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ABORDAGENS TEÓRICAS DA

CONTABILIDADE
AULA 1

Prof. Ivanildo Viana Moura


CONVERSA INICIAL

Seja bem-vindo(a) a esta aula de nossa disciplina. Nela você terá um


primeiro contato com a contabilidade e saberá um pouco mais sobre a história
dessa ciência. Para tanto, trataremos dos seguintes temas:

1. Conceito, objeto e objetivo da contabilidade;


2. Origem e evolução da contabilidade;
3. Escolas da contabilidade;
4. Tipos de informações: patrimoniais, financeiras e econômicas;
5. Enfoques prescritivo e descritivo.

Aproveite a leitura e pratique os conhecimentos adquiridos resolvendo os


exercícios. Lembre-se, a melhor maneira de aprender é praticando.
Bons estudos!

CONTEXTUALIZANDO

A contabilidade é uma ciência muito antiga, cuja evolução acompanhou a


evolução do próprio homem, tendo percorrido um longo caminho até chegar ao
patamar em que se encontra hoje.
No decorrer de sua história, muitas teorias foram desenvolvidas, e, a partir
delas, surgiram as escolas da contabilidade, sendo a primeira a escola italiana.
Hoje, a contabilidade já está bem estruturada, e as práticas desenvolvidas
estão se tornando padrão para diversos países em decorrência da harmonização
às normas internacionais de contabilidade.

TEMA 1 – CONCEITO, OBJETO E OBJETIVO DA CONTABILIDADE

A evolução das sociedades transforma o ambiente no qual estão inseridas


e possibilita o surgimento de várias ciências que visam explicar os fenômenos
por trás dessas transformações. Dessa forma, a área voltada ao estudo dos
aspectos sociais da humanidade, ou seja, da vida em sociedade, é a ciência
social. Esse ramo da ciência inclui a sociologia, a antropologia, o marketing, a
economia, o direito, a administração e a contabilidade.
Surpreso(a)? Talvez você tivesse imaginado a contabilidade como uma
ciência exata, pois o nome contabilidade remete a contas, que, por sua vez,
remete a cálculos, e que remete às ciências exatas. No entanto, o sentido das

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“contas” é bem mais profundo que isso, pois implica relações, o que estudaremos
no decorrer desta disciplina.
A ciência contábil realmente se utiliza de cálculos para evidenciar
resultados e fornecer informações, mas, conforme explicado por Marion (2006,
p. 26), “ainda que a contabilidade se utilize de métodos quantitativos, não
podemos confundi-la com as ciências matemáticas (ou exatas), que têm por
objeto as quantidades consideradas abstratas que independem das ações
humanas”.
Perceba então que a contabilidade, assim como outras ciências sociais,
se utiliza das técnicas fornecidas pelas ciências exatas como ferramentas para
alcançar seus objetivos, mas ela tem o aspecto da subjetividade que é
relacionado ao julgamento dos tomadores de decisão em torno do patrimônio da
entidade. Assim, “a contabilidade é uma ciência social, pois estuda o
comportamento das riquezas que se integram no patrimônio, em face das ações
humanas (portanto, a contabilidade ocupa-se de fatos humanos)” (Marion, 2006,
p. 26).
Agora você já sabe que a contabilidade faz parte do grupo de ciências
sociais, vamos entender um pouco sobre ela.

1.1 Conceito de contabilidade

No mundo dos negócios, a informação é muito valiosa, pois é com base


nela que todo o processo de decisão é desencadeado. Assim, os tomadores de
decisões necessitam de informações sobre a empresa na qual possuem algum
tipo de interesse, e a contabilidade é a principal fonte dessas informações. De
acordo com Padoveze (2007), a ciência contábil é a única especializada em
avaliar economicamente a empresa e seus resultados, e, por isso, todas as
ações da entidade terminam por convergir no sistema de informação contábil, o
qual se classifica como um sistema de avaliação e gestão econômica.
Nesse entendimento, Greco, Gartner e Arend (2009) afirmam que a
contabilidade é responsável por registrar, estudar e interpretar os fatos
financeiros e econômicos que afetam a situação patrimonial de determinada
pessoa física ou jurídica. De acordo com os autores, as informações geradas
pela contabilidade são apresentadas aos usuários por meio das demonstrações
contábeis e relatórios gerenciais.

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Segundo Ferrari (2013), o campo de aplicação dessa ciência se estende
a todas as entidades que possuam patrimônio, sejam físicas ou jurídicas, de fins
lucrativos ou não. Portanto, dada a importância da contabilidade no ramo dos
negócios, de forma pragmática, essa ciência pode ser conceituada da seguinte
da seguinte forma: “A contabilidade é a linguagem dos negócios” (Marion,
2009, p. 24), pois ela “mede os resultados das empresas, avalia o desempenho
dos negócios, dando diretrizes para a tomada de decisões”.

1.2 Objetivo da contabilidade

As informações fornecidas pela contabilidade tendem a atender aos mais


diversos usuários. Conforme Marion (2006), qualquer pessoa física ou jurídica
com interesse em conhecer dados de certa entidade pode ser considerada um
usuário da informação contábil. Ainda conforme o autor, os usuários podem ser
classificados em internos (gerentes, diretores, administradores, funcionários) ou
externos à empresa (instituições financeiras, fornecedores, governo, sindicatos).
Assim, uma vez definido o conceito de contabilidade como a linguagem
dos negócios, é importante conhecer também o seu objetivo, o qual é dado pela
resolução 774 do Conselho Federal de Contabilidade (CFC): “o objetivo científico
da contabilidade manifesta-se na correta apresentação do patrimônio e na
apreensão e análise das causas das suas mutações” (Brasil,1995).
Por outro lado, interpretando a estrutura conceitual básica da
contabilidade, Marion (2006) descreve que o objetivo da contabilidade é permitir
aos usuários a avaliação da situação econômica e financeira da entidade, tanto
num sentido estático quanto a fazer inferências sobre tendências financeiras.
De modo geral, em qualquer contexto analisado, veremos que o objetivo
está relacionado ao reporte de informações sobre aspectos patrimoniais das
entidades. Diante disso, pode-se dizer que o objetivo da contabilidade é fornecer
informações úteis aos usuários tomadores de decisão.

1.3 Objeto da contabilidade

Conforme já comentado, o objetivo da contabilidade é fornecer


informações úteis aos usuários das informações contábeis, os quais geralmente
tomam decisões baseados em tais informações. Nesse contexto, as informações

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fornecidas são relacionadas ao patrimônio das entidades. Diante desse aspecto,
o objeto da contabilidade passa a ser o patrimônio das entidades.
Nesse entendimento, têm-se então a definição do objeto da contabilidade,
o patrimônio: “um conjunto impessoal de meios e recursos materiais e imateriais,
existente em determinado momento, visando à satisfação das necessidades da
atividade de uma célula social” (Sá, 1999, p. 56).
No texto dado pela resolução 774 do Conselho Federal de Contabilidade,
o patrimônio é descrito de forma mais abrangente:

Na Contabilidade, o objeto é sempre o PATRIMÔNIO de uma Entidade,


definido como um conjunto de bens, direitos e de obrigações para com
terceiros, pertencente a uma pessoa física, a um conjunto de pessoas,
como ocorre nas sociedades informais, ou a uma sociedade ou
instituição de qualquer natureza, independentemente da sua
finalidade, que pode, ou não, incluir o lucro. (Brasil, 1995)

Dado o contexto anterior, a contabilidade, como linguagem dos negócios,


fornecerá informações úteis aos usuários, acerca do patrimônio das entidades,
o qual pode ser conceituado de forma mais prática como o conjunto de bens,
direitos e obrigações de uma entidade.

TEMA 2 – ORIGEM E EVOLUÇÃO DA CONTABILIDADE

A contabilidade está intimamente relacionada ao controle. De acordo com


Favero et al. (2011), não se pode precisar exatamente a época em que essa
ciência teve início, mas acredita-se que seja tão antiga quanto a origem do
próprio homem. Segundo os autores supracitados, “a partir do momento em que
o homem passou a possuir bens, houve consequentemente a necessidade de
controlar esses bens, surgindo assim o inventário”.
Dessa forma, o controle do patrimônio pode ser considerado a origem da
contabilidade, no momento em que o homem primitivo começou a desenvolver
o pensamento de quantificar seus bens, deixando rastros que, bem mais tarde,
seriam descobertos por historiadores, servindo como evidências para a
existência da contabilidade na antiguidade. Segundo Iudícibus (2010, p. 35):

o homem primitivo, ao inventariar o número de instrumentos de caça e


pesca disponíveis, ao contar seus rebanhos, ao contar suas ânforas de
bebidas, já estava praticando uma forma rudimentar de contabilidade.
É possível localizar os primeiros exemplos completos de
contabilização, portanto, seguramente no terceiro milênio antes de
Cristo, na civilização da Suméria e da Babilônia (hoje Iraque), no Egito
e na China. Mas é provável que algumas formas mais rudimentares de
contagem de bens tenham sido realizadas bem antes disso [...].

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Nesse contexto, a contabilidade surgiu da necessidade de controle, tendo
se iniciado ainda na antiguidade, quando o homem começou a pensar e as
civilizações começaram a se formar. A partir desse momento, à medida que a
sociedade evoluía, a contabilidade passou a acompanhá-la.

2.1 Fases evolutivas da contabilidade

A contabilidade, desde sua origem, foi engatinhando aos poucos até


chegar ao patamar em que se encontra hoje, tendo passado por várias fases
evolutivas, as quais acompanharam a própria evolução das civilizações. Essas
fases são descritas por Federigo Melis (citado pelo Conselho Regional de
Contabilidade do Paraná) e divididas em quatro períodos, conforme segue:

2.1.1 1º período: história antiga ou da contabilidade empírica

O primeiro período das fases da contabilidade teve início nos primórdios


da civilização, quando o homem começou a desenvolver a habilidade de pensar
– o raciocínio – e começou a controlar seus bens. De acordo com Coelho e Lins
(2010), no início o homem preocupava-se basicamente em controlar seus
alimentos, e, segundo Iudícibus (2010), os inventários controlavam os
instrumentos de caça e pesca, os rebanhos e as ânforas de bebidas, praticando,
portanto, uma forma rudimentar de contabilidade.
Como ainda não existia a escrita, as formas de controles eram realmente
rudimentares, demonstrando inclusive certa “criatividade” por parte do homem
primitivo. Nesse sentido, Sá (1999, p. 18) expõe o seguinte contexto:

Com o uso de sua arte, o homem primitivo passou a evidenciar a


riqueza patrimonial que detinha, em inscrições nas paredes das grutas
(onde introduziu pinturas) e também pedaços de ossos (por meio de
riscos ou sulcos), utilizando-se dos instrumentos de que já dispunha.
O desenho do animal ou coisa representava a natureza da utilidade
que o homem primitivo havia conquistado e guardara; os riscos que
quase sempre se seguiam ao desenho da coisa ou objeto denunciavam
a quantidade existente. De forma rudimentar, as inscrições
procuravam, com desenhos, representar a qualidade da coisa e com
rabiscos ou riscos a quantidade.

Pode-se perceber como a contabilidade teve sua origem de forma um


tanto quanto empírica, quando o homem começou a desenvolver práticas que
mais tarde evidenciariam uma das ciências sociais mais importantes da história.
O homem escriturava os bens em ossos, cavernas e placas de barro, conforme
descobertas feitas na Mesopotâmia, na cidade de Uruk (Coelho; Lins, 2010).

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O primeiro período teve início com as primeiras civilizações e terminou em
1202 d.C., com a obra de Leonardo Fibonacci.

Figura 1 – Primeiro período da história da contabilidade

2.1.2 2º período: história média ou da sistematização da contabilidade

Leonardo Fibonacci (também conhecido como Leonardo de Pisa,


Leonardo Pisano ou Leonardo Bigollo) foi um italiano da cidade de Pisa que,
segundo Hendriksen e Van Breda (2007), cresceu no norte da África, onde
aprendeu tanto a língua quanto a matemática dos árabes. Ao voltar à Itália,
escreveu um livro no qual disseminava o conhecimento adquirido.
O Líber Ábaci (livro do ábaco) tratava de “aritmética, cálculos comerciais
e da álgebra; nele Fibonacci estuda os números que recomenda sua aplicação
para demonstração de dívidas e de prejuízos nos cálculos comerciais” (Ribeiro
Filho; Lopes; Pederneiras, 2009, p. 22). Dessa forma, a história dos números no
Ocidente iniciou-se com a publicação do livro de Fibonacci (Coelho; Lins, 2010).
A obra de Fibonacci foi o primeiro marco para a sistematização da
contabilidade, mas, depois dela, outras apareceram. De acordo com Iudícibus
(2010), as partidas dobradas começaram a aparecer já no século XIII, nos
grandes empreendimentos, embora fossem técnicas incompletas. Segundo o
autor, o surgimento da técnica pode ter ocorrido entre 1280 e 1335.
No entanto, o marco principal que encerra o segundo período da história
da contabilidade é justamente a publicação do livro que divulgava o método das
partidas dobradas em 1494, trazendo importantes contribuições para a
sistematização da contabilidade.

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Figura 2 – Segundo período da história da contabilidade

2.1.3 3º período: história moderna ou da literatura da contabilidade

Em 1494, o Frei Luca Pacioli lança o livro Summa de aritmetica,


geometria, proportioni et proportionalita (conhecimentos de aritmética,
geometria, proporção e proporcionalidade). De acordo com Iudícibus (2010), um
capítulo em especial se distingue para a história da contabilidade, o Tractatus de
computies et scripturis (contabilidade por partidas dobradas). “Nesse tratado,
talvez pela primeira vez,o método contábil é explicado integralmente a partir do
inventário. Pacioli é considerado, portanto, o ‘pai dos autores de Contabilidade’”
(Iudícibus, 2010, p. 45).
Com a publicação do livro de Pacioli, o método das partidas dobradas
tornou-se conhecido por toda a Europa, e, com a expansão do comércio
marítimo, passou a ser conhecido também nos outros continentes, sendo
adotado por comerciantes de praticamente todo o mundo.
A partir da obra de Pacioli, outros trabalhos começaram a surgir, nos quais
os tratadistas faziam pequenos melhoramentos no método das partidas
dobradas, na tentativa de aperfeiçoá-lo. Em 1840, uma nova publicação fez
encerrar o terceiro período da contabilidade.

Figura 3 – Terceiro período da história da contabilidade

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2.1.4 4º período: história contemporânea ou científica da contabilidade

Em 1840, Francesco Villa publica o livro La contabilità applicatta alle


amministrazioni private e pubbliche. Nesse livro, Villa expôs que a contabilidade
deveria ser utilizada não somente para a escrituração, mas também para a
tomada de decisão.
De acordo com Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009, p. 27), “a
contribuição de Villa para o desenvolvimento científico da contabilidade se
destacou em diversas áreas: sobre o estudo dos meios patrimoniais, sobre a
renda, sobre o regime de competência, entre outros”.
Com a obra de Villa, a contabilidade deixa de ser uma simples técnica de
escrituração/registro e se afirma como ciência. Seu estudo se torna necessário
e sua fase científica, que se iniciou com Villa, permanece até os dias atuais.

Figura 4 – Quarto período da história da contabilidade

TEMA 3 – ESCOLAS DA CONTABILIDADE

A expansão do comércio e o crescimento econômico fizeram com que a


necessidade de técnicas contábeis se tornasse mais acentuada. Dessa forma, o
desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas voltadas à escrituração de
eventos econômicos deu origem às escolas de contabilidade.
Podemos citar duas escolas de grande influência para a ciência contábil,
a italiana (a primeira delas) e a norte-americana.

3.1 A escola italiana de contabilidade

Conforme vimos no Tema 2, pode-se dizer que a Itália foi o berço da


contabilidade, pois foi nas cidades italianas que começaram a surgir obras

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voltadas para o desenvolvimento e sistematização das técnicas de escrituração,
em especial, o método das partidas dobradas.
Após a divulgação do método das partidas dobradas por meio do livro do
frei Luca Pacioli, a escola italiana ganhou grande impulso e se espalhou por toda
a Europa (Favero et al. 2011). Dentro da escola italiana, surgiram várias
correntes de pensamento contábil, sendo as principais descritas a seguir.

3.1.1 Escola contista

Foi a primeira corrente do pensamento contábil da escola italiana, tendo


surgido dos estudos acerca do método das partidas dobradas (Favero et al.,
2011). De acordo com Coelho e Lins (2010), a ideia central do contismo versava
sobre o fato de se pensar que o comércio teria cinco objetivos principais:

1. Mercadorias;
2. Dinheiro;
3. Efeitos a receber;
4. Efeitos a pagar;
5. Lucros e perdas.

Esses objetivos são conteúdo da Teoria das Cinco Contas, de Edmundo


Degrange, que se baseou nas teorias desenvolvidas por Jacques Savary em
torno das partidas dobradas no século XVII, quando deu-se o auge do contismo
(Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009).
De acordo com os autores supracitados, fazer lançamentos de débito ou
crédito em uma dessas contas seria o mesmo que creditar o próprio comerciante,
e essa personificação gerou críticas ao modelo, sendo Francesco Marchi um dos
principais críticos da primeira escola italiana.

3.1.2 Escola personalista

A teoria personalista vincula as contas às pessoas responsáveis pelos


fatos. Essas pessoas devem à empresa os valores correspondentes aos bens
ou direitos sob sua responsabilidade, ou são credoras das obrigações assumidas
pela empresa. A teoria personalista foi desenvolvida por Francesco Marchi, e,
posteriormente, Giuseppe Cerboni estabeleceu seus princípios (Crepaldi, 2010).
Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), Francesco Marchi
apresentou a base de sua teoria dividindo as contas em três grupos:
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1. Contas do proprietário: o proprietário é a pessoa que entregou ao
administrador o capital e, por isso, tem direito àquela parcela e suas
variações (Crepaldi, 2010). Essa conta diz respeito ao capital, lucro e
perdas. As contas de lucro e perdas compreendiam as contas de receita.
2. Contas dos agentes consignatários: pessoas encarregadas pelo
administrador de guardar os bens existentes no patrimônio, e possuem
responsabilidade perante o administrador pelos valores que lhe forem
entregues (Crepaldi, 2010): dinheiro, mercadorias, bens móveis etc.
3. Contas de correspondentes: pessoas que mantêm relações jurídicas
com o administrador. As relações podem ser de ativo, quando
representam direitos, ou de passivos, quando representam obrigações
(Crepaldi, 2010). Essas contas representam as relações com terceiros.

Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), a teoria personalista


foi refutada por Fábio Besta, que explicitou falhas no método.

3.1.3 Escola controlista

A teoria controlista considerava o objeto da contabilidade o controle


econômico das aziendas, e esse controle envolvia um estudo dos fatores que
provocam variações no patrimônio. Dessa forma, a visão de Fábio Besta sobre
a contabilidade divergia da visão da escola personalista, pois, para ele, as contas
não eram abertas a pessoas, e sim para registrar valores.
Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras, a base doutrinária da escola
controlista era voltada para a administração econômica das entidades. Conforme
os autores, Fábio Besta enxergava o controle em todas as fases do processo de
geração de riqueza da entidade, denominando-as controle antecedente, controle
concomitante e controle subsequente, cada uma com funções próprias, mas
todas atuando de forma integrada.
De acordo com Favero et al. (2011), a proposta da teoria controlista de
indicar o controle como objeto da contabilidade representou um avanço em
termos de organização do processo contábil. No entanto, a teoria passou a ser
criticada porque, embora o controle econômico seja uma das finalidades do
sistema de escrituração, não abrange a sua totalidade como objeto da
contabilidade.

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3.1.4 Escola aziendalista

Azienda pode ser conceituada como “o conjunto de bens, direitos e


obrigações que constituem o patrimônio, sob ação administrativa do homem”
(Crepaldi, 2010, p. 7). A escola aziendalista teve como percursor Gino Zappa,
que defendia que o estudo da contabilidade estava muito restrito em face das
ideias da corrente controlista e ampliou esse campo para o estudo da gestão.
Assim, Zappa considerava a azienda como um complexo econômico, e não
simplesmente a soma dos fenômenos (Favero et al. 2011).
Conforme Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), a teoria aziendalista
procurava demonstrar que existe uma interdependência entre organização,
administração e contabilidade, formando a ciência econômica aziendal. No
entanto, esta também sofreu críticas, principalmente por Vincenzo Masi, que
defendia o patrimônio como objeto da contabilidade (Favero et al., 2011).

3.1.5 Escola patrimonialista

A teoria patrimonialista de Vincenzo Masi tem como foco os estudos na


essência dos fatos econômicos e dos seus efeitos sobre a riqueza patrimonial
das aziendas (Ribeiro Filho; Lopes; Pederneiras, 2009). Segundo essa teoria, o
patrimônio se transforma com o desenvolvimento das atividades econômicas,
devendo ser conhecidos e analisados adequadamente os motivos das variações
ocorridas dentro de determinado período (Favero et al., 2011).
Segundo Coelho e Lins (2010), Masi considerava o patrimônio sob dois
aspectos, o estático e o dinâmico. A estática patrimonial examinava a estrutura
da riqueza patrimonial, e a dinâmica lidava com a movimentação dessa estrutura.
Essa foi a primeira escola que definiu o patrimônio como objeto da contabilidade.

3.2 Escola americana

No fim do século XIX e início do século XX, a contabilidade teve sua


expansão dada por uma série de acontecimentos, entre os quais o
desenvolvimento do mercado de capitais e o rápido desenvolvimento do
comércio e da indústria. Nesse contexto, surgiram grandes conglomerados
comerciais e industriais com a participação de inúmeros acionistas, fazendo com
que houvesse a necessidade de aprimoramento das técnicas contábeis. Estas
deveriam atender um número muito maior de usuários, que pressionavam as
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organizações exigindo informações confiáveis para garantir a integridade de
seus investimentos (Favero, et al., 2011).
O grande fluxo de capital estrangeiro que ingressou nos Estados Unidos,
bem como o seu desenvolvimento industrial, fizeram com que esse país
aprimorasse as técnicas contábeis, focando em informações econômicas e
financeiras, e destacando-se principalmente em técnicas de auditoria (Ribeiro
Filho; Lopes; Pederneiras, 2009).
A escola norte-americana dava grande ênfase aos problemas econômico-
administrativos. Dessa forma, contribuiu grandemente para a formação de áreas
como a contabilidade financeira, contabilidade gerencial, contabilidade de
custos, controladoria, análise de demonstrações contábeis, finanças, orçamento
etc. Devido a esses e outros aspectos, a escola norte-americana começou a
ganhar destaque, superando a escola italiana.

3.3 Queda da escola italiana e ascensão da escola norte-americana

O início do século XX trouxe consigo o surgimento de gigantescas


corporações, o desenvolvimento do mercado de capitais e um alto ritmo de
desenvolvimento aos Estados Unidos. Esses fatores propiciaram um avanço das
teorias e práticas contábeis norte-americanas (Iudicibus; Marion, 2002), levando
a escola italiana a perder sua força. Os principais fatores que levaram à
ascensão da escola norte-americana são descritos no Quadro 1.

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Quadro 1 – Comparação entre as duas escolas

Razões da ascensão da escola norte-


Razões da queda da escola italiana
americana
1. Ênfase no usuário da informação
1. Excessivo culto à personalidade:
contábil: a contabilidade é apresentada
grandes mestres e pensadores da
como algo útil para a tomada de decisões,
contabilidade ganharam tanta notoriedade
evitando-se endeusar demasiadamente a
que passaram a ser vistos como "oráculos"
contabilidade; atender os usuários é o grande
da verdade contábil.
objetivo.
2. Ênfase na contabilidade aplicada:
2. Ênfase numa contabilidade teórica: as
principalmente na contabilidade gerencial. Ao
mentes privilegiadas produziam trabalhos
contrário dos europeus, não havia uma
excessivamente teóricos, apenas pelo gosto
preocupação com a teoria das contas, ou
de serem teóricos, difundindo ideias com
querer provar que a contabilidade é uma
pouca aplicação prática.
ciência.

3. Bastante Importância à auditoria: como


3. Pouca importância à auditoria:
herança dos ingleses e transparência para os
principalmente na legislação italiana, o grau
investidores das sociedades anônimas (e
de confiabilidade e a importância da
outros usuários) nos relatórios contábeis, a
auditagem não eram enfatizados.
auditoria é muito enfatizada.

4. Universidade em busca de qualidade:


4. Queda no nível das principais grandes quantias para as pesquisas no
faculdades: principalmente as faculdades campo contábil, o professor em dedicação
italianas, superpovoadas de alunos. exclusiva e o aluno em período integral
valorizaram o ensino nos Estados Unidos.
Fonte: Iudicibus; Marion, 2002, p. 36.

Apesar das diferenças entre as escolas, ambas foram e ainda são de


suma importância para a contabilidade. A escola italiana deu início a tudo e levou
ao desenvolvimento da ciência, e a norte-americana aprimorou as técnicas e deu
outro rumo à contabilidade, expandindo seu campo de atuação e sua aplicação.

TEMA 4 – TIPOS DE INFORMAÇÕES: PATRIMONIAIS, FINANCEIRAS E


ECONÔMICAS

A contabilidade tem como objetivo gerar informações para que os diversos


usuários possam tomar decisões (Favero et al., 2011). O sistema de informação
contábil é o meio utilizado para efetivar a contabilidade e a informação contábil
dentro da organização, preocupando-se em disponibilizar informações úteis para
a tomada de decisões para todos os usuários que possuem interesse na
entidade em questão (Padoveze, 2007).
Os usuários da informação contábil são diversos, pessoas físicas ou
jurídicas, entidades com ou sem fins lucrativos, cujos interesses podem ser
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econômicos ou sociais. Os principais grupos de interesses nas informações
contábeis são relacionados por Marion (2009, p. 24):

(a) Investidores: Os provedores de capital de risco e seus analistas


que se preocupam com o risco inerente ao investimento e o retorno
que ele produz. Eles necessitam de informações para ajudá-los a
decidir se devem comprar, manter ou vender investimentos. Os
acionistas também estão interessados em informações que os
habilitem a avaliar se a entidade tem capacidade de pagar dividendos.
(b) Empregados: Os empregados e seus representantes estão
interessados em informações sobre a estabilidade e a lucratividade de
seus empregadores. Também se interessam por informações que lhes
permitam avaliar a capacidade que tem a entidade de prover sua
remuneração, seus benefícios de aposentadoria e suas oportunidades
de emprego.
(c) Credores por empréstimos: Estes estão interessados em
informações que lhes permitam determinar a capacidade da entidade
em pagar seus empréstimos e os correspondentes juros no
vencimento.
(d) Fornecedores e outros credores comerciais: Os fornecedores e
outros credores estão interessados em informações que lhes permitam
avaliar se as importâncias que lhes são devidas serão pagas nos
respectivos vencimentos. Os credores comerciais provavelmente estão
interessados em uma entidade por um período menor do que os
credores por empréstimos, a não ser que dependam da continuidade
da entidade como um cliente importante.
(e) Clientes: Os clientes têm interesse em informações sobre a
continuidade operacional da entidade, especialmente quando têm um
relacionamento a longo prazo com ela, ou dela dependem como
fornecedor importante.
(f) Governo e suas agências: Os governos e suas agências estão
interessados na destinação de recursos e, portanto, nas atividades das
entidades. Necessitam também de informações a fim de regulamentar
as atividades das entidades, estabelecer políticas fiscais e servir de
base para determinar a renda nacional e estatísticas semelhantes.
(g) Público: As entidades afetam o público de diversas maneiras. Elas
podem, por exemplo, fazer contribuição substancial à economia local
de vários modos, inclusive empregando pessoas e utilizando
fornecedores locais. As demonstrações contábeis podem ajudar o
público fornecendo informações sobre a evolução do desempenho da
entidade e os desenvolvimentos recentes.

Considerando-se o objetivo principal da contabilidade, a aplicação dessa


ciência dentro de determinada empresa busca o fornecimento de informações
aos usuários sobre aspectos de natureza patrimonial, financeira e econômica.

4.1 Informações patrimoniais

As contas patrimoniais dizem respeito aos itens do patrimônio, ou seja, o


conjunto de bens, direitos e obrigações. Dessa forma, as informações sobre a
posição patrimonial da entidade são extraídas da principal demonstração
contábil, o balanço patrimonial.

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Figura 5 – Elementos do Balanço Patrimonial

BENS E
ATIVO
DIREITOS

PATRIMÔNIO
PASSIVO
OBRIGAÇÕES
PATRIMÔNIO
LÍQUIDO

O balanço patrimonial é o demonstrativo que possibilita ao usuário ter uma


visão geral do patrimônio. Por meio dele, é possível saber como anda a situação
patrimonial da entidade, a qual diz respeito aos itens que compõem o patrimônio
da empresa, o seu conjunto de bens, direitos e obrigações.
Os bens da empresa são os itens que ela já possui, tais como dinheiro em
caixa, dinheiro em contas bancárias, estoques de mercadorias, produtos ou
matéria-prima, imobilizados, marcas, patentes etc. Os direitos, na maioria das
vezes, dizem respeito a vendas já realizadas e negociadas para pagamento
futuro. O conjunto de bens e direitos forma o ativo da empresa.
As obrigações podem ser divididas em duas partes: capital de terceiros e
capital próprio. O capital de terceiros é representado pelo passivo e demonstra
quanto da origem de recursos vem de terceiros. Nesta conta estão classificados
os empréstimos, financiamentos, salários a pagar, impostos a recolher,
fornecedores etc. A conta de capital próprio é representada pelo patrimônio
líquido da empresa e diz respeito ao capital que sócios ou proprietários
investiram no negócio. Nesta conta temos o capital social, reservas, prejuízos
acumulados etc.
As informações patrimoniais são de extrema importância para a entidade,
pois são a base para o gerenciamento das operações da organização.

4.2 Informações financeiras

Empresas precisam tomar decisões rotineiras quanto ao gerenciamento


de suas operações. Essas decisões – subsidiadas por informações financeiras
– abrangem dois aspectos muito importantes: a sobra e a falta de dinheiro.
De acordo com Hoss (2013), as organizações precisam de dinheiro para
moverem seu negócio, e, para que não lhes falte esse recurso, é necessário um

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conjunto de informações que possibilite antecipar problemas de ordem
financeira. Segundo o autor, a sobra de dinheiro também requer tomada de
decisões para contribuir com a criação de riqueza, e as informações financeiras
podem diagnosticar a necessidade de empréstimos devido à falta de dinheiro e
investimentos. De acordo com Marion (2009, p. 87), a situação financeira da
entidade pode ser evidenciada também pelo balanço patrimonial:

Observamos até o momento que o Balanço Patrimonial evidencia a


situação patrimonial (bens, direitos e obrigações) da empresa.
Poderíamos ainda, numa abordagem mais específica, atribuir ao
Balanço Patrimonial a função (entre outras) de indicador da situação
financeira da entidade, ou seja, a capacidade de pagamento da
empresa. A simples comparação entre o Ativo Circulante e o Passivo
Circulante propicia ao usuário do Balanço uma visão panorâmica da
Situação Financeira da empresa a curto prazo (para o exercício social
seguinte ao encerramento do balanço). O Ativo Circulante é constituído
de dinheiro (disponível), de quase dinheiro (Duplicatas a Receber) e de
futuro dinheiro (Estoque). Na verdade, os recursos financeiros
(dinheiro) utilizados para fazer frente às dívidas da empresa (Passivo
Circulante) são retirados do Ativo Circulante. Dessa forma,
normalmente, se o Ativo Circulante for menor que o Passivo Circulante,
a empresa comercial ou industrial terá dificuldade em solver seus
compromissos; portanto, sua Situação Financeira não é boa. A
Situação Financeira poderá, também, ser objeto de análise para
situações a Longo Prazo. Nesse caso, incluiríamos ao Circulante, na
comparação, o Realizável e o Exigível a Longo Prazo (Ativo Circulante
+ Realizável a Longo Prazo: Passivo Circulante + Exigível a Longo
Prazo). Outras variáveis, enfim, seriam consideradas para uma análise
da Situação Financeira da empresa.

Embora o balanço patrimonial forneça informações financeiras sobre o


patrimônio da entidade, a principal demonstração para essas informações é o
Demonstrativo de Fluxos de Caixa (DFC), pois fornece informações detalhadas
sobre as atividades de investimento, de financiamento e operacionais da
empresa durante o período abrangido pelas demonstrações contábeis.

4.3 Informações econômicas

As informações acerca da situação econômica da entidade dizem respeito


às mutações ocorridas no patrimônio líquido, em decorrência dos resultados
alcançados no decorrer de determinado período. Segundo Marion (2009, p. 88),
“uma forma de avaliar a situação econômica é observar o Patrimônio Líquido da
empresa e sua variação. Evidentemente, o crescimento real do Patrimônio
Líquido vem fortalecer sua situação econômica”. Assim, pode-se dizer que, se o
patrimônio líquido apresentou crescimento de um período para outro em
proporção maior que o passivo, a situação econômica da empresa melhorou.

17
Caso o patrimônio líquido tenha apresentado crescimento em proporção menor
que o passivo, a situação econômica piorou.
A evolução a seguir mostra uma situação econômica favorável:

Figura 6 – Evolução de situação econômica favorável

Período 1 Período 2 Período 3

ATIVO PASSIVO ATIVO PASSIVO ATIVO PASSIVO

500,00
600,00 PL
PL
800,00
PL
1.000,00 200,00 1.000,00 400,00 1.000,00 500,00

De acordo com Marion (2009), a principal fonte de fortalecimento do


patrimônio líquido é o bom lucro, assim, a constante obtenção de resultados
positivos contribui para uma situação econômica mais sólida. Nesse
entendimento, embora o balanço patrimonial possibilite uma visão da situação
econômica, a principal demonstração para o fornecimento desse tipo de
informação é o demonstrativo de resultado.
Os usuários da informação contábil tomam decisões econômicas
relacionadas à capacidade da entidade em gerar caixa e equivalentes de caixa,
se ela conseguirá pagar suas contas (fornecedores, juros, empregados,
empréstimos) e também se conseguirá pagar dividendos. Por meio do
demonstrativo de resultado do exercício, o usuário tem uma ideia da eficiência
operacional da entidade, visto que esse demonstrativo mostra o total de receitas
do período e a confrontação delas com os custos e despesas, possibilitando que
seja visualizada a capacidade de geração de caixa da organização.

TEMA 5 – ENFOQUES PRESCRITIVO E DESCRITIVO

Com o estabelecimento da contabilidade como ciência, no decorrer do


século XX ela se desenvolveu como disciplina acadêmica, levando a maior parte
das grandes universidades do mundo a possuírem programas de pesquisa na

18
área contábil. “A prática contábil é bastante anterior à atuação acadêmica, de
forma que se pode estabelecer claramente uma disciplina das ciências sociais
que nasceu das demandas e anseios dos agentes operando em sociedade”
(Lopes; Martins, 2007, p. 3).

Figura 6 – Principais órgãos que operam em sociedade regulando a


contabilidade

De acordo com Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), a metodologia


científica é a disciplina que instrumentaliza o processo de conhecimento
científico, visando gerar caminhos que aperfeiçoem a civilização humana. A
construção de conhecimento inicia com os métodos que proporcionam bases
lógicas para a investigação. No caso da contabilidade, trabalharemos com os
métodos indutivo e dedutivo.

5.1 Métodos que proporcionam bases lógicas para a investigação

De acordo com Gil (2008, p. 28) os métodos que proporcionam bases


lógicas para a investigação “esclarecem acerca dos procedimentos lógicos que
deverão ser seguidos no processo de investigação científica dos fatos da
natureza e da sociedade”. Segundo o autor, esses métodos “possibilitam ao
pesquisador decidir acerca do alcance de sua investigação, das regras de
explicação dos fatos e da validade de suas generalizações”.
Os métodos esclarecem os procedimentos lógicos a serem seguidos no
processo de investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade.
Um item que deve ser considerado nas pesquisas científicas e que
proporciona base lógica para a investigação é o argumento. Conforme exposto
por Cooper e Schindler (2014, p. 66) “o argumento nos permite explicar,

19
interpretar, defender, desafiar e explorar o significado. Dois tipos de argumentos
de grande importância para a pesquisa são a dedução e a indução”.

5.1.1 Método dedutivo

De acordo com Gil (2008), o método dedutivo começa do geral e desce


ao particular, partindo de princípios reconhecidos como verdadeiros e
indiscutíveis e possibilitando que se chegue a conclusões de maneira puramente
formal, isto é, em virtude unicamente de sua lógica. Segundo o autor, esse é o
método proposto pelos racionalistas, segundo os quais apenas a razão é capaz
de levar ao conhecimento verdadeiro, que decorre de princípios a priori evidentes
e irrecusáveis.
A aplicação desse método em contabilidade, de acordo com Iudícibus
(2006), dá-se pelo processo de iniciar com objetivos e postulados para extrair
princípios lógicos que proveem as bases para aplicações práticas e concretas.
O método dedutivo é mais utilizado por pesquisadores normativistas.

5.1.2 Método indutivo

O raciocínio indutivo é um processo mental no qual o pesquisador parte


de dados particulares constatados e infere uma verdade geral ou universal
(Markoni; Lakatos, 2003). Complementarmente, Gil (2008, p. 10) afirma que
indutivo é o método proposto pelos empiristas, os quais acreditam na formação
do conhecimento a partir das experiências humanas, desconsiderando muitas
vezes normas e princípios estabelecidos. Esse tipo de pesquisador adota em
suas pesquisas, geralmente, o enfoque positivista, o qual é relacionado aos
acontecimentos do mundo real.
Assim, com base nesses dois métodos, temos as duas abordagens
utilizadas em pesquisas científicas na contabilidade, o enfoque prescritivo e o
enfoque descritivo.

5.2 Enfoque prescritivo

Segundo Ribeiro Filho, Lopes e Pederneiras (2009), o universo de


conhecimento que temos hoje em contabilidade – estrutura conceitual, normas
e procedimentos, modelos de demonstrações, modelos de atuação da auditoria

20
e perícia contábil, modelos de livros contábeis, técnicas de escrituração etc. –
são frutos da aplicação do método prescritivo (normativo) em contabilidade.
De acordo com Iudicibus (2006), a teoria normativa se apoia no
dedutivismo, e de forma prescritiva ela demonstra como a contabilidade deveria
ser à luz dos postulados contábeis, que são dados indiscutíveis. Nesse sentido,
a teoria normativa impõe o que deve ser feito, fundamentada nos objetivos e
postulados da contabilidade.
O processo normativo implica criatividade. Nesse entendimento, Ribeiro
Filho, Lopes e Pederneiras (2009) assumem que a criatividade é de suma
importância na adoção do processo normativo, pois diz respeito ao ato de instituir
ou estabelecer uma representação, modelo ou protótipo que traduza uma
possibilidade de adoção prática no campo de atuação da contabilidade.
Dessa forma, pesquisas em contabilidade utilizando o enfoque prescritivo
dizem respeito à criação de novos procedimentos, ou mesmo o aperfeiçoamento
dos já existentes, para que se busque melhorar cada vez mais a ciência contábil.
Dessa forma, o normativismo estaria elaborando novas normas, padrões e
procedimentos, considerando a existência de objetivos e postulados, adotados
e impostos pelos órgãos que regulamentam a contabilidade.

5.3 Enfoque descritivo

O enfoque descritivo (positivo) tem essência empírica. Nele, a pesquisa


se inicia com uma dúvida sistemática em torno de determinado objeto. Para
responder a essa dúvida, são elaboradas hipóteses e estas são submetidas a
testes empíricos e estatísticos, o que leva a comprová-las ou refutá-las (Ribeiro
Filho; Lopes; Pederneiras, 2009).
De acordo com Lopes e Martins (2007), a tradição normativa começou a
ser substituída pela abordagem da informação no século XX, influenciada por
teorias empíricas. Isso representou uma revolução nas pesquisas em ciências
contábeis, rompendo a visão da contabilidade como mensuração e inaugurando
o estudo desta como informação disponível ao usuário.
Assim, os dois enfoques vão para lados opostos. Enquanto o enfoque
prescritivo busca o desenvolvimento de técnicas de mensuração, o descritivo
busca verificar o impacto da informação contábil nos usuários dessa informação.

21
TROCANDO IDEIAS

A contabilidade evoluiu ao mesmo passo que a sociedade evoluía. Dessa


forma, até chegar ao patamar em que se encontra hoje, a contabilidade passou
por quatro fases, cada uma marcada por transformações importantes.
Nesse sentido, no contexto atual, numa era globalizada e dominada pela
tecnologia, qual será a próxima fase evolutiva da contabilidade? Quais
tendências relacionadas à sociedade atual você acredita que possam ser
indícios de uma nova fase da contabilidade? Entre no fórum e debata o assunto
com os colegas.

NA PRÁTICA

Responda às questões a seguir (as respostas estão ao final deste


documento).

1. A contabilidade, desde sua origem, passou por várias fases evolutivas, as


quais acompanham a própria evolução das civilizações. Sobre essas fases,
assinale a alternativa falsa.

a. O primeiro período das fases da contabilidade inicia nos primórdios da


civilização, quando o homem começou a desenvolver o raciocínio e iniciou o
processo de controle de seus bens.
b. O inventário do homem primitivo funcionava basicamente com um desenho
do animal e riscos que representavam a quantidade.
c. Em 1494, Leonardo Fibonacci lança o livro Summa de aritmetica, geometria,
proportioni et proportionalita (conhecimentos de aritmética, geometria,
proporção e proporcionalidade).
d. Com a expansão do comércio marítimo, as partidas dobradas passaram a ser
conhecidas também em outros continentes.
e. A fase científica da contabilidade iniciou-se com a obra de Francesco Villa e
permanece até os dias atuais.

2. A evolução das sociedades transforma o ambiente no qual estão inseridas e


possibilita o surgimento de ciências que visam explicar os fenômenos por trás
dessas transformações. Sobre a ciência contábil, analise as assertivas a
seguir:

I. A contabilidade é uma ciência exata.


22
II. A contabilidade é conhecida como a linguagem dos negócios.
III. O objetivo da contabilidade é fornecer informações úteis aos usuários
tomadores de decisão.
IV. O objeto da contabilidade é o lucro da entidade.
V. O patrimônio de uma entidade é o seu conjunto de bens, direitos e
obrigações.

Assinale a alternativa correta:

a. Estão corretas somente as assertivas I, II e III.


b. Estão corretas somente as assertivas I, II e IV.
c. Estão corretas somente as assertivas II, III e IV.
d. Estão corretas somente as assertivas II, III e V.
e. Estão corretas todas as assertivas.

3. O desenvolvimento e aperfeiçoamento de técnicas voltadas para a


escrituração de eventos econômicos deu origem às escolas de contabilidade.
Assinale a alternativa que corresponde à primeira corrente do pensamento
contábil da escola italiana, que surgiu dos estudos feitos pelos primeiros
expositores do método das partidas dobradas.

a. Escola patrimonialista;
b. Escola aziendalista;
c. Escola controlista;
d. Escola personalista;
e. Escola contista.

4. O sistema de informação contábil é o meio utilizado para efetivar a


contabilidade e a informação contábil dentro da organização, preocupando-se
em disponibilizar informações úteis para a tomada de decisões para todos os
usuários que possuem interesse na entidade em questão. Sobre as
informações patrimoniais, assinale a alternativa falsa.

a. As contas patrimoniais dizem respeito ao conjunto de bens, direitos e


obrigações.
b. As informações sobre a posição patrimonial da entidade são extraídas da
Demonstração do Resultado do Exercício.
c. As obrigações podem ser divididas em duas partes: capital de terceiros e
capital próprio.

23
d. A conta de capital próprio é representada pelo patrimônio líquido da empresa.
e. O conjunto de bens e direitos forma o ativo da empresa.

5. Sobre as abordagens positiva e normativa, leia o trecho a seguir:


“Assim, talvez chegada a hora de pensar numa convivência mais produtiva: aceitar que alguns
pensam, criam, mas não são (tão) capazes de provar e comprovar. Outros, pelo contrário, são
adeptos dos “laboratórios” e têm habilidade e capacidade para essas verificações empíricas,
porém podem ser um tanto quanto estéreis como criadores. Quem sabe ainda tenhamos mais
pesquisas e provas por parte dos Positivistas do que os usuários de fato precisam e querem (na
Contabilidade Financeira – Geral – e na Gerencial), e com isso consigamos direcionar a mente
e a criatividade dos pesquisadores Normativistas para produzirem essas respostas, a serem
testadas pelos Positivistas, que gerarão novas demandas para os Normativistas etc. Que belo
círculo virtuoso corremos o risco de ter!” (MARTINS, E. Normativismo e/ou positivismo em
contabilidade: qual o futuro? R. Cont. Fin., USP, São Paulo, n. 39, p. 3-6, set./dez. 2005).

Explique qual a mensagem transmitida pelo autor a respeito do texto.

FINALIZANDO

Nesta aula aprendemos sobre a história da contabilidade, como ela surgiu


e se desenvolveu, suas primeiras escolas, quais informações fornece aos
usuários e também como são feitas as pesquisas na área contábil. Os temas
abordados foram:

1. Conceito, objeto e objetivo da contabilidade;


2. Origem e evolução da contabilidade;
3. Escolas da contabilidade;
4. Tipos de informações: patrimoniais, financeiras e econômicas;
5. Enfoques prescritivo e descritivo.

24
REFERÊNCIAS

BRASIL. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. Resolução n. 774, de 16 de


dezembro de 1994. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 18 jan. 1995.

COELHO, C. U. F.; LINS, L. dos S. Teoria da contabilidade: abordagem


contextual, histórica e gerencial. São Paulo: Atlas, 2010.

CRC-SP – Conselho Regional de Contabilidade do Estado de São Paulo.


Caduceu – profissão contábil. Disponível em:
<http://www.crcsp.org.br/portal/profissao/caduceu.htm>. Acesso em: 18 maio
2019.

COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Business Research Methods. 12. ed.


Nova York: McGraw-Hill, 2014.

CREPALDI, S. A. Curso básico de contabilidade: resumo da teoria, atendendo


às novas demandas da gestão empresarial, exercícios e questões com
resposta. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

FAVERO, H. L. et al. Contabilidade: teoria e prática. 6. ed. São Paulo: Atlas,


2011.

FERRARI, E. L. Contabilidade geral: teoria e mais de 1.000 questões. 13. ed.


Niterói, RJ: Impetus, 2013.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas,


2008.

GRECO, A. L.; GÄRTNER, G.; AREND, L. R. Contabilidade: teoria e prática


básicas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

HENDRIKSEN, E. S; BREDA, M. F. V. Teoria da contabilidade. 1. ed. São


Paulo: Atlas, 2007.

HOSS, O. Contabilidade intermediária: ensino e decisão. São Paulo: Atlas,


2013.

IUDÍCIBUS, S. de. Teoria da contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

IUDÍCIBUS, S. de; MARION, J. C. Introdução à teoria da contabilidade: para


nível de graduação. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

LOPES, A. B.; MARTINS, E. Teoria da contabilidade: uma nova abordagem. 1.


ed. São Paulo: Atlas, 2007.
25
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia
científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MARION, J. C. Contabilidade empresarial. 12. ed. São Paulo: Atlas, 2006.

_____. Introdução à contabilidade: com ênfase em teoria. Campinas, SP:


Alínea, 2009.

PADOVEZE, C. L. Sistemas de informações contábeis: fundamentos e


análise. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2007.

RIBEIRO FILHO, J. F.; LOPES, J.; PEDERNEIRAS, M. (Org.). Estudando teoria


da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009.

SÁ, A. L. de. Teoria da contabilidade. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1999.

26
RESPOSTAS

1. Letra C. Em 1494, O frei Luca Pacioli lançou o livro Summa de aritmetica,


geometria, Proportioni et proportionalita.
2. Letra D.
I. A contabilidade é uma ciência social.
IV. O objeto da contabilidade é o patrimônio da entidade.
3. Letra E. A escola contista foi a primeira corrente do pensamento contábil da
escola italiana, que surgiu dos estudos feitos pelos primeiros expositores do
método das partidas dobradas.
4. Letra B. As informações sobre a posição patrimonial da entidade são
extraídas do balanço patrimonial.
5. O texto é uma reflexão a respeito dos conflitos existentes entre os adeptos
das abordagens positivista e normativista. Faz refletir sobre a importância da
harmonia entre eles, pois ambos são necessários para a pesquisa científica
na área contábil. Os normativistas criam normas e práticas para a mensuração
e registro dos eventos econômicos, e os positivistas testam como a utilização
dessas práticas reflete no mundo dos negócios, ou seja, como elas são vistas
pelos usuários da informação contábil. As duas abordagens deveriam
trabalhar juntas, chegando ao que o autor chama de “círculo virtuoso”.

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