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2023

Rafael dos Santos Borges


Graduando em medicina pela UFMG
Membro da Liga Acadêmica de Pesquisa Científica (LIAPEC-UFMG).

Marina Cunha Nascimento


Graduanda em medicina pela UFMG
Coordenadora do projeto de extensão de divulgação científica Panaceia-UFMG.

Gabrielle Martins Peres


Graduanda em Medicina pela UFMG
Coordenadora do Ensino Médico do Diretório Acadêmico
Alfredo Balena (DAAB) pela Gestão Carcará

Ana Cristina Simões e Silva


Professora Titular do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG
Coordenadora da Liga Acadêmica de Pesquisa Científica (LIAPEC-UFMG)

Guia de Produção Científica


1ª Edição

1
2023

PRODUÇÃO EDITORIAL INDEPENDENTE


Belo Horizonte
Liga Acadêmica de Pesquisa Científica
Diretório Acadêmico Alfredo Balena
Faculdade de Medicina da UFMG
Av. Professor Alfredo Balena, 190

CAPA: Marina Cunha Nascimento


ILUSTRAÇÕES: Marina Cunha Nascimento
PLANEJAMENTO GRÁFICO/DIAGRAMAÇÃO: Marina Cunha Nascimento,
Rafael dos Santos Borges
PRODUÇÃO EDITORIAL: Rafael dos Santos Borges, Marina Cunha Nascimento,
Gabrielle Martins Peres, Ana Cristina Simões e Silva
REVISÃO: Ana Cristina Simões e Silva

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Guia de Produção Científica [e-book] / Rafael dos Santos Borges, Marina Cunha
Nascimento, Gabrielle Martins Peres, Ana Cristina Simões e Silva. 1ª ed. - Belo
Horizonte, MG: Ed. dos autores, 2023.

ISBN 978-65-00-60929-5
1. Ciência 2. Educação 3. Universidade

Todos os direitos autorais reservados e protegidos pela Lei n. 9.610 dos Direitos
Autorais do Brasil, de 19 de fevereiro de 1998. É proibida a duplicação desta obra, no
todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico,
gravação fotocópia ou outros), sem a permissão prévia, por escrito, dos autores.
_______________________________________________________________________
© PRODUÇÃO INDEPENDENTE 2
PREFÁCIO

A ciência está em tudo o que observamos a nossa volta. A compreensão da


natureza, de seus fenômenos e de suas transformações nos possibilita desenvolver
tratamentos para doenças, estabelecer formas eficientes de utilizar energia e criar novas
ferramentas capazes de melhorar a qualidade de vida de nossa sociedade. O médico,
mesmo que opte por não estar envolvido diretamente na produção de conhecimento
científico, precisa entender seu funcionamento, acompanhar seus desdobramentos e
estar constantemente em sintonia com as novidades de sua área de atuação. Somente
assim ele poderá dar as melhores respostas e propor medidas eficazes de tratamento,
atingindo um de seus objetivos máximos: a melhora da qualidade de vida de seus
pacientes.
A produção científica apresenta um sem número de ferramentas, as quais só
conhecemos durante a prática. Este guia surgiu como uma forma de reunir algumas das
principais recomendações, estratégias, cuidados e instrumentos utilizados em nossa
prática na graduação. Esperamos que as informações aqui apresentadas auxiliem na
produção de trabalhos acadêmicos, de textos para eventos científicos e de artigos para
periódicos.
Felizmente desde nosso primeiro semestre na UFMG somos apresentados à
ciência com a disciplina de introdução à pesquisa científica I. Além disso, temos a
oportunidade de contar com o auxílio de professores e mestres diretamente envolvidos
com a produção do conhecimento que praticamos todos os dias. Poder aprender com
eles, discutir ideias, ver a diferença que fazem na vida das pessoas que atendem, e
testemunhar seu amor pelo ensino e por aquilo que fazem é uma experiência única,
inspiradora e gratificante. Sugerimos que conheça também o YouTube da LIAPEC
(Liga Acadêmica de Pesquisa Cientifica – UFMG), o qual conta com inúmeras aulas
sobre os temas que abordaremos aqui.
Desejamos a você uma ótima leitura e que seus anos na UFMG sejam
acompanhados de muitas ideias e de inspiração.

Rafael dos Santos Borges

3
SUMÁRIO

PREFÁCIO 03

SUMÁRIO 04

01 - CONHECIMENTO CIENTÍFICO 07

02 - ÉTICA EM PESQUISA 09
Sobreposição de publicações 09
Atribuição de autoria indevidamente 10
Falsificação 11
Fabricação 11

03 - DELINEAMENTOS DE ESTUDO 12
ESTUDOS OBSERVACIONAIS 13
Relato de Caso e Série de Casos 13
Estudo transversal (“cross-sectional”) 13
Estudo de caso-controle 14
Estudo de coorte 15
ESTUDOS EXPERIMENTAIS 17
ESTUDOS DE REVISÃO 20
20
Revisões Narrativas
Revisões Sistemáticas 21

04 - BUSCA NA LITERATURA 22
RECONHECENDO QUE PRECISAMOS DE INFORMAÇÃO 22
BASES DE DADOS E PLATAFORMAS DE BUSCA 23
DICAS PARA FAZER AS BUSCAS 26

05 - BIOESTATÍSTICA 26
CONCEITOS BÁSICOS 27
Tipos de Variáveis 27
Tipos de distribuição 28
Medidas de Tendência Central 30
Medidas de Dispersão 30
Medidas de associação 36
Sensibilidade e Especificidade 37
TESTE DE HIPÓTESE ou INFERÊNCIA ESTATÍSTICA 39
Tipos de Hipóteses 40

4
Erros de Hipóteses 41
p-value 41
QUAL TESTE ESTATÍSTICO ESCOLHER? 42
MENSAGENS FINAIS 43

06 - VIESES 43
INTRODUÇÃO 43
ERROS MAIS COMUNS AO APRESENTAR OS DADOS 46
COMO CONTROLAR VIESES E FATORES DE CONFUSÃO? 48

07 - REFERÊNCIAS 49
FORMATAÇÃO PRONTA DOS SITES 51
SITES GERADORES DE REFERÊNCIAS 52
PROGRAMAS 52
EndNote 53
Mendeley 53
Zotero 54

08 - ILUSTRAÇÕES CIENTÍFICAS 54
DICAS GERAIS 54
UTILIZAR UMA IMAGEM PRONTA OU FAZER A ILUSTRAÇÃO? 55
Imagens prontas 55
Criando imagens 55

09 - ESCOLHA DO TEMA 58
COMO TER IDEIAS? 58
COMO SABER SE MEU TEMA É RELEVANTE? 59
COMO SABER SE MINHA PESQUISA É FACTÍVEL? 60

10 - ESCRITA CIENTÍFICA 60
CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA CIENTÍFICA 61
REVISÃO GRAMATICAL DO INGLÊS 62
Erros clássicos 62
Como melhorar? 66
PASSO A PASSO PARA A ESCRITA 67
Antes mesmo da escrita 67
Métodos 68
Resultados 69
Discussão 70
70
Observações sobre resultados e discussão

5
Conclusão 71
Introdução 71
Abstract 72
Título 73
Palavras-chave 73

11 - SUBMISSÃO 74
QUAL PERIÓDICO ESCOLHER? 74
Reflita sobre o periódico 74
Reflita sobre o artigo 75
Plataformas para busca de periódicos 75
REVISTAS PREDATÓRIAS 75
ÚLTIMOS DETALHES 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 78

SOBRE OS AUTORES 83

6
01 - CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Inicialmente é importante refletirmos o que diferencia o conhecimento científico


do não científico. Podemos pensar nisso ao tentar responder por que a astronomia é
ciência e a astrologia não? Isso nos faz refletir sobre uma das características principais
da ciência: sua capacidade de reprodutibilidade. A verdade científica, portanto, precisa
ser verdade sempre e em todos os lugares.
Um outro importante conceito é o de falseabilidade, proposto por Karl Popper.
Segundo ele, uma teoria científica pode ser sujeita a testes e refutada. Pelo princípio da
falseabilidade: “ao contrário de quanto mais se consegue comprová-la, uma teoria se
torna lei quando não se consegue mais negá-la”.
A tabela 01 resume as principais características que definem o conhecimento
científico.
Tabela 01: Conhecimento científico X conhecimento popular

"O bom senso é a coisa mais bem distribuída do mundo, pois cada um pensa estar
tão bem provido dele, que mesmo aqueles mais difíceis de se satisfazerem com
qualquer outra coisa não costumam desejar mais bom senso do que têm” (O Discurso
do Método - Descartes).

Nessa lógica de característica metodológica do conhecimento científico,


foi desenvolvido o método científico como um meio de organização do pensamento,
possibilitando ao cientista conhecer e controlar a natureza (Baffi MAT, 2002). Trata-se
de “um conjunto de regras básicas para um cientista/pesquisador fazer um experimento
a fim de produzir conhecimento, bem como corrigir e integrar conhecimentos
pré-existentes. É baseado em juntar evidências observáveis, empíricas, e mensuráveis,
7
baseadas no uso da razão” (Rosa PC, Macedo RG; 2008). Não iremos entrar nos
detalhes sobre suas etapas, pois esta descrição estaria fora do escopo deste guia.
O conhecimento científico está em constante transformação, movimento que
pode ser entendido à luz do conceito de Revolução Científica de Thomas Kuhn. No
confronto do conhecimento com a natureza, os paradigmas norteadores da atualidade
uma hora ou outra serão considerados inadequados. Quando há uma grande falta de
correspondência, instaura-se uma crise, sendo essencial uma revolução científica que
conduza o conhecimento a um novo patamar (imagem 01).

Imagem 01: “Crise” do novo paradigma

Mas como podemos conceituar ciência (“Scientia”)? No Latu sensu, ciência


significa “conhecimento”. Já no Strictu sensu, ciência não se refere a um conhecimento
qualquer, mas àquele que além de apreender ou registrar fatos, os demonstra pelas suas
causas constitutivas ou determinantes (Ruiz JA, 2006). Muitas figuras históricas
importantes definiram, de sua forma, seu entendimento sobre o conhecimento
científico. Abaixo temos algumas delas:

● “A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis,


obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a
objetos de uma mesma natureza” (Ander-Egg, 1978)
● “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao
sistemático conhecimento com objeto limitada, capaz de ser submetido à
verificação” (Trujillo, 1974)

8
● “Ciência é muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de
conhecimentos” (Carl Sagan)
● “...ciência consiste em agrupar fatos para que leis gerais ou conclusões possam
ser tiradas deles” (Charles Darwin)

Uma definição que sintetiza bem a ciência é a de Marconi & Lakatos, presente
em sua obra “Fundamentos de Metodologia Científica” (1991). Segundo as autoras, a
ciência é um conjunto de proposições e enunciados hierarquicamente correlacionados,
de maneira ascendente (indução) ou descendente (dedução), indo gradativamente de
fatos particulares para os gerais e vice-versa, comprovados pela pesquisa empírica
(submetidos à verificação).

02 - ÉTICA EM PESQUISA

Os aspectos legais e éticos são fundamentais na produção acadêmica de


qualidade. Este capítulo visa apresentar alguns dos principais problemas éticos
evidenciados na escrita do manuscrito e na publicação dos resultados. Aqui não
focaremos nas questões de manuais, plataformas ou tratados a serem utilizados para
guiar o recrutamento de pacientes ou proteger seus dados, o que julgamos não ser a
realidade de pesquisa de muitos estudantes na graduação.

Sobreposição de publicações

O número de publicações é um dos principais fatores de destaque na comunidade


científica. Isso pode levar alguns pesquisadores a desenvolver um artigo acadêmico e
publicá-lo em diferentes revistas como forma de multiplicar seu número de publicações.
Hoje a maioria dos periódicos solicita, no processo de submissão, que os autores
declarem que o artigo não foi submetido ou publicado em outras revistas. Ressalta-se
ainda que diversos periódicos possuem ferramentas de busca de textos similares que
sugiram duplicidade de publicações. Entretanto, ainda assim, é possível encontrar

9
inúmeras publicações duplicadas, com ligeiras mudanças no texto em diferentes
periódicos. Essa prática, além de antiética, apresenta os seguintes problemas:

● O aumento artificial dos resultados dos autores por meio desta falsa ideia de
produtividade pode fazer com que eles sejam favorecidos indevidamente ao
competirem por financiamento ou posições acadêmicas.
● A redundância da publicação pode gerar duplicidade de dados quando incluída
em meta-análises, criando falsas conclusões que interferem na prática clínica.
● A multiplicidade de publicações pode gerar retratações e, consequentemente,
perda de confiabilidade no trabalho desenvolvido e em seu grupo de autores.

Uma outra forma de multiplicação de resultados é a chamada “publicação em


salame”. Ela consiste na elaboração de um trabalho completo, porém a submissão de
diferentes partes individuais para diferentes periódicos, como se fossem manuscritos
independentes. Isso costuma acontecer sobretudo em resumos de congressos, onde
alguns autores enviam vários abstracts com subtópicos específicos abordados todos em
uma única publicação. Muitas bancas avaliadoras atualmente estão atentas a este
processo e afirmam em seus editais que, caso identificada a multiplicação de resumos,
os mesmos serão rejeitados e não publicados.

Atribuição de autoria indevidamente

Todos os autores listados em uma publicação científica precisam ter contribuído


de alguma forma para a realização do trabalho, direta ou indiretamente. Eles podem
estar envolvidos no texto, na experimentação, na coleta de dados, na revisão, na
elaboração das artes gráficas e em diversas outras atividades essenciais para a conclusão
do manuscrito. Mais do que isso, esses autores precisam ter uma noção global do
trabalho que estão desenvolvendo para que, assim, sejam capazes de individualmente
defender o trabalho.

10
Um dos principais casos de autoria indevida ocorreu em novembro de 2019,
quando a revista Nature alertou sobre a identificação de 24 artigos científicos
publicados com nomes de crianças do ensino médio na Coreia do Sul. Em tais casos, os
nomes citados não contribuíram para a realização dos artigos e tal fato foi atribuído
como uma forma de aumentar as chances desses alunos do ensino médio de entrada nas
universidades prestigiadas do país. Segundo Changgu Lee, cientista da Universidade
Sungkyunkwan, o sistema sul-coreano de educação precisa reduzir a ênfase em
publicações como um dos critérios de entrada, uma vez que os estudantes de ensino
médio ainda não estão envolvidos direta e fortemente com a produção científica.

Falsificação

A falsificação pode ocorrer ao remover dados para tornar os resultados mais


convincentes ou ao reportar apenas resultados que sejam satisfatórios e alinhados à
hipótese inicial. Sejam os resultados positivos ou negativos, animadores ou não, é
imprescindível ao desenvolvimento científico que estes sejam disponibilizados, pois
servirão de norte ao desenvolvimento de novas ideias e novas soluções e evitarão que
outros pesquisadores gastem tempo e recursos tentando provar uma hipótese que se
mostrou falha em inúmeros experimentos.

Fabricação

A fabricação ocorre pela publicação de dados irreais, descrição de experimentos


não realizados e utilização de referências falsas ou não correlacionadas. Um dos
principais exemplos foi o artigo “Non-coding RNAome of RPE cells under oxidative
stress suggests unknown regulative aspects of Retinitis pigmentosa etiopathogenesis”,
publicado em 2018 e, em seguida, retratado pelo fato de os pesquisadores terem
utilizado dados de sequências de RNAs que não foram produzidos em seu laboratório
nem estavam disponíveis para acesso público.

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03 - DELINEAMENTOS DE ESTUDO

Muitos estudantes costumam ler um artigo científico sem prestar atenção em


como o estudo foi conduzido, quais métodos foram utilizados, e qual o delineamento
escolhido. Há ainda leitores que pulam completamente a sessão de métodos e partem
direto para os resultados ou para a conclusão. Há várias formas de ler um artigo
científico de forma eficiente para buscar o que precisamos. Entretanto, para que
possamos julgar os resultados e entender sua significância, a leitura e a compreensão
dos métodos são fundamentais. Neste capítulo abordaremos os principais delineamentos
de estudos utilizados na prática científica. A tabela 02 apresenta uma forma bastante
didática de dividir os tipos de estudos. Comumente é possível já pelo título saber em
qual deles o artigo que estamos lendo se encaixa.

Tabela 02: Tipos de estudos científicos

ESTUDOS OBSERVACIONAIS

Os estudos observacionais, como o nome indica, são feitos pela observação da


população alvo e do fenômeno de interesse em sua condição natural, sem que se faça
qualquer tipo de intervenção como adição de medicamentos, mudança de doses
terapêuticas e procedimentos. Com base em seu objetivo, podemos dividi-los em dois
grupos:

● Estudos descritivos: têm a finalidade de descrever as características da população


alvo (“quem?”, “o que?”, “por que?”, “como?” e “onde?”), não possuindo
grupos de comparação.

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● Estudos analíticos: têm a finalidade de analisar relações de causa e efeito,
possuindo, para isso, grupos de comparação.

Relato de Caso e Série de Casos

O relato de caso é uma descrição detalhada de um caso clínico caracterizado


como singular e inovador. Se este processo for feito com vários casos similares, tem-se
uma série de casos. São fatores que justificam a produção deste tipo de estudo: caso
clínico inédito (nunca antes visto na prática médica), apresentação atípica de uma
doença, tratamentos inovadores, complicações atípicas no tratamento de uma doença, e
quaisquer outras que visem chamar a atenção da comunidade científica para que mais
estudos sejam feitos abordando o tema.
Apesar de apresentar baixo grau de evidência científica, uma vez que a
generalização dos resultados não é possível, os relatos e séries de casos contribuem com
experiência clínica e são formadores de hipóteses.

Estudo transversal (“cross-sectional”)

O estudo transversal é comumente descrito como uma “fotografia” dos alvos e


parâmetros de interesse para comparação em um ponto específico do tempo (imagem
02). Entre suas vantagens estão: facilidade de ser feito, rapidez e baixo custo; uma vez
que não há seguimento dos pacientes ao longo do tempo. Entretanto, as grandes
desvantagens são: a impossibilidade de estabelecer relações de causalidade e de
determinar fatores de risco, considerando que, para isso, o componente temporal seria
necessário.

13
Imagem 02: Estudo transversal

Estudo de caso-controle

Este tipo de estudo inclui dois grupos: um grupo de indivíduos com o desfecho
de interesse (casos), e outro grupo sem o desfecho de interesse (controles). Os dois
grupos, para que possam ser comparados adequadamente, precisam ser semelhantes em
todas as características exceto na presença/ausência do desfecho. Em seguida, parte-se
para a análise de fatores de risco (exposição) já existentes a fim de determinar se estes
são mais prevalentes nos casos ou nos controles. Portanto, os estudos de caso-controle
são sempre retrospectivos, partindo do desfecho de interesse para a exposição
(imagem 03).

Imagem 03: Estudo de caso-controle

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● Vantagens
○ Grande utilidade em doenças raras e surtos epidêmicos, pois não é preciso
esperar o desfecho acontecer
○ Permite analisar múltiplos fatores de risco, porém apenas um desfecho
○ Execução metodológica mais simples que os estudos de coorte
○ Menor custo e tempo comparado aos estudos de coorte, já que não há
necessidade de seguimento dos pacientes
● Desvantagens
○ Ser retrospectivo: pode haver viés de memória uma vez que os pacientes
podem ter dificuldade de lembrar e reportar com detalhes a exposição
○ Não permite avaliar a incidência do desfecho
○ Não permite calcular o risco relativo. Nesses estudos, usa-se o odds ratio

Estudo de coorte

Este tipo de estudo inclui dois grupos: um grupo de indivíduos com um ou mais
fatores de risco/proteção (expostos), e outro grupo sem tais fatores (não expostos). Os
dois grupos, para que possam ser comparados adequadamente, precisam ser
semelhantes em todas as características exceto na presença/ausência do(s) fatores de
risco/proteção. Em seguida, acompanha-se estes pacientes ao longo do tempo para que
futuramente se possa avaliar a presença ou não de desfechos de interesse. Este tipo de
estudo é muito usado quando a randomização não é possível ou não seria ético fazê-la.
Portanto, os estudos de coorte partem da exposição a fatores de risco ou de
proteção, para o desfecho de interesse (imagem 04). Dessa forma, eles são
comumente prospectivos. Podem ser retrospectivos caso seja feito um registro dos
dados de forma rigorosa para que futuramente as informações sejam analisadas de
forma confiável do desfecho para a exposição.

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Imagem 04: Estudo de coorte

● Vantagens: ser prospectivo


○ Ser prospectivo.
○ Permite estabelecer causalidade.
○ Permite avaliar múltiplos desfechos de interesse.
○ Permite avaliar características não disponíveis em prontuários e
padronizar medidas.
○ Permite calcular o risco relativo.
● Desvantagens
○ Maior custo e tempo de duração devido à necessidade de seguimento dos
pacientes.
○ Dificuldade de manter a uniformidade do trabalho ao longo do tempo.
○ Modificações no grupo selecionado em decorrência de perdas no
seguimento de alguns pacientes.

A imagem 05 resume as principais características que diferem os delineamentos


dos estudos observacionais.

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Imagem 05: Estudos observacionais

ESTUDOS EXPERIMENTAIS

Os estudos experimentais ou intervencionistas são aqueles nos quais ocorre a


interferência direta dos pesquisadores na experimentação com o intuito de modificar
ativamente um desfecho. Podemos dividi-los entre estudos in vitro (realizados com
culturas de células), estudos em animais, e estudos em humanos (também chamados de
ensaios clínicos). Os estudos experimentais são os mais conhecidos na literatura
médica, sendo o exemplo clássico de sua aplicabilidade o desenvolvimento de novos
fármacos, o qual escolhemos abordar nesta sessão por englobar os principais métodos
experimentais.
A introdução de uma nova droga no mercado é um processo longo (dura cerca de
10 a 15 anos), caro (custo na ordem de milhões de dólares) e com uma baixa taxa de
sucesso (a cada 10.000 novas moléculas descritas, 250 chegam à fase pré-clínica, 5
chegam à fase clínica, e 1 chega ao mercado) (Matthews H et al, 2016). Por necessitar
de testes em células e animais vivos, regulações éticas precisam ser rigorosamente
seguidas e o trabalho é feito em etapas, de modo que os experimentos só seguem às
etapas seguintes caso os resultados sejam promissores e justifiquem uma intervenção
em seres vivos.
Em resumo, inicialmente tenta-se identificar compostos que afetam as vias
biológicas associadas às doenças. Em seguida, é preciso avaliar em laboratório os

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princípios básicos sobre a farmacocinética e a farmacodinâmica da substância. Parte-se
depois para os testes in vitro e em animais, sobretudo para avaliar a segurança antes de
testar a droga em seres humanos. Os animais usados costumam ser modificados
artificialmente para reproduzirem a doença de interesse do estudo. Uma vez que todos
os testes pré-clínicos sejam concluídos, os ensaios clínicos são iniciados de acordo com
as fases descritas na tabela 03.

Tabela 03: Fases da pesquisa clínica

É importante também conhecer algumas nomenclaturas utilizadas nos ensaios


clínicos. Para isso, classificamos estes estudos de acordo com 3 características:

● Presença de grupo controle


○ Controlado: o grupo experimental (recebeu a intervenção) é comparado a
um grupo controle (não recebeu a intervenção)
○ Não controlado: todos os participantes recebem a intervenção, sendo a
comparação feita entre seus dados clínicos nos momentos antes e após a
intervenção
● Distribuição dos participantes
○ Randomizado: os voluntários são alocados aleatoriamente, por meio de
sorteio, entre os grupos intervenção e controle.

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○ Não randomizado: os voluntários escolhem ou o pesquisador determina o
grupo a que devem se enquadrar.
● Coleta de resultados
○ Com mascaramento
■ Simples: chamados de “estudos cegos”, os voluntários não sabem
se estão recebendo a intervenção ou o placebo, porém os
pesquisadores sabem a qual grupo cada indivíduo pertence.
■ Duplo: chamados de “estudos duplo-cegos”; os voluntários não
sabem se estão recebendo a intervenção ou o placebo, e os
pesquisadores não sabem a qual grupo cada indivíduo pertence.
○ Sem mascaramento: os voluntários sabem se estão recebendo a
intervenção ou o placebo, e os pesquisadores sabem a qual grupo cada
indivíduo pertence.

Nem sempre é possível fazer a randomização e o mascaramento. Entretanto,


sempre que possível, é desejável fazê-los pois estes controlam variáveis de confusão
conhecidas e desconhecidas, igualam o prognóstico entre os grupos no início e durante
o estudo, e contribuem para a redução de vieses. Os ensaios clínicos randomizados
duplo-cegos produzem resultados com o maior nível de evidência comparado aos
discutidos anteriores. Entretanto, eles apresentam algumas desvantagens: são muito
caros (prospectivos, logística complexa, equipe muito bem treinada), podem ter poder
estatístico insuficiente (necessidade de mais ensaios clínicos e combinação em
meta-análise) e podem ter validade externa prejudicada (necessidade de ensaios
multicêntricos).
A imagem 06 resume os principais delineamentos dos estudos experimentais.

19
Imagem 06: Classificação dos estudos experimentais

ESTUDOS DE REVISÃO

Os estudos de revisão são um compilado de outros estudos já publicados com o


intuito de resumir a evidência disponível sobre um tema, fazer análises críticas, ou
mesmo gerar novos dados (como é o caso das meta-análises). Para isso, costumam ser
coordenadas por pesquisadores de referência na área de interesse, capazes de selecionar,
organizar e compilar as melhores evidências.

Revisões Narrativas

As revisões narrativas funcionam como capítulos de livros. Estas costumam


abordar temáticas amplas e não seguem um critério rigoroso na seleção das referências.
Os autores escolhem os artigos baseados na experiência e no direcionamento que
querem dar ao texto, sendo a interpretação das informações subjetiva.
Apesar de não contribuírem com nível de evidência, são ótimas para o
aprofundamento em um assunto específico, sobretudo quando já lemos os livros
clássicos e buscamos informações mais atualizadas. Além disso, contribuem para que
identifiquemos lacunas no conhecimento científico, auxiliando na formação de
hipóteses e de ideias de pesquisa.

20
Revisões Sistemáticas

As revisões sistemáticas seguem uma rígida metodologia com o intuito de


responder a uma pergunta. Em resumo, escolhe-se um ponto específico dentro de um
tema que necessite de uma resposta. Em seguida, é feita uma seleção de todos os artigos
disponíveis nas bases de dados consultadas de acordo com critérios de inclusão e
exclusão definidos. Segue-se para a análise dos resultados e avaliação de vieses.
Sempre que possível é feita a compilação estatística dos dados, chamada de
meta-análise. Quando isso não é possível, apenas uma avaliação qualitativa dos dados é
feita. Diferentemente das revisões narrativas, todo o processo metodológico é descrito
no artigo, de modo que possa ser reprodutível.
As meta-análises possuem o nível mais alto de evidência, pois combinam todos
os estudos primários existentes produzindo um dado novo, com maior poder estatístico
que cada um dos estudos individuais utilizados. Esse poder de síntese de maneira
objetiva e com controle de vieses torna as meta-análises norteadoras das decisões
clínicas, sendo utilizadas na elaboração de diretrizes e guidelines.
A tabela 04 resume as principais diferenças entre as revisões narrativas e
sistemática.

Tabela 04: Revisões narrativa X sistemática

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04 - BUSCA NA LITERATURA

RECONHECENDO QUE PRECISAMOS DE INFORMAÇÃO

Nossa realidade, especialmente na área da saúde, é inimaginável sem constante


atualização. De tempos em tempos, atualizamos nossas diretrizes e guidelines,
modificamos tratamentos e interrompemos propedêuticas ineficientes. Frequentamos
congressos e eventos científicos para nos atualizarmos e entendermos a constante
transformação que nossa área de estudo vivencia.

Há um sem número de motivos do porquê precisamos de informação:

● Para definir os próximos passos: a pesquisa começa quando alcançamos o limite


do que conhecemos. A partir desta fronteira, podemos desenvolver ideias e
projetos que irão contribuir com mais um “tijolo” na área do conhecimento.
● Para termos resolutividade: normalmente não somos os únicos nem os primeiros
a ter que lidar com o determinado caso. Precisamos das informações sobre a
experiência de outros grupos para tomar nossas decisões clínicas.
● Para propormos políticas públicas: temos o compromisso de gastar o necessário
sempre bem. Apenas com dados e informações podemos direcionar nossos
esforços e recursos de forma eficiente e efetiva.
● Para empreendermos: todos os dias temos a oportunidade de identificar
problemas e observar o que já foi criado. A partir daí, podemos utilizar as
informações disponíveis para pensar em soluções e desenvolver nossa
comunidade.
● Para escrevermos artigos: para escrever sobre um tema, precisamos antes
conhecer o que já foi feito.
● Para ter opinião: medicina é feita de conhecimento acumulado e aplicado.
Nossas diretrizes, guidelines e meta-análises incluem uma combinação muito
grande de estudos, que juntos nos permitem interpretar e julgar as informações.

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Que precisamos de informação é algo certo, porém o grande desafio de hoje é
encontrá-la. Cerca de 7 milhões de artigos científicos são publicados anualmente (Fire
M, Guestrin C; 2019). Em nenhum momento da história tivemos tanto acesso à
informação como atualmente. Nesse mundo de publicações, precisamos cada vez mais
de métodos que nos permitam encontrar o que buscamos de forma eficiente.

BASES DE DADOS E PLATAFORMAS DE BUSCA

A fim de nos auxiliar a encontrar a informação que precisamos, surgiram as


bases de dados. Estas reúnem artigos de diversas revistas em apenas um único local,
permitindo buscar por termos específicos e filtrar os resultados. Cada uma apresenta
características próprias: umas são mais gerais, outras mais específicas. A escolha de
quais utilizar depende do tipo de informação que você está buscando.

● EMBASE: serviço da Elsevier que engloba os acessos às bases de dados


EMBASE e MEDLINE com links diretos ao conteúdo completo no
ScienceDirect, Springer-Verlag, Thieme, Cell Press, Catchword e Karger Online.
● MEDLINE / Pubmed: serviço da U.S. National Institutes of Health (NIH) que
abrange as áreas de biomedicina e ciências da vida. O PubMed será a plataforma
mais utilizada nas buscas na área da saúde.
● PsycINFO: fornece acesso aos artigos, livros e informações das coleções da
Associação Americana de Psicologia.
● Scopus: base multidisciplinar com acesso a resumos, referências e índices da
literatura científica, técnica e médica, além de cobrir o conteúdo completo da
literatura indexada no Medline. Esta base é muito semelhante ao Embase em
termos de artigos recuperados, portanto sugerimos que você opte por uma das
duas.
● Web of Science: base do Institute for Scientific Information focada na indexação
dos periódicos mais citados de suas áreas e suas respectivas citações,
compreendendo o Science Citation Index Expanded, Social Sciences Citation
Index e Arts and Humanities Citation Index.

23
● Ovid: interface que oferece acesso à Medline, ERIC e EBM (Evidence-Based
Medicine), esta que engloba as três bases de dados Evidence-Based Medicine
Reviews, Cochrane Database of Systemic Reviews e Best Evidence.
● ScienceDirect: base que contém textos completos e revisados por pares da
Elsevier, além de integração a fontes externas de áudio, vídeo e conjunto de
dados.
● Cochrane Library: base focada em informações de evidência em saúde que
inclui textos completos, ensaios clínicos, estudos de avaliação econômica em
saúde, informes de avaliação de tecnologias de saúde e revisões sistemáticas
resumidas criticamente. Sugerimos fortemente utilizar essa base quando estiver
buscando por revisões sistemáticas.
● Google Scholar: Ferramenta do Google que permite localizar literatura
acadêmica multidisciplinar de acesso livre.
● Directory of Open Access Journals: Base mantida pela Lund University
Libraries na Suécia que promove acesso gratuito a revistas científicas e
acadêmicas.
● Lilacs: Base cooperativa do Sistema BIREME de acesso à literatura Latino-
Americana e do Caribe em ciências da saúde, inclusive revistas, teses, capítulos,
anais, relatórios técnico-científicos e publicações governamentais.
● Up to Date: Base de evidências clínicas revisadas por pares que incluem as áreas
de medicina cardiovascular, endocrinologia, medicina familiar, gastroenterologia,
hepatologia, hematologia, oncologia, doenças infecciosas, nefrologia, saúde da
mulher, pediatria, reumatologia e medicina interna. Esta plataforma é interessante
para tirar dúvidas clínicas rápidas durante atendimentos. Muitas universidades
federais brasileiras fornecem acesso institucional aos alunos.
● ClinicalTrials.gov: plataforma controlada pela U.S. National Institute of Health
(NIH) que reúne os registros de ensaios clínicos em andamento e concluídos. É
interessante para conhecer quais fármacos e substâncias estão sendo testados no
momento.

24
● Literatura cinzenta: compreende arquivos não disponibilizados nas bases de
dados tradicionais, mas que apresentam valor dependendo da pesquisa que você
queira desenvolver. Inclui, por exemplo, notas técnicas, relatórios de agências
governamentais, e dados disponibilizados nas páginas oficiais de instituições.

Para quem se encontra em uma universidade federal no Brasil, temos o acesso a


muitas bases de dados e artigos fechados por meio do Portal de Periódicos CAPES.
Clique em “acesso CAFe”. Em seguida, coloque sua instituição e utilize o login dela.
Para buscar periódicos e bases de dados vá em “busca avançada”.

25
DICAS PARA FAZER AS BUSCAS

Antes de iniciar sua pesquisa, busque previamente se existe alguma revisão


sistemática da Cochrane sobre o assunto. Assim você estará mais por dentro do tema, o
que lhe permitirá saber quais os termos mais utilizados nos artigos e quais os principais
autores. Ter uma noção geral sobre o tema é de extrema importância antes de fazer
qualquer pesquisa.

● Cheque quais os melhores termos para cada conceito. Para isso use o MeSH
(inglês) e o DeCS (inglês, espanhol e português)
● Nas bases de dados, utilize a opção “avançado” e selecione “titulo/abstract”
● Utilize os filtros para uma busca mais refinada: tipo de trabalho; ano; estudos em
humanos, animais ou in vitro; tempo; idioma
● Organização dos resultados: relevância, cronologia, best match, revista
● Pesquisa do autor: maneira de encontrar toda a produção bibliográfica de um
pesquisador

A Welch Medical Library apresenta um tutorial muito bom sobre a busca no


PubMed. Recomendamos aprender nesta plataforma, pois a utilização das demais bases
é muito semelhante.

05 - BIOESTATÍSTICA

A bioestatística costuma ser um problema para muitos alunos das ciências não
exatas. Frequentemente as aulas e conteúdos recebem pouca atenção ou são deixados de
lado pela concepção errônea de considerá-los “inúteis”. Isso ocorre porque se foca
muito nas fórmulas e em exemplos pouco aplicáveis dos conceitos, o que gera uma
falsa ideia de que o estudante precisa decorar fórmulas e fazer milhares de cálculos.

26
Entretanto, mais importante do que isso, é compreender os conceitos por trás das
operações matemáticas, saber seus significados e ser capaz de interpretar os dados
estatísticos. Neste capítulo, focaremos nestes aspectos, os quais consideramos
fundamentais para que você seja capaz de compreender a análise estatística dos artigos
científicos e saber escolher quais métodos utilizar quando precisar fazer a estatística de
algum paper que esteja escrevendo.

CONCEITOS BÁSICOS

Tipos de Variáveis

Variáveis são quaisquer características que podemos medir. Elas se classificam entre:

● Variáveis categóricas: também chamadas de qualitativas, são aquelas que não


podem ser quantificadas, indicando simplesmente uma “categoria”. Por isso, são
medidas nos estudos científicos utilizando frequência (percentual). Elas são
subdivididas entre:
○ Nominais: não seguem uma ordem. Ex.: sexo, raça, religião, grupo
sanguíneo.
○ Ordinais: seguem uma ordem. Ex.: pressão sanguínea expressa em
categoria (baixa, normal, alta).
● Variáveis numéricas: também chamadas de quantitativas, são aquelas que
podem ser quantificadas. Por isso, são medidas nos estudos científicos utilizando
média e desvio padrão (M ± DP) ou mediana e intervalo interquartílico. Elas
são subdivididas entre:
○ Discretas: podem ser contadas em um intervalo de tempo finito. Ex.:
notas de 0 a 10 com uma casa decimal (há os seguintes números: 0, 0.1,
0.2, 1, 1.1,...,10); número de acidentes; número de filhos.

27
○ Contínuas: não podem ser contadas em um intervalo de tempo finito,
pois existem infinitos valores possíveis. Ex.: tempo (há infinitas
possibilidades de valores considerando anos, meses, dias, horas,
segundos); peso e altura (há infinitas casas decimais possíveis); pressão
sanguínea expressa em valores.

A imagem 07 resume a classificação dos tipos de variáveis. Perceba que uma


mesma variável pode mudar de classificação de acordo com o que o estudo está
considerando na análise, como o exemplo da pressão sanguínea citado acima. Além
disso, em bioestatística, costuma-se fazer a seguinte simplificação para definir as
variáveis numéricas: discretas são aquelas que só admitem valores inteiros, e contínuas
são aquelas que admitem valores decimais. Ainda que isso não esteja correto pelo rigor
da definição, não há prejuízo na interpretação e no desenvolvimento das análises de
bioestatística.

Imagem 07: Tipos de variáveis

Tipos de distribuição

Há várias formas de distribuição dos dados estatísticos. Para as variáveis


contínuas, precisamos compreender duas muito utilizadas nos artigos científicos:
distribuição normal, paramétrica ou gaussiana versus não normal, não paramétrica ou
não gaussiana. Considere um plano cartesiano onde os valores serão representados: o

28
eixo x corresponde aos valores numéricos dos dados experimentais, e o eixo y indica as
frequências com que cada valor de x aparece no experimento.

● Distribuição normal (Gaussiana, Simétrica, Paramétrica)


○ média, mediana e moda coincidem
○ existe simetria em torno da média
○ as extremidades se aproximam simetricamente do eixo x (veja a imagem
08)

Imagem 08: Distribuição normal

média
mediana
moda

glicemia

● Distribuição não normal (Assimétrica)


○ média, mediana e moda não coincidem
○ não existe simetria em torno da média
○ as extremidades se aproximam assimetricamente do eixo x, podendo ter
comportamento positivo ou negativo (veja a imagens 09 e 10)

29
Imagem 09: Distribuição não normal Imagem 10: Distribuição não normal
positiva negativa

Medidas de Tendência Central

As medidas de tendência central são média, mediana e moda. Como estas


costumam ser de amplo conhecimento, focaremos aqui em qual delas utilizar nas
análises estatísticas, o que depende do tipo de variável. Observe a tabela 05.

Tabela 05: Qual medida de tendência central escolher?

Medidas de Dispersão

As principais medidas de dispersão são amplitude, intervalo interquartil,


variação, variância e desvio padrão.

30
● Amplitude

A amplitude é um conceito bastante simples, trata-se da diferença entre o maior e


o menor valor da distribuição. Imagine que você esteja analisando a altura de 5
pacientes e os resume na tabela abaixo:

Paciente Sexo Altura (cm)

1 F 150

2 F 155

3 M 156

4 F 167

5 M 170

A amplitude seria, então, 170 - 150 = 20 cm

● Intervalo interquartil (IIQ)

Para entender melhor este conceito, imagine que iremos distribuir nossos dados
em quatro grupos chamados de quartis. Cada quartil terá, então, 25% dos dados. Abaixo
do primeiro quartil (Q1), teremos 25% dos dados, abaixo do segundo quartil (Q2),
teremos 50% dos dados, e assim sucessivamente. Dessa forma, podemos denominar o
primeiro quartil de percentil 25, o segundo quartil de percentil 50, etc. O intervalo
interquartílico é definido como a diferença entre o 3º e o 1º quartis: IIQ = Q3 - Q1.
Esses conceitos estão representados nas imagens 11 e 12 abaixo:

31
Imagem 11: Intervalo interquartil

Imagem 12: Box plot simples

No box plot, a caixa representa o intervalo interquartílico (IIQ). Quanto maior


sua largura, maior é a dispersão dos dados. Esses gráficos são muito úteis para
visualizarmos onde se encontra a medida de tendência central e analisarmos a dispersão
dos dados em distribuições assimétricas, como representado na imagem 13:

32
Imagem 13: Box plot na análise da distribuição assimétrica

Partindo destes pontos, podemos sumarizar que o IIQ será mais utilizado para
distribuições assimétricas, além de ser a melhor medida de dispersão quando
pretende-se usar a mediana como medida de tendência central. Ademais,
frequentemente é usado para comparar subgrupos.

● Variação, variância e desvio padrão

Volte ao exemplo anterior sobre a altura de 5 pacientes da tabela abaixo:

Paciente Sexo Altura


(cm)

1 F 150

2 F 155

3 M 156

4 F 167

5 M 170

33
A variação corresponde simplesmente à diferença do peso de cada participante
em relação à média e será utilizada quando queremos visualizar cada dado
individualmente. O somatório de todas as variações será igual a 0.

Paciente Sexo Altura Média Variação


(cm)

1 F 150 - 9.6

2 F 155 - 4.6

3 M 156 159.6 - 3.6

4 F 167 + 7.4

5 M 170 + 10.4

Entretanto, quando queremos analisar os dados de forma conjunta, precisamos


utilizar a variância e o desvio padrão. A variância corresponde ao somatório dos
quadrados das variações, dividido por n-1 graus de liberdade; e o desvio padrão é igual
à raiz quadrada da variância.

Paciente Sexo Altura Média Variação Variação2


(cm)

1 F 150 - 9.6 92.16

2 F 155 - 4.6 21.16

3 M 156 159.6 - 3.6 12.96

4 F 167 + 7.4 54.76

5 M 170 + 10.4 108.16

34
No exemplo acima, o somatório do quadrado das variações é 289.2; com 5 - 1 =
4 graus de liberdade. Logo, a variância é 289.2 ÷ 4 = 72.3, e o desvio padrão é √72.3 =
8.50
A importância de chegarmos ao desvio padrão é sua propriedade de indicar a
distribuição dos dados em uma distribuição simétrica. Aproximadamente 68.7% dos
dados estão há um desvio padrão de distância da média; aproximadamente 95.4% dos
dados estão há dois desvios padrões de distância da média; e aproximadamente 99.7%
dos dados estão há três desvio padrão de distância da média. Os escores Z, muito
usados na pediatria para avaliar o crescimento, nada mais são do que quantidades de
desvios padrões em relação à média. Devido sua grande utilidade, a maioria dos papers
optam por representar seus achados em termos de média e desvio padrão.

Imagem 14: Desvio padrão nas distribuições simétricas

35
● Qual medida de dispersão escolher?

Tabela 06: Qual medida de dispersão escolher?

Medidas de associação
Tabela 07: odds ratio x risk ratio

Para compreendermos melhor estes conceitos, considere que estamos


comparando duas drogas A e B com relação à mortalidade:

36
O risk ratio é uma medida muito mais intuitiva do que o odds ratio, por isso,
muitos defendem que a utilização do risk sempre que possível. Apesar destas duas
medidas serem muito comuns nos artigos científicos, elas não levam em consideração o
fator tempo. No exemplo acima, estamos admitindo que não há diferença se a morte
ocorreu na 1ª ou na 12ª semana do estudo. Entretanto, há situações em que o tempo é
uma variável que não pode ser ignorada no desfecho. É o caso de estudos prospectivos
com longo tempo de seguimento, onde os pacientes contribuem com tempos diferentes
no estudo devido a perdas de acompanhamento e entrada de pacientes em diferentes
momentos. Nesses casos, precisamos utilizar o hazard ratio, cujos cálculos não
entraremos em detalhes nesta sessão.

Sensibilidade e Especificidade

São utilizadas para determinar o grau de acurácia de um teste diagnóstico.

Tabela 08: Sensibilidade x Especificidade

Tabela 09: Cálculo da sensibilidade e especificidade

37
Imagine que estamos querendo desenvolver um teste para diagnosticar diabetes
mellitus a partir do nível de glicose sanguínea. Em uma situação ideal, inexistente,
teríamos a seguinte situação: todos os indivíduos abaixo do ponto de corte do teste
seriam normais, e todos acima seriam diabéticos (imagem 15).

Imagem 15: Teste ideal para diagnóstico de diabetes

Entretanto, a situação real é a sobreposição de valores entre indivíduos com e sem a


doença, de forma que o ponto de corte do teste não é capaz de separar os dois grupos de
forma 100% fidedigna (imagem 16).

Imagem 16: Teste real para diagnóstico de diabetes

38
Como estabelecer, então, os pontos de corte? Observe as possibilidades na
imagem 17:

Imagem 17: Estabelecimento de pontos de corte para o diagnóstico de diabetes

A: alta sensibilidade, baixa especificidade


C: alta especificidade, baixa sensibilidade
B: maximiza tanto a sensibilidade quanto a especificidade

Portanto, os diagnósticos frequentemente costumam envolver vários testes e


várias medições antes de confirmarem ou descartarem a doença.

TESTE DE HIPÓTESE ou INFERÊNCIA ESTATÍSTICA

A inferência consiste na extrapolação das informações e conclusões obtidas a


partir de uma amostra para um universo maior de indivíduos.
Suponha que estamos comparando as drogas A e B. Nesse caso, encontramos
que A é superior a B, porém esse resultado pode ter 3 possíveis explicações:

● 1: O resultado ocorreu devido ao acaso, aleatoriedade;


● 2: A droga A é realmente superior à B;
● 3: O resultado ocorreu devido a vieses.

39
A modulação estatística nos permite reduzir a aleatoriedade, o que somado ao
controle do risco de vieses nos possibilita concluir se a droga A têm grandes chances de
ser realmente superior à droga B. Mas por que chances? Teríamos que fazer uma
pesquisa com todos os pacientes do mundo para chegarmos à verdade absoluta da
comparação entre as drogas, porém isso seria inviável. Dessa forma, na pesquisa
científica, trabalhamos com amostras e elaboramos hipóteses, não verdades absolutas.

Tipos de Hipóteses

Tabela 10: Hipóteses nula x alternativa

No estudo científico, utilizamos testes estatísticos para avaliar tais hipóteses. A


fim de aceitar a hipótese alternativa como verdadeira, precisamos descartar a hipótese
nula, provar que ela é falsa.

40
Erros de Hipóteses

Tabela 11: Erros de hipóteses

p-value
O valor de p é a probabilidade de que, admitindo-se a hipótese nula verdadeira, a
aleatoriedade produziria uma estimativa de efeito maior ou igual o valor obtido na
análise dos grupos. Essa definição é melhor compreendida quando aplicada em um
exemplo.
Suponha que estamos comparando uma droga experimental A contra placebo em
pacientes com diabetes mellitus, e pretendemos avaliar a HbA1c, muito utilizada na
monitoração da doença. A diferença de média entre os dois grupos foi de 2%, com valor
p de 0.03. Isso significa dizer que, considerando-se a hipótese nula verdadeira, há uma
probabilidade de 3% de obtermos a diferença de 2% na HbA1c entre os dois grupos.
Como essa probabilidade p é muito pequena, podemos rejeitar a hipótese nula e aceitar
a hipótese alternativa. Nos artigos científicos geralmente se utiliza p < 0.05 para
diferença com significância estatística (tabela 12).

Tabela 12: Significâ


ncia estatística do valor de p

41
Alguns pontos são importantes de serem considerados:

● p-value não pode ser interpretado como significância clínica: mesmo que o
valor p do exemplo tenha sido significativo, uma redução de 2% na HbA1c pode
não ter relevância clínica no tratamento do paciente com diabetes mellitus. Se
hipoteticamente o valor tivesse sido não significativo, também não podemos
julgar que a droga é inefetiva, pois a amostra pode ter sido muito pequena para
detectar a diferença. Em síntese, quem define a importância clínica é o
profissional de saúde em sua análise crítica dos estudos.
● Não interprete valor de p próximo de 0.05 como “tendência à significância
estatística”: alguns estudos com p > 0.05, porém próximos ao valor de corte,
erroneamente reportam no texto “tendência à significância”, o que está errado,
uma vez que por definição não se pode rejeitar a hipótese nula com p > 0.05

QUAL TESTE ESTATÍSTICO ESCOLHER?

Uma dúvida muito comum durante a análise estatística é qual ferramenta utilizar.
Atualmente muitos softwares são capazes de desenvolver todos os cálculos necessários,
então é muito mais importante saber qual teste escolher. Mais uma vez, pensaremos em
quais variáveis e tipos de distribuição estão sendo usados (tabelas 13 e 14)

Tabela 13: Testes estatísticos para variáveis numéricas

O teste T de Student pode ser pareado ou não pareado. Quando se analisa uma
mesma amostra em tempos diferentes, por exemplo, um grupo avaliado no início X no
fim do estudo, antes do tratamento X após o tratamento; utiliza-se o teste T pareado.

42
Por outro lado, quando se analisa amostras diferentes em um dado momento, por
exemplo, pacientes que tomaram placebo X pacientes que tomaram a droga, opta-se
pelo teste T não pareado.

Tabela 14: Testes estatísticos para variáveis categóricas

Há vários softwares e programas que auxiliam na aplicação destes testes: IBM


SPSS (estatística simples), Epi Info (elaboração de tabelas 2x2), Prism (excelente para
gráficos), Revman (sugerido pela Cochrane para meta-análises)

MENSAGENS FINAIS

● Devemos saber interpretar criticamente a metodologia dos estudos, para verificar


se podemos confiar ou não em seus achados.
● Atualmente, não é necessário decorar fórmulas e fazer cálculos, pois os
programas computacionais de estatística fazem essa função. É preciso saber qual
teste estatístico utilizar, porquê e quais os resultados esperados.
● A escolha dos testes estatísticos se dá conforme o tipo de variável, tipo de
distribuição, desenho do estudo e quantidade de grupos do estudo.
● Quando analisamos os resultados, devemos lembrar de verificar a distribuição
das variáveis, o teste utilizado, o valor p, e o intervalo de confiança.

06 - VIESES

INTRODUÇÃO

Os resultados dos estudos científicos precisam ser sempre avaliados


criticamente. Isso porque erros de metodologias ou na interpretação dos resultados

43
podem levar os pesquisadores a conclusões falsas. Esses erros que interferem na
confiabilidade dos resultados apresentados são chamados de vieses.
Uma das fontes principais de erro na análise dos resultados são os chamados
fatores de confusão. Eles distorcem a associação real entre exposição e desfecho: o
efeito real de uma exposição sobre um desfecho pode estar aumentado ou diminuído
devido à ação de outras variáveis não analisadas pelo pesquisador, as chamadas
variáveis de confusão. Por exemplo, em uma pesquisa hipotética chegamos à conclusão
de que pessoas que bebem mais café têm maiores chances de desenvolverem
cardiopatias. Entretanto, precisamos avaliar que pessoas que bebem mais café podem
também fumar mais do que aquelas que não bebem tanto café. Nesse caso, o aumento
da cardiopatia no grupo que bebe mais café pode ser devido ao tabagismo (variável de
confusão), mas não ao consumo de café em si.
Suponha agora que você queira avaliar se o álcool aumenta ou não as chances de
desenvolver câncer de pulmão. Em um primeiro momento, você pode concluir que sim.
Entretanto, é preciso pensar que o etilismo pesado pode estar associado ao tabagismo,
então aqueles que bebem mais possivelmente fumam mais, sendo o tabaco o fator de
risco para o câncer de pulmão, não o álcool, como se pensava inicialmente. Perceba que
a variável de confusão (tabagismo) está associada tanto à exposição quanto ao desfecho,
o que cria a ideia errônea de que a exposição leva ao desfecho, quando na verdade o
fator de confusão é o responsável pelo desfecho. Esses conceitos são melhor
visualizados na imagem 18.
Imagem 18: Fatores de confusão

44
Existe um sem número de tipos de vieses possíveis. Aqui não iremos nos
estender na descrição de cada um, pois seria pouco produtivo em termos práticos e
fugiria aos objetivos deste e-book. Dessa forma, focaremos em apresentar situações
possíveis de erros para que você avalie e chegue a soluções.

● Imagine que você esteja fazendo uma pesquisa para avaliar o uso de drogas
ilícitas entre adolescentes. Nesta pesquisa, você entrevista apenas estudantes de
ensino médio nas escolas do Sudeste. Trata-se de uma amostra enviesada, pois
não inclui adolescentes que não frequentam a escola, ou que deixaram de
frequentar a escola, ou que são de outras regiões do Brasil. O viés de
amostragem ocorre quando indivíduos de uma população têm maiores chances
de serem selecionados para a composição da amostra.
● Imagine que você esteja pesquisando a prevalência de depressão na população
estudantes de medicina. Muitas pessoas com depressão podem não responder por
se sentirem expostas, julgadas ou avaliadas por seus pares. No final, você teria
uma amostra com muitas respostas de pessoas sem depressão em relação às com
a doença. Trata-se do viés de não respondentes, caracterizado por taxas de
respostas diferentes entre os grupos avaliados.
● Imagine agora que você esteja tentando avaliar a prevalência de tabagismo e
etilismo entre jovens brasileiros. Para isso, você entrevista diferentes populações
de jovens: empregados, desempregados, estudantes de ensino médio, estudantes
universitários, etc. Ao indagar sobre o tabagismo entre universitários, você pode
induzir uma resposta positiva por considerar este grupo como um dos com maior
prevalência de tabagismo. Por outro lado, ao indagar os estudantes do ensino
médio você adota uma outra postura, os induzindo a responder que não fumam.
O viés do entrevistador consiste em coletar informações de forma diferente para
os grupos entrevistados.
● Imagine que você queira avaliar a tomada de decisão entre os gestores de
diversos serviços de saúde. Tais indivíduos apresentarão vieses de decisão
explicados por uma série de fatores conhecidos como riscos das heurísticas:

45
○ Disponibilidade: tendemos a julgar e chegar a conclusões sobre um
evento pela disponibilidade de informações que temos em nossa memória.
○ Representatividade: tendemos a julgar e chegar a conclusões sobre um
evento pela comparação com estereótipos que temos e com eventos
semelhantes.
○ Ancoragem/ajuste: tendemos a fazer julgamentos partindo de um valor
social, oriundo de eventos passados, que será ajustado até uma decisão
final.
○ Confirmação: tendemos a buscar evidências que confirmem nossa
hipótese e podemos correr o risco de ignorar evidências negativas.

ERROS MAIS COMUNS AO APRESENTAR OS DADOS

Agora que você já entendeu algumas das principais situações em que os vieses
ocorrem, vamos abordar os principais erros na apresentação das informações em um
trabalho científico.

Tabela 15: Ausência de um grupo controle adequado

46
Tabela 16: Interpretar comparações entre 2 efeitos sem compará-los diretamente

Tabela 17: Confusão nas unidades de medida

47
Tabela 18: Correlação x Causalidade

COMO CONTROLAR VIESES E FATORES DE CONFUSÃO?

Para evitarmos ao máximo os vieses e fatores e confusão em nossa pesquisa,


precisamos, sempre que possível, aplicar a randomização no delineamento do estudo.
Após a randomização, o prognóstico do grupo intervenção se torna o mesmo do grupo
controle, então diferenças nos resultados entre os grupos são atribuídos à intervenção.
Por outro lado, nos estudos não randomizados, o prognóstico do grupo intervenção é
diferente do grupo controle, então diferenças nos resultados entre os grupos podem ser
resultado da intervenção ou dos diferentes prognósticos.
Além disso, é importante seguirmos os principais guidelines metodológicos na
realização de cada tipo de trabalho científico. Eles contam com um passo a passo que
precisa ser desenvolvido para garantir o rigor metodológico e reduzir as chances de
erros. Antes mesmo de começar sua escrita, sugerimos buscar pelos checklists
metodológicos presentes no Equator Network e no CASP. Sugerimos ainda a leitura do

48
paper “Methodological quality (risk of bias) assessment tools for primary and
secondary medical studies: what are they and which is better?”, o qual indica as
principais ferramentas para avaliar o risco de vieses por tipo de estudo a ser
desenvolvido.

07 - REFERÊNCIAS

Explicitar as referências é de extrema importância na escrita de um artigo


científico. É por meio delas que você demonstrará as fontes das informações, o que
pode ter grande impacto na qualidade do trabalho. Mais do que isso, elas são a forma de
garantir que o autor da fonte tenha seus direitos autorais respeitados, evitando plágio.
É importante entender que existem diferentes normas de padronização para
citações de um texto. Entre as mais utilizadas, temos APA, Chicago, Vancouver e, no
caso brasileiro, a ABNT. Assim, a utilização de cada uma dessas normas depende da
revista ou veículo de comunicação da publicação. Afinal, a APA, por exemplo, é muito
utilizada em periódicos e em veículos internacionais, enquanto a ABNT é utilizada no
Brasil, mas não é utilizada em nenhum outro lugar do mundo.
Este capítulo não pretende detalhar as normas, uma vez que são muitas e
disponibilizadas nos próprios manuais para consulta. Iremos aqui apenas apresentar
algumas principais da ABNT e sugerir ferramentas para agilizar o processo de
referenciamento. Tendo como referência as normas da ABNT (Amadei JRP, Ferraz
VCT; 2019), há alguns pontos a serem considerados:
● Ao longo do texto, quando há citação de outra fonte, essas podem ser
realizadas de maneira direta ou indireta e são pautadas na NBR 10520 de
2002. Todas as citações feitas devem ser referenciadas.
● Já as referências bibliográficas propriamente ditas, devem ser pautadas na
NBR 6023 de 2018. Para isso, vale sempre conferir se estão presentes os
seguintes elementos: autores, título, nome da revista, edição, local,
editora, data/ano de publicação, paginação, disponibilidade e acesso.

49
● Para os autores, deve-se citar seu sobrenome seguido de todas as iniciais
dos outros nomes. Todos autores devem ser citados se houver até três
autores. A partir desse número é utilizado apenas o nome do autor
principal, seguido de et al. As letras devem ser todas maiúsculas.
● O título deve estar destacado, geralmente usa-se negrito, e em letras
minúsculas.
● Para a formatação, é definido da seguinte forma:
○ Alinhamento de texto à esquerda;
○ Espaço simples entre linhas;
○ Fonte tamanho 12 (Times New Roman ou Arial);
○ Ordenadas alfabeticamente e não numeradas;
○ Espaço de uma linha em branco entre cada referência;
○ Lista de referências inserida logo após o capítulo de conclusão;
○ O título da seção não possui indicativo numérico.

Fazer as referências “à mão” é um trabalho metódico e que leva tempo. Por


conta disso, existem sites e programas que facilitam muito a formação das referências.
No entanto, é importante lembrar que mesmo utilizando essas ferramentas, deve-se
conferir se todos os elementos estão presentes e se a formatação está correta, pois
podem existir erros na formatação automática.

● Antes de começar a escrita do seu artigo, resumo ou trabalho acadêmico, reflita


sobre alguns pontos
○ Quais as regras de publicação da revista que você pretende publicar? Qual
o formato e número limite de referências?
○ Em qual programa você está escrevendo o artigo? É apenas você ou o
documento está sendo compartilhado?
○ Suas referências já estão separadas ou você irá fazer a pesquisa inicial?

50
FORMATAÇÃO PRONTA DOS SITES

Atualmente muitas bibliotecas e bancos, especialmente os mais conhecidos,


disponibilizam a citação pronta do artigo em diferentes formatos. Podemos
simplesmente copiar e colar a formatação para nosso texto. Abaixo, mostraremos esse
processo no PubMed e Scielo, duas importantes bases utilizadas.
No PubMed, basta clicar em “cite” e você terá a opção de copiar a referência nos
formatos AMA, APA, MLA e NLM. O formato NLM (Vancouver), costuma ser o mais
utilizado pelos trabalhos internacionais.

No Scielo, e em outras bases de dados, o processo é bastante semelhante

51
SITES GERADORES DE REFERÊNCIAS

Para textos pequenos com poucas referências, caso não seja possível copiar e
colar o modelo pronto das bases de dados, você pode utilizar sites que fazem a
formatação automaticamente como o citethisforme e o referenciabibliografica.

PROGRAMAS

Para textos grandes, com muitas referências, sugerimos a utilização dos


programas. Eles permitem, além de obter a formatação pronta, que os números índices
apareçam automaticamente durante o texto. Entre os mais utilizados estão Mendeley,
EndNote e Zotero.

52
A maioria dessas ferramentas são de instalação e uso fácil e existem diversos
tutoriais para o uso de cada uma, sendo grandes facilitadores. Cada um deles tem
diferentes recursos, apresentando vantagens e desvantagens, como apontados na tabela
19:

Tabela 19: Prós e contras dos gerenciadores de referências

* Apenas a versão web é gratuita

EndNote

A ferramenta pode ser utilizada em versão na web ou no desktop, porém apenas a


versão web é gratuita. Nele, é possível selecionar uma base de dados credenciada e
organizar as referências a partir delas. Para entender melhor como utilizar, acesse o
Guia de uso do EndNote Web.

Mendeley

Também está disponível em versão na web ou no desktop, mas nesse caso, ambas
são gratuitas. Como destaque, ele permite gerar estatística dos artigos, o que pode ser
útil para a seleção. Além disso, possui maior facilidade para gerar as referências

53
bibliográficas quando comparado com o EndNote. Para entender melhor como utilizar,
acesse o Guia de uso do Mendeley [em inglês].

Zotero

Funciona como um plug-in de editores de texto, como o Microsoft Word e deve


ser baixado e instalado. Ele está entre os nossos prediletos por funcionar no Google
docs, permitindo o compartilhamento do trabalho com os demais autores. Além disso, a
importação dos artigos pelo programa é bastante simples. Para entender melhor como
utilizar, acesse o Guia de uso do Zotero.
Um detalhe importante sobre esses programas é que todos estão sujeitos a erros
na formatação quando o processo é feito simultaneamente por várias pessoas.
Sugerimos, para reduzir estes equívocos, que todos os autores escrevam juntos no
arquivo compartilhado adicionando suas referências no formato (AUTOR, ANO). Após
a finalização do texto, um dos integrantes será encarregado de fazer a formatação das
referências pelo gerenciador.

08 - ILUSTRAÇÕES CIENTÍFICAS

Usar ilustrações em artigos científicos é de enorme utilidade, pois muitas vezes


traduz informações complexas de forma simplificada e didática. Porém deve-se ter
cuidado no uso dessa ferramenta para que elas dialoguem adequadamente com o texto e
não sejam poluídas com informações desnecessárias ou confusas.

DICAS GERAIS

● Antes de produzir ou utilizar alguma ilustração, faça uma lista dos itens
necessários para sua figura com palavras-chave e frases fundamentais. É
interessante também fazer um texto ou roteiro com a descrição de tudo que a
imagem estará representando. Este texto evitará que elementos cruciais sejam
esquecidos, e será útil na elaboração da legenda.

54
● Menos é mais! Foque no ponto principal da sua figura. Pergunte-se: o que os
leitores precisam entender com a ilustração? Toda figura deve responder a uma
pergunta ou esclarecer algo que está no texto.
● Ao longo do texto, explicite quando a figura deve ser lida.

UTILIZAR UMA IMAGEM PRONTA OU FAZER A ILUSTRAÇÃO?

Imagens prontas

Caso opte por utilizar uma imagem pronta, é fundamental lembrar que muitas
imagens têm direitos autorais e não podem ser utilizadas; isso sempre deve ser
verificado. Como forma de garantir que a imagem pode ser utilizada, existem bancos de
imagens sem direitos autorais, como FreePik, Depositphotos, Pixabay, Flaticon e The
noun project. Porém, deve-se sempre conferir em cada site como a imagem deve ser
referenciada e se devemos atribuir créditos. O Canva também é uma ferramenta
interessante, pois tem um banco de imagem próprio gratuito e permite a edição ou
mesmo montar um esquema ou tabela.
Para selecionar a imagem a ser utilizada, existem alguns pontos que devem ser
avaliados. Primeiramente, é importante verificar se as informações estão claras e se
todo conteúdo apresentado é explicado ao longo do texto do artigo. Afinal, imagens ou
esquemas complexos com termos que não são parte do conteúdo podem levar o leitor a
mais dúvidas no lugar de esclarecer. Além disso, muitas vezes é interessante buscar
imagens que permitam a modificação, de forma que se possa ajustar as informações de
acordo com a sua necessidade. Por fim, não esqueça de referenciar a fonte ou autor da
imagem, além de sempre verificar sobre a permissão de uso e direitos autorais.

Criando imagens

Caso opte por criar a ilustração, existem diversos programas gratuitos que podem
ser utilizados para tal.

55
Como já citado, o Canva permite a criação de esquemas simples, com imagens,
tabelas, gráficos ou mapas conceituais, além de contar com alguns templates que podem
ser de grande ajuda. Além dele, existe o Biorender, uma ferramenta voltada para as
ciências biológicas, o qual contém ferramentas de ilustração para essa área, como
desenhos de diversos tipos de células, vírus e organelas. É uma forma interessante para
explicitar algum mecanismo celular, por exemplo. Esse programa conta com uma
versão gratuita que tem diversas funções, porém apresenta marca d’água na ilustração
final. Na mesma linha de imagens científicas, temos o SciDraw. Também existem
ferramentas conhecidas, como o Power point e Google apresentações, ou mesmo
programas pagos como Adobe Illustrator, Adobe Photoshop e Affinity Designer.
Outro programa interessante é o Inkscape. Cada um desses programas tem vantagens
e desvantagens, e dependerá do objetivo e adaptação do autor.
Como cada programa tem limitações, uma opção é utilizar mais de um para
atingir o objetivo final. Por exemplo, é possível construir um esquema celular no
Biorender e finalizar com textos e esquemas no Canva. Teste vários programas para
conseguir definir qual é melhor para suas preferências.
Independentemente dos programas escolhidos, existem algumas dicas que
podem ser utilizadas para garantir uma imagem clara e harmônica:

● Ao utilizar letras ou números na imagem, garanta que na versão final eles


tenham tamanho adequado e legível ao ser aplicado no texto.
● Dê um título e legenda para todas as imagens, deixando claro o que elas
representam e em que parte do artigo devem ser consultadas.
● Cores
○ Evite utilizar tons muito claros ou muito escuros que possam ocultar
letras ou tornar algo ilegível.
○ As cores das imagens podem auxiliar para separar ou unir uma
informação.
○ Prefira tons pastéis em fundos ou informações menos relevantes, como
forma de hierarquizar a atenção do leitor.

56
○ Evite tons chamativos, pois pode existir confusão na atenção e deixar a
imagem cansativa (imagem 19).

Imagem 19: Tons fortes X tons pastéis

● Espaço
○ Ao construir esquemas, busque formas alinhadas e simétricas,
aproveitando melhor o espaço e facilitando a leitura (imagem 20).
○ Verifique o tamanho que a imagem irá ocupar no artigo, adaptando para
que todas as informações sejam legíveis.
○ Ao utilizar setas, busque que sejam de menor comprimento possível,
tendo um caminho claro e leitura fluida. Evite esquemas que o leitor
precisa desvendar o caminho.
○ Não coloque informações desnecessárias que possam poluir a imagem e
deixá-la confusa.

Imagem 20: Alinhamento e simetria dos esquemas

57
● Letras e números
○ É sempre importante ter legendas nas imagens que permitam identificar os
elementos presentes.
○ Nas imagens em si, é interessante colocar letras e números nos elementos
no lugar de escrever diretamente, pois assim evita-se que a imagem fique
confusa e poluída.
○ A legenda deve estar próxima da imagem, para facilitar a leitura.:
● Evite o fundo branco
○ Para isso, salve as imagens no formato PNG.
○ O fundo branco não cria uma transição adequada entre texto e imagem no
artigo, não sendo visualmente agradável.
○ Existem programas para remoção de fundo das imagens, como o
removebg. Porém, deve-se verificar se a imagem pode ser editada de
acordo com os direitos autorais.

09 - ESCOLHA DO TEMA

COMO TER IDEIAS?

A escolha de um tema de pesquisa pode ser inicialmente desafiadora,


especialmente quanto você não está familiarizado com um assunto. Ter um bom
embasamento teórico é essencial para entender qual a fronteira do conhecimento em
uma determinada área, o que está em debate, e quais são os “hot topics”. É nesta
mesma lógica que se baseia as palavras do artista indiano Anish Kappor: “todas as
ideias surgem de outras ideias”. Há um sem número de temas que podem ser
explorados. Você pode desenvolver ideias por meio de várias ações:

● Conversar com professores: pergunte à eles quais as principais dúvidas que


eles costumam ter na prática, quais problemas ainda precisam ser revolvidos.

58
Isso é muito comum de acontecer involuntariamente durante as discussões de
casos, após o atendimento dos pacientes, quando precisamos definir nossas
condutas.
● Ler a tabela de conteúdos dos periódicos:crie um login na página dos grandes
jornais e revistas de seu interesse, e assine a “table of contents”. Eles costumam
enviar um e-mail com as principais publicações e tópicos da semana. Crie o
hábito de ler esses tópicos semanalmente, seja pelo e-mail, ou separando 30
minutos de seu tempo durante a semana para entrar diretamente nos sites dos
periódicos e ver o que há de novidade.
● Ir em congressos: eventos científicos nos fornecem a oportunidade de sabermos
quais os principais tópicos estão sendo debatidos. É muito comum que a fronteira
do conhecimento esteja bem evidente na conclusão das apresentações.
● Ler o “What’s new”: o Uptodate e o Medscape costumam tem uma seção com
os principais temas recentes de cada especialidade. Abaixo um exemplo de
gastroenterologia e hepatologia, retirado do Uptodate.

COMO SABER SE MEU TEMA É RELEVANTE?

Agora que você já tem um tema em mente, é preciso saber se ele é relevante, ou
seja, se ele justifica você investir tempo e recursos no seu desenvolvimento. Temas
relevantes apresentam as seguintes características

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● Têm foco: normalmente respondem a uma pergunta. Os melhores estudos que
lemos têm uma excelente capacidade de síntese e coerência entre pergunta e
resposta, entre objetivo e conclusão.
● Geram impacto prático e trazem inovação: pergunte-se por quê o tema importa e
qual o impacto da obtenção de respostas na sua realidade.

“O objetivo final da pesquisa científica é gerar novos conhecimentos que sejam


incorporados a um repertório pré-existente e despertem novas ideias para resolver
problemas reais” (AMEE Guide 90, 2014)

COMO SABER SE MINHA PESQUISA É FACTÍVEL?

Uma vez definido um tema relevante, ainda é preciso, antes mesmo de você
começar, definir se você possui os meios necessários para levar a cabo o trabalho. Para
isso, é preciso refletir sobre alguns pontos:

● É possível responder à pergunta?


● Tenho o volume (de pacientes, por exemplo) necessário?
● Tenho tempo necessário?
● Depende só de mim?
● Onde e como estão as informações?
● As informações são acessíveis e disponíveis?
● Quais as questões éticas e autorizações envolvidas?

10 - ESCRITA CIENTÍFICA

O artigo científico não deixa de ser um gênero literário. Sendo assim, ele
apresenta normas de estruturação e composição que lhe conferem características únicas.
Este capítulo se propõe a explorar os principais atributos da escrita de um texto
científico, os principais erros que podem ser cometidos e como evitá-los. Ainda,

60
considerando que 98% das publicações científicas são escritas no idioma inglês, o
sucesso em termos de citações e impacto de nosso trabalho depende também da sua
escrita neste idioma (Gordin MD, 2015). Isso cria um dever adicional para aqueles que
não tem o inglês como idioma nativo, pois precisam escrever textos complexos em uma
segunda língua. Por este motivo, aqui exploraremos também alguns dos principais
pontos de atenção na escrita inglesa direcionada para a ciência.

CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA CIENTÍFICA

Durante a escrita de um texto científico, atente-se às seguintes recomendações:

● Clareza e concisão: na escrita científica, não há espaço para suspense. A


principal contribuição do estudo deve aparecer o mais rápido possível, se
possível logo no título. É preciso passar muita informação com poucas palavras
e caracteres. Para isso, evite frases longas que não trazem ideia alguma, pois elas
podem fazer com que a ideia que se queira passar não seja formada de imediato
na mente do leitor.
● Citação e referenciamento: nunca copie e cole informações, mesmo que estas
sejam referenciadas. Busque sempre transmitir as ideias com suas palavras, pois
a citação serve para mostrar de onde vieram as ideias, e não de onde veio o texto.
Sugerimos a leitura do editorial “Recicling is not always good: the danger of
self-plagiarism (2012)”. Falamos mais sobre a parte técnica das referências no
capítulo 7.
● Evite usar o nome do primeiro autor como sujeito das frases, pois na maioria das
vezes queremos dar destaque à informação, não ao autor.

Ex.: ao invés de escrever “Rocha et al. (2020) found that microglia is activated
in manifest HD”, escreva “Microglia is activated in manifest HD (Rocha et al.,
2020)”

61
Entretanto, em algumas situações é interessante darmos destaque ao autor,
sobretudo quando falamos de acontecimentos históricos, como o primeiro relato
de um caso ou a descoberta de algum processo biológico.

Ex.: “On April 25, 1953, Francis Crick and James Watson described the DNA
double helix structure in the paper ‘A Structure for Deoxyribose Nucleic Acid’,
published in the British scientific weekly Nature”.

● Autores: todos devem ter contribuído com a produção do trabalho e ser capazes
de defendê-lo em apresentações.
○ Ordem
■ Primeiro autor: ocupado normalmente por um pesquisador júnior
(aluno), normalmente aquele que teve a ideia e está disposto à
organizar toda a produção. É interessante ser definido no começo
do trabalho.
■ Coautores: ocupado normalmente por convidados do primeiro
autor para contribuírem com partes específicas do trabalho.
■ Último autor: ocupado pelo pesquisador sênior, coordenador,
orientador.
○ Afiliação dos autores: incluir grupo de pesquisa, departamento/centro,
instituição, cidade, zip code, PO box, país.

REVISÃO GRAMATICAL DO INGLÊS

Erros clássicos

Aqui analisaremos alguns dos principais erros cometidos e como podemos


contorná-los. Sugerimos também algumas recomendações de estética do texto.

62
● Abreviações: o inglês costuma utilizar abreviações latinas, porém muitas em
sequência em um texto não é agradável. Quando possível, você pode utilizar os
equivalentes na língua inglesa (tabela 20).

Tabela 20: Abreviações latinas, significado e equivalentes

● Numerais: separe o número da unidade. Ex.: escreva 150 mEq/L ao invés de


150mEq/L.
● Tempos verbais: o passado predomina na maior parte do texto científico, uma
vez que você está reportando o que foi feito, os resultados que obteve e os
estudos já feitos sobre o tema. Na conclusão, entretanto, predomina o presente,
pois estamos atualizando a área de pesquisa e apontando o que ainda precisa ser
feito.
● Vozes verbais: prefira a voz ativa. pois por ser mais direta economiza palavras.
● Pessoas do discurso: prefira utilizar a 3ª pessoa, pois esta confere maior
impessoalidade às informações apresentadas.
● Formalidade: atente-se ao uso de algumas palavras cotidianas do inglês que são
informais (tabela 21)

Tabela 21: Palavras informais X formais

63
● Conectivos: alguns dos mais utilizados encontram-se abaixo. Procuramos
dividi-los aqui não pelo sentido/ideia que apresentam, mas sim pelo efeito que
têm no texto.
○ Continuação: also, moreover, first, second, in addition.
○ Pausa: for example, in other words.
○ Contraste: however, in contrast, on the other hand, conversely, contrarily.
● Concisão: evite usar palavras complexas e longas e use seus sinônimos simples,
desde que formais. Evitar usos excessivos de “that”, “of” e “it”.

Tabela 22: Simplifique as palavras

Abaixo, na tabela 23, iremos citar algumas frases de exemplos e como podemos
melhorar sua escrita. Um dos principais problemas de concisão é substantivar verbos
ao invés de usá-los diretamente.

Tabela 23: Como melhorar a concisão?

● Cuidado com palavras parecidas (parônimos) do inglês

64
Tabela 24: Parônimos

● Singular x Plural: muitos termos científicos usamos como únicos para o


singular e plural no português. No inglês, entretanto, eles costumam ter formas
diferentes (tabela 25).
Tabela 25: Singular x Plural

● Cuidado com redundâncias comuns: alternative choices, basic fundamentals,


completely eliminate, currently underway, empty space, introduced a new, mix
together, never before, period of time, still persists, quite unique, very similar,
join together, completely full, obtained results, definitely proved, exactly true,
first of all.
● Artigos: quando estamos falando de algo ou alguém em específico, somos
obrigados a utilizar “the”. Se tivermos falando de um grupo sobre coisas ou
pessoas genéricas, não precisamos colocar o artigo. Veja os exemplos abaixo:

65
Drinking water has many benefits; The water is blue; We examined the water
bordering the town.

Love is a strong emotion; The love of a sister

Como melhorar?

A melhor forma de melhorar sua escrita, assim como as demais partes da


produção científica, é treinando, portanto lendo e escrevendo. Sugerimos a leitura do
editorial abaixo, destinado a nós, nativos do português.

● Se tiver dúvida no uso de alguma palavra: acesse o English-Corpora. Esse é


um site que mostra exemplos de trechos de artigos com a palavra para você
entender o uso adequado. É ótimo para aprender como utilizar verbos seguidos de
uma preposição específica, que normalmente causam dúvidas em falantes não
nativos.
● Grammarly: é um programa com extensão para o Google Chrome que analisa
sua escrita, aponta erros gramaticais e sugere modificações para deixar o texto
esteticamente mais agradável. A função gratuita já é de grande ajuda na revisão
do texto.

66
PASSO A PASSO PARA A ESCRITA

Aqui iremos falar das principais partes que compõem um artigo original, e quais
elementos não podem faltar em sua estruturação. É interessante, após ler esta sessão,
começar a ler os artigos com uma visão mais crítica, procurando identificar se as
informações essenciais de cada tópico estão realmente presentes e como o autor as
apresenta. Aqui, as informações estão apresentadas na ordem que recomendamos a
construção do seu trabalho, como uma espécie de passo a passo.

Antes mesmo da escrita


Antes de começar a escrever, indicamos que você adote algumas estratégias. Elas
te ajudarão a planejar como seu paper será organizado e evitarão que você fuja do tema,
tangencie-o ou escreva para a audiência errada.

● Reflita como o seu trabalho se encaixa na literatura atual


○ O que já se sabe a respeito do tema?
○ Quais pontos ainda estão em aberto?
○ Por que este tema é importante?
○ Qual é a hipótese do seu estudo?
○ O que seu estudo espera encontrar?
● Reflita sobre quem é sua audiência e escreva para ela
○ LLeia alguns artigos de revistas que este público leria para entender como
as informações são apresentadas e qual o nível técnico de linguagem é
utilizado.
○ O que sua audiência espera ao ler seu artigo?
○ Qual a mensagem que você quer deixar para quem lê seu artigo?
○ Tenha uma ideia de qual revista você pretende submeter seu trabalho. A
linguagem terá que ser mais geral ou mais específica dependendo do
público da revista. Falaremos mais sobre como escolher um periódico no
capítulo 11.

67
● Prepare previamente, quando possível, figuras e tabelas
○ É sempre interessante fazer os elementos gráficos definitivos após a
escrita do texto. Porém, você pode separar algumas imagens e gráficos
semelhantes ao que você pretende criar. Isso te ajudará a escrever um
texto direcionado às informações que você deseja passar.
○ Organize-os na ordem em que serão apresentados no artigo.
○ Principalmente tabelas e gráficos, por si só, devem passar informação, ou
seja, serem autoexplicativos. Você não tem que descrevê-los inteiramente
no texto. Eles são utilizados justamente para passar muita informação de
forma eficiente.
○ Mais informações sobre a produção técnica das imagens estão no capítulo
8.

Métodos
● Objetivo desta sessão: demonstrar que você utilizou métodos validados
cientificamente e fornecer ao leitor as informações necessárias para reproduzir
seu experimento.
● São a parte mais rápida da escrita. Você pode até mesmo escrevê-los durante o
processo de busca/experimento para evitar esquecer algum detalhe.
● Se você seguiu um procedimento desenvolvido por um outro artigo, cite a fonte e
descreva de forma bem genérica o método.
● Deve ser escrito no tempo verbal passado. Anteriormente recomendamos utilizar
a voz ativa, porém aqui você pode usar a voz passiva para evitar repetição das
sentenças, especialmente por ser uma sessão curta.
● Organize esta seção em subseções para cada procedimento descrito e escreva o
protocolo em ordem cronológica. Alguns pontos que podem te ajudar:
○ Por que esse procedimento foi escolhido?
○ Como os materiais foram preparados?
○ Como as medidas foram feitas? Lembre-se de incluir os números e
configurações utilizados. Forneça detalhes quantitativos e qualitativos.

68
○ Como os resultados foram analisados? Tenha o cuidado de não discutir
os resultados nesta seção.
● Dica: crie uma lista dos procedimentos a serem realizados e depois transforme
em sentenças.

Resultados
● É o espaço para apresentar objetivamente os principais achados e construir uma
base para a discussão, onde os resultados serão subjetivamente interpretados.
Cuidado para não fazer comentários e análises, deixe isso para a discussão. Aqui
queremos que o leitor tire suas próprias conclusões.
● Reflita novamente sobre quais gráficos, tabelas e figuras serão necessários para
facilitar o entendimento. Pense neles antes de escrever o texto.
● Ao invés de apresentar todos os detalhes de uma vez, escreva uma ou duas
sentenças resumindo cada resultado e faça referência ao gráfico, tabela ou
imagem associado. Em seguida, desenvolva melhor cada uma das ideias. Se você
apresenta muitos resultados, pode-se dividir esta seção em várias subseções
seguindo a sequência dos materiais e métodos.
● Em cada resultado, seja o mais específico possível e descreva os dados de forma
biológica ao invés de apenas na forma estatística.
● Ao citar os números, 2 casas decimais são suficientes, a não ser que uma
precisão maior seja necessária.
● Nunca use porcentagens para amostras muito pequenas. Prefira, por exemplo, “3
em 4 pacientes” no lugar de “75% dos pacientes”.
● Cuidado ao apresentar tendências (“houve uma tendência de…”). É preferível
não as colocar, pois como não são estatisticamente significativas (p > 0,05),
acabam sendo subjetivas. Ademais, como vimos no capítulo 05, são incorretas
do ponto de vista conceitual.

69
Discussão
● No primeiro parágrafo: relembre o leitor sobre a lacuna de conhecimento e
como seu trabalho ajudou a preenchê-la. Ou seja, relembre o leitor sobre a
importância do seu estudo e os principais achados dele. Seus achados
contribuíram com a lacuna de conhecimento ou não? Eles contribuíram para
aumentar o limite do conhecimento existente ou não?
● Referencie estudos pré-existentes e discuta como seus achados estão
relacionados a achados já existentes na literatura. Como seus resultados se
comparam aos resultados de estudos similares? Eles são consistentes ou
inconsistentes? Qual o impacto dos seus resultados em pesquisas relacionadas?
● Apresente explicações alternativas para seus achados a fim de criar oportunidade
para pesquisas futuras.
● Você pode aqui analisar criticamente os métodos e sugerir mudanças.
● Atenção: atenha-se à discussão dos SEUS resultados, e não a de outros artigos.
● Finalmente, fale sobre as limitações do seu trabalho.
● Dica: nesta seção, além de interpretar seus achados, você deve procurar
convencer o leitor do porquê eles são importantes.

Observações sobre resultados e discussão


● Em resumo, nos resultados reportamos o que está na tabela, gráfico e figura; na
discussão interpretamos os resultados e comparamos com os de outros
pesquisadores.
● Alguns modelos possíveis de estruturação:
○ Resultados, discussão, conclusão
○ Resultados, discussão
○ Resultados e discussão, conclusão
○ Resultados, discussão e conclusão

70
Conclusão
● Geralmente localizada em sessão própria, pequena, ou como o último parágrafo
da discussão.
● É a oportunidade final de você expressar a importância da sua pesquisa. Ela tem
a função de evidenciar a importância do seu estudo no avanço da grande área.
● É construída com um fluxo de ideias do específico (principal resultado) ao geral
(interpretação dos resultados e importância deles para o avanço da grande área).
● Ao invés de meramente reafirmar seus principais achados, use a conclusão para
resumi-los de forma a gerar novos insights e questões interessantes para futuras
pesquisas. Aqui é importante que o leitor entenda que seu estudo gerou novas
perguntas para serem respondidas por pesquisas futuras.
● Sugerimos terminar com uma frase de impacto.

Introdução
● É construída com um fluxo de ideias do geral para o específico:
○ Comece com ideias amplas que contextualizam o tema do trabalho
■ Apresente a grande área de pesquisa e sua importância, porém sem
grandes revisões ou citações muito extensas.
■ Não é necessário falar de toda a história da área de estudo, apenas
citar informações que sejam relevantes para o entendimento geral
de onde seu estudo se encontra. É importante que alguém de fora
do campo de conhecimento possa compreender o tema.
■ Selecione artigos de alto impacto, publicados nas melhores revistas
e/ou por pesquisadores importantes na área.
○ Em seguida, especifique o tema até chegar à questão que você pretende
abordar.
■ Algumas perguntas para se fazer: qual a lacuna que existe no
conhecimento? Qual problema precisa ser resolvido? O que se sabe
sobre este problema? Por que este problema precisa ser resolvido?

71
(importância/motivação do estudo) Há alguma solução? Quais
limitações existem nessa solução?
■ Mostre lacunas, controvérsias, o que precisa para avançar a
fronteira do conhecimento. “Show the state of the art”, ou seja,
evidencie e cite pesquisas e achados recentes para o leitor saber
onde está a fronteira do conhecimento.
■ Essa é uma seção crucial do trabalho, pois a discussão e a
conclusão precisam responder a esta lacuna. Além disso, a lacuna
de conhecimento guiará suas hipóteses. Uma hipótese é uma
explicação testável por observação ou experimentação para uma
observação da natureza. Elas se relacionam diretamente à pergunta
de pesquisa, e são escritas no tempo verbal presente.
■ Explique como seu estudo contribuirá para preencher essa lacuna.
Evidencie o objetivo do estudo na forma de uma hipótese, questão
ou problema. O que você espera alcançar com seu estudo?
● Finalmente, você pode falar no último parágrafo sobre as implicações e possíveis
impactos sociais de seu trabalho para a área de estudo.

Abstract
● Termo de origem no latim: “ab” (a partir de) + “trahere” (puxar, extrair) =
“extrato a partir de”
○ Então, é idealmente escrito depois que o artigo está pronto.
○ Funciona como uma versão destacada do artigo contendo um apanhado
dos aspectos mais relevantes do trabalho.
● Não deve conter uma visão enviesada, mostrando apenas os achados que
suportam a hipótese do autor. Achados adversos ou não significativos
importantes também devem ser mencionados. Dentro do possível, o leitor deve
conseguir avaliar as conclusões do artigo de forma independente.
● Há vários modelos possíveis de escrita. Um que recomendamos por achar mais
completo é o seguinte:

72
○ Contextualização: identificar a grande área de pesquisa e sua importância.
○ “Gap”: evidenciar o que ainda não se compreende, controvérsias e lacunas
na grande área. Normalmente começa com conectivos de oposição como
“however”.
○ Propósito: evidenciar o objetivo do trabalho relacionando-o ao “gap”.
Um conectivo clássico para começar a frase é “here”.
○ Métodos
○ Resultados
○ Conclusão: evidenciar como seus resultados contribuíram para o avanço
da grande área.
● Há outros modelos possíveis:
○ propósito, métodos, resultados, conclusão;
○ contextualização, “gap”: comum em artigos de revisão;
○ “graphical abstract”: além do texto, traz figuras e gráficos.
● Muitas revistas fornecem instruções próprias para a estruturação.

Título
● Deve ser conciso (máximo 2 linhas). O uso de frases como “report of a case of”,
“the treatment of”, “a study of”, “the effects of” não agrega muita informação
útil. Enfatize os achados chave e os principais resultados se possível logo no
título.

Palavras-chave
● Escolha-as bem. Se elas estiverem erradas, o trabalho acaba indo para o revisor
errado (não especialista no tema) e não é encontrado, logo não é citado.
● Aqui, sugerimos ver artigos de impacto com temática semelhante a sua e quais
palavras-chaves eles utilizaram.

73
11 - SUBMISSÃO

Agora que você está com todo o trabalho feito, é hora de submetê-lo a alguma
revista. O processo de publicação costuma demorar meses, então tenha paciência para
submeter e ressubmeter. Durante a espera pela publicação, indicamos submeter o
abstract a algum congresso de alto impacto, pois após a publicação do trabalho
completo na revista, o resumo normalmente não é mais aceito pelos congressos.

QUAL PERIÓDICO ESCOLHER?

Reflita sobre o periódico

● Escopo: considere quais assuntos o periódico aborda e sua importânciano tema do


seu artigo. Lembre-se que o seu artigo precisa estar alinhado ao tema do
periódico e à sua audiência.
● Fator de impacto: cheque a citação dos artigos publicados neste periódico e
medidas de comparação entre os periódicos. Para isso, utilize medidores de
impacto como o CityU . Entretanto, esta medida não tem muito efeito para
escopos muito específicos.
● Ser revisor/editor do periódico: a credibilidade é um fator que auxilia na
publicação.
● Acesso: considere se deseja publicar em periódicos de acesso aberto ou não.

Reflita sobre o artigo

● Tipo de artigo: artigo original (research paper), artigos de revisão (convidado ou


não), comentários, editoriais (carta ao editor), hipóteses, comunicações breves

74
(short reports - descobertas importantes para rápida publicação), relatos de caso,
tópicos especiais de cada periódico.
● Reflita acerca do impacto do seu artigo na ciência.
● Pense no tema do seu artigo: trata-se de um assunto de interesse específico ou
geral? Há periódicos com artigos similares?

Plataformas para busca de periódicos

Há várias plataformas que funcionam como “find journals”. Elas nos permitem
alcançar um match entre nosso trabalho e a revista. Algumas delas estão citadas abaixo:
● Elsevier
● Springer
● Journal Guide
● Edanz

REVISTAS PREDATÓRIAS

Revistas predatórias são aquelas que alegam ser legítimas e confiáveis, porém
não possuem revisão por pares de qualidade, seu processo de publicação não é
transparente, o corpo editorial apresenta composição nebulosa e pode haver violação de
direitos autorais ou de ética. Assim que você começar a publicar começará a receber
e-mails de spam com convites para publicação rápida. Fique atento, pois são revistas
desinteressadas na publicação de qualidade. Elas estão interessadas, apenas, que você
pague para publicar.

Como identificar uma revista predatória?


● Alega oferecer publicação de acesso público por revisão de pares, mas não
fornece a qualidade prometida.
● Apresenta fator de impacto incorreto ou sem verificação.

75
● Publicação de todo o material submetido após pagamento da taxa ou antes da
assinatura de concordância à publicação.
● Falta de transparência sobre o processo de aceitação do artigo.
● Publicações ou e-mails de contato com erros gramaticais.
● Corpo editorial composto por membros inexistentes ou de área diferente do
escopo do periódico, ou ainda profissionais que não estejam cientes desta
ocupação.
● Cópia do nome ou do site de periódicos conceituados.
● Abordagem agressiva por e-mails em tom de marketing.
● Indicação de sede em um país com informações de contato em outro.
● Obrigatoriedade de quebra dos direitos autorais sobre o material publicado.
● Retirada de publicação ou do periódico da internet sem informações ou avisos
prévios.
● Geralmente não são membros do Comitê de Publicações e Ética (COPE), da
Open Access Scholarly Publishers Association (OASPA) ou listadas pelo
Directory of Open Access Journals (DOAJ).
● Geralmente não são indexadas em bases de dados confiáveis.

Em 2008, Jeffrey Beall, cientista da Universidae do Colorado, criou uma lista


com possíveis, potenciais e prováveis revistas predatórias. Desde então, a chamada
“Beall list” vem sendo atualizada, passando de 18 periódicos em 2011, para cerca de
1000 em 2016. Em 2013, John Bohannon, correspondente da Science, submeteu
inúmeros artigos com erros óbvios e graves a diversos periódicos contidos na Beall list,
sendo que 82% deles aceitaram erroneamente os trabalhos.

ÚLTIMOS DETALHES

● Cover letter: texto que deve deixar clara a importância do trabalho e por quais
razões ele merece ser publicado e por quê nesta revista. É sempre interessante
relacionar seu trabalho com a audiência da revista.

76
○ Verifique nas instruções editoriais se há informações específicas exigidas
na cover letter.
○ Incluir a data de envio, o tipo do manuscrito, o nome do autor e o nome
do periódico ao qual se destina.
○ Se possuir, inclua o nome do editor que avaliará o manuscrito.
○ Frases obrigatórias na sua cover letter: “Atestamos que este manuscrito
não foi publicado em outro lugar e não está sob consideração por outro
periódico” e “Todos os autores aprovaram o manuscrito e estão de acordo
com a sua submissão ao periódico [inserir o nome do periódico de
destino]”.
● Correções que a revista sugerir: deixe as correções grifadas e na nova cover
letter responda as perguntas e dúvidas indicando no texto as respostas e correções.
● Galley proof: artigo editorado em sua versão final. Cheque se não há erros
causados pela editoração.

77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Guia de referência rápida [Internet]. Elsevier; 2014. Available from:


https://www.periodicos.capes.gov.br/images/documents/ScienceDirect_Guia%20de%20
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criado em 15 de janeiro de 2023]. Disponíveis em: https://www.canva.com/.

82
Rafael dos Santos Borges: graduando em medicina
pela UFMG, membro da Liga Acadêmica de Pesquisa
Científica (LIAPEC-UFMG).

Marina Cunha Nascimento: graduanda em medicina pela


UFMG, integrante da Liga Acadêmica de Cirurgia
Oncológica (LACONG-UFMG), coordenadora do projeto
de extensão de divulgação científica Panaceia-UFMG.

�,--- abrielle Martins Peres: graduanda e m Medicina pela


UFMG, coordenadora do Ensino Médico na Gestão
Carcará do Diretório Acadêmico Alfredo Balena (DAAB­
.____._____. UFMG).

Ana Cristina Simoes e Silva: Professora Titular do


Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da
UFMG, coordenadora da Unidade de Nefrologia Pediátrica
do Hospital das Clínicas da UFMG, Professora
coordenadora da Liga Acadêmica de Pesquisa Científica
(LIAPEC-UFMG), bolsista de Produtividade em Pesquisa
do CNPq.
Alguma vez você já ficou em dúvida sobre como fazer as
referências e as ilustrações de um texto acadêmico? Já teve dúvidas
sobre como escrever o texto de forma eficiente ou sobre os
principais recursos, programas e sites que podem te ajudar nisso?
Este e-book, fruto de um trabalho conjunto entre a Liga Acadêmica
de Pesquisa Científica e o Diretório Acadêmico Alfredo Balena, da
UFMG, reúne um conjunto de ferramentas e indicações sobre a
produção de textos acadêmicos

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