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Introdução

O estudo de caso pode ser considerado a principal estratégia metodológica para


o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas na área de administração. Dentre os
principais motivos para a grande expressividade na quantidade de trabalhos que
empregam essa perspectiva, considera-se que se trata de metodologia adequada para a
abordagem de problemas práticos e recomendada para a problemática inerente aos
campos de conhecimento aplicado (MERRIAM, 2009). Além disso, os estudos de
caso também são bastante utilizados pelo fato de oferecer mecanismos de
exploração e análise de unidades sociais complexas, que envolvem grande gama de
variáveis inter-relacionadas, principalmente nos casos em que existe certa
dificuldade em estabelecer clara separação entre a unidade de interesse para o estudo e
o contexto no qual essa unidade se encontra inserida (YIN, 2009). Outros estudos
atribuem essa grande disseminação à maior facilidade em se utilizar essa
abordagem ao invés de outras estratégias de pesquisa (BREWERTON; MILLWARD,
2001). Ainda que a falácia dessa afirmação esteja sendo progressivamente reconhecida,
ela não deixa de ter certa razão em ser mantida, como aponta o trabalho de Alves-
Mazzotti (2006), a maior parte das pesquisas caracterizadas como estudos de caso
não emprega efetivamente essa estratégia, auto-intitulando-se como tal em razão de a
coleta de dados ter sido realizada em um único local, sobre uma única unidade ou
somente com alguns poucos respondentes, mas sem apresentar quaisquer
referências interpretativas ao contexto ou à história do caso e desconectados dos
conhecimentos produzidos pela comunidade acadêmica (ALVES-MAZZOTTI, 2006).
Nesse sentido, considera-se que qualquer pesquisador que deseje empregar essa
abordagem metodológica ao invés de outra, deverá dispor do mesmo nível de dedicação
e empenho que seria demandado no caso dos outros métodos disponíveis para a
realização de pesquisas científicas. Em razão de suas próprias características, o
estudo de caso é uma técnica complexa que envolve o levantamento e análise de
grandes quantidades de informação e abrange o estudo de uma série de variáveis que
possuem relação em função do caso sob análise. Ademais, envolvem adequada
compreensão do contexto no qual o caso está inserido e das relações mantidas entre
eles. Vale ressaltar que é importante reconhecer que existem diferentes abordagens
para a condução de um estudo de caso. Assim como no caso de outros métodos de
pesquisa, a perspectiva adotada pelos autores reflete posicionamentos ontológicos e
epistemológicos, que redundam em abordagens distintas e específicas, ainda que
reunidas todas sob o mesmo conceito de estudo de

caso. Considerando os principais trabalhos citados na literatura, é possível separar duas


principais vertentes (BYRNE, 2009): o modelo nomotético, representado pelos
trabalhos de Yin (2005) e Eisenhardt (1989), que discutem o estudo de caso a
partir da orientação positivista; e o modelo ideográfico, ilustrado pelo trabalho de
Stake (1998), que tende a valorizar uma postura mais interpretativista. As
implicações dessas diferentes orientações epistemológicas para as pesquisas baseadas
em estudos de caso podem ser visualizadas a partir da análise de Piekkari, Welch e
Paavilainen (2009). Segundo os autores, a escolha por uma ou outra perspectiva
acarreta também outras definições metodológicas, apresentadas a seguir: • teorização:
definida pela escolha quanto à compreensão de determinado fenômeno
independentemente do contexto no qual está inserido, chamado de explicação orientada
para variáveis, ou a partir e em razão do próprio contexto, no caso das explicações
baseadas em casos (RAGIN, 1992); • seleção de casos: envolve a opção por uma lógica
de replicação de estudos e fortalecimento de teorias com base em vários casos ou a
busca pelo conhecimento e exploração aprofundada da riqueza de um único caso; •
fontes de dados: configura-se na busca por dados oriundos de diferentes fontes,
com o objetivo de encontrar os elementos convergentes entre elas, ou na exploração da
diversidade das informações, das múltiplas interpretações e significados que elas
possuem;e • delimitação do caso: caracteriza-se pela opção em desenvolver pesquisa
baseada em teoria, que busca estabelecer logo de início as fronteiras do fenômeno
a ser analisado, ou por adoção de perspectiva que valoriza a flexibilidade do
estudo de caso e compreende o processo como co-evolução entre a dinâmica de
exploração do caso e a questão de pesquisa
Principais Conceitos do Estudo de Caso

Conforme apresentado anteriormente, a literatura não é consensual a respeito do


entendimento quanto ao que seja estudo de caso, mas também pouca definição existe em
relação à própria definição do que seja o 'caso'. Segundo Ragin (1992), a ideia de caso
remete a objetos de pesquisa que, por um lado, são tão similares entre si que
possibilitam a realização de comparações entre eles e a geração de conhecimentos
relativos à sua condição de exemplares de fenômeno mais amplo e, por outro lado,
são tão diferentes de outros objetos de estudo a ponto de permitir sua

delimitação e a identificação de condições e características pertinentes


exclusivamente a determinado conjunto limitado de casos. Outra questão relevante
reside no processo de decisão de quais casos devem ser estudados, pois a definição do
caso, ou casos, que serão objeto de estudo da pesquisa está fundamentalmente associada
às próprias definições ontológicas e epistemológicas do pesquisador. A análise de
determinado caso pode ter sentido em determinada situação, de acordo com a visão de
mundo e as perspectivas teóricas e metodológicas adotadas em certa pesquisa
específica, mas não ser de grande importância em outro contexto de pesquisa em que
figuram orientações teóricas diferentes. Além disso, considera-se que os próprios casos
não se mantém 'os mesmos', na medida em que se altera a lente epistemológica do
pesquisador (STAKE, 1998). Quando se analisa determinado caso em particular,
considera-se que seja sempre específico e não geral. O caso é um sistema, constitui-
se em um conjunto delimitado de partes que atua de certo modo padronizado e
exerce determinada função (STAKE, 1998). As fronteiras do caso são estabelecidas
a partir de alguns parâmetros ou fatores que podem compreender elementos temporais e
espaciais, mas também características pessoais e organizacionais. No entanto, para
consistir efetivamente em um caso para ser estudado, não basta que sejam
satisfeitas as condições de singularidade, escopo e complexidade, é necessário ainda
que exista: um 'quadro analítico' definido, também chamado 'sujeito' do estudo de
caso, que implica que o caso seja um caso de algo ou alguma coisa; e que seja
especificado o 'objeto' do estudo, ou seja, que esse fenômeno ou universo de eventos do
qual o caso é uma instância seja adequadamente explicitado e teorizado (THOMAS,
2011). Partindo do caso para o conceito de estudo de caso, há de se diferenciar
entre duas modalidades básicas: os estudos de caso formulados para fins didáticos,
também conhecidos como casos de ensino, e os estudos de caso enquanto
relatório-produto de determinada pesquisa acadêmica, o qual é foco de exposição
nesse capítulo. Ainda que na área de administração sejam extensivamente utilizadas
ambas as modalidades de casos, elas são bastante diferentes em suas finalidades e
metodologias. Enquanto os estudos de caso se propõem a apresentação de
interpretação completa e acurada sobre determinado fenômeno em geral ou
característica em particular, os casos de ensino têm como propósito promover o
aprendizado a partir da apresentação de uma situação-problema que precisa ser
solucionada criativamente pelos alunos por meio da exploração de conceitos e
teorias próprios à área (STAKE, 1998; YIN, 2005). Para Yin (2005), o estudo de
caso deve ser definido como uma estratégia completa de pesquisa, diferenciada
das outras existentes nas ciências sociais. Na visão do autor, enquanto ferramenta
de pesquisa o estudo de caso vai além de outras técnicas e abordagens com as
quais normalmente é confundido, como a etnografia, a observação participante e
mesmo os métodos

qualitativos em geral. Os argumentos apresentados para defender essa posição


consideram que: 1) trata-se de fenômeno contemporâneo inserido em determinado
contexto; 2) não há clara separação entre o contexto e o caso de interesse para estudo; 3)
comporta uma série de variáveis de interesse para a pesquisa; 4) envolve múltiplas
fontes de evidências; e 5) está ancorado em modelo hipotético-dedutivo que orienta
a coleta e análise de dados. Independente da aceitação da posição do autor,
considera-se que o caráter distintivo do estudo de caso seja derivado da aplicação
à qual ele se propõe, do compromisso assumido em relação à realização de análise
holística e aprofundada da especificidade de determinado caso – seu caráter especial,
peculiar e individual – em toda a complexidade por ele apresentada no contexto da
realidade concreta (GODOY, 2006; SIMONS, 2009). Diferente do tipo de pesquisa
extensiva, que procura analisar algumas poucas variáveis distribuídas por uma série de
casos similares, o estudo de caso segue uma lógica intensiva e pretende a
exploração de conjunto de vários fatores e seus relacionamentos em um único ou
alguns poucos casos selecionados (RAGIN; BECKER, 1992). Os estudos de caso são
utilizados com diferentes propósitos. Dentre os principais objetivos apontados para a
escolha do método de estudo de caso é possível indicar: o desenvolvimento de
descrição detalhada de um caso específico, a pretensão de se realizar a testagem e
verificação de uma teoria estabelecida, e ainda o interesse em gerar uma nova teoria
sobre determinado fenômeno organizacional (EISENHARDT, 1989). No caso da
aplicação da abordagem em Estudos Organizacionais, indica-se sua vantagem
quando o foco é a compreensão da dinâmica da vida organizacional: das práticas,
processos, interações e significados associados à existência e funcionamento das
organizações, a partir da análise do contexto no qual estão inseridas (HARTLEY,
1994). Convergente com essa definição, Yin (2005) estabelece que os estudos de
caso são preferidos quando a questão de pesquisa envolve a investigação do
processo como se efetivou determinado fenômeno ou do porquê de ele ser de
determinada maneira e não de outra, quando o pesquisador não controla os
acontecimentos que está estudando, como é o caso dos experimentos, e ainda quando o
interesse é o estudo de fenômenos contemporâneos, por oposição a outros de caráter
histórico. Vale enfatizar que a opção pelo estudo de caso emerge do interesse em se
compreender fenômenos sociais complexos e não da disponibilidade de
determinado tipo de dado para a pesquisa. Os estudos de caso podem ser realizados
com dados coletados a partir de fontes primárias ou secundárias, tenham eles caráter
quantitativo, qualitativo ou misto, e sejam analisados a partir de perspectiva qualitativa,
quantitativa ou mesmo multimetodológica (YIN, 2005). Uma ressalva importante de ser
feita é a separação entre o caso que se pretende estudar e a unidade de análise do
estudo. Existem situações em que a unidade de análise identifica-se com o caso
estudado, tanto quando se fala de estudos de caso único quanto de múltiplos casos,
mas isso

não é regra geral. Em diversas outras situações, o interesse do pesquisador está


voltado para o estudo de unidades de análise que constituem parte, ou estão
incorporadas aos casos, como no caso do interesse em entender a experiência de
executivos expatriados de determinada organização. Quando o foco da pesquisa é o
caso enquanto unidade de análise, fala-se em projetos holísticos.
Partindo do caso para o conceito de estudo de caso, há de se diferenciar entre
duas modalidades básicas: os estudos de caso formulados para fins didáticos, também
conhecidos como casos de ensino, e os estudos de caso enquanto relatório-produto
de determinada pesquisa acadêmica, o qual é foco de exposição nesse capítulo.
Ainda que na área de administração sejam extensivamente utilizadas ambas as
modalidades de casos, elas são bastante diferentes em suas finalidades e
metodologias. Enquanto os estudos de caso se propõem a apresentação de
interpretação completa e acurada sobre determinado fenômeno em geral ou
característica em particular, os casos de ensino têm como propósito promover o
aprendizado a partir da apresentação de uma situação-problema que precisa ser
solucionada criativamente pelos alunos por meio da exploração de conceitos e
teorias próprios à área (STAKE, 1998; YIN, 2005). Para Yin (2005), o estudo de
caso deve ser definido como uma estratégia completa de pesquisa, diferenciada
das outras existentes nas ciências sociais. Na visão do autor, enquanto ferramenta
de pesquisa o estudo de caso vai além de outras técnicas e abordagens com as
quais normalmente é confundido, como a etnografia, a observação participante e
mesmo os métodos

qualitativos em geral. Os argumentos apresentados para defender essa posição


consideram que: 1) trata-se de fenômeno contemporâneo inserido em determinado
contexto; 2) não há clara separação entre o contexto e o caso de interesse para estudo; 3)
comporta uma série de variáveis de interesse para a pesquisa; 4) envolve múltiplas
fontes de evidências; e 5) está ancorado em modelo hipotético-dedutivo que orienta
a coleta e análise de dados. Independente da aceitação da posição do autor,
considera-se que o caráter distintivo do estudo de caso seja derivado da aplicação
à qual ele se propõe, do compromisso assumido em relação à realização de análise
holística e aprofundada da especificidade de determinado caso – seu caráter especial,
peculiar e individual – em toda a complexidade por ele apresentada no contexto da
realidade concreta (GODOY, 2006; SIMONS, 2009). Diferente do tipo de pesquisa
extensiva, que procura analisar algumas poucas variáveis distribuídas por uma série de
casos similares, o estudo de caso segue uma lógica intensiva e pretende a
exploração de conjunto de vários fatores e seus relacionamentos em um único ou
alguns poucos casos selecionados (RAGIN; BECKER, 1992). Os estudos de caso são
utilizados com diferentes propósitos. Dentre os principais objetivos apontados para a
escolha do método de estudo de caso é possível indicar: o desenvolvimento de
descrição detalhada de um caso específico, a pretensão de se realizar a testagem e
verificação de uma teoria estabelecida, e ainda o interesse em gerar uma nova teoria
sobre determinado fenômeno organizacional (EISENHARDT, 1989). No caso da
aplicação da abordagem em Estudos Organizacionais, indica-se sua vantagem
quando o foco é a compreensão da dinâmica da vida organizacional: das práticas,
processos, interações e significados associados à existência e funcionamento das
organizações, a partir da análise do contexto no qual estão inseridas (HARTLEY,
1994). Convergente com essa definição, Yin (2005) estabelece que os estudos de
caso são preferidos quando a questão de pesquisa envolve a investigação do
processo como se efetivou determinado fenômeno ou do porquê de ele ser de
determinada maneira e não de outra, quando o pesquisador não controla os
acontecimentos que está estudando, como é o caso dos experimentos, e ainda quando o
interesse é o estudo de fenômenos contemporâneos, por oposição a outros de caráter
histórico. Vale enfatizar que a opção pelo estudo de caso emerge do interesse em se
compreender fenômenos sociais complexos e não da disponibilidade de
determinado tipo de dado para a pesquisa. Os estudos de caso podem ser realizados
com dados coletados a partir de fontes primárias ou secundárias, tenham eles caráter
quantitativo, qualitativo ou misto, e sejam analisados a partir de perspectiva qualitativa,
quantitativa ou mesmo multimetodológica (YIN, 2005). Uma ressalva importante de ser
feita é a separação entre o caso que se pretende estudar e a unidade de análise do
estudo. Existem situações em que a unidade de análise identifica-se com o caso
estudado, tanto quando se fala de estudos de caso único quanto de múltiplos casos,
mas isso

não é regra geral. Em diversas outras situações, o interesse do pesquisador está


voltado para o estudo de unidades de análise que constituem parte, ou estão
incorporadas aos casos, como no caso do interesse em entender a experiência de
executivos expatriados de determinada organização. Quando o foco da pesquisa é o
caso enquanto unidade de análise, fala-se em projetos holísticos. De outra forma, são
estudos de caso incorporados aos projetos cuja preocupação está voltada à
compreensão de unidades de análise constituintes dos casos selecionados para estudo
(YIN, 2005). O que torna essa última modalidade diferente de um estudo comparativo é
que a unidade de análise torna-se significativa e ganha sua integridade e importância a
partir do caso do qual ela faz parte (THOMAS, 2011). Para se utilizar o mesmo
exemplo, estudar a experiência de expatriação comparativamente não precisa
necessariamente considerar a análise das organizações às quais estão vinculados os
executivos, mas na medida em que isso é feito a partir da estratégia de estudo de caso
incorporado, faz-se necessário considerar a influência exercida pelo caso, a
organização ou determinado projeto de expatriação, naquela experiência individual.
12.2.1 Classificações ou Tipologias Existem diversas tipologias definidas a fim de
separar qualitativamente os tipos de pesquisa constituías como estudos de caso.
Ainda que não seja o objetivo deste capítulo discorrer extensivamente sobre elas, é
interessante notar que o emprego de uma ou outra classificação possui forte relação com
a perspectiva adotada pelos autores quanto ao significado do que seja um estudo de
caso. Isso não impede, no entanto, a possibilidade de se utilizar mais de uma categoria
para fins de planejar adequadamente a análise que se pretende desenvolver, desde
que não implique em conflito ou redundância. Com o objetivo de sintetizar as
possibilidades de delineamento de estudos de caso, Stake (1998) apresenta uma
proposta de tipologia que engloba três categorias distintas: os estudos de caso
intrínsecos; os estudos de caso instrumentais; e os estudos de caso coletivos. Essa
classificação possui como base a ideia de um continuum que se desloca de um extremo
no qual a pesquisa busca a compreensão completa de determinado caso em suas
características específicas e peculiares até outro extremo no qual o interesse do
pesquisador se dirige a determinado fenômeno, situação ou elemento partilhado por
uma série de casos. Os estudos intrínsecos se caracterizam pelo interesse primordial
do pesquisador nas características exclusivas específicas ao caso, pela preocupação de
restringir-se à compreensão do próprio caso ao invés de concentrar-se em um
conceito ou teoria. Diferente dos intrínsecos, nos estudos instrumentais a principal
preocupação é com determinado conjunto de proposições teóricas. Nesse tipo de
pesquisa, o caso constitui instrumento para o teste e para o avanço de questões
teóricas e conceituais, sendo escolhido em função de seu caráter típico ou do potencial
para suscitar

possibilidades analíticas. Já o estudo de caso coletivo pode ser entendido como extensão
do estudo de caso instrumental, a diferença é que ao invés de realizados com um caso
único eles envolvem casos múltiplos. Nessa situação, a importância do caso em si
é ainda menor e eles serão selecionados com base em suas diferenças e similaridades
conforme a contribuição que isso possa trazer para a compreensão da teorização sobre
certo fenômeno ou condição geral de um grupo ou população de casos. Vale
observar que essas categorias são casos-limite e que a diferenciação entre elas é mais
analítica do que funcional. Outra tipologia utilizada para classificar os estudos de
caso é apresentada por Yin (2005). Na visão do autor, a diferença entre os estudos
de caso é estabelecida com base no propósito do pesquisador em utilizá-lo como
estratégia para explorar determinado fenômeno, no caso de situações ainda pouco
conhecidas na literatura, para descrever seu funcionamento, seus contornos e processos
principais, ou ainda, para tentar explicar as causas de sua existência e funcionamento. O
autor ainda diferencia os projetos de estudos de caso com base no nível de
complexidade envolvido, simples ou complexos, a partir da quantidade de casos
analisados, podendo ser de caso único ou de casos múltiplos, e com base na unidade
de análise estudada, que pode ser de tipo holístico ou incorporado (YIN, 2005).
Um terceiro sistema de tipificação é apresentado por Thomas (2011). Construído a
partir de análise exaustiva das várias classificações à disposição na literatura, esse
sistema se mostra de particular interesse, posto que procura englobar as demais
tipologias existentes. A vantagem em se adotar a proposta do autor consiste no fato de
ela estar assentada em estrutura processual didática que ilustra os vários elementos
metodológicos considerados quando da elaboração de um estudo de caso. Na visão de
Thomas (2011), os estudos de caso podem ser classificados a partir de quatro
estratos de análise ou classificação: o sujeito e objeto da pesquisa, o propósito
do estudo, a abordagem e métodos empregados, e o processo operacional do
trabalho.
Os sujeitos da pesquisa podem ser de três tipos básicos: local, quando o caso é
definido a partir do conhecimento ou familiaridade do pesquisador; chave, quando é
selecionado em função de suas características intrínsecas, enquanto caso-chave para
a compreensão de determinado fenômeno; e ainda, periférico ou outlier, em razão da
sua diferença com relação a outros casos, de seu caráter divergente ou marginal. O
objeto, que na terminologia do autor (THOMAS, 2011) corresponde à estrutura
teórica a partir da qual o caso é analisado, é compreendido como função do propósito ou
das intenções do pesquisador. Nesse sentido, o motivo pelo qual se busca desenvolver
um estudo de caso pode ser intrínseco ou instrumental (STAKE, 1998), avaliativo
(MERRIAM, 1988) ou exploratório (GEORGE; BENNETT, 2005), ou se pode propor a
realizar mais de um deles ao mesmo tempo. Em termos de abordagem, Thomas (2011)
sugere que os estudos de caso podem ser teóricos ou ilustrativos, de acordo com o
interesse em testar teorias estabelecidas, promover a construção de novas teorias ou
ainda descrever ou ilustrar determinados casos específicos. Para qualquer um
desses intentos, uma grande variedade de métodos pode ser empregada. Por fim,
restam as resoluções do pesquisador quanto à operacionalização da pesquisa. A
primeira decisão envolve a opção pela realização de estudo de caso simples ou
múltiplo (STAKE, 2006; YIN, 2005). Definido isso, considera-se a temporalidade da
análise: retrospectiva quando se trata de fenômeno passado, instantânea quando o caso
envolve período de tempo definido, ou ainda, diacrônica, quando se busca
compreender a mudança com o passar do tempo. Nos casos múltiplos, a definição pode
ser: incorporado, quando se realiza comparação entre fatores incorporados aos casos;
paralelo, quando os fenômenos analisados são simultâneos; e sequencial, quando a
ocorrência dos casos é sequencial ou consecutiva. Ainda que o propósito inicial de
Thomas (2011) tenha sido criar uma base comum para classificar estudos
desenvolvidos, a maneira didática com que apresenta a organização dos
componentes metodológicos dos estudos de caso permite que seja também utilizada
para orientar a construção de novas pesquisas. Nesse sentido, vale a ressalva de
que a definição dos quatro conjuntos de componentes metodológicos não é feita
durante o processo de pesquisa, mas constitui parte essencial do planejamento do
estudo, ainda que possa ser alterada e ajustada de acordo com possíveis mudanças e
necessidades encontradas pelo pesquisador. Seguindo-se o modelo apresentado na
Figura 1, durante a fase de planejamento da pesquisa, recomenda-se ao pesquisador
especificar: o sujeito e objeto da pesquisa, o propósito do estudo, a abordagem e
métodos empregados e o processo operacional do trabalho.
Referências

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