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Herpetologia
Brasileira
volume 11 número 1
ISSN: 2316-4670
1
Herpetologia
B rasileira
Uma publicação da Sociedade
Brasileira de Herpetologia
Caiman yacare
Encontro das Águas, MT
@ Daniella França
ISSN: 2316-4670
volume 11 número 1
Abril de 2022
Bothrops jararaca
Pouso Alegre, MG
@ Raissane Furtado de Mendonça
Iguana iguana
Cristóvão, SE
@ Rachel S P Souza
Informações Gerais
A revista eletrônica
Herpetologia Brasileira
é quadrimestral (com números em abril, agosto e dezembro) e
publica textos sobre assuntos de interesse para a comunidade
herpetológica brasileira.
Ela é disponibilizada em formato PDF apenas online, na pá-
gina da Sociedade Brasileira de Herpetologia (http://www.
sbherpetologia.org.br/publicacoes/herpetologia-brasileira),
ou seja, não há versão impressa em gráfica. Entretanto, qual-
quer associado pode imprimir este arquivo.
Seções
Notícias da Sociedade Brasileira de Herpetologia:
Esta seção apresenta informações diversas sobre a SBH e é de responsabilidade da
diretoria da Sociedade.
Notícias de Conservação:
Esta seção apresenta informações sobre a conservação da herpetofauna brasileira.
Resenhas:
Esta seção apresenta textos que resumem e avaliam o conteúdo de livros,
filmes, jogos ou aplicativos de interesse para nossa comunidade.
Obituários:
Esta seção apresenta artigos avisando sobre o falecimento recente de um
membro da comunidade herpetológica brasileira ou internacional, conten-
do uma descrição de sua contribuição para a herpetologia.
Corpo
Editorial
Editores Gerais: História da Herpetologia
Délio Baêta Brasileira
José P. Pombal Jr. Bianca Berneck
Jessica Fratani Teresa Cristina Ávila-Pires
Karina R. S. Banci
Dissertações & Teses:
Resenhas:
José P. Pombal Jr.
Quezia Ramalho
Obituários:
Entrar em contato com os editores gerais
Sumário
E
m abril de 2012, a Sociedade zuela de Peter C. H. Pritchard e Pedro
Brasileira de Herpetologia Trebbau; e de Osteology of the Reptiles
lançava o primeiro volume da de Alfred S. Romer.
Herpetologia Brasileira. Desde então
são dez anos de Herpetologia Brasileira Esperamos que apreciem este volume
publicando contribuições em diferen- comemorativo.
tes aspectos da herpetologia ou de in-
teresse da comunidade de herpetólogas
#ELASNAHB
e herpetólogos. Neste primeiro volume
de 2022, iniciamos uma série de con-
Nossa primeira iniciativa em ilustrar a
tribuições comemorativas aos dez anos
Herpetologia Brasileira somente com
da Herpetologia Brasileira. Na seção
fotos de autoria feminina foi realizada
de História da Herpetologia, a origem
no primeiro volume de 2021 e nova-
dos herpetólogos brasileiros e suas ra-
mente temos o primeiro volume da HB
mificações são apresentadas em um
ilustrado somente com fotos de autoria
‘Cladograma dos Herpetólogos’. Já na
feminina. Nossas fotos foram selecio-
seção de Resenhas, convidamos diver-
nadas pela equipe HB nas redes através
sos colegas a resenharem sobre livros, e
da hashtag #elasnaHB utilizada no Ins-
monografias clássicos em Herpetologia
tagram. Desde o início da iniciativa em
do Brasil e Sul Americana. Livros estes
dezembro de 2020, a tag recebeu mais
que marcaram gerações de herpetólo-
de 1000 marcações no Instagram! No-
gos e são referência até os dias atuais.
vamente foi um grande desafio selecio-
Trazemos as resenhas das Serpentes do
nar apenas algumas fotos dentre tantas
Brasil de Afrânio do Amaral; Répteis
incríveis, e gostaríamos de agradecer a
da Argentina de José M. Cei; Ofídios da
todas as mulheres que participam des-
Amazônia de Osvaldo R. Cunha e Fran-
ta importante iniciativa e continuam
cisco P. Nascimento; Biology of Am-
utilizando a tag. Apreciem outra edição
phibians de Willian Duellman e Linda
imperdível e visualmente impressio-
Trueb, South American Herpetofauan
nante.
de Willian Duellman; Turtles of Vene-
11
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Nota dos Editores
Notícias de Conservação
ASG Brasil fecha 2021 com o ANFoCO III
Cybele Sabino Lisboa1, Caroline Batistim Oswald2, Janaína Serrano3, Quezia Rama-
lho4, Renata Ibelli Vaz5 e Iberê Farina Machado6
1 Reserva Paulista - Zoológico de SP, Av. Miguel Stefano 4241, 04301-905 São Paulo,
SP, Brasil.
2 Programa de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal de Minas Gerais,
Avenida Presidente Antônio Carlos 6627, 31270-901 Belo Horizonte, MG, Brasil.
3 Penfield Ave 1205, Montreal, H3A1B1 Quebec, Canadá.
4 Programa de Pós-graduação em Ecologia, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rua São Francisco Xavier 524, 20550-013 Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
5 Departamento de Fisiologia, Instituto de Biociências, USP, Rua do Matão, Traves-
sa 14, 05508-090 São Paulo, SP, Brasil.
6 Instituto Boitatá de Etnobiologia e Conservação da Fauna, Avenida Senador
Canedo Qd 29-Lt 27, 74493-160 Goiânia, GO, Brasil.
E
m agosto de 2020, o Grupo conservationneeds.org>). Durante o
de Especialistas em Anfíbios CNA, foram avaliadas 67 espécies, das
do Brasil (ASG Brasil - IUCN quais 13 foram consideradas altamente
SSC) e a Amphibian Ark (AArk) orga- prioritárias para conservação, neces-
nizaram o workshop “Avaliação das sitando tanto de ações de resgate para
Necessidades de Conservação” (CNA, manejo ex situ quanto de ações in situ.
Conservation Needs Assessments)” Dessas 13 espécies, uma é da região Sul
para avaliar as necessidades de con- do Brasil (Pithecopus rusticus), nove
servação de espécies de anfíbios ame- ocorrem no Sudeste (Bokermannohyla
açados no Brasil com o auxílio de es- napolii, Hylodes mertensi, Ischnoc-
pecialistas brasileiros. Esse workshop nema garciai, I. karst, Melanophry-
ocorreu entre agosto e novembro de niscus setiba, Nyctimantis pomba,
2020 e o processo de revisão e aprova- Physalaemus soaresi, Proceratophrys
ção das avaliações foi concluído poste- palustris e Sphaenorhynchus canga),
riormente, em abril de 2021, quando uma no Centro-Oeste (Boana buriti),
as avaliações foram disponibilizadas uma no Norte (Atelopus manauensis)
publicamente no site do CNA (<www. e uma no Nordeste (Chiasmocleis ala-
13
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Notícias de Conservação
anfíbio ameaçada para ser a logomarca Além disto, para ampliar as discussões
do evento, ajudando a compor a identi- sobre os temas abordados no III AN-
dade visual do mesmo. O vencedor foi FoCO e continuar conectando atores e
Ibrahim Nehemy, com a ilustração da ações, criamos um fórum no Resear-
espécie Nyctimantis pomba (Fig. 1). chGate para cada temática do evento
Também estimulamos a troca de expe- (por exemplo: <www.researchgate.
riências por meio de apresentação de net/post/Estrategias_ex-situ-Anfoco_
trabalhos em um formato menos usu- III>).
al: vídeos de divulgação científica de
até dois minutos, gravados pelo autor A realização do CNA e do ANFoCO III
do trabalho, os quais foram transmiti- foram passos importantes para dire-
dos durante o evento. Como regra, os cionar e divulgar as ações necessárias
trabalhos deveriam ser focados na con- para a conservação dos anfíbios brasi-
servação de espécies de anfíbios brasi- leiros ameaçados de extinção. As próxi-
leiros. Houve uma seleção do melhor mas etapas do ASG Brasil serão focadas
vídeo e o vencedor foi Matheus Edu- no desenvolvimento de planos de ação
ardo Ramos, com o seu trabalho inti- específicos para as 13 espécies de alta
tulado “Anurofauna em uma Unidade prioridade e devem envolver pesquisa-
de Conservação no nordeste do Brasil dores, zoológicos e organizações gover-
infectada por quitrídio”. O vídeo está namentais e não governamentais.
disponível no Instagram do ASG Bra-
sil (<https://www.instagram.com/p/
CXCW8rfjHXN/>).
15
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Notícias de Conservação
16
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia
História da Herpetologia
Cladograma dos herpetólogos do Brasil
Raoni Rebouças1,2
DOI: 10.5281/zenodo.6533137
INTRODUÇÃO
A
origem da palavra herpeto- estado atual e perspectivas no estudo
logia, de onde advém o ter- dos anfíbios anuros – Campinas”, em
mo pelo qual nos tratamos, 1982, na reunião da Sociedade Brasilei-
herpetólogos, talvez tenha a mais in- ra para o Progresso da Ciência, em que
justa etimologia do reino animal. Ape- constavam apenas 10 pessoas na foto,
sar do termo grego érpetón poder sig- com suas calças boca de sino e camise-
nificar “réptil” (Wareham 2005), esse tas polo para dentro da calça, e apenas
deriva do termo érpein, que é designa- duas mulheres (Fig. 1A), o último Con-
do para “repugnante”. Dessa maneira, gresso Brasileiro de Herpetologia con-
considerando o logos, do grego, como tou com algo em torno de 1000 pessoas
conjunto de conhecimento, herpetolo- (Fig. 1B), e com a maioria dos presen-
gia seria algo como “estudo de animais tes sendo mulheres. Sim, a herpetolo-
repugnantes”. Nada mais falso que gia brasileira cresceu muito, tanto na
isso. O mais interessante é que o núme- quantidade de pessoas quanto no volu-
ro de pessoas que concordam que essa me de conhecimento produzido, mais
conotação é falsa cresce a olhos vistos. do que certamente os primeiros herpe-
Desde o primeiro “Simpósio sobre o tólogos do Brasil jamais imaginavam.
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REFERÊNCIAS
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia
Figura 8. Linhagem a partir de Johann Lukas Schönein, que contém Ivan Sazima e Jorge Jim.
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia
Figura 11. Linhagem a partir de Grame James Caughley, que contém William Ernest Mag-
nusson e Albertina Lima.
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Figura 12. Linhagem de Ernst Blessau, que contém Augusto Shinya Abe.
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia
Figura 15. Linhagem de George Evelyn Hutchinson, que contém Ariovaldo Giaretta e Gil-
da Vasconcellos.
Figura 16. Linhagem de Frederic Gustav Brieger, que contém Shirlei Maria Recco-Pimentel.
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia
Figura 17. Linhagem a partir de Lucien Alphonse Joseph Lison, que contém Selma Maria de
Almeida Santos.
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - História da Herpetologia
Figura 20. Linhagem a partir de Ivan M. Roitt, que contém Aníbal Melgarejo.
Figura 21. Linhagem a partir de Jesus Santiago Moure, que contém Renato Machado.
Figura 22. Linhagem a partir de Leo D. Brongersma, que contém Marinus Hoogmoed.
35
Teratohyla mida
PARNA da Serra do Divisor, AC
@ Raíssa Rainha
36
Fritziana cf. fissilis
Estação Biologica de Boracéia, Salesopolis, SP
@ Thamires O. Cardozo
37
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes
Trabalhos recentes
Araújo S.C.M., Ceron K., Guedes T.B. 2022. Use of geospatial analyses to ad-
dress snakebite hotspots in mid-northern Brazil – a direction to health planning
in shortfall biodiversity knowledge areas. Toxicon: in press. DOI:10.1016/j.to-
xicon.2022.03.012.
A
cidentes ofídicos represen- de demografia populacional também
tam um problema de saúde foram levantados para observar se há
pública, visto que anualmen- correlação entre os parâmetros avalia-
te são registrados no mundo mais de 5 dos e o número de acidentes, estabele-
milhões de casos, ocasionando cerca cendo, desta forma, áreas com maior
de 138 mil óbitos. A incidência de tais risco de acidentes no estado. Através
acidentes é sabidamente influenciada do exame de espécimes das coleções
por uma série de fatores ambientais e do Museu Paraense Emílio Goeldi e da
demográficos, afetando principalmente Universidade Federal do Maranhão,
comunidades rurais mais humildes lo- aliado a dados de literatura, foram le-
calizadas em países com clima tropical vantados cerca de mil registros de ser-
e que de forma geral são denominados pentes peçonhentas para o estado, com-
como subdesenvolvidos ou em desen- preendendo 17 espécies (9 viperídeos e
volvimento. Um dos dados importantes 8 elapídeos), sendo os registros mais
para a prevenção e tratamento adequa- abundantes os de Bothrops atrox e B.
do de tais acidentes é o conhecimento marajoensis. Também foram registra-
da distribuição geográfica das espécies dos o número de acidentes por locali-
peçonhentas. No Brasil tal conhecimen- dade do estado no período entre 2009
to ainda é fragmentado, sobretudo em e 2019, além de dados de densidade
determinadas regiões como o estado do populacional obtidos no ano de 2015.
Maranhão, objeto do presente estudo e Os modelos de distribuição apontaram
que apresenta o segundo maior núme- que a região norte e noroeste do estado,
ro de acidentes na região nordeste, per- caracterizadas pelo domínio da Flores-
dendo apenas para o estado da Bahia. ta Amazônica, apresentam as maiores
Neste trabalho os autores utilizaram probabilidades de ocorrência dessas
registros de ocorrência de espécies pe- serpentes. Não houve relação direta en-
çonhentas e variáveis ambientais para tre o número de acidentes e densidade
modelar a potencial distribuição des- populacional. Entretanto, quando con-
tas espécies. Dados epidemiológicos e siderada a interação entre a probabili-
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes
Tropidodryas striaticeps
Floresta Estadual do Uaimií, Ouro Preto, MG
@ Paula Cristina N Barreto
39
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes
Carvajal-Castro J.D., Vargas-Salinas F., Casas-Cardona S., Rojas B., Santos J.C.
2021. Aposematism facilitates the diversification of parental care strategies in
poison frogs. Scientific Reports 11:19047. DOI: 10.1038/s41598-021-97206-6
M
uitos organismos desenvol- multivariados para determinar como o
vem adaptações para au- aposematismo está relacionado ao cui-
mentar as chances de so- dado parental; investigaram a relação
brevivência de seus descendentes. Os entre aposematismo e traços do girino
cuidados parentais evoluíram várias ve- utilizando regressões logísticas filogené-
zes em animais, incluindo em ectotérmi- ticas multivariadas e testaram as taxas
cos. Nos anfíbios, ~ 10% das espécies exi- de transição entre os componentes do
bem cuidados parentais. Entre estas, as aposematismo (isto é, a coloração cons-
rãs venenosas (Dendrobatidae) que são pícua e as defesas químicas) e o compor-
conhecidas por seus intensos cuidados tamento de criação de fitotelmos.
que incluem a guarda de ovos, o trans-
porte de larvas e a provisão especializada Os autores obtiveram informações sobre
de girinos com ovos tróficos. Pelo menos traços morfológicos e comportamentais
um terço dos dendrobatídeos são apo- de 220 espécies de dendrobatídeos. Eles
semáticos e exibem coloração de alerta, encontraram machos como cuidado-
que informa os potenciais predadores res na maioria dos casos (92 espécies),
sobre a presença de toxinas defensivas sendo que as fêmeas (10 espécies) evo-
na pele. O aposematismo tem um papel luíram independentemente pelo menos
central na diversificação das rãs veneno- duas vezes, uma no gênero Colostethus e
sas, incluindo a especialização na dieta, outra no gênero Dendrobates sensu lato.
na comunicação visual e acústica, além O transporte de girinos por machos (132
do possível impacto na sua biologia re- espécies) é ratificado como a condição
produtiva. ancestral dos dendrobatídeos, enquan-
to o transporte de girinos por fêmeas
Neste artigo os autores investigaram se (17 espécies) apareceu pelo menos cinco
aspectos do comportamento de cuidado vezes nos gêneros Dendrobates (subgê-
parental em dendrobatideos, tais como nero: Oophaga), Allobates, Hyloxalus,
sexo do principal cuidador, tamanho da Colostethus e Mannophryne. O depósito
ninhada e a transição de córregos e lago- de girinos em não fitotelmatas é mais co-
as para locais de deposição efêmera (ou mum (112 espécies) do que em fitotelma-
seja, fitotelmata), podem ter evoluído em tas (52 espécies), e a reprodução sem fi-
associação com o fenótipo aposemático totelmatas é suportada como a condição
em toda a família. Para isso, caracteriza- ancestral.
ram os aspectos morfológicos e compor-
tamentais do cuidado parental nas rãs Descobriram que a maioria dos dendro-
venenosas utilizando ferramentas filo- batídeos (164 espécies) têm áreas de vida
genéticas multivariadas; reconstruíram que não são adjacentes a riachos, e isto
o estado ancestral, utilizando modelos foi reconstruído como a condição ances-
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes
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Dendropsophus giesleri
Santa Teresa, ES
@ Bárbara C. Marcondes
42
Erythrolamprus jaegeri
São Francisco de Paula, RS
@ Carolina A Caberlon
43
H B
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 11 -- Trabalhos
erpetologia rasileira vol. 11 n.o
Trabalhos Recentes
Recentes
Pereira E.A., Ceron K., Da Silva H.R., Santana D.J. 2022. The dispersal between
Amazonia and Atlantic Forest during the Early Neogene revealed by the bioge-
ography of the treefrog tribe Sphaenorhynchini (Anura, Hylidae). Ecology and
Evolution 12:1-15. DOI:10.1002/ece3.8754.
A
Amazônia e a Mata Atlântica linhagens de Sphaenorhynchini. As espé-
abrigam as florestas tropicais cies do estudo foram divididas quanto às
com maior biodiversidade no suas distribuições atuais em cinco áreas
planeta e que foram separadas geografica- geográficas: Amazônia Oeste, Amazônia
mente por um processo que começou no Leste, delimitada pelos rios Madeira e Ne-
Oligoceno, dando origem à diagonal de gro, Mata Atlântica Sul, Mata Atlântica
formações abertas, que inclui a Caatinga, Média e Mata Atlântica Norte, delimitada
o Cerrado, o Chaco e o Pantanal. O avanço pelos rios Paraíba do Sul e Tietê. Para a
dessas formações foi acompanhado pela reconstrução da distribuição foi utilizado
gradual redução de contatos entre as duas o pacote “BioGeoBears”, que implementa
regiões florestadas, o que é evidenciado os principais modelos utilizados em Bio-
hoje pelo forte endemismo que elas apre- geografia histórica. A análise filogenética
sentam. No entanto, sucessivas flutuações apontou três clados principais em Sphae-
climáticas no Neogeno e no Quaternário norhynchus: grupo S. platycephalus, gru-
promoveram expansões florestais que re- po S. lacteus e grupo S. planicola. Além
sultaram em contatos entre diferentes disso, os autores revisaram a nomencla-
porções da Amazônia e da Mata Atlânti- tura de G. pauloalvini, sugerindo que esta
ca, possibilitando a dispersão de espécies espécie volte para o gênero Sphaenorhyn-
entre essas duas regiões. Neste trabalho, chus. Dentre os modelos utilizados na aná-
os autores investigaram os cenários histó- lise de reconstrução biogeográfica, o DEC
ricos responsáveis pela distribuição atual (dispersão-extinção-cladogênese) através
da tribo de anfíbios anuros, Sphaenorhyn- de um evento de efeito fundador (+j) foi
chini, que agrupa dois gêneros, Sphae- o mais adequado para os dados utilizados.
norhynchus e Gabohyla. Doze espécies Os resultados indicaram a origem de Spha-
ocorrem nas porções norte e sul da Mata enorhynchini para a Mata Atlântica Norte,
Atlântica e três espécies na Amazônia. O há aproximadamente 19 milhões de anos
estudo baseou-se em uma filogenia mole- atrás, entre o final do Oligoceno e início do
cular a partir de sequências de 12 espécies Mioceno. Dois eventos distintos de disper-
do grupo, presentes no banco de dados de são entre a Amazônia e a Mata Atlântica
nucleotídeos “GenBank”. Uma árvore de foram evidenciados para linhagens da tri-
espécies foi construída e o tempo de di- bo, reforçando a hipótese de que ao longo
vergência entre as linhagens foi estimado do tempo as duas florestas mantiveram co-
com o uso das taxas de mutação de dois nexões em diferentes períodos. Um desses
genes mitocondriais para calibrar o reló- eventos de dispersão entre as duas regiões
gio molecular. Em seguida, foi desenvolvi- ocorreu no Mioceno médio, quando uma
da uma análise de reconstrução da distri- linhagem que divergiu de S. prasinus (es-
buição geográfica ancestral das diferentes pécie da Mata Atlântica Norte), dispersou
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes
Boana lundii
Florestal, MG
@ Iasodhara R Freire
45
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes
Shaykevich D.A., Pašukonis A., O’Connell L.A. 2022. Long distance homing in
the cane toad (Rhinella marina) in its native range. Journal of Experimen-
tal Biology 225:jeb243048. DOI: 10.1101/2021.06.16.448742.
V
ários animais exibem uma nave- Os autores realizaram seu estudo na Esta-
gação complexa em diferentes ção de Pesquisa Ecológica de Nouragues,
escalas e ambientes. Os estudos na Reserva Natural Les Nouragues, na
de navegação em anfíbios têm se concen- Guiana Francesa. Eles marcaram 14 in-
trado amplamente em espécies com histó- divíduos com rádios transmissores e de-
rias de vida que requerem movimentos es- pois os soltaram no mesmo local de cap-
paciais precisos, tais como rãs venenosas tura. Após a soltura, a maioria dos sapos
territoriais e anfíbios que se reproduzem foram realocados duas vezes a cada 24
em poças, e portanto que mostram fide- horas, tanto durante o dia quanto à noi-
lidade aos locais de acasalamento. Entre- te. Após os animais terem sido rastreados
tanto, outras espécies de anfíbios têm per- por pelo menos três dias, seis indivíduos
manecido relativamente pouco estudadas, foram translocados 500 m e cinco indiví-
deixando em aberto a possibilidade de que duos foram translocados 1000 m. Após a
habilidades de navegação bem desenvolvi- translocação, os sapos foram novamente
das sejam generalizadas. localizados duas vezes ao dia durante um
período de 24 horas. Os animais tinham
Numerosos estudos examinaram como 10 dias para voltar para casa. Se eles não
e quando os sapos cururu australianos retornassem após 10 dias, eles eram de-
invasivos se movimentam e as caracte- volvidos manualmente. Os animais foram
rísticas fisiológicas que afetam seu uso considerados como estando em sua área
espacial. Embora a ecologia espacial dos de origem quando estavam a menos de
sapos invasores seja diferente da dos sa- 100 m do ponto de referência de translo-
pos nativos, os padrões gerais de atividade cação, com base na faixa de movimento
são consistentes entre as populações. No observada durante o rastreamento de li-
entanto, apesar de alguns relatos sobre a nha de base.
localização de sapos cururu, nenhum tra-
balho quantificou sistematicamente a ca- Os autores observaram que dez sapos de 11
pacidade de navegação deles usando mé- exibiram fidelidade ao local durante 7-55
todos de rastreamento. Para caracterizar o dias de rastreamento. O alcance obser-
uso do espaço a curto prazo e determinar vado dos 10 sapos variou de 26,8 a 236,7
se os sapos cururu são capazes de nave- m. Em média, os sapos se movimentavam
gação de longo alcance para um objetivo mais de 10 m em 60% dos dias de observa-
específico, os autores deste estudo rastre- ção, com muitos períodos sem movimento
aram os sapos e realizaram experimentos substancial.
de translocação-”homing” em seu habitat
nativo da floresta tropical. Durante o rastreamento de linha de base,
os machos foram observados com mais
46
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Trabalhos Recentes
Dos seis indivíduos translocados 500 m, Foi demonstrado que os sapos cururu são
cinco retornaram às suas áreas de origem capazes de navegar por longas distâncias
em três dias. Os retornos foram observa- após o deslocamento de uma área de re-
dos entre 27,5 e 79,9 h após a liberação no sidência, sugerindo que as habilidades de
local de translocação. Um indivíduo não navegação podem ser amplamente com-
retornou para casa viajando 250 m na dire- partilhadas entre os anfíbios. Os sapos
ção errada antes de retornar a seu local de cururu são anfíbios comuns, grandes e
translocação. Este sapo foi devolvido ma- invasivos, capazes de transportar dispo-
nualmente para casa. Dos cinco indivídu- sitivos biológicos (como acelerômetros e
os translocados 1000 m, dois retornaram GPS) tornando-os particularmente inte-
ao local de translocação dentro de ~5 dias. ressantes para estudos de campo e de la-
Ambos os animais foram observados para boratório sobre navegação de anfíbios.
fazer seus primeiros movimentos substan-
ciais após 24 h de pós-translocação. Dois
dos sapos que não voltaram para casa se Editora: Daniela Pareja-Mejía.
Hyalinobatrachium mondolfii
Reserva Extrativista do Iratapuru, Vale do Jari - AP
@ Francielly Reis
47
Lachesis muta
Pacoti, CE
@ Thabata C. dos Santos
48
Proceratophrys boiei
Sapucaia, RJ
@ Barbara Vitorino
49
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
Resenhas
Amaral A. 1978. Serpentes do Brasil: iconografia colorida.
Melhoramentos, EdUSP. São Paulo. 248 p.
Renato S. Bérnils
Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas ,Centro Universitário Norte do Es-
pírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, 29932-540 São Mateus, ES,
Brasil.
E-mail: renatobernils@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533304
50
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
O
avanço do conhecimento O AUTOR
biológico se dá em ritmos
distintos conforme a área.
Afrânio do Amaral [Afrânio Pompílio
Enquanto artigos impactantes podem
Bransford Bastos do Amaral; Belém,
rapidamente se tornar obsoletos em
1894 – São Paulo, 1982], diplomado
campos como a Bioquímica ou a Biolo-
pela afamada Faculdade de Medicina
gia Molecular, sua durabilidade costu-
da Bahia, foi pesquisador de renome
ma ser maior em quase todas as verten-
no Instituto Butantan, tendo assumido
tes da Zoologia, cujos avanços são mais
sua direção em três ocasiões entre 1921
vagarosos. Em qualquer área, contudo,
e 1956 (Falcão 1975a, 1975b; Calleffo
há obras permanentes consideradas
& Fernandes 2012). Inicialmente, não
marcantes, quando não fundamentais,
atuou diretamente em Herpetologia,
a despeito de eventuais defeitos, do
mas acabou se envolvendo com o estu-
desgaste do tempo e de sua superação
do dos répteis quando João Florêncio
por estudos conduzidos com tecnolo-
Gomes [1886-1919], principal taxôno-
gias mais avançadas, renovando para-
mo daquele instituto, faleceu prematu-
digmas.
ramente.
51
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
como um todo, destacando que 169 tá- Nomura 1997). Suas considerações nos
xons foram ali retratados pela pena de textos introdutórios da Iconografia,
pelo menos oito artistas talentosos, e mesmo ultrapassadas, são relevantes,
chama a atenção para a qualidade in- pois refletem paradigmas que predo-
comparável do material pictórico da minaram nas Ciências Biológicas na
obra, traçando um paralelo com a mag- primeira metade do século XX – como
nífica iconografia de Giorgio Jan e Fer- a valorização excessiva e nem sempre
dinando Sordelli (Jan & Sordelli 1860- bem compreendida do conceito de su-
1881). Sem querer ser desrespeitoso ou bespécie, por exemplo.
sacrílego, arrisco dizer que muitas das
figuras da Iconografia de Amaral são A seção com desenhos representando
superiores às representadas na funda- espécies de serpentes ocorrentes no
mental coleção oitocentista. Detalhe: Brasil começa nas páginas seguintes e
a apresentação de Smith está presente vai até seu final. É, portanto, predomi-
apenas na 2ª edição (Amaral 1978). nante, como se espera em obras icono-
gráficas. Esta seção está dividida em 4
As primeiras 24 páginas da Iconogra- tomos, ao longo dos quais as famílias
fia estão ocupadas com textos introdu- são apresentadas segundo uma orde-
tórios, desde a Apresentação de Smith nação pretensamente “evolutiva”, le-
até um utilíssimo quadro com o com- vando em consideração especialmente
primento médio de exemplares adultos as características de dentição maxilar
de 192 formas (espécies e subespécies) presentes nas serpentes; Amaral, como
de 172 espécies de cobras ocorrentes no de praxe, apresenta primeiramente as
Brasil, passando pelo Prefácio assinado serpentes ditas anodontes e as áglifas,
pelo autor e seus “esclarecimentos ge- sucessivamente introduzindo os de-
rais” sobre morfologia e taxonomia de mais agrupamentos até o fechamento
Serpentes. Esses “esclarecimentos” são com as espécies comumente chama-
considerados obsoletos à luz dos avan- das de solenodontes, que ele classifica
ços da Sistemática Zoológica ao longo como Kinetognathi, adotando Crotali-
dos últimos 40 anos, mas têm grande dae para esse grupo (no Brasil, Lache-
valor se levarmos em conta os aspectos sis, Bothrops e Crotalus), procurando
históricos envolvidos. Amaral foi pes- distinguir, das viperídeas, as formas
quisador respeitado no meio científico com fosseta loreal.
e fora dele, sendo também autor de es-
tudos de filologia, linguística e história, Cada tomo inicia com um quadro que
entre outros temas sem vínculo direto Amaral chamou de Index Geographi-
com sua formação como médico e zoó- cus, o qual é de suma importância para
logo (Falcão 1975a, 1975b; Adler 1989; compreender a origem dos espécimes
53
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
timar que a quantidade de espécies de sas incerta (Jan), táxon não incluído na
serpentes ocorrentes no Brasil, consi- Iconografia. Décadas depois, Passos et
derando-se o conhecimento disponível al. (2004) revalidaram Leptognathus
nos anos de publicação da Iconogra- alternans Fischer sob a combinação
fia (cf. Peters & Orejas-Miranda 1970; Dipsas alternans, mas mantiveram S.
Cunha & Nascimento 1973; Hoge & Li- barbouri e S. garbei como sinônimos
ma-Verde 1973), passava de 300 – sem de D. incerta. Resumindo: Amaral con-
contar subespécies, expediente taxonô- siderou três nomes válidos quando de-
mico ainda muito utilizado àquela épo- veria ter usado apenas um (que não es-
ca. tava em sua Iconografia) e, se alguém
produzir obra semelhante hoje em dia
Em contraste com os números atuais, (e.g. Marques et al. 2019), deverá con-
que acusam 433 espécies de serpen- siderar não uma ou três espécies, mas
tes para o Brasil (Nogueira et al. 2019; sim duas: D. alternans e D. incerta.
Costa et al. 2022), a representatividade Casos deste tipo, envolvendo sinonimi-
de espécies da Iconografia parece mui- zações, descrições de novas espécies,
to baixa (cerca de 40%) para um título elevação de subespécies a espécies ple-
ambicioso (“Serpentes do Brasil”), mas nas, e discordâncias de status taxonô-
essa comparação é injusta e até mesmo mico entre autores contemporâneos ou
falaciosa, por motivos óbvios; afinal, de épocas diferentes, não são raros, e é
pelo menos 130 espécies de serpentes por isso que, para a Iconografia, os cál-
foram acrescentadas à ofiofauna nacio- culos de representatividade da compo-
nal de 1978 a 2021, entre a descrição sição da ofiofauna brasileira são apenas
de novos táxons, a elevação de subes- aproximados.
pécies a espécies e os registros inéditos
para o país. Em alguns casos, o que parece engano
ou teimosia por parte do autor, pode, na
Esse tipo de comparação numérica ain- verdade, ser fruto de sua expertise e ex-
da esbarra em mais complicadores que celência. Amaral defendia que o gênero
dificultam quantificações precisas. Na Bothrops deveria ser tratado como fe-
Iconografia, por exemplo, Sibynomor- minino; após elaborada argumentação
phus alternans (Fischer), S. barbouri com base em seu bom conhecimento de
Amaral e S. garbei Amaral são apresen- grego, latim e regras de nomenclatura
tadas como espécies distintas (não por zoológica (Amaral 1975), ele advogou
acaso, duas são de lavra do autor). À seu ponto de vista perante a Comissão
época, porém, segundo Peters (1960) e Internacional de Nomenclatura Zooló-
Peters & Orejas-Miranda (1970), as três gica. Em suas publicações (incluindo a
estavam alocadas na sinonímia de Dip- Iconografia) ele grafava, por exemplo,
55
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
[1912-1982] e seus colaboradores. Por tros nomes? Seu aparente apego a de-
35 anos (até seu falecimento), após terminadas combinações taxonômicas
Gomes, Amaral e Alcides Prado [1893- (uma certa teimosia) e suas conhecidas
1963], Hoge assumiu os estudos taxo- desavenças (“diferenças”) com outros
nômicos de serpentes no Instituto Bu- alguns outros herpetólogos, seriam ex-
tantan (Romano-Hoge & Vital Brazil plicação suficiente? Eu somente atinei
2012), empregando técnicas e interpre- para parte da resposta a essa questão
tações inovadoras na sistemática des- quando percebi a data expressa no fi-
ses animais – muitas vezes em conflito nal do Prefácio da edição de 1977:
com as ideias de Amaral. “1.XII.1964”, dia em que Afrânio do
Amaral completava 70 anos de idade
Do mesmo modo, Amaral se manteve (e exatamente um ano após o meu pró-
caprichosamente obstinado no empre- prio nascimento, a 2.XII.1963, uma vez
go de certos nomes de espécies por ele que 1964 fora ano bissexto). Ora, como
propostos ao longo do século XX, mui- é que um livro publicado em 1977 ti-
tos dos quais sinonimizados por outros nha prefácio datado de 13 anos antes?
pesquisadores antes da publicação da Ao que tudo indicava, a obra já havia
Iconografia. Para não parecer que sua sido planejada e, em grande parte, or-
teimosia se limitava à rejeição dos es- ganizada, muito antes de sua publica-
tudos de Hoge, mais exemplos podem ção de fato. Esse enorme gap recuaria
ser citados. Thamnodynastes strigilis as escolhas taxonômicas de Amaral a
(Thunberg) (provável Th. nattereri, um período anterior ao Catálogo de Ja-
não Th. pallidus) e Thamnodynastes mes A. Peters & Braulio R. Orejas-Mi-
strigatus (Günther), foram apresenta- randa – obra que foi a grande divisora
dos na Iconografia como subespécies de águas no conhecimento dos répteis
de Dryophylax pallidus (Linné), um ar- Squamata da Região Neotropical. Se
ranjo muito particular que Amaral ado- imaginarmos que Amaral assim proce-
tara desde 1926/1930, posteriormente deu, é claro. Ademais, convém indicar
descartado por outros herpetólogos, uma curiosidade: na segunda edição da
com destaque para o clássico Catálogo Iconografia (1978), o mesmo Prefácio
dos Squamata Neotropicais (Peters & de Amaral está com a data “corrigida”
Orejas-Miranda 1970). para “1.XII.1978”, um estranho salto de
14 anos.
Várias vezes eu me perguntei por que
Amaral empregou nomes que já ha- Em função de tantas mudanças na ta-
viam sido descartados, usando sinôni- xonomia das serpentes sul-americanas
mos júnior para diversos táxons que desde os anos 70 do século passado, de
já eram amplamente aceitos com ou- todas as idiossincrasias de Amaral, e do
57
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
No final daquele mesmo ano, morado- tas romboidais e uma faixa vermelha
res do litoral paranaense mataram uma vertebral que ia da cabeça até a cauda,
cobra que os colegas Fernando Zanella olho também vermelho, barriga bran-
e Mário Barletta levaram para o Cen- ca e rabo bem comprido. Emprestei o
tro Acadêmico do curso em um vidro. livrão de novo, comparei a cobra com
Era uma cobra bonita, com chamativos suas figuras e cheguei a mais um nome,
pontos amarelos em cada escama do agora ainda mais seguro de ter acerta-
dorso, ventre também amarelo e “cara do, tal a semelhança entre a ilustração
simpática”, de bicho inofensivo. Guar- e a serpente no álcool. Fiz nova etique-
damos em álcool e fiquei curioso para ta à mão para colocar no novo vidro
descobrir o nome da espécie (eu me no Centro Acadêmico: Siphlophis cer-
lembrava de ter visto uma bem pare- vinus rubrovertebralis (hoje, Siphlo-
cida no laboratório do colégio em que phis pulcher). Reparei que o sobreno-
estudei, em Santos). Procurei livros so- me do autor do livro era o mesmo do
bre serpentes na Biblioteca Pública do autor da subespécie dessa minha nova
Paraná e me deparei com um grande, descoberta, e pensei: “esse Amaral deve
de capa dura, chamado Serpentes do ser muito bom; além de fazer um livro
Brasil; ao folheá-lo, vi que era ricamen- fantástico, descobriu e nomeou várias
te ilustrado e fiquei bem animado: em- dessas serpentes do Brasil”.
prestei o exemplar e corri para o Centro
Acadêmico. Compara daqui, compara No início do semestre letivo de 1983,
dali, não tive dúvidas de que a cobrinha Julio, Magno e eu resolvemos procurar
amarela se chamava Liophis miliaris estágio voluntário (não remunerado) no
(hoje, Erythrolamprus miliaris), ain- Museu de História Natural da Prefeitura
da que a figura do livro não correspon- de Curitiba, no bairro Capão da Imbuia
desse exatamente ao animal no álcool. - os colegas Rita Pinotti e Sandro Me-
Escrevi o nome num papel e prendi ao nezes tinham nos alertado sobre a exis-
vidro com fita adesiva. tência de boas coleções zoológicas no tal
museu. Em nossa primeira visita, fomos
No início de 1983, outra colega de apenas Magno e eu, cada qual com suas
curso, Paola Gobbo, apareceu na uni- preferências (Magno tinha pendência
versidade com mais uma cobra recém para a Ictiologia e eu para a Malacolo-
morta, guardada em álcool, procedente gia). O diretor do museu, Pedro Scherer
de Itapoá, Santa Catarina. Era bem di- Neto, nos atendeu muito educadamen-
ferente, também com aquela “carinha te, e após alguns banhos de água fria
simpática”, mas ainda mais bonita do (pois não havia vagas nas áreas que bus-
que a anterior, pois apresentava o dor- cávamos), perguntamos se havia algum
so todo desenhado com manchas pre- grupo animal em que pudéssemos esta-
63
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
giar; Pedro pensou por alguns segundos de, na extinta Livraria Ghignone. Como
e nos disse “tem as cobras!”, certamente era um livro caro, Magno e eu reunimos
referindo-se aos répteis como um todo. nossas economias para comprá-lo e dei-
Magno e eu fomos pegos de surpresa, xá-lo no Museu, junto à coleção herpe-
e, enquanto o diretor atendia um tele- tológica. Com o tempo, e a imprescindí-
fonema, discutimos se não seria muito vel ajuda de diversos colegas (Fernando
difícil assumir um grupo “tão complexo” Sedor, Thales de Lema, Aníbal Melgare-
sem termos uma orientação formal, mas jo, Wilson Fernandes, Fátima Furtado,
contei ao Magno sobre o livrão do tal Pedro Federsoni Jr., Sylvia Lucas, Hélio
Amaral e de como não achei complicado Belluomini, Augusto Abe, Ulisses Cara-
reconhecer as duas cobras que estavam maschi, Gustavo Scrocchi, Miguel Tre-
no Centro Acadêmico. Magno, então, faut e outros), fomos aprendendo que
lembrou que seu pai tinha em casa vá- a literatura herpetológica era bem mais
rios vidros com cobras mortas em álco- vasta do que nos indicaram os tropeços
ol, algumas de Curitiba, outras de Mor- de nosso autodidatismo primário, sen-
retes, e resolvemos pegar o livro e tentar do possível identificar as espécies com
identificá-las por comparação, como eu maior precisão e discutir as hipóteses a
já havia feito; essa “prática” poderia ser esse respeito, não apenas comparando
nossa forma inicial autodidata para co- espécimes com as pranchas da Icono-
meçar a conhecer os répteis. Aceitamos grafia. Isso, contudo, jamais diminuiu
o estágio com a “condição” de que um nosso fascínio por aquela fabulosa cole-
terceiro colega pudesse participar co- ção de desenhos minuciosos e de gran-
nosco (Julio Cesar), já que o desafio era de precisão, reunidos em um livro sem
grande, e foi assim que ingressamos na igual. Assim, sem medo de ser piegas ou
Herpetologia. Sem o conhecimento pré- parecer exagerado, arrisco afirmar que a
vio da Iconografia, Magno e eu prova- Iconografia de Afrânio do Amaral e seu
velmente recusaríamos a proposta, con- espetacular time de impecáveis ilustra-
siderando-nos despreparados para tal. dores, foi o grande impulsionador que
me conduziu à Herpetologia na compa-
Ao longo das semanas seguintes, Julio, nhia dos grandes amigos Julio e Magno.
Magno e eu acabamos nos apaixonan-
do pela Herpetologia, desistindo de nos REFERÊNCIAS
aprofundarmos em outras áreas da Zo-
ologia. Resolvemos comprar um exem- Adler K. 1989. Contributions to the
plar da Iconografia para termos essa history of herpetology. Contributions
obra fundamental sempre conosco. Pro- to Herpetology 5. SSAR. Ithaca, New
curamos por toda Curitiba e achamos York.
o último exemplar disponível na cida-
64
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
Costa H.C., Guedes T.B., Bérnils R.S. bibliografia de seus trabalhos. Memó-
2022 [2021]. Lista de répteis do Bra- rias do Instituto Butantan 39:11–25.
sil: padrões e tendências. Herpetologia
Brasileira 10:110–279. Grantsau R. 1991. As cobras venenosas
do Brasil. Mercedes Benz. São Paulo.
Cunha O.R., Nascimento F.P. 1973. Ofí-
dios da Amazônia. IV. As cobras corais Grantsau R. 1991. Die Giftschlangen
(gênero Micrurus) da região leste do Brasiliens. Bandeirante. São Paulo.
Pará (Ophidia - Elapidae). Nota Preli-
minar. Publicações Avulsas do Museu
Grantsau R. 2013. As serpentes peço-
Paraense Emílio Goeldi 20:273–86.
nhentas do Brasil. Vento Verde. São
Carlos.
D’Agostini S., Vitiello N., Hojo H.,
Bilynskyj M.C.V., Rebouças M.M. 2012.
Gross O.P., Gross G.A. 2011. Manage-
Joaquim Franco de Toledo – o ilus-
ment of snakebites: Study manual and
trador científico. Páginas do Instituto
guide for health care professionals.
Biológico 8:1–10.
Friesen. Victoria.
68
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
Cei, J. M. 1986. Reptiles del centro, Cei, J. M. 1993. Reptiles del noro-
centro-oeste y sur de la Argentina. este, nordeste y este de la Argen-
Herpetofauna de las zonas áridas y tina. Herpetofauna de las selvas
semiáridas. Monografie IV. Museo subtropicales, Puna y Pampas.
Regionale di Scienze Naturali, Tu- Monografie XIV. Museo Regionale
rín, Italia. 527 pp. Mapas. Figuras. di Scienze Naturali, Turín, Italia.
Fotografías. Stabilimento Silves- 949 pp. Mapas. Figuras. Fotogra-
trelli & Capelleto di S. Rosa-Clot e fías. Silvestrelli & Capelleto s.r.l.
C. Turín, Italia. Turín, Italia.
Gustavo J. Scrocchi
Dirección de Zoología, Fundación Miguel Lillo y Unidad Ejecutora Lillo (CONICET -
Fundación Miguel Lillo), Miguel Lillo 251, 4000 San Miguel de Tucumán, Argentina.
Email: gustavo.scrocchi@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533309
69
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
N
acido en Italia, José Miguel francés) y R. Etheridge (en inglés) so-
Cei se radicó en Tucumán, bre Liolaemus; con S. Kretzschmar (en
Argentina, a mediados del portugués) sobre datos que le interesa-
siglo XX, posteriormente se naturalizó ban del sureste de Brasil y con E. Lavilla
argentino. Trabajó en la Universidad y yo (en español) sobre una colección
Nacional de Tucumán, y más tarde se que habíamos realizado en la región
trasladó a Mendoza. Años después, ya chaqueña. A la tarde reescribía y orde-
jubilado, volvió a Europa instalándose naba las notas realizadas a la mañana y
en Portugal; desde allí viajaba a diferen- no era raro que nos pidiera acompañar-
tes universidades y museos europeos, lo a la noche para colectar algún ejem-
principalmente italianos. Todos los años plar que le interesaba porque estaba
volvía a Argentina durante varios meses, realizando un trabajo, porque no tenía
recorría los diferentes museos para revi- fotos buenas o porque necesitaba mate-
sar colecciones, y visitar y trabajar con rial fresco para comparar.
investigadores locales en otros centros
como Tucumán, Río Cuarto, Córdoba, Como resultado de esta actividad que
La Plata, Mendoza, Puerto Madryn, Co- llegaba a parecer que nunca se detenía,
rrientes, Buenos Aires, Mar del Plata y publicó casi 400 trabajos y varios li-
San Luis. bros de referencia ineludible en la her-
petología del Cono Sur de Sudamérica.
Fue durante sus visitas a nuestro Insti- Si bien los dos volúmenes de Reptiles
tuto que lo conocí y pude ver de cerca de Argentina se encuentran entre sus
la increíble capacidad de trabajo que obras más conocidas y citadas, también
tenía. Llegaba a la colección a primera debemos mencionar Batracios de Chile
hora del día y se quedaba toda la ma- y los dos tomos de Anfibios de Argen-
ñana tomando notas, fotos y medidas tina, (el segundo de ellos en colabora-
de los ejemplares, realizando diseños ción con E. Lavilla) entre sus aportes
de los principales caracteres, y en diez más importantes. Durante el desarrollo
días o menos lograba revisar todo lo de los libros, mantenía una profusa y
que habíamos coleccionado en el año constante correspondencia con colegas
transcurrido desde su última visita. de todo el mundo, con quienes discu-
tía y desarrollaba trabajos sobre los te-
Al mismo tiempo, discutía y comenta- mas que deseaba incluir en sus libros
ba con todos los que estábamos allí so- y sabía que no estaban completos, fal-
bre los diferentes proyectos que estaba taban descripciones de especies, había
llevando a cabo. Todavía recordamos datos aún no estudiados o cualquiera
una mañana en la que, en el pasillo del de los múltiples aspectos que abarcan;
Instituto, discutía con R. Laurent (en muchos de los trabajos que publicó na-
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C
unha & Nascimento (1978) é os animais capturados, que eram en-
um estudo sobre os ofídios do tão deixados em camburões com álcool
leste do Pará, mais especifica- 70–80%. Periodicamente uma equipe
mente da região conhecida como Zona ia a esses locais para pegar o material e
Bragantina e do Salgado, abrangendo o levá-lo ao museu. Um mapa esquemá-
nordeste paraense entre a Baía do Ma- tico da região indica o local de todos os
rajó e o limite com o Maranhão. Essa postos de coleta, o que, para uma época
região, de aproximadamente 45.000 em que não se usava GPS, é bem útil.
km2, originalmente era coberta predo- Com isso Cunha e Nascimento obtive-
minantemente por floresta de terra fir- ram um enorme número de exempla-
me, mas à época do estudo já havia sido res (8.500 espécimes, dos quais 5.638
em grande parte substituída por um serviram de base para a publicação),
mosaico de plantações diversas e capo- incluindo espécies não facilmente avis-
eiras em vários estágios de regenera- tadas e/ou raras.
ção. Além da floresta de terra firme, na
região existem também áreas de várzea O estudo identifica 79 espécies para a
e de igapó, alguns enclaves de campos área de estudo, mais uma (Rhinobo-
e campinas, e, na zona costeira (com thryum lentiginosum) de ocorrência
relevo bastante recortado), extensos provável, pertencentes a 46 gêneros.
manguezais e vegetação de restinga. Para cada espécie é citado o nome vul-
gar (tanto nomes coletados junto à po-
Cunha & Nascimento (1978) é basica- pulação local, como indicados na lite-
mente o primeiro estudo específico so- ratura), a distribuição geográfica, uma
bre os ofídios dessa região, resultado descrição (“Diagnose”) e um item “Co-
de coletas intensivas organizadas pelos mentários”. Na descrição, baseada nos
próprios autores. É também um dos exemplares do leste do Pará, os auto-
primeiros estudos específicos sobre o res mencionam os caracteres conside-
grupo para a Amazônia como um todo, rados importantes taxonomicamente,
tendo representado por isso uma fon- incluindo a contagem das escamas e
te de consulta importante para qual- a coloração. Indicam também o com-
quer estudo sobre ofídios amazônicos. primento total do maior espécime es-
Como indicado na introdução do livro, tudado. Os comentários são diversos,
as coletas ocorreram entre 1971 e 1976, incluindo questões taxonômicas e ob-
abrangendo 37 postos de coleta, onde servações sobre variação, quando per-
os moradores foram contatados para tinentes, mas também dados de com-
colaborar, capturando os animais avis- portamento, reprodução (eventual) e
tados em seu dia-a-dia, e alguns treina- alimentação — observações estas feitas
dos para fixar, de maneira adequada, com base nos dados obtidos localmente
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Célio F. B. Haddad
Departamento de Biodiversidade e Centro de Aquicultura, Universidade Estadual
Paulista, 13506-900 Rio Claro, SP, Brasil.
E-mail: celio.haddad@unesp.br
DOI: 10.5281/zenodo.6533329
80
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O
livro Biology of Amphibians, de dados ou como fonte de referências
de William E. Duellman e na preparação de publicações científi-
Linda Trueb, teve a sua pri- cas. Além disso, é muito prático àque-
meira edição publicada em 1986 pela les que precisam preparar aulas sobre
McGraw-Hill, Publishing Company, os anfíbios. Eu recomendo a leitura
New York. A segunda edição foi publi- desse livro aos meus alunos de gradu-
cada em 1994 pela The Johns Hopkins ação e pós-graduação, bem como a to-
University Press, Baltimore. dos aqueles que me procuram em bus-
ca de um primeiro contato com a área
O texto, as tabelas e a quase totalida- de pesquisa em anfíbios. No entanto,
de das figuras são os mesmos nas duas passados 35 anos da publicação origi-
edições, fazendo com que ambas sejam nal do livro, podemos notar defasagens
basicamente iguais, com apenas as di- relevantes e que devem ser considera-
ferenças de que a primeira edição é de das tanto por quem ensina com o livro
capa dura e a segunda de capa mole. Na quanto por quem o usa como fonte de
segunda edição também há um prefá- referências para fazer pesquisa cientí-
cio adicional feito pelos autores e a pu- fica.
blicação da figura 13-16 foi reproduzida
de forma correta na segunda edição. A A evolução do conhecimento nos últi-
edição de capa mole é mais frágil, sol- mos 35 anos, nas diferentes áreas do
tando blocos de folhas com o manuseio estudo com os anfíbios, foi estupen-
intensivo, pois as folhas são coladas e da, tanto pelo aumento considerável
não costuradas. Isso não acontece com de pesquisadores, particularmente no
a edição de capa dura, que é costurada, terceiro mundo, quanto pelos avanços
porém mais cara. tecnológicos e metodológicos, que im-
pulsionaram os diferentes campos do
Apesar de a obra ter sido originalmente saber. Este livro também foi um espaço
publicada há mais de 35 anos, ainda é para revisões de algumas áreas do co-
uma bibliografia muito relevante e não nhecimento dos anfíbios e, nas últimas
seria exagero dizer que se trata de uma décadas, com o acúmulo de novas infor-
obra clássica na herpetologia. O livro é mações, revisões mais recentes foram
importante aos estudantes que procu- publicadas. Abaixo destaco algumas
ram um primeiro contato com a área de áreas tratadas no livro como exemplos
pesquisa em anfíbios e também é muito desses avanços que causaram defasa-
útil como obra de referência para espe- gens na visão que se tinha em 1986.
cialistas. Eu tenho as duas edições e as
consulto de forma frequente para escla- Nos campos da taxonomia, sistemáti-
recimentos de dúvidas, levantamento ca e filogenia, o uso das sequências de
81
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DNA deu um grande impulso nos estu- vergência molecular (Lyra et al. 2017).
dos e um aprofundamento na compre- Certamente, uma porcentagem pareci-
ensão sobre a real diversidade de espé- da de subestimativa ocorre em todas as
cies e de grupos, bem como permitiu a regiões tropicais do planeta. Portanto,
proposição de hipóteses mais robustas ainda há muito por se fazer no campo
sobre as relações evolutivas em Amphi- da taxonomia dos anfíbios nas regiões
bia. Hoje são produzidos, todos os anos, mais biodiversas e nos hotspots de bio-
muitas centenas de estudos tratando diversidade.
da taxonomia, sistemática e filogenia
dos anfíbios. Quando o livro foi publi- Nesses últimos 35 anos diversos traba-
cado, conhecíamos cerca de 4.000 es- lhos de filogenia, principalmente com
pécies de anfíbios para o mundo. Hoje, base molecular, além de terem permiti-
35 anos depois, conhecemos cerca de do uma melhor compreensão acerca das
8.400 espécies (Frost 2022), um im- relações de parentesco entre espécies
pressionante incremento de 110%. Esse e grupos de espécies, impulsionaram
incremento deveu-se principalmente o aumento no número das diferentes
às descrições de espécies novas, mas categorias supra-específicas, particu-
também é resultado, em menor escala, larmente gêneros e famílias de anfíbios
de revalidações de espécies que esta- (e.g. Faivovich et al. 2005; Grant et al.
vam em sinonímia. Esse crescimento 2006, Frost et al. 2006; Pyron & Wiens
no número de espécies conhecidas para 2011). Sobre esses quantitativos, no li-
o mundo claramente é uma resultante vro são consideradas 36 famílias com
do aprofundamento dos estudos em re- espécies viventes na Classe Amphibia
giões biodiversas do planeta, particu- (21 de Anura, 09 de Caudata e 06 de
larmente nas regiões tropicais e, prin- Gymnophiona), ao passo que atual-
cipalmente, na Região Neotropical. mente (Frost 2022) são consideradas
Tomando o Brasil como um exemplo, 71 famílias com espécies viventes na
na época da publicação do livro eram Classe Amphibia (52 de Anura, 09 de
conhecidas cerca de 500 espécies de Caudata e 10 de Gymnophiona). Além
anfíbios. Hoje, 35 anos depois, conhe- disso, diversos fósseis foram descritos
cemos cerca de 1.200 e o número não ou reanalisados nos últimos 35 anos,
para de crescer (veja Segalla et al. 2014, melhorando nossa compreensão sobre
2021). A estimativa atual, com base em os grupos basais de tetrápodes e sobre
DNA barcoding, é de que estejamos su- grupos extintos da Classe Amphibia. O
bestimando a diversidade brasileira de nosso conhecimento atual sobre a bio-
anfíbios em cerca de 25% e isso num geografia de Amphibia foi muito am-
cenário conservativo, considerando-se pliado em escala macro e imensamente
apenas porcentagens elevadas de di- ampliado em escalas menores, parti-
82
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
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Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
86
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
87
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
D
epois do Congresso da Ame- doza, Argentina; James R. Dixon, Col-
rican Society of Ichthyo- lege Station, Texas, USA; William E.
logists and Herpetologists Duellman, Lawrence, Kansas, USA; J.
(ASIH, editora do jornal Copeia; atu- Ramon Formas, Valdívia, Chile; José
almente Ichthyology & Herpetology) H. Gallardo, Buenos Aires, Argentina;
em junho/julho de 1973 em San José, Jürgen Haffer, Essen, Alemanha oci-
Costa Rica, voltei para a Holanda via dental; Marinus S. Hoogmoed, Leiden,
Estados Unidos. Lá, entre outras, visi- Países Baixos; Raymond F. Laurent,
tei a coleção do Museu de História Na- Tucumán, Argentina; Thomas E. Lo-
tural da Universidade de Kansas, para vejoy, Washington D.C., USA; John D.
estudar material de anfíbios e répteis Lynch, Lincoln, Nebraska, USA; Beryl
da área das Guianas. O curador da co- B. Simpson, Washington D.C., USA;
leção herpetológica nesse período era Michael J. Tyler, Adelaide, Austrália).
o Dr. William E. Duellman, que me fa- Juntos eles cobriam grande parte da
lou que estava planejando utilizar seu América do Sul, infelizmente com ex-
ano sabático de 1974/75 para fazer uma ceção de boa parte do Brasil (Pantanal,
viagem de coleta na América do Sul du- Pampas, Caatinga e Cerrado) e do de-
rante um período de 15 meses, com um serto de Atacama. Já durante a organi-
trailer, junto com sua esposa Dra. Linda zação do simpósio foi decidido que as
Trueb, a filha Dana e o estudante John apresentações seriam publicadas num
Simmons como assistente de campo. livro. Os participantes produziram 16
capítulos, em colaboração com mais al-
Depois que Duellman voltou dessa via- guns co-autores não presentes no sim-
gem, ele concebeu o plano de organizar pósio (Zulma B. de Gasparini, La Plata,
um simpósio sobre a herpetofauna da Argentina; Carlos Rivero Blanco, Col-
América do Sul durante o congresso lege Station, Texas, USA, e Gustavo J.
conjunto da Herpetologist´s League Scillato Yané, La Plata, Argentina).
e Society for the Study of Amphibians
and Reptiles, que seria realizado em Os capítulos (a maioria em inglês, dois
agosto de 1977 em Lawrence, Kansas. marcados com * em espanhol, legendas
O simpósio foi realizado nos dias 11– das figuras em inglês e espanhol) são os
13 de agosto de 1977. Os participantes seguintes:
convidados foram uma mistura inter-
nacional de sul-americanos (lamenta- 1. Duellman: A herpetofauna sul-a-
velmente sem participação brasileira), mericana—Uma visão panorâmi-
estadunidenses, dois europeus e um ca.
australiano (Ana Maria Baez, Buenos
Aires, Argentina; José M. Cei, Men-
88
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
aqui os nomes atuais dessas espécies e ídas, assim como não incluo (na colu-
também apresentar uma atualização de na à esquerda) espécies descritas após
outros nomes, para mostrar as grandes 1977. Não é minha intenção apresentar
mudanças que ocorreram depois da pu- aqui uma lista completa da herpetofau-
blicação do livro. Espécies que apenas na atual da Guiana.
mudaram de gênero não foram inclu-
91
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
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Bufo sp. “A” = Rhinella sp. nov. (a ser descrita por MSH)
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Hyla sp. “L” = Scinax sp. nov. (a ser descrita por MSH)
Hyla sp. “M” = Scinax sp. nov. (a ser descrita por MSH)
Hyla sp. “N” = Scinax sp. nov. (a ser descrita por MSH)
94
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
95
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
REFERÊNCIAS
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Bothrops jararaca
Santa Bárbara, MG
@ Layane Martins
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Micrablepharus maximiliani
São Desidério, BA
@ Katherine Z. B. Wassouf
99
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
100
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
C
omecei a trabalhar com que- lhos publicados. Em 1998, fundou o
lônios nos anos 1980, quan- Chelonian Research Institute, baseado
do ainda não havia muita in- em Oviedo, Flórida, uma organização
formação sobre esses animais e livros sem fins lucrativos dedicada ao estudo
que abordassem a queloniofauna sul- da fauna mundial de quelônios. Prit-
-americana eram raros. Entre os livros chard faleceu em 2020, aos 76 anos de
que na época podiam ser considerados idade. Karl Peter Trebbau Millowitsch,
de publicação recente, lembro-me do conhecido como Pedro Trebbau, nas-
Encyclopedia of turtles, de Peter Pri- ceu em Colônia, Alemanha, em 1929.
tchard, publicado em 1979 pela TFH Estudou biologia nas Universidades de
Publications, e o Turtles of the world, Frankfurt e de Freiburg e medicina ve-
de Carl Ernst e Roger Barbour, publica- terinária na Universidade de Giessen.
do em 1989 pela Smithsonian Institu- Logo mudou-se para a Venezuela, onde
tion Press. Embora ambos trouxessem se naturalizou, e dedicou a sua vida ao
uma descrição geral de todas as espé- conhecimento e conservação da fauna
cies viventes e incluíssem tópicos sobre e da flora nativas. Trebbau faleceu em
distribuição geográfica e ecologia, não 2021, aos 91 anos de idade.
aprofundavam o suficiente para aque-
les leitores que, como eu, estavam ávi- Das 24 espécies/subespécies venezue-
dos por mais informações. O livro que lanas abordadas no livro, 18 (75%) es-
se tornou uma espécie de “bíblia” para tendem a sua área de ocorrência ao ter-
mim (e para tantos outros) foi o Turtles ritório e às águas costeiras do Brasil, o
of Venezuela, de Peter Pritchard e Pe- que na época representava 56% do total
dro Trebbau, publicado em 1984 pela de espécies conhecidas da fauna bra-
Society for the Study of Amphibians sileira. As espécies venezuelanas per-
and Reptiles. Embora o livro fosse de- tencem às famílias Podocnemididae,
dicado à fauna de um único país da Chelidae, Emydidae, Geoemydidae,
América do Sul, incluía várias espécies Testudinidae, Kinosternidae, Chelonii-
com ocorrência também no Brasil. dae e Dermochelyidae. Vale mencionar
que os autores aproveitaram a obra
Os autores tinham em comum uma para descrever uma nova espécie de
grande paixão pela natureza. Peter Chelidae, Phrynops zuliae (atualmen-
Charles Howard Pritchard nasceu em te, Mesoclemmys zuliae), endêmica da
Hertfordshire, Inglaterra, em 1943. bacia de Maracaibo, e uma nova subes-
Obteve o seu PhD pela Universidade pécie de Emydidae, Pseudemys scripta
da Flórida, EUA, e logo se tornou um chichiriviche (atualmente, Trachemys
especialista em quelônios de renome callirostris chichiriviche), nativa dos
internacional, com dezenas de traba- estados Falcón e Yaracuy.
101
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
Tabela 1: Lista das espécies/subespécies venezuelanas com indicação das que tam-
bém ocorrem no Brasil. Os nomes dos taxa foram atualizados de acordo com o Turt-
le Taxonomy Working Group (Chelonian Research Monographs 8:1-472, 2021).
Ocorrência
Subordem Família Espécie
no Brasil
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis expansa Sim
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis erythrocephala Sim
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis unifilis Sim
Pleurodira Podocnemididae Podocnemis vogli Não
Pleurodira Podocnemididae Peltocephalus dumerilianus Sim
Pleurodira Chelidae Chelus orinocensis Sim
Pleurodira Chelidae Phrynops tuberosus Sim
Pleurodira Chelidae Mesoclemmys gibba Sim
Pleurodira Chelidae Mesoclemmys raniceps Sim
Pleurodira Chelidae Mesoclemmys zuliae Não
Pleurodira Chelidae Platemys platycephala pla- Sim
tycephala
Cryptodira Emydidae Trachemys callirostris ca- Não
llirostris
Cryptodira Emydidae Trachemys callirostris chi- Não
chiriviche
Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys diademata Não
Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys punctularia Sim
punctularia
Cryptodira Geoemydidae Rhinoclemmys punctularia Não
flammigera
Cryptodira Testudinidae Chelonoidis carbonarius Sim
Cryptodira Testudinidae Chelonoidis denticulatus Sim
Cryptodira Kinosternidae Kinosternon scorpioides Sim
scorpioides
102
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Angele R. Martins
106
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
U
m verdadeiro clássico de tentativa de resumir a importância de
nada menos que 772 pági- sua pesquisa a um único parágrafo se-
nas, “Osteology of Reptiles”, ria inevitavelmente desastrosa. Para
por Alfred S. Romer pode ser conside- tal, convido os leitores a mergulhar em
rado até os dias atuais como um mo- diversas biografias do autor atualmente
numento científico que deve estar pre- disponíveis pela “The Geological Socie-
sente nas estantes ao menos de todo(a) ty of America”, “The National Academy
herpetólogo(a), paleoherpetólogo(a), of Sciences” e outras.
anatomista ou morfologista com in-
teresse no grupo. Isto se deve não so- O livro intitulado “Osteology of Repti-
mente ao excepcional conteúdo deste les” é sem dúvidas um compilado en-
clássico, mas porque grande parte das ciclopédico sobre a osteologia e clas-
obras de Romer são indispensáveis sificação de répteis extintos e viventes
para a compreensão da evolução de baseado em mais de 500 referências
vertebrados, sobretudo por sua gran- selecionadas (isto é, as principais obras
de dedicação à coleta, descrição e in- utilizadas pelo autor) separadas por te-
terpretação de vertebrados fósseis. O mas, além de conter um índice de cer-
autor é conhecido por diversos outros ca de 5 mil itens que incluem nomes de
livros como “Vertebrate Paleontology”, táxons e terminologias anatômicas.
“Man and the Vertebrates”, “The Ver-
tebrate Body”, resultado de sua grande
A dedicatória e prefácio do livro já nos
paixão e dedicação ao estudo de fósseis
diz bastante sobre a história de sua pro-
de peixes, anfíbios e répteis. Romer
dução: o livro foi inspirado na publi-
também é conhecido por ter sido mem-
cação original “Osteology of Reptiles”
bro de inúmeras sociedades científicas
(1925, Harvard University) escrita por
(em algumas delas vice-presidente,
Samuel Wendell Williston – um grande
presidente ou diretor), ter recebido di-
nome na pesquisa de répteis fósseis–, e
versos prêmios internacionais, além de
compilada/editorada por William King
ter sido curador da coleção de paleon-
Gregory, professor e orientador de A.
tologia do Museum of Comparative
Romer. Tanto a obra de Williston como
Zoology (MCZ, Harvard, 1934-1963), e
a de Romer têm uma grande persona-
diretor desta última instituição de 1946
lidade influente em comum: Thomas
a 1961. Suas contribuições no campo da
Barbour, à época diretor do Museum
paleontologia e evolução de vertebra-
of Comparative Zoology, Harvard. Esta
dos influenciaram diversos paleontólo-
história é brevemente descrita no pre-
gos, anatomistas e biólogos evolutivos
fácio do livro, onde o autor nos conta
em diversos aspectos. O legado de A.
que após a morte de S. Williston em
Romer é extenso e invejável, e qualquer
1918, foram encontrados rascunhos
107
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
moles com padrões estruturais ósseos, o cada grupo de répteis. O nível de de-
autor descreve breves padrões muscula- talhamento – e também descrição
res, rotas de nervos e vasos sanguíneos, comparativa – é tamanho, que estas
até mesmo da relação do órgão pineal seções ocupam cerca de 460 páginas
e sistema nervoso central em répteis (dois terços!) da obra. Não obstante, a
viventes e extintos. Incluindo também seção sobre crânio é incrivelmente de-
dados de embriologia, esta introdução talhada, trazendo diversos aspectos de
é bastante rica e sumariza informações desenvolvimento embrionário e onto-
até então dispersas em outros trabalhos genético, incluindo condrocrânio e sua
de meados e final do século XIX e iní- relação com os padrões cranianos dos
cio do XX. Atrevo-me a mencionar, por diversos grupos, além de diversas ilus-
exemplo, que a descrição da anatomia trações. Como é de se esperar em obras
da musculatura extrínseca do olho bem de anatomia clássicas (e de mais meio
como do ouvido interno ainda sejam século), muitas terminologias relativas
uma excelente fonte de consulta e ponto a elementos ósseos – tanto cranianos,
de partida para pesquisadores inician- mandibulares e pós-cranianos – foram
tes, dado seu grau de síntese e simpli- modificadas e atualizadas. Portanto,
cidade de ilustrações. Esta seção inicial embora esta obra ainda seja funda-
se encerra com breves parágrafos dos mental como um compilado de padrões
sistemas urogenital, digestivo e respira- morfológicos em répteis, terminologias
tório, que a meu ver são totalmente dis- devem ser consideradas com cautela.
pensáveis, haja visto que não incluem
nenhum detalhamento fundamental ou Embora o capítulo que trata das cin-
característico do grupo. Sua retirada em turas escapular e pélvica seja bastante
nada afetaria a excepcional introdução curto e traga caracterizações mais ge-
sobre os demais complexos morfofun- rais sobre seus elementos constituintes
cionais outrora mencionados no início em grandes grupos de répteis, o capí-
do capítulo. tulo seguinte, que trata exclusivamente
de membros é um outro ponto alto do
Na sequência, os capítulos seguintes livro: o autor não somente descreve de-
contém o âmago desta incrível obra: talhadamente e comparativamente as
crânio, mandíbula, esqueleto axial, estruturas em distintos grupos de rép-
esqueleto apendicular e elementos es- teis, como também aborda subseções
queléticos diversos são descritos com sucintas porém bastante elucidativas
um incrível nível de detalhes. Cada sobre relação membros e postura em
seção apresenta uma descrição geral grupos ancestrais, proporção de mem-
dos seus elementos componentes, se- bros e sua relação com peso do corpo,
guidas de caracterizações gerais para padrões de redução de membros em
109
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
111
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
Fábio Maffei
112
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
O
Brasil não é só o paraíso dos se quiser focar mais e se aprofundar nas
sapos e sim de toda a herpe- espécies ali presentes. O projeto é ino-
tofauna, visto que somada as vador e com um acabamento e qualida-
riquezas desse grupo estamos no topo de impecáveis. Os livros vêm unidos por
do mundo. Entre as áreas mais ricas em uma cinta de papel, mas podem ser uti-
espécies, destacamos a Mata Atlântica lizados separados. O primeiro volume
para anfíbios e o Cerrado para répteis. (Princípios Cuesta e Fauna) aborda de
A Amazônia detém uma grande riqueza maneira singular toda a formação geo-
ainda inexplorada para ambos os gru- morfológica da Cuesta, desde seu surgi-
pos e uma interminável possibilidade mento até as características peculiares
de novos achados científicos. Porém, que tornam essa região tão interessante.
historicamente (e mais recentemente) Para leigos, como eu, os nomes de ro-
os grandes centros de pesquisa sobre a chas e das suas camadas mostram que
herpetofauna nacional estiveram con- algo singular aconteceu nessa região, o
centrados na Região Sudeste, local dos que resulta hoje em uma interessante
únicos dois biomas brasileiros conside- biota. Ainda no primeiro volume os gru-
rados hotspots de conservação mundial: pos são muito bem apresentados, sendo
a Mata Atlântica e o Cerrado. Nesse con- divididos pelas três ordens de anfíbios e
texto, temos o estado de São Paulo que quatro de répteis explicitados em diver-
talvez seja a macrorregião mais bem in- sos cladogramas. As informações sobre
ventariada do país, fruto do estágio de cada grupo resumem tão bem quanto
desenvolvimento associado à presença livros-textos de biologia e dão material
das grandes universidades, das curtas para quem necessita de aprofundamen-
distâncias e da diversidade de ambien- to em questões indispensáveis, como
tes. Essa diversidade de ambientes sem- estágios larvais e modos reproduti-
pre esteve ameaçada e associada com a vos. Um ponto positivo é a abordagem
destruição das áreas mais conservadas, de animais que não ocorrem na Cues-
em um paradigma de que quanto mais ta, como salamandras e tuatara, o que
se invadiu o habitat das espécies, mais mostra um cuidado em apresentar os
se descobriu sobre a biodiversidade grupos em geral. Também é visível que
existente e menos sobrou espaço para o desconhecimento de alguns grupos é
elas existirem. Nesse conjunto está a enorme, como por exemplo, as cecílias
Cuesta Paulista, muito bem represen- e anfisbênias, visto que suas fisiologias,
tada no presente livro “Herpetofauna seus comportamentos e sua reprodução
da Cuesta Paulista”. O livro é dividido permanecem desconhecidos. A apresen-
em dois volumes, o que facilita a leitura tação de cada grupo termina com a indi-
caso queira saber sobre a região e seus cação das respectivas espécies presentes
grupos-alvo (anfíbios e/ou répteis) ou na Cuesta, inseridas no outro volume
113
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
Leo R. Malagoli
Núcleo São Sebastião, Parque Estadual da Serra do Mar, Fundação para a Conser-
vação e a Proteção Florestal do Estado de São Paulo, 16000-000 São Sebastião, SP,
Brasil.
E-mail: lrmalagoli@gmail.com
DOI: 10.5281/zenodo.6533636
115
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
E
mbora a minha curiosidade e progressos desde as linhas mais clássicas
interesse pelos anfíbios tenham de pesquisa como estudos relacionados a
surgido na infância, foi durante girinos e bioacústica, passando por temas
a graduação no começo dos anos 2000, como biologia reprodutiva de jararacas,
que iniciei a busca pelos primeiros artigos ecologia de lagartos e planos para a con-
e livros ligados à Herpetologia. Durante servação de espécies, até a importância
essas buscas, realizadas na biblioteca do da história natural (sempre necessária,
Museu de Zoologia da Universidade de embora ainda frequentemente negligen-
São Paulo (MZUSP), entrei em contato ciada) permeando todas estas vertentes.
com os autores clássicos e comecei a me Também são apresentados temas amplos
acostumar com os nomes dos autores e em multiescala, relacionados à biodiver-
mais citados naquela época. Neste con- sidade de répteis e anfíbios, tais como a
texto, me deparei com uma publicação influência das mudanças climáticas sobre
que reunia artigos que apresentavam um os Lepidosauria e processos responsáveis
panorama sobre a ciência que eu começa- por moldar a diversidade e evolução das
va a estudar, servindo como uma bússola: espécies da herpetofauna no espaço e no
Herpetologia no Brasil, 1 (Nascimento et tempo.
al. 1994). Após alguns anos, já formado e
atuando profissionalmente como biólo- Mesmo nos temas mais clássicos, é im-
go, pude acompanhar o lançamento do possível não se surpreender com a atual
Herpetologia no Brasil II (Nascimento & sofisticação no uso e integração de múl-
Oliveira 2007), que trouxe o desenvolvi- tiplos métodos, ferramentas de análises
mento de novos assuntos que serviram computacionais e da biologia molecular,
de base e inspiraram novas gerações de permeando praticamente todas as linhas
herpetólogos, incluindo eu mesmo. As- de pesquisa apresentadas na obra. Em
sim, se considerarmos os 28 anos desde uma comparação aos dois compêndios
a publicação do Herpetologia no Brasil, 1, anteriores (Nascimento et al. 1994; Nas-
impressiona o atual lugar e a importância cimento & Oliveira 2007), o leitor irá per-
que a Herpetologia brasileira alcançou na ceber na nova publicação a inclusão de
ciência nacional e internacional. temas que se desenvolveram muito nos
últimos 15 anos, com avanços extrema-
Em 18 capítulos muito bem escritos e or- mente importantes. Dentre estes temas
ganizados, o livro Herpetologia Brasileira é possível citar o elevado nível de conhe-
Contemporânea apresenta os principais cimento relacionado aos patógenos que
avanços em diversas linhas de pesquisa ameaçam os nossos anfíbios, e as novi-
da herpetologia, após 14 anos da publi- dades nos campos da ecoimulologia e da
cação da última coletânea (i.e. Nasci- parasitologia. De igual relevância, o cam-
mento & Oliveira 2007). A obra exibe os po da biologia evolutiva do desenvolvi-
116
Herpetologia Brasileira vol. 11 n.o 1 - Resenhas
U
rban expansion and habitat environments may be similar to those
reduction have caused con- in rural environments. Nevertheless,
flicts between humans and there is a clear need to understand the
wild animals throughout Brazil (Mas- existing interactions and motivations
carenhas-Junior et al. 2021; Ruiz-Ta- related to such conflicts.
gle et al. 2021) and these have inten-
sified in the last 20 years (Marchini & Snakes are historically portrayed as
Crawshaw Jr. 2015). In rural environ- untrustworthy animals, mainly due to
ments, conflicts with snakes are mainly myths and legends (Lima-Santos et al.
preventive because snakes represent a 2020), which contribute to their sys-
potential risk to domestic animals and tematic killing (Fernandes-Ferreira et
humans (Alves et al. 2012; Miranda et al. 2012), including the non-venomous
al. 2016; Lima et al. 2020). The motiva- constricting anacondas. The green an-
tions related to snake-killing in urban
118
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
aconda (Eunectes murinus) occupies both residents and birds. The residents
aquatic habitats and feeds on a wide contacted the senior author for the re-
variety of animals, including fish, am- moval of an E. murinus from the top of
phibians, chelonians, lizards, snakes, a banana tree (Musa sp.), where it was
alligators, birds, and mammals such said to be preying on silver-beaked tan-
as agoutis, pacas, capybaras, peccaries, agers (Ramphocelus carbo). According
tapirs, deer, monkeys, and even do- to the residents, silver-beaked tanagers
mestic species (Strimple 1993; Strüss- are common in the locality and are al-
mann 1997; Martins & Oliveira 1998; ways seen feeding on fruit trees; the
Bernarde & Abe 2010; Rivas et al. 2016; birds’ presence is appreciated and ac-
Lima et al. 2020; Thomas & Allain cepted as positive. Residents killed the
2021). snake for fear and because it was prey-
ing on birds.
Although some motivations for killing
snakes are related to protection of do- The Eunectes murinus specimen was
mestic animals, motivations in urban collected (Fig. 2A–B), and the stomach
environments need to be explored, es- contents were dissected and analyzed,
pecially when another wild species in- revealing that it had consumed a Ram-
teracts with the snake. This study re- phocelus carbo (Fig. 2D). The snake
ports a conflict between humans and was deposited in the Coleção Herpe-
a green anaconda motivated by preda- tológica da Universidade Federal de
tion on a bird (Ramphocelus carbo). Rondônia (UFRO-HEP 003318) and
its prey was deposited in the Coleção
At 4:56 pm on February 19, 2021, in the de Referência da Avifauna do Estado
municipality of Porto Velho, Rondônia de Rondônia (UFRO-AVE 000288).
State, Brazil, southwestern Brazil- Both snake and bird were preserved in
ian Amazonia, residents reported the 70% ethanol. The E. murinus (Fig. 2C)
presence of a newborn Eunectes mu- was a male, ca. 86 cm total length, and
rinus on a private property in the city 329 g weight. The R. carbo (Fig. 2D)
center. The property is within an ur- was a male, identified by white spots
ban forest fragment crossed by a small on its beak (Sick 1997), ca. 11 cm total
river named Santa Barbará (8.768° S, length, and 46 g weight.
63.898° W; WGS-84; 87 m above sea
level), 1.22 km from the Madeira River In many regions of Brazil, feeding birds
(Fig. 1). The properties within the forest is a part of the human population’s daily
fragment do not have any division sys- activity (Crepaldi et al. 2018), demon-
tem, and inhabitants plant fruit trees in strating a very close relationship be-
the forest. The fruit is used as food for tween humans and birds, as observed
119
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
120
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
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Editor: H. C. Costa
122
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
Figure 2. Photographic
evidence of the consump-
tion of Ramphocelus carbo
(Pallas, 1764) by Eunectes
murinus (Linnaeus, 1758).
A) Dorsal view of E. muri-
nus. B) Ventral view of E.
murinus. C) Hemipennis
of E. murinus. D) R. carbo
found in stomach contents
of E. murinus.
123
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
A
nurans play an important role Rhinella diptycha, popularly known as
in the environment by acting Cope’s toad, is a large toad of the family
as regulators of invertebrate Bufonidae. (Lavilla & Brusquetti 2018;
populations or as a significant part of Frost 2022). It occurs in Northeastern
the diet of several species (Toledo et al. Brazil from Pará State (Municipality
2007; Costa et al. 2012; Delaix-Zaqueo of Bujaru) and Maranhão States, to Pi-
et al. 2017; Jones et al. 2021). Although auí, Ceará, and Alagoas States, south of
snakes are their main predators, birds Rio Grande do Sul and Espírito Santo
also consume them (Beltzer 1990; Pana- States, Brazil, inland through Paraguay
sci & Whitacre 2000; Baladrón et al. to Amazonian and eastern Bolivia; and
2011; Silva-Soares et al. 2016; Oliveira southwest to northern and central Ar-
et al. 2017; Luciano et al. 2020). This gentina and northern Uruguay (Lavilla
paper reports the predation of Rhinel- & Brusquetti 2018; Frost 2022).
la diptycha (Cope, 1862) by Rupornis
magnirostris (Gmelin, 1788). There are At 15:48h on January 20, 2021, during
few well documented reports on the con- field observations in the municipality
sumption of bufonid anurans by birds. of Baliza, Goiás, in the Cerrado biome
(16.1916°S, 52.5484°W) a Roadside
124
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
Hawk, Rupornis magnirostris was ob- analyzed the stomach contents of 22 in-
served preying on a Rhinella diptycha dividuals in Argentina for one year and
in the crown of a tree. The R. diptycha determined that they consumed main-
showed no resistance. The toad was ly insects (orthopterans) with a pro-
held in the claws of R. magnirostris and portion of approximately 77%. Panasci
was eaten (Fig. 1) for approximately 23 and Whitacre (2000) reported on the
minutes. R. magnirostris used its beak breeding-season diet in Guatemala by
to tear off pieces of R. diptycha’s back, observing nests and found that the diet
including the parotoid glands. After 23 was composed 90% of small vertebrates
minutes, the R. magnirostris flew away (mainly lizards, frogs, and rodents). Bal-
carrying the remainder of the carcass. adrón et al. (2011) reported the predom-
The episode was photographed and inance of small mammals in the diet in
photos were deposited on the Wikiaves Argentina during the cold non-breeding
(Barbosa 2021) website under vouchers season (April-September). This coin-
WA4557787 and WA4557785. cides with the period when rodent abun-
dance increases (Baladrón et al. 2011).
The Roadside Hawk, Rupornis mag-
nirostris, occurs throughout Latin Amer- Beltzer’s (1990) study reported that am-
ica, from Mexico to Argentina; in Brazil phibians are the second most important
it is the most abundant hawk, found in item in the diet of R. magnirostris. The
every region of the country (Sick 1997). batrachophagic habits of R. magnirros-
Known to be an excellent predator, the tris include Rhinella granulosa and Bo-
diet of R. magnirostris is quite diverse, ana sp. in Valle Aluvial del Rio Parana
opportunistic and generalist, consisting Medio, Argentina (Beltzer 1990), Lep-
of large insects, some reptiles, amphib- todactylus troglodytes in Paraíba State,
ians, small snakes, and birds such as Brazil (Arzabe & Almeida 1997), Lep-
doves (Zenaida auriculata) and spar- todactylus latrans in Machadinho, Rio
rows (Passer domesticus), and also bats Grande do Sul State, Brazil (Souza et al.
in their daytime roosts (Haverschmidt 2003), and Boana pulchella in South-
1962; Massoia 1988; Beltzer 1990; Sick eastern Pampas, Argentina (Baladrón
1997; Panasci & Whitacre 2000). et al. 2011) Our observation of the pre-
dation of Rhinella diptycha is the first
The diet composition of generalist rap- reported for this Hawk.
tors can vary spatially and seasonally
according to prey availability (Thiollay Anurans of the family Bufonidae are
1994; Baladrón et al. 2011). In three known for a prominent parotoid ven-
studies, the diet of R. magnirrostris was om glands located dorso-ventrally in the
analyzed quantitatively. Beltzer (1990) post-orbital region (Mailho-Fontana et
125 125
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
al. 2013; Jolly et al. 2016; Abdelfatah et tion of the venom of R. diptycha. We ob-
al. 2019), toads use these glands as a de- served that despite the chemical defense
fense mechanism when they feel threat- of R. diptycha, R. magnirostris did not
ened, inflating their bodies and posi- appear to undergo a poisoning reaction
tioning their venom glands toward the during the observation.
aggressor (Mailho-Fontana et al. 2013).
ACKNOWLEDGEMENTS
Several chemical compounds have
been identified as constituents of toad We thank the Instituto Armando Lu-
venoms, including peptides, proteins, vison for logistical support. We thank
amines (e.g., bufotenin, etc.), steroids, the Clube de Astronomia e Ciências de
and different classes of alkaloids (Daly Rondônia for financial suport. We thank
et al. 2004; Oliveira et al. 2017; Abdel- the Coordenação de Aperfeiçoamen-
fatah et al. 2019), the consequence of to de Pessoal de Nível Superior - Brazil
which can range from cardiotoxic, neu- (CAPES) for financial support.
rotoxic, and even anesthetic effects, and
generally have cytotoxic effects by in-
REFERENCES
hibiting predator cellular respiration,
thus causing hemolysis and neuronal
Abdelfatah S., Lu X., Schmeda-Hirs-
damage (Toledo & Jared 1995; Ferrei-
chmann G., Efferth T. 2019. Cytotoxicity
ra 2012; Jolly et al. 2016, Abdelfatah et
and antimitotic activity of Rhinella schnei-
al. 2019). Despite the chemical defense
deri and Rhinella marina venoms. Jour-
mechanism, there are records of preda-
nal of Ethnopharmacology 112049.
tion on R. diptycha by Paleosuchus pal-
pebrosus (Toledo et al. 2007), Salvator
merianae (Toledo et al. 2007), Xenodon Aroztegui A., Álvarez B., Céspedez J. 2008.
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eventually died by poisoning, and Cai-
man latirostris (Peixoto-Couto et al. Arzabe C., de Almeida A.C.C. 1997. Life his-
2020). tory notes on Leptodactylus troglodytes
(Anura, Leptodactylidae) in northeastern
Although some animals feed on anurans Brazil. Amphibia-Reptilia 18:211–215.
opportunistically (Toledo et al. 2007;
Delaix-Zaqueo et al. 2017), this record Baladrón A.V., Bó M.S. Malizia A.I., Be-
expands the knowledge about the feed- chard M.J. 2011. Food Habits of the Road-
ing habits of R. magnirostris and the ac- side Hawk (Buteo magnirostris) During
126 the Nonbreeding Season in the Southeas-
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129
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
R
hinemys rufipes (Spix, This species was classified as Near
1824), the Red Side-necked Threatened (NT) by the International
Turtle (Fig. 1) is a chelid spe- Union for Conservation of Nature, be-
cies restricted to small shallow black- cause of a decline in area and quality
water streams in closed-canopy forest- of habitat (IUCN 1996). More recently,
ed regions of the upper Amazon River it was listed as Least Concern (LC) by
Basin in Brazil and Colombia (Magnus- the IUCN/SSC Tortoise and Freshwa-
son & Vogt 2014; Ferrara et al. 2017). ter Turtle Specialist Group (Rhodin et
Although R. rufipes is widespread in al. 2018). Despite this apparent contra-
Amazonia, the species is known from diction, this data has not been updated
few records, especially in the Negro by the IUCN and this species still lacks
River basin (Magnusson & Vogt 2014; accurate published data on occurrence
Ferrara et al. 2017; Turtle Taxonomy records. Where other turtle species are
Working Group 2021). absent, adults and eggs of R. rufipes are
130
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
ACKNOWLEDGEMENT
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We thank Mariceudo Pinho de Carval- edu/cgi-bin/emysmap?tn=227&cf=i-
ho, Luiz Aurélio Leandro and Cledi- jklmno. Access: 27/11/2021.
nei Brito Costa for fieldwork. We also
thank Camila Ferrara and Camila Fa-
Ferrara C.R., Fagundes C.K., Mor-
gundes for making available to us the
catty T.Q., Vogt R.C. 2017. Quelônios
data from occurrence records compiled
Amazônicos: Guia de identificação e
by them. This work was supported by
distribuição. Wildlife Conservation So-
Fundação de Amparo à Pesquisa do
ciety Brasil, Manaus.
Estado do Amazonas (FAPEAM). This
study is part of MAPA’s Ph.D. thesis
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia
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134
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
Table 2. Rhinemys rufipes known occurrence records. Lat: Latitude; Long: Lon-
gitude; AM: Amazonas; PA: Pará; VA: Vaupés; BRA: Brazil; COL: Colombia; per.
com.: Personal Communication; *: approximate coordinates.
135
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
Vicinity
Leticia AM COL -4.1833 -69.9500 Emysystem, 2021
Leticia
Reserva
Adolpho Manaus AM BRA -2.9333 -59.8167 Mertens, 1967
Ducke
Lamar & Medem,
Juruá River Carauari AM BRA -4.8667 -66.9000
1982
Marabita- São Gabriel da
AM BRA 0.9667 -66.9500 Siebenrock, 1909
nos Cachoeira
Oriximiná Oriximiná PA BRA -1.0167 -57.0000 Vogt et al., 2009
Oriximiná Oriximiná PA BRA -1.0500 -57.3833 Vogt et al., 2009
Cano Uirari - VA COL -0.4000 -72.2800 Pritchard, 1979
Puerto Lamar & Medem,
- AM COL -1.0500 -70.3500
Guayabo 1982
Cano Colo- Lamar & Medem,
- VA COL 0.0300 -70.5200
rado 1982
Lamar & Medem,
Cano Uirari - VA COL 0.2000 -70.6200
1982
Cano Mon- Lamar & Medem,
- VA COL 1.0700 -70.4300
serero 1982
Cano Golon- Lamar & Medem,
- VA COL 1.0200 -70.4500
drina 1982
Ferrara et al.,
Tefé Tefé AM BRA -3.3496 -64.6995
2017
Near Trom- Ferrara et al.,
Oriximiná PA BRA -1.3590 -56.8610
betas River 2017
Presidente Presidente Rosana Thiel,
AM BRA -2.0168 -60.0246
Figueiredo Figueiredo per. com.
Pezzuti et al.,
Jau River* Barcelos AM BRA -2.0000 -62.0000
2010
Ti-Parana McCord et al.,
- VA COL 0.5419 -70.6737
River* 2001
Flona Sara- Elizangela de
Oriximiná PA BRA -1.7737 -56.7549
ca Taquera Brito, per. com.
Flona Sara- Elizangela de
Oriximiná PA BRA -1.5813 -56.6092
ca Taquera Brito, per. com.
136
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
Figure 1. Adult male Rhinemys rufipes from Silves, Amazonas, Brazil. Photo by RCV.
137
HB vol. 11 n.o 1 - Notas de História Natural & Distribuição Geográfica
Figure 2. Map showing all known records of Rhinemys rufipes, the Red Side-necked
Turtle. Map created using QGIS software (QGIS, 2021).
138
Enyalius bilineatus
Nova Lima, MG
@ Nathane Queiroz
139
Micrurus albicinctus
Floresta Nacional do Jamari, RO
@ Ana Barbara Barros
140
Instruções
para Autores
Para informações sob preparacão e submissão de ma-
nuscritos entre em contato com os editores gerais.
email de contato edgeral.hb@gmail.com
Micrurus frontalis
RPPN Santuário do Caraça, Catas Altas, MG
@ Suellen O. Guimarães
141
Holoaden luederwaldti
PARNA Itatiaia, Itamonte, MG
@ Rachel Montesinos
142