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LEITURA COMPLEMENTAR – CONTEXTUALIZAÇÃO PANORAMA CONCEITUAL E

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HISTÓRICO

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Contabilidade: panorama conceitual e histórico

Pode-se dizer que a Contabilidade faz parte da história do homem desde


o surgimento da escrita. Recentes trabalhos arqueológicos encontraram
vestígios da utilização de sistemas contábeis na pré-história, durante o período
mesolítico. Também na Bíblia, em seu primeiro livro, Gênesis, encontramos
passagens que demonstram que a Contabilidade já existia desde o primitivismo
dos povos, ainda que os conhecimentos da matemática, das letras, dos negócios
e até mesmo de patrimônio fossem limitados. (IUDÍCIBUS; MARION, 2006, p.
33).
“O desenvolvimento da metalurgia, a criação dos primeiros povoados, a
aceleração do comércio, ocorrida entre os anos 8 mil e 4 mil a.C., representou a
marcha decisiva para que a Contabilidade encontrasse o caminho da
sistematização”, já que a formação das primeiras empresas foi algo decisivo para
que há cerca de 6 mil anos ocorresse a necessidade de informes contábeis
aprimorados. (LOPES DE SÁ, 2006, p. 34).
Entretanto, o marco principal na evolução do pensamento contábil deu-se
na Itália no século XIV, pelos trabalhos do frade franciscano Luca Pacioli, que
desenvolveu o primeiro sistema completo de escrituração por partidas dobradas,
conhecido por tratado sobre Contabilidade, na qual foi extraído da obra intitulada
Súmula de Aritmética, Geometria, Proporções e Proporcionalidade (Summa). O
primeiro livro impresso que trata de assuntos matemáticos e contábeis,
publicado em duas edições, a primeira em 1494 e a segunda em 1523. Luca
Pacioli foi considerado, desde então, o codificador da ciência contábil. (LOPES
DE SÁ, 2006, p. 106-107).
No Brasil, o primeiro trabalho de cunho exclusivamente contábil,
organizado e expositivo foi o manuscrito denominado Erário Régio, de 1768, da
autoria de Francisco Antônio, surgido em Vila Rica, Minas Gerais, elaborado para
analisar as finanças públicas na província mineira.
Já a primeira escola de Contabilidade brasileira surgiu em 1902, na cidade
de São Paulo, a Escola de Comércio Álvares Penteado, a princípio com uma
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configuração mais européia. Mas foi a partir de 1976, após a publicação da Lei
6.404/76, que a Contabilidade no Brasil passou a adquirir uma filosofia
nitidamente norte-americana e que é utilizada até os dias atuais. (MARION,
2006, p.31).
Como parte das ciências sociais, a Contabilidade estuda o
comportamento das riquezas que se integram ao patrimônio em face das ações
humanas. Ela tem como objeto de estudo o patrimônio, e sua finalidade é, pois,
assegurar seu controle, fornecendo a seus administradores informações e
orientações necessárias à ação administrativa, bem como a seus titulares e
demais pessoas a eles relacionadas, as informações e interpretações sobre o
estado patrimonial e as ações desenvolvidas para alcançar seus fins.

Para o alcance dessa finalidade, faz-se necessário o emprego de


técnicas, princípios, postulados e convenções da Ciência Contábil, que
estão devidamente codificados nos registros dos fatos, e na
escrituração contábil, pela demonstração expositiva desses fatos por
meio das demonstrações contábeis, e pela análise, comparação e
interpretação dessas demonstrações. (FRANCO, 1996, p. 20).

Nesse contexto, pelas bibliografias pesquisadas podemos dizer que


Contabilidade é:

A ciência que estuda os fenômenos ocorridos no patrimônio das


entidades, mediante o registro, a classificação, a demonstração
expositiva, a análise e a interpretação desses fatos, com o fim de
oferecer informações e orientação – necessários à tomada de decisões
– sobre a composição do patrimônio, suas variações e o resultado
econômico decorrente da gestão da riqueza patrimonial. (FRANCO,
1996, p. 21).

Sendo assim, a Contabilidade pode ser considerada como sistema de


informação destinado a prover seus usuários de dados para ajudá-los a tomar
decisão. (MARION, 2006, p. 25). Em outras palavras, pode-se dizer que a
Contabilidade é uma fonte de dados úteis para a tomada de decisões dentro e
fora das organizações, tornando-se o instrumento que coleta dados financeiros
e econômicos que são úteis a diversos usuários.
O resultado final que se espera dos processos de escrituração contábil
são seus relatórios, tais como Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado,
Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido, Fluxos de Caixa, dentre
outros. O artigo 176 da Lei 6.404/76 classifica como obrigatórias as seguintes
demonstrações financeiras:
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Ao fim de cada exercício social, a diretoria fará elaborar, com base na


escrituração mercantil da companhia, as seguintes demonstrações
financeiras, que deverão exprimir com clareza a situação do patrimônio
da companhia e as mutações ocorridas no exercício:
I - balanço patrimonial;
II - demonstração dos lucros ou prejuízos acumulados;
III - demonstração do resultado do exercício; e
IV – demonstração dos fluxos de caixa; e (Redação dada pela Lei nº
11.638,de 2007)
V – se companhia aberta, demonstração do valor adicionado. (Incluído
pela Lei nº 11.638,de 2007)
§ 1º As demonstrações de cada exercício serão publicadas com a
indicação dos valores correspondentes das demonstrações do
exercício anterior.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), por meio da Deliberação CVM


nº 539, de 14 de março de 2008, definiu que os objetivos desses demonstrativos
são: fornecer informações sobre a posição patrimonial e financeira, o
desempenho e as mudanças na posição financeira da entidade, que sejam úteis
a um grande número de usuários em suas avaliações e tomadas de decisão
econômica. (CVM, 2008).
Essas demonstrações contábeis satisfazem as necessidades comuns da
maioria dos seus usuários, uma vez que quase todos eles utilizam essas
demonstrações contábeis para a tomada de decisões econômicas, tais como: (a)
decidir quando comprar, manter ou vender um investimento em ações; (b) avaliar
a Administração quanto à responsabilidade que lhe tenha sido conferida,
qualidade de seu desempenho e prestação de contas; (c) avaliar a capacidade
da entidade de pagar seus empregados e proporcionar-lhes outros benefícios;
(d) avaliar a segurança quanto à recuperação dos recursos financeiros
emprestados à entidade; (e) determinar políticas tributárias; (f) determinar a
distribuição de lucros e dividendos; (g) preparar e usar estatísticas da renda
nacional; ou regulamentar as atividades das entidades. (CVM, 2008).
Sendo assim, as informações contábeis são utilizadas por uma vasta
gama de pessoas e entidades com as mais variadas finalidades, como por
exemplo, os eventuais compradores de ações ou debêntures da entidade (se for
de capital aberto) procuram extrair informações para sua decisão sobre se vale
a pena ou não investir na empresa; além dos bancos e financiadores que estão
interessados em avaliar se a entidade oferece perspectivas de retorno para seus
empréstimos e financiamentos; além do governo, dos empregados, dos
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macroeconomistas e analistas financeiros, porém ninguém estará tão vitalmente


interessado quanto o tomador de decisão interno à entidade.
Iudícibus e Marion (2006, p. 54-55) consideram que para o administrador
e tomador de decisão a informação contábil estruturada, fidedigna, tempestiva e
completa pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso das organizações.
Verifica-se que a evolução da Contabilidade se deu gradativamente,
assim como a própria história da vida do homem, sendo impulsionada, sobretudo
pelo crescimento do capitalismo no final da Idade Média.
“A busca da universalidade, realidade dos acontecimentos, essência,
relações entre fatos que permitem conclusões sobre a freqüência e intimidade
dos acontecimentos” fizeram com que a as Teorias Contábeis, a partir do século
XVIII, se estruturassem como ciência. Surgindo desde então a Contabilidade
Geral, voltada para o estudo dos movimentos e da transformação das riquezas.
(LOPES DE SÁ, 2006, p. 146).
Para Iudícibus e Marion (2006, p. 35) a Contabilidade não é uma ciência
exata e sim social, pois é a ação humana que gera e modifica o fenômeno
patrimonial. Todavia, a Contabilidade utiliza métodos quantitativos (matemática
e estatística) como sua principal ferramenta.
Atualmente a Contabilidade está inserida em um cenário moderno e
altamente mutativo, sendo considerada uma das áreas que mais proporcionam
oportunidades de trabalho para o profissional contador ou contabilista. Na
qualidade de ciência social aplicada, ela possui metodologia especialmente
concebida para captar, registrar, acumular, resumir e interpretar os fenômenos
que afetam as situações patrimoniais, financeiras e econômicas de qualquer
ente jurídico, seja público ou privado. (IUDÍCIBUS et al, 2006).

2.2 Ramos da Contabilidade

Iudícibus e outros (2006, p. 21-28) salientam que alguns autores chegam


a distinguir dois grandes ramos ou ênfases pelos quais a Contabilidade pode
desempenhar seu papel informativo: a Contabilidade Financeira e a
Contabilidade Gerencial. (IUDÍCIBUS et al, 2006).
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Segundo Marion (2006, p. 27), Contabilidade Financeira é a contabilidade


geral, necessária a todas as empresas. Fornece informações básicas a seus
usuários e é obrigatória para fins fiscais. Seus relatórios finais básicos são: o
balanço patrimonial, a demonstração de resultados, a demonstração dos fluxos
de caixa e a demonstração das mutações do patrimônio líquido. (MARION,
2006).
Ainda segundo ele, a Contabilidade Financeira (também conhecida por
Contabilidade Societária), de acordo com a área ou a atividade em que é
aplicada, recebe várias denominações: Contabilidade Agrícola (aplicada às
empresas agrícolas); Contabilidade Bancária (aplicada aos bancos);
Contabilidade Pública, Contabilidade Industrial, Contabilidade Imobiliária, dentre
outras.
Para Carvalho, Costa e Lemes (2008, p. 9), Contabilidade Societária ou
Financeira é a janela da empresa para o mundo, principalmente para acionistas
e credores. É o meio de comunicação por excelência não apenas do
desempenho pretérito, mas, mais ainda, do que se espera de fluxos de caixa
futuros decorrentes do desempenho passado.
Já a Contabilidade Gerencial para Marion (2006) está mais voltada para
fins internos, procura suprir os gerentes de um elenco maior de informações,
exclusivamente para a tomada de decisões.
Existe ainda mais um ramo da Contabilidade, a Contabilidade de Custos,
considerada por Iudícibus e outros (2006) como parte da Contabilidade
Financeira, pois ambas são analíticas e visam mais ao atendimento das
administrações das empresas. Entretanto, encontramos em Marion (2006) uma
discordância nesse ponto, para ele a Contabilidade de Custos está voltada para
o cálculo e a interpretação dos custos dos bens fabricados ou comercializados,
ou dos serviços prestados pela empresa, mas separada da Contabilidade
Financeira.
Não obstante, Iudícibus e outros (2006) ressaltam que muitos
desenvolvimentos teóricos têm ocorrido ultimamente, principalmente no que diz
respeito ao estudo e desenvolvimento das Normas Internacionais de
Contabilidade, às pesquisas empíricas que visam aferir a utilidade das
informações contábeis e ao desenvolvimento de novas teorias.
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Por volta do século XIX e começo do XX, as técnicas e modelos de gestão


de negócios ficaram bem mais evoluídos, fazendo com que o campo específico
de finanças e contabilidade se desenvolvesse e se separasse um pouco dos
segmentos da Contabilidade Financeira ou Societária, da Contabilidade de
Custos e da Contabilidade Gerencial, motivado pela abertura de mercados e a
busca pelas empresas pela captação de recursos em bolsas de valores como
alternativa ou complemento de crédito para expansão das empresas, fazendo
com que emergisse outro ramo da Contabilidade: a Contabilidade Internacional
(Carvalho; Costa; Lemes, 2008, p. 12).
Para Carvalho, Costa e Lemes (2008), a Contabilidade Internacional
surgiu para minorar as agruras de quem quer investir fora de seu país e até hoje
tinha que manusear balanços em dezenas de normas contábeis distintas,
tentando compatibilizá-las para comparar. Portanto, para eles, ela se justifica
como contribuição de uma categoria profissional ao desenvolvimento econômico
das nações.
O surgimento da Contabilidade Internacional foi motivado, principalmente,
pela crise de 29 e o crash da Bolsa de New York, motivando, naquele país, a
aprovação de um novo estatuto de Lei das Sociedades Anônimas que
disciplinasse de maneira mais eficaz as relações entre os acionistas das
Companhias. Além disso, um dos fatores apontados como motivadores da crise
norte-americana era que faltava uma agência reguladora do mercado de
capitais, o que fez nascer a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC),
em cujo modelo o Brasil se inspirou para criar em 1976 a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).
Entretanto, foi, sobretudo, pelas demonstrações financeiras daquela
época, por meio das quais os investidores se baseavam para tomar decisões, a
causa de tamanha crise, visto que essas demonstrações eram “desinformativas”.
Para Carvalho, Costa e Lemes (2008) não havia um conjunto inteligente e
sensato de normas contábeis que orientasse a preparação de tais
demonstrações, e em conseqüência as análises de balanços levaram a crassos
erros na tomada de decisões econômicas.
Para resolver estes problemas o governo americano criou uma entidade
de cunho privado, denominada Junta de Normas Contábeis (o Accounting
Principles Board – APB) com o objetivo de produzir as normas contábeis, bem
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como regulamentar os profissionais de contabilidade, finanças, auditoria e


mercado de capitais. No entanto, às autoridades ficava reservado o poder de
veto, e na ausência deste as normas expedidas pelo APB ganhavam o status de
“princípios contábeis norte-americanos geralmente aceitos”, os Generally
Accepted Accouting Principles (US GAAP).
Para Carvalho, Costa e Lemes (2008) a globalização são fluxos de
capitais, não apenas financeiros, mas humanos e de conhecimentos - ao redor
do planeta. Existem investidores avessos ao risco e investidores arrojados. Estes
buscam oportunidades de ganhos mais polpudos em prazos mais curtos e
aqueles menores riscos. No entanto, “ambos são protagonistas reais e presentes
no jogo econômico no mundo de hoje, e ambos têm seu espaço legítimo”.
Dessa forma, com a abertura dos mercados, a tendência é rumo à
harmonização internacional das normas contábeis. Assim, será possível aos
investidores terem informações baseados em critérios consistentes e universais,
facilitando a comparabilidade entre empresas e ativos e permitindo uma melhor
alocação de seu capital.
No entanto, a aprovação às chamadas normas internacionais de
contabilidade não é unânime, alguns autores como Lopes de Sá (2010, a)
criticam a falta de metodologia com que os procedimentos são elaborados pelo
IASB e traduzidos de forma acrítica pelo CPC e aprovados pela CVM. Para o
autor as ditas normas não seguem uma seqüência lógica e carecem de ordem
científica, de método, de organização, pois o conhecimento científico parte da
experiência, da análise, da ordem e da enumeração revisora.
Já as normas internacionais, para o mesmo autor, seguem,
aparentemente interesses particulares em detrimento aos interesses da
coletividade, e são editadas equivocadamente, sem didática, com má qualidade,
sem justificativas científicas e rigor nas doutrinas contábeis científicas.
O autor argumenta que em pesquisa feita pela Grant Thornton, forte
empresa internacional, mostrou que 90% das companhias nos Estados Unidos
dizem que nunca usaram os padrões denominados como contábeis
internacionais. Outro indicador demonstra que de uma amostra de 846 empresas
norte americanas, 40% não irão trocar o US GAAP pelo IFRS, e somente 7%
dos entrevistados manifestaram interesse em utilizá-lo, ou seja, as pesquisas
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demonstram que as companhias americanas não são favoráveis ao IFRS. (2010,


b)
Lopes de Sá citando Albrecht (2010, c), confirma por meio de pesquisa
que as IFRS estão sofrendo uma séria oposição nos Estados Unidos e na
Europa, especificamente pela Alemanha, França e Itália, países estes que
possuem peso na Comunidade Européia.
A base conceitual das normas internacionais IRFS são os princípios e o
privilégio da essência sobre a forma, ou melhor, a busca da essência econômica
do negócio sem se preocupar com a forma jurídica. Nesse sentido, Lopes de Sá
(2010, d) assevera que as “normas contábeis denominadas internacionais
adotando a prevalência sobre a forma, deixaram de lado a universalidade,
imergiram em alternativas, abandonaram critérios científicos e filosóficos,
desconheceram formalidades legais e com isso fugiram à realidade”.
Enfim, o entendimento da essência na sua forma subjetiva é empírico e
na ciência não há lugar para subjetivismos, pois que este enseja a
inobservâncias às leis, fraudes e maquiagens por parte das empresas aéticas.
(Lopes de Sá, 2010, c e e).
Lopes de Sá (2010, f), todavia, entende que é importante uma
demonstração contábil ser entendida em todas as nações, sem dificuldades, isto
é algo útil, mas para ele o que falta é a uniformização de conceitos e
procedimentos. Enfim, “em tese é aceitável a normatização em nível
internacional”, o que o autor questiona não é o aspecto universal requerido, mas
a forma como está sendo conduzida a questão.
No entanto, a convergência é algo irreversível, porque permitirá inserir as
práticas contábeis brasileiras ao contexto das melhores práticas de governança
corporativa, contribuindo para a maior transparência das informações das
empresas, aumentando sua exposição aos investidores internacionais e ao
mercado de um modo geral.
Vale destacar que, segundo Almeida e Braga (2008), a Lei 11.638/07, ao
possibilitar a convergência das normas brasileiras às internacionais, irá permitir,
no futuro, o benefício do acesso das empresas brasileiras a capitais externos a
um custo e a uma taxa de riscos menores.
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2.3 Normas contábeis: BR GAAP, US GAAP e IFRS

Nas normas brasileiras, as sociedades em geral são reguladas pelo novo


Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 e, também, pelas normas
de contabilidade emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade. Contudo, as
sociedades anônimas possuem regulamento específico denominado Lei das
Sociedades por Ações, nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (Fernandes;
Santos; Schmidt, 2007, p. 7).
À qual foi modificada recentemente pela Lei nº 11.638/07, que dentre
outras alterações, introduziu importantes modificações nas regras contábeis
brasileiras, sendo o seu principal objetivo a convergência aos pronunciamentos
internacionais de contabilidade, em especial os emitidos pelo IASB (International
Accounting Standards Board), por meio dos IFRS (Internacional Financial
Reporting Standards) e do IAS (Internacional Accounting Standards). (ALMEIDA;
BRAGA, 2008, p. 6).
Já as sociedades anônimas de capital aberto são regulamentadas além
da Lei 6.404/76 e das normas e resolução do CFC, mas, também, pela Comissão
de Valores Mobiliários (CVM). Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda,
criada em 1976, por meio da Lei nº 6.385/76, que, entre suas atribuições, tem
competência para disciplinar o funcionamento do mercado de valores mobiliários
e a atuação das companhias abertas, dos intermediários financeiros e dos
investidores, além de outros cuja atividade é relacionada a esse mercado.
A CVM tem poderes para emitir pareceres, instruções e deliberações,
regulamentando a matéria contábil para as sociedades abertas, no tocante a:
 Registro de companhias abertas;
 Registro de distribuição de valores mobiliários;
 Credenciamento de auditores independentes e administradores de
carteiras de valores mobiliários;
 Organização, funcionamento e operações das bolsas de valores;
 Negociação e intermediação no mercado de valores mobiliários;
 Administração de carteiras e custódia de valores mobiliários;
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 Suspensão ou cancelamento de registros, credenciamentos ou


autorizações;
 Suspensão da emissão, distribuição ou negociação de
determinado valor mobiliário ou decretação de recesso de bolsa de
valores.

Agora, além destas atribuições, caberá a CVM o poder/dever de emitir


normas para as companhias abertas em consonância com os padrões
internacionais adotados nos principais mercados de valores mobiliários, ou seja,
de acordo com as normas emitidas pelo IASB, que é considerado como a
referência internacional dos padrões de contabilidade. (Almeida; Braga apud
CVM, “Comunicado do Mercado”, de 14-1-2008).
Fernandes, Santos e Schmidt (2007), consideram que Generally Accepted
Accounting Principles (GAAP) são uma reação e um produto do ambiente
econômico no qual ele é desenvolvido. Por exemplo, um parecer de auditoria
expressa uma opinião sobre se as demonstrações financeiras se apresentam
verdadeiramente em conformidade com os princípios de contabilidade
geralmente aceitos e com a posição financeira e os resultados das operações de
uma entidade.
Dessa forma, os princípios contábeis são geralmente endereçados para
soluções que são objetivas, conservadoras e verificáveis, existindo duas grandes
categorias de princípios, reconhecimento e evidenciação. O reconhecimento
determina o momento e a mensuração de um item, referindo-se a padrões
quantitativos os quais requerem que a informação econômica seja refletida
numericamente. Já a evidenciação lida com fatores que nem sempre são
numéricos, mas que completam os princípios de reconhecimento por meio da
explicação das suposições subjacentes às informações numéricas fornecendo
outras informações sobre políticas contábeis, contingências, incertezas, dentre
outros.
Como mencionado, as normas contábeis brasileiras geralmente aceitas –
BR GAAP, são compostas pelas Leis 10.406/2002 e 6.404/76 e as modificações
introduzidas pela Lei 11.638/07, bem como pelas normas, regulamentos e
instruções expedidas pela CVM e pelo CFC. Para a normatização da nova Lei
11.638/07 serão necessários pronunciamentos de órgãos como o Comitê de
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Pronunciamentos Contábeis (CPC), às quais deverão ser aprovados pela CVM,


Banco Central do Brasil (BACEN), CFC, Superintendência de Seguros Privados
(SUSEP), dentre outros órgãos reguladores para que se tenha um conjunto de
regras homogêneas nos diversos setores. (FIPECAFI – SUPLEMENTO, 2008).
O Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) foi instalado no Brasil em
agosto de 2006, e é formado pelo Conselho Federal de Contabilidade, Bovespa,
Abrasca, Apimec, Fipecafi e Ibracon, com o objetivo de harmonizar normas
brasileiras e internacionais.
Para Fernandes, Santos e Schmidt (2007) aplicar GAAP significa
preocupar-se com a mensuração das atividades econômicas, com o momento
na qual elas se aplicam e com a evidenciação destas atividades resumidas na
forma de demonstrações financeiras. Assim, um GAAP por ser promulgado por
meio de um pronunciamento emitido por uma corporação com poderes para criá-
lo, quanto pelo seu desenvolvimento ao longo do tempo quando uma corporação
autorizada falha na resposta a estas questões.
Segundo Carvalho, Lemes e Costa (2008, p. 15), em 1973 os americanos
dos Estados Unidos entenderam que o modelo de traçar normas contábeis pelo
mecanismo de profissionais de mercado pelo Accounting Principles Board (APB)
havia se exaurido, por isso criaram um modelo mais ousado, de uma instituição
sem fins lucrativos, privada, total e exclusivamente voltada para elaborar normas
contábeis, criou-se então a Junta de Normas de Contabilidade Financeira, o
Financial Accouting Standards Board (FASB).
O FASB foi criado em 1974, e é a organização designada para estabelecer
os padrões de contabilidade financeira e de elaboração das demonstrações
financeiras para as empresas do setor privado dos Estados Unidos, cujos
procedimentos são denominados de US GAAP (United States Generally
Accepted Accounting Principles). (LOUREIRO JÚNIOR; DIAS, 2005)
A edição de normas pelo FASB para a elaboração das demonstrações
financeiras é autorizada e reconhecida oficialmente pelo Securities and
Exchange Commission (SEC), organismo do governo americano responsável
pela proteção dos investidores e manutenção da integridade do mercado. Estas
normas são consideradas pelo SEC como essenciais para o eficiente
funcionamento da economia porque os investidores, credores, auditores e outras
partes interessadas necessitam que as informações possuam credibilidade,
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transparência e comparabilidade. Ainda segundo Carvalho, Lemes e Costa


(2008, p. 16), as demais economias desenvolvidas reagiram, preocupadas com
o que poderia ser mais um sinal de hegemonia dos americanos dos Estados
Unidos nos negócios mundiais, já que estes preparavam para construir um
robusto conjunto de normas contábeis, pelo US GAAP.
Tal reação se deu criando outro órgão responsável pela elaboração das
normas internacionais de contabilidade, o International Accouting Standards
Board (IASB), entidade sem fins lucrativos sediada em Londres, responsável
pela padronização das normas contábeis cujos procedimentos são
demonimandos de IFRS (Standard International Financial Reporting). O IASB foi
criado em 1º de abril de 2001 para promover ajustes nas normas contábeis
internacionais elaboradas pelo seu precedente, o International Accounting
Standards (IASC), denominadas de IAS (International Accounting Standard).
(LOUREIRO JÚNIOR; DIAS, 2005)
O IASC foi fundado como resultado do consenso entre um grupo
internacional de profissionais de contabilidade formado por representantes da
Austrália, Canadá, França, Alemanha, Japão, México, Holanda, Reino Unido,
Irlanda e Estados Unidos. Em 1981 o IASC e o IFAC acordaram que o IASC
assumiria completa autonomia sobre a elaboração e publicação das normas
internacionais de contabilidade.
Por fim, Carvalho, Lemes e Costa (2008) apud IASB (tradução livre do
documento Framework), definem que este órgão esclarece melhor do que
ninguém o sentido e objetivo das IFRS:
Demonstração financeiras são preparadas e apresentadas para
usuários externos por muitas entidades ao redor do mundo. Embora
tais demonstrações financeiras possam parecer semelhantes de país
para país, há diferenças que provavelmente foram causadas por uma
variedade de circunstâncias sociais, econômicas e legais e porque
diferentes países tiveram em mente as necessidades de diferentes
usuários ao definirem as normas nacionais. Estas diferentes
circunstâncias levaram a uma variedade de definições dos elementos
das demonstrações financeiras como, por exemplo, o que são ativos,
exigibilidades, patrimônio líquido, receitas e despesas. Tais diferentes
circunstâncias também resultaram no uso de distintos critérios para o
reconhecimento de itens nas demonstrações financeiras e em uma
preferência por diferentes bases de mensuração de tais itens O IASB
está comprometido em reduzir tais diferenças buscando harmonizar as
regulamentações, normas contábeis e procedimentos relativos a
preparação e apresentação das demonstrações financeiras. O IASB
acredita que maior harmonização pode ser objetivada focando-se nas
demonstrações financeiras que são preparadas para o propósito de
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prover informações úteis na tomada de decisões econômicas.(LEMES


E COSTA apud IASB, 2008, p.16)

Para estes autores essa é a razão de ser da Contabilidade Internacional.


(CARVALHO; COSTA; LEMES, 2008, p. 16).
Os modelos de demonstrações contábeis apresentadas pelas normas BR
GAAP, US GAAP e IFRS apresentam pontos de divergência que podem impactar
na apuração do resultado das entidades.
Futuramente no Brasil, o modelo adotado será o IFRS, visto que a CVM
pauta suas instruções pelos IFRS, justificando-se pelo fato de que estas normas
proporcionam um melhor retrato do estado econômico das companhias e têm
aceitação crescente em todo o mundo, incluindo o próprio estado americano. Em
2006, cerca de 100 países estavam usando IFRS como padrão exigido ou
permitido, número que deve crescer para 150 em cinco anos, entre eles o
Canadá e o Japão. (IBEF SP, 2008).
Desde 2006 o BACEN elabora suas próprias demonstrações pelos IFRS
e, pelo comunicado 14.259, de 10.03.06, ele determinou que a partir de 2010 as
demonstrações das instituições financeiras também sejam alinhadas aos
procedimentos do IASB.
Com a publicação da Lei 11.638/07, segundo reportagem da Gazeta
Mercantil publicada em 25 de junho de 2008 (TIBÚRCIO, 2008), a convergência
dos demonstrativos contábeis das empresas brasileiras para o IFRS pode ser
mais acentuado para as empresas do setor de construção civil. Isso porque, as
especificações do negócio de incorporação e a falta de regras atuais sobre
aspectos como contabilização de gastos com publicidade e propaganda e
reconhecimento de permutas terão impacto direto na receita, lucro e patrimônio
das companhias, e até mesmo na contabilização de stock options (opções de
ações).
Entretanto, para o Novo Mercado da BOVESPA as Companhias podem
elaborar suas demonstrações financeiras ou demonstrações consolidadas,
conforme previsto nos padrões internacionais IFRS ou US GAAP, desde que em
reais ou dólares americanos, divulgadas na íntegra no idioma inglês, ou seja, fica
a critério da entidade a escolha por uma ou outra norma internacional.
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Vale acrescentar, que segundo a Deloitte (2007), em outubro de 2002, o


Conselho de Normas de Contabilidade dos EUA (FASB) e o Conselho de
Normas Internacionais de Informações Financeiras (IASB), formalizaram o
compromisso com a convergência entre os princípios contábeis geralmente
aceitos nos Estados Unidos (US GAAP) e as Normas Internacionais (IFRS),
emitindo um protocolo de intenções nesse sentido.

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