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como um texto se conecta ou faz referência a outro(s) texto(s). Essas referências podem
ser explícitas, como uma citação direta, ou implícitas, como alusões ou referências
indiretas.
Em sua obra, Pessoa cria heterônimos, ou seja, personagens fictícios que escrevem em estilos
e vozes diferentes. Cada um desses heterônimos possui uma biografia própria, estilo literário e
temática específica. Além disso, é possível perceber em sua escrita uma forte influência de
autores anteriores, como Camões, Shakespeare, Byron e Rimbaud, entre outros.
2. "Tabacaria" - neste poema, Pessoa faz referência a vários textos e autores, como
Shakespeare, Schopenhauer e outros poetas portugueses. O poema também faz uso de uma
técnica chamada "heteronímia", em que Pessoa cria um alter ego para o narrador do poema:
"Mas o que nos importa o que se passa na alma dos outros? Que nos importam os milhões de
almas desconhecidas que têm, cada uma delas, um drama como o nosso, uma dor como a
nossa, um conflito como o nosso? Importar-nos-ão porventura mais do que importamos a elas,
isto é, nada? E isto é o que é certo. A humanidade é uma irmandade de desconhecidos. Cada
um de nós é uma multidão de si próprio."
Esses são apenas alguns exemplos de como a intertextualidade está presente na obra de
Fernando Pessoa, criando um diálogo entre sua obra e outras obras literárias e culturais, e
permitindo a criação de uma obra multifacetada e rica em significados.
Um dos poemas de Fernando Pessoa que apresenta uma clara intertextualidade é "Ode
Triunfal", publicado em 1914. Neste poema, Pessoa faz referência a diversos autores e obras
literárias, criando uma teia de intertextualidade que ajuda a enriquecer e aprofundar seu
significado.
Um poema de Fernando Pessoa que demonstra claramente a intertextualidade em sua obra é
"Autopsicografia". O poema começa com a seguinte estrofe:
Essa estrofe é uma clara referência a um trecho do soneto 23 de Luís de Camões, que diz:
"Amor é fogo que arde sem se ver, / É ferida que dói e não se sente." Pessoa transforma a dor
em fingimento, sugerindo que o poeta é um artista que usa a dor como matéria-prima para
sua arte. A segunda estrofe do poema de Pessoa é:
Nessa estrofe, Pessoa usa uma estrutura semelhante à do soneto de Camões, mas com um
significado completamente diferente. Enquanto Camões fala da dor do amor que é sentida por
quem ama, Pessoa fala da dor da arte que é sentida por quem a lê. A dor da arte é aquela que
é criada pelo poeta, mas que só pode ser sentida pelo leitor. É uma dor que não é pessoal, mas
sim universal.
O poema continua a explorar essa ideia, sugerindo que o poeta é capaz de criar emoções que
ele próprio não experimentou. Ele é um fingidor, que cria mundos imaginários e os torna tão
reais que as pessoas os sentem como se fossem reais. Essa ideia de que a arte é capaz de criar
realidades alternativas é uma das principais características do Modernismo, movimento
literário que influenciou Pessoa.
Nessa estrofe, Pessoa usa uma metáfora para descrever o processo criativo do poeta. Ele é
como um brinquedo mecânico, que gira incessantemente para entreter a razão. O comboio de
corda é uma imagem que sugere um movimento mecânico, sem vida própria. Mas é esse
movimento que permite que a emoção seja transmitida, que permite que o coração (ou a
emoção) seja transportado através das palavras. É através dessa intertextualidade com a obra
de Camões e dessa metáfora que Pessoa consegue transmitir a ideia de que a arte é capaz de
criar emoções universais, capazes de serem sentidas por qualquer pessoa.