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ALGUMAS QUESTÕES
8- o problema da autoria
- os críticos autoristas.
- "o espectador ideal à beira da tela: monstro de inocência e rigor"
(Mourlet).
- Truffaut: um mau filme de um autor interessa mais que um bom filme de
um não autor. A política dos autores nas páginas dos Cahiers du Cinéma.
9- o risco do anacronismo – exemplos de Freud e Ford.
OSCAR WILDE (O crítico como artista)
- Porém a crítica é também uma arte! E, assim como uma criação artística implica o
funcionamento da faculdade crítica, sem o que ela não existiria, assim também a
crítica é na verdade criadora na mais elevada acepção do termo! Ela é afinal
criadora e independente.
[Ernesto] Independente?
[Gilberto] Sim, independente. A crítica não deve ser, assim como a obra do poeta ou
do escultor, julgada por não sei que baixas regras de imitação ou semelhança. O
crítico ocupa a mesma posição em relação à obra de arte que o artista em relação ao
mundo visível da forma e da cor, ou o invisível mundo da paixão e do pensamento.
É a única forma civilizada da autobiografia, pois se ocupa não dos acontecimentos,
porém dos pensamentos da vida de alguém, não das contingências da vida física,
porém das paixões imaginativas e dos estados superiores da inteligência.
Quem se recusa a fazer ou publicar crítica negativa não faz crítica. Faz networking.
Faz publicidade, gratuita ou não.
QUESTÃO EXTRA
- - - - - - - "Da Abjeção", de Jacques Rivette.
(sobre o plano em que Emmanuelle Riva se joga na cerca elétrica, suicidando-se):
o homem que decide, nesse momento, fazer um travelling para a
frente para reenquadrar o cadáver em contra-plongée, tomando
cuidado para inscrever exatamente a mão levantada num ângulo
de seu enquadramento final, esse homem só tem direito ao mais
profundo desprezo.
- a ideia de não saber o que quer, mas saber muito bem o que não quer.
CLAUDE CHABROL
- certos filmes precisam ser mais ritmados que pictóricos, outros mais pictóricos
que arquitetados, mas haverá sempre, em todos os filmes, uma parte de cada uma
destes componentes. (...) Pode ser desprovido de um desses elementos, mas nunca,
simultaneamente, de dois deles. Os filmes que, por exemplo, não têm qualquer
qualidade pictórica, devem compensar essa ausência através de uma forte
intensidade dramática ou através da qualidade da construção.
DAVID BORDWELL
- Uma poética do cinema visa o espectador e sua sensibilidade às imagens
moventes, aumentando sua capacidade de apreender tanto a inovação técnica
quanto a experimentação inteligente dos artistas envolvidos. O estudo da mise en
scène cinematográfica é a maneira ideal para desenvolver tal sensibilidade. Com o
olhar aguçado e atento, até mesmo uma simples cena de festa e bebida como a de
Hong [Sang-soo*] amplia nossa percepção quanto ao talento do diretor e quanto ao
potencial do cinema. De modo mais otimista, espero que os diretores,
particularmente os mais jovens, aqui possam aprender sobre tradições
flagrantemente ignoradas pela prática cinematográfica contemporânea.
- (a partir de Bazin) a tendência do diretor da mise en scène é minimizar o papel da
montagem, criando significado e emoção principalmente por meio do que acontece
dentro de cada plano.
- a mise en scène compreende todos os aspectos da filmagem sob a direção do
cineasta: a interpretação, o enquadramento, a iluminação, o posicionamento da
câmera.
- o termo também se refere ao resultado na tela: a maneira como os atores entram
na composição do quadro, o modo como a ação se desenrola no fluxo temporal.
- em Hollywood, é na mise en scène que muitos diretores sem acesso à montagem
final podem dar forma ao filme.
- boa parte do trabalho de um diretor é o criterioso jogo de velar certos elementos
a serem descobertos no momento certo e, depois, encobrí-los de novo, só para
desvelar algo mais adiante... indefinidamente.
SIDNEY LUMET
- Certa vez perguntei a Kurosawa por que decidira fazer uma tomada em Ran de
determinada maneira. A resposta foi que se tivesse colocado a câmera uma
polegada para a esquerda, a fábrica da Sony apareceria na tomada, e se colocasse
uma polegada para a direita veríamos o aeroporto.
- o tema (o quê do filme) vai determinar o estilo (o como do filme).
- se meu filme tem dois astros, sempre sei que realmente tem três. O terceiro astro
é a câmera.
CHANTAL AKERMAN
Eu não estou interessada em naturalismo e quando você é muito frontal e
simétrica está fora do naturalismo; você já tem assim a sua própria estilização.
Quando estava fazendo Jeanne Dielman e uma menina que estava fazendo o frame
me perguntou: por que você não disse logo que era simétrico? E eu respondi que
não sabia, que estava procurando. E quando sinto que é bom, é bom. Eu tento não
fazer e penso comigo mesma: eu farei isso a minha vida toda? Às vezes até me
forço a não fazer, entretanto fico triste. É uma satisfação. A relação com porta,
parede, etc dá estrutura para dentro do plano e me dá a direção da mise-en-scène,
que sempre preciso. Por exemplo, em Um Divã em Nova York eu tinha um corredor
branco e sem portas. Então, pensei: como vou trabalhar com isso? Eu sempre falo
que preciso de um corredor e de uma porta, pois de outro jeito não consigo
trabalhar. Isso constrói a minha mise-en-scène.