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UC: MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

Docente: MSc. Laurinda Sacala


Ano lectivo: 2022/2023
Etapas da Pesquisa Social Empírica
O tratamento de algumas questões relacionadas com a investigação em ciências
sociais pressupõe a prévia localização de um conjunto de problemas surgidos da
análise do processo de produção de conhecimentos científicos, das suas condições,
dos seus mecanismos e fases de desenvolvimento, dos obstáculos que se lhe
opõem.

A pesquisa pressupõe diferente interpretação para cada pessoa, a teoria científica é


definida como o conjunto de proposições ou hipóteses que têm sido constatadas
como válidas ou plausíveis e ainda sustentadas pela realidade existencial.

Considerando-se em sentido amplo, a palavra pesquisa designa o conjunto de


actividades que têm como finalidade descobrir novos conhecimentos, seja em que
área ou em que nível for.
A pesquisa social empírica não é possível sem teoria. Esta admitida como
“hipótese figurada”, e não como “instância legítima”. Diante dos diversos
problemas da estrutura social, de que depende a vida dos homens, apenas o que
se tem estudado são alguns sectores delimitados dessa estrutura. O estudo de
objectos retirados do contexto social exclui o tratamento da sociedade como
totalidade, por questão de princípio (ADORNO, 1977).

Entretanto, sem uma reflexão crítica sobre seus resultados, a pesquisa social
empírica pode ser equivocada pelos seus próprios resultados. E para um
julgamento equilibrado, ela deve, além de se emancipar de muitos de seus
preconceitos, estar fundada em teoria.
A pesquisa empírica dedica-se ao tratamento da "face empírica e factual da realidade; produz
e analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e factual" (Demo, 2000, p.
21). A valorização desse tipo de pesquisa é pela "possibilidade que oferece de maior
concretização às argumentações, por mais tênue que possa ser a base factual. O significado
dos dados empíricos depende do referencial teórico, mas estes dados agregam impacto
pertinente, sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação prática" (Demo, 1994, p. 37).

Portanto, a pesquisa empírica pode ser também chamada de pesquisa de campo, na medida
em que é necessária comprovação prática de algo, seja através de experimentos ou
observação de determinado contexto para recolha de dados em campo.
Na relação com a teoria a pesquisa empírica serve para ancorar e comprovar no plano da
experiência aquilo apresentado conceitualmente, ou, em outros casos, a observação e
experimentação empíricas oferecem dados para sistematizar a teoria. Na relação com a
teoria a pesquisa empírica serve para ancorar e comprovar no plano da experiência aquilo
apresentado conceitualmente, ou, em outros casos, a observação e experimentação
empíricas oferecem dados para sistematizar a teoria.

Ao contrário da pesquisa teórica, no entanto, a pesquisa empírica não é autossuficiente, ou


seja: não se sustenta dissociada absolutamente da teoria, fundamental à sistematização do
conhecimento. Esta serve para dar fundamento aos experimentos realizados e dados
observados ou colhidos em campo. Para pesquisas que exigem comprovar ou investigar
dados ou factos (como a eficácia de um novo medicamento em determinado grupo, por
exemplo) requerem a utilização de um método empírico.
As etapas de investigação/pesquisa
Antes de se realizar uma investigação, é necessário fazer o planeamento da
mesma. Portanto, o planeamento por sua vez, engloba questões que vão orientar
em certa medida a própria investigação.
É necessário estruturar os elementos de investigação por fases. Deste modo
teremos:

✓Escolha do tema (assegurar a orientação)


A escolha do tema constitui um elemento fundamental antes do desenvolvimento
de qualquer actividade inerente a realização da investigação. Importa realçar que
de um orientador é fundamental para que a investigação tenha êxitos e seja eficaz,
pois, exige acompanhamento de profissionais experientes na área para que
possam de facto agregar valor e ajudar naquilo que for necessário com o objectivo
de tornar a pesquisa mais fidedigna.
Etapa 1- As qualidades da pergunta de partida:

Ser precisa

Clareza
Ser concisa e
unívoca

Exequibilidade Ser realista

Pertinência
Etapa 2.1- Exploração: a pesquisa e recolha bibliográfica
Etapa 2.2- Exploração

Esta etapa inclui muitas leituras sobre o tema a ser abordado, sobretudo referente a questão
de partida. É importante ter presentes elementos de análise e de interpretação (grelhas de
leitura, resumo e comparação de textos, eventuais convergências e divergências).

Torna-se de igual modo imperativo recorrer a estudos, metodologias ousadas para identificar
possíveis dificuldades. Outro factor não menos importante, tem a ver com o tempo. É
imprescindível intercalar o tempo de leitura com o tempo de reflexão pessoal.

Ao fazer-se a revisão da literatura sobre o tema, importa verificar a bibliografia sobre


informação teórica, empírica e metodológica.
2.2/2.3. Exploração
Entrevistas exploratórias a informantes privilegiados:
✓semi-directivas (definir os objectivos);
✓poucas questões;
✓intervir e deixar intervir de forma mais aberta possível;
✓abster-se de exprimir as próprias visões/opiniões;
✓ambiente/contexto adequados;
✓descodificar o conteúdo.

Etapa 3. A problemática

1. Quais as várias abordagens em torno do problema a estudar --» balanço dos pontos
de vista divergentes e convergentes: implica a construção lógica (sistematização com
coordenação).
✓ Encadeamento lógico dos vários argumentos e raciocínios utilizados no desenvolvimento
do tema;

✓ Daqui deve resultar uma texto com unidade e sentido;

✓ O trabalho deve estar estruturado de modo a garantir essa unidade.

2. Definição da própria problemática: o quadro de referência.

✓ Inscrever o próprio trabalho no(s) quadro(s) teóricos traçados, tendo presente a(s)
questão(es) de partida;

✓ Explicitar a problemática retida e definir o quadro conceptual (principais conceitos / esforço


de conceptualização);

✓ Precisar e fundamentar a opção pelo tema;

✓ Clarificar os objectivos.
Etapa 4- Construção do modelo de análise:

1. Operacionalização de conceitos;

2. Construção de hipóteses.

Estudo: Stress em contexto organizacional.


Etapa 5- A observação

A observação compreende o conjunto de operações através das quais o modelo de análise é


confrontado aos dados recolhidos. Durante esta etapa faz-se o levantamento de várias
informações. Tais informações são analisadas de forma sistemática na etapa seguinte.

A concepção desta etapa implica três grandes questões:

1- O que observar?

É necessário observar os dados recolhidos para testar as hipóteses;

2- Com quem observar?

Trata-se de ampliar o campo das análises empíricas num espaço geográfico e social, bem
como num espaço de tempo. De acordo com o caso, o investigador poderá observar e
estudar a população total ou uma amostra representativa (quantitativamente) ou ilustrativa
(qualitativamente) dessa população;
3- Como observar?
Esta questão compreende três fases:
✓A concepção de um instrumento capaz de fornecer informações adequadas e necessárias
para testar as hipóteses: por exemplo, um questionário ou um roteiro de entrevistas ou de
observações;
✓Testar o instrumento antes de utilizá-lo sistematicamente para se assegurar do seu grau de
pertinência e de precisão;
✓Colocá-lo sistematicamente em prática e proceder a recolha de dados pertinentes.

Etapa 6- A análise das informações


Quivy & Campenhoudt (1995, p.213) evidenciam que o objectivo de uma investigação é
responder á questão inicial (etapa 1). Para tal, o investigador elabora hipóteses ou questões
de pesquisa para subsequente desenvolvimento da recolha de dados.
Depois de recolhidos e observados dados, tem de se verificar se essa informações
correspondem ás hipóteses, ou seja, se os resultados observados correspondem aos
resultados esperados pelas hipóteses ou questões de partida.

Deste modo, o primeiro passo para a análise das informações é a verificação empírica.
Portanto, a realidade é sempre mais complexa do que as hipóteses e questões elaboradas
pelo pesquisador e, uma recolha de dados rigorosa acarreta consigo outros elementos não
reflectidos inicialmente.

Neste sentido, a análise das informações tem uma segunda função que é interpretar os
factos não reflectidos, rever ou afinar as hipóteses para que, no final, o investigador seja
capaz de propor alterações e recomendações para trabalhos futuros.
Expectativas de quem avalia:

✓ Clareza da problemática;

✓ Consistência lógica;

✓ Revisão da literatura (crítica);

✓ Objectividade;

✓ Evidência;

✓ Definição de uma argumentação;

✓ Originalidade;

✓ Capacidade de síntese;

✓ Boa apresentação;

✓ Ética.
Classificação - Medíocre Suficiente Bom Excelente
Parâmetros

Estrutura /
Coerência
Originalidade do
tema e contributo

Clareza da
problemática,
conceitos,
objectivos…

Rigor na aplicação
dos métodos e das
técnicas

Estilo e clareza da
escrita;
apresentação
formal; uso de
citações; qualidade
dos gráficos e
figura

Qualidade /
Pertinência da
revisão
bibliográfica
Fonte: Quivy & Campenhoudt (1995)
O problema de investigação

A definição do problema de investigação é uma etapa fundamental que


inicialmente pode parecer simples e fácil, mas acaba por apresentar alguma
complexidade. No entanto, colocam-se duas questões:
-Qual a razão que nos leva a formular um problema?
-Como formular um problema?

Deste modo Gomides (2002), define o problema como sendo o elemento que
consiste em dizer de maneira explícita, clara, compreensível e operacional, qual a
dificuldade com a qual nos deparamos e que pretendemos resolver. O principal
objectivo da formulação do problema de investigação é torná-lo mais específico.
Existem vários significados para a palavra “problema”. Ora, vejamos alguns significados de acordo com o
dicionário Aurélio:
“ Conflito afectivo que impede ou afecta o equilíbrio psicológico do indivíduo”.

“ Questão não solvida e que é desejo de discussão, em qualquer domínio do conhecimento”.

“ Questão proposta para que se dê a solução”.

“ Proposta duvidosa que pode ter diversas soluções”.

Segundo Gil (1991), nem todo problema é passível de tratamento científico, é preciso identificar o que é
científico daquilo que não é. Um problema é de natureza científica quando envolve variáveis que podem
ser tidas como testáveis.
Uma vez formulado o problema, com a certeza de ser cientificamente válido, propõe-se uma resposta
“suposta”, provável e provisória, isto é, uma hipótese. Ambos, problema e hipótese são enunciados de
relações entre variáveis, a diferença reside em que o problema constitui sentença interrogativa e a
hipótese sentença afirmativa. Lakatos, (1991).
Qual a razão que nos leva a formular um problema?

Gil (1991), estabelece que várias podem ser as condições para a formulação de problemas, entre elas
podemos citar:
-As de ordem prática: formula-se o problema e tem-se uma resposta para subsidiar determinada
acção.
-As de ordem intelectual: conhecimento sobre determinado objecto com pouco estudo efectuado.
A escolha de problemas de pesquisa são determinados pelos mais diversos factores. Os mais
importantes são: os valores sociais do pesquisador e os incentivos sociais.
Como formular um problema?
Selltiz apud Gil (1991), ressalta que existem algumas condições que facilitam a tarefa de formular o
problema, tais como: estudo da literatura existente; discussão com pessoas com experiência na área de
interesse.

Mesmo seguindo as orientações citadas, a tarefa de formular um problema de pesquisa continua para a
grande maioria dos iniciantes na investigação cientifica uma tarefa desafiadora. Como citado, o estudo
da literatura e a conversa com outras pessoas são estimulantes, que actuam como clareadores dos
sentidos.

Regras práticas para formular um problema de investigação.


Com o objectivo de tornar claro e facilitar o processo de formação do conhecimento a respeito dos
métodos científicos de pesquisa, Gil (1991), cita algumas regras para a actividade de formular problemas.
✓ Um problema deve ser formulado como pergunta.

Esta é a maneira mais fácil e directa de formular um problema. O acto de estruturar perguntas possibilita
identificar o cenário que envolve o tema, ou seja, aquilo que se pretende investigar, pois, a pergunta actua
como um vector orientando o caminho, os métodos a serem utilizados no decorrer do trabalho.

✓ Um problema deve ser claro e preciso.

O problema deve ser claro na medida em que vai estabelecer o que se pretende pesquisar e, preciso na
medida em que vai identificar os elementos e instrumentos que serão utilizados no decorrer do trabalho.

✓ O problema deve ser susceptível de solução.

No processo de formular o problema de pesquisa é necessário que se conheça os recursos tecnológicos


que serão envolvidos na solução do problema. Pois podemos estabelecer problemas que para resolvê-los
não há instrumentos e técnicas desenvolvidas e apropriadas.
As hipóteses de investigação
Vários são os conceitos de hipóteses, enumerados por Lakatos (1991):

“ Hipótese é uma proposição enunciada para responder, tentativamente a um problema.”

“ A hipótese de trabalho é a resposta a um problema para cuja solução se realiza toda a


investigação.”

“ A hipótese é uma proposição antecipatória à comprovação de uma realidade existencial. É uma


espécie de pressuposição que antecede a constatação dos factos. Por isso se diz também que as
hipóteses de trabalho são formulações provisórias do que se procura conhecer e, em
conseqüência, são supostas respostas para o problema ou assunto da pesquisa.”
Em suma, as hipóteses consistem num conjunto estruturado de argumentos e

explicações que possivelmente justificam dados e informações, porém, que ainda

não foi confirmado ou desconfirmado por observação ou experimentação.

É a afirmação positiva, negativa ou condicional (ainda não testada) sobre

determinado problema ou fenómeno.


Requisitos para a formulação das hipóteses.

- A hipótese deve ser fundamentada até certo ponto, com o corpo do conhecimento científico já
existente;

- A hipótese deve ser formalmente correcta e não se apresentar “vazia” em termos de semântica.

Importância das hipóteses.

As hipóteses são importantes porque dirigem a investigação indicando ao investigador o que


pretende procurar ou pesquisar. Podem ser testadas e julgadas como provavelmente verdadeiras
ou falsas.

Função das hipóteses.

- Dirigir a investigação, na medida em que vai auxiliar na utilização de métodos de pesquisa e na


tentativa de se chegar à certeza;

- Coordenar os factos já conhecidos, ordenando os materiais acumulados pela observação. Neste


caso, a inexistência de uma hipótese levaria a uma inviabilidade de respostas.
Lakatos e Marconi (1991) listaram onze (11) características indicadas na literatura.

Seguem abaixo:

- consistência lógica: o enunciado das hipóteses não pode ter contradições e deve ter
compatibilidade com o corpo de conhecimentos científicos;

- verificabilidade: devem ser passíveis de verificação;

- simplicidade: devem ser simples evitando enunciados complexos;

- relevância: devem ter poder preditivo e/ou explicativo;

- apoio teórico: devem ser baseadas em teoria para ter maior probabilidade de apresentar
genuína contribuição ao conhecimento científico;

- especificidade: devem indicar as operações e previsões a que elas devem ser expostas;

- plausibilidade e clareza: devem propor algo admissível e que o enunciado possibilite o


seu entendimento;
- profundidade, fertilidade e originalidade: devem especificar os mecanismos aos quais
obedecem para alcançar níveis mais profundos da realidade, favorecer o maior número de
deduções e expressar uma solução nova para o problema.

O problema, sendo um dificuldade sentida, compreendida e definida, necessita de uma resposta


“provável, suposta e provisória”, que é a hipótese. Para Lakatos e Marconi (1991, p.104) a principal
resposta é denominada de hipótese básica e esta pode ser complementada por outras
denominadas de hipóteses secundárias.

✓ Hipótese básica

É a afirmação escolhida pelo investigador como a principal resposta ao problema proposto.

A hipótese básica pode adquirir diferentes formas, tais como:

- “afirma, numa dada situação, a presença ou ausência de certos fenómenos;

- refere-se à natureza ou características de dados fenómenos, numa situação específica;


- aponta a existência ou não de determinadas relações entre fenômenos;

- prevê variação concomitante, direta ou inversa, entre fenômenos, etc”.

Hipóteses secundárias

São afirmações complementares e significam outras possibilidades de resposta para o


problema. Podem:

- abarcar em detalhes o que a hipótese básica afirma em geral;

- englobar aspectos não-especificados na hipótese básica;

- indicar relações deduzidas da primeira;

- decompor em pormenores a afirmação geral;

- apontar outras relações possíveis de serem encontradas.


• Hipótese afirmativa – positiva
“O aquecimento dos microprocessadores é resultante das reduzidas
dimensões dos gabinetes dos microcomputadores”
(O resultado da pesquisa deve comprovar a afirmação)

• Hipótese afirmativa – negativa


“Não ocorrem danos elétricos aos sistemas microcontrolados que
possuem aterramento igual a 2 Ohms de resistência”
(O resultado da pesquisa deve comprovar a afirmação)

• Hipótese condicional
“Se o sistema não possui protecção contra descargas atmosféricas, o
mesmo pode estar sujeito a danos elétricos”
(O resultado da pesquisa é condicionado aos resultados do experimento).
De um modo geral, o processo de formulação de hipóteses é de natureza criativa e requer alguma prática.

Gil (1991) analisou a literatura referente à descoberta científica e concluiu que na formulação de hipóteses
podem-se usar as seguintes fontes:

- observação;

- resultados de outras pesquisas;

- teorias;

- intuição.

Vejamos os exemplos abaixo:

Tema: Transferência de aprendizagem.

Problema: Qual é a taxa de transferência de aprendizagem entre tarefas básicas para aprendizagem do
basquetebol?
Hipótese básica:

Com o cálculo da taxa de transferência de aprendizagem, é possível optimizar a


aprendizagem do basquetebol.

Hipóteses secundárias:

- O modelo de cálculo de transferência de aprendizagem possui alta significância para atletas


iniciantes na modalidade.

- Treinar lançamentos de 3m no basquetebol melhora a performance nos lances livres.

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