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Nanopartículas

Brasília-DF.
Elaboração

Lucas Ferreira Lima Sobreira Rolim

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS......................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
VISÃO GERAL............................................................................................................................ 9

UNIDADE II
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS.................................................................................................................. 24

CAPÍTULO 1
NANOPARTÍCULAS DE PRATA.................................................................................................... 24

CAPÍTULO 2
NANOPARTÍCULAS LIPÍDICAS SÓLIDAS...................................................................................... 50

UNIDADE III
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS.......................................................................................... 57

CAPÍTULO 1
O DESENVOLVIMENTO DA DISTRIBUIÇÃO E DISPOSIÇÃO DE
MEDICAMENTOS MAGNÉTICOS............................................................................................... 57

CAPÍTULO 2
NANOPARTÍCULAS DE MEDICAMENTOS - UMA VISÃO GERAL.................................................... 68

UNIDADE IV
ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS..................................................................................... 87

CAPÍTULO 1
CARACTERIZAÇÃO RÁPIDA DE NANOPARTÍCULAS.................................................................... 87

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 95
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Nanopartículas são um desafio geral para a tecnologia atual, e as observações
futuras da ciência. Essas cobrem, principalmente, todos os tipos de ciências e
tecnologias de fabricação. As propriedades dessas partículas estão sobrevoando
as barreiras científicas atuais e ultrapassaram as limitações das ciências
convencionais.

Essa é a razão pela qual as nanopartículas foram avaliadas para o uso em


muitos campos. Uma longa lista de campos científicos está inserida, na lista de
confrontos próximos ao futuro, a fim de estudar a possibilidade de converter
os papéis convencionais da ciência, para explorar a beleza artística do uso de
nanopartículas. Pesquisadores neste campo da tecnologia mantêm o estudo
de cada sistema pequeno, e entram no desenvolvimento de dispositivos ainda
menores.

O professor Richard Feynman fez uma palestra, em 29 de dezembro de 1959, no


encontro anual da Sociedade Americana de Física, no Instituto de Tecnologia da
Califórnia (Caltech), publicado pela primeira vez, em Caltech Engineering and
Science, sobre a possibilidade da existência de nanoestrutura em material. Prof.
Feynman realmente chamou a atenção dos cientistas, quando ele previu seu famoso
discurso: “Há muito espaço na parte inferior”.

Naquela época, ferramentas, instrumentos e equipamentos não estavam no


patamar altamente competente das análises. Desde então, os institutos de
tecnologia norte-americanos propuseram seu próprio potencial, em busca de
muito espaço, na parte inferior da estrutura do material. A ideia foi ampliada
dentro do material para descobrir os romances das descobertas.

Nos últimos anos, a realidade da nanotecnologia mudou as dimensões do mundo


da ciência, e explorou, dramaticamente, a obra de arte 3D do novo mundo
minúsculo. Essa descoberta confirmou que as propriedades dos materiais
mudaram, à medida que seus tamanhos se aproximavam à nanoescala, e como a
porcentagem de átomos, na superfície de um material, torna-se significativamente
nano-capaz.

Uma propriedade dependente do tamanho deste minúsculo espaço foi observada,


como o confinamento quântico em partículas semicondutoras, a ressonância
plasmônica de superfície em algumas partículas de metal, o supermagnetismo

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em materiais magnéticos, e materiais usados na biomedicina. As nanopartículas,
geralmente, têm propriedades observáveis imprevisíveis, por causa de seu próprio
tamanho pequeno, para confinar seus elétrons e produzir efeitos quânticos.

As propriedades dos materiais são absolutamente desviadas, à medida que seu


tamanho se aproxima da nanoescala, onde a porcentagem de átomos, na superfície
de um material, torna-se significativamente nano. A capacidade de entrega de
tais partículas, em nanoescala, é outra questão que tem estado fora dessa técnica
tecnológica, e se coloca como o requisito mais apropriado.

Objetivos
» Explicar e demonstrar as técnicas e métodos instrumentais de
análise, com foco em Nanopartículas.

» Destrinchar pormenores metodológicos, que podem limitar as


técnicas.

» Verificar aplicações práticas, usando os conceitos de Nanopartículas.

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INTRODUÇÃO À UNIDADE I
NANOPARTÍCULAS

CAPÍTULO 1
Visão geral

A nanotecnologia é a ciência que lida com a matéria, na escala de um bilionésimo


de metro (isto é, 10-9 m = 1 mm), e é também o estudo da manipulação da
matéria, nas escalas atômica e molecular. Uma nanopartícula é o componente
mais fundamental na fabricação de uma nanoestrutura. É muito menor que o
mundo dos objetos cotidianos descritos pelas leis do movimento de Newton,
mas maior que o átomo ou a molécula simples, que é governada pela mecânica
quântica.

Os Estados Unidos instituíram a Iniciativa Nacional de Nanotecnologia (NNI), em


2000, que foi logo seguida por uma infinidade de projetos em nanotecnologia, na
maioria dos departamentos e agências dos EUA. Cerca de 20 Centros de Pesquisa
foram financiados pela National Science Foundation (NSF), uma agência
responsável, exclusivamente, pelo Presidente dos Estados Unidos, cujo mandato é
financiar o melhor dos projetos fundamentais de ciência e tecnologia.

A NSF era a principal agência dos EUA, para levar adiante o NNI. A palavra
“nanotecnologia” logo chamou a atenção de vários meios de comunicação (redes
de TV, internet, etc.) e da imaginação e fascínio da comunidade em geral. Em
geral, o tamanho de uma nanopartícula abrange o intervalo entre 1 e 100 nm.
As nanopartículas metálicas têm propriedades físicas e químicas, diferentes dos
metais a granel (por exemplo, pontos de fusão mais baixos, áreas de superfície
mais específicas, propriedades ópticas específicas, resistências mecânicas e
magnetizações específicas), propriedades que podem ser atraentes em várias
aplicações industriais.

No entanto, como e quando uma nanopartícula é visualizada, depende da


aplicação específica. De particular importância, a propriedade óptica é uma

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS

das atrações fundamentais, e uma característica de uma nanopartícula. Por


exemplo, uma nanopartícula de ouro, de 20 nm, tem uma cor característica de
vinho tinto. Uma nanopartícula de prata é cinza amarelado. As nanopartículas
de platina e paládio são negras. Não é de se surpreender que as características
ópticas das nanopartículas tenham sido usadas, desde tempos imemoriais, em
esculturas e pinturas, antes do século IV d.C.

Esse copo extraordinário é o único exemplo histórico completo de um tipo muito


especial de vidro, conhecido como vidro dicroico, que muda de cor quando retido
à luz. O copo verde opaco se transforma em um vermelho translúcido brilhante,
quando a luz brilha internamente (ou seja, a luz incide no copo a 90°, da direção de
visualização).

A análise do vidro revelou que ele contém uma quantidade muito pequena de
minúsculos cristais de metal de Ag e Au, em uma razão molar aproximada de
14:1, o que lhe confere essas propriedades ópticas incomuns. É a presença desses
nanocristais que dá à Copa Lycurgus sua exibição colorida especial.

O leitor pode se maravilhar com a taça agora, no Museu Britânico. Até a Idade
Média, a reputação do ouro solúvel se baseava, principalmente, em seus fabulosos
poderes curativos de várias doenças, por exemplo, doenças cardíacas e venéreas,
disenteria, epilepsia e tumores. Também foi usado no diagnóstico da sífilis.

A história da nanopartícula, desde os tempos antigos até a Idade Média,


foi resumida por Daniel e Astruc. O primeiro livro sobre o ouro coloidal foi
publicado, em 1618, pelo filósofo e médico Francisci Antonii. Esse livro inclui
informações consideráveis, sobre a formação de soles de ouro coloidal e seus
usos médicos, incluindo casos práticos bem sucedidos. O livro observou que o
ouro solúvel apareceu, por volta do século IV ou IV a.C., no Egito e na China.
Por outro lado, a fabricação industrial de vitrais, com partículas coloidais, foi
estabelecida por Kunckel, no século XVII (1676).

Houve uma publicação em um livro Horikoshi 2013 (que se referia ao “ouro bebível,
que contém ouro metálico em uma solução neutra, levemente rosada, que exerce
propriedades curativas para várias doenças”. Ele concluiu que o ouro deveria estar
presente em soluções aquosas, a um grau de contaminação tal que não seja visível
ao olho humano.

Um corante em óculos, isto é, o “Púrpura de Cassius”, era um coloide resultante


da presença de partículas de ouro e dióxido de estanho, e era altamente popular,
no século XVII. Um tratado completo sobre ouro coloidal foi publicado, em 1718,

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INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE I

por Helcher. No tratado, esse filósofo e doutor afirmou que o uso de amido fervido,
em sua preparação de ouro potável, visivelmente, aumentou sua estabilidade.

Essas ideias eram comuns, no século XVIII, como indicado em um dicionário


químico francês, datado de 1769, sob o título “ou potável”. Dizia-se ouro bebível,
contido em sua forma elementar, ainda que sob extrema subdivisão suspensa em
um líquido. Em 1794, Fuhlame relatou em um livro, que ela tinha tingido seda
com ouro coloidal. Em 1818, Jeremiah Benjamin Richters sugeriu uma explicação
para as diferenças na cor mostrada, pelas variações de preparações de soluções
de ouro rosa ou roxo potável, em que essas soluções continham ouro no grau de
subdivisão, enquanto soluções amarelas eram encontradas, quando as partículas
finas se agregavam. Em 1857, em uma publicação bem conhecida, Michael Faraday
relatou a formação de soluções vermelhas profundas de ouro coloidal, pela redução
de uma solução aquosa de clorourato (AuCl 4 -) por fósforo em CS2 (um sistema
de duas fases). Ele também investigou as propriedades ópticas de filmes finos,
preparados a partir de soluções coloidais secas, e observou mudanças de cores
reversíveis dos filmes, sob compressão mecânica (de roxo-azulado a verde). Desde
esse trabalho pioneiro, milhares de trabalhos científicos foram publicados sobre
a síntese, modificação, propriedades e montagem de nanopartículas metálicas,
usando uma ampla variedade de solventes e outros substratos.

Métodos de síntese de nanopartículas

Duas abordagens são conhecidas, na preparação de partículas ultrafinas,


desde os tempos antigos. O primeiro é o método de decomposição (top-down),
pelo qual uma força externa é aplicada a um sólido, que leva à sua quebra em
partículas menores. O segundo é o método de construção (bottom-up), que
produz nanopartículas, a partir de átomos de gás ou líquidos, com base em
transformações atômicas ou condensações moleculares.

O método top-down é o método de decompor uma substância sólida. Pode ser


subdividido em moagem seca e úmida. Uma característica das partículas, nos
processos de refino de grãos, é que a energia superficial aumenta, o que faz com que
a agregação de partículas também aumente.

No método de moagem a seco, a substância sólida é moída como resultado de um


choque, compressão ou fricção, usando métodos populares, como um moinho a
jato, de martelo, de cisalhamento, de rolos, de cisalhamento de choque, de bolas.

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS

Como a condensação de pequenas partículas também ocorre, simultaneamente,


com a pulverização, é difícil obter partículas menores que 3 μm, por refino de
grãos. Por outro lado, a moagem úmida de um substrato sólido é realizada usando
um moinho de bolas rotativas, de bolas vibratório, de bolas planetário, de fluídos
centrífugos, de esferas agitadoras, de esferas de conduítes de fluxo, de contas
anulares, ou um moinho de jato hido.

Comparado com o método seco, o processo úmido é adequado para prevenir a


condensação das nanopartículas assim formadas. Desse modo, é possível obter
nanopartículas altamente dispersas. Para além do descrito acima, o método
mecanomecânico e o método de liga mecânica são também métodos top-down
conhecidos. A abordagem de baixo para cima é dividida em métodos de fase
gasosa e métodos de fase líquida. Para o primeiro, o método de deposição de vapor
químico (CVD) envolve uma reação química, enquanto o método de deposição de
vapor físico (PVD) usa o resfriamento do material evaporado.

Embora os métodos da fase gasosa minimizem a ocorrência de impurezas orgânicas


nas partículas, em comparação com os métodos da fase líquida, eles exigem o uso
de equipamentos complicados de vácuo, cujas desvantagens são os altos custos
envolvidos e a baixa produtividade.

O procedimento CVD pode produzir partículas ultrafinas, de menos de 1 μm, pela


reação química que ocorre na fase gasosa. A fabricação de nanopartículas, de 10
a 100 nm, é possível pelo controle cuidadoso da reação. Realizar a reação química
de alta temperatura, no método CVD, requer fontes de calor, como uma chama
química, um processo de plasma, um laser ou um forno elétrico.

No método de PVD, o material sólido, ou material líquido, é evaporado, e o vapor


resultante é então resfriado, rapidamente, produzindo as nanopartículas desejadas.
Para conseguir a evaporação dos materiais, pode-se usar um método de descarga de
arco.

O método simples de decomposição térmica tem sido particularmente frutífero,


na produção de óxido metálico ou outros tipos de partículas. Tem sido extensivamente
utilizado como um método sintético, preferido no mundo industrial. Por muitos
anos, os métodos de fase líquida têm sido os principais métodos de preparação de
nanopartículas. Eles podem ser subdivididos em métodos líquido/líquido e métodos
de sedimentação.

A redução química de íons metálicos é um exemplo típico de um método


líquido/líquido. A principal vantagem é a fabricação fácil de partículas de várias

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INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE I

formas, tais como nanobastões, nanofios, nanoprismas, nanopartículas e


nanopartículas ocas. Com o método de redução química, é possível sintonizar
a forma e tamanho das nanopartículas, alterando o agente redutor, o agente
dispersante, o tempo de reação e a temperatura.

O método de redução química realiza a redução química dos iões metálicos, para
os seus estados de oxidação (isto é, Mn + M0). O processo usa equipamentos
ou instrumentos não complicados, e pode render grandes quantidades de
nanopartículas, a um custo baixo em pouco tempo.

De particular interesse a esse respeito, é o uso da radiação de micro-ondas, como


fonte de calor, que pode produzir nanopartículas de alta qualidade, em um curto
período de tempo. Além do método de redução química, que adiciona um agente
redutor (método de redução direta), outros métodos de redução são conhecidos,
como fotorredução, usando raios gama, ondas ultrassônicas e plasma líquido, que
podem ser usados para preparar nanopartículas.

Esses métodos, que não usam uma substância redutora química, têm a
característica atraente de que nenhuma impureza estranha é adicionada às
nanopartículas. Para além desses métodos, a secagem por pulverização, a pirólise
por pulverização, a síntese solvotérmica e o método supercrítico, são também
conhecidos. A técnica geral, no método de sedimentação, é um processo sol-gel,
que tem sido extensivamente utilizado para a fabricação de nanopartículas de
óxidos metálicos.

Esse procedimento transforma uma solução de um alcóxido de metal em um sol


por hidrólise, seguida de policondensação em um gel. Vários livros que estão
disponíveis fornecem detalhes do processo sol-gel. O processo úmido (método da
fase líquida) garante uma alta dispersividade das nanopartículas, em relação ao
método seco. No entanto, se as nanopartículas resultantes são secas, a agregação
das partículas logo se segue. Neste caso, a re-dispersão pode ser realizada, de acordo
com o processo usado no método de fase sólida.

Embora várias técnicas tenham sido resumidas, existem algumas características a


considerar, que são comuns a todos os métodos. A síntese de nanopartículas requer
o uso de um dispositivo ou processo que preencha as seguintes condições: controle
do tamanho das partículas, distribuição de tamanho, forma, estrutura cristalina
e distribuição da composição, melhoria da pureza das nanopartículas (impurezas
mais baixas) por meio de controle de agregação, estabilização de propriedades
físicas, estruturas e reagentes, maior reprodutibilidade, maior produção em massa,
aumento de escala e menores custos.

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS

Ressonância e coloração de plasmo de superfície

O fenômeno físico da ressonância plasmônica de superfície (SPR) foi relatado há


muito tempo, por Wood, que conseguiu detectar a cobertura submonomolecular.
Wood não só descobriu o fenômeno de ressonância plasmônica, mas também
descobriu que ele mudava, com a composição do líquido em contato com a
superfície do metal.

Embora ele especulasse sobre como a luz, a grade e o metal interagiam entre si,
não foi fornecida uma racionalização clara do fenômeno. Ele observou um padrão
de bandas escuras e claras “anômalas”, na luz refratada, quando ele brilhou luz
polarizada em um espelho, com uma grade de difração em sua superfície.

A “teoria dinâmica da grade” de Rayleigh se baseou em uma expansão do campo


eletromagnético disperso, apenas em termos de ondas de saída. Com essa suposição,
ele descobriu que o campo espalhado era singular em comprimentos de onda, para
os quais uma das ordens espectrais emergia da grade no ângulo de pastejo. Ele
então observou que esses comprimentos de onda, que passaram a ser chamados
de comprimentos de onda de Rayleigh, λR, correspondem às anomalias de Wood.

A ressonância plasmônica de superfície também foi pesquisada, da mesma


forma, na física do estado sólido, nos últimos anos em estudos de aplicação,
especialmente, em pesquisas aplicadas como biossensores, células solares e
gravação de superá-la densidade. Detalhes do plasmo de superfície.

Nesta seção, apresentamos um esboço simples da relação entre a ressonância


plasmônica de superfície e a cor das nanopartículas. Na física do estado sólido, o
plasma representa a oscilação coletiva, de uma carga livre em um metal, e pode ser
considerado como uma espécie de onda de plasma.

A carga elétrica positiva no metal é fixada, e o elétron fica livre para se movimentar.
Um campo elétrico externo aplicado, a partir de uma fonte de luz, faz com que
os elétrons livres, na superfície do metal, vibrem coletivamente, dando origem a
plasmons de superfície. Como os elétrons também são partículas com carga elétrica,
quando vibram, também geram um campo elétrico. Quando o campo elétrico da
vibração de elétrons livres, e o campo elétrico externo aplicado (por exemplo, ondas
eletromagnéticas) ressoam, o fenômeno resultante é referido como uma ressonância
plasmônica de superfície, que ocorre na superfície do metal.

No entanto, se a luz irradia uma solução que contém nanopartículas metálicas


dispersas menores que o comprimento de onda da luz, então, dependendo do campo

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INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE I

elétrico da luz, o desvio produz um elétron livre, na superfície do metal. Como


resultado, as porções fracas ou espessas do campo elétrico aparecem na superfície
da nanopartícula, e podem ser consideradas como um tipo de polarização. Tal
ressonância plasmônica localizada é denominada ressonância plasmônica de
superfície localizada (LSPR).

O LSPR é, tipicamente, concentrado em uma região muito estreita, na superfície


de uma nanopartícula. A distribuição de campo elétrico, na superfície das
nanopartículas, causada pelo LSPR, pode ser visualizada usando um software
de análise de campo eletromagnético, com um método de elementos finitos
(Comsol Multiphysics 4.2a). Quando a luz visível a 520 nm, que corresponde à
posição máxima da banda LSPR, na nanopartícula de Au, é usada para irradiar a
nanopartícula, o campo elétrico gerado é concentrado, nos lados direito e esquerdo
da nanopartícula de Au, perpendicular em direção à luz incidente. Por outro lado,
o campo elétrico gerado, em duas nanopartículas de Au adjacentes, é concentrado
dentro do espaço, entre as duas partículas.

Controle de tamanho de nanopartículas

As propriedades físicas e químicas dos nanomateriais dependem não apenas


de sua composição, mas também do tamanho das partículas e da forma.
Consequentemente, um protocolo de síntese de alta qualidade deve, primeiro,
fornecer controle sobre o tamanho e a forma das partículas. Por exemplo, se
o diâmetro de uma nanoesfera de Au for aumentado, a ressonância de plasma
de superfície será, gradualmente, deslocada de 530 nm, para o lado de maior
comprimento de onda. Assim, se as nanopartículas diferirem em tamanho, suas
características ópticas também mudarão significativamente.

Em aplicações ópticas de nanopartículas, a simplificação da distribuição de


tamanho das partículas se torna um fator muito importante. Portanto, é preciso
fabricar nanopartículas, com um único tamanho de alvo em mente. Geralmente,
para preparar nanopartículas monodispersas, é imperativo que essas cresçam
muito lentamente, após a rápida geração das partículas de sementes.

Se o tamanho das nanopartículas diminuir (isto é, aumentar a área superficial


específica), então, o aumento na energia superficial dessas nanopartículas facilitará
sua agregação. Consequentemente, após o seu crescimento até o tamanho óptimo
desejado, será necessário estabilizar a superfície particulada, por adição de um
agente dispersante.

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UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS

O uso histórico de agentes dispersantes, em sínteses de nanopartículas, não é novo.


Os coloides Ag protegidos por citrato, foram relatados por Lea, em 1889. No entanto,
onde a concentração de nanopartículas é excepcionalmente alta, a estabilização
descentralizada cairá, porque a ação protetora do substrato orgânico (citrato) não é
mais forte o suficiente para impedir a agregação.

Assim, vários estudos de agentes dispersantes, que mantêm uma alta dispersividade
das nanopartículas, e também em várias concentrações, têm sido relatados. De
acordo com a regra dos ácidos duros e moles e bases (HSAB) [23], Ag +, Au +,
Pd 2 +, Pt 2 + são classificados como ácidos moles, no sentido de Lewis (SA).
Os substratos que possuem o tiol (R - SH), e os grupos funcionais fosfina (P - R 3),
classificados como bases moles, provaram ser agentes dispersantes adequados.
Pesquisas iniciais que examinaram moléculas de tiol orgânicas, como possíveis
agentes dispersantes, foram relatadas por Brust e colaboradores.

Esse artigo, em particular, tem sido o terceiro artigo mais citado na revista Chemical
Communications, desde 1965, e, assim, pode-se dizer, facilmente, que teve um
impacto significativo, no campo da Química. Além disso, um aumento no tamanho
das nanopartículas pode ser conseguido pela mudança no comprimento da
cadeia alquímica de 1-dodecanotiol para cadeias alquímicas de octano, decano
e hexadecano, bem como a partir de uma diminuição do impedimento estérico.
Por essa razão, o agente dispersante de 1-dodecanotiol também é usado para
controlar o tamanho das partículas.

O desenvolvimento de polímeros, como agentes dispersantes, também foi estudado.


Nesse caso, a capacidade de proteção é determinada pela afinidade da superfície
das nanopartículas, e pelo peso molecular do polímero. É importante perceber
que as propriedades físicas de uma nanopartícula podem mudar, com a taxa de
agregação, mesmo que a solução coloidal possa conter nanopartículas de tamanho
idêntico.

São conhecidos métodos para separar partículas de um dado tamanho alvo, de


uma solução coloidal. que contém nanopartículas de vários tamanhos. São (I)
separação por precipitação, (II) separação centrífuga, (III) coluna de filtração em
gel e (IV) eletroforese em gel. Como característica de cada método de seleção,
a separação por precipitação é adequada, para uma grande distribuição de
nanopartículas coloidais na solução.

A separação centrífuga, e a coluna de filtração de gel, são bem adequadas para


soluções de nanopartículas coloidais, com uma estreita distribuição de tamanho.
A eletroforese em gel é um método adequado para separar nanopartículas,

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INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE I

aproveitando a diferença na densidade de carga das partículas. É adequada para


separar partículas, com um pequeno tamanho de cluster. De fato, uma combinação
desses vários métodos pode ser vantajosa.

No entanto, um problema com a classificação das nanopartículas, de vários


tamanhos, usando esses métodos, é que somente uma fração das nanopartículas,
de um determinado tamanho, pode ser coletada e, em seguida, apenas em pequenas
quantidades. O método de amadurecimento digestivo e a técnica de fusão à alta
temperatura foram propostos, para resolver este problema.

Controle de forma de nanopartículas

A forma das nanopartículas é um fator importante, que determina a natureza


da banda de ressonância plasmônica da superfície, assim como o tamanho das
nanopartículas. Os espectros de absorção, na região espectral, visível de várias
nanopartículas, em forma de bastonete (isto é, nanobastões), com alterações na
relação de aspecto (comprimento do lado longo e lado curto) são mostrados em
algumas abordagens. Os diâmetros dos nanobastões de Au, que adotaram uma
forma de pilar, e foram usados nesta experiência, variaram de 5 a 20 nm, e os
comprimentos de 20 a 150 nm.

Vale a pena notar que a mudança na razão de um nanorod está relacionada à razão
de tamanho de uma face de cristal. Um aumento na razão de tamanho (relação
de aspecto) desloca a banda de absorção máxima, para comprimentos de onda
maiores. Portanto, a composição física dos nanobastões pode, facilmente, alterar
suas características espectroscópicas, de tal forma que vários estudos têm sido
necessários, para entender essas características.

A preparação de nanobastões de Au, usando surfactantes, foi relatada por Yu


e colaboradores. Os nanobastões de ouro foram sintetizados utilizando-se um
ânodo Au, sob irradiação ultrassônica, com molde constituído pelo surfactante
catiônico brometo de hexadeciltrimetilamônio (CTAB). Au exfolia, como um
cluster, a partir do eletrodo, é moldado na forma de uma haste, por meio da
interação com a micela CTAB (em concentrações acima do cmc).

No mecanismo de crescimento dos nanobastões, o agente dispersor de CTAB é


adsorvido, seletivamente, nas faces de cristal {100} e {110} das nanopartículas de
Au. Por essa razão, a face de cristal {111} cresce e uma nanopartícula de metal, em
forma de bastão, é gerada como resultado.

O uso de CTAB, como agente dispersante, subsequentemente levou rapidamente


a relatórios sobre a pesquisa de nanopartículas, de várias formas foram

17
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS

preparadas, usando-se as características de adsorção de um agente dispersante.


Chen e colaboradores relataram uma composição incomum de nanopartículas
de Au ramificadas, usando altas concentrações de CTAB. Evidentemente, a
associação molecular de um surfactante, como agente dispersor, determina as
várias características das nanopartículas metálicas.

Os aspectos físicos dos nanobastões de Au, preparados usando um molde rígido,


como a alumina mesoporosa, são similares àqueles, quando se utiliza um molde
macio como o CTAB. Em um relatório anterior, que fez uso de um molde rígido,
os nanobastões de Au foram sintetizados, nos finos poros internos da alumina
mesoporosa.

Na etapa inicial, o eletrodo de alumina poroso nanométrico é produzido, e o metal


é depositado eletroquimicamente em sequência, nos finos poros, que fornecem
um molde firme. O diâmetro do eixo curto do nanorod de Au, que cresce dentro
dos finos poros, é regulado pelo tamanho dos poros. Subsequentemente, o molde
de alumina é dissolvido e removido. Os nanobastões de Au, assim formados, são,
então, retirados do modelo.

Uma característica interessante do método acima é a fabricação de nanobastões


de múltiplas camadas de metais diferentes, como Au-Ag-Au. Portanto, uma
nanopartícula, com várias características, pode ser sintetizada. Quanto ao nanorod
do tipo camada múltipla, a pesquisa aplicada pode levar a um sistema de tamanho
grande, que pode ser considerado um código de barras nanodimensionado.

Controle de estrutura de nanopartículas

Nanopartículas, que são compostas de dois ou mais metais, diferem, em suas


características catalíticas, magnéticas e ópticas, de nanopartículas que consistem em
um único metal. Podem ser subdivididas em três tipos de estruturas: (I) a estrutura
de liga, que existe aleatoriamente em um cristal; (II) a estrutura núcleo-casca,
na qual o metal no centro difere do metal periférico; e (III) a estrutura do hemisfério
geminado, em que dois tipos de hemisférios são unidos.

A última estrutura de heterojunção facilita a separação de fases. Nanoestruturas


consistindo de nanopartículas metálicas complexas tendem a esconder as várias
novas características. A estrutura core-shell é, comparativamente, fácil de fabricar,
em nanopartículas metálicas complexas com controle funcional efetivo, o que
levou a vários estudos e relatórios na literatura.

Embora a cor de uma dispersão líquida, de nanopartículas de Au, seja vermelho


purpúreo (o roxo de Cassius), e a de uma dispersão líquida de nanopartículas

18
INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE I

de Ag pareça amarela, sempre que Au formar o núcleo e Ag a casca, a estrutura


toma uma cor laranja. Além disso, se uma matéria estruturada tiver propriedades
magnéticas, como nanopartículas de magnetita, então, as partículas de metal
magnético poderiam ser usadas para formar o núcleo da estrutura, de tal modo
que a estrutura agora será incorporada, tanto com características magnéticas,
como ópticas.

Métodos sintéticos de preparação de nanopartículas núcleo-casca são divididos


em duas categorias: (I) envolvendo uma reação de redução simultânea e (II)
envolvendo uma reação sequencial de redução de um elétron. Como um exemplo
da reação de redução simultânea, considere o núcleo formado por nanopartículas
de Pt e o invólucro composto por nanopartículas de Pd. Um método único que usa
diferenças, nos potenciais de oxidação de Ag e Au também foi relatado. Aqui, uma
nanopartícula de prata é adicionada a uma solução de HAuCl4, após a qual ocorre
uma reação de oxidação-redução, em que o ouro é depositado na superfície de uma
nanopartícula de Ag, originando a estrutura núcleo-casca.

O desenvolvimento desse método levou à fabricação de nanotubos de Au, fazendo


primeiro os nanofios pragmáticos pentagonais de Ag, como modelo.

Agente redutor na síntese de nanopartículas

Os hidrossóis de ouro foram sintetizados por meio da redução de uma solução


de cloreto de ouro, sob uma atmosfera de fósforo. O método conseguiu controlar
o tamanho das nanopartículas de Ag [8]. Décadas mais tarde, Turkevich e
colaboradores examinaram o mecanismo de redução de sal metálico, com ácido
cítrico [38]. Este último ácido tem sido amplamente utilizado, como agente redutor,
para fabricar várias nanopartículas metálicas.

A redução do ácido hexacloroplatínico, com boro-hidreto de sódio, também foi


investigada, juntamente com o cloridrato de hidroxilamina, dimetilaminoborano,
citrato de sódio, hidrato de hidrazina, formato de sódio, complexo boranetrimetilamina,
boro-hidreto de sódio e formaldeído, como agentes redutores. As várias características
das nanopartículas resultantes foram examinadas.

Mais recentemente, o método de poliol, usando etilenoglicol, tornou-se bastante


popular. O etilenoglicol pode ser o solvente da reação, e o agente redutor na síntese
de nanopartículas. O que tornou o etilenoglicol atraente foi a sua natureza polar,
que é útil na dissolução do sal de metal, e também pode desempenhar o papel de
agente dispersante. Como tem alto ponto de ebulição (198°C), é adequado para a
preparação do metal base. Por outro lado, a desvantagem desse poliol é o alto
ponto de ebulição, dificultando a remoção do solvente.
19
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS

Aplicações das nanopartículas metálicas


As várias características, das diferentes nanopartículas, em relação aos metais a
granel, estão resumidas abaixo.

Função ótica: o plasmon de absorção de superfície de Au e Ag pode expressar


várias cores, alterando o tamanho da partícula, a forma ou forma da partícula
e a taxa de condensação. Uma nova tinta, que tenha a durabilidade de um
pigmento inorgânico, e a cor vívida de um substrato orgânico, pode ser feita.
Nanopartículas menores que o comprimento de onda da luz podem ser usadas,
para fazer materiais de condutividade de alta penetração (há pouca absorção,
dispersão e reflexão).

Função catalisadora: as eficiências da reação podem ser melhoradas, uma vez que
a área superficial específica dessas nanopartículas é grande, em comparação com
as partículas existentes. À medida em que o terraço da superfície é regular, no
nível atômico, um catalisador hiperativo, com alta seletividade, pode ser feito: por
exemplo, nanopartículas de Au.

Função térmica: quando o diâmetro da partícula é pequeno (menos de 10 nm),


o ponto de fusão também é menor do que um metal a granel. A fiação eletrônica
pode ser feita com nanopartículas, que têm um baixo ponto de ebulição, por
exemplo, um polímero.

Função elétrica: como a temperatura de transição da supercondutividade sobe de


forma que o diâmetro da partícula é pequeno (menor que 1 nm), ela pode ser usada
para fazer material de supercondutividade de alta temperatura.

Função mecânica: desde que as características mecânicas melhorem, a resistência


mecânica pode ser aumentada, agudamente, misturando as nanopartículas com
metais ou cerâmica.

Função magnética: a força atrativa de um metal magnético aumenta com a


redução do diâmetro da partícula, de tal forma que materiais magnéticos moles
podem ser feitos, na forma de uma liga de nanopartículas. Além disso, um ímã
permanente pode ser feito, se as nanopartículas forem menores do que o domínio
magnético feito para magnetizar.

Aplicação de nanopartículas em tintas

Um dos aspectos mais interessantes das nanopartículas metálicas é que suas


propriedades ópticas dependem, fortemente, do tamanho e da forma das partículas.

20
INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE I

Au a granel parece amarelado, na luz refletida, mas os finos Au fi ls parecem azuis,


na transmissão. Essa característica de cor azul muda, constantemente, para laranja,
por meio de vários tons de roxo e vermelho. Como o tamanho das partículas
é reduzido para ~ 3 nm, as nanopartículas atraíram a atenção como materiais
coloridos, e a possibilidade de seu uso foi examinada em vários campos.

A pulverização, com o revestimento colorido claro, contendo as nanopartículas,


aumentou ainda mais a profundidade do fundo vermelho e, quando o objeto que
leva a aplicação da tinta está à sombra, quase não há reflexo difuso.

A cor vermelha torna-se uma característica das tintas contendo nanopartículas.


Tintas que contêm nanopartículas não podem ser removidas tão facilmente, quanto
à pintura clássica. No entanto, devido aos altos custos, as tintas com nanopartículas
são usadas apenas em aplicações limitadas.

Nanopartículas de metal também têm sido usadas, em tintas de cor de esmalte, em


cerâmica. Cor de esmalte convencional tem usado tintas com metais de transição
mistos na pulverização (frita de vidro) de vidro. Se, em vez de tintas de metais de
transição, as nanopartículas de Au fossem usadas, então, a tinta vermelha de alta
qualidade poderia ser feita com alta transparência. A pesquisa de nanopartículas de
óxido de ferro em tintas também foi realizada.

Aplicação em catálise química

Ni, Pd, Ag e Pt têm sido utilizados como catalisadores metálicos típicos, em reações
químicas. No entanto, a adsorção dissociativa de moléculas de hidrogênio, ou
oxigênio, não pode ser realizada em uma superfície lisa Au, e em uma temperatura
inferior a 200°C. Portanto, tal material de ouro é inativo como catalisador, em
reações de hidrogenação e oxidação. No entanto, quando as nanopartículas de Au
são usadas, elas funcionam efetivamente como catalisadoras, como descoberto por
Haruta.

A relação entre o canto e a borda de uma nanopartícula de Au, de vários nanômetros


de tamanho, torna-se grande, em comparação com as partículas de Au de tamanho
maior. Assim, tanto a adsorção quanto as características catalíticas da superfície de
Au aumentam. Em um icosaedro com 2054 átomos de Au, a porcentagem desses
expostos na superfície é de 15%, em nanopartículas de Au, com tamanho de 4,9 nm
(diâmetros externos), enquanto a exposição superficial de um átomo de Au atinge
52%, em nanopartículas de tamanho 2,7 nm (com 309 átomos de Au). Se o número

21
UNIDADE I │ INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS

de átomos de Au em uma nanopartícula se tornasse ainda menor, o número de


átomos que constitui o todo, assim como os elétrons, se tornará limitado, já que a
estrutura eletrônica da nanopartícula se tornaria descontínua. Esse estado assume
uma estrutura de cluster, e um efeito de tamanho quântico aparece nas propriedades
físicas.

Geralmente, os metais que formam aglomerados de tamanho tão pequeno tendem


a ser instáveis para a atmosfera. No entanto, os agrupamentos Au são estáveis e,
portanto, o Au pode ser usado como catalisador. A ação catalítica é rápida, pois o
tamanho da nanopartícula de Au é pequeno, nas reações de oxidação catalisadas.
Por exemplo, para oxidar o CO com um catalisador de Pt, é necessária uma
temperatura não inferior a 100°C. No entanto, com uma nanopartícula de Au como
catalisador, a reação pode ocorrer, mesmo em temperaturas abaixo de 0°C.

Esses efeitos são o resultado de mudanças, na chamada ressonância plasmônica


de superfície, que é observada na frequência em que os elétrons de condução
oscilam em resposta ao campo elétrico, alternado da radiação eletromagnética
incidente. No entanto, apenas os metais com elétrons livres (essencialmente Au,
Ag, Cu e os metais alcalinos) possuem ressonâncias plasmônicas, na região visível
do espectro, que dão origem a cores tão intensas para esses metais. Nanopartículas
alongadas (elipsoides e nanobastões) apresentam duas bandas de plasmon distintas,
relacionadas a oscilações de elétrons transversais e longitudinais.

Aplicação de nanopartículas na micro fiação

A pasta de nanopartículas de metal é usada para a formação de padrões de circuito


de uma placa impressa com fio, na indústria eletrônica. O ponto de fusão das
nanopartículas de metal diminui, em relação aos metais a granel, de modo que a
formação de circuito impossível, no material base de polímero, é atingível usando
uma pasta de condução elétrica convencional. Além disso, sempre que partículas em
escala nanométrica são usadas, a largura da fiação é fina, a um nível nano.

A formação de fiação de nanopartículas pode usar um método de jato de tinta, um


método que é barato e requer tempos mais curtos do que a evaporação a vácuo e
métodos fotolitográficos, que são tipicamente usados. Geralmente, Au é usado
para fazer a pasta de nanopartículas de metal. No entanto, é caro, de modo que a
substituição de nanopartículas de cobre foi proposta. As nanopartículas de cobre
tendem a ser oxidadas, de modo que o processo requer a presença de antioxidantes.

22
INTRODUÇÃO À NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE I

Aplicação de nanopartículas em tratamentos


médicos

Assim como a ressonância plasmônica da superfície é vista em uma nanopartícula


de metal, um aumento na quantidade de nanopartículas provoca a intensidade
de espalhamento. Aproveitando essa característica, espera-se a aplicação, ao
reconhecimento específico da molécula, em um tecido vivo do corpo (ver, por
exemplo, referências de outrso tecidos). Por exemplo, ao cobrir a superfície das
células cancerígenas, torna-se possível distinguir uma célula saudável de uma
célula cancerígena, pela presença de anticorpos ligados à nanopartícula de Au.

Embora a junção de nanopartículas de Au com o anticorpo esteja bem distribuída


na célula saudável, quando existe uma célula cancerosa, os anticorpos são
concentrados, principalmente, na nanopartícula de Au. A imagem, em vários
comprimentos de onda, é realizada por uma mudança na forma da nanopartícula
[48]. Além disso, se uma proteína e uma molécula funcional fossem unidas
à nanopartícula de Au, ela também poderia ser usada para células de imagem
que não fossem células cancerígenas. Além disso, à medida em que Au nanorods
ns também exibem uma ressonância plasmônica, no domínio do infravermelho
próximo, e que esses nanobastões se reúnem sobre a circunferência de uma
célula anormal, torna-se possível tratar o câncer, usando um laser infravermelho
próximo.

23
NANOPARTÍCULAS UNIDADE II
TÓXICAS

CAPÍTULO 1
Nanopartículas de prata

A nanotecnologia é um campo importante da pesquisa moderna, que trata do


projeto, síntese e manipulação de estruturas de partículas, as quais variam,
aproximadamente, de 1 a 100 nm. O tremendo crescimento dessa tecnologia
emergente abriu novas fronteiras fundamentais e aplicadas, incluindo a síntese
de materiais em nanoescala e a exploração, ou utilização de suas propriedades
físico-químicas e optoeletrônicas exóticas.

A nanotecnologia está, rapidamente, ganhando importância em várias áreas, como


saúde, cosméticos, alimentos e rações, saúde ambiental, mecânica, óptica, ciências
biomédicas, indústrias químicas, eletrônica, indústrias espaciais, distribuição
de genes e drogas, energia, optoeletrônica, catálise, reprografia, transistores de
elétrons simples, emissores de luz, dispositivos ópticos não lineares e aplicações
fotoeletroquímicas.

As nanopartículas de prata são de interesse devido às propriedades únicas (por


exemplo, propriedades ópticas, eléctricas e magnéticas dependentes do tamanho
e da forma) que podem ser incorporadas em aplicações antimicrobianas, materiais
biossensores, fibras compósitas, materiais supercondutores criogénicos, produtos
cosméticos e componentes electrónicos. Vários métodos físicos e químicos têm sido
usados para sintetizar e estabilizar nanopartículas de prata.

As abordagens químicas mais populares, incluindo redução química, usando uma


variedade de agentes redutores orgânicos e inorgânicos, técnicas eletroquímicas,
redução físico-química e radiólise, são amplamente utilizadas para a síntese de
nanopartículas de prata. Recentemente, a síntese de nanopartículas está entre as
áreas científicas de interesse mais atraentes, e há uma crescente atenção em produzir
nanopartículas usando métodos ecologicamente corretos (química verde).

24
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

As abordagens de síntese verde incluem polioxometalatos de valência mista,


polissacáridos, Tollens, método biológico e de irradiação, os quais têm vantagens
sobre os métodos convencionais envolvendo agentes químicos associados à
toxicidade ambiental. Este capítulo apresenta uma visão geral da preparação de
nanopartículas de prata, por meio de abordagens de síntese física, química e verde.

O objetivo deste capítulo é, portanto, refletir sobre o estado atual e as perspectivas


futuras, especialmente os potenciais e limitações das técnicas acima mencionadas
para as indústrias. Além disso, discutimos as aplicações de nanopartículas de
prata e sua incorporação em outros materiais, os aspectos mecanicistas dos efeitos
antimicrobianos de nanopartículas de prata.

Síntese de nanopartículas de prata


As abordagens físicas mais importantes incluem a evaporação-condensação e a
ablação a laser. Várias nanopartículas de metal, tais como prata, ouro, sulfeto de
chumbo, sulfeto de cádmio e fulereno, foram previamente sintetizadas, usando o
método de evaporação-condensação.

A ausência de contaminação do solvente, nos filmes finos preparados e a


uniformidade da distribuição de nanopartículas, são as vantagens das abordagens
físicas, em comparação com os processos químicos. A síntese física de
nanopartículas de prata, usando um forno a pressão atmosférica, apresenta
algumas desvantagens, por exemplo, o forno tubular ocupa um grande espaço,
consome uma grande quantidade de energia e eleva a temperatura ambiente, em
torno do material de origem, e requer muito tempo para alcançar a estabilidade
térmica. Além disso, um forno tubular típico requer consumo de energia de vários
quilowatts, e um tempo de pré-aquecimento de várias dezenas de minutos, para
atingir uma temperatura operacional estável.

Foi demonstrado que as nanopartículas de prata poderiam ser sintetizadas, por


meio de um pequeno aquecedor de cerâmica, com uma fonte de aquecimento local.
O vapor evaporado pode resfriar a uma taxa rápida adequada, porque o gradiente
de temperatura, nas proximidades da superfície do aquecedor, é muito íngreme, em
comparação com o de um forno tubular. Isso possibilita a formação de pequenas
nanopartículas em alta concentração. Esse método físico pode ser útil, como um
gerador de nanopartículas, para experimentos de longo prazo, para estudos de
toxicidade por inalação, e como um dispositivo de calibração para equipamentos de
medição de nanopartículas (Jung et al. 2006).

25
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

As nanopartículas de prata poderiam ser sintetizadas por ablação a laser de


materiais a granel metálicos em solução. A eficiência de ablação e as características
das partículas de nanoprata produzidas dependem de muitos fatores, como o
comprimento de onda do laser que atinge o alvo metálico, a duração dos pulsos de
laser (no regime de femto, pico e nanossegundo), a fluência do laser, a duração do
tempo de ablação e o meio líquido efetivo, com ou sem a presença de surfactantes.
Uma importante vantagem da ablação a laser, em comparação a outros métodos
para a produção de coloides metálicos, é a ausência de reagentes químicos em
soluções. Portanto, coloides metálicos puros e não contaminados, para outras
aplicações, podem ser preparados por essa técnica.

Nanosperóides de prata (20-50 nm) foram preparados por ablação a laser, em


água, com pulsos de laser de femtossegundos a 800 nm. A eficiência de formação
e o tamanho das partículas coloidais foram comparados às partículas coloidais
preparadas por pulsos de laser de nanossegundos. Os resultados revelaram que a
eficiência de formação dos pulsos de femtossegundos foi, significativamente, menor
do que a dos pulsos de nanossegundos. O tamanho dos coloides preparados pelos
pulsos de femtossegundos foi menos disperso do que o dos coloides preparados por
pulsos de nanossegundos. Além disso, verificou-se que a eficiência de ablação, para
a ablação de femtossegundos em água, foi menor do que a do ar, enquanto que, no
caso de pulsos de nanossegundos, a eficiência de ablação foi similar tanto na água
quanto no ar.

Abordagens químicas

A abordagem mais comum para a síntese de nanopartículas de prata é a redução


química, por agentes redutores orgânicos e inorgânicos. Em geral, diferentes
agentes redutores, como citrato de sódio, ascorbato, boro-hidreto de sódio
(NaBH4), hidrogênio elementar, processo de poliol, reagente de Tollens, N,
N-dimetilformamida (DMF) e copolímeros de poli (etileno glicol) são usados para
redução de iões de prata (Ag +), em soluções aquosas ou não aquosas.

Os agentes redutores supracitados reduzem os íons de prata (Ag +) e levam à


formação de prata metálica (Ag0), que é seguida pelo agrupamento em aglomerados
oligoméricos. Esses aglomerados acabam levando à formação de partículas
metálicas de prata coloidal.

É importante usar agentes protetores, para estabilizar nanopartículas dispersivas,


durante o curso da preparação de nanopartículas metálicas, e proteger aquelas
que podem ser absorvidas ou se ligam a superfícies de nanopartículas, evitando sua

26
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

aglomeração. A presença de agentes tensoativos, compreendendo funcionalidades


(por exemplo, tióis, aminas, ácidos e álcoois), para interações com superfícies de
partículas, pode estabilizar o crescimento dessas e protege-las da sedimentação,
aglomeração ou perda das suas propriedades superficiais. Compostos poliméricos,
tais como poli (álcool vinílico), poli (vinilpirrolidona), poli (etilenoglicol), poli
(ácido metacrílico) e polimetilmetacrilato, foram relatados como sendo agentes
protetores eficazes, para estabilizar nanopartículas.

Em um estudo, Oliveira et al. prepararam nanopartículas de prata dopecetadas, com


base no procedimento Brust, baseadas na transferência de fase de um complexo
Au3 +, da fase aquosa para a orgânica, em um sistema líquido-líquido de duas fases,
seguido por uma redução com boro-hidreto de sódio, na presença de dodecanotiol,
como agente estabilizante, ligando-se às superfícies das nanopartículas, evitando,
assim, a sua agregação, e tornando-as solúveis, em determinados solventes. Eles
relataram que pequenas mudanças, nos fatores sintéticos, levam a mudanças
drásticas, na estrutura das nanopartículas, tamanho médio, largura de distribuição de
tamanho, estabilidade e padrões de automontagem.

Alguns estudos usaram uma poli (metileno bisacrilamida aminoetil piperazina)


hiper-ramificada, com grupos dimetilamina terminais (HPAMAM-N (CH 3) 2)
para produzir coloides de prata. As porções de amida, anéis de piperazina, grupos
de aminas terciárias e a estrutura hiper-ramificada em HPAMAM-N (CH3) 2, são
importantes para as suas eficazes capacidades de estabilização e redução.

As nanopartículas de prata uniformes, e de tamanho controlável, podem ser


sintetizadas usando técnicas de micro emulsão. A preparação de nanopartículas,
em sistemas orgânicos aquosos bifásicos, é baseada na separação espacial inicial
de reagentes (precursor metálico e agente redutor), em duas fases imiscíveis. A
interface entre os dois líquidos, e a intensidade do transporte entre as duas fases, que
é mediada por um sal de alquil-amônio quaternário, afeta a taxa de interações entre
precursores de metais e agentes redutores. Os aglomerados metálicos, formados na
interface, são estabilizados, devido à sua superfície ser revestida com moléculas
estabilizadoras, que ocorrem no meio aquoso não polar, e transferido para o meio
orgânico, pelo transportador entre fases.

Uma das principais desvantagens desse método é o uso de solventes orgânicos,


altamente prejudiciais. Assim, grandes quantidades de surfactante e solvente
orgânico devem ser separados e removidos do produto final. Por exemplo, usaram o
dodecano como uma fase oleosa (um solvente pouco nocivo e mesmo atóxico), mas
não houve necessidade de separar a solução de prata preparada da mistura de reação.

27
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Por outro lado, nanopartículas coloidais preparadas em meios não aquosos, para
tintas condutoras, são bem dispersas em um solvente orgânico de baixa pressão de
vapor, para molhar facilmente a superfície do substrato polimérico, sem qualquer
agregação. Essas vantagens também podem ser encontradas nas aplicações de
nanopartículas metálicas, como catalisadores para catalisar a maioria das reações
orgânicas, que foram conduzidas em solventes não polares. É muito importante
transferir partículas nanometálicas, para diferentes ambientes físico-químicos, em
aplicações práticas.

Um método simples e eficaz, a fotorredução iniciada por UV, foi relatado para a
síntese de nanopartículas de prata, na presença de citrato, polivinilpirrolidona, poli
(ácido acrílico) e colágeno. Por exemplo, Huang e Yang produziram nanopartículas
de prata por meio da fotorredução de nitrato de prata, em suspensões de argila
laponítica inorgânica, em camadas que serviram como um agente estabilizador
para a prevenção da agregação de nanopartículas.

As propriedades das nanopartículas produzidas foram estudadas, em função do


tempo de irradiação UV. Distribuição de tamanho bimodal e nanopartículas de prata,
relativamente grandes, foram obtidas, quando irradiadas sob UV por 3 horas. Outras
irradiações desintegraram as nanopartículas de prata, em tamanhos menores, com
um único modo de distribuição, até que essa, de tamanho relativamente estável, fosse
obtida.

Nanopartículas de prata (nanoesfera, nanofios e dendritos) foram preparadas por


uma técnica de fotorredução, por irradiação ultravioleta à temperatura ambiente,
usando poli (vinil álcool), como agente protetor e estabilizante. A concentração
de poli (vinil álcool) e nitrato de prata desempenhou um papel significativo, no
crescimento dos nanobastões e dendritos.

A técnica de soroeletroquímica utiliza energia ultrassônica, principalmente, para


manipular o material mecanicamente. O método sintético eletroquímico pulsado
envolve pulsos sônicos e elétricos alternados, e a composição eletrolítica desempenha
um papel crucial, na formação da forma. Foi relatado que nanoesferas de prata
poderiam ser preparadas por redução eletroquímica, usando um agente complexante,
nitrilotriacetato, a fim de evitar a agregação.

Partículas de prata, de tamanho manométrico, com um tamanho médio de 8 nm,


foram preparadas por redução fotoinduzida, usando cápsulas de polieletrólito poli
(estireno sulfonato)/poli (cloridrato de alilamina), como micro reatores. Além
disso, foi demonstrado que o método fotoinduzido poderia ser usado para converter
nanoesferas de prata, em nanocristais de prata triangulares (nanoprismas), com
comprimentos de borda desejados, na faixa de 30 a 120 nm.

28
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

O processo de crescimento de partículas foi controlado usando iluminação de


feixe duplo de nanopartículas. Citrato e poli (estireno sulfonato) foram usados
como agentes estabilizantes. Em outro estudo, nanopartículas de prata foram
preparadas, por meio de uma redução muito rápida de Ag +, por meio de radicais
α-aminoalquila, gerados a partir da abstração de hidrogênio, em direção a uma
amina alifática pelo estado tripleto excitado da série tioxantona, substituída em
2 (TX − O − CH2 − COO− e TX − S −CH2 − COO−). O rendimento quântico dessa
reação foi ajustado, por um efeito substituinte sobre os tioxantonas, e levou a um
controle cinético da conversão de Ag + em Ag (0).

O método eletroquímico sintético pode ser usado para sintetizar nanopartículas de


prata. É possível controlar o tamanho das partículas, ajustando os parâmetros
de eletrólise, e melhorar a homogeneidade das nanopartículas de prata, alterando
a composição das soluções eletrolíticas. Nanosperóides de prata, revestidos
com polifenilpirrole (3-20 nm), foram sintetizados por redução eletroquímica,
na interface líquido/líquido. Este nano-composto foi preparado, transferindo
o ião metálico de prata da fase aquosa para a fase orgânica, em que reagiu
com o monómero de pirrole. Em outro estudo, nanoferóides monodispersos de
prata (1-18 nm) foram sintetizados, por redução eletroquímica dentro ou fora
dos cristais de zeólita, de acordo com o grau de troca de prata dos compactos
eletrodos modificados com zeólita. Além disso, nanopartículas esféricas de prata
(10-20 nm), com distribuições de tamanho estreitas, foram convenientemente
sintetizadas, em uma solução aquosa, por um método eletroquímico. Poly
N-vinilpirrolidona foi escolhido como o estabilizador, para os aglomerados
de prata nesse estudo. Essa protege as nanopartículas da aglomeração, reduz
significativamente a taxa de deposição de prata, e promove a nucleação e a taxa
de formação de partículas de prata.

A aplicação do cátodo de platina rotativo resolve, efetivamente, a dificuldade


tecnológica de transferir rapidamente nanopartículas metálicas da vizinhança do
cátodo para a solução a granel, evitando a ocorrência de floculações na vizinhança
desse, e garantindo a monodispersividade das partículas.

A adição de dodecil benzeno sulfonato de sódio ao eletrólito aumentou o tamanho


das partículas e a distribuição das nanopartículas de prata. Essas podem ser
sintetizadas usando uma variedade de métodos de irradiação.

A irradiação a laser, de uma solução aquosa de sal de prata e surfactante pode


produzir nanopartículas de prata, com uma forma bem definida e distribuição
de tamanho. Além disso, o laser foi utilizado, em um método sintético de

29
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

fotossensibilização de nanopartículas de prata, usando benzofenona. Baixas


potências de laser, em curtos períodos de irradiação, produziram nanopartículas
de prata de, aproximadamente, 20 nm, enquanto um aumento no poder de
irradiação produziu nanopartículas de, aproximadamente, 5 nm.

A lâmpada de laser e mercúrio pode ser usada como fonte de luz, para a
produção de nanopartículas de prata. Em estudos de irradiação de luz visível,
o crescimento fotossensibilizado de nanopartículas de prata, usando tiofeno
(corante sensibilizador) e formação de nanopartículas de prata, pela iluminação
de Ag (NH3) + em etanol, foi realizado.

A síntese assistida por micro-ondas é um método promissor, para a síntese de


nanopartículas de prata. Foi relatado que essas poderiam ser sintetizadas, por um
método de síntese assistida por micro-ondas, empregando carboximetilcelulose de
sódio, como agente redutor e estabilizante. O tamanho das partículas resultantes
dependia da concentração de carboximetilcelulose de sódio e nitrato de prata. As
nanopartículas produzidas eram uniformes e estáveis à temperatura ambiente, por
dois meses, sem qualquer alteração visível.

A produção de nanopartículas de prata, na presença de sementes de Pt, polivinil


pirrolidina e etilenoglicol, também foi relatada. Adicionalmente, o amido tem
sido empregado como molde e agente redutor para a síntese de nanopartículas
de prata, com tamanho médio de 12 nm, utilizando um método sintético assistido
por micro-ondas. O amido funciona como um molde, impedindo a agregação
das nanopartículas de prata produzidas. As micro-ondas, em combinação com o
processo de poliol, foram aplicadas na síntese de nanosperóides de prata, usando
etilenoglicol e poli N-vinilpirrolidona, como agentes redutores e estabilizantes,
respectivamente.

Em um processo típico de poliol, o sal inorgânico é reduzido pelo poliol (por


exemplo, etilenoglicol, que serve tanto como solvente como agente redutor) a uma
temperatura elevada. Houve relatos que nanopartículas de prata, em larga escala
e tamanho controlado, poderiam ser rapidamente sintetizadas, sob irradiação
de micro-ondas, a partir de uma solução aquosa de nitrato de prata e citrato
trissódico, na presença de formaldeído como agente redutor.

A distribuição de tamanho e tamanho das nanopartículas de prata produzidas


é fortemente dependente dos estados de cátions de prata, na solução de reação
inicial. Nanopartículas de prata, com diferentes formas, podem ser sintetizadas por
irradiação de micro-ondas de uma solução de nitritoetileno-glicol-H2 [PtCl6]-poli
(vinilpirrolidona) de prata, em 3 minutos.

30
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

Além disso, o uso de irradiação de micro-ondas, para produzir nanopartículas


de prata monodispersas, usando aminoácidos básicos (como agentes redutores)
e amido solúvel (como agente de proteção), tem sido relatado. Radiólise de íons
de prata, em etilenoglicol, a fim de sintetizar nanopartículas de prata, também foi
relatada. Nanopartículas de prata, suportadas em gel de sílica, foram produzidas
usando radiólise gama. Os aglomerados de prata produzidos foram estáveis, na
faixa de pH 2-9, e iniciaram a aglomeração em pH> 9. Oligochitosan como um
estabilizador, pode ser usado, em uma preparação de nanopartículas de prata,
por radiação gama.

Foi relatado que nanopartículas de prata estáveis (5-15 nm) foram sintetizadas
em um intervalo de pH de 1,8-9, usando esse método. Nanopartículas de prata
(4-5 nm) também foram sintetizadas, por irradiação γ de soluções de água acética,
contendo nitrato de prata e quitosana. Em outro estudo, nanoferóides de prata (1-4
nm) foram produzidos, por irradiação de raios-y de uma solução de prata em sílica
mesoporosa inorgânica, opticamente transparente. A redução de íons de prata,
dentro da matriz, é causada por elétrons hidratados e radicais hidroalquila, gerados
durante a radiólise de uma solução de 2-propanol. As nanopartículas produzidas
dentro da matriz de sílica eram estáveis, na presença de oxigênio, por pelo menos
vários meses.

Além disso, nanopartículas de prata (60-200 nm) foram produzidas pela


irradiação de uma solução, preparada pela mistura de nitrato de prata e álcool
polivinílico, com elétrons de 6 MeV. Uma técnica de radiólise de pulso tem sido
aplicada para estudar as reações de espécies inorgânicas e orgânicas, na síntese
de nanopartículas de prata, para entender os fatores que controlam a forma e o
tamanho dessas, sintetizadas por um método de redução comum, usando íons
citrato (como agentes redutores e estabilizadores).

Dihidroxibenzeno também pode ser usado, para reduzir os íons de prata, a fim de
sintetizar nanopartículas de prata estáveis (com um tamanho médio de 30 nm), em
soluções aquosas saturadas com ar. No método do polissacarídeo, as nanopartículas
de prata foram preparadas utilizando água como solvente ecologicamente correto,
e polissacarídeos como agentes capsulantes/redutores. Por exemplo, a síntese
de nanopartículas de amido e prata foi realizada com amido (como agente de
encapsulamento) e β-D-glicose (como agente redutor), em um sistema suavemente
aquecido. As interações de ligação, entre o amido e as nanopartículas de prata
produzidas, foram fracas e poderiam ser reversíveis a temperaturas mais altas,
permitindo a separação das nanopartículas sintetizadas.
31
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Na dupla função polissacarídica, nanopartículas de prata foram sintetizadas pela


redução de íons de prata, dentro de modelos de amido nanoscópico. A extensa
rede de bandas de hidrogênio nos modelos forneceu passivação de superfície ou
proteção contra a agregação de nanopartículas. Síntese verde de nanopartículas
de prata, usando heparina carregada negativamente (agente redutor/estabilizante
e controlador de nucleação) também foi relatada, aquecendo uma solução de
nitrato de prata e heparina a 70°C por, aproximadamente, 8 horas. Microscopia
eletrônica de transmissão (MET) demonstrou um aumento no tamanho das
partículas de nanopartículas de prata, com concentrações aumentadas de nitrato
de prata (como substrato) e heparina. Além disso, mudanças na concentração de
heparina influenciaram a morfologia e o tamanho dessas. As nanopartículas de
prata sintetizadas eram altamente estáveis, e não mostraram sinais de agregação
após dois meses. Em outro estudo, nanopartículas de prata estáveis (10-34 nm)
foram sintetizadas por autoclavagem de uma solução de nitrato de prata (como
substrato) e amido (como agente limitador/redutor) a 15 psi, e 121°C, por 5
minutos. Essas nanopartículas eram estáveis em solução por três meses, a
aproximadamente 25ºC.

Nanopartículas de prata menores (≤10 nm) foram sintetizadas misturando duas


soluções de nitrato de prata, contendo amido (como agente de encapsulamento) e
soluções de NaOH, contendo glicose (como agente redutor), em um reator de disco
giratório, com tempo de reação menor que 10 minutos.

Recentemente, um processo simples de uma etapa, o método de Tollens, tem sido


usado para a síntese de nanopartículas de prata, com tamanho controlado. Essa
técnica, de síntese verde, envolve a redução de Ag (NH3) 2 + (como reagente de
Tollens), por um aldeído. No procedimento de Tollens modificado, os íons de
prata são reduzidos por sacarídeos, na presença de amônia, produzindo filmes
de nanopartículas de prata (50-200 nm), hidrossóis de prata (20-50 nm) e
nanopartículas de prata, de diferentes formas. Nesse método, a concentração de
amônia, e a natureza do agente redutor, desempenham um papel importante no
controle do tamanho e da morfologia das nanopartículas de prata.

Foi revelado que as menores partículas foram formadas na menor concentração


de amônia. A glicose e a menor concentração de amônia (5 mM) resultaram no
menor tamanho médio de partícula, de 57 nm, com uma absorbância plasmônica de
superfície máxima intensa, em 420 nm. Além disso, um aumento em NH3 de 0,005
M, para 0,2 M, resultou em um aumento simultâneo, no tamanho de partículas
e polidispersidade. Nanopartículas de prata, com tamanhos controláveis, foram
sintetizadas pela redução de [Ag (NH3) 2] + com glicose, galactose, maltose e
lactose.

32
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

A síntese de nanopartículas foi realizada em várias concentrações de amônia


(0,005-0,20 M) e pH (11,5-13,0), resultando em tamanhos médios de partículas
de 25-450 nm. O tamanho da partícula foi modificado pelo aumento (NH3), e a
diferença na estrutura do agente redutor (monossacarídeos e dissacarídeos)
e pH (partículas obtidas em pH 11,5 foram menores que aqueles em pH
12,5) influenciaram o tamanho das partículas. Polidispersidade também
diminuiu, em resposta, o pH. As nanopartículas de prata produzidas foram
estabilizadas e protegidas por dodecil sulfato de sódio (SDS), monooleato de
polioxietilenosorbitano (Tween 80) e polivinilpirrolidona (PVP 360).

As nanopartículas de prata, ouro, paládio e platina podem ser produzidas à


temperatura ambiente, como resultado da simples mistura dos íons metálicos
correspondentes com polioxometalatos reduzidos, que atuam como agentes
redutores e estabilizantes. Os polioxometalatos são solúveis em água, e têm a
capacidade de sofrer reações redox multieletrônicas passo a passo, sem perturbar
sua estrutura.

Foi demonstrado que as nanopartículas de prata foram produzidas pela iluminação de


uma solução desarejada de polioxometalato/S/Ag + (polioxometalato: [PW12O40] 3,
[SiW12O40] 4-; S: propan-2-ol ou 2,4-diclorofenol). Além disso, a síntese de
uma etapa do tipo química verde, e estabilização de nanoestruturas de prata com
polioxometalatos de valência misto MoV-MoVI, em água à temperatura ambiente,
tem sido relatada (Zhang et al. 2007).

Abordagens biológicas

Nos últimos anos, o desenvolvimento de métodos eficientes de química verde,


empregando agentes redutores, capeadores e estabilizadores naturais, para preparar
nanopartículas de prata, com morfologia e tamanho desejados, tornou-se um dos
principais focos dos pesquisadores. Métodos biológicos podem ser usados para
sintetizar nanopartículas de prata, sem o uso de quaisquer substâncias químicas duras,
tóxicas e caras. A biorredução de iões metálicos, por combinações de biomoléculas
encontradas nos extratos de certos organismos (por exemplo, enzimas/proteínas,
aminoácidos, polissacáridos e vitaminas), é ambientalmente benigna, mas
quimicamente complexa. Muitos estudos relataram a síntese bem-sucedida
de nanopartículas de prata, usando organismos (micro-organismos e sistemas
biológicos). Por exemplo, demonstramos a síntese biorredutora de nanopartículas
de prata, usando F. oxysporum. Nessa seção, a maioria dos organismos utilizados,
na síntese de nanopartículas de prata, são mostrados.

33
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Síntese de nanopartículas de prata por bactérias

Foi relatado que nanopartículas de prata, altamente estáveis (40 nm), poderiam ser
sintetizadas por biorredução de íons de prata aquosos, com um sobrenadante de
cultura de bactéria não patogênica, Bacillus licheniformis. Além disso, nanocristais
de prata bem dispersos (50 nm) foram sintetizados, usando a bactéria Bacillus
licheniformis. Foi descrita uma nova abordagem de síntese combinacional para
a formação de nanopartículas de prata usando, sobrenadante de cultura de B.
subtilis e irradiação de micro-ondas em água.

Eles relataram a biossíntese extracelular de nanopartículas de Ag monodispersas


(5-50 nm), usando sobrenadantes de B. subtilis. A fim de aumentar a taxa de
reação e reduzir a agregação das nanopartículas produzidas, eles usaram
radiação de micro-ondas, que poderia fornecer aquecimento uniforme ao redor
das nanopartículas e auxiliar o amadurecimento digestivo das partículas sem
agregação.

Nanocristais de prata, de diferentes composições, foram sintetizados com


sucesso, por Pseudomonas stutzeri AG259. A estirpe bacteriana resistente à
prata, Pseudomonas stutzeri AG259, isolada de uma mina de prata, acumulou
nanopartículas de prata intracelularmente, juntamente com algum sulfureto de
prata, variando em tamanho de 35 a 46 nm. Partículas maiores foram formadas
quando o P. stutzeri AG259, desafiado com altas concentrações de íons de prata
durante a cultura, resultou na formação intracelular de nanopartículas de prata,
variando em tamanho de poucos nm a 200 nm. P. stutzeri AG259 desintoxicou a
prata, por meio de sua precipitação no espaço periplasmático, e sua redução para
prata elementar, com uma variedade de tipologias cristalinas, como hexágonos e
triângulos equiláteros, além de três diferentes tipos de partículas: prata cristalina
elementar, sulfeto de prata monoclínica acanthita (Ag2S) e uma estrutura ainda
indeterminada. O espaço periplasmático limitou a espessura dos cristais, mas não
a sua largura, que poderia ser bastante grande (100-200 nm).

Em outro estudo, a biossíntese rápida de nanopartículas metálicas de prata,


usando a redução de íons Ag +, por cultura de sobrenadantes de Klebsiella
pneumoniae, E. coli e Enterobacter cloacae (Enterobacteriacae) foi relatada.

O processo sintético foi bastante rápido, e nanopartículas de prata foram


formadas dentro de 5 minutos de íons de prata, entrando em contato com o
filtrado celular. Parece que as enzimas nitro-redutase podem ser responsáveis
pela biorredução de íons de prata. Também foi relatado que a emissão de luz
visível poderia aumentar, significativamente, a síntese de nanopartículas de

34
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

prata (1-6 nm), por sobrenadantes de cultura de K. pneumoniae. Nanopartículas de


prata monodispersas e estáveis também foram sintetizadas com sucesso, com a
biorredução de [Ag (NH3) 2] +, usando Aeromonas sp. SH10 e Corynebacterium
sp. SH09. Especulou-se que [Ag (NH3) 2] + reagiu primeiro com OH−, para
formar Ag2O, que foi então metabolizado, independentemente, e reduzido a
nanopartículas de prata, pela biomassa.

As cepas de lactobacilos, quando expostas a íons de prata, resultaram na biossíntese


de nanopartículas, dentro das células bacterianas. Tem sido relatado que a exposição
de bactérias lácticas, presentes no soro de leitelho a misturas de iões de prata, pode ser
usada para produzir nanopartículas de prata.

A nucleação de nanopartículas de prata ocorreu na superfície celular, por meio


de açúcares e enzimas na parede celular, e, então, os núcleos metálicos foram
transportados, para dentro da célula, onde se agregaram e cresceram para
partículas maiores.

Síntese de nanopartículas de prata por fungos

Nanopartículas de prata (5-50 nm) poderiam ser sintetizadas, extracelularmente,


usando Fusarium oxysporum, sem evidência de floculação das partículas, mesmo
um mês após a reação (Ahmad et al., 2003a). A estabilidade em longo prazo da
solução de nanopartículas pode ser devida à estabilização das partículas de prata
pelas proteínas. A morfologia das nanopartículas foi altamente variável, com formas
geralmente esféricas e, ocasionalmente, triangulares, observadas nas micrografias.
Foi relatado que as nanopartículas de prata interagem fortemente com proteínas,
incluindo o citocromo c (Cc). Esta proteína pode ser automontada em superfície
de coloide de prata, com citrato reduzido (Macdonald e Smith 1996).

Curiosamente, a adsorção de nanopartículas de Au coloidal, revestidas com (Cc)


sobre agregado coloidal Ag, resultou em conjugado de nanopartículas de Ag: Cc:
Au (Keating et al. 1998). Nos espectros de UV-vis, da mistura reacional, após
72 horas, a presença de uma banda de absorção, a ca. 270 nm pode ser devido a
excitações eletrônicas, em resíduos de triptofano e tirosina nas proteínas.

Em F. oxysporum, a biorredução de íons de prata foi atribuída a um processo


enzimático, envolvendo redutase dependente de NADH. A exposição de íons
de prata a F. oxysporum resultou na liberação de nitrato redutase, e posterior
formação de nanopartículas de prata, altamente estáveis em solução.

35
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Nanopartículas de prata estáveis poderiam ser obtidas usando Aspergillus flavus.


Essas nanopartículas mostraram-se estáveis em água, por mais de três meses, sem
agregação significativa, devido à ligação superficial de materiais estabilizantes
secretados pelo fungo. A biossíntese extracelular de nanopartículas de prata, usando
Aspergillus fumigatus (um molde saprófito onipresente), também foi investigada.
A micrografia TEM mostrou nanopartículas de prata bem dispersas (5-25 nm), com
formas variáveis. A maioria deles era de natureza esférica, com alguns outros tendo
formas triangulares, ocasionalmente. Comparado com a biossíntese intracelular de
nanopartículas, a síntese extracelular poderia ser desenvolvida como um método
simples e barato, devido ao processamento a jusante e ao manuseio das biomassas.

O filtrado extracelular da biomassa de Cladosporium cladosporioides foi usado para


sintetizar nanopartículas de prata. Foi sugerido que proteínas, ácidos orgânicos e
polissacarídeos liberados por C. cladosporioides eram responsáveis pela formação
de nanopartículas de prata cristalinas esféricas. Alguns estudos mostraram que,
quando o filtrado de cultura de Penicillium fellutanum foi incubado com íons
de prata, e mantido sob condições escuras, nanopartículas esféricas de prata
poderiam ser produzidas. Eles também mudaram fatores cruciais como pH, tempo
de incubação, temperatura, concentração de nitrato de prata e cloreto de sódio,
para atingir a produção máxima de nanopartículas.

A maior densidade óptica, a 430 nm, foi encontrada 24 horas, após o início do
tempo de incubação, concentração de nitrato de prata a 1 mM, pH 6, temperatura
de 5°C e cloreto de sódio a 0,3%. Fungos do gênero Penicillium foram utilizados,
para a síntese de nanopartículas de prata.

Penicillium sp. J3 isolado do solo foi capaz de produzir nanoprtículas de


prata.

A biorredução de íons de prata ocorreu na superfície das células, e as proteínas


podem ter papel crítico, na formação e estabilização das nanopartículas
sintetizadas. Alguns estudos investigaram a capacidade de Coriolus versicolor, na
formação de nanopartículas esféricas monodispersas de prata.

Em condições alcalinas (pH 10), o tempo de produção das nanopartículas de prata


foi reduzido de 72 horas para 1 hora. Foi indicado que condições alcalinas podem
estar envolvidas na biorredução de íons de prata, hidrólise da água e interação com
as funcionalidades proteicas. Os achados desse estudo mostraram que a glicose
foi necessária, para a redução das nanopartículas de prata, e a S-H da proteína
desempenhou um papel importante na biorredução.

36
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

Síntese de nanopartículas de prata por plantas

O extrato de Camellia sinensis (chá verde) tem sido utilizado, como agente redutor
e estabilizante para a biossíntese de nanopartículas de prata, em solução aquosa
em condições ambientais. Observou-se que, quando a quantidade de extrato de C.
sinensis foi aumentada, as nanopartículas resultantes foram ligeiramente maiores
e mais esféricas. Biomoléculas do tipo de ácido fenólico (por exemplo, cafeína
e teofilina), presentes no extrato de C. sinensis pareciam ser responsáveis pela
formação e estabilização de nanopartículas de prata.

Extratos de folhas de chá preto também foram usados, na produção de nanopartículas


de prata. Essas eram estáveis e tinham formas diferentes, como esferas, trapezóides,
prismas e bastonetes. Polifenóis e flavonóides parecem ser responsáveis pela
biossíntese dessas nanopartículas.

Extratos de plantas de alfafa (Medicago sativa), capim-limão (Cymbopogon


flexuosus) e gerânio (Pelargonium graveolens) serviram como reagentes verdes,
na síntese de nanopartículas de prata. Alguns estudos investigaram os limites
(concentração de metal do substrato e tempo de exposição) da captação de
prata metálica, por dois metalófitos comuns, Brassica juncea e M. sativa. Eles
demonstraram que B. juncea e M. Sativa poderiam ser usadas, na fitossíntese
de nanopartículas de prata. B. juncea, quando exposto a um substrato aquoso
contendo 1.000 ppm de nitrato de prata, por 72 horas, acumulou até 12.4%. de
prata. M. sativa acumulou até 13.6 wt. % de prata, quando exposta a um substrato
aquoso, contendo 10 000 ppm de nitrato de prata, durante 24 horas. No caso de
M. sativa, observou-se um aumento na absorção de metal, aumentando o tempo
de exposição e a concentração de substrato. Em ambos os casos, a análise de MET
mostrou a presença de nanopartículas de prata, aproximadamente esféricas, com
tamanho médio de 50 nm. O caldo de folhas de gerânio, quando exposto à solução
aquosa de nitrato de prata, resultou na síntese enzimática de nanopartículas de
prata cristalinas estáveis, extracelularmente. A biorredução dos íons metálicos foi
bastante rápida, ocorreu prontamente em solução, e resultou em uma alta densidade
de nanopartículas de prata estáveis (16-40 nm). As nanopartículas pareciam ser
montadas em superestruturas abertas, e quase lineares, e eram predominantemente
de forma esférica.

Acreditava-se que proteínas, terpenóides e outros compostos bio-orgânicos, no


caldo de folhas de gerânio, participavam na biorredução de íons de prata, e na
estabilização das nanopartículas, por meio do tamponamento da superfície.

37
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Uma alta densidade de nanopartículas de prata, extremamente estáveis (16-40 nm),


foi rapidamente sintetizada por íons de prata desafiadores, com o extrato de
folhas de Datura metel (Solanaceae).

Os extratos de folhas desta planta contêm biomoléculas, incluindo alcaloides,


proteínas/enzimas, aminoácidos, compostos alcoólicos e polissacarídeos, que
poderiam ser usados como redutores, para reagir com íons de prata e, portanto,
usados como scaffolds, para direcionar a formação de nanopartículas de prata, na
solução.

Alguns estudos elucidaram o fato de que os caldos foliares de Pinus desiflora,


Diospyros kaki, Ginko biloba, Magnolia kobus e Platanus orientalis sintetizaram
nanopartículas de prata estáveis, com tamanho médio de partícula, variando de 15
a 500 nm, extracelularmente. No caso dos caldos das folhas de M. kobus e D. kaki,
a velocidade de síntese e a conversão final em nanopartículas de prata foram mais
rápidas, quando a temperatura da reação foi aumentada. Mas o tamanho médio de
partícula produzido pelo caldo de folha de D. kaki diminuiu de 50 nm para 16 nm,
quando a temperatura foi aumentada de 25°C para 95 ° C.

Os pesquisadores também ilustraram que apenas 11 minutos foram necessários


para mais de 90% de conversão, na temperatura de reação de 95°C, usando o
caldo de folhas de M. kobus. Foi ainda demonstrado que extratos de folhas da
planta medicinal aquática, Nelumbo nucifera (Nymphaeaceae), foi capaz de
reduzir os íons de prata e produzir nanopartículas de prata (com tamanho médio
de 45 nm), em diferentes formas.

As nanopartículas biossintetizadas mostraram atividades larvicidas contra os


vetores da malária (Anopheles subpictus) e filariose (Culex quinquefasciatus).
Nanopartículas de prata foram biossintetizadas, utilizando o extrato de folhas
de Sorbus aucuparia, em 15 minutos. As nanopartículas mostraram-se estáveis,
por mais de três meses. O íon sorbato, no extrato de folhas de S. aucuparia,
encapsulou as nanopartículas e essa ação pareceu ser responsável por sua
estabilidade.

Estudar a síntese de nanopartículas de prata, com bio-orgânicos isolados/purificados,


pode fornecer uma melhor compreensão do mecanismo do sistema. A glutationa
(γ-Glu-Cys-Gly), como agente de redução/encapsulamento, pode sintetizar
nanopartículas de prata solúveis em água, e sintonizáveis por tamanho, que se
ligam facilmente a uma proteína modelo (albumina do soro bovino).

Os resíduos de triptofano de oligo-peptídeos sintéticos, no terminal C, foram


identificados como agentes redutores que produzem nanopartículas de prata. Além
38
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

disso, as nanopartículas de prata foram sintetizadas pela vitamina E, na técnica


de Langmuir-Blodgett, por bio-surfactantes (soforolipídeos) e por oligopeptídeos,
baseados em L-valina, com estruturas químicas, Z- (L-Val) 3-OMe e Z- (L- Val)
2-L-Cys (S-Bzl) -OMe. O teor de enxofre, na Z- (L-Val) 2-L-Cys (S-Bzl) –Ome,
controla a forma e tamanho das nanopartículas de prata, o que sugere interação
entre íons de prata e a porção tioéter do peptídeo.

Constituintes naturais puros podem ser usados para reduzir e estabilizar


nanopartículas de prata. Alguns estudos mostraram a capacidade da apina,
extraída das folhas de hena, de produzir nanopartículas de prata anisotrópicas e
quase esféricas.

Os grupos hidroxila e carbonila secundários da apina foram responsáveis


pela biorredução dos sais metálicos. Para controlar o tamanho e a forma das
nanopartículas, eles usaram diferentes quantidades de apina (como agente
redutor).

As nanopartículas permaneceram estáveis em água, por três meses, o que pode ser
atribuído à ligação superficial da apina às nanopartículas. Além disso, o geraniol,
como composto volátil obtido de P. graveolens, foi utilizado para a biossíntese de
nanopartículas de prata (1-10 nm). Eles também avaliaram a citotoxicidade in
vitro de nanopartículas de prata, contra o Fibrosarcoma Wehi 164, em diferentes
concentrações (1-5 g ml-1). A presença de 5 µg/ml de nanopartículas de prata
inibiu, significativamente, o crescimento da linhagem celular (até 60%).

Os vários polímeros sintéticos e naturais, tais como poli (etilenoglicol), poli


(N-vinil-2-pirrolidona), amido, heparina, quitosana policatiônica (2-amino-2-
desoxi-β- D-glicose), alginato de sódio e goma acácia, têm sido relatados como
agentes redutores e estabilizadores, para a biossíntese de nanopartículas de
prata. Foi relatado que nanopartículas esféricas monodispersas de prata (3 nm)
poderiam ser sintetizadas, usando goma kondagogu (polissacarídeo não tóxico,
derivado como um exsudato da casca de Cochlospermum gossypium).

Foi sugerido que os grupos carboxilato e hidroxila estavam envolvidos na


complexação e na biorredução de íons de prata em nanopartículas. Esse método
foi compatível com os princípios da química verde, uma vez que a goma serve
como matriz para a biorredução e estabilização das nanopartículas sintetizadas.
Devido à disponibilidade de biopolímero, derivado de plantas de baixo custo, esse
método poderia ser implementado para a síntese em larga escala de nanopartículas
monodispersas altamente estáveis.
39
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Nanopartículas esféricas de prata (40-50 nm) foram produzidas usando extrato


de folha de Euphorbia hirta (Elumalai et al. 2010). Essas nanopartículas
apresentaram propriedades antibacterianas potenciais e efetivas contra Bacillus
cereus e S. aureus. Extratos de folhas de Acalypha (Euphorbiaceae) produziram
nanopartículas de prata (20-30 nm), em 30 minutos (Krishnaraj et al. 2010).
Essas nanopartículas apresentaram excelente atividade antimicrobiana contra
patógenos aquáticos, E. coli e V. cholera (Concentração Inibitória Mínima (CIM)
= 10 μg ml-1).

Aplicações de nanopartículas de prata e sua incorporação em outros


materiais

As nanopartículas são de grande interesse, devido ao seu tamanho extremamente


pequeno, e grande proporção de superfície e volume, o que leva a diferenças químicas
e físicas, em suas propriedades, se comparadas à maioria dessas composições
químicas, como propriedades mecânicas, biológicas e estéricas, atividade catalítica,
condutividade térmica e elétrica, absorção óptica e ponto de fusão.

Portanto, o projeto e a produção de materiais, com novas aplicações, podem


ser resultado do controle da forma e do tamanho em escala nanométrica. As
nanopartículas exibem propriedades dependentes do tamanho e da forma, que são
de interesse para aplicações, que variam de biossensores e catalisadores a ótica,
atividade antimicrobiana, transistores de computador, eletrômetros, sensores
químicos lógica eletrônica sem fio e esquemas de memória.

Essas partículas também têm muitas aplicações em diferentes campos, como


imagens médicas, nanocompósitos, filtros, liberação de drogas e hipertermia
de tumores. As nanopartículas de prata chamaram a atenção dos pesquisadores,
devido às suas extensas aplicações, em áreas como circuitos integrados, sensores,
fibras desodorantes antimicrobianas (Zhang e Wang 2003), eletrodos de células
(Klaus-Joerger et al. 2001), baterias de papel de baixo custo (nanofios de prata) (Hu
et al. 2009) e antimicrobianos. As nanopartículas de prata têm sido amplamente
utilizadas, como agentes antimicrobianos na indústria da saúde, armazenamento
de alimentos, revestimentos têxteis e várias aplicações ambientais.

Propriedades antimicrobianas de nanopartículas de prata causaram o uso


desses nanometais, em diferentes campos da medicina, várias indústrias,
criação de animais, embalagens, acessórios, cosméticos, saúde e militares.
Nanopartículas de prata mostram potenciais efeitos antimicrobianos, contra
organismos infecciosos, incluindo Escherichia coli, Bacillus subtilis, Vibria
cólera, Pseudomonas aeruginosa, Syphillis typhus e S. aureus. Por exemplo, foi

40
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

demonstrado que as nanopartículas de prata, principalmente na faixa de 1-10


nm, ligados à superfície da membrana da célula de E. coli, e perturbado sua
função adequada, como respiração e permeabilidade.

Observou-se que as nanopartículas de prata apresentaram maior efeito antibacteriano


sobre B. subtilis do que sobre E. coli, sugerindo um efeito antimicrobiano seletivo,
possivelmente relacionado à estrutura da membrana bacteriana (Yoon et al.
2007). Como agentes antimicrobianos, as nanopartículas de prata foram aplicadas
a uma ampla gama de aplicações, desde a desinfecção de dispositivos médicos e
eletrodomésticos, até o tratamento de água (Jain e Pradeep 2005; Li et al. 2008).

As atividades sinergéticas de nanopartículas de prata e antibióticos, como eritromicina,


amoxicilina, penicilina G, clindamicina e vancomicina, contra E. coli e S. aureus
foram relatadas. Nanopartículas de prata também foram usadas em dispositivos
médicos (por exemplo, cimento ósseo de polimetilmetacrilato, máscaras cirúrgicas
e dispositivos implantáveis), para aumentar suas atividades antimicrobianas. Por
exemplo, cateteres de plástico, que foram revestidos com nanopartículas de prata,
usando nitrato de prata (AgNO3), surfactante e N, N, N, N - tetrametiletilenodiamina
(como agente redutor), tiveram efeitos antimicrobianos significativos contra E.
coli, Enterococcus, S aureus, C. albicans, Staphylococci e P. aeroginosa. Esses
podem ser úteis, para reduzir o risco de complicações infecciosas em pacientes
com cateteres de demora.

Nanopartículas/argila de prata foram relatadas, como tendo efeitos antimicrobianos


significativos contra patógenos dérmicos, incluindo S. aureus, P. aeruginosa e
Streptococcus pyrogens, bem como o S. aureus, resistente à meticilina e oxacilina
(MRSA e ORSA).

Aplicações de nanopartículas de prata e sua


incorporação em outros materiais
Os efeitos antifúngicos das nanopartículas de prata, contra patógenos fúngicos,
são praticamente desconhecidos. No entanto, foi relatado que essas nanopartículas
apresentaram atividades antifúngicas significativas, contra espécies de T.
mentagrophytes e Candida (como C. albicans, C. tropicolis, C. glabrata, C.
parapsilosis e C. krusei). As nanopartículas de prata alteram a estrutura do
envelope fúngico, e causam danos significativos às células fúngicas.

Sun et al demonstraram a atividade citoprotetora de nanopartículas de prata


(5-20 nm), para células infectadas pelo HIV-1 (Hut/CCR5). Essas nanopartículas

41
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

inibiram a replicação do vírus, nas células Hut/CCR5, causando apoptose associada


ao HIV (Sun et al. 2005). Além disso, atividades antivirais dependentes de
tamanho de nanopartículas de prata (exclusivamente na faixa de 1-10 nm) contra
o HIV-1 foram relatadas. Nanopartículas de prata se ligam preferencialmente à
subunidade gp120, da glicoproteína do envelope viral do HIV-1, e essa interação fez
com que o vírus não se ligasse à célula hospedeira. Parece que mais investigações
são necessárias, a fim de encontrar os mecanismos de efeitos antivirais das
nanopartículas de prata.

Em geral, os efeitos terapêuticos das partículas de prata (na forma de suspensão)


dependem de aspectos importantes, incluindo tamanho de partícula (área e
energia), forma de partícula (atividade catalítica), concentração de partículas
(índice terapêutico) e carga de partículas.

Mecanismos de efeitos antimicrobianos das nanopartículas de prata ainda não


são totalmente conhecidos, mas vários estudos revelaram que essas podem se
ligar à parede celular bacteriana, negativamente carregada, e romper, o que leva à
desnaturação da proteína e, finalmente, à morte celular.

Bactérias fluorescentes foram usadas para estudar os efeitos antibacterianos das


nanopartículas de prata. Proteínas fluorescentes verdes foram adaptadas para essas
investigações. Verificou-se que as nanopartículas de prata, ligadas a proteínas de
bactérias contendo enxofre, causou a morte. Além disso, medições fluorescentes de
sobrenadantes livres de células mostraram o efeito de nanopartículas de prata, na
recombinação de bactérias. A ligação de íons de prata ou nanopartículas à parede
celular causou o acúmulo de precursores da proteína do envelope, resultando na
dissipação imediata da força motriz do próton.

O mecanismo catalítico dos compósitos de nanopartículas de prata, e seu dano


à célula pela interação com compostos contendo fósforo e enxofre, como o DNA,
também foram investigados. Além disso, nanopartículas de prata exibiram
desestabilização da membrana externa, e ruptura da membrana plasmática,
causando depleção de ATP intracelular. Outro mecanismo envolve a associação
de prata com oxigênio, e sua reação com grupos sulfidrila, na parede celular,
para formar ligações R-S-S-R, bloqueando a respiração e causando a morte
celular.

Produtos feitos com nanopartículas de prata foram aprovados, por uma série
de organismos credenciados, como a Agência de Proteção Ambiental dos EUA
(EPA), e o Instituto de Pesquisa para a Indústria Química e Testes FITI.

42
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

Nanopartículas de prata podem ser exploradas em medicina e farmácia para


materiais dentários, tratamentos de queimaduras, revestimento de materiais de
aço inoxidável, tecidos e loções de proteção solar. As nanopartículas de prata são
amplamente utilizadas na espectroscopia de espalhamento Raman, intensificada
por superfície (SERS) - técnica sensível à superfície, que é conhecida por sua
alta sensibilidade devido a seus efeitos plasmáticos de superfície ausentes, na
formação de substrato uniforme -, devido ao alto fator de aumento de campo local.
Por exemplo, foi demonstrado que SERS e nanobastões de prata, rapidamente,
revelaram as estruturas virais. Também pode diferenciar entre vírus respiratórios,
cepas de vírus e vírus contendo deleções de genes, sem manipular o vírus.

Nanopartículas de prata também podem ser usadas para modificação de redes


de difração, baseadas em polímeros, que podem ser usadas na espectroscopia
de reflexão de luz em grating para detecção. Além disso, as propriedades
eletroquímicas das nanopartículas de prata incorporaram-nas em sensores
de escala manométrica, que podem oferecer tempos de resposta mais rápidos
e limites de detecção mais baixos. Nanopartículas de prata eletrodepositadas
em eletrodos micropadrão de placas de alumíneo-ouro, mostrou uma alta
sensibilidade ao peróxido de hidrogênio (H 2O 2).

Descobriu-se que as nanopartículas de prata catalisam a quimiluminescência


do sistema de peróxido de hidrogênio luminal, com atividade catalítica melhor
que o coloide Au e Pt. As propriedades catalíticas das nanopartículas de prata
variaram em tamanho e morfologia. Foi relatado que, quando o coloide de prata foi
injetado, a emissão de quimiluminescência do sistema luminal-H2O2 foi bastante
aumentada.

Nanopartículas de prata suportaram nanotubos de haloiseno (Ag/HNTs). Com teor


de prata de, aproximadamente, 11%, foram aplicados para catalisar a redução de
4-nitrofenol com NaBH4, em soluções aquosas alcalinas. Nano-clusters, compostos
de 2 a 8 átomos de prata, podem ser a base para um novo tipo de armazenamento
de dados ópticos. Além disso, as emissões fluorescentes dos aglomerados também
poderiam ser usadas em rótulos biológicos e displays eletroluminescentes.

As propriedades ópticas de uma nanopartícula metálica dependem, principalmente,


de sua ressonância plasmônica de superfície, em que o plasmônio se refere à
oscilação coletiva dos elétrons livres, dentro da nanopartícula metálica. Os picos de
ressonância plasmônica, e as larguras de linha, são sensíveis ao tamanho e forma
da nanopartícula, às espécies metálicas e ao meio circundante. As propriedades
ópticas das nanopartículas de prata têm sido aproveitadas pelos quimiossensores

43
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

e biossensores ópticos. Por exemplo, nanopartículas de prata triangulares têm sido


usadas na medição do sinal de ligação biológica, entre anticorpos e antígenos.

As nanopartículas metálicas, incorporadas na matriz polimérica, podem ser


usadas como sensores, materiais com propriedades eletrônicas selecionáveis
por solvente, limitadores e filtros ópticos, e armazenamento de dados ópticos.
Eles podem ser aplicados às catalíticas e revestimentos antimicrobianos. A
produção de nanocompósitos de metal/polímero, em poli (metacrilato de metila),
N-isopropilacrilamida, cloreto de dialildimetilamônio, poli (álcool vinílico), poli
(acetato de vinila), poli (vinil carbazol) e filmes de poliimida, tem sido relatada.

Nanocompósitos de polímero/nanopartículas de prata têm atraído grande atenção,


devido às suas aplicações potenciais, nas áreas de catálise, bioengenharia, fotônica
e eletrônica. Os polímeros são considerados bons materiais hospedeiros, para
nanopartículas metálicas, assim como outros agentes estabilizantes, incluindo citratos,
solventes orgânicos (por exemplo, tetraidrofurano e tetrahidrofurano/metanol),
álcoois de cadeia longa, surfactantes e organometálicos. Vários métodos químicos e
físicos foram aplicados, para preparar compósitos de metal-polímero (por exemplo,
abordagem de fabricação).

A abordagem de fabricação é, muitas vezes, referida como o método de evaporação,


uma vez que o solvente polimérico é evaporado da mistura de reação, após a
dispersão de nanopartículas. No entanto, isso, geralmente, leva à distribuição
não homogênea das partículas no polímero. Uma produção bem-sucedida
de nanopartículas é determinada pela capacidade de produzir partículas,
com distribuições uniformes e longa estabilidade, dada a sua tendência para,
rapidamente, se aglomerar em solução aquosa.

Outra abordagem é um sistema em que ocorre polimerização simultânea e redução


de metais. Por exemplo, nanopartículas de prata policromada foram obtidas por
irradiação de micro-ondas, a partir de uma solução de nitrato de prata, na presença
de poli, sem qualquer outro agente redutor. A reduo in situ de is de prata em poli
(N-vinil-2-pirrolidona), por irradiação de micro-ondas, produziu partículas com
distribuição de tamanho estreita. Além disso, prepararam-se nanopartículas
de prata (aproximadamente 5 nm) misturando quantidades iguais de 0,5%,
em peso de soluções aquosas de acácia (polímero natural) e nitrato de prata.
Nesse processo, as cadeias poliméricas de acácia promovem a redução, e atuam
como bons estabilizadores ao longo de cinco meses.

Abordagem de aquecimento convencional (método de redução de polimerização


simultânea), para polimerizar acrilonitrila, reduz os íons de prata, resultando

44
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

em dispersão homogênea e distribuições de tamanho estreitas das nanopartículas


de prata, em pó compósito de prata-poliacrilonitrila. Além disso, a síntese de
nanocomplexos de prata, controlada por tamanho, foi, recentemente, alcançada na
redução do nitrato de prata, por uma solução de ácido de arginato-tungstonsilicato
irradiada por UV.

Outros nanocompósitos de metal-polímero foram preparados, por estes métodos de


redução, tais como poli (álcool vinílico) -Ag, Ag-poliacrilamida, Ag-acrilonitrilo,
Ag2Se-álcool polivinílico, Ag-poliimida, Au-polianilina e Cupoly (ácido acrílico), Poli
(álcool vinílico) - um polímero solúvel em água e biocompatível com citotoxicidade
extremamente baixa -, tem muitas aplicações biomédicas. Este polímero,
biologicamente amigável, pode ser usado como estabilizador, devido à sua claridade
óptica e classificado em graus de polímeros hidrolisados parcialmente (85-89%) e
totalmente (97-99,5%).

Esse polímero foi amplamente utilizado em indústrias têxteis, de papel, embalagens


de alimentos, farmácias e cosméticos. A introdução de nanopartículas de prata
em poli (álcool vinílico) proporciona atividade antibacteriana, que é altamente
desejada em têxteis, usados em medicina, aplicações de curativos, roupas e
produtos domésticos.

Por exemplo, nanofibras de poli (álcool vinílico), contendo nanopartículas de prata,


foram preparadas por soluções aquosas de poli (álcool vinílico)/nitrato de prata,
seguidas de um tratamento térmico curto. As nanofibras produzidas contendo
nanopartículas de prata mostraram fortes atividades antimicrobianas. Várias
abordagens, como evaporação de solvente, radiação eletrônica e ultravioleta,
redução química in situ, tratamento térmico e método sonoquímico, têm sido
aplicadas para sintetizar nanopartículas de poli (vinil álcool) -silver.

Em métodos de evaporação de solvente, a síntese de nanopartículas de poli


(vinil álcool) silver foi obtida pela primeira redução do sal de prata com NaBH4,
seguido de dispersão mecânica dos coloides de prata, no polímero dissolvido, e,
então, o solvente foi evaporado, resultando na estrutura final. As abordagens de
radiação de elétrons e ultravioleta envolvem a irradiação de um filme de polímero
dopado com Ag +, que fornece nanocompósitos de prata de poli (álcool vinílico).

Em um estudo, nanopartículas de prata foram preparadas em polivinil, matriz por


tratamentos térmicos. O tempo de recozimento e temperatura variam, no resultado
da morfologias de nanopartículas de poli (vinil álcool) -silver. Além disso, hidrogéis
de poli (vinil álcool) - poli (N-vinil pirolidona), contendo nanopartículas de prata,
foram produzidos por repetidos tratamentos de congelamento-descongelamento.

45
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Esses nanogéis, contendo nanossilver, possuíam excelentes efeitos antibacterianos


contra E. coli e S. aureus.

O dióxido de Ag/AgBr/titânio, revestido com apatita (TiO2), foi preparado pela


deposição de prata, para gerar pares de elétrons, estendendo o comprimento de
onda de excitação para a região de luz visível, AgBr e hidroxiapatita, como material
fotossensível e biocerâmica de adsorção, respectivamente.

Em outro estudo, os fotocatalisadores de nanopartículas, baseados em dióxido


de titânio dopado com prata, carbono e enxofre, foram sintetizados, por um
método sol-gel modificados. Foram preparados nanocompósitos de prata/TiO2,
e nanocompósitos de prata-TiO2 coloidal, tampados com poli (álcool vinílico).
Os nanocompósitos sintetizados foram eficazes na destruição de bactérias
Gram-negativas, e. Escherichia coli. Essas superfícies de prata/TiO2 tinham
propriedades vantajosas, incluindo fotocatálise de luz visível, compatibilidade
biológica, e atividades antimicrobianas. Por exemplo, foram preparados filmes
compostos por Ag/TiO2, incorporando prata nos poros de películas de dióxido de
titânio, com um método de impregnação, por meio de foto-redução (um processo
versátil e conveniente com vantagem de fabricação do espaço seletivo).

Foi relatado que esses filmes compostos são promissores, na aplicação de tecnologias
de fotocatálise, antimicrobiana e autolimpeza. A fim de sintetizar nanopartículas
de prata, em superfícies de dióxido de titânio, redução aquosa, fotoquímica
(in-situ -, abordagem de fabricação fotoquímica pode ser usada, para a preparação de
nanopartículas de metal/nanocompósitos poliméricos), deposição de fase líquida, e
métodos sol-gel podem ser aplicados.

Nanopartículas de prata, com uma estreita distribuição de tamanho, foram


preparadas por redução aquosa simples de íons de prata, em diferentes proporções
molares de suspensões de dióxido de titânio e NaBH4 (agente redutor). Um dos
métodos de redução fotoquímica envolve o carregamento de nanopartículas de
prata (3-5 nm)m sobre a superfície dos nanotubos de dióxido de titânio, primeiro
usando a abordagem de deposição líquida, seguida de irradiação UV ou laser.

Toxicidade de partículas de nanoprata


Partículas nanométricas podem passar através de membranas biológicas, e
penetrar capilares muito pequenos, por todo o corpo (por exemplo, passar através
das barreiras do sangue-cérebro e testículos de sangue). Tamanho, morfologia e
área de superfície são reconhecidas como importantes determinantes da toxicidade
das nanopartículas.

46
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

A informação sobre a implicação toxicológica das nanopartículas de prata é


limitada. A toxicidade é, principalmente, determinada in vitro, com partículas
variando, aproximadamente, de 1 a 100 nm. Os estudos de toxicidade in vitro e
in vivo revelaram que as nanopartículas de prata têm a capacidade potencial de
causar aberrações cromossômicas e danos no DNA, entrar nas células e causar
danos celulares, e são capazes de induzir proliferação, nas linhagens de peixes
zebra.

Efeitos limitados sobre a saúde do uso de partículas de nanopratas em humanos


têm sido relatados, como argiria (uma condição na qual a pele se torna azul ou
cinza-azulada, devido à exposição inadequada a formas químicas do elemento), que
parece ocorrer somente após a ingestão de grandes quantidades de partículas de
prata coloidal (a suspensão com nanoprata de diferentes tamanhos).

Vários estudos transversais relataram que a argiria é o resultado adverso mais


frequente da exposição a nanopartículas de prata. Por exemplo, a ingestão prolongada
de prata coloidal pode alterar a cor da pele e causar aparência azul-acinzentada
no rosto (os sintomas da argiria).

Nanopartículas de prata podem se ligar a diferentes tecidos (ligar-se a proteínas


e enzimas, em células de mamíferos) e causar efeitos tóxicos, como interações
adesivas com membrana celular e produção de radicais altamente reativos e
tóxicos, como espécies reativas de oxigênio (ROS), que podem causar inflamação e
mostram efeitos tóxicos intensivos na função mitocondrial. Órgãos alvo potenciais
para toxicidade nano-prata podem envolver o fígado e o sistema imunológico.
Acúmulo e efeitos histopatológicos foram observados em fígados de ratos, expostos,
sistemicamente, a nanopartículas de prata (10-15 nm). Além disso, enzimas hepáticas
aumentadas foram relatadas em ratos Sprague-Dawley, após exposição oral de
28 dias a partículas de nanoprata (60 nm).

Foi relatado que o anticoagulante, com revestimento de prata, causou enzimas


hepáticas elevadas, e sintomas semelhantes à argiria em pacientes queimados. Os
estudos in vitro e in vivo revelaram os efeitos da toxicidade das nanopartículas de
prata sobre o sistema imune, especialmente a excreção de ocitocinas. A aplicação
de creme de nanoprata de 1% (nanopartículas de prata, com faixa de tamanho de,
aproximadamente, 50 nm) inibiu a dermatite de contato alérgica induzida por
DNB, e o acúmulo no baço também foi relatado.

Tem sido sugerido que as nanopartículas de prata são especialmente eficazes, na


inibição de inflamações, e podem ser usadas para tratar doenças imunológicas e
inflamatórias. A administração oral de nanopartículas de prata (60 nm) a ratos

47
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

induziu alguns efeitos inflamatórios locais. Além disso, em um estudo in vitro, os


efeitos de toxicidade de partículas de nanoprata, em eritrócitos, foram relatados,
enquanto um aumento de glóbulos vermelhos foi observado, após administração
oral de nanopartículas de prata (60 nm), mas não após a inalação de nanopartículas
de prata (15 nm).

Um estudo in vitro sugere que as partículas de nanoprata podem ter efeitos


citotóxicos nas células-tronco da linhagem germinativa espermatogonial de
mamíferos. Nanopartículas de prata (10 µg ml-1 e concentração acima) mostraram
mudanças dramáticas, como necrose e apoptose das células, e a 5-10 µg ml-1,
reduziu drasticamente a função mitocondrial e a viabilidade celular. Foi relatado
que não há evidências disponíveis, para demonstrar que a prata é uma causa de
dano neurotóxico, embora depósitos de prata tenham sido identificados na região
dos nervos cutâneos.

O sistema respiratório parecia relativamente não afetado pela exposição à


nanoprata in vivo, em um estudo de 28 dias (Ji et al. 2007). Entretanto, o efeito
citotóxico de partículas de nanoprata, em macrófagos alveolares e células epiteliais
alveolares, foi demonstrado in vitro (Soto et al. 2005; Soto et al. 2007; Park et al.
2007). Em um estudo de inalação de 90 dias, diminuição das funções pulmonares,
incluindo volume corrente, volume minuto e pico de fluxo inspiratório, bem
como lesões inflamatórias na morfologia pulmonar e efeitos sobre marcadores
inflamatórios, foram relatados. Realizaram um teste de micronúcleo da medula
óssea, como parte de um estudo de administração oral de 28 dias, a fim
de investigar os efeitos genotóxicos ou a carcinogenicidade da exposição à
nanopartículas de prata. Não foi encontrado potencial genotóxico significativo
de exposição oral a nanopartículas de prata (60 nm) nesse estudo. Um aumento
em tumores malignos (principalmente locais) foi encontrado, após administração
subcutânea crônica, de altas doses de prata coloidal.

Conclusão
As nanopartículas de prata têm atraído a atenção dos pesquisadores, devido a
suas propriedades únicas e comprovada a aplicabilidade em diversas áreas, como
medicina, catálise, engenharia têxtil, biotecnologia, nanobiotecnologia, ciências da
bioengenharia, eletrônica, óptica e tratamento de água. Além disso, nanopartículas
de prata têm efeitos inibitórios significativos contra patógenos microbianos, e
são amplamente usadas, como agentes antimicrobianos, em uma ampla gama de
produtos de consumo, incluindo sprays desinfetantes de ar, meias, travesseiros,

48
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

chinelos, respiradores, lenços umedecidos, cosméticos, detergentes, sabonetes


e xampus, cremes dentais, filtros de ar e água, revestimentos de refrigeradores,
aspiradores de pó, cimento ósseo, pensos para feridas, curativos cirúrgicos, máquinas
de lavar roupa, embalagens de armazenamento de alimentos e telefones celulares.

A flexibilidade dos métodos sintéticos de nanopartículas de prata, e a incorporação


fácil de nanopartículas de prata, em diferentes meios de comunicação, interessaram
os pesquisadores a investigar mais detalhadamente os aspectos mecanicistas dos
efeitos antimicrobianos, antivirais e antiinflamatórios dessas nanopartículas. Em
resumo, há investigações bem controladas, limitadas sobre toxicidades potenciais
de partículas de nanoprata, e parece que estudos adicionais, de longo prazo
(preferencialmente usando múltiplos tamanhos de partícula), são necessários para
melhor caracterizar e entender o risco de usar essas partículas.

Vários métodos sintéticos químicos, físicos e biológicos foram desenvolvidos para


obter nanopartículas de prata de várias formas e tamanhos, incluindo ablação a laser,
irradiação gama, irradiação de elétrons, redução química, métodos fotoquímicos,
processamento de micro-ondas e decomposição térmica de oxalato de prata, em
água e etilenoglicol e modos sinticos biolicos.

A maioria desses métodos ainda está em fase de desenvolvimento, e os problemas


experimentados envolvem a estabilidade e agregação de nanopartículas, controle
do crescimento de cristais, morfologia, tamanho e distribuição de tamanho e,
ocasionalmente, dificuldade no gerenciamento da síntese, como no caso da técnica
de radiólise. Além disso, a separação de nanopartículas produzidas para outras
aplicações ainda é uma questão importante. Utilizando diferentes agentes redutores
e estabilizadores, o tamanho das partículas, e a morfologia das nanopartículas de
prata, foram controlados. Seleção de meio solvente e seleção de agentes redutores
e estabilizantes não tóxicos são as questões mais importantes que devem ser
consideradas, na síntese de nanopartículas de prata.

Em métodos biológicos sintéticos, foi demonstrado que as nanopartículas de


prata, produzidas pelas plantas, são mais estáveis, em comparação àquelas
produzidas por outros organismos. Plantas (especialmente extratos de plantas)
são capazes de reduzir íons de prata mais rapidamente do que fungos ou
bactérias. Além disso, para usar métodos verdes fáceis e seguros, em escala
e produção industrial de nanopartículas de prata bem dispersas, os extratos
vegetais são certamente melhores do que a biomassa vegetal ou plantas vivas.
No entanto, melhores procedimentos experimentais são necessários, para a
síntese de nanopartículas bem caracterizadas.

49
CAPÍTULO 2
Nanopartículas lipídicas sólidas

Descobertos em 1991, os nanotubos de carbono (CNTs) atraíram uma atenção


considerável, em muitos campos da ciência e tecnologia, por causa de suas
propriedades estruturais, mecânicas e eletrônicas exclusivas. Seu potencial parecia
primordial, nos campos da ciência de materiais, incluindo compósitos condutores e
de alta resistência, armazenamento de energia e dispositivos de conversão de energia,
sensores, displays de emissão de campo, e fontes de radiação, armazenamento
de hidrogênio, dispositivos semicondutores de tamanho nanométrico, sondas e
interconexões. Assim, seus estudos progrediram rapidamente, durante as duas
últimas décadas. A química dos CNTs surgiu dos esforços, para abrir e encher os
tubos e, de fato, para funcionalizar suas paredes laterais.

A primeira abordagem foi impulsionada, em parte, pelo estudo da matéria em


espaços confinados e, em parte, a fim de usar os tubos como modelos para
os nanofios. Por outro lado, a funcionalização do CNT foi necessária para
dispersar (“solubilizar”) os tubos em meio aquoso. Então, a funcionalização
com biomoléculas se tornou em voga, e muitos grupos de pesquisa começaram a
investigar usos biológicos desses novos tipos de nanoestruturas.

Segundo alguns autores, os CNTs poderiam, possivelmente, ser usados como


biossensores, substratos para crescimento neuronal, pois suportam a adesão
de lipossacarídeos e mimetizam as membranas celulares, sistemas de entrega,
agentes de imagiologia médica (e radioterapêuticos). Tais usos potenciais lembram
aqueles propostos para fulerenos e derivados nos anos noventa. O uso crescente
e a produção em massa de CNTs levantaram preocupações, sobre sua segurança e
impacto ambiental, logo após o anúncio da iniciativa nacional de nanotecnologia,
pelo presidente dos Estados Unidos, em 2000 (http://www.nano.gov/).

Os primeiros estudos de toxicidade abordaram sua segurança no local de


trabalho. Desde então, as investigações de sua toxicidade, primeiro in vitro e
depois in vivo, foram relatadas em inúmeras publicações, mas seus resultados
permanecem contraditórios.

Como mencionado pela maioria dos autores, isso se deve a vários fatores,
incluindo defeitos superficiais, tamanhos e grau de agregação do material testado e
protocolos de exposição. Neste capítulo, tentaremos apresentar uma compreensão
do conhecimento atual sobre a toxicidade do CNT, como uma função da via de

50
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

administração. Devido ao grande número de artigos dedicados a esse assunto, estamos


conscientes de que sentiremos falta de citar vários trabalhos e pedimos desculpas a
colegas esquecidos. Para uma melhor compreensão do comportamento biológico
dos NTCs, primeiro descreveremos suas principais características gerais.

Estrutura - nanotubos de carbono de paredes


simples (SWNTs)
Os nanotubos de carbono de paredes simples, compostos por uma folha de grafeno
laminada, de camada única (que pode ser revestida, por metade de uma molécula
C60), existem em uma variedade de estruturas, correspondentes a muitas maneiras,
em que uma folha de grafite pode ser enrolada em um tubo sem costura.

Cada tipo de estrutura tem um diâmetro específico e quiralidade, ou ângulo de


envolvimento (α). As estruturas de “poltrona”, com α = 30°, têm caráter metálico.
Os tubos em “ziguezague”, para os quais α = 0°, podem ser semimetálicos ou
semicondutores, dependendo do diâmetro específico. Nanotubos, com ângulos
quirais intermediários entre 0º e 30°, incluem semimetais e semicondutores. Os
termos “poltrona” e “ziguezague” se referem ao padrão das ligações carbono-carbono,
ao longo da circunferência de um tubo.

O câncer de mama é uma das preocupações de saúde mais importantes da sociedade


moderna. Em todo o mundo, estima-se que mais de um milhão de novos casos
de câncer de mama são diagnosticados a cada ano, e mais de 400 mil morrerão
da doença. Por ser um, a cada oito casos de câncer, é o mais alto entre todas as
formas da doença. Embora as taxas de mortalidade, por câncer de mama, tenham
diminuído, na maioria dos países desenvolvidos, devido à triagem mamográfica
mais frequente, e ao uso extensivo de tamoxifeno, ele ainda continua sendo o
segundo mais alto em mulheres.

As taxas de incidência de câncer de mama duplicaram ou triplicaram, nos países


em desenvolvimento, nos últimos 40 anos. As principais opções para o tratamento
da doença incluem cirurgia, radioterapia e quimioterapia. Procedimentos cirúrgicos,
geralmente, levam a uma morbidade significativa, como edema linfático, perda de
massa muscular, neuropatia e dor crônica.

A radioterapia é útil para o câncer, por ser mais localizada, mas também carrega
vários efeitos colaterais agudos e crônicos, como náusea, diarreia, dor e fadiga.
A terapia endócrina pode ser usada como tratamento suplementar. Este método
de terapia é aplicado a um grupo específico de pacientes, para mulheres após a
menopausa, com doença responsiva a hormônios.
51
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

Em pacientes com câncer sensíveis a hormônios, aplica-se quimioterapia com


drogas citotóxicas. As drogas citotóxicas tratam os cânceres, causando morte
celular ou parada do crescimento. A quimioterapia eficaz contra o câncer é capaz
de reduzir um tumor, ou ajudar a destruir as células cancerosas.

Uma série de obstáculos, como a toxicidade dos fármacos, possíveis interações


medicamentosas indesejáveis e várias formas de resistência a medicamentos,
precisam ser superadas, para se alcançar uma quimioterapia efetiva. A resistência
a medicamentos é um problema geral, na quimioterapia de vários tipos de câncer,
incluindo câncer de mama. Falhas no tratamento de cânceres são comuns.

O desenvolvimento de novas drogas também é demora a progredir. Entre as


razões que contribuem para isso, estão absorção fraca, alta taxa de metabolismo
e eliminação de drogas, por administração oral, resultando em concentrações
menores ou variáveis no sangue, baixa solubilidade do fármaco, biodisponibilidade
imprevisível de drogas orais, devido a alimentos e toxicidade tecidual.

Assim, métodos alternativos de administração de drogas, como o sistema


adequado de transporte de medicamentos, são necessários para superar esse
problema. Dependendo da via de administração, o tamanho dos portadores do
fármaco pode variar, de alguns nanômetros (portadores coloidais), a micrômetros
(micropartículas) e a vários milímetros (implantes). Entre esses portadores, as
nanopartículas mostraram-se promissoras, para a aplicação parenteral de drogas
quimioterápicas.

A segmentação de tecidos e órgãos do corpo não saudáveis é um dos desafios


importantes dos sistemas de distribuição de medicamentos. As nanopartículas
parecem se mostrar promissoras, como um sistema de direcionamento de
medicamentos, que fornece drogas para o tecido alvo, no momento certo. O
principal objetivo dos novos sistemas de liberação de drogas é melhorar a
eficácia antitumoral do medicamento, e reduzir seus efeitos tóxicos nos tecidos
normais. Espera-se que a nanopartícula seja capaz de diminuir a toxicidade do
medicamento quimioterápico.

Nanopartículas baseadas em lipídios, que são sólidas à temperatura ambiente,


ou seja, nanopartículas lipídicas sólidas (SLN), usando lipídios fisiológicos
bem toleráveis, têm aplicação potencialmente ampla. O SLN é um sistema de
administração de medicamentos que carrega drogas lipofílicas ou quimicamente
instáveis. Entre as vantagens do SLN, estão o alto potencial para o manejo da
liberação de fármacos e direcionamento a drogas, alta estabilidade para o
carregamento de drogas e alta capacidade de carga de medicamentos.

52
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

Esse sistema de entrega possibilita o encapsulamento de drogas lipofílicas e


hidrofílicas, sem o efeito tóxico dos portadores. Assim, evita-se o uso de solventes
orgânicos e tem potencial para produção em larga escala. No entanto, várias
desvantagens estão associadas aos SLNs, para incluir crescimento e agregação
de partículas, tendência de gelificação imprevisível, transições polimórficas,
liberação de droga rajada, e capacidades inerentemente baixas de incorporação,
devido à estrutura cristalina do lipídio sólido.

A técnica de produção mais comum dos SLNs é a homogeneização de alta


pressão (HPH), homogeneização de alto cisalhamento, combinada com técnicas
de ultrassom, emulsificação/evaporação de solvente e microemulsão. HPH é o
método de produção predominante, porque é fácil de manusear e ampliar. Nesse
método, a incorporação do fármaco é conseguida dissolvendo ou dispersando o
fármaco no lípido fundido. A droga pode ser encapsulada na matriz, ou ser ligada
à superfície da partícula. Apesar de melhores pesquisas em produção de SLN de
alta qualidade, ainda não é usada rotineiramente clinicamente.

Nanopartículas lipídicas sólidas encapsuladas


com tamoxifeno
O nome químico do tamoxifeno é trans-2- [4- (1,2-difenil-1- butenil) fenoxil]
N, Ndimetiletilamina. O tamoxifeno, uma molécula antiestrogênica e um forte
fármaco hidrofóbico (solubilidade em água, 0,04 µg / mL a 37°C), é amplamente
administrado em pacientes com câncer de mama e de alto risco. Embora tenha
sido usado, principalmente, como um medicamento contra cânceres de mama
dependentes de hormônios (Wyld et al., 1998), ele também tem sido usado no
tratamento de cânceres de mama negativos, para receptores de estrogênio
insensíveis a hormônios.

O tamoxifeno inibe a proliferação celular e induz a apoptose em células de câncer


de mama (MCF-7, MDA-MB231 e BT-20). Apesar de ser altamente efetivo, o
tamoxifeno tem efeitos colaterais nocivos dose-dependentes, em longo prazo,
como o desenvolvimento de câncer endometrial, hiperplasia, pólipos, carcinoma,
sarcoma hemorragia vaginal, labaredas e retenção líquida, em pacientes com câncer
de mama na pós-menopausa. Formulações com o encapsulamento de doses baixas
de tamoxifeno, em sistemas de distribuição coloidal, têm sido eficazes.

O tamoxifeno foi formulado em nanoesferas, como as nanopartículas de


poli-εcaprolactona e nanopartículas de poli de longa circulação, na forma de
base livre. O tamoxifeno, como uma droga antiestrogênica não esteroide, foi,

53
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

recentemente, encapsulado em SLNs, e mostrou-se eficaz na glândula mamária,


induzida em ratos Sprague-Dawley, na administração parenteral.

Os sistemas SLN oferecem uma liberação sustentada do fármaco, em sua forma


intacta. Usando linhagem de células de câncer de mama humano, MCF7, alguns
estudos in vitro mostraram que a liberação de fármacos do SLN incorporado
por tamoxifeno, tem a mesma atividade antitumoral como o fármaco livre
(Abbasalipourkabir et al., 2011). Portanto, o SLN, carregado com tamoxifeno,
como um sistema carreador, tem um excelente potencial na liberação prolongada
do fármaco, na terapia do câncer de mama.

Preparação de SLN, carregados com tamoxifeno

Os SLN, carregados com fármaco, podem ser preparados utilizando a técnica de


homogeneização à alta pressão. Uma mistura de óleo de palma hidrogenado e lecitina
de soja hidrogenada (Lipoid S100-3, contendo 90% de fosfatidilcolina, incluindo
12–16% de ácido palmítico, 83–88% de ácido esteárico, ácido oleico e isômeros
e ácido linoleico), em uma proporção de 70:30, é aterrada em um cadinho de
cerâmica. A mistura é aquecida entre 65º e 70°C, enquanto é agitada, com um ímã
revestido de PTFE, até que uma solução de matriz lipídica de expressão clara (LM)
seja obtida. Adiciona-se uma quantidade de álcool oleico, 0,005 g de timerosal,
4,75 g de sorbitol e 89,25 mL de água bidestilada (toda p/p) à mesma temperatura
a 5 g de LM. Uma pré-emulsão de SLN é obtida, usando o homogeneizador (Ultra
Turrax, Ika) a 13.000 rpm, por 10 minutos, e homogeneizador de alta pressão
(EmulsiFlex-C50 CSA10, Avestin) a 1000 bar, 20 ciclos e 60°C.

O medicamento lipofílico tamoxifeno (1 mg) é dissolvido em álcool oleico, e


misturado com 5 mg de pré-emulsão de SLN, utilizando o homogeneizador Ultra
Turrax, a 13.000 rpm, durante 10 minutos.

Essa mistura é, então, incubada durante a noite a 50-60°C, agitada periodicamente


com um íman revestido com PTFE, a 500 rpm, e, finalmente, irá expor ao ar, para
solidificar.

Atividade antitumoral in vitro de nanopartículas


lipídicas sólidas, carregadas com tamoxifeno

A morte celular, basicamente, pode ocorrer de duas maneiras. A primeira é por


meio da via de necrose, em que as lesões traumáticas causam danos às células, em
particular aumento de células, explosões e liberar seus componentes intracelulares
para o ambiente circundante. A segunda via é a morte celular programada, ou a

54
NANOPARTÍCULAS TÓXICAS │ UNIDADE II

apoptose, que é uma cascata de sinalização molecular, induzindo um distúrbio


na organização e pacote da célula, causando a morte. Foi também sugerido outro
modo de morte celular, por exemplo, morte celular mitótica, que desempenha
um papel importante na morte celular, causada por radiação ionizante.

O câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum (18% de todas as malignidades)


em mulheres, em todo o mundo, e sua ocorrência está aumentando lentamente.
Como muitos tipos de câncer, o de mama parece ser um resultado de alto dano
genético, que causou proliferação celular descontrolada e apoptose incomum.
Esses fenômenos ativam proto-oncogenes e inativam genes supressores de tumor.
Esses eventos podem ser ativados pela exposição de células vivas a carcinógenos
ambientais, físicos, químicos e/ou biológicos. A molécula antiestrogênica, Tamoxifen
(TAM) ou trans-2- [4- (1,2-difenil-1-butenil) fenoxil] - N, N-dimetiletilamina, tem
sido amplamente aplicada, no tratamento de pacientes com câncer de mama e de
alto risco.

O tamoxifeno pode reduzir a ocorrência de câncer de mama contralateral, em


pelo menos 40%. Esse exibe atividade antiestrogênica, por ligação ao receptor de
estrogênio intracelular. O complexo receptor de estrogênio tamoxifeno liga-se ao DNA
e pode, subsequentemente, inibir a transcrição do RNAm, e levar a apoptose celular.
Recentemente, nanopartículas, na forma de nanoesferas, como nanopartículas de
policaprolactona e nanopartículas de poli (Meiacocianlato-co-hexadecilcianoacrilato),
revestidas com PEG de longa circulação, na forma de base livre, têm sido usadas para
encapsulação de tamoxifeno. A base desta formulação é obter a dose necessária de
droga, na localização do tumor, por um período de tempo conhecido, e reduzir os
efeitos adversos nos órgãos normais do corpo.

Nos últimos anos, a administração de Tamoxifeno nas Nanopartículas Lipídicas


Sólidas tem sido recomendada. Modelos animais desempenham um papel
importante na quimioterapia do câncer. No entanto, hoje há uma crescente
aceitação para testes in vitro, como o método para determinar a citotoxicidade e
viabilidade de drogas quimioterápicas.

A razão para a mudança está, em parte, nas limitações dos modelos animais,
incluindo considerações financeiras, tempo e diferenças entre o metabolismo
animal e humano. Finalmente, há a pressão moral para reduzir a experimentação
animal. Os testes in vitro são mais prováveis de serem reprodutíveis.

Em geral, o procedimento envolve a exposição de células, a uma gama de


concentrações dos produtos químicos em teste, por um tempo definido e, em
seguida, para testar a viabilidade celular. Tais testes são mais facilmente

55
UNIDADE II │ NANOPARTÍCULAS TÓXICAS

realizados em placas de micro titulação, que permitem a rápida quantificação dos


resultados, usando um leitor de placas micrométricas. As respostas das linhas
celulares de câncer de mama são determinadas por ensaio de citotoxicidade,
morfologia celular e nuclear, apoptose e distribuição do ciclo celular.

Alterações morfológicas do SLN, carregado por TAM, em células de câncer


de mama humano.

A morte celular apoptótica pode ser reconhecida, sob contraste de fase, e


microscópio invertido de fluorescência, após a coloração. Esse é o método mais
prático para identificar alterações morfológicas celulares, atribuídas à morte
celular apoptótica.

Conclusão
O principal desafio, na quimioterapia do câncer, são os efeitos colaterais tóxicos
induzidos por drogas quimioterápicas. A dose única, ou aplicação de curta duração
(1-2 semanas), provavelmente, causará sérios problemas de saúde, mas o uso de
partículas nanométricas biodegradáveis, para terapia de longo prazo, ou em tempo
de vida, pode produzir outros efeitos colaterais graves.

O aumento da eficiência de encapsulação de moléculas fracamente solúveis


em água levará ao desenvolvimento de formulações melhoradas de SLN. Em
um futuro próximo, espera-se que mais estudos se concentrem, na melhoria
das formulações SLN, e SLN carregadas com drogas, para aumentar a eficácia
e reduzir os efeitos colaterais dos medicamentos quimioterápicos, para o
tratamento antineoplásico.

Esses estudos devem incluir a preparação de formulações, com diferentes


tamanhos de partículas e distribuições, diferentes lipídios da matriz e
ingredientes adicionais. Assim, se os sistemas de distribuição de fármaco
nanoparticulados forem utilizados de forma eficaz e rotineira, a questão da
toxicidade dos componentes das nanopartículas deve ser abordada. De fato, o
SLN requer mais desenvolvimento, antes que possa ser usado como um novo
sistema de administração de drogas, para quimioterápicos no tratamento de
cânceres humanos.

56
NANOPARTÍCULAS UNIDADE III
COMO MEDICAMENTOS

CAPÍTULO 1
O desenvolvimento da distribuição
e disposição de medicamentos
magnéticos

O processo de entrega e disposição de drogas, no aspecto científico moderno, é muito


complexo. Os avanços, em muitos campos, estão convergindo para possibilitar a
comercialização de conceitos avançados de distribuição de medicamentos. Integra
muitas disciplinas, incluindo biotecnologia, medicina e farmacologia. Dispositivos
inovadores devem proteger ingredientes ativos lábeis, controlar com precisão a
cinética de liberação do fármaco e minimizar a liberação do fármaco, em locais não
alvo.

Avanços rápidos nessas áreas levaram à mudança revolucionária, na descoberta


de novos métodos de distribuição e disposição de medicamentos. Nas últimas duas
décadas, o interesse em partículas do tamanho de nanômetros, tais dendrímeros,
lipossomas, micelas e partículas poliméricas, aumentou significativamente. Como
um novo sistema de administração de fármaco, as nanopartículas resolveram muitos
problemas farmacocinéticos, relacionados com a liberação controlada de drogas,
estabilidade e toxicidade do ingrediente ativo.

Crucialmente, as partículas nanométricas têm uma vantagem muito importante


na aplicação intravenosa. Geralmente, seu tempo de circulação é limitado pelos
menores capilares sanguíneos, no sistema vascular humano. Portanto, o tamanho
das partículas menores que 1000 nm são, geralmente, objetos de interesse, como
novos portadores potenciais para o fornecimento eficiente de drogas.

Além disso, os outros parâmetros, incluindo forma e atividade de superfície,


influenciam na sua distribuição e eliminação do sistema vascular. Nos últimos
anos, uma nova droga direcionada ao emprego de partículas magnéticas, como

57
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

portadores de drogas, é uma ferramenta promissora para a quimioterapia mais


eficaz e segura. Inicialmente, as partículas magnéticas micro e nanométricas
(MMPs; MNPs) forneceram uma tecnologia moderna e original para biosseparações,
especialmente para ligante “pesca”, proteína, enzima, DNA, RNA e isolamento ou
purificação celular (Corchero; Villaverde, 2009).

Por causa das propriedades superparamagnéticas, partículas magnéticas podem


ser usadas para, simplesmente, isolar qualquer alvo, e podem ser ligadas a diversas
aplicações manuais e automatizadas. A estabilidade da proteína/enzima/droga
capturada depende da morfologia das microesferas magnéticas. Existem muitos
materiais disponíveis, com propriedades magnéticas. No entanto, o óxido de ferro
(Fe3O4) ou meghemita (γ-Fe2O3) são mais comumente empregados, em aplicações
in vivo. Os materiais, como cobalto, cromo, níquel e outros óxidos de metais,
baseados em ferro, como CoFe2O4, NiFe2O4, MnFe2O4, devem ser limitados a
aplicações biomédicas, devido à sua alta toxicidade e mudanças de longo prazo,
na cinética das enzimas. As nanopartículas de ferrite possuem grande razão
entre área superficial e volume, e podem adsorver proteínas plasmáticas e outras
biomoléculas, bem como aglomerar in vivo.

Além disso, as nanopartículas magnéticas, sem revestimento, são rapidamente


eliminadas por macrófagos, no sistema retículo-endotelial. Devido à elevada
atividade físico-química da superfície das partículas magnéticas, e ao risco do
processo de corrosão, muitas vezes elas são encapsuladas, ou revestidas com
material protetor: carboidratos, lipídios, ouro, proteínas e polímeros sintéticos.
Com o desenvolvimento de sínteses e técnicas melhoradas, para determinar a
distribuição de partículas, o novo nome de MNPs foi definido como não partículas
superparamagnéticas de óxido de ferro (SPIONs).

Os princípios dos SPIONs, em comparação com as partículas ferromagnéticas, são


a falta de dipolo magnético permanente. A perspectiva promissora, para a aplicação
biomédica de SPIONs, é que o momento de cada partícula flutua entre direções
diferentes, na taxa dada pela temperatura e pelo campo magnético aplicado.

Os SPIONs possuem propriedades interessantes, como alta irreversibilidade


de campo, campo de alta saturação e não mostram interação magnética, após a
remoção do campo magnético externo. A vantagem dos SPIONs, em comparação
com as partículas ferromagnéticas, é que as partículas padrão tendem a se
aglomerar, devido a seus dipolos magnéticos permanentes.

A aplicação “médica” pioneira, no tratamento de linfonodos e metástases, baseada


na injeção de “partículas metálicas” pré-aquecidas, em um campo magnético, foi

58
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

publicada, pela primeira vez, em 1957. No entanto, a potencial aplicação médica


de novos achados foi limitada pelo baixo desempenho das partículas. Nos últimos
anos, as novas nanotecnologias permitiram a fabricação precisa de nanopartículas,
com tamanho da amostra, área de superfície e biocompatibilidade com a visão
da aplicação in vivo. Além disso, as nanopartículas magnéticas oferecem muitas
possibilidades interessantes para o desenvolvimento, não apenas de novos
portadores potenciais de drogas, mas também estão sendo investigadas como
agentes de contraste magnético, em ressonâncias magnéticas (MRI), e agentes de
hipertermia, no tratamento de câncer de hipertermia.

Sistema de entrega de medicamentos


magnéticos na terapia do câncer - Ligação
iônica do fármaco às nanopartículas
magnéticas

Em 1978, partículas magnéticas foram aplicadas, pela primeira vez, como uma nova
classe de alvo de drogas (WIDDER et al., 1978). As propriedades superparamagnéticas
das micro e nanopartículas magnéticas abriram novas perspectivas promissoras,
para a aplicação in vivo. As nanopartículas magnéticas, como portadoras de
drogas, fornecem grandes oportunidades, no tratamento do câncer. O uso desses
portadores, na terapia direcionada, reduz, consideravelmente, os efeitos colaterais
da quimioterapia convencional.

Um novo sistema transportador permite a administração intravenosa de fármaco,


e a acumulação local de agente quimioterapêutico, que é comparável à alcançada
pela administração de uma dose cem vezes superior ao fármaco. O direcionamento
de drogas magnéticas permite a localização rápida e precisa no corpo, com o
uso de campo magnético externo. Após a injeção vascular, as partículas podem
ser transportadas e concentradas no local desejado, com a ajuda do ímã.

Para aplicação de liberação de droga, o tamanho ótimo das nanopartículas deve


estar na faixa de 10 a 200 nm. O tamanho do micrômetro, abaixo de 200, permite
a administração sistemática, no sistema de circulação, e também no tecido alvo,
bem como aumenta a capacidade das nanopartículas de evadir os filtros de
partículas biológicas, como o sistema reticuloendotelial (Tran & Webster, 2010).
Até o momento, o direcionamento de drogas magnéticas tem sido estudado,
principalmente, em modelos pré-clínicos para terapia de câncer, com administração
intravascular de quimioterápicos.

59
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

O ensaio clínico de Fase I demonstrou que a epirrubicina, ligada a fluidos magnéticos


(ferrofluidos), pode ser concentrada em tumor localmente avançado, por campo
magnético. A droga foi ligada a grupos fosfato de polímeros de amido, que cobriam
o núcleo de óxido de ferro com tamanho de partícula de 100 nm. A “epirrubicina
magnética”, com doses na faixa de 5 a 100 mg/m2 foi infundida, por via
intravenosa, por mais de 15 minutos, em uma veia localizada contra lateralmente
ao tumor, em pacientes com câncer de mama metastático avançado, e sem sucesso
pré-tratado, condrossarcoma e carcinoma de células escamosas.

Os ímãs de neodímio eram grandes, 8x4x2cm ou 3x3x1cm, e foram mantidos a


uma distância de 0,5 cm da superfície do tumor. Os ensaios clínicos forneceram
informações importantes, sobre as condições de liberação, distribuição e mecanismo
de ação do medicamento. Os pesquisadores concluíram que o tamanho das
partículas magnéticas deve ser próximo de 1μm, para aumentar sua acumulação,
no local do tumor e, consequentemente, a concentração da droga (Lübbe et al.,
1996).

A melhor otimização da epirrubicina de ligação iônica, sobre a superfície das


nanopartículas magnéticas, também pode melhorar a liberação do fármaco em
parâmetros fisiológicos. Assim, um novo grupo de novas partículas magnéticas
nano e micro, consistindo de várias matrizes sintéticas e naturais, foram
investigadas (Bergemann et al., 1999). A ideia da ligação iónica do fármaco
às partículas magnéticas foi continuada, porque o ligando/fármaco pode ser
facilmente libertado da matriz, simplesmente alterando a força iónica ou o pH.

A superfície das matrizes de polivinilálcool, poliacrilatos e poliacrilamida,


consistindo em grupos de permuta catiônica (isto é, sulfato, fosfato), é capaz de
ligar ionicamente compostos farmacêuticos ativos, ou substâncias biológicas. Além
disso, os nanopróxicos de amido modificados, com grupos dietilaminoetil (DEAE),
podem se ligar à membrana celular carregada negativamente. Essa ferramenta
foi utilizada com sucesso, para células de separação e transferência de genes por
transfecção magnética de células assassinas, induzidas por citoquinas (células CIK),
com DNA de plasmídeo.

A abordagem de direcionamento de cavidades magnéticas oferece uma nova


oportunidade, para tratar locorregionalmente tumores malignos. O tratamento
do carcinoma espinocelular, em coelhos, com nanopartículas recobertas com
amido modificado, ao qual a mitoxantrona estava ionicamente ligada, causou
completa e permanente remissão do câncer, em comparação ao grupo controle. A
vantagem da mitoxantrona ionicamente ligada é que o agente anticancerígeno é
capaz de desorver da cárie magnética, após os 30 minutos (meio tempo).

60
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

A determinação do tempo de dessorção é muito importante, porque os ferrofluidos


têm de ser transferidos para a região do tumor, pelo campo magnético. Em seguida,
a droga deve dissociar-se, para agir dentro do tumor. Geralmente, a liberação total de
drogas dos portadores magnéticos é recomendada, em menos de 1 hora. O tamanho de
partículas de 100 nm, e o campo magnético forte (1,7 Tesla), são ideais para o tratamento
eficiente de animais menores, como camundongos ou ratos. No entanto, a intensidade
apropriada do campo magnético, e o tamanho das partículas para o tratamento de
cavidades profundas do corpo e do câncer humano, devem ser otimizados. O extenso
estudo de biodistribuição, com ferrofluidos marcados com Iod123, demonstrou que a
densidade do fluxo magnético é um fator importante, no direcionamento de drogas
magnéticas.

Ligação covalente do fármaco às


nanopartículas magnéticas
Ao contrário da ligação iônica, a ligação covalente do fármaco a partículas
magnéticas previne a liberação indesejada do fármaco em um ambiente
fisiológico. Assim, a nova estratégia baseia-se no acoplamento covalente de
anticorpos, ácidos nucleicos, proteínas e compostos ativos, sobre a superfície de
partículas magnéticas funcionais, revestidas com polímero ou sílica.

Os grupos superficiais mais populares, como a amina, o carboxi e o aldeído,


permitem um conjugado covalente, quase qualquer ligante (fármaco) personalizado
a essa aplicação. A eficiência do acoplamento depende da densidade do grupo
funcional, e do tipo de linker. As partículas magnéticas, com grupos funcionais
amina primária ou aldeído na superfície, são usadas para conjugar, covalentemente,
ligandos contendo aminas primárias. As partículas revestidas com grupos funcionais
carboxilo na superfície podem ser ligadas, covalentemente, a ligandos contendo
aminas primárias, por meio de uma ligação amida estável. Essa estratégia foi
proposta para nanopartículas superparamagnéticas modificadas, com metotrexato
como veículo de droga, na liberação controlada de drogas, direcionadas ao
diagnóstico e terapêutica do câncer.

As nanopartículas foram modificadas com (3-aminopropil) - trimetoxisilano


(APS), para formar a camada de aminopropila e, posteriormente, conjugadas
com metotrexato, por meio de amidação, usando o cloridrato de 1-etil-3-
[3-dimetilaminopropil] carbodiimida (EDC), como um agente de reticulação.
Os estudos in vitro, em células de câncer de mama humano (MCF-7), e câncer
de colo de útero humano (HeLa), demonstraram a internalização bem-sucedida
de conjugados de metotrexato, usados em lisossomos, como uma ferramenta
promissora para atividade anticancerígena.
61
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

O metotrexato é um análogo do ácido fólico. O ácido fólico é, geralmente,


reconhecido como um agente de direcionamento efetivo, cujos receptores são
superexpressos nas membranas celulares de muitas células cancerígenas. Assim,
o metotrexato é usado como um agente terapêutico, para o tratamento de várias
formas de câncer (carcinomas, linfomas, mama, cabeça, leucemia, câncer de
pescoço).

As nanopartículas superparamagnéticas, modificadas com metotrexato, propostas


permitem a monitorização em tempo real de portadores de fármacos, por RM,
após a administração de fármaco, por via intravenosa. Além disso, o metotrexato
não é liberado dos portadores magnéticos, devido à alta estabilidade de ligação
das partículas do fármaco, nos parâmetros fisiológicos. Curiosamente, a ligação
covalente-amida é quebrada, sob condições presentes, no compartimento lisossomal.
Presume-se que a absorção intracelular dos conjugados de nanopartículas
magnéticas de metohrexate, depende de uma endocitose, mediada por receptores.
Em seguida, eles são transportados como endossomos, e fundidos com lipossomas
contendo proteases e baixo pH. Nessa condição, a ligação peptídica entre o
metotrexato e os portadores magnéticos é interrompida, e a droga anticâncer é
liberada dentro da célula-alvo.

Nanopartículas magnéticas para imagiologia


e terapia de tumores
A ressonância magnética (MRI) é amplamente utilizada, como um método
não invasivo de triagem do corpo humano. Também é usado para monitorar a
migração celular para o tecido alvo, na terapia baseada em células. O fato de que as
nanopartículas magnéticas, com células marcadas ou como alvo de drogas pode
ser visualizado usando a ressonância magnética, são novas alternativas e técnicas
de imagem não invasivas, para o monitoramento da migração de células ou drogas
para o tecido alvo. Para aplicação in vitro, seu desenvolvimento avançado em
manipulação/terapia celular, separação, seleção e purificação de biomoléculas
foram encontrados.

A capacidade de produzir uma distorção, no campo magnético monitorado por


MRI, permitiu a crescente aplicação de esferas magnéticas in vivo. As diferentes
estratégias de uso de nanopartículas magnéticas aniônicas (AMNPs), óxidos de
ferro paramagnéticos ultrapequenos (USPIOs) e nanopartículas de óxido de ferro
superparamagnéticas (SPIONs) têm sido demonstrados como agentes de contraste,
para identificar células magneticamente marcadas, durante a monitoração por
RM de terapias celulares.

62
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

Os estudos demonstraram a eficácia da marcação com partículas magnéticas, para


uma ampla variedade de células de mamíferos, incluindo células não fagocíticas,
diferentes espécies, tamanho de célula, tipos e propriedades de cultura. O contraste
da RM é resultado de diferentes intensidades de sinal do tecido, produzidas
em resposta a pulsos de radiofrequência aplicados. As partículas magnéticas
específicas marcadas proporcionam uma fonte adequada de contraste, sendo uma
ferramenta conveniente para o estudo de processos biolicos invasivos, tais como
imagiologia de tumores e terapia com o uso de MRI.

O uso de partículas magnéticas pode melhorar, significativamente, o tratamento


do câncer de hipertermia. Essa terapia envolve elevar a temperatura do tecido
alvo para 43-46˚C. Nessas condições, sua sensibilidade à quimio e radioterapia
aumenta, e pode estimular, adicionalmente, atividades do sistema imunológico do
hospedeiro (Ang et al., 2007). O problema com a terapia hipérmica é o aquecimento
da grande área do tecido ou do corpo em geral, não apenas a região do tumor.
Os tecidos saudáveis absorvem energia de micro-ondas, laser e ultrassom, o que
pode causar queimaduras e bolhas.

A hipertermia magnética é um dos métodos anticancerígenos baseados na


introdução de partículas ferro, ou superparamagnéticas, no tecido tumoral. A
principal vantagem da hipertermia, por partículas magnéticas, é que as partículas
podem aquecer o problema alvo anteriormente localizado, por campo magnético
externo. Em seguida, sob um campo magnético aplicado, a energia é convertida em
energia térmica na região do tumor, que destrói os tecidos do câncer.

Agentes ligantes específicos de câncer, como anticorpos, hormônios e outras


substâncias exógenas e endógenas, ligadas a nanopartículas magnéticas, têm
promissoras implicações, para o tratamento de hipertermia magnética fluida
(MFH) de câncer de mama, próstata e tireoide, ou ressonância magnética in
vivo de inflamação cerebral aguda. O tratamento do câncer de MFH baseia-se
na injeção de um fluido, contendo nanopartículas magnéticas, diretamente na
região do câncer, e o uso de um campo magnético de alteração, para gerar o calor e
destruir o tumor.

Alternativamente, o fluido pode ser injetado em uma artéria que fornece sangue
ao tumor. No entanto, a localização do fluido magnético deve ser precisamente
para minimizar o efeito do MFH. Anexar outros agentes específicos de câncer,
na superfície de partículas magnéticas, como anticorpos monoclonais ou vírus,
também tem aplicações promissoras. Os agentes podem ser modificados para
ligar, seletivamente, células cancerígenas. Por exemplo, o material genético nos

63
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

vírus pode ser substituído por um fármaco antineoplásico, e pode ser liberado com
precisão, na área do câncer, em temperaturas elevadas. Os benefícios promissores do
tratamento do câncer de hipertermia abrem novas perspectivas para a aplicação de
partículas magnéticas, no tratamento do câncer.

Nanomagnetossolos

A administração não invasiva de drogas é usada, principalmente, para o


tratamento de distúrbios pulmonares, como asma, doença pulmonar obstrutiva
crônica e câncer de pulmão. Drogas entregues pulmonares são rapidamente
absorvidas, semelhantes a outras superfícies mucosas. O tamanho apropriado de
gotículas de aerossóis determina o direcionamento passivo, por sua deposição em
diferentes regiões do pulmão. No entanto, o direcionamento exato para regiões
pulmonares específicas, que não as vias aéreas ou a periferia pulmonar, não foi
alcançado até o momento. A concentração elevada e eficaz da droga, no local da
doença, na quimioterapia padrão, no câncer de pulmão, com drogas citotóxicas, é
particularmente difícil.

O problema é que a potência citotóxica da quimioterapêutica não se limita à região


do câncer. O estudo inovador reporta, pela primeira vez, a libertação de aerossol,
alvo para o pulmão, conseguida com gotículas de aerossol, compreendendo
nanopartículas de óxido de ferro superparamagnéticas, em combinação com um
campo de gradiente magnético dirigido ao alvo. A elevada eficiência das gotulas
de aerossol, compreendendo SPIONs, em combinado com o campo de gradiente
magnético externo, foi confirmada por simulação assistida por computador, e
demonstrada, experimentalmente, em ratinhos. Em contraste com o direcionamento
de drogas magnéticas intravenosas, a administração de drogas pulmonares tem
menos limitações da capacidade de ligação às drogas das nanopartículas. Os novos
portadores de drogas, também chamados de nanomagnetossolos, oferecem alta
flexibilidade do sistema.

A principal vantagem é que a dose da droga pode ser facilmente ajustada, pela
alteração da concentração da droga, na solução das partículas magnéticas.
Adicionalmente, diferentes drogas podem ser ligadas, de maneira diferente,
às partículas magnéticas e também podem ser coadministradas, com outros
nanotransportadores, tais como lipossomas.

O sucesso do direcionamento de aerossol magnético in vivo com DNA plasmidial


(pDNA) foi alcançado em camundongos intactos. O eletroímã, com o circuito de
ferro e a ponta compreendendo uma liga de ferro-cobre, permite um posicionamento

64
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

preciso dos SPIONs, no local selecionado do pulmão. A quantidade de pDNA


depositado não diferiu entre o pulmão esquerdo e direito, na ausência do campo
magnético externo. Uma quantidade duas vezes maior de pDNA foi avaliada
no pulmão direito magnetizado, do que no pulmão esquerdo não magnetizado.

Além disso, os autores concluem que as gotículas de nanomagnetosol com


SPIONs são responsáveis pelo seu transporte, deposição do acúmulo do ligante
ligado/droga, no tecido afetado, e não o único SPION, como se supunha
anteriormente. A anatomia do pulmão humano também permite a implementação
de magnetosols, na terapia direcionada. Na última década, o uso de nova abordagem
de administração de medicamentos, no animal pequeno, foi frequentemente
demonstrado e bem elaborado. Os resultados confirmam a maior deposição (~ 12%)
de nanopartículas superparamagnéticas (de ~ 50 nm de diâmetro), na superfície da
via aérea magnetizada, e apenas ~ 4%, na área da via aérea não magnetizada.

Crucialmente, as gotículas de aerossol não depositadas podem ser transferidas


para outras zonas pulmonares ou exaladas. Independentemente das vantagens,
para as gotículas de aerossol, com partículas magnéticas, os estudos objetivos
de avaliação de risco devem ser realizados. Muitos estudos confirmaram que as
partículas de óxido de metal são muito tóxicas, especialmente no sistema pulmonar.
Atualmente, os estudos in vitro estão focados na caracterização e avaliação
citotóxica de particulados de aerossóis, especialmente as nanopartículas à base
de ligas pesadas W-FeNi e W-Fe-Co. A exposição ao Co, Ni, W e Fe pode causar
fibrose pulmonar, asma, edema e pneumonia, entre outros efeitos.

Sistema de entrega de medicamentos


magnéticos, em terapia antimicrobiana e
antiviral
As nanopartículas magnéticas também prometem portadores de agentes
antibacterianos, como cobre e prata, e podem fornecer um tratamento alternativo
para infecções bacterianas. Como é sabido, a prata distingue-se por extraordinárias
propriedades inibitórias e bactericidas, para um amplo espectro de estirpes
bacterianas. Revestimentos antibacterianos, baseados em multicamadas ligadas
a hidrogênio, contendo nanopartículas magnéticas de prata, sintetizadas in situ,
podem ser entregues a uma região específica, para localizar uma alta concentração
de prata antibacteriana, enquanto mantém uma baixa concentração em geral.

As multicamadas de prata, montadas em suporte esférico, como micro ou


nanoesferas magnéticas, foram localizadas e focadas por campo magnético externo,

65
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

e mostraram excelentes propriedades antibacterianas contra a cepa Gram-positiva


Staphylococcus epidermidis e a cepa Gram-negativa Escherichia coli. Espera-se
que a modificação das partículas de prata multicamadas, pelo aumento das relações
superfície-volume, possa melhorar o tratamento antibacteriano (Tran & Webster,
2010).

Os outros estudos demonstram que a formulação magnética dos 3’-azido-3’-


desoxitimidina-5’-trifosfato (AZTTP) é um novo fármaco potencial, que conduz
à entrega direcionada, por meio da barreira hematoencefálica. Os inibidores da
transcriptase reversa, análogos aos nucleosídeos e nucleotídeos (NRTIs), são parte
importante da terapia antirretroviral (ART). Sua fosforilação celular ineficiente
causa uma limitação para o tratamento do vírus da imunodeficiência humana (HIV).
O principal pressuposto do estudo in vitro é que os NRTIs ativos podem se ligar
diretamente a nanopartículas magnéticas, por interação iônica, e inibir a replicação
do HIV-1. O desenvolvimento da nanoformação lisossômica AZTTP magnética
(150 nm) permite atravessar o modelo de barreira hematoencefálica, por transporte
direto ou via transporte mediado por monócitos, por campo magnético externo.
Assim, os portadores magnéticos dão uma nova oportunidade para o tratamento de
distúrbios neurológicos.

Conclusão
A tecnologia de micro e nanopartículas é altamente inovadora, e oferece muitas
possibilidades para o desenvolvimento futuro de novos sistemas de distribuição
de medicamentos. Os métodos inovadores de direcionamento e administração de
fármacos, com base no suporte magnético micro e nano, proporcionam inúmeras
vantagens, em comparação aos sistemas convencionais de administração de
medicamentos. Presentemente, apenas os ligandos de direcionamento molecular,
acoplados a partículas magnéticas, são utilizados com sucesso, e comercialmente
disponíveis, como agentes de contraste na MRI.

Embora as partículas magnéticas possuam propriedades únicas e úteis para


aplicações biomédicas e farmacêuticas, elas também carregam riscos potenciais
à saúde. O tamanho pequeno e a alta razão de área superficial, para volume das
nanopartículas magnéticas, podem ter implicações importantes, devido à maior
atividade biológica por massa, dada em comparação com formas particuladas
maiores. Isso pode causar sua atividade notável e efeito de toxicidade.

Portanto, o material usado para o revestimento de superfície das partículas


magnéticas, para aplicação in vivo, deve ser não somente atóxico, mas também

66
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

biocompatível. Até o momento, não há critérios e testes para avaliação do nível


de toxicidade, parâmetros de liberação, assim como drogas magneticamente
direcionadas. Em relação à aplicação in vivo, deverá ser comprovado que os novos
fármacos possuem não apenas propriedades úteis, mas também são seguros para
o meio ambiente e para a saúde humana. Assim, a Food and Drug Administration
emitiu um relatório, a fim de considerar o desenvolvimento de diretrizes, para
a regulamentação de produtos de nanotecnologia e sua adaptação da ciência à
aplicação biomédica.

67
CAPÍTULO 2
Nanopartículas de
medicamentos - uma visão geral

Avanços nas tecnologias de descoberta de drogas e técnicas de química combinatória


levaram à identificação de vários compostos, com bom potencial terapêutico.
No entanto, devido à sua complexidade química, a maioria desses compostos
tem fraca solubilidade aquosa, resultando em biodisponibilidade reduzida e
variável. A variabilidade na exposição sistêmica, observada frequentemente,
dificulta o delineamento da dose, resulta em variabilidade rápida e alimentada e
em um início de ação mais lento. Essas questões podem levar a doses subótimas, e
uma resposta terapêutica concomitantemente fraca. Para compostos com baixa
solubilidade aquosa, que são ionizáveis, a preparação de sais para melhorar a taxa
de solubilidade/dissolução é uma abordagem comumente usada, que teve sucesso
limitado.

Do ponto de vista do desenvolvimento do produto, geralmente, é preferido um


sal cristalino, devido a potenciais problemas de estabilidade física e química
associados à forma amorfa. A identificação de um sal cristalino, com solubilidade
aquosa adequada, requer o rastreio de vários contra-iões, e condições de
solventes/cristalização e, por vezes, o isolamento de um material cristalino é
difícil. Em alguns casos, o sal formado é extremamente higroscópico, apresentando
desafios de desenvolvimento e fabricação de produtos. Atualmente, existem
abordagens de formulação limitadas para compostos com baixa solubilidade
aquosa.

As abordagens mais vulgarmente utilizadas são micronização e dispersões sólidas


do fármaco, em carreiras solúveis em água, para enchimento em cápsulas de
gelatina dura ou mole. A micronização resulta em partículas <5 µm, com uma
fração muito pequena, que está na faixa submícron. A diminuição, no tamanho
da partícula, resulta em um aumento modesto na área da superfície, que pode
não alterar a taxa de dissolução ou a solubilidade da saturação, para afetar,
significativamente, a biodisponibilidade (Jens-Uwe et al., 2008).

As composições de dispersão sólida compreendem a dispersão molecular


do fármaco, em veículos tensoativos, à base de lipídeos, e solúveis em água,
que podem emulsionar por contato com o meio de dissolução. A formação de
dispersões moleculares (solução sólida) proporciona um meio de reduzir o
tamanho das partículas dos compostos, para níveis quase moleculares (isto é,
não há partículas visíveis).

68
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

À medida que o transportador se dissolve, o composto é exposto ao meio de


dissolução, como partículas finas que são amorfas, as quais podem dissolver-se
rapidamente, e simultaneamente absorvidas. Essas formulações são preenchidas
em cápsulas de gelatina mole ou dura. Existem vários produtos que utilizam essa
abordagem no mercado, por exemplo, Sandimmune/Neoral (micro emulsão
de ciclosporina), Norvir (Ritnovir) e Fortovase (Saquinavir). Esta abordagem
é, geralmente, adequada para compostos altamente potentes e, portanto, não
aplicável a compostos moderadamente potentes, em que o requisito de dose pode ser
elevado.

Nos últimos anos, uma área que está ganhando popularidade, com os cientistas
de formulação, para o desenvolvimento de uma forma de dosagem viável para
compostos pouco solúveis, que são moderadamente potentes, é desenvolver
uma formulação incorporando nanopartículas de fármaco, geralmente, com
menos de 1 µm de diâmetro. Por exemplo, quando o tamanho de partícula do
fármaco é reduzido de 8 µm para 200 nm, há um aumento de 40 vezes, na
relação entre a área superficial e o volume. Esse aumento, na área superficial,
pode proporcionar um aumento substancial na taxa de dissolução, se a
formulação se dispersar em partículas discretas. A abordagem da formulação de
nanopartículas é, comprovadamente, muito útil e inestimável, em todas as etapas
do desenvolvimento do medicamento, e abriu oportunidades para revitalizar os
produtos comercializados, com uma entrega abaixo do ideal.

As tecnologias de formulação de nanopartículas forneceram à indústria


farmacêutica opções para abordar problemas de solubilidade e biodisponibilidade
associados a compostos pouco solúveis. No desenvolvimento de novas entidades
químicas (NCE), a tecnologia tem sido de grande valor, quando é usada como
ferramenta de triagem, durante estudos pré-clínicos de eficácia e/ou avaliação
de segurança, na fase inicial do desenvolvimento. Para produtos comercializados
que exijam oportunidades de extensão do ciclo de vida, as estratégias de formulação
de nanopartículas fornecem um meio para desenvolver uma nova plataforma de
distribuição de medicamentos, com melhor resultado terapêutico incorporando a
droga existente, criando novos caminhos para lidar com necessidades médicas
não satisfeitas.

História
A nanotecnologia tem um longo histórico de desenvolvimento e aplicação. No
entanto, os avanços científicos mais importantes só ocorreram nas últimas duas

69
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

décadas. Catalisadores heterogêneos estavam entre os primeiros exemplos,


desenvolvidos no início do século XIX. O primeiro exemplo de aplicação
farmacêutica foi o Danazol, que foi moído utilizando um moinho de esferas, para
obter um tamanho médio de partícula de 169 nm. A nanossuspensão do Danazol
apresentou maior biodisponibilidade oral (82,3 ± 10,1%), em relação à suspensão do
fármaco utilizando o fármaco “as-is” (5,1 ± 1,9%).

O primeiro produto baseado em tecnologia de nanopartículas, aprovado pelo FDA,


foi o Rapamune® (Sirolimus) - um imunossupressor desenvolvido pela Wyeth
Pharmaceuticals (agora Pfizer). O segundo produto aprovado pela FDA foi o
Tricor®, da Abbott Laboratories, uma formulação melhorada de Fenofibrate (para
hipercolesterolemia), incorporando nanopartículas de fármacos que reduziram a
variabilidade de alimentação rápida, resultando em nenhuma restrição de dosagem
que permitisse a coadministração, com outras drogas usadas, para tratar distúrbios
lipídicos.

Outro produto contendo nanopartículas de fenofibrato é o Triglide®. O produto foi


desenvolvido pela Skye Pharma, usando sua tecnologia patenteada IDD-P®
e comercializado pela Sciele Pharma Inc. (Atlanta, EUA). O medicamento
antiemético Emend® (Aprepitant) foi aprovado pela FDA, em março de 2003, e
lançado nos Estados Unidos, pela Merck, em abril de 2003.

Emend é uma cápsula que contém 80 ou 125 mg de Aprepitant, formulado como


nanopartículas de fármacos, usando a tecnologia NanoCrystal® da Elan (Mary
et al., 2005). O Megace ES® (ES significa solubilidade aprimorada) é outro
produto contendo nanopartículas de fármaco, que foi desenvolvido pela Par
Pharmaceutical Inc. (EUA). É uma suspensão aquosa de Acetato de Megestrol
(uma progestina sintética, anti-anoréxica), com uma dose de 625 mg/5 mL. A
nanossuspensão do fármaco reduziu a variabilidade alimentar e rápida semelhante
ao Tricor®. O produto demonstrou que a nanossuspensão aquosa pode ser
produzida com estabilidade física adequada, com tempo de vida útil aceitável,
usando essa tecnologia.

Teoria da formulação

O princípio básico de micronização e nanonização é baseado no aumento da área


superficial, levando ao aumento à taxa de dissolução, de acordo com a equação
de Noyes-Whitney. A fraca solubilidade aquosa correlaciona-se com a dissolução

70
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

mais lenta, e a diminuição do tamanho das partículas aumenta a área da superfície,


com o aumento concomitante na taxa de dissolução. A cinética de dissolução é a
principal força motriz por trás das propriedades farmacocinéticas melhoradas
das formulações de nanopartículas de compostos fracamente solúveis em água.
A taxa de dissolução de um fármaco é uma função do tamanho das partículas, e
solubilidade intrínseca.

Para fármacos com fraca solubilidade aquosa, a área superficial das partículas
do fármaco conduz à dissolução. Conforme descrito pela modificação de
Nernst-Brunner e Levich, do modelo de Noyes-Whitney, a taxa de dissolução do
fármaco é diretamente proporcional à área de superfície, em que x é a quantidade de
fármaco em solução, t é o tempo, A é a área de superfície efetiva, D é o coeficiente
de difusão do fármaco, δ é a camada limite de difusão efetiva, C é a solubilidade
de saturação do fármaco, e V é o volume do meio de dissolução. A solubilidade
da saturação é geralmente, uma constante específica do composto, que depende
da temperatura. Esse entendimento é verdadeiro para partículas regulares, que
estão acima da faixa de mícron, porém, diferentes para nanopartículas de drogas.

Isso ocorre porque a pressão de dissolução é uma função da curvatura da superfície,


o que significa que é muito mais forte para uma superfície curva de nanopartículas.
Abaixo de um tamanho de partícula, de aproximadamente 2 μm, a pressão de
dissolução aumenta distintamente, levando a um aumento na solubilidade da
saturação. Além disso, à distância difusional, na superfície das nanopartículas
de drogas, é diminuída, levando a um gradiente de concentração aumentado. O
aumento na área de superfície, e gradiente de concentração, levam a um aumento
muito mais pronunciado, na velocidade de dissolução e solubilidade de saturação,
em comparação aos produtos contendo partículas micronizadas, resultando,
concomitantemente, em biodisponibilidade melhorada.

O aumento da solubilidade próximo à superfície da partícula resulta em gradiente de


concentração aprimorado entre a superfície e a solução em massa. O alto gradiente
de concentração, de acordo com a lei de Fick, deve levar a um aumento do fluxo de
massa, longe da superfície da partícula. À medida que o diâmetro das partículas
diminui, a relação entre a área da superfície e o volume aumenta inversamente,
levando a um aumento da taxa de dissolução. Sob condições de imersão, nas quais
a concentração de droga, no meio circundante, se aproxima a zero, a dissolução
rápida poderia, teoricamente, ocorrer.

71
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

Produção de nanopartículas de drogas


Existem várias técnicas usadas para produzir nanopartículas de drogas. As
tecnologias existentes podem ser divididas em duas categorias: “de baixo para
cima” e “de cima para baixo”. As tecnologias de baixo para cima envolvem a
precipitação/cristalização controlada pela adição de um não solvente adequado. As
tecnologias de cima para baixo incluem moagem ou homogeneização. No entanto,
técnicas de combinação que envolvam a etapa de pré-tratamento, seguida de
redução de tamanho, também estão sendo usadas para produzir nanopartículas,
com a distribuição de tamanho desejada.

Tecnologias de baixo para cima (métodos de


precipitação)

A precipitação tem sido aplicada há muitos anos, para a preparação de


partículas finas, particularmente no desenvolvimento de filmes fotográficos,
e, ultimamente, para a preparação de partículas submicrônicas (nano), para
aplicações farmacêuticas. Exemplos de técnicas de precipitação são os hidrossóis,
desenvolvidos por Sucker (Sandoz, presentemente Novartis) e Nanomorph,
desenvolvido por Soliqs/Abbott. Nesse processo, o fármaco é dissolvido em
um solvente adequado, e a solução é, subsequentemente, adicionada a um não
solvente. Isso resulta em alta saturação, rápida, nucleação, e formação de muitos
núcleos pequenos. Após a remoção do solvente, a suspensão é esterilizada por
filtração e liofilizada. Os processos de mistura podem variar consideravelmente.
Por meio do controle cuidadoso desse processo de adição, é possível obter
uma partícula com uma distribuição de tamanho estreita. No caso do Nanomorfo,
os nanocristais de fármacos amorfos são produzidos para aumentar ainda mais a
velocidade de dissolução e a solubilidade.

Métodos de precipitação simples, no entanto, têm numerosas limitações. É muito


difícil controlar a nucleação e o crescimento de cristais, para obter uma distribuição
de tamanho estreita. Muitas vezes, forma-se um sólido metaestável, geralmente
amorfo, que é convertido em formas cristalinas mais estáveis. Além disso, os
solventes não aquosos, utilizados no processo de precipitação, devem ser reduzidos
a níveis toxicologicamente aceitáveis, no produto final, e, devido ao fato de muitos
fármacos fracamente solúveis serem pouco solúveis, não só em meios aquosos,
mas também em meios orgânicos. Considerando essas limitações, as técnicas “de
baixo para cima” não são amplamente usadas para a produção de nanocristais
de drogas. Em vez disso, as tecnologias “de cima para baixo”, que incluem técnicas
de homogeneização e usinagem, são usadas com mais frequência.

72
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

Tecnologias de cima para baixo

As duas tecnologias top-down, frequentemente usadas, para produzir


nanopartículas de drogas incluem:

a. Homogeneização à alta pressão

b. Moagem

Microfluidização para produção de nanopartículas


de fármaco

A microfluidização trabalha em um princípio de corrente de jato, em que a


suspensão é acelerada e passa a alta velocidade, por meio de câmaras de interação
especialmente projetadas. A colisão frontal de correntes de fluido, sob altas pressões
(até 1700 bar), dentro da câmara de interação, gera forças de cisalhamento, colisão
de partículas e forças de cavitação, necessárias para a redução do tamanho das
partículas. O processador de microfluidificador mantém um fluxo de alimentação
constante, que é processado por uma geometria fixa, a qual produz alto cisalhamento
e impacto necessários para quebrar partículas maiores. Esse processo produz
partículas menores, com distribuição de tamanho de partícula estreita, repetibilidade
e escalabilidade. O exterior e o interior da câmara de interação são feitos de aço
inoxidável, diamante policristalino (PCD) ou óxido de alumínio.

As câmaras de diamante policristalino têm, tipicamente, uma duração de três a


quatro vezes superior às câmaras de cerâmica de óxido de alumínio. Câmaras de
interação com ranhura única são usadas para fabricação em escala de laboratório, e
câmaras multipontos para escala comercial. As câmaras multipontos são compostas
de vários slots únicos, em paralelo, para processar volumes maiores dos produtos.
Existem dois tipos de câmaras de interação: a câmara Y é útil para emulsões
líquido-líquido, e encontra aplicação na preparação de lipossomas, enquanto a
câmara Z é tipicamente usada para a ruptura celular e nanodispersão. A seleção da
chaminé correta depende do tamanho da partícula de alimentação, da aplicação
e da quantidade de cisalhamento e impacto necessários para realizar a operação. A
tecnologia de entrega de drogas insolúveis - partículas (IDD-P ™), desenvolvida
pela SkyePharma Canada Inc., usa o Microfluidizer.

Parâmetros do processo que afetam o tamanho


das partículas

Estudos sobre redução do tamanho de partículas de um fármaco pouco solúvel


(BCS classe II), utilizando o Microfluidizer (Modelo - Microfluidics M110-P), em

73
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

nosso laboratório, indicaram que a redução do tamanho das partículas depende


de vários parâmetros do processo, como número de ciclos de homogeneização,
pressão de homogeneização, e concentração estabilizadora.

A uma pressão de homogeneização constante (30.000 psi), o valor do tamanho


médio de partícula d50 diminuiu, com o aumento do número de ciclos de 5 para
60. A pressão de homogeneização tem um efeito significativo, na distribuição de
tamanho da partícula. A uma elevada pressão de homogeneização (30.000 psi),
a redução do tamanho da partícula foi significativamente maior do que a baixa
pressão de homogeneização (10.000 psi) após 60 ciclos de homogenenização.

A concentração de surfactante também desempenha um papel importante, na


redução do tamanho das partículas, por meio, da estabilização de partículas
formando uma fina camada ao redor da superfície recém-formada, com
base na observação de que a pressão de homogeneização constante, e ciclos
de homogeneização, reduziram o tamanho das partículas, com aumento na
concentração de surfactante/mL a 12 mg/mL.

Tecnologias de gap de pistão

Usando o princípio da microfluidização, uma tecnologia alternativa, baseada em


homogeneizadores de pistão, foi desenvolvida em meados dos anos 90, para a
produção de nanopartículas de fármacos. A homogeneização pode ser realizada
em água (DISSOCUBES®) ou, alternativamente, em meio não aquoso, ou meio
com redução de água (NANOPURE®). A tecnologia Dissocubes® emprega
homogeneizadores de pistão-gap, nos quais o pó do fármaco é disperso em uma
solução aquosa de surfactante, e, subsequentemente, forçado por um pistão,
por meio do pequeno espaço de homogeneização (5 μm - 20 μm dependendo da
viscosidade da suspensão e da pressão aplicada). Antes de entrar no intervalo, a
suspensão está contida em um cilindro, com um diâmetro relativamente grande, em
comparação à largura do intervalo seguinte.

A alta velocidade de fluxo, resultante da suspensão, causa formação e implosão


das bolhas de gás, também conhecidas como cavitação, que resultam na geração
de ondas de choque. A partícula de fármaco é reduzida, por essas altas forças de
cisalhamento, fluxo turbulento e poderosas ondas de choque. Outra abordagem, a
tecnologia Nanopure® (da Pharma-Sol GmbH), é útil para a redução do tamanho
de partícula de drogas termolábeis, porque usa meios de dispersão de baixa
pressão de vapor para homogeneização, o que ajuda no processamento a baixas
temperaturas, devido a muito pouca cavitação, na abertura de homogeneização.

74
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

Além disso, há também um processo de combinação de precipitação, seguido


por uma segunda etapa de homogeneização de alta energia (NANOEDGE®). A
principal limitação deste método é que a dispersão nanoparticulada, de baixo
teor de sólidos (usualmente <10% p/v), é produzida, o que pode ser difícil para a
conversão em intermediários sólidos, requeridos para enchimento ou formação
de cápsulas.

Métodos de moagem

Os processos convencionais de moagem e precipitação, geralmente, resultam em


partículas muito maiores que 1 μm. As técnicas de moagem foram posteriormente
refinadas, para permitir a moagem de partículas de fármaco sólido para um
intervalo submícron. Os moinhos de bolas já são conhecidos, desde a primeira
metade do século XX, para a produção de suspensões finas. Nesse método, a
suspensão, compreendendo droga e estabilizadores, juntamente com o meio
de moagem, são carregados na câmara de moagem. A redução do tamanho das
partículas ocorre devido às forças de cisalhamento, gerada devido à impactação
do meio de moagem. Em contraste com a homogeneização à alta pressão, essa
é uma técnica de baixa energia. Contas menores ou maiores podem ser usadas,
como meios de moagem ou atrito.

Os meios de moagem compreendem cerâmicas (dióxido de zircônio estabilizado


com cério ou ítrio), aço inoxidável, ou esferas revestidas com resina de
poliestireno, altamente reticulado. O potencial de erosão do meio de moagem,
durante o processo de moagem, resultando na contaminação do produto, é uma
das desvantagens dessa tecnologia. Para superar esse problema, os meios de
moagem são frequentemente revestidos. Outro problema com esse processo é a
aderência do produto à superfície interna do moinho (consistindo, principalmente,
na superfície do meio de moagem e na superfície interna da câmara de moagem).
Existem dois princípios básicos de moagem - ou o meio de moagem é movido
por um agitador, ou o recipiente completo é movido em uma direção complexa,
levando ao movimento do meio de moagem para gerar as forças de cisalhamento
necessárias, para fraturar os cristais da droga. O tempo de moagem depende
de muitos fatores, tais como teor de sólidos, concentração de surfactante,
dureza, viscosidade da suspensão, temperatura, entrada de energia e tamanho
do meio de moagem.

O tempo de moagem pode variar de minutos a horas, ou dias, dependendo do


tamanho de partícula desejado. No processo de moagem de pérolas, utilizado para
a produção de nanossuspensão de fármaco, a suspensão de fármaco é passada

75
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

através de uma câmara de moagem, contendo meios na gama de 0,2 a 3 mm. Esses
meios podem ser compostos por vidro, sais de zircónio, cerâmica, plásticos (por
exemplo, poliestireno reticulado) ou polímeros especiais, tais como derivados de
poliestireno duro. A concentração de fármaco, na suspensão, pode variar de 5 a
40% p/v. Estabilizadores, tais como polímeros e/ou surfactantes são utilizados
para auxiliar a dispersão de partículas. Para serem eficazes, os estabilizadores
devem ser capazes de molhar as partículas do fármaco, e fornecer barreira estérica
e iônica. Na ausência de estabilizadores apropriados, a alta energia superficial das
partículas nanométricas resultaria na aglomeração, ou agregação de cristais de
drogas. A concentração de estabilizadores poliméricos pode variar de 1 a 10% p/v,
e a concentração de surfactantes é geralmente <1% p/v.

Se necessários outros excipientes, tais como tampões, sais e diluentes, como o


açúcar, podem ser adicionados à dispersão, a fim de aumentar a estabilidade
e ajudar no processamento adicional. A câmara de moagem possui um rotor
equipado com discos, que podem ser acelerados na velocidade desejada (500
- 5000 RPM). A rotação do disco acelera radialmente a mídia de fresagem. O
produto flui axialmente, por meio da câmara de moagem, em que as forças de
cisalhamento geradas e/ou forças geradas durante a impactação do meio de
moagem, com o fármaco, fornecem a entrada de energia para fraturar os cristais
do fármaco, em partículas de tamanho nanométrico. A temperatura dentro da
câmara de moagem é controlada pela circulação de refrigerante, por meio da
camisa externa. O processo pode ser executado em um modo em lote ou em um
modo de recirculação. O produto fresado é, subsequentemente, separado do meio
de moagem, usando um sistema de separação.

A ampliação do processo de fresamento de contas é relativamente fácil e conveniente,


porque as variáveis do processo são independentes da escala. O tamanho do lote
pode ser aumentado acima do volume vazio (volume entre a embalagem hexagonal
das contas), usando o moinho em modo de recirculação. A suspensão está contida
no recipiente do produto, e é continuamente bombeada, por meio do moinho,
em um movimento circular.

Isso aumenta o tamanho do lote, concomitante ao tempo de moagem, porque


o tempo de exposição requerido das partículas do fármaco, por unidade de
massa, em relação ao material de moagem, permanece inalterado. Tensoativos ou
estabilizadores têm que ser adicionados, para garantir a estabilidade física das
nanossuspensões. No processo de fabrica, o fármaco é disperso por agitação ou
homogeneizador à alta velocidade, em uma solução tensoativa/estabilizadora,
para produzir uma suspensão macro.

76
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

A escolha de surfactantes e estabilizadores depende não apenas dos princípios


físicos (estabilização eletrostática versus estabilização estérica) e da via de
administração. Em geral, a estabilização estérica é recomendada, porque é menos
suscetível a eletrólitos no intestino ou no sangue. Eletrólitos, se adicionados, podem
reduzir o potencial zeta e, subsequentemente, prejudicar a estabilidade física,
especialmente de surfactantes iônicos. Em muitos casos, uma abordagem ótima,
na combinação de um estabilizador estérico com um tensioativo iónico, gera uma
combinação de estabilização estereoquiométrica e eletrostática. Existe uma grande
variedade de moinhos de contas disponíveis no mercado, variando de escala de
laboratório a volumes em escala industrial.

A capacidade de produção, em larga escala, é um pré-requisito essencial para a


introdução do produto no mercado. Em geral, o fresamento de esferas oferece um
processo conveniente, para a produção de nanopartículas de fármaco, em altas
concentrações necessárias para o processamento de formas de dosagem sólidas, com
facilidade de escalonamento para fabricação comercial.

Otimização de processos para a produção de


nanopartículas de fármacos

O design experimental tem sido amplamente aplicado ao desenvolvimento de


formulações, e é útil na otimização e validação de processos. Um processo de
fabricação otimizado, usando o design de experimentos (DOE), deve resultar em
um processo robusto, passível de ampliação e validação contínuas. As variáveis
de processo no fresamento de mídia podem ser otimizadas, usando o projeto de
experimentos (DOE,) para entender o efeito no tamanho de partícula, tempo de
moagem e rendimento percentual. Apesar de vários projetos estatísticos terem
sido relatados, um design de centro focado no rosto (CCD), é frequentemente
usado, porque fornece informações sobre efeitos diretos, efeitos de interação de
pares, e efeito de variável curvilínea.

Por exemplo, uma matriz de projeto preparada com base em três fatores variáveis
em três níveis (-1, 0, +1), para calcular o projeto, usando o programa de software
estatístico Design Expert (versão nº 7.3.1).

Uma regressão stepwise pode ser usada, para gerar equações quadráticas para
cada variável de resposta. A análise de variância (ANOVA) e a regressão são
usadas para avaliar os efeitos significativos, e a construção de modelos para cada
variável de resposta. Cada resposta é, então, ajustada a um modelo polinomial, de
segunda ordem, e os coeficientes de regressão, para cada termo no modelo, podem

77
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

ser estimados juntamente com R2 e R2 ajustado do modelo de regressão, para


entender como esses parâmetros afetam os atributos críticos do produto, por meio
de métodos não lineares, efeitos quadráticos ou de interação.

A plotagem indica que, em velocidade de disco menor, o tempo de moagem (para


alcançar o tamanho de partícula desejado) aumenta. Isso pode ser atribuído
ao fato de que a baixa velocidade do disco e as forças de cisalhamento geradas
por aceleração de esferas podem não ser suficientes, para fraturar os cristais do
medicamento em partículas menores. A eficiência de moagem foi alta, quando o
disco e a bomba foram executados, em velocidades moderadas.

A plotagem indica que o aumento na velocidade da bomba, e no volume do grânulo,


resultou em partículas maiores e que sua interação resultou em uma diminuição no
tamanho da partícula. Tanto a velocidade da bomba, quanto o volume do grânulo,
têm um efeito no tamanho da partícula, com o volume do talão tendo um impacto
significativo, no controle do tamanho da partícula do fármaco, devido ao aumento da
probabilidade de impacto.

Em menor velocidade do disco, e maior volume do cordão, houve uma diminuição


no rendimento. Isso pode ser atribuído à perda na câmara de moagem devido
à aderência. A robustez do modelo utilizado pode ser validada, com base em
ensaios confirmatórios, para determinar a diferença entre os valores previstos e
experimentais. O uso de DOE, para otimização de processos, resultará em uma
metodologia robusta de fabricação escalável, com design estabelecido para
parâmetros críticos do processo, os quais podem equilibrar o tempo de moagem,
tamanho de partículas e rendimento.

Conversão de nanossuspensão em intermediário


sólido

A liofilização é considerada um processo complexo e dispendioso, que leva a um


produto altamente sensível. O principal desafio é preservar a re-dispersibilidade
das nanopartículas, após a reconstituição em meio aquoso e fluidos gastrintestinais.
Os re-dispersantes devem ser incorporados nas nanossuspensões, antes ou durante
a etapa de secagem. Os re-dispersantes, comumente usados, incluem açúcares
como lactose, sacarose e manitol (Chu, 2000).

Geralmente, a re-dispersibilidade depende da escolha de re-dispersantes, surfactantes


e estabilizadores poliméricos. A capacidade de carga do intermediário sólido,
com nanopartículas de fármaco, pode ser ajustada variando as concentrações
de excipiente. No processo de secagem por pulverização, a nanossuspensão é

78
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

atomizada, usando um atomizador rotativo ou jato de ar. Nesse processo, a secagem


rápida da alimentação líquida ocorre devido à grande área superficial, criada
pela atomização da alimentação líquida, em gotículas finas e altos coeficientes de
transferência de calor gerados.

O curto tempo de secagem e, consequentemente a rápida estabilização do material


de alimentação a temperaturas moderadas, tornam a secagem por pulverização
adequada, para a produção de nanopartículas de fármacos termolábeis. O processo
de secagem por pulverização, em geral, compreende os seguintes passos:

» Atomização: a alimentação líquida, na forma de suspensão de droga,


é atomizada em gotículas, por meio de um bocal ou atomizador
rotativo. Os bicos usam pressão ou gás comprimido, para atomizar
a alimentação líquida, enquanto os atomizadores rotativos
empregam uma roda atomizadora, girando em alta velocidade.

» Secagem: o gás de processo quente (ar ou nitrogênio) é colocado em


contato com a alimentação atomizada, usando um dispersor de gás
para secagem. O equilíbrio entre as temperaturas, a taxa de fluxo
de alimentação, e o tamanho das gotículas, controla o processo de
secagem.

» Formação de partículas: à medida que o líquido evapora da superfície


das gotículas, a nanopartícula sólida, que é formada a cai no fundo da
câmara de secagem.

» Recuperação: As nanopartículas secas são separadas do gás de escape,


usando um separador de ciclone.

Dependendo das condições de pulverização, e da natureza da formulação, o pó


resultante pode ser introduzido em cápsulas de gelatina dura, ou misturado
com excipientes extra granulares, em comprimidos. No caso de fármacos que
são acidificáveis, a cápsula ou comprimido pode ser revestido com polímeros
entéricos, para proteger o fármaco instável, em ácido dos fluidos gástricos. Um
modo alternativo para converter a nanossuspensão em intermediário sólido, é a
colocação em camadas de suspensão, em transportadores solúveis em água.

Os ligantes necessários para camadas devem ser adicionados antes do processo


de fresamento. A suspensção deve ser colocada em camadas a uma taxa
predeterminada para os transportadores solúveiss em água, utilizando um
processo de leito fluidizado e de pulverização superior. Top-pulverização é o

79
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

processo mais conhecido para a formação de drogas. Um processador de leito


fluidizado de spray superior (FBP) possui dois componentes:

1. Um sistema de tratamento de ar, que pode ser equipado com


umidificação ou desumidificação, e controle do ponto de orvalho.

2. Um recipiente de produto e câmara de expansão.

Um sistema de escape
A nanossuspensão é pulverizada, no leito fluidizado do topo, contra o fluxo de ar
(contracorrente). Os grânulos são secos à medida que se movem para cima. No
leito fluidizado, pequenas gotículas e baixa viscosidade do meio de pulverização
asseguram que a distribuição seja uniforme, resultando em grânulos com uma
distribuição de tamanho estreita. As variáveis críticas do processo do método de
camadas de pulverização superior incluem a taxa de pulverização da suspensão, a
temperatura do ar de entrada, o volume de ar de fluidização, a umidade do ar do
processo, e a pressão do ar de atomização.

Caracterização de nanopartículas de drogas


Existem várias técnicas utilizadas, para caracterização de nanopartículas de drogas.
Não existe um método único, que possa ser selecionado como o “melhor” para
análise. Na maioria das vezes, o método é escolhido para equilibrar a restrição
no tamanho da amostra, informações necessárias, restrições de tempo e custo
da análise. Os seguintes métodos são usados comumente para caracterização de
nanopartículas de fármacos.

Tamanho de partícula e distribuição de tamanho


A caracterização do tamanho de partícula de nanossuspensão, feita para obter
informação sobre o seu tamanho e alteração ao armazenamento (por exemplo,
crescimento de cristais e/ou aglomerado). A distribuição do tamanho de partícula
de nanopartículas de fármaco pode ser medida usando as seguintes técnicas:

Espectroscopia

Como as nanossuspensões, geralmente, são constituídas por partículas


submicrométricas, o método apropriado, usado para avaliar a distribuição de
tamanho de partícula, é a espectroscopia de correlação de fótons (PCS). Em PCS,
ou análises dinâmicas de dispersão de luz dispersa a luz do laser, a partir de
partículas que se difundem em um meio de dispersão de baixa viscosidade (por
exemplo, água).

80
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

O PCS analisa a flutuação, na velocidade da luz difusa, em vez da intensidade


total da luz dispersa. Os sinais de intensidade detectados (fótons) são usados
para medir a função de correlação. O coeficiente de difusão D das partículas é
obtido, a partir do decaimento dessa função de correlação. Aplicando a equação de
StokesEinstein, o tamanho médio de partícula (chamado de z-average) pode ser
calculado. Além disso, um índice de polidispersividade (PI) é obtido, como uma
medida para a largura da distribuição.

O valor do PI é 0, caso as partículas sejam monodispersas. Em caso de distribuição


estreita, os valores de IP variam entre 0,10 e 0,20, valores de 0,5 e superiores,
indicam uma distribuição muito ampla (polidispersividade). A partir dos valores
de z-average e PI, até pequenos aumentos no tamanho das nanopartículas
podem ser avaliados. A extensão do aumento do tamanho das partículas, no
armazenamento, é uma medida de instabilidade. Portanto, o PCS é considerado
um instrumento sensível para detectar instabilidades, durante o armazenamento
em longo prazo.

Difração a laser

A difratometria a laser (LD), desenvolvida por volta de 1980, é muito rápida e


usada rotineiramente em muitos laboratórios. O instrumento também é usado
para quantificar as micropartículas presentes, o que não é possível usando o PCS.
LD analisa os padrões de difração de Fraunhofer, gerados por partículas em um
feixe de laser.

Os primeiros instrumentos foram baseados na teoria de Fraunhofer, que é aplicável


para tamanhos de partículas dez vezes maiores que o comprimento de onda da
luz, usada para gerar o padrão de difração. Para partículas com tamanho inferior
a 6,3 µm (no caso do uso de um laser de hélio-neônio, comprimento de onda de
632,8 nm), a teoria de Mie é usada para obter a distribuição correta do tamanho
de partícula.

A teoria de Mie requer conhecimento do índice de refração real das partículas,


e seu índice de refração imaginário (absorbância da luz pelas partículas).
Infelizmente, para a maioria dos sólidos farmacêuticos, o índice de refração é
desconhecido. No entanto, a difratometria a laser é frequentemente usada como
um método de caracterização preferido para nanossuspensões, por causa de sua
“simplicidade”.

81
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

Microscopia

Técnicas baseadas em microscopia podem ser usadas para estudar uma ampla gama
de materiais, com uma ampla distribuição de tamanhos de partículas, variando de
escala nanométrica a milimétrica. Instrumentos utilizados para técnicas baseadas
em microscopia incluem microscópios ópticos de luz, microscópios eletrônicos de
transmissão (SEM), microscópios eletrônicos de transmissão (MET), e microscópios
de força atômica (AFM).

A escolha do instrumento para avaliação é determinada pela faixa de tamanho


das partículas, sendo estudadas a ampliação e resolução. No entanto, observa-se
também que o custo da análise aumenta, à medida que o tamanho das partículas
diminui, devido aos requisitos para maior ampliação, melhor resolução, maior
confiabilidade e reprodutibilidade.

O custo da análise de tamanho também depende do sistema que está sendo


estudado, já que determina a técnica usada para preparação de amostra e
análise de imagem. Os microscópios ópticos tendem a ser mais acessíveis e
comparativamente mais fáceis de operar e manter do que os microscópios
eletrônicos, mas têm ampliação e resolução limitadas.

A morfologia da superfície do fármaco ‘tal como está’, e nanopartículas secas por


pulverização, para uma droga pouco solúvel, Candesartan cilexetil, é examinada
usando microscópio eletrônico de varredura.

As micrografias eletrônicas de varredura

As nanopartículas de fármaco e fármaco “tal como estão”, ilustram a recristalização


do veículo solúvel em água à volta do fármaco, criando um ambiente altamente
hidrofílico, que impede a interação e agregação de partículas.

Calorimetria exploratória diferencial (DSC)

A calorimetria diferencial de varredura (DSC) é usada para determinar a


cristalinidade das nanopartículas de fármaco, medindo sua temperatura de
transição vítrea, ponto de fusão e suas entalpias associadas. Este método,
juntamente com a difração de raios-x (XRPD), descrita abaixo, é utilizado para
determinar a extensão, em que existem múltiplas fases, no interior, e a sua
interação, após o processo de moagem.
82
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

Difração de raios-x (XRPD)

A difração de raios-x em pó (XRD) é uma técnica analítica, rápida, usada,


principalmente, para identificação de fase de um material cristalino, e pode
fornecer informações sobre as dimensões da célula unitária. A difração de
raios-x é baseada na interferência construtiva de raios-x monocromáticos,
e uma amostra cristalina. Esses são gerados por um tubo de raios catódicos,
e são filtrados para produzir radiação monocromática, colimados para se
concentrarem e direcionados para a amostra. A interferência obtida é avaliada,
usando a Lei de Bragg, para determinar várias características do cristal, ou
materiais policristalino.

Solubilidade de saturação

As avaliações da solubilidade da saturação, para determinar as nanopartículas do


fármaco, são, normalmente, realizadas em meios tampão, em diferentes condições
de pH, utilizando um método de frasco de agitação. Neste método, a quantidade
em excesso (100 mg/mL) de fármaco (“tal como está” e suspensão seca contendo
micropartículas ou nanopartículas) é adicionada a 25 mL de meio tampão,
mantido a 37°C, e agitado durante um período de, até, 24 horas. As amostras são
filtradas, usando filtros de PDVF Millex-VV, com tamanho de poro de 0,10 µm
(Millipore Corporation, EUA), antes da análise e as concentrações determinadas
utilizando um método de HPLC. Os resultados da solubilidade da saturação, para
as nanopartículas de Candesartan cilexetil “tal como está”, micronizadas e secas
por pulverização, utilizadas como modelo de medicamento, estão resumidas
para demonstrar o impacto do tamanho das partículas, na solubilidade da
saturação.

A solubilidade da saturação das nanopartículas de Candesartan cilexetil é,


significativamente, maior do que as partículas moídas a jato, e a droga “como está”,
em todas as condições de pH. Esses resultados demonstram, claramente, que a
redução no tamanho de partícula para submícron, ou alcance manométrico, afeta
a solubilidade de saturação, resultando no aumento da taxa de dissolução. Como
visto, há um aumento significativo na taxa e extensão da absorção do fármaco, para
nanossuspensão.

A taxa e a extensão da absorção do fármaco mostraram um aumento de 2,5


vezes, na área sob a curva de concentração plasmática-tempo (AUC0-t), e um
aumento de 1,7 vezes, na concentração plasmática máxima (Cmax), e redução
significativa, no tempo necessário (1,81 horas, comparado a 1,06 horas), para
atingir a concentração plasmática máxima (Tmax), quando comparada à suspensão
micronizada.

83
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

Nanopartículas de silício nanoporoso:

Um sistema de administração de medicamentos

Os NPs intravascularmente injetáveis podem ser convenientemente projetados ou


projetados para liberar moléculas de drogas, ou marcadores de imagem, com um
desempenho superior em relação a agentes livremente administrados (Ferrari,
2005; Whitesides, 2003; La Van et al., 2003). Nessa medida, eles representam
sistemas de distribuição de medicamentos inteligentes (DDS).

Em outros termos, devido às suas propriedades geométricas, físicas e químicas


(Fig.1), os agentes terapêuticos, ou de contraste, seriam direcionados para o
local de interesse (células malignas), com uma redução significativa dos efeitos
colaterais, e um aumento concomitante, na eficiência de entrega. Os lipossomas são
a forma mais simples de NPs (e, consequentemente, são, por vezes, referidos como
nanovetores de primeira geração). Estabelecido para o tratamento do sarcoma de
Kaposi, há mais de 10 anos, hoje em dia certos NPs, baseados em lipossomas, ainda
estão sendo usados para o tratamento do câncer. A literatura registra um grande
número de NPs de segunda geração (que, diferentemente dos lipossomas, podem
ser produzidos artificialmente, usando técnicas de nanofabricação), incluindo
nanovetores, baseados em polímeros, nanopartículas de silício e sílica e nanovetores,
baseados em metais, como nanocélulas.

Apesar disso, e apesar dos méritos que tal abundância de dispositivos proporciona
em termos de novas bases e oportunidades tecnológicas, apenas uma pequena
quantidade desses nanovetores seria realmente eficaz, na distribuição de drogas ou
agentes de contraste. Um número de NPs de terceira geração está, atualmente, em
desenvolvimento, apresentando propriedades avançadas e, portanto, modalidades
de entrega mais eficazes, incluindo NPs nanoporosos com/sem prata reduzida,
para análise SERS, partículas de silício mesoporosas, como sistemas de entrega
multiestágios, NP nanoporosos aumentando, via confinamento geométrico de
contraste de gadolínio, contraste T1.

Em geral, uma nanopartícula ideal deve ser capaz de (i) navegar no sistema
circulatório, evitando o sistema imunológico e reconhecendo as células
doentes (alvo biológico), com alta seletividade; (ii) aderir firmemente a eles,
e (iii) permitir o processo de endocitose. Os métodos de direcionamento
foram amplamente investigados, e variam de ligantes específicos (ligados de
forma covalente e compõe nanovetores e podem reconhecer anticorpos sobre
expressos, nas células de interesse) a não específicos (isto é, mecanismos
baseados no tamanho, forma e propriedades físicas do nanovetor, incluindo
densidade, porosidade e carga superficial).

84
NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS │ UNIDADE III

Independentemente dos mecanismos particulares de transporte e adesão que os


NPs podem experimentar, fica claro que um entendimento completo da física, por
trás desses fenômenos, desempenha um papel fundamental. Realisticamente, os
modelos matemáticos fornecem uma ferramenta sem precedentes, para prever o
comportamento dos PNs dentro da macro/microcirculação, fornecendo, assim, uma
justificativa para o melhor projeto de NPs.

No DDS, a escolha do constituinte do material a granel é um ponto chave,


pois deve cumprir um comportamento biológico adaptado (bioatividade,
biocompatibilidade, biodegradabilidade), deve melhorar a capacidade de carga
útil e ser inofensivamente eliminado do corpo, em um período de tempo razoável,
após a liberação da carga, e ter desempenhado uma possível função diagnóstica.
Embora muitos nanocarreadores propostos não atendam a esses requisitos, o
silício poroso (PSi), considerado como cristal de silício, com uma série de vazios,
é um material promissor, por sua biocompatibilidade e biodegradabilidade, que
resulta em produtos de decomposição não nocivos para o sistema biológico.

O silício poroso se dissolve nos fluidos corporais, em ácido ortossilícico, comumente


encontrado em alimentos cotidianos, e eficientemente excretado do corpo, por
meio da urina. Devido às estruturas porosas, nanopartículas de silício nanoporoso
apresentam uma grande relação superfície/volume (200-800 m2/cm3),
característica muito atraente, pois a superfície pode ser utilizada para carregar
fármacos, pelo processo de fisiólise, e modificada com moléculas que promovem a
adesão celular.

A largura, a porosidade e o tamanho das nanopartículas podem ser ajustados pelos


parâmetros, durante o processo de fabricação. Quando o tamanho do poro está
na faixa de 2 a 5 nm, os fármacos fissorvidos são eficientemente aprisionados e,
devido ao efeito do confinamento quântico da estrutura do silício, as partículas
apresentam emissão a 620 nm–orange, à temperatura ambiente, sob iluminação
UV (comprimento de onda de 365 nm), uma característica muito atraente para a
realização de nanopartículas teranósticas. A população de poros pode ser dividida em
dois tipos diferentes: poros abertos e os que são conectados uns aos outros

Conclusão
Melhorar a solubilidade e a taxa de dissolução de compostos fracamente solúveis,
correlaciona-se com um melhor perfil farmacocinético (PK). A abordagem aqui
apresentada pode ser alargada a outros compostos de classe II, do BCS, em que
a absorção é solubilidade e/ou limitada à dissolução. O processo de fabricação

85
UNIDADE III │ NANOPARTÍCULAS COMO MEDICAMENTOS

utilizado é, relativamente, simples e escalável, indicando a aplicabilidade geral


da abordagem, para desenvolver formas de dosagem oral de fármacos pouco
solúveis. A biodisponibilidade aumentada deve se traduzir em dose reduzida,
mitigar os efeitos dos alimentos, oferecer melhor delineação da dose, e resultar
em um início de ação mais rápido, que pode se traduzir em melhor resultado
terapêutico.

86
ATIVIDADES
BIOLÓGICAS DE UNIDADE IV
NANOPARTÍCULAS

CAPÍTULO 1
Caracterização rápida de
nanopartículas

As nanopartículas são o foco de intensa atenção científica e de engenharia, devido


às suas propriedades únicas, e ampla gama de potenciais aplicações biomédicas,
ópticas e eletrônicas. Suas propriedades únicas unem-se às de materiais a granel,
e estruturas atômicas ou moleculares. Enquanto os materiais a granel exibem
propriedades físicas constantes, independentemente do tamanho, as propriedades
nanomateriais podem ser dependentes do tamanho, como confinamento quântico,
em partículas semicondutoras, ressonância plasmônica de superfície, em muitas
partículas de metal, e superparamagnetismo, em materiais magnéticos. No entanto,
o design, a síntese e a fabricação de nanopartículas, para aplicações específicas
ou investigação fundamental, permanecem imaturos, sem uma caracterização
precisa e bem resolvida do tamanho e da estrutura das nanopartículas.

Até o momento, as nanopartículas podem ser caracterizadas usando uma


variedade de técnicas tradicionais, incluindo microscopia eletrônica (EM),
microscopia de força atômica (AFM), espalhamento de luz estático e dinâmico
(DLS e SLS), espectroscopia de fotoelétrons de raios-x (XPS), pó-x - difração
de raios (DRX), espectroscopia de infravermelho, por transformada de Fourier
(FTIR), cromatografia por exclusão de tamanho (SEC), fracionamento de campo
de fluxo assimétrico (AFFFF), cristalografia de raios-x, espalhamento de nêutrons
de pequeno ângulo (SANS), dessorção/ionização a laser assistida, por matriz
espectrometria de massa de tempo de voo (MALDI-TOF), espectroscopia de
ultravioleta-visível, interferometria de dupla polarização e ressonância magnética
nuclear (RMN).

No entanto, técnicas como microscopia eletrônica e cristalografia de raios-x são


caras, demoradas e exigem recursos computacionais extensos. Outras técnicas,

87
UNIDADE IV │ ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS

como a SANS, também sofrem de disponibilidade limitada. Apesar do vasto leque


de técnicas disponíveis, permanece a necessidade de técnicas de caracterização
rápida, isenta de etiquetas e estatisticamente poderosas, para resolver distribuições
multimodais dinâmicas, dentro de, aproximadamente, uma hora ou menos.

A análise de mobilidade diferencial por electrospray (ES-DMA) é uma técnica


rápida (escalas de tempo de análise na ordem de 1 a 100 min), com resolução
subnanométrica. ES-DMA pode detectar partículas de 0,7 nm a 700 nm. Em
seu menor tamanho, o ESDMA possui resolução subangstrom no diâmetro
molecular. O ES-DMA pode ser usado para determinar a concentração de
nanopartículas, e também deposita-las para caracterização adicional.

O ES-DMA, é particularmente atraente, porque opera à pressão atmosférica


e não requer marcação fluorescente, nem curvas de calibração. Ele separa
as partículas com base na proporção de carga/tamanho, semelhante à
espectrometria de massa ou eletroforese capilar, mas sem o equipamento caro,
como as bombas turbo. Embora o ES-DMA não possua a resolução em escala
atômica de cristalografia de raios-x, EM ou SANS, sua simplicidade oferece
vantagens decisivas, em termos de velocidade, custo e significância estatística.

As estruturas de “grãos grosseiros”, que ele resolve, fornecem informações


significativas, sobre a estrutura de várias partículas biológicas, como a montagem
de vírus, partículas semelhantes a vírus e vacinas, para aplicações biomédicas e a
estrutura de agregados e agregados de nanopartículas. Aqui nós revisamos essa
técnica livre de rótulo, quantitativa e rápida que fornece distribuições de tamanho
multimodal completa, com resolução subnanométrica. Primeiro descrevemos a
operação e a física subjacentes a esse instrumento. Em seguida, descrevemos aplicações
exemplares deste instrumento, para caracterização de nanopartículas. Finalmente,
concluímos comparando o ESDMA, com várias das técnicas listadas acima, e f
ornecemos uma perspectiva para o crescimento futuro da técnica.

ES-DMA - operação e física


Em ES-DMA, também conhecido como análise molecular de mobilidade por
varredura (SMPS), ou análise molecular por mobilidade eletroforética em fase
gasosa (GEMMA), uma suspensão de partículas é, primeiramente, transportada
para a fase gasosa. Isto é, conseguido por ionização por I, que produz uma
distribuição estreita de gotículas, tipicamente 150-400 nm, em diâmetro
inicial.

88
ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE IV

Materiais caracterizados por ES-DMA


Uma ampla variedade de materiais tem sido caracterizada por ES-DMA, incluindo
nanopartículas de ouro, nanotubos (nanotubos de carbono de parede única),
nanobastões (nanobastões de ouro), bionanopartículas (polímeros, proteínas, vírus,
etc.), nanopartículas funcionalizadas, pontos quânticos, nanopartículas agregadas e
conjugadas, etc. Aqui revisamos as contribuições do ES-DMA, para a caracterização
desses materiais.

Nanopartículas de ouro e metálicas

As nanopartículas de ouro permanecem entre os materiais mais extensivamente


analisados ​​
pelo ES-DMA, porque são muito estáveis, inertes e (por muitas
definições) biocompatíveis. O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia (NIST)
e o Laboratório de Caracterização de Nanotecnologia (NCL) publicaram um
Protocolo de Ensaio Conjunto, “PCC-10: Análise de Nanopartículas de Ouro por
Análise de Mobilidade Diferencial por Electrospray (ES-DMA)”, que detalha um
protocolo, para análise de tamanho de nanopartículas de ouro à base de líquido via
ES-DMA.

O uso de ES-DMA, para medir a distribuição de tamanho de nanopartículas


coloidais, foi demonstrado, pela primeira vez, há mais de uma década. Desde
então, as nanopartículas de ouro e prata foram analisadas, usando ES-DMA,
comparando com coloides de tamanhos conhecidos, tais como partículas de
poliestireno. No entanto, as partículas de poliestireno não são monodispersas.
Em 2007, o NIST emitiu nanopartículas de ouro de 10 nm, 30 nm e 60 nm, como
materiais de referência oficiais do NIST, que são muito monodispersos e podem
substituir partículas de poliestireno para calibração de DMA. Várias técnicas,
incluindo DLS, EM e SAXS, foram usadas para caracterizar essas nanopartículas
de ouro. O diâmetro dessas, medido por cada uma das diferentes técnicas, estava
em um razoável alinhamento com ES-DMA. Esses materiais de referência foram
emitidos, a pedido do Instituto Nacional do Câncer (NCI), para avaliar e qualificar
a metodologia e o desempenho dos instrumentos relacionados à caracterização
física dos sistemas de nanopartículas.

Nanotubos e nanobastões

A caracterização de partículas não esféricas é de grande interesse, pois a forma


de uma partícula, juntamente com seu tamanho, influencia as propriedades das
partículas (ótica, mecânica, etc.). Embora várias técnicas estejam disponíveis
para quantificar as distribuições de comprimento de nanobastões e nanotubos, o
ES-DMA permanece competitivo.

89
UNIDADE IV │ ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS

Vários autores relataram a caracterização de partículas semelhantes a bastonetes


ou tubos, tais como nanobastões de ouro e nanotubos de carbono de paredes
múltiplas. Song, et al., usaram uma análise de fator de forma, para converter
o diâmetro médio de mobilidade, no comprimento médio de nanobastões de
ouro. Kim, et al., usaram a teoria de Dahneke, para converter distribuições de
tamanho de mobilidade ES-DMA em distribuições de comprimento.

Sua adaptação inclui a orientação do nanofio, como um fator chave. Abaixo de 70


nm, o movimento Browniano randomiza a orientação das partículas, enquanto
partículas mais longas se alinham com o campo elétrico em DMA. Pease, et al.,
utilizaram o ES-DMA, para caracterizar, rapidamente, a distribuição do comprimento
de nanotubos de carbono de paredes simples, a partir de suspensões líquidas
[Pease et al., 2009b]. Seu modelo, também baseado na teoria de Dahneke, converte
a distribuição do diâmetro de mobilidade, em uma distribuição de comprimento,
mas também explica as finas camadas de sal presentes nos nanotubos, que se
formam durante a eletropulverização. Eles descobriram que dnt, o diâmetro de
um nanotubo individual, e ds, o diâmetro de uma partícula salina esférica, são
parâmetros-chave em seu modelo.

Bionanopartículas

Os sistemas biológicos são de grande interesse e o ES-DMA é perfeitamente


adequado para analisar seus componentes macios. Várias partículas biológicas,
como vírus, proteínas e polímeros de proteínas, têm estruturas moles, para as
quais o ES-DMA é suficientemente suave, para preservar sua estrutura.

Nanopartículas virais

Apesar da importância da estrutura viral, pouquíssimos métodos a quantificam


ou validam. Demonstrou-se que o ES-DMA é suave tanto para vírus com envelope,
como para complexos proteicos. Por exemplo, Wick, et al., usaram o ES-DMA,
para medir o vírus alfa, envelopado em 70 nm ± 3 nm, em boa concordância
com o relatado em bancos de dados estruturais de vírus (~ 70 nm), indicando
eletropulverização e neutralização, a serem suficientemente suaves, para preservar
o envelope lipídico, apesar das formas de cisalhamento presentes no cone de
Taylor, na saída do capilar de eletropulverização. Além disso, Hogan et al., E
Thomas, et al., mostraram que os vírus icosaédricos permanecem infecciosos,
após a eletropulverização.

90
ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE IV

Pease, et al., demonstraram que a técnica ES-DMA pode ser usada para quantificar
as dimensões dos vírus icosaédricos [Pease et al., 2011]. Uma revisão recente
destaca o uso de ES-DMA, para analisar partículas de vírus. Estudos anteriores
de ES-DMA de vírus, relatam apenas o diâmetro de mobilidade, negligenciando
a geometria inerente do vírus. Isso deixou a conexão entre a mobilidade e as
dimensões reais do vírus pouco claras e mal definidas. Converteram o diâmetro
de mobilidade, dp, na geometria icosaédrica esperada dos vírus Tectiviridae,
usando a formulação de área projetada, introduzida anteriormente. O pico
principal do capsídeo, na distribuição de tamanho, foi identificado em 61,4 nm,
permitindo a determinação da simetria e do número de proteínas principais do
capsídeo por capsídeo.

A perda contínua de peças menores deixa os capsídeos parcialmente degradados


(pico a 51,6 nm). A pequena, mas nula densidade entre 20 e 40 nm, sugere
um continuum de produtos de degradação. No entanto, somente após muitas
semanas, os capsômeros individuais começam a se romper, como visto pelo
aparecimento de picos.

Nanopartículas poliméricas

As nanopartículas possuem potencial para uma variedade de aplicações


biomédicas, incluindo entrega direcionada de genes e drogas. No entanto, a
maioria das nanopartículas, com tamanho refinado (ou seja, em que a razão
do desvio padrão no diâmetro diante do diâmetro médio, também chamado de
coeficiente de variação). Anumolu, et al., fabricaram nanopartículas utilizando
ES-DMA, a partir de polímeros proteicos semelhantes à elastina de seda (SELPs)
recombinantes, encapsulando múltiplos cordões poliméricos, em gotículas de
eletrovaporização, em evaporação. As SELPs foram selecionadas, porque se
mostraram promissoras em ensaios clínicos, para entrega de genes localizados
(isto é, por injeção direta, em tecido contendo tumor).

Comparação do ES-DMA com técnicas similares

Cada um dos exemplos acima destaca o potencial do ES-DMA, para analisar


nanopartículas. O restante desta seção compara essa poderosa técnica a classes
geralmente disponíveis, de técnicas comumente usadas, para caracterizar
nanomateriais, como a microscopia eletrônica e a dispersão de luz.

91
UNIDADE IV │ ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS

Microscópio eletrônico

Técnicas EM, como a microscopia eletrônica de transmissão (TEM), e a


microscopia eletrônica de varredura (MEV), são métodos diretos, para caracterizar
nanopartículas, com resolução subnanométrica. Os métodos EM fornecem
imagens convincentes, que fornecem uma visão imparcial da geometria e estrutura
real das partículas eletro-opacas, especialmente para as porções duras das
bionanopartículas, como descrito acima. A cristalinidade das partículas também
pode ser investigada, gerando padrões de difração usando EM. Apesar de fornecer
imagens de alta resolução e belas imagens, os métodos EM permanecem caros,
para instalar e operar.

Para determinar, rigorosamente, o tamanho médio das nanopartículas, várias


centenas a milhares de nanopartículas devem ser medidas, o que consome tempo (da
ordem de dias a semanas), sem automação, que não é amplamente disponível. Para
sistemas menos homogêneos, ou materiais flexíveis, as distribuições multimodais
e os danos causados por feixes de elétrons apresentam desafios adicionais para
a medição rigorosa do TEM. Pease, et al., compararam TEM com ES-DMA, para
caracterização quantitativa de partículas de vírus, e concluíram que o ES-DMA tem
uma maior rapidez (milhões de partículas por hora, em comparação a milhares
de partículas por hora) e significância estatística do que TEM.

Técnicas de dispersão de luz


Técnicas de espalhamento de luz, como espalhamento de luz multiangular (MALS),
e espalhamento de luz dinâmico (DLS), medem as flutuações de intensidade da luz
difusa em solução. Como a luz é focalizada usando um laser nas partículas que se
movem, devido ao movimento browniano, a intensidade do fóton medida flutua, a
partir da qual o diâmetro hidrodinâmico médio-z pode ser estimado.

O peso molecular médio z excede, tipicamente, o peso molecular médio da massa,


para as distribuições mais comuns. Em contraste, ES-DMA mede o diâmetro
médio numérico. Caso contrário, as técnicas de espalhamento de luz e ES-DMA
são semelhantes, pois são rápidas, baratas e produzem médias estatisticamente
significativas. Embora o meio de suspensão da amostra influencie as medidas de
DLS, pode ser preferível para amostras sujas, minimizando o tempo de preparação
necessário para a limpeza da amostra.

Ao caracterizar estruturas com altas relações de aspecto (por exemplo, nanotubos de


carbono), MALS e DLS produzem comprimentos médios, conjuntos de distribuições

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ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS │ UNIDADE IV

amplas, usando métricas de comprimento quadrado da raiz média, assumindo que


os nanotubos tenham distribuições de comprimento monomodal. Em contraste,
o ES-DMA mede o tamanho de cada nanotubo, individualmente, para montar
as distribuições completas de comprimento multimodal. Além disso, o DLS não
correlaciona diretamente o tamanho ou o número de partículas individuais com o
tamanho de um agregado, e não pode resolver concentrações agregadas individuais,
dentro de distribuições multimodais. Claramente, diferenciar aglomerados que
diferem apenas por uma única partícula permanece um desafio, especialmente para
partículas com menos de 30 nm.

Comparação estatística com diferentes técnicas

Talvez a comparação mais abrangente das principais técnicas disponíveis para


analisar o tamanho das nanopartículas foi realizada no NIST, em nanopartículas
de ouro. Embora todos os valores estejam em razoável concordância, alguma
incerteza é esperada, até mesmo em sistemas bem calibrados.

Vários outros autores compararam técnicas incluindo MALS, DLS, AFFFF,


EM e ES-DMA, usando nanomateriais orgânicos (por exemplo, vírus e vírus
semelhantes) e inorgânicos (nanotubos de carbono). Por exemplo, Lute, et al.,
e Pease, et al., descobriram que as medições ES-DMA de vírus, e partículas
semelhantes a vírus, são menores do que as de AFFFF-MALS. O ES-DMA mede
o tamanho externo da partícula viral, enquanto o AFFFF-MALS reporta ao raio
de rotação, que depende da distribuição de massa da partícula. Além disso,
ES-DMA mede o tamanho de partícula seca, em contraste com as técnicas de
dispersão de luz e AFFFF, que medem partículas em solução [Pease et al., 2008].
Partículas orgânicas são mais propensas a experimentar interações entaplicadas,
favoráveis em ambientes ricos em água, que aumentam seu raio hidrodinâmico.
Em ambientes secos, TEM e ES-DMA relatam médias similares, para tamanhos
de amostra suficientemente grandes [Lute et al., 2008; Pease, 2012]. Pease, et
al., também relatam a análise da distribuição de comprimento de nanotubos de
carbono, usando várias técnicas, incluindo AFM, MALS, DLS e FFF. Aqui, as
interações hidrofílicas exercem pouca ou nenhuma influência sobre o tamanho
da partícula, e cada uma dessas técnicas relata resultados semelhantes. Mais
recentemente, Kapelios, et al., caracterizaram o tamanho e a massa molecular de
proteínas e complexos, comparando ES-DMA com técnicas de dispersão de luz,
dispersão de luz laser multiângulo (MALLS) e dispersão de luz, quase elástica
(QELS). Houve descobertas com as medidas de ES-DMA, que são menores que
as de MALLS e QELS, como esperado para materiais proteicos.
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UNIDADE IV │ ATIVIDADES BIOLÓGICAS DE NANOPARTÍCULAS

Futuro do ES-DMA
Em resumo, o ES-DMA é uma ferramenta poderosa para caracterizar e fabricar
nanopartículas. Vários sistemas de nanopartículas foram caracterizados usando
ES-DMA, incluindo pontos quânticos, polímeros lineares e nanomateriais coloidais
complexos. No entanto, uma grande área de crescimento para esta técnica,
provavelmente, estará na análise de nanomateriais complexos moles. Por exemplo.
ESDMA tem um potencial significativo, para caracterizar reações bioquímicas,
incluindo aquelas que analisam nanoterapêuticas e biofarmacêuticas.

De fato, a detecção em tempo real de reações biológicas é uma das aplicações


emergentes mais promissoras desse instrumento. ES-DMA é bem adequado para
este futuro, dada a sua faixa dinâmica de operação de 150 Da até 1011 Da. O limite
inferior de detecção ainda está sob refinamento, com melhorias significativas em
andamento, usando DMAs de alta precisão, construídas em casa que empregam
injetores de fluxo, em forma de funil, para retardar o início da turbulência.

Esses sistemas possuem precisão subangtrom, no diâmetro de mobilidade da


molécula. ES-DMA também é bem adequado, para avaliar o papel da agregação,
o que pode ser particularmente vantajoso, para detectar agregados de proteínas
em ambientes de biomanufatura. No entanto, para realizar todo o seu potencial,
é necessária uma maior exploração e uma excelente coordenação entre biólogos,
químicos e engenheiros, para expandir os limites do ES-DMA.

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Referências

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