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TRANSTORNOS MENTAIS –
TEA E PSICOSES
GUARULHOS – SP
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 4
2 CONCEITUANDO O TRANSTORNO MENTAL............................................. 5
2.1 Conceito de Transtorno mental no DSM-5 ..................................................... 7
3 ESPECTRO DA ESQUIZOFRENIA E PSICOSE ......................................... 11
3.1 Critérios diagnósticos de esquizofrenia ........................................................ 13
3.2 Transtornos psicóticos .................................................................................. 15
3.3 Transtorno psicótico breve ........................................................................... 15
3.4 Transtorno esquizofreniforme ....................................................................... 16
3.5 Transtorno esquizoafetivo ............................................................................ 16
3.6 Transtornos delirantes .................................................................................. 17
4 TRANSTORNO BIPOLAR e DEPRESSIVOS .............................................. 19
4.1 Transtornos depressivos .............................................................................. 21
4.1.1 O transtorno depressivo maior ..................................................................... 22
4.1.2 Transtorno depressivo persistente (distimia) ................................................ 23
4.1.3 Transtorno disruptivo da desregulação do humor ........................................ 24
5 TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DE PERSONALIDADE ..................... 25
5.1 Transtorno de ansiedade generalizada ........................................................ 25
5.2 Transtorno do pânico .................................................................................... 26
5.3 Transtorno de ansiedade social .................................................................... 27
5.4 Transtornos da personalidade ...................................................................... 28
6 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO .................................... 32
6.1 Transtorno do desenvolvimento intelectual .................................................. 32
6.1.1 Esfera conceitual .......................................................................................... 35
6.1.2 Esfera Social ................................................................................................ 36
6.1.3 Esfera Prática ............................................................................................... 36
6.1.4 Tratamento de deficiência intelectual ........................................................... 37
6.2 Síndrome de Down ....................................................................................... 38
6.3 Fenilcetonúria (PKU) .................................................................................... 39
6.4 Síndrome do X frágil ..................................................................................... 40
6.5 Síndrome de Rett.......................................................................................... 42
6.6 Transtorno do espectro autista ..................................................................... 43
6.6.1 Teorias e tratamento de transtorno do espectro autista ............................... 47
6.6.2 Transtorno do espectro autista de alto funcionamento ................................. 49
7 INTERVENÇÕES COMPORTAMENTAIS PARA TEA NO AMBIENTE
ESCOLAR .................................................................................................... 50
7.1 Intervenções comportamentais: uma visão geral ......................................... 51
7.2 Tipos de dificuldades comportamentais no TEA ........................................... 54
7.2.1 Comportamentos estereotipados, agitação e irritabilidade ........................... 54
7.2.2 Agressão e autoagressão ............................................................................. 56
7.2.3 Rigidez e comportamentos perseverativos ................................................... 57
7.2.4 Atenção e hiperatividade .............................................................................. 60
7.2.5 Ansiedade..................................................................................................... 62
7.2.6 Depressão .................................................................................................... 63
7.2.7 Transtorno desafiador de oposição ou transtorno de oposição desafiante... 64
7.2.8 Distúrbios do sono ........................................................................................ 64
7.3 Adaptação curricular para alunos com TEA ................................................. 65
8 BIBLIOGRAFIA BÁSICA ............................................................................. 70
3
1 INTRODUÇÃO
Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão
a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
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2 CONCEITUANDO O TRANSTORNO MENTAL
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de suas famílias, a possibilidade de viver em sociedade tornava-se ainda mais
distante, uma vez que é no convívio familiar que o indivíduo aprende a conviver em
sociedade (TAVARES; CASABURI; SCHER, 2019).
Estabelecer uma diferenciação entre o sofrimento psíquico não patológico e o
transtorno mental torna-se fundamental para compreender os conceitos que serão
tratados nesta disciplina. Não se deve tratar como patologia o sofrimento comum, que
todos passamos ao longo da vida, correndo o risco de fomentar uma indústria da
doença. Igualmente equivocado seria deixar de reconhecer a gravidade e
necessidade de intervenção em uma pessoa que padece de um transtorno mental
(TAVARES; CASABURI; SCHER, 2019).
Foi em 1948 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu o conceito de
saúde como “o estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a
ausência de doença”. Tal concepção ampliou os horizontes do significado de saúde,
uma vez que este passou a se alicerçar no tripé: físico/biológico, psicológico/mental e
social/cultural. Também ampliou a percepção sobre a assistência em saúde,
redirecionando o modelo exclusivamente curativista, ou seja, focado unicamente no
tratamento de doenças, para a importância da prevenção de agravos, promoção de
saúde e reabilitação. Assim, para existir saúde a nível individual e coletivo, torna-se
imprescindível a existência de saneamento básico, o acesso a alimentação saudável,
as políticas de imunização, o acesso a lazer e atividade física, a educação em saúde,
dentre outros (FISHER; ERNST, 2015).
O governo brasileiro e o Ministério da Saúde não têm uma definição autoral de
saúde ou de saúde mental, mas a Constituição Federal de 1988 assegura a
universalidade da assistência em saúde em seu art. 196, quando declara que: “A
saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação" (BRASIL, 1988).
Esse direito representa uma ruptura com os modelos de saúde adotados até
então, no qual o acesso aos serviços de saúde eram exclusividades dos trabalhadores
com carteira de trabalho assinada e seus dependentes. Também assegura que não
deverá ocorrer qualquer forma de exclusão por classe social, etnia, idade, credo,
orientação sexual, naturalidade ou quaisquer outros motivos. Uma crítica ao art. 196
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argumenta que ele coloca o cidadão em uma posição passiva e infantilizada, como se
a saúde fosse um bem concreto que pudesse ser dado a alguém sem exigir nenhuma
ação por parte do indivíduo.
O Estado pode fornecer assistência, promoção e educação em saúde, pode
promover acesso à alimentação balanceada e barata, fomentar a prática de atividades
físicas, garantir saneamento básico, realizar imunização e prevenção de agravos, etc.
Porém, o indivíduo precisar ser corresponsabilizado pela própria saúde, pois somente
ele tem o poder de praticar os diversos hábitos de vida recomendados para garantir a
própria saúde física e mental (TAVARES; CASABURI; SCHER, 2019).
Considera-se por tudo isso que o conceito de saúde e de saúde mental é
dinâmico e reflete o momento histórico de sua construção. Atualmente, vivemos em
uma era que almeja a percepção holística e integrativa da saúde, incorporando
diversas visões sobre a saúde e concretizado no conceito de saúde proposto pela
Organização Mundial da Saúde (OMS). Não se trata de uma “superação” ou
“evolução” dos modelos anteriores, mas, sim, da valorização e integração deles.
Existem críticas a este conceito proposto pela OMS. Uma delas seria de que o
conceito é idealizado e utópico, já que o completo bem-estar físico, mental e social é
inatingível a qualquer ser humano. Ninguém pode ser considerado saudável se o
conceito de saúde for interpretado de forma concreta e literal. Alternativamente, pode-
se interpretar que cada indivíduo está em um processo de saúde/doença contínuo e
mutável. Diante dessa compreensão, entende-se que qualquer modelo de doenças e
transtornos mentais serão, inevitavelmente, limitados e incompletos.
A classificação das doenças mentais foi realizada por um conselho de
especialistas da associação américa de psiquiatria e publicado no Manual Diagnóstico
e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), que deriva do inglês Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders). Atualmente se encontra em sua quinta edição
(DSM-5), lançada em 2013 (TAVARES; CASABURI; SCHER, 2019).
7
O Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM), da
American Psychiatric Association, é uma classificação de transtornos mentais
e critérios associados elaborada para facilitar o estabelecimento de
diagnósticos mais confiáveis desses transtornos. Com sucessivas edições ao
longo dos últimos 60 anos, tornou-se uma referência para a prática clínica na
área da saúde mental. Devido à impossibilidade de uma descrição completa
dos processos patológicos subjacentes à maioria dos transtornos mentais, é
importante enfatizar que os critérios diagnósticos atuais constituem a melhor
descrição disponível de como os transtornos mentais se expressam e podem
ser reconhecidos por clínicos treinados. O DSM se propõe a servir como um
guia prático, funcional e flexível para organizar informações que podem
auxiliar o diagnóstico preciso e o tratamento de transtornos mentais. Trata-se
de uma ferramenta para clínicos, um recurso essencial para a formação de
estudantes e profissionais e uma referência para pesquisadores da área
(APA, 2014, p. 41, grifos dos autores).
8
comportamento, no afeto e na
motivação.
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sexo biológico e identidade
de gênero.
TRANSTORNOS Transtornos caracterizados Cleptomania
DISRUPTIVOS, DO por expressão repetida de Transtorno explosivo
CONTROLE DE IMPULSOS E comportamentos impulsivos intermitente
DA CONDUTA ou disruptivos. Transtorno da conduta
Transtornos
TRANSTORNOS
decorrentes do uso de
RELACIONADOS A Transtornos relacionados ao
substâncias
SUBSTÂNCIAS E uso de substâncias.
Transtorno induzidos
TRANSTORNOS ADITIVOS
por substâncias
Transtornos envolvendo
Transtorno
prejuízos nos processos de
TRANSTORNOS neurocognitivo leve
pensamento causados por
NEUROCOGNITIVOS Transtorno
substâncias ou condições
neurocognitivo maior
médicas.
Transtorno da
personalidade
borderline
Transtorno relacionados à
TRANSTORNO DA Transtorno da
personalidade de um
PERSONALIDADE personalidade
indivíduo.
antissocial
Transtorno da
personalidade narcisista
Transtorno pedofílico
Transtorno no qual uma
TRANSTORNOS Transtorno fetichista
parafilia causa sofrimento e
PARAFÍLICOS Transtorno
prejuízo.
transvéstico
Condições ou problemas Outro transtorno
OUTROS TRANSTORNOS para os quais uma pessoa mental especificado
MENTAIS pode buscar ajuda devido a outra condição
profissional. médica
TRANSTORNO DO
Discinesia tardia
MOVIMENTO INDUZIDOS POR Distúrbios que podem estar
Tremor postural
MEDICAMENTOS E OUTROS relacionados ao uso de
induzido por
EFEITOS ADVERSOS DE medicamentos.
medicamento
MEDICAMENTOS
Problema
OUTRAS CONDIÇÕES QUE Condições ou problemas
relacionados a abuso
PODEM SER FOCO DE para os quais uma pessoa
ou negligência
ATENÇÃO CLÍNICA pode buscar ajuda médica.
Problema ocupacional
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também é um instrumento para a coleta e a comunicação precisa de
estatísticas de saúde pública sobre as taxas de morbidade e mortalidade dos
transtornos mentais. Por fim, os critérios e o texto correspondente servem
como livro-texto para estudantes que precisam de uma forma estruturada
para compreender e diagnosticar transtornos mentais, bem como para
profissionais experientes que encontram transtornos raros pela primeira vez.
Felizmente, todos esses usos são compatíveis entre si (APA, 2014, p. 41).
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Por sua vez, o psicólogo suíço Eugen Bleuler (1857–1939) propôs uma
mudança drástica tanto no nome como no entendimento do transtorno. De acordo com
Bleuler, o transtorno não era um, mas um conjunto de doenças ao qual chamou de
esquizofrenias. O termo esquizofrenia não é uma cisão de personalidades (como no
transtorno dissociativo de identidade), mas uma cisão (schiz) das funções da mente.
Ao contrário de Kraepelin, Bleuler achava que era possível pessoas com esquizofrenia
se recuperarem do transtorno. Os profissionais ainda se referem aos aspectos
fundamentais do transtorno que Bleurer identificou como os “Quatro As”:
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sem sentido. Os pesquisadores propuseram que os sintomas positivos refletissem
níveis de dopamina ativados no sistema nervoso, e os sintomas negativos,
anormalidades na estrutura do cérebro. Cada vez mais, os estudiosos estão
começando a reconhecer que o prejuízo cognitivo desempenha um papel importante
nesse transtorno. Em vez de se focalizarem apenas nos sintomas positivos, eles estão
redefinindo os déficits cognitivos como aspectos centrais do transtorno
(WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
As disparidades no risco de mortalidade entre pessoas com e sem
esquizofrenia são significativas, em parte porque os medicamentos usados para tratar
esses sujeitos podem contribuir para ganho de peso, que, por sua vez, aumenta o
risco de doenças potencialmente fatais. A prevalência sexual identificada é
maioritariamente masculina. Para cada três homens que desenvolvem esquizofrenia
ao longo de suas vidas, duas mulheres são afetadas pelo transtorno. Embora o
diagnóstico de esquizofrenia seja bastante baixo quando comparado com outros
transtornos psicológicos, uma porcentagem surpreendentemente alta de adultos
relata experimentar sintomas psicóticos menores (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
O espectro da esquizofrenia inclui um conjunto de transtornos nos quais os
indivíduos vivenciam uma percepção distorcida da realidade e um prejuízo no
pensamento, no comportamento, no afeto e na motivação. A esquizofrenia é um
transtorno mental sério, dado seu impacto potencialmente grande sobre a capacidade
de o indivíduo levar uma vida produtiva e realizada. Embora um número significativo
de pessoas com esse transtorno algumas vezes consiga viver sem sintomas, muitas
precisam encontrar formas de adaptar suas vidas à realidade do transtorno
(WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
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mês (ou menos, se tratados com sucesso). Pelo menos um
deles deve ser (1), (2) ou (3):
1. Delírios.
2. Alucinações.
3. Discurso desorganizado.
4. Comportamento grosseiramente desorganizado ou
catatônico.
5. Sintomas negativos (i.e., expressão emocional diminuída
ou avolia)
Por período significativo de tempo desde o aparecimento da
perturbação, o nível de funcionamento em uma ou mais áreas
importantes do funcionamento, como trabalho, relações
B interpessoais ou autocuidado, está acentuadamente abaixo do
nível alcançado antes do início (ou, quando o início se dá na
infância ou na adolescência, incapacidade de atingir o nível
esperado de funcionamento interpessoal, acadêmico ou
profissional).
Sinais contínuos de perturbação persistem durante, pelo
menos, seis meses. Esse período de seis meses deve incluir
no mínimo um mês de sintomas (ou menos, se tratados com
sucesso) que precisam satisfazer ao Critério A (i.e., sintomas
da fase ativa) e pode incluir períodos de sintomas prodrômicos
C
ou residuais. Durante esses períodos prodrômicos ou
residuais, os sinais da perturbação podem ser manifestados
apenas por sintomas negativos ou por dois ou mais sintomas
listados no Critério A presentes em uma forma atenuada (p.
ex., crenças esquisitas, experiências perceptivas incomuns).
Transtorno esquizoafetivo e transtorno depressivo ou
transtorno bipolar com características psicóticas são
descartados porque 1) não ocorreram episódios depressivos
D maiores ou maníacos concomitantemente com os sintomas da
fase ativa, ou 2) se episódios de humor ocorreram durante os
sintomas da fase ativa, sua duração total foi breve em relação
aos períodos ativo e residual da doença.
A perturbação pode ser atribuída aos efeitos fisiológicos de
E uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a
outra condição médica.
Se há história de transtorno do espectro autista ou de um
transtorno da comunicação iniciado na infância, o diagnóstico
adicional de esquizofrenia é realizado somente se delírios ou
F
alucinações proeminentes, além dos demais sintomas exigidos
de esquizofrenia, estão também presentes por pelo menos um
mês (ou menos, se tratados com sucesso).
Fonte: APA (2014, p. 99).
14
restrito, avolição e associabilidade. O afeto restrito faz referência a uma limitação da
gama de expressões externas de emoções. A avolição é uma falta de iniciativa, não
querer agir ou faltar a energia e vontade para agir. A associalidade diz respeito a uma
falta de interesse nos relacionamentos sociais, incluindo uma ausência de empatia ou
incapacidade de formar relacionamentos íntimos com os outros
Nos Critérios B descrevem-se os sintomas que implicam prejuízo significativo.
Este critério indica o período de distúrbio, assegurando que as pessoas recebam esse
diagnóstico apenas se demonstrarem uma duração substancial dos sintomas. Os
critérios D e E referem-se a outros transtornos que não devem estar presentes em
pessoas diagnosticadas com esquizofrenia. Os critérios F referem-se aos sintomas de
esquizofrenia associados aos transtornos do espectro autista.
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sintomas, que incluem delírios, alucinações, fala desorganizada e comportamento
grosseiramente desorganizado ou catatônico. O diagnóstico requer que os sintomas
sejam vivenciados por mais de um dia, mas ocorra recuperação em menos de um
mês. Ao atribuir esse diagnóstico, o profissional deve levar em consideração a
herança cultural do cliente. O profissional também deve registrar se o cliente vivenciou
um estressor recente, tal como um desastre natural, a perda de um parente próximo
ou um acidente de automóvel. Os clínicos também registram se uma mulher
desenvolve esse transtorno no período de quatro semanas após o parto
(WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
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3.6 Transtornos delirantes
Pessoas acometidas por este transtorno têm como único sintoma delírios, que
duram por pelo menos um mês. Elas recebem esse diagnóstico se não apresentarem
qualquer outro sintoma de esquizofrenia. Entende-se, portanto, como delírio a falsa
crença falsa arraigada profundamente e não compatível com a inteligência ou a
herança cultural do cliente. Por exemplo, um delírio de perseguição é a falsa crença
de que alguém ou alguma coisa quer prejudicá-lo. A tabela 3 apresenta alguns temas
de delírios para melhor compreensão.
17
A crença de que forças externas estão inserindo pensamentos na mente
INSERÇÃO DE da pessoa. Por exemplo, uma mulher conclui que seus pensamentos não
PENSAMENTO são dela, mas que estão sendo colocados lá para controlá-la e perturbá-
la.
Fonte: APA (2014, p. 87).
18
Whitbourne; Halgin (2015) apresentam um exemplo das pessoas
diagnosticadas com o tipo erotomaníaco. Assim, eles explicam que o alvo desse tipo
de delírio costuma ser alguém com posição superior. Por exemplo, uma mulher pode
estar certa de que um cantor famoso está apaixonado por ela e que ele lhe envia
mensagens de amor secretas em suas canções.
As pessoas que apresentam sintomas do tipo grandioso consideram que elas
são extremamente importantes. Por exemplo, um homem pode acreditar que é o
Messias aguardando um sinal do céu para iniciar sua pregação ativa. Já no tipo
ciumento de transtorno delirante, os indivíduos estão certos de que seu parceiro
romântico lhes seja infiel. Eles podem até armar um plano para apanhar seus
companheiros em uma armadilha que prove a infidelidade deles. As pessoas com o
tipo persecutório de transtorno delirante acreditam que alguém as está tratando de
maneira malévola. Elas podem, por exemplo, ficar convencidas de que seus vizinhos
estão deliberadamente envenenando sua água. Aquelas com o tipo somático de
transtorno delirante acreditam que tenham uma condição médica. Ao contrário das
pessoas com um transtorno de ansiedade, as crenças afetadas por um transtorno
delirante não são baseadas em ansiedade (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
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profunda depressão e estados de extrema mania (transtorno bipolar tipo I) ou
depressão e hipomania bipolar II. A elevação do humor no transtorno bipolar tipo II é
mais branda quando comparada ao transtorno bipolar tipo I (GONÇALVES, 2021).
De acordo com o DSM-5 (APA, 2014, p. 123):
O DSM-5 orienta que além dos critérios diagnósticos para a fase de mania, o
paciente precisa preencher critérios diagnósticos também para episódios de
depressão maior. Essa oscilação pode ter ciclo rápido, ou seja, o paciente oscila
20
rapidamente entre os episódios de mania e depressão ou os episódios podem ser
mais duradouros, demorando alguns meses para a oscilação (APA, 2014).
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21
Os transtornos depressivos têm como característica comum a presença de
humor deprimido, sentimentos de vazio e de irritação, além de sintomas somáticos e
cognitivos. O DSM-V (APA, 2014) traz sete diferentes formas de diagnóstico de
depressão. Neste tópico apresentaremos três transtornos depressivos, o transtorno
depressivo maior, o transtorno depressivo persistente e o transtorno disruptivo da
desregulação do humor.
22
4.1.2 Transtorno depressivo persistente (distimia)
Os estudos realizados por Gonçalves (2021) nos explicam que outra forma de
depressão é a distimia. Caracteriza-se, principalmente, por um humor deprimido por
pelo menos dois anos além de dois outros critérios dentre os apresentados na Tabela
7. Além disso, conforme a APA (2014), nestes dois anos o paciente não pode
apresentar uma janela sem sintomas de mais de dois meses. Trata-se de uma forma
mais longa e crônica da depressão que pode atingir entre 3 e 6 % da população.
A perturbação do humor que ocorre com o transtorno depressivo maior pode
assumir uma forma crônica e contínua. Pessoas adultas com transtorno depressivo
persistente ou distimia têm, por pelo menos 2, um conjunto mais limitado dos sintomas
que ocorrem com o transtorno depressivo maior, incluindo distúrbios do sono e do
apetite, energia baixa ou fadiga, autoestima baixa, dificuldade com concentração e
tomada de decisão e sentimentos de desesperança. Apesar de não vivenciarem todos
os sintomas de um episódio depressivo maior, as pessoas com transtorno depressivo
persistente nunca estão livres de seus sintomas por mais de 2 meses. Além disso,
elas tendem a apresentar outros transtornos psicológicos sérios, incluindo um risco
aumentado para desenvolver transtorno depressivo maior, transtorno da
personalidade e transtorno por uso de substância (GONÇALVES, 2021).
23
distímico frequentemente são sarcásticos, niilistas, rabugentos, exigentes e
queixosos. Segundo o DSM-V, os critérios para diagnóstico de distimia são similares
ao diagnóstico de transtorno depressivo maior (GONÇALVES, 2021).
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5 TRANSTORNOS DE ANSIEDADE E DE PERSONALIDADE
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25
e preocupações exageradas, sensação de incapacidade de controlar suas
preocupações, sendo estas relacionadas a diversos contextos e situações, juntamente
com sintomas fisiológicos e psicológicos.
Segundo o DSM-5, para diagnóstico de transtorno de ansiedade generalizada,
o paciente precisa apresentar os sintomas na maior parte dos dias nos últimos seis
meses. Além disso, o paciente precisa apresentar pelo menos três dos seis sintomas
relatados como característico desse transtorno. Os critérios diagnósticos estão
listados na Tabela 8.
26
e o medo do fracasso é tanta, que o paciente tem um ataque de pânico (GONÇALVES,
2021).
O diagnóstico de transtorno do pânico, segundo o DSM-V, é feito quando o
paciente apresenta quatro ou mais sintomas característicos, sendo os critérios
diagnósticos apresentados na Tabela 9.
27
3. As situações sociais geram quase sempre medo e ansiedade.
São por causa desses critérios que o paciente pode evitar eventos sociais,
comer e falar frente às outras pessoas por preocupação excessiva do julgamento de
terceiros (GONÇALVES, 2021).
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28
transtorno de personalidade. Este número é ainda maior em pessoas com algum outro
transtorno mental (ex.: depressão, ansiedade) chegando a quase 30% (SADOCK;
SADOCK; RUIZ, 2017).
No Brasil, o estudo de Santana et al. (2018) indicou que cerca de 7% da
população tem um diagnóstico de transtorno da personalidade. Considerando a
sessão II do DSM-V (APA, 2014), que tem como base para diagnóstico o modelo
categórico, existem dez Transtornos da Personalidade com características diferentes
e, consequentemente, dez possíveis diagnósticos, a saber:
1. Paranoide;
2. Esquizoide;
3. Esquizotípico;
4. Antissocial;
5. Borderline;
6. Histriônico;
7. Narcisista;
8. Evitativo;
9. Dependente;
10. Obsessivo compulsivo.
29
Segundo a APA (2014), para ser diagnosticado com transtorno da
personalidade borderline com base na sessão II do DSM-V, o paciente precisa
apresentar cinco dos noves critérios diagnósticos apresentados na Tabela 11.
30
sentem-se inseguras e têm forte sentimento de incapacidade, acarretando
dificuldades na autonomia para planejamento e realização de atividades cotidianas
nos mais diversificados aspectos da vida (APA, 2014).
Para diagnóstico, com base no DSM-V, um paciente precisa apresentar pelo
menos cinco critérios dentre os oito listados como característicos desse transtorno.
Os critérios estão apresentados na Tabela 12, a seguir.
2. Precisa que outros assumam responsabilidade pela maior parte das principais
áreas de sua vida.
31
6 TRANSTORNO DO NEURODESENVOLVIMENTO
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intelectual”, portanto o DSM-5 coloca essa expressão entre parênteses após
“deficiência intelectual”. O DSM-IV-TR usava o termo “retardo mental” para referir-se
a esse grupo de transtornos. Entretanto, de acordo com as recomendações da
American Association of Intelectual and Developmental Disabilities (Associação
Americana sobre Deficiências Intelectuais e do Desenvolvimento-AAIDD), entre outros
grupos, os autores do DSM-5 adotaram a terminologia de “deficiência intelectual”
(transtorno do desenvolvimento intelectual).
De acordo com o DSM-5 (2014), a Deficiência Intelectual é definida como:
33
comportam. Essas últimas considerações são congruentes com as da AAIDD. O ponto
de corte para satisfazer esse critério é uma medida de inteligência de
aproximadamente 70 ou abaixo (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
O segundo conjunto de critérios para um diagnóstico de deficiência intelectual
envolve prejuízos no funcionamento adaptativo, relativo à idade e ao grupo cultural de
uma pessoa, em uma variedade de atividades da vida diária, como comunicação,
participação social e vida independente. Algumas dessas dificuldades adaptativas, por
exemplo, incluem problemas para usar dinheiro, dizer as horas e se relacionar com
outras pessoas em situações sociais. Os terapeutas devem julgar se o comportamento
adaptativo de um indivíduo está ou não prejudicado por meio de testes que sejam
padronizados, individualizados, possuam solidez psicométrica e sejam culturalmente
adequados.
O terceiro critério diz respeito à idade de início. De maneira específica, o
transtorno deve começar antes da idade de 18 anos. Uma vez que o terapeuta
determine que o diagnóstico de deficiência intelectual é adequado, o próximo passo é
avaliar o grau de gravidade, que pode ser leve, moderado, grave e profundo. Os testes
são baseados em quão bem o indivíduo é capaz de se adaptar nas esferas conceitual,
social e prática. Ademais, o DSM-5 requer que os profissionais usem testes que
refletem sensibilidade cultural.
O DSM-5 baseia as esferas de comportamento adaptativo em áreas que
determinam melhor se um indivíduo está ou não prejudicado na vida diária, e elas são
delineadas de forma mais completa. Os pesquisadores acreditam que a combinação
de melhor especificidade nos critérios de comportamento adaptativo e inclusão de
testes culturalmente sensíveis resultarão em uma base mais precisa para o
diagnóstico e, em última análise, em melhor tratamento de indivíduos com transtornos
do desenvolvimento intelectual (APA, 2014).
O DSM-5 especifica quatro níveis de gravidade para deficiência intelectual em
cada uma de três esferas:
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fundamental e necessitam de assistência contínua para completar
tarefas da vida diária.
Grave: Alcance limitado de habilidades conceituais, pouco
entendimento de linguagem, aritmética, tempo e dinheiro; necessita
apoio extensivo durante toda a vida.
Profundo: Incapaz de pensar simbolicamente, entendimento limitado de
como usar objetos; prejuízos motores e sensoriais com frequência são
presentes neste nível, tornando impossível para o indivíduo o uso de
objetos de uma forma funcional (APA, 2014).
35
habilidades visuoespaciais, como combinar e classificar, baseadas em
características físicas, podem ser adquiridas. À ocorrência concomitante de
prejuízos motores e sensoriais, porém, pode impedir o uso funcional dos
objetos (APA, 2014, p. 34-36).
Leve: Pode ser capaz de cuidar de si mesmo, mas necessita apoio com tarefas
complexas na vida diária, como fazer compras, transporte, cuidado de crianças
e manejo do dinheiro. Na idade adulta, pode ser empregado em funções que
não re- queiram habilidades conceituais.
36
Moderado: Capaz de suprir uma variedade de necessidades pessoais, embora
considerável treinamento seja requerido a princípio. Pode ser empregado em
funções que requeiram habilidades conceituais limitadas; necessita apoio e
supervisão. Uma pequena minoria apresenta comportamento mal-adaptativo.
Grave: Requer apoio e supervisão para atividades da vida diária; não pode
tomar decisões por si ou pelos outros; quando adulto, exige treinamento e apoio
de longo prazo para qualquer tipo de aquisição de habilidade. Muitas pessoas
neste nível podem apresentar comportamento mal-adaptativo, incluindo
autolesão.
Profundo: Dependente de outras pessoas para todos os aspectos das
atividades diárias; pode ser capaz de ajudar em algumas tarefas em casa ou
no local de trabalho. Pode apreciar uma variedade de formas de
entretenimento, embora prejuízos físicos e sensoriais impeçam a participação
ativa. Uma minoria significativa apresenta comportamento mal-adaptativo
(APA, 2014, p. 34-36).
37
Quando possível, a prevenção é valiosa para reduzir o risco de Deficiências
intelectuais. No caso da SAF, educação e aconselhamento são de valor potencial.
Infelizmente, as evidências que demonstram que esses programas de fato reduzem o
consumo de álcool em mulheres grávidas ou, mais importante, produzem efeitos
benéficos nas crianças, são muito limitadas. Os clínicos podem usar testes genéticos
para detectar a presença ou o risco de síndrome de Down, PKU e síndrome do X frágil.
No caso específico da PKU, as crianças precisam aderir a dietas com restrição de
fenilalanina imediatamente após o teste mostrar que herdaram essa condição
(WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
As crianças nascidas com SAF podem se beneficiar de diversos fatores
protetores que reduzem o impacto do transtorno sobre sua adaptação e seu
desenvolvimento posteriores. O diagnóstico precoce pode ajudar os educadores a
colocá-las em classes adequadas, e elas podem receber os serviços sociais que
podem ajudá-las, assim como suas famílias. O envolvimento na educação especial
com foco específico nas necessidades e estilos de aprendizagem pode ser
particularmente benéfico. Quanto mais essas crianças puderem receber ajuda de uma
vida familiar amorosa e estável, maiores suas chances de evitar condições
secundárias como comportamento criminoso, desemprego e interrupções na
educação (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
38
causa mais comum de defeitos de nascimento em seres humanos e quase sempre
está associada com deficiência intelectual, bem como com uma série de sinais físicos.
A face de um indivíduo com síndrome de Down é relativamente fácil de
reconhecer e inclui uma cabeça menor que o normal e de formato incomum. Alguns
dos aspectos característicos das pessoas com a síndrome incluem um nariz achatado,
orelhas pequenas, boca pequena, olhos inclinados para cima, excesso de pele na
nuca e pontos brancos na Íris do olho. Apresentando atrasos no desenvolvimento
físico, os indivíduos com síndrome de Down nunca alcançam a altura adulta total.
Também são propensos a sofrer de uma variedade de males físicos, incluindo defeitos
cardíacos, catarata dos olhos, problemas de audição, problemas de quadril, vômito
precoce e massivo, constipação crônica, apneia do sono, tireoide subativa e dentes
que aparecem mais tarde que o normal e em locais que podem levar a problemas de
mastigação (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
Além das pontuações de QI mais baixas, esses indivíduos são mais propensos
a apresentar comportamento impulsivo, julgamento pobre, intervalo de atenção curto
e tendência a frustração e irritação por suas limitações. Eles são muito mais inclinados
a desenvolver doença de Alzheimer, e isso acontece em uma idade muito mais
precoce do que seria esperado. Os altos níveis de estressores de vida que enfrentam
os tornam potencialmente vulneráveis a desenvolver transtornos depressivos
(WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
39
6.4 Síndrome do X frágil
Fonte: https://www.eudigox.com.br/
40
menopausa prematura ou dificuldade para conceber um filho. Os terapeutas também
associam a síndrome do X frágil com hiperatividade e atenção pobre, bem como com
outros transtornos do neurodesenvolvimento, incluindo o do espectro do autismo. Um
levantamento de mais de mil famílias que tinham pelo menos um filho com a síndrome
do X frágil revelou que mais de metade vivenciava uma carga financeira relevante
como resultado direto do transtorno, e quase 60% tiveram que interromper ou mudar
significativamente seus horários de trabalho (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
Os riscos ambientais durante o desenvolvimento pré-natal são a segunda
categoria de causas de deficiência intelectual. Esses riscos, chamados de
“teratogênicos”, incluem drogas ou substâncias químicas tóxicas, subnutrição materna
e infecções na genitora durante fases essenciais do desenvolvimento fetal. As mães
que contraem rubéola (“sarampo alemão”) durante o primeiro trimestre da gravidez
são propensas a dar à luz um filho com deficiência intelectual. Infecções, privação de
oxigênio durante o parto (“anoxia”), parto prematuro e lesão cerebral durante o par- to
também podem levar a dano cerebral e a déficits intelectuais associados. Também
podemos associar parto prematuro com deficiência intelectual. Doenças,
traumatismos cranianos causados por acidentes ou abuso e exposição a substâncias
tóxicas, como chumbo ou monóxido de carbono, também podem levar crianças mais
velhas a sofrer perda da capacidade intelectual (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
O consumo materno de álcool durante a gravidez pode levar o infante a
desenvolver, antes do nascimento, síndrome alcoólica fetal (SAF), um conjunto de
anormalidades na aparência facial, padrões de crescimento mais lentos que a média
e, mais importante, amadurecimento do sistema nervoso que resulta em déficits
intelectuais. O uso materno de álcool durante todos os estágios da gravidez pode
causar dano ao desenvolvimento da criança. A profissão médica considera o nível de
consumo prejudicial mais de 80 gramas de álcool por dia. Quanto maior a quantidade
consumida pela gestante, maiores os efeitos sobre a criança.
Os déficits cognitivos de crianças com SAF parecem pronunciados sobretudo
na área de funcionamento executivo, levando-as a serem particularmente desafiadas
no processamento e integração de informação. Elas acham difícil efetuar tarefas que
requeiram a graduação do controle da atenção e a realização de manipulações
mentais. Embora a exposição ao álcool afete o cérebro inteiro, as crianças com SAF
41
apresentam volume cerebral reduzido e malformações do corpo caloso, o tecido que
conecta os dois hemisférios cerebrais.
42
6.6 Transtorno do espectro autista
43
O termo transtorno do espectro autista reflete um consenso entre os cientistas
que redigiram o DSM-5 de que quatro transtornos antes considerados separados são,
na verdade, uma condição única com diferentes níveis de gravidade. Estes eram:
Transtorno autista;
Transtorno de Asperger;
Transtorno desintegrativo da infância;
Transtorno global do desenvolvimento sem outra especificação.
44
falar de si na terceira pessoa, apresentar vocabulário muito sofisticado
para a idade, repetir muito palavras ou frases que ouviu (ecolalia),
inventar palavras novas (neologismos);
falar frequentemente como um personagem da televisão;
prejuízo da linguagem não verbal;
usam menos mimicas ou gestos e não triangulam o olhar com o
interlocutor e o objeto de interesse (atenção compartilhada);
parecem não gostar de brincar com as outras crianças, de compartilhar
experiências ou de se envolver em interações sociais de troca
(WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
45
podem parecer quase insensíveis a dor, calor ou frio, significando que podem se
colocar com facilidade em risco de lesões significativas. No entanto, suas
anormalidades sensoriais podem tomar a forma de hipersensibilidade a som, luz ou
cheiro (WHITBOURNE; HALGIN, 2015).
Comportamentos e interesses restritos e estereotipados caracterizam-se pela
presença de movimentos repetitivos sem finalidade, como balançar para a frente e
para trás, andar na ponta dos pés, ficar girando em torno de si mesmo, movimentar
os dedos em frente aos olhos ou ficar fazendo movimentos repetitivos com objetos
sem um motivo definido. A criança pode apresentar obsessão por assuntos
específicos, como dinossauros, astronomia, números, bandeiras, personagens de
desenhos animados, etc. Geralmente, essa predileção é tão intensa que essas
crianças podem demonstrar muita dificuldade de falar ou brincar de outras coisas. Elas
podem ter também muito apego a rotinas, dificuldade em lidar com mudanças ou
imprevistos, podendo ficar muito agitadas ou irritadas quando há mudança nos
horários, no lugar de sentar na sala, na programação das aulas, etc.
As características incomuns do transtorno do espectro autista tornam-se mais
proeminentes quando o bebê chega à fase dos primeiros passos e à idade escolar.
Além disso, essa condição continua durante toda a vida do indivíduo, assumindo uma
de inúmeras formas, que variam em sintomas e gravidade. Entretanto, as áreas
particulares afetadas e a gravidade dos sintomas variam da infância à adolescência
e, novamente, da adolescência à idade adulta. Em um grande estudo transversal
comparando esses três grupos etários, a capacidade de interagir com os outros era
menos prejudicada entre os adolescentes do que entre os adultos, e os adultos eram
menos prejudicados na área de comportamentos restritos e repetitivos.
Pode haver alterações dos sentidos (tato, visão, audição, olfato), como:
46
automutilação (comportamento autolesivo, como morder as mãos,
bater a cabeça na parede, dar socos da cabeça, principalmente em
situações de estresse ou quando há dificuldades para comunicar suas
necessidades e desejos);
oscilações de calmaria e agitação, entre outros comportamentos.
Tais condições não são critérios obrigatórios para o diagnóstico, embora sejam
bastante frequentes (ESTANISLAU; BRASSAN, 2014).
47
outros comportamentos, em vez de se concentrar em mudar distúrbios
comportamentais isolados.
O terapeuta também pode ajudar a criança a desenvolver novas habilidades de
aprendizagem que lhe dê algumas experiências de sucesso na solução de problemas.
Por exemplo, ele poderia ensiná-la a dividir um problema grande, tal como se vestir,
em tarefas menores que possa realizar. Como resultado, a criança se sente menos
frustrada e, portanto, é menos propensa a regredir para comportamentos
problemáticos, como balançar e bater a cabeça. Os profissionais também se
concentram na necessidade de motivar a criança a comunicar-se mais efetivamente.
Ela então será motivada a responder a estímulos sociais e comportamentais, que é a
chave para o tratamento. Com o tempo, as crianças serão mais motivadas a regular e
iniciar comportamentos por contra própria. Mesmo mudanças simples podem ter esse
impacto, tal como deixá-las escolherem os materiais, os brinquedos e as atividades
para a intervenção, em vez de serem escolhidos pelo clínico (ESTANISLAU;
BRASSAN, 2014).
Outras estratégias comportamentais incluem procedimentos de autocontrole,
tal como automonitoração, treinamento do relaxamento e condicionamento encoberto.
As crianças também podem aprender a tocar uma imagem de uma face “carrancuda”
para indicar seu desprazer em vez de agir agressivamente quando estão aborrecidas
ou infelizes. Um fato importante a perceber é que, para esses programas
comportamentais serem eficazes, os terapeutas devem realizá-los intensivamente por
um longo período de tempo, começando cedo na vida da criança.
Estanislau e Brassan (2014) explicam em seus estudos que outra abordagem
de intervenção é ter iguais em vez de adultos interagindo com a criança. Essa situação
aproxima-se de um tipo mais normal de ambiente social, no qual as crianças assumem
um papel na modificação do comportamento das outras. Em comparação com as
intervenções nas quais os adultos fornecem o reforço, as mediadas por pares têm a
vantagem de permitir que os jovens realizem suas atividades comuns sem interrupção
dos adultos. A mais eficaz dessas intervenções envolve meninos pequenos cujos
irmãos mais velhos fornecem a intervenção, usa modelagem de pares, tenta
generalizar entre situações e envolve a colaboração entre os membros da família e o
pessoal da escola.
48
6.6.2 Transtorno do espectro autista de alto funcionamento
49
7 INTERVENÇÕES COMPORTAMENTAIS PARA TEA NO AMBIENTE ESCOLAR
Fonte: https://br.freepik.com/
50
Agredir a si mesmo e aos outros;
Autoagressão e agressão
destruição de propriedade
Problemas com rigidez e Resistência à mudança; perseveração
perseveração compulsão; Interesses incomuns.
Hiperatividade e problemas de Altos níveis de atividade; dificuldade de
atenção atenção; impulsividade; correr ou fugir.
Depressão; ansiedade; transtorno bipolar
Problemas de humor
(mania).
Fonte: Volkmar e Wiesner (2018)
51
de comportamento. Por isso, Volkmar e Wiesner (2018) apresentam alguns princípios
para que pais, tutores e professores possam terem em mente:
52
que ela se engaje na atividade por um tempo curto e, depois, elogiá-la ou deixá-la
fazer outra coisa por algum tempo. Alguns comportamentos sensoriais podem ser
tratados ajudando a criança a encontrar formas mais apropriadas de se engajar no
comportamento. Terapeutas ocupacionais podem ajudar (VOLKMAR; WIESNER,
2018).
Para indivíduos com dificuldades de comunicação importantes, os
comportamentos problemáticos podem ter uma função comunicativa; por exemplo, se
a criança não consegue dizer “não” ou “pare”, o comportamento problemático faz isso
por ela. Devemos tentar minimizar as dificuldades de comunicação ao lidar com esses
comportamentos. Os pais devem manter uma linguagem simples e precisa. Para
indivíduos não verbais, algumas formas básicas de comunicar não ou sim podem ser
úteis, como um cartão de ajuda para pedir auxílio, em vez de gritos ou alguns outros
sinais básicos. O fonoaudiólogo deve sugerir estratégias ou métodos de comunicação
para ajudar com isso e pode colaborar com o psicólogo da escola ou um especialista
em comportamento sobre como fazê-lo. Os prestadores de cuidados primários podem
ajudar os pais mostrando-lhes que existem opções e ajudando a equipe de tratamento
a ter uma boa comunicação entre si – por exemplo, se um cartão de ajuda estiver
funcionando na escola, os pais devem utilizá-lo em casa. A Tabela 14 resume alguns
dos erros comuns ao lidar com problemas de comportamento.
53
Mantenha um humor simples;
Humor complexo
sarcasmo e ironia são muito
(sarcasmo, ironia)
complicados de entender.
Dizer “está chovendo canivetes”
Linguagem figurativa
poder ser interpretado literalmente.
A ambiguidade pode ser muito difícil
Ambiguidade
de administrar
Introduza a mudança de forma
gradual; grandes mudanças e
Inconsistência
inconsistências são muito
perturbadoras para à aprendizagem.
Cuide para não estar reforçando um
comportamento problemático; por
Reforço involuntário do
exemplo, sua atenção aos gritos está
comportamento
aumentando porque o indivíduo
consegue mais atenção?
Fonte: Volkmar e Wiesner (2018).
54
(balanceio do corpo e algumas vezes bater com a cabeça) são vistos em bebês com
desenvolvimento típico, mas desaparecem quando a criança cresce (VOLKMAR;
WIESNER, 2018).
Crianças com desenvolvimento típico em idade escolar e de ensino médio
também podem se engajar em níveis leves de movimentos de autoestimulação, como
movimentar as pernas com rapidez enquanto fazem uma prova, porque isso as ajuda
a se sentir menos ansiosas. Movimentos incomuns, como os tiques, podem ser vistos
em outras condições, como, por exemplo, na síndrome de Tourette. Os tiques diferem
de comportamentos estereotipados na medida em que tendem a ocorrer em
episódios, envolvem a cabeça e o pescoço (em particular no início), e a criança não
parece gostar de realizá-los. Assim, tendem a não envolver as mãos ou o estalar dos
dedos ou o giro e rodopio vistos com mais frequência em crianças com TEAs.
Problemas do movimento também podem ser observados em outros transtornos (p.
ex., algumas vezes depois de infecções por estreptococos); às vezes, pode ser difícil
diferenciar a natureza dos movimentos (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
Os movimentos estereotipados repetitivos variam no curto e no longo prazo.
Com frequência, parecem aumentar depois dos 3 anos de idade, podendo voltar a
aumentar em frequência ou intensidade (ou ambos) em torno dos 5 ou 6 anos, e então
decrescem, reaparecendo próximo ao início da puberdade, em geral alguns meses
antes dos primeiros sinais físicos da puberdade. Esses comportamentos podem surgir
em momentos nos quais a criança está entediada ou estressada e quando
hiperestimulada ou ansiosa. Também parecem servir como um modo de atividade
preferido pela criança, quase como um relaxamento (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
Os autores nos quais estamos nos referendando sinalizam que movimentos e
atividades físicas vigorosas podem ajudar a reduzir comportamentos estereotipados.
As crianças que se engajam em giro intenso podem se beneficiar de exercícios
regulares. Até mesmo fazê-las ficar em pé por curtos períodos na sala de aula para
fazer movimentos vigorosos como alongamento, salto ou bamboleio pode ajudar.
Algumas vezes, um dos problemas com ambientes de sala de aula mais inclusiva é
que as oportunidades para movimento físico e atividade vigorosa estão limitadas ao
ginásio e ao pátio no recreio. Os autores também problematizam que geralmente as
crianças com TEA são encorajadas a ficar sentadas no ambiente da sala de aula
regular. Eles propõem pensar no movimento como um aliado dentro do plano de aula,
55
de modo que se permita intervalos periódicos para movimento e outras atividades
físicas.
Outra situação comum de acontecer com crianças com TEA é que às vezes,
elas se engajam em autoestimulação auditiva, por exemplo, passando longos
períodos resmungando ou fazendo ruídos. Isso algumas vezes acontece quando a
criança é excessivamente estimulada (sobretudo por ruídos e sons). Nesse caso,
orienta-se o uso de aparelhos, desde simples fones de ouvido até música e aqueles
que produzem ruído branco ou determinados sons (como o som do oceano ou de
chuva caindo), principalmente, para crianças que são demasiadamente responsivas a
sons (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
56
problema físico ou até mesmo uma dificuldade visual da qual não conseguem se
queixar por meio de palavras (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
Com frequência, mas nem sempre, a agressão em relação a outras pessoas é
provocada de alguma forma; por exemplo, quando a criança é interrompida ou lhe
pedem para fazer alguma coisa mais desafiadora. Devido aos interesses e
preocupações incomuns, pode ser difícil saber o que desencadeia tais
comportamentos. Do mesmo modo, as maneiras incomuns como a pessoa verbal fala
podem algumas vezes dificultar a compreensão do que desencadeia a atitude. De
forma semelhante à autoagressão, a agressão pode ser um grande problema para
pais, professores e membros da equipe da escola. Ela pode assumir a forma de
comportamentos de morder, bater, chutar, arranhar ou dar cabeçadas.
Trata-se sobretudo de analisar as causas que podem desencadear o
comportamento. Os especialistas exemplificam com as seguintes perguntas:
57
algumas vezes sejam difíceis de mensurar, esses comportamentos podem ser fonte
de grande dificuldade para crianças com funcionamento superior. Algumas vezes,
crianças de funcionamento inferior com autismo que em outros aspectos parecem ter
déficit de atenção podem passar um tempo longuíssimo em sua fixação particular.
Independentemente do nível de funcionamento da criança, esses interesses especiais
serão um problema se ela passar tanto tempo envolvida com eles que isso acabe
interferindo em seu funcionamento em outras áreas. Lamentavelmente, por ser tão
fixada em um objeto ou tema particular, a criança também evita ser exposta a novas
situações e à aprendizagem de coisas novas. (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
Os membros da equipe de ensino e os pais podem acabar tendo que
empreender grandes esforços para não provocar a criança e não permitir que ela
passe um tempo excessivo na busca de seu interesse à custa do tempo de
aprendizagem. As dificuldades que crianças com autismo têm para lidar com a
mudança realmente dizem muito sobre seus problemas com o processamento da
informação social e sua tendência a aprender as coisas em blocos (o que os
psicólogos chamam de aprendizagem em Gestalt) em vez de dividi-las em
fragmentos. Desde que as coisas permaneçam exatamente as mesmas, a criança não
tem que lidar com a complexidade imposta pela mudança. Esse problema também
revela as dificuldades que os jovens com autismo têm de obter uma visão ampla da
interação social. Ou seja, a interação social apresenta muitos obstáculos significativos
se a pessoa tem problemas para lidar com mudanças porque o significado está
sempre se alterando, dependendo de quem está falando e sobre o que se está
falando. Além disso, as múltiplas pistas concomitantes na interação (tom de voz,
expressão facial, gestos e conteúdo das palavras), que fornecem importante
significado para o resto das pessoas, são fontes potenciais de confusão e
desorganização para crianças com TEAs (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
Várias estratégias podem ser empregadas para ajudar a lidar com a resistência
à mudança. Para crianças que não têm muita linguagem falada, é importante utilizar
materiais visuais concretos a fim de ajudar a criança a ser mais comunicativa ou
organizada. Uma pequena câmera e um notebook ou cartões podem ser utilizados
para ajudar às a ver o que vem primeiro, o que está acontecendo agora e o que irá
acontecer no futuro. As programações visuais podem ser colocadas na geladeira de
casa ou no quadro de avisos na sala de aula, e periodicamente pode-se chamar a
58
atenção do aluno para elas. Um número cada vez maior de aplicativos está disponível
para ajudar com as programações, transições, horários, etc.
Uma segunda estratégia envolve ajudar a criança a tolerar a mudança por meio
de um processo mais gradual. Mais uma vez, pode-se usar todo um corpo de trabalho
baseado na teoria da aprendizagem para introduzir a mudança de modo gradual.
Pode-se experimentar a mudança planejada ou surpresas planejadas e, algumas
vezes, dar à criança a escolha entre três surpresas secretas, as quais podem ser
colocadas no verso de um cartão de fichário. Ela escolherá um, obviamente sem saber
do que se trata. No começo, será de grande ajuda fazer com que todas as opções
sejam coisas de que a criança irá gostar. Ajude-a a trabalhar com o tempo e
competências de organização. Dependendo do nível de habilidade da criança, estas
podem variar desde o uso de recursos visuais simples até listas (para aquelas que
sabem ler), organizadores e dispositivos de software mais sofisticados (VOLKMAR;
WIESNER, 2018).
Outra abordagem é tornar o comportamento mais funcional, isto é, ajudando a
criança a usar seu interesse de maneira mais normal ou típica. A ideia é que, ao ajudá-
la a aprender a usar os comportamentos de forma mais produtiva, ela poderá ser
ajudada a ser mais funcional na vida diária.
De acordo com Volkmar e Wiesner (2018), outras estratégias podem incluir o
uso dos seguintes recursos:
59
porque isso as deixa ansiosas. Além disso, podem ter problemas para reconhecer que
alguma coisa é nova e perceber que estão ansiosas. O ensino explícito e o
aconselhamento podem ser muito úteis para essas crianças.
Um problema relacionado tem a ver com comportamentos compulsivos e
ritualísticos. A criança pode ter que realizar uma série de ações ou comportamentos
quando se engaja em alguma atividade. Alguns comportamentos ritualísticos ou
compulsivos guardam certa semelhança com aqueles vistos no transtorno obsessivo-
compulsivo (TOC), uma condição na qual as pessoas são perturbadas por obsessões
(coisas sobre as quais não conseguem parar de pensar, como o pensamento de que
são más) e compulsões (a necessidade de realizar uma atividade de modo repetitivo,
como lavar as mãos devido ao temor de que estejam sujas). Algum grau de
obsessividade e compulsão é perfeitamente normal e pode ser adaptativo. No entanto,
não é normal que uma criança leve 50 minutos para lavar as mãos (às vezes até a
ponto de começarem a sangrar) ou esteja tão preocupada em não fazer algo ruim que
fique imobilizada (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
As semelhanças dos comportamentos mais típicos de TOC com alguns
daqueles vistos em autismo (rigidez e tendência a repetir as coisas) são muito
interessantes, e alguns dos mesmos tratamentos medicamentosos para esses
comportamentos são empregados para ambas as condições. Um importante ponto de
diferença é que com frequência crianças (ou adolescentes e adultos) com TOC lhe
dirão que não gostam de ter que realizar os comportamentos. Em contrapartida,
indivíduos com TEAs em geral acham que seus comportamentos compulsivos não
são penosos e, na verdade, são fonte de conforto e prazer (VOLKMAR; WIESNER,
2018).
60
algumas das dificuldades podem estar relacionadas a problemas com a linguagem e
a comunicação. Para crianças com funcionamento cognitivo superior, os problemas
de atenção (e até certo ponto hiperatividade) podem sugerir transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade (TDAH). A questão de diagnosticar formalmente o TDAH em
crianças com TEAs permanece indefinida (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
Ao avaliar esses problemas, uma das primeiras perguntas a se fazer é se as
dificuldades da criança são vistas em todas as situações ou apenas na escola. Se
ocorrerem somente na escola, vale a pena indagar se são vistas em todas as aulas
ou ambientes ou apenas em alguns. Se ocorrerem apenas na escola e em alguns
ambientes, é recomendável prestar muita atenção ao que está acontecendo. Por
exemplo:
61
aplicadas. Por exemplo, deve haver uma avaliação funcional e a consideração de
medidas (como pistas visuais) para ajudá-la a ser mais organizada. Para aquela com
ou autismo com alto funcionamento ou atípico, outros apoios organizacionais podem
ser úteis. Um programa comportamental pode ser útil na escola e em casa. Esse
esforço deve envolver pais e professores para que o sistema possa ser aplicado de
forma consistente durante todo o dia do indivíduo. Sabe-se que em alguns casos, os
tratamentos medicamentosos são necessários (VOLKMAR; WIESNER, 2018).
7.2.5 Ansiedade
62
Fobias específicas não comuns, tais como: choro de criança, tosse,
certas músicas, parabéns, supermercado, balões, bolas de sabão, fogo,
teia de aranha. Devendo antes ter sido afastado hipersensibilidade a
barulho e estímulo sensorial.
Preocupações com rotinas, novidades e interesses restritos, ou seja,
preocupação ou medo relacionados com pequenas mudanças de rotina,
mudanças na rotina de casa, preocupação excessiva em não poder
acessar objeto de interesse restrito ou que regras possam ser
quebradas.
Comportamento compulsivo/ritualístico como rituais no horário de
refeições, rituais verbais, uso invasivo de certas frases ou palavras,
insistências em desligar ou ligar certo aparelho, fechar portas, deixar
manga de camisa abaixada, sapatos não poderem entrar em casa.
7.2.6 Depressão
63
7.2.7 Transtorno desafiador de oposição ou transtorno de oposição desafiante
Estudos realizados por Malow et al. (2016) atestam que as dificuldades de sono
são muito comuns em crianças e adolescentes com TEA, com prevalências variando
entre 50 e 80%. As pesquisas associam as dificuldades de sono a transtornos
internalizastes e externalizantes, pior capacidade adaptativa, maior prevalência de
dificuldades comportamentais durante o dia, incluindo hiperatividade,
hipersensibilidades, ansiedade e comportamentos autoestimulantes, agressividade.
Nesse sentido, Montenegro, Celeri e Casella (2018) explicam que investigar a
presença, avaliar e tratar dificuldades de sono é parte fundamental da atenção e
cuidado à criança e adolescente com TEA, pois muitas vezes estas queixas não são
referidas espontaneamente pelos pais, que tendem a acreditar que elas fazem parte
do TEA.
As causas destas dificuldades são complexas e multifatoriais, como por
exemplo:
Higiene do sono inadequada (como ocorre em crianças com desen-
volvimento neurotípico).
64
Associadas às condições médicas, como epilepsia ou refluxo
gastresofágico.
Associada às dificuldades de comunicação próprias do autismo
(dificuldades com transições ou dificuldades de compreender as
expectativas dos pais em relação ao sono).
Associadas às comorbidades psiquiátricas como depressão e
ansiedade.
Fonte: https://br.freepik.com/
65
Comparar cada aluno apenas com ele mesmo.
Não inferir que o aluno não pode aprender.
Utilizar linguagem adequada à criança.
Certificar-se de que a criança esteja prestando atenção em você antes de
passar uma instrução.
Monitorar o desempenho do aluno constantemente.
Reforçar positivamente os bons comportamentos e aprendizagem adquirida.
Promover rotinas: preparar uma cartolina com os horários das atividades
diárias; se possível, fazer essa construção em sala de aula, com a ajuda dos
alunos. Esse material dever ficar o mais próximo possível do aluno, para
orientá-lo.
Evitar exposição do aluno a situações em que já se sabe ou se imagina que ele
terá mais dificuldades que os outros.
Estar atento ao fato de que atividades ou eventos com muito barulho podem
desencadear comportamento de desorganização.
Respeitar o limite do aluno em relação ao tempo das atividades. Às vezes, uma
simples volta no pátio ou no banheiro já é suficiente para que ele se reorganize
e volte para as atividades.
Estabelecer prazos curtos e atividades com número reduzido de exercícios, a
fim de facilitar a execução.
Utilizar recursos visuais como estratégia de ensino. Porém, observar que o
excesso de cartazes em sala de aula pode distrair demais.
Organizar o material de forma que a criança saiba o que tem de fazer.
Não oferecer muito material inicialmente (poucos lápis ou tintas, para começar).
Se necessário, adaptar o material gráfico, por exemplo, com uso de letras de
tamanho maior, somente maiúsculas, maior espaço para registro, entre outras
adaptações.
Fazer uso produtivo dos interesses especiais da criança para chamar atenção
e poder alfabetizá-la, ensinar cores, números, letras e outros conteúdos.
Apresentar os conteúdos em ordem crescente de complexidade. Se preciso,
antecipar os assuntos com a ajuda dos terapeutas ou auxiliares. Lembrar-se
66
sempre de que qualquer mudança repentina ou novidade pode causar
estranheza e rigidez no comportamento. A familiaridade traz segurança.
Utilizar estratégias “passo a passo”.
Elogiar: algumas crianças não se motivam com a forma corriqueira de elogiar.
Talvez seja interessante tentar métodos diferentes, como adesivos ou objetos
de que elas gostam (um livro ou um brinquedo, por exemplo).
Ao término da atividade, demonstrar claramente que uma atividade chegou ao
fim e o que está por vir (para onde vão e o que vão fazer).
Usar um termo de uma ou duas palavras significando uma orientação. Por
exemplo, “lanche” para o momento das refeições.
Fornecer imagens que simbolizem opções de escolha para que o aluno
demonstre o que quer fazer.
Facilitar a linguagem conectando palavras com gestos e objetos.
Auxiliar a compreensão socioemocional, explicando de maneira acessível os
pensamentos ou sentimentos dos outros, esclarecendo piadas ou expressões
de duplo sentido, etc.
Fornecer apoio e incentivo para a integração do aluno com as outras crianças
tanto nas atividades de aprendizado como nos horários de lazer e brincadeiras.
Pedir auxílio para que os colegas de sala ajudem o aluno nas suas dificuldades
e necessidades quando puderem e se sentirem à vontade.
Se a família permitir, conversar abertamente com os colegas de sala sobre a
condição especial do aluno, pois isso diminui a sensação de estranhamento e
o preconceito.
Manter contato frequente com a família e com a equipe de profissionais que
cuidam do aluno, pois, ao trabalharem em conjunto, a compreensão e o manejo
dos comportamentos e do ensino dessa criança terão muito mais sucesso.
67
diferenciado que ela recebe. Dessa forma, os educadores desenvolvem a empatia e
como resultado, as crianças terão mais paciência com o(a) amigo(a) (quando for
necessário) e também vão querer ajudá-lo(a) sempre que for preciso.
As autoras concluem que é mais fácil para uma criança entender que o(a)
colega tem direito a um tratamento diferenciado se ela está ciente de que existe um
problema de saúde e não só porque a professora protege ou gosta mais de
determinada criança. Por exemplo, muitas escolas têm uma ou duas carteiras
posicionadas ao lado da mesa da professora (geralmente destinadas às crianças que
precisam de mais ajuda). O(a) aluno(a) que não tem qualquer dificuldade pode sentir-
se injustiçado(a) por não ser convidado a sentar-se ao lado da professora. Mas se ele
souber que o(a) colega tem alguma dificuldade, é mais fácil entender que ele precisa
sentar-se perto da professora.
A declaração de Salamanca (1994) é uma resolução das Nações Unidas que
trata dos princípios, política e prática em educação especial que estabelece entre
outras coisas que:
Toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a ela
a oportunidade de atingir e manter um nível adequado de aprendizagem.
Toda criança possui características, interesses, habilidades e
necessidades de aprendizagem únicas. Sistemas e programas
educacionais devem ser designados e implantados para contemplar a
ampla diversidade dessas características e necessidades.
Crianças com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à
escola regular, que deve acomodá-las através de uma pedagogia
centrada na criança, capaz de satisfazer tais necessidades.
Escolas regulares que possuam tal orientação inclusiva constituem os
meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias criando-se
comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e
alcançando a educação para todos”.
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número 12.764, de 27 de dezembro de 2012, estabelece como direitos da pessoa com
TEA:
Proteção contra qualquer forma de abuso e exploração.
Acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à atenção integral às
suas necessidades de saúde, incluindo:
a. O diagnóstico precoce, ainda que não definitivo.
b. O atendimento multiprofissional.
c. A nutrição adequada e a terapia nutricional.
d. Os medicamentos.
e. Informações que auxiliem no diagnóstico e no tratamento.
Acesso à educação e ao ensino profissionalizante.
Acesso à moradia, inclusive à residência protegida.
Acesso ao mercado de trabalho.
Acesso à previdência social e à assistência social.
Quando incluída nas classes comuns de ensino regular, terá direito a
acompanhante especializado (se for necessário).
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8 BIBLIOGRAFIA BÁSICA
BATTY, M. et al. Early processing of emotional faces in children with autism: An event-
related potential study. Journal of Experimental Child Psychology, 109(4), p. 430–
444, 2011.
FISHER, P.; ERNST, E. Should doctors recommend homeopathy? The BMJ, [s. l.], n.
315, 14 jul. 2015.
FRIED, E. I.; NESSE, R. M. Depression sum-scores don’t add up: why analyzing
specific depression symptoms is essential. BMC medicine, [s.l.] 13(1), p. 1-11, 2015.
KERNS, Connor Morrow et al. Traditional and atypical presentations of anxiety in youth
with autism spectrum disorder. Journal of autism and developmental
disorders, vol. 44,11, p. 2851-2861, 2014.
MATSUISHI, T. et al. Rett syndrome: The state of clinical and basic research, and
future perspectives. Brain & Development, 33(8), p.627-631, 2011.
70
OMS. Organização Mundial de Saúde. Depressão e outros transtornos mentais
comuns: estimativas de saúde global. 2017.
VOLKMAR, Fred R.; WIESNER, Lisa A. Autismo: guia essencial para compreensão
e tratamento. Grupo A, 2018.
ZABOSKI, B.A.; STORCH, E.A. Comorbid autism spectrum disorder and anxiety
disorders: a brief review. Future Neurol, 2018.
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
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Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). 2015.
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