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Abril 2022

Herpetologia
Brasileira

volume 11 número 1
ISSN: 2316-4670
1
Herpetologia
B rasileira
Uma publicação da Sociedade
Brasileira de Herpetologia

Sociedade Brasileira de Herpetologia


www.sbherpetologia.org.br

Presidente: Denise de Cerqueira Rossa-Feres


1° Secretária: Paula Hanna Valdujo
2° Secretária: Bianca von Muller Berneck
1° Tesoureira: Karina Rodrigues da Silva Banci
2° Tesoureira: Ariadne Fares Sabbag

Conselho: Christine Strussmann, Délio Baêta, Hélio R. da Silva, José P. Pombal


Jr., Luciana B. Nascimento, Márcio Martins, Mariana L. Lyra, Taran Grant e Thais
Condez.

Membros Honorários: Augusto S. Abe, Carlos Alberto G. Cruz, Ivan Sazima,


Luiz D. Vizzoto, Thales de Lema.

Diagramação: Isadora Puntel de Almeida

Caiman yacare
Encontro das Águas, MT
@ Daniella França

ISSN: 2316-4670
volume 11 número 1
Abril de 2022
Bothrops jararaca
Pouso Alegre, MG
@ Raissane Furtado de Mendonça
Iguana iguana
Cristóvão, SE
@ Rachel S P Souza
Informações Gerais

A revista eletrônica
Herpetologia Brasileira
é quadrimestral (com números em abril, agosto e dezembro) e
publica textos sobre assuntos de interesse para a comunidade
herpetológica brasileira.
Ela é disponibilizada em formato PDF apenas online, na pá-
gina da Sociedade Brasileira de Herpetologia (http://www.
sbherpetologia.org.br/publicacoes/herpetologia-brasileira),
ou seja, não há versão impressa em gráfica. Entretanto, qual-
quer associado pode imprimir este arquivo.
Seções
Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia:
Esta seção apresenta informações diversas sobre a SBH e é de responsabilidade da
diretoria da Sociedade.

Notícias Herpetológicas Gerais:


Esta seção apresenta informações de interesse para nossa comunidade. A seção
também inclui informações sobre grupos de pesquisa, instituições, programas de
pós-graduação, etc.

Notícias de Conservação:
Esta seção apresenta informações sobre a conservação da herpetofauna brasileira.

História da Herpetologia Brasileira:


Esta seção apresenta entrevistas e curiosidades sobre a história da herpetologia
Brasileira (e.g. congressos, histórias de campo, etc), buscando resgatar um pouco d
nossa história para os dias atuais.

Trabalhos Recentes: Esta seção apresenta resumos breves de trabalhos publica-


dos recentemente sobre espécies brasileiras, ou sobre outros assuntos de interesse
para a nossa comunidade, preferencialmente em revistas de outras áreas.

Dissertações & Teses:


Esta seção é publicada anualmente no último volume do ano (dezembro) e apresen-
ta as informações sobre as dissertações e teses em qualquer aspecto da herpetologia
brasileira defendidas no ano anterior. Qualquer egresso ou orientador pode entrar
em contato diretamente com o editor da seção informando os seguintes dados refe-
rentes a dissertação ou tese defendida: (1) universidade e departamento/instituto;
(2) graduação; (3) data da defesa/aprovação; (4) programa de pós-graduação; (5)
aluno; (6) título; (7) orientador.
Seções
Métodos em Herpetologia:
Esta seção trata dos métodos clássicos e de vanguarda referentes a herpe-
tologia. São abrangidos revisões e descrições de novos métodos empíricos
relacionados aos diversos métodos de coleta e análise de dados, represen-
tando a multidisciplinaridade da herpetologia moderna.

Ensaios & Opiniões:


Esta seção apresenta opiniões sobre assuntos de interesse geral em herpe-
tologia.

Resenhas:
Esta seção apresenta textos que resumem e avaliam o conteúdo de livros,
filmes, jogos ou aplicativos de interesse para nossa comunidade.

Notas de História Natural & Distribuição Geográfica:


Esta seção apresenta artigos que, preferencialmente, resultam de observa-
ções de campo, de natureza fortuita, realizadas no Brasil ou sobre espécies
que ocorrem no país.

Obituários:
Esta seção apresenta artigos avisando sobre o falecimento recente de um
membro da comunidade herpetológica brasileira ou internacional, conten-
do uma descrição de sua contribuição para a herpetologia.
Corpo
Editorial
Editores Gerais: História da Herpetologia
Délio Baêta Brasileira
José P. Pombal Jr. Bianca Berneck
Jessica Fratani Teresa Cristina Ávila-Pires

Editor de língua inglesa: Trabalhos Recentes:


Ross D. MacCulloch Adriano Oliveira Maciel
Daniel S. Fernandes
Notícias da SBH: Daniela Pareja Mejia
Paula H. Valdujo Diego G. Cavalheri

Karina R. S. Banci
Dissertações & Teses:

Notícias Herpetológicas Gerais:


Cinthia Aguirre Brasileiro Divulgação:

Mirco Solé Daniela Pareja Mejia


Diego G. Cavalheri

Notícias de Conservação: John Andrade

Cybele Lisboa Larissa Mendes

Débora Silvano Luiz Paulino

Ibere F. Machado Mariana R. Pontes

Luis Fernando Marin Fonte Quezia Ramalho

Mariana R. Pontes Rafaella Roseno


Corpo
Editorial
Métodos em Herpetologia:
Alexandro Tozetti

Ensaios & Opiniões:


Julio Cesar de Moura-Leite
Luciana B. Nascimento
Teresa Cristina Ávila-Pires

Resenhas:
José P. Pombal Jr.
Quezia Ramalho

Notas de História Natural &


Distribuição Geográfica:
Henrique C. Costa - Répteis
Ariadne Fares Sabbag - Anfíbios

Obituários:
Entrar em contato com os editores gerais
Sumário

Nota dos Editores 11


Notícias de Conservação 13
História da Herpetologia 17
Trabalhos Recentes 38
Resenhas 50
Notas de História Natural &
Distribuição Geográfica 118
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Nota dos Editores

Notas dos Editores


Herpetologia Brasileira: 10 anos

E
m abril de 2012, a Sociedade zuela de Peter C. H. Pritchard e Pedro
Brasileira de Herpetologia Trebbau; e de Osteology of the Reptiles
lançava o primeiro volume da de Alfred S. Romer.
Herpetologia Brasileira. Desde então
são dez anos de Herpetologia Brasileira Esperamos que apreciem este volume
publicando contribuições em diferen- comemorativo.
tes aspectos da herpetologia ou de in-
teresse da comunidade de herpetólogas
#ELASNAHB
e herpetólogos. Neste primeiro volume
de 2022, iniciamos uma série de con-
Nossa primeira iniciativa em ilustrar a
tribuições comemorativas aos dez anos
Herpetologia Brasileira somente com
da Herpetologia Brasileira. Na seção
fotos de autoria feminina foi realizada
de História da Herpetologia, a origem
no primeiro volume de 2021 e nova-
dos herpetólogos brasileiros e suas ra-
mente temos o primeiro volume da HB
mificações são apresentadas em um
ilustrado somente com fotos de autoria
‘Cladograma dos Herpetólogos’. Já na
feminina. Nossas fotos foram selecio-
seção de Resenhas, convidamos diver-
nadas pela equipe HB nas redes através
sos colegas a resenharem sobre livros, e
da hashtag #elasnaHB utilizada no Ins-
monografias clássicos em Herpetologia
tagram. Desde o início da iniciativa em
do Brasil e Sul Americana. Livros estes
dezembro de 2020, a tag recebeu mais
que marcaram gerações de herpetólo-
de 1000 marcações no Instagram! No-
gos e são referência até os dias atuais.
vamente foi um grande desafio selecio-
Trazemos as resenhas das Serpentes do
nar apenas algumas fotos dentre tantas
Brasil de Afrânio do Amaral; Répteis
incríveis, e gostaríamos de agradecer a
da Argentina de José M. Cei; Ofídios da
todas as mulheres que participam des-
Amazônia de Osvaldo R. Cunha e Fran-
ta importante iniciativa e continuam
cisco P. Nascimento; Biology of Am-
utilizando a tag. Apreciem outra edição
phibians de Willian Duellman e Linda
imperdível e visualmente impressio-
Trueb, South American Herpetofauan
nante.
de Willian Duellman; Turtles of Vene-

11
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Nota dos Editores

MUDANÇAS NO CORPO EDITORIAL Também damos boas-vindas aos novos


E SEÇÕES editores e à equipe de divulgação:

A produção das revistas da SBH só é • Diego Cavalheri – Trabalhos Recentes


possível graças à dedicação dos mem-
• John Andrade – Equipe HB nas Redes
bros dos corpos editoriais que dedicam
inúmeras horas à editoração. Devido a • Luis Paulino – Equipe HB nas Redes
outras exigências profissionais e pesso-
ais, às vezes os editores são obrigados a • Rafaella Rosseno – Equipe HB nas
renunciar aos cargos para poder aten- Redes
der a outras demandas e permitir que
outros pesquisadores passem a fazer
parte dos corpos editoriais.

A SBH e a Herpetologia Brasileira agra-


decem imensamente aos editores:

• Paulo Sérgio Bernarde – Notícias


Herpetológicas Gerais

• Rachel Montesinos – Notícias Her-


petológicas Gerais

• Laura R. V. Alencar – Trabalhos Re-


centes e Equipe HB nas Redes

• Giovanna G. Montingelli – Disserta-


ções & Teses

• Luis Felipe Toledo – Métodos em


Herpetologia

A Herpetologia Brasileira também in-


forma que a editora da seção de tra-
balhos recentes Ariadne Fares Sabbag
deixa esta seção e passa a editorar as
notas de anfíbios submetidas para a se-
ção de Notas de História Natural e Dis-
12
tribuição Geográfica.
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Notícias de Conservação

Notícias de Conservação
ASG Brasil fecha 2021 com o ANFoCO III
Cybele Sabino Lisboa1, Caroline Batistim Oswald2, Janaína Serrano3, Quezia Rama-
lho4, Renata Ibelli Vaz5 e Iberê Farina Machado6

1 Reserva Paulista - Zoológico de SP, Av. Miguel Stefano 4241, 04301-905 São Paulo,
SP, Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal de Minas Gerais,
Avenida Presidente Antônio Carlos 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG, Brasil.
3 Penfield Ave 1205, Montreal, H3A1B1 Quebec, Canadá.
4 Programa de Pós-graduação em Ecologia, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, 20550-013 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
5 Departamento de Fisiologia, Instituto de Biociências, USP, Rua do Matão, Traves-
sa 14, 05508-090 São Paulo, SP, Brasil.
6 Instituto Boitatá de Etnobiologia e Conservação da Fauna, Avenida Senador
Canedo Qd 29-Lt 27, 74493-160 Goiânia, GO, Brasil.

E
m agosto de 2020, o Grupo conservationneeds.org>). Durante o
de Especialistas em Anfíbios CNA, foram avaliadas 67 espécies, das
do Brasil (ASG Brasil - IUCN quais 13 foram consideradas altamente
SSC) e a Amphibian Ark (AArk) orga- prioritárias para conservação, neces-
nizaram o workshop “Avaliação das sitando tanto de ações de resgate para
Necessidades de Conservação” (CNA, manejo ex situ quanto de ações in situ.
Conservation Needs Assessments)” Dessas 13 espécies, uma é da região Sul
para avaliar as necessidades de con- do Brasil (Pithecopus rusticus), nove
servação de espécies de anfíbios ame- ocorrem no Sudeste (Bokermannohyla
açados no Brasil com o auxílio de es- napolii, Hylodes mertensi, Ischnoc-
pecialistas brasileiros. Esse workshop nema garciai, I. karst, Melanophry-
ocorreu entre agosto e novembro de niscus setiba, Nyctimantis pomba,
2020 e o processo de revisão e aprova- Physalaemus soaresi, Proceratophrys
ção das avaliações foi concluído poste- palustris e Sphaenorhynchus canga),
riormente, em abril de 2021, quando uma no Centro-Oeste (Boana buriti),
as avaliações foram disponibilizadas uma no Norte (Atelopus manauensis)
publicamente no site do CNA (<www. e uma no Nordeste (Chiasmocleis ala-
13
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Notícias de Conservação

goana). Além de estarem no site do quais caminhos devemos seguir para


CNA, em breve pretendemos disponi- conservá-las, adotamos o slogan “Onde
bilizar as fichas de avaliação em nosso estamos, por que estamos e onde que-
site (<https://asgbrasil.wixsite.com/ remos chegar?”.
asg-brasil>) para facilitar a busca e o
acesso a essas informações. O ANFoCO III contou com 32 pales-
trantes de diferentes áreas de atuação.
Com o objetivo de divulgar os resulta- Nos atentamos para minimizar a desi-
dos do CNA para a comunidade con- gualdade de gênero durante o evento,
servacionista, o ASG Brasil organizou o assim contamos com 18 palestrantes
ANFoCO III (Anfíbios em Foco III) mulheres e 14 palestrantes homens. No
- Simpósio Brasileiro de Conservação primeiro dia do evento, foram apresen-
de Anfíbios. A ideia central do ANFo- tadas instituições importantes para a
CO é fornecer uma plataforma que gere conservação de anfíbios, tanto no con-
contatos, conecte diferentes atores, texto brasileiro quanto no mundial, e
promova o debate e resulte em ações foram apresentados os resultados do
que contribuam efetivamente para a workshop CNA. Também foram reali-
conservação dos anfíbios no Brasil. A zadas palestras sobre as espécies prio-
primeira edição do evento aconteceu ritárias em cada região do Brasil, com
em 2018, de forma presencial, na Fun- o objetivo de trazer informações rele-
dação Parque Zoológico de São Paulo, vantes sobre ameaças, status e ações
com apoio da Sociedade Brasileira de de conservação direcionadas a tais es-
Herpetologia (SBH). A segunda edi- pécies. No segundo dia, foram discu-
ção aconteceu em 2019, em formato tidas as ameaças que mais impactam
de workshop, durante o 9º Congresso as espécies de anfíbios, causando um
Brasileiro de Herpetologia, na Univer- declínio generalizado em suas popula-
sidade Estadual de Campinas. Em de- ções. No terceiro dia, foram apresen-
corrência da pandemia de COVID-19, o tadas estratégias de conservação para
ANFoCO III foi realizado remotamente anfíbios, incluindo estratégias de busca
de 30 de novembro a 2 de dezembro de de espécies desaparecidas, implemen-
2021, com o tema “Anfíbios brasileiros tação de ações de conservação ex situ,
ameaçados de extinção”. divulgação de informações científicas e
proteção de áreas naturais.
A ideia geral do evento foi apresentar a
realidade das espécies brasileiras ame- Para o evento, também procuramos in-
açadas de extinção, com destaque para centivar a participação da comunidade
as 13 espécies prioritárias para conser- científica. Assim organizamos um Con-
vação. Para atender o objetivo de dis- curso de Ilustração com o intuito de
cutir a situação atual dessas espécies e selecionar uma arte de uma espécie de
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Notícias de Conservação

anfíbio ameaçada para ser a logomarca Além disto, para ampliar as discussões
do evento, ajudando a compor a identi- sobre os temas abordados no III AN-
dade visual do mesmo. O vencedor foi FoCO e continuar conectando atores e
Ibrahim Nehemy, com a ilustração da ações, criamos um fórum no Resear-
espécie Nyctimantis pomba (Fig. 1). chGate para cada temática do evento
Também estimulamos a troca de expe- (por exemplo: <www.researchgate.
riências por meio de apresentação de net/post/Estrategias_ex-situ-Anfoco_
trabalhos em um formato menos usu- III>).
al: vídeos de divulgação científica de
até dois minutos, gravados pelo autor A realização do CNA e do ANFoCO III
do trabalho, os quais foram transmiti- foram passos importantes para dire-
dos durante o evento. Como regra, os cionar e divulgar as ações necessárias
trabalhos deveriam ser focados na con- para a conservação dos anfíbios brasi-
servação de espécies de anfíbios brasi- leiros ameaçados de extinção. As próxi-
leiros. Houve uma seleção do melhor mas etapas do ASG Brasil serão focadas
vídeo e o vencedor foi Matheus Edu- no desenvolvimento de planos de ação
ardo Ramos, com o seu trabalho inti- específicos para as 13 espécies de alta
tulado “Anurofauna em uma Unidade prioridade e devem envolver pesquisa-
de Conservação no nordeste do Brasil dores, zoológicos e organizações gover-
infectada por quitrídio”. O vídeo está namentais e não governamentais.
disponível no Instagram do ASG Bra-
sil (<https://www.instagram.com/p/
CXCW8rfjHXN/>).

Apesar das limitações, o formato onli-


ne do evento proporcionou a oportuni-
dade de alcançar e envolver pessoas de
diferentes localidades, o que resultou
em mais de 400 inscritos. Além da Co-
missão Organizadora (Fig. 2), o evento
também contou com uma Comissão de
Divulgação. O ANFoCO III foi realizado
em parceria com o “Herpeto sem Fron-
teiras” (<www.youtube.com/c/Herpe-
toSemFronteiras>), e as palestras per-
manecem disponíveis nesse canal para
quem não pôde comparecer nos dias e Figura 1. Logo do evento: Nyctimantis
horários em que o evento aconteceu. pomba, ilustrada por Ibrahim Nehemy.

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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Notícias de Conservação

Figura 2. Comissão organizadora do ANFoCO III (equipe ASG-Brasil) e representante do


Herpeto sem Fronteiras.

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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

História da Herpetologia
Cladograma dos herpetólogos do Brasil
Raoni Rebouças1,2

1 Laboratório de História Natural de Anfíbios Brasileiros, Departamento de Biologia


Animal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, 13083-862 Cam-
pinas, SP, Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal, Departamento de Biologia Ani-
mal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, 13083-862 Campi-
nas, SP, Brasil.
E-mail: raonisreboucas@gmail.com

DOI: 10.5281/zenodo.6533137

INTRODUÇÃO

A
origem da palavra herpeto- estado atual e perspectivas no estudo
logia, de onde advém o ter- dos anfíbios anuros – Campinas”, em
mo pelo qual nos tratamos, 1982, na reunião da Sociedade Brasilei-
herpetólogos, talvez tenha a mais in- ra para o Progresso da Ciência, em que
justa etimologia do reino animal. Ape- constavam apenas 10 pessoas na foto,
sar do termo grego érpetón poder sig- com suas calças boca de sino e camise-
nificar “réptil” (Wareham 2005), esse tas polo para dentro da calça, e apenas
deriva do termo érpein, que é designa- duas mulheres (Fig. 1A), o último Con-
do para “repugnante”. Dessa maneira, gresso Brasileiro de Herpetologia con-
considerando o logos, do grego, como tou com algo em torno de 1000 pessoas
conjunto de conhecimento, herpetolo- (Fig. 1B), e com a maioria dos presen-
gia seria algo como “estudo de animais tes sendo mulheres. Sim, a herpetolo-
repugnantes”. Nada mais falso que gia brasileira cresceu muito, tanto na
isso. O mais interessante é que o núme- quantidade de pessoas quanto no volu-
ro de pessoas que concordam que essa me de conhecimento produzido, mais
conotação é falsa cresce a olhos vistos. do que certamente os primeiros herpe-
Desde o primeiro “Simpósio sobre o tólogos do Brasil jamais imaginavam.

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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

No entanto, ao ver a quantidade e di- de Carvalho e Silva, da UFRJ, Carlos


versidade que temos de herpetólogos Alberto Gonçalves da Cruz e Oswaldo
no Brasil, a primeira pergunta que nos Peixoto, da UFRRJ. Desde então, esse
vem à cabeça é: “Quem foi o primei- número só tem crescido, e a hora do ca-
ro?”. Em linhas gerais, temos alguns fezinho para falar sobre as divergências
bons candidatos, a depender do parâ- filogenéticas entre Scinax e Ololygon
metro que escolher. Podemos citar o são cada vez mais comuns nos corredo-
Adolfo Lutz (1855 – 1940), que apesar res das universidades no Brasil.
de médico e estar primariamente em
ciclos de doenças humanas, foi um dos Em 2013, quando publiquei o guia para
maiores expoentes da herpetologia que identificação dos herpetólogos do Bra-
já tivemos. No entanto, podemos citar sil (Rebouças 2013), houve uma primei-
também Vital Brasil (1865 – 1950), que ra tentativa de organizar esse tipo de
foi responsável pela fundação do Insti- registro histórico. Uma das perguntas
tuto Butantan, hoje uma das maiores mais comuns dos leitores que adquiri-
referências do mundo em manejo de ram aquele livro foi “fulano é orientado
serpentes, além do amplo legado em por quem?”. Se essa pergunta for um
pesquisas com saúde pública. Se for- pouco mais insistente, nos deparamos
mos considerar a primeira pessoa que com o problema de, depois de certo
sempre esteve ligada à Herpetologia, os ponto, não termos mais informação de
nomes aumentam em quantidade: Alí- quem seriam os “padrinhos científicos”
pio de Miranda Ribeiro (1874 – 1939), daquela pessoa. Essas origens são par-
Afrânio do Amaral (1894 – 1982), Ber- te da nossa história, e dizem muito so-
tha Lutz (1894 – 1976), dentre tantos bre como aprendemos a ser cientistas,
outros. e muitas vezes até de características do
comportamento. Portanto, esse traba-
No entanto, nenhuma dessas pessoas lho tem por objetivo analisar de onde
orientou formalmente outros alunos, vieram os orientadores dos orientado-
ou pelo menos não nos moldes que es- res, até chegar nos nomes tão conhe-
tamos hoje acostumados. Caso o crité- cidos atualmente. Será que existe uma
rio a ser considerado seja orientação, o origem comum a todos, ou pelo menos
primeiro de fato foi Eugênio Izecksohn à maioria deles?
(1932 – 2013), na Universidade Fede-
ral Rural do Rio de Janeiro, e assim po-
de-se dizer que ele foi formalmente o
primeiro professor de herpetologia do
Brasil. Como seus alunos, temos alguns
nomes conhecidos, como Sérgio Potsch

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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

MÉTODOS Em princípio, utilizei dados inclusos na


plataforma Lattes (CNPq 2020), mas
Aqui tentei fazer um cladograma da devido à limitação da plataforma a pes-
forma mais simples possível. Nele, os soas atuantes no Brasil, além de dados
ramos mais à esquerda representam os sobre pesquisadores mais antigos não
pesquisadores ou pesquisadoras mais estarem disponíveis, passei a conside-
antigos, e os mais à direita os mais re- rar informações de obituários e dispo-
centes. Como o único caráter usado níveis através da plataforma Academic
para incluir os pesquisadores foi sua Tree (David & Hayden 2012). Embora
orientação, facilmente vários ramos fi- ainda existam outras fontes de infor-
nais apresentaram politomias. Preferi mação histórica nesse sentido, como os
usar o termo “cladograma” a “dendro- três volumes do “Contributions to the
grama” por se tratar de um esquema, History of Herpetology”, publicados
ainda que simples, que demonstra não por Kraig Adler em 1989, 2007 e 2012,
só o agrupamento de vários pesquisa- preferi focar em fontes de informação
dores com base nesse único caráter, de amplo acesso. Essa é uma forma
mas também a evolução e origem dos de garantir que todas as informações
diversos grupos, se podemos chamá- que coloco aqui possam ser totalmen-
-los assim. te verificadas tanto pelo corpo editorial
quanto pelo leitor.
O primeiro problema na construção
desse cladograma é que a mobilidade Além disso, é importante ressaltar que
acadêmica dos pesquisadores no Brasil obviamente algumas pessoas ficaram
é relativamente alta. Por isso, conside- de fora. Hoje temos mais de 5000 pes-
rando que muitas pessoas migraram de soas na herpetologia do Brasil, e in-
orientadores entre iniciação científica, cluir todas, sem faltar nenhuma, con-
mestrado e doutorado (como eu, por siderando que a todo momento novas
exemplo), considerei para construção doutoras e doutores se formam nas di-
do cladograma apenas orientações de versas universidades do país, é virtual-
doutorado. Orientações de mestrado e mente impossível. Além disso, alguns
de iniciação científica, bem como co- problemas de não inclusão de alguns
-orientações, não foram consideradas, nomes de destaque da herpetologia do
não por serem menos importantes, mas Brasil, mas que não possuem doutora-
sim por facilitação de logística de tra- do, como João Luiz Gasparini, Magno
balho. Obviamente, em certo ponto da Segalla e Eugênio Izecksohn, reforça
história os doutorados não eram algo que essa análise deve apenas ser con-
muito comum aos cientistas, e passei a siderada como um panorama geral da
considerar apenas as formações em si. formação acadêmica no Brasil.

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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

RESULTADOS E DISCUSSÃO Seu parceiro de trabalho, o naturalis-


ta Carl Frederich Philipp von Martius
Boa parte dos herpetólogos do Brasil (1794 – 1868), então designou Louis
possuem duas origens mais antigas: Agassiz (1807 – 1873) para substituí-
Jean Louis Rodolphe Agassiz (1807 – -lo na análise dos espécimes de peixes
1873) e Adam Sedgwick (1785 – 1873) coletados durante a viagem, cujos pri-
(Fig. 2). O primeiro, cujos estudos em meiros resultados foram publicados em
geologia e ictiologia foram grandemen- 1829 (Spix et al. 1829). Já como pro-
te influenciados por Alexander von fessor em Harvard, Agassiz realizou,
Humboldt (1769 – 1859) e Georges em 1865, uma expedição de 16 meses
Cuvier (1769 – 1832), respectivamente, ao Brasil, dez dos quais na Amazônia
deixou importantes contribuições nes- (Agassiz 1868).
sas áreas, embora tenha sido também
um dos promotores do ideário de ra- Adam Sedgwick, no entanto, tem uma
cismo e do criacionismo no século XIX. história bem menos relacionada ao
Sua relação com o Brasil já se iniciou Brasil, mas também de importância
quando ainda estava envolvido em ob- ímpar para a ciência moderna. Foi geó-
ter o grau de doutor em filosofia (PhD) logo e padre, formado em matemática e
na Alemanha. Nessa época, era comum teologia, e depois em geologia pelo Tri-
que comitivas reais tivessem a bordo nity College, na Universidade de Cam-
dos seus navios um naturalista oficial, bridge. Um dos fundadores da geologia
que seria responsável por estudar es- moderna, foi um dos responsáveis por
pécies de animais e plantas que encon- propor os períodos Cambriano e De-
trassem no local para onde fossem. A voniano na escala de tempo geológico,
comitiva responsável por trazer a prin- além de ser um dos autores envolvidos
cesa Leopoldina Carolina Josefa de Ha- no que viria a ser a “Grande Contro-
bsburgo-Lorena (1797 – 1826) — filha vérsia do Devoniano”, devido a carac-
do imperador da Áustria e cunhada do terísticas de rochas datadas próximas
imperador francês Napoleão Bonaparte do limite entre os períodos Siluriano
(1769 – 1821), depois conhecida como e Carbonífero. Dentre os vários alunos
princesa Maria Leopoldina da Áustria que formou, foi professor de geologia
— para se casar com o então príncipe de Charles Darwin (1809 – 1882), que
Dom Pedro I (1798 – 1834), trazia na o acompanhou em suas expedições em
sua comitiva o naturalista Johann Bap- Wales, no verão de 1831. Apesar de
tist von Spix (1781 – 1826). Ao voltar continuarem a se corresponder, Sed-
para a Alemanha, no entanto, Spix fa- gwick nunca aceitou a ideia da origem
leceu antes de conseguir analisar todo das espécies, proposta em 1869 (Clark
o material que havia coletado no Brasil. & Hughes 1890).

20
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

A partir dessas duas linhagens princi- origem comum àquelas, é a de Rudolf


pais, é possível relacionar vários nomes Leuckart. Desta se originam várias ou-
de herpetólogos do Brasil. A partir de tras linhagens, como a de Ivan Sazima
Louis Agassiz temos as linhagens de Pe- e Jorge Jim (Fig. 8), que consequente-
ter Wilfred Price e de John M. Bates, via mente dá origem às de Célio Fernando
Joseph Grinnell (1877 – 1939), conten- Baptista Haddad (Fig. 9) e Denise de
do as pesquisadoras Paula Eterovick, Cerqueira Rossa-Feres (Fig. 8), res-
da PUC-Minas Gerais, e Ana Carolina pectivamente, ambas através de Cláu-
Carnaval, do City College of New York, dio Gilberto Froehlich. Da linhagem de
respectivamente (Fig. 3); de Charles Rudolf Leuckart, mas por outro ramo,
Otis Whitman (1842 – 1910), que con- faz parte ainda a linhagem de Mirco
tém Carlos Jared, do Instituto Butan- Solé (Fig. 10). Além dessas, diversas
tan (Fig. 4); e via John Scott Haldane outras linhagens independentes entre
(1860 – 1936), de William Duellman, si podem ser observadas, como aquelas
Kansas University (Fig. 5). Esse último, onde se encontram William Magnus-
embora não seja brasileiro, foi orienta- son (Fig. 11), Augusto Shinya Abe (Fig.
dor de Darrel Frost, Linda Trueb, Jana- 12), Thales de Lema (Fig. 13) e Guari-
lee Caldwell e Jonathan Campbell, os no Colli (Fig. 14), dentre tantos outros
quais orientaram vários nomes da her- (Figs. 15 a 22).
petologia brasileira, como Hélio Ricar-
do da Silva, Pedro Peloso, Adrian Gar- Apesar de exaustivo, esse trabalho
da e Ronaldo Fernandes, dentre muitos de agrupamento está sujeito a falhas.
outros. A linhagem de Adam Sedgwick, Eventualmente alguns pesquisadores
por sua vez, dá origem a dois princi- não foram incluídos, e algumas origens
pais grupos da herpetologia brasileira: permanecem incertas até essa data. No
um iniciado com William Hopkins, que entanto, isso deve servir como encora-
contém Alain Dubois, e consequente- jamento para que mais pessoas estejam
mente Hussan El Dine Zaher (Fig. 6); envolvidas no processo de pesquisa
e outro iniciado com Charles Darwin, dessas histórias, e assim possamos re-
que contém Paulo Vanzolini, e conse- cuperar nosso histórico “filogenético”,
quentemente Ulisses Caramaschi, Mi- ou formativo. Assim, esperamos que
guel Trefaut Rodrigues e Carlos Alberto este trabalho sirva como um guia, mas
Gonçalves da Cruz (Fig. 7). que, paradoxalmente, logo fique desa-
tualizado, devido a mais pessoas esta-
Além dessas duas linhagens principais, rem orientando outras pessoas na her-
de onde pode-se recuperar grande par- petologia do Brasil.
te dos herpetólogos do Brasil, outra
tão importante quanto, mas sem uma

21
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

AGRADECIMENTOS Spix J.B., Agassiz L., Martius K.F.P.


1829. Selecta genera et species pis-
Eu agradeço as sugestões e correções cium quos in itinere per Brasiliam an-
de todos os herpetólogos que dedica- nis MDCCCXVII-MDCCCXX : jussu et
ram seus preciosos minutos em reti- auspiciis Maximiliani Josephi I. Bava-
ficar ou acrescentar informações aos riae regis augustissimi peracto. Typis
agrupamentos, além das preciosas edi- C. Wolf. Monachii.
ções do corpo editorial da Herpetolo-
gia Brasileira. Todas foram conferidas Wareham D.C. 2005. Elsevier’s dictio-
e incorporadas na medida do possível. nary of herpetological and related ter-
Agradeço também a Luís Felipe Toledo, minology. Elsevier Science.
que dedicou seu tempo a ler a primeira
versão deste manuscrito. Finalmente,
agradeço à Coordenação de Aperfeiço-
amento Profissional de Nível Superior
Editoras: Teresa C. S. Ávila-Pires e
– CAPES pela bolsa de pós doutorado
Bianca V. M. Berneck.
(#001).

REFERÊNCIAS

Agassiz L. 1868. A journey in Brazil. Ti-


cknor and Fields. Boston.

Clark J.W,. Hughes T.M.1890. The life


and letters of the Reverend Adam Sed-
gwick. University Press. Cambridge.

CNPq .2020. Plataforma Lattes. lattes.


cnpq.br. Accessed 17 Jul 2020

David S.V., Hayden B.Y. 2012. Neuro-


tree: A collaborative, graphical databa-
se of the academic genealogy of neuros-
cience. PloS one 7:e46608.

Rebouças R. 2013. Herpetólogos do


Brasil: Manual prático de identificação.
22
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 1. Evolução do tamanho do público da herpetologia brasileira. Simpósio sobre o


estado atual e perspectivas no estudo dos anfíbios anuros – Campinas, 1982 (A) e dia de
abertura do 9º Congresso Brasileiro de Herpetologia, Campinas, 2019 (B).

Figura 2. Cladograma primário, mostrado as duas linhagens principais, de Louis Agassiz


e Adam Sedgwick (destacados em negrito).

23
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 3. Linhagem a partir de Louis Agassiz / Joseph Grinnell.

Figura 4. Linhagens a partir de Louis Agassiz / Charles Otis Whitman.

24
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 5. Linhagem a partir de Louis Agassiz / Norman E. Hartweg.

25
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 6. Linhagem de Adam Sedgwick / William Hopkins.

26
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 7. Linhagem a partir Adam Sedgwick / Thomas Huxley. 27


Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 8. Linhagem a partir de Johann Lukas Schönein, que contém Ivan Sazima e Jorge Jim.
28
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 9. Linhagem a partir de Ivan Sazima / Célio Fernando Baptista Haddad. 29


Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 10. Segunda linhagem de Rudolf Leuckart / Mirco Solé.

Figura 11. Linhagem a partir de Grame James Caughley, que contém William Ernest Mag-
nusson e Albertina Lima.

30
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 12. Linhagem de Ernst Blessau, que contém Augusto Shinya Abe.
31
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 13. Linhagem a partir de Thales de Lema.

Figura 14. Linhagem de Boyd Walker, que contém Guarino Colli.

32
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 15. Linhagem de George Evelyn Hutchinson, que contém Ariovaldo Giaretta e Gil-
da Vasconcellos.

Figura 16. Linhagem de Frederic Gustav Brieger, que contém Shirlei Maria Recco-Pimentel.

33
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 17. Linhagem a partir de Lucien Alphonse Joseph Lison, que contém Selma Maria de
Almeida Santos.

Figura 18.Linhagem de John W. Sites Jr., que contém Fernanda P. Werneck.

34
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia

Figura 19. Linhagem de John Cloudsley-Thompson, que contém Moacir Tinôco.

Figura 20. Linhagem a partir de Ivan M. Roitt, que contém Aníbal Melgarejo.

Figura 21. Linhagem a partir de Jesus Santiago Moure, que contém Renato Machado.

Figura 22. Linhagem a partir de Leo D. Brongersma, que contém Marinus Hoogmoed.
35
Teratohyla mida
PARNA da Serra do Divisor, AC
@ Raíssa Rainha

36
Fritziana cf. fissilis
Estação Biologica de Boracéia, Salesopolis, SP
@ Thamires O. Cardozo

37
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes

Trabalhos recentes
Araújo S.C.M., Ceron K., Guedes T.B. 2022. Use of geospatial analyses to ad-
dress snakebite hotspots in mid-northern Brazil – a direction to health planning
in shortfall biodiversity knowledge areas. Toxicon: in press. DOI:10.1016/j.to-
xicon.2022.03.012.

A
cidentes ofídicos represen- de demografia populacional também
tam um problema de saúde foram levantados para observar se há
pública, visto que anualmen- correlação entre os parâmetros avalia-
te são registrados no mundo mais de 5 dos e o número de acidentes, estabele-
milhões de casos, ocasionando cerca cendo, desta forma, áreas com maior
de 138 mil óbitos. A incidência de tais risco de acidentes no estado. Através
acidentes é sabidamente influenciada do exame de espécimes das coleções
por uma série de fatores ambientais e do Museu Paraense Emílio Goeldi e da
demográficos, afetando principalmente Universidade Federal do Maranhão,
comunidades rurais mais humildes lo- aliado a dados de literatura, foram le-
calizadas em países com clima tropical vantados cerca de mil registros de ser-
e que de forma geral são denominados pentes peçonhentas para o estado, com-
como subdesenvolvidos ou em desen- preendendo 17 espécies (9 viperídeos e
volvimento. Um dos dados importantes 8 elapídeos), sendo os registros mais
para a prevenção e tratamento adequa- abundantes os de Bothrops atrox e B.
do de tais acidentes é o conhecimento marajoensis. Também foram registra-
da distribuição geográfica das espécies dos o número de acidentes por locali-
peçonhentas. No Brasil tal conhecimen- dade do estado no período entre 2009
to ainda é fragmentado, sobretudo em e 2019, além de dados de densidade
determinadas regiões como o estado do populacional obtidos no ano de 2015.
Maranhão, objeto do presente estudo e Os modelos de distribuição apontaram
que apresenta o segundo maior núme- que a região norte e noroeste do estado,
ro de acidentes na região nordeste, per- caracterizadas pelo domínio da Flores-
dendo apenas para o estado da Bahia. ta Amazônica, apresentam as maiores
Neste trabalho os autores utilizaram probabilidades de ocorrência dessas
registros de ocorrência de espécies pe- serpentes. Não houve relação direta en-
çonhentas e variáveis ambientais para tre o número de acidentes e densidade
modelar a potencial distribuição des- populacional. Entretanto, quando con-
tas espécies. Dados epidemiológicos e siderada a interação entre a probabili-
38
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes

dade de ocorrência das serpentes pe- pouco amostradas, sobretudo na região


çonhentas e a densidade populacional, sul do estado onde o Cerrado é predo-
houve uma correlação positiva e signi- minante, o que reforça uma escassez de
ficativa, assim como entre esta mesma taxonomistas e trabalhos taxonômicos
probabilidade e o número de acidentes. para a região que, por sua vez, resulta
Este estudo foi o primeiro a compilar e em carência de dados básicos funda-
modelar este tipo de informação para mentais para prevenir e tratar adequa-
o estado do Maranhão, o qual possui damente os acidentes ofídicos.
um total de 115 espécies de serpentes,
representando a segunda maior rique-
za de espécies para a região nordeste.
O levantamento também revelou áreas Editor:Daniel Silva Fernandes.

Tropidodryas striaticeps
Floresta Estadual do Uaimií, Ouro Preto, MG
@ Paula Cristina N Barreto
39
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes

Carvajal-Castro J.D., Vargas-Salinas F., Casas-Cardona S., Rojas B., Santos J.C.
2021. Aposematism facilitates the diversification of parental care strategies in
poison frogs. Scientific Reports 11:19047. DOI: 10.1038/s41598-021-97206-6

M
uitos organismos desenvol- multivariados para determinar como o
vem adaptações para au- aposematismo está relacionado ao cui-
mentar as chances de so- dado parental; investigaram a relação
brevivência de seus descendentes. Os entre aposematismo e traços do girino
cuidados parentais evoluíram várias ve- utilizando regressões logísticas filogené-
zes em animais, incluindo em ectotérmi- ticas multivariadas e testaram as taxas
cos. Nos anfíbios, ~ 10% das espécies exi- de transição entre os componentes do
bem cuidados parentais. Entre estas, as aposematismo (isto é, a coloração cons-
rãs venenosas (Dendrobatidae) que são pícua e as defesas químicas) e o compor-
conhecidas por seus intensos cuidados tamento de criação de fitotelmos.
que incluem a guarda de ovos, o trans-
porte de larvas e a provisão especializada Os autores obtiveram informações sobre
de girinos com ovos tróficos. Pelo menos traços morfológicos e comportamentais
um terço dos dendrobatídeos são apo- de 220 espécies de dendrobatídeos. Eles
semáticos e exibem coloração de alerta, encontraram machos como cuidado-
que informa os potenciais predadores res na maioria dos casos (92 espécies),
sobre a presença de toxinas defensivas sendo que as fêmeas (10 espécies) evo-
na pele. O aposematismo tem um papel luíram independentemente pelo menos
central na diversificação das rãs veneno- duas vezes, uma no gênero Colostethus e
sas, incluindo a especialização na dieta, outra no gênero Dendrobates sensu lato.
na comunicação visual e acústica, além O transporte de girinos por machos (132
do possível impacto na sua biologia re- espécies) é ratificado como a condição
produtiva. ancestral dos dendrobatídeos, enquan-
to o transporte de girinos por fêmeas
Neste artigo os autores investigaram se (17 espécies) apareceu pelo menos cinco
aspectos do comportamento de cuidado vezes nos gêneros Dendrobates (subgê-
parental em dendrobatideos, tais como nero: Oophaga), Allobates, Hyloxalus,
sexo do principal cuidador, tamanho da Colostethus e Mannophryne. O depósito
ninhada e a transição de córregos e lago- de girinos em não fitotelmatas é mais co-
as para locais de deposição efêmera (ou mum (112 espécies) do que em fitotelma-
seja, fitotelmata), podem ter evoluído em tas (52 espécies), e a reprodução sem fi-
associação com o fenótipo aposemático totelmatas é suportada como a condição
em toda a família. Para isso, caracteriza- ancestral.
ram os aspectos morfológicos e compor-
tamentais do cuidado parental nas rãs Descobriram que a maioria dos dendro-
venenosas utilizando ferramentas filo- batídeos (164 espécies) têm áreas de vida
genéticas multivariadas; reconstruíram que não são adjacentes a riachos, e isto
o estado ancestral, utilizando modelos foi reconstruído como a condição ances-
40
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes

tral da família. Mudanças em relação a venenosas. Portanto, embora os autores


habitats próximos a riachos (64 espé- não afirmem que o aposematismo pode
cies) ocorreram oito vezes em gêneros causar a evolução de comportamentos
não aposemáticos, incluindo Anomalo- parentais complexos, eles sugerem que
glossus, Aromobates, Colostethus, Ec- o aposematismo possa servir como uma
topoglossus, Hyloxalus, Leucostethus, característica guarda-chuva contra a
Mannophryne, Paruwrobates, e Rheo- predação.
bates. O canibalismo do girino evoluiu
apenas duas vezes, em Anomaloglossus
beebei e no clado formado por Phyllo-
bates e Dendrobates sensu lato (sub- Editora: Daniela Pareja Mejía.
gênero: Adelphobates, Andinobates,
Dendrobates sensu stricto, Oophaga
e Ranitomeya; 15 espécies no total). A
coloração não visível (143 espécies) é o
estado ancestral em dendrobatídeos, en-
quanto a coloração visível (77 espécies)
evoluiu independentemente pelo menos
sete vezes em toda a família nos gêneros
Allobates, Ameerega, Anomaloglossus,
Dendrobates sensu lato, Epipedobates,
Hyloxalus, e Phyllobates.

Estudar as estratégias reprodutivas e os


cuidados parentais em rãs venenosas é
fundamental para entender os padrões
de diversificação dentro da família Den-
drobatidae. Enquanto um ambiente ter-
restre parece ser um habitat ancestral de
rãs venenosas e é comum a outros cla-
dos, por exemplo, Leptodactylidae e Bu-
fonidae, a evolução de locais de deposi-
ção de girinos mais complexos, como os
fitotelmata, provavelmente impôs uma
forte pressão de seleção nos primeiros
dendrobatídeos. Com a evolução do apo-
sematismo e a redução do risco de preda-
ção, comportamentos complexos podem
ter surgido e se diversificado ainda mais
nas notáveis habilidades espaciais/cog-
nitivas, nos cuidados biparentais elabo-
rados e no provisionamento nutritivo de
ovos vistos hoje em dia em algumas rãs

41
Dendropsophus giesleri
Santa Teresa, ES
@ Bárbara C. Marcondes

42
Erythrolamprus jaegeri
São Francisco de Paula, RS
@ Carolina A Caberlon

43
H B
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 11 -- Trabalhos
erpetologia rasileira vol. 11 n.o
Trabalhos Recentes
Recentes

Pereira E.A., Ceron K., Da Silva H.R., Santana D.J. 2022. The dispersal between
Amazonia and Atlantic Forest during the Early Neogene revealed by the bioge-
ography of the treefrog tribe Sphaenorhynchini (Anura, Hylidae). Ecology and
Evolution 12:1-15. DOI:10.1002/ece3.8754.

A
Amazônia e a Mata Atlântica linhagens de Sphaenorhynchini. As espé-
abrigam as florestas tropicais cies do estudo foram divididas quanto às
com maior biodiversidade no suas distribuições atuais em cinco áreas
planeta e que foram separadas geografica- geográficas: Amazônia Oeste, Amazônia
mente por um processo que começou no Leste, delimitada pelos rios Madeira e Ne-
Oligoceno, dando origem à diagonal de gro, Mata Atlântica Sul, Mata Atlântica
formações abertas, que inclui a Caatinga, Média e Mata Atlântica Norte, delimitada
o Cerrado, o Chaco e o Pantanal. O avanço pelos rios Paraíba do Sul e Tietê. Para a
dessas formações foi acompanhado pela reconstrução da distribuição foi utilizado
gradual redução de contatos entre as duas o pacote “BioGeoBears”, que implementa
regiões florestadas, o que é evidenciado os principais modelos utilizados em Bio-
hoje pelo forte endemismo que elas apre- geografia histórica. A análise filogenética
sentam. No entanto, sucessivas flutuações apontou três clados principais em Sphae-
climáticas no Neogeno e no Quaternário norhynchus: grupo S. platycephalus, gru-
promoveram expansões florestais que re- po S. lacteus e grupo S. planicola. Além
sultaram em contatos entre diferentes disso, os autores revisaram a nomencla-
porções da Amazônia e da Mata Atlânti- tura de G. pauloalvini, sugerindo que esta
ca, possibilitando a dispersão de espécies espécie volte para o gênero Sphaenorhyn-
entre essas duas regiões. Neste trabalho, chus. Dentre os modelos utilizados na aná-
os autores investigaram os cenários histó- lise de reconstrução biogeográfica, o DEC
ricos responsáveis pela distribuição atual (dispersão-extinção-cladogênese) através
da tribo de anfíbios anuros, Sphaenorhyn- de um evento de efeito fundador (+j) foi
chini, que agrupa dois gêneros, Sphae- o mais adequado para os dados utilizados.
norhynchus e Gabohyla. Doze espécies Os resultados indicaram a origem de Spha-
ocorrem nas porções norte e sul da Mata enorhynchini para a Mata Atlântica Norte,
Atlântica e três espécies na Amazônia. O há aproximadamente 19 milhões de anos
estudo baseou-se em uma filogenia mole- atrás, entre o final do Oligoceno e início do
cular a partir de sequências de 12 espécies Mioceno. Dois eventos distintos de disper-
do grupo, presentes no banco de dados de são entre a Amazônia e a Mata Atlântica
nucleotídeos “GenBank”. Uma árvore de foram evidenciados para linhagens da tri-
espécies foi construída e o tempo de di- bo, reforçando a hipótese de que ao longo
vergência entre as linhagens foi estimado do tempo as duas florestas mantiveram co-
com o uso das taxas de mutação de dois nexões em diferentes períodos. Um desses
genes mitocondriais para calibrar o reló- eventos de dispersão entre as duas regiões
gio molecular. Em seguida, foi desenvolvi- ocorreu no Mioceno médio, quando uma
da uma análise de reconstrução da distri- linhagem que divergiu de S. prasinus (es-
buição geográfica ancestral das diferentes pécie da Mata Atlântica Norte), dispersou
44
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes

para o Oeste da Amazônia e deu origem padrões similares de diversificação e dis-


ao ancestral comum de S. dorisae e S. lac- tribuição relacionados a fatores históricos,
teus. Um evento restringiu S. dorisae para como os rios como barreiras à dispersão.
Oeste do Rio Madeira, enquanto S. lacteus Também é discutida brevemente a teoria
expandiu sua distribuição para quase toda dos refúgios e a importância de mais estu-
a Amazônia. O outro evento de dispersão dos para definir a estabilidade de fragmen-
entre as duas formações florestais ocorreu tos/refúgios ao longo do tempo geológico e
no Mioceno tardio, quando a linhagem que a relação do tema com os endemismos ob-
divergiu de S. pauloalvini (restrita à Mata servados atualmente em diferentes partes
Atlântica Norte) se dispersou para a Ama- da Mata Atlântica. Além disso, os autores
zônia, restringindo S. carneus para o oes- encorajaram estudos de Filogeografia para
te da Amazônia. As outras diversificações as espécies da tribo, para que se compre-
se deram a partir da Mata Atlântica Norte enda melhor os padrões de diversificação
para a Média e a Sul, entre o Mioceno tar- e distribuição em Sphaenorhynchini.
dio e o Plioceno médio. Os autores finali-
zaram o manuscrito comparando os seus
resultados aos de trabalhos semelhantes
aplicados a diferentes grupos, apontando Editor: A. O. Maciel

Boana lundii
Florestal, MG
@ Iasodhara R Freire
45
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes

Shaykevich D.A., Pašukonis A., O’Connell L.A. 2022. Long distance homing in
the cane toad (Rhinella marina) in its native range. Journal of Experimen-
tal Biology 225:jeb243048. DOI: 10.1101/2021.06.16.448742.

V
ários animais exibem uma nave- Os autores realizaram seu estudo na Esta-
gação complexa em diferentes ção de Pesquisa Ecológica de Nouragues,
escalas e ambientes. Os estudos na Reserva Natural Les Nouragues, na
de navegação em anfíbios têm se concen- Guiana Francesa. Eles marcaram 14 in-
trado amplamente em espécies com histó- divíduos com rádios transmissores e de-
rias de vida que requerem movimentos es- pois os soltaram no mesmo local de cap-
paciais precisos, tais como rãs venenosas tura. Após a soltura, a maioria dos sapos
territoriais e anfíbios que se reproduzem foram realocados duas vezes a cada 24
em poças, e portanto que mostram fide- horas, tanto durante o dia quanto à noi-
lidade aos locais de acasalamento. Entre- te. Após os animais terem sido rastreados
tanto, outras espécies de anfíbios têm per- por pelo menos três dias, seis indivíduos
manecido relativamente pouco estudadas, foram translocados 500 m e cinco indiví-
deixando em aberto a possibilidade de que duos foram translocados 1000 m. Após a
habilidades de navegação bem desenvolvi- translocação, os sapos foram novamente
das sejam generalizadas. localizados duas vezes ao dia durante um
período de 24 horas. Os animais tinham
Numerosos estudos examinaram como 10 dias para voltar para casa. Se eles não
e quando os sapos cururu australianos retornassem após 10 dias, eles eram de-
invasivos se movimentam e as caracte- volvidos manualmente. Os animais foram
rísticas fisiológicas que afetam seu uso considerados como estando em sua área
espacial. Embora a ecologia espacial dos de origem quando estavam a menos de
sapos invasores seja diferente da dos sa- 100 m do ponto de referência de translo-
pos nativos, os padrões gerais de atividade cação, com base na faixa de movimento
são consistentes entre as populações. No observada durante o rastreamento de li-
entanto, apesar de alguns relatos sobre a nha de base.
localização de sapos cururu, nenhum tra-
balho quantificou sistematicamente a ca- Os autores observaram que dez sapos de 11
pacidade de navegação deles usando mé- exibiram fidelidade ao local durante 7-55
todos de rastreamento. Para caracterizar o dias de rastreamento. O alcance obser-
uso do espaço a curto prazo e determinar vado dos 10 sapos variou de 26,8 a 236,7
se os sapos cururu são capazes de nave- m. Em média, os sapos se movimentavam
gação de longo alcance para um objetivo mais de 10 m em 60% dos dias de observa-
específico, os autores deste estudo rastre- ção, com muitos períodos sem movimento
aram os sapos e realizaram experimentos substancial.
de translocação-”homing” em seu habitat
nativo da floresta tropical. Durante o rastreamento de linha de base,
os machos foram observados com mais

46
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes

frequência e em maior densidade do que moveram inicialmente na direção correta


as fêmeas. Uma fêmea que não exibia fi- antes de alcançar suas áreas de origem. O
delidade ao local foi rastreada durante 16 indivíduo restante se moveu ~500 m na
dias e se deslocou uma distância acumula- direção errada antes de parar completa-
da de 1999.4 m. mente seus movimentos.

Dos seis indivíduos translocados 500 m, Foi demonstrado que os sapos cururu são
cinco retornaram às suas áreas de origem capazes de navegar por longas distâncias
em três dias. Os retornos foram observa- após o deslocamento de uma área de re-
dos entre 27,5 e 79,9 h após a liberação no sidência, sugerindo que as habilidades de
local de translocação. Um indivíduo não navegação podem ser amplamente com-
retornou para casa viajando 250 m na dire- partilhadas entre os anfíbios. Os sapos
ção errada antes de retornar a seu local de cururu são anfíbios comuns, grandes e
translocação. Este sapo foi devolvido ma- invasivos, capazes de transportar dispo-
nualmente para casa. Dos cinco indivídu- sitivos biológicos (como acelerômetros e
os translocados 1000 m, dois retornaram GPS) tornando-os particularmente inte-
ao local de translocação dentro de ~5 dias. ressantes para estudos de campo e de la-
Ambos os animais foram observados para boratório sobre navegação de anfíbios.
fazer seus primeiros movimentos substan-
ciais após 24 h de pós-translocação. Dois
dos sapos que não voltaram para casa se Editora: Daniela Pareja-Mejía.

Hyalinobatrachium mondolfii
Reserva Extrativista do Iratapuru, Vale do Jari - AP
@ Francielly Reis

47
Lachesis muta
Pacoti, CE
@ Thabata C. dos Santos

48
Proceratophrys boiei
Sapucaia, RJ
@ Barbara Vitorino

49
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Resenhas
Amaral A. 1978. Serpentes do Brasil: iconografia colorida.
Melhoramentos, EdUSP. São Paulo. 248 p.

Renato S. Bérnils
Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas ,Centro Universitário Norte do Es-
pírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, 29932-540 São Mateus, ES,
Brasil.
E-mail: renatobernils@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533304

50
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

O
avanço do conhecimento O AUTOR
biológico se dá em ritmos
distintos conforme a área.
Afrânio do Amaral [Afrânio Pompílio
Enquanto artigos impactantes podem
Bransford Bastos do Amaral; Belém,
rapidamente se tornar obsoletos em
1894 – São Paulo, 1982], diplomado
campos como a Bioquímica ou a Biolo-
pela afamada Faculdade de Medicina
gia Molecular, sua durabilidade costu-
da Bahia, foi pesquisador de renome
ma ser maior em quase todas as verten-
no Instituto Butantan, tendo assumido
tes da Zoologia, cujos avanços são mais
sua direção em três ocasiões entre 1921
vagarosos. Em qualquer área, contudo,
e 1956 (Falcão 1975a, 1975b; Calleffo
há obras permanentes consideradas
& Fernandes 2012). Inicialmente, não
marcantes, quando não fundamentais,
atuou diretamente em Herpetologia,
a despeito de eventuais defeitos, do
mas acabou se envolvendo com o estu-
desgaste do tempo e de sua superação
do dos répteis quando João Florêncio
por estudos conduzidos com tecnolo-
Gomes [1886-1919], principal taxôno-
gias mais avançadas, renovando para-
mo daquele instituto, faleceu prematu-
digmas.
ramente.

Entre as grandes obras herpetológicas


Amaral partiu de anotações e descrições
produzidas no Brasil ao longo do sécu-
que Gomes deixara prontas ou inaca-
lo XX, merece destaque a iconografia
badas, dando início a uma série de pu-
intitulada Serpentes do Brasil, orga-
blicações que se estenderam por mais
nizada por Afrânio do Amaral, zoólogo
de 40 anos, abordando as serpentes e
que obteve certo destaque nacional e
outros Squamata, com a descrição de
internacional. A importância dessa pu-
dezenas de novos táxons e importantes
blicação transcende sua época, uma vez
elencos de répteis, como até então nin-
que, após 45 anos de seu lançamento,
guém produzira para o Brasil (e.g. Ama-
continua sendo referência obrigatória
ral, 1930a, 1930b, 1930c, 1933, 1937,
para quem estuda as serpentes sul-a-
1938a, 1938b). Ao todo, Amaral lançou
mericanas, em especial a ofiofauna da
mais de 450 publicações entre livros e
Mata Atlântica e da região Sudeste do
artigos em revistas científicas, cerca de
Brasil – muito mais pela qualidade das
200 voltados ao estudo das serpentes,
ilustrações do livro (algumas com mais
mas também com vasta produção fora
de um século) do que por seu texto.
da alçada direta das Ciências Biológi-

51
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

cas (Falcão 1975a, 1975b; Adler 1989; bilíngue português-inglês, Serpentes


Nomura 1997). Cerca de 40 espécies do Brasil: iconografia colorida / Bra-
de répteis sul-americanos, atualmente zilian snakes: a color iconography, a
consideradas válidas, foram descritas qual, em sua 2ª edição (1978, corrigi-
por ele (cf. Costa et al. 2022), e há um da e ampliada), possui 248 páginas en-
volume igualmente elevado de outros tre textos e ilustrações - 582 gravuras
nomes disponíveis de sua autoria, em (164 coloridas e 418 em preto e bran-
geral na condição de sinônimos-júnior. co).

Em função da reputação que conquis- O livro foi publicado em 1978 pelas


tou, especialmente pela projeção que o editoras paulistanas Melhoramentos e
Instituto Butantan lhe proporcionou, EdUSP (da Universidade de São Pau-
e dos muitos anos que passou nos Es- lo), mas em sua primeira edição (1977)
tados Unidos (onde fundou e foi o pri- teve também participação do Instituto
meiro diretor do Antivenin Institute of Nacional do Livro, vinculado ao Minis-
America, que durou de 1924 à 1947; tério da Educação e Cultura/MEC (Bra-
Gross & Gross 2011), Amaral manteve sília). Tem capa dura com sobrecapa
contato com grandes nomes da Zoolo- colorida, 3 cm de altura (lombada ame-
gia de sua época. Ele foi, inclusive, um ricana) e tamanho A4 em paisagem (21
dos primeiros brasileiros a integrar o cm de largura x 28 cm de comprimen-
Conselho da Comissão Internacional to). Esse formato, ainda que atormente
de Nomenclatura Zoológica, responsá- algum portador de transtorno obsessi-
vel pelo International Code of Zoologi- vo compulsivo na organização de sua
cal Nomenclature (ICZN). estante de livros, foi muito oportuno
para o livro em questão (doravante Ico-
A OBRA nografia), pois permite melhor visuali-
zação das pranchas que representam as
serpentes abordadas, em grande parte
Aproximando-se o final de sua carrei-
ocupando páginas inteiras.
ra, as publicações de Afrânio do Amaral
foram naturalmente rareando, com sua
última produção herpetológica distri- O reconhecimento internacional con-
buída quatro anos antes de sua morte. quistado por Amaral lhe permitiu con-
Última, mas não menos relevante. Mui- vidar um dos mais prestigiosos herpe-
to pelo contrário! Com primeira edição tólogos estadunidenses, Hobart Muir
em 1977, Amaral assinou um livro que, [não Malcolm] Smith [1912-2013]
por sua qualidade e beleza, ainda hoje (Adler 2007), para apresentar sua Ico-
impressiona tanto quanto na época nografia; certamente, uma grande hon-
de seu lançamento. Trata-se da obra raria. Smith enaltece Amaral e a obra
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

como um todo, destacando que 169 tá- Nomura 1997). Suas considerações nos
xons foram ali retratados pela pena de textos introdutórios da Iconografia,
pelo menos oito artistas talentosos, e mesmo ultrapassadas, são relevantes,
chama a atenção para a qualidade in- pois refletem paradigmas que predo-
comparável do material pictórico da minaram nas Ciências Biológicas na
obra, traçando um paralelo com a mag- primeira metade do século XX – como
nífica iconografia de Giorgio Jan e Fer- a valorização excessiva e nem sempre
dinando Sordelli (Jan & Sordelli 1860- bem compreendida do conceito de su-
1881). Sem querer ser desrespeitoso ou bespécie, por exemplo.
sacrílego, arrisco dizer que muitas das
figuras da Iconografia de Amaral são A seção com desenhos representando
superiores às representadas na funda- espécies de serpentes ocorrentes no
mental coleção oitocentista. Detalhe: Brasil começa nas páginas seguintes e
a apresentação de Smith está presente vai até seu final. É, portanto, predomi-
apenas na 2ª edição (Amaral 1978). nante, como se espera em obras icono-
gráficas. Esta seção está dividida em 4
As primeiras 24 páginas da Iconogra- tomos, ao longo dos quais as famílias
fia estão ocupadas com textos introdu- são apresentadas segundo uma orde-
tórios, desde a Apresentação de Smith nação pretensamente “evolutiva”, le-
até um utilíssimo quadro com o com- vando em consideração especialmente
primento médio de exemplares adultos as características de dentição maxilar
de 192 formas (espécies e subespécies) presentes nas serpentes; Amaral, como
de 172 espécies de cobras ocorrentes no de praxe, apresenta primeiramente as
Brasil, passando pelo Prefácio assinado serpentes ditas anodontes e as áglifas,
pelo autor e seus “esclarecimentos ge- sucessivamente introduzindo os de-
rais” sobre morfologia e taxonomia de mais agrupamentos até o fechamento
Serpentes. Esses “esclarecimentos” são com as espécies comumente chama-
considerados obsoletos à luz dos avan- das de solenodontes, que ele classifica
ços da Sistemática Zoológica ao longo como Kinetognathi, adotando Crotali-
dos últimos 40 anos, mas têm grande dae para esse grupo (no Brasil, Lache-
valor se levarmos em conta os aspectos sis, Bothrops e Crotalus), procurando
históricos envolvidos. Amaral foi pes- distinguir, das viperídeas, as formas
quisador respeitado no meio científico com fosseta loreal.
e fora dele, sendo também autor de es-
tudos de filologia, linguística e história, Cada tomo inicia com um quadro que
entre outros temas sem vínculo direto Amaral chamou de Index Geographi-
com sua formação como médico e zoó- cus, o qual é de suma importância para
logo (Falcão 1975a, 1975b; Adler 1989; compreender a origem dos espécimes
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

representados nas pranchas, e mesmo Laurentius, segundo a Iconografia. Fa-


para a interpretação taxonômica dos cilmente o leitor imagina que se trata
exemplares desenhados. A maioria das de um exemplar do que hoje classifica-
ilustrações está baseada em espécimes mos como Dipsas indica indica Lau-
que chegaram vivos ao Instituto Butan- renti, própria de florestas ombrófilas
tan ou ao Departamento de Zoologia da Amazônia e parte da Mata Atlântica
da Secretaria de Agricultura do Estado (Argôlo & Alves 2002; Nogueira et al.
de São Paulo (hoje Museu de Zoologia 2019). O excelente desenho, porém, não
da Universidade de São Paulo), e assim corresponde ao esperado para quem
foram encaminhados aos desenhistas, conhece o táxon em questão, mas esse
para garantir maior fidelidade de co- estranhamento fica claramente resolvi-
res, formas e mesmo do comportamen- do ao se consultar o Index Geographi-
to das espécies. Posteriormente, esses cus da página 90. O espécime desenha-
animais eram mortos e tombados em do está tombado sob o número IB 4757
coleção, e as pranchas desenhadas po- e é procedente de “Jacaré, S. Paulo” (=
diam, deste modo, ser correlacionadas estação ferroviária no município de São
a exemplares etiquetados conservados Carlos, estado de São Paulo) – e retra-
nos acervos herpetológicos do Institu- ta, portanto, Dipsas bucephala (Shaw),
to ou do Museu. O Index que abre cada forma que habita florestas estacionais
tomo da Iconografia traz, portanto, o da bacia do rio Paraná (Nogueira et al.,
número de tombo de cada animal re- 2019); Amaral não foi displicente ou se
presentado nas páginas que seguem, enganou na escolha do exemplar a ser
informando também sua procedência reproduzido na prancha, pois, à época,
geográfica. essa forma era considerada subespé-
cie de Dipsas indica (cf. Peters & Ore-
Esses dados passam despercebidos jas-Miranda 1970; Harvey & Embert
àqueles que consultam o livro apenas 2008).
para conferir aspectos morfológicos
das espécies, mas esse descuido pode Em seu preâmbulo, Smith nos informa
induzir o leitor a erro. Em função das que a Iconografia retrata 169 táxons
profundas mudanças taxonômicas e distintos, e o próprio Amaral, no Prefá-
de nomenclatura que as Serpentes ne- cio, relata que “excedem a cifra de du-
otropicais passaram desde a época da zentos as espécies de ofídios encontra-
Iconografia, a atenção aos detalhes diças no Brasil”. Sob essa perspectiva,
de procedência dos exemplares ali re- fica a impressão de que a obra nos apre-
presentados é crucial. Por exemplo, a senta mais de 80% das serpentes então
prancha de número 76, à página 124, consideradas para o país. Esse número,
está associada ao nome Dipsas indica todavia, é algo enganoso. É possível es-
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

timar que a quantidade de espécies de sas incerta (Jan), táxon não incluído na
serpentes ocorrentes no Brasil, consi- Iconografia. Décadas depois, Passos et
derando-se o conhecimento disponível al. (2004) revalidaram Leptognathus
nos anos de publicação da Iconogra- alternans Fischer sob a combinação
fia (cf. Peters & Orejas-Miranda 1970; Dipsas alternans, mas mantiveram S.
Cunha & Nascimento 1973; Hoge & Li- barbouri e S. garbei como sinônimos
ma-Verde 1973), passava de 300 – sem de D. incerta. Resumindo: Amaral con-
contar subespécies, expediente taxonô- siderou três nomes válidos quando de-
mico ainda muito utilizado àquela épo- veria ter usado apenas um (que não es-
ca. tava em sua Iconografia) e, se alguém
produzir obra semelhante hoje em dia
Em contraste com os números atuais, (e.g. Marques et al. 2019), deverá con-
que acusam 433 espécies de serpen- siderar não uma ou três espécies, mas
tes para o Brasil (Nogueira et al. 2019; sim duas: D. alternans e D. incerta.
Costa et al. 2022), a representatividade Casos deste tipo, envolvendo sinonimi-
de espécies da Iconografia parece mui- zações, descrições de novas espécies,
to baixa (cerca de 40%) para um título elevação de subespécies a espécies ple-
ambicioso (“Serpentes do Brasil”), mas nas, e discordâncias de status taxonô-
essa comparação é injusta e até mesmo mico entre autores contemporâneos ou
falaciosa, por motivos óbvios; afinal, de épocas diferentes, não são raros, e é
pelo menos 130 espécies de serpentes por isso que, para a Iconografia, os cál-
foram acrescentadas à ofiofauna nacio- culos de representatividade da compo-
nal de 1978 a 2021, entre a descrição sição da ofiofauna brasileira são apenas
de novos táxons, a elevação de subes- aproximados.
pécies a espécies e os registros inéditos
para o país. Em alguns casos, o que parece engano
ou teimosia por parte do autor, pode, na
Esse tipo de comparação numérica ain- verdade, ser fruto de sua expertise e ex-
da esbarra em mais complicadores que celência. Amaral defendia que o gênero
dificultam quantificações precisas. Na Bothrops deveria ser tratado como fe-
Iconografia, por exemplo, Sibynomor- minino; após elaborada argumentação
phus alternans (Fischer), S. barbouri com base em seu bom conhecimento de
Amaral e S. garbei Amaral são apresen- grego, latim e regras de nomenclatura
tadas como espécies distintas (não por zoológica (Amaral 1975), ele advogou
acaso, duas são de lavra do autor). À seu ponto de vista perante a Comissão
época, porém, segundo Peters (1960) e Internacional de Nomenclatura Zooló-
Peters & Orejas-Miranda (1970), as três gica. Em suas publicações (incluindo a
estavam alocadas na sinonímia de Dip- Iconografia) ele grafava, por exemplo,
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Helicops angulata, H. carinicauda e aspectos de sua personalidade podem


H. modesta, bem como Bothrops al- ser detectados ao longo da leitura de
ternata e Bothrops bilineata, que hoje suas publicações. Ao discordar de ou-
tratamos como nomes masculinos. O tros taxônomos, algumas vezes Amaral
ICZN deu ouvidos a seus argumentos não se dobrava aos argumentos alheios
e determinou, em sua segunda versão e se mantinha irredutível no emprego
(publicada em 1964), que nomes de gê- de determinado arranjo taxonômico ou
nero de origem grega, não latinizados, nomenclatural. Sua atitude beirava o
terminados em -ops, seriam considera- velho pretexto da experiência e da au-
dos femininos (Artigo 30.a.i.). Somente toridade estabelecida, típica postura
a partir da terceira edição do ICZN (em não científica herdada dos tempos de
1985), após certa polêmica a respeito, Lineu, passando por alguns dos mais
é que ficou decidido o contrário, isto prestigiados herpetólogos oitocentis-
é, que todos os nomes de gênero com tas, como Wagler, Schlegel, Fitzinger,
aquela característica, terminados em Boulenger e, especialmente, Cope (cf.
-ops, devem ser considerados mascu- Vanzolini 1977).
linos, decisão mantida na versão atual
do ICZN (Artigo 30.1.4.3.). Aqui, por- Por exemplo, Amaral manteve Xeno-
tanto, Amaral não se enganou; ele esta- don merremii, ignorando a proposta,
va, inclusive, bem por dentro do tema, então recente, de alocação desta espé-
enquanto muitos de seus contemporâ- cie para o gênero monotípico Wagle-
neos não seguiam o referido artigo do rophis, segundo estudo de Romano &
Código, pelo menos no que se refere ao Hoge (1973). Após Zaher et al. (2009),
popular gênero Bothrops (e.g. Peters & o gênero proposto em 1972 foi incluí-
Orejas-Miranda 1970; Vanzolini 1978). do como sinônimo de Xenodon, mas
quando a Iconografia foi publicada,
A despeito de todas as boas qualidades Amaral sequer se deu ao trabalho de
da Iconografia, não se produz obra des- justificar sua decisão ou contestar a
se porte sem erros, enganos ou esque- proposta de Waglerophis. Da mesma
cimentos. Assim, ao lado dos méritos forma, Amaral ignorou a criação do
óbvios e aqui destacados, é necessário gênero Gomesophis Hoge & Mertens,
estar atento a eventuais tropeços do au- 1959, que fora proposto quase 20 anos
tor, e descortiná-los. Afrânio do Amaral antes para alocar Tachymenis brasi-
foi figura controversa e polêmica, exal- liensis Gomes, 1918. Os exemplos aqui
tada por alguns, abominada por outros, pinçados, e diversos outros presentes
colecionando tanto desafetos quanto na Iconografia, deixam entrever certa
admiradores. Não cabe aqui dissecar o negação sistemática das conclusões ta-
autor/personagem, mas determinados xonômicas de Alphonse Richard Hoge
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

[1912-1982] e seus colaboradores. Por tros nomes? Seu aparente apego a de-
35 anos (até seu falecimento), após terminadas combinações taxonômicas
Gomes, Amaral e Alcides Prado [1893- (uma certa teimosia) e suas conhecidas
1963], Hoge assumiu os estudos taxo- desavenças (“diferenças”) com outros
nômicos de serpentes no Instituto Bu- alguns outros herpetólogos, seriam ex-
tantan (Romano-Hoge & Vital Brazil plicação suficiente? Eu somente atinei
2012), empregando técnicas e interpre- para parte da resposta a essa questão
tações inovadoras na sistemática des- quando percebi a data expressa no fi-
ses animais – muitas vezes em conflito nal do Prefácio da edição de 1977:
com as ideias de Amaral. “1.XII.1964”, dia em que Afrânio do
Amaral completava 70 anos de idade
Do mesmo modo, Amaral se manteve (e exatamente um ano após o meu pró-
caprichosamente obstinado no empre- prio nascimento, a 2.XII.1963, uma vez
go de certos nomes de espécies por ele que 1964 fora ano bissexto). Ora, como
propostos ao longo do século XX, mui- é que um livro publicado em 1977 ti-
tos dos quais sinonimizados por outros nha prefácio datado de 13 anos antes?
pesquisadores antes da publicação da Ao que tudo indicava, a obra já havia
Iconografia. Para não parecer que sua sido planejada e, em grande parte, or-
teimosia se limitava à rejeição dos es- ganizada, muito antes de sua publica-
tudos de Hoge, mais exemplos podem ção de fato. Esse enorme gap recuaria
ser citados. Thamnodynastes strigilis as escolhas taxonômicas de Amaral a
(Thunberg) (provável Th. nattereri, um período anterior ao Catálogo de Ja-
não Th. pallidus) e Thamnodynastes mes A. Peters & Braulio R. Orejas-Mi-
strigatus (Günther), foram apresenta- randa – obra que foi a grande divisora
dos na Iconografia como subespécies de águas no conhecimento dos répteis
de Dryophylax pallidus (Linné), um ar- Squamata da Região Neotropical. Se
ranjo muito particular que Amaral ado- imaginarmos que Amaral assim proce-
tara desde 1926/1930, posteriormente deu, é claro. Ademais, convém indicar
descartado por outros herpetólogos, uma curiosidade: na segunda edição da
com destaque para o clássico Catálogo Iconografia (1978), o mesmo Prefácio
dos Squamata Neotropicais (Peters & de Amaral está com a data “corrigida”
Orejas-Miranda 1970). para “1.XII.1978”, um estranho salto de
14 anos.
Várias vezes eu me perguntei por que
Amaral empregou nomes que já ha- Em função de tantas mudanças na ta-
viam sido descartados, usando sinôni- xonomia das serpentes sul-americanas
mos júnior para diversos táxons que desde os anos 70 do século passado, de
já eram amplamente aceitos com ou- todas as idiossincrasias de Amaral, e do
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

aparente descompasso entre a prepa- ro) [como B. neuwiedii lutzi], B. pirajai


ração de grande parte da obra (come- Amaral, Calamodontophis paucidens
ço dos anos 60) e sua publicação (final (Amaral), Cercophis auratus (Schlegel)
dos anos 70), o leitor moderno da Ico- [como Uromacerina ricardinii (Perac-
nografia precisa de paciência e muita ca)], Corallus cropanii (Hoge) [presen-
atenção. Ele estranhará tantos arran- te apenas na edição de 1978, como Xe-
jos destoantes dos atualmente consi- noboa cropanii], Dipsas turgida (Cope)
derados, como a intensa “dança” de [como Sibynomorphus turgidus], Di-
espécies entre gêneros e tribos de Xe- taxodon taeniatus (Peters) [como Co-
nodontinae, envolvendo Caaeteboia, nophis taeniatus], Drymoluber brazili
Dromicus, Echinanthera, Erythro- (Gomes) [juvenil, como Drymoluber
lamprus, Leimadophis, Liophis, Ly- rubriceps (Amaral)], Erythrolamprus
gophis, Psomophis, Rhadinaea e Tae- breviceps (Cope) [como Liophis longi-
niophallus, entre outros (vide Peters & ventris Amaral], Helicops gomesi Ama-
Orejas-Miranda 1970; Dixon 1980; Di- ral, Micrurus albicinctus Amaral, M.
-Bernardo 1992; Myers & Cadle 1994; decoratus (Jan) [como M. decoratus
Zaher et al. 2009). Ainda assim, dada a propriamente dito, mas também como
qualidade das representações dos ani- M. fischeri (Amaral)], Pseudablabes
mais, a partir do momento em que o arnaldoi (Amaral) [como Philodryas
herpetólogo neófito começar a “se situ- arnaldoi], Psomophis genimaculatus
ar” e reconhecer as espécies através das (Boettger) [como Liophis genimacula-
pistas morfológicas (pelos desenhos tus], P. obtusus (Cope) [como Liophis
precisos da Iconografia), taxonômicas obtusus], Ptychophis flavovirgatus
(autoria e ano de descrição dos táxons) Gomes, Siphlophis longicaudatus An-
e corológicas (pelo Index Geographi- dersson) [como Siphlophis c. cervinus
cus da obra), terá grande satisfação e (Laurentius)], S. pulcher (Raddi) [como
perceberá o valor intrínseco do legado Siphlophis cervinus rubrovertebralis
mais popular de Afrânio do Amaral. (Amaral)], Sordellina punctata (Peters)
[como Sordellina punctata pauloensis
Entre as preciosidades com que a Ico- (Amaral)], Tropidophis paucisquamis
nografia nos brinda está a representa- (Müller), Xenodon pulcher (Jan) [como
ção de serpentes naturalmente raras ou Lystrophis semicinctus (Duméril, Bi-
pouco amostradas. Algumas dessas es- bron et Duméril)] e Xenopholis undula-
pécies foram poucas vezes observadas tus (Jensen) [como Paroxyrhopus un-
vivas por herpetólogos atualmente em dulatus].
atividade no Brasil. Destacam-se: Atrac-
tus serranus Amaral, A. trihedrurus Também merece destaque a forma cui-
Amaral, Bothrops lutzi (Miranda-Ribei- dadosa como certas espécies dimórficas
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

ou polimórficas foram retratadas: Bo- retratados também há certo desequilí-


throps alternatus, B. jararacussu, B. brio. Hoje computamos, para o Brasil,
neuwiedii (lato sensu), Corallus hor- 44 espécies de Atractus, 30 de Aposto-
tulana, Crotalus durissus, Hydrody- lepis, 16 de Helicops e 35 de Micrurus
nastes gigas, Spilotes pullatus e Xeno- (Moraes-da-Silva et al. 2021; Silva-Jr.
don merremii. Tratamento semelhante et al. 2021; Costa et al. 2022), quatro
recebeu Bothrops atrox, mas, na con- gêneros facilmente diagnosticáveis já
cepção de Amaral, sob este nome ain- na época da publicação da Iconogra-
da estavam Bothrops moojeni e [talvez fia, mas Amaral nos apresentou ape-
também] B. leucurus, de modo que a nas cinco espécies de Atractus, sete de
variação apresentada pode não se refe- Apostolepis, oito de Helicops e 12 de
rir exclusivamente à forma amazônica. Micrurus. Essas diferenças advêm não
O mesmo pode ser dito de Oxyrhopus apenas do fato de muitas novas espé-
trigeminus, pois entre as pranchas que cies desses gêneros terem sido descri-
ilustram esta espécie há um desenho de tas somente após 1978, pois também
fato de O. trigeminus (Tabela 100, p. refletem o quanto era difícil conseguir,
149) e outro de Oxyrhopus guibei (Ta- em São Paulo, exemplares vivos de es-
bela 101, p. 150), que, à época, ainda pécies de pequeno porte da Amazônia,
não havia sido caracterizada – a descri- do Cerrado, da Caatinga e do Pantanal,
ção de O. guibei se deu exatamente no para que a equipe de desenhistas do
ano de publicação da 2ª edição da Ico- Instituto Butantan pudesse retratá-las.
nografia (Hoge & Romano 1978).
Além da menor representatividade de
Como o Instituto Butantan se localiza espécies que habitam áreas distantes da
em São Paulo, sempre foi mais fácil ob- região Sudeste, a Iconografia surpre-
ter espécimes vivos da região Sudeste ende pela ausência de serpentes mui-
e de estados vizinhos, como Paraná, to comuns no país, inclusive algumas
Goiás e Mato Grosso do Sul (à época, bem fáceis de encontrar no próprio es-
ainda Mato Grosso). Esse viés fica evi- tado de São Paulo, como Boiruna ma-
dente na representatividade geográfica culata, Bothrops fonsecai, B. moojeni,
da Iconografia, claramente mais foca- Chironius bicarinatus, Ch. exoletus,
da em espécies das regiões Sudeste e Ch. flavolineatus, Ch. laevicollis, Hy-
Sul, com especial ênfase em serpentes drodynastes bicinctus, Lygophis meri-
da Mata Atlântica e da porção meridio- dionalis, Oxyrhopus clathratus e Philo-
nal do Cerrado. Assim, os biomas com dryas olfersii. Com representantes sem
menos espécies ilustradas são os mais ocorrência em São Paulo, é também de
afastados de São Paulo: Amazônia e se estranhar a ausência de Bothrops leu-
Caatinga. Entre os grupos taxonômicos curus, Chironius multiventris, Ch. scur-
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

rulus, Erythrolamprus taeniogaster, gaveta enorme, repleta de pastas com


Lygophis dilepis, Micrurus hemprichii desenhos originais, e me mostrou al-
e Oxybelis fulgidus, entre outras. gumas das pranchas inéditas. Chama-
ram-me a atenção dois desenhos, um
O que explicaria tantas ausências apa- de Robert Kleyer (Philodryas olfersii)
rentemente injustificáveis? Em seu e outro, se não me engano, de Aurélio
Prefácio, Amaral deixou claro que a Ferraz Costa (Bothrops moojeni) – am-
Iconografia representava um esforço bos coloridos, completos, de corpo in-
de décadas, envolvendo vários artistas teiro. Um tesouro! E, no entanto, essas
dedicados à ilustração científica no Ins- duas espécies, frequentes mesmo em
tituto Butantan. Como podem ter ficado algumas áreas perturbadas, não estão
de fora algumas espécies tão caracterís- na Iconografia. Como pode?
ticas quanto comuns, quase icônicas?
Essa falha causa ainda mais estranheza Uma última questão envolvendo a Ico-
quando ficamos sabendo da existência nografia já incomodou muita gente.
de pranchas prontas de algumas dessas Boa parte das espécies retratadas está
espécies. acompanhada de informações de sua
biologia, como área de ocorrência geo-
Há muitos anos, interessei-me em pro- gráfica, ambiente que ocupa e dados de
mover uma reedição corrigida e am- dieta, reprodução, hábitos e compor-
pliada da Iconografia, atualizando tamento. O que perturba tantos cole-
nomenclatura, taxonomia e dados de gas herpetólogos é que, quase sempre,
biologia das espécies, e valorizando os Amaral não indicou a origem das infor-
artistas que trabalharam para o livro. mações que forneceu, e muitas delas
Para tal, procurei por Henrique Moisés estão distantes da realidade. Pouparei
Canter [1938-2021], então diretor da o leitor de uma extensa lista de contes-
Divisão Cultural do Instituto Butantan, tações, comparando os dados da Ico-
mas ele não ficou muito animado com nografia com estudos minuciosos fei-
a ideia e me fez perceber os obstácu- tos posteriormente com as espécies ali
los que teríamos que enfrentar, como citadas, mas sinto-me na obrigação de
a obtenção de autorização [e acordo] alertar a esse respeito, recomendando
dos familiares de Afrânio do Amaral, que a leitura dessas informações seja
a negociação com as editoras que ori- feita com cuidado, sempre procuran-
ginalmente lançaram o livro, as ques- do apoio em referências mais recentes
tões de direitos autorais etc. Durante a baseadas em fatos observados e fontes
conversa eu comentei meu desconforto fidedignas.
a respeito de espécies comuns ausentes
na Iconografia, e então ele abriu uma
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Sem um levantamento histórico cui- perceberemos que há poucos esforços


dadoso podemos apenas especular, na de qualidade calcados em desenhos de
tentativa de responder tantas dúvidas serpentes da América do Sul. Entre as
acerca das escolhas de Amaral e de pos- poucas exceções para o Brasil temos as
síveis intervenções e atrasos editoriais, ilustrações de Rolf Grantsau abordan-
de gráfica etc. Como muitos dos envol- do espécies peçonhentas, reunidas em
vidos já faleceram (autor, ilustradores, livros com tiragens limitadas (Grant-
herpetólogos contemporâneos), talvez sau 1991a, 1991b, 2013).
nunca venhamos a descobrir exata-
mente como e por que ficaram de fora Henrique Canter publicou, pelo Insti-
mesmo espécies que já contavam com tuto Butantan, um belo livro enaltecen-
desenhos prontos, e que motivos leva- do o trabalho dos ilustradores científi-
ram a Iconografia a apresentar tantos cos daquela instituição (Canter 2012),
vieses taxonômicos e de biologia das com a biografia de nove artistas ao lado
espécies retratadas. de diversas ilustrações inéditas e algu-
mas clássicas de sua autoria. Dos oito
OS ILUSTRADORES ilustradores que participaram da Ico-
nografia, cinco estão entre os homena-
Se, conforme o exposto, a Iconografia geados no livro de Canter: o paranaen-
apresenta informações questionáveis, se José Augusto Esteves [1891-1966],
desatualizadas ou duvidosas, de or- que se tornou genro de Vital Brazil, os
dem taxonômica, de nomenclatura ou alemães Karl Rudolph Fischer [1886-
de biologia das espécies, por outro lado 1955] e Robert Kleyer [1895-1940], e os
ela é magnificamente ilustrada, com paulistas Thereza Santos Sarli [1901-?]
representações impecáveis, feitas qua- e Olavo Pinto de Morais [1913-?]. Ama-
se sempre a partir da observação de es- ral cita também Joaquim Franco de
pécimes vivos, como o próprio Amaral Toledo [1905-1952], Paulo Sandig (que
destaca no Prefácio. foi desenhista no Museu Nacional, mas
de quem não consegui mais dados) e H.
Petersen (do qual eu também não con-
Temos uma iconografia focada na re-
segui informações) (Amaral 1977, 1978;
presentação realística de objetos da na-
Canter 2012; D’Agostini et al. 2012;
tureza; assim, o destaque maior deve
Bérnils 2013).
ser na qualidade das ilustrações, não
em qualquer outro aspecto, pois esse
é o propósito maior de uma iconogra- Para o leitor comum, nem sempre é
fia. Se excluirmos todos os guias, ma- possível associar cada ilustração a seu
nuais e equivalentes que se valem de autor, pois nem todas as pranchas es-
fotografias de animais vivos e mortos, tão assinadas, e o realismo alcançado
61
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

em algumas não permite entrever estilo de qualidade representando a ofiofau-


ou alguma marca peculiar deste ou da- na brasileira, de tal forma que a publi-
quele artista (desenhistas experientes cação da Iconografia acabaria sendo
devem saber distingui-los). Há dese- uma consequência, talvez mais do que
nhos que, de tão precisos e detalhados, um projeto planejado desde sempre.
facilmente superam qualquer esforço O caso é que, se o foco de uma icono-
fotográfico que possamos planejar. Ro- grafia são as ilustrações, Amaral nunca
bert Kleyer se sobressai na Iconografia teria publicado algo tão impactante se
de tal forma, que o próprio Afrânio do não pudesse contar com tantos artis-
Amaral, ao agradecer os ilustradores, o tas talentosos ao longo da história do
destaca dos demais. São 77 ilustrações Instituto Butantan – muitos dos quais
coloridas de serpentes de corpo inteiro já falecidos havia muitos anos quando
inequivocamente de sua autoria (assi- a Iconografia foi lançada. Amaral re-
nadas R. Kleyer ou Rob. Kleyer), mas conhece o valioso trabalho dos ilustra-
há um volume expressivo de figuras dores, citando sua “preciosa contribui-
sem assinatura que também podem ser ção”, mas, pensando atualmente, em
de sua pena; Canter (2012) afirma que pleno século XXI, não teria sido mais
há mais de 100 pranchas de sua autoria justo dar coautoria a todos os desenhis-
na Iconografia. Todos os desenhos de tas envolvidos?
Kleyer foram produzidos entre 1929 e
1939, tendo ele falecido em 1940, após A ICONOGRAFIA E EU
regressar à Alemanha durante o con-
turbado período entreguerras. É incrí-
Em 1982, Julio Cesar de Moura-Leite,
vel que, mesmo após tantas décadas,
Magno Vicente Segalla e eu ingressa-
ele tenha sido o principal ilustrador da
mos no curso de Ciências Biológicas da
Iconografia.
Universidade Federal do Paraná, em
Curitiba; todos com o típico entusias-
Não menos admiráveis são os desenhos mo juvenil e vontade de aprender. Julio
precisos e minuciosos de Augusto Este- e Magno, curitibanos, já se conheciam
ves (vide Canter 2012), que trabalhou há alguns anos; eu, recém-chegado à ci-
no Instituto Butantan apenas entre dade, logo fiz amizade com ambos. Um
1912 e 1919 – quando acompanhou seu dos motivos de nossa afinidade era o
futuro sogro a Niterói, onde participou interesse pela Zoologia, o que cedo nos
da criação e da primeira administração motivou a buscar estágio na área – ini-
do Instituto Vital Brazil. cialmente, sem muito sucesso. Ainda
sequer sonhávamos em ingressar no
Fica patente, portanto, que havia déca- universo da Herpetologia.
das que Amaral colecionava desenhos
62
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

No final daquele mesmo ano, morado- tas romboidais e uma faixa vermelha
res do litoral paranaense mataram uma vertebral que ia da cabeça até a cauda,
cobra que os colegas Fernando Zanella olho também vermelho, barriga bran-
e Mário Barletta levaram para o Cen- ca e rabo bem comprido. Emprestei o
tro Acadêmico do curso em um vidro. livrão de novo, comparei a cobra com
Era uma cobra bonita, com chamativos suas figuras e cheguei a mais um nome,
pontos amarelos em cada escama do agora ainda mais seguro de ter acerta-
dorso, ventre também amarelo e “cara do, tal a semelhança entre a ilustração
simpática”, de bicho inofensivo. Guar- e a serpente no álcool. Fiz nova etique-
damos em álcool e fiquei curioso para ta à mão para colocar no novo vidro
descobrir o nome da espécie (eu me no Centro Acadêmico: Siphlophis cer-
lembrava de ter visto uma bem pare- vinus rubrovertebralis (hoje, Siphlo-
cida no laboratório do colégio em que phis pulcher). Reparei que o sobreno-
estudei, em Santos). Procurei livros so- me do autor do livro era o mesmo do
bre serpentes na Biblioteca Pública do autor da subespécie dessa minha nova
Paraná e me deparei com um grande, descoberta, e pensei: “esse Amaral deve
de capa dura, chamado Serpentes do ser muito bom; além de fazer um livro
Brasil; ao folheá-lo, vi que era ricamen- fantástico, descobriu e nomeou várias
te ilustrado e fiquei bem animado: em- dessas serpentes do Brasil”.
prestei o exemplar e corri para o Centro
Acadêmico. Compara daqui, compara No início do semestre letivo de 1983,
dali, não tive dúvidas de que a cobrinha Julio, Magno e eu resolvemos procurar
amarela se chamava Liophis miliaris estágio voluntário (não remunerado) no
(hoje, Erythrolamprus miliaris), ain- Museu de História Natural da Prefeitura
da que a figura do livro não correspon- de Curitiba, no bairro Capão da Imbuia
desse exatamente ao animal no álcool. - os colegas Rita Pinotti e Sandro Me-
Escrevi o nome num papel e prendi ao nezes tinham nos alertado sobre a exis-
vidro com fita adesiva. tência de boas coleções zoológicas no tal
museu. Em nossa primeira visita, fomos
No início de 1983, outra colega de apenas Magno e eu, cada qual com suas
curso, Paola Gobbo, apareceu na uni- preferências (Magno tinha pendência
versidade com mais uma cobra recém para a Ictiologia e eu para a Malacolo-
morta, guardada em álcool, procedente gia). O diretor do museu, Pedro Scherer
de Itapoá, Santa Catarina. Era bem di- Neto, nos atendeu muito educadamen-
ferente, também com aquela “carinha te, e após alguns banhos de água fria
simpática”, mas ainda mais bonita do (pois não havia vagas nas áreas que bus-
que a anterior, pois apresentava o dor- cávamos), perguntamos se havia algum
so todo desenhado com manchas pre- grupo animal em que pudéssemos esta-
63
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

giar; Pedro pensou por alguns segundos de, na extinta Livraria Ghignone. Como
e nos disse “tem as cobras!”, certamente era um livro caro, Magno e eu reunimos
referindo-se aos répteis como um todo. nossas economias para comprá-lo e dei-
Magno e eu fomos pegos de surpresa, xá-lo no Museu, junto à coleção herpe-
e, enquanto o diretor atendia um tele- tológica. Com o tempo, e a imprescindí-
fonema, discutimos se não seria muito vel ajuda de diversos colegas (Fernando
difícil assumir um grupo “tão complexo” Sedor, Thales de Lema, Aníbal Melgare-
sem termos uma orientação formal, mas jo, Wilson Fernandes, Fátima Furtado,
contei ao Magno sobre o livrão do tal Pedro Federsoni Jr., Sylvia Lucas, Hélio
Amaral e de como não achei complicado Belluomini, Augusto Abe, Ulisses Cara-
reconhecer as duas cobras que estavam maschi, Gustavo Scrocchi, Miguel Tre-
no Centro Acadêmico. Magno, então, faut e outros), fomos aprendendo que
lembrou que seu pai tinha em casa vá- a literatura herpetológica era bem mais
rios vidros com cobras mortas em álco- vasta do que nos indicaram os tropeços
ol, algumas de Curitiba, outras de Mor- de nosso autodidatismo primário, sen-
retes, e resolvemos pegar o livro e tentar do possível identificar as espécies com
identificá-las por comparação, como eu maior precisão e discutir as hipóteses a
já havia feito; essa “prática” poderia ser esse respeito, não apenas comparando
nossa forma inicial autodidata para co- espécimes com as pranchas da Icono-
meçar a conhecer os répteis. Aceitamos grafia. Isso, contudo, jamais diminuiu
o estágio com a “condição” de que um nosso fascínio por aquela fabulosa cole-
terceiro colega pudesse participar co- ção de desenhos minuciosos e de gran-
nosco (Julio Cesar), já que o desafio era de precisão, reunidos em um livro sem
grande, e foi assim que ingressamos na igual. Assim, sem medo de ser piegas ou
Herpetologia. Sem o conhecimento pré- parecer exagerado, arrisco afirmar que a
vio da Iconografia, Magno e eu prova- Iconografia de Afrânio do Amaral e seu
velmente recusaríamos a proposta, con- espetacular time de impecáveis ilustra-
siderando-nos despreparados para tal. dores, foi o grande impulsionador que
me conduziu à Herpetologia na compa-
Ao longo das semanas seguintes, Julio, nhia dos grandes amigos Julio e Magno.
Magno e eu acabamos nos apaixonan-
do pela Herpetologia, desistindo de nos REFERÊNCIAS
aprofundarmos em outras áreas da Zo-
ologia. Resolvemos comprar um exem- Adler K. 1989. Contributions to the
plar da Iconografia para termos essa history of herpetology. Contributions
obra fundamental sempre conosco. Pro- to Herpetology 5. SSAR. Ithaca, New
curamos por toda Curitiba e achamos York.
o último exemplar disponível na cida-
64
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Adler K. 2007. Contributions to the his- Amaral A. 1938b. Contribuição ao co-


tory of herpetology. Volume 2. Contri- nhecimento dos ophidios do Brasil. II.
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Editor: J. P. Pombal Jr.

68
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Cei, J. M. 1986. Reptiles del centro, Cei, J. M. 1993. Reptiles del noro-
centro-oeste y sur de la Argentina. este, nordeste y este de la Argen-
Herpetofauna de las zonas áridas y tina. Herpetofauna de las selvas
semiáridas. Monografie IV. Museo subtropicales, Puna y Pampas.
Regionale di Scienze Naturali, Tu- Monografie XIV. Museo Regionale
rín, Italia. 527 pp. Mapas. Figuras. di Scienze Naturali, Turín, Italia.
Fotografías. Stabilimento Silves- 949 pp. Mapas. Figuras. Fotogra-
trelli & Capelleto di S. Rosa-Clot e fías. Silvestrelli & Capelleto s.r.l.
C. Turín, Italia. Turín, Italia.

Gustavo J. Scrocchi
Dirección de Zoología, Fundación Miguel Lillo y Unidad Ejecutora Lillo (CONICET -
Fundación Miguel Lillo), Miguel Lillo 251, 4000 San Miguel de Tucumán, Argentina.
Email: gustavo.scrocchi@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533309

69
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

N
acido en Italia, José Miguel francés) y R. Etheridge (en inglés) so-
Cei se radicó en Tucumán, bre Liolaemus; con S. Kretzschmar (en
Argentina, a mediados del portugués) sobre datos que le interesa-
siglo XX, posteriormente se naturalizó ban del sureste de Brasil y con E. Lavilla
argentino. Trabajó en la Universidad y yo (en español) sobre una colección
Nacional de Tucumán, y más tarde se que habíamos realizado en la región
trasladó a Mendoza. Años después, ya chaqueña. A la tarde reescribía y orde-
jubilado, volvió a Europa instalándose naba las notas realizadas a la mañana y
en Portugal; desde allí viajaba a diferen- no era raro que nos pidiera acompañar-
tes universidades y museos europeos, lo a la noche para colectar algún ejem-
principalmente italianos. Todos los años plar que le interesaba porque estaba
volvía a Argentina durante varios meses, realizando un trabajo, porque no tenía
recorría los diferentes museos para revi- fotos buenas o porque necesitaba mate-
sar colecciones, y visitar y trabajar con rial fresco para comparar.
investigadores locales en otros centros
como Tucumán, Río Cuarto, Córdoba, Como resultado de esta actividad que
La Plata, Mendoza, Puerto Madryn, Co- llegaba a parecer que nunca se detenía,
rrientes, Buenos Aires, Mar del Plata y publicó casi 400 trabajos y varios li-
San Luis. bros de referencia ineludible en la her-
petología del Cono Sur de Sudamérica.
Fue durante sus visitas a nuestro Insti- Si bien los dos volúmenes de Reptiles
tuto que lo conocí y pude ver de cerca de Argentina se encuentran entre sus
la increíble capacidad de trabajo que obras más conocidas y citadas, también
tenía. Llegaba a la colección a primera debemos mencionar Batracios de Chile
hora del día y se quedaba toda la ma- y los dos tomos de Anfibios de Argen-
ñana tomando notas, fotos y medidas tina, (el segundo de ellos en colabora-
de los ejemplares, realizando diseños ción con E. Lavilla) entre sus aportes
de los principales caracteres, y en diez más importantes. Durante el desarrollo
días o menos lograba revisar todo lo de los libros, mantenía una profusa y
que habíamos coleccionado en el año constante correspondencia con colegas
transcurrido desde su última visita. de todo el mundo, con quienes discu-
tía y desarrollaba trabajos sobre los te-
Al mismo tiempo, discutía y comenta- mas que deseaba incluir en sus libros
ba con todos los que estábamos allí so- y sabía que no estaban completos, fal-
bre los diferentes proyectos que estaba taban descripciones de especies, había
llevando a cabo. Todavía recordamos datos aún no estudiados o cualquiera
una mañana en la que, en el pasillo del de los múltiples aspectos que abarcan;
Instituto, discutía con R. Laurent (en muchos de los trabajos que publicó na-
70
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

cieron de la necesidad de completar o jos cladísticos sobre el tema. Con


aclarar temas para sus libros. base en esta introducción, presen-
ta a continuación una clasificación
Los dos volúmenes objeto de esta re- indentada de los reptiles. Después
seña están organizados en forma muy discute detalladamente las caracte-
similar, una primera parte de capítulos rísticas morfológicas y fisiológicas
introductorios y una segunda donde se de reptiles, incluyendo osteología,
brinda descripciones de los grupos su- musculatura, anatomía interna, re-
praespecíficos y las especies. producción (y también determina-
ción del sexo) y desarrollo, sistema
nervioso y órganos de los sentidos.
Los capítulos introductorios incluyen:
Un capítulo posterior trata los carac-
teres “no morfológicos” en los que se
- Descripciones de las áreas biogeo-
incluyen los resultados de estudios
gráficas de Argentina, con mapas y
de proteínas del plasma, electrofo-
explicaciones históricas y la descrip-
resis y genética, buena parte de esta
ción del área cubierta por cada volu-
información, generada por el propio
men. En este caso, las descripciones
Cei. A continuación, un capítulo de
de 1993 son mucho más detalladas.
Zoogeografía expone las principales
ideas sobre distribución de reptiles
- Una revisión general de los princi- en general y algunas consideracio-
pales trabajos sobre los reptiles ar- nes sobre cómo habría sido la his-
gentinos, también más detallada en toria y el poblamiento de Argentina
la monografía de 1993 en la cual se por los reptiles, utilizando las ideas
mencionan además, los principales de dispersión y refugios, imperantes
grupos de trabajo de Argentina y los en ese momento.
aportes de cada uno de ellos. A par-
tir de estos capítulos, las monogra-
- Los capítulos introductorios del vo-
fías tratan distintos temas.
lumen de 1993, mencionan y refieren
al lector a los principales trabajos
- El volumen de 1986 incluye a conti- cladísticos generales y a continua-
nuación un capítulo sobre origen, fi- ción desarrolla tres capítulos muy
logenia y clasificación de los reptiles detallados: uno sobre los hemipenes
en general, en el cual se mencionan de Lepidosauria y la importancia de
y discuten los caracteres evolutivos estos caracteres en las clasificacio-
del grupo, la importancia de los mis- nes; otro sobre los últimos estudios
mos en un contexto adaptativo pro- de cariotipos y por último, la histo-
pio de la época de la publicación, y ria biogeográfica de los reptiles de
la mención de los primeros traba-
71
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

las regiones cubiertas por la mono- A continuación se describen las carac-


grafía. A continuación desarrolla terísticas principales de las familias,
una corta discusión de la influencia después de los géneros que estas inclu-
del cladismo en las clasificaciones, yen. En estas descripciones se mencio-
mostrando como ejemplo una clasi- na la historia taxonómica del grupo, las
ficación indentada de los principales principales ideas sobre su distribución
grupos con base en trabajos recien- y relaciones entre sus componentes y
tes. Finalmente, incluye una clasifi- las especies.
cación general de Reptiles.
Después de la descripción de cada gé-
Los capítulos de descripciones comien- nero se incluyen las descripciones de las
zan con el listado de los géneros y es- especies que lo componen, ordenadas
pecies tratados en el volumen y son, en algunos casos en forma alfabética y
probablemente, la contribución más en otros por “grupos” muchos de ellos,
importante de ambos libros, no solo nuevamente, debidos a las ideas del au-
por la cantidad de especies tratadas, tor. Los grupos son discutidos y se men-
sino por el detalle con que se lo hace cionan que caracteres los definirían.
y porque es en estas secciones donde
puede reconocerse la profundidad de Las descripciones de las especies inclu-
los conocimientos del autor y sus apor- yen la sinonimia, diagnosis, descrip-
tes a los distintos temas de la biología ción muy detallada de la escamación y
reptiliana y su taxonomía. la coloración, distribución y datos bio-
lógicos. Las descripciones aúnan los
Como primer paso, se incluyen claves datos de la bibliografía con las obser-
dicotómicas, en español e inglés para vaciones realizadas en museos y en el
las familias, géneros y especies trata- campo por el autor y en muchos casos
das en el volumen. Las claves incluyen incluyen datos inéditos.
los caracteres tradicionalmente utiliza-
dos para la identificación de los grupos La distribución no sólo muestra los
tratados, y la descripción de caracteres puntos donde se conoce la especie, sino
novedosos o poco utilizados hasta ese que en muchos casos incluyen las opi-
momento, muchos de ellos debidos al niones del autor sobre relaciones entre
autor, como mencionáramos en otros poblaciones, clines y otras.
temas. Además, las claves están acom-
pañadas por muchísimas ilustraciones
A los capítulos de las descripciones le
de los caracteres usados, en particular
sigue uno donde se presentan fotogra-
escamación y patrones de coloración.
fías en color de la gran mayoría de las

72
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

especies tratadas. Entre los capítulos ya refleja la importancia que tuvieron


de las descripciones y el de las fotogra- en su momento, creo que se debe resal-
fías, el libro de 1993 incluye 9 apéndi- tar algunos aspectos.
ces que tratan las novedades apareci-
das cuando el volumen se encontraba Hasta la aparición de estos dos volú-
ya en prensa. menes, las obras generales de referen-
cia que podíamos utilizar para empezar
Los últimos capítulos son un muy corto a revisar cualquier grupo en Argentina
resumen, agradecimientos y la extensa y parte de los países que mencioné, se
bibliografía citada. resumían a los Catálogos de Peters y
Orejas Miranda y Peters y Donoso-Ba-
A la luz de los conocimientos actuales, rros. Estas claves fueron realizadas con
transcurridos 45 años de la edición del la intención de brindar un listado de las
tomo del sur y 38 del que trata las es- especies del sur de Sudamérica, pero
pecies del norte pueden, seguramente, los mismos autores reconocían que la
señalarse errores e ideas que después calidad de las claves y los datos eran
cambiaron, incluso por parte del pro- muy disímiles entre los grupos y lo re-
pio autor. A esto probablemente debe- flejaban en la cantidad de estrellas que
ríamos añadir también algunos puntos señalaban para cada una de ellas. No
que en su momento fueron discutidos existían otras obras de referencia gene-
con J. M. Cei por varios de nosotros, ral y en ese momento obtener la biblio-
puntos que en muchos casos fueron grafía no siempre era fácil.
cambiados en la versión final y varios
otros que no lo fueron. La aparición de los libros de Cei signifi-
có un cambio fundamental. Podían dis-
Sin embargo, la importancia de tales cutirse sus conclusiones o sus opiniones
cuestiones es nimia, a la luz de lo que los sobre determinados puntos, pero quien
libros de Reptiles de Argentina signifi- utilizaba los libros encontraba un ajus-
caron en el estudio del grupo en el cono tado resumen de lo que se había hecho
sur de América del Sur, principalmente y discutido en cada tema hasta ese mo-
Argentina por supuesto, pero también mento y la bibliografía que sustentaba
Uruguay, Paraguay, Bolivia y en menor lo escrito. Contar con esta “base de da-
medida Chile y el sur de Brasil. tos” en la época en que conseguir una
publicación significaba un trámite de
al menos un mes de correspondencia,
Si bien lo escrito hasta acá da una idea,
sin seguridad de buenos resultados, fue
muy resumida por cierto, de los conte-
de importancia fundamental. La ayu-
nidos de los libros que tratamos y ello

73
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

da que brindaron estos compendios es


muy difícil de percibir en nuestra ac-
tualidad de comunicaciones instantá-
neas, en las que conseguimos los datos
rápidamente.

Pasados tantos años, los “Reptiles de


Argentina” siguen siendo referencia in-
eludible sobre el tema y es muy bueno
que así sea, ya que el trabajo, dedica-
ción y cariño volcados en ellos sigue
dando frutos.

Editor: J. P. Pombal Jr.

74
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Cunha O.R., Nascimento F.P. 1978. Ofídios da Amazônia


X – As cobras da região leste do Pará. Publicações Avul-
sas, Museu Paraense Emílio Goeldi 31:1–218.

Teresa C.S. Avila-Pires


Museu Paraense Emílio Goeldi, Coordenação de Zoologia, C.P. 399, 66017-970 Be-
lém, PA, Brasil.
E-mail: avilapires@museu-goeldi.br
DOI: 10.5281/zenodo.6533321

75
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

C
unha & Nascimento (1978) é os animais capturados, que eram en-
um estudo sobre os ofídios do tão deixados em camburões com álcool
leste do Pará, mais especifica- 70–80%. Periodicamente uma equipe
mente da região conhecida como Zona ia a esses locais para pegar o material e
Bragantina e do Salgado, abrangendo o levá-lo ao museu. Um mapa esquemá-
nordeste paraense entre a Baía do Ma- tico da região indica o local de todos os
rajó e o limite com o Maranhão. Essa postos de coleta, o que, para uma época
região, de aproximadamente 45.000 em que não se usava GPS, é bem útil.
km2, originalmente era coberta predo- Com isso Cunha e Nascimento obtive-
minantemente por floresta de terra fir- ram um enorme número de exempla-
me, mas à época do estudo já havia sido res (8.500 espécimes, dos quais 5.638
em grande parte substituída por um serviram de base para a publicação),
mosaico de plantações diversas e capo- incluindo espécies não facilmente avis-
eiras em vários estágios de regenera- tadas e/ou raras.
ção. Além da floresta de terra firme, na
região existem também áreas de várzea O estudo identifica 79 espécies para a
e de igapó, alguns enclaves de campos área de estudo, mais uma (Rhinobo-
e campinas, e, na zona costeira (com thryum lentiginosum) de ocorrência
relevo bastante recortado), extensos provável, pertencentes a 46 gêneros.
manguezais e vegetação de restinga. Para cada espécie é citado o nome vul-
gar (tanto nomes coletados junto à po-
Cunha & Nascimento (1978) é basica- pulação local, como indicados na lite-
mente o primeiro estudo específico so- ratura), a distribuição geográfica, uma
bre os ofídios dessa região, resultado descrição (“Diagnose”) e um item “Co-
de coletas intensivas organizadas pelos mentários”. Na descrição, baseada nos
próprios autores. É também um dos exemplares do leste do Pará, os auto-
primeiros estudos específicos sobre o res mencionam os caracteres conside-
grupo para a Amazônia como um todo, rados importantes taxonomicamente,
tendo representado por isso uma fon- incluindo a contagem das escamas e
te de consulta importante para qual- a coloração. Indicam também o com-
quer estudo sobre ofídios amazônicos. primento total do maior espécime es-
Como indicado na introdução do livro, tudado. Os comentários são diversos,
as coletas ocorreram entre 1971 e 1976, incluindo questões taxonômicas e ob-
abrangendo 37 postos de coleta, onde servações sobre variação, quando per-
os moradores foram contatados para tinentes, mas também dados de com-
colaborar, capturando os animais avis- portamento, reprodução (eventual) e
tados em seu dia-a-dia, e alguns treina- alimentação — observações estas feitas
dos para fixar, de maneira adequada, com base nos dados obtidos localmente
76
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

e na análise do material coletado, in- quei, Chironius bicarinatus, Erythro-


cluindo dados de conteúdo estomacal. lamprus cobella, Lygophis paucidens,
Oxyrhopus trigeminus, Philodryas ol-
Em 1993 Cunha e Nascimento publica- fersii, Pseudoboa nigra, Sibynomor-
ram uma atualização desse estudo. No phus mikanii, Leptomicrurus collaris e
“Resumo” desse artigo está dito que ele Crotalus durissus) não são registradas
“é uma segunda edição atualizada” do para a Zona Bragantina e do Salgado,
trabalho de 1978, o que pode dar uma portanto o número conhecido atual
impressão errada. Na introdução eles para esta área é em torno de 92 espé-
esclarecem que o artigo é “um trabalho cies. Como dois dos nomes específicos
novo”, visando atualizar as informa- utilizados por Cunha & Nascimento
ções disponíveis sobre as espécies de (1978) misturavam cada um duas espé-
ofídios da área de estudo. De fato, as cies, ou seja, eles examinaram material
informações contidas em Cunha & Nas- de 82 espécies, isso significa que 89%
cimento (1978) em muitos casos não das espécies que ocorrem na região fo-
são repetidas no artigo de 1993, mas ram estudadas por eles (Tab. 1). É claro
complementadas. Algumas identifica- que, de lá para cá, novos dados foram
ções são corrigidas, nomes atualizados obtidos, permitindo se conhecer mais
(para a época) e, naturalmente, novas sobre as espécies. A nomenclatura em
informações inseridas, incluindo três Cunha & Nascimento (1978), e mesmo
novos pontos de coleta. Doze espécies em Cunha & Nascimento (1993), está
não mencionadas em 1978 são incluí- desatualizada, assim como as informa-
das, mas devido a algumas correções e ções sobre distribuição geográfica e as
alterações taxonômicas, o número total inferências de cunho biogeográfico fei-
de espécies no novo estudo ficou em tas na introdução. Mas os dados refe-
86 (uma delas, Liophis cobellus, com rentes aos caracteres taxonômicos, co-
duas subespécies, o que posteriormen- loração, comportamento e alimentação
te não foi confirmado), pertencentes a não desatualizam e podem ser ainda
47 gêneros. O melhor, portanto, é que úteis para consulta.
os dois trabalhos sejam utilizados em
conjunto. Por fim, outro aspecto interessante é
que os autores fazem menção, tanto em
Prudente et al. (2018) registram 102 es- 1978 como em 1993, sobre as alterações
pécies conhecidas para a Área de Ende- ambientais já ocorridas na região, mos-
mismo Belém, que inclui a região estu- trando preocupação com a situação e
dada por Cunha & Nascimento (1978). os efeitos sobre a fauna. São observa-
Das espécies incluídas em Prudente ções que permitem ter uma ideia da
et al. (2018), dez (Atractus albuquer- evolução dessas alterações, como ocor-
77
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

reram e se intensificaram. O que, infe- Hoogmoed M.S., Fernandes R., Kucha-


lizmente, só fez se agravar até os dias rzewski C., Moura-Leite J.C., Bérnils
atuais. Cunha & Nascimento (1993) já R.S., Entiauspe-Neto O.M., Santos
mencionam a presença de fazendas de F.P.R. 2019. Synonymization of Uro-
gado a essa época. De lá para cá, além macer ricardinii Peracca, 1897 with
do gado, também aumentaram as áre- Dendrophis aurata Schlegel, 1837
as de monocultura e a expansão urba- (Reptilia: Squamata: Colubridae: Dip-
na se intensificou, formando ambientes sadinae), a Rare South American Snake
totalmente inadequados para a fauna with a Disjunct Distribution. South
original, em detrimento das áreas de American Journal of Herpetology
floresta (ainda que alteradas) e capoei- 14:88-102.
ras antigas, onde muitas espécies con-
seguem sobreviver. Melo-Sampaio P.R., Passos P., Martins
A.R., Jennings W.B., Moura-Leite J.C.,
REFERÊNCIAS Morato S.A.A., … Souza M.B. 2021. A
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dae: Xenodontinae): Rediscovering the
diversity of the South American Racers. Montingelli G.G., Grazziotin F.G., Bat-
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Cunha O.R., Nascimento F.P. 1978. netic affinities of the Neotropical genus
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região leste do Pará. Publicações Avul- tes: Colubridae), species-group defini-
sas, Museu Paraense Emílio Goeldi tion and description of a new genus for
31:1–218. https://repositorio.museu- Mastigrodryas bifossatus. Journal of
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ense Emílio Goeldi, Zoologia 9:1–191. Bérnils R.S., … Martins M. 2019. Atlas
https://repositorio.museu-goeldi.br/ of Brazilian snakes: verified point-lo-
handle/mgoeldi/816. cality maps to mitigate the Wallacean
shortfall in a megadiverse snake fauna.
78
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

South American Journal of Herpetolo-


gy 15 (Specieal Issue 1):S1–S274.

Prudente, A.L.C., Sarmento J.F.M.,


Avila-Pires T.C.S., Maschio G., Stura-
ro M.J. 2018. How much do we know
about the diversity of Squamata (Rep-
tilia) in the most degraded region of
Amazonia? South American Journal of
Herpetology 13:117–130.

Editor: J. P. Pombal Jr.

79
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

O livro Biology of Amphibians de Duellman & Trueb:


Uma resenha após 35 anos de sua publicação

Célio F. B. Haddad
Departamento de Biodiversidade e Centro de Aquicultura, Universidade Estadual
Paulista, 13506-900 Rio Claro, SP, Brasil.
E-mail: celio.haddad@unesp.br
DOI: 10.5281/zenodo.6533329

80
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

O
livro Biology of Amphibians, de dados ou como fonte de referências
de William E. Duellman e na preparação de publicações científi-
Linda Trueb, teve a sua pri- cas. Além disso, é muito prático àque-
meira edição publicada em 1986 pela les que precisam preparar aulas sobre
McGraw-Hill, Publishing Company, os anfíbios. Eu recomendo a leitura
New York. A segunda edição foi publi- desse livro aos meus alunos de gradu-
cada em 1994 pela The Johns Hopkins ação e pós-graduação, bem como a to-
University Press, Baltimore. dos aqueles que me procuram em bus-
ca de um primeiro contato com a área
O texto, as tabelas e a quase totalida- de pesquisa em anfíbios. No entanto,
de das figuras são os mesmos nas duas passados 35 anos da publicação origi-
edições, fazendo com que ambas sejam nal do livro, podemos notar defasagens
basicamente iguais, com apenas as di- relevantes e que devem ser considera-
ferenças de que a primeira edição é de das tanto por quem ensina com o livro
capa dura e a segunda de capa mole. Na quanto por quem o usa como fonte de
segunda edição também há um prefá- referências para fazer pesquisa cientí-
cio adicional feito pelos autores e a pu- fica.
blicação da figura 13-16 foi reproduzida
de forma correta na segunda edição. A A evolução do conhecimento nos últi-
edição de capa mole é mais frágil, sol- mos 35 anos, nas diferentes áreas do
tando blocos de folhas com o manuseio estudo com os anfíbios, foi estupen-
intensivo, pois as folhas são coladas e da, tanto pelo aumento considerável
não costuradas. Isso não acontece com de pesquisadores, particularmente no
a edição de capa dura, que é costurada, terceiro mundo, quanto pelos avanços
porém mais cara. tecnológicos e metodológicos, que im-
pulsionaram os diferentes campos do
Apesar de a obra ter sido originalmente saber. Este livro também foi um espaço
publicada há mais de 35 anos, ainda é para revisões de algumas áreas do co-
uma bibliografia muito relevante e não nhecimento dos anfíbios e, nas últimas
seria exagero dizer que se trata de uma décadas, com o acúmulo de novas infor-
obra clássica na herpetologia. O livro é mações, revisões mais recentes foram
importante aos estudantes que procu- publicadas. Abaixo destaco algumas
ram um primeiro contato com a área de áreas tratadas no livro como exemplos
pesquisa em anfíbios e também é muito desses avanços que causaram defasa-
útil como obra de referência para espe- gens na visão que se tinha em 1986.
cialistas. Eu tenho as duas edições e as
consulto de forma frequente para escla- Nos campos da taxonomia, sistemáti-
recimentos de dúvidas, levantamento ca e filogenia, o uso das sequências de
81
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

DNA deu um grande impulso nos estu- vergência molecular (Lyra et al. 2017).
dos e um aprofundamento na compre- Certamente, uma porcentagem pareci-
ensão sobre a real diversidade de espé- da de subestimativa ocorre em todas as
cies e de grupos, bem como permitiu a regiões tropicais do planeta. Portanto,
proposição de hipóteses mais robustas ainda há muito por se fazer no campo
sobre as relações evolutivas em Amphi- da taxonomia dos anfíbios nas regiões
bia. Hoje são produzidos, todos os anos, mais biodiversas e nos hotspots de bio-
muitas centenas de estudos tratando diversidade.
da taxonomia, sistemática e filogenia
dos anfíbios. Quando o livro foi publi- Nesses últimos 35 anos diversos traba-
cado, conhecíamos cerca de 4.000 es- lhos de filogenia, principalmente com
pécies de anfíbios para o mundo. Hoje, base molecular, além de terem permiti-
35 anos depois, conhecemos cerca de do uma melhor compreensão acerca das
8.400 espécies (Frost 2022), um im- relações de parentesco entre espécies
pressionante incremento de 110%. Esse e grupos de espécies, impulsionaram
incremento deveu-se principalmente o aumento no número das diferentes
às descrições de espécies novas, mas categorias supra-específicas, particu-
também é resultado, em menor escala, larmente gêneros e famílias de anfíbios
de revalidações de espécies que esta- (e.g. Faivovich et al. 2005; Grant et al.
vam em sinonímia. Esse crescimento 2006, Frost et al. 2006; Pyron & Wiens
no número de espécies conhecidas para 2011). Sobre esses quantitativos, no li-
o mundo claramente é uma resultante vro são consideradas 36 famílias com
do aprofundamento dos estudos em re- espécies viventes na Classe Amphibia
giões biodiversas do planeta, particu- (21 de Anura, 09 de Caudata e 06 de
larmente nas regiões tropicais e, prin- Gymnophiona), ao passo que atual-
cipalmente, na Região Neotropical. mente (Frost 2022) são consideradas
Tomando o Brasil como um exemplo, 71 famílias com espécies viventes na
na época da publicação do livro eram Classe Amphibia (52 de Anura, 09 de
conhecidas cerca de 500 espécies de Caudata e 10 de Gymnophiona). Além
anfíbios. Hoje, 35 anos depois, conhe- disso, diversos fósseis foram descritos
cemos cerca de 1.200 e o número não ou reanalisados nos últimos 35 anos,
para de crescer (veja Segalla et al. 2014, melhorando nossa compreensão sobre
2021). A estimativa atual, com base em os grupos basais de tetrápodes e sobre
DNA barcoding, é de que estejamos su- grupos extintos da Classe Amphibia. O
bestimando a diversidade brasileira de nosso conhecimento atual sobre a bio-
anfíbios em cerca de 25% e isso num geografia de Amphibia foi muito am-
cenário conservativo, considerando-se pliado em escala macro e imensamente
apenas porcentagens elevadas de di- ampliado em escalas menores, parti-
82
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

cularmente impulsionado pela miríade defensivas presentes no grupo (e.g.,


de estudos recentes com filogeografia Toledo et al. 2011).
e pelos trabalhos sobre distribuição de
espécies. Muitos estudos sobre ecologia de comu-
nidades e de conservação foram publi-
Em relação à área de comportamento cados nos últimos 35 anos, ampliando
e ecologia reprodutiva também houve consideravelmente o nosso conheci-
grande aprofundamento no conheci- mento sobre as relações dos anfíbios
mento, propiciado por novos estudos entre si e com o ambiente (e.g., Keller
e por trabalhos de revisão. Por exem- et al. 2009; Gomes-Mello et al. 2021).
plo, na parte de modos reprodutivos o A crise global que acometeu os anfíbios,
livro reunia um total de 29 modos co- ocasionando extinções e declínios po-
nhecidos para a Ordem Anura. Cerca pulacionais, foi mais claramente perce-
de 20 anos mais tarde, esse número bida cerca de 20 anos após a publicação
saltou para 39 com a revisão de Had- da primeira edição do livro. Podemos
dad & Prado (2005) e atualmente para destacar aqui a quantia gigantesca de
71 com a revisão de Nunes-de-Almei- estudos sobre declínios populacionais
da et al. (2021). Também foram feitas e extinções de anfíbios causados por
descobertas relevantes para as outras doenças, em particular pela quitridio-
ordens como, por exemplo, a nutrição micose (e.g. Berger et al. 1998; Wake
de filhotes neonatos através de derma- & Vredenburg 2008; Greenspan et al.
tofagia maternal em alguns grupos de 2019). Também passamos a entender
Gymnophiona (Kupfer et al. 2006). Em melhor os efeitos das intervenções hu-
relação à parte das vocalizações dos manas no ambiente que causam uma
anuros, revisões recentes mudaram o degradação proporcionalmente maior
arranjo e nomenclatura dos sons emiti- nas populações de anfíbios, como é o
dos, bem como procuraram padronizar caso da desconexão de hábitats (Becker
a forma de análise com finalidade taxo- et al. 2007). Atualmente, a metodologia
nômica (e.g. Toledo et al. 2011; Köhler promissora, embora ainda de custo ele-
et al. 2017) vado, do DNA ambiental nos permite
fazer levantamentos de espécies e a lo-
As adaptações defensivas dos anfíbios calização de espécies novas, ameaçadas
foram amplamente estudadas nos úl- e desaparecidas, apenas com a coleta
timos 35 anos, quando novos compor- de água do ambiente, de onde se extrai,
tamentos defensivos foram descritos e amplifica e analisa o DNA diluído no
revisões foram publicadas, melhoran- ambiente (Lopes et al., 2017, 2021). A
do consideravelmente a nossa compre- resolução de perguntas e os testes de
ensão sobre a diversidade de táticas hipóteses ganharam muito em eficiên-
83
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

cia e capacidade de resolução com as REFERÊNCIAS


novas tecnologias e metodologias, fa-
zendo com que a ciência evolua em ve- Becker C.G., Fonseca C.R., Haddad C.
locidade muito maior do que na década F.B., Batista R.F. Prado P.I. 2007. Ha-
de 1980, quando o livro foi publicado. bitat split and the global decline of am-
phibians. Science 318:1775–1777.
Campos como a citogenética, morfo-
logia, anatomia e fisiologia, também Berger L., Speare, R., Daszak P., Gre-
experimentaram grandes avanços nas en D., Cunningham A., Goggin C., …
últimas décadas. Assim, a leitura do Parkes H. 1998. Chytridiomycosis cau-
livro representa uma boa introdução, ses amphibian mortality associated
mas os avanços das últimas três déca- with population declines in the rain fo-
das e meia devem ser considerados por rests of Australia and Central America.
aqueles que pretendem ter uma visão Proceedings of the National Academy
atual dos anfíbios. of Science 95:9031–9036.

O aprofundamento no conhecimento Faivovich J., Haddad C.F.B., Gar-


dos anfíbios nos últimos 35 anos ocor- cia P.C.A., Frost D.R., Campbell J.A.,
reu, em maior ou menor grau, em todas Wheeler W.C. 2005. Systematic review
as áreas, como exemplificado acima, e of the frog family Hylidae, with special
o livro Biology of Amphibians teve um reference to the Hylinae: phylogenetic
importante papel nesses avanços, pois analysis and taxonomic revision. Bulle-
ao reunir boa parte do conhecimento tin of the American Museum of Natu-
que havia até então, facilitou e estimu- ral History 294:1–240.
lou os estudos subsequentes. Mesmo
com as defasagens dessas três décadas
Frost D.R. 2022. Amphibian Species of
e meia, o livro continua sendo uma lei-
the World: an online reference. Version
tura importante e agradável àqueles
6.1 (Data de acesso: 12 de novembro de
que querem aprender e/ou se dedicar
2021). Electronic Database accessible at
ao estudo dos anfíbios, isso sem consi-
https://amphibiansoftheworld.amnh.
derar o imenso papel histórico do livro
org/index.php. American Museum of
para a área da herpetologia.
Natural History, New York, USA.

Frost D.R.; Grant T., Faivovich J., Had-


dad C.F.B., Bain R.H., Haas A., … Whee-
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lution 23:1–25.

Toledo L.F., Martins I.A., Bruschi D.P.,


Passos M.A., Alexandre C.; Haddad
C.F.B. 2014. The anuran calling reper-
toire in the light of social context. Acta
Ethologica 18:87–99.

86
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Duellman, W.E. (ed.) 1979. The South American Herpetofau-


na: its origin, evolution, and dispersal. Monograph of the Mu-
seum of Natural History, The University of Kansas 7:1-484.
Marinus S. Hoogmoed
Museu Paraense Emilio Goeldi, Caixa Postal 399, 66017-970 Belém, Pará, Brasil.
E-mail: hoogmoedms@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533432

87
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

D
epois do Congresso da Ame- doza, Argentina; James R. Dixon, Col-
rican Society of Ichthyo- lege Station, Texas, USA; William E.
logists and Herpetologists Duellman, Lawrence, Kansas, USA; J.
(ASIH, editora do jornal Copeia; atu- Ramon Formas, Valdívia, Chile; José
almente Ichthyology & Herpetology) H. Gallardo, Buenos Aires, Argentina;
em junho/julho de 1973 em San José, Jürgen Haffer, Essen, Alemanha oci-
Costa Rica, voltei para a Holanda via dental; Marinus S. Hoogmoed, Leiden,
Estados Unidos. Lá, entre outras, visi- Países Baixos; Raymond F. Laurent,
tei a coleção do Museu de História Na- Tucumán, Argentina; Thomas E. Lo-
tural da Universidade de Kansas, para vejoy, Washington D.C., USA; John D.
estudar material de anfíbios e répteis Lynch, Lincoln, Nebraska, USA; Beryl
da área das Guianas. O curador da co- B. Simpson, Washington D.C., USA;
leção herpetológica nesse período era Michael J. Tyler, Adelaide, Austrália).
o Dr. William E. Duellman, que me fa- Juntos eles cobriam grande parte da
lou que estava planejando utilizar seu América do Sul, infelizmente com ex-
ano sabático de 1974/75 para fazer uma ceção de boa parte do Brasil (Pantanal,
viagem de coleta na América do Sul du- Pampas, Caatinga e Cerrado) e do de-
rante um período de 15 meses, com um serto de Atacama. Já durante a organi-
trailer, junto com sua esposa Dra. Linda zação do simpósio foi decidido que as
Trueb, a filha Dana e o estudante John apresentações seriam publicadas num
Simmons como assistente de campo. livro. Os participantes produziram 16
capítulos, em colaboração com mais al-
Depois que Duellman voltou dessa via- guns co-autores não presentes no sim-
gem, ele concebeu o plano de organizar pósio (Zulma B. de Gasparini, La Plata,
um simpósio sobre a herpetofauna da Argentina; Carlos Rivero Blanco, Col-
América do Sul durante o congresso lege Station, Texas, USA, e Gustavo J.
conjunto da Herpetologist´s League Scillato Yané, La Plata, Argentina).
e Society for the Study of Amphibians
and Reptiles, que seria realizado em Os capítulos (a maioria em inglês, dois
agosto de 1977 em Lawrence, Kansas. marcados com * em espanhol, legendas
O simpósio foi realizado nos dias 11– das figuras em inglês e espanhol) são os
13 de agosto de 1977. Os participantes seguintes:
convidados foram uma mistura inter-
nacional de sul-americanos (lamenta- 1. Duellman: A herpetofauna sul-a-
velmente sem participação brasileira), mericana—Uma visão panorâmi-
estadunidenses, dois europeus e um ca.
australiano (Ana Maria Baez, Buenos
Aires, Argentina; José M. Cei, Men-
88
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

2. Báez & Gasparini: A herpetofauna 12*. Gallardo: Composição, distribui-


sul-americana—Avaliação do re- ção e origem da herpetofauna
gistro fóssil. chaquenha.

3. Laurent: Relações herpetológicas 13. Cei: A herpetofauna da Patagônia.


entre América do Sul e África.
14*. Formas: Herpetofauna dos bos-
4. Tyler: Relações herpetológicas ques temperados da América do
entre América do Sul e Austrália. Sul.

5. Haffer: Biogeografia quaterná- 15. Duellman: A herpetofauna dos


ria das terras baixas tropicais da Andes: Padrões de distribuição,
América do Sul. origem, diferenciação e comuni-
dades atuais (com 88 páginas, o
6. Báez & Scillato Yané: Mudanças maior de todos).
ambientais no cenozoico tardio da
Argentina temperada. 16. Lovejoy: Refúgios, áreas prote-
gidas e tamanho crítico mínimo:
7. Simpson: Biogeografia quaterná- Problemas na conservação da her-
ria das altas regiões montanhosas petofauna neotropical.
da América do Sul.
Quando este livro apareceu em 1979 foi
8. Lynch: Os anfíbios das florestas um trabalho seminal, porque não havia
tropicais das terras baixas. uma publicação tratando da herpeto-
logia sul-americana de uma maneira
tão inclusiva, abordando a distribuição
9. Dixon: Origem e distribuição dos
geográfica das espécies, a biogeogra-
répteis em florestas pluviais tropi-
fia quaternária das terras baixas e das
cais das terras baixas da América
áreas montanhosas, o registro fóssil, as
do Sul.
relações da herpetofauna entre a Amé-
rica do Sul e África e entre a América do
10. Hoogmoed: A herpetofauna da re-
Sul e Austrália, a teoria dos refúgios e a
gião das Guianas.
conservação da herpetofauna.

11. Rivero-Blanco & Dixon: Origem e


Todos os capítulos apresentaram bi-
distribuição da herpetofauna das
bliografias extensas. Os oito capítu-
regiões secas das terras baixas do
los enfocando regiões biogeográficas
norte da América do Sul.
89
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

(Amazônia, Guiana, áreas secas do nor- bia amazônica, Equador amazônico,


te da América do Sul, Chaco, Patagônia, Amazônia brasileira ocidental, Peru
bosques temperados e Andes) apresen- amazônico, Bolívia amazônica), tipo de
taram discussões sobre a composição distribuição e habitat. Duellman (Ta-
da herpetofauna, sua origem e história, bela 15.6) apresentou a distribuição
e listas das espécies até então conheci- dos gêneros andinos nas regiões extra-
das das áreas tratadas. As listas de es- -Andinas adjacentes e terras altas neo-
pécies nos capítulos de Lynch e Dixon tropicais (América Central, Chocó, Ba-
sobre a herpetofauna das florestas plu- cia Amazônica, terras altas da Guiana,
viais das terras baixas da América do sudeste do Brasil, Patagônia, florestas
Sul trataram em maior parte da herpe- austrais, deserto de Atacama).
tofauna da Amazônia, mas também in-
cluíram discussões sobre a herpetofau- Todos os autores reconheciam que os
na da Floresta Atlântica, no Brasil, e da dados disponíveis à época (1977) eram
área do Chocó, na Colômbia e Equador. insuficientes e que seria necessário ob-
Lynch (Apêndices 8:1-4) listou as es- ter mais dados com base em novas co-
pécies de anfíbios da floresta de terras letas. Efetivamente, as especulações em
baixas para quatro regiões: Trans-An- todos os capítulos sobre distribuição e
dina, Cis-Andina Central, Norte da Co- origem das espécies com base no mate-
lômbia e Venezuela, e Floresta Atlânti- rial disponível naquele momento estão,
ca. Dixon (Apêndice 9:1) comparou os em grande parte, ultrapassadas, tendo
répteis de acordo com sua distribuição em vista o avanço do conhecimento,
(Leste da Amazônia, Oeste da Amazô- tanto em termos de distribuição das es-
nia, Amazônia Central, em toda a Ama- pécies como taxonômicos. Por exemplo,
zônia, Floresta Atlântica, Floresta do alguns dos tipos de distribuição utiliza-
Chocó, Florestas do Norte) ao nível de dos no Apêndice 10:1, como “periférico
gênero (com o número de espécies en- na Amazônia” e “disjunto na Amazô-
tre parênteses). Hoogmoed (Apendix nia”, no momento não existem mais por
10:1) listou todas as espécies de répteis causa do melhor conhecimento das dis-
e anfíbios do Escudo da Guiana (defi- tribuições na Amazônia e Guiana, elimi-
nido como toda a área entre o Orinoco, nando supostas ausências.
Rio Negro, Amazonas e Oceano Atlân-
tico, incluindo as terras altas e baixas)
No Apêndice 10:1 figuraram 37 espé-
conhecidas à época e providenciou co-
cies (conhecidas de material em cole-
lunas com dados sobre elevação, área
ções) sem nome específico, mas apenas
de ocorrência (leste da Guiana, oeste
indicadas por letras (31 dos 165 anuros,
da Guiana, parte brasileira da Guiana,
1 das 13 gymnofiona, 4 das 132 cobras
oeste e centro da Venezuela, Colôm-
e 1 dos 65 lagartos). Parece útil indicar
90
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

aqui os nomes atuais dessas espécies e ídas, assim como não incluo (na colu-
também apresentar uma atualização de na à esquerda) espécies descritas após
outros nomes, para mostrar as grandes 1977. Não é minha intenção apresentar
mudanças que ocorreram depois da pu- aqui uma lista completa da herpetofau-
blicação do livro. Espécies que apenas na atual da Guiana.
mudaram de gênero não foram inclu-

Colostethus brunneus = (mistura de 11 espécies descritas recentemente,


veja texto abaixo)

Allobates granti Kok, MacCulloch, Gaucher, Po-


elman, Bourne, Lathrop, and Lenglet, 2006)

Allobates sumtuosus Morales, 2002)

Anomaloglossus baeobatrachus (Boistel & de


Massary, 1999)

Anomaloglossus blanci Fouquet, Vacher, Cour-


tois, Villette, Reizine, Gaucher, Jairam, Ouboter
& Kok, 2018

Anomaloglossus dewynteri Fouquet, Vacher,


Courtois, Reizine, Villette, Gaucher, Jairam, Ou-
boter & Kok, 2018

Anomaloglossus leopardus Ouboter & Jairam,


2012

Anomaloglossus mitaraka Fouquet, Vacher,


Courtois, Deschamps, Ouboter, Jairam, Gaucher,
Dubois & Kok, 2019

Anomaloglossus saramaka Fouquet, Jairam, Ou-


boter & Kok, 2020

91
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Anomaloglossus stepheni (Martins, 1989)

Anomaloglossus surinamensis Ouboter & Jai-


ram, 2012

Anomaloglossus vacheri Fouquet, Jairam, Oubo-


ter & Kok, 2020

Colostethus sp. “A” = Anomaloglossus sp. A

Colostethus sp. “B” = Anomaloglossus moffetti Barrio-Amoros &


Brewer-Carias, 2008

Dendrobates azureus = Dendrobates tinctorius (Cuvier, 1977)

Dendrobates quinquevittatus = Ranitomeya ventrimaculatus (Shreve, 1935)

Eleutherodactylus sp. “A” = Pristimantis pulvinatus (Rivero, 1968)

Euparkerella sp. “A” = Adelophryne gutturosa Hoogmoed & Lescure,


1984

Leptodactylus sp. “A” = Leptodactylus myersi Heyer, 1995

Leptodactylus sp. “B” = Leptodactylus knudseni Heyer, 1972

Leptodactylus sp. “C” = Leptodactylus riveroi Heyer & Pyburn,1983

Atelopus pulcher = Atelopus hoogmoedi Lescure, 1974

Atelopus sp. “A” = Atelopus barbotini Lescure, 1981

Bufo granulosus = Rhinella merianae (Gallardo, 1965) + R. hum-


boldti (Gallardo, 1965)

Bufo typhonius = Rhinella margaritifer (Laurenti, 1768)

92
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Bufo sp. “A” = Rhinella sp. nov. (a ser descrita por MSH)

Bufo sp. “B” = Rhinella lescurei Fouquet, Gaucher, Blanc, Vé-


les-Rodriguez, 2007

Dendrophryniscus minutus = Amazophrynella teko Rojas-Zamora, Fouquet,


Ron et al., 2018 + A. manaos Rojas, Carvalho,
Avila & Hrbek, 2014

Oreophrynella sp. “A” = Oreophrynella cryptica Señaris, 1995

Hyla egleri = Scinax nebulosus (Spix, 1824)

Hyla ginesi = Myersiohylaa loveridgei (Rivero, 1961)

Hyla sp. “A” = Boana roraima (Duellman & Hoogmoed, 1992)

Hyla sp. “B” = Tepuihyla warreni (Duellman & Hoogmoed,


1992)

Hyla sp. “C” = Dendropsophus counani Fouquet, Orrico, Er-


nst et al. 2015

Hyla sp. “D” = Dendropsophus gaucheri Lescure & Marty,


2000

Hyla sp. “E” = Scinax ruberoculatus Ferrão, Fraga, Moravec,


Kaefer & Lima, 2018

Hyla sp. “F” = Dendropsophus sp. nov. (a ser descrita por


MSH)

Hyla sp. “G” = Dendropsophus sp. nov. (a ser descrita por


MSH)

Hyla sp. “H” = Scinax danae Duellman, 1986

93
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Hyla sp. “I” = Hylidae indeterminado

Hyla sp. “J” = Trachycephalus hadroceps (Duellman & Hoog-


moed, 1992)

Hyla sp. “K” = (Ololygon trilineata Hoogmoed & Gorzula,


1979) = Scinax fuscomarginatus (A. Lutz, 1925)

Hyla sp. “L” = Scinax sp. nov. (a ser descrita por MSH)

Hyla sp. “M” = Scinax sp. nov. (a ser descrita por MSH)

Hyla sp. “N” = Scinax sp. nov. (a ser descrita por MSH)

Hyla sp. “O” = Scinax exiguus (Duellman, 1986)

Osteocephalus sp. “A” = Osteocephalus oophagus Jungfer & Schiesari,


1995

Stefania sp. “A” = Stefania roraimae Duellman & Hoogmoed,


1984

Stefania sp. “B” = Stefania riae Duellman & Hoogmoed, 1984

Stefania sp. “C” = Stefania ginesi Rivero, 1968

Centrolenella fleischmanni = Hyalinobatrachium cappellei (van Lidth de


Jeude, 1904)

Centrolenella oyampiensis = Vitreorana ritae B. Lutz & Kloss, 1952

Centrolenella sp. “A” = Hyalinobatrachium iaspidiense (Ayarzaguena,


1992)

Centrolenella sp. “B” = Hyalinobatrachium nouraguensis Lescure &


Marty, 2000

94
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Otophryne robusta = Otophryne robusta Boulenger, 1900 + O.


steyermarki Rivero, 1968 + O. pyburni Campbell
& Clarke, 1998

Microcaecilia sp. “A” = Microcaecilia taylori Nussbaum & Hoogmoed,


1977

Liotyphlus incertus = Liotyphlus ternetzii (Boulenger, 1896)

Leptotyphlops tenella = Leptotyphlops albifrons (Wagler, 1824)

Leptotyphlops sp. “A” = Leptotyphlops albifrons (Wagler, 1824)

Aporophis crucifer = Erythrolamprus melanotus (Shaw, 1802)

Atractus micheli = Atractus badius (Boie, 1827)

Atractus sp. “A” = Atractus zidoki Gasc & Rodrigues, 1979

Chironius sp. A = Chironius exoletus (Linnaeus, 1758)

Liophis purpurans = Erythrolamprus miliaris (Linnaeus, 1758)

Oxyrhopus sp. A = Oxyrhopus formosus (Wied-Neuwied, 1820)

Gonatodes varius = Gonatodes albogularis fuscus (Hallowell, 1855)

Crocodilurus lacertinus = Crocodilurus amazonicus (Spix, 1824)

Euspondylus sp. “A” = Provavelmente Anadia escalerae Myers, Rivas


& Jadin, 2009 (MCNLS 6062 La Escalera)

95
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Depois da publicação do livro houve Também as ideias sobre a teoria dos


um incremento de expedições para os refúgios, que apenas foi lançada em
topos de tepuis na Venezuela (por he- 1969 e que foi discutida por alguns
licóptero), Guyana (geralmente a pé) e dos autores, inclusive o pai desta teo-
Brasil (helicóptero e a pé) que resulta- ria, Jürgen Haffer, mudaram bastante.
ram em coleções ricas de herpetofau- De forma similar ao que ocorreu com
na. Uma expedição que eu fiz ao topo o livro editado por Duellman que aqui
do único tepui no Suriname (Tafelberg, comentamos, a teoria dos refúgios esti-
1200 m), em 1979, resultou em boas mulou muitos novos estudos, levando a
coleções, mas ficou claro que a altura um melhor conhecimento e reavaliação
desse tepui era insuficiente para ter es- dessas ideias.
pécies endêmicas de tepuis. Todo ma-
terial coletado nesse tepui isolado, sem Por fim, algumas outras críticas podem
exceção, foi de espécies que ocorrem ser aplicadas ao livro como um todo.
também nas terras baixas ao seu redor. Infelizmente, como já dito acima, al-
gumas áreas do Brasil e Chile não fo-
Ademais, iniciando nos anos 90, novas ram tratadas. Outro problema foi que a
técnicas moleculares passaram a ser utili- maior parte dos capítulos foi publicada
zadas em taxonomia e o número de espé- em inglês, sem resumos em espanhol ou
cies crípticas aumentou espetacularmen- português (somente as legendas apare-
te. Um exemplo é a espécie Colostethus cem em inglês e espanhol). Os capítu-
brunneus (Cope, 1887), que no período los foram escritos isoladamente pelos
de produção do capítulo sobre a Guiana autores e consequentemente diferem
foi considerado como uma espécie dis- bastante em tamanho e conteúdo.
tribuída em toda a Guiana e Amazônia.
Atualmente sabemos que essa espécie é No entanto, apesar das lacunas e de
restrita à Chapada dos Guimarães, próxi- atualmente desatualizado, o livro foi
mo a Cuiabá, no Mato Grosso, bem ao sul um marco em sua época, porque apre-
do Rio Amazonas. Com esse nome foram sentou num único lugar, pela primei-
indicados na literatura dos anos 70 pelo ra vez, dados básicos de distribuição e
menos duas espécies de Allobates e nove ocorrência de grande parte da herpeto-
de Anomaloglossus, este um gênero des- fauna da América do Sul, informação
crito apenas em 2006 (Grant et al. 2006). sobre a composição da herpetofauna
A análise do canto de sapos também teve de diversas áreas, e uma extensa biblio-
um papel importante nesse período para grafia a respeito, tudo compilado sem
resolver problemas taxonômicos. Casos ajuda da internet. Foi uma boa inicia-
similares ocorreram em outros grupos tiva, que com certeza deu um impulso
também. significativo para mais estudos sobre a
96
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

herpetofauna sul-americana. Graças ao


trabalho de muitos herpetólogos sul-a-
mericanos, depois dos anos 1970 nossa
base de dados sobre anfíbios e répteis,
assim como as coleções em instituições
sul-americanas, aumentaram muito e
facilitaram estudos mais profundos so-
bre esses magníficos animais.

REFERÊNCIAS

Grant T., Frost D.R., Caldwell J.P., Ga-


gliardo R., Haddad C.F.B., Kok P.J.R.,
… Wheeler W.C. 2006. Phylogenetic
systematics of dart-poison frogs and
their relatives (Amphibia: Athesphata-
nura: Dendrobatidae). Bulletin of the
American Museum of Natural History
299:1–262.

Editor: J. P. Pombal Jr.

97
Bothrops jararaca
Santa Bárbara, MG
@ Layane Martins

98
Micrablepharus maximiliani
São Desidério, BA
@ Katherine Z. B. Wassouf

99
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Pritchard P.C.H., Trebbau P. 1984. The Turtles of Venezuela.


Society for the Study of Amphibians and Reptiles, Contribu-
tions in Herpetology 2:1-403.
Flavio de Barros Molina
Universidade Santo Amaro, 04829-300 São Paulo, SP, Brasil
E-mail: fbmolina@uol.com.br
DOI: 10.5281/zenodo.6533456

100
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

C
omecei a trabalhar com que- lhos publicados. Em 1998, fundou o
lônios nos anos 1980, quan- Chelonian Research Institute, baseado
do ainda não havia muita in- em Oviedo, Flórida, uma organização
formação sobre esses animais e livros sem fins lucrativos dedicada ao estudo
que abordassem a queloniofauna sul- da fauna mundial de quelônios. Prit-
-americana eram raros. Entre os livros chard faleceu em 2020, aos 76 anos de
que na época podiam ser considerados idade. Karl Peter Trebbau Millowitsch,
de publicação recente, lembro-me do conhecido como Pedro Trebbau, nas-
Encyclopedia of turtles, de Peter Pri- ceu em Colônia, Alemanha, em 1929.
tchard, publicado em 1979 pela TFH Estudou biologia nas Universidades de
Publications, e o Turtles of the world, Frankfurt e de Freiburg e medicina ve-
de Carl Ernst e Roger Barbour, publica- terinária na Universidade de Giessen.
do em 1989 pela Smithsonian Institu- Logo mudou-se para a Venezuela, onde
tion Press. Embora ambos trouxessem se naturalizou, e dedicou a sua vida ao
uma descrição geral de todas as espé- conhecimento e conservação da fauna
cies viventes e incluíssem tópicos sobre e da flora nativas. Trebbau faleceu em
distribuição geográfica e ecologia, não 2021, aos 91 anos de idade.
aprofundavam o suficiente para aque-
les leitores que, como eu, estavam ávi- Das 24 espécies/subespécies venezue-
dos por mais informações. O livro que lanas abordadas no livro, 18 (75%) es-
se tornou uma espécie de “bíblia” para tendem a sua área de ocorrência ao ter-
mim (e para tantos outros) foi o Turtles ritório e às águas costeiras do Brasil, o
of Venezuela, de Peter Pritchard e Pe- que na época representava 56% do total
dro Trebbau, publicado em 1984 pela de espécies conhecidas da fauna bra-
Society for the Study of Amphibians sileira. As espécies venezuelanas per-
and Reptiles. Embora o livro fosse de- tencem às famílias Podocnemididae,
dicado à fauna de um único país da Chelidae, Emydidae, Geoemydidae,
América do Sul, incluía várias espécies Testudinidae, Kinosternidae, Chelonii-
com ocorrência também no Brasil. dae e Dermochelyidae. Vale mencionar
que os autores aproveitaram a obra
Os autores tinham em comum uma para descrever uma nova espécie de
grande paixão pela natureza. Peter Chelidae, Phrynops zuliae (atualmen-
Charles Howard Pritchard nasceu em te, Mesoclemmys zuliae), endêmica da
Hertfordshire, Inglaterra, em 1943. bacia de Maracaibo, e uma nova subes-
Obteve o seu PhD pela Universidade pécie de Emydidae, Pseudemys scripta
da Flórida, EUA, e logo se tornou um chichiriviche (atualmente, Trachemys
especialista em quelônios de renome callirostris chichiriviche), nativa dos
internacional, com dezenas de traba- estados Falcón e Yaracuy.
101
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Na Tabela 1, estão listadas todas as espécies/subespécies venezuelanas com a indi-


cação daquelas que também fazem parte da fauna brasileira.

Tabela 1: Lista das espécies/subespécies venezuelanas com indicação das que tam-
bém ocorrem no Brasil. Os nomes dos taxa foram atualizados de acordo com o Turt-
le Taxonomy Working Group (Chelonian Research Monographs 8:1-472, 2021).

Ocorrência
Subordem Família Espécie
no Brasil
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis expansa Sim
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis erythrocephala Sim
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis unifilis Sim
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis vogli Não
Pleurodira Podocnemididae Peltocephalus dumerilianus Sim
Pleurodira Chelidae Chelus orinocensis Sim
Pleurodira Chelidae Phrynops tuberosus Sim
Pleurodira Chelidae Mesoclemmys gibba Sim
Pleurodira Chelidae Mesoclemmys raniceps Sim
Pleurodira Chelidae Mesoclemmys zuliae Não
Pleurodira Chelidae Platemys platycephala pla- Sim
tycephala
Cryptodira Emydidae Trachemys callirostris ca- Não
llirostris
Cryptodira Emydidae Trachemys callirostris chi- Não
chiriviche
Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys diademata Não
Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys punctularia Sim
punctularia
Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys punctularia Não
flammigera
Cryptodira Testudinidae Chelonoidis carbonarius Sim
Cryptodira Testudinidae Chelonoidis denticulatus Sim
Cryptodira Kinosternidae Kinosternon scorpioides Sim
scorpioides

102
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Cryptodira Cheloniidae Chelonia mydas Sim


Cryptodira Cheloniidae Caretta caretta Sim
Cryptodira Cheloniidae Eretmochelys imbricata Sim
Cryptodira Cheloniidae Lepidochelys olivacea Sim
Cryptodira Dermochelyidae Dermochelys coriacea Sim

O livro apresenta na introdução um texto aborda a nomenclatura utilizada


breve histórico dos estudos sobre a para nomear os escudos córneos e as
herpetofauna sul-americana, incluindo placas ósseas do casco, com desenhos
a menção a importantes naturalistas da carapaça e do plastrão de um espéci-
do século XIX, como Charles Darwin, me de Pleurodira e de outro de Crypto-
Alexander von Humboldt e o Príncipe dira. Após estas informações de cunho
Maximilian zu Wied-Neuwied, e o re- técnico, segue uma chave dicotômica
conhecimento de estudiosos do século para a identificação das 24 espécies/su-
XX, como Federico Medem (a quem a bespécies, com uma importante versão
obra é postumamente dedicada), Mar- em espanhol.
cus Freiberg e Paulo Emílio Vanzolini.
Na sequência, os autores justificam al-
Os autores optaram por apresentar
guns procedimentos adotados na elabo-
cada família com uma diagnose e uma
ração do livro, como a decisão de incluir
ampla discussão morfológica baseada
dados de distribuição geográfica não
em todos os gêneros, inclusive nos já
baseados em espécimes testemunhos,
extintos. Atenção especial foi dada aos
desde que comprovada a sua credibili-
gêneros sul-americanos para os quais
dade. Quanto à abrangência dos dados
há uma diagnose e uma caracterização
apresentados, os autores não se limita-
e diferenciação morfológica. Após essa
ram às populações venezuelanas e in-
introdução, as espécies da família são
cluíram informações obtidas em toda
abordadas uma a uma, começando com
a área de distribuição de cada espécie.
uma lista sinonímica, uma diagnose e
Essas escolhas feitas pelos autores cer-
uma descrição morfológica. A descrição
tamente contribuíram para aumentar a
é detalhista, abrangendo os seguintes
audiência alcançada por essa obra.
tópicos: casco (carapaça e plastrão), ca-
beça, extremidades (cauda e membros
Após a introdução, o livro apresenta anteriores e posteriores), padrão de
três capítulos de cunho geral, sendo o coloração e dimorfismo sexual. Outras
primeiro uma discussão sobre a dis- informações relevantes são apresenta-
tribuição e zoogeografia dos quelônios das, possibilitando um conhecimento
sul-americanos. Em seguida, um curto
103
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

aprofundado da biologia de cada espé- e coleções particulares e obtidos na


cie. A ordem dos tópicos é a seguinte: literatura quanto registros informais
tamanho e crescimento, distribuição incluindo observações pessoais e co-
geográfica, variação geográfica, habitat, municações pessoais de colegas profis-
alimentação, reprodução, importância sionais e de informantes locais confi-
econômica e nomes vernaculares. O áveis” (p. 377 – tradução livre). Para a
livro apresenta muitas figuras comple- monumental tarefa de juntar todas es-
mentares às informações. Entre as mais sas localidades geográficas, os autores
importantes merecem destaque as figu- contaram com a generosa contribuição
ras de página inteira com desenhos do de outros especialistas, entre os quais
crânio (vistas dorsal, ventral e lateral) e Russell Mittermeier, Anders Rhodin e
do casco (escudos córneos e placas ós- John Iverson.
seas em vistas dorsal e ventral) e os ma-
pas com a área de distribuição geográfi- O apêndice B, que contempla a legis-
ca de cada espécie. Como a obra não se lação para a conservação de quelônios
limita ao conhecimento existente para na Venezuela, é seguido por uma seção
as populações venezuelanas, os leito- com 47 magníficas pranchas coloridas,
res também encontrarão informações 25 delas retratando as espécies de acor-
sobre espécies que ocorrem em outras do com a percepção do pintor Giorgio
partes do continente, como Chelus fim- Voltolina apresentadas em belíssimas
briatus, Phrynops geoffroanus e Me- aquarelas extremamente realistas. As
soclemmys nasuta. outras pranchas apresentam fotos,
destacando não apenas características
A lista com as obras citadas é abran- morfológicas das várias espécies, mas
gente e inclui desde textos clássicos, retratando também aspectos da repro-
como os de Carollus Linnaeus, Charles dução e detalhes dos diversos habitats.
Darwin e Alfred Wallace, até os artigos O livro termina apresentando 16 mapas
científicos mais recentes (para a épo- da Venezuela, cada um deles em pági-
ca), incluindo mais de 700 referências na inteira, com os registros geográficos
bibliográficas. O apêndice A, com os re- plotados espécime por espécime.
gistros de localidades conhecidas para
cada espécie, é de grande importância Por todo esse esforço e intenso labor
pois, além das localidades na Venezue- que incluiu não apenas visitas a biblio-
la, contempla localidades em outros tecas mas também viagens ao campo,
países da América do Sul, incluindo, Turtles of Venezuela tornou-se de ime-
obviamente, o Brasil. De acordo com os diato um clássico na literatura herpeto-
autores, essa lista “inclui tanto regis- lógica e, mesmo após mais de 35 anos
tros formais de espécimes em museus da sua publicação, permanece leitura
104
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

fundamental para todos aqueles que


desejam conhecer um pouco da fau-
na de quelônios do norte da América
do Sul. Vale acrescentar, como crédi-
to à importância da obra, que o dese-
jo registrado pelos autores no início da
introdução da obra, de “publicar, fu-
turamente, uma edição em espanhol
que ficará sob a autoria sênior de Tre-
bbau” (p.5 – tradução livre) tornou-se
finalmente realidade em 2016, quando
Venezuela y sus Tortugas de Trebbau e
Pritchard foi publicado por Oscar Todt-
mann Editores.

Editor: J. P. Pombal Jr.

105
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Romer, A.S. 1956. Osteology of Reptiles. University of Chica-


go Press: Chicago.

Angele R. Martins

Laboratório de Anatomia Comparada de Vertebrados, Departamento de Ciências


Fisiológicas, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade de Brasília, Campus
Darcy Ribeiro, 70910-900 Brasília, DF.
E-mail: amartins@unb.br
DOI: 10.5281/zenodo.6533510

106
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

U
m verdadeiro clássico de tentativa de resumir a importância de
nada menos que 772 pági- sua pesquisa a um único parágrafo se-
nas, “Osteology of Reptiles”, ria inevitavelmente desastrosa. Para
por Alfred S. Romer pode ser conside- tal, convido os leitores a mergulhar em
rado até os dias atuais como um mo- diversas biografias do autor atualmente
numento científico que deve estar pre- disponíveis pela “The Geological Socie-
sente nas estantes ao menos de todo(a) ty of America”, “The National Academy
herpetólogo(a), paleoherpetólogo(a), of Sciences” e outras.
anatomista ou morfologista com in-
teresse no grupo. Isto se deve não so- O livro intitulado “Osteology of Repti-
mente ao excepcional conteúdo deste les” é sem dúvidas um compilado en-
clássico, mas porque grande parte das ciclopédico sobre a osteologia e clas-
obras de Romer são indispensáveis sificação de répteis extintos e viventes
para a compreensão da evolução de baseado em mais de 500 referências
vertebrados, sobretudo por sua gran- selecionadas (isto é, as principais obras
de dedicação à coleta, descrição e in- utilizadas pelo autor) separadas por te-
terpretação de vertebrados fósseis. O mas, além de conter um índice de cer-
autor é conhecido por diversos outros ca de 5 mil itens que incluem nomes de
livros como “Vertebrate Paleontology”, táxons e terminologias anatômicas.
“Man and the Vertebrates”, “The Ver-
tebrate Body”, resultado de sua grande
A dedicatória e prefácio do livro já nos
paixão e dedicação ao estudo de fósseis
diz bastante sobre a história de sua pro-
de peixes, anfíbios e répteis. Romer
dução: o livro foi inspirado na publi-
também é conhecido por ter sido mem-
cação original “Osteology of Reptiles”
bro de inúmeras sociedades científicas
(1925, Harvard University) escrita por
(em algumas delas vice-presidente,
Samuel Wendell Williston – um grande
presidente ou diretor), ter recebido di-
nome na pesquisa de répteis fósseis–, e
versos prêmios internacionais, além de
compilada/editorada por William King
ter sido curador da coleção de paleon-
Gregory, professor e orientador de A.
tologia do Museum of Comparative
Romer. Tanto a obra de Williston como
Zoology (MCZ, Harvard, 1934-1963), e
a de Romer têm uma grande persona-
diretor desta última instituição de 1946
lidade influente em comum: Thomas
a 1961. Suas contribuições no campo da
Barbour, à época diretor do Museum
paleontologia e evolução de vertebra-
of Comparative Zoology, Harvard. Esta
dos influenciaram diversos paleontólo-
história é brevemente descrita no pre-
gos, anatomistas e biólogos evolutivos
fácio do livro, onde o autor nos conta
em diversos aspectos. O legado de A.
que após a morte de S. Williston em
Romer é extenso e invejável, e qualquer
1918, foram encontrados rascunhos
107
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

parcialmente completos da obra inti- as informações da obra de Williston aos


tulada “Osteology of Reptiles”, que por dados recentes de uma forma primoro-
meio de grande esforço e investimen- sa, rendendo assim uma obra final de
to financeiro de T. Barbour – e edito- mais de duas vezes o tamanho da obra
ração de W. K. Gregory – foi compila- original. Tendo como inspiração a obra
da, editorada e publicada em 1925. No de Williston, Romer também divide o
entanto, poucos anos depois, no final livro em duas partes: Parte I – O esque-
da década de 30, o livro de S. Williston leto dos répteis; e Parte II – A classi-
estava esgotado, o que motivou T. Bar- ficação e distribuição dos répteis. A ri-
bour a gentilmente sugerir que A. Ro- queza de informações contida em cada
mer se “voluntariasse” para produzir uma destas partes do livro é tamanha
a nova versão deste livro. A escrita do que, incontestavelmente, cada uma já
livro se iniciou logo em seguida, mas compõe por si uma obra independen-
foi suspensa devido a diversas deman- te e completa. Enquanto a primeira
das adicionais (em parte também em parte apresenta uma detalhada análise
virtude da II Guerra Mundial), tendo descritiva dos elementos ósseos que é
sido retomada somente na primavera apresentada estrutura por estrutura, a
de 1951. Durante sua produção, Romer segunda parte representa por si só uma
contou com a colaboração e discussão nova classificação de táxons extintos e
com diversos colegas à época, princi- não extintos até o nível de famílias ou
palmente para estruturação da Parte II subfamílias, bem como suas respec-
de seu livro que se refere à classificação tivas diagnoses osteológicas e distri-
dos répteis (veja mais abaixo), contan- buição geográfica.
do com nomes ilustres pesquisadores e
morfologistas e/ou herpetólogos como A Parte I, curiosamente não se inicia
Garth Underwood, George Haas, Char- com a descrição de elementos ósseos
les Bogert, Sam McDowell, Arthur Lo- como indica o título; pelo contrário,
veridge e Paulo Vanzolini. traz uma breve descrição de cerca de 45
páginas sobre órgãos não esqueléticos.
Apesar do livro ser inspirado na pro- Ainda que conciso, este apanhado de in-
dução anterior de Williston, a versão formações faz excelentes menções a tra-
publicada em 1956 por A. Romer re- balhos clássicos de anatomia (como por
presenta uma obra totalmente nova e exemplo àqueles de Nishi e Goodrich),
com dados inéditos, ficando bem longe estando excelentemente ilustrado - mui-
se ser uma mera réplica ou atualização tas ilustrações são inclusive referências
da obra anterior. Para sua publicação de publicações anteriores do próprio
Romer revisou extensivamente a lite- autor. Na intenção de relacionar es-
ratura disponível até 1952, mesclando tes demais complexos morfofuncionais
108
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

moles com padrões estruturais ósseos, o cada grupo de répteis. O nível de de-
autor descreve breves padrões muscula- talhamento – e também descrição
res, rotas de nervos e vasos sanguíneos, comparativa – é tamanho, que estas
até mesmo da relação do órgão pineal seções ocupam cerca de 460 páginas
e sistema nervoso central em répteis (dois terços!) da obra. Não obstante, a
viventes e extintos. Incluindo também seção sobre crânio é incrivelmente de-
dados de embriologia, esta introdução talhada, trazendo diversos aspectos de
é bastante rica e sumariza informações desenvolvimento embrionário e onto-
até então dispersas em outros trabalhos genético, incluindo condrocrânio e sua
de meados e final do século XIX e iní- relação com os padrões cranianos dos
cio do XX. Atrevo-me a mencionar, por diversos grupos, além de diversas ilus-
exemplo, que a descrição da anatomia trações. Como é de se esperar em obras
da musculatura extrínseca do olho bem de anatomia clássicas (e de mais meio
como do ouvido interno ainda sejam século), muitas terminologias relativas
uma excelente fonte de consulta e ponto a elementos ósseos – tanto cranianos,
de partida para pesquisadores inician- mandibulares e pós-cranianos – foram
tes, dado seu grau de síntese e simpli- modificadas e atualizadas. Portanto,
cidade de ilustrações. Esta seção inicial embora esta obra ainda seja funda-
se encerra com breves parágrafos dos mental como um compilado de padrões
sistemas urogenital, digestivo e respira- morfológicos em répteis, terminologias
tório, que a meu ver são totalmente dis- devem ser consideradas com cautela.
pensáveis, haja visto que não incluem
nenhum detalhamento fundamental ou Embora o capítulo que trata das cin-
característico do grupo. Sua retirada em turas escapular e pélvica seja bastante
nada afetaria a excepcional introdução curto e traga caracterizações mais ge-
sobre os demais complexos morfofun- rais sobre seus elementos constituintes
cionais outrora mencionados no início em grandes grupos de répteis, o capí-
do capítulo. tulo seguinte, que trata exclusivamente
de membros é um outro ponto alto do
Na sequência, os capítulos seguintes livro: o autor não somente descreve de-
contém o âmago desta incrível obra: talhadamente e comparativamente as
crânio, mandíbula, esqueleto axial, estruturas em distintos grupos de rép-
esqueleto apendicular e elementos es- teis, como também aborda subseções
queléticos diversos são descritos com sucintas porém bastante elucidativas
um incrível nível de detalhes. Cada sobre relação membros e postura em
seção apresenta uma descrição geral grupos ancestrais, proporção de mem-
dos seus elementos componentes, se- bros e sua relação com peso do corpo,
guidas de caracterizações gerais para padrões de redução de membros em
109
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

répteis, tipos de locomoção (quadrúpe- ria menos explorado considerando a


de, bípede) e adaptações aquáticas. As escassez de informação disponível na
ilustrações de mãos e pés de distintos época para alguns complexos morfoló-
representantes são bastante diversas, gicos/grupos, ou mesmo o oposto: à di-
ainda que sua grande maioria seja re- versidade de informações para outros
lativa a grupos já extintos - o que é de grupos que necessariamente deveria
se esperar, visto que Romer dedicou ser ajustada na obra.
grande parte seus estudos à morfologia
funcional de musculatura/elementos A Parte II do livro se inicia com a ex-
ósseos de membros dianteiros e trasei- planação sobre uma nova classificação
ros em grupos fósseis (incluindo estu- de répteis: “Um breve histórico da clas-
dos de desenvolvimento). sificação dos répteis” inclui a revisão
das classificações de Owen (186) e Von
O capítulo que aborda elementos es- Huene (1952), seguida da proposta da
queléticos variados (“Varied Skeletal classificação de diversos grandes gru-
Elements”) é bastante breve, e repre- pos, listados por ordens e subclasses
senta uma caracterização bastante ge- contidas nas mesmas. As mudanças
neralizada de estruturas como orelha de classificação foram inúmeras para
interna, aparato hioideo, laringe e tra- a época, trazendo tanto atualizações
queia, gastralia, carapaça, plastrão etc., de classificações anteriores, como di-
e inclui comparativamente com poucas versos dados inéditos acompanhados
ilustrações e descrição da variabilidade de caracteres osteológicos marcantes,
entre os grupos. Finalmente, a Parte I muitos dos quais questionados por di-
encerra com um breve capítulo sobre versos especialistas da época. Além
dentição em répteis, que é bastante in- da alocação de diversos táxons viven-
trodutório e generalizado. O mesmo in- tes em Crocodylia, Lacertilia, Ophi-
clui somente três figuras, o que de certa dia e Chelonia, o autor reconhece seis
forma decepciona dada a diversidade ordens de táxons extintos: Ichtyop-
de morfologia dentária, implantações terygia, Sauropterygia, Anomodontia,
dentárias e potencial ilustrativo que Pterosauria e Thecodontia. Vale men-
poderiam ser explorados neste capítu- cionar que o livro, inicialmente publi-
lo. Neste sentido, Romer parece não cado em 1956, foi reimpresso em 1997
ter se entusiasmado tanto para estas com prefácio dedicado à edição de re-
últimas seções tanto quanto as demais, impressão – de autoria de Thomas C.
mas ainda assim seu mérito deve ser LaDuke – , e acompanhado de tabela
reconhecido dado o grau de magnitude taxonômica atualizada. Nesta nova ver-
das compilações trazidas em seu livro. são, a grande maioria das modificações
Fatalmente alguma seção ou tema se- são referentes às classificações do gru-
110
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

pos com base em avanços sistemáticos


compilados até meados da década de
90. Neste sentido, os grupos apresen-
tados tanto nas Partes I e II são atuali-
zados e respectivamente listados na ta-
bela que consta no prefácio desta nova
edição. Como de se esperar, tal como
diversos avanços na classificação dos
grupos alteraram drasticamente entre
1956 e 1997, o mesmo ocorreu desde o
lançamento desta última reimpressão
até atualmente (mudanças podem ter
ocorrido até entre o período de escrita
deste texto e sua publicação!). Indepen-
dentemente destes avanços, esta seção
ainda representa um importante com-
pilado osteológico de diversos grupos,
ainda que muitos dos quais sejam su-
bamostrados e bastante generalizados.

Qualquer pessoa que se lançar na leitu-


ra deste clássico irá perceber seu ines-
timável valor para a ciência, bem como
a respeito de sua fácil leitura, inclusive
para jovens pesquisadores que ainda
careçam de precisão de terminologias
anatômicas. Este clássico – assim como
os demais de Romer - certamente de-
monstram que suas obras continuarão
sendo uma forte influência para pes-
quisadores em diversas áreas de estudo
ainda por muitos anos.

Editor: J. P. Pombal Jr.

111
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Cohen G.J., Paredero R.C.B., Kanasiro A., Sugihara V.S. 2020.


Herpetofauna da Cuesta Paulista. 1ª edição. Anolis Books. São
Paulo. 444 pp.

Fábio Maffei

Departamento de Ciências Biológicas, Faculdade de Ciências de Bauru, Universida-


de Estadual Paulista, 17033-360 Bauru, SP, Brasil.
E-mail: maffei.fabio@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533560

112
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

O
Brasil não é só o paraíso dos se quiser focar mais e se aprofundar nas
sapos e sim de toda a herpe- espécies ali presentes. O projeto é ino-
tofauna, visto que somada as vador e com um acabamento e qualida-
riquezas desse grupo estamos no topo de impecáveis. Os livros vêm unidos por
do mundo. Entre as áreas mais ricas em uma cinta de papel, mas podem ser uti-
espécies, destacamos a Mata Atlântica lizados separados. O primeiro volume
para anfíbios e o Cerrado para répteis. (Princípios Cuesta e Fauna) aborda de
A Amazônia detém uma grande riqueza maneira singular toda a formação geo-
ainda inexplorada para ambos os gru- morfológica da Cuesta, desde seu surgi-
pos e uma interminável possibilidade mento até as características peculiares
de novos achados científicos. Porém, que tornam essa região tão interessante.
historicamente (e mais recentemente) Para leigos, como eu, os nomes de ro-
os grandes centros de pesquisa sobre a chas e das suas camadas mostram que
herpetofauna nacional estiveram con- algo singular aconteceu nessa região, o
centrados na Região Sudeste, local dos que resulta hoje em uma interessante
únicos dois biomas brasileiros conside- biota. Ainda no primeiro volume os gru-
rados hotspots de conservação mundial: pos são muito bem apresentados, sendo
a Mata Atlântica e o Cerrado. Nesse con- divididos pelas três ordens de anfíbios e
texto, temos o estado de São Paulo que quatro de répteis explicitados em diver-
talvez seja a macrorregião mais bem in- sos cladogramas. As informações sobre
ventariada do país, fruto do estágio de cada grupo resumem tão bem quanto
desenvolvimento associado à presença livros-textos de biologia e dão material
das grandes universidades, das curtas para quem necessita de aprofundamen-
distâncias e da diversidade de ambien- to em questões indispensáveis, como
tes. Essa diversidade de ambientes sem- estágios larvais e modos reproduti-
pre esteve ameaçada e associada com a vos. Um ponto positivo é a abordagem
destruição das áreas mais conservadas, de animais que não ocorrem na Cues-
em um paradigma de que quanto mais ta, como salamandras e tuatara, o que
se invadiu o habitat das espécies, mais mostra um cuidado em apresentar os
se descobriu sobre a biodiversidade grupos em geral. Também é visível que
existente e menos sobrou espaço para o desconhecimento de alguns grupos é
elas existirem. Nesse conjunto está a enorme, como por exemplo, as cecílias
Cuesta Paulista, muito bem represen- e anfisbênias, visto que suas fisiologias,
tada no presente livro “Herpetofauna seus comportamentos e sua reprodução
da Cuesta Paulista”. O livro é dividido permanecem desconhecidos. A apresen-
em dois volumes, o que facilita a leitura tação de cada grupo termina com a indi-
caso queira saber sobre a região e seus cação das respectivas espécies presentes
grupos-alvo (anfíbios e/ou répteis) ou na Cuesta, inseridas no outro volume
113
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

(Guia de Campo). Esse volume reúne angustiante ver a descaracterização da


53 espécies de anfíbios e 71 espécies de Cuesta, totalmente tomada por mono-
répteis e é extremamente completo para culturas tanto em seus platôs quanto
quem trabalha com a herpetofauna, seja em seus baixios, restando apenas suas
visitante da região ou não. Apesar do escarpas ainda exuberantes. Diversas
nome “Guia de Campo”, o tamanho e a cachoeiras, ainda belas, protegidas por
quantidade de páginas não são facilita- estreitas matas ciliares, mostram o quão
dores para seu uso no mato. As espécies especial essa região é, o que implica na
são apresentadas por família, que tam- necessidade de sua preservação. Boa
bém possuem informações tão valiosas parte dessa formação está inserida na
quanto as das ordens do primeiro volu- APA Corumbataí-Botucatu-Tejupá, mas
me. Toda espécie vem com descrição de que tem pouca força legal para preser-
sua morfologia, do seu comportamento var os ambientes. Em suma, todo o livro
e da sua distribuição ora por países, ora é recheado de belíssimas fotos em alta
por estados do Brasil, além da localida- resolução, além de ilustrações de uma
de-tipo. No caso dos anuros, a maioria das autoras, que quebram a monotonia
tem a descrição da larva associada a de um guia de campo e mostram que es-
fotos com escala e figura do disco oral. ses animais, chamados de repugnantes
Algumas larvas, como por exemplo a por muitas pessoas, têm muitas belezas
de Dendropsophus elianeae são des- e características que os fazem tão inte-
critas pela primeira vez. Já para os es- ressantes. Essa belíssima obra é resul-
camados, há informações sobre folidose tado de sete anos de estudo dos autores
e uma ótima prancha de contagem de e representa muito bem a herpetofauna
escamas da cabeça. Além disso, no fi- paulista.
nal as descrições são complementadas
por uma chave dicotômica para todas
as espécies presentes no livro. Apesar
de não ser mencionado na obra, os estu-
Editora: Quezia Ramalho
dos com a herpetofauna da região tive-
ram início no final da década de 70 com
os estudos do Professor Jorge Jim, um
pioneiro nesta área da ciência. Nesse pe-
ríodo, nada se sabia dessa região e junto
de seus ilustres alunos Ulisses Caramas-
chi, Kiko Franco, Denise Rossa-Feres,
Itamar Martins, Marcelo Duarte, entre
outros, desbravaram o conhecimento
da herpetofauna local. Atualmente, é
114
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

Toledo, L.F. (org.). 2021. Herpetologia brasileira contemporâ-


nea. 1ª edição. Sociedade Brasileira de Herpetologia. São Pau-
lo. 240 pp.

Leo R. Malagoli

Núcleo São Sebastião, Parque Estadual da Serra do Mar, Fundação para a Conser-
vação e a Proteção Florestal do Estado de São Paulo, 16000-000 São Sebastião, SP,
Brasil.
E-mail: lrmalagoli@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533636

115
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

E
mbora a minha curiosidade e progressos desde as linhas mais clássicas
interesse pelos anfíbios tenham de pesquisa como estudos relacionados a
surgido na infância, foi durante girinos e bioacústica, passando por temas
a graduação no começo dos anos 2000, como biologia reprodutiva de jararacas,
que iniciei a busca pelos primeiros artigos ecologia de lagartos e planos para a con-
e livros ligados à Herpetologia. Durante servação de espécies, até a importância
essas buscas, realizadas na biblioteca do da história natural (sempre necessária,
Museu de Zoologia da Universidade de embora ainda frequentemente negligen-
São Paulo (MZUSP), entrei em contato ciada) permeando todas estas vertentes.
com os autores clássicos e comecei a me Também são apresentados temas amplos
acostumar com os nomes dos autores e em multiescala, relacionados à biodiver-
mais citados naquela época. Neste con- sidade de répteis e anfíbios, tais como a
texto, me deparei com uma publicação influência das mudanças climáticas sobre
que reunia artigos que apresentavam um os Lepidosauria e processos responsáveis
panorama sobre a ciência que eu começa- por moldar a diversidade e evolução das
va a estudar, servindo como uma bússola: espécies da herpetofauna no espaço e no
Herpetologia no Brasil, 1 (Nascimento et tempo.
al. 1994). Após alguns anos, já formado e
atuando profissionalmente como biólo- Mesmo nos temas mais clássicos, é im-
go, pude acompanhar o lançamento do possível não se surpreender com a atual
Herpetologia no Brasil II (Nascimento & sofisticação no uso e integração de múl-
Oliveira 2007), que trouxe o desenvolvi- tiplos métodos, ferramentas de análises
mento de novos assuntos que serviram computacionais e da biologia molecular,
de base e inspiraram novas gerações de permeando praticamente todas as linhas
herpetólogos, incluindo eu mesmo. As- de pesquisa apresentadas na obra. Em
sim, se considerarmos os 28 anos desde uma comparação aos dois compêndios
a publicação do Herpetologia no Brasil, 1, anteriores (Nascimento et al. 1994; Nas-
impressiona o atual lugar e a importância cimento & Oliveira 2007), o leitor irá per-
que a Herpetologia brasileira alcançou na ceber na nova publicação a inclusão de
ciência nacional e internacional. temas que se desenvolveram muito nos
últimos 15 anos, com avanços extrema-
Em 18 capítulos muito bem escritos e or- mente importantes. Dentre estes temas
ganizados, o livro Herpetologia Brasileira é possível citar o elevado nível de conhe-
Contemporânea apresenta os principais cimento relacionado aos patógenos que
avanços em diversas linhas de pesquisa ameaçam os nossos anfíbios, e as novi-
da herpetologia, após 14 anos da publi- dades nos campos da ecoimulologia e da
cação da última coletânea (i.e. Nasci- parasitologia. De igual relevância, o cam-
mento & Oliveira 2007). A obra exibe os po da biologia evolutiva do desenvolvi-
116
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas

mento, apresenta o status e as principais étnica e racial na herpetologia é muito


aplicações desta vertente científica para bem abordada em capítulo que aponta
a herpetologia. Como de praxe, em todos efeitos positivos de políticas afirmativas
os capítulos os autores apresentam as la- implementadas na última década, e que
cunas de conhecimento, apontam os no- resultaram em uma maior presença de
vos desafios e sugerem caminhos a serem pretos, pardos e grupos indígenas nas
percorridos, contribuindo para inspirar universidades. No entanto, o autor tam-
projetos de pesquisa futuros. bém destaca que tais políticas necessitam
de continuidade para que surtam o efeito
A despeito de todas inovações e dos desejado, sobretudo porque seus resulta-
avanços científicos mencionados, o Her- dos só são observáveis nos médio e longo
petologia Brasileira Contemporânea, joga prazos, sem também deixar de ressaltar
luz sobre assuntos fundamentais relacio- o papel de todos nós na implementação e
nadas à luta e inclusão da diversidade, fortalecimento destas políticas.
equidade de gênero e raça na Herpetolo-
gia, questões essas que embora sempre Que esta obra inspire e contribua não
existentes, não eram sequer apontadas apenas para indicar os novos caminhos
nas edições anteriores. As abordagens científicos que se apresentam, mas tam-
destes temas pelos autores nos trazem bém para consolidar a inclusão de toda
excelentes exemplos e reflexões, como a a diversidade e pluralidade das gerações
visão heteronormativa a respeito da na- contemporâneas de herpetólogas e her-
tureza e da biologia reprodutiva, que em petólogos, assim como as duas primeiras
boa parte das vezes não corresponde à versões me inspiraram.
realidade que é maravilhosamente di-
versa e plural, muito além dos míseros REFERÊNCIAS
“0 e 1”. Impossível não se encantar com
o histórico científico e de luta por políti-
Nascimento L.B., Bernardes A.T., Cotta
cas inclusivas para as mulheres, encam-
G.A. 1994. Herpetologia no Brasil I. PUC-
padas com pulso firme por Bertha Lutz, a
MG, Fundação Biodiversitas, Fundação
primeira herpetóloga brasileira. A impor-
Ezequiel Dias. Belo Horizonte.
tância e o papel das mulheres na herpeto-
logia são destacados por diversas autoras
Nascimento L.B., Oliveira M.E. 2007.
em um dos capítulos, apresentando in-
Herpetologia no Brasil II. Sociedade Bra-
formações e análises sobre grandes con-
sileira de Herpetologia. Curitiba.
quistas obtidas nas últimas décadas até o
presente, mas que precisam de atenção e
apoio ininterruptos para que sejam man-
tidas e melhoradas. Por fim, a inclusão Editor: J. P. Pombal Jr.
117
HB vol. 11
10 n.o.11 -- Notas
Notas de
de História
História Natural
Natural &
& Distribuição
Distribuição Geográfica
Geográfica

Notas de História Natural


& Distribuição Geográfica
Human-snake conflict in an urban environment
in southwestern Amazonia: A case study on mo-
tivation and interaction with Eunectes murinus
in Rondônia
Raul Afonso Pommer-Barbosa1*, Welington da Silva Paula do Nascimento2, Jessica
Fernanda Teodoro Reis2, Geovanna Santos da Silva2, Marcela Alvares Oliveira3
1 Clube de Astronomia e Ciências de Rondônia, 76801-059 Porto Velho, RO, Brazil.
2 Coordenação de Ciências Biológicas, Centro Universitário São Lucas, 76805-846
Porto Velho, RO, Brazil,
3 Coordenação de Ciências Biológicas, Centro Universitário Aparício Carvalho,
76811-678 Porto Velho, RO, Brazil.

*Corresponding author: Email: raulpommer@hotmail.com


DOI: 10.5281/zenodo.6533230

U
rban expansion and habitat environments may be similar to those
reduction have caused con- in rural environments. Nevertheless,
flicts between humans and there is a clear need to understand the
wild animals throughout Brazil (Mas- existing interactions and motivations
carenhas-Junior et al. 2021; Ruiz-Ta- related to such conflicts.
gle et al. 2021) and these have inten-
sified in the last 20 years (Marchini & Snakes are historically portrayed as
Crawshaw Jr. 2015). In rural environ- untrustworthy animals, mainly due to
ments, conflicts with snakes are mainly myths and legends (Lima-Santos et al.
preventive because snakes represent a 2020), which contribute to their sys-
potential risk to domestic animals and tematic killing (Fernandes-Ferreira et
humans (Alves et al. 2012; Miranda et al. 2012), including the non-venomous
al. 2016; Lima et al. 2020). The motiva- constricting anacondas. The green an-
tions related to snake-killing in urban
118
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

aconda (Eunectes murinus) occupies both residents and birds. The residents
aquatic habitats and feeds on a wide contacted the senior author for the re-
variety of animals, including fish, am- moval of an E. murinus from the top of
phibians, chelonians, lizards, snakes, a banana tree (Musa sp.), where it was
alligators, birds, and mammals such said to be preying on silver-beaked tan-
as agoutis, pacas, capybaras, peccaries, agers (Ramphocelus carbo). According
tapirs, deer, monkeys, and even do- to the residents, silver-beaked tanagers
mestic species (Strimple 1993; Strüss- are common in the locality and are al-
mann 1997; Martins & Oliveira 1998; ways seen feeding on fruit trees; the
Bernarde & Abe 2010; Rivas et al. 2016; birds’ presence is appreciated and ac-
Lima et al. 2020; Thomas & Allain cepted as positive. Residents killed the
2021). snake for fear and because it was prey-
ing on birds.
Although some motivations for killing
snakes are related to protection of do- The Eunectes murinus specimen was
mestic animals, motivations in urban collected (Fig. 2A–B), and the stomach
environments need to be explored, es- contents were dissected and analyzed,
pecially when another wild species in- revealing that it had consumed a Ram-
teracts with the snake. This study re- phocelus carbo (Fig. 2D). The snake
ports a conflict between humans and was deposited in the Coleção Herpe-
a green anaconda motivated by preda- tológica da Universidade Federal de
tion on a bird (Ramphocelus carbo). Rondônia (UFRO-HEP 003318) and
its prey was deposited in the Coleção
At 4:56 pm on February 19, 2021, in the de Referência da Avifauna do Estado
municipality of Porto Velho, Rondônia de Rondônia (UFRO-AVE 000288).
State, Brazil, southwestern Brazil- Both snake and bird were preserved in
ian Amazonia, residents reported the 70% ethanol. The E. murinus (Fig. 2C)
presence of a newborn Eunectes mu- was a male, ca. 86 cm total length, and
rinus on a private property in the city 329 g weight. The R. carbo (Fig. 2D)
center. The property is within an ur- was a male, identified by white spots
ban forest fragment crossed by a small on its beak (Sick 1997), ca. 11 cm total
river named Santa Barbará (8.768° S, length, and 46 g weight.
63.898° W; WGS-84; 87 m above sea
level), 1.22 km from the Madeira River In many regions of Brazil, feeding birds
(Fig. 1). The properties within the forest is a part of the human population’s daily
fragment do not have any division sys- activity (Crepaldi et al. 2018), demon-
tem, and inhabitants plant fruit trees in strating a very close relationship be-
the forest. The fruit is used as food for tween humans and birds, as observed
119
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

in the study site. Therefore, the pre- ACKNOWLEDGMENTS


dation of birds by snakes can be neg-
atively interpreted by residents, even We thank the Clube de Astronomia e
though it is a natural event, and birds, Ciências de Rondônia, the “Projeto Que
including Ramphocelus carbo (Bagno Mico é Esse?”, and Coordenação de
et al. 2012), are a common component Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
of the diet of E. murinus. Superior (CAPES) for financial support
and the Centro de Cultura e Formação
Snakes of the genus Eunectes suffer Kanindé for logistical support.
from human pressure for illegal breed-
ing, the commercial use of their skin, REFERENCES
and their fat for traditional medicine
(Alves et al. 2006; Souza et al. 2017; Alves R.R.N., Filho G.A.P., Lima
Ramos et al. 2020; Oliveira et al. 2021), Y.C.L.C. 2006. Snakes used in ethno-
besides being considered aggressive medicine in northeast Brazil. Environ-
(Waldez & Vogt 2009). An essential ment, Development and Sustainability
aspect of the conflict between humans 9:455–464.
and snakes is the snakes’ diet. In the
event reported here, residents exhibit- Alves R.R.N., Vieira K.S. Santana G.G.,
ed a clear preference for the prey (bird) Vieira W.L.S., Almeida W.O., Souto
over the predator (snake). This indi- W.M.S., … Pezzuti J.C.B. 2012. A review
cates the need to communicate the im- on human attitudes towards reptiles in
portance of snakes, especially in urban Brazil. Environmental Monitoring and
environments. Educational activities on Assessment 184:6877–6901.
the behavior and diet of snakes should
be directed toward reducing hostile be- Bagno M.A., Brandão R. A., Péres-Jr.
haviors toward these animals (Moura A. K. 2012 Eunectes murinus (Green
et al. 2010). This report reinforces the Anaconda): Diet. Herpetological Re-
need for environmental education for view 43:493.
demystifying snakes and their ecolog-
ical relationships, especially regarding
Bernarde P.S., Abe A.S. 2010. Hábitos
predation, and the importance of this
alimentares de serpentes em Espigão
group to the urban population of Porto
do Oeste, Rondônia, Brasil. Biota Neo-
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Editor: H. C. Costa
122
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Figure 1. Site of the interaction between Eunectes murinus and humans in


Porto Velho municipality, state of Rondônia, Brazil.

Figure 2. Photographic
evidence of the consump-
tion of Ramphocelus carbo
(Pallas, 1764) by Eunectes
murinus (Linnaeus, 1758).
A) Dorsal view of E. muri-
nus. B) Ventral view of E.
murinus. C) Hemipennis
of E. murinus. D) R. carbo
found in stomach contents
of E. murinus.

123
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Predation on Cope’s Toad, Rhinella diptycha


(Cope, 1862) (Anura: Bufonidae) by Roadside
Hawk, Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
(Accipitriformes: Accipitridae)

Raul Afonso Pommer-Barbosa1*, Jean Renato Esteves Neves2, Cássia Caroline de


Souza Saraiva1 3, Ariel Adorno de Sousa1 3

1 Clube de Astronomia e Ciências de Rondônia, Universidade Federal de Rondônia,


76801-059 Porto Velho, RO, Brazil.
2 Instituto Armando Luvison, 78600-000 Barra do Garças, MT, Brazil.
3 Fundação Universidade Federal de Rondônia, 76815-800 Porto Velho, RO, Brazil.

* Corresponding author. Email: raulpommer@hotmail.com


DOI: 10.5281/zenodo.6533242

A
nurans play an important role Rhinella diptycha, popularly known as
in the environment by acting Cope’s toad, is a large toad of the family
as regulators of invertebrate Bufonidae. (Lavilla & Brusquetti 2018;
populations or as a significant part of Frost 2022). It occurs in Northeastern
the diet of several species (Toledo et al. Brazil from Pará State (Municipality
2007; Costa et al. 2012; Delaix-Zaqueo of Bujaru) and Maranhão States, to Pi-
et al. 2017; Jones et al. 2021). Although auí, Ceará, and Alagoas States, south of
snakes are their main predators, birds Rio Grande do Sul and Espírito Santo
also consume them (Beltzer 1990; Pana- States, Brazil, inland through Paraguay
sci & Whitacre 2000; Baladrón et al. to Amazonian and eastern Bolivia; and
2011; Silva-Soares et al. 2016; Oliveira southwest to northern and central Ar-
et al. 2017; Luciano et al. 2020). This gentina and northern Uruguay (Lavilla
paper reports the predation of Rhinel- & Brusquetti 2018; Frost 2022).
la diptycha (Cope, 1862) by Rupornis
magnirostris (Gmelin, 1788). There are At 15:48h on January 20, 2021, during
few well documented reports on the con- field observations in the municipality
sumption of bufonid anurans by birds. of Baliza, Goiás, in the Cerrado biome
(16.1916°S, 52.5484°W) a Roadside
124
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Hawk, Rupornis magnirostris was ob- analyzed the stomach contents of 22 in-
served preying on a Rhinella diptycha dividuals in Argentina for one year and
in the crown of a tree. The R. diptycha determined that they consumed main-
showed no resistance. The toad was ly insects (orthopterans) with a pro-
held in the claws of R. magnirostris and portion of approximately 77%. Panasci
was eaten (Fig. 1) for approximately 23 and Whitacre (2000) reported on the
minutes. R. magnirostris used its beak breeding-season diet in Guatemala by
to tear off pieces of R. diptycha’s back, observing nests and found that the diet
including the parotoid glands. After 23 was composed 90% of small vertebrates
minutes, the R. magnirostris flew away (mainly lizards, frogs, and rodents). Bal-
carrying the remainder of the carcass. adrón et al. (2011) reported the predom-
The episode was photographed and inance of small mammals in the diet in
photos were deposited on the Wikiaves Argentina during the cold non-breeding
(Barbosa 2021) website under vouchers season (April-September). This coin-
WA4557787 and WA4557785. cides with the period when rodent abun-
dance increases (Baladrón et al. 2011).
The Roadside Hawk, Rupornis mag-
nirostris, occurs throughout Latin Amer- Beltzer’s (1990) study reported that am-
ica, from Mexico to Argentina; in Brazil phibians are the second most important
it is the most abundant hawk, found in item in the diet of R. magnirostris. The
every region of the country (Sick 1997). batrachophagic habits of R. magnirros-
Known to be an excellent predator, the tris include Rhinella granulosa and Bo-
diet of R. magnirostris is quite diverse, ana sp. in Valle Aluvial del Rio Parana
opportunistic and generalist, consisting Medio, Argentina (Beltzer 1990), Lep-
of large insects, some reptiles, amphib- todactylus troglodytes in Paraíba State,
ians, small snakes, and birds such as Brazil (Arzabe & Almeida 1997), Lep-
doves (Zenaida auriculata) and spar- todactylus latrans in Machadinho, Rio
rows (Passer domesticus), and also bats Grande do Sul State, Brazil (Souza et al.
in their daytime roosts (Haverschmidt 2003), and Boana pulchella in South-
1962; Massoia 1988; Beltzer 1990; Sick eastern Pampas, Argentina (Baladrón
1997; Panasci & Whitacre 2000). et al. 2011) Our observation of the pre-
dation of Rhinella diptycha is the first
The diet composition of generalist rap- reported for this Hawk.
tors can vary spatially and seasonally
according to prey availability (Thiollay Anurans of the family Bufonidae are
1994; Baladrón et al. 2011). In three known for a prominent parotoid ven-
studies, the diet of R. magnirrostris was om glands located dorso-ventrally in the
analyzed quantitatively. Beltzer (1990) post-orbital region (Mailho-Fontana et
125 125
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

al. 2013; Jolly et al. 2016; Abdelfatah et tion of the venom of R. diptycha. We ob-
al. 2019), toads use these glands as a de- served that despite the chemical defense
fense mechanism when they feel threat- of R. diptycha, R. magnirostris did not
ened, inflating their bodies and posi- appear to undergo a poisoning reaction
tioning their venom glands toward the during the observation.
aggressor (Mailho-Fontana et al. 2013).
ACKNOWLEDGEMENTS
Several chemical compounds have
been identified as constituents of toad We thank the Instituto Armando Lu-
venoms, including peptides, proteins, vison for logistical support. We thank
amines (e.g., bufotenin, etc.), steroids, the Clube de Astronomia e Ciências de
and different classes of alkaloids (Daly Rondônia for financial suport. We thank
et al. 2004; Oliveira et al. 2017; Abdel- the Coordenação de Aperfeiçoamen-
fatah et al. 2019), the consequence of to de Pessoal de Nível Superior - Brazil
which can range from cardiotoxic, neu- (CAPES) for financial support.
rotoxic, and even anesthetic effects, and
generally have cytotoxic effects by in-
REFERENCES
hibiting predator cellular respiration,
thus causing hemolysis and neuronal
Abdelfatah S., Lu X., Schmeda-Hirs-
damage (Toledo & Jared 1995; Ferrei-
chmann G., Efferth T. 2019. Cytotoxicity
ra 2012; Jolly et al. 2016, Abdelfatah et
and antimitotic activity of Rhinella schnei-
al. 2019). Despite the chemical defense
deri and Rhinella marina venoms. Jour-
mechanism, there are records of preda-
nal of Ethnopharmacology 112049.
tion on R. diptycha by Paleosuchus pal-
pebrosus (Toledo et al. 2007), Salvator
merianae (Toledo et al. 2007), Xenodon Aroztegui A., Álvarez B., Céspedez J. 2008.
merremi (Aroztegui et al. 2008), Guira Waglerophis merremi (False Yarara) Diet.
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aurita (Silva-Soares et al. 2016) which view 39:475.
eventually died by poisoning, and Cai-
man latirostris (Peixoto-Couto et al. Arzabe C., de Almeida A.C.C. 1997. Life his-
2020). tory notes on Leptodactylus troglodytes
(Anura, Leptodactylidae) in northeastern
Although some animals feed on anurans Brazil. Amphibia-Reptilia 18:211–215.
opportunistically (Toledo et al. 2007;
Delaix-Zaqueo et al. 2017), this record Baladrón A.V., Bó M.S. Malizia A.I., Be-
expands the knowledge about the feed- chard M.J. 2011. Food Habits of the Road-
ing habits of R. magnirostris and the ac- side Hawk (Buteo magnirostris) During
126 the Nonbreeding Season in the Southeas-
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128 Editora: S. Mangia


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Figure 1. Predation on Rhinella diptycha by Rupornis magnirostris in Baliza, Goiás.

129
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

New record of Red Side-necked Turtle Rhinemys


rufipes (Reptilia, Testudines, Chelidae), a Near
Threatened Amazonian freshwater turtle
Maria Augusta Paes Agostini1,2,3, Ewerthon O. Batista¹, Lucas Maia Garcês¹, Jeberson
da Silva Ferreira¹, Matheus Lopes Moraes¹, Millenna Letícia Macedo Santos¹, Otávio
Lino Melo Bandeira Cabral¹, Tamara Barros de Moraes1, Tuanny C.S. Magalhães¹,
Arielli Fabrício Machado²*, Richard C. Vogt³†

1 Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia, Instituto Nacional de Pesquisas da


Amazônia, 69067-375 Manaus, AM, Brazil.
2 Laboratório de Evolução e Genética Animal, Instituto de Ciências Biológicas, De-
partamento de Genética, Universidade Federal do Amazonas, 69077-000 Manaus,
AM, Brazil.
3 Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Le-
gal, 69065-001 Manaus, AM, Brazil.
4 Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia,
69067-375 Manaus, AM, Brazil.
† Deceased.
* Corresponding author. Email: ariellifm@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533270

R
hinemys rufipes (Spix, This species was classified as Near
1824), the Red Side-necked Threatened (NT) by the International
Turtle (Fig. 1) is a chelid spe- Union for Conservation of Nature, be-
cies restricted to small shallow black- cause of a decline in area and quality
water streams in closed-canopy forest- of habitat (IUCN 1996). More recently,
ed regions of the upper Amazon River it was listed as Least Concern (LC) by
Basin in Brazil and Colombia (Magnus- the IUCN/SSC Tortoise and Freshwa-
son & Vogt 2014; Ferrara et al. 2017). ter Turtle Specialist Group (Rhodin et
Although R. rufipes is widespread in al. 2018). Despite this apparent contra-
Amazonia, the species is known from diction, this data has not been updated
few records, especially in the Negro by the IUCN and this species still lacks
River basin (Magnusson & Vogt 2014; accurate published data on occurrence
Ferrara et al. 2017; Turtle Taxonomy records. Where other turtle species are
Working Group 2021). absent, adults and eggs of R. rufipes are
130
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

consumed as a food resource by tradi- juvenile female. Morphological data of


tional communities, despite the small the specimens are detailed in Table 1.
body size and relatively small number
of eggs compared to other Amazoni- The four specimens captured alive are
an turtles. Today, hunting and urban being temporarily maintained in cap-
growth are considered the main threats tivity for research and environmental
for R. rufipes (Vogt 2008; Ferrara et al. education at Centro de Estudos dos
2017). Quelônios da Amazônia (CEQUA), lo-
cated in Bosque da Ciência, Instituto
On October 2020 we captured five spec- Nacional de Pesquisas da Amazônia
imens of R. rufipes (three adult females, (INPA), Manaus, Amazonas, Brazil.
one immature female, and one adult Permits #14032-3 were issued to R.
male) in a forested section of the clear- C. Vogt by the Instituto Brasileiro do
water stream (igarapé) Uaçú, which Meio Ambiente e dos Recursos Natu-
flows into the Anebá River (2.8998º S, rais Renováveis (IBAMA) and Insti-
58.5281º W; WGS 84) a tributary of the tuto Chico Mendes de Conservação da
Urubu River, 54 km downstream from Biodiversidade (ICMBio).
the town of Silves, Amazonas State,
Brazil (Fig. 2). The collection site was a This is the first record of R. rufipes in
typical habitat for R. rufipes, a stream the Urubu River region, 200 km east
in closed-canopy forest (Magnusson & of the nearest previous known record
Vogt 2014). Captures were made using in Manaus and 150 km west of Igara-
1 m diameter fyke nets with dead fish pé Açu (Fig. 2; Tab. 2) (Ferrara et al.
bait and 10 m leads; water temperature 2017). Silves is a small town with 9,289
varied between 24°C and 26°C. inhabitants (IBGE 2021) and one of
the oldest cities in the Brazilian state of
Field work began on 17 October, and on Amazonas, founded in 1660. Although
21 October we collected one male juve- people there have been eating turtles
nile and an adult female R. rufipes. On for over 350 years, we did not see or
21 October, an adult female was found capture any other turtle species in this
dead in a trap; its necropsy revealed an region, an uncommon situation in Am-
immature oviduct and stomach con- azonia (R.C. Vogt pers. obs.).
tents of seeds and unidentified mate-
rial. This specimen was deposited at The fact that we have not captured any
Coleção de Anfíbios e Répteis, Instituto other species of turtle in Silves could be
Nacional de Pesquisas da Amazônia related to a decreasing trend in the pop-
(Skeleton INPA-H 42325). On 22 Octo- ulations of Podocnemididae (the turtle
ber we captured an adult female and a family most consumed in Amazonia) in
131
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

this location. Although local residents de mestrado, Instituto Nacional de


say they eat podocnemidids like Podoc- Pesquisas da Amazônia, Brasil.
nemis unifilis, P. erythrocephala, and
Peltocephalus dumerilianus, there is Caputo F.P., Vogt R.C. 2008. Stomach
no information about the origin these flushing vs. fecal analysis: the example
animals, and they may not have been of Phrynops rufipes (Testudines: Che-
captured in Silves. There is still a lack lidae). Copeia 1998:301–305.
of knowledge on turtles in the region
of Silves that deserves future investi-
de Lima A.C., Magnusson W.E., da Cos-
gation, as well as management activi-
ta V.L. 1997. Diet of the turtle Phrynops
ties to ensure the conservation of turtle
rufipes in central Amazonia. Copeia
populations there.
1997:216–219.

ACKNOWLEDGEMENT
EMYSystem. 2021. Phrynops rufipes.
Accessible at http://emys.geo.orst.
We thank Mariceudo Pinho de Carval- edu/cgi-bin/emysmap?tn=227&cf=i-
ho, Luiz Aurélio Leandro and Cledi- jklmno. Access: 27/11/2021.
nei Brito Costa for fieldwork. We also
thank Camila Ferrara and Camila Fa-
Ferrara C.R., Fagundes C.K., Mor-
gundes for making available to us the
catty T.Q., Vogt R.C. 2017. Quelônios
data from occurrence records compiled
Amazônicos: Guia de identificação e
by them. This work was supported by
distribuição. Wildlife Conservation So-
Fundação de Amparo à Pesquisa do
ciety Brasil, Manaus.
Estado do Amazonas (FAPEAM). This
study is part of MAPA’s Ph.D. thesis
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
in the Biodiversidade e Biotecnologia
e Estatística). 2021. População estima-
da Amazônia Legal – PPG BIONORTE
da: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Co-
post graduate program at Universidade
ordenação de População e Indicadores
Federal do Amazonas - UFAM.
Sociais, Estimativas da população res-
idente com data de referência 1o de
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www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/
Alvarenga C.C.E.D. 2006. Aspectos populacao/9103-estimativas-de-pop-
da biologia reprodutiva de Rhinemys ulacao.html?=&t=downloads. Access:
rufipes (Spix, 1824) (Chelidae, Testu- 27/11/2021.
dines) na Reserva Florestal Adolpho
Ducke, Amazonas, Brasil. Dissertação

132
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

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Magnusson W.E., Vogt R.C. 2014.
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toises (order Testudines). Chelonian
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Monographs 8:1–472.

Vogt R.C., Ferrera C.R., Schneider L.,


Santos Júnior L.B. 2009. Brazilian Am- Editor: H. C. Costa

Table 1. Morphological data of specimens of Rhinemys rufipes sampled in the municipality


of Silves, Amazonas, Brazil. SCL: straight carapace length; SCW: straight carapace width.

Date Description SCL (mm) SWC (mm) Weight (g)


20/10/2020 male juvenile 163 126 407
20/10/2020 adult female 252 190 1424
21/10/2020 adult female 198 147 743
22/10/2020 adult female 199 147 730
22/10/2020 juvenile female 151 118 366

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HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Table 2. Rhinemys rufipes known occurrence records. Lat: Latitude; Long: Lon-
gitude; AM: Amazonas; PA: Pará; VA: Vaupés; BRA: Brazil; COL: Colombia; per.
com.: Personal Communication; *: approximate coordinates.

Locality Municipality State Country Lat Long References


Igarapé
Silves AM BRA -2.8998 -58.5281 This study
Uaçu
Reserva
de Lima et al.,
Adolpho Manaus AM BRA -3.1333 -60.0667
1997
Ducke
Reserva
Ferrara et al.,
Adolpho Manaus AM BRA -3.0067 -59.9381
2017
Ducke
Reserva
Ferrara et al.,
Adolpho Manaus AM BRA -3.0072 -59.9389
2017
Ducke
Reserva
Magnusson et al.,
Adolpho Manaus AM BRA -2.9663 -59.9329
1997
Ducke
Reserva
Adolpho Manaus AM BRA -3.1329 -60.0662 Alvarenga, 2006
Ducke
Reserva
Adolpho Manaus AM BRA -3.0163 -59.9829 Sanchez, 2008
Ducke
Reserva
Adolpho Manaus AM BRA -2.9163 -59.8829 Sanchez, 2008
Ducke
de Lima et al.,
Igarapé Açu Manaus AM BRA -2.1994 -57.3806
1997
Reserva
Caputo & Vogt,
Adolpho Manaus AM BRA -2.9163 -59.8829
2008
Ducke
Parque do Rafael Bernhard
Manaus AM BRA -2.7055 -60.4020
Rio Negro per. com.
Manaus Manaus AM BRA -3.1333 -60.0167 Emysystem, 2021

135
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Vicinity
Leticia AM COL -4.1833 -69.9500 Emysystem, 2021
Leticia
Reserva
Adolpho Manaus AM BRA -2.9333 -59.8167 Mertens, 1967
Ducke
Lamar & Medem,
Juruá River Carauari AM BRA -4.8667 -66.9000
1982
Marabita- São Gabriel da
AM BRA 0.9667 -66.9500 Siebenrock, 1909
nos Cachoeira
Oriximiná Oriximiná PA BRA -1.0167 -57.0000 Vogt et al., 2009
Oriximiná Oriximiná PA BRA -1.0500 -57.3833 Vogt et al., 2009
Cano Uirari - VA COL -0.4000 -72.2800 Pritchard, 1979
Puerto Lamar & Medem,
- AM COL -1.0500 -70.3500
Guayabo 1982
Cano Colo- Lamar & Medem,
- VA COL 0.0300 -70.5200
rado 1982
Lamar & Medem,
Cano Uirari - VA COL 0.2000 -70.6200
1982
Cano Mon- Lamar & Medem,
- VA COL 1.0700 -70.4300
serero 1982
Cano Golon- Lamar & Medem,
- VA COL 1.0200 -70.4500
drina 1982
Ferrara et al.,
Tefé Tefé AM BRA -3.3496 -64.6995
2017
Near Trom- Ferrara et al.,
Oriximiná PA BRA -1.3590 -56.8610
betas River 2017
Presidente Presidente Rosana Thiel,
AM BRA -2.0168 -60.0246
Figueiredo Figueiredo per. com.
Pezzuti et al.,
Jau River* Barcelos AM BRA -2.0000 -62.0000
2010
Ti-Parana McCord et al.,
- VA COL 0.5419 -70.6737
River* 2001
Flona Sara- Elizangela de
Oriximiná PA BRA -1.7737 -56.7549
ca Taquera Brito, per. com.
Flona Sara- Elizangela de
Oriximiná PA BRA -1.5813 -56.6092
ca Taquera Brito, per. com.

136
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica

Figure 1. Adult male Rhinemys rufipes from Silves, Amazonas, Brazil. Photo by RCV.

137
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Figure 2. Map showing all known records of Rhinemys rufipes, the Red Side-necked
Turtle. Map created using QGIS software (QGIS, 2021).

138
Enyalius bilineatus
Nova Lima, MG
@ Nathane Queiroz

139
Micrurus albicinctus
Floresta Nacional do Jamari, RO
@ Ana Barbara Barros

140
Instruções
para Autores
Para informações sob preparacão e submissão de ma-
nuscritos entre em contato com os editores gerais.
email de contato edgeral.hb@gmail.com

Micrurus frontalis
RPPN Santuário do Caraça, Catas Altas, MG
@ Suellen O. Guimarães

141
Holoaden luederwaldti
PARNA Itatiaia, Itamonte, MG
@ Rachel Montesinos

142

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