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Transferência de Calor

Brasília-DF.
Elaboração

Samuel José Casarin

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
CONDUÇÃO........................................................................................................................................ 11
CAPÍTULO 1
FENÔMENOS DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR - NOÇÕES GERAIS............................................. 11
CAPÍTULO 2
EQUACIONAMENTO MATEMÁTICO DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONDUÇÃO.............. 18
UNIDADE II
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO................................................................................................................. 28
CAPÍTULO 1
FENÔMENOS DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR CONVECÇÃO............................................ 28
CAPÍTULO 2
FENÔMENOS DA TRANSFERÊNCIA DE CALOR POR RADIAÇÃO................................................. 34
UNIDADE III
RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS.............................. 43
CAPÍTULO 1
CONCEITOS E APLICAÇÕES DE RESISTÊNCIA TÉRMICA (RT) EM TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM
MEIOS DIVERSOS..................................................................................................................... 43
CAPÍTULO2
ALETAS.................................................................................................................................... 51
UNIDADE IV
ESTUDOS DE CASO (EC)....................................................................................................................... 56
CAPÍTULO 1
EC1 – FREIO A DISCO E PASTILHA E FREIO A TAMBOR E LONA – FENÔMENOS DE TROCA DE
CALOR ENTRE ESSES ELEMENTOS: UMA BREVE DISCUSSÃO....................................................... 56
CAPÍTULO 2
EC2- TRANSFERÊNCIA DE CALOR NO CORPO HUMANO: A EQUAÇÃO DO CALOR-BIO............ 60

CAPÍTULO 3
EC3- GERAÇÃO DE POTÊNCIA TERMOELÉTRICA – EFEITO SEEBECK.......................................... 62

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 68
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Seja em qualquer situação cotidiana, o fenômeno da transferência de calor está
ocorrendo. Desde o momento em que você está dormindo até o momento em que você
está em extrema atividade, sempre haverá troca de calor. E não é só com você: sempre
que dois ou mais corpos estiverem em temperaturas diferentes, em contato ou não, a
transferência de calor será possível e ocorrerá.

De acordo com Alves (2019), ao realizarmos um determinado experimento, o calor


pode se propagar de três diferentes formas: convecção, condução e irradiação.

Quando o material está no estado líquido ou gasoso transferirá calor por convecção,
esse processo consiste na propagação de calor por correntes quentes e frias que sobem
e descem, como se vê, a matéria em movimento é que realiza a distribuição de calor.
Quando colocamos um líquido para ferver, ele entra em ebulição quando o calor é
distribuído por igual em toda a parte líquida, a água entra em movimento e distribui
o calor.

A transferência de calor por condução ocorre, por exemplo, em metais como o


alumínio, o cobre e o ferro. Quando o metal é aquecido, as partículas que o compõem
ficam agitadas e transferem calor a todas as partículas que constituem o material. E
não é preciso que as moléculas se movimentem para que essa transmissão ocorra, os
metais são bons condutores de calor.

Considere que você está próximo de uma lareira acesa, seu corpo recebe calor
proveniente do fogo sem ter de precisamente tocá-lo, é mágica? Não, é a energia na
forma de radiação. Como exemplo, o calor solar é responsável pela vida na Terra, se não
existisse a transferência de calor desse astro, morreríamos congelados.

A radiação ocorre de um corpo emissor para um receptor, no caso do sol, ele é o


emissor de calor e nós somos os receptores. Essa energia é denominada de energia
radiante, se propaga no espaço e é transferida por ondas eletromagnéticas.

Por sua vez, a transferência de massa, em sentido lato, poderá ser entendida como
o movimento espacial da matéria. Como exemplos, refira-se o movimento de um
fluido em uma conduta ou em torno de corpos. No entanto, “transferência de massa”
é geralmente entendida no seu sentido mais estrito, referindo-se ao movimento
de um componente específico (A, B…) em um sistema de vários componentes.
Existindo regiões com diferentes concentrações, ocorrerá transferência de massa
no sentido das zonas onde a concentração desse componente é mais baixa. Essa

7
transferência pode ocorrer pelo mecanismo da difusão molecular ou da convecção
(LABVIRTUAL, 2007).

Entre os objetivos da transferência de calor, segundo Bejan (1996, p.5-6), a formulação


da função da taxa de transferência de calor é apenas o ponto de partida para a prática da
engenharia térmica, há três classes de problemas encontrados na engenharia, a seguir
descritos conforme esse autor:

ISOLAMENTOS TÉRMICOS: nesta classe de problemas, as temperaturas


extremas T1 e T2 são usualmente impostas ao meio que transfere calor. A incógnita
é a taxa de transferência de calor que, às vezes, é chamada de “perda de calor”, e na
criogenia é conhecida por “vazamento de calor”. O objetivo desse tipo de projeto
térmico é minimizar a taxa de transferência de calor levando-se em consideração os
fatores econômicos, como o custo total de aplicação do meio de transferência de calor
(o isolamento) e as condições geométricas (como o volume ocupado pelo sistema).
O trabalho no projeto térmico consiste na escolha criteriosa dos constituintes do
isolamento (tamanho, material, forma, estrutura e escoamento), de modo que a taxa
de transferência de calor diminua enquanto T1 e T2 permanecem constantes.

AUMENTO DE TAXA DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR: normalmente,


no projeto de equipamentos para transferência de calor (os trocadores de calor),
conhecemos o valor da taxa de transferência de calor entre as correntes de fluido que
escoam no equipamento. É extremamente desejável, do ponto de vista termodinâmico,
que a taxa de transferência de calor ocorra com a mínima diferença entre as
temperaturas dos fluidos (T1 e T2), pois, assim, a taxa de geração de entropia será
reduzida. A incógnita para a solução desse problema é a diferença de temperaturas,o
objetivo do projeto é melhorar o contato térmico entre os meios participantes, de
modo a minimizar a diferença entre as temperaturas T1 e T2. Isso pode ser alcançado
alterando-se os escoamentos dos fluidos e as formas das superfícies que separam os
escoamentos (por exemplo, pela adição de aletas).

CONTROLE DE TEMPERATURA: em alguns projetos térmicos, torna-se


necessário conhecer qual o valor da temperatura da superfície (TS = T1) que
proporciona a transferência de calor “q”. Por exemplo, nos circuitos eletrônicos
compactos, a taxa de transferência de calor a ser transferida para o ambiente (que
pode ser um escoamento de ar a T2) é “q”. A temperatura na superfície dos circuitos
não pode ser muito mais alta do que a temperatura do ambiente porque sua operação
correta poderá ser comprometida. O objetivo nesse tipo de projeto é determinar o
escoamento do fluido refrigerante que garanta a transferência de calor adequada
para o ambiente e, assim, mantenha a temperatura superficial dos circuitos abaixo da
temperatura operacional limite.
8
Ao longo desta nossa disciplina, estudaremos quatro Unidades, cada uma delas
divididas em dois capítulos nos quais serão abordados:

» Unidade I – CONDUÇÃO –Capítulo 1: FENÔMENOS DA


TRANSFERÊNCIA DE CALOR – NOÇÕES GERAIS, em que veremos
uma introdução aos Fenômenos de Transporte de Calor: Tipos e
mecanismos de fenômenos de transporte de calor, exemplos cotidianos
e modelo matemático. Transporte de calor por condução: Introdução
ao transporte de calor por condução: Mecanismos de transporte de
calor; Coeficiente global de transporte de calor. Exemplos. Capítulo
2: EQUACIONAMENTO MATEMÁTICO DA TRANSFERÊNCIA DE
CALOR POR CONDUÇÃO, em que estudaremos o equacionamento de
transporte de calor por condução. Equação geral para a condução em
regime permanente; Perfil de temperatura; Influência da temperatura na
condutividade térmica e exemplos.

» Unidade II: CONVECÇÃO E RADIAÇÃO – Capítulo 1: Fenômenos de


transferência de calor por convecção – em que veremos os fenômenos da
convecção e do transporte de calor por convecção. Exemplos. Capítulo 2:
Fenômenos de transferência de calor por radiação. Trocadores de calor e
radiação. Gases (regime turbulento). Noções de transporte de calor por
radiação e exemplos.

» Unidade III: RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR


EM MEIOS DIVERSOS & ALETAS – Capítulo 1: Conceitos e aplicações
de resistência térmica (RT) em transferência de calor em diversos
meios. Veremos a importância da resistência térmica e sua influência
na transferência de calor e exemplos. Capítulo 2 – Aletas – conceitos
de aletas e meios estendidos de transferência de calor, aletas de seção
constante e variável.

» Unidade IV: ESTUDOS DE CASO – no qual são apresentados


casos particulares de aplicação e situações-problema envolvendo a
transferência de calor.

Objetivos
» Permitir ao aluno a compreensão e o domínio dos conceitos e métodos
de Fenômenos de Transferência de Calor, de forma a efetuar a sua devida
aplicação na vida profissional e torná-lo capaz e hábil de projetar e
conduzir experimentos e interpretar resultados.

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» Apresentar os conhecimentos de transferência de calor e avaliar os
fenômenos envolvidos, modelá-los e analisá-los matematicamente;

» Fornecer ferramentas para o entendimento dos conhecimentos básicos


de transferência de calor por condução, convecção e radiação;

» Proporcionar o entendimento do que ocorre nos fenômenos de


transporte de massa, preparando-o para compreender, interpretar e
resolver situações que se relacionem a esse caso, de forma racional e
sistêmica.

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CONDUÇÃO UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Fenômenos da transferência de calor -
noções gerais

“Calor, bem como gravidade, penetra qualquer substância do Universo,


seus raios ocupam todas as partes do espaço. A teoria do calor, daqui em
diante, irá formar um dos mais importantes ramos da Física”(CARRION,
2006, p.264).

Manipulando o calor, produzimos aquecimento, resfriamento e mudanças no estado


físico dos corpos. Somente a partir de 1593, com o surgimento do primeiro termômetro
criado por Galileu (1564-1642), foi possível compreender as diversas propriedades
térmicas dos materiais. No entanto, coube a James Prescott Joule (1818-1889)
estabelecer de forma clara que calor é uma forma de energia e determinar o equivalente
mecânico de calor.

Assim, é de extrema importância neste nosso estudo saber a diferença entre


temperatura e calor. Enquanto a temperatura está associada à agitação térmica
das moléculas de um corpo, o calor é uma modalidade de energia que se transfere
de um corpo a outro, devido, exclusivamente, à diferença de temperatura entre
ambos!

Uma curiosidade: no dia a dia, é comum utilizarmos o tato para avaliar a


temperatura dos corpos. Mas esse procedimento, às vezes, nos engana! Sabemos
que, ao tocarmos com a mão uma porta de madeira e sua maçaneta de metal,
ambas a mesma temperatura, temos sensações térmicas diferentes.

11
UNIDADE I │ CONDUÇÃO

Logo, a temperatura é uma medida da energia cinética média das partículas que
compõem o corpo. Uma temperatura mais alta indica maior agitação das partículas e,
portanto, maior energia cinética média. Assim, será mais quente o corpo que apresentar
um valor médio maior para esse grau de agitação.

A Lei Zero da Termodinâmica diz que, “se dois corpos estão em equilíbrio térmico com
um terceiro corpo, então esses corpos estão em equilíbrio térmico entre si” OU “dois
corpos estão em equilíbrio térmico quando têm a mesma temperatura”! (CARRON;
GUIMARÃES, 2006, p.267).

A quantidade de calor (Q) por unidade de tempo que atravessa um corpo chama-se
fluxo de calor (JQ), é, da forma mais simples, assim expresso:
Q
JQ = [cal / s ]
∆T

Quando falamos de transferência de calor, estamos falando também de fenômenos de


transporte (no caso, transporte de calor). Se consultarmos um dicionário, teremos as
seguintes definições:

FENÔMENO – Fato, aspecto, ocorrência ou evento de interesse científico passível


de observação. Tudo o que se observa na natureza e que pode ser descrito e explicado
cientificamente.

TRANSPORTE – Ato, efeito ou operação de transportar.

FENÔMENOS + TRANSPORTE = (FENÔMENOS DE TRANSPORTE) = Fatos


da natureza de interesse científico que podem ser observados, descritos e explicados
cientificamente, nos quais ALGO É TRANSPORTADO.

O calor só pode ser transferido porque ele é transportado.

Matéria e energia (calor) são transportadas de um corpo para outro, de um espaço para
outro, de um ponto para outro, desde que EXISTAM DIFERENÇAS (GRADIENTES)
DAS GRANDEZAS EM TRANSPORTE ENTRE DOIS PONTOS, a saber:

» TRANSPORTE DE QUANTIDADE DE MOVIMENTO – DIFERENÇA DE


PRESSÃO (ΔP).

» TRANSPORTE DE CALOR – DIFERENÇA DE TEMPERATURA (ΔT).

» TRANSPORTE DE MASSA – DIFERENÇA DE CONCENTRAÇÃO (ΔM).

O transporte de calor por condução pode ocorrer tanto em substâncias gasosas quanto
em líquidas e sólidas. A Figura 1 nos mostra como isso ocorre.

12
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

Figura 1. Formas de transporte de calor por condução em gases, líquidos e sólidos.



       




Fonte: Elaboração própria do autor.

A condução de calor nos gases se dá pela condução molecular (entre as moléculas)


associada à difusão molecular. Lembrando que difusão é o movimento de partículas
de uma região de maior para uma de menor concentração, provocada pela elevação da
temperatura. O mesmo se observa nos líquidos.

Nos sólidos, por sua vez, a condução de calor se deve ao fato da existência de vibrações
do reticulado cristalino associado ao intenso fluxo de elétrons livres na estrutura do
material.

Diferenças de temperaturas são indispensáveis à ocorrência de condução de calor.


Veja a Figura 2, que ilustra um caso cotidiano: um dia ensolarado e uma residência.

Figura 2. Transporte de calor em sólidos.

 

Fonte: Elaboração própria do autor.

O calor do sol aquece o interior da casa porque há uma diferença de temperatura


entre o ambiente externo e o interno, ou seja, Text > Tint. Os tijolos e revestimento
das paredes da casa são os responsáveis por transferir o calor do lado externo
para o lado interno. Em um dia de extremo calor, boa parte do calor externo fica
13
UNIDADE I │ CONDUÇÃO

“armazenada” nas paredes da casa, o que mantém o ambiente interno quente –


sensação de calor mesmo à noite.

Sempre que há diferença de temperatura entre dois corpos que trocam calor, há uma
tendência ao estado de equilíbrio, ou seja, se o corpo (1) está na temperatura T1, e o
corpo (2) na temperatura T2, com T1 ǂ T2, há uma tendência para que as temperaturas
se igualem e T1 = T2.

Experimentos demonstram que o fluxo de calor (JQ) ao longo de uma barra de


comprimento L e área de seção transversal A é:

» diretamente proporcional a área A;

» diretamente proporcional à diferença de temperatura entre as duas


extremidades da barra;

» inversamente proporcional ao comprimento L da barra.

Uma relação comum que expressa o fluxo de calor (JQ) em função dessas variáveis é a
seguinte:

K . A.∆T
JQ =
L

Essa mesma equação, de uma forma mais detalhada, veremos adiante.

Ainda quanto à Figura 2, você já vivenciou a seguinte situação: logo após um período
de intenso calor, na transição entre o verão e o inverno, ou seja, no outono, é comum
ocorrer a chegada de uma “frente fria” que, subitamente, baixa a temperatura externa
obrigando você a usar um agasalho para sair de casa; como até então estava calor,
embora a temperatura externa esteja baixa, dentro de casa você ainda consegue ficar só
de camiseta. Porém, se a “frente fria” se prolonga por alguns dias, o interior da sua casa
tem a temperatura diminuída, exigindo que você fique de agasalho mesmo dentro de
casa e até durma de edredom! Quando a “frente fria” vai embora, a rua torna-se um lugar
de temperatura agradável e você não precisa sair de agasalho,mas, mesmo com a ida da
“frente fria”, o interior da casa permanece frio durante certo tempo, obrigando você a
usar agasalho dentro de casa mesmo tendo sol do lado de fora! As coisas só melhoram
quando os ambientes (externo e interno) conseguem equilibrar suas temperaturas ou
próximo desse equilíbrio!

No transporte de calor por convecção, que é outra forma de transferência de calor,


há sempre um fluido envolvido. Um caso comum são as correntes de convecção
mostradas na Figura 3.

14
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

Figura 3. Correntes de convecção.

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
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 


Disponível em: <https://pt.slideshare.net/crisbassanimedeiros/6-ano-atmosfera-54603749>. Acesso em: 27 jan. 2019.

A convecção pode ser classificada em:

» convecção natural (livre);

» convecção forçada;

» convecção com mudança de fase.

Cada um desses tipos de convecção está ilustrado nas Figuras 4, 5 e 6 a seguir.

Figura 4. Convecção natural (ou livre).



 


 

Disponível em: <http://help.solidworks.com/2011/portuguese-brazilian/SolidWorks/cosmosxpresshelp/AllArt/art_local/SimulationXpress/


convection.gif>. Acesso em:2 fev.2019.

Nessa maneira de convecção, imagine uma fôrma retangular que foi retirada de um
forno a altas temperaturas. Ao ser colocada em uma base (apoio), a fôrma (ou placa
como mostrado na Figura 4) emitirá calor (é como se você aproximasse dessa placa
suas mãos) – você sentirá um calor emanando naturalmente da placa aquecida.

15
UNIDADE I │ CONDUÇÃO

Figura 5. Convecção forçada.

Disponível em: <http://help.solidworks.com/2011/portuguese-brazilian/SolidWorks/cworks/LegacyHelp/Simulation/Art/ForcedConv.gif>.


Acesso em:2 fev.2019.

Nessa outra forma de convecção, imagine a mesma placa aquecida retirada do forno.
Ao aproximarmos um ventilador (por exemplo), o calor emanado da placa deixa de fluir
naturalmente e passa a ser orientado (direcionado) na mesma direção do vento emitido
pelo ventilador.

Figura 6. Convecção com mudança de fase.

Disponível em: <http://s3.amazonaws.com/magoo/ABAAAA27IAA-24.jpg>. Acesso em:2 fev. 2019.

Nesse último tipo de convecção, a convecção com mudança de fase, podemos


exemplificar com uma panela cheia d’água, aquecida por uma placa de aquecimento.
Ao formar bolhas internas de vapor, na eminência de ferver, as bolhas explodem ao
atingir a superfície da panela e lançam vapor (quente), caracterizando a transferência
de calor por mudança de fase (fase líquida para gasosa).

Finalmente, temos a transferência de calor por radiação, que possui as seguintes


características:

» energia emitida na forma de ondas eletromagnéticas;

» corpo atingido recebe as ondas e as transforma em CALOR;

16
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

» o transporte de calor por RADIAÇÃO NÃO exige a presença de um meio


(sólido – líquido – gasoso) para auxiliar na transmissão.

A Figura 7 nos mostra como ocorre o transporte de calor por radiação.

Figura 7. Transporte de calor por radiação.



 
 








Disponível em: <http://www.ciencias.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1694&evento=4>. Acesso em: 14 fev. 2019.

A transferência de massa, por sua vez, ocorre sempre que há um gradiente de


concentração (ΔC), tal que uma determinada substância A esteja em dois recipientes
separados por um divisor em dois espaços 1 e 2. Se a concentração da substância A
no espaço 1 (CA1) é tal que seja maior que a concentração dessa mesma substância
no espaço 2 (CA2), ou seja, CA1 > CA2, então, ao abrimos o divisor, permitindo o
deslocamento da substância A, esta irá migrar de (1) para (2), isto é, irá da região de
maior concentração para a de menor concentração, de tal maneira que a distribuição
da substância A naquele recipiente sem divisória será homogênea. Isso é muito comum
com substâncias gasosas e líquidas. A Figura 8 dá um exemplo de como ocorre a
transferência de massa.

Figura 8. Transferência de massa.

  

  

 

Fonte: Elaboração própria do autor.

17
CAPÍTULO 2
Equacionamento matemático da
transferência de calor por condução

Todo tipo de transferência de calor ou de massa, para ser explicado e entendido


(interpretado), depende de uma modelagem matemática que o equacione e torne
possível expressá-lo por meio de fórmulas matemáticas.

A Figura 9 mostra um tipo de fluxograma que demonstra a importância da modelagem


matemática para os fenômenos de transporte (ou transferência) de calor ou massa.

Figura 9. Fluxograma explicativo da importância da modelagem matemática.

  


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   


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
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





Fonte: Elaboração própria do autor.

De acordo com a Figura 9, o modelo matemático de qualquer fenômeno é idealizado


(ou seja, não é real – é o mais próximo da realidade). Para tanto, o cientista tenta
explicar um determinado fenômeno da natureza por meio de um modelamento
(aproximações) matemático que nem sempre retratam fielmente a realidade física.
Para isso, é fundamental a interpretação dos resultados obtidos por esse modelo
matemático para aplicá-lo nas situações reais.

Seguem alguns exemplos de modelos matemáticos elaborados por cientistas famosos:

» F = m.a (Newton)

» E = m.c2 (Einstein)

» P.V = n.R.T (Clapeyron)

18
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

Relativo a transporte de calor (energia), há as equações de fluxo baseadas em fluxo


de energia ou fluidos e há as equações de balanço (ou balanceamento) baseadas em
entradas e saídas de energia ou fluido.

As equações de fluxo são escritas de forma genérica, da seguinte maneira:


 
J = LixF (I)

Em que:

J = Fluxo da propriedade.

Li = Coeficiente cinético.

F = Força termodinâmica ou força motriz.

Podemos definir fluxo (J) como sendo:

Fluxo = (quantidade de matéria ou energia transportada) / (tempo x área)

A equação (I) pode ser simplificada fazendo as seguintes considerações:

» REGIME PERMANENTE - é aquele que não depende do tempo, ou seja,


não varia com o tempo (é constante).

» UNIDIRECIONAL - ocorre somente em uma única direção (só na direção


X, por exemplo).

» COEFICIENTE CINÉTICO CONSTANTE - é aquele parâmetro que não


depende da temperatura, embora varie de acordo com o tipo de fluido.

» ESCOAMENTO INCOMPRESSÍVEL - é um tipo de escoamento que,


mesmo aumentando a pressão, o volume não varia, logo a densidade não
varia também.

» NÃO HÁ GERAÇÃO DE ENERGIA EXTERNA, ou seja, não há fuga de


energia para o meio externo.

A taxa de calor por unidade de área, ou fluxo de calor, depende da área que ele cruza,
portanto possui uma natureza vetorial (vide equação I).

Todas as simplificações acima são fundamentais à construção de um modelo


matemático para o fluxo de energia, pois, assim, de forma idealizada, seu
equacionamento torna-se viável. Com base nessas simplificações, a equação (I)
assume a seguinte forma:
dF
J = Li.( ) (II)
dx

19
UNIDADE I │ CONDUÇÃO

Em que:
dF
é a taxa de variação da força F na direção x, ou o gradiente da força F na direção x.
dx
Lembrando que x é a direção do fluxo de energia.
dF
Como estamos tratando da transferência de calor, o gradiente dx da equação (II) pode
ser substituído pelo gradiente de temperatura (ou seja, pela variação da temperatura e,
consequentemente, do calor, na direção x), assim:
dT
J = Li.( ) (III)
dx

Em que dT é o gradiente de temperatura.


dx
Assim, a equação de fluxo de calor pode ser definida:
dT q
− K .( ) =
JQ = (IV)
dx A
Nessa expressão:
JQ
= Fluxo de calor (cal/m2).

K = Condutividade térmica (W/m.oC).


q = Quantidade de calor transportado (cal).

A = Área (m2)

Observação: o sinal (-) da expressão (IV) é consequência do fato de que o calor é


transferido no sentido decrescente da temperatura, ou seja, da fonte de maior para o
corpo de menor temperatura.

Podemos simplificar e considerar que:

dT ∆T
=
dx ∆x

Em que:

∆T é a variação de temperatura entre dois meios.

∆x é a variação de comprimento ou espessura de uma parede.

q
A taxa de calor por unidade de área ( A ), que cruza uma superfície cuja normal é n (na
direção x), é função do griente térmico, dT/dx, e da constante de proporcionalidade, k
(condutividade térmica).

20
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

O coeficiente de condutividade térmica é um parâmetro termodinâmico, característico


de cada material ou fluido, e seus valores são tabelados – vide exemplo na Tabela 1.

Tabela 1. Condutividade térmica (K) de alguns materiais e fluidos.

Material K (W / m.oC)
Alumínio 230
Aço 47
Concreto 1,74
Tijolo maciço 0,81
Fibrocimento 0,76
Água 0,64
Palha 0,12
Lã de Vidro 0,036
Poliestireno expandido 0,035
Espuma de poliuretano 0,023
Ar 0,023

Fonte: Elaboração do autor com dados de: <http://arq.ap1.com.br/wp-content/uploads/2016/03/conf-termico-e1455797441399.jpg>.

NOTA: no Vácuo → K = 0 (não há difusão térmica no vácuo; para haver difusão é


necessário haver um meio para a temperatura difundir).

A Figura 10 nos mostra os parâmetros utilizados para modelar matematicamente a


equação de fluxo ou transferência de calor.

Figura 10. Parâmetros para a modelagem matemática da equação de fluxo de calor.

Fonte: Elaboração própria do autor.

Podemos resumir as unidades das variáveis envolvidas no fluxo (ou transporte) de calor
da seguinte maneira:
J W
Unidade de Fluxo (JQ): 2
=
s.m s

21
UNIDADE I │ CONDUÇÃO

J W
Condutividade Térmica (K): =
s.K .m K .m
Uma observação: a condutividade térmica (K) é inversamente proporcional à
temperatura que, no Sistema Internacional (SI), é dada em graus Kelvin (K); quando
dada em graus Celsius (oC), recomenda-se fazer a conversão para Kelvin!

O equacionamento aqui apresentado para a transferência de calor é conhecido como a


Lei de Fourier para Condução de Calor!

Estamos, até agora, assumindo um fluxo de calor (JQ) unidirecional (direção x), porém,
em um modelo “mais realista”, o calor de dissipa (flui) ao longo de diversas direções.
Vamos ver a seguir o exemplo do fluxo de calor em duas direções (x,y) (Figura 11).

Figura 11. Fluxo de calor em duas direções.

Fonte: Elaboração própria do autor.

Considerando que o fluxo de calor é uma grandeza vetorial, podemos escrever a


seguinte relação:
    
J Q T =J Q X + J Q Y =JQ i + JQ j

Sendo que:
 dT
J Q i = J QX = − K
dx

 dT
J Q j = J Qy = − K
dy

Além disso, se estivéssemos trabalhando em um modelo tridimensional (3D), seria


acrescida uma parcela referente à direção Z, ou seja:
 dT
J Q k = J Qz = − K
dz

22
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

Resumindo:

a. No modelo de duas direções (bidimensional – 2D):


 dT  dT 
J Qtotal =
−K i−K j
dx dy

b. No modelo de três direções (tridimensional – 3D):


 dT  dT  dT 
J Qtotal =
−K i−K j−K k
dx dy dz

Equação geral de balanço ou de conservação


de energia

A Figura 12 a seguir nos mostra, de uma forma bem simplificada, como é realizado o
balanço de energia de um sistema (pode-se fazer uma analogia com a contabilidade
salarial de uma pessoa).

Figura 12. Balanço de energia de um sistema.

   


   
   

Fonte: Elaboração própria do autor.

Por outro lado, podemos ter um caso especial: o regime estacionário (Figura 13).

Figura 13. Regime estacionário de transferência de energia.

  


  

Fonte: Elaboração própria do autor.

Quando falamos de conservação de energia, estamos tratando da Primeira Lei da


Termodinâmica, segundo a qual: “A variação da energia interna ΔU de um sistema
é expressa por meio da diferença entre a quantidade de calor Q trocada com o meio
ambiente e o trabalho W realizado durante a transformação”.

ΔU = Q - W

Calor (q) e Trabalho (WS) possuem sinais convencionados que obedecem à seguinte
convenção (Figura 14):

23
UNIDADE I │ CONDUÇÃO

Figura 14. Convenção de sinais para Calor (q) e Trabalho (WS).











Fonte: Elaboração própria do autor.

Vamos ver alguns exemplos de cálculos.

Exemplo 1.

Determinar a transferência de calor por unidade de área, em regime permanente, por


meio de uma placa homogênea de 38,0 mm de espessura com as temperaturas em cada
lado da face indicadas na figura. A condutividade térmica do material da placa é de 0,19
W/m.K (Figura 15).

Figura 15. Placa separando dois meios de temperaturas diferentes (ilustração do Exemplo 1 – Cap 2).

 

 




Fonte: Elaboração própria do autor.

SOLUÇÃO:

Nesse exemplo, foi solicitado o cálculo de quantidade de calor por unidade de área
(q/A). Então, vamos aos cálculos.

K = 0,19 W/m.K

L = 38 mm = 0,038 m

T1 = 38 oC = 38 + 273 = 311 K

T2 = 25 oC = 25 + 273 = 298 K

24
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

Obs.: como o valor da constante K foi dada em [W/m.K] e as temperaturas T1 e T2


em graus Celsius (oC), há a necessidade de unificar as unidades de temperatura; assim,
fazemos a conversão das temperaturas T1 e T2 para grau Kelvin (K), como indicado acima.

ΔT = T2 – T1 = 298 - 311 = - 13 K
Assim:
dT ∆T ∆T −13 W
−K.
JQ = −K.
= −K.
= −0,19.(
= )=
65 2
dx ∆x L 0, 038 m
W q
Lembre-se de que 65 2
= é a quantidade de calor por unidade de área.
m A
Exemplo 2.

Considerando a mesma situação do Exemplo 1, porém sabendo que a placa tem uma
área de seção transversal igual a 1,50 m2, calcule o fluxo de calor por meio dessa placa.

Solução.

Aqui o cálculo é mais simples ainda, pois:

q J
= 65 → q = 65. A = 65.1, 5 = 97, 5 = 97, 5W
A s
Exemplo 3.

Considere uma parede de concreto com 9,0 m2 de área e 10 cm de espessura (Figura 16).
Sabendo que a diferença de temperatura entre as duas faces da parede é de 7oC, pede-se:

a. calcule a quantidade de calor transmitida por unidade de área;

b. calcule o fluxo de calor por meio da parede de concreto;

c. calcule o fluxo de calor por meio da parede durante 10 minutos


considerando não haver mudança na variação de temperatura.

Figura 16. Parede de concreto (ilustração do Exemplo 3 – Cap 2).








Fonte: Elaboração própria do autor.

25
UNIDADE I │ CONDUÇÃO

Solução:

Foram dados:

Parede de concreto: Kconcreto = ?

Área = 9,0 m2

Espessura = 10 cm

ΔT = -7oC

Obs.: o sinal (-) utilizado na expressão para o valor de ΔT deve-se ao fato de


considerarmos T1 > T2, ou seja, ΔT = T2 – T1 < 0.

Vamos aos cálculos:

a. Vamos calcular a quantidade de calor transmitida por unidade de área.

Da Tabela 1de K (Coeficiente de Condutividade Térmica) de diversos


materiais.

Kconcreto = 1,74 W/m.oC

Assim:
∆T −7 W
−K.
JQ = −1, 74.( ) =
= 121,8 2
L 0,1 m

b. Para a situação abaixo:

Figura 17. Parede de concreto (ilustração para a solução do exemplo 3).



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



Fonte: Elaboração própria do autor.

q J
JQ = = 121,8 → q = 121,8. A = 121,8.9 = 1096, 2W = 1096, 2
A s

c. Vamos calcular o fluxo de calor por meio da parede durante 10 minutos


considerando não haver mudança na variação de temperatura.

26
CONDUÇÃO │ UNIDADE I

Nesse caso:

10 minutos = 10 x 60 segundos = 600s

Assim:
J J
=J Q 1096,
= 2 1096, 2 = x600 s 657.720 J  657, 72kJ
s s

DESAFIO: Conceitual e Interpretativo.

Suponha que você tenha uma placa de área total A1 (em m2) e de espessura L1 (em
m), que separa duas regiões de temperaturas T1 e T2, T1 > T2, essa placa é feita de um
determinado material M que propicia a ocorrência de um fluxo de calor igual a JQ1 .

Caso queiramos triplicar o fluxo de calor usando uma placa desse mesmo material M,
mantendo as temperaturas T1 e T2, o que pode ser feito?

Analise duas possibilidades, veja a Figura 18.

Figura 18. Ilustração do DESAFIO.






 
 


Fonte: Elaboração própria do autor.

27
CONVECÇÃO E UNIDADE II
RADIAÇÃO

CAPÍTULO 1
Fenômenos da transferência de calor
por convecção

A CONVECÇÃO é uma forma de transporte de calor pela qual é necessária a existência


de matéria para que ocorra.

Convecção térmica é o processo de transferência de calor por meio de transporte


de matéria, devido a uma diferença de densidade e à ação da gravidade (CARRON;
GUIMARÃES, 2006, p.274).

Importante: como na convecção térmica há transporte de matéria, tal processo só


pode ocorrer nos líquidos e nos gases, a convecção não ocorre nos sólidos!

Dois exemplos clássicos de convecção estão ilustrados na Figura 19. Imagine uma sala (a
da sua casa, por exemplo) em duas épocas do ano: verão e inverno. No verão, acionamos o
ar-condicionado posicionado na parte superior da sala, ele gera ar frio de alta densidade,
refrescando o ambiente. No inverno, por sua vez, desligamos o ar-condicionado e ligamos
o aquecedor, que faz com que o ar quente suba e aqueça o ambiente nessa estação do ano!

Figura 19. Esquema de instalação do ar-condicionado e do aquecedor promovendo a ocorrência de


convecção do ar.







Fonte: Elaboração própria do autor.

28
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO │ UNIDADE II

A convecção ocorre devido a esta sequência ilustrada na Figura 20.

Figura 20. Fatores envolvidos na convecção.







Fonte: Elaboração própria do autor.

As Figuras 19 e 20 dão uma ótima noção do mecanismo de funcionamento das


correntes de convecção (aliás, já ilustrada na introdução – Figura 3).

Outro exemplo de corrente de convecção ocorre na praia. Veja as duas situações na


Figura 21.
Figura 21. Correntes de convecção na praia: (a) brisa do mar e (b) brisa da terra.

(a) (b)

a. Disponível em: <http://www.geocities.ws/saladefisica5/leituras/brisa10.jpg>. Acesso em:2 fev. 2019. b. Disponível em: <http://www.
geocities.ws/saladefisica5/leituras/brisa20.jpg>. Acesso em: 2 fev. 2019.

O fenômeno da brisa do mar ocorre nas manhãs quentes, em que a areia da praia se
aquece mais rapidamente que a água do mar, fazendo com que haja um deslocamento
da massa de ar quente da praia para cima e um deslocamento de ar frio do mar para a
praia. À noite, ocorre o inverso, a areia da praia resfria mais rapidamente que a água
do mar (que à noite permanece quente por mais tempo), assim há um deslocamento de
massa de ar quente do mar para cima e um deslocamento de ar frio da praia para o mar.

A convecção envolve a transferência de energia pelo movimento total do fluido e pelo


movimento aleatório das moléculas do fluido.

Principais fatores que influenciam a ocorrência da convecção:

» propriedades do fluido: massa específica, viscosidade, condutividade


térmica, calor específico.
29
UNIDADE II │ CONVECÇÃO E RADIAÇÃO

» características do escoamento: velocidade (laminar, turbulento),


temperatura.

» geometria do meio no qual o fluido escoa: escoamento externo, interno,


rugosidade da superfície.

Na análise da convecção, alguns parâmetros termodinâmicos (e químicos) devem ser


conhecidos e levados em consideração. Tais parâmetros são:

» Massa específica – ρ [kg/m3]

» Viscosidade dinâmica – µ [N.s/m2]

» Viscosidade cinemática –ν [m2/s]

» Condutividade térmica – k [W/m2.K]

» Difusividade térmica – α [m2.s]

» Calor específico – Cp [J/kg.K]

Esses parâmetros estão relacionados entre si por meio de duas expressões:

µ
ν=
ρ
k
α=
ρ .Cp
Nota: os valores desses parâmetros são tabelados em diversos livros de
termodinâmica!

Lei de resfriamento na convecção


TS ,
A Figura 22 ilustra um corpo S,de geometria qualquer,em uma temperatura
imerso em um fluido à temperatura T∞ , que escoa unidirecionalmente.

Figura 22.Corpo imerso em um fluido.



Disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-heaQGl9el4s/TikOpVnugmI/AAAAAAAAAFY/jzpzQukxYew/s1600/Image1841.gif>, (com


adaptações). Acesso em:19 fev. 2019.

30
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO │ UNIDADE II

As relações para cálculo de taxa de calor (q) e fluxo de calor (JQ) são similares às
utilizadas no estudo de transferência de calor por condução, ou seja:

=q h.(TS − T∞ ). A

q
J Q= = h.(TS − T∞ )
A

Em que: h = coeficiente de transferência de calor convectivo. A equação acima é


conhecida como LEI DE RESFRIAMENTO DE NEWTON.

=h h( ρ , µ , Cp, k , TS − T∞ ,ν , geometria)

Nota: como, em geral, TS> T∞ nos estudos de transferência de calor por convecção,
e, nesse caso, JQ> 0, é possível situações em que T∞> TS, aí JQ< 0, a equação toma a
seguinte forma:

JQ = h.(T∞ - TS)

O Quadro 1 nos mostra valor de h para diversos processos convectivos.

Quadro 1. Valores de h para diversos processos convectivos.

Processo Fluido h (W/m2.K)


Gases 2 – 25
Convecção Livre (natural)
Líquidos 50 – 1000

Gases 25 – 250
Convecção Forçada
Líquidos 100 – 2.104

Convecção com mudança de fase Ebulição ou Condensação 2,5.103 – 1.105

Fonte: (INCROPERA;DEWITT 2003, p.5).

A convecção, como podemos depreender, advém da interação entre uma superfície e


um fluido.

Sendo assim, vamos considerar um fluido que esteja escoando em uma direção
paralela a uma superfície (imagine, por exemplo, uma rajada de vento – unidirecional,
por hipótese – fluindo paralelamente a uma superfície asfáltica de uma rodovia).
Consideremos que o fluido esteja a uma temperatura T∞ e a superfície a uma
temperatura TS. A Figura 23 nos mostra o perfil de velocidade (devido à interação
fluido – superfície).

31
UNIDADE II │ CONVECÇÃO E RADIAÇÃO

Figura 23. Perfil de velocidade (v) entre um fluido escoando paralelo a uma superfície S.







Fonte: (DEWITT et al. 2014, p.5).

A Figura 23 mostra que a velocidade do fluido varia desde zero (y = 0, na superfície)


até uma velocidade máxima v∞ de fluxo para y = y∞. Essa figura nos mostra a chamada
“camada limite hidrodinâmica ou de velocidade” que nada mais é que um “perfil de
velocidade” do fluido.

Ao mesmo tempo, podemos estabelecer um “perfil de temperatura” do fluido associado


a essa camada hidrodinâmica (Figura 24).

Figura 24. Perfil de temperatura associado ao deslocamento do fluido paralelo a uma superfície.

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




Fonte: (DEWITT et al. 2014, p.5, com adaptações).

Considerando haver diferenças entre a temperatura da superfície (TS) e a do fluido em


escoamento (T∞), há uma região no fluido por meio da qual a temperatura varia desde
TS em y = 0 até T∞ na região de escoamento mais afastada da superfície. Essa região é
chamada de “camada limite térmica”.

32
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO │ UNIDADE II

De qualquer maneira, se TS> T∞ sempre ocorrerá transferência de calor por convecção


entre a superfície e o fluido.

Na convecção forçada, o escoamento de fluido (e calor) é causado por agentes


externos. Na convecção natural (ou livre), o fluxo é induzido por forças de empuxo,
devido a diferenças de densidades causadas por variações de temperatura do
fluido. Sendo assim, reflita: haveria a possibilidade de haver convecção mista (ou
combinada) – (forçada + natural)?

33
CAPÍTULO 2
Fenômenos da transferência de calor
por radiação

Algo que precisa ficar bem claro para nós é a diferença entre radiação e irradiação.
É bem simples: radiação é transmissão de energia por meio do espaço, enquanto a
irradiação é exposição à radiação (MUNDO EDUCAÇÃO, 2019).

A Figura 25 mostra a simbologia e o fenômeno da irradiação.

Figura 25. Símbolo de radiação e o fenômeno da irradiação solar.

 

Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/upload/conteudo_legenda/33cd8a230d2183cea7ac781c5f43f934.jpg>.


Acesso em: 12 jan. 2019.

Com base na definição e na Figura 25, os significados das duas palavras são muito
parecidos, porém com sentidos diferentes:

» radiação: está relacionada à transmissão de energia por meio do espaço.


Por exemplo, o Sol emite radiação.

» irradiação: é a exposição à radiação. Por exemplo, nós estamos expostos


à radiação solar.

A radiação é, na verdade, a propagação ou a condução do calor a uma determinada


velocidade. É possível dizer que a radiação é aquilo que irradia, ou seja, “sai de raios”, e
esses raios saem (são emitidos) de algum lugar (corpo). Assim, a radiação é considerada
como sendo a propagação no espaço de partículas (constituídas de carga, massa e
velocidade) e campos elétricos e magnéticos.

Existem dois tipos de radiação:

I. radiação não ionizante: é aquela que emite um baixo índice energético;

34
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO │ UNIDADE II

II. radiação ionizante: que tem alto teor de energia e é capaz de arrancar
elétrons do átomo do qual pertencem.

A única diferença existente entre a radiação e a luz é a frequência com que ocorre a
radiação nos corpos. Toda a luz que vemos nada mais é que a propagação do calor.

Irradiação, por seu turno, é a propagação da energia (calor) sem que haja a necessidade
de um meio material para que isso aconteça. De acordo com Carron e Guimarães (2006,
p.275), “irradiação térmica é o processo de transferência de calor por meio de ondas
eletromagnéticas, denominadas ondas de calor ou calor radiante”.

Duas aplicações práticas da radiação e da irradiação estão nas estufas e no vaso de


Dewar (ou a popular garrafa térmica). Vamos ver como funcionam os dois.

Nas estufas, os fenômenos da radiação e da irradiação ocorrem da seguinte maneira


(Figura 26).

Figura 26. Efeito estufa.

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
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 
 
 

Disponível em: <https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/


QDFwXzuDfXsgdnFRsVRkTnStPM5UgDSwsrD2RdBNMVrRvNXVYB9f3ysRJYdV/sistematizacao>. Acesso em 12 jan. 2019).

Embora muito criticado, o efeito estufa (terrestre) tem seu lado benéfico e seu lado
prejudicial. O lado benéfico é que, dentro dos limites toleráveis, o efeito estufa auxilia o
planeta a manter a temperatura favorável à sobrevivência humana. O lado prejudicial
refere-se à maior concentração de CO2 e de vapor d´água, que geram um “escudo” e
elevam substancialmente a temperatura do planeta!

James Dewar (1842-1923), físico-químico escocês, foi o criador do Vaso de Dewar, a


famosa “garrafa térmica”, um recipiente que impede a troca de calor entre dois meios

35
UNIDADE II │ CONVECÇÃO E RADIAÇÃO

pelo máximo de tempo possível. O princípio de funcionamento do vaso de Dewar é


simples, é baseado na emissão de radiação. Vejamos, na Figura 27, como é o modelo.

Figura 27. Vaso de Dewar.

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  




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

Disponível em: <https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/upload/conteudo_legenda/d2b028c36f9292e6728577223d7e85c7.jpg>.


Acesso em:2 fev. 2019.

Isolantes térmicos
Quando falamos de transferência de calor, algo que jamais podemos desprezar nos
estudos são os materiais isolantes térmicos.

Um material isolante térmico é aquele que impede a dissipação de calor, ou


seja, impede a passagem de calor entre dois meios ou ambientes, que poderiam
naturalmente ficar com temperaturas iguais.

Os materiais utilizados como isolante térmico geralmente são porosos ou fibrosos, de


modo que concentrem o ar seco e o guarde dentro de suas células.

As principais vantagens de um bom isolamento térmico são:

» maior conservação de energia, pois o material reduz a perda ou os ganhos


de calor;

» maior eficiência no processo de resfriamento ou aquecimento;

» garantia de controle de temperatura a fim de proteger pessoas ou


equipamentos;

36
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO │ UNIDADE II

» instalação rápida e barata;

» não é inflamável, ou seja, não pega fogo;

» manutenção mínima, pois o material tem grande durabilidade e vida útil.

Vejamos alguns tipos e características de materiais isolantes térmicos (ISAR, 2019).

Espuma elastomérica
A espuma elastomérica é um isolante térmico flexível indicado para isolamento térmico
de temperaturas entre -50ºC e 105ºC. Sua estrutura celular fechada proporciona menor
condutividade térmica e maior resistência à difusão do vapor de água.

Sua aplicação é maior em indústrias e comércios, largamente utilizada em sistemas de


climatização, instalações de frio industrial, como câmaras de refrigeração e frigoríficos,
por exemplo, e em equipamentos e dutos de ar-condicionado.

Quando dimensionadas e instaladas de forma correta, as espumas elastoméricas


atendem as mais diversas necessidades e, por isso, tornaram-se referência em qualidade
e acabamento.

Por ser altamente flexível, de forma que possa ter diversas espessuras e tamanhos, a
espuma elastomérica pode ser encontrada em vários formatos, sendo eles: tubos ou
mantas de borracha elastomérica, standard ou autoaderentes, fitas autoadesivas,
cintas, etc., além de ser usada também como cola e revestimentos especiais.

Exemplos de produtos de espuma elastomérica (Figura 28).

Figura 28. Produtos de espuma elastomérica: (a) Manta isolante; (b) Tubos de espuma.

(a) (b)

a. Disponível em: <https://www.isar.com.br/wp-content/uploads/2015/09/manta-isolante-espuma-elastomerica.jpg>. Acesso em: 15 jan.


2019). b. <Disponível em: https://www.isar.com.br/wp-content/uploads/2015/09/tubos-espuma-elastomerica.jpg>. Acesso em: 15 jan.
2019.

37
UNIDADE II │ CONVECÇÃO E RADIAÇÃO

Lã de rocha
A lã de rocha é fabricada a partir de rochas basálticas especiais e de outros minerais que,
aquecidos a cerca de 1.500ºC, são transformados em filamentos e que, aglomerados a
soluções de resina orgânicas, permitem a fabricação de produtos leves e flexíveis a até
muito rígidos, dependendo do grau de compactação.

Os produtos à base de lã de rocha podem ser: feltros, isotubos, jaquetas térmicas (são
isolantes removíveis e reutilizáveis, compostos de material resistente ao fogo), mantas,
painéis, flocos amorfos (constituídos por fibras em lã de rocha THERMAX, isentos
de resinas e materiais orgânicos, possuem diâmetro médio entre 6 e 7 mícrones) e
feltros leves (revestidos em uma das faces com uma folha de alumínio impermeável,
proporcionando uma barreira contra a condensação superficial e a penetração de
umidade no interior do isolante).

Lã de vidro
É uma massa de fibras de vidro, semelhante, na aparência, à lã, utilizada como isolante,
material de embalagem e filtros de ar.

A Figura 29 nos mostra um exemplo de lã de vidro.

Figura 29. Lã de vidro.

Disponível em: <https://http2.mlstatic.com/la-de-vidro-para-fogao-electrolux-brastemp-dako-continent-D_NQ_NP_634331-


MLB25689998664_062017-F.jpg>. Acesso em: 15jan.2019.

Poliestireno (isopor)
Isopor é um polímero de estireno minúsculo resultante de pérolas que, submetidas
à expansão de vapor d’água, aumentam em até 50 vezes seu tamanho original,
fundindo-se e moldando-se em um material de excelente poder de isolamento, tanto de
calor quanto, principalmente, de frio, devido à grande quantidade de células fechadas e
cheias de ar em seu interior.

38
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO │ UNIDADE II

A Figura 30 mostra produtos modernos fabricados com isopor.

Figura 30. Produtos de isopor (a) Placa de isopor expandido moldado em placas rígidas; (b) Telhas termoacústicas.

(a) (b)

a. Disponível em: <https://www.isar.com.br/wp-content/uploads/2015/09/isolamento-termico-isarfoam-1.jpg>. Acesso em 15 jan. 2019.


b. Disponível em: <https://www.isar.com.br/wp-content/uploads/2015/09/isolamento-termico-isolamento-para-telhas-1.jpg>. Acesso
em: 15 jan. 2019.

Poliuretano
Poliuretano é uma espuma rígida predominantemente utilizada na técnica
da isolação térmica, resultado da reação química de um poli-isocianato que,
juntamente com o gás expansor, é responsável pelo alto fator de isolamento
térmico, principalmente para superfícies operando a baixas temperaturas,
consequência da baixa massa especifica aparente (densidade) e do baixo
coeficiente de condutibilidade térmica do poliuretano.

O poliuretano pode ser utilizado na forma de produto injetável. Por esse sistema,
a mistura dos componentes que compõem o poliuretano é diretamente injetada
por maquinário apropriado em cavidades previamente preparadas. Ao reagirem
os componentes, o material expande enchendo totalmente a cavidade e aderindo
firmemente às paredes dela.

O poliuretano pode ser encontrado também na forma de placas e de tubos.

Silicatos de cálcio (NIP, s/d)


Um sistema que usufrui de um revestimento de silicato de cálcio não sofre com a perda
de calor, mantendo o seu funcionamento constante, do mesmo modo que o ambiente
onde ele se encontra não apresenta oscilações em sua temperatura.

39
UNIDADE II │ CONVECÇÃO E RADIAÇÃO

Por conseguinte, a proteção de equipamentos como caldeiras, fornos, dutos e tubulações


corresponde a algumas das razões pelas quais podemos exemplificar para que serve o
silicato de cálcio para o isolamento térmico.

Além disso, o silicato de cálcio é um elemento constituído pelo conjunto de cal e


diatomita, podendo possuir um reforço de fibras de vidro ou celulose, exibindo elevada
resistência térmica e mecânica.

Sendo assim, outro exemplo de para que serve o silicato de cálcio para o isolamento
térmico são as situações como o revestimento de estruturas destinadas a servirem como
suporte para a circulação de veículos ou funcionários.

O que, efetivamente, diferencia um material isolante termicamente de um condutor


de calor (não isolante)? O que determina se um material é condutor ou isolante é
justamente a existência dos elétrons livres. São eles os responsáveis pela passagem e
pelo transporte da corrente elétrica através dos materiais. São chamados de condutores
aqueles materiais em que há possibilidade de trânsito da corrente elétrica através dele,
como, por exemplo, o ferro.

Com os materiais isolantes, também chamados de materiais dielétricos, ocorre o processo


inverso. Nesses materiais, os elétrons estão fortemente ligados ao núcleo atômico, ou seja,
eles não possuem elétrons livres, ou a quantidade é tão pequena que pode ser desprezada.
Dessa maneira, não permitem passagem de corrente elétrica. São bons exemplos de
materiais isolantes: o vidro, a borracha, a cerâmica e o plástico (SANTOS, 2019).

Vamos admitir o seguinte processo de transferência de calor por radiação conforme


ilustra a Figura 31.

Figura 31. Simulação de um processo de radiação.




Fonte: (DEWITT et al. 2014, p.7, com adaptações).

40
CONVECÇÃO E RADIAÇÃO │ UNIDADE II

A radiação que é emitida pela superfície tem origem na energia térmica dessa superfície,
a taxa na qual é liberada por unidade de área (W/m2) é denominada de “poder emissivo
– E” da superfície. Segundo a Lei de Stefan-Boltzmann:

E = σ.TS4

Em que:

TS = Temperatura absoluta (em Kelvin – K) da superfície.

σ = 5,67.10-8 W/m2.K4 = constante de Stefan-Boltzmann.

Denominamos (radiador ideal) = superfície = “corpo negro”.

Para um radiador ideal, o fluxo de calor (JQ) por ele emitido é menor que o emitido pelo
“corpo negro” à mesma temperatura.

JQ(radiador real)< JQ(radiador ideal)

Assim, para o radiador real, temos:


E = ε.σ.TS4

Em que:

ε = emissividade = propriedade radiante da superfície.

0≤ε≤1

Tal propriedade fornece uma medida da capacidade de emissão de energia de uma


superfície em relação a um corpo negro. Depende da superfície do material irradiante e
do seu grau de acabamento.

Em uma superfície, quando é irradiada por uma fonte de radiação, uma fração dessa
irradiação é absorvida, aumentando a energia térmica do material da superfície.

A taxa na qual a energia radiante é absorvida por unidade de área é avaliada a partir de
um parâmetro α conhecido como “absorvidade” Assim:

0≤α≤1

Se α < 1 e a superfície é opaca: frações de irradiação são refletidas.

Se α < 1 e a superfície é semitransparente: frações de irradiação podem ser


transmitidas.

41
UNIDADE II │ CONVECÇÃO E RADIAÇÃO

Vamos aqui fazer um breve resumo de uma situação exposta por DeWitt et al. (2014,
p.7), segundo os quais um caso particular que ocorre com frequência é a troca de
radiação entre uma pequena superfície a temperatura TS e uma superfície isotérmica
muito maior, que envolve completamente a menor. A vizinhança poderia ser, por
exemplo, as paredes de uma sala ou de um forno, cuja temperatura Tviz seja diferente
daquela da superfície contida no seu interior, isto é, Tviz ǂ TS. Se a superfície for tal
que α = ε (característico de uma superfície cinza), a taxa líquida de calor saindo da
superfície expressa por unidade de área será:

q/A = ε.σ.(Ts4 – Tviz4)

Essa expressão fornece a diferença entre a energia térmica, que é liberada em razão da
emissão de radiação, e aquela ganha devido à absorção de radiação.

Ainda segundo DeWitt et al. (2014, p.7), em muitas aplicações é conveniente expressar
a troca líquida de calor por radiação na forma:

qrad = hr.A.(Ts – Tviz)

O coeficiente de transferência de calor por radiação (hr) é expresso por:

hr = ε.σ.(Ts + Tviz).(Ts2 + Tviz2)

42
RESISTÊNCIA TÉRMICA
E TRANSFERÊNCIA UNIDADE III
DE CALOR EM MEIOS
DIVERSOS E ALETAS

CAPÍTULO 1
Conceitos e aplicações de resistência
térmica (RT) em transferência de calor
em meios diversos

Resistência Térmica (RT) – Conceito


Os três modos de transferência de calor que estamos estudando (condução, convecção
e radiação) podem ter resistências térmicas (RT) específicas para cada um.

De forma geral, para uma quantidade de calor q transferida de um meio para outro,
podemos escrever:
q = ΔT/RT

Em que:

ΔT = diferença de temperatura entre dois meios ou dois corpos.

RT = Resistência térmica.

O conceito de resistência térmica é de grande utilidade na solução de problemas


complexos de transferência de calor (DEWITTet al., 2014, p.8).

Quando temos o caso de uma parede de espessura L separando dois meios com
temperaturas T1 e T2, sendo T1 > T2, vimos que o fluxo de calor (JQx), unidirecional na
direção x, é dado por:

JQx = - K.A.dT/dx = K.A.(T1 – T2)/L

Em que A é a área da parede, segundo a direção normal x.

43
UNIDADE III │ RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS

Existe uma analogia entre difusões de calor e de carga elétrica, isto é, da mesma forma
que uma resistência elétrica está vinculada à condução de eletricidade, uma resistência
térmica está associada à condução de calor.

Assim, teremos as seguintes definições de resistência térmica (RT) para cada modo de
transferência de calor:

a. Condução (RTcond):

RTcond = (T1 – T2)/qx = L / K.A

Lembrando que qx é a taxa de calor transferida por condução térmica na


direção x.

b. Convecção (RTconv):

RTconv = (Ts - T∞)/qx = 1 / h.A

c. Radiação (RTrad):

RTrad = (Ts – Tviz) / qrad = 1 / hr.A

Vejamos como funciona a analogia da resistência térmica (RT) com a resistência


elétrica (R). Vide Figura 32.

Figura 32. Transferência de calor através de uma parede plana (ou placa plana). (a) Distribuição da temperatura;
(b) Circuito térmico equivalente.

Fonte: (DEWITT et al. 2014, p.72, com adaptações).

44
RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS │ UNIDADE III

São válidas as seguintes relações:

RT1 = 1 / h1.A

RTp = L / K.A

RT2 = 1 / h2. A

qx = (T1∞ - T1)/ (1/h1.A) = (T1 – T2) / (L/K.A) = (T2 – T2∞) / (1/h2.A) = constante.

A Resistência Térmica total (RTtotal) é dada por:

RTtotal = R1 + Rp + R2

RTtotal = (1/h1.A) + (L/K.A) + (1/h2.A)

qx = (T1∞ - T2∞) / RTtotal

No caso da parede (ou placa) plana que vimos na Figura 32, podemos observar que a
temperatura sofre uma variação entre o ambiente (1) de temperatura T1 e o ambiente
(2) de temperatura T2 (ambas na superfície da parede), como indicado na própria
figura.

Assim, podemos equacionar a distribuição (ou variação) da temperatura entre as faces


(1) e (2) da parede.

Como estamos considerando a transferência de calor em sentido unidirecional (direção


x), a partir da integração da equação d(k.dT/dx)/dx = 0, obtemos a seguinte expressão
para a variação da temperatura:

T(x) = (T2 – T1).(x/L) + T1

Sendo assim, em um caso ideal, para a condução unidirecional em regime estacionário


em uma parede plana, sem geração de calor e com condutividade térmica constante, a
temperatura varia linearmente com “x”.

A Figura 32 nos mostrou a transferência de calor através de uma parede simples. Vamos
ver agora como fica a transferência de calor em um sistema de paredes compostas.

Transferência de calor em paredes compostas


Vamos considerar o esquema da Figura 33, que ilustra muito significativamente um
caso de parede composta.

45
UNIDADE III │ RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS

Figura 33. Sistema de paredes compostas.





Fonte: (DEWITT et al. 2014, p. 74, com adaptações).

Podemos escrever que o calor “qx”, unidirecional, é dado globalmente pela relação:

qx = (T1∞ - T4∞) / ΣRT

Em que:

ΣRT = é a somatória das resistências térmicas (RT) do sistema.

qx = é a taxa de transferência de calor global e unidirecional para o sistema de três


paredes.

Podemos, ainda, calcular:

ΣRT = (1/h1.A) + (LA/KA.A) + (LB/KB.A) + (LC/KC.A) + (1/h4.A)

Como estamos considerando qx constante ao longo das três paredes:

qx = (T1∞ - T1)/(1/h1.A) = (T1 – T2)/(LA/KA.A) = (T2 – T3)/(LB/KB.A) = (.....)

Em sistemas compostos, é útil aplicar um “coeficiente global de transferência de calor”


(U), assim definido:

qx = U.A.ΔT

Em que: ΔT = T1∞ - T4∞

46
RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS │ UNIDADE III

Logo:
U = (1/RTtotal). (1/A)

Em que: RTtotal = ΣRT

Assim:

qx = (1/ΣRT).(1/A).A.ΔT

qx = (ΔT/ΣRT)

ΣRT = ΔT/qx = 1 /(U.A)

Transferência de calor em meios porosos


Em várias aplicações de transferência de calor, tal fenômeno ocorre no interior
de meios porosos, que são combinações de um sólido estacionário com um fluido.
Quando o fluido for um gás ou um líquido, o meio poroso é dito saturado (Figura 34).

Figura 34. Transferência de calor em meio poroso.





Fonte: (DEWITT et al. 2014, p. 76, com adaptações).

Em condições de regime estacionário e com T1 > T2, a taxa de transferência de calor qx


é dada por:
qx = Kef. A.(T1 – T2) / L

Sendo Kef = condutividade térmica efetiva (que leva em consideração o material sólido
Ks e o fluido Kf).

47
UNIDADE III │ RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS

A condutividade térmica efetiva varia com a porosidade ou a fração de vazios (ε) do


meio, tal que:

ε = (volume de fluido) / (volume total)

Sendo que:

(volume total) = (volume de fluido) + (volume do sólido)

Consideraremos que Ks > Kf, sendo assim, podemos ter dois valores para Kef: um valor
mínimo (Kefmin) e um valor máximo (Kefmx), tal que:

Kefmin = 1 / [(1 – ε)/Ks + (ε/Kf)]

Kefmx = ε.Kf + (1 – ε).Ks

No entanto, para não ficar na dúvida entre usar Kefmin ou Kefmx, Maxwell estabeleceu
a seguinte relação para cálculo de Kef para um meio poroso:

Kef ={ [(Kf +2.Ks) – 2.ε(Ks – Kf)] / [(Kf + 2.Ks) + ε(Ks – Kf)]}. Ks

IMPORTANTE: a expressão de Maxwell é válida para meios porosos com grau de


porosidade relativamente baixa, isto é, para valores de ε ≤ 0,25 (DEWITT et al.,
2014, p. 77).

Análise alternativa de condução de calor


Até agora utilizamos a Lei de Fourier para determinarmos a taxa de transferência de
calor. Vejamos um sistema tal qual o da Figura 35.

Figura 35. Fluido escoando em um sistema cônico de superfície isolante.





Fonte: (DEWITT et al. 2014, p. 83, com adaptações).

48
RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS │ UNIDADE III

Considerando o regime estacionário, sem geração de calor e sem perdas de calor pelas
paredes laterais (isolantes), a taxa de transferência de calor na direção “x” é constante,
podemos escrever que:

qx = q(x + dx) (CONSERVAÇÃO DE ENERGIA)

Assim, a Lei de Fourier fica:

qx.ʃdx/A(x) = - ʃK.dT

Integrando, obtemos:

qx.Δx /A = - K. ΔT

Cálculo de transferência de calor em sistemas


cilíndricos e radiais
Vejamos o caso de um cilindro oco de paredes (r2 – r1), como mostrado na Figura 36,
dentro do qual circula um fluido quente com temperatura T1∞.

Figura 36. Transferência de calor de um fluido escoando em um cilindro.

Fluido
QuenteT1∞

Fonte: (DEWITT et al. 2014, p.85). 

Para as condições de estado estacionário, sem geração de calor, podemos escrever que:

(1/r).d(K.r.dt/dr)/dr = 0

O que resulta em:

qr = - K.A.dT/dr = - K.(2πrL).dT/dr

49
UNIDADE III │ RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS

Em que:

A = 2πrL = área normal (lateral do cilindro) à direção (radial) “r” da transferência de


calor.

Vamos considerar que a taxa de transferência de calor por condução “qr” no cilindro
(não confundir com fluxo térmico de calor JQ) é constante na direção radial.

Figura 37. Vista frontal do cilindro.

Fonte: Elaboração própria do autor.

A variação da temperatura T(r), radial, é dada por:

T(r) = [(TS1 – TS2)/ln(r1/r2)].ln(r/r2) + TS2

A taxa de transferência de calor radial “qr” fica assim:

qr = 2πLK.(TS1 – TS2) /ln(r2/r1)

Em que:

K = constante = condutividade térmica do cilindro

A resistência térmica (RT) é dada por:

RT = ln(r2/r1) / 2πLK

50
CAPÍTULO2
Aletas

Nos projetos de equipamentos térmicos, um dos principais objetivos a ser alcançado


é o aumento da taxa de transferência de calor, ou melhora do contato térmico entre
a superfície de uma parede (ou um sólido qualquer) e um fluido que escoa sobre essa
superfície.

Para se alcançar esse objetivo, instala-se uma protuberância junto à superfície


da parede, também em contato com o fluido em escoamento. Essa protuberância
(alongamento) é chamada de aleta. Sendo assim, as aletas são elementos adicionados
a uma superfície que provocam um aumento na taxa de transferência de calor.
Vejamos na Figura 38 como funcionam as aletas.

Figura 38. Aletas e sua influência na taxa de transferência de calor.

 




Fonte: Bejan,1996, p. 44 (com adaptações).

Da Figura 38, temos que:

AA = área projetada da aleta (Fig.38.c).

Aou = área total não aletada = Ao – AAt.

AAt = área total projetada das aletas.

51
UNIDADE III │ RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS

Na ausência das aletas (Fig.38.a), a taxa de transferência de calor (convectivo) entre a


superfície da parede e o fluido em escoamento é dado por:

qox = h.Ao.(Tb - T∞)

Vamos admitir que “h” e (Tb - T∞) são uniformes (visto que Ao = constante) ao longo
da superfície da parede. Assim, o fluxo de calor (JQ) está distribuído uniformemente na
superfície e vale:
JQ = qox/Ao

Para facilitar nossos cálculos e análise, vamos admitir também que haleta = hparede,
lembrando, porém, que, nas aplicações reais, o coeficiente de transferência de calor por
convecção (h) das aletas tende a ser maior que o da superfície da parede sem aletas.

A utilização de aletas leva ao aumento da área de contato total entre a superfície e


o fluido em escoamento porque a soma da área de todas as aletas com a área que
sobrou da superfície original é maior que a área inicial A0. Assim, observa-se um
aumento na taxa de transferência de calor quando as aletas são fabricadas com
materiais que apresentam condutividades térmicas suficientemente altas. Como a
taxa de transferência de calor da superfície para o fluido é proporcional à “superfície
molhada” (aquela exposta ao fluido), a inclusão das aletas aumenta a distribuição do
fluxo de calor nas regiões relativas às bases das aletas (vide Figura 38.c).

A presença de aletas provoca picos de fluxo de calor (nas regiões de contato superficial
e base da aleta - vide Figura 38.c), e o comportamento da adição de aletas sobre a taxa
de transferência de calor entre a superfície sólida e o fluido pode ser estimado pela
“efetividade εo” total da superfície, dada por:

εo = q /qo = q /[ h.Ao.(Tb - T∞)]

Em que:

q = taxa de transferência de calor com a superfície aletada.

Observe que, sendo q > qo, temos εo> 1,0.

Sabendo que A0 = Aou + AAT (vide Figura 38.c), a transferência de calor total (q) na
superfície pode ser calculada a partir da soma da transferência de calor na porção
aletada (qA) com a porção não aletada restante. Assim:

q = qCA.AA + qSA.Aou

q = qCA.AA + h.Aou.(Tb - T∞)

52
RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS │ UNIDADE III

Aleta com área de seção transversal


constante
Tal como mostrado na Figura 38, a aleta da Figura 39 é o modelo mais simples de se
analisar, pois a área da seção transversal Ae da aleta é constante.

Figura 39. Aleta de seção transversal constante.

Convecção(T∞;h)

Ac = área da


seção
transversal da
aleta

P = perímetro
da seção
transversal da
aleta

Fluido
Aleta

Fonte: Bejan,1996, p.45 (com adaptações).

A hipótese básica para esse tipo de análise é que a temperatura da aleta é função (única)
de “x” – vide gráfico da Figura 39.b, ou seja, T = T(x).

O calor é conduzido longitudinalmente na aleta (direção x), apesar de sabermos que o


calor é transferido ao fluido (que está na temperatura T∞) pela superfície lateral exposta
da aleta. Assim, podemos escrever:

qb = - K.(dT/dx)x=0

Admitindo regime permanente e unidirecional (direção x), a aplicação da Primeira Lei


da Termodinâmica para um sistema composto da fatia da aleta de espessura “dx” e
temperatura “T” (Figura 39.a) nos fornece a seguinte relação:

qx.Ae – q(x+dx).Ae – (p.dx).h.(T - T∞) = 0

53
UNIDADE III │ RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS

Em que:

p = perímetro da face da seção transversal da aleta.

(p.dx).h.(T - T∞) = taxa de transferência de calor por convecção da fatia com espessura
“dx” para o fluido a temperatura T∞.

O resultado final da nossa análise, após manipulação (não demonstrada aqui) da


expressão anterior, conduz-nos a:

K.Ae.d2T/dx2 – p.h.(T - T∞) = 0

A primeira parcela dessa relação refere-se à “condução longitudinal”, e a segunda


parcela dessa relação refere-se à “convecção lateral” da aleta.

Essa relação nos mostra que, para uma aleta com área de seção transversal Ae constante,
a taxa líquida de transferência de calor por condução na fatia “dx” da aleta é igual à taxa
de transferência de calor por convecção para o fluido através da superfície lateral da
fatia considerada, ou seja:
K.Ae.d2T/dx2 = p.h.(T - T∞)

Aleta com área de seção transversal variável


Vamos agora analisar a transferência de calor da aleta para um fluido quando a área da
seção transversal da aleta é variável, conforme ilustrado na Figura 40.

Figura 40. Transferência de calor em uma aleta de seção transversal variável.

Convecção(T∞;h)

Ac = Ac(x)
áreadaseção
transversal da
aleta

P=p(x)perímetroda
seção transversal da
aleta

qcv=h.(p.dx).(TT∞)


Fonte: (BEJAN,1996, p. 52).

54
RESISTÊNCIA TÉRMICA E TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM MEIOS DIVERSOS E ALETAS │ UNIDADE III

Vamos continuar a trabalhar com a seguinte hipótese: calor conduzido longitudinalmente.

Para a parcela fatiada (dx) da aleta, aplicando a Primeira Lei da Termodinâmica, teremos:

qx – q(x + dx) – (p.dx).h.(T - T∞) = 0

Quando Ae = Ae(x) varia ao longo da aleta, temos:

d(K.Ae.dT/dx)/dx – h.p.(T - T∞) = 0

O objetivo dessa análise em uma geometria especificada, Ae(x) e p(x), é obter a taxa de
transferência de calor da aleta para o fluido. Essa taxa é igual à taxa de transferência de
calor conduzido na base da aleta.

qb = - (K.Ae(x).dT/dx)x=0

O rendimento (η) da aleta é dado por:

η = qb/[h.Aexp.(T - T∞)]

Em que:

Aexp = área da superfície da aleta que está exposta ao fluido.

Aqui vale salientar que o rendimento (η) da aleta é um parâmetro adimensional que
descreve o comportamento da aleta e que, de forma genérica, é definido como:

η = (TAXA REAL DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR) / (MÁXIMA TAXA DE


TRANSFERÊNCIA DE CALOR)

55
ESTUDOS DE CASO (EC) UNIDADE IV

CAPÍTULO 1
EC1 – Freio a disco e pastilha e freio
a tambor e lona – fenômenos de troca
de calor entre esses elementos:
uma breve discussão

Freio a disco e pastilha


Na frenagem, como sabemos, ao pisarmos no pedal de freio, acionamos o sistema de
frenagem do veículo, dentro do qual a pastilha de freio é comprimida contra o disco
de freio; daí, do contato (atrito), gera-se calor que é dissipado para o meio externo
(ar = fluido). Vejamos o conjunto disco-pastilha e as pastilhas na Figura 41.

Figura 41. Sistema de frenagem. (a) conjunto disco-pastilhas; (b) modelos de pastilhas.

(a) (b)

(a) Disponível em: <https://dinamicarpneus.com.br/wp-content/uploads/2015/07/dinamicar-pneus-disco-freio.jpg>. Acesso em: 26jan.


2019).(b) Disponível em: <https://www.bhparis.com.br/image/cache/data/product/09-pastilha-de-freio-dianteiro-peugeot-106-1-3-106-
rallye-1-3i-1-6i-renault-clio-r19-rn-rt-espace-1-2-1-4-1-6-1-9-2-0-2-1-r20-1-6-2-0-2-2-r21-1-4-1-7-nevada-1-7-rapid-1-0-1-1-1-2-1-4-1-6-1-
9-o-jogo-57c273c96a-1000x1000.jpg>. Acesso em: 26 jan. 2019.

56
ESTUDOS DE CASO (EC) │ UNIDADE IV

A temperatura média do conjunto disco-pastilha, em operação, pode variar entre 100


o
C e 250 oC, e, em um ambiente úmido (na chuva, por exemplo), a umidade é evaporada
imediatamente. Além disso, durante a ação do conjunto disco-pastilha na água, dada a
existência da força centrífuga, a água é expelida.

Ao contrário, em condições secas e de baixa temperatura, o conjunto disco-pastilha é


projetado para frear com eficácia. O aquecimento é natural no processo de frenagem,
pois os discos de freios são projetados para trabalharem como um dissipador de calor.

Vejamos quais são os principais materiais de fabricação de discos e pastilhas.

Disco: feito geralmente de ferro fundido (excelente condutor de calor), mas, em casos
especiais, pode ser de cerâmica.

Pastilhas: podem ser feitas de materiais orgânicos, semimetálicos, metálicos ou sinterizados.

Freio de tambor e lona (DIAS, 2012).


Os tambores de freios ficam localizados nas rodas traseiras e envolvem as lonas de
freio. Quando o freio é acionado, a lona comprime o tambor para ajudar na frenagem
do veículo. A Figura 42 ilustra um conjunto de freio a tambor completo.

Figura 42. Freio a tambor e seus elementos.














Disponível em: <http://carrosinfoco.com.br/wp-content/uploads/2012/07/tamb2.jpg>. Acesso em: 26 jan. 2019.

As sapatas alojam as lonas de freio. As lonas feitas de amianto têm como característica
a sua estabilidade de atrito durante a vida útil, elas duram mais que as pastilhas de freio
e causam o mínimo de desgaste do material de fricção. Outra característica marcante
da lona de freio é a resistência ao Fade, que é a perda de eficiência em virtude de altas
temperaturas entre tambor e lona, esta consegue se recuperar rapidamente.
57
UNIDADE IV │ ESTUDOS DE CASO (EC)

Feito de ferro fundido, no entanto, o tambor possui uma pequena percentagem de


carbono na sua composição. Acontece que, por causa desse carbono e em razão de
o tambor ter uma lenta dissipação do calor, esses pontos de carbono tendem a subir
em direção à maior temperatura, ou seja, à superfície de atrito, formando “bolinhas”
azuladas. Quando a temperatura cai, essas bolinhas tornam-se extremamente duras,
pois o pico de temperatura foi tão alto que praticamente causou uma “têmpera”. Devido
a esse fenômeno, ocorrem trepidações na frenagem.

A função principal do tambor é formar a superfície de atrito com a qual a lona de freio
irá ser comprimida. O tambor também serve como tampa para o sistema evitando
entrada de poeira ou qualquer outro detrito, porém ele não é vedado e com certeza
será atingido em passagens inundadas. Rolamentos de roda também estão alojados
no tambor.

Tambor aletado: muito usado no passado e pouco atualmente, sua grande sacada é
ter aletas como nos motores a ar, que possuem a mesma função: refrigerar. Ele refrigera
pela sua área de troca de calor ser maior provendo um arrefecimento eficiente. A Figura
43 nos mostra um exemplo de tambor aletado.

Figura 43. Tambor com aletas (tambor aletado).

Disponível em: <http://carrosinfoco.com.br/wp-content/uploads/2012/07/tamb3.jpg>. Acesso em: 26 jan. 2019.

Vejamos um caso específico: uma lona de freio (Figura 44) é pressionada contra um
tambor rotativo de aço. Supondo que o fluxo de calor é gerado na superfície de contato
tambor-lona na taxa de 200 W/m2 e que 90% do fluxo de calor gerado passa para o
tambor de aço, o restante passa pela lona. O projetista quer determinar o gradiente
térmico no ponto de contato tambor-lona.

58
ESTUDOS DE CASO (EC) │ UNIDADE IV

Figura 44. Funcionamento de freio tambor-lona.

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Disponível em: <https://cdn.salaodocarro.com.br/_upload/galleries/2012/09/17/como-funcionam-os-freios-a-tambor-5057723f2e87a.


jpg>. Acesso em: 26 jan. 2019.

Por sua vez, a Figura 45 é um esquema do contato tambor-lona de freio.

Figura 45. Esquema do contato tambor-lona de freio.

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Disponível em: <http://www.fem.unicamp.br/~em524/Textos_Transparencias/CAP_8/aula-23.pdf>. (com adaptações). Acesso em: 25


jan. 2019.

Temos a seguinte distribuição de fluxo de calor:

Na lona: JQL = 0,1 x 200 = 20 W/m2

No tambor: JQT = 0,9 x 200 = 180 W/m2

O gradiente térmico sai da relação: JQ = - K. dT/dr, daí:

dT/dr = - JQ/K = gradiente térmico no ponto de contato lona-tambor (ou seja, o


gradiente térmico é função do raio “r” do tambor).

59
CAPÍTULO 2
EC2- Transferência de calor no corpo
humano: a equação do calor-bio

Este segundo estudo de caso, extraído do livro de DeWitt et al. (2014, p.109), traz uma
explicação importante dos fenômenos de transferência de calor aplicados ao corpo
humano. Tal estudo tem grande importância, por exemplo, nas áreas médias e de
bioengenharia, áreas essas distintas das que estamos acostumados a trabalhar como
engenheiros.

Neste estudo de caso, reproduzimos um trecho do capítulo 3 da obra daqueles autores,


muito ilustrativo do tópico em questão.

O estudo do tópico transferência de calor no interior do corpo humano tem ganhado


importância crescente, visto que novos tratamentos médicos que envolvem temperaturas
extremas são desenvolvidos e que nós exploramos ambientes mais adversos, como o
Ártico, o ambiente submarino e o espaço. Há dois principais fenômenos que tornam
a transferência de calor em tecidos vivos mais complexa do que nos materiais de
engenharia: geração de calor metabólica e troca de energia térmica entre o sangue em
escoamento e o tecido circundante. Pennes introduziu uma modificação na equação do
calor, atualmente conhecida como equação de Pennes ou equação de calor-bio, para
levar em conta esses efeitos. Sabe-se que a equação do calor-bio tem limitações, mas
ela continua sendo uma ferramenta útil para o entendimento da transferência de calor
em tecidos vivos. Nesta seção, apresentamos uma versão simplificada da equação do
calor-bio parao caso de transferência de calor unidimensional em regime estacionário.

A geração de calor metabólica e a troca de energia térmica com o sangue podem ser
vistas como efeitos de geração de energia térmica. Consequentemente, podemos
reescrever a equação (d2T/dx2 + q/k = 0) para levar em conta essas duas fontes de
calor na seguinte forma:

d2T/dx2+ (qm +qp)/K = 0 (I)

Na qual qm e qp são, respectivamente, os termos de fonte de calor metabólica e em


função da perfusão. O termo da perfusão representa a troca de energia entre o sangue
e o tecido e é uma fonte ou sumidouro de energia em função da transferência de calor
ocorrer do sangue ou para o sangue, respectivamente. Nessa equação, a condutividade
térmica K foi considerada constante.

60
ESTUDOS DE CASO (EC) │ UNIDADE IV

Pennes propôs uma expressão para o termo da perfusão supondo que, no interior de
qualquer pequeno volume de tecido, o sangue que escoa nos pequenos capilares entra
com a temperatura arterial Ta e sai com a temperatura do tecido local T. A taxa na qual
o calor é ganho pelo tecido é igual à taxa na qual o calor é perdido pelo sangue. Sendo
a taxa de perfusão ω (m3/s de escoamento volumétrico de sangue por m3 de tecido),
a perda de calor do sangue pode ser calculada com base em uma unidade de volume
assim expressa:

qp = ω.ρs.cs.(Ta – T) (II)

Na qual ρs ecssão a massa específica e o calor específico do sangue, respectivamente.


Note que ω.ρs é a vazão mássica de sangue por unidade de volume do tecido.

Substituindo a equação (II) na equação (I), temos:

d2T/dx2 + [qm + ω.ρs.cs.(Ta – T)]/K =0

Essa é a equação de calor-bio que serve para estimar a distribuição da temperatura no


interior de um tecido vivo e, consequentemente, fazer uma análise de transferência de
calor do sangue para o tecido e vice-versa.

61
CAPÍTULO 3
EC3- Geração de potência
termoelétrica – efeito Seebeck

Este terceiro estudo de caso, também extraído do livro de DeWitt et al. (2014, p.111-114),
mostra-nos que os fenômenos de transferência de calor podem estar presentes em casos
diversos, tal como em um circuito eletrônico ou elétrico projetado para gerar potência.
Vejamos esse caso muito particular e interessante.

Segundo Dewitt et al. (2014, p.111), aproximadamente 60% da energia consumida no


mundo é rejeitada na forma de calor residual. Há uma possibilidade de utilizar essa energia
rejeitada e converter parte dela em potência útil. Uma abordagem envolve a geração de
potência termoelétrica, que opera baseada em um princípio fundamental chamado de
“efeito Seebeck”, o qual enuncia que, quando um gradiente de temperatura é estabelecido
no interior de um material, um gradiente de voltagem (tensão) correspondente é
induzido. O coeficiente de Seebeck “S” é uma propriedade do material representando a
proporcionalidade entre gradientes de voltagem e temperatura e, portanto, tem unidades
de volts/Kelvin (V/K). Em um material com propriedades constantes no qual há condução
térmica e elétrica unidimensional, tal qual ilustrado na Figura 46, podemos escrever que:

(V1 – V2) = S.(T1 – T2) → S = (V1 – V2) / (T1 – T2) = ΔV/ΔT [Volts/kelvin]

Em que:

(V1 – V2) = diferença de potencial elétrico = gradiente de voltagem = ΔV.


(T1 – T2) = diferença de temperaturas = gradiente de temperatura = ΔT.

Figura 46. Efeito Seebeck.

Fonte: (DEWITT et al., 2014, p.112 com adaptações).

62
ESTUDOS DE CASO (EC) │ UNIDADE IV

Materiais condutores elétricos podem exibir valores negativos ou positivos do


coeficiente de Seebeck, dependendo de como ele dispersa elétrons. O coeficiente de
Seebeck é muito pequeno em metais, mas pode ser relativamente grande em alguns
materiais semicondutores.

Se o material da Figura 46 estiver instalado em um circuito elétrico, a diferença de


voltagem induzida (V1 – V2) pelo efeito Seebeck pode fazer aparecer uma corrente
elétrica “i”, e potência elétrica pode ser gerada a partir do calor rejeitado que induza
uma diferença de temperaturas (T1 – T2) ao longo do material.

Um circuito termoelétrico simplificado, constituído por dois pellets de material


semicondutor, está ilustrado na Figura 47. Vale destacar aqui que pellets são
produtos semicondutores, de madeira ou plástico, são uma fonte de energia renovável
pertencente à classe da biomassa (no caso dos plásticos, os bioplásticos). Os pelletssão
um combustível sólido de granulado de resíduos de madeira prensado, provenientes de
desperdícios de madeira (BLOG DOS PELLETS, 2015).

Figura 47. Circuito termoelétrico simplificado constituído por um par de pellets semicondutores.

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Fonte: (DEWITT et al., 2014, p.112 com adaptações).

Misturando diminutas quantidades de um elemento secundário no material dos


pellets, o sentido da corrente induzida pelo efeito Seebeck pode ser manipulado.
Os semicondutores dos tipos “p” e “n”, que são caracterizados por coeficientes de
Seebeck positivos e negativos, respectivamente, podem ser arranjados conforme mostra
a Figura47. Calor “Q” é fornecido no topo do dispositivo e perdido pela base, finos

63
UNIDADE IV │ ESTUDOS DE CASO (EC)

condutores metálicos conectam os semicondutores a uma carga externa representada


por uma resistência elétrica Rext. No final das contas, a quantidade de potência elétrica
que é produzida é governada pelas taxas de transferência de calor entrando e saindo do
par de pellets semicondutores.

Além de induzir uma corrente elétrica “i”, efeitos termoelétricos também induzem
a geração ou a absorção de calor na interface entre os dois materiais diferentes.
Esse fenômeno de fonte ou sumidouro de calor é conhecido como “efeito Peltier”, a
quantidade de calor absorvida “Qa” está relacionada aos coeficientes de Seebeck dos
materiais adjacentes por uma equação da forma:

Qa = i.(Sp – Sn).T

Em que:

Sp e Sn correspondem aos coeficientes de Seebeck individuais dos materiais


semicondutores “p” e “n”, respectivamente.

Na equação acima, a temperatura é dada em Kelvin (K). A absorção de calor (Qa) é


positiva (geração é negativa) quando a corrente elétrica (i) escoa do semicondutor do
tipo “n” para o tipo “p”. Consequentemente, no circuito da Figura 47, a absorção de calor
em função do efeito Peltier ocorre na interface quente entre os pellets semicondutores
e o fino condutor metálico superior, enquanto a geração de calor em função do efeito
Peltier ocorre na interface fria entre os pellets e o condutor inferior.

A análise da condução unidimensional (direção x), em regime estacionário, no interior


do arranjo da Figura 47 é realizada da maneira descrita a seguir.

Admitindo que os finos condutores metálicos têm condutividades térmica e elétrica


relativamente altas, a dissipação ôhmica ocorre exclusivamente no interior dos pellets
semicondutores, cada um com uma área de seção transversal (Ap). As resistências térmicas
dos condutores metálicos são consideradas desprezíveis, assim como a transferência
de calor em qualquer gás retido entre os pellets semicondutores. Reconhecendo
que a resistência elétrica de cada um dos dois pellets pode ser representada por
Rp = ρ.(2L)/Ap, em que ρ é a resistividade elétrica do material semicondutor (pellet),
e considerando as resistências de contato desprezíveis e propriedades termofísicas
idênticas e uniformes em cada um dos dois pellets, as equações usadas para descrever a
condução térmica saindo e entrando no material semicondutor são as seguintes:

Q(x = L) = 2.Ap.[Ks.(T1 – T2)/2L + i2.ρ.L/Ap2]

Q(x = - L) = 2.Ap.[Ks.(T1 – T2)/2L – i2.ρ.L/Ap2]

64
ESTUDOS DE CASO (EC) │ UNIDADE IV

O fator “2” fora dos colchetes leva em conta a transferência de calor nos dois pellets,
observe-se que:

Q(x = L) > Q(x = - L)

A partir do balanço de energia global no dispositivo termoelétrico (esse balanço não


está demonstrado nos nossos cálculos), a potência elétrica (P) produzida pelo efeito
Seebeck é dada por:

P = i.(Sp – Sn).(T1 – T2) – 4.i2.ρ.L/Ap

OU

P = i.(Sp – Sn).(T1 – T2) – i2.Rtotal

Em que: Rtotal = 2. Rp = 2.ρ.(2L)/Ap = 4.ρ.L/Ap

A eficiência (η) do circuito termoelétrico da Figura 47 é dada por:

η = P/Q1

A eficiência η depende da intensidade da corrente elétrica “i”, no entanto η pode ser


maximizada ajustando a corrente “i” mediante variações na resistência de carga (Rext).
A eficiência máxima (ηmx) resultante é dada por:

ηmx = (1 – T2/T1). [(1 – ZTm)1/2 – 1] / [(1 + ZTm)1/2 + T2/T1]

Em que:

Tm = (T1 + T2) / 2

Z = S2 / ρ.Ks; em que S =Sp = - Sn

A diferença de voltagens induzida pelo efeito Seebeck é relativamente pequena para um


único par de pellets semicondutores. Para ampliar a diferença de voltagens, módulos
termoelétricos são montados com diversos pares de pellets semicondutores ligados em
série. Finas camadas de material dielétrico, usualmente uma cerâmica, emolduram os
módulos para garantir rigidez estrutural e isolamento elétrico da vizinhança.

Considerações finais sobre transferência


de calor
Neste material, estudamos diversos tópicos relacionados à transferência de calor. É
preciso deixar claro que tal tema é extremamente abrangente e que, obviamente, não

65
UNIDADE IV │ ESTUDOS DE CASO (EC)

há aqui pretensão de encerrar todos os conteúdos que envolvem os fenômenos de


transferência de calor.

Vimos, inicialmente, as noções gerais de transferência de calor (TC) e a equação


fundamental de fluxo de calor JQ = Q / ΔT.

É importante para o engenheiro saber elaborar e interpretar (além de conhecer, é


claro) os modelos matemáticos (equacionamento) para os diversos modos de TC,
lembrando que esses modelos são “idealizados” com base em condições de contorno
bem estabelecidos, com hipóteses simplificadoras e admissão de regime estacionário e
unidirecional (ou unidimensional como alguns autores preferem) para o fluxo de calor.
Tal análise nos leva a uma ampliação da equação fundamental da TC por condução, que
é a Lei de Fourier para Transferência de Calor, ou seja:

JQ = - K.(dT/dx) = q/A

Considerando uma aproximação para regime estacionário (ou permanente), isso nos
leva à equação de balanço ou da conservação da energia, expressa na Primeira Lei da
Termodinâmica:

ΔU = Q – W

Estudamos, em detalhes, as características da transferência de calor por convecção,


com destaque para as correntes de convecção.

A equação fundamental de TC por convecção se assemelha à da condução, substituindo


o coeficiente de condutividade térmica (K) pelo de transferência de calor convectivo (h)
e, assim, a expressão toma a forma de:

JQ = q/A = h. (Ts - T∞)

Essa equação expressa a Lei de Resfriamento de Newton.

Não podemos esquecer que a convecção pode ser natural (ou livre), forçada e com
mudança de fases.

No modelo que estudamos, a superfície aquecida na temperatura Ts transfere calor por


convecção ao fluido em escoamento que está na temperatura T∞.

Na última modalidade de TC, a radiação, devemos consolidar a diferença entre


radiação e irradiação, além dos conceitos de isolantes térmicos e suas propriedades
e tipos.

66
ESTUDOS DE CASO (EC) │ UNIDADE IV

No equacionamento de TC por radiação, duas equações são importantes:

Lei de Stefan-Boltzmann

E = σ. Ts4 (ideal)
E = ε.σ.Ts4 (real)

Em que E é o poder emissivo da superfície, ε é a emissividade e σ é a constante de


Stefan-Boltzmann.
Fluxo de calor: JQ = q/A= ε.σ.(Ts4 – Tviz4)

Importante na compreensão dos fenômenos que caracterizam as transferências de


calor, o conceito de resistência térmica (RT) é fundamental para os três modos de TC
que estudamos.

Vale a relação: Q = ΔT/RT

A resistência térmica de um sistema (ou de um material) pode ser analisada de forma


similar a uma resistência elétrica de um circuito elétrico.

A TC que estudamos é, por hipótese, unidirecional, mas isso não nos impede de verificar
a forma de TC em paredes simples e compostas, traçando o perfil de temperatura (ou
gradiente de temperatura).

A análise de TC em paredes simples e compostas usa o conceito de resistência térmica


e é avaliada, como já mencionado, de forma equivalente a um circuito de resistências
elétricas montadas em série.

Nota: em paredes compostas, dependendo da sua configuração, a análise pode ser


similar a um circuito de resistências elétricas montadas em paralelo, mas que não
estudamos neste material. Só analisamos em série! Destaque também para a TC em
meios porosos e em sistemas cilíndricos e radiais.

Estudamos a importância das aletas em processos de TC. As aletas são extensões


(alongamento ou protuberância) de superfícies que proporcionam maior área de
contato entre a superfície e o fluido em escoamento, aumentando, assim, a taxa de
transferência de calor dessa superfície para o fluido.

As aletas podem ser de seção transversal constante e de seção transversal variável.


Detalhamos o equacionamento de TC das correspondentes formas.

Finalizamos com três estudos de caso (EC) que nos mostraram o quão variáveis são as
situações em que podemos aplicar os conceitos de transferência de calor!

67
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