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PSICOPATIA E SOCIOPATIA
Aracaju-SE
2023.2
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PSICOPATIA E SOCIOPATIA
Aracaju-SE
2023.2
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................................... 5
2.1 Etiologia ................................................................................................................................... 9
2.2 Contexto Social....................................................................................................................... 9
2.3 Aspectos Psicopatológicos .................................................................................................. 10
2.4 Tópicos Relacionados Ao Tema ......................................................................................... 11
3 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 13
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho procura descortinar um pouco da complexidade que reveste a psicopatia e
consiste em uma tentativa de elencar questões precípuas e características fundamentais quando
se trata de estudar o assunto e seus aspectos mais relevantes. É, sob esse viés, que os membros
deste grupo de trabalho uniram-se, e, após a discussão sobre detalhes nem sempre agradáveis,
trazem nas próximas páginas alguns conceitos e definições, sintomas, e até mesmo alguns casos,
resultado da pesquisa na ainda limitada bibliografia sobre o tema.
Para além do cumprimento das exigências da disciplina Saúde Mental e Aspectos
Psicopatológicos, ministrada pela Professora Mônica Silveira, o presente trabalho é um
mergulho nada raso naquilo que se pode considerar que, até mesmo para o rico universo da
psiquiatria, a plena compreensão sobre a psicopatia (ou sociopatia) parece se apresenta r como
um desafio contínuo, complexo e repleto de nuances nosológicas que imprimem sobre esse
assunto certo grau de interesse especial, certo incitar, certo instigar, enfim.
Como, ao longo do presente trabalho, se poderá compreender, o psicopata sempre esteve
associado a atos criminosos e contravenções, logo, sua marginalidade também compõe sua
posição social e confunde-se com sua condição clínica, o que costuma tornar a investigação de
alguns casos ainda mais difícil.
Não à toa, o psicopata, mesmo longe do mundo cinematográfico – onde costuma ser
comumente retratado – foi e continua sendo um grande problema para a Criminologia, muito
antes de ser uma questão clínica para a Psicanálise, por exemplo.
No campo da ciência, a classificação de transtornos mentais e de comportamento, em
sua décima revisão (CID-10), descreve o transtorno específico de personalidade como uma
perturbação grave da constituição caracterológica e das tendências comportamentais do
indivíduo. Tal perturbação não deve ser diretamente imputável a uma doença, lesão ou outra
afecção cerebral ou a um outro transtorno psiquiátrico e costumeiramente envolve várias áreas
da personalidade, sendo quase sempre associada à ruptura pessoal e soc ial.
Não obstante, vale ressaltar, que os transtornos de personalidade (TP) não são
propriamente doenças, mas anomalias do desenvolvimento psíquico, sendo considerados, em
psiquiatria forense, como perturbação da saúde mental. Esses transtornos envolvem o
desequilíbrio entre afetividade e excitabilidade com integração deficitária dos impulsos, das
atitudes e das condutas, manifestando-se no relacionamento interpessoal.
No decorrer do trabalho de pesquisa, tornou-se nítido que, os indivíduos portadores
desse tipo de transtorno podem ser vistos pelos leigos como pessoas problemáticas e de difícil
relacionamento interpessoal. Eles comumente costumam ser improdutivos quando considerado
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o histórico de suas vidas e acabam por não conseguir se estabelecer. O comportamento é muitas
vezes turbulento, as atitudes incoerentes e pautadas por um imediatismo de satisfação.
Assim, os TP se traduzem por atritos relevantes no relacionamento interpessoal, que ocorrem
devido à desarmonia da organização e da integração da vida afetivo -emocional. No plano
forense, os TP adquirem uma enorme importância, já que seus portadores se env olvem, com
bastante frequência, em crimes, logo, em processos judiciais, especialmente aqueles que
apresentam características antissociais.
Diante do exposto, vale sinalizar que esse tipo de transtorno específico de personalidade,
como exemplo, é assinalado por uma insensibilidade aos sentimentos dos outros indivíduos, até
que o grau dessa insensibilidade se apresente elevado a ponto de levar o indivíduo a uma
acentuada indiferença afetiva. Como consequência o indivíduo normalmente adota um
comportamento criminal recorrente e o quadro clínico de TP assume o formato de psicopatia.
Aspectos como etiologia, classificação no CID 10 e no DSM – V, diagnóstico, além de
outras considerações importantes constam deste trabalho e pretendem trazer à tona as principais
características da psicopatia, principalmente no que tange aos prejuízos oca sionados tanto ao
indivíduo diagnosticado quanto às pessoas com as quais se relaciona pessoal e/ou
profissionalmente, abordando, inclusive, alguns traços sobre responsabilidade penal e
capacidade civil.
A propósito, do ponto de vista de tratamento, os pacientes que revelam comportamento
psicopático e chegam a cometer assassinatos em série necessitam de atenção especial, devido à
elevada probabilidade de reincidência do crime, mostrando -se condição sine-qua-non a
sensibilização de órgãos governamentais para a disponibilização de equipamentos apropriados
à custódia destes indivíduos.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Como ponto de partida, optou-se por explicitar aqui as primeiras definições sobre
Psicopatia dadas pelo CID 10 e pelo DSM – V, visto que eles são os balizadores usuais da
maioria dos profissionais que se debruçam sobre o diagnóstico e/ou o tratamento dos i ndivíduos
que apresentam tal TP.
Antes, porém, em se tratando de uma referência extremamente popular durante décadas,
buscou-se o que o Dicionário Aurélio, de autoria e várias atualizações produzidas pelo próprio
autor, o lexicógrafo, professor, tradutor, ensaísta e crítico literário bras ileiro Aurélio Buarque
de Holanda (1910-1989).
O curioso ou o leigo que demonstrasse mínimo interesse pelo tema psicopatia,
encontrava, em uma das populares e muito consultadas páginas do Dicionário Aurélio, por
décadas, deparava-se com três definições possíveis:
1. designação comum às doenças mentais;
2. estado mental patológico caracterizado por desvios, sobretudo caracterológicos, que acarretam
comportamentos anti-sociais;
3. psicose.
Das três definições, toma-se como recorte para a finalidade a que este estudo se propõe, a
segunda.
Para efeito de comparação com o que se concebia em um passado não tão distante em
uma literatura corriqueira e o que se concebe atualmente em literatura especializada, há, no
entanto, a necessidade de se enfatizar que a generalização para as doenças mentais se justifica
etimologicamente (pisco + pat + ia). E assim, um grupo de psiquiatras reúne seus escritos e
resultado de pesquisas na obra intitulada “Arquivos da Assistência Geral a Psicopatas do Estado
de São Paulo”, no ano de 1936, inspirados no notório trabalho à época do Dr. Franco da Rocha
sobre os estudos das afecções mentais. Naquele período, a obra continha apontamentos que
abordavam desde a esquizofrenia até a paralisia cerebral, e, obviamente, como se sabe, os
recursos tecnológicos e o aparato humano disponíveis para tratamentos eram rudimentares e de
capacidade duvidosa.
Tendo como fonte segura o CID 10 (F60.2) o Transtorno de personalidade antissocial
significa transtorno de personalidade, usualmente vindo de atenção por uma disparidade entre
o comportamento e as normas sociais predominantes, é caracterizado por:
a. indiferença insensível pelos sentimentos alheios;
b. atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e
obrigações sociais;
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perversões, as neuroses e as psicoses. Logo, fica claro que para a Psicanálise, a psicopatia não
pertence à categoria das psicoses.
Torna-se relevante observar que Phillipe Pinel (1745-1826), em 1809, relatou, sob o
título de “mania sem delírio”, um caso de um filho único extremamente mimado pela sua mãe,
que por sua vez era permissiva e muito tolerante fazendo com que a criança se tor nasse
impulsiva e adotasse condutas desordenadas, instintivas (apud BITTENCOURT, 1956).
Gozando da fama de mais famoso discípulo de Pinel, Jean Étienne Dominique Esquirol
(1722-1840), seguindo a linha de pensamento do mestre, lançou o termo monomania, dando
enfoque a um certo aspecto do comportamento (monomania homicida, monomania incendiária,
etc.). Esquirol defendia que a monomania poderia resultar em atos criminosos, mas que podia
ser tratada, logo, era contra a punição.
Chamando a atenção aos aspectos etiológicos, Benedict Augustin Morel, (1809-1873),
influenciado pela obra de Darwin, lançou o conceito de herança degenerativa. No ano de 1857,
ele criou a categoria “loucura dos degenerados”, ressaltando o fato de que acreditava que
agentes externos, como álcool e tóxicos podiam interferir diretamente sobre o comportamento
de um sujeito, provocando a sua degeneração, e que o mesmo poderia se atribuir ao “ mau
temperamento”.
Elevando a ideia de degeneração a uma escala ainda maios, Valentim Magnan (1835-
1916), introduziu o conceito de desequilíbrio mental (usado até os dias atuais pelo senso
comum). Sua ideia baseava-se numa acepção neurológica. Segundo Magnan, haveria uma
ausência de coordenação entre diferentes centros nervosos. Ou seja, deveria haver um estado
próximo ao normal (desequilíbrio simples), mas que poderia evoluir para condições mais
severas (desequilíbrio com degenerescência). Até a atualidade, alguns aspectos d o que ele
considerou desequilíbrio mental, como desequilíbrio da vontade e desequilíbrio da
sensibilidade, são diretamente relacionados aos sintomas de psicopatia.
Concluindo a participação da escola de psiquiatria francesa pode -se dizer também que
o conceito de desequilíbrio foi relacionado ao sentido de algo constitucional, através do qual é
possível encontrar um “desequilíbrio constitucional dos apetites”, um “des equilíbrio
constitucional dos instintos”.
Segundo Debray (1982):
Algumas outras associações surgiram nas discussões, como este ou aquele distúrbio
de origem afetiva, logo “constituição perversa” (distúrbio da bondade) ou
“constituição mitomaníaca” (distúrbio da sociabilidade). Assim, pode-se concluir que
as ideias francesas estavam relacionadas a um conceito de instabilidade (passível de
rompimento).
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No entanto, foi a contribuição anglo-saxônica que deu régua e compasso às ideias que
conhecemos como psicopatia até hoje, através do saber do psiquiatra inglês James Prichard
(1786-1848), que em 1835 escreveu A Treatise on Insanity and Other Disorders Affecting the
Mind, obra na qual inseriu a denominação insanidade moral (ou loucura moral) designando a
maneira de alteração mental na qual o poder de autocontrole estava prejudicado.
Na opinião de Craft (apud GOODWIN & GUZE, 1981), Prichard utilizou moral de três
diferentes formas: a primeira referindo-se a tratamento moral, desejando dizer tratamento
psicológico; a segunda fazendo referência a respostas emocionais ou afetivas, em contraposição
com intelectuais; e a terceira num sentido ético de certo e errado.
Nesta fundamentação teórica que recorreu a uma breve retrospectiva histórica observa-
se que o sentido do termo psicopatia adquiriu em cada sociedade, escola e tempo, acepções
diferentes, mas, o que importa para a presente pesquisa é a percepção de que o se ntido do termo,
apesar das influências sofridas no decorrer da história, hoje se encontra em certo grau de
evolução e conformidade com o que os recursos tecnológicos e a ciência permitem, conforme
as etapas deste trabalho revelam.
2.1 ETIOLOGIA
Apesar de não haver um determinante específico para a causa do transtorno, os estudos
apontam que a combinação de fatores genéticos e ambientais seriam os responsáveis pelo
surgimento da psicopatia e sociopatia. Dessa forma, compreende -se que determinantes
genéticos significativos de cunho neurológico podem estar relacionados aos considerados
fatores de risco. Por conseguinte, a exposição a ambientes hostis, invalidantes e, portanto,
traumáticos, principalmente na fase da infância, como abuso, por exemplo, gera um
comportamento de agressividade impulsiva que podem evoluir para o transtorno dissocial.
Além disso, é importante enfatizar que há uma prevalência entre indivíduos com
transtorno de conduta somados aos sintomas de TDAH, quando durante sua infância o cuidado
pela família é negligenciado, podendo desenvolver o caso para um transtorno. Há, também,
prevalência entre os filhos (adotivos ou biológicos) de pessoas portadoras do transtorno, sendo
este um fator ambiental de risco, uma vez que estes convivem com comportamentos
psicopáticos/sociopáticos. Outra prevalência está relacionada ao surgimento c ausado por abuso
de substâncias, sendo mais comum a influência do álcool e outras drogas nos casos mais graves.
3 CONCLUSÃO
O presente trabalho buscou abordar a complexa e desafiadora temática da psicopatia, ou
transtorno de personalidade antissocial, oferecendo uma visão abrangente dos aspectos teóricos,
etiológicos, psicopatológicos e sociais relacionados a esse transtorno.
Ficou evidente ao longo deste estudo que a psicopatia é um transtorno de personalidade
que envolve características como a falta de empatia, comportamento impulsivo, desrespeito
pelos direitos dos outros e dificuldade em manter relacionamentos interpessoais. Esses
indivíduos frequentemente se envolvem em comportamentos antissociais e crimes, o que torna
a questão da responsabilidade penal e da capacidade civil uma preocupação significativa.
A etiologia da psicopatia envolve fatores genéticos e ambientais, destacando a
importância de uma abordagem multidisciplinar para compreender e tratar essa condição. Além
disso, o contexto social desempenha um papel fundamental na manifestação de
comportamentos antissociais, e é crucial considerar os aspectos socioeconômicos ao analisar
casos de transtorno de personalidade dissocial.
No âmbito jurídico, a avaliação da responsabilidade penal e capacidade civil de pessoas
com psicopatia exige uma análise cuidadosa e individualizada. Profissionais de saúde mental
desempenham um papel essencial na avaliação e no tratamento desses indivíduos, garantindo
que recebam o apoio adequado, ao mesmo tempo em que são responsabilizados por seus atos.
Em resumo, a psicopatia é uma condição complexa e desafiadora, que requer uma
abordagem holística e compassiva. O entendimento e o tratamento adequados desses indivíduos
são fundamentais para promover a justiça, a segurança pública e o bem-estar da sociedade como
um todo.
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REFERÊNCIAS
MALVEZZI, S. (2004). Prefácio. In J. C. Zanelli, J. E. Borges-Andrade
& A. V. B. Bastos (Eds.), Psicologia, organizações e trabalho (pp. 13-18). Porto Alegre, RS: Artes
Médicas.
MORANA, H. C. P.; STONE, M. H.; ABDALLA-FILHO, E. Transtorno de personalidade, psicopatia
e serial killers. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/mFz4QLyYLQDpwdcXBM7phzd/
SHINE, S. K. Psicopatia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
CID-10. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados com a saúde. 10.
ed. São Paulo: Edusp, 1994.
DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. American Psychiatric Association,
2013.