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Sumário Executivo do Plano de Ação Nacional

para a Conservação das Aves da Caatinga


(2º Ciclo)
A Caatinga e sua avifauna
O Bioma Caatinga ocupa uma área de 835.997km², anual está em torno de 26°C, diminuindo nas altitudes
abrangendo áreas de todos os estados do Nordeste e mais elevadas (serras e chapadas).
do norte de Minas Gerais. O nome “Caatinga” é de À exceção dos grandes rios, como o São Francisco
origem Tupi-Guarani e significa “Floresta Branca”, e o Parnaíba, a hidrografia da região é composta
uma alusão ao aspecto da vegetação durante a em sua maioria por cursos de água intermitentes e
estação seca, período em que as plantas perdem sazonais, fluindo durante a estação chuvosa e secando
as folhas e ficam visíveis na paisagem apenas os gradualmente após a mesma.
troncos esbranquiçados das árvores e arbustos. Por A diversidade, a riqueza de espécies e o número
incluir diversas fitofisionomias e numerosos mosaicos de endemismos da Caatinga foram, por muito tempo,
de vegetação, os botânicos têm utilizado o termo considerados baixos. Entretanto, pesquisas recentes
“província fitogeográfica das Caatingas” ou “domínio relataram números expressivos e acabaram com o
morfoclimático das Caatingas”, no plural. “mito” da baixa biodiversidade na região. Acredita-
A maior parte das Caatingas está situada nas se, ainda, que pode haver um aumento no número de
depressões interplanálticas, porém há exceções pois espécies conhecidas, visto que cerca de 40% da região
alguns planaltos possuem vegetação de Caatinga, como nunca foi estudada e 80% do que já foi amostrado
no Raso da Catarina na Bahia, na Serra da Borborema apresenta um esforço pouco representativo. São
(especialmente na Paraíba) e na Chapada do Apodi registradas para o bioma até o presente 437 espécies
no Rio Grande do Norte. De modo geral a vegetação de plantas, 187 de abelhas, 240 de peixes, 116 de
possui porte mais arbustivo nas depressões sertanejas répteis, 51 de anfíbios, 143 de mamíferos e 511 de
e um porte mais arbóreo nas encostas e topos de aves.
serras e nas matas ciliares. Embora haja predomínio A Caatinga tem sido apontada como uma
de solos rasos e pedregosos, há uma grande variedade importante área de endemismo para as aves sul-
de solos no bioma, incluindo desde areias quartzosas americanas, porém a distribuição, a evolução e a
(neossolos) até solos mais profundos e estruturados ecologia da avifauna da região continuam pouco
como os latossolos. Essa variedade tem reflexo na investigadas, refletindo, consequentemente, na política
diversidade de fitofisionomias existentes nas Caatingas. e ações de conservação. Das 511 espécies de aves que
O clima da região é tropical semiárido. Na maior habitam as Caatingas, existem 23 espécies que podem
parte do domínio chove menos de 750mm anuais, ser caracterizadas como endêmicas, considerando as
concentrados e irregularmente distribuídos entre os matas secas e outras formações decíduas, como as
meses de novembro e junho. A temperatura média florestas estacionais das áreas de contato.
Acervo ICMBio

A Caatinga abrange uma grande variedade de fitofisionomias, incluindo formações arbustivas, arbóreas,
xeromórficas e abriga uma fauna rica com grande número de espécies endêmicas.

Foto da capa: Ciro Albano - Pintassilgo-do-nordeste (Spinus yarrellii).


Alvos de Conservação do PAN Aves da Caatinga
O PAN Aves da Caatinga da Fauna Ameaçadas de Extinção como Quase Ameaçado (NT), dois
abrange e estabelece estratégias (Portaria MMA nº 444/2014), táxons avaliados em 2017 pelo
prioritárias de conservação para sendo três classificados como ICMBio e categorizados como VU,
39 táxons de aves consideradas Criticamente em Perigo (CR), 17 além de dois táxons categorizados
ameaçadas de extinção (Tabela como Em Perigo (EN) e 14 como na Lista Oficial das Espécies da
1), dos quais 34 são constantes da Vulneráveis (VU). Contempla um Fauna Ameaçadas de Extinção do
Lista Nacional Oficial de Espécies táxon categorizado nacionalmente Estado da Bahia como VU.

Tabela 1 – Lista de espécies alvo do PAN Aves da Caatinga.

Categoria
de Risco
Táxon Nome Comum
de
Extinção
Tinamidae
Crypturellus noctivagus zabele zabelê VU
Cracidae
Penelope jacucaca jacucaca VU
Odontophoridae
Odontophorus capueira plumbeicollis uru CR
Cuculidae
Neomorphus geoffroyi geofrroyi jacu-estalo CR
Accipitridae
Leptodon forbesi gavião-gato-do-nordeste EN
Trochilidae
Colibri delphinae greenewalti beija-flor-marrom EN*
Thalurania watertonii beija-flor-de-costas-violetas EN
Augastes lumachella beija-flor-de-gravata-vermelha EN
Ramphastidae
Selenidera gouldii baturitensis saripoca-de-gould EN
Pisttacidae
Anodorynchus leari arara-azul-de-lear EN
Pyrrhura griseipectus cara-suja EN
Thamnophilidae
Terenura sicki zidedê-do-nordeste CR
Formicivora iheringi formigueiro-do-nordeste NT
Formicivora grantsaui papa-formiga-do-sincorá EN
Thamnophilus caerulescens cearensis choca-da-mata VU
Thamnophilus caerulescens pernambucensis choca-da-mata VU
Myrmoderus ruficauda formigueiro-de-cauda-ruiva EN
Pyriglena pernambucensis papa-taoca-de-pernambuco VU
Rhopornis ardesiacus gravatazeiro EN
Rhinocryptidae
Scytalopus diamantinensis tapaculo-da-chapada-diamantina EN
Scleruridae
Sclerurus cearensis vira-folha-cearense VU
Tabela 1 – Lista de espécies alvo do PAN Aves da Caatinga. Continuação.

Categoria
de Risco
Táxon Nome Comum
de
Extinção
Conopophagidae
Conopophaga lineata cearae chupa-dente-do-nordeste EN
Conopophaga melanops nigrifrons cuspidor-de-máscara-preta VU
Dendrocolaptidae
Xiphorhynchus atlanticus arapaçu-rajado-do-nordeste VU
Xiphorhynchus guttatus gracilirostris arapaçu-de-garganta-amarela EN
Lepidocolaptes wagleri arapaçu-de-wagler EN
Xiphocolaptes falcirostris arapaçu-do-nordeste VU
Xenopidae
Xenops minutus alagoanus bico-virado-miúdo VU
Furnariidae
Synallaxis infuscata tatac EN
Cotingidae
Procnias averano averano araponga-do-nordeste VU*
Platyrinchidae
Platyrinchus mystaceus niveigularis patinho VU
Rhynchocyclidae
Phylloscartes beckeri borboletinha-baiana EN
Phylloscartes roquettei cara-dourada EN
Hemitriccus mirandae maria-do-nordeste VU
Tyrannidae
Euscarthmus rufomarginatus maria-corruíra VU**
Polystictus superciliaris papa-moscas-de-costas-cinzentas VU**
Thraupidae
Tangara fastuosa pintor VU
Tangara cyanocephala cearensis saíra-militar VU
Fringillidae
Spinus yarrellii pintassilgo-do-nordeste VU
* Espécie avaliada no 2º ciclo de avaliação das espécies ameaçadas de extinção – ICMBio, 2017.
** Espécie ameaçada no Estado da Bahia.
Fábio Nunes
Ciro Albano

Ciro Albano

Uru Beija-flor-de-gravata-vermelha Cara-suja


(Odontophorus capueira plumbeicollis) (Augastes lumachella) (Pyrrhura griseipectus)
Ameaças
Os baixos índices de das terras cultivadas, e pelo intenso centros urbanos. Os principais alvos
desenvolvimento econômico e uso de agrotóxicos. do tráfico ilegal são: arara-azul-de-
social da região, fazem com que a A captura de aves, seja para uso lear (Anodorynchus leari), periquito-
Caatinga sofra intenso processo de como alimento ou criação ou, ainda, cara-suja (Pyrrhura griseipectus),
degradação ambiental, decorrente visando o comércio ilegal é, sem saripoca-de-gould (Selenidera gouldii
do uso insustentável de seus recursos dúvida, a segunda grande ameaça que baturitensis), pintassilgo-do-nordeste
naturais. São diversas as ameaças aflige diretamente as aves na Caatinga. (Spinus yarrellii), saíra-militar (Tangara
à avifauna da Caatinga, sendo que A caça de aves é comum e difundida cyanocephala cearensis), pintor
muitas delas podem ser consideradas em todo o bioma, seja por questões (Tangara fastuosa) e araponga-do-
restritas a uma determinada espécie culturais ou econômicas. As espécies nordeste (Procnias averano averano).
ou localidade como, por exemplo, cinegéticas que mais sofrem com esta Há ainda os efeitos das mudanças
o impacto causado por atividades pressão são a jacucaca, o zabelê, o climáticas sobre a avifauna, que
de extração mineral, o turismo uru e o jacu-estalo. As aves ou seus precisam ser melhor estudados e
desordenado, espécies invasoras e o ovos são capturados para serem compreendidos. Um dos cenários
uso indiscriminado de agrotóxicos. No utilizados como animais de criação. indica a potencial redução da
entanto, se reconhece que algumas Essa prática, também arraigada distribuição climaticamente adequada
ameaças são comuns a praticamente culturalmente, é comum não apenas até 2070 para algumas espécies
todo o bioma. A principal é a perda em pequenas cidades ou vilarejos dependentes de florestas, agravando o
de habitat, ocasionada, sobretudo do interior, mas também em grandes seu risco de extinção.
por desmatamentos, queimadas e
Ewerton Torres

Liana Mara
incêndios florestais e pela expansão
rural e urbana.
O desmatamento de áreas
florestadas pode ser parcial ou total,
afetando toda a comunidade de aves,
causando seu empobrecimento ou
sua extinção local. O desmatamento
parcial ou corte seletivo de
determinadas espécies vegetais
é realizado principalmente para
abastecer carvoarias ilegais. O O estabelecimento de carvoarias ilegais é um dos fatores que contribui de forma expressiva
para o desmatamento na caatinga.
desmatamento total comumente é
feito com uso de queimadas e está
Samuel Portela

Samuel Portela
principalmente ligado à pecuária
e às práticas agrícolas. Os estragos
causados pelo uso indiscriminado e
descontrolado do fogo talvez seja o
mais impactante devido à destruição
das florestas e perda da biodiversidade,
ao empobrecimento e perda dos
solos, levando ao assoreamento
dos rios. As queimadas contribuem,
ainda, para a alteração do microclima
local, criando condições favoráveis O uso indiscriminado do fogo para estabelecimento de pastagens e cultivos tem impactos
sobre o solo, resultando não apenas na perda de biodiversidade, mas também para o
para futuros incêndios, o que gera empobrecimento do solo, para o assoreamento de rios, e contribui para a desertificação.
ciclo vicioso de desertificação e
ressecamento regional.
Willamy Cavalcante
Willamy Cavalcante

A agricultura mecanizada, como


o cultivo de frutos no vale do Rio
São Francisco ou as culturas de soja,
café e algodão no oeste baiano e
de hortifrutigranjeiros na Serra da
Ibiapaba, também contribui bastante
com a perda de habitat e impacta não
apenas a área onde está instalada,
pela remoção da vegetação nativa,
mas também altera grande área de
A caça e o tráfico de aves silvestres para uso como alimento ou pet tem origem em questões
seu entorno, por meio de alterações culturais ou econômicas e resulta na remoção de uma enorme quantidade de indivíduos das
de cursos d’água, visando a irrigação populações.
Áreas Estratégicas
A partir das ameaças identificadas, e com base na distribuição das espécies alvo e no mapa das Áreas Prioritárias
para a Conservação, Utilização Sustentável e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade estabelecidas pelo
Ministério do Meio Ambiente, foram selecionadas 51 áreas estratégicas para implementação do PAN.
Presença em unidades de conservação
As Unidades de Conservação (UCs) presentes Conservação, como é o caso do tapaculo-da-chapada-
no Bioma Caatinga, sejam elas federais, estaduais, diamantina, que pode ser encontrado no Parque Nacional
municipais ou privadas, abrigam importantes populações da Chapada Diamantina, do cara-dourada, presente no
de espécies contempladas no PAN Aves da Caatinga. Parque Nacional Cavernas do Peruaçu e o jacu-estalo,
Algumas espécies estão presentes em várias UCs, como, registrado no Parque Nacional do Boqueirão da Onça.
por exemplo, o zabelê, a jacucaca, o arapaçu-do- A Figura 2 apresenta um mapa de ocorrência dos táxons
nordeste e o pintassilgo-do-nordeste. Outras espécies, do PAN em UCs federais e estaduais, destacando aquelas
por sua vez, estão restritas a apenas uma Unidade de com maior relevância.

Figura 2: Mapa de ocorrência dos táxons do PAN Aves da Caatinga em Unidades de Conservação Federais (F1 – F19) e Estaduais (A – M), sendo as mais
relevantes (com 5 espécies do PAN ou mais): Federais – Parque Nacional da Chapada Diamantina (F1), Área de Proteção Ambiental Serra da Ibiapaba (F2),
Parque Nacional da Serra das Confusões (F3), Área de Proteção Ambiental do Boqueirão da Onça (F4), Floresta Nacional do Araripe-Apodi (F5) e Área de
Proteção Ambiental da Chapada do Araripe (F6); e Estaduais - Área de Proteção Ambiental da Serra do Baturité/CE (A), Refúgio de Vida Silvestre Matas de
Água Azul/PE (B), Área de Proteção Ambiental Marimbus Iraquara/BA (C), Refúgio de Vida Silvestre Mata do Siriji/PE (D) e Área de Proteção Ambiental da
Serra da Aratanha/CE (E).
Estratégia do ICMBio para conservação das
aves da Caatinga
Do total das 1919 espécies de aves que ocorrem se em seu segundo ciclo de gestão, com vigência até
no país, 234 táxons são reconhecidos como espécies dezembro de 2022. Sua elaboração ocorreu durante
da fauna brasileira ameaçadas de extinção. É oficina participativa entre os dias 20 e 22 de junho
responsabilidade do governo brasileiro, por intermédio de 2017, contando com 30 pessoas representando 24
do Instituto Chico Mendes de Conservação da instituições.
Biodiversidade (ICMBio), o desenvolvimento de O PAN Aves da Caatinga tem como objetivo geral:
estratégias para conhecer e proteger esta riqueza, além Redução da perda e alteração de ambientes naturais,
de recuperar aquelas ameaçadas de extinção por meio da pressão de caça e do tráfico, visando a manutenção
de diversas medidas, incluindo a elaboração e execução ou recuperação das populações e habitats das
de Planos de Ação. espécies alvo deste PAN, nos próximos cinco anos.
O Plano de Ação Nacional para a Conservação das Para alcançar esse objetivo, foram estabelecidos quatro
Aves da Caatinga - PAN Aves da Caatinga, encontra- objetivos específicos e 70 ações.
Nathália Sousa

Participantes da Oficina de Planejamento do segundo ciclo do PAN Aves da Caatinga.

Matriz de planejamento do PAN Aves da Caatinga

Nº de Custo estimado
Nº Objetivos específicos
Ações (R$)
I Redução da perda e alteração dos ambientes naturais 14 630.000,00
Manutenção e recuperação dos habitats das espécies
II 19 490.000,00
alvo
Manutenção e incremento das populações das
III 21 2.770.000,00
espécies alvo do Plano
IV Redução das pressões de caça e do tráfico 16 4.765.000,00

A matriz completa com as 70 ações, articuladores, colaboradores, produtos e outras


informações podem ser consultadas na página do ICMBio.
http://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/plano-de-acao-nacional-lista/866-pan-aves-da-caatinga

Foto: Ciro Albano (Araponga-do-nordeste - Procnias averano averano)


COLABORAÇÃO

REALIZAÇÃO

Brasília, julho de 2019

Para saber mais acesse:


http://www.icmbio.gov.br/pan

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