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A obra coloca-nos face à imagem de uma mulher atual, dita moderna, que, envolta
nas tarefas domésticas, se ocupa também da criação artística, o que faz com que ela acabe
por atribuir sentido metafórico aos aspetos desse quotidiano doméstico.
O sujeito poético abre o poema com um pedido: “Faça-se luz / neste mundo
profano”. Essa vontade constitui, no fundo, um apelo à criatividade. Esta ideia é continuada
na terceira estrofe: “Que a luz penetre / no meu sótão / mental”.
Assim sendo, não pode haver qualquer estranheza no facto de o campo lexical
predominante do poema ser algo invulgar na poesia: "presunto", "detergentes", "arroz",
"despensa". Tal pode sugerir que o quotidiano não é propriamente a fonte de inspiração
"perfeita", no entanto, é possível, através da imaginação, transformar esses produtos em
poesia. Assim se compreende que, no final do poema, se transforme o presunto numa
carruagem encantada, características dos contos tradicionais.
O sujeito poético organiza a despensa, enquanto o momento de escrever poesia não
chega, daí que, nesse período de tempo, tenha de aguardar que se faça luz, isto é, que a
inspiração apareça.
A segunda estrofe assenta na oposição entre “As outras” e o “eu”. “As outras” estão
circunscritas a “sótãos”, espaços físicos superiores, marcados pelo exercício da escrita,
enquanto que o sujeito poético está confinado a uma simples despensa, forçado a cumprir
as tarefas domésticas.
Assim, o sujeito apela à inspiração, que “a luz penetre / no meu sótão / mental”, de
modo que o seu desejo de abandonar a despensa e as suas tarefas e atingir o sótão se
concretize e desta forma se opere a transição do espaço exterior para o interior
(“transformem o presunto / em carruagem!”).
Em suma, o sujeito poético apela à inspiração, pedindo que se faça luz, para que o
seu desejo de escrever se vá materializando.
Para terminar, o poema tem 18 versos, divididos em quatro estrofes, duas quintilhas
e duas quadras. Quanto à rima, o poema é composto por versos brancos e a métrica é
irregular.