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A grounded theory, cuja fundação se encontra na obra "The Discovery of

Grounded theory: Strategies for Qualitative Research" de Glasser e Strauss (1967) foi
desenvolvida inicialmente com o intuito de aproximar a teoria acerca das pesquisas
qualitativas e a prática empírica de sua aplicação.
Seu caráter específico, aliado às correntes, positivista e interpretativista que
utilizam os fundamentos dessa teoria, tornam quase impossível a tradução deste termo
de modo que o mesmo represente sua fundamentação. Por algumas vezes encontra-se na
literatura brasileira os termos "teoria embasada" e "teoria fundamentada" referindo-se à
grounded theory, mas pelo motivo citado entende-se que a forma mais correta de
abordar este tema é pela alcunha criada por seus fundadores.
No texto "Tese-grounded", o autor afirma que é possível dizer que a "grounded
theory é um método geral de análise comparativa que se aplica a qualquer conjunto de
dados, mais indicado para dados qualitativos".
De acordo com BANDEIRA-DE-MELO e CUNHA, o método da Grounded
Theory adota considerações do subjetivismo, afirmando que os indivíduos, por meio das
interações entre si, constroem socialmente a realidade, legitimada por estes através de
símbolos. Estes autores, ao contrário do primeiro apresentado nesta resenha, consideram
que o método em questão possui apenas o caráter interpretativista de pesquisa,
focalizando a busca pela explicação da realidade a partir dos significados atribuídos
pelos envolvidos às suas experiências. Entretanto, os autores fazem questão de
diferenciá-lo dos outros métodos subjetivistas, afirmando que a Grounded Theory têm
como uma de suas premissas tornar os resultados tão objetivos quanto se é possível,
tanto do ponto de vista teórico, quanto do ponto de vista metodológico, deixando claro
porém que mesmo este fator não a configura como uma teoria positivista, pois apenas o
processo de pesquisa proposto pelo método pretende a possibilidade de repetibilidade e
não os resultados encontrados intencionam-se serem obtidos como única explicação da
realidade. No artigo de BIANCHI e IKEDA sobre a grounded tehory, as autoras
apresentam um quadro que caracteriza diferentes abordagens subjetivas, deixando claras
as diferenças e semelhanças entre elas, como pode ser visto a seguir:
Estas mesmas autoras, trazem a visão de que desde a sua concepção, na obra
citada no primeiro parágrafo desta resenha, a grounded theory possui duas correntes de
pensamento no que tange a sua operacionalização, existindo dois métodos distintos
apoiados nos pressupostos e critérios, desenvolvidos por Glasser e Strauss. Neste artigo
é afirmado que tal fato se deve principalmente pela diferente formação de cada um dos
fundadores da teoria e da sua visão sobre o processo de pesquisa qualitativa. Segundo
BIANCHI e IKEDA, Strauss, junto à Cobin, desenvolve em 1990 um método
sistemático para a pesquisa em campo e análise de dados, o qual deveria servir como um
guia para aqueles que desejam realizar uma pesquisa apoiada sobre o método grounded.
Em contrapartida, Glaser, em 1992, também produz uma nova obra sobre a grounded
theory, onde reafirma a sua posição de que o método de operacionalização deve ser
livre, "baseado em experiências anteriores, habilidade de campo e analítica do
pesquisador e na busca da descoberta da teoria" (BIANCHI e IKED apud Glasser).

"Apesar das divergências, a Grounded Theory é um método científico que


utiliza um conjunto de procedimentos sistemáticos de coleta e análise dos
dados para gerar, elaborar e validar teorias substantivas sobre fenômenos

essencialmente sociais, ou processos sociais abrangentes."


(BANDEIRA-DE-MELO e CUNHA, pág 03)

Os mesmos autores da citação exposta acima, trazem em seu artigo um quadro


onde apresentam três cânones, validade interna, visão positivista e validade externa, sob
a visão positivista e sob a grounded theory. Este quadro é de grande relevância para o
entendimento da posição da grounded theory enquanto ciência, sob o ponto de vista de
Straus e Corbin, os quais defendem o fundamento de que os cânones de uma boa ciência
não devem ser interpretados à luz de uma visão positivista, mas repensados em uma
base fenomenológica.
Os textos estudados contribuem de maneira significativa, ao passo que
abordam desde o histórico e a evolução da teoria, até as duas diferentes perspectivas
existentes sobre o método a ser utilizado para a realização de uma pesquisa
fundamentada nesta teoria. Conclui-se que apesar de ser uma ciência subjetiva, esta
teoria possui mais características positivistas do que quaisquer outras, podendo ser
utilizada como um método sistematizado de aplicação, mas em que a experiência, o
poder de interpretação e que o poder criativo do pesquisador têm papel fundamental
sobre a qualidade dos resultados obtidos.

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