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Brasília-DF.
Elaboração
Paulo Lima
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade i
História................................................................................................................................................ 9
capítulo 1
Conceituação ..................................................................................................................... 9
capítulo 2
Concílios ecumênicos...................................................................................................... 12
capítulo 3
Movimento ecumênico moderno.................................................................................... 20
Capítulo 4
Resistência ao ecumenismo............................................................................................... 33
Unidade iI
Sincretismo e cultura...................................................................................................................... 41
capítulo 1
Um breve histórico ............................................................................................................ 41
capítulo 2
Sincretismo e suas ramificações...................................................................................... 56
capítulo 3
Diálogo inter-religioso e cultural.................................................................................. 61
Referências................................................................................................................................... 71
ANEXO............................................................................................................................................. 73
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
6
Introdução
Desde que o homem se tornou religioso, no melhor sentido da palavra religião – vem do
latim religare, que, literalmente, significa se religar ao Divino –, o homem se contrapôs
a somente seu lado racional e mental dando com isto forma literal ao chamado Sensus
Divinitatis1 (proposto por João Calvino). Por isso, desde a existência humana na Terra
nós tentamos preencher com algo essa “sensação”, chamada “vazio” que há dentro de
si, quando seu eu espiritual está aquém do esperado ou tão somente quando não há
nada nele que se dê vazão.
Nessa caçada incessante, a espécie humana, dada pela ciência (por ora) como a única
racional (exceto golfinhos, elefantes e outros animais que estão ainda sendo estudados),
vem se dando ritos, estruturas religiosas das mais diversas, cultos a deuses de forma
direta ou indireta, simulacros, danças e rituais dos mais diversos tipos e formas; livros
dados como sagrados ou material de apoio à fé, seja ela em qualquer deus, templos
e locais de adoração consagrados a determinadas divindades. Enfim, o culto a seres
maiores é um fato histórico e exatamente por isso que o estudaremos, uma vez que
por meio do Ecumenismo, utilizando-se do sincretismo, a espécie humana vem se
dando a culturas mescladas cada vez mais distintas e veremos que não está distante das
primitivas.
Estudaremos neste material, portanto, como se deu dentro da história (não se limitando
somente a esta ciência) a concepção do homem frente a assuntos religiosos e políticos
de maior grau para a concretização do ecumenismo no mundo, bem como vem se dando
na atualidade com o sincretismo latente entre as religiões no mundo e principalmente
as latino-americanas e o diálogo inter-religioso envolvido. Não deixará de fazer parte
1 Literalmente tem o significado de “Sensação Divina”.
2 Terminologia que gera fortes debates.
3 Cosmovisão.
7
iminente o estudo das práticas e teorias ecumênicas nas diferentes áreas da cultura,
considerando tais ações o limiar entre a efetiva concretização de muitas religiões
ortodoxas que se ausentam até mesmo do debate sobre o assunto.
Objetivos
»» Analisar historicidade do movimento Ecumênico.
8
História Unidade i
Nesta unidade veremos uma boa gama da historicidade que envolve o ecumenismo, seu
desenrolar através dos séculos, bem como a importância que movimentos ecumênicos
promovidos por grupos doutos ou leigos possuem para a história do ecumenismo.
capítulo 1
Conceituação
Conceito de ecumenismo
Segundo a boa Enciclopédia de Filosofia e Teologia de Champlin (1991, p. 262), o
vocábulo e conceituação de ecumenismo é:
9
UNIDADE I │ História
Não nos engessaremos ingentemente nos tipos de ecumenismo, uma vez que ao longo
dos estudos eles dar-se-ão tacitamente de modo tautológico. Também veremos que se
fazem verdadeiras as palavras de Sêneca (4 a.C. – 65 d.C.), verba docente, exempla
trahunt4, em todo conteúdo didático, desde a era antiga até a época hodierna.
É certo que de alguma forma possa haver em muitos momentos ao longo de nossos
estudos aparentes contradições nos assuntos diversos que abordaremos, contudo
faz-se resultante somente de todo cenário de debates e posições ora a favor, ora contra
o movimento, isso em virtude das diferentes interpretações de temas políticos, sociais
e econômicos. Ficará claro, portanto, como tais áreas da vida influenciam diretamente
10
HiStóriA │ unidAdE i
Ecumenismo tem como significado terra habitada, qual é, portanto, a real relação
entre uma “terra habitada” com a função do movimento de fato? Qual o sentido
da utilização do vocábulo para delimitar as ações contidas pelos integrantes
ecumênicos atualmente?
11
capítulo 2
Concílios ecumênicos
Se entendermos que ecumenismo refere-se à busca pela fusão das religiões e que por ora
atém-se somente às igrejas cristãs, teremos nos Concílio a forma fatual de concretização
das ações por ele [o movimento ecumênico] almejadas. Segundo Champlin (1991, p.
830) a “palavra latina consilium significa ‘assembleia, ajuntamento’. O termo grego,
usado no Novo Testamento, é synedrion, que significa ‘estar sentado com’”.
A fulcral dos Concílios para o mundo católico era tamanha que se tinha nos Concílios a
representação do autoritarismo infalível da Igreja no que tange a fé moral.
5 Dominus Dominantium, isto é, o Papa Máximo. Terminologia principalmente usada na atuação do Império Romano.
12
HiStóriA │ unidAdE i
3. Éfeso (431 D.C.) Dedicou-se a questões Cristológicas. Presidiu Cirilo, bispo de Alexandria. Condenaram-se
as opiniões de Nestório, bispo de Constantinopla, o qual negava a virgindade de Maria.
4. Calcedônia (451 D.C.) Condenou a criptologia de Eutíquio (378-454) pela doutrina monofisista e decretou-se
as duas naturezas de Cristo. Leão I (o Grande) teve fulcral papel, por meio de sua carta
dogmática, chamada Tomo a Flaviano.
5. Constantinopla II (553 D.C.) Decretou que a natureza de Cristo era dependente do Pai, mas falhou, e no Concílio III
6. Constantinopla III (680-681 D.C.) (680) declarou-se as duas vontades de Cristo, opondo-se aos monofisitas.
Este não é um guia sobre Concílios, apenas nos serve para analisar a importância
que os Concílios possuem sobre o aspecto e efeito ecumênico mundial, houve,
contudo, alguns Concílios pré-Niceia não contundentes historicamente não
serão tratados em detalhes, uma vez que foge do escopo da delimitação do
nosso tema, já que envolvia basicamente a esfera católica, contudo, obviamente,
veremos seus efeitos nos Concílios, e isso nos basta. Portanto sugerimos a pesquisa
voluntária de cada Concílio para efeito de conhecimento, principalmente o de
Trento, Niceia e Constantinopla.
13
UNIDADE I │ História
interessam para fins didáticos. Conhecemos acima apenas os Concílios Antigos, ainda
nos cabe conhecer os demais considerados por muitos como de fato ecumênicos pelo
catolicismo, no entanto não reconhecidos pelo Oriente, sendo sua posição indeterminada
entre as igrejas protestantes. Dentre muitos assuntos, nos ateremos aos principais
contextos tratados à luz ecumênica. Os Concílios Medievais são:
Reuniu-se em três estágios longos e distintos. Não conseguiu incluir nenhum protestante e por
isso alastrou-se grande hostilidade à Reforma. A profissão de fé incluída na bula Lniunctumnobis
19. Trento (1545-1563)
(1564) atestou a crença sacramental, na Eucaristia, na natureza sacrificial da missa, bem como na
legitimidade das indulgências e orações pelos mortos, na autoridade da Igreja e do próprio papa.
Completou-se a obra de Trento, e definiu-se a infalibilidade do papa nas questões de fé e moral.
20. Vaticano I (1869-1870)
Repúdio definitivo de todas as formas de galicanismo2.
Reação ao espírito da Contrarreforma. Aqui a Igreja Católica abriu-se mais para questões
21. Vaticano II (1962-1965)
protestantes, como o uso no culto do idioma local ao invés do latim.
14
História │ UNIDADE I
Era de se esperar que com tantos Concílios se promulgasse a adoção de todas as partes
cristãs uma união “estável”, algo que fizesse com que vivessem em paz e harmonia,
mas não foi assim que a carruagem andou, vimos que por vezes a tentativa ecumênica
do movimento não gerou frutos, gerando sentimentos de pura traição e rejeição, nos
quais líderes de ambas as partes chegaram a se arranhar a tal ponto que veicularam e
canalizaram este sentimento ao ódio mútuo.
<http://www.lepanto.com.br/Imagens/SAtanasio2.jpg>
Vemos, portanto, sempre o cunho político envolvido na era dos Concílios e falaremos
sobre política mais à frente. Atanásio, bispo de Alexandria (328-373), sempre fora uma
“pedra no sapato” do imperador, sob suspeita de infidelidade. Era um defensor assíduo
do Credo de Niceia, Credo no qual o Filho era coeterno e da mesma substância do Pai.
Foi acusado e condenado por vezes, e foi obrigado a fugir para o deserto. De qualquer
maneira, a continuação do Credo se deu por Dâmaso no lugar de Libério em 366 d.C.,
15
UNIDADE I │ História
Trento (1545-1563)
O Concílio de Trento fora convocado principalmente para dar respostas catolicistas
à Reforma. Reinaram nos 150 anos entre o retorno de Martinho V a Roma (1420)
dezenove papas e, após a turbulência do Grande Cisma7, a conclusão do Concílio se
deu apenas em 1563 (mais de duzentos bispos compareceram ao encerramento que se
deu em 4 de dezembro deste ano e com isto assinaram seus respectivos decretos com o
objetivo de manifestar seu assentimento), sob Pio IV, com isto, enfrentaram a grande
instabilidade à sua segurança e ao prestígio.
6 Hermenêutica vem do grego e significa “declarar”, “anunciar”, “interpretar”, no entanto, nos bons dicionários de história,
vemos que sua origem deu-se pela pessoa de Hermes, filho de Cão (exatamente aquele da Bíblia, filho de Noé), o qual é o
mesmo Bel fundador da Babilônia, “o intérprete dos deuses”. Portanto, Cusí ou Cuxe, pai de Ninrode, e Hermes eram a mesma
pessoa! Veremos mais sobre essas figuras quando falarmos de “Sincretismo Religioso”.
7 Também conhecido como Cisma do Oriente, foi o que dividiu a Igreja Apostólica em Igreja Católico-Romana e Igreja Ortodoxa
no ano de 1054 em Constantinopla. Essa divisão foi reforçada por uma história antiga de distintas crenças doutrinárias que
incluíram as controvérsias sobre a definição da natureza dualista de Cristo, bem como sobre a devoção a ícones (do grego
eikom, “imagem”). O que de fato dividiu a Igreja foi no que tange à obediência ao papado romano. No ocidente a autoridade
eclesiástica suprema passou a caber ao papa, o bispo de Roma, legitimidade a qual remontava ao próprio Cristo por meio de
Pedro. Já no Oriente, a autoridade passava-se pelo episcopado (como já vimos!) composto por bispos. O ponto mais tenso, no
qual houve a excomunhão de vez da Igreja do Oriente, foi em 1054, quando houve uma discussão da recusa da comunidade
bizantina do sul da Itália em prestar homenagem ao pontífice Leão IX.
16
História │ UNIDADE I
a condenação de praticamente rotineiras das doutrinas luteranas, mas sem tocar nas
reformas da Igreja) duraria dezoito anos!
Aqui, a igreja Católica abre-se por completo ao diálogo inter-religioso (assunto que
veremos com maiores detalhes mais à frente), em Unitatis Redintegratio8, a igreja
Católica expressa o sentimento pelo qual até então não havia dado a unificação com
qualquer outra igreja:
17
UNIDADE I │ História
Neste decreto a Igreja Católica exorta a seus fiéis que se dediquem ao movimento
ecumênico, haja vista os finais dos tempos segundo eles. A devoção pela Bíblia é
amplamente elogiada (a qual os protestantes sempre se demonstraram mais atentos), e
reconhece-se ali a Igreja Ortodoxa como irmã cujos sacramentos são válidos, bem como
os membros das Reformas como “irmãos no Senhor”.
Aparece ali, com efeito, que nem todas as crenças são pertinentemente semelhantes,
havendo certa “hierarquia de verdades”.
O decreto aduz uma mudança significativa de atitude e alude que se deixe para trás
rivalidades e, todavia, com isto, busque escutar e jamais machucar ou menosprezar
qualquer outra parte em um diálogo inter-religioso.
João XXIII era apenas cinco anos mais novo do que Pio XII antes
de falecer. Considerado muito simpático, generoso, este papa foi
mais conhecido pela convocação do Concílio Vaticano II, que se deu
em 25 de julho de 1959. Poderia, como todos os outros papas, não
realizar este Concílio, mas decidiu fazê-lo, pois enquanto em todos
os Concílios anteriores (ditos ecumênicos) visava-se discutir questões
doutrinárias, o objetivo do papa era o de reunir todos os bispos para
efetuar uma atualização na Igreja, o chamado aggiornamento9.
18
HiStóriA │ unidAdE i
Por fim, não é demais reforçar que o Concílio Vaticano II foi o grande divisor de águas
do ecumênismo moderno. Veremos seus reflexos ao longo de nossos estudos, por ora
Souza (2005, p. 97) nos informa:
19
capítulo 3
Movimento ecumênico moderno
Fé e Ordem
Teve como principal organizador o bispo da Igreja Episcopal11 americana Charles
H. Brent (1862-1929) e é um movimento que se dedica a lutar pela reconciliação
das denominações divididas. O encontro preliminar ocorreu em 1920 e em 1925 em
Estocolmo, mas a 1ª Conferência Mundial sobre Fé e Ordem fora realizada em 1927, em
Lausanne, seguida por Edimburgo e Oxford em 1937. Numerosos delegados da Ásia e
da África compareceram nestas reuniões.
20
História │ UNIDADE I
Vida e Obra
Em Estocolmo (1925) e Oxford (1937) foi feita uma proposta para criar uma central que
pudesse preparar um fórum para estudos ecumênicos e com isto evitasse a hipocrisia
e a rivalidade desnecessárias. Vida e Obra é um movimento que se preocupa com a
relação da fé cristã com as questões sociais, políticas e econômicas.
Com sede em Genebra, deu origem a 147 igrejas em 44 países, a maioria das comunidades
ortodoxas e protestantes ao redor do mundo, cerca de 230, pertence ao Conselho.
21
UNIDADE I │ História
Uma consulta teológica à luz do tema salvação em Genebra na Suíça, patrocinada pelo
CMI, fora composta por 25 teólogos e trouxe as seguintes conclusões:
A luta do CMI não termina por aí, o Conselho preocupa-se também com a compreensão
teológica; a paz e o controle de armamentos; o racismo, haja vista a conferência de 1937
que se posicionou contra o antissemitismo do nazismo; a liberdade religiosa e a ajuda
aos refugiados e oprimidos das guerras.
12 Para aqueles que não estão acostumados com este campo da Filosofia, a Metafísica estuda filosoficamente basicamente tudo
aquilo que não é científico e empírico.
22
HiStóriA │ unidAdE i
Deu-se então um nó na cabeça dos católicos, e não era para menos, a igreja católica
perdeu muito com isto (veja mais em Estatísticas Pós-Vaticano II), abalando, com o
23
unidAdE i │ HiStóriA
ato ecumênico e pluralista, toda a estrutura católica. Falaremos mais sobre o assunto
quando tratarmos de Sincretismo Religioso.
Na França, a força do movimento ecumênico era intensa; teve como obra primeira a do
sacerdote Couturier de Lyon, o qual reuniu grupos de diversos católicos e protestantes
na abadia trapista de Domples, após esta, nas dos dominicanos do centro Istina de
Paris. Este fato é importante para efeito de conhecimento do que tange o berço do
ecumenismo na Europa. O Secretariado para a Unidade foi criado em 1960 e teve a
direção do cardeal Bea; cinco observadores católicos foram enviados à assembleia do
CMI em Nova Delphi.
Por fim, de acordo com Ferguson (2007, pp. 707-708), ainda em Nova Delphi:
Após este encontro, o CMI mudou sua declaração como organização de “uma comunhão
de igrejas que aceitam nosso Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador” para “uma
comunhão de igrejas que confessam o Senhor Jesus Cristo como Deus e Salvador, de
acordo com as Escrituras, e, portanto, procuram cumprir conjuntamente seu chamado
em comum para a glória do único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo”.
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História │ UNIDADE I
Como principais tarefas, reuniu-se a esfera mais alta de decisões no CMI, com mais
de 700 delegados vindos de mais de 340 igrejas-membro do CMI em 100 países.
Representantes de mais de 200 conselhos participaram do evento, agências e igrejas
não membros, também anfitriões brasileiros e latino-americanos e mais de 1.500
visitantes e observadores, fazendo jus ao tamanho do Conselho.
Suas reuniões se dão a cada sete anos, para oração e revisão de programas. Determina
prioridades com emissão de mensagens objetivas e pertinentes ao tema proposto, bem
como elege presidentes e Comitê Central.
Existe também, agora no Brasil, o Conselho Nacional das Igrejas Cristãs no Brasil
(CONIC), o q ual foi fundado em 1982 no Rio Grade do Sul. Fruto de um longo processo
de discussão e articulação das igrejas Católica Apostólica Romana, Evangélica de
Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil e Metodista.
25
UNIDADE I │ História
A Diaconia, também possui seu cunho ecumênico subjetivo, foi criada em 28 de julho
de 1967 na cidade do Rio de Janeiro. É uma organização social de serviço, sem fins
lucrativos e de inspiração cristã. Fruto da convocação da Confederação Evangélica
do Brasil é composta por 11 igrejas. No início da década de 1980, transferiu sua sede
para o Recife (PE), atuando em três estados do Nordeste, região que concentra o maior
número de pobres do País14.
Há também a CESE, que, em sua página, afirma que existe há mais de 40 anos. Ela
atua na promoção, defesa e garantia de direitos no Brasil e faz isso porque entende
que a desigualdade e a injustiça ainda persistem. Foi criada por Igrejas Cristãs com
a missão de fortalecer organizações da sociedade civil, principalmente as populares,
empenhadas nas lutas por transformações políticas, econômicas e sociais. Compõe-se
pelas seguintes igrejas.
A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por sua vez, assumiu
compromissos para com a liderança de diversas igrejas, com vistas a um diálogo fraterno.
Posicionou-se favorável à continuidade do movimento, contudo antagonizando-se das
afirmações exclusivistas da Dominus Iesus, a qual trata os fiéis das outras igrejas como
“irmãos no Senhor”. Entretanto, trata-se de um paradoxo, pois a CNBB faz parte da
Hierarquia Católica15; representa, por dever, o pensamento do papa e segue as suas
diretrizes.
26
História │ UNIDADE I
Após a morte de Buda (exatamente isto, tratamos que ecumenismo não se refere
somente ao cristianismo, pois, quando se dá ao diálogo, todos querem dialogar), monges
budistas realizaram também seu Concílio em Rajagriha, objetivando estabelecer a
doutrina budista. Em 366 a.C. e um segundo discutia-se cisões. O próprio judaísmo
também realizou o Concílio de Usha (158 d.C.), em Valladolid (1432), em Pittsburgh
(E.U.A., 1889).
Os evangélicos e o ecumenismo
Os evangélicos sempre foram uma “pedra no sapato” do Movimento Ecumênico e até
os dias atuais diversas igrejas evangélicas possuem posições diversificadas a respeito do
CMI, não adotando, contudo, uma postura una. Mesmo em 1910 já se viu a dificuldade
de uma eucaristia unificada entre as igrejas episcopalianas e não episcopalianas.
No entanto, das poucas igrejas evangélicas participantes, possui certo grau de influência,
dando maior vazão e foco a assuntos bíblicos tratados nas conferências. O ecumenismo
evangélico nasceu da cooperação do manifesto no Pacto Lausanne (1974) e tem sido
até hoje tema de debates como a questão da missão da igreja e da natureza da salvação.
27
UNIDADE I │ História
Por fim, tem como objetivo, segundo ainda a visão do CLAI, “aprofundar a unidade
da Igreja de Jesus Cristo, reconhecendo a riqueza que representa a diversidade de
tradições, confissões e expressões da fé cristã; promover nesse sentido a reflexão, o
ensino, a proclamação e o serviço cristão”.
O Concílio Americano das Igrejas Cristãs foi formado para opor-se ao Concilio Mundial
de Igrejas, provendo uma alternativa para as igrejas de dependências conservadoras,
que assim podem contar com um “concilio universal”. Defende o fundamentalismo
teológico, porém, assim como o ceticismo, é a grande fraqueza do liberalismo, assim
também o espírito contencioso é a fraqueza do fundamentalismo. Daí o Concílio
Americano de Igrejas Cristãs tornou-se vitima de conflitos internos, com resultantes
defecções. Em seu ponto culminante, esse Concílio congregava cerca de um milhão de
pessoas, em certa variedade de denominações evangélicas. O ramo internacional deste
movimento foi o Concilio Internacional de Igrejas Cristãs.
Embasamento bíblico
Bases bíblicas não faltam para que os movimentos Ecumênicos se apoiem, vale ressaltar
algumas tanto para efeito de conhecimento quanto para aprofundamento dogmático:
28
HiStóriA │ unidAdE i
Reflita sobre isso: unidade não significa uniformidade; pessoas diferentes podem ser,
dentro de limites previamente estabelecidos e bem delimitados, algo extremamente
enriquecedor haja vista todo o arcabouço legal e escopo do direito civil.
números referenciais
29
UNIDADE I │ História
Petencostalistas
Católicos Discípulos de Cristo
Velhos Católicos Ortodoxos
Anglicanos Batistas
Metodistas Reformados
Luteranos
ESTATÍSTICAS PÓS-VATICANO II
Colégios
Redentoristas: Frades: Frades: Jesuítas: Franciscanos:
Católicos:
1965 - 1.148 1965 - 12.000 1965 - 1.566 1965 - 12.000 1965 - 5.277 1965 - 2.534
2002 - 349 2002 - 5.700 2002 - 786 2002 - 5.700 2002 - 3.172 2002 - 1.492
77% acreditam que Católicos não precisam assistir à Missa aos Domingos
65% acreditam que Católicos possam se divorciar e casar-se novamente
53% acreditam que Católicos possam fazer aborto
10% acreditam no ensinamento da Igreja com relação ao controle de natalidade (pesquisa da Notre Dame)
70% acreditam que a Eucaristia seja uma “lembrança simbólica” de Nosso Senhor (pesquisa da New York Times)
No entanto, vemos que muitos podem ter posto de lado sua fé na doutrina católica,
mas não em uma Weltanschauung Cristã, uma vez que o cristianismo cresceu em
praticamente todas as partes do mundo:
30
História │ UNIDADE I
Fonte: <http://www.adparanagua.com.br/wp-content/uploads/2012/01/pesquisa-pew-forum.jpg>.
31
unidAdE i │ HiStóriA
fonte: http://www.gazetadopovo.com.br/amazon/s3/info_mundo_religiao_19122012.jpg
32
Capítulo 4
Resistência ao ecumenismo
O problema é que o protestantismo e uma parte evangélica afirmam ver o elefante por
completo; o que muitas também afirmam, entretanto, pode ser comparado aos cinco
cegos apalpando partes do elefante:
Sobre o ambiente do Concílio Vaticano II, Mattei (2009, p. 322) traz as seguintes
considerações:
33
UNIDADE I │ História
Contudo, o Papa Pio XI, na encíclica Mortalium Animos19 (1928) lance-se contra após
o oficial lançamento do movimento ecumênico pelo Vaticano II.
Lutero
17 Do latim Pius: “aquele que cumpre seus deveres”, este é um movimento que provém do Luteranismo e que possui como
cerne de sua crença as experiências individuais do cristão com Deus e, segundo Champlin (2001, p. 272), “o metodismo, os
menonitas, os dunkers (batistas alemães), os schwenkfelders e os morávios devem todos alguma coisa ao pietismo. A Igreja
Reformada Holandesa também teve lideres cujos discípulos salientaram esse conceito, o que também sucedeu ao luteranismo
norte-americano. A Igreja ReformadaAlemã da América do Norte exerceu uma influência pietista sobre o povo reformado
alemão naquele continente. Os Irmãos Unidos em Cristo e a Igreja Evangélica foram denominações que incorporaram (em sua
história inicial pelo menos) tendências pietistas. Talvez possamos dizer que a maioria das igrejas pentecostais da atualidade
retém tanto as virtudes quanto os vícios desse movimento”.
18 Veja mais sobre, dentro do tema Diálogo Inter-Religioso.
19 Veja mais na íntegra direto da página virtual do Vaticano: <http://www.vatican.va/holy_father/pius_xi/encyclicals/
documents/hf_p-xi_enc_19280106_mortalium-animos_po.html>.
34
HiStóriA │ unidAdE i
Enquanto se destacava na Igreja por meio de profundos estudos das cartas de Paulo,
algo aconteceu em sua mente, revoltou-se contra as indulgências obrigatórias da Igreja
Católica Romana, em seguida escreveu as famosas Noventa e Cinco Teses e pôs-se a
lutar em favor daqueles que se submetiam às práticas católicas. Ele por si mesmo ficou
assustado com tamanha repercussão de seu posicionamento; foi julgado em 1518 e fugiu
logo após, dando início a sua perseguição. Ficou recluso por dez anos em um castelo e
com isto traduziu o Novo Testamento para o alemão em 1522 e com ajuda posterior em
1532 a Bíblia inteira foi publicada (e incrivelmente após quase 500 anos é a versão mais
lida no idioma alemão!).
Contudo, retornando ao nosso assunto, da Reforma de Lutero deu-se início a dois grupos
principais, com efeito, os luteranos e os reformados. Tal fragmentação parece não ter
fim. Associados à Alemanha, historicamente, vem a Igreja Luterana; já a baseadas nos
ensinamentos de Zwínglio (1481-1522) e João Calvino (1509-1564) temos as igrejas
reformadas, as quais também se sucederam na Suíça.
reforma
A Reforma protestante mistura-se ao Concílio de Trento, como visto anteriormente, o
pontífice escolhido para dar continuidade ao legado de Pio IV, em 7 de janeiro de 1566,
foi Michele Ghislieri, dominicano milanês que assumiu o nome de Pio V.
Não sacrificaremos muito de nosso tempo estudando-a, pois temos bastante informação
sobre ela, mais importante agora é saber qual o efeito da Reforma para o ecumenismo.
No mais, sabemos que Lutero, com suas posições teológicas e respectivas mutatis
mutandis, assumiu as também políticas e nacionalistas. O intuito era fazer com que os
fiéis deixassem de ser romanos e passassem a ser habitantes de seu próprio país.
Sustentava-se a teologia de que não o papa, mas, sim, as Sagradas Escrituras eram
dignas de autoridade, bem como se suplantou o esgotamento do assunto indulgências.
Lutero mantinha sua doutrina sobre predestinação e, com isto, o imperador Calor V,
quando viu que estava favorecendo uma posição que não acreditava ser boa para o
Sacro Império Romano, abandonou a Reforma e apoiou a Contrarreforma.
35
UNIDADE I │ História
Contrarreforma
Como vimos, o Concílio de Trento promoveu o movimento católico antirreformador.
Portanto, após a Reforma, as práticas católicas viram o fim das vendas de indulgências
(não esqueça que indicamos o filme “Lutero” para melhorar seu conhecimento e sua
compreensão acerca do tema), bem como a criação de novas ordens, como, por exemplo,
a dos jesuítas (Companhia de Jesus). Contudo, padres intelectualmente rigorosos, sob
a orientação de Inácio de Loyola (1491-1556), do qual já falamos, quiseram impor nova
ênfase na assistência pastoral como também na obra missionária.
Protestantismo
Nem sempre os protestantes foram contra o ecumenismo, vemos, contudo, que antes de
tempos contemporâneos, como dito, proveio grande parte do protestantismo coligações
continentais internacionais, reunindo-se periodicamente representantes de igrejas de
diversas partes, onde, em assembleias de estudo e recomendações, eram feitos, tais
como a Aliança Mundial das Igrejas Reformadas (1875), o Concílio Metodista Mundial
(1881), o Concílio Congregacional Internacional (1948). A partir destes movimentos é
que se começou a pensar e iniciar o surgimento do Conselho Mundial de Igrejas.
TRAÇADO HISTÓRICO
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História │ UNIDADE I
Tais grupos deveriam ser estudados independentes, uma vez que cada um traz
importantes acontecimentos históricos que impedem a fusão total das igrejas (estude-os
se possível). Segue uma resistência de ideias previamente estabelecidas por fundadores
de pensamentos ideológicos cristãos e grupos que se detém a um ou outro ensinamento
de dissidentes medievais. Até o próprio Lutero se posicionou contra qualquer tipo de
atividade posterior à Reforma Protestante que envolvesse seu nome ou o intitulasse
“mestre” de um fim específico, tampouco sonhou com uma igreja Luterana.
Temos ainda três fatores fulcrais para ressaltar, o primeiro deles é a expansão colonial
dos povos protestantes; em segundo, o enriquecimento deles em função direta ou
indireta desta expansão e, ainda, em terceiro, a conquista da relevância da proposta
teológica que ganharam nos últimos séculos, principalmente a partir de João Wesley
(Inglaterra) no século XVIII.
37
UNIDADE I │ História
Igreja Católico-Romana
A Igreja Católico-Romana não é de toda a favor do movimento ecumênico. Existem
grupos contrários ortodoxos e fundamentalistas que se opõem veementemente ao
movimento.
Para posicionar-se e analisar o outro lado da moeda, vale a pena ler a confrontação da
própria Igreja, porém dita Católico-Romana de raízes primitivas, na Carta Encíclica
em Mortalium Animos sobre o ecumenismo pelo papa Pio XI, que teve como tópicos
principais:
38
HiStóriA │ unidAdE i
14 União Irracional.
Como vimos, tal contrariedade é provavelmente encabeçada por Pio XI, o qual
apologeticamente traz aos fiéis diferente Weltanschauung sobre o movimento.
Ainda sim precisamos nos aprofundar um pouco mais para diagnosticarmos as raízes
das ações antiecumênicas, para isto, e com intuito didático, vejamos as informações
abaixo:
39
UNIDADE I │ História
Para que nosso subtema não se torne prolixo, busque diferentes pontos de vista de
cada fragmentação acima. Sabemos bem que cada uma delas contribui para um ponto
da história, por isto a importância de pesquisá-los em separado. Para que também não
fique pesado, consulte aqueles que você não possui conhecimento ou domínio.
Cabe agora reavaliar, sem embargos, a real função e posicionar-se a favor ou contra,
uma vez que a indiferença somente gera indiferença.
40
Sincretismo e Unidade iI
cultura
capítulo 1
Um breve histórico
Sincretismo religioso
Visto que não há meio de se falar de ecumenismo sem falar de sincretismo, este assunto
será abordado em uma escala de importância de maior grau, dado a fatores que
influenciaram e influenciam modelos ecumênicos e seus respectivos pensamentos em
virtude de cenários dantes adotados e que hodiernamente tem-se como fundamento
padrão e pano de fundo histórico, cenário onde muitos creem sem ao menos nem
se quer saber o porquê da crença. Segundo Boff (2005, p. 219) “a condescendência
(katabasis) era, na teologia antiga, exatamente o momento em que se operava o
grandioso sincretismo cristão que herdamos, nos séculos IV e V, uma categoria teológica
fundamental”. Com efeito, veremos que não ocorre somente nestes séculos, mas desde
a antiguidade babilônica egípcia e da mitologia grega.
Sincretismo relativista
Uma vez que, se todas as religiões fossem válidas, o valor de cada uma seria relativo.
Não haveria uma religião verdadeira. Não haveria religião que pudesse se apresentar
como possuidora exclusiva da verdade. Se nenhuma religião fosse verdadeira, isto é,
dada como o padrão norteador, tudo seria subjetivo, desencadeando-se nas diversas
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UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
ramificações cristãs, as quais se veem hodiernamente. Como diria Júlio César, alea
jacta est21.
Em Nostra Aetate sobre a Igreja e as religiões não cristãs, trata-se de crenças como
hinduísmo e budismo, islã e religião judaica. Paulo VI ainda fala sobre a fraternidade
universal e a reprovação de toda a discriminação racial ou religiosa e ainda que “não
podemos, porém, invocar Deus como Pai comum de todos, se nos recusarmos a tratar
como irmãos alguns homens, criados à Sua imagem” (Nostra Aetate, 5)23.
Sincretismo histórico
Dada a ação dos imperadores quanto a sua autoimposição papal, eles atribuíam ao
cristianismo apenas uma maneira de “agradar” o povo, devem ter refletido no ditado
popular “se não pode vencê-los, junte-se a eles”. O Império percebeu isto, deste modo
incorporou o cristianismo aos aspectos políticos, sociais e econômicos (veja mais sobre
no próximo tópico), deste modo centenas de crenças pagãs foram absorvidas pelo
cristianismo do agora Império Católico-Romano, incluindo imagens, festividades e
datas comemorativas, culturas entre outras coisas.
42
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
Esse último nos interessa mais, por se tratar de nosso tema principal, uma vez que, com
a invasão dos Bárbaros e suas diversas ramificações, impetraram-se essências de cada
povo absorvido pelo Império Romano. Dado literalmente ao cunho de força de combate
dos Bárbaros, para efeito didático fazia como um grandalhão do colégio pedindo um
lanche para uma criança bem menor do que ele, a pequena respondia e era como “ah,
você acredita nesse deus, no final das contas é a mesma coisa porque queremos fazer o
bem, vem pra cá, a gente pega um pouco das coisas que você acredita; deuses que vocês
adoram e semelhantes datas para fazer uma só festa; somamos com as nossas e vamos
adorar, afinal, são todos os mesmos!”.
Pode parecer estranho, mas no cotidiano dava-se em torno disso mesmo. Para efeito
de conhecimento mais aprofundado, bem como possível material de consulta, segue
abaixo tabela das ramificações Bárbaras infiltradas e devidamente absorvidas com
critérios dos mais diversos níveis pela cultura Imperial Católico-Romana:
2 - ASIÁTICOS
2.1 - Turcos -
2.2 – Avaros -
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UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
2.3 - Hunos (povos do extremo Oriente. Comiam carne crua e eram extremamente primitivos. Eles amasiavam a carne sentando nela
Pressionavam os Godos – eram tártaro-mongóis quando cavalgavam. Vestiam panos e peles de ratos do campo.
– e faziam parte do grupo que fazia ameaças)
Eles empurraram pra dentro do império romano os germânicos.
Ninguém guerreava mais que os Hunos e pressionavam os germânicos.
Viviam para assaltar, roubar, batalhava-se apenas por recompensa.
Dominaram o extremo asiático e foram barrados pela muralha da China.
3 - IRANIANOS
3.1 – Citas -
3.2 – Sármatas -
3.3 – Alanos -
4 - ESLAVOS
4.1 – Ocidentais -
4.2 - Orientais (Russos e Ucranianos) -
4.3 – Meridionais (Búlgaros, Sérvios, Croatas e -
Eslovenos)
5 - MISSIONÁRIOS
5.1 - Na Armênia – Gregório – 257-331, o Persas mataram o pai de Gregório e toda sua família quando ele tinha um ano de idade.
Iluminador evangelizava o povo em 300 d.C.
Tirídates foram poupados e foram enviados para Roma digno de nobreza, já Gregório é enviado a
Capadócia e teve sua formação fundamentada no cristianismo.
Gregório era conselheiro particular do herdeiro do trono (Tríades).
Tirídates, quando se tornou rei, convidou Gregório para adorar outros deuses, mas este se
recusou e foi jogado na masmorra e por lá ficou durante 15 anos!
Após os 15 anos, no século III, o rei ficou doente, a esposa de Tirídates teve um sonho que
somente Gregório poderia salvar o rei, e assim foi feito.
O rei se converteu, o reino se converteu por tabela a Armênia toda se converte e oficialmente em
301 d.C. passou a ser quase inteira cristã com aproximadamente 2,5 milhões convertidos.
Os armênios sustentam a fé até hoje.
5.2 - Na Etiópia (Frumêncio) Primeiro bispo missionário na Etiópia.
A rainha resolveu adotar Frumêncio como filho e recebe educação cristã.
Recebendo autorização do bispo em Alexandria são enviados como sacerdotes cristãos para criar
a primeira comunidade cristã na África negra e com isto se se expandiu pela África o cristianismo.
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Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
5.3 - Na Grã-Bretanha (obra feita por vários Naqueles dias as crenças se baseavam em variadas teologias.
missionários. Muitos Godos já vieram como
cristãos)
Baseavam-se mais nas formas arianas de cristianismo.
5.4 - Na França (Martinho) Foi tocado por Deus e abandonou o exército e foi Santo padroeiro da França.
Ele liderou monges guerreiros para destruir nos bosques incendiando imagens feitas a ídolos,
com o intuito de exterminar os deuses pagãos.
5.5 - Na Irlanda (Patrício) Considerado hoje o padroeiro da Irlanda.
Levado por piratas com seis anos, cuidou de gados.
Vendido como escravo, trabalhou duro.
Fugiu da Irlanda para Grã-Bretanha e se dedicou à vida religiosa em mosteiros.
Deus chamou-o para voltar para Irlanda como pregador e com isto teve muito sucesso com a
nação que o escravizou.
Paládio era responsável pela missão na Irlanda, mas quando morreu Patrício assumiu.
Em três décadas ele converteu praticamente a Irlanda inteira!
Não contava com apoio político, não houve repressão contra os próprios cristãos, mas somente
pregava à moda antiga.
Converteu o rei e a nação toda se converteu.
Fez daquela ilha o reino principal do cristianismo na Europa.
5.6 - Escócia (Columba) Abriu mosteiros na Escócia toda.
Não doutrinava, com isto trazia antigas práticas e religiões.
Na Escócia só foram substituídas as práticas pagãs aos líderes quando eles passaram a cultuar
santos.
Portanto, na Escócia, infiltrou-se o paganismo.
Viviam dogmas e crenças pagãs através do sincretismo. Heresias eram dadas em demasia!
5.7 - Os Apologistas Fidei defensor em latim. Defendiam a fé cristã com inteligência. Tinham como inimigos os pagãos.
5.8 – Gnosticismos Encontravam-se principalmente na Turquia e acreditavam que somente pelo conhecimento o
homem era salvo e não pela morte de Cristo.
Com esses judeus líderes expulsos, a espinha dorsal da igreja foi praticamente quebrada
e então o rebanho ficou só. Tirou-se a Bíblia do povo cristão, com isto, sem alguém para
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UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
instruir, uma vez que os poucos missionários que haviam tinham sido expulsos e sem
nenhuma base bíblica, aquela pequena comunidade cristã começou a se desviar, com
efeito, essa pequena igreja em Roma começou a se tornar completamente apóstata e/
ou sincretista.
Esse período durou cerca de treze anos. Após 50 d.C. esses apóstolos voltaram a Roma.
Com isto, a primeira igreja em Roma foi a primeira igreja que se deixou levar por
outras culturas. Diante disto, esses mesmos apóstolos tiveram que fundar uma nova
igreja, pois os líderes ali levantados, isto é, na primeira igreja, passaram suas doutrinas,
considerada pelo povo cristão, heréticas.
O bispo de Roma introduziu diversas festas e ideias pagãs no culto. Induziu aos
governantes a perseguição aos cristãos (aproximadamente sete mil em Tessalônica
foram perseguidos), pois os pegaram em uma festa adorando a Jesus e não a Astarte24.
24 Segundo Champlin (2002, p. 354) - No grego é Astarte, de onde se origina o termo em português. Em inglês é Ashtoreth, que
deve ser distorção da forma grega, segundo a analogia de Bosheth, vergonha. Era a deusa suprema Cananeia, contraparte de
Baal, e conhecida entre os babilônios como Istar, e no sul da Arábia como Athtar (uma forma masculina). Virgem perene, ela
era também a mãe frutífera e criadora da vida. Os filisteusparecem haver ressaltado o caráter belicoso de Astarte (ver I Sm
31:10). As numerosas Astarotes representam várias formas sob as quais ela era adorada em diferentes lugares (Jz. 10:6; I Reis
11:33; 23:13). O nome delafoi dado à capital de Ogue, rei de Basã (Deu. 1:4).
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SinCrEtiSMo E CulturA │ unidAdE ii
O Egito recebeu dos Caldeus (babilônicos) a matemática e a ciência, a Grécia, por sua
vez, importa logo depois esse conhecimento do Egito. Entre o ensino das ciências eram
ensinados o ocultismo e os contatos com esses deuses.
Houve certo tempo que todos os povos da terra criam em um só Deus. Um Deus
supremo, eterno, invisível, caráter amoroso, bom e justo e ainda criou todas as coisas
pela palavra de sua boa (isso deixa qualquer cristão no mínimo intrigado). Havia uma
crença universal neste Deus corroborada pelos historiadores Pompeu Trogo (historiador
galo-romanizado) e Diosoro Sículo (historiador grego), ambos do século I a.C.
Por que tudo isto é importante? Porque por meio de Ninrode e das culturas
Babilônicas é que toda mitologia grega fora baseada, bem como o Egípcio, o qual teve
grande influência em sincretismo Imperial. Falamos de Hermes, que era a mesma
pessoa de Cusí, no qual toda a Hermenêutica fora fundada, pois como dito, Hermes era
considerado Mercúrio, na cultura Grega, o “intérprete dos deuses”. Cusí, portanto, fora
o precursor de todo o sistema antigo.
Janus (Júpiter de Babel), deus romano, fora a figura que deu origem ao mês de Janeiro.
Em seguida surge, na pessoa de Bafomé ou Baphomet, o ser andrógeno25. Zero-aschta,
a deusa, era considerada a semente da mulher prometida, como se a profecia estivesse
se cumprindo. O culto a ela, portanto, passa a fazer parte do culto em Roma.
Babilônia cai pelo Império Medo-Persa e Átalos corre para Pérgamo levando junto seus
sacerdotes e impérios sagrados. Pérgamo então se estabelece um lugar de trabalho de
confusão. Todo esse conhecimento de ocultismo, portanto, em Átalo, é passado para
Roma, logo, uma miscelânea de culturas.
Não queremos subjugar credos, tampouco culturas, mas sim mostrar e demonstrar
as raízes sincretistas medievais e modernas, as quais têm sua origem no início das
47
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
Do Egito a Roma
Uso e conteúdo das catacumbas eram comuns no Egito, no entanto, na época do
Imperador Nero, as catacumbas passam a fazer parte do museu do Vaticano, em Roma.
Na galeria dos monumentos das catacumbas também se encontram sarcófagos e outros
instrumentos, imagens, ornamentos e objetos de culturas pagãs.
A coleção mais valiosa do museu cristão é a Galeria Lapidaria (lápides contam como
a primeira igreja lidava com a questão da morte). Caio Júlio e o imperador Petrônio
Máximo jazem nesses túmulos.
A idolatria iniciou-se de fato na igreja cristã no século II d.C. A influência pagã iniciou-se
quando um mártir era morto, pois como no cristianismo se crê na vida eterna, é certo
que este mártir estaria em um lugar melhor após a morte, portanto era motivo de alegria
e não de tristeza. Após um ano morto, a data de aniversário de sua morte era celebrada
de forma natural, chegando a se tornar até mesmo festa. Partes dos corpos dos santos
serviam como relíquias, portanto imagens, esculturas e estátuas eram feitas a eles. Era
a maneira de se lembrar daquelas pessoas consideradas santas.
Essa idolatria nasce da necessidade do ser humano em ter um objeto para adorar e
erguer um altar para um deus desconhecido, portanto é a partir da veneração destes
mártires que surgem as imagens de idolatria na igreja cristã.
Cada vez mais a doutrina pagã se infiltrou na igreja cristã. Comentava-se onde jaziam os
apóstolos: “Paulo e Pedro aqui podem interceder por Vitor”. Os próprios pais da igreja
no segundo século já pregavam distorcidamente os ensinos de Jesus. Introduziram-se
de modo muito sutil, subliminar e assim transformam a igreja.
“Ah, vovô (morto), intercede por mim a Jesus para Ele atender minha oração” e assim
começou. Comentários desse tipo deram início à nova cultura que adotava bases de
outros dogmas, misturando-se e transformando-se no sincretismo medieval conhecido.
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Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
Acreditava-se que a veneração de corpos, no toque do corpo do mártir, era algo santo.
Em 1545 (Trento), citava-se “Santos corpos dos santos mártires devem ser venerados”.
Quem não adorasse as relíquias (restos mortais de seres humanos) era morto.
“Roma era como um cemitério malcheiroso e hienas procuravam cadáveres [...] Todos
os túmulos remexidos” (Gregorovius, historiador não cristão). Vários milagres foram
atribuídos a essas relíquias, o povo era movido a “novidades” – sempre com novas
relíquias.
Na mesma capela encontrava-se mais de dezessete pés do jumento que ajudou Jesus.
Mais de oito crânios diferentes encontrados de João Batista, onze pernas de André e
nove braços de Estevão. Um verdadeiro comércio de relíquias.
Na Alemanha, expunham-se os supostos corpos dos três reis magos. Em 1204 d.C.
a questão do culto às relíquias tomou uma proporção assustadora. O que era um
carinho pelos mártires tornou-se uma igreja com mais de sete mil crânios, setecentos
verdadeiros pregos que crucificaram Jesus foram catalogados. Somente em Portugal
existia mais de cinco igrejas e ali se comercializava os pedaços da cruz e até mesmo pó
dos restos de Adão.
Uma ampola de sangue de João Paulo II e um pedaço de pele de João XIII foram
colocados ao lado do túmulo26.
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unidAdE ii │ SinCrEtiSMo E CulturA
Policarpo, líder em Esmirna, quando chegou a Roma viu pessoas prostradas para imagens
dos apóstolos e considerou que os primeiros cristãos estavam sendo sobrepujados.
A história de Paulo se tornou imagens para conto de histórias, diante disso pessoas
começaram a fazer escultura para marcar sua história, logo então acreditou-se que essa
imagem podia interceder pela pessoa e com isto se deu o culto àquela imagem.
Na Wicca, a deusa da aurora, também é aclamada nesses dias. Existem oito sazonais na
bruxaria e uma delas é relacionada a esta deusa.
Policarpo de Esmirna em sua viagem a Roma não conseguiu intervir aquele paganismo e
dizia que Efraim estava entregue aos ídolos. Policarpo era um bispo que posteriormente
se tornou mártir. Desde Trajano (98 d.C. a 117 d.C.) nenhum cristão podia ser preso
sem culpa comprovada, nesta época o mártir cristão foi Inácio (Igreja de Antioquia
– formado por João), como vimos acima. Ao mesmo tempo em que prendia Inácio os
próprios cristãos o visitavam na cadeia. Quando Trajano chega a Antioquia, prende
Inácio (Inácio já era pastor de Antioquia) para dar de exemplo aos outros cristãos para
não serem cristãos. Inácio foi dado a uma morte dolorosa para ser comido por leões e
escoltado até Roma; foi torturado para que blasfemasse contra Jesus. Por ter a própria
fé abalada, fortalecia a fé da igreja. Foi morto em 110 d.C.
27 Apenas para instigar: o Natal é comemorado no mesmo dia em que se comemorava o aniversário de Mitra (o deus-sol).
Veremos mais sobre ele à frente.
50
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
Trajano foi sucedido por Adriano (perseguição igual a Trajano), posteriormente por
Antônio Pio e após essa mudança a igreja praticamente viveu em paz. Em Marco Aurélio
(161 d.C.), contudo, acentuou-se a perseguição.
Marco era culto, “justo” e sábio – não perseguiu os cristãos por crerem em Cristo, mas
pelo fato de não se curvarem à cultura dele. Justino (mártir), foi delatado diante do
juiz (180 d.C. - 192 d.C.) e, em Sétimo Severo (193 d.C. – 211 d.C.), deu-se a quinta
perseguição e neste império adotou-se de fato a política sincretista.
Entre 249 d.C. a 251 d.C. houve uma “breve” perseguição, isto é, a sétima delas. Por
todo o império é visto tais momentos se sucedendo. A oitava ocorreu por volta dos
anos 253 d.C. e 260 d.C., uma perseguição menos intensa, contudo, após dez anos de
“tranquilidade”. Porém, entre 270 d.C. e 275 d.C., inicia-se a nona perseguição da Igreja,
em que muitos apostataram da fé em Cristo. Após isso houve descanso.
Em Cartago havia um bispo Cipriano que aceitava o retorno de muitos cristãos, mas
com severas regras. A igreja foi enfraquecendo, pois aceitava hereges, apóstatas, fracos
na fé e a partir de então a igreja desanda de vez. Surgiram também outras doutrinas
de menor importância, entre elas o donatismo (grande opositor Augustinho). Em 284
d.C. – 305 d.C., já na décima perseguição, houve, para os cristãos, o cumprimento das
profecias.
Em 275 a.C. os romanos começaram a conquistar até mesmo cidades da Grécia. Desta
forma uma nação passou a invadir a outra, com isto Roma se protege e conquista outros
territórios. Depois que Roma consegue dominar a península Itálica, os romanos partiram
para conquista de outros territórios e uma das mais importantes batalhas se deu em
Cartago, porquanto se Roma conquistasse essa cidade garantiria a supremacia romana.
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UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
A maioria dos imperadores romanos eram psicopatas (matavam sua própria família,
esposa e viviam em orgia, bem como toda sorte de problemas). O sucessor de Augusto,
Tibério (14-37 d.C.), iniciou uma época de terror e homicídios, em que ele mesmo morre
assassinado.
Calígola (Gaio, 37-41 d.C.) foi assassinado e conhecido por prostituir suas próprias
esposas. Já em Cláudio, conquistou-se a atual Inglaterra (41-54 d.C.). Expulsaram
então os judeus de Roma e logo mais em Constantino, como vimos, determinou que o
Cristianismo fosse religião oficial do império romano.
Por fim, para efeito de conhecimento, das primeiras perseguições de Cristo até em 1900
não se compara aos mortos depois de 1900. A mais intensa deu-se no nosso século.
Estima-se que vinte e seis milhões de pessoas morreram no século XX. Mais de 250
milhões de cristãos estão sofrendo perseguições até os dias de hoje.
Mitraísmo e a perseguição
É extremamente válido ressaltar e reiterar toda a pressão que envolvia os cristãos na
antiguidade por parte do império para a adoração subliminar ao deus Mitra, o deus-sol.
No mitraísmo bolos com pequenos pedaços de frutas (nosso Panetone hodierno) eram
oferecidos ao deus em seu aniversário, em 25 de dezembro, portanto o menos intelectual
verá claramente que adotou-se a mesma metodologia a Jesus, muito embora o bom
conhecedor bíblico saiba que Cristo não nasceu em dezembro, mas em uma data de fins
de setembro e início de outubro na festa dos Tabernáculos (ou festa das Cabanas).
28 O mês de Agosto é em homenagem a Augusto e Julho a Júlio César, para efeito de conhecimento.
52
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
Em Trajano, como vimos, os cristãos “somente” eram mortos caso eles mesmos não
negassem a fé e cultuassem ao deus que o império obrigava, contudo o problema é
que o cristianismo sempre afirmará ser detentor da verdade absoluta e morrerão por
isto, e assim os mais fortes na fé prevalecerão; foi exatamente que ocorreu: dezenas de
centenas padeciam nas mãos do império. Para dar maior força argumentativa, vejamos
abaixo fragmentos do epistolário de Plínio, o Jovem, que era um historiador secular,
pedindo conselho ao imperador sobre como agir com os cristãos naquele tempo:
Por um lado baseado em seus “princípios” governamentais, por outro não deixar se
alastrar um “vírus” (concepção dos imperadores daquela época) cristão pelo resto do
povo, Trajano responde:
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unidAdE ii │ SinCrEtiSMo E CulturA
fonte: <http://arquehistoria.com/wp-content/uploads/2011/12/mitra.jpg>.
Não temos por objetivo trazer detalhes sobre a perseguição dos cristãos, contudo, faz-se
profundamente necessário entendermos as raízes sincretistas de nosso tempo, os quais
se têm nos primeiros séculos após Cristo as mais consideráveis aplicações.
Não deixe de construir um traçado histórico do tema para facilitar seu processo
de aprendizagem. Para o aluno proativo, as buscas de informações extras nunca
são demais. Por isso, faça um levantamento histórico mais apurado da origem
pagã de Mitra29 e a forma de culto que mitreus faziam a esse deus; uma antiga
divindade de origem indo-europeia, que já se fazia presente na religião indiana
no período védico e reverenciado também em boa parte do território iraniano.
Porém, na cultura romana ele era conhecido como: Apolo, Hélio ou Hermes.
Para instigar seu processo de vontade para a busca informativa, saiba que a
origem da suástica, sim, exatamente o que simbolizou o nazismo e toda sua
enfadonha herança, tem sua origem na Índia, muito antes de Hitler a usar. O que
hodiernamente se vem tentando por parte dos fervorosos indianos na justiça
é comprovar sua origem antes do “roubo” da imagem, para que com isto eles
possam a continuar utilizando em seus rituais de adoração a divindades locais.
Em sua pesquisa que poderá passar da Pré-história (criação dos deuses),
Proto-história, Medievo Helênico, período alto, médio e baixo-arcaico, período
clássico, macedônico, helenístico, enfim, perceba que sempre haverá a figura
da mãe, pai e filho em praticamente todas as culturas, credos e crenças, sejam
elas pagãs ou cristãs, originando-se em termos bíblicos em Ninrode, Semirames
e Tamús, em que o último era a mesma pessoa do pai, uma vez que Ninrode
29 Olhe novamente para imagem de Mitra e abra sua carteira, qualquer semelhança com a figura impressa em nosso papel-moeda
(real) é mera coincidência (?) e, porque não, com a pouco famosa Estátua da Liberdade (presente francês para os americanos).
Não deixe de comparar as imagens.
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Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
55
capítulo 2
Sincretismo e suas ramificações
Primeiramente a tocha era oferecida como sacrifício a Zeus. A tocha ficava no Altar
do sacrifício. Desde as ruínas do templo de Era até Berlim essa chama foi carregada.
Teorias nazistas estão envolvidas, pois o culto ao corpo passou a ser insofismavelmente
imprescindível. Essa chama é ateada na tocha olímpica até hoje em Olímpia, no templo
de Héstia. Era uma tentativa de recriar a cerimônia de antigamente.
Em Júlio César começou o título aos imperadores, nesta época misturou-se política
e Igreja (veremos mais à frente sobre o tema) e então Roma30 incorporou de vez o
paganismo. Deuses e deusas da cultura grega eram diretamente adorados (qualquer
leigo sabe que Apolo e Hércules são fulcrais a cultura grega e seus jogos antigos). Diante
disto, o culto ao corpo, somado a adoração pagã, fez do império romano e, portanto, da
Igreja naquela época uma grande cultura sincretista.
O sincretismo moderno
Boff (2005, p. 194), demonstra-se a favor do sincretismo, no entanto, como um bom
teólogo e filósofo com formação alemã, traz a posição contrária:
56
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
É nítido que igrejas como Assembleia de Deus, Adventistas do Sétimo Dia, Deus é Amor,
Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja Pentecostal, O
Brasil para Cristo, Casa da Benção e religiosos que se posicionam como pentecostais
em sua maioria, protestantes, Católico-Romanos ortodoxos, e dezenas de outras igrejas
que possuem sua crença na Bíblia e creem que Deus as deu uma visão e que devem
seguir dificilmente se aglutinaram ao movimento sincretista hodierno, deste modo, as
chances de se juntarem ao sincretismo total, como uma “Igreja Universal” para todos,
são praticamente zero.
O sincretismo, como um todo, possui diversos motivos para se iniciar, seja ela por mais
proximidade política, onde se trabalha a filosofia do Poderoso Chefão: “mantenha
seus amigos pertos e seus inimigos mais perto ainda”. (1) Seja por mera acomodação
ou estratégia de sobrevivência; (2) seja pela miscelânea cultural, o que implica tudo o
que vimos em sincretismo antigo, então se tem que inevitável é a mistura de aspectos
pagãos ou religiosos de outras denominações; (3) por concordismo pela simples
não força de opinião, “o que vier é lucro”; (4) seja também por tradução, de alguma
maneira aquela seita e/ou religião tenta de algum modo fazer com que sua crença
chegue a outros povos, tribos e nações; ou, por fim, (5) por simples concordância
intelectual de fundir-se a outras dentro de um mesmo interesse filosófico com tentativa
de encontro das convergências e abandono das divergências. Seja qual for o motivo
de inicialização, estão todos em uma linha tênue que percorrem para um mesmo fim:
a união entre povos.
57
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
Hoje em dia nossa Carta Magna não deixou de lado o posicionamento laico do Estado33.
No entanto, não é assim que muitos governos atuam ao redor do mundo, como bem
sabemos, haja vista os países do Oriente Médio, Africanos e alguns Asiáticos, em maior
rigor.
A unidade da Igreja latina fora construída sobre três eixos: semelhante fé (vinculum
symbolicum), semelhantes sacramentos (vinculum liturgicum) e semelhante governo
hierárquico (vinculum sociale). Portanto a concepção hierárquica de unus grex sub
uno pastore e unum corpus [populus] sub uno capite35 foi enfatizada. A Igreja Oriental
Ortodoxa36 permaneceu em centralizar-se no sacramento como princípio gerador e
unidade entre o corpo, e obviamente não deixando de lado una euchatistia, unus grex37.
Para a Igreja latina moderna, não se resguardando somente a forma de pensar católica,
mas em uma weltanschauung genérica cristã, a fé dá liberdade e se, contudo, a legislação
permite exercê-la, farão de maneira iniludível, fulcral à sobrevivência e propagação do
cristianismo.
33 Vide Constituição Federal de 1988 em seu art. 5º, VI, sobre a Liberdade Religiosa.
34 Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do mundo.
35 Um povo só sob um pastor só e um corpo sob um capitão só.
36 Ou Igreja Católica Ortodoxa, herdeira de padrões cristãos do Império Bizantino.
37 Uma só eucaristia, um só povo.
58
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
O século XVI é a fase dos conflitos religiosos. Há, porém, muito jogo
político na Reforma e na Contrarreforma, o que despertou interesse
teórico. O interesse, no entanto, foi apenas interesseiro e não teórico.
Os católicos tinham a posição política que os favorecia e a justificaram
teoricamente. Os protestantes também tinham as suas e tentaram
defendê-las teoricamente. (SOUZA, 2012, p. 347).
38 Lembrando-se sempre que não há meios de se falar em união (ecumenismo) sem falar em divisão, seu efeito contrário, dado a
complexidade das ações humanas. Fora Diocleciano, em 284 d.C. quem dividiu o império entre Oriental e Ocidental.
39 Vale a pena ler na íntegra: <http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_
const_19641121_lumen-gentium_po.html>. Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja.
59
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
Até o século XI, o poder da Igreja está sob a tutela do Império. Contudo, sabemos que
se iniciou em Constantino quando convocou o Concílio Ecumênico de Niceia (325),
chamando-se a si mesmo de papa e encontrando sua caracterização jurídica por meio
da incompreensão leiga. A Igreja tinha se transformado no berço dos imperadores,
os quais dispunham dos cargos eclesiásticos e os tratavam de maneira secular. Deste
modo, diversos atributos pagãos e de outras culturas foram adentrando aos poucos no
cristianismo, transformando-o num grande sincretismo.
60
capítulo 3
Diálogo inter-religioso e cultural
Diálogo inter-religioso
É certo que o diálogo inter-religioso está inserido no tema sincretismo, pois dentro
do sincretismo religioso há margens para abordagens cada vez mais expressivas de
diálogos ecumênicos entre religiões cristãs ou não.
Como estudamos, o início deu-se por meio do Cristianismo absorvendo culturas pagãs
e outras por intenção sincera ou por medo (mais por terror, diga-se de passagem).
Mas também vimos que de maneira subliminar muitos cristãos adoram hoje deuses
semelhantes aos da mitologia grega e cultura egípcia, mesmo sem intenção.
Assim insere Boff (2005, p. 211) sobre o que chamamos aqui de sincretismo adaptado:
61
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
Na obra de Boff (2005, p. 48), embora ele demonstre ser a favor do diálogo sincretista,
trata-se de ensaios de eclesiologia militante, temos a seguinte observação sobre a
tendência teológica tendo como reflexão Mysterium salutis41:
A Igreja Católica põe um tanto quanto de lado a proposta inicial de conversão dos não
adeptos ao Cristianismo e Catolicismo. Haja vista a Encíclica Ecclesiam Suam43do papa
Paulo VI, em que ele apresenta seu controverso enunciado e digno de debates entre
Católico-Romano Ortodoxo: “despretensiosa conversação epistolar”. Diz ainda:
62
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
Deste modo, e principalmente por este fator, é que muitos ortodoxos e fundamentalistas
não aderem ao diálogo, uma vez que se baseiam na adoção bíblica de que não se pode
misturar joio e trigo, com isto, portanto, há uma resistência sobremaneira ao diálogo,
impedindo que este se propague pelo mundo. A Organização das Nações Unidas (ONU)
vem tentando alterar o quadro em parceria com o Vaticano, no entanto, o sucesso do
diálogo está ficando cada vez mais distante.
Para que nosso subtema não se torne prolixo, uma vez que tacitamente sabemos que o
diálogo inter-religioso não mais se afere como no passado, somente com igrejas cristãs
envolvidas, mas a busca de uma Igreja Universal faz-se como objetivo uno. Os atos
prosélitos ortodoxos são vistos sob a ótica em favor do movimento ecumênico como
uma posição estranha e digna de rejeição, considerando o fato que por meio do diálogo
pode-se alcançar todo e qualquer sonho nacional de paz e amor mundial.
63
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
A cultura da revolução
Bem sabemos que naqueles tempos (entre os séculos XII e XIV) a fé estava baseada na
Bíblia, quando possível, contudo nos finais do século X e sobretudo século XI, Anselmo
e Abelardo discutiam filosoficamente sobre o tema religião, portanto fazendo-se cediço
aos cristãos que não necessariamente a fé cega levava a Deus, mas pelo intelecto podia-se
chegar ao mesmo Deus, porém de uma maneira sã. Agostinho foi prova disto, haja
vista sua obra Summa contra Gentiles, considerada a maior obra apologética da Idade
Média.
A metafísica passa ser mais importante que a ciência para a filosofia, isto até Galileu.
Portanto as perguntas eram de cunho teológico, porém lógico, as quais fizeram com que
diversos cristãos desviados retornassem a fé.
Os cristãos passam a dialogar mais entre si; para muitos, o diálogo inter-religioso
envolve somente a comunidade cristã, contudo budistas, judeus e islâmicos estão
dialogando muito antes do Vaticano II, como sabemos, por pessoas da comunidade,
mas sem comprovação, por isso somente após 1964 é que se deu oficialmente o diálogo
entre as diferentes culturas.
64
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
Dessa forma vemos nas diferentes religiões o seguinte diálogo quanto à existência de
Deus em todas as coisas, em uma Weltanschauung cristã ortodoxa fundamentalista:
“se Deus está presente no mundo e fora dele, dentro de mim e fora de mim; seu deus
também, podendo ser ele uma árvore, elefante ou o que quer que seja é verdadeiro; ora,
portanto vamos e adoramos apenas um só deus, uma só igreja”.
65
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
Para o bom conhecedor dos dez mandamentos bíblicos, verá que há diversas
similaridades de acordo e em função da interpretação hermenêutica de ambos.
Nestas reviravoltas (chamemos de “crises religiosas”) a pressão, como vimos, é por vezes
extrema e incomensuravelmente dolorosa e é exatamente desta forma, (aproveitemos
a visão filosófica de Thomas Kuhn no que tange a filosofia científica para adequarmos
e melhor esclarecer nosso assunto, embora qualquer filósofo científico teria asco só
de pensar dessa forma) que as revoluções religiosas dão-se de forma muitas vezes
catastróficas, considerando por diversas razões a rejeição ao deus que adoravam, o
qual não foi “capaz” de solucionar um problema paradigmático de tal magnitude que
recrudescia dia após dia, passando a adorar qualquer outro deus “vencedor” de qualquer
outra religião promissora.
A figura de Abraão para os judeus (Is, 51.2) pode ser – novamente temos o caráter
subjetivo envolvido – a mesma do cristianismo (Jo, 8-29-40), o qual por sua vez
também converge ou diverge com o Abraão dos muçulmanos (Corão, sura 2, 129), o
qual alicerça-se nas obrigações de credo, oração, caridade, jejum e peregrinação à Meca,
não sendo totalmente convergente com as concepções judaicas e cristãs.
66
Sincretismo e cultura │ UNIDADE II
Conclusão
Basicamente temos em todas as diferenciações do sagrado e do profano. O problema
é que o cristianismo afirma ter a verdade absoluta, então, incorre-se em um problema
lógico, o qual, no final, se o cristianismo estiver correto, todo o restante será condenado,
no entanto, se todos os povos, fora os cristãos ortodoxos não católicos, estiverem
corretos, segue-se que todos se salvam e serão todos um só povo com um só deus.
Mostramos que o pródromo ecumênico e sincretista não se deu em nossa era, tampouco
na época medieval, mas, sim, na origem das civilizações antigas, e que o simulacro dos
deuses passou de religião em religião por diversos modos e motivações, sejam elas de
forma lúdica e racional; seja por ignorância e amadorismo; seja por pressão acachapante
das autoridades para com os fiéis ou pressões exercidas por guerras entre povos nos quais
67
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
o “deus do mais forte” permanecia como o deus vitorioso e digno de adoração; seja, até
mesmo, por fim, que num diálogo inter-religioso deu-se o entendimento conclusivo de
que o deus de um possuía características semelhantes ao deus de outro, portanto adorar
o deus de um ou de outro não fazia diferença, resguardando-se, contudo, o propósito
original (como o deus da fauna, da flora, oceano e entre outros).
68
Para (não) Finalizar
Livros são como ouro, jamais serão desvalorizados em sua prateleira, compre-os sempre,
cedo ou tarde, independentemente se a leitura estiver em dia ou não você o utilizará.
As imagens falarão por si em nosso tema, não deixe de continuar sua pesquisa. Não nos
cabe aqui enchermos o material de imagens para que fique denso, não fora o intuito em
momento algum, portanto, por falta de espaço e coerência lógica para melhor cadência
e bom andamento de nosso aprendizado, não foram colocadas em demasia, então parta
para a jornada da busca ininterrupta e sadia do conhecimento.
Como diria Ovídio (43 a.C. -18 d.C.), Finis coronat Opus44!
Links Úteis:
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69
UNIDADE II │ Sincretismo e cultura
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www.montfor.org.br
70
Referências
CHADWICKY, Henry e EVANS, G.R. Igreja cristã. Barcelona: Folio S.A., 2007.
GAARDER, Jostein; HELLERN Victor; NOTAKER Henry. O livro das religiões. São
Paulo. Companhia das Letras, 2000.
71
Referências
GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São
Paulo: Vida, 2006.
JOHNSON, Paul. O livro de ouro dos papas. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
MATTEI, Roberto de. O Concílio Vaticano II. Uma história nunca escrita. Ed. Petrus,
2012.
SOUZA, Roberto Pinto de. As ideias que formaram a civilização ocidental. São
Paulo: DVS Editora, 2012.
72
ANEXO
DECRETO
UNITATIS REDINTEGRATIO
SOBRE O ECUMENISMO
PROÉMIO
O Senhor dos séculos, porém, prossegue sábia e pacientemente o plano de sua graça
a favor de nós pecadores. Começou ultimamente a infundir de modo mais abundante
nos cristãos separados entre si a compunção de coração e o desejo de união. Por toda a
parte, muitos homens sentiram o impulso desta graça. Também surgiu entre os nossos
irmãos separados, por moção da graça do Espirito Santo, um movimento cada vez mais
intenso em ordem à restauração da unidade de todos os cristãos. Este movimento de
unidade é chamado ecuménico. Participam dele os que invocam Deus Trino e confessam
a Cristo como Senhor e Salvador, não só individualmente mas também reunidos em
assembleias. Cada qual afirma que o grupo onde ouviu o Evangelho é Igreja sua e de
Deus. Quase todos, se bem que de modo diverso, aspiram a uma Igreja de Deus una e
visível, que seja verdadeiramente universal e enviada ao mundo inteiro, a fim de que o
mundo se converta ao Evangelho e assim seja salvo, para glória de Deus.
Este sagrado Concílio considera todas essas coisas com muita alegria. Tendo já
declarado a doutrina sobre a Igreja, movido pelo desejo de restaurar a unidade de todos
os cristãos, quer propor a todos os católicos os meios, os caminhos e as formas com que
eles possam corresponder a esta vocação e graça divina.
73
anexo
CAPÍTULO I
Unidade da Igreja
Suspenso na cruz e glorificado, o Senhor Jesus derramou o Espírito prometido. Por Ele
chamou e congregou na unidade da fé, esperança e caridade o Povo da nova Aliança, que
é a Igreja, como atesta o Apóstolo: “Só há um corpo e um espírito, como também fostes
chamados numa só esperança da vossa vocação.Só há um Senhor, uma fé, um Baptismo”
(Ef. 4, 45). Com efeito, “todos quantos fostes baptizados em Cristo, vos revestistes de
Cristo.Pois todos sois um em Cristo Jesus” (Gál. 3, 27-28). O Espírito Santo habita nos
crentes, enche e rege toda a Igreja, realiza aquela maravilhosa comunhão dos fiéis e
une a todos tão intimamente em Cristo, que é princípio da unidade da Igreja. Ele faz
a distribuição das graças e dos ofícios (5), enriquecendo a Igreja de Jesus Cristo com
múltiplos dons, “a fim de aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, na edificação
do corpo de Cristo” (Ef. 4,12).
Para estabelecer esta Sua Igreja santa em todo mundo até à consumação dos séculos,
Cristo outorgou ao colégio dos doze o ofício de ensinar, governar e santificar (6). Dentre
eles, escolheu Pedro, sobre quem, após a profissão de fé, decidiu edificar a Sua Igreja.
A ele prometeu as chaves do reino dos céus (7) e, depois da profissão do seu amor,
confiou-lhe a tarefa de confirmar todas as ovelhas na fé (8) e de apascentá-las em
perfeita unidade (9), permanecendo eternamente o próprio Cristo Jesus como pedra
angular fundamental (10) e pastor de nossas almas(11).
Jesus Cristo quer que o Seu Povo cresça mediante a fiel pregação do Evangelho,
administração dos sacramentos e governo amoroso dos Apóstolos e dos seus sucessores
os Bispos, com a sua cabeça, o sucessor de Pedro, sob a acção do Espírito Santo; e
vai aperfeiçoando a sua comunhão na unidade: na confissão duma só fé, na comum
celebração do culto divino e na fraterna concórdia da família de Deus.
74
anexo
Assim a Igreja, a única grei de Deus, como um sinal levantado entre as nações (12),
oferecendo o Evangelho da paz a todo o género humano(13), peregrina em esperança,
rumo à meta da pátria celeste(14).
3. Nesta una e única Igreja de Deus já desde os primórdios surgiram algumas cisões
(15), que o Apóstolo censura asperamente como condenáveis (16). Nos séculos
posteriores, porém, originaram-se dissensões mais amplas. Comunidades não pequenas
separaram-se da plena comunhão da Igreja católica, algumas vezes não sem culpa dos
homens dum e doutro lado. Aqueles, porém, que agora nascem em tais comunidades
e são instruídos na fé de Cristo, não podem ser acusados do pecado da separação, e a
Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor. Pois que crêem em Cristo e
foram devidamente baptizados, estão numa certa comunhão, embora não perfeita, com
a Igreja católica. De facto, as discrepâncias que de vários modos existem entre eles e
a Igreja católica - quer em questões doutrinais e às vezes também disciplinares, quer
acerca da estrutura da Igreja - criam não poucos obstáculos, por vezes muito graves, à
plena comunhão eclesiástica. O movimento ecuménico visa a superar estes obstáculos.
No entanto, justificados no Baptismo pela fé, são incorporados a Cristo (17), e, por isso,
com direito se honram com o nome de cristãos e justamente são reconhecidos pelos
filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor (18).
Ademais, dentre os elementos ou bens com que, tomados em conjunto, a própria Igreja
é edificada e vivificada, alguns e até muitos e muito importantes podem existir fora do
âmbito da Igreja católica: a palavra de Deus escrita, a vida da graça, a fé, a esperança
e a caridade e outros dons interiores do Espírito Santo e elementos visíveis. Tudo isso,
que de Cristo provém e a Cristo conduz, pertence por direito à única Igreja de Cristo.
Também não poucas acções sagradas da religião cristã são celebradas entre os
nossos irmãos separados. Por vários modos, conforme a condição de cada Igreja ou
Comunidade, estas acções podem realmente produzir a vida da graça. Devem mesmo
ser tidas como aptas para abrir a porta à comunhão da salvação.
Por isso, as Igrejas (19) e Comunidades separadas, embora creiamos que tenham
defeitos, de forma alguma estão despojadas de sentido e de significação no mistério da
salvação. Pois o Espírito de Cristo não recusa servir-se delas como de meios de salvação
cuja virtude deriva da própria plenitude de graça e verdade confiada à Igreja católica.
75
anexo
alguma forma pertencem ao Povo de Deus. Este Povo, durante a peregrinação terrena,
ainda que sujeito ao pecado nos seus membros, cresce incessantemente em Cristo.
É conduzido suavemente por Deus, segundo os Seus misteriosos desígnios, até que
chegue, alegre, à total plenitude da glória eterna na celeste Jerusalém.
O movimento ecuménico
76
anexo
Embora a Igreja católica seja enriquecida de toda a verdade revelada por Deus e de
todos os instrumentos da graça, os seus membros, contudo, não vivem com todo aquele
fervor que seria conveniente. E assim, aos irmãos separados e ao mundo inteiro o
rosto da Igreja brilha menos e o seu crescimento é retardado. Por esse motivo, todos os
católicos devem tender à perfeição cristã (20) e, cada um segundo a própria condição,
devam procurar que a Igreja, levando em seu corpo a humildade e mortificação de Jesus
(21), de dia para dia se purifique e se renove, até que, Cristo a apresente a Si gloriosa,
sem mancha e sem ruga (22).
Guardando a unidade nas coisas necessárias, todos na Igreja, segundo o múnus dado
a cada um, conservem a devida liberdade tanto nas várias formas de vida espiritual
e de disciplina, como na diversidade de ritos litúrgicos e até mesmo na elaboração
teológica da verdade revelada. Mas em tudo cultivem a caridade. Por este modo de agir,
manifestarão sempre melhor a autêntica catolicidade e apostolicidade da Igreja.
Por outro lado, é mister que os católicos reconheçam com alegria e estimem os bens
verdadeiramente cristãos, oriundos de um património comum, que se encontram nos
irmãos de nós separados. É digno e salutar reconhecer as riquezas de Cristo e as obras
de virtude na vida de outros que dão testemunho de Cristo, às vezes até à efusão do
sangue. Deus é, com efeito, sempre admirável e digno de admiração em Suas obras.
Nem se passe por alto o facto de que tudo o que a graça do Espírito Santo realiza
nos irmãos separados pode também contribuir para a nossa edificação. Tudo o que é
77
anexo
verdadeiramente cristão jamais se opõe aos bens genuínos da fé, antes sempre pode
fazer com que mais perfeitamente se compreenda o próprio mistério de Cristo e da
Igreja.
Este sagrado Concílio verifica com alegria que a participação dos fiéis na acção
ecuménica aumenta cada vez mais. Recomenda-a aos Bispos de todo o mundo, para
que a promovam com interesse e prudentemente a dirijam.
CAPÍTULO II
PRÁTICA DO ECUMENISMO
5. A solicitude na restauração da união vale para toda a Igreja, tanto para os fiéis como
para os pastores. Afecta a cada um em particular, de acordo com sua capacidade, quer na
vida cristã quotidiana, quer nas investigações teológicas e histéricas. Essa preocupação
já manifesta de certo modo a união fraterna existente entre todos os cristãos, e conduz
à unidade plena e perfeita, segundo a benevolência de Deus.
Esta renovação tem, por isso, grande importância ecuménica. Ela já é efectuada em
várias esferas da Igreja. Tais são os movimentos bíblico e litúrgico, a pregação da
palavra de Deus e a catequese, o apostolado dos leigos, as novas formas de vida religiosa,
a espiritualidade do matrimónio, a doutrina e actividade da Igreja no campo social.
Tudo isto deve ser tido como penhor e auspicio que felizmente prognosticam os futuros
progressos do ecumenismo.
78
anexo
A conversão do coração
Também das culpas contra a unidade, vale o testemunho de S. João: “Se dissermos que
não temos pecado, fazemo-lo mentiroso e a sua palavra não está em nós” (1Jo. 1,10).
Por isso, pedimos humildemente perdão a Deus e aos irmãos separados, assim como
também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam.
Lembrem-se todos os cristãos de que tanto melhor promoverão e até realizarão a união
dos cristãos quanto mais se esforçarem por levar uma vida mais pura, de acordo com o
Evangelho. Porque, quanto mais unidos estiverem em comunhão estreita com o Pai, o
Verbo e o Espírito, tanto mais íntima e facilmente conseguirão aumentar a fraternidade
mútua.
É coisa habitual entre os católicos reunirem-se frequentemente para aquela oração pela
unidade da Igreja que o próprio Salvador pediu ardentemente ao Pai, na vigília de sua
morte: “Que todos sejam um” (Jo. 17,21).
Em algumas circunstâncias peculiares, como por ocasião das orações prescritas “pro
unitate” em reuniões ecuménicas, é lícito e até desejável que os católicos se associem
aos irmãos separados na oração. Tais preces comuns são certamente um meio muito
eficaz para impetrar a unidade. São uma genuína manifestação dos vínculos pelos quais
ainda estão unidos os católicos com os irmãos separados: “Onde dois ou três estão
congregados em meu nome, ali estou eu no meio deles” (Mt. 18,20).
79
anexo
9. É preciso conhecer a mente dos irmãos separados. Para isso, necessariamente se requer
um estudo, a ser feito segundo a verdade e com animo benévolo. Católicos devidamente
preparados devem adquirir um melhor conhecimento da doutrina e história, da vida
espiritual e litúrgica, da psicologia religiosa e da cultura própria dos irmãos. Muito
ajudam para isso as reuniões de ambas as partes para tratar principalmente de questões
teológicas, onde cada parte dever agir de igual para igual, contanto que aqueles que, sob
a vigilância dos superiores, nelas tomam parte, sejam verdadeiramente peritos. De tal
diálogo também se ver mais claramente qual é a situação real da Igreja católica. Por
esse caminho se conhecer outrossim melhor a mente dos irmãos separados e a nossa fé
lhes ser mais aptamente exposta.
A formação ecuménica
Importa muito que os futuros pastores e sacerdotes estudem a teologia bem elaborada
deste modo e não polemicamente, sobretudo nas questões que incidem sobre as relações
entre os irmãos separados e a Igreja católica.
Devem ainda os católicos que se entregam a obras missionárias nas mesmas terras que
outros cristãos, especialmente hoje em dia, conhecer os problemas e os frutos que, para
o seu apostolado, se originam do ecumenismo.
80
anexo
12. Todos os cristãos professem diante do mundo inteiro a fé em Deus uno e trino, no
Filho de Deus encarnado, nosso Redentor e Salvador. Por um esforço comum e em estima
mútua dêem testemunho da nossa esperança, que não confunde. Visto que nos nossos
tempos largamente se estabelece a cooperação no campo social, todos os homens são
chamados a uma obra comum, mas com maior razão os que crêem em Deus, sobretudo
todos os cristãos assinalados com o nome de Cristo. A cooperação de todos os cristãos
exprime vivamente aquelas relações pelas quais já estão unidos entre si e apresenta o
rosto de Cristo Servo numa luz mais radiante. Esta cooperação, que já se realiza em não
poucas nações, deve ser aperfeiçoada sempre mais, principalmente nas regiões onde
se verifica a evolução social ou técnica. Vai ela contribuir para apreciar devidamente a
dignidade da pessoa humana, promover o bem da paz, aplicar ainda mais o Evangelho
na vida social, incentivar o espírito cristão nas ciências e nas artes e aplicar toda a
espécie de remédios aos males da nossa época, tais como a fome e as calamidades, o
analfabetismo e a pobreza, a falta de habitações e a inadequada distribuição dos bens.
Por essa cooperação, todos os que crêem em Cristo podem mais facilmente aprender
como devem entender-se melhor e estimar-se mais uns aos outros, e assim se abre o
caminho que leva à unidade dos cristãos.
81
anexo
CAPÍTULO IlII
13. Temos diante dos olhos as duas principais categorias de cisões que ferem a túnica
inconsútil de Cristo.
Estas diversas divisões, todavia, diferem muito entre si, não apenas em razão da origem,
lugar e tempo, mas principalmente pela natureza e gravidade das questões relativas à
fé e à estrutura eclesiástica.
Por isso, sem querer minimizar as diferenças entre os vários grupos cristãos e sem
desconhecer os laços que, não obstante a divisão, entre eles existem, este sagrado
Concílio determina propor as seguintes considerações para levar a cabo uma prudente
acção ecuménica.
14. Durante não poucos séculos, as Igrejas do Oriente e do Ocidente seguiram por
caminhos próprios, unidas, contudo, pela fraterna comunhão da fé e da vida sacramental.
Quando entre elas surgiam dissensões acerca da fé ou da disciplina, era a Sé de Roma
quem, de comum acordo, as resolvia. Entre outras coisas de grande importância, é grato
ao sagrado Concílio trazer à memória de todos o facto de que no Oriente florescem
muitas Igrejas particulares ou locais, entre as quais sobressaem as Igrejas patriarcais;
não poucas delas se gloriam de ter origem nos próprios Apóstolos. Por isso entre os
orientais prevaleceu e prevalece a solicitude e o cuidado de conservar na comunhão de
fé e caridade aquelas relações fraternas que devem vigorar entre as Igrejas locais como
entre irmãs.
82
anexo
Semelhantemente, não se deve esquecer que as Igrejas do Oriente têm desde a origem
um tesouro, do qual a Igreja do Ocidente herdou muitas coisas em liturgia, tradição
espiritual e ordenação jurídica. Nem se deve subestimar o facto de que os dogmas
fundamentais da fé cristã sobre a Trindade e o Verbo de Deus encarnado da Virgem
Maria, foram definidos em Concílios Ecuménicos celebrados no Oriente. Para preservar
esta fé, muito sofreram e ainda sofrem aquelas Igrejas.
Mas a herança deixada pelos Apóstolos foi aceite de formas e modos diversos e desde
os primórdios da Igreja cá e lá foi explicada de maneira diferente, também por causa
da diversidade de génio e condições de vida. Tudo isso, além das causas externas, e
também por falta de mútua compreensão e caridade, deu ocasião às separações.
Em vista disto, o sagrado Concilio exorta a todos, mormente aos que pretendem
dedicar-se à restauração da plena comunhão desejada entre as Igrejas orientais e a
Igreja católica, a que tenham na devida consideração esta peculiar condição da origem e
do crescimento das Igrejas do Oriente e da índole das relações que vigoravam entre elas
e a Sé Romana antes da separação. Procurem apreciar rectamente todos estes factores.
Acuradamente observadas, estas coisas contribuirão muito para o desejado diálogo.
83
anexo
16. Além do mais, desde os primeiros tempos as Igrejas do Oriente seguiam disciplinas
próprias, sancionadas pelos santos Padres e Concílios, mesmo Ecuménicos. Longe de
obstar à unidade da Igreja, uma certa diversidade de costumes e usos, como acima
se lembrou, aumenta-lhe a beleza e ajuda-a não pouco a cumprir a sua missão. Por
isso, o sagrado Concilio, para tirar todas as dúvidas, declara que as Igrejas do Oriente,
conscientes da necessária unidade de toda a Igreja, têm a faculdade de se governarem
segundo as próprias disciplinas, mais conformes à índole de seus fiéis e mais aptas
para atender ao bem das almas. A observância perfeita deste tradicional princípio, nem
sempre respeitada, é condição prévia indispensável para a restauração da união.
17. O que acima foi dito acerca da legítima diversidade, apraz declarar também com
relação à diversidade na enunciação teológica das doutrinas. Com efeito, no estudo
da verdade revelada, o Oriente e o Ocidente usaram métodos e modos diferentes para
conhecer e exprimir os mistérios divinos. Não admira, por isso, que alguns aspectos
do mistério revelado sejam por vezes apreendidos mais convenientemente e postos
em melhor luz por um que por outro. Nestes casos, deve dizer-se que aquelas várias
fórmulas teológicas, em vez de se oporem, não poucas vezes se completam mutuamente.
Com relação às tradições teológicas autênticas dos orientais, devemos reconhecer que
elas estão profundamente radicadas na Sagrada Escritura, são fomentadas e expressas
pela vida litúrgica, são nutridas pela viva tradição apostólica e pelos escritos dos Padres
orientais e dos autores espirituais, e promovem a recta ordenação da vida e até a
contemplação perfeita da verdade cristã.
Dando graças a Deus porque muitos filhos orientais da Igreja católica, que guardam este
património e desejam vivê-lo mais pura e plenamente, já vivem em plena comunhão
84
anexo
com os irmãos que cultivam a tradição ocidental, este sagrado Concilio declara que
todo esse património espiritual e litúrgico, disciplinar e teológico, nas suas diversas
tradições, faz parte da plena catolicidade e apostolicidade da Igreja.
A busca da unidade
18. Tendo ponderado tudo isso, este sagrado Concílio renova o que foi declarado pelos
sagrados Concílios anteriores e também pelos Pontífices Romanos: para restaurar ou
conservar a comunhão e a unidade, é preciso “não impor nenhum outro encargo além do
necessário” (Act. 15, 28). Veementemente deseja também, que nas várias instituições e
formas de vida da Igreja, se envidem todos os esforços para uma gradual concretização
desta unidade, principalmente pela oração e pelo diálogo fraternal em torno da doutrina
e das necessidades mais urgentes do ministério pastoral de hoje. Do mesmo modo
recomenda aos pastores e fiéis da Igreja católica as boas relações com aqueles que já
não vivem no Oriente, mas longe da pátria, para que cresça a colaboração fraterna com
eles no espírito da caridade, excluído todo o espírito de contenda e rivalidade. E se
este trabalho for promovido com todo o entusiasmo, o sagrado Concílio espera que,
demolido o muro que separa a Igreja ocidental da oriental, haja finalmente uma única
morada, firmada na pedra angular, Jesus Cristo, que fará de ambas uma só coisa (27).
Embora o movimento ecuménico e o desejo de paz com a Igreja católica ainda não
sejam vigorosos em toda a parte, temos a esperança de que crescerão pouco a pouco em
todos o sentido ecuménico e a estima mútua.
É preciso, contudo, reconhecer que entre estas Igrejas e Comunidades e a Igreja católica
há discrepâncias consideráveis, não só de índole histórica, sociológica, psicológica,
cultural, mas sobretudo de interpretação da verdade revelada. Para que mais facilmente,
não obstante estas diferenças, se possa estabelecer o diálogo ecuménico, queremos
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expor seguidamente alguns pontos que podem e devem ser o fundamento e o incentivo
deste diálogo.
A confissão de Cristo
20. Consideramos primeiramente aqueles cristãos que, para glória de Deus único, Pai e
Filho e Espírito Santo, abertamente confessam Jesus Cristo como Deus e Senhor e único
mediador entre Deus e os homens. Sabemos existirem não pequenas discrepâncias em
relação à doutrina da Igreja católica, mesmo sobre Cristo, Verbo de Deus encarnado, e
sobre a obra da redenção e por conseguinte sobre o mistério e o ministério da Igreja, bem
como sobre a função de Maria na obra da salvação. Alegramo-nos, contudo, vendo que
os irmãos separados tendem para Cristo como fonte e centro da comunhão eclesiástica.
Levados pelo desejo de união com Cristo, são mais e mais compelidos a buscarem a
unidade bem como a darem em toda a parte e diante de todos o testemunho da sua fé.
21. O amor e a veneração e quase o culto da Sagrada Escritura levam os nossos irmãos
a um constante e cuidadoso estudo do texto sagrado: pois o Evangelho é “força de Deus
para salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu, mas também do grego” (Rom.
1,16).
Invocando o Espírito Santo, na própria Sagrada Escritura, procuram a Deus que lhes
fala em Cristo anunciado pelos profetas, Verbo de Deus por nós encarnado. Nela
contemplam a vida de Cristo e aquilo que o divino Mestre ensinou e realizou para a
salvação dos homens, sobretudo os mistérios da Sua morte e ressurreição.
22. Pelo sacramento do Baptismo, sempre que for devidamente conferido segundo
a instituição do Senhor e recebido com a devida disposição de alma, o homem é
verdadeiramente incorporado em Cristo crucificado e glorificado, e regenerado para
participar na vida divina, segundo esta palavra do Apóstolo: “Com Ele fostes sepultados
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O Baptismo, pois, constitui o vínculo sacramental da unidade que liga todos os que
foram regenerados por ele. O Baptismo, porém, de per si é o inicio e o exórdio, pois
tende à consecução da plenitude de vida em Cristo. Por isso, o Baptismo ordena-se à
completa profissão da fé, à íntegra incorporação na obra da salvação, tal como o próprio
Cristo o quis, e finalmente à total inserção na comunhão eucarística.
23. A vida cristã destes irmãos alimenta-se da fé em Cristo e é fortalecida pela graça
do Baptismo e pela audição da palavra de Deus. Manifesta-se na oração privada, na
meditação bíblica, na vida familiar cristã, no culto da comunidade congregada para
o louvor de Deus. Aliás, o culto deles contém por vezes notáveis elementos da antiga
Liturgia comum.
A sua fé em Cristo produz frutos de louvor e acção de graças pelos benefícios recebidos
de Deus. Há também, entre eles, um vivo sentido da justiça e uma sincera caridade
para com o próximo. Esta fé operosa produziu não poucas instituições para aliviar a
miséria espiritual e corporal, promover a educação da juventude, tornar mais humanas
as condições sociais da vida e estabelecer por toda a parte a paz.
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24. Assim, após termos exposto brevemente as condições segundo as quais se pode
exercer a acção ecuménica e os princípios pelos quais ela deve ser orientada, olhamos
com confiança para o futuro. Este sagrado Concílio exorta os fiéis a absterem-se de
qualquer zelo superficial ou imprudente que possa prejudicar o
verdadeiro progresso da unidade. Com efeito, a sua acção ecuménica não pode ser
senão plena e sinceramente católica, isto é, fiel à verdade que recebemos dos Apóstolos
e dos Padres, e conforme à fé que a Igreja católica sempre professou, e ao mesmo tempo
tendente àquela plenitude mercê da qual o Senhor quer que cresça o Seu corpo no
decurso dos tempos.
Este sagrado Concílio deseja insistentemente que as iniciativas dos filhos da Igreja
católica juntamente com as dos irmãos separados se desenvolvam; que não se ponham
obstáculos aos caminhos da Providência; e que não se prejudiquem os futuros impulsos
do Espírito Santo. Além disso, declara estar consciente de que o santo propósito de
reconciliar todos os cristãos na unidade de uma só e única Igreja de Cristo excede as
forças e a capacidade humana. Por isso, coloca inteiramente a sua esperança na oração
de Cristo pela Igreja, no amor do Pai para connosco e na virtude do Espírito Santo. “E a
esperança não será confundida, pois o amor de Deus se derramou em nossos corações
pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rom. 5,5).
PAPA PAULO VI
Notas
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11. Cfr. 1 Ped. 2,25; I Conc. Vatic., Const. Pastor aeternus: Coll. Lac. 7, 482 a.
17. Cfr. Conc. Florentino, ses. VIII, Decr. ExultateDeo; Mansi 31, 1055 A.
18. Cfr. S. Agostinho, In Ps. 32, Enarr. II, 29: PL 36, 299.
19. Cfr. IV Conc. Lateranense (1215), const. IV: Mansi 22, 990; II Conc.
Lugdunense, Profissão de fé de Miguel Paleólogo: Mansi 24, 71 E; Conc. Florentino,
Ses. VI, definiçãoLaetenturCoeli: Mansi 31, 1026 E.
23. Cfr. IV Conc. Lateranense, ses. XII, Const. Constituti: Mansi 32, 988 B-C.
27. Cfr. Conc. Florentino, ses. VI, Definição Laetenturcoeli: Mansi 31, 1026 E.
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