Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
COMISSÃO JULGADORA
Prof
_____________________________
Prof
_____________________________
Prof
_____________________________
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS..................................................................1
INTRODUÇÃO.................................................................................
.........2
AGRADECIMENTOS
Joan Osborn
Agradeço a meus pais pelo grande incentivo aos estudos e a todos os meus
amigos que, diretamente ou não, me ajudaram neste trabalho, em especial:
Alessandro Melo de Andrade, Elaine Aranha Amorim, Esmaura R. Tassi, Fábio Oliva
Sobral, Maria Clara Santos, Paula Érica Tassi, Regiane Fernandes de Sousa e Sueli
dos Santos..
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
paciente passa a reagir com uma estratégia oblíqua à sua vitimização e à sua
exclusão. Seu tratamento seria o de não rotular o paciente. Tratá-lo como um
indivíduo com direitos e deveres e respeitar suas vontades.
1 WERNICKE apud JACCARD, Roland. A loucura. São Paulo, Editora Zahar, 1981. pág. 54
2 GRANDINO, Adilson e NOGUEIRA, Durval. Conceito de Psiquiatria. São Paulo. Ed. Ática. 1985, pág. 42
paralisia geral progressiva, resultante da doença orgânica sífilis (doença
venérea marcada pela vergonha e por muito tempo considerada incurável).
Partindo-se daí deduziu-se que todas as doenças mentais haveriam de ter
sua causa orgânica (como o que aconteceu com a paralisia geral
progressiva).
A partir disso surgiram vários estudos neuroanatofisiológicos das
doenças mentais e, a fim de ordenar o caos existente na atividade
psiquiátrica até então, entre 1856 e 1926, o alemão E.Kraepelin desenvolveu
o conceito de unidade nosológica, isto é, um critério de classificação das
patologias mentais que tivessem causas comuns, sintomas semelhantes,
processo de desenvolvimento igual aos demais e achados
anatomopatológicos concordantes.
Após esta sistematização nosológica de Kraepelin, diversos autores
contribuíram para a classificação das doenças mentais, mostrando assim não
só o lado bom do desenvolvimento da Psiquiatria, como também seu lado
obscuro e pouco percebido por muitos. Alguns desses autores, numa
obsessão classificatória e pessoal, multiplicavam o número de tipos e
subtipos das patologias já conhecidas. Segundo a Revista da Folha de São
Paulo, hoje em dia, no Diagnostic And Statistical Manual of Mental Disorders
existem mais de 300 distúrbios mentais registrados e, além disso, psiquiatras
norte-americanos estão discutindo a inclusão de mais de 50 novos tipos
neste manual.
Um dos maiores críticos do manual de psiquiatria da atualidade é o
sociólogo Stuart Kirk, professor da Universidade da Califórnia. Ele diz que
muitos destes distúrbios são comportamentos que sempre existiram na
sociedade e que seriam considerados normais não fosse o interesse de
alguns psiquiatras e da indústria farmacêutica em medicalizar o maior número
possível de atitudes que fogem ligeiramente do padrão.
É interessante ressaltar que a visão organicista na Psiquiatria sobre a
doença mental não é, segundo Christian Delacampagne em seu ensaio
Figures de l'oppression 3 uma ideologia qualquer, nem um pólo - entre outros -
da pesquisa psicopatológica: ela é o pólo fundamental e a ideologia de base,
aquela a que a Psiquiatria sempre recorre. Além disso, ela ainda mantém a
3 DELACAMPAGNE, Christian apud JACCARD, Roland. A loucura. São Paulo, Editora Zahar, 1981. pág.55
ficção de que um dia será conhecida toda a química das psicoses. Com base
nisto, Manuel de Diéquez 4 ressalta exatamente aquilo que a razão européia e
a Psiquiatria nela fundamentada têm absoluta necessidade: que a verdadeira
fonte da doença mental seja de ordem psicoquímica.
Apesar de o assunto ser Psiquiatria, apresenta-se uma das citações
que Thomas Szasz, um dos maiores críticos da visão psicoquímica da doença
mental, colocou com sua forma sempre irônica de escrever:
Quem acredita ser Jesus, ou quem acredita ter descoberto um remédio contra o
câncer (sem ser esse o caso), ou quem se acredita perseguido pelos comunistas
(sem ser esse o caso), terá suas convicções, provavelmente, interpretadas como
sintomas de esquizofrenia. Mas, quem acreditar serem os judeus o povo eleito, ou
ser Jesus o filho de Deus, ou ser o comunismo a única forma de governo científica
e moralmente justa, terá suas convicções interpretadas como o produto daquilo
que é: judeu, cristão, comunista. É por isso que acredito que só descobriremos as
causas químicas da esquizofrenia quando descobrirmos as causas químicas do
judaísmo, do cristianismo e do comunismo. Nem antes e nem depois. 5
4 DIÉQUEZ, Manuel de. apud JACCARD, Roland. A loucura. São Paulo, Editora Zahar, 1981. pág. 55
5 SZASZ, Thomas apud JACCARD, Roland. A loucura. São Paulo, Editora Zahar, 1981. pág. 56
CAPÍTULO III
a dois.
Para ficar mais fácil o entendimento, é fácil verificar o poder dentro
das relações humanas no nosso cotidiano (a política das relações). Um
exemplo clássico em nossa sociedade é o poder que o pai tem sobre o
restante da família. Se for perguntado a você, que está lendo esta monografia
quem é o chefe da família em sua casa provavelmente você irá responder
que é (ou foi) seu pai. É um fator cultural e bastante provável em nosso
sistema o pai ser considerado o chefe da família, o indivíduo dentro do grupo
familiar que tem o poder sobre os outros.
sempre políticas e na família isto não poderia ser diferente, mesmo porque
por aqueles que sustenta (economicamente) o grupo e que, numa visão mais
8 PRADO, Danda. O que é família. São Paulo: Brasiliense, 1981 (Primeiros Passos, 50).
ampla, tem o poder de dirigir o destino dos demais membros (mais especificamente
dos filhos) educando-os segundo regras por ele prescritas e indicando-lhes o
caminho a seguir.
Esse tipo de poder na família pode adquirir (e quase sempre adquire)
um caráter impositivo e ditatorial, onde determinados valores são impostos
aos dependentes (os mais fracos). Sendo assim, o chefe ou os chefes da
família decidem quase tudo sozinhos como por exemplo: desde o decote do
vestido da filha, a que horas ela deve voltar quando sair e até mesmo quais
são as companhias mais adequadas para ela. Em outras palavras, procura-se
numa forma totalitária, formar indivíduos através da imposição dos mínimos
detalhes e valores, que devem reger o comportamento dos membros do
grupo.
Muitas vezes a imposição destes valores pode ser fortemente rígida e
autoritária negando assim qualquer traço de autonomia e individualidade dos
demais membros. Isto significa que, de certa forma, os filhos devem se tornar
um produto dos desejos dos pais, seguindo-lhes rigidamente as prescrições e
evitando quaisquer atitudes que fujam dos padrões por eles estabelecidos;
impedindo assim seu crescimento enquanto uma entidade autônoma, capaz
de se escolher e escolher os seus próprios caminhos e valores, passando a
ser quem os outros querem que eles sejam.
Ronald Laing passou a chamar essa condição de sistema de falso eu
na qual o indivíduo irá assumir determinadas maneiras de ser que estão em
concordância com aquilo que esperam dele, afastando de si outras
possibilidades que possam surgir de seus reais desejos.
Tendo em vista que o sistema familiar, nesse caso (e na maioria dos
casos), é rígido e repressor, punindo os desvios de seus membros, o
indivíduo passa a assumir-se como um personagem criado pelos outros. Para
ser um bom filho e não sofrer a repressão ele passa a se comportar segundo
9 Entende-se por instituição um agrupamento humano no qual as pessoas são colocadas em determinadas
posições (ou em determinados papéis) que transcendem a sua intencionalidade individual.
10 COOPER, David. A morte da Família. São Paulo, Editora Marins Fontes, 2º ed., 1986, pág. 26
quando Wilhelm Reich disse que “a família espelha e reproduz o Estado ” –
em todos os sentidos - é fácil observar que a submissão acompanha o
indivíduo em toda a sua vida, passando ainda por sua vida profissional e indo
até mesmo na sua simples ação como cidadão (na qual o Estado é que passa
a decidir por ele).
A situação de dependência familiar é hoje tão extremada entre nós
que os pais não toleram que o indivíduo possa escolher não ser mais
dependente deles. No geral, isto é interpretado pela família como uma
espécie de ato de rebeldia, como uma negação da, como eles próprios dizem,
felicidade que reina neste lar. Se um filho resolve sair de casa e assumir sua
vida própria os pais podem dizer: como você pode fazer isso conosco?
Mostrando assim seu egoísmo; ou melhor dizendo, para eles não interessa se
a atitude de sair de casa será ou não boa para o filho, o que interessa
realmente é que essa saída não será boa para eles.
David Cooper então passa a insistir na questão do amor. Segundo ele,
o amor dentro da família nuclear burguesa vem sendo vivido e entendido
como dependência e submissão e não como a capacidade para compreender,
exaltar e estimular a liberdade e individualidade do outro. Amar o filho deveria
ser entendido como um estímulo para que ele se torne uma personalidade
independente, e não como uma relação de posse, em que eu possuo o
controle sobre sua vida.
Para se compreender melhor o conflito entre os papéis e valores
impostos aos filhos podemos notar que, o mesmo conflito parte de uma
situação ambígua, ou mesmo de uma ambivalência de sentimentos. Se de um
lado a política familiar impõe determinada forma de ser que não é desejada,
por outro lado ela fornece coisas boas como - por exemplo - um lar, dinheiro,
proteção e amor. Mas, se não se comportar direito como se é esperado, o
indivíduo então perderá o seu amor e proteção, tornando-se assim um mau
filho. Por outro lado, se o indivíduo se mantiver dentro dos limites que lhe
foram impostos, deixará de vivenciar e experienciar seus desejos, não se
realizando como pessoa. Sendo este o núcleo do conflito.
Para o indivíduo que experiencia tudo isso, não é tudo tão simples
assim. Ele se encontra muito confuso internamente, não sabendo mais
REICH, Willhian apud FREIRE, Roberto. Soma – uma terapia anarquista. São Paulo, Ed.Sol e Chuva, 1993,
pág 36
distinguir com clareza o que ele realmente acredita e aquilo que os outros
querem que ele acredite.
Esta situação de ambivalência, na maioria das vezes, está ligada a
uma coisa chamada de sentimento de culpa; e que é o principal meio de
controle familiar. É através de sua implantação no indivíduo que se consegue
conduzi-lo a uma forma de introjetar os papéis e comportamentos prescritos.
É mostrado ao indivíduo que se ele não seguir as normas da dinâmica
familiar estipulada ele poderá desestruturar o restante da família. Alguns
exemplos clássicos quanto a isso são algumas das afirmações mais comuns
que visam justamente a implantação da culpa:
- Se você não se casar com esta moça eu sofrerei o resto da vida;
- Se você for morar sozinho seremos vistos por todos como uma família
desagregada, sem harmonia;
- Você não tem o direito de nos fazer sofrer se metendo nestes movimentos
estudantis, onde poderá ser preso.
Ou mesmo um exemplo mais trágico:
- Meu coração não irá agüentar; se você for estudar nesta cidade tão
distante, sofrerei um enfarte.
Provavelmente você já deve ter ouvido algo semelhante, mais
conhecido como chantagem emocional e que, como toda chantagem
emocional, visa o controle através da culpabilização do indivíduo.
Portanto podemos concluir que, essa é a política da família: ambígua
e, na maioria das vezes, contraditória.
Foram nestas contradições e ambigüidades que Laing e Cooper, para
chegar na maioria das críticas que resultaram na antipsiquiatria e que vimos
até agora, partiram de um estudo muito mais profundo e antigo denominado
teoria do duplo vínculo. Neste estudo, direcionado especificamente sobre a
abordagem sistêmica da doença mental (especificado no primeiro capítulo),
demonstrava-se que na família do indivíduo rotulado como esquizofrênico era
freqüente o envio de mensagens dúbias e de atitudes ambíguas. Estudando a
pragmática da comunicação humana dentro destas famílias, perceberam que
os pais geralmente dirigiam a seus filhos determinadas mensagens com um
duplo sentido, isto é, com sentidos opostos entre si. Estas mensagens, dentro
da situação de submissão e dependência e entre outros fatores que vimos até
agora, resultariam ao longo do tempo no falso eu descrito por Laing, num
indivíduo esquizofrenizado que cada vez mais se perde na sua própria
personalidade (personalidade esta que não existe).
Tendo então a psiquiatria com sua visão organicista da doença mental
e a antipsiquiatria indo contra essa visão entre outros fatores que vão contra
a psiquiatria de uma forma em geral, chegou-se à conclusão que o duplo
vínculo seria então um dos meios utilizados pela família, mesmo sem
perceberem, que facilitaria o controle dos filhos (ou de seus membros) e que
numa situação mais crítica e, recebendo constantemente esse tipo de vínculo
duplo, resultaria então na esquizofrenização de um de seus membros. Em
outras palavras, poderíamos dizer então que a origem da esquizofrenia se
daria através de um erro na comunicação existente no interior da família; não
deixando um de seus membros exercer sua individualidade, fazendo-o
assumir assim seu falso eu.
O duplo vínculo então passou a ser a descoberta revolucionária mais
importante para a antipsiquiatria no que se refere a teorias sobre a origem da
esquizofrenia, a origem da mais importante e misteriosa doença mental.
CAPÍTULO VI
11 FREIRE, Roberto e MATA, João da. Soma – Uma terapia anarquista. São Paulo, Ed. Sol e Chuva, 1993,
pág 36
6.1. A Comunicação Humana – Um pouco de sua teoria
14 FREIRE, Roberto e MATA, João da. Soma – Uma terapia anarquista. São Paulo, Vol.3, 2º ed. Sol e Chuva.
1993, pág. 34
abdicar de seu desejo de liberdade e autonomia. Nesse caso foram
utilizados dois canais de comunicação (a fala e a expressão facial)
na mensagem duplo-vinculadora. Mas a mãe poderia ter utilizado
também (em outro exemplo) apenas um canal de comunicação:
“Seu pai vai entender também, como eu, o fato de você não querer
mais morar conosco, mas fale com cuidado, você sabe, ele já teve
um infarto, ele gosta demais de você...” 15 .
De uma maneira ou de outra, a criança que foi sempre
educada utilizando-se o amor (através do vínculo duplo) como
instrumento de dominação de seus desejos próprios acaba
tornando-se apática, impotente, incompetente ou mesmo louca,
assumindo assim seu falso eu, tornando-se uma esquizofrênica.
Neste exemplo houve uma comunicação paradoxal ou duplo-
vinculadora, pois não se utilizou uma linguagem direta, sincera e
objetiva, afirmando um não ou um sim definitivos. Caso a mãe
mostrasse sua opinião clara e sincera não teria sido tão grave, pois
haveria um impasse claro. O que prejudica a comunicação é o fato
de existir tanto uma como outra possibilidade numa só mensagem.
Esse tipo de comunicação paradoxal é constante no
desenvolvimento de nossa sociedade burguesa resultando-se
assim na confusão que vai deformando, alterando a compreensão
dos fatores e modificando seus comportamentos. “Essa é a forma
de comunicação utilizada pela família da grande maioria das
pessoas que se tornam neuróticas” 16 .
15 Idem, pág 34
16 Ibidem, pág 35
Analisando o exemplo anterior, da filha que queria sair
de casa, podemos observar claramente a comunicação paradoxal
através da teoria da comunicação. A filha, ao receber a mensagem
ambígua da mãe, que concorda (pela fala) e que não concorda
(pelo choro), através da antinomia (paradoxo da sintaxe), fica em
dúvida quanto ao entendimento da mensagem que recebeu
(antinomia semântica) e que, devido a isso é gerada uma confusão
do que a mãe queria realmente dizer, ocasionando um
comportamento ambíguo: não realizando seus desejos e
satisfazendo o
desejo de outros (paradoxo pragmático) ao mesmo tempo.
24 FREIRE, Roberto e MATA, João da. Soma – Uma terapia anarquista. São Paulo, Ed. Sol e Chuva. 1993.
pág 35
BIBLIOGRAFIA
FREIRE, Roberto e MATA, João da. Soma – Uma terapia anarquista. São Paulo.
Vol.3, 2º ed. Sol e Chuva. 1993
Fabrício (14/12/98)