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Introdução a Museologia – ECA/USP

(CBD0247)

Nome: Ana Elise Costa Santos


Número USP: 10787438
Data: 18/09/2022

1° Relato Crítico - Arte, política e museus

O filme Afterimage, do diretor polonês Andrzej Wajda, retrata um artista e


professor que se encontra em um regime ditatorial, ao se expressar contra o regime ele é
“exilado”, impedido de trabalhar, dar aulas, fazer parte da união de artistas, de comprar
materiais de pintura e comida, toda arte moderna, incluindo suas obras, é removida,
destruída e censurada por não expressar os ideais totalitários. Em alguns momentos o
protagonista da obra, Wladyslaw Strzeminski, defende a liberdade de criar fora do
realismo, Strzeminski considera a arte moderna superior ao mesmo, além de acreditar que
há uma fronteira entre a arte e a política.
Entretanto, apesar da arte de Strzeminski não expressar ideais políticos, não é
possível separá-la deles pois ela está expressa nesse contexto, no seminário Relações do
Conhecimento em Dois Artistas Cientistas: (II) Cildo Meireles, a socióloga Maria
Arminda do Nascimento Arruda cita que a arte não é uma mera expressão da vida social
e não é instituída por ela, porém ela institui, ela atua no mundo, toda arte é política de
alguma forma. Sendo assim, a luta pela defesa da arte do protagonista já a torna política,
mesmo que a arte em si não se encaixe no realismo e não tenha intenção de comunicar
ideais.
A arte não tem obrigação de atender a nenhuma forma ou pensamento, ela nem
mesmo precisa ser bonita, mas ela sempre comunica algo, como disse Marcel Duchamp
no texto o ato criador “[…a arte pode ser ruim, boa ou indiferente, mas, seja qual for o
adjetivo empregado, devemos chamá-la de arte, é arte ruim, ainda assim, é arte, da mesma
forma que a emoção ruim é ainda emoção. ” Ademais, o julgamento da “qualidade” da
arte e seu significado são também resultados da interpretação do público, o denominado
ato criador é uma junção das expressões do artista, intencionais ou não, e do entendimento
do público.
Voltando ao filme de Wajda, é importante ressaltar que a retaliação sofrida pelo
protagonista era sobretudo uma forma de torná-lo invisível, de apagar sua arte da história,
apesar de impedido se se alimentar, o principal foco da punição era atacar seu intelecto,
pouco importava para o regime que o artista estivesse morto, mas era necessário que ele
fosse esquecido, que seus posicionamentos não influenciassem seus alunos ou a sociedade
soviética, por isso há um esforço tão grande em preservar seus trabalhos por parte de seus
amigos e alunos. Durante o filme é notável que a preocupação está voltada
majoritariamente para essas obras e não para o artista, claro que em vários momentos
Strzeminski recebe ajuda, mas ao decorrer da trama é perceptível que o foco fica cada vez
mais em seu trabalho, um antigo amigo se oferece para esconder suas telas, mas não para
lhe conseguir um emprego, obviamente temendo punições, mas já sabendo que mais nada
seria capaz de salvá-lo. No fim, o destino de Wladyslaw Strzeminski é como a de sua ex
esposa, que morreu em um leito de hospital sem que ao menos os telespectadores
pudessem a conhecer ou ver seu rosto, apenas seu trabalho é apresentado através de
esculturas guardadas por sua filha, além dessa filha, a arte é a única coisa que restará de
ambos.
Fazendo um paralelo com o documentário A Caverna dos Sonhos Esquecidos do
diretor Werner Herzog, a arte é uma maneira de materializar o ato de contar uma história,
é também uma linguagem e uma forma de comunicação, as pinturas presentes nas paredes
da Caverna de Chauvet, objeto de estudo do documentário, dizem bastante sobre o
passado, visitá-las é como visitar um museu. O local era utilizado pelos seres humanos
pré-históricos para pinturas e cerimônias, mas eles não viviam na caverna, ou seja, já
existia uma noção de museificação antes mesmo da invenção dos museus, a caverna se
tratava apenas de um local de visita, de registro de imagens, principalmente de animais,
pois eles faziam parte da vivência desses seres humanos.
Portanto, é possível afirmar que há uma contínua existência dos museus através
do tempo, apesar das transformações do mundo e da sociedade, pois a vontade de contar
histórias ou preservar parte delas é intrínseca ao homem. Além disso, a arte segue em
conformidade a esse fato, pois suas mudanças e adaptações acompanham o curso da
história e projetam um futuro.

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