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HIDROSTÁTICA E

HIDRODINÂMICA
Elaboração

Maria Rosiene Antunes Arcanjo

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO....................................................................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA.................................................................................................. 5

INTRODUÇÃO.............................................................................................................................................................................................. 7

UNIDADE I
HIDROSTÁTICA GERAL........................................................................................................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 1
CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM HIDROSTÁTICA ................................................................................................................................ 10

CAPÍTULO 2
EQUILÍBRIO DOS FLUIDOS............................................................................................................................................................................... 26

UNIDADE II
HIDROSTÁTICA APLICADA................................................................................................................................................................................................ 41

CAPÍTULO 1
HIDROSTÁTICA APLICADA A NAVIOS.......................................................................................................................................................... 41

CAPÍTULO 2
HIDROSTÁTICA APLICADA A SUBMARINOS............................................................................................................................................ 57

UNIDADE III
HIDRODINÂMICA GERAL.................................................................................................................................................................................................. 66

CAPÍTULO 1
CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM HIDRODINÂMICA........................................................................................................................... 66

CAPÍTULO 2
VÓRTICES E ANÁLISE DE TURBULÊNCIA................................................................................................................................................. 80

UNIDADE IV
HIDRODINÂMICA APLICADA.......................................................................................................................................................................................... 97

CAPÍTULO 1
DINÂMICA DOS FLUIDOS.................................................................................................................................................................................. 97

CAPÍTULO 2
CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM TRANSFERÊNCIA DE CALOR E MASSA (FLUIDOS EM MOVIMENTO)................... 113

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................................................................... 142

REFERÊNCIAS....................................................................................................................................................................................... 144
APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de


modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal
quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO
DE ESTUDOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas


em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio
de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que
visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes
de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente
para o autor conteudista.

Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma
pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em
seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas
experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida
para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar


Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do
estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o
caso.

Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam
para a síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa

Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/
conclusões sobre o assunto abordado.

Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo,
facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar


Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar
a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o
módulo estudado.

6
INTRODUÇÃO

A mecânica dos fluidos é o estudo dos fluidos em movimento (dinâmica dos


fluidos) ou em repouso (estática dos fluidos). Tanto gases quanto líquidos são
classificados como fluidos, e o número de aplicações de engenharia de fluidos é
enorme: respiração, fluxo sanguíneo, natação, bombas, ventiladores, turbinas,
aviões, navios, rios, moinhos de vento, tubos, mísseis, icebergs, motores, filtros,
jatos, e sprinklers, para citar alguns. Quando você pensa sobre isso, quase tudo
neste planeta é um fluido ou se move dentro ou perto de um fluido.

Embora essas ainda sejam áreas extremamente importantes, a mecânica dos


fluidos é verdadeiramente uma disciplina de “alta tecnologia”, e muitas áreas
interessantes desenvolveram-se no último quarto de século. Alguns exemplos
incluem questões ambientais e de energia (por exemplo, contenção de manchas
de petróleo, turbinas eólicas em grande escala, geração de energia das ondas
do oceano, a aerodinâmica de grandes edifícios e a mecânica dos fluidos da
atmosfera e do oceano e de fenômenos como tornados, furacões e tsunamis);
biomecânica (corações e válvulas artificiais e outros órgãos, como o fígado,
fluido sinovial nas articulações, sistema respiratório, sistema circulatório e
sistema urinário); esporte (design de bicicletas e capacetes para ciclistas, esquis e
roupas de corrida e natação, e a aerodinâmica do golfe, tênis e bola de futebol);
“Fluidos inteligentes” (por exemplo, em sistemas de suspensão de automóveis
para otimizar o movimento em todas as condições do terreno, uniformes
militares contendo uma camada de fluido que é “fina” até o combate, quando
pode ser “enrijecida” para dar ao soldado força e proteção) e fluido lentes
(com propriedades semelhantes às humanas para uso em câmeras e telefones
celulares); e microfluidos (por exemplo, para administração extremamente
precisa de medicamentos). Estas são apenas uma pequena amostra das novas
áreas da mecânica dos fluidos. Elas ilustram como a disciplina ainda é altamente
relevante e cada vez mais diversificada, embora possa ter milhares de anos.

Neste material didático, ao ler e estudar, você terá informações sobre a disciplina,
sua organização e dicas de estudo. Este caderno de estudos é composto por 4
unidades de acordo com a ementa da disciplina, os quais centram-se na proposta
de conhecer sobre os fundamentos de hidrostática e hidrodinâmica e suas
aplicações em navios e submarinos. Assim sendo, você terá condições suficientes
de avaliar e responder os questionamentos propostos nesta disciplina.

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Introdução

Objetivos
» Conhecer os conceitos fundamentais em Hidrostática, como: definição
de fluido, sistema de unidades, peso e massa específica, densidade,
viscosidade entre outros.

» Conhecer e compreender a equação fundamental da Hidrostática, Lei


de Stevin, equilíbrio relativo dos fluidos, esforços sobre superfícies
planas e curvas imersas, princípio de Arquimedes e estudo da
estabilidade dos corpos imersos ou flutuantes.

» Aprender sobre a Hidrostática aplicada a navios e submarinos.

» Entender os conceitos fundamentais utilizados em Hidrodinâmica,


assim como sua aplicação no estudo dos movimentos dos fluidos.

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HIDROSTÁTICA GERAL UNIDADE I

A essência do tema do fluxo de fluido é um compromisso judicioso entre teoria


e experimento. Como o fluxo de fluido é um ramo da mecânica, ele satisfaz um
conjunto de leis básicas bem documentadas e, portanto, uma grande quantidade
de tratamento teórico está disponível. No entanto, a teoria, muitas vezes, é
frustrante porque se aplica, principalmente, a situações idealizadas, as quais
podem ser inválidas em problemas práticos. Os dois principais obstáculos
para uma teoria viável são a geometria e a viscosidade. As equações básicas
do movimento dos fluidos são muito difíceis para permitir ao analista atacar
configurações geométricas arbitrárias. Assim, a maioria dos livros didáticos
concentram-se em placas planas, tubos circulares e outras geometrias fáceis. É
possível aplicar técnicas de computador numéricas a geometrias complexas, e
livros especializados estão agora disponíveis para explicar as novas aproximações
e métodos de dinâmica de fluidos computacional (CFD). O segundo obstáculo
para uma teoria viável é a ação da viscosidade, que pode ser negligenciada apenas
em certos fluxos idealizados. Primeiro, a viscosidade aumenta a dificuldade
das equações básicas, embora a aproximação da camada limite encontrada
por Ludwig Prandtl, em 1904, tenha simplificado muito as análises de fluxo
viscoso. Em segundo lugar, a viscosidade tem um efeito desestabilizador em
todos os fluidos, dando origem, em velocidades frustrantemente pequenas, a
um fenômeno aleatório e desordenado chamado turbulência. A teoria do fluxo
turbulento é bruta e fortemente apoiada por experimentos, mas pode ser bastante
útil como uma estimativa de engenharia. Portanto, há teoria disponível para
problemas de fluxo de fluido, mas em todos os casos ela deve ser apoiada por
experimentos. Frequentemente, os dados experimentais fornecem a principal
fonte de informações sobre fluxos específicos, como o arrasto e a sustentação
de corpos imersos.

9
CAPÍTULO 1
Conceitos fundamentais em
Hidrostática

Definição de fluido
Já temos uma ideia de bom senso de quando estamos trabalhando com um
fluido, ao contrário de um sólido: os fluidos tendem a fluir quando interagimos
com eles (por exemplo, quando você mexe seu café da manhã); sólidos tendem a
deformar ou dobrar (por exemplo, quando você digita em um teclado, as molas
sob as teclas se comprimem). Os engenheiros precisam de uma definição mais
formal e com precisão de um fluido: um fluido é uma substância que se deforma
continuamente sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento (tangencial),
não importa quão pequena seja a tensão de cisalhamento. Como o movimento
do fluido continua sob a aplicação de uma tensão de cisalhamento, também
podemos definir um fluido como qualquer substância que não pode suportar uma
tensão de cisalhamento quando em repouso. Os fluidos podem ser divididos em
líquidos e gases. Os líquidos ocupam volumes definidos. Os gases se expandirão
para ocupar qualquer recipiente de contenção (PRITCHARD, 2011).

Um líquido, sendo composto de moléculas relativamente compactadas com


fortes forças coesivas, tende a reter seu volume e formará uma superfície livre
em um campo gravitacional se não for confinado de cima para baixo. Como as
moléculas de gás são amplamente espaçadas com forças coesivas desprezíveis,
um gás é livre para se expandir até encontrar paredes confinantes. Um gás
não tem volume definido e, quando deixado a si mesmo sem confinamento,
um gás forma uma atmosfera que é essencialmente hidrostática. Os gases não
podem formar uma superfície livre e, portanto, os fluxos de gás raramente se
preocupam com os efeitos gravitacionais, exceto a flutuabilidade.

A maioria dos problemas de mecânica dos fluidos de engenharia lida com esses
casos claros ‒ isto é, os líquidos comuns, como água, óleo, mercúrio, gasolina e
álcool, e os gases comuns, como ar, hélio, hidrogênio e vapor, em suas faixas de
temperatura e pressão. Existem muitos casos limítrofes, entretanto, dos quais
você deve estar ciente. Algumas substâncias aparentemente “sólidas”, como
asfalto e chumbo, resistem à tensão de cisalhamento por curtos períodos, mas na
verdade se deformam lentamente e exibem comportamento fluido definido por

10
Hidrostática geral | Unidade i

longos períodos. Outras substâncias, notadamente coloides e misturas de lama,


resistem a pequenas tensões de cisalhamento, mas “cedem” a grandes tensões e
começam a fluir como os fluidos. Livros didáticos especializados são devotados a
este estudo de deformação e fluxo mais gerais, um campo denominado Reologia.
Além disso, líquidos e gases podem coexistir em misturas de duas fases, como
misturas de água e vapor ou água com bolhas de ar aprisionadas. Livros
especializados apresentam a análise de tais fluxos multifásicos. Finalmente, em
algumas situações, a distinção entre um líquido e um gás fica turva. Este é o caso
em temperaturas e pressões acima do chamado ponto crítico de uma substância,
onde existe apenas uma única fase, basicamente semelhante a um gás (WHITE,
2011).

Sistema de unidades
Visto que no estudo da hidrostática e hidrodinâmica estaremos lidando com
uma variedade de características de fluidos, é necessário desenvolver um sistema
para descrever essas características qualitativa e quantitativamente. O aspecto
qualitativo serve para identificar a natureza, ou tipo, das características, como
comprimento, tempo, estresse e velocidade, enquanto o aspecto quantitativo
fornece uma medida numérica das características. A descrição quantitativa requer
um número e um padrão pelo qual várias quantidades podem ser comparadas.
Um padrão de comprimento pode ser um metro ou pé, para o tempo por hora ou
segundo, e para massa uma slug (unidade utilizada para medir a massa, quando a
força se mede em libras-força) ou quilograma.

Esses padrões são chamados de unidades e diversos sistemas de unidades são


de uso comum, conforme descrito na seção a seguir. A descrição qualitativa é
convenientemente dada em termos de certas quantidades primárias, como
comprimento, L, tempo, T, massa, M e temperatura, Θ. Essas quantidades
primárias podem, então, ser usadas para fornecer uma descrição qualitativa de
qualquer outra quantidade secundária: por exemplo, área = L2, velocidade = LT-1,
densidade = ML-3, e assim por diante. Assim, para descrever qualitativamente uma
velocidade, V, escreveríamos:

V = LT-1

Ou seja, “as dimensões de uma velocidade são iguais ao comprimento dividido


pelo tempo”. As quantidades primárias também são chamadas de dimensões
básicas.
11
Unidade i | Hidrostática geral

Para uma ampla variedade de problemas envolvendo a mecânica dos fluidos,


apenas as três dimensões básicas, L, T e M são necessárias. Alternativamente, L,
T e F podem ser usados, onde F são as dimensões básicas da força. Uma vez que
a lei de Newton afirma que a força é igual à massa vezes a aceleração, segue-se
que F = MLT-2 ou M = FL-1T2. Assim, quantidades secundárias expressas em
termos de M podem ser expressas em termos de F por meio da relação acima.
Por exemplo, tensão é uma força por unidade de área, de modo que, σ = FL-2, mas
uma equação dimensional equivalente é σ = ML-1T-2.

Além da descrição qualitativa das várias quantidades de interesse, geralmente


é necessário ter uma medida quantitativa de qualquer quantidade dada. Por
exemplo, se medirmos a largura desta página no livro e dissermos que ela tem
10 unidades de largura, a afirmação não terá significado até que a unidade de
comprimento seja definida. Se indicarmos que a unidade de comprimento é um
metro e definirmos o metro como algum comprimento padrão, um sistema de
unidades para comprimento foi estabelecido e um valor numérico pode ser dado à
largura da página. Além do comprimento, uma unidade deve ser estabelecida para
cada uma das quantidades básicas restantes força, massa, tempo e temperatura.
Existem vários sistemas de unidades em uso e devemos considerar três que são
comumente usados em engenharia.

Em 1960, a Décima Primeira Conferência Geral sobre Pesos e Medidas, a


organização internacional responsável por manter padrões uniformes e precisos
de medidas, adotou formalmente o Sistema Internacional de Unidades como o
padrão internacional. Esse sistema, comumente denominado SI, foi amplamente
adotado em todo o mundo e é amplamente utilizado, embora certamente não
exclusivamente nos Estados Unidos. Espera-se que a tendência de longo prazo
seja que todos os países aceitem o SI como o padrão aceito e é imperativo que
os alunos de engenharia se familiarizem com este sistema. Em SI, a unidade de
comprimento é o metro (m), a unidade de tempo é o segundo (s), a unidade
de massa é o quilograma (kg) e a unidade de temperatura é o Kelvin (K).
Observe que não há símbolo de grau usado ao expressar uma temperatura em
unidades Kelvin. A escala de temperatura de Kelvin é uma escala absoluta e está
relacionada à escala Celsius de centígrado por meio da relação:

K = oC + 273,15

12
Hidrostática geral | Unidade i

Embora a escala Celsius não faça parte do SI, é prática comum especificar
temperaturas em graus Celsius ao usar unidades do SI. A unidade de força, chamada
newton (N), é definida a partir da segunda lei de Newton como:
 1m 
1 N = (1 Kg )  2 
s 

Assim, uma força 1-N agindo sobre uma massa de 1 kg dará à massa uma aceleração
de 1 m/s2. A gravidade padrão em SI é 9,807 m/s2 (comumente aproximada
como 9,81 m/s2), de modo que uma massa de 1 kg pesa 9,81 N sob a gravidade
padrão. Observe que o peso e a massa são diferentes, tanto qualitativa quanto
quantitativamente! A unidade de trabalho em SI é o joule (J), que é o trabalho
realizado quando o ponto de aplicação de uma força 1-N é deslocado por uma
distância de 1 m na direção de uma força. Portanto:

1J = 1N․m

A unidade de potência é o watt (W) definido como joule por segundo. Portanto:
1J
1W
= = 1N . m / s
s

No Sistema Gravitacional Britânico (British Gravitational, BG), a unidade de


comprimento é o pé (ft), a unidade de tempo é o segundo (s), a unidade de força
é a libra (lb) e a unidade de temperatura é o grau Fahrenheit (°F) ou a unidade de
temperatura absoluta é o grau Rankine (°R), onde:
o
R = o F + 459,67

A unidade de massa, chamada de slug, é definida a partir da aceleração da


segunda lei de Newton (força = massa x aceleração) como:

1lb = (1 slug)(1ft/s2)

Esta relação indica que uma força de 1 lb agindo sobre uma massa de 1 slug dará à
massa uma aceleração de 1 ft/s2.

O peso W (que é a força da gravidade, g) de uma massa, m, é dado pela equação:

W = mg

W(lb) = m(slugs)g(ft/s2)

13
Unidade i | Hidrostática geral

Uma vez que a gravidade padrão da Terra é tomada como g = 32,174 ft/s2
(comumente aproximada de 32,2 ft/s2), segue-se que uma massa de 1 slug pesa 32,2
lb sob a gravidade padrão.

No Sistema Inglês de Engenharia (English Engineering, EE), as unidades de força


e massa são definidas independentemente; portanto, cuidado especial deve ser
exercido ao usar este sistema em conjunto com a segunda lei de Newton. A unidade
básica de massa é a libra de massa (lbm), e a unidade de força é a libra (lb). A unidade
de comprimento é o pé (ft), a unidade de tempo é o segundo (s), e a escala de
temperatura absoluta é o grau Rankine (°R). Para tornar a equação que expressa
a segunda lei de Newton dimensionalmente homogênea, nós a escrevemos como:

F = ma/gc

Onde é uma constante de proporcionalidade que nos permite definir unidades


para força e massa. Para o sistema BG, apenas a unidade de força foi prescrita e a
unidade de massa definida de maneira consistente, de modo que gc = 1. Da mesma
forma, para SI a unidade de massa foi prescrita e a unidade de força definida de
maneira consistente, de modo que gc = 1. Para o sistema EE, a força de 1 lb é
definida como aquela que dá a 1 lbm uma aceleração padrão da gravidade que é
tomada como 32,174 ft/s2. Assim, para a equação acima, para ser numericamente
e dimensionalmente correta:
32,174 ft 
(1lbm )  
 s2 
1lb =
gc

De modo a:
32,174 ft 
(1lbm )  
 s2 
gc =
( )
1lb

Com o sistema EE, peso e massa são relacionados através da equação:

W = mg/gc

O sistema EE é usado com muita moderação e apenas nos casos em que a


convenção dita seu uso. Aproximadamente, metade dos problemas e exemplos
são dados em unidades BG e a outra metade em unidades SI. Não podemos
enfatizar demais a importância de prestar muita atenção às unidades ao

14
Hidrostática geral | Unidade i

resolver problemas. É muito fácil introduzir grandes erros nas soluções de


problemas por meio do uso de unidades incorretas. Adquira o hábito de usar
um sistema consistente de unidades em uma determinada solução. Realmente
não faz diferença qual sistema você usa, desde que seja consistente. Se os dados
do problema forem especificados em unidades SI, use unidades SI em toda a
solução. Se os dados forem especificados em unidades BG, use unidades BG em
toda a solução.

Massa específica e peso específico


Também conhecida pelo nome de densidade absoluta. É a relação entre a massa e o
volume da substância considerada:
m
ρ=
V

Considerando que a massa seja expressa em gramas (g) e o volume em cm3, então
a massa específica, nessa consideração, é expressa em g/cm3. No SI (Sistema
Internacional de Unidades), a massa é dada em quilogramas e o volume em m3,
portanto a massa específica é expressa em Kg/m3.

O peso específico (representado pela letra grega γ) de uma substância, que


constitui um corpo homogêneo, é definido como a razão entre o peso P e o
volume V do corpo constituído da substância analisada:
P
γ =
V

Sendo o peso expresso em Newton e o volume em m3, a unidade do peso


específico, no SI, será N/m3. O peso específico é muito útil nas aplicações de
pressão hidrostática.

Densidade
A densidade de um fluido, denotada por ρ (rho grego minúsculo), é sua massa
por unidade de volume. A densidade é altamente variável em gases e aumenta
quase proporcionalmente ao nível de pressão. A densidade em líquidos é quase
constante; a densidade da água (cerca de 1000 kg/m3) aumenta apenas 1 por
cento se a pressão for aumentada por um fator de 220. Assim, a maioria dos
fluxos líquidos são tratados analiticamente como quase “incompressíveis”. Em

15
Unidade i | Hidrostática geral

geral, os líquidos são cerca de três ordens de magnitude mais densos do que os
gases à pressão atmosférica. O líquido comum mais pesado é o mercúrio e o gás
mais leve é o hidrogênio. Compare suas densidades a 20 °C e 1 atm:

Mercury: ρ = 13,580 kg/m3 e Hydrogen: ρ = 0.0838 kg/m3

Eles diferem por um fator de 162.000! Assim, os parâmetros físicos em vários


fluxos de líquido e gás podem variar consideravelmente.

Viscosidade
A viscosidade é uma medida quantitativa da resistência de um fluido ao fluxo.
Mais especificamente, ela determina a taxa de deformação do fluido que é gerada
por uma dada tensão de cisalhamento aplicada. Podemos nos mover facilmente
através do ar, que possui uma viscosidade muito baixa. O movimento é mais
difícil na água, que tem uma viscosidade 50 vezes maior. Ainda mais resistência
é encontrada no óleo SAE 30, que é 300 vezes mais viscoso que a água. Tente
deslizar a mão através da glicerina, que é cinco vezes mais viscosa do que o óleo
SAE 30, ou do melaço, outro fator cinco vezes maior do que a glicerina. Os fluidos
podem ter uma vasta gama de viscosidades.

Considere um elemento fluido cisalhado em um plano por uma única tensão


de cisalhamento τ, como na Figura 1. O ângulo de deformação de cisalhamento
δθ aumentará continuamente com o tempo, desde que a tensão τ seja mantida, a
superfície superior se movendo a uma velocidade δu maior do que a inferior.

Figura 1. A tensão de cisalhamento causa deformação de cisalhamento contínua em um fluido: (a) um elemento de fluido
tensionando a uma taxa δθ/δt; (b) distribuição de cisalhamento newtoniana em uma camada de cisalhamento próxima a uma
parede.

Perfil de
velocidade

Sem escorregar
na parede

(a) (b)

Fonte: White, 2011.

16
Hidrostática geral | Unidade i

Fluidos comuns como água, óleo e ar mostram uma relação linear entre o
cisalhamento aplicado e a taxa de deformação resultante:
δθ
τ =α
δt

A partir da geometria da Figura 1a, vemos que:


δ uδ t
tan δθ =
δy

No limite das mudanças infinitesimais, isso se torna uma relação entre a taxa de
deformação de cisalhamento e o gradiente de velocidade:
dθ du
=
dt dy

Então, o cisalhamento aplicado também é proporcional ao gradiente de


velocidade para os fluidos lineares comuns. A constante de proporcionalidade é
o coeficiente de viscosidade µ:
dθ du
=τ µ= µ
dt dy

A equação acima é dimensionalmente consistente; portanto, tem dimensões de


tensão-tempo: {FT/L2} ou {M/(LT)}. A unidade BG é “slugs” por pé-segundo, e
a unidade SI é quilogramas por metro-segundo. Os fluidos lineares que seguem
essa equação são chamados de fluidos newtonianos, em homenagem a Sir Isaac
Newton, que postulou essa lei de resistência pela primeira vez em 1687.

Não nos importamos realmente com o ângulo de deformação θ(t) na mecânica


dos fluidos, concentrando-nos, em vez disso, na distribuição de velocidade u(y),
como na Figura 1b. A Figura 1b ilustra uma camada de cisalhamento, ou camada
limite, perto de uma parede sólida. A tensão de cisalhamento é proporcional à
inclinação do perfil de velocidade e é maior na parede. Além disso, na parede,
a velocidade u é zero em relação à parede: isso é chamado de condição de não
escorregamento e é uma característica de todos os fluxos de fluido viscoso.

A viscosidade dos fluidos newtonianos é uma propriedade termodinâmica


verdadeira e varia com a temperatura e pressão. Em um determinado estado
(p, T), há uma vasta gama de valores entre os fluidos comuns. De um modo geral,

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Unidade i | Hidrostática geral

a viscosidade de um fluido aumenta apenas ligeiramente com a pressão. Por


exemplo, aumentar p de 1 para 50 atm aumentará o ar em apenas 10 por cento.
A temperatura, entretanto, tem um forte efeito, aumentando com T para gases
e diminuindo para líquidos. É comum na maioria dos trabalhos de engenharia
negligenciar a variação de pressão.

Tensão superficial
Sempre que um líquido entra em contato com outros líquidos ou gases, ou
neste caso uma superfície gás/sólida, desenvolve-se uma interface que atua
como uma membrana elástica esticada, criando tensão superficial. Existem
duas características nessa membrana: o ângulo de contato, θ, e a magnitude da
tensão superficial, σ (N/m ou lbf/ft). Ambos dependem do tipo de líquido e do
tipo de superfície sólida (ou outro líquido ou gás) com o qual compartilha uma
interface. Outros exemplos de efeitos de tensão superficial surgem quando
você é capaz de colocar uma agulha na superfície da água e, da mesma forma,
quando pequenos insetos aquáticos são capazes de andar na superfície da água.

Um equilíbrio de força em um segmento da interface mostra que há um salto de


pressão através da membrana elástica imaginada sempre que a interface é curva.
Para uma gota de água no ar, a pressão da água é maior do que a ambiente; o
mesmo é verdadeiro para uma bolha de gás em líquido. Para uma bolha de sabão
no ar, a tensão superficial atua nas interfaces internas e externas entre a película
de sabão e o ar ao longo da superfície curva da bolha. A tensão superficial
também leva aos fenômenos de ondas capilares (isto é, comprimento de onda
muito pequeno) em uma superfície líquida e aumento ou depressão capilar. Em
engenharia, provavelmente o efeito mais importante da tensão superficial é
a criação de um menisco curvo que aparece em manômetros ou barômetros,
levando a uma (geralmente indesejada) elevação (ou depressão) capilar. Este
aumento pode ser pronunciado se o líquido estiver em um tubo de pequeno
diâmetro ou em um espaço estreito.

Compostos surfactantes reduzem significativamente a tensão superficial


(mais de 40% com pouca mudança em outras propriedades) quando
adicionados à água. Eles têm ampla aplicação comercial: a maioria dos

18
Hidrostática geral | Unidade i

detergentes contém surfactantes para ajudar a água a penetrar e levantar


a sujeira das superfícies. Os surfactantes também têm grandes aplicações
industriais em catálise, aerossóis e recuperação de campos de petróleo.

Capilaridade
Sabemos da hidrostática que, quando se preenchem vários vasos comunicantes
com um determinado líquido, este sempre atinge a mesma altura em todos os
ramos. Entretanto, para tubos de pequeno diâmetro (= tubos capilares) esta
afirmação não é verdadeira, devido aos fenômenos relacionados com a tensão
superficial do líquido em contato com uma parede sólida. Assim, se tomarmos
um tubo em U, no qual um dos ramos é capilar (diâmetro interno de, por
exemplo, 0,2 mm) e outro não (diâmetro interno de, por exemplo, 20 mm) e
o preenchermos com água, verifica-se um desnível h entre as duas superfícies
livres, sendo o nível mais alto no tubo capilar (figura 2a). Preenchendo o tubo
com mercúrio, observamos que o nível no tubo capilar é mais baixo (figura 2b).

Figura 2. (a) Ascensão capilar e (b) depressão capilar.

Tubo Tubo

(a) (b)
Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/1353831/3/images/29/Tens%C3%A3o+Superficial+x+Capilaridade.jpg (TUBOS CAPILARES, 2020).

Esse fenômeno se deve à presença da Pressão de Laplace que atua na superfície


curva do líquido no capilar. Geometricamente, verifica-se a seguinte relação
entre o ângulo de contato, o raio do capilar (r) e o raio de curvatura do menisco
(R):
R = r / cos α
p = 2σ cos α / r

19
Unidade i | Hidrostática geral

Portanto, temos na superfície de um líquido num capilar uma força f que


atua para cima, devido à pressão de Laplace, e outra, gravitacional (Fg), para
baixo, devido ao peso da coluna do líquido no capilar. Como força é pressão
multiplicada por área, a força f equivale à pressão de Laplace multiplicada pela
área transversal do capilar:
= .π r 2 2 ρπ r cos α
f p=

E a força gravitacional equivale a:


F
=g = ρVg
mg = ρπ r 2 hg

Em equilíbrio as duas forças serão iguais, portanto:


2σπ r cos
= α ρπ r 2 hg =
→ h 2 ρ cosα / ρ gr

Onde σ é a tensão superficial do líquido, α é o ângulo de contato, ρ é a densidade


do líquido, g é a aceleração da gravidade e r é o raio do tubo.

A equação anterior, que relaciona a altura h com o raio do tubo capilar é chamada
de equação da capilaridade ou equação de Jurin. Por essa equação verifica-se que
quando α < 90°, cos α > 0 e h > 0, ou seja, ascensão capilar. Quando α > 90°, cos α <
0 e h < 0 (depressão capilar).

Variação de pressão em fluido compressível


Em um fluido em repouso (estático), submetido ao campo gravitacional, as
únicas forças que atuam sobre um elemento fluido são o peso e as forças
devidas às pressões estáticas. Tem-se, em princípio, que a pressão p = p(x,
y, z). Consideremos um elemento de volume ∆x∆y∆z, com faces paralelas
aos planos de um sistema de coordenadas retangulares x, y, z, isolado de um
fluido em repouso com massa específica ρ , conforme é mostrado na Figura 3
a seguir, na qual designamos as pressões que atuam sobre o elemento fluido
de acordo com a coordenada de posição da face do elemento cúbico sobre a
qual atua a pressão.

20
Hidrostática geral | Unidade i

Figura 3. Forças superficiais e corporais que atuam no pequeno elemento fluido.

Fonte: (MUNSON, 2010).

O peso do elemento fluido é dado por:


 
W = ρ∆x∆y∆z g

A força de superfície resultante, devida às pressões estáticas que atuam sobre o


elemento, é dada por:
   
F=p (p x ( )
− p x + ∆x ) ∆y∆zi + p y − p y + ∆y ∆x∆zj + ( p z − p z + ∆z ) ∆x∆yk

Como o fluido está em repouso, a força resultante que atua sobre um elemento
de volume deve ser nula, ou seja, tem-se uma condição de equilíbrio dada por:
  
∑ F = W + Fp = 0

Dividindo pelo volume ∆x∆y∆z, rearranjando os termos e fazendo o limite


quando o volume do elemento tende a zero, obtém-se:
∂p  ∂p  ∂p  
i+ j+ k= ρg
∂x ∂y ∂z

O termo do lado esquerdo da equação é a definição do gradiente de pressão, em


coordenadas retangulares, dado por:
 ∂p  ∂p  ∂p 
∇=p i+ j+ k
∂x ∂y ∂z

Portanto, a equação anterior pode ser escrita como a equação básica da estática
dos fluidos:
 
∇p =ρ g

21
Unidade i | Hidrostática geral

A variação da pressão em um fluido compressível também é determinada por


meio da integração da equação básica da estática dos fluidos. Para um fluido
compressível a massa específica ρ não é constante, de forma que é necessário
expressá-la em função de outra variável na equação básica da estática dos
fluidos. Uma relação entre a massa específica e a pressão pode ser obtida da
equação de estado do gás ou por meio de dados experimentais.
m
PV nRT
= = RT ( lei dos gases perfeitos )
M
m
PM =
= RT ρ RT
V
PM
ρ=
RT
 PM 
∇p = g
RT

A equação acima introduz outra variável, que é a temperatura, de maneira que é


necessária uma relação adicional da variação da temperatura com a altura.

Módulo de elasticidade volumétrico


A propriedade normalmente utilizada para caracterizar a compressibilidade de
um fluido é o Módulo de Elasticidade volumétrico, Ev, que é definido por:
dp
Ev = −
dV / V

Onde dp é a variação diferencial de pressão necessária para provocar uma


variação diferencial de volume dV num volume V. O sinal negativo indica que
um aumento na pressão resultará numa diminuição do volume considerado.

Com o decréscimo de volume de uma dada massa, m=ρV, resultará num aumento
da massa específica, podemos reescrever:
dp
Ev =
dρ / ρ

No sistema SI, a unidade N/m2 (Pa). Um fluido é relativamente incompressível,


quando o valor do seu módulo de elasticidade volumétrico é grande, ou seja,
é necessária uma grande variação de pressão para criar uma variação muito
pequena no volume ocupado pelo fluido. O valor de Ev dos líquidos são grandes,
com isto, os líquidos podem ser considerados como incompressíveis na maioria
dos problemas de engenharia.

22
Hidrostática geral | Unidade i

Compressão de gases (condições isotérmicas e


adiabáticas)
Quando gases são comprimidos (ou expandidos), a relação entre a pressão e a
massa específica depende da natureza do processo. Se a compressão, ou expansão,
ocorrem à temperatura constante (processo isotérmico), fornecem:
p
= constante
ρ

Se a compressão ou expansão ocorrem sem atrito e o calor não é transferido do


gás para o meio e vice-versa (processo isoentrópico), tem-se:
p
= constante
ρK

Onde K é a razão entre o calor específico a pressão constante, cp, e o calor a


volume constante, cv, isto é:
Cp
K=
CV

Os dois calores específicos estão relacionados com a constante do gás R. A pressão


deve estar expressa em valor absoluto.

R = Cp - Cv

O módulo de elasticidade volumétrico pode ser facilmente obtido se tivermos


uma equação de estado explícita (que relaciona a pressão em função da massa
específica). Este Módulo pode ser determinado a partir do cálculo de dp/dρ.

Assim, para um processo isotérmico:


p
= constante
ρ
dp ρ − pd ρ
0
=→ dp ρ − pd ρ =
0
ρ2
dp p
dp ρ = pd ρ → =
dρ ρ
p
Ev= xρ → Ev= p
ρ

23
Unidade i | Hidrostática geral

E isoentrópico:
p
= constante
ρk
dp ρ k − kpd ρ k −1
k2
0 → dp ρ k − kpd ρ k −1 =
= 0
ρ
dp kp
dp ρ k = kpd ρ k −1 → =
dρ k −1
ρk
kp
Ev
= xρ k →=
Ev kp
ρk

Observe que o módulo de elasticidade volumétrico varia diretamente com a


pressão nos dois casos.

Piezômetros e manômetros
Diferentemente dos manômetros de tubo com líquido, o manômetro de
Bourdon (Eugène Bourdon, 1849, França) mede a pressão de forma indireta, por
meio da deformação de um tubo metálico, daí o seu nome. Conforme indica a
Figura 4 a seguir, neste manômetro, um tubo recurvado de latão, fechado numa
extremidade e aberto na outra (denominada tomada de pressão), deforma-se,
tendendo a se endireitar sob o efeito da mudança de pressão. Um sistema do tipo
engrenagem-pinhão, acoplado à extremidade fechada do tubo, transmite o
movimento a um ponteiro que se desloca sobre uma escala. O tubo recurvado de
latão, por estar externamente submetido à pressão atmosférica local, somente se
deformará se a pressão na tomada for maior ou menor que aquela.

Figura 4. Manômetro de Bourdon.

Sistema de
Tubo ampliação
metálico

Tomada de
pressão

Fluido à pressão p

(a) (b)

Fonte: (a) https://cdn.pixabay.com/photo/2013/07/12/15/39/blood-pressure-150267_1280.png (MANÔMETRO, 2020); (b) BRUNETTI, 2008.

24
Hidrostática geral | Unidade i

Assim, a pressão indicada por este manômetro é sempre a pressão relativa.


Quando não instalado, o manômetro de Bourdon indica zero, em qualquer altitude.
Quando este manômetro ocupa um ambiente onde a pressão seja diferente da
pressão atmosférica local, a pressão indicada Pindicada (ou manométrica) será dada
por:

Pindicada = Ptomada - Pambiente

Onde Pambiente é a pressão no ambiente onde está o manômetro e Ptomada é a pressão


na tomada, é a pressão absoluta em relação à pressão do ambiente local onde está
instalado o manômetro. Uma escala muito utilizada neste manômetro é aquela
produzida em unidades práticas de kgf/cm2. Outras escalas de pressão utilizadas
são bar e psi.

O piezômetro é o dispositivo mais simples para a medição de pressão (figura 5).


Consiste na inserção de um tubo transparente no recipiente (tubulação) onde se
quer medir a pressão. O líquido subirá no tubo piezométrico a uma altura “h”,
correspondente à pressão interna. Devem ser utilizados tubos piezométricos
com diâmetro superior a 1cm para evitar o fenômeno da capilaridade. Não serve
para a medição de grandes pressões ou para gases. Aplicando a lei de Stevin,
considerando somente a pressão relativa em A (ou manométrica), temos:

Figura 5. Coluna piezométrica ou piezômetro.

𝑃𝑃𝐴𝐴 = 𝛾𝛾ℎ

Fonte: Brunetti, 2008.

Caro estudante, a seguir sugerimos a leitura “Introdução à hidrostática e


hidrodinâmica” realizada pelo prof. Dr. Sergio Pilling, acessando o link: https://
www1.univap.br/spilling/BIOF/BIOF_06_Fluidos.pdf (HIDROSTÁTICA, 2020).

25
CAPÍTULO 2
Equilíbrio dos fluidos

Equação fundamental da Hidrostática


O primeiro objetivo deste capítulo é obter uma equação para calcular o campo de
pressão em um fluido estático. Vamos deduzir o que já sabemos da experiência
cotidiana, que a pressão aumenta com a profundidade. Para fazer isso, aplicamos
a segunda lei de Newton a um elemento de fluido diferencial de massa
dm = ρdV, com lados dx, dy e dz, como mostrado na Figura 6. O elemento
de fluido é estacionário em relação ao sistema de coordenadas retangulares
estacionário mostrado. Dois tipos gerais de forças podem ser aplicados a um
fluido: forças do corpo e forças da superfície. A única força corporal que deve ser
considerada na maioria dos problemas de engenharia é a gravidade. Em algumas
situações, forças corporais causadas por campos elétricos ou magnéticos podem
estar presentes.

Figura 6. Elemento de fluido diferencial e forças de pressão na direção y.

Pressão, p

Fonte: (PRITCHARD, 2011).

Para um elemento de fluido diferencial, a força corporal é:


  
dFB
= gdm
= g ρ dV


Onde g é o vetor de gravidade local, ρ é a densidade e dV é o volume do
elemento. Em coordenadas cartesianas dV = dx dy dz, então:
 
dFB = ρ gdxdydz

26
Hidrostática geral | Unidade i

Em um fluido estático, não há tensões de cisalhamento, então a única força


superficial é a força de pressão. A pressão é um campo escalar, p = p (x, y, z); em
geral, esperamos que a pressão varie com a posição dentro do fluido. A força de
pressão líquida resultante dessa variação pode ser encontrada somando as forças
que atuam nas seis faces do elemento fluido.

Seja a pressão p no centro, O, do elemento. Para determinar a pressão em cada


uma das seis faces do elemento, usamos uma expansão em série de Taylor da
pressão sobre o ponto O. A pressão na face esquerda do elemento diferencial é:
∂p ∂p dy ∂p dy
pL = p + ( yL − y ) = p +  −  = p −
∂y ∂y  2  ∂y 2

(Os termos de ordem superior são omitidos porque eles desaparecerão no


processo de limitação subsequente). A pressão na face direita do elemento
diferencial é:
∂p ∂p dy
pR = p + ( yR − y ) = p +
∂y ∂y 2

As forças de pressão atuando nas duas superfícies y do elemento diferencial


são mostradas na figura 4. Cada força de pressão é o produto de três fatores. O
primeiro é a magnitude da pressão. Esta magnitude é multiplicada pela área da
face para dar à magnitude da força de pressão, e um vetor unitário é introduzido
para indicar direção. Observe também na figura 4 que a força de pressão em
cada face atua contra a face. Uma pressão positiva corresponde a uma tensão
normal compressiva. As forças de pressão nas outras faces do elemento são
obtidas da mesma forma. A combinação de todas essas forças dá a força de
superfície líquida atuando no elemento. Portanto:
  ∂p dx  ∂p dx  ∂p dx   ∂p dy  ∂p dz  ∂p dz 
dFS =  p −
 ∂x 2 
() 
 ( dydz ) iˆ +  p +
 ∂x 2 
( ) 
 ( dydz ) −iˆ +  p −
 ∂x 2 
()
 ( dxdz ) ˆj +  p +
 ∂y 2 
( ) 
 ( dxdz ) − ˆj +  p −
 ∂z 2 
() ˆ 
 ( dxdy ) k +  p +
 ∂z 2 
( ) ˆ
 ( dxdy ) −k

Coletando e cancelando os termos, obtemos:


  ∂p dp ˆ ∂p ˆ 
−  iˆ +
dFS = j + k  dxdydz
 ∂x ∂y ∂z 

O termo entre parênteses é denominado gradiente de pressão e pode ser escrito


grad p ou ∇p. Em coordenadas retangulares:
 ∂p ˆj dp + kˆ ∂p  ≡  iˆ ∂ + ˆj ∂ + kˆ ∂  p
grad p ≡ ∇p ≡  iˆ +
 ∂x ∂y ∂z   ∂x ∂y ∂z 

27
Unidade i | Hidrostática geral

Fisicamente, o gradiente de pressão é o negativo da força de superfície por


unidade de volume devido à pressão. Observe que a magnitude da pressão
em si não é relevante no cálculo da força de pressão líquida; em vez disso,
o que conta é a taxa de variação da pressão com a distância, o gradiente de
pressão. Combinamos as formulações para as forças de superfície e corpo que
desenvolvemos para obter a força total que atua sobre um elemento fluido:

Ou por unidade de volume:

Para uma partícula de fluido, a segunda lei de Newton dá F = adm = aρdV. Para
um fluido estático, a = 0. Assim:

Onde: -∇p é a força de pressão líquida por unidade de volume em um ponto; e ρg é


a força corporal por unidade de volume em um ponto.

Esta é uma equação vetorial, o que significa que é equivalente a três equações
de componentes que devem ser satisfeitas individualmente. As equações dos
componentes são:
∂p
− + ρ gx =
0 direção x
∂x
∂p
− + ρgy = 0 direção y
∂y
∂p
− + ρ gz = 0 direção z
∂z

As Equações acima descrevem a variação da pressão em cada uma das três


direções coordenadas em um fluido estático. É conveniente escolher um sistema
de coordenadas de modo que o vetor de gravidade esteja alinhado com um dos
eixos de coordenadas. Se o sistema de coordenadas for escolhido com o eixo z

28
Hidrostática geral | Unidade i

direcionado verticalmente para cima, como na figura 4, então gx = 0, g y = 0, e


gz = -g. Nessas condições, as equações componentes tornam-se:
∂p ∂p ∂p
= 0 = 0 = −ρ g
∂x ∂y ∂z

As equações acima indicam que, segundo as suposições feitas, a pressão é


independente das coordenadas x e y; depende apenas de z. Assim, uma vez que p
é uma função de uma única variável, uma derivada total pode ser usada em vez
de uma derivada parcial. Com essas simplificações, finalmente podemos reduzir
para:
dp
= − ρ g ≡ −γ
dz

Restrições: (1) Fluido estático; (2) A gravidade é a única força corporal; (3) O
eixo z é vertical e para cima.

Na equação anterior, γ é o peso específico do fluido. Esta equação é a relação


básica de pressão-altura da estática do fluido. Está sujeito às restrições observadas.
Portanto, deve ser aplicado apenas onde essas restrições são razoáveis para a
situação física.

Lei de Stevin e equilíbrio absoluto


O equacionamento matemático se dá através da Equação Fundamental da
Hidrostática - Lei de Stevin, estudada no tópico acima. Este equacionamento
consiste no equilíbrio das forças sobre um elemento de volume infinitesimal
em forma cúbica, definido no plano cartesiano de coordenadas obtendo-se a
distribuição das forças de pressão e as forças de ação a distância agindo sobre
o elemento. Como o elemento está em repouso, o somatório das forças de
pressão e das forças de ação a distância é igual a zero (Figura 4).

O Teorema de Stevin é a Lei Fundamental da Hidrostática, a qual relaciona a


variação das pressões atmosféricas e dos líquidos. Assim, o Teorema de Stevin
determina a variação da pressão hidrostática que ocorre nos fluidos, sendo
descrito pelo enunciado: “A diferença entre as pressões de dois pontos de um
fluido em equilíbrio (repouso) é igual ao produto entre a densidade do fluido, a
aceleração da gravidade e a diferença entre as profundidades dos pontos.”

29
Unidade i | Hidrostática geral

Esse postulado, proposto pelo físico e matemático flamengo, Simon Stevin


(1548-1620), contribuiu demasiado para o avanço dos estudos sobre hidrostática.

Considerando P0 a pressão correspondente ao nível de referência z0, a pressão P


em uma posição z qualquer é encontrada pela integração da equação abaixo:
− ρ g ( z − z0 ) =
P − P0 = ρ g ( z0 − z )

Para os líquidos, adota-se a superfície livre como nível de referência. Dessa


forma, medem-se as distâncias de cima para baixo como distâncias positivas, uma
vez que para fluidos z está em geral abaixo de z0. Com h positivo no sentido de
cima para baixo conforme a Figura 7, h = z0 – z resultando no Princípio de Stevin:

Figura 7. Dedução do Princípio de Stevin.

AR
p0 z0=0
LÍQUIDO
h h = z0 - z

z
p

Fonte:https://www.ufjf.br/engsanitariaeambiental/files/2012/09/Apostila-de-Mec%C3%A2nica-dos-Fluidos.pdf (PRINCÍPIO DE STEVIN,


2020).

Da equação acima temos que:

» Pressão absoluta ou total P decomposta em P0 no nível de referência


z 0 e ρ gh em função da massa líquida acima do ponto onde se deseja
conhecer o valor da pressão. Quando acima de z 0, tem-se o ar
ambiente, então P0 = Patm é a pressão atmosférica. A pressão absoluta
é medida a partir do vácuo absoluto. Seu valor é sempre positivo e
sempre se considera a pressão atmosférica.

Patm = 760 – 0,0081h

Onde h(m) é a altitude do local em metros e Patm é a pressão atmosférica


em mmHg.

» Pressão manométrica: é medida a partir da pressão atmosférica e


seu valor tanto pode ser negativo quanto positivo. Não se leva em
consideração a pressão atmosférica.

30
Hidrostática geral | Unidade i

Aplicações do Teorema de Stevin:

» A pressão exercida nos nossos ouvidos quando mergulhamos numa


piscina profunda.

» Ademais, essa lei explica por que o sistema hidráulico das cidades é
obtido pelas caixas d’águas, que estão situadas no ponto mais alto das
casas, uma vez que precisam pegar pressão para chegar à população.

» Vasos Comunicantes: esse conceito apresenta a ligação de dois ou


mais recipientes e corrobora o princípio da Lei de Stevin. Esse tipo de
sistema, é muito utilizado nos laboratórios para medir a pressão e a
densidade (massa específica) dos fluidos. Em outras palavras, um
recipiente ramificado em que os tubos se comunicam entre si, constitui
um sistema de vasos comunicantes, por exemplo, o vaso sanitário, em
que a água permanece sempre no mesmo nível.

Equilíbrio relativo dos fluidos


Na estática dos fluidos pode-se determinar a variação de pressão por causa da
ausência de tensões de cisalhamento. Se o movimento do fluido for tal que
não haja deslocamento relativo entre as camadas adjacentes, as tensões de
cisalhamento também serão nulas. Um fluido em translação com velocidade
constante também obedece às leis de variação de pressão estática. Quando
um fluido é acelerado ou retardado de forma a não haver movimento relativo
entre camadas adjacentes, isto é, quando se move como se fosse um sólido, um
corpo rígido, não existirão tensões de cisalhamento e a variação de pressão
pode ser determinada com a aplicação da equação fundamental da hidrostática.
O equilíbrio relativo do fluido acontece para os movimentos uniformemente
acelerado ou retardado e uma rotação com velocidade angular constante em
torno de um eixo vertical.

Movimento retilíneo uniformemente acelerado ou


retardado
Considere um líquido num recipiente aberto, dotado de aceleração linear
constante a. Após um certo tempo o líquido adapta-se à aceleração de
forma a mover-se como um sólido, isto é, a distância entre duas partículas
fluidas quaisquer permanece inalterada, não existindo, portanto, tensões de
cisalhamento.

31
Unidade i | Hidrostática geral

Escolhendo um sistema de coordenadas cartesianas com y dirigido verticalmente


para cima e x tal que o vetor da aceleração a pertença ao plano xy. O eixo z será
normal a a, não havendo componente da aceleração nesta direção:
f − jγ =
−∇P − jγ =
ρa

O gradiente de pressão ∇P é o vetor resultante da soma de -ρa e –jγ. Como ∇P


tem a direção da máxima variação de P (o gradiente), não há variação de P numa
direção normal a ∇ P. As superfícies livres, devem, pois ser normais a ∇ P. Para
obter uma expressão algébrica da variação de P com x, y, z, P = (x, y, z), escrevemos
a equação na forma de componentes:
∂P ∂P ∂P γ
∇P =i + j +k =− jγ − ( iax + ja y )
∂x ∂y ∂z g
∂P γ ∂P  a  ∂P
=; −γ 1 + y  ;
= 0
=
∂x g ∂y  g  ∂z

Como P é função das coordenadas (x, y, z), podemos escrever sua diferencial total
da seguinte forma.
∂P ∂P ∂P
dP = dx + dy + dz
∂x ∂y ∂z

Substituindo as derivadas parciais:


ax  ay 
= γ
dP dx − γ 1 +  dy
g  g 

Podendo ser integrada para um fluido incompressível:


ax  a 
P= γ x − γ 1 + y y+c
g  g 

Para determinar a constante de integração c, façamos x = 0 e y = 0. Se P = P0 → c = P0.


ax  a 
P =P0 − γ x − γ 1 + y  y
g  g 

Quando um fluido incompressível acelerado apresentar superfície livre, sua


equação é obtida fazendo-se P = 0 na equação acima. Resolvendo em relação a y.

32
Hidrostática geral | Unidade i

Movimento de rotação em torno de eixos


A rotação de um fluido, movendo-se como um sólido, em torno de um eixo é
chamada de movimento em vórtice forçado (figura 8). Neste caso, todas as
partículas do fluido têm a mesma velocidade angular. Um líquido num recipiente,
quando gira em torno de um eixo vertical com velocidade angular constante,
comporta-se como um sólido após um certo tempo. Não existirão tensões de
cisalhamento no líquido e a única aceleração existente é a radial dirigida para
o eixo da rotação. Escolhendo um sistema de referência, com o vetor j dirigido
verticalmente para cima, sendo y o eixo de rotação, a equação seguinte pode ser
aplicada para determinar a variação de pressão no fluido.
f − jγ =
−∇P − jγ = ρa
∇P =− jγ − ρ a

Figura 8. Rotação de um fluido em torno de um eixo vertical.

Fonte: http://www.fotonica.ifsc.usp.br/ebook/book3/Capitulo12.pdf (ROTAÇÃO DE UM FLUIDO, 2020).

Com velocidade angular w constante, qualquer partícula P do fluido tem uma


aceleração w2r dirigida radialmente para o eixo, ou seja, a = iw2r. A soma de -jγ e
-ρa fornece ∇ P, o gradiente de pressão. A pressão não varia segundo a normal a
essa direção nesse ponto. Em consequência, se P pertencer à superfície livre, esta
será normal a ∇ P, temos que:
∂P ∂P ∂P
i + j +k =− jy + i ρ w2 r
∂x ∂y ∂z
∂P γ 2 ∂P ∂P
= wr; −γ ;
= = 0
∂x g ∂y ∂z

Como P é função somente de y e r, o diferencial total dP será:


∂P ∂P
dP
= dy + dr
∂y ∂r

33
Unidade i | Hidrostática geral

Substituindo as derivadas parciais:


γ
−γ dy −
dP = w2 rdr
g

Podendo ser integrada para um fluido incompressível (γ = constante), teremos:


γ r2
P
= w2 −γ y + c
g 2

Onde c é a constante de integração. Se o valor da pressão na origem (r = 0, y = 0)


for Po, então c = Po. Portanto:
γ w2 r 2
P=
P0 + −γ y
2g

Quando escolhemos a origem no plano horizontal particular (y = 0), onde Po = 0


e dividimos a eq. 7 por γ, então:
P w2 r 2
h= =
γ 2g

A equação acima mostra que a carga de profundidade vertical varia com o


quadrado do raio; logo, as superfícies de pressão constante são paraboloides
de revolução. Quando um líquido que apresenta uma superfície livre estiver
confinado num recipiente em rotação, o volume abaixo do paraboloide depende
apenas da velocidade angular w. Para o caso de um cilindro circular, que gira em
torno do seu próprio eixo, o desnível do líquido, desde o vértice até a parede do
cilindro, será w2ro2/2g.

Esforços sobre superfícies planas imersas e


Centro de empuxo
A força F exercida por um líquido sobre uma superfície plana A é igual ao produto
do peso específico γ do líquido, pela profundidade do centro de gravidade hcg e pela
área da superfície.
F = γ .hcg . A

Unidades: lb = lb/ft3. ft. ft2 ou N = N/m3. m. m2

O produto do peso específico pela profundidade do centro de gravidade da


superfície fornece a intensidade de pressão no centro de gravidade da superfície

34
Hidrostática geral | Unidade i

(centro de empuxo). A linha de ação ou direção da força passa pelo centro de


pressão, que pode ser localizado aplicando-se a fórmula:
I CG
yCP
= + yCG
yCG . A

Onde: ICG – momento de inércia da área em relação ao eixo que passa pelo centro
de gravidade da superfície. As distâncias y são medidas ao longo do plano a partir
de um eixo situado na intersecção do plano com a superfície líquida, ambos
prolongados se necessário.

Esforços sobre superfícies curvas imersas e


resultante de esforço
Na Figura 9 as forças de pressão agem perpendicularmente em qualquer ponto
da superfície curva e podem ser decompostas nos componentes Fx, horizontal,
e Fy, vertical. O componente horizontal da força elementar PdS é PdS senα ou,
como dh = dS senα (S é área por unidade de largura), a força horizontal total tem
como módulo.

Figura 9. Forças de pressão agem perpendicularmente em qualquer ponto da superfície curva.

Fonte: (MUNSON, 2010).

γ
(h − h12 )= γ S y h
2 2
∫ Pdh= γ ∫ hdh= 2
Fx = 2
1 1 2

onde:
h1 + h2
h= e Sy
2

é a projeção da superfície curva no plano vertical, i.e., Sy = h2 = h1.

35
Unidade i | Hidrostática geral

Na equação anterior, Syh é o momento estático da área projetada em relação


a O, portanto, a força horizontal atua como se a parede fosse plana e vertical. O
componente vertical das forças de pressão que agem nos elementos de área é PdS
cosα onde dS cosα = dSx, portanto, a força vertical total tem como módulo
Fy = γ ∫ hdS x
∫ PdS x =

que é o peso da coluna vertical do líquido sobre a superfície curva.

Esforços sobre corpos imersos e o Princípio de


Arquimedes
Quando um corpo estacionário está completamente submerso em um fluido,
como um balão de ar quente, ou flutuando de forma que fica apenas parcialmente
submerso, a força do fluido resultante atuando no corpo é chamada de força
de empuxo. O resultado é uma força vertical ascendente líquida porque a
pressão aumenta com a profundidade e as forças de pressão atuando de baixo
são maiores do que as forças de pressão atuando de cima. Essa força pode ser
determinada por meio de uma abordagem semelhante à usada na seção anterior
para forças em superfícies curvas. Considere um corpo de forma arbitrária,
tendo um volume que está imerso em um fluido, conforme ilustrado na figura
10a. Envolvemos o corpo em um paralelepípedo e desenhamos um diagrama
de corpo livre do paralelepípedo com o corpo removido, conforme mostrado
na figura 10b. Observe que as forças F1, F 2, F 3 e F4, são simplesmente as forças
exercidas nas superfícies planas do paralelepípedo (para simplificar as forças
na direção x não são mostradas), é o peso do volume de fluido sombreado
(paralelepípedo menos o corpo) e é a força que o corpo está exercendo sobre o
fluido. As forças nas superfícies verticais, como são todas iguais e canceladas,
de modo que a equação de equilíbrio de interesse está na direção z e pode ser
expressa como:
FB = F2 − F1 − W

Se o peso específico do fluido for constante, então,


F2 − F1 = γ ( h2 − h1 ) A

Onde A é a área horizontal da superfície superior ou inferior do paralelepípedo, e


podemos escrever:

36
Hidrostática geral | Unidade i

Simplificando, chegamos à expressão desejada para a força de empuxo

Onde γ é o peso específico do fluido e V é o volume do corpo. A direção da


força de empuxo, que é a força do fluido no corpo, é oposta àquela mostrada
no diagrama de corpo livre. Portanto, a força de empuxo tem uma magnitude
igual ao peso do fluido deslocado pelo corpo e é direcionada verticalmente para
cima. Este resultado é comumente referido como o princípio de Arquimedes, em
homenagem a Arquimedes 1287–212 a.C., um mecânico e matemático grego que
primeiro enunciou as ideias básicas associadas à hidrostática.

Figura 10. Força de empuxo em corpos submersos e flutuantes.

Centroide de
volume deslocado

Centroide

Fonte: (MUNSON, 2010).

A localização da linha de ação da força de empuxo pode ser determinada pela


soma dos momentos das forças mostradas no diagrama de corpo livre da figura
10b com relação a algum eixo conveniente. Por exemplo, somando momentos
sobre um eixo perpendicular ao papel através do ponto D, temos:

37
Unidade i | Hidrostática geral

FB yc = F2 y1 − F1 y1 − Wy2

e sobre a substituição das várias forças:

Onde VT é o volume total (h2 – h1)A. O lado direito da equação acima é o primeiro
momento do volume deslocado V em relação ao plano x–z de modo que seja
igual à coordenada y do centroide do volume. De forma semelhante, pode ser
mostrado que a coordenada x da força de empuxo coincide com a coordenada x
do centroide. Assim, concluímos que a força de empuxo passa pelo centroide do
volume deslocado como mostrado na figura 10c. O ponto através do qual a força
de empuxo atua é chamado de centro de empuxo.

Esses mesmos resultados se aplicam a corpos flutuantes que estão apenas


parcialmente submersos, como ilustrado na figura 10d, se o peso específico do
fluido acima da superfície do líquido for muito pequeno em comparação com o
líquido no qual o corpo flutua. Como o fluido acima da superfície geralmente
é ar, para fins práticos, essa condição é satisfeita. Nas derivações apresentadas
acima, o fluido é assumido como tendo um peso específico constante. Se um
corpo está imerso em um fluido no qual varia com a profundidade, como em um
fluido em camadas, a magnitude da força de empuxo permanece igual ao peso
do fluido deslocado. No entanto, a força de empuxo não passa pelo centroide
do volume deslocado, mas sim pelo centro de gravidade do volume deslocado.

Estudo da estabilidade dos corpos imersos ou


flutuantes
Outro problema interessante e importante associado a corpos submersos ou
flutuantes diz respeito à estabilidade dos corpos. Diz-se que um corpo estar
em uma posição de equilíbrio estável se, ao ser deslocado, retornar à sua
posição de equilíbrio. Por outro lado, ele está em uma posição de equilíbrio
instável se, quando deslocado, mesmo ligeiramente, ele se move para uma nova
posição de equilíbrio. As considerações de estabilidade são particularmente
importantes para corpos submersos ou flutuantes, uma vez que os centros
de flutuabilidade e gravidade não coincidem necessariamente. Uma pequena
rotação pode resultar em restauração ou tombamento do par. Por exemplo,
para o corpo completamente submerso mostrado na figura 11a, que tem um
38
Hidrostática geral | Unidade i

centro de gravidade abaixo do centro de flutuabilidade, uma rotação de sua


posição de equilíbrio criará um par de restauração formado pelo peso e pela
força de flutuação, que causa o corpo para girar de volta à sua posição original.
Assim, para esta configuração, o corpo é estável. Deve-se notar que, enquanto
o centro de gravidade cair abaixo do centro de flutuabilidade, isso sempre
será verdade; ou seja, o corpo está em uma posição de equilíbrio estável em
relação a pequenas rotações. No entanto, como está ilustrado na figura 11b, se o
centro de gravidade do corpo completamente submerso estiver acima do centro
de flutuabilidade, o par resultante formado pelo peso e a força de flutuação
fará com que o corpo vire e se mova para uma nova posição de equilíbrio.
Assim, um corpo completamente submerso com seu centro de gravidade acima
de seu centro de flutuabilidade está em uma posição de equilíbrio instável.

Figura 11. (a) Estabilidade de um corpo completamente imerso - centro de gravidade abaixo do centroide; (b) Estabilidade de
um corpo completamente imerso - centro de gravidade acima do centroide.

Estável Instável

(a) (b)

Fonte: (MUNSON, 2010).

Para corpos flutuantes, o problema de estabilidade é mais complicado, uma


vez que à medida que o corpo gira, a localização do centro de flutuabilidade
que passa pelo centroide do volume deslocado pode mudar. Por exemplo, um
corpo flutuante, como uma barcaça que passa fundo na água, pode ser estável
mesmo que o centro de gravidade esteja acima do centro de flutuabilidade.
Isso é verdade, pois conforme o corpo gira a força de empuxo, muda para
passar pelo centroide do volume deslocado recém-formado e, se combina com
o peso, para formar um par que fará com que o corpo retorne à sua posição de
equilíbrio original. No entanto, para o corpo relativamente alto e delgado, um
pequeno deslocamento rotacional pode fazer com que a força de empuxo e o
peso formem um par de capotamento.

39
Unidade i | Hidrostática geral

A determinação da estabilidade de corpos submersos ou flutuantes pode


ser difícil, uma vez que a análise depende de uma forma complicada da
geometria particular e da distribuição de peso do corpo. Assim, por exemplo,
embora o caiaque relativamente estreito e a casa-barco larga sejam estáveis,
o caiaque vai virar muito mais facilmente do que a casa-barco. O problema
pode ser ainda mais complicado pela inclusão necessária de outros tipos de
forças externas, como aquelas induzidas por rajadas de vento ou correntes.
As considerações de estabilidade são obviamente de grande importância no
projeto de navios, submarinos, batiscafo (veículo submersível) e assim por
diante, e tais considerações desempenham um papel significativo no trabalho
dos arquitetos navais.

Para praticar um pouco mais sobre a lei de Stevin, sugerimos a leitura do


seguinte conteúdo, em que são exemplificados exercícios resolvidos sobre o
referente assunto, nesse link: https://adm.online.unip.br/img_ead_dp/29204.
PDF (LEI DE STEVIN, 2020).

40
HIDROSTÁTICA
APLICADA UNIDADE II

CAPÍTULO 1
Hidrostática aplicada a navios

Princípios de Flutuação de Arquimedes


O princípio de Arquimedes afirma que “Um objeto imerso em um fluido
experimenta uma elevação equivalente à massa de fluido que o objeto desloca”.
Isso significa que quando um objeto está dentro de um fluido, há uma força
atuando verticalmente para cima sobre ele, cuja magnitude é equivalente à
massa do fluido deslocado pelo objeto. Essa força é chamada de flutuabilidade.
Um homem imerso em água, por exemplo, sentirá uma redução de peso porque
parte de seu peso é suportado pela flutuabilidade. Essa flutuabilidade é igual ao
peso da água deslocada pelas partes submersas de seu corpo.

A importância dessa descoberta está em quantificar essa experiência com precisão,


permitindo, assim, a aplicação deste princípio na “engenharia”. Embora agora
consideremos essa descoberta importante como certa, ela é tão fundamental
para a arquitetura naval que é necessário examinar seu princípio com a ajuda
de uma compreensão mais moderna. Seu interesse inicial neste princípio é que
ele permitia obter o volume de qualquer objeto de forma irregular. No entanto,
estamos mais interessados ​​nesta força ascendente aqui, que é chamada de força de
empuxo. Agora sabemos que a flutuabilidade é a resultante de todas as pressões
normais exercidas pelo fluido em toda a superfície imersa do corpo. Essa pressão
é conhecida como pressão hidrostática e é proporcional à profundidade de
imersão, ou:
P = ρ gh

Onde:

P é a pressão hidrostática em qualquer ponto na superfície do corpo imerso.

41
Unidade ii | Hidrostática aplicada

ρ é densidade de massa do fluido.

g é a aceleração gravitacional (≈ 9,806 m/s2).

h profundidade de imersão do ponto.

Para um corpo arbitrário flutuando em equilíbrio estático em um fluido parado


mostrado na figura 12, a força vertical (ou a força de empuxo) B é a soma do
componente vertical da pressão superficial, P, multiplicada pela área que é
aplicada para, ds ou:

=B ∫=
Pcosθ .ds ∫ ρ gh.ds.cosθ
s s

É evidente que h·ds·cos θ é de fato o volume imerso da coluna elementar que


apresenta a superfície ds para o fluido em um ângulo θ em sua extremidade
inferior. Portanto, a integral de h·ds·cos θ é o volume total imerso do corpo.
Deixe o volume ser V, então:
B = ρ gV

Isso é verdade, desde que ρg seja constante, o que é praticamente verdade


para fluidos incompressíveis e para o tipo de profundidade com que estamos
interessados. Uma vez que ρgV é o peso do fluido do volume deslocado pelo
corpo imerso, a crucial descoberta de Arquimedes é assim provada.

Também se pode provar facilmente que a soma da componente horizontal da


pressão é zero e, portanto, o corpo não experimenta nenhuma força horizontal
pura quando simplesmente imerso.

Figura 12. (a) Pressão hidrostática na superfície imersa; (b) Um volume elementar.

Fonte: Lee, 2019.

42
Hidrostática aplicada | Unidade ii

Volume e deslocamento de massa


O volume da parte subaquática do corpo de um navio é conhecido como
deslocamento de volume e é representado pelo símbolo ∇. A unidade normal
para deslocamento de volume é m3. A massa da água deslocada é chamada de
deslocamento de massa e é representada pelo grego ∆. Portanto, ∆ = ρ∇. A
unidade de deslocamento de massa é geralmente toneladas (a massa de 1 L de
água doce é 1 kg, e a de 1 m3 de água doce é 1 tonelada, que é igual a 1000 kg).
Observe que ∆ é igual à massa do navio g∆, às vezes chamado de deslocamento
de força, será igual ao peso do navio. Na verdade, dificilmente se vê qualquer
símbolo especial para o peso do navio, uma vez que pode ser representado
pelo deslocamento de massa. É comum que o deslocamento de um navio se
refira ao seu deslocamento em massa. A unidade de deslocamento da força é
N, mas como a massa está em toneladas, é mais conveniente usar kN (o peso
de 1 tonelada é de aproximadamente 9,806 kN).

Equilíbrio estático
Embora a força de empuxo seja distribuída por toda a superfície molhada,
muitas vezes é mais conveniente considerar que a força de empuxo total age
verticalmente para cima em ou a partir de um único ponto. Este é o ponto em
que o momento da pressão hidrostática, quando somado sobre toda a superfície
molhada, torna-se zero. Este ponto é denominado centro de flutuabilidade. De
maneira semelhante, a força gravitacional (ou seja, o peso do objeto) também
pode ser considerada como agindo verticalmente para baixo a partir de um
ponto: este é o centro de gravidade.

Em geral, um estado de equilíbrio existe em um sistema se e somente se:

» a soma de todas as forças é zero; e

» a soma de todos os momentos é zero.

Um objeto flutuando livremente em água parada, portanto, terá apenas o volume


certo imerso para fornecer exatamente a mesma força de flutuabilidade que seu
peso e assumirá uma atitude que coloca o centro de gravidade verticalmente
alinhado com o centro de flutuabilidade.

43
Unidade ii | Hidrostática aplicada

Sua posição vertical relativa não importa, embora tenha um papel significativo
na estabilidade do sistema. Este estado é conhecido como equilíbrio estático em
contraste com o equilíbrio dinâmico, que é um assunto que requer um tratamento
separado. É claro que, se seu volume total não puder fornecer flutuabilidade
suficiente, ele simplesmente afundará.

Se o volume total puder produzir flutuabilidade exatamente igual ao peso, ele terá
flutuabilidade neutra, como os submarinos podem estar em certas condições. Se a
primeira das duas condições de equilíbrio não for satisfeita, o objeto irá afundar
ainda mais ou subir até que essa condição seja satisfeita. Se apenas a segunda
condição não for atendida, o objeto girará até que o equilíbrio seja alcançado. Em
geral, no entanto, esses dois processos ocorrem simultaneamente.

Curva de deslocamento

Ao contrário de objetos de formas geométricas simples, o deslocamento de


volume de um navio para qualquer calado não é simples de calcular. Hoje em dia,
isso pode ser feito por um computador em um piscar de olhos e, portanto, não
apresenta grande dificuldade. No entanto, nos dias em que cada cálculo tinha
que ser feito laboriosamente à mão, era imensamente importante conceber
métodos de calcular instantaneamente o calado esperado para uma determinada
condição de carregamento ou o deslocamento de massa para um dado calado.

O deslocamento de volume calculado para uma gama de calados pode ser plotado
em relação ao calado, e a curva é suavizada (os engenheiros navais são, senão outra
coisa, mestres anteriores na geração de curvas suaves). A partir dessa curva, o
deslocamento de volume em qualquer calado médio pode ser facilmente obtido
e vice-versa. Esta curva pressupõe que o navio terá uma atitude longitudinal fixa
pré-definida (trim).

Imersão em toneladas por cm (Tonnes per cm


Immersion, TPC)

As condições de carregamento de um navio mudam frequentemente e é


importante manter o controle de qual calado o navio terá no final de uma
operação de carga/descarga menor. Para isso, pode-se utilizar a curva de

44
Hidrostática aplicada | Unidade ii

deslocamento, mas para obter uma indicação rápida da mudança de calado para
uma dada mudança no deslocamento de massa, uma relação conhecida como
a imersão de toneladas por cm é muito útil. O TPC de um navio em qualquer
calado é a massa necessária para aumentar o calado em um cm (paralelo à
linha d’água existente e, portanto, os termos afundamento paralelo e elevação
paralela). Considere uma embarcação flutuando em um calado T em água
de densidade ρ (a propósito, 1,025 ou 1,026 toneladas/m 3 é frequentemente
considerado como a densidade de massa normal da água do mar). Suponha
que a área do hidroavião seja A W neste calado e alguma carga seja colocada
no navio de forma que afunde 1 cm. Isso aumenta o volume subaquático em
aproximadamente:
= AW × 1 cm
d∇
= AW × 0,01 ( em m3 , se AW está em m 2 )
d∇

Portanto, o aumento no deslocamento de massa, ou TPC, é:


d ∇ = d ∇ × ρ = 0,01ρ AW

Observe que esse aumento no deslocamento será idêntico à massa da carga


carregada que causou o afundamento paralelo. Por outro lado, podemos encontrar
o afundamento ou aumento paralelo causado quando uma massa m é carregada ou
descarregada da seguinte forma:

Afundamento paralelo = m/TPC

Um momento de reflexão mostrará que o TPC é, de fato, proporcional ao


gradiente da curva de deslocamento. Observe também que na discussão acima
assumimos que a camada do corpo que está imersa pelo aumento da massa do
objeto tem uma área constante do plano de água. Estritamente falando, isso
não é verdade, mas a maioria dos navios são virtualmente ‘paredes laterais’, e é
preciso o suficiente para a maioria dos propósitos de engenharia para pequenas
mudanças no calado. Na verdade, este tipo de aproximação, simplificação e
linearização costumava ser essencial antes do advento dos computadores.
Lembre-se de que os computadores começaram suas incursões sérias no
design de navios apenas na década de 1970!

45
Unidade ii | Hidrostática aplicada

Efeito da densidade da água

Os navios viajam e os mares de diferentes áreas têm diferentes densidades de


massa devido às mudanças na salinidade e na temperatura. Uma mudança mais
pronunciada na densidade de massa da água é experimentada pelos navios ao
passarem da água doce para a água do mar (como será o caso na área dos Grandes
Lagos e dos canais de St. Laurence). Há cerca de 2,5% de diferença na densidade da
água doce e da água do mar, e obviamente isso causará afundamento ou elevação
da embarcação durante o trânsito. Em todos esses casos, apenas um princípio
deve ser lembrado: ‘o deslocamento de massa do navio deve ser o mesmo que a
massa do navio em todos os momentos, qualquer que seja a densidade da água.’
Isso requer uma mudança no volume subaquático que só pode ser alcançado
alterando o projeto. Considere uma embarcação de deslocamento de 15.000
toneladas flutuando na água do mar de densidade 1,025 toneladas/m3 a um
calado de 7 m. O deslocamento de volume na água do mar é:

∇S = 15,000/1.025 = 14,634 m3

Quando este navio se move para água doce de densidade 1,0 ton/m3, seu
deslocamento de volume tem que ser:

∇F = 15,000/1.0 = 15,000 m3

A mudança no deslocamento de volume necessária é:

d∇ = ∇F − ∇S = 366 m3

Este aumento no deslocamento de volume de 366 m 3 só pode ser alcançado


pelo aumento (paralelo) do calado. Se a área do hidroavião do navio for de
2.000 m 2 a 7 m de calado, o afundamento paralelo é:

dT = 366/2000 = 0.183 m ou 18.3 cm

Observe que, em geral, a nova linha d’água não será necessariamente paralela à
linha d’água original, mas é conveniente considerar a elevação ou afundamento
paralelas primeiro e, em seguida, a mudança no trim separadamente.

46
Hidrostática aplicada | Unidade ii

Trim (caimento do navio) e estabilidade


longitudinal
A estabilidade de um navio é definida como sua capacidade de retornar à atitude
normal de operação quando perturbado por forças ou momentos transitórios.
Vale a pena notar que a maioria dos navios tem estabilidade longitudinal
suficiente em sua condição intacta e, portanto, pode ser considerado de
pouco interesse para nós em termos de segurança. No entanto, a estabilidade
longitudinal afeta diretamente o trim da embarcação, e o trim é um fator muito
importante na determinação da eficiência operacional dos navios. Devemos,
portanto, examinar brevemente aqui a estabilidade longitudinal com ênfase no
acabamento. Existem três condições de acabamento: quilha nivelada, proa e
arco.

A definição formal de trim é a diferença entre o calado no FP e o calado no AP,


ou seja:

t = Tf − Ta

Onde t é trim, Tf é o calado em FP e Ta é o calado em AP.

Pode-se ver, portanto, que um trim positivo indica trim pela proa e um trim
negativo significa trim pela popa.

Centro Longitudinal de Flutuação (LCF)


Considere a figura 13 que representa a cunha dianteira que submerge quando a
embarcação muda de trim (proa para baixo) sem alterar seu deslocamento.

Figura 13. Cunha submersa à frente quando o navio se aproxima.

Fonte: Lee, 2019.

47
Unidade ii | Hidrostática aplicada

O volume de uma faixa elementar de meia largura y e comprimento δx é 2yx


tanθ δx. Portanto, o volume total da cunha é:
Lf

2 tan θ ∫ xydx
0

Mas,
Lf

2 ∫ xydx
0

é o primeiro momento do hidroavião original sobre YOY’.

Da mesma forma para a parte traseira do navio, o volume é:


0
−2 tan θ ∫ xydx
− La

(Observe que La e Lf são o comprimento à popa e à frente, respectivamente, de


YOY’).

Uma vez que o navio não mudou seu deslocamento, os volumes dessas duas
cunhas devem ser os mesmos, ou seja:
Lf 0
2 tan θ ∫ xydx = −2 tan θ ∫ xydx
0 − La

Observe que as integrais em ambos os lados são metade do primeiro momento dos
hidroaviões de vante e de ré, respectivamente. Portanto:
Lf

2 tan θ ∫ xydx = 0
− La

Em outras palavras, os primeiros momentos do plano de água original (sobre


o eixo YOY’) para frente e para trás são os mesmos em magnitude, embora
em sinal oposto. Isso mostra que, para que o barco mude de compensação,
enquanto mantém o volume de deslocamento original, o eixo de compensação
YOY deve ser tal que o primeiro momento do plano de água original em torno
deste eixo seja zero. Dito de outra forma, YOY deve passar pelo centroide do
plano de água, e este ponto é chamado de centro de flotação (CF). A posição
longitudinal de CF é, frequentemente, representada pela distância desse ponto

48
Hidrostática aplicada | Unidade ii

a meio do navio e denotada como LCF. LCF negativo significa que o CF está
localizado a ré do meio do navio.

Momento para mudar o “trim” caimento (Moment


to Change Trim, MCT)
Considere a figura 14, que mostra um navio flutuando na linha d’água WL. Está
em equilíbrio porque o centro de gravidade (G) está verticalmente acima do
centro de flutuabilidade (B). Uma peça de carga de massa w toneladas é, então,
movida longitudinalmente através de uma distância h, conforme mostrado.
Quando a carga é movimentada, a massa do navio não muda, mas o CG do
navio se move de G para G1. Isso fará com que a embarcação mude o trim em
torno do LCF (ponto F) e, finalmente, se estabeleça na linha d’água W1L1 de tal
forma que, após o trim, o CB se moverá para um ponto B1 verticalmente abaixo
de G1 (uma vez que esse é o novo equilíbrio). Antes de começarmos a investigar
a mecânica desta situação, devemos declarar que, na maioria dos casos onde
não há possibilidade de confusão, “momento” significa “momento de massa” em
vez de “momento de força”.

Figura 14. Mudança no trim devido ao movimento da carga.

Fonte: Lee, 2019.

Se o navio for compensado temporariamente por um momento transitório


e não pelo movimento de uma carga, o momento que causa o compensador
deve ter sido o mesmo que o momento de “endireitamento” do navio em
W1L1. Neste caso, o centro de gravidade ainda está em G, enquanto o centro
de flutuabilidade mudou para B1. O momento que o navio experimenta nesta
condição é o deslocamento multiplicado pela alavanca entre a flutuabilidade e

49
Unidade ii | Hidrostática aplicada

a força gravitacional. Pode ser visto na figura 14 que a alavanca é GMLtan θ e,


portanto, o momento certo, ou seja, o momento que tenta colocar o navio em
compensação antes de ocorrer a perturbação, é ∆GMLtan θ. Se a mudança no
trim for t e o comprimento do navio for L, então tanθ = t/L. Podemos ver que o
momento de alterar o trim por t é, portanto, ∆GML t/L. A partir disso, podemos
obter o momento de mudar o trim em 1 cm ou MCT como:
∆GM L
=MCT tonelada − m / cm
100 L

Altura Metacêntrica Longitudinal


A fórmula para MCT derivada acima é muito útil para estimar a atitude de um
navio após a operação de carga e descarga. Para completar a fórmula, no entanto,
precisamos calcular a altura metacêntrica longitudinal (GML). Se um navio
flutuando em WL muda sua atitude para que a nova linha d’água seja W1L1 devido
a um momento externo temporário, como mostrado na figura 14, o centro de
flutuabilidade se move para B1, enquanto o centro de gravidade permanece na
posição original G. O diagrama de força nesta situação é mostrado na figura 15.
Para um corte muito pequeno, o ponto de intersecção entre a linha vertical (para
WL) de B e a linha vertical (para W1L1) de B1 é conhecido como metacentro
longitudinal (ML).

Pode-se observar que BB1 = BML tan θ.

O centro de flutuabilidade se move para B1, pois alguma parte do volume


subaquático foi transferido da popa para a frente. O momento longitudinal de
transferência de volume é:
Lf

=momento ∫ ( volume elementar ) × x


− La
Lf

momento
= ∫ ( 2 yx tanθ dx ) × x
− La
Lf

2 tan θ ∫ yx dx
2

− La

O último item na expressão acima é, na verdade, o segundo momento


longitudinal do hidroavião, IL, multiplicado por tanθ . Além disso, a mudança

50
Hidrostática aplicada | Unidade ii

no centro de flutuabilidade, BB1, pode ser obtida dividindo o momento pelo


volume total. Portanto:
I Ltanθ
BB1
= = BM L tan θ

∴ BM L =I L / ∇
GM L =KB + BM L − KG

No entanto, algumas pessoas preferem usar BML em vez de GML, já que BML tem
quase 100 m, mesmo para navios razoavelmente pequenos, enquanto (KB - KG)
tende a ter alguns metros. No entanto, sempre que possível, GML deve ser usado.

Figura 15. Mudança no trim devido ao movimento da carga.

Fonte: Lee, 2019.

Estabilidade estática em ângulos de salto


pequenos
Todos os navios devem ter estabilidade adequada em todas as suas condições
de operação. Essa afirmação parece óbvia e simples demais para merecer uma
consideração séria, mas levanta duas questões importantes: em primeiro lugar, o
que é estabilidade; e em segundo lugar, como podemos definir “adequado”? Não
podemos nem começar a responder a segunda antes de responder a primeira.

A palavra “estabilidade” pode significar coisas diferentes para pessoas diferentes:


por exemplo, os matemáticos falam sobre a estabilidade das soluções, os
dinâmicos discutem a estabilidade de um sistema e os químicos se preocupam

51
Unidade ii | Hidrostática aplicada

com a estabilidade de um composto no qual estão trabalhando, enquanto muitas


pessoas sabem aproximadamente o que se entende por econômico, político ou
social estabilidade. Embora a estabilidade seja usada na Engenharia Naval em
uma variedade de contextos também, por exemplo, em “estabilidade direcional”,
a palavra não qualificada “estabilidade” no uso normal tem um significado
específico, refletindo nossa preocupação em segurança e manter um navio em
pé, implicando que alcançar este objetivo não pode ser dado como certo.

Uma definição mais precisa de estabilidade do navio pode ser “a capacidade


do navio de retornar à condição vertical normal, quando perturbado por esta
atitude, sem se colocar em perigo ou a carga e vida humana que transporta”. A
palavra-chave aqui é “retornar”, e isso significa que a perturbação da condição
vertical normal (equilíbrio), seja o que for que a tenha causado, irá gerar
automaticamente uma força ou momento oposto para retorná-la ao equilíbrio
original. A natureza dessas forças e momentos “restauradores” ficará mais clara
se examinarmos os casos de distúrbios em diferentes direções.

Em primeiro lugar, é fácil ver que as perturbações no plano horizontal, ou


seja, deslocamentos ao longo dos eixos x e y e rotação em torno do eixo z
(onda, oscilação e guinada, respectivamente) não irão gerar nenhuma força ou
momento restaurador, pois o sistema, nesses casos, está em equilíbrio neutro
completo. O deslocamento ao longo do eixo z (elevação) pode ser considerado
para produzir força de restauração, desde que a área do plano de água seja
diferente de zero. No caso de navios normais, isso não é problema, exceto que
deve haver borda livre suficiente para que o navio tenha menos chance de ser
inundado. Em qualquer caso, o deslocamento estático na direção de elevação é
direto e não requer uma teoria complicada para explicar o fenômeno.

Por outro lado, os distúrbios rotacionais sobre os eixos x e y são muito


diferentes. Sabe-se, instintivamente, que a perturbação em torno do eixo y
(ou seja, compensação) não é problema, porque a estabilidade longitudinal é
muito alta para navios convencionais. No entanto, este é um fator importante
na determinação do desempenho da propulsão do navio. Isso deixa a
estabilidade na direção transversal como a questão realmente importante,
pois não podemos ter certeza de que o navio irá gerar momento suficiente
para retornar à condição vertical quando adernado e quanto adernamento
o navio pode sofrer sem virar completamente. Na verdade, a palavra virar

52
Hidrostática aplicada | Unidade ii

normalmente implica adernamento excessivo. Devemos, portanto, examinar


cuidadosamente a estabilidade transversal, com ênfase particular para os casos
em que a integridade estanque do navio está intacta (estabilidade intacta).

Princípios básicos de estabilidade


Antes de começarmos a examinar a natureza do momento de restauração (ou
mais comumente conhecido como “momento de correção”), precisamos fazer
algumas suposições fundamentais, como segue:

» o navio está flutuando em águas calmas;

» o navio está parado;

» o navio é rígido, ou seja, mantém sua forma original em qualquer


atitude que possa assumir.

Momento de correção
Devemos, agora, dar uma olhada no mecanismo pelo qual o momento de
correção é gerado quando um objeto arbitrário é inclinado a partir de uma
posição de equilíbrio. Considere um objeto flutuando na água em equilíbrio. O
peso do objeto é W e seu centroide de massa está em G. Como o objeto está
em equilíbrio, o volume subaquático deste será W/ρg, onde ρ é a densidade
de massa da água e g é a aceleração gravitacional. Além disso, a soma zero
dos momentos determina que o centroide do volume subaquático, B, esteja
verticalmente abaixo de G, conforme mostrado na Figura 16a.

Figura 16. (a) Objeto em equilíbrio; (b) Depois de adernamento.

Fonte: Lee, 2019.

53
Unidade ii | Hidrostática aplicada

Se este objeto é, então, inclinado por um ângulo φ, como mostrado na figura


16b, sem alterar o deslocamento, o centroide do volume subaquático se moverá
para uma nova localização B 1, enquanto o centroide de massa do objeto
permanece em G. É fácil ver que, exceto em circunstâncias muito especiais,
B 1 em geral oscilará de modo que não esteja mais verticalmente sob o ponto
G. A soma das forças é zero, mas um momento é criado e, portanto, o objeto
não está mais em equilíbrio. A alavanca deste momento é a distância entre
as duas linhas verticais através de G e B1 e o momento pode ser em qualquer
direção. Você deve se lembrar que, na estabilidade do navio, o momento de
correção frequentemente se refere ao momento da massa em vez do momento
da força. Usaremos essa convenção, a menos que haja uma necessidade clara de
usar o momento de força. A magnitude do momento de correção, portanto, é
simplesmente o produto da massa W/g e da alavanca. Esta alavanca é conhecida
como “alavanca de endireitamento” ou “braço de endireitamento”.

Observe que um “momento de adernamento” tende a aumentar o ângulo de


inclinação. Portanto, um momento de adernamento positivo estará na mesma
direção de um momento de endireitamento negativo. Se dividirmos o momento
de adernamento pela massa do objeto, obtemos “alavanca de adernamento” ou
“braço de salto”.

Estabilidade estática em grandes ângulos de salto


As características de estabilidade de uma embarcação em grandes ângulos de
adernamento são, em geral, muito diferentes daquelas de estabilidade inicial
ou estabilidade em ângulos de adernamento muito pequenos. Deve-se lembrar
que a estabilidade de uma embarcação pode ser quantificada em termos de
endireitamento momento ou, para um determinado deslocamento, braço de
endireitamento.

Estabilidade Dinâmica
Até agora, o assunto estabilidade do navio foi discutido considerando que o
mar está calmo e o navio está estacionário, não se movendo em nenhum
modo. É evidente que essa suposição está errada e a moção deverá ser levada
em consideração de alguma forma. Foi em meados da década de 1850 quando
a ideia de estabilidade dinâmica foi introduzida na tentativa de relacionar a

54
Hidrostática aplicada | Unidade ii

estabilidade de um navio ao seu movimento de rolamento. É claro que a maioria


dos navios que emborcam o fazem depois de rolar excessivamente e, de fato,
o próprio emborcamento é uma espécie de movimento giratório. Portanto, é
certo que devemos relacionar o movimento de rolamento à estabilidade, embora
outros modos de movimento possam ser ignorados por enquanto, enquanto
consideramos os navios em suas condições intactas.

O nome estabilidade dinâmica, no entanto, é um nome impróprio, basicamente


porque não trata o movimento de uma forma dinâmica em seu verdadeiro sentido.
Porém, a ideia foi desenvolvida para se tornar a base dos critérios meteorológicos
atuais. A essência desta ideia é baseada no balanço de energia que assume que não
há dissipação de energia durante o movimento de rolamento, em outras palavras,
o movimento de rolamento de um navio é considerado um sistema conservador,
embora o desenvolvimento posterior tenha incorporado a perda de energia
por meio de termos de amortecimento.

Ao longo dos séculos, muitos navios foram perdidos no mar devido ao


naufrágio por razões de erros operacionais e/ou falta de estabilidade
inerente dos navios, intactos ou danificados. No passado, embora as pessoas
se preocupassem com a segurança marítima, principalmente aquelas cujas
vidas e meios de subsistência dependiam dela, certo grau de risco era aceito
como inerente às atividades marítimas. Aventurar-se no mar em um navio
era considerado uma “aventura”. Nos tempos modernos avessos ao risco,
entretanto, essa atitude arrogante em relação à segurança do navio não
é mais aceitável e as pessoas têm se esforçado para estabelecer padrões
aceitáveis.

Uma compreensão bastante abrangente da estabilidade intacta do


navio foi alcançada em meados do século XIX, incluindo o conceito de
estabilidade dinâmica. Não é necessário repetir o fato de que os navios
devem ter estabilidade suficiente para evitar naufrágio. A principal
dificuldade aqui é julgar o que é “suficiente”. Apesar da compreensão da
natureza da estabilidade e do processo de emborcamento, é muito mais
difícil estabelecer um padrão que permita um bom julgamento. Esta foi
uma das razões pelas quais os primeiros regulamentos de estabilidade
internacionalmente aceitos não apareceram até meados do século XX.

Os regulamentos de estabilidade intactos assim produzidos sempre foram


prescritivos até bem recentemente. Em outras palavras, os regulamentos
especificavam um ou vários critérios e exigiam que navios de certas
categorias os satisfizessem. Isso necessariamente implicava que as

55
Unidade ii | Hidrostática aplicada

autoridades consideravam os navios que satisfaziam esses critérios “seguros”


no que diz respeito à sua estabilidade intacta. No entanto, decidir sobre
esses critérios não é fácil, pois a falta de conhecimento sobre o fenômeno
do capotamento deve ser compensada tornando-os mais rígidos, mas
regulamentos excessivamente restritivos colocarão o transporte marítimo
em uma desvantagem desnecessária.

No início, os critérios foram determinados olhando os dados estatísticos


de navios anteriores. Com o aumento do conhecimento nessa área, porém,
os critérios tornaram-se mais racionais, embora de forma dolorosamente
lenta devido a razões políticas e comerciais. Na maioria dos países, apenas
os clamores públicos após acidentes graves forçaram as autoridades
a promover as mudanças. Pode-se dizer que os modernos critérios de
estabilidade intactos que são mais lógicos e, finalmente, adequados ao
propósito são o resultado doloroso de acidentes anteriores e de muitas
vidas perdidas no mar.

56
CAPÍTULO 2
Hidrostática aplicada a submarinos

A maioria dos navios modernos usa uma combinação de estruturas longitudinais


e transversais, pois estão sujeitos a ambos os tipos de carregamento. De longe, a
carga mais significativa que o submarino deve suportar é a pressão hidrostática.
Consequentemente, não deve ser surpresa saber que eles são enquadrados
transversalmente.

Casco Interno
Existem dois cascos em um submarino. O casco interno ou casco de pressão
(ou “tanque de pessoas”) mantém todos os sistemas sensíveis à pressão do
submarino, incluindo os submarinistas. O casco interno deve resistir à pressão
hidrostática até a profundidade máxima ou “teste” do submarino. Você deve se
lembrar que a pressão absoluta é dada pelo seguinte:

pgh = pressão hidrostática = Pcalibrar

Uma regra útil é que a pressão aumenta em 44 psi por 100 pés de profundidade.

Qualquer entrada de água no casco interno pode ter um efeito considerável


sobre a estabilidade e pode ameaçar a integridade estrutural restante do navio.
Consequentemente, o casco interno deve ser forte. Como inferido acima, o casco
interno é moldado transversalmente e, devido às profundidades alcançáveis
pelos submarinos modernos, ele tem chapas grossas. O número de estruturas
transversais e a espessura do revestimento usado é um compromisso entre
custo, peso, capacidade operacional e espaço; mais quadros e chapeamento
mais espessos significam custo mais alto, maior peso, menos espaço para
equipamento e tripulação, mas uma maior profundidade de mergulho.

Casco Externo
Em certos locais ao longo do comprimento de um submarino, o casco interno
reduz sua seção transversal e é cercado por um casco externo ou carenagem
do submarino. O casco externo é simplesmente uma carenagem lisa que
cobre o equipamento não sensível à pressão do submarino, como tanques de
lastro principal e âncoras para melhorar as características hidrodinâmicas

57
Unidade ii | Hidrostática aplicada

dos submarinos. A carenagem não precisa suportar a pressão hidrostática da


profundidade do mergulho, portanto, não são necessários materiais de alta
resistência. Aço suave e plásticos reforçados com fibra são comumente usados.
Os submarinos modernos também têm ladrilhos anecoicos ou uma “pele”
sintética cobrindo o casco externo para reduzir a assinatura ativa do sonar e
amortecer o ruído irradiado do submarino para a água.

A construção de submarinos é muito cara. Os materiais de alta resistência


necessários para atingir profundidades mais profundas são caros e difíceis
de usar na fabricação. Aços de alta resistência são notoriamente difíceis de
dobrar, fabricar e soldar. O controle de qualidade do processo de fabricação
também é crítico, pois qualquer irregularidade pode comprometer
seriamente a integridade estrutural do submarino. Consequentemente, o
número de estaleiros com experiência para fabricar submarinos é limitado.
Nos EUA, a General Dynamics Electric Boat em Groton, Connecticut, e a
Northop Grumman Shipbuilding em Newport News, Virginia, são os únicos
fabricantes de submarinos.

Caro aluno, sugerimos o acesso ao link a seguir, que traz muitas informações
sobre submarinos, inclusive submarinos brasileiros, apresentando figuras,
fotos e diversos dados atuais nessa área: https://www.naval.com.br/
blog/2012/11/06/prosub-os-futuros-submarinos-brasileiros/ (SUBMARINOS,
2020).

Hidrostática Submarina
Assim como um navio de superfície, os submarinos obedecem aos princípios
do equilíbrio estático e Arquimedes. O submarino experimenta uma força de
empuxo igual ao peso do líquido que ele desloca. Quando na superfície ou com
flutuação neutra, essa força de flutuação é igual ao peso do submarino (seu
deslocamento).

Empuxo Neutro
Um navio de superfície mantém automaticamente o equilíbrio estático por
alterações em seu calado e na flutuabilidade de reserva acima da linha de água.
Ou seja, mudando o calado da embarcação, seu volume submerso é alterado
para refletir quaisquer mudanças em seu deslocamento devido a remoções ou
adições de peso, mudanças na densidade da água ou como uma onda passando
causando flutuabilidade excessiva.

58
Hidrostática aplicada | Unidade ii

Infelizmente, um submarino submerso não tem esse luxo. A tripulação deve


manter ativamente um estado de equilíbrio estático, alterando o peso do
submarino para corresponder à (geralmente) força de empuxo constante. A
flutuabilidade é constante porque o volume submerso de um submarino é
constante (em uma determinada profundidade) e não há excesso ou reserva
de flutuabilidade como em um navio de superfície. Consequentemente, o
submarino precisa de um DCT que permitirá a compensação devido a mudanças
no ambiente.

O Controle de profundidade de tanque (Depth Control Tank, DCT) é usado para


alterar as características de flutuabilidade do submarino depois de submerso.
Os fatores ambientais muitas vezes podem fazer com que o submarino se mova
de uma condição de flutuação neutra para uma flutuação positiva ou negativa.
Movendo água para dentro ou para fora do DCT pode compensar isso. O DCT
é denominado um “tanque rígido” porque pode ser pressurizado à pressão de
submersão, permitindo que seu conteúdo seja “soprado” para o mar e também o
submarino pode ingerir água no tanque de qualquer profundidade.

Salinidade
A densidade da água (ρ) mudará sempre que houver uma alteração no seu nível
de salinidade. Esta é uma ocorrência bastante frequente, por exemplo:

» Mudanças na salinidade são comuns ao operar perto de estuários de


rios ou da calota polar.

» Devido à evaporação constante, o Mar Mediterrâneo apresenta um


nível de salinidade superior ao dos oceanos.

No Estreito de Gibraltar, a água mais fria e menos salgada do Atlântico se mistura


com a água mais quente e mais salgada do Mediterrâneo para produzir fortes
correntes que variam de dois a quatro nós. Isso permite que alguns submarinos
passem pelo Estreito secretamente “cavalgando” as correntes subterrâneas.
Infelizmente, essas diferenças de salinidade também podem causar grandes
mudanças na flutuabilidade de um submarino e nas ondas internas. Em meados
da década de 1980, um submarino soviético transitando secretamente pelo
Estreito aprendeu isso da maneira mais difícil quando perdeu o controle de
profundidade e colidiu com a parte inferior de um navio-tanque.
59
Unidade ii | Hidrostática aplicada

Temperatura da água
Mudanças na temperatura da água são comuns em todo o oceano. A temperatura
afeta a densidade da água que, por sua vez, afeta a magnitude da força de empuxo.

Profundidade
À medida que um submarino aumenta sua profundidade, o aumento da pressão
hidrostática aumenta a tensão no casco. Essa tensão, então, tensiona o casco.
O casco encolhe. Assim, o volume submerso de um submarino diminui com
a profundidade, o que, por sua vez, reduz sua força de empuxo. Portanto, para
manter a flutuabilidade neutra, a água deve ser bombeada do DCT, reduzindo o
deslocamento do submarino para acompanhar o FB menor.

Este efeito foi acentuado com a introdução de placas anecoicas. Essas placas são
comprimidas quando operam em profundidades máximas de mergulho modernas,
mas geralmente mostram pouca mudança no volume após profundidades
moderadas, pois o material de borracha é comprimido ao máximo.

Trim Neutro
O segundo objetivo que a tripulação do submarino está buscando ativamente
é o trim neutro. O trim é particularmente sensível em um submarino, uma
vez submerso, devido à falta de linha d’água. Você deve saber que a distância
do metacentro acima da quilha pode ser encontrada adicionando BM (o raio
metacêntrico) a KB. Isso pode ser usado nas direções transversal ou longitudinal
para encontrar KMT ou KML, respectivamente.

O BML é muito maior do que o BMT porque os navios tendem a ser mais longos
do que mais largos e, portanto, seu segundo momento de área é muito maior
longitudinalmente do que transversalmente. A situação do submarino à superfície
é bastante semelhante à do navio de superfície. Conforme o submarino submerge,
seu hidroavião desaparece. Sem hidroavião, não há segundo momento de área do
hidroavião e, portanto, não há raio metacêntrico. Consequentemente, o centro
de flutuabilidade e o metacentro estão ambos localizados no centroide do volume
subaquático ‒ o ponto de meio diâmetro.

60
Hidrostática aplicada | Unidade ii

Como os submarinos são muito mais longos do que largos, o submarino submerso
é muito sensível ao ajuste. Isso explica a necessidade de tanques de compensação.

Mudanças de peso longitudinais


Para um navio de superfície, a análise de uma mudança de peso longitudinal está
envolvida. O processo é complicado pelo navio aparar em torno do centro de
flutuação (F), que raramente está no meio do navio. Para um submarino submerso,
a análise dos deslocamentos longitudinais do peso é exatamente a mesma que
no caso transversal. Isso porque as características de um submarino submerso
são exatamente as mesmas longitudinalmente e transversalmente, sendo ambas
controladas pela distância BG0. Portanto, a seguinte equação é válida para todos
os ângulos de compensação.
wl = ∆ S BG 0tanθ

Como os submarinos são muito mais longos do que largos, o valor do braço do
momento longitudinal (l) pode ser muito maior do que o braço do momento
transversal (t); este braço de momento muito maior (l) necessita da adição de
tanques de compensação que podem compensar as mudanças de peso longitudinais.

Estabilidade Intacta Submarina


Tal como acontece com o caso de mudanças de peso, a ausência de um hidroavião
e a natureza estacionária de B simplificam muito a análise da hidrodinâmica
submarina submersa (figura 17).

Figura 17. Estabilidade inicial do submarino.

Fonte: https://studylib.net/doc/11095166/course-objectives-chapter-10-10-submarines-and-submersibles - página 10-18 (ESTABILIDADE


SUBMARINO, 2020).

61
Unidade ii | Hidrostática aplicada

O nível de estabilidade é totalmente dependente da distância entre B e G (BG).


Como essa distância é constante, uma análise do triângulo BGZ revela que o
braço direito (GZ) é puramente uma função do ângulo do calcanhar.
Braço direito
= GZ= BGsen∅

Esta equação vale para todos os submarinos submersos, em todas as condições.


Portanto, a curva de estabilidade estática intacta será sempre uma curva sinusoidal
com um valor de pico igual a BG.

As características de estabilidade serão sempre as seguintes:

» Faixa de estabilidade: a faixa de ângulos de inclinação por meio dos


quais um braço direito é mantido contra o movimento de inclinação.

Faixa de estabilidade = 0 – 180 °

» Ângulo do braço direito máximo: o ângulo do calcanhar que cria o


momento máximo de endireitamento.

Ângulo de GZmax = 90 °

» Braço de endireitamento máximo: o tamanho do braço de endireitamento


máximo.

GZmax = BG sen Φ = BG sen (90 °) = BG

» Estabilidade Dinâmica: a energia necessária para mover o submarino


lentamente por todos os ângulos de inclinação até virar.
180
Estabilidade dinâmica = ∆ S BG ∫ sen ( ∅ ) d ∅
0

Estabilidade dinâmica = 2∆ S BG

Alimentação dos submarinos


A alimentação de submarinos sofre as mesmas restrições infligidas aos navios de
superfície. No entanto, os submarinos também devem se mover na água o mais
silenciosamente possível para não serem detectados.

62
Hidrostática aplicada | Unidade ii

Resistência Submarina
A resistência de uma nave de superfície é composta por uma combinação
de três formas de resistência. Os submarinos compartilham exatamente as
mesmas equações dos navios de superfície e com aplicações semelhantes. Os
componentes da resistência total são escritos abaixo em termos dimensionais e
não dimensionais:
RT = RV + RW + RAA
C=
T CV + CW

Onde CV = é a resistência viscosa do casco, ela própria constituída por fatores


associados à resistência do seu revestimento e à sua forma.

CV = (1+K)CF

CW = é a resistência à formação de ondas do casco. Este elemento é causado pela


energia que o navio perde ao fazer ondas.

RAA = é a resistência do navio no ar (não aplicável a um submarino submerso).

Lembre-se de que, conforme a velocidade do navio de superfície muda, o


componente de resistência que mais contribui para a resistência total muda.
Em baixa velocidade, a resistência viscosa é o principal fator. À medida que a
velocidade aumenta, a criação de ondas se torna o componente de resistência
dominante.

No caso de um submarino na superfície, não é diferente. Na verdade, o efeito


é mais pronunciado. O submarino na superfície gera uma onda de proa muito
grande e a resistência à formação de ondas é um contribuinte significativo
para a resistência, mesmo em velocidades mais lentas. Quando o submarino
submerge, a resistência ao atrito da pele aumentará devido à maior área de
superfície umedecida. No entanto, o elemento gerador de ondas desaparece,
desde que o submarino seja profundo o suficiente para não causar interações
na superfície. Consequentemente, o submarino moderno experimenta menos
resistência quando submerso do que na superfície.

Os submarinos modernos são capazes de atingir velocidades submersas mais


de duas vezes maiores do que as alcançadas na superfície. Uma mudança
radical no projeto do submarino após a Segunda Guerra Mundial rendeu o

63
Unidade ii | Hidrostática aplicada

USS Albacore em forma de charuto e movido a diesel. Lançado em 1953, este


submarino revolucionário alcançou velocidades submersas superiores a 30
nós e lançou as bases para o design moderno do casco do submarino. Veja
o vídeo a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=_lVrFW1H6MU (USS
ALBACORE SUBMARINE, 2020).

Configuração e projeto do hélice


Hélices são os meios propulsores mais comuns para aplicação em submarinos. A
função do hélice é converter a potência entregue pelo motor em empuxo (T), da
forma mais eficiente possível. A seleção do hélice e as considerações de projeto
pertinentes são parte de contexto mais amplo: o projeto da planta propulsora
como um todo. Entretanto, em termos simplificados, busca-se aumentar o
coeficiente propulsivo (PC) da planta, de modo a torná-la mais eficiente. A
configuração tradicional em submarinos modernos utiliza um único hélice
situado à ré do casco e cujo eixo de rotação é o eixo longitudinal do submarino.
Essa configuração permite obter coeficientes propulsivos da ordem de 70% a
80%. Entretanto, embora majoritariamente adotado, o uso de um único hélice
em um único eixo tem a desvantagem de que qualquer dano a um deles pode
privar o submarino de sua capacidade propulsiva (ALLMENDINGER, 1990).

Configurações alternativas envolvem:

» Uso de dois hélices, contrarrotativos e coaxiais. Essa configuração


permite a obtenção de maiores coeficientes propulsivos, além de anular
o torque que a rotação dos hélices impõe ao submarino. Entretanto,
a configuração tem a desvantagem de ser muito mais complexa
mecanicamente.

» Uso de hélices em duto. Essa solução, além de proteger o hélice, aumenta


o coeficiente propulsivo (de 5 a 10%), permite o uso de hélices de
menor diâmetro sem perda de eficiência e tende a reduzir a ocorrência
de cavitação. Há diferentes tipos de dutos e as desvantagens de seu
uso, em geral, dizem respeito à maior complexidade de construção,
maior custo, aumento da resistência ao avanço e eventual degradação
da estabilidade direcional do submarino.

No projeto de submarinos, a discrição acústica é de fundamental importância.


Dessa forma, requisitos de redução da cavitação do hélice (fonte de ruído)

64
Hidrostática aplicada | Unidade ii

estarão presentes. Além disso, a transmissão de esforços mecânicos do hélice ao


submarino (torque, vibrações etc.) deve ser levada em conta. Em geral, a escolha
do hélice envolve o uso de séries sistemáticas próprias (e.g. série B de Troost), o
uso de softwares de projeto específicos e o teste de modelos em tanques de provas.
As considerações sobre o desempenho do hélice se estendem além do escopo das
fases preliminares do projeto. Estas fases iniciais comumente se restringem à
estimativa, e eventual tentativa de redução, do coeficiente propulsivo.

Equilíbrio e estabilidade
Considerações sobre equilíbrio e estabilidade do submarino também
influenciam o arranjo. Por questões de estabilidade estática, é desejável que
os itens de maior peso se situem o mais próximo possível da linha de base
do navio ou submarino. Logo, compartimentos de alta densidade (como as
praças de baterias) devem ser, preferencialmente, localizados nas regiões mais
baixas do submarino. O mesmo se aplica a equipamentos de grande peso;
sempre que possível é desejável posicioná-los mais próximos à linha de base.
O posicionamento do lastro fixo a bordo é outra problemática de arranjo
ligada ao equilíbrio. Para assegurar ausência de trim em condição submersa, a
disposição do lastro fixo deve ser feita apropriadamente. A quantidade de lastro
fixo é estabelecida de acordo com alguns critérios de projeto. Geralmente, uma
reserva de volume para seu posicionamento a bordo deve ser prevista já nas
fases iniciais do projeto. Essa demanda representa uma alocação considerável de
espaço, maior que o volume nominal calculado de lastro, e a definição das
áreas para a disposição de lastro fixo deve ser conduzida conjuntamente pelas
equipes de projeto encarregadas do arranjo e de pesos e centros.

Um conhecimento profundo da mecânica dos fluidos não é requisito


para o entendimento da teoria do comportamento dinâmico, todavia, um
conhecimento básico de determinados aspectos é necessário para ter
as bases do entendimento das equações do movimento de navios. Caro
estudante, sugerimos a seguinte leitura do estudo realizado por Levy (2014),
intitulado de “Análise da influência da forma da proa nos movimentos
verticais da proa do navio”, o qual aborda com mais detalhes a hidrostática
em navios, no link a seguir: http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/
monopoli10010497.pdf.

65
HIDRODINÂMICA
GERAL UNIDADE III

As leis teóricas da Hidrodinâmica são formuladas admitindo-se que os fluidos


sejam ideais, isto é, que não possuam viscosidade, coesão, elasticidade etc.
de modo que não haja tensão de cisalhamento em qualquer ponto da massa
fluida. Durante a movimentação, as partículas fluidas deslocam-se de um
ponto a outro continuamente, sem que a massa do fluido sofra desintegração,
permanecendo sempre contínua, sem vazios ou solução de continuidade.

CAPÍTULO 1
Conceitos fundamentais em
Hidrodinâmica

Hidrodinâmica dos fluidos perfeitos

A suposição principal é que um fluido ideal tem viscosidade zero. Esta é uma
diferença fundamental para um fluido real com viscosidade permanente. Não
é apenas que a viscosidade vai a zero, mas também as equações diferenciais que
descrevem um fluido real e um ideal têm características diferentes!

Embora amplamente utilizado (especialmente no passado), a descrição de um


fluido ideal muitas vezes perde a física crucial! No século 19, concentrou-se
quase completamente em fluidos ideais, especialmente por causa da elegância
matemática. Um exemplo proeminente de uma deficiência importante de um
fluido ideal é a incapacidade de explicar por que um avião pode voar (embora
em muitos livros de introdução à física se usem argumentos simples de fluidos
ideais). Não foi antes de Prandtl, no início do século 20, que o importante
papel dos efeitos viscosos foi totalmente reconhecido. Entre as outras grandes
revoluções da física, esta é frequentemente esquecida.

66
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Para desenvolver representações analíticas para o fluxo de um fluido viscoso,


é necessário primeiro descrever as propriedades do fluxo, especialmente o
campo de velocidade e as forças relevantes que atuam nas partículas do fluido.
Subsequentemente, as leis físicas que expressam a conservação da massa e do
momento devem ser invocadas, em termos desta descrição, para derivar as
equações governantes do fluxo. Além disso, o papel da viscosidade deve ser
descrito por uma hipótese adequada que relaciona as tensões entre as partículas
de fluido adjacentes à descrição cinemática de seu movimento relativo. Desta
maneira, derivaremos as equações de movimento para um fluido viscoso, como
um sistema de equações diferenciais parciais não lineares acopladas. Essas
palavras podem parecer assustadoras para aqueles não bem treinados em cálculo
avançado, e uma apreensão ainda maior será sentida pelo grupo oposto, que
reconhece que tal sistema de equações geralmente não possui soluções simples.
É claro que a maioria dos fluxos de fluidos não são simples, portanto, devemos
esperar que as equações governantes sejam um tanto complicadas.

Por causa dessa complexidade, restringiremos nossa discussão a fluxos muito


simples, particularmente aqueles envolvendo superfícies de limite infinitamente
longas, planas ou cilíndricas. Esses fluxos são de aplicabilidade direta limitada,
mas eles nos darão uma “sensação” qualitativa para o papel da viscosidade e
uma ferramenta quantitativa importante na forma da teoria da camada limite.
A importância da viscosidade para muitos problemas de interesse de engenharia
está confinada a uma camada fina adjacente às superfícies de limite. Além disso,
se os raios de curvatura dessas superfícies forem grandes em comparação com a
espessura da camada limite, o fluxo aparecerá localmente plano na camada limite.

Existem exceções a este estado de coisas conveniente; por exemplo, em fluxos


de baixo número de Reynolds, o papel da viscosidade não está confinado a
uma camada limite fina. Essa situação seria válida para corpos de tamanho
microscópico, como em suspensões fluidas ou a natação de microorganismos,
mas estão fora do escopo usual da engenharia oceânica e da engenharia naval.
Uma exceção mais significativa aqui é a separação, para fluxos que passam por
corpos não adequadamente aerodinâmicos. Fluxos separados são praticamente
impossíveis de analisar. Quando estes existem, a teoria da camada limite é útil
apenas para prever o fluxo a montante do ponto de separação e, finalmente, para
prever a ocorrência de separação.

67
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

Viscosidade, número de Reynolds e turbulência


A tensão viscosa τ em um fluxo de cisalhamento é definida como sendo
proporcional ao gradiente da velocidade u. Na verdade, τ pode ser considerado
como a força devida ao cisalhamento por unidade de área. Esta área unitária é
perpendicular à direção do cisalhamento, por ex.: se o cisalhamento está em z, a
tensão é uma força por área no plano x-y (Figura 18).

Figura 18. Área unitária é perpendicular à direção do cisalhamento.

Fonte: elaborada pelo autor.

Formalmente, pode-se agora expandir τ em termos de velocidade. É claro que os


termos zero e de primeira ordem estão desaparecendo, pois um fluxo constante
não tem cisalhamento. Assim, o primeiro termo que não desaparece é:

Tensão viscosa:
∂u N kg 
=τ µ= 
∂z m
2
ms 2 

Com viscosidade dinâmica:


 kg 
µ 
 ms 

Este caso de desaparecimento de termos de ordem superior é chamado de fluido


newtoniano. Aqui, as viscosidades são aproximadas para serem proporcionais aos
gradientes da velocidade. Implicitamente, isso também assume que a viscosidade
não depende da velocidade, mas pode muito bem depender da temperatura e/ou
pressão.

Para estimar a força viscosa por unidade de volume, é necessário comparar


a tensão viscosa através de uma pequena distância δz ao longo da direção do
cisalhamento, ou seja, em z e z + δz. A força viscosa total Fµ então é a diferença

68
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

na tensão τz + δz - τz vezes a área δx δy. Para δz infinitesimalmente pequeno,


pode-se escrever:
  ∂u   ∂u   ∂  ∂u 
Fµ = [τ z + δ z − τ z ]δ xδ y =  µ   − µ    δ xδ y =  µ  δ xδ yδ z
  ∂z  z +δ z  ∂z  z  ∂z  ∂z 

Força viscosa por volume:


∂ 2u N
fµ = µ  m3 
∂z 2  

Além da viscosidade dinâmica, muitas vezes se usa uma viscosidade cinemática:


1  m2 
v= µ  
ρ  s 

Muitos problemas podem ser caracterizados por números adimensionais. Por


exemplo, considere um fluxo de um fluido com viscosidade (dinâmica) µ, densidade
ρ e velocidade U através de um tubo infinitamente longo com diâmetro L. Esses
parâmetros µ, ρ, U e L basicamente definem todo o problema.

Agora é possível construir uma quantidade adimensional a partir desses


parâmetros. Neste ponto, essa escolha parece ser arbitrária, mas é a combinação
mais simples desses parâmetros dando um número adimensional.
ρUL UL
Número de Reynolds : =
Re =
µ v

Como veremos mais tarde, este número de Reynolds é encontrado comparando o


termo inercial na equação de momento ρ (u · ∇) u com as forças viscosas ∼ρ∆u.

O número de Reynolds é uma das grandezas mais importantes da hidrodinâmica,


pois caracteriza a natureza de um escoamento. Por exemplo, para números de
Reynolds muito grandes, uma mudança de fluxo passa de laminar a turbulenta. E
ainda, turbulência é uma área ativa de pesquisa.

Linhas e tubo de fluxo


As linhas de fluxo são linhas imaginárias tomadas por meio do fluido para
indicar a direção da velocidade em diversas seções do escoamento. Gozam da
propriedade de não serem atravessadas por partículas de fluido. Em cada ponto
de uma linha de fluxo existe, em cada instante t, uma partícula animada de

69
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

uma velocidade “v”. As linhas de fluxo são, portanto, as curvas que, no mesmo
instante t considerado, se mantêm tangentes em todos os pontos às velocidades
“v 1”.

Em geral, as linhas de fluxo são instantâneas porque as sucessivas partículas


que passam pelo mesmo ponto no espaço têm velocidades diferentes nesse
ponto. Também, partículas que passam por A no decorrer do tempo, podem ir
para B, para C etc., mesmo com velocidade “v 1”; ainda mais, uma partícula que
esteja em A no instante t, com velocidade “v 1” poderá, no instante t+dt, estar
com velocidade “v 2” em outro ponto. Nestes casos vistos, a trajetória de cada
partícula difere da linha de fluxo. Se todas as partículas que passam por “A”
têm, nesse ponto, velocidade “v 1”, o regime de escoamento é dito “permanente”
e, se ao longo da trajetória, a velocidade se mantém constante, o movimento é
dito uniforme e a trajetória coincide com a linha de fluxo (Figura 19).

Figura 19. Linhas e tubo de fluxo.

A
Linhas de fluxo

Tubo de fluxo

Fonte: http://fis.uc.pt/data/20072008/apontamentos/apnt_316_12.pdf (LINHAS DE FLUXO, 2020).

Admitindo-se que o campo da velocidade “v” seja contínuo, pode-se considerar


como tubo de fluxo o tubo imaginário limitado por linhas de fluxo e que constitui-se
em uma seção de área infinitesimal, na qual a velocidade de escoamento no ponto
médio é representativa da velocidade média na seção.

Equações fundamentais da hidrodinâmica


Os dois princípios fundamentais da hidrodinâmica são a Equação da continuidade
e a Equação de Bernoulli, as quais explicam como as leis de conservação de massa
e energia se aplicam aos fluidos.

70
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Equação da continuidade

Um princípio básico da Física e da Química Clássicas é que a massa não é criada


ou destruída, princípio este frequentemente associado ao fundador da Química,
Lavoisier, que o enunciou no século XVIII. (No século XX foi descoberto que
existem situações onde esse princípio pode ser violado, quando energia se
converte em massa ou o reverso, mas estas situações são relevantes apenas ou
em dimensões astronômicas ou em dimensões menores que um átomo. Sendo
assim, a conservação de massa é um princípio básico para um fluido usual, não
radioativo.)

Na figura 20, esquematizamos um tubo. Sejam A1 e A2 as áreas das secções retas


em duas partes distintas do tubo. As velocidades de escoamento em A1 e A2 valem,
respectivamente, v1 e v2.

Figura 20. Tubo com velocidades de escoamento.

V1 A2 V2
A1

V1.t

V2.t

Fonte: https://image.slidesharecdn.com/hidrodinamica-131116072126-phpapp02/95/hidrodinamica-5-638.jpg?cb=1384586531 (EQUAÇÃO DA


CONTINUIDADE, 2020).

Como o líquido é incompressível, o volume que entra no tubo no tempo ∆t é


aquele existente no cilindro de base A1 e altura ∆x1 =v1.∆t. Esse volume é igual
àquele que, no mesmo tempo, sai da parte cuja secção tem área A2.

Volume (1) = Volume ( 2 )


∆V1 =∆V2

Se dividirmos o volume escoado ∆V pelo tempo de escoamento ∆t, teremos uma


grandeza denominada vazão em volume, e é representada pela letra Q.

71
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

∆V
Q=
∆t
 m3 
[Q ] =
[s]

Podemos afirmar, então, que:

∆V1 ∆V2 A ∆x A ∆x
Q1 =Q2 → = → 1 1 =2 2
∆t ∆t ∆t ∆t

E, finalmente, chegamos à Equação da Continuidade:

A1.V1 = A2V2

Pela equação da continuidade podemos afirmar que “a velocidade de escoamento é


inversamente proporcional à área da secção transversal”.

Equação de Bernoulli (Energia)

É definida como a energia total de um fluido, por unidade de peso específico e de


volume, intitulada como carga hidráulica.
E p mgz
= = Z ( Energia potencial )
P mg
EI p∀ p∀ p
= = = ( Energia de pressão )
P P γ∀ γ
Ec mV 2 mV 2 V 2
= = = ( Energia cinética )
P 2P m2 g 2 g
E P V2
= H = Z1 + 1 + 1 ( Energia total ou carga hidráulica )
P γ 2g

O princípio de Bernoulli determina que a alteração da energia de uma partícula


numa dada trajetória pode ser representada por:

p1V12 p2 V22
Z1 + + = Z 2 + + + ∆e1− 2
γ 2g γ 2g

No qual Δe é definido como a perda de carga.

72
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Método de Lagrange e de Euler (Continuidade no


caso geral e nos casos de fluido incompressível e
de fluxo estacionário)
A situação vista acima é um caso particular. Num caso geral seja uma superfície
A fechada delimitando um volume V imerso em um fluxo. A normal à superfície
aponta para fora do volume. Entre os instantes t e t+dt a massa contida nesse
volume tem uma variação dm. A taxa dm/dt é dada pela integral do fluxo de
massa infinitesimal dΦ (multiplicado por -1 devido à convenção da normal):
dm   
−∮d ∮ρ u .ndA
= ˆ = −∮ρ u .dA
dt A A A

Pelo teorema de Gauss temos que:


   
∮ρu. dA = ∫∇( ρu )dV
A V

E, portanto:
dm 
= d ( ∫ρ dV ) / dt =− ∫∇ ( ρ u ) dV
dt V V

Se o volume V não depende do tempo, temos:


dm  ∂ρ  
=∫  dV =− ∫∇ ( ρ u ) dV
dt V  ∂t  V

Ou,
 ∂ρ  
∫  ∂t + ∇.[ ρ u ]  dV = 0
V 

Como o volume V é genérico o integrando acima tem que ser sempre nulo, ou
seja, obtemos assim a equação genérica da continuidade:
∂ρ 
+ ∇.[ ρ u ] = 0
∂t

Há dois casos particulares:

» Fluido incompressível (densidade ρ constante, no espaço e no tempo):



∇.u =0

73
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

» Fluxo estacionário (velocidade e densidade dependerão do espaço, mas


serão constantes no tempo):

∇. [ ρ u ] =
0

Na equação de continuidade geral dada anteriormente (fluxo estacionário),


aparece apenas a derivada parcial da densidade em relação ao tempo, ∂ρ / ∂
t. No método de Lagrange, um elemento de volume do fluido é seguido ao
longo de sua trajetória e, portanto, temos também que considerar as derivadas
espaciais da densidade.

Um fluido euleriano é, por definição, incompressível e não tem viscosidade.


Sem viscosidade, o fluido não pode sustentar qualquer tensão de cisalhamento
e, portanto, a pressão é isotrópica. Incompressibilidade não significa densidade
uniforme, mas, sim, que a densidade de um elemento de fluido não muda ao se
mover junto com o fluido.

Equação das forças vivas e movimento permanente


As forças externas que atuam em um dado elemento fluido podem ser
convenientemente divididas em:

Forças de superfície

As forças de superfície são forças externas ao volume fluido considerado,


originadas por ação do fluido que envolve esse volume: esta ação pode, em geral,
ser desdobrada em um componente normal à superfície e em outro tangencial a
ela.

» Forças normais: isolemos um volume de controle ou corpo livre no


interior de um fluido em repouso (Figura 21). As moléculas situadas
no interior deste elemento e em contato com a sua superfície de
contorno chocam-se com as moléculas vizinhas exteriores, sendo a
frequência dos choques proporcional à área da superfície. Os choques
interiores produzem efeitos iguais e contrários e não deixam saldo de
força no elemento. As forças normais são estas forças externas que
atuam perpendicularmente à superfície de um contorno, equilibrando
as forças internas. O contorno do corpo livre pode estar em contato
com uma parede sólida ou com uma interface fluido-fluido.

74
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Figura 21. Volume de controle.

Força normal

Volume de controle

Fonte: adaptado de: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQPQ9bcMQzVBkrldFUloOV5WeIYOuNT6vwlcw&usqp=CAU


(VOLUME DE CONTROLE, 2020).

» Forças tangenciais: no escoamento de fluido viscoso, a superfície de


um volume de controle está sujeita a uma força inclinada, que pode ser
desdobrada em uma força normal e uma outra tangencial à superfície.
A componente tangencial da força de superfície é também chamada de
força de cisalhamento ou de força viscosa.

» Pressão: as forças de superfície, tanto normais como tangenciais,


são diretamente proporcionais à área da superfície do corpo livre;
portanto, é conveniente definir um termo igual à força da superfície
por unidade de área, a qual recebe o nome de intensidade de pressão
ou simplesmente pressão.

Forças de volume

As forças de volume, também chamadas de forças de massa ou de campo, são


forças que, por ação a distância, atuam no interior de um volume de controle. O
exemplo mais comum é o da força de gravidade, que atua em todas as moléculas
do corpo livre sendo, portanto, proporcional ao volume ou à massa do corpo.
Essas forças podem, então, ser expressas por unidade de volume ou de massa.

Equação da quantidade de movimento

Segunda lei de Newton modificada funcionalmente para o estudo da mecânica


dos fluidos:

75
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

» A existência de uma aceleração implica na existência de uma força


resultante que a cada instante tem a mesma direção e o sentido da
aceleração.

» Para acelerar uma massa é necessário aplicar uma força provocada por
algum agente externo, em geral este agente externo é uma superfície
sólida em contato com o escoamento.

Assim, a segunda lei de Newton pode ser expressa como:


 dp
∑ FR =
dt

Sabendo que:
 
p = mv

 d (mv)
∑ FR =
dt
 
dv
∑ FR = m
dt

A força resultante que age no sistema em estudo é igual a variação temporal da


quantidade de movimento do sistema.

Inicialmente, consideraremos um tubo de corrente em regime permanente (da


figura 22). Limitamos nosso tubo aos pontos (1) e (2) para a análise do problema.

Figura 22. Tubo de corrente em regime permanente.

Fonte: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/2087979/mod_resource/content/1/Equa%C3%A7%C3%A3o%20da%20quantidade%20
de%20movimento%20para%20regime%20permanente.pdf (REGIME PERMANENTE, 2020).

76
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Sabemos que:
I m = vazão de massa
dm
Im =
dt

 d (mv)
∑ FR =
dt
 
∑ FR = I m ∆v

Em um intervalo de tempo dt, a massa do fluido que atravessa a seção (1) com uma
velocidade v será dm1, provocando um incremento da quantidade de movimento
fluido entre seções (1) e (2).

Pelo teorema da quantidade movimento, a força resultante que age no fluido


entre seções (1) e (2) será:
 dm2v2 dm1v1
FR
= −
dt dt

Ou:
  
FR Im2v2 − Im1v1
=

Como o regime é permanente:


I=
m2 Im
=1 Im

Portanto:
  
FR I m ( v2 − v1 )
=

Essa equação mostra que a força tem a direção da variação da velocidade e o


ponto de aplicação pode ser encontrado na intersecção das direçoes de v2 e v1.
Esta equação também pode determinar a força resultante que age no fluido entre
(1) e (2).

O fluido em questão está sujeito a forças de contato normais (de pressão)


e tangenciais (tensões de cisalhamento) e à força peso causada pelo campo
gravitacional.

Desta forma, as forças que agem no fluido nas seções (1) e (2) serão respectivamente:
 
− p1 A1n1 e − p2 A2 n2

77
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

Na superfície lateral, o fluido está sujeito às pressões e também às tensões de


cisalhamento devido ao seu movimento em contato com o meio. A resultante das
pressões pode ser obtida adotando-se em cada ponto uma normal dirigida para fora.

Considerando um elemento de área no entorno de um ponto da superfície lateral,


teremos:
  
− plat dAlat nlat + τ dAlat
d F'S =

Logo, a força resultante das pressões e tensões de cisalhamento na superfície


lateral será:
  
F'S = ∫ − plat dAlat nlat + ∫ τ dAlat

Onde F’s = Força que a lateral do contudo está fazendo no fluido.

A força resultante que age no fluido entre (1) e (2) será a soma das componentes.
   
FR= F'S + ( − p1 A1n1 ) + ( − p2 A2 n2 ) + G

No entanto, vimos que:


 
∑ FR = I m ∆v

Assim:
    
I m ∆v= F's + ( − p1 A1n1 ) + ( − p2 A2 n2 ) + G

A equação acima corresponde aos casos em que o fluido está em contato com a
superfície sólida na superfície lateral entre (1) e (2). Nestas condições, a força F’s
representaria a força resultante da parede do conduto no fluido.
    
I m ∆v
= ( p1 A1n1 ) + ( p2 A2 n2 ) + I m ∆v − G
Na prática, o interesse consiste em determinar a força que o fluido aplica na
superfície sólida com o qual está em contato entre as seções (1) e (2).

Como F’s representa a força resultante da superfície sólida no fluido, então, pelo
princípio da ação e reação, a força que o fluido aplica na superfície será:
 
− F's =
Fs

Logo:
    
Fs =− ( p1 A1n1 ) + ( − p2 A2 n2 ) + I m ∆v  + G

78
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Essa equação desenvolvida não é aplicada normalmente na forma vetorial. Sua


resolução consiste em adotar um sistema de referência, como por exemplo o plano
cartesiano, e a partir daí projetar os vetores em cada um dos eixos.

Caros alunos, segue aqui um resumo sobre “Fluidos ideais em movimento”


para que você possa ver alguns exercícios sobre o referente assunto: http://
sistemas.eel.usp.br/docentes/arquivos/2166002/LOB1019/Auladocap15Mec
Fluidos2_a_parteEquacoadeBernoulli.pdf (FLUIDOS IDEAIS, 2020).

79
CAPÍTULO 2
Vórtices e análise de turbulência

Vórtices e análise de turbulência: dinâmica de


vórtices e da vorticidade no fluido ideal
A maior parte dos escoamentos encontrados na natureza e em aplicações
práticas são turbulentos. Consequentemente, é muito importante compreender
os mecanismos físicos que governam este tipo de fenômeno. Os escoamentos
turbulentos são instáveis e contêm flutuações que são dependentes do tempo e
da posição no espaço. Entre as características mais importantes dos escoamentos
turbulentos, destaca-se a multiplicidade de escalas que os caracterizam. As
maiores estruturas (baixas frequências) são controladas pela geometria que
as geram, e as menores estruturas (altas frequências) são controladas pela
viscosidade do fluido.

O regime turbulento é predominante nos escoamentos. Isto se deve ao fato de


que pequenas perturbações injetadas são naturalmente amplificadas, gerando-se
instabilidades que os conduzem à transição. Os parâmetros adimensionais mais
comuns que controlam o fenômeno da transição são os números de Reynolds e de
Rayleigh.

Nas investigações das instabilidades presentes nos escoamentos em uma ou mais


dimensões, usualmente passa-se por uma formulação de um problema linear de um
trem infinito de ondas de pequenas amplitudes, visando obter informações sobre
como determinados comprimentos de onda evoluirão no tempo. Uma descrição
completa da transição requer a análise do processo não linear de amplificação
de perturbações. Isto constitui uma tarefa teórica difícil, uma vez que se trata de
problemas não lineares.

Ferramentas estatísticas são usualmente utilizadas para a análise de escoamentos


turbulentos completamente. No entanto, as médias estatísticas não permitem o
acesso às mais importantes informações dos mecanismos físicos dos escoamentos,
especialmente no que concerne às instabilidades. Isto é menos sério para os
escoamentos completamente desorganizados, como os escoamentos isotrópicos
e homogêneos gerados atrás de uma grelha. Por outro lado, para se entender o
comportamento altamente intermitente de determinados tipos de escoamentos,
como os mecanismos de produção de turbulência, as técnicas que permitem o

80
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

acesso às informações médias não são suficientes. Nestes casos, os processos de


amostragens condicionais podem ser utilizados para retirar informações dos
escoamentos turbulentos altamente oscilantes. Esta técnica tem sido utilizada
para investigações experimentais da estrutura da turbulência de escoamentos
confinados por paredes e escoamentos cisalhantes livres. Técnicas modernas
de simulação numérica, pelas quais as equações governantes são finamente
resolvidas, têm sido desenvolvidas e utilizadas na última década e têm se tornado
ferramentas acessórias e complementares das ferramentas experimentais para a
análise da turbulência nos fluidos.

A turbulência e o campo correlato da transição à turbulência a partir de um


regime laminar são assuntos científicos que se colocam entre os mais seriamente
pesquisados no último século. Isto fornece um testemunho das dificuldades
e dos desafios científicos oferecidos por este tema, o qual está bem longe de
ser esgotado, e, ao contrário, é ainda muito mal compreendido nas suas bases
fundamentais.

Os primeiros estudos sobre instabilidade e turbulência foram desenvolvidos


por Osborne Reynolds e Lorde Rayleigh no século XIX. Reynolds (1883), na
sua famosa investigação de escoamentos no interior de tubos, estabeleceu
claramente a existência de dois regimes fundamentais de escoamentos: laminar
e turbulento (denominado “sinuoso”, na sua época). Ele estabeleceu também a
existência de um parâmetro de controle da transição à turbulência:
Ud
Re =
v

Onde U é a escala de velocidade, d é a escala de comprimento e ν é a viscosidade


cinemática do fluido. Este parâmetro se tornou conhecido, posteriormente, como
sendo o número de Reynolds. Ele estabeleceu que um escoamento turbulento
no interior de uma tubulação só pode ser sustentado para Re acima de 2300,
valor crítico. Hoje, sabe-se que este valor depende da forma que o escoamento
está sendo perturbado. Outra descoberta importante realizada por Reynolds
foi a existência de regiões turbulentas intermitentes (spots), uma propriedade
posteriormente estabelecida como comum a escoamentos próximos de paredes.
Reynolds deixou também outra contribuição importante ao desenvolver as
famosas equações médias de Reynolds para os escoamentos turbulentos quando
introduziu as conhecidas tensões de Reynolds (1884).
81
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

Em paralelo aos trabalhos experimentais de Reynolds, Lord Rayleigh desenvolvia


suas investigações teóricas sobre instabilidades de escoamentos paralelos de
fluidos invíscidos. Seus estudos, que deram origem a vários outros trabalhos,
permitiram determinar quando uma pequena perturbação na forma de um trem
de ondas infinito e de amplitude uniforme se amplifica ou se amortece com o
tempo, (RAYLEIGH, 1878). Entre seus importantes resultados, destaca-se a
demonstração de que a condição necessária para que um escoamento paralelo
seja instável é a presença de uma região inflexional no campo de velocidade
(RAYLEIGH, 1880).

A ideia de se estudar um escoamento turbulento como sendo laminar e modificar


a viscosidade molecular, via conceito de viscosidade turbulenta, nasceu com
Boussinesq (1877). Ele supôs que as tensões turbulentas de Reynolds são
proporcionais às taxas de deformação, como foi feito por Stokes para o caso das
tensões viscosas, mas com um coeficiente de proporcionalidade denominado
viscosidade turbulenta, a qual é, normalmente, maior que a viscosidade molecular
do fluido. A princípio, uma viscosidade turbulenta constante foi utilizada para
escoamentos livres do tipo esteira, jatos e camadas de mistura. No entanto, para
escoamentos sobre placas ou no interior de dutos, do tipo camada limite, não
se consegue resultados coerentes sem que a viscosidade turbulenta varie com a
distância à parede.

A partir dos trabalhos de Prandtl e Von Karman, no período de 1920-1930,


desenvolveram-se métodos baseados em constantes empíricas capazes de melhor
aproximar as soluções para perfis médios de velocidade. Particularmente, Prandtl
(1925) propôs o bem-sucedido conceito, para aquela época, de comprimento de
mistura para o cálculo de uma viscosidade turbulenta variável com o espaço e com
o tempo. Ainda hoje este conceito, que leva o seu nome, é utilizado. Ressalta-se
que Taylor (1915) já tinha estabelecido este conceito em termos do afastamento
médio de uma partícula em relação à linha de corrente média. Prandtl assumiu
um comprimento de mistura proporcional à distância à parede, o que permitiu
obter os perfis de velocidades médias junto a ela de forma mais coerente. Após
Prandtl, numerosas e mais complexas hipóteses foram feitas visando-se modelar
a transferência de quantidade de movimento pelas flutuações turbulentas. Nas
últimas décadas modernas, técnicas foram desenvolvidas, como a modelagem
sub-malha para Simulação Numérica de Grandes Escalas.

82
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Quanto aos desenvolvimentos teóricos, os escoamentos turbulentos são


modelados pelas equações de Navier-Stokes, para números de Mach inferiores
a 15, a partir do qual as escalas de Kolmogorov começam a atingir as dimensões
das escalas moleculares. Para estes escoamentos, o modelo de fechamento de
Stokes, no qual se utiliza o conceito de viscosidade molecular, não é mais válido
e, nestes casos, equações do Tipo Boltzman podem ajudar a modelá-los. No
entanto, para a maior parte das aplicações, os números de Mach são inferiores a
esta marca extremamente elevada. Sendo assim, a solução correta das equações
de Navier-Stokes é representativa dos escoamentos turbulentos, colocadas à
parte as deficiências dos métodos de soluções numéricas e as capacidades dos
computadores para se atingir o grau de precisão e de refinamento de malhas
necessários à boa representatividade das soluções. Muitos têm sido os testes
de validade destas equações, partindo de soluções de escoamentos de Poiseuille
em um canal, solução de Blasius para camada limite, escoamentos gerados por
dois cilindros concêntricos rotativos (escoamento de Taylor-Couette) e outros
experimentos com efeitos de aquecimento e de compressibilidade. Nos últimos
anos, modernas técnicas têm permitido a simulação numérica da transição de
diversos tipos de escoamentos turbulentos, como transição de camada limite,
escoamentos cisalhantes e também do processo de decaimento de energia em
escoamentos turbulentos, assim como de escoamentos complexos e até mesmo
de escoamentos industriais.

Vorticidade

O vetor vorticidade (𝜔) é uma medida da rotação de uma partícula fluida que se
move no campo de escoamento. Ela é definida por:
 
ω = ∇ ×V

Para que um escoamento possua vorticidade não nula, um torque deve ser
aplicado às partículas fluidas. Este torque é oriundo das tensões de cisalhamento
atuantes no fluido que, por sua vez, estão diretamente relacionadas com a
sua viscosidade. De outro modo, a influência da viscosidade no escoamento
é caracterizada quando o rotacional do campo de velocidade (e, portanto, a
vorticidade) é diferente de zero.

Assim, na corrente livre, onde a influência da viscosidade não é preponderante,


tem-se que∶ 𝜔⃗⃗ = 𝛻 × 𝑉⃗⃗ = 0 e o escoamento é dito irrotacional (ou potencial).

83
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

Por outro lado, nas regiões próximas ao corpo (onde há a presença da camada
limite) e também na esteira viscosa à jusante do aerofólio, tem-se∶ 𝜔⃗⃗ = 𝛻 × 𝑉⃗⃗
≠ 0.

Nos escoamentos em geral, a vorticidade se manifesta em estruturas denominadas


tubos de vorticidades. Por definição, tais tubos são formados por conjuntos
de linhas de vorticidade que atravessam uma curva fechada no espaço (KATZ;
PLOTKIN, 1991).

Equação do transporte da vorticidade

Batchelor (1967) mostrou que ao se tomar o rotacional da equação de


Navier-Stokes juntamente com o auxílio da equação da continuidade, chega-se à
equação do transporte da vorticidade (ETV), cuja forma adimensional é:
  
∂ω   1 2
∂t
( )
+ ∇V ω = ( ∇.ω )V +
Re
∇ω

Cada termo representa:

𝜕𝜔⃗⃗/𝜕𝑡, a taxa de variação local da vorticidade;

(∇. 𝑉⃗⃗)𝜔⃗⃗, o transporte advectivo da vorticidade;

(∇. 𝜔⃗⃗)𝑉⃗⃗, a taxa de deformação dos turbos de vorticidade;

1/𝑅𝑒∇2𝜔⃗⃗, o transporte difusivo da vorticidade devido à viscosidade.

No caso de análises bidimensionais (hipótese H1), a equação anterior é simplificada;


o vetor vorticidade passa a ter somente um componente, normal ao plano do
escoamento. Consequentemente, o termo referente à taxa de deformação dos
tubos de vorticidade torna-se nulo. Por conseguinte, a ETV bidimensional
assume a forma:
∂ω  1 2
∂t
( )
+ ∇V ω=
Re
∇ω

Como observado na equação acima, o termo de pressão não está presente. A


ausência desse termo faz com que a equação de Navier-Stokes seja transformada
em uma equação que descreve a trajetória dos vórtices discretos. Além disso,
a solução numérica da ETV não sofre com problemas associados a erros de
difusividade numérica. Em vista destas características, a solução da equação do

84
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

transporte da vorticidade torna-se mais simples do que a solução da equação de


Navier-Stokes (BARBA, et al., 2004).

Ondas na superfície de um fluido


As ondas do oceano são de particular interesse para engenheiros oceânicos e
navais por causa das interações entre essas ondas e estruturas na superfície livre
ou abaixo dela. Nosso primeiro exemplo de tal problema é a força instável agindo
sobre uma estrutura fixa na presença de ondas. Para simplificar, tratamos apenas
o componente x desta força, mas uma análise semelhante se aplica ao vetor de
força total.

Assumindo semelhança geométrica, podemos descrever a estrutura por uma


escala de comprimento l, que pode ser o comprimento ou o diâmetro do corpo.
Se negligenciarmos os efeitos da tensão superficial e assumirmos um sistema
de onda progressiva plana, então a magnitude da força da onda instável pode
depender apenas da densidade ρ, gravidade g, viscosidade υ, profundidade h,
comprimento do corpo l, e o tempo t, bem como a amplitude da onda A, o
comprimento de onda λ e o ângulo de incidência β das ondas em relação ao
eixo do corpo. Assim, um total de dez quantidades dimensionais devem ser
relacionadas na forma:
F = f ( ρ , g , v, A, l , β , h, l , t )

Alternativamente, sete parâmetros não dimensionais podem ser definidos para


substituir, uma escolha é o coeficiente de força:
F A h l 
= C F  . , , β , R, ωt 
ρ gl 3
λ λ λ 

Aqui, achamos conveniente usar a frequência de onda ω, que não é um parâmetro


independente adicional, mas relacionado a g, A e λ. Neste problema, o número
de Reynolds R deve ser a razão Ul/υ, onde U é uma escala de velocidade típica
do fluido em relação ao corpo. Uma vez que o deslocamento oscilatório das
partículas de fluido é proporcional à amplitude da onda A, a magnitude da
velocidade do fluido é ωA, e um número de Reynolds apropriado pode ser
definido por:
R = ω Al / v

85
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

Em princípio, não há dificuldade em conduzir um teste de modelo com os valores


apropriados de A/λ, h/λ, l/λ e β. Se a força de onda resultante for medida em um
ou mais ciclos, todos os valores relevantes de ωt serão incluídos. No entanto, o
número de Reynolds não pode ser escalado corretamente, uma vez que R ∝ l3/2.
Esta situação é essencialmente análoga à força de arrasto constante atuando no
casco de um navio.

Para superar esse dilema, precisamos de uma suposição simplificadora análoga


à hipótese de Froude para o arrasto no casco de um navio. Para tanto, estimamos
as magnitudes relativas das forças viscosa e inercial. Aqui, com U substituído por
ωA e a aceleração do fluido U por ω2A, segue-se que a razão das forças viscosas
para as forças inerciais é proporcional a:
U 2 / Ul = A / l

Em primeiro lugar, restringimos nossa atenção ao caso de uma grande estrutura


ou navio, como o casco de um navio, onde a proporção é pequena e os efeitos
viscosos são desprezíveis. Se assumirmos, além disso, que a amplitude da onda
A é pequena em comparação com o comprimento de onda λ e a profundidade h,
então o coeficiente de força será linearmente proporcional a A, com contribuições
não lineares proporcionais a A2 negligenciadas. O movimento linearizado
do fluido é sinusoidal no tempo, com frequência ω, e pode ser expresso
na forma:
=CF CFO cos (ωt + ε )

Onde ε é um ângulo de fase, CFO um coeficiente de força e ambos dependem de h/λ,


l/λ e β, mas não do tempo. Alternativamente, com U (t) a velocidade oscilatória
do fluido em relação ao corpo em alguma posição prescrita, como o centroide do
corpo, pode ser substituída pela expressão equivalente:
C F C M U + Cd U
=

C M e Cd são conhecidos respectivamente como a massa aparente e coeficientes


de amortecimento aparentes. Estes dependem de l/λ, ou da frequência da onda
ω, e podem ser determinados experimentalmente pela medição da amplitude e
da fase da força da onda que atua no corpo.

Os coeficientes de inércia e amortecimento podem ser previstos teoricamente. Um


limite particularmente simples ocorre para um corpo submerso que é pequeno

86
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

em comparação com o comprimento de onda, l/λ ≪ 1. Assim, a força atuando


no corpo é proporcional à aceleração local do fluido em relação ao corpo. Aqui,
ao contrário do caso de um corpo em aceleração em um fluido fixo, a constante
de proporcionalidade inclui uma força de “empuxo” adicional proporcional ao
volume deslocado de fluido ∀ e associada ao gradiente de pressão do fluido na
ausência do corpo. Para l/λ ≪ 1 segue-se que:
CM ≅ ( m11 + ρV ) / ρ gl 3
Cd ≅ 0

Assim, no caso especial onde A ≪ l ≪ λ, a força da onda é dada pela aproximação:


F ≅ ( m11 + ρV )U

Quando o corpo é pequeno em comparação com a amplitude da onda, entretanto,


a situação é fundamentalmente diferente. As forças de arrasto viscosas serão
dominantes, e uma representação óbvia da força da onda é dada por:
1 2
F= ρ l U U CD ( R )
2

Nesta expressão, o quadrado da velocidade U foi substituído pelo produto U|


U| para garantir que a força de arrasto viscosa atue na mesma direção que a
velocidade do fluido. A utilidade da aproximação é diminuída porque o número
de Reynolds é ele próprio uma função da velocidade instantânea. No entanto,
é relativamente útil para corpos de blefe, onde o coeficiente de arrasto viscoso
não é sensível ao número de Reynolds.

O caso intermediário, em que A/l é uma quantidade de ordem um, é um


dos problemas mais importantes e menos compreendidos desse campo. É
importante porque muitas estruturas, como risers de plataformas offshore e
outras estacas cilíndricas, têm diâmetros quase da mesma magnitude que a
amplitude de onda típica. Neste regime, os efeitos viscosos e inerciais são de
magnitude comparável, devendo-se retornar ao coeficiente de força exato.
No entanto, as interações inerentes entre os efeitos viscosos e inerciais não
impediram os engenheiros de simplificar as expressões para a força da onda. A
aproximação mais comum é a fórmula de Morison, a qual assume que a força
total da onda é a soma da força inercial e a força viscosa:
1 2
F=( m11 + ρV )U + ρ l CD U U
2

87
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

Uma vez que a validade de cada termo é restrita a um regime onde A/l é,
respectivamente, pequeno ou grande, a justificativa para a fórmula de Morison
é estritamente pragmática e deve depender da confirmação experimental.
Um esforço experimental considerável foi dedicado à validação da fórmula
de Morison. Para corpos submersos, uma aproximação semelhante parece
válida para fins de engenharia, desde que os coeficientes sejam determinados
experimentalmente e para valores apropriados do número de Reynolds e do
parâmetro A/l. Para corpos como estacas perfurantes de superfícies verticais,
não existe confirmação experimental satisfatória da equação acima, as razões
para isso não são compreendidas de forma adequada. Pesquisas sobre esse
assunto foram feitas por Hogben (1974) e Milgram (1976).

Se as ondas do oceano incidem sobre um corpo que flutua livremente, a força da


onda instável faz com que o corpo oscile. O movimento corporal é frequentemente
mais importante do que os componentes da força hidrodinâmica, embora um
estudo das forças seja essencial para a previsão teórica dos movimentos corporais.

O corpo pode estar flutuando na superfície ou pode estar submerso abaixo da


superfície; mas, em ambos os casos, o corpo desenfreado tem flutuabilidade
neutra, e a massa corporal m é igual à massa deslocada de água ρ∀.

Se os efeitos de acoplamento forem desprezados, o movimento de elevação y (t)


resulta do equilíbrio entre a força hidrodinâmica vertical e o produto da massa
corporal multiplicado pela aceleração vertical ÿ. Assim, a massa corporal m deve
ser adicionada aos nove parâmetros físicos dos quais a força depende. Na forma
não dimensional, segue-se que:
y A h l 
= f  . , , β , R, ωt , m / pl 3 
A λ λ λ 

Como m = ∀ρ, o último parâmetro acima é igual a ∀/l3. Para uma forma corporal
prescrita, este parâmetro é independente da escala de comprimento; assim, o
último parâmetro pode ser excluído em nosso estudo de corpos irrestritos.

A dependência dos parâmetros no número de Reynolds é mais uma vez uma


fonte de problemas fundamentais para o teste de modelos, bem como para fazer
previsões teóricas dos movimentos do corpo. Para corpos grandes, onde A/l é
pequeno, os efeitos viscosos são desprezíveis. Além disso, para corpos pequenos
onde A/l é da ordem um, ou grande em comparação com um, a situação é

88
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

consideravelmente mais simples do que aquela discutida em conjunto com a


força da onda em uma estrutura fixa. Aqui, um pequeno corpo desenfreado vai
balançar para cima e para baixo como uma rolha sobre o mar, com pouco ou
nenhum movimento relativo entre ele e o fluido circundante. Assim, não haverá
arrasto viscoso significativo para pequenos corpos desenfreados em ondas, e a
viscosidade pode ser negligenciada em geral.

Duas exceções importantes ocorrem onde forças viscosas afetam significativamente


os movimentos de corpos desenfreados nas ondas. Primeiro, se a forma do corpo
é tal que as forças inerciais são pequenas, então as forças de atrito devido ao
cisalhamento viscoso serão importantes, como no caso do arrasto constante em
uma placa plana ou corpo aerodinâmico. Em segundo lugar, o arrasto de fluxo
cruzado será significativo para um corpo longo e esguio se o comprimento for tal
que os movimentos não coincidam com a velocidade da onda local.

Um exemplo óbvio da primeira exceção é o movimento angular de um corpo


de revolução em torno de seu eixo. Assim, o momento de guinada em uma boia
axissimétrica deve-se inteiramente a efeitos viscosos. O movimento de rolamento
de navios e submarinos será afetado de forma semelhante se as seções do corpo
forem quase circulares. As tensões de cisalhamento viscosas são significativas
também nos movimentos de elevação de uma boia longarina delgada se o calado
for muito grande em comparação com o diâmetro. Nos últimos exemplos, o
amortecimento viscoso é particularmente importante na ressonância, onde as
forças inerciais e hidrostáticas se cancelam.

A segunda exceção ocorre se o corpo for delgado, com seu comprimento


comparável ao comprimento de onda e suas dimensões transversais comparáveis
à amplitude da onda. Se o corpo for rígido, ele se moverá em relação às ondas,
ao contrário de um pequeno corpo que é livre para se mover com o campo de
ondas local. Esta situação é análoga ao caso de um corpo fixo.

Se o corpo for restringido por uma amarração, a dinâmica dessa restrição afetará
os movimentos do corpo nas ondas. No caso mais simples, a amarração pode
ser considerada como uma restrição elástica linear e concentrada com a força
restauradora hidrostática atuando no corpo. Para corpos pequenos, essa restrição
pode induzir movimento relativo entre o corpo e as ondas e, então, as forças de
arrasto viscosas devem ser incluídas novamente. Se o cabo de amarração for muito
longo, as forças viscosas no cabo também são significativas. A complexidade deste
89
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

último problema é agravada pela dificuldade de modelar o cabo em um tanque de


ondas de profundidade limitada. Uma descrição abrangente das boias ancoradas é
fornecida por Berteaux (1976).

Equação de Navier-Stokes
Agora, consideramos a equação do momento para um fluido viscoso newtoniano.
A tensão viscosa para um fluido newtoniano é dada pelo coeficiente de viscosidade
vezes o gradiente de velocidade. Precisamos acrescentar que isso é estritamente
verdadeiro apenas para fluxo incompressível, e a seguinte derivação será igualmente
restrita ao fluxo incompressível.

Considere o caso em que o único gradiente de velocidade presente é ∂u/∂y, o


gradiente do componente x da velocidade na direção y. A única tensão de
cisalhamento que atua na partícula de fluido que ocupa o volume em um
determinado instante no tempo é então τyx=µ(∂u/∂y), onde o subscrito yx denota
uma tensão que atua na direção x e está associada com um gradiente de velocidade
na direção y. A força resultante atuando na partícula de fluido devido a essa
tensão viscosa é Fvx. Usando uma expansão da série Taylor de primeira ordem,
obtemos:
 ∂τ yx dy   ∂τ yx dy 
Fvx = τ yx +  dxdz − τ yx −  dxdz
 ∂y 0 2  ∂y 0 2 
 
∂τ
Fvx = yx dxdydz
∂y
∂  ∂u 
Fvx =  µ  dxdydz
∂y  ∂y 

Ou seja, para o caso em que ∂u/∂y é o único gradiente de velocidade e µ é


constante, a força resultante devido ao atrito viscoso na direção x, por unidade
de volume, é dada por:
Fvx ∂τ yx ∂ 2u
= = µ 2
dxdydz ∂y ∂y

Vemos que essa força é proporcional ao gradiente da tensão τyx. Se a tensão


de cisalhamento for uniforme em todo o fluxo, as partículas de fluido serão
distorcidas, mas não haverá força resultante devido a tensões viscosas. Em outras
palavras, deve haver gradientes de tensão viscosa para que a tensão viscosa
contribua para a aceleração de partículas de fluido.

90
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Tensões normais devido às taxas de deformação extensional também levam


a tensões viscosas (consulte a Seção 1.6). Uma análise semelhante àquela dada
anteriormente mostra que, para um fluxo onde ∂u/∂x é o único gradiente de
velocidade e µ é constante, a força resultante devido ao atrito viscoso na direção
x, por unidade de volume, é dada por:
Fvx ∂τ xx ∂ 2u
= = µ 2
dxdydz ∂x ∂x

Onde o subscrito xx denota uma tensão que atua na direção x e está associada a um
gradiente de velocidade também na direção x. No caso geral, onde os gradientes
de velocidade atuam em todas as direções, o componente x da força viscosa por
unidade de volume em coordenadas cartesianas torna-se:
Fvx  ∂τ ∂τ ∂τ 
= µ  xx + yx + zx 
dxdydz  ∂x ∂y ∂z 

Expressando as tensões em termos de gradientes de velocidade e usando a equação


de continuidade para simplificar o resultado, obtemos:
Fvx  ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u 
µ 2 + 2 + 2  =
= µ∇ 2u
dxdydz  ∂x ∂y ∂z 

Onde ∇2 é o operador Laplaciano. Em notação vetorial, portanto, a força viscosa


por unidade de volume é dada por µ∇2V. Essa força pode simplesmente ser
adicionada à equação de Euler, e obtemos a equação do momento para o fluxo
de um fluido viscoso:
DV
ρ = −∇p + ρ g + µ∇ 2V
Dt

Esta equação é conhecida como equação de Navier-Stokes. Na forma escrita aqui,


ela se aplica apenas a fluxos incompressíveis de viscosidade constante (newtoniana).

As equações de Euler e Navier-Stokes são não lineares, equações diferenciais


parciais e não existem soluções gerais. A principal fonte de dificuldade em
ambas as equações é a parte não linear do termo de aceleração. Soluções
analíticas existem apenas sob condições particulares, como fluxo incompressível
e irrotacional, fluxos totalmente desenvolvidos onde o termo de aceleração é
zero, ou fluxo de Stokes onde o termo de aceleração é pequeno em comparação
com o termo viscoso. Técnicas numéricas devem ser usadas para outros casos,

91
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

e agora é rotineiramente possível, por exemplo, resolver a equação de Euler


para um avião inteiro em números Mach transônicos, desde que não esteja
manobrando muito rapidamente. Quando os efeitos viscosos são incluídos, no
entanto, as soluções numéricas requerem muito mais velocidade do computador
e memória, e soluções completas de Navier-Stokes são atualmente possíveis
apenas em números de Reynolds baixos, ou seja, em números de Reynolds não
muito maiores do que o valor de transição fluxo laminar a turbulento.

Condições de limite

As equações diferenciais de movimento estão completas uma vez que as condições


de contorno são especificadas. Consideraremos apenas as condições de contorno
específicas introduzidas pela presença de uma parede, uma vez que são de maior
interesse aqui. A equação de Navier-Stokes inclui a tensão viscosa, de modo
que a condição de não escorregamento deve ser satisfeita. A condição de não
escorregamento significa que o fluido em contato com uma superfície sólida não
tem velocidade relativa em relação à superfície. Ou seja, na parede:

V = VW

A equação de Euler não inclui a tensão viscosa, de modo que ela não pode
satisfazer as mesmas condições de contorno que a equação de Navier-Stokes. Em
particular, não pode satisfazer a condição de derrapagem, e o escorregamento
é permitido. No entanto, em relação à superfície sólida, a velocidade do fluido
normal a uma superfície sólida ainda deve ir a zero para que não haja fluxo
através da superfície. Ou seja, a condição de contorno para a equação de Euler
na parede é:

n.V = n.VW

Lei de Stokes
George Gabriel Stokes, um matemático nascido na Irlanda, trabalhou a maior
parte de sua vida profissional descrevendo propriedades de fluidos. Talvez sua
realização mais significativa tenha sido o trabalho que descreve o movimento de
uma esfera em um fluido viscoso. Este trabalho levou ao desenvolvimento da Lei
de Stokes, uma descrição matemática da força necessária para mover uma esfera
através de um fluido quiescente viscoso a uma velocidade específica.

92
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

A Lei de Stokes é escrita como:


Fd = 6πµVd

Onde Fd é a força de arrasto do fluido em uma esfera, µ é a viscosidade do fluido,


V é a velocidade da esfera em relação ao fluido e d é o diâmetro da esfera. Usando
esta equação, junto com outro princípio bem conhecido da física, podemos
escrever uma expressão que descreve a taxa na qual a esfera cai através de um
fluido quiescente e viscoso.

Para começar, devemos desenhar um diagrama de corpo livre (FBD) da esfera.


Ou seja, devemos esboçar a esfera e todas as forças internas e externas atuando
na esfera conforme ela é lançada no fluido. A Figura 23 mostra um esboço de
todo o sistema (gotejamento através de uma coluna de líquido). O FBD é a seção
transversal tracejada que foi removida e explodida na parte esquerda desta figura.

Figura 23. Diagrama de corpo livre de uma esfera em um fluido quiescente.

Fb

Fd

mg

Fonte: adaptado de <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4424709/mod_resource/content/1/Roteiro%204%20-%20Viscosidade%20


de%20um%20l%C3%ADquido.pdf> (LEI DE STOKES, 2020).

O FBD nesta figura lista três forças agindo na esfera: Fb, Fd e mg. As duas primeiras
forças surgem do efeito de flutuabilidade do deslocamento do fluido em questão e
do arrasto viscoso do fluido na esfera, respectivamente. Ambas as forças atuam
para cima - a flutuabilidade tende a ‘flutuar’ a esfera (Fb) e a força de arrasto (Fd)
resistindo à aceleração da gravidade. A única força atuando para baixo é a força
corporal resultante da atração gravitacional (mg). Ao somar as forças na direção
vertical, podemos escrever a seguinte equação:
Fb + Fd =
mg

93
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

A força de empuxo é simplesmente o peso do fluido deslocado. Como você deve


se lembrar, o volume de uma esfera (esfera v) é escrito como:
4
vesfera = π r 3
3

Combinando este volume com a densidade de massa do fluido, rfluido, agora


podemos escrever a força de empuxo como o produto:
4 3
Fb m=
= df g π r ρ fluido g
3

onde g é a aceleração gravitacional e r é o raio da esfera. Combinando todas as


relações anteriores que descrevem as forças que atuam na esfera em um fluido,
podemos escrever a seguinte expressão:
4 3
π r ρ fluido g + 6πµVd =
mg
3

Reorganizando e reagrupando os termos da equação acima, chegamos à seguinte


relação:
2π 2 ( ρesfera − ρ fluido ) g
V=

Embora a Lei de Stokes seja direta, ela está sujeita a algumas limitações.
Especificamente, esta relação é válida apenas para fluxo “laminar”. O fluxo laminar
é definido como uma condição em que as partículas de fluido se movem em
trajetórias suaves na lâmina (camadas de fluido deslizando umas sobre as outras).
A condição de fluxo alternativo é denominado fluxo “turbulento”. Esta última
condição é caracterizada por partículas de fluido que se movem em caminhos
irregulares aleatórios, causando uma troca de momento entre as partículas. Os
engenheiros utilizam um parâmetro adimensional conhecido como o número de
Reynold para distinguir entre essas duas condições de fluxo. Este número é uma
razão entre as forças inerciais e viscosas dentro do fluido.

A aplicação do Número de Reynold a problemas de fluidos é determinar a natureza


das condições de fluxo de fluido - laminar ou turbulento. Para o caso em que
temos um fluido viscoso e incompressível fluindo em torno de uma esfera, a Lei
de Stokes é válida, desde que o Número de Reynold tenha um valor menor que
1,0. Ao utilizar a Lei de Stokes, é apropriado verificar se a aplicação desta lei é
apropriada.

94
Hidrodinâmica geral | Unidade iii

Escoamento ao redor de um obstáculo (Arrasto e


sustentação)
Pela grande frequência com que ocorrem na natureza e em diferentes aplicações
tecnológicas, o escoamento ao redor de corpos sólidos tem sido objeto de
inúmeros estudos teóricos, numéricos e experimentais, há mais de um século.
É fácil identificar situações práticas nas quais este tipo de escoamento acontece,
como, por exemplo, as águas de um rio contornando pequenas ilhas, pilares de
pontes ou embarcações ancoradas, ou, ainda, o movimento dos ventos em torno
de postes, edificações, árvores e montanhas. Em escoamentos que apresentam este
tipo de configuração, a frequência de emissão de vórtices (n) pode ser relacionada
à dimensão característica do corpo sólido (d) e à velocidade da corrente livre (U)
por intermédio do número de Strouhal (St), dado por:
nd
St =
U

Do ponto de vista fenomenológico, quando um corpo se desloca dentro de um


fluido em repouso ou, equivalentemente, quando um fluido escoa em torno de
um corpo sólido, surge sobre o corpo uma força. A projeção desta força na direção
normal ao escoamento é chamada de sustentação (FL) e é dada por:
1
FL = CL ρU 2 A
2

Enquanto sua componente paralela à corrente livre é denominada arrasto (FD),


podendo ser calculada pela expressão:
1
FD = CD ρU 2 A
2

Nas quais ρ é a densidade do fluido, A a área projetada, CD o coeficiente de arrasto


e CL o coeficiente de sustentação. A força de arrasto tem sempre a mesma direção
do escoamento, dificultando a penetração do corpo no seio do fluido. Na dinâmica
dos fluidos, os corpos podem ser classificados, quanto à sua forma geométrica,
como rombudos e aerodinâmicos. Os corpos rombudos produzem um alto
coeficiente de arrasto, que se deve, sobretudo, ao descolamento prematuro da
camada limite, acarretando a formação de uma esteira relativamente larga. As
formas aerodinâmicas, ao contrário, retardam o descolamento da camada limite,
minimizando o coeficiente de arrasto e, muitas vezes, produzindo um alto valor
do coeficiente de sustentação, como ocorre sobre as asas de uma aeronave.

95
Unidade iii | Hidrodinâmica geral

Uma outra forma de se conseguir elevados coeficientes de sustentação, consiste no


emprego de cilindros rotativos, posicionados perpendicularmente ao escoamento
principal. Neste tipo de problema, as configurações do escoamento são governadas
por dois parâmetros adimensionais, o número de Reynolds e a rotação específica.

Estudos nesta área passaram a ser desenvolvidos a partir da descoberta do


chamado efeito Magnus, em 1853, pelo professor alemão Heirnrich Magnus, da
Universidade de Berlim. Uma possível aplicação para este conceito consiste na
substituição de asas convencionais por cilindros rotativos, em aeronaves. Algumas
tentativas de utilização de cilindros rotativos em aeronaves tripuladas foram
realizadas no passado, mas, rapidamente abandonadas, apesar dos altos níveis
de sustentação obtidos. Aliás, a aplicação prática do efeito Magnus, em campos
que tradicionalmente se empregam perfis de asa, sempre foi bastante restrita.
A utilização de cilindros rotativos como substitutos de velas, na propulsão de
embarcações, foi proposta pelo engenheiro alemão Anton Flettner, em 1920, e
constitui uma das mais destacadas aplicações práticas do efeito Magnus.

Caros alunos, estamos finalizando mais uma unidade, segue aqui um estudo
realizado por Martins (2018), intitulado de “Análise numérica do escoamento
ao redor de cilindros circulares confinados em microcanais”, para uma melhor
absorção do conteúdo estudado nesta unidade: http://monografias.poli.ufrj.br/
monografias/monopoli10023937.pdf.

96
HIDRODINÂMICA
APLICADA UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
Dinâmica dos fluidos

Equação de Bernoulli e suas aplicações


A equação de Bernoulli aborda uma particularidade da primeira lei da
Termodinâmica. Esta lei determina que a mudança de energia interna de um
sistema é igual à soma da energia adicionada ao fluido com o trabalho realizado
pelo fluido.

Para expressar esta lei de forma geral para o caso de um escoamento entre duas
seções de um fluido incompressível em regime permanente, temos:
 P1 U12   P2 U 22 
Z
 1 + + α 1 − Z
  2 + + α 2 = H m + ∆h
 γ 2g   γ 2g 

O lado esquerdo da equação corresponde ao gasto médio de energia para o


fluido ser transportado na seção 1 à seção 2, enquanto o lado direito representa
o trabalho realizado por uma máquina desde o sistema ao exterior somada à
perda de energia mecânica. Cada parcela da equação representa um tipo de
energia do elemento fluido de peso unitário, cuja unidade pode ser escrita como
N . m N ou simplesmente m .Assim estas parcelas têm dimensão linear e são
denominadas de carga, conforme descrito a seguir:

» Z : energia ou carga de posição.

P
» : energia ou carga de pressão.
γ
» αU 2 / 2 g : energia ou carga de velocidade, também denominada de
taquicarga.

» H m : energia aplicada ou retirada por alguma máquina.

97
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

» ∆h : perda de energia mecânica ou perda de carga.

Quando não há movimento do fluido e a resultante das forças tem origem


nos esforços de compressão somente, as tensões de cisalhamento provocam
a deformação no fluido, ou seja, o escoamento. Neste caso, a velocidade é
nula. Logo, a equação fundamental da hidrostática, também denominada lei de
Stevin, pode ser obtida da equação de bernoulli fazendo U = 0 e ∆h =0 ,já que
não há movimento:
P1 P2
Z1 + = Z2 +
γ γ
γh
∴ P1 − P2 =

Adota-se, normalmente, duas escalas como referência, uma que utiliza pressão
atmosférica local, e a outra o zero absoluto ou o vácuo total. A pressão obtida a
partir da pressão atmosférica é denominada de pressão efetiva ou manométrica, e
na outra escala de pressão absoluta, a passagem de uma escala para outra se obtém
por meio da expressão:
P1absoluta
= P1efetiva + Patm
absoluta

O teorema de Bernoulli pode ser aplicado a um grande número de situações


práticas. A seguir, analisaremos as principais aplicações desse teorema em
situações do nosso dia a dia e também em situações mais técnicas:

O medidor de Venturi

Consiste em um medidor que é inserido em uma canalização de secção transversal


S para medir a velocidade de escoamento v1 de um fluido incompressível, de
massa específica ρ, através dela. Um manômetro tem uma de suas extremidades
inserida num estrangulamento, com área de secção transversal s, e a outra
extremidade na canalização de área S. Seja ρm a densidade do líquido manométrico
(mercúrio, por exemplo). Por simplificação, vamos considerar que a tubulação
é horizontal.

98
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

Figura 24. Medidor de Venturi.

S s

m

Fonte: adaptado de http://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2019/02/esquema-tubo-venturi.jpg (MEDIDOR DE VENTURI, 2021).

Pelo teorema de Bernoulli, devemos ter:


ρ .v12 ρ .v22
p1 + =p2 + (I )
2 2

Mas, pela equação da continuidade:


S
S .v1 = s.v2 → v2 = v1. ( II )
s

Então, substituindo (II) em (I), temos:

ρ v12  S 
2
ρ  ρ v12  S 2 − s 2 
p1 − p2=
2
(v − v
2
2
2
1 ) → p1 − p2=  
2  s 
− 1  → p1 − p=
2 
2  s2 
 ( III )


A relação de Stevin, da hidrostática permite obter:


p1 + ρ .g .H = p2 + ρ .g .( H − h ) + ρ m .g .h → p1 − p2 = ( ρ m − ρ ) .g .h ( IV )

Finalmente, substituindo (III) em (IV), chegamos a:

2.( ρ m − ρ ) .g .h
v1 = s.
ρ ( S 2 − s2 )

O tubo de Pitot

O tubo de Pitot é um dispositivo utilizado para medir a velocidade de escoamento


de um gás – ar, por exemplo. Tal dispositivo está ilustrado na figura 25 a seguir.

99
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Figura 25. Tubo de Pitot.

Fonte: http://www.guiadaengenharia.com/wp-content/uploads/2019/02/tubo-pitot.jpg (TUBO DE PITOT, 2021).

As aberturas a são paralelas à direção de escoamento do ar e bastante afastadas


da parte posterior para que a velocidade v do fluxo de ar e a pressão fora dela não
sejam perturbadas pelo tubo. Seja pa a pressão estática do ar no ramo esquerdo
do manômetro, que está ligado a essas aberturas. A abertura do ramo direito do
manômetro é perpendicular à corrente e, em b, a velocidade reduz-se a zero; logo,
nessa região, a pressão total do ar é pb (maior que pa, como nos mostra a figura).

O teorema de Bernoulli fornece então:


ρv2
pa + pb
=
2

A relação de Stevin, aplicada ao líquido do manômetro, fornece:


pa + ρ m .g .h =
pb

Logo,
ρv2 2.ρ m .g .h
= ρ m g .h → =
v
2 ρ

O tubo de Pitot pode ser convenientemente calibrado de modo que forneça


o valor da velocidade v diretamente. Nesse caso, o tubo de Pitot torna-se um
velocímetro e seu uso é bastante comum em aviões.

A bomba spray

A bomba spray (atomizador) é utilizada em frascos de perfume. A bomba de borracha


ao ser comprimida expele o ar contido em seu interior a uma alta velocidade.
De acordo com o teorema de Bernoulli, a pressão do ar fluindo à alta velocidade
100
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

através da região superior do tubo vertical é menor que a pressão atmosférica


normal atuando na superfície do líquido contido no frasco. Dessa maneira,
o líquido é empurrado tubo acima devido à diferença de pressão. Ao atingir
o topo do tubo, a coluna líquida é fragmentada em pequenas gotículas (spray).

O empuxo dinâmico em uma asa

O empuxo dinâmico é a força exercida sobre um corpo, devido ao movimento


desse corpo em um fluido. Uma superfície aerodinâmica – como uma asa de
avião ou um aerofólio de carro de corrida ou mesmo as aletas de uma lancha – é
desenhada de tal maneira que, ao se movimentar através de um fluido perturba-o
de tal modo que, em algumas regiões, as linhas de corrente são mais próximas e
em outras regiões elas não são afetadas.

O empuxo dinâmico em uma bola girante

O empuxo dinâmico também pode ser observado numa bola girante. Tal efeito é
bastante explorado no mundo esportivo, principalmente no tênis, no golfe e no
futebol. É muito comum no futebol, na cobrança de uma falta com bola parada, a
bola, depois de chutada, descrever uma curva e enganar o goleiro.

O empuxo dinâmico em uma vela

O teorema de Bernoulli também pode explicar como um veleiro pode se deslocar


quase que contra o vento. Quando navegando contra o vento, a vela mestra deve
ser posicionada a meio ângulo entre a direção do vento e o eixo do barco (linha
da quilha). Assim, a pressão atmosférica normal atrás da vela mestra é maior
que a pressão à sua frente, onde a velocidade do fluxo de ar é maior devido ao
estreitamento entre a bujarrona e a vela mestra, e isso origina uma força Fvento,
que impulsiona o barco. A força resultante no barco, devido ao vento e ao efeito
de Bernoulli, atua quase que na perpendicular à vela e isso tenderia a deslocar
o barco lateralmente se não houvesse uma porção da quilha estendendo-se
verticalmente abaixo da linha-d’água, a bolina. A água exerce, então, uma força
quase que perpendicular à bolina (Fágua), ou seja, quase perpendicular à quilha do
barco. A resultante dessas duas forças, a força Fresultante, é quase que diretamente
dirigida para a frente do barco, de modo que o barco se desloca contra o vento.

101
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Equação de Torricelli
O teorema de Torricelli nada mais é do que uma aplicação direta da equação
de Bernoulli. Tal teorema diz respeito ao fluxo de um líquido contido em um
recipiente qualquer (figura 26), através de um pequeno orifício. Por meio do
teorema de Torricelli podemos calcular a velocidade de saída do líquido pelo
orifício.

Figura 26. Recipiente contendo líquido.

1- Nível da água
z1

2 – Orifício de saída da água


z2

Fonte: Adaptado de < https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/67/TorricellisLaw.svg/1200px-TorricellisLaw.svg.png>


(TEOREMA DE TORRICELLI, 2021).

A velocidade de saída no líquido no ponto 2 pode ser calculada aplicando-se a


equação de Bernoulli nos pontos 1 e 2.
v12 p1 v2 p
z1 + + =z2 + 2 + 2
2g γ 2g γ

Onde:

z1 e z2: distância vertical entre os pontos analisados do fluxo e o plano horizontal


de referência.

v1 e v2: velocidade do fluxo nos pontos analisados.

g: aceleração da gravidade.

p1 e p2: pressão do fluido nos pontos analisados.

γ: peso específico do fluido analisado.

Sabendo que a velocidade do líquido no ponto 1 é zero, pois o fluido está em


repouso no topo do recipiente. E considerando o recipiente aberto, teremos a
pressão atmosférica atuando nos pontos 1 e 2, logo temos:

102
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

patm v22 patm


z1 + =z2 + +
γ 2g γ
v22
= z2 − z1
2g

Logo:
v2 = 2.g .H

Portanto, podemos concluir que quanto maior for a diferença de cotas entre a
superfície do líquido no recipiente e o orifício, maior será a velocidade de saída
do líquido por tal orifício.

Escoamento em condutos
Os escoamentos são fluidos em movimento definidos de acordo com os
parâmetros físicos ao longo do espaço e do tempo. E a partir de uma análise
destes parâmetros chega-se a classificação em relação à geometria; quanto à
variação do tempo; quanto ao movimento de rotação e quanto à trajetória.

Escoamento forçado e livre

Uma classificação inicial, de escoamento na Hidráulica, refere-se à pressão no


conduto. E, então, o escoamento pode ser forçado ou livre.

No escoamento forçado (figura 27), a pressão é diferente da pressão atmosférica,


o fluido escoa em um conduto fechado enchendo-o totalmente, onde a pressão
efetiva é diferente de zero. Como exemplo, sistemas das tubulações prediais,
tubulações de recalque e sucção das bombas de abastecimento de água, oleodutos e
gasodutos.

Figura 27. Seção transversal de um conduto fechado de um escoamento forçado.

Seção transversal de um conduto fechado

Fluido

Fonte: Próprio autor.

103
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Neste tipo de escoamento, o atrito interno do fluido e o atrito do mesmo


com as paredes do conduto resulta em perda de energia. Trata-se de um fator
determinante no escoamento forçado, que resulta do nível de rugosidade das
paredes do conduto ou de uma possível turbulência.

No escoamento livre (figura 28), a pressão na superfície do líquido é igual à


pressão atmosférica, ou seja, apresenta uma superfície livre. Neste caso, como
a denominação sugere, o conduto pode ser aberto ou fechado. Como os rios,
canais artificiais de irrigação, canais artificiais de irrigação e drenagem, canais
fluviais com o conduto aberto e rede de coleta de esgoto sanitário com o conduto
fechado.

Figura 28. Escoamento livre.

Fonte: https://www.engenhariacivil.com/imagens/canal-superficie-livre.jpg. (ESCOAMENTO LIVRE, 2021).

Escoamento laminar e turbulento

Quanto à direção da trajetória das partículas, o escoamento pode ser laminar ou


turbulento.

Experiência de Osborne Reynolds

Reynolds analisou experimentalmente a injeção contínua de um corante em um


ponto do escoamento. Ao observar o fluxo através de tubos e canais, foi possível
visualizar quanto à direção da trajetória das partículas que o escoamento pode ser
laminar ou turbulento.
104
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

Considerando as indicações de Reynolds


ρUDh
Re =
V

Em que:

Re : número de Reynolds.

U : velocidade média do escoamento.

Dh : dimensão geométrica característica.

ρ : massa específica.

V : viscosidade cinemática.

µ: Viscosidade dinâmica.

Quando o escoamento é laminar (figura 29), o fluido se move sem perturbação,


em camadas ou em lâminas ao longo de trajetórias bem definidas. Nesta condição,
as moléculas se movimentam paralelamente ao longo do conduto. Geralmente
ocorre em baixas velocidades e em fluidos que apresentem grande viscosidade. E
esta viscosidade age no fluido no sentido de amortecer a tendência de surgimento
de turbulências. Neste te escoamento a velocidade do fluido em que qualquer
ponto fixo não muda com o tempo, em magnitude ou direção e sentido.

Figura 29. Fluxo laminar.

Fonte: https://www.tecnoflexpe.com.br/wp-content/uploads/2017/02/Tecnologia-Hidráulica-Industrial.pdf (FLUXO LAMINAR, 2021).

E no escoamento turbulento (figura 30) as partículas do fluido têm trajetória


irregular, um movimento caótico. Condições resultantes da rugosidade
das paredes do conduto que geram vórtices (movimentos rotacionais) que
contribuem com a perda de energia.

105
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Figura 30. Escoamento turbulento.

Fonte: https://www.tecnoflexpe.com.br/wp-content/uploads/2017/02/Tecnologia-Hidráulica-Industrial.pdf. (FLUXO TURBULENTO, 2021).

Regime permanente e transitório

Quanto à variação do tempo, os escoamentos se classificam em permanentes e


transitórios. No regime permanente, o escoamento não apresenta variação das
características com o tempo. As propriedades neste escoamento são expressas
como sendo ∂v = 0, ∂∂ρt =0, ∂p =0. A figura 31 apresenta um exemplo de regime
∂t ∂t
permanente.

Figura 31. escoamento em regime permanente.

Nível constante

Fonte: Próprio autor.

E no escoamento transitório o escoamento apresenta as características, como


∂v ∂ρ
pressão, velocidade, carga e vazão que variam com o tempo, logo ∂t
≠0, ∂t
≠0,
∂p
∂t
≠0 como apresentado na figura 32. Essas variações podem acontecer a
partir de estímulos no sistema como, fechamento rápido de válvulas e ondas de
pressão, por exemplo.

106
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

Figura 32. Escoamento em Regime transitório.

t1

t2
Nível Variável

t3

Fonte: Próprio autor.

Escoamento uniforme e variado

Com relação à trajetória, os escoamentos podem ser classificados em uniforme


e variado. No escoamento uniforme, em uma dada seção transversal o vetor
velocidade é caracterizado como constante em módulo, direção e sentido, em
todos os pontos, para qualquer instante como visto em adutoras.

E no escoamento variado, o vetor velocidade é caracterizado como inconstante


no tempo. As velocidades variam em cada seção transversal ao longo do
escoamento.

Escoamento unidimensional, bidimensional e


tridimensional

O escoamento é classificado como uni, bi, ou tridimensional de acordo com


o número de coordenadas espaciais necessárias para especificar seu campo
de velocidade, se classificam em função das dimensões. E o escoamento
unidimensional apresenta desprezível as variações das grandezas na direção
transversal ao escoamento, como por exemplo de escoamentos em tubos ou
entre placas paralelas.

107
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Já no escoamento bidimensional, como as variações das grandezas podem ser


expressas em função de duas coordenadas, as grandezas (velocidade, pressão e
demais grandezas) variam e duas dimensões ou são tridimensionais com alguma
simetria.

Escoamento rotacional e Irrotacional

Quanto à velocidade angular das partículas que compõem o fluido, os


escoamentos podem ser rotacionais e irrotacionais. No escoamento rotacional,
há o movimento de rotação das partículas do fluido em torno de seus próprios
centros de massa. A velocidade angular é diferente de zero. Já o escoamento
irrotacional é um escoamento sem rotação, a velocidade angular é dita como
zero.

Perdas de carga
A perda de energia ou perda de carga motivada internamente pelos atritos do
fluido e pelos atritos entre este e a tubulação é o fator decisivo nos escoamentos
em condutos forçados. Neste caso, estes atritos são produzidos pelas paredes
ásperas dos condutos ou ainda de acordo com a turbulência gerada, relacionadas
às alterações de direção ou da própria seção do escoamento.

Por definição, perda de carga é o consumo de energia desprendido por um fluido


para superar as resistências do escoamento. Essa energia pode se perder sob a
forma de calor.

Na realidade, as tubulações não são compostas somente por tubos retilíneos e de


igual diâmetro. Há ainda outras peças como: curvas, joelhos, cotovelos, registros
e válvulas, entre outras, que são responsáveis por perdas ainda mais recentes. As
perdas se dispõem em:

» Perda de carga contínua ou distribuída ou por atrito (hf): acarretada


pela resistência proporcionada pelo escoamento do fluido no decorrer
da tubulação. Esse tipo de perda é de forma direta proporcional ao
comprimento do canal de diâmetro constante.

» Perda de carga acidental ou localizada ou singular (ha): acontece na


maioria das vezes que houver alteração no valor ou no módulo e na
direção da velocidade.

108
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

» Perda de carga total (ht): ht = hf + ha

A perda de carga acidental é de extrema importância em tubulações curtas, já em


tubulações compridas seu valor é com frequência desprezado na prática.

Perda de carga contínua

Os hidráulicos vêm estudando há muito tempo o comportamento dos fluidos


em escoamento. Darcy, um hidráulico (suíço), e vários outros estudiosos
concluíram o seguinte a respeito da perda de carga no comprimento das
tubulações:

» É de forma direta proporcional ao comprimento do conduto.

» É proporcional a uma potência da velocidade.

» É inversamente proporcional a uma potência do diâmetro função da


natureza das paredes, caso seja um regime turbulento.

» Não é dependente da pressão na qual há o escoamento do líquido; e é


não dependente da posição da tubulação e do sentido de escoamento.

Passou a existir numerosas fórmulas para realizar o dimensionamento das


canalizações, a maioria delas era peculiar para cada condição de trabalho de
uma determinada região. Nos anos recentes, o número de fórmulas empregadas
sofreu uma redução. Abordaremos a seguir as fórmulas de Hazen-Willians,
Flamant e Darcy- Weisbach ou Universal.

» Fórmula de Hazan – Willians

Para a utilização desta fórmula, alguns lembretes são feitos: a água


submetida ao escoamento precisa estar à temperatura ambiente;
as tubulações devem possuir diâmetro superior ou igual a 2” ou 50
mm, o que sugere que o escoamento é turbulento com paredes que
apresentam rugosidade ou turbulento por completo; Grande parte
dos problemas reais são classificados como turbulentos, quando o
fluido estabelecido é a água.

109
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

A fórmula Hazen-Willians pode ser expressa como segue pela equação


abaixo.
1,85
L Q
h f = 10,64. 4,87 . 
D C 

Em que:

hf é definido como a perda de carga contínua (m).

L é definido como o comprimento da tubulação retilíneo, (m).

D é o diâmetro, (m).

Q é a vazão, m3s-1.

C é o coeficiente de Hazen-Willians, que depende da natureza das


paredes dos tubos.

» Fórmula de Flamant

Para o uso desta fórmula existem alguns obstáculos, como: o uso para
instalações domiciliares (prediais); sendo aplicado a tubulações com
diâmetro variando entre 12,5 e 100 mm, e também para escoamento
de água à temperatura ambiental; sendo também empregada em
tubulações de ferro e aço-galvanizado.

A fórmula de Flamant pode ser expressa pela equação abaixo:

L
h f = 6,11.b. .Q1,75
D 4,75

Em que:

hf é a perda de carga contínua, (m).

L é definido como o comprimento da tubulação retilíneo, (m).

D é o diâmetro, (m).

Q é a vazão, (m3s-1).

b é o coeficiente de Flamant (os valores dos coeficientes são dependentes


do material do conduto, que podem ser encontrados em tabelas).

110
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

» Fórmula de Darcy – Weisbach.

A fórmula de Darcy ou universal pode ser empregada para todo e


qualquer espécie de fluido e é válida regime de escoamento laminar ou
turbulento.
L V2
hf = f
D 2g

Em que:

hf é definido como a perda de carga contínua (L).

f é definido como o fator de atrito.

L é definido como o comprimento da tubulação retilíneo (L).

D é o diâmetro do canal (L).

V é a velocidade de escoamento (L.T-1).

g é a aceleração da gravidade (L.T-2).

Perda de carga localizada

Estas perdas acontecem quando há mudança no módulo ou ainda na direção da


velocidade. Uma alteração no diâmetro sugere uma modificação na grandeza
da velocidade. Estas perdas acontecem normalmente quando se faz presente as
denominadas peças especiais (curvas, válvulas, registros, bocais, ampliações,
reduções).

Se a velocidade for inferior a 1 m.s-1 e o número de peças for pequeno, significa


dizer que as perdas acidentais podem ser consideradas desprezíveis. Se o
comprimento for superior ou igual a 4000 vezes o seu diâmetro, elas também
podem ser desprezadas. Contudo, em investigações acadêmicas, elas devem ser
levadas em consideração.

Em termos práticos, as canalizações não são constituídas somente de tubos


retilíneos e de igual diâmetro. As perdas de carga localizadas podem ser descritas
mediante a equação geral seguinte:
Vi 2
hf Li = K i .
2g

111
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Onde:

Vi é definido como a velocidade média do fluxo (m/s).

Ki é um coeficiente empírico (valores desse coeficiente são apresentados em


tabelas) que é considerado constante para valores de Número de Reynolds (Re)
superiores a 50 000.

Perda de carga total (ht)

A perda de carga total no decorrer de uma canalização é conceituada como


decorrência da somatória das perdas de carga em todo o comprimento dos
trechos retilíneos (perda de carga contínua) juntamente com as perdas de carga
nas conexões e peças especiais (perda de carga localizada).

Os autores ELL e TRABACHINI realizaram um estudo recente sobre a revisão


de conceitos teóricos de perda de carga, a fim de demonstrar a importância
de suas aplicações em sistemas hidráulicos. Sugerimos a leitura detalhada
desse estudo acessando o seguinte link: http://www.escoladavida.eng.br/
mecfluquimica/perda_de_carga_tubulacao_singularidades.pdf (PERDA DE
CARGA, 2021).

112
CAPÍTULO 2
Conceitos fundamentais em
transferência de calor e massa (fluidos
em movimento)

Forças, calor e massa. Forças desenvolvidas pelos


fluidos em movimento
Os mecanismos de transferência de calor e de massa são comparáveis uns aos
outros, e podendo-se desenvolver uma compreensão de transferência de massa
fazendo, por fim, a comparação entre a transferência de calor e de massa.

A medida da quantidade do fluxo de matéria pode ser realizada utilizando uma base
molar ou mássica e isso depende da situação avaliada. A base molar é preferível
em problemas que envolvam gases considerados como perfeitos à temperatura e
pressão constantes, nos quais o número de moles por unidade de volume não varia
com o tempo, isto é, é constante. Enquanto a utilização da base mássica pode ser
favorecida em problemas com reações químicas em fase homogênea.

O mecanismo da transferência de massa é dependente da dinâmica da mistura no


qual acontece, devido a isso, podemos dividi-lo em 2 tipos:

» Transferência de massa molecular: movimento randômico de um fluido


em repouso.

» Transferência de massa convectiva: superficie de um fluido em


movimento.

Ambos os tipos de transferência de massa são equivalentes aos da transferência


de calor, ou seja:

» Transferência de calor por condução: trânsferência de calor que


acontece através do meio.

» Transferência de calor por convecção: transferência de calor que


acontece entre uma superfície e um fluido que esteja em movimento.

Em misturas multicomponentes, a concentração de uma espécie molecular pode


ser descrita por diversas formas:

113
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

» Concentração ou densidade mássica total (ρ): massa total do sistema


em uma unidade de volume da mistura, expressa por:
n
ρ = ∑ρi onde, n é o número das espécies na mistura
i =1

Já a fração mássica, wA, é a concentração mássica da espécie A dividida


pela densidade mássica total, dada por:
ρ ρA
=wA = A


n
ρ ρ
i =1 i

» Concentração molar da espécie A (CA) é dada pelo número de moles


de “A” presentes por unidade de volume da mistura:
moles A
CA =
V mistura

Relacionando as concentrações mássica (ρA) e massa molecular (MA) da espécie A,


pode-se definir por:
ρA
CA =
MA

A velocidade mássica média para mistura multicomponente pode ser definida em


termos de densidade mássica para todos os componentes.
 
∑ ρv ∑ ρv
n n
 i i i 1 i i 
=v =i 1 =
= onde v é a velocidade absoluta das espécies i
∑ ρ
n
ρ
i =1 i

relativo ao eixo das coordenadas estacionárias

Já a velocidade molar média pode ser definida em termos das concentrações


molares de todos os componentes.

∑ cv ∑ cv
n n
 i i i 1 i i
=V =i 1 =
=
∑ c
n
c
i =1 i

A velocidade de difusão pode ser definida como a velocidade de espécies


particulares relacionadas à velocidade mássica ou molar média, com isso, existem
dois tipos de velocidade de difusão:

» Velocidade de difusão das espécies i relativa à velocidade mássica média


 
( vi → v ).

114
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

» Velocidade de difusão das espécies i relativa à velocidade molar média



( vi → V ).

Segundo a lei de Fick, uma espécie pode ter velocidade relativa à velocidade
mássica ou molar média apenas se existirem gradientes de concentração.

O fluxo mássico ou molar

O fluxo mássico ou molar de uma determinada espécie pode ser definido como
uma quantidade vetorial denominada por meio da quantidade desta espécie
em unidades mássicas ou molares, que se deslocam em um dado acréscimo de
tempo por uma unidade de área normal ao vetor.

Por definição, o fluxo é dado pelo produto da velocidade e concentração, sendo a


unidade de em massa/(área*tempo). Os fluxos podem ser referenciados por meio
das três coordenadas fixas no espaço (referência inercial) ou ainda movendo-se
relacionados a uma velocidade de referência (velocidade mássica ou molar média).

Fluxos relacionados a uma velocidade de referência

A 1o Lei de difusividade de Fick faz a definição da difusão molecular do


componente A em uma mistura isobárica e isotérmica. Para uma difusão somente
na direção z, temos:
dC A
J A, z = − DAB ( fluxo molar médio )
dz

Onde:

J A, z é o fluxo molar na direção z relativo a velocidade molar média.

DAB é o fator de proporcionalidade: coeficiente de difusão para o componente A


difuso em B.
dC A
é o gradiente de concnetração na direção z.
dz
O sinal negativo sugere que o fluxo está em sentido oposto ao eixo z, isto é, na
região de maior concentração para a de menor concentração.

115
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

O fluxo mássico médio pode ser dado por:


dwA
j A, z = − ρ .DAB
dz

Onde:

J A, z é o fluxo mássico na direção z relativo à velocidade mássica média.

dwA / dz é o gradiente de concnetração em termos de fração mássica.

As contribuições mais importantes em transferência de massa são:

» Contribuição difusiva: é aquela que ocorre o transporte de matéria


devido às interações moleculares (interação soluto/meio).

» Contribuição convectiva: é aquela que ocorre o auxílio ao transporte


de matéria como consequência do movimento do meio (Interação
soluto/meio + ação externa).

Fluxos relacionados a um sistema de referência inercial

O Fluxo Molar das espécies A e B em relação a um sistema de coordenadas fixas


pode ser escrito como:
   
=N A c=
Av A e N B cB vB

Fazendo a substituição das equações acima na equação abaixo, obteremos uma


relação para o fluxo do componente A em relação ao eixo z:
dy dy
−cDAB A + y A ( c Av A, z + cB vB , z )
c Av A, z = → −cDAB A + y A ( N A, z + N B , z )
N A, z =
dz dz

Reescrevendo a equação na forma vetorial, teremos:


  
NA = (
−cDAB∇y A + y A N A + N B )
Onde:

−cDAB∇y A é o fluxo molar, J A , resultante do gradiente de concentração.
  
(
yA N A + N B = )
c AV é o fluxo molar resultante do componente A.

Se a espécie A difundir em uma mistura multicomponente, a expressão


equivalente à equação anterior é:

116
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

 n 
NA =−cDAM ∇y A + y A ∑N i
i =1

Onde:

DAM é o coeficiente de difusão de A na mistura.



O Fluxo Mássico, N A , relativo a uma mistura de coordenadas fixas, pode ser
definido em termos de densidade e fração mássica para uma mistura binária, por:
      
− ρ DAB∇wA + wA ( nA + nB ) , onde nA =
nA = ρ AnA e nB =ρ B vB

Em condições adiabáticas e isotérmicas, a equação anterior pode ser expressa como:


  
nA =− DAB∇ρ A + wA ( nA + nB )

Onde:

− DAB∇ρ A é o fluxo mássico, J , resultante do gradiente de concentração.
A, z

 
wA ( nA + nB ) é o fluxo mássico resultante do componente A transportado no fluxo
do fluido.

Coeficientes de transferência de calor e massa

A taxa de tranferência de calor para o fluxo externo é definida pela lei de


resfriamento de Newton como:
Qconv hconv As (Ts − T∞ )
=

Onde:

hconv o coeficiente de transferência de calor por convecção, As é a área da superfície


e Ts - T∞ é a diferença de temperaturas na camada limite térmica. Sendo
assim, a taxa de transmissão em massa pode ser descrita por:
mconv hmass As ( Cs − C∞ )
=

Onde:

hmass é o coeficiente de transferência de massa, As é a superficie, e Cs – C∞ é a


diferença de concentração na camada limite de concentração.

117
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Os mecanismos de transferência de massa são complexos e não são de fácil


descrição. Desse modo, o cálculo do fluxo de massa é alcançado por meio de
coeficientes de transferência de massa (PINHO E PRAZERES, 2008). Esses
coeficientes representam uma medida da velocidade com que um sistema
transfere o soluto de uma fase onde a sua concentração é maior para outra,
onde a concentração é menor e são função das propriedades físico-químicas do
soluto, das propriedades do meio, das características internas e das condições
de funcionamento do sistema (KRAAKMAN et al., 2011). Considerando as
definições dos coeficientes parciais:
N= kG ( CG − CGi )= k L ( CLi − CL )
1 1 1
sendo= +
k L mkG k L

De acordo com a equação anterior, esta resistência é a soma de duas resistências


parciais encontradas em série, uma situada no filme gasoso de espessura δG,
(1/mkG) e outra situada no filme líquido de espessura δL, (1/kL), o parâmetro m
é igual à constante de Henry, (H). O coeficiente global de transferência de massa
referente à fase líquida (KL) é uma combinação dos coeficientes de transferência
de massa parciais, do lado do líquido (kL) e do lado do gás (kG):
k L kG H
KL =
k L + kG H

Já o coeficiente volumétrico de transferência de massa (kLa) pode ser dado por:


k L a= k L × a

Entender e descrever a transferência de massa entre as fases é extremamente


relevante, pois na maioria das vezes essa é uma etapa crítica para determinar a
realização de uma aplicação, logo, pode ser a base para orientação no design e
scale-up do processo (HASSAN et al., 2012; FISHWICK et al., 2003).

Condução
A condução é definida como a transferência de energia das partículas mais
energéticas para as menos energéticas de um átomo de uma substância por causa
das interações entre as partículas. O mecanismo físico de condução facilmente
esclarecido quando se leva em consideração um gás e se usa- ideias familiares
de sua formação em termodinâmica. Então, um gás no qual haja um gradiente

118
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

de temperatura e assuma que não há movimento a granel ou macroscópico. O


gás pode fazer a ocupação do espaço entre duas superfícies que se mantêm em
temperaturas diferentes. Faz-se a associação da temperatura em um ponto qualquer
à energia das moléculas de gás próximo do ponto. Essa energia está relacionada
ao movimento translacional aleatório, bem como aos movimentos rotacionais e
vibratórios internos das moléculas.

Temperaturas mais elevadas estão associadas a energias moleculares mais


elevadas. Quando as moléculas vizinhas colidem, como estão constantemente
fazendo, uma transferência de energia das moléculas mais energéticas para
as menos energéticas deve acontecer. Na presença de um gradiente de
temperatura, a transferência de energia por condução deve acontecer na direção
da redução da temperatura, isso seria verdade mesmo na ausência de colisões.
Colisões entre moléculas aumentam essa transferência de energia. Fala-se da
transferência líquida de energia por movimento molecular aleatório como sendo
uma difusão de energia.

A situação é praticamente a mesma em líquidos, embora as moléculas sejam mais


espaçadas e as interações moleculares sejam mais fortes e aconteçam com mais
frequência. Da mesma forma, em um sólido, a condução pode ser atribuída à
atividade atômica na forma de vibrações reticuladas. A visão moderna é conferir a
transferência de energia a ondas reticuladas que sofrem indução pelo movimento
atômico. Em um não condutor elétrico, a transferência de energia é de forma
exclusiva – via essas ondas de treliça; em um condutor, isso também se deve ao
movimento de translação dos elétrons livres.

Exemplos de transferência de calor por condução são diversos. A extremidade


que está exposta de uma colher de metal imersa em uma xícara de café quente
sofre de forma eventual aquecimento por causa da condução de energia mediante
a colher. Em um dia de inverno, existe perda significativa de energia de uma sala
aquecida para o ar externo. Essa perda deve-se principalmente à transferência
de calor por condução, por meio da parede que faz a separação do ar da sala do
ar externo.

Os processos de transferência de calor podem ser mensurados em termos de


equações de taxa adequadas. Essas instruções podem ser empregadas para
fazer o cálculo da quantidade de energia sendo transferida por unidade de

119
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

tempo. A lei de Fourier é a taxa para a condução de calor. Essa equação da taxa
é expressa como:
dT
q"x = −k
dx

O fluxo de calor q” (W/m2) é a taxa de transferência de calor na direção x por


unidade de área perpendicular à direção da transferência e é proporcional
ao gradiente de temperatura, dT/dx, nessa direção. A condutividade térmica
(W/m⋅K) é representada pelo parâmetro k (uma propriedade de transporte) e é
uma particularidade do material da parede. O sinal de menos é resultado do calor
ser transferido na direção da diminuição da temperatura. Sob as condições de
estado estacionário, em que a repartição de temperatura é linear, o gradiente de
temperatura pode ser descrito por:
dT T2 − T1
=
dx L

Temos que o fluxo de calor é:


T2 − T1
q"x = −k
L
T −T ∆T
q"x =
−k 2 1 = k
L L

Observe que essa equação fornece um fluxo de calor, ou seja, a taxa de


transferência de calor por unidade de área. A taxa de calor por condução,
qx (W), por meio de uma parede plana da área A é o produto do fluxo e da área,
q x = q” x . A.

A lei de Fourier é fenomenológica, isto é, é desenvolvida a partir dos fenômenos


observados, em vez de ser derivada dos primeiros princípios. Portanto, a
equação da taxa é como uma generalização fundamentada em diversas evidências
experimentais. Por exemplo, considere o experimento de condução em estado
estacionário da Figura 33. Uma haste cilíndrica de material conhecido é isolada
em sua superfície lateral, enquanto suas faces finais são mantidas em temperaturas
diferentes, com T1 > T2. A diferença de temperatura causa transferência de
calor por condução na direção x positiva. Podemos mensurar a taxa de
transferência de calor qx, e procuramos fazer a determinação de como qx
é dependente das seguintes variáveis: ∆T, a diferença de temperatura; ∆x, o
comprimento da haste; e A, a área transversal.

120
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

Figura 33. Experimento de condução de calor em estado estacionário.

∆T= T1-T2
A, T1 T2
qx

∆x
x
Fonte: https://courses.nus.edu.sg/course/chewch/CN2125E/lectures/Week1.pdf. (CONDUÇÃO, 2021).

Podemos imaginar primeiro mantendo ∆T e ∆x constante e variando A. Se o


fizermos, descobrimos que qx é de forma direta proporcional a A. Da mesma
forma, mantendo ∆T e A constante, observamos que qx sofre variação de forma
inversa com ∆x. Por fim, mantendo A e ∆x constante, descobrimos que qx é
diretamente proporcional a ∆T. O efeito coletivo é então:
∆T
qx∞ A
∆x

Ao mudar o material (de um metal para um plástico), descobriríamos que essa


proporcionalidade permanece válida. No entanto, também descobriríamos que,
para valores iguais de A, ∆x e ∆T, o valor de qx seria menor para o plástico do
que para o metal. Sugerindo que a proporcionalidade pode sofrer conversão em
igualdade introduzindo um coeficiente que é uma medida do comportamento
material. Por isso, escrevemos:
∆T
qx = kA
∆x

Onde k, a condutividade térmica (W/m⋅K), é uma propriedade importante do


material. Analisando essa expressão no limite como ∆x → 0, obteremos a taxa de
calor:
∆T
qx = −kA
∆x

ou para o fluxo de calor:


qx dT
q"x = = −k
A dx

É importante se lembrar de que o sinal de menos é necessário devido ao calor


ser sempre transferido na direção da diminuição da temperatura. A lei de Fourier
diz que o fluxo de calor é uma quantidade direcional. Em especial, a direção de
q”x é normal para a área de seção transversal A. Ou, geralmente, a direção do

121
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

fluxo de calor sempre será normal para uma superfície de temperatura constante,
denominada superfície isotérmica. Da equação anterior, segue-se que q”x é
positivo. Reconhecendo que o fluxo de calor é uma quantidade vetorial, podemos
escrever uma declaração generalizada da equação da taxa de condução (lei de
Fourier) da seguinte forma:
 ∂T ∂T ∂T 
q′′ =−k ∇T =−k  i + j +k 
 ∂x ∂y ∂z 

Onde ∇ é o operador tridimensional, i, j e k são os vetores unitários nas direções


x, y e z, e T (x, y, z) é o campo de temperatura escalar. Está implícito na equação
anterior que o vetor de fluxo de calor está em uma direção perpendicular às
superfícies isotérmicas. Uma outra maneira da lei de Fourier é:
∂T
q′′ qn" n = −k
= n
∂n

Onde qn″ é o fluxo de calor na direção n, o que é normal para uma isoterma, e n é o
vetor da unidade normal nessa direção. A transferência de calor é sustentada por
um gradiente de temperatura ao longo de n. Observe também que o vetor de fluxo
de calor pode ser resolvido em componentes que, nas coordenadas cartesianas, a
expressão geral para q″ é:
q′′ =iq"x + jq"y + kq"z

onde, a partir da equação anterior, segue-se que


∂T ∂t ∂T
q"x =
−k q"y =
−k q"z =
−k
∂x ∂y ∂z

A lei de Fourier não é uma expressão que pode ser derivada dos primeiros
princípios. É uma expressão que define uma propriedade importante do material,
a condutividade térmica. Além disso, a lei de Fourier é a expressão do vetor,
indicando que o fluxo de calor é normal para uma isoterma e na direção da
diminuição da temperatura.

Para utilizar a lei de Fourier, a condutividade térmica do material deve ser


conhecida. Essa característica, que é chamada de propriedade de transporte,
depende da estrutura atômica e molecular da matéria e, portanto, do estado
da matéria. Pela lei de Fourier, a equação anterior, a condutividade térmica
associada à condução na direção x, é dada por:

122
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

q"x
kx ≡ −
 ∂T 
 
 ∂x 

Definições análogas estão associadas a condutividades térmicas nas direções


y - e z (ky, kz), mas para um material isotrópico a condutividade térmica é
independente da direção da transferência, kx = ky = kz ≡ k.

A partir da equação anterior, segue-se que, para um gradiente de temperatura


prescrito, o fluxo de calor de condução aumenta com o acréscimo da condutividade
térmica. Normalmente, a condutividade térmica de um sólido é maior que a de
um líquido, que é maior que a de um gás. A condutividade térmica de um sólido
pode ter mais de quatro ordens de grandeza maior que a de um gás. Isso se deve,
na maioria das vezes, às diferenças no espaçamento intermolecular para os dois
estados.

Convecção
A transferência de calor por convecção possui dois mecanismos: transferência de
energia por causa do movimento molecular aleatório (difusão); e transferência
pelo movimento a granel ou macroscópico do fluido. Esse movimento fluido está
associado ao fato de que, a qualquer instante, um grande número de moléculas
se move de forma coletiva ou como agregada. Esse movimento, na presença
de um gradiente de temperatura, auxilia na transferência de calor. Como as
moléculas no agregado retêm seu movimento aleatório, a transferência total
de calor acontece por causa de uma superposição do transporte de energia pelo
movimento aleatório das moléculas e pelo movimento do bulbo do fluido. O
termo convecção é geralmente empregado quando se refere a esse transporte
cumulativo, e o termo advecção refere-se ao transporte devido apenas ao
movimento de um fluido em massa.

Considere o fluxo de fluido sobre a superfície quente. Em decorrência da


interação fluido-superfície ocorre o desenvolvimento de uma região no fluido
por meio da qual a velocidade sofre variação de zero na superfície a um valor
finito u∞ associado ao fluxo. Essa região do fluido é distinguida como camada
limite hidrodinâmica ou de velocidade. Adicionalmente, se as temperaturas da
superfície e do fluxo diferirem, haverá uma região do fluido por meio da qual

123
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

a temperatura varia de Ts em y = 0 a T∞ no fluxo externo. Essa região, chamada


camada limite térmica, pode ser menor, maior ou do mesmo tamanho da região
em que a velocidade varia. De qualquer forma, se Ts > T∞, a transferência
de calor por convecção ocorrerá da superfície para o fluxo externo.

A contribuição devido ao movimento molecular aleatório (difusão) domina


perto da superfície onde a velocidade do fluido é baixa. De fato, na interface
entre a superfície e o fluido = y (0), a velocidade do fluido é zero e o calor
é transferido apenas por esse mecanismo. A contribuição devido ao movimento
do fluido a granel se origina do fato de que a camada limite cresce à medida que
o fluxo progride na direção x. Com efeito, o calor que é conduzido para essa
camada é varrido a jusante e, eventualmente, transferido para o fluido fora da
camada limite. A apreciação dos fenômenos da camada limite é essencial para
entender a transferência de calor por convecção.

A transferência de calor por convecção pode ser classificada de acordo com


a natureza do fluxo. Falamos de convecção forçada quando o fluxo é causado
por meios externos, como um ventilador, uma bomba ou ventos atmosféricos.
Como exemplo, considere o uso de um ventilador para fornecer um resfriamento
forçado por ar de convecção de componentes elétricos quentes em uma pilha de
placas de circuito impresso. Por outro lado, por convecção livre (ou natural),
o fluxo é induzido por forças de flutuação, que são devidas a diferenças de
densidade causadas por variações de temperatura no fluido. Um exemplo é a
transferência de calor por convecção livre que ocorre a partir de componentes
quentes em uma matriz vertical de placas de circuito no ar. O ar que faz contato
com os componentes experimenta um aumento na temperatura e, portanto,
uma redução na densidade. Como agora é mais leve que o ar circundante, as
forças de flutuação induzem um movimento vertical pelo qual o ar quente que
sobe das pranchas é substituído por uma entrada de ar ambiente mais frio.

Descrevemos o modo de transferência de calor por convecção como a transferência


de energia que ocorre no fluido devido aos efeitos combinados da condução
e do movimento do fluido a granel. Normalmente, a energia que está sendo
transferida é a energia sensível ou térmica interna do fluido. No entanto, para
alguns processos de convecção, há, além disso, troca de calor. Essa troca de calor
latente é geralmente associada a uma mudança de fase entre os estados líquidos e
124
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

de vapor do fluido. Independentemente da natureza do processo de transferência


de calor por convecção, a equação de taxa apropriada é da forma:
q′′ h (Ts − T∞ )
=

Onde q” é o fluxo de calor convectivo (W/m2), é proporcional à diferença entre


a temperatura da superfície e do fluido, Ts e T∞, respectivamente. Essa expressão
é conhecida como lei do resfriamento de Newton, e o parâmetro h (W/m2⋅K) é
denominado coeficiente de transferência de calor por convecção. Esse coeficiente
depende das condições da camada limite, que são influenciadas pela geometria
da superfície, pela natureza do movimento do fluido e por uma variedade de
propriedades termodinâmicas e de transporte de fluidos. Qualquer estudo de
convecção se reduz a um estudo dos meios pelos quais h pode ser determinado.

Quando a equação anterior é usada, presume-se que o fluxo de calor por convecção
seja positivo, se o calor for transferido da superfície (Ts > T∞), e negativo, se o
calor for transferido para a superfície (T∞ > Ts). No entanto, nada nos impede de
expressar a lei de Newton de resfriamento como:
q′′ = h (T∞ − Ts )

Nesse caso, a transferência de calor é positiva se for para a superfície.

Camada de limite de velocidade

Para entender o que é a camada limite, considere o fluxo sobre a placa plana da
Figura 34. Quando partículas de fluido entram em contato com a superfície, sua
velocidade é diminuída em relação à velocidade do fluido a montante da placa e,
nas situações em geral, é necessário dizer que a velocidade da partícula é zero na
parede. Essas partículas atuam para adiar o movimento das partículas na camada de
fluido adjacente, que agem para retardar o movimento das partículas na próxima
camada e, assim por diante, até que a uma distância y = δ da superfície, o efeito
se torne insignificante. Esse adiamento do movimento do fluido está associado
a tensões de cisalhamento τ que atuam em planos paralelos à velocidade do
fluido (Figura 34). Com o acréscimo da distância y da superfície, o componente
de velocidade x do fluido, u, deve então aumentar até se aproximar do valor da
corrente livre u∞. O subscrito ∞ é empregado para instituir condições no fluxo
livre fora da camada limite.

125
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Figura 34. Mecanismo de como se desenvolve a camada limite de velocidade em uma placa plana.

uꝏ uꝏ
Fluxo livre
δ (x)
y
δ
u 𝜏𝜏
𝜏𝜏 Camada limite de velocidade

Fonte: https://slideplayer.com.br/slide/1657176/6/images/3/CAP%C3%8DTULO+6+%E2%80%93+INTRODU%C3%87%C3%83O+A+CONVEC
%C3%87%C3%83O.jpg.(CAMADA LIMITE, 2021).

A quantidade δ é denominada espessura da camada limite e é tipicamente


definida como o valor de y para o qual u = 0,99 u∞. O perfil da velocidade da
camada limite refere-se à maneira pela qual u varia com y por meio da camada
limite. Consequentemente, o fluxo de fluido é caracterizado por duas regiões
distintas: uma fina camada de fluido (a camada limite), na qual os gradientes
de velocidade e tensões de cisalhamento são grandes, e uma região fora da
camada limite, na qual os gradientes de velocidade e tensões de cisalhamento
são desprezíveis. Com o aumento da distância da borda principal, os efeitos da
viscosidade penetram mais no fluxo livre e a camada limite cresce (δ aumenta
com x).

Por se referir à velocidade do fluido, a camada limite anterior pode ser referida
mais especificamente como a camada limite da velocidade. Ela se desenvolve
sempre que há um fluxo de fluido na superfície e é de fundamental importância
para os problemas que envolvem o transporte por convecção. Na mecânica dos
fluidos, sua importância para o engenheiro decorre de sua relação com as tensões
de cisalhamento superficial τ s e, portanto, com os efeitos de atrito da superfície.
Para fluxos externos, fornece a base para determinar o coeficiente de atrito local.
τs
Cf ≡
ρ u∞2 / 2

Assumindo um fluido newtoniano, a tensão de cisalhamento da superfície pode


ser avaliada a partir do conhecimento do gradiente de velocidade na superfície.
∂u
τs = µ
∂y y =0

Onde μ é uma propriedade fluida conhecida como viscosidade dinâmica. Em uma


camada limite de velocidade, o gradiente de velocidade na superfície depende

126
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

da distância x da borda anterior da placa. Portanto, a tensão de cisalhamento da


superfície e o coeficiente de atrito também dependem de x.

Radiação
A radiação térmica é a energia emitida pela matéria a uma temperatura distinta de
zero. De forma independente da forma da matéria, a emissão pode ser atribuída a
alterações nas configurações eletrônicas dos átomos ou moléculas constituintes.
A energia do campo de radiação é transportada por ondas eletromagnéticas (ou,
alternativamente, fótons). Embora a transferência de energia por condução ou
convecção exija a presença de um meio material, a radiação não exige. De fato, a
transferência de radiação ocorre com mais eficiência no vácuo.

Considere os processos de transferência de radiação para a superfície da Figura


35. A Radiação emitida pela superfície vem da energia térmica da matéria
limitada pela superfície e a taxa na qual a energia é liberada por unidade de
área (W/m2) é denominada superfície potência emissiva, E. Há um limite
superior à potência emissiva, que é prescrita pela lei de Stefan-Boltzmann.

Figura 35. Transferência de calor por radiação.

Arredores em Tsur

Superfície de Superfície de Ts > Tsur, Ts > Tꝏ


emissividade, emissividade
absorção e Ɛ = α, área A
temperatura Ts e temperatura
Ts

Fonte: http://186.202.79.107/download/perdas-energeticas-na-superficie-da-radiacao-nos-fornos-de-pirolise.pdf. (RADIAÇÃO, 2021).

Eb = óTs4

Onde Ts é a temperatura absoluta (K) da superfície e σ é a constante de


Stefan-Boltzmann (σ = 5.67 x 10-8 W/m2.K4). Essa superfície é chamada de
radiador ou corpo negro ideal. O fluxo de calor emitido por uma superfície real é
menor que o de um corpo negro na mesma temperatura e é dado por:
E = εσ Ts4

127
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Onde ε é uma propriedade radiativa da superfície denominada emissividade.


Com os valores na faixa 0 ≤ ε ≤ 1, essa propriedade fornece uma medida de quão
eficientemente uma superfície emite energia com relação a um corpo negro.
Depende fortemente do material da superfície e do acabamento.

A radiação também pode ocorrer na superfície do ambiente. A radiação pode


originar-se de uma fonte especial, como o sol, ou de outras superfícies às
quais a superfície de interesse está exposta. Independentemente da(s) fonte(s),
designamos a taxa na qual toda essa radiação é incidente em uma área unitária
da superfície como irradiação G (Figura 35).

Uma parte ou toda a irradiação pode ser absorvida pela superfície, aumentando,
assim, a energia térmica do material. A taxa na qual a energia radiante é absorvida
por área unitária da superfície pode ser avaliada a partir do conhecimento de
uma propriedade radiativa de superfície denominada absortividade α. Isto é:
Gabs = α G

Onde 0 ≤ α ≤1. Se α <1 e a superfície forem opacas, partes da irradiação serão


refletidas. Se a superfície é semitransparente, porções da irradiação também
podem ser transmitidas. No entanto, enquanto a radiação absorvida e emitida
aumenta e reduz, respectivamente, a energia térmica da matéria, a radiação
refletida e a radiação transmitida não têm efeito sobre essa energia. Observe
que o valor depende da natureza da irradiação, bem como da própria superfície.
Por exemplo, a capacidade de absorção de uma superfície à radiação solar
pode diferir da sua capacidade de absorção à radiação emitida pelas paredes
de um forno.

Em muitos problemas de engenharia (uma exceção notável são os problemas


envolvendo radiação ou radiação de outras fontes de temperatura muito alta), os
líquidos podem ser considerados opacos à transferência de calor por radiação e os
gases podem ser considerados transparentes. Os sólidos podem ser opacos (como
é o caso de metais) ou semitransparentes (como é o caso de folhas finas de alguns
polímeros e alguns materiais semicondutores).

Um caso especial que ocorre frequentemente envolve troca de radiação entre


uma superfície pequena em Ts e uma superfície isotérmica muito maior que
circunda completamente a menor (Figura 35). Os arredores podem, por exemplo,
ser as paredes de uma sala ou de um forno cuja temperatura Tsur seja diferente

128
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

da de uma superfície fechada (Tsur ≠ Ts). Para tal condição, a irradiação pode
ser aproximada por emissão de um corpo negro em Tsur, caso em que G = σ Tsur4 .
Supondo que a superfície seja aquela para a qual α = ε (superfície de reação),
a taxa líquida de transferência de calor por radiação da superfície, expressa por
unidade de área da superfície, é:
q
"
qrad = =ε Eb (Ts ) − α G =εσ (Ts4 − Tsur
4
)
A

Essa expressão fornece a diferença entre a energia térmica liberada devido


à emissão de radiação e a obtida devido à absorção de radiação. Para muitas
aplicações, é conveniente expressar a troca líquida de calor por radiação na
forma:
qrad hr A (Ts − Tsur )
=

onde, a partir da equação anterior, o coeficiente de transferência de calor por


radiação hr é:
hr ≡ εσ (Ts + Tsur ) (Ts2 + Tsur
2
)
Modelamos o modo de radiação de maneira semelhante à convecção. Nesse
sentido, linearizamos a equação da taxa de radiação, tornando a taxa de calor
proporcional a uma diferença de temperatura e não à diferença entre duas
temperaturas e a quarta potência. Observe, no entanto, que hr é dependente
da temperatura, enquanto a dependência da temperatura do coeficiente de
transferência de calor por convecção h é geralmente fraca.

As superfícies da Figura 35 também podem transferir calor simultaneamente


por convecção para um gás adjacente. Para as condições da referida figura, a taxa
total de transferência de calor da superfície é:
q = qconv + qrad = hA (Ts − T∞ ) + ε Aσ (Ts4 − Tsur
4
)
A radiação é emitida por todas as formas de matéria. Para gases e sólidos
semitransparentes, como cristais de vidro e sal a temperaturas elevadas, a emissão
é um fenômeno volumétrico. Ou seja, a radiação emergindo de um volume finito
de matéria é o efeito integrado da emissão local em todo o volume. Na maioria
dos sólidos e líquidos, a radiação emitida pelas moléculas interiores é fortemente
absorvida pelas moléculas adjacentes. Logo, a radiação emitida de um sólido ou

129
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

líquido se origina de moléculas que estão a uma distância de aproximadamente 1


µm da superfície exposta. Por isso que a emissão de sólido ou líquido para um gás
adjacente ou para um vácuo pode ser vista como um fenômeno superficial, exceto
em situações que envolvam dispositivos em nanoescala ou microescala.

Sabemos que a radiação se origina devido à emissão por matéria e que seu
transporte subsequente não requer a presença de qualquer matéria. Mas, qual é a
natureza desse transporte? Uma teoria vê a radiação como a propagação de uma
coleção de partículas denominadas fótons. A radiação pode ser definida como
a propagação de ondas eletromagnéticas. Em qualquer caso, desejamos atribuir
à radiação as propriedades padrão das ondas de frequência ν e comprimento
de onda λ. Para que a radiação se propague em um meio específico, as duas
propriedades são relacionadas por:
c
λ=
v

Onde c é a velocidade da luz no meio. Para propagação no vácuo, c o = 2,998 ×


108 m/s. A unidade de comprimento de onda é geralmente o micrômetro (µm),
onde 1µm = 10−6 m.

Fluxos de calor por radiação

Vários tipos de fluxos de calor são pertinentes à análise da transferência de calor


por radiação. Abaixo, segue uma lista dos quatro fluxos de radiação distintos que
podem ser definidos em uma superfície. A potência emissiva, E (W/m2), é a taxa
na qual a radiação é emitida de uma superfície por unidade de superfície, em
todos os comprimentos de onda e em todas as direções. Anteriormente falamos
que essa potência emissiva estava relacionada ao comportamento de um corpo
negro por meio da relação E = εσ Ts4 , onde ε é uma propriedade da superfície
conhecida como emissividade:

» Potência emissora E: taxa na qual a radiação é emitida proveniente de


uma superfície por unidade de área.

» Irradiação G: taxa na qual a radiação é incidente sobre uma superfície


por unidade de área.

130
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

» Radiosidade J: taxa na qual a radiação sai da superfície por unidade de


área.

» Fluxo radiativo líquido: taxa líquida de radiação que sai da superfície


por unidade de área.

A radiação do ambiente, que pode consistir em várias superfícies a várias


temperaturas, é incidente na superfície. A superfície também pode ser irradiada
pelo sol ou por um laser. De qualquer forma, definimos a irradiação, G (W/m2),
como a taxa na qual a radiação é incidente na superfície por unidade de superfície,
em todos os comprimentos de onda e em todas as direções. Os dois fluxos de calor
restantes são facilmente descritos quando consideramos o destino da irradiação
que chega à superfície.

Quando a radiação é incidente em um meio semitransparente, partes da


irradiação podem ser refletidas, absorvidas e transmitidas. A transmissão
refere-se à radiação que passa pelo meio, como ocorre quando uma camada de
água ou uma placa de vidro é irradiada pelo sol ou pela iluminação artificial. A
absorção ocorre quando a radiação interage com o meio, causando um aumento
na energia térmica interna do meio. Reflexão é o processo de radiação incidente
sendo redirecionada para longe da superfície, sem efeito no meio. Definimos a
refletividade ρ como a fração da irradiação refletida, a absorção α como a fração
da irradiação absorvida e a transmissividade τ como a fração da irradiação
que é transmitida. Como toda a irradiação deve ser refletida, absorvida ou
transmitida, segue-se que:
ρ +α +τ =
1

Um meio que não apresenta transmissão (τ = 0) é opaco e, nesse caso:


ρ +α =
1

Com esse entendimento da partição da irradiação em componentes refletidos,


absorvidos e transmitidos, dois fluxos de radiação adicionais e úteis podem ser
definidos. A radiosidade, J (W/m2), de uma superfície é responsável por toda a
energia radiante que sai da superfície. Para uma superfície opaca, inclui a emissão
e a parte refletida da irradiação. É, portanto, expresso como:
J=E + Gref =E ρG

131
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

A radiosidade também pode ser definida na superfície de um meio semitransparente.


Nesse caso, a radiosidade saindo da superfície superior incluiria radiação
transmitida através do meio a partir de baixo. Finalmente, o fluxo radiativo
líquido de uma superfície, q”rad (W/m2), é a diferença entre a radiação que sai e a
que entra:
"
qrad= J −G

Combinando as equações acima, o fluxo líquido para uma superfície opaca é:


"
qrad = E + ρ G − G = εσ Ts4 − α G

Caro estudante, ainda sobre a transferência de calor por radiação, sugerimos


a seguinte leitura: http://www.ifsc.usp.br/~donoso/fisica_arquitetura/10_
radiacao_termica.pdf. (TRANSFERÊNCIA POR RADIAÇÃO, 2021).

Transferência de calor
Um fluido de velocidade V e temperatura T flui sobre uma superfície de
formato arbitrário e da área As. Presume-se que a superfície esteja em uma
temperatura uniforme, Ts, e se Ts ≠ T∞, sabemos que a transferência de calor por
convecção ocorrerá. Sabemos que o fluxo de calor na superfície e o coeficiente de
transferência de calor por convecção variam ao longo da superfície. A taxa total
de transferência de calor q pode ser obtida pela integração do fluxo local em toda a
superfície. Isto é:

q = ∫ q′′dAs
AS

q = (TS − T∞ ) ∫ hdAs
AS

Definindo um coeficiente de convecção médio h para toda a superfície, a taxa total


de transferência de calor também pode ser expressa como:
=q hAs (Ts − T∞ )

Equacionando as equações acima, segue-se que os coeficientes de convecção


médios e locais estão relacionados por uma expressão da forma:
1
h=
As ∫ As
hdAs

132
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

Observe que, no caso especial de vazão sobre uma placa plana, h varia apenas
com a distância x da borda principal e a equação anterior se reduz a:
1 L
L ∫0
h= hdx

Caro estudante, para mais informações sobre a convecção, acesse: http://


www.usp.br/sisea/wp-content/uploads/2014/10/Conveccao.pdf. (CONVECÇÃO,
2021).

Lei de difusão de Fick


Como mecanismos físicos semelhantes estão associados à transferência de calor
e massa por difusão, não surpreende que as equações de taxa correspondentes
sejam da mesma forma. A equação da taxa para difusão de massa é conhecida
como lei de Fick e, para a transferência da espécie A em uma mistura binária de
A e B, pode ser expressa na forma vetorial como:
− ρ DAB∇mA
jA =

Ou:
j *A =
−CDAB∇x A

A forma dessas expressões é semelhante à da lei de Fourier. Além disso, assim


como essa lei serve para definir uma propriedade importante de transporte, a
condutividade térmica, a lei de Fick define uma segunda propriedade importante
de transporte, a saber, o coeficiente de difusão binária ou difusividade em massa,
DAB.

A quantidade jA (kg/s⋅m2) é definida como o fluxo de massa difusiva da espécie


A. É a quantidade de A que é transferida por difusão por unidade de tempo e
por unidade de área perpendicular à direção da transferência, e é proporcional
à densidade de massa da mistura = ρ ρ A + ρ B (kg/m3) e ao gradiente na fração
de massa da espécie, mA = ρA/ρ. O fluxo de espécies também pode ser avaliado
em base amolar, onde J *A (kmol/s⋅m2) é o fluxo molar difusivo da espécie A.
É proporcional à concentração molar total da mistura, C = CA + CB (kmol/m3)
e para o gradiente na fração molar da espécie, xA = CA/C. As formas anteriores
da lei de Fick podem ser simplificadas quando a densidade mássica total ρ ou a
concentração molar total C for uma constante.

133
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Difusividade em massa

Atenção considerável foi dada à previsão da difusividade de massa DAB para a


mistura binária de dois gases, A e B. Assumindo o comportamento ideal dos
gases, a teoria cinética pode ser usada para mostrar que:
1
DAB ≈ cλ mfp ~ p -1T 3/ 2
3

Onde T é expresso em Kelvins. C aumenta com o aumento da temperatura e a


diminuição do peso molecular e, portanto, a difusividade da massa aumenta
com o aumento da temperatura e a diminuição do peso molecular. Como λmfp
é inversamente proporcional à pressão do gás, a difusividade da massa diminui
com o aumento da pressão. Essa relação se aplica a faixas restritas de pressão e
temperatura e é útil para estimar valores da difusividade da massa em condições
diferentes daquelas para as quais existem dados disponíveis.

Para soluções líquidas binárias, é necessário confiar exclusivamente em


medidas experimentais. Para pequenas concentrações de A (o soluto) em B (o
solvente), DAB é conhecido por aumentar com a elevação da temperatura. O
mecanismo de difusão de gases, líquidos e sólidos em sólidos é complicado,
e teorias generalizadas não estão disponíveis. Além disso, apenas resultados
experimentais ilimitados estão disponíveis na literatura.

Transferência de massa entre fases

O transporte de massa dentro de uma única fase depende diretamente do


gradiente de concentração das espécies transportadoras nessa fase. A massa
também pode ser transportada de uma fase para outra, e esse processo é
chamado de transferência de massa entre fases. Muitas situações físicas ocorrem
na natureza, em que duas fases estão em contato, mas são separadas por uma
interface. Como o transporte monofásico, o gradiente de concentração das
espécies transportadoras (nesse caso nas duas fases) influencia a taxa geral de
transporte de massa. Mais precisamente, o transporte entre duas fases requer
afastamento do equilíbrio, e o equilíbrio das espécies transportadoras na
interface é a principal preocupação. Quando um sistema multifásico está em
equilíbrio, não ocorre transferência de massa. Quando um sistema não está em
equilíbrio, a transferência de massa ocorre de maneira a mover o sistema em
direção ao equilíbrio.

134
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

Exemplos familiares de duas fases em contato são dois líquidos imiscíveis, um


gás e um líquido, ou um líquido e um sólido. Do ponto de vista da descrição
matemática desses processos, cada uma dessas situações é fisicamente equivalente.
Como o oxigênio é necessário para toda a vida aeróbica e a água é o principal
meio de vida, o transporte de oxigênio entre o ar (Fase I) em contato com a água
(Fase II) é uma preocupação primordial.

Imaginemos a situação física e química em que o ar é primeiro colocado em


contato com a água sem oxigênio. Haverá uma tendência para o oxigênio
entrar na água a fim de alcançar o equilíbrio entre as fases. Esse equilíbrio
será rapidamente alcançado “localmente” na interface, mas exigirá mais tempo
para se estabelecer na água a granel. Para prever a rapidez com que o oxigênio
transporta, precisamos conhecer uma relação entre as concentrações de oxigênio
no equilíbrio da fase gasosa e da fase líquida.

Muitas leis de equilíbrio são conhecidas. Para temperatura e pressão fixas, a relação
de equilíbrio entre as concentrações de uma espécie em duas fases pode ser dada
por uma curva de distribuição, conforme Figura 36.

Figura 36. Uma relação de equilíbrio.


Concentração de j na
Fase I

Concentração de j na
Fase II
Fonte: Adaptada de Bergman et al. (2017).

A “lei de distribuição” mais simples é aquela que afirma que as concentrações


de equilíbrio das espécies entre as fases são proporcionais. Essa lei linear é
geralmente uma suposição apropriada quando a espécie em equilíbrio está em
baixa concentração:
c 'j = Kc"j

135
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Na equação acima, c’j é a concentração das espécies j na fase 1, e c”j é a concentração


de equilíbrio das espécies j na fase 2. K é referido como coeficiente de distribuição
ou partição. Para gases e líquidos, a lei de distribuição frequentemente usada para
descrever o equilíbrio em baixa concentração de soluto é a lei de Henry. Para o
equilíbrio de oxigênio entre gás e água, a lei de Henry é:
yO=
2
P p=
O2 xO2 H O2

Nesse caso, a lei de Henry relaciona a concentração de oxigênio em uma fase


(fração molar de oxigênio ou pressão parcial de oxigênio na fase gasosa) com
a concentração na segunda fase (fração molar de oxigênio na água). O valor da
fração molar na fase líquida na equação acima também pode ser convertido em
unidades de concentração mais familiares, como concentração de massa (por
exemplo, g/L) ou concentração molar (mol/L). A 25 °C, o valor da constante
da lei de Henry para o oxigênio, HO2, é 43.800 atmosferas; a 10 °C, é de 32.700
atmosferas; enquanto que a 40 °C, é de 53.500 atmosferas.

Teoria de duas resistências

A transferência de massa em interfase envolve três etapas de transferência. Para o


exemplo específico de transporte de oxigênio do ar para a água, essas três etapas
são:

» a transferência de oxigênio do ar a granel para a superfície da água;

» a transferência de oxigênio através da interface;

» a transferência de oxigênio da superfície do ar para a água a granel.

Whitman (1923) propôs pela primeira vez uma “teoria de duas resistências” que
se mostrou apropriada para muitos problemas de transferência de massa entre
fases. A teoria geral tem duas premissas principais para o caso de transporte de
oxigênio do ar para a água, são elas:

» a taxa de transferência de oxigênio entre as fases é controlada pelas


taxas de difusão por meio das fases em cada lado da interface;

» a taxa de difusão de oxigênio por meio da interface é instantânea e,


portanto, o equilíbrio na interface é mantido o tempo todo.

136
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

Em outras palavras, existem duas “resistências” ao transporte, e elas são a difusão


de oxigênio do ar a granel para a interface e a difusão de oxigênio da interface
para a água a granel. Essa situação física pode ser representada graficamente pelo
diagrama da figura a seguir, a qual mostra que a concentração de oxigênio na fase
gasosa é representada por sua pressão parcial a granel, pgO2. A concentração de
oxigênio na fase líquida é representada por sua concentração molar a granel, clO2.
As concentrações de fase gasosa e líquida da interface são indicadas por piO2 e ciO2,
respectivamente. Como o transporte está ocorrendo do gás para a fase líquida, o
valor de pgO2 deve ser maior que o valor de piO2. Da mesma forma, o valor de ciO2
deve ser maior que o valor de clO2. Como a interface não confere resistência ao
transporte, as duas concentrações da interface permanecerão em equilíbrio, e seus
valores podem ser relacionados pela Lei de Henry ou por alguma outra relação de
equilíbrio. Observe que, em geral, essas duas concentrações de interface não são
idênticas e, de fato, o piO2 pode ser menor ou maior que o ciO2.

Figura 37. Teoria de duas resistências.


Concentração de oxigênio

pgO2

ciO2

piO2

𝛿𝛿𝐺𝐺 𝛿𝛿𝐿𝐿

Distância
Fonte: Adaptada de Bergman et al. (2017).

A distância entre a interface e o local na fase gasosa em que a concentração de


oxigênio é igual à concentração aparente de oxigênio é a espessura do “filme”
da fase gasosa (δG), enquanto a distância semelhante para o oxigênio na fase
líquida é chamada de espessura do “filme” da fase líquida (δL). Como a forma do
perfil de concentração de oxigênio é desconhecida no gás e no líquido, é muito
difícil determinar a concentração precisa de oxigênio na interface. Portanto, as
espessuras do filme não são conhecidas.

Lembre-se: se o transporte de oxigênio estiver ocorrendo do líquido para o gás,


o valor de piO2 será maior que o valor de pgO2, e o valor clO2 será maior que o valor
de ciO2.

137
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

Sabe-se que o fluxo molar da espécie j (Φj, uma quantidade vetorial, com unidades
de moles de material por área e por tempo) é proporcional ao gradiente de
concentração da espécie j. De fato, essa diferença de concentração é considerada a
“força motriz” do transporte de massa. Se considerarmos o fluxo unidimensional
de oxigênio por meio de uma interface ar-água, poderemos definir um coeficiente
de transferência de massa para a fase gasosa (kG), como:

(
ϕo2 kG pog2 − poi 2
= )
E para a fase líquida (kL):

(
ϕo2 k L coi 2 − coi 2
= )
Para a situação física representada na Figura 37, as equações anteriores representam
o fluxo de oxigênio por meio da fase gasosa e líquida, respectivamente. No
estado estacionário, o fluxo de oxigênio em uma fase deve ser igual ao fluxo de
oxigênio na outra fase (caso contrário, haveria acúmulo de oxigênio em algum
lugar do sistema) e, portanto, esses dois fluxos se igualam. Esses coeficientes são
frequentemente chamados de coeficientes individuais de transferência de massa
porque se referem ao transporte em fases individuais.

Muitos outros coeficientes de transferência de massa podem ser definidos,


dependendo do tipo de gradiente de concentração usado para descrever a força
motriz da transferência de massa.

Correlações de coeficientes de transferência de massa

Queremos procurar os coeficientes de transferência de massa sempre que


possível. Esses coeficientes raramente são relatados como valores individuais,
mas como correlações de números sem dimensão. Esses números costumam ser
nomeados e são as principais armas que os engenheiros usam para confundir os
cientistas. Essas armas são eficazes porque os nomes parecem muito científicos,
como parentes próximos de químicos orgânicos do século XIX.

As características dos grupos adimensionais comuns frequentemente usados em


correlações de transferência de massa serão apresentadas a seguir. Os números
de Sherwood e Stanton envolvem o próprio coeficiente de transferência de
massa. Os números de Schmidt, Lewis e Prandtl envolvem diferentes tipos

138
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

de difusão, e os números de Reynolds, Grashof e Peclet descrevem o fluxo. O


segundo número de Damkohler, que certamente é o nome mais imponente, é
um dos muitos grupos usados para difusão com reação química.

Um ponto-chave sobre cada um desses grupos é que sua definição exata implica
em um sistema físico específico. Por exemplo, o comprimento característico l
no número Sherwood kl/D será a espessura da membrana para o transporte da
membrana, mas o diâmetro da esfera para uma esfera em dissolução. Uma boa
analogia é o grupo adimensional “eficiência”. Uma eficiência de trinta por cento
tem implicações muito diferentes para uma turbina e para um cervo correndo.
Da mesma forma, um número Sherwood de 2 significa coisas diferentes para
uma membrana e para uma esfera dissolvente. Essa flexibilidade é central para as
correlações que se seguem.
kl velocidade da transferência de massa
Sherwood number →
D velocidade da difusão
k velocidade da transferência de massa
Stanton number 0 →
v velocidade do fluxo
v difusividade do momento
Schmidt number →
D difusividade de massa
α difusividade de energia
Lewis number →
D difusividade de massa
v difusividade de momento
Plandtl number →
α difusividade de energia
lv 0 forças inerciais velocidade de fluxo
Reynolds number → ou
v forças viscosas velocidade de momento
l 3 g ∆ρ / ρ forças de flutuação
Grashöf number →
v2 forças viscosas
v 0l velocidade de fluxo
Péclet number →
D velocidade de difusão
kl 2 velocidade de reação
Second Damköhler number ou (Thiele modulus )
2

D velocidade de difusão

As correlações dos coeficientes de transferência de massa são convenientemente


divididas naquelas para interfaces fluido-fluido e naquelas para interfaces
fluido-sólido. As correlações para interfaces fluido-fluido são, de longe, as mais
importantes, pois são básicas para adsorção de gás, extração líquido-líquido e
destilação não ideal. As correlações desses coeficientes de transferência de massa

139
Unidade iv | Hidrodinâmica aplicada

também são importantes para a aeração e o resfriamento da água. Essas correlações


geralmente não têm correlações paralelas conhecidas na transferência de calor,
onde as interfaces fluido-fluido não são comuns.

A precisão das correlações para interfaces fluido-fluido é tipicamente da ordem


de 30%, mas erros maiores não são incomuns. Por exemplo, o número de
Reynolds, que nesse parâmetro característico da convecção forçada, pode variar
10.000 vezes. O número de Schmidt, a razão (v/D), é de cerca de 1 para gases,
mas de cerca de 1000 para líquidos. Em uma faixa mais moderada, os dados
experimentais podem ser confiáveis. Ainda assim, embora as correlações sejam
úteis para o projeto preliminar de pequenas plantas piloto, elas não devem
ser usadas para o projeto de equipamentos em grande escala sem verificações
experimentais nos sistemas químicos específicos envolvidos.

A forma adimensional das correlações para interfaces fluido-fluido pode


disfarçar as semelhanças quantitativas muito reais entre elas. Para explorar essas
semelhanças, consideramos as variações do coeficiente de transferência de massa
com a velocidade do fluido e com o coeficiente de difusão. Essas variações são
surpreendentemente uniformes. O coeficiente de transferência de massa varia
com a potência 0,7 da velocidade do fluido em 4 das 5 correlações para torres
compactadas, por exemplo. Varia com o coeficiente de difusão para a potência
de 0,5 a 0,7 em todas as correlações. Assim, qualquer teoria que derivamos para
transferência de massa por meio de interfaces fluido-fluido deve apresentar
variações com coeficiente de velocidade e difusão.

Algumas correlações raramente são importantes em processos comuns de


separação, como absorção e extração. Eles são importantes na lixiviação, nas
separações de membranas e na eletroquímica. No entanto, a verdadeira razão
pela qual essas correlações são citadas nos cursos de graduação e pós-graduação
é que elas são análogas à transferência de calor – que é um assunto antigo, com
uma forte base teórica e nuances mais familiares.

As correlações para interfaces de fluido-sólido são muito parecidas com seus


equivalentes de transferência de calor. Mais significativamente, essas correlações
fluido-sólido menos importantes são análogas, mas mais precisas do que as
correlações fluido-fluido. As precisões para interfaces de fluido-sólido estão
tipicamente na média de ±10%; para algumas correlações como fluxo laminar em
um único tubo, as precisões podem ser de ±1%. Essa precisão, que é realmente
140
Hidrodinâmica aplicada | Unidade iv

rara para medições de transferência de massa, reflete a geometria mais simples


e os fluxos estáveis nesses casos. O fluxo laminar de um fluido em um tubo é
mais bem compreendido do que o fluxo turbulento de gás e líquido em uma torre
compactada.

Mesmo quando os coeficientes individuais são essencialmente


independentes da concentração, os coeficientes gerais podem variar
com a concentração, a menos que a relação de equilíbrio seja linear.
Consequentemente, os coeficientes gerais devem ser empregados apenas
em condições semelhantes àquelas sob as quais foram medidos e não
devem ser empregados para outras faixas de concentração, a menos que a
relação de equilíbrio para o sistema seja linear em toda a faixa de interesse.

141
PARA (NÃO) FINALIZAR

Para calcular a atitude do navio em equilíbrio, de um modo geral, dois métodos


são usados, representando talvez as duas formas fundamentais de olhar para a
água inundada: método de flutuabilidade perdida (Lost Buoyancy Method, LBM) e
método de peso adicionado (Added weight method, AWM):

» Método de flutuabilidade perdida: nesta abordagem, os compartimentos


danificados são tratados para estarem completamente abertos ao mar
e, portanto, eles não contribuem mais para a flutuabilidade do navio.
Imagine o casco normalmente estanque sendo subitamente alterado
para uma espécie de peneiras com grandes orifícios! Os compartimentos
inundados são consequentemente removidos completamente dos
cálculos hidrostáticos. Para compensar essa flutuabilidade perdida,
o navio tem que afundar ainda mais para um calado maior até que o
deslocamento se torne idêntico ao anterior ao dano, uma vez que a
massa do navio é considerada inalterada. O centro de gravidade do navio
permanece inalterado. É fácil ver que se trata de uma simplificação física
excessiva, mas o método é mais simples de usar do que a abordagem
de peso adicionado e, consequentemente, a maioria dos regulamentos
depende desse método.

» Método de Peso Adicionado: nesta abordagem, o compartimento


danificado é tratado para permanecer intacto e a água inundada é tratada
exatamente da mesma maneira que a água de lastro levada a bordo,
exceto que a quantidade de água inundada muda com a corrente de ar.
Em outras palavras, o deslocamento de massa do navio foi aumentado
pela quantidade de entrada de água. Um aumento no calado ocorre
para fornecer a flutuabilidade extra para este peso adicional de água da
enchente. Isso, é claro, alterará o centro de gravidade da embarcação
também. O método é um pouco mais complexo que o LBM, mas algumas
pessoas consideram que representa a realidade um pouco mais de perto.
No entanto, o fenômeno físico real de inundações devido a danos está
em algum lugar entre esses dois modelos extremos. É útil para lidar com
os estágios intermediários de inundação e também quando desejamos

142
Para (não) finalizar

calcular o comprimento e a localização do compartimento que pode


ser inundado sem que a linha d’água ultrapasse a linha de segurança
(cálculo do comprimento inundável). É importante notar que ambos os
métodos devem produzir valores idênticos das quantidades fisicamente
mensuráveis. Por exemplo, o calado e o momento de correção são
alguns dos itens que podem ser medidos, enquanto a localização do
centro de gravidade não pode ser medida, pois é essencialmente um
ponto conceitual.

143
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