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Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE ÚNICA
SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS...................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DE PROBLEMAS CRÍTICOS DE SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS.......................... 9
CAPÍTULO 2
AMEAÇAS E VULNERABILIDADES MAIS COMUMENTE ENCONTRADAS........................................ 46
CAPÍTULO 3
TIPOS DE EVENTOS.................................................................................................................. 50
CAPÍTULO 4
CONTROLE DE ACESSO.......................................................................................................... 54
CAPÍTULO 5
CONTROLE DE MULTIDÃO....................................................................................................... 58
CAPÍTULO 6
MANIFESTAÇÕES, TUMULTOS E DISTÚRBIOS CIVIS...................................................................... 61
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 66
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).
Avaliação Final
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Introdução
Os eventos de grande público possuem características próprias e considerações a serem
feitas em diversas áreas do conhecimento. Nessa disciplina, estudaremos os aspectos
de segurança relacionados a essas situações, apresentando problemas ocorridos em
diferentes locais e épocas, bem como propondo soluções e medidas de mitigação,
prevenção e preparação.
O Brasil tem sediado importantes eventos, como os Jogos Panamericanos, Copa das
Confederações, Copa do Mundo de Futebol, campeonatos mundiais de diferentes
modalidades, Jogos Olímpicos de 2016, dentre muitos outros.
É fundamental que os profissionais que lidam com grandes eventos estejam preparados
para atuar e conhecer as nuances e peculiaridades da segurança, aplicados.
Objetivos
»» Apresentar os conceitos adotados na segurança de grandes eventos.
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SEGURANÇA EM UNIDADE ÚNICA
GRANDES EVENTOS
CAPÍTULO 1
Histórico de problemas críticos de
segurança em grandes eventos
George Santayana
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
É também bastante utilizada a ideia de que para cada metro quadrado, podemos ter cerca
de 3 pessoas em pé, ou 1-2 sentadas. Eventos muito cheios, podem ter até 4 pessoas/
metro quadrado e em situações extremas, até 6 ou 7. Assim, se as mil pessoas de um
evento estiverem espalhadas por uma área muito grande, o conceito de concentração
de público fica perdida, portanto, deixa de existir a ideia, nesse caso, de um evento de
grande porte. Como exemplo, temos as manifestações em via pública, onde podemos
ter duas mil pessoas se dirigindo a um determinado local, mas enquanto não estão
de fato concentradas, não temos ainda um evento de grande porte. Por outro lado, se
temos um ambiente com capacidade reduzida, onde há uma concentração de 4 pessoas/
metro quadrado, ainda que não tenhamos mil pessoas, podemos ter uma situação de
evento de grande porte. Uma danceteria com 600 pessoas em um espaço de 150 metros
quadrados, pode ser considerado um evento de grande público.
Por que algumas estimativas são tão diferentes, dependendo de quem as realiza?
Geralmente os organizadores informam um número inflacionado de público para
valorizar o evento. Por outro lado, em eventos onde não há venda de ingressos, a
estimativa passa a ser visual e, sobretudo em eventos noturnos, por vezes fica difícil
definir se há uma concentração de 3 ou de 4 pessoas/metro quadrado. Ou seja, uma
área de 20.000 metros quadrados, estando lotada, pode ter de 60.000-80.000 pessoas,
conforme a análise do observador.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Contudo, a definição do que é ou não um evento de grande porte, para fins de segurança,
deve ser particularizado conforme o local (cidade) onde o evento será realizado. Para
grandes capitais, públicos de 1.000 pessoas podem ser facilmente controlados por
diferentes técnicas e medidas de controle de multidões, enquanto para cidades de
pequeno porte, públicos de 400 pessoas podem ser um grande desafio. Assim, cabe
às secretarias de segurança estaduais e órgãos congêneres nos municípios, a definição
do que constitui um evento de grande público e as medidas a serem tomadas nestas
circunstâncias.
Assim, uma vez entendido o conceito de mass gathering, vamos tratar do conceito
de mass casualty. Todo evento de grande porte, chamamos de mass gathering, mas
apenas aqueles que resultam em grande número de mortos e/ou feridos, são chamados
de mass casualty. Assim, todo mass casualty era inicialmente um mass gathering,
mas o inverso não é verdadeiro. A tradução para mass casualty pode ser a de incidente
com múltiplas vítimas. É importante, no entanto, que se conheça a nomenclatura em
inglês, para estudos complementares, uma vez que a maioria dos artigos nesta área é
escrita nesse idioma. Qualquer incidente com várias vítimas é um mass casualty. Nesse
contexto, iremos apenas abordar aqueles de alguma forma decorrentes de eventos de
grande público. Um exemplo de mass casualty foi o atentado terrorista à maratona de
Boston em 2013, com três mortos e mais de 260 feridos.
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
com as normas emanadas dos órgãos de segurança, de tal forma a não comprometer o
direito da população de ir e vir (não bloqueando rodovias) bem como seguindo trajeto
previamente acordado.
Diversos eventos de grande público resultaram em tragédias. Para estudo nesse curso,
analisaremos alguns ocorridos desde o início do século XX, até os dias atuais.
O oficial do corpo de bombeiros de Chicago havia verificado, por exemplo, que não havia
extintores, sistemas de extinção automáticos ou qualquer outro tipo de mecanismo
voltado para o combate a incêndio, exceto, seis tubos de uma substância à época
conhecida por “kilfyre”, que era composta essencialmente por bicarbonato de sódio e
voltada para apagar pequenos focos de incêndio em chaminés domésticas.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
O teatro possuía três andares, o térreo era onde também estava o palco e nos demais
o acesso se dava por escadas. Em situações de emergência, quem estava nos andares
superiores, necessitava descer para o térreo para então conseguir escapar.
No dia 30 de dezembro de 1903, véspera do réveillon, o teatro estava com sua capacidade
de 1.700 lugares, bastante ultrapassada. A estimativa era de que havia pelo menos
2.200 pessoas; a maioria, crianças. Pela falta de assentos, muitas pessoas resolveram
sentar-se nos corredores, dificultando a saída e o deslocamento dos demais. Por volta
das 15h, no início do segundo ato, um curto-circuito atingiu uma cortina altamente
inflamável e o incêndio começou. Um funcionário tentou apagar as chamas com os
frascos de Kylfire, mas rapidamente o incêndio atingiu o andar de cima e espalhou-se
pelo teatro. As pessoas tentaram encontrar saídas de emergência, que, no entanto, ou
estavam escondidas por tapeçarias, ou eram mal localizadas, ou ainda, possuíam um
sistema de basculante desconhecido pela maioria das pessoas. A tentativa de abrir uma
janela ampla, para ventilar o local, produziu uma enorme “bola de fogo” causando mais
vítimas. Durante o incêndio, um ator mirim tentou controlar o pânico, subindo ao palco
e pedindo calma à multidão.
Como resultado, houve 602 mortos e centenas de feridos. Foi o pior incêndio em um
edifício na história dos Estados Unidos, até os dias atuais.
Fonte: <http://journeytofirefighter.com/602-lives-the-iroquois-theater-fire-of-1903/#sthash.tvOxDB37.dpuf>
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Assim, temos como causas principais para esse incêndio, os seguintes elementos:
»» superlotação;
Como medidas de segurança que passaram a ser adotadas nos Estados Unidos após
esta tragédia, podemos citar a obrigatoriedade das barras de pânico nas saídas de
emergência, a obrigatoriedade de que as portas de emergência abram para fora e que
todo teatro passasse a ter uma cortina de asbesto ou cortina antichamas, testada antes
do início dos espetáculos, para isolar o palco do público.
Como veremos mais a frente, essas mesmas causas de incêndio se repetiram muitas
vezes ao longo da história, inclusive por ocasião da tragédia da boate Kiss, em Santa
Maria, mais de 100 anos depois.
Em 1918, em Hong Kong, durante uma corrida de cavalos, um incêndio também foi
responsável pela morte de pelo menos 618 pessoas, podendo ter chegado a 670 vítimas,
além de centenas de feridos.
Havia um prédio principal onde ficavam as pessoas com maior poder aquisitivo e onde
também estavam as arquibancadas e a cozinha principal, localizada no andar térreo. A
construção era toda de bambu. O incêndio teve início nas dependências da cozinha, que
rapidamente se alastrou, provocando o colapso dos prédios. Não havia equipamentos de
proteção contra incêndio e nem saídas de emergência. Havia aproximadamente 10.000
pessoas no local. Não havia uma única construção, mas várias delas, com capacidade
cada uma de cerca de 300 espectadores. O fogo e a fumaça no entanto rapidamente
tomaram conta do local. Havia cerca de 50 policiais designados para a segurança, dos
quais apenas 8 estavam próximos à pista de corrida e nenhum voltado para fiscalizar as
condições de segurança das instalações.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Fonte: <http://www.macstudies.net/2013/01/14/fire-at-the-races-the-true-story-of-the-1918-fire-at-happy-valley-race-course/>
Causas do incêndio:
»» infraestrutura inadequada;
Em 1942, na cidade de Boston, uma nova tragédia seria conhecida. Eram anos difíceis,
em plena II Guerra Mundial, e um bar que oferecia espaço para as pessoas ouvirem
música, namorar e dançar, era conhecido na região. Chamava-se Cocoanut Groove
e havia pertencido, anteriormente, a pessoas ligadas ao crime organizado e o dono
mantinha estreitos laços de amizade tanto com a máfia, como com o prefeito da cidade.
O ambiente do clube noturno era caribenho. Para isto, havia muitas palmeiras artificiais,
de plástico, assim como, cadeiras e mesas de bambu e outros materiais que remetiam
ao Caribe.
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Por causa da guerra, era necessário que as luzes externas estivessem sempre apagadas
(blackout), com vistas a evitar um ataque aéreo do inimigo. Os Estados Unidos ainda
estavam traumatizados com o ataque surpresa ocorrido em Pearl Harbor, menos de
um ano, antes (dezembro de 1941), quando milhares de americanos foram mortos, por
aviões japoneses.
Assim, a decoração da boate não era perceptível na área externa, mas o interior estava
bastante decorado, com muitas luzes, enfeites de plástico e papel e embora estivesse
muito bonita, também era bastante inflamável.
Muito se especulou sobre a causa imediata do incêndio, mas a versão mais aceita foi a
de que durante uma apresentação musical, um dos frequentadores, na vontade de criar
um clima mais intimista, teria tirado uma das lâmpadas de uma luminária, escurecendo
o local onde estava namorando. Na tentativa de ser recolocada a lâmpada, um rapaz
de 16 anos, deixou-a cair e teria acendido um fósforo para enxergar. A lâmpada foi
recolocada e o fósforo apagado. Minutos depois, no entanto, fumaça e fogo foram vistos
próximos ao local, fazendo com que acredite-se que o incêndio tenha tido origem nesse
episódio, embora alguns dos presentes tenham negado.
Outras poucas saídas que estavam desbloqueadas e que poderiam ter sido utilizadas,
abriam apenas para dentro, dificultando a rápida evacuação. O resultado foi a morte de
492 pessoas e centenas de feridos. Como veremos mais a frente, os incêndios ocorridos
no clube noturno The Station (2003 - RHODE ISLAND), na República Cromagñon
(2004-Buenos Aires) e na Boite Kiss (2013-Santa Maria) são praticamente a cópia
dessa tragédia. Causas parecidas e problemas semelhantes.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
ácido tânico, o que foi substituído, naquela noite, por compressas de gaze embebidas
em um gel derivado de petróleo, utilizado até os dias atuais. Houve grande avanço no
atendimento intensivo na área de ventilação (muitas vítimas morreram em decorrência
de intoxicação ou queimaduras pulmonares), foi a primeira vez que a penicilina era
utilizada em larga escala no meio civil, bem como a primeira vez que um banco de
sangue era utilizado para o atendimento de incidente de massa.
Livros:
ESPOSITO, John. Fire in the Grove: The Cocoanut Grove Tragedy And Its
Aftermath. 2005. ISBN 978-0-306-81423-5.
Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/Cocoanut_Grove_fire#/media/File:Cocoanut_Grove_victims.jpg>
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Logo após o término da II Guerra Mundial, havia uma ansiedade muito grande para
que “tudo voltasse ao mais normal possível”. Isso incluía a reconstrução das áreas
destruídas, bem como a realização de eventos e a participação do público. A Inglaterra
em particular foi duramente atingida durante a guerra.
O jogo foi suspenso, as vítimas retiradas do local e apesar da tragédia, a partida foi
reiniciada, mesmo sem qualquer condição de segurança, terminando empatada em 0
a 0. Veremos que mais tarde na história, situações semelhantes se repetiram. Não é
difícil encontrarmos quem advogue que em situações como esta, o melhor realmente
é seguir com a partida, pois a suspensão do jogo poderia causar tumultos e novas
vítimas. Esse tipo de afirmação não encontra respaldo nem na literatura especializada
e nem na história, muito pelo contrário. Se houve uma tragédia, alguma coisa está
errada. E se já aconteceu uma situação crítica, as chances de que seja agravada são
ainda maiores. O correto, nestes casos (não estamos falando agora em prevenção,
mas sobre algo que já aconteceu), é informar aos presentes o que está acontecendo,
pedindo calma e as melhores rotas de evacuação (que devem de fato existir e estarem
desobstruídas). Informe também que o jogo será remarcado e que todos os presentes
poderão acessar o novo jogo sem precisar pagar novo ingresso. Informe ainda, que a
partida está sendo encerrada diante da necessidade de socorro de feridos e em razão
da insegurança do local. Em situações como esta, onde o risco está na superlotação e
parte do estádio comprometida, mas sem que haja um incêndio ocorrendo ou o risco
de desabamento do local, pode-se perfeitamente proceder à evacuação do estádio
com calma. Se o jogo envolve torcidas rivais, deve-se proceder a evacuação seletiva,
liberando-se os torcedores de tal forma que não haja confronto. Se necessário reforço
policial deve ser providenciado. No caso, de Bradford, o número de policiais era muito
inferior ao necessário.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Fonte: <http://en.wikipedia.org/wiki/File:Burnden_disaster.jpg>
Os organizadores da prova optaram por continuar com a disputa, para evitar que os
espectadores, ao deixarem o local, pudessem congestionar as ruas e rodovias ao redor do
autódromo e com isso, prejudicar o deslocamento de socorro. Agiram certo? Depende.
Era uma situação diferente da do estádio de Burden Park. Não havia superlotação e
nem problemas com as saídas de emergência. De fato, a saída dos espectadores poderia
retardar o socorro, em virtude de não haver estradas largas no local. A questão de
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
decidir quanto à continuidade ou não de um evento, diante de uma tragédia, deve levar
em conta diversos fatores:
Fonte: <http://www.sportscardigest.com/1955-24-hours-of-le-mans-race-profile/>
O ano era 1961. A cidade, Niterói-RJ. Àquela época, os circos sempre atraíram multidões
por onde passavam e era comum que chegassem às cidades, onde ficariam alguns
dias ou semanas, fazendo um desfile no local, com a presença das principais atrações.
Não foi diferente em Niterói, quando o Gran Circo Norte-Americano chegou à cidade,
estreando em 15 de dezembro de 1961. Tinha como atrações diversos animais, como
elefantes, girafas, leões, tigres, ursos, além de artistas de diferentes localidades. No dia
da estreia, o circo estava tão cheio que houve necessidade de suspensão da venda de
mais ingressos.
O dia 17 de dezembro daquele ano, era um domingo, dois dias após a estreia, era um dia
quente que atraiu centenas de pessoas, sobretudo crianças para o espetáculo daquela
tarde (matinê). O local estava completamente lotado, com a capacidade máxima de 2.500
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
pessoas atingida. Por volta das 15:34h, já nos momentos finais da apresentação, quando
um trio de trapezistas iria se apresentar, o grito de “fogo” foi ouvido e rapidamente as
pessoas começaram a correr, tentando escapar. Como já vimos no teatro Iroquois, em
Chicago, e no Cocoanut Grove, em Boston, não havia saídas de emergência e as pessoas
buscavam sair pela mesma porta de entrada, fazendo com que muitos morressem
pisoteados, bem como intoxicados pela fumaça que rapidamente tomou conta do local.
Como é de se esperar em um incêndio em um circo, não demorou para que a lona em
chamas desabasse sobre as pessoas em fuga. O desespero de uma elefanta que saiu em
disparada, abrindo um enorme buraco na lona, acabou salvando vidas, pois diversas
pessoas conseguiram sair por ali. Não havia equipamentos de extinção de incêndio
adequados e apesar dos donos do circo terem feito propaganda sobre a lonam, que seria
resistente ao fogo, a tragédia mostrou que não era bem assim.
Para piorar a situação, o hospital mais próximo estava em greve e não havia à época, a
ponte que liga o Rio de Janeiro à Niterói. A causa do incêndio foi criminosa e motivada
por vingança. É muito comum que os circos contratem pessoas locais para ajudarem na
montagem da estrutura e para trabalharem temporariamente, durante a permanência
do circo na cidade. Uma dessas pessoas foi contratada, mas rapidamente demitida por
ter um comportamento que não era adequado para o trabalho a ser feito, causando
problemas. Ele tentou entrar no circo durante a estreia, sem ingresso, e foi impedido,
jurando vingança.
O resultado do incêndio foi a morte de 503 pessoas (saldo oficial), onde pelo menos
70% eram crianças e centenas de feridos.
Fonte: <http://botequimcultural.com.br/em-meio-a-tragedia-em-santa-maria-o-espetaculo-mais-triste-da-terra/>
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
de mortos tenha sido subestimado. Esta foi a pior tragédia em estádios de futebol, até
o momento.
Figura 9. Torcedores tentando fugir do gás lacrimogêneo no Estádio Nacional do Peru, em 1964.
Fonte: <http://elcomercio.pe/deporte-total/futbol-peruano/tragedia-estadio-nacional-cumple-50-anos-y-habra-concierto-
noticia-1730638>
Em 1968, no que ficou conhecido como a “tragédia da porta 12”, 71 pessoas morreram e
150 ficaram feridas durante um jogo de futebol entre os times mais rivais da Argentina,
Boca Juniors e River Plate, no estádio Monumental (do River). Na metade do segundo
tempo, a torcida visitante (Boca Juniors), localizada próxima ao portão número 12,
ao tentar deixar o estádio, teve grande dificuldade em sair por razões que não foram
completamente esclarecidas. Uma das versões é de que havia catracas na frente do
portão enquanto outras testemunhas afirmam que a saída estava fechada. Houve grande
tumulto e as pessoas se comprimindo umas às outras. A repressão policial agravou a
situação, que produziu vários mortos e feridos. O estádio estava completamente lotado.
Figura 10. Imagem do filme “Puerta 12”, documentário de Pablo Tesoriere, sobre a tragédia de Buenos Aires.
Fonte: <http://www.videoflims.com.ar/catalogo/puerta12.html>
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Em 1972, por ocasião dos Jogos Olímpicos de Munique, na Alemanha, 17 pessoas foram
mortas em razão de um atentado terrorista. Era a primeira vez que a Alemanha sediava
um evento de grande porte após o fim da II Guerra Mundial e havia uma preocupação
muito grande com a imagem do país. Assim, não havia um esquema muito rígido de
segurança e nenhum alerta em especial foi dado pela comunidade de inteligência,
quanto à iminência de um ataque. As Olimpíadas haviam iniciado no dia 26 de agosto,
e em 5 de setembro terroristas do grupo palestino conhecido como Setembro Negro
invadiram as instalações dos atletas israelenses, fazendo reféns e exigindo a libertação
de 200 prisioneiros palestinos que estavam presos em Israel (prontamente rejeitado
pela primeira-ministra israelense Golda Meir) e um avião para fuga. Em uma operação
considerada como desastrada, onde ficou claro que a polícia à época não estava
devidamente preparada para lidar com situações como esta, 11 reféns foram mortos,
bem como 1 policial e 5 terroristas, em uma troca de tiros no aeroporto. Três terroristas
foram presos.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=jWUAMqpw-hs>
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
tenha sido a causa do incêndio que foi observado aos 40 minutos do primeiro tempo. O
fogo se alastrou rapidamente e embora muitos torcedores tenham ido para o gramado,
houve 56 mortos e cerca de 265 feridos. Não havia extintores no local, pois haviam sido
retirados para evitar vandalismo e, se não todas, a grande maioria dos portões de saída
e/ou de emergência, estava fechada. Para que possamos ter uma ideia clara da violência
das chamas, os bombeiros chegaram ao local em menos de 5 minutos, mas não havia
mais nada a ser feito.
Fonte: <http://www.snipview.com/q/Bradford%20City%20stadium%20fire>
<https://www.youtube.com/watch?v=v6iTSAwGo1Y>
Apesar disso, o local escolhido para a decisão do campeonato europeu (UEFA) era
antigo e defasado e estava completamente lotado.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Ao final da partida, com a saída dos espectadores, a torcida do Juventus iniciou uma
confusão, que se estendeu para as ruas e causando enfrentamento com a polícia.
A consequência deste episódio foi a suspensão por 5 anos de todos os clubes ingleses,
de competições da UEFA, o que fez com que os ingleses aprimorassem o sistema
de segurança e proteção para jogos de futebol e hoje possuem um protocolo que é
considerado como referência de boas práticas.
<https://www.youtube.com/watch?v=ClegJGD2zfE> (inglês)
<https://www.youtube.com/watch?v=7IEEoPvtT-0> (espanhol)
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
A altura do palco não era adequada para aquele tipo de show e a segurança ao redor
tampouco estava bem dimensionada. Com facilidade, um fã invadiu o palco e “pulou”
sobre o cantor da banda, o que foi filmado e pode ser encontrado na internet. Não se
sabia naquele momento se era uma demonstração de carinho ou uma agressão e o fã
foi tirado do palco e em seguida agredido, o que levou à interrupção do show, com o
cantor repreendendo os seguranças. A essa altura do evento, que já havia começado
com atraso, os ânimos começaram a ficar mais acirrados. No que foi considerado por
muitos como uma provocação ou no mínimo uma “fala” infeliz, o cantor fez comentários
sobre a cidade e sobre o público, que resultou em vaias e agitação. Um pequeno artefato
explosivo, como os encontrados em festas juninas, foi lançado sobre o palco e nesse
momento já estava claro, que não seria possível continuar o show, que de fato foi
encerrado pela banda, que abandonou o palco.
Nosso sistema de emergência era composto por postos avançados nas arquibancadas,
no setor de cadeiras, equipes volantes e um posto central no fosso, em frente ao centro
do gramado, pois era onde a maior parte dos problemas ocorria e ali tínhamos fácil
acesso tanto ao gramado como para a geral, além de deslocamento rápido com as
ambulâncias.
O número de feridos foi muito elevado, bem como de intoxicação por consumo de bebidas
alcóolicas e relato de uso de drogas. Poucos casos, no entanto, precisaram ser de fato
removidos para atendimento hospitalar, o que incluiu uma suspeita de traumatismo
craniano decorrente de queda no fosso. Policiais também foram atendidos.
Figura 12. Imagem mostrando as pessoas tentando acessar o gramado a partir da “geral”, passando pelo fosso.
Fonte: <http://imgsapp2.correiobraziliense.com.br/app/noticia_127983242361/legiao_urbana_ronaldodeoliveira_0_0.jpg>
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
setor, sendo mudados para outros setores, com um número insuficiente de catracas e
uma multidão do lado de fora querendo ter acesso rápido, pois o jogo já estava sendo
iniciado. O chefe de polícia no local decidiu, então, abrir um portão de saída, para
que os torcedores entrassem por ele. O problema foi que todos tentaram entrar por
esse mesmo local, correndo e tendo acesso a uma das áreas do estádio que já estava
completamente lotada, fazendo com que o deslocamento da massa, empurrasse quem
estava à frente contra as cercas de proteção.
Muitas críticas foram feitas com relação ao controle da multidão realizado pela polícia
bem como pela demora na chegada das ambulâncias e equipes de emergência ao local.
O sistema de incidentes múltiplos (com a mesma finalidade do Sistema de Comando de
Incidentes) não foi utilizado e o socorro aos feridos, por muito tempo, foi realizado por
outros torcedores, como pode ser visto nas imagens da tragédia.
Vídeos:
<https://www.youtube.com/watch?v=bUuSHrhPQyk> (Inglês)
<https://www.youtube.com/watch?v=esyxX0iVnYc> (Inglês)
Figura 13. Torcedores sendo pressionados contra a cerca de proteção, resultando em diversas mortes e
ferimentos.
Fonte: <http://eastlondonnews.co.uk/justice-for-hillsborough-is-near/>
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=3zvL2bhVpE8> (espanhol)
No ano 2000, no estádio São Januário no Rio de Janeiro, por ocasião da Copa João
Havelange, disputavam a final, o Vasco da Gama contra o São Caetano. Essa era a
partida decisiva, no campo do Vasco. O estádio estava superlotado e em decorrência de
uma queda de alambrado, mais de 160 pessoas se feriram. O socorro foi realizado no
gramado, com muita dificuldade.
Video:
<https://www.youtube.com/watch?v=qFlayR_WUwc>
<https://www.youtube.com/watch?v=htS3BbLY-V0>
Em 2001, novamente na África do Sul, no estádio Ellis Park superlotado (estima-se que
havia cerca de 120.000 pessoas em um local com capacidade máxima de 60.000 pessoas),
houve uma confusão generalizada que foi repelida com uso de gás lacrimogênio (CS)
pela polícia, provocando 43 mortes. Membros da segurança também foram acusados
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Video:
<https://www.youtube.com/watch?v=SQvEHSKNsFw> (inglês)
Também em 2001, em Gana, em uma partida de futebol de grande rivalidade, 126 pessoas
morreram e várias ficaram feridas após o uso de gás lacrimogênio (CS) pela polícia para
coibir torcedores que estavam jogando objetos no gramado. As saídas de emergência
estavam fechadas e estima-se que havia superlotação em um estádio com capacidade
máxima de 40.000 lugares. Para agravar a situação, como os problemas ocorreram
já ao final da partida, as ambulâncias e equipes de socorro já haviam deixado o local
(antes mesmo do final do evento). Fica a lição, de que a desmobilização das equipes de
socorro e de segurança só podem ocorrer quando o estádio está vazio e sem riscos ao
redor (em muitos eventos, ocorre dos torcedores deixarem o estádio e enfrentarem a
polícia nos arredores do local ou provocarem depredação nas instalações).
Alguns anos mais tarde, uma grande tragédia abalaria o mundo. Uma boate lotada de
jovens, com capacidade acima do permitido, sem saídas de emergência adequadas,
sem equipamento de extinção de incêndios, forrada com espuma altamente tóxica e
inflamável, incendiou-se em poucos minutos, após um dos integrantes de uma banda
que se apresentava ao vivo, utilizar-se de fogos de artifício durante a sua performance.
Foram mais de 100 mortos.
Não estamos falando da boate Kiss, mas da Station, em 2003, em Long Island, nos
Estados Unidos. Percebam como todos os elementos que causaram o incêndio, 10
anos mais tarde, na boate Kiss, estiveram presentes nessa tragédia. Vejam como é
fundamental conhecer o passado para não repetir os mesmos erros no futuro.
O incêndio da casa noturna “The Station” foi filmado desde os primeiros instantes por
quem estava dentro e conseguiu se salvar. O vídeo tem cerca de 12 minutos e podemos
ver que os bombeiros chegaram em cerca de 4 minutos após o início do incêndio, no
entanto em poucos minutos as chamas já haviam tomado completamente o local.
Vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=GymIhaxV7VE>
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
É difícil acreditar que as lições não foram aprendidas. Há algumas autoridades que
simplesmente não acreditam que tragédias podem ocorrer em qualquer lugar. Depois
do ocorrido em 2003, na boate Station, era para ser proibido em qualquer lugar do
mundo, o uso de fogos de artifício em locais fechados, bem como não ser permitido
o funcionamento de estabelecimentos sem as saídas de emergência devidamente
operacionais (instaladas, sinalizadas e em quantidade e local adequados), bem como a
instalação de equipamentos de incêndio compatíveis com o local, o que inclui sprinklers
no teto, que é um sistema que ao detectar a presença de calor no ambiente, dispara
jatos de água. Existem leis para tudo o que foi acima descrito (ou quase tudo), mas os
estabelecimentos não são devidamente fiscalizados, há a certeza da impunidade, bem
como a corrupção, ainda plenamente presente em muitos casos.
Pois bem. Um ano depois do ocorrido em Long Island, uma tragédia quase idêntica
ocorreu em Buenos Aires, Argentina, na casa noturna República Cromagnon. Todos
os elementos estavam presentes: superlotação, saídas de emergência bloqueadas, uso
de artefato pirotécnico no interior do local, superlotação, ausência de equipamentos
de combate a incêndio. O resultado foi a morte de 194 pessoas, na maioria jovens, às
vésperas do Ano Novo. Houve cerca de 1432 feridos e a maior parte das mortes se deu
por asfixia.
Video:
<https://www.youtube.com/watch?v=icP1bOKRTX0>
Figura 14. Imagem aérea da boate República Cromagnon destruída pelas chamas
Fonte: <quenoserepita.com.ar>
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Em 2012, no estádio Port Said no Egito, uma partida de futebol terminou com o saldo de
79 mortos e mais de 500 feridos. Houve invasão do campo, obrigando o time visitante a
fugir. Sua torcida foi atacada com garrafas, fogos de artifício e armas brancas. A polícia
foi acusada de manter os portões fechados, agravando a situação, bem como houve
relatos de que pouco fizeram para evitar a tragédia, que foi por muitos entendida como
tendo motivações políticas, também.
Vídeo:
<https://www.youtube.com/watch?v=Pxz0fNI-EQQ>
O ano de 2013 iniciou com uma grande tragédia no país. Em 27 de janeiro daquele
ano, um clube noturno superlotado (jovens na maioria) incendiou-se, matando 242
pessoas e ferindo outras centenas. Esse incêndio é quase uma cópia de outros ocorridos
anteriormente, alguns dos quais estudados nesse capítulo. Teve, por exemplo,
praticamente as mesmas causas e problemas encontrados na boate The Station (2003),
em Rhode Island, USA e a República Cromagnon (2004), em Buenos Aires, Argentina.
Mas também, o incêndio no Wuwang Club (China), em 2009, com 43 mortos e 88
feridos, no Santika Club, em Bangkok (2009), com 66 mortos e mais de 200 feridos (a
causa oficial não foi reconhecida, mas tudo indica que foi decorrente do uso de fogos de
artifício no interior da boate), bem como na Lame Horse, também em 2009, na Rússia,
com 150 mortos e mais de 160 feridos.
O incêndio na boate Kiss foi uma tragédia anunciada e as autoridades sabiam que
poderia ocorrer a qualquer momento, uma vez que a casa noturna não possuía alvará
de funcionamento. Ainda assim, funcionava normalmente. No dia do incêndio,
estava superlotada, com um forro de espuma bastante tóxico e inadequado para o
local, conforme relatado por especialistas. Não dispunha de sistema de sprinklers
para o combate a incêndios e os extintores existentes ou não funcionavam ou eram
insuficientes. Não havia sinalização de emergência e apenas uma saída, mal iluminada.
A causa do incêndio foi o uso de fogos de artifício pela banda que se apresentava no
local. Os elementos pirotécnicos utilizados são completamente inadequados para
serem utilizados em ambiente fechado. Em minutos, uma fumaça negra e tóxica já
havia tomado conta de todo o estabelecimento e sem luz, as pessoas buscavam fugir em
pânico.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
O socorro foi caótico e ficou claro pelas imagens, que os bombeiros não possuíam
recursos materiais, pessoal e nem treinamento adequado para lidar com aquela situação.
Importante dizer que nesses casos, a presença de fumaça altamente tóxica (cianeto) pela
combustão da espuma, fez com que o incidente fosse também uma emergência química
(em inglês HAZMAT) que requer a adoção de protocolos específicos e equipamentos
especializados, além evidentemente de treinamento.
Muitos sobreviventes passaram a atuar na tentativa de socorro aos amigos e pessoas que
ainda encontravam-se no interior do estabelecimento. Tentaram, de todas as formas,
abrir buracos na parede e alguns ainda retornaram à boate. Outros compartilharam
de equipamentos dos bombeiros que permitiram que eles ali permanecessem. As
consequências, no entanto, foram mais trágicas ainda, com a morte e intoxicação
severa de muitos que já haviam saído do local e não poderiam de forma alguma ter ali
permanecido.
O uso de voluntários em operações de socorro é muito bem vindo, quando são pessoas
devidamente treinadas e pertencentes a organizações especialmente voltadas para esta
finalidade, como a Cruz Vermelha. Os papéis, de cada um, são bem definidos e fica claro
como e de que forma cada um deve agir. Foi inclusive relatado, que vários profissionais
da Cruz Vermelha tiveram importante papel no período após a tragédia, sobretudo na
área da psicologia.
O voluntariado, contudo, deve ser evitado a todo custo. Por esse termo compreende-se
aos populares e pessoas que não fazem parte de organizações de socorro ou que apenas
querem ajudar, mas não possuem treinamento. Nesses casos, as pessoas podem sofrer
ferimentos sérios e até morrer, ou ainda colocar em risco a operação de socorro e a vida
das vítimas e dos outros socorristas.
Quem tentou ajudar na boate Kiss, ainda durante o incêndio, agiu com voluntarismo.
Fizeram de tudo o que estava ao alcance deles para ajudar. Agiram como heróis. No
entanto, nem todos conseguiram sobreviver, dentre esses heróis. Nenhum socorro deve
precisar de atos heroicos, que só existem quando o sistema falha. Ou seja, se houvesse
bombeiros com pessoal adequado e recursos necessários, os heróis não precisariam ter
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
agido e aqueles jovens que sacrificaram suas vidas para ajudar os amigos, poderiam
estar vivos.
Todas as cidades, ainda mais do porte de Santa Maria, devem possuir planos de
emergência e desastre. Não há justificativa para que não estejam atuando na prevenção
e preparação de tragédias como a que foi verificada. Ficou evidente nesse episódio,
conforme as investigações demostraram, que claramente houve falhas graves na
prevenção e na fiscalização da boate. Como consequência, foi solicitado o indiciamento
de 8 bombeiros. No campo da preparação, é um absurdo que uma cidade com mais de
200.000 habitantes não possua bombeiros de plantão, em quantidade e com recursos
que sejam adequados ao porte da cidade. O mais grave é sabermos que na região há o
comando da 3 Divisão do Exército, com milhares de militares, bem como uma base área
da Aeronáutica, que dentre as diversas unidades, possui uma destinada ao combate
de chamas, que inclusive auxiliou no socorro. Por que este comentário? Porque se os
bombeiros não possuem pessoal e nem recursos, mas estão em uma área com grande
presença de unidades militares, é fundamental que exista um planejamento de pronto-
emprego para auxílio em situações de incidentes com múltiplas vítimas e desastres. As
Forças Armadas por diversas vezes já demonstraram sua capacidade e vocação para
auxílio do poder público em situações críticas e com certeza podem e devem fazer parte
de um planejamento desta natureza. Essa cooperação ficou clara e se mostrou efetiva
nos dias seguintes à tragédia, mas teria sido muito bom, que pudesse também ter
ocorrido durante o resgate e que possa ser parte de um planejamento para evitar novas
situações futuras.
Será que a partir de agora, tudo irá mudar e novas tragédias como essas deixaram de
acontecer? Infelizmente, é pouco provável se tomarmos como exemplo o que de fato
mudou após a tragédia. Para que possa haver uma diferença na política de prevenção,
preparação e resposta é fundamental que haja profissionais devidamente capacitados,
planejamento bem realizado e, sobretudo, que as lições passadas não sejam esquecidas.
O ano de 2013 ainda foi palco de outra tragédia. Durante a maratona de Boston, nos
Estados Unidos, um atentado terrorista provocou a morte de três pessoas, incluindo
uma criança e cerca de 260 feridos, muitos em estado grave. O atentado foi perpetrado
por dois irmãos, mulçumanos, de origem chechena, que residiam nos Estados Unidos e
inspirados por crenças extremistas islamistas. Foram utilizados dois artefatos explosivos,
improvisados em panelas de pressão, deixados dentro de mochilas, colocadas próximas
à linha de chegada, programadas para explodir com pequena diferença de tempo entre
elas. A crueldade do atentado, ainda foi maior, uma vez que foram colocados pregos
junto aos explosivos e as mochilas colocadas no chão, de tal forma que com a explosão,
muitos ferimentos foram provocados nos membros inferiores dos atletas (corredores),
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
tendo ocorrido diversas amputações. As consequências só não foram ainda mais graves,
porque havia muitos médicos e outros profissionais de saúde no local, em barracas
destinadas ao atendimento das ocorrências da maratona e em razão de Boston ser uma
cidade referência na área de saúde e especialmente preparada para lidar com desastres
e atentados. Cerca de 27 hospitais foram mobilizados para atender as vítimas do ataque,
incluindo o Massachusetts General Hospital, o mesmo utilizado no atendimento das
vítimas do incêndio do Cocoanut Grove em 1942.
Fonte: <http://www.flickr.com/photos/hahatango/8652831303/in/set-72157633252445135/>
Vídeos:
<https://www.youtube.com/watch?v=vJHzKOsd2EU>
<https://www.youtube.com/watch?v=fWk3LrR0rUk>
Por ocasião da Copa das Confederações em 2013 e da Copa do Mundo em 2014, ambas
no Brasil, foi montado um grande aparato de segurança, com proporções jamais vistas
no país.
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Nos dias seguintes, várias manifestações passaram a ocorrer em todo o país, por razões
diversas, mostrando, contudo, um descontentamento generalizado com diversas
questões, sobretudo com relação aos custos da realização da Copa do Mundo.
A primeira grande manifestação ocorreu dois dias após a abertura da Copa das
Confederações e se deu em frente ao Congresso Nacional. Foi um evento de grande
porte, do tipo espontâneo. Ou seja, não estava previamente agendado e contou com a
presença de milhares de pessoas. As barreiras policiais contavam com poucos policiais
diante do expressivo número de manifestantes que acabaram por ter acesso ao prédio
do Congresso e ocuparam a área externa da Câmara dos Deputados, a rampa de acesso,
incluindo as cúpulas. Foi por pouco que não houve uma invasão e confrontos com a
polícia. Nos dias seguintes, a situação ficou ainda mais tensa em seguidas manifestações
no país, com estimativa de público de até um milhão de pessoas, sendo as maiores
registradas em São Paulo e Rio de Janeiro.
Havia uma grande multidão querendo realizar uma manifestação democrática e pacífica
e um pequeno grupo de pessoas com o único objetivo de provocar baderna e confusão.
Essas pessoas, com frequência, agrediam os policiais com palavrões, jogavam água em
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
seus uniformes, bem como fogos de artifício. Foi montado um esquema de emergência
que incluía, postos móveis com profissionais de saúde, em frente ao Congresso, na
Chapelaria (que fica no subsolo e por onde entram os parlamentares), com retaguarda
do serviço médico da Câmara dos Deputados e com o Posto de Comando e área de
concentração de vítimas (triagem e atendimento) em local estrategicamente definido
e coordenado pelo SAMU-DF. Todas as vítimas que eram resgatadas pelos bombeiros
eram transportadas para a área de triagem onde também recebiam o atendimento
conforme a gravidade e transportadas para o Departamento Médico da Câmara dos
Deputados, para realização de exames complementares e atendimento especializado,
ou então, nos casos mais graves, eram removidos para os hospitais. O sistema de
comando de incidentes foi parcialmente utilizado, dele fazendo parte os bombeiros,
o SAMU e o departamento médico da Câmara dos Deputados. Nenhuma ocorrência
grave sob o ponto de vista médico, que tenha requerido internação, foi verificada em
todos os dias de manifestação. Sob a perspectiva da segurança, contudo, o ataque ao
Palácio do Itamaraty com uso de coquetéis Molotov merece destaque, sobretudo pela
agressividade dos manifestantes envolvidos no episódio.
Havia sempre a orientação para que o Batalhão de Polícia de Choque fosse usado apenas
se estritamente necessário, o que de fato ocorreu em alguns momentos, sobretudo
quando manifestantes passaram a utilizar fogos de artifício como armas. Algumas
prisões foram realizadas e houve grande integração das unidades envolvidas.
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Figura 16. Manifestação em frente ao Congresso Nacional, 2013. Observem a linha de frente da Polícia Militar e
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
finalidade, sem os mesmos riscos, como o uso de canhão de som, que emite um ruído
sonoro bastante desconfortável e alto, de tal forma que ninguém à frente do canhão
consegue ali permanecer. Mas, precisa também saber ser operado para que não cause
lesões no tímpano. O uso de balas de borracha deve ser empregado apenas para atingir
os membros inferiores e tão somente quando na iminência de um ataque, ou seja, em
legítima defesa. A ideia de disparos aleatórios contra manifestantes é absurda, assim,
como a curtas distâncias (pode ser fatal) e jamais direcionado para o abdome, tórax ou
cabeça. Há países que não as utilizam de forma alguma. Contudo, bem indicado, pode
ser útil em situações específicas.
Ou seja, não basta ter equipamentos ou armas ditas não letais, se não é seguido um
protocolo internacional para emprego, de acordo com o escalamento de força (force
continnum) e sempre com a lembrança de que, embora o risco seja menor, ainda
assim, as armas ditas não letais podem provocar mortes e lesões graves, sobretudo
se mal empregadas. Da mesma forma, policiais devem ser rigorosamente treinados
antes de participarem de controle de distúrbios, principalmente para que não reajam a
provocações.
A Copa do Mundo foi realizada em junho e julho de 2014. Sob o ponto de vista da
segurança, foi um sucesso?
Há diversas formas de se responder a essa pergunta. A primeira delas é com base nos
resultados. De uma forma geral, houve algum episódio grave que tenha sido registrado,
que tenha colocado em risco a vida dos atletas ou dos espectadores nos estádios?
Não. Então podemos concluir que o sistema foi adequado? Também não. Por quê?
Só podemos afirmar que um sistema foi eficiente quando ele foi capaz de detectar,
identificar e neutralizar uma ameaça. Nada indica que isso tenha ocorrido. Em outras
palavras, se em uma empresa que nunca tenha tido um princípio de incêndio podemos
afirmar que a brigada de incêndio é eficiente? Não. Porque o sistema de fato nunca foi
testado. Podemos tão somente afirmar, sob este ponto de vista, que felizmente nada
de mais grave aconteceu, o que pode ser comemorado, mas não autoriza ninguém a
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
afirmar que o sistema foi adequado e deve ser referência para eventos futuros sem uma
análise crítica. Não há nenhum registro e nem informação dos órgãos de segurança, que
uma grave ameaça tenha sido detectada, identificada, neutralizada e explorada, que são
os princípios da contralinteligência.
Prevenção é um conjunto de ações que visa identificar e adotar medidas que visem
diminuir (mitigar) as vulnerabilidades de um local frente a ameaças prováveis, possíveis
e também as improváveis. Para isso são elaborados mapas de vulnerabilidade onde
são relacionadas todas as vulnerabilidades existentes e confrontadas com as ameaças.
Por exemplo. Qual o risco de um estádio em Brasília ser atingido por um tornado?
É vulnerável a isto? Os engenheiros devem responder, identificando se a estrutura
é suficientemente segura para enfrentar ventos que podem chegar a centenas de
quilômetros por hora. A ameaça de tornado é possível? Sim. Brasília já teve tornados. É
provável? Pouco provável. Qual o risco que essa ameaça possa ocorrer? É quando então
é realizado o mapeamento ou inventário de riscos e medidas voltadas para a mitigação
são apresentadas.
A questão é que, com relação à Copa do Mundo, o terrorismo era uma ameaça
extremamente importante que precisava ser levada em consideração e o sistema
preparado para a detecção, identificação, neutralização e exploração de qualquer
elemento que pudesse estar relacionado com tal ameaça. Aí começam os problemas.
O Brasil não tem uma lei que puna o terrorismo. Não é um crime previsto no código
penal, apesar de o país ser signatário de diversos acordos e convenções internacionais e
da própria Constituição Federal afirmarem que o crime é imprescritível. Mas que crime
se ele não existe no código penal? É preciso, antes de tudo, chegar a uma definição
do termo. Como combater algo que não se sabe o que é? As medidas voltadas para
a prevenção dos ataques são chamadas de antiterrorismo, enquanto aquelas voltadas
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Em pelo menos dois episódios, tivemos sinais claros de que algo não esteve bem e que
poderia ter resultado em um problema mais grave, apesar de todo o aparato policial.
O policiamento ostensivo funciona bem para inibir ações criminosas comuns, como
furto, roubo e eventualmente o tráfico de drogas, mas para o combate a crimes mais
complexos, não. O conhecimento e detecção pela população, de elementos que podem
ser suspeitos de uma movimentação terrorista, requerem treinamento e campanhas
voltadas para esta finalidade.
Foi dessa forma que vendedores de rua, sinalizaram para policiais em New York, que
uma atividade suspeita estava ocorrendo em uma van, no movimentado Times Square
e de fato, um atentado foi descoberto e abortado. Policiais precisam ser exaustivamente
treinados no reconhecimento desses sinais. Os policiais brasileiros estão treinados para
isto? Foram orientados como identificar tais sinais? E os hospitais? Os profissionais de
saúde foram treinados para o recebimento de vítimas de atentados, incluindo os que
possam envolver substâncias químicas e/ou radioativas? Treinamento não é fazer uma
palestra ou colocar um folder. Isso também é importante, mas vai muito mais além. Os
simulados foram realmente realizados para identificar os erros do sistema de resposta
ou apenas uma representação teatral para mostrar para a população e autoridades de
que estava tudo bem? Simulado onde tudo dá certo, deve ser realmente colocado sob
suspeita. O imponderável sempre ronda eventos críticos.
Pois bem. Me referi a dois episódios que poderiam ser críticos, mas gostaria de acrescentar
mais um. Foi amplamente divulgado pela imprensa e confirmado posteriormente
pelas autoridades, que na cerimônia de abertura da Copa de 2014 houve uma situação
potencialmente crítica, decorrente de um erro de comunicação inadmissível, quando
um atirador de elite da Polícia Civil, ao perceber a presença de um policial militar em
uma área não autorizada, próxima às autoridades, pensou estar diante de um possível
criminoso ou terrorista. Ao entrarem em contato com a central, solicitando autorização
para neutralizar a ameaça, houve a informação de que nenhum policial militar estava
autorizado a estar ali. Felizmente alguém reconheceu que se tratava de um policial e ao
se buscar mais informações, foi dito que ele estaria ali para apurar uma possível ameaça
de bomba. Ou seja, podemos dizer que foi um sucesso porque o policial militar não foi
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
atingido? E que protocolo é esse que um policial vai sozinho, verificar uma possível
ameaça de bomba em um estádio lotado, sem que a central de controle tivesse sido
avisada? Bom, estou comentando em cima de fatos que foram publicados pela imprensa
e que não foram negados pelas autoridades, no que diz respeito ao erro de comunicação
existente (FOLHA DE SÃO PAULO, 2014).
Em outro episódio, foi relatado que um argentino, que deveria ter sido proibido de
ingressar no país e mais ainda em estádios, teria sido preso pela polícia, mesmo estando
usando máscara. Ele seria um membro violento de torcidas organizadas e que poderia
trazer risco para os espectadores. De fato ele foi preso. O problema é saber como ele
entrou no Brasil e como teve acesso aos estádios (ele ficou postando imagens nas redes
sociais antes de ser preso, desafiando a polícia, deixando claro que se disfarçava para
entrar nos estádios). Felizmente foi preso, mas já dentro de outro estádio (BONFANTI,
2014). E se fosse um terrorista?
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CAPÍTULO 2
Ameaças e vulnerabilidades mais
comumente encontradas
Prevenção
Como vimos no histórico das tragédias ocorridas desde 1900 até os dias atuais, houve
uma repetição de problemas em boa parte dos incidentes relatados.
Todo evento requer planejamento, e o primeiro passo a ser dado neste processo, é a
obtenção, no mínimo, das seguintes informações:
»» natureza do evento;
»» tipo de público;
»» instituições participantes;
»» previsão meteorológica;
»» duração do evento;
»» características especiais.
Vocês viram acima que dissemos que a relação de três pessoas/metro quadrado deve ser
respeitada em eventos eletivos. Isso se deve a uma questão não apenas de segurança,
como também de conforto e de acesso das equipes de emergência. Contudo, há que se
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
respeitar a capacidade máxima do local. Por que estou fazendo essas considerações?
Imagine um ginásio com capacidade máxima para 500 pessoas, mas apenas uma
área está disponível para o público, fazendo com que haja uma relação de quatro ou
mais pessoas/metro quadrado. Não há a presença de pessoas em número maior que
a capacidade do local inicialmente prevista, mas ao haver a modificação do espaço
destinado ao público, a capacidade foi alterada e dessa forma, deve-se fazer a estimativa
máxima de público a partir das dimensões da nova área a ser utilizada e aplicando-se a
regra de três pessoas/metro quadrado.
Tendo por base as informações preliminares que foram acima apresentadas, referentes
aos dados básicos do evento, devem ser adotadas as medidas de prevenção propriamente
dita, compostas dos seguintes elementos:
»» informações preliminares;
»» treinamento;
»» briefing.
É importante lembrar que da mesma forma que os mapas são de grande utilidade para
os gestores de segurança, também são úteis para os criminosos pelas mesmas razões.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Antes de todo evento, toda equipe deve receber um briefing que são as instruções para
o que será feito. Naturalmente, o briefing realizado momentos antes do início do evento
não tem o objetivo de substituir o plano, mas tão somente de fazer os últimos ajustes.
É recomendável que após o evento, haja também o debriefing onde serão avaliadas as
falhas, dificuldades e oportunidades de melhora. Não faça debriefing no mesmo dia
do encerramento do evento, logo após o término, como já vi muitas vezes ser feito.
Não funciona. As pessoas estão cansadas e estressadas. Há necessidade de um mínimo
de descanso para que todos possam processar adequadamente todas as considerações
que precisam ser feitas. O ideal é que seja realizado entre 24 e 48h após o evento. O
debriefing, em alguns casos, requer a presença de profissional de saúde mental, que
não seja membro da equipe e de preferência que conheça a técnica, quando há uma
tragédia envolvida.
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CAPÍTULO 3
Tipos de eventos
Os eventos espontâneos são aqueles realizados, como o próprio nome sugere, sem
que houvesse sido agendado e assim noticiado. Há um cuidado aqui. Muitas das
manifestações ocorridas em junho de 2013 reuniram milhares de pessoas nas ruas não
foram espontâneas. Houve um planejamento prévio de pessoas que se apresentaram
como organizadores, sobretudo nas mídias sociais e o que houve foi tão somente a
adesão de mais pessoas. A adesão pode ter sido espontânea por parte de muitas pessoas,
mas não o evento. Qual a importância disso?
Um evento totalmente espontâneo é aquele que surge de um momento para o outro, sem
que haja tempo de planejamento, como quando algo crítico ou situação catalisadora
ocorre, e as pessoas imediatamente seguem em passeata para um local sem prévio
planejamento. Um exemplo é o resultado de uma partida de futebol que não é do
agrado de uma das torcidas e os torcedores resolvem sair em passeata pelas ruas, de
forma pacífica ou não. Outra situação é a de artistas que sem aviso prévio resolvem se
apresentar em determinado local e atraem pessoas para assistir a performance. Esses
eventos realmente espontâneos requerem um trabalho muito rápido dos órgãos de
Inteligência, a fim de detectar precocemente o que está para ocorrer e despachar para o
local o melhor contingente possível e adequado para a situação.
um grande evento, quando a equipe médica chegou. Para minha surpresa, o coordenador
da reunião disse que eles poderiam ir embora porque o assunto era só de segurança.
Como assim? Os assuntos de segurança envolvem a equipe médica e vice-versa. O
que fazer, por exemplo, se uma autoridade é vítima de um atentado? E se ocorre uma
situação envolvendo arma de fogo? E se ocorre uma explosão? E se há um desastre
natural? Como lidar com todas essas situações sem a equipe médica presente? Cada vez
mais, em países como os Estados Unidos, a equipe médica está presente no dia-dia das
operações policiais e equipes da SWAT com frequência possuem profissionais de saúde
nas unidades de entrada dinâmica e em resposta a eventos críticos.
Outra questão referente aos eventos ao ar livre, diz respeito ao risco advindo do ar.
Cada vez mais, drones estão sendo utilizados pelas mais variadas razões, o que inclui
a invasão de privacidade em eventos com acesso restrito, para obtenção de imagens
que serão comercializadas posteriormente, bem como para mapeamento de regiões que
podem ser alvo de criminosos ou ainda carregando armas e drogas. Drones podem,
ainda, causar sérios problemas se caírem em cima de uma multidão.
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
O uso de drogas e o consumo de bebidas alcóolicas por menores devem ser rigorosamente
coibidos, pois constituem crime, além de serem um fator de risco a mais, em caso de
problemas. Da mesma forma, quando autorizado, o uso de bebidas alcóolicas deve ser
sempre moderado. Os chamados open bars, em que o consumo de bebidas alcóolicas
se faz de forma liberada, podem ser uma fonte de problemas para a segurança e para a
equipe médica.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
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CAPÍTULO 4
Controle de acesso
1. Identificação.
2. Autenticação.
3. Autorização.
Identificação
A identificação é o primeiro passo a ser obtido. Toda e qualquer pessoa que pretenda
ingressar ao local de um evento deve ser devidamente identificada. Isso deve ser
realizado. Há diversas formas.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
Autenticação
A autenticação de dois fatores é aquela que emprega dois tipos de autenticação, como
biometria e crachá por exemplo. Crachá e ingresso não correspondem a sistema de
dois fatores. Quanto mais fatores utilizados, maior a segurança. Dependendo do
evento, por exemplo, pode ser solicitado a quem adquire o ingresso, que registre sua
impressão digital no momento da compra e no dia do evento, a digital deve coincidir
com a mesma de quem apresenta o ingresso. Essa seria uma autenticação de dois
fatores. O procedimento poderia não ser realizado com espectadores e sim com os que
irão trabalhar no dia do evento, por exemplo. Tenha em mente que crachás podem ser
perdidos e/ou falsificados, assim como credenciais e ingressos. Outra opção é que o
ingresso ou credencial seja em forma de cartão de proximidade (chip) e para ingresso,
seja necessário também a inserção de pin ou senha, a exemplo do que é feito em muitos
condomínios fechados que possuem portões na entrada e necessidade de que a senha
seja digitada. O mais frágil sistema a ser utilizado é o do ingresso do portador que
não foi previamente identificado, pois deixa de ser autenticação e passa ser a própria
identificação. No entanto ele é apenas identificado como espectador ou visitante e nada
mais se conhece a respeito dele. Esta é uma situação de alta vulnerabilidade.
Autorização
A autorização é o passo seguinte. Aquela pessoa que já foi identificada e possui fatores
que autenticaram a identidade, está autorizada a fazer o que? Espectadores não podem
acessar áreas privativas. Quem ocupa a área geral não pode ir para a VIP. Nem todos os
funcionários tem acesso livre. É então definido pelos organizadores, em conjunto com
a segurança, os critérios de autorização e como identificá-los. No caso de cartões de
proximidade, por exemplo, eles não irão proceder à abertura de portas de áreas restritas,
por exemplo. Se a autenticação é feita por ingresso, pode haver cores diferentes para
identificação dos locais que requerem autorizações especiais. Uma forma simples de
verificação de autorização de quem trabalha no evento ou está em determinada área
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
Controle de acesso
A partir das medidas acima adotadas, é realizado o controle de quem pode acessar o
local, a partir da autenticação da identidade e autorizações concedidas. Para tal, devem
ser empregados procedimentos de segurança física do local e devem incluir os seguintes
meios, dentre tantos:
»» O perímetro externo deve não apenas ser vigiado como ter mecanismos
de barreira que impeçam o acesso não autorizado.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
»» Deve ser garantido acesso fácil, rápido, bem como estacionamento e rápida
saída para viaturas de socorro médico e bombeiros. Uma ambulância
não pode estar posicionada em local onde o acesso à viatura requeira a
utilização de escadas, por exemplo.
Fonte: <www.dailyfinance.com>
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CAPÍTULO 5
Controle de multidão
Diversos eventos estudados nesse curso mostram que em grande parte das tragédias,
a falta de um controle de multidões bem realizado levou a situações de pânico, a
superlotação em determinados setores e em mortes e ferimentos decorrentes de
pisoteamentos, bem como por asfixia em decorrência da pressão exercida pela massa
humana.
2. Entradas com fácil acesso para os convidados (mas não para quem não
está autorizado a entrar) e bem sinalizadas.
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
17. Armas e objetos que possam causar ferimentos não podem ser admitidos
em eventos. Policiais em serviço (e apenas eles) devem estar previamente
credenciados. Os demais, não podem entrar armados.
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
23. A questão das bebidas alcóolicas é a seguinte. Quanto mais bebidas são
consumidas, maior a chance de problemas. Dito isso, cabe ao profissional
de segurança verificar junto aos coordenadores do evento, qual será a
política a ser adotada durante o evento, lembrando que em hipótese
alguma, bebidas alcóolicas podem ser vendidas a menores de idade.
Fonte: <www.digitalspy.com.uk>
60
CAPÍTULO 6
Manifestações, tumultos e distúrbios
civis
Nos casos estudados, vimos que em diversas situações houve graves conflitos entre as
torcidas, assim como, confrontos com a polícia e sempre com resultados trágicos. Há
diversas situações relacionadas com tumultos e confrontos em eventos de grande porte:
»» provocações;
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UNIDADE ÚNICA │ SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS
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SEGURANÇA EM GRANDES EVENTOS │ UNIDADE ÚNICA
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Fonte: <esportesr7.com>
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Para (não) Finalizar
A análise de eventos ocorridos desde 1900 até 2015 mostra que, infelizmente, as lições
não foram aprendidas e os mesmos erros foram repetidos por diversas vezes.
Esse material é tão somente um guia de referência para estudos, que devem ser
complementados pela leitura e pesquisa em outras fontes do conhecimento e é
fundamental que os profissionais de segurança, pública e privada, tenham o hábito de
buscar informações pormenorizadas de situações complexas envolvendo a prevenção,
preparação e resposta em eventos de grande porte.
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Referências
BRANDT, N. Chicago Death Trap: The Iroquois Theatre Fire of 1903. Southern
Illinois: University Press. pp. 11-13.
Cocoanut Grove Coalition. The Cocoanut Grove Fire. Disponível em: <http://www.
cocoanutgrovefire.org/home>.
HALL, S.A.; COOPER, W.E.; MARCIANI, L.; McGEE, J.A. Security Management
for Sports and Special Events. Champaign, IL: Human Kinects, 2012.
HATCH, A.P. Tinder Box: The Iroquois Theatre Disaster, 1903. Chicago: Academy
Chicago, 2003.
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REFERÊNCIAS
ZANELA, A.; FERREIRA, C. Boate Kiss: 242 mortos, um ano, nenhum condenado.
São Paulo: Revista Veja.
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