Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brasília-DF.
Elaboração
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES............................................................................................................. 11
CAPÍTULO 1
CLASSIFICAÇÃO..................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 2
ANATOMIA E FISIOLOGIA......................................................................................................... 14
CAPÍTULO 3
CONSERVAÇÃO E ZOONOSES................................................................................................ 27
UNIDADE II
CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO...................................................................................................... 29
CAPÍTULO 1
RECINTOS............................................................................................................................... 30
CAPÍTULO 2
QUALIDADE DA ÁGUA............................................................................................................. 33
CAPÍTULO 3
NUTRIÇÃO.............................................................................................................................. 39
UNIDADE III
MEDICINA DE PEIXES............................................................................................................................ 42
CAPÍTULO 1
MEDICINA PREVENTIVA............................................................................................................ 42
CAPÍTULO 2
CLÍNICA DE PEIXES.................................................................................................................. 52
UNIDADE IV
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS......................................................................................................... 81
CAPÍTULO 1
CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................... 81
CAPÍTULO 2
ANATOMIA E FISIOLOGIA......................................................................................................... 85
CAPÍTULO 3
CONSERVAÇÃO E ZOONOSES................................................................................................ 96
UNIDADE V
CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO.................................................................................................. 98
CAPÍTULO 1
RECINTOS .............................................................................................................................. 99
CAPÍTULO 2
QUALIDADE DA ÁGUA........................................................................................................... 103
CAPÍTULO 3
NUTRIÇÃO............................................................................................................................ 106
UNIDADE VI
MEDICINA DE ANFÍBIOS...................................................................................................................... 109
CAPÍTULO 1
MEDICINA PREVENTIVA.......................................................................................................... 109
CAPÍTULO 2
CLÍNICA DE ANFÍBIOS............................................................................................................ 118
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 144
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Dentro do filo Chordata, podemos encontrar o diverso subfilo Craniata – composto
pelos animais que possuem crânio, representado pelos animais vertebrados e os
Myxini (conhecidos pelo nome popular de feiticeira), os únicos peixes sem vértebras
propriamente ditas. Acredita-se que o esqueleto dos vertebrados mais primitivos tenha
sido formado por cartilagem, provavelmente devido ao seu desenvolvimento mais
acelerado, como o observado em peixes sem mandíbula e nos atuais cartilaginosos.
Posteriormente, esqueletos, de maioria óssea, foram surgindo, como o observado na
maior parte dos vertebrados, oferecendo reservatório de fosfato e maior resistência.
Anfíbios, por outro lado, foram os primeiros vertebrados capazes de habitar a terra
firme, com os mais antigos registros datando de 350 a 400 milhões de anos atrás, época
de grandes secas e diminuição do oxigênio nos corpos d’água. A classe Amphibia possui
grande diversidade de formatos, cores e tamanhos, com mais de 6.000 espécies descritas
no mundo, capazes de suportar os mais diversos climas e ambientes e de preencher
diferentes nichos. Essa elevada variabilidade pode ser um desafio para a manutenção
desses animais em cativeiro. Para dificultar ainda mais, o manejo inadequado é
considerado o maior causador de problemas nesses animais. Por exemplo, doenças
provocadas por fungos e bactérias podem estar relacionadas à temperatura e ao pH
incorretos e o tratamento inadequado de determinadas enfermidades pode levar um
animal a óbito. Esses animais também podem atuar como indicadores ambientais,
devido à alta permeabilidade da pele e sua sensibilidade à qualidade da água e do
ar. Algumas espécies podem embasar pesquisas farmacológicas, ser utilizadas como
8
animais de estimação e, ainda, como alimento. Portanto, é importante que médicos
veterinários conheçam as diversas características de anfíbios e peixes para serem
considerados aptos ao manejo e à clínica desses animais.
Objetivos
› Discutir os principais aspectos relacionados à biologia e medicina de
anfíbios e peixes.
9
ASPECTOS GERAIS UNIDADE I
DOS PEIXES
CAPÍTULO 1
Classificação
Classificação e nomenclatura
Peixes compreendem um grupo de animais de hábitos aquáticos pertencentes, em sua
maioria, aos vertebrados, os quais realizam trocas gasosas nesses ambientes por meio
de brânquias. Esses animais são o grupo mais antigo e diverso dos vertebrados, com
aproximadamente metade das espécies existentes.
Fonte: https://www.flickr.com/photos/43788330@N05/8740460349/.
11
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
Dentro do grupo dos peixes com mandíbula, podemos encontrar ainda duas grandes
ramificações existentes:
Fonte: http://www.trilhasemergulho.com.br/mergulho/abc2/slides/006-Raia-Prego.html.
12
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES │ UNIDADE I
Fonte: http://www.trilhasemergulho.com.br/mergulho/abc2/slides/010-Xerelete.html.
Habitat
Todas essas classificações entre os peixes podem compreender animais de água doce
e salgada. Estima-se que, atualmente, mais da metade das espécies de peixes seja de
ambientes marinhos, principalmente devido a sua extensão. Deve-se considerar que
a fauna marinha é proporcionalmente muito menos conhecida do que a dulcícola,
especialmente ao considerarmos as espécies bentônicas (aquelas que têm como habitat
as profundezes do mar), embora estudos de taxonomia e sistemática sejam necessários
em todos os ambientes.
Os peixes são capazes de habitar lagos, rios, mares e oceanos por todo o mundo. Esses
animais podem apreciar quase toda a coleção de água, desde os mares gelados dos polos,
das regiões tropicais, cavernas subterrâneas, regiões abissais ou, até mesmo, todos de
montanhas. Existem animais que podem inclusive sobreviver por certos períodos fora
da água. Entretanto, possuem grande dificuldade em resistir em ambientes com elevada
salinidade, como o mar Morto, no vale do rio Jordão no Oriente Médio, e o Great Salt
Lake, no Estado de Utah nos Estados Unidos.
13
CAPÍTULO 2
Anatomia e fisiologia
Rim
Medula Nadadeira dorsal
espinhal
Bexiga natatória
Cérebro
Nadadeira caudal
Brânquias
Nadadeira anal
Coração Bexiga urinária
Baço Gônada
Fígado Estômago
Vesícula Nadadeira
biliar pélvica
» Cutícula: camada mais externa, bastante fina, recoberta por células descamativas
e muco, o qual tem a função de facilitar a movimentação do animal na água ao
reduzir o atrito.
14
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES │ UNIDADE I
Ao contrário dos répteis, nos quais as escamas iniciam na epiderme, peixes possuem
essas estruturas queratinizadas originadas na derme, projetando-se pela epiderme.
São também cobertas por uma camada de muco, além de serem capazes de proteger
o corpo do animal no ambiente. Danos às escamas podem causar graves problemas
relacionados ao equilíbrio osmótico do animal, isso é, relativo à distribuição da água
em locais com diferentes gradientes de concentração de solutos. As escamas possuem
diversos formatos, dos quais, os quatro principais são chamados de ganoide, ctenoide,
cicloide e placoide, o que pode causar algum impacto na clínica desses animais.
Peixes dotados de poucas escamas – ou que estas sejam finas e frágeis – podem
ser mais sensíveis a drogas e tóxicos presentes na água de um viveiro, assim como
ser facilmente lesionados durante um exame clínico. Por outro lado, animais com
escamas placoides, como condrictes, são mais robustos e possuem aspecto de “lixa”.
Ainda, há alguns animais como o bagre (vários indivíduos da ordem Siluriformes)
que não possuem escamas, sendo revestidos por uma pele firme chamada de couro.
15
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
fora da água. As nadadeiras pares são ausentes na maioria dos agnatos. Acredita-se que
as pélvicas e peitorais tenham atuado como precursores evolutivos dos membros dos
atuais tetrápodes.
Sistema musculoesquelético
Diversos formatos corporais podem ser observados entre os peixes, variando de acordo
com o nicho pertencente à espécie. A maioria dos peixes descritos atualmente possui
formato fusiforme, que fornece melhor hidrodinâmica, principalmente em ambiente
de fluxo intenso de água, como riachos. Outros podem ser achatados lateralmente,
como o acará-disco, o que os favorece para realizar manobras em movimentos curtos,
principalmente em águas mais paradas, como lagos. Outras formas incluem os peixes
achatados dorsoventralmente, como as raias, alongados, como as enguias, ou até mesmo
com formatos bastante singulares, assim como o observado em cavalos-marinhos.
Dentário
(mandíbula)
Nadadeira anal
Opérculo Nadadeira
peitoral Costelas
Cintura Nadadeira
pélvica pélvica
Fonte: Klemm et al. (1995).
16
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES │ UNIDADE I
Respiração
Peixes são animais aeróbios, portanto, dependem do oxigênio para seu metabolismo,
o qual é transportado pelo sangue por meio da hemoglobina presente em eritrócitos. A
principal forma de respiração observada nesses animais é a branquial, na qual é possível
absorver o oxigênio dissolvido na água.
17
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
Figura 6. Representação anatômica da estrutura branquial da tilápia (Oreochromis mossambicus). Cada arco
branquial possui duas fileiras de filamentos, que foi simplificada para facilitar a visualização.
Arco Lamelas
branquial Filamento
São descritos dois métodos básicos de passagem de água pelas brânquias, a ativa e a
passiva. A ativa ocorre com a realização de movimentos com a musculatura da mandíbula,
o que causa pressão negativa forçando a entrada da água pelos arcos branquiais. Esse
método é considerado vantajoso por possibilitar melhor adaptação em condições de
cativeiro. Por outro lado, na passiva, é necessária natação contínua com a boca e o
opérculo do animal abertos, com movimentos mínimos de mandíbula e brânquias, mas
que obrigam o indivíduo a realizar constante movimento para promover a passagem da
água e possibilitar as trocas gasosas. Algumas espécies de peixes são capazes de realizar
ambas as formas de ventilação. Figura 3. A
r
Algumas espécies (por exemplo Protopterus sp.) possuem um mecanismo cde defesa
o
contra épocas de seca ou para lidar com ambientes com baixas concentrações de
b
oxigênio que é um órgão considerado um pulmão primitivo. Esse tecido parece ter a
r
mesma origem evolutiva da bexiga natatória, presente de forma singular ou em par,
a
projetando-se como bolsas nas laterais do esôfago. Acredita-se que o surgimento
n de
q
um pulmão possa ter sido um “impulso” para a invasão de ambientes terrestres pelos
u
tetrápodes primitivos (HICKMAN et al., 2000). i
a
l
Outras exceções podem ser observadas, como é o caso da enguia elétrica (Electrophorus
electricus), que necessita obrigatoriamente da respiração do oxigênio dissolvido no
18
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES │ UNIDADE I
Sistema cardiovascular
Peixes possuem sistema circulatório relativamente simples. O coração deles é o órgão
responsável por bombear o sangue pelo corpo. É constituído por duas câmaras principais
(Figura 7): átrio, com parede mais fina, e um ventrículo, com grossa parede muscular.
Outras duas cavidades podem ser encontradas, o seio venoso, considerado um marca-
passo, e o bulbo arterioso, uma simples cavidade elástica. Em condrictes, na região que
seria do bulbo arterioso, ocorre o cone arterioso, câmara ativamente responsável por
contrações. Válvulas localizadas entre as câmaras, assim como as contrações, permitem
um fluxo unidirecional do sangue.
Átrio
Bulbo arterioso Figura 1. B
u
l
b
Seio ovenoso
Figura 3. V
Ventrículo a e
r n
t t
e r
r í
i c
o u
Fonte: o próprio autor.
s l
o o
A circulação desses animais é considerada fechada, já que o sangue flui somente
no interior dos vasos sanguíneos, além de ser chamada de simples, já que para a
conclusão de um ciclo completo o sangue passa somente uma vez pelo coração. O
ventrículo bombeia sangue venoso, rico em gás carbônico, por intermédio do bulbo
arterioso (Figura 8) para as brânquias, onde é oxigenado e segue pela aorta dorsal
para a distribuição sistêmica, de onde retorna ao coração, passando pelo seio venoso,
que direciona para o átrio, seguido pelo ventrículo, continuando o ciclo. Portanto,
no coração de peixes, somente é bombeado sangue desoxigenado. Esse órgão se
19
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
Figura 8. Esquema geral do sistema circulatório de peixes. Em azul, sangue desprovido de oxigênio e, em
vermelho, oxigenado.
s
i
Coração s
t Figura 3
Fonte: elaborado pelo o autor. ê o
m r
i a
O sistema porta-renal é uma rota circulatória acessória na qual parte do sangue drenado
c ç
o
da região posterior do corpo passa pelos rins antes de retornar ao coração. Esse sistema ã
o
está presente em quase todos os peixes, assim como em anfíbios, répteis e aves.s Em
osteíctes essa microcirculação é totalmente derivada da veia porta-renal, enquanto em
condrictes ocorre uma união desses vasos com as arteríolas renais eferentes (SEBBEN
et al., 2019). Mesmo com a carência de estudos, é recomendada que a aplicação de
medicações na musculatura mais caudal seja realizada com cautela, principalmente
quando utilizados fármacos potencialmente nefrotóxicos, além destes poderem ter sua
cinética alterada.
20
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES │ UNIDADE I
córneos, utilizada para se fixar no alimento. Peixes mandibulados, por outro lado,
podem ser predadores de indivíduos maiores e de forma ativa. A boca desses animais
pode ser terminal, superior ou inferior, dependendo dos hábitos alimentares da espécie,
com dentes de crescimento contínuo localizados na boca ou, até mesmo, faringe, além
de ser ausente de glândulas salivares verdadeiras. O esôfago de peixes é curto, repleto
de botões gustativos, desembocando diretamente no estômago, geralmente sem uma
separação verdadeira como o cárdia em mamíferos. No estômago, é iniciado o processo
de digestão química, e, em algumas espécies, é seguido por uma digestão mecânica no
ventrículo (também chamado de moela). Em seguida, ocorre a passagem do alimento
para o intestino, o qual varia em dimensões de acordo com os hábitos alimentares do
animal, sendo mais curto em carnívoros e mais longo em herbívoros. A maioria desses
animais possui tubos cegos e delgados na porção anterior do intestino, os chamados
de cecos pilóricos, responsáveis por secretar enzimas digestivas. O intestino de alguns
peixes, principalmente os cartilaginosos, possui uma porção adaptada chamada de
válvula espiral, responsável por aumentar a superfície de contato com o alimento. O
restante do conteúdo, quando não digerido, pode ser excretado pelo ânus, em peixes
ósseos, ou pela cloaca, em peixes cartilaginosos.
Sistema excretor
O sistema excretor é responsável pelo controle do equilíbrio osmótico, assim como
pela eliminação dos compostos nitrogenados resultantes do catabolismo proteico. É
composto pelo tradicional sistema urinário caracterizado pelos rins, ureteres e bexiga
urinária, mas também pelas brânquias.
21
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
propriamente dita. Os rins desses animais são mais simples que os dos mamíferos,
não possuindo alça de Henle e, em alguns peixes marinhos, ausentes de glomérulos
em seus néfrons. O conteúdo filtrado pelos rins passa pelos ureteres, desembocando
na bexiga ou diretamente no poro excretor. A bexiga urinária pode estar presente em
algumas espécies, entretanto, é uma região bastante simples e pouco expansiva quando
comparada com a de outros animais, não chegando a acumular grandes quantidades de
urina. O sistema urinário de peixes ósseos geralmente termina no orifício urogenital,
localizado cranialmente à nadadeira anal. Algumas espécies de osteíctes, no entanto,
podem apresentar dois orifícios, separando a porção final dos sistemas urinário e
genital. Em peixes cartilaginosos, por outro lado, há a presença de uma cloaca devido à
junção dessas aberturas com o ânus.
22
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES │ UNIDADE I
Reprodução
Os hábitos reprodutivos são variados nas diversas espécies de peixes. Esses animais
podem ser dioicos, apresentando indivíduos machos e fêmeas separadamente, ou
hermafroditas, em que ambos os sexos ocorrem no mesmo espécime. O formato das
gônadas pode variar de acordo com a espécie. Em machos, os testículos costumam ser
um órgão em par, alongados, produtores de espermatozoides que são lançados por um
curto ducto deferente ao poro genital. Nas fêmeas, podem ser observados os ovários,
também em par, alongados e posicionados dorsalmente ao intestino, assim como um
curto oviduto que se comunica com o poro genital. Tanto os testículos quanto os ovários
variam de tamanho de acordo com a época do ano, aumentando ao se aproximar do
período reprodutivo.
Na maioria das espécies de peixes, assim como em anfíbios, a fecundação dos ovócitos
é realizada externamente ao corpo da fêmea, entretanto, em alguns animais como
os elasmobrânquios e eventuais osteíctes a fecundação é interna, ocorrendo cópula.
O principal modo reprodutivo nesses animais é a oviparidade, na qual o embrião se
desenvolve em um ovo totalmente externo ao corpo da fêmea. A superfície dessas
estruturas pode ser adesiva ou não adesiva devido à presença de determinadas
23
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
Sistema sensorial
Um dos principais mecanismos responsáveis pela percepção dos peixes com o ambiente
é a chamada linha lateral. Essa estrutura é composta por diversos poros ligados por
um canal e distribuídos de forma linear da região do opérculo até a cauda do animal,
formando uma região mais escura. Nesses poros, são encontradas células ciliadas que
atuam como receptores capazes de captar mínimas alterações de corrente e vibrações
na água. Dessa forma, podem conceder ao peixe o sentido do tato, bem como fornecer
parâmetros de distância e participar na recepção de sons de baixa frequência. Podem
ainda compensar, em partes, a ausência de visão em animais cegos.
Ampolas de Lorenzini são células espalhadas pela cabeça de algumas espécies de peixes
cartilaginosos capazes de perceber pequenas mudanças de temperatura, salinidade ou
correntes elétricas. Devido a isso, elasmobrânquios são considerados animais muito
sensíveis aos campos magnéticos. Em aquários com escapes de corrente elétrica os
indivíduos podem manifestar desorientação e comportamento agressivo. Dessa forma,
24
ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES │ UNIDADE I
A visão pode ser mais importante para algumas espécies do que outras. Geralmente
animais de ambientes mais profundos e escuros são menos dependentes de estímulos
visuais do que animais de águas claras. Peixes não possuem pálpebras propriamente
ditas, mas eventualmente contam com tecidos com funcionalidade semelhante.
A sensibilidade auditiva varia de acordo com a espécie de peixe. Embora costume ser
aguçada devido à transmissão de vibrações sonoras ocorrer com facilidade no ambiente
aquático. Nesses animais, não estão presentes os ouvidos médio e externo, existindo
somente o interno, capaz de captar as vibrações sonoras a partir de órgãos como a
bexiga natatória e linha lateral.
De uma forma geral, esses animais possuem excelente olfato devido à existência de
quimiorreceptores altamente especializados. Assim, podem se orientar na busca por
alimento, detectar alterações químicas na água e identificar feromônios dissolvidos
nela.
Sistema hematopoiético
Os peixes não possuem medula óssea e linfonodos, entretanto, costumam dispor de timo,
baço e outros tecidos linfomieloides. Em peixes cartilaginosos, a hematopoiese ocorre
principalmente no baço, onde são desenvolvidos os eritrócitos, trombócitos e linfócitos.
A granulopoiese, por outro lado, aparenta estar associada ao órgão epigonal e ao órgão
de Leydig. Nos peixes ósseos, os principais tecidos linfomieloides são o timo, baço
e rim. O rim é onde são desenvolvidos eritrócitos, granulócitos, linfócitos, monócitos
e, possivelmente, trombócitos. O timo é o principal local pelo desenvolvimento dos
linfócitos. O baço normalmente tem um papel secundário na hematopoiese, exceto em
espécies que possuem somente ele com essa função. O sangue periférico aparenta ser
um sitio extra da eritropoiese nesses animais, já que vários estágios do desenvolvimento
eritrocitário podem ser encontrados em amostras de rotina de animais saudáveis.
Regulação da temperatura
Peixes são animais ectotérmicos, o que significa que suas temperaturas corporais variam
de acordo com a temperatura da água em que se encontram. Os processos fisiológicos
e bioquímicos do organismo deles são intimamente associados com a temperatura
ambiental. Dessa forma, reações relacionadas à homeostase, trocas gasosas, consumo
25
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
energético, taxa de crescimento, entre outros, são influenciadas por este fator. O
sistema imune e a capacidade de metabolização de drogas são especialmente afetados
por quedas na temperatura. Algumas espécies de peixes são capazes de tolerar maiores
flutuações na temperatura corporal do que outras. Curiosamente, determinadas
espécies de peixes cartilaginosos ainda possuem a capacidade de produzir calor em
certa quantidade, como o tubarão azul (Prionace glauca).
26
CAPÍTULO 3
Conservação e zoonoses
Conservação
Peixes participam de diversos níveis na teia alimentar, seja como presa ou predador.
Esses animais são capazes, inclusive, de se alimentar de artrópodes vetores, ajudando
no controle da disseminação de patógenos. Ainda, por meio de mecanismos de filtração,
algumas espécies podem auxiliar na limpeza de determinados micro-organismos e
toxinas (PANOSSO et al., 2007).
Para saber mais sobre as espécies de peixes e anfíbios (assim como outros
vertebrados e invertebrados) que sofrem algum risco de extinção no Brasil,
o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, organizado pelo
ICMBio em 2018, reúne informações detalhadas e de acesso livre, disponível em:
https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/
publicacoes-diversas/livro_vermelho_2018_vol1.pdf.
Zoonoses
O consumo crescente no Brasil de alimentos com base em peixes crus, como os de
influência da culinária oriental, assim como outras formas de ingestão de carnes pouco
cozidas, pode ser responsável pela transmissão e pelo aumento na taxa de doenças
27
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DOS PEIXES
28
CRIAÇÃO DE
PEIXES EM UNIDADE II
CATIVEIRO
Existem dois ramos principais para a criação de peixes em cativeiro, o que pode
influenciar na forma com a qual lidamos com as doenças e seus tratamentos.
Alguns dos peixes de água doce mais comuns em cativeiro incluem o peixe-dourado
(Carassius auratus), carpa-comum (Cyprinus carpio), guppy (Poecilia reticulata),
tetras (Paracheirodon spp.) e peixes betta (Betta splendens). Espécies de água salobra
são incomuns e de difícil criação, mas alguns exemplos incluem o peixe vidro indiano
(Chanda ranga), os saltadores (Periophthalmus spp.) e gobies (Stigmatogobius spp.).
Os peixes marinhos tropicais mais comuns em cativeiro, geralmente capturados da
natureza, são os peixes-anjo (Pomacanthus spp.), peixes-porco (Balistoides spp.),
limpadores (Labroides dimidiatus), cavalos-marinhos (Hippocampus spp.), assim
como os peixes-cirurgiões e tangs (Acanthurus spp., Paracanthurus spp. e Zebrasoma
spp.). Ainda mais difíceis e incomuns, as criações de animais marinhos de águas frias
podem incluir espécies como o peixe-rei (Coris julis) e o peixe-lula (Parablennius
gattorugine).
29
CAPÍTULO 1
Recintos
Dimensões
O tamanho do recinto para peixes, em especial para animais maiores (como
elasmobrânquios) deve respeitar a biologia do animal, para que ele mantenha o padrão
de nado e outros aspectos fisiológicos sem alterações. Dessa forma, é importante estar
atento quanto à densidade populacional de um recinto, bem como a interação entre as
espécies que ali habitarem. Certas espécies, como os peixes betta (Betta splendens) são
conhecidas pelo seu comportamento territorialista, podendo gerar brigas capazes de
causar a morte de outros animais do mesmo aquário.
Aquários, por outro lado, são recintos transparentes feitos de vidro ou de plástico,
nos quais podem ser albergados peixes e outros animais de hábitos aquáticos. Tais
recipientes podem ser de vários formatos e tamanhos, mas devem fornecer ambiente
adequado com o uso de filtros e aeradores.
30
CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO │ UNIDADE II
Iluminação
A luz contínua pode ser maléfica para algumas espécies de peixes. Em tubarões-limão
(Negaprion brevirostris), por exemplo, é relatada a perda da resposta pupilar devido
ao excesso de luminosidade (GRUBER; KEYES, 1981). Dessa maneira, o animal deve
ser mantido preferencialmente mantendo o fotoperíodo natural das épocas do ano do
ambiente de origem para cada espécie.
Enriquecimento ambiental
Mecanismos para o enriquecimento ambiental (Figura 10) podem ser utilizados para
peixes visando à manutenção do bem-estar animal. Diferentes substratos, abrigos,
plantas, assim como variadas formas de oferta de alimento podem ser úteis para
alcançar esses ideais. A escolha dos fômites deve ser feita levando diversos aspectos
em consideração. As plantas vivas, por exemplo, são úteis em aquários por diversas
razões. Podem fornecer abrigo para alguns indivíduos, servir como fonte de alimento e
são capazes de melhorar a qualidade da água ao absorver parte do nitrato formado no
ciclo da amônia. Por outro lado, podem servir como transmissores de alguns patógenos
infecciosos. Em geral, os materiais utilizados devem ser de fácil desinfecção, como
materiais não orgânicos e não porosos. Peixes vivos também podem ser utilizados como
enriquecimento ambiental de alguns animais carnívoros, como peixes cartilaginosos,
mas essa presa também deve passar por um período de quarentena, incluindo a
vermifugação.
31
UNIDADE II │ CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO
Fonte: https://www.myaquariumclub.com/parameter-neutral-aquarium-enrichment-19108.html.
32
CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO │ UNIDADE II
CAPÍTULO 2
Qualidade da água
Alguns valores estão exibidos na Tabela 1, entretanto, devem ser utilizados com cautela
devido às diversas particularidades entre as espécies.
33
UNIDADE II │ CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO
Temperatura
Peixes variam sua temperatura corporal de acordo com a do ambiente. A manutenção
da temperatura da água em faixas ótimas é o ideal para o correto funcionamento do
organismo desses animais, melhorando a conversão alimentar e o correto funcionamento
do sistema imune. Portanto, o fornecimento de fontes de aquecimento artificiais é
extremamente importante. Este parâmetro pode ser aferido com termômetros, digitais
ou de mercúrio.
Oxigênio
Peixes são animais conhecidamente aeróbios, portanto, necessitam do oxigênio na
água para a respiração. Este gás pode estar naturalmente dissolvido na água de forma
mecânica ou por meio da produção por parte de organismos fotossintetizantes. As algas
são fontes comuns de oxigênio na aquicultura, aumentando sua produção durante o dia
e diminuindo durante a noite. Mortalidades por baixos níveis de oxigênio em lagos são
frequentemente observadas no início da manhã, quando o nível desse gás é mais baixo,
afetando mais peixes de maior porte do que os menores.
Níveis recomendados de oxigênio geralmente estão acima de 6mg/L a 25°C para peixes
de água doce tropical. Algumas espécies são particularmente mais sensíveis que outras
em ambientes pouco aerados, dependendo do seu sucesso nas trocas gasosas branquiais
ou a presença de outros mecanismos respiratórios. A aeração e trocas regulares da
água, bem como uma redução de superpopulações devem fornecer níveis adequados.
34
CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO │ UNIDADE II
Pressão de gás
Na água, os gases atmosféricos também estão presentes em algum nível. O equilíbro
ocorre quando a pressão desses gases é igual à pressão atmosférica. A supersaturação
da água com gases pode causar a Doença da Bolha de Gás. A água de poços profundos
pode ter altos níveis de gás carbônico e nitrogênio, portanto, deve ser arejada antes de
ser usada em tanques para aquicultura por meio da agitação vigorosa para volatilizar o
excesso desses gases.
pH
O pH indica a característica ácida ou básica de uma solução, variando de 0 a 14, sendo
acima de 7 considerado básico e abaixo de 7 ácido. Em grandes viveiros aquáticos com
organismos fotossintetizantes, esse indicativo pode variar entre dia e noite devido às
diferentes concentrações de dióxido de carbono, entretanto, diversos outros fatores são
capazes de alterar o pH da água de um recinto.
A faixa ideal para a manutenção de peixes geralmente é entre pH 7,0 e 8,0, entretanto,
para animais de água doce, entre 6,0 e 9,0 também são obtidos bons resultados. Animais
de água salgada costumam tolerar faixas mais estreitas. Em meios muito ácidos, os
animais podem sofrer intenso estresse, levando a imunossupressão, dificuldades
reprodutivas, crescimento deficitário e inclusive a morte. Em um ambiente muito
básico, o crescimento desses animais também é prejudicando, podendo levar a morte.
Outros fatores podem ser afetados pelo pH da água. A amônia costuma estar disponível
em uma forma mais tóxica em pH alto, enquanto zinco, cobre e alumínio são mais
tóxicos em pH baixo. Existem algumas formas para a avaliação, como papéis e líquidos
que variam a cor de acordo com o pH, entretanto equipamentos medidores de pH
digital podem fornecer valores mais reais. Diversos kits comerciais são disponíveis para
o ajuste desses valores.
35
UNIDADE II │ CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO
Alcalinidade
A alcalinidade mede a capacidade da água em neutralizar ácidos fortes. Em viveiros, pode
ser medida avaliando a presença de bicarbonato e carbonato. Em águas naturais, estes
valores podem variar muito, entre 5 e 500mg/L, devido principalmente à dissolução de
pedras calcárias.
A maioria das espécies tropicais tem como ideal valores entre 50 e 60mg/L, mas
estes números podem variar sem necessariamente causar algo ao animal. Uma baixa
alcalinidade significa uma água menos capaz de tamponar o pH, podendo gerar
flutuações bruscas de ácidos ou bases. Métodos laboratoriais podem ser utilizados para
avaliar a concentração desses componentes.
NH3
Amônia
Nitrosomas sp.
NO3-
Nitrato NO2-
Nitrito
Nitrobacter sp.
36
CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO │ UNIDADE II
Estas bactérias que participam do filtro biológico demoram algum tempo para seu
estabelecimento em um novo recinto, portanto, picos indesejados de compostos
nitrogenados na água podem ocorrer durante esse período. A amônia é um composto
extremamente perigoso, capaz de causar diversas doenças e diminuir a taxa de
crescimento devido ao estresse, com sua toxicidade relacionada diretamente ao pH
elevado e temperatura inadequada. A superalimentação também pode levar à produção
excessiva de amônia. O nitrato também é capaz de causar enfermidades, mesmo em
baixas quantidades, ao contrário do nitrito, o qual peixes podem tolerar em taxas mais
elevadas. Medidas corretivas imediatas incluem a redução da alimentação, troca parcial
da água e a utilização de removedores comerciais de amônia e nitrato.
Kits comerciais são disponíveis para aferir estes compostos, embora valores
mais adequados sejam obtidos geralmente em aparelhos laboratoriais, como o
espectrofotômetro. É sempre esperado que o clínico analise uma amostra de água
para quantificar resíduos nitrogenados, já que a absorção desses compostos pelos
animais é capaz de gerar condições fatais. A zeolita pode ser utilizada para absorver
níveis excessivos de amônia ao custo de diminuir a dureza da água. Esse composto, no
entanto, é ineficiente em ambientes de água salgada, devido ao seu tropismo por cálcio
e magnésio, compostos em grande quantidade nestes ambientes.
Salinidade
A salinidade da água doce geralmente se encontra em aproximadamente 0,5ppm
enquanto a de água salgada ente 33 a 37ppm. Essa medida é intimamente conectada
ao ambiente de origem do animal. Nos sistemas aquáticos marinhos, os sais presentes
contribuem com muitos micronutrientes. Os sais encontrados na água do mar são
uma complexa mistura, portanto, a simples adição de cloreto de sódio não deve ser
realizada. A adição de sal comum é útil apenas em sistemas de água doce para ajustar
a osmolaridade e atuar como ectoparasiticida. A salinidade é frequentemente medida
usando um refratômetro de salinidade ou um hidrômetro. Existem preparações
comerciais de sais marinhos que podem ser utilizadas em pequenas instalações
contendo peixes marinhos.
Dureza
A dureza da água reflete a soma de cátions dissolvidos, principalmente cálcio e
magnésio. A maioria dos animais se desenvolve bem em ambientes com níveis baixos
de dureza, entretanto, pode ser mais suscetível a algumas condições. Amônia, assim
37
UNIDADE II │ CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO
como cobre e zinco, pode ter sua toxicidade diminuída na presença de níveis adequados
de dureza. Em ambientes marinhos, esses cátions são abundantes e não aparentam
causar problemas em níveis elevados, podendo chegar a 10.000mg/L. A determinação
da dureza da água pode ser feita por métodos químicos ou equipamentos eletrônicos.
Transparência
A transparência da água mede a capacidade de penetração da luz. Esse fator é mais
avaliado em grandes viveiros de criações comerciais, já que um dos principais fatores
envolvidos é a quantidade de matéria orgânica na forma de plâncton. A transparência
pode ser medida por meio da metodologia do disco de Secchi, um disco preto e branco
com diâmetro de 25cm, preso por um peso metálico e uma corda graduada. A visibilidade
do disco deve ser medida de acordo com a distância percorrida. Valores abaixo de 40cm
podem necessitar medidas, como a diminuição do fornecimento de alimento.
Cloro
O cloro é comumente adicionado nos sistemas de água de saúde pública. Esse elemento
químico pode ser prejudicial à saúde do peixe, podendo levar a morte em concentrações
acima de 0,01mg/L. Salmonídeos são especialmente mais sensíveis. A água do recinto
pode ser declorada por meio de aeradores ou permitindo a sua evaporação natural. O
tiossulfato de sódio pode ser utilizado como um composto declorante na proporção de
7,4mg para cada 1mg Cl/L de água.
38
CAPÍTULO 3
Nutrição
Mecanismo
A posição e o formato da boca dos peixes podem indicar muito sobre o hábito alimentar
do animal. Por exemplo, animais com boca superior, isso é, com a mandíbula maior
que a maxila, alimentam-se principalmente de organismos presentes na superfície da
água, ao contrário dos peixes com boca inferior (também chamada de subterminal).
Dentro do grupo dos teleósteos podemos encontrar uma modificação que permite uma
facilidade na aquisição do alimento. Nesses animais a existência de uma pré-maxila
móvel, assim como uma musculatura adequada para projetar essa porção para fora da
boca, facilita a apreensão do alimento.
Algumas espécies mordem ativamente suas presas, como carnívoros com longos e
afiados dentes e frugívoros com largas coroas. Outras são consideradas filtradoras por
possuírem modificações nas brânquias que permitem o fluxo de filtração de pequenos
organismos, como o zooplâncton e fitoplâncton. Peixes raspadores, por sua vez, possuem
dentes alinhados, que, juntos com uma boca sugadora, podem se fixar diretamente ao
alimento.
Dieta
Peixes necessitam manter uma nutrição adequada para o crescimento, a reprodução
e a manutenção das funções fisiológicas. Isso pode ser obtido por meio de alimentos
naturais ou rações comerciais. Entretanto, para o estabelecimento de qualquer
39
UNIDADE II │ CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO
Durante a fase de crescimento, para a maioria dos animais, pode ser fornecido de 3 a
5% do peso corporal diariamente, e, para a manutenção, de 1 a 3%, procurando não
ultrapassar 7% do peso vivo semanalmente. Peixes menores devem receber uma menor
quantidade de ração, porém em intervalos mais curtos, ao contrário de animais maiores.
O animal deve ser observado durante o período da alimentação, a qual deve se manter
ativa, visto que qualquer perda repentina de apetite pode indicar a presença de alguma
enfermidade. O alimento deve ser distribuído em diversos pontos pelo recinto, a fim de
evitar a concorrência entre os animais, caso o ambiente seja compartilhado. Algumas
espécies possuem um comportamento de “pedir” por comida exaustivamente, o que, se
atendido, pode levar à superalimentação: grande vilão quando o assunto é qualidade
de água.
Larvas de peixes, por conterem uma fonte própria nutricional, não necessitam receber
alimentação até a total involução do saco vitelino. Por outro lado, em indivíduos
recém-nascidos de algumas espécies de peixes cartilaginosos (os quais não possuem
essa reserva) pode ser necessária a suplementação ou estimulação alimentar via
sonda estomacal. Nesse caso, é importante que o conteúdo respeite o volume máximo
comportado pelo animal para evitar regurgitação, e que seja composto por elementos
presentes em sua alimentação natural.
40
CRIAÇÃO DE PEIXES EM CATIVEIRO │ UNIDADE II
Suplementação
Devido à dificuldade na manutenção de uma dieta equilibrada para peixes, é frequente
a ausência ou deficiência de certos compostos, principalmente vitaminas, mas também
macro e microminerais. Essas deficiências podem desencadear diversos quadros
patológicos caracterizados por sinais clínicos inespecíficos. Devido ao diagnóstico,
muitas vezes ausente ou tardio, bem como na demora pela resolução do problema
instaurado, a suplementação alimentar com esses compostos pode auxiliar na prevenção
de determinadas doenças (ver Doenças Não Infecciosas – Nutricionais, na página 54).
41
MEDICINA DE UNIDADE III
PEIXES
CAPÍTULO 1
Medicina preventiva
Quarentena
Quando novos animais forem inseridos em um recinto é importante respeitar um período
de quarentena com o isolamento do indivíduo. Dessa forma, doenças previamente
incubadas ou assintomáticas de origem parasitária, viral, bacteriana ou fúngica podem
ter seus sinais clínicos exacerbados, de forma que possa ser indicado um tratamento
antes da inserção de animais em um plantel. Normalmente é indicado que este período
seja superior a 21 dias, mas o tempo pode variar de acordo com a espécie envolvida.
O período é frequentemente negligenciado em criações comerciais, o que pode causar
mortalidades em massa devido à inserção de novos patógenos.
Higienização
Devido à grande quantidade de sinais clínicos inespecíficos, o diagnóstico da maioria
das doenças em peixes é difícil de ser realizado. O tratamento também costuma ser
bastante dificultado devido aos poucos dados relacionados a doses e potencial tóxico de
fármacos em determinadas espécies de peixes. Sendo assim, a prevenção das doenças
infecciosas, aderindo a rigorosas práticas de higiene, é ideal.
42
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Vacinação
A criação intensiva, devido a elevada densidade populacional, assim como ambientes
estressantes ajudam a propagação de doenças infecciosas entre esses animais. Por
esse motivo, somado a outras técnicas de prevenção, a vacinação vem conquistando o
mercado a fim de evitar a propagação de doenças, principalmente virais e bacterianas. A
imunização desses animais pode ser feita tanto por injeção individual quanto por banhos
ou na ração de grupos maiores com diferentes tipos de vacinas, como a inativada, viva
atenuada, entre outras. Algumas das vacinas comercialmente disponíveis atuam contra
Vibrio spp., Aeromonas salmonocida, Yersinia ruckeri, Piscirickettsia salmonis,
Flavobacterium sp., Edwardsiella ictaluri, Lactococcus garvieae e Streptococcus sp
(SOMMERSET et al., 2005).
O tema ainda não é muito discutido, porém, mais informações estão disponíveis
em Vaccines for fish in aquaculture de Sommerset et al. (2005), disponível em:
https://www.researchgate.net/publication/7977876.
Exames complementares
Assim como em outros animais não domésticos, frequentemente são utilizados somente
o histórico e os sinais clínicos para a elaboração de um diagnóstico. Entretanto, muitas
vezes, são necessários exames complementares para a compreensão do quadro clínico
do agente causal. O exame direto de pele e brânquias é um dos mais praticados na clínica
de peixes. Biópsias, exames hematológicos, coproparasitológicos e microbiológicos
podem ser utilizados também. Após a morte de animais, principalmente em grandes
mortalidades, deve sempre ser realizada necrópsia. Também é importante fazer uma
coleta da água do recinto para que esta seja analisada e avaliada junto com outras
alterações.
43
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Coleta de sangue
A coleta de sangue de peixes deve ser realizada com segurança em animais com
comprimento maior que 8cm e 25 gramas. O procedimento deve ser realizado de forma
rápida, em períodos máximos de até 30 segundos, já que animais fora da água sofrem
com o estresse respiratório e desequilíbrio eletrolítico. A punção pode ser realizada com
o animal sedado ou não, mas é importante ter noção que fármacos anestésicos podem
alterar os valores obtidos nas análises hematológicas e bioquímicas.
O principal sítio de acesso venoso é por meio da artéria ou veia caudal (Figura 12), a
qual pode ser acessada ventral ou lateralmente à linha média, próxima às vértebras
caudais. O sangue também pode ser coletado das câmaras do coração ou bulbo
arterioso, acessando do ponto de encontro entre o opérculo e o istmo, direcionando a
agulha caudalmente. Entretanto, ao realizar a cardiocentese é importante ter em mente
os riscos de causar danos ao animal, como endocardite ou o rompimento de estruturas.
Tubarões também podem ser coletados por uma veia ventrocaudal às nadadeiras
dorsais. Novamente, pode ser coletado com segurança até 1% do peso corporal (por
exemplo, 1ml de um animal de 100g) de um animal sadio.
Figura 12. Esquema representando o acesso ventral e lateral da veia caudal em peixes.
44
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Hematologia e bioquímica
Os eritrócitos (hemácias) dos peixes são células ovais (Figura 13), com citoplasma
claro e abundante e um núcleo com cromatina densa, central e de mesmo formato.
Em determinadas situações, podem ser observados vacúolos citoplasmáticos que
aparentam estar relacionados à degeneração de organelas. O tamanho dessas células
varia de acordo com a espécie, mas, de forma geral, os de peixes cartilaginosos
são maiores do que os de peixes ósseos. Já que a eritropoiese também ocorre na
circulação periférica, eritroblastos podem ser encontrados facilmente em esfregaços
sanguíneos. Eventualmente, figuras de mitose também podem ser observadas. Peixes
de ambientes impactados com componentes tóxicos frequentemente apresentam
micronúcleos que se desprendem do núcleo principal.
45
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Figura 13. Células encontradas no sangue de alguns peixes ósseos. A – Eritrócitos de Gnathanodon speciosus; B –
Eritrócitos de Mola mola; C – Eosinófilo de Upeneus sp.; D – Neutrófilo de Upeneus sp.; E – Trombócito de M. mola;
46
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
47
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
48
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
O exame pode ser realizado com uma impressão direta de uma lâmina para microscopia
limpa sob a lesão. Deve ser dada a preferência para lesões aparentemente mais recentes,
nas quais há uma maior chance de encontrar o agente causal. Para facilitar a observação,
pode ser utilizada uma gota da água do próprio tanque diretamente sobre a lâmina.
A análise das amostras deve ser realizada o mais breve possível, de forma que, caso
organismos estejam presentes, estes sejam preservados, já que a movimentação
de alguns agentes pode auxiliar na sua observação. A pesquisa pode ser facilmente
realizada em microscópio óptico nos aumentos de 100x e 400x. Os tecidos e muco
devem ser examinados quanto à presença de parasitas, fungos, lesões bacterianas e
outras alterações morfológicas.
Coproparasitológicos
49
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Microbiologia
Amostras de lesões podem ser enviadas para cultura microbiológica, entretanto, deve-
se ter em mente a possibilidade do crescimento de contaminantes ambientais. Amostras
que forem semeadas em placa em até 24 horas podem ser coletadas e enviadas em swabs
secos, mas, se este tempo for ultrapassado, podem ser utilizados swabs contendo meios
de transporte, como o Stuart.
Radiografia
Ultrassonografia
50
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Necrópsia
A necrópsia pode ser muito útil em situações com mortalidades elevadas em que não
seja conhecida a etiologia. Corpos destinados à realização de necrópsia não devem ser
congelados, mas sim refrigerados, a fim de evitar artefatos post mortem. A realização
do exame deve ser feita o mais breve possível, preferencialmente em até 6 horas após
o óbito.
O animal deve ser posicionado em decúbito dorsal e a abertura pode ser feita em
direção caudocranial em animais achatados lateralmente e em formato de U em
animais achatados dorsoventralmente, visando um melhor acesso aos órgãos. O médico
veterinário responsável deve ter conhecimento a respeito da anatomia normal para
diferenciar da patológica nas diversas espécies de peixes.
Um protocolo para este procedimento deve ser estabelecido e seguido de forma estrita.
O exame externo deve ser detalhado, com detalhamento de todas as lesões e alterações
presentes na pele, assim como o interno, o qual deve conter toda e qualquer informação
importante. Devem ser coletados fragmentos de todos os órgãos para a realização de
exame histopatológico.
51
CAPÍTULO 2
Clínica de peixes
Contenção
Contenção física
Após uma captura difícil, o peixe pode apresentar incoordenação e fraqueza ou até vir
a óbito. Essa condição costuma ocorrer alguns dias após a contenção, associada a uma
acidose metabólica. Devido ao difícil tratamento e diagnóstico, é recomendada a sua
prevenção realizando uma captura e contenção adequadas.
52
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Durante todo o período anestésico a qualidade da água deve ser ótima para a espécie
trabalhada. Peixes sob estresse consomem mais oxigênio, o que deve ser levado em
consideração. O animal pode ser mantido emerso para o período necessário para o
exame ou, até mesmo, por períodos prolongados, como para cirurgias, entretanto, as
brânquias devem ser constantemente banhadas com água corretamente oxigenada,
devido ao risco de hipóxia. Para isso, pode ser derramada água, por meio de uma
seringa, diretamente na boca do peixe, de forma que flua até as brânquias e saia pelo
opérculo ou utilizar de um tubo introduzido na cavidade oral no qual é bombeado água
continuamente. Os sistemas de manutenção podem ser recirculantes (onde a água é
coletada do peixe e reinserida no sistema) ou não (onde a água não é reutilizada). Para
manter a oxigenação da água, podem ser usados dispositivos como pedras de ar ou até
mesmo pelo próprio aparelho de anestesia. Temperaturas elevadas aceleram a indução
e a recuperação, porém, é importante lembrar que a água em elevadas temperaturas
retém menos oxigênio. Durante a anestesia o peixe também deve ser mantido úmido
para evitar desidratação e danos à pele e os olhos devem ser cobertos para evitar danos
à retina, já que estes animais não possuem pálpebras.
Após o procedimento, é importante que a recuperação permita a água fresca fluir por
meio das brânquias na direção fisiológica. O animal deve ser monitorado constantemente
por até 24 horas, principalmente até que o movimento voluntário coordenado seja
presente, para garantir a correta recuperação do animal.
Agentes anestésicos à base de água estão entre os mais utilizados para anestesiar peixes
devido à segurança que eles promovem, embora necessitem de grandes quantidades,
principalmente em grandes recintos. Entre inúmeras preparações anestésicas e
protocolos descritos, alguns autores consideram o MS-222 e a benzocaína como as mais
53
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Monitoramento
Exame clínico
De forma ideal, peixes deveriam ser avaliados dentro de seu recinto original. Isso
permite ao médico veterinário avaliar a interação do animal com o ambiente, bem
como as condições oferecidas. Geralmente isso não é possível devido ao tamanho dos
aquários e a necessidade de conduzir o indivíduo até o clínico. Para isso, o animal
deve ser transportado em um recipiente menor, mas resistente, e com características
semelhantes ao aquário de origem, o que inclui a mesma água do viveiro original.
Durante o transporte, também deve ser reduzida a incidência luminosa a fim de reduzir
54
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
o estresse. Para viagens mais longas, pode ser necessário um jejum de 24 horas para
minimizar a produção de compostos nitrogenados no recipiente volante.
Doenças
Infecciosas
Diversas doenças infecciosas de peixes devem ser comunicadas a órgãos oficiais, seja
devido a sua elevada mortalidade ou por causarem grandes perdas econômicas. A
notificação obrigatória à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) deve ser feita a
fim de promover o controle e rastreamento desses agentes. As notificações, no Brasil,
podem ser feitas diretamente ao Serviço Veterinário Oficial (SVO).
55
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Bacterianas
Gram-negativas
56
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Outras espécies também podem ser encontradas. Pseudomonas spp. e Yersinia spp.
podem causar afecções sistêmicas. Pasteurella spp. e mixobactérias podem causar
danos à pele e olhos. Haemophilus piscium é o agente causal da Doença da Úlcera em
peixes.
Gram-positivas
Nocardia spp. são bactérias filamentosas que podem causar perda de peso, inflamação,
ulceração e necrose de pele. A eutanásia deve ser considerada devido a risco zoonótico
e tratamento ineficiente.
Micobactérias
Micobactérias são bactérias bastonetes álcool-ácido resistentes, ou seja, não corados pela
coloração de Gram, sendo necessária a técnica de Ziehl-Neelsen para sua visualização. O
gênero Mycobacterium pode causar hepatopatia, perda de peso, exoftalmia e escoliose,
bem como lesões granulomatosas, úlceras e escurecimento da pele. Embora canamicina
seja um candidato ao tratamento, este não costuma ser muito efetivo e a eutanásia deve
ser considerada devido ao potencial zoonótico.
Fúngicas
Uma das mais importantes doenças de origem fúngica é a Saprolegniose, causada pelo
gênero oportunista Saprolegnia. Animais afetados podem desenvolver tufos brancos
na superfície da pele, principalmente nas narinas, as quais podem lembrar algodão,
57
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Virais
58
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Herpesvírus
Estes agentes pertencem à família Herpesviridae, que inclui diversos vírus DNA capazes
de afetar grande parte das espécies de vertebrados. Podem causar infecções em diversas
espécies de peixes.
O herpesvirus dos ciprinídeos 1, por outro lado, causa enfermidade mais branda,
afetando as mesmas espécies de animais. Possui uma letalidade baixa (ocorrendo
principalmente em animais jovens), podendo causar lesões na pele de animais afetados,
bem como certo retardo no crescimento.
Rabdovírus
59
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Vírus dessa família também pode causar a Viremia Primaveral das Carpas, outra
doença de notificação obrigatória à OIE. Pode causar uma doença bastante contagiosa
e hemorrágica em diversas espécies de peixes, principalmente ciprinídeos. O vírus
pode ser excretado pelas fezes e urina dos animais infectados, embora também seja
transmitido por alguns ectoparasitos. Os sinais são inespecíficos, com o escurecimento
da pele, exoftalmia, palidez das brânquias, hemorragias, distensão abdominal e protusão
do ânus, podendo levar à morte.
Iridovírus
Pertence à família Iridoviridae, que compõe vírus de genoma DNA que afeta vertebrados
e invertebrados, amplamente distribuído em ambientes aquáticos. São compostos em
cinco gêneros: Iridovirus, Chloriridovirus, Lymphocystivirus, Megalocytivirus e
Ranavirus (WHITTINGTON et al., 2010).
60
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
água doce ou de água salgada. Nos animais afetados podem surgir massas grandes,
geralmente benignas, com aspecto verrucoso (com forma de couve-flor) nas nadadeiras
e na pele, assim como eventualmente na cavidade celomática. Pode ser transmitida
pelo contato direto, inclusive por meio da manipulação.
Outros
Parasitárias
61
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Protozoários
Ciliados
Ciliados compõem o grupo mais comum de parasitos em peixes. Entre eles, umas
das espécies mais importantes é a do protozoário Ichthyophthirius multifiliis, um
grande parasito unicelular com núcleo em formato de ferradura, causador da Doença
da Mancha Branca. Os estágios imaturos penetram no muco da epiderme, bem como
nas brânquias, onde permanecem encistadas. Nos animais acometidos podem ser
observadas pequenas manchas brancas na pele, dificuldade respiratória, nadadeiras
aderidas, bem como afecções oftálmicas, podendo levar à morte principalmente em
jovens. A elevação da temperatura em 1 ou 2°C acelera o ciclo de vida do parasito,
promovendo a exposição do estágio infectante móvel, o qual é sensível a medicamentos,
como sulfato de cobre. Associadas a estas infecções podemos encontrar organismos do
gênero Tetrahymena, também predispostos em condições ambientais inadequadas. São
capazes de se propagar pela musculatura do hospedeiro e gerar afecções dermatológicas
e oftálmicas. O tratamento pode ser tentado com Cloramina T.
62
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Flagelados
63
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Podem ainda ser afetados por alguns protozoários hemoparasitos, como os flagelados
Trypanosoma spp. e Cryptobia spp., bem como e os apicomplexas Babesiosoma sp.,
Haemogregarina spp. e Cyrilia sp. Em geral, estes parasitos podem apresentar sinais
clínicos amplos como anemia e emaciação. O tratamento costuma não ser efetivo, mas
pode ser tentado com metronidazol ou azul de metileno. Cryptobia spp. ainda é capaz
de afetar outros sistemas, como o urinário, cardiovascular e digestivo, causando ascite,
fezes brancas e viscosas, perda de apetite, caquexia, exoftalmia e dificuldade de natação.
É suspeito de ser o agente causal de uma doença em ciclídeos chamada Malawi bloat.
Coccídios
Outros
64
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
de nódulos, nas quais podem ser observados esporos como corpos esféricos. Não existe
tratamento efetivo descrito.
Nematódeos
Nematódeos são comuns em peixes de vida-livre e cativeiro com acesso aos seus
hospedeiros intermediários. Por exemplo, crustáceos dos gêneros Cyclops e Daphnia
são capazes de transmitir parasitos do gênero Philometra. Outros gêneros possíveis de
serem encontrados em peixes incluem Atractis, Camallanus, Capillaria, Contracaecum,
Cucullanus Raillietnema, Raphidascaris e Spirocamallanus.
Infecções por esses agentes geralmente afetam o trato gastointestinal e são brandas,
mas podem causar fezes esbranquiçadas e diarreicas, bem como perda de peso. Alguns
fármacos podem ser utilizados para o tratamento, como levamisol, fenbendazol ou
mebendazol.
Platelmintos
Cestódeos
Trematódeos
O gênero Neascus pode causar pequenas manchas escuras na pele e músculos, causando
a Doença da Mancha Negra. Os cistos podem ser particularmente evidentes em peixes
de coloração clara. Devido ao ciclo de vida complexo, que exige diversos hospedeiros,
dificilmente se tornam um problema em aquários. Sanguinicola inermis pode causar
dano extremo nas brânquias e hemorragia. Diplostomum pode causar alterações
65
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
oftálmicas. Para o controle, deve ser feito necessariamente o controle de seus hospedeiros,
que são caramujos aquáticos. Clinostomum spp, pode causar pequenas lesões císticas
amareladas. Crassicutis cichlasomae afeta o trato gastrointestinal. O tratamento de
trematódeos que infectam a pele geralmente pode ser feito com praziquantel.
Monogenéticos
Enterogyrus spp. são capazes de afetar o trato digestivo, causando perda de peso
e crescimento deficiente, podendo migrar por diversos órgãos. Cichlidogyrus,
Microcotyle, Ancyrocephalus, Cleithrarticus, Pseudempleurosoma, Dermopthirius
penneri e Haliotrema podem parasitar brânquias. O tratamento pode, de uma forma
geral, ser feito com praziquantel.
Turbelários
O gênero Turbellaria causa uma condição caracterizada por pequenos pontos pretos
pelo corpo, pele opaca e dificuldade respiratória. Banhos com formalina ou com água
doce podem ser utilizados como tratamento.
Crustáceos
66
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Mixozoários
Mixozoários são organismos relacionados aos cnidários que já foram classificados como
protozoários. São principalmente representados pelos mixosporídeos, endoparasitos
obrigatórios de peixes. Animais afetados podem apresentar nódulos evidentes,
escurecimento da pele, perda de peso, nado errático, necrose das nadadeiras e alterações
hepáticas, podendo levar a morte súbita ou ser um achado incidental, dependendo da
espécie. Representantes incluem Henneguya sp., Myxosoma dujardini, Thelohanellus
hovorkai. Chloromyxum sp., Hoferellus sp., Kudoa sp., Myxidium sp. e Mitaspora sp.
Não existe tratamento realmente eficaz, mas pode ser tentado toltrazuril e fumagilina.
Acantocéfalos
67
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Outros
Algumas algas também são capazes de afetar estes animais. Coccomyxa sp. pode causar
lesões no trato respiratório. Chlorochytrium sp. e Scenedesmus sp, por outro lado,
podem causar dermatites.
Não infecciosas
Nutricionais
68
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
A vitamina D, ao contrário das anteriores, pode ser produzida pelo próprio indivíduo
em exposição à luz solar. Como peixes geralmente não conseguem ter acesso aos raios
solares por meio da coluna d’água, a suplementação desse hormônio pode ser necessária.
As principais fontes são a ingestão de plâncton e outros alimentos comerciais e a adição
de lipídios pode facilitar a sua absorção. Deficiências podem causar redução do ganho
de peso, tetania, deformidades espinhais e perda de dentes. Esta também é uma das
vitaminas mais tóxicas, a qual em altas quantidades pode levar a perda de apetite e
problemas renais e cardíacos.
69
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Intoxicações
Amônia
Nitrito
A intoxicação por nitrito, chamada de Doença do Sangue Marrom, pode ocorrer quando
há um desequilíbrio no filtro biológico de um recinto, como em situações em que há
a perda desse filtro ou quando a demanda é muito elevada. Quantidades acima de
0,5mg/L são especialmente preocupantes. Animais afetados são induzidos à formação
de metahemoglobina no sangue, reduzindo a capacidade de transporte de oxigênio
e promovendo uma coloração marrom às brânquias. Estes indivíduos podem ser
localizados nas partes mais elevadas do aquário, com a cabeça posicionada para cima
devido à dificuldade respiratória. Peixes de água doce são naturalmente mais suscetíveis
a essa condição. Imediatamente, a adição de sal na água em uma concentração de
0,3% pode ser benéfica, já que os íons de cloro competem na absorção pelos íons de
70
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
nitrito. Também deve ser feita a troca parcial da água, bem como a adição de culturas
bacterianas extras do gênero Nitrobacter, as quais podem trazer algum benefício.
Sulfeto de hidrogênio
Outras
Cobre pode ser tóxico para certos grupos de peixes, causando afecções do trato
respiratório. Em aquários contendo invertebrados não devem ser realizados tratamentos
a base de cobre, pois esses animais são especialmente sensíveis. Se necessário, deve ser
realizado em um aquário separado.
Intoxicação por cianeto pode ocorrer em regiões que recebam efluentes de indústrias e
fundições. Costuma ser observado em peixes capturados de vida livre, podendo causar
anorexia e morte ao animal afetado. Não há tratamento efetivo para essa condição,
apenas terapia de suporte.
Metais pesados são lançados à água como resíduos de minério. Estes compostos são
bioacumulativos, se mantendo e acumulando nos diversos níveis da teia alimentar.
Intoxicações podem causar principalmente afecções hepáticas e neurológicas,
dependendo da afinidade do metal.
Neoplasias
71
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Outras doenças
Alguns animais podem ser bastante sensíveis ao estresse causado pela captura e
manejo, em especial os tubarões. A grande utilização do metabolismo anaeróbio nessas
situações estressantes promove o acúmulo de ácido lático, que causa a diminuição do
pH do animal, gerando um quadro de acidose metabólica.
72
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
A supersaturação da água com gases em pressões acima da atmosférica pode causar uma
condição conhecida como a Doença da Bolha de Gás. Animais acometidos apresentam
olhos protuberantes e pequenos êmbolos gasosos na pele e nadadeiras. Raramente
causa a morte dos animais afetados se houver a correção do problema. A água de poços
profundos pode ter altos níveis de gás carbônico e nitrogênio. O mau funcionamento
de bombas de oxigenação em aquários também é capaz de causar um excesso de gás
oxigênio.
Diversos materiais são atrativos visualmente aos peixes, podendo se tornar corpos
estranhos. Em peixes dourados, é comum a ingestão de cascalho. O tratamento pode
ser feito por remoção manual, mas frequentemente requer procedimentos cirúrgicos.
73
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
sob anestesia. Para a prevenção, devem ser oferecidos alimentos que aumentem o
desgaste normal.
A doença da cabeça e linha lateral acomete alguns animais, como peixe-anjo marinho,
peixe-cirurgião e tangs. Quando afetados, apresentam erosões nas fossas sensoriais e
ao longo das linhas laterais, podendo envolver os músculos ao redor. A etiologia dessa
doença ainda não é bem explicada, porém, acredita-se que possa estar envolvida com
protozoários, deficiência de vitamina A ou algum vírus.
Terapêutica
Muitos medicamentos podem ser administrados na forma de banhos, curtos ou longos,
adicionados à água do animal. Em algumas situações, a medicação pode ser diluída
diretamente no tanque, entretanto, frequentemente é necessário isolar o animal alvo em
outro viveiro (essa manipulação extra, entretanto, é capaz de causar um maior estresse).
Um dos pontos negativos desse método é uma possível inativação do filtro biológico do
recinto, assim como a necessidade de utilização de grandes quantidades do fármaco,
principalmente em grandes recintos. O carvão ativado, frequentemente utilizado como
elemento de filtração, pode interferir na eficácia de fármacos devido a sua capacidade
de adsorver diversos elementos. Portanto, esse material deve ser obrigatoriamente
removido do viveiro antes da utilização dessa metodologia. É possível tratar animais em
viveiros água doce ou salgada dessa forma, entretanto, alguns fármacos podem ter seu
efeito reduzido, principalmente em água salgada, o que pode ocorrer com tetraciclinas
e sulfato de Cobre.
A via oral (VO) é comumente usada, principalmente para grandes grupos. A medicação
pode ser administrada junto com a ração. Um problema ocasionado por esse método
é que a quantidade de fármaco ingerida pelo animal não é realmente confiável,
principalmente por que frequentemente animais doentes apresentam apetite reduzido.
A sondagem estomacal também pode ser realizada em animais maiores, embora possa
ser bastante estressante.
74
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
à pele do animal. A agulha deve ser direcionada no espaço abaixo das escamas para que
estas não sejam lesionadas. Injeções subcutâneas (SC) devem ser evitadas, devido ao
pouco espaço disponível. Aplicações intramusculares (IM) são as mais realizadas entre
essas vias, as quais podem ser facilmente realizadas lateral à nadadeira dorsal. No local
da aplicação pode ocorrer uma perda de escamas e, se grandes quantidades necessitarem
ser inoculadas, devem ser divididas em mais de um sítio. Injeções intravenosas (IV)
podem ser administradas em animais anestesiados, inoculadas nos mesmos locais
utilizados para a coleta de sangue, como a veia caudal. Aplicações intracelomáticas (ICe)
podem ser realizadas na linha média entre o ventre e as nadadeiras pélvicas, devendo
tomar cuidado com a proximidade com os órgãos.
Antibióticos
75
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
somente ele, sem afetar adversamente os outros indivíduos que compõem a fauna e
flora do viveiro. É importante ter em mente que antibióticos utilizados na forma de
banhos ou VO podem causar a inativação do filtro biológico do recinto.
Tabela 2. Doses dos principais antibióticos utilizados na medicina de peixes ósseos (*) e elasmobrânquios (**).
Antifúngicos
Tabela 3. Doses dos principais antifúngicos utilizados na medicina de peixes ósseos (*) e elasmobrânquios (**).
76
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Antiparasitários
Alguns antiparasitários (Tabela 4) devem ser utilizados com cuidado na medicina de
peixes, como ivermectina, cloridrato de quinina e praziquantel, os quais podem ser
tóxicos para algumas espécies. Permanganato de potássio é capaz de danificar as
brânquias de animais que receberem repetidas administrações. Ácido acético glacial
pode ser fatal para animais mais fracos. Cloramina T deve ser usada em doses menores
em água mole (com baixos valores de dureza).
Tabela 4. Doses dos principais antiparasitários utilizados na medicina de peixes ósseos (*) e elasmobrânquios (**).
Metronidazol 50mg/kg *,** VO Cada 24h, por 5 dias * / cada 48h por 3 dias **
5-7mg/L * Banhos Dias alternados, por 3 tratamentos
Permanganato de potássio 10mg/L * Banhos Por 5 a 60 min
Piperazina 2,5mg/g * VO –
Praziquantel 10mg/kg * VO –
400mg/100 g alimento * VO Por 7 dias
15-20mg/L * Banhos Por 1 a 2h
10mg/L * Banhos Por 3h
2mg/L ** Banhos
77
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Outros fármacos
Tabela 5. Doses de fármacos utilizados na medicina de peixes ósseos (*) e elasmobrânquios (**).
Cirurgia
Procedimentos cirúrgicos em peixes não são comuns, principalmente devido às poucas
enfermidades que necessitam exclusivamente desses procedimentos, mas também às
dificuldades que os acompanham. Consequentemente, poucos procedimentos já foram
realizados e documentados.
78
MEDICINA DE PEIXES │ UNIDADE III
Embora sejam possíveis, cirurgias realizadas dentro da água possuem uma série de
limitações, como a maior propensão à infecção secundária ou a difícil visualização do
campo cirúrgico. Dessa forma, os relatos se agrupam em procedimentos realizados fora
da água. Devido ao tamanho diminuto da maioria das espécies, costuma ser necessária
a utilização de equipamentos de cirurgias oftálmicas. Nos peixes que possuem escamas,
estas devem ser cuidadosamente removidas do local de incisão com a utilização de
pinças. Hemorragias geralmente não são um problema, mas, se necessário, pode ser
utilizada adrenalina tópica.
Diversos tumores já foram descritos em peixes, mas geralmente são removidos somente
quando afetam o comportamento normal do animal, como em situações que causam
dificuldades para comer, respirar, nadar ou quando ulcerados e hemorrágicos. Outros
procedimentos mais realizados incluem o debridamento de úlceras, remoção de corpos
estranhos e enucleação.
79
UNIDADE III │ MEDICINA DE PEIXES
Eutanásia
A eutanásia de peixes pode ser realizada com diversos agentes anestésicos, desde que em
doses elevadas. MS-222 pode ser utilizado na forma de imersão, mas ainda devem ser
tomados cuidados para tamponar essa solução e evitar a agonia do animal. Benzocaína
e eugenol também podem ser utilizados da mesma forma. Anestésicos intravenosos
como propofol, etomidato e metomidato também podem ser utilizados, assim como
inalatórios, seguido de outro método para assegurar a eutanásia. Em alguns casos, a
anestesia pode ser induzida com agentes à base de água e a eutanásia pode ser realizada
por injeção ICe de pentobarbital.
80
ASPECTOS GERAIS UNIDADE IV
DOS ANFÍBIOS
CAPÍTULO 1
Classificação
A ordem Anura (Figura 15) é a maior e mais diversa, na qual encontramos os animais
popularmente classificados como sapos, rãs e pererecas. Os sapos são animais com a
pele de aspecto opaco, frequentemente com grandes glândulas parotoides localizadas
atrás dos olhos. Rãs, por outro lado, possuem a pele brilhante e úmida. As pererecas
são geralmente arborícolas, com membros mais alongados e discos aderentes
nas extremidades dos dígitos. Todos os anuros são dotados de quatro patas bem
desenvolvidas, principalmente as posteriores, devido às adaptações para o salto, além
de uma cauda ausente quando adultos. Estes animais são frequentemente encontrados
em locais úmidos, próximos à coleções de água como lagoas e riachos. É importante
lembrar que estes nomes populares, podem ser falhos quanto à classificação filogenética
ou ecologia do animal.
81
UNIDADE IV │ ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS
Figura 15. Alguns exemplos de anuros. A – Sapo-cururu (Rhinella icterica); B – Rã-manteiga (Leptodactylus latrans);
82
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS │ UNIDADE IV
Fonte: https://www.flickr.com/photos/renato_gaiga/6875900748.
Fases do desenvolvimento
De uma maneira geral, estes animais iniciam a vida na água e passam a fase adulta na
terra. Da eclosão do ovo em meio aquático, são originadas as larvas (também chamadas
de girinos), com um corpo alongado, sem membros e com cauda (Figura 18). Algum
tempo após, é iniciado o processo de metamorfose, no qual ocorre primeiro com o
surgimento dos membros posteriores, seguido pelos anteriores, reabsorção da cauda e
brânquias, finalizando com o desenvolvimento de pulmões. Depois dessas etapas, é dito
que o animal é adulto. Salamandras, por outro lado, podem realizar uma metamorfose
incompleta, mantendo uma morfologia similar à larval durante toda vida adulta. Ainda,
embora incomum, existem espécies de anfíbios em que não eclodem como girinos
do ovo, mas sim como uma miniatura do animal adulto, como o gênero de anuros
Pristimantis (HEDGES et al. 2008). Outras variações podem ocorrer na classe, logo,
generalizações devem ser feitas com cautela.
83
UNIDADE IV │ ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS
Figura 18. Esquema geral do desenvolvimento de anfíbios anuros. 1: ovos; 2 e 3: girinos; 4: anuro adulto.
Em geral, animais em fase larval são menores do que quando adultos, entretanto,
existem exceções como a rã-paradoxal (Pseudis paradoxa), a qual recebe esse nome
devido ao seu girino poder chegar a três ou quatro vezes o tamanho do anfíbio adulto.
84
CAPÍTULO 2
Anatomia e fisiologia
Coração
Pulmão
Fígado
Estômago
Vesícula biliar
Pâncreas
Gônada Baço
Rim Bexiga urinária
Intestino
85
UNIDADE IV │ ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS
Devido à presença das glândulas serosas distribuídas pelo corpo, pode se dizer que todos
os anfíbios produzem veneno. Estes compostos, no entanto, possuem diferentes níveis
de toxicidade, sendo usualmente inofensivo para o homem, com algumas exceções
como anuros da família Dendrobatidae. Em algumas regiões do corpo podem ocorrem
um agrupamento dessas glândulas, formando uma macroglândula, estrategicamente
localizadas a fim de proteger o animal contra predadores. As glândulas parotoides
podem ser observadas em algumas espécies de anuros e salamandras, principalmente
em bufonídeos, dispostas em par em uma região posterior aos olhos (Figura 20),
liberando um conteúdo de aparência leitosa. As glândulas paracnêmis ou tibiais são
observadas em bufonídeos, localizadas na região posterior da tíbia. As glândulas
lombares e inguinais também ocorrem em par em uma região posterior ao sacro,
observada em alguns anuros da família Leptodactylidae, frequentemente com um
aspecto semelhante a olhos. Outras glândulas menos estudadas incluem as hedônicas,
presentes em caudatos, e a peitoral encontradas em alguns anuros (TOLEDO; JARED,
1995). De uma forma geral, o animal deve ser comprimido ou mordido pelo predador
para a liberação desse conteúdo, que pode ser rapidamente absorvido pela mucosa.
Entretanto, uma espécie de bufonídeo chamada Rhaebo guttatus é conhecida por ser
capaz de voluntariamente esguichar o veneno das suas glândulas parotoides ao se sentir
ameaçado, o que pode ter sido a origem do mito que acusa todos os anuros de realizar
esse comportamento (MAILHO-FONTANA et al., 2014).
Figura 20. Aumento de volume na região posterior aos olhos em Rhinella icterica, caracterizada pela glândula
parotóide.
86
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS │ UNIDADE IV
Sistema musculoesquelético
Anfíbios possuem um endoesqueleto composto principalmente por ossos (Figura 22),
mas também algumas estruturas de cartilagem. Com exceção dos ápodes, estes animais
possuem quatro membros, com tamanhos similares em caudatos e com os posteriores
maiores em anuros. Os ossos rádio e ulna são fundidos, conhecido como radioulna,
assim como a tíbia e fíbula, chamado de tibiofibula. Os membros possuem quantidades
variáveis de falanges dependendo da espécie, mas geralmente são quatro em cada
membro anterior e cinco no membro posterior. Algumas espécies possuem um aparato
87
UNIDADE IV │ ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS
conectado ao osso hioide adaptado para ejetar a língua e capturar a presa. Anuros
possuem coluna vertebral fundida, enquanto caudatos e cecílias têm as vértebras mais
diferenciadas, podendo chegar a quase 300 nos ápodes. Alguns animais ainda possuem
pigmentos que resultam em uma coloração azulada aos ossos, como Phrynohyas
resinifictrix ou esverdeados, como algumas espécies da família Centrolenidae.
Pterigoide Frontoparietal
Nasal
Supra-escápulas Pré-maxilares
Narina
Vértebras sacrais Parasfenoide
Exoccipital
Proótico
Tibiofíbula
Esquamosal
Cápsula auditiva
Astrágalo
Maxilar
Calcâneo
Escápula
Falanges
Coracoide Clavícula
Uróstilo Metacarpo
Epicoracoide
Ílio Carpo
Mesosterno
Pré-pólux
Fêmur Xifisterno
Ísquio Rádioulna
Pré-hálux
Úmero
Tibiofíbula
Estes animais possuem somente uma cavidade, a celomática. Isso ocorre devido à
ausência do músculo diafragma, responsável por dividir as cavidades abdominal
e torácica nos mamíferos. Algumas salamandras e girinos possuem a capacidade de
regenerar membros e cauda.
Respiração
De uma forma geral, anfíbios respiram por meio de pulmões na fase adulta e por
brânquias na fase larval. Quando adultos, estes animais possuem uma traqueia curta e
um par de pulmões bastante simples, sem dobras e geralmente sem alvéolos. Devido à
ausência de diafragma, necessitam da pressão formada pela boca para a sucção do ar.
Em situações em que a ventilação mecânica possa ser necessária nesses animais, ela
deve ser conduzida com cuidado a fim de evitar ruptura deste tecido. Existem exceções,
88
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS │ UNIDADE IV
em todas as classes nas quais não são observados pulmões, como é o caso a família de
salamandras Plethodontidae.
Na fase larval a via utilizada é a respiração branquial, com um sistema bastante similar
ao realizado por peixes. Em algumas espécies de caudatos aquáticos esse órgão se
mantém durante a vida adulta para realizar as trocas gasosas.
Sistema cardiovascular
Em comparação com os peixes, anfíbios possuem um sistema circulatório mais
complexo. Esse sistema é considerado fechado, pois o sangue percorre por dentro de
vasos sanguíneos, duplo, já que ocorrem duas passagens pelo coração para completar
um ciclo e incompleto, visto que há a mistura de sangue venoso e arterial.
O coração é dotado de três câmaras, o que inclui dois átrios (em anfíbios sem pulmão
somente há um átrio) e um ventrículo. O sangue oxigenado vindo pulmões entra no
átrio esquerdo pela veia pulmonar (Figura 23), enquanto o sangue com baixa tensão de
oxigênio originado da pele e dos tecidos entra no átrio direito. Ambos os átrios bombeiam
para o ventrículo, onde ocorre uma certa mistura. Em seguida o sangue é bombeado
para o corpo por meio das artérias sistêmicas e pela artéria pulmocutânea para novas
trocas gasosas. A frequência cardíaca de anfíbios tropicais no verão geralmente se situa
entre 30 e 50 bpm (ICMBio, 2018).
89
UNIDADE IV │ ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS
Figura 23. Estrutura do coração de anfíbios pulmonados. Setas vermelhas representam o fluxo do sangue
Artéria carótida
Arco aórtico
Artéria pulmocutânea
Átrio direito
Átrio esquerdo
Válvula espiral
Ventrículo
Estes animais, assim como os peixes, possuem um sistema venoso porta-renal, que
garante a perfusão renal durante períodos em que o fluxo sanguíneo possa estar
diminuído. Por esse mecanismo, pode ocorrer a drenagem do sangue da cauda (se
presente) e dos membros inferiores diretamente aos rins antes de prosseguir para o
coração. A forma como esse mecanismo atua ainda não se encontra bem elucidado e
pode ser influenciado por diversos fatores, como o estado de hidratação do animal,
temperatura, doenças e outros estressores. Mesmo assim, medicações injetadas em
regiões caudais podem ter sua cinética alterada ou, se potencialmente nefrotóxicas,
causar lesão renal.
O sistema linfático destes animais é bastante desenvolvido. Além dos vasos linfáticos
e linfonodos, possuem estruturas pulsáteis chamadas de corações linfáticos, que são
alargamentos dos vasos linfáticos capazes de bater a aproximadamente 50 bpm, de
forma independente do batimento cardíaco. O principal coração linfático de anfíbios é
localizado dorsalmente à cloaca.
90
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS │ UNIDADE IV
é uma estrutura com uma substância pegajosa, capaz de realizar movimentos ágeis e
fixada normalmente na porção rostral da cavidade oral.
Possuem um grande fígado, capaz de ocupar grande parte da cavidade, com uma
coloração variável de acordo com a espécie, assim como vesícula biliar, capaz de
armazenar bile. O pâncreas também é presente, produzindo hormônios como a insulina.
Sistema excretor
Em anfíbios esse sistema é principalmente responsável pela excreção de compostos
nitrogenados e osmorregulação, caracterizado por um par de rins (dotados de néfrons
com grandes glomérulos e ausentes de alças de Henle), assim como ureteres e bexiga
urinária. Os rins desses animais não são capazes de concentrar os solutos da urina em
concentrações acima das do plasma, o que ocorre na maioria das espécies de vertebrados.
Por esse motivo, a bexiga urinária, que é o órgão responsável por armazenar o conteúdo
drenado, se mantém constantemente reabsorvendo parte dos líquidos presentes nela.
Este órgão pode apresentar diferentes formatos de acordo com a espécie, variando
entre ovaladas a bilobadas, sempre desembocando na cloaca.
91
UNIDADE IV │ ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS
Reprodução
Em ambos os sexos são encontrados órgãos reprodutivos pareados (dois ovários e dois
testículos). No macho, o esperma percorre dos testículos até a cloaca por meio do ducto
de Wolff e nas fêmeas os folículos formados no ovário liberam ovócitos que chegam
ao oviduto e são liberados pelo mesmo local. Os machos do gênero Bufo possuem o
órgão de Bidder, um ovário rudimentar aderido aos testículos, o que não deve ser
interpretado como hermafroditismo (PIPREK et al., 2015). A atividade das gônadas
varia de acordo com o estágio reprodutivo da espécie, relacionada com a temperatura,
chuva e a quantidade de horas de luz no dia, mas, devido à ectotermia, as estações
reprodutivas costumam ser nas épocas mais quentes.
Anuros possuem cordas vocais, estruturas mais desenvolvidas nos machos, utilizadas
para a vocalização. A passagem do ar pela laringe gera sons característicos para
determinadas ocasiões. Um saco, localizado na região gular, é capaz de amplificar
estes sons. A vocalização é principalmente utilizada com fins reprodutivos para a corte
do parceiro sexual (canto de anúncio), mas também em outras situações, como as
interações agonísticas, relacionadas à luta entre os machos. Algumas espécies podem
contar com estímulos visuais para a corte, como danças, observado no gênero Pipa
(FERNANDES et al., 2011) e similares. A próxima etapa do acasalamento inclui o
abraço nupcial, conhecido como amplexo. Este ato pode demorar por curtos ou longos
períodos, no qual geralmente é seguido pela postura dos ovos pela fêmea e liberação dos
espermatozoides pelo macho, que se encontram geralmente fora da cavidade corporal
da fêmea.
92
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS │ UNIDADE IV
O dimorfismo sexual é incomum nestes animais, mas pode ser observado em algumas
espécies de anuros e é geralmente caracterizado por diferentes cores, tamanho e a
presença de espinhos, tubérculos e presas. Machos de Lithobates catesbeianus, por
exemplo, possuem membranas timpânicas maiores que das fêmeas, enquanto os
machos de Agalychnis callidryas são menores que as fêmeas.
Figura 24. Detalhe de juvenis de sapo do Suriname (Pipa pipa) em compartimentos no dorso da mãe.
93
UNIDADE IV │ ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS
Sistema sensorial
O sistema sensorial é composto por órgãos capazes de captar estímulos internos
e externos. Anfíbios não possuem ouvido externo. A membrana timpânica, órgão
responsável pela transmissão de sons para o ouvido interno, é externa, bastante
desenvolvida e visível.
Sistema hematopoiético
O baço é o principal sítio da eritropoiese, podendo ocorrer também no fígado, rim e em
menor parte na medula óssea (cecílias não possuem). Animais terrestres têm medula
óssea funcional, mas nela são produzidos prioritariamente linfócitos e mielócitos. Em
fases larvais do desenvolvimento, o fígado atua como um dos mais importantes órgãos
hematopoiéticos.
Regulação da temperatura
Todos os anfíbios são ectotérmicos, ou seja, dependem de mecanismos externos para
manter e regular a temperatura corporal. A manutenção destes animais em temperaturas
elevadas pode causar agitação, alterações na cor da pele, inapetência, imunossupressão
e perda de peso com bom apetite, sendo frequentemente fatal em anfíbios. A hipotermia,
94
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS │ UNIDADE IV
por outro lado, pode resultar em letargia, inapetência, inchaço (devido à decomposição
da ingesta), imunossupressão e crescimento inadequado.
Balanço osmótico
A pele dos anfíbios desempenha um papel fundamental na homeostase, já que pode
ocorrer uma significante perda de água por esse órgão. Além disso, ela também deve ser
mantida úmida para que ocorra a troca de gases, principalmente nos animais que mais
dependem majoritariamente da respiração cutânea. Alguns anfíbios, como pererecas,
possuem glândulas que liberam uma cera, que atua revestindo sua pele para evitar a
dessecação. Anfíbios com pele mais espessa, como sapos, são mais resistentes à perda
de água. O adesivo pélvico da pele de anfíbios no abdome ventral pode atuar captando
até 80% de líquidos. Por esse motivo, é possível reidratar os animais embebendo-os em
líquidos apropriados.
95
CAPÍTULO 3
Conservação e zoonoses
Conservação
Anfíbios possuem uma importante função no ecossistema que habitam. Por
estarem localizados na base da cadeia alimentar, são extremamente importantes
para o equilíbrio ambiental como um todo. Estes animais também atuam como
bioindicadores, principalmente devido ao seu contato íntimo com a água associado a
uma pele extremamente permeável, podendo refletir desequilíbrios e contaminações
ambientais. Seus hábitos alimentares de predação de artrópodes, principalmente
daqueles considerados vetores de patógenos, podem ajudar a conter pragas e as
doenças associadas. Além disso, anfíbios têm sido utilizados como fonte de alimento
(principalmente a rã-touro Lithobates catesbeianus) e como base de diversas pesquisas
farmacológicas.
Diversos estudos recentes têm detectado declínios populacionais entre anfíbios ao
redor do mundo. Os principais fatores associados incluem a perda de habitat, que gera
uma contração gradual e fragmentação de populações, e a quitridiomicose, doença
fúngica relacionada a diversas mortes. Entretanto, também são suficientemente
impactantes as mudanças climáticas, radiação UV-B, contaminantes ambientais, áreas
restritas de distribuição, caça predatória, introdução de espécies exóticas e outras
doenças infecciosas, além dos declínios enigmáticos (aqueles em que a causa não foi
estabelecida).
Apesar destes declínios das populações, muitas espécies novas ainda estão sendo
descritas. Isso ocorre devido a alguns aspectos, como a exploração de ambientes
antes pouco conhecidos, a utilização de ferramentas como a biologia molecular e a
reclassificação de espécies. Portanto, embora o número absoluto de espécies esteja
aumentando, é importante ter em mente que o número de indivíduos diminui de forma
progressiva devido ao impacto, principalmente antrópico. É estimado que centenas de
espécies de anfíbios tornem-se extintas nas próximas décadas caso não ocorra uma
rápida compreensão e reversão dessas causas.
96
ASPECTOS GERAIS DOS ANFÍBIOS │ UNIDADE IV
Zoonoses
Poucos casos de transmissão de doenças zoonóticas por anfíbios já foram relatados, no
entanto, deve-se ter cautela porque muitos animais albergam organismos que podem
ser patogênicos para humanos. Entre eles podemos citar principalmente bactérias do
gênero Salmonella, mas também Leptospira spp., Listeria spp., Edwardsiella tarda,
Yersinia spp., Spirometra spp. e Escherichia coli. As espécies de micobactérias que
causam doenças em anfíbios também podem ser zoonóticas e causar uma forma atípica
da doença em humanos.
97
CRIAÇÃO DE
ANFÍBIOS EM UNIDADE V
CATIVEIRO
98
CAPÍTULO 1
Recintos
Material
Aquários de vidro são bastante utilizados para abrigar anfíbios por permitirem boa
visualização do animal, serem relativamente baratos e reterem umidade. A principal
desvantagem associada a eles é a falta de ventilação, podendo ser realizada a adaptação
de uma tampa segura (a fim de evitar fugas) e com orifícios que permitam a circulação
do ar. Tanques de plástico também são adequados, embora possam desenvolver certa
opacidade com o tempo, prejudicando a visualização do animal. Não existe consenso
para o tamanho ideal de viveiro para cada espécie, mas, dependendo do enriquecimento
ambiental desejado, é esperado que sejam utilizados ambientes maiores. Para espécies
arborícolas, devem ser pensados viveiros em formações verticais, altos e com galhos e
plantas, a fim de prover uma maior quantidade de esconderijos. Para animais aquáticos
e fossoriais, deve ser fornecido recinto com grande superfície de área horizontal.
Substrato
Para a maioria das espécies, é essencial que seja ofertado acesso livre a um ambiente
seco. Ao considerar diferentes tipos de substratos, é importante tentar mimetizar o
habitat da espécie trabalhada. Materiais pequenos, como cascalho fino e vermiculita,
podem ser utilizados, mas deve ser levado em consideração que podem se tornar um
corpo estranho gastrointestinal, levando à impactação se ingeridos. Uma forma de evitar
isso é utilizar cascalho mais grosso ou alimentar os animais em um local separado. É
importante que o substrato do solo possua pH neutro. Para animais fossoriais, deve ser
mantida uma profundidade maior, de 3 a 10 cm, com substrato solto o suficiente para
permitir a formação de túneis.
Em geral, a substituição total do material utilizado como substrato deve ser realizada
a cada dois a três meses. Quando obtidos do ambiente, como serapilheira, devem
ser esterilizados para prevenir a introdução de patógenos. O musgo esfagno é outro
substrato útil, capaz de reter umidade e ser macio, entretanto, deve ser substituído a
cada duas a quatro semanas.
99
UNIDADE V │ CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO
Água
Anfíbios não bebem água diretamente. A absorção de líquidos nesses animais é feita por
meio da pele e dos alimentos ingeridos. Por esse motivo, deve ser ofertado um local com
acesso à água à vontade, mas sempre cuidando para que esteja em condições adequadas.
Água deionizada não deve ser utilizada em viveiros de anfíbios, pois pode prejudicar o
equilibro osmótico do animal. A água potável, diretamente do encanamento, também
não é recomendada devido à presença de cloro dissolvido. O ideal é a utilização de água
destilada ou potável declorada. A troca dessa água pode ser realizada, mas deve ser feita
em, no máximo, 20% do conteúdo a cada uma ou duas semanas para a manutenção do
filtro bacteriano e de outros parâmetros. A água também pode ser passada por meio do
carvão vegetal para remover contaminantes.
Temperatura
Todos os anfíbios são ectotérmicos, e, quando mantidos acima ou abaixo da temperatura
ideal para a espécie, podem apresentar sinais clínicos relacionados a enfermidades.
A faixa de temperatura ambiental fornecida a um anfíbio deve ser baseada na que
ocorre em seu habitat. Deve-se sempre procurar manter um gradiente de temperatura
no interior do viveiro, variando entre 5° e 8°C entre a área quente e fria. Lâmpadas,
aquecedores de cerâmica e outros equipamentos geralmente fornecem a temperatura
adequada. Esses objetos devem ser mantidos a certa distância, visando não gerar
queimaduras por calor. Para evitar isso, podem ser utilizadas barreiras (como grades)
para impedir o contato direto com a pele do animal. A fim de ter maior controle sobre a
temperatura do local é recomendada a utilização de dois termômetros (um na área mais
quente e outro na área mais fria).
Umidade
Para a manutenção da umidade ambiental, pode ser pulverizada água declorada no
viveiro de forma manual ou automatizada. Plantas vivas utilizadas como enriquecimento
ambiental também auxiliam na manutenção dos níveis adequados. A maioria dos
anfíbios necessita da umidade relativa do ar acima de 70%.
Iluminação
Deve ser oferecido um fotoperíodo respeitando ao máximo o habitat da espécie. Em
geral, 12 horas de luz em meses mais quentes e 8 horas de luz em meses mais frios
100
CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO │ UNIDADE V
Enriquecimento ambiental
Além dos itens básicos para a manutenção de anfíbios, é importante a introdução de
acessórios que possam ser utilizados para fins de enriquecimento ambiental, visando
reduzir o estresse de animais mantidos em cativeiro. Plantas artificiais de plástico
podem ser usadas para decorar um viveiro e são de fácil desinfecção. Plantas vivas
também podem ser usadas e oferecem o benefício de aumentar a umidade relativa do
ambiente, entretanto devem ser limpas e seu solo deve ser substituído a fim de reduzir
a probabilidade de contaminação com patógenos indesejados. Nesse caso, também é
importante conhecer as espécies e a origem das plantas que serão utilizadas para evitar
aquelas com potencial tóxico ou, até mesmo, que possuíram contato com pesticidas,
visto que eventualmente artrópodes utilizados como alimento podem ingerir essas
vegetações e transferir toxinas para o anfíbio predador. Ainda, se a escolha for por
grandes decorações, como rochas, galhos e abrigos, deve-se tomar cuidado para que os
bordos desses objetos sejam lisos para evitar lesões traumáticas e que sejam capazes de
desinfecção.
101
UNIDADE V │ CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO
Fonte: https://www.amphibiancare.com/frogs/articles/terrariummaintenance.html.
102
CAPÍTULO 2
Qualidade da água
A qualidade da água tem grande impacto na saúde dos anfíbios, especialmente dos
animais aquáticos. Como há livre troca de íons pela pele dos anfíbios, a presença desses
componentes na água está intimamente envolvida com esses animais. Os tratamentos
para os problemas de qualidade da água geralmente envolvem melhorar os níveis de
oxigênio dissolvido aerando a água e realizando trocas de água periódicas. Sempre
que vários animais de um único recinto apresentarem sinais clínicos semelhantes,
a qualidade da água deve ser avaliada. Anfíbios aquáticos podem exigir diferentes
parâmetros químicos de acordo com o tipo de corpo d’água do qual é originário.
Animais de riachos, por exemplo, costumam necessitar de maiores taxas de oxigênio
dissolvido na água. Existem alguns parâmetros básicos para a maioria dos anfíbios, os
quais serão discutidos adiante. Em geral, a qualidade da água pode ser mantida com
critérios semelhantes aos utilizados para peixes.
Oxigênio
Um baixo teor de oxigênio dissolvido, principalmente com a estagnação de águas
evidentes, pode forçar o animal subir à superfície em busca desse gás. Aerar a água
com pedras ou bombas de ar e fazer trocas regulares geralmente são suficientes para
fornecer níveis adequados. A quantidade de oxigênio dissolvido deve ser igual ou maior
que 5mg/L. A quantidade de oxigênio dissolvida pode ser avaliada pelo método de
Winkler ou por medidores portáteis de oxigênio.
Pressão de gás
Gases dissolvidos em quantidades acima da atmosférica podem supersaturar a água,
causando alguns sinais clínicos característicos. Nessas situações, o gás em excesso
pode ser absorvido pelos anfíbios, que podem desenvolver bolhas sob a pele, levando
à embolia aérea. Essa situação ocorre geralmente quando há vazamento em alguma
conexão da bomba de ar. Para a resolução, deve ser fornecido terapia de suporte e a
correção da origem do vazamento.
103
UNIDADE V │ CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO
pH
O pH da água de viveiros deve corresponder ao necessário para a espécie trabalhada,
entretanto deve se aproximar de pH neutro. Quando esse pH se torna fortemente ácido
(< 5,5) ou básico (> 8,5) a água se torna bastante irritante. Animais afetados podem
produzir muco em excesso a fim de proteger a pele, assim como apresentar hiperemia.
Alterações de pH a longo prazo também podem causar desequilíbrios ácidos-básicos
no animal. Vários kits comerciais são disponíveis para aferir e ajustar o pH do aquário,
que pode ser aferido por tiras ou líquidos indicados por cores ou aparelhos eletrônicos.
O nitrito, embora não seja tão crítico quanto a amônia, também pode ser problemático
em anfíbios e deve estar abaixo de 0,1mg/L. Assim como a amônia, pode ser facilmente
absorvido pela superfície das brânquias em animais jovens. Anfíbios afetados podem
desenvolver metemoglobinemia, reduzindo a capacidade de transporte de oxigênio
pelos eritrócitos. Os nitratos são bem menos tóxicos para anfíbios, mas podem
causar anormalidades no desenvolvimento dos girinos. Esse composto pode estar em
104
CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO │ UNIDADE V
Dureza
A dureza da água é uma medida relacionada à concentração de determinados cátions
como cálcio e magnésio, a qual deve estar entre 75 e 150mg/L. Baixos níveis de dureza
podem resultar em deficiências nutricionais (como a doença óssea metabólica e o
hiperparatireoidismo nutricional secundário) em animais em crescimento. Por outro
lado, níveis elevados podem ser irritantes para os anfíbios, especialmente as cecílias. A
dureza da água pode ser medida por kits comerciais ou equipamentos eletrônicos e a
correção pode ser realizada com a adição de minerais ou a diluição com água deionizada.
Cloro
O cloro é um produto químico adicionado à água tratada para a eliminação de agentes
patogênicos, entretanto, é bastante irritativo para anfíbios, devendo estar em até 2
ppm. Este componente é mais tóxico para os girinos do que os adultos.
Devido a sua elevada volatilidade, sua remoção é relativamente fácil. Para a decloração,
a água pode ser mantida em repouso por no mínimo 72 horas em recipiente aberto.
A água também pode ser aerada com bombas de ar para aquários, que auxiliam na
evaporação desse composto, ficando apropriada para a utilização em períodos mais
curtos de até uma hora. Também existem agentes declorantes específicos, vendidos em
lojas especializadas, como o tiossulfato de sódio.
Alcalinidade
Por último, a alcalinidade quantifica as substâncias capazes de neutralizar ácidos. Tal
parâmetro deve estar em quantidades elevadas (entre 20 e 100mg/L) a fim de evitar
mudanças bruscas no pH.
105
CAPÍTULO 3
Nutrição
Para a correta alimentação do animal, deve ser levado em consideração não somente o
hábito diurno ou noturno, mas também seu estágio biológico. Girinos são tipicamente
herbívoros, embora em algumas espécies ocorra o carnivorismo (como em anuros da
família Dendrobatidae, caudatos e cecílias). Há também espécies cujos girinos não se
alimentam e sobrevivem das reservas nutritivas do ovo. Após a metamorfose, os anfíbios
se tornam majoritariamente carnívoros, alimentando-se principalmente de insetos,
mas também de peixes, outros anfíbios, répteis, roedores e até pássaros (qualquer
animal que tenha certa mobilidade e que possua tamanho compatível a ser ingerido).
Mecanismo
Larvas de anuros se alimentam por meio da filtração. Nesse sistema, a água é ingerida e
algas planctônicas são capturadas por um filtro mucoso localizado na faringe. A maioria
dos anfíbios terrestres adultos utiliza a língua, dotada de uma substância pegajosa, para
capturar as presas. Alguns anuros podem moldar sua língua em um tubo para ajudar
na alimentação de formigas, cupins e vermes. Entretanto anuros como Pipa pipa, que
não a possuem, necessitam gerar uma pressão negativa na água para capturar seu
alimento. Salamandras aquáticas também capturam as presas criando um fluxo de
água para o interior da cavidade oral. Anfíbios, de uma forma geral, aparentam ser
bastante dependentes da visão para a alimentação, já que anorexia é frequente em
animais totalmente cegos.
Dieta
Em geral, os animais mais oferecidos a anfíbios terrestres são as minhocas, tenébrios,
traças da cera, grilos, moscas-das-frutas, pequenos répteis (por exemplo, Anolis spp.),
bem como ovos e larvas de outros anfíbios. Para espécies aquáticas, também podemos
utilizar algumas espécies de anelídeos e crustáceos, como lagostins e artêmias, e peixes.
106
CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO │ UNIDADE V
Alguns animais têm dietas muito específicas, como a cecília Boulengerula spp., que
come cupins, podendo ser difícil de manter em cativeiro.
Para a alimentação forçada de animais doentes, deve ser calculado de 1,25 a 2 vezes a
TMB, com certas variações espécie-específicas e de acordo com a temperatura ambiente.
O monitoramento do peso semanalmente é essencial para avaliar a eficácia da estratégia
de alimentação. Se houver emagrecimento mesmo com a reposição, devem ser
consideradas a quantidade e o tipo de calorias, bem como a frequência de alimentação,
cuidando para não sobrecarregar o paciente. Insetos podem ter suas cabeças removidas
e roedores serem esfolados para aumentar a digestibilidade. Alimentos congelados são
mais fáceis de digerir do que não congelados devido à lise celular.
Suplementação
A suplementação de dietas de anfíbios com vitaminas e minerais é uma prática questionável,
já que, com uma alimentação equilibrada, a suplementação deve ser desnecessária,
podendo até causar problemas (por exemplo, hipervitaminoses A e D). Infelizmente, com
107
UNIDADE V │ CRIAÇÃO DE ANFÍBIOS EM CATIVEIRO
108
MEDICINA DE UNIDADE VI
ANFÍBIOS
CAPÍTULO 1
Medicina preventiva
Quarentena
Todos os novos animais devem ser colocados em um período de quarentena antes
de serem adicionados a uma coleção preexistente, visto que o transporte para um
novo ambiente é sempre considerado um evento estressante, podendo desencadear
doenças antes assintomáticas. Durante esse período, podem ser utilizadas técnicas
de enriquecimento ambiental, com acessórios de fácil desinfecção. Também deve
ser evitada a superlotação dos viveiros. A cobertura parcial do recinto pode ajudar
a evitar estímulos visuais e reduzir o estresse nesses animais. Fômites não devem
ser compartilhados entre diferentes viveiros, principalmente durante o período de
quarentena.
Higienização
Fômites e viveiros previamente utilizados por animais enfermos por patógenos
infecciosos devem ser desinfetados para evitar a propagação de doenças. É necessário
109
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Objetos porosos devem ser descartados em vez de reutilizados, não somente pelo risco
de albergarem patógenos, mas também pela dificuldade em remover completamente os
produtos químicos utilizados na limpeza. Iodopovidona, clorexidina, álcool isopropílico
e compostos de amônio quaternário são conhecidos por, em altas concentrações,
causarem lesões de pele e serem tóxicos para anfíbios, portanto, devem ser utilizados
com cautela nessas situações.
Exames complementares
Coleta de sangue
110
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Figura 26. Coleta de sangue de Leptodactylus latrans realizada pela veia safena.
Hematologia e bioquímica
111
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Figura 27. Leucócitos e trombócito encontrados em Leptodactylus latrans, com um fundo composto por
Basófilo.
112
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Figura 28. Alguns hemoparasitos encontrados em Leptodactylus latrans. A – Trypanosoma spp.; B – Dactylosoma
113
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
114
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Outros líquidos, como linfático e articular também podem ser coletados e analisados.
O líquido linfático é semelhante bioquimicamente ao plasma sanguíneo. Os corações
linfáticos podem se tornar proeminentes com hidroceloma. Para coleta de fluidos das
articulações, a região deve ser preparada assepticamente e uma agulha calibre de 25 a
27G acoplada a uma seringa de 1 a 3ml pode ser utilizada.
Assim como para peixes, amostras do muco cutâneo de anfíbios podem fornecer dados
úteis quanto à presença de fungos ou ectoparasitos. Este conteúdo pode ser “raspado”
de forma gentil e transferido a uma lâmina para avaliação em aumentos de 100x e 400x.
Coproparasitológicos
115
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Microbiologia
Para coleta de materiais a campo, ou que demorarão mais de 24 horas para a semeadura,
swabs como meio de transporte podem ser úteis. Para garantir o crescimento de
microrganismos de anfíbios, a incubação deve ocorrer a 37°C, apesar de se originarem
de um animal ectotérmico, já que bactérias patogênicas costumam crescer mais rápido
em altas temperaturas.
As amostras para cultura podem ser coletadas de qualquer lesão cutânea (principalmente
as de natureza crônica) ou de líquido, bem como do sangue. Culturas realizadas de
material de lesões cutâneas podem levar ao isolamento de organismos contaminantes,
o que pode ser de difícil interpretação. Uma segunda cultura, de pele normal, pode
ser realizada para comparação, embora não seja algo muito prático. A cultura de
fezes geralmente não traz muitos resultados, já que Salmonella sp., Aeromonas sp. e
outras bactérias podem ser consideradas patógenos oportunistas. No caso de infecções
bacterianas massivas em uma coleção de animais, pode ser considerado cultivar o solo,
a comida e a água para identificar o agente causal.
Radiografia
116
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Os animais podem ser colocados diretamente nas placas, dentro de sacos plásticos ou
em caixas plásticas. Como regra para qualquer exame radiológico, sempre devem ser
tomadas, no mínimo, duas posições. Em caso de suspeitas de obstrução gastrointestinal,
podem ser obtidas imagens contrastadas, utilizando compostos iodados ou bário,
administrados por via oral ou cloacal. Técnicas avançadas de imagem, incluindo
tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser usadas, mas existem
poucas referências de imagens para comparações e avaliações.
Ultrassonografia
A ultrassonografia pode ser uma ótima ferramenta para avaliar órgãos, massas
anormais e acúmulo de líquidos. O maior benefício desse procedimento é poder ser
feito sem anestesia. A maioria dos pacientes pode ser colocado em um meio com água
para facilitar as imagens.
117
CAPÍTULO 2
Clínica de anfíbios
Contenção
Contenção física
118
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Fonte: https://www.herpmapper.org/record/218298.
Caudatos devem ser manuseados inicialmente pelo peitoral, para depois os membros
posteriores. É necessário cuidado para não segurar esses animais pela cauda pois
algumas espécies podem realizar autotomia caudal. Cecílias são bastante difíceis de
conter manualmente, podendo ser utilizados tubos transparentes (os mesmos para a
contenção de serpentes) ou sacos plásticos.
atingir a fase estacionária. Doses mais altas (1-5 g/L) podem induzir mais rapidamente,
mas podem prolongar a recuperação e se tornarem potencialmente letais. As mortes
anestésicas não são comuns com o MS-222, mas são possíveis. Sob efeito deste fármaco
a ventilação pulmonar é diminuída ou ausente, entretanto, as narinas e boca devem ser
mantidas fora da água para evitar afogamento. Os primeiros efeitos observados no animal
incluem eritema no ventre e excitação. Após a entrada em um plano anestésico leve,
são perdidos os reflexos corneal e de estação, seguidos de respiração gular. Devem ser
mantidos constantes os batimentos cardíacos e, apesar de haver troca gasosa pela pele,
pode ser necessária intubação e respiração forçada. Após aprofundado, o animal deve
ser mantido em uma esponja ou gaze úmida. A anestesia pode ser mantida aspergindo
o anestésico sob o animal, cuidando para evitar um prolongamento desnecessário para
diminuir os riscos de morte.
Já foi relatado o uso de cetamina (75 a 100mg/kg), mas parece não agir da mesma
forma em diferentes espécies. A administração de doses complementares deve ser feita
com cuidado, avaliando, no mínimo, por 30 minutos a ação da dose inicial. Pode ser
feito também cetamina (50mg/kg) associado com medetomidina (0,15-0,2mg/kg) por
via IM. Óleo de cravo (eugenol) e propofol também têm sido usados na anestesia de
alguns anfíbios.
Monitoramento
120
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Exame clínico
Anfíbios adultos devem ser transportados ao consultório em caixas ventiladas e
impermeáveis, com um local úmido para descanso (vegetação ou uma esponja). Girinos
somente devem ser transportados submersos em água limpa. O exame clínico deve
iniciar com a avaliação do animal à distância, dentro do próprio recinto. Dessa forma,
podem ser avaliados previamente a postura corporal, comportamento, lesões corporais
externas e frequência respiratória. Determinados achados, quando graves, podem
contraindicar uma manipulação do animal.
O peso dos anfíbios deve ser registrado no momento do exame, podendo variar devido à
hidratação e preenchimento da bexiga urinária, mas estabelecer padrões é importante.
A condição corporal também deve ser observada, avaliando a simetria, musculatura
e postura do animal. A dor nestes animais pode ser reconhecida por sinais como
imobilidade, letargia, olhos fechados, vocalização, mudança de cor, mover os pés de
forma agitada na área afetada (“coçando”), agressividade, claudicação, respiração
ofegante e outros comportamentos anormais.
121
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Diversos materiais podem servir como abridores de boca para um exame oral completo.
A manipulação excessiva das mandíbulas de um anfíbio pode levar a fraturas, portanto,
deve-se ter cuidado. A cavidade oral destes animais deve estar úmida e livre de muco
espesso e amarelado, o que pode sugerir desidratação, bem como ausente de lesões
como abscessos.
A determinação de gênero pode ser desafiadora, mas pode ser feita em algumas espécies
no momento do exame físico. Dimorfismo sexual pode ocorrer, mas não está presente
na maioria das espécies encontradas em cativeiro. Machos de salamandras costumam
ter a base da cauda mais grossa. A transiluminação do abdômen pode revelar a presença
de ovos.
Sinais vitais como frequência e ritmo cardíacos podem ser avaliados utilizando um
Doppler. A hipotensão pode ser reconhecida pela palidez das mucosas, colapso dos vasos
intraorais e falta de definição da veia ventral abdominal. A auscultação dos pulmões
pode ser possível com animais maiores. Exames neurológicos também devem ser
realizados, embora costumem estar restritos à avaliação do reflexo postural, palpebral,
resposta à dor superficial (por exemplo beliscando a pele sobre o dorso do pé) e à dor
profunda (aplicando pressão em um dos dígitos).
122
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Doenças
Infecciosas
Bacterianas
Red Leg é considerada uma síndrome por causar diversos sinais clínicos e estar
associada com diferentes agentes bacterianos, como Aeromonas spp., Citrobacter sp.,
Flavobacterium sp., Klebsiella sp., Proteus sp. e Pseudomonas sp. Essa condição pode
cursar com hiperemia de coxas (Figura 30) – que dá o nome à síndrome -, abdômen
e dígitos, bem como edema de subcutâneo, úlceras cutâneas, petéquias, equimoses,
hifema/hipópio, podendo evoluir para septicemia e morte. O diagnóstico pode ser feito
por meio de cultura bacteriana positiva para alguns dos agentes conhecidos associada
aos sinais clínicos, sempre cuidando com a possibilidade de contaminantes. O
diagnóstico diferencial deve considerar as doenças causadas pelo Iridovírus, Ranavírus,
Basidiobolus ranarum, Batrachochytrium dendrobatidis bem como outras bactérias.
O tratamento inclui fluidoterapia, administração de antibióticos com base na cultura e
sensibilidade e melhorar as condições do recinto.
123
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Clamidiose
Micobacteriose
Síndrome do Edema
Essa síndrome pode ser ocasionada por uma septicemia bacteriana (especialmente por
Flavobacterium sp.), insuficiências cardíaca, hepática ou renal, determinadas toxinas
ou uma baixa qualidade da água. Sinais clínicos incluem hidroceloma (acúmulo de
124
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Fúngicas
Basidiobolomicose
Mucormicose
Saprolegníase
125
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Cromoblastomicose
Quitridiomicose
Virais
O diagnóstico de doenças virais em anfíbios não é uma tarefa fácil. Acredita-se que as
baixas prevalências relatadas possam ser uma subestimação devido à dificuldade em
caracterizar estes organismos. O diagnóstico costuma ser feito em situações em que
há um acometimento de uma maior quantidade de animais e o tratamento deve ser
sintomático.
126
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Figura 31. Inclusão do Vírus Eritrocítico de Anfíbios em eritrócito de Leptodactylus latrans, causando o
A Doença de Lucke (Lucke’s disease) é causada por um Herpesvirus que pode gerar
um adenocarcinoma renal dependente de temperatura, já que animais hipotérmicos
são mais propensos a contrair a doença. O vírus é extremamente letal em girinos,
enquanto a maioria dos animais adultos parece não apresentar sinais clínicos. Um vírus
semelhante a um Herpesvirus também já foi relatado causando pequenas vesículas
cutâneas no dorso e hiperplasia epidérmica de alguns anfíbios.
Um outro vírus, semelhante aos Poxvirus, foi encontrado em rãs na Europa. Estes
animais apresentavam sinais clínicos similares à da Síndrome da Perna Vermelha e
gastroenterite hemorrágica (CUNNINGHAM et al., 1996).
127
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Parasitárias
Protozoários
Ciliados
Flagelados
O tratamento de espécies que afetam a pele incluem banhos com água destilada ou
Cloreto de Sódio e quando no trato gastrointestinal, metronidazol. Tripanossomas
não aparentam possuir um tratamento efetivo, entretanto, pode ser tentado com a
administração de quinolonas.
Apicomplexas
128
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
diarreia nas formas teciduais. Coccídios encontrados nas fezes podem ser destinados
à esporulação em bicromato de potássio para a identificação da espécie. O tratamento
não é necessário se não houver sinais clínicos, mas para coccídios pode ser feito sulfa-
trimetoprim (não costuma ocorrer a cura parasitológica).
Outros
Amebas (como Entamoeba ranarum) não costumam ser patogênicas, mas podem
eventualmente cursar com anorexia, perda de peso, diarreia, hemorragia, desidratação,
anasarca e ascite. São localizadas principalmente no trato gastrointestinal, fígado e rim.
O diagnóstico pode ser feito durante EPFs (associar com a presença de sinais clínicos
ou eritrócitos/leucócitos) ou na histopatologia.
Nematódeos
Platelmintos
Cestódeos
Trematódeos
129
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Monogenéticos
Acantocéfalos
O filo Acanthocephala inclui alguns parasitos do trato gastrointestinal, que podem levar
à perda de peso, letargia, lesões por migração, celomite, hidroceloma e sepse.
Outros
Figura 32. A - Aparência macroscópica dos membros inferiores de Leptodactylus latrans infestados por ácaros
130
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Não infecciosas
Nutricionais
Hipervitaminose D3
Hipervitaminose A
Hipovitaminose A
Lipidose corneal
Pode ocorrer devido a uma alimentação com presas com altos níveis de colesterol
na dieta (invertebrados oferecidos como presa devem consumir apenas vegetais
nas 48 horas anteriores). Pererecas e fêmeas de uma forma geral parecem ser mais
afetadas. Animais afetados podem apresentar depósitos brancos no estroma da córnea.
O diagnóstico pode ser feito por meio do exame visual dos olhos, mostrando lesões
brancas e opacas na córnea associado a um alto teor de colesterol sérico. O tratamento
geralmente é cirúrgico (alguns animais podem ter dificuldade para se alimentar após
enucleação).
Deficiência de Tiamina
Pode ocorrer devido a uma dieta composta por peixes que passaram por processo de
congelamento e descongelamento, já que estes animais possuem tiaminases naturais
que não são destruídas durante o processo, decompondo a tiamina. Devido a isso, são
observadas neuropatia e cegueira. O diagnóstico geralmente é terapêutico por meio da
suplementação de tiamina.
Deficiência de Iodo
Esteatite
132
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
da gordura afetada. A administração de vitamina E e selênio pode ser útil por serem
antioxidantes.
Outras doenças
Síndrome da má-adaptação
Cálculos urinários
Quando originários nos rins são geralmente causados por oxalato, o qual é disponível
em itens alimentares, como plantas que as presas podem se alimentar. Quando criados
na bexiga tendem a ocorrer em anuros uricotélicos desidratados. O anfíbio afetado
pode apresentar letargia, perda de peso, hidroceloma e edema. Cálculos localizados
na bexiga podem ser palpados eventualmente, mas também podem ser necessárias
radiografias. O tratamento geralmente requer cistotomia, remoção de plantas com
oxalato do terrário e terapia de suporte.
Impactação
Problema comum em sapos maiores pelo consumo de presas muito grandes, ingestão
de corpos estranhos, bezoares (acúmulo de material não digerido, principalmente no
estômago). Em animais afetados pode ocorrer diminuição da capacidade respiratória,
com consequente hipóxia e hipercarbia, letargia e inchaço abdominal. A palpação,
assim como exames de imagem – radiografia ou ultrassom, por exemplo –, podem ser
úteis para o diagnóstico. A remoção do material do estômago pode ser relativamente
simples e realizada manualmente ou por lavagens, pois é um grande órgão e anuros têm
um esôfago curto. Para impactações intestinais com evidência de peristaltismo normal,
pode ser tentado óleo mineral ou laxante, mas, se o animal não estiver defecando, a
intervenção cirúrgica se faz necessária.
133
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Prolapso
Intoxicações
Podem ocorrer intoxicações devido a diversos agentes que podem ser tóxicos a
anfíbios, como colas de PVC, nicotina, pesticidas, desinfetantes e anti-helmínticos.
Os sinais clínicos dependem do tóxico, mas geralmente apresentam irritação na pele,
hiperexcitabilidade, neuropatias, entre outros. O mais desafiador é a realização do
diagnóstico, que necessita de uma detalhada anamnese. É possível realizar testes em
urina, fezes, soro e sangue, bem como enviar cérebro, fígado, rim, conteúdo do trato
digestivo, urina e pele para histopatologia. O animal deve ser removido do ambiente
contendo o tóxico e enxaguado com água declorada. A frequência cardíaca deve ser
avaliada constantemente e a utilização de atropina pode ser feita se necessária.
Traumas
134
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Neoplasias
Outros
Outras doenças como a gota articular e visceral podem ocorrer, mas a etiologia é
desconhecida. Envenenamento por sal é comum em locais que sal é utilizado para
derretimento de neve, afetando indivíduos que tentam realizar a travessia de rodovias.
Os animais podem apresentar descoloração da pele, avermelhamento e desorientação.
O tratamento envolve a limpeza dos animais, mas casos extremos podem levar à morte.
Terapêutica
Sempre deve ser fornecido a um anfíbio uma temperatura ambiental ideal durante o
período do tratamento. Estes animais podem ser mantidos em ambientes aquecidos
(20-23°C para animais de ambientes mais frios e 28-32°C para animais de regiões
tropicais), a fim de estimular seu metabolismo e acelerar o processo de cicatrização. É
importante também minimizar o estresse, pois isso pode levar à imunossupressão do
indivíduo.
135
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
O tratamento por via oral (VO) é mais eficiente e menos estressante quando administrado
com um item alimentar e engolido voluntariamente. Medicações podem também ser
injetadas em invertebrados ofertados como presa, mas podem ser rejeitados pelo
anfíbio se não se manterem ativos. Se necessária, também pode ser feita sondagem
para a administração forçada de medicamentos. O trato gastrointestinal, na maioria
dos anuros, é incapaz de reabsorver grandes quantidades de água, portanto, os fluidos
administrados por VO provavelmente não são tão eficazes quanto os administrados por
via intracelomática ou intradérmica.
A nebulização, embora com potencial promissor, não é feita rotineiramente para tratar
anfíbios. É possível que animais com pneumonia possam se beneficiar deste método.
Deve ser levado em consideração que já foram relatadas mortes em animais nebulizados
com levamisol, no entanto, não se sabe se foi a dose ou o próprio procedimento o
responsável.
136
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Curativos com bandagens podem ser difíceis de executar nestes animais, entretanto,
curativos líquidos temporários podem ser úteis para fornecer uma barreira contra
perdas osmóticas e uma cobertura para lesões traumáticas. Existem alguns produtos
no mercado internacional que podem ser utilizados, assim como produtos à base de
cianoacrilato.
Antibióticos
A maioria das doses de antibióticos (Tabela 6) para anfíbios são extrapoladas das utilizadas
para répteis devido à falta de estudos a respeito da farmacodinâmica nestes animais.
Tetraciclinas, por exemplo, podem ser utilizadas por VO, visto que aparentemente
não são eficazes quando utilizadas na forma de banhos e quando aplicadas via ICe
podem causar inflamação local. Enrofloxacina pode causar descoloração, irritação e
descamação da pele quando administrada de forma parenteral.
137
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Antifúngicos
Banhos de imersão com sais, como cloridrato de benzalcônio e corantes, como verde
malaquita, são úteis no tratamento de infecções fúngicas tópicas (Tabela 7). É possível
que cecílias sejam sensíveis ao azul de metileno. Cremes de miconazol ou cetoconazol
podem ser aplicados em lesões focais. Uma terapia antifúngica sistêmica de longo prazo
com anfotericina B pode ser útil na mucormicose, já que esse fármaco demonstra uma
boa atividade in vitro contra espécies do gênero Mucor.
Cloridrato de Benzalcônio 2mg/L Banhos Por 30min, a cada 24h, por 3 dias e repetir após 5 dias
Nistatina 1% Tópico –
Antiparasitários
138
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Outros fármacos
Relatos de uso de antivirais para tratar anfíbios são raros, devido ao subdiagnóstico
e pouco acesso às medicações na medicina veterinária. Opioides, agonistas alfa-2-
adrenérgicos e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) podem ser usados para
aliviar a dor em anfíbios (Tabela 9).
139
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Fluidoterapia
Manter a integridade da pele de anfíbios é de extrema importância, dada a sua
participação na respiração e transporte de íons. Dessa forma, a desidratação nesses
animais deve ser evitada a qualquer custo. Animais desidratados podem apresentar
enoftalmia (afundamento do globo ocular), aumento de muco com coloração amarelada
na cavidade oral e pele enrugada, descorada ou pegajosa. Perda de peso e falta de micção
durante o manuseio também podem indicar uma possível desidratação. Quando a pele,
140
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
A água doce é um meio hipotônico, enquanto os fluídos para mamíferos são hipertônicos
para estes animais. É possível produzir uma solução fisiológica (isotônica) para
anfíbios (1L de água destilada para 6,6g NaCl, 0,15g KCl, 0,15g CaCl2 e 0,2g NaHCO3)
diretamente na clínica. Quando houver uma sobrecarga de fluído, como no edema ou
ascite, é possível administrar uma solução hipertônica para anfíbios (1L de água destilada
para 7,3g NaCl, 0,17g KCl, 0,17g CaCl2 e 0,22g NaHCO3) (MITCHELL; TULLY, 2008).
Terapia de emergência
A fluidoterapia é essencial para um animal desidratado, podendo ser administrada em
banhos com solução fisiológica para anfíbios, garantindo que a cabeça fique acima da
linha de água para evitar afogamentos. O oxigênio suplementar também pode ser usado
e administrado diretamente ou nebulizado, tomando o cuidado para não secar o animal.
É importante manter o indivíduo em uma boa faixa de temperatura, a fim de elevar
sua taxa metabólica e a consequente distribuição dos fármacos. Antibioticoterapia de
amplo espectro prévia ao antibiograma deve ser focada no tratamento de organismos
anaeróbicos. Em geral, os objetivos da terapia de emergência incluem isolar o animal,
garantir uma faixa de temperatura adequada, fornecer oxigênio, corrigir déficits de
líquidos e iniciar o tratamento apropriado.
Cirurgia
Os animais devem ser submetidos ao jejum de sólidos antes de procedimentos
cirurgicos. Para pequenos anfíbios, um jejum de 4 horas é suficiente, enquanto que
para anfíbios maiores (maiores que 20 g), jejum de 24 a 48 horas é mais apropriado.
Analgesia deve ser obrigatoriamente administrada e antibioticoterapia profilática deve
ser considerada. O paciente pode ser banhado em solução fisiológica de anfíbios por
60 minutos antes da cirurgia para garantir sua hidratação. É bastante difícil manter
141
UNIDADE VI │ MEDICINA DE ANFÍBIOS
Ao realizar uma celiotomia, deve-se tomar cuidado para evitar a punção dos pulmões e
trato gastrointestinal. Dependendo do sexo e estação, a presença de grande quantidade
de gordura e ovários pode dificultar a visualização de outros órgãos. Uma incisão
paramediana deve ser feita para evitar a veia abdominal. O fechamento de duas camadas
como sugerido na medicina de pequenos animais, pode ser o ideal, mas muitas vezes
não é possível. A laparoscopia é uma ferramenta minimamente invasiva usada para
avaliação reprodutiva e para biópsias de órgãos internos. Uma cistotomia pode ser
realizada para remover cálculos císticos. Ovariectomia pode ser realizada se for tomado
cuidado para observar a vascularização.
142
MEDICINA DE ANFÍBIOS │ UNIDADE VI
Os adesivos de cianoacrilato podem ser usados sobre incisões suturadas para garantir
uma barreira à prova de água e evitar a colonização bacteriana.
Eutanásia
É importante considerar o destino do corpo do animal após a eutanásia ao escolher por
uma via de acesso, visto que a administração de medicações ICe pode gerar artefatos
histológicos. Alguns métodos, anteriormente difundidos, já não são mais aceitos como
métodos humanos de eutanásia em anfíbios, como a hipotermia e intoxicação por
CO2, já que estes animais apresentam uma baixa frequência respiratória e toleram por
bastante tempo baixas temperaturas, prolongando o procedimento e sofrimento.
143
Referências
ALDRIN, M. et al. A stochastic model for the assessment of the transmission pathways
of heart and skeleton muscle inflammation pancreas disease and infectious salmon
anaemia in marine fish farms in Norway. Prev. Vet. Med., 93, 51-61, 2010.
CATENAZZI, A., E.; LEHR AND R. VON MAY. The amphibians and reptiles of Manu
National Park and its buffer zone, Amazon basin and eastern slopes of the Andes, Peru.
Biota Neotropica, 13(4), 269-283. 2013.
144
REFERÊNCIAS
in farmed Atlantic salmon (Salmo salar L.) in the Faroe Islands. J. Gen. Virol., 92,
909-918, 2011.
CONLON, J. M. et al. Freeze tolerance in the wood frog Rana sylvatica is associated
with unusual structural features in insulin but not in glucagon. Journal of molecular
endocrinology, 21(2), 153-160. 1998.
145
REFERÊNCIAS
KLEMM, E. B.; REED, S. A.: POTTENGER, F. M.; PORTER, C.; SPEITEL, T. The Living
Ocean: Biology and Technology of the Marine Environment. 3 ed. Honolulu.
University of Hawai’i Curriculum Research & Development Group. 451, 1995.
LEWBART, G.A.; SPODNICK, G.; BARLOW, N.; LOVE, N.E.; GEOLY, F.; BAKAL, R.S.
Surgical removal of an undifferentiated abdominal sarcoma from a koi carp (Cyprinus
carpio). Veterinary Record, 143, 556-558. 1998.
146
REFERÊNCIAS
MAYER, J. Not your normal redleg. Lab Animal, 34(4), 17-17. 2005.
MERCADER, N.; SERRAS, F. Elly Tanaka’s passion for exploring animal regeneration.
International Journal of Developmental Biology, 62(6-7-8), 387-391. 2018.
MYLNICZENKO, N. D. et al. Blood culture results from healthy captive and free-
ranging elasmobranchs. Journal of Aquatic Animal Health, 19 (3), 159-167. 2007.
PASQUIER, L. D.; ROBERT, J. In vitro growth of thymic tumor cell lines from Xenopus.
Journal of Immunology Research, 2(4), 295-307. 1992.
PAULA C. D.; TOLEDO L. F. Anfíbios (rã, sapo e cobra-cega). In: Cubas et al. Tratado
de Animais Selvagens Medicina Veterinária. 2 ed. São Paulo: Roca. v. 1, p. 132-
151. 2014.
147
REFERÊNCIAS
STOSKOPF, M. K. Tropical fish medicine. Taking the history. Vet. Clin. North Am.,
Small Anim. Pract. 18(2), 283-291. 1988.
148
REFERÊNCIAS
YOSHIMIZU, M.; KASAI, H. Oncogenic viruses and Oncorhynchus masou virus. In:
Woo, P. T. K.; Bruno, D. D. Fish Diseases and Disorders, 1 ed. UK: CAB International,
p. 276-301, 2011.
Sites
Figura 1. Disponível em: https://www.flickr.com/photos/43788330@
N05/8740460349/. Acesso em: 5 set. 2020.
149
REFERÊNCIAS
150