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possibilidades analíticas. Já o estudo de caso coletivo pode ser entendido como extensão
do estudo de caso instrumental, a diferença é que ao invés de realizados com um caso
único eles envolvem casos múltiplos. Nessa situação, a importância do caso em si
é ainda menor e eles serão selecionados com base em suas diferenças e similaridades
conforme a contribuição que isso possa trazer para a compreensão da teorização sobre
certo fenômeno ou condição geral de um grupo ou população de casos. Vale
observar que essas categorias são casos-limite e que a diferenciação entre elas é mais
analítica do que funcional. Outra tipologia utilizada para classificar os estudos de
caso é apresentada por Yin (2005). Na visão do autor, a diferença entre os estudos
de caso é estabelecida com base no propósito do pesquisador em utilizá-lo como
estratégia para explorar determinado fenômeno, no caso de situações ainda pouco
conhecidas na literatura, para descrever seu funcionamento, seus contornos e processos
principais, ou ainda, para tentar explicar as causas de sua existência e funcionamento. O
autor ainda diferencia os projetos de estudos de caso com base no nível de
complexidade envolvido, simples ou complexos, a partir da quantidade de casos
analisados, podendo ser de caso único ou de casos múltiplos, e com base na unidade
de análise estudada, que pode ser de tipo holístico ou incorporado (YIN, 2005).
Um terceiro sistema de tipificação é apresentado por Thomas (2011). Construído a
partir de análise exaustiva das várias classificações à disposição na literatura, esse
sistema se mostra de particular interesse, posto que procura englobar as demais
tipologias existentes. A vantagem em se adotar a proposta do autor consiste no fato de
ela estar assentada em estrutura processual didática que ilustra os vários elementos
metodológicos considerados quando da elaboração de um estudo de caso. Na visão de
Thomas (2011), os estudos de caso podem ser classificados a partir de quatro
estratos de análise ou classificação: o sujeito e objeto da pesquisa, o propósito
do estudo, a abordagem e métodos empregados, e o processo operacional do
trabalho.
Os sujeitos da pesquisa podem ser de três tipos básicos: local, quando o caso é
definido a partir do conhecimento ou familiaridade do pesquisador; chave, quando é
selecionado em função de suas características intrínsecas, enquanto caso-chave para
a compreensão de determinado fenômeno; e ainda, periférico ou outlier, em razão da
sua diferença com relação a outros casos, de seu caráter divergente ou marginal. O
objeto, que na terminologia do autor (THOMAS, 2011) corresponde à estrutura
teórica a partir da qual o caso é analisado, é compreendido como função do propósito ou
das intenções do pesquisador. Nesse sentido, o motivo pelo qual se busca desenvolver
um estudo de caso pode ser intrínseco ou instrumental (STAKE, 1998), avaliativo
(MERRIAM, 1988) ou exploratório (GEORGE; BENNETT, 2005), ou se pode propor a
realizar mais de um deles ao mesmo tempo. Em termos de abordagem, Thomas (2011)
sugere que os estudos de caso podem ser teóricos ou ilustrativos, de acordo com o
interesse em testar teorias estabelecidas, promover a construção de novas teorias ou
ainda descrever ou ilustrar determinados casos específicos. Para qualquer um
desses intentos, uma grande variedade de métodos pode ser empregada. Por fim,
restam as resoluções do pesquisador quanto à operacionalização da pesquisa. A
primeira decisão envolve a opção pela realização de estudo de caso simples ou
múltiplo (STAKE, 2006; YIN, 2005). Definido isso, considera-se a temporalidade da
análise: retrospectiva quando se trata de fenômeno passado, instantânea quando o caso
envolve período de tempo definido, ou ainda, diacrônica, quando se busca
compreender a mudança com o passar do tempo. Nos casos múltiplos, a definição pode
ser: incorporado, quando se realiza comparação entre fatores incorporados aos casos;
paralelo, quando os fenômenos analisados são simultâneos; e sequencial, quando a
ocorrência dos casos é sequencial ou consecutiva. Ainda que o propósito inicial de
Thomas (2011) tenha sido criar uma base comum para classificar estudos
desenvolvidos, a maneira didática com que apresenta a organização dos
componentes metodológicos dos estudos de caso permite que seja também utilizada
para orientar a construção de novas pesquisas. Nesse sentido, vale a ressalva de
que a definição dos quatro conjuntos de componentes metodológicos não é feita
durante o processo de pesquisa, mas constitui parte essencial do planejamento do
estudo, ainda que possa ser alterada e ajustada de acordo com possíveis mudanças e
necessidades encontradas pelo pesquisador. Seguindo-se o modelo apresentado na
Figura 1, durante a fase de planejamento da pesquisa, recomenda-se ao pesquisador
especificar: o sujeito e objeto da pesquisa, o propósito do estudo, a abordagem e
métodos empregados e o processo operacional do trabalho.
Referências
BYRNE, D. S. Case-Based Methods: Why We Need Them; What They Are; How to Do
Them. In: BYRNE, D. S.; RAGIN, C. C. (Eds.), The SAGE handbook of case-
based methods (pp. 1-10). London: SAGE, 2009.
GIBBERT, M.; RUIGROK, W. The ‘‘What’’ and ‘‘How’’ of Case Study Rigor:
Three Strategies Based on Published Work. Organizational Research Methods, v.13,
n.4, p. 710-737, 2010.
RAGIN, C. C.. Introduction: Cases of "What is a case?". In: RAGIN, C. C.; BECKER,
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Cambridge: Cambridge University Press, 1992. p. 1-17.
STAKE, R. E. Multiple case study analysis. New York: The Guilford Press, 2006.
THOMAS, G. A Typology for the Case Study in Social Science Following a Review of
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WEBER, M. Sobre a Teoria das Ciências Sociais (2 ed.). Lisboa: Presença, 1977.
YIN, R. K. Case study research: design and methods. 4th. Los Angeles: Sage, 2009.