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Mecânica dos Solos

Brasília-DF.
Elaboração

Blenda Cordeiro Mota Ribeiro

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

Apresentação.................................................................................................................................. 5

Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa..................................................................... 6

Introdução.................................................................................................................................... 8

Unidade I
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS....................................................................................... 11

Capítulo 1
Plasticidade e consistência............................................................................................... 12

Capítulo 2
Índices físicos..................................................................................................................... 24

Capítulo 3
Distribuição de tensões...................................................................................................... 33

Unidade II
PERMEABILIDADE DOS SOLOS............................................................................................................... 51

Capítulo 1
Lei de Darcy......................................................................................................................... 53

Capítulo 2
Redes de fluxo..................................................................................................................... 62

Unidade III
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS......................................................................................................... 70

Capítulo 1
Introdução aos estudos de compressibilidade.............................................................. 71

Capítulo 2
Teoria do adensamento..................................................................................................... 79

Capítulo 3
Cálculo dos recalques.................................................................................................... 88

Unidade IV
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO.......................................................................................................... 95

Capítulo 1
Condições de ruptura dos solos.................................................................................... 96
Capítulo 2
Resistência ao cisalhamento de solos não coesivos................................................. 102

Capítulo 3
Resistência ao cisalhamento de solos coesivos......................................................... 107

Referências................................................................................................................................. 117
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da
área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que
busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica
impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A Mecânica dos Solos é um dos ramos mais recentes da Engenharia Civil. Ela trabalha
com uma matéria-prima bastante heterogênea e com propriedades complexas, sendo
de extrema dificuldade a modelação matemática ou ensaio em modelo que caracterize
satisfatoriamente o seu comportamento.

Na primeira unidade, conheceremos a constituição e as propriedades dos solos.


O primeiro capítulo traz os limites de consistência por meio de uma abordagem mais
prática, pois aprenderemos a calcular os limites de liquidez, plasticidade e contração.
O segundo capítulo traz os índices físicos e suas especificidades, como o cálculo de umidade,
a relação de volumes e massas, o índice de vazios, a porosidade do solo, entre outros.
Finalizando a primeira unidade, temos o terceiro capítulo e as distribuições de tensões.

Na segunda unidade, veremos as propriedades hidráulicas do solo, iniciando com


algumas definições introdutórias de permeabilidade. Em seguida, será vista a adaptação
geotécnica da Lei de Darcy e suas influências. Finalizando a unidade, estudaremos as
redes de fluxo e suas particularidades.

A terceira unidade estudará a compressibilidade dos solos. O primeiro capítulo traz


a introdução à compressibilidade, abordando a relação tensão-deformação do solo.
O segundo capítulo explana a teoria do adensamento, contemplando suas hipóteses e
equações, bem como os ensaios e a representação de seus resultados. Por fim, o terceiro
capítulo trata dos recalques e suas características, junto com um apanhado de algumas
situações práticas.

A quarta unidade tratará da resistência ao cisalhamento. O primeiro capítulo traz as


condições de ruptura dos solos, explicadas pelo diagrama de ruptura de Mohr e da
equação de Coulomb. O segundo capítulo trata da resistência ao cisalhamento de
solos não coesivos e o terceiro capítulo, último da disciplina, aborda a resistência ao
cisalhamento dos solos coesivos.

Esperamos que as unidades sejam de grande valia para a compreensão do comportamento


mecânico dos solos, bem como mais um passo na caminhada eterna rumo ao conhecimento.

Bons estudos!

8
Objetivos
»» Estudar as propriedades mecânicas e hidráulicas dos solos.

»» Aprender as relações matemáticas inerentes à caracterização dos solos.

»» Compreender os ensaios relacionados a cada uma das propriedades.

9
10
CONSTITUIÇÃO E
PROPRIEDADES Unidade I
DOS SOLOS
Nessa primeira unidade, conheceremos a constituição e as propriedades dos solos.

O primeiro capítulo traz os limites de consistência por meio de uma abordagem mais
prática, pois aprenderemos a calcular os limites de liquidez, plasticidade e contração,
necessários para conhecermos a consistência dos solos.

O segundo capítulo traz os índices físicos e suas especificidades, como o cálculo de umidade,
a relação de volumes e massas, o índice de vazios, a porosidade do solo, entre outros.

Finalizando a primeira unidade, temos o terceiro capítulo e as distribuições de tensões.


Esse capítulo contempla as tensões próprias do solo e as tensões geradas pelas cargas
aplicadas nele. É um capítulo bem prático e permeado de exercícios.

Então, agora que já temos uma ideia do que virá pela frente, vamos iniciar? Não deixem
de comentar quaisquer questionamentos no fórum tira-dúvidas. É muito importante
que interajamos e cresçamos juntos! Mãos à obra?

11
Capítulo 1
Plasticidade e consistência

Esse primeiro capítulo abre a disciplina de Mecânica dos Solos com um pouco de revisão
de limites de consistência, acrescido dos métodos de cálculo utilizados para estabelecer
tais limites.

Os solos mais complicados para a Mecânica dos Solos são os argilosos. Eles requerem
cuidado especial tanto na caracterização quanto na classificação.

Esse capítulo traz as informações necessárias para a caracterização do comportamento


plástico e da consistência dos solos com grande presença de argila.

Plasticidade
Os solos que apresentam quantidade considerável de finos (mais que 5% de argila e/ou
silte na sua constituição) necessitam do conhecimento de sua plasticidade para que se
estabeleçam suas propriedades corretamente.

Caputo (1996, p. 52) define a plasticidade como “uma propriedade dos solos, que
consiste na maior ou menor capacidade de serem eles moldados, sob certas condições
de umidade, sem variação de volume”.

A plasticidade é uma das propriedades mais importantes das argilas.

Em se tratando de Ciência e Engenharia de Materiais, a plasticidade é a capacidade


de um material não retornar ao estado original após sofrer uma força suficiente
para deformá-lo.

Em contrapartida, o material elástico é aquele que consegue retornar ao seu


volume e formato original após a aplicação da força de deformação.

É importante ressaltar que nenhum material é absolutamente plástico ou


absolutamente elástico. Todos os materiais têm uma etapa de elasticidade e
uma de plasticidade, embora uma seja mais marcante que outra.

O estado de cada material depende também do grau da força aplicada. Os


materiais se comportam como elásticos até uma intensidade de força específica
a cada um deles. A partir desse limite elástico próprio de cada material, o
comportamento passa a ser plástico.

12
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Ultrapassando o limite plástico, o material rompe. A capacidade de se deformar


antes de romper é nomeada de ductilidade.

Um exemplo básico e prático de material dúctil é a sacolinha plástica de


supermercado. Ao aplicar uma força crescente de tração, é possível perceber que
o material se deforma, tornando-se cada vez mais fino, até que a força aplicada
seja superior à sua capacidade de deformação, ou seja, sua plasticidade, e o
material se rompe. Outro exemplo muito utilizado na construção é o aço.

Ao contrário dos materiais dúcteis, temos os materiais frágeis, que não têm
grande resistência à tração e, portanto, não se deformam significativamente
antes de romper. Esses materiais têm baixíssimos limites elásticos e plásticos.

Exemplos de fácil compreensão podem ser a folha de papel e o grafite. Ambos se


rompem praticamente sem deformação. Na construção, o melhor exemplo para
material frágil é o concreto.

Limites de consistência
Antes de iniciarmos os estudos de consistência, é muito importante que saibamos o
conceito de umidade em Mecânica dos Solos. A umidade é o percentual da relação entre
a água e a massa sólida presentes no solo ou em sua amostra.

Os limites de consistência são os valores de umidade de um solo (representada pela


letra h ou pela letra w) que se encontram no ponto de mudança de estado. Os solos
podem ser encontrados no estado líquido, plástico, semissólido ou sólido.

Quando o solo tem grande valor de umidade e se encontra com aparência bastante
fluida, pode-se dizer que ele se encontra no estado líquido ou fluido denso.

O limite de liquidez (LL ou WL) é o valor de umidade em que o solo deixa de ser fluido
e passa a ser facilmente moldável, conseguindo conservar o formato dado.

Com umidade menor do que o LL, o solo se encontra no estado plástico e nele permanece
até que não suporte ser manejado sem desmanchar. Esse ponto é o limite de plasticidade
(LP ou WP).

Com umidade ainda menor do que o LP, o solo se encontra no estado semissólido,
quando não pode ser trabalhado sem manter a forma, uma vez que está muito seco e
tende a se partir em torrões.

Ao diminuir ainda mais a umidade do solo, ele passa pelo limite de contração (LC ou
WC) e fica no estado sólido.

13
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Nesse estado, o solo não é moldável e tende a contrair por causa do poder de retração
da argila.

A figura 1 demonstra os limites, os estados e a relação entre a umidade e a consistência.


É possível perceber que quanto maior a umidade, menor a consistência do solo.

Figura 1. Limites de consistência.

Fonte: elaborado pela autora, 2016.

Executar os ensaios necessários para a obtenção dos limites de liquidez, de plasticidade


e de contração é uma prática comum e necessária para a análise das amostras de solos
e o conhecimento das suas propriedades e do seu comportamento.

O limite de liquidez e o limite de plasticidade foram estabelecidos em 1911 pelo cientista


sueco Albert Atterberg. Por sua vez, o limite de contração foi estabelecido em 1923 pelo
cientista norte-americano W. B. Haines.

Determinação do limite de liquidez


A NBR 6459 (ABNT, 2016) define o procedimento de determinação do limite de liquidez.
A norma foi originalmente publicada em outubro de 1984 e revista em abril de 2016.
As diferenças são, basicamente, de formatação. O processo do ensaio continua o mesmo.

Figura 2. Aparelho de Casagrande e cinzéis.

Fonte: Site da LAGETEC 1, 2016.

1 Disponível em: <http://www.lagetec.ufc.br/wp-content/uploads/2016/03/Ensaios-de-limites-de-liquidez-e-plasticidade-de-


material-granular.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2016.

14
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

A figura mostra esses aparelhos. Em ordem, da esquerda para a direita: o aparelho de


Casagrande, o cinzel de solo arenoso e o cinzel de solo argiloso.

A NBR 6459 (ABNT, 2016) ainda exige materiais como a peneira no 40 (0,425mm),
estufa, balança sensível a 0,01g, cápsula de porcelana com 12 cm de diâmetro e espátula
de aço.

O procedimento é feito cinco vezes, uma para cada quantidade de água. A primeira deve
deixar o material com aparência fluida e a última com aparência mais plástica.

Após a mistura de massa e água, deve-se transferir a pasta para a concha do aparelho,
com espessura central de 1 cm.

O cinzel deve dividir a massa em duas partes, formando uma abertura perpendicular ao
eixo articulador da concha.

Inicia-se o processo de girar a manivela à velocidade de dois golpes por segundo.

Quando os golpes forem suficientes para fechar uma área de aproximadamente uma
polegada, para-se o procedimento e anota-se o número de golpes responsável por
estabelecer esta condição. A figura 3 demonstra o processo descrito.

Figura 3. Procedimento de determinação do LL.

Fonte: adaptado de Pires, 2011.

Procede-se à medida da umidade da amostra, por meio de pesagem da amostra úmida,


secagem em estufa e nova pesagem da amostra seca. Depois, se obtém a relação entre
massa de água e massa de solo seco e anota-se o percentual calculado da umidade.

O exemplo utilizado na figura 4 contou com os valores estabelecidos na tabela 1.

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UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Tabela 1. Golpes e umidades correspondentes.

Amostra 1 Amostra 2 Amostra 3 Amostra 4 Amostra 5


Umidade (%) 27,4 26,2 25,5 24 22,7
Nº de golpes 15 19 28 40 56

Fonte: elaborado pela autora, 2016.

Depois de obtidos os cinco números de golpes e suas respectivas umidades, se marcam


os pontos correspondentes em um gráfico contendo: valores de umidade em escala
aritmética no eixo das ordenadas e no de golpes em escala logarítmica no eixo das
abscissas (Figura 4a).

Após marcar os cinco pontos, deve-se traçar uma reta que melhor se ajuste entre os
cinco pontos (Figura 4b).

Do ponto no de golpes igual a 25, traça-se uma reta vertical até atingir a reta dos pontos
(Figura 4c).

Do ponto que atingiu a reta, segue horizontalmente até alcançar o valor de umidade
correspondente ao limite de liquidez (Figura 4d).

Figura 4. Gráfico para determinação do LL.

Fonte: elaborado pela autora, 2016.

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CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Depois de feitos os passos, encontra-se o limite de liquidez, que, neste caso, é de LL


= 26%, uma vez que a NBR 6459 exige que se arredonde o valor para o inteiro mais
próximo.

Caputo (1996, p. 55) define o limite de liquidez do solo como sendo o “teor de umidade
para o qual o sulco se fecha com 25 golpes”.

Assim como a NBR 6459 se utiliza do padrão de cinco pontos para determinação do
limite de liquidez, Caputo (1996) também demonstra a possibilidade de determinar
o LL conhecendo apenas um ponto, ou seja, fazendo o procedimento do aparelho de
Casagrande com apenas uma amostra.

A equação 1, a seguir, elucida:


LL = (eq. 1)
��������� � ��� �

Utilizando essa equação, vamos calcular o limite de liquidez encontrado para cada uma
das amostras da tabela 2.

Tabela 2. Determinação do LL pelo método de um só ponto.

h (%) n eq. 1 LL
Amostra 1 27,4 15 27,4/(1,419-0,3.log15) 25,7%

Amostra 2 26,2 19 26,2/(1,419-0,3.log19) 25,3%

Amostra 3 25,5 28 25,5/(1,419-0,3.log28) 25,9%


Amostra 4 24,0 40 24,0/(1,419-0,3.log40) 25,6%
Amostra 5 22,7 56 22,7/(1,419-0,3.log56) 25,4%

Fonte: elaborado pela autora, 2016.

Percebe-se que todos os valores encontrados foram próximos ao LL encontrado com o


método dos cinco pontos. A média de LL calculados acima é de 25,58%. Apenas 0,02%
de diferença do calculado pelos cinco pontos. Logo, o LL considerado para esse método
de um só ponto é de 26%.

Determinação do limite de plasticidade


O limite de plasticidade é caracterizado pelo valor de umidade correspondente à divisão
entre o estado semissólido e o estado plástico. Terzaghi e Peck (1976) definem o limite
de plasticidade como o limite inferior do estado plástico.

A NBR 7180 (ABNT, 2016) define o procedimento de determinação do limite


de plasticidade.
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UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

A norma foi originalmente publicada em outubro de 1984 e revista em março de 2016.


As diferenças são basicamente de formatação. O processo do ensaio continua o mesmo.

A figura 5 mostra os aparelhos necessários ao procedimento. A placa esmerilhada é um


retângulo de vidro fosco com face em relevo.

O gabarito é o cilindro de comparação que serve de modelo para as dimensões (3 mm


de diâmetro por 10 cm de comprimento) que a amostra de solo deve ter.

A NBR 7180 (ABNT, 2016), assim como a NBR 6459, ainda exige materiais como a
peneira no 40 (0,425mm), estufa, balança sensível a 0,01 g, cápsula de porcelana com
12 cm de diâmetro e espátula de aço.

São utilizados 50 g de material passado na peneira 40. A amostra deve ser colocada
na cápsula de porcelana com água destilada para obtenção de massa homogênea e de
aparência plástica.
Figura 5. Placa esmerilhada e gabarito.

Fonte: site da LAGETEC 2, 2016.

Forma uma bola com a massa obtida na cápsula. Essa massa deve ser modelada no
vidro esmerilhado, formando um cilindro similar ao gabarito.

A umidade dessa amostra de solo deve ser medida quando o cilindro apresentar
pequenas fissuras.

Assim como o limite de liquidez, o limite de plasticidade é estabelecido a partir da


repetição do ensaio em cinco vezes.

A determinação do limite de plasticidade se dá pela média das umidades encontradas


em cada uma das cinco repetições do procedimento.

2 Disponível em: <http://www.lagetec.ufc.br/wp-content/uploads/2016/03/Ensaios-de-limites-de-liquidez-e-plasticidade-de-


material-granular.pdf>. Acesso em: 29 dez. 2016.

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CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Figura 6. Procedimento de determinação do LP.

Fonte: adaptado de Pires, 2011.

Caputo (1996) afirma que o processo de determinação do LP ainda não foi mecanizado
satisfatoriamente, como o LL.

Determinação do limite de contração


O limite de contração é o marco de divisão entre os estados semissólido e sólido. É o
valor do teor de umidade que o solo deixa de contrair, embora continue perdendo peso.

O ensaio para calcular o limite de contração costumava ser normalizado pela NBR 7183
(ABNT, 1982). Essa norma foi cancelada em setembro de 2014 por desuso do setor, de
acordo com o site da ABNT.

A norma previa a seguinte aparelhagem: cápsula de porcelana, espátula, cápsula de


contração (figura 7) para secagem da amostra.

Figura 7. Cápsula de contração.

Fonte: UNISINOS, 2002.

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UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Além disso, também é necessário o uso de: régua de aço e cuba de vidro, placa de vidro
com pinos de metal (figura 8, para mergulhar a pastilha de solo no mercúrio), proveta,
balança sensível a 0,1g, mercúrio suficiente para encher a cuba de vidro e estufa.

Figura 8. Ensaio de contração.

Fonte: UNISINOS, 2002.

Utiliza-se, para esse ensaio, 50g da amostra coletada.

Para calcular o volume da cápsula de contração, deve-se enchê-la com mercúrio e medir
essa quantidade de Hg na proveta.

Na cápsula de porcelana, mistura-se o solo e a água, com a espátula, até o ponto de


deixar a massa fluida e homogênea, não havendo formação de bolhas.

A cápsula de contração deve ser lubrificada para evitar aderência do solo nas suas
paredes.

Após passar óleo, coloca-se uma média de um terço do total do solo no fundo da cápsula
e comprime a massa para que não haja formação de bolhas de ar.

Esse procedimento é repetido mais duas vezes, até atingir a superfície da cápsula. A
massa deve estar plana.

É necessário deixar o solo secar, ao natural, até que mude de cor. Depois disso, inicia
a secagem em estufa, até que o peso esteja constante, momento em que o peso do solo
seco é determinado (P).

Para tanto, é necessário mergulhar a pastilha de solo (já retirada cuidadosamente da


cápsula de contração) no mercúrio contido na cuba de vidro.

Para remover o excesso de mercúrio, utiliza-se a placa de vidro. Os pinos de metal


servem para mergulhar inteiramente a pastilha no mercúrio (Figura 8).

O volume de mercúrio deslocado deve ser considerado como o volume do solo seco (V).

20
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Deve haver um cuidado especial para que não haja presença de ar entre a placa de vidro
e a pastilha de solo.

Esse limite pode ser encontrado a partir da equação 2, a seguir:

� �
LC = ( − ) . 100 (eq. 2)
� �

Onde:

V = volume de solo seco.


P = peso de solo seco.
δ = massa específica dos grãos de solo.

A NBR 7183 (ABNT, 1982, cancelada) também demonstra a relação de contração, obtida
pela equação 3, a seguir:

P
RC = (eq. 3)
V

Onde:

V = volume de solo seco

P = peso de solo seco

Índice de liquidez
O índice de liquidez (IL) indica as tensões que o solo vivenciou em sua história
geológica. De acordo com Terzaghi e Peck (1976), à medida que a umidade de um solo
coesivo se aproxima do limite inferior do estado plástico, maior é sua resistência e sua
compacidade.

A seguir, a equação 4 traz a fórmula do índice de liquidez:

h − LP
IL = (eq. 4)
LL − LP

A classificação é determinada pelo índice alcançado:

IL < 0 ------------------ argilas excessivamente pré-adensadas (h natural menor que LP).

IL ≈ 0 ou = 0---------------- argilas pré-adensadas (h natural próximo ou igual ao LP).

IL ≈ 1 ou = 1 -------- argilas normalmente adensadas (h natural próximo ou igual ao LL).

IL > 1 --------------- argilas extrassensíveis (h natural maior que LL).


21
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Índice de plasticidade
O índice de plasticidade é a diferença entre os limites de liquidez e plasticidade.

Ele pode ser considerado de duas maneiras: pode ser a quantidade de água que falta a
um solo para ele passar do estado plástico para o estado líquido; pode ser a quantidade
de água que um solo precisa perder para se tornar plástico.

Arthur Casagrande, por meio da análise dos limites de Atterberg, estabeleceu o gráfico de
plasticidade (ou carta de plasticidade, ou ainda carta de Casagrande), conforme figura 9.

Figura 9. Carta de plasticidade.

Fonte: UNISINOS, 2002.

A seguir, a equação 5 traz o cálculo padrão do índice de plasticidade:

IP = LL - LP (eq. 5)

A classificação se divide em:

Não plástico (NP) ----------------------------------------- IP = 0.


Fracamente plástico (pouco plástico) ---------------- 1 ≤ IP ≤ 7.
Medianamente plástico (de plasticidade média) --- 7 < IP ≤ 15.
Altamente plástico (muito plástico) ------------------- IP > 15.
22
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Um material livre de argilas tem índice de plasticidade nulo, uma vez que a plasticidade
é uma propriedade específica das argilas. Quanto maior o índice de plasticidade, mais
compressível as argilas.

Índice de contração (ou grau de contração)


O índice de contração é a relação percentual estabelecida entre a variação de volume
da amostra por causa da secagem (diferença entre volume inicial volume final) e seu
volume inicial.

A seguir, a equação 6 elucida:

Vi − Vf
C= .100 (eq. 6)
Vi

Scheidig citado por Caputo (1996) afirma que este índice demonstra a qualidade do
solo, sem conotar parâmetro de decisão, pois o grau de contração de um solo aumenta
conforme crescem seus níveis de compressibilidade. A classificação se divide em:

Solos bons ---------------------- C < 5%.


Solos regulares ---------------- 5% ≤ C < 10%.
Solos sofríveis ----------------- 10% ≤ C < 15%.
Solos péssimos --------------- C ≥ 15%.

Índice de consistência
O índice de consistência é utilizado para obter o estado do solo em campo. A seguir,
a equação 7 traz o IC e o quadro 1 mostra sua classificação, identificação, gradação,
resistência à compressão simples e estado.

LL − h
IC = (eq. 7)
IP

Quadro 1. Índice de consistência.


Classificação Identificação Gradação Resistência Estado
Muito mole (vasa) Escorrem entre os dedos. IC < 0 R < 0,25 kg/cm² Líquido

Mole Facilmente moldáveis. 0 ≤ IC < 0,50 0,25 ≤ R < 0,50 Plástico

Média Moldáveis. 0,50 ≤ IC < 0,75 0,50 ≤ R < 1,00 Plástico

Rija Dificilmente moldáveis. 0,75 ≤ IC < 1,00 1,00 ≤ R < 4,00 Plástico

Dura Não são moldáveis. IC ≥ 1,00 R ≥ 4,00 Semissólido

Fonte: elaborado pela autora, 2016.

23
Capítulo 2
Índices físicos

Esse capítulo trata das relações entre as propriedades físicas dos solos. A princípio,
estabelece-se a constituição do solo.

Em seguida, apresentam-se os índices propriamente ditos, como a umidade, as relações


de massas, de pesos específicos e de massas específicas (seca, úmida, de água, de ar) e
relações de vazios (água e ar).

Constituição do solo
Uma amostra de solo natural não é composta apenas dos grãos (fase sólida - pedregulhos,
areias, siltes e argilas), mas também de espaços vazios. Esses espaços vazios são, comumente,
preenchidos com água (fase líquida) e ar (fase gasosa), conforme figura 10, a seguir.

Figura 10. Constituição comum do solo.

Fonte: Caputo, 1996.

A fase gasosa, de acordo com Caputo (1996), é composta por ar, vapor d’água e carbono
combinado. Também pode ser encontrada na forma de bolhas de ar dentro da fase
líquida. É a fase mais compressível do solo.

O estudo da fase líquida é muito importante para a Mecânica dos Solos, uma vez que a
presença de água é responsável pela maioria dos problemas da construção civil.

Figura 11. Fase líquida do solo.

Fonte: Caputo, 1996.

24
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

A figura 11, acima, demonstra os diversos tipos de água que compõem a fase líquida de
uma amostra de solo.

»» A água de constituição faz parte da estrutura molecular dos grãos de solo.

»» A água adesiva ou adsorvida é a película que adere ao grão, envolvendo-o.

»» A água livre é a que está presente no terreno e preenche os vazios.

»» A água higroscópica está presente no solo quando esse se encontra na


mesma temperatura que o ambiente ao seu redor.

»» A água capilar, segundo Caputo (1996), “é aquela que nos solos de grãos
finos sobe pelos interstícios capilares deixados pelas partículas sólidas,
além da superfície livre da água”.

O efeito do calor pode evaporar as águas livre, higroscópica e capilar, a partir de uma
temperatura de 100° C.

Relações físicas entre as fases do solo


As propriedades dos solos exigem o estudo dos índices físicos. Já vimos que um solo,
no ambiente natural, é composto por grãos sólidos e vazios. Esses vazios, por sua vez,
podem ser compostos de água e ar.

De início, já se podem estabelecer algumas relações entre pesos e volumes e entre massas
e volumes. A figura 12, a seguir, demonstra as fases do solo e suas possíveis relações.

Figura 12. Relações entre as fases do solo.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

25
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Relações entre volumes


Vamos começar pelos volumes?

O volume total (Vt) é a soma do volume de sólido (Vs), volume de água (Vw) com o
volume de ar (Va), conforme a equação 8, a seguir:

Vt = Vs + Vw + Va (eq. 8)

Já vimos também que o solo é composto de partículas sólidas e vazios. Esse volume de
vazios (Vv) pode ser representado pela presença de água (Vw) e ar (Va). Então, temos
a equação 9:

Vv = Vw + Va (eq. 9)

Então, o volume total também pode ser escrito como a soma do volume de sólidos com
o volume de vazios, substituindo a equação 9 na equação 8, tem-se a equação 10:

Vt = Vs + Vv (eq. 10)

Relações entre massas e pesos


Qual a diferença entre massa e peso?

A massa é a quantidade de matéria que um corpo apresenta e é expressa em


gramas, quilos ou quaisquer múltiplos e submúltiplos dessa grandeza. Pode-se
dizer que ‘sua massa é de 65 kg’.

Por sua vez, o peso é relativo e varia de acordo com a variação da gravidade, o
que significa que, para calcular o peso de um corpo, deve-se obter o produto
entre sua massa e a gravidade do ambiente onde esse corpo se encontra no
momento, ou seja:

P=M.g (eq. 11)

A equação 11, acima, é uma aplicação prática baseada na 2ª lei de Newton, que
afirma que a força é o produto da massa (kg) de um corpo e de sua aceleração
(m/s²).

Isso significa que a força resultante (F) é dada na grandeza kg.m/s², ou,
simplificando, a força é dada em Newton (N).

Um exemplo simples é notar a diferença entre as gravidades do Sol (274m/s²), da


Terra (9,8m/s²) e da Lua (1,7m/s²).

26
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Pode-se dizer que ‘uma pessoa com massa de 65 kg pesa aproximadamente


17.810N no Sol, aproximadamente 637N na Terra e aproximadamente 110N na Lua.

Após revisarmos o conceito e a diferenciação de massa e peso, podemos voltar à relação


que essas grandezas estabelecem com o volume de uma amostra de solo.

É importante ressaltar que, daqui para frente, toda grandeza estabelecida pelo cálculo
de pesos deve ser dada em pesos, mas existe o equivalente para massas, quando
consideradas as grandezas em massa.

Pode-se perceber, na figura 12, que as relações de massa e peso são similares, de acordo
com as posições que ocupam no diagrama.

Então, temos que a massa total (Mt) é a soma das massas de água (Mw) e de sólidos
(Ms). Em consonância, temos que o peso total (Pt) é a soma do peso da água (Pw) com
o peso dos sólidos (Ps), de acordo com as equações 12 e 13, a seguir.

Mt = Ms + Mw (eq. 12) Pt = Ps + Pw (eq. 13)

Fica claro que não são considerados o peso do ar (Pa) nem a massa do ar (Ma), pois são
ambos desprezíveis para o propósito.

Mesmo que a massa e o peso do ar não sejam considerados, o seu volume deve ser
calculado, uma vez que o volume de ar é parte componente do volume total e que pode
ser compressível quando sujeito a uma força ou substituído por água quando submerso.

Determinação da umidade do solo


A umidade do solo (nesse capítulo, simbolizada pela letra w) é a razão, expressa em
percentual, entre o peso da água (ou massa) e o peso de sólidos (ou massa), conforme
as equações 14 e 15 a seguir.

Pw Pw MwMw
w =w = .100.100 (eq.(eq.
14) 14)
(eq. 14) w =w = .100.100 (eq. 15)
(eq.
(eq. 15)
15)
Ps Ps Ms Ms

Massa específica (ρ) e peso específico (Ɣ)


do solo
A massa específica é, muitas vezes, confundida com a densidade (relação entre massa
e volume). A massa específica de um solo (ρ) considera a relação entre sua massa total
(Mt = Mw + Ms) e seu volume total (Vt = Va + Vw + Vs), conforme a equação 16.

27
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Mt
ρ= (eq. 16)
(eq. 16)
Vt

Por sua vez, o peso específico de um solo (Ɣ) difere da massa específica apenas por
considerar, em vez da massa total (Mt), o peso total (Pt = Pw + Ps). O volume total
continua o mesmo, de acordo com a equação 17.
Pt
Ɣ= (eq. 17)
(eq. 17)
Vt

A partir da notação das diferenças entre as equações 16 e 17, é possível perceber que a
relação entre massa e peso se mantém na mesma proporção, em se tratando de massa
específica e peso específico, como pode se perceber na equação 18:

Ɣ=ρ.g (eq.
(eq. 18)
18)

A partir desse ponto, após estabelecermos a relação entre massa específica e peso
específico, utilizaremos apenas as relações de peso específico, uma vez que, sabendo o
peso, pode-se calcular a massa e vice-versa.

A massa específica (ρ) pode ser expressa em g/cm³, enquanto o peso específico (Ɣ)
pode ser expresso em kN/m³.

Peso específico das partículas sólidas (Ɣs)


O peso específico das partículas sólidas desconsidera o peso da água. Ele é calculado
como se a partícula do solo em análise tivesse as dimensões exatas de 1 cm³ ou de 1m³.
Ou seja, é como se não houvessem vazios, nem ar, nem água.

Por causa da inexistência de vazios, esse é o valor próprio de um solo mais alto que o
ele pode alcançar. É a razão entre o peso de sólidos e o volume de sólidos, conforme a
equação 19.

Ps
Ɣs = (eq. 19)
(eq. 19)
Vs

Peso específico do solo seco (Ɣd)


O peso específico do solo seco é calculado quando se deseja obter o peso específico do
solo quando esse se encontra sem água, ou seja, os vazios preenchidos apenas pelo ar.

Para tanto, é necessário estabelecer a relação entre o peso das partículas sólidas e o
volume total da amostra analisada, segundo a equação 20:

28
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Ps
Ɣd = (eq. 20)
(eq. 20)
Vt

Peso específico do solo saturado (Ɣsat)


Ao contrário do peso específico do solo seco, onde todos os vazios estão ocupados por
ar, o peso específico do solo saturado tem todos os vazios preenchidos por água.

Isso significa que, para estabelecer tal relação, deve ser calculada a razão entre o peso
total e o volume total da amostra.

Pt
Ɣsat = (eq. 21)
(eq. 21)
Vt

A equação 21, acima, gerada para cálculo do Ɣsat, é similar à equação 17, mas é utilizada
apenas para o solo totalmente saturado, ou seja, de saturação igual a 100%.

Peso específico do solo submerso (Ɣsub)


O solo submerso está completamente sob a água. Portanto, para calcular seu peso
específico, deve-se considerar o empuxo da água. Então, a equação 22 demonstra que
o peso específico do solo submerso é equivalente à diferença entre o peso específico
saturado e o peso específico da água (Ɣw).

Ɣ sub = Ɣsat - Ɣw (eq.


(eq. 22)
22)

Índice de vazios (e)


O índice de vazios (e) é a relação entre o volume de vazios (Vv) e o volume das partículas
sólidas (Vs). Os valores encontrados para o índice de vazios variam de 0 a +∞, de acordo
com a equação 23 a seguir:

Vv
e= (eq. 23)
(eq. 23)
Vs

Terzaghi e Peck (1976) introduziram o conceito do índice de vazios nos seus estudos de
adensamento, que veremos no capítulo 2 da terceira unidade. A seguir, a equação 24
demonstra que se podem estabelecer mais relações para o cálculo do índice de vazios.

Vv Vt − Vs Vt Vs Vt Ps/Ɣd Ɣs
e = = = − = − 1= −1= −1 (eq.(eq.
24) 24)
Vs Vs Vs Vs Vs Ps/Ɣs Ɣd

29
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Porosidade (n)
A porosidade (n) é a relação entre o volume de vazios (Vv) e o volume total (Vt) do
solo e é dado em percentual ou entre valores entre 0 e 1 (deixando de multiplicar
por 100).

Outra maneira de calcular a porosidade é em função do índice de vazios. A seguir, a


equação 25 demonstra as duas maneiras.

Vv e
n = . 100 = . 100 (eq.(eq.
25) 25)
Vt 1+e

Grau de saturação (Sr)


O grau de saturação é a percentagem de ocupação dos vazios por água, variando de 0
(solo seco, com vazios inteiramente tomados por ar) a 100% (solo saturado, com vazios
sem presença de ar, tomados inteiramente por água).

Seu cálculo se dá pela razão entre o volume de água e o volume de vazios, conforme
equação 26, a seguir.

Vw
Sr = . 100 (eq. (eq.
26) 26)
Vv

Grau de aeração (A)


O grau de aeração representa a percentagem de volume de ar entre o volume de vazios
apresentado pelo solo. É o contrário do grau de saturação, ou seja, o que falta ao grau
de saturação para chegar à totalidade de vazios.

Tem valores variáveis entre 0 (solo saturado, sem presença de ar, com valor de Sr =
100%) e 100% (solo seco, sem presença de água, com valor de Sr = 0), de acordo com a
equação 27:

Va Vv − Vw
A = . 100 = . 100 = 1 − S (eq.(eq.
27) 27)
Vv Vv

Grau de compacidade (GC)


O grau de compacidade também é conhecido como compacidade relativa ou densidade
relativa e representa o estado natural de um solo não coesivo.

30
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

É um valor percentual muito utilizado na análise das propriedades mecânicas dos solos
grossos, como a resistência ao cisalhamento, a deformabilidade e a permeabilidade.

A compacidade relativa se dá por meio de ensaios que determinam o índice de vazios


máximo (estado mais solto ou fofo) e o índice de vazios mínimo (que é o estado mais
compacto ou denso que o solo pode alcançar).

A NBR 12004 (ABNT, 1990) determina o índice de vazios máximo e a NBR 12051
(ABNT, 1991) determina o índice de vazios mínimo.

Ambas foram canceladas em 2015. A ABNT alegou desuso do setor, assim como a NBR
7183 de determinação do limite de contração (visto no capítulo um dessa unidade).

A equação 28 demonstra as duas maneiras de calcular o GC, tanto pelos índices de


vazios (e, emáx e emín) quanto pelos pesos específicos do solo seco (também seguindo o
mesmo raciocínio do índice de vazios - Ɣd, Ɣdmáx e Ɣdmín).

e�á� − e Ɣd�á� Ɣd − Ɣd���


GC = . 100 = . . 100 (eq. (eq.
28) 28)
e�á� − e��� Ɣd Ɣd�á� − Ɣd���

Os percentuais encontrados a partir do cálculo do grau de compacidade se classificam


entre solo fofo (para valores entre 0 e 30%), solo medianamente compacto (para valores
entre 31 e 69%) e solo compacto (para valores entre 70 e 100%).

Demais relações entre pesos e volumes


Depois de compreendermos todos esses conceitos e aprendermos suas respectivas
equações, temos a possibilidade de estabelecer mais relações entre essas equações e
perceber as propriedades de maneira mais facilitada.

A figura 13 demonstra mais relações entre pesos e volumes, envolvendo o índice


de vazios.

Figura 13. Relações entre pesos e volumes a partir do índice de vazios.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

31
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

A figura 14 demonstra mais relações entre pesos e volumes, dessa vez a partir da porosidade.

Figura 14. Relações entre pesos e volumes a partir da porosidade.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

n
É preciso esclarecer que as figuras acima e = NÃO significam, por exemplo, que o peso(eq. das 29)
1 − n n
partículas sólidas seja igual a 1 menosea=porosidade (eq. 29)
1 − n n (Ps = 1 - n).
e= (eq. 29)
As figuras demonstram RELAÇÕES como, 1por − n
n exemplo, a demonstração de que a razão
e= Ɣ (eq. 29)
entre a porosidade e uma unidade é igual Ɣd = 1 n
− n do volume de vazios e do volume total (eq. 30)
e = à razão Ɣ
1 n+ w (eq. 29)
Ɣd = 1 − n (eq. 30)
(n/1 = Vv/Vt → n = Vv/Vt). Essas figuras Ɣw
e =demonstram
1+ (eq. 29)
uma série de relações que geram
Ɣd = 1 − n n (eq. 30)
novas equações, listadas a seguir:
Ps + e = 1n+ Ɣw (eq.
(eq. 29)
30)
ƔdPw = 1 −Psn. (1 + w)
Ɣ = e = =1 + w Ɣ (eq. 31)
29)
Ps
Vs + ƔdPw
Vv=1 − nPs
Vsn . (1 + w) e) (eq. 30)
Ɣ = e = =1 +Ɣ w (eq. (eq.
(eq. 31)
29) 29)
30)
Ps
Vs+ ƔdPw
+ Vv= 1 −Ps Vs n .. (1 (1+ +w)e)
Ɣ = =1 + Ɣ w (eq. 31)
Vs +
Ps Vv
ƔdPw = Vs . (1 +
Ps + w)
e) (eq. 30)
Ɣ = =1 1+ Ɣ+ww (eq. 31)
Ps
Vs +
Ɣd
+ Pw
Vv Ps
= . Vs . (1 + e). (1 + w) (eq.
30) 30)
(eq.(eq.
Ɣ = Ɣs
Ɣ = Ps + Pw =1 1+Ps Ɣ +w.w e (1 + w) (eq. 32)
31)
Vs ƔdVv = . Vs e) (eq.
(eq. 30)
32)
Ɣ = Ɣ = Ɣs= 1 1+
1 + w
+ we (eq. 31)
Vs +
PsƔ+=Pw Vv Vs
Ɣs . Ps . (1 + w) . (1 + e) (eq. 32)
Ɣ = Ps + Pw = 1Ps+.w e + w) (eq.(eq.
31) 31)
VsƔ+=Vv Ɣs . Vs . (1
Ɣs (1 + e) (eq. 32)
Ɣ = ƔdPw = = 11Ps + +.w e(1 (eq. 33)
(eq. 31)
Ps
VsƔ++ Vv Vs
Ɣs
= Ɣs . 1 ++e w . (1 +
+ w)
e) (eq. 32)
Ɣ = ƔdVv= = 1Vs e (eq. 31)
33)
VsƔ+ = Ɣs . 1Ɣs + e. (1 + e) (eq.(eq.
32) 32)
Ɣd = 11+ +e (eq. 33)
= Ɣs . 1Ɣw
Ɣ Pw + ew
Ɣs (eq. 32)
Ɣd = 11 + +.w eSr . e (eq. 33)
w = Ɣ = Ɣs = .1 + eƔs 32)
(eq. 34)
Pw
Ps = 11
Ɣd Ɣw ++Ɣs. weSr . e (eq. 33) 33)
(eq.
Ɣs (eq. 34)
(eq. 32)
w =Ɣ = Ɣs = .1 + e
Ps = Ɣw
Pw
Ɣd 1++e.Ɣs eSr . e 33)
w= = 1Ɣs (eq. 34)
Ps = Ɣw Ɣs
Pw
Ɣd . Sr . e (eq. 33)
w= =Vw 1 Ɣs
+ Sr
e . e (eq.(eq.
34) 34)
Sr . Pw
nPs
Ɣd
= = Ɣw = .ƔsSr . e 33)
(eq. 35)
w = Pw =Vw Vt Ɣs
1Ɣw+ eSr
1 . +
Sr . e.e e (eq. 34)
Ps= = = Ɣs (eq. 33)
35)
wSr=. nƔd =
Vw
Vt1 + eSr 1Ɣs+. e (eq. 34)
Ps
Sr . nPw = Ɣw= . Sr . e (eq.(eq.
35) 35)
w = Pw =Vw Vt 1 +. ee
Sr (eq. 34)
Sr . nƔs
Ps= + Sr Ɣw
=. eƔs. .Sr Ɣw . e (eq. 35)
wƔ = Pw = Vw
VtSr Sr . e 34)
(eq. 36)
Sr . nƔs
Ps= +Vw 1Ɣw =.eeSr
+ .1
Ɣs.Sr
+Ɣw . e (eq. 35)
wƔ == =Vt 1 +. ee (eq.(eq. 36)
36) 34)
(eq. 35)
Sr . nƔs
Ps= + 1Sr+ =. eeƔs. Ɣw
Ɣ= Vt
Vw Sr 1 +. ee (eq. 36)
Sr . nƔs =+ 1Sr+= .ee . Ɣw (eq. 35)
Ɣ= VtSrPs. eSr
Vw 1 .+ . ee (eq. 36)
Ɣs
Sr . n = Ps+ 1+ +
= e Ɣw (eq. 35)
Ɣ =ƔdƔs =+ VtSrPs.Pw
Vw Sr
1
e . Ɣw + . e e (eq.(eq.
(eq.
37) 36)
37)
1+ + ePw
Vt (eq.
(eq. 35)
ƔSr=.Ɣdn = Ps
= Vt1 +
=
Ps 1 + e (eq. 36)
37)
Ɣs +PsSr+ Pt ee . Ɣw
Vt. Pw
Ɣ =ƔdƔs= + SrVt Ps
Pt. ee . Ɣw (eq. 37)
36)
32 1
Ps +
+
Ps Pw (eq. 36)
Ɣ =Ɣd = Pt 37)
Ɣs +Ps 1Sr+Vt
+
Ps. ee
Pw . Ɣw
Ɣ =Ɣd = (eq. 36)
37)
1+
Ps PtePw
Vt
+
Ɣd = Ps (eq. 37)
Capítulo 3
Distribuição de tensões

O solo é capaz de se deformar quando exposto a diversas solicitações, podendo alterar


seu volume. Para compreensão da Mecânica dos Solos e melhor aproveitamento do curso
de Engenharia Geotécnica, é importante que se conheçam as tensões que atuam no solo.

Esse capítulo descreve as tensões atuantes no solo. Essas tensões podem ser secundárias
ao próprio peso do solo, podem ser decorrentes de cargas externas aplicadas diretamente
sobre o maciço em análise e podem vir do alívio gerado por escavações nas imediações
do solo estudado.

Esse capítulo tem como base e/ou reproduz as publicações de Caputo (1973) e Machado
e Machado (2007).

Tensões geostáticas verticais


As tensões geostáticas são também conhecidas como as tensões secundárias ao próprio
peso do solo ou do maciço de solo em análise.

O estudo das tensões geostáticas verticais é bastante simples e é utilizado em maciços


de superfícies planas e poucas variações nas propriedades de cada perfil.

Para facilitar a compreensão, um exemplo será apresentado em concomitância à explicação.

A figura 15 traz o perfil do solo em análise para cálculo das tensões geostáticas que
incidem nos pontos A, B, C e D.

Figura 15. Perfil de solo em análise.

Fonte: elaborado pela autora, 2016.

33
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

1o passo: calcular a tensão vertical.

A tensão vertical (σ, dada em kN/m² ou kPa, já que 1 Pa = 1 N/m²) é representada pelo
produto do peso específico do solo (Ɣ, dado em kN/m³) e da profundidade (z, dada em
m) do ponto em questão, conforme equação 38 a seguir.

ɐ ൌ ፷ Ǥ‫ݖ‬ (eq. (eq.


38) 38)

Aplicando no exemplo dado pela figura 15, temos:


σA = ƔA . zA = 15,2 . 0 = 0
σB = ƔB . zB = 0 + 15,2 . 3,2 = 48,64 kN/m²
σC = ƔC . zC = 48,64 + 17,7 . (7,0 - 3,2) = 115,9 kN/m²
σD = ƔD . zD = 115,9 + 22,0 . (10,7 - 7,0) = 197,3 kN/m²

2o passo: calcular a pressão neutra.

A pressão neutra (u) é similar à tensão vertical, mas é relativa à pressão que atua na
água no ponto determinado, de acordo com a equação 39, a seguir:

u = Ɣw . z� (eq.(eq.
39) 39)

Aplicando no exemplo dado pela figura 15, temos:


uA = ƔwA . zwA = 0
uB = ƔwB . zwB = 0
uC = ƔwC . zwC = 0 + 10, 0 . (7,0 - 3,2) = 38,0 kN/m²
uD = ƔwD . zwD = 38,0 + 10,0 . (10,7 - 7,0) = 75,0 kN/m²

3o passo: calcular a tensão geostática efetiva.

A tensão efetiva do solo foi estabelecida por Terzaghi e consiste na diferença entre a
tensão vertical e a pressão neutra.

A pressão na fase líquida do solo não interfere na sua resistência, por isso ganha tal
nomenclatura. A equação 40 demonstra o cálculo da tensão efetiva:

σ� = σ − u (eq.(eq.
40) 40)

Aplicando no exemplo dado pela figura 15, temos:

σ’A = σA - uA = 0
σ’B = σB - uB = 48,64 - 0 = 48,64 kN/m²
σ’C = σC - uC = 115,9 - 38,0 = 77,9 kN/m²
σ’D = σD - uD = 197,3 - 75,0 = 122,3 kN/m²

34
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

4o passo: representar graficamente os resultados encontrados.

A representação dos parâmetros calculados acima gera um gráfico de coordenadas


tensões (kPa) versus profundidade (m), onde haverá a marcação dos valores encontrados
para as tensões vertical, neutra e efetiva de cada ponto analisado.

Figura 16. Representação gráfica das tensões.

Fonte: elaborado pela autora, 2016.

Tensões de cargas externas aplicadas


O interior de um maciço de solo é deformado em consequência das tensões induzidas
pelas cargas aplicadas em sua superfície.

O maciço de solo pode ser considerado como um meio:

»» Homogêneo: possui propriedades similares em todos os seus pontos.

»» Isotrópico: possui propriedades similares ao tomar quaisquer direções


a partir de cada um dos seus pontos.

Ao considerar o princípio da elasticidade, o solo tem a deformação sofrida proporcional


à tensão aplicada. Dessa maneira, encontram-se valores aproximados para o resultado
do comportamento real analisado.

A tensão aplicada tem que ser muito menor à tensão de ruptura para que se admita a
relação de proporcionalidade entre tensão e deformação do maciço de solo.

Sabe-se que o módulo de elasticidade varia de acordo com a profundidade e com a


extensão lateral. Então, para manter a consideração do solo como um meio homogêneo
35
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

e isotrópico, devemos manter a constância dos valores utilizados para os parâmetros


elásticos.

Para que todas essas considerações, acima descritas, funcionem na solução obtida, o
terreno analisado precisa ter homogeneidade tanto em extensão quanto em profundidade.

Distribuição das tensões aplicadas no solo


A distribuição de tensões no solo é constituída pela variação das tensões de acordo com
a profundidade e com a distância lateral, mudando em proporção à distância entre o
ponto analisado e a tensão aplicada no terreno.

Isso significa que a tensão vai diminuindo à medida que vai se distanciando do ponto de
aplicação da carga, tanto para os lados, quanto para baixo.

As isóbaras são as curvas de limitação da área de solicitação do terreno às cargas aplicadas.


O conjunto de isóbaras de uma mesma tensão sofrida e diferentes profundidades se
chama bulbo de tensões, conforme ilustra a figura 17.

Figura 17. Bulbo de tensões.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

O bulbo de tensões é o conjunto de isóbaras correspondentes à delimitação da massa


de solo que recebe 80% (0,8q), 60% (0,6q), 40% (0,4q) e 10% (0,1q) da carga aplicada
na superfície (q).

A seguir, a figura 18 exemplifica a distribuição dos acréscimos de tensão de acordo com


a carga aplicada na superfície do terreno.

36
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Figura 18. Distribuição de tensões.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

A distribuição de tensões demonstrada na figura 18 pode ser calculada por dois métodos:
o método do espraiamento e o método 2:1.

O método do espraiamento confere um ângulo (Φ) para a propagação da tensão


aplicada. Esse ângulo aumenta de acordo com o solo em que a tensão está sendo
aplicada, conforme a tabela 3.

Tabela 3. Ângulo de espraiamento (Φ) de acordo com o solo.

Solo (Φ)

Mole < 40°

Areia pura ≈ 40 a 45°

Argila rija e dura ≈ 70°

Rocha > 70°

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

A distribuição de tensão parte do conceito físico de tensão ser a razão da carga e a área.
Portanto, a tensão vai diminuindo enquanto a profundidade vai aumentando, uma vez
que a área de solicitação vai aumentando (princípio do bulbo de tensões).

A equação 41 demonstra a tensão em função da carga aplicada (Q) e da área (base x


comprimento) que será utilizada para qualquer profundidade.

Q
σ= (eq. 41) (eq. 41)
b. c
A figura 19 traz a esquematização do espraiamento de acordo com o ângulo.

37
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Figura 19. Distribuição de tensões por espraiamento.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

A letra a corresponde ao aumento da área e deve ser acrescido às dimensões, de acordo


com a figura acima e seu cálculo é feito por meio da equação 42:

a = z . tan Φ (eq.(eq.
42) 42)

Por sua vez, o método 2:1 é bastante simplificado, pois não considera o ângulo de
espraiamento, mas considera a propagação das tensões numa razão de 2:1, conforme
figura 20:

Figura 20. Método 2:1.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

Solução de Boussinesq para carga pontual


Boussinesq foi responsável por desenvolver equações de cálculo das tensões a partir da
aplicação de carga pontual em determinado local do terreno. Para tanto, ele negligenciou
a variação de volume do solo durante a aplicação da carga.
38
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

A equação simplificada é:

Q
σ� = K . (eq.(eq.
43) 43)

onde K equivale a:

3 1
K= .
2π r �
��� (eq. 44)
(eq. 44)
�1 � � � �
z

O valor de K também pode ser encontrado por meio do gráfico contido na figura 21,
que relaciona a razão r/z diretamente ao valor de K, simplificando a equação
de Boussinesq.

Figura 21. Gráfico de K.

Fonte: adaptado de Caputo, 1973.

A solução de Boussinesq foi adaptada para calcular a distribuição das tensões em


diversas situações diferentes.

Carga distribuída ao longo de uma linha


Melan obteve a solução para calcular uma tensão induzida em determinado ponto de
uma carga distribuída uniformemente numa faixa de largura constante na superfície
do terreno. A seguir, a figura 22 demonstra a situação no terreno e as equações 45 e 46
demonstram o cálculo de σz e σx.

39
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Figura 22. Distribuição de carga ao longo de uma faixa constante.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

2q z³
σ� = 2q . z³ (eq. 45)
σ� = π . (x² + z²)² (eq.(eq.
45) 45)
π (x² + z²)²

2q z . x²
σ� = 2q . z . x² (eq.(eq.
46) 46)
σ� = π . (x² + z²)² (eq. 46)
π (x² + z²)²

Carga sobre placa retangular de


comprimento infinito
A placa de comprimento infinito aqui descrita se refere a uma placa que possui uma das
dimensões muito superior às outras. A seguir, a figura 23 demonstra a largura (2b), a
profundidade (z) e a distância (x) da carga e as equações correspondentes.

Figura 23. Distribuição de carga sobre placa retangular de comprimento infinito.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.


q
σ� = q . (α + sen α . cos 2β) (eq. 47)
σ� = π . (α + sen α . cos 2β) (eq.(eq.
47) 47)
π

q
σ� = q . (α − sen α . cos 2β) (eq.(eq.
48) 48)
σ� = π . (α − sen α . cos 2β) (eq. 48)
π
40
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Carregamento distribuído em placa retangular


A equação de Melan foi integrada por Newmark, que chegou ao cálculo da tensão
vertical em um ponto situado no canto de uma área retangular (detalhe da figura 25).
Para tanto, é necessário conhecer os valores de m (x/z) e n (y/z).

Para facilitar o cálculo, a equação desse carregamento (equação 49) pode ser escrita a
partir de um fator de influência Iσ, encontrado a partir da relação entre m e m descrita
na figura 25.

σ� = q . I� (eq.(eq.
49) 49)

Figura 25. Gráfico do fator de influência.

Fonte: adaptado de UNISINOS, 2002.

41
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Outra maneira de calcular o coeficiente de influência é a partir da tabela de m versus n


que, por motivos didáticos, será dividida em duas.

Tabela 4. Relação de m versus n para cálculo de Iσ - parte 1.

m=x/z
0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
n=y/z
0,1 0,005 0,009 0,013 0,017 0,020 0,022 0,024 0,026 0,027
0,2 0,009 0,018 0,026 0,033 0,039 0,043 0,047 0,050 0,053
0,3 0,013 0,026 0,037 0,047 0,056 0,063 0,069 0,073 0,077
0,4 0,017 0,033 0,047 0,060 0,071 0,080 0,087 0,093 0,098
0,5 0,020 0,039 0,056 0,071 0,084 0,095 0,103 0,110 0,116
0,6 0,022 0,043 0,063 0,080 0,095 0,107 0,117 0,125 0,131
0,7 0,024 0,047 0,069 0,087 0,103 0,117 0,128 0,137 0,144
0,8 0,026 0,050 0,073 0,093 0,110 0,125 0,137 0,146 0,154
0,9 0,027 0,053 0,077 0,098 0,116 0,131 0,144 0,154 0,162
1,0 0,028 0,055 0,079 0,101 0,120 0,136 0,149 0,160 0,168
1,2 0,029 0,057 0,083 0,106 0,126 0,143 0,157 0,168 0,178
1,5 0,030 0,059 0,086 0,110 0,131 0,149 0,164 0,176 0,186
2,0 0,031 0,061 0,089 0,113 0,135 0,153 0,169 0,181 0,192
2,5 0,031 0,062 0,090 0,115 0,137 0,155 0,170 0,183 0,194
3,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,171 0,184 0,195
5,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,172 0,185 0,196
10,0 0,032 0,062 0,090 0,115 0,137 0,156 0,172 0,185 0,196

Fonte: Adaptado de Machado e Machado, 2007.

Tabela 5. Relação de m versus n para cálculo de Iσ - parte 2.

m=x/z
1,0 1,2 1,5 2,0 2,5 3,0 5,0 10,0
n=y/z
0,1 0,028 0,029 0,030 0,031 0,031 0,032 0,032 0,032
0,2 0,055 0,057 0,059 0,061 0,062 0,062 0,062 0,062
0,3 0,079 0,083 0,086 0,089 0,090 0,090 0,090 0,090
0,4 0,101 0,106 0,110 0,113 0,115 0,115 0,115 0,115
0,5 0,120 0,126 0,131 0,135 0,137 0,137 0,137 0,137
0,6 0,136 0,143 0,149 0,153 0,155 0,156 0,156 0,156
0,7 0,149 0,157 0,164 0,169 0,170 0,171 0,172 0,172
0,8 0,160 0,168 0,176 0,181 0,183 0,184 0,185 0,185
0,9 0,168 0,178 0,186 0,192 0,194 0,195 0,196 0,196
1,0 0,175 0,185 0,193 0,200 0,202 0,203 0,204 0,205
1,2 0,185 0,196 0,205 0,212 0,215 0,216 0,217 0,218
1,5 0,193 0,205 0,215 0,223 0,226 0,228 0,229 0,230
2,0 0,200 0,212 0,223 0,232 0,236 0,238 0,239 0,240
2,5 0,202 0,215 0,226 0,236 0,240 0,242 0,244 0,244
3,0 0,203 0,216 0,228 0,238 0,242 0,244 0,246 0,247
5,0 0,204 0,217 0,229 0,239 0,244 0,246 0,249 0,249
10,0 0,205 0,218 0,230 0,240 0,244 0,247 0,249 0,250

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

42
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Quando for encontrado um valor para m ou n que não contenha na tabela, é possível
calcular seu valor por meio de interpolação ou regra de três, o que melhor se aplique ao
caso em estudo.

Para calcular a tensão em um ponto fora da área retangular carregada, a uma determinada
profundidade, é necessário fazer alguns ajustes matemáticos para chegar ao valor final.

Utiliza-se a equação 48 para calcular a tensão no ponto desejado, mas obedecem-se às


seguintes regras:

»» É possível adicionar ou diminuir áreas inexistentes no cálculo a título de


encontrar o resultado.

»» Todas as áreas hipotéticas devem ter o ponto em questão como um vértice.

»» A verdade matemática deve ser respeitada, ou seja, toda área inexistente


acrescentada precisa ser retirada o mesmo número de vezes.

»» Assim como todas as áreas inexistentes acrescentadas devem ser retiradas,


todas as áreas hipotéticas retiradas devem ser acrescentadas, mantendo
o cálculo em equilíbrio.

»» As áreas hipotéticas entram na equação através dos ajustes de seus


coeficientes de influência.

A seguir, alguns exemplos para elucidar os pressupostos:

Figura 26. Exemplo 1.

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

O ponto A está distante da área sobre a qual se aplica a carga q (área III). Logo, é
necessário que se calcule o coeficiente de influência de cada uma das áreas acima (I, II,
III e IV). Em seguida, encontra-se o coeficiente IA por meio do ajuste de áreas descrito
na equação 50, a seguir:

I� = I������������� − I������ − I������� + I�� (eq.(eq.


50) 50)

43
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

O que essa equação significa?

A área real carregada (chamada de III) precisou de áreas auxiliares para determinar o
cálculo da tensão que sua carga exerce no ponto A, distante da área de carga.

Primeiramente, foi necessário calcular o coeficiente de influência para uma área


hipotética que ia do ponto A até o fim da área carregada (I(I+II+III+IV)).

Em seguida, retiram-se as áreas hipotéticas formadas pela soma das áreas (I + II) e (II
+ IV). É possível perceber que o setor II foi retirado duas vezes e, portanto, deve ser
reacrescentado mais uma vez.

Dessa maneira, se encontra o coeficiente de influência correto para a situação acima


descrita.

Figura 27. Exemplo 2.

Fonte: elaborado pela autora, 2017.

O ponto B se encontra no centro da área sobre a qual se aplica a carga q (área rosa).
Logo, é necessário que se calcule o coeficiente de influência de cada uma das áreas
menores (I, II, III e IV), uma vez que, para calcular tensão em determinado ponto, esse
ponto precisa estar em um dos vértices da área de carregamento.

Em seguida, encontra-se o coeficiente IB por meio do ajuste de áreas descrito na equação


51, a seguir, que divide a grande área carregada em áreas menores em relação ao ponto
B e as soma.

I� = I� + I�� + I��� + I�� (eq.(eq.


51) 51)

44
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Figura 28. Exemplo 3.

Fonte: elaborado pela autora, 2017.

O ponto C se encontra abaixo da área sobre a qual se aplica a carga q (área amarela).
Logo, é necessário que se divida a área carregada com uma reta perpendicular ao ponto C.

Depois disso, é preciso que se calcule o coeficiente de influência de cada uma das áreas
formadas que tenham o ponto C como vértice (I + III, II + IV, III e IV).

Em seguida, encontra-se o coeficiente IB por meio do ajuste de áreas descrito na equação


52, a seguir, que soma as áreas maiores e subtrai as áreas menores.

I� = I������� + I������� − I��� − I�� (eq.(eq.


52) 52)

Carregamento distribuído em placa circular


A equação de Boussinesq foi integrada por Love (equação 53), que chegou ao cálculo da
tensão vertical em um ponto situado abaixo de uma área circular (detalhe da figura 29).
Para tanto, é necessário conhecer os valores de x/r e z/r.

���
1
σ� � � � �1 � ( r )� (eq.(eq.
53) 53)
1 + ( )�
z

Para facilitar o cálculo, a equação desse carregamento (equação 54) pode ser escrita a
partir de um fator de influência I0, encontrado a partir da relação entre m e m descrita
na figura 29.

σ� = q . I� (eq.(eq.
54) 54)

O fator de influência é obtido em função da relação z/r e x/r, dada pelo gráfico da figura
29, onde: z = profundidade; r = raio da placa carregada; x = distância horizontal que

45
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

vai do centro da placa ao ponto onde se deseja calcular o acréscimo de tensões; q =


carga aplicada. É importante observar que, nesse gráfico, os fatores de influência são
expressos em porcentagem.

Figura 29. Coeficiente de influência para carga aplicada em área circular.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

Para obtenção dos valores do coeficiente de influência, para pontos quaisquer do


terreno, também pode-se utilizar a tabela 6 a seguir.

Vale acrescentar que quando tem-se x/r = 0, tem-se o acréscimo de tensões induzida na
vertical que passa pelo centro da placa circular carregada.

Tabela 6. Relação de x/r versus z/r para cálculo de I0 de área circular.

x/r
z/r 0 0,25 0,50 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0
0,25 0,986 0,983 0,964 0,460 0,015 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000
0,5 0,911 0,895 0,840 0,418 0,060 0,010 0,003 0,000 0,000 0,000
0,75 0,784 0,762 0,691 0,374 0,105 0,025 0,010 0,002 0,000 0,000
1,0 0,646 0,625 0,560 0,335 0,125 0,043 0,016 0,007 0,003 0,000
1,25 0,524 0,508 0,455 0,295 0,135 0,057 0,023 0,010 0,005 0,001
1,5 0,424 0,413 0,374 0,256 0,137 0,064 0,029 0,013 0,007 0,002
1,75 0,346 0,336 0,309 0,223 0,135 0,071 0,037 0,018 0,009 0,004
2,0 0,284 0,277 0,258 0,194 0,127 0,073 0,041 0,022 0,012 0,006
2,5 0,200 0,196 0,186 0,150 0,109 0,073 0,044 0,028 0,017 0,011
3,0 0,146 0,143 0,137 0,117 0,091 0,066 0,045 0,031 0,022 0,015
4,0 0,087 0,086 0,083 0,076 0,061 0,052 0,041 0,031 0,024 0,018

46
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

5,0 0,057 0,057 0,056 0,052 0,045 0,039 0,033 0,027 0,022 0,018
7,0 0,030 0,030 0,029 0,028 0,026 0,024 0,021 0,019 0,016 0,015
10,0 0,015 0,015 0,014 0,014 0,013 0,013 0,013 0,012 0,012 0,011

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

Carregamento triangular de
comprimento infinito
A figura 30 mostra uma distribuição linear de carga vertical aplicada sobre uma placa
retangular de comprimento infinito e largura 2b, com a carga variando de 0 a um valor
q, ao longo da largura. A tensão vertical induzida num dado ponto de coordenadas (x,
z) é dada pela equação 55:

q x
σ� = . ( . α − sen 2δ) (eq.(eq.
55) 55)
2π b

Figura 30. Carregamento triangular de comprimento infinito.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

A solução do problema da distribuição de tensões em uma massa de solo, devido a um


carregamento triangular de comprimento infinito constitui um procedimento básico
para avaliação das tensões induzidas em uma massa de solo por cargas provenientes da
execução de um aterro.

Com efeito, aplicando-se o principio da superposição, as cargas do aterro (figura 31a)


podem ser expressas pela diferença dos carregamentos indicados nas figuras 31b e 31c.

47
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Figura 31. Carregamento em forma de trapézio retangular de comprimento infinito.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

A figura 31, acima, explica uma maneira de calcular a área de um trapézio retangular a
partir das equações de áreas triangulares.

Para efetuar esse cálculo, é importante considerar seu prolongamento a ponto de formar
um triângulo e, posteriormente, subtrair esse triângulo hipotético do prolongamento.

Carregamento em forma de trapézio


retangular de comprimento infinito
As tensões induzidas em uma profundidade z, devido a um acréscimo de carga causado
por uma área carregada em forma de trapézio retangular, pode ser facilmente calculada
usando a equação 56, onde o fator de influência (Iσ) é dado pelo ábaco apresentado na
figura 32.

Esse tipo de carregamento encontra grande aplicação na avaliação de tensões produzidas


por aterros e barragens.

Os fatores de influência são em função das dimensões a e b, como apresentado nesta


figura e o ponto considerado na extremidade direita da área de largura “b”.

σ� = q . I� (eq.(eq.
56) 56)

Quando o valor da razão b/z é nulo, temos o caso de carregamento em área triangular.

Analogamente, por meio da aplicação do principio da superposição, computa-se a soma


ou a diferença dos efeitos das partes do aterro, conforme indicado para o ponto P da
figura 33.

48
CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS │ UNIDADE I

Figura 32. Coeficiente de influência para carregamento em forma de trapézio retangular de comprimento infinito.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

Figura 33. Tensão para ponto no meio do aterro.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

Carregamento uniforme em forma qualquer


Newmark (1942), baseado na equação de Love para acréscimo de tensões ocasionadas
por uma placa circular uniformemente carregada, desenvolveu um método gráfico que
permite obter as tensões induzidas devido a uma área de forma irregular sob condição
de carregamento uniforme, atuando na superfície do terreno.

49
UNIDADE I │ CONSTITUIÇÃO E PROPRIEDADES DOS SOLOS

Para a utilização do ábaco de Newmark, procede-se da seguinte forma:

»» A área carregada é desenhada em papel transparente e numa escala tal


que o segmento AB do gráfico (figura 34) seja igual à profundidade z de
interesse.

»» Coloca-se o desenho em planta sobre o gráfico, de tal modo que a projeção


do ponto estudado (seja interno ou externo à área carregada) coincida
com o centro do ábaco.

»» Conta-se o número de setores (unidades de influência) englobados pelo


contorno da área, estimando-se as frações correspondentes aos setores
parcialmente envolvidos.

»» A tensão vertical induzida no ponto considerado será dada na equação 57


pelo produto da carga aplicada (q) com a unidade de influência (I=0,005)
e o número de fatores de influência (N).

σ� = q . N . I (eq.(eq.
57) 57)

Figura 34. Ábaco de Newmark.

Fonte: adaptado de Machado e Machado, 2007.

50
PERMEABILIDADE Unidade II
DOS SOLOS

Nessa unidade, veremos as propriedades hidráulicas do solo, iniciando com algumas


definições introdutórias de permeabilidade. Em seguida, será vista a adaptação
geotécnica da Lei de Darcy e suas influências. Finalizando a unidade, estudaremos as
redes de fluxo e suas particularidades.

O conteúdo dessa unidade foi baseado e/ou reproduzido das publicações de Caputo (1973),
Terzaghi e Peck (1976), Vargas e Nápoles Neto (1977) e Machado e Machado (2007).

O conhecimento da permeabilidade de um solo é de extrema importância em diversos


problemas práticos de engenharia, como: drenagem, rebaixamento do nível d’água,
recalques etc.

Um material é classificado como permeável quando contém vazios contínuos. Esses vazios
existem em todos os solos, mesmo nas argilas mais compactas.

Os vazios também são encontrados em todos os materiais de construção não metálicos,


como o granito e a pasta de cimento.

A circulação da água pela massa obedece às mesmas leis para todos os materiais.
A diferença reside, segundo Terzaghi e Peck (1976), em sua magnitude, que diferencia
um granito de uma areia.

A permeabilidade dos solos tem efeito decisivo sobre o custo e as dificuldades a enfrentar
nos processos construtivos. Tanto a permeabilidade de um concreto denso quanto de
uma rocha sã tem importância prática. É errado dizer que o concreto ou a argila muito
compacta são impermeáveis.

Acontece que a quantidade de água que passa por esses materiais é ínfima e, em casos de
exposição ao ambiente, essa água se evapora rapidamente e deixa sempre a aparência
de superfície seca.

A água exerce pressão sobre o material poroso que circula. A essa tensão causada pela
água é dado o nome de pressão de filtração.

Os efeitos mecânicos do escoamento são independentes da velocidade de circulação


da água. Então, a ausência de uma descarga visível não é uma indicação de que não
51
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

esteja existindo pressões de filtração. É comum que o evento descrito acima aconteça
em escavações em solos finos.

Apesar de a permeabilidade ser muito baixa, uma pequena variação na pressão da


água de seus poros pode ser suficiente para resultar na transformação de uma grande
quantidade de material em uma massa semilíquida.

52
Capítulo 1
Lei de Darcy

Definições introdutórias
Quando a água circula através de um material permeável, ela escoa de maneira errática
ao longo do caminho que percorre, formando curvas chamadas de linhas de filtração.
Quando essas linhas são retas e paralelas, pode-se dizer que ocorreu filtração linear.

Figura 35. Diagrama de carga hidráulica para filtração linear.

Fonte: adaptado de Terzaghi e Peck, 1976.

A figura 35, acima, ilustra os princípios hidráulicos referentes à filtração linear. Os


pontos ‘a’ e ‘b’ representam os extremos de uma linha de filtração.

Em cada extremo foi instalado um tubo piezométrico para medir o nível que a água
alcança nos diversos pontos.

O nível da água no tubo colocado em ‘b’ se chama nível piezométrico no ponto ‘b’ e a
distância vertical entre esse nível e o ponto ‘b’ é a altura ou carga piezométrica em ‘b’.

Se a água se eleva ao mesmo nível nos tubos piezométricos colocados em ‘a’ e ‘b’, o
sistema se encontra em repouso e não há filtração, mesmo que haja diferença de nível
entre os pontos ‘a’ e ‘b’.

53
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

A filtração ocorre somente quando existe diferença piezométrica ‘h’ entre ‘a’ e ‘b’. Essa
diferença pode ser chamada de carga hidráulica de ‘a’ em relação a ‘b’.

Para casos em que não exista diferença de nível entre os pontos, a diferença piezométrica
é igual à diferença entre as alturas piezométricas de ‘a’ e ‘b’.

Ainda na figura 35, ‘a1’ e ‘b1’ representam dois pontos situados no mesmo nível dos
tubos piezométricos colocados em ‘a’ e ‘b’.

A pressão hidrostática em ‘a1’ é maior que a pressão em ‘b1’, na quantidade representada


pelo produto do peso específico da água com a altura ‘h’.

A diferença entre a pressão hidrostática em um dos pontos situados ao mesmo nível é


chamada de sobrepressão hidrostática. Essa sobrepressão é responsável por provocar a
circulação da água através do solo. A seguir, a equação 58 retrata:
ℎ �
�� = �� � = (eq.(eq.
58) 58)
� �

Na equação acima, a sobrepressão hidrostática é representada pelo ‘u’, enquanto o ip se


chama gradiente de pressão entre ‘a’ e ‘b’ e é dado em g/cm³ (concordando com o Ɣw).

Por outro lado, a equação 59, a seguir, demonstra:


�� 1 � ℎ
�� = = . = (eq.(eq.
59) 59)
�� �� � �

A diferença entre o i da equação 58 e o ip da equação 57 é que i se refere a um índice,


mesmo tendo valor numérico igual ao do ip, que é dado em g/cm³.

A velocidade de descarga ‘v’ é a quantidade de água que circula em determinada unidade


de tempo através de uma superfície unitária perpendicular às linhas de filtração.

Em um material poroso, geralmente isótropo, a porosidade de uma seção plana é igual à


porosidade volumétrica ‘n’. Essa velocidade é diferente da velocidade de filtração média ‘vs’
pelos poros do material, que é a razão entre a velocidade de descarga ‘v’ e a porosidade ‘n’.

Vale ressaltar que sempre que se use o termo velocidade, em se falando de permeabilidade
dos solos, sem utilizar outro termo de acompanhamento, estará se tratando de velocidade
de descarga e não velocidade de filtração.

A velocidade de descarga das areias finas saturadas e de outros solos de grãos finos,
igualmente saturados, onde a circulação da água não afeta a estrutura do material, pode
ser determinada pela equação 60 a seguir:
‫ܭ‬
‫ ݒ‬ൌ Ǥ݅ (eq.(eq.
60) 60)
ߟ ௣

54
PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

Na equação acima, ƞ é a viscosidade da água (g/cm³) e K é a constante empírica da


permeabilidade.

A viscosidade da água diminui com a temperatura (como pode ser visto a seguir na
figura 36). O valor de K também é independente das propriedades físicas do líquido que
filtra por esse material.

A partir das equações 59 e 60, se obtém que a velocidade de descarga é:

‫ܭ‬
‫ ݒ‬ൌ Ǥߛ Ǥ݅
ߟ ௪ (eq.(eq.
61) 61)

A maioria dos problemas enfrentados pelo engenheiro da área de Geotecnia é a filtração


da água a pouca profundidade, com pouca variação na temperatura do líquido, de modo
que Ɣw é praticamente constante. Por isso, a viscosidade da água varia entre limites
pouco extensos. Portanto, é costume substituir a equação 61 por:
ߛ௪
݇ ൌ‫ܭ‬Ǥ (eq.(eq.
62) 62)
ߟ

Substituindo a equação 62 na equação 61, temos:

‫ ݒ‬ൌ ݇ Ǥ݅ (eq.(eq.
63) 63)

Em Engenharia Civil, k é denominado de coeficiente de permeabilidade. A equação 63


acima é conhecida como lei de Darcy (cunhada pelo engenheiro francês em 1856).

Figura 36. Relação entre temperatura e viscosidade da água.

Fonte: adaptado de Terzaghi e Peck, 1976.

A figura 36 demonstra que à medida que a temperatura vai aumentando, a viscosidade


da água vai diminuindo.

55
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

A permeabilidade de um material poroso é expressa por ‘K’ (cm²) e não ‘k’ (cm/s),
já que o coeficiente ‘K’ é independente das propriedades do líquido e ‘k’ depende
não só das propriedades do material poroso, mas também do líquido que o circula.

Figura 37. Valores do coeficiente de permeabilidade de acordo com o tipo de solo.

Fonte: elaborado pela autora, 2017.

Em uma massa de solo, os canais por onde a água circula têm uma seção transversal muito
variável e irregular. Por ele, a velocidade real de circulação é extremamente variável.

Entretanto, a velocidade média obedece às mesmas leis que determinam o escoamento


da água em tubos capilares retos de seção constante.

Relação entre índice de vazios e


permeabilidade
Quando um solo é comprimido e/ou vibrado, o volume ocupado pelos elementos sólidos
permanece praticamente invariável, enquanto o volume de vazios diminui. Então, a
permeabilidade do solo também diminui.

A figura 37 indica a influência que o índice de vazios (e) exerce sobre a permeabilidade.
As abscissas representam o índice de vazios e as ordenadas representam a relação
k/k0,85 (razão entre o coeficiente de permeabilidade do solo num índice de vazios dado
e o mesmo coeficiente quando e = 0,85).

Figura 38. Relação entre a permeabilidade e o índice de vazios.

Fonte: adaptado de Terzaghi e Peck, 1976.

56
PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

A curva de linha cheia é válida para areias finas e médias limpas e bem graduadas.
Essa curva pode ser expressa matematicamente por meio de várias equações simples,
inclusive a de Casagrande:

݇ ൌ ͳǡͶ Ǥ ݁; Ǥ ‫ܭ‬଴ǡ଼ହ (eq.(eq.


64) 64)

Em problemas relacionados às fundações, raramente se encontram areias limpas como


as que foram descritas acima. Para solos com grande presença de grãos finos, a curva
que melhor os representa é a de linha pontilhada.

O tamanho das bolhas de ar presentes em um solo diminui à medida que se aumenta


tanto a pressão da água quanto o coeficiente de permeabilidade.

Ensaios de permeabilidade
A NBR 13292 (ABNT, 1995) determina o método de ensaio para cálculo do coeficiente
de permeabilidade para cargas constantes. Essa norma se aplica apenas a solos que
contenham até 10% de argila e/ou silte em sua composição.

A NBR 14545 (ABNT, 2000) determina o método de ensaio para cálculo do coeficiente
de permeabilidade para cargas variáveis.

Na aplicação desse método, podem ser utilizados corpos-de-prova talhados ou moldados,


obtidos, respectivamente, a partir de amostras indeformadas ou da compactação de
amostras deformadas, cujos coeficientes de permeabilidade sejam menores do que
10-3 cm/s.

Esses ensaios podem ser executados quando da percolação da água no solo em regime de
escoamento laminar. O escoamento laminar exige que algumas condições sejam cumpridas:

»» O solo não pode variar de volume durante a execução do ensaio, ou seja,


deve haver continuidade do escoamento.

»» O corpo-de-prova deve estar totalmente saturado (Sr = 100%).

»» O escoamento também deve demonstrar constância durante a execução


do ensaio, sem que haja variação no gradiente hidráulico.

»» Deve haver proporção direta entre as velocidades de fluxo e os gradientes


hidráulicos.

De acordo com Vargas e Nápoles Neto (1977), os aparelhos de permeabilidade podem


ser classificados entre permeâmetros de carga constante (figura 39) e permeâmetros de
carga variável (figura 40).
57
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

Figura 39. Permeâmetro de carga constante.

Fonte: adaptado do Site da Solocap3, 2017.

No permeâmetro de carga constante, a permeabilidade é obtida pela equação 65:

κ Ǥ ܳ
݇ ൌ (eq.(eq.
65) 65)
ܵ Ǥ ‫ ݐ‬Ǥ ߂݄

Onde:

ℓ é a altura da amostra.
Q é a quantidade de água que percola através da amostra no tempo t.
S é a área da seção transversal da amostra.
Δh é a diferença de níveis entre os reservatórios.

No permeâmetro de carga variável, a diferença entre os dois níveis d’água não é


constante, porém, há uma descida contínua do primeiro nível enquanto a água percola
através da amostra. Nesse ensaio, a permeabilidade do solo se encontra na equação 66.

�� . � ���
� � . ln (eq.(eq.
66) 66)
�� . � ���

Onde:

S1 é a seção do tubo de vidro que fornece água à amostra.


S2 é a seção transversal da amostra.
ℓ é a altura da amostra.
Δh1 é a altura d’água no início do ensaio.
Δh2 é a altura d’água depois de transcorrido o tempo t.
ln é o logaritmo neperiano.
3 Disponível em: <http://www.solocap.com.br/ampliacao.asp?idcod=FL28_Permeametro_constante.2.jpg>. Acesso em: 09
jan. 2017.

58
PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

Figura 40. Permeâmetro de carga variável.

Fonte: adaptado do Site da Solocap4, 2017.

Deduções teóricas das equações


de permeabilidade
Existem várias tentativas de dedução teórica de fórmulas de permeabilidade para as
areias, supondo-as de grãos esféricos regulares. Contudo, as únicas equações com
verdadeiro valor prático são as empíricas ou semiempíricas.

Fórmula empírica de Hazen para areias

݇ ൌ ‫ܥ‬ଵ Ǥ ‫ܦ‬ଵ଴ ² (eq.(eq.


67) 67)

Onde:

D10 é o diâmetro efetivo da areia para 10% da amostra passando pelas peneiras; C1 é
uma constante cujo valor varia de 100 a 150.

Fórmula semiempírica de Terzaghi para areias


� ƞ� � � ����
� � ( ) . ( ) . ( � ) . ��� ² (eq. 68)
ƞ� ƞ� √� � � (eq. 68)

Onde:

C é um coeficiente empírico que assume valor de 800 para areia de grão redondo e
polido e 460 para areia de grão rugoso e irregular;
ƞ0 é o coeficiente de viscosidade para temperatura de 10°C;
4 Disponível em: <http://www.solocap.com.br/ampliacao.asp?idcod=FL30_Permeametro_variavel.1.jpg>. Acesso em: 09 jan. 2017.

59
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

ƞt é o coeficiente de viscosidade para temperatura t;


n é a porosidade da areia;
D10 é o diâmetro efetivo da areia para 10% da amostra passando pelas peneiras.

Fórmulas empíricas de Terzaghi para argilas


� ƞ�
� �� � . � � . �� � �����³ . �� � ��. ��� ² (eq.(eq.
69) 69)
ƞ� ƞ�

Onde:

Todos os símbolos têm o mesmo significado que na equação 68, exceto C, que será
explicado adiante e ε, que é o índice de vazios.

Essa equação 69 não considera a viscosidade da água, quando os poros da argila


assumem dimensões muito pequenas, por efeito dos fenômenos de tensão superficial.

A equação 70, por sua vez, considera esses fatores.

� ƞ� (� � ����)�� . (� � �)
� � � � . � � . � . ��� ² (eq.(eq.
70) 70)
ƞ� ƞ� (� � ����)� . ( � )
���

Os valores das constantes C e c, nas duas equações acima, dependem da natureza dos
grãos e dos seus diâmetros.

Esses valores variam de tal forma que só é possível calcular a permeabilidade de uma
argila por meio delas quando se conhece pelo menos um (para a equação 69) e dois
(para a equação 70) pares de valores índice de vazios e permeabilidade de uma argila
semelhante àquela cuja permeabilidade se quer determinar.

Por esses pares de valores calculam-se, com a fórmula, os valores das constantes e, conhecidos
esses, pode-se aplicar a mesma equação para o cálculo da permeabilidade desejada.

Caracterização do solo de acordo com seu


coeficiente de permeabilidade
Quadro 2. Relação entre os solos e seus coeficientes de permeabilidade.

Limite superior Limite inferior


Propriedades Características
do ‘k’ (cm/s) do ‘k’ (cm/s)
Boa. 102 10-4
Drenabilidade Má. 10-4 10-6
Praticamente impermeável. 10-6 10-10

60
PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

Limite superior Limite inferior


Propriedades Características
do ‘k’ (cm/s) do ‘k’ (cm/s)

Aplicação às Seções permeáveis de barragens de terra. 102 10-4


barragens de terra Seções impermeáveis de barragens de terra. 10-4 10-10
Pedregulho limpo. 102
Areia limpa e misturas de areia limpa e pedregulho. 100 10-3
Solo praticamente impermeável alterado pela vegetação e pelo
Tipos de solo 10-2 10-7
intemperismo.
Areia muito fina, silte, misturas de areia, silte e argila. 10-3 10-7
Argila homogênea. 10-7 10-10

Experimentação direta do solo em sua posição original, por exemplo, com


102 10-3
aberturas de poços de pequeno diâmetro (requer grande experiência).

Determinação Permeâmetro de carga constante (requer pouca experiência). 102 10-3


direta do ‘k’
Permeâmetro de carga variável (seguro: requer pouca experiência). 100 10-3
Permeâmetro de carga variável (incerto: requer muita experiência). 10-3 10-6
Permeâmetro de carga variável (inseguro: requer muita experiência). 10-6 10-10
Cálculo: mediante o conhecimento da distribuição granulométrica do solo e
102 10-3
aplicável somente a pedregulhos e areias limpas.
Ensaio de capilaridade horizontal: requer pouca experiência e é muito útil
Determinação
quando se precisam ensaiar muitas amostras no campo, na falta de um 10-1 10-5
indireta do ‘k’
laboratório nas proximidades.
Cálculos: mediante os resultados de ensaios de adensamento, requer muita
10-7 10-10
experiência e aparelhagem completa de laboratório.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

61
Capítulo 2
Redes de fluxo

Lei de fluxo generalizada (conservação


de massa)
A seguir, é apresentado um tratamento matemático sumário que permite chegar de
uma forma direta às equações básicas utilizadas para tratar os problemas que envolvem
fluxo de água em solos. Considere uma região de fluxo (ou seja, uma região de solo por
onde há fluxo de água) a qual forma um elemento em forma de bloco retangular de
dimensões dx, dy e dz.

Figura 41. Plano tridimensional.

Fonte: elaborado pela autora, 2017.

Admite-se que a percolação d’água através do solo se faça de acordo com a lei de Darcy,
já vista acima. Por considerações de continuidade e incompressibilidade dos líquidos,
pode-se estabelecer a equação 71:

��� ��� ���


+ + =0 (eq.(eq.
71) 71)
�� �� ��

Onde:

Vx, Vy e Vz são as velocidades de escoamento da água através de uma seção unitária nas
três direções x, y e z. Em relação a essas velocidades, a lei de Darcy pode ser reescrita:
߲݄
ܸ‫ ݔ‬ൌ ݇ Ǥ ݅௫ ൌ െ݇ Ǥ ߲݄ (eq. 72)
ܸ‫ ݔ‬ൌ ݇ Ǥ ݅௫ ൌ െ݇ Ǥ ߲‫ݔ‬ (eq.(eq.
72) 72)
߲‫ݔ‬

߲݄
ܸ‫ ݕ‬ൌ ݇ Ǥ ݅௬ ൌ െ݇ Ǥ ߲݄ (eq.(eq.
73) 73)
ܸ‫ ݕ‬ൌ ݇ Ǥ ݅௬ ൌ െ݇ Ǥ ߲‫ݕ‬ (eq. 73)
߲‫ݕ‬
62
߲݄
ܸ‫ ݖ‬ൌ ݇ Ǥ ݅௭ ൌ െ݇ Ǥ ߲݄ (eq. 74)
߲‫ݖ‬
߲݄
ܸ‫ ݕ‬ൌ ݇ Ǥ ݅௬ ൌ െ݇ Ǥ (eq. 73)
߲‫ݕ‬ PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

߲݄
ܸ‫ ݖ‬ൌ ݇ Ǥ ݅௭ ൌ െ݇ Ǥ (eq.(eq.
74) 74)
߲‫ݖ‬

Onde:

h é a carga hidráulica;
∂h/∂x, ∂h/∂y e ∂h/∂z são as representações do gradiente hidráulico ix, iy e iz, nas três
direções x, y e z;
k é a permeabilidade do solo.

O produto de k.h é W (potencial hidráulico). Reescrevendo as equações anteriores,


temos:
߲ܹ
ܸ‫ ݔ‬ൌ െ ߲ܹ (eq. 75)
ܸ‫ ݔ‬ൌ െ ߲ܹ߲‫ݔ‬ (eq. 75)
ܸ‫ ݔ‬ൌ െ ߲‫ݔ‬ (eq.(eq.
75) 75)
߲‫ݔ‬
߲ܹ
ܸ‫ ݕ‬ൌ െ ߲ܹ (eq. 76)
߲‫ݕ‬
ܸ‫ ݕ‬ൌ െ ߲ܹ (eq.(eq.
76) 76)
ܸ‫ ݕ‬ൌ െ ߲‫ݕ‬ (eq. 76)
߲‫ݕ‬

߲ܹ
ܸ‫ ݖ‬ൌ െ ߲ܹ (eq.(eq.
77) 77)
ܸ‫ ݖ‬ൌ െ ߲ܹ߲‫ݖ‬ (eq. 77)
ܸ‫ ݖ‬ൌ െ ߲‫ݖ‬ (eq. 77)
߲‫ݖ‬
Substituindo as equações acima na equação 71, temos:

��� ��� ���


+ + =0 (eq.(eq.
78) 78)
��� ��� ���

A equação 78, acima, é conhecida como equação de Laplace e é responsável por


representar o movimento dos líquidos em qualquer material poroso.

Rede de fluxo
Num problema plano, a equação de Laplace fica reduzida a dois termos e a solução nos
dá duas famílias de curvas que se interceptam em ângulos retos.

Uma das famílias é a das ‘linhas de fluxo’ que são as trajetórias das partículas do líquido
e a outra é a das ‘linhas equipotenciais’, que são os lugares geométricos dos pontos de
igual potencial W.

A figura 42, a seguir, traz o gráfico conhecido como ‘rede de fluxo’ que demonstra as
linhas de fluxo e as linhas equipotenciais acima explanadas.

63
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

Figura 42. Rede de fluxo.

Fonte: elaborado pela autora, 2017.

A seguir, a figura 43 demonstra um modelo físico feito em laboratório para representar


a rede de fluxo.

Figura 43. Modelo físico da rede de fluxo.

Fonte: Gerscovich, 2011.

64
PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

Forchheimer imaginou um método gráfico para a solução de problemas desse tipo.


Consiste em traçar, por meio de tentativas, as linhas de fluxo e as equipotenciais,
obedecendo às seguintes condições:

»» As linhas equipotenciais serão construídas de tal forma que a diferença


entre os níveis piezométricos de duas linhas equipotenciais adjacentes
seja constante.

Essa diferença será chamada de ‘queda de potencial’ e será designada


por Δh. Se h é a carga hidráulica total e Nd é o número de quedas de
potencial, cada queda de potencial valerá:

ℎ ℎ1 − ℎ2
�ℎ = = (eq.(eq.
79) 79)
�� ��

Pra calcular a pressão neutra (u) em determinado ponto (P) da rede de


fluxo, utiliza-se a equação 80, seguinte:

� − ��
� �� . �ℎ1 − ℎ2� . �� (eq.(eq.
80) 80)
��

Se não houvesse fluxo, a pressão nesse determinado ponto seria expressa


apenas pela equação 38.

»» As linhas de fluxo deverão ser traçadas, sempre que possível, de maneira


a formarem quadrados com as linhas equipotenciais e os ângulos de
interseção entre elas serão sempre retos.

A região compreendida entre duas linhas de fluxo é chamada de ‘canal de


fluxo’. A figura 42, acima, tem 4 canais de fluxo.

Cálculo de vazão
A vazão através dos canais de fluxo é calculada pela equação 81 a seguir:

��
� � � . �ℎ1 − ℎ2� . (eq.(eq.
81) 81)
��

Onde:

q é a vazão;

Nf é o número de canais de fluxo.

65
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

Para calcular a vazão a cada canal de fluxo, utiliza-se a equação 82:

�ℎ1 − ℎ2�
�� � � � (eq.(eq.
82) 82)
��

Força de percolação
O escoamento da água através de uma camada permeável produz, em cada ponto dessa
camada, mais uma força, além das pressões hidrostáticas, que é conhecida como ‘força
de percolação’. Essa força, tomada por unidade de volume, é:

‫ܨ‬௣ ൌ ݅ Ǥ ߛ‫ݓ‬ (eq. (eq.


83) 83)

Onde:

Ɣw é o peso específico da água;

i é o gradiente hidráulico no ponto onde Fp é aplicada.

O valor de i pode ser correspondente à razão entre a carga hidráulica total e a medida
do lado do quadrado de fluxo no ponto (razão similar à equação 58).

Percolação em meio anisotrópico


Se o meio considerado é anisotrópico, isto é, tem uma permeabilidade horizontal k1
diferente da vertical k2, o método acima descrito ainda poderá ser aplicado, desde que
se utilize um desenho do meio onde percola água com a escala horizontal diferente da
escala vertical.

Todas as distâncias horizontais serão multiplicadas pela raiz quadrada da razão entre
k2 e k1 (√(k2/k1)). Constrói-se, então, a rede de fluxo da maneira já elucidada.

Depois de traçada a rede, retorna-se ao desenho original multiplicando todas as


distâncias horizontais pela raiz quadrada da razão entre k1 e k2 (√(k1/k2)), chegando
assim à rede de fluxo em meio anisotrópico.

Nesse tipo de rede, as linhas não se cortarão formando ângulos retos. Portanto, sua
vazão será calculada pela equação 84:

��
� � � �ℎ1 − ℎ2� . . ��� . �� (eq.(eq.
84) 84)
��

66
PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

Redes de fluxo para diferentes casos

Cortina de estacas

Figura 44. Rede de fluxo em cortina de estacas.

Fonte: UNICAMP, 2009.

Barragem de concreto

Figura 45. Rede de fluxo sob barragem de concreto.

Fonte: UNICAMP, 2009.

67
UNIDADE II │ PERMEABILIDADE DOS SOLOS

Barragem de concreto com tapete impermeável

Figura 46. Rede de fluxo sob barragem de concreto com tapete impermeável.

Fonte: UNICAMP, 2009.

Barragem de terra

Figura 47. Rede de fluxo sob barragem de terra.

Fonte: UNICAMP, 2009.

Muro gravidade com dreno vertical

Figura 48. Muro gravidade com dreno vertical antes e depois da infiltração.

Fonte: Gerscovich, 2011.

68
PERMEABILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE II

Muro Cantilever com dreno inclinado


Figura 49. Muro Cantilever com dreno inclinado antes e depois da infiltração.

Fonte: Gerscovich, 2011.

Fundações diversas
Figura 50. Rede de fluxo em fundações diversas.

Fonte: UNICAMP, 2009.

69
COMPRESSIBILIDADE Unidade III
DOS SOLOS

O solo é composto por partículas sólidas e espaços vazios, que podem ou não estar
preenchidos por água. Quando este sistema apresenta diminuição de volume decorrente
da aplicação de uma carga, pode-se dizer que houve compressão.

A compressibilidade de um solo depende do seu arranjo estrutural e do seu índice de


vazios. Essa unidade trata da compressibilidade dos solos e se divide em três capítulos.

O primeiro capítulo traz a introdução à compressibilidade, abordando a relação tensão-


deformação do solo, para reforçar as unidades anteriores, além de explicar o processo
de adensamento e as particularidades da compressibilidade em solos grossos e finos.

O segundo capítulo explana a teoria do adensamento, contemplando suas hipóteses e


equações, bem como os ensaios e a representação de seus resultados. Por fim, o terceiro
capítulo trata dos recalques e suas características, junto com um apanhado de algumas
situações práticas.

Essa unidade é inteiramente baseada e/ou reproduzida das publicações de Caputo


(1996), Terzaghi e Peck (1976) e Vargas e Nápoles Neto (1977).

70
Capítulo 1
Introdução aos estudos
de compressibilidade

Relação carga-deformação
Ao ser aplicada uma carga ao solo, ele pode se deformar de duas maneiras:

»» Com volume constante, o que é chamado de deformação plástica (apesar


do termo não ser apropriado, pois, em geral, as deformações sofridas pelas
areias são desse tipo e elas não são incluídas entre os solos plásticos),
como ocorre quando o solo é carregado muito rapidamente e não há
tempo da água passar e diminuir o volume do solo.

»» Com variação de volume (por adensamento), onde o que varia ao ser


aplicada a carga é o volume dos poros do solo, ou seja, seu índice de vazios.

Diferentemente dos outros materiais utilizados na construção civil, o solo tem


deformação muito grande e ela não pode ser verificada no ato da aplicação da carga,
mas em função do tempo, principalmente se tratando de solos argilosos. A seguir, a
figura 51 demonstra o diagrama de tensão-deformação da argila e, comparativamente,
do concreto.

Figura 51. Diagrama tensão-deformação da argila e do concreto.

Fonte: Caputo, 1996.

No diagrama acima, é possível perceber que a argila chega ao se limite de suporte de


carga (Pr,a) muito antes que o concreto (Pr,c), ao tempo em que deforma mais.

A deformação unitária correspondente à pressão no limite de segurança dos materiais


de construção é da ordem de 0,005%, enquanto dos solos é maior do que 0,5% (caso de
areia compacta), atingindo 2,5% (caso de argila plástica).

71
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Essas deformações, geralmente não uniformes, podem não ser prejudiciais ao solo
propriamente dito, mas podem comprometer as estruturas que assentam sobre ele.
Surgiriam, assim, os recalques diferenciais, que provocariam nas estruturas esforços
adicionais que, por vezes, se tornam muito comprometedores à sua própria estabilidade.

O problema do cálculo de recalques, como se verifica, é também de interesse da


engenharia de estruturas, que necessita conhecer esses recalques para poder avaliar
sua repercussão sobre a obra.

Interessa-nos, pois, quando projetamos uma construção, prever os recalques a que ela
estará sujeita, para daí decidir com acerto sobre o tipo de fundação e até mesmo sobre
o sistema estrutural a ser adotado.

Para a estimativa da ordem de grandeza dos recalques por adensamento, além do


reconhecimento do subsolo, que nos levará a conhecer a espessura, posição e natureza
das camadas que constituem, bem como os níveis d’água, necessita-se ainda conhecer:

»» a distribuição das pressões produzidas em cada um dos pontos do terreno


pela carga da obra; e

»» as propriedades dos solos que interessam ao problema em exame, cuja


caracterização será abordada.

Ensaio de compressão simples


O ensaio de compressão simples consiste em carregar um corpo de prova cilíndrico, cuja
altura seja, pelo menos, o duplo do diâmetro com carga axial crescente ‘p’ e observarem-
se as deformações específicas ‘εu’.

A figura 52 mostra, esquematicamente, uma disposição de ensaio.

Figura 52. Ensaio de compressão simples.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

72
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

Na figura 53 aparecem dois tipos de curvas pressão-deformação:


»» a curva A ocorre nos solos arenosos compactos ou nas argilas friáveis; e

»» a curva B pode ser verificada nas argilas moles ou nas areias fofas.

Figura 53. Diagrama de tensão-deformação de alguns solos.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Na curva ‘A’, a ruptura se dá depois de uma deformação específica pequena, mas daí por
diante as pressões necessárias para continuar deformando o material são menores que
a pressão de ruptura.

Na curva ‘B’ as pressões necessárias para deformar aumentam com a deformação até o
ponto de ruptura, quando se mantêm, a partir daí, constantes para qualquer deformação.

Ensaio de compressão triaxial


No ensaio de compressão triaxial, o corpo de prova é, em primeiro lugar, submetido a
uma compressão constante em todos os sentidos; depois, então, é aplicada uma pressão
axial, medindo-se as deformações, conforme a figura 54.

Figura 54. Ensaio de compressão triaxial.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

73
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

A figura 55 mostra o diagrama com as curvas obtidas para três pressões laterais constantes.

Figura 55. Diagrama do ensaio de compressão triaxial.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Prova de carga direta sobre o solo


Na prova de carga direta, carrega-se o solo em sua superfície por meio de uma placa, em
geral circular, como aparece esquematicamente na figura 56.

Figura 56. Prova de carga direta.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

As curvas desse ensaio são similares às do ensaio de compressão simples, onde a curva
A ocorre nos solos arenosos compactos ou nas argilas friáveis e a curva B pode ser
verificada nas argilas moles ou nas areias fofas, conforme a figura 57.

Figura 57. Diagrama da prova de carga direta.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

74
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

Efeito da velocidade de carregamento


Se, em todos esses ensaios, observarmos a progressão das deformações específicas ou
dos recalques com o tempo, obteremos curvas como as da figura 58.

Figura 58. Curvas tempo-recalque.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Para cada acréscimo de carga, vemos os recalques aumentarem com o passar do tempo
até se estabilizarem. Disto, resultam dois tipos de ensaio:

»» Ensaio lento: se aplicam os acréscimos de pressão e se espera passar o


tempo até a estabilização, observando-se os recalques totais.

»» Ensaio rápido: os acréscimos de pressão são aplicados em intervalos de


tempo Δt, constantes, observando-se somente os acréscimos de recalques
Δr1, Δr2 e Δr3, que são apenas frações dos recalques totais.

O efeito da velocidade de carregamento é sempre no sentido de diminuir os recalques e


aumentar a carga de ruptura, como mostra a figura 59:

Figura 59. Efeito da velocidade de carregamento sobre a curva σ/ε de um solo.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

75
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Na curva A, em que a velocidade de carregamento é muito grande, a pressão de


ruptura cresce de P’r para P’’r e a deformação específica na ruptura diminui de ε’r
para ε’’r.

A curva pontilhada CD liga os pontos de ruptura do solo, ao variar o tempo de aplicação


dos acréscimos de carga.

Se no ensaio rápido, ao atingir-se a ruptura em C, a solicitação for mantida, então


a resistência do solo decrescerá progressivamente de C para D, isto é, descerá até a
pressão de ruptura do ensaio lento.

Módulo de deformabilidade (elasticidade) e


coeficiente de Poisson nos solos
Nos solos, o módulo de deformabilidade pode ser calculado a partir do ensaio de
compressão simples, pela da equação 85.

�� � �
�= = (eq.(eq.
85) 85)
� � �� ��

Onde:

M é o módulo de deformabilidade;

P é a carga aplicada;

S é a área da seção transversal do corpo de prova;

l é seu comprimento;

εu é a deformação específica observada sob a carga P (razão entre a deformação (Δl) e o


comprimento (l)).

A compressão do corpo de prova, no sentido axial, produz expansão radial, de forma


que teremos para a deformação radial εR:

ܲ
ߝோ ൌ െ ߤ Ǥ (eq.(eq.
86) 86)
‫ܯ‬

Nessa equação, o fator µ é chamado de coeficiente de Poisson. Para a maioria dos


materiais, o coeficiente de Poisson é da ordem de 0,25, mas para os materiais plásticos,
em que a expansão radial deve compensar a compressão axial de forma a manter o
volume do corpo de prova constante, o valor de µ deve ser igual a 0,5.

76
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

Para determinar o módulo de deformabilidade (M) a partir do ensaio de compressão


triaxial, utiliza-se a equação 87:

1
�� � ��� � �� � ��� ) (eq.(eq.
87) 87)
��

Onde pI é a pressão axial aplicada e pII é a pressão lateral mantida constante.

Nas provas de cargas diretas, desde que a placa seja circular e suficientemente flexível
para que a distribuição das pressões seja uniforme, o valor de M pode ser obtido pela
equação da Teoria da Elasticidade.

ሺͳ െ ߤଶ ሻ Ǥ ‫ ݌‬Ǥ ܴ
‫ܯ‬ൌ݇Ǥ (eq.(eq.
88) 88)
‫ݎ‬

Onde:

R é o raio da placa de prova;

p é a pressão aplicada;

r é o recalque produzido pela pressão u;

µ é o coeficiente de Poisson;

k é uma constante cujo valor está entre 4/π e 2.

Na determinação do módulo de deformabilidade por qualquer desses ensaios, podemos


verificar que M não é constante, porém depende da pressão axial p, uma vez que as
curvas pressão-deformação só muito raramente são retas.

Essa asserção é particularmente verdadeira para o caso dos solos fofos ou moles, onde
não se verifica nenhuma proporcionalidade entre tensão e deformação.

Dessa forma, a determinação de M para fins de previsão de deformações deve ser feita
sempre nas condições de pressão do caso real.

Efeito de carregamentos cíclicos


O efeito de carregamentos cíclicos dos solos sobre os respectivos módulos de deformação
é notável. Se carregarmos o solo até certa pressão p1 e o descarregarmos em seguida
a zero para novamente carregá-lo até uma pressão p2, a compressibilidade observada
nesse segundo carregamento é bem menor.

77
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Figura 60. Efeito de carregamentos cíclicos em um solo.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Como se vê na figura 60, há um efeito histerético no descarregamento do solo. As


tangentes OA, O’A’ e O’’A’’, cujas inclinações sobre Oεu dão a medida dos módulos
de deformação correspondentes a cada novo carregamento, tornam-se tanto menos
inclinadas quanto forem os carregamentos sucessivos.

Depois de atingir a pressão máxima aplicada no carregamento anterior, a curva pressão-


deformação tende a seguir uma envolvente que é a própria curva pressão-deformação
de um carregamento original sem interrupção.

Isso pode acontecer em qualquer tipo de carregamento ou ensaio e é possível observar


coisa semelhante em todos os tipos de solos, quer sejam arenosos ou argilosos.

78
Capítulo 2
Teoria do adensamento

O adensamento é o processo de expulsão de água do solo com diminuição de vazios e a


consequente redução de volume.

Esse processo pode ocorrer devido a um acréscimo de solicitação sobre o solo, seja pela
edificação de uma estrutura, construção de um aterro, rebaixamento do nível de água
do lençol freático ou drenagem do solo, entre outros.

Devido à sua heterogeneidade, grau de saturação, umidade e fração mineral


predominante, o solo apresenta vários tipos de deformação quando solicitado e, cada
tipo, exige uma metodologia própria para a sua avaliação.

Ensaio de adensamento
Nesse tipo de ensaio, carrega-se o material sem permitir deformação lateral. A amostra
de solo é colocada dentro de um anel rígido que, preferivelmente, terá cerca de 10 cm
de diâmetro e 4 cm de altura.

A figura 61 mostra, esquematicamente, a disposição desse ensaio.

Figura 61. Ensaio de adensamento.

Fonte: adaptado do Site da UFSCar5, 2017.

O corpo de prova, solicitado axialmente e sem poder de deformação lateral, tende a


adensar, isto é, expelir água dos seus poros, diminuindo o seu volume.

Trata-se, portanto, de uma deformação a índice de vazios variável.

5 Disponível em: <http://www.labgeo.ufscar.br/ensaios.php?item=6>. Acesso em: 11 jan. 2017.

79
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Ao montar o gráfico correspondente ao ensaio (figura 62), percebe-se que se obtém


uma curva por meio da análise dos índices de vazios resultantes em função das pressões
aplicadas.

Essa curva pode ser representada pela equação 89, a seguir:


‫݌‬
݁ ൌ ݁଴ െ ‫ ݒܭ‬Ǥ Ž‘‰ (eq.(eq.
89) 89)
‫݌‬଴

Onde:

e é o índice de vazios resultante da aplicação de uma pressão;

p é a pressão aplicada;

p0 é a pressão correspondente ao índice de vazio e0;

Kv é uma constante chamada ‘índice de compressão’.

Figura 62. Curva do ensaio de adensamento.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Os índices de vazios estão ligados às deformações sofridas pelo corpo de prova por uma
relação simples que pode ser deduzida a partir da própria definição de índice de vazios:

� �� � ��
= (eq. (eq.
90) 90)
ℎ � � ��

Onde:

r é a deformação;

80
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

h é a altura da amostra;

ei é o índice de vazios antes da deformação;

ef é o índice de vazios depois da deformação.

Daí podemos tirar o valor do módulo de deformabilidade para esse tipo de carregamento
por meio da equação 91:

�� � �� � �� )
�� �
� � �� (eq.(eq.
91) 91)
�� � ��� � � )
��

Onde:

Ma é o módulo de deformabilidade por adensamento;

Δp é um acréscimo qualquer de pressão sobre a amostra;

e0 é o índice de vazios antes do acréscimo de pressão Δp;

p0 é a pressão existente sobre a amostra antes do acréscimo de pressão Δp.

Vemos por aí que Ma depende não só da natureza do material, como também da


grandeza da pressão existente p0 e do acréscimo de pressão Δp. Para determinar Ma,
então, é necessário fazê-lo para as mesmas condições de pressão do problema real onde
esse parâmetro será aplicado.

Efeito de cargas anteriores ou carga de


pré-adensamento
Na compressão por adensamento não há reversibilidade, isto é, se descarregarmos o
solo após uma compressão qualquer, não se restabelece o índice de vazios inicial.

Em virtude da aplicação de cargas, a redução do índice de vazios é quase que totalmente


permanente. Portanto, é de máxima importância no estudo da compressibilidade de
um solo, o estudo de sua história.

Vamos considerar, por exemplo, um local onde haja um substrato rochoso, conforme
figura 63. Forma-se por cima dele uma lagoa onde, por processo geológico conhecido,
uma argila se sedimenta.

81
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Figura 63. Formação de um sedimento argiloso.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Os grãos vão caindo sobre o fundo da lagoa e assentando de maneira caprichosa,


formando uma estrutura complicada, que admite índices de vazios muito grandes.

Admitamos que o processo geológico de sedimentação da argila pare e se inicie uma


sedimentação de areia.

As pressões sobre a camada de argila começam a aumentar gradativamente e, como


consequência do peso aplicado, os índices de vazios da argila começam a diminuir,
segundo a lei expressa pela equação 89.

No momento em que a argila se forma, isto é, deixa de ser água para ser solo, admitimos
que a pressão efetiva é nula e que o índice de vazios corresponde ao limite de liquidez.

Ao aumentar a carga ‘p’, o índice de vazios diminui segundo a lei logarítmica (caso o
gráfico da figura 62 fosse semilogarítmico, a representação da equação 88 seria uma
reta em vez de uma curva).

Acima de valores muito altos da pressão, entretanto, a variação do índice de vazios


diminui e tende para uma constante que é o índice de vazios correspondente ao limite
de contração, abaixo do qual ele não pode passar.

Esses valores muito dificilmente são atingidos na prática.

Suponhamos, agora, que se retire, por meio de sondagem, uma amostra da superfície
superior da camada argilosa. A pressão que era igual ao produto do peso específico com
a profundidade cai para zero.

O índice de vazios que tinha um valor e0 não volta ao correspondente limite de liquidez,
mas assume outro valor.

82
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

Se carregarmos essa amostra em laboratório, a curva obtida terá pouca variação até o
valor da pressão inicial e em seguida retomará à reta semilogarítmica inicial.

A carga p0, nesse caso, toma o nome de pressão de pré-adensamento e corresponde,


assim, à maior pressão a que a argila já esteve sujeita anteriormente.

Agora, vamos supor que haja uma escavação ou erosão da camada de areia que exerce
uma pressão sobre a camada de argila.

Dessa forma, a pressão no ponto de retirada da amostra vai variar, uma vez que mudou
a profundidade da camada de pressão.

No caso em que a camada de areia foi completamente erodida, a camada de argila fica
exposta ao secamento pelo sol.

Existe, então, uma diminuição dos índices de vazios produzida pela evaporação da água
dos poros.

Existe uma correspondência perfeita entre o secamento e a aplicação de uma carga


externa.

De fato, aparece uma pressão capilar que age de maneira inteiramente análoga a uma
pressão aplicada.

Variação dos módulos de deformabilidade


com os estados dos solos
Uma mesma areia pode achar-se em vários estados de compacidade, ou seja, ter índices
de vazios diferentes.

Vamos considerar que essa areia é comprimida sem que se permita deformação lateral.

A partir dos vários estados de compacidade, isto é, índices de vazios iniciais diferentes,
obtêm-se curvas como as que aparecem na figura 64a.

Vamos escolher estados de compacidade correspondentes a um solo solto, a um solo


medianamente compacto e a um solo compacto.

Os índices de vazios correspondentes a esses estados de compacidade são conseguidos


por meio da aplicação de uma carga ‘p’ estática sobre o solo.

Executamos ensaios de compressão triaxial sobre as amostras com diferentes pressões


laterais pII.

83
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Os gráficos 64b, 64c e 64d mostram as representações desses ensaios, desde que eles
sejam procedidos com variação mínima dos índices de vazios utilizados.

Figura 64. Gráficos σ/ε para variação da compressibilidade das areias.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Admitindo que o corpo de prova é, primeiramente, sujeito a uma pressão estática pII,
deformando-se segundo o gráfico 65a, e depois a uma carga axial, poderemos dizer que
a variação de M com os índices de vazios é do tipo que aparece na figura 65b.

Figura 65. Gráficos de variação do módulo de deformidade das areias.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

84
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

A pressão capilar das argilas e a pressão de confinamento das areias têm semelhança
com a chamada pressão intrínseca’ dos sólidos, isto é, a pressão produzida pela atração
mútua das moléculas.

Com efeito, se colocarmos em gráficos de módulo de elasticidade dos diversos metais em


função das respectivas ‘pressões intrínsecas’, obteremos uma reta passando pela origem.

Isso mostra que os solos, sob diferentes estados de compacidade ou dureza, comportam-
se com similarmente aos sólidos quanto às propriedades de deformação, simplesmente
em escalas de grandeza diferentes.

Adensamento dos solos argilosos


Quando se aplica uma carga a um solo argiloso, parte da carga vai agir sobre os grãos
do solo e parte é transmitida à água.

Nas argilas, a água sob pressão tende a escapar dos seus poros, porém, como a
permeabilidade das argilas é muito pequena, o escape da água dá-se muito lentamente
e a diminuição do volume dos poros processa-se vagarosamente. Em consequência, a
deformação se faz também muito lentamente.

Suponhamos uma camada argilosa de espessura ‘h’ depositada sobre um substrato


incompressível e impermeável, como mostra a figura 66.

Figura 66. Esquema da camada argilosa.

Fonte: Adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

85
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Sobre ela há uma camada de areia muito permeável e sobre essa camada de areia é
aplicada uma carga ‘p’ que é distribuída na superfície do terreno em área suficientemente
grande para que se possa supor que, em qualquer ponto P da camada, a carga aplicada é
a mesma. Em qualquer ponto devemos ter a verdade representada na equação 92:

‫ ݌‬ൌ ‫݌‬௦ ൅ ‫ݑ‬ (eq.(eq.


92) 92)

Onde:

ps é a pressão efetiva;

u é a sobrepressão hidrostática.

Pelo dito acima, ps e u variam com o tempo à medida que a água dos poros escoa,
porém, sua soma deve se manter constante e igual à carga aplicada.

No momento de aplicação da carga (t = 0), toda a carga deve ser transmitida à água dos
poros da argila, portanto, p = u e ps = 0.

Na figura 67, aparecem curvas isócronas, ou seja, curvas das sobrepressões hidrostáticas
u em toda a camada, ao variar o tempo.

Figura 67. Curvas isócronas.

Fonte: adaptado de Vargas e Nápoles Neto, 1977.

Tais curvas são obtidas pela integração da equação diferencial de escoamento da água
num meio argiloso qualquer:

��� ��� ��� 1 ��


+ + + . =0 (eq.(eq.
93) 93)
��� ��� ��� �� ��

86
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

Onde:

cv é uma constante, chamada de coeficiente de adensamento, cujo valor é:

� �� � �� )
�� � (eq.(eq.
94) 94)
�� � ��

Onde, por sua vez, k é a permeabilidade do material analisado e av é o coeficiente de


compressibilidade representado pela razão ∂e/∂σ.

87
Capítulo 3
Cálculo dos recalques

Recalque total
Na prática, interessa-nos avaliar o recalque total a que estará sujeita uma construção,
assim como a evolução desse recalque com o tempo.

O cálculo do recalque total, como mostraremos a seguir, é feito de maneira muito


simples a partir dos resultados do ensaio de adensamento, e a sua evolução, com o
tempo, faz-se tendo em vista a teoria do adensamento.

Suponhamos que uma camada de argila saturada, de espessura ‘h’, compreendida entre
duas camadas permeáveis (figura 68), sofra uma diminuição de índice de vazios:

ο݁ ൌ ݁௜ െ ݁௙ (eq.(eq.
95) 95)

Essa variação de índice de vazios foi obtida pelo ensaio de adensamento em consequência
de um acréscimo de pressão Δp sobre a mesma, devido à carga de uma estrutura ou de
um aterro, por exemplo.

Figura 68. Argila em meio a camadas permeáveis.

Fonte: adaptado de Caputo, 1996.

Em vista disso, a camada passará a ter uma espessura menor h1 e o recalque total será,
então:

∆ℎ = ℎ − ℎ� (eq. (eq.
96) 96)

88
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

Visto que o recalque é devido exclusivamente a uma redução d e vazios, e como a seção
mantém-se constante durante a deformação, pois não se admite a possibilidade da
camada expandir-se lateralmente, temos:
ℎ −ℎ ℎ−� ′ℎ� ′ ℎ� ℎ−� ℎ−� ′ℎ� ′
�� �=� = (eq. 97)
(eq.
(eq. 97)
97) �� �=
� = (eq.
(eq. 98)98)
(eq.
98)
ℎ� ′ℎ� ′ ℎ� ′ℎ� ′

Onde hs’ é a altura reduzida da camada. Subtraindo membro a membro:

ℎ − ℎ� ∆ℎ
∆� = = (eq.(eq.
99) 99)
ℎ� ′ ℎ� ′

O que significa que:

∆ℎ = ℎ� � � ∆� (eq.(eq.
100)100)

Ao multiplicar e dividir os termos da equação 100 por ‘h’, temos:

∆�
∆ℎ = . ℎ
ℎ (eq.(eq.
101)101)
ℎ� ′

Reescrevendo a equação 96 em função de h/hs’, temos:


� � � �� (eq.(eq.
102)102)
ℎ� ′

Finalmente, ao substituir a equação 102 na equação 101, temos a equação do cálculo do


recalque total:
∆�
∆ℎ = . ℎ (eq.(eq.
103)103)
����

A equação acima também pode ser reescrita a partir da equação 89, resultando em:

ℎ � � ∆�
∆ℎ = � � � ��� (eq.(eq.
104)104)
� � �� �

Onde ‘p’ é a pressão inicial sobre a camada, antes da aplicação de Δp.

Relação com a Lei de Hooke


Observemos que a equação 103, para o cálculo do recalque total, nada mais é do que
outra forma de se escrever a conhecida lei de Hooke:


� � �� � (eq.(eq.
105)105)
��

89
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Onde E’ é o módulo de adensamento médio, módulo de deformabilidade por adensamento


ou módulo edométrico do solo para o intervalo de pressão Δp, de características
análogas ao módulo de elasticidade E, utilizado para os demais materiais de construção.
Definindo-se E’ pela relação:
∆�
�� �
∆ℎ (eq.(eq.
106)106)

Considerando-se que a deformação se dá a seção constante, temos:

∆ℎ ∆�
= (eq.(eq.
107)107)
ℎ � � ��

Ao substituir a equação 107 na equação 106, temos:

��
�� = � �� � �� ) (eq.(eq.
108)108)
��

Substituindo a equação 108 na Lei de Hooke, temos:

��
� � . ℎ (eq.(eq.
109)109)
� � ��

Provando que o recalque total (equação 103) é a reescrita da Lei de Hooke (equações
104 e 109). Ainda se verifica que:

� � ��
�� = (eq.(eq. 110)
110)
��

Essa equação escrita ao contrário é igual a ‘mv’, que é o coeficiente de decréscimo de


volume ou a perda específica de água intersticial.

1 ��
�� = = (eq.
(eq. 111)111)
�� 1 � ��

Porcentagem de adensamento
Conhecida a distribuição da pressão neutra ao longo da camada, em função do tempo,
podemos agora calcular a porcentagem ou grau de adensamento Uz na profundidade z
e num tempo t. Essa porcentagem pode ser definida pela relação:
�� − � �
�� % = . 100 = �1 − � . 100 (eq.(eq.
112)112)
�� ��

Essa equação toma-se igual a zero no momento da aplicação de p0, e igual a 100 no final
do adensamento.
90
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

A sobrepressão hidrostática também pode ser expressa por:

� � �� �� �
�� � �� ∑�
� � ���� � � � ����� (eq.(eq.
113)113)
� �

Podemos substituir u na equação 112 a partir da equação 113, tendo:

� �� �
�� = 1 − ∑�
� � ���� � � � ����� (eq. 114)
(eq. 114)
� �

A representação gráfica da equação 114 é demonstrada na figura 69. As curvas são


obtidas atribuindo valores a z/H e ao fator tempo T.

A figura fornece-nos uma imagem bastante ilustrativa do processo teórico do


adensamento.

Observa-se que o adensamento ocorre mais rapidamente nas proximidades das faces
drenantes e mais lentamente no centro da camada.

Figura 69. Representação gráfica das curvas de sobrepressão hidrostática.

Fonte: Adaptado de Caputo, 1996.

Para um tempo t, a porcentagem média U de adensamento ao longo de toda a camada


de espessura 2H, será a média dos valores de 1 - u/p0, o que pode ser escrito segundo
a equação 115:


��� � � � ∑�
� � � ����� (eq. (eq.
115) 115)
��

Essa equação expressa a relação entre o tempo e a porcentagem média de adensamento


ao longo da camada. A relação entre U e T, deduzida da equação 115, é representada
graficamente pela figura 70, em escala logarítmica.
91
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

Figura 70. Relação U x T.

Fonte: adaptado de Caputo, 1996.

Evolução do recalque em função do tempo


O cálculo do recalque rt ao fim de um determinado tempo t é feito tendo em vista as
relações:

‫ݎ‬௧ ൌ ܷ Ǥ ο݄ (eq.(eq.
116)116)

Onde, sob outra forma, se põe em evidência o significado do grau de adensamento:

�� � �
� �
ℎ (eq.
(eq. 117)
117)
( )²

Onde f é o número de faces permeáveis da camada:

ܷ ൌ ݂ሺܶሻ (eq.(eq.
118)118)

Assim, calculando h da maneira como foi indicado e depois T para o valor desejado de
t, passa-se, em seguida, à obtenção de U na tabela ou gráfico referente às condições
particulares do problema e, finalmente rt.

Da observação dos gráficos correspondentes às diversas condições de pressão e


drenagem, pode-se concluir que para T = 2 a porcentagem de adensamento U é
praticamente igual a 100%.

Daí resulta para valor prático do tempo de duração do adensamento, a expressão:


2 . ( )²
� (eq.(eq.
119)119)
� �
��

92
COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS │ UNIDADE III

Carregamento lento durante o período


de construção
Vejamos, agora, como se corrige a curva tempo-recalque (C1), levando em conta que
a carga de uma construção não é aplicada instantaneamente no tempo t = 0, mas
gradualmente, durante um tempo tc, que é o período de construção (curva C2), de acordo
com as figuras 71 e 72.

Figura 71. Carga de construção x tempo.

Fonte: adaptado de Caputo, 1996.

Figura 72. Recalque x tempo.

Fonte: adaptado de Caputo, 1996.

Pelo processo aproximado de Terzaghi-Gilboy, a curva C2 é construída supondo-se


que, durante o período de construção, para qualquer tempo t, o recalque rt é igual ao
recalque no tempo t/2 correspondente à aplicação instantânea da carga p, multiplicado
pela relação p/p0 das cargas. Graficamente, para obter o ponto Q da curva C2, basta:

»» baixar a vertical de M (correspondente a t/2) até cortar C1 em N;


93
UNIDADE III │ COMPRESSIBILIDADE DOS SOLOS

»» por esse ponto, traçar uma horizontal até cortar a vertical relativa ao
tempo tc em S;

»» o cruzamento de SO com a vertical baixada de P nos dá Q, ponto da curva


corrigida.

De fato, pelo que foi dito anteriormente:


�� � �����
�� . (eq.(eq.
120)120)
��

Por outro lado:

� ����
�� ����
��
=
����
=
����� (eq.(eq.
121)121)
�� �� ��

Para todos os demais pontos da curva C2, além do tempo tc, como ti, por exemplo, as
ordenadas são iguais às da curva C1 num tempo tc/2. E antes, o tempo é (ti - tc/2).

Para mais informações práticas sobre o recalque, principalmente o recalque diferencial,


é necessário consultar o material didático da disciplina Patologias em Fundações.

94
RESISTÊNCIA AO Unidade IV
CISALHAMENTO

Chama-se resistência ao cisalhamento dos solos a propriedade que eles têm de resistirem
ao deslizamento de uma seção em relação à outra próxima, ou seja, de resistirem ao
corte. Essa resistência ao cisalhamento cresce com a pressão normal ao plano cisalhado.

O primeiro capítulo traz as condições de ruptura dos solos, explicadas pelo diagrama de
ruptura de Mohr (também conhecido como círculo de Mohr) e da equação de Coulomb.

O segundo capítulo trata da resistência ao cisalhamento de solos não coesivos. Nesses


tipos de solos, a resistência ao cisalhamento é sempre proporcional à pressão normal,
sendo inclusive nula quando a pressão for nula.

O terceiro capítulo, e último da disciplina, aborda a resistência ao cisalhamento dos


solos coesivos. Nesses tipos de solos, não existe proporcionalidade fixa e, mesmo com a
pressão aplicada sendo nula, ainda pode haver resistência por parte do solo.

Essa unidade é inteiramente baseada e/ou reproduzida das publicações de Terzaghi e


Peck (1976), Vargas e Nápoles Neto (1977) e UFPR (2011).

95
Capítulo 1
Condições de ruptura dos solos

Conceituação da resistência ao cisalhamento


Os solos, como a maioria dos materiais sólidos, rompem por tração ou por cisalhamento.
As tensões de tração podem causar a abertura de rachaduras que, salvo em algumas
circunstâncias de importância prática, são indesejadas e trazem problemas para
a construção.

Figura 73. Cisalhamento.

Fonte: elaborado pela autora, 2017.

A ruptura por cisalhamento começa em um ponto da massa de solo, quando alguma


superfície que passa por esse ponto alcança uma combinação crítica entre a tensão
normal e a sua tangencial (de corte).

Diagrama de ruptura de Mohr e equação


de Coulomb
De acordo com os princípios da mecânica, a tensão normal (p) e a tensão tangencial (t)
em um plano perpendicular ao plano da tensão principal intermediária e inclinado em
um ângulo qualquer, conforme a figura 74, a seguir:

96
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

Figura 74. Tensões principais e plano inclinado.

Fonte: adaptado de Terzaghi e Peck, 1976.

A seguir, as equações definem o cálculo da tensão normal (p) e da tensão tangencial (t):
1 1
� � 1 . ��� + �� � + 1 . ��� � �� � . ��� 2� (eq. 122)
� � 2 . ��� + �� � + 2 . ��� � �� � . ��� 2� (eq. (eq.
122)122)
2 2

1
� � 1 . ��� � �� � . ��� 2� (eq. (eq.
123)123)
� � 2 . ��� � �� � . ��� 2� (eq. 123)
2
Em um sistema de coordenadas (Figura 75) cujo eixo horizontal corresponde às tensões
normais e eixo vertical às tensões tangenciais, as equações acima representam pontos
situados sobre uma circunferência com centro no eixo das abscissas. Esta representação
é conhecida como o círculo de Mohr.

Expressões similares para as tensões ‘p’ e ‘t’ também podem ser escritas, desde que
suas componentes estejam determinadas pelas coordenadas dos pontos contidos nas
circunferências pontilhadas.

Como no ensaio triaxial usual, a tensão principal maior atua na direção vertical e a
pressão da câmara é representada pela tensão intermediária e pela menor, o diagrama
de Mohr se reduz à circunferência exterior que corresponde às tensões principais: maior
(P1) e menor (P3). Essa circunferência é conhecida como circunferência de tensões.

As coordenadas de todo ponto, como o D, situado sobre a circunferência de tensões,


representam a tensão normal e a tangencial que atuam sobre um plano específico,
inclinado a um ângulo em relação à direção do plano sobre o qual atua a tensão maior.
Da geometria da figura se observa que o ângulo no centro (AO’D) é igual a 2α.

Sempre que as tensões principais P1 e P3 correspondem ao estado de ruptura, pelo


menos um dos pontos da circunferência de tensões deve representar uma combinação
de tensão normal e de corte que conduz a ruptura em algum plano através dela.
97
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Ainda, se as coordenadas do ponto fossem conhecidas, a inclinação do plano sobre o


qual se produz a ruptura poderia ser determinada pelo conhecimento do ângulo α.

Figura 75. Círculo de Mohr.

Fonte: adaptado de Terzaghi e Peck, 1976.

Quando se conduz uma série de ensaios e se desenham, para cada um deles, as


circunferências de tensões que correspondem ao estado de ruptura, pelo menos um
ponto de cada circunferência representa a combinação tensão normal e de corte
associada com a ruptura.

Se o número de ensaios aumenta indefinidamente e o material é homogêneo e isótropo,


é evidente que uma linha envoltória das circunferências de ruptura representa a linha
de ruptura, de acordo com a figura 76.

A linha de ruptura também é conhecida como linha de resistência intrínseca e, para um


material dado, depende das condições específicas que correspondem à série de ensaios
executados.
Figura 76. Envoltória de ruptura.

Fonte: adaptado de Terzaghi e Peck, 1976.

98
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

A figura 77, a seguir, demonstra que para qualquer circunferência de ruptura:

ʹߙ ൌ ͻͲι ൅ ߔ (eq.(eq.
124)124)

Por conseguinte, o ângulo entre o plano em que se produz a ruptura e o plano da tensão
principal maior é:


� � ��� � (eq. (eq.
125)125)
2

Figura 77. Relação entre os ângulos α e Φ.

Fonte: adaptado de Terzaghi e Peck, 1976.

Em geral, a linha intrínseca de ruptura obtida de uma série de ensaios, executados com
amostras de um determinado solo, mais um conjunto também dado de condições, é
curva. Não obstante, essa curva pode, com frequência, ser aproximada por uma linha
reta de equação:

‫ ݏ‬ൌ ܿ ൅ ‫ ݌‬Ǥ ‫ߔ ݃ݐ‬ (eq.(eq.


126)126)

Essa equação se chama equação de Coulomb. Nela, o símbolo ‘t’, que representa a tensão
de corte, é substituído por ‘s’, conhecida como a resistência de ruptura ou a resistência
de cisalhamento.

Por isso, os pontos da linha intrínseca se referem, especificamente, aos estados de


tensão associados com a ruptura.

Determinação das características de


cisalhamento dos solos
As equações 120 e 121, acima, são válidas somente se tg Φ tiver o mesmo valor para
qualquer seção plana que passa por um ponto dado do material solicitado.

Se os vazios de um solo isotrópico estão ocupados somente por ar de baixa pressão, essa
condição se satisfaz.

99
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Ao contrário, se estiverem ocupados com um líquido de baixa sobrepressão hidrostática,


uma parte de p da pressão p (equação 126) apoia os componentes sólidos, que exibem
um valor definido do parâmetro tg Φ, embora, para a diferença entre e p ser igual a u,
o líquido precisa oferecer condições de tg Φ nula.

A relação p/u é distinta para diferentes seções que passam por um mesmo ponto, de
modo que a equação e a interpretação física precedente da linha de ruptura de Mohr são
válidas somente para solos em que a tensão expressa nas equações 122 a 126 possam ser
substituídas pela tensão efetiva p =p–u, como na equação 127:

�� � �� � �� � ��� �� � � � � �̅ � �� � (eq.(eq.
127)127)

Essa equação se designa como a equação revisada de Coulomb.

Quando as abscissas do diagrama de Mohr representam pressões efetivas p e a linha de


ruptura é uma reta, a inclinação dessa linha é conhecida, usualmente, pelo ângulo de
resistência ao cisalhamento Φ do material e a interseção na origem para p =0 se chama
comumente de coesão.
Figura 78. Coesão.

Fonte: Machado e Machado, 2007.

Os materiais que satisfazem estritamente essas condições se denominam materiais


plásticos ideais. Suas características de cisalhamento se definem por meio dos
parâmetros c e Φ.

O valor de Φ da equação 127 supõe uma propriedade do material, mas na realidade o


produto de p e tg Φ da resistência ao cisalhamento representa o resultado combinado
de dois componentes muito diferentes.

Um componente é o produto de p e tg Φ, no qual Φ é o ângulo de atrito entre as partículas


nos seus pontos de contato, dependendo da composição das partículas e do líquido que
ocupa seus vazios.
100
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

Praticamente não é necessária deformação alguma para se mobilizar essa parte da


resistência ao cisalhamento.

O segundo componente, muito mais importante, depende da forma dos grãos e do


grau de trabalho das partículas situadas em correspondência com a superfície de
deslizamento.

Sua grandeza é uma função da compacidade relativa e do índice de liquidez do material.


A mobilização desse componente está associada com o deslocamento por rotação
relativa das partículas e requer, portanto, uma deformação considerável.

Uma vez que seja desenvolvida uma superfície de deslizamento, o deslocamento


subsequente supõe um grau de trabalho entre os grãos situados em correspondência com
a superfície de deslizamento, cada vez menos estreito do que existia no instante em que
se iniciou a ruptura.

Nos solos coesivos, a ruptura está comumente ligada a uma diminuição da


coesão.

Por conseguinte, caso se excluam as areias soltas não coesivas, em todos os outros
solos o deslizamento está associado a uma diminuição permanente da resistência ao
cisalhamento ao longo da superfície de ruptura.

Esse feito explica as características enganosas sobre a aparente estabilidade dos taludes
nos quais já houve deslizamento.

Na mecânica dos solos, a solução matemática de praticamente todos os problemas


de estabilidade é precedida da determinação experimental dos valores de c e Φ, com
a subsequente substituição do solo real por um material plástico ideal ao qual são
atribuídos os parâmetros de cisalhamento c e Φ.

Essas substituições supõem a hipótese de que ambos c e Φ são independentes da


deformação e implicam que os solos não rompem até que a tensão de cisalhamento em
todos os pontos de uma superfície potencial de deslizamento contínuo atinge o valor de
‘s’ definido pela equação revisada de Coulomb (equação 127). As rupturas desse tipo se
chamam simultâneas.

As consequências práticas das diferenças observadas entre os solos reais e os substitutos


ideais devem ser compensadas com um coeficiente de segurança adequado.

101
Capítulo 2
Resistência ao cisalhamento de solos
não coesivos

O objetivo do ensaio de laboratório é estudar o comportamento do solo em condições


similares àquelas encontradas no campo e obter parâmetros que possam descrever esse
comportamento.

Como as areias são materiais muito permeáveis, o excesso de poropressão (∆u)


gerado por um carregamento é facilmente dissipado. Por esse motivo, a resistência
ao cisalhamento das areias é geralmente investigada por meio de ensaios adensados
drenados (CD).

Exceto no caso de carregamentos transientes ou cíclicos, como os terremotos, em que pode


haver acréscimos de pressão neutra ou poropressão e liquefação de areias finas e fofas.

Para esse estudo, utilizam-se dois corpos de prova com diferentes índices de vazios,
sendo um no estado fofo e outro no estado compacto.

No estado fofo, para ocorrer o deslizamento entre partículas, deve-se vencer apenas o
atrito entre os grãos.

No estado compacto, o entrosamento entre as partículas levará a um esforço adicional


para provocar um deslizamento, sendo necessário um aumento de volume para que
esse possa ocorrer.

Resultados de ensaios realizados em corpos de prova de areia com diferentes


compacidades, durante a fase de cisalhamento, são apresentados a seguir.

Figura 79. Curvas tensão desvio por deformação axial.

Fonte: UFPR, 2011.

102
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

Percebe-se, na figura 79, que a amostra de areia densa necessita de tensão maior e sofre
menos deformação antes de atingir o pico.

Para a areia fofa, a tensão desviadora cresce com a deformação axial, e a amostra
apresenta continua diminuição de volume. A areia compacta atinge um valor máximo
de tensão desviadora, chamada de tensão de pico, para menores valores de deformação
axial. Deformando-se o corpo de prova após a ruptura, a curva atinge um valor constante
de tensão, denominado tensão residual.

Figura 80. Curvas de variação de volume por deformação axial.

Fonte: UFPR, 2011.

Nesse grau de compacidade, devido ao entrosamento entre partículas, o cisalhamento


ocorre com aumento de volume do corpo de prova.

Esse comportamento é chamado de dilatância. A variação de volume do corpo de prova


(compressão ou dilatância) também pode ser representada pela variação do índice de
vazios com a deformação axial, conforme a figura 80, acima.

Figura 81. Curvas de índice de vazios por deformação axial.

Fonte: UFPR, 2011.

103
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Nesses ensaios, o índice de vazios aumenta ou diminui conforme a compacidade da areia.


Para grandes deformações, entretanto, o índice de vazios da areia no estado fofo e no
estado compacto tende a um mesmo valor, denominado de índice de vazios critico (ecrit).

Cisalhando-se uma amostra com o índice de vazios igual ao crítico, não há variação de
volume. Segundo Casagrande a determinação do índice de vazios críticos é obtido por
ensaios triaxiais com a tensão confinante (σc) constante sobre corpos de prova com
diferentes índices de vazios iniciais, medindo-se as variações de volume no carregamento
axial (tensão desvio - ∆σd).

Colocando-se em gráfico as variações de volume, obtém-se por interpolação o índice de


vazios críticos, que é aquele para o qual não houve variação de volume total, como na
figura 82.
Figura 82. Gráfico variação de volume por índice de vazios.

Fonte: UFPR, 2011.

A envoltória de resistência para areias fofas e compactas, obtida a partir dos máximos
valores de tensão desviadora está representada na figura 83, a seguir.

A experiência tem demonstrado que a envoltória de resistência de areias fofas é


praticamente uma reta passando pela origem. A resistência ao cisalhamento pode ser
expressa na forma:

߬ ൌ ɐԢ Ǥ ‫ߔ ݃ݐ‬ (eq. (eq.


128)128)

Figura 83. Envoltória de resistência para areias fofas e compactas.

Fonte: UFPR, 2011.

104
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

Para areias compactas, a envoltória é curva, mas, para fins práticos, é possível
substituí-la por uma reta, adotando-se o ângulo de atrito médio para o nível de tensões
envolvido em um problema prático.

O ângulo de atrito de solos granulares, ou seja, a sua resistência é influenciada


por diversos fatores. O fator que mais influencia no valor de “φ” é a compacidade
do solo.

O entrosamento entre os grãos pode ser caracterizado pela compacidade ou pelo índice
de vazios inicial (e0) da amostra, que se for fofa apresentará maior valor de ‘e0’ que o de
uma areia compacta ou densa.

As parcelas de atrito devido ao deslizamento e ao rolamento dependem da forma e


rugosidade das partículas que são propriedades intrínsecas do material ensaiado.

A dilatância, ao contrário, depende da compacidade, que é função do estado em que o


material está no momento – fofo ou denso. A compacidade de solos granulares pode ser
determinada pela equação 27 já vista anteriormente.

Outros fatores influenciam na resistência das areias, como o tamanho das partículas
(areias grossas possuem um ângulo de atrito maior que areias finas), a forma dos grãos
(areias com grãos angulares apresentam maior resistência que aquelas que possuem
grãos de forma regular), distribuição granulométrica (quanto mais bem distribuídas
granulometricamente as areias melhor o entrosamento existente e consequentemente
maior o ângulo de atrito).

O quadro 3 e a figura 84 apresentam a influência dessas propriedades nos valores


do ângulo de atrito interno do solo. Em geral, a água tem pouca influência. Areias
saturadas apresentam ângulo de atrito inferior às areias secas em aproximadamente
1 a 2º.

Quadro 3. Valores típicos do ângulo de atrito interno de areias.

Ângulo de atrito Φ (°)


Compacidade
Fofa Compacta

Grãos angulares 34 44
Areias bem graduadas
Grãos arredondados 30 40

Grãos angulares 32 42
Areias mal graduadas
Grãos arredondados 28 35

Fonte: UFPR, 2011.

105
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Figura 84. Influência da compacidade no ângulo de atrito interno dos solos.

Fonte: UFPR, 2011.

106
Capítulo 3
Resistência ao cisalhamento de
solos coesivos

Esse capítulo estuda a resistência ao cisalhamento das argilas solicitadas sob condições
drenadas e não drenadas.

A solicitação sob condições drenadas significa que todo o excesso de poropressão gerado
por um carregamento é dissipado pelo livre movimento de água nos vazios do solo.
O ensaio CD (consolidado drenado) representa esse tipo de solicitação.

A solicitação sob condições não drenadas diz respeito à aplicação de um carregamento


em massa de solo saturada. Nessa situação, ocorrem variações de tensões totais nas
vizinhanças do local de aplicação da carga. Essas variações de tensões totais geram
excessos de poropressão.

Solicitações drenadas
Inicialmente aplica-se a tensão confinante, provocando um acréscimo de poropressão
∆u na amostra. Com a válvula de drenagem aberta, permite-se a consolidação e a
dissipação de ∆u.

Na maioria dos casos, a duração dessa fase é tipicamente de 24 a 48 horas. Ao final da


consolidação o volume da amostra terá variado e as poropressões serão nulas.

Mantendo-se as válvulas de drenagem abertas, inicia-se a aplicação da tensão desvio


(σ1 - σ3) de forma controlada para que as poropressões também sejam nulas.

Sendo as argilas normalmente pouco permeáveis, a água percola lentamente pelos


vazios do solo, e o ensaio é muito demorado.

Os ensaios CD em argilas simulam problemas de engenharia analisados em longo prazo,


como fundações, escavações, aterros etc.

Em análises em longo prazo, os parâmetros de resistência serão função das tensões


efetivas finais obtidas após a completa dissipação do excesso de poropressão gerado
pelo carregamento.

Um dos fatores que governa as características de resistência de argilas saturadas é a


história de tensões da argila. Se a tensão efetiva atual (σ’vo) é a máxima tensão a que o
solo já esteve submetido, esse solo é chamado normalmente de adensado (NA).
107
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Se, por outro lado, a tensão efetiva em algum momento do passado (σ’vm) foi maior que
a tensão efetiva atual, a argila é chamada de pré-adensada (PA).

O máximo valor de tensão efetiva passada dividida pelo valor de tensão efetiva presente
é definido como razão de pré-adensamento – em inglês over consolidation ratio:
஢ᇱ౬ౣ
ܱ‫ ܴܥ‬ൌ (eq. (eq.
129)129)
஢ᇱ౬బ

Sendo assim, uma argila normalmente adensada possui OCR = 1, enquanto uma argila
pré- adensada possui um valor de OCR superior à unidade.

O resultado de ensaios para dois corpos de prova adensados para a mesma tensão
confinante, sendo um normalmente adensado e outro pré-adensado, é apresentado na
figura 85.

Analisando-se as curvas tensão por deformação, verifica-se que o pré-adensamento


aumenta a resistência ao cisalhamento dos solos e diminui sua compressibilidade.

Figura 85. Resultados de ensaios triaxiais adensados drenados em argilas.

Fonte: UFPR, 2011.

As curvas de variação volumétrica indicam que o solo normalmente adensado diminui


de volume na fase de cisalhamento e, consequentemente, de umidade.
108
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

O solo pré-adensado apresenta uma ligeira diminuição de volume no início do


carregamento, seguido de um aumento de volume e de umidade.

O comportamento tensão-deformação, variação volumétrica das argilas normalmente


adensadas e pré-adensadas, apenas para fixação dos conceitos, é semelhante ao
comportamento das areias fofas e densas, respectivamente.

A figura 86 apresenta a envoltória de resistência típica da argila. Para argilas


normalmente adensadas, a envoltória de resistência é uma reta passando pela origem,
calculando-se a resistência ao cisalhamento, segundo a equação 128.

Para argilas pré-adensadas, a envoltória é curva, podendo ser substituída por uma reta
na solução de problemas práticos, utiliza-se a equação 130:

߬ ൌ … ᇱ ൅ ɐԢ Ǥ ‫ߔ ݃ݐ‬ (eq.(eq.
130)130)

Onde:

c’ = coesão ou intercepto coesivo efetivo


Φ’ = ângulo de atrito efetivo

Figura 86. Envoltória de resistência da argila para solicitação drenada.

Fonte: UFPR, 2011.

Na figura acima, o solo foi adensado na natureza sob uma tensão σ’v0, sendo ensaiado a
tensões confinantes maiores e menores que σ’v0.

A resistência ao cisalhamento deve ser calculada segundo as formulações usadas para


solos pré-adensados ou normalmente adensados, dependendo do nível de tensões em
que se esteja trabalhando.

Em argilas normalmente adensadas (NA) o ângulo de atrito efetivo é muito variável,


não existindo boas correlações, mas verifica-se que o ângulo de atrito tende a ser menor
quanto mais plástico é o solo.
109
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Solicitações não drenadas


Para solos de alta permeabilidade, como no caso das areias, a drenagem ocorre
rapidamente, dissipando o excesso de poropressão tão logo o carregamento é aplicado.

Para solos de baixa permeabilidade, como no caso de argilas, é comum que quase
nenhuma dissipação ocorra durante a aplicação da carga. Essa situação caracteriza
uma solicitação não drenada.

Em carregamentos não drenados, tudo se passa como se a aplicação da carga fosse


instantânea, não havendo variação de volume devido à drenagem de um elemento
genérico da massa do solo.

Em obras de duração relativamente curta (aterros construídos rapidamente, escavações,


aterros de barragens homogêneas etc.) com drenagem impedida, caracteriza uma
solicitação representada pelos ensaios adensados não drenados (CU) e por ensaios não
adensados não drenados (UU).

A análise de um problema de estabilidade pode ser feito tanto em termos de tensões


totais, como em tensões efetivas.

As solicitações não drenadas são típicas de solos argilosos. Portanto, o estudo do


comportamento dos solos argilosos é realizado utilizando amostras normalmente
adensadas (NA) e pré-adensadas (PA).

Argilas normalmente adensadas


Para solos normalmente adensados (NA), conforme discutido nos ensaios drenados
(CD), um carregamento axial provoca a redução de volume do corpo de prova, com
consequente percolação de água para fora da amostra.

Impedindo-se a drenagem, é razoável esperar que surjam poropressões positivas devido


à tendência da amostra reduzir de volume.

Uma amostra de argila saturada cisalhada em condições não drenadas deforma-se


sem variação de volume, devido à incompressibilidade dos materiais que compõem a
amostra (água e grãos). Na figura 87 apresentam-se as curvas típicas do ensaio CU em
solos normalmente adensados.

110
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

Figura 87. Curvas típicas do ensaio CU para solos normalmente adensados.

Fonte: UFPR, 2011.

Suponha dois ensaios CU adensados para diferentes valores de σ3. Os círculos de Mohr
na ruptura, tanto em termos de tensões totais como em termos de tensões efetivas,
estão representados na figura 88.

Observações práticas indicam que as envoltórias são retas passando pela origem com
coeficientes angulares tg Φ e tg Φ’ para tensões totais e efetivas, respectivamente.

Para uma mesma argila, com um dado OCR, existe uma relação única de resistência ao
cisalhamento, independente do tipo de carregamento e condições de drenagem.

Assim, a envoltória de resistência, em termos de tensões efetivas, de um ensaio CU, é


igual à envoltória de resistência de um ensaio CD, ou seja, Φ’CU = Φ’CD.

Figura 88. Envoltória de resistência do ensaio CU para solos normalmente adensados.

Fonte: UFPR, 2011.

111
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

O excesso de poropressão gerado por um carregamento não drenado, para argilas


normalmente adensadas, é positivo.

A dissipação dessa poropressão aumenta a resistência ao cisalhamento do solo (note


que φ’ > φ). Nesse caso, uma obra estável a curto prazo aumenta sua segurança com o
tempo.

Argilas pré-adensadas
As argilas pré-adensadas, ensaiadas com drenagem (CD), apresentam, após pequena
redução de volume (compressão), uma dilatação, ou seja, uma absorção de água pela
amostra.

Portanto, em carregamentos não drenados, é razoável esperar que surjam poropressões


negativas, devido à tendência de aumento de volume do corpo de prova.

Figura 89. Curvas típicas do ensaio CU para solos pré-adensados.

Fonte: UFPR, 2011.

Em carregamentos sem drenagem surgem poropressões menores do que as argilas NA,


e sendo elevada a razão de pré-adensamento (OCR), até poropressões negativas podem
ocorrer.

A envoltória em termos de tensões efetivas é praticamente igual à obtida em ensaios CD.


A envoltória de resistência em termos de tensões totais se afasta de uma reta passando
pela origem, representativa dos solos NA.

Deve-se observar que, para solos PA, o excesso de poropressão gerado por um
carregamento é negativo, e τ’ < τ (esse comportamento é mais visível para altos valores
de OCR – solos fortemente pré-adensados).
112
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

Consequentemente, a resistência ao cisalhamento do solo tende a diminuir com o


tempo e em análises em longo prazo a estabilidade da obra diminui (esse caso é crítico
em escavações em argila saturada fortemente pré-adensada).

Observando a figura 90, para baixas tensões confinantes (elevadas razões de pré-
adensamento – OCR):

»» a poropressão na ruptura é negativa;

»» o círculo de tensões totais se localiza à esquerda do círculo de tensões


efetivas.

Enquanto isso, para altas tensões confinantes (baixos OCR):

»» a poropressão na ruptura é positiva;

»» o círculo de tensões totais se localiza à direita do círculo de tensões


efetivas;

»» a coesão total (c) é maior do que a coesão efetiva (c’);

»» o ângulo de atrito interno total (Φ) é menor que o ângulo de atrito interno
efetivo (Φ).

Solos levemente pré-adensados exibem um comportamento intermediário entre solos


NA e fortemente PA.

Figura 90. Envoltória de resistência do ensaio CU para solos pré-adensados.

Fonte: UFPR, 2011.

Influência da tendência à dilatação


nas poropressões
A razão pela qual ∆u pode ser positivo ou negativo está na tendência à dilatação ou à
contração da amostra.
113
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

Em uma argila PA saturada, que no ensaio CD apresenta dilatação volumétrica no


cisalhamento, quando o material for submetido a um ensaio não drenado CU, as
partículas tenderão a se afastar.

Entretanto, como as válvulas estão fechadas, não pode ocorrer qualquer dilatação e,
com isto, a água será tensionada e a poropressão diminuirá.

Com um material saturado que tende a se contrair durante o cisalhamento, ocorre o


inverso: as poropressões tendem aumentar, como acontece com uma argila NA.

Resumindo, quando a tendência à variação volumétrica no cisalhamento não drenado é


de dilatação, ∆u diminui; quando a tendência é de compressão, ∆u aumenta.

Argilas não adensadas


O ensaio UU é um método simplificado para se verificar o comportamento de solos de
baixa permeabilidade e saturado (argilas), quando submetidos a uma solicitação quase
instantânea, por meio de tensões totais, denominado método de Skempton Φ = 0.

O ensaio UU (não drenado não adensado) é realizado sem permitir a drenagem em


qualquer estágio do carregamento (fase de adensamento e cisalhamento).

Portanto, determina-se a resistência ao cisalhamento não drenado (Su ou Cu),


mantendo-se inalteradas as condições de campo do solo no início do ensaio (índice de
vazios e teor de umidade).

Em solicitações não drenadas, as tensões efetivas em uma amostra saturada permanecem


constantes após a aplicação da tensão confinante, independente do seu valor, pois
qualquer aumento na tensão confinante resulta em igual acréscimo de poropressão.

Figura 91. Envoltória de resistência obtida no ensaio UU.

Fonte: UFPR, 2011.

114
RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO │ UNIDADE IV

Como as tensões efetivas são independentes da tensão confinante, uma bateria de


ensaios realizados a diferentes valores de tensão confinante (σc) resultam nos mesmos
valores de tensão desviadora na ruptura.

Os resultados expressos em termos de tensões totais são apresentados na figura 91,


sendo a envoltória de resistência horizontal (envoltória fictícia), isto é, Φu = 0 e a
resistência ao cisalhamento, S = Su.

Sendo as tensões efetivas independentes da tensão confinante, em solos saturados, os


círculos de ruptura em termos de tensões efetivas de uma série de ensaios se confundem
em um único círculo.

Dessa forma, não é possível definir a envoltória de ruptura em termos de tensões efetivas
de um solo saturado por meio de ensaios UU.

Aplicações dos ensaios de cisalhamento


na prática
O objetivo dos ensaios é estudar o comportamento do solo em condições similares àquelas
encontradas no campo, sendo a escolha do tipo de solicitação, drenada ou não drenada,
função do tipo do solo, das condições de drenagem, da determinação da condição crítica.

A aplicação de solicitações não drenadas em solos pode ser exemplificada para o caso
de uma barragem de terra homogênea. Como a permeabilidade do solo da barragem
deve ser necessariamente muito baixa para evitar a percolação da água, ao final da
construção não ocorreu quase nenhuma dissipação do excesso de poropressão gerada
durante a obra, não havendo variações de volume devido à drenagem em nenhum ponto
da massa de solo. O cálculo da estabilidade dos taludes deve ser feito utilizando-se os
parâmetros de resistência obtidos em ensaios UU.

Com o funcionamento da barragem, o solo se encontra adensado sob a ação das pressões
atuantes no momento, havendo tempo para a dissipação do excesso de poropressão
gerado por esse carregamento.

No caso de um rebaixamento rápido do reservatório, a barragem é solicitada por


um novo conjunto de forças, mas, em virtude da baixa permeabilidade do solo e da
rapidez de aplicação das novas forças, reage a elas sem possibilidade de drenagem. Os
parâmetros para uma análise de estabilidade devem ser obtidos em ensaios CU.

A seguir, apresentam-se alguns exemplos típicos:

»» Terrenos argilosos abaixo de fundações (edifícios e aterros):


115
UNIDADE IV │ RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO

›› ensaios rápidos (não drenados) - CU, UU, compressão simples;

›› quando ocorrer lentes de areia (drenados) - CD.

»» Problemas de empuxos de terra e estabilidade de taludes em solos


argilosos:

›› obras temporárias (curto prazo) - CU, UU;

›› obras definitivas (longo prazo) - CD.

»» Barragens de terra (elevadas pressões neutras):

›› após a construção - UU;

›› rebaixamento rápido - CU.

»» Solos arenosos (alta permeabilidade):

›› ensaios drenados - CD.

116
Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo - determinação


do limite de liquidez. Rio de Janeiro, 2016.

______. NBR 7180: Solo - determinação do limite de plasticidade. Rio de Janeiro, 2016.

______. NBR 7183: Solo - determinação do limite e relação de contração de solos.


[cancelada] Rio de Janeiro, 1982.

______. NBR 13292: Solo - determinação do coeficiente de permeabilidade de solos


granulares à carga constante. Rio de Janeiro, 1995.

______. NBR 14545: Solo - determinação do coeficiente de permeabilidade de solos


argilosos à carga variável. Rio de Janeiro, 2000.

CAPUTO, H. P. Mecânica dos solos e suas aplicações. Volume 1. Rio de Janeiro:


LTC, 1996.

______. Mecânica dos solos e suas aplicações. Volume 2. Rio de Janeiro: LTC,
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