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intertextualidade é um termo que se refere à relação entre diferentes textos, ou seja,

como um texto se conecta ou faz referência a outro(s) texto(s). Essas referências podem
ser explícitas, como uma citação direta, ou implícitas, como alusões ou referências
indiretas.

Em sua obra, Pessoa cria heterônimos, ou seja, personagens fictícios que escrevem em estilos
e vozes diferentes. Cada um desses heterônimos possui uma biografia própria, estilo literário e
temática específica. Além disso, é possível perceber em sua escrita uma forte influência de
autores anteriores, como Camões, Shakespeare, Byron e Rimbaud, entre outros.

Um exemplo notável de intertextualidade na obra de Pessoa é o poema "Tabacaria", em que o


autor faz referência à obra de Charles Baudelaire, "As Flores do Mal", além de utilizar outras
referências literárias. Neste poema, Pessoa explora as angústias e incertezas da vida moderna,
utilizando a intertextualidade como forma de dialogar com outras obras literárias e filosóficas.

Outro exemplo de intertextualidade na obra de Pessoa é a criação do heterônimo Alberto


Caeiro, que é uma referência ao poeta romântico português António Nobre. Caeiro é um poeta
bucólico, que celebra a natureza e a simplicidade da vida, e que se opõe à concepção filosófica
do poeta heterônimo Ricardo Reis, que segue a doutrina epicurista. Desta forma, a
intertextualidade na obra de Pessoa é utilizada como forma de explorar diferentes
perspectivas e vozes literárias.

Em suma, a intertextualidade na obra de Fernando Pessoa é uma ferramenta fundamental


para compreender sua poética complexa e multifacetada. Através do diálogo com outras obras
literárias, Pessoa cria uma linguagem singular e inovadora, que influenciou e continua
influenciando a literatura portuguesa e mundial. Existem diversos exemplos de
intertextualidade na obra de Fernando Pessoa, uma vez que essa técnica era fundamental para
a sua criação literária. Seguem abaixo alguns trechos de poemas e outros textos que ilustram
como Pessoa utilizou intertextos em sua obra:
1. "Mar Português" - neste poema, Pessoa faz referência à "Ilíada", de Homero, ao mencionar
a "grande história dos povos". Além disso, o poema faz alusão a outros textos e autores, como
Camões e o Marquês de Pombal:

"Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

(...) Salve, ó mar, voz primitiva do mundo!

Portugal salve, ó mãe sempre fecunda,

De onde um dia o filho partiu

Para um mundo novo, em busca de outro mais puro!"

2. "Tabacaria" - neste poema, Pessoa faz referência a vários textos e autores, como
Shakespeare, Schopenhauer e outros poetas portugueses. O poema também faz uso de uma
técnica chamada "heteronímia", em que Pessoa cria um alter ego para o narrador do poema:

"Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.


(...)

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...

Se falo na natureza não é porque saiba o que ela é,

Mas porque a amo, e amo-a por isso,

Porque quem ama nunca sabe o que ama

Nem por que ama, nem o que é amar..."

3. "Livro do Desassossego" - este livro é uma coleção de fragmentos e pensamentos do


heterônimo Bernardo Soares, que faz referência a diversos textos e autores, como
Shakespeare, Dante e Nietzsche. O livro também utiliza recursos como a ironia e o sarcasmo
para dialogar com outras obras e com a própria vida:

"Mas o que nos importa o que se passa na alma dos outros? Que nos importam os milhões de
almas desconhecidas que têm, cada uma delas, um drama como o nosso, uma dor como a
nossa, um conflito como o nosso? Importar-nos-ão porventura mais do que importamos a elas,
isto é, nada? E isto é o que é certo. A humanidade é uma irmandade de desconhecidos. Cada
um de nós é uma multidão de si próprio."

Esses são apenas alguns exemplos de como a intertextualidade está presente na obra de
Fernando Pessoa, criando um diálogo entre sua obra e outras obras literárias e culturais, e
permitindo a criação de uma obra multifacetada e rica em significados.

Um dos poemas de Fernando Pessoa que apresenta uma clara intertextualidade é "Ode
Triunfal", publicado em 1914. Neste poema, Pessoa faz referência a diversos autores e obras
literárias, criando uma teia de intertextualidade que ajuda a enriquecer e aprofundar seu
significado.
Um poema de Fernando Pessoa que demonstra claramente a intertextualidade em sua obra é
"Autopsicografia". O poema começa com a seguinte estrofe:

"O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente."

Essa estrofe é uma clara referência a um trecho do soneto 23 de Luís de Camões, que diz:
"Amor é fogo que arde sem se ver, / É ferida que dói e não se sente." Pessoa transforma a dor
em fingimento, sugerindo que o poeta é um artista que usa a dor como matéria-prima para
sua arte. A segunda estrofe do poema de Pessoa é:

"E os que leem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm."

Nessa estrofe, Pessoa usa uma estrutura semelhante à do soneto de Camões, mas com um
significado completamente diferente. Enquanto Camões fala da dor do amor que é sentida por
quem ama, Pessoa fala da dor da arte que é sentida por quem a lê. A dor da arte é aquela que
é criada pelo poeta, mas que só pode ser sentida pelo leitor. É uma dor que não é pessoal, mas
sim universal.

O poema continua a explorar essa ideia, sugerindo que o poeta é capaz de criar emoções que
ele próprio não experimentou. Ele é um fingidor, que cria mundos imaginários e os torna tão
reais que as pessoas os sentem como se fossem reais. Essa ideia de que a arte é capaz de criar
realidades alternativas é uma das principais características do Modernismo, movimento
literário que influenciou Pessoa.

Por fim, o poema termina com a seguinte estrofe:


"E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração."

Nessa estrofe, Pessoa usa uma metáfora para descrever o processo criativo do poeta. Ele é
como um brinquedo mecânico, que gira incessantemente para entreter a razão. O comboio de
corda é uma imagem que sugere um movimento mecânico, sem vida própria. Mas é esse
movimento que permite que a emoção seja transmitida, que permite que o coração (ou a
emoção) seja transportado através das palavras. É através dessa intertextualidade com a obra
de Camões e dessa metáfora que Pessoa consegue transmitir a ideia de que a arte é capaz de
criar emoções universais, capazes de serem sentidas por qualquer pessoa.

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