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RESUMO DA UNIDADE

Esta unidade analisará os primeiros passos do movimento fenomenológico e os


fundamentos do existencialismo, bem como a relação entre essas duas vertentes do
pensamento e as contribuições da abordagem dialógica de Martin Buber.
Especificamente, foram enfocados: a) aspectos gerais do humanismo, e dos dois
movimentos citados na Abordagem Centrada na Pessoa; b) a psicologia humanista
no Brasil; e c) os principais aspectos sobre a teoria rogeriana.
Trata-se de um conteúdo voltado aos modelos terapêuticos da psicologia existencial,
especificamente voltados a três tipos de técnicas psicoterápicas: a orientação não
diretiva; a Gestalt-terapia e logoterapia. O método adotado para analisar o
relacionamento interpessoal partiu dos pensamentos de Martin Buber. Em termos de
intervenção e de abordagem clínica, buscou-se elencar a importância do processo
de autoconhecimento, do estado de resiliência, de autonomia psicológica e de um
sentido para a vida, dentro da experiência fenomenológica. Os estudos em
psicologia existencial possuem relevância, dado o contexto socioeconômico e
político que a sociedade brasileira contemporânea tem enfrentado nos últimos anos
PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA:
e as profundas transformações pelas quais a humanidade vivencia tão rapidamente

INTERVENÇÃO E ABORDAGEM CLÍNICA


no seu cotidiano, trouxeram consequências psicológicas, impactos na vida afetiva,
nas relações interpessoais, familiares, conjugais e do próprio entendimento de si e
do outro, evidenciados nos modos de viver hegemônicos, demonstrando certo grau
de adoecimento causado por estes. Os resultados revelam que as relações sociais
se apresentam como uma forma inimaginável de possíveis interações, decorrente da
inserção da tecnologia e do uso das redes sociais.

Palavras-chave: Intervenção; Abordagem clínica; Fenomenologia existencial.

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parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperaç ão de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
SUMÁRIO
RESUMO DA UNIDADE.........................................................................................................1
SUMÁRIO .................................................................................................................................2
APRESENTAÇÃO DO MÓDULO .........................................................................................3
CAPÍTULO 1 - INFLUÊNCIAS DA FENOMENOLOGIA E DO
EXISTENCIALISMO ...........................................................................................................6
1.1 O MOVIMENTO FENOMENOLÓGICO: PRIMEIROS PASSOS.......................6
1.2 EXISTENCIALISMO E SEUS FUNDAMENTOS..................................................9
1.3 A RELAÇÃO ENTRE FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO ............... 11
1.4 O PENSAMENTO DE MARTIN BUBER E SUAS CONTRIBUIÇÕES .......... 13
CAPÍTULO 2 - HUMANISMO, EXISTENCIALISMO E FENOMENOLOGIA........... 21
2.1 ASPECTOS GERAIS DO HUMANISMO, EXISTENCIALISMO E
FENOMENOLOGIA NA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA (ACP) ................. 21
2.2 A PSICOLOGIA HUMANISTA NO BRASIL ....................................................... 25
2.3 PRINCIPAIS ASPECTOS SOBRE A ACP ......................................................... 28
CAPÍTULO 3 - MODELOS TERAPÊUTICOS DA PSICOTERAPIA
EXISTENCIAL .......................................................................................................... 37
3.1 A ORIENTAÇÃO NÃO DIRETIVA NA EDUCAÇÃO, NO
ACONSELHAMENTO E NA PSICOTERAPIA ................................................................. 37
3.2 A PSICOLOGIA DA GESTALT-TERAPIA.......................................................... 40
3.3 PSICOLOGIA CONTEMPORÂNEA E MODELOS TERAPÊUTICOS:
VIKTOR FRANKL - LOGOTERAPIA ................................................................................. 46
REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 52

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APRESENTAÇÃO DO MÓDULO

O curso de Pós-Graduação em Psicologia Existencial está voltado aos estudos


de intervenção e abordagem clínica sob a ótica das contribuições da fenomenologia.
Esses estudos contribuem de forma significativa para analisar as demandas e
desafios que se colocam nos modos de viver direcionados pela sociedade capitalista
moderna.
No primeiro capítulo trataremos de assuntos relacionados aos primeiros passos
da filosofia fenomenológica e dos fundamentos do existencialismo. Os estudos
iniciais apontam os nexos e possíveis caminhos entre as relações fenomenológicas
e existenciais. Nesse mesmo bloco evidenciamos as contribuições do pensamento
de Martin Buber para o método desenvolvido pelo autor e a correlação com os
processos de autoconhecimento, resiliência e de autonomia psicológica.
Na sequência, o capítulo dois abordará os aspectos gerais do humanismo,
existencialismo e fenomenologia na Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl
Rogers. Alguns aspectos históricos da presença da psicologia humanista no Brasil e
os principais aspectos da abordagem rogeriana.
O terceiro capítulo enfatiza os principais modelos terapêuticos da psicologia
existencial, dentre eles: a orientação não diretiva na educação, no aconselhamento
e na psicoterapia; a psicologia da Gestalt e as contribuições da logoterapia de Viktor
Frankl.
Diante das mudanças tão rápidas ocorridas no mundo, a história da
humanidade tomou rumos de incertezas e o homem pós-moderno encontrou-se num
dilema existencial da “era do vazio”, das redes sociais e de vínculos humanamente
fragilizados, em que discutir aspectos sobre o sentido da vida e as questões
existenciais nunca foram tão pertinentes.
Parte da desintegração psíquica e da neurose está articulada ao modo de viver
adotado na sociedade contemporânea. Estamos diante de um contexto de pandemia
e de isolamento social que trouxe à tona velhas roupagens existenciais, através de
novas configurações relacionais, que de certo modo, têm contribuído para a
desumanização e o distanciamento da unidade psíquica das pessoas. A
efemeridade e a superficialidade colocam em dificuldades o desenvolvimento das

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habilidades socioafetivas necessárias para uma convivência social harmoniosa e
uma congruência com o próprio self.
Diante desse contexto, trabalhar com as psicologias existencial e
fenomenológica é um desafio para o psicoterapeuta, considerando que é
imprescindível estabelecer com o cliente é a confiança, a autenticidade, a
congruência, a empatia, a consideração positiva, que são necessárias para o
entendimento sobre os sintomas decorrentes da desintegração psíquica explicitados
por fenômenos e comportamentos compensatórios baseados no sistema
toxicômano, na perda do sentido da vida, da sensação de hedonismo, que não dá
vazão aos sentimentos de sofrimento humano.
A dimensão da psicologia existencial fenomenológica está no resgate da
singularidade e da compreensão da totalidade que é o fenômeno da existência. A
filosofia é necessariamente um caminho a ser percorrido nos estudos sobre a
humanidade, pois a sua transparência atemporal é significativa para a compreensão
da essência em si, sem reduzir aspectos complexos da interação entre o EU-TU e o
EU-ISSO e de todas as outras formas que costuram as relações do tecido social.
A ótica fenomenológica-existencial é catalisadora do ser-no-mundo, no
encontro entre, no contato genuinamente humano. A psicoterapia existencial, dentro
das variáveis de modelos terapêuticos e técnicas psicoterápicas, assume de forma
central a figura da pessoa, que é singular e plural no encontro com o outro.
A psicoterapia existencial tem o seu arcabouço inegável na filosofia, na arte, na
literatura, na pintura, no movimento dramático da existência humana ao longo da
história. Essas pontes criativas estiveram e continuam presentes nas práticas de
psicoterapia e abordagem clínica de vários matizes dentro da psicologia humanista,
existencial e fenomenológica.
O simbolismo de uma concepção teórico-metodológica, de visão de mundo e
de homem revolucionou a história da psicologia. Para Martin Buber todo viver é
encontro e o estudo cuidadoso desse entre, também passou pelas análises e
contribuições de outros teóricos da psicologia existencial. Rogers complementou
dizendo que entrar na vida subjetiva de alguém significa criar um vínculo empático,
diante da realidade contextual colocada em questão nessa unidade de estudos.

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Bom trabalho e foco nos estudos, pois ciência, religião, filosofia e psicologia
caminham lado a lado, pois são parte de uma mesma humanidade.

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CAPÍTULO 1 - INFLUÊNCIAS DA FENOMENOLOGIA E DO EXISTENCIALISMO

1.1 O MOVIMENTO FENOMENOLÓGICO: PRIMEIROS PASSOS

Na história remota da civilização as pessoas sempre se relacionaram e as mais


habilitadas em termos de conhecimento e desenvoltura socioafetiva e de
relacionamento, eram convidadas a prestar sua ajuda ou oratória aos que desses
serviços necessitavam ou de certo modo se dispunham a entender mais sobre os
assuntos da filosofia existencial.
As origens desse movimento remontam às contribuições dos gregos e
romanos, a partir do século VII a.C., marcando a filosofia de um pensamento que
deixou de entender os problemas da mente como algo sobrenatural passando para
uma perspectiva científica. As contribuições filosóficas mais significativas partiram de
Empédocles, Protágoras, Sócrates, Platão e Aristóteles (FORGUIERI, 2007).
O filósofo Empédocles (490-430 a.C.) sugeriu a cura através da palavra
cantada ou falada. Protágoras foi um dos primeiros filósofos a tratar do assunto da
subjetividade, apontando a percepção como um movimento entre o objeto e o
observador. Sócrates (470-399 a.C.) escreveu sua máxima “Conhece a ti mesmo” e
adotou a dialética socrática que fundamentou o alcance de uma vida plena
descobrindo a verdade sobre si mesmo.
O filósofo Platão (427-327 a.C.) dedicou seu programa terapêutico à cura pela
palavra, afirmando que um belo discurso produziria na alma humana1 uma harmonia
e um ajuste entre todos os seus elementos. Aristóteles descreveu minuciosamente
os sentidos, considerando o tato e o paladar seus principais precursores para uma
vida plena. Descreveu a distinção entre o conteúdo da consciência, da sensação,
volição e afeição, baseando-se na introspecção. Apresentou também uma atuação
terapêutica poderosa: a catarse – significando uma liberação potente dos afetos
seguida de alívio imediato.
Com a era da descoberta da neurose (até o final do século XVIII e início do
século XIX) outros filósofos despontaram dando um princípio básico à psicologia,
como Arthur Schopenhauer, Soren Kierkegaard, Franz Brentano, Edmund Husserl e
1
Considerava a alma humana como o princípio da vida do corpo e que ela possui três partes: a
mente, o afeto e o desejo [...] (Klemm, 1929, p.42 apud FORGUIERI, 2007, p. 7)

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Martim Buber. As origens e desenvolvimento desse pensamento psicológico


contribuíram para o entendimento sobre os desequilíbrios mentais.
Diante dessas compreensões, Arthur Schopenhauer (1788-1860) deu ênfase à
volição e afirmou que o primordial para a humanidade era sentir e querer. De certo
modo, esses princípios corroboram diretamente com os pensamentos
contemporâneos de que é o desejo que movimenta o mundo. O filósofo Soren
Kierkegaard (1813-1855) é considerado pelo pensamento científico, como o
precursor do existencialismo (FORGUIERI, 2007).
A premissa central para este filósofo seria encontrar uma ideia sensata sobre a
experiência entre querer viver e morrer, ou seja, seria preciso viver a entrega ou o
envolvimento com a verdade, e que viver plenamente o inusitado sobre a verdade
seria alcançar a própria vitalidade. Kierkegaard com o seu pensamento, antecipou-
se a Freud em meio século com suas observações sobre o significado da
autoconsciência e sua análise dos conflitos psíquicos.
Franz Brentano (1838-1917) foi considerado o fundador da psicologia ativa,
filósofo, dava ênfase aos estudos sobre a vivência, pois para ele era o que revelava
a atividade mental concretamente. Dedicou a premissa de que há intencionalidade
nos fenômenos psíquicos e a representação para ele seria o próprio ato de
representar. No final do século XIX, a psiquiatria conjuntamente com a psicologia já
havia adquirido conhecimentos sobre a neurose e os tipos de tratamento.
O filósofo Edmund Husserl apresentou a fenomenologia como um método da
filosofia e da ciência, exercendo influência nas artes, na psiquiatria e na psi cologia.
Este filósofo teve seguidores como Heidegger e Merleau-Ponty, que despontaram
nas análises sob uma nova perspectiva do ser humano, do adoecimento e da
terapia.
Merleau-Ponty foi um filósofo que seguiu um rigor científico em seus estudos e
colocou em evidência no núcleo de sua filosofia o funcionamento da percepção, e se
dedicou à análise do modo como a experiência se dá ao sujeito, sem perder o foco
na existência concreta desse humano. A teoria evidenciada destacou uma
nova concepção sobre a consciência e a sensação.
Estudou também temáticas como a fisiologia, a psicologia e a psicopatologia e
descobriu sobre o funcionamento do sistema cerebral, e que essa estrutura orgânica

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está implicada com a estrutura psíquica dentro de um contexto perceptivo de um


ser-corporal no mundo. E pela análise perceptiva ele busca problematizar os
dualismos entre objetivo e subjetivo. Merleau-Ponty questiona a aplicação das leis
da causalidade ao comportamento humano. Essa noção de comportamento no
campo da filosofia contribuiu para o entendimento de que não havia como separar o
corpo físico, do psíquico e do orgânico. Essa noção de estrutura sistêmica cerebral é
concebida não por uma causalidade, e sim revista como um novo modo de conceber
a interação entre os seus componentes (GONÇALVES et al., 2008).
O fenomenólogo Martim Buber dedicou seus estudos sobre as relações
interpessoais, apesar da contemporaneidade com os pensamentos de Husserl e de
Heidegger, seu pensamento era original. É considerado o maior pensador do século
XX e de maior influência sobre os conceitos de vivência do amor.

SAIBA MAIS:
O berço da fenomenologia foi marcado por pensadores que adotaram uma filosofia
de vida e de processos terapêuticos que marcaram uma nova era na ciência
psicológica, adotando princípios distintos das demais escolas e modelos
psicológicos até então existentes.
Para saber mais sobre esse assunto, leia o Livro “Ensaios sobre Fenomenologia”,
acessando o link:
<http://www.uesc.br/editora/livrosdigitais2019/ensaio_%20sobre_fenomenologia.pdf>

Segundo o pensamento fenomenológico, o que é necessário é a compreensão


da consciência e dos estilos do modo de ser das pessoas, essa premissa está
fundamentada no modo de viver e existir no mundo, entendimento que se baseia no
significado e nos sentidos que cada humano dá para si e para a sua vida.

SAIBA MAIS:
Entenda mais sobre o assunto acima acessando o link do estudo fenomenológico
sobre o filme “A Pele que Habito”.
Acesse o link: https://editora.sepq.org.br/index.php/rpq/article/view/199
Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a relevância do
assunto dentro do seu campo de atuação.

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1.2 EXISTENCIALISMO E SEUS FUNDAMENTOS

O Existencialismo foi um movimento filosófico e literário que teve início entre


diversos pensadores em meados do século XX e foi evidenciado pela representação
de filósofos franceses, mas também por estudiosos alemães como Martin Heidegger
(1889 – 1976), Karl Jaspers (1883 – 1969) e o filósofo francês Gabriel Marcel (1889
– 1973). É um pensamento que entende a existência como algo instável e
contraditório.
O estudioso alemão, Martin Heidegger foi discípulo de Husserl e reinterpretou o
seu método, buscando um sentido para as coisas, correlacionando intimamente o
recurso da hermenêutica, que ajuda a desvelar o fenômeno na sua essência.
Karl Jaspers foi um filósofo alemão (1883-1969) que viveu desde a sua infância
com importantes limitações físicas, no entanto, a sua obra é um espelho de uma
consciência profunda sobre a sua condição humana e a tentativa de superação. A
filosofia para ele tem um sentido desalienante sobre a análise da condição de vida,
de si e do mundo, na relação com esses fatores, em outras palavras, significa viver e
ser autêntico no mundo. Estudou direito, medicina e neurologia, e foi no
doutoramento que ele estabeleceu uma distinção tanto do método, quanto do objeto,
entre ciência e filosofia, então, para ele o ser-no-mundo era o ser-em-situação
(PERDIGÃO, 2001).
A situação estava essencialmente atrelada a temas existenciais como: finitude,
incompletude, temporalidade, historicidade, liberdade, transcendência). A obra de
Jaspers é baseada em três princípios básicos: dasein, existência e transcendência.
O filósofo francês Gabriel Marcel foi um pensador do ser em detrimento do ter.
Ao negar o ter ele causa uma abertura ao problema do ser. A única certeza seria a
itinerância do ser seria a única concretude do humano. A pessoa itinerante é o homo
viator e, por isso, o abrigo da razão é o próprio cárcere, a segurança que culmina no
mundo das certezas é a própria impossibilidade da itinerância. Recusar o ter seria
então ceder à itinerância e à liberdade do não saber e abdicar da certeza. A ideia de
ser livre é diferente de ter liberdade, nessas questões há o sentido do mistério, e a
filosofia de Marcel baseada na imprevisibilidade do ser, só confirma a nostalgia
enigmática do que viria a ser (GOMES, 2007).

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Apesar do termo existencialismo ser controverso entre as teorias filosóficas


que embasam esse pensamento, há algo distinto que une esse estilo filosófico às
peculiaridades de cada pensador a uma concepção,

Que seja concebida e se exerça como análise da existência, desde que por
‘existência’ se entenda o modo de ser do homem no mundo. O
existencialismo é assim caracterizado, em primeiro lugar, pelo fato de
questionar o modo de ser do homem; e, dado que entende esse modo de
ser como modo de ser no mundo, caracteriza-se em segundo lugar pelo fato
de questionar o próprio ‘mundo’, sem por isso pressupor o ser como já dado
ou constituído. A análise da existência não será então o simples
esclarecimento ou interpretação dos modos como o homem se relaciona
com o mundo, nas possibilidades cognoscitivas, emotivas e práticas, mas
também, e simultaneamente, o esclarecimento e a interpretação dos modos
como o mundo se manifesta ao homem e determina ou condiciona as suas
possibilidades [...] (EWALD, 2008, p. 156).

Na concepção existencial o importante é existir, sentido que implica na


movimentação na direção da mudança, segundo Aristóteles e Beaufret, seria o
movimento um devir, de um estado para outro, indicando que a existência é
processual e dinâmica, sempre estar-se-á em busca de algo. O que há de central no
pensamento existencialista é o questionamento e a estranheza sobre a própria
existência. A filosofia da existência e sua ontologia não podem ser analisadas sem a
autenticidade do pensamento de Kierkegaard, e que a função de todas as coisas
está no homem e não nos sistemas, indicando que a humanidade vive experiências
únicas e peculiares, numa eterna questão filosófica sobre “o que ele é e não é”. Na
relação com o divino e através da fé é que o homem poderia lidar melhor com a sua
incompletude. A presença divina seria um enigma que a reflexão não pode resolver.
Para a filosofia kierkegaardiana, a categoria de indivíduo é central na sua obra,
singular e delimita a questão da individualização dos processos em detrimento da
comunidade, dentro do contexto pelo qual o filósofo viveu. A obra desse autor
evidencia preocupações estruturais com alicerces comunitários simbólicos do poder
público em detrimento ao singular, tais estruturas eram o poder do Estado, da igreja
e da religião. Diante dessa imposição, Kierkegaard considerava impossível uma
concepção de homem estruturada numa natureza dinâmica, seria apenas um
conceito superior da exterioridade sobre a subjetividade humana, que de certa forma
impedir-lhe-ia as escolhas e, consequentemente, lhe daria a condição de provação
do movimento da condição humana (CAES, 2011).

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O processo de individualização é tornar-se o que se é, assumindo a escolha de


existir, segundo a consciência individual, e uma razão de ser por si só. Com essa
premissa filosófica Kierkegaard colocou o indivíduo e a sua subjetividade em
evidência dentro da sociedade de massas. Esse indivíduo é a superação da
multidão, contextualizado historicamente e autêntico na sua singularidade.

IMPORTANTE!
A concepção de indivíduo segundo Kierkegaard é central na sua obra e complexa.
Para saber mais, acesse o link:
http://www.ufscar.br/~semppgfil/wp-content/uploads/2012/05/valdineicaes.pdf

1.3 A RELAÇÃO ENTRE FENOMENOLOGIA E EXISTENCIALISMO

Ao pensar os nexos entre a fenomenologia e o existencialismo devemos


considerar na análise os modos de viver e ser, a existência e o devir contextualizado
dentro de uma temporalidade que está em constante movimento.
O pensamento de Martin Heidegger marca o momento de nexo, pois ele não
coloca em questão a existência humana, mas implica a questão fundamental da
filosofia do seu pensamento, que é a questão do ser. A hermenêutica desse
pensador o colocou à frente de importantes contribuições para o campo da
psicoterapia.
As análises de Heidegger se encontram quando através de Franz Brentano,
chega a Husserl como seu assistente (1911-1923). O trabalho de Husserl, publicado
em 1901, “Investigações Lógicas”, foi o primeiro com o qual Heidegger teve contato
e se tornou uma obra de relevância para ele. O homem é o único ser capaz de fazer,
enquanto, as coisas são, ele está no centro do universo.
Heidegger contribuiu com a análise do modo de ser atrelado à noção de
existência em sua importante obra “Ser e Tempo”. Para ele o ser-em é o ser da pre-
sença. A existência desse ser-no-mundo consiste na compreensão de si mesmo e
na relação externa com os entes sob uma perspectiva ontológica (SA e BARRETO,
2011).

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Estabelecer esse modo de pensar filosoficamente a existência, interferiu de


modo peculiar na atitude dentro da prática clínica, que poderíamos resumir em três
aspectos, sistematizados e articulados entre si:

[...] o abandono de qualquer redução do humano a dimensões meramente


orgânicas, psicológicas ou sociais, naturalmente compreendidas, isto é, o
abandono de qualquer cientificismo objetivante do sofrimento existencial; a
suspensão de toda postura técnica e voluntarista, em que o terapeuta se
coloca no lugar daquele que conduz a dinâmica do processo clínico a partir
de suas representações técnico-conceituais sobre a existência do paciente
ou a partir de seu desejo pessoal de impor mudanças; o exercício da
atenção e do cuidado livre de expectativas, em que o outro é convidado a
uma lembrança de si como pura “existência” para, a partir daí, perspectivar
seus limites e suas possibilidades mais próprias e singulares (SA e
BARRETO, 2011, p. 392).

Esse modo de entender o processo terapêutico conduz a uma perspectiva


ontológica do fenômeno em si, e que a natureza se dá por meio da experiência. A
clínica de compreensão fenomenológica existencial implica o psicólogo num cuidado
centrado no cliente, e na sua existência. Trabalhar com essa perspectiva
metodológica no setting terapêutico significa dar a possibilidade do cliente ser
protagonista da sua própria vida e da sua condução terapêutica, responsabilizando-
se pelas suas escolhas, enfrentamentos e posicionamentos diante da vida,
aceitando-se, compreendendo-se, desvelando-se de si mesmo, o que pode ampliar
os campos perceptivos e sensoriais na experiência de sua liberdade.
Descrever a fenomenologia dos fenômenos clínicos então, será sempre uma
tarefa singular na existência e nunca universalizante. Esse aspecto da clínica
fenomenológica existencial nos leva a compreender que o fenômeno tornar-se-á
presença no aqui-e-agora, isso significa um resgate do ser único dentro de um
aglomerado humano.
Jean-Paul Sartre foi um filósofo singular nessa relação entre fenomenologia e
existencialismo, que tinha em face social uma preocupação em lutar contra toda
forma de injustiça, apontando um ser humano contraditório, entre a sensibilidade e a
atrocidade e que a angústia seria a força motriz para a ação.
A liberdade nesse sentido não é absoluta, mas congruente com a capacidade
de decidir sobre a própria vida, portanto, responsável com o mundo concreto, em
que o ser humano vive, dessa maneira, para Sartre o homem é o centro da sua
condição e a essência é sempre significativa, e é na qual o psicólogo deve centrar a

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psicoterapia. Sartre defendia a psicologia do sentido e que somente a análise


subjetiva do fato psíquico que deve basear o significado.
A noção de liberdade para Sartre está ligada diretamente a projeto e escolha,
em relação à vida cotidiana, congruentes com a sua essência e valores pessoais, no
entanto, se ele tem a capacidade de estabelecer opções, também deve assumir a
responsabilidade pelas decisões tomadas, dessa maneira, Sartre interrompe a
causalidade dos fatos em si e devolve ao sujeito o seu protagonismo diante da vida
(RIBEIRO, 1985).

1.4 O PENSAMENTO DE MARTIN BUBER E SUAS CONTRIBUIÇÕES

Martin Buber foi o principal representante da filosofia dialógica no século XX. A


abordagem dialógica é um pensamento filosófico e de orientação ao terapeuta no
trabalho terapêutico, toda relação para o autor é inter-humana, pois só ocorre no
diálogo e entre o que é vivido por ambos, tanto o individual quanto a relação que
está dentro do encontro entre e é marcado por duas polaridades, o EU-TU e o EU-
ISSO.
A relação EU-TU é uma atitude genuína de interação com a pessoa, significa
que a alteridade dela é levada em consideração e reconhecida na sua singularidade,
esse tipo de diálogo só é possível mutuamente, esse momento não é eterno e saber
de sua finitude enquanto momento vivido é entender a sua chegada e a nostalgia de
sua partida e o entre é a esfera do envolvimento verdadeiro, um fenômeno
ontológico da existência do ser humano no mundo, no entanto, esse aspecto requer
distância e relação, o que significa que somos parte de outros seres humanos, mas
distintos, em termos de equilíbrio, separação e relação, onde eu sou eu e o outro é
o outro e interagimos numa relação (HYCNER, 1995).
Na relação EU-ISSO a outra pessoa é considerada apenas um objeto de
satisfação utilizado apenas para obter um fim, é um tipo de relação humana
existente e necessária, o problema é a forma predominante dessa relação dentro da
sociedade contemporânea, em algum momento da vida essa tensão existencial
aparecerá, a questão é torná-la central nas relações humanas.

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Na psicoterapia a natureza do trabalho é paradoxal e a tensão circula entre as


dimensões da subjetividade e da objetividade. Para desenvolver um trabalho
harmonioso, o terapeuta deve utilizar a habilidade da presença-distanciada, pois no
processo psicoterápico essas dimensões precisam ser bem mescladas e a atitude
do profissional entendida como momento da entrega e da distância, integrando a
arte à ciência da psicoterapia, pois a relação dialógica é a arte do amor.
A profissão paradoxal é esse dilema do terapeuta confrontar as questões da
vida de outras pessoas com as suas próprias questões que não estejam resolvidas.
É uma luta indispensável, em que o self do terapeuta é instrumento que será
utilizado no processo psicoterápico e afinado, objetivando o genuíno movimento dos
ritmos mutáveis do encontro humano.
As habilidades do terapeuta contrastam a sua experiência individual subjetiva e
suas habilidades relacionais, sua awareness desenvolvida de forma distinta
mantendo a descrição de si e a do outro. Trata-se de uma prática clínica de
profunda empatia com o outro, um modelo criativo de entender o outro a partir de
suas experiências e expectativas, criando formas singulares dentro do caos. Esse
psicoterapeuta inevitavelmente ama a filosofia, pois responde tecnicamente às
situações concretas e ao mesmo tempo enxergar a beleza do drama existencial em
detrimento da patologia, obviamente que a distinção também é parte da análise. Ele
também deve ser capaz de apreciar tanto a saúde, quanto a patologia, e por vezes,
essa contradição é singularmente o humano. É uma questão de fato inquietante, no
entanto,
A terapia para o terapeuta é certamente necessária, mas por si só é
insuficiente. De forma alguma ela garante o desenvolvimento filosófico e
pessoal e a maturidade requeridas para se empenhar em uma profissão de
equilíbrio tão precário quanto a que chamamos de psicoterapia. Além disso,
são necessárias uma atitude, uma visão de mundo, que reconhece as
qualidades opostas exigidas do terapeuta e o esforço para integrá-las; isso,
sabendo sempre que se está aquém do exigido e, ainda assim, aceitando-
se os próprios limites [...] Eis o destino do terapeuta: defender
vigorosamente a luta do homem de forma a ampliar os limites da
consciência humana. Esperemos que essa luta enriqueça a todos nós
(HYCNER, 1995, p. 35).

Esse profissional que atua no entre, no encontro com o outro necessita de


disponibilidade e habilidade, além de estar treinado para as práticas psicoterápicas.
Essa possibilidade para o encontro genuíno está no campo do inesperado, do que
brota do mistério existencial e dos dilemas que dele a humanidade sucumbe, é

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nesse momento que self se encontra com self na esfera da ontologia do entre. O
ponto de análise é o contexto como um todo e a dialética entre as dimensões
centrais da existência. Essa relação além de técnica é humana, em que são
experienciadas relações verdadeiras com o outro e a possibilidade do diálogo
genuíno permite que o outro seja confirmado na sua legitimidade como pessoa, para
se perceber como humano. O cliente sentir-se confirmado pelo terapeuta é a pedra
angular da terapia e é nesse entre que a resposta surgirá.
O termo presença está ligado a um significado na psicoterapia dialógica, para
além de uma relação empática, há efetivamente a contribuição do próprio self do
terapeuta, para além de uma técnica, a presença certifica o outro dentro da relação
existencial, a awareness que interfere diretamente na revelação do que é mais
genuíno, essencial e vulnerável no encontro humano, sabemos intuitivamente que
estamos vivendo algo dessa natureza, porque é significativo, é o momento fértil da
terapia. Essa plenitude no setting terapêutico ajuda a caminhar na direção da cura,
pois numa sociedade moderna em que a presença é em boa parte reduzida, quase
não há expectativas de que algo dessa natureza seja vivida.
Suspender os pressupostos individuais ou “colocar entre parênteses” os
julgamentos, a visão de mundo e os conceitos é indispensável para que o terapeuta,
verdadeiramente, esteja presente no mundo do cliente, para exercitar essa
habilidade clínica, ele precisa esvaziar-se psicologicamente se si.

SAIBA MAIS:
Aprofunde seus estudos sobre a prática clínica dialógica, a psicologia
fenomenológica e a filosofia de Martin Buber. Para saber mais sobre esse assunto,
acesse: https://www.scielo.br/pdf/estpsi/v27n1/v27n1a09.pdf

Em termos de conceito, a aceitação é diferente da confirmação, aceitar o outro


significa considerar empaticamente o outro como ele é invariavelmente, naquele
momento e confirmar o outro significa reconhecer e afirmar a existência daquela
pessoa como legítima, independente do comportamento inadequado que ela tenha
se apropriado, pois, segundo Buber (1967, p. 168 apud HYCNER, 1995, p.63), “[...] o
verdadeiro mestre responde à singularidade”. É importante um enorme senso de

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segurança profissional para trabalhar com essa abordagem, pois o próprio self está
em risco nesse entre, mas a chave para tal desafio e dilema do psicoterapeuta está
nas suas próprias mãos, o quanto ele está seguro de si e da sua existência como
pessoa e até onde vai estabelecer o limite necessário para essa segurança, isso
garantirá uma relação dialógica efetiva.
Se aventurar pela abordagem dialógica significa entender que a conexão entre
uma pessoa e outra é algo indescritível para experimentar uma plenitude existencial.
Partindo das práticas clínicas para a análise da vida contemporânea social, torna-se
mais evidente entender que as relações significativas entre as pessoas estão
escassas, e que essa ausência ou impossibilidade de estabelecer um laço genuíno
com o outro trouxe problemas para a modernidade (ansiedade, vazio existencial,
narcisismo, comportamento compulsivo, como por exemplo, dependência de drogas
ilícitas, álcool, sexo e internet).
A neurose é entendida como um bloqueio que surge devido à interferência da
incapacidade do humano na relação com os pares, de entender, capacitar,
considerar, confirmar e valorizar a experiência do outro. Essas são as vicissitudes
humanas, em nenhuma situação somos reconhecidos ou confirmados
completamente pelo outro e assim todo ser humano tem a possibilidade de
desenvolver as suas vulnerabilidades individuais.
Na prática clínica o inusitado é um poema a ser escrito pela contação do
cliente, ecoar as rimas deste poema significa a arte de desvelar o conteúdo que
estava escondido por situações e experiências inautênticas, infelizes e de afetos
tristes. A poesia genuína da vida é uma abertura amorosa para o belo, para a
descoberta de si mesmo. O centro dinâmico da pessoa é a alma, o cerne da
essência e o terapeuta precisa ter disponibilidade para ser essencialmente
surpreendido a cada revelação, geralmente a patologia é a sintomática que revela o
grito por socorro.
As pedras de toque foram uma forma profunda que Maurice Friedman
encontrou de apreender acontecimentos centrais que foram cristalizados e que são
significativos para as pessoas. Vários artistas, filósofos, pintores conseguiram
construir pontes geniais de comunicação profunda com o outro, se utilizando dessa
ferramenta por meio da poesia, psicologia, arte, pintura, filosofia, teologia, criando

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um diálogo de pedras de toque profundamente poetizantes da alma (HYCNER,


1995).
É tarefa também de o psicoterapeuta criar pontes de diálogo, inclusive
utilizando as pedras de toque como um instrumento sensível para tocar a alma,
como diria Martin Buber, curar ou tornar inteiro o que estava fragmentado, de fato, é
um processo contínuo de reestabelecimento de conexão e de reciprocidade em
níveis existenciais profundos. Essa tarefa certamente é dialógica e dialética. O
terapeuta além de todas as habilidades pessoais e técnicas, observa que problemas
e queixas existenciais são genuinamente ouvidos, inclusive a patologia, que deve
ser entendida com o que está por trás dela, velada, escondida. O que significa,

[...] ver a face da carência humana por trás da face da dor humana. Por trás
de cada medo está o desejo e por trás de cada ira está a dor. Precisamos
compreender o que o problema do diagnóstico está ‘dizendo’ sobre a
existência daquela pessoa. Rollo May, falando em termos gerais sobre o
comportamento neurótico, aponta para essa questão: ‘Não é a neurose
precisamente o método que o indivíduo usa para preservar seu próprio
centro, sua própria existência? Os sintomas são meios de reduzir a área de
seu mundo...de forma que a centralidade de sua existência possa ser
protegida da ameaça; é uma forma de bloquear aspectos do meio ambiente,
para que ele, indivíduo, possa então ser adequado para o restante desse
mundo (1983, p. 26 apud HYCNER, 1995, p. 128).

Entender o estado neurótico sob a perspectiva buberiana, intuitivamente é


saber que os problemas não devem ser eliminados, e sim integrados, pois são parte
de uma mesma natureza, de uma mesma humanidade, de certa forma as
dificuldades são forças vitais que nos movimentam. Essa sensibilidade
fenomenológica é parte da essência do poeta, quando ele está preocupado com a
conexão ou em criar pontes de pedras de toque, no entre criativo e relacional que a
integração do self acontece.

IMPORTANTE!
As contribuições da abordagem dialógica também aconteceram no campo da
educação e na construção de uma aprendizagem significativa estabelecida através
dos pressupostos da filosofia de Buber. Aprofunde seus conhecimentos sobre o
assunto estudando o manuscrito: "Martin Buber e o sentido da educação".
Disponível em: https://editora.ifg.edu.br/editoraifg/catalog/download/2/1/23-
2?inline=1 .

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A história da filogênese humana nos mostra o quanto o processo evolutivo tem


o seu alto preço, para manter-se na zona de conforto, a humanidade nem sempre
quer ouvir as respostas existenciais, e quanto mais repressão na awareness mais
forte é a reação corporal, no entanto, o que há de mais profundo na alma é de fato
perturbador. O mundo moderno colabora inabilitando aspectos intuitivos, sensitivos,
corporais e psicológicos importantes para uma existência humana em plenitude,
consequentemente, corpo e alma se fragmentam, a segurança de manter tudo como
está mesmo que haja desajustes e a dor física ou qualquer inconveniência corporal
não é entendida numa linguagem holística e global, subjacente ao mais profundo do
que aquela dor remete, limita-se à experiência da existência e o terapeuta deve ser
esse facilitador para decifrar essa linguagem e ajudar o cliente a compreender o seu
problema, entender o desarranjo da sintonia, quando manter o status quo já é
incômodo, na medida em que o processo terapêutico avança e se integrar .

SAIBA MAIS:
Entenda mais sobre o assunto da abordagem dialógica de Martin Buber e a relação
de zwischen, palavra, encontro, resposta, Eu-Tu, Eu-Isso e Eu-Absoluto, acessando
o link da dissertação de mestrado intitulada "A relação dialógica: a descoberta do
zwischen em Martin Buber", de Rubens Rieg. Programa de Pós-graduação da
Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, 2007.
Acesse o link: http://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/2774/1/398361.pdf
Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a relevância do
assunto dentro do seu campo de atuação.

A compreensão dialógica inclusive permite-nos adotar uma perspectiva


interessante sobre a resistência no processo psicoterápico, sob a ótica da
contextualização no encontro, no entre. A raiz da resistência tem um caráter
ontológico, intrapsíquico. O que o cliente pretende com ela é manter-se protegido do
seu self genuíno, um muro para guardar as feridas profundas, defendendo-se
daquela situação ameaçadora.

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De certo modo, a resistência tem a sua sabedoria ontológica, pois se naquele


momento da vida o cliente não tem recursos disponíveis para lidar com a questão
escondida, é prudente proteger-se, o problema dessa proteção é a anacronia, a
rigidez com a qual a pessoa leva o seu modo de viver, mantendo o status quo. A
patologia desse ponto de vista é sentida como algo da intimidade conhecida de si
mesmo e despertar o desconhecido é menos doloroso do que a previsibilidade
patológica.
É na decisão pela psicoterapia que provavelmente a ambivalência já está
posta, pois essa anacronia é rejeitada pelo cliente e a principal tarefa do terapeuta
nesse momento é entender a sagacidade e a sabedoria da resistência, ela tem um
ritmo próprio que precisa ser experienciada pelo cliente de forma criativa, de modo
que esse monólogo interno deseje o diálogo no entre. Entre figura e fundo social,
todos querem ser alcançados por alguém, apesar do senso particular de proteção do
ego e do self.
A perspectiva dialógica sobre a resistência é compreendida tanto na beleza,
quanto na tragédia e nada é mais desconcertante e integrador do que a
compreensão genuína sobre algo. O desafio para o terapeuta é encontrar o ponto de
contato entre os esconderijos psicológicos e entender que certas resistências fazem
parte de uma estrutura permanente da personalidade e que descobrir o equilíbrio e a
funcionalidade dentro dessa totalidade é a criatividade para viver de forma saudável
entre a parte escondida e a parte visível de cada ser humano.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
CAES, V. A concepção de indivíduo segundo Kierkegaard. Anais do VII Seminário
de Pós-Graduação em Filosofia da UFSCar, São Carlos, UFSCar, p. 437-446, 2011.
Disponível em: <http://www.ufscar.br/~semppgfil/wp-
content/uploads/2012/05/valdineicaes.pdf>. Acesso em 23 julh. 2020.
EWALD, Ariane P. Fenomenologia e existencialismo: articulando nexos, costurando
sentidos. In: Estudos e Pesquisa em Psicologia, 8 (2), 149-165, 2008. Disponível
em: https://www.revispi.uerj.br/v8n2/artigos/pdfv8n2a02.pdf. Acesso em 22 junh.
2020.

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parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperaç ão de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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FORGUIERI, Y. Aconselhamento terapêutico: origem, fundamentos e prática. São


Paulo: Thomson Learning, 2007.
GOMES, P.T. Gabriel Marcel: A filosofia da Existência como Neo-Socratismo. In:
Reflexão, Campinas, 32 (91). P. 11-17, julh. /dez., 2007. Disponível em:
https://seer.sis.puc-
campinas.edu.br/seer/index.php/reflexao/article/download/3052/2023 . Acesso em 22
julh. 2020.
GONCALVES, Rafael Ramos et al. Merleau-Ponty, Sartre e Heidegger: três
concepções de fenomenologia, três grandes filósofos. Estud. pesqui. psicol., Rio de
Janeiro, v. 8, n. 2, ago. 2008. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812008000200019&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 26 julh. 2020.
HYCNER, R. - De pessoa a Pessoa: psicoterapia dialógica. São Paulo: Summus,
1995.
PERDIGÃO, A.C. A filosofia existencial de Karl Jaspers. In: Análise Psicológica
(2001), 4 (XIX) 539-557. Disponível em:
http://www.scielo.mec.pt/pdf/aps/v19n4/v19n4a05.pdf . Acesso em 22 julh. 2020.
RIBEIRO, Jorge P. Gestalt-terapia: refazendo um caminho. São Paulo: Summus,
1985.
SA, Roberto Novaes de; BARRETO, Carmem Lúcia Brito Tavares. A noção
fenomenológica de existência e as práticas psicológicas clínicas. Estud. psicol.
(Campinas), Campinas, v. 28, n. 3, p. 389-394, Sept. 2011. Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
166X2011000300011&lng=en&nrm=iso>. Access
on 22 July 2020. https://doi.org/10.1590/S0103-166X2011000300011

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CAPÍTULO 2 - HUMANISMO, EXISTENCIALISMO E FENOMENOLOGIA

2.1 ASPECTOS GERAIS DO HUMANISMO, EXISTENCIALISMO E


FENOMENOLOGIA NA ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA (ACP)

A abordagem centrada na pessoa têm suas raízes na psicologia humanista e


compartilha de influências tanto do pensamento filosófico existencial, quanto
fenomenológico. Seu fundador Carl Rogers, pesquisador e clínico, ao publicar em
1961, sua obra Tornar-se pessoa, ganhou notoriedade nacional, vendeu milhões de
cópias e era consultado pela imprensa sobre assuntos relacionados à mente
humana, desde a criatividade, autoconhecimento, aprendizagem, educação e o
caráter.
Seu contato como pesquisador e clínico com a filosofia existencial e
fenomenológica foi com a obra de Soren Kierkegaard e Martin Buber, onde
encontramos convergências de sua obra com esses pensadores, principalmente
quanto aos aspectos da subjetividade e as experiências pessoais. Ao traduzir seu
método prático e vivencial a partir das experiências, significados e a compreensão
vivencial sobre sua experienciação, a abordagem centrada na pessoa ganha
formatos na psicologia humanista (BEZERRA e BEZERRA, 2012).

IMPORTANTE!
A filosofia dialógica de Martin Buber fundamenta a relação EU-ISSO de natureza
objetal, exclusivamente com as funções (cognoscitiva e utilitária), enquanto na
relação EU-TU, expressa as tendências (existencial e relacional). Em movimentos
recíprocos de aceitação e confirmação e o que os acolhe é a alteridade.

Rogers adotou sua práxis científica e clínica centrando toda a experiência na


pessoa, em que conhecimento e sentimentos se fundem, são vivenciadas e não
analisada, portanto, a figura do cientista ou do clínico será sempre mediadora e que
essa relação estabelecida é central à mudança.

Considerar, então, a ACP como uma abordagem que possui aspectos


humanistas, existenciais e fenomenológicos remete-nos a uma série de
questões relacionadas: 1) O que se entende por humanista? 2) Por

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consequência, o que é ser humano nesta perspectiva? 3) Como pensar o


humanismo na psicologia? 4) Quais aspectos derivados da fenomenologia e
do existencialismo encontram ressonância com a teoria e o método da
Abordagem Centrada na Pessoa? (BEZERRA e BEZERRA, 2012, p. 23).

A filosofia humanista, desde os pensadores gregos, teve como preocupação


central o homem e os questionamentos sobre sua existência, Rogers também
enfatizou que o entendimento sobre o fenômeno psicológico deveria estar centrado
na experiência da pessoa.
Algumas perspectivas da psicologia humanista concatenam com a proposta
terapêutica rogeriana, dentre elas: uma visão de sujeito capaz de se autorrealizar e
se autoatualizar no mundo, responsável pelas suas escolhas, implicado em uma
dialética entre os pressupostos subjetivos desse humano e o meio objetivo,
concreto, que inserido no mundo, recebe influências desse meio na produção de sua
subjetividade; uma ênfase à consciência, à subjetividade e à saúde psicológica, a
primeira é ativa e baseia-se na intencionalidade, a segunda é processual e dinâmica
envolvida com as experiências no mundo e com as pessoas; uma perspectiva
positiva quanto às potencialidades e possibilidades, que é um princípio norteador
para as mudanças no autoconceito, no comportamento e nas atitudes que esse ser
humano vivencia, prerrogativas galgadas na autonomia e direcionadas para o
crescimento.
As características que norteiam a concepção de sujeito na ACP são de uma
pessoa em constante construção, ativa e ao mesmo tempo resiliente, capaz de lidar
com as adversidades da vida com recursos próprios, apesar de Rogers não
explicitar com clareza as condições sócio-históricas e políticas na constituição da
subjetividade humana, ao mencionar uma pessoa em pleno funcionamento, nota-se
que ele se preocupava com a inteireza humana a níveis sociais, políticos e
transcendentes.
Na hipótese central da sua sentença, Rogers estabeleceu uma relação de
crescimento, mudança e desenvolvimento pessoal, ele entendia o crescimento como
um movimento direcionado para a flexibilidade, autoestima, autorrespeito e respeito
pelo outro.
Teóricos da contemporaneidade como Paulo Freire que deram ênfase às
questões de autoestima e o seu poder de mobilizar outras forças na pessoa e a
noção de aceitação de Rogers como força libertadora indica um movimento do

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potencial humano, essa inteireza entre subjetividade humana e a concretude


potencial dessas relações nos leva a criar nexos.

[...] Proporcionar o espírito crítico e libertário, como apregoado pela


Pedagogia do Oprimido de Paulo Freire, ou suscitar o debate e a
participação política da pessoa em sociedade, no sentido pleno de
cidadania democrática, é algo profundamente identificado com a ACP
(BEZERRA; BEZERRA, 2012, p. 26).

O que está na raiz humanista é uma atitude concreta favorável ao homem, este
ser no mundo relacional, constituído na ação de suas escolhas e influenciado pelo
meio em que vive. O existencialismo foi uma ampla corrente filosófica
contemporânea, nascida na Europa, concebendo o indivíduo em que a existência é
instável e contraditória. O protagonismo, de acordo com essa filosofia, seria
indispensável para assumir a sua própria vida e as escolhas co-responsáveis.
O processo terapêutico centrado na pessoa tem sua essência intimamente
congruente com a tendência dialógica estabelecida no pensamento de Martin Buber,
num encontro livre e significativo entre terapeuta e cliente, simbolicamente baseado
na conduta de autonomia entre si e o sujeito e permeada de reciprocidade
(BEZERRA e BEZERRA, 2012).
Husserl desenvolveu conceitos importantes que fundamentam os pensamentos
humanista, fenomenológico e existencial para a ACP: essência, redução e
intencionalidade. A primeira se refere à forma do sentido primário, do ser
fenomenológico, à redução ou époque, que ao longo da evolução desse conceito
adotou duas perspectivas: como colocação entre parênteses da existência,
evidenciando a essência, e voltar-se às coisas mesmas, tais como elas eram antes
de qualquer apreensão, um elemento puro do conhecimento filosófico.
Com o tempo essa visão sobre a redução foi superada pelo conceito de
intencionalidade2.
Heidegger reinterpretou o método fenomenológico de Husserl recriando
aspectos da hermenêutica, em sua obra Ser e Tempo, que questionava o sentido do
ser, elaborou conceitos utilizados ainda nos tempos atuais: ser-no-mundo, angústia,
abertura e cuidado. No seu pensamento distinguiu o conceito de ser do ente, ou
seja, tudo aquilo que falamos, que entendemos, o que nós somos e como somos,

2
Husserl denominou a análise intencional como algo fenomenológico, uma produção de consciência
e sentido que permite a percepção do fenômeno vivido (BEZERRA e BEZERRA, 2012).

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este ser questionador é designado dasein, que se relaciona de forma distinta com os
entes, um ser lançado ao mundo que Heidegger nomeou de facticidade da
existência, dessa maneira o dasein tem um caráter existencial e dotado de sentido,
seria o próprio ser-no-mundo. Heidegger se inspirou em Kierkegaard para conceituar
a angústia, não como um aspecto disfuncional, mas como uma experiência de uma
existência que se abre a si mesmo, é um entre fechamento e abertura. A abertura é
a constituição estrutural do dasein e este ente em pleno funcionamento é explicitado
e determinado pelo conceito de cuidado, portanto, aberto às possibilidades
relacionais em suas diferentes modalidades (BEZERRA e BEZERRA, 2012).

FIQUE ATENTO!
Heidegger partiu da facticidade no mundo, de um contexto histórico que é
compreendido na sua historicidade. Ele considerava a existência humana repleta da
essência plural, pois o ser humano a si se faz, na relação com o outro, uma
copresença em que o homem é um ser-no-mundo existencial e relacional.

Conhecer um pouco sobre a matriz epistemológica da abordagem centrada na


pessoa, permite-nos identificar um olhar contemporâneo e uma releitura atualizante,
apesar de ser uma abordagem psicológica singular, no entanto, possui significativa
congruência com os aspectos humanistas, fenomenológicos e existenciais
apresentados aqui.

SAIBA MAIS:
Filme sobre o assunto: Cartas ao padre Jacob (Mundial, 2009)
Acesse os links:: <https://www.youtube.com/watch?v=M2A-sF9Xxco>
Peça de teatro: Um amigo diferente (Escola de Gente, 2013)
Acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=8UENWJ9DO3Y>
Observação: O filme não está disponível no Brasil e foi lançado na Finlândia. Sobre
a temática, é importante que o aluno note a relevância do assunto dentro da prática
clínica.

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2.2 A PSICOLOGIA HUMANISTA NO BRASIL

A partir da década de 80 no Brasil, apesar das influências norte-americanas e


das vertentes europeias, a psicologia humanista desenvolveu-se numa abordagem
focada na pessoa, tem como meta revoluções individuais que mudam o jeito de
pensar e o modo de viver e existir no mundo.

[...] É um movimento implícito na historicidade das ideias que aflora com


maior ou menor intensidade de tempos em tempos. Enquanto mensagem,
alcança uma variedade de grupos, dos mais diferentes modos, em função
de um estado de opressão individual e social. Enquanto força de
mobilização, pode estar na base da busca individual por mudança de
sentido de vida, ou na mobilização de grandes massas por justiça e
reformas sociais (GOMES; HOLANDA; GAUER, 2004, p. 6).

Os registros históricos sobre a psicologia humanista apontam para cinco


teorias que convergem com o pensamento epistemológico em questão:
Existencialismo, Fenomenologia, Abordagem Centrada na Pessoa, Gestalt-terapia e
Logoterapia. Essas psicologias influenciaram modalidades de grupo terapias, como
por exemplo, o psicodrama no Brasil e aplicações na área da educação.
O início do século XX no Brasil foi marcado pelo pensamento filosófico de
Farias Brito, segundo o Padre Leonel França (1896-1948), Farias tinha um
pensamento à parte das três tendências principais do pensamento brasileiro:
espiritualismo, positivismo e materialismo, nota-se na obra do autor uma
aproximação com a filosofia existencialista e uma preocupação com o tema da morte
(GOMES; HOLANDA; BAUER, 2004).
Em relação ao movimento fenomenológico no Brasil, destacou-se o médico
estudioso da neurologia e da psiquiatria, Nilton Campos (1898-1963), a sua tese de
doutoramento tratava sobre o Método Fenomenológico na Psicologia, valorizando a
introspecção psicológica em seus estudos.
Em termos de psicoterapia há conjugações na fenomenologia existencial, a
primeira, como método e técnicas rigorosas adotadas para a reflexão e a segunda,
evidentemente, preocupada com a expressão autêntica da subjetividade. O
psicólogo e historiador que se destacou nesse assunto foi Antonio Gomes Penna,
em três publicações. Em 1985, Penna publicou um artigo sobre psicologia
existencial, apontando a distinção entre psicologia fenomenológica e psicologia

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existencial, embora mantivesse a premissa humanista, no ano seguinte, o autor


destacou em outro artigo os méritos de Merleau-Ponty sobre os estudos
fenomenológicos no campo da linguagem, considerando os estudos de Husserl. Em
2001, este mesmo psicólogo escreveu estudos introdutórios sobre a fenomenologia
para cursos de graduação em psicologia.
Na década de 40, a ACP influenciou os trabalhos de seleção e orientação
profissional que Mariana Alvim (1909-2001) desenvolvia no Brasil e os ensinamentos
de Carl Rogers sobre a técnica de entrevista não diretiva. No Rio de Janeiro, em
1951, houve ainda a colaboração de Ruth Nobre Scheeffer, que escreveu conteúdos
sobre o aconselhamento não diretivo, através das publicações de livros:
Aconselhamento psicológico (1964) e Teorias do Aconselhamento (1976). Ainda na
década de 50, no Rio Grande do Sul, a teoria rogeriana era estudada por Lassalista
Henrique Justo, tornando-se um dos principais pesquisadores e do desenvolvimento
prático da ACP no Brasil, coordenando inclusive um curso de especialização nessa
abordagem (GOMES; HOLANDA; GAUER, 2004).
Nos anos 60, os cursos de graduação em psicologia se estabeleciam nos
estados do RJ, SP, PE, RS e as teorias humanistas e a ACP já faziam parte dos
currículos dessas universidades. Lúcio Flávio Campos (1923-1988) e Maria
Auxiliadora Moura (1931-1986), na Universidade Católica de Pernambuco,
lecionaram com competência a teoria rogeriana. Maria Auxiliadora Moura foi
coordenadora do curso de psicologia da Universidade Católica e Maria Ayres é na
atualidade uma referência nos estudos da ACP no Brasil, ambas foram alunas de
Campos.
Oswaldo de Barros Santos (1918-1998) desenvolveu trabalhos na área de
orientação e seleção de pessoal utilizando técnicas do aconselhamento não diretivo
em São Paulo, e em 1969 com a ajuda de sua assistente Rachel Rosenberg, criou o
Serviço de Aconselhamento Psicológico da USP (SAP-USP), sendo pioneiro na
prática da ACP no Brasil e também participou da criação do Centro de
Desenvolvimento da Pessoa do Instituto Sedes Sapientiae.
Na década de 70, as pesquisas empíricas sobre a ACP estavam em evidência,
várias teses foram defendidas pelas universidades do país, dando-se destaque para
os estudos de Yolanda Cintrão Forghieri com a tese Técnicas Psicoterapêuticas e

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Aconselhamento Terapêutico Rogeriano e de Rachel L. Rosenberg com a tese Um


Estudo de Percepção de Condições Psicoterápicas em grupos de aconselhamento
psicológico. Rachel Rosenberg manteve firme o enfoque da ACP nas pesquisas e
promoveu um evento acadêmico na USP, que reuniu em 1986, renomados teóricos
e estudiosos da prática da ACP no país, como por exemplo, Mauro Amatuzzi (USP),
Henriette T. Penha Morato (USP) e Jaime Roy Doxsey (UFES).

[...] Uma boa síntese do pensamento da ACP na década de 1980 encontra-


se no livro, Aconselhamento Psicológico, organizado por Rosenberg
(1987a) tratando dos seguintes assuntos: nota histórica sobre o Serviço de
Aconselhamento Psicológico do Instituto de Psicologia da USP (R.
Rosenberg), diferenças entre aconselhamento, orientação e psicoterapia
(M. L. Schmidt), aspectos teóricos da ACP (H. Morato), relação terapêutica
(M. P. Jordão), formação do conselheiro (I. de Camargo), pesquisa (R.
Rosenberg) e, uma novidade, plantão psicológico (M. Mahfoud). Os
colaboradores de Rosenberg estavam, de alguma forma, vinculados ao
Serviço de Aconselhamento da USP. Também na década de 1980, a
comunidade rogeriana latino-americana articulou-se para a organização de
eventos profissionais, a partir do I Fórum Internacional, ocorrido em
Oaxtepec, México, em 1983 (GOMES; HOLANDA; GAUER, 2004, p. 21).

Na década de 1990, o pensamento rogeriano foi marcado pelos estudos de


Mahfoud (1999), relacionados ao plantão psicológico, uma forma de
aconselhamento psicológico utilizada para ajudar pessoas em situações agudas de
sofrimento ou crise (GOMES; HOLANDA; GAUER, 2004).
Na década de 60 a Gestalt-Terapia era referencial utilizada em áreas como o
psicodrama, na área da educação e foi um movimento de resistência ao regime
militar. A primeira especialização nessa abordagem foi oferecida em 1977, em
Brasília, por Walter Ribeiro.
Nos anos 80, Viktor Emil Frankl, psiquiatra abordou a logoterapia, baseada em
aspectos motivacionais da teoria de Adler e Freud, mas recebeu influência
significativa da fenomenologia, através do teórico Max Scheler, no Brasil.

IMPORTANTE!
A história das abordagens humanistas no Brasil são formulações teórico-
metodológicas e de práticas psicoterápicas convergentes com as influências da
fenomenologia e do existencialismo no mundo.

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Assim, de acordo com a historicidade brasileira acerca da influência das


abordagens psicoterápicas na psicologia, a ACP foi destaque em termos de primazia
nas referências desses profissionais na prática clínica e na educação. No campo da
educação, convergências no pensamento de Paulo Freire indicam várias
aproximações com a psicologia humanista.

SAIBA MAIS:
Filme sobre o assunto: Eu Maior (Higher Self), (Catalisadora, 2013)
Acesse os links: <https://www.youtube.com/watch?v=V0gquwUQ-b0>
Peça de teatro: Auto da Barca do Inferno (Grupo Gattu, 2017)
Acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=bibz7FbYkwM>
Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a relevância do
assunto dentro da prática clínica.

2.3 PRINCIPAIS ASPECTOS SOBRE A ACP

Para iniciar os estudos sobre a Abordagem Centrada na Pessoa precisamos


entender algo sobre seu criador, Carl Rogers, que nasceu em 1902, em Chicago,
sua família tinha princípios religiosos de extrema moralidade, a supressão das
manifestações emocionais e a virtude do ponto de vista do trabalho árduo. Tinha
pouca vida social fora da família, era tido como tímido, sonhador, perdido em
fantasias, solitário e no seu percurso de crescimento pessoal, havia se desgarrado
de muitas de suas raízes familiares e libertar-se o tornou independente tanto nas
emoções, quanto no intelecto.
Em 1924, Rogers casou-se, mesmo período em que concluía sua graduação.
Em 1931 recebeu seu título de Ph.D. Em 1940 começou a lecionar como docente
em psicologia na Ohio State University. Em 1945-1957 lecionou na Universidade de
Chicago e desenvolveu o Centro de Atendimento Psicológico. De 1957-1963
lecionou na Universidade de Wisconsin, foi nesse período que escreveu artigos e
livros que o levaram à teoria da personalidade e à teoria centrada na pessoa
(SHULTZ e SHULTZ, 2004).

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A visão terapêutica de Rogers possui uma tendência voltada a conceitos


desenvolvidos por Gordon Allport, Abraham Maslow e Rollo May e preocupava-se
em entender o homem sob uma perspectiva positiva, livre, de autorrealização, com
foco em sua autenticidade como pessoa, presente ativamente na construção do seu
modo de viver, mediante a constatação de que as pessoas têm propriamente em si
plenos recursos para lidar com as adversidades. O sentido da vida era algo de
interesse central em sua teoria.
A ACP tem uma matriz cientificista, pois com a prática clínica Rogers buscou
com os dados observados evidências científicas. A finalidade desse pensamento é a
compreensão dos fenômenos por meio da complexidade do entendimento
terapêutico quanto à lógica e aos métodos científicos.

[...] É evidente desde o princípio que a terapia, por ser um fenômeno


complexo, é difícil de medir. No entanto, ‘tudo o que existe se pode medir’ e,
se a terapia é considerada uma relação significativa, com implicações que
se estendem para além dela, vale a pena superar as dificuldades para se
descobrirem as leis da personalidade e das relações interpessoais
(ROGERS, 1997, p. 235).

Na terapia, Rogers acreditava que era uma experiência de entrega subjetiva,


mas que o cliente era responsável pela sua direção, pois é ele que sabe do seu
próprio sofrimento, e que três condições distintas como a aceitação incondicional, a
empatia e a consideração positiva são necessárias para o crescimento humano e
devem estar presentes nas relações terapêuticas, na vida social, familiar, na
educação e nas relações interpessoais. Essa autenticidade estabelecida entre
pessoas Rogers considerava construtiva e potente para a aceitação de si e, dessa
maneira, a aceitação levaria à mudança. E quando Rogers descobriu que o que
havia de mais pessoal era o que havia de mais geral, ele descobriu que a
humanidade era central.
Em sua teoria de ACP identificou três condições para que um relacionamento
pudesse se estabelecer de forma adequada, segura e potente: a primeira condição –
ser genuíno - nesse sentido, inclusive na relação terapêutica, quanto mais eu me
conhecer e me aceitar, mais genuíno posso ser nesse encontro e mais potente e
profundo será esse processo, e essa condição nos permitiria expressar e ser o que
há de mais essencial em cada um e, somente dessa maneira, o relacionamento
poderia ter realidade. Essa primeira condição nos aponta questionamentos atuais

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sobre como as relações humanas têm se estabelecido diante das novas formas de
interação e comunicação por meio da internet e das redes sociais.
A segunda condição que Rogers descreveu foi a aceitação incondicional, que
ele interpretou como legítima a existência de cada um, por si só e isto já seria o
suficiente para aceitá-la como ela é, isso significa respeito, desejando que cada
pessoa possa sentir a sua própria maneira, no entanto, aceitação não corresponde à
concordância da algum comportamento inadequado, mas há o entendimento de que
ser aceito como pessoa, independente de qualquer circunstância era algo que ele
percebeu importante numa relação de ajuda.
A terceira condição e tão significativa quanto as outras é a empatia, num
desejo contínuo de compreender o humano como ele é e que a raiz dessa
humanidade tem sua beleza, mas também na mesma proporção a barbárie. Para o
autor seria experimentar uma liberdade subjetiva potente, pois estaria livre do
julgamento moral e do aprisionamento da vida.
Rogers acreditava que estabelecer uma relação baseada nessas condições
poderia levar à pessoa ao crescimento e que cada indivíduo em si possui uma
capacidade de se refazer e se reconstruir, que ele chamou de tendência atualizante,
num sentido evolutivo para esse crescimento na direção da maturidade, à
autorrealização, por vez, esse posicionamento é central na psicoterapia. A hipótese
de Rogers era de que nessa relação o indivíduo teria capacidade o suficiente para
organizar sua personalidade, os conteúdos conscientes e inconscientes de maneiras
potentes, funcionais e autônomas, tornando-se uma pessoa congruente entre
pensamento e ação, o que na prática significa chegar mais próximo da sua essência
e estar nessa condição, literalmente, e viver uma vida plena.
Se na relação terapêutica existe essa capacidade do profissional ver o
indivíduo como uma pessoa no processo de torna-se ela mesma, provavelmente
será uma relação em que não haverá aprisionamentos de si. Em congruência com
esse pensamento, Martin Buber, filósofo existencialista da Universidade de
Jerusalém, usou a expressão “confirmar o outro”, aceitando todas as suas
potencialidades que podem se desenvolver e evoluir.
Em 1930, durante uma viagem à China, Rogers veio a conhecer a importância
de um self genuíno, autônomo na formação da personalidade e esse entendimento o

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levou a refletir sobre a incongruência e as características de pessoas em pleno


funcionamento, pois descobriu que níveis mais elevados de crescimento e
desenvolvimento pessoal, poderiam aguçar nossas experiências com a realidade no
mundo e na formação do self.
Ao viver experiências desde a infância, distorcidas da realidade, a criança
poderia se tornar uma forma alienada de seu verdadeiro self, ou seja, não ter
experiências de consideração positiva por parte dos outros, nos levaria à
incongruência entre o autoconceito e as experiências, influenciando negativamente
ou de forma distorcida a percepção sobre o nosso ambiente, tornando-se uma
experiência ameaçadora e manifestada como ansiedade e a maneira de se defender
desse estado, levaria ao fechamento de parte do nosso campo experiencial, gerando
tristeza, sentimento de menos valia.
As pessoas em pleno funcionamento para Rogers seriam aquelas
psicologicamente saudáveis, capazes de se perceber como elas realmente são e
perceber os outros, estão abertas as experiências, pois nada ameaça seu
autoconceito, sentem-se merecedoras das melhores experiências e vivências,
levando esse pensamento à “vida plena”. São pessoas intensas tanto nas vivências
de sentimentos considerados bons, como a ternura e a coragem, e também nos
sentimentos considerados negativos, como por exemplo, o medo e a dor, não há
defesas, há sentimentos a serem experimentados. Cada momento vivido é rico e
criativo de vivência que é protagonizada por cada ser pleno de si, são pessoas que
confiam no seu poder intuitivo, nas suas reações corporais, não são conduzidas
pelas opiniões dos outros, por um código social ou por julgamentos morais,
comporta-se com congruência em relação ao que considera correto, de certo modo
possuem um senso de liberdade para fazer suas escolhas sem restrições ou
inibições.
ATENÇÃO!
A realidade do ponto de vista rogeriano dispõe do entendimento de que ”[...] as
relações reais têm o caráter apaixonante de serem vitais e significativas [...] Toda
pessoa é uma ilha, no sentido muito concreto do termo; a pessoa só pode construir
uma ponte para comunicar com as outras ilhas se primeiramente se dispôs a ser ela
mesma e se lhe é permitido ser ela mesma [...]” (ROGERS, 1997, p. 20).

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A hipótese mais significativa da ACP na educação parte do princípio da


aprendizagem significativa3. Rogers no livro “Tornar-se pessoa” descreveu tanto a
abordagem significativa em psicoterapia, quanto na educação. Aprendizagens
funcionais provocam modificações no comportamento das pessoas e de suas ações,
esse processo de adaptação do campo da psicoterapia nesse processo ajuda a
despertar exemplos e ideias, como por exemplo, o enfrentamento de problemas, a
congruência, a consideração positiva incondicional, a compreensão empática. Todos
esses recursos fazem parte do processo de aprendizagem significativa.
Em termos de aplicabilidade no campo da educação, os recursos disponíveis
para além do processo terapêutico são os recursos práticos educacionais (livros,
mapas, materiais diversos, etc.) que devem ser apresentados à disposição do aluno
com o objetivo de estimular criativamente a tendência atualizante dentro de um
contexto funcional.
Existe em si uma natureza social para o processo criativo. Por que deveríamos
nos preocupar com isso? Pois seria a forma mais autêntica e criadora de enfrentar
os problemas reais da humanidade, estabelecendo novas formas de lidar com as
constantes e complexas mutações relacionais. Os resultados funcionais devem ser
novas construções advindas das qualidades inerentes de cada humano e a sua
interação com os materiais fornecidos pela experiência. A criatividade, portanto, tem
a marca do indivíduo sobre tudo que ele produz e a relação que estabelece com o
que produz e os seus materiais.
A causa principal da criatividade é uma tendência em nível profundo de
realização e de um vir a ser revelado de potencialidades. A natureza humana em si
já possui essa característica expansiva, de desenvolvimento e amadurecimento que
facilitam a ação da capacidade orgânica de evoluir como pessoa e como
pensamento humano.
A natureza criativa não deve ser discriminada, pois ela é potencialmente
construtiva para a criatividade e um ser aberto às experiências, possivelmente
utilizará a sua criatividade a favor da humanidade. O indivíduo aberto a todos os
aspectos da sua experiência e consciente de variedade de percepções e sensações

3
A aprendizagem significativa provoca um movimento na direção da mudança, seja de
comportamento futuro ou atitudinais e também na sua personalidade. É um processo profundamente
penetrante em todas as parcelas da existência da pessoa (ROGERS, 1997).

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das quais pode experimentar, provavelmente irá interagir com o seu ambiente de
forma construtiva, tanto para si, quanto para o outro.
Essas evidências encaminham-se da experiência psicoterápica em que Rogers
identificou que, quanto mais a pessoa estava aberta e expansiva, mais consciente
de si, da sua vida, de seus impulsos hostis e de todos os aspectos da sua vivência,
ele teria maior capacidade de agir com socialização, agindo com aceitação e
amizade, tomando consciência do que a sociedade espera dele e também de seus
anseios pessoais, tornando-se capaz tanto de entender seus desejos egoístas,
quanto de compreender com sensibilidade a reação do outro, comportamento este
integrativo, harmonioso e construtivo, inclinando a filogênese humana numa
experiência ontologicamente construtiva socialmente.
Analisar a teoria rogeriana na sua complexidade implica conhecer a pessoa
como um todo, seu funcionamento e o seu desenvolvimento, onde a doença ganha
novo significado, pois não é o foco da intervenção é apenas parte da existência ou
do devir da pessoa. Essa visão holística, em que corpo e mente não se separam,
significa reunir teoria e experiência, subjetividade e objetividade, numa visão
organísmica sistêmica, ultrapassando a concepção tradicional da medicina.
A totalidade organísmica assume uma experiência conjunta entre emoções,
sentimentos e pensamentos, elementos estes significativos na experiência corporal
e de saúde da pessoa. Rogers sobretudo baseou-se nos estudos de Kurt Goldstein,
dentro de uma visão de totalidade organísmica (BRANDÃO, 2002).
O processo de avaliação organísmica humana, têm suas fontes nas
experiências orgânicas, captadas possivelmente pelos sentidos. Esses processos
conduzem o organismo de acordo com as necessidades congruentes com a
tendência atualizante, mas à medida que sofre a influência educacional regulada
pelo meio cultural, ele se distancia da sua homeostase orgânica passando a sofrer
desequilíbrios dicotômicos entre corpo e mente, causando distúrbios fisiológicos e
psíquicos.
O self, ou seja, o conceito que a pessoa tem de si mesma, é central na teoria
rogeriana, pois corresponde um conjunto de percepções de si, na relação com o
outro e com o meio, valorando as percepções que ocorrem nessa interação. Esse
sistema está na gênese psicofísica da totalidade organísmica, sob a ação da

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tendência atualizante, que se encaixa no mesmo sistema, se configurando como um


fluxo contínuo no devir, correspondendo ao campo experiencial total da pessoa, com
os ciclos de vida, a pessoa vai se distanciando da evolução inicial da infância e
sendo conduzida muito mais pelos critérios e valores das pessoas e grupos sociais
significativos para ela.

Esta estrutura perceptual abarca, portanto, as características, as qualidades


e os defeitos, as capacidades e os limites que a pessoa acredita ter e que
fundamentam as suas atitudes consigo mesma, com os outros e com o
meio, formando a sua maneira de ser e atuar no mundo, ou seja,
direcionando o seu comportamento (BRANDÃO, 2002, p. 77).

Dentro dessa visão holística a doença se inter-relaciona com o corpo físico e as


atividades que nele influenciam diretamente, como a alimentação, hábitos de vida,
como também no contexto relacional, na sua visão de mundo diante da vida e de si
próprio, de modo que a cura está provavelmente interligada com o seu modo de
viver. A pessoa, portanto, deve ser seu próprio agente de mudança, partindo da sua
tomada de consciência e desalienação.
O processo de adoecimento será resultado organísmico para que a pessoa
perceba em si uma maneira de parar e prestar atenção à sintomática estabelecida,
sendo que a partir desse movimento que a pessoa pode desenvolver uma nova
forma de lidar com a sua vida. De certo modo, nesse sentido, a crise será sempre
evolutiva, tomada numa perspectiva de mudança e crescimento, ultrapassando
padrões e condicionamentos que até então poderiam estar conduzindo a pessoa ao
adoecimento. O processo de adoecimento seria então, regulatório.
O plantão psicológico é uma prática difundida principalmente no ambiente
hospitalar, em que uma urgência psicológica é demandada pela pessoa e avaliada a
cada plantão juntamente com o plantonista, é um fenômeno e uma metodologia de
escuta conduzida para uma ação, tem sua matriz, é clínico-investigativo e busca
esclarecer com a pessoa que sofre uma demanda, a tentativa de abrir possibilidades
para que ele resolva sua questão, despertando o seu próprio cuidado (MORATO,
2006).
O fazer clínico-investigativo do plantão psicológico resgata com o cliente
dimensões da sua condição humana, compreendendo-a como dimensão ontológica,
o fazer do plantonista está ancorado na linguagem, essa prática psicológica como

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ação humana é o cerne do vivido, ou seja, o cliente é provocado a agir em relação à


situação em que se encontra.
O caminho do aconselhamento psicológico garantiu a presença do psicólogo
em instituições hospitalares e educacionais, pois esse profissional cuidava do
sofrimento humano e as práticas do plantão psicológico e psicoeducativo foram se
configurando numa identidade profissional e intensificada pelas ideias de Carl
Rogers, conduzindo o plantão psicológico e a psicoterapia para o reconhecimento
da especificidade clínica e de uma metodologia científica.
No Brasil o marco dessa especificidade aconteceu através da criação do
Serviço de Aconselhamento Psicológico, do Departamento de Psicologia da
aprendizagem, do desenvolvimento e da personalidade do Instituto de Psicologia de
São Paulo (SAP-PSA-IP-USP). A área do aconselhamento psicológico foi se
tornando uma nova concepção na área clínica, em atendimentos institucionais, em
cursos universitários, em equipes interdisciplinares, na área social e democrática.
No ano de 1998 foi criado o laboratório de estudos e prática em psicologia
fenomenológica-existencial (LEFE), abrindo novas experiências tanto na prática do
aconselhamento clínico, quanto no plantão psicológico, de supervisão de apoio e
também de oficinas de criatividade, intervenções que foram praticadas nos campos
da saúde e da educação, explorando métodos de intervenções efetivas dentro dos
contextos histórico-sociais e psicológicos dessas áreas, inclusive do
estabelecimento de redes de apoio em saúde mental.
A prática do plantão psicoeducativo despontou na área da educação através de
Paulo Freire. As bases dessa modalidade de intervenção são do campo da
fenomenologia existencial, de uma proposta dialógica de encontro com o outro,
compreendidas de forma interacional e intersubjetiva entre a pessoa e o plantonista,
além de ser uma proposta de apoio docente para a tarefa de socialização e de
pesquisa de intervenção (SZYMANSKI, 2006).
As origens dessa modalidade de plantão na área da educação também estão
baseadas nas referências da Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers,
viabilizando um atendimento do tipo urgência ou emergencial. Tanto o plantão
clínico, quanto o educacional são de orientação rogeriana e seguem a premissa do
respeito à dignidade e emancipação humana.

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INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, Márcia Elena Soares; BEZERRA, Edson do nascimento. Aspectos
humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na
pessoa. Rev. NUFEN, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 21-36, dez. 2012. Disponível em
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912012000200004&lng=pt&nrm=iso . Acesso em 28 junh. 2020.
BRANDÃO, L.M. Psicologia Hospitalar: uma abordagem holística existencial. São
Paulo: Livro Pleno, 2002.
GOMES, W. B., HOLANDA, A. F., & GAUER, G. Psicologia Humanista no Brasil.
Museu Virtual da Psicologia no Brasil. Porto Alegre: MuseuPSI, 2004. Disponível em:
http://www.ufrgs.br/museupsi/brasilpsio.htm. Acesso em 04 julh. 2020.
MORATO, H.T.P. Pedido, queixa e demanda no Plantão Psicológico: querer poder
ou precisar? In: VI Simpósio Nacional de Práticas em Instituição – Psicologia e
Políticas Públicas. Vitória: UFES, 2006.
ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. 5ª ED. – São Paulo: Martins Fontes, 1997.
SHULTZ, D.P; SHULTZ, S.E. Teorias da Personalidade. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2004.
SZYMANSKI, H. Plantão Psicoeducativo: Algumas reflexões. In: VI Simpósio
Nacional de Práticas em Instituição – Psicologia e Políticas Públicas. Vitória: UFES,
2006.

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CAPÍTULO 3 - MODELOS TERAPÊUTICOS DA PSICOTERAPIA EXISTENCIAL

3.1 A ORIENTAÇÃO NÃO DIRETIVA NA EDUCAÇÃO, NO ACONSELHAMENTO


E NA PSICOTERAPIA

Em termos de técnicas psicoterápicas e aconselhamento psicopedagógico,


Rogers entendia a importância do insight para as reorganizações da personalidade e
do comportamento e das experiências congruentes na vida das pessoas. Toda
relação de ajuda nesse sentido é uma conversa direcionada para alguma
funcionalidade e pode assumir características de aconselhamento ou psicoterapia.
A principal estratégia que se define numa orientação não diretiva é de que o
foco central não é a doença, mas sim a pessoa. Como nesse sentido o problema se
encaixaria? A pessoa é muito mais do que o problema que ela possui para resolver
e seus recursos muito mais disponíveis do que ela poderia imaginar. O que seria
então uma relação de ajuda? É uma conversa estruturada estabelecida para
resolver um problema estabelecido numa interação mútua entre cliente e terapeuta.
A relação de ajuda pode assumir a forma do aconselhamento ou psicoterapia.
Na orientação não diretiva a pessoa descobre que a vida flui e que é
necessário utilizar estratégias criativas para viver com os recursos que ela possui e
que para direcionar esse sentido na vida é a pessoa se aceitar como ela é, e no
setting terapêutico o terapeuta precisa garantir ao seu ciente que haja uma
comunicação assertiva consigo mesmo, pois para Rogers, se há um desajuste na
sua própria comunicação, provavelmente, a comunicação com o outro também
estará prejudicada.
Para que haja esse ambiente de liberdade experiencial, o terapeuta deve
trabalhar com a permissividade, sem julgamentos ou avaliações e a congruência
entre experimentar ser-quem-se-é de fato, pode levar o cliente à aceitação de si e da
ação para a mudança.
O aconselhamento é uma forma de relação de ajuda baseada numa entrevista
estruturada, seguindo um método não diretivo, mas isso não significa ausência, pois
designa um pensamento sistematizado baseado na teoria da personalidade e da
psicoterapia em complementaridade e a espontaneidade do terapeuta irá lhe mostrar

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na práxis, as formas adequadas de mesclar a teoria e a prática criticamente e


assertivamente para o seu cliente.
Estabelecer uma relação não diretiva significa adotar uma postura ética-
profissional baseada na técnica, mas também na humanidade, ou seja,
estabelecendo uma consideração positiva incondicional com o cliente,
(compreensões empáticas congruentes e permissivas), ajudando o cliente a
experimentar uma liberdade experiencial, de modo que potencialize a tomada de
consciência da representatividade autêntica de suas experiências, da percepção de
si e do outro.
A terapia é diálogo e o aspecto não diretivo é protagonista na relação que se
estabelece por uma via de mão dupla, o terapeuta pode utilizar técnicas como a
reiteração (ou seja, repetir o que é dito pelo cliente), ou o silêncio, ou mesmo o
processo maiêutico, em que a pessoa por si só busca e alcança seus resultados,
então a condução é do cliente e não do terapeuta, também é possível realizar
atividades de informação ou estruturadas, seguindo o método não diretivo, essa
beleza do inusitado é que chega à profundidade no processo de autoconhecimento e
da mobilização inconsciente para futuros insights. A finalidade do processo é
estabelecer congruência entre as experiências organísmicas e a representação
adequada delas, na prática, quando coração, pensamento e ação estão batendo em
sintonia.
Praticar a possibilidade da liberdade experiencial no setting terapêutico
significa manter uma postura de consideração positiva com o cliente, pois se sentir
entendido por alguém de forma incondicional na sua vivência e experiência é uma
sensação libertadora e indescritível para um self que só tinha experimentado até
então, o lado opressivo e de julgamento que nunca o levou a uma experiência tão
profunda e significativa como é viver uma liberdade subjetiva e reestruturante da
personalidade, nesse sentido o terapeuta tem a função de catalisador, participando
também da compreensão empática.
A mudança no campo perceptivo do cliente muda a tradução do mundo
subjetivo e dá novas condições para o sentido e o significado de tudo que se viveu
na vida, é de fato algo extremamente desafiador, mas ao mesmo tempo, pode
mudar o rumo da construção da história de cada pessoa que vive esse tipo de

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encontro. O foco dessa atitude é na mudança de percepção diante de uma realidade


que é objetiva, mas que a certeza desse evento depende exclusivamente do
processo interno de desvelar o que é de si, o insight4, e essa tarefa é exclusiva do
cliente, do envolvimento de si no processo terapêutico e do seu quadro de
experiências, ou seja, suas percepções, sensações, lembranças, significados, etc.,
disponíveis num determinado momento para o cliente.
A autenticidade ou congruência para Rogers consiste no indivíduo ser
realmente o que se-é-em-profundidade, de forma inteira em consonância com as
suas partes, mas ele entende esse processo como um constante devir, que está em
construção, isso significa que não há como ignorar regras sociais ou normas
estabelecidas, mas que é necessário compreender de que forma cada um se afeta
com elas e que esse significado não as transformará em critérios de autoavaliação.

FIQUE ATENTO!
O trabalho em psicoterapia não diretiva indica respeito à pessoa através de uma
atitude de consideração positiva, acolhimento, aceitação, de amor incondicional, um
sentimento profundo e importante na natureza humana, partilhando uma relação
saudável, certificando de forma responsável a vida interior do outro, lembrando que
aceitar não é sinônimo de concordar.

Aceitar-se significa o primeiro passo na direção da mudança, pois negar e


condenar algo em si mesmo, significa que não há aceitação de sua natureza e que
não aceitar significa alienar-se de forma inerte nessa condição.

SAIBA MAIS:
Filme sobre o assunto: Adorável Professor – Mr. Holland (PolyGram, 1995)
Acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=LW9uJ0sGRH8>
Peça de teatro: Teatro del Oprimido (CelCIT TV, 2012)
Acesse o link: <https://www.youtube.com/watch?v=5_IV1vZnEYc>

4
‘Rogers diz que o termo – insight – serve para indicar certos tipos de aprendizagem, como a de
perceber novas relações de causa e efeito, apreender novo sentido nas manifestações do
comportamento, etc. Diz que é um processo difícil de ser explicado: apres enta-se mais por atos do
que por palavras e toca profundamente a pessoa, dando novo sentido às suas experiências’ (RUDIO,
1976, p. 39).

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos autorais. Nenhuma
parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou
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Observação: Sobre a temática, é importante que o aluno note a relevância do


assunto dentro da prática psicoterápica de grupo ou individual dentro da perspectiva
da orientação não-diretiva.

3.2 A PSICOLOGIA DA GESTALT-TERAPIA

No século XX, momento em que a psicologia se firmava como ciência na


Alemanha, surgia a escola da Gestalt, traduzida por alguns como teoria estrutural,
da forma ou da totalidade. Os psicólogos que mais se destacaram foram M.
Wetheimer (1880-1943); K. Koffka (1886-1941) e W. Kohler (1887-1967), utilizando o
método fenomenológico na descrição genuína dos fenômenos assim que aparecem
na consciência (FIGUEIREDO, 2004).
Os estudos em Gestalt evidenciaram que os fenômenos da afetividade, da
percepção, da memória, da cognição etc., eram vividos através do caráter estrutural
destes, relacionados entre as partes e a soma delas na totalidade. Essas conclusões
foram testadas de forma experimental e o conceito de Gestalt permitia para esses
estudiosos unificar as ciências físicas, biológicas e da cultura sob a ótica da
psicologia como ciência. Dois aspectos dessa abordagem são essenciais: 1. A
importância da experiência imediata e 2. A relação dessa experiência com a
natureza biológica, física e dos valores socioculturais.
Em 1912 Wertheimer fez experimentos em que pode observar a forma total e
contínua de um processo que ele chamou de gestalt cuja percepção das partes era
gestalten e o relacionamento entre essas partes também era a gestalt formadora.
Para o autor a Gestalt não se tratava só da consciência, mas também da fisiologia.

“[...] é por isso que Köhler o enxerga como um precursor do isomorfismo.


Mais tarde, quando Köhler vai construir as Gestalten físicas, baseado em
seu maior conhecimento da área, Wertheimer e Koffka simplesmente
reconhecem-no como mais um ponto da evolução da teoria comum aos três
(KÖHLER, 1920/1938a apud ENGELMANN, 2002, p. 2).

Köhler, em 1913 publicou o artigo intitulado “Das sensações não percebidas e


dos erros de julgamentos”, fez pesquisas experimentais e conseguiu deduzir
comportamentos genuínos de realização daqueles que eram realizados por imitação,
no entanto, sua maior descoberta foi a capacidade ativa de resolução de problemas

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que os animais tinham para chegar repentinamente ao desfecho, que ele chamou de
(“einsicht”, o insight) que é um processo amplamente resolutivo na psique humana,
de forma estrutural.
Em 1924, Koffka apresenta num artigo o conceito de introspecção por meio do
método analítico fenomenológico, dessa maneira, as gestalten são entendidas não
só como experiência, mas também como ação, portanto, os correlatos fisiológicos da
percepção e da ação, são eventos unificados, como Wertheimer também o
evidenciou.
Köhler estudou processos da física em consonância com a psicologia e
descobriu para além de uma teoria psicológica, uma teoria gestáltica ampla sobre o
universo, mas que foi rechaçada pelos teóricos da época, por considerarem um
pensamento errôneo. Continuou seus estudos identificando o isomorfismo
psiconeural,
As gestalten fenomenológicas da consciência estão a nível psicofísico, dentro
de uma estrutura topológica da forma, estabelecidas por relações do tipo dentro ou
fora, em contato com, à distância de, sempre referenciadas por algum ponto de
contato.
Dentro dos seus estudos sobre os sistemas físicos, Köhler, identificou a força
da gestalt, de grau interdependente entre as partes, através do isomorfismo
psiconeural, tanto se enquadram processos neurais, quanto fenomenológicos.
Os três teóricos precursores da Escola da Gestalt-terapia eram conhecidos por
meio da antiga Escola de Berlim, mas ela não era a única e antes veio a precursora
de todas as outras, a Escola de Graz ou qualidade gestáltica, na Áustria,
representada principalmente por Meinong, Benussi e Ehrenfels. Outra Escola foi a
Psicologia da totalidade, em Lepizig, representada por Krueger e Sander.
A teoria Geral da Gestalt além de ser demonstrada na psicologia e na física,
também foi na biologia, pelo estudioso Von Bertalanffy, na década de 1920.
Desde 1985 veio um renascimento das pesquisas em Gestalt no mundo e
mesmo com alguns pontos divergentes e outros convergentes com as teorias
centrais de base dessa abordagem, a ideia do isomorfismo psiconeural ainda é bem
atual. No Brasil, Nilton Campos e Annita Cabral foram representantes dessa escola.

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Numa visão filosófica sobre a gestalt, partimos de um sentido do homem no


mundo, reflexo de como se é, existindo. Essa reflexão é humanista, fenomenológica
e existencial, pois esses três sistemas compreendem uma reflexão filosófica que
estão nas origens da gestalt-terapia, no entanto, há que ampliar a discussão sobre
os princípios, conceitos e fundamentação que deram origem a essa escola.
Wertheimer, Koffka e Köhler se dedicaram aos estudos da aprendizagem, da
percepção e da resolução de problemas, e Kurt Lewin, na teoria de campo, e Kurt
Goldstein, na teoria holística, contribuíram cientificamente para a construção da
psicologia da Gestalt de Frederick Perls e da ampliação da Gestalt-terapia
(RIBEIRO, 1985).
Perls, trouxe os estudos de Wertheimer, Köhler e Koffka para o campo da
psicoterapia, ajudando o cliente a aprender solucionar problemas em níveis amplos
e existenciais, focando na função de todos, de inteiros, sem se perder em detalhes,
ajudando cada pessoa nesse processo a enxergar sua visão de mundo e de si por
meio da aprendizagem, da informação e dos resultados de insight, pois existe um
problema básico que é a relação entre o todo e as suas partes, no sentido estrutural
da personalidade, dentro de um campo perceptual entre figura e fundo 5.
Portanto, estar no aqui e agora significa experienciar o presente e, dessa
maneira, relacionar e compreender a realidade como um todo, inclusive dessa
relação com os aspectos do passado e das preocupações com o futuro, formando
uma história dentro de uma relação figura e fundo, do todo e das partes. É o
princípio da contemporaneidade, a-histórico, pois ele é agora.
A psicologia é uma ciência do comportamento que se dá na relação com o
outro, dentro de um contexto (meio geográfico) e de uma totalidade, em que o
campo total é o campo do cliente e o seu sentido e significado são únicos dentro do
fenômeno que é a totalidade, um campo psicofísico, que é o lócus do
comportamento.

5
Para compreender as leis de organização da Gestalt-terapia deve-se manter clareza sobre os
conceitos de figura-fundo, o fundo revela a figura e a figura está no todo, dentro desse todo também
se encontra o fundo (RIBEIRO, 1985).

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IMPORTANTE!
As diferenças entre as coisas que verdadeiramente são e as que parecem ser,
encontram-se entre o meio comportamental e o geográfico, a diferença entre a
aparência e a essência, uma realidade que é tanto objetiva, quanto subjetiva e
entender a relação entre essas diferenças é que constitui um belo problema a ser
resolvido.

A teoria de campo de Lewin está nas origens da gestalt-terapia e aponta


caminhos técnicos dentro da psicoterapia. Este campo é tecido por uma rede de
variações de forças e pontos de contato e a percepção total desse campo, depende
da configuração dessa rede. As ações comportamentais são vistas como um todo,
da qual dependem partes diferenciadas.
A pessoa para Lewin está representada dentro de um círculo fechado, o que
está dentro dele é a pessoa (P), o que está fora é não-pessoa (não-P). É uma teoria
estrutural que diferencia o meio psicológico do não psicológico (mundo físico e/ou
fatos sociais). O espaço vital é mais complexo que o conceito de meio psicológico,
pois é onde o comportamento se evidencia (seria a soma das partes do campo
geográfico com o comportamental (RIBEIRO, 1985).
Kurt Goldstein desenvolveu a teoria organísmica, ele era um estudioso da
neurologia e dizia que o organismo é uma unidade e as partes afetam o todo. Em
relação à pessoa, o autor afirmou que é integrada e a sua organização é natural ao
organismo e a desorganização é patológica; o todo é diferenciado pelas suas partes;
o homem possui uma natureza de impulso autorregulatório, pela qual é
permanentemente motivado; o homem dispõe de um recurso inato de
potencialidades que regula seu crescimento, bem como recebe externamente
influências positivas que também o ajudam nesse desenvolvimento; a percepção e a
aprendizagem ajudam na compreensão do todo organísmico; acredita que uma
compreensão empática da pessoa é mais potente.
Toda prática clínica revela uma importância necessária a concepções de
homem e de mundo, pois todas estão intimamente ligadas à metodologia, recursos e
técnicas e em objetivos terapêuticos. A visão gestáltica de concepções de homem e

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de mundo são holísticas e de totalidade, o universo organiza-se num infinito número


de possibilidades em partes totais que se relacionam com a totalidade em si.
O ser humano visto pela Gestalt-terapia é um ser relacional que se desenvolve
desde as experiências do nascimento até o fim de sua vida, diferenciando-se,
transformando-se e desenvolvendo-se como um ser único. Esse pensamento é
processual e possui uma perspectiva existencial de movimento, de estar-sendo-no-
mundo.
Esse ser no mundo é processual, relacional e global, pois é atravessado por
uma complexa rede de elementos do campo, no qual ele faz parte e os seus afetos
em relação ao outro e a si mesmo. Organismo e meio se mantêm numa relação
dialética de reciprocidade, cada qual sendo ativo no seu campo relacional.
A questão do desenvolvimento humano na gestalt-terapia está bem atrelada ao
presente, independente do ciclo de vida na qual cada ser humano se encontra, isso
significa que a abordagem gestáltica faz uma crítica às teorias do desenvolvimento,
pois estas, de certo modo, fragmentam uma única dimensão do ser, sendo o
contexto psicossexual, as etapas cognitivas e intelectuais, ou ainda a aprendizagem
social, portanto, como a teoria da Gestalt analisa a totalidade, ela por si só já seria
uma abordagem do desenvolvimento humano dentro do aspecto cultural, sem
reduzir um comportamento dentro de uma etapa específica (AGUIAR, 2005).
Essa redefinição da questão do desenvolvimento humano dentro da teoria da
gestalt vai para além da temporalidade no desenvolvimento, resgatando o caráter de
uma pessoa global, sócio-histórica e cultural. Esse pensamento repercute também
na forma de descrever a concepção da infância no mundo, essa compreensão
entende o desenvolvimento em processos ativos, singulares, biológicos e sociais em
constante interação, dialogicamente entre todos os elementos do campo.
A família é vista como uma totalidade autorregulada e relacional, ou seja, os
membros da família se influenciam mutuamente. O grupo familiar deve ser entendido
também como a pessoa, em um desenvolvimento contínuo, reagindo e respondendo
às expectativas e necessidades de cada um na busca por um equilíbrio para a
dinâmica familiar.
Partindo do ponto de vista contextual da família, é parte de outras totalidades
maiores e, assim como cada pessoa encontra-se atravessada por múltiplos fatores

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dos contextos sócio-históricos e culturais, que entre equilíbrio e desequilíbrio


funcionam de acordo com os eventos, demando reconfigurações ou não. Exemplos
dessa dinâmica familiar são os diversos modelos de família que se configuram na
sociedade contemporânea.
O ajustamento criativo ou não depende basicamente das funções de contato
que estabelecemos com o mundo e das percepções que fazemos delas,
organizando sentimentos, sentidos e significados. O processo de autorregulação vai
se configurando conforme estabelecemos prioridades e assuntos prioritários.
Os mecanismos de evitação de contato mantém o desajuste e são observados
por padrões cristalizados e insatisfatórios de ação humana no mundo,
interrompendo o curso saudável da satisfação de necessidades. O diagnóstico
dentro dessa abordagem clínica tem perspectiva própria e criativa, nesse sentido,
quando o cliente procura a psicoterapia, sabe-se que é um momento que não está
fluindo e encontra-se cristalizada em algum padrão insatisfatório, sua atividade
organísmica encontra-se prejudicada, pois ele possui pouca awareness, ou seja, a
consciência de si, perceptiva, a tomada de consciência no presente, um conjunto de
percepção e atenção sob os aspectos corporais, pessoais, ambientais, etc.
(AGUIAR, 2005).
Para o desenvolvimento satisfatório do processo terapêutico deve-se escolher
a técnica que seja facilitadora para a pessoa que dela está necessitando e que o
psicoterapeuta consiga atingir todo o seu potencial.

A afinação do psicoterapeuta com as técnicas utilizadas é fundamental uma


vez que para manter-se na relação terapêutica dentro dos princípios básicos
de aceitação, respeito, permissividade, presença e inclusão, é preciso que
ele sinta-se à vontade com aquilo que está fazendo e propondo, para que
suas intervenções possam emergir da totalidade da relação e do campo no
momento presente e não se apresentem de forma artificial e destacada do
processo mais amplo da [pessoa] (AGUIAR, 2005, p. 238).

Independente do atendimento, seja ele individual ou familiar, existem questões


estreitamente atravessadas no campo relacional e familiar. Todas as pessoas
encontram-se num determinado contexto, a manutenção ou remissão sintomática
deve ser avaliada dentro dessa amplitude de contexto tanto familiar, quanto
institucional, que cada pessoa se encontra vinculada.

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3.3 PSICOLOGIA CONTEMPORÂNEA E MODELOS TERAPÊUTICOS: VIKTOR


FRANKL - LOGOTERAPIA

A logotetapia é uma escola da psicologia fundada pelo psiquiatra e professor


de medicina na Universidade de Viena, Viktor Emil Frankl (1905-1997), que
desenvolveu sua teoria para suplementar os pensamentos de Adler e Freud, suas
experiências foram influenciadas pelas vivências como prisioneiro no campo de
concentração em Auschwitz, na Alemanha nazista. Destacam-se também nas
influências do pensamento da logoterapia, as leituras que Frankl fez dos textos de
Max Scheler, representante da fenomenologia. As experiências vividas nos campos
de concentração ajudaram a logoterapia a assumir a importância de encontrar um
significado para o próprio sofrimento psicológico. Uma forma de ajudar a descobrir o
sentido daquela experiência, partindo de concepções atitudinais sobre o problema.
Essas perguntas são centrais desse ponto de vista: “O que é que eu posso fazer
com esta situação? Em que é que esta situação me desafia?” (MASSIMI, 2004;
TEIXEIRA, 2006).
No Brasil, a logoterapia começou a se evidenciar em 1980. Em 1984 Frankl
veio participar de um evento na área na PUCRS, nessa oportunidade foi organizada
a Sociedade Brasileira de Logoterapia (SOBRAL). O primeiro curso de
especialização na área também foi criado na PUCRS.
A classificação dessa abordagem se inclui na categoria da psiquiatria
existencial ou da psicologia humanista e apresenta três princípios teóricos
fundamentais: liberdade da vontade; o sentido da vida e a vontade do sentido. Nota-
se que na atualidade essas questões tornam-se relevantes, pois a falta de sentido
pela vida, a desumanização e a despersonalização são fenômenos da dimensão
humana presentes na sociedade moderna, conduziria a uma frustração existencial
que levaria a gênese de uma neurose, que para ele é noogênica.
É a partir dessa tríade conceitual que se desenvolvem os outros conceitos. A
concepção de ser humano está bem atrelada ao desenvolvimento dessa tríade. O
entendimento sobre o ser humano é de totalidade, de uma unidade relacionada com
a pluralidade. E essa concepção é noética ou espiritual, pois envolve a totalidade

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psíquica, corpórea e espiritual. É uma dimensão própria dos fenômenos


intrinsicamente humanos (SANTOS, 2016).
Para a logoterapia, os recursos de autotranscedência e do autodistanciamento
(mecanismo de defesa), são capacidades que a pessoa possui, ambos os recursos
são importantes na diagnose, na terapia e na técnica de intenção paradoxal. Em
1949, Frankl introduziu esse conceito da transcendência do eu na direção do outro.
Ele compreende esse fato de modo antropológico (referenciado na experiência com
o outro ou para um sentido a realizar, para outro ser humano encontrar, por uma
causa a se consagrar ou por um amor a viver). Essa autenticidade de si como
homem só poderia ser vivida por meio desta autotranscedência da existência
humana. As manifestações desse recurso seriam a consciência e o amor.
O amor partindo dessa concepção seria enxergar o outro como ele é, captando
a pessoa na sua intimidade, somente assim existe a possibilidade de captar o outro
na sua essência, viver algo dessa natureza seria para Frankl um mar de
possibilidades dentro do leque de potencialidades humanas. Ele também falou sobre
o autodistanciamento e a autocompreensão, que estão intimamente ligados ao
sentimento do amor, o primeiro é entendido como a capacidade humana de se
distanciar de si com o objetivo de superar condicionamentos presentes, cheios de
hostilidade e condição sub-humana de suportar, como no caso dos campos de
concentração, e o segundo concatenado com o primeiro, à medida que permite à
pessoa a compreensão de que a condição adversa, na qual ela encontra-se inserida,
causa nela impulsos agressivos, numa dimensão psicofísica, mas mesmo assim, ela
pode escolher agir por meio da dimensão noética.
A liberdade para Frankl tem uma relação com o pandeterminismo, no sentido
de que essa liberdade acontece mediante um posicionamento diante do contexto
real que a pessoa vive. Para o autor, a liberdade estaria interligada a
responsabilidade social, pois são dois elementos constitutivos da dimensão noética.
A responsabilidade pelas escolhas é o próprio protagonismo que a pessoa deve
assumir em relação a sua vida e, conjuntamente, com a liberdade e a consciência
formam a tríade da existência humana, do núcleo noético da pessoa (SANTOS,
2016).

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O fenômeno do sentido da vida transcende as necessidades básicas humanas,


tanto o conformismo – fazer o que todo mundo faz – quanto o totalitarismo – fazer o
que os outros querem que ele faça, contribuem para o vazio existencial. Essa
condição por si não é patológica, não necessariamente a pessoa precisa estar
doente para ter sentimentos de falta de sentido na vida, pois a luta pela
sobrevivência é um constante devir.
Na sociedade atual existe um grande número de pessoas que possuem
recursos para sobreviver, mas não de um sentido pelo qual valha a pena viver e o
desejo de morrer nesses casos tem se evidenciado como uma espécie de “crise de
vazio existencial”, ou seja, a nível ontogenético existe um sentido paralelo sobre o
estado das coisas, em detrimento do nível filogenético, considerando que muitos
grupos satisfeitos com as suas conquistas, num nível de excelência e desempenho
adequado, de uma vida de sucesso superficialmente feliz, queixavam-se de um
profundo senso de inutilidade, de futilidades, se perguntando sobre qual o
significado do êxito obtido, basicamente é uma queixa relacionada a uma crise do
sentido existencial.
Nesse sentido a neurose noogênica, embora não tenha por si só uma ligação
direta com a patologia, é potencialmente patogênica, inclusive da pessoa achar que
é melhor morrer do que viver, de pensar em tirar a própria vida (ideação suicida).
A vontade de sentido nada mais é do que um esforço básico humano por
encontrar um sentido ou um propósito na vida e contrapõem-se à vontade de poder
descrita por Adler e à vontade de prazer defendida por Freud, pois esses dois
sentidos concatenam com a homeostase e Frankl defende a ideia de que há
necessidade de tensões que habilitam a noodinâmica, que mantêm o indivíduo em
movimento e crescimento.
Para a logoterapia a vontade de prazer e poder derivam da vontade de sentido.
De certo modo, o poder é um meio para se alcançar um sentido para a vida, mas a
felicidade, a autorrealização seriam uma consequência para esse fim, ou seja, um
efeito colateral da autotranscedência, o que nos leva a entender o quanto o amor e a
presença do outro são importantes para se alcançar um sentido para a vida.
A logoterapia não desconsidera os fatores psicogênicos, biológicos,
patogênicos, psicodinâmicos, psicológicos, sociogênicas, apenas inclui nos seus

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estudos a dimensão dos fenômenos noogênicos, ou seja, derivados de um


sentimento de falta de sentido para a vida. Na atual sociedade várias necessidades
e satisfações são contempladas pelas relações virtuais, exceto a necessidade de um
sentido para a vida, humanamente plausível em assuntos que são invisíveis à
materialidade do ter. A toxicodependência, a agressão e a depressão fazem parte da
neurose de massa, sintomas de um vazio existencial, embora haja outros manifestos
ou mesmo latentes (FRANKL, 2005).
O vácuo existencial pode vir mascarado de uma vontade primitiva de poder, por
exemplo, bem visíveis como problemas da contemporaneidade, que citamos no
parágrafo anterior, além do consumismo, etc.
A neurose coletiva está ligada a modos de viver e se posicionar na vida como:
uma atitude fatalista, que direciona a vida para construção cognitiva; uma atitude
existencial provisória, vive de impulsos, pois não sabe o que será do amanhã; uma
atitude coletivista, pois atribui a responsabilidade às massas e nesse sentido o
indivíduo é um nada dentro da multidão; uma atitude fanática pois não aceita a
pluralidade das ideias.
A neurose dominical está associada ao sentido central que a pessoa dá a sua
vida, no campo do trabalho, a ausência dele poderia levar a uma falta de sentido que
está associada à negligência em outros campos da vida.
A neurose do desemprego seria uma espécie de neurose dominical
permanente, no entanto, para todas essas questões há possibilidades de se refazer
o sentido da vida.
Tratamos até agora dos aspectos teórico-motivacionais da logoterapia,
partimos então, para o significado da terapêutica dessa abordagem. A experiência
terapêutica da pessoa é uma descoberta pessoal, tanto de suas potencialidades,
quanto do seu sofrimento, pois reconhecer o sentido do seu sofrimento é mudar para
melhor, transformando esse sentimento em conquista humana, este é o homo
patiens6.
As técnicas psicoterápicas de intervenção utilizadas pela logoterapia são:
Apelo, Diálogo Socrático, Fast-forwarding, Intervenção paradoxal e de-reflexão. A
primeira é uma intervenção diretiva, que visa ajudar o cliente a dar um novo

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Uma vida expansiva exercita-nos ao potencial criativo humano.

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significado para a sua vida e de mudar a atitude em relação ao seu sofrimento. O


diálogo socrático ajuda o cliente a tomar consciência de suas ações pré-reflexivas,
das suas esperanças reprimidas e dos sentimentos que negava ou do conhecimento
não admitido sobre alguma questão em sua vida. A terceira é uma técnica que
encoraja o cliente a perceber os cenários vividos de acordo com as escolhas
pessoais e questionar-se sobre os rumos e consequências de tais escolhas
(TEIXEIRA, 2006).
A intervenção paradoxal foi utilizada por Frankl desde 1929, incorporada como
uma metodologia eficaz em casos de condições obsessivo-compulsivas e fóbicas.
Uma terapia breve. A ansiedade antecipatória seria um bom mecanismo para
compreender como esse método funciona. É um círculo vicioso retroalimentado pela
recorrência do sintoma que reforça a fobia, esse sintoma evoca a fobia e essa,
consequentemente, provoca o sintoma. O cliente seria encorajado a viver aquilo que
tem medo.
A de-reflexão parte do pressuposto de que um indivíduo com pensamentos
perturbadores vive centrado na sua própria doença e em suas experiências
relacionadas à neurose. Essa técnica consiste em encorajar o cliente a ignorar seus
sintomas e voltar-se para às experiências do ambiente externo.
O modelo fóbico é o primeiro dos três comportamentos patogênicos descritos
pela logoterapia, ou seja, a fuga do medo como uma reação ao medo do medo, um
comportamento de evitação que aumenta o medo. O segundo modelo é o
obsessivo-compulsivo: ele tem medo de si mesmo, luta contra suas obsessões e
compulsões, de certo modo, a pressão causa uma contrapressão, que aumenta a
pressão, fechando um círculo vicioso. A intenção paradoxal torna o processo uma
superação do medo ou do comportamento inadequado, o paciente é encorajado a
fazer ou desejar que aconteça precisamente as coisas que têm medo, sem
interrupções, ele é exposto ao seu temor, convocando as consequências do seu
comportamento temido, sem fugir da situação.
O terceiro modelo é o sexual neurótico, ele está a favor do prazer sexual, ou
seja, quanto mais ele busca pelo prazer, mais ele o perde. Os dois fenômenos de
hiperintenção e hiper-reflexão se estabelecem num mecanismo de feedback e a

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técnica da derreflexão ajuda o paciente a esquecer-se de si e compreender todo o


processo de encontro com o outro.

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, L. Gestalt-terapia com crianças teoria e prática. Editora: Livro Pleno, 2005.
ENGELMANN, A. A. A Psicologia da Gestalt e a Ciência Empírica Contemporânea.
In: Psicologia: Teoria e Pesquisa. Vol. 18 n.1, jan-abr 2002, pp. 001-016. Disponível
em: https://www.scielo.br/pdf/ptp/v18n1/a02v18n1.pdf . Acesso: 13.07.2020.
FIGUEIREDO, L.C.M. Psicologia, uma (nova) introdução; uma visão histórica da
psicologia como ciência. 2. Ed. São Paulo: EDUC, 2004.
FRANKL, V.E. Um sentido para a vida: psicoterapia e humanismo. Aparecida-SP:
Ideias & Letras, 2005.
MASSIMI, M. História da Psicologia no Brasil do Século XX. São Paulo: - EPU, 2004.
RIBEIRO, J.P. Gestalt-terapia: refazendo um caminho. – São Paulo: Summus, 1985.
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