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Análise de Cenários Macroeconômicos

Brasília-DF.
Elaboração

João Luís Resende

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA.................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA.............................................................................. 9

CAPÍTULO 2
O PROCESSO DE MERCADO................................................................................................... 16

CAPÍTULO 3
ELASTICIDADE E SUA APLICAÇÃO ELEMENTOS FUNDAMENTAIS DE ECONOMIA......................... 25

CAPÍTULO 4
MEDINDO A ATIVIDADE ECONÔMICA E OS PRINCIPAIS INDICADORES ECONÔMICOS.............. 28

UNIDADE II
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA...................................................................................... 38

CAPÍTULO 1
INFLAÇÃO.............................................................................................................................. 38

CAPÍTULO 2
TAXAS DE CÂMBIO E O SETOR EXTERNO.................................................................................. 45

CAPÍTULO 3
POLÍTICAS ECONÔMICAS....................................................................................................... 57

CAPÍTULO 4
INTRODUÇÃO AOS MODELOS MACROECONÔMICOS............................................................ 68

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 77

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 79
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos


conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos
da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional
que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-
tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A disciplina de análise de cenários macroeconômicos visa prover conteúdos e ferramentas
para a análise do funcionamento do sistema econômico e seus mercados específicos.
Busca-se fornecer elementos para o delineamento de perspectivas que embasem a tomada
de decisão dos agentes quanto a investimentos, financiamento, consumo, poupança etc.

Dá-se o nome de análise de cenários macroeconômicos e não macroeconômicos,


pois serão apresentados não somente elementos de macroeconomia como também
elementos de economia e microeconomia, os quais facilitarão o entendimento de
mercados específicos e enriquecerão o processo de aprendizagem.

Apresentam-se conceitos para permitir aos agentes a futura comparação entre diferentes
alternativas de investimento, a observação da estrutura de competição nos mercados
Com a análise de oferta e demanda os estudantes poderão apresentar considerações a
respeito das trajetórias de preços nos mais diferentes mercados e na economia como
um todo, vislumbrando o impacto sobre a rentabilidade das opções de investimentos.

Na parte macroeconômica, destacam-se importantes elementos e relações existentes


quando se olha a economia como um todo, por exemplo, a relação inversa entre
inflação e desemprego, o fenômeno inflacionário, as interações com o setor externo e
o papel do câmbio.

Todas essas importantes ferramentas de análise acompanham elementos quantitativos


para permitir um melhor entendimento dos pilares e fundamentos que influenciam o
funcionamento econômico, tanto na ótica micro em mercados específicos, quanto na
ótica macro considerando sistemas econômicos.

Com esses instrumentos os estudantes ampliarão seus horizontes de observação e


desenvolverão pensamento crítico para a hora de escolher entre investir ou não, e em
qual setor e país investir.

Objetivos
»» Compreender os conceitos fundamentais de economia.

»» Analisar o funcionamento de mercados específicos.

»» Fornecer conceitos básicos de Gestão de Investimentos.

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CONCEITOS BÁSICOS UNIDADE I
DE ECONOMIA

CAPÍTULO 1
Elementos Fundamentais de Economia

Definição de Economia (oikos – casa e


nomos – norma, lei)
Economia vem do grego e significa “aquele que cuida do lar”. É a ciência social que
estuda a produção, a circulação e o consumo dos bens e serviços que são
utilizados para satisfazer as necessidades humanas.

Economia é a ciência que estuda o uso de recursos escassos na produção de


bens alternativos.

Economia não se constitui uma ciência exata, pois seus eventos não são passíveis
de experimentação, dado que não são possíveis de simulações. Como estuda um
elemento mutável e historicamente determinado pode gerar diferentes resultados
ao longo do tempo, fazendo com que haja diferentes pontos de vista e discordância
entre economistas.

Problema Econômico Fundamental


Necessidades humanas são infinitas ou ilimitadas, já que o homem nunca se satisfaz
e os fatores de produção dos bens que satisfazem essas necessidades são finitos ou
limitados. Ex: terra, trabalho e capital.

Terra – representa os recursos naturais, elementos da natureza suscetíveis de serem


incorporados às atividades econômicas.

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UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Trabalho (População Economicamente Ativa – PEA) – representa a população


empenhada em trabalhar. A partir da População em Idade Ativa (PIA) são retiradas as
donas de casa e estudantes e chega-se à PEA, que são aqueles em idade de trabalhar e
que estão empregados ou procurando emprego.

Capital – é o conjunto de edifícios, máquinas, equipamentos e instalações que a sociedade


dispõe para efetuar a produção.

Por mais rica que uma sociedade seja, os fatores de produção serão sempre escassos
para fabricação de todos os bens e serviços que essa sociedade deseja.

A Economia trata do conflito entre recursos finitos e necessidades infinitas, ou seja,


a escassez. É devido à escassez que estudamos o desemprego, a inflação, a
concentração de renda, o crescimento econômico etc.

Qualquer sociedade que se organiza econômica ou politicamente, faz escolhas entre


alternativas, dado que os recursos não são abundantes e suas questões principais são:

»» O QUE/QUANTO produzir – bens de consumo ou capital, em que


quantidade?

»» COMO produzir – eficiência produtiva: intensivo em capital ou trabalho?

»» PARA QUEM produzir – Como se dará a repartição do produto:


trabalhadores, capitalistas ou proprietários de terra? Agricultura ou
indústria? Norte ou Sul?

Para ilustrar o problema da escassez utiliza-se a Curva de Possibilidades de Produção


(CPP).

A CPP representa a produção máxima de um dos bens, dada a produção do outro bem,
com o uso eficiente1 dos fatores de produção disponíveis e uma dada tecnologia.

Na Curva de Possibilidades de Produção pressupõe-se:

»» a existência de dois produtos possíveis de serem fabricados (pode-


se imaginar que o primeiro bem seja caneta e o segundo bem todos os
demais itens da economia);

»» os fatores utilizados na produção fixos ou constantes;

»» o nível de tecnologia dado.

1 O conceito de eficiência será apresentado a seguir, no entanto, adianta-se que eficiência compreende a combinação de fatores
de produção de forma a gerar o melhor resultado possível, eliminando-se assim a possibilidade de desperdício.

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CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Figura 1– Curva de Possibilidades de Promoção (CPP).

Quando se está sobre a CPP o aumento de produção de um bem só acontece caso se


diminua a produção do outro bem, ou seja, abdica-se produzir uma quantidade de um
bem para produzir um pouco mais de outro.

O custo de oportunidade da produção de um bem A – é quanto se abdica de produzir de


outro bem B para produzir uma unidade a mais de A. Observando a figura, precebe-se
que a utilização dos fatores de produção (terra, trabalho e capital) permite a produção de
dois tipos de bens – Parafuso A e Parafuso B. Vale lembrar que se pode pensar em canetas
(produto 1) e todos os demais bens (produto 2).

De acordo com a CPP, ao se utilizar todos os fatores de produção para produção de


Parafuso A, produzir-se-á 20 parafusos A e 0 parafusos B (20; 0), ao passo que ao se
utilizar todos os fatores de produção para produção de Parafuso B, produzir-se-á 0
parafusos A e 5 parafusos B (0; 5).

A análise da figura 1 revela que o custo de oportunidade da primeira unidade do Parafuso


B é de 2 Parafusos A, porque a produção de Parafuso A reduziu de 20 para 18 para que
fosse produzido 1 Parafuso B. Já o custo de oportunidade do segundo Parafuso B foi
de 3 Parafusos A, porque a produção do Parafuso A caiu de 18 para 15 para que fosse
produzido o segundo Parafuso B.

Considerando os dados, responda ao que se pede.

1. qual o custo de oportunidade do quinto parafuso B?

2. qual o custo de oportunidade de reduzir a produção do parafuso B de


3 para 2?

3. qual é o seu custo de oportunidade de estudar, de investir, de dormir


e de trabalhar 8 horas por dia? Do que você abdica para executar
essas tarefas?

Ótimo de Pareto e Eficiência


Ótimo de Pareto é a situação onde não se pode melhorar a situação de alguém sem
piorar a de outrem. É o caso da CPP, onde se produz de forma eficiente, ou seja, se
produz o máximo possível com os recursos disponíveis e dado o nível de tecnologia.

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UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Sistema Econômico, Economia de Mercado e


Economia Centralizada

As decisões de produção e do que abdicar para produzir remetem ao questionamento


de “como as sociedades resolvem os problemas econômicos fundamentais”?

Para responder a essas questões, a sociedade se organiza economicamente de forma a


permitir o fluxo de bens e de fatores de produção:

Figura 2 – Fluxo Circular da Renda.

A figura 2 apresenta uma forma simplificada de organização econômica conhecida como


Fluxo Circular da Renda. Essa organização pressupõe a existência de dois mercados – de
bens e serviços e de fatores de produção – e dois tipos de agentes – empresas e famílias.

As famílias vendem fatores de produção às empresas e recebem a remuneração por esses


fatores na forma de aluguéis, salários e juros. Essa renda das famílias oriunda da venda
dos fatores de produção às empresas é gasta por meio da compra de bens e serviços
produzidos pelas empresas gerando uma receita para as empresas. As empresas por
sua vez utilizam a receita das vendas de bens e serviços para remunerar os fatores de
produção completando o ciclo que se repete indefinidamente.

A venda dos fatores de produção dá origem à renda que é gasta no mercado de bens
e serviços gerando a receita das empresas. A receita das empresas é utilizada para
remunerar por meio de aluguéis, salários e juros, as famílias que vendem os fatores de
produção (terra, trabalho e capital).

A organização da sociedade para a tomada de decisões econômicas pode ser feita de


distintas formas, entre as quais se destacam:
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CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

»» Economia de mercado (descentralizada, tipo capitalista).

»» Economia planificada (centralizada, tipo socialista).

Tipos de economias de mercado:

»» Sistema de concorrência pura (sem interferência do governo).

»» Sistema de economia mista (com interferência governamental).

Na concorrência pura o mecanismo que produzirá o equilíbrio será o laissez-faire,


a livre iniciativa. Haverá milhões de ofertantes de produtos e milhões de ofertantes,
guiados por uma “mão invisível”, que por meio de interações de agentes econômicos
resolverá o problema econômico fundamental.

A interação entre produtores e consumidores só é possível devido ao mecanismo


de preços. Esse mecanismo estabelece uma relação de troca entre os bens produzidos
e um equivalente universal, atualmente o dinheiro, e a isso se dá o nome de preço. O
preço vai depender da utilidade prática do bem para um conjunto de pessoas, chamado
valor de uso, e vai depender também do quanto as pessoas acreditam que podem
conseguir ao trocar o bem em questão, o valor de troca. O mecanismo de preços atua
constantemente e depende da negociação entre aqueles que querem ter um determinado
bem (demandantes) e aqueles que estão dispostos a abdicar-se desse bem (ofertantes).

Os demandantes e ofertantes tomam suas decisões e baseados nessas últimas os preços


sobem ou descem de acordo com a predominância de um dos dois grupos citados.

Excesso de oferta – caso a oferta do bem for maior que demanda, os preços tendem
a cair, devido à formação de estoques que precisam ser escoados. Ex.: liquidação com
preços reduzidos para acabar com estoque de roupas.

Excesso de demanda – caso a oferta for menor que a demanda, os preços tendem a
subir, pois formar-se-ão filas com concorrência entre os consumidores pelos escassos
bens disponíveis. Ex.: 1.000 pessoas querendo comprar 10 pães.

»» O que produzir é decidido pelos votos (desejos) dos consumidores, o


que é chamado de soberania do consumidor. Quanto produzir é
determinado pelo encontro entre oferta e demanda.

»» Como produzir é resolvido no âmbito das empresas de acordo com a


combinação dos fatores de produção envolvidos (eficiência produtiva).

»» Para quem produzir é decidido no mercado de oferta e demanda dos


fatores de produção, é uma questão distributiva.

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UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Críticas

»» Grande simplificação da realidade.

»» Os preços nem sempre flutuam livremente, devido à atuação de sindicatos,


monopólios, oligopólios, intervenções do governo.

»» O mercado sozinho não promove perfeita alocação dos recursos.

»» O mercado sozinho não promove perfeita distribuição da renda.

Sistemas de economia mista utilizam-se da intervenção governamental em busca da


utilização total dos fatores, ou seja, o governo atua provendo incentivos para eliminar
distorções alocativas e distributivas e promover a melhoria de padrão de
vida da coletividade.

A intervenção pode dar-se mediante:

»» Atuação sobre formação de preços. Ex.: impostos, subsídios, fixação de


preços mínimos, salário-mínimo, taxa de câmbio.

»» Complemento da iniciativa privada, seja porque o setor privado


não tem condições financeiras de assumir o investimento ou devido
ao longo prazo de maturação do investimento, até que se possa obter
lucro. Ex.: energia, rodovias.

»» Fornecimento de bens públicos – bens fornecidos pelo Estado que não


são vendidos no mercado. Ex: educação, justiça, segurança e serviços
públicos, como água, saneamento, iluminação.

»» Compra de bens e serviços do setor privado. O governo é, isoladamente, o


maior agente do sistema e o maior demandador de bens e serviços.

Economia planejada ou centralizada


A forma de resolver os problemas econômicos centrais é decidida por uma agência
ou órgão de planejamento central e a propriedade dos meios de produção
é pública. Os meios de sobrevivência pertencem aos indivíduos (roupas, carros, TV).

»» Os preços só apresentam valor contábil, que permite avaliar eficiência


das empresas.

»» Preços dos bens determinados pelo governo.

»» Lucro vai parte para o governo e parte para investimentos na empresa,


dentro das metas estabelecidas pelo governo.
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CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Análise Marginal, Positiva e Normativa

Os modelos econômicos são simplificações da realidade e para tal fazem abstrações,


fazem análises e emitem conclusões que precisam ser qualificadas.

Análise marginal observa qual o incremento ou redução na produção, vendas ou


qualquer unidade de medida quando se altera a variável independente uma unidade no
extremo. Exemplo: quanto aumenta o custo se produzir uma unidade a mais? Quanto
aumenta o faturamento se vender uma unidade a mais?

Análise positiva observa o mundo como ele é, sem emissão de juízo de valor. Ex.:
aumento de moeda causa inflação.

Análise normativa faz uma proposição de política e é subjetiva porque emite


juízo de valor. É uma análise do que deveria ser. Ex.: o governo deveria aumentar o
salário-mínimo.

O que é microeconomia? (do grego


micro = pequeno)

É o estudo de como as famílias e empresas tomam decisões e de como elas


interagem em mercados específicos. Ex.: decisão de quantas horas de trabalho
ofertar, de quanto consumir, de quanto produzir, de quanto poupar etc.

O que é macroeconomia? (do grego


macro = grande)

É o estudo de fenômenos que englobam toda a economia. Ex.: produção total,


desemprego, inflação, comércio internacional, taxa de juros, exportações e
importações, taxa de câmbio, empréstimos.

Como a macroeconomia trata do conjunto das famílias e empresas enquanto a


microeconomia trata das decisões de uma única família ou empresa, conclui-se
que microeconomia e macroeconomia estarão muito interligadas.

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CAPÍTULO 2
O Processo de Mercado

Todos sabemos que no inverno, os preços das roupas da coleção verão são
reduzidos. Quando o verão se inicia, o preço dos ventiladores e aparelhos
de ar-condicionado se eleva. Da mesma forma, o preço do bacalhau
despenca após a passagem da Semana Santa. O que esses eventos possuem
em comum?

Eles demonstram o funcionamento do mecanismo de oferta e demanda. A oferta


e a demanda são dois elementos que alimentam a existência das economias de
mercado. Por meio da interação desses dois elementos é que são tomadas as decisões
de quanto produzir e qual o preço a ser cobrado. O primeiro passo para o início da
análise da conjuntura e dos cenários macroeconômicos é a compreensão de como os
acontecimentos afetam a oferta e a demanda. Essas duas forças afetarão diretamente a
definição dos preços e permitirão que seja estabelecida a alocação dos recursos escassos,
objeto principal da economia.

Mercados e Competição
A oferta e a demanda dependem do comportamento de vendedores e compradores que
vão ao mercado para vender e adquirir bens. Os mercados onde os bens e serviços são
transacionados podem se caracterizar por uma igualdade de forças entre ofertantes
e demandantes, característica dos mercados de competição perfeita, ou por uma
influência maior de um dos dois grupos, mercados de competição imperfeita.

Um exemplo de mercado de competição perfeita é o mercado de café, onde todos


produzem o mesmo bem e devido à existência de inúmeros produtores, ninguém
consegue estabelecer o preço sozinho. Nesse mercado, o número de compradores de
café também é elevadíssimo e ninguém consegue definir sozinho o preço do produto.
Pelo fato dos compradores e vendedores de café não conseguirem definir sozinhos o
preço, dizemos que eles são tomadores de preços.

Nem todos os bens são comercializados em mercados de competição perfeita. Alguns


mercados possuem um só vendedor, como a energia elétrica que chega em nossas casas,
ou poucos vendedores como o caso dos fabricantes de carros. Da mesma forma, existem
mercados com poucos ou até mesmo um único comprador, onde a definição do preço
tem grande influência do consumidor.

16
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Os mercados caracterizados por um único vendedor são chamados de monopólios.


Mercados com poucos vendedores são chamados de oligopólios. Mercados com um
único comprador são os monopsônios e com poucos compradores, oligopsônios.

O conceito de concorrência nos mercados será muito importante nas outras


disciplinas desse curso, no momento de analisar os cenários econômicos para um
determinado setor ou país. Países que são oligopolistas podem lucrar mais diante
do aumento da procura por seu produto, como acontece no caso do petróleo, e por
isso podem ser boa opção de investimento. Setores como o de energia podem ter
margens de lucro mais estáveis por serem menos competitivos e podem ser boa opção
de investimento.

Oferta e Demanda

Demanda

A demanda ou a procura por um bem é a quantidade que os compradores podem e


querem comprar a um determinado preço. Caso o preço de um bem aumente, a
tendência é que a quantidade comprada diminua, porque vai pesar mais nas despesas
do consumidor e pode ser que não haja renda para comprá-lo. Da mesma forma, a uma
queda no preço corresponde um aumento na quantidade demandada. Por isso, diz-se
que a quantidade demandada está negativamente relacionada com o preço.

Ela relação negativa aplica-se à maior parte dos produtos, permitindo-se a criação
da lei da demanda: com tudo mais mantido constante, quando o preço de um
bem aumenta, sua quantidade demandada diminui; quando o preço do bem cai, sua
quantidade demandada aumenta.

Imagine a demanda mensal de Fábio por barras de chocolates, conforme os dados que
seguem:

Quantidade Demandada de
Preço da Barra de Chocolate
Barras de Chocolate por mês
R$ 0,00 12

R$ 0,50 10

R$ 1,00 8

R$ 1,50 6

R$ 2,00 4

R$ 2,50 2

R$ 3,00 0

17
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Os dados relacionam a quantidade mensal de barras de chocolate que Fábio está disposto
a consumir de acordo com o preço é chamada de escala de demanda. A partir dela
podemos traçar a curva de demanda mensal de Fábio por barras de chocolate, que
nada mais é que a representação gráfica da escala de demanda.

Figura 3 – Chuva de Demanda de Fábio.

Pode-se observar que a R$ 3,00 Fábio não comprará nenhuma barra de chocolate
porque acha que está muito cara, enquanto a R$ 0,50 ele está disposto a comprar dez
barras de chocolate por mês. A curva de demanda diz a quantidade que o consumidor
está disposto a comprar a um determinado preço e sua inclinação é negativa, pois
os consumidores compram menos caso o preço aumente. Quando o preço varia,
desloca-se ao longo da curva de demanda variando a quantidade demandada.

A figura 3 apresenta a curva de demanda mensal de um indivíduo, Fábio, por chocolate.


Como se faria caso se quisesse calcular a curva de demanda de chocolate do mercado?

Deve-se somar a quantidade demandada de cada indivíduo em um determinado preço.


Observe a escala de demanda de Catarina apresentada a seguir.

Quantidade Demandada de
Preço da Barra de Chocolate
Barras de Chocolate
R$ 0,00 7

R$ 0,50 6

R$ 1,00 5

R$ 1,50 4

R$ 2,00 3

R$ 2,50 2

R$ 3,00 1

A curva de demanda de Catarina será:

18
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Figura 4 – Curva de Demanda de Catarina.

Imaginando que o mercado é composto por dois consumidores, Fábio e Catarina, pode-
se afirmar que a escala de demanda do mercado será:

Quantidade Demandada de Quantidade Demandada Quantidade Demandada Preço da Barra de


Barras de Chocolate por Fábio por Catarina Chocolate
19 12 7 R$ 0,00
16 10 6 R$ 0,50
13 8 5 R$ 1,00
10 6 4 R$ 1,50
7 4 3 R$ 2,00
4 2 2 R$ 2,50
1 0 1 R$ 3,00

A curva de demanda do mercado será:

Figura 5 – Curva de Demanda de Mercado.

A curva de demanda de mercado apresenta a quantidade de bens comprados a


determinado preço, mantidos constantes os demais fatores que afetam a decisão de
compra dos consumidores. No entanto, a curva de demanda pode deslocar-se ao longo
do tempo caso surja algo que altere a decisão de compra dos consumidores. Essa

19
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

alteração em algum dos fatores será representada por um deslocamento da curva de


demanda para a direita ou para a esquerda.

Imagine que a Agência Nacional de Saúde descubra que o chocolate seja o elixir da
juventude. Provavelmente, os consumidores vão passar a comer mais chocolate,
mantidos os preços. Isso fará com que a curva de demanda de mercado se desloque
para a direita e isso se chama aumento da demanda. Entre os fatores que podem gerar
deslocamento pode-se citar a renda (gera aumento de demanda), preços dos bens que
são consumidos conjuntamente (se o preço da goiabada aumenta, a demanda por queijo
com goiabada diminui), gostos, expectativas, número de compradores do mercado, etc.
Esses fatores elencados fazem com que haja deslocamento da curva de demanda.

Os bens cuja demanda aumenta em função de aumentos de renda são chamados de


bens normais e cinema é um bom exemplo. Aqueles bens cuja demanda aumenta
em função de queda na renda são chamados de bens inferiores. A salsicha,
alimento pobre em nutrientes e barato, constitui um exemplo de bem inferior, pois
um aumento de renda permite que o consumo seja substituído por alimentos de maior
valor nutritivo.

Como dito anteriormente, a lei da demanda aplica-se à grande maioria dos bens
existentes, chamados também de bens comuns. Entretanto existem raros casos de
bens cuja demanda aumenta diante de um aumento de preços. São os chamados Bens
de Giffen, em homenagem ao economista Robert Giffen que foi o primeiro a descobrir
essa possibilidade. Dados os objetivos dessa disciplina, não será detalhado.

Dê um exemplo de demanda de pizza e trace a respectiva curva de demanda. Dê


exemplos de fatores que deslocariam esta curva de demanda. Uma mudança do
preço da pizza deslocaria a curva de demanda?

Oferta

A oferta diz respeito ao lado dos produtores e vendedores dos bens.

A quantidade ofertada de um bem ou serviço é a quantidade que os vendedores


querem e podem vender. Há vários determinantes da quantidade ofertada, porém o
preço tem papel especial em na análise.

Imagine o produtor de chocolates. Quando o preço da barra de chocolate está alto,


vender chocolates é mais lucrativo e ele passa a produzir mais para a venda, ou seja,
a quantidade ofertada será maior. Eles comprarão mais máquinas, contratarão mais
empregados e vão vender mais para os supermercados. Caso o preço seja baixo,
20
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

eles produzirão menos, dispensarão seus funcionários e podem, até mesmo, parar
de produzir.

Baseado nesse comportamento para a maioria dos produtos, pode-se constatar que
existe uma relação positiva entre os preços dos produtos e a quantidade ofertada, pois
a quantidade ofertada sobe quando o preço se eleva e se reduz quando o preço cai.

A lei da oferta representa esse relacionamento positivo entre o preço e a quantidade


ofertada para a maioria dos bens. Ela afirma que com tudo o mais mantido constante,
quando o preço de um bem aumenta, a quantidade ofertada também aumenta e, quando
o preço de um bem cai, a quantidade ofertada também cai.

Existe, também, uma escala de oferta apresentando a relação entre o preço e a


quantidade ofertada de um bem, mantendo-se constantes todos os demais fatores
que influenciam a quantidade que os produtores desejam vender. Exemplificando os
produtores de chocolates Kidelícia e Dubom e suas escalas de oferta a seguir.

Preço da Barra de Quantidade Ofertada total de Quantidade ofertada por Quantidade ofertada por
Chocolate Barras de Chocolate Kidelícia Dubom
R$ 0,00 0 0 0

R$ 0,50 0 0 0

R$ 1,00 1 1 0

R$ 1,50 4 2 2

R$ 2,00 7 3 4

R$ 2,50 10 4 6

R$ 3,00 13 5 8

A curva de oferta de Kidelícia, Dubom e do Mercado são apresentadas a seguir:

Figura 6 – Curva de Oferta de Kidelícia.

21
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Figura 7 – Curva de Oferta de Dubom.

Figura 8 – Curva de Oferta de Mercado.

Assim, como na curva de demanda, a curva de oferta de mercado é o somatório


horizontal das curvas de oferta individuais. A curva de oferta de mercado mostra
como a quantidade ofertada total varia à medida que o preço do bem varia, mantidos
constantes os demais fatores que afetam a quantidade ofertada pelos vendedores.
Quando o preço varia, desloco ao longo da curva de oferta.

A curva de oferta pode mudar ao longo do tempo caso algum dos fatores seja alterado.
Essa alteração em algum dos fatores será representada por um deslocamento da
curva de oferta para a direita ou para a esquerda.

Supondo que o preço do cacau caia. Como o cacau é um insumo para a produção de
chocolate, o custo de produção do chocolate cai e como o preço é mantido, a lucratividade
vai aumentar. Diante de uma maior lucratividade, os produtores vão produzir mais,
embora o preço da barra de chocolate seja o mesmo, e a curva de oferta de chocolate
será deslocada para a direita.

Qualquer mudança que aumente a quantidade ofertada a cada preço, como uma queda
no preço do cacau, desloca a curva de oferta para a direita e é chamada de aumento
de oferta. Similarmente, qualquer mudança que reduza a quantidade ofertada a cada
preço desloca a curva de oferta para a esquerda e é chamada de redução de oferta.
22
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Entre os fatores que podem ocasionar deslocamento da curva de oferta de mercado


encontram-se o preço do insumos, tecnologia, expectativas, número de vendedores etc.

Dê um exemplo de oferta de pizza e trace a respectiva curva de oferta. Dê


exemplos de fatores que deslocariam esta curva de oferta. Uma mudança do
preço da pizza deslocaria a curva de oferta?

Oferta e Demanda Reunidas

Após a análise da oferta e da demanda separadamente, pode-se combiná-las para


determinar qual será a quantidade vendida de barras de chocolate e o seu preço.

Ao projetar as curvas de oferta e demanda de mercado vê-se que as duas se interceptam


em um ponto, o qual é chamado equilíbrio de mercado. Nesse ponto, a quantidade
ofertada é igual a quantidade demandada, chamada quantidade de equilíbrio e o
preço é chamado preço de equilíbrio.

O equilíbrio é a situação em que o preço atingiu o nível em que a quantidade ofertada


é igual à quantidade demandada. Preço de equilíbrio é aquele que iguala a quantidade
ofertada e a quantidade demandada. Quantidade de equilíbrio é a quantidade
demandada e a quantidade ofertada ao preço de equilíbrio.

O ponto de coordenadas (7, 2) representa o ponto de equilíbrio do mercado de barras


de chocolate, sendo 7 a quantidade de equilíbrio e R$ 2,00 o preço de equilíbrio.

Se o preço for maior que R$ 2 haverá excesso de oferta, pois a quantidade ofertada
será maior que a demandada pelos consumidores. Haverá acúmulo de estoques e,
para os eliminar, os produtores terão que reduzir os preços até que se chegue ao
ponto de equilíbrio.
23
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Se o preço for menor que R$ 2 haverá excesso de demanda, pois a quantidade demandada
será superior à quantidade ofertada e os clientes estarão dispostos a pagar mais por
uma barra de chocolate. O preço e a produção vão se elevar até alcançar o ponto de
equilíbrio novamente.

Simule deslocamentos da curva de oferta e de demanda e justifique esses


deslocamentos. O que ocorrerá com o novo ponto de equilíbrio?

24
CAPÍTULO 3
Elasticidade e sua Aplicação
Elementos Fundamentais de Economia

No tópico anterior foi visto que a quantidade demandada de barras de chocolate


diminuía diante de um aumento de preços e aumentava quando os últimos caíam.

No entanto, a forma como a quantidade responde a variações de preços nos diz muito a
respeito da forma de funcionamento dos mercados e constitui importante ferramenta para
avaliação dos setores produtivos e para as decisões de investimento, consequentemente.

Elasticidade-Preço
O conceito de elasticidade capta a resposta da quantidade demandada ou ofertada
a variações em seus determinantes. A mais conhecida é a elasticidade-preço da
demanda que apresenta qual a relação entre uma variação percentual no preço e a
variação percentual na quantidade demandada.

Outra elasticidade conhecida é a elasticidade-renda da demanda que apresenta


qual a relação entre uma variação percentual na renda e a variação percentual na
quantidade demandada.

Imagine que aumento de 10% no preço das barras de chocolate cause uma queda de 20%
na quantidade de chocolate comprada. A elasticidade-preço da demanda de chocolates
será calculada como:

»» Elasticidade-preço da demanda = - (Variação percentual da quantidade


demandada) / (Variação percentual do preço)

»» Elasticidade-preço da demanda = - [(-20%)/10%] = 2

Vemos que a quantidade demandada respondeu mais que proporcionalmente (>1)


à variação nos preços. Por isso se diz que a demanda por esse produto é elástica.
Setores com demanda elástica são caracterizados por elevada competitividade, onde os
demandantes e ofertantes não conseguem definir o preço isoladamente.

O cálculo da elasticidade-preço da demanda é feito por meio da divisão da variação


percentual da quantidade demandada pela variação percentual do preço.

Um exemplo de setor elástico é o setor de suco de laranja, produto que possui vários
substitutos como suco de pêssego, refrigerantes, chás gelados, águas minerais, etc.
25
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Nesse setor, um aumento de preços pode gerar redução dos lucros das empresas e pode
diminuir a atratividade na hora de se optar pelo investimento.

Agora, observa-se o setor de energia elétrica. Estudos revelam que o aumento do preço
do Kwh não gera grande alteração na demanda. Imagine que um aumento de 10% no
preço do Kwh gere uma redução de consumo 1%.

Dessa forma, a elaticidade-preço da demanda será:

»» Elasticidade-preço da demanda = - [(-1%)/10%] = 0,1

Vemos que a quantidade demandada respondeu menos que proporcionalmente (<1) à


variação nos preços. Por isso, se diz que a demanda por esse produto é inelástica.
Setores com demanda inelástica são caracterizados por reduzida competitividade,
onde ofertantes conseguem interferir no preço de equilíbrio. Os aumentos de preços
nesses setores proporcionam maior lucro para as empresas e, por isso, podem ser uma
interessante opção de investimento.

Os bens necessários tendem a ter elasticidade-preço da demanda muito pequena


(<1), pois é muito complicado reduzir a demanda. Já os bens de luxo (supérfluos)
possuem elasticidade-preço da demanda maior, pois podem ser reduzidos drasticamente
diante do aumento de preços. Um exemplo de bem necessário é a consulta médica e um
exemplo de bem de luxo é o veleiro.

Dê exemplos de bens com demanda elástica, inelástica, bens necessários e bens


de luxo. Dê exemplos de bens com oferta elástica e inelástica.

Elasticidade-Renda
Acabamos de analisar como a quantidade demandada varia em função de variação nos
preços e podemos fazer o mesmo estudo para variações na renda. A elasticidade-
renda da demanda apresenta qual a relação entre uma variação percentual na renda
e a variação percentual na quantidade demandada.

Imagine que um aumento de 10% no renda de Fábio gere um aumento no consumo de


alface de 1%. A elasticidade-renda da demanda será:

»» Elasticidade-renda da demanda de alface = [(1%)/10%] = 0,1

A quantidade demandada respondeu menos que proporcionalmente ao aumento na


renda de Fábio.
26
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Já a demanda por celulares de Fábio aumentou 100% (comprou o segundo celular)


diante de uma aumento de 10% em sua renda.

»» Elasticidade-renda da demanda de celular = [(100%)/10%] = 10%

27
CAPÍTULO 4
Medindo a Atividade Econômica e os
Principais Indicadores Econômicos

Todas as decisões tomadas quanto ao volume de produção, volume de demanda e


preço de equilíbrio dependerão das condições econômicas vigentes e das perspectivas
esperadas para o futuro. Em determinado período as empresas de uma economia
podem expandir sua produção de bens, contratar mais empregados, gerando elevação
do nível de emprego e tornando mais fácil conseguir um trabalho. No entanto, as
condições econômicas podem não favorecer ou as expectativas para o futuro podem ser
ruins levando as empresas a diminuir seu volume de produção, demitir trabalhadores,
gerando redução do nível de emprego e tornando mais difícil conseguir um trabalho.

Se as condições econômicas são favoráveis, espera-se que um investimento hoje, como a


inauguração de um terceiro turno de trabalho em uma empresa de automóveis, gere lucro,
pois se espera que os automóveis adicionalmente produzidos serão comprados e gerarão
dinheiro para os vendedores. Caso a fábrica de automóveis perceba que a demanda por
automóveis está e continuará diminuindo, o que gera crescimento de estoques e carros no
pátio, ela tende a desativar o terceiro turno, demitindo funcionários e reduzindo despesas.

O que acontecerá com o valor das empresas e o preço das ações caso elas
enfrentem ou esperem condições econômicas favoráveis?

As condições econômicas e as expectativas são determinantes para as decisões de


investimento e produção e afetam diretamente o dia a dia dos indivíduos. Por isso,
conhecer importantes indicadores de mensuração da atividade econômica tais como
renda da economia, taxa de crescimento dos preços (inflação), o número de pessoas
que estão sem trabalhar (desemprego), entre outros, será fundamental para identificar
tendências nos valores dos diferentes ativos financeiros e para tomar decisões de
investimento. Todos essas estatísticas são exemplos de indicadores macroeconômicos
que nos relatam o estado de uma economia toda.

Renda da Economia
A estatística econômica mais acompanhada pelos economistas por ser considerada uma
das melhores medidas2 de bem-estar econômico de uma sociedade é o Produto Interno
Bruto (PIB).
2 A melhor medida de bem-estar econômico tende a ser a relação PIB per capita (PIB/População), pois elimina o efeito
demográfico da medida econômica, permitindo olhar a renda individual média. Nesse caso, a distribuição da renda deve ser

28
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

O primeiro indicativo de bem-estar de um indivíduo é sua renda, pois permite que


este compre bens e serviços necessários à sua sobrevivência e inserção social, bem
como bens supérfluos e complementares que porventura existam e proporcionem
prazer e satisfação.

A mesma lógica se aplica a uma economia. Observa-se se o sistema econômico está bem ou
mal, por meio da renda de todos os seus membros. Como todas as transações econômicas
envolvem um comprador e um vendedor, haverá geração de renda para o vendedor e
despesa para o comprador, conforme apresentado no Fluxo Circular da Renda.

Calcula-se a riqueza de uma economia por meio do Produto Interno Bruto (PIB).

O Produto Interno Bruto (PIB) é o valor de mercado de todos os bens e serviços


finais produzidos em um país em um determinado intervalo de tempo.

Estabelece-se o valor de mercado como padrão comum de métrica, de forma que se


possa contemplar tanto as maçãs quanto as laranjas produzidas. Engloba todos os
bens e serviços finais produzidos em um país, desde o corte de grama (serviço)3 até o
computador (bem), considerando as atividades legais.

No entanto, para evitar dupla contagem, as etapas intermediárias da produção dos bens
não são consideradas, mensurando somente o valor final. Imagine que o produtor de
morangos venda para a confeitaria que produz tortas e vende para os consumidores.
O valor dos morangos comprados pela confeitaria já está embutido no valor das tortas
e caso se contabilizasse o valor dos dois produtos, haveria dupla contagem. Por isso,
somente o valor das tortas entra no cálculo do PIB.

A produção dos bens deve se referir ao período atual, geralmente dentro do ano ou
trimestre presente. Dessa forma a produção de um carro zero quilômetro entra no
cálculo do PIB, mas a venda de um carro usado não, pois ele já foi contabilizado no
passado e não foi produzido no presente momento.

As fronteiras geográficas são importantes no cálculo do PIB, pois são considerados


os bens e serviços finais produzidos em uma localidade, independentemente da
nacionalidade de quem os produziu. Se um clube de futebol brasileiro contrata um
argentino para jogar no time, o PIB brasileiro aumenta e não o argentino.
analisada com muita atenção porque países com alta renda per capta e grande concentração de renda nas mãos de um pequeno
grupo de pessoas terão um pequeno mercado consumidor menor do que países onde a renda está distribuída de forma mais
homogênea entre os indivíduos.
3 O cálculo do PIB exclui bens que são produzidos e consumidos internamente pelas famílias, pois não há venda em um mercado.
Um exemplo é a faxina que os casais fazem toda semana em sua própria casa. Há a prestação de serviço, mas não há venda.
Por isso, quando os casais dispensam a faxineira e passam a limpar a própria casa para cortar despesas, eles estão reduzindo o
tamanho do PIB.

29
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

Como dito anteriormente, o PIB é o somatório das despesas ou das rendas geradas
nas transações econômicas entre os agentes de um país. Olhando sob a ótica das
despesas podemos dividir o PIB, chamado de Y, em componentes como o consumo (C),
o investimento (I), os gastos do governo (G) e as exportações líquidas (EL):

Y = C + 1 + G + EL

A soma dos quatro componentes será equivalente ao PIB e será demonstrado cada um
dos quatro elementos com mais detalhes.

O consumo representa o gasto das famílias com os bens e serviços. Nele entra
tanto a compra de bens duráveis como carros e eletrodomésticos, quanto a compra
de bens não-duráveis como roupas e sapatos e serviços como cortes de cabelo,
serviços de oficina para o carro, educação privada para as crianças. Veremos que
a compra de imóveis residenciais novos não é contabilizada como consumo e sim
como investimento.

O investimento representa a compra de bens que serão utilizados para a produção de


outros bens e serviços. Envolve bens de capital (máquinas e equipamentos), estoques e
estruturas, como é o caso dos prédios e imóveis residenciais novos.

Gastos do governo compreendem as compras de bens e serviços dos governos


federal, estadual e municipal. Inclui o pagamento dos funcionários públicos e as obras
públicas do governo. Os programas sociais que transferem renda à população não
entram no cálculo dos gastos do governo, pois não há produção e venda de bens ou
serviços para que haja a transferência. Esses programas, entre eles a seguridade social
(benefícios e aposentadorias), aumentam a renda das famílias, mas não representam
aumento de produção.

Exportações líquidas representam a diferença entre tudo que os países do exterior


compram do que é produzido em nosso país (exportações) e o que o nosso país
compra do que é produzido nos países do exterior (importações). Caso a Embraer
venda um avião para uma empresa chinesa, haverá aumento do PIB, pois foi produzida
uma aeronave no Brasil e vendida para o exterior. Da mesma forma, quando o Brasil
importa veículos da Argentina há aumento das importações e redução das exportações
líquidas e do PIB, porque um residente no Brasil comprou um bem que foi produzido
no exterior e vai ter que enviar recursos para pagá-lo.

Dê um exemplo de cada um dos quatro componentes do PIB. Cite uma obra


pública que beneficia e que compõe os gastos do governo, identificando se a
mesma é federal, estadual ou municipal.

30
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Se os gastos do governo aumentam o PIB, que é uma medida de riqueza, porque


há economistas que argumentam que o governo tem que gastar menos?

Conforme dito anteriormente, o PIB mede o valor de mercado de tudo que é produzido
em um período de tempo. Imagina-se que durante um ano haja um profunda elevação
dos preços dos bens e serviços levando-os a dobrar. Consequentemente, o PIB dobrará,
embora não haja elevação efetiva da produção.

Para que o efeito do aumento de preços sobre o PIB seja analisado separadamente do
aumento de produção, os economistas utilizam uma medida chamada PIB real. O PIB
real mede qual seria o valor do PIB se o valor dos bens e serviços produzidos fosse
constante. É como se o preço dos bens e serviços estivesse congelado ao longo do tempo.
Ao eliminar o efeito da variação de preços, o PIB real mostra como a produção geral de
bens e serviços da economia muda com o passar do tempo.

Caso calculemos o PIB aos preços correntes no período chega-se à medida do chamado
PIB nominal. Caso seja utilizado um nível de preços verificado em um período
anteriormente selecionado (preços constantes) terá o PIB real, que dá uma melhor
avaliação do aumento de produção da economia.

Imaginemos uma economia que produza laranjas e bananas como a representada na


tabela a seguir.

Preço da Qunatidade de Preço da Quantidade de PIB Real


Ano PIB nominal
laranja laranja banana bananas (ano-base 2007)

2007 R$ 0,50 300 1,00 200 R$ 350,00 R$ 350,00

2008 0,75 400 1,50 300 R$ 750,00 R$ 500,00

2009 1,00 500 2,00 400 R$ 1.300,00 R$ 650,00

A tabela apresenta o valor das despesas com o consumo de laranjas e bananas


ao longo dos anos. Se analisarmos o montante de gastos considerando os preços
correntes chegaremos ao PIB nominal. No caso do ano de 2007, seu valor é de
R$ 350,00 (300 laranjas x R$ 0,50 + 200 bananas x R$ 1,00), evoluindo para R$
750,00 em 2008 e R$ 1.300,00 em 2009.

Já a análise tomando como base o nível de preços de um determinado ano, no


caso 2007, nos leva ao PIB real. Em 2007 ele foi de R$ 350,00, evoluindo para
R$500,00 (400 laranjas x R$ 0,50 + 300 bananas x R$ 1,00) em 2008 e R$ 650,00
em 2009.

31
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA


3.000.000,00

2.500.000,00

2.000.000,00

Pib em reais correntes


1.500.000,00
Pib em reais de 2008

1.000.000,00

500.000,00

Fonte: Banco Central do Brasil.

A comparação da evolução do PIB Nominal à evolução do PIB Real nos mostra que
o aumento do PIB Nominal deveu-se ao aumento de produção e ao aumento de
preços. Para medir qual o impacto da variação de preços sobre a atividade econômica
foi desenvolvido o deflator do PIB. Ele nada mais é que uma medida do nível médio
de preços da economia, calculada como a razão entre o PIB nominal e o PIB real
multiplicada por cem.

PIB nominal
Deflator do PIB = x 100
PIB real

Como o ano-base é 2007, o PIB nominal e o PIB real devem ser iguais e por isso o
deflator deve ser igual a 100. No ano de 2008, o deflator do PIB será igual a 150. Como
o deflator do PIB aumentou de 100 em 2007 para 150 em 2008, podemos dizer que o
nível de preços aumentou 50%. Em 2009 o deflator foi para 200 e pode-se dizer que o
aumento acumulado do nível de preços foi de 100%.

A variação do PIB pode significar prosperidade econômica, caso haja aumento do PIB
real ou retração caso haja queda. Convencionou-se denominar “recessão técnica” a
queda do PIB por dois trimestres consecutivos. Caso haja crescimento negativo, será
chamado de retração econômica. Existem indicadores substitutos ao PIB como o
Indicador de produção industrial, entre outros.

Indicadores de tendência mostram como os agentes econômicos imaginam a conjuntura


futura e as perspectivas para a atividade econômica e aceleração da economia. Entre esse
indicadores, os mais importantes são o índice de confiança do consumidor que mostra a
expectativa dos consumidores quanto ao futuro e o Índice de confiança dos executivos de
compras PMI (Purchase Manager Index), que relata como o departamento de compras
32
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

das empresas está imaginando os desenvolvimentos futuros. Esse último indicador é


relevante, pois dependendo da expectativa dos compradores o número de encomendas
pode se elevar e consequentemente a produção também.

A utilização do PIB como medida de bem-estar econômico deve ser vista com ressalvas
na hora da análise, pois não leva em conta a forma como é distribuída a renda nem
fatores intangíveis como a qualidade de vida, segurança, educação, a solidez das
instituições, a qualidade dos serviços públicos, entre outros.

Defina PIB real e PIB nominal. Qual dos dois é uma melhor medida do bem-estar
econômico? Por quê?

Inflação: Índices de Preço ao Consumidor


e ao Produtor
Entre os importantes indicadores que devem ser acompanhados quando da análise de
cenários econômicos, a evolução dos preços é um dos mais importantes.

Como se viu na seção anterior, o preço médio da banana em 2007 foi R$ 1,00, em 2008
foi de R$ 1,50 e em 2009 R$ 2,00. Ou seja, se alguém for ao mercado em 2009 com
dois reais querendo comprar uma penca de bananas, conseguiria somente metade dela
devido ao aumento de preços.

O fenômeno do crescimento dos preços dos produtos é chamado de inflação e


corresponde à corrosão do poder de compra da moeda. Caso os produtos fiquem mais
baratos, devido a um excesso de oferta ou aumento de produtividade, os preços cairão
e a esse fenômeno denominamos deflação.

Vários elementos influenciam a inflação e futuramente serão explanados, sendo necessária


agora a compreensão de dois diferentes índices importantes para avaliação do ambiente
econômico: o Índice de Preços ao Consumidor e o Índice de Preços ao Produtor.

Os índices de preços são médias das variações de preços de uma cesta de bens definida
pelo organismo de pesquisa de acordo com a relevância para os hábitos de consumo da
população ou para os revendedores de produtos.

Os índices de preços ao consumidor são medidos diretamente na ponta da


cadeia de varejo e procuram medir de fato como estão as condições de compra para o
consumidor final. Envolve a pesquisa de preços em supermercados, mercados, lojas e
estabelecimentos durante intervalos de tempo para medir se houve variação de preços
ao longo do período. Como o índice de preços é composto pelas variações dos preços
33
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

de uma cesta de bens, não necessariamente ele refletirá os maiores desvios nos preços,
mas sim a média dos desvios de acordo com a importância relativa dos bens para a
cesta considerada.

Como exemplo, que o preço do sal de cozinha tenha se elevado de R$ 1,00 para R$2,00
ao longo do ano de 2008, aumento de 100%, enquanto os índices de preços revelam
inflação de 4,5%. Como isso é possível?

A cesta de bens considerados pode ser mais ampla que somente o sal,
e ser influenciada também por outros bens como arroz, feijão, batata,
alimentação, moradia, vestuário, artigos de higiene, energia elétrica,
combustíveis, educação, segurança, água, transporte, entre outros e estes
outros produtos apresentarem uma variação nos preços muito menor que
a variação apresentada pelo sal ou até mesmo apresentarem deflação. O
importante é o valor consolidado e ele apresentará se o poder de compra
do dinheiro apresentou redução (inflação) ou elevação (deflação).

Os índices de preços ao consumidor possuem várias metodologias de cálculo, composição


da cesta de bens e faixa de consumidores abordados. Entre os índices de preços ao
consumidor mais conhecidos estão:

»» Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – medido pelo Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse é o índice oficial
do governo para acompanhamento da inflação e considera em sua
metodologia as famílias brasileiras com renda de até 8 salários-mínimos,
nas principais regiões metropolitanas do Brasil.

»» Índice Geral de Preços ao Consumidor (IGP-M) – medido pela Fundação


Getúlio Vargas.

»» Índice de Preços ao Consumidor (IPC) – medido pela Fundação Instituto


de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo (FIPE/USP).

34
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Qual a importância da inflação e do índice de preços ao consumidor?

Na verdade, eles sinalizam como as forças de oferta e demanda interagem no mercado,


permitindo até mesmo detectar se está havendo um aquecimento ou redução da
atividade econômica.

Importante: como se viu nas seções iniciais, caso haja um excesso de demanda sobre
a oferta haverá elevação dos preços. Da mesma forma, um excesso de oferta sobre a
demanda pode levar à redução do nível de preços da economia.

A inflação em nível elevados possui várias desvantagens como a geração de distorções


tributárias, alocação distorcida dos recursos escassos, custos para se livrar do dinheiro
em espécie, custos para alteração das tabelas de preços, entre outros. Esses aspectos
serão tratados futuramente no capítulo sobre inflação.

A deflação pode ocorrer porque os consumidores veem diminuída sua renda e passam
a consumir menos. Essa diminuição do consumidor levará ao acúmulo de mercadorias
nas lojas que terão que reduzir os preços para poder vender, ao mesmo tempo que
comprarão menos mercadorias das fábricas. As fábricas reduzirão a produção e
demitirão empregados, o que reduzirá a renda das famílias e consequentemente o PIB,
provocando recessão. Ou seja, a redução nos preços, deflação, pode ser um indício de
que a atividade econômica está desacelerando e que o lucro das empresas vai diminuir,
podendo levar os valores das ações a cair.

Se você observar o comportamento dos títulos públicos, verá que diante de um cenário
de maior inflação o rendimento real dos títulos (rendimento nominal – inflação) será
menor, tornando os títulos menos atrativos. A demanda pelos títulos do governo será
menor, o preço tende a cair e por isso a taxa de juros paga será maior. Imagine que
atualmente você pague R$ 75,00 para receber R$ 100,00 do governo daqui a um ano,
então seus juros auferidos serão 25/75, igual a 33%. Se o título perder atratividade e seu
preço cair para R$ 60,00, os juros serão R$ 40,00 / R$ 60,00, igual a 66%.

Os índices de preços aos produtores apresentam o preço pago pelos varejistas


aos produtores dos bens para depois revendê-los aos consumidores. A importância
desse índice é fundamental, pois impactará decisivamente a decisão da quantidade a
ser produzida.

O principal indicador de preço ao produtor é o Índice de Preços ao Atacado (IPA),


calculado pela Fundação Getúlio Vargas com base na variação de preços no mercado

35
UNIDADE I │ CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA

atacadista. Este índice é calculado para três intervalos diferentes e compõe os demais
índices calculados pela FGV (IGP-M, IGP-DI e IGP-10), com um peso de 60%.

Fonte: Ipeadata (www.ipeadata.gov.br).

Se os preços para os produtores estiverem se elevando é sinal de que o varejo e a


demanda estão aquecidos, podendo significar aumento futuro na produção, no volume
de empregos e no nível de renda da economia.

Por outro lado, caso o índice de preços ao produtor estiver se elevando ao passo que o
índice de preços ao consumidor estiver se reduzindo, é sinal de que os varejistas que
estão intermediando as vendas terão suas margens de lucro reduzidas, podendo afetar
os preços de suas ações. Exemplo de varejistas: Lojas Americanas, Ponto Frio, Magazine
Luíza, Ricardo Eletro, Carrefour etc.

Índice de preços Índice de preços


ao produtor ao consumidor

Produtores Varejistas Consumidores

Qual o melhor comportamento do nível de preços para que haja crescimento


sustentável da renda?

Desemprego
Os indicadores de desemprego são importantes porque tratam do lado da oferta da
economia e o nível de produção.

O indicador mais importante é o Índice de Desemprego, medido pelo IBGE envolvendo


as os dados de desemprego das regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre,

36
CONCEITOS BÁSICOS DE ECONOMIA │ UNIDADE I

Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Considera-se desocupada a pessoa que
perdeu seu emprego ou está procurando uma nova posição há, no máximo, 30 dias.
Pessoas que estão desempregadas há mais de 30 dias não são computadas no cálculo e
são chamadas de desalentados.

A taxa de desemprego é calculada pela divisão do número de desocupados pela


População Economicamente Ativa (PEA). A população economicamente ativa
representa a parcela da população que possui mais de 10 anos de idade e compreende
o potencial de mão-de-obra com que pode contar o setor produtivo, isto é, a população
ocupada e a população desocupada.

A população economicamente ativa é uma parte da População em Idade Ativa (PIA)


que corresponde à parte da população com mais de 10 anos de idade.

Os indicadores apresentados neste capítulo serão muito importantes para identificação


de tendências e desenho de cenários para a conjuntura econômica e subsidiarão as
decisões de investimento tanto em ativos de renda fixa como títulos do governo e de
empresas, quanto em ativos de renda variável como ações, projetos etc.

37
CONCEITOS
BÁSICOS DE UNIDADE II
MACROECONOMIA

CAPÍTULO 1
Inflação

A inflação é definida como o aumento contínuo e generalizado no nível


geral de preços. Os movimentos de altas esporádicas de preços não podem
ser confundidos com movimentos inflacionários, dada a necessidade de
continuidade. Além disso, os movimentos devem ser generalizados, ou seja,
atingir a maioria dos preços de forma sincronizada. Como vimos no capítulo
anterior o indicador de inflação é composto por uma cesta de bens e para que
haja elevação do nível geral de preços, a tendência altista tem que se manifestar
sobre a maioria dos produtos que compõem a cesta.

Causas da Inflação

Inflação de demanda

Considerada a mais “clássica” das causas de inflação, a inflação de demanda acontece


quando a procura por bens de todos os agentes da economia, demanda agregada,
é superior ao total de produção de bens e serviços da economia, oferta agregada.
Intuitivamente, é como se o dinheiro nas mãos dos consumidores para a compra fosse
muito maior que os bens existentes.

Imagine que a economia como um todo seja uma padaria que produz 50 pães e os
consumidores que se alimentam só de pão sejam 1000 com R$10.000,00 para gastar.
Inicialmente o pão custa R$ 1,00, mas a fila na porta da padaria é tão grande e os
consumidores estão tão afoitos para comprar que o padeiro percebe que, se elevar o
preço para R$ 10,00, o estoque total de pães vai ser vendido e ele lucrará mais.

38
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

A interação da oferta com a demanda acontecerá, conforme apresentado no capítulo


1, e chegar-se-á a um preço de equilíbrio para o pão, o qual será bem maior que o
R$ 1,00 inicial, pois a demanda era maior que a oferta e não havia possibilidade de
aumento da oferta. Por isso, no gráfico abaixo, a demanda agregada (DA) caminha de
DA0 para DA1.

A gripe H1N1 fez com que o medicamento utilizado para o combate dos sintomas fosse
altamente demandado, provocando aumento de seus preços.

Dê exemplos de eventos que podem gerar deslocamento de demanda, gerando


inflação.

Inflação de custos

A inflação de custos se associa tipicamente à inflação originada do lado da oferta.


Quando algum elemento externo provoca a restrição da oferta e há um desequilíbrio
entre oferta e demanda levando a uma correção nos preços.

Imagine que haja um fenômeno natural como um tufão e destrua 70% das indústrias
de um país. A consequência imediata desta tragédia é que a capacidade de produção da
economia vai ser reduzida, fazendo com que a oferta agregada da economia se reduza.

No gráfico em referência, isso é representado por um deslocamento para a esquerda da


curva de oferta agregada. É como se o padeiro do exemplo anterior parasse de produzir
39
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

50 pães e produzisse somente 15. A competição para definir quem ficaria com os pães
seria mais acirrada e o valor do pão aumentaria.

No caso citado, houve redução do produto (Y) e inflação. A esse fenômeno dá-se o nome
de estagflação, que se caracteriza pela estagnação econômica (produto não cresce ou
se reduz) e inflação.

O cartel dos maiores exportadores mundiais de petróleo, OPEP, decide unilateralmente


e reduzir a oferta e causa aumento dos preços do petróleo. Isso acontece porque a OPEP
é monopolista e tem poder sobre a oferta do produto.

Dê exemplos de eventos que podem gerar deslocamento da oferta, gerando


inflação.

Outras causas: inflação inercial, inflação de


expectativas

Além das tradicionais causas da inflação acima citadas, no Brasil o processo inflacionário
tem sido comumente associado também à inércia inflacionária e às expectativas de
inflação futura.

A tese da inflação inercial baseia-se no argumento de que os mecanismos de


indexação formais (contratos, aluguéis e salários) e informais (reajustes de preços das
tarifas públicas) provocam o repasse da inflação aos preços correntes mantendo uma
perenidade das taxas de inflação.

As expectativas constituem um importante elemento na formulação da política


econômica e podem influenciar diretamente no curso dos acontecimentos. A inflação de
expectativas origina-se do comportamento de defesa das margens de lucro dos agentes
econômicos quanto estes prevêem a ocorrência de inflação futura.

Os vendedores, diante de uma possível inflação futura, preferem elevar seus preços
agora para que a inflação não corroa o poder de compra da moeda que eles receberão
quando venderem suas mercadorias. Quando todos os agentes elevam seus preços
preventivamente, o nível geral de preços da economia acaba se elevando e a inflação
torna-se um fato.

Por causa das expectativas e do comportamento dos agentes, surgiu a expressão das
profecias autorrealizáveis. Quando um renomado agente afirma que determinada
instituição perderá valor no mercado, os agentes podem acreditar e passar a vender os

40
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

ativos daquela instituição em seu poder, fazendo com que a oferta fique maior que a
demanda e o preço dos ativos caia. Com isso, a previsão de queda no preço dos ativos
acaba se materializando.

Teoria Quantitativa da Moeda


A Teoria Quantitativa da Moeda foi uma das primeiras tentativas de sistematização
econômica a respeito da relação entre a quantidade de moeda em circulação na economia
e o nível geral de preços.

Sua criação remete ao século XVI, ao se descobrir que o ouro descoberto na América
e enviado à Espanha provocava uma inflação sem precedentes naquele país. Segundo
Viceconti (2003), a formulação mais elaborada foi feita posteriormente no século XX,
com a publicação do trabalho de Irving Fisher, The Purchasing Power of Money, em
1911, constituindo um dos principais elementos da análise econômica da escola clássica.
A escola clássica predominou entre os economistas até 1936, ano do surgimento da
teoria keynesiana.

A principal formulação da teoria quantitativa da moeda é a equação quantitativa:

MV = PT

onde:
M = oferta de moeda
V = velocidade de circulação da moeda
P = nível geral de preços
T = quantidade de transações ocorridas no sistema econômico

A equação estabelece que o volume de meios de pagamento multiplicado pela velocidade


com que esses meios de pagamento mudam de mão (número médio de transações
liquidado com a mesma unidade monetária) é igual ao quantificação monetária das
transações econômicas (P x T).

Por exemplo, um determinado ano em que as transações econômicas foram de R$


1.000.000,00 com um estoque de moeda de R$ 100.000,00. Consequentemente, o
estoque de moeda rodou 10 vezes para permitir a liquidação do total das transações
econômicas. PT será igual a R$ 1.000.000,00 e a velocidade será 10.

A equação quantitativa pode ser adaptada considerando o nível do produto nominal da


economia e figurar da seguinte forma:

MV = PY

41
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

sendo que:
Y = produto real da economia
P = nível geral de preços
PY = produto nominal da economia

Com essa adaptação, V passa a representar a velocidade-renda da moeda, representando


o número de vezes que o estoque de moeda gira para financiar as transações que são
incluídas no cálculo do produto nominal da economia, denominado PIB.

Considera-se constante a velocidade-renda da moeda no curto prazo. Supondo que


estejamos em um estado onde todos os fatores de produção estejam plenamente
utilizados, não haverá possibilidade de elevação do produto real, fazendo com que Y seja
constante. Esse estado é chamado de pleno emprego e nesse caso qualquer aumento
da quantidade de moeda na economia significará aumento do nível geral de preços, em
igual proporção.

Exemplo:

Supondo-se que:
M = R$ 100.000,00
V=6
P=2

Consequentemente, Y = R$ 300.000,00 (produto real, conforme apresentado no


capítulo anterior, medido a preços constantes).

Se M aumentar para R$ 120.000,00, ou seja, for elevada em 20%, como V e Y são


constantes por definição, o nível geral de preços será elevado em 20% também.

MV = PY

120.000 x 6 = P x 300.000

720.000
P=
300.000

P = 2,4

O nível de preços aumentou de 2 para 2,4, ou seja, elevou-se em 20%. Isso acontece
porque a produção não pode aumentar, então a curva de oferta da economia fica no
mesmo nível (curva de oferta será vertical). O aumento de moeda vai gerar excesso de
demanda que será revertido somente em preços.

42
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Importante: Uma das causas de inflação pode ser o aumento do volume de moeda na
economia, sem o correspondente aumento da produção. Por isso, o aumento do crédito
bancário de forma desequilibrada pode gerar um aumento do nível de preços, como foi
o caso da crise subprime norte-americana.

O aumento do crédito habitacional fez com que a demanda fosse maior que a oferta e o
nível dos preços aumentasse. No entanto, quem pegou os empréstimos não honrou os
compromissos e os bancos tiveram perdas, entrando em colapso.

Distorções Provocadas por Altas Taxas


de Inflação

Efeito sobre distribuição de renda

Uma das distorções mais importantes da inflação é a redução do poder aquisitivo das
classes econômicas que recebem rendimentos fixos, cujo reajuste é efetuado em data
específica. Com o passar do tempo, o salário passa a comprar cada vez menos, até que
seja efetuado o reajuste salarial para correção.

Efeito sobre as expectativas

As expectativas de rentabilidade dos projetos a serem implementados pelos empresários


são impactadas pela possibilidade de existência de inflação e podem levá-los a postergar
os investimentos. A postergação dos investimentos pelos empresários significa menos
empregos atualmente, bem como menor nível de renda.

Efeito sobre o mercado de capitais

Como a inflação elevada reduz o poder de compra da moeda, as aplicações financeiras


tendem a ser menos atrativas, excluídas aquelas que possuam mecanismo de correção
monetária. A compra de bens que costumam valorizar-se durante a inflação, como
terras e imóveis, aumenta.

Inflação e Desemprego: a Curva de Phillips


A Curva de Phillips apresenta o relacionamento negativo existente entre inflação e
desemprego. Considerando a oferta agregada dada e que o nível de produto e o nível
de desemprego estão negativamente correlacionados, isto é, maior nível de produto
significa menor desemprego, podemos afirmar que se quisermos aumentar o nível
43
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

de produto teremos que aumentar o nível de preços. Menor desemprego significa


mais inflação.

Imagine um determinado nível de emprego e de produto, se houver uma maior demanda


pelos insumos para produção, seus preços vão aumentar. Dessa forma, para reduzir
o desemprego (aumentar a produção) é necessário o aumento de preços, conforme o
gráfico a seguir.

44
CAPÍTULO 2
Taxas de Câmbio e o Setor Externo

Atualmente, devido à globalização e avanço dos meios de comunicação, o mundo


encontra-se cada vez mais interligado e interdependente. As relações econômicas
entre indivíduos de países diferentes têm evoluído significativamente, tanto as relações
comerciais como as financeiras.

O Brasil tem cada vez mais se inserido no contexto internacional firmando acordos de
cooperação econômica, estreitando laços comerciais, comprando empresas no exterior,
enviando executivos para trabalhar no exterior, viajando a outros países, recebendo
multinacionais que desejam instalar aqui suas subsidiárias etc.

Entretanto, as relações que envolvem a troca de recursos financeiros entre os


residentes e não residentes é feita por meio da conversão das diferentes moedas em
uma unidade de referência para que os pagamentos sejam efetuados. A essa troca da
moeda nacional por uma moeda internacional de referência ou o contrário dá-se o
nome de operação cambial.

A mencionada evolução das relações econômicas de distintos países ganhou destaque


dentro dos estudos econômicos, fundamentando os estudos da Economia Internacional.
Segundo Vasconcellos (2002), costuma-se dividir o ramo da Economia Internacional
em dois grandes blocos: um referente aos aspectos microeconômicos, ou a teoria do
comércio internacional e outro bloco referente aos aspectos macroeconômicos, relativos
à taxa de câmbio e ao Balanço de Pagamentos. A seguir, detalhar-se-á o último dos dois
blocos citados.

Taxa de Câmbio

Conceito

Taxa de Câmbio corresponde à taxa de troca entre a moeda nacional e a moeda


estrangeira. Significa o preço da moeda estrangeira em termos da moeda nacional.

Representa-se matematicamente da forma a seguir:

p
=
p*

45
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

onde:
 = taxa de câmbio
p = quantidade da moeda nacional para trocar pela moeda estrangeira
p* = valor da moeda estrangeira

Pode-se imaginar que a taxa de câmbio divulgada pelo Banco Central do Brasil seja
de 2,00 reais/dólar. Significa que são necessários dois reais para se conseguir um
dólar. Um carro que custa US$ 10.000,00 custará R$ 20.000,00, desconsiderando-se
impostos e outras tarifas.

Como a grande parte dos preços, o câmbio também é determinado pela interação das
forças de oferta e demanda por moedas internacionais4 (divisas).

A oferta de divisas depende do volume de exportações feitas ao exterior, dos gastos


dos turistas estrangeiros em nosso país e da entrada de capitais financeiros em moeda
externa (trocando dólares por reais). Os exportadores recebem dólares5 pelos produtos
que eles mandaram para fora do país.

A demanda de divisas (troca de reais por dólares) depende do volume de importações, do


gasto dos turistas brasileiros no exterior e dos capitais enviados ao exterior (amortizações
de empréstimos, remessa de lucros, pagamento de juros etc.). Os importadores demandam
dólares para poder pagar seus fornecedores no exterior.

Quanto maior for a entrada (oferta) de divisas no país devido às exportações, dado um
nível de demanda, menor tende a ser a taxa de câmbio pois a oferta de dólares será maior
que a demanda, fazendo o preço do dólar em termos de reais cair. A queda da taxa de
câmbio mostra que a moeda nacional (real) ficou mais forte ou tem mais valor, porque
agora se entrega menos reais para conseguir um dólar. Quando a taxa de câmbio reduz,
dizemos que há uma valorização cambial (real ganha valor) ou apreciação cambial,
dependendo do regime de câmbio utilizado.

Da mesma forma, quanto maior for a saída (demanda) de divisas no país devido
às importações, dado um nível de oferta, maior tende a ser a taxa de câmbio pois a
demanda de dólares será maior que a oferta, fazendo o preço do dólar em termos de
reais aumentar. A elevação da taxa de câmbio mostra que a moeda nacional (real) ficou
mais fraca ou tem menos valor, porque agora se entrega mais reais para conseguir um
dólar. Quando a taxa de câmbio se eleva, dizemos que há uma desvalorização cambial
(real perde valor) ou depreciação cambial, dependendo do regime cambial adotado.
4 As moedas internacionais frequentemente utilizadas nas relações econômicas internacionais são chamadas de divisas, também
denominadas pelo Fundo Monetário Internacional “freely usable”, livremente utilizáveis. Constituem exemplos de moedas
livremente aceitáveis o dólar norte-americano (US$), o euro (€), o iene (¥) e a libra esterlina (£).
5 Na verdade, os dólares que entram no país são retidos no Banco Central do Brasil, o qual repassa a quantia equivalente em
reais aos bancos comerciais que depositam nas contas correntes dos exportadores.

46
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Regimes cambiais: taxas de câmbio fixas e taxas


de câmbio flutuantes

A taxa de câmbio pode ser definida como o preço da moeda estrangeira em termos de
moeda nacional ou vice-versa. Por exemplo, tanto faz afirmar que um dólar americano
vale três reais (US$ 1,00 = R$ 3,00) quanto que um real vale um terço de dólar (R$ 1,00
= US$ 0,333).

No entanto, essa relação de conversão diverge quando o Banco Central compra e vende
moeda estrangeira aos agentes privados. Existe uma taxa de câmbio para compra e
uma taxa para a venda. Caso a instituição financeira procure o Banco Central do Brasil
querendo entregar reais e obter dólares, o Banco Central estará vendendo dólares e
cobrará uma taxa mais alta que a utilizada quando da compra.

Caso a instituição financeira entregue dólares e obtenha reais, o Banco Central do Brasil
(BCB) estará comprando dólares e pagará menos reais por dólar do que na operação de
venda. Essa diferença entre o preço de venda e o de compra permite ao Banco Central
aferir receita, a qual permite a cobertura dos custos da operação de câmbio. A taxa de
venda será sempre maior que a taxa de compra.

A taxa de câmbio no Brasil tem sido registrada pelo preço em moeda nacional da
moeda estrangeira, também chamado de convenção do incerto. Dessa forma, se US$
1,00 = R$ 2,00 passar a US$ 1,00 = R$ 2,10, diz-se que houve uma diminuição do
valor da moeda nacional em termos de moeda estrangeira, pois agora são necessários
mais reais para se obter uma unidade da outra moeda. O enfraquecimento da moeda
nacional em termos de moeda estrangeira é chamado de desvalorização ou
depreciação cambial, dependendo do regime de câmbio adotado, fixo ou flutuante,
respectivamente.

Caso a relação real/dólar se reduza, há um aumento do valor da moeda nacional em


termos de moeda estrangeira, pois agora são necessários menos reais para se obter uma
unidade da outra moeda.

O fortalecimento da moeda nacional em termos de moeda estrangeira é chamado de


valorização ou depreciação cambial, dependendo do regime cambial adotado.

Regime cambial flutuante ou flexível

O regime cambial é dito flutuante ou flexível quando a definição da taxa de troca dá-
se exclusivamente em função das forças de oferta e demanda por moeda estrangeira,
sem que haja intervenções da autoridade monetária para obtenção de um valor
pré-determinado.
47
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

A demanda por moeda estrangeira depende do volume de importação de bens e


serviços, bem como dos gastos de turistas brasileiros, que necessitam de dólares para
fazer compras no exterior.

A oferta de moeda estrangeira depende dos exportadores que recebem em dólar, o qual
é retido no BCB com crédito equivalente de reais na conta corrente do exportador, e
dos turistas estrangeiros que trocam dólares por reais para realizar compras no Brasil.

A interação da oferta e demanda por divisas vai chegar a um preço e uma quantidade
de equilíbrio.

Onde:

e = taxa de câmbio, medida pela relação reais/dólar. Vem da língua inglesa exchange,
que significa câmbio.

O valor da taxa de câmbio de equilíbrio alterar-se-á à medida que sejam modificados


fatores que afetam a oferta e demanda por divisas.

A demanda por divisas é influenciada, além da taxa de câmbio (maior preço, menor
demanda), pelas seguintes variáveis.

a. Nível de Produto Interno (Y) – um produto maior significa maior volume de


importações e, consequentemente, maior demanda por moeda estrangeira.

b. Nível de Preços interno (Pi) e externo (Pe) – se o nível de preços externos


se eleva, ficará mais caro o produto aqui no Brasil, depois de convertido
em reais, e por isso tende-se a importar menos, reduzindo a demanda por
divisas (Dd). Já se o nível de preços interno se eleva, o produto importado
tende a ficar mais atrativo que o concorrente nacional e haverá estímulo à
importação, aumentando a demanda por divisas. Resumindo, quando Pi
sobem, Dd sobe. Quando Pe sobem, Dd cai.

c. Taxa de juros interna (ii) e externa (ie) – uma taxa de juros interna
maior atrairá mais capitais estrangeiros e desestimulará a saída para o

48
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

exterior, fazendo com que a demanda por moeda estrangeira se reduza.


Caso haja aumento na taxa de juros externa, os agentes vão querer
trocar reais por dólares para aplicar no exterior e a demanda por moeda
externa vai aumentar.

Dd = f(e, Y, Pi, Pe, ii, ie), onde:


–++ – – + -
–/+ = Indica se a demanda por divisas caminha na mesma direção da variável analisada (+)
ou em sentido contrário (–). Com exceção do câmbio, as alterações nas demais variáveis
gera deslocamento da curva de demanda por divisas e não deslocamento na curva.

A oferta de divisas, por sua vez, é impactada pela:

a. Renda do Resto do Mundo – renda maior no exterior significa maior


volume de exportações nacionais e maior oferta de divisas.

b. Nível de preços interno e externo – maior nível de preços interno torna as


exportações menos competitivas, reduzindo a oferta de divisas. Maior nível
de preços externo favorece as exportações e aumenta a oferta de divisas.

c. Taxa de juros interna e externa – uma taxa de juros interna maior atrairá
mais capitais estrangeiros, fazendo com que a oferta de moeda estrangeira
aumente. Caso haja aumento na taxa de juros externa, os investimentos
estrangeiros em ativos em ativos nacionais tornam-se menos atrativos
em comparação com os investimentos no exterior e a oferta de divisas
interna diminui.

Od = f(e, YRM, Pi, Pe, ii, ie)


+ + – + + –

Suponha que o mercado de divisas esteja em equilíbrio a uma taxa de câmbio e0. Caso
haja elevação dos preços internos (Pi), a demanda por divisas aumenta e a oferta de
divisas se reduz. Isso é representado por um deslocamento para a direita da curva de
demanda por divisas e um deslocamento para a esquerda da curva de oferta de divisas
até que se encontre um novo equilíbrio em e1.

49
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

Houve uma redução na taxa de câmbio ou o fortalecimento da moeda nacional.

Simule graficamente o impacto de variações em Y, YRM, Pi, Pe, ii, ie.

Quando há aumento da taxa de câmbio (enfraquecimento da moeda nacional) no regime


de câmbio flutuante, diz-se que houve uma depreciação cambial ou depreciação
da moeda nacional, lembrando-se do uso da convenção do incerto, moeda nacional/
moeda estrangeira.

Quando há queda da taxa de câmbio (fortalecimento da moeda nacional) no regime de


câmbio flutuante, diz-se que houve uma apreciação cambial ou apreciação da moeda
nacional, lembrando-se da convenção moeda nacional/moeda estrangeira.

Regime cambial fixo

A taxa de câmbio é chamada “fixa” quando sua determinação não decorre puramente
das forças de oferta e demanda de mercado, mas de uma decisão da autoridade
monetária, que se compromete a comprar e vender qualquer quantidade de divisas a
uma taxa pré-estabelecida.

O fato de ser fixa não quer dizer que a taxa não varia. Ela é fixada em determinado
patamar, o qual se encontra sujeito a alteração, de acordo com a decisão do banco central.

Caso o BCB fixe a taxa de câmbio em R$ 2,00 = US$ 1,00, ninguém estará disposto a pagar
um valor maior, pois o BCB venderá o dólar por R$ 2,00 e ninguém estará disposto a
vender por um valor menor, pois o BCB pagará R$ 2,00 por dólar.

As divisas utilizadas para venda ao públicos são retiradas das reservas internacionais.
Por essa razão, o estoque de reservas é fundamental para a manutenção do regime de
câmbio fixo. Se os agentes colocarem em dúvida a capacidade do banco central de prover
divisas, eles passarão a agir especulativamente comprando dólares na expectativa de
que a autoridade monetária desvalorize a taxa de câmbio, resultando em lucros para
quem possui dólares.

Geralmente isso ocasiona a ruína do sistema de câmbio fixo. Ao fenômeno de aposta


quanto à capacidade do BC de prover dólares, com a vultuosa compra de moeda
estrangeira, dá-se o nome de ataque especulativo.

A autoridade monetária estima qual é a taxa de câmbio que equilibra oferta e demanda
por divisas e escolha a taxa que praticará.

50
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Se o BCB escolhe ef1 haverá excesso de oferta de divisas e as reservas internacionais


aumentarão, pois os agentes venderão dólares ao BCB. Se o BCB escolhe ef2 haverá
excesso de demanda por divisas e as reservas internacionais reduzir-se-ão porque
muitos agentes comprarão dólares do Banco Central.

Caso o BCB pratique a taxa de câmbio ef2 e eleve esse valor para reduzir a demanda por
divisas ao exigir mais reais para vender dólares, haverá um enfraquecimento da moeda
nacional que passará a comprar menos dólares.

A elevação da taxa de câmbio real/dólar, enfraquecendo a moeda nacional, é chamada


de desvalorização cambial. Analogamente, a redução da taxa de câmbio pelo Banco
Central é chamada de valorização cambial e só ocorre sob o regime de câmbio fixo.

Entre os regimes de câmbio flutuante e fixo existem regimes intermediários como a


flutuação administrada ou flutuação suja, minidesvalorizações, bandas cambiais e
outros, no entanto não constituem objetivo desta disciplina.

Efeito das variações na taxa de câmbio sobre


exportações, importações e inflação

Conforme visto anteriormente, a taxa de câmbio real é a razão pela qual uma pessoa
pode trocar bens e serviços de um país pelos bens e serviços de outro país, ao passo que
a taxa de câmbio nominal representa a taxa à qual uma pessoa pode trocar a moeda
de um país pela de outro.

A taxa de câmbio real é determinante de quanto um país exporta e importa

r = e P*/ Pd

sendo que:

P* = Preços internacionais

Pd = Preços domésticos

51
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

Por isso deve-se analisar qual o impacto das variações cambiais sobre as exportações e
importações, além da inflação.

As desvalorizações e depreciações fazem com que a taxa de câmbio se eleve (o preço do


dólar sobe, em reais), os compradores estrangeiros, com os mesmos dólares, compram
mais produtos brasileiros e os exportadores tendem a exportar mais. Por outro lado, o
custo dos produtos importados, em reais, aumenta e os importadores tendem a comprar
menos do exterior.

Resumindo, as desvalorizações e depreciações cambiais tendem a estimular as


exportações e desestimular as importações. Da mesma forma, as valorizações e
apreciações cambiais tendem a estimular as importações ao mesmo tempo que
desincentiva as exportações.

No entanto, o impacto dos movimentos cambiais pode ser reduzido ou ampliado, de


acordo com as variações dos nível de preços interno e externo. A taxa de câmbio real é
definida por r = e P*/ Pd.

A variação da taxa de câmbio real6 é definida pela variação da taxa de câmbio nominal
sobre o quociente das variações relativas dos níveis de preços interno e externo.
Matematicamente,

Delta r/r = [(1+(delta e/e))/(1+(delta Pd/Pd))/ (1+(delta P*/P*))] – 1

Caso haja uma desvalorização nominal de 30%, com inflação doméstica de 20% e
inflação internacional de 5%, o resultado será uma depreciação real de 13,75%, afetando
exportações e importações de maneira menos efetiva.

Delta r/r = [(1+0,3)/(1+0,2)/ (1+0,05)] – 1 = 0,1375 = 13,75%

O impacto das variações cambiais sobre a inflação podem ser significativos dependendo
da orma como os preços são formados. Em países com câmbio fixo, um grande mecanismo
de contenção da inflação tem sido a valorização cambial, chamada de âncora cambial.

Esse instrumento foi utilizado pelo Brasil durante o Plano Real e constituiu-se na
valorização do câmbio tornando a moeda nacional mais forte, estimulando a compra
de produtos importados, os quais se tornaram mais competitivos frente os similares
nacionais, levando à queda nos preços domésticos. No entanto, a utilização pelo Brasil
no período 1994 a 1999 criou uma “armadilha cambial“, dado que as exportações não
se elevaram, levando a um déficit comercial (exportações <importações) que precisava
ser financiado.

6 Para prova ver apêndice matemático de Vasconcellos (2002), pp. 387

52
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Atraiu-se capital com elevadas taxas de juros internas para contrabalançar o


déficit comercial. O problema foi que o aumento da dívida levou os investidores
a questionar a política de juros elevados como forma de atração de capitais. Os
investidores deduziram que, na ausência de juros altos, a oferta de divisas reduzir-
se-ia e haveria elevação da taxa de câmbio, o que levou-os a se proteger por meio da
compra de dólares, causando a dissolução da âncora cambial e do câmbio fixo no
ano de 1999.

A taxa de câmbio impacta também a inflação na medida que interfere na estrutura


de custos da produção nacional. Imagine a padaria que foi mencionada no capítulo 5
(Inflação) que importa farinha da Argentina para produzir pães.

Uma desvalorização ou depreciação cambial aumenta o custo de produção, sendo


repassado para os consumidores por meio do aumento de preços. A desvalorização
demora mais para impactar as exportações, mas tem resultado mais imediato sobre o
custo das importações. Os produtos cuja demanda é inelástica são os mais penalizados
pelo aumento de custos derivado do aumento da taxa de câmbio.

Esse contágio do aumento do câmbio sobre o nível de preços é chamado de pass-


through e será tanto maior quanto maior for a dependência de matéria-prima
importada para produção e caso não haja bens substitutos.

Observando o efeito da taxa de câmbio sobre o comércio exterior e inflação,


conclui-se que seu nível deve ser relativamente alto para estimular as exportações
e relativamente baixo para não encarecer demais as importações, pressionando
a inflação.

Em um regime de câmbio flexível a taxa de câmbio tem o único papel de absorver


choques externos. Como ela é determinada pelas forças de oferta e demanda por divisas,
a taxa de juros não é utilizada com o propósito de atrair capitais para aumentar a oferta
de divisas e reduzir o câmbio.

O propósito da taxa de juros sob o regime de câmbio flexível é o controle


da inflação. Juros mais altos significarão condições mais restritivas de crédito, menor
volume de investimentos, menor atividade econômica e menor nível de atividade, o que
causará menor nível de preços quando oferta e demanda se reduzirem

Relação entre a taxa de câmbio e taxa de juros

Como enunciado anteriormente as taxas de juros internas, quando comparadas às


internacionais, têm impacto significativo sobre a taxa de câmbio porque um diferencial

53
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

positivo gera atração de capitais internacionais (aumento da oferta de divisas) reduzindo


a taxa de câmbio. A demanda por divisas diminui porque os agentes tendem a aplicar
seus recursos em moeda nacional, contribuindo também para a redução do câmbio e
apreciação da moeda nacional.

Quando as taxas de juros internas se reduzem, torna-se menos atrativo para os


investidores internacionais a aplicação nesse mercado, reduzindo a oferta de divisas.
Da mesma forma, a demanda por divisas aumenta porque os agentes querem trocar a
moeda nacional por divisas para a aplicação no exterior e acaba-se gerando a depreciação
da moeda nacional.

Ao longo da análise dos efeitos da política cambial sobre a taxa de juros, observou-se
que o tipo de regime cambial seria de fundamental importância para o propósito da
taxa de juros dentro do sistema econômico.

No câmbio fixo, caso haja excesso de demanda por divisas, como nos episódios de
ataques especulativos, o Banco Central pode ser obrigado a elevar taxa de juros para
atrair e evitar a saída de capitais, estancando a perda de reservas internacionais.
No câmbio flutuante, como o Banco Central não é obrigado a utilizar as reservas
internacionais para contenção de pressões cambiais, o papel da taxa de juros para
estabilização cambial é menor.

Vantagens e desvantagens dos regimes de câmbio


fixo e flutuante

Após apresentar a relação da taxa de câmbio com exportações, importações, inflação e


taxa de juros, segue um quadro com vantagens e desvantagens dos regimes de câmbio
fixo e flutuante.

Câmbio Fixo Câmbio Flutuante (Flexível)

»» O mercado (oferta e demanda de divisas) determina a


»» Banco Central fixa a taxa de câmbio.
taxa de câmbio.
Características »» Banco Central é obrigado a disponibilizar as
»» Banco Central não é obrigado a disponibilizar as reservas
reservas cambiais.
cambiais

»» Política monetária mais independente do câmbio.


»» Maior controle da inflação (custo das
Vantagens »» Reservas cambiais mais protegidas de ataques
importações).
especulativos.

»» Reservas cambiais vulneráveis a ataques »» A taxa de câmbio fica muito dependente da volatilidade
especulativos. do mercado financeiro nacional e internacional.
Desvantagens
»» A política monetária (taxa de juros) fica »» Mais dificuldade de controle das pressões inflacionárias
dependente do volume de reservas cambiais. devido as depreciações cambiais.

Fonte: Vasconcellos (2002)

54
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Noções de Balanço de Pagamentos

Ao longo do capítulo mencionou-se o papel da taxa de câmbio sobre exportações e


importações, a influência da taxa de juros sobre o movimento de capitais para equilibrar
déficits comerciais, entre outros.

As contas de transações comerciais, bem como as contas de fluxos de capitais e todas


as demais transações de um país com o resto do mundo, são contabilizadas pelo Banco
Central no Balanço de Pagamentos.

Ele engloba as transações entre residentes e não-residentes envolvendo bens, serviços,


capitais físicos e financeiros. O balanço de pagamentos registra o comércio de mercadorias
(exportações, importações), de serviços (pagamento de juros, remessas de lucros,
turismo, pagamento de fretes), o movimento de capitais autônomos (investimentos
estrangeiro direto, empréstimos, financiamentos, capitais especulativos) e o movimento
de capitais compensatórios (variação de reservas, ouro monetário, direitos especiais de
saque e posição de reservas no FMI).

As contas do balanço de pagamentos são distribuídas em diferentes grupos ou rubricas


e refletem o fluxo de recursos durante intervalos de tempo (ano, mês). Não se deve
confundir com estoques, como o passivo externo líquido. Apresenta-se, a seguir, a
estrutura do balanço de pagamentos.

Balanço de Pagamentos
A) Balança Comercial (mercadorias) »» Exportações
»» Importações
B) Balanço de Serviços »» Viagens Internacionais (turismo, negócios)
»» Transportes (fretes)
»» Seguros
»» Renda de Capitais (juros, dividendos e lucros, incluindo lucros reinvestidos)
»» Serviços Diversos (royalties, assistência técnica, aluguel de equipamentos etc.)
»» Serviços Governamentais (embaixadas, consulados, representações no exterior)
C) Transferências Unilaterais Podem ser doações de mercadorias ou monetárias. Também conhecida como donativos
D) Balanço em Transações Correntes Equivale A + B + C
E) Movimento de capitais autônomos »» Investimentos Diretos Líquidos (Instalação de firmas estrangeiras no país)
»» Reinvestimentos (Firmas estrangeiras instaladas no Brasil)
»» Empréstimos e financiamentos (financiamentos estrangeiros)
»» Amortizações (amortizações de empréstimos e financiamentos)
»» Outros capitais (capitais especulativos, de curto prazo, aplicados no mercado financeiro)
F) Erros e Omissões
G) Saldo do Balanço de Pagamentos Equivale D + E + F
H) Financiamento do Resultado »» Deveres e obrigações no exterior (ou variação de reservas)
(Movimentos de capitais compensatórios) »» Operações de regularização
»» Atrasados comerciais

55
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

A balança comercial compreende a entrada e saída de mercadorias no relacionamento


de um país com o exterior. Se o valor das exportações for menor que as importações, há
um déficit comercial. Se o valor das exportações for amior que o das importações, á
um superávit comercial.

O balanço de serviços inclui a remuneração aos serviços executados, tanto os fatores


quanto os não-fatores. A remuneração a fatores de produção (terra, trabalho e capital)
é contabilizada no balanço de serviços como aluguel, juros, lucros etc. Os serviços não
ligados aos fatores de produção (frete, despesas governamentais, seguros, viagens)
também são registrados nessa rubrica.

As transferências unilaterais envolvem a ajuda humanitária e remessas de emigrantes,


podendo ser transferida em moeda ou em mercadorias.

O saldo em transações correntes ou balanço de transações correntes representa a


evolução do endividamento externo do país. Se o saldo é negativo, o país está absorvendo
do exterior mais recursos que envia e está se endividando para isso. O resultado negativo
em transações correntes gera uma Poupança Externa Positiva, pois o resto do
mundo assume uma posição credora frente o país em questão.

Se o saldo é positivo, o país está transferindo para o exterior mais recursos que absorve
e fica credor quanto ao resto do mundo. O resultado positivo em transações correntes
gera uma Poupança Externa Negativa, pois o resto do mundo assume uma posição
devedora frente o país em questão.

A conta de movimento de capitais autônomos representa os recursos financeiros


líquidos oriundos do exterior que adentraram o país. Erros e Omissões representam
a diferença entre o saldo do balanço de pagamentos e o financiamento do resultado,
constituindo uma conta de chegada.

O movimento de capitais compensatórios é a forma como o país internaliza o resultado


do balanço de pagamentos. Um balanço de pagamentos negativo tem que ser financiado
com a redução das reservas ou algum haver no exterior. O balanço de pagamentos
positivo representa significa que o país está amealhando direitos com relação ao exterior.

56
CAPÍTULO 3
Políticas Econômicas

Como visto em capítulo anterior, a macroeconomia trata da evolução do sistema


econômico como um todo, analisando o comportamento dos grandes agregados como
a renda e produto nacionais, emprego, inflação, investimento, poupança e consumo
agregados, taxa de juros, taxa de câmbio e balanço de pagamentos.

Os detalhes dos agentes individuais e seus mercados específicos são abstraídos pela
macroeconomia e tratados pela microeconomia. Tal abstração permite o estabelecimento
de relações entre os mencionados agregados, proporcionando melhor compreensão
acerca do funcionamento da economia e suas questões conjunturais, mais ligadas ao
curto prazo como inflação e desemprego.

A análise de longo prazo trata de elementos mais estruturais e envolve questões


relacionadas ao progresso tecnológico, política industrial, educação, entre outras,
que geram resultados em um horizonte temporal mais amplo. Discussões relativas ao
desenvolvimento econômico, distribuição de renda, globalização e progresso tecnológico
extrapolam a análise puramente econômica e são objeto de análise multidisciplinar de
longo prazo.

A política macroeconômica tem como objetivo promover:

a. plena utilização dos fatores de produção (pleno emprego dos recursos);

b. estabilidade de preços;

c. distribuição equitativa da renda;

d. crescimento econômico.

As questões relacionadas a emprego e inflação (a e b) são mais relacionadas ao curto


prazo e são por isso chamadas de conjunturais, sendo tratadas por meio e políticas
de estabilização.

As políticas de estabilização compreendem a política monetária, fiscal, cambial e


comercial e são estruturadas considerando a parte real da economia (bens e serviços,
empregos) e a parte monetária (moeda e títulos). Divide-se a economia em quatro
mercados distintos (Vasconcellos, 2002), conforme o que se segue:

a. mercado de bens e serviços;

b. mercado de trabalho;
57
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

c. mercado financeiro (monetário e de títulos);

d. mercado cambial

Mercados Variáveis Determinadas


Produto Nacional
Bens e Serviços
Parte Real da Nível Geral de preços
Economia Nível de Emprego
Mercado de Trabalho
Salários Nominais
Taxa de Juros
Parte Monetária da Mercado Financeiro
Estoque de Moeda
Economia
Mercado de Divisas Taxa de Câmbio

As duas partes não existem isoladamente, pois a parte real depende da parte monetária
para proceder as trocas e realizar investimentos na produção ao passo que a parte
monetária precisa de atividade econômica para conceder crédito e realizar suas
operações.

O mercado de bens e serviços trata da agregação de todos os produtos e serviços finais


produzidos pela economia durante determinado período de tempo e define o produto
nacional.

O mercado de trabalho agrega todos os tipos de empregos existentes e define o nível dos
salários e do emprego.

O mercado financeiro analisa a utilização da moeda e a definição de seu preço (preço),


além da intermediação financeira para a realização das transações comerciais. Existirão
agentes superavitários (renda menor que gastos) e agentes deficitários (gastos maiores
que a renda). Os primeiros emprestarão sua poupança aos últimos e cobrarão uma taxa
para fazê-lo. Essa taxa variará de acordo com o tipo de operação, dependendo do tipo
de instrumento financeiro utilizado no mercado.

As transações econômicas de um país e seus residentes com o resto do mundo se dão por
meio da troca de moedas diferentes. A taxa de câmbio permitirá calcular a relação de
troca, ou seja, o preço relativo entre diferentes moedas, facilitando assim a consecução
das transações de bens, serviços e finanças.

A política macroeconômica envolve a atuação do governo sobre a capacidade produtiva


(produção agregada) e despesas agregadas (demanda agregada) com o intuito de
levar a economia ao pleno emprego com estabilidade do nível de preços e distribuição
equitativa da renda. Para tal, o governo se utiliza de políticas (monetária, fiscal, cambial
e comercial) apresentadas a seguir.

58
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Política Monetária

Trata-se da influência das instituições governamentais sobre a quantidade de moeda,


de crédito e o valor da taxa de juros.

Para a execução da política monetária, as autoridades governamentais dispõem de


cinco instrumentos clássicos.

»» Emissão de moeda;

»» Operações de mercado aberto (compra e venda de títulos públicos);

»» Reservas compulsórias dos bancos comerciais (percentual dos depósitos


que os bancos comerciais captam que deve ser retida no banco central;

»» Redescontos (empréstimos do banco central aos bancos comerciais);

»» Direcionamento sobre crédito e taxas de juros.

Instrumentos de política monetária:


emissão de moeda

Uma das funções do banco central é controlar a emissão de moeda e o crédito de forma
que estes sejam compatíveis com o crescimento do produto, mantendo a liquidez
do sistema.

A oferta de moeda e crédito deve ser minuciosamente ajustada evitando a inflação.


Caso haja excesso de moeda e crédito, pode ser gerado excesso de demanda por bens
e serviços em relação à oferta (produção) ocasionando aumento de preços e inflação.

É bom destacar que no caso brasileiro quem emite moeda é o Banco Central e quem
imprime é a Casa da Moeda.

Instrumentos de política monetária: operações de


mercado aberto

As operações de Mercado Aberto (Open Market) consistem na compra ou venda, pelo


Banco Central, no mercado secundário, de títulos da dívida governamental.

Quando a Secretaria do Tesouro Nacional emite um título, diz-se que houve uma
emissão primária de títulos ou emissão de títulos governamentais por parte do Tesouro
Nacional. Inicialmente, o governo capta recursos dos agentes privados e entrega em
troca a promessa de pagamento futuro do principal e dos juros.

59
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

No caso brasileiro, como o BCB é proibido por lei de financiar7 o Tesouro Nacional,
ele atua no mercado secundário e compra e vende títulos que estão na mão do setor
privado.

Quando o Banco Central quer reduzir a quantidade de moeda em circulação, ele vende
títulos do governo ao setor privado, recebendo depósitos e moeda em troca. Quando o
Banco Central quer injetar dinheiro na economia, ele emite moeda e compra títulos do
governo nas mãos do setor privado pagando em moeda e aumentando a quantidade de
dinheiro e crédito em circulação.

As operações de mercado aberto são o mais importante instrumento de política


monetária e por meio delas é definida a taxa de juros (preço da moeda) de referência,
que no caso brasileiro é a Selic, taxa do Serviço Especial de Liquidação e Custódia.

O Comitê de Política Monetária do BCB define qual deve ser o alvo da taxa de juros
anual para que determinado patamar de inflação seja alcançado. O BCB, por sua vez,
compra e vende títulos injetando e retirando moeda da economia, alterando o preço da
moeda, a taxa de juros.

Quando há venda de títulos, a oferta de títulos fica maior que a demanda e o preço dos
títulos cai. Como o valor que o título pagará após um intervalo de tempo, seu valor de
face, é constante, o retorno do título (taxa de juros) aumenta.

Pode-se imaginar a situação de um título que pague em um ano R$ 100,00 e hoje é


vendido a R$ 80,00. O portador desse título desembolsará R$ 80,00 hoje e receberá
R$ 100,00 em um ano, angariando R$ 20,00 de juros. O retorno do título (taxa de
juros) será de 25% (20/80).

Se a oferta de títulos pelo BCB aumentar, será retirada moeda da economia e a oferta
de títulos ficará maior que a demanda, fazendo com que o preço do título se reduza.
Quando o preço o título se reduzir, o retorno aumentará, pois continuará pagando R$
100,00 após um ano.

Imagine que o preço caia para R$ 75,00. O retorno será 25/75, que é igual a 33,33%.

O Banco Central retirou moeda a economia e elevou a taxa de juros. A autoridade


monetária faz inúmeras operações de compra e venda de títulos para que a taxa de
juros ponderada do estoque de títulos em circulação atinja o alvo definido pelo Comitê
de Política Monetária (Copom).

7 O BCB é proibido de participar da emissão primária, pois poderia emitir moeda para financiar os gastos do governo
indefinidademente, comprometendo seu objetivo de zelar pelo poder de compra da moeda e estabilidade do sistema
financeiro nacional.

60
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Os bancos comerciais tomarão a taxa Selic como referência, dado que é um retorno
quase certo. Por isso, os bancos tendem a cobrar dos consumidores no mínimo a taxa
de referência Selic, porque abaixo desse patamar seria economicamente injustificável.

Quando o banco central reduz o alvo da taxa Selic, ele acaba por levar os bancos comerciais
a reduzir suas taxas devido à competição e a taxa para o tomador de empréstimos é
menor, permitindo maior concessão de crédito e maior atividade econômica.

Instrumentos de política monetária: reservas


compulsórias dos bancos comerciais (compulsório)

Os bancos comerciais são instituições captadoras de recursos dos agentes


superavitários (poupadores) e emprestadoras aos deficitários (tomadores de recursos)
fazendo a intermediação financeira. Seu lucro advém do spread bancário, que é a
diferença entre as taxas pagas aos poupadores e as taxas cobradas dos tomadores
de empréstimo.

Com vistas a aumentar os lucros, os bancos comerciais tendem a captar recursos e


guardar para eventuais saques apenas uma fração do dinheiro captado, emprestando o
restante para tomadores de empréstimo, pois sabem que todos os poupadores não vão
querer sacar todo o dinheiro depositado simultaneamente.

O banco comercial coloca saldo na conta corrente dos tomadores de crédito I, mas
sabe que esse tomadores também não vão sacar todo o dinheiro de uma vez e por isso
guardam uma parcela do dinheiro emprestados aos tomadores I, usando o restante dos
recursos para emprestar aos tomadores II e assim sucessivamente.

Como não há dinheiro físico e os agentes não sacam todo o seu dinheiro simultaneamente,
os bancos comerciais tem a habilidade de criar moeda.

Imagine a situação onde o poupador I tem R$ 125,00, vai até o Banco A e deposita R$
100,00, ficando com um saldo de R$ 100,00 e recebendo juros de 1% ao mês. Como
o Banco A sabe que o poupador I não sacará tudo de uma vez, ele guarda 25% dos R$
100,00 sob a forma de reservas e empresta os R$ 75,00 restantes ao tomador I.

Como o Banco A sabe que o tomador I não sacará todo o dinheiro, ele guarda 25% dos
R$ 75,00 sob a forma de reservas, igual a R$ 18,75 e utiliza os R$ 56,25 para emprestar
ao tomador II e assim sucessivamente.

De R$ 125,00 em dinheiro iniciais o sistema financeiro já possui uma oferta total


de moeda de R$ 256,25 (R$ 125+75+56,25), com a criação de R$ 131,25. Essa
61
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

criação será tanto maior quanto maior for o percentual da oferta total de
moeda que os agentes guardem em depósitos nos bancos (“d”), permitindo
aos bancos emprestá-los aos tomadores, e quanto menores forem as reservas
guardadas pelos bancos comerciais para satisfazer as necessidades de
saque (“r”).

Matematicamente, representa-se o multiplicador monetário da seguinte forma:

M = PMPP + Depósitos à vista BM = PMPP + Reservas


M = cM + dM BM = (1-d) M + r * Depósitos à vista
c+d = 1, c = 1-d BM = (1-d) M + r *dM
M = (1-d) M + dM M [1-d(1-r)] = BM
M = {1/[1-d(1-r)] }BM

Onde:

M = oferta total de moeda;


BM = base monetária;
PMPP = papel moeda em poder do público;
d = percentual de moeda guardado sob a forma de depósitos à vista;
c = percentual de moeda nas mãos do público (cédulas e moeda metálica);
r = percentual de reservas bancárias (voluntárias e obrigatórias).

No caso do exemplo anterior, o valor de “d” é 0,8, pois 80% do dinheiro que circulava
foi depositado no banco. O valor de “r” é 0,25, pois 25% dos depósitos foram guardados
como reserva.

O valor do multiplicador monetário será de {1/[1-0,8(1-0,25)]}, que é igual a 2,5. Ou


seja, R$ 125,00 que compunham a base monetária gerarão uma oferta total de moeda
de 312,50 após os sucessivos empréstimos.

Uma parcela dos depósitos captados pelos bancos comerciais junto aos poupadores
é voluntariamente guardada no Banco Central para atender ao movimento de caixa e
compensação de cheques. Além dessa reservas voluntárias, o Banco Central exige que
outra parcela dos depósitos captados pelos bancos comerciais seja retida obrigatoriamente
em seus cofres, não podendo ser emprestados, a reserva obrigatória.

O Banco Central atual sobre as reservas compulsórias dos depósitos, regulando o


percentual do total de depósitos que pode ser emprestado ao público, controlando
assim a criação de moeda pelos bancos comerciais.

62
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Calcule o valor do multiplicador monetário e quantidade de moeda criada caso


o total de moeda seja 3000, reservas bancárias 40% e o percentual da oferta de
moeda guardada sobre a forma de depósito à vista igual a 83,33%.

Redescontos

Redesconto é a linha de crédito que o banco central disponibiliza para os bancos


comerciais quando o estoque de reservas bancárias fica abaixo do exigido. Taxa de
redesconto é a remuneração que o Banco Central cobra dos bancos comerciais quando
empresta sob a forma de redesconto. Ela tende a ser alta o bastante para se tornar
proibitiva e desincentivar os bancos a se alavancar e deixar de guardar recursos nas
reservas bancárias.

Quão maior for a taxa de redesconto, menos os bancos comerciais vão querer utilizá-la
e por isso deixarão maior volume de reservas no Banco Central, reduzindo a concessão
de empréstimos.

Direcionamento sobre crédito e taxas de juros

A autoridade monetária pode estabelecer critérios como taxa de juros, prazos e


penalidades para a concessão de empréstimos pelas instituições bancárias de forma a
incentivá-las a conceder crédito a determinados setores da sociedade.

Um exemplo é a exigência de que 70% do volume de depósitos captados nas cadernetas


de poupança seja destinado ao financiamento imobiliário. Caso a instituição financeira
não cumpra, ela pode ser chamada a deixar esse volume de recursos estacionado no Banco
Central sem receber remuneração. Com isso os bancos comerciais são incentivados a
conceder crédito habitacional, dinamizando o setor.

Após a apresentação dos efeitos e instrumentos da política monetária, é importante


apresentar os instrumentos e efeitos da política fiscal.

Política Fiscal
Ao longo da história e especialmente a partir o século XX, com o surgimento do estado
de bem-estar social, a importância do Estado para a economia tem crescido devido
ao aumento da renda dos habitantes, às mudanças tecnológicas, alterações no perfil
populacional e fatores políticos e sociais. A elevação na renda populacional levou os
cidadãos a demandar mais bens públicos (lazer, saúde, educação superior) ao passo que

63
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

as mudanças tecnológicas necessitam de bens de competência do Estado como rodovias


e aeroportos. O perfil populacional se alterou gerando maior necessidade de gastos
em educação e saúde, concomitantemente à inclusão de grupos sociais que trouxeram
pleitos significativos.

A política fiscal refere-se a todos os instrumentos governamentais disponíveis para


arrecadação de tributos (política tributária) e realização/controle de despesas (política
de gastos). Além do nível total de tributação, a política tributária tem o efeito de
estimular/inibir decisões de investimento e consumo dos agentes individuais. As
decisões de gastos governamentais tem o efeito multiplicador ao favorecer condições
para que investimentos privados sejam realizados.

Quando o objetivo da política é a redução da inflação, as medidas fiscais geralmente


adotadas são a redução dos gastos público e/ou aumento da carga tributária, de forma
a desincentivar os gastos da coletividade.

Quando o objetivo é estimular crescimento, emprego e/ou desenvolvimento de um


setor específico procede-se com desoneração tributária, subsídios e aumento dos
investimentos governamentais nesse setor.

O papel do setor público como promotor de uma distribuição equitativa de renda é


perceptível na política fiscal na definição das alíquotas de impostos incidentes sobre
os diferentes extratos da sociedade e na transferência das receitas da União para as
diferentes regiões geográficas e municípios.

Para a satisfação das demandas sociais, o Estado lança mão de políticas, entre elas
as fiscais, para promoção do desenvolvimento. Por isso, o setor público desempenha
importantes funções econômicas, como será apresentado a seguir.

Funções econômicas do setor público

Entre as funções econômicas do setor público podemos destacar:

»» Alocativa – atendimento às demandas dos agentes por bens que o setor


privado não é capaz de prover (bens públicos), por meio da alocação
de recursos.

»» Distributiva – repartição dos recursos objetivando distribuição equitativa


da renda.

»» Estabilizadora – eliminação de distorções no nível de emprego e renda.

64
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Conceitos de déficit público

O resultado financeiro do setor público, mais conhecido como superávit/déficit público,


ocorre quando o Estado, no desempenho de suas funções econômicas, chega a um
resultado financeiro ao de um intervalo de tempo.

O resultado é chamado de superávit quando as receitas forem maiores que as despesas


e déficit quando as receitas forem menores que as despesas. Apresenta-se a seguir
diferentes conceitos de resultado público:

»» Resultado Primário – considera-se a receita total corrente (T) e subtrai-


se os gastos públicos correntes (G), sem consideração dos juros reais e
correção monetária incidentes sobre o estoque da dívida anteriormente
existente.

»» Resultado Operacional (Necessidade de Financiamento do Setor


Público – conceito operacional) – resultado primário acrescido dos juros
reais incidentes sobre o estoque da dívida anteriormente contraída.
É considerada a medida mais adequada das necessidades reais de
financiamento do setor público.

»» Resultado Nominal ou Total (Necessidade de Financiamento


Líquido do Setor Público não financeiro: NFSP – conceito nominal)
– indica o fluxo líquido de novos financiamentos, obtidos ao longo de
um ano pelo setor público não-financeiro em suas várias esferas: União,
Estados, Municípios, empresas estatais e Previdência Social. É equivalente
ao resultado operacional acrescido de correção monetária e cambial.

O financiamento de um eventual resultado negativo do setor público pode ser feito de


duas formas.

»» Emissão de moeda pelo Banco Central para repasse ao Tesouro Nacional


– proibido no Brasil.

»» Venda de títulos da dívida pública ao setor privado (interno e externo).

A primeira forma de financiamento, como visto anteriormente, vai aumentar a oferta


de moeda e terá consequências inflacionárias. A segunda forma de financiamento,
colocação de títulos, é a mais recomendável, no entanto déficits recorrentes podem
elevar a relação dívida/PIB minando a confiança dos credores que passarão a exigir
taxas de juros mais altas. Essas taxas de juros mais altas desacelerarão a atividade
econômica e os investimentos do setor privado (efeito deslocamento), reduzindo o
dinamismo da economia.

65
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

Países desenvolvidos possuem relação dívida/PIB superior a 100% enquanto os


países emergentes do G-20, grupo das vinte maiores economias do planeta, possuem
patamares que variam entre 35% a 40%. Por que isso acontece?

Os países desenvolvidos endividam-se mais porque possuem um horizonte de maturação


de sua dívida entre 20 e 30 anos ao passo que na maior parte dos emergentes esse
horizonte não passa de 10 anos. Além disso, a população dos desenvolvidos encontra-se
relativamente estabilizada, não demandando futuramente muito mais serviços públicos.
Os emergentes continuam presenciando significativo crescimento e envelhecimento
populacional, o que induz a maiores investimentos do setor público no futuro, elemento
já feito pelos desenvolvidos.

Política Cambial e Comercial


A política cambial diz respeito à existência ou não de interferência governamental na
definição da taxa de câmbio.

A política comercial refere-se aos instrumentos de incentivo às transações comerciais


com o restante do mundo por meio de limites, subsídios, desonerações tributárias,
investimentos etc.

O interesse da disciplina de análise de cenários sobre as políticas econômicas adotadas


por um país é a identificação de elementos qualitativos e quantitativos que permitam
identificar a existência de sólidos fundamentos e perspectivas de crescimento com
estabilidade e sustentabilidade.

Entre os elementos qualitativos que se pode analisar, figuram:

»» Compromisso com estabilidade de preços;

»» Busca de uma relação sustentável para a trajetória dívida/PIB;

»» Competitividade do setor privado;

»» Procura de inclusão social para um crescimento econômico mais robusto;

»» Utilização de práticas cambiais adequadas ao fortalecimento da competição.

Entre os elementos quantitativos, figuram:

»» Dinâmica da relação dívida / PIB;

»» Resultado fiscal;

»» Taxa de crescimento do estoque de moeda;


66
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

»» Taxa de crescimento do crédito;

»» Evolução das reservas internacionais;

»» Resultado do balanço de pagamentos.

67
CAPÍTULO 4
Introdução aos Modelos
Macroeconômicos

Após a apresentação dos diferentes elementos componentes da teoria macroeconômica


com a relação existente entre inflação e desemprego, a busca do crescimento econômico,
as políticas monetária, fiscal e seus respectivos efeitos, é importante sistematizar as
interelações para análise de ponto de vista mais amplo. Para este fim introduzir-se-á, a
seguir, um modelo macroeconômico completo.

Modelo Keynesiano Simples


Em capítulos anteriores foi apresentada a forma de determinação do produto nacional.
Nesse momento discutir-se-á quais são os instrumentos mais adequados para permitir
que a economia atinja uma situação de pleno emprego sem inflação.

No referido capítulos, executava-se a mensuração do produto econômico já realizado


enquanto a teoria macroeconômica, abordada nessa seção, trata do produto potencial,
desejado, planejado. A abordagem agora adotada observa o produto antes de sua
realização (ex-ante), enquanto se analisa após a realização (ex-post).

Curva de Demanda Agregada de Bens e Serviços

A demanda agregada é composta pela procura dos quatro macroagentes econômicos,


quais são, famílias, empresas, governo e setor externo.

DA = Demanda de consumo das famílias (C)

+ Demanda de investimento das empresas (I)

+ Demanda oriunda de gastos do governo (G)

+ Demanda líquida do setor externo [Exportações (X) – Importações (M)]

DA = C + I + G + X – M (8.1)

Na teoria microeconômica, viu-se que a curva de demanda por um produto tem


inclinação negativa, porque a preços mais altos os consumidores demandarão menos.
Com a demanda agregada, a inclinação é a mesma, mantendo a relação negativa entre
a quantidade de bens da economia (=produto) e preços.

68
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Renda Real = Renda nominal (Y) / Preços (P) = y (8.2)

A um dado nível de Renda Nominal, se o nível de preços se eleva, a renda real é reduzida,
conforme o que se segue:

Curva de Oferta Agregada de Bens e Serviços (OA)

Corresponde à quantidade que os produtores desejam vender no mercado.

OA = Produto Nacional Real = Renda Nacional

É necessário fazer a distinção entre a oferta agregada potencial e a oferta


agregada efetiva. Na primeira todos os agentes microeconômicos estão em
suas respectivas fronteiras de possibilidades de produção como visto em capítulo
anterior, e produzem o máximo possível. A oferta agregada efetiva é o volume de
produção do momento, considerando existência de capacidade ociosa, ou seja, fora
do nível de pleno emprego. As duas serão iguais quando a OA efetiva chegar ao
pleno emprego.

Quando a demanda agregada da economia aumenta, a oferta agregada poderá responder


de três formas.

»» Aumento de produção (Q) sem elevação de preços (P), mediante redução


da capacidade ociosa.

»» Elevação de preços (P) sem aumento da quantidade produzida (Q),


quando todos os recursos produtivos já estiverem sendo utilizados. Deve
ser lembrado o padeiro do capítulo 5.

»» Aumento de preços (P) e quantidade (Q) quando alguns setores possuem


capacidade ociosa e outros não.

69
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

Graficamente podemos representar de forma simplificada a curva de oferta agregada


assim:

O modelo keynesiano parte de três hipóteses principais.

»» Desemprego de recursos – o sistema está sempre aquém do pleno


emprego, portanto na parte plana da AO.

»» Curto prazo – em curto prazo o nível de tecnologia, estoque de mão de


obra e estoque de capital (máquinas) são fixos. O que pode variar é o nível
de utilização dos fatores de produção disponíveis.

»» Curva de oferta agregada é fixa – como os fatores de produção estão fixos,


a produção (oferta agregada) também estará em curto prazo. No gráfico
que se segue há aumento da renda em função do aumento da demanda.

»» Como consequência da hipótese c, a curto prazo, apenas a demanda


agregada provoca variações no nível de equilíbrio da renda nacional. Esse
é o Princípio da Demanda Efetiva.

Para reduzir o desemprego no curto prazo, a política econômica deve estimular a


demanda agregada como no gráfico anterior (DA0 → DA1). A demanda agregada é mais
sensível em curto prazo, enquanto a oferta agregada responde principalmente no longo
prazo, quando os estoques dos fatores de produção variam.

70
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Conforme o que foi mencionado, a demanda agregada depende do consumo das famílias,
investimento das empresas, gastos do governo e demanda do setor externo.

Função Consumo

O consumo agregado, conforme estabelecido por Keynes, possui um componente


autônomo e um componente atrelado à renda disponível do setor privado (yd = y – T).
O componente autônomo representa aquele relacionado à subsistência, sobrevivência
do individuo e o componente ligado à renda se justifica porque as pessoas consomem
um percentual de sua renda para consumir.

C = f(yd)

C = c 0 + c 1 yd

c0 = consumo autônomo;
c1 = propensão marginal a consumir (percentual da renda que os indivíduos tendem a
consumir).

Como os indivíduos podem gastar no máximo 100% de sua renda, o valor de c1 varia de
zero a um, 0 ≤ PMgC ≤ 1. A propensão marginal a consumir será geralmente menor que
um pois uma parte da renda disponível vai ser poupada.

Função Poupança

Como dito no exemplo, a renda disponível (yd = y – T) pode ser consumida ou


poupada. A renda do setor privado pode ser consumida, poupada ou paga em tributos
(y = C+S+T). Dessa forma:

S = f(yd)

C + S = yd

S = y d – c 0 – c 1 yd

S = – c0 +(1 – c1) yd

Função Investimento

O investimento é talvez a variável macroeconômica mais importante, tendo Keynes


aprofundado a pesquisa a respeito das decisões de investir, suas motivações e
elementos psicológicos.

71
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

Essa variável gera efeitos tanto na demanda agregada, quando o empresário decide
comprar os materiais e implementos para a construção de uma fábrica, quanto na oferta
agregada, quando em longo prazo, a capacidade produtiva aumenta.

No modelo keynesiano básico, parte-se de duas hipóteses básicas acerca do investimento.

»» Em curto prazo, investimento afeta apenas a demanda agregada.

»» O investimento é autônomo ou independente da renda nacional.

Ī ou I ≠ f(y) (8.5)

A barra sobre o símbolo de I simboliza que a variável é constante e autônoma.

Função Gastos do Governo

Assim como o investimento, supõe-se para simplificar que os gastos do governo são
autônomos em relação à renda nacional.

G ou G ≠ f(y) (8.6)

Função Tributos

A tributação é função da renda, na medida em que países com renda maior tendem a
prover mais serviços aos cidadãos e para tal tributam.

T = f(y)

T = ty (8.7)

Função Exportação

As exportações dependem da renda do resto do mundo. Como esta é uma variável que
o país não influencia, considera-se exportações como autonômas.

X ou X ≠ f(y) (8.8)

Função Importação

As importações são consideradas autônomas para fins de simplificação do modelo,


podendo ser removida.

M ou M ≠ f(y) (8.9)

72
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

Demanda Agregada Completa e a Renda


de Equilíbrio

Após a especificação das hipóteses vigentes sobre as variáveis C, S, I, G, T, X e M, pode-


se evoluir na análise da demanda agregada.

Sabe-se que
DA = C + I + G + X – M (8.1)

A renda de equilíbrio será aquela que iguale demanda agregada à oferta agregada. Essa
renda pode estar aquém do pleno emprego, levando à existência de capacidade ociosa.
As políticas econômicas apresentadas anteriormente serão adotadas para conduzir a
economia ao pleno emprego.

No equilíbrio y = OA = DA, logo:

y=C+I+G+X–M (8.10)

Substituindo (8.3) e (8.7) em (8.10), tem-se:

y = c0 + c1 (y – T) + I + G + X – M
y = c0 + c1y – c1T + I + G + X – M
y = c0 + c1y – c1ty + I + G + X – M
y = c0 + c1y – c1ty + I + G + X – M
y – c1y + c1ty = c0 + I + G + X – M

1
y= (c0 + I + G + X – M) (8.11)
1 – c1 (1–t)

1
y= (8.11)
1 – c1 (1–t)

O termo “k” é chamado de multiplicador keynesiano e mostra os efeitos cumulativos


das alterações nas variáveis da demanda agregada. Um aumento dos gastos do
governo aumenta a renda real de equilíbrio no valor de “k” ΔG.

Exemplo:
1
T = 0,25y y= (c0 + I + G + X – M) (8.11)
1 – c1 (1–t)
1
G = 20 y= (10 + 30 + 20 + 10)
1 – 0,8 (1 – 0,25)
1
G = 20 y= (70)
0,4

73
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

C = 10 + 0,8 yd y = 2,5 (70) = 175


I = 30
X – M = 10

Se os gastos do governo saem de 20 e vão para 30, ter-se-á:

y = 2,5 (80) = 200.

As dez unidades adicionais nos gastos governamentais transformaram-se em renda


das famílias que foram consumidas e geraram mais renda, e assim sucessivamente. O
efeito total desse aumento dos gastos do governo de dez unidades foi um aumento de
25 unidades, elevando a renda total de 175 para 200.

Calcule a renda de equilíbrio, a poupança e o consumo quando:

T = y/3, G = 25, C = 20 + 0,75 yd, I = 20, X =30, M = 15

Calcule o efeito de uma variação no investimento de 50 unidades.

A Identidade Poupança – Investimento


Conforme mencionado, a renda das famílias pode ser consumida, poupada ou paga em
tributos (y = C+S+T). Por outro lado, sob a ótica da despesa, tem-se que:

y=C+I+G+X–M (8.10)

Se igualarmos as duas equações temos que:

C+S+T=y=C+I+G+X–M

Ao isolar I e cancelar o consumo (C),

I=S + (T – G) + (M – X) (8.13)

Poupança Poupança Poupança
do Setor do Governo Externa
Privado

Essa identidade (não é uma equação) acima é dos enunciados mais importantes de toda
a macroeconomia. Ela afirma que, em qualquer sistema econômico, o somatório dos
investimentos será igual ao somatório das poupanças dos agentes.

A discussão sobre quem vem antes, I ou S, é extensa e não constitui objeto dessa disciplina,
mas Keynes argumentou que a decisão de investir é quem gera renda e esta renda é
consumida e também poupada. Por isso foi dito anteriormente que o investimento talvez
74
CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA │ UNIDADE II

seja a variável econômica mais importante, pois a decisão do empresário de comprar


os materiais e implementos para a construção de uma fábrica gera efeitos tanto na
demanda agregada quanto na oferta agregada, quando em longo prazo, a capacidade
produtiva aumenta.

O debate em torno da redução dos gastos públicos foca no aumento poupança do governo
para que haja mais investimentos. Segundo alguns economistas, o governo capta
recursos para investir e eleva as taxas de juros, reduzindo o incentivo ao investimento
por parte do setor privado.

A situação norte-americana e a crise mundial também podem ser analisadas à luz dessa
importante identidade macroeconômica.

Os Estados Unidos incorreram em elevadíssimos déficits em transações correntes


gerando uma poupança externa vultuosa. Conforme vimos no capítulo sobre balanço de
pagamentos, o déficit foi financiado por uma massiva entrada de capitais que comprou
títulos do tesouro americano bem como ativos imobiliários. O excesso de liquidez no
setor imobiliário criou uma bolha que estourou quando os mutuários começaram a não
honrar seus compromissos. A raiz do problema foi a baixa taxa de poupança dos agentes
privados que teve que ser contrabalanceada por um aumento da poupança externa para
a manutenção do nível de investimento.

Para que esse desequilíbrio global seja atenuado, mantendo o nível de investimento
(fundamental para o crescimento), será necessário elevar o valor de “S” (redução de
consumo) e reduzir os déficits em transações correntes (poupança externa positiva) dos
Estados Unidos com o resto do mundo. Para redução desses déficits surge a demanda
da valorização das moedas asiáticas, aumentando a competitividade dos produtos
americanos e reduzindo a dos produtos asiáticos.

Se o investimento precede a poupança, porque o governo deve parar de investir


para gerar poupança e aumentar o investimento?

Baseado nesta importante identidade, os macroeconomistas do chamado mainstream


(acreditam que poupança precede investimento) desenvolveram um debate acerca da
correlação entre os déficits governamentais (poupança do governo negativa) e os déficits
em transações correntes (poupança externa positiva), chamados de déficits gêmeos.

Em uma situação de equilíbrio com investimento igual a poupança, diante de uma


redução na poupança do governo (déficit operacional), haverá aumento na poupança
externa (déficit em transações correntes) para manutenção do equilíbrio. Segundo

75
UNIDADE II │ CONCEITOS BÁSICOS DE MACROECONOMIA

essa corrente de pensamento, a redução na poupança do governo levará a um


endividamento que elevará a taxa de juros. Uma maior taxa de juros atrairá maior
volume de capital e gerará apreciação cambial. A apreciação cambial prejudicará
as exportações nacionais e beneficiará as importações levando a uma situação de
déficit em transações correntes. No entanto, segundo a abordagem pós keynesiana, o
investimento precede a poupança e essa correlação não vigora.

Ver Resende (2005): Déficits gêmeos e poupança nacional: abordagem


convencional e pós-keynesiana. Anpec. Disponível em

<http://www.anpec.org.br/encontro2005/artigos/A05A068.pdf>. Acessado em 14
de setembro de 2009.

76
Para (não) finalizar

O propósito deste Caderno é aglutinar todos os conteúdos apresentados ao longo da


disciplina para o delineamento de perspectivas que embasem a tomada de decisão
dos agentes quanto a investimentos, financiamento, consumo, poupança etc.

Como informado no início da disciplina, propõe-se a olhar mais do que somente o lado
macroeconômico dos cenários, agregando a visão dos setores da economia, pois os
últimos serão fundamentais para certas decisões de investimento.

Com a ideia de custo de oportunidade, os estudantes poderão comparar as diferentes


alternativas de investimento. Com a análise de oferta e demanda os estudantes poderão
apresentar considerações a respeito das trajetórias de preços nos mais diferentes
mercados e na economia como um todo, vislumbrando o impacto sobre a rentabilidade
das opções de investimentos.

Com a análise das elasticidades, os estudantes serão capazes de refletir a respeito da


estrutura de competição nos mercados e o poder que as empresas podem exercer no
momento da definição dos preços, o que afeta drasticamente as expectativas de lucro e
o retorno dos investimentos.

Na parte macroeconômica foram apresentados importantes elementos e relações


existentes quando se olha a economia como um todo, por exemplo, a relação inversa
entre inflação e desemprego, o fenômeno inflacionário, as interações com o setor externo
e o papel do câmbio. Apresentou-se a forma de mensuração do produto nacional após a
sua realização e as políticas econômicas (monetária, fiscal, cambial e de setor externo)
que podem ser utilizadas para estimular o nível de produto em curto prazo e aproximá-
lo do pleno emprego.

Todas essas importantes ferramentas de análise vieram acompanhadas de inúmeras


métricas, de ferramentas quantitativas e algébricas que permitem um melhor
entendimento dos pilares e fundamentos que influenciam o funcionamento econômico,
tanto na ótica micro em mercados específicos, quanto na ótica macro considerando
sistemas econômicos.

Abordou-se os mercados específicos quanto a sua estrutura de competição, influência


de variáveis específicas, estrutura competitiva, entre outros, ademais dos aspectos
macroeconômicos dos países, os quais são fundamentais para o desempenho
dos mercados.
77
Com esses instrumentos os estudantes terão a possibilidade de ampliar seus horizontes
de observação e desenvolver pensamento crítico na hora de escolher entre investir ou
não, e em qual setor e país investir.

Sugere-se a continuidade dos estudos acerca do funcionamento da economia com o


estudo de modelos macroeconômicos de maior complexidade e contextualização das
situações econômicas passadas e atuais dentro do ferramental aqui apresentado.

Como exercício final, demanda-se a construção de dois cenários: um para um setor


específico e outro macroeconômico, sendo que o cenário macro deve influenciar o
cenário setorial.

Devem ser apresentadas projeções econômicas para todas as variáveis e indicadores


apresentados ao longo da disciplina, para o período dos últimos dois anos e para os
próximos três anos, com um parecer favorável ou não a uma decisão de investimento.

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Referências

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BLANCHARD, O. Macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

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Rio de Janeiro: Campus, 2000.

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1991.

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KRUGMAN, Paul; OBSTFELD, Maurice. International economics – theory and


policy. 5. ed. Addison-Wesley, 2000.

LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Orgs.). Manual de macroeconomia:


nível básico e intermediário. São Paulo: Atlas, 1998.

MANKIW, N. G. Introdução à Economia. São Paulo: Pioneira Thomson Learning,


tradução da 3. edição norte-americana, 2005.

MISHKIN, F. S. Moedas, bancos e mercados financeiros. Editora LTC, s/d.

RESENDE, M. F. C. Déficits gêmeos e poupança nacional: abordagem


convencional e pós-keynesiana. Anpec. 2005. Disponível em: <http://www.anpec.org.
br/encontro2005/artigos/A05A068.pdf>. Acessado em: 14 de setembro de 2009.

SACHS, J. D.; LARRAIN B., F. Macroeconomia. São Paulo: Makron Books, primeira
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VASCONCELLOS, M. A. S. Economia: micro e macro. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

VICECONTI, P. E. V.; NEVES, S. Introdução à Economia. 6. ed. São Paulo: Frase,


2003.

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