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Medicina de Répteis

Brasília-DF.
Elaboração

Rafael Prange Bonorino

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS............................................................................................................ 11

CAPÍTULO 1
ANATOMIA E FISIOLOGIA......................................................................................................... 11

CAPÍTULO 2
CARACTERÍSTICAS GERAIS ...................................................................................................... 15

UNIDADE II
CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS................................................................................................................ 20

CAPÍTULO 1
SEMIOLOGIA E CRIAÇÃO........................................................................................................ 20

CAPÍTULO 2
CONTENÇÃO FÍSICA .............................................................................................................. 23

CAPÍTULO 3
COLHEITA DE SANGUE............................................................................................................. 27

UNIDADE III
MEDICINA DOS OFÍDIOS...................................................................................................................... 30

CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS ANÁTOMO-FISIOLÓGICAS........................................................................... 30

CAPÍTULO 2
MANEJO E CLÍNICA................................................................................................................ 38

UNIDADE IV
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS....................................................................................................... 50

CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS ANÁTOMO-FISIOLÓGICAS........................................................................... 50

CAPÍTULO 2
CLÍNICA E CIRURGIA............................................................................................................... 56
UNIDADE V
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS.............................................................. 68

CAPÍTULO 1
BIOLOGIA E CRIAÇÃO DE QUELÔNIOS ................................................................................... 68

CAPÍTULO 2
CLÍNICA E CIRURGIA DOS QUELÔNIOS ................................................................................... 74

CAPÍTULO 3
CRIAÇÃO E MEDICINA DE CROCODILIANOS........................................................................... 95

UNIDADE VI
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS........................................................................................................ 110

CAPÍTULO 1
RADIOLOGIA......................................................................................................................... 110

CAPÍTULO 2
ENDOSCOPIA E ULTRASSONOGRAFIA ................................................................................... 119

CAPÍTULO 3
PATOLOGIA CLÍNICA............................................................................................................. 131

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 137
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Os répteis sempre despertaram o fascínio e o pânico das pessoas por questões
culturais e religiosas, porém com uma carga de desconhecimento e exageros que
foi passada por longas gerações.

Culturas ocidentais veem os répteis com desdém e fobia. Símbolo de traição, as


serpentes são retratadas pela bíblia e pelas lendas populares como símbolo do
mal e algo a ser combatido, o que culminou, nos tempos atuais, em dificuldade
em processos de conservação. Porém, esses mesmos répteis são simbolizados
pelas civilizações orientais e egípcias como sabedoria e astúcia.

O presente trabalho tem o intuito de, entre outras finalidades, desmistificar


esses animais e, ao contrário da crença popular, que os considera como animais
inferiores, mostrar a importância no equilíbrio ecológico, como controladores
de pragas, e apontar as inúmeras espécies criadas como animais pets, além de
zoológicos e centros de pesquisas para medicamentos.

De fato, há uma carência de profissionais que conheçam esses fantásticos e curiosos


animais e seu atendimento em clínicas veterinárias.

Em minha experiência de zoológico, tive a oportunidade de atender os principais


grupos de répteis: crocodilianos, quelônios, serpentes e lacertílios. Cada qual
apresenta suas particularidades, as quais serão apresentadas nesta apostila. Veremos
que praticamente todos, salvo algumas exceções, são criados de forma ilegal.

Esta apostila está dividida em: anatomia, fisiologia, criação, legislação, clínica,
cirurgia, anestesiologia, exames de imagem e patologia, para podermos ter a
compreensão total desse grupo de animais.

Serão abordados os principais grupos atendidos em clínicas, hospitais veterinários


e alguns casos, mencionando casos que ocorreram em ambientes e Zoológicos.

Portanto, bem-vindos a esse fascinante mundo dos répteis!

Objetivos
» Demonstrar que a realidade de répteis não está restrita aos zoológicos
e centros de pesquisas.

» Atualizar o clínico veterinário em uma disciplina que teve, nos


últimos anos, uma demanda expressiva nas clínicas veterinárias.

8
» Abordar, de forma direta, prática e objetiva, as principais enfermidades
clínico-cirúrgicas, apontando aspectos anátomo-fisiológicos,
particularidades e curiosidades das espécies mais comuns em clínicas
veterinárias: lagartos, quelônios e serpentes.

» Apresentar as enfermidades de várias espécies de répteis cativos,


ressaltando as patologias mais corriqueiras dos animais e possíveis
tratamentos.

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ANATOMIA GERAL UNIDADE I
DOS RÉPTEIS

CAPÍTULO 1
Anatomia e fisiologia

Evolução dos répteis


São animais que estão presentes em todo o planeta, com exceção dos polos pela
incapacidade de sobrevivência a temperaturas tão baixas.

Seus primeiros representantes surgiram no final do Paleozoico e na Era


Mesozoica, conhecida como a Idade dos Répteis.

Os répteis são descendentes dos antigos anfíbios, solucionaram o problema


da reprodução e se transformaram nos primeiros vertebrados completamente
terrestres.

O 1o ovo amniota
O ovo amniótico foi um dos maiores ganhos dos répteis em terra. Com isso, não
houve uma adaptação para a vida aquática como nos anfíbios. A casca oferece
proteção e uma grande quantidade de vitelo, que fornece alimento ao embrião.
Por isso, diferentemente dos anfíbios, os répteis podem eclodir com um tamanho
razoável, sem que haja um período de adaptação como nas classes anteriores
e sem a necessidade de sair prematuramente à procura de alimento (ROMER;
PARSONS, 1985). Um filhote desse grupo é uma réplica do adulto sem fase de
transformação, diferentemente de anfíbios e peixes.

Desenvolvem-se nos anexos embrionários. Um recobre o embrião e o vitelo; um


segundo anexo tem a função de pulmão para a captação de oxigênio que penetra
na casca porosa; e o terceiro, o âmnio (origina o nome ao tipo do ovo), envolve
um espaço cheio de líquido que protege o embrião. A partir daí, todos os outros
grupos descendentes como aves e mamíferos serão chamados de amniotas.
11
UNIDADE I │ ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS

Essa particularidade do ovo amniótico, tão importante para o salto evolutivo e a


independência do ambiente aquático, afasta os amniotas dos perigos da seca e dos
inimigos presentes na água (ROMER; PARSONS, 1985).

Adaptações dos amniotas


Os caracteres derivados dos amniotas incluem um ovo amniótico, ventilação por
meio de contrações da musculatura intercostal, pele resistente à dessecação,
além de características esqueléticas da cabeça, da cintura escapular e do
tornozelo. Essas e outras características morfológicas e fisiológicas permitiram
que os amniotas fossem mais enérgicos e tivessem maior sucesso ao explorar
hábitats terrestres secos do que os anamniotas.

Todos os amniotas têm fecundação interna, e suas larvas são desprovidas


de brânquias. Uma vez que a casca constitui uma barreira física que impede a
fertilização pelos espermatozoides, a presença do ovo amniótico depende da
fecundação interna em um momento anterior à formação da casca. Entre os
amniotas, a fecundação interna se dá com o auxílio de um órgão copulador.
Exceções a essa regra são os tuataras e a maioria das aves, em que a transferência
de esperma do macho para a fêmea se faz por contato cloacal. O órgão copulatório
mais comum entre os amniotas é o pênis (falo), derivado da parede cloacal.

Figura 1. Ovo amniótico de um réptil.


a

c
d

Fonte: HICKMAN, 2016.

Como se observa na Figura 1, o embrião se desenvolve internamente ao âmnio,


enquanto o líquido amniótico o amortece e protege. O alimento provém do vitelo
contido no saco vitelino, enquanto os resíduos metabólicos são armazenados
no alantoide. Ao longo do desenvolvimento, o alantoide funde-se ao córion, uma

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ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE I

membrana que reveste a superfície interna da casca; ambas as membranas são


supridas de vasos sanguíneos que auxiliam nas trocas gasosas respiratórias por
meio da casca porosa. Em (a) embrião, (b) corion, (c) alantoide, (d) âmnio, (e) saco
vitelínico, (f) casca.

Aves e répteis, um grupo só


Várias escolas procuraram identificar taxonomicamente os agrupamentos dos
animais para explicar a sistemática biológica. Somente a partir de Henning,
houve uma explicação que conectava as ideias evolutivas de Darwin. Esse
estudioso propôs que apenas grupos monofiléticos são naturais, uma vez
que eles seriam os únicos que realmente respeitam o conceito evolutivo da
ancestralidade comum. Um grupo monofilético é definido como a reunião de
todos os descendentes de um ancestral comum, este incluso (DOS SANTOS,
2008).

O grupo monofilético é o único que carrega a informação completa da história


evolutiva de uma linhagem. Ao definir a evolução como descendência com
modificação no tempo, a partir de um ancestral comum, o grupo monofilético
corresponde justamente ao conjunto total de descendentes de um ancestral comum.

Representam padrões hierárquicos que carregam consigo a informação sobre


a evolução das características das linhagens biológicas consideradas, o que não
ocorre nos grupos parafiléticos e polifiléticos, dos quais pode ser depreendida
apenas parte da informação usada na construção da classificação (DOS SANTOS,
2008).

Figura 2. Cladograma mostrando as relações entre os grandes grupos de tetrápoda (Chordata, vertebrata),

incluindo as aves em reptilia, que assim passam a ser considerado um agrupamento monofilético.

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662008000200003.

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UNIDADE I │ ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS

Obs.: os répteis fazem parte do grupo monofilético!

A diversificação inicial dos amniotas resultou em três padrões de aberturas


(fenestras) na região temporal do crânio. Os crânios anápsidos (Gr. an, sem,
+ apsis, arco) não têm aberturas na região temporal, atrás da órbita (abertura
no crânio para o olho); assim, a região temporal do crânio é completamente
recoberta por ossos dérmicos.

Essa morfologia craniana estava presente nos primeiros amniotas. Ela também
ocorre em um grupo atual, as tartarugas, embora a condição anápsida nas
tartarugas provavelmente tenha evoluído de forma secundária a partir de
ancestrais dotados de fenestras temporais. Dois outros clados de amniotas,
Diapsida e Synapsida, representam derivações evolutivas independentes da
condição ancestral anápsida.

O crânio diapsida (Gr. di, duplo, + apsis, arco) tem duas aberturas temporais:
um par localizado na região lateral inferior, e um segundo par localizado sobre
o par inferior, no teto do crânio e separado do primeiro par por um arco ósseo.
Os crânios diapsidas caracterizam as aves e todos os amniotas tradicionalmente
conhecidos como “répteis”, à exceção das tartarugas.

A terceira condição de fenestração craniana é a sinápsida (Gr. syn., junto, +


apsis, arco), caracterizada por um único par de aberturas temporais localizadas
na região laterodorsal do crânio e margeadas por um arco ósseo.

Qual teria sido o significado funcional das aberturas temporais para os primeiros
amniotas? Nas formas atuais, essas aberturas são ocupadas por grandes
músculos que elevam (fecham) a mandíbula. As modificações na musculatura
mandibular poderiam refletir uma mudança na modalidade de alimentação
por sucção, presente em vertebrados aquáticos, para a alimentação em meio
terrestre, que requer músculos mais poderosos, capazes de exercer maior
pressão estática empregada em determinadas funções mecânicas, como cortar
matéria vegetal com os dentes anteriores ou macerar o alimento com os dentes
posteriores (HICKMAN, 2016).

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CAPÍTULO 2
Características gerais

Introdução
A classe reptilia é subdivida em três ordens: Squamata (lagartos e serpentes),
Chelonia (quelônios) e Crocodilia (crocodilianos).

Anatomia

Pele

Nos répteis, a pele é grossa e impermeável, diferentemente dos anfíbios, que


necessitam manter constantemente a pele umedecida para manter a troca gasosa.
Uma vez que os répteis desenvolveram os pulmões como órgãos respiratórios, a
pele abandona a função respiratória e se torna espessa, queratinizada e menos
permeável à água. Isso explica a ausência de glândulas existentes na superfície da
pele, como as sebáceas, sudoríparas e mamárias.

A queratina protege a pele de traumas e dessecação. Nos crocodilianos, as escamas


queratinizadas permanecem praticamente por toda a vida, havendo poucas trocas.
Esse grupo, assim como os muitos lagartos, possui placas ósseas chamadas de
osteodermos, localizadas na derme, subjacentes às escamas queratinizadas. A
derme pode conter cromatóforos, que são células dotadas de pigmentos que
conferem a alguns lagartos e serpentes tonalidades coloridas (HICKMAN, 2016).
Já em lagartos e serpentes, há uma troca periódica de acordo com seu crescimento,
ao que se chama ecdise ou muda.

Figura 3. Corte da pele de um réptil mostrando escamas queratinizadas sobrepostas na epiderme, além de

osteodermos ósseos na derme.


Escamas

Epiderme

Derme

Osteodermas Melanóforos Articulação flexível


s
Fonte: HICKMAN, 2016.

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UNIDADE I │ ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS

Sistema respiratório

A ventilação pulmonar é por meio de contrações da musculatura intercostal.


Embora se saiba que alguns anfíbios possuem pulmões em fase de adaptação,
somente nos répteis esse órgão ganha desenvolvimento e funcionalidade. Os
pulmões passam a ser ventilados pelo mecanismo de contração da musculatura
intercostal, o que corresponde ao aumento de sua demanda metabólica. Enquanto
os anfíbios e peixes pulmonados, que realizam respiração aérea, inflam seus
pulmões, empurrando o ar através da cavidade oral e faringe, os répteis e todos
os outros amniotas, por consequência, puxam o ar para dentro dos pulmões
(aspiração), por expansão da caixa torácica, utilizando a musculatura intercostal
associada ao movimento das costelas. Porém, vale lembrar que esse grupo é ausente
de diafragma, (órgão com relevância na mecânica respiratória, presente somente
nos mamíferos). Pela ausência do diafragma, todos esses animais possuem, em
sua cavidade celomática, pressão positiva, diferentemente dos mamíferos, que
possuem, em sua cavidade torácica, pressão negativa (nota do autor).

Os répteis aquáticos, como as tartarugas marinhas, utilizam sacos aéreos como


reserva de ar para permanecerem longos minutos submersos. Esses sacos
abastecerão o pulmão na troca gasosa.

Nos primeiros tetrápodes, a musculatura intercostal foi fundamental para


locomoção rápida, o que promove ondulações laterais do eixo do corpo em
movimento sinusoidal, desenvolvendo uma movimentação mais eficiente,
principalmente para répteis com maiores dimensões.

Isso se pode perceber em lagartos e crocodilianos que produzem rápidas


arrancadas e ganhos de velocidade!

Embora seja importante, mas não fundamental para a locomoção, a musculatura


intercostal passou a atuar na ventilação pulmonar, deixando de ser fundamental
para a locomoção.

Mandíbulas mais fortes

O esqueleto e a musculatura mandibular dos primeiros tetrápodes adaptaram-se a


segurar a presa. Essa característica, associada à presença de fenestras temporais,
permitiu uma maior vantagem mecânica e inserção de musculatura desenvolvida
para mastigação.

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ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE I

Associada a isso, há uma língua móvel e relevante para movimentar o alimento para
dentro da cavidade oral e deglutir. A exceção são as serpentes, cuja língua possui
atividade tátil/sensorial que capta partículas odoríferas do ambiente e as leva para o
órgão de Jacobson para interpretação (HICKMAN, 2016).

Sistema cardiovascular de alta pressão

Os répteis possuem três câmaras cardíacas, sendo dois átrios e um ventrículo,


com exceção dos crocodilianos, que possuem quatro câmaras, tendo, no septo
interventricular, um pequeno orifício, o forame de Panizza. Nesses animais,
apesar de terem um coração com quatro cavidades, apresentam os arcos aórticos
preservados, que permitem a mistura do sangue arterial com o venoso, sendo,
portanto, a circulação parcialmente mista. Apenas nas artérias carótidas ocorre
sangue arterial. Somente nas aves e mamíferos teremos septos ventriculares
completos.

Mesmo entre as espécies com septos ventriculares incompletos, os padrões de fluxo


sanguíneo dentro do coração limitam a mistura entre o sangue arterial e o sangue
venoso.

Essa melhor separação de circuitos resulta em maior pressão sanguínea


sistêmica nos amniotas; tipicamente, peixes e anfíbios têm pressão sistêmica
variando entre 15 e 40 mmHg, em contraste com a pressão de cerca de 80
mmHg dos varanídeos (um grupo de lagartos de grande porte). A pressão mais
alta representa uma adaptação de organismos terrestres ativos, em virtude de
suas necessidades metabólicas mais elevadas, além do fato de que o coração
deve vencer a gravidade para bombear o sangue para cima (HICKMAN, 2016).

Você sabia? A separação incompleta do coração, característica dos


répteis, é adaptativa para esse grupo, uma vez que permite que
o sangue não passe pelos pulmões durante a atividade em que a
respiração é interrompida (mergulho ou estivação). Portanto, durante
essas atividades, não há gasto de energia para bombear o sangue por
meio do pulmão.

Excreção de compostos nitrogenados com


economia hídrica

A maioria dos anfíbios elimina seus rejeitos metabólicos na forma de amônia. Ela
é tóxica e deve ser eliminada diluída em água. Já os mamíferos eliminam seus
rejeitos na forma de ureia, que se concentra nos rins e reduz a perda de água pela
excreção.

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UNIDADE I │ ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS

Os répteis, assim como as aves, eliminam seus rejeitos na forma de ácido úrico.
Como esse rejeito não costuma ser tóxico, ele pode ser concentrado, o que requer
pouca quantidade de água. Essa excreção se assemelha a uma massa semissólida e
branca na maiorias das vezes.

Os répteis são incapazes de concentrar urina com osmolaridade maior que a do


plasma (nota do autor).

Lembre-se! Os répteis necessitam de pouca água e também a perdem em pequena


quantidade. Em alguns répteis e aves marinhas, os sais são removidos por meio de
glândulas de sal localizadas nas narinas, olhos e língua.

Ectotermia

Essa é a capacidade de variar sua temperatura corpórea de acordo com a


temperatura ambiental. É claro que essa faixa de variação ambiental não pode
ser extensa. Caso contrário, teríamos répteis em regiões polares! Por outro lado,
são os únicos que conseguem viver em temperaturas desérticas extremas.

A ectotermia explica o fato de que, quando exposto a temperaturas baixas, o


animal entra em estado de hibernação, diminuindo drasticamente sua atividade
metabólica. Em experimentos voltados a anestesiar esses animais, estes foram
expostos a ambientes frios, o que não é aconselhável.

A temperatura como indicador de metabolismo é fator de importância para o


desenvolvimento de doenças ou cura, assim como para a absorção de medicamentos.

Você sabia? Caso você tenha um réptil criado sem um sistema de aquecimento,
ao utilizar medicamentos parenterais, é fundamental aquecer o ambiente. Caso
contrário, não haverá absorção sistêmica do fármaco.

» Dois membros duplicados, geralmente com cinco dedos em cada;


membros vestigiais ou ausentes em muitos.

» Ectotérmicos.

» Corpo recoberto por escamas epidérmicas queratinizadas e, às


vezes, placas dérmicas ósseas ou lâminas córneas; tegumento
com poucas glândulas exócrinas.

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ANATOMIA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE I

» Dentes polifiodontes (substituídos muitas vezes) ou ausentes


(tartarugas); quando presentes, dentes normalmente homodontes,
todos semelhantes, em função e forma.

» Crânio fixado em um único côndilo occipital. Cerebelo expandido;


12 pares de nervos craniais.

» Olhos com visão de cores em alguns; serpentes e alguns lagartos


com quimiorrecepção altamente desenvolvida usando epitélios
olfatórios e o órgão de Jacobson; algumas serpentes com órgãos
com fossetas sensíveis ao calor; orelha média com um único osso.

» Sexos normalmente separados; mas alguns lagartos se reproduzem


assexuadamente por partenogênese; fertilização interna; o órgão
copulatório pode ser um pênis, hemipênis ou (raramente) estar
ausente; sexo determinado pelos cromossomos ou pelo ambiente.

» Membranas fetais do âmnio, cório e alantoide; ovíparos ou


vivíparos; ovos com conchas coriáceas ou calcárias; embriões
das espécies vivíparas nutridos pela placenta ou saco vitelínico
(ovoviviparidade); cuidado parental ausente, exceto em
crocodilianos; nenhum estágio larval.

» Sistema excretório dos rins metanéfricos e ureteres que se abrem


em uma cloaca; o ácido úrico é normalmente o principal resíduo
nitrogenado.

» Coração com um seio venoso, dois átrios e um ventrículo dividido


de forma incompleta em três câmaras; coração crocodiliano com
um seio venoso, dois átrios e dois ventrículos; circuitos pulmonar
e sistêmico separados de forma incompleta; células vermelhas do
sangue nucleadas. Fonte: ( DOS SANTSO, 2008).

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CLÍNICA GERAL DOS UNIDADE II
RÉPTEIS

CAPÍTULO 1
Semiologia e criação

Legislação
A Instrução Normativa do IBAMA no 31, ao tecer várias considerações sobre a
criação de répteis, suspendeu de forma temporária diversas criações de répteis
com o objetivo de produção de animais de estimação para a venda no mercado
interno. Vide IN IBAMA no 31, de 2002. Porém, algumas normativas recentes
estão sendo confeccionadas, permitindo a criação de determinadas espécies, como
a jiboia (Boa Constrictor) e a jiboia arco-íris (Epicrates Cenchria).

Contudo, essa normativa não impede o atendimento veterinário de animais


legais ou ilegais de répteis em posse de pessoa física como animal pet. Isso foi
disciplinado pela Resolução n o 289 do CFMV, que partiu na frente e permitiu
o atendimento médico veterinário para qualquer animal silvestre/selvagem,
independentemente de sua origem (ilegal ou legal).

Nota-se que a normativa do Conselho se preocupou com a saúde animal como


prioridade, deixando para os órgãos fiscalizadores o aspecto controlador e
punitivo para os criadores ilegais, e não para a categoria médico-veterinária.
Para esses profissionais recaem a obrigatoriedade de elaboração de prontuário,
a identificação do tutor e informar ao detentor do animal sobre a situação ilegal
em que ele se encontra. Um animal comprado de forma ilegal não poderá ser
legalizado.

Pesquise! Normativas IBAMA IN no 31, de 2002, e Resolução CFMV no 289, de


2006.

20
CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE II

Semiologia
Os répteis representam o grupo que menos informações nos traz ao exame clínico
se comparado aos grupos dos animais homeotérmicos.

Alguns parâmetros não são possíveis ou não têm validade para serem
mensurados, como: linfonodos, temperatura retal (muitas oscilações), tempo
de preenchimento capilar e pulsação. Mesmo a ausculta cardíaca não é fácil,
precisando de um doppler para conseguir ampliar o som, principalmente nas
serpentes. Já os quelônios, a ausculta é praticamente impossível.

Normalmente costumo dizer que: quando o réptil demonstra algo estranho a seu
proprietário, é porque o problema já tem certo tempo.

Em épocas de hibernação, os répteis diminuem suas atividades, o que pode ser


confundido com alguma enfermidade.

A palpação nem sempre é possível, como no caso dos quelônios, em que o pouco
acesso para a cavidade celomática está entre os membros e o casco e, com isso,
permite palpar alguma tumoração ou presença de ovos – a distocia é algo muito
comum entre os chelônios terrestres (nota do autor).

Outras perguntas devem ser direcionadas ao ambiente, seja um terrário ou


outro tipo de recinto em que o animal vive. Presença de pedras de aquecimento,
lâmpadas de aquecimento ou ultravioleta, substrato inadequado, vidros – que
podem produzir intermação ou não absorção de radiação ultravioleta pela luz
solar (WERTHER, 2014).

É sabido que muitos problemas de pele são ocasionados por problemas de manejo,
seja por uma pedra de aquecimento desregulada que queimou a região ventral do
animal, seja por hipovitaminose C por oferta de presas de forma inadequada, ou
quando a pele se descola espontaneamente como folha de papel velha.

Figura 4. Trocas de pele em diferentes répteis.

Foto: próprio autor, s.d.

21
UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS

Perguntas sobre o manejo alimentar devem ser feitas, bem como sobre
periodicidade, pois possuímos poucas informações sobre a questão nutricional
dos diferentes répteis. Como exemplo, a osteodistrofia fibrosa de origem
alimentar em quelônios e lacertílios por excesso de fósforo, no caso por oferta
muito acentuada de músculo ou vísceras.

A inspeção a distância é enriquecedora, pois evidencia informações não passadas


pelo tutor e pelos poucos recursos do exame clínico. Observam-se alterações
de comportamento e deambulação. Em quelônios aquáticos, a observação do
nado pendendo para um lado ou do afundamento do animal pode evidenciar
alterações pulmonares ou ingestão de corpos estranhos (muito comum nessa
espécie). Assim como a flutuação constante pode significar enfisema e presença
de gases nos intestinos (WERTHER, 2014).

22
CAPÍTULO 2
Contenção física

Quelônios
Em quelônios, a contenção física é feita pela porção caudal do casco, pois os
quelônios podem morder e arranhar. Embora não possuam dentes, mas bico
córneo, sua mordida é muito dolorida, principalmente na tartaruga mordedora.

Figura 5. A. Contenção de quelônio aquático; B. Contenção de tartaruga mordedora.

A B

Fonte: próprio autor, s.d.

Lagartos
Apresentam musculatura mandibular forte e unhas que podem causar lesões. A
contenção visa inicialmente segurar a cabeça, logo após a mandíbula. E, como em
outros répteis, como as serpentes, nunca se deve segurar um lagarto apenas pela
cabeça, pois ele pode realizar movimentos de rotação do corpo e, como apresentam
apenas um côndilo unindo a coluna cervical ao crânio, poderá ocorrer a ruptura da
medula e paralisia do animal.

A cauda desses animais pode provocar lesões. Por isso, devem ser contidas na
sua base, assim como a pelve e os membros pélvicos. Não é indicado conter ou
segurar no meio da cauda, pois é comum os animais fazerem a autotomia desse
membro como reposta de fuga a um estímulo do agressor. Ao contrário do que
se pensa, não se cresce uma nova cauda, mas a lesão se fecha, fibrosa e sem a
porção óssea, dando a impressão de crescimento. Toalhas e luvas raspa de couro
são indicados.

23
UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS

Figura 6. Contenção correta de iguana verde (Iguana iguana). Uma mão imobiliza a cabeça e abraça uma

parte do tórax, e a outra segura na pelve com os membros posteriores.

A B

Fonte: próprio autor, s.d.

Crocodilianos
São animais raramente atendidos em clínicas (são atendidos mais em zoológicos).
Sua contenção deve ter a participação de, no mínimo, dois profissionais
treinados para animais grandes. Para indivíduos pequenos, pode-se conter como
os lagartos, mantendo a boca fechada com esparadrapo ou algo semelhante, e
segurar a base da cauda para evitar lesões severas.

Para indivíduos de porte maior, utiliza-se uma caixa de madeira com aberturas na
parte de cima e uma corda de aço ou pau de couro, por onde se coloca no pescoço
e em um membro do animal, (como um cinto de segurança). É interessante
também imobilizar as patas do animal para cima e evitar lesões.

Obs.: os lacertílios e crocodilianos são suscetíveis ao reflexo parassimpático


(reflexo vagal), pois, ao pressionar os globos oculares, pressiona-se o nervo vago
que está posicionado posteriormente na cavidade orbital. A ação produzirá no
animal bradicardia e bradipneia. Com isso, o animal entra em dormência provisória
enquanto se estiver pressionando (nota do autor).

Figura 7. Reflexo parassimpático, mandíbula e membros imobilizados.

Fonte: próprio autor, s.d.

24
CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE II

Serpentes
Para efeitos de contenção, há duas formas de se realizar, tendo em vista a serpente
ser peçonhenta ou constritora. Para as constritoras, o tamanho influencia na
contenção. Para serpentes menores, utiliza-se um gancho apropriado e se segura
pela cabeça. Em serpentes maiores, uma pessoa para cada metro de serpente para
sua contenção.

Figura 8. Ganchos, pinça e canos transparentes.

Fonte: próprio autor, s.d.

Para contenção de serpentes peçonhentas, utiliza-se um gancho e um cano


transparente com a mesma espessura da serpente. Com o gancho, induz-se o réptil
a entrar no cano, o que normalmente ele faz.

Figura 9. Contenção com tubos transparentes para serpentes peçonhentas.

Foto: próprio autor, s.d.

25
UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS

Figura 10. Contenção de serpentes não peçonhentas.

Foto: próprio autor, s.d.

26
CAPÍTULO 3
Colheita de sangue

Introdução
Até pouco tempo atrás, colhia-se sangue nos répteis puncionando o coração. Essa
prática deixou de ser utilizada, pois pode provocar danos irreversíveis ao coração.
Porém, por experiência pessoal, em raras situações, quando não se consegue
acessar outros pontos, pode-se usar essa técnica com ponderação.

Crocodilianos
Nesse grupo, após a devida imobilização, há dois pontos onde se pode coletar
o sangue: no seio venoso da cabeça, logo após o occipital, e na cauda, na região
ventral. Leva-se em consideração que, em ambas as situações, não se observam
o vaso e a sua pulsação. É comum acessar o seio linfático correspondente. Sendo
assim, despreza-se o conteúdo e se realiza nova coleta.

Figura 11. Colheita de sangue em crocodilianos no seio venoso occipital.

Fonte: próprio autor, s.d.

27
UNIDADE II │ CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS

Serpentes
Em serpentes, o local mais indicado é supravertebral. Dobra-se a coluna para que
se abram os espaços intravertebrais e assim se faz a punção.

Figura 12. Colheita em vaso supravertebral em jiboia.

Fonte: próprio autor, s.d.

Quelônios

Esse grupo é o mais privilegiado, pois possui mais locais para se coletar o
sangue: veia jugular, com certa dificuldade, pois o animal recolhe o pescoço para
dentro da carapaça, o que impede a punção; veia caudal; veia braquial (requer
experiência); seio venoso: pós-occipital e próximo à entrada da carapaça.
28
CLÍNICA GERAL DOS RÉPTEIS │ UNIDADE II

Figura 13. Locais de colheita de sangue em quelônios. A. cauda. B. seio venoso (carapaça). C. seio venoso pós-

occipital. D. braquial.

A B

C D

Fonte: CUBAS, 2014.

Lacertílios

Nesse grupo, punciona-se a cauda na região ventral ou dorsal.

Figura 14. Punção na veia caudal ventral de teiú (Tupinambis merianae).

Fonte: CUBAS, 2014.

29
MEDICINA DOS UNIDADE III
OFÍDIOS

CAPÍTULO 1
Características anátomo-fisiológicas

Introdução
As serpentes estão incluídas na Ordem Squamata e compõem a Subordem
Serpentes, atualmente com cerca de 2.900 espécies no mundo. Elas, assim como
os outros répteis, são encontradas em todo o planeta, com exceção dos polos.
Estão em maior presença em climas tropicais pela dependência das regiões
quentes. Podem ocupar vários nichos, desde o ambiente terrestre, aquático,
arbóreos e subterrâneos.

De todos os répteis, as serpentes são as que mais sofrem influência da ectotermia,


sendo o clima o fator que rege sua anatomia e fisiologia.

No Brasil, existem representantes de 10 famílias, 81 gêneros e 371 espécies. Essa


diversidade é fruto dos diferentes ecossistemas brasileiros (PRITCHARD, 1979).

As famílias de maior interesse em cativeiro no Brasil são: Boidae (cobra papagaio,


sucuri, jiboia, salamanta), Dipsadidae (falsas corais, muçuranas, cobras d’água,
cobras verdes), Colubridae (cobra cipó, caninana e as serpentes exóticas –
milksnakes e cornsnakes), Viperidae (cascavel, surucucu pico de jaca e jararacas),
Elapidae (corais verdadeiras) e a família exótica Pitonidae (pítons).

As serpentes são separadas, para efeitos didáticos, em dois grupos: as constritoras,


que se enrolam em suas presas e matam por insuficiência respiratória, como
as sucuris, jiboias, pítons, suaçuboia e cobra-papagaio; e as peçonhentas, que
matam pela inoculação de toxinas, como as corais, cascavéis e jararacas, entre
outras.

30
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

As jiboias e algumas outras serpentes apresentam vestígios de membros posteriores,


que surgem como esporões de cada lado da cloaca.

Anatomia e fisiologia

Esqueleto

Ausência de esterno e presença de costelas flutuantes por todo o comprimento


do animal, o que permite a passagem de pelo sistema gastrointestinal de grandes
porções de alimentos.

Presença de um côndilo occipital, osso quadrado fixo que se insere na cabeça


e mandíbula, o que permite uma grande abertura de boca. Ausência de sínfise
mandibular. Articulação entre vários ossos do crânio, dentes encurvados para trás.
Todas essas particularidades permitem que o animal possa engolir uma presa maior
que o próprio predador.

As serpentes, de maneira geral, não apresentam nenhum rudimento de membros


anteriores, porém, nas pítons e jiboias, há a presença vestigial de membros
posteriores e cintura pélvica. Cintura escapular ausente.

Numerosas vértebras e costelas facilitam um rápido movimento de ondulação


lateral (HICKMAN, 2016).

Figura 15. Esqueleto de cascavel, presença de costelas em toda a sua extensão.

Ausência de esterno

Fonte: http://www.biologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=589&evento=4.

31
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

Figura 16. Vista lateral do crânio de uma píton.

Fonte: HICKMAN, 2016.

Como se observa na Figura 16, os dois lados do crânio extremamente cinético


apresentam ossos extremamente móveis (indicados na figura) que permitem uma
movimentação extraordinária das mandíbulas durante a alimentação. Os dois ramos
da mandíbula são conectados por tecidos flexíveis, permitindo que se separem
amplamente e se movimentem de forma independente.

Figura 17. Crânio de píton, em (A) ausência de sínfise mandibular, (B) mandíbula, (C) osso quadrado.

Fonte: https://www.pinterest.cl/pin/91127592438689548/.

Coração e pulmão

Como todos os répteis, as serpentes não possuem diafragma, e sua cavidade é


chamada de celomática. A traqueia é composta de anéis incompletos. Os órgãos
são longilíneos, cujos vasos seguem em uma direção craniocaudal.

O pulmão é diferenciado dependendo da espécie, pois, em boídeos e pitonídeos,


o pulmão esquerdo é 40% menor do que o direito, ou ausente em viperídeos,
elapídeos e colubrídeos. A parte cranial é vascularizada, porém a caudal não, e
esta é formada por sacos aéreos.

32
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

O coração, como em qualquer réptil, possui um único ventrículo dividido em três


subcâmaras: cavum pulmonale, cavum venosum e cavum arteriosum. A cavum
pulmonale é a subcâmara mais ventral e se estende cranialmente até o ostium da
artéria pulmonar (FRYE, 1991).

A cavum arteriosum e a cavum venosum situam-se dorsalmente à cavum


pulmonale e recebem sangue dos átrios esquerdo e direito, respectivamente.
Uma ponte muscular separa a cavum pulmonale da cavum arteriosum e da
venosum. Estas duas últimas são câmaras contínuas conectadas por um canal
interventricular.

Embora exista comunicação entre as subcâmaras, várias contrações musculares e


variações subsequentes de pressão dentro do coração são temporizadas de tal modo
que criam um sistema circulatório duplo funcional (FRYE, 1991).

Língua

A língua das serpentes é bífida, não tem a função de deglutição, mas olfatória, pois,
ao se expor ao ambiente (dardejamento), ela capta substâncias químicas e as envia
ao órgão de Jacobson (órgão vomeronasal). Este está situado na região do palato
e é revestido por células quimiorreceptoras que levam informação adquirida até o
cérebro (GREGO, 2014).

Dentição

Sem função mastigatória, todos os dentes são repostos, inclusive as presas. Existem
quatro tipos de dentição:

» áglifa: dentes de todos os tamanhos e sem presas. São as constritoras;

» opistóglifa: dentes de todos os tamanhos; no maxilar, encontra-se


um par de dentes maiores na porção posterior, por onde escorre a
peçonha. São parelheiras, falsa coral. Embora produzam toxina, ela
é mais branda. Por isso, não é considerada de importância em saúde
pública;

» proteróglifa: o par de dentes de peçonha é pequeno e se situa na


porção anterior da maxila. São as corais verdadeiras e de importância
em saúde pública;

33
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

» solenóglifa; dentes grandes de peçonha situados na parte anterior da


maxila. São as jararacas, cascavéis. De importância em saúde pública.

Figura 18. Os quatro tipos de dentição.


Áglifas Opistóglifas

Proteróglifas Solenóglifas

Fonte: https://biologiaentenderrespeitar.wordpress.com/2018/03/29/diferencas-de-denticao-de-serpentes/.

Sistema digestório

Todas as serpentes são carnívoras, e o esôfago se dilata de forma a passar uma


presa inteira. O que contribui para a passagem é a ausência de externo e costelas
flutuantes ao longo do corpo até próximo à cloaca.

Tanto o esôfago quanto o estômago apresentam grande distensibilidade. O


intestino é curto como de qualquer animal carnívoro e realiza a absorção de
alimentos. Pode ser encontrado ceco em boídeos e pitonídeos.

A cloaca é dividida em regiões: coprodeum – região mais anterior, que recebe os


dejetos da digestão; urodeum – região central, que recebe os ureteres e ductos
genitais; e proctodeum – região posterior, em que os dejetos ficam até serem
eliminados (GREGO, 2014).

São animais que apresentam fígado, vesícula biliar, baço e pâncreas, esses
dois últimos unidos no chamado esplenopâncreas (GREGO, ALBUQUERQUE,
KOLESNIKOVAS, 2014).

34
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

Sistema urogenital

Os rins estão situados no terço caudal. Como as serpentes não possuem bexiga,
os ureteres esvaziam seu conteúdo no urodeum. Elas são incapazes de concentrar
urina devido à ausência da alça de Henle; com isso, os produtos metabólicos do
nitrogênio são excretados em formas insolúveis, como ácido úrico e sais de urato,
uma adaptação para evitar perdas desnecessárias de água.

No reto, a proteína e a água são reabsorvidas, e o ácido úrico precipitado é


eliminado na forma de pasta amarelada.

Figura 19. Rins (A), testículos (B), intestino (C) e gordura (D) de uma serpente.

A B

Fonte; próprio autor, s.d.

Figura 20. Pulmão (A) e traqueia (B).

A B

Fonte: próprio autor, s.d.

35
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

Figura 21. (A) Cascavel, diferença entre fêmea (foto acima) e macho (foto abaixo); (B). hemipênis e espículas.

A B

Fonte: próprio autor, s.d.

As serpentes, assim como os demais répteis, possuem sistema porta renal, que
tem a função de garantir a perfusão adequada dos túbulos renais quando o fluxo
sanguíneo através dos glomérulos é diminuído, prevenindo necrose isquêmica
dos túbulos. O sangue dos membros pélvicos passa direto dos rins para o fígado,
enquanto o fluxo venoso da cauda é exposto aos túbulos renais. Por isso, evita-se
administrar antibióticos na porção caudal pelo tropismo que esses fármacos podem
ter pelo sistema renal, causando-lhes lesão (SKOCZYLAS, 1978).

Os machos apresentam o hemipênis, órgão de cópula com espículas que fica


invaginado em bolsas na base da cauda. Em algumas espécies, a cauda do macho
costuma ser maior do que a das fêmeas, testículos intra-abdominais.

Nas fêmeas, duas vaginas e ovidutos longos, ovários situados entre a vesícula
biliar e os rins.

A maioria das serpentes são ovíparas e depositam seus ovos elípticos e coriáceos
sob troncos ou tocas no solo. Algumas são vivíparas, como as cascavéis, e dão à
luz filhotes formados (e com a presença da peçonha) e os nutre com sua placenta.
Alguns são ovovivíparas, e o filhote é nutrido somente pelo saco vitelínico.

Você sabia? As serpentes são capazes de armazenar esperma e produzir


diversas ninhadas de ovos férteis após longos períodos depois de um único
acasalamento!

Pele
A pele dos répteis se renova constantemente dado o crescimento do animal (que
cresce a vida toda). Esse evento é chamado de ecdise, e a frequência dessas mudas
está condicionada ao meio ambiente (luz, temperatura e umidade) e à alimentação do
animal.

36
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

Nas serpentes, a troca de pele ocorre por inteiro (quesito que demonstra saúde).
No período que antecede a muda (pré-ecdise), o animal está em inatividade. Não se
alimenta, não evacua, e os olhos ficam com aspecto “leitoso” (nota do autor).

Figura 22. (A) Pré-ecdise, “olhos leitosos”, (B) troca de pele.

A
B

Fonte: próprio autor, s.d.

Órgãos dos sentidos

A córnea das serpentes não tem pálpebras. Encontra-se protegida por escama
modificada transparente, que troca em cada ecdise, junto com a pele. O globo
ocular é imóvel, e a visão pouco acurada. Porém, serpentes arborícolas têm uma
excelente visão binocular.

As serpentes são desprovidas de ouvido externo ou membrana timpânica, porém


essa condição não as faz surdas, visto que esses animais apresentam ouvido
interno com amplitude em baixas frequências. São também sensíveis às vibrações
transmitidas pelo solo (HICKMAN, 2016).

Não obstante a precariedade da audição e da visão, a maioria das serpentes


se vale de sentidos químicos para caçar suas presas. Áreas olfatórias são bem
desenvolvidas, além do já referido órgão de Jacobson, revestido por epitélio
quimiossensor e que recebe as partículas odoríferas do ambiente e, depois,
transmitem ao cérebro para identificação.

As fossetas, presentes em jararacas e cascavéis, estão localizadas entre os


olhos e narinas. Essas terminações nervosas respondem à energia radiante
(infravermelho de ondas longas, 5.000 a 15.000 nm) e são especialmente
sensíveis ao calor emitido pelo corpo de aves e mamíferos, os quais compõem
os itens mais frequentes de sua dieta. As fossetas loreais são utilizadas para
localizar presas de sangue quente e direcionam seu bote mesmo no escuro
(HICKMAN, 2016).

37
CAPÍTULO 2
Manejo e clínica

Nutrição
Como todas são carnívoras, a maioria das serpentes se alimenta de anfíbios,
lagartos e mamíferos. Algumas espécies, como a coral verdadeira, alimentam-se
da coral falsa. Outras espécies, menores, alimentam-se de moluscos, minhocas
e artrópodes. Jiboias, dado a seu grande tamanho, podem ingerir mamíferos de
mesmo porte ou maior.

Em cativeiro, todas se adaptam a se alimentar de pintos, roedores e coelhos (para


as sucuris). Algumas são específicas na alimentação, o que torna difícil mantê-las
em cativeiro, como as ofiófagas como a coral, as Dypsas, que se alimentam de
moluscos, e as Xenodon sp., que se alimentam de anfíbios (GREGO, 2014).

A digestão dependerá do clima e do tamanho da presa ingerida. Por isso, em


cativeiro, serpentes menores se alimentam semanalmente, e serpentes maiores,
como sucuris e pítons adultas, alimentam-se mensalmente.

Instalações
Devem atender a exigências de luz, umidade, ventilação e higiene. Para as
serpentes desérticas como a cascavel, ambiente sem umidade, pois pode
ocasionar fungos. Para serpentes aquáticas, um pequeno lago para mergulhar e
um ambiente mais úmido com a ajuda de umidificadores em épocas de seca ou
borrifadores.

O ideal é que o terrário mimetize o ambiente natural, com árvores (para as


arborícolas, como a periquitamboia), folhagens, plantas, rochas e abrigos para o
animal se esconder.

Tampas com bom encaixe para evitar a fuga, e o substrato pode ser de papelão
ondulado, terra vegetal, substituto de pó de xaxim, vermiculita, Sphagnum,
maravalha, lascas de madeira ou folhiço. Cada um desses materiais apresenta
vantagens e desvantagens, como: a maravalha pode ocasionar ingestão acidental,
causando estomatite e obstrução intestinal; a areia pode causar irritação e
dermatite.

38
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

Em épocas de frio, o uso de pedras, placas de aquecimento ou lâmpadas


incandescentes para manter os animais ativos pode queimar os animais com
aparelhos desregulados e um termostato. Se os terrários não tiverem contato
com a luz solar, deve-se usar lâmpada U.V (GREGO; ALBUQUERQUE;
KOLESNIKOVAS, 2014).

Figura 23. Terrário para serpentes no Zoológico de Brasília.

Fonte: próprio autor, s.d.

Clínica

Anestesia

O isoflurano a 4% a 5% é uma boa alternativa para imobilização do animal e


procedimentos curtos. O animal pode ser colocado em uma caixa ou em cano
transparente, sendo o gás colocado na outra extremidade do cano.

Durante o plano cirúrgico de anestesia, o reflexo de endireitamento estará ausente.


Outros reflexos que podem ser monitorados durante a anestesia incluem reflexo da
cauda e da cloaca (LOFTS, 1987).
39
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

Figura 24. Serpente em cano transparente recebendo anestesia inalatória.

Fonte: próprio autor, s.d.

Quadro 1. Fármacos de uso em serpentes e doses de referência.

Anestésicos Dosagens Vias de administração Indicação e Comentários


Acepromazina 0,1 a 0,5 mg/Kg IM Pré-anestésico
Isoflurano 3 a 5 % indução Inalatória Ventilação assistida recomendada
1 a 3% manutenção
Cetamina+ xialzina 60 mg/kg de cetamina e 1 mg/ IM, SC, IV
kg xilazina
Tiletamina + zolazepan 10 a 20 mg/Kg IM , IV Reduzir a dose para IV
Diazepan 0,3 a 0,5 mg/ Kg IM, IV
Propofol 5 a 10 mg/ kg IV Rápida indução
Antibióticos e Dosagens Vias de administração Indicação e Comentários
antifúgicos
Amicacina 5 mg/ kg IM A cada 72h
Cloranfenicol 40 a 50 mg/ kg SC A cada 24h
Enrofloxacina 5 a 10 mg / kg IM, VO A cada 48h
Ceftiofur 2,2 mg/ kg IM A cada 48h
Gentamicina 2,5 mg/ kg IM A cada 72h
Griseofulvina 20 a 40 mg/ kg VO A cada 72h
Nistatina 100.000 UI/kg VO A cada 24h
Antiparasitários Dosagens Vias de administração Indicação e Comentários
Albendazol 50 mg/kg VO Dose única
Febendazol 75 mg /kg VO Repetir após 15 dias
Ivermectina 0,2 mg/kg IM Repetir após 15 dias
Metronidazol 100mg/kg VO Repetir após 15 dias
Fonte: (GREGO; ALBUQUERQUE; KOLESNIKOVAS, 2014).

Fluidoterapia em serpentes

A via de fluido para todos os répteis mais comum é subcutânea ou celomática.


Nacl a 0,9%, ringer com lactato e até a glicose a 5% podem ser usados por essa via
sem risco de necrose na dose de 15 a 25 ml/kg, repetindo a cada 5 dias ou antes,
se houver necessidade.

40
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

Patologia clínica

A punção é feita pela veia coccígea caudal ventral ou supravertebral. Para


hemograma, a colheita pode ser realizada com heparina, pois há relatos de
ocorrência de hemólise com o EDTA. Contadores automáticos de células não são
adequados, considerando as diferenças morfológicas das células dos répteis em
relação aos mamíferos.

A bioquímica seca em aparelhos automáticos pode fornecer resultados diferentes


da úmida.

Quadro 2. Valores hematológicos e bioquímicos de serpentes cativas no Instituto Butantan, São Paulo.

Parâmetros cascavel urutu jararaca jiboia salamanta Corn


Hematológicos cruzeira Snake
Eritrócitos 10 cel/mm
3 3
423+/-94,7 430, 7 +/-146,1 346,4+/- 127 623+/- 208 800+/-506 857+/- 155
Leucócitos 103 cel/mm3 2,5 +/ - 1,7 3.9+/- 2,3 8,3 +/- 13,6 11,5+/- 4,8 9,1 +/- 5,9 6,8+/- 2,4
Hemoglobina(g/dl) 6,8+/- 1,1 7,1+/- 1,8 5,2 +/-1,5 14,1+/- 11.8 11,6+/- 7,3 -
Ht ( %) 24+/- 3,8 26,5+/- 5,8 18,4 +/- 8,2 22,6+/- 5 33.6 +/- 11,2 28,7+/- 4,5
Linfócitos (%) 71,1 +/- 19,3 77,1+/- 12,4 55,5 +/- 22,9 62,8+/- 11,4 43,2+/-16,2 69,8+/-10
Azurófilos (%) 18,3 +/- 15,4 14,5 +/-9,1 20+/-12,7 21,4 +/- 8,7 29,7+/- 10,7 9,7 +/-3,3
Heterófilos (%) 7,4 +/- 7,4 6,1+/- 3,8 2,6+/- 2,7 13,6+/- 6,4 25,3 +/- 12,6 15,2 +/- 9,3
Trombócitos (10 cels/mm )
3 3
5,82 +/- 3,34 6,3 +/-4,17 7,78 +/- 4,9 15,3 +/- 11,1 10,7 +/- 5,1 7,1+/- 2,6
Bioquímicos AST (U/L) 7,55+/-9,21 7,85+/-4,73 9,15+/- 7,93 - - -
ÁC Úrico 8,36+/- 4,77 3,07+/-1,14 3,5 +/- 1,55 - - -
Ureia (mg/dl) 3,72+/- 2,69 3,01+/- 0,55 5,01+/- 1,64
Glicose (mg/dl) 21,42+/-9,76 21,41+/-7,48 14,93+/- 5,28
Fosfatase alcalina (u/l) 56,6+/-77,7 18,18+/- 8,75 195,4+/- 252
Fonte: (GREGO, ALBUQUERQUE, KOLESNIKOVAS, 2014).

Doenças infecciosas

Entre as bacterianas, as mais comuns são as Gram-negativas, as quais fazem parte da


flora saprófita das serpentes, e por oportunismo, tornam-se patogênicas (MADER,
2006). As bactérias mais comuns são: Aeromonas, hydrophila, Pseudomonas sp.,
Proteus sp., Salmonella sp., Citrobacter sp., Escherichia coli, Providencia sp.,
Xanthomonas.

Entre as patologias mais comuns, estão: estomatite, glossite, gastrenterite,


pneumonia, abscessos e septicemias.

Dermatite vesicular

Também chamada blister, com presença de bolhas no tecido subcutâneo, são mais
comuns em sucuris e corais. As vesículas, ao se romperem, infeccionam, evoluindo

41
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

para necrose, sepse e morte. A doença é acompanhada de anorexia e flacidez do


corpo. Bactérias gram-negativas estão entre os principais agentes associados ao
stress, má higiene e alta umidade no ambiente.

O diagnóstico da doença é clínico, mas, para saber qual bactéria e instituir o


tratamento, necessita-se de cultura bacteriana do líquido vesicular.

O tratamento é por antibioticoterapia por meio do resultado do antibiograma,


fluidoterapia e banhos com clorexidine pelo corpo (nota do autor).

Figura 25. Blister em coral verdadeira causada por Xanthomonas maltophila.

Fonte: (GREGO; ALBUQUERQUE; KOLESNIKOVAS, 2014).

Tríade Estomatite, dermatite e pneumonia

Essas três enfermidades estão correlacionadas e podem ser causadas por fungos
e principalmente bactérias gram-negativas. Fatores estressores desencadeiam
a baixa imunidade, principalmente quando os animais estão submetidos ao
cativeiro (SOUSA; BONORINO, 2019).

A estomatite está acompanhada de glossite, palatite, necrose e perda de dentes. O


animal está anoréxico e pode evoluir para as outras enfermidades. O diagnóstico
é clínico, porém a cultura bacteriana pode ser necessária para se instituir o
tratamento, que será à base de antibióticos, curativos orais com clorexidine e

42
MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

tratamento de suporte por fluidoterapia e alimentação forçada por sonda. Por


isso, é interessante realizar radiografia na possibilidade da evolução pulmonar.
Nesse caso, o uso de nebulizador com antibiótico será necessário. A dermatite é
observada como lesões hiperêmicas na forma de petéquias na região ventral do
animal (SOUSA; BONORINO, 2019).

As lesões orais devem ser debridadas com retirada de tecidos necróticos. Há perda
dentária, o que não é um problema para o animal, pois haverá substituição. Essa
limpeza deve ser diária, e os antibióticos mais frequentes são as quinolonas, como a
norfloxacina e enrofloxacina, a cada 48 horas SC. Instituir fluidoterapia e manter o
animal aquecido para haver a metabolização do medicamento.

Como se trata de uma tríade, é frequente a evolução para uma dermatite e uma
pneumonia, sendo o tratamento o mesmo para qualquer dessas doenças. O
apetite do animal está ausente. Por isso, é necessária a alimentação forçada por
sonda semanalmente com ração de gato. Evita-se, nesse período, o uso de ratos
mesmo que haja apreensão espontânea do réptil, pois poderá haver, pela queda
da taxa metabólica tão comum na convalescência, uma diminuição das atividades
gastrointestinais e, com isso, a putrefação do alimento no estômago do animal.
Por isso, utiliza-se um alimento de melhor assimilação e digestão (nota do autor).

Essas patologias são muito comuns em serpentes de cativeiro quando são


incorporadas ao plantel na fase adulta e o fator stress é desencadeado. Bactérias
saprófitas gram-negativas em sua maioria se tornam patógenas, produzindo
infecção no animal. Por isso, é comum que aconteçam com maior frequência
em zoológicos que frequentemente inserem em seu plantel animais adultos
oriundos dos órgãos ambientais. Relatos dessa doença em serpentes pets e de
natureza são raros, visto o modo de vida diferenciado.

Para todas as doenças, o tratamento é o mesmo, e o prognóstico será de reservado a


desfavorável principalmente quando tiver o envolvimento de mais de uma doença.

Atenção! As serpentes podem ficar em jejum por algumas semanas. Caso se


exija uma alimentação forçada, poderá ser feita por sonda com ração de gato
em lata, diluída em água, formando um caldo, para que possa fluir facilmente
pela sonda. O uso de queijo petit suisse também é recomendado, como o
Danoninho ®. Em necropsia, tive a oportunidade de perceber que o referido
alimento foi digerido dias antes de ser forçado ao animal.

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UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

Figura 26. Alimentação por sonda.

Foto: próprio autor, s.d.

Figura 27. Estomatite em cascavel.

Fonte: CUBAS, 2014.

Outras lesões de pele

As serpentes são acometidas por outras lesões de pele. As infecções micóticas


podem ser secundárias às bacterianas ou isoladas, assim como uso prolongado
de antibióticos ou má nutrição. Entre os agentes: Aspergillus, Cladosporium,
Fusarium, Trycoderma, Trichophyton, Trichosporon, Geotrichium, Rhisopus,
Penicillium (MARTINEZ, 2007).

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MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

Ataques de presa podem acontecer quando o predador está inapetente ou já se


alimentou, o que configura um erro de manejo. As lesões são típicas de mordidas e
eritema, e a presença de um roedor no recinto confirma a suspeita.

Outra lesão comum é hipovitaminose C. nesse caso, a pele se rasga espontaneamente


como “papel velho” sem produzir sangramento (nota do autor).

Lesões de queimadura por pedras ou placas desreguladas são típicas principalmente


na região ventral, acompanhadas de eritema, necrose e dor local.

Figura 28. Lesões de pele. A. hipovitaminose C, B. lesão fúngica, C. mordida de presa.

A B C

Foto: CUBAS, 2014.

Doenças virais

Entre os diversos tipos de vírus já estudados, pode-se citar o herpesvírus de


jiboia (boa constrictor), associado à necrose hepática e pancreática com infiltrado
mononuclear e inclusões nucleares (MORRIS, 1987).

Retrovírus estão associados à presença de neoplasias renais em caiçacas jovens


(Bothrops moojeni) mantidas em cativeiro no Brasil. Também associada ao
retrovírus, a principal doença viral dos boídeos, a doença do corpúsculo de
inclusão de boídeos, está relacionada com sinais como regurgitação, alterações
neurológicas e presença de corpúsculos intracitoplasmáticos em rins, pâncreas e
cérebro (TAYLOR, 2006).

IBD

Patologia ainda rara no Brasil, de alta letalidade, atinge as serpentes da família


boidae. Nas pythonidaes, ocorre de forma aguda, acarretando óbito (LOCK,
2017). A doença consiste na formação de inclusões intracitoplasmáticas de
origem proteica. As inclusões são encontradas em todo tipo de tecido na espécie
de boas constrictor, e o animal pode levar meses ou anos para vir a óbito; já na
phytons, as inclusões ocorrem principalmente no sistema nervoso central, o que
torna o avanço da doença agudo, levando o animal a óbito em um curto período
(STENGLEIN, 2012).

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UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

O agente é um arenavírus que tem tropismo pelo sistema nervoso e produz


alterações de incoordenação e olhar para as estrelas, além de torneio (o animal
levanta a cabeça em rotação). Ao ser colocado em decúbito dorsal, não consegue
voltar à posição ventral.

Figura 29. Serpente apresentando impossibilidade em ficar em estação e incoordenação.

Fonte: SILVA; BONORINO, 2019.

A transmissão ainda não foi esclarecida, mas pode ser atribuída ao ácaro
Ophionyssus natricis, mas outros vetores não foram descartados. O contato por
fômites também pode propiciar a transmissão, além de brigas. O diagnóstico
consiste na biópsia dos tecidos e o PCR por swab oral, sangue. Exames post
mortem também consistem na observação dos corpúsculos intracitoplasmáticos.
Não há tratamento, pois a septicemia é frequente, além das lesões serem
irreversíveis. Alguns autores tentaram a ribavirina com resultados variáveis. Na
maioria dos casos, o indicado é a eutanásia. A profilaxia é fundamental ao se
instituir a quarentena para serpentes provenientes de outros serpentários, os
quais devem ter procedência (SILVA; BONORINO, 2019).

Ecto e endoparasitas

Vulgarmente chamado de piolho de cobra (Ophionyssus natricis), é um ácaro


pequeno, hematófago. As infestações graves podem causar disecdise, anemia e
debilidade. Carrapatos também são comuns, como o Amblyomma rotundatum,
que pode transmitir hemoparasitos e vírus. Para o tratamento, banhos com
triclorfon 0,2%, aspersão com fipronil ou ivermectina injetável.

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MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

Figura 30. Ophionyssus natricis em serpente.

Fonte: https://www.projectnoah.org/spottings/840676020/fullscreen.

Quanto aos endoparasitas, as serpentes são suscetíveis a inúmeros agentes, sendo


que o cativeiro acentua os efeitos. Exames de fezes devem ser coletados, assim
como o uso de inserção de sonda cloacal com solução fisiológica para se coletar
uma amostra (GREGO; ALBUQUERQUE; KOLESNIKOVAS, 2014).

Enfermidades não infecciosas

Gota úrica

Na maioria dos répteis, a degradação de proteínas ocorre no fígado, sendo o


ácido úrico resultante desse metabolismo, que é eliminado pela urina na forma
de cristais microscópicos insolúveis, que dão um aspecto branco e leitoso à
urina. Na gota úrica, ocorre o depósito de ácido úrico em superfícies em que
normalmente não deveria ocorrer. Nas serpentes, o tipo mais frequente é a gota
visceral, ou seja, o ácido úrico acumula-se sobre coração, pericárdio, rins, fígado,
baço, musculatura, vasos e mucosa oral.

As causas mais comuns para essa alteração no metabolismo proteico são


distúrbios que alteram a função dos rins, como hipotermia, desidratação e uso
inadequado de fármacos nefrotóxicos, como antibióticos aminoglicosídios –
gentamicina e amicacina, por exemplo (SKOCZYLAS, 1978).

O diagnóstico em vida é difícil, visto não apresentar nenhuma lesão específica,


o que acaba sendo descoberto na necropsia. Exames bioquímicos de AC. úrico e
47
UNIDADE III │ MEDICINA DOS OFÍDIOS

AST costumam se elevar. O tratamento melhora a condição de vida, mas não cura.
Aquele consiste na hidratação diária de ringer lactato + nacl 0.9% (15 a 25 ml), o
que faz eliminar o excesso de ác. úrico. O uso de alopurinol também é preconizado,
e evitam-se fármacos nefrotóxicos.

Figura 31. Gota úrica em serpente. Note uratos depositados no parênquima renal.

Fonte: CUBAS, 2014.

Cirurgia
Particularidades para esse grupo são na forma de sutura e no tempo de cicatrização.
Para as serpentes, utilizam-se padrões evaginantes, por serem mais apropriados e
evitarem a inversão da sutura e o atraso da cicatrização. É recomendado retirar os
pontos após 4 a 6 semanas.

Segundo Grego, Albuquerque, Kolesnikovas, (2014), as cirurgias mais comuns são:


celiotomia por retenção de ovos (comum em quelônios), ovário-histerectomia,
obstrução gastrointestinal, colopexia (para reduzir o prolapso e celiotomia
exploratória).

Os prolapsos mais comuns em serpentes são:

» prolapso de reto, por grande esforço no ato da evacuação, com


aumento dos movimentos peristálticos e parasitismo;

» prolapso de oviduto, pelo esforço da postura;

» prolapso de hemipênis, pela intensa atividade sexual com possibilidade


de reversão ou amputação.

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MEDICINA DOS OFÍDIOS │ UNIDADE III

Figura 32. Celiotomia em cobras.

Fonte: FRYE, 1991.

Como se pode observar, (A) incisão inicial da pele entre a primeira e segunda
fileira de escamas laterais; (B) entrada na cavidade celômica apenas ventral
às costelas para permitir a exteriorização de ovos retidos numa “kingsnake”
(Lampropeltis spp); (C) encerramento da camada muscular numa boa constritora
(Boa constrictor) usando um padrão contínuo simples e sutura absorvível; (D)
encerramento cutâneo de rotina numa boa da areia (Gongylophis colubrinus),
demonstrando eversão cutânea.

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MEDICINA DE UNIDADE IV
SQUAMATA-SÁURIOS

CAPÍTULO 1
Características anátomo-fisiológicas

Introdução
A ordem Squamata é a mais diversificada na classe reptilia e inclui a subordem
Sauria (lacertília, lagartos), que habita o meio aquático, terrestre e arborícola.

Existem as espécies insetívoras, como as lagartixas, as carnívoras, como lagartos


monitores, e onívoras e herbívoras, como teiús e iguanas, respectivamente.
Apenas o monstro de Gila é venenoso, mas sem aparato para inocular o veneno
(POUGH, 1999).

Espécies de interesse no Brasil são a iguana, o teiú (este mais atendido em


zoológicos), lagartixas leopardo, dragões-barbado e camaleões.

Características anátomo-fisiológicas
Crânio ossificado e presença de osso quadrado (como nas serpentes). Neles
são inseridos músculos que ligam a mandíbula ao crânio. A mandíbula tem a
capacidade de deslocar-se para frente ou para trás. Os dentes são cônicos,
dotados de polpa e recobertos por esmalte. Não existem alvéolos dentais, o que
faz a reposição ser constante. Presença de um único côndilo occipital.

A língua desempenha funções específicas nas diferentes espécies. Os lagartos


com a língua carnuda, como nos camaleões, que a usam para apreensão da
presa. Os que apresentam língua bífida o fazem para dardejar e conduzir as
partículas odoríferas para o Órgão de Jacobson e, depois, ao cérebro (assim
como as serpentes). Já os geconídeos usam a língua para lubrificar a córnea,
lambendo-a (HENKEL, 1995).

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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

O tegumento desses animais apresenta-se coberto por escamas, além de cristas


e protuberâncias cornificadas, chifres e espinhos. A ecdise ou muda de pele é um
fenômeno mediado por hormônios tireoidianos e ocorre de maneira escalonada,
diferentemente das serpentes, ou seja, enquanto as serpentes trocam a pele por
inteiro, os lagartos a trocam em pedaços.

A frequência das ecdises está relacionada a vários fatores, principalmente ao


crescimento do animal e ao metabolismo; portanto, não existe um ciclo definido
de muda (BAUER; BAUER, 2014). Os geckos se alimentam da pele após a muda
(KING, 1982).

A tão conhecida autotomia dos lagartos é usada para defesa e fuga, mas a cauda
se regenera parcialmente; não é reconstituída a parte óssea da cauda; apenas
neoformações cartilaginosas. Em uma inspeção, é possível ver o local em que a
cauda rompeu, pois a conformação das escamas fica alterada (WERTHER, 2014).

Répteis, aves, anfíbios e peixes apresentam o sistema porta-renal. Este é


constituído por válvulas localizadas nas junções das veias ilíaca externa e renais.
Essas válvulas estão sob o controle simpático quando abertas e parassimpático
quando fechadas. A depender do estado animal (stress, por exemplo), se a
válvula estiver aberta, o medicamento atinge a circulação sistêmica, sendo
metabolizado exercendo sua função no organismo. Se a válvula se encontrar
fechada, o fármaco se desvia para o parênquima renal, sendo depurado e
eliminado, tornando a ação ineficaz, além de comprometer a função renal.
Como não se sabe o momento em que a válvula estará aberta, para efeitos
práticos, aplicam-se medicamentos intramusculares na porção anterior do
corpo, “fugindo” do alcance renal (nota do autor).

Figura 33. Anatomia dos lacertílios.

Legenda
a. Traqueia k. Ventrículo
i a b. Timo l. Esôfago
j b
c c. Átrio direito m. Pulmão
k
L d d. Fígado n. Estômago
m
e e. Vesícula biliar o. Baço
n
o f f. Pâncreas p. Intestino
p g
delgado
g. Cólon
q
h q. Rim
h. Vesícula urinária
r
r. Reto
s i. Paratireoide
s. Cloaca
j. Tireoide

Fonte: (PROENÇA, 2014).


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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS

O sistema cardíaco é semelhante ao das serpentes. Quanto ao sistema urinário,


algumas espécies possuem bexiga. A urina flui da cloaca para a vesícula, na qual
ocorre reabsorção de água e trocas iônicas. Nas espécies que não apresentam
vesícula urinária, a urina flui da cloaca para o cólon (O´MALLEY, 2005).

Reprodução
As espécies apresentam dimorfismo sexual, os machos geralmente são maiores,
apresentam enorme papo, são mais coloridos e têm poros femurais evidentes.
Em sua maioria, são ovíparos, com fecundação interna, e o macho apresenta o
hemipênis, com dança para o acasalamento. Existem espécies vivíparas, além da
partenogênese (MESQUITA, 2006).

Figura 34. Dimorfismo sexual pela visualização dos poros femorais (setas) em iguana (Iguana iguana). A. Macho; B:

Fêmea.

Foto: BAUER; BAUER, (2014).

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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

O trato reprodutivo dos machos consiste em um par de testículos intracavitários,


ductos e hemipênis pareados. Os testículos apresentam tamanhos variados, atingindo
seu tamanho máximo no pico da espermatogênese. Os hemipênis localizam-se
evertidos na base da cauda e são utilizados alternadamente durante a cópula. As
fêmeas apresentam dois ovários e dois ovidutos, que terminam no segmento da
cloaca, denominado uródeo (POUGH, 1999).

As espécies vivíparas apresentam variações no período de gestação, de 4 a 11


meses, e na quantidade de filhotes, conforme a espécie, de um a seis indivíduos.
Nas espécies ovíparas, a postura geralmente ocorre entre 2 e 4 semanas após a
cópula, e a quantidade de ovos varia de acordo com a espécie. Membros da família
Gekkonidae realizam, em média, três posturas de um a três ovos, enquanto
animais das famílias Iguanidae e Teidae depositam, em média, 20 ovos em uma
única postura.

Nutrição
Os sáurios apresentam os mais variados hábitos alimentares da classe Reptilia,
havendo espécies de hábitos herbívoros, onívoros e carnívoros. Enquanto as
iguanas se alimentam de folhas em vida livre, em cativeiro a dieta é construída de
vegetais, frutas e legumes. Para espécies onívoras, além dos vegetais, acrescenta-se
proteína animal, como ração para cães ou gatos, além de frango.

Instalações e manejo
O terrário deve contemplar condições de umidade, temperatura e iluminação que são
fundamentais para a manutenção desses animais em cativeiro, além de espaço na
vertical por árvores para as espécies arborícolas como as iguanas.

Os gradientes de temperatura são alcançados por pedras e placas de aquecimento


para evitar o stress da hipotermia e da inatividade, o que leva à supressão do sistema
imunológico e ao aumento da predisposição a doenças e problemas nutricionais.
Durante processos infecciosos, os répteis podem apresentar o que chamamos
de “febre comportamental”, quando os animais procuram incessantemente por
fontes de calor para elevar a temperatura corpórea (O´MALLEY, 2005).

Lâmpadas de ultravioleta A e B também devem ser utilizadas para evitar a


osteodistrofia fibrosa (GIRLING, 2003).
53
UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS

O recinto deve ser de fácil higienização, e o tamanho do terrário deve ser de acordo
com o tamanho dos animais e a quantidade.

Figura 35. Pedras de aquecimento.

Foto: próprio autor, s.d.

Figura 36. Terrário para iguanas, Zoológico de Brasília.

Foto: próprio autor, s.d.

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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

Figura 37. Terrário adequado para lagartos de clima desértico, como o dragão barbado (Pogona vitticeps).

Fonte: BAUER; BAUER, (2014).

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CAPÍTULO 2
Clínica e cirurgia

Contenção

Como já mencionado, os lagartos não podem ser contidos pela cauda tendo em
vista o risco de soltá-la. O laço de lutz é o equipamento mais usado para lagartos
grandes. Para os pequenos, apenas as mãos e uma toalha. A contenção deve ser
realizada com as duas mãos, uma na base do pescoço e da cintura escapular, e
a outra sobre a cintura pélvica, contendo a cauda sob a axila do manipulador.
Animais mais agressivos podem eventualmente necessitar de contenção com
cambão ou com uma toalha, envolvendo-o.

Anestesia

O uso de isoflurano é recomendado para todos os animais, inclusive os répteis.


Pode ser feito com máscara, ou, para animais mais estressados, a caixa de plástico.
Nessas espécies, fármacos injetáveis costumam ser seguros. Curiosamente,
mesmo sendo animais que possuam temperaturas corpóreas mais baixas,
recebem doses de fármacos iguais ou mais altas se comparadas aos mamíferos,
mesmo para as anestesias (nota do autor).

Confira essa informação no Manual Bretas. Em répteis, a cetamima, por


exemplo, chega a doses de 50 mg/kg ou mais!

Outro detalhe bem interessante na aplicação parenteral é que o tempo de indução


anestésica e o de recuperação é o mais demorado de todos do grupo de vertebrados.

As aplicações podem ser feitas IM, IV e raramente por outra via devido a seus
poucos relatos.

O propofol é um dos fármacos mais usados para aplicação IV até intraósseo,


porém há relatos de apneia (independentemente da via). Por isso, o uso de
traqueotubo é recomendado (o que também é comum em outras espécies).

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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

Cetamina + diazepam, cetamina + xilazina, tiletamina + zolazepan são usados com


frequência e com tranquilidade. Este autor que vos escreve usou etomidato, o que
garantiu uma diminuição das doses de anestésicos gerais.

Cabe lembrar que efeitos indesejáveis de depressão cardiorrespiratória podem


acontecer, e, como nessas espécies os parâmetros clínicos são um pouco mais
complicados de aferir, é recomendado o uso de monitores cardíacos.

Quadro 3. Valores recomendados de fármacos anestésicos e analgésicos para lagartos (que também podem ser

usados para outros répteis).

Fármaco Dosagem (mg/kg) via Indicações/comentários


Cetoprofeno 2 IM, SC a cada 24 h Analgésico não esteroide
Clor. cetamina 30 a 50 Indução e recuperação lentas
Diazepam 2,5 IM Convulsão, MPA
Isoflurano Indução: 3% a 5 % Rápida indução e retorno, apneia
Midazolan 2 IM Associada a cetamina
Meperidina 5 a 10 IM, SC Opioide
Meloxican 0,2, IM, IV a cada 24 h AINE
Propofol Indução: 3 – 10, IV, IO Rápida indução
Manutenção 0,25 mg/kg/min

Fonte: (BAUER; BAUER, 2014).

Atenção! Sabendo que a temperatura corpórea poderá variar, uma vez que a
temperatura ambiental esteja baixa, o fármaco levará mais tempo para ser
metabolizado, o que pode confundir o veterinário. Por isso, é interessante que a
temperatura ambiental não esteja menor do que 26 º C.

Para aplicação IV em lagartos, acessa-se a veia caudal ventral, para IM, no


terço anterior do corpo, e assim fugir do sistema portal renal. Para aplicação
intracelomática, pouco usada, acessa-se o flanco direito e se evita a vesícula
urinária.

Obs.: há relatos de aplicação de fármacos em terço posterior sem grandes


problemas, porém, para afeitos práticos, é recomendada a aplicação anterior do
corpo!

O reflexo vago-vagal pode ser aplicado para procedimentos curtos e indolores,


ao comprimir os globos oculares, estimulando o nervo parassimpático. Esse
procedimento também pode ser feito em crocodilianos.

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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS

Figura 38. Reflexo vago-vagal em iguana.

Fonte: (BAUER; BAUER, 2014).

Figura 39. Glote fechada (apneia) e aberta (inspiração/expiração).

Foto: próprio autor, s.d.

Diagnóstico e semiologia
Valem as mesmas premissas dos outros répteis quanto à coleta e ao
armazenamento. Os valores de referência listados anteriormente para
serpentes podem ser extrapolados, com ressalva nas mudanças ambientais e
nos diferentes manejo, pois têm uma influência grande nos animais e em seus
valores hematológicos e até bioquímicos. Por isso, leva-se em consideração no
momento da interpretação.

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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

Podem-se realizar culturas bacterianas e fúngicas, uma vez que esse grupo,
assim como seus parentes mais próximos, as serpentes, sofre de patologias como
abscessos, pneumonias e outras enfermidades que carecem desses exames (nota
do autor).

A ausculta cardiopulmonar deve ser feita com toalha entre o estetoscópio e a pele,
assim como o gel de ultrassom para retirar todos os ruídos oriundos do roçar da
pele seca. Um doppler pode ampliar os sons cardíacos.

A palpação também é útil para identificar a presença de tumores, corpos estranhos


como pedras, areia, plásticos (comum em lagartos), além de gases e impactação,
assim como a presença de ovos retidos, abscessos; diagnóstico confirmado por
outras técnicas mais elucidativas (WERTHER, 2014).

Os dentes dos lagartos são pequenos, e o exame da cavidade oral pode revelar
placas diftéricas, abscessos, úlceras e lesão por traumas.

A “mandíbula de borracha” é verificada nesse exame de rotina e pode suspeitar de


doenças osteometabólicas.

A mucosa nesses animais, diferentemente das serpentes, é rosa. Portanto, a


avaliação oral pode indicar anemia, icterícia ou cianose.

Exames de fezes

É importante para detectar parasitas quando se tem mais de um animal


mantido em cativeiro, ou quando se oferta presas de origem duvidosa para
lagartos carnívoros. Vários grupos de parasitas podem ser encontrados, entre
eles protozoários, flagelados e helmintos, e usam-se as técnicas comuns
de sedimentação e flutuação. Nesse caso, as fezes são coletadas do recinto,
representando o grupo.

Répteis são reservatórios naturais de Salmonela sp, e eventualmente esses agentes


se tornam patógenos. Por isso, preconizam-se exames bacteriológicos de fezes por
swab cloacal para evitar a contaminação ambiental.

Imagens

É invasivo, mas pode trazer muitas informações. Cuidados de assepsia são


necessários. O acesso é lateral, na altura do início do terço final do corpo, no
espaço intercostal. A cavidade celomática é inflada com ar para separar os

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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS

órgãos. Como não existe diafragma nos lagartos, é possível avaliar todos os
órgãos. Durante essa intervenção, não há necessidade de ventilar o animal,
pois, na maioria dos casos, a contração da musculatura lisa ao redor dos septos
pulmonares é responsável pela continuação da respiração, mesmo com a cavidade
celomática aberta (WERTHER, 2014).

Ultrassonografia é uma técnica interessante, pois não é invasiva e pode ser


realizada apesar das escamas que recobrem o corpo do animal. Por meio dessa
técnica, podem ser visualizados os movimentos cardíacos, ovários, fetos nos
ovidutos, atividade dos intestinos e, no caso de gota úrica, cristais de ácido úrico
recobrindo serosas de vários órgãos (WERTHER, 2014).

A técnica radiológica será abordada em capítulo à parte.

Fluidoterapia

Podem ser realizadas por via subcutânea, em qualquer região do corpo,


intracelomática ou intraóssea. A via endovenosa não é preconizada, pois não se
consegue manter o acesso para a manutenção do fluido. A via intraóssea, portanto,
por exclusão, torna-se a via mais rápida para a administração de líquidos (de 15 a
25 ml/kg).

Outra via de rápida absorção é a via intracelomática (acesso pelo flano direito).

Cirurgia
Fraturas de dígitos são uma das patologias mais comuns, principalmente em
ambientes de zoológicos.

Em minha experiência, tive a oportunidade de atender uma iguana com uma massa
nasal que, após a extração, revelou ser um carcinoma de células escamosas. Portanto,
répteis também desenvolvem tumores.

Fraturas, peritonites, distocia, remoção de abscessos também estão entre outras


cirurgias realizadas.

O acesso à cavidade celomática pode ser realizado por incisão ventral paramedial
para evitar danos à veia abdominal ventral, que se localiza na linha média, entre a
cicatriz umbilical e a cintura pélvica. A incisão da pele deve ser realizada entre as
escamas, e a utilização de suturas evaginantes é fundamental, pois a pele incisada
tende à inversão, atrapalhando o processo de cicatrização.

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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

Lembre-se de que, como todo o réptil, o processo cicatricial leva tempo. Por isso, a
retirada dos pontos poderá ser feita em 4 semanas.

Figura 40. Celiotomia por abordagem paramediana numa Iguana (Iguana iguana).

Fonte: FRYE, 1991.

Como se observa na Figura 40, em (A) veia abdominal ventral (linha vermelha)
e local proposto para incisão (linha preta); (B) incisão na pele feita com uma
lâmina de bisturi invertida para evitar danos inadvertidos a estruturas mais
profundas; (C) dissecção por meio da musculatura abdominal usando cotonete;
(D) exposição do celoma e visualização da veia abdominal da linha média ventral.

Clínica

Doenças infecciosas

Entre as bactérias mais comuns estão as Gram-negativas: Pseudômonas,


Aeromonas e Salmonella., eventualmente os Streptococcus podem ocasionar
infecções. A detecção de Salmonella spp. em cultura bacteriana das fezes
de lagartos pode não ser tão fácil, uma vez que sua eliminação pode estar
relacionada a momentos de estresse e queda de imunidade do hospedeiro.
Exames mais sensíveis, como PCR, podem ser utilizados. O tratamento com
antibióticos pode suprimir a eliminação da salmonela, mas não eliminar o
agente (MITCHELL, 2000).

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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS

O Clostidium sp, comum da flora oral, pode ocasionar lesões necróticas e


gangrenosas em membros de iguana (PARÉ, 2006).

Como nas serpentes, a microbiota normal dos lagartos apresenta bactérias


oportunistas, seja gram-negativas ou positivas, aeróbicas ou anaeróbicas. Gastrite,
enterite e estomatite estão presentes nesses animais, além da pneumonia pela
presença de trabeculações cartilaginosas que favorecem o processo infeccioso,
além dos sacos aéreos das iguanas, que favorecem aerossaulite, com posterior
acometimento pulmonar.

Abscessos em répteis (e aves), por ausência de lisozima, são caseosos, o que exige a
sua extração por incisão e, portanto, anestesia.

Quanto às doença fúngicas, elas estão relacionadas aos aspectos ambientais do


recinto. Esse é o primeiro local de que o veterinário deve desconfiar. Ambientes
com alto índice de umidade relativa do ar e ventilação comprometida, associados
a temperaturas amenas, propiciam o aparecimento dessas afecções. O uso
prolongado de antibióticos pode propiciar fungos, além de dieta desbalanceada.

Na maioria das vezes, as infecções fúngicas são superficiais, desenvolvendo


dermatites ou colonizando ferimentos cutâneos. São encontradas lesões
circunscritas clássicas, hiperqueratoses e granulomas fúngicos. Já as micoses
profundas não são impossíveis, uma vez que a temperatura corporal de um
lagarto alcança de 25 a 27 º C, muito próximo à temperatura de crescimento de
alguns fungos saprófitas (BAUER; BAUER, 2014).

Os agentes etiológicos relacionados geralmente são: Trichophyton, Geotrichium,


Chrysosporium, Malbranchea, Aspergillus, Thrichosporum, Penicillium.

Deve-se estar atento à higienização do ambiente, à correção do manejo


(temperatura e umidade) e ao uso de antibióticos, pois agentes fúngicos e
bacterianos estão associados.

Em relação aos agentes virais, o herpesvírus é o mais comum entre os lagartos,


associado a papilomatoses cutâneas, principalmente na região dorsal dos animais.
A transmissão desse vírus está associada a mordeduras por combate em lutas ou
acasalamento, porém sem tratamento específico, podendo ser autolimitantes.
Muitos desses vírus são oportunistas, secundários às infecções bacterianas e

62
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

fúngicas, ou mesmo podem ser sugestivos de infecção viral quando o tratamento


para os outros agentes não surte efeito.

Doenças não infecciosas

Disecdise

É conhecida entre os criadores como muda encruada. O lagarto não consegue


realizar a troca, e os pedaços de queratina permanecem aderidos à pele. Entre
outras causas, a umidade relativa do ar abaixo do normal para a espécie é uma
das principais. Dermatites, lesões de pele, cicatrizes, ectoparasitos, cirurgias com
suturas não evaginantes são também comuns.

Quando a disecdise se apresenta em extremidades, como em cauda ou dedos, pode


ocasionar isquemia. O tratamento consiste na correção dos fatores predisponentes
e principalmente hidratação do animal. Em terrários, o uso controlado de
umidificadores em épocas de seca é recomendado. Retirar gentilmente a pele
aderida com água morna e chá de camomila (nota do autor).

Figura 41. Muda normal de pele em iguana – a nova pele mantém tonalidade vibrante.

Foto: próprio autor, s.d.

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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS

Queimaduras

Normalmente associadas a erro de manejo, mais especificamente por fontes de


calor desreguladas, seja por pedras, lâmpadas ou placas. As lesões ocorrem por
contato direto com as superfícies quentes onde o animal se encosta e curiosamente
se mantém fixado.

Isso ocorre em dias frios, quando os lagartos procuram essas fontes. Por isso, é
necessário monitorar o gradiente de temperatura.

De maneira geral, lagartos doentes não são capazes de termorregular


corretamente e tendem a elevar a temperatura corpórea além da mantida em
condições normais (febre comportamental), propiciando lesões ainda mais
graves.

O tratamento consiste em retirar a causa, verificar a regulação das fontes de calor,


além do uso de pomadas para queimaduras como a sulfadiazina de prata, analgesia,
hidratação e antibióticos. É recomendado fazer acompanhamento bioquímico,
medindo enzimas como ác. úrico e ureia, além do hemograma.

Figura 42. Queimadura na região ventral de iguana (Iguana iguana) causada por pedra de aquecimento caseira.

Foto: (BAUER; BAUER, 2014).

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MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

Fraturas

Não são comuns e podem estar associadas a doenças osteometabólicas, ataques de


animais domésticos ou atropelamento. Como em qualquer outro animal, trata-se
com analgésicos, imobilização e antibióticos, caso haja exposição óssea.

Em espécies muito pequenas, é suficiente o uso de pinos medulares ou cateteres


quando há fraturas em ossos longos. As placas são usadas em animais maiores, e
a fixação externa, tão corriqueira para correção de fraturas em cães e gatos, não é
recomendada em lagartos porque impedirá a mobilidade e, caso o faça, o implante
ósseo se deslocará da posição desejada (nota do autor). Quando há fraturas em
membros, as ataduras envolvem o cinturão adjacente e o osso contralateral para
oferecer melhor imobilização.

Figura 43. Curativo e imobilização de membros pélvicos em teiú (Tupinambis merianae) após osteossíntese.

Fonte: BAUER; BAUER, 2014.

Doença osteometabólica

Distúrbio metabólico que aparece com certa frequência, muitas vezes relacionado
como erro de manejo. Há uma relação entre o cálcio e vitamina D3, pois a vit.
D é responsável pela absorção de cálcio no intestino e pela reabsorção de cálcio
e excreção de potássio nos rins. Por isso, é essencial na regulação do cálcio do
organismo pelo paratormônio e pela calcitonina.

O caminho da vit. D é obtido pelo processo metabólico em que a pró-vitamina D3


é produzida pela pele e, ao ser exposta à radiação ultravioleta, converte-se em
pré-vitamina D3, e, com as fontes de calor fornecidas pela energia do sol, forma
a vit. D3. Esta é liberada na corrente sanguínea e no fígado e se converte em
calcediol e, no rim, em calcetriol (vit. D ativa).

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UNIDADE IV │ MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS

Baixa exposição à luz solar (baixa exposição UV), alimentação errada por pouca
ingestão de cálcio ou excesso de fósforo (que desbalanceará na corrente sanguínea
a relação CA:P de 2:1) levarão à redução de cálcio sérico e consequentemente à
ativação da produção do paratormônio, que tem a função de retirar reserva de cálcio
dos ossos. É o hiperparatireoidismo nutricional secundário (MACLAUGHLIN,
1982).

Figura 44. Osteodistrofia fibrosa em iguana. Perceba o edemaciamento dos membros.

Foto: próprio autor, s.d.

Os sinais são praticamente patognomônicos e envolvem: prostração, aumento de


volume nos membros (por osteodistrofia fibrosa devido a fraturas espontâneas),
entortamento da pelve e coluna (o que produz constipação e má deambulação). Em
especial, em iguanas que possuem uma dieta restrita a carne, ocorre “mandíbula
de borracha”, que demonstra inchaços, braços edemaciados e a não sustentação
corporal pelos membros, mantendo a região ventral aderida à superfície (nota do
autor). Os inchaços decorrem de reações fibróticas ósseas na tentativa de manter o
arcabouço ósseo fragilizado.

Também como diagnóstico poderão ser realizadas radiografias confirmando ossos


valgos, fraturas patológicas, desvios de coluna e perda da radiopacidade óssea na
imagem. O tratamento consiste na correção do manejo alimentar, equilíbrio Ca:P,
iluminação solar ou artificial por lâmpadas UV. Vegetais verdes-escuros e amarelos
são boas fontes de cálcio; carne muscular e visceral são fontes de fósforo.

Obs.: a suplementação de cálcio deve ser acompanhada por um clínico, pois o


excesso é prejudicial. Pode haver calcificação de tecidos moles (como nas veias e
artérias), o que diminui a sua capacidade elástica, como lesões renais com a mesma
calcificação.

66
MEDICINA DE SQUAMATA-SÁURIOS │ UNIDADE IV

Figura 45. Hiperparatireoidismo nutricional secundário. Note desvio na coluna; o animal não consegue erguer o

corpo e mandíbula de borracha.

Fonte: http://www.vevet.com.br/2013/02/hiperparatireoidismo-nutricional.html.

Figura 46. Aumento de volume na região mandibular em iguana por hiperparatireoidismo nutricional secundário.

Fonte: http://www.vevet.com.br/2013/02/hiperparatireoidismo-nutricional.html.

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MEDICINA DE
QUELÔNIOS UNIDADE V
(TESTUDÍNEOS) E
CROCODILIANOS

CAPÍTULO 1
Biologia e criação de quelônios

Biologia
São répteis anapsida: crânio sólido, primitivo, sem aberturas temporais (fenestrae
temporalis) superior e inferior = cavidades do crânio associadas aos músculos da
mandíbula. São as tartarugas, os cágados, os jabutis e outros.

Aproximadamente 20% das 278 espécies de quelônios do mundo ocorrem na


América do Sul. Há atualmente duas subordens (Cryptodira e Pleurodira), que
compreendem 14 famílias, 90 gêneros, 319 espécies e 146 subespécies, totalizando
465 diferentes animais (DUTRA, 2014).

Geralmente, os testudíneos têm oito vértebras cervicais (pescoço) e têm grande


mobilidade do pescoço. A forma como o recolhe determina a classificação em duas
subordens:

» cryptodira: retrai pescoço para trás, em “S”. Ex.: Jabuti tinga –


Geochelone denticulata;

» pleurodira: recolhe pescoço lateralmente. Ex.: Cágado de barbicha –


Phrynops geoffroanus.

Animais da ordem Testudines diferem dos de outras ordens dos répteis por
terem a coluna vertebral fixada à carapaça. Além disso, são os únicos répteis
cuja escápula está localizada ventralmente às costelas (DUTRA, 2014).

Testudines e quelônios são sinônimos, porém, no meio científico, é mais usado o


termo testudines.

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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

As tartarugas são os animais mais ameaçados entre os grupos de vertebrados, mais


que as aves, os mamíferos, os peixes cartilaginosos e os anfíbios (VAN DIJK et al.,
2012). Segundo a lista vermelha de animais ameaçados de 2010 da International
Union for Conservation of Nature (IUCN), 134 espécies de tartarugas são
consideradas como globalmente ameaçadas (categorias Criticamente em Perigo, Em
Perigo ou Vulneráveis), com 76 espécies (33,3% das espécies listadas e 23% de todas
as espécies existentes) consideradas “Criticamente em Perigo” ou “Em Perigo”.

Anatomia e fisiologia
Bico córneo sem dentes = placa queratinizada dura e afiada tanto no maxilar como
no mandibular (FREITAS, 2011).

A cavidade nasal se comunica com a oral pela fenda palatina (coana). Esta ocorre
em todos os répteis, exceto crocodilianos.

Como em todos os répteis, a velocidade da digestão estará condicionada a fatores


ambientais e patologias presentes. Baixas temperaturas (4 a 5°C) inibem a secreção
gástrica.

Quanto à dieta, temos dois grupos alimentares; os herbívoros e os carnívoros,


sendo que o trato gastrintestinal dos herbívoros é maior que o dos carnívoros. Os
herbívoros são representados pelos jabutis, animais terrestres que se alimentam
de frutas, vegetais e pouca proteína animal. Não processam a comida na cavidade
oral; realizam pequena mastigação e engolem. Os gastrólitos (pedras) encontrados
no estômago podem ajudar na trituração. A decomposição simbionte de tecido
vegetal ocupa papel no ceco e no cólon. Entre os terrestres, podemos encontrar
espécies como a tartaruga Galápagos (G. nigra), que pode obter 1,80 m (DUTRA,
2014).

Quanto aos aquáticos, estes são carnívoros e representados pelas tartarugas


marinhas, cágados e tigres d’água.

Anatomia e fisiologia respiratória

Como todos os répteis, faz a troca gasosa por pulmões. Uma característica curiosa
nos répteis em geral é sua capacidade de fazer apneia, principalmente entre os
quelônios aquáticos, que mantém uma reserva de ar em sacos aéreos para realizar
a troca gasosa nos pulmões. Essa hipóxia provocada não é um problema para esse
grupo, pois, primeiro, seu sistema nervoso central pode utilizar vias anaeróbicas e

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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

não ser facilmente danificado por hipoxia; segundo, as tartarugas podem manter um
volume normal de oxigênio mesmo durante carência prolongada, isto é, possuem
uma pressão de oxigênio alveolar pouco crítica.

O dióxido de carbono (CO2), devido à sua difusibilidade relativamente alta, é


facilmente eliminado por difusão por meio da pele úmida. Pela sua solubilidade
relativamente baixa, o oxigênio difunde-se muito mais vagarosamente do que o
CO2 por meio da pele queratinizada, e o volume de oxigênio aquático é sempre
menor que o volume de CO2 aquático.

Porém, pode haver uma pequena troca gasosa pela pele, pela orofaringe ou
pela cloaca em tartarugas aquáticas, resquício evolutivo de seus ascendentes
anfíbios (DUTRA, 2014). A anatomia e a fisiologia cardíaca mantêm as mesmas
características das serpentes.

A frequência cardíaca de répteis está relacionada a temperatura, tamanho,


metabolismo e estado respiratório. Durante longos períodos de apneia, há uma
tendência às baixas razões cardíacas. A frequência cardíaca mais baixa é associada
ao maior tamanho corporal. O miocárdio de tartarugas pode trabalhar pela via
anaeróbica, de acordo com os estoques de glicogênio (PRITCHARD, 1979).

Em geral, os mergulhos são acompanhados por diminuição na frequência


cardíaca, menos que na respiração aeróbica. Na iminência de voltar à superfície,
há um aumento na frequência cardíaca. A bradicardia durante o mergulho é
acompanhada de resistência periférica vascular e pressão arterial central
mantidas. Durante o mergulho, diminui-se o débito cardíaco, o consumo
de oxigênio, e ocorre vasoconstrição no leito vascular periférico, tal como
musculatura estriada esquelética. O metabolismo muda de uma via oxidativa
para anaeróbica, o leito vascular é redistribuído para sistema nervoso central e
coração (MCARTHUR, 2004).

Quanto à fisiologia, o sistema renal pode variar de acordo com a espécie. Quelônios
terrestres de ambientes áridos tendem a ser uricotélicos (excretando nitrogênio
principalmente como ácido úrico e uratos) ou ureouricotélicos (excretando
uma combinação de ácido úrico e ureia), enquanto espécies semiaquáticas
aminoureotélicos (FRYE, 1991).

Sistema esquelético motor

O casco protetor tem o formato de placas soldadas; é constituído por uma porção
dorsal, a carapaça, e por uma porção ventral, o plastrão, que fazem parte do
exoesqueleto dos quelônios. Lâminas córneas recobrem essa estrutura óssea e
trocam periodicamente em partes.

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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

O endoesqueleto é a porção interna do casco. A coluna está aderida à carapaça e é


composta por 40 a 50 vértebras, nas quais as únicas móveis são as cervicais e as
caudais. As costelas são curtas e soldadas na carapaça (FREITAS, 2011).

Nutrição
Uma tartaruga mantida em ambiente frio não pode manter um metabolismo ativo,
o que leva à diminuição do consumo de comida e água. A taxa metabólica em
tartarugas é de aproximadamente 25 a 35% da taxa metabólica de um mamífero
(MILLER, 2008). Sua necessidade alimentar compreende de 15 a 30% do seu
peso vivo. As necessidades aumentam com a atividade de predação, reprodução,
crescimento e produção de proteínas (cicatrização).

As tartarugas aquáticas começam suas vidas como carnívoras e terminam como


onívoras na vida adulta. Carnívoros verdadeiros incluem as tartarugas mordedoras
(C. serpentina) e tartarugas de casco mole (Apalone sp.), ainda que tenham sido
encontrados materiais vegetais no conteúdo gástrico dessas espécies. As tartarugas
caixa (T. carolina) são onívoras, alimentando-se de musgos, minhocas, frutos,
pequenos invertebrados.

Os jabutis são primariamente herbívoros. Já as grandes tartarugas de terra


alimentam-se de grama, forragem e vegetais. Muitas tartarugas aquáticas
e terrestres consomem tanto material vegetal quanto animal. Por isso, ser
carnívora ou herbívora dependerá da predominância de material animal ou
vegetal respectivamente que elas ingerem. Os representantes aquáticos podem
se alimentar de ração comercial peletizada. Essas dietas são ricas em proteína e
gordura (FREITAS, 2011).

Carne de peixe é o ingrediente mais utilizado das rações peletizadas. Porém, são
carentes em vitaminas essenciais e minerais. As rações extrusadas perdem as
vitaminas no beneficiamento pelo calor. Por isso, o ideal é uma suplementação
de alimentos vegetais frescos. O erro mais comum é ofertar somente um
ninicrustáceo, que pode levar a distúrbios nutricionais (MCARTHUR, 2004).

Criação de quelônios comercial


A antiga IN 169, de 2008, do IBAMA, determinava que somente as espécies que
podem ser criadas comercialmente eram do gênero Podocnemis sp (tracajá,
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

tartaruga da Amazônia) e Kinosternon scorpioides (muçuã), exclusivamente


com a finalidade de abate, e só podiam ser criadas em determinadas regiões que
tenham esses animais em vida livre (anexo I e II). Em todas as criações, eram
exigidos plano de manejo e detalhes do ambiente criatório.

Porém, atualmente, a normativa se tornou mais branda, pois notam-se criações


de tigre d’água nacional e jabuti sendo vendidas legalmente com registro do
Ibama, como na fazenda Reserva Romanetto no Paraná (nota do autor). Deve-se
considerar sempre que a legislação é dinâmica. Portanto, poderá haver mudanças
e novas permissões ou proibições.

Criação de quelônios terrestres

Animais com expectativa de mais de 80 anos, maturidade sexual por volta dos 6
anos. O acasalamento pode ocorrer por todo o ano. A nidificação acontece durante
a primavera e verão, colocando entre 2 a 15 ovos, podendo realizar mais de uma
postura por período de nidificação. Incubam seus ovos por um período muito longo,
variando de 4 a 10 meses, com uma média de 150 dias.

Em criação extensiva, o recinto deve ter no mínimo de 3x2x1 m. Utiliza-se como


substrato: terra, grama e plantas. Temperatura do ambiente de 26 a 32ºC; acima
disso, pode induzir pneumonias. Devem-se evitar locais muito úmidos por
propiciar fungos e bactérias e apodrecimento dos escudos córneos. Podem se
alimentar de ração para cães, frutas, vegetais, flores e eventualmente de carne
(FREITAS, 2011).

O terrário pode albergar caixas plásticas, amianto ou madeira, com o substrato


relatado.

Criação de quelônios aquáticos

Recintos com água com, no mínimo, 0,5 m a 1,2, com rampa. Recinto para cria:
recebimento dos filhotes e pode durar de seis meses a um ano, dependendo do
desenvolvimento dos animais. Comedouros de preferência fora da água para evitar
o desperdício, uso de ração peletizada. Sistema de proteção telada para evitar a
predação.

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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Figura 47. Espécimes de tartaruga-da-Amazônia (P. expansa) em quelonário (Belém-PA).

Fonte: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/125987/1/CPAF-AP-2015-Quelonicultura.pdf.

73
CAPÍTULO 2
Clínica e cirurgia dos quelônios

Introdução
Animais estão crescendo entre as criações e podendo ser vendidos na forma
legalizada com registro. Porém, muitos ainda são vendidos de forma ilegal.

Nos jabutis, o dimorfismo sexual é mais acentuado, e o macho apresenta um


plastrão côncavo, enquanto, na fêmea, o plastrão é reto. Quando muito jovens,
essa diferença ainda não é perceptível. A cauda dos machos é maior, e suas unhas
costumam ser maiores do que nas fêmeas. O formato da abertura caudal do
plastrão é mais amplo e em forma de “U” na fêmea (para facilitar a postura) e mais
estreito no macho, em forma de “V”.

Semiologia
Para os aquáticos, observa-se o seu movimento na água, como já mencionado.
Em animais terrestres, observa-se o andar em círculos ou claudicação. Deve-se
observar alimentação, defecação e prostração.

Entre os quelônios, a contenção mais cuidadosa é a da tartaruga mordedora,


contendo- a nas laterais do casco, longe de seu bico córneo.

A inspeção dos olhos pode indicar hipovitaminose A, quando as pálpebras ficam


edemaciados e os olhos fechados (blefaroespasmo e conjuntivite), além de
abscessos na pele por ressecamento por metaplasia escamosa. A pele, embora
seja seca, não pode descamar nem ter a aparência desvitalizada. O turgor
cutâneo é mais lento do que nos mamíferos. Narinas obstruídas podem significar
alterações respiratórias.

A abertura da cavidade oral não é fácil. Os quelônios relutam em abri-la. Por isso,
devem-se usar espátulas ou pinças. Observe placas diftéricas, necroses e muco.

O casco é um dos principais locais para se observar. O casco desses animais


deve ser rígido, o que é verificado na pressão manual. Casco mole é sinal de
problemas alimentares, água com limo e algas, além de temperatura e umidade
ambiental inadequadas, bem como infecções bacterianas e fúngicas. Mordida
por predadores, entre eles, o cão, também é muito comum, principalmente nos
filhotes de jabutis.

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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Queimaduras que expõem as porções ósseas ocorrem em animais de vida livre,


principalmente, e são uma causa comum em atendimentos de animais em Centros
de Triagem e Zoológicos.

A pesagem deve ser feita para cálculos de medicamentos, além de ser um


parâmetro de doenças como a doença oteometabólica, que costuma atrofiar os
animais. Deve-se levar em consideração que os répteis crescem por toda a vida
(WERTHER, 2014).

Radiografias são usadas para determinação de pneumonias, processo obstrutivo e


outros.

Outras técnicas de imagem: endoscopia, ultrassonografia e tomografia


computadorizada são técnicas que podem ser utilizadas para diagnóstico em
quelônios, porém apresentam algumas limitações.

A endoscopia tem um risco de contaminação, pois se trata de uma técnica


invasiva, na qual ocorre perfuração da cavidade celomática. Além disso, ainda
há a necessidade de anestesia local ou geral do animal, dependendo do seu
tamanho.

A ultrassonografia tem acesso limitado em quelônios por causa do casco, podendo


acessar apenas pelas aberturas ao redor dos membros posteriores e anteriores.

A tomografia computadorizada ainda tem um limite de custo para se realizar


rotineiramente nos animais, além de também necessitar de uma anestesia geral
para imobilizar completamente o animal. A interpretação do exame depende de
pessoas especializadas (FREITAS, 2011).

Anestesia em quelônios
Como todo o animal pecilotérmico, a resposta à anestesia, como para qualquer
fármaco, dependerá da temperatura ambiental. Por isso, para atingir o resultado,
deve-se aclimatar o ambiente para que os fármacos atinjam seus efeitos.

Havia um desconhecimento de que os répteis não sentiam dor, porém isso foi
descartado pelas reações demonstradas por apatia, inapetência e gemidos que os
quelônios (melhor do que os outros répteis) emitem.

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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Para eles, também são administrados opioides, principalmente quando a cirurgia


envolve correção de casco, que compromete estruturas ósseas.

Agentes injetáveis são necessários para entubação endotraqueal, sendo que os


benzodiazepínicos são pouco usados, pois induzem pouca sedação.

Outrora, a hipotermia foi erroneamente usada para anestesiar, o que é maléfico.


Achava-se que, pelo fato de o animal entrar em hibernação, entrava também em
plano anestésico. Esse método não promove analgesia nem anestesia, mas dor e
diminuição do metabolismo de forma tão acentuada, podendo provocar necrose
cerebral por hipoperfusão (DUTRA, 2014).

Pelas diferentes vias de administração, a cetamina pode ser usada com doses
que variam de 20 a 50 mg/ kg e de preferência combinada com algum fármaco
sedativo. Associada com xilazina, meperidina, diminui a dose da cetamina quando
isolada e evita o prolongamento da anestesia, o que já é comum nos répteis, visto
seu metabolismo. Tiletamina e zolazepan, na dose de 6mg/kg, também têm bons
resultados. Alguns autores relatam depressão cardiorrespiratória, porém são casos
isolados.

Embora os répteis sejam relativamente seguros para anestesiar e suas doses


sejam um pouco maiores se comparados aos mamíferos, são frequentes relatos
de animais retornando do efeito anestésico até 72 horas depois. Isso tem relação
com a extensão da cirurgia/anestesia, associada a um quadro de dor, o que os faz
entrar em uma suposta prostração.

Propofol é um dos preferidos pela ação curta e obrigatoriamente pelo acesso


vascular, que pode ser intraósseo. São fármacos usados como indução (5 – 10
mg/kg) e por infusão contínua como manutenção (0,3 – 0,5 mg/kg/min), sendo
a apneia um efeito comum quando aplicada de forma rápida. Pode ser usado para
indução e após os agentes inalatórios como manutenção.

Agentes inalatórios devem ser usados. Vaporizador calibrado em fluxo de oxigênio


e sistema não circular reinalante são indicados em pequenos quelônios de até 10
kg. O isoflurano é usado para todos os animais por sua rápida indução e tempo de
recuperação e pouco efeito depressor, para indução a 5% e manutenção a 2,5%.
(SCHUMACHER, 2006).

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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Figura 48. Jabuti anestesiado com propofol, entubado com Baraka e monitorado.

Fonte: (DUTRA, 2014).

Por experiência pessoal, para animais ariscos, principalmente os aquáticos,


costumo usar fármacos injetáveis de forma intramuscular em membro torácico,
uma vez que o acesso a alguns vasos pode se tornar exaustivo. A partir dos
primeiros efeitos sedativos, faz-se o acesso da veia jugular (nesse caso, o animal
não estará mais retraído, manterá a cabeça estendida e relaxada), assim como a
entubação, pois facilitará a abertura do bico córneo. Em aplicações musculares,
pode-se levar de 15 a 20 minutos para os primeiros efeitos.

Animais agressivos, como a tartaruga mordedora (C. serpentina), requerem


combinações em doses altas de cetamina (20 a 40 mg/kg) + midazolan (2 mg/
kg). Um autor usou a via intracelomática em tigre d’água, produzindo excelente
relaxamento e plano cirúrgico (SCHUMACHER, 2006).

Entubar répteis é mais fácil do que mamíferos, pois a glote se localiza na base
da língua. O traqueotubo não pode ter cuff, pois répteis possuem anéis traqueais
completos, o que pode levar ao rompimento, caso se insufle.

Há alguns estudos sobre anestesia peridural em répteis para cirurgias nos


membros pélvicos, sendo uma técnica segura. Para tanto, utiliza-se a dose de
lidocaína sem vasoconstritor 0,2 mℓ para cada 10 cm de carapaça, injetada entre
15º e 22º coccígea. O período de latência para a anestesia da cauda é, em média,
de 30 s. A anestesia para os membros pélvicos varia em média de 3 a 4 min.
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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

O período hábil anestésico, de relaxamento muscular e anestesia é de cerca de 56


min para o membro pélvico e de 80 min para a cauda. Essa técnica é recomendada
para prolapsos de pênis, vagina e reto.

Obs.: para mais informações, procure o trabalho de dissertação de mestrado


(CARVALHO, 2004) ao final, na bibliografia.

Os parâmetros anestésicos são pouco perceptíveis quando comparados aos


mamíferos, porém, durante o plano cirúrgico anestésico, reflexo palpebral deve
estar ausente. O reflexo corneal pode estar presente, mas, se estiver ausente,
indica que o plano cirúrgico está profundo. Reflexos adicionais monitorados são
o reflexo da cauda, dedos e cloacal (CARVALHO, 2004).

O doppler na forma de ponteira é colocado na entrada do tórax, próximo ao


coração. A cateterização arterial é bastante difícil e possível apenas na artéria
carótida esquerda, após incisão da pele e dissecção (SCHUMACHER, 2006).

Caso ocorra apneia, o paciente necessita de ventilação assistida ou intermitente


por pressão positiva durante a anestesia, podendo ser manual ou por ventiladores
mecânicos.

A hemogasometria arterial não é prática em anestesia de quelônios, especialmente


os menores, pois é bastante difícil o acesso vascular arterial.

Diagnóstico
Como já mencionado, os vasos com melhores acessos são: veias jugular,
coccígea, braquial e subcarapaciais. Porém, em alguns desses vasos, pode ocorrer
contaminação linfática, perceptível quando, no momento da coleta, o sangue
coletado se torna “pálido”. Já para as veias jugulares, há menor risco dessa
contaminação.

Os exames sanguíneos mais solicitados são: hemograma, ác. úrico, AST, CK,
albumina e proteína total.

Lavados traqueobrônquicos e urinálise

Muito comum em muitos répteis, a pneumonia pode se tornar um problema de


difícil solução quando usados antibióticos ineficazes. Por isso, uma cultura e um
antibiograma obtidos por secreções do lavado traqueobrônquico-pulmonar se
fazem necessários. Esse exame tem o objetivo de coletar, por lavado e aspiração

78
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

com solução fisiológica estéril, material para cultura bacteriana e antibiograma


propícia para o agente patógeno.

A urinálise é menos útil em répteis que em mamíferos. O rim reptiliano não


concentra urina, então a avaliação de densidade é limitada para avaliação da
função renal. Além disso, a urina passa através do uródeo da cloaca antes de
entrar na bexiga e, desse modo, a urina vesical não é estéril. Ocorrem alterações
no eletrólito e na água por meio da mucosa vesical ou cloacocolônica. A urina pode
ser útil para avaliações citológicas de inflamação (DIVERS, 2006).

Diagnóstico por imagem

A radiologia será abordada em capítulo próprio.

A ultrassonografia é limitada pela presença do casco, mas pode ser direcionada


em específicas regiões, como na virilha e na entrada do tórax que dá acesso à
cavidade celomática. O exame permite diagnosticar prenhez, tumores, corpo
estranho e outros.

Figura 49. Ultrassonografia em tartaruga marinha.

Fonte: https://www.facebook.com/pccbuern/photos/pcb.1943922575864376/1943922459197721/?type=3&theater.

Exame clínico
Palpação inguinal permite aferir tumores, prenhez, corpos estranhos, fecalomas
e outros. Percussão da carapaça permite suspeitar de pneumonias e qualidade
desta. A auscultação é possível para indivíduos de pequeno porte e de casco
mole, fazendo uso de toalha úmida e um bom estetoscópio pediátrico.

79
UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Figura 50. A. palpação inguinal; B. ausculta com toalha.

B
A

Fonte: (DUTRA, 2014).

Cavidade oral deve sempre ser examinada, particularmente procurando evidência


de inflamação, infecção, gota úrica e corpos estranhos. Nos quelônios, a mucosa
oral deve apresentar coloração rosa-clara. Mucosas hiperêmicas podem ser
associadas a sepse ou toxemia.

Icterícia não ocorre, mas sim biliverdinemia, resultante de doença hepática


grave. Membranas pálidas são frequentemente observadas nos casos de anemia.
Depósitos pálidos dentro de mucosas orais podem representar infecção ou urato
associado à gota visceral (DUTRA, 2014).

Fluidoterapia

Como resultado de sua taxa metabólica mais lenta, répteis sintetizam água muito
mais vagarosamente que mamíferos e aves. Fluidos cristaloides e coloides são
usados para fluidoterapia. A administração de um fluido hipotônico deve ser
feita com extrema atenção em animais cronicamente desidratados, porque causa
rápido desvio de fluido dentro da célula e pode produzir edema celular e ruptura.

Cristaloides de manutenção isotônicos para répteis, como lactato de ringer (15


a 20 ml/kg). A dextrose é adicionada a 2,5% para fazer a manutenção de fluido
isotônico (DUTRA, 2014).

Procedimento cirúrgicos
A cicatrização de feridas é mais lenta se comparada à dos mamíferos, podendo
levar de 4 a 6 semanas para acontecer, o que pode ser facilitado por condições
ambientais. As suturas devem ser feitas com fios não absorvíveis, como o nylon
ou prolipropileno, pois os absorvíveis apresentam grande chance de infecção e
deiscência.

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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Diferentemente das serpentes e outros répteis de pele mais seca, os quelônios


não têm tendência a apresentar inversão da pele pela sutura, uma vez que
não apresentam escamas na pele e as bordas do corte não estão em aposição,
e, por isso, haveria um retardamento no processo cicatricial. Portanto, não há
necessidade de se realizar o padrão invaginante.

O diferencial entre todos os animais é o acesso à cavidade celomática, que


requer o uso de serras oscilatórias (dremel ®) para se serrar o plastrão e
seu osso adjacente, mediante esterilização por gás do equipamento. Para o
procedimento, é fundamental o uso de irrigação com solução salina para evitar
o superaquecimento do osso e consequente necrose.

O posicionamento é de decúbito dorsal, e se coloca o animal em uma calha e


toalhas laterais para estabilizá-lo à mesa cirúrgica. Como as pinças de campo não
são possíveis, fixam-se os panos cirúrgicos com adesivos estéreis.

Celiotomia (com plastrotomia)

Para adentrar a cavidade celomática, o único acesso é pela abertura do plastrão.


Higieniza-se o local com clorexidine ou iodopovidona, e se usa a serra oscilatória.
Para esse procedimento, é fundamental um bom plano anestésico com uso de
opioides. Realiza-se uma abertura em quadrado mediante irrigação.

Figura 51. Plastrotomia em jabuti.

Fonte: (DUTRA, 2014).

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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Observa-se na foto que o corte deve ser feito em cunha para evitar que o retalho de
osso se desloque para dentro no momento do reposicionamento. O corte em ângulo
mantém o contato osso a osso e promove a consolidação óssea.

Após a osteotomia, eleva-se a seção do osso com parte traseira do bisturi. Daí
podem-se visualizar dois grandes seios venosos, um de cada lado da linha mediana
que não se pode danificar.

Realiza-se uma incisão na membrana celomática (muitos confundem com peritônio,


mas os répteis não possuem esse órgão). A partir daí, tem-se acesso à cavidade
celomática.

O trato intestinal das tartarugas é curto e preso por um mesentério curto, o que
faz com que a exteriorização das vísceras, como é feita em mamíferos, com a
finalidade de percorrer todo o intestino, seja dificultada (MCARTHUR, 2004).

Quando a celiotomia acaba, a cavidade deve ser lavada com solução fisiológica
morna, removendo-se qualquer detrito de casco ou outras contaminações. Os
líquidos mornos também servem para fornecer aquecimento interno para o paciente.

A linha medioventral deve ser fechada com padrão simples contínuo ou simples
com fio de material absorvível. O retalho ósseo é cuidadosamente limpo e colocado
de volta no local da osteotomia.

Para se selar o retalho, usa-se resina epóxi de polimerização rápida. Alguns autores
também fixam com fios de cerclagem para firmar o retalho.

Figura 52. A e B. Incisão e sutura da membrana celomática; C. epóxi para vedação em jabuti.

A B C

Fonte: (DUTRA, 2014).

Alguns autores preconizam uma celiotomia por acesso pré-femoral, escapando


da necessidade da osteotomia do plastrão. Porém, o acesso é limitado e somente
alguns órgãos posteriores podem ser manipulados, como a bexiga, gônadas
femininas e alças intestinais. Segue-se o mesmo padrão de fechamento.

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Figura 53. Vista ventral do plastrão. Isolado com resina epóxi e fibra de vidro.

Foto: (CUBAS, 2014).

Figura 54. Abordagem pré-femoral. (A) Tartaruga gigante de Aldabra (Aldabrachelys gigantea) em decúbito

lateral, pronta para celiotomia pré-femoral; (B) após incisão na pele, os tecidos moles são dissecados para revelar

a aponeurose fibrosa da musculatura abdominal; (C) encerramento cutâneo.

Fonte: FRYE, 1991.

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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Cirurgias obstétricas são muito comuns quando as fêmeas não conseguem realizar
a postura. Alguns métodos como fraturar ou aspirar os ovos podem ser usados, mas
com cautela, pois poderão ocasionar contaminação celomática; caso se proceda a
esses métodos, após a sucção, realizar a lavagem com solução salina e tergenvet®
para retirar todos os restos de casco que sobraram.

Presença de gema de ovo, um ovo ou um ovo rompido no interior da cavidade


celomática induz a uma grave reação inflamatória, com deposição de fibrina e
espessamento da superfície das vísceras. Geralmente, o prognóstico para esses
pacientes é reservado. O tratamento consiste na remoção do material irritante
e irrigação abundante da cavidade celomática. Antibioticoterapia sistêmica,
manutenção da hidratação e equilíbrio nutricional também são vitais (PESSOA,
2008).

Prolapso de pênis

Muito comum na rotina dos jabutis, o falo desses animais fica retraído à abertura
em comum que dá acesso à cloaca. É frequente também em animais com
hiperparatireoidismo secundário nutricional. Outras causas são: constipação
intestinal ou esforço (tenesmo) associados a corpos estranhos gastrintestinais, tais
como cálculos vesicais, urólitos cloacais ou parasitas.

Defeitos neurogênicos na cloaca ou no músculo retrator do pênis, lesão medular


e rompimento do músculo retrator do pênis também podem ocorrer. Lesões no
pênis podem resultar da manipulação excessiva ou vigorosa ou coito interrompido
(DUTRA, 2014).

O mais corriqueiro é a amputação do pênis quando este está com tecido desvitalizado.
Em animais cujo prolapso é recente e o órgão esteja viável, procede-se à reposição,
gelo, lavagem com furacin e sutura em bolsa de tabaco. Mantém-se a sutura por, no
mínimo, 3 semanas somente com dieta por suco de laranja, antibióticos, analgésicos
por 10 dias (nota do autor). Há relatos de prolapso em tartarugas machos por
masturbação ao roçar nas pedras.

Figura 55. Prolapso de pênis em jabuti.

Fonte: próprio autor, s.d.

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Figura 56. Doença osteometabólica. Nota-se diminuição do tamanho do caso exoftalmia (provável

hipovitaminose A associada).

Foto: próprio autor, s.d.

Ortopedia

Fraturas de casco são uma das situações ortopédicas mais comuns em quelônios,
seja por ataque de predadores, queda, atropelamento ou mesmo por doença
osteometabólica. Para fraturas patológicas, a consolidação óssea poderá vir em 6 a
18 meses, mas, para fraturas por osteodistrofias, somente quando se estabilizarem
os valores de cálcio e fósforo na corrente sanguínea é que se dará o processo de
osteossíntese.

Após a fratura, retiram-se os debris com uma escova cirúrgica e iodo povidine.
Procede-se à osteossíntese com fios de aço transfixando o casco em forma de
“X”, ou por parafusos ortopédicos e fios de cerclagem por fora. Ao apertar os
parafusos, aproximam-se os bordos das fraturas. Uso de resina ou cimento epóxi,
retalhos de vidro autoclavado.

A DOM (doença osteometabólica), já mencionada em lagartos, acomete com


frequência os quelônios, produzindo entortamento e diminuição do casco. Neles,
a hipocalcemia virá com a dieta inadequada, pouca incidência com raios U.V. ou
doença renal.

Problemas ortopédicos associados à DOM incluem atraso no crescimento,


osteodistrofia fibrosa, casco piramidal, encurvamento dos ossos longos e fraturas

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patológicas do esqueleto axial e apendicular. Essas fraturas são difíceis de estabilizar


com fixação interna, pois o osso é macio demais para suportar os implantes. Em
alguns casos, pinos intramedulares podem ser cuidadosamente inseridos para
fornecer alinhamento axial, porém a coaptação externa também deve ser aplicada
(DUTRA, 2014).

Há de se considerar que fixadores externos ou mesmo pinos intramedulares são


complicados para animais aquáticos, pois pode haver contaminação da água no
contato do implante com a pele e o osso. Por isso, faz-se necessário o uso de placas
de titânio.

Figura 57. Uso de parafusos odontológicos e fios de aço em x.

Foto: próprio autor, s.d.

Clínica

Doenças infecciosas

Um fato curioso é que os répteis não são vacinados pelo simples fato de não
produzirem imunidade ativa. Mesmo assim, processos infecciosos em répteis
não costumam ser contagiosos. Pela experiência pessoal, trabalhando com
populações de répteis, raramente se percebiam situações de contágio bacteriano.
Isso não quer dizer que devemos negligenciar. Uma vez identificado algum agente
patógeno, deve-se sempre isolar esse animal dos outros em uma quarentena de
tratamento.

Entre os agentes, os gram-negativos são os mais presentes. Pseudomonas,


Aeromonas, salmonelas e pasteurelas muitas vezes fazem parte da flora
bacteriana, porém podem se tornar oportunistas. Cultura bacteriana se faz
necessária.

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O abscesso nos répteis é caseoso pela ausência de lisozima. Portanto, devem ser
incisados como se fosse um processo cirúrgico. Quando se percebem abscessos
em quelônios, deve-se desconfiar de Hipovitaminose A, além da possibilidade de
pneumonias concomitantes (nota do autor).

Doenças virais, como herpesvírus e iridovírus, acometem diversas espécies,


produzindo lesões das mais variadas e com sintomas inespecíficos, como: necrose
hepática, hemorragias, lesões orais e infecção bacteriana oportunista. O diagnóstico
se baseia em PCR, microscopia eletrônica de transmissão ou contraste, exames
sorológicos (ensaio imunossorvente ligado à enzima [ELISA]) (DUTRA, 2014).

O tratamento é de suporte com fármacos antimicrobianos, fluidoterapia e aciclovir


na dosagem de 80 mg/kg, ainda como teste.

Entre as mais diferenciadas espécies de fungo, temos: Fusarium, Peniclium,


Mucor sp. Com lesões: dermatites, pneumonias, lesões orais etc. O diagnóstico se
baseia em histopatologia, que pode suspeitar de agente fúngico, porém o ideal é a
micocultura.

Agentes parasitários, helmintos, protozoários e mesmo ectoparasitas: amblyomma


sp e ornithodoros sp. Podem veicular hematozoários com patogenia semelhante
ao dos mamíferos, como inapetência, prostração, e, para os quelônios, mucosas
hipocoradas (DUTRA, 2014).

Pneumonia

O trato respiratório dos quelônios não oferece a mesma resistência a agentes


patógenos se comparados aos mamíferos. Seus pulmões são grandes e saculados,
localizados junto á carapaça sobre os outros órgãos. Apresenta um epitélio
mucociliar deficitário e, com isso, a drenagem dos exsudatos se torna dificultada.
Não tossem e não espirram, ausência de bronquíolos, o que lhes dificulta a
liberação de secreções.

Figura 58. Em (A), área pulmonar normal. Em (B), pneumonia em jabuti.

A B

Foto: próprio autor, s.d.

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Na rotina veterinária, doenças respiratórias são muito comuns nas aves, roedores,
quelônios e serpentes. No caso dos répteis, os animais podem ficar muitos dias
doentes sem apresentar sinais evidentes a seus tutores. Secreções respiratórias
nem sempre são observadas. Porém sons de sibilo ou estalido costumam ocorrer,
e os animais mantêm o bico córneo mais aberto a depender do desconforto
respiratório. Na mesma proporção, os animais esticam a cabeça na tentativa de
“captar mais ar”. Sinais inespecíficos de inapetência e prostração também estão
presentes.

Épocas e regiões de seca propiciam essa patologia. Recintos com substrato em


solo poeirento e serragem ou mesmo maravalha produzem uma poeira que, ao ser
inalada, torna-se difícil de ser expectorada.

O diagnóstico, além dos sintomas clínicos característicos, é por radiografia (a


técnica será explicada em capítulo à parte). O hemograma poderá produzir ou não
alterações.

O tratamento é demorado e muitas vezes ineficiente. Nebulização com soro


fisiológico e um agente antimicrobiano de amplo espectro são úteis, fluidificam
as vias aéreas, que naturalmente são secas nesses pacientes, e ajudam no processo
de liberação nasal. Associados a isso, antibióticos injetáveis, a depender da
gravidade, também são necessários (nota do autor).

O prognóstico é variável e dependerá do estado de comprometimento pulmonar.

Atenção! Antibióticos orais não costumam a ser usados em quelônios


devido à dificuldade em se tentar abrir o bico córneo, com a possibilidade
de colocá-lo nessa tentativa.

Obs.: pode-se colocar antibióticos injetáveis na forma de cloridratos para


nebulização e a máscara conectada à narina do animal. Ou colocá-lo em uma caixa
fechada e com o nebulizador, mantendo-se o vapor.

Processos não infecciosos

Queimaduras

São comuns em jabutis de vida livre em biomas que costumam ter uma época de
seca bem marcada (nordeste e centro-oeste). Nessa situação, a lâmina de queratina
se descola do osso, expondo-o. A aparência é de um animal “albino” em uma
observação leiga. O tratamento é voltado à dor e à hidratação para evitar lesões

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renais. Não se podem esquecer curativos diários com ou sem bandagem e, após o
retorno da vitalidade do casco, o fechamento das partes ósseas com eugenol.

Portanto, morfina BID nos primeiros dias, curativo com clorexidine não alcoólico
diário, antibióticos não nefrotóxicos, anti-inflamatório SID, (meloxican). Quando
terminarem os curativos, isolamento do casco com pasta de eugenol (não produz
reação exotérmica) e acompanhamento por hemograma, ácido úrico, ureia e AST.

O prognóstico dependerá da extensão e da profundidade das lesões. Assim como


nas fraturas, as queimaduras podem promover necrose do casco, necessitando de
prótese.

Figura 59. Queimadura em jabuti, região caudal expondo a vascularização óssea.

Fonte: próprio autor, s.d.

Figura 60. Uso de eugenol em jabuti queimado.

Fonte: próprio autor, s.d.

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Quadro 4. Doses de medicamento para testudíneos.

Antibióticos Dose Comentários


Amicacina 5 mg/kg a cada 48 h Atb, infecções respiratórias, digestórias
Amoxicilina 22 mg/kg IM, SC , oral Atb, alt. respiratórias, digestórias
2 xdia , 3 a 4 semanas
Ampicilina 20mg/kg IM 1 xdia Doenças ulcerativas do casco
Azitromicina 10 mg/kg a cada 48 h VO Em hematozoários
Cefotaxima 20 a 40 mg/kg 1 x dia,IM Atb
ceftazidima 20 mg/ kg SC, IM a cada 72 h Contras Pseudomonas
Ceftiofur 2,2 mg/ kg as cada 24 h Infecção respiratória
Clortetraciclina 200 mg/ kg VO a cada24 h
Ciprofloxacina 10 mg /kg a cada 48 h
Clindamicina 5 mg/ kg 2 xdia
Doxiciclina 5 a 10 mg/ kg 1 x dia 45 dias Micoplasmose, hematozoário
Enrofloxacina 5 mg/ kg a cada 48 h
Gentamicina 6 mg/ kg a cada 72 h
Metronidazol 20 mg/ kg IV, VO a cada 24 h Anaeróbicos
Sulfametoxazol 45 – 90 mg / kg IM, 1 x dia
Antivirais
Aciclovir 80 mg/ kg a cada 24 h , 10 dias Herpesvírus
Antifúngicos
Anfotericina B 1 mg / kg 24 – 72 h 14 – 28 dias Aspergilose, pneumonia fúngica
0,1 mg/ kg intratraqueal ou intrapulmonar a cada 24 h 4
semanas
Fluconazol 21 mg/ kg
Griseofulvina 20 a 40 mg/ kg Vo 72 h
Cetoconazol 25 mg/ kg VO a cada24 h 4 semanas
Antiparasitárias
Albendazol 50 mg/ kg VO Ascaridicida
Levamisole 10 a 20 mg/ kg Imunoestimulante
Praziquantel 8 a 10 mg/ kg Im ,Sc Repetir em 14 dias
Anestésicos
Cetamina + butofarnol 10 a 30 mg + 0,15 mg/kg Procedimentos curtos
Cetamina+ midazolan 60 a 98 mg + 2 mg Anestesia
Cetoprofeno 2 mg / kg a cada 24 h Analgésico
Meloxican 0,1 a 0,2 mg/ Kg IM Analgésico
Fonte: BRETAS, 2007.

Obs.: para pesquisa de outros fármacos, consulte o guia Bretas, 2007.

A ivermectina, tão extensamente usada em várias espécies, inclusive aves


e outros répteis, é tóxica aos quelônios, causando-lhes morte por ataxia e
insuficiência respiratória!

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Desidratação

O consumo de água é marcadamente diminuído em répteis que trocaram a


alimentação rica em folhagens tenras por peletizadas, quando a umidade
diminui ou quando são mantidos a uma temperatura muito baixa. Pode ocorrer
concomitante a outras doenças.

Temperaturas menores que as ótimas de manutenção diminuem a razão metabólica,


que diminui a taxa de filtração glomerular e inibe o restabelecimento da função
glomerular.

Caso a ingestão de água seja ineficiente, deve ser feita a administração parenteral
por via intracelomática (na abertura da virilha), intraóssea (um pouco mais
difícil, pela cortical densa) ou intravenosa, que no caso pode ser pelas veias
jugulares. Os quelônios desidratados apresentam olhos fundos, pele seca,
depressão e anorexia (FRYE,1986).

Distúrbios renais

Vários fatores podem desencadear. Proteína de baixa qualidade leva à excessiva


excreção de nitrogênio, e excreção de nitrogênio não proteico derivado de quitina
(exoesqueleto de invertebrados) ocorre por via renal. A excessiva excreção de
potássio também causa precipitação de uratos. Tais fatores, somados a limitado
consumo de água e componentes secundários, como temperaturas frias e estresse
crônico, podem levar à insuficiência renal.

A chave para prevenir a insuficiência renal é dieta (alto conteúdo de água,


proteína de alto valor biológico, consumo cuidadoso de sódio, potássio e fibra, e
controle de ingredientes acidogênicos), fornecimento adequado de água, manejo
alimentar (para regular o pH urinário), de temperatura e umidade. O manejo
dietético de répteis deve compreender ingestão de proteínas de alto valor
biológico e restringir o consumo de fósforo (FRYE, 1986).

Gota úrica

Decorre da deposição de urato nos órgãos e articulação, tendo como causa dietas
com níveis de proteína de baixa qualidade associados à desidratação. O consumo
hídrico está intimamente associado a essa patologia, em que muitas vezes não se
tem a oferta de água.

Qualquer distúrbio na excreção renal de ácido úrico predispõe a precipitação de


cristais de ácido úrico. O tratamento de gota inclui terapia, suporte e diurese. Pode-se

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usar de inibidores de ác. úrico como o alopurinol. Para o manejo da dieta,


utilizam-se alimentos com baixo índice de purinas e promove-se a acidificação
(DONOGHUE, 2006).

Cálculos vesicais

Nutricionalmente, cálculos císticos se relacionam a excesso na dieta de vitamina D,


vitamina C, cálcio, sódio, fósforo e magnésio, baixa umidade de dietas peletizadas,
retenção urinária, anormalidades na excreção de cálcio, sódio ou fósforo e pH
alterado (ácido para oxalato de cálcio e alcalino para fosfato de cálcio), e baixa
ingestão hídrica. O tratamento visa corrigir os fatores predisponentes, além da
cirurgia de cistotomia (DONOGHUE, 2006).

Jejum

O jejum pode ter várias causas, entre elas: doenças, temperatura inapropriada
ou mesmo em populações em que alguns indivíduos se sobrepõem a outros e os
impedem de se alimentar. Isso pode levar a fígado esteatótico. Um dos tratamentos,
além de corrigir o fator etiológico, é aumentar a temperatura ambiental, e, caso o
animal não queira se alimentar de uma oferta variada de legumes e frutas frescas,
realizar a esofagostomia, em que se insere uma sonda nasogástrica 12 atrás da
mandíbula e por ela se colocam alimentos batidos com frutas e vitamínicos.

Figura 61. Sonda esofágica em jabuti.

Fonte: DUTRA, 2014.

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Casco piramidal

Essa enfermidade é evidenciada pela presença de torres no casco. Em muitos


casos, os animais não apresentam sintomas. As causas são alimentares e envolvem
o consumo excessivo de proteína, gordura, cálcio e fósforo. Em cativeiro, jabutis
jovens mantidos com excessiva comida no ambiente de baixa umidade são
predispostos ao crescimento piramidal (MCARTHUR, 2004).

Figura 62. Em A, o jabuti da esquerda com piramidismo, o da direita normal; em B, detalhes do piramidismo.

Nota-se encurvamento do casco.

Foto: próprio autor, s.d.

Hiperparatireodismo renal secundário

Como já relatado, as deficiências de cálcio ou vit. D3, assim como baixa exposição a
raios solares, levam à doença osteometabólica.

Em carnívoros, a deficiência de cálcio é geralmente associada a dietas de musculatura


esquelética e vísceras sem ossos, dietas de presas neonatais, como camundongos e
pintinhos de um dia, ou dietas de insetos não suplementados.

Em herbívoros, a deficiência se origina de dietas desprovidas de legumes e


suplementos de cálcio. A absorção de cálcio é diminuída em dietas contendo fitatos
(especialmente ingredientes de soja), oxalatos (espinafre), alta concentração de
gordura (rações de desempenho) ou dietas ácidas (rações felinas) e em dietas
deficientes em vitamina D3 (MCARTHUR, 2004). Na dieta, adicionar farinha de
ossos ou fosfato de cálcio.

Para animais com paresia ou tremores hipotetânicos, administra-se cálcio


endovenoso, ou mesmo subcutâneo, além da hidratação. Cuidar com a excessiva
administração de vit. D, pois poderá ocasionar toxicidade.

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Hipovitaminose A

É um problema crônico muito comum e atribuído ao manejo alimentar errado.


Alguns animais são alimentados exclusivamente por alface, carne bovina e, no
melhor das hipóteses, ração para cães (no mercado já existem rações próprias
para quelônios carnívoros e para herbívoros).

A queixa principal dos proprietários é o baixo crescimento, mas a mais evidente


é o blefaroespasmo (edema e fechamento de pálpebras). Essa hipovitaminose
resulta em metaplasia escamosa na pele, na qual a pele se torna seca e desvitalizada,
produzindo abscessos principalmente na face dos animais (aurais) e, em muitos
casos, pneumonia secundária à deficiência dessa vitamina no epitélio das mucosas
(nota do autor).

O tratamento se direciona a retirar os abscessos e corrigir as causas, com:


aplicação de vitamina A injetável (monovim A®.200 UI/kg IM ou SC) 1 x semana
e fontes desta na alimentação, como em óleo de fígado de peixe, emulsão scott ®
e alimentos vegetais, como pimentão verde e amarelo, muito apreciado pelos
jabutis. A patologia pode progredir para uma pneumonia.

Figura 63. Hipovitaminose A, blefaroespamo e abscessos.

Foto: próprio autor, s.d.

Hipovitaminoses B1 e E

Os répteis carnívoros aquáticos são suscetíveis a deficiências de tiamina, por


causa da tiaminase, e de vitamina E, por causa de altos níveis de ácidos graxos
poli-insaturados em peixes. Cuidados devem ser tomados para assegurar que os
peixes sejam frescos (ou congelados e descongelados em temperaturas frias) e sem
evidência de peroxidação lipídica (MCARTHUR, 2004). Sintomas incluem ataxia,
tremores musculares, cegueira e bradicardia. Sinais de deficiência de vitamina E
incluem anorexia e crescimento nodulares dolorosos sob a pele (esteatite). Para
tratamento, a tiamina pode ser dada parenteral e oralmente.

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CAPÍTULO 3
Criação e medicina de crocodilianos

Introdução
O surgimento dos crocodilianos ocorreu há mais de 200 milhões de anos e forma
atualmente a ordem Crocodylia, pertencente à subclasse Archeosauria, a mesma
dos dinossauros e das aves (WALKER, 1972), o que torna muito próximas as
características entre aves e crocodilianos.

A reprodução desses animais costuma ocorrer no verão. As fêmeas dos


crocodilianos são as que possuem o melhor cuidado com seus filhotes, chocando
os ovos e permanecendo por mais tempo com a prole, ensinando, protegendo e
alimentando. Esse ninho pode ser construído com material vegetal ou mesmo um
simples buraco na areia próximo ao rio. São comuns posturas de 20 a 70 ovos
(BASSETTI; VERDADE, 2014).

Esses predadores estão distribuídos por quase todo o clima tropical, podendo
ser vistos também em regiões subtropicais e em climas temperados. Na Ásia,
Índia e Oceania, encontramos uma espécie de aligátor (Alligator senensis),
seis espécies de crocodilos (Crocodylus johnstoni, Crocodylus minorensis,
Crocodylus novaeguineae, Crocodylus palustris, Crocodylus porosus e
Crocodylus siamensis), uma espécie de gavial (Gavialis ganeeticus) e uma
defalso gavial (Tomistoma schlegelii). A África contém três espécies de
crocodilos (Crocodylus cataphractus, C. niloticus e Osteolaemus tetraspis). Já
nas Américas há onze espécies de crocodilianos, sendo uma espécie de aligátor
(Alligator mississippiensis), seis espécies de jacarés (Caiman crocodilus, C.
latirostris, C. yacare, Paleosuchus palpebrosus, P. trigonatus e Melanosuchus
niger) e quatro espécies de crocodilos – Crocodylus acutus, C. intermedius, C.
moreletii e C. rhombifer (BASSETTI; VERDADE, 2014).

No Brasil, ocorrem os jacarés, que são animais menores do que os crocodilos. São
eles: jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), jacaré-tinga (C. crocodilus),
Jacaré-do-Pantanal (C. yacare), jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus),
jacaré-paguá (P. palpebrosus) e jacaré-açu (Melanosuchus niger). Os maiores
são os jacarés-açus, que podem passar de 3,5 metros e os coroas, que raramente
passam de 1,8m.

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UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

São animais que, na natureza, vivem em grandes ou pequenos grupos, próximos


a rios, lagos, várzeas e pântanos, e, por isso, sofrem grande pressão antrópica
por questões de agricultura, poluição das águas e drenagens de várzeas que
promovem a perda de habitat e diminuição das populações. Não podemos
deixar de destacar a forte procura pela caça predatória e retirada de peles para
curtimento, embora existam no Brasil criadouros legalizados de jacarés para
abate (MAGNUSSON; CAMPOS, 2010).

Quanto à legislação, a criação em cativeiro é regulamentada pela Portaria


no 118/1997, que normatiza a implantação de criadouros comerciais, e a Portaria
no 117/1992, que normatiza a comercialização de peles de jacarés brasileiros
(GROOMBRIDGE, 1987).

Entre os grupos, alguns dos jacarés estão em menor risco, segundo a IUCN,
como os do papo amarelo, o jacaré-anão, coroa, o jacaré-açu. Embora estejam
em baixo risco, dependem de conservação, considerando a estimativa de sua
população – de 25.000 a 50.000 habitantes distribuídos na América do Sul.

Quadro 5. Diferenças entre crocodilo e jacaré.

Crocodilos Jacarés
Família Crocodilidae Alligatoridae
N de espécies
o 14 8*
Cabeça Mais afilada Focinho largo e arredondado
Escamas do ventre Com poros glandulares** Ausentes
Dentes: Escondido dentro da boca Hipertrofiado e encaixado numa cavidade lateral na parte externa da
boca (aparecem fora da boca)
Quarto dente do maxilar
inferior
Superiores Desalinhados
Alinhados com os inferiores

Fonte: FREITAS, 2011.

* Oito espécies – entre elas, estão as dos gêneros Caiman e Paleosuchus, aos quais pertencem os jacarés brasileiros (não há
crocodilos no Brasil).

**Os cientistas ainda não conhecem exatamente a função desses poros, mas especulam que possam servir para a simples
troca de calor e água com o ambiente.

Anatomia e fisiologia
Pele de grande resistência composta de placas queratinizadas que percorrem
todo o tronco e a cauda, estando disposta em fileiras. Em adultos, estão presentes
placas osteodérmicas, que são responsáveis pela defesa nas lutas, além de captar e
distribuir o calor dos banhos de sol aos capilares sanguíneos, aquecendo o animal.

96
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Os crocodilianos possuem 3 pares de glândulas almiscaradas na parte interna da


cloaca, parte inferior da cabeça dentro da boca, que são estimuladas no momento
do cortejo do macho.
Figura 64. Diferenças entre jacaré e crocodilo.

Vista lateral

Vista superior

Fonte: https://www.facebook.com/socientifica/photos/a.391060364393728/1004250019741423/?type=3&theater.

Sistema digestório

Consiste em língua achatada, presa ao assoalho da cavidade oral, que protai,


isola a nasofaringe e, junto à prega palatina, possibilita ao animal respirar com
a boca aberta submersa na água, desde que a narina esteja em contato com o
ar atmosférico. A cavidade oral não apresenta fenda palatina como nos outros
répteis, e os dentes têm forma cilíndrica e são usados para apreensão do alimento,
e não para corte, uma vez que os animais separam a carcaça de presas grandes
com movimentos bruscos laterais. Os dentes são trocados periodicamente.

O estômago apresenta duas câmaras, ausência de ceco, e o trânsito intestinal é


termodependente, uma vez que o alimento pode permanecer por quatro dias a
uma temperatura ambiental de 30º C, que pode prorrogar para uma semana se a
temperatura cair para 25ºC (FOWLER, 2003).

Figura 65. A. Prega palatina fechada; B. prega palatina aberta.

Fonte: próprio autor, s.d.

97
UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Sistema esquelético

A coluna vertebral é composta por vértebras cervicais, torácicas, lombares, sacrais e


caudais. Nas cervicais, existem costelas curtas e livres; as torácicas e o esterno estão
unidos com um prolongamento cartilaginoso ventral, e, entre o esterno e os ossos da
região púbica, há sete pares de costelas abdominais em forma de V, unidos por meio de
ligamentos (TROJANO, 1991).

Figura 66. Costelas em formato de V em jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris).

Fonte: CUBAS, 2014.

Sistema nervoso

Apresentam dois lobos olfatórios alojados no encéfalo, ligados aos grandes


hemisférios cerebrais; atrás destes, ficam dois lobos ópticos ovais. Na parte
do cérebro anterior, encontram-se as epífises, o hipotálamo, responsável
pela regulação da temperatura e atividade sexual, e o olho pineal, de função
desconhecida. Em forma de pera, vem o cerebelo mediano.
98
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

O mielencéfalo expande-se lateralmente por baixo do cerebelo, estreitando-se para


formar a medula espinal. Ventralmente, entre as bases dos hemisférios, estão os
tratos e nervos ópticos, seguidos pelo infundíbulo e pela hipófise. Há doze pares
de nervos espinais para cada somito do corpo, não ocorrendo presença da cauda
equina, que favorece os procedimentos clínicos de venipunção caudal, cirurgias de
cauda e colheita de fluido cerebroespinal (FOWLER, 2003).

Órgãos dos sentidos

Os crocodilianos possuem órgãos sensitivos desenvolvidos, visão binocular e


boa acuidade visual noturna. Apresentam membranas nictitantes que servem de
proteção quando os animais estão submersos e com olhos abertos. Há glândulas
lacrimais que excretam o sal e fazem a osmorregulação, principalmente nas
espécies de água salgada.

Possuem boa audição em terra ou quando submersos, possuem ouvidos perto dos
olhos em formato de fenda, protegidos por membrana muscular que fecha a cavidade
auditiva quando submersos (FOWLER, 2003).

Figura 67. Ouvido externo caudal e próximo aos olhos.

Foto: próprio autor, s.d.

99
UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Sistema circulatório

É o único entre os répteis que apresenta um coração com quatro cavidades


cardíacas, dois átrios e dois ventrículos, sendo que há uma pequena comunicação
no músculo interventricular, o forame de Panizza, o que propicia uma pequena
mistura entre os sangues oxigenados não oxigenados.

Sistema urinário

É composto por dois rins lobulados e achatados, que estão em contato com a
parede dorsal na região pélvica. Os glomérulos filtram o sangue, deixando passar
somente água e sais minerais, retendo células e outras moléculas grandes, que
passam para os túbulos renais, onde parte da água é reabsorvida. Os répteis não
podem concentrar a urina muito acima da osmolaridade plasmática. A urina e os
uratos precipitados são transportados para a cloaca, e a água liberada é, então,
reabsorvida. Essa condição de conservação da água nos répteis processa-se por
uma modificação na via do catabolismo de proteína e pela capacidade da cloaca de
funcionar como ponto de reabsorção (TROIANO, 1991).

Lembre-se! Os répteis usam o falo para ejaculação, e não a micção, pois os


catabólitos urinários, no caso de crocodilianos e ofídios, saem dos rins e, pelos
ureteres, caem diretamente na cloaca. Os quelônios e lacertílios apresentam
vesícula urinária.

Sistema reprodutor

São animais que não possuem dimorfismo sexual. As gônadas são visualizadas
afastando a cloaca, quando se pode observar o falo e as glândulas de ferormônios
no macho. Os testículos são arredondados e estão localizados intracavitários em
contato com a parede dorsal do corpo, onde os ductos deferentes se unem à base
do falo (pênis).

Nas fêmeas, na parte anterior de cada ovário, situa-se o funil do oviduto, que vai
até a cloaca. Os óvulos são formados no ovário, passam para dentro do funil, são
fecundados nos ovidutos e são, então, envolvidos por albumina, membrana da casca
e casca antes da ovipostura (TROIANO, 1991).

100
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Figura 68. Falo e glândula cloacal em A; em B, glândula cloacal abaixo e à direita.

A B

Foto: próprio autor, s.d.

Esses animais são basicamente influenciados pela temperatura ambiente, o que


afeta até a incubação dos ovos e assim a determinação do sexo e não pela genética,
pois os crocodilianos não apresentam cromossomos sexuais heteromórficos. Essa
diferenciação sexual pode acontecer entre o 7o e o 21o dia de incubação dos ovos.
Verifica-se que o nascimento de fêmeas ocorre a temperaturas mais baixas (28
a 31°C – valores aproximados) e mais altas (33 a 34°C – valores aproximados),
e que, a temperaturas intermediárias (31 a 33°C – valores aproximados), ocorre
nascimento de machos. Sendo assim, controla-se por regulação de temperatura
das incubadoras o nascimento de mais fêmeas do que machos quando se tem uma
criação comercial de abate (BULL,1980).

Levando-se em consideração que esses animais precisam de pouca energia para


sua manutenção e produção de calor, a demanda fisiológica de energia está voltada
para crescimento e reprodução.

Exploração comercial
Os sistemas de criação visam ao aproveitamento econômico basicamente da carne
e couro. Normalmente, é explorada a espécie jacaré-de-papo-amarelo. Podem ser
divididos em 3 modalidades.

» Harvesting ou Cropping

Manejo extensivo ou caça controlada de populações selvagens. É


a mais extensiva das criações, mas não é permitida no Brasil pela
proibição da caça e ameaça de risco de extinção.

101
UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

» Ranching

Retirada de ovos de ninhos provenientes da natureza e posterior


criação dos filhotes em cativeiro. Para esse modelo, poderá ser
praticado no Brasil somente com o jacaré-do-Pantanal.

» Farming

O ciclo completo em cativeiro, incluindo reprodução. Nesse caso, o


início da criação deve ser por fornecimento de reprodutores e matrizes
a criadores legalizados junto ao IBAMA, evitando, assim, que animais
selvagens sejam retirados da natureza (VERDADE, 2001).

Rendimento de carcaça jacaré-do-Pantanal


(Caiman yacare)

Animais mais leves (2,1 – 4,1 kg), aproveitamento de 62,45% da carcaça,


enquanto animais mais pesados (16,5 – 20,9 kg) têm rendimento de 59,37%.
O aproveitamento da pele é maior nos animais mais novos porque ainda não
formaram os osteodermos ventrais (FREITAS, 2011).

O baixo percentual de gordura e a alta de umidade da carne de crocodilianos


tornam esse produto delicado em textura, podendo sofrer danos de congelamento.
A gordura dessa carne apresenta um maior percentual de ácidos graxos
insaturados, comparada às carnes de boi e porco, sendo mais susceptível à rancidez
oxidativa, que provoca alterações de sabor.

Instalações conservacionistas e zoológicos

Como esses recintos não possuem a finalidade de reprodução, pode-se manter


quelônios e jacarés de mesmo porte em um só recinto. O Zoológico de Brasília
mantém quelônios aquáticos, jacarés-tinga e coroa juntos, e mantinha separado o
único indivíduo açu de 3,5 metros. A chamada praia dos jacarés contém um espaço
de areia e outro de água, além de uma rampa para facilitar o deslocamento.

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MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Figura 69. Ambiente aquático e outro de areia.

Foto: próprio autor, s.d.

Instalações comerciais

Para os jacarés-de-papo-amarelo, formam-se pequenos grupos, com um só macho.


Segundo estudos ecológicos, trabalha-se com módulos de 10 m × 10 m, cada um
contendo um tanque de 4 m × 6 m de espelho d’água, com 1 m de profundidade
máxima e cinco abrigos de nidificação de 2 m × 2 m, utilizando a proporção de um
macho para quatro fêmeas (VERDADE, 2006).

Tanques em forma de círculo, evitando, assim, abrasões por atrito nas maxilas
dos animais e na perda de dedos, problema tão comum em pisos abrasivos, o que
pode propiciar osteomielite nos animais. A água deve ser monitorada e reposta
continuamente para evitar disseminação de parasitas e doenças infecciosas.

Figura 70. Piscinas circulares construídas para evitar a abrasão por atrito na maxila.

Fonte: CUBAS, 2014.

103
UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Os ninhos são construídos com material vegetal, misturados à terra. Como já


mencionado, os ovos serão incubados a temperaturas desejadas caso se queira um
maior número de fêmeas ou machos. Ao recolher os ovos dos ninhos, colocá-los em
bandejas plásticas com vermiculita umedecida, o que proporciona conservação e
manutenção do calor e umidade, que deve ser superior a 90% dentro da incubadora
(VERDADE, 2014).

Figura 71. Incubadora de isopor, vermiculita em bandejas de plástico.

Fonte: CUBAS, 2014.

Na fase de desenvolvimento, os animais são colocados a um ambiente de estufa


de crescimento. Este, conta com módulos e tanques de água com profundidade
entre 70 cm e 100 cm, para facilitar a abordagem. A densidade deve ser mantida
em 0,1 m2/animal no nascimento até 0,3 m2/animal na época de abate ou
transferência para os recintos de reprodução (JOANEN; McNEASE, 1987).

Figura 72. Em A., recinto de crescimento do Criatório Caiman (estufa plástica e alvenaria); em B., visão interna do

recinto.

A B

Fonte: CUBAS, 2014.

104
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Alimentação

A alimentação compreende 50 a 60% do custo total de uma criação, o que pode ser
minimizado com o uso de descarte de produção animal, como refugos avícolas.

Consomem todo tipo de presa. Quanto aos filhotes, na natureza, consomem


crustáceos, gastrópodes, répteis menores, pequenos peixes e, principalmente,
insetos. A quantidade de alimento fornecida aos animas deve permanecer na
faixa de 6,5 a 7,5% do peso vivo por semana para animais adultos.

Em cativeiro, os filhotes começam a receber alimentação diária desde os primeiros


dias de vida, ainda dentro das incubadoras. Esse intervalo de alimentação
continua por toda a fase de crescimento ou enquanto esses animais estiverem
alojados nas estufas plásticas. Já os animais adultos, alojados em recintos a
céu aberto, devem ser alimentados uma única vez na semana, excetuando-se os
meses mais frios do ano (VERDADE, 1992). A oferta de alimentos em dias frios
poderá produzir deterioração do alimento no estômago e formação de gases,
levando à morte os animais.

Contenção física e química

A contenção física já foi abordada na Unidade 2, Capítulo 2. Laça-se o animal


no pescoço e se posiciona ao lado do animal na eminência de “sentar sobre ele”,
conforme se vê na Figura 73.

Figura 73. Contenção física de jacaré americano (Alligator mississippiensis) utilizando tiras de borracha no

fechamento da boca.

Fonte: CUBAS, 2014.

105
UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Quadro 6. Analgésicos, sedativos e anestésicos utilizados em crocodilianos.

Nome genérico Dosagem (mg/kg) Vias de administração


Cetamina 20 a 50 (sedação) IM ou IV
50 a 100 (anestesia)
Cetoprofeno 2 SC ou IM
Doxapran 4 a 12 IM ou IV
Flunixin 0,1 a 0,5 IM
meglumine
Isoflurano 3 a 5 % (indução) -
1 a 3 % (manutenção)
Lidocaína a 2 % 5 IM ou SC
Pentobarbital 8 IM
Propofol 5 a 10 IV
Tiletamina + zolazepan 1a2 IM ou IV
xilazina 0,1 a 1 IM
Fonte: FOWLER, 2003.

Clínica e cirurgia
As situações mais corriqueiras são limpeza de feridas e reparação das amputações
de membros causadas principalmente no período de acasalamento por brigas.

Doenças relacionadas com a reprodução

Ovos

A porosidade dos ovos permite a troca gasosa e de água entre o meio ambiente
e o embrião. Quando há alguma diferença nos níveis dessa porosidade, há a
morte embrionária e consequentemente a proliferação de bactérias e fungos no
restante dos ovos do ninho e na incubadora. A má formação da casca com pouca
mineralização está relacionada com a pouca oferta de cálcio na alimentação das
matrizes.

Infertilidade

Na natureza, durante o período reprodutivo, as fêmeas podem ter várias cópulas


com diferentes machos, o que teoricamente faria com que todos os ovos fossem
fertilizados. Nas criações em cativeiro, principalmente em espécies mais
agressivas, isso não ocorre.

106
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Geralmente, a formação dos grupos reprodutores é feita seguindo modelo


semelhante a um harém, em que somente um macho é colocado com as fêmeas
no recinto. Nesse esquema, caso haja a incidência de ovos inférteis por várias
fêmeas, é muito provável que esteja ocorrendo infertilidade no macho.

Por outro lado, caso haja incidência de ovos férteis em um ninho e inférteis, é
provável que possa estar ocorrendo problema nas fêmeas, sendo a infecção nos
ovidutos a principal causa de infertilidade, podendo ser ascendente da cloaca
ou descendente pelo infundíbulo. Porém, outros fatores também podem estar
envolvidos nesse processo, como distúrbios nutricionais, alta taxa de estresse,
alta taxa de lotação, baixas temperaturas etc. (VERDADE, 2014).

Infecção nos ovos e morte embrionária

A sobrevivência dos embriões está diretamente relacionada com o controle


da umidade e da temperatura nas incubadoras. Baixas temperaturas resultam
em morte embrionária, enquanto é comum que ovos expostos à alta umidade e
temperatura se infectem com fungos e bactérias, trazidos principalmente pela
manipulação inadequada no momento da colheita e pela passagem dos ovos pela
cloaca, em que frequentemente entram em contato com a microbiota bacteriana
advinda do intestino da mãe. Essa contaminação pode ser evitada com a utilização
de luvas de procedimento para a manipulação dos ovos e limpeza das cascas.

Onfalite

É uma das principais doenças em filhotes, e seu diagnóstico se faz pelo aumento de
volume abdominal e o não fechamento do umbigo. Basicamente, o processo consiste
no fechamento do canal vitelínico por uma infecção bacteriana vinda do saco da
gema. Assim, a gema contamina-se e não pode ser absorvida, afetando a nutrição
do recém-nascido. O conteúdo do saco da gema deixa de ser líquido e passa a ter
consistência endurecida, em grande parte das vezes por infecção ascendente, sendo
necessária sua remoção cirúrgica.

O animal vai a óbito por septicemia e choque endotóxico na maioria dos casos. A
desinfecção da incubadora com amônia quaternária antes da colocação dos ovos,
juntamente com a antissepsia da região umbilical com iodopovidona tópica e a
utilização de violeta de genciana na água da incubadora, ajuda a prevenir onfalites
(VERDADE, 2014).

107
UNIDADE V │ MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS

Figura 74. Em A., abertura umbilical; em B., desinfecção de umbigo com iodopovidona.

A B

Fonte: CUBAS, 2014.

Doenças infecciosas

Poxvírus ou dermatite viral

Afeta animais jovens, é contagioso e forma portador assintomático. As lesões são


semelhantes a pequenos halos de coloração branco acinzentadas e podem persistir
por meses, às vezes levando o indivíduo à morte. Ocorre mais comumente nas
pálpebras, membranas nictitantes, interdigitais e timpânicas, na maxila, mandíbula
e língua. Em muitos casos, há a cura espontânea.

O tratamento consiste basicamente em isolar os animais doentes e na


desinfecção de piscinas e manutenção de um ambiente livre de estresse, além da
antibioticoterapia contra infecções secundárias (VERDADE, 2014).

Doenças gastroentéricas

Também ocorrem por se tratar de animais cativos e muito presentes em plantéis.


Os agentes mais isolados são as coccidias (Eimeria spp., Isospora spp.), marcadas
por diarreia, sendo o tratamento à base de sulfametazina.

A Salmonella spp. pode estar presente de forma assintomática e quando os animais


estão imunodeprimidos ou com stress. Isso pode ser um problema quando a carne é
usada para consumo humano, sendo assim um problema de vigilância sanitária.

Quadros de diarreia, seguidos de anorexia e apatia, são os sinais clínicos mais


observados; em alguns casos, ocorre septicemia, com focos necróticos no fígado.
A presença de salmonella nas fezes não pode ser considerada conclusiva, uma
vez que o agente faz parte da microbiota intestinal. Por isso, deve ser relacionado
com os exames clínicos (WALLACH, 1983).

108
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS │ UNIDADE V

Gota úrica

É a de maior incidência em jacarés de cativeiro. Embora se suspeite erradamente da


dieta hiperproteica, ela é secundária à falência renal, com o comprometimento da
desidratação promovendo a gota visceral.

Alguns fatores podem estar relacionados como o uso de gentamicina e uma


exposição acentuada nas estufas para os jovens na fase de crescimento.

Há distúrbios nervosos por intoxicação, pouca atividade física, anorexia,


hiperplasia das articulações e emagrecimento. É caracterizada pela deposição
de cristais de sais de urato nas articulações, tecidos periarticulares, parênquima
hepático, saco pericárdico e rins.

Como diagnóstico, mensura-se ácido úrico sanguíneo. A concentração normal


de ácido úrico sanguíneo em crocodilianos fica entre 1 e 4,1 mg/dℓ, sendo que
animais com gota chegam a apresentar níveis plasmáticos ao redor de 70 mg/dℓ
(WALLACH, 1983).

O tratamento básico para a reversão do processo é a hidratação, que pode ser


realizada pela administração de fluidos por via intravenosa, intraperitoneal,
intraóssea ou por via oral, com o auxílio de sonda para animais de pequeno porte,
embora o quadro seja irreversível na maioria das vezes, principalmente pela
demora no diagnóstico (SARKIS, 2005).

Figura 75. Colocação de tubo de pvc para passagem de sonda alimentar, endoscópio.

Fonte: CUBAS, 2014.

109
EXAMES DE IMAGEM UNIDADE VI
EM RÉPTEIS

CAPÍTULO 1
Radiologia

Introdução
Devido a seu metabolismo lento, os répteis possuem um trânsito gastrointestinal
mais lento do que os mamíferos, porém com trato mais curto. Alterações de
temperatura ambiental e corpórea influenciarão, assim como a ingesta. Portanto,
répteis predadores terão trânsito mais lento (o mesmo acontece em mamíferos
carnívoros), se comparados aos répteis herbívoros.

Pela ausência de diafragma, é comum encontrarmos órgãos muitas vezes fora


da ordem conhecida dos mamíferos, pois alças intestinais podem ocupar porção
cranial dos animais.

Para uma melhor visualização do TGI, o uso de contraste baritado poderá ser
realizado na dose de 5 a 20 ml/kg (BRETAS, 2007). É possível identificar corpos
estranhos, tumorações, obstruções. Porém, o trânsito é demorado e pode levar
muitos dias, como em lagartos e testudineos.

A radiografia é muito útil para identificação de gestação em répteis, tanto a sua


avaliação quantitativa como qualitativa, pela mineralização excessiva dos ovos
e diferentes graus de radiopacidade, sendo possível suspeitar de distocia (nota do
autor), que deve ser confirmada com exame clínico. A forma da casca produzindo
sombreamento também pode ser distocia, além de paredes espessadas.

Nos répteis ovíparos, o exame radiográfico contribui para avaliação de alterações


de casca, forma, tamanho, número e posição dos ovos (JACKSON; COOPER,
1979).

110
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Para espécies vivíparas, a ultrassonografia é um método excelente para diagnóstico


precoce de gestação e avaliação da viabilidade fetal. Nos animais ovovivíparos,
o esqueleto do feto pode ser observado radiograficamente e, ao contrário do
que se nota em ovíparos, a calcificação da parede dos ovos não está presente
(SCHILDGER, 1991).

Figura 76. Em A, presença de ovos em período normal.Em B, suspeita de distocia (aumento excessivo da

radiopacidade óssea e calcificação não homogênea).

Foto: próprio autor, s.d.

Quelônios
O casco ósseo dos quelônios não impede de observar as estruturas internas. Nela,
se observa pouca quantidade de gás no TGI, e frequentemente são encontradas
pequenas pedras, que se acredita que são ingeridas pelos animais para contribuir
no processo de maceração dos alimentos – assim como fazem as galinhas
(SILVERMAN, 1993).

Nesses animais, não se observam o coração nem a vesícula urinária na radiografia


simples, e boa parte da radiopacidade encontrada é atribuída ao sistema digestório,
que é melhor visualizada em projeção dorsoventral.

A radiografia nos quelônios tem a utilidade de evidenciar ovos e a possível distocia,


corpos estranhos, muito comuns em quelônios aquáticos que ingerem anzóis ou
outros corpos estranhos radiopacos, fraturas de casco ou membros, osteodistrofia
fibrosa pela doença osteometabólica, pneumonias e outros.

Quelônios em projeção dorsoventral produzem radiopacidade de boa parte da


cavidade celomática.

Para animais de porte pequeno (+/- 400 g), Jackson e Fasal (1981) utilizaram
aparelhos regulados a 60 Kv e 100 miliamperes.

111
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

O pescoço, assim como os membros, deve estar em extensão (evita-se sobreposição).


Isso muitas vezes é difícil com o animal acordado. Por isso, deve-se o animal
anestesiado (nota do autor).

Figura 77. Tigre d’água que ingeriu anzol.

Fonte: próprio autor, s.d.

O coração não é individualizado, e os pulmões na projeção dorso ventral com feixe


vertical de raio são obscurecidos por outros órgãos. Por isso, a recomendação para
visualização pulmonar deve ser feita com projeções: látero-lateral e craniocaudal,
com feixe horizontal. Nessa projeção, o pulmão tem tamanho e aspecto radiográfico
semelhantes e está aderidos à carapaça e com pouca capacidade de distensão
(SILVERMAN, 1996).

A coluna vertebral é fusionada e também pode ser identificada em projeção


dorsoventral como uma linha radiopaca em região sagital mediana. Em condições
normais, os pilares que se localizam nas regiões axilar e inguinal entre o casco e o
plastrão também podem ser identificados em projeção lateral.

Figura 78. Corpo estranho.

Fonte: https://www.researchgate.net/figure/fig2_279270851.

112
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

O uso de contraste à base de bário foi descrito por Meyer (1988) com gastrofin®
por via orogástrica na dose de 1 ml/130 g de peso e realizando várias tomadas
radiológicas. Pode-se levar mais de 2 dias para se percorrer ao TGI.

Lagartos
Nos lagartos, também se realiza a projeção látero-lateral com o feixe horizontal de
raios X, principalmente para a avaliação da coluna vertebral e sistema respiratório,
pois os órgãos do trato gastrointestinal vão posicionar-se ventralmente na
cavidade celômica, incrementando, dessa forma, a visualização dos pulmões (os
rins, vasos e coração também poderão ser visualizados).

Os membros torácicos devem ser posicionados o mais cranialmente possível


de forma a minimizar a sobreposição, como coração e pulmões. Por sua vez, os
membros pélvicos devem ser estendidos caudalmente para reduzir a sobreposição
com a região abdominal caudal. Pode ser necessário anestesiar (PINTO, 2007).

O fígado não é totalmente individualizado em relação às alças intestinais, e uma


quantidade moderada de gás pode ser vista no trato digestório.

O coração, na maioria do répteis, com suas três câmaras cardíacas, ocorre nas
espécies como teiús e iguanas, cujo coração está localizado próximo à entrada do
tórax, porém em dragão-de-Komodo está mais caudalmente.

Para que se observem os pulmões, de aspecto sacular, a projeção látero-lateral


com feixe horizontal é preferida para se evitar sobreposição dos órgãos soltos
(SILVERMAN, 1996).

O hemipênis de várias espécies de lagartos adultos é calcificado e pode ser


observado em radiografias simples. Há relatos de exame radiográfico contrastado
para auxiliar a sexagem de serpentes. A administração de contraste iodado via
cloaca pode ajudar a identificação do hemipênis em machos (BARTEN, 1996).

Figura 79. Radiografia de lagarto em projeção látero-lateral com feixe horizontal de raios X. (Lu) pulmão; (Li)

fígado; (t) traqueia; coração; (h); (s) estômago; (i) intestino; (f) gordura; (k) rins.

Fonte: próprio autor, s.d.


113
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Serpentes
Nos ofídios, a ingesta alimentar se move em bolo pelo TGI com uma quantidade
mínima de gás.

A posição látero-lateral é a que oferece uma melhor observação, mesmo com


visualização das finas costelas ao longo do eixo, mas que não atrapalham o estudo
radiográfico.

Para animais maiores, recomenda-se retirar tomadas radiológicas em segmentos


do corpo com o animal esticado. Embora mais prático, não se recomenda realizar
tomadas únicas com o animal enrolado, pois atrapalha na interpretação. As
serpentes dos gêneros Boa e Phyton possuem ambos os pulmões, sendo o esquerdo
menor que o direito; a maioria das outras espécies só tem o pulmão direito. O
fígado não é completamente observado (JACKSON, 1979).

Figura 80. Serpente atropelada, com presença de ingesta.

Fonte: https://br.sputniknews.com/mundo_insolito/2019040313605054-raio-x-cobra-atropelada-mostra-ultima-refeicao-foto/.

Proliferações ósseas na coluna de serpentes são demonstradas em tomadas


radiológicas, chamadas de osteíte deformante (SCHILDGER, 1991).

Radiografias também são úteis para identificar vermes pulmonares, causa comum
de pneumonia verminótica, que pode ocasionar óbito em serpentes.

Eventualmente, serpentes produzem obstruções por alimentação próxima a períodos


de frio ou doenças quando o animal baixa o metabolismo, assim como seu trânsito
intestinal. Para melhor observação, o uso de contraste é indicado para confirmar a
posição do processo obstrutivo.

114
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

A posição dorsoventral com o animal esticado é difícil de realizar, pois os animais


ortostaticamente ficam enrolados. Por isso, pode-se lançar mão de um tubo plástico
transparente. Para isso, adicionam-se 2 a 4 Kv para compensar a espessura do tubo
(HAN, 2007). Já a posição ventrodorsal necessita de anestesia, pois a tendência é o
animal voltar ao decúbito ventral.

Figura 81. Radiografias em projeções látero-lateral (A) e dorsoventral (B) de serpente com fratura e subluxação

entre vértebras do segmento médio da coluna vertebral.

Fonte: CUBAS, 2014.

Patologias perceptíveis à radiografia


Em qualquer espécie, as fraturas estão entre as mais presentes, por origem
traumática, osteólise, osteomielites, processo infeccioso, reação periostal e
osteodistrofias fibrosas.

Doença oteometabólica

A doença oteometabólica é uma síndrome muito comum em répteis de estimação


nos primórdios da criação, quando não se conhecia nada a respeito de sua
alimentação. Atualmente, esse quadro melhorou, mas ainda é possível identificar
alguns animais com essas patologias.

115
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Radiologicamente, observam-se: deformidades ósseas, osteopenia, diminuição da


densidade óssea (quando se compara a cortical óssea com os tecidos moles), fraturas
patológicas, ossos valgos e adelgaçamento das corticais (JACKSON, 1981).

Figura 82. Deformidade em casco de jabuti.

Fonte: https://docplayer.com.br/48744532-Reabilitacao-de-jabuti-chelonoidis-carbonaria-com-problema-de-casco-relato-de-
caso.html.

Em quelônios, a desmineralização da carapaça e do plastrão podem ser observados


radiograficamente. Para os répteis que receberam excessivas quantidades de
cálcio e vit. D, pode-se notar a calcificação metastática, como também imagens
radiopacas em tecidos moles (nota do autor).

O calo ósseo em qualquer dos grupos é demorado, sendo diferente em mamíferos


e aves, pois nestes há uma proliferação periostal evidente, com pontes ósseas
para formar o calo. Já em quelônios e lagartos, a proliferação óssea é discreta e
lenta, com a presença de uma linha radiotransparente ainda presente em fraturas
clinicamente consolidadas. Para esses animais, a estabilização da fratura ocorre
graças à formação de um calo fibroso e tecido mole adjacente (PINTO et al., 2014).

Figura 83. Em A, pneumonia grave; em B, pneumonia muito grave; em C, pulmão normal.

A B C

Fonte: próprio autor, s.d.

116
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Pela demora no processo de consolidação, a primeira tomada não deve ser


realizada antes de 3 meses, sendo que há processos que podem demorar 6 meses,
principalmente quando houver distúrbios metabólicos.

Em serpentes, observam-se proliferações radiopacas nas costelas e coluna


compatíveis com a consolidação.

Osteomielite pode ser encontrada em animais que sofreram traumas ou


mordeduras produzindo um processo infeccioso. Nesses animais, a perda da
linha cortical pela lise óssea e radioluscência do osso compacto está presente.
Infecções orais podem produzir secundariamente imagens de osteomielite em
crânio.

O acúmulo de material radiopaco em segmentos de alças intestinais dilatados é


uma forte característica radiográfica de processo obstrutivo. Isso pode ser comum
em testudíneos confinados em pequenos recintos que produzem corpos estranhos
ingerindo seu próprio substrato (MCCRACKEN, 1991).

Figura 84. Distocia em quelônios, sombreamento em ovos e excessiva radiopacidade.

Foto: próprio autor, s.d.

Tanto para testudíneos quanto para lagartos, animais que apresentam vesícula
urinária, a análise de cálculo pode ser feita quando este é radiopaco. Para cálculos
radioluscentes, o uso de contraste iodado pode ser útil. Nos quelônios, a dose de
contraste recomendada para a realização do estudo contrastado é de 20mL/kg de
peso. Nesses animais, a avaliação dos segmentos intestinais é dificultada, uma vez
que o tempo do trânsito gastrointestinal pode ser muito lento, sendo de 24 a 40 dias
nas espécies terrestres, podendo ser mais rápido nas aquáticas.

Nos lagartos, o volume de sulfato de bário recomendado é de cerca de 50mL/kg


de peso, sendo que o tempo de trânsito pode demorar 3 a 6 dias nos carnívoros,
enquanto, nos herbívoros, pode demorar 15 a 30 dias (PINTO, 2007).

117
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Figura 85. Projéteis de arma de pressão na cabeça de jiboia.

Foto: próprio autor, s.d.

Figura 86. Trauma em coluna de epicrates chenchria (jiboia arco-íris).

Foto: próprio autor, s.d.

118
CAPÍTULO 2
Endoscopia e ultrassonografia

Endoscopia
O exame endoscópio tem a intenção de observar, de forma precisa e em tempo real,
orifícios naturais ou cavidades, como cavidade celomática, órgãos digestórios,
vesícula urinária e traqueia.

Complementarmente a outros exames de imagem, a endoscopia possibilita


visualizar com magnificação as estruturas internas, colher amostras para exames
histológicos, citológicos, microbiológicos, parasitológicos e outros, identificando
com precisão a causa da doença (PROENÇA, 2014).

Uma das vantagens é ser uma técnica minimamente invasiva, com pouco tempo
cirúrgico/anestésico, ideal para animais debilitados, sendo que não há necessidade
da hospitalização.

O equipamento pode ser usado para diagnóstico (imagem real e coleta de


amostras) e tratamento, como em caso de extração de corpos estranhos.

Também tem indicação de identificar o sexo em espécies que não apresentam


dimorfismo além do estado reprodutivo. Porém, para animais muito pequenos,
em função do menor aparelho disponível, além do risco anestésico, a endoscopia é
contraindicada.

Equipamentos

A endoscopia rígida é composto pela: óptica (endoscópio), uma fonte de luz e um cabo
de luz de fibra óptica. Para conforto do operador e melhorar a observação, o uso do
monitor com videocâmera possibilita uma melhor observação (CHAMNESS, 1999).

Figura 87. A. Óptica rígida de 2,7 mm de diâmetro; B. Fonte de luz de halogênio; C. Cabo de luz feito com fibras

ópticas.

A B C

Fonte: PROENÇA, 2014.

119
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

O sistema de videocâmera é composto por câmera, unidade de vídeo e monitor. A


câmera é a responsável por amplificar a imagem e transformar a imagem óptica em
sinal eletrônico, que é transmitido para a unidade de vídeo. Essa unidade transforma o
sinal eletrônico em sinal de vídeo, que é visto no monitor.

Vários são os modelos e as suas necessidades. Para répteis, a autora recomenda


uma óptica rígida de 2,7 mm com lentes tubulares, com 18 cm de comprimento e
30° de ângulo de visão; além disso, uma fonte de luz de halogênio de 150 W, um
cabo de luz de fibra óptica de 3,5 mm, uma videocâmera, uma televisão de LCD
de 15 polegadas e um sistema de gravação de imagem (PROENÇA, 2014).

O endoscópio semirrígido (1 mm de diâmetro) pode ser usado para espécies


menores, e os flexíveis ou broncoscópios são usados para avaliações dos sistema
respiratório e gastrointestinal.

A bainha de trabalho, nas ópticas de 2,7 mm, é uma parte do equipamento em que se
inserem 3 canais: a guia de entrada de pinça para biópsia (ou outra guia), mais duas
para entrada e saída de ar ou líquido (DIVERS, 2010).

Figura 88. A. Óptica semirrígida de 1 mm de diâmetro; B. Broncoscópio; C. Bainha de trabalho para óptica de 2,7

mm com três canais.

Fonte: PROENÇA, 2014.

Os instrumentais mais utilizados são: pinça de biopsia, pinça de apreensão,


tesoura e agulha de injeção. A agulha possibilita biopsias aspirativas e a injeção de
medicamentos diretamente nas lesões.

Para exame de cavidade, esta deve ser insuflada com CO2, e o equipamento
esterilizado. O uso do gás tem o propósito de deslocar os órgãos para melhor
observação. Para animais pequenos, pode-se fazer uso de uma seringa. Ambos
inseridos na bainha de trabalho.

O exame em répteis

A anestesia é com isoflurano (5%) ou sevoflurano (8%), mediante indução


anestésica com propofol a 3 a 10 mg/kg. Os procedimentos endoscópicos mais
comuns em répteis são celioscopia, gastroscopia, cloacoscopia, traqueoscopia e
pulmonoscopia (DIVERS, 2010).

120
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Para celioscopia, leve em consideração as diferenças anatômicas entre as espécies.


Como sabido, os répteis têm cavidade celomática, sem a divisão de um diafragma.

Em iguanas, somente o coração apresenta uma membrana protetora como


compartimento isolado, porém os camaleões possuem uma membrana conectada ao
pericárdio e um pequeno septo pós-pulmonar separando parcialmente a cavidade
peritoneal da pleural (O´MALLEY, 2005).

Para lagartos e serpentes, é necessária a insuflação utilizando CO2 na pressão de


3 a 5 mmHg ou solução salina. O acesso à cavidade em lagartos é visualizado pela
Figura 89.

Figura 89. Acesso cirúrgico em lagartos.

Fonte: PROENÇA, 2014.

Como se observa na Figura 89: A. Decúbito lateral com acesso paramedial,


paralelo à linha média, lateral à veia abdominal ventral (VA), caudal à última
costela (C) e cranial à veia pélvica (VP); B. Decúbito dorsal com acesso na linha
média, caudal à anastomose das veias pélvicas laterais (VP). Nessa posição, o
acesso paramedial é também possível, conforme já descrito. CL = parte lombar
da coluna vertebral; MP = membro pélvico.

Após a observação dos órgãos, procede-se à rafia dos órgãos em 2 planos; o


muscular e o da pele, após a remoção do CO2 insuflado (DIVERS, 2010).
Para a musculatura, pode-se usar padrão simples separado ou contínuo com
fio de sutura sintético mono ou multifilamentar absorvível. Para dermorrafia,
utiliza-se sutura em padrão de eversão de bordas com fio de sutura sintético
monofilamentar não absorvível.

121
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Em testudíneos, o acesso cirúrgico à cavidade celomática é feito por uma incisão


na região pré-femoral esquerda ou direita, com o animal em decúbito lateral.
Firma-se o animal à mesa com 2 toalhas. A incisão é feita na região pré-femoral
esquerda, com o animal em decúbito lateral direito. Após separação de subcutâneo
e músculo, o exame poderá ser feito sem necessidade de insuflação, porém a
vesícula urinária deverá ser esvaziada.

Quanto às serpentes, apresentam gordura intracelomática difusa, o que atrapalha


um pouco o exame. O acesso também pode ser feito pelos sacos aéreos (JEKL, V.;
KNOTEK, 2006).

Nessas espécies, em decúbito lateral direito, o saco aéreo está localizado no espaço
entre 35% e 45% do comprimento do animal. Paralelamente ao eixo horizontal
do corpo, é realizada uma incisão na pele entre a segunda e a terceira fileira de
escamas laterais, seguida de divulsão da musculatura e do peritônio com pinça
hemostática pequena.

Ao atingir o saco aéreo, dois pontos de sutura de apoio são usados para fixação
em sua parede com fio de sutura absorvível. Entre os dois pontos, procede-se à
incisão, e se introduz o endoscópio.

Em serpentes grandes, abordagens localizadas podem ser realizadas com o animal


em decúbito lateral, com acesso entre as costelas. Em serpentes pequenas, o acesso é
ventrolateral (JEKL, V.; KNOTEK, 2006).

Figura 90. A. Celioscopia em tigre d’água (Trachemys scripta). Acesso lateral esquerdo pela região pré-femoral; vu

= vesícula urinária; B. Celioscopia em tigre d’água (Trachemys scripta); acesso lateral esquerdo pela região pré-

femoral; fv = folículos vitelogênicos; OV = oviduto.

A B

Fonte: PROENÇA, 2014.

122
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Sistema respiratório

Para esse exame, pode-se usar um endoscópio rígido com abridores de boca para
evitar danos ao equipamento. Deve-se ter o cuidado para que o aparelho não seja do
mesmo calibre da traqueia, pois poderá machucar a mucosa.

Lembre-se! A oclusão da traqueia por alguns minutos não é um problema para répteis!

Figura 91. Interior da traqueia de um teiú (Tupinambis sp.) em traqueoscopia.

Fonte PROENÇA, 2014.

Em testudineos, além do habitual acesso do lúmem respiratório, os pulmões podem


ser visualizados por meio da abordagem celomática pela região pré-femoral. O
curioso é que, nessa espécie, pode-se realizar uma incisão na superfície pulmonar
(com pouco sangramento) para introdução do endoscópio rígido e assim possibilitar
a observação das estruturas internas pulmonares. Após o exame, realiza-se a
sutura em padrão contínuo do órgão e dos tecidos moles para oclusão da cavidade
celomática (SCHILDGER, 1999).

Figura 92. Pulmonoscopia em tigre d’água (Trachemys scripta). Acesso lateral esquerdo pela região pré-femoral.

O endoscópio foi introduzido por uma incisão na superfície pulmonar, possibilitando a visualização das estruturas

internas do pulmão. Detalhe da região faveolar pulmonar.

Fonte: PROENÇA, 2014.

123
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Alguns autores descrevem o acesso por osteotomia, porém o espaço de abertura


da carapaça deve ser pequeno, permitindo pouca mobilidade do equipamento,
além do trauma gerado pelo acesso, o que não costuma ser usado com frequência
como exame a não ser para tratamento pontual, com inoculação de antibióticos
para uma possível infecção pneumônica, o que torna o acesso valoroso (DIVERS,
2010).

Sistema digestório

Pode-se usar o endoscópio rígido para os pequenos e o flexível para os grandes


animais. Em ambos os casos, use insuflação de ar ou solução salina para dilatar o
estômago.

O exame contempla, além das rotineiras biópsias, a retirada de corpos estranhos,


comum em testudíneos. Estomatites e abscessos na mucosa gástrica também podem
ocorrer em serpentes e quelônios.

Exames por cloacoscopia e colonoscopia também podem ser realizados com um


equipamento rígido, por onde se pode ter acesso ao: proctódeo, uródeo, copródeo,
cólon distal, mucosa cloacal, papila urogenital, abertura dos ovidutos em fêmeas,
abertura da uretra e bexiga (quando presentes) (SPADOLA, 2009).

Ultrassonografia

Introdução

A técnica ultrassonográfica ganhou projeção na medicina de animais de zoológico


apenas em 1978. São elevados os números de espécies aliadas a particularidades
anatômicas (e a seu parcial conhecimento). Corrobora essas dificuldades o uso de
inúmeros transdutores para cada particularidade anatômica (AUGUSTO, 2007).

O exame de ultrassom em silvestres ganhou importância principalmente para


programas de reprodução em espécies ameaçadas de extinção (AUGUSTO;
HILDEBRANDT, 2014).

Embora seja um procedimento não invasivo, que, para répteis, pouca ou nenhuma
anestesia é necessária, essa técnica ainda está em fase de estudos, pois são poucos
os profissionais que possuem a habilidade e a oportunidade de realizar exames
ultrassonográficos em répteis.

124
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

A técnica ainda carece de conhecimento em se construir um banco de imagens


ultrassonográficas fisiológicas adequadas dos órgãos para então se determinar o
que seria patológico. Porém, algumas estruturas são semelhantes aos animais
domésticos oferecendo um ponto de partida ao estudo dos répteis.

A forma do transdutor pode ser: linear, convexa, microconvexa, setorial, transretal,


endovaginal e intraoperatório. A microconvexa tem vantagem sobre a linear, pois
necessita de menor área de contato, enquanto a transretal é bastante utilizada para
animais de grande porte (AUGUSTO, 2014).

Alguns aparelhos de ultrassonografia têm a função Doppler, importante parte


durante a avaliação do coração. Essa função detecta e mede o fluxo sanguíneo
(velocidade, direção e padrão espectral). Há efeito Doppler se as ondas forem
refletidas de uma estrutura em movimento de aproximação ou de afastamento
(LANG, 2006).

Para melhor contato e obtenção de imagens adequadas sem interferência, usa-se gel e
limpeza da área a ser observada.

Princípios físicos e forma de obtenção de imagem

A ultrassonografia utiliza ondas sonoras de alta frequência que podem variar


de 2 até 50 MHz. Essas ondas são transmitidas por um transdutor e podem
ser refletidas, refratadas ou absorvidas, de acordo com os diferentes tipos de
estruturas ou órgãos. As ondas refletidas, ou ecos, são processadas pelo aparelho
e representadas por pontos na tela. A amplitude ou a força do eco de retorno é
traduzida em uma escala de cinza, criando um padrão específico de eco baseado
na arquitetura interna dos tecidos ou órgãos (MANNION, 2006).

A intensidade dos ecos de retorno definem os termos utilizados: uma imagem preta
ou anecoica traduz um não retorno dos ecos para os transdutor; exemplo é a imagem
representada por líquido. Ecos de alta intensidade, como órgãos preenchidos por
gás, representam uma imagem branca ou hiperecoica, e ecos de média intensidade,
observados em tecidos moles, apresentam variados tons de cinza formando imagens
hipoecoicas (AUGUSTO, 2014).

125
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Figura 93. Ecografia de uma tartaruga terrestre com o transdutor posicionado na fossa pré-femoral.

Foto: CUBAS, 2014.

Particularidades anatômicas

O exame de ultrassom apresenta algumas limitações em répteis, pois as ondas não


penetram adequadamente em tecidos mineralizados, como a carapaça e plastrão dos
testudíneos. Além disso, na época de ecdise, o exame pode ficar prejudicado pela
presença de gás entre as camadas da pele.

Essa técnica pode ser realizada em quelônios, aplicando o transdutor na região


cervical, axilar e inguinal. Com isso, acessam-se: coração, grandes vasos, fígado e
vesícula biliar; ou, entre a cauda e o membro pélvico, acessando: ovários, ovidutos,
vesícula urinária e testículos. Com isso, pode-se diagnosticar: cálculos císticos,
doenças hepáticas, acúmulos de fluido celomático, gestação e condição reprodutiva
do paciente (PEASE, 2010).

Particularidades anatômicas devem ser consideradas, como, no caso dos répteis,


as escamas, que impedem um contato do transdutor com a pele ou provocam
insuficiente penetração das ondas de ultrassom, o que impossibilita de se obter a
imagem adequada.

Em virtude do tamanho dos animais e de sua área dérmica ter contato limitado, um
transdutor de menor tamanho é ideal.

A escolha do transdutor também define a frequência do ultrassom a utilizar,


que vai depender das características dos cristais piezoelétricos contidos nele.
Ondas sonoras de alta frequência são mais atenuadas que as de baixa frequência.
Portanto, melhorar a resolução aumentando a frequência sempre diminuirá a
penetração.

126
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Para algumas dessas espécies, um transdutor de alta frequência e de pequeno


tamanho possibilita encontrar uma janela acústica durante a avaliação
transcutânea, ou seja, uma região onde não há interferência de ossos ou ar
(AUGUSTO, 2007).

Animais pequenos como algumas serpentes e lagartos utilizam transdutores


de 7,5 MHz ou 10 MHz, também indicados para avaliação de estruturas mais
superficiais. Transdutores lineares são ideais para animais de menor porte, e os
de 5 a 7,5 MHz para animais de porte médio, pesando de 20 a 50 kg. Para animais
maiores, como tartarugas gigantes e crocodilianos adultos, usa-se um transdutor
de 2,5 MHz ou 3,5 MHz (STETTER, 2006). Com isso, tem-se maior poder de
penetração da onda sonora, sendo indicado a estruturas mais profundas. Muitos
transdutores são multifrequenciais, facilitando a avaliação ultrassonográfica.

Alguns répteis possuem fisiologicamente líquido livre em sua cavidade celomática.


Deve-se ter cuidado ao se interpretar (AUGUSTO, 2014).

Sistema reprodutor

A técnica de ultrassom oferece informação precisa dos órgãos reprodutores, assim,


como já mencionado em técnicas de reprodução assistida para transferência de
embriões e inseminação artificial. Segundo Augusto (2007), avalia-se:

» padrão do ciclo reprodutivo;

» maturidade sexual em espécies em que isso não é tão evidente;

» diferenciação da fase folicular da fase luteal em fêmeas;

» monitorizar gestações;

» avaliar o útero em casos de suspeita de inflamações ou neoplasia;

» avaliar os testículos e as glândulas sexuais acessórias.

Porém, em répteis machos, na época não reprodutiva, o ultrassom pode não


identificar a “testis” (gônadas masculinas). Em lacertílios, os testículos estão
localizados em posição cranial ao rim, apresentam forma de feijão e variam de
tamanho, dependendo da fase do ciclo reprodutivo. Os testículos em animais
pequenos e na fase inativa são mais difíceis de observar. Em geral, têm grau médio
de ecogenicidade.

127
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Em serpentes, notam-se os testículos mais facilmente em animais grandes e


quando sexualmente ativos. Em testudíneos, os testículos estão em posição
cranioventral aos rins e, quando visualizados, apresentam ecotextura uniforme e
levemente menos ecoica que os rins (HOLLAND, 2008).

Já os ovários são facilmente identificáveis por essa técnica (STETTER, 2006).


Em lacertílios, os ovários estão caudodorsais ao fígado e, em ofídios, caudais
à vesícula biliar. A ecotextura dos folículos pode variar dependendo do estágio
de desenvolvimento, indo de anecoico (em fases iniciais) a hipoecoico na fase
pré-ovulatória.

Geralmente, os folículos estão agrupados em forma de cacho de uva e, após a


ovulação, apresentam agrupamento mais linear. Em espécies vivíparas, é possível
visualizar o desenvolvimento dos fetos (AUGUSTO, 2014).

Figura 94. Imagem ultrassonográfica de ovário de dragão-de-komodo (Varanus komodoensis). A. Vários folículos

ovarianos (setas) hipoecoicos; B. Os mesmos folículos ovarianos com a técnica 3D.

Fonte: (AUGUSTO, 2014).

Sistema urinário

A avaliação ecográfica do rim possibilita o diagnóstico de doenças infiltrativas


difusas ou locais que alteram a ecotextura renal, como casos de glomerulonefrite
ou glomerulonefrose e de neoplasias. Tais patologias muitas vezes não produzem
quadro clínico nos répteis, e sim morte súbita.

Embora os rins dos répteis não sejam facilmente avaliados pelo ultrassom, nas
iguanas, a maior porção renal está próxima à cauda. Ao exame, o transdutor deve
ser direcionado na superfície lateral da base da cauda em ambos os lados. Essa
posição facilita também a realização de biópsias. Já nas serpentes, os rins estão
localizados no terço caudal do corpo, um em cada lado da coluna (STETTER, 2006).

128
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Para répteis com bexiga, como em alguns lagartos e quelônios, o ultrassom fornece
informações sobre inflamação, neoplasia, cálculos ou ureteres ectópicos. A urina
deve apresentar uma textura anecoica, e alterações de ecogenicidade podem ser
por artefatos, como alguns sedimentos. A bexiga dos quelônios apresenta uma
forma de Y (bilobada) (AUGUSTO, 2007).

Normalmente, o cálculo é caracterizado por imagem hiperecoica e formação de


sombra acústica (área escura distal ao cálculo), mas, dependendo da densidade
dos cálculos, não ocorre formação desse artefato de técnica. Em lacertílios, podem
ser encontradas partículas hiperecoicas na urina, que são, na verdade, uratos
(AUGUSTO, 2014).

Sistema digestivo

Valioso para observar peristaltismo dos órgãos, obstrução, inflamação, por


espessamento da parede do intestino, assim como espessamentos locais – suspeita
de neoplasias.

Em répteis, o fígado é proporcionalmente maior que em outros animais. Em


quelônios, o órgão é bilobado e, em ofídios, tem apenas um lobo. A degeneração
gorda é observada também em répteis, principalmente em quelônios com
hipovitaminose A. Casos de lipidose hepática podem ser observados tanto em
lacertílios como em testudíneos. Abscessos hepáticos podem ser detectados em
testudíneos idosos e são caracterizados por alteração heterogênea no parênquima
hepático (AUGUSTO, 2007).

A parede fina do estômago em lacertílios herbívoros é de difícil visualização, mas


as pregas da mucosa do intestino grosso podem ser mais facilmente vistas. Em
outros lacertílios, ofídios e testudíneos, a parede gástrica se mostra como uma linha
hipoecoica.

Sistema cardiopulmonar

Na avaliação do sistema respiratório, o exame ecográfico é bastante prejudicado,


pois o transdutor deve ter uma área pequena para ser colocado nos espaços
intercostais e porque o ar dos pulmões impede a transmissão das ondas de
ultrassom, impossibilitando a visualização das estruturas. Mas, para se observar
alterações que afetam os pulmões, como inflamações, neoplasias pulmonares,
massas intratorácicas e a presença de líquido livre no tórax ou na pleura, podem
ser úteis (AUGUSTO, 2007).

129
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Para as serpentes e lacertílios, as imagens podem ser obtidas com o


posicionamento do transdutor na porção ventral do animal. Como as escamas
atrapalham o contato do transdutor, deve-se imergir o animal em água,
protegendo o transdutor com uma luva cirúrgica. Planos sagitais permitem uma
melhor visualização e facilitam o entendimento da anatomia do coração.

Nos quelônios, a abertura mediastinal (entre a cabeça e o membro torácico) permite


uma boa visualização do coração (AUGUSTO, 2007). O átrio direito é maior que o
esquerdo, e o coração tem forma oval, com átrios arredondados e hipoecoicos. O
ventrículo mostra ecotextura hipoecoica, envolvido pelo pericárdio hiperecoico.

Baço

Em répteis, é difícil visualizar esse órgão em situação fisiológica. Quando é


visualizado, apresenta uma ecotextura levemente mais ecogênica que a do
fígado, parênquima fino ou granulado e uma ecotextura homogênea. Algumas
indicações são, por exemplo, casos de esplenomegalia homogênea, a qual pode
ser causada por infecção ou trauma (AUGUSTO, 2007).

Em répteis, a ultrassonografia ocular possibilita avaliar casos de retenção de


escudos córneos, pesquisa de abscessos ou acúmulo de fluidos localizados atrás
do escudo córneo.

A ultrassonografia pode auxiliar o diagnóstico diferencial de edema subcutâneo


em répteis, causado por parasitas, neoplasias, traumas ou abscessos. Por exemplo,
às vezes, é possível visualizar parasitos no local do edema. Neoplasias podem
mostrar ecotextura heterogênea, e traumas ou abscessos variam de ecotextura, de
acordo com o tempo de evolução clínica (REDROBE, 2006).

130
CAPÍTULO 3
Patologia clínica

Introdução
Leva-se em consideração que a contenção física dos animais silvestres, em regra,
gera o stress, que alterará alguns valores normais das análises de sangue, geralmente
elevando o número de neutrófilos/heterófilos, os níveis de glicemia, e diminui o
número de linfócitos, além de outros valores sanguíneos.

Na contenção química, não é muito diferente, pois alguns fármacos anestésicos


promovem relaxamento esplênico por efeitos antiadrenérgicos, e assim ocorre
sequestro de eritrócitos e o seu volume globular, o que pode levar a uma falsa
anemia (ALMOSNY, 2000).

O momento de contenção e a tentativa de fuga pelo animal, devido a seu esforço


físico, fazem elevar a glicemia e a leucocitose. Em particular, o momento da
hibernação dos répteis também produz modificações no percentual de leucócitos,
no hematócrito e em vários outros parâmetros (SILVA, 2004).

É importante ter cuidado ao interpretar o exame, uma vez que, para muitas espécies,
existem poucos estudos e poucas referências. Por isso, deve-se usar com cautela,
assim como usar parâmetros achados em espécies próximas. Valores encontrados
na internet ou literatura devem servir como base inicial para interpretações
laboratoriais de animais selvagens.

Ao contrário do que se pensa, o EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) pode


ser usado como anticoagulante em répteis. Porém, em testudíneos, pode ocorrer
hemólise e, para estes, usa-se a heparina lítica (THRALL, 2004).

Quanto à bioquímica, poderá ser usado com sangue heparinizado para ser analisado
em aparelhos de bioquímica seca, como o reflotron®.

No entanto, o hemograma deve ser feito de forma manual, com microscópio,


câmara de Neubauer e centrifugação, pois, em répteis, os glóbulos vermelhos são
maiores e nucleados, o que torna confusa a leitura dos contadores eletrônicos na
diferenciação entre eritrócitos, trombócitos e leucócitos (JENKINS, 1995).
131
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Outra questão é quanto ao termo que se dá aos elementos de hemostasia. Estas são
células nucleadas chamadas de trombócitos (THRALL, 2004). Os neutrófilos são
chamados de heterófilos em répteis devido à diferenciada característica celular.

Figura 95. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Eritrócito jovem (seta longa), eritrócitos e

trombócito (seta curta) em serpente biúta (Bitis arietans). As outras células são eritrócitos adultos.

Fonte: ALMOSNY, 2014.

Figura 96. Esfregaço sanguíneo corado pelo Giemsa (1.000×). Heterófilo de serpente (Caudisona durissa)

apresentando degranulação.

Fonte: CUBAS, 2014.

Particularidades hematológicas em répteis

Eritrócitos

São células grandes, ovaladas, nucleadas e com vida média elevada (3 a 5 anos). O
interior da célula é rico em hemoglobina, o que evidencia uma cor avermelhada.

Eventualmente são encontradas hemoparasitas intra e extraeritrócito, o que


é muito comum em répteis sem sintomas clínicos. O stress de cativeiro é fator
desencadeador da patologia.

Basófilos podem aparecer de forma predominante em répteis se comparados aos


mamíferos, porém não se sabe exatamente sua função.

132
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Em répteis, os heterófilos (células polimorfonucleares de grânulos alongados e


irregulares que substituem os neutrófilos) são células grandes e mostram núcleo
excêntrico e de formato oval a arredondado (testudíneos, crocodilianos e serpentes)
ou segmentado (lagartos e anfisbênias), com grânulos intracitoplasmáticos
eosinofílicos alongados (SILVA, 2009).

Figura 97. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Heterófilo de tigre d’água (Trachemis

dorbigni).

Fonte: ALMOSNY, 2014.

Os eosinófilos apresentam grânulos eosinofílicos grandes, geralmente redondos, e


esse padrão se mantém nas várias espécies estudadas. Em serpentes, são raros, e não
se sabe exatamente a sua função (WALLACH, 1983).

Serpentes, testudíneos e lacertídeos também apresentam um tipo diferenciado


de monócito chamado azurófilo. Ele é um leucócito mononuclear, com um
citoplasma característico de tom basofílico azul-acinzentado com vacuolizações
citoplasmáticas. Trabalhos demonstram a presença dessas células em processos
infecciosos crônicos de serpentes (WALLACH, 1983).

Os linfócitos são células de formato redondo com citoplasma basofílico e com


grânulos azurofílicos.

Figura 98. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Linfócito pequeno (seta à esquerda) e

monócito (seta à direita) de jiboia (Boa constrictor).

Fonte: ALMOSNY, 2014.

133
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Os trombócitos de répteis são células que têm um estágio anterior de blasto como
as demais células do sangue, ao contrário das plaquetas dos mamíferos, que se
originam do megacariócito e são fragmentos de citoplasma. Essas células têm como
função participar da coagulação sanguínea (ALMOSNY, 2000).

Figura 99. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Heterófilo (seta abaixo) e trombócito (seta

acima) de Iguana iguana.

Fonte: ALMOSNY, 2014.

Interpretação do hemograma em répteis


Embora os répteis possam apresentar policitemia (aumento dos eritrócitos),
elevando o hematócrito, este pode estar elevado por stress, o que é, muitas
vezes, passageiro (ALMOSNY, 2000). As policitemias primárias podem estar
relacionadas com neoplasias hematopoiéticas.

Nas anemias normocíticas e normocrômicas, é importante pesquisar a sanidade de


rins, fígado, fatores estimulantes da eritropoiese e tecido hematopoiético. Doenças
inflamatórias, infecciosas ou imunológicas crônicas também devem ser pesquisadas
(THRALL, 2004).

No leucograma, em répteis, é notável a reação dos monócitos em reações


inflamatórias, bem como a existência de heterófilos. Heteropenia tem prognóstico
reservado a desfavorável e, geralmente, está associada à resposta medular
deficiente, mielodisplasia ou à grande destruição periférica (THRALL, 2004).

Os monócitos podem não sofrer variações em répteis, mesmo em estado clínico


inflamatório, diferentemente do que acontece em mamíferos.

A linfopenia pode se relacionar à fase aguda da inflamação, associada à heterofilia


com degranulação e eosinopenia. Os distúrbios linfoproliferativos podem determinar
linfocitose e atipias linfocitárias. Algumas doenças inflamatórias poderão acarretar
respostas intensas e atipias celulares (NEVES, 1999).

134
EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS │ UNIDADE VI

Em répteis, é comum encontrar Hepatozoon, hemogregarinas, Plasmodium, outros


protozoários e também alguns filarídeos. Em serpentes, a presença de Hepatozoon
sem evidência de alterações clínicas é bastante comum. Entretanto, em condições de
cativeiro, a parasitemia se eleva consideravelmente (FRYE, 1986).

Figura 100. Esfregaço sanguíneo corado pelo panótico rápido (1.000×). Hepatozoon sp. em hemácia de

jararaca (Bothrops jararaca).

Fonte: ALMOSNY, 2014.

Bioquímica
No que diz respeito aos exames bioquímicos, o sangue poderá ser acondicionado
em frasco sem anticoagulante para posterior obtenção de soro. Deve-se ter
cuidado com a colheita em determinados locais. Por exemplo, a cardiocentese,
atualmente condenada, mas ainda realizada em répteis, às vezes, por falta de
opção, pode gerar falsos valores acentuados de enzimas musculares como a AST
e FA (ALMOSNY, 2014).

Quadro 7. Exames bioquímicos mais comuns em répteis.

Proteínas totais Creatinina


Glicose Ureia
Ácido úrico Fósforo
Sódio Aspartato aminotrasnferase (AST)
Potássio Creatinoquinase (CK)
Cloretos Lactato desidrogenase ( LDH)
Gasometria Eletroforese de proteínas
Fonte: ALMOSNY, 2014.

135
UNIDADE VI │ EXAMES DE IMAGEM EM RÉPTEIS

Lesões Renais

Quanto à função renal, a elevação dos valores de ureia em répteis pode ser
sugestiva de doença renal ou pré-renal, mas esses valores também estão
elevados em outras condições, como ocorre em grande ingestão proteica, não
sendo, desse modo, confiáveis. A creatinina sérica é um indicador pobre para
detectar doença renal em répteis.

O ácido úrico representa cerca de 85% do total do nitrogênio excretado pelos rins
de répteis. Contudo, o ácido úrico plasmático também é um indicador inespecífico
de doença renal nesses animais, pois pode ser consequência de gota úrica ou de
ingestão excessiva de proteína. Por isso, associam-se valores de ácido úrico à
relação cálcio/fósforo, permitindo uma análise mais fiel de doença renal em répteis.
Em animais sadios, tal relação geralmente está acima de 1, e, em doença renal, a
relação é menor (GOLDBERG, 2011).

Doença hepática

Hipoproteinemia em répteis é relacionada à má nutrição, má absorção, perda de


proteínas em enteropatias e em intensas perdas de sangue, doenças hepáticas
ou renais crônicas. Hiperproteinemia pode indicar desidratação, enquanto as
hiperglobulinemias indicam doenças inflamatórias (GOLDBERG, 2011).

Quanto aos lipídios, observou-se que tartarugas marinhas em jejum apresentam


elevados valores séricos de lipídios associados à mobilização de reservas energética
(GOLDBERG, 2011).

O valor plasmático normal da glicemia de répteis varia entre 60 e 100 mg/dℓ.


Doenças hepatocelulares, desnutrição e septicemias são causas comuns de
hipoglicemia em répteis. O diabetes melito também é descrito nesses animais
(NEVES, 1996).

A AST está presente no fígado e no músculo, e doenças generalizadas, como


septicemia ou toxemia, podem lesar esses tecidos e determinar elevações da
atividade plasmática dessa Transaminase. Em testudíneos, lesões da carapaça
podem elevar essa enzima (GOLDBERG, 2011).

A lactato desidrogenase (LDH) está relacionada a vários órgãos, e a elevação de sua


atividade pode estar associada à lesão hepática, à musculoesquelética ou à cardíaca
(ALMOSNY, 2014). A fosfatase alcalina em répteis está relacionada à atividade
osteoblástica em répteis (THRALL, 2004).

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