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Direito Empresarial

Brasília-DF.
Elaboração

Coordenação do Curso de Direito

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 4

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 5

Introdução.................................................................................................................................... 7

Unidade I
Direito Empresarial........................................................................................................................... 11

Capítulo 1
Direito da Empresa.............................................................................................................. 11

Unidade ii
Sociedade Empresarial.................................................................................................................... 40

Capítulo 1
Entidade dotada de personalidade jurídica e patrimônio próprio............................. 40

Unidade iii
Sociedade Unipessoal E Eireli.......................................................................................................... 54

Capítulo 1
Eireli – Empresa individual de responsabilidade limitada................................................ 54

Capítulo 2
Hipótese transitória e hipótese permanente..................................................................... 56

Unidade iv
Sociedades Empresariais................................................................................................................. 62

Capítulo 1
Tipos de sociedades empresárias...................................................................................... 62

Para (não) finalizar...................................................................................................................... 79

Referências .................................................................................................................................. 80
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno de
Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

6
Introdução

O comércio é tão antigo quanto as civilizações, mas a sua regulamentação só teve início
a partir da Idade Média. Nessa época, o direito que regulava a atividade mercantil
era incipiente, porque o mercantilismo começava a efetivamente caracterizar-se,
intensificando-se o comércio à medida que as cidades se desenvolviam ao redor dos
feudos.

Com o crescimento e o desenvolvimento dos Estados, despontaram as grandes expedições


marítimas, com acentuada mercancia de produtos entre os povos. Ganharam destaque
na sociedade os comerciantes e os artesãos. Como consequência, surgiu a necessidade
de regular suas atividades. De acordo com a doutrina, foi nesse período que apareceu
o direito comercial, não como um corpo de obra legislativa, mas derivado do trabalho
dos próprios comerciantes, os quais o construíram com os seus usos e com as leis que,
reunidos em classe, criaram. Até então, havia apenas o desenvolvimento da atividade
comercial, mas não sistematização das normas de cunho mercantil.

Esse período inicial é denominado pela doutrina de período subjetivo, pois eclodiu
justamente nesse estágio de ascensão das grandes cidades e do comércio. Artesãos
e comerciantes uniram-se em corporações, as famosas “corporações de ofícios”,
procurando uma tutela jurídica para as suas atividades. Os mercadores (burguesia), por
serem discriminados pela sociedade e pela legislação da época, associaram-se nessas
corporações e estabeleceram regras para a regência do comércio. Despontou, assim, o
ius mercatorium, ou seja, o direito do comércio1.

No entanto, com a intensificação do comércio e das decisões das corporações de ofício,


ocasionou-se o surgimento dos costumes jurídicos na área mercantilista. Ocorreu um
posicionamento mais objetivista na configuração da atividade mercantil, denominado
de período da teoria dos atos de comércio. A fase objetiva iniciou-se com o liberalismo
econômico na França, em 1807 foi criada a primeira codificação acerca do direito
comercial, que marca o início da etapa contemporânea do direito mercantil e que
passa a ser denominado de “direito comercial”. Isso aconteceu porque a legislação
passou a qualificar o comerciante como sendo aquele que praticava atos de comércio
como profissão.

1 AQUINO, L. G. de. Curso de Direito Empresarial: Teoria da empresa e direito societário: Brasília: Kiron, 2015, p. 24.

7
Essa nova fase teve como marco a criação da teoria dos atos de comércio, no Brasil surgiu
com o Código Comercial2. Assim, as relações jurídicas mercantis não seriam mais definidas
pela natureza do sujeito que as integravam, mas, sim, pelos atos por ele praticado.
Dessa forma, a legislação francesa passou a determinar quais atos seriam considerados
como mercantis e, portanto, regidos pelas normas mercantis. Por isso, e dentro de uma
perspectiva econômica, é possível afirmar que ato de comércio é todo aquele praticado
com a ideia de compra e venda, podendo, assim, ser praticado por comerciantes ou não
comerciantes, e denominado de ato de comércio absoluto ou por natureza.

Com efeito, a nova concepção do direito comercial passou a ser encarada a partir da
atividade desenvolvida pelo sujeito, e não mais pela prática dos descritos na norma.
Dessarte, o direito foi precursor ao considerar empresário “aquele que exerce
profissionalmente uma atividade econômica organizada para o fim da produção ou
troca de bens ou serviços”.

Leonardo Gomes Aquino (2015) afirma que:


De acordo com esta teoria, o amparo do direito comercial recai sobre
atividade empresarial. Considera-se atividade empresarial aquela
desenvolvida profissionalmente e com habitualidade, seja por um
empresário individual, seja por uma sociedade empresária, de forma
economicamente organizada, voltada à produção e à circulação de
mercadorias e serviços. Portanto, o foco do direito comercial atual
é a empresa, entendida como atividade profissional econômica e
organizada, voltada à obtenção de lucros (AQUINO, 2015, p. 25).

Dessa forma, a natureza da atividade juntamente com o exercício profissional e habitual


são os elementos qualificadores do empresário, não mais a qualidade dos sujeitos ou o
tipo de ato praticado.

A qualificação dos elementos caracterizadores da empresa se dará no momento da


análise do instituto no atual direito brasileiro, isso porque o tratamento dessa questão
neste momento poderá trazer redundância no estudo do tema.

Fases Período no Mundo Período no Brasil Nomenclatura Teoria


1ª Antiguidade 1500 – 1808
Subjetivo Corporações de Ofício
2ª Idade Média 1808 - 1850
3ª 1807 1850 -2002 Objetivo Atos de Comércio
4ª 1942 2002 - Subjetivo Empresa

Fonte: AQUINO, 2015, p 25.

2 O Código Comercial Brasileiro continha 913 artigos, além de um Título Único, com 30 artigos. O Código estava dividido em
três partes: (a) a primeira sobre o Comércio em Geral (arts. 1º a 456 – Revogado pelo Código Civil em vigor no art. 2.045 –
disposições transitórias); (b) a segunda sobre o Comércio Marítimo (arts. 457 a 796); e (c) a terceira sobre as quebras (arts. 797
a 913 – revogado pela Lei nº 7.661/45, hoje vigora a Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, disciplinando a recuperação e a
falência.

8
O atual Código Civil introduziu no ordenamento jurídico brasileiro ponderáveis
alterações no Direito Empresarial (comercial), principalmente no que diz respeito às
sociedades por quotas ou limitadas.

Em linhas gerais, este caderno traça comentários a respeito das principais características
dos tipos societários existentes, anteriormente regulados pelo Código Comercial e
mantidos pelo Código Civil, salvo a sociedade capital e indústria, que não possuem
previsão legal na atual legislação. Por serem tipos societários em desuso no Brasil, não
se deu ênfase às sociedades em nome coletivo e às comanditas, simples e por ações.
Fez-se uma abordagem mais detida das sociedades em conta de participação, por ser
um tipo de contrato societário útil, bastante utilizado em grandes negócios, e muitas
vezes confundido com as joint ventures.

Relativamente às sociedades limitadas, objeto das maiores e mais relevantes alterações


normativas, o texto aborda, além das características próprias que as distinguem das
demais sociedades, as questões mais controvertidas na doutrina e na jurisprudência
pátrias. O legislador criou normas que tornaram esse tipo societário mais complexo e
que limitaram, em muito, a liberdade anteriormente existente de contratar.

Antes do advento do novo Código Civil, as sociedades limitadas podiam ser constituídas
com feições próprias das sociedades de pessoas ou podiam aproximar-se mais das
características das sociedades anônimas de capital fechado. Com o Direito Empresarial,
surgiu a possibilidade de, por um lado, constituir sociedade limitada com feições
semelhantes às sociedades simples, ou caracterizá-la como um tipo híbrido, e, por outro
lado, aproximar esse tipo societário das sociedades anônimas.

Nessa esteira, também procurou-se abordar a concepção dada pela Lei Complementar
nº 128/2008 e suas respectivas alterações acerca do Microempreendedor (MEI),
da Microempresa (ME) e da Empresa de Pequeno Porte (EPP). Sob esse aspecto, e
considerando-se que o Código Civil em nada altera a lei das sociedades anônimas, a
abordagem deste estudo limita-se à ligeira análise da regulamentação das sociedades
anônimas de capital fechado e daquelas destinadas a pequenos negócios, as quais mais
se aproximam das sociedades limitadas.

Não se deixou de abordar as inovações realizadas nos últimos anos na legislação


brasileira, no tocante à Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI),
ao processamento do pedido de desconsideração da personalidade jurídica (NCPC) e à
questão da Holding.

Bons estudos!

9
Objetivos
»» Compreender o que representa o Direito de Empresa, as principais normas
contidas no Código Civil, regulamentadoras do Direito Empresarial e
Societário.

»» Analisar algumas das alterações promovidas nas sociedades limitadas.

»» Promover a reflexão e o questionamento a respeito de alterações no


regime regulador das sociedades limitadas, que vêm suscitando acirradas
discussões doutrinárias.

10
Direito Empresarial Unidade I

Capítulo 1
Direito da Empresa

No decorrer do último século, diversos foram os estudos no sentido de unificação


das normas de Direito Privado em um único código, o que, a despeito do que dizem
alguns, não ocorreu, restando, ainda, normas de Direito Comercial não só na parte
não revogada do Código Comercial, mas, também, em legislação esparsa3. As normas
que anteriormente regulavam o modo de constituição e o exercício da atividade do
comerciante individual e coletivo – as sociedades e os contratos mercantis – estavam
contidas na parte do Código Comercial, revogada pelo Código Civil4. O Direito de
Empresa passou, assim, a ser regulamentado em livro próprio (Livro II – Título I – Do
Empresário; Título II – Da Sociedade; Título III – Do Estabelecimento e Título IV –
Dos Institutos Complementares).

Assim, a partir de 2002, o novo Código Civil, superando os estreitos limites do que se
considerava ‘comerciante’, inseriu o Direito de Empresa. O Código Civil reconhece, no
entanto, o caráter genérico e parcial de sua regulamentação, ao estabelecer5 que, “salvo
disposição em contrário, aplicam-se aos empresários e às sociedades empresárias
as disposições de lei não revogadas por este Código, referentes a comerciantes ou a
sociedades comerciais, bem como a atividades mercantis”. Contudo, por outro lado, o
art. 2.031 do CC estipula que “as associações, sociedades e fundações, constituídas na
forma das leis anteriores, bem como os empresários, deverão se adaptar às disposições
deste Código até 11 de janeiro de 2007” (Redação dada pela Lei nº 11.127, de 2005).

Ao regular o Direito Empresarial, o Código Civil não esgotou os temas inseridos no


Direito Comercial, passando ao largo de uma enormidade de matérias que continuam

3 O Código Comercial de 1850 mantém-se em vigor no tocante à segunda parte, que se refere ao Direito Marítimo. Além das
leis especiais que tratam das sociedades anônimas, do Registro Público de Empresas Mercantis, entre outras normas que
regulamentam os contratos empresariais, os títulos de crédito e a Lei de falência e recuperação de empresas.
4 CC, art. 2.045.
5 CC, art. 2.037.

11
UNIDADE I │ Direito Empresarial

sendo normatizadas por regulamentação esparsa. Por isso a doutrina questiona acerca
da correta terminologia: direito empresarial ou direito comercial?

Leonardo Gomes de Aquino (2015) sustenta que:

Direito Empresarial, ou Direito Comercial, é um ramo autônomo, seja no


aspecto formal ou legislativo, seja no jurídico ou substancial ou, ainda,
no didático e científico. O aspecto formal ocorre porque o art. 22, I, da
Constituição Federal de 1988 (CF) determina ser a competência privativa
da União para legislar sobre Direito Comercial. Pelo aspecto Jurídico, as
regras só podem ser aplicadas a determinados sujeitos (o empresário,
a sociedade empresarial e a empresa individual de responsabilidade
limitada). O aspecto didático refere-se à obrigatoriedade de existência
do estudo do conteúdo desse direito. E o aspecto Científico refere-se à
existência de princípios específicos ao ramo jurídico (AQUINO, 2015,
p. 23).

Trata-se de discutir pontos de vista, o importante não é a nomenclatura, mas a


abrangência do direito na regulamentação das relações jurídicas subordinadas.

Empresa
O Código Civil não conceitua o que seja empresa. A empresa é um termo poliédrico,
sendo assim, pode significar sujeito, objeto, atividade ou corporação (AQUINO, 2015,
p. 23).

Alberto Asquini definiu quatro perfis poliédricos para considerar a sociedade como
empresária, aqui listada por Fábio Ulhoa Coelho: subjetivo, funcional, patrimonial (ou
objetivo) e corporativo. Pelo primeiro (subjetivo), a empresa é vista como empresário,
isto é, o exercente de prestação de serviço autônomo, de caráter organizativo e com
assunção de risco. Pelo perfil funcional (hierárquico), identifica-se a empresa à própria
atividade. Ao terceiro perfil (patrimonial ou objetivo) corresponde o patrimônio aziendal
ou estabelecimento. E, por fim, pelo perfil corporativo (institucional), ela é considerada
uma instituição, tendo em vista que reúne pessoas – empresário e seus empregados –
com propósitos comuns (COELHO, 2007, p. 23).

Fábio Ulhoa Coelho define empresa como “a atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou serviços. Sendo uma atividade, a empresa não
tem a natureza jurídica de sujeito de direito nem de coisa. Em outros termos, não se

12
Direito Empresarial │ UNIDADE I

confunde com o empresário (sujeito) nem com o estabelecimento empresarial (coisa)”


(COELHO, 2007, p. 19).

A empresa compreende, assim, a estrutura organizada por meio da qual o empresário


reúne capital, mão de obra, bens corpóreos e incorpóreos, necessários ao desenvolvimento
profissional de certa atividade econômica destinada à produção ou à circulação de bens
ou de serviços. Portanto, conforme Rubens Requião, a empresa somente nasce quando
o empresário impulsiona o desenvolvimento de certa atividade econômica, e desaparece
quando o empresário deixa de exercer a respectiva atividade.

Na verdade, o conceito de empresa é econômico, e a partir da acepção econômica é que


se desenvolve e afirma o conceito jurídico de empresa, o qual, conforme já dito, não se
encontra definido em lei, nem mesmo nos países onde a teoria da empresa foi, há muito
tempo, positivada.

Na definição de Fábio Nusdeo, a “empresa é a unidade produtora cuja tarefa é combinar


fatores de produção com o objetivo de oferecer ao mercado bens ou serviços, não
importando qual o estágio da produção”. O conceito cria certa confusão, já que a tarefa
de combinar os fatores de produção é do empresário.

Empresário, de acordo com o art. 966 do CC, é considerado aquele que exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços. Assim, sendo sujeito de direito, pode ser tanto uma pessoa física
(empresário individual) quanto uma pessoa jurídica (sociedade empresária ou Eireli).

O estabelecimento, em conformidade com o art. 1.142 do CC, é todo o complexo de bens


organizado, para exercício da empresa, por empresário ou por sociedade empresária.

Dessarte, a empresa é atividade organizada, o elemento preponderante para a


configuração da empresa é a própria organização – não havendo organização, não há
empresa –, exercida e explorada por uma pessoa natural ou jurídica (empresário),
mediante a conjugação de esforços e capital.

Vulgarmente, o termo ‘empresa’ é utilizado com significados diversos do correto, ora


indicando o local onde se exerce a atividade empresarial, ora a própria pessoa que exerce
a atividade, ora como objeto (ex.: quando alguém diz que vai à empresa de fulano ou
quando afirma que foi lesado pela empresa tal, ou, ainda, que fulano tem uma empresa).
A utilização indevida do termo pelo vulgo é desculpável, o mesmo não ocorrendo com
o profissional do Direito.

Com a entrada em vigor do CC, é possível verificar que os perfis subjetivo e objetivo
se enquadram nas qualificações de empresário e estabelecimento, respectivamente.

13
UNIDADE I │ Direito Empresarial

Assim, “considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica


organizada para a produção ou a circulação de bens e serviços” (art. 966, caput, do CC).
Da mesma forma, “considera-se estabelecimento todo o complexo de bens organizado
para o exercício da empresa, por empresário ou sociedade empresária” (art. 1.142, do
CC). O perfil corporativo não é elemento caracterizador da atividade, mas é de suma
importância, visto que não é possível que o empresário seja considerado legalmente
constituído sem a presença do contador para auxiliá-lo na sua constituição (COELHO,
2007, p. 18). O perfil funcional é mais importante por ser o elemento caracterizador
da empresa, ou seja, empresa é atividade econômica organizada para a produção e a
circulação de bens ou serviços.

A exposição de motivos do CC dispõe que “empresa é, consoante acepção dominante na


doutrina, a unidade econômica de produção ou a atividade econômica unitariamente
estruturada para a produção ou circulação de bens ou serviços”.

Assim, a partir de uma interpretação das regras legais acerca do empresário e do


estabelecimento, podemos concluir que empresa é uma atividade econômica organizada.

Empresário
Muito embora o Código Civil não defina empresa, conceitua o que é empresário
individual. É possível afirmar que este é uma pessoa natural ou física que exerce uma
atividade de empresa, e o empresário jurídico (sociedade empresária ou Eireli), por sua
vez, é uma pessoa jurídica.

Para que ocorra atividade empresarial, é necessário que alguém (sujeito-empresário)


a exerça, surgindo, então, a figura daquele que, explorando um pequeno negócio, o faz
individualmente e em nome próprio. É o caso da pessoa que abre, por exemplo, um
açougue, e nele trabalha sozinho, como empresário individual, ou com auxiliares.

É claro que o empresário necessita de auxiliares da empresa para exercê-la, mas


quem seriam eles? Os empregados6, os contadores7, os gerentes8, os quais podem ser
considerados como prepostos, em regra e na forma da lei, entre outros.
6 Empregado é a pessoa física que presta pessoalmente a outrem serviço não eventual, subordinado e assalariado. “Considera-se
empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob dependência deste e mediante
salário” (CLT, art. 3º).
7 Os contabilistas são os prepostos encarregados de proceder à escrituração, os ofícios por ele praticados possuem os mesmos
efeitos dos que são realizados pelo próprio empresário, seja ele individual, Eireli ou sociedade empresária. Por esse motivo,
os contabilistas respondem solidariamente aos preponentes pelos atos praticados com dolo, e sempre perante o preponente
pelos atos realizados com culpa (art. 1.177, do CC). Como o exercício da atividade de contabilista se dá por força da escolha por
parte do preponente-empresário, será ele o responsável perante terceiros por todos os atos praticados pelo primeiro, ainda que
não autorizados, exceto nos casos dos atos realizados fora do estabelecimento, em que o terceiro deva exigir o instrumento de
preposição para verificar a autorização ou não para prática do ato (art. 1.178, do CC). AQUINO, L. G. de. Curso de Direito
Empresarial: Teoria da empresa e direito societário: Brasília: Kiron, 2015, p. 66.
8 O gerente é o preposto permanente da atividade empresarial. Nem todo preposto é gerente, todavia todo gerente é preposto. A
figura do gerente, descrita no art. 1.172, do CC, é aquela de preposto permanente no exercício da atividade empresarial, atuando

14
Direito Empresarial │ UNIDADE I

Caso o negócio a ser explorado necessite de maior vulto de recursos, torna-se necessário
que duas ou mais pessoas reúnam esforços e recursos para a exploração conjunta da
empresa, mediante a constituição de uma sociedade, ou que constitua uma pessoa
jurídica com capital próprio de 100 (cem) salários mínimos, que, no caso, é a Eireli.

O Código Civil define empresário o profissional que exerce atividade econômica


organizada para a produção ou a circulação de bens ou serviços9, sujeitando-o às normas
mercantis10. O art. 966 do CC estipula que é considerado “[...] empresário quem exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços”.

Por outro lado, o CC não considera empresário aquele que exerce atividade intelectual,
científica, literária ou artística, salvo quando inserir sua atividade em uma organização
empresarial11 (ex.: uma editora conta com profissionais que se dedicam à atividade
intelectual e é empresária porque a atividade intelectual não é um fim em si mesma,
mas constitui elemento de uma organização empresarial). Outro exemplo pode ser o
veterinário que exerce conjuntamente a atividade de veterinária com a de um Petshop,
ou seja, atividade intelectual de veterinária é um dos elementos de todo complexo
organizado.

Ao produtor rural que exerce a atividade de forma organizada e não restrita a consumo
familiar é facultado optar por assumir natureza empresarial, bastando para tal se
cadastrar no Registro Público de Empresas Mercantis12. Assim, o produtor rural
passará a ser considerado empresário no momento em que efetivar o registro na Junta
Comercial. Cabe lembrar que a lei das sociedades anônimas atribui caráter empresarial
a esse tipo societário, qualquer que seja o objeto social, mesmo que seja atividade rural.

Os requisitos para caracterizar a empresa (atividade como empresarial) são: (a) atividade
econômica de produção de bens e serviços; (b) organização; (c) profissionalismo no
desempenho da atividade produtiva13.

A caracterização do empresário dá-se pela habitualidade e profissionalidade no


exercício da atividade econômica, com organização (ou articulação) dos fatores de
produção, e tendo por escopo a produção e a circulação de bens e serviços (isto é, o
ciclo de distribuição de riquezas), por livre iniciativa e com a responsabilidade pelo
risco próprio da atividade.
na sede da empresa, ou sucursal, filial ou agência. É a pessoa colocada pelo preponente à frente dos negócios com a função de
chefia. Os poderes do gerente são amplos, mas podem ser limitados pelo dono do negócio. Para que essa limitação produza
efeitos em relação a terceiros, depende-se do arquivamento na Junta Comercial (arts. 1.173 e 1.174 do CC). AQUINO, L. G. de.
Curso de Direito Empresarial: Teoria da empresa e direito societário: Brasília: Kiron, 2015, p. 65-66.
9 CC, art. 966.
10 CC, art. 2.038.
11 CC, art. 966, parágrafo único.
12 CC, art. 971.
13 AQUINO, L. G. de. Curso de Direito Empresarial: Teoria da empresa e direito societário: Brasília: Kiron, 2015, p. 32.

15
UNIDADE I │ Direito Empresarial

Assim, será empresário aquele, pessoa natural/física (empresário individual) ou pessoa


jurídica (sociedade empresarial ou Eireli), que exerce empresa ou atividade empresarial.
O que define se alguém é empresário ou não é a exploração de empresa.

A despeito de exigir a lei14, o registro para o início da atividade, o ato registrário, no


entanto, não constitui elemento qualificador da figura jurídica, servindo apenas
para evitar a clandestinidade do empresário e consequente omissão quanto às suas
obrigações, principalmente as fiscais. Prova do afirmado é que a falência, execução
coletiva exclusiva dos empresários, pode ser decretada contra os que exercem a
atividade de modo informal, sem registro na Junta Comercial. O que importa para a
caracterização não é o registro, e sim o efetivo exercício da empresa, exceção feita ao
produtor rural, conforme mencionado anteriormente. No entanto, somente poderá se
beneficiar da recuperação de empresa o sujeito qualificado como devedor segundo a
Lei nº 11.101/05, e que tenha, entre outros requisitos, o registro a mais de dois anos na
Junta Comercial.15

O exercício da empresa individual traz a desvantagem de não contar com autonomia


patrimonial, ou seja, o patrimônio do sujeito empresário é o mesmo que do sujeito não
empresário. Para o exercício da atividade empresarial, o empresário individual destaca
(de fato) parte de recursos de seu patrimônio para a aquisição de bens necessários ao
empreendimento. O que distingue as partes destacadas é apenas a sua destinação.
O empresário continua tendo um só patrimônio, o utilizado em sua vida pessoal e
aquele utilizado no empreendimento. Assim, considerando-se que cada um tem um
só patrimônio, juridicamente não há separação entre o conjunto de bens utilizados
na atividade empresarial e os demais bens de uso pessoal. Juridicamente não há
separação, de modo que, considerando-se que os bens que compõem o patrimônio de
uma pessoa são a garantia de seus credores, todos os bens componentes do patrimônio
(ressalvados os absolutamente impenhoráveis) do empresário individual podem vir
a ser constritados judicialmente para o pagamento dos credores. Exemplo disso é
empresário que explora o ramo de venda de tecidos e que tem imóveis destinados a
aluguel. Seus fornecedores insatisfeitos podem alcançar os referidos imóveis, mesmo
que não ligados à atividade empresarial.

É importante ressaltar que o Código Civil, no art. 978, disciplina que “o empresário casado
pode, sem necessidade de outorga conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar
os imóveis que integrem o patrimônio da empresa ou gravá-los de ônus real”. Entretanto,
por ser o empresário individual uma pessoa casada, o direito de família em especial prevê
no art. 1.647, I, a necessidade de anuência do outro cônjuge na venda de bens imóveis,
salvo na separação absoluta de bens. Como resolver tal conflito de normas?

14 CC, art. 967.


15 Lei nº 11.101/05, art. 48.

16
Direito Empresarial │ UNIDADE I

A forma encontrada pela doutrina pode ser analisada pela aprovação do Enunciado nº
58 da II Jornada de Direito Comercial, segundo o qual:

O empresário individual casado é o destinatário da norma do art. 978


do CCB e não depende da outorga conjugal para alienar ou gravar de
ônus real o imóvel utilizado no exercício da empresa, desde que exista
prévia averbação de autorização conjugal à conferência do imóvel
ao patrimônio empresarial no cartório de registro de imóveis, com a
consequente averbação do ato à margem de sua inscrição no registro
público de empresas mercantis.

E a justificativa é a seguinte:

Houve proposta de alteração do Enunciado nº 6 da I Jornada de Direito Comercial. Para


tal finalidade, dando cumprimento ao regimento da II Jornada, foi nomeada comissão
com vistas a sugerir nova redação dele. Essa comissão foi integrada pelos seguintes
membros: Márcia Maria Nunes de Barros, Thiago Carapetcov e Wilges Bruscato.

O Enunciado nº 6 refere-se a procedimentos que inexistem legalmente no regime do


registro imobiliário, como o “prévio registro de autorização conjugal”, ato estranho
ao elencado no art. 167 da Lei nº 6.015/1973 (Lei de Registros Públicos). Também é
importante que os enunciados atentem para a compatibilidade com outras normas
legais, no caso em tela, especialmente, ao direito de família. Dessa forma, o texto deveria
fazer menção à averbação, e não ao registro. O art. 246 da Lei nº 6.015/1973 permite,
genericamente, tal averbação, enquanto o rol do art. 167, que trata do registro, faz
numerus clausus. É importante, portanto, revê-lo, substituindo-o pelo que está acima
proposto. Embora a alienação e a gravação de ônus sobre o imóvel utilizado no exercício
da empresa pelo empresário individual sejam livres do consentimento conjugal,
no teor do art. 978, do CC, a sua destinação ao patrimônio empresarial necessita da
concordância do cônjuge para passar da esfera pessoal à empresarial. Essa autorização
para que o bem não integre o patrimônio do casal, mas seja destinado à exploração de
atividade empresarial exercida individualmente por um dos cônjuges, pode dar-se no
momento da aquisição do bem, em apartado, a qualquer momento, ou no momento da
alienação ou gravação de ônus.

Não obstante os riscos envolvidos, ainda são numerosos os empreendimentos de


pequeno porte levados a efeito por empresários individuais, embora a tendência (para
os que podem) seja evitar tal sistema, em face da inexistência de autonomia patrimonial.

Condição para o exercício da empresa é a capacidade civil plena16, adquirida com a


maioridade, a partir dos 18 anos completos, ou com a menoridade cessada pela
16 CC, art. 967; art. 5º, incisos I, II, IV e V.

17
UNIDADE I │ Direito Empresarial

emancipação expressa, concedida pelos pais, por instrumento público ou por sentença
judicial, ou tácita, pelo casamento, pela colação de grau em curso de Ensino Superior,
por economia própria a partir dos 16 anos completos, pelo exercício de emprego público
efetivo, e ainda que não seja considerado incapaz (absoluto ou relativo).

Se a incapacidade sobrevier ao exercício da empresa, poderá continuar esta por


meio de representação ou assistência, após autorização judicial, depois de exame das
circunstâncias, dos riscos da empresa e da conveniência em continuá-la. A autorização,
assim, poderá ser revogada pelo juiz, ouvidos pais, tutores ou representantes legais
do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros17. Caso o
sujeito nomeado para representá-lo ou assisti-lo seja impedido, deverá ser nomeado
um ou mais gerentes, ou quando o juiz achar conveniente a nomeação do gerente18.

Não podem exercer atividade empresarial pessoas sujeitas a impedimento legal, como a
que desempenha função pública19, membro do Ministério Público20 e da Magistratura21, a
que exerce atividades de corretor, leiloeiro, despachante aduaneiro, ou de parlamentar.
O falido, durante o processo de falência, e mesmo após seu encerramento, se tiver
sido condenado por crime definido na lei, estará inabilitado à atividade empresarial22,
podendo continuar ou voltar a ser empresário caso as obrigações estejam extintas e
sua proibição levantada. Caso o impedido legalmente viole a proibição, responderá,
ilimitadamente, pelas obrigações contraídas23.”

O empresário individual atua sob seu próprio nome, designado como ‘firma individual’.
Se no momento do registro constatar-se a existência de homônimo, será possível lançar
mão de abreviaturas ou acréscimos identificadores (ex.: João da Silva, J. Silva, João
da Silva-Artefatos Metálicos, J. Silva-Açougue). Segundo o preceito do art. 1.156 do
Código Civil, o empresário exerce a sua atividade sob a firma composta com o seu nome,
completo ou abreviado, com o aditivo da indicação da qualidade de sua pessoa ou do
gênero de atividade, se for o caso.

Para ter a sua atividade regular, o empresário individual deverá realizar o seu registro
na Junta Comercial. O ato de registro será realizado por meio de ato de inscrição:

Art. 968. A inscrição do empresário far-se-á mediante requerimento


que contenha:

17 CC, art. 974.


18 CC, art. 975.
19 CF, art. 54, II, a, Lei nº 8.112/90, art. 117, X.
20 Lei nº 8.625/93, art. 44, III.
21 LC 35/79, art. 36, I e II.
22 L. 11.101/2005, arts. 75, 102, 103, 176 e 181, I.
23 CC, art. 973.

18
Direito Empresarial │ UNIDADE I

I - o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado, o


regime de bens;

II - a firma, com a respectiva assinatura autógrafa que poderá ser


substituída pela assinatura autenticada com certificação digital ou meio
equivalente que comprove a sua autenticidade, ressalvado o disposto
no inciso I do § 1º do art. 4º da Lei Complementar nº 123, de 14 de
dezembro de 2006;

III - o capital;

IV - o objeto e a sede da empresa.

§ 1º Com as indicações estabelecidas neste artigo, a inscrição será


tomada por termo no livro próprio do Registro Público de Empresas
Mercantis, e obedecerá a número de ordem contínuo para todos os
empresários inscritos.

§ 2º À margem da inscrição, e com as mesmas formalidades, serão


averbadas quaisquer modificações nela ocorrentes.

Por seu turno, o empresário poderá, se desejar, transformar a sua atividade individual
em pessoa jurídica, por isso deverá, nesse caso, ter mais um sócio em virtude da
transformação em sociedade ou, se preferir, transformar-se em Eireli, quando deverá
ter como capital mínimo cem salários mínimos.24

Se desejar, poderá, ainda, ter redução tributária ao optar pela regulamentação da Lei
Complementar nº 123/06 (supersimples), a qual concede tratamento simplificado para
os sujeitos que se enquadram nos seus parâmetros legais de receita bruta, entre outros,
na forma dos artigos abaixo da Lei Complementar nº 123/2006.

Art. 3º Para os efeitos desta Lei Complementar, consideram-se


microempresas ou empresas de pequeno porte, a sociedade empresária,
a sociedade simples, a empresa individual de responsabilidade limitada
e o empresário a que se refere o art. 966 da Lei nº 10.406, de 10 de
janeiro de 2002 (Código Civil), devidamente registrados no Registro
de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas Jurídicas,
conforme o caso, desde que:

I - no caso da microempresa, aufira, em cada ano-calendário, receita


bruta igual ou inferior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais);

24 CC, §3 do art. 978.

19
UNIDADE I │ Direito Empresarial

II - no caso de empresa de pequeno porte, aufira, em cada ano-calendário,


receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais)
e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil
reais).

§ 1º Considera-se receita bruta, para fins do disposto no caput deste


artigo, o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta
própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações
em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos
incondicionais concedidos.

§ 2º No caso de início de atividade no próprio ano-calendário, o limite


a que se refere o caput deste artigo será proporcional ao número de
meses em que a microempresa ou a empresa de pequeno porte houver
exercido atividade, inclusive as frações de meses.

(...)

Art. 18-A. O Microempreendedor Individual - MEI poderá optar pelo


recolhimento dos impostos e contribuições abrangidos pelo Simples
Nacional em valores fixos mensais, independentemente da receita bruta
por ele auferida no mês, na forma prevista neste artigo.

§ 1º Para os efeitos desta Lei Complementar, considera-se MEI o


empresário individual que se enquadre na definição do art. 966 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, ou o empreendedor que
exerça as atividades de industrialização, comercialização e prestação
de serviços no âmbito rural, que tenha auferido receita bruta, no ano-
calendário anterior, de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), que
seja optante pelo Simples Nacional e que não esteja impedido de optar
pela sistemática prevista neste artigo.

§ 2º No caso de início de atividades, o limite de que trata o § 1º será de


R$ 6.750,00 (seis mil, setecentos e cinquenta reais) multiplicados pelo
número de meses compreendido entre o início da atividade e o final do
respectivo ano-calendário, consideradas as frações de meses como um
mês inteiro.

Essa simplificação decorre de previsão constitucional, pois o legislador constituinte


procurou dar um tratamento favorecido aos pequenos empresários que, sob as leis
brasileiras, tenham sua sede e administração no País (inciso IX do art. 170 da CF).
No mesmo sentido, no art. 179 da Carta Magna, procurou-se garantir um tratamento
jurídico diferenciado visando a incentivá-los pela simplificação de suas obrigações

20
Direito Empresarial │ UNIDADE I

administrativas, tributárias, previdenciárias e creditícias ou pela eliminação ou redução


dessas obrigações por meio de lei.

A firma individual é a assinatura sob a qual o empresário individual gerencia


o seu empreendimento e por meio da qual contrai obrigações e exerce seus
direitos no exercício da atividade empresarial.

Estabelecimento Empresarial25
Visto o conceito de empresa (atividade) e empresário (pessoa que explora a
empresa), resta mencionar que, para o exercício da empresa, é necessária a estrutura
organizada, composta de bens corpóreos e incorpóreos, ou seja, tudo o que compuser o
estabelecimento empresarial. O Código Civil26 conceitua estabelecimento empresarial
como todo complexo de bens organizado para exercício da empresa, por empresário ou
por sociedade empresária, ou seja, o estabelecimento é o instrumento, objeto necessário
ao exercício da atividade empresarial.

Segundo define Coelho (2007, p. 33), estabelecimento é “o conjunto de bens reunidos pelo
empresário para a exploração da atividade econômica”, formando uma universalidade
de fato, isto é, o complexo de bens materiais (estoque de mercadorias, mobiliário,
veículos, etc.), e imateriais (marcas, tecnologia, direito ao ponto, etc.), agregados em
um todo, pela vontade do empresário.

A expressão ‘estabelecimento’ pode ser encarada como localização da atividade


empresarial ou mesmo como um complexo de bens organizados para o exercício da
empresa.

Para o Direito Civil ou mesmo Processual Civil, o estabelecimento pode ser encarado
como o domicílio da empresa, ou seja, “tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos
em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele
praticados (art. 75, § 1º, do CC)”.

Para o Direito Empresarial, o estabelecimento é “todo complexo de bens organizado,


para o exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária” (art.
1.142, CC), não sendo possível confundi-lo com o local do exercício da atividade. O
estabelecimento é um conceito mais amplo que abrange todos os bens organizados,
unidos pelo empresário para o exercício da empresa, ou seja, é o instrumento de que se
serve o empresário para o exercício da atividade.27

25 CC, arts. 1.142 a 1.149.


26 CC, art. 1.142.
27 AQUINO, L. G. de. Curso de Direito Empresarial: Teoria da empresa e direito societário: Brasília: Kiron, 2015, p. 81.

21
UNIDADE I │ Direito Empresarial

O estabelecimento pode ser objeto unitário de direitos e de negócios jurídicos, translativos


ou constitutivos, que sejam compatíveis com a sua natureza. Logo o estabelecimento é
uma universalidade de fato, composta de um conjunto de bens heterogêneos agregados
pelo titular da empresa.

O Enunciado nº 393, aprovado na IV Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro


de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, em dezembro de 2006, prevê
que “a validade da alienação do estabelecimento empresarial não depende de forma
específica, observado o regime jurídico dos bens que a exijam”.

O estabelecimento empresarial, por integrar o patrimônio do empresário, da sociedade


empresária e da Eireli, é também a garantia dos seus credores. Por essa razão, a
circulação do estabelecimento (alienação, usufruto ou arrendamento) empresarial está
sujeita à observância de cautelas específicas, que a lei criou com vistas à tutela dos
interesses dos credores de seu titular.

Cada empresário individual, sociedade empresária ou Eireli pode ter um único ou


vários estabelecimentos (designados como matriz, agências, lojas, filiais, sucursais,
unidades produtivas, etc.). É possível que a pluralidade de estabelecimentos resulte em
dificuldade para a fixação da competência, já que a lei falimentar fixa o local do principal
estabelecimento como competente para a declaração da falência. Por conseguinte,
a fixação de competência, no caso de pluralidade de estabelecimentos, trata-se de
questão tormentosa na jurisprudência, haja vista a dificuldade de definir, entre todos
os estabelecimentos, qual o principal.

Em concordância com Borba (2004), “Cada agência do Banco Brasileiro de Descontos


S.A. – BRADESCO é um estabelecimento. Cada loja Casas Pernambucanas é um
estabelecimento pertencente à pessoa jurídica “Alberto Lundgren Tecidos S.A.”. Casas
Pernambucanas é o título usado nos estabelecimentos da referida sociedade.

Para elucidar a questão de qual estabelecimento é o principal, a doutrina que trata do


direito falimentar dispõe que tanto poderá ser onde está a sede administrativa ou onde
está a principal atividade do sujeito, pouco importando que seja uma filial, sucursal,
agência ou matriz.

O Enunciado nº 466 da V Jornada de Direito Civil dispõe que, “para fins do Direito
Falimentar, o local do principal estabelecimento é aquele de onde partem as decisões
empresariais, e não necessariamente a sede indicada no registro público”.

Conforme visto no exemplo, o nome atribuído ao estabelecimento pode ser igual ao


nome empresarial ou à marca de propriedade do empresário (ex.: Dimpus, Zara).

22
Direito Empresarial │ UNIDADE I

São elementos de identificação do estabelecimento: o título de estabelecimento


(designação distintiva do local em que se desenvolve e exerce o comércio – ex.: Carrefour)
e a insígnia (representação gráfica utilizada junto do título de estabelecimento – ex.: o
símbolo do Carrefour), ou seja, o nome da placa do estabelecimento, normalmente.

Dessa forma, o título de estabelecimento é espécie do gênero ‘nome empresarial’


(designação do empresário, pessoa física ou jurídica, nome com o qual contrairá
obrigações e exercerá seus direitos em suas relações com terceiros, fornecedores,
consumidores, contratos, bancos, etc.).

Não se confundindo com o nome da pessoa do empresário, o título de estabelecimento


é a designação utilizada para distinguir um estabelecimento comercial ou industrial
de outros, sendo, portanto, a designação distintiva pela qual ele se torna conhecido
perante o público (ex.: Globex S.A. é o nome empresarial da sociedade titular dos
estabelecimentos Ponto Frio). O título do estabelecimento é o principal elemento de
identificação perante o público consumidor, o qual, no mais das vezes, ignora o nome
do empresário, realidade ignorada pelos elaboradores de catálogos telefônicos, que
listam os assinantes, em regra, pelo nome da sociedade empresarial.

O título de estabelecimento não goza de proteção legal, mesmo que conste do


contrato social registrado na Junta Comercial. É frequente a prática de alguns que,
aproveitando a boa fama angariada por um empresário, apodera-se de seu título de
estabelecimento, usando-o em seu próprio estabelecimento, de modo a confundir,
atrair e desviar a clientela do primeiro. Tal prática caracteriza concorrência desleal,
tipificada como crime, responsabilizando o infrator pelos danos decorrentes do desvio
de clientela28. Um pequeno empresário no Centro-Oeste do país adotou o título de
estabelecimento Pernambucanas, sendo compelido, judicialmente, a retirar a tabuleta
de seu estabelecimento.

Em suma: (a) o nome empresarial é a identificação do sujeito29; (b) o título do


estabelecimento é a identificação do estabelecimento (nome fantasia); (c) a marca
é identificação do produto ou serviço da empresa, de uma coletividade ou uma
certificação30; e (d) o domínio é a identificação do site da empresa.

A alienação do estabelecimento ocorrerá por meio do contrato denominado de trespasse,


podendo ocorrer também no caso do arrendamento e no de usufruto.

O estabelecimento pode ser locado, arrendado e alienado, sendo esta última denominada
“trespasse”, que se dá por meio de contrato, e, para que tenha eficácia perante terceiros,

28 LPI, 195, V e 209.


29 CC art. 1.155-1.168.
30 LPI, art. 122.

23
UNIDADE I │ Direito Empresarial

é necessária a averbação do contrato à margem da inscrição do empresário na Junta


Comercial, também na imprensa oficial.

O Enunciado nº 233 aprovado na III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro
de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, dispõe que “a sistemática do
contrato de trespasse delineada pelo Código Civil nos arts. 1.142 e ss., especialmente
seus efeitos obrigacionais, aplica-se somente quando o conjunto de bens transferidos
importar a transmissão da funcionalidade do estabelecimento empresarial”.

Assim, deve-se diferenciar o trespasse do instituto denominado de cessão de quotas e


do passa-se o ponto. No trespasse, o estabelecimento é transferido para outro sujeito de
direito, enquanto na cessão de quotas (vende-se o CNPJ) o estabelecimento continua
sendo do mesmo titular, ocorre que a sociedade muda os seus sócios. O “vende-se
o ponto” (“passa-se o ponto”), por seu turno, ocorre quando o locatário de uma loja
comercial cede a outrem o direito de ser inquilino.

DISTINÇÃO

Vende-se o ponto
Vende-se o CNPJ Trespasse
Comercial

Na venda do CNPJ, É quando o locatário de


ocorre a venda parcial Ocorre venda do próprio uma loja comercial cede
ou total das quotas dos estabelecimento, não a outrem o direito de ser
sócios para novos sócios. incluindo o CNPJ, muda o inquilino, devendo neste
Não muda o dono do dono do estabelecimento. caso ocorrer a anuncia do
estabelecimento. locador.

Fonte: AQUINO, 2007, p. 90.

É importante ressaltar que o nome empresarial pode ser vendido, salvo quando “o
adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos. Pode, ainda, se o contrato o permitir,
usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com a qualificação de sucessor”31.

Na hipótese de os bens do alienante não serem suficientes para fazer frente às suas
obrigações, exige-se o pagamento de todos os credores do empresário alienante ou,
pelo menos, sejam eles notificados para que, em um prazo máximo de 30 (trinta) dias,
manifestem seu consentimento, de modo expresso ou tácito. Cria-se uma situação
interessante, visto que, em face da insolvência, não há como pagar aos credores, o que
implica dizer que, nessa hipótese, o trespasse é vedado. De qualquer modo, caso haja
discordância expressa por parte dos credores, o pagamento deverá ser efetuado, sob
pena de ineficácia do trespasse em relação a eles.

31 CC, art. 1.164, parágrafo único.

24
Direito Empresarial │ UNIDADE I

De modo a evitar conluio e prejuízo aos credores, o art. 1.146 do novo Código Civil
determina a sucessão do adquirente do estabelecimento pelos débitos anteriores à
transferência, desde que regularmente contabilizados, permanecendo o alienante
solidariamente obrigado pelo prazo de 1 (um) ano, (i) a partir da publicação da
notificação na imprensa oficial quanto aos créditos vencidos e (ii) a partir da data do
seu vencimento quanto aos vincendos.

A lei de falências e recuperação de empresas32 prevê a decretação da falência do devedor


que transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos
os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo, excepcionada
a hipótese da transferência ter sido prevista e efetivada em prévio procedimento de
recuperação judicial. Decretada a falência, é cabível a declaração de ineficácia do
trespasse, de modo a propiciar a arrecadação do estabelecimento em benefício dos
credores.

Relativamente aos débitos fiscais, o Código Tributário Nacional atribui ao adquirente do


estabelecimento que dá continuidade à exploração da atividade a responsabilidade pelos
tributos devidos até a data do ato: a) integralmente, se o alienante cessar a exploração
do comércio, indústria ou atividade; ou b) subsidiariamente com o alienante, se este
prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação,
nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão33.

O Enunciado nº 59 da II Jornada de Direito Comercial da CJF disciplina que “a mera


instalação de um novo estabelecimento, em lugar antes ocupado por outro, ainda que
no mesmo ramo de atividade, não implica responsabilidade por sucessão prevista no
art. 1.146 do CCB”. Isso ocorre porque “a responsabilidade por sucessão do adquirente
do estabelecimento foi recepcionada pelo CCB, no art. 1.146, do qual decorrem dois
aspectos que são fundamentais: (1) a existência do contrato de trespasse; e (2) o alcance
da responsabilidade do adquirente, que está adstrito às obrigações contabilizadas do
alienante. Assim, na hipótese em que não haja um negócio jurídico de alienação do
estabelecimento, não há como se cogitar da responsabilidade por sucessão de que trata
o art. 1.146 do CCB. É o caso de um empresário instalar-se em lugar antes ocupado
por outro, ainda que se trate do mesmo ramo de atividade do anterior ocupante.
Parece ser relevante a formulação de enunciado como o proposto, pois a situação fática
aqui envolvida é bastante comum na vida empresarial e nem sempre encontra, na
jurisprudência, a correta aplicação da lei”.

Outro ponto importante refere-se à sub-rogação dos contratos em caso de circulação do


estabelecimento, conforme preceitua o art. 1.148, do CC:

32 Art. 94 da Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, em vigor a partir de 9 de junho de 2006.


33 CTN, art. 133.

25
UNIDADE I │ Direito Empresarial

[..,] a transferência importa a sub-rogação do adquirente nos contratos


estipulados para exploração do estabelecimento, se não tiverem caráter
pessoal, podendo os terceiros rescindir o contrato em noventa dias a
contar da publicação da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada,
neste caso, a responsabilidade do alienante.

O Enunciado nº 7 da I Jornada de Direito Comercial, promovida pelo Centro de Estudos


Judiciários do Conselho da Justiça Federal, dispõe que “a sub-rogação do adquirente
nos contratos de exploração atinentes ao estabelecimento adquirido, desde que não
possuam caráter pessoal, é a regra geral, incluindo o contrato de locação”.

O Enunciado nº 234, aprovado na III Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro
de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, dispõe que, “quando do
trespasse do estabelecimento empresarial, o contrato de locação do respectivo ponto
não se transmite automaticamente ao adquirente”.

O legislador também se preocupou com a concorrência que poderia advir com a


circulação do estabelecimento, prevendo que, “não havendo autorização expressa, o
alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco
anos subsequentes à transferência” (art. 1.147, do CC).

O Enunciado nº 490, aprovado na IV Jornada de Direito Civil, promovida pelo Centro


de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, em dezembro de 2006, prevê
que “ampliação do prazo de 5 (cinco) anos de proibição de concorrência pelo alienante
ao adquirente do estabelecimento, ainda que convencionada no exercício da autonomia
da vontade, pode ser revista judicialmente, se abusiva”.

A cessão dos créditos referentes ao estabelecimento transferido produzirá efeito em


relação aos respectivos devedores, desde o momento da publicação da transferência,
mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao cedente (art. 1.149, do CC).

26
Direito Empresarial │ UNIDADE I

Divisão das responsabilidades em caso de trespasse contratual

1 ano a contar
Dívidas vencidas da publicação do
trespasse
Responsabilidade do
alienante
1 ano a contar do
Dívidas vincendas
Contrato de Trespasse vencimento
(art. 1.146, do CC)

Passsivo anterior à
Responsabilidade do
transferência desde
adquirente
que contabilizado

Fonte: AQUINO, 2015, p. 36.

Caso o adquirente dê continuidade aos contratos de trabalho, haverá sucessão das


obrigações trabalhistas, ressalvada a hipótese de trespasse de estabelecimento durante
processo de recuperação judicial34 ou falência35, por exclusão expressa da lei. De fato,
se o arrematante do estabelecimento tivesse de assumir a obrigação pelo passivo do
empresário em falência ou em recuperação judicial, seria pouco provável comparecerem
interessados na aquisição.

Da locação empresarial. Ponto comercial e


Aviamento
A locação empresarial refere-se ao contrato realizado para que seja instalado o
estabelecimento quando o titular da atividade empresarial não for o dono do imóvel,
podendo comportar um comércio, uma indústria ou mesmo uma prestação de serviço.

O ponto comercial é o local onde a empresa está situada, fará jus à indenização ou à
renovação compulsória o inquilino, pois, legalmente, não há que se falar em direito ao
ponto quando o titular dele é o próprio titular do imóvel.

As regras legais do contrato de locação estão previstas na Lei nº 8.245/91, segundo a


qual:

Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário


terá direito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que,
cumulativamente:

I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo


determinado;

34 Lei nº 11.101, de 2005, art. 60, parágrafo único.


35 Lei nº 11.101, de 2005, art. 141, II.

27
UNIDADE I │ Direito Empresarial

II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos


ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos;

III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo


prazo mínimo e ininterrupto de três anos.

Esse direito de locação poderá ser exercido pelo próprio titular ou por seus sucessores,
cessionários, herdeiros ou mesmo cônjuge. Contudo, para o exercício de renovação ser
pleiteado, deverá o requerente observar o prazo legal de seis meses, na forma do art.
51, § 5º, que estipula “do direito à renovação decai aquele que não propuser a ação no
interregno de um ano” (Ação Renovatória).

Por outro lado, à exceção da retomada, o direito do inquilino (empresa) de se opor


judicialmente ao pedido de não continuar no local poderá ser exercido nos seguintes
fundamentos ou motivos: (a) realização de obra por determinação do Poder Público,
desde que importe mudança radical no imóvel; (b) realização de obra para modificação
que aumente o valor do negócio ou propriedade; (c) utilização do imóvel para uso
próprio ou transferência de fundo de comércio já existente há mais de um ano, quando
o detentor do capital social seja o locador, seu cônjuge, ascendente ou descendente.
Nessa hipótese, é vedado o uso para o mesmo ramo do locatário, salvo se a locação
envolver o arrendamento do próprio estabelecimento empresarial; (d) insuficiência da
proposta apresentada pelo locatário; (e) existência de melhor proposta de terceiro.36

O aviamento é a mais-valia do estabelecimento, ou seja, é o atributo do estabelecimento,


podendo ser encarada de maneira subjetiva (pessoal) e/ou objetiva (real), pois o
aviamento pessoal está vinculado ao titular do estabelecimento quando a capacidade
de gerar lucros resulta substancialmente de qualidades do titular da empresa. E será
real ou objetivo se decorrente da qualidade do estabelecimento empresarial.

Aquino (2015) sustenta que:

É importante ressalvar que o CC permite que o aviamento seja


incluído no valor do trespasse do estabelecimento. Isso ocorre porque
o aviamento constitui um sobrevalor ou mais-valia, fruto da atuação
do empresário na organização dos elementos da empresa (dentre
eles o estabelecimento) que, embora seja um bem imaterial, pode ser
perfeitamente incluído no valor do trespasse (AQUINO, 2015).

O CC autoriza tal prática no parágrafo único do art. 1.187, que, ao listar os valores do
ativo, inclui a quantia efetivamente paga a título de aviamento de estabelecimento
adquirido pelo empresário ou sociedade (inciso III).

36 Lei nº 8.245/1991, arts. 52 e 72.

28
Direito Empresarial │ UNIDADE I

REGISTRO E OS LIVROS EMPRESARIAIS

O REGISTRO

O registro público é a forma de preservação de informações consideradas vitais à


sociedade (como nascimento, casamento, óbito, criação de pessoas jurídicas, entre
outros). Ele visa a dar publicidade necessária à segurança das relações interindividuais.
Assim, a publicidade é forma de notificação pública: é a consequência necessária
do registro, mesmo quando seja facultativo, visando apenas à perpetuidade de um
documento. Haverá sempre a publicidade, desde que registrado o ato ou o fato. Os
efeitos dela que podem variar de intensidade.

O empresário, a empresa individual de responsabilidade limitada e a sociedade


empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas
Comerciais; e a sociedade simples, ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá
obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos
tipos de sociedade empresária (Art. 1.150, do CC).

O registro das empresas é feito na Junta Comercial, as atribuições dessa junta, segundo
o art. 32 da Lei nº 8.934/1994, são:

Art. 32. O registro compreende:

I - a matrícula e seu cancelamento: dos leiloeiros, tradutores públicos


e intérpretes comerciais, trapicheiros e administradores de armazéns-
gerais;

II - O arquivamento:

a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e


extinção de firmas mercantis individuais, sociedades mercantis e
cooperativas;

b) dos atos relativos a consórcio e a grupo de sociedade de que trata a


Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;

c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas


a funcionar no Brasil;

d) das declarações de microempresa;

e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos


ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins ou
daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis;

29
UNIDADE I │ Direito Empresarial

III - a autenticação dos instrumentos de escrituração das empresas


mercantis registradas e dos agentes auxiliares do comércio, na forma
de lei própria.

No fechamento da atividade empresarial, não serão mais exigidas certidões negativas


para concluir a baixa no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ). Pelas novas
regras em vigor desde 2014, qualquer débito ligado ao CNPJ é transferido para o
Cadastro de Pessoa Física (CPF) do responsável pela empresa.

As publicações das sociedades estrangeiras serão feitas nos órgãos oficiais da União
e do Estado, onde tiverem sucursais, filiais ou agências. O anúncio de convocação da
assembleia de sócios será publicado por três vezes, ao menos, devendo mediar, entre a
data da primeira inserção e a da realização da assembleia, o prazo mínimo de oito dias,
para a primeira convocação, e de cinco dias, para as posteriores (art. 1.152, do CC).

Para corroborar com as regras constitucionais tanto o Código Civil quanto a Lei
Complementar nº 123/2006 estipulam que as microempresas, as empresas de pequeno
porte e o microempreendedor tenham o seu registro realizado de maneira simplificada,
e, para comprovar, o CC determina no art. 968, §§ 4º e 5º, que:

§ 4º O processo de abertura, registro, alteração e baixa do


microempreendedor individual de que trata o art. 18-A da Lei
Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006, bem como qualquer
exigência para o início de seu funcionamento deverão ter trâmite
especial e simplificado, preferentemente eletrônico, opcional para o
empreendedor, na forma a ser disciplinada pelo Comitê para Gestão
da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de
Empresas e Negócios - CGSIM, de que trata o inciso III do art. 2º da
mesma Lei.

§ 5º Para fins do disposto no § 4º, poderão ser dispensados o uso da


firma, com a respectiva assinatura autógrafa, o capital, requerimentos,
demais assinaturas, informações relativas à nacionalidade, estado
civil e regime de bens, bem como remessa de documentos, na forma
estabelecida pelo CGSIM.

Para concluir a regra do registro, é possível afirmar que o art. 1.154 do CC dispõe
sobre os efeitos dos atos sujeitos ao registro mercantil e sobre os efeitos do próprio
registro, ao sustentar que os atos sujeitos ao registro, ressalvadas disposições especiais
da lei, não podem, antes do cumprimento das respectivas formalidades, ser opostos a
terceiros, salvo prova que os conheciam. No entanto, se cumpridas as formalidades, e

30
Direito Empresarial │ UNIDADE I

por isso realizado o registro, o terceiro não poderá alegar ignorância sobre o conteúdo
do registro.

OS LIVROS EMPRESARIAIS

De acordo com o art. 1.180 do CC, os empresários são obrigados a manter um livro
denominado Diário, que não poderá conter vícios internos ou externos para produzirem
valor jurídico.

Segundo o artigo 1.179, § 2º, do CC, o pequeno empresário está dispensado de manter a
escrituração de seus negócios. Como provar, contudo, a condição de pequeno empresário
sem a devida escrituração?

O artigo 26, § 1º, do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno


Porte, prevê que os pequenos empresários poderão comprovar a receita bruta mediante
apresentação do registro de vendas independentemente de documento fiscal de venda,
prestação de serviço ou escrituração simplificada das receitas, conforme instruções
expedidas pelo Comitê Gestor.

Pelo prisma jurídico, podemos afirmar que os livros empresariais se dividem em duas
categorias: a) obrigatórios que se subdividem em comuns e especiais; e b) facultativos.

Segundo Coelho (2007, p. 82), os livros empresariais obrigatórios são aqueles cuja
escrituração é imposta ao empresário, sua ausência traz consequências sancionadoras
(inclusive no campo penal). Os livros Comuns são os obrigatórios, cuja escrituração
é imposta a todos os empresários, indistintamente. Enquanto os livros Especiais são
aqueles cuja escrituração é imposta apenas a determinada categoria de exercentes de
atividade empresarial.

Em conformidade com o art. 100 da Lei nº 6.404/1976, as sociedades anônimas são


obrigadas a manter os seguintes livros sociais empresariais:

Além dos livros obrigatórios contábeis e fiscais para qualquer empresário, a companhia
tem de ter os seguintes livros revestidos das mesmas formalidades legais:

(a) Os livros de “registro de ações nominativas”, para inscrição, anotação ou averbação,


devendo conter os dados descritos na lei;

(b) O livro de “transferência de Ações Nominativas”, para lançamento dos termos


de transferência, que deverão ser assinados pelo cedente e pelo cessionário, ou seus
legítimos representantes;

31
UNIDADE I │ Direito Empresarial

(c) Os livros de “Registro de Partes Beneficiárias Nominativas” e o de “Transferência de


Partes Beneficiárias Nominativas”, se tiverem sido emitidas, observando-se, em ambos,
no que couber, o disposto nos números I e II do art. 100 da Lei nº 6.404/1976;

(d) O livro de “Atas das Assembleias Gerais” é obrigatório nas sociedades anônimas,
como estipula o artigo 100, IV, da Lei nº 6.404/1976, e também nas sociedades limitadas
que tenham mais de dez sócios, e facultativo para as que tenham menos de dez sócios,
em virtude da previsão do art. 1.075, do Código Civil. Esse livro tem como finalidade
registrar os trabalhos e as deliberações da assembleia de acionistas ou sócios;

(e) O livro de “Presença dos Acionistas”, esse livro é obrigatório para as sociedades
anônimas;

(f) Os livros de “Atas das Reuniões do Conselho de Administração”, se houver, e de “Atas


das Reuniões de Diretoria”. Esses livros são obrigatórios para as sociedades anônimas,
de acordo com os artigos 100 e 149 da Lei nº 6.404/1976. Nas sociedades limitadas,
são facultativos, conforme previsão do art. 1.062 do Código Civil, segundo o qual, para
a posse do administrador da sociedade limitada, no momento de sua designação, faz-
se em ato separado, ou seja, não se faz por meio de previsão constante do próprio ato
constitutivo;

(g) O livro de “Atas e Pareceres do Conselho Fiscal”, previsto no art. 100, VII, da Lei nº
6.404/1976, é obrigatório para as sociedades anônimas que, por força do artigo 161 da
referida lei, têm conselho fiscal (AQUINO, 2015, p. 80).

Previsto nos artigos de 1.067 a 1.069 do Código Civil, “é obrigatório para as sociedades
contratuais cujos atos constitutivos prevejam um Conselho Fiscal (art. 1.066, do CC).
Nesse livro, lavra-se a posse dos membros efetivos e suplentes do Conselho Fiscal, bem
como o resultado dos exames trimestrais dos livros e papéis da sociedade e o estado
da caixa e da carteira, como o parecer sobre os negócios e as operações sociedade do
exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e do resultado
econômico, devidamente apresentado à assembleia geral”. Há, ainda, a obrigatoriedade
dos livros fiscais e trabalhistas.

32
Direito Empresarial │ UNIDADE I

Fluxograma das espécies de livros empresariais

LIVROS EMPRESARIAIS

Livros obrigatórios
Livros facultativos São aqueles São aqueles cuja escrituração é
escriturados e para melhor controle e imposta ao empresário, sua ausência
aprimoramento da atividade. traz consequências sancionadoras
(inclusive no campo penal).

Livros comuns
Livros especiais
São aqueles obrigatórios a
São aqueles obrigatórios
todos os empresários, sem
somente para determinadas
distinção da atividade ou
atividades ou espécie societária.
espécie societária.

Dispensados de ter Livros das Sociedades


Livro Caixa Livro Diário
livros Anônimas (art. 100 da Lei
nº 6.404/76) e da Sociedade
Limitada (art. 1.062 do CC)
Todos os empresários,
Microempreendedor e o
ME e EPP a Eireli e as Sociedades
pequeno empresário
Empresariais

Fonte: AQUINO, 2015, p. 80.

A escrituração deverá abranger todas as operações da empresa, sendo facultado às


pessoas jurídicas que possuem filiais manter contabilidade não centralizada, devendo
incorporar na escrituração da Matriz os resultados de cada uma delas.

Ocorrendo extravio, deterioração ou destruição de livros, fichas, documentos ou papéis


de interesse da escrituração, a pessoa jurídica fará publicar, em jornal de grande
circulação do local de seu estabelecimento, aviso concernente ao fato e, deste, dará
minuciosa informação, dentro de 48 (quarenta e oito) horas, ao órgão competente de
Registro do Comércio, remetendo cópia ao órgão da Secretaria da Receita Federal de
sua jurisdição.37

O empresário Individual, a sociedade e a Eireli são obrigados a conservar em ordem,


enquanto não prescritas eventuais pretensões que lhes sejam pertinentes, livros,
documentos e papéis relativos à sua atividade, ou que se refiram aos atos ou questões
que modifiquem ou possam vir a modificar sua situação patrimonial. Essa obrigação de
conservação estende-se aos sucessores dos empresários, sócio, a que forem entregues,
após a liquidação da sociedade, e ao falido, encerrada a falência.
37 RIR/99 art. 264, § 1º.

33
UNIDADE I │ Direito Empresarial

O acesso aos livros empresariais é restrito ao empresário, à Eireli, à sociedade empresária


e a seus funcionários autorizados, e não podem ser manuseados por pessoas estranhas
à atividade do empresário.

Os livros mercantis devem registrar com fidelidade os resultados e o andamento do


negócio, fatos que, se revelados de forma maliciosa, podem causar sérios prejuízos à
atividade do empresário, podendo até levá-lo ao estado falimentar.

A exibição dos livros total ou parcial pode ser exigida pelas autoridades administrativas,
no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das
respectivas leis especiais.

A lei civil estabelece, ressalvados os casos previstos em lei, que nenhuma autoridade,
juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência para verificar
se o empresário ou a sociedade empresária observa, ou não, em seus livros e fichas, as
formalidades prescritas em lei (arts. 1.190 e 1.191 do Código Civil).

Art. 1.191. O juiz só poderá autorizar a exibição integral dos livros e


papéis de escrituração quando necessária para resolver questões
relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão
à conta de outrem, ou em caso de falência.

§ 1º O juiz ou tribunal que conhecer de medida cautelar ou de ação


pode, a requerimento ou de ofício, ordenar que os livros de qualquer
das partes, ou de ambas, sejam examinados na presença do empresário
ou da sociedade empresária a que pertencerem, ou de pessoas por estas
nomeadas, para deles se extrair o que interessar à questão.

§ 2º Achando-se os livros em outra jurisdição, nela se fará o exame,


perante o respectivo juiz.

Art. 1.192. Recusada a apresentação dos livros, nos casos do artigo


antecedente, serão apreendidos judicialmente e, no do seu § 1º, ter-se-á
como verdadeiro o alegado pela parte contrária para se provar pelos
livros.

Parágrafo único. A confissão resultante da recusa pode ser elidida por


prova documental em contrário.

O CC no art. 226 e o arts. 417 e 418 do Novo CPC dispõem que os livros e as fichas
dos empresários e das sociedades empresárias provam contra as pessoas a que lhes
pertencem, e, em seu favor, quando escrituradas sem vício extrínseco ou intrínseco, forem
confirmados por outros subsídios. O juiz só poderá autorizar, a requerimento da parte,

34
Direito Empresarial │ UNIDADE I

a exibição integral dos livros empresariais e papéis de escrituração quando necessário


para resolver questões relativas à sucessão, à comunhão ou sociedade, à administração
ou à gestão à conta de outrem, em caso de falência, na liquidação da sociedade e quando
e como determinar a lei (art. 420 do Novo CPC). O juiz pode, de ofício, ordenar à parte a
exibição parcial dos livros e dos documentos, extraindo-se deles a suma que interessar ao
litígio, bem como reproduções autenticadas (art. 421 do Novo CPC).38

E, por último, o empresário, a sociedade e a Eireli são responsáveis pela guarda, mas
não pela realização da escrituração, pois, segundo o art. 1.182 do CC, combinado com o
art. 3º do Decreto-Lei nº 486/1969, essa obrigação pertence ao Contabilista.

Caso não haja na localidade contabilista habilitado, a escrituração deve ser realizada
pelo empresário ou por pessoa para tanto designada, o que, entretanto, não retirará a
responsabilidade pela escrituração do que o designou.

A escrituração somente será considerada regular se presentes os requisitos intrínsecos


e extrínsecos. Portanto, se ausentes esses requisitos, a escrituração será considerada
irregular e haverá a configuração de crime falimentar.39

Nome Empresarial
O nome empresarial é a identificação do sujeito empresarial. Pode ser firma individual,
social ou denominação, não pode ser idêntico a outros no mesmo espaço geográfico e,
em situações especiais, em regiões limítrofes de outros Estados. Isso ocorre para evitar
concorrência desleal, devendo prevalecer o nome mais antigo, em regra.

O nome empresarial equivale ao nome civil do indivíduo, ou seja, é a própria identificação,


e deve constar do ato de inscrição do empresário individual ou do ato de constituição
da Eireli e da sociedade empresária. Deve-se pautar em dois princípios básicos: (a)
Veracidade (verdade) – deve identificar o nome do titular e/ou a real atividade; e (b)
novidade (novo) – deve distinguir de qualquer outro já inscrito no mesmo registro, seja
homógrafo ou homófono. A proteção conferida pelo registro tem de observar o prazo
de existência da atividade, e não pode existir outro nome empresarial no Estado onde
ocorreu o registro da empresa.

A firma individual só possui o empresário individual e, sendo constituída por seu nome,
completo ou abreviado, aditando-lhe, se quiser, designação mais precisa da sua pessoa
ou do gênero de atividade. Caso opte pela abreviação do nome, não poderá abreviar o
sobrenome.
38 AQUINO, L. G. de. Curso de Direito Empresarial: Teoria da empresa e direito societário: Brasília: Kiron, 2015, p. 62-63.
39 Lei n. 11.101/2005. Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois da sentença que decretar a falência,
conceder a recuperação judicial ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de escrituração contábil
obrigatórios: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

35
UNIDADE I │ Direito Empresarial

A firma social, ou razão social, é constituída pelo nome civil completo ou abreviado de
um, de alguns – nesse caso acrescida a expressão “e companhia” ou “e Cia.”, para indicar
a existência de outros sócios – ou de todos os sócios, além da palavra “limitada”, por
extenso ou abreviada no caso de a sociedade ser limitada. A expressão “e companhia”
indica tratar-se de uma sociedade que, na composição da Firma Social, não declinou o
nome de todos os sócios, podendo ser substituído por qualquer outro capaz de exercer
a mesma função, por exemplo: “e Filhos”, “e Irmãos”, “e Sobrinhos”, “e Amigos”.

A denominação (social) é formada por expressões de fantasia incomuns (termos criados)


e/ou por palavras de uso comum ou vulgar livremente escolhida pelos sócios, seguidas
do tipo societário, abreviada ou por extenso. Caso figurem no nome empresarial uma
ou mais atividades econômicas, essas deverão constar expressamente no objeto social
da empresa.

O CC, por sua vez, nos arts. de 1.155 a 1.168, regula a matéria no Capítulo “Do Nome
Empresarial” e considera como “nome empresarial a firma ou a denominação adotada,
de conformidade com este Capítulo, para o exercício da empresa”. As sociedades,
dependendo do tipo, poderão ter um nome empresarial ou não. Contudo, o Código Civil
(art. 1.155, parágrafo único) dispõe que “se equipara ao nome empresarial, para os efeitos
da proteção da lei, a denominação de sociedade simples, associações e fundações”.

A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos


constitutivos do empresário individual, da Eireli e das sociedades, ou de suas alterações.

O nome empresarial não pode ser objeto de alienação. O adquirente de estabelecimento,


por ato entre vivos, pode, se o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido
do seu próprio, com a qualificação de sucessor. A doutrina e a legislação adotam como
espécies de nome empresarial: a firma individual, a firma social (também denominada
como firma comercial ou razão social) e a denominação.

Distinções dos tipos de nomes empresarias

Firma Individual

Firma

Nome Empresarial Firma Social (Razão Social)

Denominação Social

Fonte: Elaboração com dados de AQUINO, 2015, p. 70.

A indicação do nome é obrigatória no ato do registro da pessoa jurídica e no caso das


sociedades empresárias e da cooperativa, no ato de arquivamento perante a Junta
36
Direito Empresarial │ UNIDADE I

Comercial (art. 32, III, da Lei nº 8.934/1994). O nome empresarial, antigamente


denominado nome comercial ou de empresa, consiste no elemento de identificação da
sociedade empresária, da Eireli e do empresário individual.

Por isso, se tratar de um direito da personalidade, o nome empresarial, em regra,


não pode ser alienado (vendido), exceto se no contrato de trespasse permitir e se o
adquirente de estabelecimento usar o nome do alienante, precedido do seu próprio,
com a qualificação de sucessor.

Propriedade industrial
A Propriedade industrial é responsável por proteger os titulares dos seguintes bens:
(a) patente de invenção; (b) patente de modelo de utilidade; (c) registro de marca;
(d) registro de desenho industrial; (e) das falsas indicações geográficas; e (d) da
concorrência desleal40.

(a) Patente de invenção: é concedida para invenção que atenda aos requisitos de
novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Dessa forma, a invenção é produto
do engenho humano, é o “bem imaterial resultado de atividade inventiva”41. A novidade
é determinada pela criação de coisa nova antes do estado da técnica, que é tudo aquilo
que é tornado acessível ao público, por descrição oral ou escrita, por uso ou qualquer
outro meio, no Brasil ou no exterior, antes do depósito do pedido de patente. A atividade
inventiva consiste na novidade atestada por um técnico no assunto, e a utilidade industrial
é a viabilidade da exploração industrial da invenção. É uma invenção completamente
nova. O prazo de vigência dessa patente é de 20 anos contados do depósito ou de, no
mínimo, 10 anos contados da concessão.

Por exemplo: uma invenção relativa a aparelhos telefônicos, em que, inicialmente,


resolveu-se o problema da comunicação pela aplicação da ação eletromagnética.
Além dessa invenção, encontramos na mesma Revista a invenção do “[...] sistema
de aquecimento para silos, secadores de grãos” (PI 0601535-2 (22) 24/04/2006),
“Suporte adesivo para CD” (PI 9905459-0 (22) 22/08/1999) e a patente de invenção
(PI) 0613296-6.

(b) Patente de modelo de utilidade: é concedida para o objeto de uso prático, ou parte
deste, que apresente nova forma ou disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em
melhoria funcional no seu uso ou em sua fabricação. É uma inovação em equipamento
ou produto já existente e não protegido por patente. Por exemplo: a modificação de

40 LPI. N. 9249/96.
41 BLASI, Gabriel di e outros. A propriedade industrial. Os sistemas de marcas, patentes e desenhos industriais analisados a
partir da Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p. 29.

37
UNIDADE I │ Direito Empresarial

forma e estrutura de um aparelho telefônico inicialmente utilizado, em que consistiu


em integrar o transmissor e o receptor em uma só peça, visando a seu uso prático.
Assim, devemos entender por patente de modelo de utilidade a criação industrial
de um produto ou utensílio novo destinado à aplicação industrial na finalidade de
melhorá-lo. Coelho (2007, p. 139) afirma que o “modelo de utilidade é uma espécie de
aperfeiçoamento da invenção”, isto é, uma nova configuração em objetos conhecidos, de
maneira a proporcionar aumento de sua capacidade de utilização. O prazo de vigência
dessa patente é de 15 anos contados do depósito ou de, no mínimo, sete anos contados
da concessão.

Modelo de utilidade

Objeto de uso prático ou parte deste.

Novidade na forma ou disposição introduzida


no objeto (arts. 11 e 12, da LPI)

Requisitos necessários à
patenteabilidade dos modelos de Ato inventivo (art. 14, da LPI)
utilidade

Aplicação industrial (art. 15, da LPI)

Não se encontra o objeto nas proibições


Modelo de Utilidade (MU) número
legais (arts. 10 e 18, da LPI)
8500891- 5

Disponível em: <https://www.escavador.com/patentes/407422/garrafa-isotermica>. Acesso em: 22 mar. 2017.

(c) A Marca, segundo o art. 122 da Lei nº 9.279/1996 (LPI), “é todo sinal distintivo,
visualmente perceptível, que identifica e distingue produtos e serviços de outros análogos,
de procedência diversa, bem como certifica a conformidade deles com determinadas
normas ou especificações técnicas”. O art. 123 da LPI preceitua que a marca é usada para
“distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa”
(marca de produto ou serviço, art. 123, I), se a marca pode identificar um produto ou um
serviço, dentro da sua classe, salvo a marca de alto renome.

O que seriam serviço e produto? Serviço é uma atividade desenvolvida, é um bem


intangível, isto é, sem existência física. Produto é um bem ou serviço ou ideia com
atributos tangíveis e intangíveis que, coletivamente, cria valor para um comprador ou
utilizador. A diferença entre serviço e produto é que este, apesar de ser também um
bem, é um bem tangível. Outra forma de caracterizar um serviço (e o de distinguir de
um produto) é o fato de ele não poder ser armazenável, ou seja, apenas é possível ser

38
Direito Empresarial │ UNIDADE I

consumido no momento em que está a ser produzido. O prazo de vigência da marca é


de 10 anos prorrogáveis por períodos iguais e sucessivos (AQUINO, 2015, p. 110-112).

(d) Nos termos do art. 95 da LPI, considera-se desenho industrial a forma plástica
ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa
ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original na
sua configuração externa, e que possa servir de tipo de fabricação industrial. Desse
modo, destaca-se que o Desenho Industrial tem caráter ornamental e funcional, não
requer atividade inventiva como na patente. O desenho industrial é novo quando não
compreendido no estado da técnica. O estado da técnica é constituído por tudo aquilo
tornado acessível ao público antes da data do depósito, no Brasil ou no exterior, por
uso ou qualquer outro meio. O prazo de vigência do desenho industrial é de 10 anos
prorrogáveis por três períodos iguais de 5 anos sucessivos (AQUINO, 2015, p. 136-137).

(e) A LPI não define o que é Indicação Geográfica, estabelecendo apenas suas espécies,
a Indicação de Procedência e a Denominação de Origem, inexistindo hierarquia legal
entre elas, sendo possibilidades paralelas à escolha dos produtores ou prestadores de
serviços que planejam buscar essa modalidade de proteção, atendidos os requisitos da
lei e de sua regulamentação. Todavia, é possível conceituar Indicação Geográfica como
a identificação de um produto ou serviço como originário de um local, região ou país,
quando determinada reputação, característica e/ou qualidade possam ser vinculadas
essencialmente a essa sua origem particular (AQUINO, 2015, p. 116-132).

(f) A LPI sustenta que a utilização dos direitos protegidos por ela é considerada
crime anticorrencial. No entanto, o sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência
sofreu profunda reestruturação, com a promulgação da Lei nº 12.529/2011, que
possui três eixos fundamentais: instituição de um regime de análise prévia de atos de
concentração econômica, modificações na disciplina das condutas anticompetitivas e
organização de um novo modelo jurídico institucional, em que as competências legais
relativas à prevenção e à repressão ao abuso do poder econômico são completamente
redistribuídas. A criação de um regime de análise prévia de atos de concentração
econômica agregada a necessidade de notificação, procura conceder maior efetividade
no controle de estruturas, por meio da redução do número de casos analisados pelo
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).

A marca, as patentes e o desenho industrial podem ter seus registros tornados nulos
por meio de processo judicial ou mesmo administrativo, desde que observados os
prazos legais. O pedido de nulidade administrativa ou judicial poderá ser requerido
por qualquer interessado ou mesmo pelo próprio Instituto Nacional de Propriedade
Industrial (INPI), inclusive de ofício. Quando não for o requerente, necessariamente o
INPI deverá fazer parte do processo.

39
Sociedade Unidade ii
Empresarial

Capítulo 1
Entidade dotada de personalidade
jurídica e patrimônio próprio

Conforme mencionado anteriormente, a empresa pode, também, ser explorada por


meio da conjugação de esforços e de capital de, no mínimo, duas pessoas, físicas,
jurídicas ou ambas (conforme o tipo societário), as quais se unem na consecução de
um objetivo comum, qual seja, o lucro, e, por meio de contrato ou estatuto, constituem,
após o registro dos atos constitutivos na Junta Comercial, uma pessoa jurídica distinta
da pessoa de seus sócios.

Sociedade é uma entidade dotada de personalidade jurídica e de patrimônio próprio.


Entre as sociedades, distinguem-se as simples das empresárias. As sociedades simples,
introduzidas pelo Código Civil em substituição às sociedades civis, são destinadas à
exploração de todas as atividades não empresárias. Releva ressaltar, no entanto, que o
legislador, ao regular as sociedades simples, determinou serem tais normas aplicáveis,
também, às sociedades limitadas. A análise das atividades desenvolvidas esclarece se
uma sociedade é simples ou empresária.

O fim precípuo de qualquer atividade de natureza econômica é o lucro, o qual pode ser
alcançado ou não, dependendo do sucesso ou insucesso do empreendimento.

Desse modo, distingue-se a “finalidade” do esforço conjunto, do “objeto” da exploração


empresarial, a qual pode ser atividade produtiva, de intermediação ou prestação
de serviços. O objeto, a atividade em si mesma, varia de acordo com o interesse do
empresário, tendo em vista, no mais das vezes, pesquisa de mercado. O objeto vem
descrito, como cláusula contratual obrigatória, servindo para limitar o âmbito de suas
atividades e os poderes dos administradores.

Vulgarmente, os sócios administradores de sociedades costumam autodenominar-se


“empresários”, o que só estará correto se o sócio exercer, paralelamente e em nome

40
Sociedade Empresarial │ UNIDADE II

próprio, atividade empresarial. Caso não seja essa a hipótese, a referida designação
é juridicamente incorreta, já que empresária é a sociedade da qual ele faz parte como
sócio e/ou administrador, e em nome de quem (pessoa jurídica) é exercida a atividade
empresarial, firmando contratos com fornecedores, empregados, etc.

O Código Civil42 reconhece o início da existência das pessoas jurídicas mediante a


inscrição de seus atos constitutivos no respectivo registro, no caso, no Registro Público
de Empresas Mercantis, as conhecidas Juntas Comerciais, averbando-se no registro
todas as alterações por que passar o ato constitutivo.

A vantagem da exploração da empresa por meio de sociedade regular é a proteção que a


autonomia patrimonial, decorrente de registro e surgimento da pessoa jurídica, garante.
Se a cada pessoa corresponde um patrimônio, após o nascimento da pessoa jurídica,
mediante o registro dos atos constitutivos, surge uma pessoa distinta da pessoa de seus
sócios, com nome e domicílio, direitos, obrigações e patrimônio próprios, de modo que
as obrigações contraídas no exercício da atividade empresarial são garantidas pelos
bens que integram o seu patrimônio. Apenas em algumas situações se autoriza ingressar
no patrimônio pessoal dos sócios, objetivando o pagamento dos credores da sociedade,
como se verá adiante.

Somente são pessoas jurídicas as reconhecidas pela norma, isso decorre da aplicação da
teoria da realidade técnica, que acarreta os seguintes elementos: (a) capacidade jurídica
própria: apresentam personalidade distinta da dos seus membros; (b) Responsabilidade
patrimonial própria: possuem patrimônio diverso da dos seus membros; (c) isonomia
de direitos e deveres: as pessoas jurídicas, em princípio, possuem os mesmos direitos e
as mesmas obrigações das pessoas físicas; e (d) reconhecimento estatal: só será pessoa
jurídica a reconhecida pelo Direito (AQUINO, 2015, p. 162).

A despeito de a atividade rural não ser considerada empresarial, aqueles que exploram
empreendimentos agrícolas e pastoris podem optar por obter tal caracterização,
bastando, para isso, procederem à sua inscrição na Junta Comercial43.

Uma observação importante é a de que as sociedades de advogados nunca poderão


exercer atividade empresarial. 44

A sociedade é, portanto, uma união de esforços para o bom desenvolvimento das


atividades econômicas, das quais uma única pessoa física não daria conta, em que a
união se formaliza pelo contrato. A referida atividade pode restringir-se à realização
de apenas um negócio ou a vários. Para a existência da sociedade, é primordial haver

42 CC, art. 45.


43 CC, Art. 970.
44 Conforme o art. 16, da Lei nº 8.906/1994, não podem existir sociedades de advogados que possuam características mercantis.

41
UNIDADE II │ SOCIEDADE EMPRESARIAL

os seguintes requisitos: (a) Affectio societatis; (b) união de duas ou mais pessoas; (c)
definição das obrigações recíprocas; d) finalidade econômica; e) partilha de resultados.

Assim como as pessoas jurídicas nascem mediante o registro de seus contratos/estatutos,


elas se extinguem como decorrência da baixa do mesmo registro na Junta Comercial.
Antes de extinguir-se, porém, é necessário seguir o procedimento de dissolução, o qual
se inicia com a tomada de decisão, seguida da apuração do ativo e do passivo, liquidação,
ou seja, venda dos bens, apuração do resultado e pagamento do passivo. A última etapa
do processo de dissolução é a extinção. O exercício de atividade empresarial por meio
de sociedade, cujos atos de constituição não sejam levados a registro, caracteriza-a
como irregular.

Irregular também será a dissolução da sociedade quando o ativo social for distribuído
entre os sócios, ou apropriado pelo sócio majoritário, sem o devido pagamento aos
credores, encerrando-se as atividades sem a dívida baixa no registro. Tal conduta
acarreta para os sócios responsabilidade ilimitada.

Esclareça-se que, enquanto não providenciada a baixa nos registros, a pessoa jurídica
continua tendo existência jurídica, embora tenha encerrado suas atividades.

Algumas consequências se impõem ao fato de alguém – pessoa física ou jurídica – ser


considerado empresário regular, submetido, pois, às normas de Direito Comercial. O
empresário regular pode requerer a falência de outro empresário e requerer, em situação
de crise financeira, sua recuperação judicial, favor legal inexistente para os que não
exercem atividade de natureza econômica. Tal se justifica como forma de tornar efetivo
o preceito constitucional da “preservação da empresa’” como fonte geradora de riqueza.

Outra consequência diz respeito à falência (execução coletiva, mediante concurso


universal de credores), instituto privativo dos empresários devedores, enquanto os
não empresários sujeitam-se à execução concursal precedida de declaração judicial de
insolvência, regulada pelo CPC de 1976, ainda em vigor para a insolvência civil. Embora
de consequências mais drásticas, o primeiro sistema é mais vantajoso, por propiciar
mecanismos de composição judicial com os credores, facultando-se ao devedor,
inclusive, obstaculizar o prosseguimento do processo falimentar, mediante pedido de
recuperação judicial apresentado no prazo da contestação.

As sociedades empresárias respondem perante seus credores com todos os bens que
compõem seu patrimônio. Assim, todas as sociedades respondem ilimitadamente
perante seus credores. Os sócios, no entanto, só responderão ilimitada, solidária e
subsidiariamente, em alguns tipos societários, como se verá adiante.

42
Sociedade Empresarial │ UNIDADE II

As sociedades são divididas em sociedades não personificadas e personificadas. As


primeiras não possuem registro na Junta Comercial e as segundas têm seus atos
constitutivos averbados nessa Junta.

São sociedades não personificadas: (a) sociedade em comum; (b) sociedade em conta
de participação. São personificadas: (a) sociedade simples; (b) sociedade em nome
coletivo; (c) sociedade comandita simples; (d) sociedade limitada; (d) sociedade
anônima; (e) sociedade comandita por ações; (f) sociedade cooperativa.

Quanto à atividade, as sociedades podem ser empresárias ou simples. As sociedades


empresárias exercem atividade econômica organizada para a produção ou a circulação
de bens ou serviços, e as simples, todas as demais, isto é, as que, embora pratiquem
atividade econômica, não desenvolvem o objeto próprio das empresárias, ou seja, não
atuam em atividade típica de empresa.

A Sociedade Empresária tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário


sujeito ao registro, inclusive a sociedade por ações, independentemente de seu objeto
(art. 982 e parágrafo único, do Código Civil), devendo inscrever-se na Junta Comercial
do respectivo Estado (art. 1.150, do Código Civil). Deve-se esclarecer que o registro, em
regra, não tem caráter constitutivo. A questão da empresariedade da sociedade tem
como condão três fatores: (a) atividade econômica de produção ou circulação de bens e
serviços; (b) organização; (c) profissionalismo no desempenho da atividade produtiva.

A sociedade será considerada como simples se a atividade desenvolvida for caracterizada


como profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa. A profissão intelectual pode ser encarada como sendo aquela
profissão de natureza científica (ex.: químico, veterinário, médico), literária (ex.: escritor,
poeta, compositor) e artística (desenhista, fotógrafo, músico). A intelectualidade se
difere do profissional liberal que pode tanto exercer atividade de empresa (pedreiro,
representante comercial) ou intelectual (produtor gráfico, articulista e engenheiro).
Caso a atividade intelectual seja um dos elementos da empresa, a atividade simples
se deslocará para o conceito de empresa. O elemento de empresa refere-se à atividade
desenvolvida pela empresa, isto é, faz parte do seu objeto social, e de como ela está
organizada para atuar.

Outro ponto importante é a da responsabilidade da própria sociedade, caso a sociedade


ou a Eireli possuam débito, a sua responsabilidade será ilimitada, pois responderá com
seus bens no presente e no futuro, e seus sócios só serão responsabilizados na forma
da lei. Assim, as sociedades com responsabilidade limitada, em regra, não responderão
por dívidas civis e empresariais.

43
UNIDADE II │ SOCIEDADE EMPRESARIAL

Para responder pelas dívidas empresariais e civis, elas terão de ter por parte dos
sócios ou administradores, incluindo o dono da Eireli, um comportamento abusivo da
personalidade jurídica da sociedade, caracterizado por confusão patrimonial ou por
desvio de finalidade.

Nessa situação, o credor poderá requerer em juízo a desconsideração da personalidade


na própria inicial ou por meio de intervenção de terceiro. Nesse caso, o processo
deverá ser suspenso e o sócio, o administrador (desconsideração direta) ou a sociedade
(desconsideração indireta) deverá responder o processo.

Em relação aos negócios jurídicos, eles serão ineficazes, mas nunca inexistentes,
inválidos, nulos ou anuláveis. Quanto aos sócios e/ou administradores, serão apenas
responsabilizados, mas nunca retirados, excluídos, dissidentes, remidos, falidos ou
afastados (AQUINO, 2015, p. 175).

Cumpre, por fim, ressaltar que a possibilidade de reconhecimento e a aplicação da teoria


da desconsideração da personalidade jurídica só têm incidência na esfera judicial, não
sendo possível sua aplicação no âmbito administrativo.

A pessoa jurídica responde sempre ilimitadamente, ou seja, com todo o seu


patrimônio, referindo-se à classificação, à responsabilidade de seus sócios.
É claro que, na verdade, sempre há um limite que é o das forças do próprio
patrimônio. Assim, se os bens do patrimônio de uma sociedade totalizam o valor
de R$300.000,00, este será o limite. Considerando-se que “valor” tem caráter
flutuante, variando no tempo em face das desventuras ou sucessos no exercício
da atividade, o limite real da responsabilidade pode e vai sofrer alterações para
mais ou menos, ora sendo superior ao valor de suas obrigações, ora inferior ao
valor destas.

Contrato Social – Cláusulas Obrigatórias


O Código Civil45 elenca as cláusulas essenciais do contrato social, firmado por
instrumento público ou particular, quais sejam: (I) nome, nacionalidade, estado civil,
profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas; (II) denominação ou firma social, objeto,
sede e prazo da sociedade; (III) capital da sociedade, expresso em moeda corrente,
podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;
(IV) a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la; (V) as prestações a
que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços; (VII) as pessoas naturais
45 CC, art. 997.

44
Sociedade Empresarial │ UNIDADE II

incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; (VIII) a


participação de cada sócio nos lucros e nas perdas; (VIII) se os sócios respondem, ou
não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

A Junta Comercial, nas suas regras, determina, ainda, que, no contrato, haja cláusula
acerca da possibilidade ou não de cessão de quotas, e também do destino das quotas em
caso de falecimento de um dos sócios.

Com o advento do novo Código, no entanto, é conveniente que as pessoas mudem


seus hábitos de deixar a constituição das sociedades a cargo do contador escolhido
para a futura sociedade, o qual utilizará o modelo padrão distribuído pelas Juntas,
e contratar advogado para redigir um contrato prevendo outras hipóteses, tais como
regras relativas à forma e ao prazo de reembolso em caso de falecimento, retirada ou
exclusão de sócio, etc.

Os contratos sociais devem atender aos requisitos gerais de validade de qualquer


negócio jurídico46, agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e
forma prescrita ou não defesa em lei. Relativamente à capacidade, surge o problema da
participação de incapazes em sociedades empresariais, em virtude do risco envolvido
de insucesso e de perda dos recursos investidos na participação societária. Sendo
absolutamente incapaz, deverá ser representado, se relativamente, será assistido.

Incapaz
O incapaz pode ser os menores de idade e também aqueles que, por decisão judicial,
tornaram-se absoluta ou relativamente incapazes na forma dos arts. 3º47 e 4º48 do CC.

Muito se questiona a respeito da participação do menor em sociedades limitadas, em


face da responsabilidade não adstrita à integralização de suas quotas, mas, também, da
responsabilidade solidária pela integralização devida por qualquer sócio inadimplente.
Isso porque, se, por exemplo, sua participação se restringir a 2% do capital social,
poderá ser compelido, judicialmente, ao pagamento de todo o valor que faltar para a
integralização do capital, caso o(s) sócio(s) restante(s) não o faça(m), o que representa
risco extra além daquele envolvido em qualquer atividade empresarial. A doutrina, a

jurisprudência e o DNRC49 recomendam o não ingresso de menor em sociedade com


capital não integralizado e, caso haja aumento de capital não integralizado no ato, que
46 CC, art. 104.
47 Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
48 Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito
anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem
exprimir sua vontade; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
49 Departamento Nacional de Registro de Comércio.

45
UNIDADE II │ SOCIEDADE EMPRESARIAL

o menor exerça o direito de retirar-se da sociedade. Problema surge em sociedades por


prazo determinado, nas quais o exercício do direito de recesso apenas será possível com
ordem judicial50.

Para positivar a questão de a possibilidade do incapaz fazer parte de uma sociedade, a


Lei nº 12.399, de 2011, inclui nas regras do Código Civil a seguinte determinação: art.
974 [...] § 3º “O Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais
deverá registrar contratos ou alterações contratuais de sociedade que envolva sócio
incapaz, desde que atendidos, de forma conjunta, os seguintes pressupostos: (I) o sócio
incapaz não pode exercer a administração da sociedade; (II) o capital social deve ser
totalmente integralizado; (III) o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o
absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais.”

Nos demais casos, em sociedades limitadas por prazo indeterminado ou em sociedades


anônimas, a discordância de alteração contratual (o aumento do capital social exige
alteração contratual) autoriza o exercício do direito de recesso (retirada)51, exigindo-se,
nas S.A., que a discordância seja motivada.

Não é incomum, nos acordos envolvendo partilha em separação de cônjuges, sendo


um deles sócio de limitada, que este oferte parte de suas quotas da sociedade, ou que a
genitora concorde em que sua parte seja destinada aos filhos, os quais passam a compor
o quadro societário por meio de transferência de parte das quotas do genitor. Tal acordo
tende a ser extremamente arriscado, gerador de conflitos futuros e consequente perda,
indireta, da meação.

Sócios
Além do número mínimo de dois sócios (pessoa física, jurídica ou ambas), há de
constar a qualificação completa dos sócios. Há que se observar, no entanto, a prática
corrente, no empresariado nacional, de constituir sociedade tendo no corpo societário
a pessoa do empreendedor com participação majoritária no capital social e outro(s)
sócio(s) meramente figurativo(s), com participação simbólica. Ou pessoa da família,
empregados, pessoas já falecidas ou nomes tirados de carteiras de identidade perdidas.
Foi assim que um frentista descobriu, ao ser citado, que era “sócio majoritário e
administrador” de uma construtora.

Indicativo de fraude na constituição da sociedade é a indicação do domicilio de sócio


coincidente com a sede social. Quase sempre é sinal da composição do corpo societário
com “laranja”. No âmbito das sociedades, nem tudo o que parece é.
50 CC, 1.029.
51 CC, art. 1.029 e 1.077.

46
Sociedade Empresarial │ UNIDADE II

É nula a cláusula que retira de sócio o direito à participação nos lucros52. Fábio Ulhoa
Coelho chama a atenção, no entanto, para a licitude na contratação da distribuição dos
lucros sem correspondência com a participação no capital social53.

É facultado54 aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que
não sejam casados no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação
obrigatória. No caso da comunhão universal, a sociedade seria uma espécie de ficção,
já que a titularidade das quotas do capital de cada cônjuge na sociedade não estaria
patrimonialmente destacada no âmbito da sociedade conjugal, e, na hipótese de
regime da separação obrigatória, a lei não lhes permite misturar seus patrimônios no
casamento, seria uma contradição admitir que o fizessem ao contratarem sociedade.

Segundo Fiúza (2003):

A norma do art. 977 proíbe a sociedade entre cônjuges quando o regime


for o da comunhão universal (art. 1.667) ou o da separação obrigatória
(art. 1.641). No primeiro caso, o da comunhão total, a sociedade seria
uma espécie de ficção, já que a titularidade das quotas do capital de
cada cônjuge na sociedade não estaria patrimonialmente separada no
âmbito da sociedade conjugal, da mesma maneira que todos os demais
bens não excluídos pelo art. 1.668 a ambos pertencentes. No que tange
ao regime da separação obrigatória, a vedação ocorre por disposição
legal, nos casos em que sobre o casamento possam ser levantadas
dúvidas ou questionamentos acerca do cumprimento das formalidades
ou pela avançada idade de qualquer dos cônjuges. Estando os cônjuges
casados pelos regimes da separação total ou da comunhão parcial,
podem constituir sociedade, entre si ou com terceiros. Permite-se,
assim, a sociedade entre cônjuges nos regimes de comunhão parcial
e da separação total, em que ambos os cônjuges podem fazer suas
contribuições individuais para a formação do patrimônio social, desde
que não haja abuso da personalidade jurídica societária com a intenção
de prejudicar credores. A partir do novo Código Civil, o ordenamento
jurídico permite, expressamente, a constituição de sociedade empresária
ou simples entre marido e mulher, superando, assim, lacuna existente
em nossa legislação e as divergências jurisprudenciais que vinham
sendo objeto de acalorados debates pela doutrina (FIUZA, 2003).

Interessante questão que pode ser colocada é a do sócio investidor, o denominado


“sócio investidor” ou “investidor anjo”. Segundo o art. 61-A da Lei complementar
52 CC, art. 1.008.
53 CC, art. 1.008 CC, art. 1.008.
54 CC, art. 977.

47
UNIDADE II │ SOCIEDADE EMPRESARIAL

nº 123/2006, é prevista a possibilidade de aporte nas atividades de inovação e os


investimentos produtivos, assim, se uma sociedade for enquadrada como microempresa
ou empresa de pequeno porte, nos termos dessa Lei Complementar, poderá admitir o
aporte de capital, que não integrará o capital social da empresa. E esse sócio não terá
responsabilidade pelos riscos da atividade na qual realizou o aporte.55

Poderá o aporte ser modificado na vigência do contrato, por meio da sua emissão e da
titularidade de aportes especiais, o que não impedem a fruição do Simples Nacional,
uma vez que o valor do aporte não integra o capital social da sociedade.

É claro que os sócios possuem deveres e direitos. Entre os direitos56, tem-se o direito de
votar (exceto os detentores de ações preferenciais sem voto), de ser votado e de receber
os dividendos. Entre os deveres57, tem-se o dever de integralizar as quotas no prazo e
na quantia determinada, o dever de lealdade e o dever de informação (comunicação)58.

Objeto Social
Não confundir objeto com objetivo. O objetivo ou a finalidade de qualquer sociedade
empresária é o lucro. O objeto diz respeito à atividade a ser exercido (ex.: ramo de
produção de tintas, revenda de calçados, etc.). É o objeto que define, qualifica o
empreendimento, além de servir de limite aos administradores. Assim é que, fixado o
objeto social em cláusula contratual, é vedado aos administradores obrigar a sociedade
em negócio estranho ao objeto social, sob pena de configurar-se a prática de desvio
de poder. Os atos que desbordam o objeto social podem, no entanto, ser objeto de
ratificação pelos demais sócios. Caso não haja ratificação, e em face da violação à

55 Situação criada para solucionar os problemas dos investidores anjos na criação das Startups.
56 São direitos dos acionistas: participação nos lucros sociais, participação do acervo da companhia em caso de liquidação,
fiscalização, na forma prevista na lei, da gestão dos negócios sociais, preferência para a subscrição dos valores mobiliários,
retirarem-se da companhia nos casos previstos na lei.
57 O estatuto e a lei podem prever obrigações para o acionista, porém as suas obrigações principais são a de integralizar as ações
subscritas e o dever de lealdade.
58 A Instrução CVM nº 358, de 3 de janeiro de 2002, com as respectivas alterações, determina que os acionistas controladores,
diretores, membros do conselho de administração, do conselho fiscal e de quaisquer órgãos com funções técnicas ou
consultivas, criados por disposição estatutária, deverão comunicar qualquer ato ou fato relevante de que tenham conhecimento
ao Diretor de Relações com Investidores, que promoverá sua divulgação, bem como informará à companhia a titularidade e
as negociações realizadas com valores mobiliários emitidos pela própria companhia, por suas controladoras ou controladas,
nesses dois últimos casos, desde que se trate de companhias abertas. É dever do adquirente do controle acionário divulgar
fato relevante e realizar as comunicações que deverão necessariamente conter: I - nome e qualificação do adquirente, bem
como um breve resumo acerca dos setores de atuação e atividades por ele desenvolvidas; II - nome e qualificação do alienante,
inclusive indireto, se houver; III - preço total e o atribuído por ação de cada espécie e classe, forma de pagamento e demais
características e condições relevantes do negócio; IV - objetivo da aquisição, indicando, no caso do adquirente ser companhia
aberta, os efeitos esperados em seus negócios; V - número e percentual de ações adquiridas, por espécie e classe, em relação
ao capital votante e total; VI - indicação de qualquer acordo ou contrato regulando o exercício do direito de voto ou a compra e
venda de valores mobiliários de emissão da companhia; VII - declaração quanto à intenção de promover, ou não, no prazo de
um ano, o cancelamento do registro da companhia aberta; e VIII - outras informações relevantes referentes a planos futuros
na condução dos negócios sociais, notadamente no que se refere a eventos societários específicos que se pretendam promover
na companhia, em especial reestruturação societária envolvendo fusão, cisão ou incorporação (art. 10 da Instrução CVM nº
358/2002).O prazo para comunicar à companhia a existência de ato ou fato relevante é de 5 (cinco) dias após a realização de
cada negócio; no primeiro dia útil após a investidura no cargo; e no momento da apresentação da documentação para o registro
da companhia como aberta.

48
Sociedade Empresarial │ UNIDADE II

clausula contratual, o administrador pode ter sua responsabilidade ilimitada declarada,


de modo a alcançar seu patrimônio pessoal.

Capital Social
Todo contrato tem de conter cláusula estabelecendo qual será o capital social, deve ser
o valor correspondente ao montante em dinheiro e/ou bens necessário ao exercício da
atividade empresarial. A definição do quanto é preciso é tarefa dos sócios, os quais, uma
vez definido o valor, devem decidir com que valor cada um contribuirá para a formação
do patrimônio inicial da sociedade. Cada sócio retirará de seu patrimônio pessoal o valor
a ser transferido a título de investimento na sociedade, comprometendo-se a efetuar
a transferência no momento da constituição da pessoa jurídica, ou posteriormente,
de uma só vez ou em parcelas. O ato de comprometimento do sócio perante a pessoa
jurídica denomina-se “subscrição” A efetiva transferência do valor subscrito para a
sociedade denomina-se “integralização”.

Dessarte, o capital social é apenas um valor que consta do contrato social e só dele.
Assim que constituída a sociedade, os sócios deverão lançar mão dos recursos advindos
da integralização inicial para a aquisição de bens e estoque, objetivando o início das
atividades. Considerando-se que o valor dos bens após a compra costuma ser inferior
ao valor pago por eles, já de início ter-se-á uma defasagem entre o valor do capital e
o patrimonial. O valor dos bens agregados ao patrimônio social e a lucratividade ou o
prejuízo da empresa determinam ora que o valor patrimonial seja superior ora inferior
ao valor do capital social. Este é fixo, e só é alterado por meio de alteração contratual ou
estatutária, enquanto o valor patrimonial oscila.

Um grave problema que se verifica na prática societária é a fixação do capital social e


sua divisão entre os sócios, não se seguindo, no entanto, a necessária integralização. Tal
realidade é uma constante em pequenos empreendimentos que têm o valor do capital
social simulado, objetivando impressionar fornecedores e outros contratantes e bancos.

Até bem pouco tempo, em alguns procedimentos licitatórios, a única exigência para
comprovar a capacidade financeira das licitantes era o contrato social, o que é um
absurdo, considerando-se que o capital social é apenas um número constante do contrato
social. É o patrimônio líquido da sociedade o indicativo de sua saúde financeira.

Requisito essencial é a participação de cada sócio no capital social, visto que só se admite
sócio de indústria em sociedades simples59. Tal vedação é passível de ser contornada,
atribuindo-se ao sócio que exercerá algum tipo de trabalho intelectual relevante ou

59 CC, art. 1.055, § 2º.

49
UNIDADE II │ SOCIEDADE EMPRESARIAL

que trará algum know how importante para a empresa, mas que não tem ou não quer
contribuir para o capital social, uma participação reduzidíssima.

A contribuição dos sócios pode dar-se em dinheiro, bens ou créditos, fazendo-se


constar a sua participação pelo valor correspondente ao bem que transfere a título de
propriedade para a sociedade.

Dissolução
O termo “dissolução” é utilizado para identificar o procedimento que se inicia com a
deliberação dos sócios no sentido de encerrar as atividades e que termina com o registro
do distrato social na Junta Comercial, desaparecendo, a partir daí, a pessoa jurídica. A
dissolução é, desse modo, formada pela deliberação, liquidação que implica apuração
do ativo, do passivo, venda dos bens que constituem o patrimônio, pagamento dos
credores, partilha do saldo, se houver, entre os sócios, e a baixa do registro.

Considerando-se que as sociedades podem ser constituídas por prazo determinado


ou indeterminado, os casos de dissolução variam de acordo com o tipo escolhido.
Na hipótese de sociedade constituída com prazo determinado, uma vez atingido, a
sociedade deve ser dissolvida, salvo se, ultrapassado o prazo determinado, os sócios
prosseguirem com as atividades.

Naquelas constituídas com prazo indeterminado, a dissolução pode se dar


consensualmente ou judicialmente. As sociedades serão dissolvidas também pela
falência.

Dissolução Parcial

Expressão utilizada pela doutrina e pela jurisprudência para designar o processo de


liquidação parcial da sociedade60. De fato, pode ocorrer o falecimento, a retirada ou a
expulsão de um dos dois sócios, caso em que, vedada a unipessoalidade, a sociedade
deveria entrar em processo de dissolução e extinguir-se. Considerando-se, no entanto,
o princípio da preservação da empresa, bem como a vontade do sócio remanescente em
prosseguir com a companhia, admite-se que, por um período de 180 dias, a sociedade
prossiga com apenas um sócio61.

A ação de dissolução parcial na forma do novo CPC poderá ter por objeto: (I) a resolução
da sociedade empresária contratual ou simples em relação ao sócio falecido, excluído
ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; e (II) a apuração dos haveres do sócio
60 Tal expressão é repudiada por BORBA, J. E. T. Direito Societário. – 9ª ed. – Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 76.
61 CC, art. 1.033, IV.

50
Sociedade Empresarial │ UNIDADE II

falecido, excluído ou que exerceu o direito de retirada ou recesso; ou (III) somente a


resolução ou a apuração de haveres62.

A demanda processual (ação) poderá ser pleiteada: (i) pelo sócio excluído; (II) pela
sociedade, se os sócios sobreviventes não admitirem o ingresso do espólio ou dos
sucessores do falecido na sociedade, quando esse direito decorrer do contrato social;
(III) pelo espólio do sócio falecido, quando a totalidade dos sucessores não ingressar
na sociedade; (IV) pelos sucessores, após concluída a partilha do sócio falecido; (V)
pelo sócio que exerceu o direito de retirada ou recesso, se não tiver sido providenciada,
pelos demais sócios, a alteração contratual consensual, formalizando o desligamento,
depois de transcorridos dez dias do exercício do direito; (VI) quando a lei não autorizar
a exclusão extrajudicial de um sócio, a sociedade poderá requerer a dissolução parcial63.

Uma vez proposto o pedido de dissolução, os sócios e a sociedade serão citados para
apresentar a contestação. Se todos os sócios forem citados, a sociedade não precisará
ser citada64. Será possível, no prazo da contestação, apresentar manifestação unânime
pela dissolução total da sociedade (extinção), situação em que o juiz determinará que
o processo passe para a fase de liquidação e que haja apuração dos haveres dos sócios,
momento em que não haverá condenação de honorários sucumbenciais.

No caso de pedido de haveres (reembolso), poderá ocorrer o pedido de indenização por


danos morais e materiais, desde que compatíveis com o valor dos haveres.

Em relação à apuração dos haveres, o juiz deve: I - fixar a data da resolução da sociedade;
II - definir o critério de apuração dos haveres à vista do disposto no contrato social; e
III - nomear o perito65.

Para analisar a questão da responsabilidade da sociedade e dos sócios, o CPC estipulou


que a data da resolução da sociedade será: I - no caso de falecimento do sócio, a do óbito;
II - na retirada imotivada, o sexagésimo dia seguinte ao do recebimento, pela sociedade,
da notificação do sócio retirante; III - no recesso, o dia do recebimento, pela sociedade,
da notificação do sócio dissidente; IV - na retirada por justa causa de sociedade por
prazo determinado e na exclusão judicial de sócio, a do trânsito em julgado da decisão

62 CPC, Art. 599 § 1º A petição inicial será necessariamente instruída com o contrato social consolidado. § 2º A ação de dissolução
parcial de sociedade pode ter também por objeto a sociedade anônima de capital fechado quando demonstrado, por acionista
ou acionistas que representem cinco por cento ou mais do capital social, que não pode preencher o seu fim.
63 Art. 600, Parágrafo único, CPC. O cônjuge ou companheiro do sócio cujo casamento, união estável ou convivência terminou
poderá requerer a apuração de seus haveres na sociedade, que serão pagos à conta da quota social titulada por este sócio.
64 Art. 601, CPC. Os sócios e a sociedade serão citados para, no prazo de 15 (quinze) dias, concordar com o pedido ou apresentar
contestação. Parágrafo único. A sociedade não será citada se todos os seus sócios o forem, mas ficará sujeita aos efeitos da
decisão e à coisa julgada.
65 Art. 604, § 1º, CPC. O juiz determinará à sociedade ou aos sócios que nela permanecerem que depositem em juízo a parte
incontroversa dos haveres devidos. § 2º O depósito poderá ser, desde logo, levantando pelo ex-sócio, pelo espólio ou pelos
sucessores. § 3º Se o contrato social estabelecer o pagamento dos haveres, será observado o que nele se dispôs no depósito
judicial da parte incontroversa.

51
UNIDADE II │ SOCIEDADE EMPRESARIAL

que dissolver a sociedade; e V - na exclusão extrajudicial, a data da assembleia ou da


reunião de sócios que a tiver deliberado66.

A apuração de haveres, ou seja, o procedimento destinado ao cálculo do valor a ser


restituído (reembolso) ao espólio, ao sócio retirante ou ao expulso é efetuada com base
em balanço especial. O cálculo é feito embasado no patrimônio líquido da sociedade,
tendo em vista obter o valor patrimonial das quotas, ou seja, o quociente da divisão do
patrimônio líquido dividido pelo número de quotas. Caso a necessidade de reembolso
se verifique pouco tempo após a realização do balanço anual, não parece razoável fazer-
se novo balanço, porquanto é pouco provável que a situação patrimonial da empresa
tenha sofrido alteração, o que se há de apurar diante de cada caso concreto.

Caso o último balanço não tenha sido aprovado pelo sócio falecido, retirante ou excluído,
não pode servir de base ao cálculo do seu reembolso67, sendo obrigatório o balanço
especial, mesmo que o balanço anual seja recente.

O CPC estipula que:

Art. 606. Em caso de omissão do contrato social, o juiz definirá, como


critério de apuração de haveres, o valor patrimonial apurado em balanço
de determinação, tomando-se por referência a data da resolução e
avaliando-se bens e direitos do ativo, tangíveis e intangíveis, a preço de
saída, além do passivo também a ser apurado de igual forma.

Parágrafo único. Em todos os casos em que seja necessária a realização


de perícia, a nomeação do perito recairá preferencialmente sobre
especialista em avaliação de sociedades.

Art. 607. A data da resolução e o critério de apuração de haveres podem


ser revistos pelo juiz, a pedido da parte, a qualquer tempo antes do
início da perícia.

Art. 608. Até a data da resolução, integram o valor devido ao ex-sócio,


ao espólio ou aos sucessores a participação nos lucros ou os juros
sobre o capital próprio declarados pela sociedade e, se for o caso, a
remuneração como administrador.

Parágrafo único. Após a data da resolução, o ex-sócio, o espólio ou


os sucessores terão direito apenas à correção monetária dos valores
apurados e aos juros contratuais ou legais.

66 Art. 604, CPC.


67 Súmula 265 do STF: “Na apuração de haveres, não prevalece o balanço não aprovado pelo sócio falecido, excluído ou que se
retirou”.

52
Sociedade Empresarial │ UNIDADE II

Art. 609. Uma vez apurados, os haveres do sócio retirante serão pagos
conforme disciplinar o contrato social e, no silêncio deste, nos termos
do § 2º do art. 1.031 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil).

É extremamente importante incluir-se no contrato social cláusula regulando a forma


e o prazo (à vista ou em parcelas) do reembolso, de modo a evitar que a sociedade seja
compelida a se descapitalizar ao ponto de uma eventual insolvência e falência, o que
pode ser evitado mediante a aquisição das quotas no valor do reembolso, pelos sócios
remanescentes.

53
Sociedade
Unipessoal E Unidade iii
Eireli

Capítulo 1
Eireli – Empresa individual de
responsabilidade limitada68

A Eireli deverá registrar o seu ato constitutivo para fazer jus à sua personificação. A
Instrução Normativa nº 117, de 22 de novembro de 2011, aprova o Manual de Atos de
Registro de Empresa Individual de Responsabilidade Limitada.

Somente pessoa natural pode constituir Eireli e somente poderá figurar em uma única
empresa dessa modalidade por Estado. A Eireli também poderá resultar da concentração
das quotas de outra modalidade societária em um único sócio, independentemente das
razões que motivaram tal concentração (AQUINO, 2015, p. 311-312).

O ato constitutivo deverá conter as seguintes cláusulas obrigatórias: (a) qualificação do


titular da empresa e, se for o caso, de seu procurador: titular pessoa natural (brasileiro
ou estrangeiro) residente e domiciliado no país ou no exterior: nome civil, por extenso;
nacionalidade; estado civil; data de nascimento, se solteiro; profissão; documento de
identidade, número e órgão expedidor/UF; CPF; endereço residencial (tipo e nome do
logradouro, nº, complemento, bairro/distrito, município, unidade federativa e CEP,
se no país); (b) tipo jurídico (Empresa Individual de Responsabilidade Limitada);
(c) nome empresarial, que poderá ser firma ou denominação, do qual constará
obrigatoriamente, como última expressão, a abreviatura EIRELI69; (d) capital, expresso
em moeda corrente, equivalente a, pelo menos, 100 (cem) vezes o maior salário mínimo
vigente no país (art. 980-A, CC); (e) declaração de integralização de todo o capital
(art. 980-A, CC); (f) endereço completo da sede (tipo e nome do logradouro, número,
complemento, bairro/distrito, município, unidade federativa e CEP), endereço das
filiais; (g) declaração precisa e detalhada do objeto da empresa; (h) prazo de duração
da empresa; (i) data de encerramento do exercício social, quando não coincidente com

68 CC, art. 980-A.


69 AQUINO, L. G. de. Curso de Direito Empresarial: Teoria da empresa e direito societário: Brasília: Kiron, 2015, p. 311-312.
O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão “EIRELI” após a sua firma ou a sua denominação social.

54
Sociedade Unipessoal E Eireli │ UNIDADE III

o ano civil; (j) a(s) pessoa(s) natural(is) incumbida(s) da administração da empresa, e


seus poderes e atribuições; (k) qualificação do administrador, caso não seja o titular da
empresa; e (l) declaração de que o seu titular não participa de nenhuma outra empresa
dessa modalidade.

O produtor rural, nas condições mencionadas do art. 971 do CCB, pode constituir
EIRELI. Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber,
as regras previstas para as sociedades limitadas.

A Eireli poderá ser registrada na Junta Comercial quando o exercício da atividade for
empresarial e quando for atividade intelectual, caracterizada como simples, o seu registro
deverá ser realizado no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. A falta de arquivamento ou
de registro de alterações dos atos constitutivos configura irregularidade superveniente
(Enunciado nº 471 da V Jornada de Direito Civil).

Poderá ser atribuída à Eireli constituída para a prestação de serviços de qualquer


natureza a remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de
imagem, nome, marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados
à atividade profissional. Contudo, “a imagem, o nome ou a voz não podem ser utilizados
para a integralização do capital da EIRELI” (Enunciado nº 473 da V Jornada de Direito
Civil).

O patrimônio da Eireli responderá pelas dívidas da pessoa jurídica, não se confundindo


com o patrimônio da pessoa natural que a constitui, sem prejuízo da aplicação do
instituto da desconsideração da personalidade jurídica (Enunciado nº 470 da V Jornada
de Direito Civil).

55
Capítulo 2
Hipótese transitória e hipótese
permanente

Toda sociedade pressupõe a existência de, pelo menos, dois sócios. Existem, no Direito
brasileiro, duas hipóteses de sociedade unipessoal, uma transitória e outra permanente.

A única sociedade unipessoal permanente admitida no direito brasileiro70 é a subsidiária


integral, necessariamente constituída por uma única sócia, sociedade brasileira, e
adotando a forma de sociedade anônima.

A outra hipótese refere-se ao caso de retirada de sócios de sociedade limitada, restando


apenas um sócio. O CC admite que a sociedade prossiga, temporariamente (180 dias),
no exercício de suas atividades, oportunizando ao sócio remanescente providências no
sentido de compor o mínimo necessário por meio de outro sócio. Nessa situação, o
sócio remanescente poderá ter os seguintes comportamentos: (a) compor em 180 a
conta da saída do sócio ou do falecimento; (b) efetivar a transformação em empresário
individual; (c) efetivar a transformação em Eireli; ou (d) ficar inerte e se tornar uma
sociedade irregular, situação que se será regido pelas regras da sociedade em comum.

Reorganização Societária
As sociedades podem sofrer modificações relativas ao tipo adotado ou à estrutura.
Essas operações são a transformação, a incorporação, a fusão e a cisão. Quando as
modificações envolvem sociedades anônimas, as regras a serem acatadas encontram-se
na lei das S.A. Caso se verifiquem outros tipos societários, as normas são as do Código
Civil71, salvo a exceção a ser apontada abaixo. Regra geral, garante-se aos sócios que
divergirem da operação a ser realizada o direito de se retirar da sociedade.

Podem ainda ocorrer situações de domínio relevante quando uma empresa passa a
fazer parte de um grupo de empresas.

Transformação
É a operação mediante a qual uma sociedade de determinado tipo, por meio de alteração
contratual, transforma-se, sem extinguir a pessoa jurídica, em outro tipo societário.
70 “A Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) não é sociedade unipessoal, mas um novo ente, distinto da
pessoa do empresário e da sociedade empresária” – Enunciado nº 3 da I Jornada de Direito Comercial do CJF.
71 Arts. 1.113 a 1.122.

56
Sociedade Unipessoal E Eireli │ UNIDADE III

Assim, uma sociedade limitada pode transformar-se em sociedade anônima e vice-


versa. Em regra, a transformação só será levada a efeito se houver unanimidade entre
os sócios, ou se já previamente autorizada no contrato ou no estatuto social.

O direito dos credores não é afetado, já que a única alteração é de tipo societário,
mantendo-se o patrimônio inalterado.72

Não há transformação de firma individual em sociedade. Caso as atividades exercidas pela


firma individual venham a ser exercidas por uma sociedade, deverá ser providenciada a
baixa no cadastro CNPJ da firma individual e a inscrição da sociedade que surge.

Fusão
Fusão é o fenômeno de reorganização societária mediante o qual duas ou mais sociedades
se unem para formar uma sociedade nova.

O comercialista Waldírio Bulgarelli73 chama a atenção para o fato de ser a fusão um


instituto complexo, uno, sempre de natureza societária, que se apresenta com três
elementos fundamentais e básicos.

»» Transmissão patrimonial integral e englobada, com sucessão universal.

»» Extinção (dissolução sem liquidação) de, pelo menos, uma das empresas
fusionadas.

»» “Congeminação” dos sócios, isto é, ingresso dos sócios da sociedade ou


das sociedades extintas na nova sociedade criada.

A fusão acarreta a sucessão das sociedades resultantes da operação de modo que, em


princípio, não acarretará qualquer alteração nas garantias dos credores, os quais podem
requerer, judicialmente, a anulação da operação74.

Empresa Empresa
Extinta após a fusão Extinta após a fusão
A B

Fusão

Empresa
C

Empresa Nova
Fonte: Elaboração com dados de AQUINO, 2015, p. 348.

72 Lei nº 6.404/1976, art. 222, e art. 1.115, CC.


73 BULGARELLI, W. A incorporação das Sociedades Anônimas. São Paulo, Leud, 1975.
74 Lei nº 6.404/76, art. 228 e 232, CC, art. 1.119 e 1.122.

57
UNIDADE III │ SOCIEDADE UNIPESSOAL E EIRELI

A despeito da anunciada falta de utilização do instituto, ele vem sendo, ainda, bastante
usado75.

Incorporação
É a operação mediante a qual uma sociedade é absorvida por outra, vindo a extinguir-
se. A sociedade incorporadora permanece promovendo modificação em seu estatuto
ou contrato social, com aumento do capital social e, se for o caso, ingresso de todos ou
alguns sócios da sociedade incorporada.

Em alguns casos, a incorporação pode adotar modalidade de controle acionário que


uma empresa ou grupo passa a exercer sobre um concorrente, por razões estratégicas
ou mercadológicas. Em muitas situações, a incorporação segue a lógica do alcance de
mercado, diversificação de produtos ou racionalização de operações em determinado
segmento ou nicho de mercado.

Fluxograma

Disponível em: <http://www.revistafatorbrasil.com.br/ver_noticia.php?not=74651>. Acesso em: 17 mar. 2017.

Quase sempre, a incorporada continua a existir individualmente, inclusive como marca,


mas tem seu controle exercido pela “empresa-mãe”, atuando de acordo com diretrizes
estabelecidas pela nova cúpula dirigente.

75 Ex.: Fusão das empresas aéreas Nordeste e Rio Sul, que se tornaram unidades locais do grupo Varig, da nova empresa Sky
Brasil, resultante da fusão da TV por assinatura Sky e Directv, dos portais Yahoo! e IG, do Itaú e Unibanco, do Submarino e
Americanas.com, que tomaram o nome de Companhia Global de Varejo.

58
Sociedade Unipessoal E Eireli │ UNIDADE III

Como a incorporadora absorve o patrimônio (garantia dos credores) da incorporada,


em princípio, a reestruturação não afetará o direito dos credores, os quais passam, em
virtude de sucessão, a ser credores da incorporadora76.

Cisão
Cisão é a operação societária mediante a qual uma sociedade empresária transfere para
outra(s), constituída(s) para esse fim ou já existentes, partes ou a totalidade de seu
patrimônio.

Assim, temos quatro tipos de cisão: a cisão pura, a cisão absorção, a falsa cisão e a cisão
holding.

Na cisão total, a sociedade cindida extingue-se e o seu patrimônio transfere-se para


outras duas ou mais sociedades novas, constituídas para esse fim e a cindida desaparece.

Modelo de cisão total

Disponível em: <http://npa.newtonpaiva.br/direito/?p=1299>. Acesso em: 2 mar. 2017.

A cisão parcial caracteriza-se pela divisão de uma sociedade, destacando-se parte


dela, que será absorvida por outras sociedade. Mantém-se a sociedade cindida existente
e funcionando com a parcela não absorvida (também designada por aporte parcial de
ativos), mas a sociedade cindida permanece existindo.

Modelo de cisão parcial

Disponível em: <http://npa.newtonpaiva.br/direito/?p=1299>. Acesso em: 2 mar. 2017.

76 Lei nº 6.404/76, art. 227 e CC, art. 1.116.

59
UNIDADE III │ SOCIEDADE UNIPESSOAL E EIRELI

Os direitos dos credores devem ser garantidos mediante previsão contratual, após
negociação entre as sociedades, de modo que cada uma delas restará responsável pelas
obrigações que lhe forem transferidas. Caso seja omitida a previsão, cada uma das
sociedades para as quais foram transferidos os bens da sociedade cindida responderá
na proporção dos bens transferidos.77

Grupo de empresas
Os grupos de empresas podem ser de fato ou de direito. Os grupos de fato se estabelecem
entre sociedades coligadas ou entre a controladora e a controlada. Coligadas são aquelas
em que uma sociedade participa de 10% ou mais do capital social da outra, sem controlá-
la. Já controladora é aquela que detém o poder de controle de outra companhia. Para
ser considerado um grupo de direito, a relação entre sociedade controladora e suas
controladas deve estar registrada na Junta Comercial.

Haverá contrato de subordinação entre sociedades quando a relação tiver por fonte a
participação de uma sociedade em outra – com uma dimensão que lhe permite influenciar
ou determinar a orientação da participada –, a relação tende a ser de integração. Assim,
o contrato de subordinação tem como ponto fundamental a subordinação da gestão da
sociedade a outra companhia, quer seja sua dominante ou não.

É possível existir uma relação de domínio quando a relação existente entre duas
sociedades, independentemente do domicílio, possa exercer uma sobre a outra, direta
ou indiretamente, influência dominante.

Dessa forma, o CC estipula que “consideram-se coligadas as sociedades que, em suas


relações de capital, são controladas, filiadas, ou de simples participação, na forma dos
artigos seguintes”. E a “filiada é a sociedade cujo capital, na ordem de dez por cento ou
mais pertence a outra sociedade, que, entretanto, não a controla” (art. 1.099, do CC). A
sociedade de simples participação, por seu turno, seria “a sociedade cujo capital outra
sociedade possua menos de dez por cento com direito a voto” (art. 1.100, do CC)78.

Pode-se afirmar que as sociedades controladas e filiadas possuem participação


significativa na concentração e participação das decisões, enquanto a simples
participação possui um papel secundário na realização dos objetivos de realização das
concentrações empresariais.

77 Lei nº 6.404/76, art. 229, § 1º.


78 O Código Civil, além de disciplinar as sociedades controladoras e controladas, disciplinou no art. 1.097.

60
Sociedade Unipessoal E Eireli │ UNIDADE III

Holding
A holding tem a sua regra jurídica de existência e legalidade retirada da seguinte
previsão legal “a companhia pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda
que não prevista no estatuto, a participação é facultada como meio de realizar o objeto
social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais” (art. 2º, § 3º, da Lei nº 6.404/76).

Assim, holding é uma sociedade que tem por objetivo a administração do patrimônio
pessoal dos seus sócios ou o controle de um conjunto de empresas, através da participação
no capital social destas. As holdings são utilizadas, atualmente, como instrumento na
realização de planejamentos tributário, sucessório e societário. Podem ser constituídas
sob a modalidade pura, quando o seu objetivo social consiste na participação no capital
social de outras sociedades, ou sob a modalidade mista, quando, além da participação,
a holding explora atividade econômica.

A sociedade holding deve, necessariamente, ser constituída segundo um dos tipos


societários existentes na legislação brasileira, se ela for constituída no Brasil, caso
contrário deverá observar a lei aplicável à sua constituição.

As vantagens podem ser: (a) tributárias, que se iniciam desde a forma que o valor dos
bens será integralizado ao capital da empresa holding, podendo escolher o melhor
regime tributário, decorrente do valor da declaração de bens do imposto de renda ou do
valor do mercado; (b) em caso falecimento do titular de quotas ou ações de uma holding,
evita-se a incidência do imposto causa mortis nos bens componentes da holding, pois o
que se transfere é a participação nela; (c) A tributação de rendimentos é inferior ao da
pessoa natural; (d) o acesso fácil ao crédito no mercado em geral.

61
Sociedades Unidade iv
Empresariais

Capítulo 1
Tipos de sociedades empresárias

Doutrinariamente, as sociedades são classificadas de duas formas: (i) tendo em vista


a responsabilidade dos sócios e (ii) a prioridade conferida à pessoa dos sócios ou aos
recursos que eles trazem para a sociedade.

Na primeira, temos as sociedades de responsabilidade ilimitada (sociedade em nome


coletivo), sociedades de responsabilidade mista (sociedade em comandita simples,
sociedade em conta de participação, sociedade em comandita por ações) e sociedades
de responsabilidade limitada (sociedades limitadas e sociedades anônimas).

Na segunda, distinguem-se as sociedades em sociedades de pessoas e sociedades


de capital. Naquelas, preponderam o caráter e as qualidades pessoais dos sócios, os
quais são identificados no contrato, enquanto nas sociedades de capital os vínculos
e a importância pessoal são mais tênues, importando a participação societária na
medida dos recursos que cada sócio traz para o empreendimento. Esse é o caso das
sociedades anônimas, mormente as de capital aberto. Um meio relativamente simples
de determinar em que tipo se enquadra uma sociedade é o exame da cláusula que regula
a cessão de quotas.

Coelho (2007) define:

As sociedades de pessoas são aquelas em que a realização do objeto


social depende mais dos atributos individuais dos sócios que da
contribuição material que eles dão. As de capital são as sociedades em
que essa contribuição material é mais importante que as características
subjetivas dos sócios. A natureza da sociedade importa diferenças no
tocante à alienação da participação societária (quotas ou ações), à sua
penhorabilidade por dívida particular do sócio e à questão da sucessão
por morte (COELHO, 2007).

62
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

Os tipos societários atualmente previstos e regulados pelo Código Civil e, no caso das
sociedades anônimas, em legislação esparsa79, são os mesmos existentes anteriormente
à revogação parcial do Código Comercial, com exceção da sociedade de capital e indústria
que não foi mantida no momento da promulgação do novo Código Civil. A sociedade
de capital e indústria é aquela em que um ou mais sócios concorrem unicamente
com o seu trabalho, atividade ou indústria, cabendo somente ao sócio capitalista a
responsabilidade pelas obrigações sociais e o direito de figurar na firma, que é vedado
ao sócio de indústria. Com a entrada em vigor da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de
2002 – Código Civil –, a parte do Código Comercial em que era prevista a sociedade foi
revogada, em consequência esse tipo societário não existe mais.

A tendência mostra-se no sentido de que atividades de natureza econômica de grande


porte sejam exploradas por sociedades anônimas (de capital aberto ou fechado) e
sociedades limitadas; as de médio porte por sociedades anônimas (de capital fechado) e
sociedades limitadas e as de pequeno porte, por sociedades limitadas e por empresários
individuais.

É possível observar, no decorrer do tempo, que sociedades de pequeno porte,


alcançando sucesso no empreendimento, vão se transformando até atingirem o formato
de sociedades anônimas de capital aberto (com ações negociadas em bolsa de valores
ou mercado de balcão)80.

Tendo o Código Civil abolido as sociedades de capital e indústria, restaram as


sociedades de responsabilidade ilimitada (sociedade em nome coletivo), sociedades
de responsabilidade mista (sociedades em comandita simples, comanditas por ações
e sociedades em conta de participação) e as sociedades de responsabilidade limitada
(sociedades limitadas e sociedades anônimas). Interessante a opção legislativa, uma
vez que a sociedade de capital e indústria ainda era utilizada em pequenos negócios que
envolviam um investidor e pessoas que trabalhavam aportando seus conhecimentos e
know how, mediante pagamento de pró-labore e participação nos lucros, enquanto, ao
que se saiba, só existe uma sociedade em nome coletivo no país (do grupo Klabin).

79 Lei nº 6.404/1976.
80 Sistema organizado de negociação de títulos e valores mobiliários de renda variável, administrado por entidade
autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), regulado pela Instrução CVM nº 243, de 1º/3/1996, e
empreendido por empresas que ainda não possuem porte econômico que justifique registro em uma bolsa de valores; que
necessitam de um período para se adaptar às normas mais exigentes; e cujas ações ainda não possuem liquidez. Também
conhecido pela sigla SOMA (Sociedade Operadora de Mercado Aberto), funciona como um pré-vestibular para
empresas que pretendem mais tarde ter suas ações negociadas nas bolsas de valores. Apresenta-se como vantagens principais
um menor custo e menores exigências.

63
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

Sociedade em nome coletivo81


A sociedade em nome coletivo já se encontrava prevista na parte revogada do Código
Comercial e, já de muito tempo, não há notícia de sua utilização. A razão está em
que esse tipo societário prevê a composição do corpo societário com todos os sócios
respondendo de forma solidária e ilimitada, ou seja, insuficientes os bens patrimoniais
para o pagamento dos credores, responderão, automaticamente, os bens do patrimônio
particular dos sócios. É vedada a participação de pessoa jurídica na composição do
corpo societário.

No caso de decretação de falência, independentemente da constatação prévia de


insolvência da sociedade, são arrecadados os bens desta e, concomitantemente, os bens
que compõem o patrimônio pessoal dos sócios.

O nome da sociedade em nome coletivo é, obrigatoriamente, formado pelo nome


(abreviado ou por extenso) de um ou mais sócios. Caso não conste do nome empresarial
o patronímico de todos os sócios, acrescentar-se-á a expressão ‘& Cia.”

Sociedade em Comandita Simples82

O que caracteriza esse tipo societário em desuso é a existência de sócios com


responsabilidades diferentes pelas obrigações sociais. Todos os sócios respondem
perante a sociedade pela integralização de suas quotas, mas o capital social é distribuído
por sócios de duas categorias: (i) os sócios comanditários, cuja responsabilidade
restringe-se à integralização das quotas subscritas e (ii) os sócios comanditados, que
respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas pela sociedade.
Como decorrência lógica, apenas os segundos podem ocupar cargo administrativo na
sociedade (ressalvado o exercício de cargo administrativo interno, técnico ou não).
A responsabilidade ilimitada dos sócios comanditados deriva exatamente do fato de
serem os únicos a ter o poder de obrigar a sociedade, de modo que os riscos de sua
administração são por eles próprios suportados. Da mesma forma, apenas os sócios
comanditados podem ter seus nomes constando da razão social. Em duas situações,
os sócios comanditários passam a responder de forma ilimitada: (i) no caso de ter seu
nome constando da razão social e (ii) no caso de exercer atividade administrativa que
obrigue a sociedade. Excepcionalmente, admite-se que o sócio comanditário exerça
administração sem ser penalizado com responsabilidade ilimitada, na hipótese de
prática de negócio determinado mediante procuração com poderes especiais83.

81 CC, arts. 1.399 a 1.044.


82 CC, arts. 1.045 a 1.051.
83 CC, art. 1.047, parágrafo único.

64
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

Sociedades em Conta de Participação84 e


Joint Ventures
A sociedade em conta de participação não é, propriamente, uma sociedade, pois,
embora seja constituída por sócios que aportam recursos na consecução de objeto e
objetivo comuns, não tem seus atos constitutivos levados a registro, não se tornando,
assim, pessoa jurídica.

A Sociedade em conta de participação é uma sociedade não personificada em virtude de


proibição legal (art. 993, do CC) e sem nome empresarial (art. 1.163, do CC), mas que
existe por meio de um contrato de uso interno entre os sócios, sem registro. A sociedade
é composta de um sócio ostensivo, em cujo nome são realizados os negócios, atuando ele
como empresário individual ou sociedade empresária, e outro, o participativo ou oculto,
que não aparece em regra perante terceiros. O sócio ostensivo possui responsabilidade
ilimitada perante terceiros, independentemente do tipo de empresário que for.
Enquanto o sócio participativo possui a responsabilidade limitada, salvo se intervir na
gestão, respondendo então pela interferência. A sociedade não existe como sujeito de
direito, por não exercer qualquer atividade, e normalmente é intuitu personae. Esse
tipo societário é regido pelos arts. 991 a 996, do CC. O eventual registro não produzirá
qualquer efeito, sendo, como consta do Código, uma sociedade não personificada.

Pessoas físicas ou jurídicas que desejam investir em atividade empresarial disponibilizam


aporte de recursos, o qual formará patrimônio especial em poder de empresário
individual ou sociedade empresarial para que esta, em nome próprio, aplique os valores,
participando de todos dos lucros auferidos. Os sócios investidores são chamados de
sócios ocultos, e os empresários que executam a atividade de natureza econômica,
sócios ostensivos. A SCP não assume qualquer tipo de obrigação, obrigando-se, sim, o
sócio ostensivo. Contratos decorrentes da atividade empresarial são firmados perante
terceiros, fornecedores, consumidores, instituições financeiras etc., em nome do sócio
ostensivo apenas85. Caso o sócio oculto participe de relações do sócio ostensivo, passa-
se a responder solidariamente com este pelas obrigações decorrentes. É importante
ressaltar que, nesse caso, sendo a sociedade firmada com empresário individual atuando
como sócio ostensivo, além de solidário, o sócio oculto será responsável ilimitadamente.

É a verdadeira sociedade anônima, pois não se exterioriza: não tem nome, domicílio e,
por vezes, nem contrato escrito. Assim, muito embora não venha a se constituir como
pessoa jurídica, o Código Civil, a exemplo do Código Comercial, reconhece e regula esse
tipo como societário.

84 CC, 991 a 996.


85 Resp 168.028-SP.

65
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

As sociedades em conta de participação são utilizadas há muito tempo, e são muito


úteis nos casos de pessoas (físicas ou jurídicas) que desejam investir em determinada
atividade, sem, no entanto, comprometer-se socialmente ou mesmo aparecer. Embora
seja uma sociedade de fato, não pode ter sua falência decretada, já que somente
o sócio ostensivo pode falir por assumir as obrigações em seu próprio nome com
responsabilidade (responsabilidade ilimitada), participando os demais dos resultados
correspondentes (responsabilidade Ltda.). Obriga-se perante terceiros tão somente o
sócio ostensivo e, exclusivamente perante este, o sócio participante (investidor anjo),
nos termos do contrato social.

Exemplificando, Eduardo Carlezzo86 traz uma alternativa para os interessados em


investir seus recursos, os quais contratam com uma determinada sociedade especialista
na intermediação e gestão de capital a configuração de uma SCP, em que cabe aos
primeiros (investidores ou sócios participantes) aportar recursos, por determinado
prazo de tempo, e ao segundo (sócio ostensivo), gerir e aplicar tais recursos em uma
empresa cuidadosamente escolhida. Dando lucros a empresa, são os investidores
remunerados na proporção de seus investimentos (como se possuíssem ações de uma
empresa), com o retorno do capital investido no final do prazo da SCP (salientando que
a empresa poderá não dar lucro, por isso o risco). Assim, nesse exemplo, quem aparece
perante o mercado é a entidade gestora dos recursos.

Acrescenta o autor que ‘A utilização de uma SCP certas vezes requer, até mesmo para
transparência e segregação patrimonial, a constituição de uma sociedade com propósito
específico para atuar como sócio ostensivo, o que pode ser feito, dependendo da situação,
com base no art. 251 do Lei nº 6.404/76, mediante a criação de uma subsidiária integral.
Enfim, a SCP é uma espécie “societária” com amplas possibilidades de adequação às
necessidades do mercado e daqueles que dela fazem um instrumento lícito de geração
de riquezas’.

De acordo com Fábio Ulhôa Coelho87, a SCP “não passa de um contrato de investimento
comum”.

Por vezes a sociedade em conta de participação pode confundir-se com as Joint


Ventures, as quais se caracterizam como associação de esforços na consecução do um
negócio ou projeto comum a duas ou mais sociedades, que se reúnem, normalmente
constituindo uma terceira, para levar a cabo o objeto almejado pelos sócios. Não se
trata, apenas, de investimento em determinada atividade, o que caracteriza a sociedade
em conta de participação, mas, sim, a conjugação de esforços para a consecução de
um negócio conjunto. Consoante lembra José Edwaldo Tavares Borba, é “[...] comum

86 Jus Navigandi, Teresina, ano 7, n. 75, 16 set. 2003.


87 Op. Cit. V.2. P. 479.

66
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

uma empresa estrangeira, detentora da tecnologia e das marcas, associar-se, através de


Joint Venture, à empresa nacional que tenha o domínio do mercado” (BORBA, 2004,
p. 522).

Nas SCP quem exerce a atividade empresarial é o sócio ostensivo, enquanto na Joint
Venture todos participam. Não se confunde, porém, com a hipótese levantada por Mauro
Brandão Lopes de a constituição da SCP prever a realização de diversos objetos, cada
um explorado por um dos sócios assumindo a posição de sócio ostensivo, e os demais
ocultos. Temos, nessa hipótese, vários sócios ostensivos e ocultos em uma mesma SCP,
o que é autorizado, indiretamente, pelo Código Civil88.

A despeito de alguns atribuírem pouco uso a esse tipo societário, as jurisprudências do


Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal de Justiça de São Paulo assinalam em sentido
contrário, diversas vezes utilizada irregularmente, para objeto não empresarial89. As
SCP vêm ganhando nos últimos anos nova roupagem empresarial, assumindo o status
de importante instrumento jurídico de um novo formato para diversos negócios.

Sociedade em comandita por ações


Este tipo societário nada mais é do que uma sociedade anônima que apresenta
certas peculiaridades em comparação com as anônimas comuns. A administração
é privativa dos acionistas, os quais, enquanto na direção da sociedade, responderão
de forma subsidiária, solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas em
sua administração, responsabilidade que perdura pelos dois anos que se seguirem à
cessação do exercício de direção da companhia.

Como exceção da regra de que sociedade anônima somente poderá utilizar denominação,
as comanditas podem utilizar firma constituída pelo nome de um ou mais acionistas
administradores, o que é inconveniente, pela necessidade de alteração do nome por
ocasião de mudança na composição da direção da sociedade.

A denominação ou a firma deve ser seguida das palavras “Comandita por Ações”, por
extenso ou abreviadamente.

Muito embora possam ser minoritários, o administrador tem poder de veto na


assembleia-geral, a qual não pode, sem o consentimento daqueles, mudar o objeto
essencial da sociedade, prorrogar-lhe o prazo de duração, aumentar ou diminuir o capital
social, emitir debêntures ou criar partes beneficiárias. A redação da lei das sociedades

88 CC, art. 996, § único.


89 RESP Nº 474.704 – PR

67
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

anônimas acrescentava “nem aprovar a participação em grupo de sociedade”, hipótese


não reproduzida pelo Código.

Sociedade Anônima Aberta

As sociedades anônimas são classificadas como sociedades de capital e podem


ser de capital fechado ou aberto90, limitando-se o Código Civil a remeter à lei que
a regula. Somente em caso de omissão na lei das sociedades anônimas poderão
ser aplicadas as normas gerais que regem as sociedades empresárias. Quais
dispositivos do Código Civil seriam aplicáveis às sociedades anônimas?

A sociedade anônima é o tipo societário mais utilizado em grandes empreendimentos,


tendo em vista a complexidade na constituição e alto custo de sua administração. Embora
os demais tipos societários possam ser adotados para a exploração de atividades não
empresariais, a sociedade anônima será sempre empresarial, qualquer que seja o seu
objeto social, por disposição expressa da Lei nº 6.404/197691. Dessa forma, mesmo as
atividades que não são consideradas empresariais passam a ser assim consideradas se
forem exploradas por sociedade anônima.

O nome adotado para esse tipo societário é, obrigatoriamente, formado por denominação
constituída de expressão de fantasia indicativa do objeto social, admitindo-se,
outrossim, a adoção de nome de acionista fundador como forma de homenagem. Seja
qual for a denominação escolhida, deverá vir antecedida da expressão companhia ou
sociedade anônima (por extenso ou abreviada) ou sucedida da expressão S.A. (ou por
extenso). É vedada a utilização da expressão ‘& Cia’ ao final para não se confundir com
as sociedades de responsabilidade ilimitada ou mista.

As sociedades anônimas de capital aberto são aquelas que têm sua constituição sujeita à
autorização da Comissão de Valores Mobiliários92, autarquia federal ligada ao Ministério
da Fazenda, e emitem ações para o público em geral, ações que serão negociadas em
mercado de balcão ou em bolsa de valores. Alguns empreendimentos exigem elevados
valores somente alcançáveis mediante captação junto a investidores em geral. A
condição de autorização prévia justifica-se diante da necessidade de promover uma
certa segurança.

É sabido que o investimento em ações é atividade de risco (como de resto qualquer


investimento em atividade empresarial) e implica a possibilidade de perda total dos
recursos investidos, mas a segurança dos investidores é bem maior nos dias de hoje em
90 Lei nº 6.404/76, art. 4º.
91 Lei nº 6.404/76, art. 2º, § 1º.
92 Lei nº 6.385/76, art. 19.

68
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

que os riscos advêm de flutuações “normais” das bolsas de valores, e não decorrentes
de fraudes perpetradas pelas companhias, situação bastante comum nos anos de 1960
e 1970, quando ocorreu o crash da bolsa no Brasil, levando diversas pessoas a tirar a
própria vida em virtude da perda de todas as suas economias.

À época, sociedades eram constituídas e emitiam ações, adquiridas pelo público em geral,
descobrindo-se, tarde demais, que existiam apenas no papel. Manobras para provocar a
alta ou queda nos preços de mercado de ações, de modo a promover o enriquecimento
ilícito de especuladores inescrupulosos, também se tornaram mais raras em virtude do
controle e da fiscalização das bolsas de valores e da CVM, havendo obrigatoriedade de
publicação de demonstrações financeiras, divulgação de fatos relevantes, etc.

A titularidade de ações confere aos acionistas uma vantagem que o investimento nos
demais tipos societários, inclusive nas sociedades anônimas de capital fechado, não
tem, a saber, a liquidez. Esta é qualidade típica desse tipo de aplicação, pois que,
abstraídas as eventuais quedas nas bolsas, a disposição das ações no mercado de capitais
é relativamente simples e rápida.

A propósito, o mercado de capitais classifica-se em primário e secundário. A operação


será feita no mercado primário todas as vezes que a companhia, em regime de
constituição ou em aumentos de capital, emitir ações. Os interessados subscrevem
e integralizam as ações, pagando o preço respectivo à sociedade, passando aqueles a
serem acionistas. Posteriormente, se o acionista negociar suas ações, vendendo-as no
mercado a outro investidor e restringindo-se o negócio de compra e venda apenas entre
vendedor e comprador, sem interferência da sociedade, isso se configurará em mercado
secundário. No primeiro caso, os acionistas têm direito de preferência na aquisição das
novas ações, o valor da ação é o fixado como preço de emissão, enquanto no segundo
não há direito de preferência dos demais acionistas e o valor da ação será o valor de
mercado. A ação é valor mobiliário representativo de parte do capital social que, uma
vez subscrita, atribui ao subscritor a qualidade de acionista. É assim considerada a ação
como título de participação.

Diversas são as formas de cálculo do valor de uma ação, valor nominal, valor patrimonial,
valor de mercado, valor econômico e preço de emissão. As companhias podem optar
pela emissão de ações com valor nominal, caso em que o valor atribuído a cada ação
deverá ser o resultado da divisão do valor do capital social e o número de ações emitidas.
O valor patrimonial é alcançado pela divisão do valor do patrimônio líquido (valor do
ativo uma vez deduzido o passivo) pelo número de ações da companhia. Como o valor
patrimonial das sociedades é flutuante, o momento em que se verifica coincidência
entre o valor nominal e o valor patrimonial é o da constituição da companhia. Valor

69
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

de mercado é o valor atribuído à ação em negociação entre vendedor e comprador ou


o valor da ação na bolsa de valores. Preço de emissão é o valor atribuído à ação no
momento da subscrição das ações (mercado primário), o qual pode ser superior (ágio)
ao valor nominal das ações.

COELHO, F. U. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, 2003. v. 2, cap. 19.

Muito embora classificadas como sociedades de capital, diversas sociedades anônimas


de capital fechado assemelham-se às sociedades limitadas, posto preponderar a pessoa
dos membros do quadro social. Regra geral, possuem poucos sócios, os quais se associam
em função de suas qualificações pessoais. José Edwaldo Tavares Borba (2004) observa
que alguns empreendimentos de médio porte constituem-se sob a forma de sociedade
anônima com o único objetivo de alcançar o status que o tipo societário confere. A
responsabilidade dos acionistas limita-se ao preço de emissão das ações que possuem.
Apenas os administradores podem vir a, eventualmente, responder de forma ilimitada,
caso demonstrada a prática de atos em afronta ao estatuto social ou à lei.

Sociedade de Propósito Específico – SPE


A sociedade de propósito específico não é um tipo societário diferente dos demais,
podendo ser constituída mediante a utilização de qualquer das formas societárias
admitidas. Essas sociedades, derivadas de modelo americano (Special Purpose
Companies – SPC),

[...] nascem para prestar um serviço a sua controladora, para cumprir


uma simples etapa de um projeto, ou até mesmo para desenvolver
um projeto da controladora. Normalmente, cumprido esse projeto, o
seu destino é a liquidação. Nascem, normalmente, já marcadas para
morrer. São nada mais nada menos do que uma sociedade-escrava, sem
vida própria, e sem qualquer interesse particular capaz de justificá-la
como empresa.’ ‘Tem sido muito frequente, por exemplo, a constituição
de SPE com a finalidade exclusiva de promover uma emissão de
debêntures, cujo produto é emprestado à controladora, destinando-se
a remuneração do empréstimo à remuneração dos debenturistas, e o
reembolso do empréstimo ao reembolso das debêntures. Essa emissão

70
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

de debêntures, na verdade, é uma emissão da controladora, uma vez


que a S.P.E. não passa de uma ficção mal disfarçada (ETB, p. 518).

Embora a SPE tenha surgido na legislação brasileira com a nova Lei de Parcerias Públicas
e Privadas, a sua noção já se encontrava subjacente a algumas normas, como na Portaria
nº 107, do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), que instituiu o
chamado consórcio societário, mediante a criação de sociedade comercial. (1) Ademais,
o regime atual das licitações, permissões e concessões exige que, para a celebração de
contrato com a Administração Pública, eventual consórcio entre empresas deverá ser
desfeito, criando-se sociedade única tendo na composição societária os consorciados, o
que foi suficiente para a disseminação da ideia da SPE, com a participação do Estado,
ao lado dos particulares, em entidade única, cujo objeto é concretizar os interesses
veiculados em contrato de parceria.

Segundo Marcelo Andrade Feres (2005), a SPE pode revestir-se de qualquer tipo
societário personificado, inclusive sociedade anônima aberta, com valores mobiliários
admitidos à negociação no mercado (§ 2º do art. 9º da Lei de PPP). Entre seus membros,
podem figurar particulares e a Administração Pública, sendo vedado a esta ser titular da
maioria do capital votante (§ 4º do art. 9º da Lei de PPP), salvo sua eventual aquisição
por instituição financeira controlada pelo Poder Público em caso de inadimplemento
de contratos de financiamento. O objeto da SPE estará adstrito ao objeto da parceria, o
que se mostra perfeitamente conforme o regime societário brasileiro. Consoante dispõe
o parágrafo único do art. 981 do Código Civil de 2002, a atividade da sociedade pode
restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados. Assim, é viável, a título
ilustrativo, a constituição de uma SPE para a construção e exploração de uma estrada.

Sociedade limitada
Anteriormente designada como sociedade por quotas (ou quotas), esse é o tipo societário
mais utilizado no país, tanto para pequenos, médios e grandes empreendimentos. Com a
edição do novo Código Civil, o Decreto nº 3.708/1919, que regulava esse tipo societário,
foi revogado, e a nova regulamentação trouxe grandes mudanças, principalmente no
que diz respeito ao quórum necessário às deliberações sociais, antes dependentes,
apenas, da aprovação da maioria do capital social.

71
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

Fluxograma do quórum da sociedade limitada

Quórum Motivação Artigo


Eleição de administrador sócio ou não no ato constitutivo;
Arts. 997, 1.061 e
Unanimidade Eleição de administrador não sócio na alteração do contrato, caso o capital não esteja integralizado;
1.114, todos do CC
Transformação da sociedade;
Modificação do contrato, Fusão, Incorporação, Cisão e Dissolução da sociedade ou Cessação do
3/4 Art. 1.076, I, CC
estado de liquidação;
Eleição de administrador não sócio na alteração do contrato, caso o capital esteja integralizado; Art. 1.061
2/3
Destituição do administrador sócio nomeado em ato separado; Art. 1.063, § 1º, CC
Pedido de Recuperação de Empresas; Eleição de administrador sócio em ato separado;
Maioria Absoluta Destituição de administrador não sócio; Art, 1.076, II, CC
Remuneração do administrador quando não estabelecido no contrato.
Prestação de Contas;
Maioria Simples Art. 1.076, III, CC
Nomeação e destituição dos liquidantes;
Fonte: AQUINO, 2015, p. 256-258.

A sociedade por quotas foi o único tipo societário criado pelo legislador, e isso se deu
com a intenção de suprir uma lacuna existente entre as sociedades de pessoas, nas
quais os sócios respondiam ilimitadamente, e as sociedades anônimas, nas quais a
responsabilidade dos sócios é, estritamente, limitada. Considerada uma forma híbrida,
a sociedade por quotas preencheu esse espaço criando um tipo societário que ficava
no meio termo entre as sociedades utilizadas para pequenos empreendimentos e as
sociedades anônimas, vocacionada para os empreendimentos que necessitam de
vultosos investimentos e, portanto, acarretando maiores riscos. A regulação das
sociedades por quotas deixava a vontade dos sócios compor o contrato da forma que
melhor lhes aprouvesse, já que as poucas regras deixavam à autonomia da vontade dos
sócios uma imensa margem de escolha na regulação contratual. As deliberações sociais
eram tomadas por maioria do capital social. O que mais caracteriza esse tipo societário
é a responsabilidade dos sócios, diversa de qualquer outro tipo societário.

A responsabilidade dos sócios cotistas é limitada ao valor de suas quotas, não se


obrigando pelas obrigações sociais, salvo se não estiver integralizada93. Em caso de
impossibilidade de a sociedade cumprir com suas obrigações, o patrimônio pessoal
dos cotistas não pode ser alcançado. Não sendo bem-sucedido o empreendimento,
o cotista perde apenas aquilo que investiu, o que poderia levar a uma comparação
com a responsabilidade dos acionistas. A diferença fundamental entre eles é que, no
caso dos cotistas, enquanto o capital social não estiver integralizado, todos os sócios
são responsáveis, solidária e ilimitadamente, pelo pagamento do valor que restar à
integralização.

93 CC art. 1.052.

72
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

Assim, ao ingressar na sociedade, o sócio subscreve quotas, o que representa o ato de


comprometimento perante a sociedade, tornando-se devedor dela pelo pagamento
total (integralização) do valor subscrito. Considerando-se a diferença entre subscrição
(assunção de obrigação de integralizar) e integralização (ato de pagamento total do
montante subscrito), a primeira obrigação do sócio é perante a própria sociedade.

Assim, o sócio que subscreve e não integraliza suas quotas na forma e no prazo contratados,
torna-se remisso, respondendo não só pelo valor faltante para completar a integralização,
como também pela multa contratual e por eventuais prejuízos que a mora tenha causado à
sociedade94. Nem os sócios minoritários estão imunes à obrigação. Aquele que subscreve
1% do capital social é responsável pela integralização do total do capital, da mesma forma
que o sócio que subscreve 99%, caso este não integralize a sua parte.

Responsabiliza-se, também, solidariamente, pela superavaliação dos bens utilizados


para a integralização das quotas, e obrigados à devolução de valores a título de lucros,
na verdade, inexistentes.

Assim, nesse tipo societário, os sócios respondem de forma (i) limitada, o que significa
que a responsabilidade se restringe ao cumprimento da obrigação de integralizar as
quotas subscritas; e (ii) solidária, na medida em que, caso um sócio não integralize suas
quotas, qualquer sócio pode ser compelido a fazê-lo, tendo ação regressiva contra o
devedor para haver dele o que por ele pagou. Trata-se de obrigação dos sócios perante
a sociedade e não perante terceiros.

Todo sócio, ao não integralizar suas quotas no ato de subscrição, torna-se devedor da
sociedade. Caso não pague na forma e no prazo pactuados, torna-se remisso, cabendo à
sociedade cobrar a integralização, amigável ou judicialmente. Difícil é a resolução de tal
pendência quando a integralização é devida pelo sócio majoritário, pois que, por óbvio,
não vai tomar providências para exigir o pagamento dele próprio.

Insistindo, no caso dos bens sociais não serem suficientes ao pagamento dos credores,
os sócios respondem solidariamente pela integralização do capital social, o que implica
a possibilidade de um sócio ser compelido à integralização de quotas de outro(s)
sócio. Além das cláusulas obrigatórias elencadas a qualquer contrato de sociedade
empresarial, o ajuste das limitadas deve conter cláusula fixando a responsabilidade dos
sócios ao limite do capital, além de outra nominando a sociedade com razão social ou
denominação seguida da expressão “Ltda”.

Por isso, diz-se que a responsabilidade do sócio cotista limita-se ao valor do capital
social. Exatamente porque se responsabiliza pela integralização não de suas quotas,

94 CC, arts. 404, 416, 1.004.

73
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

mas, também e solidariamente, pela integralização das quotas alheias, até que o total
do capital social esteja integralizado.

Fluxograma da responsabilidade na sociedade limitada

RESPONSABILIDADE

Da sociedade pelas suas dívidas Dos Sócios pela dívida da sociedade

Limitada ao capital social, mas todos


Ilimitada
são solidários pela integralização.
Da sociedade pelas suas dívidas
Da sociedade pelas suas dívidas

Fonte: AQUINO, 2015, p. 225.

É vedada a participação, como de resto em todas as sociedades limitadas, de sócio cuja


contribuição consista em serviços (sócio de indústria). Na prática, observa-se que a
vedação é superada ao constituir-se sociedade atribuindo, ficticiamente, participação
irrisória a alguém que está sendo admitido para prestar serviços apenas. Assim, em
qualquer área empresarial pode ser de interesse da sociedade oferecer participação, ainda
que ínfima e simulada, a alguém cujo trabalho e/ou conhecimentos sejam necessários
ao empreendimento. O objetivo do legislador é compelir à participação societária com
dinheiro ou bens, mas a vedação é facilmente contornável, o que, obviamente, representa
um risco para aquele que foi agraciado com quotas sociais, em face da responsabilidade
que ele assume pela integralização das quotas dos outros cotistas.

Considerando-se esse tipo societário o mais utilizado no País e a possibilidade de sócios


minoritários que realmente participem da sociedade, não apenas como ‘presta nome’,
tem-se de atentar para o fato de que ser minoritário não lhes garante que, diante da
inadimplência dos demais, não sejam executados para pagar a diferença.

Caso qualquer cotista se torne remisso, é facultado aos demais dividir entre si as quotas
não integralizadas, excluindo o sócio inadimplente mediante a devolução daquilo que
ele houver pago. Alternativa é eliminação das quotas não integralizadas, reduzindo-se
o capital social. O art. 1.082 reduz as hipóteses de redução do capital a duas: se houver
perdas irreparáveis após a integralização do capital ou se excessivo o valor em face
do objeto social. Caso não haja interesse ou possibilidade dos cotistas em adquirir as
quotas do remisso recalcitrante, nem condições de admitir novo sócio em seu lugar,
a única saída é a redução do capital, a despeito da omissão do referido dispositivo. O
sócio remisso responderá, em qualquer hipótese, pelos danos que tiver causado pela
sua inadimplência. A sociedade pode, também, executar o sócio, hipótese inimaginável

74
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

caso o sócio remisso seja majoritário, visto que não vai tomar providências no sentido
de cobrar dele próprio.

O novo CPC e o CC permitem a penhora de quotas para pagamento dos credores dos
sócios, mas, em regra, o credor não poderá adjudicar as quotas para si.

O art. 1.026 do CC prevê que “O credor particular de sócio pode, na insuficiência de


outros bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da
sociedade, ou na parte que lhe tocar em liquidação. Parágrafo único. Se a sociedade não
estiver dissolvida, pode o credor requerer a liquidação da quota do devedor, cujo valor,
apurado na forma do art. 1.031, será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até
noventa dias após aquela liquidação”.

Aquino (2015) afirma que:

Percebe-se que a leitura do art. 1.026 não permite ao credor adjudicar


ou tomar para si as quotas penhoradas. No entanto, o novo CPC permite
que o credor opte pelas seguintes situações: (i) penhora das quotas ou
(ii) percentual do faturamento da empresa que seja sócio. Caso opte pela
penhora, o juiz assinará prazo razoável, não superior a três meses, para
que a sociedade: I - apresente balanço especial na forma da lei; II – ofereça
as quotas ou ações aos demais sócios, observado direito de preferência
legal ou contratual; III – não havendo interesse dos sócios na aquisição
das ações, proceda à liquidação das quotas, depositando em juízo o valor
apurado, em dinheiro. Para evitar a liquidação das quotas, a sociedade
poderá adquiri-las sem redução do capital social e com utilização de
reservas, para manutenção em tesouraria (AQUINO, 2015).

Assim, a sociedade poderá adquirir quotas e transferir aos demais sócios, ou mesmo
reduzir o capital social, poderá, também, qualquer sócio adquirir as quotas para
si, situação em que o capital social será mantido e o percentual de quotas do sócio
aumentará.

O sócio que teve as suas quotas penhoradas pode ser excluído da sociedade, por meio
da ação de dissolução parcial, ou continuará a sociedade com as quotas que restaram,
ou poderá ficar devendo para a sociedade o valor correspondente ao valor das quotas
penhoradas.

A propósito da previsão de redução do capital social por excessivo à realização


do objeto social, a lei autoriza o credor quirografário (por crédito anterior à data

75
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

da decisão pela redução) opor-se a essa redução95, caso em que a sociedade


deve pagá-lo para poder reduzir o capital. A redução fica na dependência da
ingerência de estranhos, os quais podem se utilizar da faculdade legal para
forçar o pagamento de seu crédito antes do vencimento.

Considerando-se que a garantia dos credores reside no patrimônio líquido da


sociedade e não no seu capital social, pergunta-se: basta a impugnação imotivada
ou seria necessária a demonstração de prejuízo? Determina a lei, ainda, que a
redução implica a devolução do valor das quotas correspondentes à redução. É
claro que a devolução só se dará se tiver havido integralização e, aí sim, haveria
redução patrimonial. E no caso de, antes da integralização, concluírem os sócios
pelo excesso em suas previsões e decidirem pela redução correspondente à
parcela não integralizada?

As quotas podem ser cedidas, livremente, entre os sócios, sem necessidade


de anuência dos demais. A anuência é necessária, no entanto, quando a
transferência se der a pessoa estranha aos quadros sociais, caso em que se
exige autorização de 75% do capital social96. Vale a pena deter-se nesse ponto,
já que, ao contrário do anunciado intento da lei de proteção dos minoritários,
a livre cessão de quotas sem manifestação dos cotistas pode levar à alteração
no percentual de participação dos sócios e, por conseguinte, no peso que
cada um tem nas deliberações sociais. O sócio que não deseje ver o seu poder
de voto restringido deve exigir que do contrato conste cláusula prevendo a
obrigatoriedade de oferta das quotas a todos os sócios, com a manutenção da
proporção de participação já existente, como ocorre com as novas subscrições
em caso de aumento do capital social97. Tal medida não impede manobras e
artifícios para a obtenção do controle (75%) da sociedade, mas dificulta.

A sociedade limitada aproxima-se da feição das anônimas ao admitir a administração


por pessoa estranha aos quadros sociais e que, se nomeada no contrato social, só pode
ser destituída pelo voto de cerca de 67% do capital. Seja cotista ou não, o administrador
responde ilimitadamente pelos atos praticados em violação da lei ou do contrato social.

Caso o capital ainda não esteja integralizado, a designação de administrador não cotista
exige a anuência da unanimidade dos sócios; já integralizado, a aprovação restringe-se a
67%. Qual o sentido da norma? Ora, enquanto o capital não está integralizado, os cotistas
são responsáveis solidariamente pela integralização, responsabilidade que se efetiva,
principalmente, diante de situações em que a sociedade não consegue cumprir com suas
obrigações. O cotista administrador sabe que seus atos na administração podem reverter
95 CC, art. 1.084, § 1º
96 CC art. 1.075.
97 CC, art. 1.081.

76
Sociedades Empresariais │ UNIDADE IV

contra ele próprio, o que resulta, em princípio, em maior cautela e responsabilidade na


condução dos negócios. Terceiro estranho não tem essa preocupação.

É facultada a instituição de Conselho Fiscal, o que, de resto, não era vedado no sistema
anterior, mas representaria uma tendência do legislador em aproximar as limitadas das
anônimas.

O Código Civil, segundo alguns, engessou a sociedade ao tornar as deliberações


sociais complexas, dependentes de quórum qualificado, aproximando sua feição à das
sociedades anônimas. De fato, antes da edição do Código Civil, o controle das limitadas
era exercido por quem detivesse a maioria simples do capital social. A situação se
alterou, exigindo-se de 67 a 75% do capital, conforme o caso.98

Outra questão objeto de acirradas críticas e controvérsias é relativa à exigência de


realização de assembleia ou ‘reunião’. As assembleias são obrigatórias apenas para
as limitadas com mais de 10 sócios, e, mesmo assim, podem ser dispensadas, caso as
decisões sejam tomadas por escrito pelos sócios, com a necessária adesão de modo a
alcançar o quórum exigido em lei.

»» De fato, a lei passa a exigir o seguinte.

»» Unanimidade para destituir administrador sócio nomeado no contrato


social, se não previsto neste um quórum diverso, maior ou menor; para
designar administrador não sócio, se o capital social não está totalmente
integralizado; para dissolver a sociedade com prazo determinado.

»» 75% do capital social, para modificação do contrato social, salvo nas


matérias sujeitas ao quórum diferente; e para aprovar incorporação,
fusão, dissolução da sociedade ou levantamento da liquidação.

»» 67% para designar administrador não sócio, se o capital social estiver


totalmente integralizado.

»» Mais da metade do capital, para designar administrador em ato separado


do contrato social; para destituir administrador sócio designado em ato
separado do contrato social; para destituir administrador não sócio;
para expulsar sócio minoritário, se permitido no contrato social; e para
dissolver a sociedade contratada por prazo indeterminado.

98 Quando feita durante a elaboração do contrato, a nomeação do administrador, seja sócio ou não, esteja o capital integralizado
ou não, o quórum será sempre unanimidade. Quando feita em separado a nomeação do administrador (art. 1071, II, do CC),
demandará aprovação pelos votos correspondentes a mais de metade do capital social (art. 1076, II, do CC). Cabe ressaltar,
ainda, que a nomeação de administrador não sócio obedece ao quórum qualificado de 2/3 se integralizado o capital, e, acaso
não este, da unanimidade dos sócios (art. 1.061, do CC). É preciso assinar o termo de posse, dentro de 30 dias, sob pena de se
tornar inócua a indicação (AQUINO, 2015, p. 248).

77
UNIDADE IV │ Sociedades Empresariais

Depreende-se, assim, que a alteração do quórum para alterar o contrato social restará
por demais dificultada caso o sócio majoritário não possua pelo menos 75% do capital
social. Por essa enorme burocratização, esse tipo societário perde espaço. Havendo
críticas acirradas ao formalismo imposto às sociedades por quotas.

AQUINO, L. G. de. Os colaboradores da empresa. 2017. Disponível em: <http://


unieuro.academia.edu/LeonardoGomesdeAquino>. Acesso em: 2 mar. 17.

______. Nome empresarial: natureza jurídica, distinções, composição e proteção.


2017. Disponível em: <http://unieuro.academia.edu/LeonardoGomesdeAquino>.
Acesso em: 2 mar. 17.

______. Direito e deveres dos sócios e dos acionistas. 2017. Disponível em:
<http://unieuro.academia.edu/LeonardoGomesdeAquino>. Acesso em: 2 mar. 17.

______. Sociedades não personificadas. 2017. Disponível em: <http://unieuro.


academia.edu/LeonardoGomesdeAquino>. Acesso em: 2 mar. 17.

______. O substrato da sociedade e sua classificação. 2017. Disponível em:


<http://unieuro.academia.edu/LeonardoGomesdeAquino>. Acesso em: 2 mar. 17.

______. As formalidades na constituição das sociedades estatutárias:


sociedade anônima e sociedade cooperativa. 2017. Disponível em: <http://
unieuro.academia.edu/LeonardoGomesdeAquino>. Acesso em: 2 mar. 17.

______. Aspectos legais da administração societária. 2017. Disponível em:


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CEREZOLI, J. A. Aplicação supletiva da lei das sociedades por ações às


sociedades limitadas. 2017. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/
texto.asp?id=11398>. Acesso em: 2 mar. 17.

COELHO, F. U. As duas limitadas. 2017. Disponível em: <www.buscalegis.ufsc.br/


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REALE, M. Direito de Empresa: fim de odiosos privilégios. 2017. Disponível em:


<www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=3819>. Acesso em: 2 mar. 17.

78
Para (não) finalizar

Finalizando as breves observações, sugere-se, a título de exercício prático, a elaboração


de contratos de sociedade limitada mediante simulação de casos que atendam às
variáveis apontadas, procurando suprir as lacunas da lei e regulando as hipóteses
em que o Código deixa espaço para regulamentação contratual, recomendando como
suporte a leitura do trabalho de Guilherme Teixeira Pereira: Inovações da Sociedade
Limitada no Novo Código Civil (In: Revista Trimestral de Direito Mercantil. v. 131,
p. 191-205).

79
Referências

AQUINO, L. G. de. Curso de Direito Empresarial: Teoria da empresa e direito


societário. Brasília: Kiron, 2015.

______. Os colaboradores da empresa. 2017. Disponível em: <http://unieuro.


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2017. Disponível em: <http://unieuro.academia.edu/LeonardoGomesdeAquino>.
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______. Direito e deveres dos sócios e dos acionistas. 2017. Disponível em:
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