças e testes feitos. Viu
que existem outras bactérias que não são patogênicas e
são mais frequentes, e que é importante também a sua
identificação e diferenciação com as bactérias patogênicas.
Por fim, compreendeu que existem milhares de bactérias,
que podem viver na presença ou na ausência de oxigênio,
que sobrevivem em diversas condições e ambientes, por
isso é tão importante saber como identificar corretamente
cada espécie e saber qual o tratamento ideal para aquela
bactéria.
40 Microbiologia e Imunologia Clínica

Microbiota normal

OBJETIVOS
Ao final deste capítulo, você será capaz de entender
e conhecer sobre os micro-organismos presentes na
microbiota normal do corpo humano, sem causar doenças,
e os mecanismos que os envolvem. Então vamos lá finalizar
essa unidade com chave de ouro!

Microbiota normal diz respeito à população de microrganismos


que habita a pele e as mucosas de pessoas normais e sadias, essa
microbiota se desenvolve e pode sofrer alterações ao longo da vida.
A função da presença de microrganismos na microbiota é impedir a
colonização de micro-organismos patógenos presentes no meio externo
e, com isso, o impedir o desenvolvimento de doenças, e também
auxiliar na absorção de nutrientes. A microbiota também possui outros
benefícios, como promover o desenvolvimento de tecidos, estimular a
produção de anticorpos naturais, ajudar o sistema imune na resposta
contra antígenos, sintetizar e excretar vitaminas, entre outros.

NOTA
As partes do corpo mais expostas ao ambiente (pele
e mucosas) sofrem mais rapidamente colonização por
diversos microrganismos.

Existem alguns fatores que podem modificar a microbiota


humana, seja a idade ou até mesmo uma dieta alimentícia, a figura abaixo
mostra alguns desses fatores. A microbiota intestinal é influenciada por
muitas particularidades do estilo de vida moderno, como a melhoria do
saneamento básico, urbanização, uso excessivo de antibióticos, menor
exposição a infeções na infância, vacinação ou sedentarismo.
Microbiologia e Imunologia Clínica 41

Figura 10 – Representação dos fatores que afetam a composição da microbiota

antibióticos estilo de vida Dieta Higiene

Hiperimunidade Imunodeficiência
IL-6 Alteração da
NOD2
IL-12 Microbiota
IL-10
TNF

inflamação disfunção
crônica metabólica

Fonte: Freepik (editado) | unifal-mg.edu.br

O uso de antibióticos, embora seja necessário em casos de


infeção, pode ter efeitos drásticos na microbiota, como eliminar a
diversidade de microrganismos e a desregular o sistema imunológico
do hospedeiro, aumentando a susceptibilidade à doença. Isso porque os
antibióticos são, em sua maioria, de amplo espetro, ou seja, atingem não
só as bactérias causadoras da infecção.
Existem dois tipos de microbiota, a residente e a transitória. A
microbiota residente corresponde aos microrganismos encontrados
regularmente em determinada idade e região e pode ser reconstituída
facilmente. A microbiota transitória corresponde aos microrganismos
que são eliminados por mecanismos naturais de defesa ou por ações
de limpeza.
42 Microbiologia e Imunologia Clínica

IMPORTANTE
Se a microbiota permanente estiver intacta, a microbiota
transitória não causará danos e será eliminada. Mas, se os
microrganismos permanentes estiverem desequilibrados,
a microbiota transitória pode tornar-se patógena.
Microrganismos de uma região também podem se tornar
patógenos se estiverem em outro local que não seja o habitual.

DEFINIÇÃO
Disbiose é o desequilíbrio na microbiota associado a
doenças.

Algumas bactérias são oportunistas, como a Clostridium difficile,


e podem tornar-se vantajosas quando a população de “competidores” é
diminuída em pacientes imunodeprimidos, elas podem se multiplicar
em excesso causando infecções.

Microbiota específica em cada região


Pele
Na pele a microbiota encontra-se por toda a extensão, bem
definida e constante, com microrganismos transitórios. Sendo mais
concentrada em regiões mais quentes e úmidas, como axilas e
períneo. Geralmente predominam as bactérias Gram-positivas, como
Staphylococcus, Corynebacterium e Propionobacterium.

Boca e vias aéreas


No nascimento, as mucosas dessas regiões são quase sempre
estéreis (podem ser contaminadas no parto). Na cavidade bucal,
orofaringe e nasofaringe podem ser encontrados Streptococcus,
Lactobacillus, Fusobacterium, Velionella, Neisseria, Treponema, Candida,
Microbiologia e Imunologia Clínica 43

Staphylococcus, Mycoplasma, dentre outras bactérias. A microbiota da


cavidade oral tem grande importância devido às doenças periodontais
(e até endocardites subagudas) serem causadas por microrganismos
nela. Nas fossas nasais predominam as bactérias Corynebacterium e
Staphylococcusas vias aéreas inferiores são regiões estéreis.

Trato intestinal
No nascimento, o trato intestinal está estéril e os microrganismos
serão introduzidos pelos alimentos, os recém-nascidos amamentados
pelo leite materno são compostos por microrganismos aeróbicos
e anaeróbicos, Gram-positivos, em destaque os estreptococos e
lactobacilos.

VOCÊ SABIA?
Quando o recém-nascido é amamentado com leite
materno, ele possui maior concentração de estafilococos
e bifidobactérias, e menor quantidade de clostrídeos
e enterococos quando comparados com crianças
amamentadas com mamadeira, que tendem a ter uma
microbiota mista, com menos lactobacilos.

A microbiota da criança irá ser de acordo com a microbiota


fecal da mãe, quando o parto é natural, ou de acordo com as bactérias
hospitalares em contato durante a cesariana, fazendo com que a
criança adquira outras bactérias mais tardiamente. O esôfago contém
uma microbiota proveniente da saliva e dos alimentos, já o estômago
possui poucos microrganismos (como Lactobacillus, Streptococcus spp.
(produtoras de ácido láctico) e Helicobacter pylori (causadora de gastrites
e úlceras) devido ao seu pH ácido, que protege contra infecções de
patógenos entéricos. O cólon possui a maior parte de sua microbiota
composta por bactérias anaeróbicas. O intestino grosso é o local de
maior concentração de microrganismos e com grandes quantidades
de bactérias anaeróbicas, predominando as bactérias Eubacterium,
Bifidobacterium e Bacterióides.
44 Microbiologia e Imunologia Clínica

IMPORTANTE
Todos os seres humanos são portadores da E. coli nesta
microbiota.

A flora intestinal realiza algumas ações para garantir as suas próprias


características, a E. coli inibe o crescimento de algumas bactérias através
da competição por fontes de carbono; os lactobacilos competem com
outras bactérias pelos sítios de adesão e também produzem substâncias
que inibem o crescimento de outros microrganismos na microbiota; as
bactérias facultativas criam condições de anaerobiose e isso faz com
que aumente o número de bactérias anaeróbicas. A microbiota intestinal
é muito importante e deve estar sempre em equilíbrio com o organismo,
ela pode influenciar beneficamente o corpo e prevenir até mesmo o
câncer de cólon.

Uretra e vagina
Na uretra anterior, tanto do homem quanto da mulher, existem
microrganismos provenientes da pele e do períneo e eles aparecem
regularmente quando a urina é eliminada. A vagina é composta de
lactobacilos desde o nascimento e pode conter uma flora mista com
cocos e bacilos em algumas situações (puberdade, menopausa,
puerpério).

Olho
A microbiota do olho é composta, principalmente, por difteróides,
Staphylococcus epidermidis e estreptococos não hemolíticos. São
encontradas com frequência espécies do gênero Neisseria e bacilos
Gram-negativos.
Microbiologia e Imunologia Clínica 45

VOCÊ SABIA?
Existe um trabalho intitulado “Definindo o microbioma
humano” que estuda as mudanças da microbiota que pode
ajudar a compreender a predisposição a determinadas
doenças, além de ser útil para aplicações de tratamentos
da medicina personalizada.

SAIBA MAIS
Quer se aprofundar neste tema? Recomendamos o acesso
à seguinte fonte de consulta e aprofundamento, artigo:
“Transplante de microbiota fecal no tratamento da infecção
por Clostridium difficile: estado da arte e revisão de literatura”
(Messias et al.), acessível pelo link http://www.scielo.br/
scielo.php?pid=S0100-69912018000200300&script=sci_
arttext&tlng=pt (Acesso em 27/12/2019).

RESUMINDO
Durante esse capítulo vimos os microrganismos que
compõem o nosso organismo sem causar doenças.
Pudemos perceber que diferentes regiões do nosso corpo
vão ter uma microbiota característica daquele local e que
irá favorecer nos processos que ocorrem. Vimos que todo
ser humano nasce estéril e, após o nascimento, o recém-
nascido começa a adquirir os microrganismos desde o
momento do parto. E esses microrganismos vão se alterando
e adaptando às fases da vida. Aprendeu que a microbiota
exerce funções no nosso corpo, mas principalmente nos
protege contra microrganismos patogênicos, prevenindo
as doenças. Entendeu o risco de utilizar antibióticos de
forma incorreta, visto que pode alterar a microbiota normal.
Também aprendeu que existem diversos fatores que
podem alterar a nossa microbiota, inclusive: higiene, estilo
de vida, uso de antibióticos e alimentação. Compreendeu
que a microbiota é muito importante não só para evitar
patógenos, mas também para ajudar a manter o equilíbrio
do organismo e poder ajudar na prevenção de doenças.
46 Microbiologia e Imunologia Clínica

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Microbiologia e Imunologia
Clínica
Natália Gindri Fiorenza
Maria Paula de Souza Sampaio

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