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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL MIGUEL MOFARREJ

CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES INTEGRADAS DE OURINHOS


CURSO DE PSICOLOGIA

CASSIANO LEME FIGUEIRA


ISMAEL NASCIMENTO
MARCUS VINÍCIUS ARIOZO

TANATOLOGIA – LIDANDO COM A FINITUDE EXISTENCIAL

Pesquisa bibliográfica apresentada à disciplina


“Projeto Integrador”, do Curso de Psicologia, como
requisito parcial ao desenvolvimento da disciplina.
Docente: Luciano Ferreira Rodrigues Filho

OURINHOS/SP
2021
CASSIANO LEME FIGUEIRA
ISMAEL NASCIMENTO
MARCUS VINÍCIUS ARIOZO

TANATOLOGIA – LIDANDO COM A FINITUDE EXISTENCIAL

OURINHOS/SP
2021
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................4

OBJETIVOS..............................................................................................................4

Objetivo Geral...........................................................................................................4

Objetivos Específicos............................................................................................... 4

JUSTIFICATIVA........................................................................................................ 5

METODOLOGIA....................................................................................................... 6

DESENVOLVIMENTO.............................................................................................. 6

Perspectiva da idade perante a morte......................................................................6

O que de fato influencia na questão de aceitar ou não a morte?............................. 8

Como as pessoas lidam com o luto em nosso século............................................10

A importância de falar sobre a morte......................................................................10

Benção ou maldição?............................................................................................. 11

A contextualização da morte através dos séculos..................................................12

Atendimento psicológico à família enlutada........................................................... 15

Morte e ciência psicológica.....................................................................................17

A relação dos idosos com a morte......................................................................... 19

Estágios psicológicos diante do luto.......................................................................20

Sugestões de procedimentos para o psicólogo em seu atendimento.................... 21

METODO

CRONOGRAMA..................................................................................................... 22

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................22

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 23
INTRODUÇÃO
A negação da morte é um assunto bastante discutido e presente no seio da
maioria das sociedades e culturas mundiais, valendo frisar que muitos livros já
trataram sobre essa delicada temática. Nota-se uma evidente inabilidade e um
gigantesco pavor quando os sujeitos se debruçam sobre a questão da finitude
existencial. Este despreparo a respeito do tema se reflete principalmente quando
vivenciamos a morte de perto, então nos conscientizamos da nossa mortalidade, o
que consequentemente acarreta em angústia e crise existencial por antecipação.
A pós-modernidade, repleta de novas tecnologias e avanços científicos,
semeou nos indivíduos uma ousada esperança: a extirpação da morte e a eterna
juventude. Entretanto, a única certeza absoluta que temos na vida é a morte, pois a
mesma é e sempre foi inevitável, inegociável e inflexível. Tendo em vista esses fatos
apresentados, faz-se urgente e necessária a compreensão sobre nossa finitude
existencial com o objetivo de destacar que a morte é natural e consequência da vida.
Para aqueles que, com um grande medo e receio da morte desenvolveram quadros
patológicos é demasiadamente importante a intervenção de um psicoterapeuta pois,
em meio à angústia, o medo, a ansiedade que surgem perante à ciência
excepcionalmente humana de sua breve existência deixam de viver a vida,
fenômeno conhecido como “morte em vida” pela comunidade de tanatólogos, isto é,
cientistas que dedicam ao estudo da morte.

OBJETIVOS
Objetivo Geral
● Identificar como as pessoas lidam com o reconhecimento de sua breve
existência e, a partir disso, intervir com a psicologia nos indivíduos que
apresentarem quadros patológicos.

Objetivos Específicos
● Discutir acerca da importância da atuação do psicólogo a fim de intervir nos
quadros patológicos que, mediante a morte, o individuo deixe de viver sua vida.
● Discutir a importância da explanação da morte.
JUSTIFICATIVA
A morte ainda é um grande tabu na maioria das sociedades e culturas globais,
muitos preferem não comentar sobre e vivem suas vidas sem a plena lucidez da
finitude humana. Além disso, o conceito sobre a morte vem passando por uma
constante mudança através dos séculos porque até hoje não existe exatamente uma
única definição sobre o que a morte é pois cada região e cultura tem sua perspectiva
e, além do mais, fatores socioeconômicos e de época contribuem para a influencia
do significado que a morte traz. Atualmente no século XXI, aqui no Ocidente, a
concepção de morte que temos é vergonhosa, improdutiva, que deve ser
escamoteada, isto é, encobertada, escondida. Isso acontece devido ao sistema
capitalista que impõe que a vida é sinônimo de produção, além de monopolizar o
atestado de óbito a uma única profissão, a dos médicos.
Sabe-se que no mundo Ocidental a morte é vista majoritariamente como uma
tragédia amedrontadora e antinatural. Essa decadente estrutura sociocultural
interfere diretamente no modo como os próprios sujeitos enxergam a morte. A boa
preparação psicológica para a morte está escassa atualmente e nem mesmo a
religião consegue suprir esse papel com êxito. Muitas pessoas estão encontrando
formas precárias de lidar com suas perdas e as dúvidas e incertezas defronte ao
desconhecido agravam esse medo. A sociedade precisa compulsoriamente entrar
em contato com a morte ao invés de nadar contra as fortes correntezas do
inevitável. Tendo em vista tal demanda, o interesse pelo tema surgiu na necessidade
de destacar a notoriedade do tema, a morte é uma etapa de desenvolvimento. Para
quem partir desse mundo, vai habitar no plano espiritual de sua crença e, para quem
fica, é uma eterna saudade do falecido até o momento em que chega a sua hora de
partir desse mundo para o outro.
O método de intervenções psicoterápicas é intermediado pelo psicólogo a fim
de promover, através da fala, a saúde, tanto mental quanto social, garantindo assim
integridade, dignidade e humanização de seus pacientes. Em suma, o tema
necessita receber maior atenção da comunidade acadêmica e ser devidamente
explorado, por conta de sua relevância. E em virtude disso, devemos nos inclinar
sobre tal tópico, a fim de aclarar determinadas problemáticas referentes a ele pois,
ao presenciarmos a morte de perto ou, refletir sobre nossa futura extinção traz
consigo sentimentos de angústia, temor, crises de ansiedade. Somente ao nos
aprofundarmos sobre a morte e nossa futura extirpação é que nos depararemos com
a urgência da vida e do viver.

METODOLOGIA
Este projeto de pesquisa qualitativa foi realizado por meio da utilização de
livros e artigos científicos disponíveis nas bases de dados bibliográficos: SciELO e
Google Acadêmico. Além disso, contamos também com nosso questionário de
entrevistados que elaboramos com um total de treze perguntas, sendo elas seis
subjetivas e sete objetivas. Com ele, obtivemos cento e sete respostas que,
alisamos e usamos como embasamento para levantar as demais informações.

DESENVOLVIMENTO
Perspectiva da idade perante a morte
Analisando e levantando as informações com embasamento em nosso
questionário que trás consigo a ciência da breve finitude existencial, podemos
concluir que os jovens raramente param para pensar quanto à sua morte, o que
difere totalmente dos adultos de meia idade e idosos que já apresentam uma visão
clara de sua perspectiva mediante a morte e a ciência de sua finitude existencial. É
natural que os jovens tendem a ser ainda menos introspectivos do que as pessoas
mais velhas pois estão em uma idade de descobrir o mundo e as pessoas o que,
consequentemente, as fazem pensar que são de certa forma imortais, de que ainda
tem um vida inteira pela frente, de que apenas morrerão depois de velho. Sabemos
que a morte não vem pela idade, ela vem apenas para executar seu ofício, que é
“levar” jovem ou velho, o rico ou podre, homem ou mulher.
Em nossa pesquisa, perguntamos aos nossos entrevistados como eles
encaram a vida sabendo que um dia partirão e como eles lidam com isso. O
resultado representado no gráfico acima representa os jovens entrevistados de
catorze a trinta e dois anos. A parte azul representa aquele que aceitam a morte e
são um total de 56% do total de jovens. Eles alegam que a morte é inevitável, que
de uma forma ou de outra, uma hora vamos ter que partir e somente o que nos resta
é aproveitar o agora e viver desfrutando o máximo possível da vida. Já a parte
laranja representa aqueles que temem a morte, um dos principais motivos é porque
a morte é um mistério, não se sabe de fato o que ocorre após a morte e representa
cerca de 29% dos jovens. E finalmente, o gráfico representado na cor verde de 15%,
representa aqueles que são indiferentes perante a morte, negam e encobertam este
fato, fazem vista grossa pois refletir sobre lhes trazem angústia e ansiedade.

Em contra partida dos jovens, os adultos mais maduros entrevistados acima


de 33 anos já apresentaram respostas divergentes quanto aos jovens quando os
questionamos quanto ao seu conhecimento de sua breve existência e como eles
lidam com essa situação. O resultado que obtivemos foi o gráfico acima que
representa as respostas dos adultos acima de trinta e três anos. Novamente, a parte
azul retrata os adultos que aceitam a morte, que são cerca de 46%, o laranja são
aqueles que a temem e corresponde a 50% e logo em seguinda, de cinza, são os
que permecem indiferente quanto à morte, e que caracteriza 4%. Notamos que com
os anos, as pessoas se vêem cada vez mais próxima da morte, o que
consequentemente as tornam mais suscetíveis ao medo. Se compararmos o gráfico
acima com o dos entrevistados jovens, percebemos que o número de pessoas que
se sentem ameaçadas com a morte aumentou cerca de 20%. Está nitidamente
destacado nos gráficos que, com os anos e as experiências de vidas, as pessoas
passam a ser mais introspectivas, refletindo sobre sua vida e sua futura inevitável
morte que, de uma forma ou de outra, todos um dia, irão partir. Essa introspecção é
a grande diferença entre os jovens e os adultos maduros porque o jovem “vive de
momento”, não pensa e não se importa com o futuro. O jovem está preocupado com
o presente, o futuro ainda está distante, existem muitas coisas para a serem feitas,
para serem descobertas, a serem experimentadas. Já na idade madura, a
perspectiva é outra, o adulto já se encontra nesse “futuro” e, aqui, ele passa da
indiferença para o temor defronte a morte.
Observamos claramente nos dois gráficos que os jovens que eram indiferentes
quanto ao fato de que um dia irão partir, passarão supostamente na meia idade, a
temerem a morte. Como dito anteriormente, com a progressão da idade nos vemos
cada vez mais próximos da morte e isso muda constantemente nossa perspectiva e,
pessoas que passaram anos aceitando a morte de bom grado, ao pressentir sua
proximidade, passa a temê-la. E é o que acontece de fato conforme mostra nossos
dados estatísticos.

O que de fato influencia na questão de aceitar ou não a morte?


Através de cálculos estatísticos por meio do Qui-Quadrado, notamos que a
opinião das pessoas acerca da morte são influenciadas mediante sua idade, sua
religião e seu grau de escolariedade. É fato natural que com os anos, nós no
tornamos pessoas mais sábias e experientes e a opinião e as perpectivas de ver as
coisas mudam e, com a ciência da finitudade existencial não é diferente. A maioria
dos jovens não sabem o que é morte pois é provavel que, devido aos poucos anos
de experiência ainda não vivenciaram o luto e o falecimento de uma pessoa querida,
o que é totalmente oposto de uma pessoa vivida de meia-idade que já perdeu
familiares e amigos. Toda essa experiência, influencia na resposta quando
perguntamos ao individuo “O que a morte representa pra você?”.
Certamente podemos dizer que a religião influencia também na perspectiva
de como o individuo encara a vida sabendo de sua futura e inegociavel partida. Aqui,
no total de todos os entrevistados, cerca de 76% são Cristão (representada pela cor
amarela mais forte no gráfico abaixo) e, apesar da religião pregar a crença da vida
eterna, ainda assim, quase metade dessas pessoas sentem medo quando
abordamos o tema com eles. É de fato um caso curioso pois, em uma religião cuja
propaga a ideia de vida eterna no Paraíso, como ainda assim existem pessoas que
temem a morte? A resposta é fácil, é o medo que irem para o Inferno e pagarem
pelos seus pecador por toda a eternidade. Ainda assim, cerca 16% de todos os
entrevistados são ateus, apesar de não acreditarem em nenhum deus e em nenhum
segundo plano espiritual, são os que menos apresentam medo da morte e um
grande indice de aceitação da morte como uma etapa natural da vida. Há também
os Espíritas que representam cerca de 8% do total de entrevistamos. Cerca de 75%
dos espíritas encaram a morte com uma aceitação natural, e somente 25% temem a
morte. Assim como a religião cristã, a espírita tem diversas variações e, em suma,
acreditam na reencarnação, que se ainda não atingiram a expectativa de se tornar
uma boa pessoas, após a morte, elas retornaram novamente para a Terra com o
objetivo de “evoluirem” espiritualmente dizendo.

Por fim e nem por isso o menos importante, o grau de escolariedade. É


interessante dizermos com embasamento aos dados levantados com o questionário
que quanto maior o graus de escolariedade, isto é, quanto mais estudada a pessoa
for com uma graduação, pós, mestrado ou doutorado, menos ela tende a crer em
algum ser celeste ou planos e conspirações espirituais. Dos estrevistados, cerca de
6% apenas tem curso superior e, dentre eles, a maioria tende a ser ateu, não creêm
em nenhuma entidade divina. Quanto à morte para eles, é apenas uma etapa final
da vida e entendem que não é possível fugir dela, a única coisa que resta é
aproveitar a vida agora, enquanto tem saúde e dinheiro para isso.
Como as pessoas lidam com o luto em nosso século
É natural que a resposta mais aparente seja “com muito pesar e tristeza” mas,
na prática, como é que as lidam com o sentimento de luto hoje em? Em nosso
questionário, fizemos a seguinte pergunta: Como você lidaria com o falecimento de
uma pessoa próxima a você muito querida? As respostas são em suma as mesmas,
com muito pesar, com tristeza, culpa. É claro que também depende de quem falece,
a morte de um colega de sala gera tristeza, pesar e luto mas, se compararmos com
a morte de um dos genitores, isto é, o pai ou a mãe, isso geraria muito mais
angústia, sentimento de solidão, raiva, rancor, medo, um verdadeiro mar de
emoções. É natural uma mãe ficar sem resposta ao perguntar como ela reagiria com
o falecimento de um dos filhos.
Por outro lado, ainda assim hoje em dia onde a sociedade é maxista, vivemos
com o bordão de que “homem não chora”. O fato de reprimir os sentimentos, ainda
mais com o luto que consequentemente é um enorme pesar, pode gerar disturbios
psicológicos devido ao simples fato de um luto mal expressado. Mesmo com a
proibição feita em (Ariés, 1977) no século XX, sobre o tema da morte, no mesmo
século, e ainda no século XXI, a morte é explicitamente exibida em nosso cotidiano,
devido grande expansão das mídias e telecomunicações, que sem o menor boicote
exibem-na de de uma maneira traumáticas e violentas atingindo todas as faixas
etárias. É importante dar vazão aos sentimentos quando necessário, somos
humanos e portanto criaturas sociais, não sabemos viver sem um ombro amigo pela
qual chorar de vez em quando e, não há vergonha ou fraqueza em se humanizar se
expressando através dos sentimentos, é que de fato nos faz ser quem nós somos.

A importância de falar sobre a morte


É de grande importância que o tema da morte seja inserido desde cedo no
âmbito escolar, e que seja proporcionado atividades que instruam as profissionais
escolares a falar com a criança que sofreu perdas significativas a fim de direcioná-la
para um profissional especializado com um psicopedagogo ou, até mesmo um
psicólogo. É importante também aplicar atividades pedagógicas sobre o tema morte,
podendo lidar com crianças e adolescentes de uma maneira descontraída que
estejam passando por situações de perda e de luto e, educando-os para futuras
possiveis perdas.
Já para o público adulto leigo, se propõe que seja oferecido cursos e troca de
experiências que possam proporcionar discussões, conhecimento, e reflexões sobre
o tema abordado. A discussão sobre perdas e morte em hospitais, costuma ser bem
conflituosa, pois de um lado temos a equipe médica, e de enfermagem que tem
grandes dificuldades nessa temático pois seu objetivo é promover o bem-estar e a
vida do paciente e, ao falar sobre a morte, vai contra todos os preceitos do
profissional. E de outro lado, temos o paciente que, muitas vezes, ser curado não é
sinonimo de saúde, como por exemplo o caso de uma mulher que foi salva ao tentar
o suicídio e, ao ser salva, terá de viver sua vida paraplegica.
Vivemos em uma grande conspiração do silencio, onde os adultos se calam e
não explicam a verdade por trás da morte quando a criaça perguntam de um ente
faleciado e, ao invés da verdade, opitam por dizer que o indivíduo saiu para uma
viagem ou que virou uma estrelinha no céu. Preferem deixar que se viva em um mar
de mentiras pois assim evitam muito dor e confusão da parte do entendimento da
criança. O método mais simples seria agir com sinceridade com a criança pois,
mesmo dizendo toda a verdade ela não irá compreender e com os anos e
consequentemente com a maturidade, a criança então vai passar a entender o que
foi dito e confiado a ela anos antes.

Quanto mais se nega a morte, mais esta se parece fazer-se presente


através da violência urbana, do crescimento do número de pessoas
portadoras de HIV, do suicídio, das guerras. (Kováks, Maria – Educação
para morte, pag 487, publicado em 2005).

Benção ou maldição?
Os humanos são os únicos detentores da ciência de sua breve existência,
seria isso uma espécie de benção ou maldição? Desde a Antiguidade, o medo
sempre esteve associado ao processo evolutivo pois ao pressentir o perigo libera
descargas de adrenalina, “fight ou flight”, ou seja, “lutar ou fugir”. Se nossos
antepassados não tivessem medo da morte, certamente não estaríamos aqui
abordando este tema. Esse estado de auto-concervação nos auxilia e nos impede
até mesmo hoje em dia de realidade ações perigosas como por exemplo, tentar
ultrapassar um caminhão em uma rodovia é comum sentirmos um certo receio de vir
algum veiculo de encontro, o que fará com que pensamos duas vezes antes de
decidir se é ou não possível fazer a ultrapassagem. Até então, podemos dizer que
essa ciência de nossa finitude existencial e esse essência de medo contribuem para
que permaneçamos vivos. Mais e quando esse medo se torna incontrolável?
Naturalmente, todos os medos em excesso se torna patológico. O medo da
morte, também chamado de tanatofobia é muito comum, ainda mais no contexto
sociohistórico cultural em que vivemos atualmente. Isso medo excessivo impede o
indivíduo de viver sua vida, como por exemplo, deixa de viajar com medo de cair de
avião ou, não sai de casa com medo de ser assaltado e morto. Vive em constante
vigilância, sondando possíveis perigos ao seu redor, fica tão preocupado com a
morte que se esquece de viver as maravilhas da vida enquanto pode.

A contextualização da morte através dos séculos


No século XIV, era comum em religiões pagãs celebrarem os rituais fúnebres
com festas nos cemitérios e até mesmo danças com os corpos dos falecidos. Eles
celebravam a morte e, ao mesmo tempo, a dádiva de se estarem vivos. Esses
eventos ritualísticos ficaram conhecidos posteriormente como A Dança dos Mortos.
Com a intervenção da Igreja Católica, essas ritos foram expurgados e proibidos
devido à associação da celebração com a cultuação à demônios. No século XV, com
a predominância da igreja católica surgem então novos ritos e costumes para se
lidar com a morte e os eventos fúnebres. A morte passa então a ser uma
intervenção divina, “Porque Deus quis”, “Deus tem um propósito maior”.
Ainda nessa época, era comum quando alguém sentisse a morte
aproximar-se devido a um ferimento ou, devida a velhice, chamasse seus familiares
e amigos para uma despedida. Nem os médicos nem os padres são chamados a
assistir a morte do pobre, só podendo intervia ao doente para ajudar a curar, ou a
acelerar sua morte. Pois competia a estes reconhecerem o Faties Hippocratica, que
seriam os traços de que aquele indivíduo já se tornou uma presa da morte e por ele
não à mais o que se fazer. E assim discussões sobre o destino dos pacientes era
discutida nas escolas de medicina de Palermo, de Fez e até mesmo em Paris. E tais
questões sobre, “amenizar ou deixar morrer” era rebatida principalmente pelos
doutores judeus e árabes, considerando blasfemica toda intervenção na ordem
natural. Há um ditado famoso do filósofo Paracelso que diz: “A natureza conhece os
limites de sua marcha”. O rito acontecia em sua própria casa mesmo e, as pessoas
vinham prestar suas preces e orações, sua suposta partida era anunciada,
compartilhada para todos. Após falecer, o corpo ainda permanecia até três dias na
cama para que só então, após a “não-ressurreição” o individuo era enterrado. Era
comum as pessoas assinarem termos de consentimentos que, após sua morte parte
de seus bens seriam doados à igreja, garantindo assim a vida eterna no Paraíso.
A morte no século XVI passa a ser uma concepção de que vem para todos,
desde para o rei como para o plebeu, para o padre e também para o pecador. Isso
faz consequentemente com que as famílias se dividam, tomando assim um aspecto
mais individual, cada um vive a sua dor, não tem mais aquela união e força de
familiares e amigos como antes, a morte passa a não ser anunciada como antes e
até o ritual fúnebre deixa de ser realizado dentro das casas e passa então ao
cemitério. Os falecidos passam a ser enterrados em caixões de madeira para
amenizar a dor dos vivos de terem que olhar para o ente querido. Notem que aqui
começa a se reprimir a morte e a dor do luto. Já no século XVII, toma-se um gosto
cômico de fantasma e almas penadas dos mortos, e isso passa a agregar novos
costumes nos funerais como, por exemplo, o uso de véu e de roupas pretas que
seria uma espécie de se passarem de “mortos” para que a alma do defunto não sinta
inveja dos vivos e, tomado de fúria passe a assombrá-los. Esses costumes
permanecerem até os dias de hoje, talvez por questões de culturais mas ainda
assim, o preto até os dias atuais, aqui no Ocidente são considerados cores de luto
enquanto no Oriente, sua cor para o luto é o roxo.
Novamente, no inicio do século XIX a morte passa por mais uma reforma.
Dessa vez, surge a concepção de passagem da vida terrena para a vida eterna
espiritual, onde é possível encontrar os familiares e amigos já falecidos. Como já
sabemos, em meados deste século há a Revolução Industrial que traz consigo um
novo conceito de morte. Aqui, novamente a morte passa a ser cada vez mais
menosprezada e encoberta, pois o único intuito a partir daí é o ganho de capital de
ricos burgueses que passam a se importar cada vez menos com o proletário. Essas
décadas expressam bem como o burguês junto da medicina, modificaram como a
morte é vista hoje em dia, pois mesmo sabendo que a morte não fazia distinções de
raças nem de posições, apelam então para o controle de tempo da vida, ou seja,
podem retardar a morte de alguma forma médica. Forma na qual é até os dias atuais
muito bem paga pela classe média alta e que se desesperavam para viver mais e
longe de sofrimentos, não aceitando a morte de forma bruta e opitando por tentar
todas os meios medicinais possíveis. Consequentemente, essa revolução
estabeleceu desde então até os dias atuais que a vida vale menos que o dinheiro,
que o ganho de capital e a produção são ainda mais importantes. Tal fato histórico
contribuiu para a atual concepção de morte ocidental do século XXI: a morte
escamoteada. Hoje em dia, morte é sinônimo de fraqueza, de vergonha para a
família pois, a “lei das redes sociais” demandam que tudo e todos sejam perfeitos e
felizes. Os funerais estão perdendo sua essência pois, o luto está sendo deixado de
ser vivenciado pois o homem que chora não é homem, a mulher não pode chorar
pra não borrar a maquiagem. Famílias líquidas se dissolvem pois construíram sua
fundação na ilusão das redes sociais.
Ainda assim, como se bastasse, o custo que o mercado cobra para um
sepultamento é absurdo, não há respeito pois, o que de fato importa é lucrar com a
dor e a demanda dos familiares e amigos do falecido. Caixão, lugares privilegiados
no cemitério, roupas, maquiagem, mesmo depois de morto o defunto não tem paz o
mercado capitalista vende a imagem de que, mesmo na morte, tudo tem de ser belo
e perfeito. Naturalmente, a única profissão que pode atestar o óbito é o médico. A
medicalização da morte nas mãos de uma só profissão visa novamente o ganho do
capital. Os médicos são os únicos capazes de atestar ou não se uma pessoa está
definitivamente morta, isso acontece pois, novamente, nossa sociedade elevou essa
profissão ao um nível de prestígio tão alta que é capaz de, além de curar o seu
paciente, atestar definitivamente, sua morte. Temos também, hoje em dia, a
desigualdade na morte. Os estados mais ricos de nosso país tem um taxa de
mortalidade infantil bem menor se comparado com os estados mais pobres,
novamente, o dinheiro traz uma significância à morte pois, quem consegue obtê-lo
consegue escapar das mãos da morte por mais alguns anos.
Se hoje, o homem pós-modernidade é o ápice da evolução dos humanos, no
que nos tornamos? Uma sociedade onde varre pra baixo do pano os sentimentos e
a morte de conhecidos para baixa do pano, encobre, esconde, visando apenas seu
próprio bem estar. O que isso nos traz? Paz? Felicidade? O resultado de toda essa
repressão é a depressão, crises existenciais, violência. Tudo isso por causa de um
pedaço de papel, seriamos nós diferentes dos animais que brigam por um osso?
Atendimento psicológico à família enlutada
A duração do luto depende muito de cada membro familiar, sendo que, os
mais ligados ao falecido tendem a sofrer mais com a perda. Para amenizá-la, a
sociedade inventou, através dos tempos,diversas práticas ritualísticas para esse
momento, como por exemplo, os egípcios mumificavam seus mortos, já os hindus
acreditavam que era apenas um rito de passagem, pois o falecido voltaria
reencarnado em uma espécie animal. O velório e o enterro caracterizam o luto em
nossa cultura ocidental e são muito importantes, pois ao vivenciá-los, os membros
podem dar vazão aos seus sentimentos e se despedirem de maneira digna de seus
entes. Pessoas que, até então desconheciam umas às outras, prestam condolências
em forma de união. Naturalmente, nos velórios há um grande silêncio devido que,
em face à morte, não há palavras que expressem os sentimentos.
Vale ressaltar novamente que cada indivíduo vivencia seu tempo de luto. O
psicólogo deve tratá-lo de maneira sincera, clara e honesta e estar sempre
preparado para acessos de choro ou até mesmo de fúrias, nunca contrariando, mas
sempre buscando compreender cada manifestação que, muitas das vezes, são
pedidos de ajuda.
Conforme posto por Lindemann citado por Bromberg (1994, p.246).

Freud já em 1917 demonstrava que para concluir o trabalho de luto a libido


deve ser retirada do objeto perdido e transferida para um novo objeto... a
aceitação da perda, e o estabelecimento de novas relações objetais são
condições fundamentais para a elaboração do luto.

Naturalmente, a melhor forma de acompanhamento psicoterapêutico durante


o luto é a prevenção, utilizando o método catártico, ou seja, expelir o sentimento por
meio da fala, revivenciar a situação traumática para que assim, no futuro, ela não
venha trazer eventuais problemas como a depressão profunda, isolamento social e
manifestações psicossomáticas. O simples fato de evitar guardar todo esse
sentimento e exteriorizá-los em uma roda de conversa com a família ou até mesmo
em uma sessão de terapia pode ajudar a pôr em ordem as emoções.
Compreendendo melhor a morte e consequentemente a aceitando é definitivamente
o melhor remédio.
Via de regra, quando a família ainda está na expectativa do falecimento,eles
podem então desenvolver um sentimento ambivalente.Primeiro que, a família pode
experimentar o sentimento de perda, angústia e tristeza pelo falecido, segundo que
a situação pode trazer o sentimento de alívio, já que em um estágio avançado de
tratamento, o doente pode apresentar inúmeras dores e imenso sofrimento.

Os que sobrevivem ao luto antecipado, começam a experimentar reações


de luto antes mesmo da morte do ente querido. Uma delas é o senso de
culpa, resultando do fato de que se encontram planejando seu próprio futuro
sem o ente querido, mesmo antes da morte dele. Esta “preocupação a nível
consciente”, pode ser útil psicologicamente, mas, socialmente, a família e
amigos podem não ter a capacidade de compreender esta reação (Franklin,
1997, p. 118).

A família que vivencia o cenário do luto ou a sua iminência, passa por um


fenômeno de “papéis”, que são eles: os desamparados, os desesperados, os
apáticos e o membro mais importante para a terapia familiar, o “forte”. Naturalmente
o “forte” simboliza aquelas pessoas que assumem a responsabilidade e dão início
aos preparativos burocráticos da cerimônia fúnebre. O psicoterapeuta pode utilizar
desse membro para saber como anda o progresso de estado mental dos demais
familiares, porém em um dado momento, é de extrema importância que este mesmo
indivíduo vivencie o luto, pois, segundo Caplan (1980, p 310):

“Não choram nem se mostram preocupadas com as recordações e


pensamentos sobre as pessoas que amavam e perderam... Mas eram essas
pessoas aparentemente “corajosas” as que, com o tempo, eram mais
marcadas pela morte.”

Com a decorrência do diagnóstico do câncer, por exemplo, é possível que os


familiares entrem em uma histeria coletiva a ponto de sentirem dores incômodas e
acharem que também desenvolveram um câncer ou um tumor devido aos fatores
genéticos. Neste caso, o psicoterapeuta deve agir de imediato separando o real da
fantasia, instruindo a família a realizar uma série de exames objetivando acabar com
esses sintomas hipocondríacos. Quanto à prática psicoterápica, é importante que o
psicólogo encontre um lugar tranquilo com o qual possa dialogar com a família no
intuito de externalizar seus sentimentos, sempre buscando uma postura mais
observadora do que interventora.
Morte e ciência psicológica
O psicólogo social norte-americano Sheldon Solomon desenvolveu uma teoria
sobre a morte embasada na ciência, mais especificamente na psicologia social e
evolutiva contemporânea. Sua teoria é denominada de gestão do terror (em inglês,
terror management theory - TMT) e propõe que, há um conflito psicológico básico
em nós resultante do nosso instinto de autopreservação frente à certeza da morte,
que é inevitável e geralmente imprevisível. Esse conflito interno presente nos seres
humanos produz terror, e este pânico mental é gerenciado (administrado)
adotando-se crenças culturais ou sistemas simbólicos que agem objetivando mitigar
a cruel realidade biológica com formas mais duráveis de significado e valor. A
realidade biológica é objetiva e representa nada mais nada menos que o fim do
corpo físico, isto é, o nosso retorno ao estado inorgânico e imaterial. Sabemos que,
a morte em uma perspectiva biológica, consiste basicamente na paralisação total e
vital do organismo.
No entanto, a TMT também afirma que outros valores culturais – incluindo
aqueles que aparentemente não têm relação com a morte – oferecem um tipo de
imortalidade simbólica, tais como: valores de identidade nacional, posteridade,
perspectivas culturais sobre sexo e superioridade humana sobre animais têm sido
associados a preocupações com a morte. Os valores de identidade nacional
(sentimento de patriotismo) nos fornecem uma sensação, por vezes inconsciente, de
que nós fazemos parte de algo maior que irá sempre sobreviver após nossa partida
– isso também ocorre com a linhagem e a espécie. Quando também tornamos nossa
identidade simbólica superior à natureza biológica, nós nos enxergamos como um
ser singular, precioso e importante, não mais como um mero amontoado de células
insignificantes e aleatórias que surgiram ao acaso e sem propósito intrínseco.
A teoria da gestão do terror deriva da obra de não-ficção de 1973 do
antropólogo cultural Ernest Becker. Ele enxergava o ser humano como um animal
inteligente capaz de compreender a inevitabilidade da morte. Para Becker,
diferentemente da sexualidade freudiana, o medo da morte é o principal motivador
do comportamento humano – por isso temos esse senso de urgência e imediatismo.
Becker argumenta que a maioria das ações humanas são tomadas para ignorar ou
tentar desesperadamente evitar a inexorabilidade e implacabilidade da morte. O
terror psicológico da aniquilação total e definitiva desencadeia nos sujeitos um tipo
de “curto-circuito psíquico”, embora inconsciente, o qual faz com que as pessoas
tentem racionalizar isso, isto é, processar e elaborar a aparente falta de sentido
presente na morte e no morrer. É válido aqui parafrasear o poeta brasileiro Carlos
Drummond de Andrade o qual se questiona, em uma de suas poesias, o propósito
de amar já que todos vamos morrer um dia. Já o filósofo estoico romano Sêneca
afirmou que levamos uma vida para aprender a viver e é necessária também uma
vida inteira para se aprender a morrer. Lembrando que muitos de nós gastamos
bastante tempo e energia tentando explicar, evitar e adiar a morte.
Foi constatado estatisticamente que a maioria dos indivíduos não costumam
pensar com frequência sobre sua mortalidade e finitude, pois refletir e questionar
sobre tal temática nos exige um árduo esforço para conseguirmos atribuir um
sentido minimamente reconfortante e tranquilizante – conferir um sentido para a
morte é uma tarefa custosa e demorada. Segundo alguns psicanalistas, a morte
pertence ao campo do sem sentido. De acordo com o escritor norte-americano
Woody Allen, todas as pessoas conhecem a mesma verdade e nossas vidas
consistem em como nós escolhemos distorcê-la. Tudo indica que a humanidade, no
geral, ainda vai demorar muito tempo para aprender a “digerir” e aceitar seu fim de
modo menos traumático.
Pelos motivos apresentados acima é que as sociedades e culturas constroem
símbolos e sistemas de sentido, tais como as religiões, repletas de dogmas,
doutrinas e leis antinaturais, muitas das vezes. Nossa espécie é a única que tem
plena consciência e lucidez sobre sua própria morte, contudo, temos imensa
dificuldade de lidar com dúvidas, incertezas, surpresas, impermanências e com
aquilo que é desconhecido. É por essa razão que fazemos tantas perguntas a
respeito do que veio antes, do sentido da vida e do que virá depois. Essas
indagações são máximas filosóficas que assombram o homem desde os tempos
mais primevos, muitas vezes ocasionando até mesmo graves crises existenciais.
Temos uma tendência de querer explicações e respostas rápidas para todos os
nossos questionamentos mais complexos e profundos. E também sabemos que a
dúvida pode nos torturar constantemente, haja vista nossa “sede” por conhecimento.
As religiões são, majoritariamente, constituídas por valores culturais que
atenuam o medo e a ansiedade da morte, pois nos prometem a imortalidade e a
eternidade. Muitas religiões semeiam em nós a esperança de uma vida anímica e
espiritual após a morte carnal neste plano terreno. Elas buscam preencher a
sensação de vazio existencial e a aparente falta de significado da realidade caótica e
confusa que nos cerca. É válido também frisar que as religiões, geralmente, se
colocam em uma posição de saber (detentora da misteriosa verdade universal),
dando explicações sobrenaturais para as questões que estão além do limitado e
diminuto conhecimento humano. O filósofo alemão Friedrich Nietzsche afirmou
categoricamente que as religiões são uma espécie de muleta metafísica, isto é, dão
conforto para os fracos e covardes, pois estes negam a morte. Ele criticou
ferrenhamente tudo aquilo que é transcendente e enalteceu o imanente. De acordo
com o icônico filósofo, podemos notar que o que enche as igrejas de fiéis não é o
amor, mas sim o medo da morte. Já o filósofo alemão Karl Marx afirmou que a
religião é o ópio do povo, isto é, ela o ludibria com ilusões e falsas promessas.
Também é válido mencionar a expressão latina memento mori, a qual
remonta o antigo império romano e significa literalmente “lembre-se da morte” ou
“lembre-se que tu és mortal”. Essa expressão tem o intuito de nos provocar, para
que nos voltemos àquilo que realmente importa nessa breve existência. Memento
mori nada mais representa do que o ato de contemplarmos a nossa própria finitude
existencial e de nos prepararmos para o fim de nossa história. Por mais difícil que
isso seja, a morte deve ser encarada como algo natural, pois ela é a única certeza
absoluta que temos na vida. Ela é o destino final de todos os seres vivos, ou seja, é
uma fatalidade inegociável.

A relação dos idosos com a morte


A terceira idade é, muitas das vezes, vista pelas pessoas como uma fase
repleta de tranquilidade, ócio, lazer e bom-humor, entretanto, ao nos aprofundarmos
sobre esse estágio da vida, notamos a presença de inúmeras fragilidades, desafios
e vulnerabilidades que os idosos precisam lidar.
Os indivíduos pertencentes à terceira idade geralmente necessitam de
bastante apoio familiar e acompanhamento psicológico, haja vista as altas taxas
estatísticas de isolamento social e solidão, risco de quedas e fraturas, sensação de
abandono e medo exacerbado de sofrer antes da morte. Valendo salientar que o
quanto mais envelhecemos, mais tendemos a refletir sobre a morte e o morrer.
Conforme abordado acima, a terceira idade é uma fase complexa e desafiadora, a
qual demanda cuidados especiais, em virtude de múltiplos fatores, a saber: a perda
da autonomia (independência); as limitações tanto físicas quanto cognitivas; o luto
do corpo jovem; a morte de entes queridos e amigos próximos etc.
É sabido que o envelhecimento é um processo natural dentro do nosso ciclo
de vida humano, contudo, há muitos sujeitos que não gostam de se imaginarem
“velhos”, por isso costumam não pensar a respeito. Atualmente, dentro das
sociedades pós-modernas e capitalistas, constatamos uma exagerada exaltação da
juventude, onde a figura do jovem é idolatrada e desejada, como se os mesmos
fossem capazes de tudo e dotados de superpoderes (vivemos em uma cultura
fascinada pela juventude). Essa etapa da vida é vista, por muitas pessoas, como a
melhor fase da vida e a única época prazerosa da nossa existência. As
consequências disso são avassaladoras, pois esse fascínio pela figura do jovem faz
com que as pessoas queiram ser jovens para sempre e então a cultura do medo da
morte cresce (tanatofobia) juntamente do medo de envelhecer (gerontofobia). Em
contrapartida dessa idolatria da jovialidade, recentemente foi cunhado um termo
interessante para caracterizar o processo de envelhecimento, esse neologismo é a
palavra “envelhescência”. É um termo criado pelo sociólogo Manoel Berlinck, que
compreende os 45 aos 65 anos de idade, e se refere a um período que está entre a
idade adulta e a velhice.
Em suma, devemos ressaltar o fato de que envelhecer é uma arte e de que a
juventude não é o único período áureo da existência humana. Para evoluirmos
enquanto seres humanos e cidadãos precisamos obrigatoriamente voltar a valorizar
os nossos sábios anciãos, pois só estamos aqui graças a eles e aos nossos
antepassados. Devemos aceitar o envelhecimento e a morte, pois somente assim
nos tornaremos maduros de fato e valorizaremos adequadamente a preciosidade da
vida.

Estágios psicológicos diante do luto


Segundo Elisabeth Kübler-Ross, temos cinco estágios vivenciados no luto,
sendo eles: a fase da negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
Primeiramente temos a negação, a qual se caracteriza como uma defesa psíquica,
pois a pessoa contradiz os fatos, não conseguindo aceita-los. É comum acessos de
raiva e fúria, visto que o indivíduo encontra-se revoltado e inconformado com a
situação. No terceiro estágio temos a barganha, a qual se constitui por tentativas de
negociações com suas crenças e divindades no intuito de cura milagrosa. O próximo
estágio é a depressão, o qual é caracterizado pelo isolamento social, vazio
existencial e melancolia. Por fim temos a aceitação, que diz respeito à adaptação do
sujeito a sua nova realidade. Já para alguns outros pesquisadores, a teoria de
estágios de Kübler-Ross é inválida, pois essas fases nem sempre seguem uma
sequência propriamente dita, elas podem se alternar, saindo e voltando para o
mesmo estágio mais de uma vez.

Sugestões de procedimentos para o psicólogo em seu atendimento


Elencaremos a seguir algumas dicas para auxiliar psicólogos que trabalham
com pessoas enlutadas. São procedimentos divididos em etapas que serão
aplicados, e ajudarão na prática profissional nessas ocasiões. Lembrando que o
psicólogo deve adaptá-los a sua realidade e contexto.

1. Estar presente e proporcionar acolhimento, acompanhando a expressão


dos sentimentos no decorrer do processo. O psicólogo desempenhará aqui o
papel de “ombro amigo”, por meio do estabelecimento de um vínculo com os
enlutados;
2. Acolher os sentimentos da família enlutada – como por exemplo, a raiva, a
culpa, o medo, a tristeza e o remorso. Esforçando-se para distinguir as
emoções reais das fantasiosas;
3. Sempre dizer a verdade sobre o prognóstico do paciente. Somente dessa
forma serão construídos laços de confiança na relação;
4. Contar com o apoio do membro mais “forte” da família para que o mesmo
se encarregue dos problemas burocráticos e de ordem prática. Contudo, no
momento ideal, este membro deverá ser lembrado de que não pode dar conta
de todo esse fardo sozinho;
5. Poupar a família do estresse gerado pelos “não-enlutados” – poupá-la do
excesso de ajuda externa. O psicólogo deve observar mais e controlar sua
própria ansiedade de querer ajudar. Deve-se respeitar também a forma da
família “digerir” todo o processo;
6. Deve-se encarar a realidade como ela é a fim de evitar maiores frustrações
futuras. Também é necessário evitar a criação de fantasias e a crença em
curas milagrosas;
7. Período de perdão e início da aceitação. Tempo de “deixar ir”;
8. Explicar para os “não-enlutados” que a dor pode se transformar em raiva e
agressão direcionada a eles, pedindo também a colaboração e compreensão
de todos;
9. Hora de recomeçar – encaminhar o enlutado para uma psicoterapia clínica
regular. Aqui é feita uma avaliação geral da situação. Os pacientes são
incentivados a enxergar o lado positivo da situação.

CRONOGRAMA

AGO/21 SET/21 OUT/21 NOV/21

Pesquisa bibliográfica X X X X

Redigir o artigo X X

Conclusão do artigo X

Elaborar questionário e
X
entrevistar as pessoas
Analisar as informações das
X X
respostas do questionário

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sucintamente, constatamos através do estudo que, a proximidade com a
morte pode provocar sentimentos de extrema angústia, ansiedade, insegurança e
medo. Contar com um profissional com o qual possamos exteriorizar nossas dores
faz com que nos sintamos melhor, e é nesse contexto que o psicólogo atua
utilizando sua melhor ferramenta de trabalho, a escuta qualificada e profissional.
Muitas das vezes, defronte ao implacável luto, não há palavras a serem ditas que
possam servir de consolo. O psicólogo então coloca em prática suas técnicas e
metodologias fazendo com que o enlutado ressignifique seus episódios traumáticos
por meio do diálogo. Portanto, caso o profissional reconheça a necessidade de
intervir mais ativamente, deverá passar a fazer um acompanhamento íntimo ao
indivíduo para que então, com o auxílio da terapia clínica, o mesmo volte a se
estabilizar emocionalmente.
O simples fato de entender mais da vida fará com que temamos menos a
morte, já que, no final dela, passamos a finalmente compreender seu real
significado. O processo de reavaliação de vida, mesmo para pessoas saudáveis,
pode ajudar a nos prepararmos melhor para a morte e, dessa forma, fazer com que
valorizemos mais a vida e o tempo restante que temos para desfrutá-la e entender
que nunca é tarde para evoluir como seres humanos, pois, até mesmo a morte, é
uma experiência de desenvolvimento.

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