Você está na página 1de 89

Dimensionamento de Contenções

Brasília-DF.
Elaboração

Miriã Falcão Freitas

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 7

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 9

UNIDADE I
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL............................................................................... 11

CAPÍTULO 1
PRINCIPAIS TIPOS DE ESCORREGAMENTO EM SOLOS MOLES.................................................... 13

CAPÍTULO 2
CAUSAS E AGENTES DO MOVIMENTOS DE MACIÇOS – RUPTURA PLANA................................... 18

CAPÍTULO 3
MÉTODO DO CÍRCULO DE ATRITO, DAS LAMELAS E CUNHAS – FLUXO BIDIMENSIONAL............. 20

UNIDADE II
OBRAS DE CONTENÇÃO...................................................................................................................... 31

CAPÍTULO 1
CONCEITOS E TIPOS DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO............................................................. 32

CAPÍTULO 2
DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO............................................................. 39

CAPÍTULO 3
DRENAGEM DOS MUROS DE ARRIMO..................................................................................... 46

UNIDADE III
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE............................................................................................. 51

CAPÍTULO 1
ESFORÇOS QUE INTERFEREM NO CÁLCULO DE UM MURO DE ARRIMO.................................... 51

CAPÍTULO 2
ESTADO PLÁSTICO DE EQUILÍBRIO – TEORIAS CLÁSSICAS: TEORIA DE RANKINE E TEORIA
DE COULOMB......................................................................................................................... 54

CAPÍTULO 3
APLICAÇÕES – ESCORAMENTO DAS ESCAVAÇÕES.................................................................. 62
UNIDADE IV
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO.............................................. 68

CAPÍTULO 1
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO..................................................................... 68

CAPÍTULO 2
MÉTODOS DE REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO............................................................. 75

CAPÍTULO 3
FATORES CONDICIONANTES PARA A ESCOLHA DO MÉTODO DE REBAIXAMENTO –
CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXECUÇÃO DOS PROJETOS DE REBAIXAMENTO............................ 83

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 86
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
6
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

7
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

8
Introdução
Estruturas de contenção são obras de engenharia civil projetadas para conter um maciço
de solo ou de rocha, evitando deformações excessivas ou o colapso. A estrutura tem
por objetivo suportar as pressões laterais da terra (empuxo), garantindo a segurança
do talude.

A execução de uma estrutura de contenção normalmente gera um ônus financeiro


considerável no projeto de obras em áreas de encostas, mesmo que essa etapa da obra
abranja uma extensão consideravelmente pequena. Em alguns casos, ela pode ter
um custo superior ao da própria edificação a ser construída. Por isso, é importante
ressaltar a execução de um bom projeto que considere os diferentes tipos disponíveis de
estruturas de contenção e que atenda à segurança necessária ao empreendimento com
os menores custos envolvidos.

Este material pretende ser um guia para que você compreenda as diretrizes práticas
para o dimensionamento de estruturas de contenção. O presente material é composto
por IV Unidades. A Unidade I apresenta ao leitor aspectos gerais como definição de
taludes, quais as causas e os agentes que levam aos principais tipos de escorregamento
de solos. A Unidade II introduz o que e quais são os tipos de estruturas de contenção; é
discutido o dimensionamento de um muro de gravidade, que tem por objetivo garantir
a sua estabilidade interna e externa, fazendo uso de análises de equivalência dos
esforços atuantes com a resistência dos materiais utilizados e apresenta os sistemas de
drenagem que devem ser utilizados para cada tipo de estrutura. Em seguida, na Unidade
III, uma análise é feita sobre a resultante das pressões laterais que atuam sobre uma
estrutura de arrimo. Por fim, na Unidade IV, será apresentada algumas condições de
estabilidade e métodos de sistemas de rebaixamento do lençol freático. As condições
de estabilidade precisam ser examinadas quando se trata da verificação de muros, pois
tal estabilidade dependerá da geometria e do próprio peso da estrutura, já os métodos
de rebaixamento do lençol freático precisam ser conhecidos, uma vez que, em muitos
casos, a aplicação do correto sistema é fundamental para viabilizar a obra.

Bons Estudos!

Objetivos
» Aprender quais são os principais tipos e as causas de escorregamento em
solos moles.

9
» Compreender a metodologia para execução do dimensionamento de
estruturas de contenção.

» Conhecer as condições de estabilidade de muros de contenção.

10
ESTABILIDADE DE
TALUDES E FLUXO UNIDADE I
BIDIMENSIONAL
O termo talude refere-se a qualquer superfície inclinada de um maciço de solo, rocha
etc. Podem ser naturais (encostas), ou artificias (cortes e aterros). Forças naturais
(vento, chuva, terremoto etc.) alteram a topografia natural, criando frequentemente
taludes instáveis.

A falha dos taludes naturais (deslizamentos de terra) e dos taludes artificiais já resultou
em muita morte e destruição. Ao avaliar a estabilidade dos taludes, os engenheiros civis
ou geotécnicos devem prestar atenção especial à geologia, drenagem, lençóis freáticos e
resistência ao cisalhamento dos solos.

Os métodos mais comuns de análise de estabilidade de taludes são baseados em


suposições simplificadoras e o projeto de um talude estável depende muito da experiência
e investigação cuidadosa do local.

Os problemas de estabilidade ocorrem com mais frequência quando o aterro deve ser
construído sobre solos macios, como argilas de baixa resistência. Depois que o perfil,
a força do solo e a profundidade do lençol freático são determinados por explorações
em campo e/ou testes em laboratório, a estabilidade do aterro pode ser analisada e um
fator de segurança estimado. Se o aterro for instável, poderão ser tomadas medidas
para estabilizar os solos da fundação.

Figura 1. Terminologia de elementos de um talude.

Crista

Talude

Corpo do Altura do
Talude Talude

Ângulo de inclinação

Pé do talude
Fonte: http://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/concreto4/Muros%20Arrimo/Ap%20Obras%20Terra%203.pdf.

11
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

Figura 2. Talude natural.

Talude Natural

Talude Natural é aquele


originado pela própria
natureza, pela ação geológica
ou de intempéries
Fonte: http://www.ebanataw.com.br/talude/oquee.htm.

Figura 3. Talude artificial.

Na área de Corte o material é retirado, e quando de boa


qualidade, pode ser usado para a construção do aterro.
Caso contrário, joga-se fora em área de Bota-Fora.

Área de Corte

Área de Aterro

Área de Aterro é a parte que se enche, que se aterra o


talude com material de boa qualidade. Pode-se usar o
material retirado do corte ou buscar em área de
empréstimo.

Talude de corte

Talude de aterro

Taludes sem estrutura de apoio

Fonte: http://www.ebanataw.com.br/talude/oquee.htm.

12
CAPÍTULO 1
Principais tipos de escorregamento
em solos moles

Escorregamento é um termo comumente utilizado para descrever o movimento


descendente de solo, rocha e materiais orgânicos sob os efeitos da gravidade e também
a forma de relevo resultante de tal movimento, a figura a seguir ilustra um exemplo de
um deslizamento de terra.

Os taludes, naturais ou artificiais, estão sujeitos a forças gravitacionais e outras forças,


como infiltração, que leva à instabilidade e, consequentemente, à falha. A resistência
à falha é derivada principalmente de uma combinação da geometria do talude e da
resistência ao cisalhamento, inerente ao solo ou massa de rocha envolvida.

Os termos deslizamento, movimento de massa e falhas de inclinação também são usados


de forma intercambiável à escorregamento. É comum ouvir esses termos aplicados a
todos os tipos e tamanhos de deslizamentos de terra.

O escorregamento pode ocorrer de diversas formas e existe uma grande variedade


de previsibilidade, rapidez de ocorrência e movimento e área do solo afetada, todas
relacionadas diretamente às consequências da falha (HUNT, 2005).

Independentemente da definição exata usada ou do tipo de escorregamento em


discussão, é útil entender as partes básicas de um deslizamento/escorregamento de
terra típico.

Figura 4. Deslizamento de terra em Santos-SP.

Fonte: https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2020/03/06/mais-um-corpo-e-encontrado-em-area-de-deslizamento-em-santos.ghtml.

13
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

A figura a seguir mostra a posição e os termos mais comuns usados para descrever as
partes únicas de um deslizamento de terra.

Figura 5. Nomenclatura comumente usada para rotular as partes de um deslizamento de terra.

Fissuras do cume
Superfície Cume
original da
terra
Talude
Fissuras transversais

Cristas transversais

Fissuras
radiais
Superfície da
Ponta ruptura
Região
Base principal
Base da
superfície de
Superfície ruptura
de separação
Fonte: Highland; Bobrowsky, 2008.

Segundo Varnes (1978), os escorregamentos podem ser classificados segundo os tipos


de movimentos e materiais, fazendo uso de dois nomes: o primeiro descreve o tipo
de movimento e o segundo o tipo de material do escorregamento. O quadro a seguir
mostra um dos métodos mais simples de classificação, conforme proposto por Varnes,
em 1978, no qual são reconhecidos os tipos mais comuns de escorregamentos: queda,
tombamento, escorregamento, expansões laterais, fluxo ou escoamento.

Quadro 1. Classificação abreviada de movimentos de massa.

Tipo de material
Solos de engenharia
Tipo de movimento
Rocha sã Predominantemente Predominantemente
Grosso Fino
Queda Queda de rocha. Queda de detritos. Queda de terra.

Tombamento Tombamento de rocha. Tombamento de detritos. Tombamento de terra.

Escorregamento Escorregamento de rocha. Escorregamento de detritos. Escorregamento de terra.

Espalhamento laterial Espalhamento de rocha. Espalhamento de detritos. Espalhamento de terra.

Fluxo ou escoamento Escoamento ou fluxo de rocha. Escoamento ou fluxo de detritos. Escoamento ou fluxo de terra.

Fonte: Varnes, 1978.

14
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

Queda
Quedas são movimentos bruscos de rocha ou solo, ou ambos, que se desprendem de
taludes íngremes ou falésias (figura 6). As quedas são fortemente influenciadas pela
gravidade, intemperismo mecânico e presença de água intersticial.

Figura 6. Esquema de queda rochosa.

Fonte: Highland; Bobrowsky, 2008.

Tombamento

Um tombamento pode ser identificado pela forma como uma massa de solo ou rocha
é rotacionada para frente para fora do talude (ver figura 7). Podem ser causados pela
gravidade que é exercida sobre o peso do material na parte superior da massa deslocada,
por água presentes em fissuras no interior da massa, por vibrações, erosões, condições
climáticas etc.

Figura 7. Esquema de tombamento.

Fonte: Highland; Bobrowsky, 2008.

15
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

Escorregamento
Os escorregamentos podem ocorrer de quase todas as formas possíveis, lenta e
repentinamente, com ou sem provocação aparente. Geralmente, os escorregamentos são
causados por escavações ou cortes inferiores do pé de uma encosta existente. No entanto,
em alguns casos, elas são causadas pela desintegração gradual da estrutura do solo,
começando pelas rachaduras capilares que subdividem o solo em fragmentos angulares.

Os escorregamentos podem ter movimentos rotacionais ou translacionais. O comportamento


do escorregamento depende principalmente do tipo de material e se esse material é:

» material homogêneo (isotrópico, propriedades semelhantes em todas as


direções);

» material não homogêneo (anisotrópico) com planos de fraqueza.

Escorregamento rotacional: nesse tipo de deslizamento, a superfície de ruptura se


encontra curvada de forma côncava para cima e o movimento do escorregamento do
talude é aproximadamente rotacional em torno de um eixo paralelo à superfície do solo
e transversal ao longo do deslizamento (figura 8).

Escorregamento translacional ou planar: são os tipos mais frequentes dentre todos


os tipos de movimentos de massa. São caracterizados pela presença de descontinuidades,
quase sempre paralelos à superfície da encosta. Nesse tipo de escorregamento, a massa
do deslizamento de terra move-se para fora ou para baixo e para fora, ao longo de uma
superfície aproximadamente plana com pouca rotação ou inclinação para trás (figura 9).
Caso a superfície de ruptura se encontre inclinada, esse tipo de escorregamento poderá
avançar por distâncias consideráveis, diferentemente dos escorregamentos rotacionais,
que tendem a recompor o equilíbrio do deslizamento. Geralmente, o processo de
escorregamento se dá durante ou logo após períodos de chuvas intensas.

Figura 8. Esquema de escorregamento rotacional. Figura 9. Esquema de escorregamento translacional.

Superfície
de ruptura

Fonte: Highland; Bobrowsky, 2008.

16
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

Espalhamento lateral

O espalhamento lateral normalmente ocorre em taludes que possuem baixa inclinação


ou em terrenos planos. As rupturas são usualmente acompanhadas de um afundamento
que ocorre de forma generalizada em direção à camada inferior. A superfície de ruptura
não é uma superfície de cisalhamento intenso. As propagações podem resultar da
liquefação ou fluxo (e extrusão) do material mais macio.

Figura 10. Esquema de espalhamento lateral. Uma camada passível de liquefação está abaixo da camada
superficial.

Argila compacta

Argila mole com lodo


de água e tendo
Alicerce camadas de areia

Fonte: Highland; Bobrowsky, 2008.

Escoamento ou fluxo

Um escoamento pode ser caracterizado como um movimento espacialmente contínuo


em que as superfícies de cisalhamento possuem vida curta, espaçadas estreitamente
entre si e geralmente não são preservadas após o evento. A distribuição das velocidades
na massa deslocada se assemelha a de um fluido viscoso.

Figura 11. Esquema de fluxo de detritos.

Fonte: Highland; Bobrowsky, 2008.

17
CAPÍTULO 2
Causas e agentes do movimentos
de maciços – ruptura plana

Guidicini e Nieble (1984) relataram os condicionantes dos movimentos de maciços


em termos das causas e agentes. Os autores detalharam as causas e os agentes dos
movimentos de massa e classificaram as causas em internas, externas e intermediárias
e os agentes em predisponentes e efetivos, preparatórios e efetivos imediatos.

Causas externas: essas solicitações causam um acréscimo das tensões de cisalhamento


sem provocar aumento da resistência ao cisalhamento do material do talude.
Essas solicitações estão associadas a diversos fatores como aumento da inclinação do
talude, devido a processos de erosão ou escavações, ou por deposição de material na parte
superior do talude.

Entre os exemplos de causas externas mais frequentes estão os movimentos de maciços


devidos a cortes desmoderados no pé do talude durante a construção de rodovias e à
ocupação irregular das encostas pelo homem. Nesse tipo de ocupação, feita de maneira
desordenada, os problemas mais comuns estão relacionados aos cortes e aterros, pois é
preciso criar uma região plana para que as moradias possam ser construídas, além dos
problemas de drenagem das águas como também destinação irregular do lixo.

As causas externas causam um acréscimo das tensões de cisalhamento ao longo da


superfície potencial de ruptura. Se essas tensões forem iguais ou superiores à resistência
ao cisalhamento disponível, ocorrerá movimentos de massa.

Causas internas: são aquelas que provocam o desencadeamento de movimentos sem


que haja alteração na geometria do talude, ou seja, sem haver aumento das tensões
cisalhantes, mas que resultam da diminuição da resistência interna do material.

Exemplos de causas internas mais frequentes estão relacionada a um aumento da


poropressão, redução da coesão do material do talude e alterações do lençol freático.
A água está fortemente relacionada às causas internas, pois pode comprometer a
estabilidade do talude de várias maneiras.

Causas intermediárias: resultam de efeitos originados por agentes no interior


do talude, como por exemplo erosão regressiva, liquefação espontânea e rápido
rebaixamento do nível da água.

Os agentes predisponentes são os fatores intrínsecos às condições geológicas,


geométricas e ambientais onde ocorrerá o movimento, não incluindo ações do homem.
18
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

Os agentes efetivos são o conjunto de elementos diretamente responsáveis pela


deflagração dos movimentos, incluindo ações antrópicas, que, em função da forma de
participação, são preparatórios ou imediatos. O quadro a seguir mostra as principais
causas e os agentes dos movimentos de maciços, segundo os autores Guidicini e
Nieble (1984).

Quadro 2. Agentes e causas dos movimentos de massa.

Efeito das oscilações térmicas; redução dos parâmetros de resistência ao cisalhamento por
Internas intemperismo (aumento da pressão hidrostática, diminuição da coesão e ângulo de atrito interno do
material).
Mudanças na geometria do talude; efeitos de vibrações: mudanças naturais no declive dos taludes
Causas Externas
por processos naturais ou artificiais.
Elevação do nível piezométrico em massas homogêneas; elevação da coluna da água em
Intermediárias descontinuidades; rebaixamento rápido do lençol freático; erosão subterrânea retrogressiva;
diminuição do efeito da coesão aparente.
Predisponentes Condições geológicas, geomorfológicas e climatológicas, além da ação gravitacional.
Pluviosidade, erosão pela água e vento, congelamento e degelo, variação de temperatura,
Agentes Preparatórios dissolução química, ação de fontes e mananciais, oscilação do nível de lagos e marés e do lençol
Efetivos freático, ação humana e de animais, inclusive desflorestamento.
Imediatos Chuvas intensas, fusão de gelo e neve, erosão, terremotos, ondas, ventos, ação do homem etc.

Fonte: Vianna, 2014.

19
CAPÍTULO 3
Método do círculo de atrito, das
lamelas e cunhas – fluxo bidimensional

A maioria dos métodos de análise de estabilidade de taludes maciços pode ser


categorizada como métodos de equilíbrio-limite. A suposição básica da abordagem
de equilíbrio limite é que o critério de ruptura de Coulomb é satisfeito ao longo da
superfície de falha assumida. Um corpo livre é retirado do talude e, partindo de
valores conhecidos ou assumidos das forças que atuam sobre o corpo livre, é calculada
a resistência ao cisalhamento do solo necessária ao equilíbrio. Essa resistência ao
cisalhamento calculada é então comparada à resistência ao cisalhamento estimada ou
disponível do solo para fornecer uma indicação do fator de segurança.

Os métodos que analisam o equilíbrio de um corpo livre como um todo são: falha da
inclinação em condições não drenadas, método do círculo de fricção (TAYLOR, 1937,
1948) e número de estabilidade de Taylor (1948).

Os métodos que dividem o corpo livre em várias lamelas verticais e consideram o equilíbrio
de cada lamela são o Método do Círculo Sueco (FELLENIUS, 1927), o Método Bishop
(1955), o Método Bishop e Morgenstern (1960) e o Método Spencer (1967). A maioria
desses métodos está em forma de gráfico e abrange uma ampla variedade de condições.

Existe também o Método das Cunhas, no qual o corpo livre é subdividido em cunhas
e o equilíbrio entre elas e o restante do maciço é analisado de maneira que a cunha
localizada na parte inferior fornece estabilidade para a parte superior.

Alguns dos primeiros gráficos de estabilidade de taludes foram publicados por Taylor,
em 1948. Desde então, vários gráficos foram desenvolvidos por muitos pesquisadores.

Método do círculo de atrito ou de Taylor


Os gráficos de estabilidade de Taylor (TAYLOR, 1948) foram derivados de soluções
baseadas em superfícies de falhas circulares para a estabilidade de taludes finitos,
homogêneos e simples, sem infiltração (ou seja, condição de tensão efetiva). As equações
gerais que Taylor desenvolveu como base para seus gráficos de estabilidade são as
relações entre a altura (H) e a inclinação (β) do talude, o peso unitário do solo (γ) e os
valores do solo desenvolvido (mobilizado) parâmetros de resistência ao cisalhamento,
cd e Φd. Essas quantidades desenvolvidas (mobilizadas) são as seguintes:

20
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

Onde Fc é o fator médio de segurança em relação à coesão e FΦ é o fator médio de


segurança em relação ao ângulo de atrito, ou seja, Φd = arctan (tan Φ′/FΦ). Como uma
aproximação, a seguinte equação pode ser usada para o ângulo de atrito desenvolvido:

Entretanto, para solos que possuem componentes de resistência, tanto friccionais


quanto coesos, o fator de segurança nas análises de estabilidade de taludes geralmente
se refere ao fator geral de segurança em relação à resistência ao cisalhamento, FS, que é
igual a em que resistência ao cisalhamento e resistência ao cisalhamento
desenvolvida (mobilizada). Portanto, a expressão geral de Mohr-Coulomb para
resistência ao cisalhamento desenvolvida em termos de fatores combinados de
segurança é:

A equação 3 pode ser reescrita em termos de parâmetros de resistência ao cisalhamento


desenvolvidos da seguinte maneira:

Há um número ilimitado de combinações de Fc e Fϕ que podem resultar em um


determinado valor de FS. No entanto, as equações 1 e 3 sugerem que, para o caso em
que o valor de Fc = Fϕ, o fator de segurança em relação à resistência ao cisalhamento,
FS, também seja igual a esse valor. A importância dessa condição será ilustrada por um
problema exemplo 1 a seguir.

Para simplificar a determinação do fator de segurança, Taylor calculou a estabilidade de


um grande número de taludes em uma ampla gama de ângulos de inclinação e desenvolveu
ângulos de atrito, . Ele representou os resultados por um número adimensional que ele
chamou de “Número de Estabilidade”, Ne, definido por ele da seguinte forma:

A equação 5 pode ser reorganizada para fornecer uma expressão para Fc em função do
Número de Estabilidade e de três variáveis, como segue:

Taylor publicou seus resultados em forma de curvas que fornecem a relação entre Ne
e o ângulo de inclinação, β, para vários valores de ângulos de atrito desenvolvidos, ,
como mostra a figura 12.

21
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

Observe que os fatores de segurança não aparecem no gráfico. O gráfico é dividido em


duas zonas, A e B. Conforme mostrado na inserção da Zona A, o círculo crítico para
taludes acentuados passa pelo pé do declive com o ponto mais baixo do círculo crítico
no pé do talude. Conforme mostrado na inserção da Zona B, para taludes mais rasos, o
ponto mais baixo do círculo crítico não está no pé, e três casos devem ser considerados
da seguinte maneira:
» Caso 2: para ângulos de taludes rasos ou pequenos ângulos de atrito
desenvolvidos, o círculo crítico pode passar abaixo do pé do talude.
Esta condição corresponde ao caso 2 na inserção da Zona B. Os valores
de Ne para este caso são dados no gráfico pelas longas curvas tracejadas.
Figura 12. Gráfico de Taylor para solos com ângulo de atrito (após Taylor, 1948).
0.35
H
(A)
DH=H; D=1
nH Linhas cheias
Caso 3 DH (Caso 2)
do gráfico:
Caso 2 Caso 1
0.30 (B) círculo passa
pelo pé
Caso 1: Linhas cheias do gráfico. Quando
não aparecem o caso é semelhante ao
caso 2.

0.25 Caso 2: Linhas com tracejado longo.


Quando não aparecem o círculo crítico
passa pelo pé.

Caso: Linhas com tracejado curto.

0.20
Número de Estabilidade cd/ϒH

Φd = 0, D = ∞

Para ϕd = 0 e 1<D<∞
Ver Figura 12
0.15

0.10

0.05

0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Inclinação do Talude
Fonte: Samtani, 2006.

22
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

Figura 13. O gráfico de Taylor para φ ‘= 0 condições para ângulos de inclinação (β) inferiores a 54 ° (após Taylor,
1948).

0.19

Para β > 53°, use a Figura 10


β = 53°
0.18

0.17

0.16

0.15

0.14
Número de Estabilidade cd/ϒH

0.13
nH H
DH

0.12 Caso A: use linhas cheias do gráfico;


linhas tracejadas curtas fornecem
valores de N

0.11
H
DH

0.10 Caso B. Use linhas tracejadas longas

0.09
1 2 3 4
Fator de Profundidade (D)

Fonte: Samtani, 2006.

» Caso 1: onde as longas curvas tracejadas não aparecem no gráfico, o círculo


crítico passa pé do talude. Essa condição corresponde ao caso 1. Os números de
estabilidade do caso 1 são dados pelas linhas sólidas no gráfico, quando existe
e quando não há um círculo mais perigoso que passa abaixo do pé, ou seja, as

23
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

curvas do caso 1 são uma extensão das curvas que correspondem a uma falha do
círculo no pé na Zona A.

Nos casos 1 e 2, o círculo de falhas passa pelo solo abaixo do pé do talude.

A razão de profundidade, D, que é um múltiplo da altura do talude H, é usada para


definir a profundidade (DH) do topo do talude para um material forte subjacente
através do qual o círculo de falha não passa.

» Caso 3: este caso corresponde à condição em que existe uma camada


forte subjacente na elevação do pé (D = 1). Este caso é representado por
linhas tracejadas curtas no gráfico.

O uso do gráfico de Taylor é ilustrado pelo exemplo a seguir.

Exemplo 1: determine o fator de segurança para um aterro de 30 pés de altura. A inclinação


do talude é 30°. O aterro é construído com solo com as seguintes propriedades:

Peso unitário total, γ = 120 lb/ft3;

Coesão efetiva, c′ = 500 lb/ft2;

Ângulo de atrito efetivo, ϕ′ = 20º

Solução:

Primeiro, assuma um fator comum de segurança de 1,6 para o ângulo de coesão e atrito,
de modo que Fc = Fϕ = 1,6. Como Fϕ = 1,6, o ângulo de atrito desenvolvido (ϕd) pode ser
calculado da seguinte forma:

Para ϕd = 12,8º e β = 30º, o valor do Número de Estabilidade, Ne, na figura 12 é de


aproximadamente 0,065. Assim, da equação 6:

Ou

Como a altura H = 40,1 ft calculada é maior que a altura real de 30 ft, o valor do fator
de segurança comum deve ser maior que 1,6. Suponha Fc = Fϕ = 1,9 e recalcule da
seguinte maneira:
24
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

Se Fϕ = 1,9, então ϕd = 10,8º e Ne pela figura 12 será aproximadamente 0,073, com base
no qual o novo valor de H será:

A altura de 30,04 ft é praticamente idêntica à altura correta de 30 pés. Portanto, o fator


mínimo de segurança em relação à resistência ao cisalhamento é de aproximadamente
1,9.

Método das lamelas

O método das lamelas ou fatias é o método mais utilizado na análise de estabilidade


de taludes. Esse método consiste basicamente em dividir a massa acima da superfície
de ruptura em lamelas verticais, para que o cálculo dos esforços atuantes sobre a
superfície de ruptura não se torne tão complexo. Assume-se que as forças resultantes
nos lados opostos de cada lamela são iguais e possuem direções opostas atuando numa
mesma linha paralela à base da fatia.

Dentre os métodos mais utilizados estão os de Fellenius (1936), Janbu (1954),


Bishop (1955), Morgenstern e Price (1965) e Spencer (1967). Neste capítulo serão
discutidos os métodos de Fellenius (1936) . Nesses métodos, uma possível superfície
de escorregamento, com a forma de um segmento de um cilindro circular é assumida
e os momentos atuantes e de resistência são calculados para determinar o fator de
segurança contra o deslizamento. O fator de segurança é definido como

Ou seja, é a razão entre a soma dos momentos devido as forças resistentes e a soma dos
momentos devido as forças atuantes. Na seção transversal, o cilindro circular se projeta
como um segmento de um círculo (figura 14). A massa de solo contida entre o arco
circular (ABC) e a superfície do solo é dividida em uma série de fatias, cujos lados são
verticais (figura 14a). O número de fatias é um tanto arbitrário, mas números diferentes
devem ser selecionados e fatores de segurança calculados para encontrar o número
acima do qual o fator de segurança é alterado de forma insignificante, aumentando
o número de fatias. Na figura 14a, selecionamos arbitrariamente nove fatias de
várias larguras.

25
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

Figura 14. Método de Fellenius – Forças aplicadas a uma fatia de solo.

b (b)
(a)

W
h
α

T T
l
N
N+u

Fonte: Adaptado de Cruikshank, 2002.

Uma superfície de escorregamento simples é assumida e os momentos totais são


determinados pela soma de momentos para cada fatia. O fator de segurança é definido
como a razão da soma dos momentos de resistência dividida pela soma dos momentos
de atuação.

Após selecionar as fatias, calculamos os momentos de resistência e de forças atuantes.


Uma fatia, a sexta mostrada na figura 14a, é ampliada na figura 14b como um diagrama
de corpo livre de uma fatia típica. O diagrama de corpo livre mostra todas as forças
e os momentos relevantes atuando no elemento. Uma força mostrada é W, o peso
da fatia. É determinado multiplicando a área da fatia vezes a unidade de largura na
direção normal da página, vezes o peso unitário do solo. No entanto, neste exemplo,
devemos usar o peso unitário do solo não saturado acima do lençol freático e o peso
unitário saturado da parte da fatia abaixo do lençol freático. Outra força é a força de
cisalhamento, T, que, nos métodos de Fellenius e de Bishop simplificado, é fornecida
pelo critério de falha de Terzaghi-Coulomb.

Método de Fellenius
O Método das Lamelas foi introduzido por Fellenius, em 1927, após a observação de
inúmeros deslizamentos ocorridos na Suécia que apresentaram superfícies de ruptura
sob a forma cilíndrica. Já em 1936, Fellenius apresenta um método no qual demonstra
que as forças de interação entre lamelas são paralelas à base da lamela, ou seja, mostra
que suas componentes estão relacionadas por:

26
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

O fator de segurança pelo Método de Fellenius se dá por meio da seguinte expressão:

Onde:

α = inclinação da base da fatia;

ϕ = ângulo de atrito interno efetivo;

c’ = coesão efetiva do solo;

u = poropressão no centro da base da fatia;

l = comprimento da base;

Δx = largura da lamela (fatia);

W = peso da lamela;

FS = coeficiente de segurança estimado.

Método simplificado de Bishop

O método de fatias de Bishop (1955) é útil se um talude consiste em vários tipos de


solo com diferentes valores de c e ϕ e se a pressão dos poros u no talude é conhecida ou
pode ser estimada. A figura 15 fornece uma seção de uma barragem de terra com uma
superfície inclinada AB. ADC é uma suposta falha de superfície circular experimental
com seu centro em O. A massa do solo acima da superfície de falha é dividida em várias
lamelas. As forças que atuam em cada lamela são avaliadas a partir do equilíbrio limite
das fatias. O equilíbrio de toda a massa é determinado pela soma das forças em cada
uma das fatias.

Considere para análise uma única fatia abcd (figura 15a) que é desenhada para uma
escala maior na figura 15b. As forças que atuam nessa fatia são:

W = peso da lamela;

N = força normal total na superfície de ruptura cd;

U = pressão da água dos poros = ul na superfície de ruptura cd;

FR = resistência ao cisalhamento atuando na base da lamela;

E1, E2 = forças normais nas faces ventriculares bc e ad;

27
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

T1, T2 = forças de cisalhamento nas faces verticais bc e ad;

θ = inclinação da superfície de ruptura cd na horizontal;

O sistema é estaticamente indeterminado. Uma solução aproximada pode ser obtida


assumindo que a resultante de E1 e T1 seja igual ao de E2 e T2, e suas linhas de ação
coincidam. Para o equilíbrio do sistema, as seguintes equações são verdadeiras:

Figura 15. Análise do método simplificado do Bishop.

B C
b
b
a
a
E1
D T2
A θ
E2
c T1
d
W
θ
c
d FR
W N
(a) (b) U
θ
l

Fonte: http://civilwares.free.fr/Geotechnical%20engineering%20-%20Principles%20and%20Practices%20of%20Soils%20Mechanics%20
and%20Foundation%20Engineering/Chapter%2010.pdf.

O Fator de Segurança FS é dado por:

Mesmo sendo um método simplificado e não considerar equilíbrio de forças horizontais,


este método, quando comparado ao método de Fellenius, gera resultados mais próximos
aos dos métodos rigorosos.

Método das cunhas

Em algumas situações a superfície potencial de escorregamento pode ser composta de


dois ou mais planos. Isso acontece quando há camadas ou zonas de baixa resistência no
interior do maciço, como mostrado na figura 16.

28
ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL │ UNIDADE I

Figura 16. Método das cunhas.


A
Solo 1: c1 ; ϕ1
Solo 2: c2 ; ϕ2

D II
Solo 2
Solo 1
I
B
C

Fonte: https://www.yumpu.com/pt/document/read/14864209/aula-04.

Cunha II (Ativa): ABDA (plano de ruptura AB no solo 2).

Cunha I (Passiva): BCDB (plano de ruptura BC no solo 2).

Interface entre cunhas: BD.

Para que ocorra o deslocamento das cunhas ativas e passivas, é preciso que haja um
movimento relativo entre as duas ao longo de BD. As forças atuantes em cada cunha
estão representadas na figura 17 e correspondem ao seu peso próprio, às reações das
demais partes do maciço, como também a resistência ao cisalhamento ao longo dos
planos BD.
Figura 17. Polígono de forças.
D A
D

E
α
PA
𝑐𝑐ഥ1
PB
α
E
RA

𝑐𝑐ഥ1 𝜙𝜙1
RB 𝑐𝑐ഥ2
𝜙𝜙2

RA

PA

RB
PB

𝑐𝑐ഥ2

Fonte: http://wwwp.feb.unesp.br/pbastos/concreto4/Muros%20Arrimo/Ap%20Obras%20Terra%203.pdf.

29
UNIDADE I │ ESTABILIDADE DE TALUDES E FLUXO BIDIMENSIONAL

No Método das Cunhas, o processo para determinação do coeficiente de segurança é


iterativo. Logo, para considerar os valores de resistência mobilizada, é atribuído a ele
um valor inicial F1:

30
OBRAS DE UNIDADE II
CONTENÇÃO
Há milhares de anos, mais ou menos, um homem ou mulher anônima colocou uma
fileira de pedras uma por cima da outra para impedir que o solo deslizasse para o
acampamento. Assim, foi construído um muro de contenção precoce.

Os primeiros engenheiros das culturas antigas do Egito, da Grécia, de Roma e dos


Maias eram mestres em invenção e experimentação, aprendendo principalmente por
intuição e tentativa e erro, o que funcionava e o que não funcionava. Até o observador
mais casual olha maravilhado para as magníficas estruturas que foram criadas por eles
e que permaneceram e permanecem por milhares de anos – incluindo inúmeros muros
de contenção. Com grande habilidade, cortaram, modelaram e assentaram pedras
com tanta precisão que as juntas são finas como papel. O concreto armado não seria
desenvolvido por mil anos, mas eles usaram o que tinham e aprenderam como fazê-lo
melhor com cada estrutura subsequente. Considere a Grande Muralha da China, por
exemplo, onde varas de bambu transversais foram usadas para amarrar as paredes – um
precursor da “terra mecanicamente estabilizada” de hoje. Esses primeiros engenheiros
também descobriram que, ao bater em uma parede, inclinando-a um pouco para trás, a
pressão lateral era aliviada e a altura podia ser aumentada – uma compreensão intuitiva
da teoria do Empuxo de Terra. Qualquer estudante de métodos antigos de construção
fica impressionado com a ingenuidade e realizações dos primeiros engenheiros.

Grandes avanços na compreensão de como funcionam os muros de contenção e como o


solo gera forças contra os muros apareceram nos séculos XVIII e XIX com o trabalho do
engenheiro francês Charles Coulomb , em 1776, que é mais lembrado por seu trabalho
em eletricidade, e mais tarde por William Rankine, em 1857. Hoje suas equações são
familiares para a maioria dos engenheiros. Um corpo significativo de trabalho foi a
introdução da mecânica do solo como ciência por meio do trabalho pioneiro de Karl
Terrzaghi, na década de 1920.

De fato, a mecânica do solo e o projeto de estruturas de contenção avançaram


dramaticamente nas últimas décadas, dando-nos novos conceitos de projeto, uma
melhor compreensão do comportamento do solo e, com sorte, projetos mais seguros e
econômicos.

31
CAPÍTULO 1
Conceitos e tipos de estruturas
de contenção

Estruturas de contenção são obras civis construídas com a finalidade de prover


estabilidade contra a ruptura de maciços de terra ou rocha. São estruturas usadas para
proporcionar estabilidade à terra ou a outros materiais em suas inclinações naturais.
Em geral, eles são usados para reter ou apoiar bancos de solo e água ou para manter
a diferença na elevação da superfície do solo em cada um dos lados da parede. As
estruturas de contenção têm por objetivo se opor a empuxos ou tensões geradas em
maciço cujo equilíbrio foi alterado por escavação, corte ou aterro.

Para reduzir a pressão hidrostática na parede das águas subterrâneas, deve ser usado um
sistema de drenagem adequado na forma de orifícios de drenagem, alternativamente, a
drenagem do subsolo atrás da parede pode ser empregada.

Figura 18. Terminologia estruturas de contenção.

crista
Terreno plano ou
reaterro
corpo
tardoz

base

fundação
dente

Fonte: Gerscovich, 2010.

Tipos de estruturas de contenção


Estruturas de contenção podem ser classificadas em muros, solos grampeados ou
cortinas ancoradas. Os muros podem ser de gravidade ou peso e muros de flexão. O primeiro
pode ser construído de alvenaria de pedras, gabiões, solo reforçado, concreto ciclópico
ou solo-cimento e o segundo em concreto armado e podem ser com ou sem contraforte
e com ou sem ancoragens. As estruturas em solos grampeados e cortinas ancoradas
serão estudadas no Capítulo 3 da Unidade III.

32
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

Muros de gravidade

O muro de contenção por gravidade depende de seu próprio peso apenas para resistir
à pressão lateral da terra. Geralmente, o muro de contenção por gravidade é maciço
porque requer uma carga gravitacional significativa para combater a pressão horizontal
do solo. Ao projetar a parede de contenção por gravidade, as forças de deslizamento,
tombamento e rolamento devem ser levadas em consideração. Muros de contenção são
comumente apoiados pelo solo (ou rocha) subjacente à laje de base ou apoiados em
estacas; como no caso de pilares de pontes e onde a água possa corroer ou cortar o
solo base, como nas estruturas frontais da água. Pode ser construído com diferentes
materiais, como concreto e alvenaria, gabiões ou ainda pneus. Este tipo de construção
não é econômico para paredes maiores que 3m.

Figura 19. Muro de arrimo de gravidade.

Reaterro

Topo

Muro de arrimo Tardoz

Talude de escavação
Face
Drenagem

Barbacãs (furos)

Terraplano


Base

Fonte: Albuquerque, 2003.

Muros de alvenaria de pedra

Os muros de contenção de alvenaria de pedra são muros de retenção do tipo gravitacional,


comumente usados para reter terra ou encher materiais e basicamente retêm as pressões
da terra em virtude de seu peso próprio.

Os muros de contenção de alvenaria de pedra do tipo gravidade são estruturas básicas


e simples, geralmente construídas com pedras disponíveis localmente. Ele pode ser
construído em formas e tamanhos variados, desde que o procedimento de projeto
adequado seja seguido.

33
UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

Para muros de pedras arrumadas manualmente, a resistência do muro se dará apenas


pela sobreposição dos blocos de pedra.

Para muros de pedra sem argamassa, a contenção de taludes é recomendada apenas


para alturas de até 2 metros. Para taludes de maior altura, é necessário adicionar
argamassa de cimento e areia para preencher os vazios dos blocos de pedras.

Figura 20. Muros de alvenaria de pedra.

Fonte: Gerscovich, 2010.

Muros de concreto ciclópico


ou concreto gravidade

O muro de concreto ciclópico apresenta uma fácil execução, que se constitui basicamente
em uma estrutura construída mediante o preenchimento de uma forma com concreto
e rochas de tamanhos variados. É economicamente viável apenas quando a altura não
exceda cerca de 4 metros. Devido à impermeabilidade deste muro, é imprescindível a
execução de um sistema adequado de drenagem.

Figura 21. Muros de concreto ciclópico ou concreto gravidade.

Dreno de
areia Barbacã

Fonte: Gerscovich, 2010.

34
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

Muros de gabião

Esses tipos de muro de contenção são constituídos por gaiolas metálicas retangulares
de malha de arame com fios de aço galvanizado em malha hexagonal com dupla torção,
preenchidas com pedras ou outros materiais adequados. É construído para a construção
de estruturas de controle de erosão. Os muros de contenção de gabião também são
usados para estabilizar encostas íngremes.

Uma parede de gabião é uma parede de retenção feita de gabiões empilhados e cheios
de pedra, amarrados com arame. As paredes do Gabião são geralmente danificadas
(inclinadas para trás em direção à encosta) ou recuadas com a encosta, em vez de serem
empilhadas verticalmente. A expectativa de vida dos gabiões depende da vida útil do
fio, não do conteúdo da cesta. A estrutura falhará quando o fio falhar. O fio de aço
galvanizado é o mais comum, mas também são usados fios revestidos de PVC e aço
inoxidável. Estima-se que os gabiões galvanizados revestidos de PVC sobrevivam por
60 anos. Alguns fabricantes de gabiões garantem uma consistência estrutural de 50
anos. Suas aplicações incluem:

» pilares da ponte;

» paredes de proteção de costa e praia;

» barragens de verificação temporária.

A principal característica dos muros de gabiões é a sua flexibilidade, que permite que a
estrutura se acomode a recalques diferenciais, e a permeabilidade.

Figura 22. Muros de gabião.

Fonte: Gerscovich, 2010. Fonte: https://fr.123rf.com/photo_60321067_pierre-avec-un-treillis-m%C3%A9tallique-


pour-la-protection-de-roche-tombant-de-la-montagne.html

35
UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

Muros em fogueira (“crib wall”)

Esses tipos de muros de contenção também são uma forma de muro de gravidade.
Eles são construídos em forma de “fogueiras” individuais interligadas, feitas de concreto,
aço ou madeira pré-moldados. Os espaços internos são preenchidos com pedra
(britas) ou outros materiais granulares mais grosseiros, para formar uma estrutura de
drenagem livre. Os tipos básicos de muros de contenção em fogueira incluem muros de
contenção de madeira e pré-moldado reforçado. Esse método é adequado para apoiar
áreas de plantio e é usado também em taludes cortados ou aterros, geralmente em obras
rodoviárias.
Figura 23. Muros em fogueira (“crib wall”).

Fonte: Gerscovich, 2010. Fonte: http://www.senhoreco.org/2018/02/muro-vivo-em-madeira-tipo-


cribwall.html.

Muros de pneus
Os muros de pneus são construídos pelo empilhamento horizontal de camadas de pneus,
ligados entre si e preenchidos com solo compactado. Atuam também como muros de
gravidade e tem como vantagem a flexibilidade e a reutilização de pneus descartados.
Como atuam como um muro de peso, os muros de solo-pneus possuem um limite de
altura inferior a 5 metros.
Figura 24. Muros de pneus.

Fonte: https://maranauta.blogspot.com/2015/11/pneus-podem-ser-base-de-muros-de.html.

36
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

Muros de sacos de solo-cimento

Esse tipo de estrutura de contenção é constituído a partir camadas de sacos (de poliéster
ou similar) preenchidos com uma mistura de solo e cimento em uma proporção entre
1:10 a 1:15, segundo a GEO-RIO (2014). Esse tipo de estrutura é de fácil execução e de
fácil adaptação à topografia local.

Figura 25. Muro de contenção com sacos de solo-cimento.

Perspectiva

Seção

Obturação de erosão com


solo ensacado

Fonte: Gerscovich, 2010.

Figura 26. Ilustração de muro com sacos de solo-cimento.

Fonte: http://www.maceio.al.gov.br/galeria/prefeito-visitas-grotas/attachment/prefeito-visita-grotas-20/.

37
UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

Muros de flexão

Esses tipos de muros resistem à flexão e possuem uma estrutura mais esbelta, em formato
de “L”. Quando projetados em concreto armado, não são viáveis para estruturas acima
de 5 a 7 metros, para esse caso, faz-se necessária a utilização de vigas de enrijecimento
e contrafortes. Os muros de flexão podem ainda ser ancorados na base com tirantes
ou chumbadores, a fim de aumentar sua estabilidade ou para casos em que o espaço
disponível não é suficiente para o tamanho da base do muro.

Figura 27. Muro com contraforte.

Contrafortes

Fonte: https://ced.ceng.tu.edu.iq/images/lectures/dr.farouq/ch8-Retaining-walls.pdf.

Figura 28. Ilustração de muro de contenção com contrafortes.

Fonte: https://gestaorisco.wordpress.com/registros-fotograficos/muro-de-contencao-com-contrafortes-feito-apos-deslizamento-
diadema-rua-chile-com-rua-equador/.

38
CAPÍTULO 2
Dimensionamento de estruturas
de contenção

Como já mencionado no capítulo anterior, existe uma vasta gama de diferentes tipos
de obras de contenção. Desta forma, este capítulo apresentará como deve ser feito o
dimensionamento de um muro de gravidade.

Muro de gravidade
O objetivo do dimensionamento de um muro de gravidade é de garantir a sua estabilidade
interna e externa, fazendo uso de análises de equivalência dos esforços atuantes com a
resistência dos materiais utilizados.

Primeiro, é feito um pré-dimensionamento utilizando critérios empíricos e projetos já


realizados anteriormente. Uma vez tendo as dimensões definidas, as análises essenciais
devem ser feitas e, por fim, as dimensões definidas devem ser verificadas para que
atendam a segurança de projeto.

Análise de estabilidade externa

Nesse tipo de análise, há quatro mecanismos clássicos de instabilidade em estruturas


de contenção (figura 29):

» ruptura global;

» deslizamento na base;

» tombamento;

» ruptura do solo de fundação.

Figura 29. Tipos de análise na verificação da estabilidade externa.


(a) Deslizamento (b) Tombamento

E E
δ

39
(c) Capacidade de carga da fundação (d) Ruptura global
δ

UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

(c) Capacidade de carga da fundação (d) Ruptura global

Fonte: https://geoacademy.com.br/courses/manual-tecnico-para-reforco-de-muros-e-taludes/lectures/1540172.

» Ruptura global:

A ruptura global está mais relacionada aonde o terreno está construído


do que à estrutura de contenção propriamente dita. Os fatores que mais
influenciam na ruptura são as características geométricas e geotécnicas
do terreno.

» Deslizamento:

A verificação da estabilidade ao escorregamento ou deslizamento consiste


na verificação das forças solicitantes (empuxo ativo) e resistentes sobre a
estrutura (empuxo passivo e atrito solo/estrutura). O fator de segurança
é dado pela relação entre as forças resistentes e solicitantes. Para esta
relação, o fator de segurança ao deslizamento (FSd) deve ser maior que
1,5. A figura 30 ilustra as forças consideradas.

Figura 30. Verificação da estabilidade quanto ao deslizamento.


b

P
Ea
H
δ

Tmax
N’

Uv

B
Fonte: Luiz, 2014.

40
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

Onde:

A partir da figura 30 podemos determinar:

Com Φ’sm = ângulo de atrito solo/muro, adotado como ângulo de atrito do


solo, Φ’. O peso do muro pode ser calculado a partir do peso específico do
material do muro (γm) e das suas dimensões, assim:

» Tombamento:

Para verificar a segurança ao tombamento, o fator de segurança é


calculado pela razão entre o momento resistente e o momento atuante
(exercido pelo empuxo de solo). O fator de segurança deve ser superior
a 2, de acordo com a equação 16. A figura 31 mostra os esforços e seus
pontos de atuação.

41
UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

Figura 31. Esforços na base do muro.


b

Esenδ

Ecosδ
z

Ew

a
k

2B/3 A

U R

Fonte: Luiz, 2014.

Para determinar o ponto de atuação da Resultante, R, utiliza-se a equação


17.

» Verificação da capacidade de suporte do solo de fundação:

Essa análise é válida apenas para muros localizados em terrenos


horizontais. O fator de segurança deve ser maior que 2,5.

42
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

Sendo:

Figura 32. Verificação da capacidade de suporte do solo da fundação.

P
Ea

q
N’

2e B’

B
Fonte: Luiz, 2014.

A tensão máxima dada pela equação 19 é válida para o caso em que a base
do muro não se encontre completamente comprimida.

Em que b0 é o comprimento da parte da base onde está submetida à


compressão.

Para calcular a capacidade de suporte da fundação (qmax), considera-se


a excentricidade da resultante (R) do empuxo de terra (Ea) e o peso do
muro (P) na base do muro. A equação 20 é válida para solos homogêneos.

Em que:

43
UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

Onde:

Quadro 3. Fatores de capacidade de carga.

Φ (graus) Nc Nq Nγ
0 5,14 1,00 0

15 10,98 3,94 2,65

20 14,83 6,40 5,39

25 20,72 10,66 10,88

30 30,14 18,40 22,40

35 46,12 33,30 48,03

40 75,31 64,20 109,41

45 133,90 134,90 271,76

Fonte: Luiz, 2014.

A relação entre a resultante das tensões normais efetivas e a dimensão da


base do muro é igual a carga aplicada, q.

Análise da estabilidade interna

A análise de estabilidade interna é feita com o objetivo de evitar a ruptura por


esmagamento do muro de contenção.
44
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

A estabilidade interna não é um fator tão preocupante nos muros de gravidade, pois
estes são constituídos por elementos sólidos e fortes, como pedras e concreto ciclópico.
Já para os muros de concreto armado, o dimensionamento deve seguir a norma NBR
6118, considerando as solicitações consequentes à sua esbeltez.

Para os muros de gabiões, a análise deve ser feita quanto às tensões de tração, por
meio da geometria do muro. O fator de segurança deve ser maior que 2, como mostra
a equação 23.

Com

Onde:

45
CAPÍTULO 3
Drenagem dos muros de arrimo

Para que uma estrutura de contenção se comporte de maneira satisfatória, é necessário a


utilização de sistemas de drenagem. Os sistemas de drenagem podem ser tanto internos
quanto superficiais.

Diversos sistemas de drenagem como canaletas transversais e longitudinais, caixas


coletoras, dissipadores de energia, podem ser selecionados para o projeto. O sistema
selecionado dependerá do tipo da área, se é uma área com vegetação, ocupação densa
etc., das condições geométricas do talude e do tipo de material (rocha ou solo).

Figura 33. Dispositivos de drenagem superficial.

(a) – Canaleta transversal (b) – Canaleta longitudinal (c) – Caixa de passagem

Fonte: Gerscovich, 2010.

A função dos sistemas de proteção de taludes é a de minimizar a infiltração e a erosão


provenientes da precipitação de chuvas sobre o talude. As opções de proteção superficial
podem ser classificadas em dois grupos: proteção com vegetação (figura 34a) e proteção
com impermeabilização (figura 34b). Mesmo não havendo uma regra para a elaboração
de projetos dessa natureza, uma alternativa a se considerar deve ser sempre a proteção
vegetal, para o caso de taludes artificiais.

46
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

Figura 34. Proteção superficial.

(a) – Cobertura vegetal (b) – Impermeabilização com concreto


projetado

Fonte: Gerscovich, 2010.

Sabemos que os processos de infiltração, resultantes da precipitação de chuva, podem


modificar as condições hidrológicas do talude, diminuindo as sucções e/ou aumentando
o tamanho das poropressões (figura 35). Para qualquer uma dessas mudanças, ocorre
uma redução da tensão efetiva e, como consequência, uma redução da resistência
ao cisalhamento do material, o que pode causar instabilidade. É importante
salientar que as mudanças nas condições hidrológicas em taludes localizados em
áreas urbanas ocorrem não apenas devido a infiltrações por água da chuva, mas
também em consequência de infiltrações oriundas de vazamentos em tubulações de
água e/ou esgoto.

Os drenos horizontais, drenos internos de estruturas de contenção, filtros granulares,


trincheiras drenantes longitudinais e geodrenos são exemplos de sistemas de
drenagem subsuperficiais, que têm como objetivo controlar as magnitudes de
pressões de água e/ou captar fluxos no interior dos taludes. Esses sistemas tendem a
provocar rebaixamento do nível piezométrico, assim o volume de água que flui ao
longo dos drenos é diretamente proporcional ao coeficiente de permeabilidade e ao
gradiente hidráulico.

47
UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

Figura 35. Redes de fluxo em muros.

Infiltração

(a) Muro de gravidade com dreno vertical

Infiltração

(b) Muro Cantilever com dreno inclinado

Fonte: Gerscovich, 2010.

As figuras 36 e 37 ilustram esquemas de sistemas de drenagem. Quando não houver


problema em drenar as águas para a frente do muro, podem ser implantados orifícios
drenantes ou barbacãs.

48
OBRAS DE CONTENÇÃO │ UNIDADE II

Figura 36. Sistemas de drenagem – dreno inclinado.

(a)
Canaleta

Proteção lateral

Aterro
Tubo de PVC
compactado
∅ 75

Filtro/material
drenantes

Tubo de drenagem

Canaleta
Concreto magro

(b)

Canaleta

Proteção lateral
Aterro
Tubo de PVC compactado
Material drenante
∅ 75 em sacos porosos

Filtro

Canaleta Material drenante

Concreto magro

(c)

Proteção lateral
Canaleta

Tubo de PVC Aterro


∅ 75 compactado

Filtro/material
drenantes

Canaleta
Tubo de drenagem
Concreto magro

Fonte: Gerscovich, 2010.

49
UNIDADE II │ OBRAS DE CONTENÇÃO

Figura 37. Sistemas de drenagem – dreno vertical.


Proteção lateral

Canaleta
Proteção lateral
Canaleta

Tubo de Filtro
PVC ∅ 75

Tubo de Aterro compactado


PVC ∅ 75 Aterro compactado
Canaleta
Filtro/material
Canaleta drenantes

Material drenante

Concreto magro (a) Tubo de drenagem (b) Concreto magro

Fonte: Gerscovich, 2010.

Durante o projeto e a execução da estrutura de arrimo, o sistema de drenagem deve


ser cuidadosamente acompanhado, verificando a posição do colchão de drenagem e
assegurando que não ocorra contaminação ou segregação durante o lançamento do
material.

Os muros que possuem a característica drenante, como crib wall e gabiões, também
necessitam de instalação vertical na face interna do muro, a não ser que o material de
preenchimento exerça a função de filtro.

50
EMPUXO SOBRE
ESTRUTURAS UNIDADE III
DE SUPORTE
Empuxo de terra é a ação lateral provocada por um maciço de solo sobre as obras de
contenção. A definição do valor do empuxo de terra é essencial para análise e o projeto
de obras como muros de arrimo. A interação solo/elemento estrutural é quem vai
determinar o valor do empuxo de terra, como também a distribuição de tensões ao longo
da estrutura de contenção. O empuxo que atua sobre a estrutura gera deslocamentos
horizontais, e esses deslocamentos modificam o valor e a distribuição do empuxo,
durante todas as fases de construção da obra.

Existem duas equações básicas para calcular os empuxos de terra. Nesta Unidade, será
abordada as teorias de Rankine e Coulomb que consideram o solo em equilíbrio plástico.

CAPÍTULO 1
Esforços que interferem no cálculo
de um muro de arrimo

O empuxo de terra é a resultante das tensões causadas pela massa de solo numa
determinada superfície, como em uma estrutura de contenção. Essas tensões são
geradas pelo próprio peso do solo, pelas cargas aplicadas no solo ou por carregamento
externo. Dessa forma, a estrutura que está em contato com o solo exerce uma função
de contenção, com a finalidade de resistir a esses esforços. E interação estrutura/solo é
que vai influenciar na distribuição de tensões e no valor do empuxo.

Para efeito de cálculo de estrutura de contenção, os estados de tensões no solo são


definidos pelos deslocamentos laterais ( ) e são divididos em três categorias. A primeira
(figura 38) é denominada estado ativo, , que ocorre quando o solo exerce pressão
contra o muro, empurrando-o, fazendo com que as pressões horizontais ( ) diminuam
até o limite plástico. Já quanto ao muro, é quem exerce esforço contra o solo, ocorre um
aumento da tensão horizontal ( ) até o limite plástico, denominado estado passivo,
. Por último, quando não ocorre pressões laterais, o estado do solo é denominado
estado de repouso.

51
UNIDADE III │ EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE

Figura 38. Situações de estado ativo e passivo.

∆ℎ

Ea

Ep

Fonte: Luiz, 2014.

Os cálculos de empuxo ativo e passivo são normalmente determinados pelas teorias


de Estados Limites, que podem ser de ruptura ou de utilização. Esta última depende
das magnitudes dos deslocamentos. Para que os estados limites ativo e passivo sejam
atingidos, é preciso que haja o deslocamento da estrutura. Os deslocamentos relativos
mínimos estimados para a mobilização dos estados plásticos ativo e passivo conforme
o tipo de movimento da estrutura, translação e rotação do pé, estão apresentados no
quadro a seguir.

Quadro 4. Deslocamentos relativos mínimos necessários à mobilização dos estados plásticos.

SOLO ESTADO MOVIMENTO


(%)
Translação
Ativo 0,1 a 0,5
Rotação do pé
Areia
Translação 5,0
Passivo
Rotação do pé > 10

Argila Translação
Ativo 0,4
média Rotação do pé

Argila Translação 1a2


Passivo
rija Rotação do pé 2a5

Fonte: Luiz, 2014.

O valor do coeficiente de empuxo no repouso dependerá de parâmetros geotécnicos do


solo, como, por exemplo, índice de vazios, ângulo de atrito e razão de pré-adensamento.

Empuxos no repouso
O empuxo no repouso se desenvolve quando a parede não experimenta movimento
horizontal, ou seja, nesse tipo de empuxo, existe um equilíbrio perfeito em que o maciço

52
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

de solo permanece completamente estável, sem nenhuma deformação na estrutura do


solo, em outras palavras, em equilíbrio estável. O empuxo é produto do coeficiente de
empuxo lateral no repouso (Ko) e da tensão efetiva vertical, somado a uma parcela da
poropressão.

Com

Onde:

σ’h = tensão principal horizontal efetiva;

σ’v = tensão principal vertical efetiva;

ko = coeficiente de empuxo no repouso;

u = poropressão.

Diversos parâmetros geotécnicos são necessários para se obter o valor de ko, como por
exemplo: ângulo de atrito, índice de vazios, razão de pré-adensamento etc.

Empuxo ativo e passivo

Os empuxos ativos são estruturas projetadas para suportar um maciço de solo.


Nesses casos, o solo tende a mover ou “empurrar” a estrutura de contenção. Já o empuxo
passivo reage na forma de resistência ao movimento do muro, esse tipo de estrutura é
“empurrada” contra o solo.

O cálculo de empuxo para as situações ativa e passiva é realizado de forma análoga


ao do repouso, onde os coeficientes de empuxo são substituídos por ka (coeficiente de
empuxo ativo) ou kp (coeficiente de empuxo no passivo).

Para empuxo ativo:

Para empuxo passivo:

53
CAPÍTULO 2
Estado plástico de equilíbrio – teorias
clássicas: teoria de Rankine e teoria
de Coulomb

Estado plástico de equilíbrio


Os estados plásticos de equilíbrio ou de equilíbrio plástico são as condições na qual
uma massa de solo se encontra atrás de um elemento de contenção em um estado de
falha incipiente. Uma massa de solo é dita em estado plástico quando todos os pontos
estão em estado de ruptura. A figura 39 mostra uma massa semi-infinita de solo seco
não coesivo. O elemento se encontra em condição geostática e as tensões que atuam na
parede vertical podem ser calculadas baseadas em:

Onde:

Os planos vertical e horizontal serão os planos principais, uma vez que não há tensões
cisalhantes. Considerando que no diafragma há um deslocamento, ocorrerá uma redução
da tensão horizontal sem que ocorra qualquer alteração da tensão horizontal.
Caso haja uma continuidade no deslocamento do diafragma, ocorrerá a ruptura.
Ou seja, diz-se que a região entrou em equilíbrio plástico e irá atingir seu limite
inferior (condição ativa).

54
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

Figura 39. Estado de equilíbrio plástico.

σv Z

σh

Diafragma
Fonte: Gerscovich, 2010.

A tensão horizontal atingirá a condição passiva (valor máximo de ruptura) se o


diafragma se mover na direção oposta. Assim, ocorrerá rotação de tensões principais,
isto é, .

A figura 40 ilustra os estados limites de acordo com o círculo de Mohr e a figura 41 exibe
os trajetos de tensões efetivas equivalentes à mobilização dos estados limites ativo e
passivo.

Figura 40. Círculos de Mohr representativos dos estados limites e de repouso.

δ Planos de ruptura

F Φ’
𝜋𝜋 Φ′
+ D
4 2

𝜋𝜋 𝜋𝜋 𝜋𝜋 Φ′
O + 𝜙𝜙′ − 𝜙𝜙′ −
B1 B 2 A 4 2 B2 σ
2
σ'ha σ'ho P σ'vo P’ σ'hp

C’

D’

F’
Fonte: Gerscovich, 2010.

55
UNIDADE III │ EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE

Figura 41. Trajetórias de tensões efetivas associadas aos estados ativo e passivo.

+
α

Trajetória para Linha Ko


estado ativo
𝜎𝜎′𝑣𝑣 − 𝜎𝜎′ℎ
2
𝑞𝑞 =

𝜎𝜎′𝑣𝑣 + 𝜎𝜎′ℎ
𝑝𝑝′ =
2
Trajetória para
estado passivo

Fonte: Gerscovich, 2010.

Nesse método, no qual a massa de solo é considerada semi-infinita e o diafragma


produz um estado de equilíbrio plástico em todo maciço, não acontece na prática (a não
ser que seja provocado por forças tectônicas). No caso de muros, os movimentos são
localizados e apenas geram mudanças nas vizinhanças da estrutura. A região afetada
será uma função do tipo de movimento e das condições de contorno do problema.

Teoria de Rankine

Para determinar o empuxo de terra sobre estruturas de contenção, a teoria de Rankine


se baseia na teoria de equilíbrio plástico. Surgirá, no momento da ruptura, infinitos
planos de ruptura e a plastificação de todo o maciço. Em síntese, no método de Rankine,
o solo é considerado em estado de equilíbrio plástico, e as seguintes hipóteses deverão
ser consideradas:

» solo homogêneo;

» solo isotrópico;

56
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

» superfície do terreno plana;

» parede vertical da estrutura de contenção em contato com o solo;

» relação estrutura/solo sem atrito, com empuxo paralelo à superfície do


terreno.

A equação de Rankine é uma versão simplificada da equação de Coulomb que não leva
em consideração a massa da parede ou o atrito na interface parede-solo. Como tal, é
uma abordagem conservadora para o projeto de muros de arrimo.

A abordagem de Rankine foi baseada em avaliar a tensão em um ponto do aterro


usando o círculo de Mohr para obter a tensão lateral mínima em um ponto do aterro.
Essa tensão lateral mínima corresponde ao caso “ativo”.

O uso da abordagem Rankine é recomendado para a maioria dos projetos de muros


de contenção cantilever. É conservador porque prevê uma força ativa maior que a
de Coulomb. Também é mais simples de calcular para a maioria das paredes e lida
facilmente com aterros inclinados e cargas adicionais.

Analisando as condições de empuxo no método de Rankine, foram obtidas as seguintes


equações:

» Terreno inclinado:

› Coeficiente de empuxo ativo (ka):

β = Ângulo da inclinação do aterro;

Φ = Ângulo de atrito interno do solo de aterro.

» Coeficiente de empuxo passivo (kp):

» Terreno horizontal:

› Coeficiente de empuxo ativo:

57
UNIDADE III │ EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE

› Coeficiente de empuxo passivo:

» Tensão de ruptura para solo coesivo:

Caso ativo:

Caso passivo:

Sendo:

c = coesão do solo;

σ’v = (tensão efetiva vertical) = γ’.z+q

Teoria de Coulomb

A teoria de Coulomb (1776) é baseada na teoria do equilíbrio limite (existência de uma


superfície de ruptura), e, ao contrário da teoria de Rankine, o atrito solo/muro (δ) é
considerado.

Quando comparado à teoria de Rankine, o método de Coulomb demonstra aplicações


mais amplas, por ser um método que é válido para condições irregulares de geometria
de muros e superfície de retroaterro, sem desconsiderar a resistência entre o muro e
o solo.

As seguintes hipóteses são consideradas:

» O solo é isotrópico e homogêneo e possui atrito e coesão internos.

» A superfície de ruptura é plana, a ruptura é considerada um problema


bidimensional.

» As forças de atrito são distribuídas uniformemente ao longo da superfície


de ruptura juntamente ao coeficiente de atrito solo/muro.

58
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

» O material encontra-se em estado de equilíbrio limite ao longo da


superfície de deslizamento, dessa forma, o estado de equilíbrio plástico é
derivado do peso de uma cunha de terra.

» A direção do empuxo e o ângulo de atrito entre solo/material do muro


são conhecidos.

Figura 42. Cunha e polígono correspondente de forças para empuxo ativo.


C

A β P

Ea
H
R φ
δ Ea P

α R
B

Fonte: Marangon, 2009.

Figura 43. Cunha e polígono correspondente de forças para empuxo passivo.

A β

Ep R Ep
δ
φ
P
R
α

B
Fonte: Marangon, 2009.

Para o caso de solos não coesivos (c = 0), as forças consideradas são: o peso da cunha P,
resistência do solo R formando um ângulo Φ em relação normal ao plano de ruptura e
o empuxo ativo sobre o muro Ea.

Partindo das condições de equilíbrio das três forças P, R e Ea, obtém-se, a partir de
métodos analíticos, as equações gerais para os empuxos ativo (Ea) e passivo (Ep).

59
UNIDADE III │ EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE

Segundo a teoria de Coulomb para solos não coesivos, os valores das resultantes e
coeficientes de empuxo são:

Na teoria de Coulomb para solos coesivos, além das forças P, peso da cunha, e R, parcela
de atrito, uma força de coesão, S, e uma parcela de adesão, T, devem ser consideradas.
Admite-se que trincas de tração se desenvolvam até uma profundidade Z0, a qual é
calculada de acordo com a teoria de Rankine:

O problema principal consiste em encontrar o valor máximo da força Ea, que, com as
demais forças, feche o polígono das forças (figura 44). As forças P, S e T são conhecidas
em grandezas e direção, e as forças R e Ea apenas em direção.

Figura 44. Cunha e polígono de forças para empuxo ativo considerado o solo coesivo.
A C

P
S

S T
Ea
T
δ
Ea P
R φ

A
Fonte: Marangon, 2018.

60
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

Para o caso de solos coesivos, o coeficiente de empuxo K deverá ser determinado pelo
desenho do polígono de forças. Isso deve ser feito para a situação de empuxo passivo,
considerando a posição da resultante Ep como mostrado acima para Ea.

61
CAPÍTULO 3
Aplicações – escoramento
das escavações

Aplicações de estruturas de contenção


Muros de contenção são usados em muitas áreas para reter terra ou qualquer outro
material. As áreas a seguir estão relacionadas aonde elas são comumente aplicadas.

Figura 45. Rodovias novas ou ampliadas em áreas desenvolvidas.

Fonte: Julius, 2018.

Figura 46. Estabilização de taludes novos ou existentes e proteção contra quedas de rochas.

Fonte: Julius, 2018.

62
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

Figura 47. Parede de inundação.

Fonte: Julius, 2018.

Figura 48. Portal de túnel.

Fonte: Julius, 2018.

Escoramento das escavações

A execução de contenções em escavações são obras civis muito comuns, especialmente


quando estas se encontram em áreas limitadas, a exemplo das obras urbanas. Isso pode
ser demonstrada na figura 49, onde, em (a), pode-se observar uma escavação contida de
uma vala e, em (b), uma escavação livre, sem contenção, onde assegura-se a estabilidade
pela execução de uma superfície inclinada nos seus limites.

63
UNIDADE III │ EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE

Figura 49. Escavação com contenção e livre em talude.

(a) (b)
Fonte: Cardoso, 2002.

O tipo de escavação em (b) é geralmente mais viável, porém requer uma maior área de
escavação devido ao talude, o que para áreas urbanas, é algumas vezes uma solução
considerada inviável.

A segurança é o principal motivo pelo qual as contenções ou a limitação da escavação


em taludes são executadas. As escavações são realizadas em solos, que geralmente
é bastante heterogêneo e cujas propriedades podem variar completamente devido a
pequenos fatores. Por exemplo, quando um solo é argiloso, que possui propriedades
coesivas, pode perder completamente suas propriedades quando saturado de água
proveniente de chuvas, o que o torna um solo propenso a desmoronamentos, colocando
em risco não só a obra, como também às vidas humanas que nela trabalham.

A contenção escorada de uma vala mostrada na figura 49 (a) é uma técnica bastante
utilizada nesse tipo de escavação, onde as paredes opostas se apoiam uma contra a outra
por meio de escoras horizontais denominadas de “estroncas”. Esse tipo de contenção
também seria capaz de ser executava sem as estroncas, com tanto que fossem adotadas
paredes verticais com maior capacidade de absorver aos esforços horizontais, resultando
em paredes com dimensões maiores e com maior consumo de material.

Contenções provisórias

As contenções provisórias são aquelas onde podem ser removidas quando cessada sua
necessidade.

Os principais tipos utilizados em obras são:

» contenções de madeira;

» contenções com perfis cravados e madeira;

» contenções com perfis metálicos justapostos.

64
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

Todos os três métodos resultam em contenções flexíveis, podendo ou não ser escoradas.

A contenção de madeira é o método mais simples dentre os três e é ilustrado na


figura 50.

Figura 50. Contenção escorada de madeira.

Fonte: Cardoso, 2002.

A contenção escorada de madeira é uma técnica empegue para escavações de pequenas


alturas, geralmente entre 1,5 e 2,5 metros, escavadas manualmente. Para escavações
mais profundas, a técnica que utiliza perfis metálicos cravados e pranchas horizontais
de madeira são recomendadas e também economicamente mais viável.

Cortina ancorada

No projeto de uma cortina ancorada, supõem-se que as forças horizontais causadas pelas
pressões de contato do solo sobre a estrutura precisam ser equilibradas pelos tirantes, já
o alívio das tensões normais verticais ocasionada pela escavação evidentemente não é.
Desta forma, os valores das tensões cisalhantes orientadas pelo processo de escavação
aumentam consideravelmente com a profundidade.

Uma cortina ancorada atua como uma contenção por meio de paredes verticais de
concreto armado com ancoragens fixadas no terreno. As paredes exibem espessura
entre 20 e 40 cm, estas são determinadas pelo espaçamento entre as ancoragens e pelas
cargas solicitadas. Na figura 51 é mostrada a seção transversal de uma cortina ancorada,
assegurando a estabilidade do terreno.

65
UNIDADE III │ EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE

Figura 51. Seção transversal de uma cortina ancorada típica.

Superfície potencial
de ruptura
Parede de concreto

Ancoragens

Fonte: Luiz, 2014.

Quando a cortina é construída com a finalidade de conter um talude que será cortado,
sua execução deverá ser feita pelo método descendente em nichos. Cada faixa deverá
ser escavada em nichos alternados, empregando as ancoragens nos trechos cortados e
os trechos não cortados serão ancorados em seguida. A cortina será construída (forma,
armadura e drenagem) após a execução de todos os tirantes da fileira. O objetivo das
escavações em nichos é a de garantir a estabilidade no decorrer da obra, reduzindo
deformações. As ancoragens precisam ser fixadas em regiões estáveis e receber uma
proteção para evitar corrosão. Na figura 52 são ilustradas as fases de execução da
cortina ancorada.

A ancoragem é constituída por calda de cimento e barra de aço, podendo ser dividido
em dois trechos: ancorado e livre. O trecho ancorado transmite a carga de tração ao
terreno por meio da calda de cimento e o trecho livre transmite a carga de tração entre
a cabeça da ancoragem e o trecho ancorado.

Figura 52. Fases de execução da cortina ancorada.

Fase 1 – Escavação de nichos

Corte Vista frontal

Fase 2 – Instalação de tirantes nos nichos


66
EMPUXO SOBRE ESTRUTURAS DE SUPORTE │ UNIDADE III

Fase 2 – Instalação de tirantes nos nichos

Fase 3 – Complemento da fase anterior

Fase 4 – Concretagem da primeira fila e escavação da próxima

Fase 5 – Repetição das etapas anteriores

Fonte: Luiz, 2014.

67
ESTABILIDADE DAS
ESTRUTURAS E UNIDADE IV
REBAIXAMENTO DO
LENÇOL FREÁTICO
A estabilidade das estruturas de contenção é, em muitos casos, considerada como a
solução técnica mais apropriada para a estabilização de movimentos de maciços. No
capítulo 1, aprenderemos que para verificação de um muro de gravidade, seja qual for a
sua seção, é necessário investigar algumas condições de estabilidade.

Os sistemas de rebaixamento do lençol freático são constantemente utilizados, uma


vez que há muitas obras subterrâneas; dessa forma, percebe-se que os impactos
negativos estão sendo cada vez mais reduzidos. O sistema de rebaixamento possibilita
a construção sob o lençol freático, pois aumenta a estabilidade dos taludes, facilita as
condições de escavação e reaterro, a necessidade de se utilizar ar comprimido durante a
escavação de túneis é praticamente reduzida ou eliminada e minimiza a carga lateral em
estruturas escoradas. No capítulo 2, você conhecerá quais os métodos de rebaixamento
do lençol freático existentes e qual o método mais indicado para determinados tipos de
solo e obras.

CAPÍTULO 1
Estabilidade das estruturas
de contenção

Algumas condições de estabilidade precisam ser examinadas quando tratamos da


verificação de muros; tal estabilidade é dependente da geometria e do próprio peso
da estrutura. Os muros precisam ser construídos com uma largura satisfatória, de
modo a impedir que tensões de tração possam surgir em seu interior. Os mecanismos
potenciais de ruptura que devem ser estudados quando precisamos garantir a
estabilidade do muro são:

» tombamento em relação ao pé do muro (figura 53a);

» deslizamento da base (figura 53b);

68
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO │ UNIDADE IV

» capacidade de carga da fundação do muro (figura 53c);

» ruptura global (figura 53d).

Figura 53. Estabilidade de muros de arrimo.

(a) Deslizamento da base (b) Tombamento

(c) Capacidade de carga (d) Ruptura global


Fonte: Adaptado de Gerscovich (2010).

Vamos analisar cada uma das situações apresentadas na figura 53.

Deslizamento de base

Para verificar o deslizamento ao longo da base, é preciso definir um fator de segurança


contra o deslizamento da base do muro (figura 54). Determinamos o fator de
segurança por meio da equação 40, que nada mais é do que razão entre a soma da força
resistente e a força solicitante , sendo que essa razão precisa sempre ser igual ou
superior ao valor de 1,5. Dessa forma:

Sendo:

: fator de segurança contra o deslizamento na base do muro;

: resultante das forças solicitantes (empuxo ou );

: resultante das forças resistentes.


69
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

Na figura 54, a força E representa o empuxo resultante, incluindo também o efeito da


sobrecarga q distribuída na superfície do retroaterro.

Figura 54. Verificação da estabilidade do muro contra o deslizamento na base.

Muro Reaterro

H
W E

T
N
Solo de fundação

B
Fonte: Marangon (2006).

Verificação do tombamento em relação


ao pé do muro

Para verificar a possibilidade de o muro tombar, é necessário verificar os momentos


que atuam na estrutura em relação ao pé do muro (figura 55). A equação 41 pode ser
utilizada para calcular o fator de segurança contra o tombamento.

Sendo:

: somatório dos momentos das forças resistentes;

: somatório dos momentos das forças solicitantes.

Figura 55. Análise de estabilidade do muro contra tombamento.

𝑊𝑊. 𝑎𝑎 + 𝛼𝛼𝐸𝐸𝑝𝑝 . 𝑏𝑏
𝐹𝐹𝐹𝐹 =
𝐸𝐸𝐴𝐴 . 𝑐𝑐
EA
W

Ep c
b

a
Fonte: Marangon (2006).

70
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO │ UNIDADE IV

é o chamado fator de redução do empuxo passivo, recomendado devido a possibilidade


de erosão ou escavação do solo no pé do muro e a diferença entre os deslocamentos
necessários para mobilizar os empuxos passivo e ativo. Em geral, o valor de alfa está
entre 0 e 1/2, sendo que o mais usual é 1/3.

Verificação da capacidade de carga


do solo de fundação

Por meio da figura 56, podemos notar que a distribuição de pressões verticais na base
do muro possui uma forma trapezoidal não uniforme, causado pelo peso W combinado
com o empuxo E. Dessa forma, temos:

Sendo:

e : pressões verticais máxima e mínima na base do muro;

: somatório das forças verticais;

e : área e largura da base do muro;

: excentricidade da resultante N em relação ao centro da base do muro.

Normalmente, é recomendado que para que se evite a ruptura do


solo de fundação do muro, onde representa a capacidade de suporte e é calculada
pela equação 43, onde a base do muro é considerada uma fundação corrida. Afim de
evitar pressões de tração na base do muro, fica sendo necessário que , ou ainda
.

Sendo:

: largura equivalente da base do muro;

: coesão do solo de fundação;

: peso específico do solo de fundação;

: fatores de capacidade de carga (quadro 5);

: sobrecarga efetiva no nível da base da fundação.

71
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

Figura 56. Distribuição de pressões na base do muro em forma trapezoidal.

H EA
W
𝑐𝑐

𝜎𝜎𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚 𝜎𝜎𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚𝑚

N
𝑒𝑒

B
Fonte: Marangon (2006).

Quadro 5. Fatores de capacidade de carga.

(graus)

0 5,14 1,00 0,00


2 5,63 1,20 0,15
4 6,19 1,43 0,34
6 6,81 1,72 0,57
8 7,53 2,06 0,86
10 8,35 2,74 1,22
12 9,28 2,97 1,69
14 10,37 3,59 2,29
16 11,63 4,34 3,06
18 13,10 5,26 4,07
20 14,83 6,40 5,39
22 16,88 7,82 7,13
24 19,32 9,60 9,44
26 22,25 11,85 12,54
28 25,80 14,72 16,72
30 30,14 18,40 22,40
32 35,49 23,18 30,22
34 42,16 29,44 41,06
36 50,59 37,75 56,31
38 61,35 48,93 78,03
40 75,31 64,20 109,41
42 93,71 85,38 155,55

72
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO │ UNIDADE IV

(graus)

44 118,37 115,31 224,64


46 152,10 158,51 330,35
48 199,26 222,31 496,01
50 266,89 319,07 762,89

Fonte: Marangon (2006).

Verificação da ruptura global

Essa verificação está relacionada à segurança do conjunto muro-solo. A figura 57


representa uma superfície de escorregamento ABC, cuja ruptura do terreno segundo
essa superfície também precisa ser investigada.

Figura 57. Estabilidade global.

A B

Fonte: Gerscovich, 2010.

Verificar um sistema de contenção em relação a sua segurança quanto a estabilidade


geral equivale a se verificar um mecanismo de ruptura global do maciço. Para esse
caso, é necessário que se considere a estrutura de contenção como sendo um elemento
interno à massa do solo, que poderá se deslocar como um corpo rígido. Geralmente, para
essa verificação, é preciso que se garanta um coeficiente de segurança adequado à
rotação de uma massa de solo se deslocando ao longo de uma superfície cilíndrica, por
meio de:

Obras provisórias

Obras permanentes

73
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

Usualmente, obtém-se parâmetros de resistência para a condição de ruptura do solo.


Em determinados projetos, é preciso que haja uma correção por meio de fatores de
redução pela equação 44:

Sendo:

e : o ângulo de atrito e a coesão para dimensionamento, respectivamente.

e : o ângulo de atrito e a coesão de pico, respectivamente.

e : são o fator de redução para atrito e o fator de coesão, respectivamente.

e devem ter valores entre 1,0 e 1,5, conforme o grau de importância da obra
e da confiança na estimativa dos valores dos parâmetros de resistência e .
Para exemplificar, o quadro a seguir mostra os valores dos parâmetros geotécnicos que
são tipicamente utilizados no pré-dimensionamento de muros de contenção com solos
na região do Rio de Janeiro.

Quadro 6. Valores típicos de parâmetros geotécnicos para projeto de muros.

Tipo de solo (kN/m³) (graus) (kPa)

Aterro compactado
19 – 21 32 – 42 0 – 20
(silte areno-argiloso)
Solo residual maduro 17 – 21 30 – 38 5 – 20
Colúvio in situ 15 – 20 27 – 35 0 – 15

Areia densa 18 – 21 35 – 40 0
Areia fofa 17 – 19 30 – 35 0

Pedregulho uniforme 18 – 21 40 – 47 0
Pedregulho arenoso 19 – 21 35 – 42 0

Fonte: Gerscovich (2010).

Os parâmetros de resistência precisam ser reduzidos no contato do solo com a base do


muro. Esse contato sempre é amolgado e a camada superficial geralmente é alterada e
compactada, antes de a base ser colocada. Sendo assim, consideramos:

Ângulo de atrito solo muro

Adesão a

74
CAPÍTULO 2
Métodos de rebaixamento
do lençol freático

O rebaixamento do lençol freático está cada dia mais sendo utilizado. Um dos motivos
é o aumento do número de obras subterrâneas. Ao longo dos anos, muitos métodos
utilizados para executar o rebaixamento foram criados. Ponteiras filtrantes passou a
ser o processo mais utilizado e, além dele, outros métodos para o rebaixamento do
lençol freático são os poços de bombeamento, cavas e valetas e galerias de drenagem.
Vamos analisar as principais aplicações, vantagens e as desvantagens desses e de alguns
outros métodos.

Bombeamento direto
De todos os sistemas, esse é o mais simples, por vezes ele também é chamado de
esgotamento de vala e nada mais é do que recalcar a água para fora da área de trabalho
e a conduzir por meio de valetas executadas no fundo da escavação, onde essa água se
acumula em poços abaixo da escavação. O recalque precisa ser executado por bombas
quando a água atinge certo volume. Para terrenos inclinados, o uso da bomba pode ser
dispensado e, em seu lugar, utilizar uma valeta para o afastamento das águas coletadas.
O bombeamento direto é muito utilizado em obras de curta duração, ele é fácil de
construir e possui um custo baixo.

O método de rebaixamento por bombeamento direto apresenta alguns inconvenientes,


por isso, deve ser empregado somente em obras pequenas e de baixa complexidade.
O carreamento de partículas finas do solo pela água pode provocar recalques acentuados
em estruturas próximas à escavação, como por exemplo, ruas e calçadas. Por conta
disso, a infraestrutura pública pode ser afetada, como tubulações de esgoto, gás, água
etc. Uma maneira de evitar que isso ocorra é estar sempre observando a condição da
água que está saindo das bombas, a fim de verificar se o carreamento de partículas do
solo está acontecendo. Se o carreamento estiver ocorrendo, uma alternativa pode ser
o uso de filtros (geotêxtil) no sistema de captação da água ou ainda o sistema pode
ser aprimorado pela execução de drenos horizontais profundos, podendo até mesmo
ser complementado por trincheiras drenantes.

Para os casos de terrenos permeáveis, o nível interno de água abaixa mais rápido do que
no nível externo, devido à diferença de carga. Esse fato causa um fluxo de água para o
lado de dentro da escavação pelo fundo da vala, assim, quando o gradiente hidráulico
75
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

atingir seu valor crítico, ocorrerá o fenômeno conhecido como areia movediça e o fundo
da vala fica incapacitado de receber cargas de uma fundação rasa.

Outro inconveniente que podemos citar aqui é uma possível ruptura no fundo da
escavação, fato que ocorre principalmente devido à subpressão da água se tornar maior
do que o peso efetivo do solo. Para que isso seja evitado, pode-se empregar escoramentos
não estanques, que irão escorar as laterais da escavação sem que ocorra o aumento das
tensões do solo, que leva a ruptura do fundo da vala.

Em relação à execução, o método de rebaixamento por bombeamento direto pode ser


executado por meio das seguintes etapas:

» Abrir valetas de crista a fim de coletar as águas das chuvas.

» Executar uma vala profunda no contorno da escavação até atingir uma


camada impermeável ou o lençol freático para então instalar bombas de
recalque para operar até a extração total da água do maciço.

» Escavar o maciço e onde existir desbarrancamento, executar a proteção


do talude, mantendo as bombas em operação, conforme a escavação dor
se aprofundando, deslocar as bombas para baixo.

Ponteiras filtrantes

As ponteiras filtrantes também são conhecidas como Well Point (Em inglês) ou ainda
sistemas de poços filtrantes. Por meio delas, é possível rebaixar o nível do lençol freático
de toda a área de trabalho. Frequentemente, são utilizadas em solos moles, de baixa
consistência.

Ponteiras são tubos de ferro galvanizado ou PVC, possuindo diâmetros entre 1 1/4” e 1
1/2” e comprimento entre 0,30 a 1,00 m, perfurados e envolvidos por tela de nylon com
malha de 0,6 mm ou ainda por geotêxtil, que possui uma menor eficiência. Em solos
arenosos e de pouca profundidade, é possível executar a ponteira sem tela ou geotêxtil.
Cada ponteira pode retirar a vazão de até 1 m³/h, em condições favoráveis pode chegar
a 2 m³/h.

Já a câmera de vácuo é caracterizada por um recipiente composto por um cilindro ou


prisma quadrangular, estanque, que é ligado a uma bomba de vácuo e ao tubo coletor,
onde a água é extraída do solo através de sucção das ponteiras. A câmera de vácuo
ainda contém uma válvula de alívio que está ligada a uma boia, no momento em que
a água dentro da câmera atinge a boia, ela é empurrada para cima e aciona a válvula,
isso faz com que o ar entre, possibilitando a diminuição do vácuo e a redução da vazão

76
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO │ UNIDADE IV

de entrada da água. Assim, a válvula de alívio é fechada, pois o nível da água dentro da
câmara diminui.

As bombas de vácuo se acoplam à câmara de vácuo ou a uma tubulação de descarga


localizada ao longo das ponteiras, para o caso onde não existe a câmara deve-se atentar
para uma boa vedação das conexões. A bomba vai retirar o ar e por meio disso reduzir a
pressão atmosférica dentro da tubulação ou da câmara, realizando a sucção da água do
solo por meio das ponteiras filtrantes e do coletor.

O princípio geral do sistema envolve a área em que o nível do lençol precisa ser rebaixado
com uma linha coletora ligada à bomba. Em primeiro lugar, é preciso executar a
instalação das ponteiras, faz-se isso perfurando poços com diâmetros que variam entre
10 e 15 cm e, então, insere-se as ponteiras conectadas a tubos que vão até acima da
superfície. Só a partir do momento que a ponteira está instalada no fundo do poço que
a vedação na parte superior do poço no nível do solo pode ser executada. A instalação
das ponteiras deve ser em uma profundidade um pouco maior do que a profundidade
do ponto mais baixo de escavação, em relação ao espaçamento entre elas, ele não pode
ser inferior a 15 vezes o diâmetro do tubo, reduzindo a influência recíproca de umas
sobre as outras.

Tubos verticais estão conectados ao tubo coletor, unidos articularmente por um visor
especial que permite o exame de cada uma das ponteiras. Esses tubos são ligados a um
sistema de bombas capazes de aspirar a água vinda do solo por meio das ponteiras.
Um tubo de descarga sai desse sistema, com a capacidade do coletor, responsável por
conduzir a água a um local apropriado. O trecho das bombas deve ser mais elevado,
então, a rede precisa ter um pequeno aclive no seu sentido, pois isso evita que sejam
formadas bolsas de ar no interior das tubulações.

A principal vantagem do método de ponteiras filtrantes é uma instalação simples e um


custo baixo, por isso essa é uma opção bastante utilizada. O método também evita o
carreamento de partículas do solo, problema muito comum quando se utiliza do método
de bombeamento direto e, portanto, a erosão interna regressiva. A possibilidade de
reprimir a rebaixamento do lençol freático nos arredores das linhas das ponteiras é
uma outra vantagem, responsável por evitar rebaixamentos indesejáveis. Porém, se
considerarmos solos permeáveis e ao nível do mar, o método das ponteiras filtrantes
possibilita um rebaixamento de no máximo 7 m, podendo chegar a 9 m em situações
cuidadosas. Para os solos menos permeáveis, apenas 5 m. Uma solução para situações
em que se necessita maior profundidade é executar o rebaixamento em mais de um
estágio, operando as próximas etapas a partir do rebaixamento da etapa anterior.
Porém, geralmente, não é economicamente viável ultrapassar dois estágios de
rebaixamento, para esses casos, o emprego de bombas submersas é preferível.

77
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

Poços profundos

O método de rebaixamento através de poços profundos foi desenvolvido com o objetivo


de superar as limitações de profundidade encontradas no sistema de ponteiras.
O sistema de poços profundos pode ser de dois tipos: empregando injetores ou bombas
de recalque submersas de eixo vertical.

No primeiro tipo, utilizando injetores para o rebaixamento, poços de diâmetro entre


200 e 400 mm e profundidade máxima de 40 m são executados e os injetores instalados.
A distância de perfuração entre esses poços deve variar entre 4 e 8 m. Frequentemente,
são utilizados tubos paralelos, porém, há uma variante, que é a utilização de tubos
concêntricos. Uma perfuratriz rotativa é utilizada para a perfuração dos poços; ela gira
um revestimento metálico que possui uma coroa de perfuração em sua extremidade
inferior, capaz de desagregar o solo. Durante a perfuração, é necessário que água seja
injetada através do interior do revestimento, e é importante que não se utilize lama
bentonítica com o objetivo de estabilizar as paredes do poço, isso formaria uma lama
impermeável indesejável que pode prejudicar o funcionamento do sistema.

Assim que a perfuração é concluída, é preciso colocar um tubo ranhurado, que pode ser
de aço ou PVC, no interior do poço. Esse tubo deve possuir um diâmetro variando entre
100 e 200 mm e também precisa estar envolto em tela de nylon com malha de 0,6 mm,
para garantir uma coincidência perfeita entre o poço e os eixos do tubo, pois ele precisa
ser dotado de centralizadores. O tubo precisa possuir uma área em sua parte inferior
sem ranhuras, para permitir a decantação de partículas do solo que poderão passar pela
malha de nylon.

A utilização de tubos ranhurados reduzem o custo do sistema, por outro lado, a vazão
do poço também é reduzida, o que pode comprometer o sistema, tornando-o ineficaz
para se alcançar o rebaixamento pretendido, isso porque as ranhuras formam uma
perfuração do tubo irregular. Então, é recomendado que se utilize um tubo filtrante
para obter um melhor desempenho do sistema.

Quando o tubo de revestimento é retirado, preenche-se o espaço vazio entre o


revestimento do poço e o tubo ranhurado com areia graduada, formando o pré-filtro.
Para avaliar o desempenho do filtro e do pré-filtro, é colocado um medidor de nível de
água nesse pré-filtro, junto à parede do poço. A partir daí o poço é selado com argila ou
bentonita, para então ser instalado o injetor no interior do tubo.

Os procedimentos para a perfuração dos poços são baseados em um sistema que


trabalha como um circuito semifechado. Nele, a água é injetada através de uma bomba
centrífuga por meio de uma tubulação horizontal, possuindo saídas conectadas aos

78
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO │ UNIDADE IV

tubos de injeção, responsáveis por conduzir a água sob alta pressão, até o injetor,
localizado no fundo do poço. A água injetada passa pelo bico Venturi do injetor onde
se encontra com a água que foi extraída do solo. A água sobre pelo tubo de retorno,
e esse tubo possui um maior diâmetro se comparado ao tubo de injeção. Os tubos de
retorno estão em contato com uma tubulação denominada coletor geral, responsável
por conduzir a água até um reservatório. O coletor geral é instalado de maneira paralela
ao distribuidor geral. Dessa forma, o nível de água presente no reservatório é mantido
sempre constante, e o excesso de água é conduzido para fora da obra.

O funcionamento do sistema de rebaixamento com injetores de tubos concêntricos


funciona do mesmo modo que o de tubos paralelos, a diferença é que, para os tubos
paralelos, a disposição do tubo de retorno é feita internamente e concêntrico ao
tubo injetor.

Se comparado com o sistema de ponteiras filtrantes possuindo mais de 3 níveis, esse


método tem a vantagem de possibilitar que o nível do lençol freático seja rebaixado a
grandes profundidades, e isso o torna economicamente mais vantajoso. Além dessa
vantagem, podemos citar outras, como por exemplo, a capacidade de funcionar com a
presença de sólidos na água e a operação intermitente. Isso significa que mesmo quando
não houver água suficiente para ser bombeada, no interior do poço, o sistema não será
danificado. A desvantagem está relacionada com a baixa vazão, limitada na faixa de
4m³/h, fato que obriga a execução de vários poços.

O método de rebaixamento por poços de bombeamento pode ser aplicado em todos


os tipos de solos e rochas. Os poços precisam ser construídos com espaçamento
pré-determinado, mas em função do tipo e das condições do solo. Geralmente, são
posicionados individualmente, o que possibilita um sistema de rebaixamento mais
eficiente.

A maneira de perfurar o poço e instalar o tubo filtrante é semelhante ao processo para


o uso de injetores. O diâmetro do poço deve estar entre 400 e 600 mm e o diâmetro do
tubo filtrante na faixa dos 200 mm.

Para extrair a água, executa-se um conjunto motor-bomba que é submersível e está


instalada dentro do tubo filtrante. Eletrodos ligados ao motor da bomba acionam e
desligam as bombas de maneira automática por meio do contato com a água.

Utilizando esse sistema para se obter o rebaixamento do lençol freático, pode-se atingir
grandes áreas possuindo um formato de cone, por isso são chamadas de cone de
rebaixamento. Para medir a extensão da área atingida, utiliza-se da distância máxima
de ocorrência de rebaixamento a partir do poço em operação. Essa distância pode ser de
centenas de metros para casos de lençóis freáticos que estão confinados ou sob pressão.

79
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

Variáveis como profundidade, duração e vazão necessária determinarão a escolha do


tipo de bomba e demais características desse sistema de rebaixamento. Por exemplo,
se há necessidade de bombeamento com longa duração e em elevadas vazões e
profundidades, serão utilizados poços profundos possuindo bombas submersas.

Esse sistema é capaz de recalcar água com profundidades maiores de 100 m e vazão
superiores a 60 m³/h. Ele requer um conhecimento prévio a respeito das condições
geológicas e hidrogeologias da área de trabalho. Por meio de dados, como por exemplo,
espessura do solo ou rocha, condições de recara do aquífero, características da estrutura
geológica, entre outros, é possível desenvolver um projeto do poço de bombeamento e
também a disposição em planta e profundidade dos vários poços, com dimensionamento
dos diâmetros de perfuração e descarga, granulometria do pré-filtro, comprimento do
tubo filtrante, capacidade e tipo das bombas.

Drenagem por eletrosmose

Solos que possuem granulometria muito fina não permitem uma drenagem muito
eficiente por meio dos métodos de poços profundos ou ponteiras filtrantes. O método
de drenagem por eletrosmose surge como forma de resolver esse problema. Esse
método tem como premissa aplicar uma corrente elétrica de forma contínua, o que
cria um gradiente adicional de natureza elétrica que acelera o movimento da água
nos espaços vazios do solo. Ponteiras filtrantes são instaladas para a execução do
sistema, consistindo em cátodos, que são eletrodos com carga negativa e ânodos
(hastes) que são os eletrodos com carga positiva. A instalação dos eletrodos é em
aproximadamente 2 m abaixo do fundo da escavação. O espaçamento entre os
cátodos deve variar entre 8 e 12 m, sendo que esse espaço deve ser intercalado
pelo ânodo.

Os íons com carga positiva presentes na água são atraídos pelas partículas de carga
negativa do solo, constituindo a camada dupla. No momento em que um gradiente
elétrico é aplicado, o cátodo vai atrair os íons positivos da água, transportando a água
que está presente nos vazios do solo. Para evitar o aquecimento do solo, a voltagem
aplicada não deve ser muito elevada (por volta de 12 Volts).

A água caminha em direção às ponteiras filtrantes, que é o cátodo. Sua retirada é feita
por meio de um conjunto de bombas centrífuga e de vácuo.

Esse não é um método muito utilizado no Brasil, é mais usado como um processo de
estabilização do solo de talude e fundo do poço, além de ser um sistema que utiliza
muita energia elétrica.

80
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO │ UNIDADE IV

Drenos

O método de dreno se divide em drenos de alívio e drenos horizontais profundos.


Os drenos de alívio são responsáveis por auxiliar na redução da pressão da água no
interior do maciço geológico. Nas rochas, eles são constituídos por meio de perfurações
feitas empregando equipamentos de rotopercursão, geralmente os diâmetros ficam na
ordem de 75 mm. Por não utilizar filtros para drenagem, o emprego desse sistema deve
ser em rochas bem consolidadas, nas quais o carreamento de partículas e, portanto,
a erosão interna regressiva, não são possíveis. Em situações em que é necessário
executar o dreno de alívio em solos, o dreno a ser utilizado é o preenchido com
areia, geralmente são empregados para a consolidação de fundações ou na fundação
de aterros.

A utilização do dreno horizontal profundo é para drenagens localizadas de camadas


do maciço geológico. Ele deve ser posicionado individualmente, devido ao efeito
localizado, porém, também podem ser dispostos em arranjos com espaçamento variável.
A execução do dreno horizontal profundo é feita através de uma perfuração
sub-horizontal seguindo uma inclinação de 5 a 10º para cima, como forma de
proporcionar a saída da água por meio da gravidade. Uma tubulação de PVC rígida é
introduzida na perfuração, o diâmetro da tubulação está entre 38 e 50 mm, em que a
maior parte é composta por um tubo filtrante envolto por geotêxtil instalado em solo
ou ainda para situações em que é instalado em rocha, envolvido em duas voltas de tela
plástica. Uma sucção na tubulação de coleta de água pode ser aplicada para obter uma
melhor eficiência do sistema, através de uma bomba de vácuo.

A localização do dreno horizontal profundo deve ser de tal forma que a extensão do
tubo filtrante imersa no aquífero seja a maior possível. É necessário que se conheça
a distribuição da camada constituinte do aquífero, em casos que estão confinados, e
também como se comporta a superfície do lençol freático, para o caso de aquíferos
livres, antes da instalação do dreno horizontal profundo. Na grande maioria dos casos,
há caminhos de percolação preferenciais nos maciços geológicos, e eles concentram a
água subterrânea que, por vezes, são de difícil localização. Para esses casos, é preciso
que se execute tentativas até encontrar o correto posicionamento do dreno horizontal
profundo.

Esse método é indicado na fundação de aterros, na drenagem de taludes de corte e


também na drenagem de aquíferos sob pressão em túneis escavados em maciços
de solo.

81
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

Galeria de drenagem

As galerias de drenagem são especialmente importantes para o caso de maciços


de rocha ou solo possuindo diâmetro inferiores a 3 m. Para o caso de galerias não
revestidas, a drenagem é realizada através da própria parede do maciço, quando a
drenagem é revestida, drenos de alívio são instalados, no caso de rochas; para solos, são
instalados drenos horizontais. A instalação dos drenos é feita a partir das paredes em
sentido radial.

A utilização das galerias de drenagem é para o caso de outros sistemas serem inviáveis
ou insuficientes no alcance do rebaixamento que se pretende alcançar ou ainda para
quando se pretende retirar um volume muito alto de água do maciço. Geralmente, as
galerias de drenagem são usadas em cavas de mineração, em maciços rochosos sob
fundações de barragens e em taludes. O Brasil não utiliza muito esse tipo de sistema
pois a galeria possui um custo muito elevado de construção.

82
CAPÍTULO 3
Fatores condicionantes para a escolha
do método de rebaixamento –
considerações sobre a execução dos
projetos de rebaixamento

O fluxo do lençol freático pode causar danos ou interferências durante a obra, por isso
é de fundamental importância a avaliação desses danos para que se possa escolher o
melhor método de rebaixamento a ser utilizado. Se as interferências forem razoáveis,
drenos e poços rasos poderão ser utilizados para retirar o excesso de água do local.
Porém, se os danos forem grandes ou estiverem dificultando a obra, um sistema
adequado de rebaixamento, temporário ou definitivo, poderá ser adotado.

Métodos de rebaixamento como ponteiras filtrantes e poços profundos são sistemas


considerados convencionais, geralmente são projetados, instalados e operados por
empresas especializadas. Porém, há casos em que é necessário que o projetista, o
executor da obra e a empresa responsável pelo rebaixamento trabalhem em conjunto.
Exemplos desses casos são a presença de solos muito ou pouco permeáveis ou locais em
que há possibilidade de problemas de alívio de pressões neutras.

A escolha do método de rebaixamento a ser utilizado requer a análise das seguintes


informações:

» nível estático do lençol freático;

» cota do fundo da escavação;

» cota do horizonte impermeável;

» croqui de localização da área com detalhes de rios, vales, lagos, mar;

» sondagens STP – Standard Penetration Test e descrição litológica.

Os principais fatores que influenciam na escolha do método de rebaixamento são:

» Tipo de obra: quando as escavações são rasas e o rebaixamento for de


até 6 metros, o sistema de rebaixamento com ponteiras filtrantes deverá
ser adotado. Para casos em que é preciso um rebaixamento maior, o
sistema de rebaixamento adotado deve ser por poços profundos e
bombas submersas para grandes vazões de água ou injetores para uma
menor vazão.

83
UNIDADE IV │ ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO

» Condições da superfície: fatores como a formação geológica,


natureza do subsolo, permeabilidade e drenabilidade do solo ou rocha
são essenciais para definição do método de rebaixamento a ser escolhido.

» Altura de rebaixamento e quantidade de água a ser bombeada:


é de extrema importância que seja verificada a quantidade de água
que fluirá para o interior da escavação. A determinação do método de
rebaixamento e os equipamentos necessários dependerá da vazão a ser
rebaixada e da profundidade.

» Natureza do aquífero e fontes de percolação: em relação à


natureza, os aquíferos podem ser divididos em artesianos ou livres.
Aquíferos artesianos são aqueles em que a água está confinada sob uma
pressão superior à atmosférica, isso ocorre devido a um desnível em
sua superfície ocasionada entre duas camadas de baixa permeabilidade.
Diferentemente dos aquíferos artesianos, nos aquíferos livre, também
chamados de lençóis freáticos, a superfície da água possui pressão igual
à atmosférica.

Quadro 7. Considerações sobre a execução dos projetos de rebaixamento.

SISTEMA CAMPO DE APLICAÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS

Dificuldade de instalação em cascalho.

Instalação rápida e fácil. Rebaixamento limitado.

Areia fina a média siltosa. Baixo custo. Para rebaixamentos maiores, são
Ponteiras filtrantes necessários vários níveis.
Escavações rasas a pouco profundas. Flexível.
Necessidade de supervisão da
Rebaixamento localizado. operação.
Instalação junto da escavação.
Baixa vazão.
Instalação simples. Profundidade limitada.
Areia média até cascalho. Baixo custo de instalação e
Poços de Necessidade de supervisão da
bombeamento com Rebaixamento de lençóis escalonados. operação. operação.
bombas injetoras Escavações pouco profundas. Baixa manutenção. Necessidade de geradores de reserva
Rebaixamento localizado. para falta de energia.
Instalação próxima à escavação.
Instalação a qualquer
profundidade.
Custo elevado.
Areia fina siltosa até cascalho. Sem limite para
rebaixamento. Necessidade de supervisão da
Poços de Rebaixamento de lençóis escalonados. operação.
bombeamento com Instalação afastada da
bombas submersas Rochas porosas e fraturadas. escavação. Necessidade de geradores de reserva
para falta de energia.
Escavações profundas e subterrâneas. Vazões elevadas.
Grande área de influência
Muito eficientes em lençóis
cortinados.

84
ESTABILIDADE DAS ESTRUTURAS E REBAIXAMENTO DO LENÇOL FREÁTICO │ UNIDADE IV

SISTEMA CAMPO DE APLICAÇÃO VANTAGENS DESVANTAGENS

Sem limite para o


Grandes vazões. rebaixamento.
Estabilização de escorregamentos. Funciona por gravidade.
Galeria de drenagem Custo inicial elevado de instalação.
Cavas de mineração. Permite galerias auxiliares.
Fundações de barragens. Área de influência ampliada
com drenos.
Rochas ou solos.
Efeito localizado. Aplicação da sucção por meio de
Drenagem localizada de camadas uma bomba de vácuo para melhor
Drenos horizontais do maciço geológico, aquíferos sob Posicionamento individual. eficiência.
profundos pressão em túneis escavados em Comprimento dos drenos no Execução do posicionamento por
maciços de solo, taludes de corte e máximo de 50 metros. tentativa.
fundação de aterros.
Probabilidade de carreamento de
Baixo custo. partículas finas.
Bombeamento direto Obras de pequena duração.
Fácil construção. Recalques acentuados em estruturas
vizinhas à escavação.
Solos siltosos.
Solos argilosos. Aceleração do movimento da Utiliza bastante energia elétrica.
Eletrosmose
água nos vazios do solo. Não é comumente utilizado no Brasil.
Estabilização do solo de talude e fundo
de poço.

Fonte: Muller, 2004.

85
Referências

ALBUQUERQUE, Paulo. Fundações e obras de Terra. Faculdade de Engenharia de


Sorocaba, Sorocaba, 2003.

ALONSO, U. R. Rebaixamento temporário de aquíferos. São Paulo, 1999.

ANÁLISE do Método Simplificado de Bishop. Disponível em: http://civilwares.


free.fr/Geotechnical%20engineering%20%20Principles%20and%20Practices%20
of%20Soils%20Mechanics%20and%20Foundation%20Engineering/Chapter%2010.
pdf. Acesso em: abr. 2020

BISHOP, A.W. The use of the slip circle in the stability analysis of earth slopes.
Géotechnique, Vol 1, pp.7-17, 1955.

BROOKS, H.; NIELSON, P. J. Basics of retaining wall design: a design guide for
earth retaining structuress. 10. Ed. HBA Publications, Incorporated, 2013.

CARDOSO, F. F. Sistemas de Contenção. Universidade de São Paulo, SP, 2002.

CRUIKSHANK, M. K. Theory of Slope Stability. Portland State University, Oregon,


2002.

ESCOLA DE ENGENHARIA. Muros de Gabião. Disponível em: https://fr.123rf.


com/photo_60321067_pierre-avec-un-treillis-m%C3%A9tallique-pour-la-protection-
de-roche-tombant-de-la-montagne.html. Acesso em: out . 2020.

FELLENIUS, W. Calculation of the stability of earth dams. Paper D-48, Proc.


2nd Congress on Large Dams, paper D-48, pp. 445-463, Washington D.C, 1936.

FELLENIUS, W. Erdstatische Berechnungen mit Reibung und Kohasion.


Ernst, Berlin, Alemanha, 1927.

FOUNDATION ENGINEERING. Muro com contraforte. In: Design and analysis


of retaining walls. Charpter 8. Disponível em: https://ced.ceng.tu.edu.iq/images/
lectures/dr.farouq/ch8-Retaining-walls.pdf. Acesso em: abr. 2020

G1. Deslizamento de terra em Santos-SP. Disponível em: https://g1.globo.com/


sp/santos-regiao/noticia/2020/03/06/mais-um-corpo-e-encontrado-em-area-de-
deslizamento-em-santos.ghtml. Acesso em: abr. 2020

86
REFERÊNCIAS

GEOACADEMY. Tipos de análise na verificação da estabilidade externa.


Disponível em: https://geoacademy.com.br/courses/manual-tecnico-para-reforco-de-
muros-e-taludes/lectures/1540172. Acesso em: abr. 2020.

GEO-RIO. Manual Técnico de Encostas: Volume I. Secretaria Municipal de Obras.


Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

GEO-RIO. Manual Técnico de Encostas: Volume II. Secretaria Municipal de Obras.


Fundação Instituto de Geotécnica do Município do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

GERSCOVICH, D. M. S. Estruturas de contenção – empuxos de terra. Rio de


Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.

GERSCOVICH, D. M. S. Estruturas de Contenção – muros de arrimo. Rio de


Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2010.

GESTÃO DE RISCOS. Ilustração de muro de contenção com contrafortes.


Disponível em: https://gestaorisco.wordpress.com/registros-fotograficos/muro-de-
contencao-com-contrafortes-feito-apos-deslizamento-diadema-rua-chile-com-rua-
equador/. Acesso em: abr. 2020.

GUIDICINI, G.; NIEBLE, C. M. Estabilidade de taludes naturais e de escavação.


Edgard Blucher. São Paulo, 1984, 194p.

HIGHLAND, M. Lynn; BOBROWSKY, Peter. The Landslide handbook – a guide to


understanding landslides. Virginia, 2008.

JANBU, N. Application of composite slip surface for stability analysis. Proc.


European conf. Stability of earth slopes, Vol. 3, pp. 43-49, 1954.

JANBU, N. Stability analysis of slopes with dimensionless parameters. Ph.D.


Thesis in Civil Egineering, Faculty of Arts and Sciences of Harvard University, 1954.

JULIUS, Semanda. Retaining Walls Notes. College Of Engineering, Design, Art And
Technology, Kampala, 2018.

LUIZ, J. Bruna. Projeto geotécnico de uma estrutura de contenção em


concreto. Monografia de Engenharia Civil. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2014.

MARANAUTA. Muros de pneus. Disponível em: https://maranauta.blogspot.


com/2015/11/pneus-podem-ser-base-de-muros-de.html. Acesso em: abr. 2020.

MARANGON, M. Estabilidade de taludes. Minas Gerais, 2006.

87
REFERÊNCIAS

MARANGON, Marcio. Empuxos de terra. Faculdade de Engenharia. Universidade


Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, 2018.

MARANGON, Marcio. Geotecnia de contenções. Faculdade de Engenharia.


Universidade Federal de Juiz de Fora, Minas Gerais, 2009.

MORGENSTERN, N.R.; PRICE, V.E. The analysis of the stability of general slip surfaces.
Géotechnique, vol. 15, n. 1, pp.79-93, 1965.

MULLER, M. C. Rebaixamento de lençol freático: indicações, métodos e impactos


decorrentes. Universidade Anhembi Morumbi, SP, 2004.

O QUE É TALAUDE. Talude Natural e Talude Artificial. Disponível em: http://


www.ebanataw.com.br/talude/oquee.htm. Acesso em: abr. de 2020.

PREFEITURA DE MACEIÓ. Ilustração de muro com sacos de solo-cimento.


Disponível em: http://www.maceio.al.gov.br/galeria/prefeito-visitas-grotas/
attachment/prefeito-visita-grotas-20/. Acesso em: abr. 2020

SAMTANI, C. N. C.; NOWATZKI, A. E. Soils And Foundations. National Highway


Institute U.S. Department of Transportation Federal Highway Administration,
Washington, D.C, 2006.

SENHOR ECO. Muros em fogueira (“crib wall”). Disponível em: http://www.senhoreco.


org/2018/02/muro-vivo-em-madeira-tipo-cribwall.html. Acesso em: abr. 2020.

SLOPE Failures – Causes and Mitigation. Disponível em: http://www.drdm.gov.sc/


slope-failures-causes-and-mitigation/. Acesso em: abr. 2020.

SPENCER, E. A Method of Analysis of the Stability of Embankments Assuming Parallel


inter-slice Forces. Géotechnique, n.17, pp.11-26, 1967.

TAYLOR, D. W. Fundamentals of Soil Mechanics. 1th. ed. New York, USA: John
Wiley & Sons, pp 700, 1948.

TAYLOR, D. W. Stability of earth slopes. Journal of the Boston Society of Civil Engineers,
pp. 197–246, 1937.

TENZIN. Design and construction of stone masonry retaining walls – a quick


guide. Disponível em: https://www.mowhs.gov.bt/wp-content/uploads/2010/11/
Stone_Retaining-Wall-Design.pdf. Acesso em: abr. 2020.

TERMINOLOGIA de elementos de um talude. Disponível em: http://wwwp.feb.


unesp.br/pbastos/concreto4/Muros%20Arrimo/Ap%20Obras%20Terra%203.pdf.
Acesso em: abril de 2020.

88
REFERÊNCIAS

VARNES, D. J. Slope Movement Types and Processes. In: landslides: Analysis and
Control. National Academy of Science, Washington D. C., pp. 11-33, 1978.

VASCONCELLOS, B. D. Percepção De Risco Associado A Deslizamentos De


Terra Da Comunidade Do Morro Da Formiga, Rio De Janeiro. Projeto de
Graduação de Engenharia Civil. Escola Politécnica da Universidade do Rio de Janeiro,
Rio de Janeiro, 2015.

VIANNA, S. Bruno. Metodologia para modelagem espacial de dados no


ambiente sig da região sudoeste do Estado do Rio de Janeiro. Monografia de
Geologia. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2014.

YUMPI. Método das Cunhas. Disponível em: https://www.yumpu.com/pt/


document/read/14864209/aula-04. Acesso em: abr. 2020

89

Você também pode gostar