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TEORIA DA

CONTABILIDADE

Aline Alves
Revisão técnica:

Lilian Martins
Cientista contábil
Especialista em Controladoria e Planejamento Tributário
Professora de Curso de Graduação em Ciências Contábeis

A474t Alves, Aline.


Teoria da contabilidade [recurso eletrônico] / Aline
Alves; [revisão técnica: Lilian Martins.]. – Porto Alegre:
SAGAH, 2017.

Editado também como livro impresso em 2017.


ISBN 978-85-9502-280-5

1. Contabilidade. I.Título.

CDU 657

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB -10/2147


Doutrinas, escolas e novas
razões de entendimentos
na ciência contábil
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Explicar a evolução da filosofia da contabilidade.


„„ Descrever as doutrinas científicas da contabilidade.
„„ Desenvolver uma síntese sobre as escolas contábeis.

Introdução
A contabilidade passou a diferenciar-se da escrituração contábil e tornou-
-se uma ferramenta primordial de esclarecimento para o domínio das
riquezas, visando auxiliar as entidades na tomada de decisões e esclarecer
as modificações que ocorrem no seu patrimônio.
Neste capítulo, você vai aprender sobre as doutrinas científicas da
contabilidade, a filosofia da contabilidade e, por fim, as escolas contábeis.

Filosofia da contabilidade
O conhecimento contábil é entendido como científico desde o início do sé-
culo XIX. Nesse período, as pesquisas justificavam a essência científica da
contabilidade. O desenvolvimento, vindo com as escolas, teorias e doutrinas
contábeis, resultou no reconhecimento da contabilidade como ciência, já que
ela cumpria todas as solicitações necessárias para tal qualificação — possuía
objeto próprio, critério definido, finalidade determinada, teoremas, teorias,
hipóteses, tradição, entre outros. Nesse início do século XIX, já era de co-
nhecimento entre os teóricos que o registro contábil representava somente
uma expressão relativa à análise dos fatos patrimoniais, não o próprio fato.
2 Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil

A palavra “ciência” deriva do latim, scientia, e significa “conhecimento”


ou “saber” (SIGNIFICADO, 2017). O conhecimento pode ser adquirido por
meio de estudos, mas também com a prática. Podemos afirmar que a prática
de uma ciência acontece com o uso de métodos científicos. A experiência
é um conhecimento que se adquire pela observação dos fatos ocorridos.
Então, o que significa ciência? Em síntese, ciência corresponde a todo
conhecimento obtido mediante pesquisa ou prática, com base em princípios
que os amparam.
Depois de alcançar o status de ciência, a busca passou a ser por enquadramen-
tos dentro da lógica e da filosofia das ciências, a fim de firmar a sua essência de
conhecimento superior. Enquadrar a contabilidade na visão filosófica provocou
as seguintes definições:

„„ o método de identificar os acontecimentos;


„„ a natureza do elemento que se estuda;
„„ o objetivo do conhecimento contábil;
„„ as formas de raciocinar adotadas pela contabilidade;
„„ o que ocorre para que o elemento patrimonial consiga ser constituído
e o que intervém nisso;
„„ como renomear os elementos da riqueza individual e como raciocinar
para descobrir um nome apropriado;
„„ como utilizar conceitos a fim de apresentar realidades sobre o compor-
tamento patrimonial particular ou aziendal;
„„ as bases do modelo teórico;
„„ o campo científico no qual melhor se encaixa a contabilidade;
„„ a ordenação dos elementos e a análise sistemática;
„„ como definir o uso de conhecimentos das demais disciplinas, garantindo
a independência científica da contabilidade.

Sabemos que pesquisadores estudaram a contabilidade por meio da visão filosófica


em diversos países, focados em refletir sobre o motivo das coisas serem como são,
ou seja, sobre o conhecimento do conhecimento contábil.
Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil 3

A filosofia está associada ao conhecimento e à reflexão, e a contabilidade


necessitava de uma filosofia própria para direcionar as pessoas inseridas no grupo
social de profissionais liberais. A filosofia corresponde a uma visão interpretativa
da natureza da sabedoria do profissional, uma visão crítica de suas controvérsias,
de seus significados, de suas proposições, teorias e de seus pressupostos. Enquanto
ciência, a contabilidade tem uma filosofia própria que procura apresentar o porquê
da sua existência. A filosofia, assim, agregou valor ao profissional de
contabilidade e representou uma união de conhecimentos que elabora o
pensamento contábil.Dentre muitas escolas do pensamento contábil, foi com a
escola patrimonialista, iniciada pelo italiano Vicenso Masi em 1926, que a
contabilidade foi conhecida como ciência. A seguir, estudaremos cada escola do
pensamento contábil, desde a sua origem.

Doutrinas científicas do pensamento contábil


A classificação da contabilidade como ciência ocorreu porque ela cumpre
todas as exigências previstas e precisas para essa classificação, isto é, possui
objeto próprio, processo específico, metas definidas, entre outros.

„ Para que uma ciência seja classificada como tal, ela necessita atender a convenções
e possuir exigências especiais.
„ Um conhecimento, para ser classificado como científico, precisa fundamentar-se
em motivos competentes.
„ Doutrinadores italianos, franceses, alemães e portugueses foram responsáveis pela
capacitação de doutrinários, que constituíram as escolas do pensamento contábil,
resultando nas correntes científicas.

Depois de algum tempo e muito esforço, teóricos observaram que a essência


científica contábil deveria possuir (SÁ, 2005):
4 Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil

„ um objeto próprio, que é o patrimônio aziendal;


„ uma finalidade própria, que é o aspecto de observação específico, ou
seja, o da eficácia como satisfação da necessidade aziendal;
„ um método próprio de observação e condução do raciocínio para de-
senvolvimento e pesquisa, que se fundamenta no indutivo axiomático
e no fenomenológico;
„ uma tradição como conhecimento, milenar;
„ uma utilidade, como fonte de conhecimento do comportamento da
riqueza aziendal, aplicável a um sem número de utilidades (crédito,
investimentos, controle, etc.);
„ teorias próprias, como a das aziendas, do crédito, do valor, das funções
sistemáticas do patrimônio aziendal, etc., e também uma teoria geral
do conhecimento;
„ doutrinas cientificas próprias e que estabelecem correntes de pensa-
mentos, como o patrimonialismo, neopatrimonialismo, aziendalismo,
personalismo, etc.;
„ uma correlação com outras ciências, como Direito, administração,
economia, matemática, sociologia, etc.;
„ enunciados de verdades universais e perenes sobre os fenômenos de
que trata o seu objeto;
„ capacidade de previsões, por meio dos modelos que permitem os
orçamentos;
„ meios de levantamento de hipóteses, como as derivadas das doutrinas
das contingências;
„ um caráter analítico, ensejando estudos de natureza nuclear funcional
da riqueza aziendal, etc.

A contabilidade sempre foi privilegiada com ricas fontes de informações registradas,


decorrentes de análises sob os elementos que normalmente correspondiam a preo-
cupações contínuas de registros contábeis, propiciando, assim, a sua função científica.

Com o intuito de determinar os métodos de indagação sobre os elementos


escriturados, os teóricos estavam preocupados, inicialmente, com o real objeto
de uma ciência que decorresse da pesquisa dos registros contábeis. Vamos
analisar, a seguir, o relato de cada uma das escolas e o que elas evidenciaram
na evolução contábil.
Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil 5

Escolas contábeis
A primeira escola do pensamento contábil foi a contista, surgida no século XV.
Com o aumento da população, houve a necessidade de segregar o patrimônio da
empresa da riqueza do proprietário. Essa escola afirmava que a contabilidade
representava a ciência das contas e da escrituração, e teve como destaque a
obra de Luca Pacioli.
A escola administrativa teve a sua origem em 1840, apresentando como
ideia essencial que as contas deveriam ser abertas para os valores, não para
relações pessoais, aceitando a escrita contábil como método sistêmico. A escola
favoreceu o desenvolvimento científico da contabilidade, evidenciando-a não
somente como escrituração, mas como instrumento de informação gerencial
capaz de influenciar a tomada de decisões empresariais.
A personalista, que surgiu no século XIX, apresentou como ideia principal
dar originalidade às contas, que deveriam ser criadas direcionadas às pessoas
físicas e jurídicas.
Já a escola controlista, criada em meados de 1880, na Itália, definiu como
objeto da contabilidade o controle patrimonial, diferenciando também as
etapas de gestão econômica e de direção e controle.
Em 1887, surgiu a escola norte-americana, facultando clareza e responsa-
bilidade aos profissionais e enfatizando a contabilidade gerencial. Ela buscou
qualificar a informação contábil, proporcionando o método de contabilidade
financeira, de relatórios e a publicação da contabilidade gerencial.
A escola matemática trouxe a ideia de que a contabilidade representava
uma ciência aplicada, e não social, já que não objetivava apresentar a gestão
ou os elementos patrimoniais.
Sabemos que, para a escola neocontista, o objeto da contabilidade era
definido mediante o patrimônio, na defesa de que a contabilidade
correspondia à ciência do controle econômico.
O neocontismo (1914) trouxe grande avanço para o estudo da análise
patrimonial e dos fenômenos decorrentes da gestão empresarial, dessa
forma, foi um movimento contrário a escola personalista, defendendo o
valor às contas desvinculandas das pessoas. Foi o início da “ciência das
contas e escrituração”, como era conhecida, que deu originem a separação
da entidade e do proprietário.
A moderna escola italiana definiu que o controle aplicado pela contabilidade
correspondia a um instrumento. já a escola controlista afirmou o seguinte:
6 Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil

o controle econômico pode ser considerado como uma das finalidades dos
sistemas de escrituração, não abrangendo, contudo, em sua totalidade, o
objeto da contabilidade. Aspectos relativos à formação dos custos, realização
de receita, equilíbrio financeiro e outros que provam variações patrimoniais
são objeto de operações de controle, porém, a contabilidade não se limita a
esses aspectos. O controle é apenas um instrumento de apoio, e não um fim
ou o objeto da contabilidade (DONATO, 2014).

A escola predominante no Brasil é a patrimonialista, que iniciou como


uma corrente científica da contabilidade em 1926, com o professor italiano
Vicenzo Mais. A escola patrimonialista defendeu que o patrimônio era
mutável, conforme a evolução das ações econômicas. A escola
patrimonialista entendeu que o desenvolvimento das atividades econômicas
deve ser conhecido para que se possa analisar e registrar adequadamente os
motivos das variações dos fatos administrativos ocorridos, sendo
demonstrado a partir do conhecimento do patrimônio, com relação a um
período de tempo específico.
Observamos, na história das escolas do pensamento contábil, que o neo-
patrimonialismo representa a aceitação de que tudo pode ser transformado no
patrimônio, tudo se relaciona e é estruturado. O patrimônio se modifica
por intermédio da sua força motora, que está sempre em desenvolvimento.
Assim, o patrimônio é compreendido pelo neopatrimonialismo como um
conjunto que deve ser verificado a partir de diferentes aspectos.
O neopatronalismo foi um era de aceitação de que tudo pode ser
transformado no patrimônio, ou seja, que o patrimônio é mutável e precisa ser
verificado periodicamente de forma estruturada.
Desde então a ciência contábil passou por inúmeras atualizações em sua
forma de pensar e também quanto as técnicas utilizadas na escrituração
contábil. Em 1976 teve uma importante regulamentação com a Lei das
sociedades anônimas (Lei 6.404,76). Essa Lei passou por atualizações,
primeiramente pela Lei 11.638 de 2007, e após pela Lei 11.941 de 2009 e
hoje, com todos os avanços apresentados, a contabilidade é tida como a mais
importante ferramenta gerencial e estratégica no processo decisório das
empresas.
Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil 7

A evolução contábil recentemente passou pelo processo de uniformização


dos parâmetros e entendimentos quanto a processos e técnicas contábeis
utilizados. foram adotadas no Brasil. Na realidade, 2010 foi o ano que se
adotou o uso pleno e obrigatório no Brasil das práticas internacionais.
Contudo essa história remonta a 2007, ano em que foi sancionada a Lei nº
11.638, responsável por alterar a Lei 6.404, o que significou a maior
transformação contábil nas últimas décadas no Brasil.

Resumindo, primeiramente, surgiu o movimento denominado contismo, que tinha por


objeto científico as contas, surgindo a teoria das contas. Em seguida, veio a doutrina
personalista, que evidenciou as relações de domínio da entidade sobre as pessoas. Ela
estabeleceu o patrimônio como conjunto de direitos e obrigações. Depois, Vincenzo
Masi lançou um desafio: a independência científica da contabilidade com base em
sugestões rígidas. A visão dele foi a que prevaleceu, tornando o patrimônio empre-
sarial o objeto da contabilidade e dando origem, assim, à mais relevante corrente de
pensamento doutrinário — o patrimonialismo.
A concordância sobre as novas ideias por uma significativa quantidade de pesquisado-
res ocasionou uma nova corrente científica, denominada neopatrimonialismo. Essa
corrente surgiu no século XX e estava preocupada em definir um processo lógico
para o entendimento do que ocorre com a riqueza patrimonial das organizações e
das instituições de fins ideais.
8 Doutrinas, escolas e novas razões de entendimentos na ciência contábil

DONATO, S. V. Teoria da contabilidade. Prof. Sócrates Vieira Donato, Petrolina, 2014.


Disponível em:<http://www.socrates.cnt.br/Teoriadacontabilidade.pdf>. Acesso
em: 06 nov. 2017.
SÁ, A. L. Doutrinas, escolas e novas razões de entendimento na ciência contábil. Revista
Catarinense da Ciência Contábil, Florianópolis, v. 4, n. 10, 2005. Disponível em: <http://
revista.crcsc.org.br/index.php/CRCSC/article/view/1135/1064>. Acesso em: 21 out.
2017.
SIGNIFICADO de ciência. Significados, 2017. Disponível em:<https://www.significados.
com.br/ciencia/>. Acesso em: 06 nov. 2017.
BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Brasília, DF, 1976. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6404compilada.htm Acesso em: 18
fev. 2022.
BRASIL. Lei nº 11.638, de 28 de dezembro de 2007. Brasília, DF, 2007. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.htm
Acesso em: 18 fev. 2022.

Leituras recomendadas
LUZ, E. E. Teoria da contabilidade. Curitiba: InterSaberes, 2015.
NIYAMA, J. K.; SILVA, C. A. Teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009.
SÁ, A. L. A contabilidade com ciência. Prof. Antonio Lopes de Sá, Belo Horizonte, 2017.
Disponível em: <http://www2.masterdirect.com.br/448892/index.asp?opcao=7&cli
ente=448892&avulsa=4947>. Acesso em: 06 nov. 2017.
SÁ, A. L. Teoria da contabilidade. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
SÁNTOS, J. L. D. Teoria da contabilidade. São Paulo: Pearson, 2009.
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