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Perícia e Auditoria Contábil

Brasília-DF.
Elaboração

Ana Maria da Paixão Duarte

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
ABORDAGEM CONCEITUAL.................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
FUNDAMENTOS TEÓRICOS........................................................................................................ 9

UNIDADE II
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE..................................................... 26

CAPÍTULO 1
PRERROGATIVAS PROFISSIONAIS DO CONTABILISTA.................................................................. 26

CAPÍTULO 2
NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE (NBC) PROFISSIONAIS............................................. 35

CAPÍTULO 3
CONDUTA ÉTICA PROFISSIONAL.............................................................................................. 59

UNIDADE III
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE.............................. 65

CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL-FINANCEIRA ÚTIL....................... 65

CAPÍTULO 2
PRINCÍPIOS DE CONTABILIDADE .............................................................................................. 70

CAPÍTULO 3
NORMAS BRASILEIRAS DE CONTABILIDADE (NBC) TÉCNICAS..................................................... 74

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 89

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 91
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução

A atividade de perícia e auditoria contábil é desafiadora para o profissional


da contabilidade no mundo dos negócios globalizados marcado pelas novas
tecnologias. Há necessidade de conhecimento teórico e prático profundo,
cumprimento de várias legislações, bem como de uma conduta ética ilibada
capaz de lidar com interesses relativos às questões de riqueza patrimonial.

Embora a atividade de perícia e de auditoria contábil, na teoria, possuam


normas e procedimentos técnicos-científicos específicos, que serão estudados
nesta disciplina, na prática, elas possam utilizar o mesmo objeto de estudo – as
demonstrações contábeis – mas os seus resultados finais têm objetivos distintos.

O curso requer do profissional da contabilidade pós-graduando, grande


empenho e dedicação no que diz respeito a sua formação continuada. O
caderno de estudos e pesquisa é tão somente um guia para o aluno, portanto,
é altamente recomendado, buscar outras fontes para o aprofundamento do
tema e, ao mesmo tempo, aproveitar a oportunidade para interagir discussões
com profissionais que atuam como contador nas especialidades de perícia e
auditoria contábil, a fim de complementar os estudos.

Objetivos
» Agregar conhecimentos ao profissional para distinguir as
atividades de perícia e auditoria contábil.

» Apresentar as normas mais importantes relativas ao profissional


da contabilidade.

» Discorrer sobre normas específicas relativas aos procedimentos


técnicos-científicos de perícia e auditoria contábil.

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ABORDAGEM UNIDADE I
CONCEITUAL

CAPÍTULO 1
Fundamentos teóricos

No capítulo 1, você vai ter a oportunidade de conhecer a origem e o conceito de


auditoria, a distinção entre auditoria interna e auditoria externa, as principais
modalidades de auditoria, o controle interno e a distinção entre auditoria e
perícia.

Origem e conceito de auditoria


A origem da auditoria está relacionada com a necessidade, dos proprietários
e dos investidores, de confirmar a veracidade das informações contidas nas
demonstrações contábeis. Há evidências de que a auditoria remonta aos
4.500 anos antes de Cristo. Essa realidade foi observada por meio de estudos
arqueológicos realizados sobre registros da família real de Urikagina e do
templo sacerdotal sumeriano (SÁ, 1998).

“Acredita-se, todavia, que o termo auditar, evidenciando o título de quem


pratica esta técnica, tenha surgido nos fins do século XIII na Inglaterra,
durante o reinado de Eduardo I” (CREPALDI, 2013, p. 260).

Durante a Idade Média e após o Renascimento, a auditoria encontrou força no


ambiente fértil possibilitado pela Inglaterra mercantilista. A Inglaterra foi o
país europeu que concentrou e controlou as rotas marítimas de comércio. Esse
ambiente favoreceu o crescimento de empresas, a expansão dos mercados e o
florescimento do sistema de impostos sobre o lucro dessas empresas, fazendo
com que outros investidores fossem levados em consideração, além dos
proprietários das corporações. Além destas questões, teve ainda a necessidade
de financiamento e a formação do mercado de capital impulsionando
a necessidade de demonstrações contábeis confirmadas pela auditoria
(IBRACON, 2006).

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UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

Como se observa, diante da multiplicidade de relações entre as grandes corporações


e a consequente complexidade gerada na contabilidade, fez com que ela se
especializasse e criasse a disciplina denominada de auditoria. Mesmo que essa
especialidade já existisse em séculos passados, de maneira mais rudimentar, a
auditoria, assim como a contabilidade, estão relacionadas com a propagação do
mercado, com o volume de negócios nas grandes corporações e a necessidade de
informação e de confirmação da realidade econômico-financeira revelada nas
demonstrações contábeis das empresas. Inclusive com o surgimento de associações
profissionais com a missão de executar as funções de auditoria, a exemplo dos
Conselhos Londrinos, do Tribunal de Contas em Paris, entre outros.

Em outras palavras, a partir do momento em que, a economia da Inglaterra


transformou-se na grande potência – o berço da Revolução Industrial –
(IBRACON, 2006), o crescimento das corporações e a expansão das atividades
produtoras tiveram progressos substanciais. Esse ambiente ficou muito mais
complexo para a administração dos negócios e o acompanhamento das práticas
de contabilidade, não só pelos proprietários, mas também pelos investidores,
inclusive muitos deles a distância. Isso fez com que a auditoria fosse se tornando
cada vez mais requisitada para validar as demonstrações contábeis.

Nesse contexto, a auditoria se desenvolveu na Inglaterra e se expandiu para o


mundo, inclusive para o Brasil (CREPALDI, 2013). “Inicialmente com a construção
e administração de estradas de ferro e outros serviços de utilidade pública”
(IBRACON, 2006). À medida que o sistema capitalista foi se desenvolvendo, a
atividade contábil foi ficando mais complexa e consequentemente a atividade
da auditoria também, ainda que autônomas. Posteriormente, essa evolução
pode ser percebida no Brasil por meio do crescimento do mercado de capital,
instalações de filiais e subsidiárias de empresas estrangeiras e de empresas de
auditoria também estrangeiras.

Certamente, é que o exame do auditor chancela a qualidade e precisão da


informação contábil-financeira. Independente da origem do termo, quando se
observa a origem latina, o termo auditor se reporta a aquele que ouve. Quando
se observa a origem inglesa (Inglaterra), o termo audit se refere àquele que
examina. Destacando ainda o fato de que o termo auditor não se resume apenas
no exame da contabilidade, ele também se presta também para examinar
outras atividades similares. No entanto, nosso foco nesta disciplina é apenas
no desdobramento da auditoria enquanto surgida da contabilidade para a
contabilidade.

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ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

Com esse objetivo, foi retirado de uma matéria do Instituto dos Auditores
Independentes do Brasil (IBRACON, 2006) que, quando a contabilidade
passou a fazer parte dos estudos científicos em 1840; em seguida, o Railway
Companies Consolidation Act’ também passou a exigir a auditoria anual
dos balanços, em 1845. Daquele período aos dias atuais, elas progridem
paralelamente, mesmo com objetivos distintos.

Neste sentido, os autores Franco e Marra (2001), afirmam que embora a


contabilidade e a auditoria se apresentem com objetivos distintos, a auditoria
constitui uma parte da contabilidade. A auditoria representa a técnica por ela
utilizada para confirmar a veracidade dos registros contábeis, que é um meio
que a contabilidade utiliza para alcançar o seu fim.

Dessa forma, as tabelas 1 e 2, a seguir, apresentam uma cronologia dos principais


fatos que foram marcando a história da contabilidade e da auditoria, fornecendo
um sentido à aproximação entre as duas atividades. Disciplinas individuais
e autônomas quanto a sua fundamentação teórica, mas que na prática, uma
complementa a outra, do ponto de vista da autenticidade da informação gerada
pela contabilidade.

Tabela 1. Fatos que marcaram a história da contabilidade.

Datas Fatos
? Desconhecida a data do início da aplicação do método das partidas dobradas.
1202 Publicação do Liber acacci, de autoria de Fibonacci, expondo cálculos financeiros nas operações mercantis.
1494 Publicação da Summa/tractatus, de Frà Luca Paccioli. No tratado é apresentada a escrituração das contas mercantis pelo
método das partidas dobradas.
1840 Publicação de A contabilidade aplicada à administração e à administração privada, de Francesco Villa.
1840/1920 Evidencia a Escola Italiana de Contabilidade, iniciando o desenvolvimento da Teoria da Contabilidade, predominando as
discussões teóricas a respeito da disciplina.
1920 Predominância da Escola Anglo-americana de Contabilidade com o desenvolvimento da Contabilidade de Custos,
Contabilidade Gerencial, Análise de Balanços, Auditoria e outras especialidades.
1934 Predominância da Escola Americana de Contabilidade, que perdura até os tempos atuais.
Fonte: Attie (2009, p. 8).

Tabela 2. Fatos que marcaram a história da auditoria.

Datas Fatos
? Desconhecida a data de início da atividade de auditoria.
1314 Criação do cargo de auditor do tesouro na Inglaterra.
1559 Sistematização e estabelecimento da auditoria dos pagamentos a servidores públicos pela Rainha Elizabeth I.
1880 Criação da Associação dos Contadores Públicos Certificados (Institute of Chartered Accountants in England and Wales), na
Inglaterra.
1886 Criação da Associação dos Contadores Públicos Certificados, nos Estados Unidos.
1894 Criação do Instituto Holandês de Contadores Públicos.
1934 Criação do Security and Exchange Comission (SEC), nos Estados Unidos.
Fonte: Attie (2009, p. 8).

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UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

De acordo com Sandroni (2002, p. 35), a Auditoria:

É um exame analítico minucioso da contabilidade de uma empresa


ou instituição. A auditoria é realizada por peritos que analisam as
operações contábeis desde seu início até o balanço final, concluindo
pela correção ou incorreção das mesmas. Para isso, o auditor se
baseia: 1) nos procedimentos de controle interno da empresa; 2) nos
registros contábeis, de operações e outros; 3) em documentos de
fontes externas, tais como bancos e fornecedores.

Attie (2009, p. 5), declara que “a auditoria é uma especialização contábil voltada a
testar a eficiência e eficácia do controle patrimonial implantado com o objetivo de
expressar uma opinião sobre determinado dado”.

Crepaldi (2013, p. 3) define a Auditoria como:

[...] o levantamento, o estudo e a avaliação sistemática


das transações, procedimentos, operações e rotinas das
demonstrações financeiras de uma empresa. A auditoria das
demonstrações contábeis constitui o conjunto de procedimentos
técnicos que tem por objetivo a emissão de parecer sobre sua
adequação, consoante os Princípios de Contabilidade e pertinente
à legislação específica.

Saiba mais sobre “Origem e conceito de auditoria” no quadro 4 – Evolução


dos conceitos de auditoria”. Disponível no site: http://www.e.fernando.cse.
prof.ufsc.br/Auditoria_Contabil_Miolo_14_01_11.pdf.

Saiba mais sobre “Origem, evolução e desenvolvimento da auditoria”


no material de Crepaldi, Silvio Aparecido. Disponível no site: www.
classecontábil.com.br.

Saiba mais sobre a “Origem e conceito de auditoria” no artigo


publicado na Revista Contabilidade & Finanças, vol. 15 n o 35. São
Paulo May/Aug. 2004. Disponível no site http://www.scielo.br/scielo.
php?pid=S151970772004000200002&script=sci_arttext&tlng=pt.

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ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

Distinção entre auditoria interna e auditoria


externa
Da mesma forma que surgiu a necessidade de a contabilidade constituir a
auditoria com a finalidade de fornecer maior conforto ao usuário da informação
contábil-financeira, por meio de uma análise minuciosa e confirmação, ou
não, dos procedimentos realizados nas demonstrações contábeis; surgiu a
necessidade de especialização da própria auditoria.

À medida que os negócios foram se expandindo, a administração das


corporações foi se tornando mais complexa, exigente e dispersa. Em
alguns casos, os proprietários das empresas não eram mais os mesmos que
administravam elas, isso fez com que houvesse uma necessidade de dar maior
ênfase aos procedimentos internos e às vezes externos das empresas. Daí o
surgimento da auditoria interna para supervisionar presencialmente todas
as atividades e documentos organizacionais. Semelhante ao surgimento da
auditoria externa para conformar os registros dos fatos consolidados nas
demonstrações contábeis.

De acordo com Attie (1992), a auditoria interna é realizada dentro da


organização para analisar e avaliar as suas atividades. O objetivo principal
da auditoria interna, para além de auxiliar os membros da administração da
empresa, é garantir que todas as políticas, os procedimentos e as transações,
bem como o sistema de controle interno e de contabilidade, definidos pela
empresa estejam sendo efetivamente realizados de acordo com os critérios
previamente estabelecidos. Nesse aspecto, a auditoria interna por meio de
suas atividades de trabalho é capaz de analisar e antever recomendações
para assistir à administração da empresa.

De acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC) (2012, p. 5), a


auditoria interna:

[...] compreende os exames, análises, avaliações, levantamentos e


comprovações, metodologicamente estruturados para a avaliação
da integridade, adequação, eficácia, eficiência e economicidade dos
processos, dos sistemas de informações e de controles internos
integrados ao ambiente, e de gerenciamento de riscos, com vistas
a assistir à administração da entidade no cumprimento de seus
objetivos.

Enquanto isso, para Almeida (2003, p. 26), a auditoria externa é:

Aquela que examina as demonstrações contábeis de uma empresa


e emite sua opinião sobre estas, o que a tornou fundamental, vista

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UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

como uma medida de segurança, na opinião dos investidores,


que passaram a exigir que as demonstrações contábeis fossem
examinadas por um profissional independente da empresa e de
reconhecida capacidade técnica.

A auditoria externa se tornou muito mais enfática no Brasil por conta da


exigência da Lei das Sociedades por Ações, que obrigou a todas as empresas
de capital aberto realizarem a auditoria nas demonstrações contábeis por meio
de auditores independentes – auditores externos – registrados na Comissão de
Valores Mobiliários (CVM).

Essas duas modalidades de auditoria – auditoria interna e auditoria externa – não


são as únicas especialidades da auditoria, elas se destacam, entre outras citadas
no próximo tópico, por serem muitas vezes confundidas. Neste sentido, Pacheco;
Oliveira e La Gamba (2006), apresentaram suas principais diferenças com foco
no elenco de critérios levantado por Oliveira e Diniz (2001), são eles: o propósito
do trabalho, os parâmetros para a execução, a preocupação com os controles
internos, a dependência profissional, a forma de relatórios e os principais
usuários.

Enquanto o propósito do trabalho da auditoria interna é a análise da atividade


organizacional e operacional, o da auditoria externa é a opinião sobre as
demonstrações contábeis. Os parâmetros utilizados para execução do trabalho
pela auditoria interna são as políticas, os procedimentos e as normas de
controle interno da empresa. Já a auditoria externa utiliza os princípios de
contabilidade e as normas de auditoria.

Relativamente à preocupação com o controle interno, a auditoria interna


observa a eficiência e a qualidade do controle em si; já a auditoria externa se
debruça nos resultados nas demonstrações contábeis. Quanto ao critério do
vínculo profissional, na auditoria interna, o auditor é empregado da empresa;
na auditoria externa, a auditor é independente. Os relatórios gerados pela
auditoria interna não são padronizados, já os da auditoria externa são
padronizados. Por fim, têm-se que os principais usuários, na auditoria interna,
são os próprios membros da empresa. Na auditoria externa são os acionistas,
os investidores, financiadores, credores e o próprio mercado de capital
(OLIVEIRA; DINIZ, 2001 apud PACHECO; OLIVEIRA; LA GAMBA, 2006).

Continuando, Amaral et al. (2012), sintetizam a diferença entre a auditoria


interna e a auditoria externa da seguinte forma: “a auditoria interna utiliza
as mesmas técnicas que a auditoria externa” (grifo nosso). No entanto,

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ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

a auditoria interna se detém aos detalhes das atividades da empresa e a


auditoria externa faz uma revisão global das atividades que abrangem as
empresas.

Ainda, nesse mesmo sentido, as tabelas 3 e 4 são apresentadas com o propósito de


reforçar as diferenças entre a auditoria interna e a auditoria externa, sendo que
a primeira se reporta às atividades da empresa e a segunda aos profissionais de
auditoria.

Tabela 3. Auditoria interna versus auditoria externa.

Auditoria interna Auditoria externa


É executada por empregado da empresa ou empresa de auditoria. É executada por auditor sem vínculo empregatício de empresa de
auditoria.
O auditor interno deve ser independente em relação às atividades e O auditor externo é independente em relação à empresa auditada.
às pessoas cujo trabalho está sob escopo do seu exame, devendo Não pode ser influenciado por fatores estranhos, por preconceitos
subordinar-se às necessidades da administração. ou quaisquer outros elementos que resultem em perda, efetiva ou
aparente, de sua independência.
Objetiva atender às necessidades e aos interesses da administração. Objetiva atender às necessidades de terceiros interessados pela
Logo, a extensão (escopo) dos seus trabalhos será sempre definida empresa auditada, especialmente, na área privada, os acionistas
em função dos anseios da alta direção. que nela estão investindo capital, no que tange à adequação das
informações contábil-financeira.
A avaliação do sistema de controle interno é realizada para, entre A revisão do controle interno é realizada para atender às normas de
outras finalidades, desenvolver, aperfeiçoar e induzir ao cumprimento auditoria e objetiva determinar a extensão (escopo) do exame das
de normas e diretrizes organizacionais. demonstrações contábeis, no caso da auditoria contábil.
A realização é ampla para todas as áreas organizacionais e O exame está limitado principalmente aos aspectos financeiros. O
operacionais. enfoque está voltado para as demonstrações contábeis.
Os exames são direcionados para a identificação de erros e fraudes, Os trabalhos devem ser planejados de modo a identificar erros
que é responsabilidade primária da administração. e fraudes que ocasionem efeitos relevantes nas demonstrações
contábeis.
As áreas objeto de auditoria são continuamente revisadas. A As informações comprobatórias das demonstrações contábeis são
periodicidade é definida pela administração. auditadas periodicamente, geralmente em base anual.
Fonte: Araújo, Arruda e Barreto (2008).

Tabela 4. Auditor interno versus auditor externo.

Auditor interno Auditor externo


É empregado da empresa auditada. Não tem vínculo empregatício com a empresa auditada.
Menor grau de independência. Maior grau de independência.
Executa auditoria contábil e operacional. Executa apenas auditoria contábil.
Os principais objetivos são: O principal objetivo é:
Verificar se as normas internas estão sendo seguidas; Emitir um parecer ou opinião sobre as demonstrações contábeis, no sentido de
verificar se estas refletem adequadamente a posição patrimonial e financeira,
Verificar a necessidade de aprimorar as normas internas
o resultado das operações, as mutações do patrimônio líquido e as origens e
vigentes;
aplicações de recursos da empresa examinada.
Verificar a necessidade de novas normas internas;
Efetuar auditoria das diversas áreas das demonstrações
contábeis e em áreas operacionais.
Maior volume de testes (tem maior tempo na empresa para Menor volume de testes, já que o auditor externo está interessado em
executar os serviços de auditoria). erros que individualmente ou cumulativamente possam alterar de maneira
substancial as informações das demonstrações contábeis.
Fonte: Almeida (2003, p. 30).

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UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

Saiba mais sobre auditoria interna e auditoria externa, nas seções 3 e 4,


abaixo citadas, do artigo publicado com o Título: “Breves considerações
acerca da autoria interna e externa” das autoras Silvana Duarte dos
Santos e Jessica de Jesus Bravos. Disponível no site: http://www.
fiscosoft.com.br/index.php?PID=282347&o=6&home=&secao=1&optc
ase=

Auditoria externa ou independente

A auditoria externa é representada por um profissional independente


que analisa as demonstrações contábeis da empresa e emite uma opinião
acerca do que foi analisado.

A auditoria externa ou auditoria independente surgiu como parte da


evolução do sistema capitalista. No início, as empresas eram fechadas
e pertenciam a grupos familiares. Com a expansão do mercado e o
acirramento da concorrência, houve a necessidade de a empresa ampliar
suas instalações fabris e administrativas, investir no desenvolvimento
tecnológico e aprimorar os controles e procedimentos internos em geral,
principalmente visando à redução de custos e, portanto, tornando mais
competitivos seus produtos e serviços no mercado (ALMEIDA, 2010;
PEREZ JUNIOR, 1998).

[...]

Assim, pode-se afirmar que o objetivo da auditoria é maximizar o grau de


confiança nas demonstrações contábeis, mediante a emissão de opinião
pelo auditor externo sobre a conformidade entre as demonstrações
contábeis e uma estrutura de relatório financeiro aplicável.

Auditoria interna

A auditoria interna é aquela executada por profissionais, geralmente são


funcionários da própria empresa auditada, ou empresas que possuem
vínculo ou subordinação com esta, com o objetivo principal de auxiliar a
entidade a atingir suas metas, por meio de uma avaliação do seu sistema
de controle interno.

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ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

A auditoria interna é considerada uma ramificação da auditoria


independente que tem como função atender à necessidade dos
administradores em avaliar e monitorar seus controles internos.

[...]

Os auditores internos são colaboradores da organização, cujos registros


examinam. Eles de fato se posicionam entre o pessoal do departamento
de contabilidade e administração para certificar a esta que aquele
está funcionado como deveria, e que seus relatórios são corretos. São
empregados da empresa, e dentro de uma organização ele não deve estar
subordinado aqueles cujo trabalho examina. Além disso, o auditor interno
não deve desenvolver atividade que um dia posso vir examinar (como, por
exemplo, elaborar lançamentos contábeis), para que não interfira em sua
independência (MAUTZ, 1978; ALMEIDA, 2010).

A auditoria interna está baseada em um exercício constante e minudenciado


das empresas, envolvidas com o desenvolvimento de cada função, assim
descritas: área, departamento, setor e operação. Fica subscrito que a
auditoria interna, é de responsabilidade da alta cúpula organizacional,
tem que verificar todas as ramificações e segmentos, em um determinado
período, para examinar as adesões políticas entre outros aspectos (ATTIE,
1992).

[...]

Objetivo da auditoria interna


Conforme os apontamentos citados anteriormente, o objetivo da auditoria interna,
de uma forma geral, consiste em validar a informação gerada pela empresa. Essa
validade uma vez assegurada, agrega valor ao seu resultado. Para isso, a atividade
da auditoria interna é exercida no sentido de aperfeiçoar os processos, tanto de
gestão como de controle interno, por meio de recomendações com soluções para
as divergências apresentadas nos relatórios. Essas divergências podem ocorrer
de forma voluntária e tendenciosa e de forma involuntária. É neste sentido que
a auditoria interna funciona como mecanismo de proteção do patrimônio da
empresa diligenciando essas divergências.

De um lado, quando as divergências ocorrem nos relatórios das empresas


decorrentes de ação voluntária e tendenciosa, a administração da empresa

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UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

incorre nas chamadas fraudes. Por outro lado, quando as divergências ocorrem
de forma involuntária, pode ter acontecido um erro nos procedimentos
resultante de uma ação não intencional.

O termo fraude, de acordo com o Conselho Federal de Contabilidade (CFC)


(2012, p. 6), “aplica-se a ato intencional de omissão e/ou manipulação de
transações e operações, adulteração de documentos, registros, relatórios,
informações e demonstrações contábeis, tanto em termos físicos quanto
monetários”.

Diferentemente do termo fraude, o “termo erro aplica-se a ato não intencional


de omissão, desatenção, desconhecimento ou má interpretação de fatos na
elaboração de registros, informações e demonstrações contábeis, bem como de
transações e operações da empresa, tanto em termos físicos quanto monetários”
(CFC, 2012, p. 6).

Objetivos da auditoria externa

Os objetivos da auditoria externa são construídos, geralmente, para aumentar a


credibilidade das demonstrações contábeis pelos usuários internos e externos.
Essa credibilidade é decorrente da opinião formada pelo auditor independente
sobre essas demonstrações contábeis.

De acordo com o CFC (2009) o objetivo da auditoria externa é:

Aumentar o grau de confiança nas demonstrações contábeis por


parte dos usuários. Isso é alcançado mediante a expressão de uma
opinião pelo auditor sobre se as demonstrações contábeis foram
elaboradas, em todos os aspectos relevantes, em conformidade
com uma estrutura de relatório financeiro aplicável.

Principais modalidades de auditoria


De acordo com Crepaldi (2013), baseado em definições conceituais, pode-se
apresentar os seguintes tipos de auditoria: i) auditoria de demonstrações
financeiras; ii) auditoria operacional ou de gestão; iii) auditoria tributária; iv)
auditoria de sistemas informatizados; v) auditoria de compliance; vi) auditorias
especiais.

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ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

Auditoria de demonstrações financeiras (auditoria externa) é o exame das


demonstrações contábeis realizado por auditor independente com a finalidade de
emitir parecer técnico (CREPALDI, 2013).

Auditoria operacional ou de gestão (auditoria interna) compreende as


revisões dos programas, das atividades ou dos segmentos operacionais
do setor público ou privado com a finalidade de avaliar e comunicar se os
recursos e os objetivos organizacionais estão sendo aplicados e alcançados,
respectivamente, eficientemente (CREPALDI, 2013).

Auditoria tributária objetiva o exame e a avaliação de planejamento


tributário e a eficiência e eficácia dos procedimentos e controles
adotados para a operação, pagamento e recuperação de impostos,
taxas e quaisquer outros ônus de natureza fisco-tributária
que incidam nas operações, bens e documentos da empresa
(CREPALDI, 2013, p. 15).

Auditoria de sistemas informatizados compreende o exame e


avaliação dos processos de planejamento, desenvolvimento, teste
e sistemas aplicativos. Visa, também, ao exame e avaliação das
estruturas lógica, física, ambiental, organizacional, de controle,
segurança e proteção de determinados ativos, sistemas aplicativos,
software e, notadamente, as informações, visando à qualidade de
controles internos sistêmicos e de sua observância em todos os
níveis gerenciais (CREPALDI, 2013, p. 16).

Auditoria de compliance significa estar em conformidade com


as leis, os regulamentos internos e externos e os princípios
corporativos que garantem as melhores práticas do mercado.
Quando se objetiva determinar se certas atividades financeiras ou
operacionais de uma empresa obedecem às regras ou regulamentos
que a elas se aplicam. A função de compliance atua mais na
fase de definições ou estabelecimento das normas, divulgação e
treinamento e no acompanhamento das transações no dia a dia
(CREPALDI, 2013, p. 16).

Por fim, a auditoria especial abrange a realização de trabalhos especiais de


auditoria, não compreendidos na programação sistemática do setor, muitas
vezes, solicitada por membros da diretoria ou dos conselhos administrativos
e fiscais para atender interesses particulares ou de legislação específica
(CREPALDI, 2013).

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UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

Controle interno

Definição

O controle interno compreende todos os processos e os procedimentos realizados


sistematicamente e, continuadamente, numa empresa. O controle interno não
pode ser confundido com a auditoria interna. Esta, por sua vez, refere-se a uma
atividade específica de revisão e opinião sobre o controle interno da empresa.

Neste sentido, a definição apresentada pelo Comitê de Procedimentos de


Auditoria do Instituto Americano de Contadores Públicos Certificados (AICPA),
citada por Attie (2009, p. 148), revela bem a amplitude das atribuições do
controle interno, nos seguintes termos:

O controle interno compreende o plano de organização e o conjunto


coordenado dos métodos e medidas, adotados pela empresa, para
proteger seu patrimônio, verificar a exatidão e a fidedignidade
de seus dados contábeis, promover a eficiência operacional e
encorajar a adesão à política traçada pela administração.

Ou seja, o controle interno vai, muito mais, além da contabilidade da empresa.


Ele é constituído dos elementos (plano de organização, conjunto coordenado
dos métodos e medidas, proteção do patrimônio, verificação da exatidão e
fidedignidade dos dados contábeis, eficácia operacional e adesão à política
organizacional), como apresentado na definição do AICPA, que se revisados
pela auditoria interna, periodicamente, no sentido de fornecer opinião para
melhorar a eficiência do sistema organizacional, a resposta é o patrimônio da
empresa bem protegido.

O plano organizacional compreende a maneira como se organiza os subsistemas


dentro da empresa (ATTIE, 2009). Nesse plano são definidos todos os
setores de operações e atividades com suas respectivas atribuições e níveis de
responsabilidades com a finalidade de alcançar o objetivo macro da empresa.

O conjunto coordenado dos métodos e medidas contém, em si, a metodologia


a ser aplicada na empresa para se chegar a uma determinada finalidade, ainda
que ele não tenha sido estabelecido formalmente (ATTIE, 2009). Muitas vezes
as empresas se projetam como um subsistema da sociedade e consequentemente
dentro do próprio subsistema novos subsistemas surgiram compostos de
procedimentos destinados a produzir e registrar informações finais, internas,
tanto para alimentar o subsistema interno como para atender a demanda do
público externo (ATTIE, 2009).

20
ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

A proteção do patrimônio consiste justamente dos modos como os ativos da


empresa são resguardados. Essa proteção é dependente da verificação da exatidão
e fidedignidade dos dados contábeis em conformidade com o sistema normativo
disposto na contabilidade. Em outras palavras, a proteção do patrimônio da
empresa não dependente exclusivamente da contabilidade, mas a contabilidade é
uma ferramenta indispensável como solução para a proteção do patrimônio.

A eficácia operacional é entendida como o conjunto de medidas postas em práticas


nas transações das empresas. Por último, a adesão à política organizacional
“representa as guias de raciocínio para a tomada de decisões em níveis inferiores
e aplicáveis a situações repetitivas, de forma a canalizar as decisões para o objetivo
que afeta tanto o comportamento da empresa quanto as regras de trabalho
(ATTIE, 2009).

Características e objetivos do controle interno

Um sistema de controle interno bem elaborado equivale a um sistema que conjuga


os vários subsistemas, tipos: controle orçamentário, controle financeiro, controle
operacional, programas de treinamento do pessoal, programa de controle de
qualidade, inclusive, auditoria interna, entre outros, com o objetivo de “salvaguardar
os interesses da empresa; precisar a confiabilidade dos informes e relatórios
financeiros e operacionais; estimular a eficiência operacional; e aderir às políticas
existentes” (ATTIE, 2009).

Classificação e estrutura do controle interno

Mediante o conjunto dos vários tipos de subsistemas apresentados como


inerentes ao controle interno, acima citado, é possível catalogar e classificar a
estrutura do controle interno em três categorias, conforme cita Crepaldi (2013):

» categoria operacional – diz respeito às ações que viabilizam o alcance dos


objetivos organizacionais;

» categoria contábil – tem relações com a exatidão e a fidedignidade dos


registros e das demonstrações contábeis;

» categoria normativa – observa as normas relacionadas com o bom


andamento da empresa.

De outra forma, também é possível apresentar a estrutura do controle interno,


de acordo com o Committee of Sponsoring Organizations of the Treadway

21
UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

Commission (COSO, 2013, Sumário Executivo em português), é compreendida por


cinco componentes relacionados com a integridade, a competência e o ambiente.
Eles são:

» ambiente de controle – deve demonstrar o grau de comprometimento


com a empresa, relativamente à consciência do controle interno
por todo o seu pessoal. É a base para todos os outros componentes,
determinando disciplina e estrutura;

» avaliação de riscos – corresponde à variedade de riscos, que tem


de ser avaliada por qualquer empresa, vindos de fontes externas e
internas, para cumprir os seus objetivos;

» atividade de controle – são as políticas e os procedimentos que


asseguram o cumprimento dos objetivos e adequam os riscos
relacionados;

» informação e comunicação – devem ser identificadas e comunicadas


de uma forma e prazo que permitam às pessoas cumprirem suas
responsabilidades;

» monitoramento – sistemas de controles internos precisam ser


monitorados – avaliar a qualidade do desempenho do sistema como
passar do tempo – e políticas e procedimentos modificados, quando
necessário.

Saiba mais sobre Controle Interno no artigo publicado no site: https://


periodicos.ufsc.br/index.php/contabilidade/article/view/35952, com
o título: “Análise do sistema de controle interna no Brasil: objetivos,
importância e barreiras para sua implantação”. De autoria de Renato
Pereira Monteiro.

A importância do controle interno na empresa pode ser avaliada por diversas


formas. Segundo Amaral et al. (2012), o controle interno está diretamente
relacionado com a auditoria interna. Aliás, a auditoria interna é um elemento
componente do controle interno. Quanto mais auditoria interna for realizada na
empresa, maior ênfase é dada ao seu controle interno. Isso facilita, inclusive,
a auditoria externa a realizar os seus trabalhos, considerando a efetividade da
auditoria interna.
22
ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

Ganhos do controle interno com o ato


Sarbanes-Oxley

A lei americana que endureceu os controles internos foi promulgada em


2002, na esteira dos maiores escândalos empresariais da história americana,
a conhecida Lei Sarbanes-Oxley (CREPALDI, 2013). Essa lei ampliou a
exigência para as empresas de capital aberto manter os sistemas de controle
interno, demandar a certificação da administração e contratar os serviços
de auditores independentes para atestar a eficácia dos referidos sistemas. O
estudo controle interno – estrutura integrada –, que vem sendo submetida
ao longo do tempo, serve como uma ampla norma para o atendimento dos
requisitos de comunicação (IMONIANA; NOARA, 2005).

Sugiro a leitura de um texto sobre controle interno, publicado com


o título “A importância do Controle Interno”. Disponível no site
http://w w w.por taleducacao.com.br/contabilidade/ar tigos/52358/
importancia-do-controle-interno.

Auditoria e perícia
Hoog ([s.d.]) reconhece a auditoria como revisão, verificação e tende a
ser necessidade constante, com menos rigor metodológico e realizada
periodicamente, pois utiliza-se da amostragem. A perícia consiste na prova
elucidativa dos fatos. Por isso, ela repudia a amostragem como critério e tem
caráter de eventualidade e só trabalha como o universo completo, no qual a
opinião é expressa com total rigor.

Nesse mesmo trabalho, Hoog ([s.d.]) apresenta as principais características de


auditoria e de perícia apresentadas a seguir, que reproduziremos nesse estudo
com algumas adaptações em virtudes das mudanças ocorridas nas normas
brasileiras de contabilidade.

Tabela 5. Itens comparativos entre auditoria e perícia contábil.

Itens Auditoria Perícia contábil


1 Pode ser executada tanto por pessoa física quanto por jurídica. Executada somente por pessoa física, profissional de nível
universitário (CPC, Art. 145).
2 Tende a necessidade constante, como exemplo: auditoria de Serve a uma época.
balanço, repetindo-se anualmente.
3 Auditoria se prende a continuidade de uma gestão; parecer sobre Perícia se prende ao caráter científico de uma prova com o
atos e fatos contábeis. objetivo de esclarecer controvérsias.

23
UNIDADE I │ ABORDAGEM CONCEITUAL

Itens Auditoria Perícia contábil


4 Pode ser específica ou não; exemplo: auditoria de Recursos É específica, restrita aos quesitos e pontos controvertidos,
Humanos, ou em toda a empresa. especificados pelo condutor judicial.
5 Feita por amostragem. É irrestrita e abrangente a análise.
6 As normas técnicas são: As normas técnicas são:
NBC PG 100 – trata das normas indistintamente a todos os NBC PG 100 – trata das normas indistintamente a todos os
profissionais. profissionais.
NBC PA 200 – trata das normas específicas aos contadores que NBC PP 01 – trata das normas profissionais do perito contábil.
atuam como auditores independente.
NBC TP 01 – trata das normas técnicas da perícia contábil.
NBC TA 200 – trata das normas aplicadas à auditoria convergentes
com as normas internacionais de auditoria independente emitida
pela IFAC.
7 Usuários do serviço – sócios, investidores, administradores etc. Usuários do serviço – as partes e principalmente a justiça.
Fonte: Adaptada de Hoog ([s.d.])

Pela definição do CFC (2012, p. 6) a perícia contábil:

[...] constitui o conjunto de procedimentos técnico-científicos


destinados a levar à instância decisória elementos de prova
necessários a subsidiar à justa solução do litígio ou constatação
de um fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer
pericial contábil, em conformidade com as normas jurídicas e
profissionais, e a legislação específica no que for pertinente.

Mais especificamente, o Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do


Sul (CRCRS) (2011, p. 12), destacou essa definição com o comentário de que a
perícia constitui um dos meios de prova disposto no Art. 212, do Código Civil.

De acordo com Ornelas (2000, p. 330), “a perícia contábil inscreve-se num


gênero de prova pericial, ou seja, é uma das provas técnicas à disposição das
pessoas naturais ou jurídicas, e serve como meio de prova de determinados
fatos contábeis ou de questões contábeis controvertidas”.

O conceito de auditoria já foi citado no tópico 1, deste capítulo, não sendo


necessário a sua repetição aqui. Neste sentido, prosseguiremos discutindo
algumas diferenças e semelhanças apresentadas na literatura sobre as técnicas
de auditoria e perícia contábil. “Muitas vezes a técnica de auditoria é confundida
com os procedimentos da perícia contábil, todavia, eles possuem características
diferenciadas” (MORAIS, 2005, p. 74), bem como, características semelhantes,
conforme mostram as seguintes tabelas.

24
ABORDAGEM CONCEITUAL │ UNIDADE I

Tabela 6. Itens de diferença entre auditoria e perícia contábil.

Itens de diferença Auditoria Perícia contábil


São provas do auditor, não necessitando de Deve acompanhar o laudo pericial com os anexos, para
Escopo do trabalho
confirmação no relatório ou no parecer. confirmar as conclusões do perito.
É relativa, observa os aspectos mais relevantes e É absoluta, necessária, detalhista, precisa, direta.
Opinião profissional
materiais.
É continuada. A programação é previamente definida É efêmero. Tem data prevista para iniciar e para terminar.
Duração do trabalho em períodos convenientes. É trabalho repetitivo, tende Nunca se repete. Não há perícias iguais.
a diminuir pelo conhecimento e pela rotina.
Com toda a equipe do auditado onde o trabalho for Com o juiz, as partes e os peritos assistentes.
Relacionamento do trabalho
desenvolvido e os contratantes.
Divulgação externa do Na imprensa escrita, normalmente em jornal de grande É proibida a divulgação.
resultado do trabalho circulação. Muitas vezes é obrigatória.
Local de realização do No escritório do auditado ou do auditor. Normalmente no escritório do perito.
trabalho
Normalmente o auditor faz reunião com a equipe do Não é divulgado. Fica à disposição das partes na justiça.
Divulgação interna do auditado ao final do trabalho para colocá-la a par do A critério do perito pode haver reunião com os peritos
trabalho resultado da auditoria, antes da entrega do relatório e assistentes.
do parecer.
Não tem autoridade concedida pela empresa auditada. Tem a autoridade concedida por lei ou pelo juiz, no curso
Autoridade
do processo da perícia judicial.
Amostragem, confiabilidade nos controles internos, Universalidade dos fatos
Método da pesquisa
podendo ter a universalidade dos fatos.
Emite opinião conforme provas produzidas pelos Emite por meio da produção de prova pericial
Objeto da pesquisa exames de auditoria. (laudo pericial), conforme sua convicção nas provas
encontradas.
Normalmente é realizado em períodos regulares, para A oportunidade é determinada pelo magistrado ou
Período da realização do atendimento estatutário ou legal, e se repete na mesma requerida pelas partes para a produção de provas em
trabalho periodicidade. período certo do processo, com prazo determinado por
uma única vez.
Fonte: Morais e França (2000, pp. 61–63).

Tabela 7. Itens de semelhança entre auditoria e perícia contábil.

Itens de Auditoria Perícia contábil


semelhança
Prevê tempo e equipe a serem alocados, qualificação da Prevê tempo a ser alocado, a quantidade de horas a serem
equipe, incluindo auditores, gerentes e sócios, metodologia de utilizadas, valor financeiro, o local de desenvolvimento da perícia,
Planejamento
trabalho, extensão e profundidade, produto final, valor financeiro viagens, forma de pagamento, metodologia a ser utilizada,
e forma de pagamento. laudos interprofissionais necessários.
Os registros contábeis, financeiros e patrimoniais. Normas
de controle interno, documentos e controles operacionais A totalidade dos fatos, dos documentos, das informações, todo
Escopo do trabalho
e demonstrações contábeis normalmente adotadas na e qualquer meio de prova que possa ser utilizado.
amostragem.
Objetivo do
Emissão de parecer de auditoria, relatório de auditoria. Emissão de laudo pericial.
trabalho
Usuários da Sócios, acionistas, administradores, credores, funcionários,
As partes, a justiça e o Estado (sociedade).
informação investidores, órgãos fiscalizadores e público em geral.
Auditores, gerentes, sócios e consultores, sendo a Somente o perito, podendo utilizar auxiliares sem
Equipe de trabalho
responsabilidade de gerentes e sócios. responsabilidade no processo.
Fonte: Morais e França (2000, pp. 61–63).

25
ABORDAGEM
REGULATÓRIA DO UNIDADE II
PROFISSIONAL DA
CONTABILIDADE

CAPÍTULO 1
Prerrogativas profissionais do
contabilista

Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de conhecer as categorias dos


profissionais da contabilidade, as atividades privativas dos contabilistas e as
que podem ser compartilhadas com outras profissões. Mais especificamente, as
atribuições que são exclusivas do contador e do técnico em contabilidade e as
responsabilidades dos profissionais da contabilidade.

Categorias dos profissionais da contabilidade


De acordo com Fortes (2001, p. 37), “o exercício profissional das atividades
contábeis é de competência exclusiva dos contabilistas legalmente habilitados
junto ao Conselho Regional de Contabilidade do local onde será exercida a
atividade” (grifo nosso).

Neste mesmo sentido, o Art. 1 o, da Resolução CFC N o 560 (1983), dá o suporte


legal para o exercício da atividade do contabilista, nos seguintes termos:

Art. 1o. O exercício das atividades compreendidas na Contabilidade,


considerada esta na sua plena amplitude e condição de Ciência
Aplicada, constitui prerrogativa, sem exceção, dos contadores e dos
técnicos em contabilidade legalmente habilitados, ressalvadas as
atribuições privativas dos contadores.

Ressalta-se que o termo contabilista grifado na citação de Fortes (2001), diz


respeito as duas categorias profissionais apresentadas na legislação, são elas:
contador e técnico em contabilidade.

26
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

No entendimento de Fortes (2001, p. 39):

O contador é um profissional de nível superior, portador do


diploma de bacharel em ciências contábeis, devidamente
registrado no Conselho Regional de Contabilidade. A ausência
do registro do diploma no CRC além do impedimento do exercício
da profissão, não lhe dá o diploma o título de contador, sendo
considerado somente o título de bacharel em ciências contábeis
e não de contador.

O técnico em contabilidade é um profissional de nível médio portador


do certificado de conclusão do segundo grau, com a habilitação de
técnico em contabilidade, que também para exercer a profissão
terá que está devidamente registrado no Conselho Regional de
Contabilidade.

Neste aspecto, para o bacharel em ciências contábeis e o portador do certificado


de conclusão do segundo grau tornarem-se profissionais habilitados para o
exercício profissional das atividades contábeis, um dos requisitos obrigatórios
é a aprovação no Exame de Suficiência para obtenção ou restabelecimento de
Registro Profissional em Conselho Regional de Contabilidade (CFC, 2011a).

Atividades privativas dos contabilistas


Considerando o leque diversificado de atividades e de funções regulamentadas
dos contabilistas, dispostos no Art. 2 o da Resolução CFC n o 560/1983, foi
elaborada a Figura 1 com o objetivo de fornecer uma compreensão compacta
desse universo. Assim, a mesma resolução com base nos artigos 25 e 36 do
Decreto-lei n o 9.295/1946, procurou especificar as atividades que são privativas
dos contabilistas e também as que podem ser compartilhadas com outras
profissões.

Nesse ponto, o Art. 3 o da referida resolução detalha os 48 (quarenta e oito) itens 1


enunciados como atribuições privativas dos profissionais da contabilidade.
Dentre eles, os itens sob os números 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 19, 20, 21, 22, 23, 24, 25,
26, 29, 30, 32, 33, 34, 35, 36, 42, 43, além dos 44 e 45, quando se referirem a
nível superior, são exclusivos da categoria dos contadores (CFC, 1983, p. § 1 o).
Desse modo, a figura 2 apresenta uma visão geral dos itens exclusivos dessa
categoria – o contador.

1 O item 31 foi excluído do § 1o pela Resolução CFC no 898, de 22 de fevereiro de 2001.

27
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Complementando as atividades privativas dos contabilistas, mesmo sendo citados


como exclusivo para os contadores, os serviços mencionados no Art. 3o, sob os
números 5, 6, 22, 25 e 30 somente poderão ser executados pelos Técnicos em
Contabilidade da qual sejam titulares (CFC, 1983, p. § 2o). São eles:

(5) apuração de haveres e avaliação de direitos e obrigações, do acervo


patrimonial de quaisquer entidades, em vista de liquidação, fusão, cisão,
expropriação no interesse público, transformação ou incorporação
dessas empresas, bem como em razão de entrada, retirada, exclusão
ou falecimento de sócios, quotistas ou acionistas;

(6) concepção dos planos de determinação das taxas de depreciação


e exaustão dos bens materiais e dos de amortização dos valores
imateriais, inclusive de valores diferidos;

(22) análise de balanços;

(25) estudo sobre a destinação do resultado e cálculo do lucro


por ação ou outra unidade de capital investido;

(30) conciliações de contas.

Nesse sentido, a figura 1 tem a intenção de apresentar as atividades e funções


dos contabilistas, que inclui a categoria contador e técnico em contabilidade.
A figura 2 tem o objetivo de apresentar a visão geral da profissão do contador
e por dedução, os demais itens que não estão elencados como exclusivos para
os contadores é porque são as atividades regulamentadas para a profissão do
técnico em contabilidade.

Reflexão retirada de Iudícibus (1999, p. 46): “Tente ressaltar outras


profissões que têm um leque tão grande de alternativas quanto a
profissão contábil”.

Responsabilidades dos profissionais da


contabilidade
De acordo com Fortes (2001, p. 91), “responsabilidade é a obrigação que a
pessoa tem de responder legal ou moralmente por seus próprios atos ou por
atos de outrem, caso haja lei ou contrato vinculando o fato”.

Neste sentido, o contabilista ao exercer suas atividades nas diversas funções


junto aos terceiros (empresas, governo etc.), ele assume responsabilidade

28
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

social, profissional, civil e penal, pelos cometimentos de falhas (fraudes ou


erros) que porventura venham acontecer.

No caso da responsabilidade social, ela é assumida quando o profissional da


contabilidade exerce suas atividades. Ou seja, o profissional da contabilidade
está vinculado de forma decisiva com o contexto social, tendo em vista que os
seus atos produzem informações que afetam diretamente a vida das pessoas,
empresas, fisco, investidores, clientes, credores, administradores e demais
usuários, assim como a vida dessas pessoas afeta as atividades do profissional da
contabilidade (FORTES, 2001).

No caso de responsabilidade profissional, ela ocorre implicitamente no exercício


da atividade do profissional. Porém, essa responsabilidade ganha destaque
quando o profissional viola norma jurídica, incorre em imperícia ou em erro,
entre outros. Em qualquer um dos casos, o responsável pelo ato poderá sofrer
penalidades, por exemplo, multa, reparação de perdas e danos, prisão ou outra
modalidade de punição, a depender do ato (FORTES, 2001).

“A responsabilidade civil do profissional da contabilidade decorre da obrigação


de reparar o dano, prejuízo moral ou material, por todo aquele que, por ação
ou omissão voluntária, imprudência, negligência ou imperícia, violar ou causar
prejuízo a outrem” (FORTES, 2001, p. 99). E “a responsabilidade penal
decorre da obrigação de reparar o dano no campo criminal” (FORTES, 2001,
p. 101).

29
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Figura 1. Atividades e funções dos contabilistas dispostas no Art. 2 o, da Res. 560 (CFC, 1983).

Analista

Assessor

Assistente

Auditor interno e externo

Conselheiro

Consultor

Controlador de arrecadação

Profissional liberal ou
Controller
autônomo

Empregado regido pela


Educador
CLT

Servidor público Escritor ou articulista técnico

ATIVIDADES DOS
Militar FUNÇÕES Escriturador contábil ou fiscal
CONTABILISTAS

Sócio de qualquer tipo


Executor subordinado
de sociedade

Diretor ou conselheiro
Fiscal de tributos
de quaisquer empresas

Qualquer outra situação


jurídica definida pela Legislador
legislação

Organizador

Perito

Pesquisador

Planejador

Professor ou conferencista

Redator

Revisor

Fonte: Elaboração própria.

30
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

Figura 2. Visão geral da profissão contábil.

Orientador dos Processos Tributários/ICMS/IR


Planejador
e outros, bem como o Especialista nas Fusões,
Tributário
Incorporações e Cisões.

Analista Analista de Crédito, Desempenho, Mercado de


Financeiro Capitais, Investimentos e Custos.

Poderá especializar-se em Contabilidade:


Rural, Hospitalar, Fiscal, Imobiliária, Hoteleira,
Industrial, Securitária, de Condomínio,
Contador Geral Comercial, de Empresas Transportadoras,
Bancária, Pública, de Empresas sem fins
Lucrativos, de Empresas de Turismos, de
Empresas Mineradoras, Cooperativas.

Cargos Área Financeira, Comércio Exterior, CIO (Chef


Na Empresa
Administrativos Information Officer), Executivo, Logística.

Auditoria de Sistema, Auditoria de Gestão,


Auditor Interno
Controle Interno.

Custos de Empresa Prestadora de Serviços,


Contador de
Custos Industriais, Análise de Custos,
Custo
Orçamentos, Custos de serviço Público.

Controladoria, Contabilidade Internacional,


Contador Cont. Ambiental, Cont. Estratégica,
Gerencial Controladoria Estratégica, Balanço Social,
Accounttability.

Contador que se especializa em Previdências


Atuário
Privada, Pública e Seguros.

Auditor
Especialização em Sistemas, Tributos, Custos.
Independente

Expert em Avaliação de Empresas, Tributos,


Comércio Exterior, Informática, Sistemas,
Consultor
Custos Controladoria, Qualidade Total, Planj.
Estratégico, Orçamento.

Escritório de Contabilidade, "Despachante"


Independente Empresário
(Serviços Fiscal, Depart. Pessoal...) Centro de
(Autônomo) Contábil
Treinamento.

Perito Contábil Perícia Contábil, Judicial, Fiscal, Extrajudicial.

Detecta o lado "podre" da empresa. Empresas


Investigador de
na Europa e EUA contratam às vezes até
Fraude
semestralmente estes serviços.

31
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

CONTADOR
Cursos Técnicos, Cursos Especiais ("In
Professor Company", Concursos Públicos) Carreira
Acadêmica (Mestre, Doutor)

Pesquisa Autônoma (Recursos CAPES, CNPq,


Empresas), Fundação de Pesquisa (FIPECAFI,
Pesquisador
FIA, FIPE), Pesquisas para Sindicatos,
Instituições de Ensino, Órgãos de Classe.

Há revistas/boletins que remuneram os


escassos escritores contábeis. Livro Didáticos
No Ensino Escritor e Técnicos, Articulista
Contábil/Financeiro/Tributário p/jornais, revisão
de livros.

Docente e pesquisador com currículo notável.


Parecer sobre: laudo pericial, causa judicial,
Parecerista
envolvendo empresas, avaliação de empresas,
questões contábeis.

Palestras em Universidade, Empresas,


Conferencista
Convenções, Congressos.

Contador
Gerenciar as finanças dos órgãos públicos.
Público

Agente Fiscal
Agente Fiscal de Municípios, Estado e União.
de Renda

Controlador de Arrecadação, Contador do


Diversos
Órgão Ministério Público da União, Fiscal do Ministério
Concursos
Público do Trabalho, Banco Central, Analista de
Públicos
Finanças e Controle.

Tribunal de Controladoria, Fiscalização, Parecerista,


Contas Analista Contábil, Auditoria

Oficial Policial militar, exército, contador e auditor com


Contador a patente de general de divisão

Fonte: Iudícibus (1999, p. 47).

Atividades compartilhadas com outras


profissões
Para além das atribuições privativas dos contabilistas, ainda existe as atividades
que podem ser compartilhadas com outras profissões. Desde que necessário, o
contabilista poderá se apropriar das atividades de outros para complementar
ou suplementar as suas atividades profissionais. Neste sentido, são elencadas, a
seguir, as atividades compartilhadas do profissional da contabilidade.

32
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

O contabilista, ao término de qualquer trabalho que for realizado, deve


“apor sua assinatura, categoria profissional e número de registro no CRC
correspondente (CFC, 1983, p. § 4 o).

Quadro 1. Atividades compartilhadas do profissional da contabilidade.

Atividades compartilhadas do profissional da contabilidade


1. utilizar os cálculos da matemática financeira tanto para construir planos técnicos 9. desenvolver e implementar planejamento tributário;
de financiamento e amortização de empréstimos como para analisar e interpretar as
amostragens aleatórias ou probabilísticas;
2. desenvolver projetos e estudos sobre operações financeiras de qualquer natureza; 10. elaborar e analisar projetos, inclusive quanto à
viabilidade econômica;
3. exercer atividades em setor financeiro, tanto na área pública como privada; 11. analisar o movimento dos órgãos de imprensa e
avaliar pesquisas de opinião pública;
4. desenvolver e implementar planos organizacionais; 12. desenvolver pesquisas operacionais;
5. organizar atividades de escritórios, de almoxarifados e de quadros e funções 13. analisar sistema de processamento de dados;
administrativos;
6. apreender conhecimentos relativos à área de “mercadologia” e “técnicas comerciais” 14. analisar sistemas de seguros e de fundos de
ou “mercadológicas”; benefícios;
7. gerar, redigir e encaminhar ao Registro Público atos das sociedades civis e comerciais; 15. prestar assistência aos órgãos administrativos das
empresas;
8. assessorar fiscalização; 16. elaborar orçamentos macroeconômicos.
Fonte: Adaptado do CFC (1983).

Leitura complementar: Preparando-se para a profissão do futuro. Artigo


publicado pela Revista Contabilidade – Vista e Revista, volume 9, em
março de 1998. Disponível no site: https://revistas.face.ufmg.br/index.php/
contabilidadevistaerevista/article/view/101.

Fiscalização e regulação das atividades


profissionais do contabilista
De acordo com o Art. 2 o do Decreto-Lei n o 9.295/1946, alterado pelo
Lei n o 12.249/2010, o CFC será o órgão responsável pela fiscalização do
exercício profissional contábil ou das atividades práticas dos profissionais da
contabilidade (contadores e técnicos em contabilidade).

Além disso, com a mudança ocorrida no Decreto-Lei n o 9.295/1946, pela Lei


no 12.249/2010, compete ao CFC não só a fiscalização do exercício do profissional
da contabilidade como também a regulação acerca dos princípios contábeis, do
Exame de Suficiência, do cadastro de qualificação técnica e dos programas de
educação continuada; e a edição das Normas Brasileiras de Contabilidade de
natureza técnica e profissional.
33
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Os princípios contábeis são princípios aplicáveis à informação contábil com o


propósito de melhorar a qualidade da informação contábil. O exame de suficiência
é a prova aplicada sobre conteúdos desenvolvidos no curso de Bacharelado em
Ciências Contábeis com a finalidade de obter o conhecimento médio obtido
pelo estudante. A qualificação técnica e os programas de educação continuada
consistem em geral na continuidade do conhecimento adquirido e atualizado
pelo profissional da contabilidade ao longo do exercício da profissão.

Em síntese, o CFC tem essa atribuição de regular as normas de contabilidade


relativas ao profissional e a profissão contábil e uma vez regulado o normativo, o
mesmo órgão impõe a sua aplicação, seguido da fiscalização que consta ou não a
aplicabilidade das normas contábeis

34
CAPÍTULO 2
Normas Brasileiras de Contabilidade
(NBC) profissionais

Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de conhecer as normas brasileiras


de contabilidade aplicadas a todos os profissionais da contabilidade (NBC PG),
as específicas aos contadores externos (incluindo o auditor independente) e aos
contadores que atuam como peritos contábeis.

NBC aplicadas indistintamente a todos os


profissionais da contabilidade (NBC PG 100)
Após a convergência das NBCs aos padrões internacionais, o CFC reestruturou
todo o sistema de normas para estabelecer preceitos de conduta profissional de
acordo com o padrão atual. Nessa nova ordem, as NBCs dos profissionais estão
estruturadas conforme o disposto no Art. 3 o, da Resolução CFC no 1.328, de 18 de
março de (2011b), a seguir citado:

Art. 3o As Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais se


estruturam conforme segue:

I – Geral – NBC PG – são as Normas Brasileiras de Contabilidade


aplicadas indistintamente a todos os profissionais de Contabilidade;

II – do Auditor Independente – NBC PA – são as Normas


Brasileiras de Contabilidade aplicadas, especificamente, aos
contadores que atuam como auditores independentes;

III – do Auditor Interno – NBC PI – são as Normas Brasileiras de


Contabilidade aplicadas especificamente aos contadores que atuam
como auditores internos;

IV – do Perito – NBC PP – são as Normas Brasileiras de


Contabilidade aplicadas especificamente aos contadores que
atuam como peritos contábeis.

Diante do exposto, primeiramente, foi arranjada a NBC PG 100, aplicada


indistintamente a todos os profissionais da contabilidade no exercício da
profissão. Ressalte-se que nesta norma, logo na parte introdutória, é chamada

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UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

a atenção para a responsabilidade da profissão quando o contador (contratado)


aceita exercer a atividade profissional para o cliente (contratante).

A aceitação da responsabilidade profissional é revestida da característica


de interesse público. Desse modo, a responsabilidade do profissional não se
limita, exclusivamente, a satisfazer as necessidades do cliente (contratante).
Ao atuar no interesse público, o profissional da contabilidade deve 2 observar e
cumprir a NBC PG 100. O não cumprimento de parte desta Norma ainda que
por determinação legal ou regulamentar não desobriga o profissional de cumprir
aquilo que não for vedado (CFC, 2011b).

2 De acordo com a seção 100.4 da Resolução NBC – PG 100, o uso da palavra “deve” nesta Norma impõe uma exigência ao
profissional da contabilidade, pessoa física ou jurídica, de cumprir as disposições específicas. O cumprimento é exigido a
menos que haja uma exceção permitida.

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ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

Veja o que diz a Seção 100, da NPC PG 100 do CFC, publicada em 25/3/2014,
sobre o normativo aplicado indistintamente a todos os profissionais da
contabilidade.

100.1 Uma marca característica da profissão contábil é a aceitação


da responsabilidade de agir no interesse público. Portanto, a
responsabilidade do profissional da contabilidade não é exclusivamente
satisfazer as necessidades do contratante. Ao agir no interesse público,
o profissional da contabilidade deve observar e cumprir esta Norma.
O não cumprimento de parte desta Norma por determinação legal ou
regulamentar não desobriga o profissional do cumprimento daquilo
que não for vedado.

100.2 Esta Norma estabelece a estrutura conceitual que o profissional da


contabilidade deve aplicar para:

» identificar ameaças ao cumprimento dos princípios éticos;

» avaliar a importância das ameaças identificadas; e

» aplicar salvaguardas, quando necessário, para eliminar as ameaças


ou reduzi-las a um nível aceitável. As salvaguardas são necessárias
quando o profissional da contabilidade avalia que as ameaças
não estão em nível em que um terceiro com experiência,
conhecimento e bom senso concluiria, ponderando todos os
fatos e circunstâncias específicas disponíveis para o profissional
da contabilidade naquele momento, que o cumprimento dos
princípios éticos não está comprometido.

O profissional da contabilidade deve usar julgamento profissional ao


aplicar essa estrutura conceitual.

100.3 As NBCs PG 200 e 300 descrevem como essa estrutura conceitual


se aplica em determinadas situações específicas, fornecendo exemplos
de salvaguardas que podem ser adequadas para tratar ameaças ao
cumprimento dos princípios éticos. Além disso, descrevem situações
em que não há salvaguardas disponíveis para tratar as ameaças e,
consequentemente, a circunstância ou relacionamento que cria as
ameaças deve ser evitado. A NBC PG 200 aplica-se ao profissional da
contabilidade externo e a NBC PG 300 ao profissional da contabilidade
interno, conforme definições desta Norma. O profissional da

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UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

contabilidade externo também pode aplicar a NBC PG 300 para


circunstâncias específicas.

[...]

100.5 O profissional da contabilidade deve cumprir os seguintes princípios


éticos:

» Integridade – ser franco e honesto em todos os relacionamentos


profissionais e comerciais.

» Objetividade – não permitir que comportamento tendencioso,


conflito de interesse ou influência indevida de outros afetem o
julgamento profissional ou de negócio.

» Competência profissional e devido zelo – manter o conhecimento


e a habilidade profissionais no nível adequado para assegurar
que clientes e/ou empregador recebam serviços profissionais
competentes com base em desenvolvimentos atuais da prática,
legislação e técnicas, e agir diligentemente e de acordo com as
normas técnicas e profissionais aplicáveis.

» Sigilo profissional – respeitar o sigilo das informações obtidas


em decorrência de relacionamentos profissionais e comerciais e,
portanto, não divulgar nenhuma dessas informações a terceiros,
a menos que haja algum direito ou dever legal ou profissional de
divulgação, nem usar as informações para obtenção de vantagem
pessoal pelo profissional da contabilidade ou por terceiros.

» Comportamento profissional – cumprir as leis e os regulamentos


pertinentes e evitar qualquer ação que desacredite a profissão.

Neste aspecto, a norma apresenta a estrutura conceitual sobre os princípios éticos


que o profissional da contabilidade deve aplicar quando estiver no exercício
da profissão. Caso o profissional identifique alguma “ameaça” com relação ao
cumprimento dos princípios éticos, primeiramente, ele avalia a “importância”
da ameaça identificada e na, sequência, ele aplica a/as “salvaguarda (s)”, para
eliminar a ameaça ou reduzi-la a um nível aceitável (CFC, 2014a).

Os princípios éticos descritos nesta norma são aplicados a todos os


profissionais da contabilidade, contadores externos, contadores internos,
peritos contábeis e no que couber aos técnicos em contabilidade.

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ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

Princípios éticos
A tabela a seguir apresenta de forma resumida os princípios éticos estabelecidos
pelo CFC para os profissionais da contabilidade.

Tabela 8. Princípios éticos do profissional da contabilidade.

Princípios éticos do profissional da contabilidade


Integridade O contabilista deve ser imparcial no exercício da profissão. “O profissional da contabilidade deve ser verdadeiro e
honesto em os seus relacionamentos profissionais e comerciais”.
Objetividade O profissional da contabilidade não deve permitir que comportamento tendencioso, conflito de interesse ou influência
indevida de outros afetem o julgamento profissional ou de negócio.
Competência profissional e O contabilista deve manter o conhecimento e a habilidade profissionais no nível adequado para assegurar que
devido zelo clientes e/ou empregador recebam serviços profissionais competentes com base no desenvolvimento de práticas,
uso da legislação e normas técnicas atualizadas.
Sigilo profissional O profissional da contabilidade deve respeitar o sigilo das informações obtidas em decorrência de relacionamentos
profissionais e comerciais. A menos que haja algum direito ou dever legal ou profissional de divulgação.
Comportamento profissional O profissional da contabilidade deve cumprir as leis e os regulamentos pertinentes e evitar qualquer ação que
desacredite a profissão.
Fonte: CFC (2014a).

Sugiro a leitura das Seções 110 a 150 da NPC PG 100 do CFC, publicada
em 25/3/2014, para reforçar o entendimento sobre os princípios éticos do
profissional da contabilidade.

O que significa ameaça para os profissionais


da contabilidade, diante da nova legislação
As ameaças são circunstâncias e relações, entre o contador e o cliente,
que criam situações que levam ao não cumprimento dos princípios éticos
pelos profissionais da contabilidade. De acordo com a NBC PG 100 (2014a),
as ameaças se enquadram em pelo menos uma das categorias a seguir
comentadas:

» A ameaça de interesse próprio – é uma categoria de ameaça


decorrente de interesses apresentados pelo profissional da
contabilidade que irá distorcer o julgamento ou o comportamento
profissional na prestação do serviço por ele realizada.

» A ameaça de autorrevisão – é uma categoria de ameaça que ocorre


quando o profissional da contabilidade, ou outra pessoa física ou
jurídica, ligada a ele direta ou indiretamente, presta o serviço e não
aplica adequadamente o critério de julgamento. Diante da incerteza
do julgamento aplicado por ele na realização do serviço prestado,
deve ser aplicada uma revisão.

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UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

» A ameaça de defesa de interesse do cliente – é uma categoria de


ameaça que ocorre quando o profissional da contabilidade presta
um serviço e aplica o critério de julgamento favorecendo o seu
cliente ou empregador e comprometendo a objetividade do
serviço prestado.

» A ameaça de familiaridade – é uma categoria de ameaça construída


a partir de um relacionamento longo ou próximo do profissional
da contabilidade com o cliente ou empregador, de modo que o
profissional se torna solidário aos interesses dele ou aceita
realizar o seu trabalho sem o comprometimento profissional.
Essa categoria de ameaça também compromete a objetividade do
serviço prestado.

» A ameaça de intimidação – é uma categoria de ameaça que ocorre


em decorrência de pressões reais ou aparentes, incluindo influências
indevidas, constrangendo ou contrariando a objetividade do serviço
prestado pelo profissional da contabilidade.

O que significa salvaguardas para o profissional da


contabilidade

As salvaguardas são ações ou medidas de proteção aplicadas pelos contadores


para eliminar ou reduzir ameaças a um nível aceitável, terminar ou declinar
o respectivo trabalho. Elas são classificadas em duas categorias amplas:
salvaguardas criadas pela profissão, pela legislação ou por regulamento; e
salvaguardas no ambiente de trabalho (CFC, 2012). Em todos os dois casos,
os profissionais da contabilidade devem exercer julgamento profissional ao
aplicar a estrutura conceitual.

Saiba mais sobre salvaguardas criadas para o profissional da


contabilidade com a leitura das Seções 110:14 e 110:16 da NPC PG 100
do CFC, publicada em 25/3/2014.

100.14 As salvaguardas criadas pela profissão, pela legislação ou por


regulamento incluem:

» requisitos educacionais, de treinamento e de experiência para


ingressar na profissão;

» requisitos de desenvolvimento profissional contínuo;

» regulamentos de governança corporativa;

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ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

» normas profissionais;

» monitoramento profissional ou regulatório e procedimentos


disciplinares;

» revisão externa por terceiro, legalmente autorizado, dos


relatórios, de documentos, das comunicações ou das
informações produzidas pelo profissional da contabilidade.

100.15 As NBCs PG 200 e 300 discutem as salvaguardas no ambiente de


trabalho para profissional da contabilidade externo e para profissional da
contabilidade interno, respectivamente.

100.16 Determinadas salvaguardas podem aumentar a probabilidade de


identificar ou evitar comportamento antiético. Essas salvaguardas, que
podem ser criadas pela profissão, pela legislação ou por regulamento ou
por organização empregadora, incluem:

» sistemas de reclamações eficazes e bem divulgados e


monitorados pela organização empregadora, pela classe ou por
órgão regulador, que permitem que colegas, empregadores e
membros da sociedade chamem atenção para comportamentos
não profissionais ou antiéticos;

» obrigação explicitamente declarada de comunicar desvios de


exigências éticas.

NBC específica para os contadores externos


(NBC PG 200)

Quem são os contadores externos

De acordo com o CFC (2014b), “Contador externo é o contador, independentemente


de sua especialização em firma (por exemplo, auditoria, impostos, consultoria
ou perícia), que presta serviços profissionais a clientes. O termo é também
usado em referência a uma firma de auditores”.

Assim como foram estabelecidos as circunstâncias e relacionamentos que podem


criar ameaças ao cumprimento dos princípios éticos para todos os profissionais

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UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

da contabilidade, conforme foi apresentado no tópico anterior, elas também são


extensíveis aos contadores externos. Nesse ponto, o CFC destaca, e vai mais
além reforçando, que é inerente ao Contador externo a permanente alerta
a essas circunstâncias e relacionamentos devido ao constante envolvimento
desses profissionais nos negócios ou atividades que possam prejudicar a sua
integridade, objetividade ou a boa reputação da profissão.

Neste sentido, a seguinte tabela se propõe a apresentar os exemplos de


circunstâncias que podem criar ameaças ao cumprimento dos princípios éticos.
Elas foram descritas (as ameaças), a partir da NBC PG 200, regulamentada
pelo CFC, e distribuídas em cada uma das categorias, interesse próprio,
autorrevisão, defesa de interesse do cliente, familiaridade e intimidação,
citadas anteriormente, com previsão na seção 200.3 da NBC PG 200 do CFC.

Saiba mais sobre circunstâncias que podem criar ameaças ao


cumprimento dos princípios éticos do contador externo, lendo as
Seções 200.4 a 200.8 da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014.

Tabela 9. Exemplos de circunstâncias que podem criar ameaças ao cumprimento dos princípios éticos,

distribuídas por categorias.

INTERESSE PRÓPRIO AUTORREVISÃO DEFESA DE FAMILIARIDADE INTIMIDAÇÃO


INTERESSE DO
CLIENTE
Um membro da equipe A firma emite relatório de O profissional, pessoa O membro da equipe A firma é ameaçada de
de trabalho tem interesse asseguração sobre a eficácia física ou jurídica, de trabalho tem familiar ser dispensada do trabalho
financeiro direto no cliente de da operação de sistemas promove venda de próximo ou imediato que do cliente;
asseguração; financeiros depois de planejar ações de cliente de é conselheiro ou diretor
ou implementar os sistemas; auditoria; do cliente;
A firma depende A firma prepara os dados O contador O membro da equipe O cliente de auditoria
significativamente dos originais usados para gerar externo atua como de trabalho tem familiar indica que não contratará
honorários de um cliente; registros que são objeto do representante em próximo ou imediato que a firma para outro
trabalho de asseguração; defesa de cliente de é empregado do cliente serviço planejado de
auditoria em litígios ou em cargo que exerça não asseguração se ela
disputas com terceiros. influência significativa continuar discordando do
sobre o objeto do tratamento contábil do
trabalho; cliente para uma transação
específica;
Um membro da equipe de O membro da equipe O contador externo que A firma é ameaçada de
trabalho tem relacionamento de trabalho é, ou foi aceita presentes ou litígio pelo cliente;
comercial próximo e recentemente, conselheiro ou tratamento preferencial
significativo com cliente de diretor do cliente; do cliente, a menos que o
asseguração; valor seja insignificante ou
sem importância;
A firma está preocupada com O membro da equipe A longa associação de A firma é pressionada
a possibilidade de perder um de asseguração é, ou foi pessoal sênior com a reduzir de forma não
cliente significativo; recentemente, contratado pelo cliente de asseguração. apropriada a extensão do
cliente para exercer cargo que trabalho executado para
tenha influência significativa reduzir honorários;
sobre o objeto do trabalho;

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ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

INTERESSE PRÓPRIO AUTORREVISÃO DEFESA DE FAMILIARIDADE INTIMIDAÇÃO


INTERESSE DO
CLIENTE
Um membro da equipe de A firma executa serviço para O contador externo é
auditoria entra em negociação o cliente de asseguração pressionado a concordar
de emprego com cliente de que afeta diretamente as com o julgamento de
auditoria; informações sobre o objeto do empregado do cliente
trabalho de asseguração. porque o empregado tem
O profissional, pessoa física
mais conhecimento sobre
ou jurídica, assina contrato
o assunto em questão;
de honorários contingentes
relacionados com trabalho de O contador externo é
asseguração; informado por sócio
da firma de que uma
O contador externo descobre
promoção planejada
erro significativo ao avaliar
não ocorrerá, a menos
os resultados de serviço
que ele concorde com
profissional anterior executado
o tratamento contábil
por membro da própria firma
inapropriado de cliente de
do contador externo.
auditoria.
Fonte: CFC (2014b).

Quais os tipos de relacionamentos vinculados à


nomeação do profissional que podem causar
ameaças aos princípios éticos do contador externo

Aceitação do cliente

O contador externo deve avaliar, antes de aceitar o relacionamento com o novo


cliente, se a aceitação da prestação dos serviços profissionais criará ameaças ao
cumprimento dos princípios éticos. Por exemplo, a aceitação de cliente que está
envolvido em assuntos questionáveis cria uma ameaça potencial à integridade ou
ao comportamento profissional (seus proprietários, sua administração ou suas
atividades) (CFC, 2014b).

Veja mais sobre a avaliação do cliente pelo contador externo, antes de


aceitar o relacionamento com esse novo cliente, nas Seções 210.2 a
210.5 da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014, a seguir citada:

210.2 Os assuntos do cliente que, se conhecidos, poderiam ameaçar o


cumprimento dos princípios éticos incluem, por exemplo, o envolvimento
do cliente em supostas atividades ilegais (como lavagem de dinheiro),
desonestidade ou práticas questionáveis de apresentação de relatórios
financeiros.

210.3 O contador externo deve avaliar a importância de quaisquer


ameaças e aplicar salvaguardas quando necessário para eliminá-las ou
reduzi-las a um nível aceitável.

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UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Exemplos dessas salvaguardas incluem:

» obtenção de conhecimento e entendimento do cliente, seus


proprietários e os responsáveis por sua governança e atividades
comerciais; ou

» representação do cliente de que irá aperfeiçoar as práticas ou os


controles de governança corporativa.

210.4 Quando não é possível reduzir as ameaças a um nível aceitável, o


contador externo deve recusar-se a iniciar o relacionamento com o cliente.

210.5 Recomenda-se que o contador externo revise periodicamente as


decisões de aceitação para trabalhos de clientes recorrentes.

Aceitação do trabalho

Da mesma forma procede o raciocínio quando se trata de aceitar um trabalho


específico de um cliente. O contador externo deve avaliar se ao aceitar um
trabalho, essa aceitação implicaria em ameaça ao cumprimento dos princípios
éticos. Por exemplo, se a equipe de trabalho não tem, ou não pode obter, as
competências necessárias para executar adequadamente o trabalho, então essa
equipe de profissional infringe o princípio ético pela ameaça de interesse próprio
à competência profissional e ao devido zelo. Os princípios éticos de competência
profissional e devido zelo impõem ao contador externo a obrigação de prestar
somente os serviços que ele tiver competência para executar (CFC, 2014b).

Veja mais sobre a avaliação do trabalho pelo contador externo, antes de


aceitar um trabalho novo ou específico de um cliente, nas Seções 210.7 e
210.8 da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014, a seguir citada:

210.7 O contador externo deve avaliar a importância de ameaças e aplicar


salvaguardas, quando necessário, para eliminá-las ou reduzi-las a um nível
aceitável. Exemplos dessas salvaguardas incluem:

» obtenção do entendimento apropriado da natureza do negócio


do cliente, da complexidade de suas operações, dos requisitos
específicos do trabalho e do objetivo, da natureza e do alcance
do trabalho a ser executado;

» obtenção de conhecimento dos setores ou temas pertinentes;

» possuir ou obter experiência a respeito dos requisitos


regulatórios ou em relação aos relatórios pertinentes;

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ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

» designação de pessoal em número suficiente com as


competências necessárias;

» utilização de especialistas quando necessário;

» acordo para a execução do trabalho dentro de prazo realista;

» cumprimento de políticas e procedimentos de controle de


qualidade projetados para fornecer segurança razoável de que
trabalhos específicos são aceitos somente quando puderem ser
executados adequadamente.

210.8 Quando o contador externo pretende confiar na recomendação


ou no trabalho de especialista, o contador externo deve avaliar se
essa confiança é aceitável. Os fatores a serem considerados incluem:
inexistência de evidência que impactem na reputação, especialização,
recursos disponíveis e normas profissionais e éticas aplicáveis.
Essas informações podem ser obtidas da associação anterior com o
especialista ou por consulta de outras pessoas, ainda que verbais.

Mudanças na nomeação profissional

De acordo com a seção 210.9 da NBC PG 200 (CFC, 2014b):

O contador externo que é solicitado a substituir outro contador


externo, ou que está considerando oferecer-se para um trabalho
atualmente executado por outro contador, deve avaliar se há
alguma razão, seja profissional ou de outra natureza, para não
aceitar o trabalho, como circunstâncias que criam ameaças
ao cumprimento dos princípios éticos que não podem ser
eliminadas ou reduzidas a um nível aceitável pela aplicação de
salvaguardas. Por exemplo, pode haver ameaça à competência
profissional e ao devido zelo se o contador, nessas circunstâncias,
aceita o trabalho antes de solicitar e avaliar os esclarecimentos
pertinentes.

Veja mais sobre a avaliação de mudança de profissional pelo contador


externo, antes de aceitar um trabalho novo ou específico de um
cliente, nas Seções 210.10 a 210.14 da NPC PG 200 do CFC, publicada
em 24/1/2014.

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UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Quais as situações que caracterizam conflitos de


interesse quando o contador externo exerce a
atividade profissional

“Um conflito de interesse gera uma ameaça à objetividade dos serviços


profissionais e ele pode inclusive ameaçar outros princípios éticos”, tal situação é
caracterizada, por exemplo, quando:

o serviço profissional estiver relacionado a uma questão particular


para dois ou mais clientes cujos interesses a respeito daquela
questão estão em conflito; ou (CFC, 2014b)

os interesses do contador a respeito de uma questão particular e


os interesses do cliente para quem o contador fornece os serviços
profissionais relacionados à questão estão em conflito (CFC, 2014b).

“O contador externo não deve de forma alguma consentir que um conflito


de interesse coloque em suspeita o julgamento profissional ou dos negócios”
(CFC, 2014b, p. Seção 220.1). Diante do novo contexto regulatório de normas
de contabilidade disposto no Brasil, não só as normas relativas às práticas de
contabilidade passam por reestruturação, mas também, as normas relativas
ao profissional da contabilidade. Estas últimas perpassam pela mudança de
comportamento do profissional contábil que antes preparava a contabilidade
pela lógica de um conjunto de normas por regras para o cenário atual de normas
por princípios, que requer uma aproximação maior com a matéria em estudo – o
fenômeno contábil. Essa aproximação maior com o fenômeno contábil, faz com
que o profissional contábil perceba e julgue-o por sua essência econômica.

Veja mais sobre conflito de interesse nas Seções 220.2 a 220.14 da


NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014.

Nesse contexto, a mesma analogia que se aplicou a uma situação de conflito


de interesse, se estende para emissão de segunda opinião, honorários e
outros tipos de remuneração, divulgação comercial de serviços profissionais,
presentes e afins, custódia de ativos de clientes e objetividade em todos os
serviços.

Quando a segunda opinião pode criar uma


ameaça aos princípios éticos do contador externo

A segunda opinião gera uma ameaça aos princípios éticos de um contador externo
quando esse contador gera essa opinião sobre um trabalho já realizado sem se

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ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

basear no mesmo conjunto de critérios adotados anteriormente para fornecer


a primeira opinião (CFC, 2014b).

Veja mais sobre segunda opinião gerada pelo contador externo, antes
de opinar em trabalho de um cliente, nas Seções 230.1 a 230.3 da NPC
PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014, a seguir citada:

230.1 Situações em que o contador externo é solicitado a fornecer uma


segunda opinião sobre a aplicação de normas ou princípios contábeis,
de auditoria, de apresentação de relatórios ou outros a circunstâncias
ou transações específicas por ou em nome de empresa ou entidade
que não é cliente existente podem criar ameaças ao cumprimento
dos princípios éticos. Por exemplo, pode haver ameaça à competência
profissional e ao devido zelo em circunstâncias em que a segunda
opinião não for baseada no mesmo conjunto de fatos disponibilizados
ao contador externo que forneceu a primeira opinião ou for baseada
em evidência inadequada. A existência e a importância de qualquer
ameaça dependem das circunstâncias da solicitação e de todos os
outros fatos e premissas disponíveis relevantes para a emissão de
julgamento profissional.

230.2 Quando solicitado a fornecer essa segunda opinião, o contador


externo deve avaliar a importância de quaisquer ameaças e aplicar
salvaguardas quando necessário para eliminá-las ou reduzi-las a
um nível aceitável. Exemplos dessas salvaguardas incluem solicitar
permissão ao cliente de contatar o contador externo que forneceu
a primeira opinião, descrevendo nas comunicações com o cliente as
limitações de qualquer opinião, e fornecendo cópia da opinião ao
contador externo que forneceu a primeira opinião.

230.3 Se a empresa ou a entidade que está solicitando a opinião


não permitir a comunicação com o contador externo que forneceu
a primeira opinião, o contador externo não deve fornecer a opinião
solicitada.

Como o contador externo deve se comportar


diante da negociação de honorários e outros tipos
de remuneração

O contador externo pode entrar em negociação sobre os serviços profissionais e


cotar o seu honorário por um preço mais baixo do que é praticado normalmente,
47
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

desde que o honorário negociado seja adequado para realizar os serviços


profissionais. O fato de um contador externo, em uma negociação sobre os
honorários, concordar com o preço mais baixo não significa que ele está sendo
antiético. O que ele não deve fazer é baixar o preço do honorário e não realizar
os serviços profissionais porque o honorário não é adequado para os serviços
contratados. Aqui sim, o contador externo gera uma ameaça de interesse próprio
contra o princípio ético de competência profissional e devido zelo. Os honorários
foram acordados em um preço tão baixo que é difícil executar o trabalho de
acordo com as normas profissionais e técnicas aplicáveis pelo referido preço. A
solução é aplicar uma salvaguarda para sanar a ameaça ou o contador externo
será responsabilizado e penalizado porque descumpriu um princípio ético (CFC,
2014b, p. Seção 240.1).

Veja mais sobre honorários e outros tipos de remuneração nas Seções


240.2 a 240.8 da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014.

Quando a divulgação comercial de serviços


profissionais compromete os princípios éticos dos
contadores externos

“O contador externo não deve fazer marketing dos serviços profissionais


desprestigiando a profissão. Acima de tudo, esse contador deve ser honesto,
verdadeiro (CFC, 2014b, p. Seção 250.2) e:

Não fazer declarações exageradas sobre os serviços oferecidos, as


qualificações que têm ou a experiência obtida; ou

não fazer referências depreciativas ou comparações infundadas


com o trabalho de outro profissional (CFC, 2014b).

Veja mais sobre divulgação comercial de serviços profissionais na Seção


250.1 da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014, a seguir citada:

250.1 Quando o contador externo procurar novo trabalho por meio


de propaganda ou outras formas de marketing, pode haver ameaça ao
cumprimento dos princípios éticos. Por exemplo, ameaça de interesse próprio
ao cumprimento do princípio de comportamento profissional é criada
se os serviços, as realizações ou os produtos forem promovidos de forma
inconsistente com esse princípio.

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ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

Da mesma forma, os contadores externos devem avaliar a questão dos presentes


e afins. A ameaça se apresenta a depender da natureza, do valor e da intenção
da oferta (CFC, 2014b). Nesse caso, o bom mesmo é aplicar a salvaguarda
preventiva e evitar a questão dos presentes e afins.

Veja mais sobre a questão dos presentes e afins nas Seções 260.1 a 260.3
da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014, a seguir citada:

260.1 O cliente pode oferecer presentes e afins ao contador externo,


ou a familiar imediato ou próximo. Essa oferta pode criar ameaças
ao cumprimento dos princípios éticos. Por exemplo, pode ser criada
ameaça de interesse próprio ou ameaça de familiaridade à objetividade
se o presente de cliente for aceito pelo contador externo. Pode surgir
ameaça de intimidação à objetividade como resultado da possibilidade
de essas ofertas serem divulgadas.

260.2 A existência e a importância de qualquer ameaça dependem


da natureza, do valor e da intenção da oferta. Quando presentes ou
afins forem oferecidos de forma que um terceiro com experiência,
conhecimento e bom senso, ponderando todos os fatos e circunstâncias
específicas, consideraria serem insignificantes ou sem importância, o
contador externo pode concluir que a oferta está sendo feita no curso
normal do negócio sem a intenção específica de influenciar a tomada
de decisões ou obter informações. Nesses casos, o contador externo
pode geralmente concluir que não há nenhuma ameaça significativa
ao cumprimento dos princípios éticos.

260.3 O contador externo deve avaliar a importância de quaisquer ameaças


e aplicar salvaguardas quando necessário para eliminá-las ou reduzi-las
a um nível aceitável. Quando as ameaças não podem ser eliminadas ou
reduzidas a um nível aceitável mediante a aplicação de salvaguardas, o
contador externo não deve aceitar essa oferta.

O contador externo não deve assumir a custódia de numerários ou outros


ativos de clientes, a não ser nos casos permitido por lei. E quando o caso está
previsto em lei, a custódia deve estar de acordo com a legislação imposta
(CFC, 2014b).

Veja mais sobre custódia de ativo de clientes nas Seções 270.1 a 270.3
da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014.

49
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

O contador externo, ao prestar serviço profissional de qualquer natureza,


ele deve observar se existe ameaça ao cumprimento do princípio ético de
objetividade resultante de interesses em clientes ou em relacionamentos
com conselheiros, diretores ou empregados das empresas. Por exemplo, a
ameaça de familiaridade contra o princípio da objetividade pode ser criada por
relacionamento familiar ou pessoal, até mesmo o relacionamento comercial
próximo (CFC, 2014b).

Veja mais sobre objetividade em todos os serviços nas Seções 280.1 a


280.4 da NPC PG 200 do CFC, publicada em 24/1/2014, a seguir citada:

280.1 O contador externo deve avaliar ao prestar qualquer serviço


profissional se existem ameaças ao cumprimento do princípio ético de
objetividade resultante de interesses em cliente ou seus conselheiros,
diretores ou empregados, ou de relacionamentos com eles. Por exemplo,
ameaça de familiaridade ao princípio de objetividade pode ser criada
por relacionamento familiar ou pessoal ou comercial próximo.

280.2 O contador externo que prestar serviço de asseguração deve ser


independente do cliente de asseguração. É necessária independência de
pensamento e na aparência para permitir que o contador externo expresse
sua conclusão e seja reconhecido por expressá-la de forma imparcial, sem
conflito de interesse ou influência indevida de outros. As NBCs PA 290 e
291 fornecem orientação específica sobre requisitos de independência
para contadores que atuam na prática da auditoria independente na
execução de trabalhos de asseguração.

280.3 A existência de ameaças de objetividade na prestação de qualquer


serviço profissional depende das circunstâncias específicas do trabalho
e da natureza do trabalho que o contador externo está executando.

280.4 O contador externo deve avaliar a importância de quaisquer


ameaças e aplicar salvaguardas quando necessário para eliminá-las ou
reduzi-las a um nível aceitável. Exemplos dessas salvaguardas incluem:

» retirar-se da equipe de trabalho;

» procedimentos de supervisão;

» término da relação financeira ou comercial que está gerando a


ameaça;

50
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

» discussão do assunto com níveis superiores da administração


na firma;

» discussão do assunto com os responsáveis pela governança do


cliente.

Se as salvaguardas não puderem eliminar ou reduzir a ameaça a


um nível aceitável, o contador externo deve recusar ou rescindir o
respectivo contrato de trabalho.

NBC específica para os contadores que atuam


como peritos contábeis (NBC PP 01)

Quem é o perito contábil

O perito contábil é o contador que, exerce a atividade pericial de forma


individual, ele deve ser um profundo conhecedor com experiências e
qualidade na matéria periciada e deve ser regularmente registrado em
Conselho Regional de Contabilidade (CFC, 2015).

Quais são as modalidades de peritos

As modalidades dos peritos são: Perito oficial, perito do juízo e perito-assistente.

O perito oficial é o contador que exerce a atividade por profissão, investido


na função por lei e pertencente a um quadro especial do Estado destinado,
exclusivamente, a produzir perícias (CFC, 2015).

» O perito do juízo é o contador que exerce a atividade nomeado


pelo juiz, árbitro, autoridade pública ou privada para produzir
perícia contábil (CFC, 2015).

» O perito-assistente é o contador que é contratado e indicado pela


parte para produzir perícia contábil (CFC, 2015).

Como o perito deve se habilitar para exercer a sua


atividade

O perito deve comprovar sua habilitação por intermédio de Certidão


de Regularidade Profissional emitida pelos Conselhos Regionais de
Contabilidade (CFC, 2015).
51
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Veja mais sobre habilitação profissional nos itens 7 e 8 da NPC PP01 do


CFC, publicada em 27/2/2015.

O que significa impedimento e suspeição para o


perito no exercício da profissão

Impedimento e suspeição são situações de fato ou circunstanciais que impedem o


perito de exercer, regularmente, suas atividades periciais em processo judicial ou
extrajudicial, inclusive arbitral (CFC, 2015).

Veja mais sobre impedimento e suspeição nos itens 10 a 12 da NPC


PP01 do CFC, publicada em 27/2/2015.

De acordo com o Art. 422, do Código de Processo Civil Comentado (CPC),


“o perito deve cumprir cuidadosamente a função que lhe foi atribuída,
independente de termo de compromisso”. Mas também, “pode escusar-se
(art. 146), ou ser recusado por impedimento ou suspeição (art. 138, III). O
juiz ao aceitar a escusa ou julgar procedente a impugnação, imediatamente
nomeará novo perito. (Redação dada pela Lei n o 8.455, de 24/8/1992) (CPC
COMENTADO, 2015, p. Art. 423).

Ainda de acordo com o comentário disposto no CPC, assim como o juiz, é o perito.
Este deve funcionar no processo apenas e tão somente profissionalmente.
Caso o perito tenha algum tipo de relação com a parte, ele deve se declarar
impedido ou suspeito, sob pena de quebra da imparcialidade do próprio juízo.
O perito é longa manus do juiz.

Quando o perito do juízo deve declarar-se impedido

O perito do juízo deve se declarar impedido quando não puder exercer suas
atividades, observados os termos do Código de Processo Civil (CFC, 2015).

Quando o perito do juízo e o perito-assistente devem


declarar-se suspeito

O perito do juízo ou perito-assistente devem declarar-se suspeito quando, após


nomeado ou contratado, verificar a ocorrência de situações que venham suscitar
suspeição em função da sua imparcialidade ou independência e, dessa maneira,
comprometer o resultado do seu trabalho em relação à decisão (CFC, 2015).
52
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

Sugiro a leitura no artigo disponível no site: http://www.assesso.


net/materias/contencioso-judicial/pericia-judicial--impedimento-e -
suspeicao-46.html.

Quais os casos de suspeição que estão sujeitos o


perito do juízo

» ser amigo íntimo de qualquer das partes;

» ser inimigo capital de qualquer das partes;

» ser devedor ou credor em mora de qualquer das partes, dos seus


cônjuges, de parentes destes em linha reta ou em linha colateral
até o terceiro grau ou empresas das quais esses façam parte de
seu quadro societário ou de direção;

» ser herdeiro presuntivo ou donatário de alguma das partes ou dos


seus cônjuges;

» ser parceiro, empregador ou empregado de alguma das partes;

» aconselhar, de alguma forma, parte envolvida no litígio acerca do


objeto da discussão;

» houver qualquer interesse no julgamento da causa em favor de


alguma das partes;

» ou ainda, por motivo íntimo (CFC, 2015).

O perito ao concordar em exercer as atividades de perícia contábil, judicial ou


extrajudicial, ele deve ter conhecimento profundo sobre a questão profissional
em si e sobre as responsabilidades sociais, éticas e legais que está sujeito
(CFC, 2015).

No contexto ético e profissional, “a conduta e o bom procedimento moral é aquele


que atende ou está fundamentado num conjunto de regras consideradas como
válidas, sob o ângulo absoluto para determinado tempo ou lugar, quer para uma
classe social, profissional ou determinadas pessoa” (FORTES, 2001, p. 49).

A responsabilidade do perito tem relação direta com a complexidade do


empenho que deve ser dispensado com a finalidade de produzir a solução
da lide. O perito do juízo, deve desempenhar suas funções, suportado pela

53
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

imparcialidade e igualdade de tratamento entre as partes e entre os peritos-


assistentes (CFC, 2015). Nesse ponto, é importante saber que não é tratada
como parcialidade no decorrer das atividades de perícia dar atenção a um
pleito entre as partes ou os assistentes, desde que essa atenção seja tratada
dentro da legalidade e em igualdade entre as partes. Além disso, também
não é tratada como parcialidade fazer uso de trabalho técnico-científico
anteriormente publicado (CFC, 2015).

Responsabilidade civil e penal

A legislação civil determina responsabilidades e penalidades para os


profissionais que exercem a função de perito, elas se apresentam em multa,
indenização e inabilitação profissional, a depender da gravidade da infração
(CFC, 2015).

A legislação penal prevê punições para os profissionais que exercem a função


de perito, elas são multas e reclusões, que variam a depender da gravidade da
infração cometida pelos profissionais que descumprem as normas legais (CFC,
2015).

O que significa zelo profissional

De acordo com a nova redação dada as normas do perito contábil, o zelo


profissional refere-se ao cuidado que o perito deve dispensar na execução de
suas tarefas, em relação à:

» conduta;

» documentos;

» prazos;

» tratamento dispensado às autoridades, aos integrantes da lide e


aos demais profissionais 3.

O zelo profissional garante que sua pessoa seja respeitada, seu trabalho
levado a bom termo e, consequentemente, o laudo pericial contábil e o parecer
técnico-contábil sejam dignos de fé pública (CFC, 2015).

3 A transparência e o respeito recíprocos entre o perito do juízo e o perito-assistente pressupõem tratamento impessoal,
restringindo os trabalhos, exclusivamente, ao conteúdo técnico-científico (CFC, 2015).

54
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

Quais são as atitudes que o perito deve


desempenhar com o objetivo de garantir o zelo
pela profissão

» cumprir os prazos fixados pelo juiz em perícia judicial e nos termos


contratados em perícia extrajudicial, inclusive arbitral;

» assumir a responsabilidade pessoal por todas as informações


prestadas, quesitos respondidos, procedimentos adotados,
diligências realizadas, valores apurados e conclusões apresentadas
no laudo pericial contábil e no parecer técnico-contábil;

» prestar os esclarecimentos determinados pela autoridade


competente, respeitados os prazos legais ou contratuais;

» propugnar pela celeridade processual, valendo-se dos meios que


garantam eficiência, segurança, publicidade dos atos periciais,
economicidade, o contraditório e a ampla defesa;

» ser prudente, no limite dos aspectos técnico-científicos, e atento às


consequências advindas dos seus atos;

» ser receptivo aos argumentos e críticas, podendo ratificar ou


retificar o posicionamento anterior;

» ser responsável pelo trabalho de sua equipe técnica, a qual


compreende os auxiliares para execução do trabalho complementar
do laudo pericial contábil e/ou parecer técnico-contábil;

» requerer a dilação do prazo antes do mesmo ser vencido,


apresentando os motivos que ensejaram a solicitação, sempre que
não for possível concluir o laudo pericial contábil no prazo fixado
pelo juiz;

» estipular os prazos necessários para a execução dos trabalhos junto


com a proposta de honorários e com a descrição dos serviços a
executar, quando a perícia for extrajudicial;

» comunicar às partes, para ciência de seus assistentes, a realização


de diligências, durante a elaboração do laudo pericial, para busca
de provas, quando necessária.
55
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Quando o perito contábil pode utilizar o trabalho de um


especialista

O perito contábil pode utilizar o trabalho de um especialista quando a atividade


pericial que está sendo executada requer matéria substantiva para a solução da
lide. Ressalte-se que se essa inclusão for necessária, as informações, contidas
em seu laudo ou parecer, prestadas pelo especialista e os documentos anexados,
objeto do trabalho especial, são de inteira responsabilidade do perito-contador
(CFC, 2015).

Relativamente à questão dos honorários, o perito


contábil deve:

» elaborar a proposta de honorários, considerando os seguintes


fatores: a relevância, o vulto, o risco, a complexidade, a quantidade
de horas, o pessoal técnico, o prazo estabelecido e a forma de
recebimento, entre outros fatores;

» estimar, quando possível, o número de horas para a realização


do trabalho, por etapa e por qualificação dos profissionais,
considerando os seguintes elementos: retirada e entrega do processo
ou procedimento arbitral; leitura e interpretação do processo;
elaboração de termos de diligências para arrecadação de provas e
comunicações às partes, terceiros e peritos-assistentes; realização
de diligências; pesquisa documental e exame de livros contábeis,
fiscais e societários; elaboração de planilhas de cálculo, quadros,
gráficos, simulações e análises de resultados; elaboração do laudo;
reuniões com peritos-assistentes, quando for o caso; revisão final;
despesa com viagens, hospedagens, transporte, alimentação, etc.;
outros trabalhos com despesas supervenientes;

» ressaltar, em sua proposta de honorários, que esta não contempla


os honorários relativos a quesitos suplementares e, se estes forem
formulados pelo juiz e/ou pelas partes, pode haver incidência de
honorários complementares a serem requeridos, observando os
mesmos critérios adotados para elaboração da proposta inicial
(quesitos suplementares);

» apresentar sua proposta de honorários devidamente fundamentados;

56
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

» explicitar a sua proposta no contrato que, obrigatoriamente,


celebrará com o seu cliente, observando as normas estabelecidas
pelo Conselho Federal de Contabilidade, conforme modelo
exemplificado de contrato, que pode ser utilizado, apresentado nos
anexos;

» prestar esclarecimentos sobre o conteúdo do laudo pericial contábil


ou do parecer técnico-contábil, em atendimento à determinação do
juiz ou árbitro que preside o feito, sem ensejar novos honorários
periciais, se esses esclarecimentos forem relativos às condições de
trabalho já estabelecida na proposta de honorários. Caso contrário,
são consideradas quesitos suplementares (CFC, 2015).

Como o perito pode levantar os honorários

O perito-contador pode levantar os honorários parcialmente ou totalmente. A


depender da necessidade para custear as despesas de perícia em andamento.
Ele deve requerer parcialmente o desembolso dos honorários ao juiz ou
ao contratante, apresentando em seguida a comprovação. Ou ele pode
quitar totalmente a depender da proposta inicial de honorários. Atenção, a
flexibilidade para requerer parcialmente os honorários só corre se não tiver
sido estabelecido ou quantificado nenhuma condição na proposta inicial
de honorários. Além disso, também, pode executar, judicialmente, em
conformidade com os dispositivos do Código de Processo Civil, quando os
honorários periciais fixados ou arbitrados não forem quitados (CFC, 2015).

Despesas supervenientes na execução da perícia

As despesas supervenientes são as que surgem após iniciar a execução da perícia.


Pode ser necessário o deslocamento, do perito-contador ou do perito-assistente,
para realizar diligência sobre o objeto periciado, como viagens e estadas, entre
outros. Caso essa despesa não esteja prevista ou quantificada na proposta inicial
de honorários, o perito deve requerer ao juízo ou solicitar ao contratante o
pagamento das despesas, apresentando posteriormente a devida comprovação
(CFC, 2015).

Ressalte-se que o perito-contador deve elaborar a proposta inicial de


honorários considerando os fatores que são previstos na legislação contábil e
as situações que são previstas para a execução da perícia a depender do objeto a
ser periciado. Com base nessas considerações, é importante que a proposta

57
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

inicial de honorários contemple inclusive a previsão de despesas suplementares


no sentido de agilizar o trabalho pericial. No sentido de ampliar a discussão
acerca dos honorários, ver quais são as exigências dispostas no tópico sobre
as questões dos honorários, nesse capítulo, que são de responsabilidade do
perito-contador.

Sugiro a leitura do assunto sobre Perícia contábil e o laudo de exame


contábil no artigo publicado por Wermann, José Jair, em 2010.
Disponivel em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/27217

Sugiro a leitura do assunto sobre Perícia contábil e o laudo pericial


no artigo publicado por Anjos et al, publicado em 2010. Disponivel
em: https://por talseer.ufba.br/index.php/rcontabilidade/ar ticle/
view/3828/3352

58
CAPÍTULO 3
Conduta ética profissional

O Código de Ética Profissional do Contador, também aplicado ao Técnico


em Contabilidade, no exercício de suas prerrogativas profissionais, tem por
objetivo fixar a conduta do contador, quando no exercício da sua atividade e
nos assuntos relacionados à profissão e à classe.

O contador ao exercer a atividade profissional, ele deve seguir os preceitos do


Código de Ética, Normas Brasileiras de Contabilidade e legislação vigente, com a
finalidade de manter a conduta ética ilibada.

Deveres do profissional contabilista em


relação à profissão contábil

Quadro 2. Deveres do Contador e do Técnico em Contabilidade, no desempenho de suas funções profissionais.

Deveres éticos do contabilista


» exercer a profissão com zelo, diligência, honestidade e capacidade técnica, observando as Normas Brasileiras de Contabilidade e a legislação
vigente, resguardando o interesse público, os interesses de seus clientes ou empregadores, sem prejuízo da dignidade e independência
profissionais;
» recusar sua indicação em trabalho quando reconheça não se achar capacitado para a especialização requerida;
» guardar sigilo sobre o que souber em razão do exercício profissional, inclusive no âmbito do serviço público, ressalvados os casos previstos em
lei ou quando solicitado por autoridades competentes, entre estas, os Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade;
» informar a quem de direito, obrigatoriamente, fatos que conheça e que considere em condições de exercer efeito sobre o objeto do trabalho,
respeitado o disposto na alínea (c) deste item;
» aplicar as salvaguardas previstas pela profissão, pela legislação, por regulamento ou por organização empregadora toda vez que identificar ou
for alertado da existência de ameaças mencionadas nas normas de exercício da profissão contábil, observando o seguinte:
› tomar medidas razoáveis para evitar ou minimizar conflito de interesses;
› quando não puder eliminar ou minimizar a nível aceitável o conflito de interesses, adotar medidas de modo a não perder a independência
profissional;
» abster-se de expressar argumentos ou dar conhecimento de sua convicção pessoal sobre os direitos de quaisquer das partes interessadas, ou
da justiça da causa em que estiver servindo, mantendo seu trabalho no âmbito técnico e limitando-se ao seu alcance;
» abster-se de interpretações tendenciosas sobre a matéria que constitui objeto do trabalho, mantendo a independência profissional;
» zelar pela sua competência exclusiva na orientação técnica dos serviços a seu cargo, abstendo-se de emitir qualquer opinião em trabalho de
outro contador, sem que tenha sido contratado para tal;
» comunicar, desde logo, ao cliente ou ao empregador, em documento reservado, eventual circunstância adversa que possa gerar riscos e
ameaças ou influir na decisão daqueles que são usuários dos relatórios e serviços contábeis como um todo;
» despender os esforços necessários e se munir de documentos e informações para inteirar-se de todas as circunstâncias, antes de emitir opinião
sobre qualquer caso;
» renunciar às funções que exerce, logo que se positive falta de confiança por parte do cliente ou empregador e vice-versa, a quem deve notificar
por escrito, respeitando os prazos estabelecidos em contrato;

59
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Deveres éticos do contabilista


» quando substituído em suas funções, informar ao substituto sobre fatos que devam chegar ao conhecimento desse, a fim de contribuir para o
bom desempenho das funções a serem exercidas;
» manifestar, imediatamente, em qualquer tempo, a existência de impedimento para o exercício da profissão;
» ser solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja defendendo remuneração condigna, seja zelando por condições de
trabalho compatíveis com o exercício ético-profissional da Contabilidade e seu aprimoramento técnico;
» cumprir os Programas de Educação Profissional Continuada de acordo com o estabelecido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC);
» comunicar imediatamente ao CRC a mudança de seu domicílio ou endereço, inclusive eletrônico, e da organização contábil de sua
responsabilidade, bem como informar a ocorrência de outros fatos necessários ao controle e fiscalização profissional;
» atender à fiscalização do exercício profissional e disponibilizar papéis de trabalho, relatórios e outros documentos solicitados; e
» informar o número de registro, o nome e a categoria profissional após a assinatura em trabalho de contabilidade, propostas comerciais,
contratos de prestação de serviços e em todo e qualquer anúncio, placas, cartões comerciais e outros.
Fonte: NBC PG 01 (2019).

Quadro 3. Vedações ao Contador, no exercício de suas funções profissionais.

Vedação ao Contador e ao Técnico em Contabilidade


1 assumir, direta ou indiretamente, serviços de qualquer natureza, com 13 orientar o cliente ou o empregador contra Normas Brasileiras de
prejuízo moral ou desprestígio para a classe; Contabilidade e contra disposições expressas em lei;
2 auferir qualquer provento em função do exercício profissional que 14 exercer atividade ou ligar o seu nome a empreendimentos com
não decorra exclusivamente de sua prática lícita; finalidades ilícitas;
3 assinar documentos ou peças contábeis elaborados por outrem 15 emitir referência que identifique o cliente ou o empregador, com
alheio à sua orientação, supervisão ou revisão; quebra de sigilo profissional, em publicação em que haja menção a
trabalho que tenha realizado ou orientado, salvo quando autorizado
por eles;
4 exercer a profissão, quando impedido, inclusive quando for 16 iludir ou tentar iludir a boa-fé de cliente, empregador ou de terceiros,
procurador de seu cliente, mesmo que com poderes específicos, alterando ou deturpando o exato teor de documentos, inclusive
dentro das prerrogativas profissionais; eletrônicos, e fornecer falsas informações ou elaborar peças
contábeis inidôneas;
5 facilitar, por qualquer meio, o exercício da profissão aos não 17 não atender, no prazo estabelecido, à notificação dos Conselhos
habilitados ou impedidos; Federal e Regionais de Contabilidade;
6 explorar serviços contábeis, por si ou em organização contábil, sem 18 intitular-se com categoria profissional que não possua na profissão
registro regular em Conselho Regional de Contabilidade; contábil;
7 concorrer, no exercício da profissão, para a realização de ato 19 executar trabalhos técnicos contábeis sem observância das Normas
contrário à legislação ou destinado a fraudá-la, quando da execução Brasileiras de Contabilidade editadas pelo CFC;
dos serviços para os quais foi expressamente contratado;
8 solicitar ou receber de cliente ou empregador qualquer vantagem 20 renunciar à liberdade profissional, devendo evitar quaisquer
para aplicação ilícita; restrições ou imposições que possam prejudicar a eficácia e a
correção de seu trabalho;
9 prejudicar, culposa ou dolosamente, interesse confiado a sua 21 publicar ou distribuir, em seu nome, trabalho científico ou técnico do
responsabilidade profissional; qual não tenha participado;
10 recusar-se a prestar contas de quantias que lhe forem 22 revelar negociação confidenciada pelo cliente ou empregador
comprovadamente confiadas; para acordo ou transação que, comprovadamente, tenha tido
conhecimento, ressalvados os casos previstos em lei ou quando
solicitado por autoridades competentes, entre estas os Conselhos
Federal e Regionais de Contabilidade; e
11 apropriar-se indevidamente de valores, bens e qualquer tipo de 23 exercer a profissão contábil com negligência, imperícia ou
crédito confiados a sua guarda; imprudência, tendo violado direitos ou causado prejuízos a outrem.
12 reter abusivamente livros, papéis ou documentos, inclusive arquivos
eletrônicos, comprovadamente confiados à sua guarda, inclusive
com a finalidade de forçar o contratante a cumprir suas obrigações
contratuais com o profissional da contabilidade, ou pelo não
atendimento de notificação do contratante;
Fonte: NBC PG 01 (2019).

60
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

Permissões ao Contador, no exercício de suas funções profissionais:

» publicar trabalho, científico ou técnico, assinado e sob sua


responsabilidade;

» transferir o contrato de serviços a seu cargo a outro profissional,


com a anuência do cliente, sempre por escrito;

» transferir, parcialmente, a execução dos serviços a seu cargo a outro


profissional, mantendo sempre como sua a responsabilidade técnica; e

» indicar, em qualquer modalidade ou veículo de comunicação,


títulos, especializações, serviços oferecidos, trabalhos realizados e
a relação de clientes, esta quando autorizada por estes.

Valor e publicidade dos serviços profissionais

A proposta de prestação de serviços profissionais deve:

» ser por escrito;

» conter o valor dos serviços, considerando os seguintes elementos:

› a relevância, o vulto, a complexidade, os custos e a dificuldade do


serviço a executar;

› o tempo que será consumido para a realização do trabalho;

› a possibilidade de ficar impedido da realização de outros serviços;

› o resultado lícito favorável que, para o contratante, advirá com o


serviço prestado;

› a peculiaridade de tratar-se de cliente eventual, habitual ou


permanente; e

› o local em que o serviço será prestado.

» constar, explicitamente, todos os serviços cobrados individualmente,


o valor de cada serviço, a periodicidade e a forma de reajuste;

» uma vez aceita, respeitar o disposto em legislação específica


do CFC;

» estar explicitado na proposta e no contrato, condições particulares,


tipo, parte dos serviços será executada pelo próprio tomador dos
serviços.

61
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

A publicidade de prestação de serviço deve:

» primar pela sua natureza técnica e científica, sendo vedada a


prática da mercantilização, em qualquer modalidade ou veículo de
comunicação, dos serviços contábeis;

» ter caráter meramente informativo, ser moderada e discreta;

» manter em seu poder os dados fáticos, técnicos e científicos que dão


sustentação à mensagem da publicidade realizada do serviços do
profissional da contabilidade;

» ser vedada quando denigram a reputação da ciência contábil, da


profissão ou dos colegas, entre as quais:

› fazer afirmações desproporcionais sobre os serviços que oferece,


sua capacitação ou sobre a experiência que possui;

› fazer comparações depreciativas entre o seu trabalho e o de outros; e

› desenvolver ações comerciais que iludam a boa-fé de terceiros.

Deveres do profissional contabilista em relação aos colegas e à classe

O profissional contabilista, em relação aos colegas e à classe, deve:

» pautar-se nos princípios de consideração, respeito, apreço,


solidariedade e harmonia da classe;

» reger o exercício da profissão com espírito de solidariedade, mesmo


na condição de empregado, desde que não seja por justificar a
participação ou a conivência com erro ou com atos infringentes de
normas técnicas, éticas ou legais.

O profissional contabilista, em relação aos colegas, deve observar as seguintes


normas de conduta:

» abster-se de fazer referências prejudiciais ou de qualquer modo


desabonadoras;

» abster-se da aceitação de encargo profissional em substituição


a colega que dele tenha desistido para preservar a dignidade ou
os interesses da profissão ou da classe, desde que permaneçam as
mesmas condições que ditaram o referido procedimento;

62
ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE │ UNIDADE II

» jamais se apropriar de trabalhos, iniciativas ou de soluções


encontradas por colegas, que deles não tenha participado,
apresentando-os como próprios; e

» evitar desentendimentos com o colega que substituir ou com o seu


substituto no exercício profissional.

O profissional contabilista, em relação à classe, deve observar as seguintes


normas de conduta:

» prestar sua cooperação moral, intelectual e material, salvo


circunstâncias especiais que justifiquem a sua recusa;

» zelar pelo cumprimento desta Norma, pelo prestígio da classe, pela


dignidade profissional e pelo aperfeiçoamento de suas instituições;

» aceitar o desempenho de cargo de dirigente nas entidades de classe,


admitindo-se a justa recusa;

» acatar as decisões aprovadas pela classe contábil;

» não formular juízos depreciativos sobre a classe contábil;

» informar aos órgãos competentes sobre irregularidades


comprovadamente ocorridas na administração de entidade da classe
contábil; e

» jamais se utilizar de posição ocupada em entidades de classe para


benefício próprio ou para proveito pessoal.

Penalidades

Quando o contador transgredir preceitos do Código de Ética, ele constitui


infração ética e ele é penalizado (punido), segundo a gravidade, com a aplicação
de uma das seguintes penalidades (sanções éticas):

» advertência reservada;

» censura reservada; ou

» censura pública.

63
UNIDADE II │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Quadro 4. Sanções éticas.

Atenuantes Agravantes
» ação desenvolvida em defesa de prerrogativa profissional; » ação ou omissão que macule publicamente a imagem do
contador;
» ausência de punição ética anterior;
» punição ética anterior transitada em julgado; e
» prestação de serviços relevantes à Contabilidade; e
» gravidade da infração.
» aplicação de salvaguardas.
Fonte: NBC PG 01 (2019).

O contador pode requerer desagravo público ao Conselho Regional de


Contabilidade, quando atingido, pública e injustamente, no exercício de
sua profissão.

64
ABORDAGEM
REGULATÓRIA DOS
PROCEDIMENTOS UNIDADE III
TÉCNICOS DE
CONTABILIDADE

CAPÍTULO 1
Características qualitativas da
informação contábil-financeira útil

Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de conhecer as características


qualitativas da informação contábil-financeira útil tratados na atual prática
da contabilidade, tendo em vista que as atuais práticas contábeis adotadas no
Brasil estão de acordo com as normas internacionais de contabilidade.

As características qualitativas da informação contábil-financeira útil tratam


dos atributos que devem ser aplicados às informações, baseadas nos relatórios
contábil-financeiros (informação contábil-financeira), que são muito
provavelmente apontadas como as mais úteis para os usuários na tomada de
decisões. Os relatórios contábil-financeiros fornecem informação sobre:

» os recursos econômicos da empresa que reporta a informação;

» as reivindicações contra a empresa que reporta a informação;

» os efeitos de transações e outros eventos e condições que modificam


esses recursos e reivindicações; e

» as expectativas da administração e sobre as estratégias para a


empresa que reporta a informação, bem como outros tipos de
informação sobre o futuro (forward-looking information).

As características qualitativas da informação contábil-financeira útil, devem ser


aplicadas, tanto à informação contábil-financeira fornecida pelas demonstrações
contábeis; como à informação contábil-financeira fornecida por outros meios,

65
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

e devem ser classificadas em: i) características qualitativas fundamentais; e ii)


características qualitativas de melhoria, ver tabela a seguir.

Tabela 10. Características qualitativas da informação contábil-financeira útil.

CARACTERÍSTICAS ATRIBUTOS
valor preditivo
características qualitativas fundamentais

valor confirmatório
relevância
ou ambos
materialidade
completa
representação fidedigna neutra
livre de erro
identificar o fenômeno econômico que tenha potencial de ser útil
passos para

identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que seria mais relevante


processo
aplicar o

aplicação das características


fundamentais determinar se a informação está disponível e pode ser representada com
fidedignidade

consistência
comparabilidade
características qualitativas de melhoria

uniformidade
direta
verificabilidade
indireta
tempestividade no geral, a informação mais antiga tem menos utilidade
classifica
caracteriza
compreensibilidade
apresenta a informação com clareza
concisão
processo
iterativo

aplicação das características de não segue uma ordem preestabelecida


melhoria

Fonte: Resolução CFC n o 1.374/2011.

Uma informação contábil-financeira é útil quando ela possui relevância e


representação fidedigna daquilo que se propõe a representar. Uma informação
contábil-financeira é melhorada quando a informação contábil-financeira útil for
comparável, verificável, tempestiva e compreensível.

Características qualitativas fundamentais


As características qualitativas fundamentais da informação contábil-financeira
são relevância e representação fidedigna. Uma informação contábil é relevante
se:

» a informação for capaz de fazer a diferença nas decisões que


possam ser tomadas pelos usuários;

66
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

» a informação tiver valor preditivo, valor confirmatório ou ambos e


estes valores forem capazes de fazer a diferença nas decisões.

Materialidade

A informação contábil-financeira material é aquela informação que sua omissão ou


sua divulgação distorcida (misstating) influencie decisões dos usuários acerca de
entidade.

A materialidade é um aspecto de relevância baseado na natureza ou


na magnitude, ou em ambos, dos itens para os quais a informação está
relacionada no contexto do relatório contábil-financeiro de uma empresa
(CFC, 2011).

A informação contábil-financeira possui representação fidedigna se ela


representar com fidedignidade o fenômeno que se propõe a representar. Para a
informação contábil-financeira ser representada com fidedignidade, a realidade
informada precisa de ser completa, neutra e livre de erro.

Assim, a informação contábil-financeira útil é aquela informação que,


concomitantemente, é relevante e representa com fidedignidade a realidade
econômica reportada.

Como proceder a aplicação das características qualitativas fundamentais para


obter informação contábil-financeira útil?

A aplicação das características qualitativas fundamentais é um processo


composto por três etapas, as quais se seguem:

» primeiro, identificar o fenômeno econômico que tenha o potencial


de ser útil para os usuários da informação contábil-financeira
reportada pela entidade (CFC, 2011);

» segundo, identificar o tipo de informação sobre o fenômeno que


seria mais relevante se estivesse disponível e que poderia ser
representado com fidedignidade (CFC, 2011);

» terceiro, determinar se a informação está disponível e pode ser


representada com fidedignidade (CFC, 2011).

Dessa forma, as características qualitativas fundamentais são satisfeitas quando


o processo termina atendendo as três etapas. Caso contrário, o processo deve
ser repetido a partir do próximo tipo de informação mais relevante (CFC, 2011).

67
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

Características qualitativas de melhoria


As características qualitativas de melhoria da informação contábil-financeira,
que é relevante e que é representada fidedignamente (características
fundamentais), são a comparabilidade, a verificabilidade, a tempestividade e a
compreensibilidade.

“As características qualitativas de melhoria podem também auxiliar a determinar


qual de duas alternativas que sejam consideradas equivalentes em termos de
relevância e fidedignidade de representação deve ser usada para retratar um
fenômeno” (CFC, 2011).

A comparabilidade é a característica qualitativa de melhoria que permite aos


usuários identificar e compreender similaridades dos itens e diferenças entre
eles. Para isto, a comparabilidade requer no mínimo dois itens, quais sejam: i) a
consistência; e ii) a uniformidade.

A consistência na informação contábil-financeira, significa dizer que


para a empresa atingir o objetivo da comparabilidade foram utilizados os
mesmos métodos para os mesmos itens, tanto de um período para outro na
empresa como num único período entre as empresas.

Da mesma forma, a uniformidade na informação contábil-financeira,


significa dizer que para a empresa alcançar a comparabilidade, coisas iguais
precisam parecer iguais e coisas diferentes precisam parecer diferentes.

Saiba mais sobre a uniformidade na informação contábil-financeira, lendo


as Seções QC 24 e QC 25, da Resolução CFC no 1.374, publicada em 16 de
novembro de 2011, a seguir citadas:

QC24. Algum grau de comparabilidade é possivelmente obtido por


meio da satisfação das características qualitativas fundamentais.
A representação fidedigna de fenômeno econômico relevante
deve possuir naturalmente algum grau de comparabilidade com a
representação fidedigna de fenômeno econômico relevante similar de
outra entidade que reporta a informação.

QC25. Muito embora um fenômeno econômico singular possa ser


representado com fidedignidade de múltiplas formas, a discricionariedade
na escolha de métodos contábeis alternativos para o mesmo fenômeno
econômico diminui a comparabilidade.

68
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

A Verificabilidade é uma característica qualitativa de melhoria que ajuda a


assegurar aos usuários que a informação representa fidedignamente o fenômeno
econômico que se propõe representar. A verificação pode ser direta ou
indireta. A verificação direta significa verificar um montante ou outra
representação por meio de observação direta. A verificação indireta significa
checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra técnica e recalcular os
resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia.

A tempestividade é uma característica qualitativa de melhoria que significa


ter informação disponível para tomadores de decisão em tempo de poder
influenciá-las em suas decisões.

A compreensibilidade é uma característica qualitativa de melhoria que


requer a classificação, caracterização e apresentação da informação com
clareza e concisão.

A informação contábil-financeira melhorada necessariamente perpassa


pela informação útil que, concomitantemente, é relevante e representa com
fidedignidade a realidade econômica reportada.

Como proceder à aplicação das características qualitativas de melhoria?

A aplicação das características qualitativas de melhoria é um processo iterativo


que não segue uma ordem preestabelecida.

Restrição de custo na elaboração e divulgação de


relatório contábil-financeiro útil

O processo de elaboração e divulgação de relatório contábil-financeiro impõe


custos. Esses custos são sempre uma restrição presente na empresa. Por isso,
os referidos custos devem também ser justificados pelos benefícios gerados pela
divulgação da informação.

Saiba mais sobre Restrição de custo na elaboração e divulgação de


relatório contábil-financeiro útil, lendo as Seções QC 36 a QC 39, da
Resolução CFC n o 1.374, publicada em 16 de novembro de 2011.

69
CAPÍTULO 2
Princípios de contabilidade

O processo de convergência e adoção das normas internacionais de contabilidade


no Brasil produziu mudanças significativas nas normas brasileiras de
contabilidade. Consequentemente, as mudanças provocaram revogação de
muitas resoluções que normatizavam a contabilidade do país. Neste particular,
vamos focar na Resolução CFC no 750/1993, que dispõe sobre os princípios de
fundamentais de contabilidade (PFC).

Em 2010, a Resolução CFC n o 750/1993 foi revogada pela Resolução CFC


n o 1.282/2010. Em seguida a Resolução CFC n o 1.282/2010 foi revogada
pela Resolução CFC n o 1.374/2011, dando a entender que os princípios
de contabilidade foram extintos após a adoção das normas internais de
contabilidade no país.

Contudo, os princípios da contabilidade representam a essência da doutrina


e teoria relacionada com a Ciência Contábil. Os princípios contábeis regem
a prática da contabilidade brasileira, tanto do setor privado como do setor
público. E mais, a observância dos princípios de contabilidade é obrigatória
no exercício da profissão contábil, suas diretrizes são consideradas legitimas
pelas Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC).

Para Iudícibus (1999, p. 89), “os princípios são a forma, o meio e a estrutura de
que a disciplina se utiliza para chegar aos objetivos ou, às vezes, para melhor
entender o que vem sendo praticado há muito tempo”.

Na verdade, ao invés da extinção dos princípios de contabilidade, o que houve foi


um redirecionamento para os pronunciamentos contábeis e consequentemente
para a Resolução 1.734/2011 e para a 2016/NBCTSPEC. A primeira resolução
diz respeito à Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório
Contábil-Financeiro e a segunda resolução trata Estrutura Conceitual para
Elaboração e Divulgação de Informação Contábil de Propósito Geral pelas
Entidades do Setor Público.

Desta forma, os princípios de contabilidade, entidade, continuidade,


oportunidade, registro pelo valor original, competência e prudência, são
observados simultaneamente no exercício do profissional contábil. O princípio da
atualização monetária foi revogado e incorporado ao princípio do Registro pelo
70
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

Valor Original pela Resolução CFC no 1.282/2010. Assim, a seguir comentaremos


sobre cada um deste princípios que o Contador deve conhecer e aplicar na
construção do processo contábil.

O princípio da entidade

O princípio da entidade reconhece o patrimônio como objeto de estudo da


contabilidade. Além disso, esse princípio afirma que o patrimônio da entidade
não se confunde com os patrimônios particulares – por exemplo, de seus
sócios. A autonomia patrimonial também abrange a relação com o patrimônio
de outras empresas e determina que a soma ou a agregação de patrimônios de
diferentes entidades não cria uma nova entidade – por exemplo, se uma pessoa
tiver várias empresas e fizer um relatório consolidado de todas as empresas
para obter uma visão global dos negócios, essas empresas e seus respectivos
patrimônios seguem autônomas umas das outras.

O princípio da continuidade

O princípio da continuidade pressupõe que a contabilidade da empresa deverá


ser feita de forma continuada, conjecturando que a empresa manterá suas
atividades, ou seja, continuará em operação no futuro. Essa conjecturação
deverá ser mantida até que os sócios decidam encerrar o negócio. Esse princípio
baseia-se no entendimento de que as demonstrações contábeis revelam a
situação da entidade, em um dado período, e ao mesmo tempo pressupõem que
a entidade permanece em atividade contínua, dentro de sua realidade, por prazo
indeterminado.

O princípio da oportunidade

O princípio da oportunidade refere-se ao processo de mensuração e apresentação


dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas.
Como tal, sua preocupação principal é com a matéria relativa ao registro contábil
e as características das dimensões relativas ao fato patrimonial (integridade,
qualidade, tempo). A falta dessas dimensões na elaboração do processo contábil
pode provocar a perda de relevância, por isso o zelo de registar todos os fatos
contábeis e realizar esses registros imediatamente, são fundamentais para
produzir a confiabilidade da informação prestada pela contabilidade. O princípio
da oportunidade é aplicado quando há variação patrimonial na entidade. Essas
variações podem ocorrer por transações realizadas com outras entidades, por
eventos de origem externa ou por eventos de origem interna com impacto no
patrimônio.

71
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

O princípio da prudência

Também chamado de princípio do conservadorismo, ele pressupõe o emprego


de certo grau de precaução no exercício dos julgamentos necessários às
estimativas em certas condições de incerteza, no sentido de que ativos e receitas
não sejam superestimados e que passivos e despesas não sejam subestimados,
atribuindo maior confiabilidade ao processo de mensuração e apresentação dos
componentes patrimoniais. De acordo com esse princípio, a contabilidade deve
adotar o menor valor para os componentes do ATIVO e maior valor para os
do PASSIVO, sempre que se apresentem alternativas igualmente válidas para a
quantificação das mutações patrimoniais que alterem o patrimônio líquido.

O princípio do registro pelo valor original

O princípio do registro pelo valor original determina que as transações e


ocorrências contábeis devem ser registradas pelos valores originais (custo
histórico), expressos na moeda do país.

O valor original determina a linha de base do registro patrimonial, que não é


alterada. No entanto, posteriormente, esses valores originais precisam manter
o valor monetário e devem ser realizados registros contábeis para reconhecer
a variação da moeda. Para isso, é necessário recorrer às bases de mensuração
permitida pela legislação para registrar a variação ocorrida no custo histórico.
As bases de mensuração são o custo corrente, o valor realizável, o valor
justo e a atualização monetária, comentadas a seguir.

O custo corrente é uma base de mensuração que reconhece os elementos do


patrimônio – ativo e passivo – pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa.
Isso significa dizer que esses elementos, uma vez adquiridos e suas obrigações
liquidadas, devem ser reconhecidos e pagos na data das demonstrações
contábeis.

O valor realizável é uma base de mensuração que mantêm os ativos e os


passivos pelos valores em caixa ou equivalentes de caixa. No caso, os ativos
poderiam ser obtidos pela venda de forma ordenada, ou seja, no curso normal
das transações da entidade. Da mesma forma pode-se dizer do passivo, espera-se
que eles sejam pagos para liquidar a obrigação equivalente no curso normal
das operações da entidade.

72
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

O valor justo é uma base de mensuração que trata as operações entre o ativo e o
passivo sem favorecimento. Neste sentido, o normativo dispõe que o valor justo é o
valor pelo qual um ativo pode ser trocado ou um passivo pode ser liquidado.

A atualização monetária é uma base mensuração que reconhece os efeitos da


alteração do poder aquisitivo da moeda. Isso só ocorre porque a moeda como
medida de valor não representa uma medida constante. Por conta dessa falta
de medida constante, é necessário atualizar o valor original para manter o
patrimônio da entidade atualizado em termos de moeda nacional.

O princípio da competência

O princípio da competência determina que as receitas e as despesas devem


ser incluídas nos registros da entidade no período em que ocorreram,
independentemente do recebimento ou do pagamento efetivo. No dia a dia
da empresa, esse princípio pode ser observado quando a empresa venda uma
mercadoria. Independente do recebimento ou não dessa venda, a receita deve ser
reconhecida na data da venda. Esse princípio tem como base a simultaneidade
entre receita e despesa, a própria correlação entre receita e despesa e a
caracterização de independência na demonstração do resultado, por conta da
correspondência dos seus elementos.

Assim, após essa breve descrição sobre as características que norteiam as


qualitativas da informação contábil-financeira útil e sobre os princípios de
contabilidade que norteiam a escrituração contábil, no capítulo seguinte serão
tratadas as normas técnicas de Auditoria Independente, de Auditoria Interna e de
Perícia.

73
CAPÍTULO 3
Normas Brasileiras de Contabilidade
(NBC) técnicas

Neste capítulo, você vai ter a oportunidade de conhecer as normas técnicas de


Auditoria Independente, de Auditoria Interna e de Perícia.

De auditoria independente de informação


contábil histórica (NBC TA)

Conforme já foi citado anteriormente, por conta do processo de convergência


das NBCs aos padrões internacionais, o CFC resolveu editar toda a Estrutura
das Normas Brasileiras de Contabilidade (ENBC) para seguir o mesmo
padrão de elaboração e estilo utilizado pelo IASB (International Accounting
Standards Committee – Normas Internacionais de Contabilidade) e pelo
IFAC (International Federation of Accountants – Federação Internacional
dos Contadores) (CFC, 2011b). Nesse contexto, de agora por diante, as NBCs
aplicadas aos trabalhos de Auditoria Independente serão apresentadas com a
sigla “NBC TA”, que significa: “Normas Brasileiras de Contabilidade Técnicas
de Auditoria Independente de Informação Contábil Histórica”.

Para esse estudo será utilizado o conteúdo da NBC TA 200 que trata dos objetivos
gerais do Auditor Independente aplicáveis na auditoria de demonstrações
contábeis a partir de 1 o de janeiro de 2010.

Neste sentido, destaca-se os principais objetivos do auditor no exercício da


atividade profissional. Os auditores independentes necessitam de obter uma
razoável segurança de que as demonstrações contábeis foram elaboradas e
divulgadas de acordo com as normas de contabilidade vigente no país. Para
isso, eles devem, por exemplo, proceder exames físicos, contar estoques,
analisar documentos, conferir cálculos, correlacionar informações, entre
outros, com a finalidade de verificar se essas demonstrações estão livres
de viés, causados por erros ou fraudes. Só assim é que o auditor expressa
sua opinião de conformidade com a estrutura do relatório financeiro. Ao
final, a opinião do auditor sobre as demonstrações contábeis é apresentada

74
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

em relatórios e comunicada, também, de acordo com as normas do auditor


regulamentadas pelo CFC.

Dessa forma, o objetivo principal da auditoria independente pode ser resumido


como sendo a metodologia pela qual o profissional desenvolve o seu trabalho
para garantir a veracidade e a confiabilidade das demonstrações contábeis
analisadas.

Também é de fundamental importância para o auditor desenvolver os relatórios


da auditoria com base em linguagem padronizada e formal. Até porque, as
normas para elaboração das demonstrações contábeis e as normas para
elaboração dos relatórios de auditoria são baseadas em normas internacionais
com o objetivo de atender a demanda dos usuários no mercado global.

Neste sentido, por meio da NBC TA, foi desenvolvido um conjunto de termos
técnicos apropriados para utilização pelos auditores no exercício da atividade
profissional, semelhante a um pequeno glossário. Esse conjunto de termos
não será elencado nesse tópico, pois a leitura se tornaria cansativa e sem
nenhuma aplicação a um determinado contexto. Sendo assim, o conjunto de
termos foi listado na tabela a seguir, mas também foi elaborado outro quadro
com os termos e seus respectivos significados e disponível na biblioteca
acessível ao aluno como ANEXO B. Desta maneira, espera-se que o auditor
tenha conhecimento desses termos e aplique-os na construção dos papéis de
trabalho e relatórios de auditoria.

Tabela 11. Lista dos termos técnicos apropriados na utilização pelos auditores.

Lista dos termos técnicos apropriados para utilização pelos auditores


1. Estrutura de relatório financeiro aplicável 10. Administração
2. Estrutura de apresentação adequada 11. Distorção
3. Estrutura de conformidade (compliance) 12. Premissa
4. Evidências de auditoria 13. Julgamento profissional
5. Risco de auditoria 14. Ceticismo profissional
6. Auditor 15. Asseguração razoável
7. Risco de detecção 16. Risco de distorção relevante
8. Demonstrações contábeis 17. Responsável pela governança
9. Informação contábil histórica
Fonte: CFC (2009).

75
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

Dando continuidade ao conteúdo da NBC TA 200, assim como é necessário dar


condição para que o auditor obtenha segurança e opine sobre as demonstrações
contábeis em conformidade com suas constatações, também é indispensável
que o auditor estabeleça requisitos comportamentais básicos para conduzir a
auditoria de demonstrações contábeis.

Esses requisitos são determinados pelo CFC, fundamentados em princípios éticos,


tais como: a ética, o ceticismo profissional, o julgamento profissional, a evidência
de auditoria apropriada e suficiente e risco de auditoria, a condução da auditoria
em conformidade com NBC TAs. A seguir, apresentaremos uma descrição relativa
às obrigações contidas em cada um desses princípios relacionados à auditoria de
demonstrações contábeis.

Tabela 12. Requisitos normativos básicos relacionados à auditoria de demonstrações contábeis.

O auditor deve exercer os trabalhos de auditoria de demonstrações contábeis pautado em condutas


A ética
ilibadas.
O auditor deve planejar e executar a auditoria com juízo crítico. É de fundamental importância o papel
da auditoria na detecção de possíveis distorções causadas voluntariamente ou involuntariamente na
O ceticismo profissional
elaboração das demonstrações contábeis que podem comprometer a qualidade da informação contábil-
financeira.
O auditor deve aplicar o julgamento profissional ao proceder a auditoria de demonstrações contábeis.
Embora o julgamento profissional suscite flexibilidade de ação, ele conjectura bases com fundamento na
O julgamento profissional
essência econômica e no conjunto de normativo para suportar a decisão tomada pelo auditor na auditoria
das demonstrações contábeis.
O auditor deve traçar um conjunto de medidas para definir uma auditoria apropriada e suficiente para cada
A evidência de auditoria apropriada e
tipo de situação e cada tipo de empresa, para não correr o risco de desenvolver uma auditoria de baixo
suficiente e risco de auditoria
nível de aceitabilidade.
O auditor deve declarar conformidade com a NBC TA relevante para a auditoria, quando: i) ele observar
todas as normas e julgá-las necessárias, ii) ele entender o conteúdo de cada norma técnica de auditoria e
iii) ele cumprir com todas as exigências desse corpo de normas.
De forma parcial também é verdadeiro, o auditor deve declarar conformidade com as exigências
relevantes para a auditoria, quando o auditor constatar que não é necessário aplicar todas as exigências
contidas na NBC TA e selecionar as exigências relevantes ou quando a exigência não é relevante porque
ela é condicional e a condição não existe.
Quando o auditor planejar e executar a auditoria considerando os procedimentos estabelecidos na NBC TA
Condução da auditoria em relevante, ele atinge os objetivos gerais do auditor.
conformidade com NBC TAs Caso os objetivos gerais do auditor não possam ser atingidos, porque um dos objetivos em uma NBC TA
relevante não pode ser cumprido, o auditor deve avaliar se esse impedimento é motivo de mudança de
opinião ou de renúncia ao trabalho (verificar o disposto normativo aplicável).
Veja o que diz a norma, quando há falha no cumprimento de um objetivo da NBC TA relevante:
“ A falha no cumprimento de um objetivo representa um assunto significativo, que exige documentação
em conformidade com a NBC TA 230 – Documentação de Auditoria. Para melhor entendimento das
expressões “que o auditor modifique sua opinião” ou “emitir uma opinião modificada” ver NBC TA 705
que trata da emissão de relatórios com modificações, que significa emitir um relatório adverso ou com
ressalva”.
Fonte: CFC (2009, pp. 8–9).

Sugiro a leitura completa da Resolução NBC TA 200 (R1), publicada em 05 de


setembro de 2016. Disponível no site: http://www2.cfc.org.br/sisweb/sre/
detalhes_sre.aspx?Codigo=2016/NBCTA200(R1).

76
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

De auditoria interna (NBC TI)


Da mesma forma, de agora por diante, as NBCs aplicadas aos trabalhos de
Auditoria Interna serão apresentadas com a sigla “NBC TI”, que significa:
“Normas Brasileiras de Contabilidade aplicáveis aos trabalhos de Auditoria
Interna”.

Para esse estudo será utilizado o conteúdo da NBC TI 01 que trata das normas: i)
sobre a conceituação e disposições gerais; ii) sobre a execução dos trabalhos; e iii)
relativas ao relatório da auditoria interna, a partir de 1o de novembro de 2003.

A atividade profissional exercida pelo auditor interno é relacionada com


procedimentos que aperfeiçoam os processos de gestão e de controle interno
intraorganizacional por meio de recomendações apontadas em relatórios.
Neste sentido, o CFC subsidia normas para os trabalhos de execução dos
trabalhos de auditoria e emissão do relatório pelo auditor interno, com
veremos a seguir.

A auditoria interna deve ser totalmente documentada por meio de papéis de


trabalho. Isso significa que as análises e as demonstrações ou quaisquer outros
documentos que serviram de base para realizar a auditoria devem manter sua
integridade por meio dos papéis de trabalho.

Os papéis de trabalho na auditoria interna são: i) os documentos e registros


dos fatos; ii) as informações e provas, elaborados em meio físico ou eletrônico,
obtidos no curso da auditoria (CFC, 2012).

Todos os papéis de trabalhos devem:

Ser organizados e arquivados de forma sistemática e racional, a fim


de evidenciar os exames realizados e dar suporte à sua opinião,
críticas, sugestões e recomendações;

Ter abrangência e grau de detalhe suficientes para propiciarem


a compreensão do planejamento, da natureza, da oportunidade e
da extensão dos procedimentos de Auditoria Interna aplicados,
bem como do julgamento exercido e do suporte das conclusões
alcançadas (CFC, 2012).

77
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

Normas relativas à execução dos trabalhos


de auditoria interna, no que diz respeito
ao planejamento, aos procedimentos, à
amostragem e ao Processamento Eletrônico
de Dados (PED)

O planejamento da auditoria interna

» incorpora a análise dos setores, das atividades, dos produtos e


processos para definir os planos de ação e o período de execução
dos trabalhos de acordo com as diretrizes definidas pelas empresas;

» leva em consideração os fatores relevantes para a execução dos


trabalhos;

» é um programa de trabalho preparado detalhadamente para


tornar compreensível os processos que serão utilizados em termos
de natureza, oportunidade, extensão, equipe técnica e uso de
especialistas;

» é estruturado de forma a servir como guia e meio de controle de


execução dos trabalhos, deve ser avaliado, mantido ou atualizado
sempre que necessário;

» inclui a análise dos riscos relacionados à possibilidade de não se


alcançar, de forma eficiente, as diretrizes definidas pelas empresas.

Os procedimentos da auditoria interna

De acordo com a Resolução do CFC no 986, de 21 de novembro de 2003, “os


procedimentos da Auditoria Interna constituem exames e investigações, incluindo
testes de observância e testes substantivos, que permitem ao auditor interno
obter subsídios suficientes para fundamentar suas conclusões e recomendações à
administração da empresa” (grifo nosso).

“Os testes de observância visam à obtenção de razoável segurança de que


os controles internos estabelecidos pela administração estão em efetivo
funcionamento, inclusive quanto ao seu cumprimento pelos funcionários e
administradores da empresa”(CFC, 2012, grifo nosso).

78
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

Santi (1998 apud ROBERTO; CUNHA; BEUREN, 2006, p. 69) define teste
de observância como “o conjunto de procedimentos de auditoria destinados
a confirmar se as funções críticas de controle interno, das quais o auditor
dependerá nas fases subsequentes da auditoria, estão sendo efetivamente
executadas”.

“Os testes substantivos visam à obtenção de evidência quanto à suficiência,


exatidão e validade dos dados produzidos pelos sistemas de informação da
empresa” (CFC, 2012).

Da mesma forma, os autores acima citados (2006, p. 52), definem os testes


substantivos como “procedimentos de auditoria destinados a obter competente
e razoável evidência da validade e propriedade do tratamento contábil das
transações e saldos”.

Todos esses cuidados nos procedimentos da auditoria interna são no sentido de


fornecer bases sólidas para as informações conclusivas4 circunstanciadas como
recomendações nos relatórios encaminhados à administração da empresa.

Essas informações conclusivas são denominadas de evidências, daí a sua


utilidade para a empresa, elas presumem providências a serem tomadas
pela administração da empresa, no sentido de alinhar os vieses detectados
pela auditoria. Diferentemente da perícia, a função da auditoria interna é no
sentido de fornecer evidências sobre os fatos, por isso é que se a informação
conclusiva é relevante e útil, ela vai além, ela tem potencial para proteger o
patrimônio da empresa.

A amostragem na auditoria interna

Segundo Cunha e Beuren (2006, p. 70) “as técnicas de amostragem são utilizadas
com o intuito de viabilizar a coleta de dados necessários a um determinado
estudo, sem a necessidade de conhecer todo o universo pesquisado”.

Na auditoria essa técnica é utilizada com esse mesmo propósito. Ou seja, “o


uso da amostragem é importante à medida que o auditor necessita realizar, de
forma objetiva e prática, no menor espaço de tempo e de custo, inferências para

4 A informação suficiente é aquela que é factual e convincente, de tal forma que uma pessoa prudente e informada possa
entendê-la da mesma forma que o auditor interno;
A informação adequada é aquela que, sendo confiável, propicia a melhor evidência alcançável, por meio do uso apropriado
das técnicas de Auditoria Interna;
A informação relevante é a que dá suporte às conclusões e às recomendações da Auditoria Interna;
A informação útil é a que auxilia a entidade a atingir suas metas (CFC, 2012).

79
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

convergir com as necessidades de informações e respostas rápidas solicitadas”


(ROBERTO; BEUREN, 2006).

Nesse sentido o CFC regulamentou o uso de amostragem nos procedimentos


de auditoria. De acordo com a NBC TI 01, o uso do método de amostragem,
estatística ou não, é apropriado desde que a amostra projetada e selecionada
possa proporcionar evidências substantivas para a auditoria (CFC, 2012).

Sugiro a leitura do artigo publicado com título “Técnicas de amostragens


utilizadas nas empresas de auditoria independente estabelecidas em Santa
Catarina”, de autoria de Roberto e Beurin, 2006. Disponível em: http://www.
revistas.usp.br/rcf/article/view/34178/36910.

A utilização do PED na auditoria interna

De acordo com a NBC TI, a empresa pode utilizar o sistema de processamento


eletrônico de dados. No entanto, quando a empresa for realizar a auditoria
interna deve ter, na equipe de trabalho, um profissional com conhecimento
suficiente sobre tecnologia da informação e ele domine os sistemas de
informação utilizados pela empresa (CFC, 2012).

Normas relativas ao relatório da auditoria


interna
O relatório da auditoria interna é um documento apresentado, pelo auditor, com
o resultado do seu trabalho. Esse documento deve ser escrito com objetividade
e imparcialidade, de forma que expresse, claramente, as conclusões, as
recomendações e as providências a serem tomadas pela administração da
empresa (CFC, 2012).

O relatório da auditoria interna deve atender aos requisitos mínimos, 5 de


exigências. Por exemplo, ser apresentado a quem solicitou o trabalho ou a
quem foi autorizado aparentá-lo. O seu conteúdo é sigiloso, por isso deve
ser preservada a confidencialidade da informação contida no relatório.

5 a) o objetivo e a extensão dos trabalhos;


b) a metodologia adotada;
c) os principais procedimentos de auditoria aplicados e sua extensão;
d) eventuais limitações ao alcance dos procedimentos de auditoria;
e) a descrição dos fatos constatados e as evidências encontradas;
f) os riscos associados aos fatos constatados; e
g) as conclusões e as recomendações resultantes dos fatos constatados (CFC, 2012).

80
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

Normalmente o relatório de auditoria é entregue no final do trabalho


realizado pelo auditor. Contudo, nada impede que esse relatório possa
ser entregue de forma parcial, desde que se constate impropriedades/
irregularidades/ilegalidades que necessite de providências imediatas por
parte da administração da empresa.

De perícia (NBC TP)


Continuando a lógica de apresentação das normas brasileiras de contabilidade
na versão internacional, as NBC (s) aplicadas aos trabalhos de perícia contábil
serão apresentadas com a sigla “NBC TP”, que significa: “Normas Brasileiras de
Contabilidade aplicáveis aos trabalhos de Perícia”.

Para esse estudo será utilizado o conteúdo da NBC TP 01 que trata das normas
sobre os trabalhos de perícia contábil, no que diz respeito a conceito, execução,
procedimentos, planejamento, termo de diligência, laudo e parecer pericial
contábil, a partir de 19 de março de 2015.

Conceito

A perícia contábil constitui o conjunto de procedimentos técnico-


científicos destinados a levar à instância decisória elementos
de prova necessários a subsidiar a justa solução do litígio ou
constatação de fato, mediante laudo pericial contábil e/ou parecer
técnico-contábil, em conformidade com as normas jurídicas e
profissionais e com a legislação específica no que for pertinente
(CFC, 2015b).

Competência técnico-profissional

“A perícia contábil é de competência exclusiva de contador em situação regular


perante o Conselho Regional de Contabilidade de sua jurisdição” (CFC, 2015b).

A perícia contábil judicial é exercida sob a tutela da justiça6.

A perícia extrajudicial é exercida no âmbito arbitral, estatal ou voluntária7.

» a perícia arbitral é exercida sob o controle da lei de arbitragem;

6 Redação adaptada da Resolução CFC NBC TP 01, de 27 de fevereiro de 2015.


7 Idem.

81
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

» a perícia no âmbito estatal é exercida sob o controle de órgão


do estado, tais como perícia administrativa das Comissões
Parlamentares de Inquérito, perícia criminal e perícia do Ministério
Público;

» a perícia voluntária é exercida por meio de contrato espontâneo da


parte interessada ou de comum acordo entre as partes interessadas.

Execução da perícia contábil


A execução da perícia contábil se inicia após a ciência entre as partes sobre o
objeto periciado, bem como, a data e o local designado pelo juiz ou indicado
pelo perito para dar início a produção da prova (Art. 431, do Código de Processo
Civil). Neste mesmo sentido, o CFC regulamenta que “ao ser intimado para dar
início aos trabalhos periciais, o perito do juízo deve comunicar às partes e aos
assistentes técnicos: a data e o local de início da produção da prova pericial
contábil, exceto se designados pelo juízo”.

A execução da perícia contábil é de competência exclusiva do contador


nas especialidades de perito oficial, perito do juízo e perito-assistente. As
atribuições do perito oficial e do perito do juízo são as mesmas, o que faz
a diferença entre eles é o campo de atuação profissional. O perito oficial é
um profissional técnico vinculado ao serviço público e o perito do juízo é
um profissional técnico a serviço do juiz e da sociedade. Assim, aquele é um
profissional integrante do serviço público e este é um profissional transitório,
acabando a perícia, imediatamente cessa sua relação com o juiz.

Conforme foi dito anteriormente, as atribuições do perito na execução do


trabalho, independente do campo de atuação, é a mesma. Neste sentido,
o CFC regulamentou o trabalho de perícia contábil, listando as principiais
atribuições do profissional no exercício da profissão, a seguir citadas.

Tabela 13. Atribuições do perito na execução da perícia contábil.

Atribuições do perito na execução da perícia contábil


O perito deve
» permitir aos peritos-assistentes o acesso aos autos e aos elementos de prova arrecadados durante a perícia, indicando local e hora
para o exame pelo perito-assistente, quando esse trabalho não for possível de ser realizado em conjunto;
» zelar pela guarda e segurança e ser diligente com o processo ou os documentos, enquanto estiver sob sua posse;
» ater-se ao objeto e ao lapso temporal da perícia a ser realizada;
» solicitar por escrito todos os documentos e informações relacionadas ao objeto da perícia, fixando o prazo para entrega, mediante
termo de diligência (o modelo do termo de diligência, está disponível na biblioteca, incluso no ANEXO A);

82
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

Atribuições do perito na execução da perícia contábil


O perito deve
» comunicar, com a devida comprovação ou justificativa, ao juízo, em se tratando de perícia judicial; ou à parte contratante, no caso
de perícia extrajudicial, a eventual recusa no atendimento as diligências solicitadas ou qualquer dificuldade na execução do trabalho
pericial;
» utilizar os meios que lhe são facultados pela legislação para o exercício de sua função, com o objetivo de instruir o laudo pericial
contábil ou parecer técnico-contábil com as peças que julgarem necessárias;
» manter registro dos locais e datas das diligências, nome das pessoas que o atender, livros e documentos ou coisas vistoriadas,
examinadas ou arrecadadas, dados e particularidades de interesse da perícia, rubricando a documentação examinada, quando
julgar necessário e possível, juntando o elemento de prova original, cópia ou certidão;
» orientar e supervisionar a execução da perícia, inclusive quando incluir equipe técnica, deve assumir a responsabilidade pelos
trabalhos e assegurar-se de que as pessoas contratadas sejam profissionais legalmente capacitadas à execução da perícia;
» documentar os elementos relevantes que serviram de suporte à conclusão formalizada no laudo pericial contábil e no parecer
técnico-contábil, quando não juntados aos autos, visando fundamentar o laudo ou parecer e comprovar que a perícia foi executada
de acordo com os despachos e decisões judiciais e as Normas Brasileiras de Contabilidade.
Fonte: Adaptada da Resolução NBC TP 01 (2015b).

O perito-assistente também é um profissional técnico, contador, que possui


atribuições vinculadas ao perito do juízo. O perito-assistente tão logo tenha
conhecimento de que ele vai executar a perícia contábil, ele deve manter
contato com o perito do juízo, colocando-se à disposição para a execução da
tarefa em conjunto. Ele deve ainda, após a sua contratação, manter contato
com o advogado da parte que o contratou, requerendo toda a documentação que
faz parte do processo para ter conhecimento dos fatos e melhor acompanhá-lo
no que for pertinente à perícia. No decorrer dos procedimentos periciais, ele
deve entregar o seu parecer técnico-contábil pericial, previamente elaborado,
por meio de planilhas ou memórias de cálculo, informações ou demonstrações,
desde que eles possam esclarecer ou auxiliar o trabalho que será desenvolvido
e concluído pelo perito do juízo, por meio da emissão do laudo pericial contábil
(NBC TP 01, 2015b).

Procedimentos periciais

Os procedimentos periciais contábeis visam fundamentar o parecer técnico-


contábil, emitido pelo perito-assistente, e o laudo pericial contábil, emitido
pelo perito do juízo, e abrange a depender da complexidade da matéria,
exame, vistoria, indagação, investigação, arbitramento, mensuração, avaliação
e certificação (CFC, 2015b). Neste sentido, o art. 420 do CPC reforça esse
entendimento e declara que “a prova pericial consiste no exame, vistoria ou
avaliação”.

83
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

Tabela 14. Procedimentos periciais contábeis.

Procedimentos periciais contábeis


Exame Observar minunciosamente os livros, registros das transações e documentos relativos ao objeto periciado.
Vistoria Inspecionar com a finalidade de verificar e constatar ou não uma coisa ou situação de forma circunstancial.
Indagação Buscar informações, mediante a técnica de entrevista, com os conhecedores do objeto periciado.
Pesquisar esclarecimentos para o parecer técnico-contábil e o laudo pericial contábil sobre o que, até então, estava mal-entendido
Investigação
entre as partes.
Arbitramento Impor solução sobre o conflito através de critério técnico-científico.
Mensuração Determinar medida objetiva e subjetiva das coisas, bens, direitos e obrigações.
Avaliação Determinar o valor, quantitativo ou qualitativo, das coisas, bens, direitos, obrigações, despesas e receitas.
Atestar a informação consubstanciada no laudo pericial contábil emitido pelo perito do juízo. Este certificado confere caráter de
Certificação
autenticidade pela fé pública atribuída a este profissional.
Fonte: Adaptada do CFC (2012).

Tabela 15. Requisitos normativos dos responsáveis pela conclusão dos procedimentos periciais.

Requisitos normativos dos responsáveis pela conclusão dos procedimentos periciais


» apresentar laudo pericial contábil;
Perito-contador (oficial
ou do juízo) » fornecer, quando solicitado, cópia do laudo, ao perito-assistente, informando-lhe com antecedência a data em que o laudo
pericial contábil será protocolado em cartório.
» apresentar parecer técnico-contábil;
» não pode firmar o laudo pericial quando o documento tiver sido elaborado por leigo ou profissional de outra área, devendo,
neste caso, oferecer um parecer técnico-contábil sobre a matéria periciada;

Perito-assistente » não pode emitir parecer técnico-contábil contrário ao laudo, ao apor a assinatura, em conjunto com o perito do juízo, em
laudo pericial contábil;
» pode entregar cópia do seu parecer, planilhas e documentos ao perito do juízo antes do término da perícia, expondo as suas
convicções, fundamentações legais, doutrinárias, técnicas e científicas sem que isto implique indução do perito do juízo a erro,
por tratar-se da livre e necessária manifestação científica sobre os pontos controvertidos.
Fonte: Adaptada da Resolução NBC TP 01 (2015b).

O perito apresenta laudo pericial contábil e o perito assistente apresenta


parecer técnico-contábil.

Sugiro a leitura do artigo publicado com título “Procedimentos


Periciais em Ações Cíveis de Cheque Especial na Região de Bauru-SP”,
de autoria de Peleias et al., 2015. Disponível em: http://www.atena.
org.br/revista/ojs-2.2.3-06/index.php/ufrj/article/view/2456/2115.

Planejamento da perícia contábil


O planejamento da perícia contábil é uma fase do processo que antecede os
procedimentos periciais, na qual o perito do juízo estabelece justamente a
metodologia que será aplicada naqueles procedimentos para consubstanciar a

84
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

prova necessária para a elucidação do litígio ou constatação do fato (CFC, 2015b).


O planejamento, na perícia contábil, significa observar os seguintes elementos:
objetivos, desenvolvimento, riscos e custos, equipe técnica e cronograma.

Tabela 16. Requisitos normativos essenciais para o planejamento da perícia contábil.

Planejamento pericial contábil


» conhecer a finalidade da perícia, com o objetivo de adotar procedimentos periciais (Ver a Figura 12) que permitam a
revelação da verdade e assim subsidiar o juiz com informação oportuna para a tomada de decisão a respeito da lide;
» fixar cronograma para que a perícia seja realizada no prazo determinado;
» avaliar os riscos que possam surgir no decurso do trabalho pericial;
Objetivos
» estabelecer estratégias de ação com a finalidade de descobrir fatos importantes para a solução da lide;
» estabelecer a divisão de tarefas junto à equipe de trabalho;
» pautar-se na legislação pertinente a perícia em execução;
» identificar a complexidade do trabalho e realizar a proposta inicial de honorários.
» o desenvolvimento da perícia só é possível ser planejado, a partir do conhecimento do objeto periciado. Ou seja, são
documentos acostados nos autos que irão fornecer as informações necessárias para a elaboração do planejamento da
perícia contábil;
» a partir dos documentos acostados nos autos é planejado quais são os documentos que serão necessários examinar;
quais são as diligências que serão realizadas; quais são as indagações indispensáveis para o esclarecimento do litígio;
bem como, identificar qual a legislação aplicável;
Desenvolvimento » ressalte-se que todo o planejamento é realizado pelo perito do juízo, mesmo se esse trabalho for realizado em equipe,
a decisão sempre será do perito do juízo;
» na sequência do planejamento o trabalho é posto em operação com adequada orientação do perito do juízo;
» sempre que necessário – novos fatos podem surgir no processo – será realizado revisão do planejamento com
possibilidade de inclusão de novos procedimentos, solicitação de profissional especializado, entre outros;
» o processo de perícia contábil é processo de investigação profunda.
» No planejamento, o perito do juízo deve:
› avaliar os riscos decorrentes das suas responsabilidades e todas as despesas e custos inerentes;

Riscos e custos › ressaltar que, na hipótese de apresentação de quesitos suplementares, poderá estabelecer honorários
complementares ( CFC, 2015);
› Se na fase do planejamento for identificado riscos potenciais e houver a necessidade de custos extras relativo à
complexidade do trabalho, os custos suplementares são previstos na proposta inicial dos honorários.
» O planejamento deve prever inclusive se irá utilizar o trabalho de um especialista. Constatando-se a necessidade de um
Equipe técnica
especialista na fase do planejamento, o perito do juízo deve incluir suas despesas na proposta inicial de honorários.
» O perito do juízo deve levar em consideração que o planejamento da perícia, quando for o caso, inicia-se antes da
Cronograma elaboração da proposta inicial dos honorários, levando em consideração que para apresentar a proposta ao juiz ou as
partes contratantes, há necessidade de se especificar as etapas do trabalho a serem realizadas.
Fonte: Adaptada da Resolução NBC TP 01 (2015b).

Termo de diligência
O “termo de diligência é o instrumento por meio do qual o perito solicita
documentos, coisas, dados e informações necessárias à elaboração do laudo
pericial contábil e do parecer técnico-contábil” (CFC, 2015b). Serve inclusive
para determinar o local, a data e a hora do início da perícia, e ainda para a

85
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

execução de outros trabalhos que tenham sido a ele determinados ou solicitados


por quem de direito, desde que necessários para orientar ou colaborar nas
decisões judiciais ou extrajudiciais (CFC, 2015b).

Quais as responsabilidades do perito com relação


ao termo de diligência

» Deve redigi-lo.

» Deve apresentar diretamente ao perito-assistente, à parte, a seu


procurador ou terceiro, por escrito e juntado ao laudo.

» Deve observar os prazos a que está obrigado por força de


determinação legal e, dessa forma, definir o prazo para o
cumprimento da solicitação pelo diligenciado.

» Deve se reportar diretamente a quem o nomeou, contratou ou


indicou, caso ocorra a negativa da entrega dos elementos de prova
formalmente requeridos, solicitando as providências cabíveis.

Os termos de diligências devem conter os seguintes itens: identificação do


diligenciado; identificação das partes 8; identificação do perito com indicação
do número do registro profissional no Conselho Regional de Contabilidade;
indicação de que está sendo elaborado nos termos desta Norma; indicação
detalhada dos documentos, coisas, dados e informações, consignando as
datas e/ou períodos abrangidos, podendo identificar o quesito a que se refere;
indicação do prazo e do local para a exibição dos documentos, coisas, dados
e informações necessários à elaboração do laudo pericial contábil ou parecer
técnico-contábil; a indicação da data e hora da efetivação dos eventos; local,
data e assinatura.

Para isso, nos anexos serão apresentados modelos exemplificativos contendo


todos esses elementos necessários na estrutura dos termos de diligências
utilizados na perícia judicial e extrajudicial, incluindo a perícia arbitral.

Laudo e parecer pericial contábil

“A perícia contábil materializa-se no laudo pericial, que o juiz usa para elucidar
questões que requerem conhecimento técnico”(WERMANN, 2010). Em outras

8 Em se tratando de perícia judicial ou arbitral, o número do processo ou procedimento, o tipo e o juízo em que tramita (CFC,
2015b, p. Item 46, b).

86
ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE │ UNIDADE III

palavras, o produto final da perícia consiste na emissão do laudo pericial e do


parecer técnico-contábil, especificamente, sobre a perícia deferida ou contratada.

O laudo pericial contábil e o parecer pericial contábil são documentos


escritos, nos quais os peritos devem registrar, de forma abrangente,
o conteúdo da perícia e particularizar os aspectos e as minudências
que envolvam o seu objeto e as buscas de elementos de prova
necessários para a conclusão do seu trabalho (CFC, 2015b).

Apresentação do laudo e do parecer pericial


contábil

» deve ser orientado e conduzido pelo perito do juízo e pelo


perito-assistente, que adotarão padrão próprio, respeitada a
estrutura prevista nesta Norma, devendo ser redigidos de forma
circunstanciada, clara, objetiva, sequencial e lógica;

» deve adotar linguagem clara, concisa, evitando o prolixo e a


tergiversação, possibilitando aos julgadores e às partes o devido
conhecimento da prova técnica e interpretação dos resultados
obtidos;

» deve, quando necessário, ser acrescidos de esclarecimentos


adicionais, quando usar termos técnicos atinentes à profissão
contábil;

» deve o perito elaborar o laudo e o parecer, utilizando-se do vernáculo,


sendo admitidas apenas palavras ou expressões idiomáticas de outras
línguas de uso comum nos tribunais judiciais ou extrajudiciais;

» deve contemplar o resultado final alcançado por meio de elementos


de prova inclusos nos autos ou arrecadados em diligências que
o perito tenha efetuado, por intermédio de peças contábeis e
quaisquer outros documentos, tipos e formas (CFC, 2015b).

Saiba mais sobre as terminologias que devem ser consideradas na redação


do laudo contábil e parecer técnico contábil, lendo os itens de 55 a 64, da
Resolução CFC no NBC TP 01, publicada em 19 de março de 2015.

87
UNIDADE III │ ABORDAGEM REGULATÓRIA DOS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS DE CONTABILIDADE

Em resumo, a estrutura de um laudo pericial deve conter no mínimo os seguintes


itens:

» Identificação do processo e das partes.

» Síntese do objeto da perícia.

» Resumo dos autos.

» Metodologia adotada para os procedimentos periciais.

» Relato das diligências realizadas.

» Transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o laudo


pericial contábil.

» Transcrição dos quesitos e suas respectivas respostas para o parecer


técnico-contábil, onde houver divergência de respostas formuladas
pelo perito do juízo.

» Conclusão.

» Termo de encerramento, acostados da relação de anexos e


apêndices (se for o caso).

» Assinatura do perito: de acordo com o CFC, no relatório de perícia


contábil deve constar a categoria profissional de contador, mesmo
sendo uma atividade exclusiva de contador; o número do registro
no CRC correspondente; a certidão de regularidade profissional
(CRP) e a função profissional. Se a peça for o laudo pericial
contábil, a função será de perito do juízo; se a peça for o parecer
técnico-contábil, a função será do perito-assistente. É permitida a
utilização da certificação digital, em consonância com a legislação
vigente e as normas estabelecidas pela Infraestrutura de Chaves
Públicas Brasileiras - ICP-Brasil.

Saiba mais sobre apresentação do laudo e do parecer pericial no site da


Conpej. Disponível em http://www.conpej.org.br.

88
Para (não) finalizar

A perícia de uma matéria e a auditoria das demonstrações contábeis são


procedimentos que exigem dos contadores estudo constante e atualizado da
literatura e das normas brasileiras de contabilidade para o melhor alcance do
objetivo profissional mediante a emissão do laudo pericial e da opinião sobre as
demonstrações contábeis nos relatórios de auditoria, respectivamente.

A Caderno de Estudos e Pesquisa, como já dissemos anteriormente, não é o


bastante para quem pretende manter-se conhecedor e atualizado, é fundamental
consultar mais referências bibliográficas, manter-se atualizado com as normas
de contabilidade, que apesar da convergência às normas internacionais ter
ocorrido em 2010, a estruturação e institucionalização dessas normas ainda
é um processo contínuo. Além disso, a interação com outros profissionais é
salutar para aprofundar as discussões e melhorar os conhecimentos. É assim
que deve funcionar uma Pós-graduação.

A graduação ensina ao aluno a teoria e a prática necessária ao desempenho da


profissão. A Pós visa a especialização em uma determinada área. Cabe ao aluno,
portanto, tirar as dúvidas de conteúdo com o tutor e aprofundar os próprios
conhecimentos. O objetivo da Pós é despertar no aluno a necessidade da profissão
especializada na área e dotá-la de conhecimento teórico capaz de satisfazer a
demanda que o mercado exige.

A prática é igualmente necessária para qualquer profissão. Para os contadores


que já atuam como perito e como auditor, sugerimos que aprimorem cada
vez mais as técnicas e os procedimentos atualizados pelo CFC, Instituto
Brasileiro dos Auditores Independentes (IBRACON), Instituto de Auditores
Internos do Brasil (IAIBrasil), Conselho Nacional dos Peritos Judiciais da
República Federativa do Brasil (CONPEJ), entre outros, visto que estes são os
organismos voltados para o bom desempenho do profissional da contabilidade
em suas respectivas áreas, de tal forma a estarem sempre aptos e atualizados
para os desafios profissionais. Pois, como foi citado anteriormente,
a profissão do perito e do auditor requer normativo contábil que está
continuadamente sendo atualizado, modificado ou até mesmo revogado.

89
PARA (NÃO) FINALIZAR

Para os que não atuam na área de perícia e de auditoria, sugerimos que realizem
treinamentos práticos com simulações em perícia judicial e extrajudicial,
bem como em auditoria de demonstração contábil, ou ainda simulando
uma auditoria interna em um determinado setor da empresa. Por exemplo,
auditando o setor de compras. Vejam uma das mais recentes fraudes ocorridas
no âmbito dos órgãos públicos. “De clipe a peça de carro, fraudes em compras
da PM atingem R$ 10 mi”, retirado da Folha de São Paulo, publicada no dia
18 de junho de 2015.

No Brasil, desde 2003 é obrigatória a educação continuada para os auditores


externos, com as alterações ocorridas nos últimos anos essa obrigação se
estendeu aos auditores internos também, está faltando apenas a regulamentação
do CFC para colocar em plena atividade a educação continuada também para os
auditores internos.

Além do mais, a diversidade de treinamentos específicos para qualificação e


certificação da qualidade da atividade profissional é pré-requisito na atual
competição de mercado de trabalho. Por exemplo:

» Certifified Internal Auditor (CIA).

» Certified Financial Services Auditor (CFSA).

» Vejam site http://www.ifac.org/.

90
Referências

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Atlas, 2003.

AMARAL, N. A. DE L. et al. Constribuições da auditoria interna para a


eficiência do controle interno no setor público, 2012.

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périto contador: um estudo descritivo nas varas cíveis estaduais da cidade
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enfoque teorico, normativo e prático. São Paulo: Saraiva, 2008.

ATTIE, W. Auditoria interna. São Paulo: Atlas, 1992.

_______. Auditoria: conceitos e aplicações. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

BRASIL. Decreto-Lei n o 9.295, de 27 de maio de 1946. Cria o Conselho


Federal de Contabilidade, define as atribuições do Contador e do
Guarda-livros, e dá outras providências. D. O. U. Brasília, DF, 28/5/1946.

_____. Lei n o 12.249, de 11 de junho de 2010. “[...] altera os Decretos-Lei


n os 9.295, de 27 de maio de 1946, 1.040, de 21 de outubro de 1969”
D.O.U, Brasília, DF, 14/6/2010.

CFC. NBC PG 100 – Aplicação geral aos profissionais da contabillidade.


D. O. U. de 25/3/2014a.

______. NBC PG 200 – Contadores que prestam serviços (Contadores


Externos). D. O. U. de 25/3/2014b.

______. NBC PP 01 – Perito contábil. D. O. U. de 19/3/2015a.

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D. O. U. de 03/12/2009.

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91
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Fundamentais de Contabilidade. D. O. U. de 2/6/2010.

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Normas de Brasileiras de Contabilidade. D. O. U. de 22/3/2011b.

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D. O. U. de 14 /12/2011a.

______. Resolução CFC N o 1.374 – Dá nova redação à NBC TG


ESTRUTURA CONCEITUAL, que dispõe sobre a estrutura conceitual
para relatório financeiro. D. O. U. de 13/12/2019.

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profissionais. D. O. U. de 28/12/1983.

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contabilidade. D. O. U. de 31/12/1993.

______. Resolução CFC N o 1.111 – Aprova o Apêndice II da Resolução


CFC n o 750/1993 sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade.
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