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Teoria e História do Restauro

e Arqueologia da Arquitetura

Brasília-DF.
Elaboração

Ayane Farias Oliveira da Silva

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO............................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
A EVOLUÇÃO DA RESTAURAÇÃO............................................................................................. 12

CAPÍTULO 2
RESTAURO ESTILÍSTICO............................................................................................................. 15

CAPÍTULO 3
RESTAURO HISTÓRICO............................................................................................................. 17

CAPÍTULO 4
OUTROS TIPOS DE INTERVENÇÕES........................................................................................... 19

UNIDADE II
CARTAS DE RESTAURO.......................................................................................................................... 22

CAPÍTULO 1
PRIMEIRAS CARTAS DO RESTAURO........................................................................................... 24

CAPÍTULO 2
CARTAS MODERNAS DO RESTAURO......................................................................................... 28

UNIDADE III
INTERVENÇÕES.................................................................................................................................... 31

CAPÍTULO 1
OS PRINCIPAIS TIPOS DE INTERVENÇÕES URBANÍSTICAS............................................................ 33

CAPÍTULO 2
INTERVENÇÕES NOS EDIFÍCIOS............................................................................................... 41

CAPÍTULO 3
ARQUITETURA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL.......................................................................... 48

UNIDADE IV
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO............................................................................................................. 69
CAPÍTULO 1
INSTRUÇÕES PARA TRABALHOS DE RESTAURAÇÃO.................................................................... 69

CAPÍTULO 2
PRINCÍPIOS ÉTICOS DA RESTAURAÇÃO.................................................................................... 81

CAPÍTULO 3
PLANEJAMENTO PARA PROJETOS DE RESTAURO....................................................................... 87

UNIDADE V
ARQUEOLOGIA.................................................................................................................................... 90

CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DA ARQUEOLOGIA................................................................................................ 90

CAPÍTULO 2
ARQUEOLOGIA DE RESTAURAÇÃO........................................................................................... 97

CAPÍTULO 3
ARQUEOLOGIA NOS PROJETOS DE RESTAURAÇÃO.................................................................. 99

CAPÍTULO 4
ETAPAS DA ARQUEOLOGIA.................................................................................................... 103

CAPÍTULO 5
PROJETO DE PESQUISA ARQUEOLÓGICA............................................................................... 109

CAPÍTULO 6
PROCEDIMENTOS MÍNIMOS.................................................................................................. 112

CAPÍTULO 7
RELATÓRIOS DAS PESQUISAS................................................................................................. 119

CAPÍTULO 8
REGULAMENTAÇÃO.............................................................................................................. 123

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 139
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
As intervenções nos patrimônios culturais e históricos se tornaram uma necessidade
real e a cada dia o assunto está mais presente na sociedade. Conhecer o passado
e conservá-lo é de suma importância para recontar a história de onde e como cada
sociedade evoluiu. É necessário aprofundar o tema de conservação e restauro para que
o estudo sobre os monumentos permita desenvolver novas técnicas e tecnologias que,
utilizadas nos patrimônios, estendam sua vida útil, recontando sua história para mais
pessoas e por mais tempo.
Essa relação com o passado foi alterada ao longo do tempo. Enquanto antes importava-
se apenas com a funcionalidade do edifício, se ele estava apto à atividade a ser realizada
ou não, hoje a preocupação envolve toda a carga histórica e cultural que ele carrega em
suas transformações, sensações, movimentos que ali ocorreram. Essa mudança ocorre
graças à passagem de vários teóricos que alteraram a visão do patrimônio em sua
época, cada um na evolução de acordo com o seu tempo, permitindo que chegassemos
na concepção histórica que hoje domina. São grandes nomes: Viollet-le-Duc, Ruskin,
Riegl, Brandi, Boito, Pane, entre outros.
Da mesma forma, é importante destacar também a importância de se inserir a
arqueologia dentro das intervenções nos patrimônios que irão tratar da conservação e
restauro. Através de ações arqueológicas se permite conhecer mais da história daquele
monumento e entender todos os processos a que ele foi submetido até chegar ao ponto
que se encontra. A arqueologia é o meio de investigação mais completo, que remonta a
história e constrói uma linha do tempo, permitindo a compreensão do que determinado
edifício significa na história da sociedade.

Objetivos
»» Conhecer conceitos de preservação de bens culturais e questões de
restauro.
»» Bordar temas referentes ao projeto arquitetônico de restauração.
»» Analisar as questões teórico-metodológicas relativas à preservação, e às
ações de manutenção, conservação e restauro de bens culturais.
»» Conhecer os princípios básicos da arqueologia.
»» Estudar a arqueologia histórica.
»» Estudar a arqueologia aplicada ao projeto de restauração do patrimônio
edificado.

8
FUNDAMENTOS
TEÓRICOS DO UNIDADE I
RESTAURO

Atualmente é fácil entender o restauro dos monumentos, edifícios, obras como uma
consolidação e uma conservação da história, isso porque se adquiriu uma consciência
histórica e artística que gera toda essa movimentação.

Contudo, antes do século XVII, a restauração possuía características práticas, com o


fim apenas de reparar ou modificar os edifícios de acordo com as novas necessidades
que surgiam ao longo do tempo. Não era obra de arte, era apenas uma ferramenta.

Para reconhecer um valor artístico de um objeto, bastava-se que ele fosse produzido por
um artista, com a sua assinatura validando a autenticidade, isso valeria para quadros
ou esculturas. Contudo, como reconhecer um valor artístico de uma obra que resulta de
uma ideia e é produzida por mão de obra anônima? É o caso das obras arquitetônicas.
Esse processo se torna mais complexo que o dos demais produtos artísticos.

Para entendermos melhor de que vem essa caracterização de restauração, temos


que começar pela Grécia Clássica, a arte carregava uma significação espiritual que
relacionava a natureza e a divindade. A restauração era utilizada como uma recuperação
dos objetos para proteger toda a espiritualidade que ali pertencia. A conservação de um
objeto era motivada por questões econômicas ou religiosas.

Já na Roma Antiga, a arte, ligada diretamente à religião, era utilizada como política de
propaganda e conquista, enquanto a preocupação com a arquitetura envolvia questões
funcionais. As esculturas assumiram então, um valor celebrativo. O importante era
manter a memória e a glória do povo romano ao longo dos tempos, nada tinha ligação
com a peça em si.

Os gregos e romanos não possuíam técnicas específicas de restauração. Essa manutenção


era realizada sobrepondo peças e novos materiais de acordo com a necessidade que se
desejava. Era comum o aproveitamento de material entre edifícios, podendo citar o caso
de quando os egípcios retiraram o calcário que revestia as superfícies das pirâmides do
complexo de Quéops para construir outros edifícios. Essa prática foi perpetuada por
muito tempo, sendo utilizada em várias civilizações e partes do planeta.

9
UNIDADE I │ FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO

Figura 1. Pirâmides de Quéops - nota-se ainda a presença de vestígios de revestimento na pirâmide central.

Fonte: https://abrilsuperinteressante.files.wordpress.com/2018/02/pirc3a2mides.png/.

No início da era cristã, houve uma mudança e uma destruição daqueles monumentos
clássicos considerados pagãos. Alguns edifícios foram “aproveitados” e receberam uma
nova significação de utilização: os templos se transformaram em igrejas.

Figura 2. Panteão de Roma transformou-se em igreja católica.

Fonte: http://rosepontes.files.wordpress.com/2010/04/pantheon1.jpg.

Na Idade Média, o artista deixa de ser escravo e a arte se torna uma expressão religiosa,
exaltando a divindade cristã e renegando todo o mundo antigo, pagão e politeísta.
Ainda aqui, os trabalhos de conservação atuavam apenas em manter as crenças e não
valores históricos. Essa prática continuou até o Renascimento, apenas produzindo
transformações sobre as obras do passado, com adaptações e reconstruções funcionais.

No século XIV, ouve-se a voz de Francisco Petrarca, intelectual, poeta e humanista italiano
contra o abandono dos monumentos, antecipando os românticos na compreensão da
ligação das obras – tempo – história.

10
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO │ UNIDADE I

Já em meados do século XV, o Papa Pio II proíbe a destruição dos monumentos para
realizar novas construções, assim como o reaproveitamento dos seus materiais. A partir
dessa decisão, começa-se a ter o passado como patrimônio que deve ser salvaguardado
como testemunho da história.

Com a chegada do período neoclássico, os primeiros restauros passaram a valorizar


o monumento como parte da história, não mais apenas para melhorar sua função no
ambiente. Os artistas se transformam em especialistas em reconstrução das partes
que faltavam ou na remontagem dos fragmentos. Os restauradores passam a obter
especializações com técnicas de consolidações, distinguindo-se dos demais artistas.

O período da primeira metade do século XIX até a primeira década do século XX, foi
dominado por duas vertentes de ideias opostas: Eugène Viollet-Le-Duc e John Ruskin.
Viollet-Le-Duc segue com o pensamento de que o restaurador deve entender e conhecer
a mentalidade do arquiteto original do projeto, executando os projetos com a intenção
de chegar aos resultados que, talvez, o construtor não tivesse pensado. Ele determina
que ao restaurar um edifício não se deve mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo. Esse tipo
de pensamento levou a obras de restauros arbitrárias onde seus elementos originais
foram, muitas vezes, sacrificados.

Já John Ruskin, determina que o monumento deve permanecer como está, sem
nenhuma intervenção ou toque. O monumento deve existir pelo período natural, sem
contínuas manutenções, e seu desgaste natural deve ser incorporado pela natureza. O
restauro, para ele, cria apenas um novo modelo do original, pois com a substituição dos
materiais, estará destruindo-o.

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CAPÍTULO 1
A evolução da restauração

Depois da elaboração dos dois conceitos opostos – de Viollet-le-Duc e Ruskin –, surge


nesse entre elas uma teoria intermediária, com a intenção de dar mais atenção a obras
de manutenção e consolidação das obras, preocupando-se com os monumentos que se
caracterizem como arte, de todos os períodos.

Surge nesse meio o arquiteto italiano Camillo Boito, que estabelece alguns princípios
que até hoje são aceitos dentro dos processos de restauração, nos quais é necessário a
diferenciação entre as partes originais e as restauradas havendo o mínimo possível de
intervenção. O arquiteto propôs, também, no Congresso de Engenheiros e Arquitetos
em Roma, em 1884, os oito princípios básicos do restauro arqueológico. Alguns são:

»» os monumentos devem ser considerados como documentos da história e


devem ser respeitados;

»» os monumentos devem ser preferencialmente consolidados do que


reparados, e reparados do que restaurados, evitando novas adições e
renovações;

»» as adições realizadas em períodos diferentes devem ser consideradas


como parte do monumento e devem ser mantidas.

Já no século XX, o historiador de arte Alois Riegl determina que os critérios de


preservação de monumentos devem ser aplicados em qualquer obra que possua
simbolismo sentimental ou social, não considerando apenas os quesitos históricos e
artísticos.

Em 1912, os pensamentos evoluem com a Teoria do Restauro Científico que defende


priorizar a conservação à frente da restauração, não a excluindo, mas determinando seus
limites como forma de consolidação. Sustenta-se baseando em evidências documentais,
evitando o desgaste natural defendido por Ruskin e a intervenção a qualquer custo de
Viollet-le-Duc. Eram guiados pelo conhecimento arqueológico, filológico e histórico.

Com isso, várias novas teorias foram surgindo e a discussão sobre a conservação do
patrimônio foi se aprofundando e gerando muitas divergências e críticas. Surgiu a
necessidade de normalizar alguns procedimentos para que os profissionais especialistas
e conservadores entrassem em acordo. Surgiram assim as “Cartas Patrimoniais”, às
quais daremos atenção nos próximos tópicos.

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FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO │ UNIDADE I

Outro nome importante para a história do restauro foi Cesare Brandi, professor, crítico
de arte e musicólogo. Foi também o primeiro diretor do Instituto Centrale di Restauro,
fundado em Roma em 1939. Brandi dividia os objetos a serem restaurados em duas
categorias: os produtos industriais, nos quais os propósitos da restauração estariam em
trabalhar as funcionalidades do produto, e o grupo das obras de arte.

Para ele, a restauração não é apenas um objeto auxiliar da arte, mas um momento de
pesquisa em direção à compreensão de toda a história ali inserida com a intenção de
levá-la ao futuro. Sendo assim, a restauração deveria recriar o objeto de forma a eliminar
os efeitos ocasionados pelo tempo ou por outras restaurações. Deveria seguir princípios
históricos mantendo os traços da passagem de tempo e também os princípios estéticos,
removendo o que não estivesse de acordo com a originalidade do produto.

Ao longo do século XX, teorias de conservação surgiram e coexistiram. A Nova


Conservação Científica foi um movimento importante que defendia técnicas e
metodologias científicas que se tornariam determinantes no processo de preservação, e
com o sucesso da abordagem tornou-se a forma reconhecida de lidar com a preservação
dos acervos.

Já recentemente, em 2005, Salvador Muñoz Viñas da Universitat Politècnica de


València na Espanha, desenvolve a sistematização e crítica às ideias anteriores,
propondo uma teoria contemporânea com foco nas pessoas, em que os objetos têm
em comum uma natureza simbólica e com significados sociais e sentimentais. Aqui,
a verdade deixa de ser o critério de orientação, e passa-se a facilitar a compreensão
do objeto e favorecer o potencial de comunicação. Segundo Muñoz, a conservação
seria realizada com participação das pessoas afetas por aquele objeto, através de uma
democracia conduzida por representantes sociais e profissionais estabelecendo uma
relação entre o conservador e as pessoas envolvidas sentimentalmente, satisfazendo a
maioria.

Atualmente, no século XXI, a conservação preventiva é o fator mais influente, onde o


“não tocar” foi desenvolvido baseado nos problemas de conservação e na degradação
dos objetos, levando em consideração a utilização ineficiente de alguns materiais
modernos que foram utilizados em restaurações no passado.

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UNIDADE I │ FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO

Figura 3. Restauro preventivo.

Fonte: http://www.elbarco.es/images/conservacion-1.jpg .

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CAPÍTULO 2
Restauro estilístico

Viollet-le-Duc inovou as teorias de restauração do seu tempo, nas quais seus antecessores
não realizavam a correção das irregularidades dos edifícios, pois essas faziam parte e
caracterizavam a identidade do prédio. Ele, então, entende que “restaurar um edifício
não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo; é restabelecer-lhe um estado completo que pode
nunca ter existido a dado momento” (apud KUHL, 2000 p. 46).

O restauro estilístico parte do pressuposto de não apenas restaurar a aparência do


edifício, mas também a função principal da estrutura, procurando a ideia inicial para
resolver os problemas existentes.

Juntamente com a Comissão de Monumento Históricos, Viollet-le-Duc desenvolveu


um método de análise e classificação a fim de diferenciar e estabelecer a idade e as
fases de construção e os materiais utilizados em cada uma delas nas edificações. O
especialista ainda alertava para o equívoco em realizar a cópia fiel dos elementos em
uma edificação, pois mesmo com todo o conhecimento de um profissional, poderia
haver riscos de interpretação e, além disso, a substituição dos elementos originais por
peças em formato diferente causaria prejuízos ao processo.

Para ele, o arquiteto restaurador deveria dominar todos os estilos de vários períodos da
arte e também possuir conhecimentos básicos de arqueologia, para que fosse capaz de
diferenciar o antigo do novo, eliminando os problemas que surgiram com restaurações
realizadas por profissionais sem entendimento de escolas diferentes da sua formação,
gerando trabalhos de baixo padrão.

Defendeu a ideia de que as partes substituídas de um monumento deveriam ser


equivalentes e de melhor qualidade, usando de bom senso, de forma mais eficaz. A
ideia era reutilizar uma edificação com funções e usos mais úteis para a sociedade,
trazendo uma nova compreensão da restauração que reflete, até hoje, nos processos de
restaurações. Por vezes foi considerado polêmico, pois sua teoria era de se colocar no
lugar do construtor original e assumir a função de imaginar o que seria feito naquela
situação.

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UNIDADE I │ FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO

Figura 4. Igreja de Sain-Sernin, França, antes da restauração de Viollet-le-Duc.

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-42SE6r0Uj2Q/UeYC4hUJd2I/AAAAAAAACpY/GbqfvvCs5XU/s1600/VIOLLET+LE+DUC.pdf+-
+Adobe+Reader.jpg.

Figura 5. Igreja de Sain-Sernin, França, depois da restauração de Viollet-le-Duc.

Fonte: http://sumateologica.files.wordpress.com/2009/12/ste-marie-madeleine_de_vezelay.jpg?w=630.

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CAPÍTULO 3
Restauro histórico

Dá-se o nome de Restauro Histórico à técnica defendida pelo arquiteto e historiador


Luca Beltrami. Opositor das teorias de Viollet-le-Duc, e também das ideias de Ruskin,
reuniu as ferramentas para elaborar o processo de restauração, reuniu documentações,
provas físicas e descrições, para, depois disso, começar o projeto de intervenção.
Qualquer interferência deveria ser baseada em provas documentais. Os acréscimos
que desvirtuassem ou alterassem as características principais do edifício deveriam ser
eliminados. Envolvia, então, o processo de reconstruir partes do monumento baseado
em um estudo exaustivo e baseado em uma produção histórica e iconográfica de toda
a linha do tempo do monumento, percebendo a unicidade de cada um, onde não era
cabível inovações, mas restaurar a peça, mantendo suas características.

Um dos exemplos de restauração realizado por Beltrami foi o Castelo Sforzesco de


Milão, construído no século XV por Francesco Sforza. O castelo usou como base restos
de uma fortificação do século XIV. Durante o século XVI, sofreu avarias por conta dos
ataques durante um período de confrontos entre franceses, milaneses e germânicos.
Uma de suas torres explodiu ao ser atingida por uma descarga atmosférica.

Figura 6. Esboço do Castelo Sforzesco de Milão, século XVI.

Fonte: https://www.passeidireto.com/arquivo/37046588/09-beltrami-e-giovannoni-vr.

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UNIDADE I │ FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO

Foram realizadas diversas intervenções na estrutura para que se adaptasse aos usos
da época, principalmente o militar. Além de sofrer mais ataques durante a guerra de
independência italiana, houve diversos pedidos de demolição. Em 1893, Lucas Beltrami
monta um processo complexo de reconstrução baseado em documentos e desenhos
encontrados em sua pesquisa.

Figura 7. Castelo Sforzesco de Milão, atualmente.

Fonte: http://gd-italia.sfo2.digitaloceanspaces.com/2016/01/Visita-guidata-al-Castello-Sforzesco-1-1.jpg .

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CAPÍTULO 4
Outros tipos de intervenções

Restauro por anastilose


Anastilose é a reposição das partes que se degradaram do edifício. Se os elementos
que se desconectaram do monumento ainda estiverem em boas condições poderão ser
utilizados na restauração da parte. Se não for possível reaproveitar esses elementos,
procura-se então preencher a falha com outros materiais com características mínimas
para completar o edifício.

Restauro arqueológico

John Ruskin, humanista que carregava um apelo humanista e grande sensibilidade


para a arte, era muito influente e considerava o restauro arqueológico um elemento
essencial para a sociedade. Era um anti-intervencionista, pois acreditava que intervir
nas obras de arte de forma radical alteraria o legado deixado pelas gerações passadas.
O restauro corromperia o espírito do edifício e adulteraria sua identidade, deixando
assim nenhuma margem para intervenções.

Para os seguidores dessa vertente, a degradação e a ruina são o destino inevitável


de toda construção. Contudo, mesmo sendo uma atitude restritiva de intervenção,
nota-se uma abertura a um certo nível de manutenção com o fim de consolidação do
monumento, desde que essa ação não gere nenhuma alteração. São aceitos também,
reforços estruturais quando há algum risco ou reparações específicas como fixação de
esculturas que estão com risco de queda, mas tudo isso sem nenhum tipo de cópia ou
acréscimo aos elementos originais.

Essa vertente surgiu com a influência do Papa Leão XIII, com a reconstrução da
basílica de São Pedro em Roma. Com isso, as intervenções necessitavam de uma equipe
multidisciplinar, com técnicos de todas as áreas como arquitetos, arqueologistas,
engenheiros, historiadores.

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UNIDADE I │ FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO

Figura 8. Abadia de San Galgano em Siena.

Fonte: http://www.esacademic.com/pictures/eswiki/83/San_Galgano2.jpg.

Restauro moderno ou filológico

Tendo como principal nome Camilo Boito, o Restauro Moderno também tinha como
característica a reutilização do patrimônio com novas funções. Entendia-se que os
elementos que foram acrescentados ao longo do tempo pertenciam ao monumento assim
como suas características originais, e então, o restauro seria utilizado apenas quando
o edifício chegasse ao seu limite, e somente nesse momento os elementos acrescidos
poderiam ser retirados para garantir o valor artístico original. As interferências no
edifício deveriam ser perceptíveis, para que no futuro não houvesse a tentativa de
utilizá-las como se fossem originais.

As teorias de Boito foram utilizadas em toda a Itália e sua credibilidade gerou a primeira
lei de conservação. Suas normativas foram utilizadas e expandidas por toda a Europa.
Alguns dos pontos de seu estudo incluídos na lei são:

»» mínimo de intervenções possíveis, e quando realizadas, devem ser


facilmente reconhecidas;

»» as partes novas e antigas devem ser diferenciadas;

»» as partes eliminadas devem permanecer expostas próximo ao monumento


original;

»» toda intervenção deverá ser registrada por meio de fotografias e essas


deverão ser expostas em local público;

»» as datas da execução das restaurações devem estar registradas.

20
FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO RESTAURO │ UNIDADE I

Figura 9. Porta Ticinese, Milão – Restauração de Camilo Boito (antes e depois).

Fonte: https://player.slideplayer.it/16/4955877/.

Conservação

Conservação é a intervenção que tem a intenção de minimizar ou eliminar o processo


de deterioração de um monumento. Ela não altera a característica original ou retira
partes do edifício em função das características estéticas do objeto, mas trabalha com
a manutenção do espaço para sobreviver à ação do tempo e das demais adversidades
do meio. Diferentemente do restauro, que envolve uma intervenção profunda, a
conservação ocorre com pequenas intervenções periódicas.

Como exemplo, o teto da Capela Sistina foi pintado com a técnica afresco por
Michelangelo Buonarroti, obra que foi encomendada pelo Papa Júlio II (1443-1513). Por
conta do grande fluxo de visitantes e também com a ação do próprio desgaste do tempo,
algumas pinturas foram se desgastando e perdendo a cor. A mais recente intervenção
foi a realização da limpeza dos afrescos, que haviam sido afetados pelas sujeiras e fumos
das velas queimadas ao longo dos séculos, revelando então a paleta de cores vibrantes
utilizada pelo artista, antes apagada pelo foco que se dava apenas ao desenho.

Figura 10. Ao longo dos anos, foram realizadas algumas intervenções de conservação no teto da Capela Sistina

de Michelangelo.

Fonte: https://cdn.culturagenial.com/imagens/2476394326-040559cf7c-b-cke.jpg.

21
CARTAS DE UNIDADE II
RESTAURO

As Cartas de Restauro foram medidas administrativas com o objetivo de proteger as


edificações importantes da sociedade. Após o século XIX, a sociedade começa a se
organizar em função da proteção do patrimônio cultural; contudo, somente depois
do século XX as legislações e ações são realmente postas em prática. Os documentos
iniciais geralmente não entravam em detalhes voltados para as ações de intervenção, o
que ocorre ao longo do tempo com o surgimento de casos e outras regulamentações, as
cartas vão se complementando e abrindo espaço para novas regras. Temos ao longo do
tempo as seguintes Cartas Patrimoniais:

»» Carta de Atenas - Sociedade das Nações - outubro de 1931;

»» Carta de Atenas - CIAM - novembro de 1933;

»» Recomendação de Nova Delhi;

»» Recomendação Paris 1962;

»» Carta de Veneza;

»» Recomendação Paris 1964;

»» Normas de Quito;

»» Recomendação Paris 1968;

»» Compromisso Brasília 1970;

»» Compromisso Salvador;

»» Carta do Restauro;

»» Declaração de Estocolmo;

»» Recomendação Paris 1972;

»» Resolução de São Domingos;

»» Declaração de Amsterdã;

»» Manifesto Amsterdã;

22
CARTAS DE RESTAURO │ UNIDADE II

»» Carta do Turismo Cultural;

»» Recomendações de Nairóbi;

»» Carta de Machu Picchu;

»» Carta de Burra;

»» Carta de Florença;

»» Declaração de Nairóbi;

»» Declaração Tlaxcala;

»» Declaração do México;

»» Carta de Washington 1986;

»» Carta Petrópolis;

»» Carta de Washington 1987;

»» Carta de Cabo Frio;

»» Declaração de São Paulo;

»» Recomendação Paris 1989;

»» Carta de Lausanne;

»» Carta do Rio;

»» Conferência de Nara;

»» Carta Brasília 1995;

»» Recomendação Europa de 1995;

»» Declaração de Sofia;

»» Declaração de São Paulo II;

»» Carta de Fortaleza;

»» Carta de Mar del Plata;

»» Cartagenas de Índias – Colômbia;

»» Recomendação Paris 2003.

23
CAPÍTULO 1
Primeiras cartas do restauro

Carta de Atenas (1931)


A Conferência Internacional de Atenas buscou uma colaboração entre os Estados
para a conservação de monumentos da história. Ela elaborou os princípios gerais e as
doutrinas que dizem respeito à proteção dos monumentos.

Avaliou-se que, nos casos de indispensável necessidade de restauro, a obra histórica e


artística deve ser respeitada, sem acrescentar nenhuma característica além do original,
recomendando também que mantenha a ocupação dos edifícios de formas que se
assegure o respeito ao espaço.

Os especialistas apresentaram as opções de emprego de materiais modernos na


consolidação dos edifícios antigos, principalmente o uso do concreto armado, com os
recursos das técnicas modernas sem alterar o aspecto e a caracterização do edifício a
ser restaurado.

Durante a Conferência, constatou-se que os monumentos são ameaçados principalmente


pelos agentes exteriores, não podendo assim formular teorias gerais, pois cada
caso dependeria de um estudo acerca de sua complexidade. Entretanto, algumas
recomendações foram expostas:

»» colaboração entre os países, conservadores e arquitetos com representantes


das áreas cientificas (física, química, biológicas);

»» divulgação dos trabalhos realizados.

A Conferência ainda recomendou que na construção de novos edifícios, principalmente


aqueles próximos a monumentos históricos ou antigos, deve ser observado o contexto e
a inserção de um novo desenho no entorno, tendo respeito e cuidado com as paisagens
ali presentes. Isso também envolve a presença abusiva de fiações aéreas, indústrias,
vegetações ou qualquer objeto que possa afetar o espaço do monumento. Essa
conferência emite as seguintes recomendações:

»» os Estados deve possuir suas próprias instituições para o fim de


preservação, publicando um inventário nacional dos monumentos
acompanhados de fotografias e notícias;

24
CARTAS DE RESTAURO │ UNIDADE II

»» cada Estado deve possuir um arquivo relativo aos seus monumentos


históricos;

»» a Organização Internacional dos Museus deve dedicar dentro das suas


publicações um espaço para os artigos que envolvem procedimentos e
métodos de conservação e recuperação dos monumentos;

»» uma organização específica deve ser responsável pelo estudo e divulgação


dos dados arquitetônicos, históricos e técnicos, centralizando as
informações.

»» as escolas devem ser responsáveis por educar jovens e crianças a


respeito de atos que possam degradar ou estragar todo e qualquer tipo
de monumento, fazendo assim com que conheçam o significado e a
importância dessa proteção para as civilizações.

Carta italiana do restauro (1932)

Quando a Itália recebe grande atenção nacional com seus monumentos e ciente da
necessidade de se aperfeiçoar nas técnicas de restauração, o Consiglio Superiore Per Le
Antichit e Belle Arti elabora estudos de normas que deverão reger o processo de restauro
dos monumentos. Esses princípios devem ser aplicados nos restauros particulares ou
nos realizados por entidades públicas. São eles:

»» os cuidados de manutenção e obras de consolidação devem ser colocados


com prioridade, de forma a inserir no monumento resistência e
durabilidade diminuindo os efeitos da degradação do edifício;

»» as restaurações devem ser realizadas motivadas por razões arquitetônicas,


artísticas somadas com os critérios históricos, baseando-se nos dados
fornecidos pelo próprio monumento, prevalecendo os elementos
existentes acima dos novos;

»» nos monumentos de características apenas históricas, deve-se excluir


as possibilidades de qualquer tipo de complementação, considerando
apenas o restauro do tipo anastilose, com a recomposição das partes
existentes que tenham sido desmembradas, com intervenções mínimas,
garantindo as condições de conservação;

»» em edifícios que ainda sejam utilizados, a inserção de novos elementos


deverá observar as características originais, não fugindo do padrão e
evitando alterações no edifício;
25
UNIDADE II │ CARTAS DE RESTAURO

»» os elementos que possuem características de arte ou de registro histórico,


independente da época a que pertencerem, devem ser conservados e
preservados, não permitindo a exclusão de uns em detrimento de outros,
ou eliminação;

»» deve-se prover o respeito ao monumento em suas várias fases,


principalmente em suas condições ambientais, não sendo alterados por
isolamentos ou pela construção de fábricas em seu entorno;

»» quando um acréscimo for necessário para consolidação, reintegração ou


reutilização do monumento, os elementos novos devem ser limitados
ao número mínimo, havendo uma correspondência com o sistema
construtivo original, mantendo suas linhas originais;

»» em qualquer caso de adição de novos elementos, deverá ser identificado


pelos executores, a fim de que nenhum restauro realizado confunda
os estudiosos ou gere uma falsificação de documentos históricos, com
elementos que não sejam originais;

»» quando for necessário realizar intervenções de origem estrutural, os


meios modernos poderão e deverão ser utilizados, contudo adequando aos
meios construtivos originais sem que afetem a solidez e a caracterização
do monumento;

»» nas ações de escavação e exploração de obras antigas, o trabalho deve ser


metódico e acompanhado por sistema de proteção de estabilidade para
que possa ser conservado in situ;

»» a documentação em processos de escavações deve ser armazenada em


espécie de diário de restauro, ilustrado com desenhos e fotografias todas
as fase de trabalho como a recomposição, libertação, complementação
sendo registrados de forma permanente e segura.

Carta de Veneza (1964)

Foi durante as primeiras reuniões de organização do Congresso de Veneza que surgiram


os primeiros esboços da proposta de se criar uma organização para os especialistas
em monumentos históricos, baseando-se em ideias anteriores apresentadas em outros
congressos.

A organização do congresso deu origem à Carta de Veneza, resultado do esforço de várias


nações para criar um sistema internacional que solucionasse as questões existentes
26
CARTAS DE RESTAURO │ UNIDADE II

relacionadas à preservação de bens, com um esquema metodológico e rigoroso baseado


em critérios e princípios. Esse sistema teria a função de tirar o controle do restauro da
forma arbitrária e transformá-lo em uma sistemática fundamentada em pensamentos
críticos e ciência.

A Carta de Veneza abre espaço para determinar o que é bem cultural, cada vez mais
abraçando os diferentes tipos de bens. Isso gerou, ao longo dos anos, a necessidade de
produzir mais documentos que aprofundassem e reinterpretasse a Carta de Veneza,
trazendo temas que não foram vencidos por ela. Algumas cartas foram elaboradas
posteriormente para preencher esses vácuos: carta de Florença (1981), carta
internacional sobre a proteção e gestão do patrimônio cultural subaquático (1996),
carta do turismo cultural (1999), carta dos itinerários culturais (2008), carta para
interpretação e apresentação de sítios culturais patrimoniais (2008), entre outras.

O tema abordado na carta é baseado nos pontos em comum acordo abrangidos nas
reuniões para o congresso, pautado principalmente na visão do restauro crítico, sendo
esse uma releitura das propostas do restauro filológico. O restauro crítico acolhe os
fundamentos do filológico, diferenciando as ações de intervenção do original, e também
traz as discussões estéticas somadas às próprias percepções a respeito do monumento.
É a inovação de se considerar as dimensões – formais e documentais – juntamente em
um mesmo processo.

As intervenções realizadas não podem inviabilizar as ações futuras, pois o tempo


e as técnicas mudam e pode-se tornar necessário novas atuações no monumento.
Elas devem seguir princípios fundamentais, embasando a conduta dos profissionais
responsáveis por todo o processo, devendo abranger cada peculiaridade das obras com
fundamentação técnica e científica. Esses princípios surgem de um processo que teve
origem no século XV com o reconhecimento de um interesse cultural, além das questões
funcionais das obras.

A Carta de Veneza é tratada como um guia de reflexão aos especialistas da área de


restauração; nem sempre possui em seu texto uma resposta clara para todos os
problemas que surjam ao longo do tempo. Por isso, ao longo dos anos, complementos,
emendas, anexos e novas cartas foram criados para suprir essa necessidade.

27
CAPÍTULO 2
Cartas modernas do restauro

Carta Italiana do restauro (1972)


A carta Italiana do restauro foi desenvolvida pelo Ministro da Educação da Itália, com
assessoria do Conselho de Antiguidades e Belas Artes, com o fim de criar critérios que
fossem uniformes para todas as atividades que envolvessem o campo da conservação
de patrimônio artístico.

As ações descritas na carta envolvem desde obras de arte a edifícios de interesse


histórico, até os centros históricos, coleções de arte, jardins, parques e peças descobertas
em escavações terrestres ou marítimas.

No texto da Carta determinam-se alguns instrumentos:

»» planos de desenvolvimento geral: envolvem a reestruturação da relação


do centro histórico com o conjunto da cidade;

»» planos parciais: envolvem a reestruturação dos elementos significativos


do centro histórico;

»» planos de execução setorial: envolve a intervenção em uma edificação ou


em um conjunto de elementos similares.

A estrutura da Carta ainda se divide em:

»» anexo A - Instruções para a salvaguarda e a restauração dos objetos


arqueológicos;

»» anexo B - Instruções para os critérios das restaurações arquitetônicas;

»» anexo C - Instruções para a execução de restauração pictóricas e


escultóricas;

»» operações preliminares;

»» anexo D - Instruções para tutela dos centros históricos.

Os principais tipos de intervenções a nível urbanístico são:

28
CARTAS DE RESTAURO │ UNIDADE II

»» reestruturação urbanística;

»» reordenamento viário;

»» revisão de equipamentos urbanos.

Os principais tipos de intervenção a nível edílico são:

»» saneamento estático e higiênico dos edifícios;

»» renovação funcional dos elementos internos.

Carta de Cracóvia (2000)

A Conferência Internacional sobre a Conservação Cracóvia em 2000, foi um trabalho


de cerca de três anos de instituições que estavam conscientes sobre os significados
referentes ao patrimônio cultural, sendo guia para a proteção deles. Tendo como base a
Carta de Veneza, tem no seu escopo as recomendações internacionais a fim de unificar
a Europa nas questões de preservação.

Isso determina aos responsáveis o dever de sensibilizar a respeito dos objetivos de


resguardar o patrimônio histórico de cada comunidade e sua memória coletiva. Os
monumentos trazem em sua vida valores que podem se alterar ao longo do tempo,
pois possuem uma variabilidade de valores individuais da sociedade. Os instrumentos
e métodos presentes na Carta, devem se adequar a cada situação com um processo
contínuo de adaptação. A proposição da Carta envolve os objetivos a seguir:

»» a patrimônio é resultado de uma associação de monumentos históricos


e contextos socioculturais. A conservação deve ser realizada através
de diferentes modos de intervenção junto com o controle ambiental,
manutenção, reparação, restauro, renovação e reestruturação;

»» a manutenção e a reparação devem ser realizadas por um sistema de


inspeções, controles, monitoramento e ensaios. A degradação deve ser
prevista e adotadas as melhores medidas de prevenção de acordo com
cada caso;

»» a conservação do monumento deve passar pelo projeto de restauro, que


deve ser baseado em decisões técnicas com conhecimento do edifício e do
recolhimento de informações envolvendo análises estruturais, geográficas,
identificação do significado histórico, artístico e sociocultural;

29
UNIDADE II │ CARTAS DE RESTAURO

»» a reconstrução de grandes partes deve ser evitada, enquanto a de partes


menores deve ser realizada desde que mantenha a condição original e
seja documentada cada etapa;

»» a reconstrução completa de um edifício, que tenha sido destruído por


causas naturais, só será permitida por motivações excepcionais ou de
ordem social/cultural, características de uma identidade;

»» qualquer tipo de intervenção no patrimônio arqueológico a ser realizada


deve estar diretamente relacionada com o seu contexto, território e
passado. As escavações devem ser realizadas de forma a causar o menor
dano possível. Os objetos encontrados nessas devem ser documentadas;

»» as cidades e vilas históricas devem ser vistas como um conjunto do espaço,


estruturas e atividades ali desenvolvidas. Estando sempre em processo
de evolução e expansão, requer um processo de planejamento complexo
e abrangente. O processo de restauro desses espaços deve prever uma
gestão integrada da transformação e também da sustentabilidade de toda
intervenção, envolvendo os aspectos patrimoniais, sociais e econômicos.
Dessa forma, é necessário o estudo preliminar dos métodos a serem
utilizados no processo de conservação, levando em conta a dupla função
do projeto:

a. elementos que são definidores do espaço;

b. sistema de distribuição dos espaços interiores.

»» deverá ser estimulado o conhecimento, por parte dos profissionais, sobre


as técnicas e materiais tradicionais, pois são componentes do patrimônio;

»» devem ser identificados os riscos que o patrimônio pode estar sujeito no


espaço, além de serem previstos sistemas de prevenção e de emergência;

»» a participação da população e das instituições nos processos decisórios


deve ser estimulada;

»» as formações dos conservadores devem ser interdisciplinares


aprofundando-se em história da arquitetura, teoria e técnicas de
conservação, garantindo a preparação adequada para a resolução
dos problemas inerentes aos processos de restauro e conservação dos
monumentos.

30
INTERVENÇÕES UNIDADE III

Quando se fala de intervenção em qualquer tipo de monumento que resguarde o


patrimônio histórico, deve haver a conservação da autenticidade da obra. Qualquer
acréscimo deverá ser reconhecível e diferençável do restante do objeto para não
sacrificar toda a figura e manter as preexistências originais. Deve haver um cuidado
com a sistematização do entorno e das fachadas a fim de eliminar as causas mais graves
de degradação.

Imitações de estilos podem causar uma sensação de efeito falso, ou até mesmo de que
a tentativa de aproximação foi falha. Nas partes onde a imitação for bem sucedida,
poderá confundir o original da restauração, causando confusão nos especialistas o que
pode gerar a falsificação dos dados do monumento. As tentativas de embelezamento,
“maquiadas”, as tentativas de reconduzir ao novo, de presumir o estado primário da
obra, devem ser evitadas, pois são interferências que não estão ligadas com o real
significado da restauração. Deve haver respeito pela passagem do tempo na estrutura,
são marcas dos valores estéticos e históricos.

Figura 11. Restauração sem preocupação em resguardar a história. Fortaleza de Matrera, Espanha antes (esq.) e
depois (dir.) da restauração.

Fonte: https://files.incrivel.club/files/news/part_28/280460/9231710-882560-7-0-1500645252-1500645255-650-1-1500645255-
650-5f3bf5d6ec-1500896939.jpg.

Durante a execução de qualquer gênero de obra de restauração deve-se observar o


princípio da intervenção mínima, utilizando qualquer técnica, mesmo que seja reversível

31
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

ou pouco invasiva. O cuidado tem que ser redobrado para que se evite exageros ou
excessos, evitando os trabalhos que não sejam realmente necessários e específicos para
a conservação da obra.

Para evitar diferentes reações e fenômenos sobre os novos e antigos materiais utilizados
na obra, deve-se observar e respeitar o princípio da compatibilidade mecânica, física e
química, para que os materiais se integrem e sejam capazes de retardar o processo de
degradação ao invés de acelerá-lo. Com isso, a durabilidade desses novos materiais
inseridos juntamente com os primários precisa estar em equilíbrio para garantir a
eficiência dos trabalhos de manutenção.

32
CAPÍTULO 1
Os principais tipos de intervenções
urbanísticas

Reestruturação urbanística
Tem como função verificar e corrigir as eventuais necessidades do centro histórico,
de acordo com a realidade existente com a estrutura territorial e urbana que se insere
dentro da cidade. O termo reestruturação é utilizado quando há uma mudança na
ordem ou na configuração que altera a vida social, econômica e política.

A reestruturação não se encaixa como um processo que gera resultados e possibilidades


anteriormente determinadas. Ela, com suas intervenções, atuará nas situações práticas
desencadeando um processo de mudanças sociais e materiais, sendo assim uma fase de
transição contando com posturas ofensivas e defensivas para se manter um complexo
produto de continuidade.

Muitas vezes, há a ideia de que as áreas históricas não estão inclusas nas alterações dos
grandes centros urbanos, fazendo com que as intervenções e consolidações do espaço
urbano e dos centros históricos sejam tratados de forma separada.

Constituem-se como processos de trabalho independentes, elaborados


separadamente e poucas vezes harmonizados significativamente
a posteriori. Descompasso semelhante ocorre entre os serviços de
fiscalização para o cumprimento das normas. Responsáveis pela
preservação do patrimônio cultural consciente ou inconscientemente,
interferem diretamente nas diretrizes de planejamento urbano sem
delegação para isso e, reciprocamente, planejadores urbanos passam
simbolicamente seus tratores sobre os bens culturais, quando não o
fazem em campo, materialmente, igualmente sem atribuição para isso
(SANTOS, 2013 apud REIS, 2011).

As áreas centrais históricas passam por processos de intervenção, muitas vezes por terem
atividades voltadas ao setor turístico, o que atrai as transformações de reestruturação
com a intenção de mercantilizar a cultura, adaptando esse espaço a um novo público,
novos usos e novas dinâmicas urbanas muitas vezes descaracterizando a identidade do
espaço histórico.

33
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

É interessante verificar e corrigir esse processo analisando a importância territorial


e funcional que o espaço já exerceu dentro da dinâmica urbana com a nova que se
instaurou no espaço de ligação com o restante da cidade. Desse modo, deve-se prestar
atenção na reestruturação nas realidades existentes entre o espaço histórico e o
desenvolvimento urbano contemporâneo, sob o ponto de vista funcional, protegendo e
libertando os centros históricos de efeitos que sejam de porte degradante.

Figura 12. Projeto de revitalização do Centro Histórico de Goiânia, GO.

LEGENDA

Corredor Preferencial

Corredor Exclusivo

Centro Histórico

Unidade de Conservação

Perímetro de Intervenção

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/ com


adaptações.

34
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 13. Projeto de revitalização do Centro Histórico de Goiânia, GO - Área de Intervenção.

LEGENDA
Perímetro de Intervenção
Centro Histórico

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/.

Figura 14. Projeto de revitalização do Centro Histórico de Goiânia, GO – Definição de espaços.

LEGENDA
Perímetro de Intervenção
Área Pública
Área Semi-Pública
Área Privada

EDIFICIOS REFERENCIAIS
1. CENTRO DE EXCELÊNCIA DO ESPORTE
2. CENTRO DE CONVENÇÕES DE GOIÂNIA
3. CAPELA NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS
4. POSTO DE SAÚDE DO SUS
5. HOSPITAL SÃO LUCAS
6. PALÁCIO DO COMÉRCIO
7. HOTEL PRESIDENTE
8. SUPERMERCADO BRETAS
9. LOJAS AMERICANAS
10. IBGE
11. CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
12. JÓQUEI CLUBE DE GOIÁS
13. TECIDOS TITA
14. EDIFICIO COMERCIAL
15. EDIFICIO RESIDENCIAL EDITE
16. TEATRO GOIANIA
17. CE PROF. JOSÉ CARLOS DE ALMEIDA

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/ com


adaptações.

35
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 15. Projeto de revitalização do Centro Histórico de Goiânia, GO – Setorização.

LEGENDA
Perímetro de Intervenção

USO DO SOLO
RESIDENCIAL
COMERCIAL
SERVIÇO
MISTO
INSTITUCIONAL PÚBLICO
ÁREA VERDE
EQUIPAMENTOS COMUNITARIOS
SUBUTILIZADO

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/ com


adaptações.

Reorganização viária

Toda cidade deve permitir e disponibilizar acessibilidade aos seus espaços para todas
as pessoas, incluindo acesso físico, mobilidade e ligação entre os espaços. Para esse
fim, utilizam-se dois conceitos importantes: mobilidade e acessibilidade. A mobilidade
envolve o deslocamento de pessoas e bens ao longo do espaço urbano envolvendo as vias
de acesso e as possibilidades de transporte. Já a acessibilidade envolve a possibilidade
de alcance dos espaços por todas as pessoas, com qualquer meio de transporte.

A mobilidade urbana está inserida no tecido urbano e tem como principal função suprir
as necessidades individuais e coletivas do uso do espaço. É importante considerar todo
o processo histórico de um espaço que está sendo avaliado. Quando fala-se de centros
históricos, geralmente há condicionantes que refletirão na reestruturação desse sistema
viário, como por exemplo, as ruas estreitas que atendiam as necessidades no passado,
mas com o aumento de número de pessoas e veículos deixou de ser suficiente para
suprir o fluxo.

36
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

A mobilidade deve valorizar o espaço urbano. E quando se fala de áreas onde se


encontram patrimônios culturais, deve ter uma estrutura que permita conhecer,
usufruir e preservar esse espaço histórico.

Não é possível determinar planos prontos para serem aplicados em toda cidade que
inclui um centro histórico, pois cada uma delas tem a sua particularidade e deve ser
estudada com a finalidade de alcançar soluções voltadas às necessidades específicas de
cada cidade, adequando o passado e o presente, sem deixar de proteger a história.

Há muitos obstáculos dentro das cidades de interesse cultural para alcançar a mobilidade
e a acessibilidade de forma eficaz: a topografia com declives acentuados, espaços
e calçadas estreitas, becos, disputa entre pedestres e veículos, falta de sinalização,
calçamento com pedras não niveladas, entre outros.

A reorganização viária deve realizar uma análise das ligações e dos fluxos de tráfego
dentro do espaço histórico, com a intenção de reestruturar as funções e as necessidades
atuais compatibilizando com a estrutura do passado. Devem ser incluídos equipamentos
de serviços públicos de acordo com as exigências de utilização do local. Inclui-se
também toda a estrutura para promover a acessibilidade universal, com todos os
itens determinados na norma de acessibilidade, como: linhas guia para portadores de
necessidades visuais, rampas, sinalizações etc.

Figura 16. Projeto de revitalização do Centro Histórico de Goiânia, GO – Fluxo.

LEGENDA

VIA ARTERIAL DE 1ª CATEGORIA


CORREDOR EXCLUSIVO DE TRANSPORTE COLETIVO
VIA ARTERIAL DE 2ª CATEGORIA
CORREDOR PREFERENCIAL
DE TRANSPORTE COLETIVO
VIA COLETORA
VIA LOCAL
SENTIDO DE TRÁFEGO
CIRCULAÇÃO DE TRANSP. COLETIVO PÚBLICO

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/ com


adaptações.

37
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 17. Projeto de revitalização do Centro Histórico de Goiânia, GO – Corredores Viários.

LEGENDA
Perímetro de Intervenção
CORREDOR PREFERENCIAL
CORREDOR EXCLUSIVO
CENTRO HISTÓRICO
UNIDADE DE CONSERVAÇÃO

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/ com


adaptações.

Mobiliário urbano

O mobiliário urbano diz respeito às alterações realizadas nos equipamentos da cidade


que têm utilidade de servir a população e interligar os edifícios e espaços. Refere-se a
ruas, praças, espaços livres, equipamentos de praças, sinalizações, postes, iluminação,
entre outros.

A revitalização ou restauração desses espaços tem como função melhorar a relação do


ambiente urbano com as pessoas, sejam usuários fixos ou flutuantes.

38
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 18. Atualidade do mobiliário urbano de Goiânia.

VEGETAÇÃO ESCASSA NA AVENIDA TOCANTINS FLOREIRAS IMPROVISADAS NO PASSEIO PÚBLICO CALÇADAS REDUZIDAS PARA ESTACIONAMENTO QUIOSQUE NO PASSEIO PÚBLICO

ÁRVORES CENTENÁRIAS NO PASSEIO PÚBLICO MOBILIÁRIO URBANO ESCASSO E SEM USO POSTES DE ILUMINAÇÃO NO CANTEIRO CENTRAL

POUCAS E INADEQUADAS ÁREAS VERDES PASSEIO PÚBLICO DEGRADADO ESPÉCIE ARBÓREA INADEQUADA PARADA DE ÔNIBUS NO PASSEIO PÚBLICO

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/ com


adaptações.

Figura 19. Proposta para a praça do Jóquei Clube.

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/.

39
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 20. Proposta para o Teatro Goiânia.

TEATRO GOIÂNIA

VILA CULTURAL

VILA CULTURAL

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/.

Figura 21. Proposta para a Avenida Anhanguera.

Fonte: https://fernandoteixeira.arq.br/inicio/escritorio/urbanismo/revitalizacao-do-centro-historico-de-goiania-go/.

40
CAPÍTULO 2
Intervenções nos edifícios

Quando nos referimos à intervenção em um edifício, é importante reafirmar a diferença


de alguns conceitos. A recuperação destina-se a alterações diretas realizadas no edifício
ou objeto. Já a salvaguarda envolve a necessidade de proteção do objeto e seu entorno,
não sendo apenas uma intervenção pontual, mas uma em maior escala estabelecendo
um perímetro que será protegido. A revitalização é uma reinvenção do tratamento
dado àquele espaço, permitindo uma nova vida para o local, trazendo novas funções e
utilização.

Nem sempre a preocupação com as intervenções foram objeto de estudo e de


preocupação, apesar da proteção do patrimônio ser antiga na história. Muitas foram as
obras que não resistiram à ação da natureza ou do ser humano.

Figura 22. The Imperial Hotel, Frank Loyd Wright, construído em 1923 e demolido em 1968, apesar de ter resistido a

vários terremotos.

.
Fonte: https://media.mnn.com/assets/images/2012/09/FrankLloydWrightImperialHotelTokyo.jpg.

41
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 23. Oficinas Esders de Perret, construídas em 1919 e demolidas em 1960.

Fonte: https://i.pinimg.com/originals/47/5b/2e/475b2e71b262ad10beb249afdf4c4525.jpg .

Figura 24. Museu Nacional do Rio de Janeiro, fundado há 200 anos, após incêndio em 2018.

Fonte: https://cdnbr2.img.sputniknews.com/images/1212/41/12124161.jpg.

Quando há intervenções nos edifícios, deve haver sempre a intenção de garantir a


sobrevivência do monumento, mesmo quando utilizados para novas funções, não
resultando incompatibilidades com as necessidades históricas e artísticas. Ações de
adaptações devem ser limitadas, conservando o exterior e mantendo sua tipologia
individual. O projeto deve ser baseado em levantamentos gráficos, fotográficos e
históricos, com a intenção de compreender e avaliar toda a condição de estabilidade
do edifício.

A execução desses trabalhos deve ser realizada por pessoas especializadas, sendo um
trabalho que deverá ser continuamente observado e dirigido, permitindo qualquer
intervenção no caso de acontecimentos inesperados. Trabalhos que necessitem o uso de
martelos, devem ser meticulosos, pois podem surgir novos elementos que escaparam
do processo de investigação ou estejam ocultos sob os elementos do edifício. Também

42
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

deve ser certificada a existência de decorações ou pinturas que podem estar ocultas ou
desgastadas nas paredes.

Figura 25 - Restauração em Igreja Matriz de Jandira em São Paulo.

Fonte: http://folhadejandira.com.br/wp-content/uploads/2017/04/Reforma-Igreja-Matriz-FM-14-03-2017-10-1200x630.jpg.

A exigência principal dos restauros em edifícios é a proteção da originalidade dos


elementos construtivos, guiando sempre qualquer decisão no momento da sua obra. Em
qualquer tipo de reconstrução deve ser primeiramente feita a tentativa de restauração
da alvenaria original sem substituições. Quando forem necessárias as alterações, após
comprovada exigência, deve sempre haver a possibilidade de distinguir os elementos
novos delimitando os desenhos da intervenção.

Qualquer consolidação deverá ser testada anteriormente, com métodos aceitos


pelos institutos de restauro, garantindo o funcionamento efetivo de acordo com a
necessidade de cada edificação. Todas as precauções devem ser tomadas com o fim de
evitar agravamento das situações de degradação, bem como para eliminar as causas dos
danos anteriores.

Outras intervenções que poderão ser realizadas serão classificadas como:

»» intervenções de saneamento no edifício: são ações destinadas a cumprir


as necessidades estruturais e higiênicas do edifício. Devem ser seguidas
de acordo com as recomendações técnicas para alteração de restauros
arquitetônicos. Mantém-se o respeito pela tipologia construtiva, funcional
e estética do edifício, transformando apenas as necessidades estruturais,
sem alterar suas características;

»» renovação interior do edifício: são permitidas em áreas que sejam


indispensáveis à necessidade de reutilização de espaços do edifício. É
proibida qualquer intervenção que altere a característica tipológica ou
introduza funcionalidades que alterem as características.

43
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Alguns instrumentos utilizados para a realização das intervenções acima podem ser:

»» planos de regulamentação gerais;

»» reestruturação das relações entre o centro histórico e a cidade;

»» planos de reestruturação dos elementos mais significativos do centro


histórico;

»» planos setoriais de execução.

Transformações na Igreja Flor da Rosa

Esse antigo mosteiro hospitalar, localizado no Crato em Portugal, tinha características


góticas portuguesas, associando a utilização também de igreja e convento. Suas
principais datas históricas são: 1356, sua fundação; 1755, passa por obras por causa de
um terremoto que afetou suas estruturas; 1990, acrescida ao mosteiro uma nova obra
comandada pelo arquiteto João Luís Carrilho da Graça, utilizando dependências do
mosteiro com o acréscimo de uma pousada que foi inaugurada em 1995.

Carrilho introduz um novo conceito ao complexo, procurando não quebrar o efeito do


tempo sobre o edifício, utiliza novos materiais e tecnologias, trazendo características da
Carta de Veneza, diferenciando o novo e o antigo.

Figura 26. Convento Flor da Rosa, antes da Intervenção.

Fonte: LIMA, Sérgia (2015).

44
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 27. Convento antes da intervenção.

Fonte: LIMA, Sérgia (2015).

Figura 28. Convento antes da intervenção.

Fonte: LIMA, Sérgia (2015).

45
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 29. Pousada Flor da Rosa atualmente.

Fonte: http://www.patrimoniocultural.gov.pt/static/data/cache/1d/ae/1dae332dd6b3839811902fda250e1f4c.jpg com


adaptações.

Figura 30. Pousada Flor da Rosa atualmente.

Fonte: http://images.impresa.pt/bcbm/2013-09-04-pousada_do_crato_flor_da_rosa.jpg-2.

Figura 31. Pousada Flor da Rosa atualmente.

Fonte: https://image.shutterstock.com/image-photo/crato-portugal-october-12-2016-260nw-505196185.jpg.

46
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 32. Pousada Flor da Rosa atualmente.

Fonte: https://lifecooler.com/files/registos/imagens/356131/34170.jpg.

Figura 33. Pousada Flor da Rosa atualmente.

Fonte: https://edge.media.datahc.com/HI519293338.jpg?source=Leonardo.

47
CAPÍTULO 3
Arquitetura como patrimônio cultural

Patrimônio é definido como todo o conjunto de bens, sejam materiais ou imateriais, que
carregam a história de uma civilização e todas as suas relações, tendo em si todo o legado
que recebemos de gerações passadas e levaremos ao futuro. Hoje, há uma preocupação
realista sobre a proteção desses bens, existindo leis, manuais, institutos, convenções
voltadas ao resguardo dessas obras. O patrimônio tem algumas classificações, sendo
dividido em histórico, cultural e ambiental.

No Brasil, temos o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional


(IPHAN), autarquia federal, diretamente vinculada ao Ministério da Cidadania.
A entidade responde por toda a proteção e promoção dos bens culturais do
País, assegurando a sua preservação. Tem 27 superintendências (localizadas
uma em cada estado e no Distrito Federal), 28 escritórios técnicos alocados,
geralmente, em cidades que são conjuntos tombados (cidades históricas), cinco
unidades especiais, quatro no Rio de Janeiro: Centro Lucio Costa, Sítio Roberto
Burle Marx, Paço Imperial e Centro Nacional do Folclore e Cultura Popular, e o
último localizado em Brasília, o Centro Nacional de Arqueologia. O IPHAN faz a
conservação, proteção e monitoramento de todos os bens brasileiros inscritos
na Lista do Patrimônio Mundial e na Lista do Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade, seguindo as convenções da Unesco, a Convenção do Patrimônio
Mundial (1972) e a Convenção do Patrimônio Cultural Imaterial (2003). O Instituto
foi criado em 1937, pela lei no 378 assinada pelo presidente Getúlio Vargas. A
Constituição Federativa de 1988, determina em seu artigo 216, que o patrimônio
cultural inclui as formas de expressão, modos de criar, fazer e viver. As criações
científicas, artísticas e tecnológicas, as obras, objetos e documentos, edificações
e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais e ainda, os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e cientifico são reconhecidos pelo documento como
objetos de proteção. Por fim, nos artigos 215 e 216, é reconhecida a existência
de bens culturais de natureza material e imaterial, definindo ainda as formas
de preservação por meio do registro, inventário e tombamento (site do IPHAN,
2019).

É importante sempre destacar a necessidade da preservação dos acervos históricos. São


muitos os monumentos que contam a história da evolução da sociedade, das cidades e

48
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

da cultura de um povo. O Brasil, não sendo diferente de outros países, conta com uma
vasta lista de monumentos preservados.

Essa valorização do passado e da memória das cidades é importante em todas


as manifestações culturais do povo. Contudo, neste momento daremos ênfase às
manifestações arquitetônicas e urbanísticas.

A capital do País, Brasília, construída entre os anos de 1957 e 1960, a partir do Plano
Piloto, projetado por Lúcio Costa, baseada no movimento moderno, foi o primeiro
conjunto urbano do século XX reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial.
Tem como características uma arquitetura inovadora e a monumentalidade, dividida
em quatro escalas: monumental, residencial, bucólica e gregária.

Figura 34. Brasília como Conjunto Urbanístico-Arquitetônico Tombado, Lucio Costa (1960).

Fonte:http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/images/Diversas/DF_Brasilia/03_Acervo_IPHAN__Brasilia__DF_2.jpg.

Outro exemplo de conjunto tombado é a cidade de Goiás, que foi testemunha da


colonização nos séculos XVIII e XIX. Foi tombada pelo Iphan em 1978 e reconhecida
como Patrimônio Mundial em 2001. Goiás foi o primeiro núcleo urbano reconhecido
ao oeste da linha de demarcação do Tratado de Tordesilhas. A cidade se desenvolve ao
longo do Rio Vermelho e entre morros. A cidade tem características de povoamento
vernacular utilizando de materiais e mão de obra local.

49
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 35. Vila Boa de Goiás, arquitetura bandeirista.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/images/Diversas/GO_Cidade_de_Goias/01_GO__Marco_Antonio_Galvao__3.
jpg.

Figura 36. Palácio Conde dos Arcos, construção do século XVIII.

Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSauyZNURBebARSAqpvS3v8NMUyECUc4Dt1tSazEpy4sluB_
tObFw.

O Conjunto Moderno da Pampulha, localizado no centro de Belo Horizonte em Minas


Gerais, foi o primeiro bem cultural a receber o título de Paisagem Cultural do Patrimônio
Moderno em 2016, mas já havia sido tombada pelo Iphan em 1997. Concebido pelo
arquiteto Oscar Niemeyer em 1940, foi inspirado nas concepções modernas de Le
Corbusier, como plantas livres, fachadas livres, pilotis, terraço jardim e janelas em
fitas. O conjunto agrega quatro edifícios em torno de um espelho d´água e de um lago
urbano, é composto pela Igreja de São Francisco de Assis, o Cassino, Museu de Arte

50
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

da Pampulha, Casa do Baile e o Iate Golfe Clube, inaugurados na gestão do prefeito


Juscelino Kubitschek. Possui ainda azulejos de Candido Portinari e paisagismo de
Burle Marx.

Figura 37. Igreja São Francisco de Assis, Complexo da Pampulha.

Fonte: https://belornelas.com.br/wp-content/uploads/2015/02/Igreja-da-Pampulha-2.jpg.

Figura 38. Casa do Baile, Complexo da Pampulha.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/images/Diversas/MG_Pampulha/mg_pampulha_mundial_06.jpg.

51
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 39. Iate Clube, Complexo da Pampulha.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/images/Diversas/MG_Pampulha/3_vista_aerea_atual__marcilio_gazzinelli.jpg.

Figura 40. Museu de Arte, Complexo da Pampulha.

Fonte: http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/images/Diversas/MG_Pampulha/pampulha_2.jpg.

Para a preservação dos acervos, é importante a participação dos profissionais da área de


projeto e construção, principalmente em ambientes construídos, edificações e espaços
urbanos. Esses profissionais desempenham papel importante no desenvolvimento de
técnicas, metodologias e normas para a preservação do patrimônio histórico e cultural.

Na atualidade, a necessidade de preservação e valorização do patrimônio cultural é


altamente discutida. Para preservar o passado e todas as manifestações culturais da
sociedade. Ao longo da evolução do homem, há a diferenciação das normas implícitas e
inconscientes que determinam os valores que permeiam as decisões entre bom e ruim,
belo e feio, certo e errado, e são essas valorações que permitem perceber a necessidade
de catalogar o que é importante para a história.

52
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Com o crescimento desordenado e rápido das cidades, ocorreu uma grande transformação
dos espaços urbanos, descaracterizando o patrimônio público, o que levou a uma grande
destruição de objetos que tinham um significado cultural, perdendo-se a identidade do
lugar em que vivemos.

A arquitetura e as cidades preenchem os espaços onde as memórias e as histórias são


contadas e a maneira como ocupamos esses espaços transforma-se na realidade que dá
sentido à sociedade.

A demolição de patrimônios significa, além de perda de qualidade de vida, a perda de


cidadania e faz com que o ser humano deixe de pertencer a um grupo ou a uma história.
Para evitar isso deve haver uma legislação bem fundamentada e atualizada, superando
os desafios que possam surgir. É necessário equilibrar a lei com a fiscalização e a
conscientização pois, mesmo com a legislação vigente, observa-se um grande descaso
com a valorização do patrimônio, ocorrendo uma falta de cuidados ou uma ação
criminosa ao vandalizar esses espaços.

Figura 41. Paço Imperial, alvo de vandalismo no Rio de Janeiro.

Fonte: http://biblioo.info/wp-content/uploads/2017/09/Pa%C3%A7o-imperial-depredado-1263x500.jpg.

Catedral de Notre-Dame

A Catedral de Notre-Dame teve a sua primeira pedra assentada no período do reinado


de Luis VII, durante o crescimento de Paris como centro político e econômico da França.
Localizada na Île de la Cité, pequena ilha no centro da cidade e circundada pelo rio
Sena, sua construção durou cerca de 180 anos até ser concluída, tendo início em 1163
com término em 1345. Seu projeto era monumental, com um edifício contando com 135
metros de largura e atingindo 40 metros de altura.

53
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 42. Catedral de Notre-Dame e o rio Sena.

Fonte: https://beminparisblog.com/wp-content/uploads/2016/08/Notre-Dame-ilha.png.

Caracterizada pelo estilo gótico, tinha teto côncavo, arcos diagonais que permitiram a
elevação do edifício. O princípio marcado por esse estilo era: “Quanto mais alto, mais
perto de Deus”. Outra característica presente nos edifícios góticos eram os vitrais,
permitindo a entrada de luz natural e abundante. A Catedral de Notre-Dame tem sua
fachada ornamentada com estatuas que retratam cenas bíblicas.

Figura 43. Catedral de Notre-Dame.

Fonte: https://static.vix.com/pt/sites/default/files/styles/l/public/catedral-notre-dame-nave-0419-1400x800_0.jpg.

54
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 44. Monumentalidade da Catedral de Notre-Dame.

Fonte: https://beminparisblog.com/wp-content/uploads/2016/08/Notre-Dame-interior-2.png.

Figura 45. Portal com esculturas retratando o ‘Último Julgamento’.

Fonte: https://beminparisblog.com/wp-content/uploads/2016/08/Notre-Dame-Julgamento-Final.png.

Figura 46. Cenas bíblicas retratadas dentro da Catedral.

Fonte: https://beminparisblog.com/wp-content/uploads/2016/08/Notre-Dame-interior-1.png.

55
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Durante toda sua existência, a catedral passou por restaurações e acréscimos em


diferentes períodos, principalmente durante os séculos XVII e XVIII, que permitiram a
evolução de estilos da construção, passando do gótico primitivo até uma característica do
gótico superior. Durante o período Renascentista, Notre-Dame resistiu ao desinteresse
geral pelo estilo gótico, sendo depreciada com termos que a caracterizavam como
“selvagem”.

Por esse desinteresse, os soberanos escolheram esconder seu estilo original, camuflando
suas características para esconder seus pilares e aumentar a quantidade de estátuas
barrocas, deixando a desejar na harmonização com seu estilo original.

Até o século XIII, a Catedral foi utilizada para fins comemorativos, em que os reis
celebravam os grandes acontecimentos, colocando de lado o seu principal sentido.
Além disso, acreditando que os vitrais coloridos atrapalhavam a iluminação interna, os
religiosos determinaram sua substituição por cristais brancos, sobrevivendo apenas as
rosetas.

Figura 47. Rosetas da Catedral de Notre-Dame.

Fonte: https://beminparisblog.com/wp-content/uploads/2016/08/Notre-Dame-interior.png.

Com a Revolução Francesa, a catedral foi fechada, seus pertences roubados e ficou
subutilizada como depósito de alimentos. Uma das torres, construídas no século XIII,
foi destruída juntamente com 28 estátuas que ficavam localizadas na Galeria dos Reis,
bem como todas as grandes esculturas dos portais, restando apenas a escultura da
Virgem do Trovão. Por um tempo, a igreja ainda foi transformada em um Templo do
Culto à Razão (religião da Nova República). Todas as estátuas da Virgem Maria foram
substituídas pelas da Deusa da Liberdade e as cruzes foram removidas. Algumas peças
e sinos originais da torre foram derretidos e utilizados para a fabricação de balas de
canhão, restando apenas o sino principal – o Emmanuel. Os sinos foram substituídos no
século XIX, mas considerados desafinados, sendo trocados novamente no aniversário
de 850 anos da Catedral.

56
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 48. Sino Emmanuel.

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-Flh_M4b3h7Y/TVl9eic4g6I/AAAAAAAAAYM/RjWzOF6o_GI/s1600/francisco1%255B1%255D.jpg.

Somente com o acordo entre a França e a Santa-Sé, a catedral voltou a ser um templo
católico sendo restaurada em 1801 e reaberta em 1804 para a coroação de Napoleão
Bonaparte.

Figura 49. Notre-Dame retratada na obra “Coroação de Napoleão”, de Jacques-Louis David.

Fonte: https://santhatela.com.br/wp-content/uploads/2019/01/david-coroacao-napoleao-d.jpg.

57
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Em 1831, foi novamente atacada e seus vitrais destruídos.

Durante o período romântico, Notre-Dame foi novamente colocada em evidência, com


o livro “Notre-Dame de Paris” trazendo a história que hoje é conhecida mundialmente
pelo personagem do Corcunda de Notre-Dame. O livro conta com dois capítulos que
descrevem a antiga catedral e a sociedade que nela convivia e frequentava. Nas torres
góticas da catedral viva Quasímodos é abandonado nos degraus do edifício. Em seu
romance, Victor Hugo descreve ainda o péssimo estado de conservação da construção.
A popularização da história fez com que a catedral fosse restaurada.

O edifício conta com elementos característicos, com suas gárgulas, esculturas com aspecto
animalesco que eram utilizados na Idade Média como ornamento dos desaguadouros
(canos que eram utilizados para escoamento da água da chuva). Acreditava-se que
essas esculturas protegiam o edifício contra maus espíritos. Elas eram parte do projeto
arquitetônico, mas foram removidas e só foram acrescentadas novamente à fachada na
restauração que realizada no século XIX.

Figura 50. Gárgulas de Notre-Dame.

Fonte: https://s5.static.brasilescola.uol.com.br/img/2019/04/gargulas-da-catedral.jpg.

Já em 1844, a construção passou pelo processo de restauração pelas mãos do arquiteto


Eugene Viollet-le-Duc. Durante o processo foi adicionada ao edifício uma torre, de 93
metros de altura, composta por 500 toneladas de carvalho e 250 toneladas de chumbo,
desenvolvida para resistir os eventos de guerra e tempestades. Dentro da sua estrutura,
resguardava três relíquias sagradas, sendo uma delas o fragmento da coroa de Jesus
Cristo.

58
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 51. Telhados e pináculo adicionado por Viollet-le-Duc.

Fonte: http://1.bp.blogspot.com/-zgPKC-ivE_0/ValTQksDduI/AAAAAAAAZB0/YzQBKehGyAo/s1600/
Catedral%2Bde%2BNotre%2BDame.jpg.

Em 2013, a Catedral comemorou 850 anos de sua construção, sendo comemorado por
um ano de festejos marcados com exposições e um simpósio científico. Já em 2018,
responsáveis pelo complexo lançaram uma campanha de arrecadação de fundos
para a recuperação da estrutura que passava por problemas e poderia cair. O valor
necessário seria de aproximadamente 150 milhões de euros. Eram problemas relatados
na estrutura, nos elementos decorativos, esculturas e nas pinturas, além de problemas
na estrutura da flecha (parte mais alta da igreja), que já havia passado por um processo
de emergência, sendo reforçado com uma braçadeira.

Recentemente, a catedral passava por reformas, tendo suas estátuas removidas, e o


espaço estava envolto por andaimes para a sua restauração. Em abril de 2019, durante
o processo de restauração, por causas que ainda estão sendo averiguadas, o edifício
monumental foi atingido por um incêndio que destruiu toda a parte de madeira da
estrutura e atingiu a torre mais alta, o pináculo.

59
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 52. Incêndio atinge Catedral de Notre-Dame.

Fonte: https://abrilexame.files.wordpress.com/2019/04/gettyimages-1137427764-594x594.jpg.

Figura 53. Incêndio atinge telhado e estrutura projetada por Viollet-le-Duc.

Fonte: https://cdn-istoe-ssl.akamaized.net/wp-content/uploads/sites/14/2019/04/69-4.jpg.

O monumento, que atraia cerca de 14 milhões de visitantes por ano, teve a maior parte
do telhado e seu pináculo destruídos. Os bombeiros conseguiram salvar a estrutura
principal e as torres do sino. Alguns especialistas afirmam que o trabalho de reconstrução
de uma estrutura tão importante e que foi tão afetada pelo desastre, poderá levar mais
de 10 anos.

Mesmo com a gravidade do incêndio, boa parte das peças que estavam na catedral
puderam ser resguardadas. A Coroa de Espinhos, o fragmento da Cruz do Calvário,

60
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

um dos pregos usados na crucificação de Cristo, a túnica de São Luís e o gibão usado
pelo rei Luís IX em 1239 foram salvos do fogo. Além disso, as dezesseis estátuas de
cobre inseridas no edifício na restauração do século XIX escaparam do incêndio pois
foram retiradas no dia 11 de abril para serem restauradas. As três rosáceas assinadas
por Pierre de Montreuil e Jean de Chelles, no século XIII, também não sofreram danos
catastróficos, tendo sido apenas uma delas deslocada e está inclinada, segundo as
autoridades de Paris.

Na lista de perdas se inserem alguns vitrais do século XIX, cujas peças de chumbo que
sustentavam os vidros derreteram com as altas temperaturas. Outra estrutura afetada
foi o Pináculo, estrutura de 96 metros de altura, e o campanário, localizado na parte
traseira da nave, estrutura do século XIII, construída com carvalho. Algumas pinturas
assinadas por pintores da época, como Charles Le Brun e Jacques Blanchard, sofreram
danos devido à fumaça e à àgua utilizada no combate ao incêndio.

Figura 54. Catedral após o incêndio.

Fonte: https://s2.glbimg.com/KUhqPIiOWUCtYd0pA2DfeC7ss-A=/0x0:3360x2436/1008x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/
v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/h/u/74Rx21To2932o6tcXfIg/ap19107654622626.jpg.

61
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 55. Destruição do Pináculo.

Fonte: https://s2.glbimg.com/vCF5sbDT1qHD9wQLzVlnHDheM-k=/0x0:2000x1480/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.
s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2019/N/Z/dM7agQT6WNHnPoUo9aPA/
ap19107664305552.jpg.

Nesse momento (agosto de 2019), as autoridades abrem um concurso internacional de


arquitetos para a reconstrução e restauração das estruturas danificadas pelo incêndio. O
arquiteto participante poderá decidir por reconstruir a estrutura, nas mesmas condições
seguindo o modelo desenvolvido por Eugene Viollet-le-Duc ou, se necessário, propor
uma nova estrutura adaptada às técnicas atuais.

Outros monumentos destruídos no século XXI

Nos últimos tempos, o mundo perdeu dezenas de patrimônios históricos e culturais


pelo mundo, alguns vítima de desastres naturais, outros de acidentes, e outros ainda
pela ocorrência de guerras de território.

Um dos primeiros exemplos ocorreu em 2001 no Afeganistão, quando os Talibans


determinaram a implosão das estátuas de Buda, que foram escavadas durante o
século V nas montanhas de Bamiyan (vilarejo na trilha que ligava China e Índia).
As estatuas tinham entre 38 e 55 metros de altura, eram modeladas em estuque e
foram destruídas sob acusação de heresia. Além disso, os moradores foram obrigados
a participar do ato ou sofreriam as consequências. Hoje, os nichos que abrigavam as
estátuas permanecem vazios, apesar de promessas de reconstrução, que custará em
torno de 30 milhões de dólares.

62
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 56. Budas de Bamiyan.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/arquitetura_do_sagrado/assets_c/2013/07/Bamiyan_buddha-thumb-600x464-44950.jpg.

Figura 57. Nichos vazios.

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/arquitetura_do_sagrado/assets_c/2013/07/the-bamian-buddhas-or-lack-thereof-thumb-
600x398-44963.jpg.

Em 2009, a Itália foi atingida por um terremoto, que afetou principalmente a região de
L’Áquila e destruiu cerca de 110 mil monumentos e edifícios com importância histórica.
Um deles foi a Basílica de Santa Maria di Collemaggio, construída no século XVI que
passou por uma restauração no século XIX.

63
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 58. Basílica de Santa Maria di Collemaggio.

Fonte: https://abrilveja.files.wordpress.com/2019/04/basilica-santa-maria-di-collemaggio.jpg?quality=70&strip=info.

Figura 59. Destruição após terremoto.

Fonte: http://www.culturaebeni.it/uploads/monumenti/1291058392-0181-12052009246_5_big.jpg.

Já em 2010, a cidade que sofreu com danos naturais foi Porto Príncipe no Haiti, que
além de toda a cidade ter sido destruída pelo terremoto, a parte histórica também foi
afetada. A catedral de Nossa Senhora da Assunção, construída no fim do século XIX,
teve sua estrutura abalada. O telhado e as torres laterais desabaram, além do complexo
arquidiocesano, que ficava junto à igreja.

64
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 60. Catedral de Nossa Senhora da Assunção, Porto Príncipe.

Fonte: https://mapio.net/images-p/4622406.jpg.

Figura 61. Catedral após o terremoto.

Fonte: http://arquivos.tribunadonorte.com.br/fotos/85298.jpg.

No Brasil, em 2015, o Museu da Língua Portuguesa em São Paulo também foi atingido
por um incêndio causado por curto-circuito que tomou conta dos três andares do

65
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

prédio. O museu havia sido inaugurado em 2006. Para a reconstrução do telhado, foi
importada uma nova estrutura do Peru.

Figura 62. Incêndio no Museu da Língua Portuguesa.

Fonte: http://s2.glbimg.com/LgqXdzldfGGsc2NeCRAZl-VOf1A=/1200x630/filters:max_age(3600)/s04.video.glbimg.com/deo/
vi/95/08/4690895.

Figura 63. Nova estrutura do telhado.

Fonte: https://s2.glbimg.com/g4yW3TbfSTMxCCdRQ1zRDfo6Zf4=/0x0:1920x1080/1000x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/
v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2018/X/F/ld58IoRqqsqXIVpN7oug/museu-reforma.jpg.

Desde 2015, o Estado Islâmico tem invadido e destruído as ruínas da cidade de Palmira
na Síria. O Arco do Triunfo, construído na época do Império Romano e com cerca de
2000 anos, foi explodido e destruído por jihadistas. Em 2017, o mesmo grupo destruiu
mais um teatro e uma estátua – o Leão de Alat.

66
INTERVENÇÕES │ UNIDADE III

Figura 64. Ruínas de Palmira, Síria.

Fonte: https://abrilveja.files.wordpress.com/2016/05/alx_2015-05-21t094753z_1491690516_gf10000102460_rtrmadp_3_mideast-
crisis-syria_original2.jpeg?quality=70&strip=info.

Figura 65. Cidade Destruída.

Fonte: http://s2.glbimg.com/W27TjraYRN1AfPkPaPfs1RQyfac=/620x465/s.glbimg.com/jo/g1/f/original/2016/03/28/palmira-nova1.
jpg.

Em como último exemplo, o Museu de História Natural, localizado em Nova Déli na


Índia, sofreu um incêndio em 2016 que destruiu parte dos registros da humanidade,
mais de 60% do espaço do acervo, e destruiu, inclusive, um osso de dinossauro com a
estimativa de 160 milhões de anos de idade.

67
UNIDADE III │ INTERVENÇÕES

Figura 66. Incêndio no Museu de História Natural de Nova Deli.

Fonte: https://operamundi.uol.com.br/thumb/
YWMwMWE5ZGRmNGY2OGJlYjBhZjczYjEyODFiMDdkYmVfZTkxYzdkMjFmZTUxNjVkZTc3YmZkMjg4MDNmM2NlMTQuanBn.

68
O PROJETO DE UNIDADE IV
RESTAURAÇÃO

CAPÍTULO 1
Instruções para trabalhos de
restauração

Antes de garantir uma vida longa aos monumentos nos quais serão realizados os
trabalhos de manutenção e restauração, deve-se fazer um estudo com a intenção de
evitar o agravamento dos danos. Recomenda-se anteriormente realizar uma vigilância
contínua do edifício, com procedimentos preventivos para evitar intervenções de maior
escala.

As operações de restauro devem ser colocadas sob um olhar mais conservador, evitando
assim intervenções inovadoras que possam desrespeitar a natureza do monumento.
Novas adições são permitidas, desde que sejam necessárias e de forma que sejam
diferenciais aos olhos do observador.

Para o desenvolvimento de um projeto de restauro de obras arquitetônicas deverá ser


realizado um minucioso estudo sob diversas óticas de vários profissionais, nos quais
devem ser observados os seguintes pontos:

»» posição da obra no tecido urbano;

»» relação do edifício com o entorno;

»» aspectos tipológicos;

»» qualidade do edifício (situação de conservação);

»» sistemas construtivos;

»» características estruturais;

»» eventuais modificações e alterações ao longo dos anos;

69
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

»» outros pontos que necessitem de atenção especial.

Esses procedimentos serão divididos em etapas, conforme o manual de elaboração de


projetos de preservação do patrimônio cultural, elaborado pelo Instituo do Programa
Monumenta, Iphan:

Identificação e conhecimento do bem


Nesta etapa serão levantados e analisados os dados da edificação referentes aos aspectos
históricos, estéticos, artísticos, formais e técnicos. Esta parte ainda se subdivide-se em:

»» Pesquisa histórica: essa fase sintetiza todas as informações obtidas


nas pesquisas em arquivos, bibliográficas e orais. Irá também situar
a edificação em uma linha do tempo, definindo todo o seu percurso
histórico. Devem ser levantados os aspectos político, socioeconômico,
técnico e artístico que possam ter influenciado a trajetória da edificação.
Essa pesquisa permitirá reconhecer toda a autenticidade dos elementos,
identificando as intervenções realizadas e sendo de auxílio para as
decisões que serão tomadas para a nova intervenção. O estudo histórico
tem grande importância para a parte técnica do projeto de restauração,
pois preencherá as lacunas com estudos das tipologias regionais, fotos,
desenhos, descrições, plantas que vão guiar todo o processo. Esse
levantamento deve ser feito de forma rigorosa e sempre validando a
veracidade das informações com o intuito de evitar falsas interpretações.
Devem ser incluídos no processo de pesquisa geralmente:

›› dados do Iphan, de instituições federais, estaduais e municipais,


cartórios, museus etc.;

›› dados encontrados em livros, publicações, jornais, revistas


especializadas;

›› banco de dados informatizado;

›› fontes orais (moradores da região, moradores antigos da edificação


etc.);

70
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

A pesquisa histórica vai gerar os seguintes produtos:

»» Relatório: incluindo contexto histórico da edificação, datas e informações


sobre a construção e qualquer intervenção realizada, identificação
da função primária e suas alterações, autoria do projeto (incluindo os
construtores, pintores, escultores), todas as informações que envolvam
as transformações realizadas;

»» Documentação pesquisada: reproduções dos arquivos gráficos,


iconográficos e fotográficos, reprodução dos manuscritos e documentos
(escrituras antigas e atuais, contratos);

»» Cronologia construtiva: plantas, cortes, fachadas, memoriais originais


e das alterações, cronologia da edificação em conjuntos esquemáticos
(plantas, cortes e fachadas);

»» Relação dos elementos artísticos: inclui a listagem de todos os


elementos integrados ao conjunto da edificação (mobiliário, forros,
pinturas, painéis, esculturas etc.);

»» Levantamento físico: envolve as atividades de reconhecimento


da edificação e é realizado por vistorias, gráficos e fotos. Com esse
levantamento será produzido:

»» Levantamento cadastral: representação das características da


edificação, do terreno e do entorno. Inclui a planta de situação (escala
de 1:500 ou 1:100), planta de locação (escala de 1:200 ou 1:100),
plantas baixas (escala 1:50 ou 1:100), fachadas (escala 1:50 ou 1:100),
cortes (escala 1:50), plantas de cobertura (escala 1:100, 1:50 ou 1:20),
engradamento (sistema estrutural da cobertura), detalhamento (escala
1:20, 1:10 ou 1:15), topografia do terreno (escala 1:100), documentação
fotográfica.

O conteúdo de cada planta exigida no processo de levantamento será:

»» Planta de situação: representa a implantação da edificação e seu


terreno na malha urbana. Esquemático indicando vias de acesso,
orientação, edifícios de interesse histórico ou artístico da área e outros.

»» Planta de locação: representa a implantação da edificação no terreno e


vizinhança, contendo: endereço da edificação, largura e denominação
de ruas e praças, passeios públicos; área do terreno, área construída

71
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

e projeção da edificação; amarração da edificação em relação ao


terreno, devidamente cotada; ângulos do terreno ou triangulação;
orientação magnética; indicação do sistema de drenagem de águas
pluviais existente; locação de arrimos, muros, cercas, grades e portões
existentes, com dimensões e especificações; localização da entrada
padrão de energia elétrica, água, telefone e outras, de caixas de saída
de esgoto e de águas pluviais; localização de rede pública de água,
esgoto, energia elétrica, telefone e águas pluviais; perfis do terreno;
representação de passarelas, pátios, passeios de proteção, escadas
externas, com indicação da declividade, dimensões, amarrações
e respectivas especificações; representação de jardins, gramados,
arborização com especificação das espécies; indicação dos pontos de
referência das fotografias.

»» Plantas baixas: representam, no plano horizontal, a compartimentação


interna da edificação, contendo: denominação e numeração de todos
os ambientes, circulações e acessos; cotas de nível nos diversos
cômodos, relacionadas à referência de nível; dimensões externas:
medidas em série e totais; dimensões internas: medidas de lado e
diagonais dos cômodos, espessura das paredes e amarração dos vãos;
codificação e especificação de todos os detalhes construtivos, tais
como: janelas e vãos, seteiras, gradis, sacadas, óculos, altares, púlpitos,
balaustradas etc., com legenda na mesma prancha; representação
de escadas internas e de acesso com numeração dos degraus e
dimensões; representação de soleiras, passeios de proteção, e outros
devidamente cotados e especificados; área de cada cômodo e do
pavimento; representação e identificação dos elementos estruturais,
alvenarias, materiais construtivos, revestimentos e demais elementos
por meio de convenções; indicação, em convenção, do sentido do
tabuado do piso e forro dos cômodos. Em caso de complexidade
destes elementos, representar em plantas específicas; projeção de
claraboia, coro, caixa d’água, beirais e outros elementos situados
acima da seção convencional das plantas; indicação de pontos de luz e
força, tomadas e interruptores, fiação ou tubulação aparente e outros;
indicação de pontos de água e esgoto, registros, tubulação aparente,
ralos, aparelhos sanitários e outros.

»» Fachadas: representação de todos os planos verticais externos da


edificação, contendo: indicação e representação de todos os elementos
como acessos, estrutura, alvenarias, revestimentos, esquadrias (com

72
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

sistema de abertura) e, conforme o caso, muros, grades, telhados,


marquises, toldos, letreiros e outros componentes arquitetônicos;
caimento de ruas e/ou terreno; especificação do tipo de pintura e
cor das alvenarias e esquadrias, bem como dos demais materiais de
acabamento.

»» Cortes: representam, no plano vertical, a compartimentação interna


da edificação, em número necessário para o perfeito entendimento
da edificação, devem conter: indicação e representação da estrutura,
alvenarias, tetos, revestimentos, esquadrias, telhados, lanternins,
sheds, domos, calhas, caixas d’água, equipamentos fixos e outros, no
que couber; caimento de ruas e/ou terreno; cotas de pés direitos; cotas
de nível de pisos, escadas e patamares; cotas de piso a piso, espelhos
e rebaixos; altura de vergas, vãos e peitoris; dimensões de beirais e
demais elementos em balanço; altura de cimalhas, platibandas,
rodapés, barras e outros elementos; dimensões de peças do telhado,
inclinação da cobertura, altura de pontaletes, apoios e representação
exata da armação das tesouras e demais peças; indicação de todos
os elementos da instalação elétrica cotados em relação ao piso;
representação dos elementos da instalação hidráulica cotados em
relação ao piso; indicação do tipo e cor da pintura das alvenarias,
esquadrias, entre outros.

»» Plantas de cobertura: Representam a forma e o sistema construtivo


da cobertura, por meio de diagrama - descrição da cobertura,
relacionando-a com o perímetro da edificação, contendo: limite do
prédio, em tracejado; limite da cobertura, em linha cheia; sentido
das declividades; dimensões dos beirais; ângulo de inclinação,
porcentagens ou pontos de cada água; representação de calhas,
condutores, rufos, rincões, chaminés, e outros; engradamento
(representação de todo o sistema estrutural da cobertura), por meio
de: identificação e representação em planta de tesouras, terças,
caibros, ripas, forros, cambotas, guarda-pós, cachorros, beirais, caixas-
d’água; dimensões das peças; detalhes da armação das tesouras com
representação de ferragens e sambladuras, entre outros; detalhes
de elementos isolados, beirais, ornatos como lambrequins, outros; à
parte, quando necessário, planta de forros, sua estrutura (cambotas,
barrotes etc.) e seus detalhes notáveis.

»» Detalhes: devem usar a mesma codificação de elementos construtivos


adotada em plantas. Todos os detalhes devem estar cotados e

73
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

especificados quanto ao material, revestimento ou pintura. (Fonte: site


do Iphan)

»» Análise tipológica: envolve um conjunto de análises detalhadas sobre


a tipologia arquitetônica, os materiais utilizados na construção original e
nas alterações realizadas, o sistema construtivo adotado e todo o contexto
no qual está inserida a edificação. Deve conter:

›› descrição das características da edificação com o partido de composição,


proporções de volumes, influências etc.;

›› avaliação de autenticidade dos elementos que foram acrescentados ao


original;

›› indicação dos elementos que foram retirados, substituídos ou alterados;

›› análise dos acréscimos que foram realizados sem razões arquitetônicas;

›› análise do entorno do edifício.

Prospecções

As prospecções complementam a pesquisa histórica e o levantamento cadastral,


permitindo uma interpretação dos dados levantados e um diagnóstico e alternativas
para solucionar os problemas da edificação. São tipos de prospecções:

»» Arquitetônica: identifica os materiais e sistemas construtivos, estado de


conservação e alterações realizadas envolvendo as aberturas que tenham
sido vedadas, estrutura que suporta a cobertura, aumento ou diminuição
dos vãos, elementos decorativos, cores e pinturas, portas, janelas, forros
e paredes.

»» Estrutural e sistema construtivo: envolve escavações, alterações em


revestimentos, pisos, forros, cobertura, aterro, entre outros. Tem como
função vistoriar e realizar testes para avaliar a qualidade do edifício com
as alterações ao longo do tempo. Deve ser realizada nas partes onde
houver sinais de lesões ou alterações que possam danificar o edifício
(recalques, deformações, rachaduras, umidade etc.)

»» Arqueológica: quando indicada a necessidade de pesquisa arqueológica,


deve seguir as etapas do Manual de Arqueologia Histórica em Projetos
de Restauração do Iphan juntamente com a lei 3.924/1961 e a portaria
SPHAN no 07/1988, e deve ser apresentado como:

74
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

›› mapeamento dos resultados;

›› documentação fotográfica;

›› relatórios das conclusões.

Diagnóstico

Nesta etapa inclui-se toda a consolidação das etapas anteriores, determinando todos
os interesses a respeito da utilização do edifício. Será uma análise detalhada com todas
as complementações necessárias para seguir em frente com o projeto. São parte do
diagnóstico as etapas de:

»» Mapeamento de danos: com o levantamento realizado, determina


todas as lesões estruturais que o edifício sofreu e tem necessidade de
intervenção (umidade, rachaduras, corrosões, dilatação, entre outros);

»» Análise do estado de conservação: avalia o nível de conservação


do edifício e dos seus componentes, inclui Avaliação do Estado de
Conservação dos Materiais, Avaliação do Estado de Conservação do
Sistema Estrutural, Identificação dos Agentes Degradadores (físicos,
químicos, biológicos e humanos), Caracterização dos Danos de Fundação
e Danos Estruturais;

»» Estudos geotécnicos: fornece elementos para identificar as causas dos


danos existentes na edificação;

»» Ensaios e testes: são as análises dos materiais presentes na edificação.

Todos procedimentos da etapa deverão ser apresentados nas formas de:

»» Relatório: contendo as informações da fase, pode incluir fotos, gráficos,


croquis e qualquer forma que permita o completo entendimento do
estudo. Deve ainda ser em formato A4.

»» Peças gráficas: os danos são indicados em plantas e elevações, indicados


com legendas e cores, deve ser feita a planta de cada parte do edifício com
o detalhamento necessário de causas e agentes;

»» Fichas: são listados os elementos complementares (esquadrias,


decorações, ferragens etc.);

»» Documentação fotográfica: deve-se relacionar as fotos a cada tópico


do projeto.

75
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

Proposta de intervenção

A proposta de intervenção deve contemplar todas as ações necessárias para determinar


as soluções do projeto, definindo os procedimentos que serão realizados durante a
obra, abordando os pontos técnicos e conceituais. O envolvimento dos setores que têm
ligação com o processo de intervenção auxilia o desenvolvimento das propostas, as
avaliações, hipóteses e orientação de acordo com os melhores métodos. A proposta é
dividida entre:

»» estudo preliminar;

»» projeto básico; e

»» projeto executivo.

Como exemplo, usaremos a recuperação do Convento e Igreja de São Francisco,


localizado na cidade de Évora em Portugal, com uma área total de 5.183 m². O projeto
foi realizado em 2015 pelo arquiteto Adalberto Dias, auxiliado por Armênio Teixeira,
Cristina Pinho e Nuno Rocha.

Foi realizada uma obra composta por ações de consolidação da estrutura, recuperação de
coberturas, houve reabilitação dos espaços, conservação, restauro, além de acréscimos
de novos ambientes. Envolveu todos os espaços utilizados pela igreja, também reuniu
os vestígios do convento que havia sido demolido no fim do século XIX, após uma
sucessão de saques, invasões francesas e abandono.

Figura 67. Convento e Igreja de São Francisco, antes da intervenção.

Fonte: http://www.gecorpa.pt/Upload/Noticias/sfrancisco.jpg.

76
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

Figura 68. Convento e Igreja de S. Francisco e novo Núcleo Museológico.

Fonte: https://images.adsttc.com/media/images/586f/76e4/e58e/ce96/9a00/0190/slideshow/isf-castros-20160311-183609.
jpg?1483699899.

A intervenção foi dividida em quatro ações simultâneas e complementares:

»» consolidação estrutural, aumentando a resistência do edifício nas paredes,


contrafortes interiores e tirantes na nave, reativando salas inutilizadas no
século anterior;

Figura 69. Consolidação das paredes e teto.

Fonte: https://images.adsttc.com/media/images/586f/770f/e58e/ce96/9a00/0191/slideshow/isf-claustro-20160308-114857.
jpg?1483699946.

»» reposição dos espaços como museu do espólio da igreja, com um novo


sistema de acessibilidade, separando circulação de visitante da circulação
interna do clero;

77
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

»» substituição das coberturas e do sistema de drenagem;

»» conservação e restauro das pinturas, murais, cavaletes, altares, imagens,


azulejos, e dos demais patrimônios móveis integrados ao edifício.

Figura 70. Croqui esquemático da rampa.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/803032/recuperacao-do-convento-e-igreja-de-s-francisco-e-novo-nucleo-
museologico-adalberto-dias.

Figura 71. Croqui esquemático do edifício (esq.) e das escadas (dir.).

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/803032/recuperacao-do-convento-e-igreja-de-s-francisco-e-novo-nucleo-museologico-
adalberto-dias.

78
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

Figura 72. Plantas baixas.

Planta Baixa – Piso 1

Planta Baixa – Térreo

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/803032/recuperacao-do-convento-e-igreja-de-s-francisco-e-novo-nucleo-museologico-
adalberto-dias.

Figura 73. Fachada e cortes.

Fachada
Nascente

Corte 1

Corte 2

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/803032/recuperacao-do-convento-e-igreja-de-s-francisco-e-novo-nucleo-museologico-
adalberto-dias.

79
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

Figura 74. Interior da Capela São Francisco.

Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/803032/recuperacao-do-convento-e-igreja-de-s-francisco-e-novo-nucleo-museologico-
adalberto-dias.

Figura 75. Capela dos Ossos.

Fonte: http://igrejadesaofrancisco.pt/igreja/wp-content/uploads/2015/10/isf-capela-ossos-20150615-155949.jpg.

80
CAPÍTULO 2
Princípios éticos da restauração

A intervenção em monumentos históricos, a partir do século XVIII, esteve relacionada


quase sempre a correntes históricas e visões estéticas diferentes, que dependiam do
período que estava se passando. Por essas alterações, hoje se busca relacionar a ética às
variadas profissões e competências que são necessárias para conduzir tais intervenções.
Ao conhecimento da história, da arte e da arquitetura, devem se apresentar como
instrumento necessário e primordial para o processo de conservação e restauração. É
importante enfatizar que a história pode vir antes das intervenções, mas as intervenções,
não podem jamais ser realizadas sem o conhecimento historiográfico do objeto ou
espaço no qual irão atuar. Isso atinge todos os profissionais envolvidos no processo,
mesmo não sendo historiadores, que deverão conhecer a visão histórica, para que assim
sejam capazes de entender e respeitar a obra com a qual estão lidando. A ausência dessa
consciência pode trazer consequências com alto nível de gravidade sobre as ações de
bens históricos.

Figura 76. Revitalização da Praça Rui Barbosa em Ibitinga/SP, o chafariz foi instalado em 1917 – Antes.

Fonte: https://img.huffingtonpost.com/asset/5c378223210000850bcc5377.jpeg?ops=scalefit_630_noupscale.

81
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

Figura 77. Revitalização da Praça Rui Barbosa em Ibitinga/SP, o chafariz foi instalado em 1917 – Depois.

Fonte: https://media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-s/09/be/6b/62/praca-rui-barbosa.jpg.

Antes de qualquer ação de intervenção deve-se seguir uma metodologia unificada


para cada tipo de manifestação, variando nas suas especificidades e características. No
mundo contemporâneo, não são mais apenas as obras de grande porte, ou realizadas
por artistas de renome que são consideradas objetos de apreciação histórica e cultural,
mas todas aquelas que carregam em sua composição um significado e uma memória
coletiva que resguardam a história da sociedade.

É importante relembrar as transformações que as conceituações e teorias do restauro


sofreram ao longo do tempo, tendo início no século XV, quando as intervenções saem do
campo prático de apenas manter o edifício funcional, e passam a ter uma nova motivação;
pensa-se no monumento como parte da cultura e da história de um povo. No fim do
século XVIII, a preservação começa a se expandir, ganhando força e autonomia até
chegar no século XX, no qual finalmente, consolida-se como uma disciplina autônoma.

Anteriormente a esse período de crescimento da consciência histórica, muitas


intervenções foram realizadas para adequar os edifícios às necessidades da época,
levando em consideração as exigências de uso no momento. Com o início do período
do Renascimento, novas vertentes históricas se formam e criam força trazendo consigo
um respeito pelo original, a possibilidade de reversão e diferenciação das intervenções,
a importância de uma investigação documentada e uma metodologia de trabalho.
Começa a existir um interesse por conservar em vez de intervir, o passado e o presente

82
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

se diferenciam. A preservação assume então um significado formal, histórico, simbólico


e memorial juntamente com ações práticas.

O que temos hoje como procedimento foi resultado de uma combinação de teorias e
experiências com intervenções que ocorreram ao longo dos séculos passados, somando
ainda a experiência de outros países que envolvia o conceito de Eugene Viollet-le-Duc em
alcançar a obra completa, mesmo que para isso fossem necessárias várias substituições,
o conceito e teoria de John Ruskin e William Morris defendendo o prolongamento da
vida do edifício com manutenções periódicas e aceitando a perda de algum bem quando
findasse essa vida. Algumas experiências, por vezes, foram consideradas antiéticas, por
desprenderem-se da preocupação com a história.

Só no fim do século XIX finalmente surge uma ideologia, guiada principalmente por
Camillo Boito, que consolida a priorização da matéria original, dando valor à passagem
do tempo e à história ali incluída. Recomenda-se a mínima intervenção, e quando
necessária, deve ser distinguível das peças originais, para que não haja a confusão no
momento de reconhecer o original da substituição.

Já adentrando o século XX, mais um nome é destacado, Alois Riegl, que oferece meios
inovadores, envolve meios normativos e elabora análises sobre o papel dos monumentos
na sociedade. Ele tende a se distanciar das ideias anteriores considerando apenas a
história artística do monumento, mas leva em conta tudo o que o monumento causa,
como é recebido e percebido pelos observadores e usuários. Considerava ainda que as
propostas de leis a respeito dos meios de restauração deveriam ser baseadas no respeito
ao valor do monumento, respeitando todos os seus significados e avaliando de acordo
com cada situação.

O interesse em resguardar não é somente retomar as formas antigas, mas respeitar


o valor histórico e os traços da passagem do tempo. O valor é mutável e varia de
acordo com o indivíduo, a sociedade e o momento, não existindo um valor eterno,
mas um relativo.

Com as destruições provocadas pela II Guerra Mundial, evidenciou-se que os


instrumentos teóricos gerados ao longo dos anos não eram suficientes para a realidade
que se instaurava com a destruição dos monumentos. As faces estéticas ainda não
haviam sido levadas verdadeiramente em conta, não existindo ainda conceitos e teorias
suficientes para englobar áreas devastadas tão extensas.

83
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

Figura 78. Destruição em Florença, Itália após a II Guerra Mundial.

Fonte: https://passeiosnatoscana.com/wp-content/uploads/2016/09/10830536_830398107023306_509
2243084352084559_o.jpg.

Os textos escritos nos anos de 1940 ainda têm relevância no campo da restauração,
influenciando inclusive a Carta de Veneza em 1964. Somado a eles, houveram estudos
paralelos nos temas que tinham alguma convergência, ampliando os meios de crítica
e aprofundamento no tema. A restauração é uma metodologia de trabalho complexa e
multidisciplinar, mesmo que a ação seja executada por uma única pessoa.

As intervenções não podem ser encaixadas ou subdivididas em categorias, mas devem


ser analisadas de forma individual e singular, em que cada obra tem a sua marca e
história no espaço e no tempo. Não colocar a obra com um rótulo, não significa que as
intervenções deverão ser realizadas de forma arbitrária. É por isso que existe um método
de chegar ao conhecimento completo da obra. Não existem modelos pré-concebidos e
regras previamente definidas, mas, por meio da metodologia, se encontra o caminho
para respeitar a estruturas históricas da obra.

DA restauração deve ser um trabalho objetivo, com metas e planos, que serão alcançados
após uma longa e complexa pesquisa e reflexão teórica. Assim, a restauração deve seguir
princípios gerais, norteando e permitindo uma metodologia condizente com cada obra
e sem se desvirtuar da história e filosofia da arte.

Essa objetividade permite que as atitudes sejam guiadas e superem as vontades


pessoais, minimizando os riscos, atitudes egocêntricas ou interpretações incorretas
ou parciais. A restauração se guia por três princípios fundamentais, que devem
sempre caminhar juntos:

»» Distinguibilidade: o tempo não é reversível, logo não se pode permitir


confusões entre original e restaurado/construído. Tudo o que for
acrescentado a posteriori, deve estar visivelmente distinguido, e ainda
deve ser documentado, para que estudiosos futuros não confundam como
sendo original da época de construção do monumento.
84
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

»» Reversibilidade: com o tempo, o monumento poderá ter novas


necessidades de intervenção, logo, deve existir sempre a possibilidade
de novas intervenções, não podendo alterar a essência da obra e sempre
respeitando o preexistente.

»» Mínima intervenção: a restauração não pode afetar o documento


histórico nem a figura da obra. A intervenção deve ser realizada apenas
quando for de extrema necessidade, para manter o saudável uso da
edificação ou a sua estrutura.

Com as novas teorias que surgiram, o alargamento do que define bem cultural e
histórico aumentou também os problemas que surgiram para realizar as ações de
restauração, colocando novas questões teóricas, técnicas, práticas e éticas que deverão
ser enfrentadas. Esses fatores acabam assumindo proporções além do considerável, pois
abordam as pressões econômicas, as políticas e as de uso, que não podem ser deixadas
de lado durante o processo, mas que levam a um afastamento do foco central que é o
cultural-histórico, que motiva primeiramente a preservação do patrimônio. As visões
diferenciadas sobre o patrimônio devem coexistir e não serem consideradas únicas e
separadamente fatores decisivos.

Não se trata de conservar tudo o que existe nas cidades, muito menos, demolir. O
que deve haver é um equilíbrio baseado nas obras que carregam um real significado
histórico, memorial, artístico e simbólico. Serão escolhas voluntárias e involuntárias
que determinarão o que será preservado ou não, o que é interessante para estudo e
tutela das várias fases humanas. As decisões extremas, para o lado do tudo ou do nada,
seriam negligentes. Essas escolhas não são realizadas baseadas em opiniões pessoais
ou gosto, mas formuladas por equipes multidisciplinares, que devem ser sustentadas
pelo conhecimento sociológico, histórico, artístico, arquitetônico, estético, científico e
jamais pode ser arbitrário.

Qualquer ação realizada em bens culturais gera mudanças e modificações na percepção


e leitura do monumento. Isso envolve ações de manutenção, limpeza, controladas
ou limitadas. O que significa no maior entendimento é que qualquer obra sofrerá
modificações, seja por uma intervenção controlada ou por uma ação do tempo, sendo
que aquela é passível de delimitar até onde ela é capaz de alterar, enquanto essa é deixada
à própria sorte. Apesar dessa certeza de mudanças, não se pode permitir sobrescrever a
história, afetando aquela que ali já está viva.

Nos casos de monumentos arquitetônicos, muitas vezes na “mínima intervenção” se


tornam necessárias novas adições, muitas vezes técnicas (elétrica, hidráulicas, reforço

85
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

estrutural), mas deve-se sempre ter o cuidado dessa integração não surgir como
eliminação ou substituição da documentação já existente.

O papel de realizar essas intervenções é de extrema responsabilidade, pois são


exemplares únicos de uma fase que não poderão ser reproduzidos. Essa consciência
deve levar ao entendimento de que qualquer tipo de perda, torna-se irreparável, ainda
mais quando se lida com organismos tão delicados.

Figura 79. Restauração mal sucedida da obra em afresco Ecce Homo de Borja, em 2012.

Fonte: https://static01.nyt.com/images/2012/08/24/world/europe/24christ-span/24christ-span-jumbo.jpg.

A ética nas intervenções é um tema complexo, que não se apresenta em um único


panorama, pois varia com a alteração das culturas, com a sociedade e com as visões sobre
o bem que está sendo avaliado. Existe uma base, firmada sobre todo o conhecimento
técnico desenvolvido ao longo das suas pesquisas juntamente com o discernimento
obtido com as pressões que motivaram aquela transformação.

O saber ético vincula a técnica obtida e necessária a todas as decisões e reflexões a


respeito do entendimento geral, não isolando o bem das necessidades culturais, sociais,
políticas e econômicas, mas respeitando todas as necessidades, a naturalidade e a
originalidade, reconhecendo que os valores urbanos e sociais e suas alterações deverão
ser sustentáveis e objetivas, conectando o bem com a personalidade da sociedade em
que se insere.

86
CAPÍTULO 3
Planejamento para projetos de restauro

Antes de começar um planejamento de restauro, deve-se ter em mente alguns conceitos


básicos e essenciais para o entendimento de todas as opções.

»» Consulta prévia: consultas, informações, orientações tomadas pelo


interessado em elaborar qualquer tipo de estudo ou projeto de preservação
que esteja sobre tutela do Estado.

»» Conservação: ações que visam prolongar o tempo de vida dos bens


histórico-culturais, podendo incluir um ou mais tipos de intervenção.

»» Manutenção: ações preventivas que visam manter em funcionamento a


edificação. Podem ser inspeções, limpezas, pinturas etc.

»» Reparação: ações que visam corrigir danos pontuais e de pequena


abrangência, como troca de acessórios de instalação, reposição de
elementos da cobertura, pequenas partes de pisos, entre outros;

»» Reabilitação: ações que visam viabilizar a alteração dos usos de um


edifício, sendo diferente do que foi projetado;

»» Reconstrução: conjunto de ações para restaurar uma edificação ou


parte dela, que esteja destruída ou em risco, mas não esteja em ruínas.
Deverá estar baseada em documentação e estudo histórico.

»» Consolidação/estabilização: ações que mantêm a integridade


estrutural da edificação, em parte ou total.

»» Restauração/restauro: ações que irão recuperar a unidade da


edificação, trazendo o seu conceito original à vida ou com intervenções
que sejam significativas na história. Deve basear-se em estudos e
levantamentos e a execução deve distinguir o original da alteração.
É um tipo de intervenção que necessita de ações com profissionais
especializados.

»» Revitalização: operações realizadas em áreas urbanas com nível de


degradação. Pode ser realizada também em conjuntos de edifícios com
valor histórico, com o fim de melhorar a qualidade das estruturas sociais,
econômicas e culturais.

87
UNIDADE IV │ O PROJETO DE RESTAURAÇÃO

Para o detalhamento dos projetos deve-se basear na complexidade, nas características


e na dimensão da intervenção. A Unidade Regional do Iphan fica responsável por guiar
e responder às dúvidas à respeito desse grau de detalhamento anterior à aprovação.

Nas intervenções complexas, pode-se solicitar alguns tipos de complementações,


enquanto nas intervenções de menor vulto, como manutenções de pinturas, substituição
de materiais danificados, algumas fases ou etapas de projeto podem ser dispensadas.
Entretanto, em qualquer opção deve existir o entendimento e a compreensão das
intenções do projeto, possibilitando a elaboração do orçamento.

Os projetos devem observar os códigos, leis, normas nas esferas municipais, estaduais
e federais, envolvendo todo o assunto pertinente. Devem ainda adotar a prescrição
mais exigente das três esferas, independente da hierarquia, mas havendo qualquer
divergência ou incompatibilidade deve-se seguir as exigências do âmbito federal.
Ainda são consideradas todas as Normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT) e disposições referentes às pessoas portadoras de deficiência física, seguindo a
lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, a arqueologia e meio ambiente. Nos projetos
de sinalização, deverão ser observadas as orientações elaboradas pelo Departamento
Nacional de Trânsito (DENATRAN), pela Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR)
e ainda pelo Iphan. Os manuais complementares desenvolvidos pelo Iphan, que servem
de complemento para as pesquisas são:

»» Manual de Conservação Preventiva;

»» Manual de Conservação de Jardins Históricos;

»» Manual de Conservação de Telhados;

»» Manual de Conservação de Cantarias;

»» Manual de Arqueologia Histórica.

Sugere-se elaborar um histórico da intervenção, reunindo as anotações, registros,


desenhos e todas as decisões que foram tomadas ao longo da execução de toda
intervenção que possa ter levado a realizar alterações nos projetos originais, feito em
forma cronológica e resumido.

Realizar um projeto de intervenção engloba um conjunto de elementos para execuções


das ações que se destinam a proteger e prolongar o tempo de vida de uma edificação
ou conjunto urbano e envolve uma gama de áreas técnicas, restauração, manutenção,
estabilidade, reabilitação, entre outras. Esses conceitos se referem aos tipos de

88
O PROJETO DE RESTAURAÇÃO │ UNIDADE IV

intervenção que serão realizados dependendo principalmente do estado geral de


conservação do bem.

Elaborar um projeto completo envolve uma série de atividades preliminares que estão
relacionadas a identificação e reconhecimento geral do bem, avaliando primeiramente as
condições existentes do bem para assegurar a eficácia do projeto. O seu desenvolvimento
é realizado em etapas para que o acompanhamento, avaliação e orientação pelos órgãos
responsáveis sejam realizados de forma eficiente.

Logo, todas as etapas complementares poderão ser revisadas e alteradas a qualquer


momento.

As etapas do projeto de intervenção de patrimônio edificado são:

»» identificação e reconhecimento do bem;

»» diagnóstico;

»» proposta de intervenção, incluindo: estudo preliminar, projeto básico,


projeto executivo.

89
ARQUEOLOGIA UNIDADE V

CAPÍTULO 1
Histórico da arqueologia

Arqueologia geralmente é relacionada a uma atividade que busca soluções para grandes
enigmas do passado, envolve a resolução de grandes mistérios da humanidade, o elo
perdido, as pirâmides, Stonehenge, Machu Picchu, entre outros.

Figura 80. Stonehenge, Inglaterra.

Fonte: https://img.ibxk.com.br/2015/10/09/09121614020236.jpg?w=1040.

90
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Figura 81. Machu Picchu, Peru.

Fonte: https://dob5zu6vfhpfk.cloudfront.net/images/2015/03/13085304/Machu-Picchu-xlarge.jpg.

O arqueólogo é visto ainda como um caçador de tesouros, tendo como guia, para o geral
da população, os filmes de aventura.

Figura 82. Arqueólogos.

Fonte: https://blogaodofredao.files.wordpress.com/2017/03/arqueologia.jpg/.

Estudar o passado é uma forma de reunir a história e entender um pouco mais sobre o
caminho da humanidade. Essa sede de conhecimento é originária de questões religiosas,
afetivas ou filosóficas sendo algo natural do ser humano.

A arqueologia estuda o passado, que pode datar de dezenas ou milhares de anos.


Pode-se estudar uma edificação dos anos 1940, como estudar a forma de habitação
nos tempos históricos dependendo apenas das evidências disponíveis e possíveis. Essas
podem ser avaliadas por restos materiais (artefatos para caça, agricultura, utensílios,
pinturas rupestres, entre outros), documentos escritos, plantas e fotos, sendo neles que
o arqueólogo baseará todo o seu objeto de estudo do comportamento humano.

A arqueologia não é apenas um ramo auxiliar nem chega a ser uma técnica para
investigação de vestígios, mas é considerada uma disciplina científica que tem seus
91
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

procedimentos teóricos e metodológicos compreendendo uma série de etapas a


serem cumpridas ao longo das pesquisas. Deve contemplar: formulação de hipóteses,
incluindo levantamentos e estudos de viabilidade; implementação com sua logística e
licenças; obtenção de dados através dos levantamentos e escavações; processamento
de dados, realizando o processo de limpeza, conservação do bem, catalogação e
classificações; análise dos dados contemplados; interpretação com a aplicação das
teorias desenvolvidas; publicação do estudo e por fim, restauração quando necessário
e indicado.

O arqueólogo desenvolve seu trabalho em torno dos questionamentos que ele levanta
a respeito do grupo humano que elege, relacionando alimentação, espaço, arte, rituais,
ou qualquer outro aspecto que julgue interessante. Esses aspectos encontram-se em
objetos materiais, que podem ir de um fragmento de uma louça a uma edificação
completa, e cabe ao profissional ligar as peças do quebra-cabeças a fim de decifrar a
história por detrás daqueles objetos.

Acredita-se muitas vezes que a etapa da escavação é apenas uma parte da pesquisa,
contudo ela é o meio principal pelo qual são coletadas as evidências que serão objeto da
investigação da história. E a preocupação principal durante essa fase é a sua realização
com o devido e adequado controle que, quando não realizado, impede a seriedade
de toda a pesquisa. A função principal da arqueologia não é entender o passado para
explicar o presente, mas entender o passado pelo passado.

A arqueologia histórica trata o estudo da sociedade baseando-se na existência de


documentações e escritos, permitindo analisar as transformações sociais mais recentes
e as consequências que formam um registro arqueológico permitindo contribuir com a
explicação das mudanças ocorridas na paisagem local, considerando todos os agentes
que compõem a cultura. Essas evidências são incluídas como ferramentas metodológicas
da arqueologia e transformam-se em bens arqueológicos.

No Brasil, os bens arqueológicos são considerados bens da União, segundo o artigo no


216, da Constituição Federal de 1988, e são aplicados sobre eles todos os instrumentos
para garantir sua preservação e proteção. O patrimônio cultural e arqueológico brasileiro
encontra-se sob tutela do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
que por meio do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização (DEPAM)
do Centro Nacional (CNA) acompanha e avalia todas as pesquisas arqueológicas,
cadastrando e registrando os sítios arqueológicos do país.

Os instrumentos existentes para proteção e preservação dos bens arqueológicos


estão listados no Sistema de Gestão do Patrimônio Arqueológico. Enquanto todas as
identificações dos sítios, coleções e documentação encontram-se no Cadastro Nacional

92
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

de Sítios Arqueológicos, realizado pelo Inventário Nacional das Coleções Arqueológicas,


inclusive um banco de imagens.

Figura 83. Listagem de Sítios Arqueológicos em Minas Gerais.

Fonte: Imagem capturada através do site: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/1699.

Figura 84. Cadastro do Sítio Arqueológico de Cotia 1, MG.

Fonte: Imagem capturada através do site: http://portal.iphan.gov.br/sgpa/cnsa_detalhes.php?27212.

93
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Como surgiu a arqueologia

A necessidade de estudar o passado vem desde os tempos antigos, quando os nobres


tinham o costume de colecionar artefatos. Esse colecionismo avançou e foi responsável
pela composição de muitos museus na Europa. As escavações eram encomendadas e
eram responsáveis pelo acúmulo de vários achados que deu início à arqueologia.

Até a década de 1960, a arqueologia focava apenas em grandes achados, quando o


interesse era compreender a origem dos povos e o período que evoluíram e, para isso,
era preciso coletar uma grande quantidade de objetos para compará-los e mapear o
movimento dos povos ao longo do território para assim fazer a ligação entre eles. Eram
comuns relatórios extensos e com grandes descrições dos materiais e sítios descobertos.
O arqueólogo dessa época passava horas cercado de objetos que deviam ser classificados
e formariam, mais à frente, conjuntos que indicariam e caracterizariam uma cultura.
Os objetos eram descritos por suas características físicas, incluindo o material utilizado,
técnicas de produção, formas características etc., e assim desenvolviam uma fonte de
compreensão de como viviam os povos da época estudada.

Figura 85. Objetos arqueológicos encontrados em São Paulo.

Fonte: http://s2.glbimg.com/fKwU6bP1My33AFDNbJg0cF2fC-Q=/1200x630/filters:max_age(3600)/s03.video.glbi
mg.com/deo/vi/94/31/5083194.

Ainda durante a década de 1960, nos Estados Unidos o movimento da Nova Arqueologia,
também entendida como Arqueologia Processual, identifica que as pesquisas não
poderiam se basear apenas em descrever objetos e afirmava que era possível e necessário
abordar aspectos mais profundos sobre a adaptação do ser humano ao ambiente ao
longo do tempo. Era necessário elaborar hipóteses e aplicar teorias e métodos durante
um estudo, inserindo a metodologia científica nos trabalhos. Neste momento passa-
se a utilizar recursos diversos, como estatísticos, para trazer confiabilidade aos dados
coletados. Pesquisava-se, a partir daí, a procedência da matéria prima, como foram
obtidas, as variações, o seu contexto, reunindo o ‘porquê’ ao invés do ‘quando’.

94
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Já em 1980, o surgimento dos Pós Processualistas traz uma nova proposta de


entendimento dos objetos encontrados em sítios arqueológicos. Eles passam a investigar
os elementos como significado das utilizações e relações dos indivíduos dentro da
sociedade, simbolizando também as suas relações. Já não importava mais a quantidade
de elementos encontrados, mas a sua qualidade, vindo a compreender a ação de cada
indivíduo dentro das regras sociais para interagir dentro da sociedade. Os objetos eram
reflexos não mais das atividades apenas, mas do status que cada indivíduo ocupava
dentro do ambiente social. Então, a arqueologia passa a ter um papel determinante no
processo da formação política da sociedade.

A forma como o passado é relatado pode alterar os aspectos de como a história é


contada, correndo o risco de ser deturpada, ocultada ou alterada, afetando diretamente
na identidade e a memória de uma sociedade.

A arqueologia ocupa um lugar importante na educação e no entendimento da cidadania


da sociedade e, por esse motivo, é essencial nos estudos atuais. Hoje, a arqueologia é
uma soma de correntes permitindo que os elementos sejam revistos e incorporados às
novas propostas de intervenção

Arqueologia histórica

A arqueologia difere dos historiadores a partir da metodologia utilizada no


desenvolvimento das pesquisas, que é própria da arqueologia. Os arqueólogos que
estudam sobre períodos históricos, utilizam também documentos escritos para
complementar a sua pesquisa.

No Brasil, o período histórico inicia durante o processo de colonização, envolvendo a


chegada dos europeus e dos africanos ao território brasileiro. A arqueologia histórica
então trabalha com os sítios instaurados com a chegada da colonização portuguesa.

Por muito tempo, os trabalhos de pesquisa limitavam-se a comprovar as fontes


escritas, tendo um caráter ilustrativo. E, posteriormente, ocorreram descobertas que
incentivaram a compreender que havia material que sobrepunha as descobertas e
suporte textual. Com isso a arqueologia histórica assume uma nova postura diante das
linhas de pesquisas científicas.

Na década de 1960, foram realizadas as primeiras investigações sistemáticas em


ruínas de aldeias espanholas e jesuíticas, datadas do século XVI, estabelecendo assim
a arqueologia histórica no Brasil. Os anos 1990 iniciam trabalhos que envolviam a
descoberta de temas que abrangiam gênero, etnias, capitalismo e a paisagem urbana.

95
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

A arqueologia histórica assume um caráter multidisciplinar como disciplina científica,


abordando conhecimento de áreas como a de história, arquitetura e antropologia e
permite uma maior capacidade de obter informações a respeito dos sítios históricos.
Utilizando de artefatos, documentações e uma análise arquitetônica específica,
pode-se entender sobre as relações entre os edifícios e seu utilizadores e como isso
impactava a sociedade como um todo, pois, entendendo os acessos, hierarquia dos
espaços, materiais construtivos, revestimentos, estética, objetos de adorno, pode-se
compreender o padrão de comportamento dos usuários daquele recinto. Essa relação
também está presente nas igrejas, fazendas, distribuição urbana que vão exemplificar
como a cidade era organizada.

A arqueologia histórica desenvolve os meios pelos quais se permite conhecer e interpretar


as relações e temas que a história não consegue alcançar. Ela consegue acessar, através
da cultura material, os objetos que nem sempre são percebidos ou descritos. Esse valor
simbólico permite compreender as manifestações e símbolos que descreviam suas
características, etnias, formas de viver, entre outros.

96
CAPÍTULO 2
Arqueologia de restauração

A arqueologia da restauração surge como conceito em meados do século XX com o


objetivo de classificar as intervenções que buscavam elementos que teriam influência
nos projetos de restauração de monumentos. Era uma vertente da arqueologia que
trabalhava apenas como acessório para a área da arquitetura, sendo uma técnica
auxiliar, e a existência de um historiador com conhecimento na área de arqueologia
poderia suprir as necessidades da mesma forma que um arqueólogo. Contudo, percebe-
se que o processo de restauração demandava uma multidisciplinaridade e uma
igualdade de cada uma dessas disciplinas, significando que todo profissional envolvido
na intervenção tem contribuição essencial a ser considerada. Cada profissional tem o
seu objetivo e a sua metodologia, desde que o objetivo comum seja mantido: contar a
história com suas alterações físicas e sua linha do tempo de uso.

Com a Arqueologia Pós Processualista define-se que a edificação seja estudada como um
artefato sendo considerado o todo como o objeto de estudo, e não apenas como o local
onde estarão os monumentos. A edificação, dessa forma, passa a ter vida e significado.
A importância de conhecer a história do edifício vai além de uma questão cultural, ela
envolve a necessidade de entender todo o processo evolutivo de materiais e possessos
construtivos utilizados desde o início da construção, para auxiliar os caminhos que serão
tomados pelos profissionais que irão realizar o processo de restauração do monumento.

Na atualidade os projetos de restauração são realizados, principalmente, pelo próprio


governo, representado pelas instituições especializadas, com a intenção de contar ao
público geral, e à sociedade, a história do seu passado, por meio dos monumentos.

Arqueologia como bem cultural


A arqueologia é a parte da ciência que estuda a história da humanidade através dos
seus bens materiais e a cada descoberta realizada permite preencher as lacunas que
a evolução humana deixa ao longo do tempo. Logo, tudo que foi ou é produzido pelo
ser humano poderá ser analisado pela área da arqueologia. Todo objeto será parte da
história, podendo ser um fragmento de um objeto ou uma edificação, ou ainda uma
estrutura urbana. Sendo assim, tudo que conta ou materializa uma cultura, é um
bem cultural. E é a partir da descoberta desses bens que a linha do tempo de cada
acontecimento é formada.

97
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Para um bem cultural ser reconhecido e tombado pelo poder público, será avaliado
todo o seu valor histórico, arqueológico, artístico, cultural, sociológico, paisagístico e
quando reconhecido, recebera todas as ações necessárias para sua preservação a fim
de cumprir o seu papel na história contada sobre a construção do país. Todas essas
ações de restauração e/ou conservação dos bens culturais deve ter como objetivo a
recuperação da história desse bem.

A arqueologia se mostra eficaz de forma a auxiliar esse processo de recuperação histórica,


preenchendo uma ausência de dados bibliográficos, mas também na interpretação deles
com os documentos existentes sobre o bem. O projeto da arqueologia deve buscar todos
os dados possíveis, inseridos no tempo e espaço com todos os seus valores e simbolismos,
para afirmar que a edificação deverá ser considerada um artefato complexo e completo.
As edificações são produtoras e produto de relações sociais que deverão ser objeto de
preservação das histórias que elas contam.

Os projetos de restauração buscam resgatar as características originais das edificações,


e a arqueologia permite conhecer melhor cada ponto dessa história e encarar esses
projetos como um resgate da sociedade que o construiu em determinado ponto da
história.

98
CAPÍTULO 3
Arqueologia nos projetos de
restauração

No Brasil, as restaurações executadas pelo Iphan têm como principal objetivo utilizar
o processo interdisciplinar para desenvolver os processos de restauração e resgate dos
bens que serão restaurados. Essa base foi utilizada durante vários projetos do órgão,
como nas missões jesuíticas no sul dos país, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, em
pesquisas das fortificações do nordeste, entre outros.

Figura 86. Paço Imperial, RJ anterior à restauração.

Fonte: https://euqueroeviajar.files.wordpress.com/2011/01/0.jpg.

Figura 87. Paço Imperial, RJ pós-restauração.

Fonte: http://opiniaoenoticia.com.br/wp-content/uploads/Paco21.jpg.

99
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Podem ser citados dois tipos de modelos nos quais são divididas as pesquisas
arqueológicas dentro do projeto de restauração. O primeiro modelo, o mais usual e
tradicional, é representado no esquema:

»» pesquisa arqueológica 1 é realizada exclusivamente para a restauração 1;

»» pesquisa arqueológica 2 é realizada exclusivamente para a restauração 2.

Nessa forma de se conduzir a pesquisa arqueológica, não há relação entre uma e outra.
A arqueologia responde às questões de forma pragmática, ligada apenas às demandas
exigidas pelo projeto de restauração, sendo assim o trabalho arqueológico dependente
das necessidades do trabalho arquitetônico. Caracteriza-se por preencher as lacunas
que existem sobre o bem a ser restaurado, com a produção de dado imediato, não
buscando um aprofundamento na história que o bem conta.

A preocupação em manter a história se mostra na utilização da arqueologia como


acessório para a realização de trabalhos de restauração. Isso fica mais evidente em
comparações entre trabalhos de restauração que não receberam esse tipo de contribuição.
Hoje, esse trabalho se torna mais eficaz pela troca de informações históricas e técnicas.

Já, no segundo modelo, acredita-se em uma perspectiva mais abrangente, permitindo


que a arqueologia contribua, além do modo imediato, mas também pode-se aproveitar do
momento para compreender melhor sobre o bem preservado. Com esse conhecimento,
permite-se que o poder público melhore a gestão sobre os bens protegidos.

A arqueologia elabora uma sistematização durante a pesquisa do bem trabalhado,


relacionando a necessidade de restauração física com o conhecimento adquirido ao
longo da elaboração do projeto, permitindo que se consolide o campo da arqueologia
histórica e dos projetos de restauração. Esse modelo já é adotado nos trabalhos realizados
pelo Iphan nas coletas e produções de dados em longo, médio e imediato prazo:

»» 1o PASSO: Pesquisa arqueológica 1 produz um modelo explicativo


que é utilizado no Processo de restauração 1;

»» 2o PASSO: O modelo explicativo é aplicado na pesquisa arqueológica


2 durante o processo de restauração 2;

»» 3o PASSO: um novo modelo explicativo é atribuído.

Nesse modelo, as relações entre as pesquisas estimulam a produção de conhecimento,


além de serem complementadas umas pelas outras. Já o texto da Carta de Veneza
inclui a arqueologia como parte do trabalho interdisciplinar que envolve a preservação,
produzindo conhecimentos a partir da cultura material e com associação dos dados

100
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

produzidos pelo levantamento histórico e arquitetônico, permitindo ao gestor de


patrimônio tirar conclusões cada vez mais completas para a execução das tarefas de
preservação.

Não se deve permitir a existência de achismos durante um processo como este, pois
cada interferência pode acarretar riscos ou danos para um monumento, logo, toda
opção e alteração deve ser controlada e baseada nos parâmetros definidos e rígidos de
preservação.

Arqueologia como preservação


Para preservar o patrimônio da uma nação é necessário não apenas ação. Ela é uma
combinação de vários atos quer deverão ter um caráter de materialidade permitindo
a manutenção do bem tombado para prolongar a sua vida útil. São utilizadas ações
práticas, com intervenções diretas nos bens preservados. Essa intervenção necessita a
atuação de uma equipe multidisciplinar que preenche todas as lacunas que houverem
durante o processo de trabalho.

Essa equipe multidisciplinar deve ser composta dependendo do porte da intervenção.


A composição geralmente utilizada é composta por arquiteto e engenheiro (com
especialização ou experiência em trabalhos de restauros) e arqueólogo (se possível,
com experiência em arqueologia histórica). A equipe acompanha todo o processo de
preservação e deve ser ajustada sempre que for necessário, ou quando a intervenção
indicar, desde que a multidisciplinaridade seja mantida.

A arqueologia é deve ser incluída nas diferentes atividades de preservação, mesmo nos
casos de projetos já em andamento, sendo utilizada nos projetos de restauração, de
Conservação e outros em andamento.

Os projetos de restauração são aqueles cuja intervenção envolve todas as etapas, desde
o estudo até a fase de reocupação, incluindo ainda a fase de projeto, definição de uso e
execução da obra em si. As intervenções são de médio e grande porte e desenvolvem um
estudo de conhecimento mais aprofundado do bem a ser restaurado. Nessa situação a
arqueologia atua em todas as etapas.

Já os projetos de conservação são intervenções menos impactantes. Contudo, durante o


trabalho de reparos que são realizados nos pisos, paredes, telhados, objetos de adorno,
por exemplo, pode ser encontrada uma vasta quantidade de informações sobre o bem,
permitindo, também, uma revisão do projeto de conservação, melhorando o processo
de gestão do monumento.

101
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Por fim, os projetos em andamento, são aqueles que tiveram início antes das aplicações
dos manuais para conservação e devem ser analisados por uma equipe especializada
composta por arqueólogos e demais técnicos, organizados pelo Iphan, a depender do tipo
específico de intervenção. A equipe analisa a fase da intervenção e aplica a necessidade
de pesquisa arqueológica, bem como define os demais procedimentos necessários para
a conclusão da intervenção.

102
CAPÍTULO 4
Etapas da arqueologia

As ações da arqueologia nos projetos de restauração são divididas em três etapas, que
são realizadas sucessivamente:

Primeira etapa – Avaliação do potencial


arqueológico
É realizada ao longo da elaboração do projeto de arquitetura, anteriormente à realização
das obras civis, com o objetivo de servir desubsídio para a elaboração de todo o projeto
de intervenção. É o momento em que o futuro da edificação será decidido, definidos os
usos após o processo de restauração, bem como definido o anteprojeto da intervenção.
Com isso, permite-se que sejam tomadas as decisões a respeito dos resultados das
pesquisas arqueológicas, definindo se serão incorporados ao bem ou não. Essa
incorporação deve ser confirmada após a avaliação de cada descoberta pela equipe de
restauração. Após a avaliação é determinada a realização da etapa II, caso indique a
necessidade de prosseguimento das pesquisas, ou a realização direta da Etapa III, que
acontece se esgotarem as possibilidades de conhecimento sobre o bem dando início ao
estudo sobre a 3ª etapa.

Figura 88. Vestígios que podem ser incorporados ao projeto de restauração da Igreja de São Lourenço dos Índios

em Niterói/RJ.

Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcTThIrIx0xaxNyrGoYixWkMX3HrAViwve2gv4_Xe2O__qmEtc04.

103
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Figura 89. Vestígios de calçamento do século XIX encontrados na instalação do VLT no Rio de Janeiro.

Fonte: https://brasil.estadao.com.br/blogs/estadao-rio/wp-content/uploads/sites/204/2015/03/escava.jpg com adaptações.

Ela será dividida em duas fases:

»» 1ª fase: Elaboração do projeto de prospecções arqueológicas:


Neste momento as equipes de restauração definem as áreas e os
elementos da edificação que deverão ser escavados ou prospectados pela
arqueologia. Todos os dados devem se basear nas pesquisas históricas e
levantamentos arquitetônicos realizados antes do início da obra. Podem
ser utilizados equipamentos auxiliares e métodos de investigação que
possam ajudar no diagnóstico das áreas que serão investigadas. Pode
ser utilizado o GPR (ground penetration radar) ou o radar de solo, que
detectará anomalias no solo ou paredes, podendo encontrar estruturas
que estejam escondidas debaixo ou atrás de algum espaço.

Os bens tombados pelo poder público, no Brasil, deve ser analisado pelo arqueólogo do
Iphan, responsável por dar o aval de consentimento para continuação da intervenção.

104
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Figura 90. Georadar sendo utilizado nas prospecções da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim.

Fonte: https://www.researchgate.net/profile/Scott_Allen16/publication/318110390/figure/fig4/AS:512022569394176@149908710
1450/Figura-4-Levantamentos-geofisicos-no-Largo-da-Igreja-Nosso-Senhor-do-Bonfim-Imagens-do.png com adaptações.

»» 2ª fase: Execução das prospecções arqueológicas: A execução


da pesquisa deverá ser acompanhada e orientada em todas as suas fases
pelo arqueólogo coordenador da pesquisa juntamente com o arquiteto
(ou equipe) responsável pelo levantamento e projeto. Além disso, no
Brasil, o Iphan deve acompanhar todo o procedimento. Ao fim de todos
os procedimentos de investigação, deve ser produzido um relatório final
e, caso seja necessário, relatórios parciais. As áreas escavadas não podem
ser preenchidas com qualquer sedimento até que seja determinada a
conclusão dos destinos dentro do projeto de restauração, permitindo,
sempre que necessário, a revisão dos dados coletados.

Segunda etapa – Pesquisa arqueológica

Pode ser executada antes ou durante da realização das obras civis do processo de
restauração, desde que esteja de acordo em promover o andamento do trabalho sem
intercorrências. Esta etapa é facultativa, sendo determinada sua necessidade pela
Avaliação do Potencial Arqueológico. Quando determinado que não há necessidade da
realização desta etapa, passa-se diretamente para a etapa III. Quando decidido que as
pesquisas devem continuar, segue-se as duas fases:

»» 1ª fase: Elaboração do projeto de pesquisa arqueológica:


Nesta fase, as pesquisas e levantamentos produzidos na 1ª etapa serão
aprofundados, contando com a participação do arquiteto responsável pela

105
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

elaboração dos projetos, assim como a presença de toda a equipe envolvida


no processo de restauração. Todo o projeto deve ser acompanhado por
equipe do Iphan, que emitirá parecer favorável, permitindo e dando
autorização para a realização das atividades.

»» 2ª fase: Execução da pesquisa arqueológica: Esta fase poderá ser


realizada durante o processo de realização das obras civis de restauração.
O arqueólogo responsável deverá sempre ser auxiliado pelo arquiteto
responsável com o acompanhamento da equipe do Iphan.

Ao final de todo o trabalho, deve ser apresentado o relatório final e, quando houver
necessidade e seja determinado pela equipe de restauração, devem ser apresentados
relatórios parciais.

As áreas que sofrerem intervenção de escavação, não poderão ser preenchidas até que o
uso seja confirmado dentro do projeto de uso do bem, na próxima etapa.

Terceira etapa - Utilização dos vestígios

Essa última etapa ocorre ao final das obras e depende das decisões da equipe de
restauração em incorporar, ou não, os vestígios encontrados pela pesquisa arqueológica.
Esses vestígios, muitas vezes, são expostos transformando-se em um museu-sítio
arqueológico. A avaliação é realizada pelo arqueólogo coordenador e pela equipe de
restauração, restando duas situações:

a. Integração dos vestígios ao bem

Os vestígios encontrados são expostos após as conclusões das obras, tendo


aproveitamento integral ou parcial, que poderá ser a implantação de um museu-sítio
arqueológico, que aproveita quase a totalidade das estruturas encontradas, ou ainda
poderá ser um aproveitamento parcial dos vestígios, que ficará exposto em algum
espaço determinado. Em qualquer das situações, a equipe de restauração deve avaliar
a viabilidade e a necessidade de elaborar projetos específicos e complementares como:

»» drenagem e consolidação das peças que permanecerão expostas;

»» agenciamento;

»» museografia;

»» sinalização e comunicação visual;

»» iluminação;

106
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

»» manual de conservação;

»» educação patrimonial.

Figura 91. Agenciamento do Museu-Sítio Arqueológico na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Anchieta/ES.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Figura 92. Agenciamento do Sítio Arqueológico na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Anchieta/ES.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

b. Não integração dos vestígios ao projeto

Quando se optar que os vestígios encontrados no processo arqueológicos não serão


integrados ao projeto final da restauração, deve ser realizada uma revisão parcial do
projeto. As áreas escavadas que foram abertas para a pesquisa, deverão ser fechadas,
devendo ser primeiramente forradas (com telas ou tiras plásticas) e posteriormente
preenchidas com algum tipo de sedimento, permitindo o reaproveitamento da área
para outros usos. Quando realizado o fechamento, é recomendada a realização de uma

107
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

exposição permanente para a informação da pesquisa arqueológica do bem e seus


resultados, contando sobre o processo e, de preferência, com a apresentação de bens
escavados.

Figura 93. Fim dos trabalhos arqueológicos.

Fonte: https://www.radiopax.com/wp-content/uploads/2017/08/Outeiro.jpg.

108
CAPÍTULO 5
Projeto de pesquisa arqueológica

Para realizar qualquer projeto de pesquisa científica, deve-se seguir as etapas que são
determinadas pelo processo de metodologia científica. Nesse procedimento também
são encaixadas as pesquisas arqueológicas.

Como já exposto, as pesquisas arqueológicas se dividem em dois tipos de projetos:


projeto de prospecções (avalia o potencial arqueológico do bem) e projeto de pesquisa
(aprofunda as pesquisas realizadas no projeto de prospecções). Esses projetos serão
elaborados e desenvolvidos por arqueólogos com o apoio da equipe de restauração e
com o acompanhamento direto do arquiteto (ou equipe) responsável. Esse processo
sempre deve ser acompanhado pelos especialistas do Iphan, realizando a função de
arqueólogo coordenador ou como supervisão. A função do arqueólogo coordenador não
pode ser transferida para terceiros sem a anuência do Iphan.

Nos projetos de arqueologia histórica há algumas informações básicas que devemos ser
respeitardas e devem constar no documento:

»» pesquisa histórica, contendo todas as questões necessárias para a


compreensão do bem, do objeto de intervenção, levantamento de suas
características formais, espaciais e de uso, considerando as originais e as
que sofreram alterações ao longo de outras intervenções;

»» levantamento fotográfico, exterior e interior, observando detalhadamente


o bem durante a época da intervenção;

»» desenhos como plantas, cortes, elevações, croquis, que sejam a


representação do projeto na época da realização da intervenção;

»» relatórios anteriores de qualquer intervenção que tenha sido realizado


como conservação e restauração;

»» pesquisas tipológicas e de técnicas construtivas existentes no bem.

Os projetos que são apresentados pelos arqueólogos coordenadores deverão seguir uma
estrutura básica composta por:

»» objetivos e justificativas: devem ser definidos os objetivos que


serão atendidos pela pesquisa, assim como se atendem às necessidades
impostas pelo projeto de restauração e pela arqueologia;

109
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

»» suporte teórico e metodológico: refere-se a todo o conhecimento


produzido ao longo da pesquisa que dará suporte para sanar as dúvidas e
necessidades durante a intervenção;

»» equipe: será a equipe responsável definida e coordenada pelo


arqueólogo coordenador (membro da equipe de restauração). A equipe
deve ser compatível com as necessidades do projeto que será executado,
devendo ser composta por no mínimo um arqueólogo, um assistente e
um estagiário. A equipe que realizará a frente de trabalho e dará suporte
para a equipe de arqueologia deve ser composta por, no mínimo, três
trabalhadores por frente de trabalho, exclusivos para os trabalhos de
escavação. Além disso, a gestão dessa equipe deve ser através da empresa
responsável pela equipe de obras civis, a fim de resguardar o arqueólogo
coordenador de trabalhos administrativos, focando seu objetivo apenas
aos trabalhos arqueológicos;

»» procedimentos sequenciais das operações: será a ordem de


trabalhos a serem realizados dentro do sítio de pesquisas, equilibrando
as etapas da arqueologia com as das obras civis;

»» cronograma de execução: serão os procedimentos apresentados de


forma esquemática, incluindo prazos e datas;

»» diário de obra: inclui a obrigação do preenchimento dos diários de obras


exclusivos para as atividades relacionadas ao trabalho de arqueologia,
devendo conter o cotidiano dos trabalhos juntamente com todos os
aspectos administrativos. Esse, não substitui o relatório de pesquisa.

»» usos futuros dos produtos: deve incluir a proposta preliminar para


a utilização dos materiais encontrados em campo, com suas destinações
científicas, culturais ou educacionais;

»» divulgação: como serão divulgadas as informações científicas obtidas


durantes os trabalhos de arqueologia;

»» instituições apoiadoras: quando o arqueólogo for externo aos


quadros do Iphan, deve ser identificada a instituição científica apoiadora
do projeto, incluindo a declaração de endosso institucional;

»» guarda final do material: indicação da instituição que receberá o


material obtido durante o período de pesquisas. O arqueólogo coordenador

110
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

é considerado o fiel depositário do material durante o procedimento das


etapas em campo;

»» anexos: juntamente ao projeto devem constar as documentações da


equipe técnica, incluindo currículo de todos os membros da equipe
técnica e, quando o arqueólogo coordenador não compuser o quadro do
Iphan, comprovantes de idoneidade técnico-científica.

111
CAPÍTULO 6
Procedimentos mínimos

Quando se inicia um processo de escavação, logo estará causando danos, mas a


arqueologia com seus métodos e técnicas, transforma essa possível destruição em
dados e informações. Por isso, os projetos de arqueologia devem ser feitos com o
máximo cuidado, pois haverá só uma chance de ser realizado. Todas as etapas devem
ser orientadas de forma a proteger os elementos dos bens culturais e quando houver a
necessidade de remoção dos elementos para a pesquisa, devem ser coletados fragmentos
para análises futuras.

Os dados devem sempre ser analisados em conjunto (pisos, paredes, fundações) para
que não haja a produção de dados inconclusivos ou com risco de não serem verdadeiros.

Abaixo, um exemplo, em que se percebe que a combinação de dados aumenta a


possibilidade de entendimento do conjunto, onde foi realizada uma alteração do acesso
do espaço, com uma redução das dimensões da porta lateral que foi constatada ao
perceber a existência de um degrau com as dimensões reais.

Figura 94. Degrau abaixo da porta na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Anchieta/ES.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

112
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Figura 95. Redução das dimensões da porta.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Figura 96. Redução das dimensões da porta.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Também é importante ressaltar que nos manuais de arqueologia é aconselhado evitar


a exumação de esqueletos humanos no caso de serem descobertos e desde que essa
localização não afete no decorrer das escavações e obras civis. Isso se justifica por
experiências anteriores que geraram sentimentos nas comunidades envolvidas com
os procedimentos arqueológicos, trazendo uma sensação de profanação dos túmulos.

113
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Então, quando esse tipo de descoberta não afetar nas pesquisas ou sua localização não
afetar nas obras civis, os vestígios deverão ser expostos, registrados e descritos e, logo
após, recobertos. A remoção desses esqueletos humanos é aconselhada nas situações
que:

»» a localização afetar no andamento dos trabalhos de arqueologia e


restauração;

»» os objetivos do projeto julgarem necessário, devendo constar uma


justificativa no projeto de intervenção e prever o local onde os indivíduos
exumados devem ser enterrados, de preferência no mesmo local das
pesquisas.

Figura 97. Esqueletos encontrados nas escavações da Igreja de São Lourenço dos Índios, Niterói/RJ.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

114
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Figura 98. Esqueletos encontrados nas escavações da Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Anchieta/ES.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Alguns procedimentos de escavação dentro e fora das edificações, devem ser avaliados
pelo arqueólogo coordenador, associado com a equipe de restauração, seguindo os
procedimentos padrões de acordo com cada área abordada:

Pisos
a. devem ser realizados registros anteriormente às escavações em forma de
croqui, com as medidas de paginação, níveis, tipos de materiais etc., e ser
registrados em fotos;

b. as escavações devem ser realizadas camada por camada, identificando os


diferentes tipos de revestimentos, pisos, contrapisos e substratos.

c. devem ser registradas as características e níveis de cada elemento


descoberto, por meio de croquis com todas as medidas e a presença de
fotos.

115
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Figura 99. Sequência de escavação de pisos.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Figura 100. Descoberta de nova configuração do piso.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Fundações

Deve ser dada maior atenção às escavações realizadas na proximidade de fundações


e paredes, sob o risco de danificar a conservação do edifício, podendo desestabilizar a
estrutura. As fundações devem ser estudadas de forma a conhecer os diferentes sistemas
e técnicas construtivos que nelas foram utilizadas.

a. As prospecções devem ser feitas retirando cada camada do solo por


vez, expondo assim trechos do solo para que possa ser realizada a
identificação da técnica utilizada naquele momento (sapatas corridas,
sapatas isoladas, fundações em arcos etc.) e também a profundidade de
cada uma. Devem ser acompanhadas pelos arquitetos e engenheiros da
equipe, para realizar o correto dimensionamento e localização das áreas
das estruturas evitando que as escavações afetem partes críticas.

116
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

b. Devem ser feitos os registros de todas as características da fundação em


todos os seus níveis, em forma de croquis e fotos.

Figura 101. Sequência de descoberta da fundação.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Figura 102. Estruturas da coluna.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Paredes

Durante os trabalhos de prospecção das paredes, deve-se levar em conta a perda que
possa ser provocada durante a remoção do revestimento, devendo ser realizados com
a máxima atenção e cuidado. Nos revestimentos externos, o cuidado é em expor as
paredes sem proteção às ações do tempo, sem a proteção de reboco, podendo sofrer
danos irreparáveis à estrutura.

a. devem ser registradas em croquis e fotos as paredes originais, contendo


todos os elementos existentes, como esquadrias, vãos, elementos
decorativos etc.;

117
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

b. os acabamentos devem ser removidos parte a parte, buscando identificar


cada elemento ali presente, começando pelo revestimento até chegar
na identificação do tipo de alvenaria utilizado, sendo todo o trabalho
realizado de forma regular;

c. os registros após as prospecções devem ser realizados através de croquis


com medidas e fotos, analisando cada característica, níveis e elementos
identificados.

Figura 103. Prospecções em paredes.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

Figura 104. Estruturas das paredes.

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan).

118
CAPÍTULO 7
Relatórios das pesquisas

Ao iniciar o projeto de pesquisa arqueológico, é necessário o desenvolvimento de


relatório das atividades realizadas e do resultado alcançado, sendo o arqueólogo
coordenador responsável por apresentá-lo por meio dos relatórios parciais e finais,
entregues à equipe de restauração. Toda essa documentação deve ser entregue também
à área específica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Os relatórios devem ser escritos em língua portuguesa e devem conter as seguintes


informações:

»» registro de todas as etapas executadas pelos projetos (completos e


minuciosos);

»» procedimentos seguidos nos elementos e áreas que sejam diferentes;

»» croquis (plantas, detalhes, desenhos) e fotos de toda a área pesquisada


indicando os locais em que foram realizadas as escavações e todas as
informações encontradas;

»» especificação de materiais e elementos presentes no local, incluindo


plantas, detalhes cotados e com níveis;

»» desenhos sobre a estratigrafia reconhecida;

»» fotos de todo o material arqueológico encontrado que seja de relevância


para a pesquisa;

»» relatório das medidas adotadas para a realização da descrição, proteção e


conservação do material arqueológico descoberto;

»» fotografias do trabalho, incluindo o dia a dia em áreas prospectadas,


execução dos serviços, elementos encontrados, entre outros;

»» relatório das mudanças realizadas no projeto de arqueologia;

»» conclusões formuladas com os dados descobertos durante a pesquisa;

»» relação final do material arqueológico constando informações sobre todo


o procedimento pós-escavação, indicando o responsável pela guarda e
manutenção;

119
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

»» indicação da proposta de valorização do material;

»» proposta para os meios de divulgação dos resultados para a comunidade.

Quando houver necessidade de continuação das pesquisas, o relatório final deve conter:

»» justificativa com a necessidade de continuação dos estudos;

»» indicativo dos locais nos quais devem ser realizadas as pesquisas;

»» ficha de registro do sítio arqueológico, segundo modelo do Iphan.

Procedimentos burocráticos
Para o desenvolvimento dos projetos de restauração e conservação, há o manual
para os projetos concebidos ou não pelo Iphan. Sendo assim, alguns procedimentos
burocráticos devem ser seguidos dentro das superintendências regionais:

a. Avaliar a necessidade da existência da Arqueologia dentro dos projetos:

›› os projetos são enviados para a divisão técnica das superintendências


Regionais, que encaminharão os projetos para análise de áreas.
Quando não houver arqueólogo na regional, será designado um que
esteja no quadro do Iphan;

›› o técnico deve avaliar a necessidade da pesquisa arqueológica;

›› quando constatada, será orientada a elaboração do projeto de


prospecção e/ou pesquisa arqueológica;

›› quando não necessária, não será realizado o projeto de prospecção


arqueológico;

›› toda a equipe de restauração deve ter um arqueólogo para acompanhar e


constatar a qualquer momento a necessidade de pesquisa arqueológica.

120
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Figura 105. Fluxograma de aprovação dos projetos de restauração/conservação.

Consulta Prévia

Superintendente

Divisão Técnica

Área de Proteção Área de Arqueologia

Resulta num parecer Resulta num pareceer


que deve ser utilizado que deve ser utilizado
na obra na obra

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan) com adaptações.

b. Acompanhar as execuções dos projetos em que há a presença da


arqueologia:

›› as atividades realizadas no projeto de prospecção/pesquisa


arqueológica devem ser acompanhadas sempre por arquiteto e
arqueólogo indicados pela área técnica;

›› o acompanhamento é realizado por meio de visitas técnicas e dos


relatórios de pesquisa entregues pelo arqueólogo coordenador;

›› quando o arqueólogo coordenador for do quadro do Iphan, a


comunicação será direta com a regional.

121
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Figura 106. Fluxograma do acompanhamento do projeto.

Projeto

Superintendente

Divisão técnica

Área de Arqueologia Área de Conservação

Fiscalização Acompanhamento Fiscalização Acompanhamento

Fonte: Manual de Arqueologia Histórica em Projetos de Restauração (Iphan) com adaptações.

122
CAPÍTULO 8
Regulamentação

Todo o procedimento de arqueologia é guiado por leis, normativos e portarias, a fim de


padronizar e regulamentar todos os processos. Algumas leis que regem os princípios
arqueológicos são:

Lei no 3.924, de 26 de julho de 1961


Dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos

Artigo 1o - Os monumentos arqueológicos ou pré-históricos de qualquer natureza


existentes no território nacional e todos os elementos que neles se encontram ficam sob
guarda e proteção do Poder Público, de acordo com o que estabelece o art. 175 (art.180
- C.F. 1988) da Constituição Federal. Parágrafo Único - A propriedade da superfície,
regida pelo direito comum, não inclui a das jazidas arqueológicas ou pré-históricas,
nem a dos objetos nelas incorporadas na forma do art. 152 (art.168 - CF 1988) da mesma
Constituição.

Artigo 2o - Consideram-se monumentos arqueológicos ou pré-históricos:

a) as jazidas de qualquer natureza, origem ou finalidade, que representem testemunhos


da cultura dos paleoameríndios do Brasil, tais como sambaquís, montes artificiais ou
tesos, poços sepulcrais, jazigos, aterrados, estearias e quaisquer outras não especificadas
aqui, mas de significado idêntico, a juízo da autoridade competente;

b) os sítios nos quais se encontram vestígios positivos de ocupação pelos paleoameríndios,


tais como grutas, lapas e abrigos sob rocha;

c) os sítios identificados como cemitérios, sepulturas ou locais de pouso prolongado ou


de aldeamento “estações” e “cerâmicos”, nos quais se encontram vestígios humanos de
interesse arqueológico ou paleontográfico;

d) as inscrições rupestres ou locais como sulcos de polimentos de utensílios e outros


vestígios de atividade de paleoameríndios.

Artigo 3o - São proibidos em todo o território nacional, o aproveitamento econômico, a


destruição ou mutilação, para qualquer fim, das jazidas arqueológicas ou pré-históricas
conhecidas como sambaquís, casqueiros, concheiros, birbigueiras ou sernambis, e bem
assim dos sítios, inscrições e objetos enumerados nas alíneas b, c, e d do artigo anterior,
123
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

antes de serem devidamente pesquisados, respeitadas as concessões anteriores e não


caducas.

Artigo 4o - Toda pessoa, natural ou jurídica que, na data da publicação desta lei, já estiver
procedendo, para fins econômicos ou outros, à exploração de jazidas arqueológicas ou
pré-históricas, deverá comunicar à Diretoria do Patrimônio Histórico Nacional, dentro
de sessenta (60) dias, sob pena de multa de Cr$ 10.000,00 a Cr$ 50.000,00 (dez mil
a cinquenta mil cruzeiros), o exercício dessa atividade, para efeito de exame, registro,
fiscalização e salvaguarda do interesse da ciência.

Artigo 5o - Qualquer ato que importe na destruição ou mutilação dos monumentos a


que se refere o art. 2o desta lei, será considerado crime contra o Patrimônio Nacional e,
como tal, punível de acordo com o disposto nas leis penais.

Artigo 6o - As jazidas conhecidas como sambaquis, manifestadas ao governo da União,


por intermédio da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, de acordo
com o art. 4o e registradas na forma do artigo 27 desta lei, terão precedência para estudo
e eventual aproveitamento, em conformidade com o Código de Minas.

Artigo 7o - As jazidas arqueológicas ou pré-históricas de qualquer natureza, não


manifestadas e registradas na forma dos artigos 4o e 6o desta lei, são consideradas, para
todos os efeitos bens patrimoniais da União.

CAPÍTULO II

Das escavações arqueológicas realizadas por particulares

Artigo 8o - O direito de realizar escavações para fins arqueológicos, em terras de


domínio público ou particular, constitui-se mediante permissão do Governo da União,
através da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ficando obrigado a
respeita-lo o proprietário ou possuidor do solo.

Artigo 9o - O pedido de permissão deve ser dirigido à Diretoria do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional, acompanhado de indicação exata do local, do vulto e da duração
aproximada dos trabalhos a serem executados, da prova de idoneidade técnico-científica
e financeira do requerente e do nome do responsável pela realização dos trabalhos.
Parágrafo Único - Estando em condomínio a área em que se localiza a jazida, somente
poderá requerer a permissão o administrador ou cabecel, eleito na forma do Código
Civil.

Artigo 10 - A permissão terá por título uma portaria do Ministro da Educação e


Cultura, que será transcrita em livro próprio da Diretoria do Patrimônio Histórico e

124
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Artístico Nacional, e na qual ficarão estabelecidas as condições a serem observadas ao


desenvolvimento das escavações e estudos.

Artigo 11 - Desde que as escavações e estudos devam ser realizados em terreno que
não pertence ao requerente, deverá ser anexado ao seu pedido o consentimento escrito
do proprietário do terreno ou de quem esteja em uso e gozo desse direito.

Parágrafo 1o - As escavações devem ser necessariamente executadas sob a orientação


do permissionário, que responderá, civil, penale administrativamente, pelos prejuízos
que causar ao Patrimônio Nacional ou a terceiros.

Parágrafo 2o - As escavações devem ser realizadas de acordo com as condições


estipuladas no instrumento de permissão, não podendo o responsável, sob nenhum
pretexto, impedir a inspeção dos trabalhos por delegado especialmente designado pela
Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, quando for julgado conveniente.

Parágrafo 3o - O permissionário fica obrigado a informar à Diretoria do Patrimônio


Histórico e Artístico Nacional, trimestralmente, sobre o andamento das escavações,
salvo a ocorrência de fato excepcional, cuja notificação deverá ser feita imediatamente,
para as providências cabíveis.

Artigo 12 - O Ministro da Educação e Cultura poderá cassar a permissão concedida,


uma vez que:

a) não sejam cumpridas as prescrições da presente lei e do instrumento de concessão


da licença;

b) sejam suspensos os trabalhos de campo por prazo superior a doze (12) meses, salvo
motivo de força maior, devidamente comprovado;

c) no caso de não cumprimento do § 3o do artigo anterior.

Parágrafo Único - Em qualquer dos casos acima enumerados, o permissionário não


terá direito à indenização alguma pelas despesas que tiver efetuado.

CAPÍTULO III

DAS ESCAVAÇÕES ARQUEOLÓGICAS REALIZADAS POR INSTITUIÇÕES


CIENTÍFICAS ESPECIALIZADAS DA UNIÃO, DOS ESTADOS E DOS
MUNICÍPIOS

Artigo 13 - A União bem como os Estados e Municípios mediante autorização federal,


poderão proceder a escavações e pesquisas, no interesse da arqueologia e da pré-

125
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

história em terrenos de propriedade particular, com exceção das áreas muradas que
envolvem construções domiciliares. Parágrafo Único - A falta de acordo amigável com
o proprietário da área onde situa-se a jazida, será está declarada de utilidade pública e
autorizada a sua ocupação pelo período necessário à execução dos estudos, nos termos
do art. 36 do Decreto-Lei no 3.365, de 21 de junho de 1941.

Artigo 14 - No caso de ocupação temporária do terreno, para realização de escavações


nas jazidas de utilidade pública, deverá ser lavrado um auto, antes do início dos
estudos, no qual se descreve o aspecto exato do local. Parágrafo 1o - Terminados os
estudos, o local deverá ser restabelecido, sempre que possível, na sua feição primitiva.
Parágrafo 2o - Em caso de escavações produzirem a destruição de um relevo qualquer,
essa obrigação só terá cabimento quando se comprovar que, desse aspecto particular do
terreno, resultavam incontestáveis vantagens para o proprietário.

Artigo 15 - Em casos especiais e em face do significado arqueológico excepcional da


jazidas, poderá ser promovida a desapropriação de imóvel, ou parte dele, por utilidade
pública, com fundamento no art. 5o, alíneas K e L do Decreto-Lei 3.365, de 21 de junho
de 1941.

Artigo 16 - Nenhum órgão da administração federal, dos Estados ou dos Municípios,


mesmo no caso do art. 28 desta lei, poderá realizar escavações arqueológicas ou pré-
históricas, sem prévia comunicação à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, para fins de registro no cadastro de jazidas arqueológicas. Parágrafo Único
- Dessa comunicação deve constar, obrigatoriamente, o local, o tipo ou a designação da
jazida, o nome do especialista encarregado das escavações, os indícios que determinaram
a escolha do local e, posteriormente, uma súmula dos resultados obtidos e do destino
do material coletado.

CAPÍTULO IV

DAS DESCOBERTAS FORTUITAS

Artigo 17 - A posse e a salvaguarda dos bens de natureza arqueológica ou pré-histórica


constituem, em princípio, direito imanente do Estado.

Artigo 18 - A descoberta fortuita de quaisquer elementos de interesse arqueológico


ou pré-histórico, histórico, artístico ou numismático, deverá ser imediatamente
comunicado à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou aos órgãos
oficiais autorizados, pelo autor do achado ou pelo proprietário do local onde tiver
ocorrido.

126
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

Parágrafo Único - O proprietário ou ocupante do imóvel onde tiver verificado o achado,


é responsável pela conservação provisória da coisa descoberta, até pronunciamento e
deliberação da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Artigo 19 - A infringência da obrigação imposta no artigo anterior implicará na


apreensão sumária do achado, sem prejuízo da responsabilidade do inventor pelos
danos que vier a causar ao Patrimônio Nacional, em decorrência da omissão.

CAPÍTULO V

Da remessa, para o exterior, de objetos de interesse arqueológico ou pré-


histórico, numismático ou artístico

Artigo 20 - Nenhum objeto que apresente interesse arqueológico ou pré-histórico,


numismático ou artístico poderá ser transferido para o exterior, sem licença expressa
da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, constante de uma “guia” de
liberação na qual serão devidamente especificados os objetos a serem transferidos.

Artigo 21 - A inobservância da prescrição do artigo anterior implicará na apreensão


sumária do objeto a ser transferido, sem prejuízo das demais cominações legais a que
estiver o responsável.

Parágrafo Único - O objeto apreendido, razão deste artigo, será entregue à Diretoria do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

CAPÍTULO VI

Disposições gerais

Artigo 22 - O aproveitamento econômico das jazidas, objeto desta lei, poderá ser
realizado na forma e nas condições prescritas pelo Código de Minas, uma vez concluída
a sua exploração científica, mediante parecer favorável da Diretoria do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional ou órgão oficial autorizado.

Parágrafo Único - De todas as jazidas será preservada sempre que possível ou


convenientemente, uma parte significativa, a ser protegida pelos meios convenientes,
como blocos testemunhos.

Artigo 23 - O Conselho da Fiscalização das Expedições Artísticas e Científicas


encaminhará à Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional qualquer pedido
de cientista estrangeiro, para realizar escavações arqueológicas ou pré-históricas, no
país.

127
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Artigo 24 - Nenhuma autorização de pesquisa ou de lavra para jazidas de calcário de


concha, que possua as características de monumentos arqueológicos ou pré-históricos,
poderá ser concedida sem audiência prévia da Diretoria do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional.

Artigo 25 - A realização de escavações arqueológicas ou pré-históricas, com infringência


de qualquer dos dispositivos desta lei, dará lugar à multa de Cr$ 5.000,00 (cinco
mil cruzeiros) a Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros), sem prejuízo de sumária
apreensão e consequente perda, para o Patrimônio Nacional, de todo o material e
equipamento existente no local.

Artigo 26 - Para melhor execução da presente lei, a Diretoria do Patrimônio Histórico


e Artístico Nacional poderá solicitar a colaboração de órgãos federais, estaduais,
municipais, bem como de instituições que tenham entre seus objetivos específicos, o
estudo e a defesa dos monumentos arqueológicos e pré-históricos.

Artigo 27 - A Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional manterá um


cadastro dos monumentos arqueológicos do Brasil, no qual serão registradas todas as
jazidas manifestadas, de acordo com o disposto nesta lei, bem como das que se tornarem
conhecidas por qualquer via.

Artigo 28 - As atribuições conferidas ao Ministério da Educação e Cultura, para o


cumprimento desta lei, poderão ser delegadas a qualquer unidade da Federação, que
disponha de serviços técnico-administrativos especialmente organizados para a guarda,
preservação e estudo das jazidas arqueológicas e pré-históricas, bem como de recursos
suficientes para o custeio e bom andamento dos trabalhos. Parágrafo Único - No caso
deste artigo, o produto das multas aplicadas e apreensões de material legalmente feitas,
reverterá em benefício do serviço estadual, organizado para a preservação e estudo
desses monumentos.

Artigo 29 - Aos infratores desta lei serão aplicadas as sanções dos artigos 163 a 167 do
Código Penal, conforme o caso, sem prejuízo de outras penalidades cabíveis.

Artigo 30 - O Poder Executivo baixará, no prazo de 120 dias, a partir da vigência desta
lei, a regulamentação que for julgada necessária à fiel execução.

Decreto-lei no 25 de 30 de novembro de 1937

Organiza a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional:

128
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

CAPÍTULO I

Do patrimônio histórico e artístico nacional

Artigo 1o - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens


moveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer
por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.

Parágrafo 1o - Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte


integrante do patrimônio histórico e artístico nacional, depois de inscritos separada ou
agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o art. 4 desta lei.

Parágrafo 2o - Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também
sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que
importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela
natureza ou agenciados pela indústria humana.

Artigo 2o - A presente lei se aplica às coisas pertencentes às pessoas naturais, bem


como às pessoas jurídicas de direito privado e de direito público interno.

Artigo 3o - Excluem-se do patrimônio histórico e artístico nacional as obras de origem


estrangeiras:

1o) que pertençam às representações diplomáticas ou consulares acreditadas no país;

2o) que adornem quaisquer veículos pertencentes a empresas estrangeiras, que façam
carreira no país;

3o) que se incluam entre os bens referidos no art. 10 da Introdução ao Código Civil, e
que continuam sujeitas à lei pessoal do proprietário;

4o) que pertençam a casas de comércio de objetos histórico ou artístico;

5o) que sejam trazidas para exposições comemorativas, educativas ou comerciais;

6o) que sejam importadas por empresas estrangeiras expressamente para adorno dos
respectivos estabelecimentos.

Parágrafo único. As obras mencionadas nas alíneas 4 e 5 terão guia de licença para
livre trânsito, fornecida pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

CAPÍTULO II

DO TOMBAMENTO

129
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Artigo 4o - O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro


Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1o desta lei, a
saber:

1o) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes


às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as
mencionadas no parágrafo 2o do citado Artigo 1o;

2o) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras de arte


histórica;

3o) no Livro do Tombo das Belas-Artes, as coisas de arte erudita nacional ou estrangeira;

4o) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das
artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.

Parágrafo 1o - Cada um dos Livros do Tombo poderá ter vários volumes.

Parágrafo 2o - Os bens, que se incluem nas categorias enumeradas nas alíneas 1, 2, 3 e


4 do presente artigo, serão definidos e especificados no regulamento que for expedido
para execução da presente lei.

Artigo 5o - O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios
se fará de ofício por ordem do Diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda
estiver a coisa tombada, a fim de produzir os necessários efeitos.

Artigo 6o - O tombamento de coisa pertencente à pessoa natural ou à pessoa jurídica


de direito privado se fará voluntária ou compulsoriamente.

Artigo 7o - Proceder-se-á ao tombamento voluntário sempre que o proprietário o


pedir e a coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do
patrimônio histórico e artístico nacional, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo proprietário anuir,
por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para a inscrição da coisa em qualquer dos
Livros do Tombo.

Artigo 8o - Proceder-se-á ao tombamento compulsório quando o proprietário se


recusar a anuir à inscrição da coisa.

Artigo 9o - O tombamento compulsório se fará de acordo com o seguinte processo:

130
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

1o) O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgão competente,
notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a
contar do recebimento da notificação, ou para, se o quiser impugnar, oferecer dentro do
mesmo prazo as razões de sua impugnação;

2o) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado, que é fatal, o diretor
do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por simples despacho
que se proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo;

3o) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista da mesma,
dentro de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado a iniciativa do
tombamento, a fim de sustenta-la. Em seguida, independentemente de custas, será
o processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, que proferirá decisão a respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a
contar do seu recebimento. Dessa decisão não caberá recurso.

Artigo 10 - O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6 desta lei, será considerado
provisório ou definitivo, conforme esteja o respectivo processo iniciado pela notificação
ou concluído pela inscrição dos referidos bens no competente Livro do Tombo. Parágrafo
único. Para todos os efeitos, salvo a disposição do art. 13 desta lei, o tombamento
provisório se equiparará ao definitivo.

CAPÍTULO III

Dos efeitos do tombamento

Artigo 11 - As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios,
inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outra das referidas
entidades. Parágrafo único. Feita a transferência, dela deve o adquirente dar imediato
conhecimento ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Artigo 12 - A alienabilidade das obras históricas ou artísticas tombadas, de propriedade


de pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, sofrerá as restrições constantes da
presente lei.

Artigo 13 - O tombamento, definitivo dos bens de propriedade particular será, por


iniciativa do órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,
transcrito para os devidos efeitos em livro a cargo dos oficiais do registro de imóveis e
averbado ao lado da transcrição do domínio.

Parágrafo 1o - No caso de transferência de propriedade dos bens de que trata este artigo,
deverá o adquirente, dentro do prazo de trinta dias, sob pena de multa de dez por cento

131
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

sobre o respectivo valor, fazê-la constar do registro, ainda que se trate de transmissão
judicial ou causa mortis.

Parágrafo 2o- Na hipótese de deslocação de tais bens, deverá o proprietário, dentro do


mesmo prazo e sob pena da mesma multa, inscrevê-los no registro do lugar para que
tiverem sido deslocados.

Parágrafo 3o - A transferência deve ser comunicada pelo adquirente, e a deslocação


pelo proprietário, ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do
mesmo prazo e sob a mesma pena.

Artigo 14 - A coisa tombada não poderá sair do país, senão por curto prazo, sem
transferência de domínio e para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho
Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Artigo 15 - Tentada, a não ser no caso previsto no artigo anterior, a exportação, para
fora do país, da coisa tombada, será esta sequestrada pela União ou pelo Estado em que
se encontrar.

Parágrafo 1o - Apurada a responsabilidade do proprietário, ser-lhe-á imposta a multa


de cinquenta por cento do valor da coisa, que permanecerá sequestrada em garantia do
pagamento, e até que este se faça.

Parágrafo 2o - No caso de reincidência, a multa será elevada ao dobro.

Parágrafo 3o - A pessoa que tentar a exportação de coisa tombada, além de incidir na


multa a que se referem os parágrafos anteriores, incorrerá nas penas cominadas no
Código Penal para o crime de contrabando.

Artigo 16 - No caso de extravio ou furto de qualquer objeto tombado, o respectivo


proprietário deverá dar conhecimento do fato ao Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez por cento
sobre o valor da coisa.

Artigo 17 - As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruídas,


demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de
multa de cinquenta por cento do dano causado. Parágrafo único. Tratando-se de bens
pertencentes à União, aos Estados ou aos Municípios, a autoridade responsável pela
infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa.

Artigo 18 - Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico


Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe

132
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser
mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso multa de cinquenta
por cento do valor do mesmo objeto.

Artigo 19 - O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder
às obras de conservação e reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a necessidade das mencionadas
obras, sob pena de multa correspondendo ao dobro da importância em que for avaliado
o dano sofrido pela mesma coisa.

Parágrafo 1o - Recebida a comunicação, e consideradas necessárias as obras, o diretor


do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará executá-las, a
expensas da União, devendo as mesmas ser iniciadas dentro do prazo de seis meses, ou
providenciará para que seja feita a desapropriação da coisa.

Parágrafo 2o - À falta de qualquer das providências previstas no parágrafo anterior,


poderá o proprietário requerer que seja cancelado o tombamento da coisa.

Parágrafo 3o - Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras e


conservação ou reparação em qualquer coisa tombada, poderá o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional tomar a iniciativa de projetá-las, a expensas da União,
independentemente da comunicação a que alude este artigo, por parte do proprietário.

Artigo 20 - As coisas tombadas ficam sujeitas à vigilância permanente do Serviço do


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que poderá inspecioná-las sempre que for
julgado conveniente, não podendo os respectivos proprietários ou responsáveis criar
obstáculos à inspeção, sob pena de multa de cem mil réis, elevada ao dobro em caso de
reincidência.

Artigo 21 - Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1o desta lei são
equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.

CAPÍTULO IV

Do direito de preferência

Artigo 22 - Em face da alienação onerosa de bens tombados, pertencentes a pessoas


naturais ou a pessoas jurídicas de direito privado, a União, os Estados e os Municípios
terão, nesta ordem, o direito de preferência. Parágrafo 1o - Tal alienação não será
permitida, sem que previamente sejam os bens oferecidos, pelo mesmo preço, à União,
bem como ao Estado e ao Município em que se encontrarem. O proprietário deverá

133
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

notificar os titulares do direito de preferência a usá-lo, dentro de trinta dias, sob pena
de perdê-lo.

Parágrafo 2o - É nula alienação realizada com violação do disposto no parágrafo anterior,


ficando qualquer dos titulares do direito de preferência habilitado a sequestrar a coisa
e a impor a multa de vinte por cento do seu valor ao transmitente e ao adquirente, que
serão por ela solidariamente responsáveis. A nulidade será pronunciada, na forma da
lei, pelo juiz que conceder o sequestro, o qual só será levantado depois de pagar a multa
e se qualquer dos titulares do direito de preferência não tiver adquirido a coisa no prazo
de trinta dias.

Parágrafo 3o - O direito de preferência não inibe o proprietário de gravar livremente a


coisa tombada, de penhor, anticrese ou hipoteca.

Parágrafo 4o - Nenhuma venda judicial de bens tombados se poderá realizar sem que,
previamente, os titulares do direito de preferência sejam disso notificados judicialmente,
não podendo os editais de praça ser expedidos, sob pena de nulidade, antes de feita a
notificação.

Parágrafo 5o - Aos titulares do direito de preferência assistirá o direito de remissão, se


dela não lançarem mão, até a assinatura do auto de arrematação ou até a sentença de
adjudicação, as pessoas que, na forma de lei, tiverem a faculdade de remir.

Parágrafo 6o - O direito de remissão por parte da União, bem como do Estado e do


Município em que os bens se encontrarem, poderá ser exercido, dentro de cinco dias
a partir da assinatura do auto de arrematação ou da sentença de adjudicação, não se
podendo extrair a carta enquanto não se esgotar este prazo, salvo se o arrematante ou
o adjudicante for qualquer dos titulares do direito de preferência.

CAPÍTULO V

Disposições gerais

Artigo 23 - O Poder Executivo providenciará a realização de acordos entre a União


e os Estados, para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades relativas
à proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e para a uniformização da
legislação estadual complementar sobre o mesmo assunto.

Artigo 24 - A União manterá, para conservação e a exposição de obras históricas e


artísticas de sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do Museu Nacional de
Belas-Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tornarem necessários, devendo

134
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

outrossim providenciar no sentido de favorecer a instituição de museus estaduais e


municipais, com finalidades similares.

Artigo 25 - O Serviço do. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional procurará


entendimentos com as autoridades eclesiásticas, instituições científicas, históricas
ou artísticas e pessoas naturais e jurídicas, com o objetivo de obter a cooperação das
mesmas em benefício do patrimônio histórico e artístico nacional.

Artigo 26 - Os negociantes de antiguidade, de obras de arte de qualquer natureza, de


manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial no Serviço
do. Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossim apresentar
semestralmente ao mesmo relações completas das coisas históricas e artísticas que
possuírem.

Artigo 27 - Sempre que os agentes de leilões tiverem de vender objetos de natureza


idêntica à dos mencionados no artigo anterior, deverão apresentar a respectiva relação
ao órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob pena
de incidirem na multa de cinquenta por cento sobre o valor dos objetos vendidos.

Artigo 28 - Nenhum objeto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta lei
poderá ser posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que tenha sido
previamente autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou
por perito em que o mesmo se louvar, sob pena de multa de cinquenta por cento sobre
o valor atribuído ao objeto.

Parágrafo único - A autenticação do mencionado objeto será feita mediante o pagamento


de uma taxa de peritagem de cinco por cento sobre o valor da coisa, se este for inferior
ou equivalente a um conto de réis, e de mais cinco mil réis por contos de réis ou fração
que exceder.

Artigo 29 - O titular do direito de preferência goza de privilégio especial sobre o valor


produzido em praça por bens tombados, quanto ao pagamento de multas impostas em
virtude de infrações da presente lei.

Parágrafo único - Só terão prioridade sobre o privilégio a que se refere este artigo os
créditos inscritos no registro competente antes do tombamento da coisa pelo Serviço do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Portaria no 7 de 1o de dezembro de 1988

Submete à proteção do Poder Público, pela SPHAN, os monumentos arqueológicos e


pré-históricos; Considerando a necessidade de regulamentar os pedidos de permissão
135
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

e autorização e a comunicação prévia quando do desenvolvimento de pesquisas de


campo e escavações arqueológicas no País a fim de que se resguarde os objetos de
valor científico e cultural localizados nessas pesquisas; Considerando a urgência de
fiscalização eficaz das atividades que envolvem bens de interesse arqueológico e pré-
histórico no País, resolve:

Artigo 1o - Estabelecer os procedimentos necessários à comunicação prévia, às


permissões e às autorizações para pesquisa e escavações arqueológicas em sítios
arqueológicos e pré-históricos previstas na Lei no 3.924, de 26 de julho de 1961.

Artigo 2o - O pedido de permissão será feito através do requerimento da pessoa natural


ou jurídica privada que tenha interesse em promover as atividades descritas no art. 1o.

Artigo 3o - As instituições científicas especializadas da União, dos Estados e dos


Municípios deverão requerer autorização para escavações e pesquisas em propriedade
particular. Parágrafo Único - Para efeitos desta Portaria, as Universidades e suas
unidades descentralizadas incluem-se entre as instituições científicas de que trata o
Capítulo III da Lei no 3.924/1961.

Artigo 4o - Os Órgãos da Administração Federal, dos Estados e dos Municípios


comunicarão previamente qualquer atividade objeto desta Portaria, informando,
anualmente, à SPHAN, o desenvolvimento dos trabalhos.

Artigo 5o - Os pedidos de permissão e autorização, assim como a comunicação prévia,


devem ser dirigidos ao Secretário da SPHAN acompanhados das seguintes informações:

I - indicação do nome, endereço, nacionalidade e currículo com cópia das publicações


científicas que comprove a idoneidade técnico-científica do arqueólogo responsável e
da equipe técnica;

II - delimitação da área abrangida pelo projeto;

III - relação, quando for o caso, dos sítios a serem pesquisados com indicação exata de
sua localização;

IV - plano de trabalho científico que contenha: 1. Definição dos objetivos; 2. Conceituação


e metodologia; 3. Sequência das operações a serem realizadas no sítio; 4. Cronograma
da execução; 5. Proposta preliminar de utilização futura do material produzido para fins
científicos, culturais e educacionais; 6. Meios de divulgação das informações científicas
obtidas;

V - prova de idoneidade financeira do projeto;

136
ARQUEOLOGIA │ UNIDADE V

VI - cópia dos atos constitutivos ou lei instituidora, se pessoa jurídica;

VII - indicação, se for o caso, da instituição científica que apoiará o projeto com a
respectiva declaração de endosso institucional.

Parágrafo 1o - Serão liminarmente rejeitados os projetos que não apresentarem garantia


quanto a sua execução e quanto a guarda do material recolhido.

Parágrafo 2o - Os projetos em cooperação técnica com instituições internacionais


devem ser acompanhados de carta de aceitação da instituição científica brasileira
corresponsável indicando a natureza dos compromissos assumidos pelas partes, tanto
técnicos quanto financeiros.

Artigo 6o - A SPHAN responderá aos pedidos referentes a pesquisas de campo e


escavações em noventa dias, salvo se insatisfatoriamente instruídos, reiniciando-se a
contagem do prazo a partir do cumprimento da exigência.

Parágrafo Único - A decisão considerará os critérios adotados para a valorização do sítio


arqueológico e de todos os elementos que nele se encontram, assim como as alternativas
de aproveitamento máximo do seu potencial científico, cultural e educacional.

Artigo 7o - As permissões e autorizações devem ser reavaliadas a cada dois anos,


contados da data de emissão do respectivo instrumento.

Parágrafo Único - Salvo motivo justificado, e a critério exclusivo da SPHAN, as


permissões e autorizações só serão renovadas mediante a apresentação dos relatórios
técnicos e a comprovação de que as informações científicas estão sendo divulgadas.

Artigo 8o - A não apresentação dos relatórios técnicos por período igual ou superior
a doze meses consecutivos acarretará o cancelamento da permissão e da autorização,
ficando o pesquisador impedido de prosseguir nos trabalhos de campo e a área liberada
para novos projetos.

Artigo 9o - Os trabalhos de pesquisa serão efetuados sob permanente orientação


do coordenador responsável, que não poderá transferir a terceiros os encargos da
coordenação sem prévia anuência da SPHAN.

Parágrafo Único - O arqueólogo designado coordenador dos trabalhos será considerado,


durante a realização das etapas de campo, fiel depositário do material arqueológico
recolhido ou de estudo que lhe tenha sido confiado

Artigo 10o - Do brasileiro responsável pelo desenvolvimento de pesquisas realizadas


por estrangeiros exigir-se-á o disposto do art., 9o.

137
UNIDADE V │ ARQUEOLOGIA

Artigo 11o - Os relatórios técnicos devem ser redigidos em língua portuguesa e entregue
à SPHAN acompanhados das seguintes informações:

I - cadastro, segundo formulário próprio, dos sítios arqueológicos encontrados durante


os trabalhos de campo;

II - meios utilizados durante os trabalhos, medidas adotadas para a proteção e


conservação e descrição do material arqueológico, indicando a instituição responsável
pela guarda e como será assegurado o desenvolvimento da proposta de valorização do
potencial científico, cultural e educacional;

III - planta (s) e fotos pormenorizadas do sítio arqueológico com indicação dos locais
afetados pelas pesquisas e dos testemunhos deixados no local;

IV - fotos do material arqueológico relevante;

V - planta (s), desenhos e fotos das estruturas descobertas e das estratigrafias


reconhecidas;

VI – planta (s) com indicação dos locais onde se pretende o prosseguimento das
pesquisas em novas etapas;

VII - indicação dos meios de divulgação dos resultados.

Artigo 12o - Terminada a pesquisa, o coordenador encaminhará à SPHAN, em língua


portuguesa, o relatório final dos trabalhos, onde deverá constar:

I - As informações relacionadas no art. 11, exceto a do item VI;

II - listagem dos sítios arqueológicos cadastrados durante o desenvolvimento do projeto;

III - relação definitiva do material arqueológico recolhido em campo e informações


sobre seu acondicionamento e estocagem, assim como indicação precisa do responsável
pela guarda e manutenção desse material.

138
Referências

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