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Biologia Molecular
no Diagnóstico
Laboratorial
Natália Gindri Fiorenza
Maria Paula de Souza Sampaio
Aula 03
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Diretora Editorial
ANDRÉA CÉSAR PEDROSA
Projeto Gráfico
MANUELA CÉSAR ARRUDA
Autor
EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA
Desenvolvedor
CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS
Autoras
NATÁLIA FIORENZA
Olá. Meu nome é Natália Fiorenza. Sou formada em Ciências
Biológicas, com mestrado e doutorado na área de Ciências da Saúde.
Passei por diferentes laboratórios de pesquisa, publicando trabalhos
científicos e participando de muitos Congressos e Cursos em diferentes
áreas de saúde e educação. Fui professora universitária e tutora durante
4 anos do curso de medicina, onde me conectei com minha paixão pela
docência e por metodologias ativas de ensino. Sou ávida por aprender e
ensinar e por trocar conhecimentos quer na area científico-acadêmica,
quer na área de desenvolvimento humano e autoconhecimento. Recebi
com muita alegria o convite da Editora Telesapiens para integrar seu
elenco de autores independentes, pois tenho como propósito transmitir
aquilo que sei e auxiliar outras pessoas no início de sua jornada
profissional. Estarei com você nessa caminhada de muito estudo e
trabalho. Conte comigo!
INTRODUÇÃO: DEFINIÇÃO:
para o início do houver necessidade
desenvolvimen- de se apresentar
to de uma nova um novo conceito;
competência;
NOTA: IMPORTANTE:
quando forem as observações
necessários obser- escritas tiveram
vações ou comple- que ser prioriza-
mentações para o das para você;
seu conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e inda-
algo precisa ser gações lúdicas sobre
melhor explicado o tema em estudo,
ou detalhado; se forem necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a neces-
bibliográficas e sidade de chamar a
links para aprofun- atenção sobre algo
damento do seu a ser refletido ou
conhecimento; discutido sobre;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso aces- quando for preciso
sar um ou mais sites se fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma ativi- quando o desen-
dade de autoapren- volvimento de uma
dizagem for aplicada; competência for
concluído e questões
forem explicadas;
SUMÁRIO
Controle de qualidade em laboratório de Biologia Molecular 12
Fase pré-analítica 13
Fase analítica 13
Fase pós-analítica 14
Programas de acreditação em laboratório clínico 15
Detecção de vínculo genético 15
Paternidade 15
Exame de Paternidade 18
Cartão FTA 18
Swab bucal 21
Repetições em Tandem (Microssatélites) 22
Polimorfismo no Comprimento do Fragmento de Restrição
(RFLP) 24
Perícia criminal 26
Detecção de mutações 28
Mutações 28
Erros de replicação 29
Lesões no DNA 30
Tipos de mutações moleculares 32
Reparo e recombinação 33
Rearranjos e alterações cromossômicas 34
Alterações cromossômicas 34
Rearranjos cromossômicos 35
Técnicas para detecção de mutações 36
PCR 36
Microarranjos (microarrays) 37
FISH 37
Exames de cariótipo 38
Detecção de doenças infecto-parasitárias e imunogenética 40
Doenças infecciosas 40
Retrovírus 41
Herpes vírus 43
Infecção bacteriana e seus genes de resistência 44
Protozoários 45
Imunogenética 46
Complexo principal de histocompatibilidade 47
Prova Cruzada 49
Tipagem HLA 49
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 9
03
UNIDADE
10 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
INTRODUÇÃO
Nesse capítulo nós abordaremos aspectos da rotina de um
laboratório de biologia molecular. Veremos como funciona o programa
de controle de qualidade, tanto interna como externa. Além dos exames
laboratoriais que podem ser realizados, com base nas técnicas que foram
abordadas anteriormente. Serão abordadas as fases dos processos de
controle de qualidade e suas características. Dentre os exames laboratoriais
de biologia molecular, destacaremos a detecção de vínculo paterno,
detecção de mutações e detecção de doenças infecto-parasitárias e
técnicas de histocompatibilidade. Todos esses assuntos abordados serão
muito importantes para entender a importância da aplicação da biologia
molecular no diagnóstico laboratorial, relacionando-os com os assuntos já
vistos. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar neste universo!
Vamos nessa?
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 11
OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 3. Nosso objetivo é auxiliar
você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até
o término desta etapa de estudos:
1. Controle de qualidade em laboratório de Biologia Molecular.
2. Detecção de vínculo genético.
3. Detecção de mutações.
4. Detecção de doenças infecto-parasitárias e Imunogenética.
Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao
conhecimento? Ao trabalho!
12 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
INTRODUÇÃO:
Neste capítulo iremos abordar os processos de controle
de qualidade interna durante as três fases: pré-analítica,
analítica e pós-analítica. Por fim, abordaremos a função
de programas de acreditação laboratorial, como a PALC,
na manutenção da qualidade das três fases do processo
interno de qualidade laboratorial. E então, vamos lá?
IMPORTANTE:
Deve haver uma padronização nos procedimentos
realizados pelo laboratório, todas as atividades devem
ser documentada através de Procedimento Operacional
Padrão (POP) ou Instrução de Trabalho (IT), que deverão
ficar disponíveis a toda a esquipe do laboratório.
Fase pré-analítica
Tudo que ocorre nessa etapa é mais difícil de se controlar e de
obter monitoramento e isso é devido ao fato de a maior parte dos fatores
ocorrem fora do laboratório. Destacamos alguns fatores que podem
afetar os resultados dos exames, podendo causar erros ou variações.
A identificação do paciente de forma correta é de extrema importância,
devendo conter nome do paciente, data e hora da coleta e o tipo de
material que foi colhido. A preparação do paciente também é muito
importante pois pode afetar o resultado dos exames diretamente.
Alguns exames necessitam de jejum, o paciente não deve
consumir álcool ou drogas, a quantidade de exercício físico também
influencia e até mesmo há a interferência de medicamentos.
A hora da coleta da amostra também demanda bastante atenção,
seja no ato da coleta, no preparo do material ou no armazenamento
da amostra. Todos esses fatores citados podem interferir de alguma
maneira no resultado do exame. Os principais erros que podem ocorrer
nessa fase envolvem a escrita ilegível ou erro nos dados do paciente,
interpretação incorreta do exame, falta de orientação para realização
do exame, troca de amostras, uso de tubo e anticoagulante errados,
volume excedido ou insuficiente para exame, hemólise de hemácias e
lipemia, além de contaminação de material e amostra.
Fase analítica
Essa etapa envolve basicamente o método de diagnóstico que
será utilizado. Deve-se levar em consideração a confiabilidade (precisão,
exatidão, especificidade, sensibilidade, linearidade) e praticidade (tipo
de amostra e volume, necessidade de equipamentos, estabilidade
14 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
Fase pós-analítica
Essa etapa consiste no que acontece após a realização do exame,
ou seja, envolve o cálculo dos resultados, a análise, a liberação dos
laudos, o armazenamento do material e arquivamento de resultados. O
laboratório deve assegurar que o laudo seja entregue ao paciente e o
laudo precisa conter todas as informações necessárias, sendo escrito de
forma legível e sem rasuras. Os dados contidos no laudo são totalmente
sigilosos e confidenciais ao paciente e tem que ser respeito o prazo
para entrega do laudo. O laboratório deve obter cópias do laudo para
recuperação posterior, se for necessário. Os erros mais frequentes nessa
etapa envolvem a transcrição de dados do paciente incorreta, resultado
ilegível, falta de identificação de interferentes possíveis, além de falta de
especificidade e sensibilidade do teste utilizado.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 15
Paternidade
O registro e assumo da responsabilidade legal do filho por parte
do pai biológico é assunto de extrema importância. O abandono paterno
tem alertado algumas entidades públicas por conta de seu aumento no
número de casos.
Por exemplo, em São Paulo, em 2015 o Brasil ganhou mais de um
milhão de famílias compostas por uma mãe solo, isso foi um aumento
em um período de 10 anos. Claro que, quando falamos de famílias com
mãe solo, muitas causas podem estar presentes, inclusive o falecimento
do progenitor. Entretanto, o número de pais que não registraram suas
crianças acaba sendo maior do que esses casos. Entretanto, esses casos
não abrangem somente as pessoas nascidas a partir de 2000.
16 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
VOCÊ SABIA?:
Esses elementos polimórficos são repetições de pares de
bases ao longo de um locus cromossômico, denominado
de microssatélites, ou repetições em tandem (STR).
Exame de Paternidade
Após a coleta do material de todos os participantes, a amostra
é encaminhada diretamente ao laboratório que irá realizar o exame e o
protocolo é diferente a depender do material colhido. Os participantes
incluem o autor da investigação, o filho ou filha, sua mãe e o(s) possível(eis)
pai(s). Em um caso, pode haver mais de um possível pai e quando não
há, então recorrerá para os parentes de 2° grau (em relação ao filho ou
filha) para que haja a investigação. Lembrando que tudo que acontecer
no caso, será em relação ao investigante, que é o filho ou filha. Os seus
parentes de segundo grau envolvem tios, tias, avô e avó. Um outro caso
pode ser investigação de parentesco do filho com o seu possível irmão,
uma pessoa já registrada pelo pai. A não ser que o possível pai não tenha
falecido, todas as investigações têm que serem feitas com o possível pai.
Após o cadastro devido da amostra, identificando e correlacio-
nando os dados contidos no rótulo da amostra com os dados cadastrais
do caso, a amostra será processada de acordo com os seus respectivos
materiais. Um dos métodos são via swab bucal ou por cartão de FTA.
Cada um possui suas especificidades, que serão discutidas com mais
detalhes a partir de agora.
Cartão FTA
O método de extração envolvendo o cartão FTA é uma forma
invasiva de obter amostra biológica para a extração do DNA de todos
os participantes, pois ela envolve a retirada de uma gota de sangue
através de um pequeno furo com uma lanceta na ponta do dedo de
cada envolvido para que se obtenha uma espécie de impressão digital
feita de sangue no cartão. Por ser um método que envolve sangue, não
é recomendado para qualquer pessoa que esteja fazendo o teste de
paternidade porque, além de invasivo, a depender do participante, essa
técnica pode dar resultados não condizentes com a realidade.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 19
EXPLICANDO MELHOR:
Uma pessoa que recebeu ou recebe frequentemente
uma bolsa de sangue não pode realizar o exame a partir
do cartão FTA, já que o sangue coletado pode conter
duas identidades genéticas: a do próprio participante e da
pessoa que a doou a bolsa de sangue.
VOCÊ SABIA?
As pessoas que frequentemente recebem ou já receberam
bolsas de sangue para transfusão podem ter passado por
alguma cirurgia de risco ou sofrerem de enfermidades como
anemia falciforme ou leucemias, principalmente aquelas
que envolvem bastante depleção do conteúdo vermelho
(hemácias) do sangue, sendo assim, diminuindo também
a concentração de hemoglobina. Entretanto, a transfusão
crônica de sangue pode levar ao desenvolvimento de
reações transfusionais, mesmo prestando bastante
atenção no sistema ABO, já que outros grupos sanguíneos
em contato crônico, caso não sejam levados em conta,
podem ativar uma reação pós-transfusional no paciente.
É por esse motivo, que estão desenvolvendo bolsas de
sangue artificial, sem os grupos sanguíneos, com o intuito
de aumentar o fluxo de transfusões sanguíneas para essas
pessoas em programa de transfusões crônicas, podendo
também, não interferir na coleta do sangue para o teste de
paternidade, já que será sangue sintético artificialmente.
20 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
Fonte: http://bit.ly/35Jykpv
Swab bucal
A técnica de swab é uma forma alternativa de se coletar a amostra
biológica, é menos invasiva e pode ser utilizada para qualquer situação,
embora haja seus fatores de interferência. O swab é um bastão tipo de
cotonete, que será imerso na boca de cada participante afim de retirar
células na mucosa da boca que irão fixar na parte de algodão do swab.
São células escamosas da mucosa da boca, sendo assim, não precisa
ser feita muita força para a sua retirada.
Figura 2: Kit comercial do swab bucal
Fonte: http://bit.ly/37MxzxQ
IMPORTANTE:
Apesar de sua alta variabilidade, os microssatélites
frequentemente residem em regiões funcionais do DNA,
como regiões codificantes e regulatórias. Sendo assim,
eles conseguem exercer uma alta variabilidade fenotípica,
sendo os marcadores mais visados para identificação de
paternidade, já que possivelmente muitas características
fenotípicas herdadas por um indivíduo dos pais pode ter uma
alta relação com essas repetições em tandem herdadas.
Polimorfismo no Comprimento do
Fragmento de Restrição (RFLP)
Seguindo a linha dos microssatélites, no genoma humano
existem trechos altamente polimórficos que variam de pessoa a pessoa.
Sendo assim, seguindo essa lógica, uma outra técnica foi criada e, até
mesmo antes da ampla difusão dos sequenciadores automáticos, ela
era bem utilizada para identificar paternidade devido esses fragmentos
polimórficos.
Há 25 anos atrás, essa técnica foi desenvolvida com o intuito de
identificar polimorfismo viral sem seu DNA, comparando as cadeias
polinucleotídicas entre os mesmos vírus. Em pouco tempo, estes
marcadores tornaram-se uma ferramenta importante em várias áreas
da biologia e têm sido utilizados para aprofundar o conhecimento em
diferentes temas.
Imaginemos dois DNAs, cada um de indivíduos diferentes, porém
das mesmas espécies. Ao clivar ambos os DNAs com a mesma enzima
de restrição, iremos obter fragmentos de DNA como o produto da
reação. Normalmente, como se trata de indivíduo da mesma espécie,
os fragmentos de DNA tendem a ter os mesmos comprimentos e pesos.
Entretanto, isso seria verdadeiro caso o DNA não fosse cortado em
regiões específicas do genoma humano.
Ao submetermos os fragmentos de ambos os indivíduos a uma
corrida de eletroforese, perceberemos a formação de bandas, mas para
o diferencial da técnica, algumas bandas não estarão na mesma faixa de
peso molecular. Sendo assim, há o questionamento: Ao cortar a mesma
região gênica de dois indivíduos da mesma espécie, como irá gerar
fragmentos de comprimentos diferentes?
A resposta para essa pergunta está na compreensão de que nem
todos os indivíduos terão o mesmo comprimento de fragmento em
determinado locus, isso porquê cada indivíduo tem uma região polimórfica,
e isso é uma das contribuições que nos diferem um dos outros. Portanto,
ao cortar os dois DNAs com uma enzima de restrição, fragmentos de
tamanhos distintos, em locus específicos, serão gerados e, quando corridos
em eletroforese, haverá a discriminação das bandas, resultando em duas
bandas de um mesmo gene em posições diferentes de peso molecular.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 25
Fonte: http://bit.ly/34sYtsj
Perícia criminal
Além dos benefícios da análise de regiões polimórficas para
identificar paternidade entre indivíduos de um caso, essa análise pode
ajudar a polícia a desvendar um caso, achando o culpado por um
crime através da perícia criminal. A perícia é um ramo investigativo que
possui várias vertentes, dentre elas a genética. A descoberta do DNA e
suas propriedades e elementos teve um grande impacto em diversas
áreas desse conhecimento. Todos sabem que o DNA é a identidade
do ser humano, ou seja, todas as informações sobre as características
genotípicas e fenotípicas estão presentes nessa longa cadeia de dupla
fita em formato helicoidal.
O departamento investigativo da polícia trabalha buscando por
provas que possam traçar e definir a identidade do principal suspeito
de algum crime e o DNA acaba sendo uma das maiores pistas que um
perito pode usar. O perito pode utilizar amostra de todos os tipos: sangue,
saliva, pele, esperma, músculo, cabelo, dente, osso, dentre outros.
Todas essas amostras biológicas servem como uma ótima ferramenta
de rastreio. Isso porque a identidade genética de cada ser humano é
única, a não ser que sejam gêmeos. E essa identidade genética pode
ser comparada: a amostra de sangue encontrada em uma cena de crime
pode ser comparada com a da vítima e a do suspeito afim de achar
alguma correspondência molecular entre eles. Caso não haja amostra
de um suspeito, pode comparar com os progenitores desse suspeito
(mãe e pai) ou outros parentes como irmãos, avós e tios.
SAIBA MAIS:
O Departamento Federal de Investigação (Federal Bureau
ofInvestigation– FBI) realizou um estudo identificando os
marcadores variáveis, microssatélites, ou STR, através de
estudos populacionais, no genoma humano e chegou à
conclusão que 13 marcadores são suficientespara gerar
um perfil que é único e exclusivo para cada ser humano.
Esse resultado foi divulgado em 1997 e em 2017 esses
marcadores já tinham subido para 20. Entretanto, cada país
possui sua estratégia para marcação.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 27
SAIBA MAIS:
Para mais informações sobre os casos periciais, estude o
artigo realizado sobre um caso que houve no Rio de Janeiro:
Identification of a criminal by DNA typing in a rape case in
Rio de Janeiro, Brazil, disponível em: https://bit.ly/2jXWDOd
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Para facilitar a
compreensão deste tema que é tão importante dentro da
biologia molecular, vamos resumir tudo o que vimos. Você
aprendeu aqui existem alguns métodos de investigação do
DNA. Conseguiu entender as técnicas que envolvem o teste
de paternidade, podendo ser feitas através de coleta por
swab ou por cartão FTA; aprendeu sobre os microssatélites
e sua funcionalidade no DNA.Entendeu que utilizar o
sistema ABO para teste de paternidade não traz muita
especificidade e compreendeu os motivos. Conheceu
sobre a importância da biologia molecular também para a
perícia criminal e ciência forense, descobriu que as mesmas
técnicas utilizadas para paternidade podem ser utilizadas
para perícia, afim de solucionar casos e identificar suspeitos.
Também aprendeu sobre a técnica de polimorfismo no
comprimento do fragmento de restrição (RFLP), viu que ela
é muito utilizada para exames que envolvem investigação
de vínculo genético.
28 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
Detecção de mutações
INTRODUÇÃO:
Nesse capítulo nós estudaremos a aplicação de técnicas
moleculares e citogenéticas para a identificação de
alterações moleculares e cromossômicas. Na primeira parte
iremos abordar os princípios de cada mutação e o porquê
que muitas delas causam doenças ou alterações congênitas
tão aberrantes e prejudiciais à saúde humana. A outra
parte será focada em explanar os métodos diagnósticos
comumente utilizados para a detecção dessas mutações.
Mutações
A manutenção do material genético depende das taxas mínimas
de mutação e também da capacidade de nossas células em identificar
erros e repará-los. Durante os processos replicativos celulares pode haver
alterações na estrutura da nova cadeia a ser gerada, essas alterações,
podendo ser prejudiciais ou não, são chamadas de mutação. Algumas
formas de mutação podem gerar em uma cadeia proteica defeituosa
ou com funções alteradas, podendo danificar um processo fisiológico
importante. Essas mutações são nocivas a seres vivos, podendo levar a
danos extensos e generalizados.
Entretanto, há mutações que não são capazes de modificar a
estrutura de aminoácidos de uma proteína, sendo assim, não alterando
a função fisiológica daquela proteína. Essas mutações não são nocivas
e, se passadas pelo mecanismo de reparo celular, são passadas
despercebidas. Isso por conta da característica degenerativa do código
genético, a qual um aminoácido pode ser codificado por mais de um
códon, e nunca um códon pode codificar mais de um aminoácido. Essa
característica confere um maior poder de manutenção das proteínas,
suportando pequenos polimorfismos.
As mutações podem ocorrer em dois tipos de células: as somáticas
e as germinativas. As células somáticas são as do corpo, incapazes de
transmitir informação de forma hereditária. Sendo assim, uma mutação
nessa célula, caso nociva, pode causar doença de forma restrita ao
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 29
IMPORTANTE:
As células dependem do funcionamento correto de
milhares de genes e de seus mecanismos de reparo e
cada um deles pode ser danificado por uma mutação nos
diversos sítios da sequência que codifica suas proteínas, ou
nas suas regiões flanqueadoras que promovem a expressão
ou o processamento de seu mRNA.
Erros de replicação
As mutações incluem praticamente todas as alterações
permanentes concebíveis nas sequências de DNA. Existem mutações
simples, onde somente uma base é trocada, chamada de mutação
pontual. Essa mutação pontual pode ser transição, onde uma purina é
trocada por outra purina ou uma pirimidina é trocada por outra pirimidina
30 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
Lesões no DNA
Os erros na molécula do DNA também podem vir de fatores
externos, como radiação, fatores químicos (agentes mutagênicos) e pela
água (já o DNA, para ficar em sua conformação ideal, precisa estar em meio
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 31
EXPLICANDO MELHOR:
A alquilação é a transferência de grupos metil e etil para os
sítios reativos das bases ou fosfatos que se ligam ao açúcar
do nucleotídeo. A nitrosamina, um reagente alquilante e
mutagênico artificial, vai transferir um radical metil para o
carbono 6 da guanina, formando a O6-metilguanina, capaz
de se parear com timinas, assim surgindo uma nova fita
com mutação de C -> T.
Reparo e recombinação
Muitos fatores podem danificar o DNA e, por essa razão, as
células têm que possuir mecanismos de reparo eficiente de DNA para as
ocasiões, caso contrário, as células não iriam conseguir sobreviver por
muito tempo. Para os maus pareamentos ocorridos durante a replicação,
dois mecanismos de reparo entram em ação. Um é o reparo por excisão,
onde um nucleotídeo pareado indevidamente é retirando do DNA,
formando uma lacuna que será preenchida pelo nucleotídeo correto.
Normalmente, esses mecanismos de reparo acontecem em uma das
fases do checkpoint do ciclo celular. O reparo por excisão conserta
pareamentos incorretos no DNA, a partir de uma fita molde, que não foi
danificada. Outra forma de reparo é um pouco mais complexa, devido
às altas distorções do DNA causadas pelos raios UV, por exemplo. Esse
mecanismo irá retirar um pequeno fragmento de DNA e substitui-lo por
um pequeno fragmento complementar.
Entretanto, algumas lesões são muito graves, o bastante para
levar à morte celular diretamente. Nessas lesões, há a quebra da
dupla fita do DNA, gerando duas fitas quebradas. Nesses casos, dois
mecanismos podem reverter o processo: reparo homólogo e reparo por
união de extremidades não homólogas. Na junção homóloga, as enzimas
responsáveis utilizarão uma cadeia de DNA molde para reparar a dupla
fita quebrada. Nesse processo, será feita a junção de holliday, onde uma
fita quebrada é amplificada da dupla fita molde não atingida e uma fita
de DNA da dupla fita não atingida será amplificada no DNA quebrado,
permitindo que a outra fita quebrada do DNA lesado seja reparada a partir
da fita migrada do DNA não lesado. Essa junção vai levar ao reparo efetivo
da dupla fita de DNA quebrada, não perdendo nenhuma informação. Já
o reparo por extremidades não homólogas consiste na união das duas
fitas quebradas, sem a reposição do conteúdo que estava entre elas.
Esse processo só ocorre quando não há uma fita molde para que haja
o processo e pode haver perda de um gene (deleção) ou inserção de
pares de bases em um gene (inserção).
34 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
Fonte: http://bit.ly/34t0Mvt
Alterações cromossômicas
A aneuploidia é uma aberração genômica onde a célula acaba
perdendo ou ganhando um cromossomo. Por exemplo, no organismo
humano, as células somáticas (2n) possuem 46 cromossomos, sendo
23 vindos do pai e 23 da mãe. Quando um cromossomo é adicionado no
quadro geral do genoma humano (2n+1), isso é chamado de trissomia.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 35
EXPLICANDO MELHOR:
Um genoma onde há mais uma cópia onde deveria ter
somente duas (47). No caso em que há um cromossomo a
menos (2n-1), isso acaba sendo chamado de monossomia,
onde no genoma que deveria estar presente duas cópias,
está somente 1 (45).
Rearranjos cromossômicos
Os rearranjos fazem parte de outra classe de mutações em larga
escala, onde grandes pedaços cromossômicos, não eles por inteiro, são
afetados. Os rearranjos podem ser divididos em duplicações, inserções,
deleções, inversões, transposições e translocações. As duplicações
36 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
PCR
A técnica da Reação em Cadeia da Polimerase, já bem discutida,
que tem a capacidade de amplificar um determinado trecho genômico
a partir de um fragmento de primer, é bastante utilizada para amplificar
regiões codificantes (éxons) polimórficas que estão muito associadas
com o desenvolvimento de processos carcinogênicos. O RT-PCR é
bastante utilizado para o diagnóstico de câncer de estômago através da
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 37
Microarranjos (microarrays)
Os microarranjos de DNA, ou chip de DNA, é um arranjo de pontos,
sendo cada um uma sonda, distribuídos em uma placa que é capaz de
identificar uma molécula alvo (DNA ou RNA) através de processos de
hibridização, produzindo resultados quantitativos. Podem ser utilizados
para analisar níveis de expressão gênica. Esses microensaios também são
utilizados para a detecção de duplicações e deleções cromossômicas
no genoma humano que podem levar a distúrbios genéticos.
Os SNP-array é uma técnica capaz de detectar polimorfismos
de nucleotídeo único dentro de uma população de DNA. A amostra de
um paciente é introduzida em um chip (GeneChip) contendo sondas
específicas que irão hibridizar ao DNA da amostra. Caso haja polimorfismos,
haverá uma emissão de sinal, correspondente ao DNA marcado, e será
convertida em dados computacionais por um software específico.
O CGH+SNP array é uma técnica similar, porém com a utilização
de uma amostra controle de DNA para que haja a comparação de
fluorescência entre a amostra teste e a amostra controle. Essa é a
ferramenta mais indicada pela Academia Americana de Genética para
o estudo de crianças e adultos com suspeitas de síndromes genéticas
causadas por anomalias cromossômicas, atraso do desenvolvimento
neuropsicomotor e autismo.
FISH
Outro exame de citogenética baseado na utilização de sondas
fluorescentes capaz de detectar mutações e rearranjos cromossômicos
como deleções. O diferencial é que essa técnica, ao contrário dos
38 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
IMPORTANTE:
Além de rearranjos complexos, há a identificação precisa de
microssatélites no genoma das amostras analisadas. Uma
aplicação dessa técnica é a identificação da amplificação
de genes envolvidos com processos carcinogênicos como
o HER-2.
Fonte: http://bit.ly/33m7Zw9
Exames de cariótipo
O exame de cariótipo é mais uma vertente da citogenética com o
objetivo de identificar e analisar os cromossomos e suas regiões. O teste
é realizado mediante a cultura de célula, para a obtenção do estágio do
ciclo celular em metáfase, onde encontrará os cromossomos formados
e conectados ao fuso mitótico, já prestes a se dividir, e sua posterior
coloração. Através das bandas cromossômicas identificadas, é possível
visualizar as aberrações cromossômicas numéricas ou estruturais.
Ou seja, os exames de cariótipo nos permitem ver aneuploidia e os
rearranjos cromossômicos anteriormente mencionados. O cariótipo é
recomendado para casais que buscam aconselhamento genético.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 39
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Para facilitar a
compreensão deste tema que é tão importante dentro
da biologia molecular, vamos resumir tudo o que vimos.
Você aprendeu aqui que mutações podem acontecer
com o DNA. Aprendeu também sobre as técnicas e
exames moleculares e citogenéticas para a identificação
de alterações moleculares e cromossômicas. Viu que
essas alterações podem estar relacionadas a processos
oncopatológicos hereditários ou não. Compreendeu os
princípios de cada técnica, como a FISH, SNP-array e o
cariótipo banda G. Além de aprender sobre a utilização de
testes moleculares na identificação de mutação em códons
ou genes específicos que levam ao desenvolvimento
de alguns tipos de câncer (como de mama, estômago
e pulmão). Compreendeu que muitos fatores podem
danificar o DNA e devido a isso, as células têm que possuir
mecanismos de reparo eficiente de DNA para as ocasiões,
caso contrário, as células não iriam conseguir sobreviver
por muito tempo.
40 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
Doenças infecciosas
A saúde pública brasileira tem sido transformada desde a criação
do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS é um dos mais complexos
sistemas de saúde no mundo, onde sua eficácia é reflexo de uma
política de saúde preventiva e atendimento integral à pessoa. O SUS se
divide em atenção primária, secundária e terciária, e cada divisão possui
suas especificidades. Dentro de cada atenção, há o monitoramento de
doenças altamente infecciosas e de importância epidemiológica no
Brasil. Por exemplo, existe o Sistema de Notificação Compulsória, que,
por meio de uma Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças,
determina a obrigatoriedade da notificação e comunicação por meio de
profissionais de saúde ou responsáveis pelos estabelecimentos públicos
ou privados.
A importância dessa lista é a notificação visando o rápido controle
de eventos que requerem pronta intervenção. Dentro dessa lista há
doenças como Dengue, Botulismo, AIDS, Doença de Chagas, Doença
de Creutzfeldt-Jakob (causada por príons), Meningite, Sífilis, Influenza
(novo subtipo viral), Varíola, Antraz, Ebola, Febre amarela, Tuberculose,
Malária, Pneumococo e entre outras. Há uma lista completa sobre as
doenças de notificação compulsória e notificação imediata.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 41
Retrovírus
Desde a década de 80, os retrovírus foram apresentados a partir
da descoberta do primeiro vírus dessa família, o HTLV-1. Em 1980,
dois vírus isolados de pessoas, em diferentes partes do mundo, com
manifestações leucêmicas, hoje definida como leucemia de células T
do adulto, e com uma doença neurodegenerativa do sistema nervoso
periférico (HAM/TSP). Foi determinada a associação desse vírus com
tais doenças e descoberto seu tropismo pelas células T, sendo então
chamado de Vírus Linfotrófico de Células T Humana.
Em 1985 descobriu-se um agente viral em pessoas com
deficiência imunitária, sendo muitos casos associados com pneumonias
graves. Muitos confundiam esse agente patogênicocom uma outra cepa
viral do HTLV, entretanto, quando isolado e identificado, descobriram
que se tratava de outro vírus, portanto nomeado de HIV – Vírus da
Imunodeficiência Humana, o terceiro retrovírus descoberto dentre a
população mundial. Assim como o HTLV-1, ele tem tropismo forte pelas
células T auxiliares (CD4) e, ao contrário do HTLV-1, o HIV-1 tem um
caráter lítico, ou seja, ele rompe as células infectadas, difundindo pelo
plasma sanguíneo e infectando novas células. O HTLV-1 possui um ciclo
lisogênico, no qual se multiplica junto com a célula, tendo sua atuação
de forma muito lenta.
Ambos são retrovírus por possuírem um genoma de RNA, porém,
se inserirem ao DNA genômico por meio da transcriptase reversa. Essa
enzima, já mencionada em capítulos anteriores, tem o potencial de
converter um fragmento de RNA em um DNA complementar (cDNA),
permitindo assim sua integração ao genoma do hospedeiro.
42 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
IMPORTANTE:
Um fato importante que aumenta sua importância
epidemiológica é que, como ambos os vírus, HIV-1 e
HTLV-1, possuem as mesmas rotas de infecção (via contato
sexual, lesão com materiais perfurocortantes infectados
e entre outro), existem muitos casos de co-infecção por
ambos os agentes virais.
Herpes vírus
Herpes é uma doença que normalmente está associada às
manifestações dérmicas, como acontece com as pessoas infectadas
pelo Vírus Varicela-Zóster, o causador da catapora (Varicela) e o herpes
vírus tipo 1 e 2, causador do herpes simplex. Esses vírus possuem a
capacidade de permanecer em latência por longos períodos de tempo,
como o que ocorre com o varicela-zoster, capaz de permanecer em
latência nos gânglios nervosos, e quando ativado, pode provocar
doenças do sistema nervoso periférico (SNP).
O herpes vírus tipo 1 é causador de lesões em mucosas da boca,
face e tronco, enquanto que o herpes vírus tipo 2 está relacionado às
infecções na genitália e de transmissão geralmente sexual. Entretanto,
os dois vírus podem infectar qualquer área da pele ou das mucosas.
As manifestações clínicas são distintas e relacionadas ao estado
imunológico do hospedeiro.
O citomegalovírus (CMV) é outro vírus pertencente à família do
herpes vírus. Seu nome reflete ao fato de ele ser o maior vírus dentre
todos os outros. Normalmente, esses vírus infectam as pessoas desde
a sua infância, podendo ser transmitido via respiratória (tosse, espirros,
fala, saliva, secreção brônquica) sendo essa via a principal, transmissão
vertical, transfusão sanguínea e entre outros. Ele pode não causar
nenhuma manifestação clínica, ou causar febre baixa até doenças graves
que comprometem o aparelho digestivo, sistema nervoso central e retina.
O Epstein Barr (EBV) é um vírus da família do herpes, também
conhecido como Herpervírus4 humano, tem a capacidade de gerar um
processo patológico glandular, também chamado de “febre glandular”
ou “doença do beijo”, a mononucleose infecciosa. É uma doença de
baixa mortalidade e letalidade, de manifestações agudas e geralmente
benignas, com achados clínicos como amigdalo faringite, linfadenopatia
e hepatoesplenomegalia.
A técnica de PCR, mais uma vez, é capaz de identificar, quantificar
e discriminar os tipos virais dos agentes pertencentes à família herpes.
Sendo assim, a técnica em tempo real, que consegue amplificar mais de
uma região gênica de cada vírus e quantificar em tempo real, é a melhor
técnica, de biologia molecular, para o diagnóstico preciso.
44 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
VOCÊ SABIA?
Um dos maiores riscos para a saúde é a sepse. A sepse
é uma reação imunológica generalizada em resposta à
difusão plasmática de uma bactéria. Os lipopolissacarídeos
presentes em sua parede celular irão estimular os
monócitos e neutrófilos presentes na circulação, que irão
liberar fatores quimiotáticos, citocinas, capazes de gerar
toda manifestação pró-inflamatória. Sendo assim, essa
manifestação pode ser causada por quaisquer bactérias,
principalmente as contendo fatores de resistência para os
mais diversos agentes antimicrobianos existentes.
Protozoários
Os protozoários são seres eucariontes, ou seja, possuem núcleo
celular organizado dentro de uma carioteca. A maioria deles são
heterótrofos, embora alguns sejam autótrofos, produzem clorofila e com
ela realizam a fotossíntese, onde vem a fonte de seus alimentos. Existem
60.000 espécies conhecidas, sendo 10.000 parasitas de diferentes
animais, e apenas algumas dezenas são agentes etiológicos de doenças
humanas. Dentre elas, algumas são muito importantes à saúde pública,
como as causadoras da giardíase, toxoplasmose, doença de chagas,
leishmaniose, malária, tricomoníase e amebíase, por exemplo.
A toxoplasmose é causada pelo Toxoplasma gondi, um esporo-
zoário muito relacionado à transmissão de animais a humanos, como por
exemplo de gatos para grávidas. Nesse caso, há um grande risco para
lesões na retina e sistema nervoso da criança em desenvolvimento.
46 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
Imunogenética
A imunogenéticaé a área do conhecimento voltada ao estudo
dos aspectos genéticos acerca das interações antígeno-anticorpo,
mas não envolvendo um patógeno e um anticorpo produzido por um
linfócito, e sim as características genéticas que definem as interações
dos anticorpos com antígenos considerados “nossos” e antígenos
considerados estrangeiros. Dentro dessa área, há divisões que pode em:
estudo das doenças autoimunes, estudo das deficiências imunológicas,
estudo dos mecanismos de transplante e estudo dos grupos sanguíneos.
Um dos ramos mais explorados, e que será foco na discussão
a seguir, é a imunogenética dos transplantes. O transplante de órgãos
é um procedimento altamente delicado, pois cada indivíduo possui
uma configuração quanto à compatibilidade mediada pelo complexo
principal de histocompatibilidade (HLA). Isso significa dizer que, assim
como as pessoas possuem diferentes polimorfismos em locus contendo
microssatélites, elas também podem conter diferenças em seus HLAs. E
será justamente essa compatibilidade que será explorada nesse ramo,
e pra haver a transfusão de um órgão a um indivíduo, a compatibilidade
entre os HLAs deve ser a melhor possível. Caso não haja um bom
nível de compatibilidade, o organismo hospedeiro irá rejeitar aquele
enxerto transplantado, criando uma reação imunológica, podendo ser
generalizada.
Outra complicação é a Doença do Enxerto contra o Hospedeiro,
atrelada ao transplante de medula óssea ou células tronco, onde as
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 47
SAIBA MAIS:
O polimorfismo MHC é tão elevado que frequentemente
a heterozigose, em populações acasaladas ao acaso,
aproxima-se de 100%. É praticamente impossível encontrar
dois indivíduos, não aparentados, portando o mesmo
genótipo HLA.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 49
Prova Cruzada
A prova cruzada é empregada para identificar anticorpos pré-
formados, específicos para o órgão doador, sendo assim considerado
uma simulação do transplante in vitro. Ainda que seja o primeiro
transplante, o teste vai identificar se os receptores do receptor possuem
sensibilidade contra os antígenos de HLA do doador. Caso o resultado
seja positivo, então aquele doador apresenta um alto risco para o
receptor, significando uma resposta cruzada contra o HLA do doador.
Essa metodologia pode ser aplicada em citometria de fluxo, onde
será incubado o soro do paciente a receber o órgão com linfócitos do
doador. Após a incubação, que deve ocorrer a formação de complexo
antígeno-anticorpo (se no soro houver a presença de anticorpos anti-
HLA), adiciona-se a reação, anticorpos monoclonais marcados com
fluorescência direcionados aos linfócitos T e B, que será detectada
pelo citômetro de fluxo a reação positiva ou negativa. A citometria vai
identificar os anticorpos anti-HLA do doador, devido a sensibilização
existente ou gerada do receptor.
Tipagem HLA
A tipagem HLA é parecida com a tipagem ABO. Como explicado,
é bastante comum que o HLA de uma pessoa seja bem diferente da
outra, entretanto, com irmãos essa possibilidade é diferente. Há 25% de
dois irmãos possuírem 100% de compatibilidade de HLA. Sendo assim, o
laboratório determina o tipo de HLA de cada indivíduo e a compatibilidade
representa o número de dessas moléculas que dois indivíduos têm em
comum. Quanto maior o número de moléculas semelhantes, maior será
a compatibilidade e consequentemente o aumento da probabilidade
50 Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial
RESUMINDO:
E então? Gostou do que lhe mostramos? Para facilitar a
compreensão deste tema que é tão importante dentro da
biologia molecular, vamos resumir tudo o que vimos. Você
aprendeu sobre as técnicas abordadas que são utilizadas
na detecção de doenças infectocontagiosas e na área da
imunogenética, com a investigação de histocompatibilidade
através do teste de HLA, PRA e prova cruzada. Pôde
estudar mais a respeito da técnica de PCR sendo aplicada
na identificação das principais doenças com importância
epidemiológica, como HTLV, HIV, Herpes, Toxoplasmose,
doenças causadas por micobactérias e outras doenças que
podem estar associadas ao transplante de órgãos como o
JC e o BK vírus. Viu qual a melhor técnica de PCR de acordo
com suas especificações e com as especificações dos
agentes patogênicos causadores das doenças estudadas.
Compreendeu os princípios das técnicas voltados à
histocompatibilidade na identificação de compatibilidade
entre o HLA do hospedeiro e transplantado. Conseguiu
entender a aplicabilidade da biologia molecular nessas
situações.
Aplicação da Biologia Molecular no Diagnóstico Laboratorial 51
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