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Citopatologia

Natália Gindri Fiorenza


Maria Paula de Souza Sampaio

Aula 01
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
As Autoras
NATÁLIA FIORENZA
Olá. Meu nome é Natália Fiorenza. Sou formada em Ciências
Biológicas, com mestrado e doutorado na área de Ciências da Saúde.
Passei por diferentes laboratórios de pesquisa, publicando trabalhos
científicos e participando de muitos Congressos e Cursos em diferentes
área de saúde e educação. Fui professora universitária e tutora durante
4 anos do curso de medicina, onde me conectei com minha paixão pela
docência e por metodologias ativas de ensino. Sou ávida por aprender e
ensinar e por trocar conhecimentos quer na área científico-acadêmica, quer
na área de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Recebi com
muita alegria o convite da Editora Telesapiens para integrar seu elenco de
autores independentes, pois tenho como propósito transmitir aquilo que
sei e auxiliar outras pessoas no início de sua jornada profissional. Estarei
com você nessa caminhada de muito estudo e trabalho. Conte comigo!

MARIA PAULA DE SOUZA SAMPAIO


Meu nome é Maria Paula, sou graduada em Biomedicina, habilitada
em Citopatologia. Além da prática com a minha habilitação, pude realizar
um curso avançado em Citopatologia Cérvico-Vaginal. Atualmente,
sou voluntária de um projeto de pesquisa na Fundação Oswaldo Cruz
(FIOCRUZ) sobre Patologia Mamária Comparada, onde fiz iniciação
científica por um ano. Em minha jornada de aprendizado contínuo pude
participar ativamente de congressos e projetos de estudo, e sempre
tive uma paixão por ensinar. Junto com Natália, pretendo transmitir todo
o ensinamento que obtive até aqui, buscando sempre aprender mais.
Estamos juntos nesse aprendizado!
Iconográficos
Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro-
jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de
aprendizagem toda vez que:

INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo,
ou detalhado; se forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Compreendendo a Citopatologia e sua importância clínica 12
Introdução a Citopatologia 12
O Estudo da Citopatologia 15
Padrões citológicos em diversos órgãos 15
Mama 15
Tireoide 16
Pulmão 16
Líquidos 17
Cérvice-vaginal 17
Técnicas de coleta de materiais biológicos 19
A escolha do método adequado 19
Punção 20
Raspagem 22
Imprints 23
Lavados 24
Escovados 24
Materiais espontâneos 25
Processos pós-coleta 26
Pré-fixação 27
Centrifugação 27
Cell Blocks (blocos celulares) 27
Fixação 27
Técnicas de coloração das amostras biológicas 29
O processamento da amostra e a fase pré-analítica 29
Coloração de Papanicolau 30
Coloração de Hematoxilina-Eosina (HE) 32
Método de May-Grünwald-Giemsa (MMG) 33
Coloração pelo azul de toluidina 34
Técnicas rápidas de Diff-Quick (DQ) e de Panótico 34
Coloração de Shorr 35
Colorações especiais 36
Montagem 36
Conhecendo a citopatologia dos processos inflamatórios 38
Em que consiste o processo inflamatório? 38
Inflamação Exsudativa 40
Inflamação Alterativa 41
Inflamação Produtiva/Proliferativa 41
Principais achados de alterações inflamatórias 42
Psicofarmacologia Clínica 9

01
UNIDADE
10 Citopatologia

INTRODUÇÃO
O exame citopatológico é uma ferramenta diagnóstica valiosa,
por ser minimamente invasiva, segura, simples, de custo acessível e
apresentar rapidez e eficácia na determinação do resultado. Como a
solicitação desses exames é cada vez maior por parte dos profissionais
de saúde, os citopatologistas também têm se tornado mais experientes,
levando a um melhor desempenho qualitativo e quantitativo. A
citopatologia possui uma importante atuação nos processos inflamatórios,
reconhecendo as lesões, avaliando a intensidade da reação inflamatória,
acompanhando a evolução e podendo determinar o patógeno causador.
O exame citológico tem ainda relevância clínica no diagnóstico precoce
das neoplasias, facilitando o planejamento cirúrgico e o estabelecimento
dos protocolos terapêuticos. O amplo espectro de análise dos mais
diversos materiais levou ao desenvolvimento de inúmeras técnicas de
coleta, preparo e coloração das amostras, garantindo resultados mais
conclusivos e aumentando a abrangência dos exames disponíveis
no mercado. Sendo assim, cresceu nos últimos anos a demanda por
profissionais especializados na área e a procura por cursos técnicos
e de pós-graduação que contemplem de forma criteriosa esse vasto
universo da citopatologia. Você começará agora essa jornada de muito
sucesso! Estaremos juntos com você!
Citopatologia 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar você
no atingimento dos seguintes objetivos de aprendizagem até o término
desta etapa de estudos:
1. Compreender a relevância clínica da citopatologia no diagnós-
ticos de algumas patologias, e estudar o perfil das células saudáveis em
diferentes órgãos humanos.
2. Aprender sobre diferentes técnicas de coleta de material biológico,
associando cada técnica ao tipo de material biológico a ser coletado.
3. Compreender as diferentes técnicas de coloração utilizadas em
citopatologia e identificar a técnica mais apropriada para cada tipo celular.
4. Diferenciar o padrão citopatológicos dos processos inflamatórios
exsudativos, alterativos e produtivos, assim como identificar as principais
alterações citológicas presentes nos quadros inflamatórios.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conheci-
mento? Ao trabalho!
12 Citopatologia

Compreendendo a Citopatologia e sua


importância clínica

INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de entender
os fundamentos básicos de citopatologia, sua importância
clínico-diagnóstica e os padrões citológicos em diferentes
órgãos humanos. Este capítulo é fundamental para iniciar
seus estudos em citopatologia, uma vez que é necessário
conhecer os processos básicos da técnica, assim como o
perfil citológico das células saudáveis, para que você possa
compreender as alterações celulares que acompanham cada
patologia. Esse conhecimento é indispensável para todas as
etapas de um exame citopatológico adequado. Motivado para
desenvolver esta competência? Então vamos começar!

Introdução a Citopatologia
A citopatologia é uma área de conhecimento, dentro das ciências da
saúde, que compreende o estudo das células e suas alterações em processos
patológicos. Ou seja, é através dela estudamos as patologias humanas e
animais, do ponto de vista celular, levando em consideração as características
do núcleo e do citoplasma. O advento de técnicas de coloração para o
estudo das células, em citologia, e a introdução de novas tecnologias, como
o microscópio óptico, possibilitaram um melhor detalhamento da célula e de
suas estruturas internas. Esse foi o pontapé inicial para o desenvolvimento da
citopatologia. Alguns métodos complementares, como técnicas de biologia
molecular e sistemas computacionais auxiliam o exame citológico tradicional,
trazendo maior qualidade e confiabilidade diagnóstica.
O holandês Antonie von Leeuwenhoek (1632-1723) é considerado por
muitos como o pai da microscopia óptica, mas foram os também holandeses
Hans Janssen e Zacharias Janssen, fabricantes de óculos, que inventaram
o microscópio no final do século XVI. As observações realizadas por eles,
demonstraram que a montagem de duas lentes em um cilindro, possuía a
capacidade de aumentar o tamanho das imagens, permitindo dessa forma
que objetos invisíveis a olho nu, fossem observados de forma detalhada.
Citopatologia 13

A atribuição equivocada dessa descoberta à Leeuwenhoek se


deve ao fato dele ter sido o primeiro a utilizar o microscópio óptico para
fins científicos. Leeuwenhoek observou e descreveu os procariontes; o
espermatozoide de insetos, cães e humanos; fibras musculares; glóbulos
vermelhos; capilares sanguíneos; protozoários; rotíferos e o parasita
intestinal Giardia lamblia, isolado de suas próprias fezes, através de um
microscópio de fabricação própria. Com certeza, Leeuwenhoek deixou
um grande legado para o estudo das ciências médicas e biológicas.
No ano de 1838, Johannes Muller obteve um raspado de tumores e
o visualizou no microscópio, identificando células malignas. Mais adiante,
o francês Lebert utilizou o microscópio para avaliar citologicamente
espécimes de secreções, efusões, urina e traqueobrônquico. Henri Lebert
registrou o aspecto morfológico de células aspiradas de tumores, em 1845.
Em 1853, Donaldson descreveu as características citológicas de amostras
obtidas da superfície de corte de tumores num reporte sobre a aplicação
prática do microscópio para o diagnóstico de câncer. Os patologistas
Aurel Babes, George Papanicolaou e James Ewing, no ano de 1920,
utilizaram a citologia esfoliativa e aspirativa, dando um grande avanço
na citopatologia. Aurel Babes estabeleceu que o método era aplicável
no diagnóstico de cânceres precoces, que ainda não tinham invadido o
estroma. Ele descreveu claramente as alterações citológicas no câncer
cervical. Dez anos depois, em 1930, o exame citológico já estava sendo
utilizado como método diagnóstico de tumores de diversos órgãos.
Figura 1: George Papanicolaou (1883-1962)

Fonte: Getty Images


14 Citopatologia

SAIBA MAIS:
Os estudos de Julius Vogel (1843) representam o primeiro
relato da aplicação da citologia no meio diagnóstico. Ele
identificou células malignas em líquido de uma fístula
drenando um grande tumor mandibular.

A citopatologia tem uma grande importância na identificação,


através dos esfregaços, de células atípicas cancerosas ou de células pré-
cancerosas, ou seja, nos seus estágios de desenvolvimento. As doenças
potencialmente cancerosas podem ser definitivamente curadas, quando
diagnosticadas em suas fases iniciais, impedindo sua progressão para
malignidade. O câncer do colo do útero é o terceiro mais incidente na
população feminina brasileira, excetuando-se os casos de câncer da
pele não melanoma. O exame colpocitológico (Papanicolaou) é pouco
invasivo e é utilizado para detectar, nas mulheres, tumores de colo de
útero. O exame permite identificar a existência de lesões ou patologias,
previamente à realização da biópsia, determinando se há a necessidade
de realizar a punção ou não. É uma ferramenta importante no diagnóstico
de tumores, função hormonal e infecções parasitárias. A citologia permite
a análise individual das células do tecido coletado e, diferente do exame
histopatológico, não possibilita visualizar a organização das células,
apenas as características de cada uma e os componentes encontrados
na lâmina. O resultado da biópsia é mais preciso, entretanto, a amostra
citológica pode ter bastante precisão.
A biópsia excisional, ou seja, a remoção do tumor inteiro, na
maioria das vezes, é o tratamento necessário para remoção de um
câncer. Para alguns tipos tumorais, uma amostra citológica ou uma
biópsia, seja endoscópica, por agulha ou incisional, pode ser a melhor
opção a ser escolhida. Deve-se levar em consideração o tipo específico
tumoral e o órgão em que está instalado.
A citopatologia está envolvida diretamente com a histologia,
suas técnicas auxiliam no diagnóstico de doenças que acometem
tanto os seres humanos, quanto os animais. As técnicas citológicas se
assemelham às técnicas histológicas, havendo diferenciação de acordo
com o tipo do material e sua forma de coleta, fixação de amostras,
processamento, coloração e leitura de lâminas. Enquanto a citopatologia
Citopatologia 15

avalia as alterações celulares, a histologia observa as a arquitetura


tecidual, possibilitando verificar se há perda da organização tecidual e a
relação do tumor com os tecidos adjacentes. Sendo assim, as duas áreas
trabalham juntas, contribuindo para o diagnóstico, conduta terapêutica e
prognóstico das patologias tumorais.
Ela também está associada à microbiologia, tendo em vista que as
técnicas citológicas permitem a visualização da microbiota presente em
diversos órgãos, quando são analisados. Além de detectar patógenos
específicos de diferentes sítios do organismo.

O Estudo da Citopatologia
A citopatologia estuda as alterações, estruturas e funções celulares.
Núcleo, citoplasma, membrana e matriz extracelular constituem os quatro
elementos básicos para o estudo do diagnóstico citológico. Enquanto
o núcleo representa o estado de saúde da célula, demonstrando se
ela está normal, com inflamação, se está havendo degeneração, ou
alterações hiperplásicas, metaplásicas ou neoplásicas, o citoplasma
representa a origem da célula e sua função, como células glandulares
que produzem muco ou células escamosas que protegem.

Padrões citológicos em diversos órgãos

Mama
A mama humana fica localizada na parte anterior do tórax e
apresenta uma auréola e uma papila na região central. É formada por
um lóbulo, um grande sistema ductal e divide-se em quinze a vinte
lobos mamários separados por tecido fibroso. Os lobos possuem via
de drenagem que utilizam o sistema ductal para convergir até a papila.
A mama é composta por dois tipos celulares, as células epiteliais e
mioepiteliais. As células epiteliais possuem função de secreção e
absorção, e sua espessura é composta por uma ou duas células. Já as
células mioepiteliais são contráteis e, ao realizarem a contração, movem
o leite (produto da secreção) através do sistema ductal.
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Figura 2. Células ductais benignas.

Fonte: wikimedia commons

Tireoide
A glândula tireoide é constituída por dois lobos laterais conectadas
por um istmo. O folículo é sua unidade funcional que é composto por
células epiteliais foliculares (ao redor) e glicoproteína coloide (centro).
Produz hormônios tireoidianos e os armazena. Esses hormônios são
responsáveis pelo metabolismo do organismo.
Para uma adequabilidade da amostra é necessário que haja pelo
menos seis grupos de células foliculares bem visualizadas, ou seja, bem
coradas, sem sobreposição ou distorção. Com pelo menos dez células
por grupo.

Pulmão
O tecido pulmonar possui, dentre os principais componentes
vistos nos preparados citológicos, células do epitélio respiratório e
macrófagos. É importante entender e saber como o espécime foi obtido,
como foi feito o processamento da amostra e qual o tipo de amostra
utilizada para a interpretação citológica do trato respiratório. Tendo em
vista que a morfologia das células e sua precisão diagnóstica variam
de acordo com cada item citado. As amostras podem ser escarro ou
espécimes brônquicas.
Citopatologia 17

Líquidos
O pulmão é revestido por uma membrana serosa delicada,
chamada pleura visceral, e possui a pleura parietal, que reveste a parede
interna torácica. As pleuras estão em continuidade e formam um espaço
virtual entre elas. A pleura normal é composta por uma única camada de
células mesoteliais e uma pseudomembrana em que repousa o tecido
conjuntivo. No espaço pleural há uma pequena quantidade de líquido
que atua como lubrificante para facilitar os movimentos respiratórios.
No tecido conjuntivo há a presença de arteríolas, vênulas e nervos
periféricos, simpáticos e parassimpáticos. O pericárdio e peritônio
possuem estruturas e funções similares às da pleura.

Cérvice-vaginal
A cérvice é representada pela ectocérvice, que é revestida por
epitélio escamoso estratificado não queratinizado, e pela endocérvice,
que é revestida por epitélio colunar simples. Também há a presença
de células endometriais e elementos não-celulares, como hemácias
e piócitos. A junção escamocolunar (JEC) é a união entre esses dois
epitélios. A colheita das amostras citológicas no teste de Papanicolaou é
realizada na ectocérvice e endocérvice, na maioria das vezes.
Nas próximas unidades abordaremos mais especificamente a
citopatologia de cada um desses órgãos.
Figura 3. Endocérvice normal.

Fonte: http://bit.ly/38fenYj
18 Citopatologia

SAIBA MAIS:
Para saber mais sobre as práticas em citopatologia,
recomendamos o acesso ao “Manual de gestão da
qualidade para laboratórios de citopatologia.” do Instituto
Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva - INCA
(2016), acessível pelo link: http://bit.ly/2PCp6pu

E então? As noções básicas de citopatologia já estão na ponta


da língua? Ainda não? Então vamos rever tudo aqui de forma resumida.
A citopatologia estuda as alterações celulares, através da análise
do citoplasma e do núcleo, de órgãos ou tecidos doentes. Exames
citopatológicos têm uma grande relevância para a identificação de
hiperplasias e tumores em diferentes estágios de desenvolvimento e na
investigação de processos inflamatórios em geral. O desenvolvimento de
novas tecnologias, como o microscópio óptico e a interdisciplinaridade
com áreas como a biologia molecular, a microbiologia e a histologia
permitiram o avanço e auxiliam o exame citopatológico, possibilitando
maior eficácia no diagnóstico de doenças. Porém, antes de mais nada,
é importante conhecer os padrões citológicos normais dos diferentes
tecidos para que se tenha base de comparação para amostras
citopatológicas. A mama é composta por 2 camadas de células
epiteliais, com função secretora e absortiva, e mioepiteliais contráteis
que realizarem a movimentação do leite. A glândula tireoide tem como
unidade funcional o folículo formado por células epiteliais foliculares (ao
redor) e glicoproteína coloide (centro). O tecido pulmonar é composto
por células epiteliais e macrófagos, e enquanto a pleura apresenta
uma única camada de células mesoteliais e uma pseudomembrana em
que repousa o tecido conjuntivo. A cérvice é dividida em ectocérvice,
revestida por epitélio escamoso estratificado, e endocérvice, revestida
por epitélio colunar simples.
Citopatologia 19

Técnicas de coleta de materiais biológicos


INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você terá aprendido sobre as
principais técnicas de coleta de materiais biológicos, suas
principais características e a que tipo de espécimes se
destinam. Isto será fundamental para o exercício de sua
profissão, pois te auxiliará a produzir amostras satisfatórias,
aprimorando o diagnóstico clínico. Muitos profissionais
enfrentam problemas no que diz respeito a coleta de
espécimes biológicos, principalmente pela utilização
equivocada do material disponível. Para que isso não
aconteça, vamos “arregaçar as mangas” e estudar cada
uma dessas técnicas!

A escolha do método adequado


Como já mencionado anteriormente, a citopatologia estuda as
células individualizadas, presentes em materiais biológicos, que são
removidos, expelidos ou descamados da superfície de diferentes órgãos
ou tecidos. Os materiais biológicos possuem diferentes composições e
características e, devido a isso, existem métodos específicos para coleta
de cada um deles. A quantidade e qualidade do material citológico
são fatores determinantes na precisão diagnóstica e estão diretamente
relacionados ao uso de técnicas adequadas de amostragem e ao
processamento apropriado dos espécimes.
Os materiais biológicos utilizados para o exame podem ser
divididos de acordo com a sua obtenção, como mostra a tabela abaixo:
Tabela 1: Os métodos de coleta e sua aplicação para diferentes tipos de espécimes.

Método da
Origem do material
coleta
Líquidos pleural, peritoneal ou ascético, pericárdico,
Punção estomacal, sinovial; lavados brônquico, vesical;
abscessos, massas necróticas, sangue, líquor espinhal
Raspagem Colpocitologia, olhos, lavado brônquico
Imprints Lesões cutâneas, biópsias, peças cirúrgicas
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Lavados broncoalveolar, brônquico, peritoneal,


Lavados
gástrico, esofágico
Escovados Líquidos sinovial, peritoneal ou ascítico
Espontâneo Escarro, urina, secreção mamária

A seguir, vamos falar mais detalhadamente sobre cada um desses


métodos:

Punção
Método simples e seguro, com boa precisão diagnóstica. É de
rápida realização e complicações não são comuns (sangramento,
hematomas, processos inflamatórios). Antes de realizar o procedimento,
é necessária a preparação do paciente e a realização da antissepsia
do local a ser puncionado. Para órgãos mais profundos pode-se
utilizar anestesia. A punção não deverá ser feita caso haja a presença
de distúrbios de coagulação e/ou uso de anticoagulantes, tosse (em
punção de tireoide ou transtorácica), cisto hidático (fígado) e tumor do
corpo carotídeo (pelo risco de hemorragia). A punção pode ser feita de
forma aspirativa por agulha fina (PAAF) ou por capilaridade.

Punção aspirativa por agulha fina - PAAF


Obtêm-se amostras de nódulos ou tumores, seja de órgãos
superficiais (mama, tireoide, linfonodos e glândulas salivares), seja de
órgãos profundos (pulmão e fígado). Órgãos como pâncreas e retroperi-
tônio são guiados por métodos de imagem para a adequada localização
(ultrassonografia, tomografia computadorizada).
O método de PAAF foi utilizado como teste diagnóstico pela
primeira vez em 1926, pelos americanos Martin e Ellis para a análise de
65 casos de tumores em diferentes órgãos humanos.
Utilizam-se agulhas de pequeno calibre (entre 0,5 mm e 0,7 mm)
porém, em materiais espessos ou purulentos, podem ser utilizadas
agulhas de 0,8 mm. Seringa plástica descartável de 10 ml ou 20 ml,
luvas cirúrgicas, gaze estéril, solução de álcool iodado para antissepsia,
lâminas de vidro para microscopia com extremidade fosca e fixador
integram o restante do material necessário para realizar o procedimento.
Citopatologia 21

Figura 4. Porta–seringa. Instrumento utilizado para apoiar o conjunto de seringa e agulha.

Fonte: http://bit.ly/3ch5UqO

Para realizar a técnica da PAAF deve-se manter o êmbolo


na posição zero, introduzir a agulha na lesão perpendicularmente
à superfície da pele, promover forte pressão negativa no interior da
seringa, deslocando o êmbolo para estabelecer vácuo, mantendo-o;
efetuar movimentos de “vai e vem” com a agulha na lesão, em diversas
direções e profundidades, mantendo a pressão negativa, até aparecer
material no início da seringa. Soltar o êmbolo da seringa, desfazendo a
pressão negativa, ainda com a agulha na lesão. Retirar a agulha da lesão
e comprimir o local com uma gaze e retirar a agulha da seringa com
o êmbolo na posição zero. Puxar o êmbolo da seringa, fazendo vácuo,
acoplar a agulha na seringa empurrando o êmbolo, para, em seguida,
depositar o material na lâmina e preparar o esfregaço, fixando-o em
seguida. Veja o exemplo na Figura 2.
Figura 5. Representação da técnica PAAF.

Fonte: http://bit.ly/3ch5UqO
22 Citopatologia

Materiais líquidos necessitam de centrifugação prévia para utilizar


o sobrenadante na confecção do esfregaço. A técnica de confecção dos
esfregaços será escolhida de acordo com o tipo de amostra obtida.

Punção por capilaridade


Também conhecida como punção por agulha fina, é uma técnica
não aspirativa, de sensibilidade diagnóstica semelhante a PAAF, porém
deve ser priorizada como método de escolha para os tecidos muito
vascularizados, a fim de minimizar a contaminação por sangue periférico
e hemodiluição da amostra. Os aparatos utilizados neste procedimento
são os mesmos empregados na PAAF, sem o uso da seringa acoplada.
A técnica da punção por capilaridade consiste nos seguintes
passos: 1. Localizar o nódulo a ser coletado; 2. Fazer assepsia do local, 3.
Introduzir a agulha e fazer movimentos rápidos de “vai e vem” em várias
direções; 4. Remover a agulha quando perceber a presença do material
no bisel; 5. Acoplar a agulha com o material numa seringa de 10ml e
distribuir pequenas quantidades do material em várias lâminas.

Raspagem
Obtém-se os raspados de superfícies cutâneas ou mucosas (pele,
boca, uretra, canal anal), utilizando-se swabs, lâminas de bisturi, espátulas
ou escovas apropriadas. É bastante utilizada em canais ou fístulas, regiões
inacessíveis a outros métodos de coleta. Recomenda-se não fazer assepsia
prévia na lesão, nem usar medicações tópicas, pois poderá prejudicar a
qualidade das amostras. O material deverá ser colhido através de duas a
três raspagens da lesão, de uma forma que não cause sangramentos, e
deverá ser suavemente estendido sobre uma lâmina de vidro limpa, em
uma fina camada, e imediatamente fixado em álcool a 95% ou com spray
fixador. Lesões vesiculares devem ser rompidas com uma pequena incisão,
fazendo a raspagem de suas margens, já que o material existente na base
dificulta o diagnóstico devido ao fato de ser mal preservado.
Ao aplicar previamente uma compressa de solução fisiológica,
em lesões não ulceradas, causará uma maior descamação e melhor
preservação celular. Faz-se a distensão sobre a lâmina de vidro ou corta-
se a cabeça da escova para imergir em solução salina ou em conservante
apropriado.
Citopatologia 23

Figura 6. Distensão sobre uma lâmina de vidro uma leve camada


de fluidos corpóreos e fixação para o exame ao microscópio.

Fonte: http://bit.ly/3alpOiF

Imprints
São impressões teciduais onde a área lesionada do tecido é
colocada em contato com a lâmina de vidro. As células superficiais da
lesão passam para a superfície da lâmina, podendo ser observadas
microscopicamente. É apropriado para superfícies planas, em lesões
ulcerativas e exsudativas.
Figura 7. Impressão tecidual em lâmina

Fonte: http://bit.ly/3alpOiF

A técnica oferece informações diagnósticas complementares nos


estudos das lesões da mama, de órgãos do aparelho digestivo, pele
e medula óssea. Porém, possui algumas limitações, em tumores de
textura fibrosa (fibromas e fibrossarcomas).
Quando a técnica é realizada em lesões ulceradas, a amostra pode
conter restos celulares, bactérias e células inflamatórias, o que poderá
ocasionar em um mascaramento da etiologia da lesão e processos
tumorais. Nesses casos, recomenda-se a utilização de outros métodos
(como a citologia aspirativa ou raspagem), caso haja áreas sólidas, para
aumentar o número de células esfoliadas.
24 Citopatologia

Lavados
O material da cavidade é colhido através de um cateter de
instilação para lavagem, contendo solução salina. Exemplos: lavado
broncoalveolar (LBA), brônquico (LB), peritoneal, entre outros. Os lavados
possuem pouca celularidade.
„ Lavado brônquico: “Lavar” a mucosa com a instilação de 3 ml
a 10 ml de solução salina e, em seguida, aspirar o líquido que deverá ser
centrifugado, utilizando-se o concentrado para fazer esfregaços.
„ Lavado broncoalveolar: Lavagem das vias aéreas distais
com várias alíquotas de solução salina estéril. É um método útil para
o diagnóstico das infecções oportunistas nos pacientes imunocompro-
metidos.
„ Lavado peritoneal: Deve ser colocado em recipientes
heparinizados e refrigerados a 4º C até a confecção do esfregaço.
„ Lavado gástrico: Obtido de áreas suspeitas da mucosa
gástrica sob visão endoscópica direta.
„ Lavado esofágico: Realizado durante o exame de endoscopia
digestiva alta. Após a coleta, colocar o material em etanol a 50% ou 70%
ou em solução de Carbowax, na proporção de 1:1.
O tipo de amostra (líquida, pastosa ou sólida) definirá o tipo
de coleta e o modo de preparo do material de acordo com a técnica
apropriada.

Escovados
A técnica consiste na coleta por esfoliação da superfície de
mucosas, utilizando-se uma escova. O material pode ser colhido das
mucosas da boca, do esôfago, estômago e brônquios. Esses últimos
podem ser obtidos através de aparelhos endoscópicos que possibilitam
a visualização direta da lesão a ser estudada. Muitas vezes, este
método é mais eficaz em detectar neoplasias malignas do que a biopsia
brônquica. A amostra obtida pode ser distendida sobre a superfície de
uma lâmina de vidro, ou cortando-se a cabeça da escova e imergindo-a
em solução salina ou em líquido conservante apropriado.
Citopatologia 25

Materiais espontâneos
Urina
Antes de realizar a coleta, o paciente deve esvaziar a bexiga pois
a primeira urina não é adequada para o exame citológico. Então, deverá
ingerir água o suficiente para coletar a próxima urina no recipiente
coletor, de preferência no laboratório. Volumes entre 25 e 100 ml de
urina espontânea ou cateterizada são suficientes e o processamento
deve ser imediato ou realizado em até seis horas após a coleta, caso
seja realizado depois, preservar a urina em etanol a 50% ou mantê-la
refrigerada. Através da análise da urina é possível detectar lesões pré-
cancerosas e patologias da pelve renal, bexiga, ureter e uretra.

Escarro
Figura 8. Escarro espontâneo ou induzido para coleta do material

Fonte: http://bit.ly/3alpOiF

Um dos materiais mais utilizados para o diagnóstico citológico das


lesões do trato respiratório, devido à relativa facilidade para sua obtenção
e por provocar pouco desconforto ao paciente. Seus componentes são
elementos celulares e não celulares. A adequabilidade da amostra
é estabelecida pela presença de células cilíndricas ciliadas e de
numerosos macrófagos alveolares, indicativos de que o trato respiratório
inferior foi representado. Amostras colhidas em dias consecutivos,
múltiplas, aumentam a sensibilidade (91% com cinco amostras), que
também varia com a localização do tumor maligno, sendo de 46% a 77%
para lesões centrais e de apenas 31% a 47% para as lesões periféricas. A
especificidade do método é alta, variando de 96%-99%.
26 Citopatologia

VOCÊ SABIA?
É possível diagnosticar tumores centrais da árvore
brônquica e, menos frequentemente, tumores periféricos
menores ou até mesmo detectar lesões precursoras do
carcinoma escamoso.

A coleta deve ser realizada de preferência pela manhã, em jejum


matinal, após rigorosa higiene bucal (escovação dos dentes e da língua),
geralmente em três dias consecutivos. O paciente é induzido a tossir
várias vezes eliminando a secreção diretamente em um recipiente, a fim
de obter material de origem pulmonar. Caso haja dificuldade em conseguir
escarro espontâneo, pode-se fazer nebulização simples ou inalação com
indutores da tosse. O material coletado deverá ser levado ao laboratório ou
ser conservado por até no máximo 12 horas, na geladeira, e os esfregaços
fixados em etanol a 95%. Quando a preparação imediata não é possível,
deve-se fazer uma prefixação do escarro com etanol a 50% ou 70%, ou
utilizar solução de polietilenoglicol a 2% (Carbowax) em etanol a 50%.

Secreção mamária
A avaliação citológica das secreções mamárias é realizada com o
objetivo de auxiliar o diagnóstico de infecções agudas, papiloma ductal,
dilatação cística ductal e, mais raramente, o diagnóstico de neoplasias.
É realizada em pacientes que não apresentam massas palpáveis nem
anormalidades na mamografia e em pacientes apresentando secreção
sanguinolenta. A coleta do material é feita a partir da compressão suave
da área subareolar e do mamilo entre os dedos polegar e indicador.
Colocar a secreção diretamente na lâmina, sem fazer pressão, próxima à
extremidade fosca, estendendo o material com o auxílio de outra lâmina.
Fixar imediatamente em álcool a 95% ou deixar secando ao ar.

Processos pós-coleta
Fatores que interferem na adequabilidade da amostra:
Vaginismo, obesidade, posicionamento da cérvice uterina, fixação
inadequada, escassez de material, etc.
Citopatologia 27

Pré-fixação
A pré-fixação vai garantir a preservação de espécimes por dias
ou mesmo meses, se necessário, mantendo a morfologia celular até
a confecção do esfregaço. Entretanto pode ocorrer coagulação de
proteínas, condensação da cromatina, obter menor adesão celular e
limitação ao uso de certas técnicas de coloração. O etanol 50% é o mais
utilizado para este fim.

Centrifugação
A centrifugação inicia o processamento de líquidos de qualquer
espécie, com o objetivo de concentrar os elementos celulares no
sedimento que se forma no fundo do tubo da centrífuga. Podem ser
utilizadas a centrífuga convencional ou a citocentrífuga, a depender do
tipo de material.

Cell Blocks (blocos celulares)


Um dos métodos mais antigos, complementando o estudo dos
fluidos, permite visualizar histologicamente as patologias, devido a
presença da arquitetura tecidual. Permite a realização de múltiplos
cortes, além de fornecer amostras adicionais para colorações especiais.
Os blocos celulares podem ser processados pelos métodos do ágar,
sedimento fixado e plasma-trombina.

Fixação
As amostras utilizadas precisam ser fixadas para que as
características morfológicas e das células e suas afinidades tintoriais
sejam preservadas, visando facilitar a permeabilidade dos corantes,
prevenir ressecamento, além de conservar a composição química
presente. Existem alguns tipos de fixação, dentre eles:
„ Fixação seca;
„ Fixação por líquidos;
„ Fixação por revestimento
A fixação seca é utilizada para a coloração de May-Grunwald-
Giemsa, com a ação do metanol como fixador na solução corante. É
28 Citopatologia

utilizada para distensão de células sanguíneas, imprint de baço, gânglios


linfáticos, entre outros. O fixador citológico mais utilizado é o etanol 95%,
que vai desidratar a célula, fazendo que haja uma diferenciação entre
núcleo e citoplasma após a coloração. Os fixadores por revestimento
são constituídos de polietilenoglicol (Carbowax) e álcool e fixam por
gotejamento ou por spray, sendo que deve ser respeitada uma distância
mínima de 15cm em spray para que não haja perda de material. As
amostras são secas em temperatura ambiente, visto que o álcool fixa e
evapora, enquanto o polietilenoglicol forma uma película que protege e
preserva a amostra.
Figura 9. Fixação da amostra]]

Fonte: http://bit.ly/3alpOiF

Como você pôde ver são muitas as técnicas de coleta utilizadas


em citopatologia. Difícil memorizar todas elas? Então vamos agora fazer
um resumo para complementar o estudo deste capítulo.
A escolha do método de coleta apropriado precisa levar em
consideração o órgão/tecido de análise e o tipo de material a ser coletado.
A PAAF é uma técnica precisa, rápida e segura, sendo bastante utilizada
para a coleta de amostras de nódulos ou tumores. Porém, em tecidos
bastante vascularizados, deve-se optar pela punção por capilaridade, a
fim de se evitar hemodiluição da amostra. A raspagem pode ser utilizada
em superfícies cutâneas ou mucosas e canais ou fístulas, utilizando-se
swabs, lâminas de bisturi, espátulas ou escovas apropriadas. O imprint
é utilizado para lesões ulcerativas ou exsudativas planas, que permitam
o contato da lâmina com o tecido. O material biológico de cavidades
pode ser melhor obtido através do método de lavagem, utilizando o
cateter de instilação. Esse método é bastante utilizado para a coleta de
Citopatologia 29

amostras do trato respiratório e digestório. A escovação ou esfoliação é


um método também utilizado em superfícies mucosas, útil na detecção
de neoplasias malignas. Materiais espontâneos, tais como urina, escarro
e secreção mamária também podem ser utilizados para exames
citopatológicos, por conterem amostras celulares do trato/tecido a
que estão associados. Após a coleta, é necessário que o espécime seja
processado para posterior coloração e análise. O processo pós-coleta
utilizado também dependerá do tipo de material biológico em questão.

Técnicas de coloração das amostras


biológicas
INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você conhecerá as diferentes
técnicas de coloração utilizadas e será capaz de identificar
a técnica mais apropriada para cada tipo de amostra. Esta
unidade é de fundamental importância, dentro do estudo da
citopatologia, uma vez que a escolha da coloração é crucial
para o sucesso da análise citológica. Além disso, a falta
de um treinamento profissional adequado é responsável
pela grande quantidade de laudos inconclusivos, o que
gera transtorno aos pacientes e insatisfação por parte
dos profissionais de saúde. Tenho a certeza que o seu
comprometimento no estudo deste capítulo podem nos
ajudar a reverter esse quadro. Vamos lá?

O processamento da amostra e a fase pré-


analítica
Após a coleta, o material será processado. Existe uma variedade
de técnicas de coloração que podem ser utilizadas em citologia,
tanto para o processamento de rotina como para situações especiais
(imunocitoquímica). As etapas do processamento da amostra podem ser
divididas em 3 fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica, sendo que a
analítica e pós-analítica compreendem as fases de análise de dados e
entrega dos resultados, respectivamente.
30 Citopatologia

A fase pré-analítica corresponde à etapa desde o recebimento


do material, conferindo a identificação e o preenchimento correto da
ficha, até a coloração e confecção da lâmina. É a etapa crucial para que
as próximas etapas possam ser concluídas com êxito. Amostras não
fixadas, lâminas quebradas ou erro na identificação do material pode
fazer com que ele seja rejeitado e devolvido ao local de realização da
coleta. A qualidade da coloração está relacionada com as características
tintoriais dos corantes, com o processamento e fixação. Os esfregaços
citológicos podem ser corados pelas técnicas de Papanicolaou, Shorr,
mucicarmin de Mayer, May-Gruenwald-Giemsa, hematoxilina e eosina,
ácido periódico Schiff (PAS) ou Grocott. Porém, a técnica de Papanicolaou
é a mais empregada e visa evidenciar as variações na morfologia e os
graus de maturidade e de atividade metabólica celular.
Figura 10. Modelo recomendado para a distribuição das amostras citológicas na lâmina
de vidro. Material da endocérvice, ectocérvice e do fundo de saco posterior da vagina.

Fonte: http://bit.ly/2PFMaDF

As técnicas de coloração envolvem procedimentos pré-estabele-


cidos, que fazem parte da rotina dos laboratórios. Por isso, você não
precisa “decorar” todos as etapas de cada um desses métodos. O mais
importante aqui é entender quando cada técnica deve ser utilizada e
que é fundamental seguir à risca todos os passos do protocolo, para se
alcançar o resultado esperado.

Coloração de Papanicolau
A coloração de Papanicolau está dividida em várias etapas:
hidratação, coloração nuclear, desidratação, coloração citoplasmática,
Citopatologia 31

desidratação, clarificação e selagem. Esse método utiliza um conjunto de


corantes e tem como objetivo a evidenciação dos graus de maturidade
e de atividade metabólica celular e das variáveıs na morfologia. Baseia-
se nas ações de um corante básico, a Hematoxilina de Harris, que possui
afinidade pelo núcleo das células, um corante ácido, o Orange G, que
tem afinidade com o citoplasma das células queratinizadas, e um corante
policromático, EA-65, que oferece tonalidades de cores diferentes no
citoplasma das células.
Figura 11. Coloração de Papanicolaou

Fonte: http://bit.ly/2uLmTRb

Tabela 1: Protocolo aplicado no Serviço de Patologia e Citopatologia


do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco.

Protocolo de coloração Papanicolaou


Água destilada Lavar
Hematoxilina de Harris 1’40’’
Água corrente Lavar
Carbonato de lítio 15’’
Água corrente Lavar
Etanol absoluto 1 banho
Etanol absoluto 1 banho
Orange G 1 mergulho rápido
Etanol absoluto 1 banho
Etanol absoluto 1 banho
EA-65 3’
Etanol absoluto 1 banho
Etanol absoluto 1 banho
Xilol 15-30’
32 Citopatologia

Deve ser tomado cuidado com o espécime endocervical, já que


as células glandulares dessa mucosa são mais frágeis e suscetíveis a
artefatos técnicos.

Coloração de Hematoxilina-Eosina (HE)


Mais utilizada na coloração de blocos celulares e de esfregaços
de amostras obtidas por PAAF, o citoplasma é corado em rosa e o núcleo
em azul, à semelhança do que se observa nos esfregaços histológicos.
O citoplasma não fica tão transparente e o núcleo não é tão bem definido
quanto na coloração de Papanicolaou.
Figura 12. Coloração de Hematoxilina-Eosina

Fonte: http://bit.ly/38cOHLR

Tabela 3 - Protocolo padrão de coloração de Hematoxilina-Eosina

Coloração HE
Lavar em água destilada 15 mergulhos
Hematoxilina de Harris 2 min
Lavar em água corrente 1 min
Ácido-álcool (1,5 ml de HCI concentrado
2 a 3 mergulhos
em 650 ml de etanol a 70%)
Lavar em água corrente 30s
Solução de Carbonato de Lítio 1 min
Lavar em água corrente 15 mergulhos
Etanol a 50% 15 mergulhos
Citopatologia 33

Eosina 20s
Água corrente 1 min
Etanol a 95% 15 mergulhos
Etanol a 95% 15 mergulhos
Etanol absoluto 15 mergulhos
Etanol absoluto 1 min
Xilol 15 mergulhos
Xilol 15 mergulhos
Xilol 5 a 10 min

Já a Coloração rápida com Hematoxilina Eosina (HE) é mais


utilizada em preparações obtidas por PAAF. Com objetivo de aferir a
celularidade da amostra após a coleta ou fornecer diagnóstico imediato.
Os esfregaços devem estar fixados em solução de álcool-formaldeído.
Alguns erros podem acontecer nas etapas da coloração, como
excesso de algum corante (hematoxilina, orange G), ou coloração
insuficiente (trazendo um esfregaço sem cor), prejudicando a visualização
microscópica.

Método de May-Grünwald-Giemsa (MMG)


É utilizado para a análise de elementos figurados do sangue
periférico, medula óssea, ou elementos celulares colhidos por punção,
esfoliação, imprint de tecidos ou concentrado de líquidos celulares, por
meio de dois corantes: solução estoque de May-Grunwald e solução
estoque de Giemsa.
As lâminas devem ser cobertas com a solução de MMG por
seis minutos. Sem escorrer a solução corante, deve-se adicionar água
destilada por quatro minutos. O próximo passo é lavar as lâminas em
água corrente e deixar secar à temperatura ambiente ou em estufa a 40º
C. Para finalizar, deve-se clarificar com dois banhos de xilol.
Pode ser feita uma variação do método de MMG, onde os esfregaços
corados são fixados a seco. As soluções devem ser diluídas em metanol
e em água destilada. Os esfregaços devem ser mergulhados em cada
solução por 5 minutos, lavados em água corrente e secos ao ar ou em
estufa a 40º C. Pode-se clarificar com xilol antes da montagem das lâminas.
34 Citopatologia

Coloração pelo azul de toluidina


A coloração é utilizada para diagnósticos imediatos e para constatar
a adequabilidade da amostra com relação à celularidade, podendo indicar
a repetição do procedimento. Pode ser utilizada em líquidos serosos,
lavados pélvicos, peritoneais ou brônquicos, amostras de PAAF, imprints,
urina, aspirados de fundo de saco vaginais e espécimes ovarianos. As
preparações são coradas a fresco. As células se coram em azul púrpura,
mas em tons definidos de coloração para o núcleo e o citoplasma, o
nucléolo pode ser identificado com uma coloração mais intensa.
1. Realiza-se o processamento de líquidos através da centrífuga
(2000 rpm de 7-10’), decanta-se o sobrenadante. Com a alça de platina,
retirar 1-2 gotas da camada superior e transferir para lâmina. Adicionar 1
gota de azul de toluidina e homogeneizar.
2. Caso o material tenha sido obtido por PAAF ou tenha sido
material não-líquido, colocar 1 gota do espécime do centro da lâmina
e 1 gota azul de toluidina sobre ele. Homogeneizar com a lamínula ou
com alça de platina. Colocar a lâmina sobre o espécime e montar sem
deslocá-la, para que não haja distorção celular.
Depois de examinadas, as lâminas devem ser fixadas em álcool a
95% e posteriormente coradas pelo Papanicolaou.

Técnicas rápidas de Diff-Quick (DQ) e de Panótico


A coloração de DQ é uma técnica de coloração rápida, utilizada
para verificar a adequabilidade dos espécimes, sobretudo aqueles
obtidos por PAAF. É realizada em esfregaços secos ao ar e emprega
soluções aquosas contendo eosina, azul de metileno e Azure A. Sua
vantagem é a facilidade de interpretação da morfologia celular devido
à ênfase no tamanho, na forma e no arranjo celular. A coloração é
permanente e deve ser evitada em preparados de fluidos coletados
com conservantes.
Outra técnica rápida, a coloração de Panótico é utilizada com
amostras obtidas por PAAF, e avalia a celularidade do material. Os
esfregaços devem ser secos ao ar antes de serem submetidos à coloração.
Utiliza três soluções de corantes (Instant Prov I, II e III) e o tempo de
processamento é de apenas 15 segundos.
Citopatologia 35

Coloração de Shorr
É um método com resultado semelhante ao Papanicolaou porém
é menos utilizada por conta da perda dos detalhes nucleares e da
transparência citoplasmática.
Tabela 3: Protocolo padrão de Shorr

Coloração de Shorr
Etanol 80% 5-10 mergulhos
Etanol 70% 5-10 mergulhos
Etanol 50% 5-10 mergulhos
Água destilada 5-10 mergulhos
Água destilada 5-10 mergulhos
Hematoxilina de Harris 1-5’
Água destilada 5-10 mergulhos
Álcool-ácido 3 mergulhos
Banho de água amoniacal 5-10 mergulhos
Água destilada 5-10 mergulhos
Etanol 50% 5-10 mergulhos
Etanol 60% 5-10 mergulhos
Corante de Shorr 6’
Etanol 95% 5-10 mergulhos
Etanol 95% 5-10 mergulhos
Etanol 95% 5-10 mergulhos
Etanol 100% 5-10 mergulhos
Etanol 100% 5-10 mergulhos
Etanol 100% 5-10 mergulhos
Xilol 5-10 mergulhos
Xilol 5-10 mergulhos
Xilol 5-10 mergulhos

Fatores que influenciam na reação de coloração: Tipo de fixador,


fórmula dos corantes, duração dos banhos, características da água
corrente, pH do espécime.
36 Citopatologia

Colorações especiais
Métodos de coloração que permitem visualizar determinadas
substâncias ou estruturas, auxiliando no diagnóstico de certas condições
patológicas.
„ Alcian Blue: coloração de carboidratos, cora os núcleos em
azul claro.
„ PAS (Ácido Periódico de Schiff): cora carboidratos e fungos,
conferindo-lhes a cor magenta. Os núcleos coram-se em preto e o
“fundo” do esfregaço em verde.
„ Prata Metanamina (Método de Grocott): identifica fungos
e Pneumocystis carinii, corados em preto. Glicogênio e mucina são
corados em rosa a cinza e o “fundo” em verde.
„ Azul da Prússia (Método de Perls): demonstra depósitos de
hemossiderina, corando-os em azul. O núcleo e outras estruturas se
coram em vermelho.
„ GRAM: identifica bactérias classificando-as em Gram positiva
ou negativa.
„ Ziehl-Neelsen: identifica os bacilos álcool-ácido-resistentes
(BAAR).

Montagem
Protege o material celular contra o dessecamento e contra
retração celulares, além de prevenir o desbotamento dos corantes nas
células. Também protege a amostra para o armazenamento adequado
e possibilita melhor visualização dos detalhes celulares. Os materiais
mais utilizados são o Bálsamo do Canadá e o Entellan, que permitem a
ligação entre a lâmina e a lamínula.
Após retirar a lâmina do xilol, colocar 1-2 gotas do meio de
montagem sobre a lamínula. Colocar suavemente a lamínula sobre a
lâmina exercendo uma leve pressão. Escorrer o excesso do meio de
montagem e limpar com xilol. Afastar as bolhas que se formaram com
bastão de vidro ou pinça. Deixar secar por alguns minutos antes de iniciar
a leitura microscópica.
Citopatologia 37

Artefatos técnicos podem surgir devido a montagem e podem


interferir na leitura do esfregaço, prejudicando a avaliação diagnóstica.
Alguns Interferentes que podem causar artefatos são: bálsamo espesso
com o passar do tempo, excesso de bálsamo, uso de lamínulas mofadas
e processo de montagem demorado.
Figura 13: Lâmina com artefatos de montagem (marrom)

Fonte: http://bit.ly/3ch5UqO

Depois de tanta informação e de todas essas tabelas descritivas,


vamos agora resumir os pontos mais importantes do capítulo. Como já
dissemos, o mais importante é que você entenda quando utilizar cada
técnica e a importância de seguir o protocolo-padrão.
Existe uma variedade de técnicas de coloração que podem ser
utilizadas em citologia, porém a coloração pelo método de Papanicolaou
é universalmente recomendada para rotinas citológicas. Esse método
utiliza um conjunto de corantes e tem por objetivo evidenciar os graus
de maturidade e de atividade
Metabólica, assim como a morfologia celular. A coloração de
Hematoxilina-Eosina é mais utilizada na técnica de cell blocks e com
esfregaços de amostras obtidas por PAAF. O método de MMG é bastante
utilizado para a análise de elementos figurados do sangue periférico, medula
óssea, ou elementos celulares colhidos por punção, esfregaço (fixados a seco)
ou imprint. A coloração de toluidina é utilizada para diagnósticos imediatos
em líquidos serosos, lavados pélvicos, peritoneais ou brônquicos, amostras
de PAAF, imprints, urina, aspirados de fundo de saco vaginais e espécimes
ovarianos. Com relação à técnica de DQ, sua vantagem é a facilidade de
38 Citopatologia

interpretação da morfologia celular devido à ênfase no tamanho, na forma


e no arranjo celular. Além das técnicas convencionais, existem técnicas de
coloração especiais para a detecção de substâncias específicas.

Conhecendo a citopatologia dos processos


inflamatórios
INTRODUÇÃO:
Ao término deste capítulo você será capaz de diferenciar
o padrão citopatológicos e as principais características
dos processos inflamatórios exsudativos, alterativos e
produtivos, assim como identificar as principais alterações
citológicas presentes nos quadros inflamatórios. O estudo
deste capítulo é muito importante para o citopatologista,
uma vez que cabe ao citopatologia reconhecer lesões,
geradas por patógenos ou não, e avaliar a intensidade
da resposta inflamatória associada. Neste sentido, saber
identificar os diferentes perfis citopatológicos associações
à inflamação é crucial para a análise correta do material
biológico. E então? Pronto para começar?

Em que consiste o processo inflamatório?


O conjunto de reações causadas por qualquer agressão ao
tecido, seja por microorganismos patógenos (bactérias, vírus, parasitos),
pós-trauma, agentes químicos (substâncias tóxicas) ou físicos (calor e
irradiação), diminuição ou interrupção do fluxo sanguíneo, caracteriza a
inflamação. A citopatologia possui uma importante atuação nos processos
inflamatórios, reconhecendo as lesões, avaliando a intensidade da
reação inflamatória, acompanhando a evolução e podendo determinar
o patógeno causador. Qualquer processo inflamatório provoca o
aparecimento de exsudato inflamatório. Esse exsudato é composto por
células, como leucócitos e histiócitos, e fenômenos de necrose celular
que irão modificar o aspecto dos esfregaços citológicos, tornando mais
difícil o diagnóstico de células epiteliais. A presença de polimorfos
nucleares (PMN) pode indicar o grau da inflamação.
Citopatologia 39

A presença de neutrófilos está associada a uma inflamação


aguda, enquanto a presença de neutrófilos e linfócitos pode indicar uma
inflamação crônica.
O quadro abaixo indica detalhadamente o quadro histológico das
inflamações e sua duração:

Duração/Quadro Histológico das Inflamações

Superaguda Horas a dias -

Aguda Dias a Predomina fenômenos vasculares - exsudativos


semanas (hiperemia ativa patológica, edema, e infiltrado de
PMN)

Subaguda Semanas a Caracteriza-se por fenômenos tanto vasculares


meses - exsudativos quanto proliferativos, ocorrendo
hiperemia, edema, proliferação fibroblástica e
angioblástica, com infiltrado de PMN e também
de mononucleares.

Crônica Meses (> 3) Predomina fenômenos proliferativos (proliferação


a anos fibroblástica e angioblástica, e infiltrado de células
mononucleares.

Crônica - Trata-se da inflamação crônica com superposição


Ativa de fenômenos vasculares exsudativos em área
inflamada cronicamente.

Os PMN podem ser em grande quantidade, isolados ou


aglomerados. Os linfócitos são mais presentes em lesões crônicas e
suas formas podem estar presentes desde o pequeno linfócito até o
linfoblasto. Os macrófagos são frequentes nas inflamações crônicas e
a sua presença com citoplasma carregado de pigmentos sanguíneos
demonstra a existência de sangramentos crônicos. A presença de
hemácias também está associada aos fenômenos inflamatórios.
O trato genital feminino possui inflamação de acordo com a idade
da mulher e a localização anatômica. Em crianças e mulheres após a
menopausa, com o epitélio atrófico, reações inflamatórias ocorrem
com mais facilidade. Em mulheres em idade de reprodução o epitélio
escamoso serve como uma barreira contra as lesões, devido a sua alta
proliferação. A endocérvice e o endométrio são susceptíveis a agentes
infecciosos, principalmente quando há ectopia, já que a mucosa do
epitélio colunar simples da endocérvice é exposta à flora vaginal.
40 Citopatologia

O tipo da inflamação vai variar de acordo com o tipo morfológico


predominante da resposta inflamatória. Os processos inflamatórios
podem ser divididos em Inflamação Exsudativa, Alterativa ou Produtiva.

Inflamação Exsudativa
É caracterizada pela saída de elementos do sangue (plasma e
células) para o espaço do interstício, levando ao acúmulo de líquido
na região da inflamação - exsudato. Os exsudatos serão classificados
de acordo com as suas características. Quando o exsudato produzido
é aquoso, límpido e pobre em células é classificado como seroso. Os
exsudatos serosos podem se subdividir em vesícula e bolha. Quando a
inflamação tem elevação na superfície de diâmetro igual ou inferior a 5
mm, e é circunscrita de epitélio de revestimento, gerando um exsudato
seroso, é conhecida como vesícula. Já quando ocorre essa mesma
inflamação, porém com diâmetro superior a 5 mm, é conhecida como
bolha. O exsudato é catarral ou mucosal quando é viscoso, com alto teor
de mucina, e sua cor e celularidade são variáveis. Quando o exsudato é
cremoso, amarelo-esverdeado, com muitos PMNs e células necróticas é
conhecido como purulento ou supurado. O processo inflamatório de uma
pericardite viral, no seu início, será chamado seroso, porque teremos
predomínio somente de água e eletrólitos, que é como começam os
processos inflamatórios de origem viral.
Tabela 2: Tipos de exsudatos purulentos

Exsudatos Purulentos
Pústula Advinda da camada superficial da derme ou da espessura da
epiderme, com diâmetro ≤ 5 mm
Furúnculo Advinda da derme ou hipoderme, afetando folículo piloso
Antraz Conjunto de furúnculos com necrose na superfície externa e em
tecidos ao redor. É um processo grave
Abscesso Cavidade neoformada (às custas de necrose liquefativa) e pus
Fleimão/ Inflamação difusa e infiltrativa do tecido conjuntivo. Não se forma
Flegmão uma membrana piogênica e o exsudato é muito fluido, devido à
exagerada coliquação enzimática dos tecidos.
Coleção de Acúmulo de pus em cavidades naturais, em consequência de
pus inflamações purulentas nas serosas ou mucosas que as revestem ou
de fistulação para dentro da cavidade de algum abscesso visceral.
Citopatologia 41

Quando o exsudato é filamentoso, com celularidade variável e


rico em fibrina é conhecido como fibrinoso. Podem ocorrer crostas ou
pseudomembranas a partir desse exsudato fibrinoso. Se o exsudato for
avermelhado e rico em hemácias, ele é hemorrágico. Quando há dois ou
mais tipos de exsudatos, ao mesmo tempo, é denominado misto.

Inflamação Alterativa
As inflamações alterativas se caracterizam pela ocorrência de
degeneração e necrose tecidual e podem ser classificada em:
„ Erosiva – quando é advinda de epitélio de revestimento, com
degeneração e necrose. A descamação não atinge a submucosa.
„ Ulcerativa – quando é advinda de epitélio de revestimento,
com degeneração, descamação e necrose profunda, atingindo a
submucosa. Provoca hemorragias.
„ Atrofiante/hipotrofiante – quando a inflamação é crônica,
com tendência à involução. Comum em mucosas e glândulas, com
proliferação ou não de tecido conjuntivo fibroso e metaplasia escamosa.
„ Necrosante – quando a necrose atinge uma maior parte
do foco da inflamação, de forma primária ou secundária, por ação do
agente agressor ou em consequência da própria reação inflamatória,
respectivamente.
„ Gangrenosa – quando os tecidos inflamados e necrosados,
por consequência de inflamações necrosantes, sofrem ação de agentes
exógenos em partes do organismo em comunicação com o exterior,
havendo contaminação.

Inflamação Produtiva/Proliferativa
É a fase final da inflamação e caracteriza-se pela proliferação local
de vasos e células. É a tentativa do organismo de reparar as alterações
causadas pela agressão e pela fase exsudativa. Pode ser classificada em:

Hipertrofiante/Hiperplasiante
É uma inflamação crônica, acomete com mais frequência as
mucosas, tem proliferação conjuntiva-vascular podendo evoluir para
crescimentos papilares e poliposos. Às vezes possui aspecto tumoral
vegetante, papilar ou poliposo.
42 Citopatologia

Esclerosante
Inflamação crônica, acomete com maior frequência parênquimas.
Antes de encerrar o processo inflamatório, com o processo de reparação,
ocorre a produção excessiva de colágeno, o que resulta em alterações
na morfologia e fisiologia dos órgãos.

Granulomatosa
Caracteriza-se pela formação de estruturas nodulares com arqui-
tetura histológica de nódulo. É uma reação de macrófagos a agentes
não imunogênicos ou a agentes imunogênicos. Muitas vezes permite o
diagnóstico da patologia.
A inflamação tem graus de intensidade. Pode ser leve ou discreta
quando o tecido ou órgão afetado tem sua função alterada levemente,
de modo a não comprometer seriamente o organismo como um todo;
moderada se o tecido/órgão afetado tem sua função alterada de modo
a comprometer razoavelmente o organismo como um todo, sem risco
de vida; e grave/severa quando o órgão afetado tem sua função muito
alterada, comprometendo seriamente o organismo como um todo.
Alterações celulares são comuns nos processos inflamatórios,
sejam elas citoplasmáticas ou nucleares. No citoplasma incluem
vacuolização, halos perinucleares, anfofilia, pseudoeosinofilia, limites
citoplasmáticos mal definidos, entre outros. Com relação ao núcleo
pode ocorrer tumefação ou retração, perda da demarcação bem
definida das suas bordas, perda dos detalhes de cromatina conferindo
uma aparência homogênea ao núcleo, hipo ou hipercromasia. Como
sinais de necrose podem ser vistos picnose, cariorrexe e cariólise. Todas
essas alterações podem ser visualizadas microscopicamente, graças ao
exame citopatológico. O tipo de inflamação definirá o tipo de espécime a
ser coletado e a técnica a ser utilizada. A seguir, abordaremos sobre cada
uma dessas alterações. Picnose é a cromatina condensada, enquanto
cariorrexe é a fragmentação nuclear e cariólise a dissolução do núcleo.

Principais achados de alterações inflamatórias


A inflamação é diferente de acordo com o local onde se encontra
e as alterações celulares variam de célula para célula. Veremos abaixo
alguns exemplos dessas alterações:
Citopatologia 43

Halo perinuclear
Presença de halo em volta do núcleo
Figura 14. Halo perinuclear

Fonte: http://bit.ly/2x5TK4d

Cariomegalia
Aumento de núcleo com aumento de cromatina
Figura 15. Cariomegalia

Fonte: http://bit.ly/2uHrCDo

Vacuolização
Presença de vacúolos dentro do citoplasma
Figura 16. Vacuolização

Fonte: http://bit.ly/2uHrCDo
44 Citopatologia

Apagamento das bordas citoplasmáticas


As bordas do citoplasma da célula ficam apagadas
Figura 17. Apagamento das bordas citoplasmáticas

Fonte: http://bit.ly/39hC8jJ

Fagocitose
Englobamento de partículas com atividade fagocítica
Figura 18. Fagocitose

Fonte: http://bit.ly/2x5TK4d

Pseudoeosinofilia
Coloração eosinofílica em células que em condições normais
teria o citoplasma cianofílico
Figura 19. Pseudoeosinofilia

Fonte: http://bit.ly/2x5TK4d
Citopatologia 45

Cariopicnose
Condensação nuclear em células superficiais
Figura 20. Cariopicnose

Fonte: http://bit.ly/2x5TK4d

Cariorrexe
Ausência de membrana nuclear e cromatina em partículas
Figura 21. Cariorrexe

Fonte: http://bit.ly/2uHrCDo

Metaplasia
Substituição de um tipo celular por outro.
Figura 22. Metaplasia

Fonte: http://bit.ly/2uHrCDo
46 Citopatologia

Citólise
Ruptura (lise) da célula.
Figura 23. Citólise

Fonte: http://bit.ly/2x5TK4d

Binucleação e multinucleação
Presença de um ou mais núcleos na célula.
Figura 24. Binucleação e multinucleação

Fonte: http://bit.ly/2x5TK4d

Em resposta à inflamação ou à radiação, multinucleação e


células gigantes multinucleadas podem ser vistas. Algumas vezes as
células podem apresentar mais que uma alteração. Por exemplo, célula
escamosa apresentando pseudoeosinofilia, discreto halo perinuclear,
apagamento de borda citoplasmática e cariomegalia.
Alterações reativas estão relacionadas à hipercromasia, espessa-
mento uniforme da borda nuclear, cromatina com granulação mais grossa,
bi ou multinucleação, nucléolo às vezes proeminente, principalmente
nas células endocervicais.
Citopatologia 47

Características da cromatina
Fina Grossa
Regular Geralmente normal Plasmócitos, carcinoma in situ
Irregular Adenocarcinoma Carcinoma de células escamosas

Quando essas alterações são intensas, podem ser sugestivas de


malignidade, como pode ser visto na tabela abaixo:
Tabela 3: Diagnóstico diferencial de um processo inflamatório e de um câncer.

Diagnóstico diferencial citológico


Inflamação Câncer
Ordenados (em linhas, fileiras), Pouco coesos, desordenados,
Grupos
arranjos planos. sobrepostos
Poucas células isoladas, tem Muitas células isoladas e sem
Células
coesão coesão
Aumento da relação núcleo/
Relação núcleo/citoplasma
Citoplasma citoplasma, monocromasia,
adequada, policromasia
queratinização
Núcleo Hipocromático, fino, mais claro Hipercromático, grosseiro, escuro
Cromatina Regular e hipocromática Irregular e hipercromática
Fundo do
Limpo com células inflamatórias Diátese tumoral
esfregaço
Nucléolo Macronucléolos semelhantes Varia entre as células

Essas características celulares podem indicar resposta a


infecções, alterações fisiológicas e metabólicas, além de auxiliarem na
diferenciação de neoplasias e inflamação, e de suas características. A
presença de inflamação citológica tem sido documentada e, apesar de
ser um achado benigno, deve ser levada em consideração.
Aqui você aprendeu sobre a classificação dos processos
inflamatórios. Agora vamos resumir um pouquinho para facilitar a
compreensão e fixação do conhecimento.
O processo inflamatório se caracteriza pelo conjunto de reações
causadas por qualquer agressão ao tecido, seja por microorganismos
patógenos, traumas, agentes químicos ou físicos. Há a presença de
exsudato inflamatório e o perfil citológica desse auxilia na indicação do
grau/tempo de inflamação – linfócitos são mais presentes em quadros
crônicos, por exemplo.- A inflamação exsudativa pode ser mais líquida e
48 Citopatologia

pobre em células (serosa), mais viscosa, com cor e celularidade variadas


(mucosa), cremosa, amarelo-esverdeada, com alta celularidade
(purulenta ou supurada), mais filamentosa, mais consistente (fibrosa),
avermelhada, rica em hemácias (hemorrágica) ou mista. A inflamação
alterativa se caracteriza pela degeneração e necrose tecidual e pode ser
classificada em: erosiva, ulcerativa, atrofiante, necrosante e gangrenosa.
A inflamação produtiva é a fase final do processo inflamatório e
caracteriza-se pela proliferação local de vasos e células. Ela pode
ser classificada em: hipertrofiante, esclerosante e granulomatosa. A
presença de alterações citológicas já bem caracterizadas, tais como
cariomegalia, vacuolização e fagocitose auxilia no diagnóstico de um
processo inflamatório.
Citopatologia 49

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