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MARILDA SANT’ANNA MACIEL

Teoria da Contabilidade

1ª Edição

Brasília/DF - 2018
Autores
Marilda Sant’Anna Maciel

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático........................................................................................................................................4

Introdução...............................................................................................................................................................................6

Capítulo 1
Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade..............................................................................................7

Capítulo 2
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual...................................................................................................... 21

Capítulo 3
Patrimônio das Entidades......................................................................................................................................... 36

Capítulo 4
Plano de Contas........................................................................................................................................................... 47

Capítulo 5
Escrituração Contábil................................................................................................................................................. 60

Capítulo 6
Elementos das Demonstrações Contábeis.......................................................................................................... 73

Referências........................................................................................................................................................................... 88
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também,
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Cuidado

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

Importante

Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.

Observe a Lei

Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem,
a fonte primária sobre um determinado assunto.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.

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Organização do Livro Didático

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Posicionamento do autor

Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.

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Introdução
Seja bem-vindo à disciplina Teoria da Contabilidade. É com grande satisfação que iniciamos
esta jornada junto com você. Antes de começarmos nossa disciplina, permita que me apresente:

Meu nome é Marilda Sant’Anna Maciel, Mestre em Ciências Contábeis pela Universidade Estadual
do Rio de Janeiro (UERJ) e Graduada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Sou ex-Contadora da Companhia Estadual de Água e Esgoto (Cedae). E atualmente,
atuo como Analista de Planejamento e Orçamento da Secretaria de Planejamento e Gestão do
Estado do Rio de Janeiro (Sefaz/RJ), Professora Universitária e Palestrante pelo Conselho Regional
de Contabilidade do Rio de Janeiro (CRC/RJ).

Durante nosso estudo, vamos percorrer alguns séculos de história e perceber que o registro
contábil é mais antigo do que imaginávamos. Vamos entender os princpipais mecanismos que
norteiam e regulamentam a profissão contábil no País e no mundo. Em seguida, aprofundaremos
nosso estudo sobre os ativos, passivos, despesas, receitas e patrimônio líquido, visto que são os
instrumentos contábeis que produzem a informação para tomada de decisões.

Portanto, “é importante entender bem o que é teoria, bem como seus vários enfoques e
metodologias, a fim de os contadores poderem dar respostas ou interpretações satisfatórias para
uma série de novos fenômenos que estão a desafiar nossa profissão.” (IUDÍCIBUS, 1997). Logo,
a finalidade de estudar a teoria da contabilidade é obter subsídios suficientes para a aplicação
do conhecimento no processo prático contábil.

Objetivos

» Apreender o processo da evolução histórica da Contabilidade.

» Conhecer as escolas e doutrinas na história da Contabilidade.

» Perceber os princípíos de Contabilidade e analisar a estrutura conceitual. Conceito e


objetivos.

» Reconhecer as características qualitativas da informação contábil.

» Aprofundar o conhecimento no patrimoônio das entidades.

» Comprender sobre o conceito de contas e, consequentemente, a importância do plano


de contas para evidenciar as informações.

» Conhecer a escritura contábil e os elementos das demonstrações contábeis.

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CAPÍTULO
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E DOUTRINAS
DA CONTABILIDADE 1
Introdução

A introdução do nosso primeiro capítulo iniciará com algumas indagações. E você? Já imaginou
como seria o mundo sem a Contabilidade? Como seriam controladas as organizações, sejam
financeiras ou não? Como gestores, governos e sócios poderiam ter a compreensão dos seus
investimentos e riqueza? Como seria possível tomar decisões em um ambiente cada vez mais
competitivo, se a contabilidade não existisse?

Por meio dessas indagações, começamos o estudo da nossa disciplina, a Teoria da Contabilidade.
Logo, para comprender melhor o que a Contabilidade representa para as organizações hoje,
precisamos dar um “pulinho” no passado, onde tudo começou.

Objetivos

» Abordar as origens e a evolução da história da Contabilidade.

» Conhecer as datas e eventos importantes da evolução contábil.

» Aprender sobre as escolas ou doutrinas da Contabilidade.

» Conhecer a história da Contabilidade no Brasil.

Evolução histórica

Conhecer a origem das coisas é importante para a sociedade, pois informa como esta, bem como
grupos específicos, chegaram aos seus status quo, sendo fundamental para orientar e servir de
suporte instrumentalizando a sociedade para as tomadas de decisões futuras, seja inspirando-
se nos exemplos passados ou rejeitando-os, dependendo dos seus poderes de aplicabilidade na
sociedade atual.

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CAPÍTULO 1 • Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade

Para Iudícibus (2010), a Contabilidade é tão remota quanto o homem que pensa e conta, pois
a sua necessidade de acompanhar a evolução dos patrimônios foi o grande motivo para o seu
desenvolvimento.

Marion (2011, p. 7) complementa que “como naturalmente o homem é ambicioso, a Contabilidade


existe desde o início da civilização. Alguns historiadores preferem dizer que essa ciência existe
desde 4000 a.C, outros informam em 6000 a.C”.

Não se sabe com exatidão quem criou a Contabilidade, todavia é percebido que é uma ciência
nobre e tem muito relação com a evolução histórica humana, visto que vários historiadores,
afirmam os rudimentares registros contábeis.

Conforme Iudícibus (2010) afirma, a Contabilidade é tão antiga quanto a origem do Homo Sapiens,
os primeiros sinais de atividades comerciais nasceram a 4500 a.C., em que culturas, civilizações
e sumérios da Mesopotâmia se voltaram à agricultura, fizeram aparecer cidades e ampliaram
as vendas comerciais. Alguns historiadores acreditam que os primeiros sinais objetivos da
existência da Contabilidade remetem a aproximadamente 2000 anos a.C. O apontamento dessas
barganhas era feito em placas de argila, nas quais eram verificados os resultados obtidos numa
colheita, os elementos trocados, os impostos e taxas arrecadadas pelas seitas religiosas. Para
Lima, Santos e Barbais (2007), a Contabilidade já podia ser percebida pela maneira de contar
do homem primitivo, que

era um modo de inventário, pois tinha como objetivo o controle do seu patrimônio,
como rebanhos, fardos de alimentos, instrumentos de caça e pesca e outros bens
quantitativos. O que mostra que o homem da antigüidade já tinha a preocupação
com a riqueza e a propriedade (como acontece atualmente). Desde os primórdios
o homem teve que ir aperfeiçoando sua maneira de contabilizar, na medida em
que as atividades se tornavam mais complexas. De acordo com a história da
contabilidade, primeiramente esse processo de conta era feito na memória dos
homens, logo após surgiram as gravuras, no término da Era da Pedra Polida.
Nas gravuras continham figuras e numerais.

Figura 1. Primeiros Registros de Contabilidade.

Fonte: <http://www.viarapida.sp.gov.br/>.

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Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade • CAPÍTULO 1

Foram encontrados, no Brasil e França, pedaços de ossos de rena com inscrições (desenhos)
sobre objetos e animais. Esses desenhos representam as conquistas desse homem primitivo e
demonstravam a quantidade existente. (IUDÍCIBUS, 2010, p. 22).

Alguns historiadores afirmam que, surgiram diversos registros de transações contábeis na China,
Egito, Assíria, Fenícia, Pérsia. Para Hendriksen e Van Breda (1999), independentemente

da data exata da descoberta dos primeiros fatos ou registro contábeis,


verifica-se que desde os primórdios o homem objetiva buscar de alguma forma,
algum conhecimento que pudessem atender as suas necessidades da época
como, por exemplo, o pagamento de tributos feitos pelos agricultores egípcios
aos coletores de tributos do Egito nas margens do Rio Nilo através de produtos
como linhaça e cereais para pudessem ter o direito de usar aquelas águas do
Rio ou a ideia rudimentar de controle de bens, método adotado para contagem
de rebanhos, metais, escravos etc., bem assemelhada à técnica de controle que
conhecemos hoje como inventário.

Para Lima, Santos e Barbais (2007), os egípcios representam a primeira evolução da Contabilidade,
foram os primeiros povos a utilizar um valor monetário em seus registros. As escriturações eram
feitas em papiros, e o sistema contábil tornava-se dinâmico com registros diários.

Sá (1998, p. 26) complementa afirmando que, aproximadamente 3550 a.C, os egípcios já


possuíam escrita hieroglífica, uma escrita de sinais, para eles, sagrados, em que somente
sacerdotes, membros da alta realeza, altos cargos tinham o privilégio de conhecer tal arte e o
aperfeiçoamento da escrita, de modo a simplificá-lo proporcionaram um meio eficaz para a
racionalidade da escrita contábil.

Após os egípcios, os povos que mais evoluíram a forma de contabilizar foram os gregos, em
2000 a.C. Há relatos de que já havia a apuração de confrontação de contas de Custos e Receitas
e estenderam a escrituração contábil para a Administração Pública e Bancária.

Nesse momento da história, o controle era o principal objetivo da Contabilidade, principalmente


para ampliar o comércio, que até então era realizado por meio de escambo, troca de bens.
Após o surgimento dos sistemas monetários, tal ciência teve seus objetivos ampliados.

À medida que as operações econômicas se tornam complexas, o seu controle se refina. As escritas
governamentais da República Romana (200 a.C.) já traziam receitas de caixa classificadas em
rendas e lucros, e as despesas compreendidas nos itens salários, perdas e diversões.

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CAPÍTULO 1 • Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade

Mercantilismo
Figura 2. Mercantilismo

Fonte: <https://pt.slideshare.net/andreslozanomolares/o-mercantilismo-53838798>.

A história evidencia que o surgimento do mercantilismo, entre o século XV e o final do século


XVIII, que tinha como um dos objetivos ampliar o desenvolvimento do comércio com as Índias e
as práticas econômicas desenvolvidas na Europa, provocou um ambiente favorável à expansão da
Contabilidade, pois Estados burgueses precisavam de um método de escrituração das transações
comerciais que demonstrasse a relação de causa e efeito das operações.

Essa expansão comercial impulsionou os primeiros registros contábeis pelo método das partidas
dobradas, que foi desenvolvido pelo Frei Luca Pacioli, que provocou uma verdadeira revolução
na forma de controle e escrituração, especialmente por reconhecer na Contabilidade de cada
uma das entidades envolvidas, as relações de débito e crédito, ou, em outra ótica, as fontes e as
aplicações de recursos.

Os principais fatores que proporcionaram o surgimento do método das partidas dobradas, de


acordo com Lamberti e Sperandio (2012) são:

» A escrita: o desenvolvimento da comunicação por meio da escrita (impressa) foi, talvez,


o fato que provocou maior reflexo em toda a história da humanidade, pois o acesso ao
conhecimento foi a alavanca propulsora do desenvolvimento econômico e social.

» O surgimento da moeda: a moeda, como instrumento de troca, veio substituir o


escambo e fez surgir um campo fértil para a compilação de valores e suas análises frente
às operações realizadas.

» A aritmética: a utilização dos fundamentos da aritmética na busca de soluções para


problemas de controle contábil deu origem ao método das partidas dobradas, cuja

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Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade • CAPÍTULO 1

evolução da escrita e da moeda proporcionou condições favoráveis à expansão da


Contabilidade em todo o mundo.

Para os referidos autores, a aritmética teve grande influência no desenvolvimento da Contabilidade,


pois a obra de Luca Pacioli, Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et Proportionalita,
editada em 1494, em que se apresenta toda a fundamentação sobre o método das partidas
dobradas, é basicamente um tratado de Matemática.

Assim, a criação do método das partidas dobradas, pode-se afirmar, é o principal fator da nova
Contabilidade, diferenciando-se das técnicas antigas e rudimentares.

Revolução industrial
Figura 3. Revolução Industrial

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Industrial>.

Com a chegada das indústrias, a Contabilidade ampliou seus métodos de registros de custos, pois,
devido aos novos processos de produção, impulsionados pela Revolução Industrial, no século
XVIII, surgiu a necessidade de registros mais complexos, pois até a era mercantilista, o custo era
basicamente o valor de aquisição de mercadorias, isto é: Estoque inicial + Compras – Estoque
final = Custo das Mercadorias Vendidas.

Para Lamberti e Sperandio (2012), na era industrial surge uma nova característica de empresa:
a indústria. Essa nova modalidade de empreendimento modifica substancialmente o cenário
contábil, especialmente no tocante à formação de custos, na medida em que, ao invés de comprar
a mercadoria ou o produto acabado, passa a adquirir a matéria-prima, sobre a qual agrega a mão

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CAPÍTULO 1 • Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade

de obra e os custos indiretos de fabricação, de forma a gerar um novo produto com características
próprias e específicas.

Após o período industrial, muitas maneiras inteligentes de se conduzir e contabilizar nasceram.


Nesse período entendeu-se que gerava um menor custo industrializar certo produto ao invés
de importar de outros continentes. Ainda sobre o desenvolvimento da Revolução Industrial e a
elevação econômica norte-americana, e toda a contribuição que o pensamento contábil voltado
para os Estados Unidos, que alguns chamam de Escola Contábil Norte-Americana, ofereceu
para a Contabilidade, é importante destacar a apresentação do conceito principal, desde o
seu surgimento, no início da existência humana: controlar o patrimônio. Marion (2011, p. 12)
informa que:

Quadro 1. Razões da queda da escola italiana e ascensão da escola norte-americana.

Algumas Razões da Queda da Escola Europeia Algumas Razões da Ascensão da Escola


(especificamente Italiana) Norte-Americana
1. Excessivo culto à personalidade: 1.Ênfase ao usuário da informação contábil:
grandes mestres e personalidades da Contabilidade Contabilidade é apresentada como algo útil para
ganharam tanta notoriedade que passaram a ser vistos a tomada de decisões, evitando-se endeusar
como “oráculos” da verdade contábil. demasiadamente a Contabilidade; atender os usuários é
o grande objetivo.
2. Ênfase sobre uma Contabilidade Teórica: as mentes
privilegiadas produziam trabalhos excessivamente 2. Ênfase sobre Contabilidade Aplicada:
teóricos, apenas pelo gosto de serem teóricos,
principalmente a Contabilidade Gerencial. Ao contrário
difundindo ideias com pouca aplicação prática.
dos europeus, não havia uma preocupação com a teoria
3. Pouca importância à auditoria: das contas, ou querer provar que a Contabilidade é uma
ciência.
principalmente na legislação italiana, o grau de
confiabilidade e a importância da auditagem não eram 3. Bastante importância à auditoria:
enfatizados.
como herança dos ingleses e transparência para os
4. Queda do nível das principais faculdades: investidores de Sociedade Anônima (e outros usuários)
principalmente as faculdades italianas, superpovoadas nos relatórios contábeis, a auditoria é muito enfatizada.
de alunos.
4. Universidades em busca de qualidade:
grandes quantias para as pesquisas no campo contábil,
o professor em dedicação exclusiva e o aluno em
período integral valorizaram o ensino nos Estados
Unidos.

Fonte: Marion (2011, p. 12)

Dessa forma, percebemos que o processo de evolução da Contabilidade ao longo da história,


difere em cada época, cada momento procurando gerar determinada informação à demanda
do usuário. O desafio, agora, não eram mais os custos dos produtos, surge a necessidade
de compreender e de como determinar os custos dos serviços. Como contabilizar e avaliar
o capital intelectual? São questões relevantes para as entidades em que a Contabilidade
precisa encontrar. Lima (2006), aborda, no quadro a seguir, as quatro etapas da evolução da
contabilidade.

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Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade • CAPÍTULO 1

Quadro 2. As quatro etapas da evolução da Contabilidade.

Período Características
Período que se inicia com a civilização do homem e vai
Contabilidade do Mundo Antigo até 1202 da Era Cristã, quando apareceu o Líber Abaci,de
autoria de Leonardo Fibonaci, o Pisano.
Período que vai de 1202 da Era Cristã até 1494,
quando apareceu o Tratactus de Computis et Seriptures
(Contabilidade por Partidas Dobradas), de Frei Luca
Pacioli, publicado em 1494; enfatizando que a teoria
Contabilidade do Mundo Medieval
contábil do débito e do crédito corresponde à teoria dos
números positi-vos e negativos, essa obra contribui para
inserir a Contabilidade entre os ramos do conhecimento
humano.
Período que vai de 1494 até 1840, com o
aparecimentoda obra La Contabilità Applicatta Alle
Contabilidade do Mundo Moderno Amninistrazioni Private e Pubbliche, de Francesco Villa,
premiada pelo governo da Áustria. Obra marcante na
história da Contabilidade.
Período que se inicia em 1840 e continua até os dias de
Contabilidade do Mundo Científico
hoje.
Fonte: Lima (2006).

Breve história da contabilidade no Brasil


Figura 4. História da Contabilidade no Brasil

Fonte: <http://crcmt.org.br/novo/www/noticias/concurso-resgata-historia-contabilidade-brasil,40561.html>.

De acordo com Reis e Silva (2007), o surgimento da Contabilidade no Brasil inicia-se com o período
Colonial, motivado pelas transações comerciais, tornaram-se necessários os controles contábeis
para o desenvolvimento das primeiras Alfândegas. Os referidos autores complementam que no
dia 16 de julho de 1679, por meio da Carta Régia é criada a Casa dos Contos, órgão incumbido
de processar e fiscalizar as receitas e despesas de Estado, ganhando autonomia somente no
reinado de João I.

Esse fato é respaldado pela chegada da Família Real ao Brasil, em 1808, proporcionando um
desenvolvimento socioeconômico e cultural mais efetivo na colônia, devido a diversas ocorrências,
tais como a abertura dos portos às nações amigas, a colônia passou a comercializar produtos

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CAPÍTULO 1 • Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade

de outros países, além de Portugal; a criação do Banco do Brasil, originando a emissão do


papel-moeda, mas devido ao déficit dos cofres públicos fechou no ano seguinte; a criação da
Imprensa Régia, permitindo a atividade impressora (somente o governo tinha permissão para
imprimir), sendo publicado o primeiro jornal do Brasil e criação do Museu Nacional e da Biblioteca
Real, atualmente Biblioteca Nacional.

A doutrina contábil é recente no Brasil, e até a primeira metade do século XX sofreu grandes
influências da cultura contábil da Itália, país que é considerado o berço da Contabilidade e que
deu origem ao método das partidas dobradas. A primeira doutrina contábil surgiu pelo Professor
Antonio Lopes de Sá, que ampliou os conceitos do Patrimonialismo de Masi, dando origem à
Escola Neopatrimonialista, baseado na Teoria Geral da Contabilidade. Segundo Reis e Silva (2007),
essa Teoria Geral da Contabilidade foi fundamentada por teorias anteriores desenvolvidas pelo
próprio Lopes de Sá, como a Teoria de Equilíbrio, Teoria Dinâmica de Circulação, Teoria das
Funções Sistemáticas do Patrimônio Aziendal.

Segundo Lopes de Sá (1998, p. 160), o fenômeno patrimonial, sob a ótica do neopatrimonialismo,


classifica-se em três grandes grupos de relações lógicas:

As essenciais detectam-se as relações íntimas de necessidade, finalidade, meio


patrimonial, função; as dimensionais relações de causa, efeito, tempo, espaço,
qualidade, quantidade; ambientais relações de naturezas: administrativas,
psíquicas do pessoal, sociais, econômicas, ecológicas, culturais, políticas,
legais etc.

Segundo Martins e Silva (2007, p. 172), o Neopatrimonialismo é a primeira doutrina a adotar


valores axiomáticos de forma organizada e sistemática, ou seja, dentro dos rigores da filosofia
das Ciências. O Neopatrimonialismo evoluiu a corrente Patrimonialista de Masi, aprofundou-se
sem desmerecê-lo. Essa escola ainda está em fase de implantação, mas já está disseminada em
vários países como Argentina, Portugal e Espanha.

Conheceremos um pouco mais sobre esta teoria no próximo item, Escolas ou Doutrinas
Contábeis.

Sugestão de estudo

Recomendo a leitura do artigo A História da Contabilidade no Brasil, das autoras Aline de Jesus Reis, Selma Leal da
Silva e Cleide Carneiro Alves da Silva.

Esse artigo apresenta a evolução da Contabilidade no Brasil, desde a época Colonial até os dias atuais. Nesse artigo
são relatadas importantes datas, além de leis e decretos que ajudaram no desenvolvimento do tema preposto,
visando transmitir o conhecimento da história da Contabilidade brasileira.

Disponível em: <https://www.revistas.unifacs.br%2Findex.php%2Fsepa%2Farticle%2Fdownload%2F299%2F247..&us


g=AOvVaw0uTfUP75OgUww4Oa-aC4S6>.

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Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade • CAPÍTULO 1

Escolas ou doutrinas contábeis


Figura 5. Pensadores

Fonte: <https://twitter.com/citandopensador>.

Afinal, o que são escolas de pensamento contábil? São correntes filosóficas acerca da Contabilidade
(conceitos, proposições e metodologias contábeis) e fundamentaram a Ciência Contábil como
conhecemos hoje. Após 1840, surgem grandes pensadores contábeis com as diversas correntes
de pensamento. Assim, segue um breve resumo das escolas contábeis mais conhecidas que
influenciaram a Contabilidade por Coelho e Lins (2010):

Escola Contista: surgiu no século XV, com a obra de Luca Pacioli, e foi impulsionada pelos
primeiros livros impressos de Contabilidade. Suas teorias ficaram inalteradas até o século XVIII,
que ficou conhecido como a era da estagnação contábil. A preocupação central era explicar o
funcionamento das contas, esquecendo-se que as contas eram apenas consequência das operações
que ocorreram na entidade. Degranges enumera as cinco principais contas (Teoria das Cincos
Contas): 1o mercadorias; 2o dinheiro; 3o efeito a receber; 4o efeito a pagar, e 5o lucros e perdas.

Escola Personalista: essa escola do pensamento contábil é conhecida, também,


como escola Toscana, e surge em reação aos conceitos e propostas da escola contista.
Essa corrente tem como objetivo explicar as relações de direitos e obrigações. Para defender
suas teses, os autores dessa época criaram os axiomas, que são premissas que admitem serem
verdades sem exigência de demonstração. Essa linha de pensamento foi amplamente analisada
pela escola aziendalista, como será visto mais adiante. Seguem os axiomas:

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CAPÍTULO 1 • Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade

» 1o axioma: toda azienda (conjunto de obrigações, bens materiais e direitos que constituem
um patrimônio) deve ser administrada; todas possuem um ou mais proprietários, e
estes não podem conseguir uma gestão se não entrarem em contato com agentes e
correspondentes;

» 2o axioma: uma coisa é desfrutar a propriedade, outra é administrá-la;

» 3o axioma: uma coisa é administrar a azienda, e outra custodiar sua substância e por
ela responder materialmente;

» 4oaxioma: não se pode criar um devedor sem, simultaneamente, criar-se um credor e


vice-versa;

» 5o axioma: o proprietário, administrando ou não, da azienda, é, de fato, credor da


substância e devedor das passividades pertinentes àquela, ao contrário do que ocorre
com os agentes e com os correspondentes;

» 6o axioma: o débito e o crédito do proprietário não variam senão em razão de perdas


ou lucros, ou, ainda, por acréscimos ou reduções do capital originário.

Portanto, nesta teoria, cada conta (bancos, duplicatas a receber, fornecedores, receitas, despesas)
assume o papel de uma pessoa no seu relacionamento com a entidade. Assim, podemos concluir
que as obrigações e o Patrimônio Líquido (PL) são pessoas credoras em relação à sociedade.

A classificação das contas, segundo esta teoria, pode ser:

» Agentes consignatários: valores materiais e imateriais (são bens da sociedade);

» Agentes correspondentes: representam os direitos e obrigações;

» Proprietário: são as contas do PL e suas variações, inclusive receitas e despesas.

Escola Materialista: essa se opôs à teoria personalista, defendendo que as contas representam
entradas e saídas de valores e não simples relações de débito e crédito entre pessoas (excluídas
as relações com terceiros).

Esta é uma visão mais econômica do que vem a ser a conta, a relação entre as contas e a entidade
é uma relação material e não pessoal, de sorte que a conta só deve existir enquanto houver,
também, o elemento material por ela representado.

As contas dividem-se em:

» Integrais (ou elementares): são as representativas dos bens, dos direitos e das obrigações
da entidade, ou seja, Ativo e Passivo Exigível.

» Diferenciais (ou derivadas): são as representativas do Patrimônio Líquido, das receitas


e das despesas da entidade.

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Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade • CAPÍTULO 1

Escola Administrativa: vários são os nomes para nomear essa escola de pensamento contábil:
escola administrativa, Lombarda, materialista ou ainda materialista substancial. Essa escola
originou-se no norte da Itália, no século XIX, e a administração das entidades passou a ser o foco
dos estudos. Aqui nasce a ideia de que todo empreendimento deve ser precedido de um estudo
de viabilidade econômica. Dessa forma, nota-se que a contabilidade ligada à administração,
destinada a interpretar a dinâmica das empresas.

Escola Controlista: os estudiosos dessa época entendiam a Contabilidade como a ciência do


controle econômico. A administração econômica era dividida em: gestão (que visa à administração
do patrimônio); direção (que harmoniza a administração econômica e as relações internas e
externas da entidade); e controle (que visa impedir o desperdício).

Escola Reditualista: era o pensamento contábil que enunciava ser o resultado (lucro ou prejuízo) o
objeto de estudo da Contabilidade. Fato é que os estudiosos dessa corrente estudavam a dinâmica
da riqueza patrimonial, sem se preocupar com os elementos desse mesmo patrimônio. A grande
contribuição feita por essa corrente foi a dinâmica do movimento patrimonial associada ao ciclo
operacional e não ao ano-calendário.

Escola Matemática: surgiu em 1901, por meio de um estudioso italiano chamado Giovani Rossi.
Para esse autor, a Contabilidade era uma ciência matemática na sua essência.

Escola Norte-Americana: com a criação da American Association of Public Accountants (AAPA) em


1887, que centrou a melhoria da informação contábil, na padronização dos processos contábeis.
Essa escola procurava metodologias que permitissem uma clara visão dos relatórios contábeis
e dos lançamentos que lhe deram origem, a fim de facilitar o entendimento dos conceitos e
teorias contábeis.

Escola Neocontista ou Moderna Escola Francesa: o neocontismo do início do século


XX procurou restituir à Contabilidade o seu verdadeiro objeto: a riqueza patrimonial e, em
consequência, trouxe grande avanço para o estudo da análise patrimonial e dos fenômenos
decorrentes da gestão empresarial.

Escola Alemã: surgiu na Alemanha a partir de 1919, concentrando-se em duas visões: teoria
econômica das empresas e o sistema de cálculo. A Contabilidade era considerada como o conjunto
de registros para fornecer elemento de gestão.

Escola Aziendalista: nessa corrente, que surgiu em 1922, a Contabilidade é considerada como a
ciência da administração econômica das entidades e estuda não só os resultados de uma gestão,
mas, também, seus princípios e constituição harmônica das pessoas da organização. Nessa
concepção, a azienda se constitui de dois elementos: pessoas (elemento humano) e riqueza
(patrimônio).

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CAPÍTULO 1 • Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade

Escola Patrimonialista: a primeira proposta de formulação de uma corrente contábil, que


defendia a Contabilidade como ciência do patrimônio. Seu grande autor foi Vicenzo Masi, que
começou a escrever teorias em 1923. Os principais fundamentos dessa escola, que são referência
da Contabilidade, são:

» A Contabilidade é uma ciência social.

» O objeto da Contabilidade é o patrimônio aziendal.

» Os fenômenos patrimoniais são fenômenos contábeis e podem ser divididos em: estática
patrimonial, dinâmica patrimonial e levantamento patrimonial.

» O patrimônio deve ser observado em seus aspectos qualitativos e quantitativos.

» O fenômeno patrimonial conceitua-se como todo acontecimento que se verifica no


patrimônio.

É a teoria usualmente adotada no Brasil. Segundo essa teoria, criada por Vincenzo Masi, o
objeto de estudo da ciência contábil é o Patrimônio de uma entidade. A Contabilidade tem como
finalidade controlar esse patrimônio e apurar o resultado das empresas.

Estas contas classificam-se da seguinte forma:

» Contas Patrimoniais: são as contas representativas dos bens e dos direitos (Ativo), das
obrigações (Passivo) e do Patrimônio Líquido (PL) da entidade.

» Contas de Resultado: são as contas que representam as receitas e as despesas da


entidade.

Escola Neopatrimonialista: pode-se dizer que é a primeira escola de pensamento contábil


originada no Brasil. Seu início ocorreu em 1978, a partir dos estudos de Antonio Lopes de Sá,
que foram expostos pela primeira vez em 1987 na Universidade de Sevilha, na Espanha. Tem o
mesmo enfoque a teoria patrimonialista, mas com claro objetivo de torná-la mais atual face às
mudanças tecnológicas e científicas do nosso mundo.

A teoria de Lopes de Sá, cuja divulgação tem aumentado significativamente, assenta-se na definição
de diversos teoremas baseados em cinco “grandes axiomas da contabilidade: transformação,
eficácia, relações lógicas, sistemas e prosperidade social, cuja caracterização resumimos no
quadro seguinte:

18
Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade • CAPÍTULO 1

Quadro 3. “Os Cinco Grandes Axiomas da Contabilidade”, de Antonio Lopes de Sá

Axioma (Título) Caracterização do Axioma


» Inspira-se nas razões lógicas fundamentais de que o patrimônio sempre se movimenta e
também sempre se modifica. Ou seja, a modificação patrimonial é uma vocação natural.

1. Transformação » Partindo do princípio de que a célula social se compõe de pessoas e de meios


patrimoniais, agindo de forma constante e com finalidades definidas, a riqueza contida
em tal célula segue essa tendência de movimentos permanentes e logo, também, de
mutações constantes.

» Quando os meios patrimoniais satisfazem à necessidade, a eficácia se opera.


» A eficácia é fim natural para o qual o património se constitui. Ela é a meta que se
2. Eficácia persegue, mas só existe se, e somente se, a necessidade se anula.
» A meta é a eficácia, mas só pode ser obtida com uma função eficaz, ou seja, com o uso
adequado dos meios patrimoniais, (...).

» Existem grupos de fenômenos característicos que ocorrem de forma simultânea e em


regime de interação, gerando as relações lógicas estruturais do fato patrimonial. Tais
3. Relações lógicas
grupos, são: (1) o da essência dos fatos; (2) os das dimensões dos mesmos fatos; e (3) o
dos ambientes que envolvem o patrimônio, como periferias agentes.

» Sendo as funções do patrimônio que promovem a eficácia, todavia, tais funções se


organizam em sistemas definidos de utilidades.
4. Sistemas » Esses sistemas são reconhecidos como relevantes, autônomos e independentes.
» Dentre eles identificam-se os da resultabilidade, estabilidade, economicidade (básicos),
produtividade, invulnerabilidade (auxiliares) e elasticidade (complementar).

» Sendo a Contabilidade a ciência da riqueza e que tal conhecimento tem por finalidade
5. Prosperidade Social a obtenção da eficácia, quando todas as células sociais forem eficazes, a sociedade, por
decorrência natural, também o será.

Fonte: Antonio Lopes de Sá (2008).

Seculo XXI
Figura 6. International Accounting Standards Board

No início do seculo XXI, o Brasil iniciou o processo de convergência às normas internacionais de


Contabilidade, que teve início com as alterações da Lei das Sociedades Anônimas, no 6.404/1976,
alteradas pelas Leis nos 11.638/2007 e 11.941/2009. O objetivo dessa convergência era padronizar
as normas brasileiras de acordo com o cenário mundial.

Dessa forma, o País, por meio do Conselho de Contabilidade que criou o Comitê de Pronuncimentos
Contábeis (CPC), iniciou o processo de adequação às normas expedidas pelo International
Accounting Standards Board (IASB). O IASB foi formado por um Conselho de Membros, com

19
CAPÍTULO 1 • Evolução Histórica e Doutrinas da Contabilidade

representantes de mais de 140 entidades de classe de todo o mundo, que, segundo Niyama e
Silva (2013), tem como objetivos:

» Desenvolver normas contábeis globais de qualidade, inteligíveis e exequíveis para ajudar


os participantes do mercado de capital e outros usuários a tomar decisões econômicas;

» Promover o uso e aplicação dessas normas;

» Promover a convergência entre as normas locais e as normas Internacionais;

» Política flexível na elaboração e publicação das normas;

» Em alguns casos, mais de um procedimento contábil válido;

Atualmente, o IASB tem recebido muitas críticas, pois alguns entendem que as normas expedidas
estão ferindo a soberania nacional; que existe uma politização da Contabilidade e sobrecarga
de normas.

No proximo capítulo, conversaremos um pouco mais sobre esse assunto. Para fechar, qual é o
desafio agora que estamos vivendo? Vimos, na história, que mensurar os custos dos produtos
era uma preocupação, agora surge a necessidade de determinar os custos dos serviços. Como
mensurar e registrar esses custos? Como contabilizar e avaliar o capital intelectual? São questões
relevantes para as entidades em que a Contabilidade precisa encontrar.

Conclusão

Portanto, neste capítulo, concluímos que a história da Contabilidade foi marcada por um conjunto
de diversas culturas e, que a evolução desta ciência foi parte fundamental para a evolução da
humanidade, pois foi a partir do sistema de contas que o homem se organizou, proporcionou um
crescimento mais acelerado das atividades econômicas, deixando de ser primitivo e passando
a raciocinar de maneira organizada. A Contabilidade tornou-se o pilar vital para um mundo
capitalista, podendo ser um instrumento de controle e avaliação para qualquer tipo de organização.

Sendo assim, ótimo estudo para você!

Sintetizando

Vimos até agora:

» A Evolução da história da Contabilidade.

» A história da Contabilidade no Brasil.

» As escolas ou doutrinas contábeis.

» Conhecemos sobre o IASB.

20
CAPÍTULO
PRINCÍPIOS CONTÁBEIS E
ESTRUTURA CONCEITUAL 2
Introdução

O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), criado pelo Decreto-Lei no 9.295, de 27 de maio de


1946, sistematiza e delibera sobre todos os Conselhos Regionais de Contabilidade, formando
o Sistema Nacional de Registro e Fiscalização do Exercício da profissão Contábil. O CFC é
composto por 15 Conselheiros efetivos e 15 suplentes, sendo 2/3 Contadores e 1/3 Técnicos em
Contabilidade, eleitos por um colégio eleitoral composto de um delegado-eleitor de cada CRC,
com mandato de quatro anos.

Os Conselhos Regionais de Contabilidade foram criados com as finalidades de registro e


fiscalização do exercício da profissão de Contabilista; a profissão está regulamentada e somente
podem exercer a profissão os contadores e técnicos contábeis registrados no CRC da sua região.
Atualmente, são 27 Conselhos Regionais, com sede nas capitais dos estados e no Distrito Federal.

Figura 7. Conselho Federal de Contabilidade

Fonte: <www.crcpi.com.br>.

Neste capítulo, aprenderemos os Princípios Contábeis que foram criados pelo CFC, que são
instrumentos utilizados em todo o processo contábil das organizações, bem como, a estrutura
conceitual regulamentada pelo CPC 00.

21
CAPÍTULO 2 • Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual

Objetivos

» Aprender sobre os Princípios de Contabilidade.

» Perceber a importância dos princípios nas organizações.

» Conhecer a estrutura conceitual e as características qualitativas da informação


contábil útil.

Origem e conceito

Agora que você já conheceu as funções do CFC e dos CRCs, afinal, o que são princípios de
Contabilidade? Para entender o que são princípios de Contabilidade, precisamos compreender
o significado da própria palavra princípios, que, de acordo com o site Jus.com.br (disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/45194/o-que-sao-principios-suas-fases-distincoes-e-juridicidade>)
são:

os alicerces da norma, são o seu fundamento em essência, são o refúgio em que


a norma encontra sustentação para racionalizar a sua legitimação, são a base de
onde se extrai o norte a ser seguido por um ordenamento, seja em sentido lato –
como é possível observar-se de princípios constitucionais, no caso do princípio
da legalidade, por exemplo – em que todos devem obediência à lei (não só os
indivíduos, mas também o Estado), seja em ramos específicos do direito, como
o trabalhista – em que o princípio da proteção do trabalhador serve de alicerce
para a construção de todos os outros princípios dessa área do direito e de sua
legislação não codificada.

Pela definição acima, percebemos que princípios são o “norte”, a orientação a ser adotada.
Assim, de acordo com o art. 2o da Resolução do CFC no 750/1993, atualizada pela Resolução CFC
no 1.282/2010, os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias
relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos
científico e profissional de nosso país. Concernem, pois, à Contabilidade o seu sentido mais
amplo de ciência social, cujo objeto é o patrimônio das entidades.

Os princípios são regulamentados pela Resolução CFC no 750/1993, que são de observância
obrigatória no exercício da profissão contábil, constituindo condição de legitimidade das Normas
Brasileiras de Contabilidade.

Os seis os Princípios de Contabilidade são:

I. Entidade;

II. Continuidade;

22
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual • CAPÍTULO 2

III. Oportunidade;

IV. Registro pelo valor original;

V. Competência;

VI. Prudência.

Princípio da entidade

O princípio da entidade reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a


autonomia patrimonial, bem como a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular
no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um
conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou
sem fins lucrativos. Por consequência, nesta acepção, o Patrimônio não se confunde com aqueles
dos seus sócios ou proprietários, no caso de sociedade ou instituição.

Importante

» O patrimônio de uma entidade não se confunde com o dos seus sócios.

» O patrimônio pertence à entidade, mas a recíproca não é verdadeira.

» A soma ou agregação contábil de patrimônios autônomos não resulta em nova entidade, mas em uma unidade de
natureza econômico-contábil.

Na prática, como exemplo: despesas particulares de pessoas físicas (gestores, funcionários e


terceiros) não devem ser consideradas como despesas da empresa; bens particulares dos sócios
ou acionistas não devem ser confundidos ou registrados na empresa.

Princípio da continuidade

O princípio da continuidade pressupõe que a entidade continuará em operação no futuro e,


portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta essa
circunstância.

Este princípio influencia o valor econômico dos ativos, dos passivos, principalmente
quando a empresa estiver com previsão de extinção. A equipe de professores da USP (2010)
complementa que

Todas as vezes que forem apresentadas as Demonstrações Contábeis (Balanço


Patrimonial, DRE etc.) e, nessa data, ser conhecido um fato relevante que irá

23
CAPÍTULO 2 • Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual

influenciar na continuidade normal da empresa, esse fato deverá ser divulgado


através de Nota Explicativa. A aplicação desse princípio está intimamente ligada
à correta aplicação do Princípio da Competência, pois se relaciona diretamente
à quantificação dos componentes patrimoniais e à formação do resultado, e de
constituir dado importante para aferir a capacidade futura de geração de resultado
(Equipe de professores da USP, 2010).

Princípio da oportunidade

O princípio da oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes


patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. A falta de integridade e
tempestividade na produção e na divulgação da informação contábil pode ocasionar a perda de
sua relevância, por isso é necessário ponderar a relação entre a oportunidade e a confiabilidade
da informação.

Quando se tratar de um fato futuro, o registro deverá ser feito desde que
tecnicamente estimável mesmo existindo razoável certeza de sua ocorrência. São
os casos de Provisões para Férias, para Contingências etc. (Equipe de professores
da USP, 2010).

Atenção

Não se confunde com o princípio da competência:

» Competência enfatiza as transações que afetam o PL (receitas e despesas).

» Oportunidade = abrange todas as variações.

Princípio do registro pelo valor original

O princípio do registro pelo valor original determina que os componentes do patrimônio devem
ser, inicialmente, registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional.
As seguintes bases de mensuração devem ser utilizadas em graus distintos e combinadas, ao
longo do tempo, de diferentes formas:

I. Custo histórico. Os ativos são registrados pelos valores pagos ou a serem pagos em
caixa ou equivalentes de caixa ou pelo valor justo dos recursos que são entregues para
adquiri-los na data da aquisição. Os passivos são registrados pelos valores dos recursos
que foram recebidos em troca da obrigação ou, em algumas circunstâncias, pelos valores
em caixa ou equivalentes de caixa, os quais serão necessários para liquidar o passivo no
curso normal das operações; e

24
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual • CAPÍTULO 2

II. Variação do custo histórico. Uma vez integrados ao patrimônio, os componentes


patrimoniais, ativos e passivos, podem sofrer variações decorrentes dos seguintes
fatores:

a. Custo corrente. Os ativos são reconhecidos pelos valores em caixa ou equivalentes de


caixa, os quais teriam de ser pagos se esses ativos ou ativos equivalentes fossem adquiridos
na data ou no período das demonstrações contábeis. Os passivos são reconhecidos pelos
valores em caixa ou equivalentes de caixa, não descontados, que seriam necessários para
liquidar a obrigação na data ou no período das demonstrações contábeis;

b. Valor realizável. Os ativos são mantidos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa,
os quais poderiam ser obtidos pela venda de forma ordenada. Os passivos são mantidos
pelos valores em caixa e equivalentes de caixa, não descontados, que se espera seriam
pagos para liquidar as correspondentes obrigações no curso normal das operações da
entidade;

c. Valor presente. Os ativos são mantidos pelo valor presente, descontado do fluxo futuro
de entrada líquida de caixa que se espera seja gerado pelo item no curso normal das
operações da entidade. Os passivos são mantidos pelo valor presente, descontado do
fluxo futuro de saída líquida de caixa que se espera seja necessário para liquidar o passivo
no curso normal das operações da entidade;

d. Valor justo. É o valor pelo qual um ativo pode ser trocado, ou um passivo liquidado,
entre partes conhecedoras, dispostas a isso, em uma transação sem favorecimentos; e

e. Atualização monetária. Os efeitos da alteração do poder aquisitivo da moeda nacional


devem ser reconhecidos nos registros contábeis mediante o ajustamento da expressão
formal dos valores dos componentes patrimoniais.

São resultantes da adoção da atualização monetária:

» a moeda, embora aceita universalmente como medida de valor, não representa unidade
constante em termos do poder aquisitivo;

» para que a avaliação do patrimônio possa manter os valores das transações originais, é
necessário atualizar sua expressão formal em moeda nacional, a fim de que permaneçam
substantivamente corretos os valores dos componentes patrimoniais e, por consequência,
o do Patrimônio Líquido; e

» a atualização monetária não representa nova avaliação, mas tão somente o ajustamento
dos valores originais para determinada data, mediante a aplicação de indexadores ou
outros elementos aptos a traduzir a variação do poder aquisitivo da moeda nacional
em um dado período.

25
CAPÍTULO 2 • Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual

Princípio da competência

O princípio da competência determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam
reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento.
O princípio da competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de
despesas correlatas. A equipe de professores da USP demonstra essa confrontação da seguinte
forma a seguir:

As Receitas são consideradas realizadas (ocorridas):

a. nas vendas a terceiros de bens ou serviços, quando estes efetuarem o pagamento ou


assumirem o compromisso firme de efetivá-lo, quer pela investidura na propriedade
do bem vendido, quer pela fruição (usufruto) do serviço prestado;

b. quando do desaparecimento parcial ou total de um passivo, qualquer que seja o motivo;

c. pela geração natural de novos ativos independentemente da intervenção de terceiros.

As Despesas são consideradas incorridas:

a. Quando deixar de existir o correspondente valor ativo, por transferência de sua propriedade
para terceiro;

b. pela diminuição ou extinção do valor econômico do ativo;

c. pelo surgimento de um passivo, sem o correspondente ativo.

Princípio da prudência

O princípio da prudência determina a adoção do menor valor para os componentes do Ativo


e do maior para os do Passivo, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para
a quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido. O princípio da
prudência pressupõe o emprego de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos
necessários às estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas
não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados, atribuindo maior
confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais.

Sempre que se apresentarem alternativas igualmente válidas para a quantificação das mutações
que alteram o Patrimônio Líquido, deve-se adotar o menor valor para os componentes do Ativo
e o maior valor para os componentes do Passivo. Portanto, este princípio propõe que havendo
a necessidade de escolha, o Patrimônio Líquido deverá ser o menor. Geralmente as hipóteses
de escolhas ocorrem em projeções de valores futuros.

26
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual • CAPÍTULO 2

Alguns autores criticam este princípio, pois, pela sua aplicação, poderá ocorrer confronto com
outros princípios, o que impede que as demonstrações sejam mais fidedignas, aumenta a
interferência e é utilizada de forma arbitrária.

Concluindo, havendo a condição de incerteza, a aplicação será:

» Ativos e receitas superestimados;

» Passivo e despesas subestimadas.

Observe a lei

A inobservância dos Princípios de Contabilidade constitui infração nas alíneas c, d e e do art. 27 do Decreto-Lei
no 9.295, de 27 de maio de 1946 e, quando aplicável, ao Código de Ética Profissional do Contabilista.

Estrutura conceitual e as características qualitativas

As demonstrações contábeis são elaboradas e apresentadas para usuários externos em geral,


tendo em vista suas finalidades distintas e necessidades diversas. Governos, órgãos reguladores
ou autoridades tributárias, por exemplo, podem determinar especificamente exigências para
atender aos seus próprios interesses.

Assim, as demonstrações contábeis elaboradas de acordo com a estrutura conceitual objetivam


fornecer informações que sejam úteis na tomada de decisões econômicas e avaliações por parte
dos usuários em geral, não tendo o propósito de atenderà finalidade ou necessidade específica
de determinados grupos de usuários.

Neste capítulo, entenderemos o conceito de estrutura conceitual, objetivos, usuários e os diversos


ramos aplicados.

Origem e conceito

Com o processo da globalização, houve a necessidade de harmonizar as normas contábeis.


Tal processo inicia-se com o International Accounting Standards Board (IASB), que tem como
objetivo desenvolver, com base em princípios claramente articulados, um conjunto único de
normas de contabilidade de alta qualidade, compreensíveis, exequíveis e aceitáveis globalmente.

Para implementação dessas normas no Brasil, foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis
(CPC) que, de acordo com a Resolução CFC no 1.055/2005, tem como objetivos,

o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos


de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a

27
CAPÍTULO 2 • Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual

emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização


e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a
convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais.

Dessa forma, em 2008, foi aprovado o primeiro pronunciamento, CPC 00 – Estrutura Conceitual
para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro. Após três anos, ocorreram
algumas alterações, revogando o pronuciamento aprovado anteriormente, e atualizando com
novos entendimentos e atualizações, que estão em vigor até a presente data.

A estrutura conceitual tem o propósito de apresentar, por meios conceituais, um conjunto de


princípios que possam subsidiar o estabelecimento de normas ou padrões contábeis, a fim de
atingir os objetivos da Contabilidade, disponibilizando a seus usuários informações de natureza
econômica, financeira, física e de produtividade.

Finalidade e status

A Estrutura Conceitual foi desenvolvida de forma a ser aplicável a uma gama de modelos contábeis
e conceitos de capital e sua manutenção. Essa estrutura conceitual estabelece os conceitos que
fundamentam a elaboração e a apresentação de demonstrações contábeis destinadas a usuários
externos. A finalidade dessa Estrutura Conceitual é:

» dar suporte ao desenvolvimento de novos Pronunciamentos Técnicos, Interpretações


e Orientações e à revisão dos já existentes, quando necessário;

» dar suporte à promoção da harmonização das regulações, das normas contábeis e dos
procedimentos relacionados à apresentação das demonstrações contábeis, provendo
uma base para a redução do número de tratamentos contábeis alternativos permitidos
pelos Pronunciamentos, Interpretações e Orientações;

» dar suporte aos órgãos reguladores nacionais;

» auxiliar os responsáveis pela elaboração das demonstrações contábeis na aplicação dos


Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações e no tratamento de assuntos
que ainda não tenham sido objeto desses documentos;

» auxiliar os auditores independentes a formar sua opinião sobre a conformidade


das demonstrações contábeis com os Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e
Orientações;

» auxiliar os usuários das demonstrações contábeis na interpretação de informações


nelas contidas, elaboradas em conformidade com os Pronunciamentos Técnicos,
Interpretações e Orientações; e

28
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual • CAPÍTULO 2

» proporcionar aos interessados informações sobre o enfoque adotado na formulação


dos Pronunciamentos Técnicos, das Interpretações e das Orientações.

Importante

Esta estrutura conceitual não é um Pronunciamento Técnico propriamente dito e, portanto, não define normas ou
procedimentos para qualquer questão particular sobre aspectos de mensuração ou divulgação. Nada nessa estrutura
conceitual substitui qualquer Pronunciamento Técnico, Interpretação ou Orientação.

Pode haver um número limitado de casos em que seja observado um conflito entre essa estrutura
conceitual e um pronunciamento técnico, uma interpretação ou uma orientação. Nesses casos,
as exigências do pronunciamento técnico, da interpretação ou da orientação específicos devem
prevalecer sobre esta estrutura Conceitual. Entretanto, à medida que futuros pronunciamentos
técnicos, interpretações ou orientações sejam desenvolvidos ou revisados tendo como norte
essa estrutura conceitual, o número de casos de conflito entre esta estrutura conceitual e eles
tende a diminuir.

Alcance

A estrutura conceitual aborda:

a. O objetivo da elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro;

b. As características qualitativas da informação contábil-financeira útil;

c. A definição, o reconhecimento e a mensuração dos elementos a partir dos quais as


demonstrações contábeis são elaboradas; e

d. Os conceitos de capital e de manutenção de capital.

Figura 8. Estrtutura Conceitual para Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis

Premissa Subjacente

Restrição ao Custo Características Características de


Fundamentais Melhorias

Relevância Representação Comparabilidade Verificabilidade Tempestividade Compreensibilidade


Fidedigna

Completa

Neutra

Livre de Erros

Fonte: Ni yama e Silva (2013).

29
CAPÍTULO 2 • Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual

Premissa subjacente

Continuidade

As demonstrações contábeis normalmente são elaboradas tendo como premissa que a entidade
está em atividade e irá manter-se em operação por um futuro previsível. Desse modo, parte-
se do pressuposto de que a entidade não tem a intenção, nem tampouco a necessidade, de
entrar em processo de liquidação ou de reduzir materialmente a escala de suas operações.
Por outro lado, se essa intenção ou necessidade existir, as demonstrações contábeis podem
ter que ser elaboradas em bases diferentes e, nesse caso, a base de elaboração utilizada deve
ser divulgada.

Características qualitativas

As características qualitativas da informação contábil-financeira útil, discutidas neste capítulo,


identificam os tipos de informação que muito provavelmente são reputadas como as mais úteis
para investidores, credores por empréstimos e outros credores, existentes e em potencial, para
tomada de decisões acerca da entidade que reporta com base na informação contida nos seus
relatórios contábil-financeiros (informação contábil-financeira).

Os relatórios contábeis-financeiros fornecem informação sobre os recursos econômicos


da entidade que reporta a informação sobre reivindicações contra a entidade que reporta
a informação e os efeitos de transações e outros eventos e condições que modificam esses
recursos e reivindicações. Alguns relatórios contábil-financeiros também incluem material
explicativo sobre as expectativas da administração e sobre as estratégias para a entidade que
reporta a informação, bem como outros tipos de informação sobre o futuro (forward-looking
information).

Dessa forma, as características qualitativas da informação contábil-financeira útil devem ser


aplicadas à informação contábil-financeira fornecida pelas demonstrações contábeis, assim
como à informação contábil-financeira fornecida por outros meios.

Informação contábil-financeira útil

Para a informação contábil-financeira ser útil ela deve ser relevante e representada com
fidedignidade. Sendo essa informação de melhor teor se for: Comparável, Verificável, Tempestiva
e Compreensível. Logo, podemos classificar as características qualitativas da informação em
fundamentais, isto é, aquelas que são utéis, e as características qualitativas de melhorias, que
possibilitam melhor compreensão das informações contábeis. A figura a seguir sintetiza as
classificações.

30
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual • CAPÍTULO 2

Figura 9.

Fonte: Autora (2017).

As características qualitativas fundamentais (mais críticas) são relevância e representação fidedigna


A informação contábil é relevante quando é capaz de fazer a diferença na tomada de decisão
dos usuários. A informação pode ser considerada relevante quando for capaz de influenciar
significativamente o cumprimento dos objetivos da elaboração e da divulgação da informação
contábil. E um fator que pode ser considerado relevante é a materialidade. A informação é
material se sua omissão ou divulgação distorcida puder influenciar decisões.

A outra caracteristica qualititativa fundamental é a representação fidedigna, que, para ser útil, a
informação deve ser confiável, livre de erros materiais ou vieses e refletir adequadamente aquilo
que se propõe a representar. A informação contábil é fidedigna se possuir três atributos:

» Ser completa: o usuário compreende o fenômeno retratado, incluindo todas as descrições


e explicações;

» Neutra: desprovida de viés de seleção;

» Livre de erro: o processo utilizado, para produzir a informação reportada, foi selecionado
e foi aplicado livre de erros.

A representação fidedigna, por si só, não resulta necessariamente em informação útil. Por
exemplo, a entidade que reporta a informação pode receber um item do imobilizado por meio

31
CAPÍTULO 2 • Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual

de subvenção governamental. Obviamente, a entidade, ao reportar que adquiriu um ativo sem


custo retrataria com fidedignidade o custo desse ativo, porém essa informação provavelmente
não seria muito útil. Outro exemplo mais sutil seria a estimativa do montante por meio do qual
o valor contábil do ativo seria ajustado para refletir a perda por desvalorização no seu valor.

Essa estimativa pode ser uma representação fidedigna se a entidade que reporta a informação tiver
aplicado com propriedade o processo apropriado, tiver descrito com propriedade a estimativa
e tiver revelado quaisquer incertezas que afetam significativamente a estimativa. Entretanto,
se o nível de incerteza de referida estimativa for suficientemente alto, a estimativa não será
particularmente útil. Em outras palavras, a relevância do ativo que está sendo representado com
fidedignidade será questionável. Se não existir alternativa para retratar a realidade econômica
que seja mais fidedigna, a estimativa, nesse caso, deve ser considerada a melhor informação
disponível.

O processo mais eficiente e mais efetivo para aplicação das características qualitativas
fundamentais usualmente seria o que segue (sujeito aos efeitos das características de melhoria
e à restrição do custo, que não são considerados neste exemplo). Primeiro, identificar o fenômeno
econômico que tenha o potencial de ser útil para os usuários da informação contábil-financeira
reportada pela entidade. Segundo, identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que seria
mais relevante se estivesse disponível e que poderia ser representado com fidedignidade. Terceiro,
determinar se a informação está disponível e pode ser representada com fidedignidade. Dessa
forma, o processo de satisfazer as características qualitativas fundamentais chega ao seu fim. Caso
contrário, o processo deve ser repetido a partir do próximo tipo de informação mais relevante.

Comparabilidade, verificabilidade, tempestividade e compreensibilidade são características


qualitativas que melhoram a utilidade da informação que é relevante e que é representada com
fidedignidade. As características qualitativas de melhoria podem também auxiliar a determinar qual
de duas alternativas, que seja considerada equivalente em termos de relevância e fidedignidade
de representação, deve ser usada para retratar um fenômeno.

Comparabilidade

As decisões de usuários implicam escolhas entre alternativas, como, por exemplo, vender
ou manter um investimento, ou investir em uma entidade ou noutra, consequentemente, a
informação acerca da entidade que reporta informação será mais útil caso possa ser comparada
com informação similar sobre outras entidades e com informação similar sobre a mesma entidade
para outro período ou para outra data.

Comparabilidade é a característica qualitativa que permite que os usuários identifiquem


e compreendam similaridades dos itens e diferenças entre eles. Diferentemente de outras
características qualitativas, a comparabilidade não está relacionada com um único item.
A comparação requer no mínimo dois itens.

32
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual • CAPÍTULO 2

Consistência, embora esteja relacionada com a comparabilidade, não significa o mesmo. Esta
refere-se ao uso dos mesmos métodos para os mesmos itens, tanto de um período para outro,
considerando a mesma entidade que reporta a informação, quanto para um único período entre
entidades. Comparabilidade é o objetivo; a consistência auxilia a alcançar esse objetivo.

Comparabilidade também não pode ser confundida com uniformidade. Para que a informação
seja comparável, coisas iguais precisam parecer iguais e coisas diferentes precisam parecer
diferentes. A comparabilidade da informação contábil-financeira não é aprimorada ao se fazer
com que coisas diferentes pareçam iguais ou, ainda, ao se fazer coisas iguais parecerem diferentes.

Algum grau de comparabilidade é possivelmente obtido por meio da satisfação das características
qualitativas fundamentais. A representação fidedigna de um fenômeno econômico relevante
deve possuir naturalmente algum grau de comparabilidade com a representação fidedigna de
fenômeno econômico relevante similar de outra entidade que reporta a informação.

Muito embora um fenômeno econômico singular possa ser representado com fidedignidade
de múltiplas formas, a discricionariedade na escolha de métodos contábeis alternativos para o
mesmo fenômeno econômico diminui a comparabilidade.

Verificabilidade

A verificabilidade ajuda a assegurar aos usuários que a informação representa fidedignamente com
o fenômeno econômico que se propõe a representar. A verificabilidade significa que diferentes
observadores, cônscios e independentes, podem chegar a um consenso, embora não cheguem
necessariamente a um completo acordo, quanto ao retrato de uma realidade econômica em
particular ser uma representação fidedigna. Informação quantificável não necessita ser um único
ponto estimado para ser verificável. Uma faixa de possíveis montantes com suas probabilidades
respectivas pode, também, ser verificável.

A verificação pode ser direta ou indireta. Verificação direta significa verificar um montante ou
outra representação por meio de observação direta, como, por exemplo, por meio da contagem
de caixa. Verificação indireta significa checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra
técnica e recalcular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia. Um
exemplo é a verificação do valor contábil dos estoques por meio da checagem dos dados de
entrada (quantidades e custos) e por meio do recálculo do saldo final dos estoques utilizando a
mesma premissa adotada no fluxo do custo (por exemplo, utilizando o método PEPS).

Pode não ser possível verificar algumas explicações e alguma informação contábil-financeira
sobre o futuro (forward-looking information) até que o período futuro seja totalmente alcançado.
Para ajudar os usuários a decidir se desejam usar dita informação, é normalmente necessário
divulgar as premissas subjacentes, os métodos de obtenção da informação e outros fatores e
circunstâncias que suportam a informação.

33
CAPÍTULO 2 • Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual

Tempestividade

Tempestividade significa ter informação disponível para tomadores de decisão a tempo de


poder influenciá-los em suas decisões. Em geral, a informação mais antiga é a que tem menos
utilidade. Contudo, certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após o
encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários, por exemplo, necessitarem
identificar e avaliar tendências.

Compreensibilidade

Classificar, caracterizar e apresentar a informação com clareza e concisão torna-a compreensível.


Certos fenômenos são inerentemente complexos e não podem ser facilmente compreendidos.
A exclusão de informações sobre esses fenômenos dos relatórios contábil-financeiros pode
tornar a informação constante em referidos relatórios mais facilmente compreendida. Contudo,
referidos relatórios seriam considerados incompletos e potencialmente distorcidos (misleading).

Relatórios contábil-financeiros são elaborados para usuários que têm conhecimento razoável
de negócios e de atividades econômicas e que revisem e analisem a informação diligentemente.
Por vezes, mesmo os usuários bem informados e diligentes podem sentir a necessidade de
procurar ajuda de consultor para compreensão da informação sobre um fenômeno econômico
mais complexo.

Aplicação das características qualitativas de melhoria

Características qualitativas de melhoria devem ser maximizadas na extensão possível.


Entretanto, as características qualitativas de melhoria, quer sejam individualmente ou em
grupo, não podem tornar a informação útil se dita informação for irrelevante ou não for
representação fidedigna.

A aplicação das características qualitativas de melhoria é um processo interativo que não


segue uma ordem preestabelecida. Algumas vezes, uma característica qualitativa de melhoria
deve ser diminuída para maximização de outra. Por exemplo, a redução temporária na
comparabilidade como resultado da aplicação prospectiva de uma nova norma contábil-
financeira pode ser vantajosa para o aprimoramento da relevância ou da representação
fidedigna no longo prazo. Divulgações apropriadas podem parcialmente compensar a não
comparabilidade.

Finalizamos nosso estudo do capítulo 2.

Bons estudos!

34
Princípios Contábeis e Estrutura Conceitual • CAPÍTULO 2

Sugestão de estudo

Para aprimorar mais o seu o conhecimento, assista ao vídeo do Professor Sergio Iudícibus – Teoria da Contabilidade
– Parte 1.

Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=msnbsAfI188>.

Sintetizando

Vimos até agora:

» Neste capítulo aprendemos sobre o Conselho Federal de Contabilidade, órgão que regulamenta as normas e a
profissão de Contabilidade.

» Em seguida, estudamos os seis princípios de Contabilidade que são os norteadores da profissão contábil.

» Após, conhecemos a Estrutura Conceitual de Contabilidade, normatizada pelo Comitê de Pronunciamentos


Contábeis, com o objetivo de uniformizar as Normas Internacionais de Contabilidade.

» Destaque desta Estrutura Conceitual são a Premissa Subjacente, a Continuidade e as Características Qualitativas da
Informação Contábil Útil.

35
PATRIMÔNIO DAS ENTIDADES
CAPÍTULO
3
Introdução

Contabilidade é a ciência que estuda, interpreta e registra os fenômenos que afetam o patrimônio
de uma entidade. Ela alcança sua finalidade por meio do registro e análise de todos os fatos
relacionados com a formação, a movimentação e as variações do patrimônio administrativo,
vinculado à entidade, com o fim de assegurar seu controle e fornecer a seus administradores
as informações necessárias à ação administrativa, bem como a seus titulares (proprietários do
patrimônio) e demais pessoas com ele relacionadas, as informações sobre o estado patrimonial
e o resultado das atividades desenvolvidas pela entidade para alcançar os seus fins. (Professores
da USP, 2010)

Por meio da citação acima, percebemos que a existência da Contabilidade está intrinsecamente ligada
ao Patrimônio, principal objeto da Contabilidade. Dessa forma, neste capítulo aprofundaremos
nosso estudo nessa temática.

Figura 10. Patrimônio

Fonte: Autora (2018).

36
Patrimônio das Entidades • CAPÍTULO 3

Objetivos

» Aprofundar os conhecimentos acerca do Patrimônio das entidades.

» Aprender sobre a composição do Patrimônio.

» Conhecer a origem e a aplicação dos recursos.

» Estudar sobre os atos e fatos administrativos e suas classificações.

Patrimônio

A riqueza de uma pessoa física ou jurídica é dada pela sua situação patrimonial, por seu
patrimônio. Segundo Marion (2009), o patrimônio é um conjunto de bens, direitos e obrigações
de uma entidade.

Os bens e direitos pertencentes a uma entidade geram obrigações, e uma forma de representar
graficamente esse patrimônio seria apresentar, de um lado, os bens e direitos e, do outro, as
obrigações de uma entidade. Do ponto de vista contábil, são considerados apenas os bens,
direitos e obrigações que podem ser avaliados em moeda.

Os bens e direitos são denominados de Ativos, enquanto as obrigações são os Passivos.

Figura 11. Representação do Patrimônio da Entidade

PATRIMÔNIO
ATIVO PASSIVO
OBRIGAÇÕES
BENS E DIREITOS
(ORIGENS)
(APLICAÇÕES)

Fonte: Autora (2018).

Bens

São representados por itens úteis à entidade objetos de propriedade da empresa avaliados
monetariamente. São divididos em bens tangíveis e intangíveis. Os bens tangíveis possuem
forma física, são palpáveis, tais como: dinheiro, estoques, veículos, imóveis, móveis e utensílios,
terrenos, ferramentas, entre outros.

Os bens intangíveis não possuem forma física. Podem ser adquiridos ou podem ser elaborados
pela entidade. Exemplos de bens intangíveis são: softwares, fundo de comércio, marcas, patentes
de invenção, entre outros, até o capital intelectual disponível em uma entidade. Nem sempre

37
CAPÍTULO 3 • Patrimônio das Entidades

pode ser mensurado, pois sua avaliação é subjetiva. Esse conteúdo será aprofundado na disciplina
Contabilidade Societária.

Direitos

Representam o poder de exigir alguma coisa. São valores de propriedade da empresa que estão
em poder de terceiros. Por exemplo, o valor que uma empresa receberá decorrente de uma venda
a prazo. O comprador já levou a mercadoria, porém ainda não pagou, então a empresa tem o
direito de receber o valor correspondente.

Exemplos: depósitos bancários, contas a receber, duplicatas a receber (clientes), títulos a receber,
empréstimos a diretores, adiantamento a fornecedores etc.

Obrigações

São dívidas que uma entidade tem com outras e representam o poder que essas outras entidades
possuem em exigir alguma coisa. São os valores de propriedade de terceiros que estão em poder
da empresa, originando um compromisso futuro de pagamento.

Quando se compra um bem a prazo, ele se integra ao patrimônio a partir do momento em que
o fornecedor o entrega. Como foi uma venda a prazo, a empresa passa a ter uma obrigação com
o fornecedor, representada por “uma conta a pagar” equivalente ao preço do bem. Assim como
aumenta de um lado, o Ativo (bem) da empresa; de outro lado, aumenta o Passivo (obrigação)
da empresa.

Exemplos: empréstimos e financiamentos a pagar, salários a pagar, duplicatas a pagar (fornecedores),


títulos a pagar, impostos a recolher, aluguéis a pagar: obrigações decorrentes de contratos de
locação.

Representação gráfica

O gráfico do patrimônio é representado pelo Balanço Patrimonial, no qual do lado esquerdo se


encontram os valores ativos e do lado direito os valores passivos.

A palavra balanço decorre do equilíbrio: Ativo = Passivo + PL, ou da igualdade: Aplicações =


Origens. Parte-se da ideia de uma balança, em que sempre encontramos a igualdade. Mas em
vez de se denominar balança (como balança comercial) denomina-se balanço.

38
Patrimônio das Entidades • CAPÍTULO 3

O termo patrimonial tem origem no patrimônio da empresa, ou seja, conjunto de bens, direitos
e obrigações. Daí o termo patrimonial. O princípio básico da Contabilidade determina que os
valores finais das contas do Ativo devem ser iguais às contas do Passivo.

Quadro 4. Representação Gráfica do Balanço Patrimonial

BALANÇO PATRIMONIAL
ATIVO PASSIVO
BENS OBRIGAÇÕES
Dinheiro em caixa Fornecedores
Estoques de Mercadorias Salários a pagar
Veículos Empréstimos a pagar
Máquinas e Equipamentos Impostos a recolher
Ferramentas Contas a Pagar
Softwares Encargos Sociais a Pagar
Marcas e Patentes Aluguéis a Pagar
Imóveis PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Terrenos Capital Social
DIREITOS Reservas de Lucros
Depósitos Bancários Ajustes
Clientes Prejuízos Acumulados
Empréstimos a diretores

Fonte: Autora (2018).

Dessa forma, se determinada entidade empresarial possui os seguintes elementos:

» Dinheiro – 1.000,00

» Veículos – 14.000,00

» Contas a Receber – 30.000,00

» Salários a Pagar – 12.000,00

» Impostos a Recolher – 3.000,00

» Contas a Pagar – 5.000,00

Sobre esse patrimônio, pode-se afirmar que essa entidade possui:

» Total de Bens no valor de 15.000,00.

» Total de Direitos no valor de 30.000,00.

» Total de Obrigações Exigíveis no valor de 20.000,00.

Patrimônio Líquido = Bens + Direitos – Obrigações Exigíveis

39
CAPÍTULO 3 • Patrimônio das Entidades

Patrimônio Líquido = 15.000,00 + 30.000,00 – 20.000,00

Patrimônio Líquido = 25.000,00

Pode-se afirmar que essa entidade empresarial deve a terceiros 20.000,00 e possui recursos (bens
+ direitos) de 45.000,00. Aplicando a equação citada do patrimônio líquido anteriormente, o
patrimônio líquido ou a riqueza líquida dessa entidade é, portanto, 25.000,00.

Origens x Aplicações

Origens

Todos os recursos que entram em uma empresa passam pelo passivo exigível e patrimônio
líquido. Os recursos (financeiros ou materiais) são originados dos proprietários (patrimônio
líquido), fornecedores, governo, bancos, financeiras etc.

Por meio do passivo e do patrimônio líquido, portanto, identificam-se as origens dos recursos.

Aplicações

O ativo, por sua vez, evidencia todas as aplicações de recursos: aplicação no caixa, em estoque,
em máquinas, em imóveis etc.

A empresa, na verdade, só pode aplicar (ativo) aquilo que tem origem (passivo e PL). Evidentemente,
havendo origem de R$ 200.000,00, a aplicação deve ser de R$ 200.000,00. Dessa forma, fica
bastante simples entender por que o Ativo será sempre igual ao Passivo + PL.

Quadro 5. Representação Gráfica – Aplicações e Origens

BALANÇO PATRIMONIAL

Ativo (Aplicações) Passivo Exigível e Patrimônio Líquido (Origens)

Aplicações Capital Terceiros + Capital Próprio

Fonte: Autora (2018).

Equação fundamental

O patrimônio, por si só, não mede a efetiva riqueza de uma entidade. A parte que sobra para a
entidade quando as obrigações são subtraídas dos bens e direitos representa a riqueza líquida
(MARION, 2009).

40
Patrimônio das Entidades • CAPÍTULO 3

Em outras palavras, para se conhecer a efetiva riqueza líquida de uma entidade, é necessário
conhecer o seu Patrimônio Líquido, que é a diferença entre a soma dos bens e direitos e a soma
das obrigações exigíveis e é representada pela seguinte equação:

Patrimônio Líquido = Bens + Direitos - Obrigações

Ativo Passivo

A partir dessa equação fundamental, pode-se deduzir que em dado momento, o patrimônio
assume, invariavelmente, um dos três estados a saber:

Situação líquida positiva


1. Quando o ativo é maior que o passivo exigível, teremos patrimônio líquido maior do
que zero, revelando a existência de riqueza patrimonial (A > P).

Tabela 1. Situação Líquida Positiva.

ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 15.000 Passivo Exigível (1)
20.000
Estoques 12.000 Salários a Pagar 12.000
Duplicatas a receber 23.000 Fornecedores 8.000
Patrimônio Líquido 30.000
Capital Social 25.000
Lucro do Período 5.000
Total 50.000 Total 50.000
Fonte: Autora (2018).

Nota(1): Passivo Exigível, neste exemplo, compreendeu o somatório da conta salários a pagar
mais fornecedores.

Situação líquida negativa


2. Quando o ativo é menor que o passivo exigível, teremos patrimônio líquido menor do
que zero, revelando má situação financeira e existência de “passivo a descoberto” (A < P).

Tabela 2. Situação Líquida Negativa.

ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 15.000 Passivo Exigível (1)
75.000
Estoques 12.000 Salários a Pagar 10.000
Duplicatas a receber 23.000 Fornecedores 5.000
Financiamentos 60.000
Patrimônio Líquido (25.000)
Capital Social 25.000
Prejuízo do Período (50.000)
Total 50.000 Total 50.000
Fonte: Autora (2018).

41
CAPÍTULO 3 • Patrimônio das Entidades

Nota(1): Passivo Exigível neste exemplo, compreendeu o somatório da conta salários a pagar mais
fornecedores mais financiamentos.

Situação líquida nula


3. Quando o ativo é igual ao passivo exigível, teremos patrimônio líquido igual a zero,
revelando inexistência de riqueza própria (A = P).

Tabela 3. Situação Líquida Nula.

ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 15.000 Passivo Exigível (1)
50.000
Estoques 12.000 Salários a Pagar 10.000
Duplicatas a receber 23.000 Fornecedores 5.000
Financiamentos 35.000
Patrimônio Líquido 0
Capital Social 25.000
Prejuízo do Período (25.000)
Total 50.000 Total 50.000
Fonte: Autora (2018).

Nota(1): Passivo Exigível, neste exemplo, compreendeu o somatório da conta salários a pagar mais
fornecedores mais financiamentos.

Atos e fatos administrativos

Atos administrativos

São acontecimentos em geral que ocorrem nas entidades, mas não provocam alterações de
imediato no patrimônio.

Exemplos: nomeação de diretoria, admissão de empregados, assinaturas de contratos de compras


ou vendas etc.

Fatos administrativos

São acontecimentos dos quais decorrem mutações no patrimônio da entidade, sendo de interesse
contábil. Provocam variações nos valores patrimoniais, podendo ou não alterar o patrimônio
líquido. São, também, chamados de fatos contábeis, por modificarem o patrimônio e são objetos
de contabilização.

Exemplos: compras e vendas de mercadorias, pagamentos e recebimentos etc.

42
Patrimônio das Entidades • CAPÍTULO 3

Os fatos administrativos contábeis podem ser classificados como permutativos, modificativos


ou mistos.

Classificação dos fatos administrativos contábeis

Fatos permutativos

Acarretam uma troca (permuta) entre elementos do ativo, do passivo, ou de ambos, sem provocar
alteração no Patrimônio Líquido, alterando apenas a composição qualitativa dos elementos
pertencentes ao Patrimônio.

Atenção

Os fatos contábeis permutativos envolvem apenas as contas patrimoniais, ou seja, ativos e passivos.

Vejamos o exemplo a seguir, considerando a seguinte situação inicial de um patrimônio:

Tabela 4. Situação Inicial.

EMPRESA AVANTI LTDA. – 01/01/20X0


ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 100.000 Passivo Exigível 0

Patrimônio Líquido 100.000


Capital Social 100.000
Total 100.000 Total 100.000
Fonte: Autora (2018).

Suponhamos que no dia 10 de janeiro de 20X0 a empresa adquira, à vista, imóveis no valor de R$
80.000. Nesse caso, haverá a permutação de contas do Ativo, ou seja, a saída do Dinheiro, com
a entrada do registro do imóvel comprado, conforme a tabela a seguir.

Tabela 5. Fato Permutativo entre Ativos.

EMPRESA AVANTI LTDA. – 10/01/20X0


ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 20.000 Passivo Exigível 0
Imóveis 80.000

Patrimônio Líquido 100.000


Capital Social 100.000

Total 100.000 Patrimônio Líquido 100.000

Fonte: Autora (2018).

43
CAPÍTULO 3 • Patrimônio das Entidades

Continuando o nosso exemplo da empresa AVANTI, considere, agora, que a empresa, em 18 de


janeiro de 20X0, adquiriu mercadorias para revenda, a prazo, no valor de R$ 10.000,00. Nesse
caso, haverá a permutação de contas do Ativo e do Passivo, ou seja, a entrada das mercadorias,
com a entrada do registro Fornecedor a Pagar, conforme o quadro a seguir.

Tabela 6. Fato Permutativo entre Ativo e Passivo.

EMPRESA AVANTI LTDA. – 18/01/20X0


ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 20.000 Passivo Exigível 10.000
Estoque de Mercadorias 10.000 Fornecedores 10.000
Imóveis 80.000 Patrimônio Líquido 100.000
Capital Social 100.000
Total 110.000 Patrimônio Líquido 110.000
Fonte: Autora (2018).

Importante

Pode-se perceber que alterações ocorridas no patrimônio da empresa AVANTI LTDA. foram apenas com elementos do
Ativo e do Passivo, sem alterar o patrimônio líquido.

Fatos modificativos

Alteram a composição do Patrimônio Líquido, para mais ou menos. Enquanto os fatos contábeis
administrativos envolvem apenas as contas patrimoniais (ativo e passivo) e não interferem no
Patrimônio Líquido, os fatos modificativos envolvem contas de resultado (receitas e despesas)
e, consequentemente, modificam situação líquida da empresa. Os fatos modificativos podem
ser classificados em modificativos aumentativos e modificativos diminutivos.

Fatos modificativos aumentativos

Os fatos contábeis aumentativos estão relacionados às Receitas, então o Patrimônio Líquido


aumentará, pois as receitas provocam um efeito positivo. Assim, suponhamos que um dos imóveis
da empresa AVANTI LTDA. esteja alugado, e que seja remunerado pelo valor de R$ 2.000,00,
vejamos como ficará o patrimônio da empresa.

Tabela 7. Fato Modificativo Aumentativo.

EMPRESA AVANTI LTDA. – 15/02/20X0


ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 22.000 Passivo Exigível 10.000
Estoque de Mercadorias 10.000 Fornecedores 10.000
Imóveis 80.000 Patrimônio Líquido 102.000
Capital Social 100.000
Lucro no período (1) 2.000
Total 112.000 Patrimônio Líquido 112.000
Fonte: Autora (2018).

Nota(1): O Lucro no Período refere-se à receita de aluguel no valor de R$ 2.000,00

44
Patrimônio das Entidades • CAPÍTULO 3

Fatos modificativos diminutivos

Os fatos contábeis diminutivos estão relacionados às Despesas, então o Patrimônio Líquido


reduzirá, pois as despesas provocam um efeito negativo. Assim, suponhamos que a empresa
AVANTI LTDA. faça o registro de uma despesa relativa à energia elétrica que será paga no mês
que vem no valor de R$ 500.

Tabela 8. Fato Modificativo Diminutivo.


EMPRESA AVANTI LTDA. – 15/02/20X0
ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 22.000 Passivo Exigível 10.500
Estoque de Mercadorias 10.000 Fornecedores 10.000
Imóveis 80.000 Contas a Pagar 500
Patrimônio Líquido 101.500
Capital Social 100.000
Lucro no período(1) 1.500
Total 112.000 Patrimônio Líquido 112.000
Fonte: Autora (2018).

Nota(1): O Lucro no Período refere-se à receita de aluguel no valor de R$ 2.000,00 menos a despesa
de energia elétrica de R$ 500,00.

Perceba-se que a despesa de energia elétrica reduziu o valor do Patrimônio Líquido. A posição
do patrimônio não foi alterada, pois o pagamento ainda não se realizou.

Fato misto

Fatos mistos são aqueles que implicam simultaneamente mudanças permutativas e modificativas.
É o caso, por exemplo, do recebimento em dinheiro de uma duplicata a receber com juros.
Neste caso, haverá a troca de duplicata a receber por caixa, mas, em função dos juros, haverá
um aumento no Patrimônio Líquido em função da receita financeira que será incluída na
demonstração de resultado do exercício.

Isso pode ocorrer também quando uma empresa paga um título com juros. Neste caso, tais juros
serão uma despesa financeira que reduzirá o lucro do período na demonstração de resultado
do exercício.

Considere a seguinte situação na empresa AVANTI LTDA. Em 20/2/20X0 ocorreu a venda de todas
as mercadorias por R$ 30.000 com recebimento à vista. Considerando que o lucro da empresa
foi apurado deduzindo os R$ 10.000 pelo valor pago para adquirir as mercadorias (lucro de
R$ 20.000,00):

45
CAPÍTULO 3 • Patrimônio das Entidades

Tabela 9. Fato Misto

EMPRESA AVANTI LTDA. – 20/02/20X0


ATIVO PASSIVO + PL
Caixa 52.000 Passivo Exigível 10.500
Fornecedores 10.000
Imóveis 80.000 Contas a Pagar 500
Patrimônio Líquido 121.500
Capital Social 100.000
Lucro no período(1) 21.500
Total 132.000 Patrimônio Líquido 132.000
Fonte: Autora (2018).

Nota(1): O Lucro no Período refere-se à receita de aluguel no valor de R$ 2.000,00 menos a despesa
de energia elétrica de R$ 500,00 mais lucro na venda de mercadorias de $ 20.000,00.

Quadro 6. Resumo dos Fatos Contábeis

Fonte: Silva (2008).

Sugestão de estudo

Para aprimorar os estudos, recomendamos a leitura do livro

Livro: Contabilidade Introdutória

Autor: Equipe de Professores da FEA-USP

Editora: Atlas

Ano: 2010

Edição: 11ª

Sintetizando

Vimos até agora:

» Neste capítulo aprofundamos os conhecimentos acerca do Patrimônio das Entidades.

» Em seguida, aprendemos sobre a composição do Patrimônio.

» Conhecemos como surge a origem e a aplicação dos recursos.

» E, por último, estudamos sobre os atos e fatos administrativos.

46
CAPÍTULO
PLANO DE CONTAS 4
Introdução

A arte de contar exige uma técnica e, para a Contabilidade, foram criados sistemas de contas
contábeis para controlar e registrar o patrimônio e o resultado das organizações. O método
utilizado há muitos séculos é o método das partidas dobradas, por Luca Pacioli, o qual instruía
os comerciantes da época a controlar os seus negócios por meio dos registros de seus direitos
e obrigações.

Objetivos

» Aprender o conceito de conta contábil e sua função para geração de informações nas
organizações.

» Estudar sobre as classificações das contas contábeis.

» Conhecer um plano de contas contábil.

» Entender sobre as naturezas das contas.

Conceito de conta

Uma conta contábil é uma representação de um elemento patrimonial ou de um elemento


de desempenho patrimonial. Em cada conta são registrados elementos da mesma natureza.
É o nome técnico que identifica cada elemento que compõe o patrimônio e suas alterações.

Todos os acontecimentos que ocorrem durante a gestão patrimonial de uma entidade, tais
como compras, vendas, pagamentos, recebimentos etc. são registrados contabilmente em suas
respectivas contas.

Exemplos: movimentações em espécie na conta Caixa; movimentações bancárias na conta Banco;


compra e venda de mercadorias na conta Estoque de Mercadorias etc.

47
CAPÍTULO 4 • Plano de Contas

Classificação das contas

As contas podem ser classificadas em:

» Patrimoniais;

» De Resultado;

» Retificadoras (Redutoras).

Contas patrimoniais

São as que representam os elementos componentes do Patrimônio da entidade, dividindo-se


basicamente em Ativas (Bens e direitos) e Passivas (Obrigações e Patrimônio Líquido).

As contas patrimoniais estão registradas no Balanço Patrimonial da entidade.

Exemplos: Caixa, Bancos, Duplicatas a receber, Fornecedores, Salários a pagar, Capital Social,
Lucros e Prejuízos etc.

Contas de resultado

São as que representam variações no patrimônio líquido da entidade (positivas ou negativas) e


influenciam diretamente no resultado do exercício (lucro ou prejuízo), sendo evidenciadas pelas
despesas/custos e receitas.

Resumindo, a apuração dos lucros e prejuízos da empresa se deve às contas de resultado (confronto
entre receitas e despesas/custos).

Lucro (Receitas > Despesas/Custos)

Prejuízo (Receitas < Despesas/Custos)

Importante

O resultado do período pertence ao Balanço Patrimonial (Subgrupo Patrimônio Líquido).

Os saldos das contas patrimoniais se acumulam ao longo de diversos períodos.

Os saldos das contas de resultado são zerados ao longo de cada período de apuração (mensalmente, trimestralmente
ou anualmente).

48
Plano de Contas • CAPÍTULO 4

Vejamos o exemplo de uma conta Patrimonial.

Tabela 10. Banco Conta Movimento

BANCO CONTA MOVIMENTO


Saldo em nov./2015 R$ 100.000,00
Entradas em dez/2015 R$ 80.000,00
Saídas em dez./2015 (R$ 30.000,00)
Saldo em dez./2015 R$ 150.000,00

Fonte: Autora (2018).

Sendo “BANCO CONTA MOVIMENTO” uma conta patrimonial, no próximo ano o saldo inicial
em 01 de janeiro de 2016 será de R$ 150.000,00. Agora, observemos um exemplo de conta de
Resultado.

Tabela 11. Receita de Vendas

RECEITA DE VENDAS
Saldo em nov./2015 R$ 1.100.000,00
Entradas em dez./2015 R$ 100.000,00
Saídas em dez./2015 R$ 1.200.000,00
Saldo em dez./2015 -----------

Fonte: Autora (2018).

Na Tabela 2 percebemos que o saldo em dezembro de 2015 foi nulo, isto é, ao término do exercício
a empresa encerra as contas de resultado para apurar o desempenho da organização, se ocorreu
lucro ou prejuízo por meio do confronto das receitas com as despesas. O encerramento pode
ocorrer mensalmente, trimestralmente e anualmente, de acordo com a política da empresa.
No nosso exemplo, consideramos para o encerramento da conta o ano. Portanto, as contas de
resultado sempre iniciarão o exercício com saldo nulo.

Contas redutoras

Também chamadas de retificadoras, as contas redutoras são contas que, embora


apareçam em determinado grupo patrimonial (Ativo ou Passivo), têm saldo contrário
em relação às demais contas desse grupo. As contas retificadoras servem para ajustar o
saldo de uma conta “principal”. Desse modo, uma conta redutora do Ativo terá natureza
credora, bem como uma conta redutora do Passivo terá natureza devedora. As contas
retificadoras reduzem o saldo total do grupo em que aparecem.

Principais contas retificadoras do ativo

» Perdas estimadas com Clientes (*antiga Provisão Para devedores Duvidosos PDD);

» Perdas estimadas para redução ao valor recuperável (CPC 01);

49
CAPÍTULO 4 • Plano de Contas

» Ajuste a Valor Presente de Clientes;

» Receitas Financeiras a transcorrer;

» Lucros a Apropriar; Lucros em vendas para controladas; Lucros em vendas para coligadas;
Lucros em vendas para joint venture (controle comum);

» Depreciação, Exaustão e Amortização Acumulada.

Retificadoras do passivo

» Ajuste a Valor presente;

» Encargos Financeiros a transcorrer;

» Custos de Transação a Apropriar;

» Deságio a Apropriar.

Retificadoras do patrimônio líquido

» Capital a subscrever;

» Capital a integralizar;

» Gastos na emissão de ações;

» Gastos na emissão de valores patrimoniais;

» Prejuízos Acumulados;

» Ações em Tesouraria.

A seguir, veremos a contabilização de algumas das contas retificadoras do grupo Ativo:

Perdas estimadas com clientes

Perdas Estimadas com Clientes ocorrem quando uma empresa vende a prazo, pois ocorre o risco
de não receber o valor devido pelo cliente. Dessa forma, o saldo da conta Clientes não poderá
apresentar o valor 100% a receber devido à possibilidade de inadimplência.

Para reconhecer essa parcela que a empresa não receberá de forma onerosa em seu resultado, a
conta redutora Perdas Estimadas com Clientes existe para representar essa possível “perda” de
valor nos seus títulos a receber, afetando o seu Patrimônio Líquido. Ou seja, é a parcela estimada
pela empresa que não será recebida em decorrência dos maus pagadores. Exemplos: cheques
sem fundos, cartões de crédito sem saldo, clientes que não pagarão etc.

50
Plano de Contas • CAPÍTULO 4

Perdas Estimadas com Clientes é uma conta de natureza credora, podendo fazer parte do Ativo
Circulante e Não Circulante, entra com saldo negativo no Ativo, deduzindo os valores a receber
dos clientes (conta Clientes/Duplicatas a receber).

A contabilização deve ser feita da seguinte forma:

D – Despesas com Perdas Estimadas com Clientes

C – Perdas Estimadas com Clientes (conta retificadora – Ativo)

Depreciação acumulada

Outro exemplo é a Depreciação Acumulada, que diminui o valor de um bem, resultante do


desgaste pelo uso, ação da natureza e obsolescência normal. Ou seja, é o motivo de perda de
valor ao passar do tempo, por ter surgido um melhor (desvalorização). A depreciação é o registro
da perda de materiais da empresa (desgaste de bens materiais/tangíveis).

A depreciação ocorre apenas nos bens materiais classificados no Ativo Imobilizado e nos bens
de renda classificados no grupo de Investimentos do Ativo Não Circulante (exemplo: imóveis
alugados). Ela pode ser calculada mensalmente ou no final do ano, por ocasião da Apuração do
Resultado do Exercício (ARE).

Atenção

Observação: Obsolescência se dá em função de novos inventos. Um bem obsoleto é um bem antiquado,


ultrapassado, fora de moda (na legislação tributária são fixados métodos, prazos e critérios para tal).

Tabela 12. Taxa de Depreciação.

Conta Taxa (ao ano) Vida útil


Imóveis (prédios) 4% a.a. 25 anos
Máquinas e equipamentos 10% a.a. 10 anos
Móveis e utensílios 10% a.a. 10 anos
Computadores e periféricos 20% a.a. 5 anos
Veículos 20% a.a. 5 anos
Terreno Não deprecia -----------
Fonte: Autora (2018).

Segue exemplo de como se calcula a depreciação de um bem.

Exemplo 1

Bem (Ativo): Veículos

Valor de Aquisição: $50.000

51
CAPÍTULO 4 • Plano de Contas

Taxa de Depreciação: 20% a.a. (ao ano)

Valor da Depreciação = Valor de Aquisição x taxa de administração

Valor da Depreciação = $50.000 x 20% a.a. = $10.000

A contabilização deve ser feita da seguinte forma:

D – Despesa com Depreciação Veículos

C – Depreciação Acumulada Veículos (Ativo)

Plano de contas

Plano de Contas (ou Elenco de Contas) é o conjunto de contas, previamente estabelecido, que
norteia os trabalhos contábeis de registro de fatos e atos inerentes à entidade, além de servir de
parâmetro para a elaboração das demonstrações contábeis. A elaboração do Plano de Contas
deve ser adequada com as especificidades da organização, a fim de atender os usuários das
informações.

Indica qual conta deve ser debitada e qual conta deve ser creditada, oferecendo a vantagem
de uniformização das contas utilizadas em cada registro, além de servir de parâmetro para a
elaboração das demonstrações contábeis. É o instrumento que o profissional consultará quando
for fazer um lançamento contábil.

Objetivos do plano de contas

Seu principal objetivo é estabelecer normas de conduta para o registro das operações da
organização e, na sua montagem, devem ser levados em conta três objetivos fundamentais:

a. atender às necessidades de informação da administração da empresa;

b. observar formato compatível com os princípios de contabilidade e com a norma legal


de elaboração do balanço patrimonial e das demais demonstrações contábeis (Lei no
6.404/1976, a chamada “Lei das S/A”);

c. adaptar-se tanto quanto possível às exigências dos agentes externos, principalmente às


da legislação do Imposto de Renda.

Quando da elaboração do plano de contas devem ser analisados os graus das contas que são a
medida de dependência na análise destas, sendo que a dependente deve ter sempre classificação
inferior com relação à principal. Normalmente, são empregados dois graus:

» Conta sintética (1o grau)

» Conta analítica (2o grau)

52
Plano de Contas • CAPÍTULO 4

Exemplo:

1. Ativo (Sintético)

1.1 Ativo Circulante (Sintético)

1.1.2 Bancos Conta Movimento (Sintético)

1.1.2.1 Caixa Econômica (Analítico)

1.1.2.2 Banco do Brasil (Analítico)

Observação: As contas sintéticas não recebem lançamentos, apenas as analíticas.

A seguir, um modelo de Plano de Contas que poderá ser utilizado por empresas comerciais,
industriais e prestadoras de serviços, com as devidas adaptações:

Contas patrimoniais
Quadro 7. Contas Patrimoniais Ativo.

1.1.4. Outras Contas a Receber


1. ATIVO
1.1.4.1. Empréstimos a Receber
1.1. CIRCULANTE
1.1.4.2. Adiantamento a Funcionários
1.1.1. Disponível
1.1.4.3. Impostos a Recuperar
1.1.1.1. Caixa
1.1.4.4. Adiantamento a fornecedores
1.1.1.2. Banco Conta Movimento
1.1.5. Estoques
1.1.1.2.1. Banco A
1.1.5.1. Produtos acabados ou mercadorias
1.1.1.2.2. Banco B
1.1.5.2. Produtos em Elaboração
1.1.1.3. Aplicações financeiras de liquidez imediata
1.1.5.3. Matérias-Primas
1.1.2. Aplicações Financeiras
1.1.5.4. Material de Consumo
1.1.2.1. Fundos de Investimento
1.1.5.5. Material de Escritório
1.1.2.2. CDB
1.1.5.6. (-) Provisão para Perda no Estoque
1.1.3. Clientes
1.1.6. Despesas Antecipadas
1.1.3.1. Duplicatas a Receber de Clientes
1.1.6.1. Prêmios de Seguro a apropriar
1.1.3.1.1. Cliente A
1.1.6.2. Aluguéis
1.1.3.1.2. Cliente B
1.1.6.3. IPVA
1.1.3.2. (-) Provisão para Crédito de Liquidação Duvidosa
1.1.6.4. Assinatura de Jornais e Revistas

53
CAPÍTULO 4 • Plano de Contas

1.2. NÃO CIRCULANTE 1.2.3. IMOBILIZADO


1.2.1. REALIZÁVEL A LONGO PRAZO 1.2.3.1. Terrenos
1.2.1.1. Clientes 1.2.3.2. Imóveis
1.2.1.2. Contas a Receber 1.2.3.3. Instalações
1.2.1.3. Despesas Antecipadas 1.2.3.4. Máquinas e Equipamentos
1.2.1.4. Depósitos Judiciais 1.2.3.5. Móveis e Utensílios
1.2.1.5. Empréstimos a Sócios/Acionistas 1.2.3.6. Veículos
1.2.1.6. Empréstimos a Empresas Controladas /Coligadas 1.2.3.7. Marcas e Patentes
1.2.2. INVESTIMENTOS 1.2.3.8. (-) Depreciações Acumuladas
1.2.2.1. Participações em Controladas/Coligadas 1.2.3.8.1. Imóveis
1.2.2.2. Participações em Outras Empresas 1.2.3.8.2. Instalações
1.2.2.3. Outros Investimentos 1.2.3.8.3. Máquinas e Equipamentos
1.2.2.4. (-) Provisão para Perda em Investimento 1.2.3.8.4. Móveis e Utensílios
1.2.3.8.5. Veículos
1.2.4. INTANGÍVEL
1.2.4.1. Fundo de Comércio Adquirido
1.2.4.2. Bens Incorpóreos
1.2.4.3. (-) Amortização Acumulada

Quadro 8. Contas Patrimoniais Passivo.


2. PASSIVO 2.2. NÃO CIRCULANTE
2.1. CIRCULANTE 2.2.1. EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
2.1.1. Fornecedores 2.2.1.1. Fornecedores
2.1.1.1. Fornecedor A 2.2.1.2. Contas a Pagar
2.1.1.2. Fornecedor B 2.2.1.3. Empréstimos e Financiamentos
2.1.1.3. Adiantamento de Fornecedores 2.2.1.4. Obrigações Fiscais
2.1.2. Contas a Pagar 2.2.1.5. Empréstimos de Empresas Controladas as
2.1.2.1. Água 2.3. PATRIMÔNIO LÍQUIDO
2.1.2.2. Luz 2.3.1. Capital Social
2.1.2.3. Telefone 2.3.1.1. Capital Subscrito
2.1.2.4. Aluguel 2.3.1.2. (-) Capital a Integralizar
2.1.3. Empréstimos e Financiamentos 2.3.2. Reservas
2.1.4. Salários a Pagar 2.3.2.1. De Capital
2.1.5. Impostos a Pagar 2.3.2.2. Legal
2.1.6. Duplicatas Descontadas 2.3.2.3. Lucros
2.1.7. Provisões 2.3.3. Ajustes de Avaliação Patrimonial
2.1.7.1. Provisão para Férias 2.3.4. Prejuízos Acumulados
2.1.7.2. Provisão para 13 Salário
o
2.3.4.1. Prejuízos Exercícios Anteriores
2.1.8. Dividendos a Pagar

54
Plano de Contas • CAPÍTULO 4

Contas de resultado
Quadro 9. Contas de Resultado Despesas.

3. CUSTOS/DESPESAS 3.2.01.25. Multas Fiscais


3.1. Custos Diretos da Produção 3.2.01.26. Pró-Labore
3.1.01. Custos dos Produtos/Mercadorias Vendidas 3.2.01.27. Propaganda e Publicidade
3.1.01.01. CMV 3.2.01.28. Reproduções
3.2. Despesas Operacionais 3.2.01.29. Revistas e Jornais
3.2.01. Despesas Administrativas 3.2.01.30. 13o Salário
3.2.01.01. Salários e Ordenados 3.2.01.31. Seguros
3.2.01.02. Adicional Noturno 3.2.01.32. Serviços Terceiros Pessoa Física
3.2.01.03. Água/Esgoto 3.2.01.33. Serviços Terceiros Pessoa Jurídica
3.2.01.04. Alimentação 3.2.01.34. Telefone
3.2.01.05. Aluguéis e Arrendamento 3.2.01.35. Vale-Transporte
3.2.01.06. Assistência Médica/Social 3.2.01.36. Viagens e Representações
3.2.01.07. Associação de Classe 3.2.02. Despesas Comerciais
3.2.01.08. Contribuição/Donativos 3.2.02.01. Créditos de Liquidação Duvidosa
3.2.01.09. Correios 3.2.02.02. Amostra Grátis
3.2.01.10. Depreciação /Amortização 3.2.02.03. Combustível
3.2.01.11. Despesas com Manutenção da Loja 3.2.02.04. Comissões de Venda
3.2.01.12. Farmácia 3.2.02.05. Embalagens
3.2.01.13. Férias 3.2.02.06. Fretes na Entrega
3.2.01.14. FGTS 3.2.02.07. Impostos s/ Veículos
3.2.01.15. Gás 3.2.02.08. Manutenção de Veículos
3.2.01.16. Horas Extras 3.2.02.09. Propaganda e Publicidade
3.2.01.17. Impostos e Taxas 3.2.03. Despesas Financeiras
3.2.01.18. Impressos 3.2.03.01. Encargos e Juros de Mora
3.2.01.19. Indenizações/Aviso Prévio 3.2.03.02. Despesas Bancárias
3.2.01.20. INSS 3.2.03.03. Outras Taxas e Encargos
3.2.01.21. Legais e Judiciais 3.2.04. Provisões
3.2.01.22. Luz e Energia 3.2.04.01. Provisões para I.R.
3.2.01.23. Materiais de Consumo 3.2.04.02. Provisões para C.S.L.L.
3.2.01.24. Multas de Trânsito 3.3. Outras Despesas

55
CAPÍTULO 4 • Plano de Contas

Quadro 10. Contas de Resultado Receitas.

4. RECEITA 4.3. Receita Operacional


4.1. Receita Bruta s/ Vendas e Serviços 4.3.01. Receita Financeira
4.1.01. Receita Bruta de Venda 4.3.01.01. Variação Monetária Ativa
4.1.01.01. Revenda de Mercadorias 4.3.01.02. Juros s/ Aplicações Financeiras

4.1.02. Receita Bruta de Serviços 4.3.01.03. Descontos Obtidos

4.1.02.01. Prestação de Serviços 4.3.01.04. Receita de Aplicações Pré-Fixadas


4.3.01.05. Multas Ativas
4.2. Dedução de Receita Bruta Vendas/Serviços
4.3.01.06. Dividendos
4.2.01. Dedução de Receita Bruta de Vendas
4.3.01.07. Juros s/ Duplicatas
4.2.01.01. Cancelamento de Devoluções
4.3.02. Recuperações Diversas
4.2.01.02. Abatimento Incondicional
4.3.02.01. Reembolsos Diversos
4.2.01.03. ICMS
4.3.02.02. Venda de Sucatas
4.2.01.04. COFINS
4.3.03. Receitas Patrimoniais
4.2.01.05. PIS s/ Vendas e Serviços 4.3.03.01. Resultado da Venda de Bens
4.2.02. Dedução de Receita Bruta s/ Serviços 4.4. Receita de Participações Societárias
4.2.02.01. ISS 4.4.01. Receita em Participações com Empresas
Coligadas
4.4.01.01. Receita de Participações Societárias
4.5. Outras Receitas

Natureza dos saldos das contas


Quadro 11. Natureza dos Saldos das Contas.

DEVEDORA CREDORA

 ATIVO  PASSIVO EXIGÍVEL

 DESPESA  PATRIMÔNIO LÍQUIDO

 RETIFICADOR PASSIVO  RECEITA

 RETIFICADOR DO PL  RETIFICADORA DO ATIVO

Diante do quadro, é possível observar que:

» Os saldos das contas do Ativo, assim como os das Despesas e redutoras do Passivo e
Patrimônio Líquido, são aumentados quando as debitamos, e são diminuídos quando
as creditamos;

» Os saldos das contas do Passivo, assim como os das contas de Receitas, são aumentados
quando as creditamos, e são diminuídos quando as debitamos.

56
Plano de Contas • CAPÍTULO 4

Por conclusão, podemos definir que:

As origens de recursos têm natureza credora; logo, aumentam com o crédito e diminuem com
o débito; As aplicações de recursos têm natureza devedora; logo, aumentam com o débito e
diminuem com o crédito.

A diferença entre o débito e crédito de determinada conta é denominada saldo. Se o valor dos
débitos for superior ao valor dos créditos, a conta terá um saldo devedor. Se o ocorrer o contrário,
a conta terá um saldo credor.

Quadro 12. Natureza dos Saldos das Contas.

CONTAS NATUREZA AUMENTAM DIMINUEM SALDO


Do Ativo Devedora Debitando Creditando Devedor

Do Passivo Credora Creditando Debitando Credor

Do PL Credora Creditando Debitando Credor

Despesas Devedora Debitando Creditando Devedor

Receitas Credora Creditando Debitando Credor

Redutoras de Ativo Credora Creditando Debitando Credor

Redutoras de Passivo Devedora Debitando Creditando Devedor

Redutora de PL Devedora Debitando Creditando Devedor

Movimentação das contas

Apesar de cada conta contábil possuir uma natureza própria (seja devedora ou credora) não
quer dizer que ela não possa receber lançamentos de natureza contrária. O que deve prevalecer
é o seu saldo.

Representação gráfica

Os registros dos mais diversos fatos contábeis são feitos nas respectivas contas, sendo escriturados
(com base nos lançamentos do livro diário) em um livro contábil chamado “Livro Razão”, podendo
ser feitos em fichas do Razão, ou, mais geralmente, por sistemas informatizados.

Cada ficha é utilizada para cada conta, e os elementos necessários em cada registro são: valores
do débito e do crédito, data, histórico, e o saldo da conta.

Porém, a forma mais usual para se representar manualmente as movimentações dos saldos
das contas no Razão é a forma de representação simplificada em forma de “T”. Esse tipo de
representação, que facilita muito a verificação dos saldos de cada conta do Razão, é conhecido
como Razonete:

57
CAPÍTULO 4 • Plano de Contas

Figura 12. Razonete

CONTA CONTÁBIL

DÉBITOS CRÉDITOS

Vejamos um exemplo de registro no razonete, por meio da conta Bancos Conta Movimento.

Movimentações durante o mês de outubro/2012:

» 1/10/12 – Saldo inicial de R$ 17.000,00 (Débito)

» 4/10/12 – Depósito recebido no valor de R$ 30.000,00 (Débito)

» 10/10/12 – Pagamento de contas no valor de R$ 25.000,00 (Crédito)

» 15/10/12 – Recebimento de numerários no valor de R$ 8.000,00 (Débito)

» 21/10/12 – Rendimento de poupança no valor de R$ 13.000,00 (Débito)

» 28/10/12 – DOC efetuado para outro banco no valor de R$ 9.000,00 (Crédito)

Segue o saldo da conta apurado no razonete:

Figura 13. Razonete Bancos Conta Movimento.

BANCOS CONTA MOVIMENTO


DÉBITOS CRÉDITOS

SI 17.000 25.000

30.000 9.000

8.000

13.000

68.000 34.000
SF 34.000

Os razonetes também são utilizados para apuração do resultado, conforme a figura a seguir.

58
Plano de Contas • CAPÍTULO 4

Figura 14. Razonete Apuração do Resultado

APURAÇÃO DO RESULTADO
DÉBITOS CRÉDITOS

Despesas 80.000 100.000 Receitas

80.000 100.000
20.000 Saldo Credor = Lucro no período

Bons estudos!

Sintetizando

Vimos até agora:

» Neste capítulo aprendemos o conceito de conta contábil e sua função para geração de informações nas
organizações.

» Em seguida, estudamos sobre as classificações das contas contábeis.

» Após, conhecemos uma estrutura de Plano de Contas e a natureza das contas.

» E finalizamos com a apresentação dos razonetes.

59
ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL
CAPÍTULO
5
Introdução

De acordo com o Dicionário Aurélio, escriturar é fazer a escrituração de algo; lançar por escrito.
Lançar (em livro mercantil), contratar ou assumir obrigações por meio de escritura pública.

Assim, pela escrituração contábil é possível desenvolver as demais técnicas contábeis como:
a elaboração da demonstração, análise e auditoria. A principal finalidade dessa técnica é a de
fornecer a pessoas interessadas informações sobre um patrimônio determinado.

Objetivos

» Abordar sobre a técnica da escritura contábil.

» Aprender a efetuar um lançamento contábil.

» Conhecer os diversos tipos de lançamento contábil.

» Elaborar os Razonetes e Balancete de Verificação.

» Apresentar o Balanço Patrimonial.

Escrituração

É a técnica utilizada pela Contabilidade para registrar, em ordem cronológica, todos os fatos
administrativos que ocorrem no patrimônio das entidades, para fornecer informações sobre a
composição do patrimônio e as variações nele ocorridas em determinado período.

É o início dos estudos de qualquer aluno de Ciências Contábeis o método das partidas dobradas.
Esse método foi criado há muitos séculos e divulgado por Luca Pacioli no século XV.

A obra de Luca Pacioli, intitulada Summa de arithmetica, geometria, proportioni


et proportionalitá, de 1494, instruía os comerciantes da época a controlar os
seus negócios por meio dos registros de seus direitos e obrigações pelo método

60
Escrituração Contábil • CAPÍTULO 5

das partidas dobradas, ensinando-lhes, também, como trabalhar as contas do


balancete (NASCIMENTO, 2005, p. 38).

Todo fato da entidade deverá ser escriturado, para esse fim devem ser utilizados livros contábeis,
que devem seguir critérios intrínsecos e extrínsecos, de acordo com a legislação. Alguns livros são
obrigatórios, tais como o Livro Diário e o Livro Razão que de acordo com a Resolução do Conselho
Federal de Contabilidade devem ser registros permanentes da empresa, outros são facultativos,
pois, por não serem exigidos por lei, podem ser adotados ou não, a critério da empresa.

Método de escrituração

» Método das partidas dobradas: Esse método foi escrito por Luca Pacioli em 1494.

» Esse método consiste no princípio no qual para todo débito em uma conta existe
simultaneamente um crédito, da mesma maneira que a soma do débito será igual à
soma do crédito, assim como a soma dos saldos devedores será igual à soma dos saldos
credores.

Lançamento contábil

» É o registro dos fatos contábeis, realizado por meio do método das partidas dobradas,
sendo a partida devedora representada pela aplicação do recurso e a partida credora
representada pela origem do recurso.

» Os lançamentos atendem a duas funções: histórica, que consiste na narração do fato


em ordem cronológica (dia, mês, ano e local) e monetária que compreende o registro da
expressão monetária dos fatos e o seu agrupamento, conforme a natureza de cada um.

Elementos essenciais do lançamento

Qualquer que seja o processo de escrituração, alguns elementos devem constar do lançamento.
Um lançamento contábil é composto por cinco elementos fundamentais:

» Data do Lançamento: a data em que o lançamento é feito propicia que os registros


estejam armazenados em ordem cronológica dos fatos contábeis.

» Conta a Débito: conta contábil que será debitada. Podem ser debitadas mais de uma
conta desde que a soma delas seja igual à soma da conta a crédito.

» Conta a Crédito: conta contábil que será creditada. Pode ser creditada mais de uma
conta desde que a soma delas seja igual à soma da conta a débito.

61
CAPÍTULO 5 • Escrituração Contábil

» Valor do Lançamento: representa o valor da transação ou da operação.

» Histórico do Lançamento: explica o fato, dá a ele um significado qualitativo.

O lançamento é feito nas contas patrimoniais de ativo, passivo e patrimônio líquido, e nas contas
de resultado de receitas e despesas.

As contas patrimoniais do ativo e as contas de resultado de despesas, por terem natureza devedora,
são aumentadas quando debitadas e diminuídas quando creditadas. As contas patrimoniais do
passivo e do patrimônio líquido e as contas de resultado de receitas, por terem natureza credora,
são aumentadas quando creditadas e diminuídas quando debitadas.

As contas de resultado de receitas e despesas, por afetarem diretamente o patrimônio líquido,


são, respectivamente, creditadas porque aumentam o PL e debitadas porque diminuem o PL.
A tabela a seguir evidencia a relação da natureza e dos saldos das contas.

Quadro 13. Relação da Natureza e dos Saldos das Contas.

Natureza Para o Saldo


Contas Saldo Aumentar Diminuir
Ativo = (Bens + Direitos) Devedora Débito Crédito
Passivo = (Obrigações) Credora Crédito Débito
Patrimônio Líquido Credora Crédito Débito
Receitas Credora Crédito Débito
Despesas e Custos Devedora Débito Crédito
Contas Retificadoras do Ativo Credora Crédito Débito

Fonte: Autora (2018).

Fórmulas de lançamento

Existem atualmente 4 (quatro) fórmulas para registrar os fatos contábeis, de acordo com o número
de contas debitadas e creditadas.

1ª Fórmula:

Quando o registro envolve somente uma conta a débito e uma a crédito. Exemplo: Compra à
vista de veículos para uso no valor de R$ 10.000.

Quadro 14. Lançamento de 1ª Fórmula

D – Veículos
10.000
C – Caixa
Ou
Veículos
10.000
a Caixa

Fonte: Autora (2018).

62
Escrituração Contábil • CAPÍTULO 5

2ª Fórmula:

Quando o registro envolve uma conta a débito e duas ou mais a crédito.

Exemplo: compra de veículos para uso no valor de R$ 10.000, com 20% de entrada e o restante
sendo pago em duplicatas.

Quadro 15. Lançamento de 2ª Fórmula.

D – Veículos 10.000
C – Caixa 2.000
C – Duplicatas a pagar 8.000
OU
Veículos 10.000
a Diversos (1)
a Caixa 2.000
a Duplicatas a pagar 8.000
Fonte: Autora (2018).

Nota (1): A expressão Diversos indica que existe mais de uma conta a crédito.

3ª Fórmula:

Quando o registro envolve duas ou mais contas a débito e apenas uma a crédito.

Exemplo: compra à vista de veículos no valor de R$ 50.000, parte para revenda (R$ 30.000), parte
para uso.

Quadro 16. Lançamento de 3ª Fórmula.

D – Mercadorias 30.000
D – Veículos 20.000
C – Caixa 50.000
OU
Diversos (1)
a Caixa 50.000
Mercadorias 30.000
Veículos 20.000
Fonte: Autora (2018).

Nota (1): A expressão Diversos indica que existe mais de uma conta a débito.

4ª Fórmula:

Quando o registro envolve duas ou mais contas a débito e duas ou mais a crédito.

Exemplo: compra de veículos no valor de R$ 50.000, parte para revenda (R$ 30.000), parte para
uso, com pagamento de 20% no ato e o restante sendo pago em duplicatas.

63
CAPÍTULO 5 • Escrituração Contábil

Quadro 17. Lançamento de 4ª Fórmula.

D – Mercadorias 30.000
D – Veículos 20.000
C – Caixa 10.000
C – Duplicatas a pagar 40.000
ou
Diversos
a Diversos
Mercadorias 30.000
Veículos 20.000
a Caixa 10.000
a Duplicatas a pagar 40.000

Fonte: Autora (2018).

Depois que aprendemos sobre os diversos tipos de lançamento contábil, vejamos a seguir um
exemplo das atividades da empresa Consistente Ltda. no ano de 2018, durante o mês de janeiro.

» 5/1/2018 – Integralizou capital em dinheiro no banco no valor de 500.000,00.

» 9/1/2018 – Adquiriu à vista, com cheque, veículo no valor de 100.000,00.

» 10/1/2018 – Adquiriu à vista, com cheque, computadores no valor de 25.000,00.

» 11/1/2018 – Adquiriu à vista, com cheque, móveis e utensílios no valor de 50.000,00.

» 12/1/2018 – Adquiriu estoques de mercadorias a prazo no valor de 150.000,00.

» 15/1/2018 – Vendeu 50% do estoque, a prazo, no valor de 180.000,00.

» 15/1/2018 – Incorreu em impostos sobre as vendas no valor de 18.000,00.

» 25/1/2018 – Adquiriu empréstimos de longo prazo no valor de 50.000,00.

» 31/1/2018 – Vendeu o restante do estoque, a prazo, no valor de 130.000,00.

» 31/1/2018 – Incorreu em impostos sobre as vendas no valor de 12.000,00.

» 31/1/2018 – Reconheceu despesas com salários no valor de 60.000,00.

» 31/1/2018 – Incorreu em Depreciação nos Veículos, Computadores e Móveis e Utensílios


no valor total de 5.000,00.

Assim, a sequência a seguir apresenta os lançamentos contábeis por ordem cronológica dos
fatos contábeis relacionados:

» 5/1/2018 – Integralizou capital em dinheiro no banco no valor de 500.000,00.

› D – Bancos Conta Movimento 500.000,00

› C – Capital Social 500.000,00

64
Escrituração Contábil • CAPÍTULO 5

» 9/1/2018 – Adquiriu à vista, com cheque, veículo no valor de 100.000,00.

› D – Veículos 100.000,00

› C – Bancos Conta Movimento 100.000,00

» 10/1/2018 – Adquiriu à vista, com cheque, computadores no valor de 25.000,00.

› D – Computadores 25.000,00

› C – Bancos Conta Movimento 25.000,00

» 11/1/2018 – Adquiriu à vista, com cheque, móveis e utensílios no valor de 50.000,00.

» D – Móveis e Utensílios 50.000,00

» C – Bancos Conta Movimento 50.000,00

» 12/1/2018 – Adquiriu estoques de mercadorias a prazo no valor de 150.000,00.

› D – Estoque de Mercadorias 150.000,00

› C – Fornecedores 150.000,00

» 15/1/2018 – Vendeu 50% do estoque, a prazo, no valor de 180.000,00.

› D – Clientes 180.000,00

› D – CMV 75.000,00

› C – Receita de Vendas 180.000,00

› C – Estoque de Mercadorias 75.000,00

» 15/1/2018 – Incorreu em impostos sobre as vendas no valor de 18.000,00.

› D – Impostos sobre as Vendas 18.000,00

› C – Imposto a Recolher 18.000,00

» 25/1/2018 – Adquiriu empréstimos de longo prazo no valor de 50.000,00.

› D – Bancos Conta Movimento 50.000,00

› C – Empréstimos LP 50.000,00

» 31/1/2018 – Vendeu o restante do estoque, a prazo, no valor de 130.000,00.

› D – Clientes 130.000,00

› D – CMV 75.000,00

65
CAPÍTULO 5 • Escrituração Contábil

› C – Receita de Vendas 130.000,00

› C – Estoque de Mercadorias 75.000,00

» 31/1/2018 – Incorreu em impostos sobre as vendas no valor de 12.000,00.

› D – Impostos sobre as Vendas 12.000,00

› C – Imposto a Recolher 12.000,00

» 31/1/2018 – Reconheceu despesas com salários no valor de 60.000,00.

› D – Despesas com Salários 60.000,00

› C – Salários a Pagar 60.000,00

» 31/1/2018 – Incorreu em Depreciação nos Veículos, Computadores e Móveis e Utensílios


no valor total de 5.000,00.

› D – Despesas com Depreciação Bens Tangíveis 5.000,00

› C – Depreciação Acumulada 5.000,00

Elaboração dos razonetes contábeis

O sistema contábil é formado pelas contas contábeis no conjunto do plano de contábeis em sua
estrutura. A movimentação de cada conta contábil é demonstrada pela razão contábil que é, na
verdade, uma espécie de extrato da conta. É conhecido também pela terminologia de razonete
contábil, termo que usaremos neste livro. Um razonete contábil é estruturado conforme o
modelo a seguir:

Quadro 18. Modelo de Razonete

CONTA CONTÁBIL
DÉBITO CRÉDITO

SALDO SALDO

Fonte: Autora (2018).

Considerando os lançamentos já apresentados da empresa Consistente Ltda. no ano de 2018,


durante o mês de janeiro, a seguir os razonetes referentes a esses lançamentos.

66
Escrituração Contábil • CAPÍTULO 5

Quadro 19. Razonetes da Empresa Consistente Ltda.


Bancos Conta Movimento Capital Social Veículos
(1) 500.000 100.000 (2) 500.000 (1) (2) 100.000
(7) 50.000 25.000 (3)
50.000 (4)

550.000 175.000 500.00 100.000

Estoque de
Computadores Móveis Utensílios
Mercadorias
(3) 25.000 (4) 50.000 (4) 150.000 75.000 (5)
75.000 (8)
25.000 50.000 150.000 150.000

Clientes CMV Receita de Vendas


(5) 180.000 (5) 75.000 180.000 (5)
(8) 130.000 (8) 75.000 130.000 (8)

310.000 150.000 310.000

Empréstimo Longo
Impostos sobre as Vendas Impostos a Recolher Prazo
(6) 18.000 18.000 (6) 50.000 (7)
(9) 12.000 12.000 (9)
30.000 30.000 50.000

Despesas com Salários Salários a Pagar Fornecedores


(10) 60.000 60.000 (10) 150.000 (4)

60.000 60.000 150.000 (4)

Despesas com Depreciação


Depreciação Acumulada
(11) 5.000 5.000 (11)

5.000 5.000

Balancete de verificação

É um demonstrativo auxiliar que relaciona os saldos das contas remanescentes, sendo


imprescindível para verificar se o método de partidas dobradas está sendo observado pela
escrituração da empresa.

Ele apresenta a relação das contas que possuem saldos e movimentos no período em que é
elaborado. As informações contidas nele são extraídas dos razonetes contábeis. Em outras
palavras, os razonetes são a base do balancete de verificação.

67
CAPÍTULO 5 • Escrituração Contábil

Verifica-se soma dos saldos devedores é igual à soma dos saldos credores (incluindo contas
patrimoniais e de resultado).

Quadro 20. Estrutura do Balancete de Verificação.

Cia. XXX
Balancete Mensal de Verificação – XX/XXXX
Contas Classificação Débito Crédito

Total
Fonte: Autora (2018).

Vejamos o Balancete de Verificação da empresa Consistente Ltda. no ano de 2018, durante o mês
de janeiro, conforme os razonetes contábeis apresentados.

Elaboração do balancete
Quadro 21. Elaboração do Balancete de Verificação.

Cia. XXX
Balancete Mensal de Verificação – XX/XXXX
Contas Classificação Débito Crédito
Banco Conta Movimento Ativo 375.000
Capital Social Patrimônio Líquido 500.000
Veículos Ativo 100.000
Computadores Ativo 25.000
Móveis e Utensílios Ativo 50.000
Estoque de Mercadorias Ativo 0
Fornecedores Passivo 150.000
Clientes Ativo 310.000
CMV Custos 150.000
Receita de Vendas Receitas 310.000
Imposto sobre Vendas Despesas 30.000
Impostos a Recolher Passivo 30.000
Empréstimos a Longo Prazo Passivo Circulante 50.000
Despesas com Salários Despesas 60.000
Salários a Pagar Passivo 60.000
Despesas com Depreciação Despesas 5.000,00
Depreciação Acumulada Ativo Retificadora 5.000,00
Total 1.105.000 1.105.000

Fonte: Autora (2018).

68
Escrituração Contábil • CAPÍTULO 5

Após o lançamento das contas no balancete, deve-se apurar o resultado por meio do confronto
entre as receitas e despesas, conforme a seguir:

Quadro 22. Resultado do Balancete de Verificação.

APURAÇÃO DO RESULTADO

Despesas e Custos Receitas


150.000,00 310.000,00
30.000,00
60.000,00
5.000,00
245.000,00 310.000,00
65.000,00 (Lucro do Período)
Fonte: Autora (2018).

E finalizamos com a elaboração das demonstrações. O quadro a seguir evidencia a demonstração


do Balanço Patrimonial da empresa Consiste Ltda.

Quadro 23. Balanço Patrimonial.

Balanço Patrimonial

Empresa Consiste Ltda.

31/1/2018
ATIVO PASSIVO EXIGÍVEL
Banco 375.000,00 Fornecedores 150.000,00

Clientes 310.000,00 Impostos a Recolher 30.000,00

Móveis e Utensílios 50.000,00 Salários a Pagar 60.000,00

Computadores 25.000,00 Empréstimos LP 50.000,00

Veículos 100.000,00

Depreciação Acumulada (5.000,00)

PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Capital Social 500.000,00

Lucro do Período 65.000,00

TOTAL 855.000,00 TOTAL 855.000,00

Fonte: Autora (2018).

Erros de escrituração e suas correções

Durante a escrituração contábil, o contabilista pode cometer erro, por exemplo: erro na
identificação da conta debitada ou creditada. Inversão das contas, erro na identificação do valor,
erro no histórico, lançamento em duplicidade e omissão de lançamento.

69
CAPÍTULO 5 • Escrituração Contábil

As incorreções relacionadas à escrituração podem ser corrigidas mediante:

» estorno;

» transferência;

» complementação.

Estorno
» Implica a anulação integral do lançamento errado. Consiste em se inverter a posição
das contas utilizadas no lançamento que se pretende anular.

» Em regra, a correção por estorno envolve dois lançamentos, o de estorno e o que


corretamente registra a transação.

» Exemplo: Consideremos que o contabilista tenha registrado, indevidamente, a compra


à vista de mercadorias da seguinte forma:

› D – Mercadorias

› C – Fornecedores 1.000

O estorno do lançamento seria este:

› D – Fornecedores

› C – Mercadorias 1.000

Após o estorno, fazemos o lançamento correto para registrar a compra à vista de mercadorias:

› D – Mercadorias

› C – Caixas 1.000

Quadro 24. Exemplo de Estorno.

Mercadorias Fornecedores Caixa


1.000 1.000 1.000 1.000 1.000
1.000
1.000 0 1.000
Fonte: Autora (2018).

Transferência

Consiste no estorno parcial. Por intermédio da transferência, é possível a correção do erro mediante
um único lançamento, sem a necessidade de se estornar integralmente o lançamento errado.

70
Escrituração Contábil • CAPÍTULO 5

Exemplo: a compra.

Consideremos que o contabilista tenha registrado, indevidamente, à vista, mercadorias da


seguinte forma:

» D – Mercadorias

» C – Fornecedores 1.000

Podemos corrigir o erro com um lançamento de transferência. Como a incorreção foi apenas na
conta creditada (fornecedores), somente ela é estornada.

Em seu lugar, é creditada a conta correta:

» D – Fornecedores

» C – Caixa 1.000

Assim, teremos os saldos corrigidos:

Quadro 25. Exemplo de Transferência

Mercadorias Fornecedores Caixa


1.000 1.000 1.000 1.000

Fonte: Autora (2018).

Complementação

Consiste em lançamento anterior completar o valor registrado a menor. Repetimos e registramos


a diferença de valor.

Exemplo: consideremos que o contabilista tenha registrado, indevidamente, a compra, à


vista, de mercadorias, no valor de 1.000, da seguinte forma:

» D – Mercadorias

» C – Fornecedores 100

O lançamento de complementação seria:

» D – Mercadorias

» C – Fornecedores 900

71
CAPÍTULO 5 • Escrituração Contábil

Atenção

Todavia, para a correção dos erros, as organizações têm optado apenas pelo estorno, pois devido ao tamanho das
atividades operacionais que ocorrem todos os dias, tais medidas, como transferência e complementação, não
permitem rastrear com veracidade os erros.

Sintetizando

Vimos até agora:

» Neste capítulo aprendemos sobre a técnica da escritura contábil.

» Em seguida, aprendemos a efetuar um lançamento contábil e conhecemos os diversos tipos de lançamento


contábil.

» Após estudamos sobre os Razonetes e Balancete de Verificação.

» E conhecemos o Balanço Patrimonial.

72
CAPÍTULO
ELEMENTOS DAS DEMONSTRAÇÕES
CONTÁBEIS 6
Introdução
Neste capítulo iniciaremos o estudo sobre os ativos, .principal aplicação dos sócios nas organizaçoes.
Eles possuem extrema importância na gestão das empresas, sendo importantes para a produção,
entrada e saída financeira, bem como, quaquer investimento que a companhia possa realizar.

Após, abordaremos o passivo, pois, durante o processo operacional das empresas, são realizadas
várias atividades que envolvem a participação dos funcionários, fornecedores, financiadores,
dentre outros, que são fundamentais para a atividade-fim da organização, principal origem dos
recursos nas empresas.

Ainda dentro do patrimônio da entidade, conheceremos um pouco mais sobre o Patrimônio


Líquido, a parcela referente aos sócios, bem como, a evidenciação do desempenho da organização.

E, por último, depois que os sócios aplicam recursos nas entidades, precisam de um
acompanhamento de como estão se comportando os resultados da empresa. Neste capítulo,
vamos perceber que as receitas e despesas são importantíssimas para apuração do resultado da
companhia. Acompanhar e registrar de forma adequada é de suma importância para apresentação
fidedigna das informações contábeis.

Objetivos

» Compreender o conceito de Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido, Receitas e Despesas.

» Apreender o reconhecimento e a mensuração de Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido,


Receitas e Despesas.

» Perceber os problemas relacionados com a manutenção do capital.

» Analisar a Confrontação das Receitas e das Despesas.

» Identificar os ganhos e as perdas na empresa.

Ativo
De acordo com o CPC 00, ativo “é um recurso controlado pela entidade como resultado de
eventos passados e do qual se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade”.

73
CAPÍTULO 6 • Elementos das Demonstrações Contábeis

Figura 15. Ativo

Fonte: STN (2017).

Recurso

É um item com potencial de serviços ou capacidade de gerar benefícios econômicos que podem
ser oriundos do recurso ou dos direitos de sua utilização. Não é obrigatório possuir forma física
não necessária. Características de alguns recursos que geram benefícios à entidade:

» utilizar o recurso para a prestação de serviços (inclusive bens);

» utilizar os recursos de terceiros para prestar serviços (arrendamento mercantil);

» converter o recurso em caixa por meio da sua alienação;

» beneficiar-se da valorização do recurso; ou

» receber fluxos de caixa.

Controle

É a capacidade da entidade de utilizar o recurso (ou controlar o uso por parte de terceiros), de
modo a gerar potencial de serviços ou benefícios econômicos. Alguns indicativos ou sinais de
controle:

» propriedade (geralmente, mas nem sempre);

» acesso ao recurso ou capacidade de restringir o acesso de terceiros;

» instrumentos que assegurem que o recurso seja usado para atingir seus objetivos.

74
Elementos das Demonstrações Contábeis • CAPÍTULO 6

Eventos passados

Alguns indicativos ou sinais de ocorrência de eventos passados são: a transação com contraprestação;
direitos soberanos; a capacidade geral para exercer o poder; a constituição de poder por meio
de lei, estatuto ou instrumento congênere; o exercício do poder de criar um direito; e o evento
que dá origem ao direito de receber recursos de terceiros.

Futuro benefício econômico

Potencial de contribuição de caixa ou equivalente de caixa. Existem três fatores que determinam
a ocorrência do benefício:

» Existência de valor de mercado;

» Aceitação de terceiros como pagamento de dívida; e

» É usado para melhorar a produtividade.

Passivo

Segundo Iudícibus et al. (2010, p. 18), “o Passivo compreende basicamente as obrigações a pagar,
isto é, as quantias que a empresa deve a terceiros”. De acordo com o CPC 00, passivo é a “obrigação
presente da entidade, derivada de eventos já incorridos, cuja liquidação se espera que resulte
em saída de recursos capazes de gerar benefícios econômicos”.

Figura 16. Passivo

Fonte: STN (2017).

75
CAPÍTULO 6 • Elementos das Demonstrações Contábeis

Obrigação presente

Pode ser aquela que ocorre por força de lei (obrigação legalmente vinculada) ou que não ocorre
por força de lei (não legalmente vinculada).

Características:

» Vinculada ou não, a obrigação não pode ser evitada pela entidade;

» A obrigação deve estar relacionada a um terceiro – não há obrigação consigo mesmo;

» Não há necessidade de identificar o terceiro;

» Não há necessidade de prazo certo de liquidação para que uma obrigação seja reconhecida.

Saída de recursos

A obrigação que gera saída de recursos da entidade para ser extinta/liquidada e atentar para o
conceito de recursos. Vinculada ou não, para ser um passivo, a obrigação não pode ser evitada
pela entidade.

Evento Passado: evento cujo fato gerador já tenha ocorrido.

Patrimônio líquido

Etimologicamente, Patrimônio tem origem na língua latina, e advém da palavra patrimonium


(bens, posses, haveres), cujo antecedente é o termo pater (pai). (NIYAMA; SILVA, 2011). Deriva
dessa palavra o termo Patrimônio Líquido, com o objetivo de expressar a participação dos
proprietários em uma determinada entidade.

O CPC 00 conceitua o patrimônio líquido como “o interesse residual nos ativos da entidade depois
de deduzidos todos os seus passivos”. Não se tem, a rigor, uma definição, mas uma expressão
algébrica. Cabe informar que sua definição, mensuração e reconhecimento está condicionada
ao ativo e ao passivo.

Conceitos de capital e de manutenção de capital

Conceitos de capital

Conforme o CPC 00 verifica-se que existem dois tipos de conceitos de capital, o capital financeiro
e o capital físico. O conceito de capital financeiro (ou monetário) é adotado pela maioria das
entidades na elaboração de suas demonstrações contábeis. De acordo com o conceito de capital

76
Elementos das Demonstrações Contábeis • CAPÍTULO 6

financeiro, tal como o dinheiro investido ou o seu poder de compra investido, o capital é sinônimo
de ativos líquidos ou patrimônio líquido da entidade. Niyama e Silva (2011) concluem que o
capital financeiro é o recurso monetário que foi aplicado na entidade.

O conceito de capital físico, tal como capacidade operacional, o capital é considerado como
a capacidade produtiva da entidade baseada, por exemplo, nas unidades de produção diária.

A seleção do conceito de capital apropriado para a entidade deve estar baseada nas necessidades
dos usuários das demonstrações contábeis. Assim, o conceito de capital financeiro deve ser
adotado se os usuários das demonstrações contábeis estiverem primariamente interessados
na manutenção do capital nominal investido ou no poder de compra do capital investido. Se,
contudo, a principal preocupação dos usuários for com a capacidade operacional da entidade, o
conceito de capital físico deve ser adotado. O conceito escolhido indica o objetivo a ser alcançado
na determinação do lucro, mesmo que possa haver algumas dificuldades de mensuração ao
tornar operacional o conceito.

Conceitos de manutenção de capital e determinação do


lucro

Os conceitos de capital financeiro e físico dão origem aos seguintes conceitos de manutenção
de capital:

a. Manutenção do capital financeiro. De acordo com esse conceito, o lucro é considerado


auferido somente se o montante financeiro (ou dinheiro) dos ativos líquidos no fim do
período exceder o seu montante financeiro (ou dinheiro) no começo do período, depois
de excluídas quaisquer distribuições aos proprietários e seus aportes de capital durante
o período. A manutenção do capital financeiro pode ser medida em qualquer unidade
monetária nominal ou em unidades de poder aquisitivo constante.

b. Manutenção do capital físico. De acordo com esse conceito, o lucro é considerado


auferido somente se a capacidade física produtiva (ou capacidade operacional) da
entidade (ou os recursos ou fundos necessários para atingir essa capacidade) no fim do
período exceder a capacidade física produtiva no início do período, depois de excluídas
quaisquer distribuições aos proprietários e seus aportes de capital durante o período.

O conceito de manutenção de capital está relacionado com a forma pela qual a entidade define o
capital que ela procura manter. Ele representa um elo entre os conceitos de capital e os conceitos
de lucro, pois fornece um ponto de referência para medição do lucro; é uma condição essencial
para distinção entre o retorno sobre o capital da entidade e a recuperação do capital; somente
os ingressos de ativos que excedam os montantes necessários para manutenção do capital
podem ser considerados como lucro e, portanto, como retorno sobre o capital. Portanto, o lucro

77
CAPÍTULO 6 • Elementos das Demonstrações Contábeis

é o montante remanescente depois que as despesas (inclusive os ajustes de manutenção do


capital, quando for apropriado) tiverem sido deduzidas do resultado. Se as despesas excederem
as receitas, o montante residual será um prejuízo.

O conceito de manutenção do capital físico requer a adoção do custo corrente como base de
mensuração. O conceito de manutenção do capital financeiro, entretanto, não requer o uso de
uma base específica de mensuração. A escolha da base conforme esse conceito depende do tipo
de capital financeiro que a entidade está procurando manter.

A principal diferença entre os dois conceitos de manutenção de capital está no tratamento


dos efeitos das mudanças nos preços dos ativos e passivos da entidade. Em termos gerais, a
entidade terá mantido seu capital se ela tiver tanto capital no fim do período como tinha no
início, computados os efeitos das distribuições aos proprietários e seus aportes para o capital
durante esse período. Qualquer valor além daquele necessário para manter o capital do início
do período é lucro.

De acordo com o conceito de manutenção do capital financeiro, por meio do qual o capital
é definido em termos de unidades monetárias nominais, o lucro representa o aumento do
capital monetário nominal ao longo do período. Assim, os aumentos nos preços de ativos
mantidos ao longo do período, convencionalmente designados como ganhos de estocagem,
são, conceitualmente, lucros. Entretanto, eles podem não ser reconhecidos como tais até que
os ativos sejam realizados mediante transação de troca. Quando o conceito de manutenção
do capital financeiro é definido em termos de unidades de poder aquisitivo constante, o lucro
representa o aumento no poder de compra investido ao longo do período. Assim, somente a
parcela do aumento nos preços dos ativos que exceder o aumento no nível geral de preços é
considerada como lucro. O restante do aumento é tratado como ajuste para manutenção do
capital e, consequentemente, como parte integrante do patrimônio líquido.

De acordo com o conceito de manutenção do capital físico, quando o capital é definido em


termos de capacidade física produtiva, o lucro representa o aumento desse capital ao longo do
período. Todas as mudanças de preços afetando ativos e passivos da entidade são vistas, nesse
conceito, como mudanças na mensuração da capacidade física produtiva da entidade. Assim
sendo, devem ser tratadas como ajustes para manutenção do capital, que são parte do patrimônio
líquido, e não como lucro.

A seleção das bases de mensuração e do conceito de manutenção de capital é que determina o


modelo contábil a ser utilizado na elaboração das demonstrações contábeis. Diferentes modelos
contábeis apresentam diferentes graus de relevância e confiabilidade e, como em outras áreas,
a administração deve buscar o equilíbrio entre a relevância e a confiabilidade. A figura a seguir
exemplifica a manutenção de capital com os dois tipos de conceitos.

78
Elementos das Demonstrações Contábeis • CAPÍTULO 6

Figura 17. Manutenção do Capital.

Fonte: CPC 00.

Patrimônio líquido e suas teorias

As teorias influenciam os procedimentos contábeis, sendo uma referência para a apresentação


das demonstrações contábeis. Cada teoria interpreta a posição econômica de uma entidade de
maneira diferente, interferindo na sua evidenciação.

No início da Contabilidade prevalecia a teoria doproprietário. A teoria da entidade somente


surgiu no final do século XIX e início do século XX, com a popularização do mercado acionário
e das demonstrações contábeis para o usuário externo. (NIYAMA; SILVA, 2011).

Teoria do proprietário

Nesta teoria, o proprietário é o centro da atenção da Contabilidade, as organizações têm o propósito


de satisfazer as necessidades e os objetivos do dono. Os passivos registrados representam as
obrigações do proprietário. É a abordagem mais antiga do Patrimônio Líquido.

Facilita a aplicação e a explicação do funcionamento das contas. As Receitas são acréscimos na


propriedade e as Despesas são decréscimos. O Lucro é adicionado ao proprietário. Os Dividendos
representam retiradas de capital, distribuição de resultados, e não despesas. Lucros Acumulados
são partes da propriedade. E como vantagem desta teoria, é a adaptação às formas organizacionais
mais simples. Sendo a expressão algébrica como foco:

Figura 18. Teoria do Proprietário

Fonte: Autora (2018).

79
CAPÍTULO 6 • Elementos das Demonstrações Contábeis

Teoria da entidade

Surgiu com o aparecimento das grandes corporações. A necessidade de se separar a gestão da


propriedade, quando do crescimento das companhias. O Patrimônio Líquido e o Passivo (Exigível)
são considerados fontes de recursos para o ativo.

Parte do princípio de que a empresa tem vida distinta das atividades e interesses pessoais dos
proprietários. O lucro do período apenas será lucro pessoal para os acionistas se o valor de
mercado da ação reconhecê-lo ou incorporá-lo.

Requer o tratamento dos ganhos e lucros de negócio como lucro da entidade em si até que a
transferência para os participantes individuais tenha sido feita por uma declaração de dividendos.
Sendo a expressão algébrica como foco:

Figura 19. Teoria da Entidade

Fonte: Autora (2018).

Teoria do fundo

De acordo com Niyama e Silva (2013),

A base da Contabilidade deixa de ser o proprietário ou a entidade, para considerar


um grupo de ativos e suas obrigações relacionadas”. Esta teoria está centrada no
ativo. Esta teoria é mais apropriada para entidades públicas e sem fins lucrativos.
O fundo “é um grupo homogêneo dentro da organização, que possui obrigações
que lhe são específicas. E, em certas situações, a teoria do fundo implica a
existência de Contabilidade separada para cada um dos fundos existentes na
entidade.

Exemplo de aplicação dessa teoria são as prestações de contas de condomínios, que evidenciam
a origem de recursos (dos condôminos) e sua aplicação (funcionários, energia elétrica, e outros).

Teoria do comandante

O foco desta teoria é o controle econômico. Assim, a Contabilidade deve estar voltada para o
gestor. Alguns problemas desta teoria podem ser a forte influência que os gestores estariam na
Contabilidade, podendo provocar, assim, algum viés na informação contábil.

Considerando-se o grau de influência do gestor (administrador) na Contabilidade (fatos


administrativos/registros contábeis), “a aceitação dessa teoria exacerbaria o impacto do gestor,
tornando-a enviesada”. (NIYAMA; SILVA, 2013).

80
Elementos das Demonstrações Contábeis • CAPÍTULO 6

Teoria do empreendimento

A organização é vista como um ente social que exerce influência sobre vários setores da sociedade.
Considera que a Contabilidade deve estar voltada para outros usuários, como: empregados,
governo, entidades reguladoras e público em geral. Essa teoria tem sido utilizada para justificar a
publicação da demonstração do valor adicionado e do balanço social. Considera juros, dividendos
e salários como distribuição do resultado, impostos ao governo e lucros retidos na empresa.
(NIYAMA; SILVA, 2013).

Teoria dos direitos residuais

Tem como foco a figura dos acionistas ordinários, isto é, aqueles que têm direito a voto. Pois, “os
acionistas ordinários seriam os donos do negócio e a informação contábil deve focar a decisão
destes acionistas e a previsão dos seus dividendos futuros.” (NIYAMA; SILVA, 2013). “Essa teoria
considera a ação ordinária como sendo o financiador de capital com mais elevado nível de risco.”
Dessa forma, os acionistas estariam classificados da seguinte forma:

» Ordinários à são insiders (internos ao negócio)

» Preferenciais à são outsiders (estranhos ao negócio)

“Uma variante dessa teoria é a que reflete o balanço consolidado, em que a participação dos
minoritários vai integrar o patrimônio líquido (que pertence ao controlador), sendo classificado
entre o exigível a longo prazo e o patrimônio líquido.” A equação seria:

Ações Ordinárias = Ativo – Passivo – Ações Preferenciais

Receitas

O termo Receita pode apresentar vários conceitos e significados diversos dentro do que se pode
definir ou conceituar uma palavra amplamente difundida na língua portuguesa e é de fácil
explicação no âmbito global dos seus significados.

Marion (2009) define receita como “O acréscimo de benefícios econômicos durante o período
contábil na forma de entrada de ativos ou decréscimos de exigibilidades e que redunda num
acréscimo do patrimônio líquido, outro que não o relacionado a ajustes de capital”.

De acordo, com o CPC 00, receita pode ser compreendida como todos os

aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma


de entrada de recursos ou aumento de ativos ou diminuição de passivos que
resultam em aumentos do patrimônio líquido e que não sejam provenientes de
aportes dos proprietários da entidade.

81
CAPÍTULO 6 • Elementos das Demonstrações Contábeis

O CPC 30 R1 define como receita

o ingresso bruto de benefícios econômicos durante o período proveniente das


atividades normais de uma entidade que resultam no aumento do patrimônio
líquido, porém não se relacionam ao aumento de capital promovido pelos
acionistas.

O referido CPC complementa afirmando que “as receitas englobam tanto as receitas propriamente
ditas como os ganhos”.

A receita surge no curso das atividades ordinárias das organizações e pode apresentar diversas
designações, como, por exemplo: Vendas de Mercadorias, Prestação de Serviços, Honorários,
Juros, Dividendos e Royalties.

Atenção

Ganhos representam outros itens que se enquadram na definição de receitas. Uma vantagem de considerar o
tratamento especial aos ganhos decorre do fato de que o usuário da informação contábil necessitaria saber qual o
resultado obtido pela entidade com suas atividades-fim.

De acordo com a Lei no 6.404/1976, a contabilização das vendas será realizada pelo valor bruto,
inclusive impostos, sendo que tais impostos e as devoluções e abatimentos deverão ser registrados
em contas devedoras específicas, as quais serão classificadas como contas redutoras das vendas.
São deduções das receitas de vendas: devoluções de vendas, abatimentos sobre vendas, descontos
incondicionais concedidos, impostos e contribuições sobre vendas ou prestação de serviços
(ICMS, ISS, PIS, Cofins etc.).

Critérios de reconhecimento

A receita é reconhecida quando pode ser medida em base confiável. Por estar associada ao
ativo, o seu reconhecimento ocorre simultâneo ao aumento do ativo ou à redução do passivo.
A receita só deve ser reconhecida quando for provável que os benefícios econômicos associados
à transação fluam para a entidade.

Por exemplo: a venda de uma mercadoria ou prestação de um serviço: somente após existir plenas
condições de reconhecimento do ativo é que a receita também será reconhecida. Portanto, como
se dá o reconhecimento da receita?

» Isoladamente no momento da venda;

» De forma simultânea ao aumento do ativo ou à redução do passivo;

82
Elementos das Demonstrações Contábeis • CAPÍTULO 6

» Somente por meio da entrada de caixa;

» Somente com a redução do ativo ou aumento do passivo.

O processo de reconhecimento da receita está ligado à venda, entretanto, a venda não é o critério
de reconhecimento. Ela é o ponto de partida para o reconhecimento por satisfazer as condições
necessárias para isto: base confiável e grau suficiente de certeza. (NIYAMA, 2013, p. 213).

Reconhecimento da receita de vendas

A receita proveniente da venda de bens deve ser reconhecida quando forem satisfeitas todas as
seguintes condições:

» a entidade tenha transferido para o comprador os riscos e benefícios mais significativos


inerentes à propriedade dos bens;

» a entidade não mantenha envolvimento continuado na gestão dos bens vendidos em


grau normalmente associado à propriedade e tampouco efetivo controle sobre tais bens;

» o valor da receita possa ser mensurado com confiabilidade;

» for provável que o benefício econômico associado à transação fluirá para a entidade; e

» as despesas incorridas ou a serem incorridas, referentes à transação, possam ser


mensuradas com confiabilidade.

Na maior parte dos casos, a transferência dos riscos e dos benefícios inerentes à propriedade
coincide com a transferência da titularidade legal ou da transferência da posse do ativo para o
comprador. Se a entidade retiver riscos significativos da propriedade, a transação não é uma
venda e a receita não pode ser reconhecida.

Exemplo: quando os bens expedidos estão sujeitos à instalação, sendo esta uma parte significativa
do contrato e ainda não tenha sido completada pela entidade.

Reconhecimento de prestação de serviços

O reconhecimento da receita de prestação de serviços com referência ao estágio de execução


de uma transação é usualmente denominado como o método da percentagem completada.
Por esse método, a receita é reconhecida nos períodos contábeis em que os serviços são prestados.
O reconhecimento da receita nessa base proporciona informação útil sobre a extensão da atividade
e o desempenho dos serviços prestados durante o período.

83
CAPÍTULO 6 • Elementos das Demonstrações Contábeis

Reconhecimento da Receita de juros, royalties, dividendos e


equivalência patrimonial

A receita deve ser reconhecida nas seguintes bases:

» os juros devem ser reconhecidos utilizando-se o método da taxa efetiva de juros,


tal como definido no Pronunciamento Técnico CPC 38 – Instrumentos Financeiros:
Reconhecimento e Mensuração;

» os royalties devem ser reconhecidos pelo regime de competência em conformidade


com a essência do acordo;

» os dividendos devem ser reconhecidos quando for estabelecido o direito do acionista


de receber o respectivo valor;

» o valor contábil do investimento será atualizado ao valor equivalente à participação


societária da sociedade investidora no patrimônio líquido da sociedade investida, e no
reconhecimento dos seus efeitos na demonstração do resultado do exercício.

Mensuração da receita

A receita deve ser mensurada pelo valor justo da contraprestação recebida ou a receber.
Sendo o valor justo o preço que seria recebido pela venda de um ativo ou que seria pago pela
transferência de um passivo em uma transação ordenada entre participantes do mercado na
data de mensuração, conforme CPC 46 – Mensuração do Valor Justo. O montante da receita
proveniente de uma transação é geralmente estabelecido entre a entidade e o comprador ou
usuário do ativo: (-) quaisquer descontos comerciais e/ou bonificações concedidos pela entidade
ao comprador.

Por exemplo: uma empresa presta um serviço a prazo no valor de R$ 100,00. Suponha uma taxa
de juros de 10% ao mês e que o recebimento ocorrerá num período de dois meses. Tem-se:

Receita de prestação de serviços = R$ 100,00 x [1- (1 + 0,1)2 ] = R$ 79,00

A receita financeira seria, então, obtida pela diferença: R$ 100,00 – 79,00 = R$ 21,00.

Quando surgir incerteza acerca da realização de valor já incluído na receita, o valor incobrável deve
ser reconhecido como despesa, e não como ajuste (dedução) do valor da receita originalmente
reconhecida.

84
Elementos das Demonstrações Contábeis • CAPÍTULO 6

Divulgação das receitas

A entidade deve divulgar as políticas contábeis adotadas para o reconhecimento das receitas,
incluindo os métodos adotados para determinar o estágio de execução das transações que
envolvam a prestação de serviço; e o montante de cada categoria significativa de receita
reconhecida durante o período, incluindo as receitas provenientes de:

» venda de bens;

» prestação de serviços;

» juros;

» royalties;

» dividendos.

O montante de receitas provenientes de troca de bens ou serviços incluídos em cada categoria


significativa de receita; e a conciliação entre a receita divulgada na demonstração do resultado
e a registrada para fins tributáveis.

Despesa

Para o Financial Accounting Standards Board (FASB), organização sem fins lucrativos, criada para
padronizar os procedimentos da Contabilidade Financeira de empresas cotadas em bolsa e não
governamentais, conceitua despesas como as saídas ou outros usos de ativos ou ocorrências de
passivos (ou ambos) para a entrega ou produção de bens, a prestação de serviços, ou a execução
de outras atividades que representam as operações principais em andamento da entidade.

De acordo com o CPC 00, a despesa corresponde a decréscimos nos ativos ou acréscimos nos
passivos reconhecidos e medidos em conformidade com os princípios de contabilidade geralmente
aceitos, resultantes de diversos tipos de atividades e que possam alterar o patrimônio líquido;

Portanto, concluímos que a despesa é todo sacrifício, todo esforço da empresa para obter receitas,
refletindo no balanço uma redução no caixa – Ativo (quando pago à vista) ou mediante aumento
de uma dívida – Passivo (quando pago a prazo).

Quadro 26. Registro da Despesa

Operações A prazo À vista

Despesas Contas a Pagar Passivo Desembolso Imediato Caixa

Fonte: Autora (2018).

85
CAPÍTULO 6 • Elementos das Demonstrações Contábeis

Sintetizando

Despesas:

Todo sacrifício, esforço para obter Receita:

» Comissões sobre vendas;

» Consumo de bens (Depreciação);

» Serviços.

Podem ocorrer à vista ou a prazo:

» À vista < saída de dinheiro do Caixa;

» A prazo > aumento das Obrigações.

Confrontação de receitas e despesas

A confrontação das Receitas com as Despesas diz que as Receitas realizadas no período devem
ser confrontadas, no mesmo período, com as Despesas que as geraram. Isto é, para apuração
do resultado de um período deverão ser consideradas as receitas realizadas, diminuídas das
despesas que foram sacrificadas para sua obtenção. O confronto entre Receitas e Despesas pode
apresentar os seguintes resultados:

» Receitas > Despesas = Lucro

» Receitas < Despesas = Prejuízo

» Receitas = Despesas = Nulo

Algumas despesas estão diretamente associadas à receita, enquanto outras estão menos, ou
melhor, nessas é mais difícil avaliar a forma que provocará a receita. O custo dos produtos
vendidos é um exemplo de despesas diretamente relacionadas à receita. É perceptível o gasto
de determinado valor na busca de uma receita.

Já as despesas de venda estão menos relacionadas à receita, pois se sabe que elas contribuirão
para uma receita, mas não se tem a previsão exata dessa receita.

Existem situações em que é difícil uma associação direta da despesa com a receita. Esse é o
caso de um ativo permanente como uma máquina que contribui para a geração de benefícios
econômicos durante um período de tempo, sendo a despesa com depreciação reconhecida nos
períodos de tempo em que os benefícios decorrentes do ativo são gerados. Segue exemplo para
melhor visualização:

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Elementos das Demonstrações Contábeis • CAPÍTULO 6

Figura 20. Reconhecimento das Receitas e Despesas

Associação entre Exemplo: custo


receita e despesa da mercadoria
(Confrontação) vendida

Alocação
Exemplo:
sistemática e
depreciação
racional

Reconhecimento Exemplo:
Imediato perda

Fonte: Niyama e Silva (2013).

“Nunca se deve considerar uma ciência acabada, é preciso sempre buscar as verdades que se
escondem no infinito e inesgotável campo do conhecimento e que só encontramos através de
ingentes e perseverantes esforços, inclusive de ousadias intelectuais.”

(Antonio Lopes de Sá)

Bons estudos e espero muito revê-los!

Até mais!

Sintetizando

Vimos até agora:

» Neste capítulo aprendemos sobre o conceito de Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido, Receitas e Despesas.

» Em seguida, estudamos o reconhecimento e a mensuração de Ativo, Passivo, Patrimônio Líquido, Receitas e


Despesas.

» Após, percebemos os problemas relacionados com a manutenção do capital.

» E, por último, identificamos os ganhos e as perdas na empresa.

87
Referências
ALMEIDA, Marcelo Cavalcanti. Manual Prático de Interpretação Contábil da Lei Societária. 2ª edição. São Paulo:
Atlas, 2012.

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BRASIL, Lei no 11.941, de 27 de maio de 2009. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-


2010/2009/lei/l11941.htm>.

COELHO, Cláudio Ulysses Ferreira; LINS, Luiz dos Santos. Teoria da contabilidade: abordagem contextual, histórica
e gerencial. São Paulo: Atlas, 2010.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de
Relatório Contábil-Financeiro. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/
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COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, CPC 01 (R1) – Redução ao Valor Recuperável de Ativos. Disponível
em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=2>.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, CPC 26 (R1) – Apresentação das Demonstrações Contábeis.


Disponível em: <http://www.cpc.org.br/CPC/Documentos-Emitidos/Pronunciamentos/Pronunciamento?Id=57>.

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, CPC 27 – Ativo Imobilizado. Disponível em: <http://www.cpc.org.


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COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS, CPC 30 (R1) – Receita. Disponível em: <http://www.cpc.org.br/


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CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução do Conselho Federal de Contabilidade no 937/2002.


Decreto-Lei no 3.000/1999 (RIR/99).

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Pronunciamentos técnicos CPC.

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