Você está na página 1de 116

INSTRUMENTAÇÃO

DE BARRAGENS
Elaboração

William Gladstone de Freitas Machado

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO.................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1
TIPOS DE INSPEÇÃO............................................................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
ROTEIRO DE INSPEÇÃO..................................................................................................................................................................................... 18

CAPÍTULO 3
IDENTIFICAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E TRATAMENTO DE ANOMALIAS DE BARRAGENS....................................................... 26

UNIDADE II
INSTRUMENTAÇÃO EM BARRAGENS........................................................................................................................................................................ 36

CAPÍTULO 1
CRITÉRIOS E OBJETIVOS PARA UTILIZAÇÃO.......................................................................................................................................... 36

CAPÍTULO 2
TIPOS DE INSTRUMENTAÇÃO UTILIZADOS EM BARRAGENS DE TERRA E CONCRETO..................................................... 44

UNIDADE III
PROGRAMA DE MONITORAMENTO............................................................................................................................................................................ 69

CAPÍTULO 1
POSICIONAMENTO E QUANTIDADE MÍNIMA DE INSTRUMENTOS............................................................................................... 69

CAPÍTULO 2
MONITORAMENTO E REGULARIDADE DAS LEITURAS DOS INSTRUMENTOS........................................................................ 76

CAPÍTULO 3
SISTEMAS DE PROTEÇÃO DOS INSTRUMENTOS................................................................................................................................. 82

UNIDADE IV
CRITÉRIOS DE SEGURANÇA........................................................................................................................................................................................... 86

CAPÍTULO 1
PROCEDIMENTOS DE EMERGÊNCIA.......................................................................................................................................................... 86

CAPÍTULO 2
MODOS E CAUSAS DE FALHAS..................................................................................................................................................................... 96

CAPÍTULO 3
ELEMENTOS A SEREM VISTORIADOS..................................................................................................................................................... 104

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................................................................ 113
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de
textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam
tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta
para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para
a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando
o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a
aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo
estudado.

6
INTRODUÇÃO

A idealização e realização de projetos das chamadas Usinas Hidrelétricas (UHEs), seja


as de grande porte, seja as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), é sempre uma
preocupação constante em relação à sua segurança, devido ao real risco de acidentes
que podem gerar danos de diversas escalas, gerando algumas vezes perdas, como
vidas humanas, impactos ambientais, danos materiais e consequências econômicas
aos empreendedores.

Nos anos 1950, 1960 e 1970, houve grande desenvolvimento econômico no Brasil, fato
que necessitou de maior disponibilidade de energia elétrica produzida para acelerar o
desenvolvimento do complexo industrial brasileiro e trouxe grande desenvolvimento
técnico para a engenharia brasileira, materializada nas construções de usinas hidrelétricas
de médio e grande porte, como Itaipu, Tucuruí, dentre outras espalhadas pelo país.

Com as construções das usinas hidrelétricas, o potencial hidrelétrico do país foi


sistematicamente crescendo a partir da década de 1950 em diante, principalmente
como resultado da maior demanda de suprimento elétrico pela sociedade brasileira
e isso fomentou maior número de construções de barragens por diferentes agentes,
tanto públicos quanto privados.

A Eletrobras, instituição federal, é a empresa pública responsável pela avaliação técnica


dos projetos hidrelétricos planejados para serem construídos no país. São agentes
reguladores do governo: a Agência Nacional de Águas (ANA), que cuida dos recursos
hídricos, e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), direcionada à indústria
de energia elétrica.

Além das hidrelétricas, não podemos deixar de falar dos projetos de mineração,
empreendimentos extrativistas de jazidas as quais são, grande parte, responsáveis pelas
barragens de rejeitos existentes. Esse tipo de barragem é utilizado para armazenar os
resíduos do processo de extração e para o beneficiamento de alguns minerais – os
quais usam água nesse processo, sendo esse método de barramento o mais barato e
antigo existente para esse fim.

O êxito de um empreendimento é o controle operacional de todo o processo e, com


esse conceito, houve o desenvolvimento da instrumentação de obras de engenharia de
barragens, o que gerou análises relevantes para que sejam caracterizados, detectados e
observados os eventuais riscos potencialmente relacionados às condições da segurança
global do empreendimento.

7
Introdução

Essas análises incluem os valores limites para que sejam elaborados e incluídos no
Programa de Monitoramento por meio de instrumentação de forma a facilitar a
obtenção rápida de prováveis e possíveis anomalias nas estruturas do empreendimento.

Dessa maneira, em condições que possibilite monitoramento adequado, planejamento


e elaboração de um programa para instrumentar uma barragem, o programa de
monitoramento por instrumentação oferece a garantia de acurácia e também pode
disponibilizar dados e parâmetros que garantem a confiança nas leituras. As metodologias
utilizadas necessitam ter compatibilidade com a concepção construtiva e as especificações
do projeto executivo.

Objetivos
O objetivo da disciplina é apresentar a implantação e realizar a análise da instrumentação
em barragens, que permitiram caracterizar e acompanhar as metodologias de auscultação
feita por instrumentação e as variáveis desse tipo de projeto.

Além disso, a proposta é levantar as formas de instrumentação para que ocorram


melhores práticas nos projetos, bem como a construção e a manutenção dessas barragens,
buscando a operação e também a segurança de toda a estrutura.

Essas análises orientam o empreendedor e indicam possíveis reorientações de projetos


de instrumentação de barragens. Esperamos qualificar e aprimorar profissionais que já
atuam na gestão pública ou no setor privado em sistemas de instrumentação e que fazem
uso de instrumentação de controle, para o desenvolvimento constante de capacidades
para exercer suas funções e para promover e desenvolver o setor como um todo.

O curso terá enfoque nos principais temas relativos às obras de barragem, considerando:

» aspectos importantes a serem monitorados e inspecionados em uma barragem;

» instrumentação de barragens;

» programa de implantação de monitoramento por meio de instrumentação; e

» critérios adotados para segurança do empreendimento.

8
ASPECTOS
RELEVANTES PARA
MONITORAMENTO UNIDADE I
E INSPEÇÃO

CAPÍTULO 1
Tipos de inspeção

Introdução
O grande objetivo de uma inspeção técnica de segurança é buscar e dimensionar as
condições da segurança das estruturas e da operação das barragens, pontuando os
problemas e buscando melhores formas de reparar tais problemas, bem como questões
de restrições de operação e possíveis adequações e modificações.

No Brasil, no mais recente Relatório de Segurança de Barragens, que foi divulgado no


início do ano de 2019 pela Agência Nacional de Águas (ANA), foram contabilizadas
14.966 barragens.

Considerando o porte e as dimensões, o colapso (rompimento) da estrutura de uma


barragem poderá causar grandes danos, como alagamento de grandes áreas a jusante,
podendo com isso trazer danos intensos e algumas vezes irreparáveis para a economia,
para a população do entorno da barragem e também para o meio ambiente.

Nesse sentido, a segurança é um elemento de grande importância em um projeto de tal


característica, seja para a realização da construção, seja para efetuar o monitoramento
posterior dessas estruturas.

A definição de instrumentação está ligada ao conjunto de equipamentos instalados nas


estruturas que necessitem de monitoramento do desempenho, por meio da medição
de alguns parâmetros, sendo seus resultados analisados e depois interpretados para
serem referência na avaliação de condições de operação e também na segurança desse
tipo de empreendimento.

Já a auscultação é a metodologia para efetuar o monitoramento do comportamento


de uma obra de engenharia, a fim de controlar as condições da segurança e validar as
hipóteses e a metodologia de cálculo utilizadas no projeto, além de realizar a verificação
9
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

da necessidade de se utilizar medidas corretivas e trazer subsídios para elaborar critérios


novos de projeto etc.

Toda a vida útil considerada de uma barragem, além de todas as atividades preconizadas
para que sejam realizadas, precisa estar prevista no Plano de Auscultação da barragem.

Limitações da instrumentação
De acordo com Dunnicliff (1988), as limitações de um sistema de instrumentação são:

Tabela 1. Limitações da instrumentação.

A instrumentação abrange um número limitado de regiões.


A instrumentação pode ser danificada, ter falhas ou funcionar precariamente com o envelhecimento, fornecendo
resultados equivocados.
A ocorrência de uma anomalia pode não ser detectada devido a uma falta de sensibilidade suficiente ou instalação
inadequada da instrumentação.
Há relatos de acidente no qual o problema não foi detectado com a instrumentação, sendo o “alarme” acionado a partir
da observação visual.
Dificilmente a instrumentação detecta fenômenos inesperados não previstos na fase de projeto.

Fonte: Dunnicliff, 1988.

Dunnicliff (1988) também indica a quantidade de instrumentos que devem ser utilizados
em um empreendimento que será monitorado.

Tabela 2. Quantidade de instrumentos de um empreendimento.

O quantitativo de instrumentos a serem instalado em uma barragem é condicionado, principalmente, a aspectos básicos
como a altura máxima da barragem, comprimento, características da geologia para a fundação, materiais a serem
utilizados no corpo da barragem e etapas construtivas.
Não é viável estabelecer regras pré-determinadas para definir a quantidade de instrumentos a serem instalados em
uma barragem (atender a estes vários condicionantes locais).
Nas barragens pequenas e com baixo risco, a instrumentação necessária/indispensável se resume a instalação de
piezômetros, medidores de vazão e marcos topográficos de referência de nível.
Com esta instrumentação, instalada em pontos estratégicos (peculiares de cada barragem), entende-se que é possível
verificar a ocorrência de anomalias.

Fonte: Dunnicliff, 1988.

Instrumentação geotécnica aplicada a barragens


O início da utilização de instrumentos para instrumentação geotécnica aconteceu entre
os anos 1930 e 1940 e, no início dessa modalidade de aferição, observa-se a utilização
de instrumentos com características mecânicos e hidráulicos para essa finalidade.

10
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

A utilização por meio da instrumentação de auscultação é um procedimento usado para


observação, detecção e caracterização do comportamento e do desempenho estrutural
e suas consequências, em uma barragem e suas estruturas auxiliares.

As vistorias realizadas no local e a revisão dos registros de instrumentação disponíveis


também devem ser efetuadas, para determinar o desempenho atual das estruturas.
A instrumentação é um dos métodos que são utilizados para o acompanhamento da
barragem e seu comportamento, bem como de sua fundação, o que pode alertar para o
eventual desenvolvimento de condições inseguras para as barragens (LINDQUIST,1996).
As diretrizes para um monitoramento satisfatório devem estar especificadas e detalhadas
no projeto de instrumentação. Devem estar constadas as justificativas técnicas para
a instrumentação, os tipos e a quantidade de instrumentos necessários e adequados
às necessidades do empreendimento específico, bem como as especificações técnicas
de tais equipamentos, sua instalação e localização, obtenção de dados, suas análises e
interpretações.
Conforme Lindquist (1996), a importância da instrumentação geotécnica se dá por
meio de três aspectos, os quais veremos a seguir.

Tabela 3. Importância da instrumentação.

Hipóteses, critérios e parâmetros de projeto para o aprimoramento, garantia técnica e economicidade.


Adequação dos métodos construtivos.
Condições de segurança da obra para obtenção de medidas corretivas em tempo hábil.

Fonte: Lindquist, 1996.

O processo de automação da instrumentação geotécnica busca a identificação de


comportamentos irregulares da infraestrutura, além de acompanhamento e verificações
periódicas quanto ao seu desempenho. Esse método tem a necessidade de ser, além de coeso,
compacto, sendo iniciado com a demarcação de um determinado objetivo e finalizado com
o planejamento da forma com a qual os parâmetros a serem medidos serão praticados.
Isso pode ser realizado com a instrumentação e também com inspeções visuais, ou seja,
auscultação qualitativa em vistorias periódicas em campo. Para que a auscultação das
barragens seja adequada, é fundamental um plano completo de monitoramento que
englobe todas as fases da barragem, além das atividades a serem realizadas.
Segundo o Comitê Brasileiro de Grandes Barragens (1996), os objetivos básicos da
instrumentação seguem os tópicos a seguir, associados de acordo com a etapa de
desenvolvimento da barragem: construção, primeiro enchimento e operação.

11
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

Buscando atender aos critérios de segurança de barragem, a implantação de instrumentos


geotécnicos procura realizar uma avaliação do desenvolvimento da barragem, atendendo
à condição inicial da barragem, que é o enchimento do reservatório e, após essa fase,
a operação da barragem.
No período de enchimento do lago, é possível, por meio da instrumentação, detectar e
informar a possibilidade de ocorrer anomalias que possam colocar em risco a segurança
da estrutura, sendo possível realizar avaliação do desempenho estrutural, hidráulico
e geotécnico de uma determinada obra, bem como realizar a verificação e posterior
adequação das simplificações introduzidas nas hipóteses de projeto.
Durante a operação da barragem, é possível avaliar se o desempenho desta está satisfatório
conforme o projeto previu, além de caracterizar o comportamento dos solos e/ou
maciço rochoso de fundação. Assim, pode-se determinar o prazo para a estabilização dos
deslocamentos, subpressão, vazões de drenagem, tensões internas etc. (LIMA, 2018).
Considerando essas premissas, os resultados dessas observações das instrumentações
e análises podem indicar, ou até mesmo prever, condições eventualmente perigosas.
A verificação visual por meio de vistorias locais pode comprovar ou eliminar as
apreensões resultantes de registros questionáveis da instrumentação.
A Figura 1 mostra os diversos tipos de instrumentos de monitoramento, o objetivo
desse monitoramento (grandezas medidas) e o instrumento adequado para obtenção
dos dados de campo dos possíveis problemas passíveis de serem detectados ao longo
de toda a vida útil da barragem.
Figura 1. Monitoramento, objetivos e instrumento adequado.

Fonte: modificada de Dunncliff, 1988.

12
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

Tipos de inspeção
A instrumentação aplicada constitui-se um método de apoio valioso aos estudos
necessários a implantação de obras de barragens. O objetivo da auscultação de uma
barragem é a elaboração de um conjunto de processos que buscam observar, detectar
e caracterizar eventuais deteriorações que podem vir a trazer riscos potenciais às
condições de segurança global.

Essa auscultação pode ser feita a partir de:

» Inspeções visuais: processo de auscultação qualitativa, por meio de vistorias


periódicas de campo, sendo a inspeção visual o método mais simples, mas
que exige certa experiência do observador para detectar possíveis indícios,
que podem ser imperceptíveis, de anormalidades que possam caracterizar
o início de um problema relevante no futuro, com risco de comprometer
a segurança da obra (COSTA, 2012).
» Instrumentação: processo de adquirir, registrar e processar sistematicamente
os dados obtidos a partir dos instrumentos de medida instalados nas fundações
da barragem e no aterro.

Figura 2. Monitoramento por meio de instrumentação.

Fonte: elaborada pelos autores, 2020.

A instrumentação de uma barragem é realizada por meio de diversos tipos de


instrumentos que são instalados durante a construção da obra, seja nas fundações,
seja no núcleo da barragem.

Além de assegurar controle de segurança da obra, esses instrumentos permitem


verificar as hipóteses, os critérios e os parâmetros adotados no projeto, adequando-os
13
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

aos métodos construtivos de forma a assegurar sempre condições mais econômicas


sem comprometer a segurança da obra (COSTA, 2012).

As inspeções visuais são feitas por meio de vistorias em períodos determinados


(periódicas) no campo, resultando em um processo de qualidade. As inspeções de
campo e a instrumentação de auscultação das estruturas são procedimentos que devem
ser classificados como inspeções que se complementam.

As inspeções visuais, quando são associadas à averiguação dos dados fornecidos pela
instrumentação de auscultação da barragem, compõem uma eficiente ferramenta de
avaliação do comportamento das estruturas de barragem (MACHADO, 2007).

No Brasil, nas décadas de 1960, 1970 e 1980, era comum a metodologia para diagnóstico
em sistemas de barragem, inspeções por meio de visualização que eram realizadas
por equipes de técnicos e consultores que trabalhavam de forma independente e com
reputação internacional. Durante as inspeções, quando se observavam ou detectavam
danos graves no desempenho da barragem, tomava-se a decisão de intensificar a
vistoria e as observações desse problema, e por vezes, esses danos eram reparados
e/ou correções especificadas pela equipe de especialistas.

Com o passar dos anos, a elaboração de planejamento para monitoramento e controle


do complexo de barragens do Brasil adotou sistemas mais eficientes com a incorporação
da automação, obtenção automática de dados e análise dos dados de poropressões,
tensões totais, vazões, deslocamentos horizontais e verticais, e dados obtidos em uma
seção transversal mais representativa do comportamento global da estrutura.

Essa nova modelagem ajudou na substituição de instrumentos importados e gerou a


criação e o desenvolvimento de instrumentos fabricados no Brasil, ou seja, tivemos
uma nacionalização dos equipamentos. Com isso, eles se tornaram mais eficientes,
traduzindo confiabilidade.

A partir disso, ocorreu ampla reestruturação dos conceitos e das metodologias a serem
adotadas em um plano de auscultação por instrumentação de uma barragem.

Durante toda a vida útil da barragem, tais processos devem ser realizados em conjunto,
a fim de trazer subsídios importantes para eventual revisão ou adaptação dos processos
previstos e adotados nos processos de construção, operação e manutenção da barragem,
a fim de definir a etapa de controle do empreendimento, possibilitando a investigação,
se uma eventual condição de risco possa estar se desenvolvendo ou se é potencialmente
passível de ocorrer (FUSARO, 2005).

14
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

As inspeções rotineiras devem e podem ter diferentes abordagens, níveis de detalhamento


e período das inspeções, constituindo elementos fundamentais no controle de uma
barragem.

Estas inspeções podem ser divididas em etapas definidas e nomeadas em: rotineiras
ou informais, periódicas, supervisão e extraordinárias.

O monitoramento das barragens realizado a partir da instrumentação e das inspeções


visuais, as quais são auscultação qualitativa com vistorias em campo, pode atenuar os
riscos possíveis em barragens (MACHADO, 2007).

Complementarmente às inspeções visuais, outros monitoramentos são feitos a partir


de instrumentação para obtenção de parâmetros, tais como: medições de pressão,
percolação, drenagem e deslocamento, dentre outros elementos que podem comprometer
o comportamento estrutural da barragem.

Conforme o manual Instrumentation of Embankment Dams and Levees (USACE – US


ARMY CORPS OF ENGINEERS, 2004), bom senso, experiência e intuição podem auxiliar
na escolha do número, dos tipos e da localização dos instrumentos reivindicados por
uma barragem.

Importante salientar que um plano de instrumentação para um empreendimento pode


ter vida útil entre 20 e 30 anos, mas que deve ser readaptado às condições de operação
do empreendimento e a suas possíveis alterações.

Por isso, é necessário reavaliar a instalação de novos instrumentos, prevendo o


desempenho futuro de uma barragem, além de considerar na reavaliação a evolução
tecnológica dos instrumentos (MACHADO, 2007).

Além de um bom projeto de instrumentação de auscultação, as condições de segurança


de uma barragem dependem de inspeções visuais periódicas em campo para detectar
eventuais danificações potenciais, além de alertar sobre situações e condições que
possam comprometer a segurança de estruturas associadas. Também devem ser
incluídos na inspeção local, além da barragem, os dispositivos de descarga e saída,
fundação, reservatório, dispositivos de auscultação, vias de acesso e áreas a jusante
(BARBOSA, 2002).

Em algumas situações nas quais temos alterações na segurança e na integridade da


estrutura da barragem, essas anomalias estruturais só podem ser detectadas por meio
de inspeção visual, por um profissional qualificado para esse tipo de inspeção, que
realizará observações sobre eventuais problemas encontrados.

15
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

Observações obtidas a partir da inspeção visual serão analisadas mais detalhadamente, e


os resultados, caso seja necessário, serão enviados para que sejam realizadas as medidas
corretivas ou para que se implemente um sistema alternativo de observação e controle
baseado em instrumentação.
Não é recomendável para um monitoramento apenas a utilização da instrumentação,
pois, por mais sofisticada e eficiente que seja, não é eficiente e deve ser complementada
por inspeção visual direta. A geometria de uma barragem e seu potencial de energia gera
grandes dimensões, aliado ao fato de que os instrumentos não estão necessariamente
instalados na potencial região onde podem ocorrer fenômenos prejudiciais.
É vital que sejam feitas vistorias programadas e periodicamente em toda a estrutura do
barramento, na busca por potencias problemas, como, fissuras, locais com umidades,
novos pontos de surgências de água etc.
Tais vistorias precisam ser efetuadas por profissionais que estejam a par do que deve
ser analisado, por isso, esses profissionais devem ser treinados para essa finalidade por
profissionais da engenharia de barragens (COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS,
2006).
Nada substitui, em alguns casos, a observação humana capacitada e treinada, podendo
ser a observação humana o melhor instrumento avaliativo na busca de anomalias para
avaliar uma barragem. As inspeções por observações visuais têm algumas limitações,
mas nenhum outro método de inspeção tem potencial igual de integrar rapidamente
toda a situação do comportamento.
Não é recomendável e trona-se perigoso ter um sistema exclusivo de monitoramento
totalmente automatizado que possa controlar com eficiência toda uma barragem e,
mesmo que possamos ter esse sistema daqui a alguns anos, ele necessitará ser calibrado
e verificado por meio de observações no local.
A Agência Nacional de Águas (ANA) publicou, em 2011, no uso de suas atribuições,
a Resolução n. 742, que estabelece, além da periodicidade, qualificação da equipe
responsável, conteúdo mínimo e nível de detalhamento das inspeções regulares,
conforme o artigo supracitado da Lei de Segurança de Barragens.
A mesma resolução salienta que as barragens que são fiscalizadas pela Agência Nacional
de Águas devem estabelecer rotinas de inspeção conforme determina essa resolução.
Embora ela seja aplicada apenas às barragens em rios da União, sob concessão outorgada
pela Agência Nacional de Águas, essa resolução tem indicativos relevantes sobre a
abordagem que será adotada pelos demais fiscalizadores de barramentos.

16
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

A ANA sugere dois tipos de inspeção:

» inspeção de segurança regular;

» inspeção de segurança especial.

A classificação da barragem irá determinar a primeira inspeção periódica, subdividindo


em inspeções informais, formais e periódicas, enquanto a segunda será realizada
somente para verificação de anomalia classificada como grave.

Todas as inspeções devem ser orientadas a fim de verificar os tópicos críticos e vitais
da barragem e, por isso, é essencial o uso de uma listagem de itens de verificação.

Porém, as observações não devem se limitar à listagem de verificações, mas também


deve conter indicações de outras eventuais e possíveis anormalidades. Essas inspeções
também devem observar as estruturas anexas além da área da barragem propriamente dita.

No Brasil, é convencional a inspeção visual das estruturas das barragens com o uso de
guias de inspeção e checklists. Essa forma de inspeção, geralmente, traz como resultado
uma listagem de deteriorações que, quando desconectadas umas das outras, não
possibilitam visualizar problemáticas que podem afetar a segurança das barragens.

Nesse sentido, o plano de auscultação a ser utilizado deve conter, de forma equilibrada,
as inspeções de campo, com o devido registro documentado das observações, além
de instrumentação tradicional, sistemas automatizados e métodos avançados de
monitoramento e investigação.

Atualmente, o uso de drones tem sido uma importante e inovadora ferramenta para
auxiliar na realização das inspeções de segurança, sendo uma tecnologia crescente e
cada vez mais incorporada na realidade das inspeções.

Entretanto, embora seja uma tecnologia que tem contribuído para a evolução das
inspeções, a utilização dos drones tem suas especificidades, ou seja, não é totalmente
capaz de apontar com detalhes questões que a avaliação visual, ao caminhar pelo
empreendimento, possa notar.

Por isso, a utilização de drones deve priorizar os locais em que há dificuldades de acesso
e de visualização.

17
CAPÍTULO 2
Roteiro de inspeção

A Engenharia de Barragens não é uma ciência exata a ponto de se poder eliminar


completamente o risco de um acidente ou incidente, mas a segurança de barragens
deve ser priorizada em absolutamente todas as fases de desenvolvimento e uso, desde
planejamento, projeto, construção e fases de operação e manutenção.

As barragens devem ser inspecionadas regularmente em todas as suas estruturas,


com o objetivo de se determinar as condições relativas à sua segurança operacional.
A inspeção tem por objetivo detectar anomalias não previstas, caracterizar esse problema,
identificar possíveis causas, recomendar solução e, dependendo do problema, impor
restrições ou modificações operacionais.

As inspeções devem ser padronizadas, sendo:

Tabela 4. Padronização das inspeções.

Devem ser fornecidas padronizações e diretrizes para o estabelecimento dos tipos de inspeção a serem executados.
O propósito de cada tipo de inspeção e a frequência destas.
Os itens a serem inspecionados.
A documentação necessária.
A qualificação e o treinamento dos inspetores.
Os procedimentos para a correção das deficiências.

Fonte: Comitê Brasileiro de Barragens, 2006.

As inspeções periódicas e suas análises técnicas, executadas por equipe qualificada,


poderão classificar se a estrutura da barragem, no seu todo, ou em sistemas individuais,
é segura dentro de padrões admissíveis de confiabilidade.

Os principais meios que se dispõe para avaliar as condições operacionais e estruturais


de uma barragem ao longo de sua vida útil se dão por meio de inspeção visual e
auscultação por meio de instrumentação.

Situações de risco estão presentes em quaisquer obras de engenharia, uma vez que
nem sempre é possível detectar e determinar completamente o comportamento e a
reação de alguns materiais, por exemplo, o solo. Por isso, as estruturas precisam estar
em monitoramento constante, a fim de minimizar e controlar os riscos.

Para que seja assegurada a qualidade máxima de informações possíveis, a um menor


custo, os instrumentos devem ser localizados de forma racional e corretamente.
Os instrumentos que são mais complexos e de alto custo devem ser instalados se eles
18
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

forem capazes, de fato, de prever ocorrências de eventos que sejam danosos à segurança
da barragem, possibilitando uma intervenção prévia que possa evitar e/ou minimizar
seus efeitos.

Os locais que normalmente são instrumentados, por serem vitais para a segurança e
operação de uma barragem, são: maciço compactado, estruturas de concreto armado,
fundação e reservatório de acumulação de água. Os dados de controle que se obtêm
desses instrumentos são: poropressão, nível de água, vazão de percolação, deslocamentos,
deformações, recalques e tensões na estrutura.

A instrumentação e a observação das obras de barragens são fundamentais para avaliação


contínua da segurança das estruturas componentes dos empreendimentos hidrelétricos.

Rotina de inspeção
A inspeção objetiva avaliar e identificar fatores de risco, perigos de natureza física,
química e biológica e pontos críticos de cada unidade inspecionada, subsidiando a
tomada de decisões em termos de medidas de orientação preventivas e corretivas.
Planejar um programa de inspeção geotécnica é similar a outros projetos de engenharia,
começando pela definição do objeto e passando pela elaboração de um processo lógico e
compreensivo de como os parâmetros a serem inspecionados serão coletados e avaliados.
Lembre-se que a instrumentação é apenas um equipamento, e não uma solução para
todos os problemas, mas é inegável sua utilidade quando convenientemente projetada,
instalada e interpretada.
Franklin (1977) indica que um programa de monitoramento é uma corrente com
vários elos potencialmente fracos que se rompem com maior facilidade e frequência
do que na maioria dos trabalhos em engenharia geotécnica.
Com os dados obtidos em campo pela instrumentação, é feito um processamento dessas
leituras envolvendo frequência e abrangência, a fim de desenvolver métodos para a
composição e interpretação dos resultados, o que possibilita a criação de diretrizes
para eventuais intervenções no comportamento da obra.
Sendo assim, é importante o estabelecimento de procedimentos para medir e comparar
esses dados com os critérios prescritos em projeto.
O programa de inspeção das barragens é composto por inspeções periódicas em campo,
acrescido de uma análise detalhada do comportamento das estruturas por meio de
instrumentação.
19
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

Tais análises são avaliadas (mensalmente/semestralmente/anualmente) por meio


da apresentação de um relatório técnico de inspeção civil com o intuito de avaliar a
segurança da barragem.

De acordo com o empreendimento (pequeno/médio/grande), são programadas inspeções


periódicas no local da barragem a fim de realizar a detecção de possíveis deteriorações
e anomalias, ou seja, erosões, fissuras superficiais, abatimentos localizados, etc. que
possam comprometer a segurança da barragem.

As inspeções podem indicar, de forma qualitativa, os potenciais problemas que


eventualmente possam ocorrer nas barragens. Os indícios podem ser prontamente
detectados nas inspeções de campo (inspeção visual) e nem sempre são passíveis de
caracterização por instrumentos.

A inspeção visual é apoiada em uma lista de “checklist” e é o mais importante meio


de detecção de anomalias. Esse sistema permite a elaboração de um planejamento
antecipado da inspeção, permitindo que o técnico possa percorrer todas as áreas de
interesse, estabelecendo, dessa forma, um procedimento e uma rotina de trabalho ideal.
Deve ser levado em consideração, no programa de inspeção, o nível de qualificação
e a experiência do inspetor.

O processo tem início com a coleta manual de dados realizada por equipes técnicas de
campo e essa coleta segue uma sequência preestabelecida por meio do preenchimento
de um formulário padronizado.

Esses formulários contemplam campos para anotação de dados de anomalias e dados


de leitura dos instrumentos. Esse tipo de inspeção permite o gerenciamento rápido
e fácil dos dados, melhorando o gerenciamento das informações sobre a barragem.

A rotina de inspeções permite que haja maior controle dos dados obtidos, indicando
a quantidade de instrumentos instalados e em operação para cada tipo de medidor,
quantidade de terminais de leituras, quantitativos anuais de leitura etc.

Segundo Ferreira (1999), as planilhas de inspeção são instrumentos que auxiliam


o técnico na identificação e no registro de anomalias, caracterizando a extensão e a
gravidade para início de uma avaliação mais detalhada.

Uma barragem deve ter inspeções rotineiras, constantes e, com um espaço de tempo
maior, devem ser realizadas reavaliações, para que ocorra um monitoramento e
para garantir a segurança. São quatro os tipos de inspeções, conforme o “Manual
de Segurança e Inspeção de Barragens”, elaborado pela Secretaria de Infraestrutura

20
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

Hídrica do Ministério da Integração Nacional (BRASIL, 2002), e “Guia de Orientação


e Formulários para Inspeções de Segurança de Barragem”, desenvolvido pela Agência
Nacional de Águas (AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2016):

Tabela 5. Orientação para inspeções de segurança de barragem.

Inspeção de rotina ou informais: frequência semanal ou mensal, executada pelos operadores da barragem devidamente
treinados para esta atividade. Estas inspeções não têm necessidade de gerar relatórios, mas devem comunicar caso
tenham observados anomalias. Esta inspeção deve ser intensificada nos períodos chuvosos. Os relatórios devem conter
a descrição do problema, identificação da anomalia e monitoramento, causas prováveis, consequências/risco e ações
corretivo/emergenciais.
Inspeções formais: com frequência anual, feita por técnicos de nível superior. Esta inspeção gera relatório contendo as
observações feitas na ocasião da inspeção, análises, conclusões e recomendações pertinentes.
Inspeções emergenciais: são realizadas em função de uma anomalia que caracterize emergência, que poderá ocorrer ou
já ocorreu (cheias e sismos).
Inspeções especiais ou emergenciais devem ser executadas em conformidade com o potencial de danos provocados por
eventos ou pela ocorrência de deficiências severas.

Fonte: Agência Nacional de Águas, 2016.

As instruções e os procedimentos para a barragem devem descrever as inspeções


emergenciais, bem como outras observações e ações necessárias após sismos, cheias,
chuvas torrenciais e observações não usuais, como surgências d’água, recalques, fissuras
e indícios de instabilidade de taludes.

Deve ser atribuída às equipes locais e ao engenheiro responsável pelo gerenciamento


da segurança da barragem a responsabilidade para realizar inspeções especiais ou
emergenciais. Essa atribuição busca assegurar as inspeções periódicas após qualquer
evento que possa ser potencialmente danoso.

Inspeções especiais ou de reavaliação: deve ser feita na modalidade de auditoria


externa.

No Anexo B – Manual de Segurança e Inspeção de Barragens desse documento, há um


roteiro para a realização de inspeção de barragens e um modelo de lista a ser aplicado.

O Anexo C do Manual de Segurança e Inspeção de Barragens apresenta uma relação


das principais anomalias encontradas em barragens de terra e concreto, com as causas,
as possíveis consequências e as ações corretivas.

A idade de uma barragem é um elemento primordial para determinar suas condições


de segurança (VELTROP, 1991). Isso, porque o efeito do tempo nos materiais de
construção, além da possibilidade de infiltrações no concreto, reação de agregados
alcalinos e corrosão de partes metálicas, pode causar deterioração nas estruturas.

21
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

A Tabela 6 apresenta as principais causas de falhas reportadas em 103 barragens.

Tabela 6. Causas de Rupturas em Barragens.

RAZÕES %
Galgamento 26
Vazamentos e Piping no aterro 22
Erosão no leito 17
Vazamento e Piping na fundação 17
Deslizamento 6
Deformação 6
Outros 6

Fonte: Veltrop, 1991.

Um roteiro de inspeção depende também de um eficiente programa de segurança


em barragens, fato que pode ser tanto um desafio técnico quanto administrativo
(KUPERMAN et al., 1995).

Para ser eficiente em termos técnicos, o programa deve incluir avaliações que forneçam
aos administradores bases confiáveis tanto de dados físicos das estruturas quanto do
risco real que elas apresentam.

Para ser economicamente viável, o programa deve assegurar que os recursos para
segurança serão disponibilizados onde serão melhores aproveitados.

A inspeção periódica e sistemática das instalações é fundamental para o êxito do


monitoramento e sua ausência pode tornar até mesmo nocivo todo o procedimento,
pois poderá causar falsa sensação de segurança em relação à obra, quando nem sempre
isso está acontecendo.

O importante é ter consciência de que a segurança de uma barragem depende


fundamentalmente de bom monitoramento que constitui um método de inspeção/
observação e que faça o diagnóstico a tempo de eventuais problemas decorrentes
de falhas de projeto ou de construção. O importante é que a inspeção aumente a
segurança da obra.

Roteiro para inspeção


O roteiro de inspeção deve ser elaborado em conjunto com todas as áreas técnicas
do empreendimento para que sejam elaborados documentos que atendam a todos os

22
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

setores envolvidos. Esse trabalho de inspeção tem como foco principal a segurança e
a operação produtiva da barragem, seja ela para a atividade que foi concebida.

» O objetivo da inspeção é identificar anomalias ou preocupações que afetem


potencialmente a segurança da barragem.
» Detectando anomalias:

» tipos de anomalias mais comuns de serem encontradas;

» impacto das anomalias na segurança de uma barragem;

» ações que devem ser tomadas quando identificadas as anomalias.

» Tipos de anomalias mais encontradas: percolação, trincas e fraturas,


instabilidade, recalques, erosão.

O Comitê Brasileiro de Grandes Barragens (CBGB), órgão brasileiro, lançou, em 1986,


um manual sobre a segurança em barragens e identificou os principais itens a serem
inspecionados numa barragem, como indicado a seguir.
Tabela 7. Itens a serem inspecionados numa barragem.

P: Projeto C: Construção O: Operação A: Abandono


Relação de itens a serem verificados P C O A
1. Generalidades
Metodologia de Projeto X X X X
Metodologia de Construção X X X
Metodologia de Operação X X
Aspectos organizacionais, administrativos e legais X X X X
Aspectos financeiros X X X X
Documentação Técnica X X X X
Alterações, ampliações e reparos X X X
Rios Internacionais X X X X
Atualização de regulamentos e procedimentos X X X
Treinamento X X X

2. Hidrologia e Hidráulica
Métodos e critérios de projeto X X X X
Dados hidrológicos X X X
Cheias X X X X
Desvio do rio X X X
Restrições operacionais X X X X

23
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

P: Projeto C: Construção O: Operação A: Abandono


Relação de itens a serem verificados P C O A
Particularidades hidráulicas X X X X
Condições a jusante X X X X
Condições a montante X X

3. Geologia e Geotecnia
Investigações X X X X
Métodos e critérios de projeto X X
Estabilidade das escavações e fundações X X X X
Materiais de construção X X
Barragens de terra e enrocamento X X X X
Barragens de rejeito X X X X
Carregamento/Fatores de segurança X X X X
Percolação/Infiltração X X X X

4. Estruturas
Métodos e critérios de projeto X X X X
Materiais de construção X X
Carregamento/Fatores de segurança X X X X
Deterioração estrutural X X X X
Percolação/Infiltração X X X
Deformações X X X X
Sistema de drenagem e esgotamento X X

5. Equipamento elétrico e mecânico


Critérios de projeto X X X
Arranjo operacional X X X
Manutenção preventiva X X X
Acionamento regular de emergência X X X
Peças de reposição X
Equipamento de emergência X X X

6. Reservatórios
Enchimento do reservatório X X X
Trânsito de cheias X X X
Estabilidade das margens X X X X
Assoreamento X X X X
Alerta de cheias X X X X
Segurança ambiental X X X X

24
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

P: Projeto C: Construção O: Operação A: Abandono


Relação de itens a serem verificados P C O A
7. Instrumentação e Auscultação
Critérios e métodos X X X
Hidrometria X X X X
Monitoramento das obras de terra e enrocamento X X X X
Monitoramento das obras de concreto X X X X
Monitoramento das fundações e ombreiras X X X
Monitoramento ambiental X X X X

8. Sismologia
Solicitação por abalos sísmicos X X X
Sismicidade induzida X X X
Monitoramento sísmico X X X

9. Inspeção
Inspetores e equipes de inspeção X X X X
Programa de inspeções X X X X
Métodos e rotinas de inspeção X X X X
Resultados de inspeção e sua utilização X X X X
Relatórios/Documentação/Registro X X X
Níveis de informação/Decisões X X X

10. Acidentes e Incidentes


Investigação e avaliação X X X X
Reparos/restabelecimento de condições seguras X X X X
Medidas de precaução X X X X
Lições/documentação/registro/divulgação X X

11. Planos e Precauções de Emergências


Classificação de emergências X X X
Plano de operação de emergência X X X
Sistema de alarme de emergência X X X
Esquema de comunicação de emergência X X X
Processo e procedimentos de decisão em situações de emergência X X X
Acessos em situações de emergência X X X
Treinamento para operação de emergência X X X

Fonte: Comitê Brasileiro de Grandes Barragens, 1986.

25
CAPÍTULO 3
Identificação, classificação e
tratamento de anomalias de barragens

A finalidade dos programas de identificação, classificação e tratamento de anomalias


de barragens é buscar reconhecer os potenciais perigos que as estruturas possam
oferecer e também reduzir tais perigos a níveis toleráveis. As barragens consideradas
seguras podem ser construídas e as potenciais deformidades na segurança podem ser,
geralmente, corrigidas a tempo, antes que possam causar perdas socioeconômicas ou
até mesmo perdas de vidas e desastres ecológicos.

Duscha (1984) estabelece que a segurança de barragens depende de fatores sociais,


econômicos-políticos, mais até do que fatores técnicos.

Podemos, dessa forma, concluir que a água é um elemento essencial e as barragens são
indispensáveis. Porém, há de existir uma proteção da população envolvida. A estrutura
deve cumprir com a sua finalidade construtiva seguramente e o meio ambiente deve
ser protegido, para que todas as partes envolvidas tirem o melhor proveito possível
entre todos os benefícios que as barragens podem proporcionar se operadas e mantidas
de uma maneira segura e adequada.

Jansen (1983) afirma que o risco de falha de barragens é um dos pesos inevitáveis que
a humanidade deve carregar. Os programas de identificação, classificação e tratamento
de anomalias de barragens, que é um programa de segurança de barragens, são de
vital importância para toda a sociedade e clama por talentos multidisciplinares, ou
seja, engenheiros têm que trabalhar em conjunto, por exemplo, com geólogos e
especialistas em sismos. Ações coordenadas podem, de fato, auxiliar na redução de
incertezas, entretanto, em razão da dificuldade de se aliar visões distintas, nem toda
falha pode ser evitada.

Barragens existentes devem ser reavaliadas periodicamente a fim de se assegurar que


elas estejam em condições seguras, de acordo com os padrões de segurança vigentes
na data de avaliação. Com os conhecimentos hidrológicos, geológicos e de sismologia
atuais, as barragens que outrora foram consideradas seguras, podem não mais se
enquadrar nessa classificação.

Exames de barragens presentes devem focar na detecção de qualquer condição que


possa ameaçar a integridade da estrutura. Essas situações podem ser atribuídas à
inadequação de materiais construtivos, defeitos na fundação, condições adversas no
entorno, deficiências de projeto ou operação e manutenção impróprias.
26
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

Com a finalidade de assegurar que essas condições sejam percebidas em seus estágios
iniciais, a seguinte lista de itens a serem investigados, delineada pelo Bureau of Reclamation
(1987), foi estabelecida:

» materiais de construção: concreto, rochas, solo, cimento, metais, madeira,


revestimentos, borrachas e seladores de juntas;
» condições gerais que evidenciam perigo: cavitação, infiltração, vazamentos,
drenagem, ação do gelo, instabilidade e tensão/deslizamento;
» deficiências de operação e manutenção: equipamentos elétricos e mecânicos,
acessibilidade e visibilidade, crescimento de plantas e animais que fazem
tocas, tensão/deslizamento, instabilidade, infiltração e descontinuidade de
juntas e fundação;
» evidências de deficiências em barragens de material solto: tensão/
deslizamento, instabilidade, vazamentos, erosão, fundação e riscos de ruptura
nos equipamentos e nas estruturas associadas;
» evidência de deficiências em vertedores: estrutura hidráulica de controle,
canal de aproximação, comportas, pontes, conduto de descarga, estruturas
terminais, canais de restituição, plataformas operacionais e guindastes,
poços, condutos e túneis;
» evidências de deficiências nas saídas d’água: câmaras das comportas, canais de
aproximação, comportas, estruturas de tomada d’água, guindastes, válvulas,
controles, estruturas terminais, equipamentos elétricos e dutos de ar, canais
de restituição e plataformas de resíduos;
» condições adversas no entorno do reservatório: reservatório, taludes do
reservatório, proximidade a jusante, curso d’água e entorno regional.

A segurança de uma barragem pode ser comprometida por fenômenos naturais, como
deslizamentos, enchentes, terremotos, dentre outros, que causam a deterioração do
corpo da barragem e da fundação. Com isso, ao longo do tempo, a estrutura pode ser
comprometida devido à sua idade e, em algumas situações, maiores pressões internas
e vazamentos podem se desenvolver.
Em geral, tais processos são morosos e não são percebidos prontamente por meio dos
exames de rotina. Assim, o monitoramento contínuo da performance da barragem
pode assegurar a detecção de qualquer não conformidade, tanto no projeto quanto no
interior da barragem, que possa causar eventuais falhas.
27
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

Normalmente, as equipes fazem inspeções visuais em campo e realizam análise dos


dados da instrumentação, mas nada adianta se as medidas corretivas que se fizerem
necessárias para restabelecer as condições de segurança não forem implantadas.

Todas as barragens existentes devem ser submetidas a uma reavaliação periódica de


suas condições de segurança, conforme a sua classificação quanto às consequências
de ruptura.

Eventuais obras de manutenção e/ou reparo recomendadas nas inspeções realizadas


devem ser implementadas o mais brevemente possível, bem como as providências e
recomendações devem ser registradas (BRASIL, 2002).

Figura 3. Processo de identificação, classificação e tratamento de anomalias de barragens.

Fonte: elaborada pelos autores, 2020.

O Manual de Segurança e Inspeção de Barragens deve ser utilizado de forma obrigatória


em barragens destinadas a reter e/ou represar água ou rejeitos, independentemente
do material com que foram ou serão construídas, e que tenham:

» altura superior a 15 (quinze) metros, do ponto mais baixo da fundação à


crista;

» capacidade de acumulação total do reservatório igual ou maior que 1 (um)


milhão de metros cúbicos.

28
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

Inspeção da barragem
A necessidade de inspeção em barragens provém do fato dessas estruturas oferecem
riscos. Há muitas vantagens e benefícios com a utilização de programas regulares de
inspeções mesmo para pequenas barragens, por exemplo, a capacidade de reconhecer
problemas em estágios iniciais e antecipar a eliminação destes antes de se agravarem,
minimizando riscos de perdas de bens materiais e, sobretudo, vidas, a jusante da
barragem.

Para se ter uma avaliação das características técnicas, do estado de conservação, das
condições de segurança e do potencial de dano das barragens, estabelecemos critérios
de avaliação a serem realizados nos empreendimentos.

As inspeções das barragens é um evento seguro e técnico para manter o empreendimento


e suas operações seguras e o entorno protegido de eventos indesejáveis. Essa inspeção
deve ser feita no local operacional da barragem e nas suas estruturas associadas, além
de toda a sua documentação relacionada. Além disso, devem estar inclusas na inspeção
do local: a barragem, a fundação desta, os seus dispositivos de descarga e saída, seu
reservatório, suas áreas a jusante, os dispositivos de auscultação e as vias de acesso.

O Manual de Segurança e Inspeção de Barragens, apresenta em seu Anexo B uma


sugestão de roteiro e de lista de inspeção (BRASIL, 2002):

» registros de construção, para determinar se a barragem foi construída em


conformidade com as hipóteses de projeto e para verificar a compatibilidade
da sua estrutura e dos materiais de fundação;

» atualizar a avaliação de eventos extremos, enchentes e sismos, para os quais


a barragem está projetada, levando-se em conta qualquer evento extremo
que possa ter ocorrido desde o comissionamento da barragem;

» estabilidade e adequação estrutural, resistência à percolação e erosão de


todas as partes dos barramentos, incluindo-se suas fundações, bem como
quaisquer barreiras naturais sob condições de carregamentos, normais e
extremos;

» capacidade de todos os canais e condutos hidráulicos para descarregar


seguramente as vazões de projeto e a adequação desses condutos hidráulicos
para suportar a vazão afluente de projeto e de esvaziamento dos reservatórios,
caso necessário, em condições de emergências;

29
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

» o projeto de todas as comportas, válvulas, dispositivos de acionamento e


controle de fluxo, incluindo-se os controles de fornecimento de energia ou
de fluidos hidráulicos para assegurar a operação segura e confiável;
» verificar a adequação das instalações para enfrentar fenômenos especiais
que afetem a segurança, por exemplo, entulhos ou erosão, que podem ter
sido insuficientemente avaliados na fase de projeto.
Um dos principais procedimentos adotados pelos técnicos competentes é a comparação
de estruturas similares, para realizar a avaliação da segurança da barragem a ser avaliada.
Essa semelhança entre barragens ajuda na avaliação, porém, sempre observando as
características de cada empreendimento e avaliando se essa comparação pode levar a
distorções na avaliação, prejudicando o veredito que objetiva a segurança estrutural
das unidades.
Fenômenos naturais podem afetar a segurança de uma barragem, como deslizamentos,
terremotos, enchentes e deterioração do corpo da barragem e da fundação. Com o
passar do tempo, a estrutura da barragem pode se deteriorar devido à idade e, em
alguns casos, maiores pressões internas e vazamentos podem se desenvolver.
Os registros de falhas encontrados em barragens na Índia, por exemplo, indicam que
grande parte das falhas aconteceu em barragens de terra, seguidas pelas de enrocamento,
arcos múltiplos e arco, nessa ordem. Os tipos de problemas encontrados na avaliação
de segurança de barragens esbarram fatalmente nas seguintes categorias:
» capacidade inadequada do vertedor, para vazões de cheias ou excepcionais;

» estabilidade estrutural das barragens não satisfaz aos critérios de uma


determinada época, que pode estar ligado a problemas na fundação, percolação
pelo corpo da barragem ou problemas estruturais que merecem investigação
mais profunda;
» infiltração excessiva pelos núcleos e pelas fundações das barragens de solo;

» perigo nas barragens de concreto na forma de fissuras etc.;

» desgaste excessivo do vertedor, a jusante, especialmente nas bacias de


dissipação, que também deve ser estudado em profundidade para evitar
danos na estrutura e a jusante, como erosão e qualidade da água.
Se a inspeção identificar que a barragem não atende aos padrões necessários de projeto
e desempenho, em geral, podem ser necessárias algumas melhorias na segurança dessa
barragem. É possível alterar as condições de carregamento da barragem, por exemplo,
30
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

rebaixando os níveis de operação permitidos do reservatório, com o objetivo de


capacitá-la a atingir os padrões.
Caso a inspeção identifique anomalias de grande porte, podendo ser classificada como
de alto risco, podem ser necessárias medidas corretivas de caráter temporário, ou
restrições na operação da barragem, antes da implantação das melhorias de caráter
permanente na segurança da barragem.
Grandes barragens com finalidade de geração de energia elétrica, controladas por
governos (Estatal), são geralmente equipadas adequadamente com os recursos necessários
e com pessoal habilitado e capacitado para conduzir inspeções nas barragens e estruturas
associadas.
Serafim e Cavilhas (1984) apresentaram um trabalho no qual concluíram que as
estatísticas referentes a falhas em barragens indicam que o galgamento devido a ondas
de cheia é a principal causa para tal evento. Ele é atribuído à falta de capacidade do
vertedor, a avaliações deficientes da vazão durante a construção e ao mau funcionamento
das estruturas e dos equipamentos de descarga.
Tabela 8. Categorias e causas de falhas.

FALHA DECORREM OU ESTÃO ASSOCIADOS


Qualidade e/ou tratamento das fundações. Apresentam rachaduras visíveis;
Deterioração da fundação
afundamento localizado; retirada de materiais.
Instabilidade da fundação Materiais solúveis; xistos argilosos ou argilas dispersivas que reagem com água.
Cheia de projeto; adequação do vertedouro; histórico de operação do
vertedouro e do descarregador; obstruções; condição a jusante; crescimento
Vertedouros defeituosos
da vegetação; fissuras e/ou rachaduras nas estruturas de concreto;
equipamentos em má condição de uso.
Deterioração do concreto Materiais defeituosos; agregados reativos; agregados de baixa resistência.
Defeitos de barragens de terra e/ou de Estabilidade e sanidade das rochas do enrocamento; faturamento hidráulico;
enrocamento rachaduras no solo; solos de baixa densidade.
Defeitos das margens do reservatório Erosões, deslocamentos de falhas; rupturas.
Deterioração da fundação Remoção de materiais sólidos e solúveis; retirada de rochas e erosão.
Instabilidade da fundação Liquefação; deslizamentos; afundamentos e deslocamento de falhas.
Obstruções; revestimentos fraturados; evidência de sobrecarga da capacidade
Vertedouros defeituosos
disponível e comportas e guinchos disponíveis.
Deterioração do concreto Reação álcalis/agregados; congelamento, degelo e lixiviação.
Alta subpressão; distribuição imprevista de subpressão; deslocamentos e
Defeitos de barragens de concreto
deflexões diferenciais e sobrecargas.
Defeitos de barragens de terra e/ou Potencial de liquefação; instabilidade dos taludes; vazamento excessivo;
enrocamentos remoção dos materiais sólidos e solúveis e erosão do talude.
Defeitos das margens do reservatório Instabilidade; permeabilidade; fragilidade intrínseca das barreiras naturais.
Fonte: Brasil, 2002.

31
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

Os programas de inspeção de barragens têm como principal objetivo assegurar que as


estruturas construídas tenham constante manutenção e que estas sejam operadas de
modo a atender aos requisitos básicos de segurança.

A Tabela 9 apresenta um resumo dos problemas mais comuns observados em pequenas


barragens e posterior avaliação que deve ser efetuada anualmente (INSPECTION OF
SMALL DAMS, 1998).

Tabela 9. Locais de inspeção, seus problemas e quando inspecionar.

Localização/
Problemas Sugestão de quando inspecionar
estrutura
Após um rebaixamento rápido do nível d’água no
Movimentação de talude
reservatório.
Talude de
Após tempestades violentas de vento, gelo ou chuva
montante Deslizamento da proteção do talude
pesada.
Crescimento de árvores e arbustos A cada ano.
Assentamento Depois de chuvas intensas.
Crista Formação de sulcos Outono.
Crescimento de árvores e arbustos A cada ano.
Quando o volume de água do reservatório estiver no nível
Infiltração
máximo ou mais.
Talude de Movimentação dos taludes Depois de chuvas intensas.
jusante
Tocas de roedores Primavera e outono.
Crescimento de árvores e arbustos A cada ano.
Infiltração Durante níveis elevados de água no reservatório.
Sopé de Saliências ou protuberâncias – indicativo Após níveis elevados de água no reservatório e chuvas
jusante de deslizamentos intensas.
Crescimento de árvores e arbustos A cada ano.
Entulho bloqueando o vertedor ou Antes do início da estação chuvosa e ao longo de todo o
estruturas associadas verão.
Vertedor
Erosão Após chuvas intensas ou operação do vertedor.
Crescimento de árvore e arbusto A cada ano.
Durante elevados níveis d’água dos reservatórios e
Tubulação
durante operação das saídas d’água.
Saídas d’água
Corrosão ou separação das juntas dos Inspeção anual (condutos de aço geralmente enferrujam
condutos num prazo de 25 a 30 anos).

Fonte: modificada de Inspection of Small Dams, 1998.

Conforme o Manual de Segurança e Inspeção de Barragens, uma avaliação de segurança


tem como principal objetivo a determinação das condições pertinentes à segurança
estrutural e operacional das barragens, podendo identificar os possíveis problemas
e recomendando reparos corretivos, restrições operacionais e/ou modificações,

32
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

além de análises e estudos para determinar as soluções dos problemas identificados


(BRASIL, 2002).
A Tabela 10 ilustra a falha que a estrutura pode sofrer, ao que essa falha pode estar
associada e, ainda, possível causa da falha.
Tabela 10. Falhas, origem e suas causas.

Falha Decorrem ou estão associados Causa


Qualidade e/ou tratamento das fundações.
Determinação da Remoção de materiais sólidos e
Apresentam rachaduras visíveis; afundamento
fundação solúveis; retirada de rochas e erosão.
localizado; retirada de materiais.
Liquefação; deslizamentos;
Instabilidade da Materiais solúveis; xisto argilosa ou argilas
afundamentos e deslocamento de
fundação dispersivas que reagem com águas.
falhas.
Cheia de projeto. Adequação do vertedor;
histórico de operação do vertedor e do
Obstruções; revestimentos fraturados;
descarregador; obstruções; condição a
Vertedores defeituosos evidência de sobrecarga da
jusante; crescimento da vegetação; fissuras
capacidade disponível e comportas.
e/ou rachaduras nas estruturas de concreto;
equipamentos em má condição de uso.
Materiais defeituosos; agregados reativos; Reação álcalis; agregados;
Deterioração do concreto
agregados de baixa resistência. congelamento, degelo e lixiviação.
Alta subpressão; distribuição imprevista
Defeitos de barragens de
de subpressão; deslocamentos e
concreto
deflexões diferenciais; sobrecargas.
Potencial de liquefação; instabilidade
Defeitos de barragens Estabilidade e sanidade das rochas do
dos taludes; vazamento excessivo;
de terra e/ou de enrocamento; fraturamento hidráulico;
remoção dos materiais sólidos e
enrocamentos rachaduras no solo; solos de baixa densidade.
solúveis e erosão do talude.
Defeitos das margens do Permeabilidade; instabilidade e
reservatório das margens Erosões, deslocamentos de falhas; rupturas. fragilidade inerentes das barreiras
do reservatório naturais.

Fonte: Brasil, 2002.

O Manual de Segurança e Inspeção de Barragens propõe um modelo alternativo de


avaliação do potencial de risco, conforme metodologia proposta por Menescal et al.
(2001). Trata-se de uma matriz que procura apresentar um modelo alternativo para
obter-se uma classificação das barragens, essencialmente quanto à segurança estrutural,
à importância estratégica e aos riscos para a população a jusante, hierarquizando-as de
forma a proporcionar um meio eficaz de planejar e programar a alocação dos recursos
necessários à manutenção dentro dos padrões de segurança exigidos pelas normas
técnicas brasileiras (BRASIL, 2002).
As barragens precisam ser, periodicamente, submetidas a uma reavaliação de suas
condições de segurança, de acordo com sua classificação quanto às consequências
de ruptura.
33
Unidade I | ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO

Eventuais obras de reparo ou manutenção recomendadas nas inspeções realizadas devem


ser implementadas o mais rapidamente possível e as recomendações e providências
também precisam ser registradas.
O Manual de Segurança e Inspeção de Barragens apresenta o tipo de anomalia, a causa
provável, a possível consequência e as ações corretivas. A seguir, apresentaremos
alguns exemplos extraídos do manual (BRASIL, 2002).
Figura 4. Anomalias nos taludes a jusante em concreto.

Fonte: Brasil, 2002.

Figura 5. Anomalias nos taludes a jusante em solo.

Fonte: Brasil, 2002.

34
ASPECTOS RELEVANTES PARA MONITORAMENTO E INSPEÇÃO | Unidade I

Figura 6. Anomalias nos taludes a montante em solo (piping).

Fonte: Brasil, 2002.

O grande inimigo dos empreendimentos de barragem é o constante e permanente


contato da água com a estrutura de concreto ou de terra. Por esse motivo, a inspeção
é importante para operação e segurança da barragem. As barragens possuem todos
os tipos de concreto e a engenharia é de alto nível nesse tipo de obra. A logística
dessas obras é um grande desafio tanto em termos de obra como operação, inspeção,
manutenção e segurança da obra. A identificação, a classificação e o tratamento das
anomalias apontadas nas inspeções têm que ser levadas a sério e ter ações profissionais.
Temos que ter a melhor inspeção, a melhor solução e a correção dentro de padrões técnicos.

35
INSTRUMENTAÇÃO
EM BARRAGENS UNIDADE II

CAPÍTULO 1
Critérios e objetivos para utilização

Introdução
A leitura e a interpretação dos resultados gerados pela instrumentação, quando corretas,
são essenciais para a segurança da barragem. Qualquer instrumentação precisa ser
definida a partir da determinação de seu objetivo, finalizando na avaliação e validação
criteriosa dos dados obtidos (MACHADO, 2007).

As barragens são estruturas de reservação que integram diversos processos de produção


ou de energia elétrica ou abastecimento de água ou outras atividades produtivas.
A relevância dos critérios e objetivos para utilização faz parte da importância no
desenvolvimento de cada etapa de investigação, projeto, implantação, monitoramento
e operação. Essas diversas etapas devem ser exercidas por equipes de profissionais
especializados em cada área de atuação.

Essas etapas nas quais se realizam o monitoramento do comportamento, da performance


e da segurança global das estruturas com função hidráulicas das barragens são uma
etapa relevante do gestor que coordena a gestão de segurança dessas estruturas.

Esse tipo de monitoramento é, de maneira geral, estruturado no controle dos


deslocamentos que ocorrem na superfície e em pontos de profundidade, no controle
da variação dos níveis, vazões e pressões da água represada em reservatórios e
percolada por meio dos maciços, dos aterros (barragem de terra), do solo natural e
das diversas formações geológicas no subsolo, e no controle das variações em tensões
versus deformação, às quais essas estruturas estão submetidas ao longo do tempo.
O monitoramento tem por objetivo coletar dados por meio de leituras de campo, e
esse controle serve para avaliação do empreendimento.

Um projeto de instrumentação faz parte do projeto de implantação e/ou construção


de uma estrutura de barragem. Seu objetivo é estimar e mensurar os mais variados
36
Instrumentação em barragens | Unidade II

elementos que constituem os instrumentos, orientar as instalações, calibrações e


operações destes, além de especificar tecnicamente quais materiais e equipamentos
serão empregados para a aquisição de dados e leituras de campo.

Para a elaboração do projeto de instrumentação de uma estrutura de barragem, necessita


da análise e da avaliação dos especialistas e projetistas atendendo o escopo e o propósito
de monitoramento.

Critérios
O sistema de instrumentação é realizado por meio de um plano baseado em um
projeto obtido a partir dos resultados do estudo detalhado das características
geológico-geotécnicas da região e seu entorno, onde estará localizada a barragem,
pelo qual são definidos seções e blocos “chaves” a serem observados e instrumentados
(GUTIÉRREZ, 2003).

Segundo Cruz (2005), o instrumento ideal deveria ter as seguintes características:

» confiabilidade;

» alta durabilidade;

» não provocar, durante ou após a instalação, alterações no valor da grandeza


que pretende medir;

» robustez;

» alta precisão;

» alta sensibilidade;

» não ser influenciável por outras grandezas;

» instalação simples;

» não causar interferência na leitura de outros instrumentos.

Os objetivos da instrumentação devem ser avaliados para qual fase o empreendimento se


encontra (projeto, construção e operação). Os critérios para utilização de instrumentação
em barragens é o monitoramento das unidades do empreendimento feito a partir de um
sistema de instrumentação, e esse sistema é a principal ferramenta para se avaliar suas
condições de segurança, o qual atribui distintas características e finalidades, conforme
as etapas da obra que se deseja analisar.

37
Unidade II | Instrumentação em barragens

A instrumentação é importante para monitorar o funcionamento e a performance


estrutural e deve ser instalada nas barragens onde as condições incomuns do local
foram encontradas ou onde há grande probabilidade de que a falha poderia acarretar
danos de propriedades ou na perda de vida (FERC, 2003).

Esse monitoramento pode identificar variações nas condições de segurança resultantes


do processo de envelhecimento e alterações ambientais ao longo da vida útil da
barragem. Conhecer esse nível de segurança é fundamental para definir um conjunto
de ações a serem tomadas, caso haja alterações relevantes do nível de segurança de
uma barragem (SARÉ et al., 2006).

Como há limitação dos sentidos humanos e também há restrição de acesso a alguns


locais dos maciços e das estruturas, há também, com isso, grande número de tipos e
modelos de instrumentos de auscultação sendo desenvolvidos que permitem, cada
vez mais, a medição de grande parte das grandezas físicas de interesse em Engenharia
Civil (CRUZ, 2005).

Durante o XIII Congresso do ICOLD (Internacional Commission on Large Dams),


realizado em 1979 na cidade de Nova Delhi, na Índia, houve consenso em dar maior
atenção à questão da segurança das barragens, uma vez que era notório grande número
de incidentes com consequências graves, além do aumento das dimensões das novas
barragens e do aumento de construções em países com pouca experiência no setor.
Por isso, há necessidade de diretrizes e normas que possam regulamentar as barragens
atuais existentes e também as futuras.

Nesse sentido, os dados da instrumentação podem fornecer uma importante ferramenta


no gerenciamento dos riscos operacionais, evitando algum comportamento anormal
que poderia trazer graves consequências e também prejuízos financeiros. Por isso,
esse gerenciamento também é importante para a redução de custos.

Os dados da instrumentação são coletados por profissionais treinados para essa finalidade,
que devem ter capacidade de reconhecer e relatar de forma imediata quaisquer anomalias
nas leituras ou nas medidas.

Um plano de instrumentação tem que ter objetivos claros de instrumentação, verba suficiente,
estrutura organizacional de apoio, qualificação e dedicação da equipe e treinamento.

Os resultados da instrumentação é uma abordagem sistemática, de avaliação e


interpretação de dados, manutenção permanente, documentação eficiente e completa
e boa comunicação e elaboração de relatórios.

38
Instrumentação em barragens | Unidade II

Conforme Celeri (1995), estas são as principais razões para o uso de instrumentação
em barragens:
Tabela 11. Razões para utilização de instrumentação.

Verificação de projeto, com o objetivo de certificar-se de que, além de seguro, é também o mais econômico.
Verificação da conveniência de novas técnicas de construção.
Diagnóstico da natureza específica de algum evento adverso, buscando a prevenção de ocorrência futura.
Verificação contínua de uma performance satisfatória.
Razões preditivas.
Razões legais.
Pesquisas para o estado da arte.

Fonte: Celeri, 1995.

Há também recomendações referentes às fases da obra de barragens que devem ser


instrumentadas:

Tabela 12. Fases construtivas para instalação da instrumentação.

Período construtivo: o monitoramento das barragens no período de construção pode suprir a equipe de execução com
informações relevantes dos materiais, fundações e métodos construtivos, tornando possível a verificação do projeto
em andamento. Com isso, os critérios e diretrizes preestabelecidos em projeto podem ser medidos quanto às análises
de tensões e controle de fissuração de origem térmica, alterações no plano de concretagem e nos intervalos de
lançamentos do concreto, contribuindo para prevenir a rápida deterioração das estruturas.
Fase de enchimento do reservatório: é o período no qual a barragem passa a entrar em carga total pela primeira vez,
sendo considerado o período mais crítico na sua vida útil. O monitoramento é fundamental, uma vez que possibilita um
diagnóstico mais preciso da obra, comparando os dados com os limites de projeto. Há o controle de parâmetros, como
deslocamentos verticais e horizontais, movimento de algumas juntas, temperatura e deformação do concreto, para
prevenir situações de rupturas ou fissuramento excessivo durante esse primeiro enchimento e, sempre que possível,
deve ser de forma lenta para a adaptação da estrutura com as novas condições criadas.
Período operacional: a instrumentação, aliada às inspeções visuais fornece parâmetros para que seja avaliado o
desempenho das estruturas ao longo do período de operação do reservatório.

Fonte: Comitê Brasileiro de Barragens, 2006; Comitê Brasileiro de Grandes Barragens, 1983.

A instalação de um sistema de instrumentação geotécnica está entre as medidas mais


importantes para que haja um nível satisfatório da segurança da obra, uma vez que é
a principal forma de acompanhar o nível de segurança desta ao longo da sua vida útil.
As obras precisam se manter coerentes às premissas preconizadas em seu projeto, pois
é isso que permitirá que sejam feitas intervenções que mantenham a integridade e,
claro, a segurança dessa obra, caso sejam identificadas anomalias.

Métodos de aquisição de dados


Antes mesmo do projeto e da instalação de instrumentação geotécnica em uma estrutura,
avaliar os parâmetros a serem monitorados é essencial, bem como a relação entre esses
39
Unidade II | Instrumentação em barragens

parâmetros com a forma com que os diversos materiais e elementos que constituirão
a estrutura irão se comportar.

O monitoramento e as observações de um determinado ponto podem ser vistos e


especificados considerando diferentes abordagens. Cada uma dessas abordagens de
observação do comportamento do que se quer medir é caracterizada pelo uso de
distintos parâmetros para medição, diferentes tecnologias de aquisição de leituras dos
dados, bem como de métodos variados de instalação dos instrumentos e de tempos
de resposta às variações.

Podemos utilizar três métodos para obtenção de dados dos instrumentos que fazem o
monitoramento dos empreendimentos de barragem.

Tabela 13. Metodologia para obtenção de dados instrumentados.

Manual: Leitura manual no local dos dados de saída dos instrumentos.


Semi-aumomatizado: Os dados dos sensores são lidos, registrados e armazenados em equipamentos de memória, como
um “datalogger”, no entanto, não são transmitidos.
Automatizado: A obtenção de dados é incorporada a um sistema de telemetria e um software especialista de
gerenciamento de dados para os instrumentos.

Fonte: Celeri, 1995.

É importante ressaltar que é necessário assegurar que os profissionais que realizam as


leituras devem também atuar realizando inspeção visual caminhando diferentes trechos
da barragem, no período mínimo de uma vez por semana, especialmente durante o
período operacional (CARDIA, 2004).

A coleta de dados da instrumentação pode ser feita tanto de forma manual quanto por
sistemas automatizados. A forma de coleta deve ser definida a partir das condições
verificadas ao longo da elaboração do projeto, conforme localização, tamanho e tipo de
instrumento (GRANEMANN, 2005). As informações coletadas devem ser analisadas
ao longo da coleta dos dados, para que qualquer erro possa ser verificado e a coleta
possa ser refeita prontamente, no caso de coletas de dados manuais.

Já o método automatizado pode dispensar completamente a visita a campo para


realização de leitura de dados, o que reduz significativamente a exposição de equipes de
monitoramento aos mais variados riscos (como condição de veículos e o deslocamento
pela área), e permite monitoramento em tempo real bem como a colocação de alarmes
de segurança. O método é também o que oferece menor risco de perda dos dados
obtidos, pois são salvos em servidores e no “datalogger”.
40
Instrumentação em barragens | Unidade II

Ainda que sejam calibrados e instalados, os sensores “dataloggers” e “readouts” podem


trazer não conformidades e mau funcionamento, o que são fontes de erro difíceis de
serem identificadas.

Há alguns procedimentos no tratamento de dados que, quando são realizados de


maneira criteriosa, podem auxiliar a interpretação correta de dados, especialmente
quando estes podem conter variações. Procedimentos como a determinação de médias,
correções, ajustes e reduções no volume de dados que são apresentados nas medições
brutas podem influenciar na leitura dos instrumentos.

A equipe deve ser treinada e adaptada em relação a funções e responsabilidades:

» instalação dos aparelhos;

» manutenção e proteção dos aparelhos;

» avaliação das leituras;

» interpretação dos dados e tomadas de decisões;

» execução das ações necessárias;

» gerenciar e monitorar o programa ao longo de sua vida útil.

O monitoramento deve ser ministrado periodicamente, sendo este formalizado e


acompanhado.

Para analisar o tipo e qual a quantidade ideal de instrumentos que assegurem os


objetivos pretendidos, é necessário questionar:

» O que deve ser medido?

» Com que frequência e por quanto tempo medir?

É necessário um detalhamento relativo e uma experiência na obtenção e no processamento


dos dados, uma vez que isso vai determinar as condições para a aquisição de dados por
tipo de instrumento utilizado (SILVEIRA, 2003).

Podemos citar como exemplo de leitura de instrumento manual que pode ser difícil de
execução, que é a medição de deslocamento horizontal que move 24 metros por dia,
necessita habilidade para obter e encaminhar os dados a cada meia hora, o que seria
praticamente impossível com sistemas manuais (SILVEIRA, 2003).

41
Unidade II | Instrumentação em barragens

De acordo com Silveira (2003), a instrumentação deve ser adequada a estas condições
de riscos e tipo de empreendimento:

» devem ser instrumentadas de acordo com seu porte e com os riscos associados
e terem seus dados analisados por meio das leituras;
» todos os instrumentos precisam apresentar valores de controle ou limites;

» é necessário submeter periodicamente todas as barragens a uma reavaliação de


suas condições de segurança, conforme a classificação relativa às consequências
de ruptura;
» as barragens devem possuir um plano de emergência, com o objetivo de
preservar as pessoas residentes a jusante, em caso de acidente;
» é necessário determinar o que deve ser medido e onde;

» quais as perguntas que as medições devem responder;

» como serão feitas as medições;

» desenvolver e aplicar métodos para a instalação e elaborar ações operacionais


objetivando 100% de sucesso;
» definir o que deve ser feito com os dados obtidos (níveis de ação e planos
de desenvolvimentos previamente);
» traçar e tomar medidas de atenuação quando necessário (planos de
contingência e preservação).

A utilização da instrumentação, dentre outros objetivos, deve alertar para níveis de


atenção e alerta.

» Níveis de atenção: leituras estão acima do valor esperado e especificado


para aquela estrutura, em um nível com alguma preocupação. Devemos
organizar uma força tarefa para verificar as leituras dos instrumentos,
avaliar e interpretar os dados para entender a causa do comportamento
anormal. Também devemos tomar medidas para evitar que as leituras
atinjam o limite de alerta e considerar se os níveis de ação devem ser
modificados.
» Níveis de alerta: leituras mostram um nível de risco inaceitável e devem
ser interrompidos os trabalhos na área sob nível de alerta. Devemos adotar
medidas para reduzir as grandezas para os níveis de atenção ou normal.
42
Instrumentação em barragens | Unidade II

Revisar a performance da estrutura, com o objetivo de determinar se os


níveis de ação precisam ser modificados.

Ações bem definidas a serem tomadas quando a instrumentação indicar a necessidade


de uma intervenção, para alterar um comportamento inadequado. Essa ação pode
incluir diferentes modus operandi que dependem da natureza dos dados que geram a
intervenção necessária.

Essas ações devem ser escritas e apresentadas sem ambiguidades (dúvidas), com
direcionamento explícito e responsabilidades específicas.

Deve ser revisado e atualizado periodicamente à medida que ocorre a evolução do


projeto e tenha maior entendimento sobre o comportamento da estrutura analisada
e instrumentada.

Um sistema de monitoração por meio de instrumentação, baseado em dados confiáveis,


ajuda na prevenção de incidentes e acidentes (CRUZ, 2005). Os dispositivos de
instrumentação são utilizados como um acréscimo às inspeções realizadas visualmente,
a fim de avaliar o desempenho e a segurança dessas barragens.

A instrumentação e o processo de monitoramento de dados podem revelar situações


e condições críticas ou podem também assegurar que uma condição observada não
requer medidas imediatas de correção.

Especialmente, as barragens de grande porte podem apresentar grande quantidade


de instrumentos de auscultação. Nesse tipo de empreendimento, o monitoramento
mecânico e hidráulico por meio de instalação de um sistema de instrumentação deve
desempenhar papel importante para avaliar o comportamento das estruturas, ao longo
do período construtivo e também durante o período de operação dessas barragens.

Nesse sentido, o Programa de Monitoramento de Barragens precisa estar composto de


uma série de instrumentos que supram o conhecimento necessário da operação da obra.

43
CAPÍTULO 2
Tipos de instrumentação utilizados
em barragens de terra e concreto

A fase de operação de uma barragem tem como objetivo principal alta produtividade e,
para garantir esse objetivo, temos que garantir a segurança da barragem. Para manter
esses objetivos em foco, existe a necessidade de um plano de monitoramento por
meio de instrumentos, que incluem em seu escopo, projeto, aquisição e instalações
adequadas.

O monitoramento também pode ser feito com avaliações por meio de inspeção visual
(avaliação qualitativa) e avaliação por meio de instrumentação de auscultação (avaliação
quantitativa). Mediante um projeto bem detalhado e com profissionais qualificados para
a tarefa, implanta-se o programa de auscultação e o objetivo é responder às perguntas:
onde, como e por que instalar instrumentos.

Dessa forma, fica evidente que o controle das informações de uma barragem é fundamental
para podermos interpretar e aferir o comportamento geotécnico anteriormente e
quais são as previsões posteriormente, para garantir a segurança estrutural, desde
intervenções leves e correções operacionais até eventuais paralisações operacionais e
adoção eventual de medidas de estabilização.

As barragens são obras de engenharia civil que merecem toda a abordagem sistêmica
da engenharia geotécnica e de estruturas.

Principais variáveis observadas são: recalque, vazão, poropressão, deformação,


deslocamento e pressão.

Conforme dito anteriormente, a instrumentação é essencial na realização de


monitoramento das estruturas que podem apresentar risco de colapso e que podem
acarretar consequências significativas, e de obras que apresentem etapas de execução
dependentes de condições de estabilização, por exemplo, ou outros tipos de parâmetros
a serem alcançados.

Essa instrumentação pode também acarretar redução de custos das ações mitigatórias
por meio do dimensionamento mais preciso dos elementos de precaução e embasamento
para a tomada de decisões do projetista, por exemplo, além de trazer um ambiente
seguro no que tange à previsibilidade de possíveis colapsos.

É importante destacarmos que o termo “auscultação” é trazido pelo médico francês


Dr. René Laenec para indicar a audição dos sinais emitidos pelos órgãos internos do
44
Instrumentação em barragens | Unidade II

corpo, a fim de identificar o comportamento e as evidências de mau funcionamento


deste acarretados por alguma doença.

Devemos entender uma barragem como um “ser vivo”, com isso, cabe pensarmos nos
princípios da medicina, sendo a auscultação um processo importante para observar,
detectar e caracterizar eventuais deteriorações que podem trazer riscos potenciais
para a segurança global.

A instrumentação é utilizada para medições, e cada medida realizada envolve erros e


incertezas. O propósito é definir os termos associados com as incertezas, no sentido
de examinar os vários tipos de erros que podem afetar uma medição, e sugerir como
podem ser atenuados (SILVEIRA, 2006).

A auscultação pode ser feita por:

» inspeções visuais: é o processo da auscultação qualitativa, por meio de


vistorias periódicas de campo (FERC, 2003). Na visita de inspeção visual,
é necessário verificar a situação atual da instrumentação de auscultação
e, periodicamente, deve ser efetuada a avaliação da instrumentação de
auscultação (comportamento);
» instrumentação: é o processo de aquisição, registro e processamento
sistemático dos dados obtidos a partir dos instrumentos de medida instalados
no aterro ou nas fundações da barragem.

As inspeções de campo e a instrumentação de auscultação das estruturas devem ser


encaradas sempre como mutuamente complementares (MACHADO, 2007).

Nesse projeto, temos a necessidade operacional de obter, por meio da instrumentação,


resultados de leituras que irão direcionar a operação da barragem a tomar decisões seguras
para correção, se for o caso. Outro ponto importante é a condição de acesso ao local onde o
instrumento está instalado e a distância a ser percorrida, pois temos barragens que possuem
vários quilômetros de distância a serem percorridos no seu perímetro de instalação.

Para a garantia de um perfeito funcionamento da instrumentação de auscultação, deve


ser viabilizada a condição operacional também dos equipamentos. Deve ser realizada
uma manutenção frequente nos terminais e/ou nos equipamentos de leitura para que
seja garantido o funcionamento impecável e a qualidade dos resultados gerados.

Focando no caso de obras civis de grande porte, nas barragens de terra e no enrocamento
com a finalidade de geração de energia elétrica, as bases e os procedimentos de auscultação

45
Unidade II | Instrumentação em barragens

por instrumentação constituem parte integrante do projeto da barragem, com o objetivo


de validar as hipóteses adotadas no projeto para o comportamento das estruturas
instrumentadas e compatibilizar com a realidade operacional.

Para que não ocorram falhas nas medições realizadas, é necessário verificar frequentemente
as condições, além de realizar a manutenção constante (troca de baterias; aferição;
limpeza etc.).

Dessa maneira, com os dados obtidos em campo pela instrumentação, é feito um


processamento dessas leituras envolvendo frequência e abrangência, de forma a
desenvolver uma sistemática para a composição e interpretação dos resultados,
possibilitando, dessa forma, a criação de diretrizes para eventuais intervenções no
comportamento da obra. Nesse contexto, estabelecem-se determinados procedimentos
para aferição e comparações desses dados com os critérios prescritos em projeto.

O planejamento dos programas de monitoramento geotécnico inclui:

» definição das condições do empreendimento;

» escolha dos quesitos geotécnicos e dos focos da instrumentação;

» seleção de parâmetros a serem monitorados;

» previsão do campo de variação das medidas;

» planejamento das ações corretivas;

» designação das tarefas nas etapas de projeto, construção e operação;

» seleção dos instrumentos de auscultação (ópticos, mecânicos, magnéticos,


hidráulicos, pneumáticos, corda vibrante e fibra ótica);

» localização dos instrumentos;

» acompanhar, por meio de registros, os fatores que podem possivelmente


influenciar os dados aferidos;

» elencar os procedimentos básicos para garantir a acurácia dos dados das


leituras;

» preparo do orçamento;

46
Instrumentação em barragens | Unidade II

» elaboração das especificações e listagem de materiais para serem adquiridos;

» planejamento da aquisição;

» manutenção periódica e eventual calibração;

» elaboração do planejamento das etapas desde a aquisição dos dados até os


relatórios de campo;

» orçamento atualizado.

O planejamento deve ser feito segundo os itens descritos acima, e todas as etapas
completadas, se possível, antes que os trabalhos de instrumentação sejam iniciados
no campo (DUNNICLIFF, 1993).

De acordo com a grandeza, os instrumentos de auscultação em barragens podem ser


usados para medir: pressão/tensão, movimento, força, temperatura e vazão.

A instalação da instrumentação de auscultação pode ser realizada ao longo da


construção da barragem, mas também pode ser instalada posteriormente, com esta
já concluída. Essa instalação posterior deve ser feita ao final da construção, porém,
antes do primeiro enchimento do reservatório, tem sido preferida, pois facilita as
atividades de construção.

No entanto, a instalação posterior não permite que haja a obtenção de dados importantes
do período construtivo, como valores de pressão, recalque, vazões, dentre outros
(AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS, 2016).

Com as novas tecnologias, abrem-se as possibilidades de monitoramento remoto dos


instrumentos de medição utilizados. Sendo assim, atualmente podemos monitorar
e também controlar à distância as unidades geradoras em uma hidrelétrica, bem
como orientar a frequência de leituras em sistemas de auscultação de obras
de engenharia.

É necessário realizar uma avaliação cuidadosa da automatização das leituras da


instrumentação de auscultação. Não se devem automatizar todos os instrumentos,
para que seja obrigatória a presença do profissional no local. É importante garantir a
possibilidade de leitura manual (verificação), ainda que sejam automatizados alguns
instrumentos.

47
Unidade II | Instrumentação em barragens

A automação tem como principais vantagens:

Tabela 14. Vantagens da automação.

Elimina a mão-de-obra para realizar as leituras.

Elimina a chance de ocorrência de acidentes operacionais.

Elimina o erro humano no ato das leituras.

Oferece ao analista de dados e comportamentos as leituras e históricos em tempos reais.

A frequência de leituras dos instrumentos pode ser programada com um simples comando.

Os dados (históricos) são armazenados em dataloggers e em centrais, dificultando a perca


de dados.

Pode ser programado para aumentar a frequência de leituras e/ou soar alarmes caso os
limites de controle sejam atingidos (níveis de atenção, alerta e emergência).

Fonte: Agência Nacional de Águas , 2019.

Tipos de instrumentação
Os instrumentos devem ter: conformidade (grau de acurácia), acurácia, precisão,
resolução, campo de leitura, amplitude (span), repetibilidade, linearidade, histerese,
curva de calibração, fator escala e ruído.

Os erros de leitura podem ser: grosseiros, sistemáticos, de conformidade, ambientais,


observacionais, de amostragem e randômicos.

Ressalta-se a importância de conhecer as variáveis para poder interpretar, predizer e


prevenir qualquer comportamento anômalo nas leituras dos instrumentos.

Temos os principais instrumentos em barragens de terra e/ou enrocamento (em ordem


alfabética da sigla, padrão CBDB – Comitê Brasileiro de Barragens):

» inclinômetro;

» medidor de recalques;

» medidor de vazão;

» piezômetro;

» célula de tensão total para solos;

» medidor de nível d’água.

48
Instrumentação em barragens | Unidade II

Figura 7. Instrumentação em barragem de terra.

Fonte: https://www.recordtek.com/solutions/geotechnical-solution/.

Inclinômetro
Os inclinômetros são empregados extensivamente para a avaliação da estabilidade de
taludes em barragens. Os inclinômetros são instrumentos de medição, de forma quase
contínua, de desvios de inclinações por uma vertical, em duas direções do maciço por
meio da instalação de tubo-guia (geralmente de alumínio) no maciço, bem como a
49
Unidade II | Instrumentação em barragens

utilização de um torpedo composto por um acelerômetro, que registra as variações


de inclinações.
Os inclinômetros possuem, geralmente, a referência de leitura em maciços ou
profundidades consideradas indeslocáveis, sendo utilizados para a determinação dos
perfis de recalques e dos deslocamentos horizontais, mediante a movimentação de um
torpedo, pescado e/ou aranha ao longo do tubo-guia.
Eles podem ter a sua tubulação guia instalada na horizontal, num plano inclinado e na
vertical, sendo diferenciados apenas na forma como é realizada a medição da grandeza
de interesse.
Figura 8. Inclinômetro: (a) horizontal; (b) inclinado; e (c) vertical.

Fonte: Cardia, 2004.

Figura 9. Princípio geral de funcionamento – inclinômetro instalado na horizontal.

Fonte: Cardia, 2004.

50
Instrumentação em barragens | Unidade II

Figura 10. Inclinômetro de recalque – pescador – posição de leitura.

Fonte: Cardia, 2004.

É importante lembrar que, em geral, esses instrumentos são instalados no início da obra,
por meio da fixação do primeiro tubo-guia em rocha sã ou em um ponto considerado
indeslocável. Outra possibilidade é a instalação desse chamado tubo-guia no fim do
processo construtivo, no qual os tubos são instalados em um furo de sondagem fixados
em um ponto considerado indeslocável.

Medidor de recalques

MM – Medidor Magnético de Recalque (MMR)

Esse medidor é indicado para medição de deslocamentos (movimentação) verticais, com


medição de distância entre posições, por aplicação de sensores mecânicos, hidráulicos,
magnéticos etc.
Ele é composto de um tubo-guia de material plástico em PVC em torno do qual são
instaladas placas metálicas, com abertura circular e anel imantado, nas camadas de
interesse. A leitura é feita com a introdução no tubo de um sensor magnético que
emite som acoplado a uma trena metálica.
Em pontos de grande profundidade, os deslocamentos nas direções verticais são
quantificados com a instalação de sensores magnéticos, que, devido à forma das hastes
aparafusadas a eles, são conhecidos no meio técnico como aranhas magnéticas.
51
Unidade II | Instrumentação em barragens

Esses sensores magnéticos possuem geometria na forma de cilindro vazado, instalados em


tubos-guia de PVC que, por sua vez, são instalados em furos de sondagem previamente
executados.

Ao instalar esses sensores, as hastes existentes são fechadas e amarradas (laço) com
fios de plástico que permitem realizar o deslocamento do instrumento por entre as
paredes do tubo-guia e do furo até a profundidade determinada no projeto.

Com a profundidade atingida, tais laços são soltos e as hastes se abrem, fixando-se
no solo mole adjacente. O acompanhamento dos deslocamentos é realizado por meio
de um torpedo, que, no interior do tubo-guia, acusa a presença do sensor quando
passa na profundidade em que este se encontra. É importante salientar que, para
que a profundidade de instalação do tubo-guia seja determinada, deve ser levada em
consideração a profundidade na qual o sensor deverá ser instalado, o recalque esperado
para aquela profundidade e mais uma folga. Se isso não for previsto, há o risco de se
perder o sensor pela extremidade inferior do tubo ou dele ficar preso no flange, que
pode ser enroscado nessa extremidade.

A figura a seguir indica os detalhes dos sensores magnéticos e a forma que são amarrados
no momento da instalação.

Figura 11. Detalhes dos sensores magnéticos.

Fonte: Cruz, 2005.

Há importantes vantagens do MMR. Dentre essas vantagens, estão a facilidade de


construção, instalação e manutenção (ou seja, efetuar eventuais reparos), além de
baixo custo, durabilidade e ilimitado número de placas.

52
Instrumentação em barragens | Unidade II

É possível a instalação de medidores magnéticos no solo de fundação, denominados


“aranhas magnéticas”. Podemos citar também algumas limitações, como a dispersão e a
relativa demora no procedimento de leitura, com precisão da ordem de milímetro em
função da profundidade da placa. Além disso, o procedimento de leitura é relativamente
demorado.
Figura 12. Medidor magnético de recalque.

Fonte: Cruz, 2005.

Figura 13. Operação de leitura no medidor magnético de recalque.

Fonte: Cruz, 2005.

53
Unidade II | Instrumentação em barragens

Medidor de recalque tipo KM (Komesu-Matuoka)

Os medidores de recalque tipo KM (desenvolvidos pioneiramente por técnicos da


CESP) constituem uma variante das placas de recalque com tubos telescópicos, em
que os tubos telescópicos são substituídos por um sistema de hastes conjugadas.

Esses medidores são construídos por duas placas horizontais isoladas em uma haste de
aço trefilado (normalmente com o diâmetro de 10mm), sendo o medidor composto de
vários segmentos que são adicionados à medida com a qual o aterro sobe. A referência
é um tubo de 25mm de diâmetro, galvanizado e fixado na rocha.

As hastes relativas a cada placa, colocadas em torno do tubo de referência, são mantidas
na posição vertical por meio de discos perfurados que funcionam como espaçadores.
Essas placas são colocadas livres do contato com o solo por meio de um conjunto de
segmentos de tubos galvanizados emendados por juntas telescópicas e que as envolve
totalmente, conforme a Figura 14.

Um paquímetro adaptado realiza as leituras dos deslocamentos e seu corpo se encaixa


no tubo de referência, bem como seu bico móvel é apoiado em cada haste, na sua
extremidade superior.

Figura 14. Medidor de recalques tipo KM.

Fonte: Cruz, 2005.

54
Instrumentação em barragens | Unidade II

Há vantagens importantes para serem citadas, como a facilidade de leitura, a menor


dispersão dessa leitura, com alta precisão numérica, além da possibilidade de número
de placas da ordem de uma dezena.

A durabilidade das hastes e dos espaçadores está relacionada à galvanização destas,


a fim de protegê-las contra a oxidação. Essa confiabilidade é regular, entretanto há
alguns casos de deslocamentos repentinos e expansões.

Há limitações, como o elevado custo, as dificuldades de construção, a instalação e


também de reparos de eventuais danos causados por acidentes.

Medidores de recalque tipo USBR

Esses medidores são uma alternativa ao processo anterior descrito, sendo estes
desenvolvidos pelo United States Bureau of Reclamation (USBR). Da mesma forma
que o anterior, utilizam um sistema de torpedo e trena para efetuar medidas
de deslocamentos em relação a posições predeterminadas ao longo de um
tubo-guia.

No entanto, nesse caso, os elementos de referência são constituídos por um sistema


mecânico de cunhas móveis que se fixam às juntas telescópicas do tubo-guia.

Na base do tubo de acesso, são instaladas conexões especiais que, ao final das medições
– que são realizadas de cima para baixo –, permitem uma retração das cunhas e a livre
retirada do torpedo ao longo do tubo.

Medidores de recalques tipo caixa sueca

Esse tipo de instrumento é aplicado para determinar recalques em pontos predeterminados


no interior do maciço, tanto no núcleo da barragem como nos espaldares de enrocamento
de jusante, por meio de vasos comunicantes.

Ainda que funcione de forma relativamente simples, há cuidados que precisam ser
realizados especialmente na sua locação e instalação em campo. A caixa sueca (Figura
15) é constituída com uma célula metálica ou de PVC dotada de quatro tubos, colocada
em uma caixa de concreto armado.

55
Unidade II | Instrumentação em barragens

Figura 15. Esquema geral da caixa sueca.

Fonte: Cruz, 2005.

A confiabilidade dos instrumentos está diretamente ligada à garantia da integridade


do conjunto.

Os maiores problemas em relação a esses medidores são a formação de bolhas e


acúmulos de lodo no interior dos tubos de conexão.

Hoje em dia, os tubos de polietileno são muito utilizados como conexões com proteção
especial nas emendas com o uso de resina epóxi (GONÇALVES et al., 1996). Estes são
colocados em tubos rígidos de proteção, com declividades superiores a 5% da célula até
a cabine de leitura, o que evita a formação de bolhas no interior dos tubos internos.

O diâmetro ideal das tubulações é uma questão com opiniões variáveis na literatura
a respeito do tema. Conforme o Comitê Suíço de Barragens (SNCLD), o tubo de
leitura (fabricado em nylon) deve ter de 3 a 4mm de diâmetro interno e, os tubos
de ventilação, de 6 a 7mm de diâmetro. Conforme o autor Dunnicliff (1988), 6mm
seria a proposta de diâmetro ideal para a leitura e para a circulação. Já no Brasil, cada
fabricante tem diâmetros distintos, porém todos dentro da faixa média de tamanho
visto nas literaturas.
56
Instrumentação em barragens | Unidade II

Medidor de vazão
Esses medidores, fabricados em geral com chapas metálicas e proteção anticorrosão,
medem o volume líquido que pode escoar por meio de uma seção, por tempo. Isto é,
medem a percolação/infiltrações de água vindas tanto da fundação, de juntas entre
blocos de contração ou concretagem, quanto das regiões mais permeáveis do maciço
de concreto, ou fissuras destes.

Para realizar essas medições, as barragens possuem sistemas de canaletas que conduzem
parte da água infiltrada a dispositivos que medem essa vazão. Essa medição é um dos
parâmetros diretos para a análise de desempenho de uma barragem, uma vez que
algumas características, como a quantidade e qualidade da água percolada ao longo da
barragem ou fundação, a sua localização e as variações bruscas dessas questões, podem
indicar problemas significativos, relativos à erosão interna, a obstrução dos drenos e
ao aumento de poropressões.

Tais fatores elencados acima são evidentes na fase operacional, a partir da caracterização
dos valores de referência das vazões de percolação.

No Brasil, há uma norma que estabelece os tipos de medidores de vazão e suas


condicionantes: NBR 13403/1995 (Medição de vazão em efluentes líquidos e corpos
receptores – escoamento livre – procedimento).

Em geral, normalmente são instalados medidores de vazão de dois tipos, os quais


veremos a seguir.

Tabela 15. Tipos de medidores de vazão.

Triangular: são os mais precisos, econômicos e fáceis de instalar, pois possibilitam determinar
as vazões contínuas quando se instala um registrador do mecanismo de medida da variação da
lâmina d’água a montante do vertedor. A medida da altura da lâmina d’água (carga hidráulica) é
efetuada a montante do vertedor, fora da influência da curvatura da superfície líquida sobre o
vertedor. Esse tipo de medição não é recomendado para vazão de líquidos com elevados teores de
sólidos em suspensão.
Critérios de escolha: os vertedouros triangulares oferecem maior precisão para vazões menores
que 30l/s. Para vazões de projeto estimadas entre 30 e 300l/s, os vertedores triangulares e
retangulares oferecem a mesma precisão. Os retangulares precisam de uma altura menor da
lâmina d’água, quando comparado ao mesmo volume de vazão em medidores triangulares (ou
seja, canais mais baixos).

Fonte: Silveira, 2003.

Os vertedores retangulares são os mais indicados para vazões acima de 300l/s, pois
possuem coeficientes de vazão mais bem definidos. Além disso, o sistema de leituras
pode ser também automatizado (SILVEIRA, 2003).

57
Unidade II | Instrumentação em barragens

Figura 16. Geometria de medidor de placa triangular.

Fonte: Hidrometer, 2020?.

Para obtenção de vazão, também podemos utilizar a Calha Parshall. O medidor Calha
Parshall é um instrumento apto a medir grandes vazões de líquidos com ou sem partícula
e pode ser construído em concreto ou fabricado em fibra de vidro.

Figura 17. Medidor de vazão tipo Calha Parshall.

Fonte: Hidrometer, 2020.

58
Instrumentação em barragens | Unidade II

Piezômetro
Os piezômetros são instrumentos utilizados, em geral, para medição de poropressões em
obras geotécnicas. Com medição da influência de artesianismo da água de percolação,
permite a determinação da pressão existente ou sua cota piezométrica equivalente.

Esses instrumentos, com a função de registrar pressões nos fluidos internos em relação
às disposições dos resíduos, têm como premissa de funcionamento um sistema sensor
e um transdutor de pressão, podendo estes serem ou mecânicos ou elétricos, instalados
na massa que se ausculta.

Os piezômetros podem apresentar distintos princípios de funcionamento e natureza,


que podem compreender a medição direta das poropressões, como nos chamados
piezômetros de tubo aberto, em que se expressam pela altura da coluna d’água no
interior de um tubo de pequeno diâmetro. E também há a medição indireta por
meio da correlação com medidas de outras grandezas, por exemplo, nos chamados
piezômetros de membrana, por meio das medidas das deformações de uma membrana
elástica inserida no interior de um elemento poroso.

Em geral, os piezômetros elétricos podem ser de corda vibrante ou sensor de strain


gauge. Com isso, não há atraso no tempo de resposta, ele é imediato, sem time lag no
momento de leitura, além de serem associados a processos de leitura automatizada e
registrados por telemetria online, para sistemas dedicados para tratamento dos dados.
Estes registram diretamente apenas as poropressões.

Tabela 16. Tipos de piezômetros.

Os elétricos são mais onerosos que os de tubo aberto, por serem importados sem fornecimento
no mercado nacional, sendo essa a sua maior desvantagem.
Os pneumáticos são do tipo mecânicos, com tempo de resposta baixo, leituras realizadas de
forma mais lenta devido à equalização das pressões externas com as pressões de gás injetado
para leitura, por tubulações que têm perda de carga. Como vantagem, porém, a leitura realizada
representa o valor real no momento exato da equalização das pressões.
Os hidráulicos também são do tipo mecânicos e seguem o princípio dos vasos comunicantes
com equalização das pressões por colunas de líquido ou manômetros, instaladas fora do aterro.
Eles são constituídos por uma pedra porosa, conectada a um painel de leitura externo por meio
de dois tubos flexíveis de nylon revestidos de polietileno, e de pequeno diâmetro (≈3mm). São
os mais utilizados entre os piezômetros mecânicos.
Os piezômetros de “tubo aberto” (Tipo casagrande) também são mecânicos e possuem
tempo de resposta mais lenta, pois necessitam de variação de volume interno aos tubos, para
equalizar as pressões e registrar as leituras. Dentre os piezômetros mecânicos, os hidráulicos já
não são mais usados.

Fonte: Silveira, 2003.

59
Unidade II | Instrumentação em barragens

Figura 18. Esquema do piezômetro de tubo aberto ou casagrande.

Fonte: Machado, 2007.

Esses piezômetros são constituídos por um tubo de PVC em cuja extremidade inferior
é acoplada uma célula (trecho perfurado de tubo envolvido com geotêxtil). A célula
fica inserida em um bulbo de material drenante e confinada num trecho limitado
(usualmente de 1,0 a 1,5m) por uma camada selante (usualmente bentonita ou solo-
cimento), utilizada para vedar o espaço anular entre o tubo e o furo.

Os procedimentos de leitura são essencialmente similares aos medidores de nível d’água,


e a pressão da água na região do bulbo é convertida diretamente em uma altura d’água
equivalente. Na superfície, é importante que sejam protegidos contra vandalismos.

Figura 19. Piezômetros elétrico, pneumático e hidráulico, respectivamente.

Fonte: Almeida; Marques, 2010.

60
Instrumentação em barragens | Unidade II

Figura 20. Esquema geral do piezômetro hidráulico.

Fonte: Almeida; Marques, 2010.

Figura 21. Detalhamento operacional do piezômetro hidráulico.

Fonte: Almeida; Marques, 2010.

61
Unidade II | Instrumentação em barragens

Figura 22. Esquema e detalhamento do piezômetro pneumático.

Fonte: Almeida; Marques, 2010.

O piezômetro de câmara simples, ou standpipe, tem evoluído, inclusive o tipo Geotech


apresenta concepção de leitura e interpretação de pressões, semelhante ao piezômetro
tipo sifão, atendendo plenamente aos objetivos de monitoramento. Tem como grande
vantagem os menores custos perante todos os outros.

É importante frisar que o parâmetro importante a ser obtido pela piezometria para a
análise da estabilidade geotécnica dos aterros é a poropressão total ou pressão de poro,
que é um dos principais fatores das instabilidades geotécnicas, rupturas de aterros,
sendo que quaisquer dos tipos de piezômetros citados estão aptos para desempenhar
essa missão, desde que devidamente instalados e interpretados.

A avaliação das condições de segurança de barragens de terra e enrocamento depende do


conhecimento da magnitude e da evolução das pressões intersticiais que se desenvolvem
nos maciços compactados e nos solos de fundação, durante as fases construtiva e de
operação da barragem ou mesmo no caso de um rebaixamento do nível do reservatório.

É importante que haja o monitoramento e controle dos registros das poropressões


nas zonas dos contatos com estruturas de concreto e ao longo do sistema de drenagem
interna da barragem. Isso deve acontecer durante a formação do reservatório e também
após sua formação, a fim de avaliar com detalhamento necessário o desempenho global
das funções drenantes e filtrantes dos materiais utilizados (MACHADO, 2007).

62
Instrumentação em barragens | Unidade II

Figura 23. Esquema típico dos piezômetros de tubo aberto.

Fonte: Almeida; Marques, 2010.

Não podemos deixar de mencionar que podem ocorrer possíveis interferências nos
registros dos piezômetros. Por exemplo, pelo fato de que há dificuldades em manter a
verticalidade dos drenos. Além disso, o tráfego de equipamentos e máquinas de grande
peso pode trazer instabilidade no terreno e podem ocorrer grandes recalques nos
maciços. Todas essas questões são instabilidades que podem ocorrer, mesmo depois
dos piezômetros implantados.

Nesses casos, os drenos que foram a princípio estirados, se dobram na medida que
os recalques ocorrem e se aproximam dos piezômetros. No caso da não verticalidade
dos drenos apontada acima, as medidas serão tão menores quanto menores forem a
distância entre drenos e piezômetros.

Célula de tensão total para solos


Há atualmente no mercado dois tipos de células de tensão total classificados como:
células diafragma e células hidráulicas. As células diafragma são compostas por uma
63
Unidade II | Instrumentação em barragens

membrana circular rígida, apoiada em um anel de borda rígido, onde a deformação


da membrana devido à pressão exercida pelo solo é captada por meio de strain gauges
localizados em sua superfície interna, sendo então lido em forma de um sinal elétrico
capaz de ser transformado posteriormente na tensão desenvolvida no interior do solo
(DUNNICLIFF, 1988).
As células hidráulicas são compostas por anéis hermeticamente fechados, circulares
ou não, com o propósito de impedir a entrada de ar em seu interior, que é preenchido
por um fluido (DUNNICLIFF, 1988). Um transdutor de pressão é conectado à célula,
sendo esta capaz de quantificar a tensão ocorrida no solo quando equilibrada a pressão
no exterior da célula com a pressão induzida no fluido interno.
Na resolução de problemas de engenharia de solos, é necessário o conhecimento do
estado de tensões em pontos do subsolo, antes e após a construção de qualquer estrutura.
O próprio peso do solo e as cargas externas podem acarretar tensões na massa de solo.
Ponderações acerca dos esforços introduzidos por carregamentos externos são bastante
complexas e sua abordagem se dá, normalmente, a partir das hipóteses formuladas
pela teoria da elasticidade.
O engenheiro Karl Terzaghi, em 1925, definiu que o comportamento dos solos
saturados em relação à resistência ao cisalhamento e à compressibilidade depende
fundamentalmente da tensão efetiva (tensão grão a grão).
Nas principais questões ligadas à engenharia, é comum os estudos de deformações de
materiais levarem em conta apenas as tensões que são originadas por cargas externas.
Já nos solos, é importante também considerarmos as tensões decorrentes do peso
próprio, das suas camadas de solo sobrejacentes, divergindo dos demais materiais.
A célula de pressão total tem o objetivo de medir o efeito combinado da tensão e a
pressão intersticial no solo. Normalmente, são utilizadas para validar pressuposições
de projeto e advertir a existência de pressões superiores àquelas que foram projetadas
para estrutura. São instaladas no solo para determinar a distribuição, a magnitude e a
direção das tensões totais. Também podem ser instaladas sobre a estrutura para medir
tensões totais que atuam em paredes, estacas, lajes e segmentos.
As aplicações em barragens de concreto são para medir as pressões em contato
com a fundação, monitoramento das tensões totais que atuam sobre as fundações.
Nas barragens de terra, utiliza-se para determinar as tensões dentro do núcleo de argila.
Também fornece leituras de excesso de poropressão que atua sobre as fundações e
estabelece a tensão total no dique.

64
Instrumentação em barragens | Unidade II

Figura 24. Célula de pressão total.

Fonte: https://rstinstruments.com/pt/total-earth-pressure-cells/.

Figura 25. Célula de pressão (Push-in) de corda vibrante.

Fonte: http://engeground.com.br/catalogos/celula_pressao_total.pdf.

65
Unidade II | Instrumentação em barragens

Figura 26. Célula de pressão (Push-in) de corda vibrante.

Fonte: http://engeground.com.br/catalogos/celula_pressao_total.pdf.

Figura 27. Instalação típica da célula de pressão em duas direções.

Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/54002/.

Medidor de nível d’água


O medidor de nível de água tem a função de indicar a cota da superfície freática no
ponto no qual o medidor está instalado. É um piezômetro standpipe sem o selo de

66
Instrumentação em barragens | Unidade II

bentonita sobre o bulbo. O orifício de instalação do instrumento é preenchido até


a superfície do terreno com areia e só próximo à superfície que o selo é aplicado.
A leitura é feita da mesma maneira que no piezômetro standpipe, com um fio elétrico.
Mede-se a distância entre a boca do tubo e o nível de água e se subtrai a altura de
coluna de água dentro do tubo.

Como a cota de instalação do bulbo é conhecida, somando-se a altura de coluna de


água à cota do bulbo obtém-se a cota da superfície freática naquele ponto. Quando há
variação do nível de reservatório, também podem variar as leituras dos medidores de
nível de água.

O nível de água ao longo da barragem reflete a declividade do terreno de fundação,


cujas cotas crescem em direção à ombreira esquerda. A Figura 28 mostra o nível
freático aferido nos medidores de nível de água ao longo do estaqueamento.
Cabe salientar que os medidores de nível de água são os instrumentos mais afastados
do eixo da barragem. Quanto menor o estaqueamento, maior a seção da barragem e
mais afastado do eixo está o medidor.

Figura 28. Superfície freática a jusante.

Fonte: Comitê Brasileiro de Barragens, 2006.

Evolução das técnicas de medidas telemetria/radar/


drones: frequência de aquisição de dados
No Brasil, a utilização de instrumentos mais sofisticados, como as definidas para as
barragens de rejeito de mineração e outras barragens, é pouco viável economicamente.
O uso de técnicas de telemetria, por exemplo, com o uso de “vants” ou “drones” e sensores
por radar, está em ascensão e tende a se tornar ainda mais viável e de maior agilidade
nas respostas das medidas dos deslocamentos ao longo dos anos.
67
Unidade II | Instrumentação em barragens

Os processos de inspeção periodicamente são associados à disponibilidade de


equipes de campo, para a realização de leituras dos instrumentos em barragens.
As desconformidades no comportamento geotécnico podem ser relatadas e registradas
por técnicos especializados e treinados para cada situação, fator relevante, pois não
pode ser substituído por técnicas automatizadas (BENVENUTO, 2011).

68
PROGRAMA DE
MONITORAMENTO UNIDADE III

CAPÍTULO 1
Posicionamento e quantidade mínima
de instrumentos

O monitoramento das barragens é realizado por meio de inspeções frequentes e estudos


técnicos a fim de obter as informações atualizadas e sistemáticas do comportamento das
estruturas. O monitoramento de barragens efetua variados tipos de monitoramento,
de maneira a garantir o controle do sistema da barragem.

A inspeção rotineira nas barragens é executada por equipe especializada, como parte
regular de suas atividades, com frequência mensal, comunicações de possíveis anomalias
detectadas e emissão de relatórios específicos.

A leitura e a análise da instrumentação são realizadas com a mesma regularidade das


inspeções por equipe específica, e a análise dos dados é realizada por uma equipe
especializada.

As análises de fluxo são executadas com frequência semestral por uma equipe
especializada. Nessas análises, é realizado um comparativo do resultado obtido da
modelagem numérica do fluxo pelo interior da barragem por meio de um programa
bidimensional de elementos finitos com as leituras da instrumentação executada
mensalmente.

A inspeção formal é executada por equipe especializada, diferente da equipe que


executada a Inspeção Rotineira. A frequência é anual, com geração de relatórios que dão
suporte para a equipe da inspeção de rotina realizar o acompanhamento da evolução
e tratamento das anomalias, quando identificadas.

A inspeção multidisciplinar é executada por especialistas em cada disciplina de interesse


da barragem, especialistas das disciplinas de estruturas, geotecnia, hidráulica, elétrica
e mecânica com frequência bianual.

69
Unidade III | Programa de monitoramento

A leitura e a análise de instrumentação têm como objetivo monitorar os principais


modos de falhas para as barragens, tais como: instabilização global, instabilização
localizada, galgamento, liquefação e erosão interna.

Por meio do Programa de Monitoramento das Barragens, é possível obter uma série de
dados de comportamento das barragens ao longo do tempo e ciclos de surgimento de
anomalias e manutenção das barragens, túneis e canais do sistema. Os dados permitem
a correta manutenção do empreendimento, bem como permite intervenções pontuais
ao longo de todo o período do programa de monitoramento das barragens.

O Programa de Monitoramento de Barragens tem como objetivo realizar o trabalho de


inspeção e análise rotineira das barragens, dos túneis e dos canais, além de permitir as
devidas intervenções no tempo correto. Com isso, é possível acumular conhecimento
do comportamento dos maciços, refinar os dados de análise, conhecer e melhorar os
ciclos de manutenção preventivas e corretivas, além de fazer intervenções pontuais
que garantem a segurança.

Recomenda-se que o programa seja continuamente realizado, com as periodicidades


apresentadas e obtenção contínua, armazenamento e utilização de dados para a melhoria
do sistema de monitoramento e, consequentemente, sua manutenção. (KOCHEN, 2019).

É de atribuição da Agência Nacional de Águas (ANA) organizar, implantar e realizar a


gestão do Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens (SNISB), bem
como fiscalizar a segurança destas por ela outorgadas, que são as destinadas a diversos
usos que acumulam água e estão em corpos hídricos de gestão federal, conforme a
Política Nacional de Segurança de Barragens.

São corpos hídricos de gestão federal aqueles que percorrem mais de um estado do
país ou que fazem algum tipo de fronteira.

As inspeções de segurança regular que são citadas na Lei n. 12.334/2010, artigo 9º,
devem constar: a qualificação da equipe responsável, a periodicidade, o conteúdo
mínimo e o nível de detalhamento definidos pelo órgão fiscalizador em função da
classe de risco e do dano potencial associado à barragem.

A mesma lei afirma, em seu artigo 8º, que os órgãos fiscalizadores precisam detalhar
as demais partes do Plano de Segurança de Barragem. Os diversos fiscalizadores
de barragens devem enviar as informações previstas em lei para que a ANA possa
disponibilizar as informações no Relatório Anual de Segurança de Barragem e divulgar
para a população.

70
Programa de monitoramento | Unidade III

Dessa forma, fica evidente que o controle das informações de uma barragem é fundamental
para a interpretação do comportamento geotécnico anterior e a previsibilidade a
posteriori, de forma a garantir a segurança estrutural, desde intervenções leves e
correções operacionais até eventual paralisação de operação e adoção de medidas
drásticas de estabilização. Nesse sentido, trata-se de uma obra de engenharia civil que
requer a abordagem sistêmica da engenharia geotécnica e de estruturas.

Nota-se atualmente uma tendência de se valorizar muito o monitoramento de


instrumentação, principalmente automatizada, com ênfase na comparação dos valores
lidos com os limites de controle. Realmente o monitoramento é de extrema importância
na avaliação do desempenho de uma obra, mas deve-se sempre lembrar que um
instrumento deve ser selecionado e instalado para responder questões específicas
(SILVEIRA, 2006).

Quantidade de instrumentos

Por maior que seja a quantidade de instrumentos instalados em uma dada obra, o
monitoramento é, na maioria das vezes, pontual e não representa, de forma isolada,
o comportamento da estrutura em questão.

Sempre surge a dúvida a respeito de quantos instrumentos devem ser instalados para a
avaliação da estabilidade geotécnica de uma barragem. De fato, não há regulamentação
ou norma estabelecida, assim, essa prescrição é subjetiva e dependente da expertise da
consultoria responsável pelo monitoramento geotécnico do empreendimento.

O ideal é que já no projeto básico constem tais informações, assim as fragilidades


possíveis das estruturas podem já ser identificadas, com detalhamento em projeto
executivo, indicando geometrias e materiais, submetido à reavaliação ao longo da fase
operacional (BENVENUTO, 2011).

Essa prática, em geral, não é uma prática e, quando se atentam para essa necessidade,
o aterro já atinge algumas dezenas de metros de altura. No caso de não haver projeto
de instrumentação, quando o profissional é chamado para realizar a avaliação da
estabilidade geotécnica do empreendimento, é preciso projetar a instrumentação e
efetuar o monitoramento, mesmo sem saber da vida pregressa das estruturas, em
termos de operação até aquele momento.

Assim, resta aos especialistas prospectar por meio de sondagens diretas e indiretas, a
fim de avaliar as condições internas das estruturas, que muitas vezes foi construído ao
longo de vários anos. Nesse ambiente, podem-se aproveitar as próprias prospecções
71
Unidade III | Programa de monitoramento

diretas a serem prescritas e realizadas, para instalação do instrumento e, assim, já


aproveitar e não perder as sondagens que precisam ser realizadas.

A distribuição dos instrumentos precisa ter a avaliação adequada conforme o tipo


de ruptura que pode ocorrer e ser monitorado e, nesse sentido, o especialista e sua
experiência são importantes para realizar uma avaliação mais precisa possível da
estabilidade ao longo do tempo.

A quantidade de instrumentos a ser instalada em uma barragem está condicionada


principalmente aos seguintes aspectos básicos:

» altura máxima;

» comprimento da barragem;

» características da geologia da fundação;

» caracterização dos materiais a serem utilizados no corpo da barragem;

» etapas construtivas da barragem.

É inviável o estabelecimento de regras predeterminadas definindo a quantidade de


instrumentos a serem instalados em uma barragem (atender a esses vários condicionantes
locais) (DUNNICLIFF, 1988).

A instrumentação geotécnica adotada nas barragens durante o período construtivo


tem o objetivo de analisar o comportamento previsto das estruturas e verificar as
hipóteses adotadas em projeto.

Essa instrumentação possui grande diversificação, que inclui auscultação distribuída ao


longo de toda a seção do empreendimento, ou seja, as barragens de terra, enrocamento,
transições, além da quantificação de recalques, tensões efetivas e/ou totais, poropressões,
posição do NA e também medidas das vazões de infiltração por aterros e fundações
da estrutura.

Há, a partir do enchimento do reservatório, a necessidade da instalação adicional de


piezômetros, medidores de NA, medidores de recalque e medidores de vazão, em
função de possíveis infiltrações ocorridas nas ombreiras.

Também devem ser instalados medidores de nível d’água ao longo do pé do talude da


barragem de terra, com o objetivo de fornecer informações complementares às obtidas
pelos piezômetros instalados no aterro e na fundação da barragem.

72
Programa de monitoramento | Unidade III

Portanto, a quantidade deverá ser avaliada em função do porte do empreendimento e


em conjunto com os projetistas e operadores da barragem. Os principais instrumentos
utilizados são os piezômetros, os inclinômetros, os medidores de recalque, os medidores
de nível de água, os marcos de superfície, as caixas suecas e as células de tensão total.

Todas as medições da auscultação por instrumentação de uma barragem possuem


valores limites e de controle estabelecidos por meio de hipóteses de projeto, baseado
na experiência prévia existente e também nas eventuais análises do comportamento
anterior da estrutura (KUPERMAN et al., 2005).

É importante ressaltar que é necessário conhecer as grandezas a serem medidas para


determinar quais equipamentos atendem às necessidades da instrumentação de campo.
Dentre essas grandezas, estão as pressões, que podem ser convertidas em forças,
conhecendo a área de aplicação, os deslocamentos, que podem ser convertidos em
deformações, além de vazão, temperatura, vibração, topografia (KANJI, 1990).

Os projetos de instrumentação podem variar bastante, conforme as diferentes situações


locais e, consequentemente, diferentes soluções. É por isso que não há receita única
para isso, mas é possível configurar estatisticamente qual é a prática comum utilizada
na instrumentação de barragens de terra e/ou enrocamento, para se observar fatores
e tendências comuns (KANJI; FIGUEIRA,1990).

Há uma predisposição em relacionar a altura das barragens ao número de instrumentos


utilizados nesta, sendo este um critério para avaliar a quantidade de instrumentação a ser
utilizada. Entretanto, essa relação pode variar conforme o tipo de instrumento utilizado.

A tabela a seguir indica observações em relações à correlação entre a altura da barragem,


em metros (H) e número de instrumentos (N). Dentre estes, estão medidores de
deslocamentos horizontais e verticais, piezômetros, marcos topográficos e inclinômetros,
e células de pressão total.

Tabela 17. Classificação das barragens em relação à altura.

Casos de barragens estrangeiras:


» Barragens baixas (menor que 20m): correlação H:N=1:3
» Barragens altas (maior que 200m): correlação H:N=1:1
Casos de barragens nacionais:
» Barragens baixas (menor que 20m): correlação H:N=1:1
» Barragens altas (até 100m): correlação H:N=1:1,3
» Barragens muito altas (maior que 100m): correlação H:N=1:1

Fonte: Kanji; Figueira, 1990.

73
Unidade III | Programa de monitoramento

Em geral, há uma correlação, pois a ordem de 1:1, ou seja, a altura de uma barragem
(em metros) é igual ao número total de instrumentos instalados, conforme os mesmos
autores concluíram.

Kanji e Figueira (1990) também observaram a associação entre a quantidade de cada


um dos tipos de instrumentos específicos em obras de barragens e a relação entre o
número total de instrumentos instalados, sendo: piezômetros (50%), marcos topográficos
(30%), medidores de deslocamento horizontal/vertical (20%) e inclinômetros (5%).

Nesse sentido, é possível observar que metade dos instrumentos instalados em barragens
de terra são os piezômetros, e os inclinômetros são usados em quantidade bem menor,
sendo os menos utilizados em barragens de terra e enrocamento.

Outra questão importante é considerar o melhor período para utilizar cada instrumentação
na obra, após considerarmos as razões, os tipos e a quantidade a ser empregada.
Nesse sentido, não há critérios ou regras, mas é possível compreender que o número
e os tipos de instrumentos devem ser os necessários para garantir a estabilidade
tridimensional e seu controle nas diversas faces do empreendimento, atentando-
se às alturas e declividades maiores dos taludes como as regiões mais críticas, bem
como certas peculiaridades, como desconformidades e rupturas passadas e o emprego
indevido de geossintéticos.

A observação da estrutura é importante, uma vez que estas têm indícios prévios de
rompimento. Assim, a preocupação contínua desde o início do projeto garante as
condições de estabilidade necessárias, com tempo para reações, dependendo, assim,
do nível de observação e preocupações com a obra.

Assim, o posicionamento e a quantidade de instrumentos dependem de análise de estabilidade,


inspeção visual e conhecimento de todas as fases do empreendimento, da concepção a
operação, para a garantia de prognósticos seguros, determinando o acompanhamento
e as inspeções constantes dos procedimentos operacionais e de instrumentação.

É recomendado que sejam definidos critérios de segurança e monitoramento, de


forma a qualificar o grau de segurança, gradativamente, com os resultados das análises,
definindo o plano de intervenções e contingências.

A falta de monitoramento e, consequentemente, de informações condena ou coloca em


dúvida a estabilidade estrutural e operacional do empreendimento. Para reverter essa
condição, há de se monitorar e isolar as principais variáveis a serem instrumentadas
e monitoradas.

74
Programa de monitoramento | Unidade III

O objetivo de um plano de instrumentação e monitoramento bem elaborado, mesmo


que seja com uma quantidade mínima de instrumentos, é permitir aos especialistas e aos
empreendedores a projeção futura da estabilidade geotécnica das estruturas, o chamado
prognóstico de estabilidade, subsidiando os planos de emergências e contingências,
exibindo, demonstrando e minimizando eventuais problemas futuros.

75
CAPÍTULO 2
Monitoramento e regularidade
das leituras dos instrumentos

A segurança de barragens é o que mais precisa ser priorizado ao longo das fases de
projeto, desenvolvimento construtivo, obras e operação e manutenção. Nesse sentido,
é importante lembrar que a Engenharia de Barragens não é uma ciência exata e,
portanto, não pode eliminar por completo os riscos de incidentes ou acidentes que
possam vir a ocorrer.
Atualmente, é possível identificar um aumento de projetos de barragens de menor
porte, com técnicas construtivas e de operação menos sofisticadas (MATOS ALMEIDA,
1998).
O monitoramento da instrumentação geotécnica é uma etapa importante na avaliação
do desempenho de uma obra. Todavia, o monitoramento não pode ser considerado de
forma isolada na avaliação do desempenho. De acordo com o Boletim 118 do ICOLD, a
avaliação da segurança e desempenho de uma barragem é feita analisando-se, de forma
conjunta, o monitoramento da instrumentação, os resultados das inspeções visuais, a
documentação de projeto e os registros de construção.
Os programas de monitoramento de barragens buscam identificar os perigos e riscos
potenciais que podem ocorrer nas estruturas e, assim, reduzi-los a níveis que possam ser
aceitáveis ou eliminá-los. Também faz parte desse programa observar, em determinado
período de tempo, uma estrutura, verificando se sua condição é aceitável ou não aos
padrões.
É possível realizar a construção de barragens seguras e os potenciais defeitos e seus
riscos de segurança podem ser corrigidos antes que possam trazer consequências sérias,
como perdas socioeconômicas, desastres ecológicos e perdas de vidas.
Barragens existentes devem ser monitoradas e reavaliadas periodicamente a fim de se
assegurar que elas estejam em condições seguras, de acordo com os padrões operacionais
e de segurança vigentes na data de avaliação. Com os conhecimentos hidrológicos,
geológicos e de sismologia atuais, as barragens que outrora foram consideradas seguras
podem não mais se enquadrar nessa classificação.
O monitoramento deve focar na detecção de qualquer condição que possa ameaçar
a integridade vital da estrutura. Essas situações podem ser atribuídas à inadequação
de materiais construtivos, a defeitos na fundação, a condições adversas no entorno, a
deficiências de projeto ou a operação e manutenção impróprias.

76
Programa de monitoramento | Unidade III

A análise dos dados de monitoramento deve ter como premissas:


» determinar se há uma variação significativa o suficiente para justificar uma
resposta;
» os dados devem ser verificados quanto à significância estatística;

» verificar em relação aos limites especificados e revisar para ver se a variação


além desses limites sugere riscos potenciais.
O monitoramento automático oferece: redução de riscos, preserva evidências,
informações em tempo real, agir com antecedência e maior segurança.

Figura 29. Processo de automação da instrumentação de auscultação.

Fonte: Lima, 2018.

O uso de instrumentos geotécnicos tradicionais e de nova tecnologia em monitoramento


pode ter várias aplicações: avaliar as condições atuais e futuras de estabilidade, ser
usado como ferramenta fundamental para sistemas de alerta e avaliar cenários de
medidas de mitigação.
Um dos métodos de monitoramento de crescimento mais rápido é o uso de drones aéreos
para tirar fotos de alta resolução. Ao usar fotogrametria, as mudanças nas superfícies
podem ser detectadas e medidas a partir das fotos.
A vantagem desse monitoramento é que os drones podem obter informações de
forma segura de áreas inacessíveis ou perigosas, e as desvantagens são: o tempo
77
Unidade III | Programa de monitoramento

de pós-processamento não permite monitoramento e alertas em tempo real e o


tempo de voo é limitado, em função da duração da bateria.

Com o objetivo de se assegurar que essas condições sejam percebidas em seus estágios
iniciais, há seguinte lista de itens a serem monitorados, delineada pelo Bureau of
Reclamation (1987):

» materiais de construção;

» condições gerais que evidenciam perigo;

» deficiências de operação e manutenção;

» evidências de deficiências em barragens de material solto;

» evidência de deficiências em vertedores;

» evidências de deficiências nas saídas d’água;

» condições adversas no entorno do reservatório.

A instrumentação geotécnica é fundamental para avaliação dos potenciais problemas


de estabilidade, informando, por meio de instrumentação adequada, se uma área
em movimento irá romper, quando irá romper, o volume de material envolvido e o
potencial de alcance dos danos. Todos esses parâmetros são necessários para um bom
monitoramento.
Conforme afirma Silveira (2006), todos os instrumentos devem ser selecionados e
instalados para que respondam às questões específicas. Se não houver perguntas, não
deve ocorrer instrumentação.
Não se pode confundir avaliação de desempenho com monitoramento de instrumentação.
O monitoramento da instrumentação é parte do processo de avaliação de desempenho,
e não sinônimo.
Também se deve sempre analisar de maneira criteriosa a comparação dos valores lidos
pela instrumentação com os valores de controle. Quando se estabelecem os valores
de controle da instrumentação, consideram-se premissas com base nas informações
disponíveis, mas que nem sempre serão as mais adequadas.
A maneira correta de se avaliar a instrumentação envolve comparar o comportamento
indicado pelo instrumento com outros instrumentos próximos, avaliar o que seria
esperado para aquele dispositivo em função das características da obra, e sempre levar
em consideração os aspectos observados durante a inspeção de campo.
78
Programa de monitoramento | Unidade III

Pode-se dizer que a inspeção de campo, conduzida por profissional qualificado e


munido das informações-chave do projeto, é tão importante quanto o monitoramento
da instrumentação.

Frequência de leitura
As frequências das leituras da instrumentação precisam se adequar conforme os
desempenhos previstos ao longo do projeto, especialmente nas fases de construção,
enchimento e operação, possibilitando assim a supervisão das velocidades de variação
das grandezas a serem medidas levando em conta a precisão dos instrumentos e a
relevância dessas grandezas na avaliação do desempenho da respectiva obra.

É recomendável realizar frequências mínimas de leituras, devendo ser intensificadas


ou ajustadas quando da ocorrência de fatores especiais, tais como:

Tabela 18. Frequência de leituras em condições de fatores especiais.

Tendências desfavoráveis à segurança da obra


Fenômenos naturais prejudiciais à segurança
Alterações nos processos construtivos
Subida ou rebaixamento muito rápido do reservatório
Mudanças das condições geotécnicas e/ou geológicas previstas no projeto

Fonte: Silveira, 2006.

Os profissionais que atuam como leituristas devem absorver as tarefas de inspeções


visuais, percorrendo e avaliando as diversas estruturas do complexo da barragem,
pelo menos uma vez por semana, especialmente no período de operação da barragem.
O olho humano treinado é o melhor instrumento para avaliar a performance de uma
estrutura. Embora as inspeções visuais possuam limitações, é o método que melhor
consegue integrar todo o contexto do comportamento da barragem, que nenhum
outro método apresenta.
Durante uma inspeção visual deve-se levar para o campo, além dos instrumentos
rotineiros como GPS, trena, bússola, binóculos etc., um pequeno trado para inspecionar
aterro e observar se encontra-se realmente seco e se o sistema de drenagem está
funcionando corretamente.
A vantagem da inspeção visual é que as inspeções são realizadas por profissional
com conhecimento e compreensão dos riscos geotécnicos. Dessa forma, permite a
identificação prévia de anomalias que sugerem necessidade de manutenção e/ou riscos

79
Unidade III | Programa de monitoramento

potenciais. A limitação dessa inspeção é a intermitência, portanto, as mudanças não


são detectadas tão logo aconteçam.

Após a fase de implantação dos instrumentos, é recomendável que seja realizado a


leitura rotineira, de preferência, na mesma hora do dia. Deverá ocorrer a divisão dos
instrumentos em grupos a serem observados em um mesmo dia, sendo recomendado
que as leituras sejam programadas seguindo uma sequência e itinerário fixo.

Uma ponderação importante é o fato que se deve evitar ao máximo a troca constante
das equipes de leitura, ou seja, a equipe para realizar a leitura de um determinado
instrumento deve permanecer a mesma, para assim manter a precisão dos dados
adquiridos. Caso ocorra a substituição de integrantes da equipe de leitura, é importante
que o substituto acompanhe o leiturista anterior em um período de trabalho para que
diminua as chances de ocorrer erros.

As frequências recomendadas para o período de enchimento do reservatório basearam-


se em condições normais, ou seja, que demandam cerca de dois a seis meses para ser
realizado por completo.

Em situações de enchimentos de barragens mais rápidos ou muito lentos, tais valores


recomendados podem sofrer variações.

Segundo o Comitê Brasileiro de Barragens (1996), as frequências mínimas recomendadas


para a instrumentação de barragens de terra-enrocamento são:

Tabela 19. Instrumentação de barragens de terra-enrocamento.

Período Enchimento Início de Período de


Tipo de observação
construtivo reservatório operação operação
Deslocamentos superficiais
Mensal Semanal Mensal Semestral
(topografia)
Deslocamentos internos
Semanal Semanal Quinzenal Mensal
(verticais e horizontais)
Deformação Semanal Semanal Quinzenal Mensal
Pressão total/efetiva Semanal 2 semanais Semanal Mensal
Poropressão Semanal 2 semanais Semanal Quinzenal
Subpressão Semanal 3 semanais 2 semanais Quinzenal
Nível d’água Semanal 3 semanais Semanal Quinzenal
Vazão de infiltração - Diárias 3 semanais Semanal

Fonte: Comitê Brasileiro de Barragens, 1996.

80
Programa de monitoramento | Unidade III

Vários acidentes que ocorrem em barragens poderiam ter sido minimizados, ou


mesmo evitados, caso houvesse um acompanhamento adequado do comportamento
das estruturas das barragens, por meio de instrumentação geotécnica frequente.

Ao longo do período de construção e também operação, o monitoramento hidráulico


e mecânico das barragens, realizado com a instalação de um sistema de instrumentos
adequados, tem um papel fundamental. É inconcebível grandes estruturas sem um
adequado número de instrumentos com monitoramento assíduo procedido por
profissionais com conhecimento específico.

O monitoramento e a inspeção são essenciais para avaliar e gerenciar o risco associado


a possíveis falhas. O uso de novas tecnologias aumenta a produtividade e o tempo de
resposta, desde que bem utilizados. Vários métodos podem ser aplicados para a análise
de várias grandezas monitoradas. A integração de dados é essencial para eficiente
entendimento das informações geradas a partir dos dados coletados.

81
CAPÍTULO 3
Sistemas de proteção dos instrumentos

Deve-se buscar a segurança da instrumentação ao longo do projeto, da construção e


da operação das barragens. É fundamental que isso ocorra e, caso essa instrumentação
seja danificada, pode apresentar falhas ou funcionar de forma não satisfatória, podendo
assim fornecer resultados equivocados.

Muitas vezes a ocorrência de uma anomalia não pode ser detectada porque a
instrumentação não tem sensibilidade suficiente para gerar informações.

A boa concepção geral do sistema de proteção, o arranjo e o dimensionamento adequado


dos instrumentos são fundamentais para o sucesso do empreendimento, pois a falta de
proteção do sistema de instrumentação pode levar a consequências graves posteriores.

Apesar do ótimo custo/benefício apresentado pelos instrumentos manuais, há também


muitas variações e equívocos nas leituras realizadas em campo, devido a fatores como
leituras mal executadas e danos ocorridos na construção e operação desses instrumentos.
Isso compromete a interpretação dos dados e a tomada de decisões em relação a essa
questão (FUSARO, 2007).

Há alguns problemas que podem ocorrer durante toda a vida útil de um piezômetro
do tipo standpipe, por exemplo, obstrução dos tubos por cisalhamento no interior do
maciço; obstrução dos tubos por introdução de objetos; oxidação do tubo de leitura,
quando este for metálico; ruptura da tubulação de leitura; colmatação dos orifícios do
tubo/bulbo ou do material drenante (SILVEIRA, 2006).

É possível que possa ocorrer também a obstrução com cimento das células desses
piezômetros, quando estes são instaladas antes da execução ou conclusão de cortinas
de injeção. Isso pode levar inclusive à inoperância desses instrumentos (CASTRO et
al., 2017).

Quando ocorre uma má execução do selo impermeável do furo no qual o piezômetro


está instalado, pode facilitar a entrada de água de locais externos a essa instalação. Uma
das formas de se avaliar essa falha é realizar um ensaio de permeabilidade com carga
constante, após a dissipação da poropressão que é gerada no momento da instalação
do piezômetro (DUNNICLIFF, 1993, apud CASTRO et al., 2017)

Toda barragem deveria ter seus instrumentos de auscultação protegidos dentro de


um plano de segurança para se descartar os instrumentos danificados e planejar que
novos instrumentos sejam instalados em pontos de maior interesse.

82
Programa de monitoramento | Unidade III

Os danos nos instrumentos causam leituras erradas, pois o sensor de medição encontra-
se danificado, gerando equívocos que podem ser danosos ao controle e à segurança
do empreendimento.

É importante ressaltar que a qualidade do instrumento que será instalado é fundamental,


pois esse fator está relacionado à sua vida útil, sobretudo.

Muito comum durante os primeiros anos de operação de uma barragem, os piezômetros


sofrem ataques ou danos, alguns por atos de vandalismo e muitos piezômetros são
danificados pelo esmagamento da tubulação, pelo recalque do aterro durante a construção.
Existem relatos que, após 36 anos de operação, apenas 25% dos piezômetros standpipe
estavam em condições normais de operação (SILVEIRA, 2006).

Já os inclinômetros, em geral, são danificados por deslocamentos cisalhantes.

A proteção desse sistema deve ser cuidadosa e realizada por profissionais experientes de
acordo com o instrumento a ser protegido utilizando inovações e soluções avançadas.

A proteção deve obedecer e seguir as normas e especificações para cada situação. É de


fundamental importância manter o controle da qualidade dos materiais e uma fiscalização
atenta para que sejam seguidas à risca as normas de proteção para obtenção de corretas
leituras.

O primeiro enchimento do reservatório é a fase mais delicada para a instrumentação,


de acordo com as estatísticas de inoperância da instrumentação. Grande parte das falhas
estruturais e demais problemas ocorre ao longo do enchimento do reservatório e do
primeiro ano seguinte, uma vez que nesse período se manifestam os carregamentos
e as percolações com mais frequência. Ao longo dos anos, os instrumentos podem se
deteriorar e/ou enfraquecer, e isso deve ser detectado para que sejam recuperados ou
protegidos.

Deve-se sempre ter em mente que os instrumentos elétricos de auscultação de uma


barragem, por ficarem inseridos no interior do maciço compactado ou de sua fundação,
não têm como serem reparados, quando danificados.

Os instrumentos elétricos sofrem frequentes danos causados por descargas atmosféricas.


Recomenda-se o máximo cuidado no projeto e na proteção do sistema. A falta de um
sistema de proteção adequado pode danificar muitos instrumentos instalados, o que
seria prejudicial para o monitoramento da barragem.

83
Unidade III | Programa de monitoramento

Os seguintes sistemas para proteção da instrumentação devem ser adotados (SHOUP,


1992):

» utilização de cabos elétricos blindados;

» aterramento da área, e dos instrumentos e da corda vibrante;

» instalação de dispositivo nos sensores para evitar sobretensão;

» aterramento da blindagem dos cabos;

» aterramento de caixas seletoras;

» execução do sistema de aterramento com hastes de copperweld.

Para prevenir acidentes e atenuar seus possíveis efeitos, há medidas que podem ser
tomadas, conforme tabela a seguir.

Tabela 20. Providências para prevenção de acidentes.

Um plano de controle e proteção bem elaborado através de monitoramento visual e controle das leituras observando
inoperância ou inconsistência. A frequência de acompanhamento deve ser apropriada e deve incluir inspeções in situ.
Medidas de manutenção e reparo rotineiros conforme as recomendações dos relatórios de inspeção, dos consultores e
dos resultados da auscultação.
Planos de substituição para lidar com as situações que possam causar graves danos econômicos ou perigo para
o empreendimento ou a vida humana. Esses planos devem indicar as providências para evitar ou atenuar suas
consequências.
Ter uma avaliação das condições operacionais dos instrumentos e das estruturas, de seus pontos fracos e dos riscos
envolvidos.
Minimizar os riscos por danos aos instrumentos através da implantação das medidas necessárias para prevenção e
mitigação detectados pela inspeção ou a manutenção.
Plano de operação da instrumentação incluindo as frequências das leituras nas diversas fases de vida da obra e durante
possíveis eventos excepcionais na busca de incoerências e correções ou substituições.
Plano de observações visuais e inspeções in situ.
Plano de análise e interpretação dos instrumentos conforme as leituras da instrumentação e inspeções visuais.

Fonte: Shoup, 1992.

A reavaliação da segurança da instrumentação deve ser executada em intervalos de


tempo regulares, para a barragem e suas estruturas associadas, incluindo os planos de
operação, manutenção, inspeção e de emergência. Verificar se as condições atuais são
seguras em todos os aspectos e, caso não o sejam, determinar as melhorias necessárias
para a segurança.
Deverá ser contemplado um programa de verificação que tenha intervalos regulares,
relativo ao bom funcionamento e à manutenção de cada um dos instrumentos de
auscultação. Esses intervalos devem ter frequência de um ano ou menos.
84
Programa de monitoramento | Unidade III

Caso ocorram falhas ou também perdas de instrumentos, é necessário realizar uma


avaliação de uma eventual reparação ou substituição destes. As leituras dos instrumentos
devem ser verificadas e analisadas e devem estar coerentes com os resultados anteriores
e com os limites previstos.

Com base nesses resultados e na sua análise e interpretação do comportamento da


barragem, é possível também desativar alguns instrumentos.

Uma análise prévia dos resultados deve ser realizada de imediato após as leituras. Isso,
porque as causas de comportamentos inesperados e não conformidades devem ser
esclarecidas rapidamente, assim como as medidas necessárias.

Uma barragem não pode ser considerada bem instrumentada e acompanhada se a


segurança e a manutenção dos instrumentos forem negligenciadas.

Para que os instrumentos apresentem vida útil compatível com a da obra, ou seja, que
assegurem dados confiáveis ao longo de algumas décadas, será necessária, na fase de
projeto, proteção adequada dos instrumentos e dos cabos de leitura.

85
CRITÉRIOS DE
SEGURANÇA UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
Procedimentos de emergência

A Lei Federal n. 12.334/2010 trata da Política Nacional de Segurança de Barragens e


preconiza que o Plano de Ação de Emergência – PAE é um instrumento fundamental
na gestão de quaisquer tipos de barragens e estruturas de contenção, sejam de resíduos,
rejeitos, sedimentos, seja de acumulação de água, que se enquadre como de dano
potencial associado alto.
Embora a segurança de barragens já seja objeto de estudos e de profissionais de
engenharia e geotecnia desde a década de 1980, somente a partir dos anos 2000 é que
o assunto passou a ser debatido na política brasileira (FRANCO, 2008).
Conforme a Lei Federal n. 12.334/2010, deverá haver itens mínimos constados em
um PAE:
» identificar e analisar as possíveis situações de emergência;

» procedimentos para identificar e notificar o mau funcionamento ou condições


potenciais de ruptura da barragem;
» procedimentos de prevenção e correção a serem adotados em situações de
emergência, com indicação do responsável pela ação;
» estratégia, meio de divulgação e alerta para as comunidades potencialmente
afetadas em situação de emergência.

A estrutura básica do PAE é composta por:

Tabela 21. Seção I – Informações gerais da barragem.

SEÇÃO I INFORMAÇÕES GERAIS DO PAE E DA BARRAGEM


I.1 APRESENTAÇÃO DO PAE
I.2 OBJETIVO DO PAE
INDENTIFICAÇÃO E CONTATOS DO EMPREENDEDOR, COORDENADOR DO PAE E ENTIDADES
I.3
CONSTANTES DO FLUXOGRAMA DE NOTIFICAÇÃO

86
Critérios de segurança | Unidade IV

SEÇÃO I INFORMAÇÕES GERAIS DO PAE E DA BARRAGEM


DESCRIÇÃO DA BARRAGEM E ESTRUTURAS ASSOCIADAS
I.4.1 Identificação e localização da barragem
I.4.2 Descrição geral da barragem
I.4.3 Características hidrológicas, geológicas e sísmicas
I.4
I.4.4 Reservatório
I.4.5 Órgãos extravasores
I.4.6 Instrumentação
I.4.7 Acessos à barragem
RECURSOS MATERIAIS E LOGÍSTICOS DA BARRAGEM
I.5.1 Sistemas de iluminação e alimentação de energia
I.5
I.5.2 Sala de emergências
I.5.3 Recursos materiais mobilizáveis em situação de emergência

Fonte: Agência Nacional de Águas –Volume IV, Plano de Ação de Emergência (PAE), 2016.

Tabela 22. Seção II – Identificação e análise das possíveis situações de emergência.

DETECÇÃO, AVALIAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E AÇÕES ESPERADAS PARA CADA NÍVEL


SEÇÃO II
DE RESPOSTA
II.1 CLASSIFICAÇÃO DAS SITUAÇÕES
II.2 AÇÕES ESPERADAS

Fonte: Agência Nacional de Águas –Volume IV, Plano de Ação de Emergência (PAE), 2016.

Tabela 23. Seção III – Procedimentos de notificação e alerta.

SEÇÃO III PROCEDIMENTOS DE NOTIFICAÇÃO E SISTEMA DE ALERTA


III.1 OBJETIVO

III.2 NOTIFICAÇÃO

III.3 SISTEMA DE ALERTA

III.4 FLUXO DE NOTIFICAÇÃO


Fonte: Agência Nacional de Águas –Volume IV, Plano de Ação de Emergência (PAE), 2016.

Tabela 24. Seção IV – Responsabilidades gerais do PAE.

SEÇÃO IV RESPONSABILIDADES GERAIS


IV.1 RESPONSABILIDADES DO EMPREENDEDOR

IV.2 RESPONSABILIDADES DO COORDENADOR DO PAE

IV.3 RESPONSABILIDADES E ORGANIZAÇÃO DA EQUIPE TÉCNICA

IV.4 SISTEMA DE PROTEÇÃO E DEFESA CIVIL

Fonte: Agência Nacional de Águas –Volume IV, Plano de Ação de Emergência (PAE), 2016.

87
Unidade IV | Critérios de segurança

Tabela 25. Seção V – Síntese do estudo de inundação e respectivos mapas.

SEÇÃO V SÍNTESE DO ESTUDO DE INUNDAÇÃO E RESPECTIVOS MAPAS


V.1 MODELAGEM DA CHEIA DE RUPTURA
V.2 CRITÉRIOS E CENÁRIOS DE MODELAGEM DA CHEIA DE RUPTURA
VALE A JUSANTE E IDENTIFICAÇÃO DE PONTOS VULNERÁVEIS
V.3.1 Resultados e mapa de inundação
V.3
V.3.2 Caracterização do vale a jusante
V.3.3 Caracterização da ZAS
ANEXOS
VI ANEXO 1 – PLANO DE TREINAMENTO DO PAE
VII ANEXO 2 – MEIOS E RECURSOS EM SITUAÇÃO DE EMERGÊNCIA
ANEXO 3 – MODELOS DE FORMULÁRIOS
Formulário de declaração de início da emergência
VIII
Formulário de declaração de encerramento da emergência
Formulário de mensagem de notificação
IX ANEXO 4 – COORDENADAS DAS ESTRUTURAS E PONTOS VULNERÁVEIS NA ZAS

Fonte: Agência Nacional de Águas –Volume IV, Plano de Ação de Emergência (PAE), 2016.

» Seção VI – Divulgação, treinamento e atualização do PAE

A integridade formal e material do PAE requer a atualização do seu conteúdo


e o conhecimento deste conteúdo por todos os envolvidos, desde os
colaboradores do empreendimento até os servidores públicos responsáveis
por fazer esta análise ou praticar suas ações, se for preciso, bem como os
potencialmente afetados por um acidente ou desastre.

» Seção VII – Encerramento das operações

» Seção VIII – Aprovação do PAE

O PAE destinado às barragens é um documento técnico que precisa ser de fácil


compreensão. É de competência do órgão de fiscalização decidir o que será detalhado
no PAE, que deverá ter um conteúdo mínimo.
O objetivo essencial do PAE é a diminuição dos riscos de acidente vinculados à barragem
ao verificar uma situação anormal, ou diminuir os potenciais danos provenientes de
incidentes.
Os PAEs buscam, essencialmente, a segurança das estruturas e dos colaboradores da
operação e auxilia na comunicação com os órgãos responsáveis pela defesa civil a
jusante do empreendimento.

88
Critérios de segurança | Unidade IV

Por isso, esse documento deve indicar as situações de potencial emergência que possam,
eventualmente, colocar em risco a estrutura da barragem, bem como deve estabelecer
ações para tais ocorrências e definir quais agentes e órgãos precisam ser notificados
nesses casos.

O foco principal desse documento é diminuir as possibilidades de danos às propriedades


e comunidades a jusante do empreendimento e, sobretudo, perdas de vida, no caso
de um incidente.

O risco é, usualmente, definido como o resultado de uma probabilidade de ocorrência


de um episódio pela sua consequência e, ainda que as suas práticas sejam melhores,
nem sempre são suficientes para garantir o risco nulo de acidente.

Já o gerenciamento do risco envolve os procedimentos de avaliação e mitigação,


procurando garantir que possam ser controlados e colocados a níveis aceitáveis os
riscos referentes aos acidentes com barragens.

Acidentes com barragens podem ser catastróficos e alcançar muitos quilômetros a


jusante. É possível evitar esses acidentes buscando fomentar a segurança das barragens,
agindo em dois níveis:
» gestão em exploração normal (manutenção, inspeção e observação);

» gestão em situação de emergência.

A gestão em situação de emergência refere-se à definição e à mobilização de recursos,


sejam materiais, humanos, sejam técnicos, importantes para gerir crises e minimizar
eventuais danos caso ocorram acidentes.

Classificação das situações


» Nível de Resposta Normal (verde): quando não ocorrerem anormalidades
ou as que, eventualmente, ocorrem não afetam a segurança da barragem,
embora seja necessário monitorar e controlar ao longo do tempo;
» Nível de Resposta de Atenção (amarelo): quando as anormalidades não
comprometem a segurança da barragem a curto prazo, embora exigem
monitoramento, controle e reparo ao longo do tempo;
» Nível de Resposta de Alerta (laranja): quando as anormalidades simbolizam
risco à segurança da barragem, requisitando ações imediatas para eliminar
ou diminuir o problema;

89
Unidade IV | Critérios de segurança

» Nível de Resposta de Emergência (vermelho): quando as anormalidades


representam alto risco de ruptura, requisitando ações urgentes para prevenir
e reduzir eventuais danos materiais e humanos.

Em resumo:

Nível verde: não possui riscos relativos à segurança estrutural da barragem.


Nível amarelo: correspondem a situações que exigem um estado de atenção.
Nível laranja: corresponde a situações que impõem um estado de alerta geral.
Nível vermelho: a ruptura já é visível ou já se constitui uma realidade a curto prazo.

Situações e cenários possíveis:


» cheias;

» movimentos, fissuras e trincas;

» rupturas a montante;

» surgências nas ombreiras;

» erosões regressivas;

» deslizamentos;

» incrementos/diminuições nos piezômetros;

» inoperância dos equipamentos hidrodinâmicos;

» deslocamentos horizontais e verticais excessivos;

» falhas de órgãos extravasores;

» sismos.

A gestão de emergência de uma barragem é realizada a partir do grau de resposta


que ocorra, para mensurar as situações que podem afetar a segurança da barragem e
ocupações a jusante.
Ainda que o projeto e o processo construtivo ocorram adequadamente, há riscos
eventuais, que devem ser controlados por meio de realização de avaliação de segurança
de estruturas, que podem ser denominados como procedimentos e mecanismos
que possam detectar previamente as situações eventuais de riscos e as medidas para
mitigá-las.

90
Critérios de segurança | Unidade IV

A elaboração do Plano de Emergência deve atender as expectativas quando de sua


utilização/manuseio, sendo este o item mais importante, segundo diversos especialistas
no tema de Segurança de Barragens.

Dentre os itens a serem elaborados, têm-se os estudos de cenários com seus mapas
associados. Esse estudo precisa ser qualificado para descrever da melhor forma possível
os cenários que podem ocorrer no caso de uma eventual ruptura de barragem, sendo
que devem ser descritos, no PAE, os métodos para esse estudo, que é de atribuição do
empreendedor.

O mapa de hipóteses é decorrência do estudo de cenários, que envolve tanto os limites


geográficos georreferenciados dessas áreas, que têm potencial para serem afetadas
por uma eventual ruptura de barragem, quanto as possíveis situações ligadas a esse
evento. Neste mapa, é imprescindível a determinação no plano de emergência, a Zona
de Autossalvamento (ZAS).

Figura 30. Etapas para simular e analisar a ruptura de uma barragem.

Fonte: Sahade, 2017.

Em grande parte das regulamentações, quando o risco à população a jusante de um


barramento é muito baixo, esta barragem é considerada de máxima classe. Neste
sentido, com esse nivelamento, o número de barragens que precisam estar enquadradas
nestas regulamentações aumenta significativamente e, com isso, cada vez torna-se
mais difícil a verificação eficaz da implantação de todas as diretrizes preconizadas nas
regulamentações por parte das entidades e dos órgãos competentes para tal ação.

Isto é, em alguns casos, barragens que têm potencial de risco para centenas e até milhares
de pessoas acabam sendo enquadradas na mesma categoria que outros barramentos
que possuem risco baixo à população.
91
Unidade IV | Critérios de segurança

A Comissão Internacional de Grandes Barragens (ICOLD) estuda e está atenta a mais


de 30 anos com as regulamentações de segurança das barragens, bem como a forma
com a qual os países membros enfrentariam os danos em caso de ruptura.

Conforme afirma a comissão supracitada, grande parte das causas de acidentes com
barramentos que acarretam consequências grandes, como o caso de tragédias com
perdas de vida, ocorreram em barragens com alturas inferiores a 30m. Por isso, esse
tipo de barragem é o foco dos profissionais ligados à segurança de barragens.

O ICOLD Bulletin n. 143, (ICOLD, 2013), define “pequena barragem” como:

X = H 2 V < 200

(H = 15 m e V = 1 hm³), H a altura e V a capacidade (hm³).

A figura a seguir apresenta a altura da barragem na linha ordenada e, na abcissa, o


volume de estocagem do reservatório, e as classifica em grandes e pequenas.

Figura 31. Classificação das barragens em relação à altura versus volume.

Fonte: International Commission on Large Dams, 2000.

Qualquer barragem possui potencial capacidade de ocorrência de danos a sua jusante,


uma vez que ocorre o acúmulo de grande volume de água ou de rejeitos nos reservatórios.
92
Critérios de segurança | Unidade IV

Devido a essas dificuldades trazidas pela legislação pertinente, a própria ANA auxilia
na utilização de métodos mais simples para a realização do PAE em barramentos de
classe A com altura inferior a 15m e capacidade inferior a 3 x 106m³:
(X=H²√V < 390).

Nas barragens norte-americanas, o Bureau of Reclamation dos Estados Unidos (USBR),


órgão federal que as fiscaliza possui o conceito de Early Warning System, ou Sistema
de Alerta Antecipado, que possui cinco fases atribuídas suas responsabilidades aos
operadores e proprietários:

» a detecção;

» a tomada de decisão;

» a notificação.

Já os processos a seguir são os de atribuição de responsabilidade das autoridades e


órgãos de proteção da população, como no caso da Defesa Civil:

» o alerta e alarme;

» a evacuação.

A região diretamente a jusante de uma barragem é chamada de Zona de Autossalvamento


(ZAS), região na qual se acredita não haver tempo para uma intervenção suficiente dos
serviços e do acionamento de agentes de proteção civil em casos eventuais de acidente.

O principal objetivo desta zona é evitar danos maiores, ou seja, perda de vida humana.
A ZAS é a zona próxima da barragem, o alerta à população localizada neste território
é de responsabilidade e incumbência dos empreendedores (variando entre 5 e 10km).

Segundo Viseu (2006), há três fatores relacionados à possibilidade de proteção de vidas


humanas em um eventual rompimento de barragem:

» o tipo da barragem (terra ou concreto);

» a distância entre essa barragem e as áreas que são habitadas;

» a existência de sistemas de alerta.

Basicamente, o plano de emergência deve conter (INSTITUTO MINERE, 2016):

» informações gerais da barragem;

93
Unidade IV | Critérios de segurança

» metodologias de prevenção e correção possivelmente adotadas em situações


de emergência;
» identificação, avaliação e classificação das situações de emergência;

» fluxograma e procedimentos de notificação, incluindo o contato dos


envolvidos associados;
» responsabilidades gerais no PAEBM;

» avaliação dos estudos de cenários dos possíveis impactos a jusante de uma


eventual ruptura de barragem, com o mapa de cenários georreferenciado;
» anexos e apêndices.

São considerados três níveis de segurança:

» nível 1 ou de atenção: nível considerado “amarelo”, com a detecção de


situações ou ocorrências que podem comprometer a segurança do barramento
em um menor grau;

» nível 2 ou de alerta: nível “laranja”, com um cenário excepcional e de alerta


geral;

» nível 3 ou de emergência: nível considerado “vermelho” quando há ruptura


eminente.

O primeiro nível 3 representa um cenário de alerta e com maior rigor preventivo, sendo
responsabilidade do diretor do plano a decisão de informar ou não as comunidades
que estão a jusante e as autoridades, e isso dependerá da evolução de toda a ocorrência.

Já os dois outros níveis remetem a processos de notificação e comunicação com


envolvidos a jusante e iniciativa de ações mais diretas de respostas a essas emergências,
com eventual chance de evacuação.

Com o avanço tecnológico de todo o processo de segurança e manutenção da barragem,


especialmente para a geração de energia elétrica, os eventos de ruptura tornaram-se
menos prováveis. Mesmo assim, é necessário um preparo constante das equipes de
operação, manutenção bem como as autoridades de proteção civil, para o caso de um
desastre.

Eventos de ruptura de barragens podem ser considerados cada vez mais raros; há
a estimativa de que ocorra uma ruptura para cada 10 mil ou até 100 mil barragens.

94
Critérios de segurança | Unidade IV

Entretanto, é necessário prever tais ocorrências para que haja planejamento de ações
para redução desses eventos e, também, redução dos danos relativos a esse tipo de
evento caso ocorram.

Não há formas de assegurar a segurança total de uma barragem e talvez a engenharia


nunca chegue nesse nível. Algumas variáveis relativas ao projeto, às fundações, aos
materiais a serem usados e ao ritmo e condições de enchimento dos reservatórios
tornam todo o processo passível aos riscos.

Mas, de fato, é possível desenvolver projetos e controles efetivos sobre as etapas de


execução e carregamento, que podem reduzir de forma significativa as ocorrências
dessas situações de risco (JANSEN, 1980).

95
CAPÍTULO 2
Modos e causas de falhas

Qualquer tipo de barragem é associado a uma obra com alto potencial de risco, uma
vez que há sempre a possibilidade de ocorrência de colapsos nas suas estruturas, com
consequências ambientais e, principalmente, sociais.

Desde as barragens mais simples construídas por pequenos proprietários até as grandes
barragens de rejeito de grandes empreendimentos de mineração podem se romper,
trazendo prejuízos tanto individuais quanto sociais.

Conforme autores, como Menescal, Vieira e Oliveira (2001), há interpretações definidas


de termos e expressões relacionadas à questão da segurança de barragens. Na figura a
seguir, há um esquema de gerenciamento de risco sendo representado. Nota-se que
o termo Risk Evaluation é traduzido pelos autores como “Aceitação de Risco”, termo
que, no presente trabalho, consideramos a premissa de “Apreciação de risco”.

Figura 32. Definições para termos de gerenciamento do risco.

Fonte: adaptada de Menescal; Vieira; Oliveira, 2001.

96
Critérios de segurança | Unidade IV

É importante lembrar que toda barragem precisa ser instrumentada conforme o


seu porte e os riscos associados a isso, além de que seus dados devem ser analisados
periodicamente por meio das leituras.

O agrupamento das operações realizadas por um sistema de medição é chamado de


ajuste de sistema de medição e ele fornece indicações correspondentes aos valores
de uma grandeza a ser medida.

Esse ajuste não é o que conhecemos como calibração, mas, sim, um pressuposto
necessário para que o ajuste ocorra. Quando o ajuste do sistema de medição é realizado,
convém recalibrar todo o sistema.

Figura 33. Incerteza de medição.

Fonte: Lamon, 2002.

Nenhum medidor é capaz de assegurar que os erros em suas medições permaneçam


constantes durante toda a sua vida útil e, por isso, se faz necessário que todo
empreendedor elabore um plano de manutenção preventiva/preditiva, para garantir
que seus instrumentos apresentem leituras dentro de um erro permitido pelo fabricante
ou, ainda, pelo critério a ser adotado pela empresa.

O projeto de instrumentação tem por objetivo em cada tipo de barragem:

» barragens de terra/enrocamento: modos de falha, monitoramento da


percolação (instrumentos, funcionamento, análise), monitoramento
de deformações (instrumentos, funcionamento, análise), monitoramento de
tensões totais.
» barragens de concreto: modos de falha, monitoramento de percolação,
deformações e movimentos diferenciais.

97
Unidade IV | Critérios de segurança

» Plano de instrumentação, frequência de leituras, equipes e procedimentos,


manual da instrumentação, valores de controle.

O grande objetivo da instrumentação é servir como uma importante fonte de informações


das estruturas da barragem e o seu comportamento, auxiliando o melhor entendimento
sobre seu desempenho e a manutenção da sua segurança. Esses instrumentos não
devem apresentar falhas, sendo essas falhas causas de acidentes devido à falta de
monitoramento e controle das estruturas.

Embora possuam bom custo/benefício, na realidade, os instrumentos manuais possuem


erros e variações de leituras que foram mal executadas, além de danos ocorridos ao
longo da construção e operação dos instrumentos. Isso afeta diretamente a interpretação
dos dados e, consequentemente, a tomada de decisões (FUSARO, 2007).

Os valores que são obtidos pela instrumentação instalada em uma barragem podem
apresentar uma variabilidade intrínseca, ou seja, para um mesmo parâmetro medido
mediante as mesmas condições de carregamento, é possível obter diferentes valores de
leitura e isso se deve a fatores associados aos próprios instrumentos, a fatores humanos
e a fatores de instalação e utilização.

O conhecimento dessas fontes de variação é importante na análise do funcionamento


de determinado instrumento e seu equipamento de leitura, bem como na interpretação
dos dados, podendo justificar modificações no padrão de comportamento das medidas.

Essa instrumentação precisa conter um plano de manutenção regular dos instrumentos


e checagem dos dados obtidos por leitura confrontando com resultados esperados das
leituras na busca de incoerências de resultados, com isto, monitorando falhas tanto de
leitura como do equipamento.

É fato que os sistemas de medição que são instalados em barragens em operação são
importantes para a obtenção de informações sobre eventuais alterações operacionais
ou de comportamento dessas estruturas, que podem comprometer a segurança não
só do empreendimento, mas também de todo o ambiente.

O desafio é que ainda que haja estudos, os engenheiros responsáveis ainda lidam com
o desconhecido, uma vez que não é possível ter o controle total dos materiais a serem
trabalhados, pois, em geral, esses são uniformes, vêm de jazidas e áreas de empréstimo.

Os métodos de construção dão uma variabilidade nas características dos materiais


de construção do maciço. Com isso, a instrumentação torna-se necessária e de vital
importância para segurança operacional do empreendimento.
98
Critérios de segurança | Unidade IV

As medidas obtidas dos instrumentos podem apresentar erros. O erro total é o resultado
da diferença entre o valor de uma medição e o valor verdadeiro, sendo a soma do
erro sistemático (diferença entre a média das medidas executadas em condições de
repetitividade e o valor verdadeiro) com o erro aleatório (diferença entre uma medição
e a média das medidas executadas em condições de repetitividade).

Esse entendimento é importante, pois pode permitir melhor diferenciação entre os


valores com significados obtidos e os ruídos que são sem importância, que podem
ocorrer devido a erros, incertezas ou imprecisões das medidas.

Na interpretação dos dados da instrumentação, é importante salientar que o valor


verdadeiro de uma leitura é o resultado de uma medição perfeita e, por natureza,
um valor indeterminado. O valor verdadeiro só pode ser avaliado estatisticamente
e só se pode afirmar o resultado de uma medição enquanto uma probabilidade
(LAMON, 2002).

A instrumentação apoia-se na obtenção de falhas, na avaliação do comportamento da


estrutura de uma barragem, por meio de um comparativo entre grandezas, medidas
in situ e as grandezas fornecidas pelos modelos matemáticos de análise.

Os parâmetros mais importantes que devem ser considerados na análise de dados da


instrumentação são a resolução, exatidão, precisão e repetitividade, e explicam, em
muitos casos, a variabilidade dos valores lidos.

Resolução é a menor variação possível no parâmetro medido a ser distinguido pelo


instrumento, ou seja, é a menor diferença entre a indicação de um dispositivo mostrador
que pode ser percebido, é considerado um algarismo significativo.

A resolução deve ser distinguida do range, que especifica os valores máximos e mínimos
que o instrumento pode medir e do span, que é a amplitude do intervalo de leitura,
ou seja, a diferença aritmética entre esses valores máximos e mínimos. A Faixa de
Utilização define o intervalo em que se assume que o erro estará dentro dos limites
especificados ou aceitáveis para o seu processo.

Exatidão de um instrumento indica a proximidade entre o resultado obtido em uma


medição e o valor real (convencional) e inclui os efeitos combinados de todas as fontes
de erros de medida, ou seja, quanto maior o erro, menor a exatidão.

Precisão é a qualidade que exprime a proximidade entre um grupo de medidas e a sua


média aritmética. A precisão está associada com a qualidade da execução do procedimento

99
Unidade IV | Critérios de segurança

de leitura. No monitoramento de barragens, a precisão é, em geral, mais importante


que a exatidão, pois as variações de valor muitas vezes são de maior interesse que o
valor absoluto em si (ASCE, 2000).

Repetitividade é a aptidão possuída por um instrumento para o fornecimento de


indicações muito próximas, em repetidas medidas, sob as mesmas condições de
medição. As condições de repetitividade incluem a redução ao mínimo das variações
devido ao observador e ao procedimento de medição, sendo as medidas realizadas
em um mesmo local e com repetições em um curto período de tempo. Uma boa
repetitividade pode ser traduzida como uma boa confiabilidade da medição, pois
mesmo havendo erros sistemáticos, eles podem e devem ser compensados, obtendo-
se um bom resultado final.

Linearidade é a aptidão de um instrumento em responder, de forma regular, a estímulos


regulares. O desvio de linearidade é o máximo desvio entre a leitura real (média das
leituras) e a reta de regressão linear das medições.

Histerese é a aptidão do instrumento de repetir o mesmo valor medido em sentidos


diferentes de variação do valor verdadeiro. Esses fatores são importantes, por exemplo,
na calibração de manômetros utilizados na leitura de piezômetros de tubo fechado,
entre outros.

As falhas que podem ser obtidas por meio da instrumentação baseiam-se na avaliação
de questões fundamentais, em que as respostas podem ser obtidas com a ajuda da
instrumentação.

Perguntas devem ser elaboradas para controle de falhas, como, questionar se a barragem
é estável ainda que sob a ação dos carregamentos esperados. Essas informações devem
ser avaliadas e analisar a possibilidade de falhas da informação e as causas dessa falha
na informação.

Outro item importante na estabilidade das estruturas que pode ser verificado pela
instrumentação é a questão de como as deformações são aceitáveis para os carregamentos
esperados. A instrumentação adequada pode avaliar e valores correlatos podem
direcionar a erros de leitura ou falhas nos instrumentos devido a avarias em campo.

Outras questões que podem ser colocadas são se a quantidade de percolação pelo maciço
é aceitável dentro dos parâmetros de projeto; se essa percolação ocorre de maneira a
não acarretar erosão interna da fundação ou do maciço; se a borda livre é ideal para
evitar o transbordamento durante a passagem da cheia de projeto, entre outras questões.

100
Critérios de segurança | Unidade IV

Todas essas informações, se forem objeto de leituras, indicam que falhas podem gerar
grandes transtornos operacionais ao empreendimento. As falhas na instrumentação
devem ser um alerta antecipado de mudanças que podem comprometer a integridade
da barragem.

Durante a fase de operação, os sistemas de instrumentação geotécnica não devem


apresentar falhas para serem um dispositivo de alarme no momento que um indicador
de desempenho possa exceder os limites estabelecidos como aceitáveis. Em casos assim,
a instrumentação passa a ser uma ferramenta eficiente na identificação de eventuais
situações de risco à segurança das estruturas.

Para evitarmos as falhas na instrumentação, devemos ter um plano de controle e


monitoramento na fase de construção, investigação e diagnóstico de comportamento
anormal, apoio técnico nas tomadas de decisão, aumento do conhecimento sobre o
comportamento de barragens e da instrumentação e respostas rápidas às anomalias.

Conforme afirma Silveira (2006), os instrumentos devem ser escolhidos e instalados


a fim de dar respostas às questões específicas relacionadas e, caso não haja perguntas,
não há necessidade de instrumentação.

As falhas na instrumentação podem causar: galgamento, instabilização global,


instabilização localizada, erosão interna e liquefação, entre outros danos.

O galgamento tem como causas: borda livre insuficiente e recalque do maciço ou


fundação. Instrumentos que controlam e podem falhar, marco de recalque superficial
e medidor de recalque.

Instabilização global é a ruptura por falta de estabilidade da estrutura ao tombamento/


deslizamento ou flutuação no caso de estruturas de concreto ou do movimento de
massa do talude de jusante ou de montante. As causas são:

» falha nos critérios de projeto de estabilidade;

» variabilidade dos materiais de construção;

» falhas de construção;

» descontinuidades na fundação e aspectos geológicos e geotécnicos;

» obstrução de sistemas de drenagem.

A instrumentação pode ser danificada, pode falhar ou começar a funcionar precariamente


com o envelhecimento, fornecendo resultados errados. Muitas vezes, a ocorrência de

101
Unidade IV | Critérios de segurança

uma anomalia não pode ser detectada porque a instrumentação não tem sensibilidade
suficiente ou não foi instalada no lugar adequado.

Há relatos de acidentes em que o problema específico não foi detectado pela


instrumentação e o alarme foi acionado via observação visual e isso ocorre, pois,
dificilmente, um instrumento consegue detectar fenômenos inesperados que não
foram previstos na fase de projeto.

Instrumentos que devem ser controlados e evitar falhas operacionais ou de leituras:


piezômetro, medidor de nível de água, medidor de vazão e inclinômetro de deflexão.

Para erosão interna, erosão regressiva pela fundação, os mesmos instrumentos da


instabilização global servem para controle e avanço do processo erosivo.

A ausência de inspeções consistentes na instrumentação e inspeção contínua das obras


contribui significativamente para o cenário reincidente de colapso de barragens devido
a falhas no controle e na instrumentação.

A implantação de uma fiscalização periódica mais rigorosa e adoção de estudos e


técnicas estruturais mais eficientes são caminhos para mitigar os riscos de recorrência
desses eventos.

A análise de risco é também uma ferramenta útil para avaliar os riscos e as causas de
falhas da instrumentação relacionados às diversas fases de vida de uma barragem.

A definição de todas as falhas envolvidas não é fácil e imediata, com exceção das falhas
mais óbvias, decorrentes dos casos mais frequentes de danos na instrumentação,
presentes nas estatísticas.

Um projeto de modos e causas de falhas, deve ter organização e disponibilidade dos


dados básicos de instrumentação da barragem, inspeções visuais dos instrumentos e
seus locais de instalação, equipes de auscultação, instrumentação, análise e interpretação
de leituras comparados com resultados esperados.

Esse controle de causa de falhas tem como objetivo fornecer uma avaliação das leituras
de controle do comportamento da barragem, possibilitando verificar se estão dentro
de parâmetros considerados aceitáveis. Dispor das informações de auscultação básicas
da barragem é importante para poder avaliar seu comportamento.

É fundamental um programa de verificação quanto ao bom funcionamento, manutenção


e conserto de cada instrumento de auscultação a intervalos regulares, com frequência
de um ano ou inferior.

102
Critérios de segurança | Unidade IV

Quando houver falhas e perdas de instrumentos, deve ser avaliada a necessidade de


seu reparo ou sua substituição. Ainda, com base na análise dos resultados das falhas e
da interpretação do comportamento da barragem, alguns instrumentos poderão ser
desativados.

Para uma boa análise das causas de riscos, é muito importante analisar rapidamente e
cuidadosamente os resultados das leituras. Uma vez obtida a totalidade dos dados da
campanha, deverá ser realizada uma primeira análise, expedido e emitido um Laudo
Técnico, apontando eventuais anormalidades, avaliando os possíveis riscos para a
segurança e as medidas necessárias.

Para isso, as leituras devem ser verificadas quanto a sua coerência com as anteriores e com
os limites previstos. Uma pré-análise dos resultados deve ser efetuada imediatamente
após a realização das leituras. As causas de comportamentos anormais ou inesperados
devem ser esclarecidas sem demora e as medidas necessárias devem ser tomadas
rapidamente.

A determinação de valores de comparação para vários casos: valores de alerta, valores


limite etc. são importantes para analisar os resultados da instrumentação.

Uma barragem não pode ser considerada bem instrumentada e sem falhas dos
instrumentos ou de leitura se não forem cumpridos requisitos de segurança, proteção,
inspeção e monitoramento dos instrumentos com vistas a evitar falhas operacionais.

Cabe lembrar que o desempenho global de um sistema de monitoramento é função da


especificação conjunta do instrumento e do equipamento/sistema de aquisição de dados.

Esse ponto é especialmente importante no caso de aquisição automática de dados, em


que o ruído elétrico, ao longo de cabos ou de ligações de rádio entre o instrumento e
o equipamento de gravação de dados, pode comprometer o desempenho.

É importante concluir afirmando que a leitura, a análise, a interpretação dos resultados


obtidos, bem como as conclusões elencadas devem ser realizadas por engenheiros
que possuam experiência e conheçam o empreendimento. A análise dos dados e sua
comparação com os valores de controle devem ser efetuadas imediatamente.

103
CAPÍTULO 3
Elementos a serem vistoriados

Qual a diretriz a ser adotada pelo empreendedor de uma barragem para garantir leituras
corretas e realizar um plano de manutenção preventiva, corretiva e calibração desses
instrumentos?

Uma alternativa pode ser a decisão de somente os instrumentos que mediam variáveis
que afetavam diretamente a segurança da barragem seriam calibrados e o erro máximo
admissível na calibração seriam aqueles estipulados pelos fabricantes.

Segundo o USACE (1995), os parâmetros-chave a serem monitorados para


acompanhamento e avaliação do comportamento de um maciço são:

Tabela 26. Parâmetros para monitoramento de maciço.

Poropressões em aterros e fundações (piezômetros).


Vazões de percolação (medidores de vazão).
Carregamento de partículas pelos fluxos de água por meio do maciço e/ou fundações (medição de turbidez da água).
Deformação dos maciços e fundações (marcos de recalque superficial, medidores de recalque, inclinômetros,
extensômetros de hastes).
Erosões a jusante e/ou em bacias de dissipação (levantamentos topográficos).
Sismos naturais ou induzidos (acelerógrafos).
Tensões no aterro (células de pressão total).
Empuxos de terra sobre estruturas de concreto (células de pressão total).

Fonte: USACE, 1995.

Os demais instrumentos seriam apenas verificados e, independentemente do erro


estipulado pelo fabricante, haveria uma classificação de equipamentos críticos e não
críticos sendo que o erro máximo admissível após a verificação seria de 2% para os
equipamentos críticos e de 5% para os equipamentos não críticos.

Por meio da evolução das tecnologias ligadas à instrumentação de controle, avanços


tecnológicos foram criados para ações como coleta de dados, transmissão, processamento
e análise.

Um sistema de monitoramento totalmente automatizado pode efetuar diversas atividades


de controle, bem como a tradução de dados para as grandezas de interesse, controlando
os limites de alerta e, em uma situação de não conformidade com seu comportamento
normal, pode acionar os responsáveis pela barragem, apresentando resultados por
meio de gráficos sobre as plantas ou seções de projeto (BALBI et al., 2003).

104
Critérios de segurança | Unidade IV

Há novas tecnologias utilizadas para o monitoramento de barragens, como os sensores


de fibra óptica (DOORNINK et al., 2004). Esses sensores são imunes a eventuais danos
causados por raios ou outras interferências eletromagnéticas, o que é mais comum
de ocorrer em sensores eletrônicos. Além disso, esses sensores ópticos não utilizam a
rede elétrica, seja de baterias, tomadas, seja de painéis solares.

A interpretação dos resultados da instrumentação realizada com leitura manual deve


ser realizada com cuidado, pois qualquer resultado incompatível deve ser questionado.

Um caso que é referência nesse sentido ocorreu na barragem de Santa Branca, no


rio Paraíba do Sul a jusante da Usina Hidroelétrica (UHE) Paraibuna. Essa barragem
começou a indicar comportamentos divergentes nos instrumentos que foram instalados
e, após uma análise realizada por endoscópio, foram constatados elementos no interior
dos tubos piezométricos, o que impedia a leitura correta dos dados (NEVES, 2017).

Há ocorrência de casos em que foram localizadas descontinuidades nos dutos dos


piezômetros.

O autor Rosolem et al. (2017), em seu estudo, indicou alguns resultados relativos à
instrumentação automatizada e manual comparados ao longo de um ano, em duas
Usinas Hidroelétricas (UHE): Foz de Chapecó e Barra Grande.

Os resultados de instrumentações, como de sensores piezométricos, manômetros,


extensômetros de haste KM e sensores de células de recalque foram positivos ao serem
comparados com instrumentos convencionais, no entanto, ocorreram problemas de
medição de alguns outros instrumentos.

Conforme técnicos e estudos do setor afirmam, nas fases iniciais, é comum a ocorrência
de problemas, como medições incorretas e mau funcionamento de sensores, sendo que
há a perspectiva de até cinco anos para que seja constatado o correto funcionamento
destes sensores.

O alto custo e o baixo conhecimento da automação da instrumentação fazem com


que especialistas recomendem até 25% de instalação desse tipo de instrumentação no
total instalado no empreendimento. Isso permite que ocorra um monitoramento e um
comparativo dos resultados entre as diferentes formas de instrumentação, automatizada
ou manual.

Esse período de teste pode variar entre 2 e 5 anos para que haja uma eficácia comprovada
da instrumentação automatizada (ROSOLEM et al., 2017). Ao longo desse período,

105
Unidade IV | Critérios de segurança

o sistema de automatização pode ser continuamente aperfeiçoado para que se torne


cada vez mais confiável e preciso para que este venha a ser a forma definitiva de
instrumentação nas barragens.

A maneira correta de se avaliar a instrumentação envolve comparar o comportamento


indicado pelo instrumento com outros instrumentos próximos, avaliar o que seria
esperado para aquele dispositivo em função das características da obra e sempre levar
em consideração os aspectos observados durante a inspeção de campo.

Pode-se dizer que a inspeção de campo, conduzida por profissional qualificado e


munido das informações chave do projeto, é tão importante quanto o monitoramento
da instrumentação.

A instrumentação assume um papel importante na manutenção da segurança quando


existe um plano que assegure que todos os instrumentos estejam funcionando e que a
informação adequada seja coletada, documentada e analisada em tempo hábil.

Análise e tomada de decisão requerem comprometimento com o plano de monitoramento


de forma que todos os envolvidos entendam quando e o que precisa ser feito.

Uma vez que cada barragem é uma estrutura única, o planejamento do monitoramento
deve refletir as necessidades de cada barragem individualmente e, tendo isso em mente,
pode-se dizer que os elementos para um plano de instrumentação, monitoramento e
controle da segurança de uma barragem (ASCE, 2000).

Segundo o USACE (1995), o primeiro passo para selecionar os tipos de dados a serem
coletados constitui a identificação das zonas de fraquezas e das áreas de sensibilidade
da barragem, suas fundações e ombreiras por um engenheiro geotécnico qualificado.

A partir daí são desenvolvidas hipóteses de mecanismos hidráulicos, de tensão


deformação ou dos esforços passíveis de afetar o comportamento da barragem.

Em seguida, o plano de instrumentação pode ser concebido, tendo em mente essas


hipóteses, que são nada menos que os modos e mecanismos de falha identificados.
Por exemplo, um material mole de fundação pode levar a preocupações sobre estabilidade
e recalque, induzindo a instalação de uma instrumentação para medição de poropressões
e de recalques.

Os dados obtidos pela instrumentação precisam ser analisados em função do tempo


para identificar mudanças de tendências (como o aumento da vazão de percolação, da
velocidade dos recalques verticais) e também dentro do contexto do comportamento
106
Critérios de segurança | Unidade IV

esperado em relação aos critérios de projeto (como a verificação da relação entre os


valores de poropressões medidas e previstas pelas redes de fluxo de projeto).

Há que se considerar o aspecto relativo à importância da experiência de engenharia


quando se fala em avaliação do comportamento de instrumentação de barragens.

A qualidade das observações, avaliações e, consequentemente, das conclusões é


diretamente proporcional à qualificação, experiência e dedicação do pessoal envolvido.

O sucesso ou fracasso de um programa de auscultação depende criticamente da atuação


efetiva e consistente de cada um dos indivíduos envolvidos nele.

A análise da instrumentação traz informações importantes durante todos os estágios


da vida de uma barragem.

A análise dos dados da instrumentação envolve tanto a verificação do comportamento


esperado em relação aos critérios de projeto quanto a verificação de tendências ou
padrões de comportamento ao longo do tempo.

Os valores lidos pela instrumentação instalada em uma barragem apresentam uma


variabilidade intrínseca, ou seja, para um mesmo parâmetro medido sob as mesmas
condições de carregamento poderão ser obtidos diferentes valores de leitura e isso se
deve a fatores associados aos próprios instrumentos, a fatores humanos e a fatores de
instalação e utilização.

O conhecimento dessas fontes de variação é importante na análise do funcionamento


de determinado instrumento e seu equipamento de leitura, bem como na interpretação
dos dados, podendo justificar alterações no padrão de comportamento das medidas.

Estudo de caso
Sempre ouvi uma frase, que pode ser forte, mas é fato: “Acerto é obrigação e erro
é punição”. Os erros na engenharia são lições que não devem ser menosprezadas
nem esquecidas. Apresentamos um estudo de caso de um acidente geotécnico, suas
consequências e lições aprendidas.

A partir de um deslizamento ocorrido na década de 1990 em uma obra de aterro,


os estudos, técnicas e cuidados relacionados com a construção e operação de novos
aterros passaram por revisões conceituais e evoluíram de forma expressiva em termos
tecnológicos e de segurança.

107
Unidade IV | Critérios de segurança

Apresentação do caso

Na década de 1990, aproximadamente 65 mil m³ (metros cúbicos) de solo escorregou


do maciço e o material direcionou-se para sua base. Após esse acidente, iniciaram os
trabalhos de reabilitação do local atingido, o que levou, em tempo, por volta de seis
meses, interrompendo as operações do empreendimento.

Após a reabilitação, as atividades operacionais retornaram e não foram observados


problemas estruturais.

Esse acidente alertou o meio técnico para as falhas e suas consequências, o que
levou os profissionais da geotecnia a aprofundarem os conceitos e estudos técnicos,
objetivando identificar e corrigir a tempo, para que falhas similares não tornassem
a ocorrer.

Essas análises e esses estudos contribuíram para a melhoria dos processos de cálculos,
técnicas construtivas, tecnologias avançadas e metodologias utilizados na construção
e operação de obras similares de aterros em solo.

Os estudos técnicos

Resumidamente, os profissionais que atuaram nas investigações técnicas chegaram


à conclusão que o sistema existente e projetado para a drenagem utilizado no
empreendimento foi incapaz para aliviar a pressão neutra que ocorre no interior do
maciço e é provocada percolação.

Por meio de retroanálise da ruptura do maciço, chegou-se à conclusão dos fatores


geradores do rompimento do talude por escorregamento. O acidente ocorreu no
mês de junho, que é um mês de poucas chuvas, porém, dias antes do rompimento do
talude, por meio de medição pluviométrica, registrou-se na área 80 milímetros, que
são volumes significativos.

O sistema de drenagem, que operava subdimensionado por alguns anos, com 80 mm de


precipitação, teve um efeito danoso e intensificou a sobrecarga no interior do maciço.

Durante as investigações do acidente, também foi observado e comprovado que a


inclinação inadequada das seções dos taludes contribuiu para o colapso e deslizamento
do maciço.

As análises técnicas realizadas após o acidente e as conclusões, chuvas acimas do


projetado e altura dos taludes elevadas e inclinação inadequada recomendaram, dentre

108
Critérios de segurança | Unidade IV

outras medidas, reformulação do sistema de drenagem, adequando a novas condições


pluviométricas, que garantirá a estabilidade do maciço e as possíveis expansões e com
inclinações das seções adequadas às condições de equilíbrio por meio de um estudo de
estabilidade de talude, por seção e global. Esse acidente ajudou a comunidade técnica,
que analisou e estudou, em detalhes, o rompimento do maciço por escorregamento.
A seguir, há o fluxo sintético do estudo de caso.

Figura 34. Análise de rompimento de maciço.

Fonte: elaborada pelos autores, 2020.

Acidentes por escorregamento em aterros

Muitos acidentes acontecem por deslizamento e escorregamento de taludes e apresentam


flagrante despeito nas boas práticas das técnicas adequadas para construção de aterros.
Vários acidentes não são de conhecimento do meio técnico, o que prejudica o avanço
técnico dos estudos de geotécnica e estabilidade de taludes e a parte de segurança que
devem ser aplicadas aos aterros.

A relevância da segurança estrutural

No caso de aterros de barragens, construídos e compactados em superposição de camadas,


dependendo do projeto, costumam atingir altura superior de cinquenta a cem metros
e, muita das vezes, as declividades adotadas nos taludes são empíricas, desprezando as
técnicas da engenharia geotécnica e os estudos de estabilidade de taludes.
109
Unidade IV | Critérios de segurança

Os aterros concebidos para as barragens não podem nunca romper, pois uma falha
estrutural gera danos incalculáveis para o empreendimento, para o meio ambiente e
para a população do entorno.

A boa engenharia possui técnicas e metodologia geotécnica, para obter o desempenho


e o comportamento da estabilidade estrutural, por meio de software de simulação,
utilizando os critérios de análise e soluções adequados, que geram correções para
desvios e assegura a segurança estrutural de aterros.

Instrumentação geotécnica

A elaboração de um projeto de engenharia para implantar a instrumentar geotécnica


de um maciço deve elencar os seguintes aspectos técnicos:

» possíveis deslocamentos verticais e os recalques da estrutura;

» simular os deslocamentos horizontais e seus afastamentos;

» efeitos de poropressões de líquidos e as pressões neutras que ocorrem;

» análise e ensaios para resistência ao cisalhamento;

» as vazões de drenos;

» instalação e análise dos dados de pluviometria;

» plano de inspeção visual e instrumentada de inconformidades (fissuras,


recalques, erosão, entre outas inconformidades);

» tipos de solo a serem utilizados;

» dados e perfil geológico e geotécnico;

» levantamento planialtimétrico do local;

» geometria do projeto;

» análise do entrono, comunidades, vegetação e cursos d’água.

Essas informações são relevantes para elaboração de um projeto de instrumentação


geotécnica e previsão para estudos de falhas nas simulações para que tenhamos a
garantia da segurança estrutural.

110
Critérios de segurança | Unidade IV

A seguir, há o fluxo da sequência hierárquica para definição e implantação de um aterro.

Figura 35. Sequência para implantação de um projeto geotécnico.

Fonte: elaborada pelos autores, 2020.

Quais instrumentos devem ser utilizados em obras


geotécnicas

O comportamento geotécnico de um maciço para as análises de estabilidade geotécnica e


sistemas hidrodinâmica deve ser analisado por meio de modelagem computacional, que
gera resultados confiáveis e precisos, desde que os dados de entrada estejam coerentes.

» Piezômetros: têm a função registrar as pressões neutras. Seu funcionamento


já foi abordado durante o curso.
» Marcos superficiais: esses marcos são utilizados como referência de posição
instalados no topo dos taludes e controlados por pontos estacionários e
emprego de estação total por meio de triangulação topográfica.
» Inclinômetros: esses instrumentos medem os desvios de inclinação do
talude tendo como referência ponto na vertical em direções do maciço.

Com o avanço da tecnologia, as técnicas de obtenção das leituras têm a opção de ser
por medidas telemetria, radar ou mesmo os drones.

111
Unidade IV | Critérios de segurança

Elaboração de projeto de monitoramento geotécnico

Ao iniciar um projeto de instrumentação, surge a primeira dúvida: quantos instrumentos


devem ser utilizados para monitoramento da estabilidade geotécnica de uma obra? Não
temos norma técnica que forneça esse número e essa quantificação é normalmente
subjetiva e está ligada à experiência do engenheiro projetista.

Após a escolha do número de instrumentos, será feita a distribuição espacial desses


instrumentos, que o projetista avaliou que é potencialmente um ponto que deve ser
monitorado.

Análise dos resultados

Com os dados das leituras, dos marcos superficiais, piezômetros e inclinômetros,


o estudo da análise de estabilidade de talude pode ser iniciado, analisando os dados
de campo e informações adicionais disponíveis. Com isso, é elaborado o estudo da
modelagem para obtenção do FS, fator de segurança, e compará-lo com as Normas
Técnicas e se, para aquele estudo, o valor é aceitável.

Conclusão

A concepção bem elaborada de um plano para instalação de instrumentos para realizar


o monitoramento tem por objetivo permitir aos operadores do empreendimento que
seu sistema está controlado frente às inconformidades que poderão aparecer e alertar
onde ocorre essas ações que podem levar a estrutura a sérios danos. A instrumentação
minimiza problemas que possam ocorrer ao longo da operação, tanto no presente
como no futuro.

112
REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Guia de Orientação e Formulários para Inspeções


de Segurança de Barragem – Manual do Empreendedor sobre Segurança de Barragens, v. II.
Brasília/DF, p. 218, 2016.
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA). Instrumentação de Auscultação em Barragens
– Curso: Inspeção em Seguranças em Barragens de Usos Múltiplos. 2019. Disponível em: https://
capacitacao.ana.gov.br/conhecerh/bitstream/ana/2552/10/Enap19_9Un4.pdf. Acesso em: 1º mar.
2021.
ALMEIDA, M. S. S.; MARQUES, M. E. S. Aterros sobre solos moles: projeto e desempenho.
Oficina de Textos, 2010.
ASCE. Guidelines for Instrumentation and Measurements for Monitoring Dam Performance.
American Society of Civil Engineers Task Committee, USA, 600p., 2000.
BALBI, D. A. F. et al. Inspetor – Sistema Inteligente de Controle e Segurança de Barragens. XXV
– Seminário Nacional de Grandes Barragens, Salvador/BA, 2003.
BRASIL. Ministério da Integração Nacional. Secretaria de infraestrutura hídrica. Proágua/Semi-árido/
UGPO/Departamento de Projetos e Obras Hídricas – UGPO. Manual de Segurança e inspeção
de Barragens, Brasília/DF, 2002. 148p.
BENVENUTO, C. Monitoramento Geotécnico e a Estabilidade dos Aterros Sanitários. Revista
Limpeza Pública, Edição 77. Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública – ABLP,
2011.
BUREAU OF RECLAMATION. Design of small dams, United States Department of the Interior.
A Water Resources Technical Publication, Washington, DC, 1987.
CARDIA, R. Notas de Aula – Curso de Segurança de Barragens – CSEB. Bauru, São Paulo, 2004.
CASTRO, M. D. et al. Critério para Avaliação da operacionalidade de piezômetros de tubo aberto.
XXXI – Seminário Nacional de Grandes Barragens, Belo Horizonte/MG, 2017.
CELERI, A. Monitoring instrumentation and safety dams. River and Dam Engeneering, Brasil,
v. 2, 1995.
COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS (CBDB). II Simpósio sobre Instrumentação de
Barragens, v. I, 123 p., v. II, 155 p., 1996.
COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS (CBDB). Anais do II Simpósio sobre Instrumentação de
Barragens. Auscultação e instrumentação de barragens no Brasil. 1996.
COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS (CBDB). Comitê Brasileiro de Barragens. Disponível
em: http://www.cbdb.org.br/. Acesso em: 8 dez. 2006.
COMITÊ BRASILEIRO DE GRANDES BARRAGENS (CBGB). Diretrizes para a Inspeção e
Avaliação de Segurança de Barragens em Operação. Rio de Janeiro, 1983.
COMITÊ BRASILEIRO DE GRANDES BARRAGENS (CBGB). Segurança de Barragens:
Recomendações para formulação e verificação de critérios e procedimentos, Rio de Janeiro, 1986.
COSTA, W. D. Geologia de barragens. Editora Oficina de Textos, São Paulo, 2012.

113
Referências

CRUZ, P. T. 100 Barragens Brasileiras. São Paulo: Oficina de Textos, 2005.


DOORNINK, J. D. et al. Fiber Bragg Grating Sensing for Structural Health Monitoring of Civil
Structures. Anais do International Symposium on Advances and Trends in Fiber Optics
and Applications, v. 11, p.41-44, 2004.
DUARTE, J. M. G. et al. Instrumentação Geotécnica de Obras Hidrelétricas Brasileiras: Alguns Casos
Práticos Atuais. Anais do COBRAMSEG, Curitiba, Brasil, 2006.
DUNNICLIFF, J. Geotechnical instrumentation for monitoring field performance. Editora:
John Wiley & Sons, 1ª Edição, 1988.
DUNNICLIFF, J. Instrumentation for monitoring field performance. Editora: John Wiley
& Sons, 1993.
DUSCHA, L. A. Dam Safety in the United States: What has been gained?. Proceedings of the
International Conference on Safety of Dams – Coimbra/23-28 de abril de 1984, A. A. Balkema/
Rotterdam/Boston, 1984.
ENGEGROUND. Célula de pressão total. [2020?]. Disponível em: http://engeground.com.br/
catalogos/celula_pressao_total.pdf. Acesso em: ago. 2020.
FERC, Engineering Guidelines for the Evaluation of Hydropower Projects. Chapter IX –
Instrumentation and Monitoring. Federal Energy Regulatory Commission. 2003.
FERREIRA, W. V. F. Avaliação de desempenho de barragens de terra. Dissertação de Mestrado.
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999.
FRANCO, C. S. S. P. Segurança de Barragens: Aspectos Regulatórios. Dissertação de mestrado.
UFGO. Goiânia,2008.
FRANKLIN, J. A. Some pratical considerations in the plannung of field instrumentation. In: Anais
International Symposium on Field Measurements in Rock Mechanics. New Orleans, LA,
M. Karmis (Ed), Society of Mining Engineering, New York, 1977.
FUSARO, T. C. Metodologia de Classificação de Barragens Baseada no Risco. XXV Seminário
Nacional de Grandes Barragens, p. 59-71, Salvador/BA, 2005.
FUSARO, T. C. Estabelecimento estatístico de valores de controle para a instrumentação de
barragens de terra: estudo de caso das barragens de Emborcação e Piau. Dissertação de mestrado.
Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Ouro Preto/MG, 2007.
GEOKON. Geokon. [2020?]. Disponível em: https://www.geokon.com. Acesso em: jul. 2020.
GONÇALVES, E. S. et al. Desempenho dos Medidores de Recalques Internos Instalados nas Barragens
Mais Recentes da CEMIG. CBGB – II Simpósio Sobre Instrumentação de Barragens, p. 43-52,
v. 2, Belo Horizonte/MG, 1996.
GRANEMANN, D. C. Estabelecimento de uma Rede Geodésica para o Monitoramento de
Estruturas: Estudo de Caso na Usina Hidrelétrica de Salto Caxias. Dissertação apresentada ao curso
de pós-graduação em Ciências Geodésicas, UFPR, Curitiba, 112p, 2005.
GUTIÉRREZ, J. L. C. Monitoramento da Instrumentação da Barragem de Corumbá-I por
Redes Neurais e Modelos de Box & Jenkins. Dissertação de Mestrado. Programa de pós-graduação
em Engenharia Civil da PUC-Rio. Rio de Janeiro, 2003.

114
Referências

HIDROMETER. Medidor de Vazão Calha Parshall. [2020?]. Disponível em: https://www.


hidrometer.com.br/medidor-de-vazao-calha-parshall. Acesso em: ago. 2020.
INSPECTION OF SMALL DAMS. Publication nº T/434, Alberta Environmental Protection.
Edmonton, Alberta, Canadian,1998.
INSTITUTO MINERE. O que é um Plano de Ação de Emergência para Barragens – PAEBM?
2016. Disponível em:https://institutominere.com.br/blog/o-que-e-um-plano-de-acao-de-emergencia-
para-barragens. Acesso em: ago. 2020.
INTERNATIONAL COMMISSION ON LARGE DAMS (ICOLD) Bulletin 118. Automated dam
monitoring systems - Guidelines and case histories, Paris, 2000.
JANSEN, R. B. Dams and Public Safety. A Water Resources Technical Paper. U. S. Department
of the Interior, Bureau of Reclamation, Denver, CO, EUA, 1983.
JANSEN, R. B. Dams and Public Safety. Washington, DC: United States Department of the Interior,
Water and Power Resources Service, 1980.
KANJI, M. A. Algumas reflexões sobre a instrumentação de barragens. Simpósio sobre Instrumentação
Geotécnica de Campo – SINGEO’90, ABMS, Rio de Janeiro, 1990.
KANJI, M. A.; FIGUEIRA, P. C. da S. Quantificação tentativa do uso de instrumentação em barragens.
Simpósio sobre Instrumentação Geotécnica de Campo – SINGEO’90, ABMS, Rio de Janeiro,
p. 119-128, 1990.
KOCHEN, R. Monitoramento e segurança de barragens. Instituto de Engenharia, São Paulo/
SP, 2019.
KUPERMAN, S. C. et al. Making Effective. Economical Dam Safety Decisions, HRW Autumn,
1995.
KUPERMAN, S. C. et al. Reavaliação da Instrumentação de Auscultação Instalada em Barragens da
CESP. XXV Seminário Nacional de Grandes Barragens, p. 116-134, Salvador/BA, 2005.
LAMON INSTRUMENTAÇÃO INDUSTRIAL LTDA. DA T004 – Documento auxiliar para
interpretação dos resultados de medição. Belo Horizonte/MG, 13p, 2002.
LIMA, F. H. C. Automação da instrumentação geotécnica de auscultação da barragem de
Irapé-MG. Trabalho de conclusão de curso – TCC em Engenharia Civil. Centro Universitário
UNA, 2018.
LINDQUIST, L. N.; CRUZ, P. T. Instrumentação. In: CRUZ; P. T (Org.). 100 barragens brasileiras:
casos históricos, materiais de construção, projeto. 2ª edição, cap. 19, p. 606-647. São Paulo: Oficina
de textos, 1996.
MACHADO, W. G. F. Monitoramento de barragens de contenção de rejeitos da mineração.
Dissertação de mestrado. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Minas
e de Petróleo. São Paulo/SP 2007.
MATOS ALMEIDA, J. N. A. Um Projecto para a Segurança das Barragens Portuguesas, 4º
Congresso da Água, Lisboa, 23-27 mar., 1998.
MENESCAL, R. de A. et al. Uma Metodologia para Avaliação do Potencial de Risco em Barragens
do Semiárido. XIII Seminário Nacional de Grandes Barragens, Fortaleza/CE, nov. 2001.

115
Referências

MENESCAL, R. de A.; VIEIRA, V. de P.P.B.; OLIVEIRA, S.K.F. de. Terminologia para a análise
de risco e segurança de barragens. In: Seminário Nacional de Grandes Barragens (SNGB), v.
24, Fortaleza/CE, 2001.
NEVES, B. Considerações sobre inspeção endoscópica em piezômetros: Detecção de manifestações
patológicas – Seminário Nacional de Grandes Barragens, Belo Horizonte/MG, 2017.
ROSOLEM, J. B. et al. Avaliação do Desempenho de Sensores de Fibra Óptica Multiparâmetros
nas Barragens das UHES Barra Grande e Foz do Chapecó, XXXI – Seminário Nacional de
Grandes Barragens, Belo Horizonte/MG, 2017.
SAHADE, W. Seminário – Segurança de Barragens no Setor Elétrico. O Plano de Ação de
Emergência – PAE, Cuiabá, 2017.
SARÉ, A. R. et al. Revisão das Condições de Segurança da Barragem de Curuá-Uma (PA). Anais do
COBRAMSEG, Curitiba, Brasil, 2006.
SERAFIM, J. L.; CAVILHAS, J. L. A. A. Failures of dams due to overtopping. Proceedings of
the International Conference on Safety of Dams – Coimbra/23-28 de abril de 1984, A. A. Balkema/
Rotterdam/Boston, 1984.
SHOUP, D. Sensors in the real world, protecting geotechnical sensors and cable from
lightning damage. Slope Indicator Co., 1992.
SILVEIRA, J. F. A. Instrumentação e Comportamento de Fundações de Barragens de Concreto.
São Paulo: Oficina de Textos, 2003.
SILVEIRA, J. F. A. Instrumentação e segurança de barragem de terra e enrocamento. São
Paulo: Oficina de Textos, 2006.
VELTROP, J. Water, Dams and Hydropower in Coming Decades. International Water Power
& Dam Construction. June, 1991.
VISEU, T. Segurança dos vales a jusante de barragens – metodologias de apoio à gestão dos
riscos. 2006. 482f. Tese (Doutorado) – Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa,
Lisboa, 2006.
USACE. EM 1110-2-1908 – Instrumentation of Embankment Dams and Levees. 86p. 1995.
Disponível em: www.usace.army.mil/usace-docs/eng-manuals/em1110-2-1908/toc.htm. Acesso
em: 16 maio 2021.

Sites
http://engeground.com.br/catalogos/celula_pressao_total.pdf. Acesso em: dez. 2020.
https://slideplayer.com.br/slide/54002/. Acesso em: dez. 2020.
https://rstinstruments.com/pt/total-earth-pressure-cells/. Acesso em: dez. 2020.
https://www.recordtek.com/solutions/geotechnical-solution. Acesso em: 16 maio 2021.

116

Você também pode gostar