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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO E CULTURA PIO DÉCIMO


FACULDADE PIO DÉCIMO
CURSO DE PSICOLOGIA

ERIC KALED CONCEIÇÃO SILVA


HUDSON MATOS MAUAD
LIVYA IZABEL DE GOIS
WILLIAM CRUZ DO NASCIMENTO

PSICOPATIA E SOCIOPATIA

Aracaju-SE
2023.2
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ERIC KALED CONCEIÇÃO SILVA


HUDSON MATOS MAUAD
LIVYA IZABEL DE GOIS
WILLIAM CRUZ DO NASCIMENTO

PSICOPATIA E SOCIOPATIA

Projeto apresentado à Disciplina Saúde Mental e Aspectos Psicopatológicos como requisito


parcial para obtenção de nota para o semestre 2023.2

Orientadora: Profª Dra. Mônica Silva Silveira

Aracaju-SE
2023.2
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................................... 5
2.1 Etiologia ................................................................................................................................... 9
2.2 Contexto Social....................................................................................................................... 9
2.3 Aspectos Psicopatológicos .................................................................................................. 10
2.4 Tópicos Relacionados Ao Tema ......................................................................................... 11
3 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 13
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1 INTRODUÇÃO
Este trabalho procura descortinar um pouco da complexidade que reveste a psicopatia e
consiste em uma tentativa de elencar questões precípuas e características fundamentais quando
se trata de estudar o assunto e seus aspectos mais relevantes. É, sob esse viés, que os membros
deste grupo de trabalho uniram-se, e, após a discussão sobre detalhes nem sempre agradáveis,
trazem nas próximas páginas alguns conceitos e definições, sintomas, e até mesmo alguns casos,
resultado da pesquisa na ainda limitada bibliografia sobre o tema.
Para além do cumprimento das exigências da disciplina Saúde Mental e Aspectos
Psicopatológicos, ministrada pela Professora Mônica Silveira, o presente trabalho é um
mergulho nada raso naquilo que se pode considerar que, até mesmo para o rico universo da
psiquiatria, a plena compreensão sobre a psicopatia (ou sociopatia) parece se apresenta r como
um desafio contínuo, complexo e repleto de nuances nosológicas que imprimem sobre esse
assunto certo grau de interesse especial, certo incitar, certo instigar, enfim.
Como, ao longo do presente trabalho, se poderá compreender, o psicopata sempre esteve
associado a atos criminosos e contravenções, logo, sua marginalidade também compõe sua
posição social e confunde-se com sua condição clínica, o que costuma tornar a investigação de
alguns casos ainda mais difícil.
Não à toa, o psicopata, mesmo longe do mundo cinematográfico – onde costuma ser
comumente retratado – foi e continua sendo um grande problema para a Criminologia, muito
antes de ser uma questão clínica para a Psicanálise, por exemplo.
No campo da ciência, a classificação de transtornos mentais e de comportamento, em
sua décima revisão (CID-10), descreve o transtorno específico de personalidade como uma
perturbação grave da constituição caracterológica e das tendências comportamentais do
indivíduo. Tal perturbação não deve ser diretamente imputável a uma doença, lesão ou outra
afecção cerebral ou a um outro transtorno psiquiátrico e costumeiramente envolve várias áreas
da personalidade, sendo quase sempre associada à ruptura pessoal e soc ial.
Não obstante, vale ressaltar, que os transtornos de personalidade (TP) não são
propriamente doenças, mas anomalias do desenvolvimento psíquico, sendo considerados, em
psiquiatria forense, como perturbação da saúde mental. Esses transtornos envolvem o
desequilíbrio entre afetividade e excitabilidade com integração deficitária dos impulsos, das
atitudes e das condutas, manifestando-se no relacionamento interpessoal.
No decorrer do trabalho de pesquisa, tornou-se nítido que, os indivíduos portadores
desse tipo de transtorno podem ser vistos pelos leigos como pessoas problemáticas e de difícil
relacionamento interpessoal. Eles comumente costumam ser improdutivos quando considerado
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o histórico de suas vidas e acabam por não conseguir se estabelecer. O comportamento é muitas
vezes turbulento, as atitudes incoerentes e pautadas por um imediatismo de satisfação.
Assim, os TP se traduzem por atritos relevantes no relacionamento interpessoal, que ocorrem
devido à desarmonia da organização e da integração da vida afetivo -emocional. No plano
forense, os TP adquirem uma enorme importância, já que seus portadores se env olvem, com
bastante frequência, em crimes, logo, em processos judiciais, especialmente aqueles que
apresentam características antissociais.
Diante do exposto, vale sinalizar que esse tipo de transtorno específico de personalidade,
como exemplo, é assinalado por uma insensibilidade aos sentimentos dos outros indivíduos, até
que o grau dessa insensibilidade se apresente elevado a ponto de levar o indivíduo a uma
acentuada indiferença afetiva. Como consequência o indivíduo normalmente adota um
comportamento criminal recorrente e o quadro clínico de TP assume o formato de psicopatia.
Aspectos como etiologia, classificação no CID 10 e no DSM – V, diagnóstico, além de
outras considerações importantes constam deste trabalho e pretendem trazer à tona as principais
características da psicopatia, principalmente no que tange aos prejuízos oca sionados tanto ao
indivíduo diagnosticado quanto às pessoas com as quais se relaciona pessoal e/ou
profissionalmente, abordando, inclusive, alguns traços sobre responsabilidade penal e
capacidade civil.
A propósito, do ponto de vista de tratamento, os pacientes que revelam comportamento
psicopático e chegam a cometer assassinatos em série necessitam de atenção especial, devido à
elevada probabilidade de reincidência do crime, mostrando -se condição sine-qua-non a
sensibilização de órgãos governamentais para a disponibilização de equipamentos apropriados
à custódia destes indivíduos.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Como ponto de partida, optou-se por explicitar aqui as primeiras definições sobre
Psicopatia dadas pelo CID 10 e pelo DSM – V, visto que eles são os balizadores usuais da
maioria dos profissionais que se debruçam sobre o diagnóstico e/ou o tratamento dos i ndivíduos
que apresentam tal TP.
Antes, porém, em se tratando de uma referência extremamente popular durante décadas,
buscou-se o que o Dicionário Aurélio, de autoria e várias atualizações produzidas pelo próprio
autor, o lexicógrafo, professor, tradutor, ensaísta e crítico literário bras ileiro Aurélio Buarque
de Holanda (1910-1989).
O curioso ou o leigo que demonstrasse mínimo interesse pelo tema psicopatia,
encontrava, em uma das populares e muito consultadas páginas do Dicionário Aurélio, por
décadas, deparava-se com três definições possíveis:
1. designação comum às doenças mentais;
2. estado mental patológico caracterizado por desvios, sobretudo caracterológicos, que acarretam
comportamentos anti-sociais;
3. psicose.
Das três definições, toma-se como recorte para a finalidade a que este estudo se propõe, a
segunda.
Para efeito de comparação com o que se concebia em um passado não tão distante em
uma literatura corriqueira e o que se concebe atualmente em literatura especializada, há, no
entanto, a necessidade de se enfatizar que a generalização para as doenças mentais se justifica
etimologicamente (pisco + pat + ia). E assim, um grupo de psiquiatras reúne seus escritos e
resultado de pesquisas na obra intitulada “Arquivos da Assistência Geral a Psicopatas do Estado
de São Paulo”, no ano de 1936, inspirados no notório trabalho à época do Dr. Franco da Rocha
sobre os estudos das afecções mentais. Naquele período, a obra continha apontamentos que
abordavam desde a esquizofrenia até a paralisia cerebral, e, obviamente, como se sabe, os
recursos tecnológicos e o aparato humano disponíveis para tratamentos eram rudimentares e de
capacidade duvidosa.
Tendo como fonte segura o CID 10 (F60.2) o Transtorno de personalidade antissocial
significa transtorno de personalidade, usualmente vindo de atenção por uma disparidade entre
o comportamento e as normas sociais predominantes, é caracterizado por:
a. indiferença insensível pelos sentimentos alheios;
b. atitude flagrante e persistente de irresponsabilidade e desrespeito por normas, regras e
obrigações sociais;
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c. incapacidade de manter relacionamentos, embora não haja dificuldade em estabelecê -los;


d. muito baixa tolerância à frustração e um baixo limiar para descarga de agressão, incluindo
violência;
e. incapacidade de experimentar culpa e de aprender com a experiência, particularmente punição;
f. propensão marcante para culpar os outros ou para oferecer racionalizações plausíveis para o
comportamento que levou o paciente a conflito com a sociedade.
Pode também haver irritabilidade persistente como um aspecto associado. Transtorno de
conduta durante a infância e adolescência, ainda que não invariavelmente presente, pode dar
maior suporte ao diagnóstico.
Inclui: personalidade (transtorno) amoral, dissocial, associal, psicopática e sociopática.
Exclui: transtornos de conduta (F91.--)
Transtorno de personalidade emocionalmente instável (F60.3).
Da obra de Freud consegue-se extrair a menção da designação psicopatia atribuída nessa
direção em Tipos psicopáticos no palco (1905/1906), em cujo artigo Freud demonstra-se
altamente interessado em evidenciar os mecanismos psicológicos implícitos na apreciação de
uma obra de arte, de modo específico de uma peça de teatro.
Para ele, o espectador obtém prazer por meio da identificação com o(s) personagem(ns).
Freud conclama a atenção para o fato de que o teatro se originou nos ritos sacrificiais (cf. O
bode expiatório) no culto dos deuses, portanto, tendo uma função catártica à medida que o
personagem que sofre no palco libera parte do sofrimento comum a todos. E assim, Freud seguiu
analisando a peça Hamlet, de autoria de William Shakespeare (talvez uma das suas obras mais
icônicas e conhecidas por leitores de todos os recantos do mundo), discorrendo que “O herói
não é um psicopata, mas somente se torna psicopata no decorrer da ação da peça”, alertando
assim, para o fato de que, ao se participar do processo que estimula Hamlet à sua “loucura”,
identifica-se com ele e baixa-se a própria resistência em reconhecer o conflito inconsciente em
jogo.
Em outra definição suscitada pela presente pesquisa, psicopatia seria uma forma de
psicose. Há aí uma confusão dada ao fato de que em Psiquiatria, o termo psicose já foi
amplamente utilizado para englobar uma séria de doenças mentais, equiparando-se ao termo
psicopatia enquanto categoria genérica.
No seio da Psicanálise, portanto, o objetivo no estudo das afecções mentais incidiu de
forma inicial naquelas diretamente relacionadas à investigação analítica, e, nesse campo mais
específico que o da Psiquiatria, as principais diferenças são as que se mos tram entre as
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perversões, as neuroses e as psicoses. Logo, fica claro que para a Psicanálise, a psicopatia não
pertence à categoria das psicoses.
Torna-se relevante observar que Phillipe Pinel (1745-1826), em 1809, relatou, sob o
título de “mania sem delírio”, um caso de um filho único extremamente mimado pela sua mãe,
que por sua vez era permissiva e muito tolerante fazendo com que a criança se tor nasse
impulsiva e adotasse condutas desordenadas, instintivas (apud BITTENCOURT, 1956).
Gozando da fama de mais famoso discípulo de Pinel, Jean Étienne Dominique Esquirol
(1722-1840), seguindo a linha de pensamento do mestre, lançou o termo monomania, dando
enfoque a um certo aspecto do comportamento (monomania homicida, monomania incendiária,
etc.). Esquirol defendia que a monomania poderia resultar em atos criminosos, mas que podia
ser tratada, logo, era contra a punição.
Chamando a atenção aos aspectos etiológicos, Benedict Augustin Morel, (1809-1873),
influenciado pela obra de Darwin, lançou o conceito de herança degenerativa. No ano de 1857,
ele criou a categoria “loucura dos degenerados”, ressaltando o fato de que acreditava que
agentes externos, como álcool e tóxicos podiam interferir diretamente sobre o comportamento
de um sujeito, provocando a sua degeneração, e que o mesmo poderia se atribuir ao “ mau
temperamento”.
Elevando a ideia de degeneração a uma escala ainda maios, Valentim Magnan (1835-
1916), introduziu o conceito de desequilíbrio mental (usado até os dias atuais pelo senso
comum). Sua ideia baseava-se numa acepção neurológica. Segundo Magnan, haveria uma
ausência de coordenação entre diferentes centros nervosos. Ou seja, deveria haver um estado
próximo ao normal (desequilíbrio simples), mas que poderia evoluir para condições mais
severas (desequilíbrio com degenerescência). Até a atualidade, alguns aspectos d o que ele
considerou desequilíbrio mental, como desequilíbrio da vontade e desequilíbrio da
sensibilidade, são diretamente relacionados aos sintomas de psicopatia.
Concluindo a participação da escola de psiquiatria francesa pode -se dizer também que
o conceito de desequilíbrio foi relacionado ao sentido de algo constitucional, através do qual é
possível encontrar um “desequilíbrio constitucional dos apetites”, um “des equilíbrio
constitucional dos instintos”.
Segundo Debray (1982):
Algumas outras associações surgiram nas discussões, como este ou aquele distúrbio
de origem afetiva, logo “constituição perversa” (distúrbio da bondade) ou
“constituição mitomaníaca” (distúrbio da sociabilidade). Assim, pode-se concluir que
as ideias francesas estavam relacionadas a um conceito de instabilidade (passível de
rompimento).
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A fama, no entanto, com a temática de constituição degenerada, muito provavelmente


coube ao antropologista italiano Cesare Lombroso (1836-1909), que suscitou o conceito de
“homem criminoso”, no ano de 1876. Sua ideia de que um sujeito criminoso poderia ser
identificado a partir de aspectos da sua fisionomia e que o mesmo pertenceria a uma categoria
de “homens inferiores” foi relegada ao esquecimento há muito tempo.
No entanto, até pouco tempo atrás, havia quem defendesse o conceito de que
características de um sujeito criminoso poderiam ser explicadas por intermédio de uma espécie
de determinismo biológico, o que, aliás, até os dias atuais encontra defensores do camp o da
psiquiatria quando se referem aos psicopatas.
À escola de psiquiatria alemã deve-se a introdução do termo psicopatia propriamente
dita. Foi I. L. Koch o responsável por utilizar a ideia de inferioridade psicopática no ano de
1888 (apud GURVITZ, 1951).
Não obstante, deve-se mencionar que um dos maiores nomes da escola alemã de
psiquiatria foi Emil Kraepelin (1856-1925), cujo trabalho rendeu conteúdo sobre a classificação
e a organização das diversas formas de descrever a doença mental. Seu modus operandi guiava-
se pelo método orgânico com foco nas lesões e más-formações neurológicas. Foi dele, em 1904,
a expressão personalidade psicopática, incluindo naquela categoria os casos de inibição do
desenvolvimento da personalidade, tanto no âmbito afetivo como n o âmbito volitivo, bem
como, alguns casos iniciais que, segundo ele, margeavam a psicose. Assim, a personalidade
psicopática seria uma fase pré-psicótica.
Outro importante expoente da escola alemã, Kurt Schneider, sobre o entendimento que
tinha sobre o termo personalidade psicopática como um distúrbio da personalidade que não
macula a inteligência nem a estrutura orgânica do sujeito, no ano de 1923 discorreu:
“Personalidades psicopáticas são aquelas personalidades anormais que sofrem por sua
anormalidade ou, por ela, fazem sofrer a sociedade.”
Com a ideia de Schneider houve o distanciamento das ideias francesas de
degenerescência. Para ele, psicopático era atribuído no lugar de patológico, mas no sentido de
que esta seria uma variação funcional em relação à personalidade normal e nada revelaria em
termos de algo orgânico patológico.
Seguindo direção semelhante, Eugen Kahn (1931), utilizou o termo personalidade
psicopática para organizar vários problemas mentais e desordens da personalidade não
classificados como doenças mentais, e que teriam como condição comum o desajustamento
social.
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No entanto, foi a contribuição anglo-saxônica que deu régua e compasso às ideias que
conhecemos como psicopatia até hoje, através do saber do psiquiatra inglês James Prichard
(1786-1848), que em 1835 escreveu A Treatise on Insanity and Other Disorders Affecting the
Mind, obra na qual inseriu a denominação insanidade moral (ou loucura moral) designando a
maneira de alteração mental na qual o poder de autocontrole estava prejudicado.
Na opinião de Craft (apud GOODWIN & GUZE, 1981), Prichard utilizou moral de três
diferentes formas: a primeira referindo-se a tratamento moral, desejando dizer tratamento
psicológico; a segunda fazendo referência a respostas emocionais ou afetivas, em contraposição
com intelectuais; e a terceira num sentido ético de certo e errado.
Nesta fundamentação teórica que recorreu a uma breve retrospectiva histórica observa-
se que o sentido do termo psicopatia adquiriu em cada sociedade, escola e tempo, acepções
diferentes, mas, o que importa para a presente pesquisa é a percepção de que o se ntido do termo,
apesar das influências sofridas no decorrer da história, hoje se encontra em certo grau de
evolução e conformidade com o que os recursos tecnológicos e a ciência permitem, conforme
as etapas deste trabalho revelam.

2.1 ETIOLOGIA
Apesar de não haver um determinante específico para a causa do transtorno, os estudos
apontam que a combinação de fatores genéticos e ambientais seriam os responsáveis pelo
surgimento da psicopatia e sociopatia. Dessa forma, compreende -se que determinantes
genéticos significativos de cunho neurológico podem estar relacionados aos considerados
fatores de risco. Por conseguinte, a exposição a ambientes hostis, invalidantes e, portanto,
traumáticos, principalmente na fase da infância, como abuso, por exemplo, gera um
comportamento de agressividade impulsiva que podem evoluir para o transtorno dissocial.
Além disso, é importante enfatizar que há uma prevalência entre indivíduos com
transtorno de conduta somados aos sintomas de TDAH, quando durante sua infância o cuidado
pela família é negligenciado, podendo desenvolver o caso para um transtorno. Há, também,
prevalência entre os filhos (adotivos ou biológicos) de pessoas portadoras do transtorno, sendo
este um fator ambiental de risco, uma vez que estes convivem com comportamentos
psicopáticos/sociopáticos. Outra prevalência está relacionada ao surgimento c ausado por abuso
de substâncias, sendo mais comum a influência do álcool e outras drogas nos casos mais graves.

2.2 CONTEXTO SOCIAL


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Estudos apontam que a situação socioeconômica tem forte influência no surgimento de


comportamentos considerados antissociais, que são considerados fatores de risco para um
possível surgimento do transtorno de personalidade dissocial. Dessa forma, compreende -se que
viver em ambientes com características precárias e insalubres causam uma reatividade psíquica
exigida pelo instinto de sobrevivência, como comportamentos agressivos e socialmente
considerados inadequados por uma determinada cultura.
Diante disso, entende-se que o contexto social do desenvolvimento do transtorno
envolve ambientes violentos e invalidantes, mas que a desenvoltura destes indivíduos,
juntamente com outras características da personalidade garantem habilidades de persuasão e
manipulação, seja por meio da violência ou da lábia (coerção, extorsão etc.), que fornecem
benefícios e determinados privilégios na sociedade, a exemplo de possíveis cargos profissionais
cobiçados ou melhores condições de vida.

2.3 ASPECTOS PSICOPATOLÓGICOS


A sociopatia e a psicopatia são termos frequentemente utilizados de forma
intercambiável para descrever transtornos de personalidade antissocial. No entanto, é
importante observar que nem o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais) nem a CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde) usam esses termos específicos. Em vez disso, esses sistemas
classificam o transtorno como Transtorno de Personalidade Antissocial (CID-10: F60.2; DSM-
5: 301.7).
Os aspectos psicopatológicos do Transtorno de Personalidade Antissocial incluem:
1. Desrespeito pelos direitos dos outros: Pessoas com esse transtorno tendem a violar os direitos
dos outros, como mentir, enganar, manipular, roubar ou ser fisicamente agressivas.
2. Falta de remorso ou empatia: Elas demonstram pouca ou nenhuma empatia pelos sentimentos
e necessidades dos outros, e raramente sentem remorso por suas ações.
3. Comportamento impulsivo: Com frequência, agem impulsivamente, sem considerar as
consequências de suas ações.
4. Padrões de comportamento repetitivos: Os indivíduos com Transtorno de Personalidade
Antissocial apresentam um histórico de comportamentos antissociais persistentes ao longo do
tempo.
5. Dificuldade em manter relacionamentos: Eles têm dificuldade em estabelecer e manter
relacionamentos interpessoais estáveis e saudáveis.
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6. Irritabilidade e agressividade: Podem manifestar agressividade, irritabilidade e hostilidade


em relação aos outros.
7. Ausência de responsabilidade: Tendem a não assumir responsabilidade por suas ações e
frequentemente culpam os outros.
Porém, o diagnóstico de transtorno de personalidade antissocial requer critérios específicos do
DSM-5 ou da CID-10 e deve ser feito por um profissional de saúde mental qualificado. Além
disso, o diagnóstico de psicopatia é frequentemente avaliado usando es calas de traços
psicopáticos, como a Escala de Psicopatia de Hare-Revised (PCL-R).

2.4 TÓPICOS RELACIONADOS AO TEMA


Faz-se necessário também, analisar através da ótica jurídica, a percepção sobre a pessoa
portadora de Transtornos de Personalidade antissocial e a sua possível imputabilidade em casos
de transgressão das leis vigentes, tão como, o papel do psicólogo no diagnóstico e indicação de
tratamento desse indivíduo. Para isso, é necessário o entendimento acerca das características
desse transtorno, de acordo com CLECKLEY, 1949, p. 415 (apud RIEBER & VETTER, 1994)
Ele demonstra uma pobre capacidade de julgamento e uma incapacidade de aprender
com a experiência, que pode ser vista nas “mentiras patológicas”, crime repetitivo,
delinqüências e outros atos anti-sociais. “Os pacientes repetem furtos aparentemente
sem sentido, falsificações, bigamias, trapaças e atos indecentes e chocantes em
público inúmeras vezes.”

Dessa forma, também se mostra necessário analisar a capacidade de adaptação do


indivíduo, numa possível reinserção ao convívio social, neste quesito, é importante ressaltar
que qualquer que seja a medida aplicada a pessoa portadora do transtorno de personalidade
antissocial, deve respeitar os direitos humanos e as demais garantias fundamentais.
Na avaliação destes indivíduos, o papel do psicólogo não se limita ao diagnóstico, mas
também, à indicação do tratamento mais adequado para cada caso. O laudo pericial e o parecer
técnico , objetivam analisar a capacidade do indivíduo de entender a ilicitude dos seus atos,
enquanto o psicólogo que atua como perito tem a responsabilidade de elaborar o laudo pericial
no intuito de auxiliar o magistrado no julgamento da causa, enquanto o parecer técnico,
elaborado pelo psicólogo assistente, tem como objetivo orienta as partes envolvidas a como se
portarem perante as informações contidas no laudo, o analisando de manei ra crítica, ambos
devem respeitar a ética na atuação profissional, não estendendo-se além das informações
relevantes para a questão legal, devendo o relatório apresentar os dados coletados e suas
deduções baseadas em referenciais teóricos.
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Tendo em vista o caráter manipulador dos portadores de Transtorno de Personalidade,


onde o indivíduo pode facilmente exercer controle sobre sua própria fala durante a perícia,
simular, dissimular, enfim, se utilizar de meios para manipular suas respostas a o que lhe for
perguntado, Neste ponto, ROVINSKI (1998) alerta para as distorções conscientes o
fornecimento dos dados, tendo em vista não só o caráter coercitivo de avaliações no âmbito
forense, como também a percepção que o examinando pode ter das vantage ns e desvantagens
associadas ao resultado do teste. Ela divide em duas categorias possíveis de distorção:
simulação (quando o sujeito tenta fingir sintomas que não existem) e dissimulação (quando
procura encobrir ou minimizar sintomas que existem).
Alguns instrumentos podem auxiliar os psicólogos na elaboração do laudo, como os
testes psicológicos, pois dificultam a manipulação e fornecem elementos diagnósticos
complementares. Outro elemento que pode ser útil na análise, diz respeito a entrevistas com os
familiares do periciando, tendo em vista que eles podem informar dados relevantes sobre a
história de vida do indivíduo, o que se mostra fundamental para a construção diagnóstica.
Referente aos testes psicológicos, ROVINSKI (1998) afirma:
Os testes psicológicos são instrumentos de uso exclusivo do psicólogo para a
realização de um diagnóstico. Pode ser um recurso útil para o profissional psicólogo
que necessite realizar um diagnóstico diferencial, principalmente em enquadres
institucionais jurídicos (exame criminológico em prisões, perícia psicológica em vara
cível, subsídio para laudo de cessação de periculosidade em manicômio judiciário,
avaliação inicial de educandos na Febem, etc.).
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3 CONCLUSÃO
O presente trabalho buscou abordar a complexa e desafiadora temática da psicopatia, ou
transtorno de personalidade antissocial, oferecendo uma visão abrangente dos aspectos teóricos,
etiológicos, psicopatológicos e sociais relacionados a esse transtorno.
Ficou evidente ao longo deste estudo que a psicopatia é um transtorno de personalidade
que envolve características como a falta de empatia, comportamento impulsivo, desrespeito
pelos direitos dos outros e dificuldade em manter relacionamentos interpessoais. Esses
indivíduos frequentemente se envolvem em comportamentos antissociais e crimes, o que torna
a questão da responsabilidade penal e da capacidade civil uma preocupação significativa.
A etiologia da psicopatia envolve fatores genéticos e ambientais, destacando a
importância de uma abordagem multidisciplinar para compreender e tratar essa condição. Além
disso, o contexto social desempenha um papel fundamental na manifestação de
comportamentos antissociais, e é crucial considerar os aspectos socioeconômicos ao analisar
casos de transtorno de personalidade dissocial.
No âmbito jurídico, a avaliação da responsabilidade penal e capacidade civil de pessoas
com psicopatia exige uma análise cuidadosa e individualizada. Profissionais de saúde mental
desempenham um papel essencial na avaliação e no tratamento desses indivíduos, garantindo
que recebam o apoio adequado, ao mesmo tempo em que são responsabilizados por seus atos.
Em resumo, a psicopatia é uma condição complexa e desafiadora, que requer uma
abordagem holística e compassiva. O entendimento e o tratamento adequados desses indivíduos
são fundamentais para promover a justiça, a segurança pública e o bem-estar da sociedade como
um todo.
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REFERÊNCIAS
MALVEZZI, S. (2004). Prefácio. In J. C. Zanelli, J. E. Borges-Andrade
& A. V. B. Bastos (Eds.), Psicologia, organizações e trabalho (pp. 13-18). Porto Alegre, RS: Artes
Médicas.
MORANA, H. C. P.; STONE, M. H.; ABDALLA-FILHO, E. Transtorno de personalidade, psicopatia
e serial killers. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbp/a/mFz4QLyYLQDpwdcXBM7phzd/
SHINE, S. K. Psicopatia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2000.
CID-10. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados com a saúde. 10.
ed. São Paulo: Edusp, 1994.
DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. American Psychiatric Association,
2013.

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