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PATOLOGIAS, GESTÃO

DE RISCOS E PLANOS DE
EMERGÊNCIA
Elaboração

Maria Madalena de Sousa

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
PATOLOGIAS EM BARRAGENS DE CONCRETO....................................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS EM BARRAGENS DE CONCRETO.................................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
FISSURAS OU TRINCAS..................................................................................................................................................................................... 18

CAPÍTULO 3
CLASSIFICAÇÃO DAS PATOLOGIAS DE ACORDO COM A ORIGEM DO AGENDE CAUSADOR............................................ 36

UNIDADE II
PATOLOGIAS EM BARRAGENS DE TERRA................................................................................................................................................................ 51

CAPÍTULO 1
DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIAS EM BARRAGENS DE TERRA.......................................................................................................... 51

CAPÍTULO 2
CONSIDERAÇÕES SOBRE AS FALHAS EM BARRAGENS DE TERRA............................................................................................ 55

UNIDADE III
RISCOS, VULNERABILIDADES E MINIMIZAÇÃO DE RISCOS............................................................................................................................ 64

CAPÍTULO 1
RISCOS E VULNERABILIDADES..................................................................................................................................................................... 64

CAPÍTULO 2
PLANOS DE CONTINGÊNCIA E EMERGÊNCIA......................................................................................................................................... 71

CAPÍTULO 3
MINIMIZAÇÃO DE RISCOS............................................................................................................................................................................... 74

UNIDADE IV
GESTÃO DE RISCOS EM BARRAGENS....................................................................................................................................................................... 76

CAPÍTULO 1
GESTÃO DA SEGURANÇA BASEADA EM RISCOS................................................................................................................................. 76

CAPÍTULO 2
MODELO DE RISCO.............................................................................................................................................................................................. 80

CAPÍTULO 3
GESTÃO DE RISCO DURANTE A CONSTRUÇÃO.................................................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS......................................................................................................................................................................................... 89
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de
textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam
tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta
para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para
a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

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Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando
o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a
aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo
estudado.

6
INTRODUÇÃO

Na história da humanidade, as represas desempenharam um papel fundamental para


o desenvolvimento social e econômico. A primeira barragem de que se tem registro
consistia em um enorme bloco de pedra construído em 3.000 a.C. para acumular a
água necessária para abastecer a cidade de Jawa em Jordan (HELMS, 1977). O seguinte
registro aparece no Egito com a barragem de Sadd el-Kafara erguida no ano 2650 a.C.,
para controlar o regime de inundações do rio Nilo perto de Wadi Garawi. Desde então,
os antigos foram construindo várias estruturas semelhantes devido à necessidade de
regularizar fluxos de rios, direcionar a água para os canais de irrigação, acumular água
para períodos de seca e, nos últimos séculos, gerar energia hidrelétrica.

Apesar de seus aspectos positivos e do avanço tecnológico promovido nessas estruturas,


as barragens tendem a ter uma grande dimensão social, econômica e ambiental, já que
sua construção implica o deslocamento de famílias, a perda de sítios arqueológicos
e grandes mudanças ecológicas com a criação de reservatórios. Diante dos impactos
mencionados e do significativo nível de investimento necessários para a construção
das barragens, é fundamental garantir que essas estruturas sejam mantidas em boas
condições por longos períodos, com um nível de manutenção razoável. Assim, as
causas dos possíveis danos que geralmente surgem ao longo da vida da estrutura são
evitadas tratando as barragens de forma adequada.

Segundo Del Hoyo & Casafont (1992), esses danos são decorrentes de envelhecimento
do concreto que pode ocorrer em cinco aspectos principais: instabilidade dimensional,
lixiviação de material, ação do gelo, rachaduras e envelhecimento da propensão da
âncora. Dentre os aspectos mencionados, aquele que tende a ser mais comum em
barragens de concreto é a instabilidade dimensional, que se origina, na maioria dos casos,
de fenômenos expansivos de origem interna no concreto. Esses fenômenos ocorrem
de forma não uniforme, gerando tensões internas que podem levar a rachaduras e
aceleração da degradação da estrutura.

O impetuoso desenvolvimento da construção, dominado basicamente por estruturas


de concreto armado, exige a cada dia mais do que uma preparação técnica rigorosa para
que, desde o projeto até os estágios finais de construção, sejam devidamente aplicados
e cumpridos os diferentes regulamentos e especificações, levando à realização de obras
seguras, duráveis e estéticas.

Às vezes, esses atributos são afetados por uma das patologias mais significativas que
caracterizam as obras de concreto, fissuras e rachaduras, que por suas condições de
aparência de superfície afetam diretamente o sistema funcional, sendo essa uma das

7
razões mais importantes para a durabilidade de uma estrutura. É por isso que, como
parte do cálculo estrutural, fissuras e rachaduras são classificadas dentro dos estados
limite de serviço.

Barragens de concreto sempre foram estruturas que representam um grande impacto


na sociedade e na natureza. Conhecendo as condições dos serviços encontrados, é
de maior interesse para a segurança de todos os que podem ser afetados pela falha
dessas imensas estruturas. Entre as principais causas da deterioração das barragens
estão aquelas que têm a ver com a próprio concreto e as reações que ocorrem nele ao
longo dos anos, como, por exemplo, é o caso de reações expansivas. Diagnosticar a
sua presença e a extensão de sua influência impediria qualquer dano ou consequências
a tudo o que poderia ser impactado por esta grande estrutura.

Portanto, estabelecendo um diagnóstico correto variando de identificação a causas


que a originam, permite que designers, construtores e produtores de materiais, não só
minimizem ou erradiquem seus efeitos por meio de seu reparo, mas tomem medidas
mitigatórias preventivas para eliminar ou reduzir o problema.

Por fim, este Caderno de Estudos foi estruturado em cinco unidades, divididas em
dez capítulos. As unidades foram organizadas e configuradas de maneira a apresentar,
de forma resumida, o conteúdo da disciplina e têm por objetivo ofertar um material
de estudo que será um maior embasamento teórico metodológico acerca do assunto.

Objetivo
» Ofertar um material de estudo que será um maior embasamento teórico
metodológico acerca do assunto.

» Apresentar noções introdutórias sobre patologias em barragens de concreto.

» Apresentar noções introdutórias sobre patologias em barragens de terra.

» Conhecer os passos a serem tomados na decisão de construir ou não


determinada barragem.

» Analisar os riscos, vulnerabilidade, e noções de minimização de riscos.


Compreender como se dá a gestão de riscos em barragens.

» Analisar procedimentos para a elaboração de planos de contingência e


emergência.
PATOLOGIAS EM
BARRAGENS DE UNIDADE I
CONCRETO

CAPÍTULO 1
Diagnóstico de patologias em
barragens de concreto

As três etapas do diagnóstico


O diagnóstico de patologias em barragens de concreto é de grande importância dentro
da engenharia de barragens, uma vez que elas envelhecem e, como os humanos, podem
se desenvolver fenômenos anômalos que devem ser identificados corretamente. Para
um correto diagnóstico é necessário seguir uma metodologia ordenada que permita
chegar a algumas conclusões válidas.

Qualquer patologia que se manifeste em uma estrutura deve ser cuidadosamente


estudada e analisada, encontrando suas causas e, dessa forma, o referido estudo deve
permitir ao engenheiro propor soluções para isso.

Uma boa análise deve inevitavelmente ser acompanhada por um modus operandi
correto. Essa é a única maneira de chegar a soluções viáveis capazes de remediar o
problema. Nesse sentido, Pardo (2009) propõe um método para atuar na detecção de
uma anomalia.

Na figura 1 podem ser vistos os três níveis claros do procedimento (detecção da anomalia,
primeira hipótese de trabalho e compará-la) ao diagnosticar e analisar patologias em
barragens de concreto. Um primeiro passo é a detecção de uma anomalia na barragem,
seja no seu comportamento seja na morfologia. A resposta do engenheiro a essa
detecção deve ser o estudo da documentação a esse respeito e a inspeção de todos os
lugares que têm relação com a construção da barragem, por exemplo, a pedreira, as
obras contíguas ou o corpo de barragem, além da própria formação geológica.

A partir da inspeção detalhada, o engenheiro tem uma ideia do fenômeno que pede sua
atuação e identifica uma primeira hipótese de trabalho. Com base nisso, é elaborada

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

uma campanha experimental que tentará, em primeiro lugar, caracterizar o concreto


e, em segundo lugar, e se for o caso, de acordo com a hipótese, demonstrar todos os
aspectos físico-químicos subjacentes. Essa constitui a segunda etapa do processo.

Figura 1. Método para atuar diante de uma anomalia em barragem.

Detecção da anomalia da barragem

Análise da Estudo da formação


documentação geológica

Inspeção da pedreira / Inspeção da barragem / Inspeção de obras ao entorno

Primeira hipótese de trabalho

Campanha Experimental

Amostra de rochas da pedreira Concreto fabricado em laboratório


Amostra de concreto da barragem.

Diagnóstico

Estudos analíticos e numéricos

Microescala Mesoescala Macroescala

Verificação do diagnóstico

Fonte: Elaborado pelo autor.

Uma vez definida uma hipótese de comportamento e caracterizado o concreto, é


feito um estudo detalhado do comportamento que se pensa ocorrer na barragem.

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Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Esse desempenho constituinte da terceira etapa do diagnóstico, consiste em analisar a


microestrutura, a mesoestrutura ou a macroestrutura da barragem, conforme apropriado
de acordo com as hipóteses de comportamento.

Por fim, os resultados do segundo e terceiro níveis terão que validar a hipótese. Caso
contrário, teremos que repensar isso e continuar de forma idêntica.

Sintomatologia
A manifestação dos sintomas das anomalias pode aparecer em barragens de concreto
de duas maneiras básicas:

» Aspectos morfológicos da barragem, como o aparecimento de rachaduras,


a observação de produtos químicos, reações tipicamente indesejadas etc., ou
seus efeitos secundários, como os vazamentos no corpo da barragem que
podem ser notados na vistoria por galeria.

» Aspectos deformacionais da barragem, como movimentos que podem


ser registrados por meio dos instrumentos de ausculta, seja na colimação,
no nivelamento ou em outros. Esses também podem ser acompanhados
por efeitos secundários, normalmente bloqueios das portas que dificultam
a exploração ou desalinham a superestrutura.

Essa sintomatologia deve ser analisada separadamente, para decidir como agir em cada
caso e, assim, dar continuidade ao estudo.

Aspectos morfológicos

Em relação aos aspectos morfológicos, a manifestação mais clara é a fissura.


Tradicionalmente, essa tem sido a causa do início da preocupação em muitos casos:
a partir da observação de um certo cracking, os engenheiros de exploração percebem
que algo está errado e, a partir daí, é elaborado um plano de pesquisa e ação.

Não há uma causa única à qual possa ser atribuída a fissura. No entanto, sua aparência
e disposição podem revelar uma grande quantidade de informações sobre o processo
patológico que está se desenvolvendo na barragem.

Esse tipo de fissuração responde a uma expansão diferencial dentro do concreto devido
à inexistência de restrições cinemáticas próximas. Por se tratar de uma expansão

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

interna, geralmente está associada a reações químicas expansivas que atacam a polpa
ou a interface polpa-agregado.

No primeiro caso, geralmente se deve à formação de etringita ou gesso secundário


devido às reações de sulfato; enquanto, no segundo, para a formação de géis expansivos
por reações alcalinas.

Outra manifestação diferente pode ser a fissura orientada. Nesse caso, acontece um
estudo mais complexo, a elaboração de uma hipótese sintomatológica, uma vez que
pode ser o resultado de vários fenômenos. No entanto, é útil uma primeira análise
para identificar um estado de tensão, o contrário do caso anterior, no qual não havia
direções tensionais privilegiadas.

Figura 2. Fissura tipo “Mapa”.

Fonte: www.portaldageotecnia.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Fissura%C3%A7%C3%A3o-Barragens-Concreto-Crit%C3%A9rios-de-
classifica%C3%A7%C3%A3o-experi%C3%AAncia-pr%C3%A1tica-e-tratamentos.pdf. – Acesso em: 29 ago. 2021..

Figura 3. Fissura tipo “Mapa” na parede interna de uma eclusa.

Fonte: www.portaldageotecnia.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Fissura%C3%A7%C3%A3o-Barragens-Concreto-Crit%C3%A9rios-de-
classifica%C3%A7%C3%A3o-experi%C3%AAncia-pr%C3%A1tica-e-tratamentos.pdf. Acesso em: 29 ago. 2021..

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Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Figura 4. Fissura Longitudinal na crista da barragem.

Fonte: www.portaldageotecnia.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Fissura%C3%A7%C3%A3o-Barragens-Concreto-Crit%C3%A9rios-de-
classifica%C3%A7%C3%A3o-experi%C3%AAncia-pr%C3%A1tica-e-tratamentos.pdf.Acesso em: 29 ago. 2021..

Figura 5. Fissura Longitudinal na crista da barragem.

Fonte: www.portaldageotecnia.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Fissura%C3%A7%C3%A3o-Barragens-Concreto-Crit%C3%A9rios-de-
classifica%C3%A7%C3%A3o-experi%C3%AAncia-pr%C3%A1tica-e-tratamentos.pdf. Acesso em: 29 ago. 2021..

Figura 5. Fissura longitudinal na crista da barragem.

Fonte: www.portaldageotecnia.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Fissura%C3%A7%C3%A3o-Barragens-Concreto-Crit%C3%A9rios-de-
classifica%C3%A7%C3%A3o-experi%C3%AAncia-pr%C3%A1tica-e-tratamentos.pdf. Acesso em: 29 ago. 2021..

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Figura 6. Fissuras causadas pela RAA junto à guia metálica de uma barragem de gravidade.

Fonte: www.portaldageotecnia.com.br/wp-content/uploads/2018/05/Fissura%C3%A7%C3%A3o-Barragens-Concreto-Crit%C3%A9rios-de-
classifica%C3%A7%C3%A3o-experi%C3%AAncia-pr%C3%A1tica-e-tratamentos.pdf. Acesso em: 29 ago. 2021..

Esse tipo de fissuração é geralmente atribuído a um mau comportamento estrutural


da barragem, que irá desenvolver-se de forma diferente em cada caso, embora muitas
vezes esteja ligada a algum tipo de processo expansivo.

Algumas represas são construídas utilizando rochas reativas como agregado, muitas delas
têm apresentado alguns problemas em consequência da Reatividade Álcali-Agregado
(RAA). Podemos destacar dentre essas rochas o granito-gnaisse, os quartzitos entre
outras que contêm quartzo deformado na sua constituição. Sabe-se que, ao longo do
tempo, a RAA acaba provocando lenta expansão do concreto em consequência da
absorção de água pelo gel resultante da reação dos álcalis do cimento em conjunto com
o quartzo deformado, ou então outro eventual mineral que seja reativo.

Dentre as fissuras mais comuns provindas da RAA, podemos destacar: as fissuras tipo
mapa como citadas anteriormente, as fissuras longitudinais e as fissuras decorrentes
da expansão entre o aço e o cimento, além de poder serem encontradas outras fissuras
menos usuais.

A reparação de obras hidráulicas de concreto apresenta os seus diferenciais, tais


como: forte apoio em experiências anteriores semelhantes, reduzido número de
técnicos especializados na área, utilização de materiais específicos e pouca divulgação
documental das ações realizadas, entre outros.

As patologias em barragens de concreto podem ser atribuídas aos diferentes tipos de


ações: físicas, químicas e outras.

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Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Quadro 1. Tipos de ações que ocorrem no concreto.

Tipos de ações no concreto


Ações químicas Ações físicas Outras ações
Ação do gelo/degeloDegradação Degradação do cimento por Ação do tipo mecânico (impactos)
pela velocidade da águaAções ácidosDegradação por formação de sais Ação do tipo biológico (vegetação)
térmicas expansivosDegradação por reação de Corrosão
cátions

Fonte: Elaborado pelo autor.

No caso da erosão por cavitação, patologia associada a ações físicas, o dano está
associado às altas velocidades da água que circula na superfície de concreto, por isso
está preferencialmente localizado em vertedouros, trampolins de lançamento, túneis
de descarga etc.

Em um fluxo de água que circula em alta velocidade por superfícies que apresentam
irregularidades, podem se formar bolhas ou bolhas de ar e vapor d’água sob o fluxo.

Danos de erosão por cavitação ocorrem na zona de impacto deste fluxo. Isso se deve
ao rompimento das bolhas e bolhas de ar e vapor d’água devido às altas pressões
instantâneas no momento do impacto.

As características da superfície são de grande importância neste fenômeno, pois


podem atuar como um gatilho, influenciar a pressão ou, no caso de microfissuras nela,
potencializar os efeitos da água.

Assim, neste tipo de patologia, passa-se uma primeira fase em que a superfície do
elemento apresenta um aspecto rugoso e rugoso com pequenas crateras e fossos, e
numa fase seguinte desta progressão, a área danificada aumenta tanto em superfície
quanto em espessuras. É comum que essa superfície adquira uma geometria que lembra
as formas de uma árvore de Natal.

Aspectos deformacionais

Além dos aspectos morfológicos, na sintomatologia das patologias, cabe destacar


os aspectos deformacionais. Assim como acontece com a fissura, os movimentos
remanescentes podem ocorrer por diferentes causas.

O primeiro passo para o estudo dos movimentos remanescentes de uma barragem é


ter um bom sistema de instrumentação. De acordo com isso, em termos gerais, uma
boa instrumentação pode se iniciar procurando as diretrizes a seguir:

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

» Definir um projeto de ausculta: parâmetros a serem medidos e distribuição,


precisão e sensibilidade dos dispositivos correspondentes.

» O mapa dos dispositivos de medição deve ajudar a dar pistas e interpretar


o comportamento da barragem.

» Os dados devem ser coletados adequadamente, de acordo com as fases da


obra, para serem comparáveis.

» Os dados registrados devem permitir uma fácil interpretação, nesse sentido,


devem ser facilmente depuráveis.

Com bons dados de ausculta, a tendência dos movimentos pode ser traçada ao longo
do tempo.

Inspeção
Os quatro pilares básicos considerados ao inspecionar os sintomas de uma patologia
são, em uma ordem apropriada:

» A formação geológica.

» A pedreira, se estiver acessível.

» As obras ao entorno.

» A própria barragem.

Além disso, todos eles devem ser acompanhados do estudo e consequente análise da
documentação existente a esse respeito. Infelizmente, na maioria das barragens antigas,
a documentação não está disponível; no entanto, sempre que possível, é altamente
recomendável consultar mapas geológicos, planos e documentos de projeto e análises
mineralógicas da pedreira.

Um levantamento ordenado deve começar prestando atenção especial à formação


geológica da zona. Ela nos dirá de que natureza é a rocha, tanto ao redor quanto na
pedreira, já que, na maioria dos casos, as pedreiras de construção da barragem estão
localizadas o mais próximo possível para evitar aumentos no custo.

Os aspectos importantes a verificar em relação à geologia do local são o potencial de


expansão e a sua estabilidade. Para uma análise meticulosa, são necessários exames

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Patologias em barragens de concreto | Unidade I

laboratoriais tanto da composição quanto das propriedades mecânicas. Apesar disso,


um bom olho clínico geralmente consegue confirmar isso.

Uma vez estudada a formação geológica, deve-se estabelecer sua relação com a pedreira
de extração de áridos; os concretos de barragem tendem a ser de consistência muito
seca e de tamanho de árido extremamente grande em comparação com o normal.

Essa etapa servirá para estabelecer as bases para uma possível expansibilidade dos
agregados no concreto, fato que pode ou não ser corroborado pelo tipo de fissura que
observamos em barragens. Em alguns casos, o abandono de uma pedreira e posterior
abertura de uma nova pode ser muito significativo da patologia incorrida.

Uma boa forma de contrastar uma possível patologia é comparando diferentes trabalhos
realizados com o mesmo concreto. Com essa ideia, desde que a barragem e as obras do
entorno tenham sido construídas com o mesmo concreto, e este será o caso na maioria
dos casos, é conveniente ver o estado dele.

Finalmente, depois de ter uma ideia das condições no entorno da barragem,


segue-se para sua inspeção. Nela, todas as fissuras possíveis terão que ser examinadas, em
busca de relações com movimentos medidos, além de muitos outros sinais que podem
ocorrer como a utilização de dois concretos com diferentes naturezas de agregados.
Nunca se deve esquecer que a própria barragem é o melhor laboratório.

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CAPÍTULO 2
Fissuras ou trincas

Patologias do concreto
As patologias do concreto afetam diretamente as estruturas por diferentes razões.
Vamos nos concentrar nas mais frequentes, como fissuras, que podem ocorrer em
diferentes estágios da vida útil da estrutura.

O estado fresco do concreto é muito curto (2 a 6 horas) e a transição para o estado sólido
dura cerca de duas horas. Esse período é crítico, pois, além da instabilidade da pasta
devido às reações de hidratação, exsudação e secagem, deve-se levar em consideração
a capacidade de deformação.

Durante o período de manuseio, o concreto fresco pode ser transportado, colocado,


compactado e acabado. À medida que as reações de hidratação se desenvolvem, a
capacidade de deformação é perdida. As fissuras no concreto podem ocorrer no estado
fresco, semissólido e endurecido.

Rachaduras no concreto fresco

O concreto no estado fresco é a pasta composta de cimento Portland, água e agregados,


se houver.

Esse material no estado fresco permite o seu transporte, colocação e posterior


compactação e sofre uma segregação dos sólidos e o deslocamento de parte da água
para a superfície denominado exsudação. A composição adequada a/c (água/cimento
em massa) faz com que a água seja mais bem retida e a exsudação seja minimizada.

18
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Quadro 2. Tipos de fissuras.

Em estado plástico Por contração


Fissuras plásticas
Por assentamento
Fissuras por congelamento
Por tensões
Fissuras plásticas
Por assentamentos
Em estado semissólido

Por mudanças térmicas


Fissuras por contração
Tipos de fissuras

Por outros efeitos

Por outros efeitosPor


Fissuras por causas físicas
contração de agregados
Por corrosão de
Em estado endurecido

Fissuras por causas químicas armadurasPor reação a


agregadosPor carbonatação
Por congelamento/ degeloPor
Fissuras por causas térmicas variação térmicaPor
contração térmica
Por sobrecargaPor cargas
Fissuras por causas estruturais de desenhoPor deformações
diferidas
Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 7. Tipos de trincas e fissuras.

Fonte: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/14026/material/Concreto%20-%20Trincas%20

e%20Fissuras.pdf .

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Trincas e fissuras originadas no estado plástico

Trincas de retração plástica

Ocorrem quando as estruturas são submetidas a condições atmosféricas que favorecem


a rápida evaporação das águas superficiais. Elas são geralmente curtas, superficiais e
erráticas. Podem aparecer no estado fresco do concreto em dias de vento, com baixa
umidade e altas temperaturas do ar.

A rápida evaporação da umidade da superfície excede a velocidade ascendente da água,


fazendo com que a superfície de concreto se contraia mais do que o interior.

Enquanto o concreto interno restringe o encolhimento do concreto superficial,


desenvolvem-se tensões de tração que excedem a resistência do concreto e,
consequentemente, desenvolvem-se fissuras superficiais.

Nas áreas onde o movimento do concreto fresco é restrito, ocorrerão trincas causadas
por reforços de superfície. Outra consequência do excesso de exsudação é o pó da
superfície.

Em geral, concreto devidamente projetado com relações água/cimento, contrapiso


compatível com as condições de colocação e compactação; agregados limpos,
devidamente colocados e compactados e com proteção adequada da superfície, não
haverá aparecimento das temidas fissuras frescas.

As trincas de retração hidráulica antes do endurecimento final também são chamadas


de trincas de retração de plástico, surgem principalmente em lajes e pisos, geralmente
gerando fissuras que aparecem brevemente depois que o brilho da água desaparece da
superfície do concreto, geralmente têm profundidades consideráveis e não seguem o
mesmo padrão ou simetria.

20
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Figura 8. Fissura de retração plástica.

Fonte:/ http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/14026/material/Concreto%20-%20Trincas%20e%20Fissuras.pdf.

Esses tipos de fissuras são típicos de climas quentes, pois o principal motivo de sua
ocorrência é a rápida evaporação da água na superfície do concreto, pois a velocidade
de evaporação superficial é maior do que a velocidade de exsudação ou sangramento
da água. Esse fenômeno faz com que ocorra encolhimento na superfície e apareçam
rachaduras.

Características de fissuras de retração de plástico

» Têm uma profundidade considerável, de 20 a 40mm, podendo, por vezes,


atravessar a laje.Aparecem nas primeiras horas (de 1 a 10 horas) e em grupos.
São mais frequentes e maiores quando as condições climáticas favorecem
uma evaporação superficial mais rápida (temperatura, vento e umidade).
Essas fissuras não passam pelas pedras, mas as circundam. Em geral não
apresentam perigo estrutural, ou seja, não afetam a capacidade de resistência
do elemento. Se o elemento tiver espessura uniforme, essas fissuras são curtas,
sem direções preferenciais e geralmente distribuídas de forma aleatória.
Se o elemento tiver espessura variável, as fissuras localizam-se nas áreas
mais finas. Não têm o aspecto de ruptura limpa nem apresentam arestas
vivas e bem definidas como acontece depois daquelas que se formam com
o endurecimento do concreto.

21
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Medidas para reduzir ou eliminar rachaduras de retração


de plástico

As medidas corretivas para reduzir ou eliminar este tipo de fissuras visam obviamente
contrariar as causas que as originam. Dentre essas medidas, destacam-se as seguintes:

» De acordo com a consistência utilizada para que o concreto fique bem


colocado, deve-se utilizar o menor teor de água possível, isto é conseguido
com controle adequado e com a utilização de aditivos plastificantes. Minimizar
a influência dos efeitos do clima. No caso do concreto, a temperatura
do agregado graúdo deve ser mantida baixa borrifando-o com água ou
mantendo-o na sombra. Da mesma forma, a fôrma deve ser umedecida e a
água do amassado, resfriada. É conveniente esvaziar nas horas mais frescas
do dia. Construir telas temporárias para reduzir a velocidade do vento,
evitando assim a rápida evaporação das águas superficiais.

» Evitar misturar projetos com presença excessiva de finos no concreto, pois


isso causa rápida exsudação. Evitar grandes doses de cimento, tanto quanto
possível. Se forem necessárias altas resistências, aditivos superplastificantes
devem ser usados para diminuir a quantidade de cimento. Nos trabalhos de
assentamento e acabamento, evitar a segregação de finos para a superfície.
Caso não necessite de alta resistência em idades precoces, deve-se evitar
o uso de cimentos com alto teor de silicatos tricálcicos SC, pois, em sua
reação, liberam quantidade abundante de cal, desenvolvendo um grande
calor de hidratação, o que causa autosecagem na superfície, intensificando
assim o encolhimento. Evitar o uso de cimentos com alta finura de moagem.
Quanto maior a finura, maior é o calor de hidratação, portanto maior é o
seu encolhimento e com ele o perigo de fissuras.

Fissuras de assentamento plástico

São as mais frequentes em elementos como vigas, divisórias e pilares e ocorrem quando
a exsudação do concreto é excessiva.

Eles afetam a durabilidade da armadura e a adesão aço-concreto desses e de outros


elementos estruturais e são produzidos pela conjunção do próprio assentamento
plástico e uma espessura inadequada do revestimento.

Nesta fase do processo, em que o concreto ainda não endureceu, existem outros tipos
de fissuras devido à acomodação do plástico. Isso ocorre quando o concreto fresco
22
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

é colocado no molde, momento em que os sólidos da mistura tendem a se depositar


devido ao efeito da gravidade, deslocando os elementos menos densos como a água e o
ar aprisionado. A água aparece na superfície como escoamento de água e a sedimentação
continua até que o concreto endureça.

Quando existem obstáculos como armaduras de aço, pedras grandes ou elementos


embutidos no concreto, eles podem dificultar a livre acomodação da mistura, causando
recalques plásticos diferenciados e a formação de fissuras

Figura 9. Fissura de assentamento plástico.

Fissuras

Movimento do
concreto
fresco

Fonte: Elaborado pelo autor/ adaptado de www.phd.eng.br/wp-content/uploads/2014/06/Boletim-t%C3%A9cnico-3.pdf.


Acesso em: 30 ago. 2021.

Entre as medidas a serem aplicadas para evitar recalques de plástico estão:

» Dependendo do tipo de elemento, devem ser observadas as prescrições quanto


aos revestimentos mínimos das hastes superiores, evitando-se também o
uso de grandes diâmetros. Em pisos e pavimentos de concreto, mudanças
bruscas de espessura serão evitadas por meio de fissuras. Observar todas
as medidas de segurança para evitar a deformação da fôrma causada pela
pressão do concreto fresco. Em pisos e pavimentos de concreto, a superfície
de apoio deve ser compactada de forma eficiente. Evitar agregados altamente
absorventes. No lingotamento contínuo, o abatimento indicado deve ser
estritamente controlado, evitando-se recalques plásticos diferenciais durante
a acomodação da mistura.

23
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

As rachaduras de encolhimento e assentamento podem não ser visíveis por algum


tempo. A razão para isso é que eles são comumente vedados à superfície durante a
operação de acabamento, ou simplesmente não são largos o suficiente para serem
vistos até que o concreto se contraia ainda mais ou até que cresça devido a uma carga
que afeta os planos fracos.

Embora esses tipos de fissuras no estado plástico não sejam de natureza estrutural,
também não desaparecem com o endurecimento do concreto (na verdade, geralmente
se alargam no decorrer da secagem).

As fissuras aumentam a penetração da água no concreto, facilitando a infiltração de


sais e outros produtos químicos perigosos, o qu produz efeitos estéticos negativos e
reduz a durabilidade e vida útil da estrutura.

Trincas em concreto endurecido


O concreto em seu estado endurecido é sensível às mudanças de umidade em sua
massa, aumentando seu volume quando úmido e contraindo quando seco. Durante as
reações de hidratação, o concreto sofre uma perda de água da massa e, posteriormente,
ao iniciar a secagem.

Este processo produz uma contração do concreto que, se não for absorvida pelas
estruturas, provoca fissuras de retração por secagem.

A magnitude da contração depende fundamentalmente da quantidade de água que o


concreto perde. Portanto, concretos amassados com menor teor de água e que estão
sujeitos a condições de cura adequadas, terão menos contração.

Outras características da mistura de concreto que afetam a retração por secagem são
o conteúdo e o tipo de cimento, o tamanho, a forma, o teor de poeira dos agregados.

Mudanças na umidade podem causar rachaduras no concreto endurecido. Quando a


superfície inferior em contato com o solo úmido mantém uma quantidade significativa
de água enquanto a superfície superior exposta aos elementos seca, podem ocorrer
tensões que causarão rachaduras.

O concreto endurecido também é sensível às mudanças de temperatura. Devem ser


previstos mecanismos construtivos para absorver deformações e altas tensões que
dariam origem ao aparecimento de fissuras, inclusive ao possível colapso da estrutura.

24
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Desenvolvimento de trincas ou fissuras


Trincas e fissuras são rupturas que surgem no concreto em decorrência de tensões
superiores à sua capacidade de resistência.

São muitas as causas que dão origem a este terrível problema do concreto. Os de origem
química são atribuídos principalmente a alterações derivadas da hidratação do cimento
ou da oxidação das armaduras, enquanto os de origem física, a grande maioria, são
decorrentes de dois tipos de ações que, embora etimologicamente sejam totalmente
diferentes, produzem mudanças volumétricas significativas.

Nessas mudanças são expansões e contrações, entretanto, quando os elementos de


concreto são restringidos, a expansão causa tensões de compressão e a contração causa
tensões de tração. O concreto é particularmente fraco antes deste último tipo de tensão,
causando fissuras quando ultrapassa seus valores de resistência.

Ações de origem física incluem:

» Ações de natureza mecânica (cargas que originam forças).

» Ações de natureza espontânea (retrações e dormência).

As combinações de cargas, inclusive de peso próprio, geram valores de tensões por


unidade de superfície, determinando variações nas dimensões do elemento de concreto,
que por sua vez podem desenvolver forças apreciáveis. Quando as variações dimensionais
são produzidas diretamente pelas cargas são chamadas de “deformações” e são originadas
pelos diferentes esforços.

Quando as variações dimensionais são “espontâneas”, elas serão decorrentes do


encolhimento e entorpecimento do concreto.

As fissuras, de acordo com o seu momento de ocorrência, podem originar-se na fase


de concreto fresco ou estado plástico, ou seja, antes do final da pega, ou após o final
da pega, ou seja, durante a fase de endurecimento do concreto.

Identificação, causas e medidas a serem adotadas

Mudanças de volume causadas por retração hidráulica

O fenômeno de retração ocorre quando o concreto contrai seu volume durante os


processos da sua configuração e endurecimento, desde que esses ocorram ao ar livre.

25
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Uma distinção deve ser feita quando se fala em encolhimento hidráulico e térmico.
Dentro da retração hidráulica, é conveniente distinguir entre a retração hidráulica
que pode ocorrer antes da configuração e a que ocorre depois, ou seja, desde o início
do endurecimento.

O encolhimento pode ser explicado pela perda gradual de água no concreto. Independente
da água absorvida pelos agregados, após o término a água da massa, ela começa a se
dividir em cinco estados diferentes

» A água de reação, combinação química ou cristalização.

» O gel ou pasta de água.

» Água intercristalina.

» A água adsorvida, que forma meniscos na periferia da pasta de cimento que


une os grãos agregados.

» Água capilar ou livre.

Se o concreto não estiver em um ambiente permanentemente úmido, a água capilar e


parte da água adsorvida irão gradualmente evaporar na temperatura normal da mesma
fase plástica, produzindo mudanças de volume causadas por uma contração do menisco
que força os grãos agregados a se aproximarem.

Por isso a retração não é uma força propriamente dita, mas uma deformação espontânea
imposta. Quando o concreto não é capaz de resistir a essa deformação, ele se rompe
devido à tensão de tração, surgindo a fissura.

Fissuras que se originam de movimentos espontâneos

Após o processo de configuração do concreto, inicia-se a etapa de endurecimento, o


concreto fresco passa do estado fluido ao estado plástico, adquirindo com a hidratação
as propriedades de um sólido rígido. Nos primeiros dias a resistência é muito baixa,
principalmente à tração e, portanto, é suscetível a trincas.

Nesse estágio, as variações de volume são definidas por aumentos ou diminuições


causadas por expansões e contrações devido à temperatura e umidade. Dentro dele
está a contração por secagem, as contrações, expansões por temperatura, a contração
por carbonatação e a reação expansiva álcali-agregado.

26
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Conforme explicado acima, a rápida perda de água interna do concreto recém-colocado


é a principal causa das rachaduras de retração do plástico. Em condições ambientais
normais, após a configuração, o concreto ainda está exposto a perder mais água devido
à evaporação e ao consumo devido à hidratação do cimento. Essa redução da água
progride gradativamente ao longo do tempo, razão pela qual ele encolhe gradualmente
à medida que endurece. Essa contração hidráulica de fase endurecida é chamada de
contração por secagem.

Grande quantidade de água de amassamento, má colocação e compactação, além do


excesso de assentamento e sangria, aumentam a porosidade geral do concreto, que
inclui microporos, poros, condutos capilares macroporosos e descontinuidades.

Quando o concreto endurecido está completamente saturado, isso significa que


quase todos esses espaços estão preenchidos com água. Conforme explicado acima,
independentemente da água absorvida pelos agregados e da água consumida pela
hidratação, existem quatro outros estados que, alguns com maior facilidade e outros
com maior dificuldade, são extraídos do concreto por evaporação.

Devido a esta característica, a retração por secagem constitui uma das mais importantes
e difíceis para prevenir mudanças de volume.

Se o endurecimento do concreto for feito em água, ele se expande, recuperando, se


não houver fissuras, grande parte da perda de volume da retração anterior. Ressalta-se
que a contração é mais prejudicial do que a dilatação, pois provoca tensões de tração
no concreto, causando fissuras, mas também porque tende a ser de maior magnitude.

A probabilidade de fissura por retração está intimamente ligada ao alongamento do


concreto. A fissura ocorre quando o valor de retração é igual à relação entre a tensão
de tração do material e seu módulo de deformação.

Este tipo de fissura surge em elementos cuja contração livre é impedida, portanto,
tem tanto mais influência quanto mais rígida a estrutura; seu layout é limpo e nítido.

Em elementos lineares como vigas longas e embutidos em suas extremidades, as fissuras


aparecem com linhas perpendiculares ao eixo da peça e no meio do vão (auxiliadas
pela flexão provocada pelas cargas).

Nesses casos também aparecem ao lado das colunas devido à grande diferença de
rigidez entre elas.

27
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Em lajes que trabalham em duas direções, as fissuras tendem a ser diagonais, enquanto
em uma direção serão perpendiculares ao eixo do elemento e têm largura pequena e
constante. Um caso incomum e extremamente interessante são as fissuras de retração
interna da pasta de cimento que ocorrem em concretos muito ricos em pasta e com
grandes agregados.

Devido ao seu encolhimento limitado pelas frações muito grosseiras, aparecem trincas
internas que reduzem a capacidade de resistência à compressão. Isso explica o caso
peculiar e estranho de regressão no qual a resistência aos 28 dias é menor do que aos
7 dias.

As medidas para neutralizar as fissuras de retração por secagem incluem as mesmas


previstas para evitar o encolhimento do plástico, uma vez que a origem é comum,
mas também:

» Em grandes superfícies como pisos e lajes, deve-se fazer uma cura rápida e
eficiente para preservar ou restaurar a umidade. Entre essas técnicas estão
as seguintes:

› Cobrir a superfície com uma lona ou material de polietileno.Regar


após o endurecimento e durante as primeiras 72 horas, de preferência
quando as temperaturas são mais elevadas. Aplicar curativos químicos
superficialmente. Uso de fibras sintéticas principalmente em pavimentos
de concreto. Essas fibras aumentam a capacidade de tensão de tração do
concreto novo, minimizando a formação de planos enfraquecidos que,
de outra forma, se tornariam fissuras.

» Projeto e construção de juntas de retração.

Trinca artificial perfeitamente traçada no pavimento de concreto com serra cortadora,


devendo ser levantada entre 24 e 36 horas após o vazamento. Depois de traçadas as
juntas, são preenchidas com silicone ou mastique para evitar a entrada de qualquer
material e a infiltração de água.

Como qualquer material, o concreto se expande com o aumento da temperatura e se


contrai quando ela baixa, causando rachaduras quando o movimento livre é restringido
ou combinado com a contração de secagem.

A retração térmica é a variação na retração do concreto causada por tensões locais


produzidas por diferenças térmicas entre o concreto e o ambiente. Como na contração

28
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

hidráulica, a fissuração ocorrerá no instante em que o valor da contração for igual à


relação entre a tensão de tração do material e seu módulo de deformação.

A magnitude do coeficiente de dilatação térmica do concreto depende das propriedades


térmicas dos agregados e da pasta de cimento hidratado, bem como das proporções
em que intervêm.

A variação na temperatura do concreto pode ser decorrente de causas internas e


externas. Como causa de origem interna, vale citar principalmente o calor que é
gerado no interior do concreto em decorrência da hidratação do cimento. Entre as
causas externas podem ser mencionadas aquelas inerentes às temperaturas ambientais,
as derivadas das condições de serviço das estruturas ou condições extremas causadas
por fenômenos naturais ou fortuitos, como o fogo.

A não construção ou construção defeituosa das juntas de contração e dilatação sempre


acarreta tensões danosas que produzem fissuras, isto ocorre basicamente em pavimentos,
lajes e paredes.

Os pavimentos de concreto também são muito suscetíveis a gradientes de temperatura


que causam empenamento, o próprio peso da laje e a carga de tráfego tendem a impedir
essa deformação, produzindo tensões de tração na face côncava que produz a trinca.

Entre as medidas para neutralizar as causas das trincas térmicas está a não utilização
de cimentos com alto teor de aluminato tricálico AC e agregados com alta absorção de
calor. Evita gradientes técnicos entre a superfície e o interior de um mesmo elemento,
bem como projeta e constrói corretamente as juntas de dilatação planejadas.

A expansão do molde causada pela oxidação do aço de reforço não só causa as fissuras,
mas também destrói superficialmente o molde.

As hastes e demais armaduras de aço são protegidas externamente pelo concreto que
as circunda, e é na manutenção de sua alcalinidade que está a boa manutenção do aço.
O oxigênio do ar, o dióxido de carbono e a água atacam o ferro e o oxidam em uma
taxa maior quanto mais ácido for o meio. Isso ocorre quanto mais poroso e capilar for
o concreto, pois sua cal é facilmente carbonatada pelo dióxido de carbono, o que faz
com que o pH do concreto caia abruptamente, colocando o aço em precárias condições
de defesa.

Quando o aço se envolve com ferrugem, ele se expande causando rachaduras e,


posteriormente, o desprendimento do concreto circundante.

29
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

As rachaduras por corrosão têm um caminho paralelo ao aço afetado e os pontos


de ferrugem frequentemente aparecem ao longo do mesmo caminho. Por isso, uma
fissura com essa característica deve ser atendida imediatamente. Se isso for detectado
a tempo, é possível salvar a estrutura.

Para isso, a causa da corrosão deve ser identificada e eliminada para que não ocorra
novamente. Em seguida, removem-se os revestimentos danificados, escovam-se
as hastes para remover qualquer ferrugem remanescente e repara-se selando com
revestimentos à base de epóxis ou cimentos especiais para o caso.

Entre as medidas preventivas para evitar esta patologia está a obtenção de um concreto
com alta impermeabilidade, isto é conseguido com uma baixa relação água/cimento
usando aditivos redutores de água. Caso sejam necessários altos abatimentos, não
se utiliza baixa resistência e principalmente concreto compacto e com espessura de
revestimento suficiente.

Em condições de exposição ao meio ambiente, o concreto experimenta outro tipo de


contração que provoca fissuras ou aumenta as causadas pela contração por secagem,
referimo-nos à contração da carbonatação.

A chamada contração de carbonatação do concreto é um processo que resulta do seu


contato com o dióxido de carbono, o CO2, normalmente encontrado no ar. O CO2
externo na forma de gás combina-se com a umidade do concreto para se converter na
forma de ácido carbônico e, assim, reage com os hidróxidos do concreto, particularmente
com o hidróxido de cálcio acompanhado por uma liberação de água do gel de cimento,
causando uma diminuição do volume e manifestando uma contração gradual do
concreto que, somada à contração por secagem, faz com que as fissuras apareçam e
aumentem muito rapidamente.

Deve-se antecipar ou reduzir a porosidade e a capilaridade, ou seja, os mecanismos


de transporte, que por sua vez dependem diretamente da relação água/cimento, que
deve ser reduzida.

Expansivos de cimento, como excesso de cal e magnésio livre, produzem expansões


volumétricas no concreto, produzindo fissuras superficiais em forma de pele de
crocodilo, cortando-se a aproximadamente 90º.

Os concretos feitos de agregados de silício (altamente recomendados em barragens,


tanques, tubos de concreto centrifugado etc.) são suscetíveis a produzir uma reação

30
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

entre os óxidos de silício instáveis e os hidróxidos alcalinos da pasta de cimento de


sódio e potássio.

Essa reação, denominada reação de agregado alcalino, ocorre apenas com determinados
agregados de silício, como opala e calcedônia, ou em limas siliciosas e dolomitas, cuja
sílica não está bem cristalizada. Podem causar expansões destrutivas no concreto na
superfície, apresentando um esquema figurativo, típico de todos os processos expansivos
volumétricos.

Trincas devido à expansão interna do concreto causadas pela reação de álcalis adicionados
ou expansivos do cimento. Para detectar a presença de sílica ativa, deve ser feitab uma
análise petrográfica detalhada, acompanhada de testes de potencial reatividade.

Por isso, como medida preventiva, deve-se ter muita cautela no uso das pedras citadas e,
acima de tudo, solicitar o ensaio químico do cimento avaliando a quantidade especificada
em relação aos íons Na2O e K2O.

Fissuras causadas por cargas de estresse

Quando se faz um dimensionamento estrutural ou se verifica a resistência de uma


estrutura, localizam-se as combinações de cargas externas atuando sobre a referida
estrutura representada por um esquema de análise, obtendo-se assim as reações de
apoio.

Com as cargas externas e as reações de apoio, são calculados os diferentes valores de


tensão de cada um dos elementos da estrutura (tração, compressão, flexão, cisalhamento,
torção etc.).

Com esses valores de tensões, ou uma combinação deles, e levando em consideração as


tolerâncias e os diferentes fatores de segurança, é feito o verdadeiro dimensionamento
(dimensão e localização dos diferentes elementos, quantidade, distribuição e ancoragem
das armaduras de aço, concreto de resistência, número e tipos de juntas de construção,
contração e expansão etc.).

Com esse projeto, a utilização de materiais adequados e uma correta execução da obra,
a estrutura deve estar preparada para dar seu serviço seguro e funcional durante sua
vida útil.

Porém, quando ocorrerem deficiências ou insuficiências em algum dos aspectos


anteriores ou ocorrerem cargas adicionais imprevistas, a estrutura estará sujeita a

31
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

esforços que podem comprometer sua capacidade de carga a ponto de desmoronar. Na


maioria dos casos, as fissuras são sinais eloquentes das manifestações desses esforços,
em outros, o fracasso ou colapso ocorre de forma abrupta.

As fissuras produzidas por cargas que provocam tensões diferenciam-se das restantes
por serem mais profundas e apresentarem-se de forma típica, por isso é necessário
verificar as suas dimensões e progressão para estabelecer se constituem um verdadeiro
problema estrutural.

Se considerarmos uma peça prismática de concreto, cada uma de suas seções está
submetida ou a uma tensão composta por vários esforços. Cada uma dessas tensões
simples é destacada por um tipo diferente de fissura.

Fissuras de compressão axial ou fissuras de compressão simples causam diferentes formas


de fissuras, dependendo da esbeltez do elemento e do grau de restrição transversal
que apresentam em suas extremidades. Ambos os efeitos são observados em testes de
laboratório.

Se não houver atrito entre as faces do corpo de prova e as placas da prensa (muito
difícil de conseguir), a pura compressão exercida quebra-o, produzindo trincas paralelas
à direção da tensão. Se houver atrito, o padrão de fissuração muda de acordo com a
amostra.

Com elementos mais delgados intervêm outros fatores como a não homogeneidade
do concreto ao longo do elemento, excentricidade das cargas etc., obtendo-se diversos
padrões de rotura possíveis. Vale ressaltar que os diagramas apresentados correspondem
ao momento da quebra e não às condições de serviço.

Fissuras de serviço perigosas em elementos delgados na compressão se manifestam


em pequenas fissuras e juntas no meio do elemento, o que significa que a flambagem
está prestes a ocorrer. Em geral, quando são observadas fissuras verticais nos pilares,
é sinal de colapso iminente devido ao esmagamento do concreto.

A tração simples, ou tração axial pouco frequente em elementos de concreto armado,


causa inúmeras fissuras com uma linha perpendicular à direção da tensão. Essas são
formadas ao mesmo tempo e geralmente aparecem nos locais coincidentes com a
localização dos pilares.

As fissuras por flexão podem corresponder à flexão pura ou combinadas com outras
tensões, principalmente cisalhamento. Nas vigas, a trinca começa na armadura, progride

32
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

verticalmente até a fibra neutra e curva-se no final, buscando a aplicação da carga e


parando até atingir a zona comprimida.

Essas fissuras avisam com muito tempo de antecedência, aparecem várias e muito
próximas; são perpendiculares ao eixo do elemento e inclinadas de acordo com o valor
da tensão de cisalhamento. Aparecem sob a ação da carga e desaparecem quando a
carga é retirada.

As fissuras de corte destacam-se pelo seu traçado de 45”, nas vigas, podem começar na
alma, progredir para a armadura longitudinal, a seguir até atingir a carga, dividindo o
elemento em duas partes. Este processo pode ser muito rápido, mesmo instantâneo.
Daí a sua periculosidade.

Fissuras de torção são frequentemente encontradas em estruturas de edifícios, quando


há elementos de pórtico apoiados por vigas ou cantiléver recuado nelas e o efeito
de torção não foi levado em consideração. Durante o serviço manifestam-se a 45º
contornando o perímetro do elemento em forma de saca-rolhas.

Outros tipos de fissuras

As falhas de adesão de ancoragem manifestam-se por fissuras localizadas, paralelas à


armadura longitudinal, embora o seu percurso não seja contínuo, ao contrário das de
oxidação ou corrosão em que as fissuras continuam ao longo das barras de aço.

Falhas na âncora são extremamente perigosas, pois a haste de aço escorrega e perde
eficiência, portanto esse tipo de trinca pode ser indicativo de ruptura iminente e
repentina. Por isso, ao projetar, devemos ser generosos com os comprimentos das
sobreposições entre as barras, bem como com a forma e o tamanho dos postes e demais
elementos de ancoragem.

As quedas ou deslocamentos das armaduras principais durante a concretagem causam


fissuras nos locais onde as forças de tração não são absorvidas pelo aço.

A concentração de tensões nos cantos produz rachaduras. Outro caso muito comum
ocorre em pavimentos de concreto quando, durante o lançamento contínuo do concreto,
esse é interrompido por descontinuidades destinadas a registros elétricos ou hidráulicos.
Nesse caso, as armaduras de aço devem ser colocadas perpendicularmente à diagonal
das laterais antes do lançamento, que segue a possível fissura.

Quando a tensão que desce para o solo ao longo do bulbo de pressão das fundações
excede a capacidade de carga do próprio solo, ocorrem assentamentos da estrutura.

33
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Principalmente nos casos de estruturas emolduradas, quando o solo que sustenta


uma das sapatas cede e o adjacente não cede, ocorre o perigoso recalque diferencial,
resultando em aumentos notáveis das tensões nas vigas do elo superior do pórtico
com o imediato aparecimento de fissuras que devem ser monitoradas continuamente.
O aumento de seu tamanho ou profundidade é reflexo de um aumento de recalque, o
prelúdio de um colapso estrutural.

Para evitar que isso aconteça, antes de iniciar a construção de uma obra com essas
características, deve-se fazer um estudo detalhado dos solos em toda a área do local, a
fim de conhecer sua capacidade de resistência, bem como qualquer outro aspecto que
possa enfraquecê-la (lentes de areia, carste, lençol freático próximo etc.).

Em caso de liquidação, será averiguado qual dessas causas é a originária para se proceder
de forma a minimizar o seu efeito, ao mesmo tempo em que a carga tributária que
incide sobre o referido pé deve diminuir.

Como vimos e expressamos anteriormente, na utilização de materiais inadequados,


erros de projeto e execução, bem como outros aspectos após a execução, são as causas
que originam as fissuras analisadas anteriormente.

O aparecimento de uma fissura visível não significa necessariamente que algo esteja
errado, no entanto, é importante saber a causa que a produz, a fim de repará-la. Uma
fissura nunca deve ser reparada sem a certeza de que a causa que a produziu não voltará
a agir posteriormente, seja pelo desaparecimento do agente, seja porque foram adotadas
as medidas cabíveis para que não volte a causar dano.

Ver uma fissura nem sempre é fácil. Uma maneira fácil de detectá-la é umedecer a
superfície do concreto, de forma que a rachadura absorva água por ação capilar e a
retenha após a secagem da superfície adjacente.

Para saber a causa de uma fissura e se ela é perigosa ou não, devemos analisar sua
progressão, ou seja, se está viva ou não. Isso consiste em verificar se sua largura ou
comprimento mudam com o tempo ou se, ao contrário, está estabilizada. Para obter
esses dados existem vários métodos, alguns muito empíricos.

A primeira consiste em marcar o final da fissura com um cruzado para poder verificar
se está progredindo. Outra é encaixar a ponta de uma agulha na fenda, se a agulha
cair, a fenda se alarga.

34
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Para medir a largura da fissura, são utilizadas escalas especialmente preparadas, que
deslizam da esquerda para a direita contra a fissura até que coincida.

Após a adoção de todas as medidas de correção, a fissura é reparada, o que envolve


tratamentos com argamassas especiais, resinas, epóxis, entre outros.

Mas, mais do que reparar, o mais importante é evitar, porque nessas patologias é
sempre melhor prevenir do que curar.

35
CAPÍTULO 3
Classificação das patologias de acordo
com a origem do agende causador

Agentes externos

Químicos

O principal efeito causado pelos agentes químicos em contato com o concreto endurecido
é a desintegração da pasta de cimento. A reação entre a solução agressiva e a pasta
pode gerar produtos expansivos solúveis ou insolúveis.

As reações dos agentes químicos trazem consigo a queda do pH, a perda da alcalinidade
da pasta de cimento, o que reduz a capacidade do concreto de proteger o aço da corrosão.

O fenômeno da corrosão de metais é gerado a partir de uma reação química interna


favorecida pela presença de alguma substância no meio ambiente.

As substâncias agressivas movem-se da fonte poluente (ambiente ou microclima) para


a superfície e penetram na massa de concreto. Danos causados ​​por reações químicas
podem ocorrer tanto imediatamente após o contato, como no longo prazo. Isso depende
da concentração da solução, da velocidade de transporte, do tempo de exposição e das
condições de temperatura e pressão do meio.

Entre os agentes químicos que deterioram o concreto estão: ataque com ácido, corrosão,
ataque com sulfato e carbonatação.

Ataque ácido

O concreto é um material silício-calcário, de forte caráter básico, cujo pH atinge


facilmente valores de 13, portanto é um material suscetível ao contato com qualquer
fluido ácido.

A deterioração sofrida pelos elementos do concreto em contato com ácidos é a dissolução


ou perda da pasta de cimento devido às reações que ocorrem entre os ácidos e os
compostos de cálcio do cimento hidratado (hidróxido de cálcio, silicato e aluminato).

O ácido clorídrico gera cloreto de cálcio e o ácido nítrico resulta em nitrato de cálcio,
ambos compostos solúveis em água; enquanto o ácido sulfúrico produz sulfato de
cálcio que precipita como gesso, também solúvel.

36
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

A taxa de degradação do concreto depende da concentração de ácido e da solubilidade


do produto de reação. Os ácidos inorgânicos mais agressivos à temperatura ambiente
são: clorídrico, fluorídrico, nítrico e sulfúrico; enquanto os orgânicos são: acético,
fólico e láctico.

Algumas das substâncias do meio ambiente que estão em contato com estruturas e
que se tornam ácidos são as seguintes:

» Os gases produzidos pela combustão que se combinam com a umidade e


formam o ácido sulfúrico (chuva ácida).

» Água de mina, água industrial e água residual. Esses formam o ácido sulfúrico
e o ácido sulfuroso; bem como fumos vulcânicos com alto teor de enxofre.

» Solos do tipo turfa podem ter sulfeto de ferro que gera ácido sulfúrico.

» Águas ácidas montanhosas têm ácidos orgânicos e dióxido de carbono livre.

» As indústrias agrícolas e agroalimentares produzem grandes quantidades


de ácidos orgânicos, tais como: fermentadores, laticínios, destilarias,
produtores de sucos cítricos e polpas de frutas, açougueiros, processadores de
cana-de-açúcar e alguns produtos de madeira.

Corrosão do aço de reforço

O concreto oferece proteção contra a corrosão às armaduras de aço, pois o oxigênio


presente no concreto forma uma película de óxido nas barras, que constitui uma camada
passiva que impede a corrosão profunda. Além disso, o caráter básico e a resistência
elétrica do concreto que reveste o aço impedem a penetração de agentes agressivos.

A principal causa da corrosão das armaduras de aço é a diminuição da alcalinidade do


concreto que é exposto a substâncias agressivas do meio ambiente, como cloretos e
ácidos.

A corrosão em estruturas de concreto estrutural depende dos seguintes fatores:

» A permeabilidade do revestimento: os processos de corrosão ocorrem


devido ao fenômeno de difusão nos poros do concreto, de substâncias como
oxigênio, dióxido de carbono ou íons cloreto, que combinados com a umidade
ambiental aceleram a deterioração do aço. Um concreto fabricado com alta
relação A/C, má compactação, segregação da mistura, má cura e secagem

37
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

prematura devido aos efeitos do vento ou da radiação solar, torna-se um


concreto com alta porosidade e permeabilidade na área do revestimento,
que facilita a entrada de substâncias agressivas que corroem as armaduras
e deterioram o elemento estrutural.

» A espessura do revestimento: de acordo com a Segunda Lei de Fick, a


velocidade de penetração do carbonato é proporcional à raiz quadrada
do tempo de exposição (SÁNCHEZ, 2002). Portanto, estima-se que, se o
revestimento de um elemento for a metade do de outro, o primeiro sofre
oxidação de seu reforço em um quarto do tempo que o segundo, estando
ambos expostos às mesmas condições ambientais e construídos com as
mesmas.Penetração de cloreto: os cloretos vêm da água do mar, sais de
degelo e outros íons com pH próximo a 9. Isso produz corrosão local que
reduz a seção das barras de aço. A penetração do cloreto é favorecida nos
ciclos de umedecimento e secagem.

A corrosão eletroquímica é aquela que ocorre no interior do concreto, por se tratar de


uma reação química em que ocorre a transferência de íons e elétrons em meio aquoso.
A corrosão ocorre dentro de uma célula eletroquímica, que é composta por: um ânodo
no qual ocorre a oxidação, um cátodo no qual ocorre a redução, um condutor que
coloca o cátodo em contato com o ânodo e o eletrólito para fechar o circuito.

Os íons Fe2+ e OH- se combinam para formar o hidróxido de ferro (FE203) que, quando
combinado com a água da atmosfera, forma óxido ou ferrugem. O óxido de ferro é
expansivo, aumentando de 2 a 7 vezes seu volume, dependendo da quantidade de
oxigênio disponível para a reação.

Esse aumento de volume provoca tensões radiais de tração que produzem fissuras
e delaminações no concreto, resultando em uma diminuição da aderência entre o
concreto e a armadura, o que gera, em última instância, uma perda considerável na
capacidade mecânica do elemento estrutural.

Existem vários tipos de corrosão eletroquímica que ocorrem dentro do concreto:

» Uniforme: é a corrosão generalizada devido à perda da camada passivadora,


causada pela carbonatação, pela ação intensa de íons cloreto ou pela lixiviação
de líquidos ácidos.

» Localizada: é a corrosão que se concentra em determinadas áreas, onde o


oxigênio, a umidade e as substâncias agressivas penetram diretamente.

38
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

» Corrosão: manifesta-se por corrosão profunda nas áreas anódicas, que se


corroem pela ação de íons cloreto ou como efeito das diferenças entre ligas
do aço.

» Biológica: é a corrosão causada pelo contato do aço com microrganismos


biológicos que geram substâncias ácidas e agressivas.

» Baixa tensão: ocorre com maior frequência em elementos de concreto


protendido como consequência da despassivação local. Ocorre em áreas onde
o elemento está sujeito a cargas de tensão; neste ponto o concreto racha,
dando lugar a agentes agressivos que penetram e corroem a barra de aço.

» Galvânica: ocorre quando dois metais de potencial diferente estão em contato


com o mesmo eletrólito. No concreto, ocorre quando o aço externo está
mais corroído do que o interno e quando o aço está em contato com outros
metais, como tubos em sistemas elétricos.

Ataque de sulfato

O ataque gerado pelo íon sulfato no concreto é causado por duas reações químicas:

» A combinação de sulfatos com hidróxido de cálcio da pasta (cal livre) produz


sulfato de cálcio solúvel (gesso).

» O gesso se combina com o aluminato tricálcico hidratado do cimento (C3A)


para formar o sulfoaluminato de cálcio (etringita).

Essas reações dentro da pasta de cimento resultam em um aumento no volume do


sólido, fazendo com que o concreto se expanda, e a fratura amoleça; produzindo uma
perda de aderência entre a pasta, os agregados e o aço de reforço, o que leva a uma
diminuição da capacidade estrutural do elemento.

Além disso, a porosidade do concreto fissurado favorece a entrada de diversas substâncias


agressivas encontradas no meio ambiente. O íon sulfato (SO4-2) pode ser de origem
natural, biológica ou industrial.

Os sulfatos de origem natural incluem os provenientes de solos orgânicos (turfa e argila)


e suas respectivas águas subterrâneas, tais como: sulfatos de amônio, cálcio, magnésio,
sódio, cobre, alumínio e bário. Outra fonte natural de sulfatos e sais é a água do mar.

39
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Os cloretos de sódio, magnésio e potássio, juntamente com os referidos sulfatos, geram


ações altamente agressivas no meio marinho, devido à sua concentração, temperatura
e tempo de exposição.

Os sulfatos de origem biológica vêm de águas residuais que sofrem decomposição


aeróbia e são transformadas em substâncias orgânicas e microrganismos que contêm
enxofre e proteínas.

Os sulfatos industriais são originados pela combustão de carvão ou gasolina; o dióxido


de enxofre liberado pela referida combustão forma ácido sulfúrico quando se combina
com a umidade atmosférica.

Carbonatação

A carbonatação ocorre devido à penetração de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera


ou do solo nos poros do concreto endurecido.

O CO2 se dissolve nos poros, reagindo com os componentes alcalinos da fase aquosa
do concreto e produzindo ácido carbônico. Este ácido converte o hidróxido de cálcio
(cal livre do cimento) em carbonato de cálcio (CaCO3) e água.

Figura 10. Processo de carbonatação do concreto avança de fora para dentro, por meio de fissuras que permitem a entrada
de água.

Fonte: /www.tecnosilbr.com.br/o-que-e-e-como-ocorre-a-carbonatacao-do-concreto/. Acesso em 02 set. 2021.

Esta reação tem dois efeitos negativos no concreto:

» O pH superficial do concreto cai de 13 para valores iguais ou inferiores a 9.


À medida que o concreto perde sua basicidade, sua capacidade de proteção
contra a corrosão das armaduras diminui, ou seja, ao aumentar a penetração

40
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

da carbonatação (frente de carbonatação), perde-se o efeito da camada


passivadora do revestimento de concreto.

» Há uma contração adicional na superfície do concreto, devido à diminuição


do volume da pasta de cimento, induzindo fissuras e facilitando a entrada
de substâncias agressivas.

A reação é mais intensa se as mudanças na umidade, pressão e temperatura ambiente


forem mais significativas e se a permeabilidade e porosidade do concreto forem
consideráveis. O fenômeno é mais comum em locais com umidade relativa entre 65%
e 98%.

Em estruturas permanentemente saturadas não há possibilidade de carbonatação, pois


a difusão do gás carbônico só é possível em poros preenchidos com ar.

Mecânica

As ações mecânicas são devidas principalmente a sobrecargas, deformações, impactos


ou vibrações, que não foram consideradas em seu projeto. Algumas dessas tensões
imprevistas têm origem em uma mudança de uso na obra, um acidente ou desastre
natural.

Deve-se levar em consideração que o concreto oferece alta resistência à compressão,


mas baixa resistência à tração, por isso os elementos estruturais são reforçados com
barras de aço, que suportam as tensões de tração causadas pelo cisalhamento, flexão
e torção.

Nos últimos anos, os concretos micro reforçados têm sido fabricados com polipropileno
ou fibras metálicas, para evitar fissuras nas zonas de tensão de tração em plástico e
concreto endurecido.

Sobrecargas

Quando a capacidade de resistência do material que constitui o elemento estrutural


é ultrapassada, devido à ação de sobrecargas causadas por imprevistos no projeto
(alterações de tensões, terremotos, ventos, inundações, deslizamentos e explosões);
ocorre deficiência estrutural que se manifesta por rachaduras e deflexões excessivas.

41
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Trincas estruturais: as trincas estruturais podem ter larguras superiores a 0,5 mm e são
causadas por erros de cálculo, desconsideração de pressupostos de carga, especificação
inadequada de resistência do material e construção de seções sem respeitar os planos.

Desvios excessivos: entre as deformações excessivas causadas por movimentos


imprevistos, encontram-se aquelas que são produto de assentamentos de terras e
aquelas impostas por eventos fortuitos como desastres (terremoto, vento, inundações,
deslizamentos e explosões).

Se houver movimentos diferenciais na estrutura e ela não conseguir redistribuir as


cargas rapidamente, sofre falhas e fraturas nos elementos mais delgados e rígidos,
como nas paredes nos acabamentos (tetos, janelas e pisos).

Durante eventos intensos, como os desastres naturais mencionados, deformações da


estrutura podem facilmente levar ao colapso.

Choque e vibração

Choque e vibração podem propagar rachaduras, que se desenvolvem com o tempo.


O projeto estrutural leva em consideração o impacto, utilizando parâmetros
conservadores, por exemplo o projeto de uma estrutura que suporta maquinários
pesados pode considerar fatores de amplificação da carga temporária entre 25% e 33%.
O projeto de vibração deve considerar o efeito das cargas dinâmicas, evitando a
ressonância, que ocorre quando a frequência natural da estrutura de suporte é semelhante
à frequência da fonte vibratória.
A relação entre a frequência da estrutura e a frequência de perturbação deve estar fora
dos valores entre 0,5 e 1,5.

Abrasão

A resistência do concreto em resistir à abrasão é definida como a capacidade da


superfície de suportar o desgaste causado por atrito, erosão e cavitação causados por
um agente externo.

Fricção é o desgaste da superfície de pisos e pavimentos de concreto, devido à ação do


tráfego de caminhões, veículos e empilhadeiras, que geram arranhões e derrapagens.

A erosão é típica de obras hidráulicas (barragens, túneis, dutos, pilares de pontes e


canais), onde o fluxo de água carrega partículas sólidas que se desgastam na superfície.

42
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

A magnitude da erosão depende tanto das características mecânicas do fluxo (velocidade)


quanto das características das partículas sólidas (quantidade, tamanho, forma e dureza).

O fenômeno da cavitação se deve à formação de bolhas quando a velocidade da água é


alta e há diferenças de pressão entre a vazão e o vapor. As bolhas são criadas quando
a pressão do vapor é maior do que a pressão do fluxo. Essas bolhas viajam até atingir
uma área de alta pressão de fluxo, onde estouram abruptamente gerando uma onda
explosiva que produz buracos e cavidades no concreto. Esse fenômeno é típico de
dutos, túneis, aterros, sumidouros de energia e barragens de concreto.

Físico

As ações físicas vivenciadas pelo concreto, especificamente as mudanças de umidade


e temperatura, apresentam alterações volumétricas que causam trincas ou fissuras
como manifestação principal. Essas fissuras afetam a massa, peso unitário, porosidade,
permeabilidade e consequentemente a resistência do elemento estrutural.

Rachaduras devido a mudanças na umidade

As fissuras, que são produzidas pela presença alternada de umidade no ambiente, têm
a característica de atravessar a pasta de cimento e não o agregado.

Em estruturas que estão em contato com a água, principalmente obras hidráulicas,


como estacas ou alicerces de pontes, reservatórios, barragens e tubulações, pode haver
três áreas de deterioração:

» A área do elemento que nunca está em contato com a água pode sofrer
qualquer tipo de patologia devido à ação de substâncias agressivas do
meio ambiente (ácidos, sais, microrganismos) ou devido a mudanças de
temperatura.

» A área da estrutura que mais sofre deterioração é aquela onde ocorrem as


variações do nível da água, já que os efeitos das ações da primeira zona e o
produto do microcracking dos ciclos de umedecimento e secagem se combinam,
complicados pela ação erosiva das correntes de água e da aspersão.

» A área que está permanentemente submersa em água pode sofrer patologias


em função da permeabilidade e porosidade do elemento de concreto e das
características químicas da água que o rodeia.

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Rachaduras devido a mudanças de temperatura

As fissuras produzidas pelas mudanças de temperatura geralmente afetam tanto a


pasta de cimento quanto os agregados. Dentre os mecanismos de danos produzidos
por mudanças bruscas de temperatura (maiores que 20°C, segundo SÁNCHEZ, 2002),
podem ser considerados:

» Dilatação e contração devido às mudanças diárias de temperatura:

O concreto, como a maioria dos materiais, se expande quando a temperatura aumenta


e se contrai quando ela diminui. O gradiente de temperatura que produz esses efeitos
ocorre em regiões onde a radiação solar é intensa pela manhã e à noite ou à tarde há
ventos ou chuvas que baixam as temperaturas ambientais.

Se o elemento estrutural for delgado o suficiente, ele pode experimentar o fenômeno


de empenamento, pois onde ele tem uma temperatura mais alta, são apresentadas
tensões de tração, enquanto onde ele tem uma temperatura mais baixa o elemento é
comprimido.

Esse fenômeno ocorre comumente em pisos, pavimentos e paredes delgados, onde


são observadas fissuras por tração.

» Ciclos de congelamento e descongelamento:

Ocorrem tanto em locais de inverno com geadas, quanto em câmaras frigoríficas


(câmaras frigoríficas de supermercados ou indústrias).

Os danos à matriz de concreto pioram à medida que a mudança de temperatura é


maior e a saturação do material ultrapassa 85%. Isso ao se levar em consideração
que o mecanismo de falha ocorre quando a água que está dentro dos poros congela
e aumenta seu volume em aproximadamente 9%, causando tensões de tração entre a
pasta e o agregado, que produzem fissuras ao longo da profundidade do elemento e
da superfície delaminação.

Agregados graúdos com alta absorção e porosidade são facilmente saturados com água
vinda de fora, o que contribui para a deterioração do concreto, pois sofrem alterações
de volume interno (como a matriz de cimento) que fazem com que o agregado se
desintegre.

44
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

» Ataque de fogo:

A resistência mecânica do concreto pode ser seriamente afetada pela ação do fogo, por
danos à estrutura por descarbonatação e aumento da porosidade por microcracking.

Em qualquer incêndio que atinja temperaturas acima de 300°C ocorre uma diminuição
da resistência e do módulo de elasticidade e um aumento das deformações nos elementos
de concreto. Além disso, a água aplicada rapidamente pelos bombeiros produz umidade
excessiva que acelera o processo de rachadura e descamação da superfície.

Lixiviação

A lixiviação é uma forma branda de perturbação que ocorre quando a água dissolve
os componentes do concreto. O cimento Portland hidratado contém até 25% a 30% de
hidróxido de cálcio, Ca(OH)2, que é solúvel em água. Esse componente provavelmente
será lixiviado do concreto. Como o hidróxido de cálcio é mais solúvel em água fria,
a água proveniente de riachos ou represas nas montanhas é mais agressiva do que a
água mais quente.

A lixiviação produz uma aparência arenosa em superfícies de concreto expostas de


revestimentos de canal, calhas ou tubos. Se a água passar por rachaduras ou juntas, a
lixiviação também pode corroer o concreto interno. Em concreto poroso, com uma
alta relação água-cimento, a lixiviação pode remover hidróxido de cálcio suficiente
para reduzir a resistência do concreto. No entanto, geralmente é apenas um problema
cosmético.

Os aditivos podem ajudar a controlar a lixiviação por meio de dois mecanismos:


aumentando a permeabilidade e convertendo o hidróxido de cálcio solúvel em hidróxido
de silicato de cálcio insolúvel (CSH). As classes de aditivos que reduzem a permeabilidade
incluem redutores de água, superplastificantes e agentes incorporadores de ar. Na maioria
das condições, usando esses aditivos na taxa adequada, o concreto bem consolidado
controla adequadamente a lixiviação.

Aditivos como sílica ativa ou outros materiais cimentícios suplementares com


propriedades pozolânicas reduzem a permeabilidade e convertem parte do hidróxido
de cálcio em CSH insolúvel. Quando uma lixiviação mais severa é esperada, o custo
adicional de um aditivo de sílica ativa pode ser justificado.

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

Figura 11. Lixiviação.

Fonte: www.inovacivil.com.br/barragens/ Acesso em: 3 set. 2021.

Biológico
A presença de organismos e microrganismos de origem vegetal ou animal na superfície
de uma estrutura de concreto não só afeta a estética da obra, mas também pode causar
danos e deterioração física, mecânica, química e biológica.

Por exemplo, a vegetação e seus microrganismos associados podem reter e gerar umidade
(ciclos de umedecimento e secagem), e as raízes podem penetrar e crescer dentro dos
poros do concreto causando rachaduras devido às forças de expansão interna. No
desenvolvimento da vida de plantas e microrganismos, são geradas substâncias que
podem causar ataques químicos, como ácidos húmicos e sais produtos da decomposição
vegetal.

As condições que favorecem o estabelecimento e desenvolvimento de microrganismos


de origem vegetal e animal são as seguintes:

» A presença de água: qualquer tipo de vida necessita da presença de água


para se desenvolver. A água pode vir tanto do ambiente quanto dos poros
do concreto.

» A disponibilidade de nutrientes: alguns gases poluentes produzidos pelos


processos de combustão tornam-se alimentos para bactérias e fungos. Além
disso, a cal e alguns minerais no concreto são uma fonte de nutrientes para
certos micro-organismos.

46
Patologias em barragens de concreto | Unidade I

» Condições ambientais: as bactérias aeróbias requerem concentrações de


oxigênio superiores a 1 g/l, enquanto as anaeróbias requerem apenas 0,1 g/l
de oxigênio. A temperatura ambiente entre 20 e 35°C e a umidade relativa
superior a 80% favorecem o crescimento de bactérias.

» Superfície de colonização: é facilitada a criação de colônias de micro-


organismos em superfícies ásperas, que ofereçam a possibilidade de
ancoragem.

Algumas obras civis se distinguem pela presença de água, nutrientes, condições


ambientais de temperatura e umidade, que facilitam a proliferação de micro-organismos

Entre as estruturas mencionadas estão aquelas relacionadas à indústria de alimentos,


sistemas de tratamento de efluentes, processamento de matéria orgânica e armazenamento
de hidrocarbonetos.

O principal mecanismo de intemperismo e deterioração de origem biológica é o ataque


produzido por substâncias ácidas a partir da ação metabólica de micro-organismos e
dos produtos da degradação dos hidrocarbonetos

Quadro 3. Micro-organismos e ações sobre o concreto.

Micro-organismos Ações
Bactérias A maioria requer CO2 para seus processos metabólicos e excreta ácidos orgânicos, oxida o
enxofre em sulfato, que se mistura com o cimento para formar o sulfato de cálcio que produz o
ataque do sulfato no concreto. Além disso, ele forma nitratos, ácido sulfúrico, ácido acético e
gás sulfeto de hidrogênio causando corrosão do aço.
Fungos Os fungos são vegetais inferiores abundantes no solo e no ar. Eles produzem danos mecânicos
por rachaduras que causam o crescimento da raiz dentro do concreto, além
de ataque por ácidos orgânicos e formação de manchas e mofo.
Algas, liquens e musgos Eles são organismos vegetais (plantas) relacionados ao ambiente aquático. Utilizam o cálcio e
o magnésio do cimento como alimento, geram rachaduras e fissuras que facilitam a entrada de
substâncias agressivas.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os ácidos dissolvem a pasta de cimento e alguns agregados, além de favorecer a


corrosão das armaduras. Entre as substâncias agressivas produzidas pelo metabolismo
de bactérias estão: ácido sulfúrico, nítrico, cítrico, acético e húmico.

Alguns micro-organismos têm a capacidade de oxidar hidrocarbonetos em meio


aquoso, produzindo dióxido de carbono, metano, sais solúveis, benzeno, tolueno,
ferro reduzido e ácido acético.

47
Unidade I | Patologias em barragens de concreto

O fenômeno da bioerosão é um mecanismo de deterioração que ocorre no caso


específico do meio marinho e é causado basicamente por três organismos biológicos:

» Micro-organismos endolíticos (líquenes): penetram no concreto até 1 mm


atacando-o quimicamente.

» Organismos bioabrasionantes (moluscos): capazes de realizar uma abrasão


superficial em toda a seção de concreto.

» Organismos bioperfurantes: geram cavernas pela combinação de ação


química e mecânica, enfraquecendo a estrutura e dando lugar à água do
mar dentro da estrutura.

Esses organismos aceleram o processo de carbonatação típico de uma estrutura marinha.

Agentes internos

Reação alcalina-agregado (RAA)

Em 1940, o americano Thomas Stanton demonstrou que certos agregados reagiam


internamente com a pasta de cimento, causando degradação, dilatação e fissuração
dos elementos de concreto.

Constatou-se que o fenômeno ocorre em cimentos com alto teor de álcalis (óxidos de
sódio e potássio), por isso recebeu o nome de álcali-agregado.

Para que a reação ocorra, uma determinada concentração de álcalis (NaOH e KOH) deve
acontecer nos poros do concreto, somada à reatividade dos minerais nos agregados e
à condição de umidade do concreto.

Portanto, existe uma grande possibilidade de ocorrer uma reação álcali-agregado


em um concreto com alta concentração de álcali, composto por agregados reativos e
exposto a um ambiente úmido.
Quadro 4. Alguns agregados e minerais potencialmente radioativos

Agregados Minerais
Vidros vulcânicos Quartzo
Riolitos Opala
Latito calcedônia
Dacito Tridimita
Arenito Cristobalita

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Patologias em barragens de concreto | Unidade I

Calcário Dolomita Andesito


Filitos Heulandita
Gnaisse Dolomita
Fonte: Elaborado pelo autor.

Entre as reações álcali-agregado, três tipos são distinguidos:

» Álcalis-sílica

Alguns tipos de agregados contêm sílica reativa, que forma silicatos alcalinos (sílica
gel) na pasta de cimento, capazes de absorver água por osmose, exercendo grande
pressão nos poros do concreto, causando fissuras de dilatação.

Os fatores que definem a velocidade do fenômeno são: umidade, temperatura, quantidade


e granulometria dos agregados reativos e a concentração de álcalis nos poros do concreto.

» Álcalis-carbonato

Os agregados calcários do tipo dolomita produzem brucita e certos álcalis que, quando
expostos à umidade, aumentam de volume, induzindo forças de tração internas no
concreto, causando fissuras.

» Álcalis-silicato

Certas rochas sedimentares com alto teor de argilas compostas por camadas de silicatos,
produzem uma lenta expansão no concreto.

Formação de etringita diferida (EDF)

É uma reação sulfato interna, capaz de afetar o concreto sem a necessidade de uma
fonte externa de sulfato, em alguns casos associada à reação álcali-agregado (RAA).

O EDF causa grande expansão quando o concreto é endurecido, causando rachaduras


ao redor dos agregados. A principal manifestação do EDF são fissuras em forma de
mapa na superfície do elemento estrutural.

Durante o processo de hidratação do concreto, é normal que ocorra a formação de


etringita (sulfoaluminato de cálcio), que gera expansão no estado plástico do concreto.

De acordo com o estudo de Godart e Divet (2012) de cinco grandes obras de concreto,
a EDF poderia ocorrer quando existissem os seguintes fatores:

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Unidade I | Patologias em barragens de concreto

» A temperatura do concreto excedesse 60°C durante a fundição.

» O elemento de concreto fosse maciço (paredes, pilares e lajes da ponte).

» Usasse cimento com alto teor alcalino (SO3, C2S e C3A).

» Houvesse condições de alta temperatura e umidade.

» Usasse agregados contaminados com piritas que possuem alto teor de sulfato.

Retração de secagem

A retração por secagem é conhecida como retração hidráulica e consiste na diminuição


do volume do concreto endurecido, quando a maior parte da água evaporável da
mistura é liberada. A retração de um concreto normal varia entre 0,2 e 0,7 mm por
metro linear.

A evaporação depende de fatores externos ao concreto, tais como: velocidade do vento,


temperatura e umidade do ambiente, bem como das condições de cura. Porém, também
depende de fatores específicos da composição do concreto, tais como:

» Teor de cimento: um concreto com quantidade excessiva de cimento,


apresenta maior expansão e contração.

» Quantidade de água: quanto maior o teor de água da mistura, maior será


a água evaporável na pega e maior será a contração do concreto, gerando
um concreto poroso e altamente permeável.

» Natureza do agregado: agregados compactos, ásperos e duros como granitos


e alguns calcários, geram uma interface de adesão entre a pasta e o agregado,
que consegue controlar o encolhimento. Enquanto agregados como ardósias
e arenitos, eles absorvem água e produzem contrações duas a três vezes
maiores do que as do concreto normal.

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PATOLOGIAS EM
BARRAGENS DE UNIDADE II
TERRA

CAPÍTULO 1
Diagnóstico de patologias em
barragens de terra

Barragens de materiais soltos


As barragens de terra são as mais utilizadas desde os tempos antigos. O solo, como um
material componente nessas barragens, é o mais antigo dos materiais de construção
e o mais complexo pela sua variedade e diferentes propriedades.

Grandes esforços foram feitos por cientistas do século XX para resolver os problemas de
mecânica do solo e, com ela, o projeto e construção de barragens de terra. A construção
dessas obras é de vital importância para os seres humanos no desenvolvimento de
suas tarefas diárias.

Por ter um maior conhecimento da mecânica do solo, engenheiros têm métodos


mais racionais para seu estudo. Quando uma estrutura como essa está em estado de
falha, constitui uma grande preocupação para todos em especial para os residentes ao
seu entorno, uma falha não é apenas uma perda econômica, mas uma ameaça para a
segurança da população.

Barragens de material solto são aterros artificiais construídos para permitir a contenção
da água, seu armazenamento ou sua regulação. Nos séculos XIX e XX tiveram um
uso bastante difundido devido ao rápido desenvolvimento da técnica para trabalhar
com terra e rocha, e para a grande variedade de esquemas construtivos que permitem
o uso de praticamente qualquer piso encontrado na área, de materiais de granulação
fina até solos de rochas previamente fraturadas. Além disso, as barragens de materiais
soltos têm menos demandas sobre a deformabilidade da fundação do que qualquer
outro tipo de represa.

51
Unidade II | Patologias em barragens de terra

Figura12. Barragem de material solto

Fonte: /www.spancold.es/Archivos/JEIP-02_Presas_de_mat_sueltos_y_sus_patologias.pdf.Acesso em: 05 set. 2021.

As barragens devem oferecer condições seguras durante a construção e no curso de sua


operação. Para isso, é importante que haja uma boa coordenação entre projeto
e construção para garantir que se façam as correções necessárias para que os
trabalhos se encaixem da melhor forma possível às condições reais do campo.

Barragens, como qualquer outra estrutura em particular, consistem em um


processo produtivo (produção e regulação da água), requerem manutenção ou
conservação que permite um funcionamento ideal, para a correta exploração
dentro desse processo de produção.

Além disso, apresentam um risco potencial, o que nos obriga hoje a estabelecer
planos de manutenção para o seu correto funcionamento, que não é apenas
um problema com o bom funcionamento do processo de produção, mas está
relacionado à segurança.

Dada essa relação entre manutenção e segurança da barragem, deve ser incluído nos
regulamentos operacionais um protocolo que regula esta manutenção reduzindo
assim os riscos consideravelmente.

Atualmente, a modelagem da estrutura hidráulica se torna um grande recurso


em barragens de terra, oferecendo grandes vantagens, uma delas aumenta a
eficácia das investigações patológicas, a qual investiga as falhas encontradas
em estruturas hidráulicas, permitindo a modelagem para encontrar as soluções
mais racionais para os problemas das barragens estruturais, o que por sua vez
economiza recursos disponíveis.

A nível internacional, diferentes tipos de falhas de barragens de terra têm sido


investigados. Os pesquisadores buscam soluções específicas para o problema
em cada região.

52
Patologias em barragens de terra | Unidade II

Como resultado de vários estudos, destaca-se a seguinte ordem de ocorrência de falhas


graves ou catastróficas em material solto:

» transbordamento; infiltração; fissura transversal; deslizamento da


encosta das águas abaixo; terremotos; liquefação; erosão.

Falhas em barragens de materiais soltos


O conceito de falhas de barragens foi definido por vários autores que abordaram
este tema para estudo e aprofundamento ao longo do tempo. Se mostra de
acordo com os critérios utilizados por diversos pesquisadores, que têm sido
internacionalmente divulgados.

Em primeiro lugar, é necessário estabelecer que se considera falha quando uma


barragem não cumpre as funções para as quais foi criada. Porém, considerar
esta definição ao pé da letra, implica considerar como barragens falhas as que
não armazenam água quando essa era sua principal finalidade. Outro grupo que
também se encontra nessa definição é das barragens que foram assoreadas e,
portanto, não armazenam mais, nem regulam inundações.

No entanto, uma barragem que se tornou assoreada no tempo previsto, cumprindo


previamente a finalidade para a qual foi construída, não é de forma alguma uma
barragem falha.

Nesse sentido, uma falha é um movimento, fratura ou mau funcionamento de


alguma parte da barragem, de maneira que esta já cumpre seu objetivo principal
de projeto, a retenção da represa.

As falhas em barragens de terra podem ser classificadas de três formas:

» Ruptura violenta: são aquelas que liberam a água represada em poucas horas
criando uma grande inundação nas áreas abaixo. A barragem fica parcial
ou totalmente destruída.

» Ruptura com esvaziamento controlado: provocam ou requerem o


esvaziamento da represa e permitem fazê-lo de uma maneira controlada,
sem danos a pessoas ou propriedades. A represa necessita depois de uma
reparação importante para voltar a colocá-la em atividade novamente.

53
Unidade II | Patologias em barragens de terra

» Incidentes graves: seriam aquelas falhas que obrigam a uma limitação de


exploração, inclusive um esvaziamento parcial, para restituir a funcionalidade
da represa. Em caso de represas em construção, é obrigado a paralisar a obra
e reconsiderar o projeto.

É obvio que podem haver situações de difícil catalogação em algum dos grupos
anteriores. Particularmente é difícil marcar uma fronteira entre o que seria um
incidente ou uma falha menor que possa ser reparada dentro do que seria uma
normal manutenção das barragens. Alguns técnicos tratam de minimizar esse
limite como inferior, por questões econômicas, estabelecendo para os custos de
reparação correspondente, uma quantidade fixa ou uma quantidade variável em
função do custo total de construção.

As falhas que mais interessam do ponto de vista da segurança são as rupturas drásticas
e aquelas falhas em que a exploração da represa fica limitada ou a construção da
obra paralisada e, portanto, esse critério (capacidade de operação limitada) é o
que se propõe para qualificar a falha como incidente grave. As restantes seriam
consideradas falhas menores.

54
CAPÍTULO 2
Considerações sobre as falhas em
barragens de terra

Transbordamento
O transbordamento ocorre quando o nível da água represada excede o nível da crista
do aterro, causando a erosão do corpo da estrutura e causando o fracasso imediato
da barragem, uma vez que seus materiais não estão preparados para funcionar como
um açude.

Existem várias razões pelas quais as barragens podem falhar dessa forma, sendo que
a principal causa é a insuficiência do vertedouro, devido a uma má estimativa de
inundação durante o projeto da barragem.
Figura 13. Barragem de Tous 1982 – Transbordamento

Fonte: /www.abc.es/archivo/fotos/el-embalse-de-tous-tras-la-rotura-de-su-presa-debida-a-la-crecida-7404881.html.
Acesso em: 16 set. 2021.

O sistema inadequado do controle do nível de água no reservatório pode ocorrer por


causa dos seguintes problemas:

» não há vertedouros ou sistema de escape;

» eles existem, mas ainda não estão prontos para funcionar;

» eles não funcionam porque seu projeto tem problemas de funcionamento;

» eles não estão sujeitos a manutenção adequada;

» as instruções de operação ou protocolos não são claros.

55
Unidade II | Patologias em barragens de terra

T1. Infiltração
Conforme a infiltração ocorre, a água exerce uma força de arrasto sobre as partículas.
No interior de um solo uniforme, cada partícula é mantida no lugar pela coerção do que
a cerca. No entanto, se a infiltração emergir para o exterior, as partículas localizadas no
contorno não são anexadas e, se o gradiente for suficiente, elas podem ser arrastadas
para o lado de fora; com isso, as partículas localizadas atrás agora estão em contato
com o exterior, e podem, por sua vez, ser varridas.

Isso pode levar a um fenômeno progressivo que vai de jusante para montante, criando
vazios tubulares e cavernas que podem levar à ruína da obra.

O perigo do fenômeno da tubulação (vazios tubulares) aumenta à medida que o tamanho


das partículas diminui. Com isso, a importância das forças de arrasto de superfície
aumenta em relação com o peso das partículas.

Essa tendência não é indefinida, uma vez que em siltes e argilas as partículas tendem a
flocular, formando grupos de partículas que estão ligadas entre si e que se comportam
como partículas maiores.

Um fator que contribui para a infiltração é a compactação insuficiente do aterro, o


que deixa alguma camada solta e descompacta. Isto é particularmente comum perto
dos muros ou superfícies de concreto, como dutos ou canos.

Os chamados solos argilosos “dispersivos” são propensos a este tipo de falha. Em


geral, esse tipo de solo apresenta alto teor de sódio (Na) na água intersticial, com uma
estrutura dispersa da qual eles tiraram seu nome.

Este tipo de solo é erodido por um processo em que partículas de argila coloidal ficam
suspensas em água de infiltração, causando falha do sifão, mesmo sob gradientes
hidráulicos baixos e filtros adequadamente projetados.

As “argilas dispersivas” têm sido a causa de falhas de sifonagem em barragens de terra


em vários países, como Austrália, Venezuela, México, Estados Unidos, Brasil, Vietnã
e outros, desde os anos 1960.

Para evitar a infiltração pelo aterro, as seguintes etapas devem ser executadas
durante o projeto e construção: usar solos resistentes ao arrastamento de partículas;
compactá-los com alta energia de compactação, a fim de obter maior intertravamento
entre partículas.

56
Patologias em barragens de terra | Unidade II

Figura 14. Barragem de Teton 1976 – Infiltração e erosão interna

Fonte: en.wikipedia.org/wiki/Teton_Dam. Acesso em: 16 set. 2021.

Fissuras
Segundo Armas (2002), a fissura origina-se quando da deformação a barragem produz
zonas de tração, que aparecem por assentamento diferencial do solo, quer por deformação
do próprio corpo de aterro quer do terreno de fundação. Assim, por essas razões a
barragem pode ser deformada de várias maneiras. Os sistemas de rachaduras que o
engenheiro pode encontrar em suas inspeções de barragens são de imensa variedade.

As rachaduras podem aparecer paralelas ou transversais ao eixo da barragem e a


orientação do plano de fissura pode ser praticamente qualquer um. A fissura ou trinca
pode ocorrer com larguras abertas de até 15 cm ou 20 cm, embora sejam mais comuns
as de 1 cm ou 2 cm. Pequenas represas são as que mais sofrem com o fenômeno, mas
também ocorre com frequência no topo de barragens altas.

O fato de represas menores serem as mais suscetíveis a este problema, pode ser devido
ao fato de que as pressões grandes que existem dentro das maiores barragens protegem
o solo.

As fissuras mais perigosas são aquelas que ocorrem transversalmente ao eixo da


crista da barragem, pois criam uma zona de concentração de fluxo; são produzidos
geralmente pelo assentamento diferencial, próximo às encostas do vale, em relação
à área central do leito do rio. A condição mais perigosa para este processo de fissura
é que o terreno sobre o qual a barragem é construída seja compressível. As fissuras
longitudinais costumam ocorrer quando os taludes das barragens se assentam mais do
que o seu núcleo, o que é típico em seções com um núcleo impermeável de material
bem compactado e laterais pesados de ​​ rocha (ARMAS, 2002).

57
Unidade II | Patologias em barragens de terra

Outro tipo de fissura não menos importante são as internas, invisíveis na superfície da
represa, havendo várias maneiras pelas quais elas podem ocorrer. A existência de uma
pequena lente de argila mais compressível do que o resto no solo de fundação causaria
trações criando as trincas. Barragens de núcleo de argila são mais compressíveis do
que as laterais de rocha incompressíveis, levam ao assentamento do núcleo mais do
que os taludes causando fissuras no material impermeável.

Figura 15. Fissuras na Barragem da Farinha.

Fonte: radioespinharas.com.br/post.php?codigo=22727. Acesso em: 05 set. 2021.

Falha de estabilidade em encostas


Um deslizamento de encosta nada mais é do que um deslizamento de terra, porque
o peso do uma massa de solo é maior do que sua própria resistência ao cisalhamento
em um plano favorável ao deslizar. Envolve um grande número de forças, a mais
importante das quais sendo a gravidade, pois, quando excede em magnitude aquelas
que se opõem a ela, faz o solo deslizar.

O deslocamento é gerado ao longo de um plano denominado “superfície de falha”,


cuja geometria real só é conhecida quando já ocorreu, mas quase sempre tem uma
forma curva.

58
Patologias em barragens de terra | Unidade II

Falhas por deslizamento de encostas podem ocorrer em três estágios da vida útil das
barragens de terra:

» no final da construção;

» durante a operação;

» após um rápido esvaziamento do reservatório.

Falhas no final da construção

Essas falhas foram menos frequentes do que as que ocorreram durante a operação;
e suas consequências nunca foram catastróficas (a barragem está vazia, pelo menos
parcialmente, o equipamento de construção ainda está no local facilitando a reparação).
Elas foram apresentadas acima de tudo em barragens fundadas em argilas moles, com
grande parte da superfície da falha nesse material e pode ser rápida ou lenta, dependendo
do material de fundação. Se esse for um material homogêneo ou com estratificações,
favorece o movimento.

Falha durante a operação

Falhas de deslizamento de encosta que ocorreram durante o período operacional de


barragens de terra têm sido principalmente de dois tipos: profundas, com superfície
de falha geralmente invadindo solos de fundação argilosos, e superficiais, afetando
apenas pequenos volumes da encosta. A inclinação afetada é sempre a jusante.

Falha após rápido esvaziamento do reservatório

Segundo Ágreda (2005), uma das condições críticas para a estabilidade do talude acima
de uma barragem de materiais soltos é a chamada “descarga rápida”. Se o nível da água
no reservatório cair rapidamente e o material que compõe o corpo da barragem não
drenar facilmente, podem manter as pressões intersticiais na área afetada pela mudança
do nível da água próxima aos originais (antes da descarga), enquanto desaparece o efeito
estabilizador da pressão da água sobre a face da encosta. Portanto, a velocidade de descarga
máxima permitida deve ser relacionada à capacidade de drenagem (permeabilidade)
do material da barragem.

Esse tipo de deslizamento afeta a encosta a montante e é muito perigoso, pois pode
obstruir a passagem de água pelas galerias e obras de captação.

59
Unidade II | Patologias em barragens de terra

Para evitar falha devido à estabilidade de encosta, solos granulares devem ser selecionados,
que são mais resistentes ao esforço de cisalhamento, que deve ser colocado no aterro
com alta energia de compactação e baixa umidade. Outra medida que está ao alcance
de engenheiros, é projetar as encostas com fator de segurança contra deslizamento
cumprindo com o que estabelecem as normas, construindo então as inclinações
adequadas, o que garante que a falha por deslizamento não ocorra.

Se, pelo contrário, forem selecionados solos finos, levando a uma baixa resistência de
pressão na qual necessitará aplicar forte compactação, então, será necessário recorrer
à variação da inclinação das encostas, tornando-as menos inclinadas, para garantir
fatores de segurança que evitem a ocorrência de falha de deslizamento (ARMAS, 2002).

Falha por sismos


De acordo com as recomendações da Comissão Internacional de Grandes Barragens
(ICOLD), as barragens são verificadas em dois cenários: o sismo de operação normal
e sismo de segurança, que geralmente coincide com o máximo credível para o local da
barragem. Sujeito ao sismo operacional normal, espera-se que a barragem seja capaz
de resistir à ação sísmica com pequenos danos, de forma que não envolva interrupção
do seu funcionamento. Por outro lado, a verificação com o sismo da segurança tem
como objetivo verificar se a barragem não coloca em risco vidas humanas e ativos
localizados a jusante dela. Sobre esse sismo, espera-se que a estrutura não desmorone
ou chegue a uma situação de vazamento de água não controlado, embora admita-se
que danos significativos ocorram e até mesmo a barragem fique fora de serviço e seja
necessário esvaziar o reservatório.

Em barragens feitas de materiais soltos, os fenômenos a serem levados em consideração


durante um sismo geralmente são: a ocorrência de deformações plásticas, liquefação
ou mobilidade cíclica de material granular saturado, localização de deformações em
superfícies deslizantes, acúmulo de deformações permanentes, fissuras, problemas de
grandes deformações e fluxo de água com erosão de partículas.

Certos indícios sugerem que os terremotos que causam mais danos às barragens em
períodos mais longos (frequências mais baixas) do que aqueles que causam destruição
máxima em edifícios. Por esse motivo, barragens bem próximas ao epicentro de um
sismo podem se sair melhor do que outras localizadas a distâncias muito maiores
(ARMAS, 2002).

60
Patologias em barragens de terra | Unidade II

Falha de liquefação
Para que esse fenômeno ocorra, três requisitos devem ser atendidos; primeiro que
seja um chão liquidificável, e que, depois de saturado, ocorra um sismo ou terremoto.

Levando em consideração o que afirma Armas (2002), o fenômeno de liquefação está


associado a lodo e areia não plástica. No caso de uma barragem de barro, a liquefação de
materiais leva ao seu derramamento em grandes áreas, até adotar encostas irregulares
e muito íngremes.

Como já mencionado, os solos mais suscetíveis à liquefação são os solos finos e não
coesivos de estrutura solta e saturada. Essas características descrevem as areias finas e
uniformes, e finos não plásticos, ou suas misturas. Areias soltas com D10 <0,1 mm e
coeficiente de uniformidade, Cu <5 e siltes com Ip <6% são os materiais mais perigosos.

A forma de evitar este tipo de falha está no correto estudo de geologia-engenharia


dos materiais que constituem a fundação e os empréstimos que são selecionados para
a construção do aterro.

Perdas por vazamento


Para os casos de barragens de terra cujo objetivo principal é o armazenamento,
constituiria uma falha grave a infiltração da água do reservatório, seja por fundação
ou por aterro, o que impede que atinja seu objetivo de armazenamento de água.

Esses vazamentos são principalmente devidos à insuficiência de planejamento e estudos


da geologia da bacia do rio em que será construído o reservatório. Solos com estratos
cársticos ou áreas de cavernas são muito propensos a este tipo de falha devido a sua
permeabilidade.

Erosão
A erosão se dá quando, em geral pela ação da água, provoca o que chamamos de
carreamento do material da barragem.

61
Unidade II | Patologias em barragens de terra

Figura 16. Erosão em talude na barragem da Vale em Itapira MG

Fonte: /www.falachico.org/2017/05/erosao-em-talude-da-barragem-da-vale-em.html. Acesso em: 05 set. 2021.

Figura 17. Piping

Fonte: /www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/comissoes/comissoes-temporarias/externas/55a-legislatura/rompimento-de-barragem-na-
regiao-de-mariana-mg/documentos/audiencias-publicas/aloysio-portugal-maia-saliba-professor-de-engenharia-hidraulica-barragens-de-
rejeitos Acesso em: 05 set. 2021..

Geralmente, a água da chuva escorre provocando a formação de ravinas que, com


o passar da ação do tempo, aumentam originando erosões maiores. Pode ocorrer
também o fenômeno chamado piping, que se caracteriza como uma espécie de erosão
interna que cria canais no interior da barragem facilitando o carreamento de materiais
e mais infiltrações. Tal fenômeno, em geral, é causado por vazamento nas estruturas
de drenagem ou em função de infiltrações na barragem.

É considerado a provável causa para o rompimento da barragem em Brumadinho, onde


os rejeitos represados sofreram uma liquefação, ou seja, tiveram uma transformação,
e seu conteúdo se tornou mais líquido provocando infiltrações na barragem.

62
Patologias em barragens de terra | Unidade II

Surgência
Chamamos de surgência quando a água se infiltra em local não previsto nas estruturas
das barragens. A água localizada em locais inapropriados pode modificar as propriedades
do material que foi utilizado na barragem, como, por exemplo, a coesão entre as
partículas, o que poderá gerar instabilidade na barragem. Patologia como esta, em
geral, é causada por possível entupimento das drenagens ou falhas de projeto.

Figura 17. Surgência em Barragem

Fonte: /www.inovacivil.com.br/barragens/. Acesso em: 05 set. 2021.

63
RISCOS,
VULNERABILIDADES
E MINIMIZAÇÃO DE UNIDADE III
RISCOS

CAPÍTULO 1
Riscos e vulnerabilidades

Conceito de riscos
O risco de um projeto é um evento ou condição incerta que, se ocorrer, tem um efeito
positivo ou negativo em um ou mais dos objetivos de um projeto, como: tempo,
custo, escopo ou qualidade, ou seja, quando a meta de tempo de um projeto é cumprir
o cronograma acordado; quando o objetivo de custo do projeto é atender ao custo
acordado etc.

As organizações percebem os riscos como relacionados a ameaças ao sucesso do projeto


ou por oportunidades de melhorar as chances de sucesso do projeto. Os riscos que são
ameaças ao projeto podem ser aceitos se estiverem em equilíbrio com o benefício que
pode ser obtido ao tomá-lo.

Os riscos que constituem oportunidades, como a aceleração do trabalho que pode ser
alcançada com a atribuição de pessoal adicional, podem ser monitorados para beneficiar
os objetivos do projeto.

Para cada projeto, a abordagem deve ter um enfoque consistente ao risco que atenda
aos requisitos da organização e da comunicação sobre o risco e seu tratamento deve
ser aberto e honesto. As respostas aos riscos refletem o equilíbrio percebido de uma
organização entre correr e evitar riscos.

Para ter sucesso, a organização deve estar comprometida em abordar a gestão de risco
de forma proativa e consistente durante todo o projeto.

64
Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos | Unidade III

Um risco pode ter uma ou mais causas e, se ocorrer, um ou mais impactos. Por exemplo,
uma causa pode ser a necessidade de uma licença ambiental para fazer o trabalho, ou
o pessoal limitado para elaborar o projeto.

O evento de risco nesses casos seria que a agência licenciadora pode demorar mais
do que o esperado para emitir a licença, a equipe de projeto disponível é insuficiente
para a atividade. Se acontecer algum desses eventos incertos, pode haver um impacto
no custo, cronograma ou desempenho do projeto.

As condições de perigo podem incluir aspectos do entorno do projeto ou da organização


que pode contribuir para o risco do projeto, como práticas inadequadas, gestão de
projetos, falta de sistemas de gestão integrados, vários projetos concomitantes ou
dependência de participantes externos que não podem ser controlados.

O risco do projeto tem origem na incerteza que está presente em todos os projetos.
Existem diferentes tipos de riscos. Riscos conhecidos são aqueles que foram identificados
e analisados, e é possível planejar as ações a serem tomadas a este respeito como será
visto nas seções sucessivas.

Riscos desconhecidos não podem ser gerenciados proativamente, e uma resposta


prudente da equipe do projeto pode ser atribuir uma contingência geral contratual de
riscos, bem como contra riscos conhecidos para os quais talvez possa não ser lucrativo
ou possível desenvolver respostas proativas.

O risco é composto por três componentes essenciais:

» uma fonte ou razão de risco definível;

» probabilidade de ocorrência;

» consequência da ocorrência (impacto).

Outras características que distinguem os riscos são:

» Os riscos são situacionais: os riscos variam dramaticamente de situação para


situação de outros. O uso eficiente de ferramentas e técnicas pode ajudar a
mitigar esses riscos.

» Os riscos podem ser interdependentes: os riscos costumam estar relacionados.


A resposta de um risco pode causar um novo risco ou aumentar ou diminuir
o impacto de um já existente.

65
Unidade III | Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos

» Os riscos dependem da magnitude: um certo risco pode ser aceito, por


exemplo, se os benefícios e oportunidades potenciais forem maiores.

» Os riscos são baseados em valor: o nível de tolerância ao risco varia de uma


pessoa para outra. Tanto os indivíduos quanto a empresa influenciam a
tolerância ao risco.

» Os riscos são baseados no tempo: o risco é um fenômeno do futuro causado


por ações atuais. O tempo também afeta a percepção de risco. Dependendo
de quando o risco ocorre, a percepção muda.

Quando ocorre um evento de risco, ele não é mais incerto e não é mais um risco. Os
riscos que ocorrem, podem ser chamados de fatos ou problemas; as oportunidades
que ocorrem podem ser chamadas benefícios. Tanto os fatos/problemas quanto os
benefícios são necessárias ações de gestão de projetos que estão fora do escopo dos
processos de gestão de riscos do projeto.

Risco de ruptura de barragens


Todas as barragens são construídas sob critérios de segurança, mas existem vários
fatores além do desenho do projeto que podem afetar a confiabilidade, para a qual há
maior incerteza devido à variabilidade hidrológica gerada pelas mudanças climáticas.

Uma ruptura pode ser definida como uma descarga violenta e descontrolada, originada na
formação de um vão de descarga na cortina de uma barragem, que gera uma inundação
em forma de onda no vale do rio que fica a jusante do reservatório.

Em todo o mundo, rompimentos de barragens foram registrados ao longo da história,


destacando-se recentemente os casos da barragem Patel no Quênia e Xepian-Xe Nam
Noy no Laos, além da crise do Hidroituango na Colômbia que não provocou mais danos.

Essas contingências atraem fortemente a atenção pelo grande número de vítimas e


comunidades afetadas ou deslocadas, bem como pelo impacto comunicacional que
geram em nossa sociedade.

Não há estimativa da população mundial vulnerável a rompimento de barragens,


no entanto, levando-se em consideração que os vales dos rios que são regulados por
barragens são os mais propícios à agricultura e assentamentos humanos, 40% da
população mundial está diretamente vulnerável a esse tipo de desastre e cerca de 80%

66
Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos | Unidade III

a danos colaterais, que incluem cortes nas vias de comunicação, eletricidade e água
potável, além de perdas em safras e infraestrutura.

Figura 18. Barragem Dique de Cierre

Fonte: /brasil.elpais.com/brasil/2017/02/14/internacional/1487052401_654768.html. Acesso em: 11 set. 2021.

Nem todas as barragens apresentam a mesma vulnerabilidade. O risco e a violência do


evento variam de acordo com a altura da barragem e o volume de água armazenado,
e nem todos os casos de rompimento são devidos aos mesmos fatores.

Em geral, as barragens mais vulneráveis ​​são aquelas construídas com materiais soltos
que, por sua natureza de fácil dispersão ou erosão hidráulica, principalmente barragens
de terra homogênea, são as mais comuns e representam 90% dos casos de falha. Entre
os principais fatores de risco temos:

» terremotos e transbordamentos;

» problemas de projeto ou construção;

» materiais inadequados;

» má manutenção;

» instabilidade de fundação ou base;

» infiltração e subpressões;

» falhas do vertedouro hidráulico;

» operação ruim.

67
Unidade III | Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos

De acordo com a Comissão Internacional de Grandes Barragens ICOLD, a manifestação


desses fatores pode desencadear, dependendo de sua recorrência nos eventos registrados,
o transbordamento na crista da barragem (38%), infiltração e tubificação no interior
da barragem (3 3%), falhas de fundação (23%) e outros gatilhos (6%).

Na América Latina, estima-se que existam mais de 15.000 barragens, como referência.
No Registro Mundial de Barragens ICOLD, a América Latina tem 2.449 barragens
registradas. Essas estruturas a serem consideradas no registro devem ter uma altura
de 15 metros ou mais medida da base mais baixa à crista; ou entre 5 e 15 metros de
altura com um volume superior a 3 milhões de metros cúbicos de aterro.
Quadro 5. Barragens registradas pelo ICOLD na América Latina.

Pais Represas
Brasil 1364
México 570
Argentina 114
Chile 97
Venezuela 78
Colômbia 64
Peru 63
Bolívia 33
Panamá 23
Costa Rica 13
Honduras 10
Guatemala 8
Uruguay 8

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 19. Barragem Hidroituango (Colômbia)

Fonte: /elpais.com/internacional/2020-09-08/errores-de-diseno-del-proyecto-energetico-mas-grande-de-colombia-amenazaron-a-100000-
personas.html. Acesso em: 11 set. 2021.

68
Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos | Unidade III

Apesar da probabilidade de ruptura de uma barragem ser muito baixa do ponto de vista
estatístico, considerando o número de barragens construídas e aquelas que falharam,
não deve ser negligenciada uma avaliação de risco que forneça informações para um
plano de emergência. Isso deve, inclusive, ser considerado desde a fase de projeto, se
levarmos em conta que muitas contingências foram geradas durante a construção e
enchimento do reservatório, como aconteceu no projeto Hidroituango (Colômbia).

Riscos individuais e riscos totais do projeto


É útil considerar os riscos do projeto em dois níveis: riscos individuais e riscos do
projeto total.

Os riscos individuais são eventos ou condições específicas que podem afetar os objetivos
do projeto. Um risco individual pode afetar positiva ou negativamente um ou mais dos
objetivos, elementos ou tarefas do projeto. Entender os riscos individuais pode ajudar
a determinar como aplicar esforços e recursos para melhorar as chances de sucesso do
projeto. A gestão diária de riscos do projeto tem enfoque nos riscos individuais para
melhorar a perspectiva de um resultado bem-sucedido para ele.

Os riscos totais do projeto representam o efeito da incerteza no projeto como um todo.


Os riscos do projeto total são mais do que a soma dos seus riscos individuais, uma
vez que se aplicam ao projeto como um todo, e não a elementos ou tarefas individual.
Eles representam a exposição das partes interessadas às implicações de variações no
resultado do projeto.

Os riscos são um componente importante para a tomada de decisões estratégicas,


gerenciamento de portfólio e programa, e a governabilidade de projetos, na qual os
investimentos são aprovados ou cancelados e as prioridades são definidas.

Nesses níveis elevados, é necessário definir metas realistas para o custo e a duração
do projeto, estabelecer os níveis de reserva de contingência necessários para proteger
as partes interessadas do projeto, definir apropriadamente as prioridades do projeto e
julgar se o risco de êxito geral aumenta ou diminui conforme avança a implantação.

Outros pontos importantes para considerar na gestão de riscos são:

» Identificar e analisar as atitudes das partes interessadas em relação ao risco.

» Compreender que a gestão de riscos é um processo iterativo e, portanto,


deve ser executado ao longo da vida do projeto.

69
Unidade III | Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos

» O gerenciamento de riscos do projeto não pode ser feito isoladamente. O


sucesso reside fortemente na comunicação durante todo o processo.

» Deve ser considerado simplista dizer que “a responsabilidade pela gestão


de risco é de todos”; No entanto, é importante que a gestão de risco de um
projeto não seja deixada nas mãos de alguns especialistas em risco.

» O gerente de projeto tem total responsabilidade pela entrega de um


projeto bem-sucedido que satisfaça plenamente os objetivos definidos,
sendo responsável pelo gerenciamento de projetos cotidianos, incluindo
gerenciamento efetivo de riscos.

70
CAPÍTULO 2
Planos de contingência e emergência

Plano de resposta ao risco


O plano de respostas ao risco é o processo de desenvolver e determinar ações para
melhorar as oportunidades e reduzir as ameaças aos objetivos do projeto. A seguir,
quando houver necessidade, se faz as análise qualitativa e quantitativa dos riscos.

O plano de resposta aos riscos se dá com base em sua prioridade, introduzindo recursos
e atividades no orçamento, cronograma e plano de gerenciamento de projetos, conforme
necessário.

O planejamento de respostas aos riscos deverá se centrar principalmente nos riscos de


alto impacto. Ainda que a equipe de projeto possa escolher não se centrar nos riscos
de baixo impacto, esses riscos devem ser monitorados e seguidos, pois a probabilidade
de ocorrência, e seu impacto, podem mudar à medida que o projeto avança. O que
inicialmente foi considerado um risco de baixo impacto pode mudar e se transformar
em um risco de alto impacto.

Tarefas para planejamento de resposta a riscos


As tarefas relacionadas ao planejamento de respostas de riscos são descritas a seguir:

» desenvolvimento de estratégia de resposta ao risco;

» identificação do proprietário do risco;

» desenvolvimento e implementação do plano de estratégia de risco;

» avaliação da estratégia e dos planos de resposta;

» implementação dos planos de contingência para riscos aceitos;

» determinação dos riscos residuais;

» determinação da reserva de contingência para riscos do projeto;

» Para planejar o plano de resposta, a equipe do projeto deve se concentrar


pelo menos nesses riscos de alto impacto.

71
Unidade III | Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos

Desenvolvimento de estratégia de resposta ao


risco
O desenvolvimento de estratégias de gestão de risco envolve a identificação de várias
estratégias em resposta a cada risco, nesse sentido, é necessário avaliar a eficácia de
cada opção e selecionar a melhor.

Para cada risco, várias estratégias ou alternativas podem ser aplicadas. A equipe do
projeto deve identificar essas alternativas, avaliar seus méritos individualmente e
selecionar a que oferece a melhor solução. Pode acontecer que a própria equipe do
projeto trabalhe como grupo no desenvolvimento de estratégias para cada risco, ou
seja o gerente de projeto é quem divide os riscos entre os membros da equipe com base
em sua experiência. Cada membro da equipe trabalharia, nesse último caso, de forma
independente nos riscos atribuídos, determinaria as opções disponíveis e selecionaria
a maioria apropriada.

Identificar o responsável pelo risco


É muito importante atribuir um responsável para cada risco. O responsável pelo risco
deve envolver-se no desenvolvimento da estratégia e ações de resposta para tal risco
e para controlar e gerenciar os riscos durante o projeto.
O responsável pelo risco pode ser alguém de fora da equipe do projeto, por exemplo,
um representante comercial pode ser o responsável pelos riscos comerciais.
Desenvolvimento e implementação do plano de estratégia de risco
Ações para apoiar a estratégia de resposta, caso ocorra um risco, devem ser desenvolvidas.
Esse conjunto de ações forma o “Plano de Resposta”. Os planos associados às estratégias
de resposta ao risco “Transferir”, “Mitigar” e “Evitar” são implementados como parte
da estrutura analítica do trabalho contemplando seu custo no orçamento do projeto.
Eles são realizados como mostrado no plano do projeto e periodicamente seu status é
avaliado para determinar se é necessário tomar outras medidas.
Se a estratégia de resposta ao risco for “Aceitação”, pode não haver plano de resposta
(aceitação passiva), ou não existir um “Plano de Contingência” (aceitação ativa). Planos
de contingência dos riscos de aceitação ativa, estão contemplados em um cadastro de
riscos junto com seu custo, tempo e/ou recursos necessários para implementá-los.

72
Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos | Unidade III

O custo da implementação do plano de contingência está incluso na reserva de orçamento


para riscos. Nesses tipos de riscos tratados desta forma, é importante identificar e
monitorar os gatilhos para determinar com rapidez e precisão quando ativar o plano.

O plano de contingência é ativado quando o risco ocorre. Quando apropriado, você


pode definir um plano alternativo para usar caso o plano de contingência falhe. O
plano de contingência, bem como o plano alternativo, deve ser incluído no plano do
projeto (tempo, recursos, custo) e deve ser rastreado, desde que o gerente do projeto
os tenha aprovado.

Avaliar a estratégia e os planos de resposta


A equipe do projeto deve levar em consideração que a implementação de respostas
e ações associadas pode criar novos riscos. Cada estratégia deve ser avaliada em seus
méritos e em como isso afeta outros elementos do projeto. Se riscos adicionais forem
identificados, riscos e causas devem ser analisados.

73
CAPÍTULO 3
Minimização de riscos

Implementar planos de contingência para riscos


aceitos
Quando ocorre um risco, estratégias de resposta de aceitação são usadas, tanto passivas
quanto ativas. Para garantir que a resposta aos riscos seja implementada conforme
planejado, o responsável por esse risco controla o estado do risco até o seu fechamento.

A implementação de um plano de contingência requer o uso da reserva de contingência


para riscos. Depois de ativar a estratégia de aceitação, o gerente de projeto deve revisar
o plano do projeto para refletir sobre o custo de implementação da ação (tempo, pessoas
e dinheiro). Essa revisão é necessária, pois o custo não está incluso na estimativa
original e deverá ser anotado no registro de risco.

Determinar os riscos residuais


Depois de desenvolver e implementar um plano de resposta, pode não ser possível
eliminar completamente o risco, ou pode ser que esta implantação implique novas
atividades no projeto que afetam outros elementos, o que pode criar novos riscos.
Por esse motivo, é importante atribuir responsáveis de risco (proprietários de risco),
quem ficará encarregado de manter o status dos riscos, monitorá-los e implementar
os planos de resposta.

Qualquer risco que permaneça, que não possa ser eliminado, após ter sido implementado
um plano de resposta ao risco é chamado de “Risco residual”, e deve ser identificado
e analisado como qualquer outro risco.

É particularmente importante que sejam estabelecidas estratégias para mitigar, transferir


ou evitar esses riscos uma vez que o valor esperado de riscos residuais está incluído
no orçamento de reserva para contingências de riscos.

Determinar a reserva de risco do projeto


Uma reserva de risco orçamentário é um adendo no orçamento do projeto usado
para reduzir o impacto negativo dos riscos (ou aumentar os positivos), respeitando

74
Riscos, vulnerabilidades e minimização de riscos | Unidade III

as margens estabelecidas para o projeto. A reserva de risco inclui uma “Reserva de


Contingência” e uma “Reserva de Manejo” cujo dono é o administrador do projeto,
que sempre precisa da aprovação da empresa.

A reserva de contingência é a soma do valor esperado para riscos com uma estratégia
de resposta e o valor esperado para riscos residuais, por exemplo, para esses riscos com
estratégias de resposta, como “mitigação” (riscos conhecidos, mas não controlável).

A reserva de gerenciamento é um valor específico do orçamento do projeto, geralmente


uma porcentagem dela, que é retida por razões de controle de gestão e reservada para
cobrir os imprevistos no âmbito do projeto. O propósito de reservar é contemplar as
variáveis ​​desconhecidas que podem afetar um projeto.

Um problema importante a levar em consideração na reserva de gestão são os riscos


incógnitos do projeto. O método recomendado para lidar com esse problema é adicionar
uma entrada única no registro de risco para todo o conjunto de riscos desconhecidos
tratando-os como mais um risco, dando-lhes uma descrição, calculando sua probabilidade
e impacto e desenvolvendo uma estratégia de resposta de “adesão”.

Mitigação
Mitigar o risco envolve a redução da probabilidade e/ou impacto de um evento de risco
adverso a um limite aceitável. Tomar medidas precoces para reduzir a probabilidade
da ocorrência de um risco e/ou seu impacto no projeto é muitas vezes mais eficaz do
que tentar reparar o dano após a ocorrência do impacto.

Normalmente, isso requer mudanças no plano do projeto, como adicionar atividades


e recursos, adotar processos menos complexos, realizar mais testes ou selecionar um
provedor mais estável para abordar o risco de forma proativa. Esses são exemplos de
ações de mitigação.

Os custos associados aos planos de resposta com estratégias de mitigação, transferência e


prevenção deve ser incluído no orçamento do projeto, não no orçamento de reserva de
contingência de risco, pois, nesses casos, sabe-se qual o custo e quando se comprometer
a responder a todos os riscos.

Onde não é possível reduzir a probabilidade, uma resposta de mitigação pode abordar
o impacto do risco, lidando especificamente com os elementos que determinam sua
gravidade. Por exemplo, projetar redundância em um subsistema pode reduzir o
impacto resultante de uma falha do componente original.

75
GESTÃO DE RISCOS
EM BARRAGENS UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
Gestão da segurança baseada em
riscos

Gestão de riscos
As usinas hidrelétricas podem armazenar e fornecer energia renovável sob demanda,
requerem relativamente pouca manutenção e têm baixos custos operacionais. No
entanto, elas podem ser caras para construir e vulneráveis a​​ eventos naturais, além se
sofrer problemas nos equipamentos causados por umidade relativamente alta, água
que pode ser ácida ou conter bactérias, areia ou detritos.
A gestão de riscos dentro de um projeto tem o objetivo fundamental de reduzir as
repercussões negativas deles. Portanto, para isso, é necessário identificar as áreas de
oportunidade a alcançar e as ameaças a controlar e, por sua vez, estabelecer um Plano
de Gestão de Riscos com seus respectivos gestores. A razão de ser da Gestão de Riscos
é prever continuamente os possíveis problemas para realizar ações dentro do prazo,
em vez de improvisar e buscar soluções tardias.
A Análise de Risco é uma ferramenta útil para a tomada de decisão, pois permite integrar
todas as informações sobre segurança de barragens que são analisadas separadamente
em outros documentos. Por exemplo, um cálculo hidrológico e rotativo pode mostrar
que a barragem não é capaz de funcionar mediante aspectos recomendados pelos
regulamentos. Um cálculo de estabilidade que produz um fator de segurança menor
do que o recomendado mostra que a barragem pode ter um problema de segurança
a esse respeito. Durante as atividades de manutenção, pode ser detectado que um
equipamento não está funcionando corretamente.
O monitoramento da auscultação da barragem pode detectar infiltração aumentada,
deslocamento de bloqueio ou aumento da pressão dos poros e permitir uma ação
76
Gestão de riscos em barragens | Unidade IV

antes que leve a um problema grave. Ao realizar ou revisar um plano de emergência,


medidas podem ser projetadas para aumentar a segurança da população no caso de
rompimento de uma barragem.

Atualmente, graças à Análise de Riscos, existe uma ferramenta que permite integrá-los
e medir a importância de cada uma para a segurança da barragem. É justamente essa
capacidade integrativa uma das maiores vantagens da Análise de Riscos.

Ao realizar uma análise de risco, é feito um modelo global da barragem que inclui desde
os estresses (hidrológicos, sísmicos ou outros) até as consequências, passando pela
resposta do sistema. Esse modelo de risco é alimentado pelas informações fornecidas
pelos diversos documentos de segurança de barragens e encontradas em seu arquivo
técnico.

Alguns dos documentos mais relevantes são o Plano de Emergência, o Regulamento


de Funcionamento, os Relatórios Anuais, as Revisões de Segurança e os Relatórios
de Comportamento, mas ao realizar uma Análise de Risco todo o arquivo técnico é
estudado e também é feita uma visita de campo para complementar as informações
contidas nesses documentos.

Uma vez feito o modelo e inseridas todas as informações sobre a barragem, é possível
avaliar a importância de cada uma dessas questões.

Além disso, a comparação com recomendações internacionais sobre tolerabilidade ao


risco permite contextualizar o estado atual da barragem. Esse processo é denominado
avaliação de riscos. Também é possível avaliar o impacto e a eficiência de possíveis
medidas de redução de risco e comparar homogeneamente a eficácia e eficiência de
medidas de redução de risco em diferentes barragens. Finalmente, modelos conjuntos
de sistemas de barragens múltiplos podem ser feitos para otimizar sua gestão conjunta.

O modelo de risco é a ferramenta que permite integrar todas as informações sobre a


segurança da barragem e produzir resultados úteis para a tomada de decisões.

O modelo de risco é dividido em três áreas: os estresses, as probabilidades de falha


(também conhecidas como resposta do sistema) e as consequências. Cada uma dessas
três áreas do modelo de risco corresponde a um ou mais documentos do arquivo
técnico. As regras operacionais foram representadas como um documento transversal
que cobre todas as áreas.

77
Unidade IV | Gestão de riscos em barragens

Percebe-se também que a relação entre o arquivo técnico e o modelo de risco é


bidirecional. A relação da esquerda para a direita representa que o modelo de risco
requer o arquivo técnico como fonte de informação. A relação da direita para a esquerda
indica que no processo de fazer um modelo são geradas informações de risco que
podem ser reincorporadas ao arquivo técnico. Por exemplo, uma revisão da segurança
de barragens pode se beneficiar dos resultados derivados de um modelo de risco. Mas
também, por exemplo, ser capaz de avaliar diferentes estratégias de gestão pode levar
à melhoria dos regulamentos operacionais ou Planos de Emergência.

O processo da análise de riscos


A primeira etapa de uma Análise de Risco consiste, como em qualquer outro tipo de
estudo, em determinar seu escopo, objetivos e prazos. Nem sempre é aconselhável
realizar uma análise de risco com o máximo nível de detalhamento. Às vezes, um
processo iterativo em que na primeira análise do risco de uma barragem há um menor
grau de detalhe pode ser mais eficiente em identificar aspectos que devem ser estudados
em maior detalhe ou em identificar aquelas barragens que precisam de intervenção
imediata quando se faz para um grupo de barragens.

Nessa fase preliminar, também deve ser formada a equipe de profissionais que fará
parte da análise, que deve incluir o gestor da barragem. A possibilidade de ter um
revisor externo também é muito positiva.

O processo de revisão do arquivo técnico é especialmente relevante em uma Análise


de Risco. Não se trata apenas de coletar informações, mas essas informações são
discutidas em uma ou mais sessões de grupo. Neste ponto da análise, as necessidades de
estudos adicionais podem ser identificadas. O aprimoramento, estruturação e revisão
das informações do arquivo técnico são, por si sós, um dos benefícios imediatos da
realização de uma análise de risco.

Uma vez que todo o grupo teve a oportunidade de consultar as informações sobre a
barragem, deve ser feita uma vistoria na barragem, para verificar o seu estado atual e
identificar possíveis problemas nela. Esta visita de campo termina com uma discussão
em grupo sobre o estado atual da barragem.

A identificação dos modos de ruptura é um processo realizado em grupo e que procura


identificar, descrever e estruturar todas as formas possíveis de ruptura da barragem,
sem se restringir a uma lista pré-determinada de verificações.

78
Gestão de riscos em barragens | Unidade IV

Os seguintes pontos na análise de risco consistem na construção de um modelo de


risco quantitativo: arquitetura do modelo, análise de cargas, probabilidades de falha e
consequências e cálculo de risco.

Ao explicar o esquema geral de gerenciamento de segurança baseado em risco, a avaliação


de risco consiste em responder à pergunta se os riscos existentes são toleráveis.

O processo de análise de risco deve ser aplicado ao estado atual da barragem, mas
também ao estado futuro da barragem após a eventual aplicação das medidas de
redução de risco consideradas adequadas, de forma a avaliar a sua eficácia e eficiência. É
também um processo que deve ser atualizado e revisado ao longo do tempo conforme
as condições da barragem mudam.

A identificação e caracterização dos modos de


falha
Dentro do processo global de análise de risco, a identificação dos modos de falha é a
etapa anterior para a realização do modelo de risco. É uma etapa muito importante,
pois, se um modo de falha relevante não for capturado nas sessões de identificação de
modo de falha, o modelo de risco não o capturaria e o risco calculado poderia estar
muito longe do real. Em outras palavras, a identificação dos modos de falha estabelece
o escopo e a robustez do modelo de risco.

Identificar os modos de falha é fundamental para a abordagem baseada em risco. Não


é surpreendente, portanto, que ele seja usado há muito tempo. Na década de 1960,
a indústria aeroespacial, que foi pioneira junto à indústria nuclear na aplicação de
metodologias baseadas em risco, desenvolveu um processo sistemático conhecido
como Análise de Modos e Efeitos de Falha.

A análise de modos e efeitos de falha consiste em várias etapas. Primeiro, é feita uma
lista de todos os componentes do sistema e suas funções. Todos os perigos possíveis e
todas as maneiras possíveis em que alguns dos elementos do sistema podem parar de
funcionar corretamente e os efeitos que isso teria são identificados.

Os efeitos locais são primeiro analisados (no próprio elemento) e então progressivamente
o efeito no sistema completo é visto. No primeiro caso, todos os modos de falha são
estudados sem prestar atenção à sua probabilidade de ocorrência. Existem tabelas e
folhas para orientar o processo.

79
CAPÍTULO 2
Modelo de risco

Abordagem
Primeiramente, uma série de arquiteturas de modelo de risco genérico é apresentada
para os diferentes cenários de solicitação. A seguir, uma seção é dedicada a cada uma
das entradas do modelo de risco. Por fim, uma seção é dedicada ao cálculo do modelo
de risco e outra a algumas recomendações sobre o nível de detalhamento a ser usado
em cada um dos cálculos.

Cada uma das seções termina com um exemplo. O exemplo não corresponde a nenhum
caso real e seu objetivo é puramente demonstrativo.

Arquitetura do modelo de risco


A primeira etapa na criação de um modelo de risco é definir sua arquitetura. Ao definir
a arquitetura, decide-se quais variáveis ​​serão incluídas no modelo e quais serão seus
relacionamentos. Além disso, dependendo dos modos de falha que surgiram durante
a identificação e caracterização dos modos de falha, será necessário fazer um modelo
de risco para cada um dos cenários de estresse a serem estudados. Nesta seção, três
arquiteturas genéricas são apresentadas para os cenários normal, hidrológico e sísmico.
Os modelos de risco são representados por diagramas de influência.

A estimativa da probabilidade de falha na análise


de risco
O estudo da probabilidade de falha é uma das peças necessárias para alimentar o modelo
de risco uma vez definida sua arquitetura. No campo da segurança de barragens, é um
estudo que normalmente não é realizado fora do âmbito da análise de risco.

Dos três componentes de risco (tensões, probabilidade de falha e consequências), o estudo


trata do segundo. O estudo das probabilidades de falha segue a identificação dos modos
de falha: antes que este estudo possa ser realizado, é necessário ter identificado todos
os modos de falha a serem incluídos no modelo e desdobrá-los em seus mecanismos
de falha.

80
Gestão de riscos em barragens | Unidade IV

Para realizar uma análise de risco quantitativa, uma vez que o modo de falha foi
decomposto em etapas bem definidas, as probabilidades de cada uma delas devem ser
estimadas.

A decomposição é feita com base nos eventos e nos diagramas de influência. Para estimar
cada probabilidade individual, várias ferramentas estão disponíveis, principalmente:

» técnicas de confiabilidade;

» avaliação especializada;

» uso de metodologias específicas para estimar a probabilidade de falha.

Por sua vez, essas ferramentas são baseadas em outras como modelos numéricos
(determinísticos e estatísticos).

Dentro do mesmo modo de falha, é válido estimar algumas probabilidades por meio de
julgamento de especialistas e outras por meio de técnicas de confiabilidade. Também
é possível usar ambos para estimar a mesma probabilidade, uma vez que as técnicas
de confiabilidade requerem dados que podem ser estimados por meio do julgamento
de especialistas.

Análise de riscos
Os principais critérios de segurança que o empreendedor deve levar em consideração,
dentre todos aqueles que julgar necessários, são descritos durante o desenho das
principais obras.

Deve-se preparar o projeto de controle de segurança global do trabalho, contemplando


todos os aspectos e etapas que são mencionados no regulamento fornecido pelos órgãos
fiscalizadores, e apresentá-lo para sua avaliação, ajuste e posterior aceitação no caso.

Entre os aspectos e configurações que devem ser considerados, destacam-se:

» Uma etapa preliminar de verificação das hipóteses do projeto; confirmação


e adequação dos dados básicos; conformidade com os padrões do projeto.

» A determinação dos valores limite das diferentes forças externas intervenientes


nas estruturas, de forma a quantificar futuramente, pela instrumentação, o
grau de segurança das estruturas.

81
Unidade IV | Gestão de riscos em barragens

» No caso hipotético de detecção em algum setor da obra, de potenciais


futuras anomalias, prever as metodologias de correção, bem como dotar o
projeto das características necessárias à sua realização, incluindo disposições
adequadas para acesso a todas as áreas críticas e componentes estruturais
para reparação ou reconstrução.

» O empreendedor deve realizar, sem que isso implique qualquer limitação,


as seguintes ações quanto aos critérios e métodos do projeto: verificar a
confiabilidade dos dados originalmente utilizados, a adequação dos métodos
de cálculo e análise, de acordo com os critérios do projeto, e a adequação e
validade das decisões do projeto.

» Quanto às características hidrológicas, regime de cheias, condições de


avaliação e transporte do material em suspensão e por arraste do leito do
rio: verificar os critérios e magnitudes básicas derivados de cálculos teóricos
por meio de comparação com registros históricos e vice-versa. Se o último
for insuficiente ou não estiver disponível, aplicam-se procedimentos de
correlação. Verificar a exatidão dos resultados.

» Relativamente às condições a jusante: verificar se o projeto incluiu a


investigação e, se necessário, a melhoria das condições de evacuação.

» Quanto às limitações da zona de inundação a jusante da barragem: investigar


possíveis obstáculos existentes ou previstos e o uso atual do solo na área de
inundação, bem como possíveis danos à vida e à propriedade devido ao efeito
das águas das inundações a jusante da barragem. Conferir o programa de
aproveitamento das obras de socorro e planos de operação do reservatório.

» Quanto à gestão do rio e sua bacia: verificar a compatibilidade da gestão e


aproveitamento do rio e da sua bacia hidrográfica com os critérios de projeto
da barragem e reservatório.

» O empreendedor poderá seguir as orientações estabelecidas pelos órgãos


reguladores, adotando os critérios para obras novas ou existentes, conforme
o caso.

82
Gestão de riscos em barragens | Unidade IV

Para a verificação da segurança estrutural do projeto, o responsável deve realizar, sem


que isso implique qualquer limitação, as seguintes ações:

» Quanto aos critérios de projeto: verificar as hipóteses do projeto, adequação


e precisão dos dados que serviram de ponto de partida e os resultados
dos testes, conveniência dos métodos utilizados na análise, conformidade
com os padrões do projeto e validade de decisões com atenção especial à
compatibilidade com a tecnologia mais recente.

» Quanto aos estados de carga e coeficientes de segurança: verificar as cargas


e combinações de cargas atuantes, sua qualificação em normal, eventuais
e extremas, bem como os coeficientes de segurança aplicados nos cálculos
para tais diferentes condições das várias cargas. Serão incluídos aqueles
que possam surgir durante a construção e operação, como entupimento
de reservatórios ou fim de sua vida útil. Se forem usados ​​materiais não
convencionais, verificar se eles foram testados adequadamente por meio
de pesquisas cuidadosas teóricas e práticas.

» Quanto à estabilidade das fundações: verificar a compatibilidade entre as


amplitudes e profundidade das investigações realizadas, testes laboratoriais
e processo dos dados compatíveis com as características e importância das
estruturas. Verificar a adequação do tratamento dado à fundação de acordo
com a natureza e qualidade dos materiais que a formam em relação ao tipo
de estrutura escolhido.

» Quanto às forças internas e a deformação das estruturas: verificar tensões e


deformações abaixo da construção e cargas finais para fins de comparações
futuras. Verificar se as deformações não afetam a operação dos elementos
hidroeletromecânicos necessários para o manuseio do nível do reservatório.

» Com relação à deterioração de materiais: revisar os métodos de construção


especificados e o escopo das investigações dos materiais utilizados, a fim
de evitar que, com o tempo ou em contato com outros materiais ou água,
possam perder suas características iniciais.

» Em relação a percolação e subpressão: verificar os potenciais hidráulicos e


pressões intersticiais que serão gerados pela carga do reservatório no maciço de
fundação, para fins de sua utilização nos cálculos de estabilidade da barragem
e sua futura comparação com os dados medidos pela instrumentação.

83
Unidade IV | Gestão de riscos em barragens

» Quanto à resposta da atividade sísmica: realizar a verificação de acordo com o

» grau de sismicidade local determinado de acordo com a categorização da


barragem, considerando tanto o natural quanto o possível induzido pelo
reservatório. Verificar tensões, formações e ampliação da estrutura sob a
ação de terremotos.

» Quanto aos equipamentos elétricos e mecânicos: verificar se o projeto tem


os equipamentos essenciais que garante condições de operação confiáveis ​​em
possíveis situações excepcionais ou de emergência. Verificar as disposições do
manual de operação e manutenção que será necessário para a sua manutenção
e para o acesso a esses equipamentos em condições climáticas severas.

» Além disso, é imprescindível o reconhecimento geológico da área, estudos


de falhas geológicas e fazer estudos sísmicos na região para prever problemas
futuros nesse sentido.

» Desenvolve estudos e análise de riscos em todas as etapas de construção


da barragem até o enchimento do reservatório e, com o resultado desses
estudos, produzir planos de contingência ou planos emergenciais.

84
CAPÍTULO 3
Gestão de risco durante a construção

Processos de gerenciamento de risco na


construção
A Gestão de Riscos na Construção requer uma metodologia de trabalho ordenado
e sequencial, na qual os riscos e incertezas são gerenciados ao longo de diferentes
processos: eles começam a partir do momento em que são identificados até que sejam
monitorados e controlados, passando pelas etapas de análise e planejamento das ações
de resposta a riscos.

Essa série de processos dinâmicos permite que os riscos de um projeto de construção


sejam adequadamente controlados durante sua execução, por meio de uma boa gestão
do fluxo de informação e comunicação, análise, pesquisa e revisão de documentos,
aplicando para tudo isso uma série de técnicas nos processos envolvidos.

Os processos que compreendem a gestão de riscos se repetem constantemente durante


a fase de execução do projeto, já que o processo de identificação e registro de riscos
se dá permanentemente.

Deste ponto de vista, pode-se dizer que a gestão de riscos é um grande processo
cíclico que se desenvolve desde a fase de planejamento da construção e segue na fase
de execução de um projeto.

Os processos de Gerenciamento de Risco são:

» Planejar o gerenciamento de riscos, definir o escopo e os objetivos dos


processos de gerenciamento de riscos do projeto, e garantir que os processos
de risco estejam totalmente integrados em um gerenciamento de projeto
global. Em termos práticos, decidir como planejar as tarefas relacionadas à
gestão de riscos, ou seja, como esse gerenciamento vai ser feito.

» Identificar os riscos, determinar quais riscos podem afetar o projeto e


documentar suas características.

» fazer a análise qualitativa de risco, avaliar as características-chave dos riscos


individuais permitindo a priorização para ações futuras.

85
Unidade IV | Gestão de riscos em barragens

» Fazer a análise quantitativa de risco, avaliar o efeito combinado dos riscos


no resultado geral do projeto.

» Planejar respostas aos riscos, determinar estratégias e ações de resposta


apropriada para cada risco individual e para o risco geral do projeto, e os
integrar em um plano de gerenciamento de projeto consolidado.

» Monitorar e controlar os riscos, monitorar, analisar e atualizar o status dos


riscos e planos de resposta. Monitorar os riscos residuais, identificar novos
riscos, procurar a presença de “gatilhos” de risco, executar planos de redução
de risco e avaliar sua eficácia ao longo do ciclo de vida do projeto.

» Fechar o gerenciamento de riscos, documentar as lições aprendidas como


parte do processo de encerramento do projeto, adotar melhorias de registros
para processos de gestão de risco, modelos e ferramentas e para outros
processos de projeto, modelos e ferramentas para reduzir futuras exposições
a riscos.

Embora os processos ordenados sequencialmente tenham sido apresentados, o que


acontece na realidade é que eles interagem entre si e até se sobrepõem.

Cada processo envolve a participação dos membros da equipe do projeto, que podem
desenvolver um ou mais processos ao mesmo tempo, sem afetar o fluxo de informações
inerente a esta cadeia de processo. Este é mais um motivo pelo qual a estrutura do
processo de gestão de riscos na construção deve ser definida corretamente.

Tarefas para o planejamento de gerenciamento de


risco
O objetivo do plano de gestão de risco é descrever como as atividades de gestão de
riscos são organizados e realizados ao longo do ciclo de vida do projeto para garantir
que o esforço investido seja apropriado de acordo com a importância do projeto para
o cliente e para a própria organização.

O planejamento de risco é um processo iterativo e deve começar o mais rapidamente


possível no estágio de avaliação de oportunidades.

86
Gestão de riscos em barragens | Unidade IV

As tarefas relacionadas a este processo são:

» revisar as entradas de risco;

» revisar o processo de risco de ponta a ponta;

» definir a lista de atividades de gerenciamento de risco;

» estimar o esforço dos riscos;

» atribuir recursos aos riscos;

» definir as ferramentas a serem utilizadas;

» elaborar planejamento de riscos e orçamento;

» atualizar plano de compromisso.

O plano de gestão de risco descreve como a gestão de risco será estruturada e executada
no projeto. O plano de gerenciamento de risco inclui:

» Metodologia, define os métodos, ferramentas e fontes de informação que


podem ser usados para
​​ realizar o gerenciamento de riscos no projeto.

» Funções e responsabilidades, define o líder, suporte e membros da equipe


de gestão de risco para cada tipo de atividade no plano de gestão de risco,
atribui pessoas a essas funções e explica suas responsabilidades.

» Elaboração do orçamento, aloca recursos e estima os custos necessários para


a gestão de riscos para incluí-los na linha de base dos custos do projeto.

» Calendário/Periodicidade, define quando e com que frequência o processo


de gestão de riscos é realizado, e estabelece as atividades de gestão de riscos
que será incluída no cronograma do projeto.

» Categorias de risco, fornece uma estrutura que garante um processo completo


de identificação sistemática de risco com um nível uniforme de detalhe, e
contribui para a eficácia e qualidade da identificação de riscos.

De acordo com a nova Política Nacional de Segurança de Barragens o empreendedor


ficará obrigado a reparar os danos à vida, ao meio ambiente e aos patrimônios públicos
e privados em caso de desastre.

O órgão fiscalizador poderá exigir que seja apresentada, de forma não cumulativa, caução,
seguro, fiança ou qualquer outra garantia financeira ou real aos empreendimentos
que sejam barragens de rejeitos de minérios, resíduos de indústrias ou nucleares que

87
Unidade IV | Gestão de riscos em barragens

estejam classificadas como de médio ou alto risco e barragens hidrelétricas classificadas


como de alto risco.

O Plano de Ação Emergencial (PAE) é outra exigência no planejamento de segurança


de barragens de alto e médio dano potencial associado ou de alto risco de acordo com
o órgão fiscalizador. Além disso, sua elaboração passa a ser obrigatória inclusive a
todas as barragens de rejeitos de mineração.

O PAE também necessita estar inserido no Sistema Nacional de Informações sobre


Segurança de Barragens, devendo estar disponível no site da empresa e de forma
impressa para que possa ser consultado sempre que solicitado.

Cópias deverão estar impressas na própria empresa e também enviadas aos órgãos
de proteção e defesa civil ou prefeitura dos municípios que foram inseridos no mapa
dentro da área de inundação.

No Plano de Ação Emergencial, devem constar os procedimentos necessários para


identificar e notificar problemas que envolvem o funcionamento, as condições potenciais
de rompimento ou outros acontecimentos anormais; procedimentos preventivos e
corretivos e ações mitigatórias em resposta a situações emergenciais. Deverá conter
programas de treinamento para os envolvidos e também para as comunidades que
poderão ser afetadas, prevendo, dessa maneira, a simulação periódica de acidentes.
Deverá conter também, no Plano de Ação Emergencial, medidas para agilizar o resgate
de pessoas e animais além da proteção do patrimônio cultural e medidas para mitigar
os impactos ambientais e garantir o abastecimento de água.

Deverá estar inserido no Plano de Ação Emergencial: cadastro atualizado e mapeamento


da população inseridos na zona ZAS; identificação das vulnerabilidades sociais;
estabelecimento de rotas de fuga e pontos de encontro com as devidas sinalizações;
e, por fim, manutenção de um plano de comunicação com todos os envolvidos, em
especial com os responsáveis do PAE na empresa, prefeituras, defesa civil da região
abrangente, hospitais etc.

O empreendedor deverá promover reuniões com a comunidade antes de dar início


ao primeiro enchimento do reservatório, no intuito de apresentar o Plano de Ação
Emergencial e explicar as medidas preventivas.

No Plano de Ação Emergencial ficarão estabelecidas as ações e medidas a serem


executadas pela empresa em caso de emergência além de identificado quem será
notificado em tal situação.

88
REFERÊNCIAS

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