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Brasília-DF.
Elaboração
Atualização
Produção
Apresentação.................................................................................................................................. 4
Introdução.................................................................................................................................... 7
Unidade I
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA FAMÍLIA...................................................................................... 9
Capítulo 1
A família no direito romano e na Idade Média................................................................. 9
Capítulo 2
Evolução histórica do direito da criança e do adolescente; evolução legislativa
do direito de família; código civil 2002......................................................................... 11
Unidade iI
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA........................................................................................................... 14
Capítulo 1
Casamento........................................................................................................................... 18
Capítulo 2
Do processo de habilitação para o casamento............................................................ 21
Capítulo 3
Oposição dos impedimentos e das causas suspensivas.................................................. 37
Capítulo 4
Da celebração do casamento – arts. 1.533 a 1.542 do CC.......................................... 39
Capítulo 5
Espécies de casamentos..................................................................................................... 43
Capítulo 6
Efeitos jurídicos do casamento – arts. 1.565 a 1.570 do CC....................................... 63
Capítulo 7
Da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal................................................. 86
Unidade iII
GUARDA DOS FILHOS........................................................................................................................... 99
Capítulo 1
Guarda dos filhos.............................................................................................................. 99
Unidade iV
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO........................................................................................................ 110
Capítulo 1
Das relações de parentesco........................................................................................... 110
Unidade V
FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE............................................................................... 118
Capítulo 1
Filiação e reconhecimento de paternidade.................................................................. 118
Unidade VI
DA ADOÇÃO..................................................................................................................................... 127
Capítulo 1
Da adoção........................................................................................................................ 127
Unidade VIi
PODER FAMILIAR................................................................................................................................ 139
Capítulo 1
Poder familiar................................................................................................................... 139
Unidade VIIi
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL........................................................................ 142
Capítulo 1
Alimentos – arts. 1.694 a 1.710 do Código Civil........................................................... 142
Unidade iX
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL..................................................................................... 156
Capítulo 1
As entidades familiares da união estável....................................................................... 156
Unidade X
DO BEM DE FAMÍLIA........................................................................................................................... 189
Capítulo 1
Do bem de família.............................................................................................................. 189
Unidade Xi
ASSISTÊNCIA FAMILIAR........................................................................................................................ 202
Capítulo 1
Assistência familiar........................................................................................................... 202
Referências................................................................................................................................. 218
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Cadernode
Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Em Roma, a família era o grupo de diversas pessoas que se reunia sob a autoridade do
paterfamilias. A família romana era patriarcal: tudo era estruturado para fortalecer a
autoridade do paterfamilias (o ascendente masculino mais velho vivo). Essa autoridade
compreendia poderes religiosos e jurídicos. Afora o paterfamilias, cuja liberdade era
inalienável, todos os outros eram alieni iuris, ainda que os filhos homens pudessem
atuar na vida política. Ele tinha mesmo o poder de vida e de morte, embora com o
tempo tenha caído em desuso. Aliás, o enfraquecimento do poder do paterfamilias veio,
a princípio, pela questão patrimonial relacionada ao produto dos saques de guerra (que
vieram a constituir o pecúlio castrense dos soldados: permitiu-se que ele pertencesse
aos filhos soldados ao invés do pater).
Em sua maioria, os direitos de família são personalíssimos (pois estão ligados à posição
que a pessoa tem na família), intransferíveis inter vivos, intransmissíveis causa mortis,
indisponíveis, imprescritíveis, e não sujeitos a condição ou termo.
8
Objetivo
»» Aprofundar o conhecimento dos principais temas e institutos do direito
de família, inclusive sob a ótica constitucional, refletindo e discutindo
temas atuais e analisando a jurisprudência pátria pertinente ao assunto.
9
EVOLUÇÃO
HISTÓRICA DO Unidade I
DIREITO DA FAMÍLIA
Capítulo 1
A família no direito romano e na Idade
Média
Como ensina Arnaldo Rizzardo, citando Carlos Alberto Bittar, desde o início dos tempos,
a família é a célula mater da sociedade.
Em Roma, onde a descendência era fixada pela linha masculina, a mulher se limitava
a participar do culto religioso do pai – quando criança ou adolescente –, do marido –
após o casamento –, dos filhos – após a viuvez –, ou, ainda, se viúva e sem filhos, de
parentes masculinos próximos.
À época, o casamento consistia em laço sagrado, cuja celebração aconteceria nos moldes
da confarreatio, cerimônia religiosa em que uma torta de cevada era dividida entre
os noivos como demonstração da vida em comum que se iniciava. Com o passar dos
tempos, limitava-se a confarreatio a um pequeno número de pessoas, sendo certo que
aspirantes a altos cargos sacerdotais deveriam, necessariamente, ser fruto de uniões
dessa espécie.
11
UNIDADE I │ EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA FAMÍLIA
Podemos dizer que a família brasileira, como hoje é conceituada, sofreu influência da
família romana, da família canônica e da família germânica. É notório que o nosso
direito de família foi fortemente influenciado pelo direito canônico, como consequência
principalmente da colonização lusitana. As Ordenações Filipinas foram a principal
fonte e trouxeram a forte influência do aludido direito, que atingiu o direito pátrio. No
que tange aos impedimentos matrimoniais, por exemplo, o CC/1916 seguiu a linha do
direito canônico, preferindo mencionar as condições de invalidade.
12
Capítulo 2
Evolução histórica do direito da criança
e do adolescente; evolução legislativa
do direito de família; código civil 2002
Idade Antiga
13
UNIDADE I │ EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA FAMÍLIA
Idade Média
A Idade Média foi marcada pelo crescimento da religião cristã com seu grande poder
de influência sobre os sistemas jurídicos da época: Deus falava, a igreja traduzia e o
monarca cumpria a determinação divina.
O homem não era um ser racional, mas sim um pecador e, portanto, precisava seguir as
determinações da autoridade religiosa para que sua alma fosse salva.
O Código Civil anterior, que datava de 1916, regulava a família do início do século
passado, constituída unicamente pelo matrimônio. Em sua versão original, trazia
uma estreita e discriminatória visão da família, limitando-a ao grupo originário do
casamento. Impedia a sua dissolução, fazia distinções entre seus membros e trazia
qualificações discriminatórias às pessoas unidas sem casamento e aos filhos havidos
dessas relações. As referências feitas aos vínculos extramatrimoniais e aos filhos
ilegítimos eram punitivas e serviam exclusivamente para excluir direitos.
A evolução pela qual passou a família acabou forçando sucessivas alterações legislativas.
A mais expressiva foi o Estatuto Da Mulher Casada (Lei no 4.121/1962), que
devolveu a plena capacidade à mulher casada e deferiu-lhe bens reservados que
asseguravam a ela a propriedade exclusiva dos bens adquiridos com o fruto de seu
trabalho.
1 COULANGES, Fustel. A cidade antiga. Tradução J. Cretella Jr. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003.
14
EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA FAMÍLIA │ UNIDADE I
Maria Berenice Dias, citando Zeno Veloso, afirma que a CF/1988, em um único
dispositivo, espancou séculos de hipocrisia e preconceito. Instaurou a igualdade entre
o homem e a mulher e esgarçou o conceito de família, passando a proteger de forma
igualitária todos os seus membros. Estendeu igual proteção à família constituída pelo
casamento, bem como à união estável entre o homem e a mulher e à comunidade
formada por qualquer um dos pais e seus descendentes, que recebeu o nome de família
monoparental. Consagrou a igualdade dos filhos, havidos ou não do casamento,
ou por adoção, garantindo-lhes os mesmos direitos e qualificações. Essas profundas
modificações acabaram derrogando inúmeros dispositivos da legislação então em vigor,
por não terem sido recepcionados pelo novo sistema jurídico. Nas palavras de Luiz
Edson Fachin, o Código Civil perdeu o papel de lei fundamental do direito de família.
O CC/2002 foi gestado mesmo antes da Lei do Divórcio e necessitou sofrer modificações
profundas para adequar-se às diretrizes ditadas pela Constituição. Inúmeros remendos
foram feitos, o que ainda assim não deixou o texto com a atualização e a clareza
necessárias para reger a sociedade do século XXI.
15
NOÇÃO DE Unidade iI
DIREITO DE FAMÍLIA
Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue
e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela
afinidade e pela adoção; compreende os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins.
Segundo Josserand, este primeiro sentido é, em princípio, “o único verdadeiramente
jurídico, em que a família deve ser entendida: tem o valor de um grupo étnico, intermédio
entre o indivíduo e o Estado”2. Para determinados fins, especialmente sucessórios, o
conceito de família limita-se aos parentes consanguíneos em linha reta e aos colaterais
até o quarto grau.
16
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
»» Princípio da liberdade.
17
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
o art. 226 da CF/1988, que a ela se refere como “base da sociedade”, protegendo-a e
fortalecendo-a com:
3 Normas Cogentes: também ditas imperativas e absolutas, são obrigatórias, não dependem da vontade das partes, que não
podem dispor de suas aplicações (ex.: CPC brasileiro).
18
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Constitucionalização
Grande parte do direito civil está na Constituição, que acabou enlaçando os temas sociais
juridicamente relevantes para garantir-lhes efetividade. A intervenção do Estado nas
relações de direito privado permite o revigoramento das instituições de direito civil
e, diante do novo texto constitucional, forçoso ao intérprete redesenhar o tecido do
direito civil à luz da nova Constituição.
19
Capítulo 1
Casamento
Definição
Casamento é o contrato de direito de família que tem por fim promover
a união do homem e da mulher, de conformidade com a lei, a fim
de regularem suas relações sexuais, cuidarem da prole comum e
se prestarem mútua assistência (MODESTINO. D., Liv. 23, Tit. 2o,
fragmento 1o), citado por Silvio Rodrigues.
Então, podemos, afirmar que casamento é a união legal entre um homem e uma
mulher, com o objetivo de constituírem a família legítima. Reconhece-lhe o efeito de
estabelecer “comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos
cônjuges” (CC, art. 1.511).
União legal é aquela celebrada com observância das formalidades exigidas pela Lei e
entre um homem e uma mulher, porque o casamento entre pessoas do mesmo
sexo ainda não é permitido, embora existam movimentos nesse sentido. O casamento
celebrado sem as solenidades previstas em lei e entre pessoas do mesmo sexo é
inexistente, bem como o é aquele em que os nubentes não manifestam o consentimento4.
O casamento cria a família legítima.
4 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: direito da família. São Paulo: Saraiva, 1982. v. 2, p. 13.
RODRIGUES, Sílvio. Comentários ao Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 17, p.3.
20
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
A união estável, reconhecida pela CF/1988 e pelo CC (art. 1723) como entidade
familiar, pode ser chamada de família natural.
Quando formada por somente um dos pais e seus filhos, denomina-se família
monoparental (CF, art. 226, § 4o).
Corrente eclética – constitui uma fusão das anteriores, pois considera o casamento
um ato complexo: um contrato especial, do direito de família, mediante o qual os
nubentes aderem a uma instituição pré-organizada, alcançando o estado matrimonial.
Não se pode deixar de enfatizar que a natureza de negócio jurídico de que se reveste
o casamento reside especialmente na circunstância de se cuidar de ato de autonomia
privada, presente na liberdade de casar-se, de escolha do cônjuge e, também, na de
não se casar.
Características do casamento
O casamento possui as seguintes características:
21
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
»» ato nupcial acatólico, se celebrado entre pessoas que não eram da religião
católica.
Com a Lei no 379, de 16 de janeiro de 1937, que, segundo Silvio Rodrigues5, foi
refundida pela Lei nº 1.110, de 23/5/1950, e atualmente está prevista também na Lei no
6.015, de 31/12/1973 (Lei de Registros Públicos), surgiu a possibilidade do casamento
religioso com efeitos civis, o que raramente se encontra nos dias atuais, pois o costume
em nosso país é o da realização de duas celebrações: civil e religiosa. A própria CF/1988
reconhece que o casamento religioso tem efeito civil nos termos da lei (art. 226, § 2o).
5 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito de família. 28. ed. rev. e atual por Francisco José Cahali, de acordo com o novo
Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2004,, v. 6, p. 23.
22
Capítulo 2
Do processo de habilitação para o
casamento
casal ser separado ou divorciado. Como se vê, uma vez mais a igualdade entre o homem
e a mulher foi reafirmada.
O CC, ao tratar do poder familiar (antigo pátrio poder), no art. 1.631, dispõe que, em
havendo divergência entre os pais quanto ao exercício do encargo, qualquer deles pode
recorrer ao juiz para a solução do desacordo.
6 PEREIRA, Lafayette Rodrigues. Direitos de família. [s.i.], [S.d.], § 27, p. 75, nota 121. MONTEIRO, Washington de Barros
Monteiro. Curso do Direito Civil – direito de família. São Paulo Saraiva, 1982, v. 2, p. 35. RIZZARDO, Arnaldo, Direito de
família, [s.i.], [S.d.], p. 60.
24
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
»» documentação;
»» proclamas;
»» certificado;
»» registro.
25
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
26
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
A alteração – desjudicialização
Segundo a mensagem:
E ainda:
27
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
O referido autor ainda acrescenta que “O registro Civil das Pessoas Naturais
pode ingressar nesse projeto. É uma estrutura singela, mas presente em todas
as comunidades [...]”.
28
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Esses dados constatam que, na sociedade brasileira, parte das uniões não são
formalizadas em razão de entraves burocráticos e que à medida que esses são
removidos a taxa de nupcialidade tende a crescer.
29
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
30
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
a qualificação registral que impede que situações que rompam a malha da lei
tenham acesso ao registro, o que, no caso, significa impedir que o casamento
inválido ou ilegal seja realizado.
Por conta do termo pessoalmente, há quem defenda que não seria mais possível
realizar-se a habilitação para o casamento por meio de procurador.
Não parece ser esta a melhor interpretação, carecendo tal termo de interpretação
adequada.
Para tanto, utiliza-se a forma proposta pelo jurista Karl Larenz, em sua obra
intitulada Metodologia da Ciência do Direito. Inicia-se pela averiguação do
sentido literal do termo ou dispositivo, por se constituir “no ponto de partida e,
ao mesmo tempo, determina[r] o limite da interpretação”.
O sentido literal do artigo em análise é claro: a habilitação deve ser feita pela
pessoa diretamente perante o oficial. Todavia, o sentido literal não é unívoco e
deixa margem para uma diversidade de interpretações, tornando-se decisivos
outros critérios.
31
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
A partir desse critério, não se pode concluir que o termo “pessoalmente”, que
é plurívoco, afaste a possibilidade de o interessado se fazer representar por
procurador no procedimento de habilitação, uma vez que seria contrário ao art.
1.525 do Código Civil, que expressamente prevê tal possibilidade.
Seria, também, contrário ao art. 1.535 do mesmo código, que prevê que, no ato
solene de celebração do casamento, o contraente pode manifestar sua vontade
de contrair matrimônio por meio de procurador especial.
32
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
33
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Dessa forma, atribuir competência ao oficial de Registro Civil das Pessoas Naturais
para a verificação da correspondência da situação com a realidade, afastando a
intervenção de outros órgãos nessa atividade, não somente é possível, como não
oferece qualquer risco à legalidade e é desejável, na medida em que simplifica e
facilita o acesso da população aos serviços públicos.
Considerações finais
34
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
35
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Parentesco por afinidade é aquele que decorre do casamento e também da união estável.
Lembrando que os afins em linha reta são o sogro e a sogra em relação à nora, o genro,
a enteada e o enteado.
A pessoa adotante não poderá casar-se com o ex-marido ou ex-mulher da pessoa que
está sendo adotada; e nem a pessoa que está sendo adotada poderá se casar com quem
já foi ex-marido ou ex-mulher da pessoa que está adotando.
Bilaterais ou germanos são os nascidos do mesmo pai e mesma mãe; unilaterais, aqueles
que têm em comum só o mesmo pai (consanguíneos) ou só a mesma mãe (uterinos).
VI – as pessoas casadas;
Por força do art. 1.571, § 1o, do CC, o casamento dissolve-se em caso de presunção de
óbito do ausente. Há que ressaltar também que o casamento no religioso, não inscrito
no registro civil, não constitui impedimento (CC, art. 1.515).
36
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Visa evitar a confusão de patrimônio dos filhos com o da nova sociedade conjugal. A
desobediência acarretará as seguintes sanções:
»» Hipoteca legal de seus imóveis em favor dos filhos (CC, art. 1.489, II):
filhos passam a ser titulares do direito real sobre os imóveis do pai/mãe.
II – a viúva, ou mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido
anulado, até dez meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da
sociedade conjugal;
Nos dias atuais basta, tão somente, o exame de sangue BETA HCG para afastar ou
confirmar uma gravidez.
37
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
38
Capítulo 3
Oposição dos impedimentos e das
causas suspensivas
O direito de oposição sofre restrições de ordem pessoal e formal, a fim de evitar abusos,
imputações caluniosas ou levianas, uma vez que há sanções para quem o exercer
arbitrariamente.
39
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
40
Capítulo 4
Da celebração do casamento – arts.
1.533 a 1.542 do CC
Breves considerações
Art. 1.533. Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente
designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante
petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do
art. 1.531.
Formalidades:
»» O evento ocorrerá na casa das audiências, se outro local não houver sido
previamente acertado.
41
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Artigos conexos:
42
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
O certo é designar-se o casamento para o dia seguinte ou para nova data, dentro do
prazo de eficácia da habilitação, para permitir uma serena reflexão do nubente indeciso.
43
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
O termo avulso da cerimônia será reduzido no livro de assentos em 5 dias, perante duas
testemunhas, contados a partir da data do casamento.
Na ausência do oficial de registro ao ato, o juiz de paz designará outro para o exercício
ad hoc das suas funções.
O oficial do registro ad hoc deverá lavrar termo avulso do casamento, com as mesmas
informações do termo definitivo, na presença de duas testemunhas.
O registro de casamento será efetuado em até cinco dias da data da sua celebração.
44
Capítulo 5
Espécies de casamentos
Casamento válido
O casamento putativo, nuncupativo, religioso com efeitos civis, consular,
por procuração e conversão da união estável em casamento, desde que
presentes os elementos essenciais e observados todos os requisitos legais, constituem
formas válidas de uniões conjugais regulamentadas na lei. O putativo, embora anulável
ou nulo, produz efeitos de casamento válido para o cônjuge de boa-fé e, por isso, não
será incluído, neste tópico, e sim nos casos de casamento inválido.
É aquele que sucede mediante a representação do nubente que não puder estar
presente na data da sua realização. Para tanto, o mandatário deverá estar investido de
poderes específicos (ad nuptias) para contrair casamento em nome do outorgante,
em instrumento de mandato que deverá ser transcrito integralmente na
escritura antenupcial e no assento do registro.
Deve constar da procuração a indicação de quem será o outro nubente, de modo a não
se deixar essa faculdade de escolha, por óbvio, ao arbítrio do procurador. Se assim não
fosse, jamais seria possível reputar tal casamento como realizado com base em uma
vontade livre. Sua invalidade seria evidente.
Exemplos:
45
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
outorgante, o outro contraente, deduz-se que ambos não podem nomear o mesmo
procurador, até porque há a obrigação legal de cada procurador atuar em prol dos
interesses de seu constituinte, evitando-se, assim, o surgimento de conflito de interesses.
O mandato somente pode ser revogado por instrumento público (CC, art. 1.542, §§
3º e 4º).
Incide, na nulidade (quer seja absoluta, quer relativa), a regra da boa-fé como
desconhecimento de vício ou defeito. Assim, o casamento anulável ou mesmo nulo, se
contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, em relação a estes como aos filhos, produz
todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
No tocante aos efeitos: “É certo, que alguns efeitos se perpetuam, como os relativos à
legitimidade dos filhos havidos durante o período de validez. A essência do matrimônio
putativo está, assim, na boa-fé em que se encontram um ou ambos os cônjuges no
momento da celebração do matrimônio”.
O sentido do dispositivo legal protege tão só um dos cônjuges se somente ele estava de
boa-fé ao celebrar o casamento. Nesse caso, restringindo o espectro de incidência da
boa-fé negativa, seus efeitos civis só a ele e aos filhos aproveitarão.
46
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Presunção legal absoluta de boa-fé cobre a situação jurídica dos filhos – mesmo que
ambos os cônjuges estivessem de má-fé ao celebrar o casamento, seus efeitos civis só
aos filhos aproveitarão.
Carlos Roberto Gonçalves11, em sua obra de direito de família, explica que esta
ficção de casamento nulo ou anulável, mas válido quanto aos seus efeitos civis, encerra,
filosoficamente, segundo a doutrina tradicional:
A palavra putativo vem do latim putare, que significa reputar ou estar convencido da
verdade de um fato, o que se presume ser, mas não é, ou ainda o que é imaginário,
fictício, irreal. Na linguagem jurídica, o vocábulo é usado também para designar o
herdeiro aparente e o credor putativo. Casamento putativo é, destarte, aquele que as
partes e os terceiros reputam ter sido legalmente celebrado.
11 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, direito de família. 4. ed. – São Paulo: Saraiva, 2007. v. 6.
12 Casamento. Nulidade. Bigamia. A putatividade do casamento se presume em relação ao cônjuge não impedido, devendo a má-
fé de sua parte ser provada” (TJRJ, Ap. 5.333, 3ª Câmara Cível, Rel. Des. Ferreira Pinto).
13 Caio Mário da Silva Pereira. Manual de Direito Civil, v. 5, p. 154. Corrêa de Oliveira e Ferreira Muniz, Direito de Família, p.
270.
47
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Figura 1.
Moça: Meus Deus! Descobri que me casei com meu honorável irmão que estava
separado de mim desde o nascimento. O que farei? Oh! Estou desgraçada pelo
resto da minha vida.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/amizade-casal-chin%C3%AAs-japon%C3%AAs-jap%C3%A3o-422247/>.
Figura 2.
Muito embora o erro de direito seja inescusável, em geral, por força do art. 3o da LINDB,
pode, todavia, ser invocado para justificar a boa-fé, sem que com isso se pretenda o
descumprimento da lei, pois o casamento será, de qualquer modo, declarado nulo.
Indaga-se, entretanto, se ao juiz é livre declará-lo ou não. E a resposta é uma só: uma vez
reconhecida a boa-fé, o casamento é putativo, ex vi legis14. Não cabe ao juiz conceder ou
recusar o favor; compete-lhe, tão somente, apurar a boa-fé, em face das circunstâncias
do caso, e, sendo a prova positiva, proclamar a putatividade.
48
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
A eficácia dessa decisão manifesta-se ex nunc, sem retroatividade, e não ex-tunc, não
afetando os direitos até então adquiridos. Essa situação faz com que o casamento putativo
se assemelhe à dissolução do matrimônio pelo divórcio. Os efeitos do casamento cessam
para o futuro, sendo considerados produzidos todos os efeitos que se tenham verificado
até a data da sentença anulatória. Enquanto pendentes os recursos eventualmente
interpostos, permanecem os efeitos do casamento, com se válido fosse, em virtude do
princípio segundo o qual não há casamento nulo nem anulado antes do trânsito em
julgado da sentença.
Desse modo, se o casal não tem filhos nem ascendentes vivos e um dos cônjuges morre
antes de a sentença anulatória transitar em julgado, o sobrevivo herda, além de receber
a sua meação, ou concorrerá com eles, se existirem e se o regime de bens adotado o
permitir (CC, art. 1.829).
Quantos aos cônjuges, os efeitos pessoais são os de qualquer casamento válido. Findam,
entretanto, na data do trânsito em julgado. Cessam, assim, os deveres matrimoniais
impostos no art. 1.566 do CC (fidelidade, vida em comum, mútua assistência etc.),
mas não, aqueles efeitos que geram situações ou estado que tenham por pressuposto a
15 “Casamento. Putatividade. Réu desquitado. Ausência de má-fé demonstrada. Inocorrência de ocultação da autora, ou mesmo
das autoridades, de seu verdadeiro estado civil. Nulidade declarada, reconhecendo-se que o casamento foi contraído de boa-
fé por ambos os cônjuges, porque o réu não ocultou, da autora ou das autoridades, a verdade sobre o seu estado civil de
desquitado e o ato só se consumou por absoluto descuido, no processo de habilitação, por parte do Promotor de Justiça, que
opinou favoravelmente ao pedido” (JTJ, Lex, 238/44).
49
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Figura 3.
Honorável ex-marido, você sabia que eu fui emancipada pelo casamento? Como
você me enganou e nosso casamento foi anulado, você volta a menoridade
(risos), mas eu continuo com minha maior idade adquirida pelo casamento,
hihihihihihi!!!!
Fonte: <https://pixabay.com/pt/amizade-casal-chin%C3%AAs-japon%C3%AAs-jap%C3%A3o-422247/>.
Figura 4.
50
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
O Código Civil prevê duas exceções quanto às formalidades para a validade do casamento.
A primeira, em caso de moléstia grave de um dos nubentes (art. 1.539) e a segunda,
na hipótese de estar um dos nubentes em iminente risco de vida (arts. 1.540 e 1.541).
51
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
casa dele ou “onde se encontrar” (no hospital, por exemplo), em companhia do oficial,
“ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever”. Só em havendo
urgência é que o casamento será realizado à noite.
52
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Casamento consular
O art. 1.544 do CC dispõe que esta espécie de casamento deve ser submetida a registro
em cartório, no prazo de 180 dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao
Brasil.
Acrescenta o Decreto no 24.113/1934, não revogado pela codificação de 2002, que “Os
Consulados de carreira só poderão celebrar casamentos quando ambos os nubentes
forem brasileiros e a legislação local reconhecer efeitos civis aos casamentos assim
celebrados”. Nessa consonância, a validade do casamento celebrado no estrangeiro pela
autoridade consular brasileira está submetida ao requisito de que ambos os nubentes
sejam brasileiros, cessando sua competência se um deles for de nacionalidade diversa.
54
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Exige-se, pois, pedido ao juiz, ao contrário da Lei no 9.278, de 10 de maio de 1996, que
se contentava com o requerimento de conversão formulado diretamente ao oficial do
Registro Civil. A exigência do novel legislador desatende o comando do art. 226, § 3o, da
CF/1988 de que deve a lei facilitar a conversão da união estável em casamento, isto é,
estabelecer modos mais ágeis de se alcançar semelhante propósito.
Entretanto, outros fatores podem ensejar não apenas o extravio ou a perda da certidão,
como ainda inviabilizar a prova documental direta das núpcias.
55
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Admite-se, assim, a prova indireta, pelos meios não proibidos pelo Direito,
realçando-se os documentos e as testemunhas, como acontece com a posse do estado
de casado.
Como é cediço por todos, no Brasil, por muitos anos, todos os casamentos eram
realizados pela Igreja, em virtude de a quase maioria dos brasileiros ser católica. Com a
chegada de imigrantes, foi necessário que disciplinar o casamento de forma que esse se
ajustasse às novas circunstâncias. Assim, em11 de setembro de 1861, foi editada a lei que
disciplinava o casamento dos acatólicos. No entanto, foi somente com a Proclamação
da República que veio o casamento perdeu seu caráter confessional.
56
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
essa hipótese no bojo de seu texto. A doutrina e a jurisprudência, então, são as vozes
uníssonas, que alardeiam, entre nós, o instituto do casamento inexistente.
Washington de Barros Monteiro16 pontua que: “O ato inexistente é o nada. A lei não
o regula, porque não há necessidade de disciplinar o nada”. De fato, não há interesse
prático em distinguir hipóteses que justificariam a inexistência de um ato jurídico,
visto que já estão claramente enumerados no Código os casos de nulidade, que se
confundem com as hipóteses de inexistência, salvo em matéria de casamento. A seguir,
elucidar-se-ão os conceitos de inexistência, nulidade e anulabilidade, estudados a partir
do direito matrimonial.
Foi o jurista alemão Zacharie17, que pela primeira vez, doutrinou a diferença entre
inexistência e nulidade de um ato jurídico.
O casamento nulo é aquele que, embora existente, é inválido e ineficaz, pois decorre “da
falta de qualquer dos requisitos legais da formação do ato ou de expressa disposição da
lei”18.
16 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 73.
17 VENOSA, Silvio. Direito civil: direito de família. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 113.
18 AMARAL, F. Direito civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 113.
19 PONTES DE MIRANDA. Tratatado do direiro da família. 3. ed. São Paulo: Max Limonade, 1947, p. 295.
57
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
juiz incompetente ratione loci, resta configurada hipótese de anulabilidade, visto que
a incompetência é relativa. Suponha-se, por outro turno, que certo casamento seja
celebrado perante delegado de polícia ou prefeito. Nesse caso, é patente a incompetência
absoluta, portanto resta configurada a inexistência do matrimônio (incompetência
materiae).
Cabe ainda ressaltar os casos de nulidade, a fim de que se possa diferenciá-los das
hipóteses de inexistência. Aqueles estão expressamente consignados nos arts. 1.521
e 1.548 do novo Código Civil. São hipóteses, conforme expressa disposição do Código
Civil:
VI - as pessoas casadas;
I - (revogado)
58
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Embora “os atos inexistentes sejam um nada jurídico”20, muitas vezes, possuem efeitos
materiais que precisam ser extinguidos por meio de decreto judicial declaratório e
mandamental, já que será forçoso cancelar o Registro Civil, mediante um mandado de
cancelamento.
No que diz respeito à nulidade ou anulação, tem-se o que a doutrina costuma chamar de
processo necessário. A decretação de nulidade só poderá ser exercida por uma sentença
desconstitutiva.
A inexistência do casamento pode ser alegada por qualquer pessoa, e também pode o juiz
decretá-la oficiosamente; enquanto a nulidade matrimonial, diferentemente dos atos
jurídicos em geral, só pode ser arguida por interessados ou pelo Ministério Público, na
medida do art. 1.549 do Código Civil, não podendo o juiz pronunciá-la voluntariamente.
No negócio inexistente, não há que se falar em prescrição, em razão de que não se pode
prescrever um ato que nunca se formou.
Casamento inválido é aquele que não gera efeitos jurídicos desde a data de sua
celebração, uma vez declarada a sua nulidade.
Casos de nulidade:
20 VENOSA, Silvia. Direito civil; direito de família. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 115.
59
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
[...]
Casamento ineficaz é aquele que gera efeitos jurídicos até a data da declaração judicial
de sua anulabilidade.
60
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Menor que não atingiu a idade núbil poderá confirmar o seu casamento
assim que completá-la, obtendo a autorização do seu responsável legal ou
o suprimento judicial, se for o caso.
21 Jur. Extinção de um direito por haver decorrido o prazo legal prefixado para o exercício dele. [Cf., nesta acepção, prescrição e
perempção]
61
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
a. identidade do cônjuge
›› um rapaz contrai casamento com uma moça que é irmã gêmea daquela
com quem gostaria realmente de ter-se casado ou
62
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
›› prostituição;
63
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
d. Coação
A ação para propor a ineficácia do matrimônio civil tem o prazo de 4 anos, contados
da sua realização, e é de iniciativa exclusiva da vítima da coação ou de seu representante
legal.
Casamento putativo
64
Capítulo 6
Efeitos jurídicos do casamento – arts.
1.565 a 1.570 do CC
Esfera pessoal
»» Fidelidade recíproca: dever de assistência imaterial, exclusividade
do casamento e dos direitos deles decorrentes. A fidelidade matrimonial
deve compreender tanto a disposição do uso do corpo (fidelidade física)
como a lealdade do tratamento dispensado ao cônjuge, na esfera íntima ou
privada e mesmo perante terceiros (fidelidade psíquica íntima e social).
65
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Esfera patrimonial
»» Usufruto dos bens dos filhos menores sob poder familiar: esse
também é um efeito mais da paternidade do que do casamento, ou seja,
ainda que os pais não sejam casados, terão direito ao dito usufruto.
66
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Art. 1.653. É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura
pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento.
67
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Art. 1653 – É nulo o pacto antenupcial se não for feito por escritura
pública, e ineficaz se não lhe seguir o casamento.
Podem os cônjuges, no pacto antenupcial, estipular quanto aos bens o que melhor
lhes aprouver (art. 1.639). Prevalece a regra da liberdade das convenções nos pactos
antenupciais, relativamente à questão patrimonial, desde que não contrarie disposição
absoluta de lei. Os nubentes podem combinar regras de regimes diversos, bem como
estipular outras regras convenientes a seus interesses. O essencial é a compatibilidade
entre as disposições.
O pacto antenupcial realizado por menor de idade núbil tem sua validade condicionada
à aprovação de seu representante legal. Excetuam-se, apenas, os casos de regime
obrigatório de separação de bens. Tal exigência justifica-se, é vez que o menor não tem
capacidade para, sozinho, firmar o pacto antenupcial.
68
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
lei, sob pena de estas cláusulas serem nulas de pleno direito. A nulidade de cláusula não
atinge o pacto como um todo, subsistem válidas as demais estipulações.
Entre outras, são nulas as cláusulas que versem contra a própria natureza do casamento,
as contrárias aos bons costumes, as que contrariem o poder familiar, as que pretendam
alterar a ordem necessária da sucessão e as que ajustem regime de bens diverso do
obrigatório. São proibidas, ainda, condição ou termo.
69
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
»» instrumento público;
»» a doação aproveita aos filhos do donatário, caso este venha a falecer antes
do doador;
a. um só do marido;
70
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
b. outro só da mulher;
c. um terceiro de ambos.
Pelo CC/2002, a interpretação deve ser a de que se presumem fruto do esforço comum
os bens adquiridos, a título oneroso, durante o casamento, assim como se presumem
fruto do esforço individual os bens adquiridos antes do casamento.
O art. 1.659 do CC lista os bens que não se comunicam e o art. 1.660, os que se comunicam.
71
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Recorde-se que o art. 499 do atual CC, inserido no capítulo da compra e venda, é
expresso ao estabelecer que é lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a
bens excluídos da comunhão.
Trata-se, no caso, de presunção absoluta de serem estes bens fruto do esforço comum.
72
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Art. 1.661. São incomunicáveis os bens cuja aquisição tiver por título
uma causa anterior ao casamento.
73
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Os bens comuns responderão pelas obrigações contraídas pelo marido e pela mulher
para atender aos encargos do lar. Por outro lado, a administração dos bens constitutivos
do patrimônio particular compete ao cônjuge proprietário, salvo convenção diversa no
pacto nupcial (art. 1.665).
74
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Aprestos = preparo.
75
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Histórico do fidelcomisso
O CC/2002 mantém o instituto (arts. 1.951 a 1.960), com restrição de seu alcance. A
substituição fideicomissária ficou circunscrita tão-somente aos fideicomissários ainda
não concebidos à época da morte do testador. Se, quando da morte do de cujus, já houver
nascido o fideicomissário, este adquire a nua propriedade dos bens fideicomitidos,
enquanto o direito do fiduciário converter-se-á em usufruto. Preferiu a lei nova evitar os
problemas decorrentes da propriedade resolúvel do fiduciário, colocando o fideicomisso
em sua mais útil e principal finalidade para o testador, qual seja, beneficiar a prole
eventual de pessoa por ele designada. O presente CC realça, ademais, a similitude do
fiduciário ao direito do usufrutário.
Trata-se de um dos institutos mais ricos em detalhes técnicos no campo da ciência jurídica.
Por essa razão requer cuidado extremo de quem o institui e de quem o interpreta. São
necessariamente três os ingredientes dessa operação técnica: fideicomitente (testador)
– fiduciário (propriedade resolúvel) – fideicomissário (titular de direito eventual).
Caso seja do seu, leia sobre o assunto em Direito das Sucessões, arts. 1.951 a 1.960 do
CC.
76
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
O regime de participação final nos aquestos é novo no direito brasileiro, tendo sido
introduzido pelo Código de Miguel Reale. Tal como o da comunhão parcial, trata-se de
regime híbrido, em que o patrimônio dos cônjuges se reparte em particular e comum.
Ao contrário deste, porém, só se comunicam os adquiridos na constância do casamento
mediante esforço comum do casal.
Como toda novidade, tem despertado algumas incertezas – para cuja superação
infelizmente nem sempre o texto da lei ajuda como deveria. Para compreender
seus contornos e disciplina, o critério mais útil é extremá-lo dos demais regimes. A
interpretação das normas legais referente à participação final nos aquestos não pode
nunca o igualar ao regime da comunhão parcial ou separação absoluta. A meio caminho
entre um e outro (poderia ter sido chamado de “separação relativa”), a participação
final nos aquestos não pode perder sua especificidade.
No regime da participação final nos aquestos, cada cônjuge mantém seu patrimônio
próprio durante a constância do casamento (neste aspecto, aproxima-se da separação
absoluta) e tem, ademais, direito à meação dos bens adquiridos pelo casal a título
oneroso (aqui, aproximação com o regime da comunhão parcial – art. 1.672).
Para exemplificar:
Quadro 1.
77
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Homem na constância do casamento: herda uma fração ideal de uma mansão e compra três terrenos.
Mulher na constância do casamento: vende a casa de praia e compra outra maior e adquire alguns conjuntos de escritórios.
O casal adquire: 1 casa na cidade, 1 tela de um afamado pintor.
Bens a partilhar: 1 casa na cidade e 1 tela de um afamado pintor.
Quanto aos bens imóveis, vimos que o pacto pode autorizar a alienação dos bens
particulares de cada consorte (art. 1.656). Nota-se, portanto, que somente haverá
meação a se analisar quando do desfazimento do vínculo conjugal. No entanto, a própria
lei encarrega-se de estabelecer certa confusão nesse sentido.
78
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Nessa situação, percebe-se que, apesar de o cônjuge ser titular de seu próprio
patrimônio, não pode fazer doações sem a autorização do outro. Se o fizer, quando da
apuração dos aquestos, o final, o valor da doação não autorizada deve ser computado
no monte partível e, o que é mais rigoroso, pode ser reivindicado pelo cônjuge
prejudicado ou seus herdeiros. Imagine-se, porém, uma doação não autorizada que
tenha ocorrido muitos anos antes do desfazimento da sociedade conjugal. Cria-se
uma situação de instabilidade.
Art. 1.678. Se um dos cônjuges solveu uma dívida do outro com bens do
seu patrimônio, o valor do pagamento deve ser atualizado e imputado,
na data da dissolução, à meação do outro cônjuge.
79
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Esse artigo exige que seja feito um balanço contábil e financeiro na data de dissolução do
casamento. Imagine-se essa atualização se passados muitos anos da solução da dívida.
Este artigo é prova de que o legislador disciplinou esse regime de bens no casamento
como se estivesse regulando uma empresa.
Esse artigo estampa regra geral verdadeira e aparentemente óbvia, a fim de estabelecer
a propriedade dos bens imóveis para os cônjuges: os bens imóveis são de propriedade
do cônjuge cujo nome constar no registro. No entanto, o parágrafo único adverte:
O Código estabelece aí uma situação de fraude contra credores. Um dos cônjuges pode
ter adquirido um imóvel e tê-lo registrado em nome do outro. Em caso de execução,
o titular do registro deve provar a aquisição do bem. Mais uma situação de muita
discussão processual, mormente em embargos de terceiro, embora a matéria também
possa ser versada em ação pauliana ou em ação de nulidade por simulação.
80
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
O montante dos aquestos a ser dividido é o da data em que cessou a convivência, e não
o da data em que se decretou a separação judicial ou o divórcio. O estabelecimento da
cessação da convivência é questão de fato, a ser apurada no caso concreto. Pode ocorrer,
por exemplo, da decisão que decretou a separação de corpos. A situação é importante
porque após o enceramento da convivência, sem que tenha havido a separação ou
divórcio, pode ter-se alterado a situação patrimonial dos cônjuges, que não deve ser
levada em conta para apuração da meação.
Neste artigo, caberá ao devedor ou ao cônjuge provar que há valor de débito que supera
a meação.
81
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
»» as dívidas correspondentes.
Do valor do patrimônio particular de cada cônjuge deduz-se, então, a soma dos valores
desses bens. É a etapa mais simples do cômputo dos aquestos, porque, em termos
gerais, corresponderão as deduções às exclusões do regime de comunhão parcial,
suficientemente conhecidas dos operados do direito.
2ª etapa: devem ser considerados os valores dos demais bens adquiridos pelos
consortes na constância do casamento, para distinguir os que o foram com recursos
individuais dos que resultaram do esforço conjunto do casal.
»» no caso de bens adquiridos pelo esforço comum, cada cônjuge terá direito
à metade (CC, art. 1.679);
82
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
exclusiva, mas, atente, uma vez feita a impugnação, o ônus da prova do esforço comum
não é do impugnante. A lei atribui ao cônjuge em cujo nome está registrado o imóvel o
dever de provar tê-lo adquirido com recursos particulares (art. 1.681, parágrafo único).
Percebe-se, com facilidade, que o cônjuge casado no regime de participação final nos
aquestos deve se preocupar em conservar todos os documentos e informações atinentes
a cada aquisição importante que tenha feito enquanto durar o casamento. Se comprou
um imóvel e registrou em seu nome, mas não puder provar, tempos depois, no término
da sociedade conjugal, que o fez exclusivamente com recursos próprios, sem nenhuma
contribuição material alguma do outro cônjuge, terá direito unicamente à meação
do bem. No caso de falecimento, competirá a prova aos seus herdeiros, a partir das
informações e documentos que lhes chegarem às mãos.
O derradeiro ajuste nos cálculos dos aquestos diz respeito às dívidas de um dos
cônjuges, que não pode comprometer a meação do outro quando seu valor superar a do
devedor (art. 1.686).
Procedido ao cálculo dos aquestos, atribui-se a meação a cada cônjuge ou seus herdeiros.
Sendo conveniente e possível, dividir-se-ão os bens em espécie. Caso contrário, o
cônjuge proprietário pagará ao não proprietário em dinheiro o valor correspondente à
meação. Não dispondo de numerário para fazer o pagamento, alguns de seus bens, após
avaliação e autorização judiciais, serão vendidos para a liquidação da partilha (CC, art.
1.684, parágrafo único).
83
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Considere, na separação deste casal que optou pelo regime de participação final nos
aquestos:
Quadro 2.
Na segunda etapa, está provado que um imóvel em nome da mulher foi adquirido
com dinheiro proveniente exclusivamente do trabalho dela e que seu valor é de R$
200.000,00.
Na terceira etapa, apura-se que o marido pagou, com seus recursos, uma dívida da
mulher correspondente a R$ 30.000,00. Feitas as contas, os aquestos montam R$
300.000,00, dos quais ele terá direito a R$ 180.000,00, e ela, a R$ 120.000,00.
Ele seria simplesmente dividido pela metade, não fosse a necessidade do ajuste relativo
à dívida dela paga por ele.
84
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Da mulher em R$ 120.000,00:
Separação de bens
Neste regime de bens, cada cônjuge terá seu patrimônio separado. E os bens adquiridos
por ambos, com seu esforço comum?
Sobre estes bens deverá decidir o pacto antenupcial, podendo eles pertencerem a um
dos cônjuges ou aos dois, em comunhão.
85
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
O art. 1.641, CC/2002, trata do regime obrigatório. Não é necessário o pacto antenupcial
por se tratar de regime imposto pela lei.
A lei permite a realização do casamento das pessoas maiores de 70 anos, pois diz respeito
à questão relativa ao estado da pessoa, sendo direito indisponível.
A pessoa maior de sessenta anos é considerada pelo CC/2002 uma pessoa capaz ser
vítima de aventureiros, portanto tal restrição tem caráter protetivo, com propósito de
obstar o casamento exclusivamente com interesse econômico.
O CC/1916 impunha o regime legal para a mulher maior de 50 anos e para o homem
maior de 60 anos. O CC/2002 observa a isonomia constitucional e estabelece a mesma
idade sem a distinção de sexo.
86
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
requisito legal, a lei determina que referido casamento só se realizará sob o regime
patrimonial de separação de bens, obrigatoriamente.
Assim, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula no 377: “No regime de separação
legal de bens comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”.
A Súmula no 377 foi aplicada literalmente, mas posteriormente ficou restrita aos bens
adquiridos pelo esforço comum dos cônjuges. Assim o STJ considerou a existência de
uma sociedade de fato entre os cônjuges e reconheceu o direito à meação dos bens
adquiridos na constância do casamento pelo esforço comum, no regime da separação
legal e, também, no regime da separação convencional.
De que vale então tal suprimento judicial? Afinal, o juiz supriu ou não supriu a falta do
requisito obrigatório?
Com o suprimento judicial de idade núbil, o requisito da idade foi satisfeito por ordem
judicial. De igual modo, com o suprimento do consentimento dos pais ou responsáveis,
a vontade se completou para todos os fins de direito.
Outra questão relevante a ser discutida no tema é que, para a configuração da união
estável, não se exige o requisito idade (nem há previsão de suprimento judicial) e, para
esta entidade familiar, o regime legalmente estabelecido, salvo contrato escrito, é o da
comunhão parcial de bens.
Da extinção do Casamento
Referências legislativas: art. 226 da CF; arts. 1.562 e 1.571 a 1.582 do CC; Lei
no 6.515/1977; Lei no 8.408/1992; Lei no 7.841/1989; Lei no 9.68/1949 e Lei no
5.478/1968.
87
Capítulo 7
Da dissolução da sociedade e do
vínculo conjugal
Rompe-se o casamento
»» Por fato natural (morte).
88
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Quando um dos cônjuges resolve deixar de manter domicílio naquele fixado pela entidade
familiar, dá-se o abandono do lar conjugal. Trata-se de conduta incompatível
com o cumprimento dos deveres de assistência imaterial e materiais decorrentes do
casamento civil, que se caracteriza pela simples saída do domicílio, com indícios de que
não mais haverá retorno a ele.
O cônjuge que sai do domicílio por motivos justificáveis pode regularizar tal ato, obtendo
autorização judicial para tanto. A jurisprudência considera como motivos razoáveis
ou justificáveis agressões físicas, atentado contra a vida e assim por diante.
Aquele que pretende regularizar a situação da saída do lar conjugal, a fim de não ser
considerado culpado em eventual processo de separação judicial, pode propor medida
judicial que objetiva a separação de corpos, que é medida adotada por um dos cônjuges
que decide não mais viver sob o mesmo teto que o outro.
Como medida cautelar, já se discutia, sob a égide do Código de Processo Civil de 1973 se
era necessário que o requerente procedesse ao ajuizamento da medida de separação no
prazo de trinta dias, sob pena de caducidade. Na atual sistematização sendo pleiteada
89
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
A separação de corpos poderá, ainda, ser requerida ao juiz de direito nas seguintes
hipóteses:
A separação de corpos pode ser deduzida como pedido processual cumulado com o de
retirada do outro cônjuge do lar conjugal, a pretexto de proteção da integridade física
do requerente ou de seus filhos.
Trata-se de inovação elogiável, que contribuiu para a redução dos obstáculos à extinção
do vínculo conjugal, já depauperado diante da obtenção da separação cautelar de corpos.
Por fim, encontrando-se o requerente da ação de separação judicial autorizado pelo juiz
por força da decisão proferida na cautelar de separação de corpos em manter domicílio
outro que não o conjugal.
90
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Separação
Ao regular separação judicial, Novo CPC tira dúvidas sobre instituto. Por
Venceslau Tavares Costa Filho e Torquato Castro Jr.
Disponível em:
<http://www.conjur.com.br/2014-nov-30/regular-separacao-judicial-cpc-tira-
duvidas-instituto>
Como se observa, com efeito, são extremadas as posições doutrinárias nessa seara da
possibilidade jurídica de um pedido de separação judicial no direito pátrio atual. Por
isto que, atentando-se ao fato que a separação permanece formalmente prevista tanto
no Código Civil quanto no Novo Código de Processo Civil, não tendo os dispositivos
respectivos sido declarados inconstitucionais, optamos por apresentar o instituto,
discorrendo sobre ele, e, por ocasião do estudo encetado, poderemos debater com toda
amplitude o tema objeto dos artigos retrotranscritos.
»» a partilha dos bens, que pode, no entanto, ser postergada para até mesmo
depois do divórcio.
91
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
»» separação de fato;
»» separação extrajudicial;
»» separação judicial.
Separação de fato
No entanto, o tempo de separação de fato pode ser aproveitado por aquele que deseja
depois pleitear:
Separação extrajudicial
Separação extrajudicial é negócio jurídico celebrado entre os cônjuges que põe termo
ao casamento, sem viabilizar a ruptura completa e irreversível do vínculo matrimonial.
Pode ser formalizada por escritura pública lavrada mediante a assistência de advogado
comum ou de advogado de cada um dos interessados.
92
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
A inovação trazida por essa lei foi recebida com entusiasmo pela comunidade jurídica,
sobretudo porque tem por objetivo promover uma sensível desobstrução dos canais do
Judiciário brasileiro e proporcionar à sociedade uma célere opção para a resolução de
situações de direito que versem sobre as relações pessoais, em que propriamente não
haja um litígio, mas sim uma convergência de interesses. E por isso mesmo, foi mantido
no nCPC.
93
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
Tal fato justifica a preocupação legislativa no tocante aos interesses dos menores ou
incapazes como necessária, sobretudo porque se trata de um interesse indisponível,
melhor dizendo, irrenunciável, e por esta razão sua apreciação é reservada,
exclusivamente, à tutela do Judiciário com o consentimento do Ministério Público.
Por outro lado, a exigência de consensualidade para a prática do ato, no caso, separação,
divórcio, partilha e inventário, é um requisito que se compatibiliza com o Estado
Democrático de Direito, pelo qual apenas o Poder Judiciário, constitucionalmente
reconhecido, pode manifestar-se, em caráter vinculativo e definitivo, com relação a
conflito de interesses. Em uma palavra, trata-se de uma intervenção judicial obrigatória,
assim como a do Ministério Público, que, por missão institucional, atua como fiscal da
lei, garantindo a lisura e segurança do procedimento.
A opção pela via administrativa reconhece que tais relações pessoais, especialmente
aquelas inerentes ao direito de família, poderão submeter-se a um procedimento
mais célere, mediante escritura pública lavrada no Tabelionato de Notas, que será
considerada título hábil para o registro de imóveis e o registro civil, dispensando, na
hipótese, eventual homologação judicial.
A aqueles que não se beneficiam pela gratuidade constante daquela previsão normativa,
sujeitam-se às custas inerentes à elaboração da escritura pública, que sofrerá variação
de acordo com o Estado em que for formalizada.
Frise-se, por fim, que a escritura pública relativa à separação e ao divórcio será o ato
formal no qual restarão consignadas todas as disposições em que convergiram os
interesses dos cônjuges, especialmente aquelas referentes à pensão alimentícia, se
houver, à partilha dos bens comuns, à retomada do nome de solteiro ou à manutenção
do nome adotado na oportunidade da celebração do casamento.
94
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Por fim, é importante ressaltar que a opção pela via administrativa, formalizada por
meio de escritura pública, especialmente no tocante à partilha e inventário, não
afasta eventual responsabilidade tributária dos beneficiários, que estarão
submetidos ao recolhimento do Imposto de Transmissão – ITD, cuja
disciplina é de competência de cada Estado.
Separação judicial
Não há nessa modalidade de separação nenhum litígio a ser dirimido entre os cônjuges,
e os termos constantes da petição inicial, devidamente assinadas por ambos os
interessados e seu procurador, devem ser submetidos à apreciação do MP, caso haja
menor ou incapaz envolvido, e do Poder Judiciário.
Por fim, é cabível a separação litigiosa ou contenciosa, na qual não há prévio acordo
entre os cônjuges para a dissolução da sociedade conjugal.
26 |Diante do advento do Novo Código de Processo Civil a terminologia adequada é tutela provisória de urgência de natureza
cautelar.
95
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
A ruptura pela ação do tempo é causa mais utilizada, na prática, para a separação
judicial. Pressupõe sempre a impossibilidade de reconstituição da vida em comum.
»» fato desonroso;
»» a torpeza;
»» a corrupção;
»» a criminalidade;
»» a embriaguez contumaz;
»» o uso de entorpecentes.
96
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
Fachin afirma que não tem mais sentido analisar a culpa como motivo de ordem íntima,
psíquica, pois bastaria inferir certas condutas como tendentes à extinção da sociedade
conjugal.
»» a embriaguez habitual;
»» o ciúme despropositado;
»» a conduta desonrosa;
»» a separação de corpos;
97
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
A partilha dos bens, no entanto, não precisa ser prévia, podendo ser postergada para
depois do divórcio.
Reconstituição do casamento
Art. 1.577. Seja qual for a causa da separação judicial e o modo como
esta se faça, é lícito aos cônjuges restabelecer, a todo tempo, a sociedade
conjugal, por ato regular em juízo.
Não se trata de mero fato; requer a lei ato regular em juízo, vale dizer, intervenção do
Estado-juiz chancelando o restabelecimento. Demais disso, com o fim de proteger a
boa-fé de terceiros, em face da eficácia jurídica da separação, são colocados a salvo tais
direitos.
Não haverá alteração no regime de bens, porém, se o casal se divorciou, poderá unir-se
novamente (novo casamento) com outro regime de bens. É possível, todavia, em caso
de separação judicial, a alteração do regime de bens por ocasião da reconciliação,
mediante autorização judicial, se houver “pedido motivado de ambos os cônjuges,
apurada a procedência das razões invocadas e ressalvados os direitos de terceiros” (CC,
art. 1.639, § 2o).
98
NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA │ UNIDADE II
O art. 101 da Lei dos Registros Públicos prevê que o ato de restabelecimento da
sociedade conjugal será também averbado no Registro Civil, com as mesmas indicações
e efeitos.
O art. 1.579 proclama a inalterabilidade dos direitos e deveres dos pais com relação
aos filhos, em decorrência do divórcio ou do novo casamento de qualquer um deles. A
obrigação alimentar, fruto tanto dos laços de parentesco quanto em decorrência do poder
familiar, não sofre qualquer modificação com a mudança do estado civil do alimentante
(quem paga alimentos). No entanto, está-se consolidando corrente jurisprudencial que
permite a revisão do valor dos alimentos quando estabelece o alimentante novo vínculo
afetivo ou ocorre o nascimento de outros filhos.
O divórcio pode ser obtido por meio indireto ou via conversão, decorrido um ano
do trânsito em julgado da sentença que houver decretado a separação judicial, ou da
decisão concessiva da medida cautelar de separação de corpos.
Divórcio indireto
Divórcio
99
UNIDADE II │ NOÇÃO DE DIREITO DE FAMÍLIA
O divórcio direto está previsto no segundo parágrafo do art. 1.580. O art. 1.581 dispensa
a partilha dos bens para a sua decretação e o art. 1.582 identifica os legitimados para
propor a demanda.
Nome de casado
Como exceção à regra, no caso de separação litigiosa, estipulou que a mulher não
podia continuar utilizando o nome do marido, se julgada culpada pela separação.
100
GUARDA DOS Unidade iII
FILHOS
Capítulo 1
Guarda dos filhos
Figura 5.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/crian%C3%A7a-menino-menina-png-1650651/>.
I - (revogado);
II - (revogado);
III - (revogado).
101
UNIDADE III │ GUARDA DOS FILHOS
§ 4o (VETADO).
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles,
em ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união
estável ou em medida cautelar;
102
GUARDA DOS FILHOS │ UNIDADE III
Guarda dos filhos é o direito potestativo (direito-dever) conferido àquele que permanecer
na posse da prole ou de parte dela.
Desde o advento da lei do divórcio, os cônjuges podem acordar sobre a guarda dos
filhos. Somente, se houver fato grave é que, o juiz modificará a guarda dos menores.
Vigora na guarda o princípio do melhor interesse do menor, que pode prevalecer sobre
os interesses de seus próprios genitores, conforme conclusão judicial extraída a partir
do caso concreto.
Guarda derivada é aquela que uma pessoa obtém de forma superveniente, mesmo que
o genitor não tenha sido despojado a título provisório ou definitivo do poder familiar.
A guarda pode ser obtida de forma provisória, por qualquer pessoa capaz, mediante
procedimento cautelar ou por decisão liminar inaudita altera parte em processo que
tramite perante a Vara de Família e Sucessões. Quando a guarda versar sobre menor
abandonado ou órfão, a questão será dirimida pela Vara da Infância e da Juventude.
Considera-se guarda definitiva aquela obtida por força de uma sentença judicial
transitada em julgado.
As disposições acerca da guarda são aplicáveis tanto para o menor de idade como
para o maior incapaz, sendo necessário observar se a incapacidade dele é ampla ou
103
UNIDADE III │ GUARDA DOS FILHOS
não (lembre-se, por exemplo, que o pródigo somente é considerado incapaz de forma
relativa e para praticar atos de disposição patrimonial).
Guarda unilateral
A guarda unilateral enseja o dever de vigilância a ser observado pelo guardião. Quando
o menor estiver sob os cuidados do outro cônjuge em virtude do exercício do direito de
visitar, haverá a exclusão da responsabilidade do guardião, sujeitando-se o visitante
aos efeitos jurídicos do dano porventura sofrido pelo visitado.
A alteração do domicílio do guardião não pode ser encarada como obstáculo ao exercício
do direito de visitar que o outro cônjuge possui. Sua conveniência, de qualquer sorte,
pode ser questionada perante o Poder Judiciário, porém não possui o condão de levar
o visitante a pleitear a modificação da guarda. Deve-se sempre atender ao bem-estar do
menor. Em caso de discórdia entre os pais, o juiz requererá avaliação psicológica.
Guarda compartilhada
104
GUARDA DOS FILHOS │ UNIDADE III
Com o advento da Lei no 13.058 de 2014, que alterou o Código Civil e estabeleceu a
guarda compartilhada como sendo a regra, basicamente somente em duas situações é
que não será concedida a guarda compartilhada. A primeira é quando um dos genitores
se manifesta expressamente no sentido de que não deixe a guarda (diz a lei: Quando
não houver acordo entre a mãe e o pai quanto à guarda do filho, encontrando-se ambos
os genitores aptos a exercer o poder familiar, será aplicada a guarda compartilhada,
salvo se um dos genitores declarar ao magistrado que não deseja a guarda do menor). A
outra hipótese é quando isso for prejudicial ao menor, aplicando-se aqui o princípio do
melhor interesse do menor.
O que se visa é modificar com essa regra de guarda compartilhada é alterar o padrão
do direito de visitação em que, normalmente, o genitor apenas vê a sua prole de 15 em
15 dias, nos finais de semana. Ao passo que o genitor guardião fica com a prole a maior
parte do tempo. Com a alteração promovida pela Lei 13.058 de 2014 no Código Civil,
temos a introdução de um novo padrão de conduta. O que se espera é uma convivência
“que deverá visar à divisão equilibrada do tempo com o pai e com a mãe.» Isso implica
que os pais e as mães precisam se adequar a uma nova realidade em que ambos são
responsáveis por uma convivência equilibrada com a sua prole.
Ainda dentro dessa ideia da guarda compartilhada, o Conselho Tutelar irá se destacar
com um papel que é de orientar as famílias no que precisa ser feito para que se atinja essa
convivência equilibrada prevista no Código Civil, por meio da alteração apresentada
pela Lei 13.058 de 2014.
Em caráter excepcional, o juiz poderá conceder a guarda a terceiro que pode ser ou não
membro da família de qualquer um dos cônjuges.
105
UNIDADE III │ GUARDA DOS FILHOS
A lei direciona o juiz a aplicar, sempre que possível, a guarda compartilhada. Somente
em caráter excepcionalíssimo é que o juiz de direito concederá a guarda a pessoa que
não possua o poder familiar. Esta se dará obedecendo ao grau de parentesco, à afinidade
e à afetividade.
Mesmo contraindo novas núpcias, o pai ou a mãe continuam com o direito de guarda
sobre o filho incapaz.
Maria Helena Diniz entende que tal modalidade de guarda deve subsistir até que seja
definida a situação do menor. Venosa, por sua vez, justifica a guarda para a percepção
de benefícios previdenciários ou de saúde por conta do abandono dos genitores ou da
situação de órfão do menor.
A falta de previsão legal para a guarda com fins específicos não significa a
impossibilidade de sua concessão, porque a lei concede a guarda ampla; isso demonstra
tornar-se possível a guarda para a prática de determinados atos em defesa dos interesses
extrapatrimoniais e patrimoniais da criança e do adolescente.
O guardião poderá reconhecer o menor como seu dependente para os fins de declaração
de imposto de renda. Se for estrangeiro, o guardião será expulso do território nacional
por abandono do menor brasileiro que se encontrar sob a sua guarda.
Modificação da guarda
106
GUARDA DOS FILHOS │ UNIDADE III
Direito de visita é aquele conferido a quem não detém a guarda do filho menor e deve
ser exercido em conformidade com o determinado na sentença judicial de separação,
em dia, hora, duração e local.
Em princípio, é razoável que o direito de visitar seja exercido com a retirada do menor
de seu domicílio, para que fique na companhia do visitante, por algumas horas ou
durante os dias estabelecidos pelo juiz.
O menor possui o direito de ser visitado, e este deve ser exercido sem que qualquer
hipótese de conflito de interesses, entre os envolvidos, possa prejudicar.
O genitor visitante deve respeitar a educação e a boa formação que vêm sendo dadas ao
incapaz pelo seu guardião, não embaraçando o exercício de suas atividades habituais,
imprescindíveis à sua integração social e à confirmação de sua identidade.
107
UNIDADE III │ GUARDA DOS FILHOS
evitando assim que a criança ou o adolescente sejam expostos à situação de risco, como
ocorre na alienação parental.
Esse tema começa a despertar a atenção, pois é prática que vem sendo
denunciada de forma recorrente. Sua origem está ligada à intensificação das
estruturas de convivência familiar, o que fez surgir, em consequência, maior
aproximação dos pais com os filhos. Assim, na separação dos genitores, passou a
haver entre eles uma disputa pela guarda dos filhos, algo impensável até algum
tempo atrás. Antes, a naturalização da função materna levava a que os filhos
ficassem sob a guarda da mãe, ao pai restava somente o direito de visitas em
dias predeterminados, normalmente em fins de semana alternados.
Agora, porém, está-se vivendo uma outra era. Mudou o conceito de família.
O primado da afetividade na identificação das estruturas familiares levou à
valoração do que se chama filiação afetiva. Graças ao tratamento interdisciplinar
que vem recebendo o direito de família, passou-se a emprestar maior atenção
às questões de ordem psíquica, permitindo o reconhecimento da presença de
dano afetivo pela ausência de convívio paterno-filial.
A evolução dos costumes, que levou a mulher para fora do lar, convocou o homem
a participar das tarefas domésticas e a assumir o cuidado com a prole. Assim, na
108
GUARDA DOS FILHOS │ UNIDADE III
Para isso, a mãe cria uma série de situações visando dificultar ao máximo ou
impedir a visitação. Leva o filho a rejeitar o pai, a odiá-lo. A este processo o
psiquiatra americano Richard Gardner nominou de “síndrome de alienação
parental”: programar uma criança para que odeie o genitor sem qualquer
justificativa. Trata-se de verdadeira campanha para desmoralizar o genitor. O
filho é utilizado como instrumento da agressividade direcionada ao parceiro.
A mãe monitora o tempo do filho com o outro genitor e também os seus
sentimentos para com ele.
A criança, que ama o seu genitor, é levada a afastar-se dele, que também a ama.
Isso gera contradição de sentimentos e destruição do vínculo entre ambos.
Restando órfão do genitor alienado, acaba identificando-se com o genitor
patológico, passando a aceitar como verdadeiro tudo que lhe é informado.
109
UNIDADE III │ GUARDA DOS FILHOS
Não há outra saída senão buscar identificar a presença de outros sintomas que
permitam reconhecer que se está diante da síndrome da alienação parental
e que a denúncia do abuso foi levada a efeito por espírito de vingança, como
110
GUARDA DOS FILHOS │ UNIDADE III
instrumento para acabar com o relacionamento do filho com o genitor. Para isso,
é indispensável não só a participação de psicólogos, psiquiatras e assistentes
sociais, com seus laudos, estudos e testes, mas também que o juiz se capacite
para poder distinguir o sentimento de ódio exacerbado que leva ao desejo de
vingança a ponto de programar o filho para reproduzir falsas denúncias com o
só intuito de afastá-lo do genitor.
É preciso ter presente que esta também é uma forma de abuso que põe em
risco a saúde emocional de uma criança. Ela acaba passando por uma crise de
lealdade, pois a lealdade para com um dos pais implica deslealdade para com o
outro, o que gera sentimento de culpa quando, na fase adulta, constatar que foi
cúmplice de uma grande injustiça.
A essas questões devem todos estar mais atentos. Não mais cabe ficar silente
diante das maquiavélicas estratégias que vêm ganhando popularidade e que
estão crescendo de forma alarmante.
111
DAS RELAÇÕES DE Unidade iV
PARENTESCO
Capítulo 1
Das relações de parentesco
Figura 6.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/fam%C3%ADlia-companheirismo-pais-e-filhos-1671088/.>
Art. 1.591. São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para
com as outras na relação de ascendentes e descendentes.
112
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO │ UNIDADE IV
Conceito
Segundo Maria Helena Diniz27, “parentesco é a relação vinculatória existente
não só entre pessoas que descendem umas das outras ou de um mesmo
troco comum, mas também entre o cônjuge e os parentes do outro e entre
adotante e adotado”.
Espécies de parentesco
»» Por afinidade (afim): é o que liga uma pessoa aos parentes de seu
cônjuge ou companheiro, isto é, aquele que decorre do casamento ou da
união estável, conforme previsto em lei (CC, art. 1.595).
Importante observação a ser feita é quanto à expressão “outra origem” do art. 1.593, in
fine:
27 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 5, p. 367.
113
UNIDADE IV │ DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO
Pode-se entender “outra origem” como, por exemplo, a inseminação artificial com
doador – hipótese trazida pelo art. 1.597, que será abordado em tópico relativa presunção
de paternidade na próxima unidade – e até mesmo a clonagem.
São parentes em linha reta as pessoas que estão ligadas umas às outras em uma relação
de ascendência e descendência (CC, art. 1.591), como mostram os esquemas a seguir:
Figura 7.
Bisavô
3º grau
Avô
Esquema 1 - O parentesco
entre João e seu avô: 2º grau
relação de parentesco em
linha reta de 2º grau Pai
ascendente. Ascendente
1º grau
João
O parentesco de linha reta pode ser representado, graficamente, por uma perpendicular
que liga um parente a outro.
Se o ponto de partida de uma linha reta ascendente é o pai e a mãe de uma pessoa, tal
linha vai bifurcar-se, entrando, então em duas famílias distintas, formando as linhas
paterna e materna.
114
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO │ UNIDADE IV
Figura 8.
3º Grau
Avô
2º Grau
Tio
Pai
1º Grau
Esquema 2 – Parentesco entre João e seu tio:
João relação de parentesco em linha colateral e
transversal de 3º grau.
Figura 9.
2º grau
3º grau
Avô
Pai Tio
1º grau
João primo
Esquema 3 4º grau
115
UNIDADE IV │ DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO
Figura 10.
2º grau
3º grau
Avô
Pai Tio
1º grau
2=2
João Primo
Esquema 4 4º grau
Esquema 4 – parentesco entre João e seu primo: relação de parentesco em linha colateral
ou transversal de 4o grau “igual”, pois João e o primo guardam a mesma distância do
avô, 4o grau.
Figura 11.
3º Grau
Avô
2º Grau
Tio
Pai
2x1
1º Grau
J ã Ti
João
Esquema 5
Esquema 5 – Parentesco entre João e seu tio: relação de parentesco em linha colateral
ou transversal de 3o grau “desigual”, pois a distância de João é de dois graus e a do tio
para o avô, de um grau.
116
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO │ UNIDADE IV
Figura 12.
Bisavô
Avô
Tio-Avô
Pai
Sobrinho-neto
Figura 13.
Na linha reta tem-se, então, a afinidade entre sogro e nora, sogra e genro, padrasto e
enteada, madrasta e enteado. São, portanto, afins em primeiro grau. Por exemplo: em
razão de casamento ou da união estável, alguém poderá ser afim em primeiro grau com
a filha e a mãe da mulher a que se uniu, caso em que a filha de sua mulher será sua
enteada e a mãe, sua sogra.
117
UNIDADE IV │ DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO
A Sogra e o
Em segundo grau, na linha reta, o cônjuge ou companheiro será afim com os avós do
outro e este com os avós daquele, porque na linha reta não há limite de grau.
118
DAS RELAÇÕES DE PARENTESCO │ UNIDADE IV
Esquema 8 – Esposa com João (sobrinho de seu marido): não há parentesco por
afinidade na linha colateral além do 2o grau.
Esquema 9 – Parentesco da esposa com o marido de sua cunhada: cabe ressaltar que
entre concunhados não há relação de parentesco.
Na linha colateral, o parentesco por afinidade não vai além do segundo grau, existindo
tão somente com os irmãos do cônjuge ou companheiro (CC, art. 1.595, § 1o, 2a parte);
assim, com o casamento ou união estável, uma pessoa torna-se afim com os irmãos do
cônjuge ou convivente. Cunhados serão parentes por afinidade em segundo grau, mas
entre consortes e companheiros não há parentesco nem afinidades.
119
FILIAÇÃO E
RECONHECIMENTO Unidade V
DE PATERNIDADE
Capítulo 1
Filiação e reconhecimento de
paternidade
Figura 18.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/beb%C3%AA-menino-crian%C3%A7a-abra%C3%A7o-84639/>.
Filiação
Filiação é a relação de parentesco existente entre o descendente e seu ascendente de
primeiro grau.
Em sentido estrito, filiação é a relação jurídica que liga o filho a seus pais. É
considerada filiação propriamente dita quando visualizada pelo lado do filho. Encarada
120
FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE │ UNIDADE V
em sentido inverso, ou seja, pelo lado dos genitores em relação ao filho, o vínculo se
denomina paternidade ou maternidade.
Filhos legítimos eram os que procediam de justas núpcias. Quando não houvesse
casamento entre os genitores, denominavam-se ilegítimos e se classificavam, por
sua vez, em naturais e espúrios. Eram naturais, quando entre os pais não havia
impedimento para o casamento; espúrios, quando a lei proibia a união conjugal dos
pais. Estes podiam ser adulterinos, se o impedimento resultasse do fato de um deles
ou de ambos serem casados, e incestuosos, se decorressem do parentesco próximo,
como entre pai e filha ou entre irmão e irmã. Entre os espúrios, merece referência o
filho sacrílego; o que era o espúrio nascido de clérigo ou de religioso, em razão de
“coito danado” (ex damnato coitu procreati).
Hoje, todavia, todos são apenas filhos, uns havidos fora do casamento, outros, na
constância, mas com direitos e qualificações iguais. O princípio da igualdade dos
filhos é reiterado no art. 1.596 do CC, que enfatiza: “Os filhos, havidos ou não da relação
de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
Reconhecimento da paternidade
121
UNIDADE V │ FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE
Reconhecimento voluntário
Após a CF/1988, foi editada a Lei no 7.841, de 17/10/1989, que revogou o art. 358 do
CC/1916 e permitiu o reconhecimento de paternidade de filhos adulterinos
e incestuosos.
Não se confunde tal reconhecimento, voluntário por essência, com a conduta cuja
vontade é viciada ou defeituosa, como, v. g., sucede com o homem que é levado a
crer que o filho seria realmente seu e o registra como tal, caso em que se torna
possível a ação negatória de paternidade, como se verá mais adiante, que se
baseia logicamente no defeito de manifestação da vontade do requerente que registrou
a criança sob sua paternidade.
122
FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE │ UNIDADE V
Pouco importa qual o estado civil do suposto pai, se ele é solteiro, casado, separado,
divorciado ou viúvo. Ele deverá ser notificado para comparecer em audiência e declarar
se é ou não o genitor da pessoa interessada, como meio de se obter dados de relevo para
a satisfação dos interesses da criança, bem como para o asseguramento dos direitos
decorrentes da filiação.
123
UNIDADE V │ FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE
124
FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE │ UNIDADE V
A lei não exige que o marido seja estéril ou que por qualquer razão física
ou psíquica, não possa procriar. A única exigência é que tenha o marido
previamente autorizado a utilização de sêmen estranho ao seu. A lei não
exige que haja autorização escrita, apenas que seja “prévia”, razão por
que pode ser verbal e comprovada em juízo como tal.
125
UNIDADE V │ FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE
Se a ação de investigação de paternidade não veio a ser ajuizada pelo interessado menor
ou incapaz que acabou de falecer, os seus herdeiros poderão propor a medida judicial
compatível com essa finalidade.
Se o requerido não vier a reconhecer como sendo sua a prole e acabar por
contestar o pedido, somente poderá alegar que:
126
FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE │ UNIDADE V
›› a mãe da criança confessou que o filho não é dele, o que é, por si só,
insuficiente para excluir a paternidade;
Outros meios de prova são plenamente admitidos, porém o seu valor deve
ser analisado pelo julgador, segundo o caso concreto: prova testemunhal,
da prova documental, e assim por diante.
A recusa do suposto pai em proceder ao exame pericial sob a ideia de que ninguém
é obrigado a produzir prova contra si mesmo é possível. Vindo a ocorrer, porém,
entender-se-á que a prova, se tivesse sido realizada, poderia confirmar a existência
paternidade em desfavor do requerido.
A paternidade pode ser impugnada por aquele cujo nome veio a ser declinado como o
genitor da criança.
127
UNIDADE V │ FILIAÇÃO E RECONHECIMENTO DE PATERNIDADE
28 Dizer que alguém “está sob a espada de Dâmocles” significa que, a qualquer momento, algo de muito ruim pode acontecer
com o pobre coitado. O nome vem de um certo Dâmocles que vivia na Corte de Siracusa, no século IV a.C. Como frequentava o
palácio e era amigo do rei, expressava constantemente sua inveja pelas delícias proporcionadas pelo trono. O rei, para mostrar-
lhe o preço que se paga pelo poder, ofereceu-lhe um requintado banquete, deixando suspensa sobre a cabeça de Dâmocles uma
espada que pendia ameaçadoramente do teto, presa apenas por um único fio delgado. Com isso, o invejoso cortesão entendeu
a precariedade do poder real, e a expressão passou a simbolizar “um perigo iminente que paira sobre a vida de alguém”. Para
quem é soropositivo de HIV, a ameaça de que a aids venha a se manifestar é uma verdadeira espada de Dâmocles.
128
DA ADOÇÃO Unidade VI
Capítulo 1
Da adoção
Adoção
Figura 19.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/praia-sun-p%C3%B4r-do-sol-mulher-mar-323454/.>
Introdução
Conceito
129
UNIDADE VI │ DA ADOÇÃO
Para Maria Helena Diniz31 (Curso de Direito Civil, Vol.5, 2010, p. 522/3), citando
Caio Mario S. Pereira, “a adoção vem a ser o ato jurídico solene pelo qual, observados
os requisitos legais, alguém estabelece, independentemente de qualquer relação de
parentesco consanguíneo ou afim, um vínculo fictício de filiação, trazendo para a
sua família, na condição de filho, pessoa que, geralmente, lhe é estranha. Dá origem,
portanto, a uma relação jurídica de parentesco civil entre adotante e adotado”.
Todos os conceitos, porém, por mais diversos, confluem para um ponto comum: a criação
de vínculo jurídico de filiação. Ninguém discorda, portanto, de que a adoção confere a
alguém o estado de filho. A esta modalidade de filiação dá-se o nome de parentesco
civil, pois desvinculado do laço de consanguinidade, sendo parentesco constituído pela
lei, que cria uma nova situação jurídica, uma nova relação de filiação.
Essa nova relação de filiação, por determinação constitucional (art. 227, § 6o), não pode
sofrer qualquer distinção com relação à filiação biológica.
Natureza jurídica
Em face da dimensão do tema, referir-se-á apenas a duas delas. A primeira corrente, que
alude à natureza contratual da adoção, foi defendida pela maioria dos doutrinadores
civilista no século XIX. Nela se justifica a natureza contratual da adoção por encerrar,
em sua formação, a manifestação de vontade das pessoas envolvidas. Essa corrente
amparou o texto do Código Civil brasileiro de 1916. Foi abandonada, por não se
encontrar na concepção moderna de contrato, já que a adoção não admite a liberdade
29 WALD, Arnoldo. Curso de direito civil brasileiro. 8. ed. rev. e ampl. e atual. com a colaboração de Luiz Murillo Fábregas.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991, v. 4, p. 183.
30 TAVÀRES, José Farias de. Direito da infância e da juventude. [S. L.]: Del Rey, 2001, p. 149.
31 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. São Paulo: Saraiva, 2010. v . 5, pp. 522-523.
130
DA ADOÇÃO │ UNIDADE VI
Noções gerais
Por Guilherme Madeira Dezem, João Ricardo Brandão Aguirre e Paulo Henrique Aranda
Fuller
Dessa forma, tem-se que o art. 1.618 do CC estabelece que a adoção de crianças e
adolescentes será regida pelo ECA. Além disso, o art. 1.619 do CC estabelece que a
adoção dos maiores de 18 anos será regida, no que couber, pelo regime do ECA.
Curiosa esta situação, na medida em que a lei revogou os arts. 1.620 a 1.629 do CC. Vale
dizer, agora, somente restaram 3 artigos do CC que cuidam da adoção: 1.618, 1.619 e
1.620, pois estão revogados os demais artigos.
131
UNIDADE VI │ DA ADOÇÃO
quando não houver pessoas ou casais brasileiros habilitados à adoção (ECA, art. 50, § 10).
Essa tônica é importante na medida em que implicará sérias consequências, como é o
caso da adoção por homossexuais, a seguir analisada.
O ECA estabelece, em seu art. 40, que a idade máxima para o adotando é de 18 anos à
data do pedido, salvo se ele já estiver sob a guarda ou tutela dos adotantes. Se sua idade
for superior a 18 anos, a adoção será regulada pelo Código Civil, tendo lugar na Vara
de Família, aplicando-se o ECA subsidiariamente. Contudo, se o menor já estava sob
a guarda ou tutela do adotante, será da competência da Vara da Infância e Juventude
o processo, desde que iniciado até os 21 anos do adotado, a teor do art. 2o, parágrafo
único, do ECA. Seja como for, o foro competente para a ação é o foro de domicílio do
adotando.
O ECA estabelece, em seu art. 42, caput, que a idade mínima para adotar é a de 18
anos, independentemente do estado civil, semelhante ao disposto no art. 1.618, CC, que
estabelece a idade mínima de 18 anos para o adotante.
É importante notar que a adoção por ambos os cônjuges poderia ser formalizada desde
que um deles tivesse completado 18 anos de idade, comprovada a estabilidade da família
(CC, art. 1.618).
O ECA (art. 42, § 3o) estabelece que somente poderá haver a adoção desde que haja
diferença de 16 anos entre adotante e adotado.
»» adoção por casal em que apenas um deles tenha diferença maior que 16
anos.
Nesses casos, entendemos que deve prevalecer a ideia da proteção integral da criança
ou adolescente, não sendo possível, a priori, fixar regra no sentido da proibição ou da
admissão de quaisquer das situações.
132
DA ADOÇÃO │ UNIDADE VI
Além das limitações etárias acima, tanto o ECA quanto o CC estabelecem limitações
para a adoção dentre as quais:
»» não pode haver adoção por procuração ( ECA, art. 39, § 2o);
»» enquanto não der conta de sua administração e não saldar o débito, não
poderá o tutor ou curador adotar o pupilo ou curatelado (CC, art. 1.620,
e ECA, art. 44).
Adoção unilateral
Trata-se de modalidade de adoção prevista no art. 41, § 1o, do ECA, em que é permitido
que um dos cônjuges ou companheiros adote o filho do outro caso em que são mantidos
os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou companheiro do adotante e os
respectivos parentes.
O que o legislador pretendeu com este § 1o do art. 41 foi simplesmente reconhecer que é
possível ao cônjuge adotar o filho do outro, sem que com isso se interrompam os laços
de consanguinidade havidos com o genitor biológico da criança ou adolescente. Nesse
sentido dispunha também o revogado art. 1.626, parágrafo único, do CC: “Se um dos
cônjuges ou companheiros adota o filho do outro, mantêm-se os vínculos de filiação
entre o adotado e o cônjuge ou companheiro do adotante e os respectivos parentes”.
133
UNIDADE VI │ DA ADOÇÃO
Consentimento do menor
Assim, temos que, caso tenha mais de 12 anos de idade, é imprescindível o consentimento
do adolescente para a adoção (ECA, art. 28, § 2o). Caso seja menor de 12 anos ou, em
sendo maior, não se trate de adoção, mas de guarda ou tutela, sempre que possível será
colhida sua manifestação.
O art. 45 do ECA dispõe sobre o consentimento dos genitores. Esse artigo deve ser
entendido em consonância com o disposto no art. 166 do ECA, que dispõe sobre a forma
de manifestação do consentimento, que poderá ser dispensado em relação à criança
ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder
familiar (ECA, art. 45, § 1o).
Da mesma forma, deve ser tratada com cautela a ausência dos genitores, devendo ser
tentada sua localização com posterior citação por edital e indicação de curador especial,
nos termos do art. 72 do nCPC.
Caso os pais manifestem concordância quanto ao pedido, serão ouvidos pela autoridade
judiciária e pelo representante do Ministério Público, tomando-se por termo suas
declarações (ECA, art. 166, § 1o).
134
DA ADOÇÃO │ UNIDADE VI
O ECA permite que casais separados ou divorciados adotem em conjunto. Para isso,
estabelece o art. 42, § 4o, do ECA dois requisitos:
O Estatuto da Criança e do Adolescente não faz menção ao gênero e sexo da pessoa que
está adotando, assim, temos adoção por uma única pessoa ou a adoção por um casal – e
como vimos anteriormente o casamento e a união estável podem ocorrer entre pessoas
do mesmo sexo ou de sexo diferente.
É certo que a lei não autoriza de maneira expressa tal adoção, mas nem precisaria, dado
o princípio da legalidade e sua aplicação para o particular (o que não está proibido será
permitido).
De nossa parte entendemos que o foco deve ser mudado: a adoção deve ser analisada
sob o ponto de vista do adotando, vale dizer, é perquirir se há reais vantagens para o
adotando com a adoção. O art. 43 do ECA é claro quanto a essa determinação: sempre
se deve considerar o interesse do menor.
135
UNIDADE VI │ DA ADOÇÃO
2o nega-se a adoção e corre-se o risco de essa criança não ser adotada e ficar
no abrigo até completar 18 anos e, então, ser deixada à própria sorte.
A opção parece clara: a proteção à criança exige como solução única o deferimento da
adoção. Rejeitamos como falsa qualquer opção moralista absoluta em direito; afinal,
esse casal deverá ter passado por todos os testes que um casal heterossexual passou,
e sua orientação sexual não pode, por si só, ser óbice à adoção. Tendo sido o casal
admitido no cadastro para adoção, não há por que se negar à criança o direito de ter um
lar com pessoas que a amem.
Por outro lado, permitir que a criança seja adotada por apenas um dos membros do
casal é desfavorável para ela, na medida em que seus direitos serão preenchidos por
apenas um dos membros da família, e não por ambos.
Percebe-se, pelos dados levantados pelas Varas da Infância e Juventude de nosso Brasil,
que os casais homoafetivos estão adotando crianças e adolescentes que até então eram
considerados “inadotáveis” pelos casais não homoafetivos.
O tema vem regulamentado no ECA, nos arts. 50, 51 e 52, havendo ainda a alteração
quanto ao prazo do estágio de convivência (ECA, art. 46, § 3o).
136
DA ADOÇÃO │ UNIDADE VI
Três são os requisitos básicos para que seja deferida a adoção internacional previstos
no parágrafo primeiro do art. 51 do ECA:
Caso se trate de adoção internacional por brasileiro residente no exterior, este terá
preferência sobre os estrangeiros, a teor do parágrafo segundo do art. 51 do ECA.
O procedimento para a adoção internacional segue o disposto nos arts. 165 a 170, com as
modificações previstas no art. 52, todos do ECA. Entre essas modificações se destacam:
137
UNIDADE VI │ DA ADOÇÃO
A adoção é irrevogável (ECA, art. 39, § 1o) e tanto assim, é que a morte dos adotantes
não restabelece o poder familiar dos pais naturais (art. 49). Não se extraia daí, contudo,
que a adoção gera poder familiar absoluto: caso os adotantes descumpram seus deveres
de pais, pode, então, haver ação para destituição de seu poder familiar e a criança ser
colocada em outra família substituta.
Com isso, estabelece-se também que é recíproco o direito sucessório entre o adotado,
seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e colaterais até o 4o
grau, observada a ordem de vocação hereditária (ECA, art. 41, § 2o).
Quanto ao nome do adotado estabelece o art. 47, § 5o, do ECA que pode haver alteração
do prenome a pedido do adotante ou do adotado. Caso a mudança tenha sido requerida
138
DA ADOÇÃO │ UNIDADE VI
pelo adotante, será necessária a oitiva do adotado, nos termos do § 6o, do art. 47 do
ECA.
Polêmica é a medida tomada pelo legislador no art. 48: “O adotado tem direito de
conhecer sua origem biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no
qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito)
anos. Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá ser também deferido ao
adotado menor de 18 (dezoito) anos, a seu pedido, assegurada orientação e assistência
jurídica e psicológica”.
Ora, estabelece-se agora que o maior de 18 anos poderá ter acesso irrestrito ao processo
em que a medida foi deferida e, antes dos 18 anos também, desde que assegurada
orientação e assistência jurídica e psicológica. Espera-se que esta medida não sirva de
desestímulo para os postulantes à adoção.
O vínculo será constituído por sentença judicial, que será inscrita no registro civil
mediante mandado, sendo vedado fornecimento de certidão desse ato (ECA, art. 47).
Seus efeitos, a teor do art. 47, § 7o, do ECA, começam a partir do trânsito em julgado
da sentença, exceto se o adotante vier a falecer no curso do procedimento, caso em que
terá força retroativa à data do óbito.
Na inscrição no registro será consignado o nome dos adotantes como pais, bem como o
nome de seus ascendentes, sendo cancelado o registro original do adotado, vedando-se
que qualquer observação sobre a origem do ato possa constar nas certidões do registro.
É possível, contudo, a critério da autoridade judiciária, o fornecimento de certidão para
salvaguarda de direitos. É importante notar que, a pedido do adotante, o novo registro
poderá ser lavrado no Cartório de Registro Civil do Município de sua residência,
advertindo a lei que nenhuma observação sobre a origem do ato poderá constar nas
certidões do registro (ECA, art. 47, §§ 3o e 4o).
Estágio de convivência
139
UNIDADE VI │ DA ADOÇÃO
Procedimento da adoção
140
PODER FAMILIAR Unidade VIi
Capítulo 1
Poder familiar
Conceito
Poder familiar é o conjunto de direitos e obrigações, quanto à pessoa e aos bens do filho
menor não emancipado, exercido, em igualdade de condições, por ambos os pais, para
que possam desempenhar os encargos que a norma jurídica lhes impõe, tendo em vista
o interesse e a proteção do filho.
Características
O poder familiar é um dever, pois os pais não podem dele abrir mão, devendo cuidar
da educação e do bem-estar dos filhos e zelar por seus bens. Não pode ser objeto de
negociação, isto é, ser comercializado ou alienado. É uma relação de autoridade
incompatível com a tutela, pois esta só ocorrerá se os pais tiverem sido destituídos do
poder familiar.
32 DINIZ, Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro. Direito de família. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 5, p. 447.
141
UNIDADE VII │ DA ADOÇÃO
Embora administrem os bens dos filhos, os pais não poderão aliená-los ou gravá-los
de ônus real nem contrair, em nome deles, dívidas e obrigações, salvo com autorização
judicial e desde que sejam preservados os interesses dos menores.
»» pela maioridade;
»» pela adoção;
Cabe esclarecer que somente se suspenderá o poder familiar do pai ou da mãe que
abusar de seu poder ou sofrer a condenação, subsistindo o poder dos filhos em relação
ao outro.
»» deixar o filho em abandono (aquele que não zelar pelo bem-estar físico
e moral, abandonando-o em suas necessidades mínimas para uma vida
com dignidade);
»» incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no art. 1.637 (artigo que trata
da suspensão do poder familiar, analisado em tópico anterior).
143
ALIMENTOS – ARTS.
1.694 A 1.710 DO Unidade VIIi
CÓDIGO CIVIL
Capítulo 1
Alimentos – arts. 1.694 a 1.710 do
Código Civil
Conceito
O dever de prestar alimentos, disciplinado no direito de família, é imposto por lei para
que se possam garantir as necessidades vitais do alimentando. Relaciona-se, pois, com
o direito à vida, com a preservação da dignidade da pessoa humana, com os direitos da
personalidade.
Alimentos são prestações para a satisfação das necessidades vitais de quem não pode
provê-las por si. Compreende o que é imprescindível à vida da pessoa, como alimentação,
vestuário, habitação, tratamento médico, dentário, transporte, diversões e, se a pessoa
alimentada for menor de idade, ainda verbas para sua instrução e educação (CC, art.
1.701). Estão incluídas também parcelas despendidas com sepultamento por parentes
legalmente responsáveis pelos alimentos.
144
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL │ UNIDADE VIII
»» De sentença judicial.
Os alimentos devem ser fixados em favor do integrante da família que deles necessite
para subsistir, em face do princípio da solidariedade familiar.
Entende-se que os alimentos devem ser pagos pelos parentes em linha reta e, na sua
falta, pelos de linha colateral. Exclui, contudo, o dever em desfavor de parentes por
afinidade.
De igual modo, entende-se que a obrigação alimentar não é devida pelo parente por
afinidade porque os afins, a rigor, não são parentes.
145
UNIDADE VIII │ ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL
Cabe ressaltar que quem é obrigado a prestar também pode exigir seu recebimento,
pois o direito à prestação de alimentos é recíproco entre as pessoas definidas em lei34 .
Pela redação do art. 1.697 do CC, pode-se observar que estão envolvidos nessa relação de
obrigação-direito: os ascendentes, os descendentes e os irmãos germanos e unilaterais.
Já o art. 1.700 traz a transmissibilidade da obrigação alimentar aos herdeiros, lembrando
que somente é transmissível até a força da herança.
Figura 20.
Avô
Pai
João
Figura 21.
Avô
Pai
João
(neto)
Fonte: Elaborado pelo autor.
146
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL │ UNIDADE VIII
Dessa forma, o filho deve alimentos ao pai quando este for idoso e não puder garantir
a sua subsistência. Caso o filho não possa pagar alimentos, o avô pode solicitar ao neto
João, no nosso exemplo.
Assim, o devedor poderá ser obrigado ao pagamento de alimentos em valor que não
comprometa a sua subsistência.
Características
147
UNIDADE VIII │ ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL
O cônjuge não foi citado na ordem acima descrita porque o fundamento da obrigação
é outro, isto é, não decorre da relação de parentesco, mas sim do dever de mútua
assistência existente até a dissolução da sociedade conjugal, tendo o devedor de
'pagá-los a quem necessita35.
A obrigação, por sua, vez, não cessa se o cônjuge devedor se casar novamente, devendo
ainda prestá-la ao cônjuge necessitado. Se, contudo, o cônjuge credor contrair nova
união, perde o direito a receber alimentos do antigo consorte.
Para muitos, essa previsão é uma injustiça, pois a culpa de que se trata é da quebra
dos deveres do casamento, o que nos faz analisar que, embora ofendido ou magoado o
cônjuge inocente, apresentando-se o quadro acima descrito, ainda deverá socorrer em
suas necessidades o cônjuge culpado.
35 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 5, p. 40.
148
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL │ UNIDADE VIII
Logo, o inocente terá direito à mesma condição social de que desfrutava durante
o casamento, mantendo seu padrão de vida (RT, 720:101). Desse modo, o dever de
alimentar não será considerado apenas a título de dever de socorro. Trata-se dos
alimentos indenizatórios concedidos necessarium personae, que abrangem as
necessidades básicas para a preservação da vida e as despesas relativas à sua condição
social, como as concernentes ao lazer, à cultura etc.
De acordo com o já estudado, os alimentos são irrenunciáveis, você pode abrir mão do
seu exercício, mas não do direito, contudo, quando se trata de alimentos decorrentes
da união estável ou do casamento, é possível falar em renúncia ao direito à pensão
alimentícia.
36 São aqueles devidos para a subsistência do organismo humano, tais como: alimentação, remédios, vestuário e habitação.
149
UNIDADE VIII │ ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL
37 Cf. Rodrigues, Silvio. Direito civil: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 430; Diniz, Maria Helena. Curso de direito
civil brasileiro. Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2002. v. 5, p. 476).
150
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL │ UNIDADE VIII
A petição inicial pode conter pedido de fixação provisória de alimentos, que não se
confundem com os provisionais41, nem com os definitivos42.
É uma ação de estado, ordinária, que segue o rito especial, estabelecido pela Lei no
5.478/1968 (Lei de Alimentos). Afastam-se assim as dificuldades processuais que
retardavam a concessão de recursos aos necessitados que, por laços de parentesco,
tinham direito de haver de seus parentes. Reza tal lei no seu art. 4o que o juiz, ao
despachar o pedido inicial, fixará alimentos provisórios (na base de 1/3 dos rendimentos
do devedor, sendo de salientar-se que a lei não estabelece critério algum) a serem pagos
pelo devedor, salvo se o credor declarar, expressamente, que deles não necessita.
38 Aquele que não tem capacidade legal; inábil. Diz-se daquele a quem a lei priva de certos direitos ou exclui de certas funções.
39 Os menores de 18 e maiores de 16 anos; os ébrios, os toxicômanos; os excepcionais, os pródigos etc.
40 Alimentos provisórios são aqueles fixados incidentalmente no curso de um processo de cognição.
41 Os alimentos provisionais somente podem ser fixados em processo cautelar.
42 Alimentos definitivos são aqueles estabelecidos por sentença judicial.
43 Perda da ação atribuída a um direito, que fica assim juridicamente desprotegido, em consequência do não uso dela durante
determinado tempo [Cf., nesta acepç., decadência (5).]
151
UNIDADE VIII │ ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL
A sentença que conceder alimentos retroage nos seus efeitos à data da citação inicial, a
partir de quando as prestações serão exigidas ou devidas (art. 13, § 2o). Não transitando
em julgado, pode a qualquer tempo ser revista, se houver modificação da situação
econômico-financeira dos interessados (art. 15) ou deterioração monetária provocada
pela inflação (Lei no 6.515/1977, art. 22).
Cahali nos ensina que, no cumprimento da sentença que fixa a prestação alimentícia,
o juiz mandará citar o devedor para, em 3 dias, efetuar o pagamento, provar que o fez
ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo. Se o devedor não pagar, nem se escusar, o
magistrado decretará sua prisão civil (Lei no 5.478/1968, arts. 19 e 21), se os alimentos
devidos estiverem fixados, em definitivo, por sentença ou acordo (RJSTF, 51:363,
61:379; RT, 786:217, 601:240, 585:262), e, em se tratando de alimentos provisórios ou
provisionais, pelo prazo de 1 a 3 meses44 (art. 528, § 3º do nCPC), salvo se realmente
impossibilitado de fornecê-lo (RT, 139:166; RF, 108:345; EJSTJ, 15:236; RSTJ 87:323;
Ciência Jurídica, 56:194 e 200), sendo uma das exceções a de que não há prisão por
dívidas (CF/1988, art. 5o, LXVII).
O Código Penal, art. 244, com a redação dada pelo art. 21 da Lei nº 5.478, prevê pena de
detenção de 1 a 4 anos e multa de 1 a 10 vezes o maior salário mínimo vigente no Brasil
àquele que, sem justa causa, deixa de prestar alimentos. Trata-se de crime de abandono
material.
Uma das novidades trazidas pelo novo Código de Processo Civil é a possibilidade de
protestar a sentença transitada em julgado assim, além da ordem de prisão ou de
44 Cahali esclarece que a prisão civil não é bem uma pena, mas, como diz Bellot, meio eficaz para coagir o alimentante recalcitrante
a pagar dívida alimentar.
152
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL │ UNIDADE VIII
(...)
153
UNIDADE VIII │ ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL
154
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL │ UNIDADE VIII
O cônjuge inocente e desprovido de recursos terá direito a pensão, a ser paga pelo outro,
fixada com obediência aos critérios estabelecidos no art. 1.69449 e destinada, portanto,
a proporcionar-lhe um modo de vida compatível com a sua condição social, inclusive
para atender às necessidades de sua educação e não apenas para suprir o indispensável
(art. 1.702).
Revisão de alimentos
É possível a revisão dos alimentos, de acordo com a modificação da situação das partes,
conforme anteriormente se afirmou.
155
UNIDADE VIII │ ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL
Exoneração de alimentos
b. Emancipação do alimentando
156
ALIMENTOS – ARTS. 1.694 A 1.710 DO CÓDIGO CIVIL │ UNIDADE VIII
Atingida a maioridade dos filhos que vinham recebendo os alimentos em razão do dever
de sustento decorrente do poder familiar, exonera-se o alimentante, vez que extinta de
pleno direito a causa jurídica que deu ensejo à obrigação. (20050110037792APC, Rel.
Carmelita Brasil, 2a Turma Cível, julgado em 9/8/2006, DJ 29/8/2006, p. 118)
157
AS ENTIDADES
FAMILIARES DA Unidade iX
UNIÃO ESTÁVEL
Capítulo 1
As entidades familiares da união
estável
Definir união estável não é muito simples, até porque também não é nada simples, na
atualidade, o conceito de família. Aliás, esse é o grande desafio do direito de família
contemporâneo.
Definir união estável começa por e termina por entender o que é família. A partir do
momento em que a família deixou de ser, essencialmente, o núcleo econômico e de
reprodução para ser o espaço do afeto e do amor, surgiram novas e várias representações
sociais para ela. O art. 226 da CF enumera três:
»» casamento;
»» união estável;
»» qualquer dos pais que viva com seus descendentes (família monoparental).
No entanto, se observarmos melhor a nossa sociedade, veremos que existem outras, por
exemplo: dois irmãos vivendo juntos, um avô ou avó com o neto e até mesmo relações
158
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
Da coabitação
Figura 22.
50 O Projeto de Lei no 6.960/2002 acrescenta o art. 1.727-A, determinando a aplicação dos dispositivos da união estável às uniões
fáticas de pessoas capazes, que vivam em economia comum, de forma pública e notória, desde que não contrariem as normas
de ordem pública e dos bons costumes.
51 TRJS, Apelação Cível no 70.001.388.982, de Porto Alegre. 7a Câmara Cível do TJRS, Rel. Des. José Carlos Teixeira Georgis, j.
14.3.2001.
159
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Para Álvaro Villaça, nasce com o afeto dos companheiros, constituindo uma família,
sem prazo certo (quer dizer, prazo fixo, marcado, rígido, preestabelecido) para existir ou
52 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. 20. ed. rev. e atual de acordo com o Código Civil. São
Paulo: Saraiva, 2010. v. 5., p. 368.
53 Lisboa, Roberto Senise. Manual de direito de civil. Direito de família. 20. ed. rev. atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2004, v. 5, p. 219.
54 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo Código Civil, 4. ed. rev. atual. Belo Horinzonte:
Del Rey, 2005, p.224.
55 More uxório é advérbio, que significa “como se houvesse casamento”, em tradução livre. Mos uxorius é expressão substantiva,
que quer dizer “convívio marital” ou “vida marital”. Mos significa costume, hábito; uxorius deriva de uxor, que significa esposa.
160
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
para terminar. Em cada caso concreto, deverá o juiz perceber se houve ou não, duração
suficiente para a existência da união estável. Pondera o autor:
»» A exclusividade.
»» A lealdade.
Lapso temporal
A lei não fixa um período mínimo de tempo para a união estável, limitando-
se a admitir em norma extravagante o pagamento de alimentos ao convivente e o direito
sucessório em favor do convivente se a união for estável.
161
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Questões terminológicas
União livre
Na lei, concubinato vem definido como as “relações não eventuais entre o homem
e a mulher impedidos de casar” (CC, art. 1.72756). A expressão já teve uma definição
tecnológica bem mais extensa. Quando, no passado, a ordem jurídica só reconhecia
como legítima a família constituída pelo casamento, todas as demais formas de
relacionamento entre homens e mulheres eram rotuladas como concubinárias.
162
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
A lei define que certas pessoas não podem casar-se nem se envolver em união estável.
Isso não significa que elas não se unam com o intuito de constituir família, a despeito
da vedação legal.
Vamos imaginar a seguinte situação: o adotante não pode casar-se com quem
foi cônjuge do adotado (CC, art. 1.521, III), ou seja, João (adotante) adota
Carlinhos, deste modo, João, não pode casar-se com a Márcia que foi casada
com o Carlinhos.
Outras uniões livres que causam polêmica: o impedimento fundado no parentesco por
afinidade em linha reta e o do adotado com o filho do adotante (CC, art. 1.521, II e V),
ou seja, se Maria, esposa do João, separar-se dele, pela lei, não poderia casar-se com o
163
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
pai do seu marido, o sogro. No outro exemplo, João adota Carlinhos. João já tem uma
filha, logo, Carlinhos está impedido de se casar com a moça.
Contrato de convivência
O contrato de convivência não serve para criar a união estável, pois sua constituição
decorre do atendimento dos requisitos legais (CC, art. 1.723), mas é forte indício de sua
existência. Tal como ocorre nos regimes de bens (CC, art. 1.639, § 2o). Também pode
ser revogado na constância da conjugalidade, desde que seja a vontade expressa de
ambos os companheiros.
A liberdade dos conviventes é plena e somente em raras hipóteses merece ser tolhida.
Cabe figurar um exemplo. Depois de anos de convívio e aquisição de bens, a realização
164
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
Quantos aos direitos e deveres entre companheiros, vale lembrar que o art. 2o da Lei no
9.278, de 1996, já os contemplava. Assim, o novo CC os reiterou no art. 1.724, estatuindo
que as relações pessoais entre os companheiros deverão obedecer aos deveres de
lealdade, respeito e assistência, guarda, sustento e educação dos filhos.
Relativamente aos filhos havidos ente os conviventes ou por estes adotados, importa
destacar que estes estarão sujeitos ao poder familiar. Tal poder, a teor do art. 1.631,
deverá ser exercido, em igualdade de condições, por ambos os conviventes. Apenas
diante da falta ou do impedimento de um deles é que poderá o outro exercê-lo com
exclusividade.
165
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Não caracteriza a união estável, porém, o simples concubinato adulterino, quando uma
pessoa casada convive com outra sem impedimento, pois aí não se considera existente
uma entidade familiar para os fins de proteção legal.
Além disso, pondera Álvaro Villaça que, com a separação de fato, desaparece a afeição
entre os cônjuges (affectio maritalis), indispensável à estruturação da família de fato
ou de direito.
Diante dessa ressalva, podemos nos deparar então com uma situação em que a pessoa
é casada e, estando separada de fato ou judicialmente, ao mesmo tempo mantém uma
união estável.
57 Art. 1.521. Não podem casar:
(...)
VI - as pessoas casadas;
166
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
Inclusive, o art. 319 do novo Código de Processo Civil58 estabelece que se deve fazer
constar o estado civil da pessoa e informar se ela possui ou não união estável.
167
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
168
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
aquela que foi sua amante durante 40 anos. Vejas a notícia extraída do site
Conjur:
<http://www.conjur.com.br/2015-abr-19/amante-40-anos-recebera-pensao-
alimenticia-parceiro>
A conversão da união estável em casamento poderá ser feita, a qualquer tempo, mediante
requerimento ao juiz e assento no registro civil.
Vejamos o que reza o art. 1.726: “A união estável poderá converter-se em casamento,
mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil”.
Contudo esse artigo precisa ser lido levando em consideração a possibilidade da união
estável de pessoas do mesmo sexo.
169
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Todavia, deve-se observar que o dever de coabitação58 não significa que os envolvidos
são obrigados a morar sob o mesmo teto. Veja a Súmula no 382 do STF, citada
anteriormente.
4. Ter relações sexuais habituais, lícitas ou não, com outra pessoa. Verbo
intransitivo.
170
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
É possível a adoção conjunta realizada pelos conviventes, desde que pelo menos um
deles tenha completado 18 anos de idade.
Os conviventes são titulares do poder familiar sobre os seus filhos menores, que ficarão
sob a sua guarda.
171
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
A previsão sobre o regime de bens para a união estável está no art. 1.725
do Código Civil, vejamos:
172
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
173
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Extingue-se a união estável por fatores imputáveis aos conviventes ou não. São eles:
É o que ocorre ante a prática de sevícia, injúria grave, abandono do lar e homicídio
tentado.
Figura 23.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/machado-de-batalha-machado-arma-154454/>.
60 resolução
[Do lat. resolutione.]
Substantivo feminino.
1. Ato ou efeito de resolver (-se).
2. Decisão, deliberação.
3. Capacidade de resolver, deliberar, decidir; deliberação, decisão:
Tem visão administrativa e muita resolução.
174
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
O esforço comum pode ser pessoal ou econômico, este decorrente da atividade laboral
do convivente, enquanto o outro se origina da atividade de auxílio ao outro concubino,
para que ele exerça a sua atividade econômica de forma racional.
Direito sucessório
Merece reparo essa colocação da matéria fora do rol dos sucessores legítimos. Deveria
constar do título da Sucessão Legítima, capítulo da Ordem da Vocação Hereditária,
que abrange os descendentes, ascendentes, cônjuge e colaterais (art. 1.819), pois não
se pode negar que também o companheiro tem direito à herança, ainda que de forma
distinta daquela prevista para o cônjuge.
175
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
IV - aos colaterais.
Conforme seja a natureza dos bens e a data de sua aquisição, o companheiro pode levar
alguma vantagem no quinhão a receber, mas, no geral, tem sensíveis desvantagens.
Primeiro porque deixa de ser o terceiro na ordem da vocação hereditária, passando
a concorrer até mesmo com os colaterais. Segundo porque o companheiro não é
considerado herdeiro necessário, enquanto o cônjuge obteve esse privilégio ao lado dos
descendentes e dos ascendentes.
176
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
Por outro lado, significa um injustificável excesso, pois nada recomenda tenha
o companheiro participação na herança em concurso com descendentes
quando já goze do direito de meação sobre os bens havidos durante o tempo
da união. Basta considerar que, em hipótese semelhante, o cônjuge teria apenas
resguardado o seu direito de meação, sem participação alguma na herança (salvo o
direito de habitação).
177
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Cumpre ressaltar que tudo o que foi dito sobre o art. 1.790 do Código Civil pode não
ter mais validade, pois está pendente a análise pelo Supremo Tribunal Federal, sobre
a inconstitucionalidade do referido artigo. Tal processo teve seu julgamento iniciado
já com parcela dos ministros votando pela inconstitucionalidade, mas foi retirado de
pauta. Vejamos a notícia veiculada pelo Supremo Tribunal Federal, em 31 de agosto de
2016:
178
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
179
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Base de cálculo
Tibúrcio
F1 F2 1/6 casa
1/6 1/6
1
/6 1
/6
Fonte: Base legal: arts. 1.790, I, c/c, 1.835, CC/2002.
180
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
A companheira tem 50% da casa como meeira. Os outros 50% serão divididos entre os
filhos comuns e a companheira.
Quota dos filhos: 16,6% para cada um dos filhos + 100% do sítio.
Preconiza o inciso II do art. 1.790 que o(a) companheiro(a) sobrevivente herda a metade
do quinhão dos descendentes só do autor da herança quanto aos bens comprados
durante a união estável. Os demais bens são partilhados entre os descendentes sem o
concurso do(a) companheiro(a) sobrevivente.
Tibúrcio
1
/2 Casas
FI F2 F3
2/7 2/7 2/7
1/3 1/3 1/3 loja
Base legal: arts. 1790, I, c/c 1.835 CC/2002
Fonte: Base legal: arts. 1790, I, c/c 1.835 CC/2002
181
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Durante a união estável, o casal comprou uma casa onde a família sempre morou, e ele
herdou uma loja. Metade da casa constitui a meação da companheira. A outra metade
da casa integra o espólio com a totalidade da loja. A metade da casa será dividida
atribuindo-se dois sétimos para os filhos só do morto e um sétimo para a companheira
dos bens comprados durante a união estável.
Explicando com outras palavras: as frações são formadas por numeradores (número
situado na parte superior da fração) e por denominadores (algarismos da parte inferior).
Para o cálculo dos numeradores, coloca-se o algarismo 2 em cada descendente e o número
1 na companheira. Para o cálculo do denominador, basta somar os numeradores. No
caso concreto, o denominador é sete, total da soma dos numeradores 2 + 2 + 2 + 1 (dois
para os filhos só do morto e 1 para a companheira).
Como havia apenas um único imóvel de natureza residencial e a família morava no bem
à época do óbito, a companheira tem direito real de habitação, conforme o parágrafo
único do art. 7o da Lei no9.278. Atente que o deferimento deste direito real de habitação
para os companheiros é divergente.
X = R$ 2.000,00
Figura 26.
182
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
Base de cálculo
O inciso III do art. 1.790 prevê a sucessão dos ascendentes e colaterais até o quarto grau
em concorrência com os companheiros.
Avô Avô
Avó Avó
Tribúrcio
1/3 comp.
Fonte: Base legal: arts. 1.829, III, c/c 1.837, CC/2002.
183
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Os bens são divididos da seguinte forma: a metade do apartamento, sem dúvidas, será
dividida concedendo-se um terço para a companheira sobrevivente e um terço para
cada um dos pais.
Avô Avô
Avó Avó
Tribúrcio
1/3 comp.
Fonte: Base legal: arts. 1.829, III, c/c 1.837, CC/2002.
184
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
Para a segunda corrente que admite que a companheira tem direito a um terço de toda a
herança, ela herda um terço e os dois terços restantes são divididos por linhas, cabendo
a um terço para cada um dos pais.
Alimentos ao convivente
O legislador equiparou os direitos dos companheiros aos dos parentes e aos cônjuges.
Por conseguinte, aplicam-se as mesmas regras dos alimentos devidos na separação
judicial, inclusive o direito de utilizar-se do rito especial da Lei de Alimentos (Lei no
5.478/1968). Assim, o companheiro que infringir os deveres de lealdade,
respeito e assistência (CC, art. 1.724) ao parceiro perderá o direito aos
alimentos, por cometer ato de indignidade, na opinião de Carlos Roberto
Gonçalves61 (GONÇALVES, 2007, p.562).
Maria Berenice Dias discorda. Ela entende que o art. 1.704, parágrafo único, do CC,
se refere unicamente aos casados em processo de separação, não açambarcando os
conviventes. Ela diz mais:
Essa perquirição só cabe ser feita quando os alimentos são fixados na ação
de separação judicial. Comprovada a responsabilidade do alimentando
pela ruptura da vida em comum, o valor dos alimentos é achatado. A
ação de reconhecimento da união estável serve exclusivamente para
identificar o lapso temporal de vigência do relacionamento. Culpas ou
responsabilidades não integram a demanda. Assim, o único requisito
para a concessão de pensão em favor do companheiro é a prova da
necessidade do pensionamento.
61 GOLÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 4. ed. São Paulo/; Saraiva, 2007. v. 6, p, 562.
185
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
Ainda no entender de Maria Berenice Dias, a limitação do valor dos alimentos imposta
à obrigação alimentar de qualquer origem, quando a situação de necessidade resulta
de culpa do alimentando (CC, 1.694, § 2o), não traz para dentro da ação entre parceiros
questionamentos sobre a culpa pelo fim da união da estável. A responsabilidade que
enseja que os alimentos sejam limitados à subsistência diz com a causa da necessidade,
o que não se confunde com a culpa pelo fim da relação.
O Mestre Carlos Roberto Gonçalves63, nos ensina que os companheiros, assim como
os cônjuges, têm a faculdade de oferecer alimentos, em ação prevista no art. 24 da Lei
no 5.478/1968, ao tomarem a iniciativa de deixar o lar comum. Prevê a referida lei o
desconto em folha de pagamento do alimentante, como meio de assegurar o pagamento
da pensão (art. 17), bem como a possibilidade de serem fixados alimentos provisórios
pelo juiz. Estes, todavia, exigem prova pré-constituída do parentesco, casamento ou
companheirismo (art. 4o).
A prova da união estável pode ser feita por todos os meios de prova. No caso dos
alimentos provisórios, exigindo-se prova pré-constituída, dá-se ênfase à documental.
Nesse ponto, sobreleva a importância do denominado contrato de convivência. Se já
houve o reconhecimento judicial da entidade familiar para outros fins, seja para sua
dissolução com partilha de bens, seja em ação de investigação de paternidade, será
possível pedir alimentos pelo rito especial da Lei no 5.478/1968, com a fixação dos
provisórios.
62 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 6, p, 563. 63 Iden,
Ibdem, p. 563.
186
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
nascimento de filho comum não bastaria para legitimar a pretensão alimentar daquela
que se diz companheira.
Figura 29.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/fam%C3%ADlia-comunidade-crian%C3%A7as-juntos-1663237/>.
Namoro qualificado
187
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
188
AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL │ UNIDADE IX
189
UNIDADE IX │ AS ENTIDADES FAMILIARES DA UNIÃO ESTÁVEL
190
DO BEM DE Unidade X
FAMÍLIA
Capítulo 1
Do bem de família
Introdução
A enorme importância social do instituto do bem de família, desde o seu surgimento,
na República do Texas, com o advento da Lei do Homestead, em 1839, objetivou não só
povoar o imenso território americano, mas, fundamentalmente, proteger a família, com
a isenção de penhora sobre a casa de moradia. Difundiu-se pelos Estados Unidos da
América, que passou a adotar o Homestead federal, apresentando-se sob duas óticas,
formal e legal.
No Brasil, foi adotado pelo Código Civil de 1916, Parte Geral, Livro dos Bens, sob a
modalidade apenas voluntária, não tendo havido aceitação pela população, mormente
em razão das formalidades exigidas para a sua constituição, estando também previsto
no novo Código Civil, no Livro de Família, com pequenas alterações em relação ao
Código de Beviláqua mas também sob a modalidade voluntária.
191
UNIDADE X │ DO BEM DE FAMÍLIA
A partir daí a questão tornou-se controversa – tendo aumentado ainda mais com a
promulgação da Emenda Constitucional Lei no 26/2000, já que introduziu o direito à
moradia no rol dos direitos sociais previstos no art. 6o da Carta Magna, resultando no
aparecimento de duas correntes de pensamento: a primeira que advogava a penhora
do bem de família do fiador da locação e admitia a recepção da Lei no 8.009/1990 pela
emenda constitucional, e, a segunda, que sustentava a tese da impenhorabilidade do
bem de família do fiador locatício, em razão da não recepção da exceção do inciso VII
do art. 3o da Lei no 8.009/1990 pela emenda referida.
Outro conceito doutrinário relevante é que o trata de imóvel urbano, ou rural, destinado
pelo chefe de família, ou com o consentimento deste, mediante escritura pública, a
servir como domicílio da sociedade doméstica, com a cláusula de impenhorabilidade.
Em face da redação dada ao art. 226, § 5o, da CF/1988, não mais existe em nosso direito
a figura do chefe de família, o que, todavia, não desnatura a inteligência da conceituação.
192
DO BEM DE FAMÍLIA │ UNIDADE X
coexistem. A própria Lei no 8.009/1990, em seu art. 5o, faz referência à possibilidade de
instituição do bem de família voluntário.
Trata-se de norma de ordem pública que consagra dispositivos que impedem a prática
de fraude.
Os casos de penhorabilidade (que impedem a fraude) vêm previstos no art. 2o, quando
se refere a “veículos de transportes, obras de arte e adornos suntuosos”; no art. 3o,
ao excetuar a impenhorabilidade decorrente de processos de créditos trabalhistas
e previdenciários de trabalhadores da própria residência, de financiamento para
construção ou aquisição do imóvel, de pensão alimentícia, de débitos fiscais ou
outras contribuições relativas ao imóvel de execução hipotecária quando o imóvel foi
oferecido pelos proprietários, quando produto de crime, nos termos do art. 3o, V, da Lei
no 8.009/1990, e por obrigação decorrente de fiança locatícia; no art. 4o, ao se referir
ao insolvente que intencionalmente adquire imóvel mais valioso para transferir sua
193
UNIDADE X │ DO BEM DE FAMÍLIA
moradia. Nesta última hipótese a lei impede com veemência a fraude contra credores,
reafirmando a finalidade do bem de família.
Daí segue que a instituição do bem de família cabe aos cônjuges, à entidade familiar
ou a terceiros. Qualquer que seja o modo de instituição, deverá atender a regra do art.
1.714 do CC/2002:
194
DO BEM DE FAMÍLIA │ UNIDADE X
liberalidade seja pouco efetiva, devido até mesmo à condição socioeconômica da maior
parte dos brasileiros, ficando isso restrito a pessoas de maior posse.
Tal regra, porém, em nada se coaduna com a realidade social brasileira. É o mesmo caso
da instituição do bem de família por terceiro, quando feita por doação, por exemplo. A
doutrina tem criticado essa limitação de valor. Preferiu o legislador não determinar um
valor máximo, fixo, para o bem de família, estabelecendo essa proporção com relação
ao patrimônio inteiro. Já foi criticado pelos doutrinadores o Projeto de Código Civil
195
UNIDADE X │ DO BEM DE FAMÍLIA
por causa dessa opção e foi dito à época que o bem de família só poderia ser utilizado
pelos abastados, pelos ricos, pelos que fossem donos de muitos prédios, pois, o que for
instituído como bem de família não pode ultrapassar um terço do patrimônio líquido
que existir na época em foi feita a instituição. Quem, por exemplo, possuir apenas um
imóvel não poderá instituí-lo como bem de família; nem mesmo poderá fazê-lo quem
possuir dois apartamentos, de valores equivalentes; quem tiver três prédios, não poderá
instituir o de maior valor se exceder a uma terça parte de todos, a não ser que possua
uma fortuna em valores mobiliários.
No entanto, de acordo com o art. 1.712 do CC, o bem de família abrangerá não apenas
o imóvel, mas também suas pertenças e seus acessórios, destinando-se em ambos
os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários.
Dessa forma, de acordo com o art. 1.713, tais valores mobiliários não podem
ser superiores ao do prédio instituído como bem de família, o que desvirtuaria o
fundamento do instituto. Por isso, o instrumento que institui o bem de família (escritura
ou testamento) deverá individualizar os valores mobiliários.
De todo modo, a limitação de valor só vale para a instituição do bem de família voluntário,
ao passo que o legal permanece com valor ilimitado, o que, de certa forma, minimiza os
eventuais prejuízos advindos dessa fixação.
196
DO BEM DE FAMÍLIA │ UNIDADE X
A administração, por fim, cabe aos cônjuges, ou forma conjunta, de acordo tanto com
o art. 226, § 6o, da CF/1988, e com a finalidade da norma, que é a proteção da família
como um todo. Assim, quem está na administração da família, por consequência,
administrará o bem de família. Todavia, o art. 1.720 do CC assim dispõe:
Não há óbice, por isso, a que o bem de família seja utilizado para sustento da família,
sem que isso lhe retire a proteção legal. Na realidade, o art. 1.712, segunda parte, é claro
em dizer que o bem de família “poderá abranger valores mobiliários cuja renda será
aplicada na conservação do imóvel e no sustento da família”.
197
UNIDADE X │ DO BEM DE FAMÍLIA
Ademais, fazemos a ressalva de que os valores mobiliários não podem ser instituídos
como bem de família isoladamente. Ao contrário, servem para reforçar e garantir o bem
de família ao qual se vinculam, permanecendo numa relação acessório-principal.
Questão interessante surge também no caso da união estável, pois a lei que atualmente
a regulamenta não exige, para sua configuração, a coabitação, mas a regulamentação
sobre o bem de família determina que deve haver domicílio de entidade familiar no
imóvel para que se constitua em bem de família, trata-se de uma exigência específica.
198
DO BEM DE FAMÍLIA │ UNIDADE X
Logo, atende ao sentido de que o bem de família deve assegurar a dignidade da família,
desde que concorram os requisitos previstos no art. 1.717 transcrito.
199
UNIDADE X │ DO BEM DE FAMÍLIA
Por aí se nota que, como determina o art. 1.721, caput, que “a dissolução da sociedade
conjugal não extingue o bem de família”.
O art. 1.711 veio consagrar que também podem instituir bem de família as entidades
familiares, em consonância com o art. 226, §§ 3o e 4o:
Logo, não restam dúvidas que a transformação progressiva do conceito de família tenha
sido incorporada na legislação, tornando incontroversa a impenhorabilidade do bem de
família nesses casos.
200
DO BEM DE FAMÍLIA │ UNIDADE X
Em razão disso, numa interpretação extensiva à entidade familiar, é que o art. 1.720,
parágrafo único, do CC/2002 permite que o bem de família permaneça com relação aos
irmãos, quando falecerem os cônjuges.
Por outro lado, com relação a pessoas sozinhas, silencia o Código Civil, ou mesmo
a Constituição Federal, em reconhecê-las como entidade familiar, até mesmo pela
ausência de estrutura coletiva da família. No entanto, seria contraditório não proteger o
patrimônio de pessoas sozinhas, deixando-as à mercê de execuções sobre o que poderia
ser seu único imóvel. Haveria nisso evidente discrepância com a finalidade do bem de
família.
Por isso o Superior Tribunal de Justiça tem decidido reiteradas vezes pela proteção
dessas pessoas, a exemplo do REsp 182.223/SP, de relatoria do então Min. Luiz Vicente
Cernicchiaro:
201
UNIDADE X │ DO BEM DE FAMÍLIA
Na mesma ADPF no 132, à qual se atribuiu efeito vinculante, e de igual modo com o
julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade no 4.277/DF, em que igualmente
foi relator o e. Ministro Carlos Ayres Britto, procedeu-se também a uma interpretação
conforme à Constituição do art. 1.723 do Código Civil Brasileiro, para excluir do
dispositivo em causa qualquer significado que impedisse o reconhecimento da união
contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família, segundo as
mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva.
202
DO BEM DE FAMÍLIA │ UNIDADE X
Resumo esquemático
1. Relato histórico.
203
ASSISTÊNCIA Unidade Xi
FAMILIAR
Capítulo 1
Assistência familiar
Tentativa conceitual
Durante a menoridade, o ser humano precisa de quem o proteja, defenda e administre
seus bens. Os protetores naturais são o pai e a mãe. Crianças e adolescentes não
dispõem da plena capacidade civil. Até os 16 anos, são absolutamente incapazes para
exercer pessoalmente os atos da vida civil (CC, art. 3o, I). Dos 16 aos 18 anos, a limitação
da capacidade é relativa à prática de determinados atos (CC, 4o).
Deixando a criança ou o adolescente de estar sob o poder familiar dos genitores, é preciso
que alguém se responsabilize por ele. Na ausência de ambos os pais, quer por morte,
quer por terem sido declarados ausentes, ou, ainda, quer tenham decaído do poder
familiar, a representação é atribuída a outra pessoa – o tutor –, que ocupa o lugar
jurídico deixado vazio da autoridade parental63. É ele investido de poderes necessários
para a proteção que os genitores não podem dispensar.
63 FACHIN, Luiz Edson. Elementos críticos de direito de família. Rio de Janeiro: Renovar, 1999, p. 250.
204
ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
Trata-se de um poder mais limitado do que o poder familiar exercido pelo pais, pois
o legislador parte da premissa de que estes têm um compromisso maior para com os
filhos, em decorrência do próprio vínculo de filiação. Tanto é assim que os pais são
usufrutuários dos bens dos filhos (CC, art. 1.689, I), condição essa que o tutor não
adquire. Daí a constante fiscalização das atividades do tutor. Regula a lei, de forma
minuciosa, seus encargos, deveres e obrigações, gerando responsabilidade civil e penal
a quem não cumpre com exatidão tal mister.
»» A indivisibilidade.
Tutor é o sujeito que assiste ou vela pelo incapaz por idade e seu respectivo patrimônio.
205
UNIDADE XI │ ASSISTÊNCIA FAMILIAR
O direito de nomear tutor compete aos pais. A nomeação feita pelos pais deve
constar de documento autêntico ou de testamento, caso em que somente terá eficácia
com a morte do testador.
Na falta dos pais ou de tutor por eles nomeado, a tutela incumbirá aos parentes
consanguíneos, nomeados judicialmente, obedecida a seguinte ordem preferencial:
Tratando-se de irmãos órfãos, a legislação enuncia que apenas um tutor deverá ser
nomeado, a fim de que ambos os tutelados tenham, segundo ensina Álvaro Villaça,
uma proteção igualada.
O tutor deve ser sujeito de direito plenamente capaz, porém nem sempre a
aptidão para a prática de atos e negócios jurídicos demonstra ser elemento suficiente
para a nomeação de uma pessoa para tutela.
São elas:
206
ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
»» o abuso no exercício de tutela anterior, que gerou a sua exclusão por ato
dos pais do menor ou em outras tutelas;
»» a falta de probidade;
Manifestação do tutelado
Pontos importantes:
A nomeação do tutor está prevista no CPC, arts. 759 e seguintes, mas tanto CC, como o
ECA trazem várias regras de caráter procedimental. A nomeação é levada a efeito por
207
UNIDADE XI │ ASSISTÊNCIA FAMILIAR
O tutor, antes de assumir o encargo, deverá declarar tudo o que o menor lhe deve,
sob pena de não poder mais cobrar tais créditos (CC, art. 1.751).
Figura 30.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/pergunta-por-que-1038491>.
O art. 1.741 trata das obrigações do tutor quanto ao patrimônio do pupilo. Sob a
inspeção do juiz, cabe ao tutor administrar os bens do tutelado – em proveito deste,
acentuou-se –, cumprindo seus deveres com zelo e boa-fé, com honestidade,
seriedade, dignidade, enfim, como um bom pai de família, ou uma “boa mãe de
família”, para atualizar e inserir no princípio da igualdade o antigo padrão romano
do bônus pater famílias. A atividade do tutor está sempre sob o controle e debaixo da
vigilância do juiz.
As funções do tutor, tanto as que dizem respeito à administração dos bens tutelados
como, até com maior razão, as que concernem aos cuidados, atenções, proteção à pessoa
do menor ficam sob permanente inspeção judicial.
O art. 1.742 apresenta uma inovação: sem prejuízo, obviamente, da supervisão do juiz,
pode este nomear um protutor para a fiscalização dos atos do tutor.
208
ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
O CC/1916, dizia que o tutor, antes de assumir a tutela, estava obrigado a especializar,
em hipoteca legal, os imóveis necessários, para acautelar, sob sua administração,
os bens do menor. A finalidade era salvaguardar os bens do menor, mas isso criava
grandes empecilhos, tornando a tutela inviável.
Em verdade, o art. 1.745 quis dizer mais que idoneidade, algo como reputação ilibada,
honestidade conhecida e manifesta. Um verdadeiro homem honrado.
Irmãos órfãos
O entendimento é que a tutela deve ser una, indivisível, portanto o art. 1.733 do
CC é no sentido de não separar irmãos órfãos. O preceito não é cogente, pode ocorrer
no caso concreto, excepcionalmente, outra solução. Na hipótese do § 1o, o legislador,
entende que a nomeação de dois ou mais tutores seria em ordem sucessiva, na falta do
primeiro, ou na impossibilidade, o segundo assumiria e assim sucessivamente. O § 2o
nos traz a hipótese da nomeação de curador para menor herdeiro, independentemente
do poder familiar ou da tutela, neste caso o curador iria administrar os bens herdados
deste menor.
209
UNIDADE XI │ ASSISTÊNCIA FAMILIAR
Figura 31.
Fonte: <https://pixabay.com/pt/crian%C3%A7a-antiga-retrato-vida-vietn%C3%A3-1493115/>.
Da curatela
Conceito
Por sua vez, Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald diferenciam a tutela da
curatela da seguinte forma:
210
ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
Define Maria Helena Diniz 66 que “curatela é o encargo público, conferido, por lei, a
alguém, para reger e defender a pessoa e administrar os bens de maiores, que, por si
sós, não estão em condições de fazê-lo”.
A outro giro, aproximam-se a curatela e a tutela porque são munus públicos impostos
a alguém para a proteção de outrem, sendo indivisíveis e, de ordinários gratuitados,
decorrente de decisão judicial. (FARIAS; ROSENVALDO, 2016, p. 907)
A curatela somente pode ser estabelecida por meio de decisão judicial, enquanto a
tutela pode ser voluntária ou dativa. A tutela confere os poderes inerentes à autoridade
parental, mas a curatela pode importar na outorga de poderes limitados à incapacitância
do curatelado. É o que ocorre, por exemplo, com o pródigo, que pode praticar atos
jurídicos que não se relacionam com a disposição patrimonial, sem qualquer assistência.
Ainda que não se posso dizer que os pródigos sejam doentes mentais, são identificados
como relativamente capazes (CC, art. 4o IV), pois a prodigalidade é um problema
social, jurídico e psiquiátrico67. Quem dissipa desvairadamente seu patrimônio, sem
noção da importância do dinheiro, agindo sem restrições, teria por destino a integral
miséria. Daí o interesse do Estado em preservar o seu patrimônio, protegendo-o, assim
como a sua família. No entanto, não são impostas restrições pessoais. As limitações são
exclusivamente de caráter patrimonial. Sem a assistência do curador, o pródigo não
pode (CC, art. 1.782) emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar
ou ser demandado e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração.
Nem o cego nem o surdo estão sujeitos à curatela. O analfabetismo também não
constitui motivo bastante para a interdição. Igualmente, a simples idade avançada
66 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. São Paulo: Saraiva, 2002.v. 5, p. 250.
67 VENOSA, Silvio Venosa. Direito civil: direito de família. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 452.
211
UNIDADE XI │ ASSISTÊNCIA FAMILIAR
IV - os pródigos.
Ao analisarmos o art. 3º do Código Civil verificamos que agora existe apenas uma
hipótese de incapacidade absoluta que é em razão da idade, ou seja, para os menores de
dezesseis anos de idade.
Por sua vez ao analisarmos o art. 4º do Código Civil verificamos que as hipóteses de
incapacidade relativa são apenas 4, a saber: em razão da idade (maiores de 16 e menores
de 18 anos); em razão de dependência às drogas ou ao álcool (ébrios habituais e os
viciados em tóxicos); aqueles que não puderem exprimir a sua vontade (seja por causa
transitória ou permanente) e os pródigos (que apresentam dificuldade em lidar com o
patrimônio e acabam colocando-o em risco).
Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald ao explicar o dispositivo que trata das
pessoas que não puderem exprimir a sua vontade nos apresenta a seguinte posição:
68 Interdição – Octogenária. A interditanda, embora evidencie deficiência decorrente da idade avançada, não tem afetada sua
possibilidade de entendimento e manifestação de vontade em extensão tal que justifique a limitação de sua capacidade civil.
É certo que, como toda pessoa idosa, necessita de apoio, da assistência e do aconselhamento dos familiares, porém isso pode
ocorrer sem que venha a ser decretada a sua interdição (TJRS, 4o G. C. Cível., EI 700001343201, rel. Des. Luiz Felipe Brasil
Santos, j. 15.12.2000).
69 DIAZ, Júlio Alberto. Para uma nova hermenêutica dos intervalos lúcidos. [S.l.], [S.d.], p. 108.
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ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
Assim, efetivamente estão sujeitos à curatela, conforme o art. 1.767 do Código Civil:
II - (Revogado);
V - os pródigos.
Procedimento de curatela
Cumpre ressaltar que embora o Código de Processo Civil de 2015 manteve a denominação
de Interdição, com o advento do Estatuto da Pessoa com Deficiência essa nomenclatura
foi alterada, assim devemos nos ater a procedimento de curatela.
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UNIDADE XI │ ASSISTÊNCIA FAMILIAR
O que ocorre é que tanto o Estatuto da Pessoa Deficiente quanto o Código de Processo
Civil alteraram o art. s. 1.768 e 1.69 do Código Civil. Sendo que o Estatuto da Pessoa
Deficiente entrou em vigor antes do nCPC.
Como o Estatuto é norma especial ao passo que o Código de Processo Civil é norma geral,
Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald (2016) defendem que deve ser promovida uma
interpretação sistêmica equalizando os dois sistemas de tal sorte que são legitimados
para a ação de curatela:
»» o cônjuge ou companheiro;
»» os parentes ou tutores;
Nascituro
Figura 32.
Não se encontra justificativa para a determinação de nomeação de curador ao nascituro (CC, art. 1.779): “Dar-se-á
curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar”.
Além de sua deficiente redação, revela o dispositivo resquício da feição patriarcal da família. A finalidade é resguardar
os direitos do nascituro, assegurados desde a concepção (CC, art. 2o).
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ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
Não se atina como se possa afastar o poder familiar da mãe, quando ainda não nascido
o filho. De qualquer forma, não só no caso de morte do genitor haveria cogitar da
nomeação. Desconhecido, ausente ou incapaz o genitor, cabe a nomeação. Estando a
gestante interditada, seu curador será curador do nascituro (CC, art. 1.779, parágrafo
único). Trata-se de uma curadoria temporária, uma vez que, quando do nascimento,
a criança deverá ser posta sob tutela.
Com o advento da Lei 13.146 de 2015 - o Estatuto da Pessoa Deficiente - foi introduzido
no Código Civil a Tomada de Decisão Apoiada, o art. 1.783-A com seus parágrafos que
nos explica e orienta o que é esse novo instituto.
Assim temos que a «tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com
deficiência elege pelo menos 2 pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculo e que
gozem de sua confiança, para lhe prestar apoio na tomada de decisão sobre atos da vida
civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa exercer
sua capacidade».
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UNIDADE XI │ ASSISTÊNCIA FAMILIAR
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ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
Outorga da curatela
O autor precisa provar sua legitimidade para a ação bem como a anomalia psíquica
do interditando e sua incapacidade do interditando para administrar seus bens e, se for
o caso, para praticar atos da vida civil, bem como o momento em que a incapacidade
se revelou. (Art. 749 do nCPC). A ação inicia-se com uma audiência para que a pessoa
seja entrevistada pelo Juiz acerca de sua vida, negócios, vontades, preferências, laços
familiares e afetivos. Para isso faz-se necessário que o réu seja citado. Independentemente
das provas, mesmo que robustas, e da existência de laudos conclusivos, é indispensável
que o juiz pessoalmente interrogue (ou ao menos tente!) o interditando (art. 751
do nCPC) A omissão acarreta a nulidade absoluta da ação70.
A sentença que decreta a interdição, embora sujeita a recurso, produz efeitos desde
logo (art. 755, § 3º do nCPC). Assim, o recurso dispõe somente do efeito devolutivo.
70 Rui Ribeiro de Magalhães, Direito de família no novo Código Civil Brasileiro, 322.
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UNIDADE XI │ ASSISTÊNCIA FAMILIAR
Do exercício da curatela
Ainda que o exercício da curatela seja um múnus público, faz jus o curador a
remuneração proporcional à importância dos bens administrados, além do
direito de ser reembolsado pelo que realmente despender (CC, arts. 1.752, 1.774 e 1.781).
Na curatela, do mesmo modo que na tutela, pode ser nomeado um pró-tutor, que na
verdade deveria ser chamar pró-curador, sempre que for necessária a intervenção de
um profissional especializado, seja um administrador, um contador, um perito etc.
O “pró-curador” pode ser pessoa física ou jurídica, a quem é delegado o exercício
parcial da curatela (CC, art. 1.743) e que fará jus a módica gratificação (CC, art. 1.752 § 1o).
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ASSISTÊNCIA FAMILIAR │ UNIDADE XI
Levantamento da interdição
Cessada a incapacidade, a interdição pode ser levantada (art. 756 do nCPC). O pedido
é formulado pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público. De
qualquer forma, o MP acompanha a ação, para a qual deve ser citado o curador, pois
ele se sujeita aos efeitos da sentença. Com a procedência da ação, fica dispensado do
encargo, devendo proceder à prestação de contas. O pedido é apensado aos autos da
interdição. Submetido o requerente a exame de sanidade, após a apresentação do laudo,
é designada audiência de instrução e julgamento. Levantada a interdição, a sentença,
que dispõe de eficácia constitutiva é alvo da mesma publicidade e registro da sentença
que havia declarado a incapacitação.
Incapacidade temporária
72 No caso de acidentes de automóvel ou intervenções cirúrgicas que exijam prolongado período de restabelecimento.
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Referências
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família. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. v. 7.
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COULANGES, Fustel. A cidade antiga. Tradução de J. Cretella Jr. São Paulo: Revista
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[S.l.], [S.d.]
______. Manual de direito das famílias. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. Direito de família. 20. ed.
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8.ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2016.
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Referências
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______. O novo direito de família. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
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