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Bioética e

Biossegurança
Biossegurança Laboratorial e
Epidemiológica
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
PAULO HERALDO COSTA DO VALLE
AUTORIA
Paulo Heraldo Costa do Valle
Olá. Sou graduado em Fisioterapia, com mestrado e doutorado
em Fisiologia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e uma
experiência técnica, profissional e acadêmica na área de Saúde há mais
de 25 anos.

Trabalhei em várias instituições como a Universidade de Cruz Alta


(UNICRUZ), Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande
do Sul (UNIJUI), Universidade Cidade de São Paulo (UNICID), Universidade
Gama Filho (UGF), Universidade Ibirapuera (UNIb), Universidade Nove de
Julho (UNINOVE) e Kroton Educacional.

Ainda, trabalhei como consultor ad hoc do MEC para autorização,


reconhecimento e renovação de cursos de graduação durante dez anos
e fui membro da Comissão Assessora do Curso de Fisioterapia do Exame
Nacional de Desempenho do Estudante (Enade).

Também fui membro da Comissão de Qualificação de Cursos


e da Comissão de Educação do Conselho Federal de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (COFFITO) e membro da Comissão de Sindicância
do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO).
Fui vice-presidente da Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia e
presidente da Associação Brasileira de Ensino em Fisioterapia. Além da
Telesapiens, já produzi conteúdos para a Kroton Educacional, Editora
Guanabara Koogam, 5G Educacional, Uninter, Delinea, Must, Campanha
Nacional de Escolas da Comunidade e DPContent.

Sou apaixonado pelo que faço e adoro transmitir minha experiência


de vida àqueles que estão iniciando em suas profissões. Por isso, trabalho
junto com a Editora Telesapiens compondo o seu elenco de autores
independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de
muito estudo e trabalho.

Conte comigo!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do
desenvolvimento houver necessidade
de uma nova de apresentar um
competência; novo conceito;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
Segurança Biológica e Doenças Adquiridas em Laboratório.... 10
Segurança Biológica......................................................................................................................10

Níveis de Segurança Biológica.............................................................................................. 13

Código de Práticas.......................................................................................................................... 15

Acesso ao Laboratório.................................................................................................................. 15

Proteção Individual no Laboratório..................................................................................... 16

Normas.................................................................................................................................................... 18

Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva.......................... 21


Ministério do Trabalho.................................................................................................................. 21

Equipamentos de Proteção...................................................................................................... 22

Equipamento de Proteção Coletiva................................................................. 22

Equipamentos de Proteção Individual...........................................................26

Obrigações Específicas para Empregador, Empregados, Fabricante e


Importador.............................................................................................................................................28

Obrigações para o Empregador.........................................................................28

Obrigações para o Empregado..........................................................................29

Obrigações do Fabricante ou do Importador...........................................29

Organismos Geneticamente Modificados......................................... 32


Aspectos Gerais sobre os Organismos Geneticamente Modificados.......32

Lei n° 8.974/1995...............................................................................................................................37

Lei n° 11.105/2005............................................................................................................................ 38

Comparações Entre as Duas Leis....................................................................................... 39

Gestão das Comissões Internas de Biossegurança.............................................. 40

Principais Funções das Comissões Internas de Biossegurança................... 41


Assuntos Éticos Controversos................................................................ 43
Começo da Vida................................................................................................................................43

Engenharia Genética.....................................................................................................................44

Aborto...................................................................................................................................................... 46

Modalidades do Aborto............................................................................................47

Código Penal....................................................................................................................47

Reprodução Assistida................................................................................................................... 48

Normas Éticas para a Utilização das Técnicas de Reprodução


Assistida.............................................................................................................................. 49

Alterações da Resolução do Conselho Federal de Medicina em


vigor....................................................................................................................................... 50

Transplante de Órgãos................................................................................................................ 50

Pacientes Terminais........................................................................................................................52

Eutanásia e Morte Assistida......................................................................................................53


8 Bioética e Biossegurança

INTRODUÇÃO
Olá! Convido você a continuar este processo de conhecimento
e aprendizagem, que tenho certeza de que será muito enriquecedor,
repleto de desafios e estímulos para o seu o crescimento. Você é o nosso
convidado especial para continuar esta viagem por meio do conhecimento.
Durante esta trajetória, você irá se deparar com trilhas muito interessantes
e desafiadoras em todo este percurso.
Bioética e Biossegurança 9

OBJETIVOS
Olá! Seja muito bem-vindo à Unidade 3 – Biossegurança Laboratorial
e Epidemiológica. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento
das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de
estudos:

1. Aplicar procedimentos de segurança biológica como prevenção


de doenças adquiridas em laboratórios.

2. Operar equipamentos de proteção individual e coletiva em


laboratórios e unidades de Saúde que ofereçam riscos de
contaminação.

3. Compreender o processo de modificação genética dos organismos


e seu impacto na Biossegurança.

4. Discernir sobre os assuntos éticos controversos na área de Saúde.

Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao


conhecimento? Ao trabalho!
10 Bioética e Biossegurança

Segurança Biológica e Doenças


Adquiridas em Laboratório
OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos reconhecer os níveis de segurança


biológica. Além disso, conhecer o código de prática, o
acesso ao laboratório, a proteção individual no laboratório
e as normas. E então? Motivado para desenvolver esta
competência? Então vamos lá. Força que vem muito
assunto bom por aí!.

Segurança Biológica
A segurança biológica pode ser compreendida como o manejo dos
riscos biológicos e ambientais que se relacionam com a alimentação e
a agropecuária. Diante disso, também inclui, dentre seus interesses, os
setores relativos à pesca e à floresta. Desse modo, os principais riscos
de caráter biológico envolvem questões como a presença de pragas
vegetais e animais, a erosão da biodiversidade e da biopirataria e outras
que possam acelerar a perda dos recursos biológicos e genéticos,
abrangendo também aquelas que se relacionam à disseminação de
doenças.

Assim, a segurança biológica é de extrema importância,


principalmente quando se leva em consideração o cenário atual e os
impactos que a globalização causou e ainda vem causando para o âmbito
do comércio internacional nas últimas décadas. Nessa perspectiva,
diversos países, inclusive o Brasil, se beneficiam das trocas comerciais de
mercadorias que ocorrem entre os países.

Um dos setores que merece destaque quando o assunto são as


trocas comerciais no setor nacional é o agronegócio, tido como o setor
mais rentável da economia brasileira, mas que, ao mesmo, é considerado
o mais vulnerável, já que está exposto a riscos como aqueles envolvendo
a introdução de pragas e doenças que podem causar sérios e graves
danos para a agricultura.
Bioética e Biossegurança 11

Nesse contexto, a segurança biológica deve ser considerada


prioridade para o Brasil e para o mundo, pois, por meio da aplicabilidade
das práticas e das técnicas destinadas à garantia dessa modalidade,
evitar-se-á que determinadas doenças sejam disseminadas, sendo
também fundamental para garantir a segurança alimentar e a nutrição,
além de questões relativas à sustentabilidade ambiental e agrícola e à
conservação da diversidade biológica.

Salienta-se que a segurança biológica e a Biossegurança são


importantes, mas não devem ser confundidas entre si, pois a Biossegurança
faz menção de forma específica aos organismos geneticamente
modificados, também conhecidos por meio de sua sigla, OGMs.

Quanto aos instrumentos que garantem a segurança biológica,


serão citados alguns exemplos utilizados na agropecuária brasileira,
sendo esses apresentados na Figura 1 e explicados a seguir.
Figura 1 – Exemplo de instrumentos da segurança biológica

Fonte: Elaborada pelo autor (2022).

O intercâmbio dos recursos genéticos objetiva aumentar a


variabilidade genética das culturas agrícolas, tendo como intenção aplicar
certas pesquisas agropecuárias no Brasil. Dessa forma, o material genético
que deriva de outros estados presentes no território nacional e de outros
países é usado com a intenção melhorar os programas presentes no Brasil.

Quanto às questões relativas à Estação Quarentenária, esse é o


órgão designado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) para a realização de espécies vegetais introduzidas no Brasil com
12 Bioética e Biossegurança

a intenção de pesquisa. Diante disso, a análise fitossanitária também é


efetuada por esse Ministério, sendo destinada para produtos que tenham
prescrição de quarentena, a partir de solicitação feita pelo MAPA, com a
intenção de que pragas exóticas sejam interceptadas e não se propaguem
no território nacional. Assim, a análise envolve a investigação acerca da
presença e/ou da ausência de:

•• Ervas daninhas.

•• Insetos.

•• Ácaros.

•• Vírus.

•• Viroides.

•• Fitoplasmas.

•• Fungos.

•• Bactérias.

•• Nematoides.

Quanto à sanidade vegetal, essa rede se faz presente no âmbito


da Embrapa e é coordenada pela Embrapa Recursos Genéticos e
Biotecnologia, tendo como objetivo analisar quais são as vulnerabilidades
da agricultura brasileira, devendo também otimizar os métodos de controle
de pragas para que sejam impedida e dirimida a sua introdução no Brasil,
bem como procura evitar que as pragas sejam dispersadas. Além disso, a
sanidade vegetal também tem como intenção diminuir o impacto que se
apresenta sobre as áreas de produção agrícola. Diante disso, constrói-se
um modelo fitossanitário com a intenção de que os produtos relativos ao
agronegócio brasileiro serão melhorados.

Por sua vez, a plataforma de serviço estratégico se divide em


análise de risco de praga e identificação a distância de pragas. Assim, a
análise de risco de pragas leva em consideração a Instrução Normativa
nº 24, de 5 de julho de 2002, sendo que a coordenação dessa etapa fica
a cargo da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. Com relação
à identificação a distância de pragas, ela também será solicitada por
Bioética e Biossegurança 13

meio do MAPA e pode ser utilizada com a intenção de que a fruticultura


brasileira seja devidamente protegida.

Por fim, o último exemplo de instrumento de segurança biológica


é a plataforma tecnológica para o Sistema de Segurança Biológica
Agrícola, compreendido como um novo modelo de desenvolvimento
capaz de proporcionar por meio sistemático e ordenado. Além disso,
é o responsável por fornecer uma maior agilidade à transparência e à
eficiência das análises fitossanitárias de material vegetal intercambiado,
que garante a segurança biológica dos produtos agrícolas que fazem
parte do agronegócio brasileiro.

Níveis de Segurança Biológica


Existem recomendações e orientações básicas que são
consideradas condições mínimas para todos os laboratórios com relação
aos níveis de segurança biológica, sendo divididos de acordo com os
grupos de risco entre 1 e 4.

Apesar de que algumas recomendações possam ser julgadas


como não necessárias para alguns organismos do grupo de risco 1, elas
podem ser consideradas com o propósito de realização de atividades
mais seguras.

Já os laboratórios que apresentam a finalidade de diagnósticos


e cuidados de saúde (saúde pública, clínicos ou hospitalares), são
configurados no mínimo como de nível 2 de segurança biológica, visto
que não têm um controle completo de todos os espécimes que recebem.

Os agentes laboratoriais podem estar expostos a organismos em


grupos de risco que são mais elevados que o previsto. Portanto, devem
ser levadas em consideração essas questões na elaboração dos planos e
políticas de segurança biológica.

Em vários países, os laboratórios clínicos são obrigados a estar


oficialmente acreditados, sendo, portanto, necessária a adoção e a
utilização de cuidados padrões nesses casos.
14 Bioética e Biossegurança

As condutas para os laboratórios de base, com os níveis 1 e 2 de


segurança biológica, devem ser amplas e com muitos detalhes, uma vez
que são primordiais para os laboratórios de todos os níveis de segurança
biológica.
Figura 2 – Grau do grupo risco

Nenhum ou baixo risco individual e coletivo

Risco individual moderado e risco coletivo baixo

Alto risco individual e baixo risco coletivo

Alto risco individual e coletivo

Fonte: Elaborada pelo autor (2022).

No nível 1, está envolvido o trabalho dos agentes com menor


grau de risco para os indivíduos que estão em contato com eles, sendo
recomendado, por exemplo, para a pipetagem, um dispositivo mecânico,
além da utilização dos outros equipamentos de proteção.

Já o nível 2 corresponde aos agentes de risco moderado tanto para


os indivíduos quanto para o Meio Ambiente, sendo adequada a utilização
de uma cabine de segurança biológica, além dos equipamentos de
proteção individual.

Para os laboratórios de confinamento com nível 3 de segurança


biológica e laboratórios de confinamento máximo com nível 4, as condutas
são o objetivo com relação às modificações e ao complemento, visto que
o trabalho com os agentes patogênicos são muito perigosos.

O nível 3 está relacionado à manipulação dos agentes infecciosos


que podem causar doenças muito sérias ou, em certos casos, letais.
Bioética e Biossegurança 15

IMPORTANTE:

Todos os procedimentos devem ser realizados na


cabine de segurança biológica, devendo ser utilizadas
máscaras faciais ou respiradores, além de todos os outros
equipamentos de proteção individual.

O nível 4 está relacionado ao organismo receptor ou doador com


o potencial patogênico. Nesse caso, é indicada a utilização da roupa
protetora completa, descartável e ventilada por meio da pressão positiva.
Nesses casos, os pipetadores automáticos são obrigatórios, além de
todos os outros equipamentos de proteção individual.

Código de Práticas
O código de práticas corresponde a uma relação das práticas
e normas mais importantes que compõem a base das técnicas de
Microbiologia.

A experiências dos laboratórios e os programas nacionais para


laboratórios podem auxiliar na construção das práticas e normas escritas
para garantirem um desempenho mais seguro.

É fundamental que cada laboratório adote um manual de segurança


ou de trabalho em que exista a identificação de todos os perigos
conhecidos e potenciais e no qual estejam detalhadas todas as práticas
e normas, tendo como objetivo a eliminação ou a minimização de todos
os perigos.

As boas técnicas de Microbiologia são primordiais para garantir


a segurança nos laboratórios. Todos os equipamentos laboratoriais
especializados são considerados auxiliares dessa segurança, mas não
devem e não podem substituir as normas.

Acesso ao Laboratório
É obrigatório que estejam expostos, em todas as portas das salas,
o símbolo e o sinal internacional de risco biológico (Figura 1) nos locais
16 Bioética e Biossegurança

onde exista a manipulação de microrganismos que fazem parte do grupo


de risco 2, 3 e 4.

Nas áreas de trabalho, é permitida a entrada apenas dos indivíduos


que estão autorizados, sendo que as portas devem sempre permanecer
fechadas.

Nenhuma criança está autorizada a entrar ou ter contato com as


áreas de trabalho do laboratório.

Quanto ao acesso aos locais onde estão os animais, é necessária


uma autorização especial. Nenhum outro animal pode entrar no laboratório
além dos que já estão no recinto.
Figura 3 – Símbolo de risco biológico

Fonte: Pixabay.

Proteção Individual no Laboratório


Quanto à proteção individual no laboratório, devem ser realizados
os seguintes cuidados:

•• Utilização permanente de capas e batas.

•• Luvas apropriadas em todas as atividades que estão relacionadas


com a possibilidade de contato direto ou de forma acidental com
Bioética e Biossegurança 17

sangue, fluidos corporais, materiais potencialmente infecciosos ou


animais infectados.

•• Posteriormente à utilização, é necessária a retirada das luvas com


cuidado e a lavagem das mãos (Figura 4).
Figura 4 – Segurança no laboratório

Fonte: Wikimedia Commons.

•• Os indivíduos devem sempre lavar as mãos após o contato com o


material infeccioso ou animais e antes da saída de todas as áreas
de trabalho do laboratório.

•• É necessária a utilização de óculos de segurança, como também


de viseiras ou outros dispositivos para a proteção nos casos em
que é obrigatória a proteção nos olhos e cuidado com o rosto.

•• É proibida a utilização de roupas de proteção individual fora da


área do laboratório.
18 Bioética e Biossegurança

•• É proibida a utilização de sandálias ou chinelos nos laboratórios.

•• Não se pode comer, beber ou fumar na área do laboratório.

•• Não se pode utilizar lentes de contato nas áreas do laboratório.

•• Não é permitido alimentar-se ou beber nas áreas de trabalho do


laboratório.

•• As roupas utilizadas no laboratório de proteção individual não


podem ser guardadas junto com as outras roupas no mesmo
armário.

Normas
A seguir, serão abordadas as várias normas que devem sempre ser
respeitadas em um laboratório, por exemplo:

•• É terminantemente proibido realizar a pipetagem com a boca.

•• Não se pode colocar na boca nenhum material.

•• Não se pode lamber nenhum rótulo.

•• Os procedimentos técnicos precisam ser realizados de uma


maneira que promova a redução da formação dos aerossóis e
gotículas.

•• Não deve ser limitada a utilização das agulhas e seringas


hipodérmicas, sendo que elas não podem ser substituídas por
pipetas ou qualquer outro procedimento.

Em caso de acidente (por exemplo, a aspiração de algum fluido),


ele deve ser notificado imediatamente para o supervisor responsável.

•• Todos os acidentes precisam ser documentados, ou seja, devem


ser registrados por escrito imediatamente.

•• É necessário que todas as normas de limpeza estejam escritas de


forma bastante detalhada.

•• Todos os líquidos que estiverem contaminados de forma química


ou física devem ser descontaminados previamente antes de serem
Bioética e Biossegurança 19

lançados nos esgotos sanitários. De acordo com o caso, pode ser


necessária a existência de um sistema de tratamento de efluentes,
devendo ser realizada a avaliação dos riscos quanto ao agente ou
agentes que estão sendo manipulados.

•• Todos os documentos escritos que, por algum motivo, tenham que


sair do laboratório, necessitam estar protegidos da contaminação
dentro do laboratório.
20 Bioética e Biossegurança

RESUMINDO:

Neste capítulo, você estudou os níveis de segurança


biológica, o código de prática, o acesso ao laboratório, a
proteção individual no laboratório e as normas. Também
viu que há normas quanto ao uso do equipamento de
proteção, bem como para a segurança no laboratório.
Nessa perspectiva, também aprendemos a classificação
dos microrganismos infecciosos, considerando o grupo de
risco ao qual eles pertencem. Assim, o grupo de risco 1 tem
nenhum ou baixo risco, já o grupo de risco 2 apresenta risco
individual moderado e risco coletivo baixo, enquanto o
grupo de risco 3 dispõe de alto risco individual e baixo risco
coletivo. Por fim, o grupo de risco 4 é dotado de alto risco
individual e coletivo. Além disso, abordamos as proteções
individuais no laboratório, bem como aquelas vinculadas às
normas que devem ser respeitadas e seguidas para que o
laboratório funcione de forma correta.
Bioética e Biossegurança 21

Equipamentos de Proteção Individual e


Coletiva

OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos estudar a função do Ministério do


Trabalho, os equipamentos de proteção coletiva e individual
e as obrigações específicas para empregador, empregados,
fabricante e importadores. E aí? Motivado para desenvolver
esta competência? Força! Você consegue! Temos muito
conteúdo legal pela frente..

Ministério do Trabalho
A função do Ministério do Trabalho é comprovar a qualidade dos
equipamentos de proteção que estão disponíveis no mercado por meio
da emissão de um certificado, o qual é chamado de Certificado de
Aprovação (CA).

IMPORTANTE:

Por meio da Lei n° 6.514, de 22 de dezembro de 1997,


toda empresa é obrigada a fornecer de forma gratuita a
todos os seus funcionários os equipamentos de proteção
individual em completo estado de conservação, de acordo
as necessidades do trabalho e com os riscos aos quais o
trabalhador vai estar exposto.

A comercialização ou o fornecimento de qualquer equipamento de


proteção sem o certificado de aprovação é considerada um ato criminal,
o que significa que tanto o comerciante quanto o empregador vão estar
sujeitos às penalidades previstas em lei.
22 Bioética e Biossegurança

Equipamentos de Proteção
Existem dois tipos de equipamentos de proteção que devem ser
utilizados:

•• Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs).

•• Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).


Figura 5 – Equipamento de proteção individual

Fonte: Pixabay.

Equipamento de Proteção Coletiva


Os equipamentos de proteção coletiva, como o próprio nome
diz, têm a função de proteger ou socorrer de forma coletiva todos os
indivíduos.

Os equipamentos listados a seguir precisam estar instalados ou


posicionados em locais considerados estratégicos. Alguns exemplos
desses equipamentos são:

•• Cabines de segurança, mais conhecidas como capelas.

•• Chuveiros de emergência.

•• Lavador de olhos.
Bioética e Biossegurança 23

•• Equipamentos de socorro.

•• Luminárias de emergência.

•• Isolamentos acústicos.

•• Extintores.

•• Hidrantes.

•• Chuveiro automático ou sprinklers.

•• Cones de sinalização.
Figura 6 – Equipamentos de proteção coletiva

Fonte: Pixabay.

Extintores

A finalidade dos extintores é combater os princípios de incêndio.


Existem quatro tipos existentes, que são extintores de:

•• Espuma.

•• Água pressurizada.

•• Dióxido de carbono.

•• Pó químico.
24 Bioética e Biossegurança

Extintores de espuma

Os extintores de espuma são indicados para os incêndios em


combustíveis comuns (classe A) e líquidos inflamáveis. O agente extintor,
neste caso, é a espuma (bicarbonato de sódio e sulfato de alumínio)
somada a um estabilizador, que é o gás carbônico, sendo, então, o agente
propulsor.

Extintores de água

Os extintores de água pressurizada atuam por meio do resfriamento


do material combustível que está em combustão. O agente propulsor,
neste caso, é um gás (dióxido de carbono e nitrogênio).

Extintores de dióxido de carbono

Os extintores de dióxido de carbono vão agir sobre o fogo por meio


da exclusão do oxigênio, do abafamento e por uma ação de resfriamento.

Extintor de pó químico

O extintor de pó químico é o agente extintor, sendo composto


do bicarbonato de sódio ou bicarbonato de potássio, que vai obter um
tratamento para se tornar higroscópico. A higroscopia é a propriedade que
determinados materiais apresentam de absorver a água.

O agente propulsor, neste caso, é o dióxido de carbono ou nitrogênio.


Figura 7 – Extintores

Fonte: Pixabay.
Bioética e Biossegurança 25

Chuveiro automático ou sprinklers

Outro equipamento importante de proteção coletiva é o chuveiro


automático ou sprinklers, sendo um tipo de instalação de proteção contra
incêndio formada por uma série de crivos que têm o objetivo de borrifar
de forma automática a água no local do foco inicial de um incêndio para
evitar a propagação por meio da sua extinção.
Figura 8 – Sprinklers

Fonte: Pixabay.

Chuveiros automáticos

Todos os chuveiros automáticos precisam estar com os seus


registros sempre abertos. É necessário que exista um espaço livre de 1 m
abaixo e ao redor dos pontos de saída dos chuveiros automáticos, tendo
como objetivo garantir a dispersão da água de forma eficiente.

Hidrantes

Os hidrantes são utilizados para o combate de incêndio, sendo


formados pela mangueira, requinte, esguicho e um conjunto de instalação.
Têm a função de atuar de forma autossuficiente, devendo estar situados
estrategicamente para que toda a área esteja completamente protegida.
26 Bioética e Biossegurança

Equipamentos de Proteção Individual


Os equipamentos de proteção individual são dispositivos de uso
individual, devendo ser manipulados por todos os funcionários. A finalidade
é oferecer a proteção para todos os riscos que são suscetíveis e podem
prejudicar a segurança e a saúde de todos os empregados, assegurando
um mínimo de desconforto sem tirar a liberdade de movimento de quem
está usando.
Figura 9 – Elementos de proteção individual

Fonte: Freepik.

Os principais equipamentos de proteção individual que devem ser


utilizados são:

•• Luvas.

•• Óculos.

•• Máscaras.

•• Protetores auriculares.
Bioética e Biossegurança 27

•• Capacetes.

•• Sapatos apropriados.

•• Avental.

Todos os equipamentos de proteção individual são fundamentais


para a prevenção de acidentes e doenças envolvidos com o trabalho. É
obrigatório o fornecimento desses equipamentos de proteção para todos
os funcionários.

Entrega dos equipamentos de proteção individual

Os materiais devem ser entregues nas seguintes situações:

•• Nos casos em que os cuidados não conseguem oferecer uma


completa proteção contra os riscos de acidentes de trabalho ou
de doenças ocupacionais.

•• Enquanto as medidas de proteção coletiva ainda estão sendo


implantadas.

•• Para atender às situações de emergência.

Toda empresa é obrigada a providenciar a todos os empregados,


sem nenhum custo, os equipamentos de proteção individual, que
devem estar adequados ao risco e em perfeito estado de conservação
e funcionamento, nos casos em que as medidas de ordem geral não
garantam uma proteção completa contra os riscos de acidentes e danos
à saúde de todos os empregados.
28 Bioética e Biossegurança

Obrigações Específicas para Empregador,


Empregados, Fabricante e Importador
Há algumas obrigações que são específicas para o empregador,
para os empregados e para o fabricante ou o importador. Abaixo, segue
uma lista contendo essas obrigações.

Obrigações para o Empregador


As obrigações para o empregador são:

•• Utilizar o equipamento adequado ao risco para cada atividade.

•• Exigir o uso dos equipamentos para todos os funcionários do setor


envolvido.

•• Fornecer ao trabalhador somente os equipamentos que estão


aprovados por meio do órgão nacional competente relativo à
segurança e à saúde no trabalho.

•• Orientar todos os trabalhadores com relação à utilização adequada


e à conservação.

•• Substituir todos os equipamentos que forem danificados.

•• Ser o responsável pela higienização e manutenção periódica de


todos os equipamentos.

O gerenciamento de todos os equipamentos de proteção individual


é fundamental para o empregador, visto que, em uma auditoria, deve
ser comprovado, por exemplo, o uso efetivo de protetores auriculares,
respiradores, capacetes, luvas, dentre outros.

Caso o empregador não consiga comprovar a utilização, será


condenado a pagar indenizações em função da inexistência de provas da
utilização efetiva dos equipamentos de proteção individual.
Bioética e Biossegurança 29

Obrigações para o Empregado


As obrigações para o empregado são:

•• Utilização dos equipamentos apenas para a finalidade destinada.

•• Ser o responsável pela guarda e conservação.

•• Comunicar imediatamente ao empregador qualquer alteração que


possa deixar impróprio o equipamento.

•• Cumprir todas as determinações do empregador quanto à


utilização adequada.

•• Caso o funcionário não queira utilizar o equipamento, essa atitude


será considerada uma falta grave.

Obrigações do Fabricante ou do Importador


As obrigações do fabricante ou do importador são:

•• Estar cadastrado no órgão nacional competente com relação à


segurança e saúde do trabalho.

•• Solicitar o certificado de aprovação periodicamente.

•• Requerer um novo certificado de aprovação quando existir


alteração referente às especificações do equipamento.

•• Ser o responsável pela manutenção da qualidade dos


equipamentos de proteção individual que deram origem ao
certificado de aprovação.

•• Comercializar apenas os equipamentos de proteção individual


que tenham o certificado de aprovação.

•• O equipamento deve sempre ser vendido portando todas as


instruções técnicas no idioma nacional, com todas as orientações
relativas à sua utilização, manutenção e restrição de utilização.

•• Deve constar, nos equipamentos de proteção individual, o número


do lote de fabricação.
30 Bioética e Biossegurança

•• É dever manter a qualidade de todos os equipamentos de proteção


individual que deram origem ao certificado de aprovação.

•• Todos os equipamentos precisam ser testados em laboratórios


para a comprovação quanto à qualidade e, ainda, serão avaliados
pelo auditor fiscal e pelos profissionais da área de segurança.

Não se pode comercializar ou vender nenhum equipamento


sem o certificado de aprovação. A validade é de: cinco anos, para os
equipamentos com laudos de ensaio que não tenham sua conformidade
avaliada no Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (SIMMETRO); dois anos, para os equipamentos de proteção que
foram desenvolvidos até a data de publicação dessa norma e no caso
de não existirem normas técnicas nacionais ou internacionais oficialmente
reconhecidas ou laboratório capacitado para a realização dos exames.

O gerenciamento dos equipamentos de proteção individual deve


sempre ser realizado com base na NR 6, levando em consideração os
principais pontos, que são:

•• A seleção do equipamento a ser utilizado pelo empregado deve


ser realizada com base no critério técnico.

•• O empregador deve exigir a utilização dos equipamentos


de proteção individual, visto que a recusa injustificada pelo
empregado quanto à utilização dos equipamentos de proteção
individual é considerada um ato faltoso.

•• Só devem ser oferecidos ao empregado os equipamentos de


proteção individual que forem aprovados pelo órgão nacional
responsável pela segurança e saúde do trabalhador.

•• O funcionário precisa ser orientado e treinado com relação à


utilização adequada dos equipamentos de proteção individual,
visto que o treinamento é primordial para o programa de
gerenciamento.

•• Todo o treinamento com os funcionários deve sempre ser


documentado, pois, nos processos judiciais e administrativos,
Bioética e Biossegurança 31

pode ser utilizado como uma prova para justificar que o preparo
era realizado de forma satisfatória.

•• Todo equipamento que estiver danificado ou extraviado precisa


ser substituído imediatamente, sendo fundamental que exista
um programa de gerenciamento dos equipamentos de proteção
prevendo a periodicidade de substituição deles e orientando
que os trabalhadores comuniquem imediatamente quando os
equipamentos forem danificados ou extraviados. A higienização
e a manutenção dos equipamentos devem ser realizadas
periodicamente.

RESUMINDO:

Neste capítulo, estudamos os principais aspectos e


características acerca dos equipamentos de proteção. Nas
discussões, apresentou-se o papel do Ministério do Trabalho
e quais são as suas funções e características principais.
Além disso, foram apresentados alguns dos principais
equipamentos a serem utilizados. Nessa perspectiva,
também efetuamos o estudo acerca dos equipamentos de
proteção, que se dividem em equipamentos de proteção
individual e equipamentos de proteção coletiva. Também
foram discutidas as obrigações do empregado, do
fabricante ou do importador e as do empregador.
32 Bioética e Biossegurança

Organismos Geneticamente Modificados


OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos entender quais são os organismos


geneticamente modificados e quais são as características
e aspectos gerais atrelados a eles. E então? Motivado para
desenvolver mais esta competência? Continue assim. Logo,
colherá excelentes resultados!.

Aspectos Gerais sobre os Organismos


Geneticamente Modificados
Os organismos geneticamente modificados, também denominados
de transgênicos, são aqueles que receberam um gene pertencente a
outro organismo. Dessa forma, é promovida uma alteração em seu DNA
que o permite ter características que não tinha antes de a modificação ser
realizada.

Em outras palavras, é por meio da transgenia que ocorre a


evolução do melhoramento genético de caráter convencional, com
aquelas características que o agrônomo deseja transmitir a espécies
diferentes visando melhorá-las em um aspecto específico, seja aumentar
a durabilidade, a resistência ou torná-las mais nutritivas, por exemplo, o
que poderá ser implementado no organismo em questão.

Atualmente, já existe um número significativo de alimentos


transgênicos presentes na cadeia alimentar. Desse modo, destacam-se
dez alimentos transgênicos:

•• Milho e os alimentos que derivam dele.

•• Óleos de cozinha.

•• Soja.

•• Mamão papaia.

•• Queijo.
Bioética e Biossegurança 33

•• Pão, bolos e biscoitos.

•• Abobrinha.

•• Arroz.

•• Feijão.

•• Salmão.

Ainda que os alimentos transgênicos sejam conhecidos e temidos


em decorrência dos danos que podem causar à saúde, quando se leva em
consideração os organismos geneticamente modificados, observamos
que eles não apresentam apenas pontos negativos e desvantagens.
Figura 10 – Organismos geneticamente modificados

Fonte: Pixabay.

Apesar do fato de que os alimentos transgênicos são comumente


vistos como vilões, não é uma visão que pode anular a sua importância,
pois eles surgiram com a intenção de preencher uma lacuna importante
na produção mundial de alimentos.

Dessa forma, o avanço presente e relativo ao campo da biotecnologia


é uma tendência mundial e que se encontra em processo de expansão.
Assim, por meio da aplicação das técnicas vinculadas a essa área, é
possível que ocorra a ampliação da produção de um cenário cada vez
34 Bioética e Biossegurança

maior no âmbito alimentar, sendo esse um aspecto positivo até quando


se busca diminuir a fome em escala global.

Os alimentos transgênicos têm, dentre os seus benefícios, o fato


de serem mais benéficos e terem uma maior durabilidade, sendo mais
resistentes ao ataque de pragas ou às mudanças climáticas, bem como
quando se analisa o seu comportamento relacionado ao comprometimento
da produção.

Diante do exposto, em regra, os alimentos transgênicos são


produzidos com a intenção de proporcionar benefícios para as plantações
e para a produção de substâncias Medicinais, podendo até inserir uma
maior qualidade nutricional para os organismos em questão.

Ainda que se reconheça a importância e as vantagens do uso e


do consumo dos alimentos transgênicos é fato que uma alimentação
com base nesse tipo de alimento pode gerar consequências para a vida
humana, ainda que elas só sejam vistas a longo prazo. Para saber quais
são os impactos que o consumo dos OGMs pode causar de forma mais
precisa e direta, é necessário que uma quantidade maior de estudos seja
realizada, a fim de que as consequências possam ser analisadas sob uma
ótica científica e com base em comprovações feitas por meio de estudos
e pesquisas, sendo, consequentemente, mais difíceis de serem refutadas.

Contudo, ainda que não se possa confirmar com certeza quais os


danos provocados pelos alimentos transgênicos, também não se pode
não questionar a segurança atrelada a esses transgênicos.

Nesse sentido, tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto


a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)
indicam que são necessários mais estudos para que os malefícios acerca
do consumo de transgênicos seja confirmado.

Nessa perspectiva, considerando o abordado até o presente


momento, algumas das vantagens relativas aos alimentos transgênicos
são:

•• Aumento e melhoria da produtividade

•• Redução dos custos de produção.


Bioética e Biossegurança 35

•• Expansão do conhecimento científico.

•• Capacidade de produção das sementes que apresenta uma maior


qualidade nutritiva.

•• Maior resistência aos agrotóxicos, inseticidas, herbicidas e pragas,


além de também apresentar uma maior resistência a insetos,
bactérias, vírus e fungos.

•• Diminuição da quantidade de agrotóxicos utilizados durante o


plantio.

•• Auxílio no desenvolvimento de terapias, tratamentos e métodos


voltados para o diagnóstico de doenças, terapias e vacinas.

•• Dentre outras.

Com relação às desvantagens dos organismos geneticamente


modificados, pode-se citar:

•• Aumento da resistência dos seres humanos quanto ao consumo


dos antibióticos.

•• Aumento da poluição do solo, da água e do ar.

•• Prejuízos para a produção rural pequena, tendo em vista que as


espécies transgênicas são devidamente protegidas por meio de
patentes.

•• Promove o desaparecimento das espécies e pode promover a


contaminação das sementes.

•• Promove a perda da biodiversidade.

•• Suspeita-se da sua capacidade de gerar doenças de alto risco


para as pessoas a longo prazo.

•• Dentre outras.

Ressalta-se que, dentre os riscos que estão atrelados à ingestão dos


organismos geneticamente transgênicos, pode-se mencionar questões
como:
36 Bioética e Biossegurança

•• Reações alérgicas – a utilização do gene para o desenvolvimento


do produto transgênico pode provocar alergia ou ter alergênicos
em decorrência de sua natureza.

•• Resistência aos antibióticos – são inseridos marcadores genéticos


de bactérias que apresentam resistência a antibióticos, sendo que
eles podem ter como consequência o aumento da resistência aos
medicamentos para as pessoas que consomem os organismos
geneticamente modificados.

•• Aumento das substâncias tóxicas – plantas e organismos que


são naturalmente tidos como substâncias tóxicas não afetam a
saúde humana, mas, ao inserir esse gene por meio do processo
transgênico, pode ser que ocorra o aumento das substâncias em
questão nos homens, insetos, animais, dentre outros.

•• Aumento na quantidade de agrotóxicos – os transgênicos


necessitam de uso mais substancial desses produtos para que
possam proteger as plantações das pragas e erva daninhas, o
que decorre do fato de que tais OGMs são mais resistentes aos
agrotóxicos.

A temática relativa aos organismos geneticamente modificados


levanta uma série de debates e discussões, sendo que essas pautas têm
relação com os riscos e os benefícios atrelados à biotecnologia.

Salienta-se que é necessário que ocorra o devido controle e


análise dos níveis dos organismos geneticamente modificados, que terão
responsabilidade ainda maior nessa área. Para tanto, deve-se seguir e
obedecer a padrões rígidos de ética e de certificação, contando ainda
com a presença de profissionais que sejam altamente qualificados para
o desempenho dessas funções, consideradas tão sérias e que exigem
grande capacidade e responsabilidade.

O consumo dos alimentos transgênicos se faz presente em todo o


mundo, sendo registrado no Japão, nos Estados Unidos, no Canadá e no
Brasil. Além dessas, outras nações também utilizam, estudam e cultivam
alimentos que são compreendidos como organismos geneticamente
modificados.
Bioética e Biossegurança 37

Atualmente, o Brasil ocupa o segundo lugar na produção mundial


de transgênicos, assumindo um papel de protagonista nessa área. O nosso
país assume essa colocação em decorrência da produção de alimentos
como a soja, o milho, o algodão e a cana-de-açúcar.

Lei n° 8.974/1995
Como dito anteriormente, os assuntos relativos aos alimentos
transgênicos no Brasil merecem e precisam de uma atenção especial,
tendo em vista a colocação que o nosso país ocupa no ranking de
produção de alimentos transgênicos, bem como as consequências que
esse cultivo pode significar para a economia, a saúde e a agropecuária
nacional.

Nessa perspectiva, estudaremos a Lei n° 8.974, de 13 de janeiro de


1995, e a Lei n° 11.105, de 24 de março de 2005, que estão relacionadas
com a fiscalização dos organismos geneticamente modificados, gestão
das comissões internas de Biossegurança e as principais funções das
comissões internas de Biossegurança.
Figura 11 – Organismos geneticamente modificados

Fonte: Freepik.
38 Bioética e Biossegurança

No Brasil, a legislação sobre Biossegurança foi introduzida pela


Lei nº 8.974/1995 que, inicialmente, apresentou todas as normas de
Biossegurança para regular a manipulação e a utilização de todos os
organismos geneticamente modificados.

Essa legislação foi revogada a partir da implementação da Lei nº


11.105/2005, que será melhor estudada no tópico seguinte.

Lei n° 11.105/2005
A substituição da Lei nº 8.974/1995 pela Lei de Biossegurança
(Lei nº 11.105/2005) foi consequência dos conflitos que existiam entre a
antiga Lei de Biossegurança e a Lei do Meio Ambiente, o que acabava
promovendo uma certa instabilidade jurídica e um desestimulo no campo
do desenvolvimento da área de biotecnologia.

A implementação dessa nova legislação foi a responsável por


harmonizar o ambiente institucional e, no cenário atual, a Lei nº 11.105/2005
é reconhecida em nível internacional como a mais completa e rigorosa
do mundo no que tange ao controle da produção dos organismos
geneticamente modificados.

A Lei n° 11.105, de 24 de março de 2005, foi promulgada com o


objetivo de determinar os mecanismos relacionados à fiscalização dos
organismos geneticamente modificados e seus derivados, por meio dos
seguintes itens:

•• Construção.

•• Cultivo.

•• Produção.

•• Manipulação.

•• Transporte.

•• Transferência.

•• Importação.

•• Exportação.
Bioética e Biossegurança 39

•• Armazenamento.

•• Pesquisa.

•• Comercialização.

•• Consumo.

•• Liberação no Meio Ambiente.

•• Descarte.
As principais diretrizes dessa lei estão associadas a um
grande estímulo para um importante avanço científico na
área de Biossegurança e biotecnologia, além da proteção
à vida e à saúde humana, animal e vegetal (SALIBA, 2008).

Todos os órgãos financiadores ou patrocinadores públicos, privados,


internacionais ou qualquer outro tipo de organização que desenvolva
atividades relacionadas com os organismos geneticamente modificados
são obrigados a cumprir essa lei, além de serem obrigados a comprovar
a sua idoneidade técnico-científica por meio do Certificado de Qualidade
em Biossegurança (CQB), que deverá ser emitido pela Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança (CNTBio).

Todas as instituições que precisam prestar contas a esse órgão


estão envolvidas com o ensino, a pesquisa científica e o desenvolvimento
tecnológico e com a prestação dos serviços que estejam relacionados
aos organismos geneticamente modificados.

Comparações Entre as Duas Leis


Ao se comparar as duas leis (Lei nº 8.974/1995 e Lei n° 11.105/2005),
pode ser observado que houve um certo retrocesso, uma vez que a lei
anterior era mais rigorosa com relação à liberação de transgênicos em
território nacional. Os dados mostram que, desde a aprovação da Lei n°
11.105/2005, nenhum pedido de liberação comercial de transgênicos foi
negado e, de acordo com vários estudiosos nesse assunto, estão sendo
aprovadas pesquisas incompletas, que apresentam conclusões erradas.

Nesses últimos anos, foram aprovadas algumas variedades de soja


e de milho resistentes ao herbicida 2,4 D, que, por incrível que pareça,
40 Bioética e Biossegurança

foi utilizado pelos Estados Unidos durante a Guerra do Vietnã, sendo


considerado altamente tóxico.

diante disso, após a inserção da lei n° 11.105/2005, a aprovação


dos organismos geneticamente modificados passou por uma expansão
expressiva, sendo que, durante os dez anos de vigência da lei anterior,
apenas quatro produtos foram aprovados: duas plantas e duas vacinas.
mas nos dez anos de vigência da nova lei de biossegurança, mais de 80
produtos provenientes de são organismos geneticamente modificados
foram aprovados, os quais fazem menção a plantas, vacinas, insetos e
microrganismos.

parte desses avanços é de responsabilidade da comissão técnica


nacional de biossegurança, sendo que a lei n° 11.105/2005 tornou essa
comissão soberana para que sejam analisadas as questões técnico-
científicas, considerando as particularidades de cada caso. além disso,
essa foi a legislação incumbida pela criação do conselho nacional de
biossegurança e pela formulação da política nacional de biossegurança.

Gestão das Comissões Internas de


Biossegurança
O papel das Comissões Internas de Biossegurança (CIBio) é
primordial para as questões de Biossegurança. Assim, essas comissões
devem ser constituídas por especialistas que tenham conhecimento e
experiência para realizar todas as atividades envolvidas com a engenharia
genética, a manipulação, a produção e o transporte dos organismos
geneticamente modificados.

Os membros das Comissões Internas de Biossegurança são os


responsáveis pela nomeação do representante legal da instituição,
devendo ser constituída por, no mínimo, três especialistas que façam
parte das áreas compatíveis.

Também pode ser incluído um membro externo à comunidade


científica que tenha condições para retratar os interesses da comunidade,
como um colaborador de uma empresa.
Bioética e Biossegurança 41

É primordial que exista a criação de um regulamento interno com


o objetivo de facilitar o funcionamento, garantindo a padronização de
todas as atividades, a definição da agenda das reuniões, dentre outras
atividades (SALIBA, 2008).

Principais Funções das Comissões Internas


de Biossegurança
Algumas das principais funções das Comissões Internas de
Biossegurança são:

•• Assegurar que os responsáveis técnicos por todos os projetos


saibam da necessidade de cumprimento de todas as normas de
Biossegurança, estando de acordo com todas as recomendações
das comissões.

•• Solicitar o Certificado de Qualidade em Biossegurança (CQB) por


meio da apresentação dos documentos definidos por lei.

•• Deve ser realizada pelo menos uma reunião semestral e outras


extraordinárias todas as vezes que forem necessárias.

•• Promover treinamentos em Biossegurança para garantir que todos


os envolvidos estejam cientes de seus riscos.

•• Estabelecer programas de prevenção de acidentes.

•• Submeter anualmente à Comissão Técnica Nacional de


Biossegurança o relatório das atividades desenvolvidas sob pena
de perder o Certificado de Qualidade em Biossegurança.
42 Bioética e Biossegurança

RESUMINDO:

Neste capítulo, pudemos aprender o que são os organismos


geneticamente modificados e que essa terminologia é
sinônimo de transgênico. Assim, vimos que esses alimentos
são os que tiveram o seu material genético modificado a
partir da inserção de um gene de outro organismo à sua
composição, sendo necessário um processo para que
essa implementação ocorra. Esses itens são modificados
e produzidos em laboratório, fazendo uso das técnicas
pertencentes ao campo da engenharia genética. Neste
capítulo, também abordamos e entendemos quais são as
leis que dispõem sobre os alimentos transgênicos no Brasil,
bem como qual é o papel atrelado à gestão das Comissões
Internas de Biossegurança e as principais funções atreladas
às Comissões Internas de Biossegurança.
Bioética e Biossegurança 43

Assuntos Éticos Controversos


OBJETIVO:

Neste capítulo, vamos analisar os assuntos que levantem


uma controvérsia no campo da ética, enfatizando os motivos
e os principais aspectos acerca das temáticas em questão.
E aí? Motivado para desenvolver esta competência? Vamos
caprichar! Agora, falta pouco, e ao final deste capítulo,
você ficará feliz por ter conseguido aprender tantas coisas
importantes acerca de nossa sociedade..

Começo da Vida
Este item reúne assuntos bastante controversos, mas que precisam,
sem dúvida alguma, ser discutidos com um enfoque bastante ético, por
exemplo: o começo da vida, a engenharia genética, o aborto, a reprodução
assistida, o transplante de órgãos, os pacientes terminais, a eutanásia e a
morte assistida.

Na Constituição Federal de 1988, está previsto e assegurado o


direito à vida. Nessa perspectiva, o artigo 5º, em seu caput, determina
que:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade (BRASIL, 2016 [1988], p. 13).

Existe uma grande discussão por parte dos pesquisadores quanto


ao início da vida, ou seja, não se pode afirmar com exatidão quando
realmente a vida começa, sendo que, para alguns pesquisadores, ela se
inicia por volta de vinte e quatro a trinta e seis horas após a fecundação,
quando as divisões se iniciam, dando origem ao embrião.
44 Bioética e Biossegurança

Figura 12 – Embrião

Fonte: Pixabay.

Após duas semanas, já está presente a informação hereditária.


Nesse momento, não existe dúvida quanto ao zigoto, o que realmente
está presente é uma nova vida, totalmente diferente do espermatozoide e
do óvulo que estavam presentes inicialmente.

Acredita-se que todos os grandes avanços da ciência na área da


Saúde não podem e não devem de nenhuma forma impedir a vida, mas
permitir a vida, por meio do respeito de todos os princípios da Bioética,
como a beneficência, não maleficência, autonomia e a justiça ou equidade.

Engenharia Genética
A engenharia genética tem como definição um grupo de processos
que permitem a manipulação dos genes de um organismo. Normalmente,
esse processo, diferentemente da atividade normal reprodutiva dele,
ocorre por meio do isolamento, manipulação e introdução do DNA em
um ser vivo.
Bioética e Biossegurança 45

Figura 13 – Engenharia genética

Fonte: Pixabay.

Esta área em questão apresenta temas que são considerados


muito controversos, como as modificações genéticas que são capazes
de realizar a produção de organismos geneticamente modificados, por
exemplo: vegetais, animais e seres humanos.

Um grande risco que pode existir no futuro caso não existam normas
éticas que considerem essas questões é a possibilidade de rejeição ou
eliminação de embriões e fetos com defeitos genéticos, devido a uma
sociedade que está em busca de filhos perfeitos e com características
físicas preestabelecidas principalmente pelos próprios pais e pela
sociedade em geral.

Chega-se ao ponto de ser pensado no descarte dos embriões


que foram considerados defeituosos, por serem portadores de doenças
genéticas dos pais, podendo, então, ser eliminados.

Outra questão que precisa ser levada em consideração é o


preconceito racial, por meio da identificação dos genes que estão
relacionados às raças, visto que, em algumas raças, pode existir a
discriminação em função de ações que são consideradas antissociais.
Mas uma tendência bastante comum nos casais que buscam a fertilização
in vitro é a escolha do sexo.
46 Bioética e Biossegurança

Aborto
De acordo com a legislação brasileira, o aborto ou a interrupção da
gravidez é considerada um ato criminoso.

VOCÊ SABIA?

O Ministério da Saúde estima que, anualmente, são


realizados mais de um milhão de abortos induzidos, sendo
o aborto clandestino a quinta causa de morte materna no
país.

Quanto ao ponto de vista ético, existem três posições diferentes


sobre o embrião:

•• Pode ser considerado um indivíduo que já pertence à comunidade,


não sendo feito, portanto, nenhum tipo de diferença entre os
vários estágios de desenvolvimento humano, como embrião, feto,
recém-nascido, criança e adulto.
Nesse caso, desde a concepção, já existe um novo membro
na sociedade, ou seja, o óvulo que foi fertilizado torna-se
um novo membro dessa comunidade. Essa posição ética
não concorda com qualquer tipo de pesquisa que for
realizada com os embriões nem com a prática do aborto
(BARCHIFONTAINE, 2010).

•• O embrião não é considerado uma vida, sendo classificado como


uma “coisa”. Essa posição tem apresentado um grande crescimento
nos últimos anos devido às várias técnicas de reprodução artificial.

•• O embrião pode ser transferido, congelado, estocado e utilizado


para a pesquisa.

•• O embrião humano é uma entidade biológica. Durante o período


em que não é colocado um projeto parental para a formação da
criança, ele pode ser utilizado como material para pesquisas, com
a finalidade de experimentação científica (VEATCH, 2014).
Bioética e Biossegurança 47

Modalidades do Aborto
O aborto é dividido em três modalidades:

•• Provocado pela gestante.

•• Provocado por terceiro, mas sem o consentimento da gestante.

•• Provocado por terceiro, por meio do consentimento da gestante.

Código Penal
O Código Penal vigente, criado por meio do Decreto-Lei nº 2.848,
de 7 de dezembro de 1940, pelo então presidente Getúlio Vargas durante
o chamado período do Estado Novo, apresenta duas possibilidades em
que a prática do aborto é apontada como uma atividade lícita:

•• Quando a gravidez é decorrente de um estupro, sendo denominado


aborto sentimental.

•• Quando não existe outra forma de salvar a vida da gestante, sendo


denominado aborto necessário ou terapêutico.

Posteriormente, mais especificamente a partir de 13 de abril de 2012,


por uma decisão considerada histórica para o Supremo Tribunal Federal,
por meio da direção do Ministro Marco Aurélio Mello, o aborto para casos
de feto anencéfalo (ausência completa do cérebro) foi considerado
também um ato lícito ou legal.

VOCÊ SABIA?

Atualmente, o Brasil é o quarto país do mundo com maior


ocorrência de fetos anencéfalos, estando atrás somente
dos países como Chile, México e Paraguai. A incidência é
de um em cada mil nascimentos.

Quanto à ilegalidade atrelada ao aborto, o Código Penal Brasileiro


determina que o aborto provocado pela gestante ou que for efetuado por
meio de seu consentimento será considerado crime, assim como aquele
aborto que for provocado sem o consentimento da gestante. Salienta-
se que, na hipótese de o aborto ter ocorrido com o consentimento da
48 Bioética e Biossegurança

gestante e na hipótese de ela não ser maior de catorze anos ou for


alienada ou débil mental, ou ainda nas hipóteses em que o consentimento
for obtido por meio de fraude, grave ameaça ou violência também será
aplicada a pena relativa ao artigo 126 do mencionado Código, ou seja,
reclusão de um a quatro anos.

Reprodução Assistida
Os procedimentos relacionados à reprodução assistida iniciaram
no final do século XVIII, porém obtiveram êxito em 1978, por meio do
nascimento de Louise Brown, o primeiro bebê gerado in vitro e, em 1984,
na Austrália, por meio do nascimento de Baby Zoe, que foi o primeiro
bebê que nasceu a partir de um embrião congelado.

O interesse na reprodução assistida cresce cada vez mais quando


se observa os interesses e os casos que se fazem presentes no meio
social, como aqueles relativos aos casos de infertilidade, desejo de
engravidar em uma idade avançada, de ser mãe independente, casais
homoafetivos e a ocorrência de planejamento familiar quando a intenção
for a diminuição do risco relativo às doenças genéticas.

Assim, é importante que se entenda o que pode ser compreendido


como o conjunto de técnicas médicas responsáveis por tornar possível
que aconteça a reprodução humana de maneira assistida. Ela engloba
questões como a inseminação artificial e a fertilização in vitro. Por
meio dessa prática, é possível que ocorra a manipulação de óvulo,
espermatozoides e embriões com a intenção de que uma gravidez seja
gerada.

Com o avanço da área vinculada à genética, estão presentes


algumas técnicas que tornam possível que a reprodução assistida
aconteça, sendo que elas podem ser divididas com base na sua baixa
ou alta complexidade. Assim, no primeiro caso, a fecundação acontecerá
no próprio aparelho reprodutivo feminino, sendo que essas técnicas
envolvem a inseminação intrauterina
Bioética e Biossegurança 49

Figura 14 – Fertilização in vitro

Fonte: Freepik.

Já no caso das técnicas de reprodução assistida de alta


complexidade, a fecundação acontecerá no laboratório e os embriões
serão diretamente colocados no útero materno. Esse é o caso das técnicas
de fertilização in vitro, conforme a figura acima.

Normas Éticas para a Utilização das Técnicas de


Reprodução Assistida
As normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução
assistida foram instituídas no Brasil por meio da Resolução nº 1358
do Conselho Federal de Medicina, de 11 de novembro de 1992, sendo
atualizada posteriormente por meio da Resolução nº 1957 do Conselho
Federal de Medicina, de 15 de dezembro de 2010 e, por último, pela
Resolução nº 2168 do Conselho Federal de Medicina, de 21 de setembro
de 2017.
50 Bioética e Biossegurança

Alterações da Resolução do Conselho Federal de


Medicina em vigor
Na resolução em vigor, foram acrescentadas importante questões,
como a possibilidade dos indivíduos que não apresentam problemas
diagnosticados com relação à reprodução, mas querem utilizar as
técnicas de reprodução assistida como uma forma para o congelamento
dos gametas, embriões e tecidos germinativos, ou seja, esses indivíduos
querem planejar o aumento da sua família de acordo com um calendário
pessoal, levando em consideração, por exemplo, todos os projetos de
estudo e trabalho.

Quanto ao descarte e à doação, foi reduzido de cinco para três


anos o tempo mínimo para o descarte de embriões. Esse novo critério
está relacionado aos casos em que existe uma condição de abandono,
existindo um descumprimento do contrato preestabelecido entre o
paciente e o serviço de reprodução assistida que não consegue entrar
em contato com os responsáveis pelo material genético criopreservado.

Nessa resolução, está considerada a idade máxima para a


participação como doador, que é de 50 anos para os homens e 35 anos
para as mulheres, e as mulheres com mais de 50 anos não podem se
submeter a esse tratamento.

Transplante de Órgãos
Com relação ao aspecto ético, é indispensável que o doador dê
o consentimento em vida tenha plena condição de decisão no caso da
retirada de um órgão ímpar, como o rim, ou no caso de morte acidental.
Para que a doação possa ocorrer, é obrigatória a autorização da família
para a retirada de qualquer órgão.
Toda doação de um órgão para o transplante deve ser
gratuita, sendo considerado crime qualquer tipo de
tráfico remunerado de pessoas e órgãos entre países e
instituições (VEATCH, 20014).

Na prática, infelizmente, ainda existe um comércio negro, que,


segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), movimenta mais de
Bioética e Biossegurança 51

US$ 600 milhões e US$ 1,2 bilhões a cada ano por meio de venda ilegal
de órgãos.
Figura 15 – Doação de órgãos

Fonte: Freepik.

A maior parte desses transplantes é efetuada na África do Sul e


Índia, sendo que por volta de 10% de todos os transplantes de rins no
mundo inteiro são comprados clandestinamente.

VOCÊ SABIA?

Atualmente, o Brasil é a maior referência mundial quanto


na área de transplantes, sendo considerado o maior
sistema público de transplantes em todo o mundo. O
Sistema Único de Saúde é responsável por 96% de todos
os procedimentos.

Em números absolutos, o Brasil ocupa o segundo lugar de maior


transplantador em todo o mundo, perdendo apenas para os Estados
Unidos.
52 Bioética e Biossegurança

Pacientes Terminais
Durante a progressão da doença, em vários casos, chega-se a
um determinado momento em que não existe mais nenhum recurso
disponível, portanto, a morte do paciente passa a ser inevitável.

Nesses casos, toda a terapêutica disponível não é capaz de


aumentar mais a sobrevida do paciente, mas apenas consegue prolongar
esse processo lento da morte.

A atuação da equipe de saúde precisa sempre estar comprometida


por meio de dois princípios morais, que são:

•• Preservação da vida.

•• Alívio do sofrimento.

Esses dois princípios vão se complementar na grande maioria


dos casos, mas existem algumas situações em que os dois podem ser
considerados antagônicos. Nesse caso, um deles prevalecerá sobre o
outro.

SAIBA MAIS:

Agora, você está convidado a fazer a leitura do artigo


Considerações éticas nos cuidados médicos do paciente
terminal, pois ele complementará bastante o seu
aprendizado. Acesse clicando aqui.

Em boa parte dos casos, a progressão da doença levará a morte,


sendo, então, apontada como um processo natural, em que não existe
mais possibilidades de ela ser combatida, o que significa que enquanto
existe alguma possibilidade de preservação da vida. a equipe de saúde
deve trabalhar a todo custo para que possa reverter esse quadro. Porém,
nos casos em que a morte é inevitável, a equipe deve estar preocupada
em aliviar o sofrimento do paciente.
Bioética e Biossegurança 53

Eutanásia e Morte Assistida


A eutanásia é uma palavra de origem grega e tem como significado
“boa morte” ou “morte sem dor”, não sendo aceita pela grande maioria dos
países, já que acaba ferindo a conduta ética, moral e legal.

VOCÊ SABIA?

O Uruguai, em 1934, foi o primeiro país no mundo a permitir


a eutanásia. Nos países onde essa prática é permitida, ela
ocorrerá após a aprovação do médico, ao ser confirmado
que o paciente apresenta um prognóstico não favorável e
irreversível.

Essa prática também é permitida nos seguintes países: Holanda,


Bélgica, Suíça, Colômbia Canadá e Estados Unidos.

Existe outra possibilidade de morte, chamada de suicídio assistido,


em que o próprio paciente provocará a morte, normalmente por meio da
ingestão de um medicamento.

A diferença entre estas práticas – eutanásia e morte assistida – é


que a primeira é realizada por meio da intervenção de um profissional da
Saúde, enquanto a segunda é realizada pelo próprio paciente.

Essa conduta pode ser dividida em dois tipos:

•• Ativa.

•• Passiva.

Na ativa, um exemplo seria a injeção intravenosa de potássio,


ocasionando a morte rápida, já a passiva seria a suspensão dos cuidados
vitais e que levará o paciente ao óbito em um período de tempo variável.
Ambas as situações são consideradas como proibidas.

Existe uma grande diferença entre o tratamento dos pacientes


terminais comparado com a eutanásia, visto que, no tratamento do
paciente terminal, todos os cuidados são focados para a promoção do
conforto e a diminuição do sofrimento do paciente.
54 Bioética e Biossegurança

Nesses casos, toda a equipe de saúde continua mantendo todos


os cuidados referentes à higiene e ao tratamento para a dor. Dessa forma,
os analgésicos e ansiolíticos devem ser administrados com o objetivo
de reduzir o sofrimento do paciente, para atuar na redução da função
cardiorrespiratória e, de forma indireta, para acelerar a morte do paciente.

RESUMINDO:

E então? Gostou do que foi mostrado? Aprendeu tudo?


Agora, só para ter certeza de que você realmente entendeu
o tema de estudo deste capítulo, vou resumir tudo o que
foi abordado. Estudamos os assuntos éticos controversos,
sendo abordado o começo da vida, engenharia genética,
aborto, reprodução assistida, transplante de órgãos,
pacientes terminais, eutanásia e morte assistida. Nessa
perspectiva, foram discutidos os principais pontos acerca
de cada uma das temáticas consideradas polêmicas para o
campo da ética. Diante disso, pudemos entender o que faz
com que esses assuntos destaquem a presença de muitas
discussões e divergências quanto ao seu estabelecimento,
sendo abordado o seu caráter legal, quando necessário.
Bioética e Biossegurança 55

REFERÊNCIAS
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biotecnológicos. Caxias do Sul: Educs, 2008.

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prático e didático. São Paulo: Érica, 2014.

BARCHIFONTAINE, C. de. P. de. Bioética no início da vida. Rev. Pistis


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do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado Federal, 2016.

HIRATA, M. H.; HIRATA, R. D. C.; MANCINI FILHO, J. Manual de


Biossegurança. 2. ed. Barueri: Manole, 2012.

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VALLE, P. H. C. do. Bioética e Biossegurança. Londrina: Editora e


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