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ARTIGO

ORIGINAL

ESTUDO DE CASO ÚNICO: UMA ESTRATÉGIA DE PESQUISA

SINGLE CASE STUDY: A RESEARCH STRATEGY

ESTUDIO DE CASO ÚNICO: UNA ESTRATEGIA DE INVESTIGACIÓN

Glênio Oliveira da Silva, Guilherme Saramago de Oliveira, Michele Maria da Silva

Palavras-chave Resumo: O presente artigo descreve e analisa alguns dos fundamentos


Estudo de Caso. teóricos e práticos a respeito do Estudo de Caso enquanto uma
Pesquisa modalidade de pesquisa qualitativa. Busca caracterizá-lo com base nos
Qualitativa. estudos realizados por Robert Yin e Robert Stake. O texto também
Aplicabilidade conceitua a natureza do Estudo de Caso e apresenta as vantagens e
do Estudo de limitações encontradas no desenvolvimento deste tipo de investigação
Caso. científica. Desenvolve ainda uma reflexão sobre seu planejamento,
Vantagens e aplicabilidade, condução e análise dos dados coletados.
Limitações do
Estudo de Caso.

Keywords Abstract: This paper describes and analyzes some of the theoretical
Case study. and practical foundations regarding the Case Study as a form of
Qualitative qualitative research. It seeks to characterize it based on studies carried
Research. out by Robert Yin and Robert Stake. The text also conceptualizes the
Applicability of nature of the Case Study and presents the advantages and limitations
the Case Study. found in the development of this type of scientific investigation. It also
Advantages and develops a reflection on its planning, applicability, conduction and
Limitations of analysis of collected data.
the Case Study.

Palabras clave Resumen: Este artículo describe y analiza algunos de los fundamentos
Estudio de caso. teóricos y prácticos del estudio de caso como forma de investigación
Investigación cualitativa. Busca caracterizarlo a partir de estudios realizados por
cualitativa. Robert Yin y Robert Stake. El texto también conceptualiza la
Aplicabilidad naturaleza del Estudio de Caso y presenta las ventajas y limitaciones
del estudio de encontradas en el desarrollo de este tipo de investigación científica.
caso. Ventajas y También desarrolla una reflexión sobre su planificación, aplicabilidad,
limitaciones del conducción y análisis de los datos recopilados.
estudio de caso.
* Programa de Pós-
Graduação em Educação
da Universidade Federal de
Uberlândia

Recebido em: 21-02-2021


Aprovado em: 04-07-2021
Publicado em: 27-12-2021

, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 78-90, 2021.


Silvia, Oliveira & Silva

Introdução
As pesquisas na área de educacional ganharam força no Brasil a partir da década de
1970 com a consolidação do processo de institucionalização da pesquisa educacional no país.
Com a necessidade de compreender as relações humanas e ir além das informações
estatísticas, a pesquisa qualitativa passou a ter um enfoque maior dentre pesquisas entre os
quais estão os estudos de caso.
Essa metodologia, considerada como uma das estratégias da pesquisa qualitativa, tem
conquistado um lugar de destaque no campo das pesquisas educacionais (STAKE, 2013), por
sua aplicabilidade ser muitas e variadas e por sua possibilidade de investigar e interpretar; o
estudo de caso, pode contribuir de modo singular na compreensão das problemáticas
relacionadas a indivíduos, grupos sociais, organizações, políticas, instituições públicas,
programas governamentais, problemáticas relacionadas a prática educativa, ao permitir
realizar análises amplas e significativas sobre o objeto de pesquisa. Para isso, é necessário que
o objeto de estudo seja bem definido, assim como os dados que devem ser coletados precisam
estar claros.
Uma pesquisa qualitativa, conforme os estudos desenvolvidos por Oliveira et al.
(2020), são utilizadas quando o pesquisador pretende identificar, analisar e interpretar,
percepções e entendimentos diversos sobre questões relevantes, que necessitam para sua
melhor compreensão, muito mais do que uma mera análise estatística, descritiva, dos dados
coletados durante o processo de investigação.
A realização de uma pesquisa científica demanda, antes de tudo, a identificação do
problema, o domínio de alguns conceitos-chaves; ou seja, o público-alvo e o que se quer
investigar para que se atinja ao tipo de método mais adequado para consecução dos objetivos.
O estudo de caso, como metodologia de pesquisa qualitativa, visa a construção de
uma teoria indutiva, a partir do estudo empírico de um caso ou estudos que envolvem mais de
um caso.
A relevância desta estratégia de investigação e sua contribuição enquanto
metodologia, nos permite neste artigo, discutir por meio de uma abordagem qualitativa de
cunho bibliográfico, alguns aspectos fundamentais dos principais problemas referente a este
tipo de pesquisa, em particular o estudo de caso único: a natureza do estudo de caso, distinção
conceitual, a questão da generalização ou sua aplicabilidade do conhecimento, bem como suas
vantagens e limitações mais comuns encontradas.

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Para isso, utilizaremos como principal referencial teórico, as contribuições e posições


de dois dos mais reconhecidos especialistas em estudos de caso: Robert Yin e Robert Stake.

Caracterização: conceito e natureza

Uma dificuldade inicial reside na distinção conceitual entre o ensino do estudo do


caso e do método de pesquisa de estudo de casos dentro das Ciências Sociais.
O estudo de caso, chamados de case, não se trata de uma metodologia de pesquisa,
como vem a ser a pesquisa estudo de caso; mas uma ferramenta pedagógica utilizada na
formação de advogados, juristas, administradores de empresas e Marketing. Parte da
experiência, de realidades vivenciadas, onde os estudantes confrontam a teoria com a prática.
Baseia-se no princípio de que se aprende fazendo, no qual o professor conduz os estudantes a
partir da análise da prática à conclusão acerca da teoria, com o objetivo de ilustrar uma
argumentação, uma categoria ou uma condição.
Martins (2006) distingue o que vem a ser método do caso, ferramenta pedagógica,
diferenciando-o de situações que pedem um estudo de caso. Para ele, um
[...] case, ou um estudo de caso é – técnica de ensino em que o professor (instrutor)
explica – ensina – determinado conteúdo após os alunos estudarem um caso, geralmente
relatando uma situação real já ocorrida (MARTINS, 2006, p. 7).
O uso do método do caso pode se configurar como uma nova mentalidade no
processo pedagógico dentro das academias e que corrobora consubstancialmente para a
formação de futuros profissionais, seu foco visa utilizar-se de princípios, exposição de
vivências para compreender os processos, em vez de os estudantes debruçarem-se sobre a
teoria pura, sem contanto abrir mão dela. “[...] esse tipo de pesquisa empírica representa
também uma abordagem indutiva, através da qual a comparação, análise, interpretação e
avaliação da experiência assim colhida dos negócios revelará, se houver, as úteis
generalizações” (CONANT, 1968, p. 90).
Quanto ao estudo de casos, utilizado para realização de pesquisas, Yin (2001, p. 35)
cita que “[...] o estudo de casos, como outras estratégias de pesquisa, representa uma maneira
de se investigar um tópico empírico seguindo-se um conjunto de procedimentos pré-
especificados”. Há um rigor científico, que necessita de planejamento e disposição para
aplicar as etapas que ele pressupõe. Portanto, o método de estudo de caso, como uma

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estratégia para se conduzir uma pesquisa empírica, exige uma preparação e organização de
um planejamento da pesquisa.
Em geral, o estudo de caso é preferido quando se colocam questões do tipo “como” e
“por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se
encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. No
entendimento de Boaventura (2007), para realizar um estudo de caso, um dos passos
fundamentais é a “delimitação da unidade-caso”.
Os estudos de caso mais comuns são os que focalizam apenas uma unidade. No
entanto, não é pelo simples fato de serem desenvolvidos em apenas uma unidade (uma escola,
instituição ou evento) ou por incluírem um número muito reduzido de sujeitos, que podemos
caracterizar com um “caso”. Mesmo que explicitemos a importância da unidade-caso no seu
contexto na pesquisa; a natureza desta pesquisa nos orienta na classificação.
Os problemas expostos parecem ser, em parte, pelas discordâncias entre autores que
dele se ocupam, ou induzidos por equívocos da literatura sobre o tema. Certamente, um dos
importantes equívocos está na afirmação de que os estudos de caso são um tipo de pesquisa
mais fácil, pelo fato de lidar com uma ou poucas unidades. Essa ideia foi disseminada por
Bogdan e Biklen (1994, p. 89), ao sugerirem, que os investigadores iniciantes começassem
sua aprendizagem de pesquisa por meio de estudos de caso por “serem mais fáceis de
realizar” minimizando a complexidade e dificuldades que lhe são inerentes. Tal afirmação
simplifica o nível de complexidade desse tipo de pesquisa, bem como o rigor científico
necessário ao seu planejamento, análise e interpretação que lhe são inerentes.
Cabe informar que Robert Stake e Robert Yin, apresentam diferenças paradigmáticas
quanto a caracterização dos estudos de caso e a questão da generalização ou aplicabilidade;
embora esteja de acordo em pontos essenciais à compreensão dos estudos de caso. Isto é, nem
todo estudo de uma única unidade pode ser considerado um estudo de caso, e estudos de caso
se revestem de complexidade, o que exige o recurso a técnicas variadas de coleta de dados.
Portanto, como avaliar se uma pesquisa se caracteriza como estudo de caso, segundo
estes autores?
Para Yin, há três tipos que podem ser tomados como critérios para avaliar se uma
dada investigação pode ou não ser classificada como um estudo de caso: o caso deve ser
crítico, extremo ou único ou, então, revelador. Yin descreve, ainda, um outro critério,
referente aos estudos de tipo exploratório: eles devem aprofundar a compreensão de um

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fenômeno pouco investigado, levando à identificação de categorias de observação ou à


geração de hipóteses para estudos posteriores.
O caso deve ser crítico, quando o caso em pauta é crítico para testar uma hipótese ou
teoria previamente explicitada.
A segunda razão que justifica a opção por um estudo de caso ser extremo ou único.
Segundo Yin (2001),
Encontra-se fundamento lógico para um caso único quando ele representa o caso
decisivo ao testar uma teoria bem formulada. (...) o caso único pode, então, ser utilizado para
se determinar se as proposições de uma teoria são corretas ou se algum outro conjunto
alternativo de explanações possa ser mais relevante (YIN, 2001, p. 62).
Já o caso extremo ou raro, segundo o autor, representa em geral uma situação na
psicologia na qual há uma algum distúrbio específico que apresente se tão raro que favorece a
documentação e análise.
A terceira situação descrita por Yin é o caso revelador, que ocorre quando o
pesquisador tem acesso a uma situação ou fenômeno até então inacessível à investigação
científica.
Yin acrescenta, ainda, que estudos de caso são também usados como etapas
exploratórias na pesquisa de fenômenos pouco investigados ou como estudos-piloto para
orientar o design de estudos de casos múltiplos. O critério que justifica a escolha do estudo de
caso como abordagem adequada de um problema de pesquisa: tratar-se de fenômeno pouco
investigado.
A descrição desses tipos oferece pistas importantes para que se possa avaliar se uma
dada investigação pode ser classificada como um estudo de caso; em qualquer dessas
situações, deve focalizar fenômenos sociais complexos, retendo as características holísticas
dos eventos da vida real.
Para Yin, as características consideradas essenciais a um estudo de caso exemplar,
são:
• O caso deve ser completo. Três indicadores de completude são apontados: as
fronteiras do caso, isto é, a distinção entre o fenômeno que está sendo estudado e seu
contexto, são objeto de atenção; a narrativa demonstra, de modo convincente, que houve “um
esforço exaustivo” (YIN, 1984, p.142) para coletar as evidências relevantes; e o estudo é
planejado de tal maneira que sua finalização não é determinada por limites de tempo ou de
recursos.

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• O caso deve considerar perspectivas ou hipóteses alternativas. O pesquisador


deve buscar explicações ou perspectivas rivais daquelas adotadas no estudo e examinar as
evidências de acordo com essas perspectivas.
• As evidências devem ser suficientemente poderosas para sustentar as
conclusões e ganhar a confiança do leitor quanto à seriedade do trabalho realizado.
• O relato do estudo deve ser atraente. Isso significa que deve ser escrito de
maneira clara e instigante, “seduzindo” o leitor, de modo a que este permaneça “ligado” na
narrativa até o final.

Na concepção de Stake (1995), podemos encontrar dois critérios essenciais para


definir um estudo de caso: O estudo de caso é o estudo da particularidade e da complexidade
de um único caso, chegando a compreender a sua atividade concreta, os seus detalhes de
interação do caso com os seus contextos. O caso é a complexidade e a especificidade de um
sistema em atividade, sendo esse sistema delimitado cujas as partes são integradas.
Stake distingue três tipos de estudos de caso a partir de suas finalidades: Intrínseco,
instrumental e coletivo.
No estudo de caso intrínseco busca-se melhor compreensão de um caso apenas pelo
interesse despertado por aquele caso particular. O objetivo O objetivo não é vir a entender
algum constructo abstrato ou fenômeno genérico, mas porque, em todas as suas
particularidades e no que têm em comum, este caso é de interesse em si.
No estudo de caso instrumental, ao contrário, o interesse no caso deve-se à crença de
que ele poderá facilitar a compreensão de algo mais amplo, uma vez que pode servir para
fornecer insights sobre um assunto ou para contestar uma generalização amplamente aceita,
apresentando um caso que nela não se encaixa.
No estudo de caso coletivo o pesquisador estuda conjuntamente alguns casos para
investigar um dado fenômeno, podendo ser visto como um estudo instrumental estendido a
vários casos. Eles são escolhidos porque se acredita que seu estudo permitirá melhor
compreensão, ou mesmo melhor teorização, sobre um conjunto ainda maior de casos.
Podemos observar, que os estudos de caso instrumentais, coletivos ou não,
pretendem favorecer ou, ao contrário, contestar uma generalização aceita, enquanto os estudos
intrínsecos, em princípio, não se preocupam com isso. Stake considera que o importante é
otimizar a compreensão do caso ao invés de privilegiar a generalização para além do caso.

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Para ele, os pesquisadores buscam mostrar a peculiaridade do caso tanto o que é


comum quanto o que é particular, e reúnem dados sobre os aspectos citados abaixo:
a. a natureza do caso;
b. o histórico do caso;
c. o contexto (físico, econômico, político, legal, estético etc.);
d. outros casos pelos quais é reconhecido;
e. os informantes pelos quais pode ser conhecido.

O resultado geralmente retrata algo de original em consequência de um ou mais


destes aspectos acima. Outro, importante aspecto, segundo Stake para a caracterização do
estudo de caso é o tipo de questões pertinentes a esse gênero de pesquisa. Geralmente, o
estudo de caso é organizado em torno de um pequeno número de questões ou temáticas sobre
relações complexas, situadas e problemáticas.
Comparando os tipos descritos pelos autores focalizados, podemos observar que o
estudo de caso exploratório, assim como o que Yin denomina de crítico, são formas de estudo
de caso instrumental na nomenclatura de Stake, enquanto o estudo de caso extremo e o
revelador se aproximariam do tipo intrínseco na classificação de Stake.
O levantamento estado da arte sobre determinado tópico que está sendo objeto de
análise ou estudo é importante para revelar porque um caso é crítico, extremo ou único,
revelador ou, ainda, exploratório (Yin), instrumental ou, mesmo intrínseco (Stake), dentro da
produção acumulada na área. Como lembra Stake (2000), os pesquisadores sempre buscam
tanto o que é comum quanto o que é particular em cada caso e, para isso, é preciso estar
inteirado da discussão corrente.

Generalização

Quanto à possibilidade de generalização a partir dos estudos de caso, mostrou-se que


Yin considera que é sempre possível gerar hipóteses que possam ser testadas em outros
contextos (replicação) e, caso sejam reiteradamente confirmadas, podem ser generalizadas
para contextos similares (“generalização analítica”).
A afirmação de que os estudos de caso sustentam pouca base para generalização é,
segundo Yin (1984, p. 48-49), uma das modalidades dos preconceitos que envolvem esta
estratégia de pesquisa. O autor argumenta que, se não se pode generalizar a partir de um único

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caso, também não se pode generalizar com base em um único experimento. De fato, as
generalizações são frequentemente baseadas em um conjunto de experimentos replicando o
mesmo esquema em diferentes condições.
Um erro fatal que se comete ao realizar estudos de caso é conceber a generalização
estatística como método de generalizar os resultados do estudo. Isso ocorre porque os casos
que você utiliza não são “unidades de amostragem” e não devem ser escolhidos por essa
razão. De preferência, os estudos de caso individual devem ser selecionados da mesma forma
que um pesquisador de laboratório seleciona o assunto de um novo experimento (YIN, 2001,
p. 53-54).
Para Yin, o mesmo raciocínio pode ser usado para os estudos de casos múltiplos e,
nesse sentido, a lógica que norteia a forma da pesquisa não é a da amostragem, mas a da
replicação. Assim, cada caso deve ser selecionado de acordo com uma das seguintes
previsões: ou se espera encontrar resultados similares nas diversas unidades investigadas
(replicação propriamente dita) ou se espera resultados diferentes em razão de aspectos
previamente antecipados pelo pesquisador (“replicação teórica”).
Tal como os experimentos, os estudos de caso, portanto, não representam “amostra”
cujos resultados seriam generalizáveis para uma população (generalização estatística), o
pesquisador não procura casos representativos de uma população para a qual pretende
generalizar os resultados, mas a partir de um conjunto particular de resultados, ele pode gerar
proposições teóricas que seriam aplicáveis a outros contextos. A isto Yin (1984, p. 39)
denomina “generalização analítica”.
Já Stake assume uma posição diferente sobre a generalização. Critica o fato de que
alguns estudiosos como Yin fazem restrições ao estudo do particular, como se o estudo
intrínseco de um caso não fosse tão importante quanto estudos para obter generalizações
referentes a uma multiplicidade de casos. No entanto, Stake admite que, mesmo no estudo
intrínseco, os pesquisadores não esquivam a generalização, constantemente antecipando
acontecimentos esperados em seus casos e em outras situações.
No entender de Stake, essa preocupação com a generalização concorre com a busca
da particularidade, e não deveria ser ressaltada em toda pesquisa. Suas concepções visam à
compreensão do que é importante naquele caso, e para isso propõem as questões que lhes
parecem pertinentes, descrevem contextos e fazem interpretações próprias ao caso,
proporcionando ao leitor “descrição densa”.

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O pesquisador se esforça para ter compreensão suficiente do caso estudado para


expressar um significado complexo em uma narrativa suficientemente descritiva para que os
leitores possam, alternativamente, vivenciar a situação e tirar conclusões (mesmo que sejam
diferentes das do pesquisador). Assim, mesmo um estudo de caso intrínseco pode ser visto
como um passo em direção à generalização.
Stake (2000, p.439) afirma que o compromisso com a generalização não deveria ser
uma exigência feita a todo e qualquer estudo, os problemas ocorrem quando essa
preocupação, caso seja excessiva, pode desviar a atenção do pesquisador de características
importantes para a compreensão do próprio caso.Com sua própria história, única, o caso é
uma entidade complexa que opera em vários contextos – físico, econômico, ético, estético,
etc. O caso é único, mas possui subunidades, diferentes grupos e situações, enfim, é uma série
de domínios que não são fáceis de serem apreendidos. A compreensão holística do caso exige
o exame dessas complexidades.
Por meio de narrativas densas e vivas, os pesquisadores podem oferecer uma
oportunidade para experiências alternativas, ou seja, pode levar os leitores a conectar o que
observam nessa situação a eventos que vivenciam em outros contextos. Esse processo
corresponde à chamada "generalizações naturalísticas", conceito que Stake (1978) introduziu
como método alternativo de generalização a partir de amostras consideradas representativas
da população, para propor mudanças nos pontos de vista: ele sugeriu que os pesquisadores
não deveriam ser responsáveis por definir para quais populações e/ou contextos os resultados
obtidos podem ser generalizados, mas deixar essa decisão para o leitor. Este, ao defrontar-se
com uma descrição detalhada do assunto, a relação mantida entre eles, seu comportamento e a
situação em que ocorreram e, finalmente, através da “descrição densa” do caso, a
interpretação, hipótese e os Insights podem ser aplicados aos casos de seu interesse.
Stake então chega à questão central sobre generalização. O que você pode aprender
com um único caso? Para ele, o que aprendemos com um caso singular, está relacionado ao
fato de esse caso ser semelhante ou diferente de outros casos conhecidos. Pesquisadores
naturalísticos, etnográficos e fenomenológicos relatam seus casos sabendo que eles serão
comparados a outros e, por isso, buscam descrevê-los detalhadamente para que o leitor possa
fazer boas comparações.
A análise das concepções desses dois autores referenciados, mostra que ambos têm
distintas concepções tanto no que se refere à caracterização dos estudos de caso quanto à

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questão da generalização. Divergências essas claramente vinculadas aos pressupostos dos


paradigmas com os quais cada um deles se identifica.
Desta forma, os critérios de identificação e seleção do caso e a forma de
generalização proposta variam em função da conexão paradigmática do pesquisador, sendo
esta de sua livre escolha e deve ser respeitada. É importante que existam critérios claros para a
seleção de um caso, e que este seja realmente um “caso”, ou seja, uma situação complexa e /
ou interessante cuja relevância justifica o esforço de compreensão.
Na verdade, o que Yin e Stake negam é que, com base em estudos de caso,
generalizações estatísticas podem ser feitas. Mas não ignoraram a importância de ir além do
caso, que fosse defensável, adequada para estudos de caso e permitisse o acúmulo de
conhecimento.
Importante, destacar, é que existem critérios para avaliar estudos de caso, e os
autores da análise aqui revelam claramente esses critérios. Apesar das diferenças entre eles,
parece haver acordo sobre o fato, amplamente aceito pela comunidade acadêmica, de que um
estudo de caso qualitativo é uma investigação de uma unidade específica, situada em seu
contexto, selecionada e utilizada múltiplas fontes de dados de acordo com critérios pré-
determinados, e recomenda fornecer a todas as pesquisas uma visão geral do fenômeno.

Vantagens e limitações

Como vários métodos, o estudo de caso apresenta vantagens e limitações na sua


aplicação. Dentre as principais vantagens, citamos:
• Aplicabilidade em diferentes orientações epistemológicas;
• Possibilidade de utilizar múltiplas fontes de evidência;
• Beneficia-se do desenvolvimento prévio das proposições teóricas que orientam
a coleta e análise dos dados, formulação de hipóteses e a possibilidade do desenvolvimento de
teorias;
• Estimulam novas descobertas, em função da flexibilidade do seu planejamento;
• Enfatizam a multiplicidade de dimensões de um problema, focalizando-o como
um todo e apresentam simplicidade nos procedimentos, além de permitir uma análise em
profundidade dos processos e das relações entre eles;
• Possui a vantagem de poder lidar com uma variedade maior de evidências;

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• Podem constituir um arquivo de material descritivo suficiente rico para


permitir reinterpretações subsequentes;
• São mais acessíveis ao público em geral do que os dados de investigação;
• Relacionam a teoria à prática (vida quotidiana);
• Proporcionam uma percepção através de exemplos específicos, acontecimentos
ou situações;

Quanto as limitações/desvantagens, evidenciamos:


• São estudos muito complexos, morosos e difíceis de levar a cabo;
• O Acesso aos dados levanta problemas, assim como a sua publicação, o
investigador tem de ter em conta os problemas de confidencialidade dos dados, os limites,
entre o público e o privado, preservando o anonimato dos sujeitos;
• Exige uma metodologia mais apurada, rigorosa e mais tempo para coleta e
análise dos dados;
• Levanta problemas quanto aos efeitos da implicação do investigador na
realidade que estuda e o seus reflexos nos resultados obtidos, ou seja, o viés representado pela
subjetividade do pesquisador. Isto é, quem desenvolve tende a formar juízos de valor sobre a
validade do conhecimento de um caso particular. Embora inegável, esta influência também
pode ocorrer em outros métodos, inclusive nos quantitativos, devendo ser mitigada por meio
do uso de técnicas conhecidas como a gravação e transcrição das entrevistas e pela
triangulação das fontes;
• Uma das preocupações dos pesquisadores é a negligência pelo não
desenvolvimento sistemático do método. Pois, o planejamento e a execução do estudo de caso
exigem rigor, além de algumas vezes ser confundido com os casos de ensino, nos quais os
materiais que constituem o estudo podem ser alterados a fim de demonstrar um determinado
ponto ou resultado mais efetivo;
• Cuidado necessário quando buscar generalizações. Em nenhum momento, o
pesquisador deverá desprezar, em busca da simplificação, o rigor científico no tratamento da
questão necessário para sua validação.

Dentre as desvantagens do método de estudo de caso que apresentamos, a crítica


clássica e que parece ser a mais grave é a dificuldade de generalização dos resultados obtidos

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e; consecutivamente, com a restrição da possibilidade de aplicação de suas conclusões a


outros contextos, pouco em tese, irá contribuir para o avanço do conhecimento.
O estudo de caso único, por se tratar de um estudo em profundidade de uma
realidade específica, considerando os seus aspectos idiossincrásicos, há um intenso
envolvimento na investigação, o que pode apresentar um risco de o investigador mostrar uma
falsa certeza das suas conclusões e fiar-se demais em falsas evidências. Em decorrência disso,
deixar de verificar a fidedignidade dos dados, da categorização e da análise realizada.
A recomendação para eliminar o viés de estudo é elaborar um plano de estudo de
caso que previna prováveis equívocos subjetivos. Pois o fundamento lógico para projetos de
caso único, não pode ser satisfeito por casos múltiplos. É provável que o caso raro ou
incomum, o caso crítico e o caso revelador impliquem apenas em casos únicos, por definição.
Os casos devem funcionar de uma maneira semelhante aos experimentos múltiplos, com
resultados similares (replicação literal) ou contraditórios (replicação teórica). Projetos de
casos múltiplos deve seguir uma lógica de replicação, e não de amostragem.

Considerações finais

Buscou-se neste trabalho apresentar o estudo de caso, em particular o caso único,


como uma modalidade de pesquisa, sinalizando a dificuldade de tal tarefa, pela diversidade de
entendimentos do seu significado e consequentes aplicações em muitas áreas do
conhecimento. A partir das posições apresentadas quanto a natureza do estudo de caso,
distinção conceitual, a questão da generalização do conhecimento, bem como suas vantagens
e limitações mais comuns encontradas. Podemos afirmar sua inegável importância como
instrumento de investigação e o seu estudo deve ser situado na discussão acadêmica.
O uso deste método constitui uma estratégia de pesquisa científica cuja as aplicações
são muitas e variadas, com grande utilidade em várias áreas do conhecimento; pois possibilita
a investigação de fenômenos no contexto real, com diversas fontes de evidência que permitem
a reflexão e a busca de alternativas para solução dos problemas, e consequentemente contribui
para o avanço do conhecimento.
Embora haja divergências entre os autores destacados neste artigo, parece haver
acordo sobre o fato, muito aceito pela comunidade acadêmica, de que o estudo de caso
qualitativo constitui uma investigação de uma unidade específica, situada em seu contexto,

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selecionada segundo critérios predeterminados e, utilizando múltiplas fontes de dados, que se


propõe a oferecer uma perspectiva abrangente do fenômeno estudado.
Os critérios para identificação e seleção do caso, variam segundo a vinculação
paradigmática do pesquisador, a qual é de sua livre escolha e deve ser respeitada. O
importante é que haja critérios explícitos para a seleção do caso e que este seja realmente um
“caso”, isto é, uma situação complexa e/ou intrigante, cuja relevância justifique o esforço de
compreensão.

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