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1
2023
Guia de Produção Científica [e-book] / Rafael dos Santos Borges, Marina Cunha
Nascimento, Gabrielle Martins Peres, Ana Cristina Simões e Silva. 1ª ed. - Belo
Horizonte, MG: Ed. dos autores, 2023.
ISBN 978-65-00-60929-5
1. Ciência 2. Educação 3. Universidade
Todos os direitos autorais reservados e protegidos pela Lei n. 9.610 dos Direitos
Autorais do Brasil, de 19 de fevereiro de 1998. É proibida a duplicação desta obra, no
todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico,
gravação fotocópia ou outros), sem a permissão prévia, por escrito, dos autores.
_______________________________________________________________________
© PRODUÇÃO INDEPENDENTE 2
PREFÁCIO
3
SUMÁRIO
PREFÁCIO 03
SUMÁRIO 04
01 - CONHECIMENTO CIENTÍFICO 07
02 - ÉTICA EM PESQUISA 09
Sobreposição de publicações 09
Atribuição de autoria indevidamente 10
Falsificação 11
Fabricação 11
03 - DELINEAMENTOS DE ESTUDO 12
ESTUDOS OBSERVACIONAIS 13
Relato de Caso e Série de Casos 13
Estudo transversal (“cross-sectional”) 13
Estudo de caso-controle 14
Estudo de coorte 15
ESTUDOS EXPERIMENTAIS 17
ESTUDOS DE REVISÃO 20
20
Revisões Narrativas
Revisões Sistemáticas 21
04 - BUSCA NA LITERATURA 22
RECONHECENDO QUE PRECISAMOS DE INFORMAÇÃO 22
BASES DE DADOS E PLATAFORMAS DE BUSCA 23
DICAS PARA FAZER AS BUSCAS 26
05 - BIOESTATÍSTICA 26
CONCEITOS BÁSICOS 27
Tipos de Variáveis 27
Tipos de distribuição 28
Medidas de Tendência Central 30
Medidas de Dispersão 30
Medidas de associação 36
Sensibilidade e Especificidade 37
TESTE DE HIPÓTESE ou INFERÊNCIA ESTATÍSTICA 39
Tipos de Hipóteses 40
4
Erros de Hipóteses 41
p-value 41
QUAL TESTE ESTATÍSTICO ESCOLHER? 42
MENSAGENS FINAIS 43
06 - VIESES 43
INTRODUÇÃO 43
ERROS MAIS COMUNS AO APRESENTAR OS DADOS 46
COMO CONTROLAR VIESES E FATORES DE CONFUSÃO? 48
07 - REFERÊNCIAS 49
FORMATAÇÃO PRONTA DOS SITES 51
SITES GERADORES DE REFERÊNCIAS 52
PROGRAMAS 52
EndNote 53
Mendeley 53
Zotero 54
08 - ILUSTRAÇÕES CIENTÍFICAS 54
DICAS GERAIS 54
UTILIZAR UMA IMAGEM PRONTA OU FAZER A ILUSTRAÇÃO? 55
Imagens prontas 55
Criando imagens 55
09 - ESCOLHA DO TEMA 58
COMO TER IDEIAS? 58
COMO SABER SE MEU TEMA É RELEVANTE? 59
COMO SABER SE MINHA PESQUISA É FACTÍVEL? 60
10 - ESCRITA CIENTÍFICA 60
CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA CIENTÍFICA 61
REVISÃO GRAMATICAL DO INGLÊS 62
Erros clássicos 62
Como melhorar? 66
PASSO A PASSO PARA A ESCRITA 67
Antes mesmo da escrita 67
Métodos 68
Resultados 69
Discussão 70
70
Observações sobre resultados e discussão
5
Conclusão 71
Introdução 71
Abstract 72
Título 73
Palavras-chave 73
11 - SUBMISSÃO 74
QUAL PERIÓDICO ESCOLHER? 74
Reflita sobre o periódico 74
Reflita sobre o artigo 75
Plataformas para busca de periódicos 75
REVISTAS PREDATÓRIAS 75
ÚLTIMOS DETALHES 76
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 78
SOBRE OS AUTORES 83
6
01 - CONHECIMENTO CIENTÍFICO
"O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo, pois cada um pensa estar
tão bem provido dele, que mesmo aqueles mais difíceis de se satisfazerem com
qualquer outra coisa não costumam desejar mais bom senso do que têm” (O Discurso
do Método - Descartes).
8
● “Ciência é muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de
conhecimentos” (Carl Sagan)
● “...ciência consiste em agrupar fatos para que leis gerais ou conclusões possam
ser tiradas deles” (Charles Darwin)
Uma definição que sintetiza bem a ciência é a de Marconi & Lakatos, presente
em sua obra “Fundamentos de Metodologia Científica” (1991). Segundo as autoras, a
ciência é um conjunto de proposições e enunciados hierarquicamente correlacionados,
de maneira ascendente (indução) ou descendente (dedução), indo gradativamente de
fatos particulares para os gerais e vice-versa, comprovados pela pesquisa empírica
(submetidos à verificação).
02 - ÉTICA EM PESQUISA
Sobreposição de publicações
9
inúmeras publicações duplicadas, com ligeiras mudanças no texto em diferentes
periódicos. Essa prática, além de antiética, apresenta os seguintes problemas:
● O aumento artificial dos resultados dos autores por meio desta falsa ideia de
produtividade pode fazer com que eles sejam favorecidos indevidamente ao
competirem por financiamento ou posições acadêmicas.
● A redundância da publicação pode gerar duplicidade de dados quando incluída
em meta-análises, criando falsas conclusões que interferem na prática clínica.
● A multiplicidade de publicações pode gerar retratações e, consequentemente,
perda de confiabilidade no trabalho desenvolvido e em seu grupo de autores.
10
Um dos principais casos de autoria indevida ocorreu em novembro de 2019,
quando a revista Nature alertou sobre a identificação de 24 artigos científicos
publicados com nomes de crianças do ensino médio na Coreia do Sul. Em tais casos, os
nomes citados não contribuíram para a realização dos artigos e tal fato foi atribuído
como uma forma de aumentar as chances desses alunos do ensino médio de entrada nas
universidades prestigiadas do país. Segundo Changgu Lee, cientista da Universidade
Sungkyunkwan, o sistema sul-coreano de educação precisa reduzir a ênfase em
publicações como um dos critérios de entrada, uma vez que os estudantes de ensino
médio ainda não estão envolvidos direta e fortemente com a produção científica.
Falsificação
Fabricação
11
03 - DELINEAMENTOS DE ESTUDO
ESTUDOS OBSERVACIONAIS
12
● Estudos analíticos: têm a finalidade de analisar relações de causa e efeito,
possuindo, para isso, grupos de comparação.
13
Imagem 02: Estudo transversal
Estudo de caso-controle
Este tipo de estudo inclui dois grupos: um grupo de indivíduos com o desfecho
de interesse (casos), e outro grupo sem o desfecho de interesse (controles). Os dois
grupos, para que possam ser comparados adequadamente, precisam ser semelhantes em
todas as características exceto na presença/ausência do desfecho. Em seguida, parte-se
para a análise de fatores de risco (exposição) já existentes a fim de determinar se estes
são mais prevalentes nos casos ou nos controles. Portanto, os estudos de caso-controle
são sempre retrospectivos, partindo do desfecho de interesse para a exposição
(imagem 03).
14
● Vantagens
○ Grande utilidade em doenças raras e surtos epidêmicos, pois não é preciso
esperar o desfecho acontecer
○ Permite analisar múltiplos fatores de risco, porém apenas um desfecho
○ Execução metodológica mais simples que os estudos de coorte
○ Menor custo e tempo comparado aos estudos de coorte, já que não há
necessidade de seguimento dos pacientes
● Desvantagens
○ Ser retrospectivo: pode haver viés de memória uma vez que os pacientes
podem ter dificuldade de lembrar e reportar com detalhes a exposição
○ Não permite avaliar a incidência do desfecho
○ Não permite calcular o risco relativo. Nesses estudos, usa-se o odds ratio
Estudo de coorte
Este tipo de estudo inclui dois grupos: um grupo de indivíduos com um ou mais
fatores de risco/proteção (expostos), e outro grupo sem tais fatores (não expostos). Os
dois grupos, para que possam ser comparados adequadamente, precisam ser
semelhantes em todas as características exceto na presença/ausência do(s) fatores de
risco/proteção. Em seguida, acompanha-se estes pacientes ao longo do tempo para que
futuramente se possa avaliar a presença ou não de desfechos de interesse. Este tipo de
estudo é muito usado quando a randomização não é possível ou não seria ético fazê-la.
Portanto, os estudos de coorte partem da exposição a fatores de risco ou de
proteção, para o desfecho de interesse (imagem 04). Dessa forma, eles são
comumente prospectivos. Podem ser retrospectivos caso seja feito um registro dos
dados de forma rigorosa para que futuramente as informações sejam analisadas de
forma confiável do desfecho para a exposição.
15
Imagem 04: Estudo de coorte
16
Imagem 05: Estudos observacionais
ESTUDOS EXPERIMENTAIS
17
princípios básicos sobre a farmacocinética e a farmacodinâmica da substância. Parte-se
depois para os testes in vitro e em animais, sobretudo para avaliar a segurança antes de
testar a droga em seres humanos. Os animais usados costumam ser modificados
artificialmente para reproduzirem a doença de interesse do estudo. Uma vez que todos
os testes pré-clínicos sejam concluídos, os ensaios clínicos são iniciados de acordo com
as fases descritas na tabela 03.
18
○ Não randomizado: os voluntários escolhem ou o pesquisador determina o
grupo a que devem se enquadrar.
● Coleta de resultados
○ Com mascaramento
■ Simples: chamados de “estudos cegos”, os voluntários não sabem
se estão recebendo a intervenção ou o placebo, porém os
pesquisadores sabem a qual grupo cada indivíduo pertence.
■ Duplo: chamados de “estudos duplo-cegos”; os voluntários não
sabem se estão recebendo a intervenção ou o placebo, e os
pesquisadores não sabem a qual grupo cada indivíduo pertence.
○ Sem mascaramento: os voluntários sabem se estão recebendo a
intervenção ou o placebo, e os pesquisadores sabem a qual grupo cada
indivíduo pertence.
19
Imagem 06: Classificação dos estudos experimentais
ESTUDOS DE REVISÃO
Revisões Narrativas
20
Revisões Sistemáticas
21
04 - BUSCA NA LITERATURA
22
Que precisamos de informação é algo certo, porém o grande desafio de hoje é
encontrá-la. Cerca de 7 milhões de artigos científicos são publicados anualmente (Fire
M, Guestrin C; 2019). Em nenhum momento da história tivemos tanto acesso à
informação como atualmente. Nesse mundo de publicações, precisamos cada vez mais
de métodos que nos permitam encontrar o que buscamos de forma eficiente.
23
● Ovid: interface que oferece acesso à Medline, ERIC e EBM (Evidence-Based
Medicine), esta que engloba as três bases de dados Evidence-Based Medicine
Reviews, Cochrane Database of Systemic Reviews e Best Evidence.
● ScienceDirect: base que contém textos completos e revisados por pares da
Elsevier, além de integração a fontes externas de áudio, vídeo e conjunto de
dados.
● Cochrane Library: base focada em informações de evidência em saúde que
inclui textos completos, ensaios clínicos, estudos de avaliação econômica em
saúde, informes de avaliação de tecnologias de saúde e revisões sistemáticas
resumidas criticamente. Sugerimos fortemente utilizar essa base quando estiver
buscando por revisões sistemáticas.
● Google Scholar: Ferramenta do Google que permite localizar literatura
acadêmica multidisciplinar de acesso livre.
● Directory of Open Access Journals: Base mantida pela Lund University
Libraries na Suécia que promove acesso gratuito a revistas científicas e
acadêmicas.
● Lilacs: Base cooperativa do Sistema BIREME de acesso à literatura Latino-
Americana e do Caribe em ciências da saúde, inclusive revistas, teses, capítulos,
anais, relatórios técnico-científicos e publicações governamentais.
● Up to Date: Base de evidências clínicas revisadas por pares que incluem as áreas
de medicina cardiovascular, endocrinologia, medicina familiar, gastroenterologia,
hepatologia, hematologia, oncologia, doenças infecciosas, nefrologia, saúde da
mulher, pediatria, reumatologia e medicina interna. Esta plataforma é interessante
para tirar dúvidas clínicas rápidas durante atendimentos. Muitas universidades
federais brasileiras fornecem acesso institucional aos alunos.
● ClinicalTrials.gov: plataforma controlada pela U.S. National Institute of Health
(NIH) que reúne os registros de ensaios clínicos em andamento e concluídos. É
interessante para conhecer quais fármacos e substâncias estão sendo testados no
momento.
24
● Literatura cinzenta: compreende arquivos não disponibilizados nas bases de
dados tradicionais, mas que apresentam valor dependendo da pesquisa que você
queira desenvolver. Inclui, por exemplo, notas técnicas, relatórios de agências
governamentais, e dados disponibilizados nas páginas oficiais de instituições.
25
DICAS PARA FAZER AS BUSCAS
● Cheque quais os melhores termos para cada conceito. Para isso use o MeSH
(inglês) e o DeCS (inglês, espanhol e português)
● Nas bases de dados, utilize a opção “avançado” e selecione “titulo/abstract”
● Utilize os filtros para uma busca mais refinada: tipo de trabalho; ano; estudos em
humanos, animais ou in vitro; tempo; idioma
● Organização dos resultados: relevância, cronologia, best match, revista
● Pesquisa do autor: maneira de encontrar toda a produção bibliográfica de um
pesquisador
05 - BIOESTATÍSTICA
A bioestatística costuma ser um problema para muitos alunos das ciências não
exatas. Frequentemente as aulas e conteúdos recebem pouca atenção ou são deixados de
lado pela concepção errônea de considerá-los “inúteis”. Isso ocorre porque se foca
muito nas fórmulas e em exemplos pouco aplicáveis dos conceitos, o que gera uma
falsa ideia de que o estudante precisa decorar fórmulas e fazer milhares de cálculos.
26
Entretanto, mais importante do que isso, é compreender os conceitos por trás das
operações matemáticas, saber seus significados e ser capaz de interpretar os dados
estatísticos. Neste capítulo, focaremos nestes aspectos, os quais consideramos
fundamentais para que você seja capaz de compreender a análise estatística dos artigos
científicos e saber escolher quais métodos utilizar quando precisar fazer a estatística de
algum paper que esteja escrevendo.
CONCEITOS BÁSICOS
Tipos de Variáveis
Variáveis são quaisquer características que podemos medir. Elas se classificam entre:
27
○ Contínuas: não podem ser contadas em um intervalo de tempo finito,
pois existem infinitos valores possíveis. Ex.: tempo (há infinitas
possibilidades de valores considerando anos, meses, dias, horas,
segundos); peso e altura (há infinitas casas decimais possíveis); pressão
sanguínea expressa em valores.
Tipos de distribuição
28
eixo x corresponde aos valores numéricos dos dados experimentais, e o eixo y indica as
frequências com que cada valor de x aparece no experimento.
média
mediana
moda
glicemia
29
Imagem 09: Distribuição não normal Imagem 10: Distribuição não normal
positiva negativa
Medidas de Dispersão
30
● Amplitude
1 F 150
2 F 155
3 M 156
4 F 167
5 M 170
Para entender melhor este conceito, imagine que iremos distribuir nossos dados
em quatro grupos chamados de quartis. Cada quartil terá, então, 25% dos dados. Abaixo
do primeiro quartil (Q1), teremos 25% dos dados, abaixo do segundo quartil (Q2),
teremos 50% dos dados, e assim sucessivamente. Dessa forma, podemos denominar o
primeiro quartil de percentil 25, o segundo quartil de percentil 50, etc. O intervalo
interquartílico é definido como a diferença entre o 3º e o 1º quartis: IIQ = Q3 - Q1.
Esses conceitos estão representados nas imagens 11 e 12 abaixo:
31
Imagem 11: Intervalo interquartil
32
Imagem 13: Box plot na análise da distribuição assimétrica
Partindo destes pontos, podemos sumarizar que o IIQ será mais utilizado para
distribuições assimétricas, além de ser a melhor medida de dispersão quando
pretende-se usar a mediana como medida de tendência central. Ademais,
frequentemente é usado para comparar subgrupos.
1 F 150
2 F 155
3 M 156
4 F 167
5 M 170
33
A variação corresponde simplesmente à diferença do peso de cada participante
em relação à média e será utilizada quando queremos visualizar cada dado
individualmente. O somatório de todas as variações será igual a 0.
1 F 150 - 9.6
2 F 155 - 4.6
4 F 167 + 7.4
5 M 170 + 10.4
34
No exemplo acima, o somatório do quadrado das variações é 289.2; com 5 - 1 =
4 graus de liberdade. Logo, a variância é 289.2 ÷ 4 = 72.3, e o desvio padrão é √72.3 =
8.50
A importância de chegarmos ao desvio padrão é sua propriedade de indicar a
distribuição dos dados em uma distribuição simétrica. Aproximadamente 68.7% dos
dados estão há um desvio padrão de distância da média; aproximadamente 95.4% dos
dados estão há dois desvios padrões de distância da média; e aproximadamente 99.7%
dos dados estão há três desvio padrão de distância da média. Os escores Z, muito
usados na pediatria para avaliar o crescimento, nada mais são do que quantidades de
desvios padrões em relação à média. Devido sua grande utilidade, a maioria dos papers
optam por representar seus achados em termos de média e desvio padrão.
35
● Qual medida de dispersão escolher?
Medidas de associação
Tabela 07: odds ratio x risk ratio
36
O risk ratio é uma medida muito mais intuitiva do que o odds ratio, por isso,
muitos defendem que a utilização do risk sempre que possível. Apesar destas duas
medidas serem muito comuns nos artigos científicos, elas não levam em consideração o
fator tempo. No exemplo acima, estamos admitindo que não há diferença se a morte
ocorreu na 1ª ou na 12ª semana do estudo. Entretanto, há situações em que o tempo é
uma variável que não pode ser ignorada no desfecho. É o caso de estudos prospectivos
com longo tempo de seguimento, onde os pacientes contribuem com tempos diferentes
no estudo devido a perdas de acompanhamento e entrada de pacientes em diferentes
momentos. Nesses casos, precisamos utilizar o hazard ratio, cujos cálculos não
entraremos em detalhes nesta sessão.
Sensibilidade e Especificidade
37
Imagine que estamos querendo desenvolver um teste para diagnosticar diabetes
mellitus a partir do nível de glicose sanguínea. Em uma situação ideal, inexistente,
teríamos a seguinte situação: todos os indivíduos abaixo do ponto de corte do teste
seriam normais, e todos acima seriam diabéticos (imagem 15).
38
Como estabelecer, então, os pontos de corte? Observe as possibilidades na
imagem 17:
39
A modulação estatística nos permite reduzir a aleatoriedade, o que somado ao
controle do risco de vieses nos possibilita concluir se a droga A têm grandes chances de
ser realmente superior à droga B. Mas por que chances? Teríamos que fazer uma
pesquisa com todos os pacientes do mundo para chegarmos à verdade absoluta da
comparação entre as drogas, porém isso seria inviável. Dessa forma, na pesquisa
científica, trabalhamos com amostras e elaboramos hipóteses, não verdades absolutas.
Tipos de Hipóteses
40
Erros de Hipóteses
p-value
O valor de p é a probabilidade de que, admitindo-se a hipótese nula verdadeira, a
aleatoriedade produziria uma estimativa de efeito maior ou igual o valor obtido na
análise dos grupos. Essa definição é melhor compreendida quando aplicada em um
exemplo.
Suponha que estamos comparando uma droga experimental A contra placebo em
pacientes com diabetes mellitus, e pretendemos avaliar a HbA1c, muito utilizada na
monitoração da doença. A diferença de média entre os dois grupos foi de 2%, com valor
p de 0.03. Isso significa dizer que, considerando-se a hipótese nula verdadeira, há uma
probabilidade de 3% de obtermos a diferença de 2% na HbA1c entre os dois grupos.
Como essa probabilidade p é muito pequena, podemos rejeitar a hipótese nula e aceitar
a hipótese alternativa. Nos artigos científicos geralmente se utiliza p < 0.05 para
diferença com significância estatística (tabela 12).
41
Alguns pontos são importantes de serem considerados:
● p-value não pode ser interpretado como significância clínica: mesmo que o
valor p do exemplo tenha sido significativo, uma redução de 2% na HbA1c pode
não ter relevância clínica no tratamento do paciente com diabetes mellitus. Se
hipoteticamente o valor tivesse sido não significativo, também não podemos
julgar que a droga é inefetiva, pois a amostra pode ter sido muito pequena para
detectar a diferença. Em síntese, quem define a importância clínica é o
profissional de saúde em sua análise crítica dos estudos.
● Não interprete valor de p próximo de 0.05 como “tendência à significância
estatística”: alguns estudos com p > 0.05, porém próximos ao valor de corte,
erroneamente reportam no texto “tendência à significância”, o que está errado,
uma vez que por definição não se pode rejeitar a hipótese nula com p > 0.05
Uma dúvida muito comum durante a análise estatística é qual ferramenta utilizar.
Atualmente muitos softwares são capazes de desenvolver todos os cálculos necessários,
então é muito mais importante saber qual teste escolher. Mais uma vez, pensaremos em
quais variáveis e tipos de distribuição estão sendo usados (tabelas 13 e 14)
O teste T de Student pode ser pareado ou não pareado. Quando se analisa uma
mesma amostra em tempos diferentes, por exemplo, um grupo avaliado no início X no
fim do estudo, antes do tratamento X após o tratamento; utiliza-se o teste T pareado.
42
Por outro lado, quando se analisa amostras diferentes em um dado momento, por
exemplo, pacientes que tomaram placebo X pacientes que tomaram a droga, opta-se
pelo teste T não pareado.
MENSAGENS FINAIS
06 - VIESES
INTRODUÇÃO
43
podem levar os pesquisadores a conclusões falsas. Esses erros que interferem na
confiabilidade dos resultados apresentados são chamados de vieses.
Uma das fontes principais de erro na análise dos resultados são os chamados
fatores de confusão. Eles distorcem a associação real entre exposição e desfecho: o
efeito real de uma exposição sobre um desfecho pode estar aumentado ou diminuído
devido à ação de outras variáveis não analisadas pelo pesquisador, as chamadas
variáveis de confusão. Por exemplo, em uma pesquisa hipotética chegamos à conclusão
de que pessoas que bebem mais café têm maiores chances de desenvolverem
cardiopatias. Entretanto, precisamos avaliar que pessoas que bebem mais café podem
também fumar mais do que aquelas que não bebem tanto café. Nesse caso, o aumento
da cardiopatia no grupo que bebe mais café pode ser devido ao tabagismo (variável de
confusão), mas não ao consumo de café em si.
Suponha agora que você queira avaliar se o álcool aumenta ou não as chances de
desenvolver câncer de pulmão. Em um primeiro momento, você pode concluir que sim.
Entretanto, é preciso pensar que o etilismo pesado pode estar associado ao tabagismo,
então aqueles que bebem mais possivelmente fumam mais, sendo o tabaco o fator de
risco para o câncer de pulmão, não o álcool, como se pensava inicialmente. Perceba que
a variável de confusão (tabagismo) está associada tanto à exposição quanto ao desfecho,
o que cria a ideia errônea de que a exposição leva ao desfecho, quando na verdade o
fator de confusão é o responsável pelo desfecho. Esses conceitos são melhor
visualizados na imagem 18.
Imagem 18: Fatores de confusão
44
Existe um sem número de tipos de vieses possíveis. Aqui não iremos nos
estender na descrição de cada um, pois seria pouco produtivo em termos práticos e
fugiria aos objetivos deste e-book. Dessa forma, focaremos em apresentar situações
possíveis de erros para que você avalie e chegue a soluções.
● Imagine que você esteja fazendo uma pesquisa para avaliar o uso de drogas
ilícitas entre adolescentes. Nesta pesquisa, você entrevista apenas estudantes de
ensino médio nas escolas do Sudeste. Trata-se de uma amostra enviesada, pois
não inclui adolescentes que não frequentam a escola, ou que deixaram de
frequentar a escola, ou que são de outras regiões do Brasil. O viés de
amostragem ocorre quando indivíduos de uma população têm maiores chances
de serem selecionados para a composição da amostra.
● Imagine que você esteja pesquisando a prevalência de depressão na população
estudantes de medicina. Muitas pessoas com depressão podem não responder por
se sentirem expostas, julgadas ou avaliadas por seus pares. No final, você teria
uma amostra com muitas respostas de pessoas sem depressão em relação às com
a doença. Trata-se do viés de não respondentes, caracterizado por taxas de
respostas diferentes entre os grupos avaliados.
● Imagine agora que você esteja tentando avaliar a prevalência de tabagismo e
etilismo entre jovens brasileiros. Para isso, você entrevista diferentes populações
de jovens: empregados, desempregados, estudantes de ensino médio, estudantes
universitários, etc. Ao indagar sobre o tabagismo entre universitários, você pode
induzir uma resposta positiva por considerar este grupo como um dos com maior
prevalência de tabagismo. Por outro lado, ao indagar os estudantes do ensino
médio você adota uma outra postura, os induzindo a responder que não fumam.
O viés do entrevistador consiste em coletar informações de forma diferente para
os grupos entrevistados.
● Imagine que você queira avaliar a tomada de decisão entre os gestores de
diversos serviços de saúde. Tais indivíduos apresentarão vieses de decisão
explicados por uma série de fatores conhecidos como riscos das heurísticas:
45
○ Disponibilidade: tendemos a julgar e chegar a conclusões sobre um
evento pela disponibilidade de informações que temos em nossa memória.
○ Representatividade: tendemos a julgar e chegar a conclusões sobre um
evento pela comparação com estereótipos que temos e com eventos
semelhantes.
○ Ancoragem/ajuste: tendemos a fazer julgamentos partindo de um valor
social, oriundo de eventos passados, que será ajustado até uma decisão
final.
○ Confirmação: tendemos a buscar evidências que confirmem nossa
hipótese e podemos correr o risco de ignorar evidências negativas.
Agora que você já entendeu algumas das principais situações em que os vieses
ocorrem, vamos abordar os principais erros na apresentação das informações em um
trabalho científico.
46
Tabela 16: Interpretar comparações entre 2 efeitos sem compará-los diretamente
47
Tabela 18: Correlação x Causalidade
48
paper “Methodological quality (risk of bias) assessment tools for primary and
secondary medical studies: what are they and which is better?”, o qual indica as
principais ferramentas para avaliar o risco de vieses por tipo de estudo a ser
desenvolvido.
07 - REFERÊNCIAS
49
● Para os autores, deve-se citar seu sobrenome seguido de todas as iniciais
dos outros nomes. Todos autores devem ser citados se houver até três
autores. A partir desse número é utilizado apenas o nome do autor
principal, seguido de et al. As letras devem ser todas maiúsculas.
● O título deve estar destacado, geralmente usa-se negrito, e em letras
minúsculas.
● Para a formatação, é definido da seguinte forma:
○ Alinhamento de texto à esquerda;
○ Espaço simples entre linhas;
○ Fonte tamanho 12 (Times New Roman ou Arial);
○ Ordenadas alfabeticamente e não numeradas;
○ Espaço de uma linha em branco entre cada referência;
○ Lista de referências inserida logo após o capítulo de conclusão;
○ O título da seção não possui indicativo numérico.
50
FORMATAÇÃO PRONTA DOS SITES
51
SITES GERADORES DE REFERÊNCIAS
Para textos pequenos com poucas referências, caso não seja possível copiar e
colar o modelo pronto das bases de dados, você pode utilizar sites que fazem a
formatação automaticamente como o citethisforme e o referenciabibliografica.
PROGRAMAS
52
A maioria dessas ferramentas são de instalação e uso fácil e existem diversos
tutoriais para o uso de cada uma, sendo grandes facilitadores. Cada um deles tem
diferentes recursos, apresentando vantagens e desvantagens, como apontados na tabela
19:
EndNote
Mendeley
Também está disponível em versão na web ou no desktop, mas nesse caso, ambas
são gratuitas. Como destaque, ele permite gerar estatística dos artigos, o que pode ser
útil para a seleção. Além disso, possui maior facilidade para gerar as referências
53
bibliográficas quando comparado com o EndNote. Para entender melhor como utilizar,
acesse o Guia de uso do Mendeley [em inglês].
Zotero
08 - ILUSTRAÇÕES CIENTÍFICAS
DICAS GERAIS
● Antes de produzir ou utilizar alguma ilustração, faça uma lista dos itens
necessários para sua figura com palavras-chave e frases fundamentais. É
interessante também fazer um texto ou roteiro com a descrição de tudo que a
imagem estará representando. Este texto evitará que elementos cruciais sejam
esquecidos, e será útil na elaboração da legenda.
54
● Menos é mais! Foque no ponto principal da sua figura. Pergunte-se: o que os
leitores precisam entender com a ilustração? Toda figura deve responder a uma
pergunta ou esclarecer algo que está no texto.
● Ao longo do texto, explicite quando a figura deve ser lida.
Imagens prontas
Caso opte por utilizar uma imagem pronta, é fundamental lembrar que muitas
imagens têm direitos autorais e não podem ser utilizadas; isso sempre deve ser
verificado. Como forma de garantir que a imagem pode ser utilizada, existem bancos de
imagens sem direitos autorais, como FreePik, Depositphotos, Pixabay, Flaticon e The
noun project. Porém, deve-se sempre conferir em cada site como a imagem deve ser
referenciada e se devemos atribuir créditos. O Canva também é uma ferramenta
interessante, pois tem um banco de imagem próprio gratuito e permite a edição ou
mesmo montar um esquema ou tabela.
Para selecionar a imagem a ser utilizada, existem alguns pontos que devem ser
avaliados. Primeiramente, é importante verificar se as informações estão claras e se
todo conteúdo apresentado é explicado ao longo do texto do artigo. Afinal, imagens ou
esquemas complexos com termos que não são parte do conteúdo podem levar o leitor a
mais dúvidas no lugar de esclarecer. Além disso, muitas vezes é interessante buscar
imagens que permitam a modificação, de forma que se possa ajustar as informações de
acordo com a sua necessidade. Por fim, não esqueça de referenciar a fonte ou autor da
imagem, além de sempre verificar sobre a permissão de uso e direitos autorais.
Criando imagens
Caso opte por criar a ilustração, existem diversos programas gratuitos que podem
ser utilizados para tal.
55
Como já citado, o Canva permite a criação de esquemas simples, com imagens,
tabelas, gráficos ou mapas conceituais, além de contar com alguns templates que podem
ser de grande ajuda. Além dele, existe o Biorender, uma ferramenta voltada para as
ciências biológicas, o qual contém ferramentas de ilustração para essa área, como
desenhos de diversos tipos de células, vírus e organelas. É uma forma interessante para
explicitar algum mecanismo celular, por exemplo. Esse programa conta com uma
versão gratuita que tem diversas funções, porém apresenta marca d’água na ilustração
final. Na mesma linha de imagens científicas, temos o SciDraw. Também existem
ferramentas conhecidas, como o Power point e Google apresentações, ou mesmo
programas pagos como Adobe Illustrator, Adobe Photoshop e Affinity Designer.
Outro programa interessante é o Inkscape. Cada um desses programas tem vantagens
e desvantagens, e dependerá do objetivo e adaptação do autor.
Como cada programa tem limitações, uma opção é utilizar mais de um para
atingir o objetivo final. Por exemplo, é possível construir um esquema celular no
Biorender e finalizar com textos e esquemas no Canva. Teste vários programas para
conseguir definir qual é melhor para suas preferências.
Independentemente dos programas escolhidos, existem algumas dicas que
podem ser utilizadas para garantir uma imagem clara e harmônica:
56
○ Evite tons chamativos, pois pode existir confusão na atenção e deixar a
imagem cansativa (imagem 19).
● Espaço
○ Ao construir esquemas, busque formas alinhadas e simétricas,
aproveitando melhor o espaço e facilitando a leitura (imagem 20).
○ Verifique o tamanho que a imagem irá ocupar no artigo, adaptando para
que todas as informações sejam legíveis.
○ Ao utilizar setas, busque que sejam de menor comprimento possível,
tendo um caminho claro e leitura fluida. Evite esquemas que o leitor
precisa desvendar o caminho.
○ Não coloque informações desnecessárias que possam poluir a imagem e
deixá-la confusa.
57
● Letras e números
○ É sempre importante ter legendas nas imagens que permitam identificar os
elementos presentes.
○ Nas imagens em si, é interessante colocar letras e números nos elementos
no lugar de escrever diretamente, pois assim evita-se que a imagem fique
confusa e poluída.
○ A legenda deve estar próxima da imagem, para facilitar a leitura.:
● Evite o fundo branco
○ Para isso, salve as imagens no formato PNG.
○ O fundo branco não cria uma transição adequada entre texto e imagem no
artigo, não sendo visualmente agradável.
○ Existem programas para remoção de fundo das imagens, como o
removebg. Porém, deve-se verificar se a imagem pode ser editada de
acordo com os direitos autorais.
09 - ESCOLHA DO TEMA
58
Isso é muito comum de acontecer involuntariamente durante as discussões de
casos, após o atendimento dos pacientes, quando precisamos definir nossas
condutas.
● Ler a tabela de conteúdos dos periódicos:crie um login na página dos grandes
jornais e revistas de seu interesse, e assine a “table of contents”. Eles costumam
enviar um e-mail com as principais publicações e tópicos da semana. Crie o
hábito de ler esses tópicos semanalmente, seja pelo e-mail, ou separando 30
minutos de seu tempo durante a semana para entrar diretamente nos sites dos
periódicos e ver o que há de novidade.
● Ir em congressos: eventos científicos nos fornecem a oportunidade de sabermos
quais os principais tópicos estão sendo debatidos. É muito comum que a fronteira
do conhecimento esteja bem evidente na conclusão das apresentações.
● Ler o “What’s new”: o Uptodate e o Medscape costumam tem uma seção com
os principais temas recentes de cada especialidade. Abaixo um exemplo de
gastroenterologia e hepatologia, retirado do Uptodate.
Agora que você já tem um tema em mente, é preciso saber se ele é relevante, ou
seja, se ele justifica você investir tempo e recursos no seu desenvolvimento. Temas
relevantes apresentam as seguintes características
59
● Têm foco: normalmente respondem a uma pergunta. Os melhores estudos que
lemos têm uma excelente capacidade de síntese e coerência entre pergunta e
resposta, entre objetivo e conclusão.
● Geram impacto prático e trazem inovação: pergunte-se por quê o tema importa e
qual o impacto da obtenção de respostas na sua realidade.
Uma vez definido um tema relevante, ainda é preciso, antes mesmo de você
começar, definir se você possui os meios necessários para levar a cabo o trabalho. Para
isso, é preciso refletir sobre alguns pontos:
10 - ESCRITA CIENTÍFICA
O artigo científico não deixa de ser um gênero literário. Sendo assim, ele
apresenta normas de estruturação e composição que lhe conferem características únicas.
Este capítulo se propõe a explorar os principais atributos da escrita de um texto
científico, os principais erros que podem ser cometidos e como evitá-los. Ainda,
60
considerando que 98% das publicações científicas são escritas no idioma inglês, o
sucesso em termos de citações e impacto de nosso trabalho depende também da sua
escrita neste idioma (Gordin MD, 2015). Isso cria um dever adicional para aqueles que
não tem o inglês como idioma nativo, pois precisam escrever textos complexos em uma
segunda língua. Por este motivo, aqui exploraremos também alguns dos principais
pontos de atenção na escrita inglesa direcionada para a ciência.
Ex.: ao invés de escrever “Rocha et al. (2020) found that microglia is activated
in manifest HD”, escreva “Microglia is activated in manifest HD (Rocha et al.,
2020)”
61
Entretanto, em algumas situações é interessante darmos destaque ao autor,
sobretudo quando falamos de acontecimentos históricos, como o primeiro relato
de um caso ou a descoberta de algum processo biológico.
Ex.: “On April 25, 1953, Francis Crick and James Watson described the DNA
double helix structure in the paper ‘A Structure for Deoxyribose Nucleic Acid’,
published in the British scientific weekly Nature”.
● Autores: todos devem ter contribuído com a produção do trabalho e ser capazes
de defendê-lo em apresentações.
○ Ordem
■ Primeiro autor: ocupado normalmente por um pesquisador júnior
(aluno), normalmente aquele que teve a ideia e está disposto à
organizar toda a produção. É interessante ser definido no começo
do trabalho.
■ Coautores: ocupado normalmente por convidados do primeiro
autor para contribuírem com partes específicas do trabalho.
■ Último autor: ocupado pelo pesquisador sênior, coordenador,
orientador.
○ Afiliação dos autores: incluir grupo de pesquisa, departamento/centro,
instituição, cidade, zip code, PO box, país.
Erros clássicos
62
● Abreviações: o inglês costuma utilizar abreviações latinas, porém muitas em
sequência em um texto não é agradável. Quando possível, você pode utilizar os
equivalentes na língua inglesa (tabela 20).
63
● Conectivos: alguns dos mais utilizados encontram-se abaixo. Procuramos
dividi-los aqui não pelo sentido/ideia que apresentam, mas sim pelo efeito que
têm no texto.
○ Continuação: also, moreover, first, second, in addition.
○ Pausa: for example, in other words.
○ Contraste: however, in contrast, on the other hand, conversely, contrarily.
● Concisão: evite usar palavras complexas e longas e use seus sinônimos simples,
desde que formais. Evitar usos excessivos de “that”, “of” e “it”.
Abaixo, na tabela 23, iremos citar algumas frases de exemplos e como podemos
melhorar sua escrita. Um dos principais problemas de concisão é substantivar verbos
ao invés de usá-los diretamente.
64
Tabela 24: Parônimos
65
Drinking water has many benefits; The water is blue; We examined the water
bordering the town.
Como melhorar?
66
PASSO A PASSO PARA A ESCRITA
Aqui iremos falar das principais partes que compõem um artigo original, e quais
elementos não podem faltar em sua estruturação. É interessante, após ler esta sessão,
começar a ler os artigos com uma visão mais crítica, procurando identificar se as
informações essenciais de cada tópico estão realmente presentes e como o autor as
apresenta. Aqui, as informações estão apresentadas na ordem que recomendamos a
construção do seu trabalho, como uma espécie de passo a passo.
67
● Prepare previamente, quando possível, figuras e tabelas
○ É sempre interessante fazer os elementos gráficos definitivos após a
escrita do texto. Porém, você pode separar algumas imagens e gráficos
semelhantes ao que você pretende criar. Isso te ajudará a escrever um
texto direcionado às informações que você deseja passar.
○ Organize-os na ordem em que serão apresentados no artigo.
○ Principalmente tabelas e gráficos, por si só, devem passar informação, ou
seja, serem autoexplicativos. Você não tem que descrevê-los inteiramente
no texto. Eles são utilizados justamente para passar muita informação de
forma eficiente.
○ Mais informações sobre a produção técnica das imagens estão no capítulo
8.
Métodos
● Objetivo desta sessão: demonstrar que você utilizou métodos validados
cientificamente e fornecer ao leitor as informações necessárias para reproduzir
seu experimento.
● São a parte mais rápida da escrita. Você pode até mesmo escrevê-los durante o
processo de busca/experimento para evitar esquecer algum detalhe.
● Se você seguiu um procedimento desenvolvido por um outro artigo, cite a fonte e
descreva de forma bem genérica o método.
● Deve ser escrito no tempo verbal passado. Anteriormente recomendamos utilizar
a voz ativa, porém aqui você pode usar a voz passiva para evitar repetição das
sentenças, especialmente por ser uma sessão curta.
● Organize esta seção em subseções para cada procedimento descrito e escreva o
protocolo em ordem cronológica. Alguns pontos que podem te ajudar:
○ Por que esse procedimento foi escolhido?
○ Como os materiais foram preparados?
○ Como as medidas foram feitas? Lembre-se de incluir os números e
configurações utilizados. Forneça detalhes quantitativos e qualitativos.
68
○ Como os resultados foram analisados? Tenha o cuidado de não discutir
os resultados nesta seção.
● Dica: crie uma lista dos procedimentos a serem realizados e depois transforme
em sentenças.
Resultados
● É o espaço para apresentar objetivamente os principais achados e construir uma
base para a discussão, onde os resultados serão subjetivamente interpretados.
Cuidado para não fazer comentários e análises, deixe isso para a discussão. Aqui
queremos que o leitor tire suas próprias conclusões.
● Reflita novamente sobre quais gráficos, tabelas e figuras serão necessários para
facilitar o entendimento. Pense neles antes de escrever o texto.
● Ao invés de apresentar todos os detalhes de uma vez, escreva uma ou duas
sentenças resumindo cada resultado e faça referência ao gráfico, tabela ou
imagem associado. Em seguida, desenvolva melhor cada uma das ideias. Se você
apresenta muitos resultados, pode-se dividir esta seção em várias subseções
seguindo a sequência dos materiais e métodos.
● Em cada resultado, seja o mais específico possível e descreva os dados de forma
biológica ao invés de apenas na forma estatística.
● Ao citar os números, 2 casas decimais são suficientes, a não ser que uma
precisão maior seja necessária.
● Nunca use porcentagens para amostras muito pequenas. Prefira, por exemplo, “3
em 4 pacientes” no lugar de “75% dos pacientes”.
● Cuidado ao apresentar tendências (“houve uma tendência de…”). É preferível
não as colocar, pois como não são estatisticamente significativas (p > 0,05),
acabam sendo subjetivas. Ademais, como vimos no capítulo 05, são incorretas
do ponto de vista conceitual.
69
Discussão
● No primeiro parágrafo: relembre o leitor sobre a lacuna de conhecimento e
como seu trabalho ajudou a preenchê-la. Ou seja, relembre o leitor sobre a
importância do seu estudo e os principais achados dele. Seus achados
contribuíram com a lacuna de conhecimento ou não? Eles contribuíram para
aumentar o limite do conhecimento existente ou não?
● Referencie estudos pré-existentes e discuta como seus achados estão
relacionados a achados já existentes na literatura. Como seus resultados se
comparam aos resultados de estudos similares? Eles são consistentes ou
inconsistentes? Qual o impacto dos seus resultados em pesquisas relacionadas?
● Apresente explicações alternativas para seus achados a fim de criar oportunidade
para pesquisas futuras.
● Você pode aqui analisar criticamente os métodos e sugerir mudanças.
● Atenção: atenha-se à discussão dos SEUS resultados, e não a de outros artigos.
● Finalmente, fale sobre as limitações do seu trabalho.
● Dica: nesta seção, além de interpretar seus achados, você deve procurar
convencer o leitor do porquê eles são importantes.
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Conclusão
● Geralmente localizada em sessão própria, pequena, ou como o último parágrafo
da discussão.
● É a oportunidade final de você expressar a importância da sua pesquisa. Ela tem
a função de evidenciar a importância do seu estudo no avanço da grande área.
● É construída com um fluxo de ideias do específico (principal resultado) ao geral
(interpretação dos resultados e importância deles para o avanço da grande área).
● Ao invés de meramente reafirmar seus principais achados, use a conclusão para
resumi-los de forma a gerar novos insights e questões interessantes para futuras
pesquisas. Aqui é importante que o leitor entenda que seu estudo gerou novas
perguntas para serem respondidas por pesquisas futuras.
● Sugerimos terminar com uma frase de impacto.
Introdução
● É construída com um fluxo de ideias do geral para o específico:
○ Comece com ideias amplas que contextualizam o tema do trabalho
■ Apresente a grande área de pesquisa e sua importância, porém sem
grandes revisões ou citações muito extensas.
■ Não é necessário falar de toda a história da área de estudo, apenas
citar informações que sejam relevantes para o entendimento geral
de onde seu estudo se encontra. É importante que alguém de fora
do campo de conhecimento possa compreender o tema.
■ Selecione artigos de alto impacto, publicados nas melhores revistas
e/ou por pesquisadores importantes na área.
○ Em seguida, especifique o tema até chegar à questão que você pretende
abordar.
■ Algumas perguntas para se fazer: qual a lacuna que existe no
conhecimento? Qual problema precisa ser resolvido? O que se sabe
sobre este problema? Por que este problema precisa ser resolvido?
71
(importância/motivação do estudo) Há alguma solução? Quais
limitações existem nessa solução?
■ Mostre lacunas, controvérsias, o que precisa para avançar a
fronteira do conhecimento. “Show the state of the art”, ou seja,
evidencie e cite pesquisas e achados recentes para o leitor saber
onde está a fronteira do conhecimento.
■ Essa é uma seção crucial do trabalho, pois a discussão e a
conclusão precisam responder a esta lacuna. Além disso, a lacuna
de conhecimento guiará suas hipóteses. Uma hipótese é uma
explicação testável por observação ou experimentação para uma
observação da natureza. Elas se relacionam diretamente à pergunta
de pesquisa, e são escritas no tempo verbal presente.
■ Explique como seu estudo contribuirá para preencher essa lacuna.
Evidencie o objetivo do estudo na forma de uma hipótese, questão
ou problema. O que você espera alcançar com seu estudo?
● Finalmente, você pode falar no último parágrafo sobre as implicações e possíveis
impactos sociais de seu trabalho para a área de estudo.
Abstract
● Termo de origem no latim: “ab” (a partir de) + “trahere” (puxar, extrair) =
“extrato a partir de”
○ Então, é idealmente escrito depois que o artigo está pronto.
○ Funciona como uma versão destacada do artigo contendo um apanhado
dos aspectos mais relevantes do trabalho.
● Não deve conter uma visão enviesada, mostrando apenas os achados que
suportam a hipótese do autor. Achados adversos ou não significativos
importantes também devem ser mencionados. Dentro do possível, o leitor deve
conseguir avaliar as conclusões do artigo de forma independente.
● Há vários modelos possíveis de escrita. Um que recomendamos por achar mais
completo é o seguinte:
72
○ Contextualização: identificar a grande área de pesquisa e sua importância.
○ “Gap”: evidenciar o que ainda não se compreende, controvérsias e lacunas
na grande área. Normalmente começa com conectivos de oposição como
“however”.
○ Propósito: evidenciar o objetivo do trabalho relacionando-o ao “gap”.
Um conectivo clássico para começar a frase é “here”.
○ Métodos
○ Resultados
○ Conclusão: evidenciar como seus resultados contribuíram para o avanço
da grande área.
● Há outros modelos possíveis:
○ propósito, métodos, resultados, conclusão;
○ contextualização, “gap”: comum em artigos de revisão;
○ “graphical abstract”: além do texto, traz figuras e gráficos.
● Muitas revistas fornecem instruções próprias para a estruturação.
Título
● Deve ser conciso (máximo 2 linhas). O uso de frases como “report of a case of”,
“the treatment of”, “a study of”, “the effects of” não agrega muita informação
útil. Enfatize os achados chave e os principais resultados se possível logo no
título.
Palavras-chave
● Escolha-as bem. Se elas estiverem erradas, o trabalho acaba indo para o revisor
errado (não especialista no tema) e não é encontrado, logo não é citado.
● Aqui, sugerimos ver artigos de impacto com temática semelhante a sua e quais
palavras-chaves eles utilizaram.
73
11 - SUBMISSÃO
Agora que você está com todo o trabalho feito, é hora de submetê-lo a alguma
revista. O processo de publicação costuma demorar meses, então tenha paciência para
submeter e ressubmeter. Durante a espera pela publicação, indicamos submeter o
abstract a algum congresso de alto impacto, pois após a publicação do trabalho
completo na revista, o resumo normalmente não é mais aceito pelos congressos.
74
(short reports - descobertas importantes para rápida publicação), relatos de caso,
tópicos especiais de cada periódico.
● Reflita acerca do impacto do seu artigo na ciência.
● Pense no tema do seu artigo: trata-se de um assunto de interesse específico ou
geral? Há periódicos com artigos similares?
Há várias plataformas que funcionam como “find journals”. Elas nos permitem
alcançar um match entre nosso trabalho e a revista. Algumas delas estão citadas abaixo:
● Elsevier
● Springer
● Journal Guide
● Edanz
REVISTAS PREDATÓRIAS
Revistas predatórias são aquelas que alegam ser legítimas e confiáveis, porém
não possuem revisão por pares de qualidade, seu processo de publicação não é
transparente, o corpo editorial apresenta composição nebulosa e pode haver violação de
direitos autorais ou de ética. Assim que você começar a publicar começará a receber
e-mails de spam com convites para publicação rápida. Fique atento, pois são revistas
desinteressadas na publicação de qualidade. Elas estão interessadas, apenas, que você
pague para publicar.
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● Publicação de todo o material submetido após pagamento da taxa ou antes da
assinatura de concordância à publicação.
● Falta de transparência sobre o processo de aceitação do artigo.
● Publicações ou e-mails de contato com erros gramaticais.
● Corpo editorial composto por membros inexistentes ou de área diferente do
escopo do periódico, ou ainda profissionais que não estejam cientes desta
ocupação.
● Cópia do nome ou do site de periódicos conceituados.
● Abordagem agressiva por e-mails em tom de marketing.
● Indicação de sede em um país com informações de contato em outro.
● Obrigatoriedade de quebra dos direitos autorais sobre o material publicado.
● Retirada de publicação ou do periódico da internet sem informações ou avisos
prévios.
● Geralmente não são membros do Comitê de Publicações e Ética (COPE), da
Open Access Scholarly Publishers Association (OASPA) ou listadas pelo
Directory of Open Access Journals (DOAJ).
● Geralmente não são indexadas em bases de dados confiáveis.
ÚLTIMOS DETALHES
● Cover letter: texto que deve deixar clara a importância do trabalho e por quais
razões ele merece ser publicado e por quê nesta revista. É sempre interessante
relacionar seu trabalho com a audiência da revista.
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○ Verifique nas instruções editoriais se há informações específicas exigidas
na cover letter.
○ Incluir a data de envio, o tipo do manuscrito, o nome do autor e o nome
do periódico ao qual se destina.
○ Se possuir, inclua o nome do editor que avaliará o manuscrito.
○ Frases obrigatórias na sua cover letter: “Atestamos que este manuscrito
não foi publicado em outro lugar e não está sob consideração por outro
periódico” e “Todos os autores aprovaram o manuscrito e estão de acordo
com a sua submissão ao periódico [inserir o nome do periódico de
destino]”.
● Correções que a revista sugerir: deixe as correções grifadas e na nova cover
letter responda as perguntas e dúvidas indicando no texto as respostas e correções.
● Galley proof: artigo editorado em sua versão final. Cheque se não há erros
causados pela editoração.
77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Rafael dos Santos Borges: graduando em medicina
pela UFMG, membro da Liga Acadêmica de Pesquisa
Científica (LIAPEC-UFMG).