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1. Aspetos biográficos:
a) Nascimento: 16 de abril de 1889, em Lisboa.
b) Falecimento: 1915, Lisboa, vítima de tuberculose.
c) Profissão: nunca exerceu qualquer profissão; viveu à custa de pequenos
rendimentos.
d) Educação: instrução primária (4.ª classe).
e) Família:
- órfão de pai e mãe muito jovem;
- vivia com uma velha tia-avó, de pequenos rendimentos, no campo,
numa
quinta do Ribatejo.
2. Retrato:
a) Traços físicos:
- estatura média;
- aspeto frágil;
- cara rapada;
- louro sem cor;
- olhos azuis.
3. Obra
a) Obras:
- O Guardador de Rebanhos;
- O Pastor Amoroso;
- Poemas Inconjuntos.
b) Relação com Pessoa e heterónimos: é considerado o Mestre.
c) Traços poéticos:
- ausência de pensamento metafísico;
- ausência de racionalização.
d) Relação com a escrita: escreve mal o português.
e) Génese: 8 de março de 1914, o "dia triunfal" da vida de Pessoa, pois
nele
apareceu o seu «Mestre», «"pur pura e inesperada inspiração".
O nome: Alberto Caeiro
De acordo com o sítio http://www.umfernandopessoa.com, o nome deste
heterónimo de Fernando Pessoa seria explicável do seguinte modo...
Note-se, porém, que existe uma grande liberdade dos discípulos em relação ao
seu Mestre. Por exemplo, Ricardo Reis é discípulo de Caeiro apenas em parte,
visto que ama a Natureza e o viver lúdico da infância, mas não possui a calma e a
placidez exibidas pelo Mestre diante da passagem / do fluir do tempo e da
certeza da morte. Reis receia-a e angustia-se perante a sua mortalidade e a do
ser humano em geral.
Por sua vez, Álvaro de Campos, apesar de amar e reverenciar Caeiro, “exaspera-
se por não conseguir viver os seus ensinamentos”. É o próprio Campos que
afirma: “Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu”.
Fernando Pessoa, por seu turno, é a antítese do Mestre, porque pensa e sofre em
virtude dessa racionalidade e da consciência. Ele que afirmou que cada um dos
heterónimos constitui uma espécie de drama, o que leva alguns estudiosos da
obra pessoana a falar em Poetodrama relativamente à questão da heteronímia.
▪ Poeta bucólico
▪ Atitude de contemplação/observação da Natureza e deambulismo
▪ Relação de integração, comunhão e harmoniosa/simbiose com os
elementos da Natureza e afastamento social
▪ Simplicidade e felicidade primordiais
▪ Existência tranquila no (tempo) presente
▪ Bucolismo como máscara poética
▪ O poeta do olhar
▪ Observação objetiva da realidade
▪ Rejeição do pensamento abstrato e da intelectualização
Caeiro recusa o conhecimento intelectual e defende o primado
das sensações.
▪ «Filosofia» da antifilosofia (pensamento antipensamento)
▪ Aceitação do mundo
O poema, constituído por três estrofes (duas sextilhas e um dístico) de versos brancos
e métrica irregular, apresenta-nos um sujeito poético que se assume, metaforicamente, como
um pastor, remetendo assim para o início do poema I, no qual se lhe comparava.
A primeira estrofe inicia-se com uma metáfora (“Sou um guardador de rebanhos”) que
institui o sujeito poético como um ser natural e que anula a oposição entre o pensar e o sentir,
através da identificação entre pensamentos e sensações, característica do sensacionismo de
Alberto Caeiro: o conhecimento da realidade adquire-se pela sua apropriação direta mediante
os cinco sentidos humanos, isto é, ele relaciona-se com a realidade, seja ela flor, fruto, ou um
dia de calor, através dos sentidos. E isso basta-lhe, pois é essa relação que lhe traz a verdade
desse real. Por outro lado, ao afirmar a sensação como fonte única do conhecimento do real, o
sujeito poético nega o pensamento, submetendo-o à sensação. Deste modo, ele consegue unir
o pensar ao sentir: “Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la / E comer um fruto é saber-lhe o
sentido.” (vv. 7-8).
A enumeração dos órgãos associados aos sentidos nos versos 4 a 6 (olhos, ouvidos,
mãos, pés, nariz e boca) reforça a importância do sentir afirmada no verso 3 e hierarquiza as
sensações de acordo com o grau de conhecimento que permitem apreender: as sensações
visuais são a primeira fonte de saber, seguindo-se as auditivas, as táteis, as olfativas e, por fim,
as gustativas. Estilisticamente, o polissíndeto (repetição da conjunção coordenativa
copulativa «e»), o paralelismo sintático e a anáfora (vv. 5-6) traduzem a simplicidade do sujeito
poético.
Os versos 7 e 8 exemplificam a identificação entre pensar e sentir, primeiro através de
uma definição, depois metaforicamente (“E comer um fruto é saber-lhe o sentido.” – v. 8),
procedendo à objetivação do pensamento, isto é, conferindo-lhe um estatuto concreto, de
objeto.
A estrofe final, de caráter conclusivo (é iniciada pela locução «por isso»), começa por
afirmar a sua tristeza, que advém do excesso (“Me sinto triste de gozá-lo tanto” – v. 10), daí
que seja natural e não perturbe o conhecimento da realidade nem a felicidade (ideias já
desenvolvidas no poema I, nos versos 9 a 13 e 14 a 18). O sujeito poético aceita, então, essa
tristeza porque ela provém de um excesso natural de felicidade. Porém, a tristeza evolui para
felicidade (v. 14) no momento em que o sujeito poético substitui a perceção mental do prazer
(“gozá-lo”, v. 10) pela ligação direta com a realidade (“Sinto todo o meu corpo deitado na
realidade”, v. 13).
A realidade é aquilo que é concreto, o que existe sem ser preciso pensar, aquilo que é
captado através dos sentidos, em estreita conexão, em comunhão total com a Natureza, ideia
afirmada nos versos 11 e 13, onde o contacto de todo o corpo com a erva salienta um desejo
de quase fusão com os elementos naturais.
Nos dois versos finais, o sujeito poético confirma várias ideias características da sua
poesia:
1.ª) a verdade consiste no conhecimento direto da realidade;
2.ª) esse conhecimento e essa apropriação da realidade concretizam-se através dos sentidos, sem
qualquer interferência do pensamento;
3.ª) o primado das sensações e a ausência do pensamento são a única forma de conhecimento
autêntico e fonte de felicidade;
4.ª) a felicidade é diretamente proporcional ao contacto direto com a Natureza, um exemplo mais da
supremacia do sentir sobre o pensar.
Quanto aos recursos expressivos, além dos já identificados e da sinestesia do verso 12
(“olhos quentes”), há os seguintes traços típicos da poética caeiriana:
. a linguagem simples e de caráter oralizante (repetições de vocábulos, polissíndeto, predomínio
da coordenação…);
. o predomínio de nomes concretos e a quase ausência de adjetivos;
. o uso de palavras do campo lexical das sensações, que revela o primado do sentir sobre o
pensar, sempre objetivado (“Penso com os olhos e com os ouvidos”, “Pensar uma flor é vê-la e
cheirá-la”);
. a sintaxe simples, com repetição de estruturas frásicas e predomínio da coordenação;
. a variedade estrófica, métrica e rítmica;
. o verso branco.
Por último, quanto à estrutura interna deste poema, uma possibilidade consiste na sua
divisão em duas partes:
. a 1.ª corresponde às duas primeiras estrofes e nelas o sujeito poético afirma o seu
sensacionismo e o primado do sentir sobre o pensar;
. a 2.ª constitui uma conclusão – a terceira estrofe –, através de um exemplo, das ideias
expressas nos versos anteriores.